Alexandre Rodrigues Ferreira Biografia
Alexandre Rodrigues Ferreira Biografia
Alexandre Rodrigues Ferreira Biografia
a.vuo>Nrj.Rio 1903
mm
ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA
OBRAS DO MESMO AUTOR
Estrada da Chapada — (Estudos preliminares) — 1910.
Mato Crosso — (Contribuição para o Diccionario H. G. E. do Brasil)
— 1922.
Questões de Terras — 1923.
Notas â Margem — (Ensaios historicos) — 1923.
As Raias de Mato Grosso :
Vol. I —'Fronteira Septentrional — 1925.
„ II — Fronteira Oriental — 1925.
,, III — Fronteira Meridional.
,, IV — Fronteira Occidental.
A Synthese de um Governo — Exposição impressa juntamente com
o discurso do Dr. Estevão Alves Corrêa.
Monographias Cuiabanas :
Vol. I —- Questões de ensino — 1925.
,, II — Evolução do erário — 1925.
,, III — Á cata de ouro e diamantes — 1926.
,, IV — Á sombra dos hervaes matogrossenses.
„ V —
„ VI — A proposito do boi pantaneiro — 1926.
,, VII — Consideração acerca da peste de cadeira —1927.
Politica de Mato Grosso:
Vol. I —
II — Em legitima defesa — 1926.
,, III — Versatilidade presidencial — 1926.
,, IV — Depennando uma gralha empavonada — 1926.
>. V — O siamês da gralha empavonada — 1926.
„ VI — O detractor official.
» VII — Relendo a mensagem — 1927.
Os Predecessores de Rondon :
Vol. I — Silva Pontes — Lacerda e Almeida — Ricardo
Franco — Luiz d'Alincourt.
.. II — Leverger — O Bretão cuiabanizado — 1930.
Os Tratados com a Bolivia — (Limites e communizações ferroviárias)
— 1930.
Impressões de Campo Grande.
A Rêde Rodoviaria de Mato Grosso — 1934.
A Republica em Mato Grosso — 1934.
Serie 5.» BRASILIANA Vol.144
BIBLIOTHECA PEDAGÓGICA BRASILEIRA
V. CORREA
• FILHO
ALEXANDRE RODRIGUES
FERREIRA
VIDA E OBRA DO GRANDE
NATURALISTA BRASILEIRO
Edição illustrada
i
I Alexandre Rodrigues Ferreira 90
buida pelos Titulos, que constam do Principio desta
Relação."
Si alguma outra copia se extrahiu, mais tarde, com'
pleta, não conseguimos encontral-a, como também ac-
correu com as suas referidas minutas acerca do café, do
tabaco, do cacau, e de monographias zoologicas.
A descripção do rio Madeira bastaria, porem, para
compensar os sacrifícios dos expedicionários, que ainda
poderiam averbar a seu credito as remessas expedidas
da Cachoeira de Santo Antonio (72).
Acolhimento amistoso
Enfadado ao extremo, por depender da cooperação
dos remeiros, cada vez mais propensos á fuga, Ferreira
estugou a marcha, que iria approximal-o do Capitão
General de Mato Grosso, cuja fama de administrador
previdente ter-lhe-ia constado no proprio ministério dos
negocios ultra-marinos (73).
A sua excursão, e o principal objectivo, de interesse
mineralógico, fôra noticiado pela carta do Ministro
Martinho de Mello, de 31 de Outubro, que puzera em
alvoroço a curiosidade activa de Luiz de Albuquerque,
attenta ao estudo da astronomia e das sciencias naturaes.
Debalde aguardara confirmação do Pará, ou Barcel-
'os, de onde só no seguinte anno largaria a expedição do
naturalista, a quem o governador apresentou, de longe,
votos de bôa viagem (74).
E como tardasse em chegar-lhe a respectiva resposta,
recommendou ao commandante do Forte do Principe
da Beira, que despachasse portador especial, escoteiro,
até S. Antonio, onde deixasse aviso aos expedicionários,
caso não tivessem ainda alcançado aquella cachoeira.
A iniciativa alegrou a Alexandre, que lh'a agradeceu,
ao chegar ao velho tijupar, onde o surpreendeu o bilhete,
núncio do desvelo governativo.
E valendo-se do ensejo, dá conta do que reunira até
então, pelo Madeira, cuja collecção maravilha, pela
opulência, ao Capitão General (75), que, de bom grado,
I Alexandre Rodrigues Ferreira 92
iria encontral-o, caso não o tolhesse a saúde precaria.
Apressurado em conhecer o grande sabedor da philo-
sophia natural, lastimava^não poder afastar-se de Villa-
Bella, onde o prendiam velhos achaques e a necessidade
imperiosa de ordenar os negocios públicos para a posse
do seu irmão, João de Albuquerque, nomeado para
substituil-o.
Amiudam-se as cartas (76), em tom amistoso, pelas
quaes Luiz de Albuquerque instava pela cooperação de
naturalistas a favor do augmento de suas collecções par-
ticulares.
E manda-íhe farinha para Guarajús, onde, a 10 de
Setembro, o viajante estacara, abrazado de sezões, e,
mais tarde, em requintes de cavalheirismo, escolhida
amostra de "bom chocolate".
Simultaneamente, acamam-se os principaes perso-
nagens, que deveriam interessar á expedição scientifica
e assegurar-lhe o êxito : Alexandre Ferreira, que ao
versar o assumpto de enfermidades endemicas, diria ao
tratar das terçãs : "eu a padeci por espaço de tres
mezes, depois de ter padecido perto de 25 dias, uma
rigorosa quotidiana." Luiz de Albuquerque, enfermiço
em Villa-Bella (76), e seu successor, João de Albuquerque,
a quem o primeiro repiquete do Guaporé empestou nas
immediações de Guarajús, de tal maneira que, alcan-
çando Villa-Bella, a 16 de Outubro, somente a 20 de
Novembro se animou a receber o legado governativo.
Irmanava-os o infortúnio no remoto "fim do mundo",
expressão do demissionário, que nelle mergulhára, por
annos, durante os quaes crescera em valimento o mano
mais joven, que fôra substituil-o, em vez de J. Pereira
Caldas, nomeado e não empossado.
Dobrada a sua alegria consoladora dos males, por
hospedar ao mesmo tempo o irmão, que não via, desde
1772 e o sábio admirado, que lhe iria opulentar o museu
particular, com amostras curiosas de mineraes, plantas
I Alexandre Rodrigues Ferreira 93
e animaes preparados, alem de escolhidos desenhos.
Destarte, conseguiu "transportar para a Europa a mais
vasta, a mais escolhida, a mais rica colleção que se pôde
desejar", informa o naturalista, cuja prestante colla-
boração na derradeira phase o ex. governador retribuiria
com requintes de gentileza no trato.
Os preparativos de viagem de Luiz de Albuquerque
Propositadamente retardados, para lhe proporcionarem
ensejo de instruir o irmão nos complexos problemas ad'
ministrativos da Capitania, a esse tempo ainda complica-
dos pelas negaças dos demarcadores espanhóes e por
ventura prolongar a convivência com o naturalista, que
lhe puzera a sciencia á sua disposição (78) ; a tal ou qual
Perturbação causada pela substituição de um governador
atilado e conhecedor das peculiaridades da Capitania, por
outro, cujas habilidades estariam condicionadas a con-
firmação ; a convalescença dos que não escaparam ao
assalto das sezões, tudo concorreu para deter vários mezes
a expedição em Villa-Bella, onde Alexandre entrou a
esquadrinhar os archivos, quando não fazia observações
Pelos arredores, ou se entretinha com Silva Pontes, seu
condiscípulo e amigo, a respeito das explorações geo-
graphicas, que este ultimara a 4 de Janeiro, quando o
salteou, ao regressar dos sertões dos Parecis, a noticia
da dissolução da Commissão demarcadora.
4
Indio Ucrequena
Vip.getn Philosoph'ca, c!« Alexnndre RoJrigues Ferreira.
