Mba Agf Apostila Analise Balancos v5
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ANÁLISE DE BALANÇOS
PROFESSOR MARCOS PIELLUSCH
1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3
ANÁLISE DE BALANÇO PATRIMONIAL ................................................................. 6
ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL ......................................................................... 10
ANÁLISE DA DEMONSTRAÇÃO DE FLUXO DE CAIXA .................................... 24
CONCEITO E ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO ................................................... 35
NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO E CICLO FINANCEIRO ......................... 45
ANÁLISE DO ENDIVIDAMENTO............................................................................ 51
ANÁLISE INTEGRADA DO DESEMPENHO: MARGEM, ATIVIDADE E
RENTABILIDADE...................................................................................................... 58
ESTRUTURA E CUSTO DE CAPITAL ..................................................................... 66
ANÁLISE DA CRIAÇÃO DE VALOR ...................................................................... 76
ANÁLISE COM MÚLTIPLOS ................................................................................... 80
PRICE-TO-BOOK ...................................................................................................... 80
EV/EBITDA .............................................................................................................. 81
PRICE-EARNINGS .................................................................................................... 81
DIVIDEND YIELD ...................................................................................................... 83
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 84
2
INTRODUÇÃO
O objetivo dessa disciplina é mostrar como analisar as demonstrações
financeiras das empresas para extrair informações que vão basear uma
análise fundamentalista para a tomada de decisão de investimento.
A estrutura do curso:
• Introdução
• Análise do balanço patrimonial.
• Análise da demonstração do resultado.
• Análise da demonstração do fluxo de caixa.
• Conceito e análise do capital de giro.
• Necessidade de capital de giro e ciclo financeiro.
• Análise de endividamento.
• Análise integrada do desempenho.
• Estrutura e custo de capital.
• Análise da criação de valor.
• Análise com múltiplos.
3
compõem seu portfólio, o número de lojas e sua localização (com dados
sobre a abertura e o fechamento de filiais ano a ano e a área total de
vendas). São informações que possibilitam uma análise um pouco mais
completa do negócio.
4
Saber o que a empresa faz é um ponto de partida fundamental para a
análise das demonstrações financeiras. A atividade ou o setor de atuação
da empresa resultam em estruturas de balanço patrimonial bem distintas.
Os exemplos a seguir mostram a distribuição percentual do ativo total de
quatro companhias de segmentos diferentes – uma indústria, uma
incorporadora, uma empresa de meios de pagamento e um varejista.
Vejamos as diferenças de cada uma delas.
5
Empresa A: Dá para deduzir que se trata de uma empresa varejista pela
distribuição do ativo em três contas principais: Imobilizado (39%), Contas
a receber (28%) e Estoques (11%).
6
Vamos relembrar a estrutura do balanço patrimonial:
7
maiores ou menores níveis de estoque, de contas a receber, de ativos
imobilizados e assim por diante – com a ressalva de que parte dessa
estrutura do ativo também reflete o setor de atuação, como vimos
anteriormente.
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menor o prazo, maior a exigibilidade, que é a velocidade com que uma
obrigação deve ser cumprida pela empresa. E quanto maior a
exigibilidade, maior o risco. Suponha que a empresa tenha uma série de
obrigações que devem ser cumpridas em até doze meses. Isso gera
naturalmente um risco maior, pois a empresa terá problemas se não tiver
recursos suficientes para pagar essas obrigações.
Organizando melhor:
9
ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL
10
BALANÇO AZUL – 2018 E 2017
11
Sobre as decisões de financiamento, devemos observar:
12
O próximo passo é analisar os passivos e as decisões de financiamento,
com atenção a três aspectos:
13
3. Proporção de passivos onerosos e de não onerosos. Passivo
oneroso é aquele que gera gastos (um ônus, portanto), como o
pagamento ou a contabilização de juros. É o caso dos empréstimos,
financiamentos, arrendamentos e títulos emitidos, por exemplo. Os
passivos operacionais são obrigações assumidas com fornecedores,
clientes, os impostos e salários a pagar. São itens que podem
acarretar o pagamento de juros somente se o pagamento ocorrer
com atraso. A diferença entre os dois é que os passivos onerosos
geram despesas financeiras, enquanto os não onerosos mostram
que a própria operação é capaz de financiar a atividade da empresa
(mais adiante veremos a o veremos a importância disso na gestão
do capital de giro).
14
dinheiro em caixa ou em aplicações financeiras. Se a empresa tem muita
liquidez, o risco é baixo – mas aquele dinheiro está parado e, para uma
empresa, crescer é preciso haver investimento na atividade. No caso da
Azul, o que observamos é que de 2017 para 2018 houve um aumento nos
investimentos na atividade operacional.
ANÁLISE DA DEMONSTRAÇÃO
DO RESULTADO DO EXERCÍCIO
Antes de ir adiante, vamos relembrar a estrutura da Demonstração de
Resultados do Exercício.
15
financeiras muito elevadas, fazendo com que o resultado financeiro
assuma uma grande relevância, mascarando o desempenho operacional.
Por esses motivos, torna-se importante avaliar cada um dos itens da DRE,
incluindo alguns indicadores de análise vertical e horizontal. Desses
indicadores, nascem algumas margens:
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Vejamos um exemplo para apresentar a importância e o significado de
cada uma dessas margens. Considere uma empresa que teve os seguintes
resultados:
17
Aplicando as fórmulas, encontramos os seguintes resultados:
18
O que a análise vertical nos dá é a própria margem bruta, obtida pela
divisão do resultado bruto pela receita com bens e serviços vendidos. O
que determina essa margem é a relação entre preço e custo. Trata-se de
um indicador importante para mostrar a capacidade de um negócio
produzir mais barato ou vender mais caro, o que está associado às
vantagens competitivas da empresa. No nosso exemplo, fica evidente que
a empresa perdeu poder competitivo e criou menos valor.
