SC Cosit N 108-2023
SC Cosit N 108-2023
SC Cosit N 108-2023
PROCESSO 00000.000000/0000-00
CNPJ/CPF 00.000-00000/0000-00
RELATÓRIO
3. É o relatório.
FUNDAMENTOS
4. A consulta acerca da legislação tributária relativa aos tributos administrados pela RFB
encontra-se prevista nos arts. 48 a 50 da Lei nº 9.430, de 1996, regida pelo disposto nos arts. 46 a 53
do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, e atualmente regulamentada pela Instrução Normativa
RFB nº 2.058, de 9 de dezembro de 2021. Trata-se de instrumento que tem por objetivo dar
segurança jurídica àquele que possui dúvidas quanto à aplicação de dispositivos legais a fato
determinado.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
2
Cópia Simples - Documento nato digital não assinado eletronicamente
PROCESSO Clique aqui para inserir o texto
SOLUÇÃO DE CONSULTA 108 – COSIT
(...)
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a
qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos
que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua
forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os
adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente
prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços,
nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de
trabalho ou sentença normativa.
3
Cópia Simples - Documento nato digital não assinado eletronicamente
PROCESSO Clique aqui para inserir o texto
SOLUÇÃO DE CONSULTA 108 – COSIT
b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco
seja considerado médio;
c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco
seja considerado grave.
III - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer
título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem
serviços;
(...)
(destacou-se)
10. Por sua vez, quanto à contribuição do empregado, dispõe a Lei nº 8.212, de 1991:
(...)
(destacou-se)
11. Extrai-se do texto normativo que o aspecto material é composto pelos verbos “pagar”,
“creditar”, “dever” ou “auferir”, conjugados com os complementos “a qualquer título” e
“remuneração”, elementos nucleares para a incidência das contribuições sociais previdenciárias.
Este, conceituado normativamente como retribuição ao empregado tanto pelos serviços prestados
quanto pelo fato de colocar-se à disposição do empregador, por força do contrato de trabalho.
4
Cópia Simples - Documento nato digital não assinado eletronicamente
PROCESSO Clique aqui para inserir o texto
SOLUÇÃO DE CONSULTA 108 – COSIT
15. No mesmo sentido, não estão abarcadas pelo programa normativo utilidades
entregues ao empregado para a realização do trabalho, ofertadas no interesse precípuo da execução
atividade a ser desenvolvida, e não como retribuição pelos serviços prestados ou pelo fato de o
empregado colocar-se à disposição do empregador por força do contrato de trabalho.
16. Por fim, há que se destacar que, tratando da base de cálculo das hipóteses de
incidência previstas nos incisos do art. 22 e no inciso I do art. 28 da Lei nº 8.212, de 1991, o parágrafo
nono deste artigo complementa o texto normativo com duas funções distintas: (i) ratificadora do
critério (simbólica), confirmando os contornos externos do aspecto material previsto nos incisos dos
caputs dos referidos artigos pela declaração expressa de que algumas verbas de natureza
indenizatória não integram a base de cálculo; (ii) delimitadora interna, pormenorizando o
5
Cópia Simples - Documento nato digital não assinado eletronicamente
PROCESSO Clique aqui para inserir o texto
SOLUÇÃO DE CONSULTA 108 – COSIT
dimensionamento dos componentes do débito pela exclusão de parcelas que, embora possuam
natureza remuneratória, não sofrem a incidência do tributo instituído nos referidos artigos.
“Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for
concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período
correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% (cinqüenta por cento) sobre o
valor da remuneração da hora normal de trabalho”
(destacou-se).
20. Com esse desenho normativo, verifica-se a previsão de uma forma majorada de cálculo
da retribuição pelos serviços prestados em condições especiais, sem que o legislador tenha
identificado na circunstância de esse trabalho ocorrer durante o período intrajornada fundamento
para destacar do pagamento compensação distinta da remuneração, mas apenas a redimensionando.
21. Nesse sentido, no enunciado III da sua Súmula nº 437, o Tribunal Superior do Trabalho
fixou entendimento acerca da natureza salarial da parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, cabendo
pontuar que, na seara trabalhista, prevalece a concepção segundo a qual salário integra o conceito
de remuneração, sendo, inclusive, seu principal componente, concernente na parcela paga
diretamente ao empregado pelo empregador em função do contrato de trabalho, sendo
complementada pelas parcelas pagas por terceiros ao empregado, mas também em função do
contrato de trabalho, como as gorjetas.
6
Cópia Simples - Documento nato digital não assinado eletronicamente
PROCESSO Clique aqui para inserir o texto
SOLUÇÃO DE CONSULTA 108 – COSIT
III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação
introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou
reduzido pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e
alimentação, repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais.
23. Ante o tratamento normativo dado ao pagamento pelo trabalho exercido durante o
intervalo intrajornada pela Lei nº 8.923, de 1994, dada sua natureza remuneratória, a verba
encontrava-se abarcada pelos critérios materiais da regra-matriz de incidência tributária constantes
dos artigos 22, I, e 28, I, da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, integrando, portanto, a base de
cálculo das contribuições sociais previdenciárias.
24. Todavia, com a alteração promovida pela Lei nº 13.467, de 2017, o § 4º do artigo art.
71 da CLT passou a ter a seguinte redação:
7
Cópia Simples - Documento nato digital não assinado eletronicamente
PROCESSO Clique aqui para inserir o texto
SOLUÇÃO DE CONSULTA 108 – COSIT
25. O novo desenho normativo, que entrou em vigor em 11 de novembro de 2017, por
força do art. 6º da Lei nº 13.467, de 2017, prevê o pagamento específico, destacado, de um
montante pela supressão total ou parcial do intervalo intrajornada mínimo, calculado pela aplicação
de um acréscimo de 50% (cinquenta porcento) sobre o valor da remuneração.