Observações Zoologicas
Deparou-se-lhe, a Ferreira, por essa época, ensejo
£ retocar a monographia, em que enfeixava as suas
observações zoologicas, colhidas nas excursões pelos rios
Amazonas, Negro e Madeira (79).
Datou-a em Villa Bella, aos 29 de Fevereiro de 1790,
Para assim apresilhar a remota capital mato-grossense,
no período colonial, á sua obra scientifica.
Em verdade, nenhuma outra, das que tivemos
Opportunidade de manusear, se nos afigura mais expres-
sa das qualidades e defeitos do naturalista, cujo saber,
bebido em leituras constantes, e robustecido pela contri-
'Ção pessoal, ahi se derramou á larga, sobranceiro a
u
3. - a prodigalidade da natureza,
a
li •
marinos, a sorpreza da restricção governativa aos seus
I Alexandre Rodrigues Ferreira 114
trabalhos, não se demorou em explicar o que lhe fôra
indicado.
A proposito, alem da carta albuquerquina, de 18 de
Maio, chegou'lhe ás mãos o relatorio do seu "condiscípulo
e amigo", astronomo Antonio Pires da Silva Pontes, que
a 29 lhe entregou minuciosa exposição do que vira de
interessante em mineralogia pelos sertões, de onde manam
os tributários do Paraguay e do Guaporé.
Estava, pois, sufficientemente informado para ence'
tar nova peregrinação.
Dias de agonia
A's vesperas de S. Pedro, surdo aos convites para
folganças tradicionaes, abalou-se, com a sua comitiva,
tumo ao Nascente, em busca da villa, onde primeiro se
condensaram os bandeirantes, entre o Coxipó e o Cuiabá.
A viagem morosa, como exigia a preocupação de augmen-
tât as colheitas de amostras nos très reinos da natureza,
dilatou-se por uma semana, até Lavrinhas, onde o guarda
m o r Manoel Vellozo Rebello e Vasconcellos possuia "as
maiores fabricas", á distancia de 15 léguas de Villa Bella.
Em trabalhos de explorações das cercanias escoaram-
se-lhe os dias até 14 de Julho, quando se aventurou a
verificar a constituição da gruta, cuja existencia os
'Annaes" municipaes registraram, attribuindo-lhe a
descoberta á bandeira que o Padre Fernando Vieira da
Silva mandára, em 1788, aos sertões dos Parecis, á pro-
cura de minas de ouro.
Acompanhal-o-iam os dous desenhadores, "com
outro estudioso da Natureza, Manoel Joaquim Leite
Penteado, que é um amigo meu, a quem devo nesta
Capitania uma não pequena parte das minhas colleções
naturaes."
Facilmente alcançaram o sitio do padre Fernando, á
latitude de 15°16', e a légua e meia acima da ponte sobre
o Guaporé, que se alargava, nessa passagem, por 15 braças
e duas de fundura.
I Alexandre Rodrigues Ferreira 116
Engenhos de assucar e de aguardente, casas de vi-
venda, pomar e hortas, "sobre terras argillaceas e ferru-
ginosas que favorecem muito a vegetação das cannas",
constituíam os haveres do proprietário que, em tempos
idos, também cavára "boas lavras de ouro". Pelas in-
dicações dos vaqueanos, iriam de novo transpor o Guaporé,
uma légua á frente, onde encontraram abandonado tiju-
par, que lhes serviu de abrigo por uma noite.
Adiante, adensava-se a mata bravia, que os forçou
a aligeirar a carga.
Desistiram das montadas e cargueiros, que não
varariam o cipoal, com que toparam.
A pé, levariam apenas o indispensável á manutenção
pelo menor prazo possível.
"Foi assim que o nosso viatico se reduziu ao summa-
mente necessário, quero dizer, a uma pouca de farinha,
quanta se pode acommodar em dous alforges, para se
transportarem ás costas de dous pretos."
Frutos e caça confiavam que lhes daria a floresta
virgem, cujo terreno fofo palmilharam por mais de onze
léguas.
Afinal, pela tarde de 18, toparam com o lugar in'
dicado, que o naturalista especificou em termos incon-
fundíveis.
"Está situada a gruta das Onças, nas abas de um
morro, tendo a sua base voltada para O. S. O. Por ella
sae um ribeirão de agua fria, clara e crystalina, a qual
corre sobre um leito de areia branca, fria e movei."
Quando se lhe azasse vagar de descrevel-a, recorda-
ria outras, celebrizadas pela sua belleza ou bizarria,
fossem naturaes, ou fantasiadas pelos poetas, e bem
assim a curiosidade de que foi presa ao ler a narrativa
dos seus primeiros exploradores.
"Confesso que tanto mais se me accendera o desejo
de a visitar, quanto mais simples me parecem o estilo
da sua descripção. Estilo, que a ninguém encanta com
I Alexandre Rodrigues Ferreira 117
OS seus ornatos, de nenhuma fôrma engenhoso, ou affe-
ctado ; porem, ao que se me representou, todo eile filho
da singeleza, e, por conseguinte, da verdade."
Não lhe notou, porem, emblemas religiosos, de que
deu noticia o devassador da lapa, onde moravam onças
e morcegos.
"A semelhança de capella, também ali observada,
foi verdadeiramente uma visão devota, porque tal seme-
lhança não ha. Bemaventuradas gentes, para as quaes
cada tóca se lhe transforma em uma ermida, cada risco
é uma cruz, cada penha um altar e cada pedra uma
imagem." Nenhuma particularidade maravilhosa foi
então lobrigada na gruta, em cuja minuciosa exploração,
á luz de archotes, Ferreira, jejuno, se demorou pela
manhã de 19, das 6 horas ás 10, pés afogados na fria
agua do ribeirão, a medir-lhe as dimensões e investigar-
lhe os elementos definidores de sua formação (92).
De volta, salteou-o copioso aguaceiro, que lhe en-
charcou a roupa toda, engravescendo-lhe o resfriamento
que apanhára.
A caminhada, excessiva para o seu organismo, já
debilitado pela moléstia, a nutrição deficiente, o corpo
envolto em vestes molhadas, tudo contribuiu para
prostal-o, presa indefeza de atroz "perniciosa". Mal poude
alcançar Lavrinhas, onde o guarda mor Vellozo o acolheu
com desvelo e amizade e tratou-o como lhe era possível.
Diaphoreticos, seguidos de emeticos e purgantes,
enumeraria mais tarde, eile proprio, ao recordar o lance
em que esteve sem vida consciente, de 21 a 27 de Julho,
bem como diluentes, adoçantes e refrigerantes, tudo
ingeriu o doente, que não dava signal de reação organica.
A gravidade evidente do seu estado morbido não
convinha fosse desconhecida ao Capitão General a
quem José Joaquim Freire se apressou em ir dar sciencia
do decorrido. Das providencias então tomadas sem
tardança, diria o beneficiado :
118 Alexandre Rodrigues Ferreira
"Devo a S. Exia, a extraordinaria honra, caridade
e agasalho com que sem perda de tempo, não somente
me enviou de sua própria botica, os mais vigorosos
medicamentos, mas também encarregou de sua admi-
nistração ao Cirurgião de sua Camara, o Licenciado José
Ferreira, de cuja direção, experiencia e desteridade, muito
me aproveitei, para me conduzir ao estado de melhora,
em que me elle durou. Por este modo, não foi Deus
servido terminar daquella vez os trabalhos da minha
peregrinação." Por semelhante gesto de carinhosa corte'
zia reconquistou João de Albuquerque a confiança do
sezonatico, sobremaneira reconhecido aos cuidados gover-
nativos, pela sua pessoa,a quem não faltou também a
assistência desvelada e incessante dos amigos, que soubera
grangear pelo seu trato afavel.
Palmilhando lavras cuiabanas
Bem que enfraquecido pela doença, que o deixára
desacordado vários dias, até 27 de Julho, já em Agosto
seguinte se encontrava a caminho do Jaurú, onde colheu
amostras de sal, cujo beneficiamento promoveria.
Dalli seguira, provavelmente, o itinerário de que
deixou uma copia no archivo da expedição, pela fazenda
de Manoel Gonçalves, ribeirão das Pitas, Caiçara, ri-
beirão das Frechas de Bento Gomes, arraial dos Cocaes,
Para afinal attingir, a 27 de Setembro, o rio Cuiabá,
transposto o qual, se lhe abriram á curiosidade as portas
da villa sertaneja, por essa época ainda condensada a
meia légua do seu porto geral.
Seria interessante o confronto, que o naturalista
fizesse entre as varias villas observadas em sua longa
exploração. Era Cuiabá a derradeira da serie, não
obstante uma das mais antigas, e talvez a mais acentuada-
mente filiada aos bandeirantes, cuja descendencia a po-
voára com cerca de 10.000 pessoas, que não somente lhe
revolviam o cascalho, á cata de ouro, como ainda lhe
aproveitavam a fertilidade do solo, patente nos pomares
urbanos e roças circumjacentes, que margeavam o rio
até 14 léguas abaixo, e em maior extensão para montante
e grimpavam pelo planalto, em torno do povoado de
Sant' Anna, e iam até Quilombo. Embora destituída de
sua primazia, por injuncções politicas de ordem inter-
nacional, que geraram a Capital fronteiriça, em Villa
120 Alexandre Rodrigues Ferreira
Bella, conservava pronunciada altivez de proceder, que
levára á prisão um juiz — Morilhas — contra quem o
Capitão General Rolim acceitára a queixa do povo, e
amarguraria os dias do segundo Albuquerque, ainda por
causa de um magistrado, Moura Cabral, em cuja recondu' j
ção, pleiteada pela Câmara, não consentiu o Governador.
As chronicas locaes registrariam o dissídio, que se
estabeleceu entre as autoridades, sem vantagem para o
representante de El Rei, que se viu malquisto em Cuiabá,
não obstante a nomeada do irmão prestigioso. Seriam
occurrencias, porem, ulteriores á visita de Ferreira, a
quem se depararia a villa ainda vibrante de alegria, mani-
festa exhuberantemente nas commemorações recentes,
com que festejára o natalício do juiz de fóra, Dr. Diogo
de Toledo Lara e Ordonhes, cuja vida benemerita A. de
Taunay evocou, em bellas paginas biographicas, estarrv
padas no tomo II dos "Annaes do Museu Paulista".
Para lhe testemunhar a satisfação geral á sua irv
tegra magistratura, dedicou-lhe o povo cuiabano uma
quinzena de festejos, em que se incluíam ceremonias
religiosas, bailes, cavalhadas, representações de comedias
e tragedias, recitativos, cuja descripção pormenorizada
a Revista do Instituto Historico de S. Paulo trouxe a
lume (volume IV).
Indicio de que a villa bandeirante, viuva de carinhos
governativos, que se concentravam na Capital, não per'
dera a alegria de viver, que lhe mantinha acentuada acti'
vidade social e intellectual, de admirar no recesso dos
sertões, onde medrára, nutrida pelo ouro de suas lavras
opulentas. Enaltecido pelos jurisdicionados, de todas as
classes, o magistrado acolheu com satisfação o forasteiro,
testemunho insuspeito da rectidão de sua judicatura e
seu contemporâneo de estudos universitários.
E mutuariam informações e ensinamentos, de que
Ordonhes se valeria por ventura na sua "Ornithologia",
i
Alexandre Rodrigues Ferreira 121
e Ferreira nas pesquizas históricas referentes a Cuiabá,
em que era aquelle summamente versado (93).
Todavia não consta indicação alguma relativa a tal
troca de conhecimentos, ao contrario do que se deu com
outro condiscípulo, Silva Pontes, a cuja amizade prestadia
se referiu o naturalista, penhorado ás indicações que delle
recebeu. Em Cuiabá, Ferreira restabeleceu-se de todo
e preparou-se para viajar até o forte de Coimbra, de-
pois de redigir a descripção da Gruta, de tão penosa
recordação.
A Gruta do Inferno
Outra, mais grandiosa, deveria explorar, ao fim de
alongada viagem por agua, ao som da correnteza, até
Coimbra, em cujas immediações a descobriram alguns
caçadores do reducto militar, iniciado em 75.
Descreveu-a, em seu estylo isento de velleidades
üterarias, o sargento mor Ricardo Franco de Almeida
Serra, quando sulcára, poucos annos antes, o Paraguay,
desde a confluência do Jaurú até o Fecho dos Morros,
em trabalhos de levantamento topographico da faixa
fronteiriça (94).
Não conseguira, porem, esquadrinha-lhe todos os
compartimentos, como resolveu o naturalista fazer,
maravilhado de tamanha belleza natural. Seria o segundo
visitante curioso, em ordem chronologica, e o primeiro
capaz de apreciar o phenomeno espeleologico, e tentar-lhe
a analyse das causas geradoras. A descripção, que lhe
flue da penna, já em marcha de regresso, pois que a datou
de 5 Maio, ao frontear a bocca da bahia de Uberaba,
ainda patenteia a mesma viva emoção, que o empolgou,
Um mez antes, ao devassar-lhe os segredos.
Um dos raros trabalhos seus, que tiveram a sorte de
ir aos prélos, encontra-se estampado, mais de uma vez (95).
Ahi refere ter partido da fortificação, pela manhã de
4 de Abril, e após viajar cerca de hora e um quarto, em
canoa ligeira, alcançou o porto de desembarque, onde
I Alexandre Rodrigues Ferreira 118
começou a marinhar pela encosta, em procura da bocca
da gruta.
"Está situada, resume, na contra-costa que olha
para o Norte, correspondendo bem ao lugar em que, na
face opposta, está fundado o referido prezidio.
A interposição de uma grande pedra divide a sua
boca em duas, a primeira de 10 palmos de comprimento,
a rumo de N. S. com sete de largura, e a segunda que
lhe fica superior e onde entrou, de onze palmos de com-
primento a rumo de S. O., e oito de largura. Pelo que de
si mostram ambos ninguém pôde ajuizar do que dentro
é similhante gruta."
O confronto, ditado pelos soffrimentos que lhe
causou a outra, brotam-lhe sem esforço do subconsciente
conservador das penosas impressões lá sentidas.
"Não é como a celebrada Gruta das Onças, onde I
exceptuada a grandeza, nada mais ha que ver, senão
agua, entulhos e morcegos ; porem até na grandeza a
deixa muito a perder de vista a Gruta do Inferno, digna
certamente de um mais apropriado nome de que este,
que lhe poz quem a viu primeiro, que sem duvida se
horrorisou da sua escuridão e profundidade.
Deixando-se escorregar por uma escarpa de 190 pal-
mos de profundidade, regozijou-se Ferreira com o que se
lhe deparou á vista.
"Eis aqui onde a Natureza me tinha preparado o
maravilhoso espetáculo que recompensou dignamente
tanto o perigo como o meu trabalho ; porque olhando
á primeira vista, o todo que se me offerecia depois de
distribuídas as luzes em proporcionadas distancias, re-
presentou-se-me uma mesquita subterranea que, observa-
da por partes, de cada uma delias saltava aos olhos uma
différente perspectiva.
A que do fundo daquelle grande salão se offerece á
vista do espectador, collocado na entrada delle é de um
magnifico e sumptuoso theatro, todo elle decorado de
I Alexandre Rodrigues Ferreira 119
curiosíssimos estalactites, uns dependurados da aboboda
que constitue o tecto, como outras tantas goteiras fusi-
formes, curtas ou compridas, grossas ou delgadas, re-
dondas ou compressas, simplices, bifurcadas ramosas,
yerrucosas, tuberosas etc. ; outras alçadas ao pavimento,
á maneira de pilares, columnas, columnetas, lisas ou
canelladas, pavilhões de campo etc. e um destes tão
grosso, que dois homens a não abraçam."
Deslumbrado, permanecera em perscrutação minu-
ciosa, até que os archotes, ao fim de quatro horas, en-
traram a extinguir-se. Interrompeu-a para voltar no dia
seguinte, quando o ambiente, enfumaçado pela com-
bustão da vespera, mal permittia escassa propagação da
claridade.