26. Verifica-se que o legislador optou por não mais determinar a retribuição do trabalho
executado em condições especiais de forma majorada, sem desconfigurar a natureza remuneratória
que privilegiava, mas desdobrar o fenômeno em dois aspectos, prevendo um pagamento destacado
especificamente pela supressão do direito previsto no caput do artigo 71 da CLT, sem prejuízo do
cômputo da hora trabalhada para fins de remuneração, pois ausente dispositivo que autorize o
abatimento do mesmo período.
27. Com este novo tratamento dado a eventual supressão, parcial ou total, do intervalo
intrajornada, destacado da retribuição pelos serviços efetivamente prestados ou pelo tempo à
disposição do empregador ou tomador de serviços, e sem prejuízo desta, é possível concluir que a
expressão natureza indenizatória inserta no dispositivo não possui apenas intuito declaratório, mas
consubstancia sinal de valoração superveniente e ferramenta de interpretação das repercussões
jurídicas do fato típico do qual trata, permitindo distinguir dois aspectos da mesma realidade, o ato
objeto do contrato de trabalho que enseja a remuneração e a concomitante lesão do direito
trabalhista que enseja a reparação.
8
Cópia Simples - Documento nato digital não assinado eletronicamente
PROCESSO Clique aqui para inserir o texto
SOLUÇÃO DE CONSULTA 108 – COSIT
29. Essa constatação não reduz a lei, face aos reflexos significativos sobre (todos) os
direitos trabalhistas, como férias, 13º salário e FGTS. Porém, para adentrar os domínios tributários, é
mandatória a verdade material, a alcunha imposta em lei não transmuda a essência (tributária) da
verba; a hipótese de incidência tributária debruça-se sobre o fato gerador definido em lei, a qual reza
que incidem as referidas contribuições sobre valor pago, "a qualquer título", para retribuir o trabalho.
Então, se o pagamento, à semelhança da hora extraordinária, é retribuição por trabalho
desempenhado em horário extra, a circunstância amolda-se à hipótese de incidência por excelência
do tributo previdenciário, que é a contraprestação pelo trabalho realizado. Dessa forma, o valor, a
qualquer título, pago para retribuir o labor, satisfaz o fato gerador em exame.
30. O único argumento para afastar a tributação seria o arbitramento legal da “natureza
indenizatória”, mas, como dito, a legislação tributária é imune a essas vicissitudes, primeiro devido à
autonomia do tipo tributário, que é quem descreve abstratamente a hipótese de incidência, segundo,
devido à expressão de redundância necessária “a qualquer título”, que radicaliza e oblitera de vez
qualquer incerteza. Da perspectiva legal tributária, a simples alteração do título da verba não
modifica o evento fatual. Nesse sentido, há sempre que se perquirir a realidade intrínseca sem
embargo do invólucro vocabular que a reveste, sendo essa a essência hermenêutica do caso em vista.
31. Outra evidência a ser considerada é que em todas as demais hipóteses com
repercussão tributária, a Reforma Trabalhista, Lei nº 13.467, 2017, tomou as medidas necessárias
para afastar a incidência dos tributos em questão: alterou diretamente o § 9º, art. 28, da Lei nº 8.212,
de 1991, ou rechaçou nomeadamente as contribuições previdenciárias, como no art. 457 da CLT.
Logo, quando o quis, o legislador o fez. Por simetria lógica, seria feito o mesmo para o caso em
revisão se essa fosse a mens legis. Mas não só por apego à lógica, a ordenança tributária também
reclama essa medida legal para que a tributação não irradie sobre a indigitada verba paga em
contraprestação ao labor executado. Portanto, não parece haver razão para supor que a lei, com
mera mudança de rótulo e sem manipular a lei dessas exações ou sequer citá-las, colimou atribuir
efeitos tributários diversos à realidade que permaneceu incólume; repisa-se, em situações análogas,
essa mesma lei o fez, não sendo crível que para esse caso singular a lei tomou outro rumo esperando
resultado tributário idêntico e pacífico.
9
Cópia Simples - Documento nato digital não assinado eletronicamente
PROCESSO Clique aqui para inserir o texto
SOLUÇÃO DE CONSULTA 108 – COSIT
32. Outrossim, admitindo que há conflito entre o art. 71 da CLT e a tributação da Lei nº
8.212, de 1991, é cediço que em caso de antinomia entre lei especial e lei geral prevalece a regra
especial, então, se há ali na CLT, uma determinação geral para firmar o tratamento jurídico da verba,
deve-se ter em conta que há, também, lei especial estabelecendo o tratamento tributário das verbas
para as contribuições previdenciárias, que é a Lei nº 8.212, de 1991. Por conseguinte, a Lei nº 8.212,
de 1991, prevalece sobre a CLT para definir o tratamento tributário, das contribuições
previdenciárias, do pagamento alusivo ao trabalho executado no intervalo intrajornada previsto no
art. 71 da CLT.
CONCLUSÃO
Assinatura digital
WILLIAM CHAVES SOUZA
Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil
10
Cópia Simples - Documento nato digital não assinado eletronicamente
PROCESSO Clique aqui para inserir o texto
SOLUÇÃO DE CONSULTA 108 – COSIT
ORDEM DE INTIMAÇÃO
Assinatura digital
RODRIGO AUGUSTO VERLY DE OLIVEIRA
Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil
Coordenador-Geral de Tributação
11
Cópia Simples - Documento nato digital não assinado eletronicamente