Afinal, em terceira investida, conseguiram os de-
senhadores, com extraordinário esforço, esboçar os
"prospectos", a que se referiria o naturalista para com-
pletar a sua descripção (96).
Quanto ás dimensões, bastou-lhe informar : "viu-se
que tão somente o salão, incluída uma recamara sua,
tinha de comprimento total 510 palmos." E para lhe
indicar as condições de abrigo amplo, ajuntou "pôde
uaquella gruta aquartelar-se á vontade um corpo até de
1-000 homens."
Irídio Caripuna
Viagem Philosophica, de Alexandre Rodrigues Ferreira.
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Zr//////////^ Jth^lErf-
)
Jíi
Assignatura aatogrcipho de Alexandre Rodrigues Ferreira.
(Do original da Bibliotiieca Nacional, por gentile '
2
I
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
methodo de as fazerem, eram as da deshumanidade.
Porque abalroando as rancharias, em que se viam os
barbaros, nas bocas de fogo faziam acabar os que natural'
mente pegavam nas armas, para sua defesa.
Mettiam-se os vencidos em correntes ou gargalheiras j
e depois se repartiam pelos conquistadores.
A estas tão injustas acções acompanhavam atroei'
dades inauditas e indignas de se referirem."
Destes períodos, que lhe brotaram da franqueza
indignada, resumbra a piedade humana do naturalista
pelos soffredores, ainda que da mesma raça dos que lhe
haviam causado aborrecimentos innumeraveis.
Curando males
As provações por que passára ao avisinhar-se da
Capitania, engravescidas no Guaporé, que o recebera
c om um dos seus traiçoeiros repiquetes, a que attribuiam
o desencadear de agentes malignos, e mais ainda, em
Lavrinhas, onde a Morte lhe rondou em torno, por dias
inesquecíveis aos que lhe velaram á cabeceira, e, depois,
0 acolhimento amistoso, que por toda parte lhe facilitava
a incumbência, tudo concorria para estimular a bondade
natural, que o fazia anciar por de alguma forma ser util
a população, a que se afeiçoara.
De dous modos, cuidou de prestar-lhe o concurso
de seus conhecimentos, consoante as idéas, que lhe
brotavam de firmes convicções.
Por um lado, consideraria a actividade economica
da Capitania, para lhe suggerir modificações a seu ver
melhoradoras da decadencia da mineração do ouro.
De outra parte, recorreria aos seus antigos estudos,
Para attentar na incommum nosologia regional e indicar
providencias preventivas, ou alliviadoras de moléstias
derreantes.
Varias vezes ouviria queixas contra o sumiço do
ouro, que já não luzia nas bateias, como outrora. Afigu-
raram-se-lhe infundadas, particularmente no districto
mais antigo, cujo conhecimento o levava a affirmar :
''Muito rico é o Cuiabá, porque em qualquer parte que
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
se mette a alavanca, ou na rua, ou nos quintaes, em todos
se tira mais ou menos ouro."
Era, aliás, recente a descoberta, a occidente, das
lavras do Sapateiro, repartidas em 89, "onde desde a
flôr da terra se recolhe o ouro que com elle está misturado,
sem se desmontar terra alguma, porque com as raizes |
do capim está elle misturado". Não havia, pois, em-
pobrecimento das formações auríferas, mas somente di-
minuição do rendimento de trabalho dos mineiros, que
já não se contentavam com as vantagens da sua profissão,
mas ainda pretendiam por todos os modos adquirir ouro,
como lavradores, senhores de engenho, ou criadores de
Destarte, a escravaria não se concentrava mais nas
minas, como antigamente, com dous ou très por cento,
quando muito, de egressos para outros affazeres.
Imperava, ao revez, systema diverso de distribuição
de trabalhadores.
Entre 60 escravos, por exemplo, tornou-se commum
a reserva de très e quatro para pagens, dous para a sapa-
taria e barbearia, dous para cosinha e curral, sete desti-
nados á róça, de sorte que cerca da quarta parte se des-
viava da estracção directa do ouro.
Simultaneamente, outros hábitos occasionavam au-
gmenta das despezas de cada um, mercê de maior esmero
no trajar.
"Desconhecia-se o luxo, porque um capote e uma
vestia e calção de panno, que houvesse o mineiro, repu-
tava-se ser o tratamento preciso para très annos.
Ainda não ha 20 annos, que se não viam no Cuiabá
quatro saias de seda, nem esses pomposos apparatos que
hoje se veem."
E, quanto á dispersão de esforços, "não se tinham
introduzido manufacturas de algodão, de assucar, de
rapadura, sobretudo de aguardente da terra que tantos
braços distrae dos serviços de mineração sendo por outra ,
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
parte certo que então sahiam os escravos a preços muito
ma i s commodos, do que agora."
Para corroborar o que dizia, apoiou-se na estatística,
mediante a qual estimou a dispersão de trabalhadores
Por 62 estabelecimentos agrícolas, destinados ao trata-
mento da canna, tanto para produção de aguardente,
como de assucar (98).
A tendencia á policultura afigurava-se-lhe, pois,
nociva á mineração, como o luxo, e o abuso dos preten-
dentes privilegiados, a quem o regulamento facultava a
Aquisição de tres datas mineraes, para evitar sensíveis
desigualdades nos quinhões. Entretanto, em S. Pedro
d El Rei, germen de Poconé, soubera que tres mineiros
Possuíam cerca de mil datas, cuja exploração estaria fóra
do alcance dos outros, por ventura mais bem apparelha-
dos para os serviços respetivos.
Si as conclusões do naturalista resultavam de pre-
missas apresilhadas a inconsistente concepção economica,
nem por isso desmerecem as suas informações a respeito
da organização de trabalho na Capitania (99), a que
faltou, aliás, a ultima demão, que as enfeixasse em orde-
nado ensaio, á maneira do que dedicou ao estudo medico-
sanitario da região, com o rotulo de Enfermidades ende-
nicas da Capitania de Mato Grosso (100).
Não seria propriamente da sua especialidade, mas
me espelhava intuitos humanitários, visando o beneficio da
População que tão amistosamente o acolhera. "Depois
de eu ter observado pelo espaço de dous annos, explica
de entrada, quaes eram as enfermidades endemicas da
Capitania de Mato Grosso, e de ter ao mesmo tempo
reconhecido que a maior parte delias se não remediava,
como poderia ser, em se vulgaVizando os necessários
conhecimentos médicos, para com elles se suprir a falta
de professores, assentei commigo de vulgarizar os que
possuia, ou fossem próprias, ou alheias e concluído este
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
opusculo, franqueal'0 aos que o quizerem lêr, e tirar delle
o proveito, que se lhes pode seguir."
Elaborado nos escassos vagares da sua lida "sahiu
ultimamente este pequeno signal do meu zelo, e não do
meu instituto".
Tal resalva deveria amenizar a critica dos futuros
collegas seus, que lhe inculpassem de defeituosa a obra
de emergencia, com que se esforçou por alliviar os soffri'
mentos dos achacados.
"Que elles assim o entendam, ou não, fiquem certos,
que nenhuma paga lhes peço pelo meu trabalho. Assaz ;
recompensado fico com a satisfação, que tenho, de tra' 1
i
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
topographia da planura encharcada, mal interrompida,
onde se fixou o Forte do Principe, na aba remanescente
do espigão encostado ao macisso dos Parecis, que re-
sistiu á erosão de agentes destructivos.
"I mas e outras margens, tanto as do Guaporé, como
as de seus collateraes, são pela maior parte baixas". E
mais ainda, nas visinhanças da Capital. "Toda esta
campanha, e que se chama da Villa, é um terreno alaga-
diço de estereis areias" (areia manteiga, annota, de sua
Propria letra á margem). Em meio do terreno achanado,
o núcleo fundado por A. Rolim de Moura não sobranceava
as alagações. "A villa em si é regular ; as ruas direitas,
porem pouco largas e por calçar ; donde vem, que com
as invernadas se encharcam, e a todo o tempo facil-
mente as excavam os Porcos, que vagam por ellas,
fossando o terreno, e abrindo nelles fossas e charcos
Para se deitarem."
Não admira o espectaulo, proporcionado pela irre-
verencia dos suinos, á vista dos capitães generaes desta-
cados para Villa Bella, quando no Rio de Janeiro, ao
tempo dos vice-reis, não lhes seria mais discreta a pratica
balnearia do enxurdeiro pelas ruas citadinas, como lem-
brou Luiz Edmundo.
Aliás, á beira do Guaporé, houve intuito urbanístico
do fundador da villa, onde "as casas, sim, estão alinhadas,
porem são terreas, cobertas de telha vã, e todas ellas,
ou simplesmente aterradas, ou ladrilhadas de tijolo.
As janellas, pouco rasgadas, ainda se defendiam de
olhares indiscretos por "gurupemas" que fazem das casas
outras tantas caméras escuras e tristes e impedem o
livre accesso do ar."
Habitualmente as chuvas do primeiro trimestre de
cada anno occasionavam inundação dos arrabaldes da
villa, cujas mais afastadas ruas se transformavam em
canaes, por onde navegavam, de canoa, os moradores.
w
!
Lance romântico
Quando teria Alexandre Ferreira terminado os seus
estudos em Mato Grosso?
Beaurepaire Rohan fixa em 2 de Outubro de 91 o
jnicio de sua viagem pelo Guaporé, aguas abaixo. Não
na porque duvidar da informação, transmittida por quem
se mostrava pontual no que incluia em seus "Annaes de
Mato Grosso".
_ Escasseiam, dahi por diante, os documentos relativos
a "Viagem Philosophica" do naturalista, a quem se de-
pararia, em Belem, inesperado azo de exhibir a sua in-
dividualidade singular.
Lá encontrou o correspondente, Capitão Luiz Pereira
da Cunha, que se dizia empobrecido pelos extraordiná-
rios gastos, a que o forçara a remessa a Lisboa das amos-
tras colhidas pela expedição, em cujo desembolso ainda
Permanecia, surdo o governo ás suas instantes reclamações.
De tal maneira a divida official, pela prolongada
insolvência, lhe abalara as finanças, que nem possuiria
'Uais com que dotar a sua filha, a quem se fechavam
destarte as possibilidades de rasoavel consorcio. "Isso
não servirá de embaraço a seu casamento, replicaria o
naturalista, consoante a versão registrada pelo seu pane-
gyrista na Academia de Sciencias ; eu serei quem recebe
swa filha por mulher".
E, de feito, aos 26 de Setembro de 1792, desposou
Germana Pereira de Queiroz, predestinada a sobre-
viver-lhe.
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
Seria, porem, essa, ou, por outra, somente essa a
causa do encerro da vida solitaria de Ferreira, e o inicio
de outra, em cujo decurso ignoramos si lhe correu de
completo agrado o convívio?
O gesto envolve-o em halo de romantismo, que não
poderia ser de imitação, pois a onda romantica, por essa
época, não entumecera ainda, a ponto de actuar nos
costumes e decisões da seguinte geração.
Derivaria de sua probidade, sobranceira á pobreza,
e sentimento visivel de justiça.
Si fôra o causador, mal a seu grado, da ruina finan'
ceira do amigo, que lhe servia de intermediário na re'
messa dos volumes destinados ao Gabinete de Historia
Natural, parecia-lhe justo indemnisal-o, por modo cofl'
digno, offerecendo a sua pessoa, já que não dispunha
também de reservas pecuniarias com que resarcisse as
avultadas despezas realizadas por ordem sua.
Tal a tradição que nos transmittiu M. J. Maria da
Costa e Sá. Não obstante, ha certos indícios que poderiam
inspirar ao naturalista a mesma escolha, independente da
necessidade de reparar, pelo matrimonio, a insolvência
do governo lusitano, em cujo nome expedia os productos
recolhidos ás pressas.
Em varias de suas monographias, acabadas annos
antes, o nome de Luiz Pereira da Cunha salteia-nos a
cada passo, mais do que outra qualquer pessoa. E' elle que
tem um oratorio particular em Belem, o organizador de
dous pesqueiros em Manguary e Carutapera, preparador
de cal, obtida de conchas, o possuidor do melhor engenho
de beneficiar arroz, na ilha de Cutijuba, e de canoa de
transporte de gado de Marajó. O espirito empreendedor,
que patenteava, como industrial progressista, attraia a
sympathia do naturalista, desde os primeiros tempos da
expedição, a ponto de ser escolhido para receber os pro-
duetos, que lhe viessem endereçados do interior do Rio
Negro, ou Guaporé, e encaminhal-os a Lisboa.
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
O desempenho cabal, que dera á incumbência, a des-
peito do atrazo progressivo da pagadoria lusitana, tor-
nara-o merecedor de rasgados gabos, com que Ferreira
lhe inscreveu o nome entre os abnegados cooperadores do
desenvolvimento das sciencias naturaes.
Entre ambos havia, pois, motivo sufficiente de appro-
ximação, que facilmente explicaria possível afeição do
naturalista á filha do seu admirador prestadio, cujos en-
cantos perceberia augmentados pela valia paterna.
Aliás, as difficuldades financeiras do capitão Pereira
n ão provinham exclusivamente do custeio dos despachos
Para Lisboa, a que fôra obrigado, por agradar ao amigo,
antes derivavam da multiplicidade de suas industrias,
nem sempre lucrativas.
A este ponto vem a carta de Ferreira a Frei A.
Baptista Abrantes, por intermedio de quem fizera sciente
ao conselheiro Jacintho Fernandes Bandeira, "que por
fallecimento do meu sogro, o Capitão Luiz Pereira da
Cunha, contractador que foi dos Reaes Pesqueiros, na
Capitania do Pará, ficou a sua casa alcançada com a
Fazenda Real em onze mil e tantos cruzados" cuja divida
se acha quasi amortisada pela pontualidade dos paga-
mentos das annuidades de 600$000, acceitas por des-
pacho do Príncipe Regente que desta maneira facilitou
a solvência de velhos compromissos.
Outros, porem, ainda havia, na importancia de
4:648$000, de que era credora a Companhia Geral do
Commercio.
"Quizera eu obsequiosamente, continuava o natura-
lista em sua carta de 16 de Setembro de 1802, devesse a
graça de ordenarem aos seus administradores do Pará, que
n a cobrança daquella divida particular, procedam elles
com minha sogra D. Guiomar Joachina de Queiroz e
Oliveira, assim e da mesma sorte que mandou o Príncipe
Regente, N. Senhor, proceder com ella a respeito da Real
Fazenda." Propunha, então, a mesma contribuição an-
1
146 Alexandre Rodrigues Ferreira
nual para amortizar a obrigação contrahida com a extinta
companhia, cuja liquidação ainda perdurava.
No total da ultima divida averbar-se-iam acaso as
parcellas referentes ás remessas de productos naturaes da
expedição, que, em tal hypothese, não teriam sido sal'
dadas com as economias constitutivas do lendário dote
nupcial. Como quer que seja, porem, á mingua de outros
documentos esclarecedores, ou informações fidedignas,
que nos pintem o naturalista, já entrado nos 36 annos,
enamorado pela donzela, que revia, após ausência de
longo septennio vivido atarefadamente, em meio de
provações de toda laia, continuará a propagar-se a versão,
divulgada por Costa e Sá no ambiente sereno e douto da
Academia das Sciencias.
I
Parada fecunda
Emquanto permaneceu no Pará, antes ou depois do
casamento, não cessou Alexandre Ferreira de adiantar
as suas pesquizas.
Ahi teria provavelmente ultimado o escripto acerca
das Enfermidades endemicas da Capitania de Mato Grosso,
Para acudir ao soffrimento humano, e iniciado outro, que
datou de 24 de Abril de 1792, em defeza dos direitos de
sua patria, com o rotulo de "Propriedade e Posse das terras
do Cabo do Norte pela Coroa de Portugal.
Este, mais do que o outro, fugia-lhe á especialidade,
mas lhe deu ensanchas de por á próva a sua agil dialéctica,
esteiada em forte cultura, para provar "que as terras do
Cabo do Norte, sitiadas entre o Rio das Amazonas e o
Oyapock, ou Vicente Pinzon, são privativas da corôa de
Portugal".
A these que lhe coube sustentar exhuberantemente se
mostra de direito e de facto.
De direito principia, convicto, pois que "foi ad-
quirida por descobrimento e conquista ; confirmado pelo
onsentimento dos naturaes; sustentado pelas despezas da
c
Porque ?
Nas garras do Leão
Não havia soado a hora sezonatica do corso, própria
a desforra.
Ao revez, expandiam-se as marcas leoninas pela
Europa ,'nteira, salvo a Inglaterra, que a espada de Nelson
preservou do jugo ominoso.
Entre os dous inimigos implacaveis, a um canto do
continente napoleonizado, a que precisava unir-se poli-
ticamente, mas sujeito ao arbítrio dos marujos victoriosos,
Para as ligações com as colonias mantedoras de sua vida
economica, Portugal oscillava, irresoluto, ora pendendo
Para a terra, ora para o mar.
Governado por uma Rainha, enlouquecida desde
1792, e, em seu nome, pelo filho, cuja mulher acariciára
a hypothese de obter-lhe a interdição por motivo analogo,
reflectia-se no scenario politico a mesma abulia domestica
do Príncipe, e frouxa irresolução, de que Bonaparte não
deixaria de estar bem informado.
Si não tivera o usurpador maiores condescendencias,
com outras testas coroadas, que lhe acceitaram o desafio,
e sairam a campo, dispostos a rechassar-lhe as legiões,
embora sem êxito, porque haveria de poupar o tradicional
alliado da Inglaterra, cujos actos de hostilidade aos velhos
amigos, ditados de Paris, pareciam simulados?
Não titubeou em condemnal-o á pena ultima, pelo
ajuste de Fontainebleau, que prematuramente repartia
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
entre os contractantes a pelle do urso, ainda vivo. E
mandou, a toda a brida, Junot preparal-a, ao fim de
espectaculosa passeiata militar.
Não contava, porem, com o passo magico do animal
astucioso, nem com a cautela de Lecor, alviçareiro nuncio
da invasão, que logrou esbarrar na fronteira, graças á
ponte, que destruirá opportunamente.
Sabe-se não foi pequeno o desapontamento do con'
quistador, ao vêr-se burlado pelo mais fraco dos gover-
nantes europeus, o único sangue azul do continente, que
lhe escapou das garras.
A esquadra luzitana, que se conservava de prompti'
dão, com intuitos oppostos, mobilisou-se apressadamente,
e recebeu a população, que se desterrava, com a sua
côrte, para não soffrer o dominio extrangeiro.
"Oito navios de linha, quatro fragatas, doze briques",
alem de cargueiros e mercantes, acolheram os fugitivos,
que iam atabalhoadamente, acompanhando o seu gover-
nante, que, ao pisar o litoral brasileiro, recuperou a voz,
para responder ás provocações napoleónicas, do "seio
do novo império que vou criar."
Ao seu lado, a fidalguia em peso, os funccionarios,
quantos tiveram tempo de embarcar, na lufa-lufa pre-
cipitada, em que julgavam perceber o toque de avançar
da vanguarda de Junot, applaudiam-lhe o desafio en-
dereçado ao desmantelador de thronos. Do séquito real,
todavia, esmado em 15.000 pessoas, não participava quem
se mostrára tão hostil ao imperialismo de Bonaparte e
estrenuo apologista da integridade do Brasil, que offerecia
séde magestosa á Monarchia, onde poderia ella reflorescer
e agigantar-se. Alexandre Rodrigues Ferreira não des-
prezou Lisboa, nem o seu museu.
Porque, não se sabe ao certo.
Alexandre Rodrigues Ferreira 165
Não seria apego interesseiro ao cargo, que de uma
teita pretendera deixar.
Provavelmente, por imposições moraes do dever a
cumprir, quando exaltados lisboetas se apressuravam em
etter-se no bojo dos navios em fuga.
Não arredou pé do seu posto de trabalho, onde iria
m
Traumatismo incurável
Era o golpe derradeiro, com que a desdita lhe dava
remate á abnegada actividade scientifica. Sonhara, nos
°nges da sua mocidade, laurear-se de glorias, em serviço
sciencia, a que se consagrára.
a
flancos.
0 s
i
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
!
Mal se lhe deparava azo de reter as carateristicas
dos que sumiam, como praticara com o simia ynormon,
quando morreu o exemplar recebido da índia.
Trabalhava, todavia, com o mesmo ardor, para,
no tocante á sua jurisdição, sanar as falhas, com qu e
as suas classificações.
m a r
de 86.
O maior collaborador do naturalista, que por isso
lhe dedicou elogios em profusão e agradecimentos a todo
proposito, foi a maxima autoridade na Capitania do
Negro, o proprio J. Pereira Caldas. De sua penna brotou
o que se intitulou de : 84 — Reflexões abreviadas sobre os
principaes motivos que obstaram ao maior e desejado p ' r0
baldas.
Proximo, segue-se-lhe o ensaio, numerado 94, com
o titulo "Virtudes, preparação e uso da raiz de caninana
nas enfermidades venereas, tanto recentes como chronicas,
que setá, por ventura, do naturalista, ou mais provavel-
mente de algum cirurgião contemporâneo. Somente o
exame do códice em que não deitamos os olhos, poderá
exclarecer a duvida. Assim também occorre acerca do
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
numero 97. "Nota sobre a linha mandada tirar desde a
foz do riojaurú até o de Sararé segundo o artigo 10 do tratado
de limites" eshaustivamente discutido, antes da viagem
do naturalista, por Luiz de Albuquerque, amparado nas
explorações dos engenheiros e astronomos, quando a
taxou de inexequível e contraria ao proprio espirito do
ajuste lindeiro.
Em iguaes condições, acha-se o numero 116 —
Alguns apontamentos sobre a Provinda do Pará, colli-
gidos por J. J. Machado de Oliveira, que incluiu na sua
miscellanea, varias copias de memorias de Ferreira.
Em materia de sua profissão, ainda se poderia indagar
da paternidade do numero 99 "Memoria sobre o lenho de
quassia, extrahido das dissertações de Lineu bem como o
numero 100 "Nomes vulgares de algumas plantas do Rio
de Janeiro reduzidos ao triviaes do systema de Lineu, e
da flora fluminense, departamento em que se distinguira
Vellozo, e 101, Directorio que S. M. mandou observar no
seu real Jardim botânico, museu, laboratorio chimico, casa
de desenhos etc. cuja data seria bastante para justificar
alguma conclusão.
Seguramente, a relação, quando rectificada, soffrerá
a diminição de uma dúzia de escriptos, que em nada pre-
judica a valia intellectual do naturalista, testemunhada
por outros (126) de sua incontestável autoria, que ainda
aguardam occasião de vir a lume, não obstante o compro-
misso do governo brasileiro ao requisital-os da Academia
lusitana.
E' divida que ainda permanece insolvente, a despeito
de tentativas esparsas de edital-os aos fragmentos, con-
forme iniciou o Instituto Historico e Geographico Brasi-
leiro em sua preciosa revista, e Mello Moraes, quando
as transcreveu, por longos trechos, na "Chorographia do
Império do Brasil".
JUÍZO da Posteridade
A' mingua de provas do seu justo valor, pois que os
escriptos que deveriam servir-lhe de credenciaes, jaziam
aferrolhados nas gavetas archivadoras, privados da
luz da publicidade, entraram os doutos a discutir a
nomeada do malafortunado naturalista, cuja vida se
Pontilhára de modelares actos de renuncia e alto senti-
mento do dever a cumprir.
Primeira voz a pronunciar-se, Manoel José Maria
da Costa e Sá ainda lhe era contemporâneo e consocio
na Academia Real das Sciencias de Lisboa, onde lhe
Proferiu o panegyrico, impresso no tomo IV das respecti-
vas "Memorias".
Em sua allocução, transbordante de admiração e
sympathia pelo inditoso naturalista, foram abeberar-se
todos quantos depois versaram o mesmo assumpto (127).
Pela amostra que veio a lume, aos fragmentos, ava-
liaram o acervo desconhecido, que não foi ainda conside-
rado em conjunto.
Sylvio Roméro, que lhe lavrou a condemnação, para
expulsal-o da historia da literatura brasileira, embora
reconhecesse a injustiça dos factores que o mantiveram
inédito, e, portanto, incapaz de exercer algum influxo
no pensamento nacional, não lhe poupou louvores ao
estylo, avaliados pelos excerptos que tomou á choro-
graphia de Mello Moraes.
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
Provavelmente não lhe manuseou os códices, que
lhe proporcionariam mais abundantes elementos de aquila-
tação.
E menos o fizeram outros, que, para melhormente
justificar os gabos, com que proclamaram a excellencia
intellectual de Ferreira, appellidaram-no de H u m b o l d t
Brasileiro, expressão usada por Varnhagem em seu "Flori-
légio".
E n t r e os seus biographos, contam-se dous natura-
listas, que tinham autoridade especialisada para lhe
avaliar o mérito das obras.
Mas Barbosa du Bocage, que revelou particulari-
dades até então ignoradas relativamente á missão pilha-
dora de Geoffroy, não encontrou mais, em Lisboa, os
manuscriptos alexandrinos, que Drummond enviára ao
Brasil, e não poderia, pois, opinar acerca da sua valia
scientifica.
Coube a Goeldi examinar-lhe os ensaios publicados
e proferir o primeiro julgamento de naturalista consum-
mado, que elegera para campo de suas observações a
mesma portentosa Amazónia, por onde Ferreira jorna-
deou mais de uma centúria antes.
Empolgava-o a mesma ancia de devassar os segredos
da terra mysteriosa, onde o seu predecessor penára por
extenuante decennio.
A semelhança das occupações despertou-lhe a sym-
pathia de que se embebe todo o ensaio consagrado ao
desventurado bahiano.
Todavia, o século decorrido aperfeiçoara os meios
de pesquizas e a systematica de que se utilisam os sabe-
dores.
Os trabalhos de Ferreira afiguram-se-lhe, por isso,
deficientes, quando não errados de todo, como ao incluir
o jupará (cercoleptés caudivolvulus) entre os macacos
nocturnos, em vez de rotulal-o de ursideo, e bem assim
ao emprestar características suinas á capivara.
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
Provavelmente Goeldi não manuseoira monographia
sobre os "mammaes", em que Ferreira systematizou as
suas observações Zoologicas. Se, antes, o jupará fizera
companhia aos simios, ali se collocou mais proximo aos
ursideos, entre a irára e o cachorro do matto.
E quanto ao maior dos roedores, si não lhe deu o
'ugar competente, também não o confundiu de todo com
os "taiaçus", dos quaes o afastou, para incluil-o no gen.
hydrochoeris, em seguida á sp. "tapirus".
Não pretendemos, annotando Goeldi neste particular,
atribuir a Ferreira critério classificador, que pudesse
Prevalecer após analyses mais meticulosas de seus conti-
nuadores, esclarecidos por novas doutrinas.
Elie proprio, embebido dos ensinamentos do genial
sueco, divergia, a espaços, do mestre, para reflectir acerca
do coati : "Lynneu faz consistir a sua differença, em ser
quasi fusca, e em ter a cauda de uma só côr. Porem,
quanto a mim, similhante differença não produz mais que
Uma variedade."
Em outras passagens, opina igualmente a seu modo,
afastando-se do seu guia incomparável. Erraria, sem
duvida, si julgado á luz da sciencia actual, mas, para o
seu tempo, os enganos seriam perfeitamente justificáveis,
embora incorresse, por causa delles, em censura do sábio
suisso, que lhe increpou igualmente de inexatos os de-
senhos, traçados por Freire e Codina, não obstante a
excellencia do aspecto artístico.
Notam-se-lhes desproporções flagrantes, sentenciou,
depois de gabar-lhes a apparencia.
"De assiduo colleccionador, conceituou por fim, deu
manifestas provas, mas "o que deixou de manuscriptos
seus sobre zoologia, botanica, é de pequeno calado
scientifico."
Por mais temeraria que se afigure a intromissão de
um leigo em matéria julgada por sábio do quilate de E.
Goeldi, ousamos embargar-lhe a sentença condemnatoria
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
dos conhecimentos scientificos de Alexandre Ferreira,
algum dia equiparado, por outrem, a Humboldt.
Certo, a tamanhas alturas, em que se laureou de
glorias o berlinense, não se elevou o bahiano, nem a
i
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
14. Alexandre Rodrigues venceria annualmente 400$000, e os
seus auxiliares, 300$000 cada um.
Mas o primeiro consignou á sua familia, em Lisboa, a quantia
de 150$000, que seria descontada em seus honorários; os outros
também deixaram a consignação de 100$000, conforme consta do
oficio de Martinho de Mello e Castro, de 19 de Agosto de 1783,
Publicado no volume 85 da Revista do Instituto Historico Brasileiro.
Cabia-lhes, alem disso, a diaria de 400 reis para comedoria,
que foi elevada a 640 reis, por equiparação aos construtores de
Macapá, a partir de 1.° de Maio de 1788.
15. Ao tratar da sua excursão a Marajó, Ferreira menciona a
data 23 de Outubro, de sua chegada, mas, em outras passagens,
dá 21 de Outubro.
16. Especificou :
l. da cidade; 2." de Carnapijo ; 3.° Tatauroena ; 4.° do To-
a
cantins ; 5.° de Arari; 6.° de Tiririca ; 7.° da Coroa Grande ; 8.° dos
Monsarás ; 9.° de Saravajá.
17. As fazendas dos jesuítas em Marajó que chegaram a
Possuir 134.000 cabeças de gado foram-lhes confiscadas por ordem
de Pombal, de 3 de Setembro de 1759 e 16 de Junho seguinte.
18. O preço do boi de córte oscilava entre 2$000 a 2$500 e o
de vaca, de 1$200 a 1$600.
19. Viagem á Ilha Grande de Joannes, participada ao Jlmo
Snr D. Martinho de Mello e Castro, Ministro e Secretario de Estado
dos Negocios da Marinha e Domínios Ultramarinos, pelo natura-
lista Alexandre Rodrigues Ferreira - 1783. E' de 20 de Dezembro
conforme consta do "Estrato do Diário".
Outros exemplares trazem — Noticia Histórica da ilha...
20. "Estado presente da Agricultura do Pará. Representado
a S. Exia D. Martinho de Souza Albuquerque. Governador e Capi-
tão General do Estado por Alexandre Rodrigues Ferreira. Pará
15 de Março de 1784.
21. Miscelanea Histórica para servir de Explicação ao Prospeto
da Cidade e do Pará 19 de Setembro de 1784.
I Alexandre Rodrigues Ferreira 130
22. Deixam azedar por um dia a agua expremida da maniba,
que aliás é um veneno violento para todo o animal que a beber,
e depois de a ferverem adubada com sal, pimenta, e cravo da terra,
usam delia como de mostarda.
A tapioca fervida com o ticupi misturado faz o mingáu q u e
chamam Tacacá.
23. "Muito diurético, porem, causador de vigilia" anotava o
naturalista. é
intestino reto".
27. Alem da "Descrição do engenho de descascar e branquear o
arroz, do Capitão Luiz Pereira da Cunha, examinado na Ilha de
Cutijuba, ao findar o anno, e que traz a data de 27 de Fevereiro
de 1784, em referencia ulterior armazenou inúmeras notas avulsas,
de que iria aproveitar-se mais tarde.
28. O original que a Bibliotheca Nacional possue catalogado
sob n.° I — 31, 25, e traz por titulo Notticia Da fundação deste
convto de N. Snr . das Merçes desta Cide. de Sta. Maria de Belleffl
a
Etnographia
1. Memoria sobre os Índios Cambebas — 1, 4, 4, 13.
2. Memoria sobre os índios Caripunas — 1, 4, 4, 6.
3. Memoria sobre os índios Catauixi — i, 4, 4, 4.
4. Memoria sobre os índios Espanhóes — 1, 4, 4, 8.
5. Memoria sobre os índios Guanás — i, 6, 2, 52.
6. Memoria sobre os índios Guaycurús — i, 4, 4, 16.
7. Memoria sobre os índios Joianna — 1, 6, 3, 8.
8. Memoria sobre os índios Yurupixunas — 1, 4, 4, 18.
9. Memoria sobre os índios Mauás — 1, 4, 4, 23.
10. Memoria sobre os índios Miranhas — 1, 4, 4, 15.
11. Memoria sobre os índios Uerequenas — 1, 4, 4, 7.
12. Memoria sobre cuias — 1, 4, 4, 19.
13. Memoria sobre isqueiro — 1, 4, 1, 26.
14. Memoria sobre instrumento para tomar tabaco parima —
1, 4, 1, 24.
15. Memoria sobre louça — 1, 4, 1, 20.
16. Memoria sobre mascares e farças — 1, 6, 3, 8.
17. Memoria sobre malocas dos Curutús — 1, 4, 4, 21.
18. Memoria sobre salvas de palhinha — 1, 4, 1, 25.
Zoologia
19. Observações sobre os Mammaes — 1, 4, 4, 1.
20. Relação dos animaes do Grão Pará — 1, 4, 4, 22.
21. Memoria sobre jacarés.
22. Memoria sobre peixe-boi — 1, 4, 1, 23.
23. Memoria sobre pirarucú — 1, 4, 4, 3.
24. Memoria sobre tartarugas — 1, 1, 2, 16.
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25. Memoria sobre tartarugas — 1, 2, 2, 17.
26. Descripção do simia mormon — 1, 6, 3, 8.
27. Abuso da conchyliologia — 1, 16, 1, 35.
28. Relação dos peixes dos sertões do Pará — 1, 16, 1, 5.
Animaes da ilha Marajó
Botanica
Memoria sobre madeira para canoas 1, 4, 1, 22.
Memoria sobre palmeiras — 1, 4, 1, 18.
Desenhos de plantas pelos "riscadores Codina e Freire em
4 volumes, da colleção" Benedicto Ottoni — 1, 12, 2, 17, 20.
Mineralogia
30. Relação circunstanciada das amostras de ouro de S. Vicente
- 1, 1, 2, 20.
31. Memoria sobre as salinas do Cunha — 1, 1, 2, 24.
Agricultura
32. Estado presente da Agricultura no Pará — 1, 1, 2, 21.
33. Memoria sobre engenho de branquear arroz.
Navegação
34. Memoria sobre a Marinha interior do Pará — 1, 4, 4, 19.
Medicina
35. Enfermidades endemicas de Matto Grosso — 1, 8, 2, 46.
Miscellanea
36. Oração latina — 1, 8, 1, 1.
37. Viagem á Ilha Grande de Joannes — 1, 16, 1, 35.
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38. Noticia histórica da Ilha — 1, 1, 2, 18.
Povoações, gentios e animaes da Ilha grande — 1, 16, 1, 35.
39. Miscellanea histórica (Pará) — 1, 6, 3, 8.
40. Miscellanea de observações philosophicas (Pará"i — 1,16,1,3
41. Diário da Viagem Philosophica — 1, 4, 4, 9.
42. Extracto do Diário — 1, 4, 1, 17.
43. Participação Geral do Rio Negro — 1, 1, 2, 22.
44. Diário do Rio Branco — 1, 16, 1, 35.
45. Tratado historico do Rio Branco — 1, 62, 5, 2.
Productos naturaes do Rio Branco — 1, 16, 3, 35.
46. Relação circunstanciada do rio Madeira — 1, 4, 4, 10.
47. Supplemento ao Diário do rio Madeira — 1, 4, 1, 27.
48. Supplemento á Memoria dos rios de Mato Grosso - 1,1, 2, 22.
49. Memorias para se inseriiem, quando se ordenar o livro de
antiguidades do rio Madeira — 1, 6, 3, 8.
50. Prospecto philosophico da Serra de S. Vicente— 1,16,1, 35.
51. Observações philosophicas e politicas sobre as minas de
Mato Grosso e Cuiabá — 1, 16, 1, 35.
52. Viagem á Gruta das Onças — 1, 6, 3, 8.
53. Viagem á Gruta do Inferno — 1, 6, 3, 8.
54. Propriedade e posse das terras do Norte — 1, 4, 4, 17.
55. Memoria sobre a pororóca — 1, 6, 3, 8.
56. Inventario Geral do Museu — 1, 16, 1, 35.
57. Desenhos feitos pelos "riscadores" ( 1, 6, 3, 5.
Freire e Codina, sob sua direcção < 1, 6, 3, 6.
e reunidos em tres volumes ( 1, 6, 3, 7.
Alem dessas, que se encontram na secção de Manuscriptos da
Bibliotheca Nacional, que logrou reunil-as de novo, sob guarda
segura, o proprio naturalista dá noticias de algumas que se extra-
viaram, antes do seu fallecimento, a saber :
1. Dissertação sobre a alvacora.
2. Memória sobre café.
3. Memoria sobre cacau.
4. Memoria sobre tabaco.
Outras foram recebidas por Brotero e, portanto, ainda se acha-
vam, até essa occasião, reunidas ás demais, como:
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5. Observações feitas nas plantas que se recolheram na
Capitania do Rio Negro (1786) 118 pags.
6. idem, idem no Rio Branco (1786) 12 pags.
7. idem idem no Rio Madeira 96 pags.
8. Descripção do peixe Arananão (1787) 2 pags.
9. Descripção do Raconete (1790) 4 pags.
10. Memoria para a Historia Particular da Marinha Portugueza
26 pags.
11. Memoria sobre o alicorne do mar 10 pags.
12. Diário da Viagem de Lisboa ao Pará (1783) 13 pags.
13. Memoria sobre as matas de Portugal (1780) 52 pags.
14. Falia que fez para recitar no dia da posse do General do
Pará Martinho de Souza Albuquerque e Bispo D. Caetano Brandão,
2 pags.
15. Fala que fez na noite de 19-9-1784, ao despedir-se de
Martinho de Souza e Albuquerque 3 pags.
16. Fala que fez na tarde de 2-3-1784, a João Pereira Caldas,
quando entrou a visital-o na Villa de Barcellos 4 pags.
16. Fala que fez ao mesmo, no dia 4-8-1785, por occasião do
seu anniversario natalício 4 pags.
17. Colleção das experiencias de tinturaria que se fizeram em
viagem de Explicação Philosophica pelo Rio Negro.
18. Observação sobre a cultura e fabrico do urucu 5 pags.
19. Descripção sobre a cultura do canhamo 15 pags.
20. Memoria sobre o anil do Pará e Rio Negro 11 pags.
Costa e Sá affiima ter-lhe manuseado, alem disso, as "Memorias
Particulares".
131. A respeito do naturalista bahiano, assim se pronunciaram
escriptores cuja opinião merece lembrada:
Alexandre Rodrigues Ferreira nasceu na Bahia em 1756, um
dos mais doutos naturalistas que honrou Portugal.
Foi membro da Academia Real de Sciencias de Lisbôa, que
publicou na collecção de suas memorias vários trabalhos impor-
tantes de Ferreira.
Morreu pobre, quasi na miséria.
J. M. Pereira da Silva.
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OíHumboIdrbrasileiro^como era appellidado, nasceu na cidade
da Bahia, a 27 de Abril de 1756 sendo seu pae Manoel Rodrigues
Ferreira, e falleceu em Lisboa, a 23 de Abril de 1815.
Sacramento Blake.
O que é certo é que o sertão do Pará e Rio Negro, o rio Branco,
o Madeira, o Guaporé, a Serra do Cuanurú ou a Nevada Mato
Grosso, Cuiabá, nada se evadiu ás sabias indagações do Dr. Alexandre
Rodrigues Ferreira.
Que o Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira foi sábio consciencioso
e infatigavel, não ha contestação alguma.
A. Valle Cabral.