Vamos supor agora que essa empresa tenha tido no Ano 1 despesas
operacionais de 3,5 milhões de reais, chegando a um resultado
operacional de 1,5 milhão de reais. No Ano 2, as despesas operacionais
foram de 4,2 milhões de reais, para um resultado operacional de 1,3
milhão de reais.
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O resultado antes dos resultados financeiros e dos tributos (Ebit) foi de
15% no Ano 1 e de 10,83% no Ano 2 – essas são as margens Ebit, ou
margens operacionais, para os dois anos. A queda na margem mostra uma
perda de eficiência operacional de um ano para o outro.
20
Em termos absolutos, o resultado melhorou de um ano para o outro. A
análise vertical, no entanto, mostra que a margem líquida (que é igual ao
resultado líquido dividido pela receita) caiu de 9,10% para 8,75%. Deve-se
tomar muito cuidado, portanto, quando se vê reportagens dizendo que o
lucro de uma empresa aumentou em valores absolutos, pois isso por si só
não diz se o resultado foi melhor ou pior. É preciso analisar o quanto a
empresa foi eficiente em gerar lucro – e esse indicador é dado pela
margem líquida.
Por meio da análise horizontal nota-se que o lucro cresceu 15% de um ano
para o outro, numa velocidade inferior à das vendas, que aumentaram
20%. Além disso, o resultado operacional da empresa no Ano 2 foi menor
do que no Ano 1. O resultado líquido só cresceu devido ao resultado
financeiro, que passou de despesa para receita. Ocorre que, considerando
as taxas de juros, a variação cambial e muitos outros eventos, devemos ter
o cuidado de perceber que os resultados financeiros podem ser
consequência de situações temporárias e pouco sustentáveis ao longo do
tempo. Por isso é fundamental olhar com atenção às demais margens.
Margem EBITDA
21
geração de caixa). Para encontrar a margem Ebitda, basta dividir o Ebtida
pela receita de vendas.
Exemplo prático:
Vamos analisar as margens que estudamos até agora num caso real, por
meio dos balanços da Ambev de 2018 e 2019 (ressalte-se que vamos usar
esses números apenas para fins didáticos e não é o propósito fazer uma
recomendação de investimento ou dizer se a empresa é boa ou ruim).
Vejamos agora o que essa análise vertical mostra a respeito das margens:
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Será que as margens melhoraram ou pioraram?
Observando a margem líquida, tudo parece estar indo bem – até porque o
resultado líquido aumentou 7,4% em valores absolutos. Mas já vimos que
a operação foi menos eficiente e a empresa criou menos valor. Para
identificar corretamente o que aconteceu, vamos comparar as análises
verticais de um ano para o outro e calcular a diferença:
Interpretando os resultados:
• Custo dos Bens e/ou Serviços vendidos: Para cada 100 reais de
vendas, o custo aumentou em 2,9 reais
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Vamos finalizar a análise da DRE com o Ebitda e a margem Ebitda. O
Ebitda é o resultado antes do resultado financeiro e dos tributos mais a
depreciação e amortização (que encontramos na Demonstração dos
Fluxos de Caixa). A margem Ebitda é o resultado Ebitda dividido pela
receita de vendas:
ANÁLISE DA DEMONSTRAÇÃO
DE FLUXO DE CAIXA
Sabemos que a Demonstração do Fluxo de Caixa mostra as atividades que
geraram ou consumiram caixa.
24
se soma ou subtrai os itens que afetaram o resultado, mas não o
caixa – como a depreciação, o resultado de participações, a baixa de
itens, as variações de ativos e passivos, entre outros.
25
Vamos ver com mais detalhes a estrutura e os itens que compõem cada
um desses fluxos. A soma dos fluxos de caixa operacional, de investimento
e de financiamento vai resultar no aumento ou na redução de caixa e
equivalentes.
26
Vejamos alguns exemplos práticos. O primeiro deles é de uma empresa do
setor industrial:
27
ficou negativo, mas que houve uma diminuição, no caso, de 6,764 milhões
de reais.
A variação final de caixa pode não ser o número mais importante para a
análise da DFC. Compare, por exemplo, os resultados de duas empresas
que durante um ano tiveram ambas uma variação de caixa positiva em
1.000 reais:
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em 1 mil reais, a Empresa A provavelmente tem uma operação mais
saudável do que a da Empresa B.
29
investimentos. Suponha que uma empresa gere 1 milhão de reais de caixa
e invista 400 mil reais em expansão. Sobram 600 mil reais para utilizar
como a empresa desejar. Por isso chamamos esse fluxo de caixa de “fluxo
de caixa livre”. Trata-se de um indicador importantíssimo: uma empresa é
avaliada pela magnitude e pelo momento em que gera fluxos de caixa livre
no futuro.
Por fim, temos o estágio provável no ciclo de vida de uma empresa, que
não é exatamente um indicador, mas a interpretação desse conjunto de
indicadores. A geração ou consumo de caixa em cada um dos três
componentes da DFC guarda uma relação com o ciclo de vida do negócio.
Veja no gráfico abaixo (considere que o que está acima do eixo horizontal
representa um fluxo de caixa positivo, sendo negativos os fluxos de caixa
que estão abaixo):
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investimentos também tende a ser negativo, já que nessa etapa do ciclo
de vida um negócio precisa adquirir ativos imobilizados, sistemas, direitos
e outros intangíveis. Se há consumo de caixa pela operação e pelos
investimentos, os recursos precisam vir de algum lugar – e os fluxos de
caixa de investimento é que geralmente são positivos, devido ao aporte
dos acionistas ou de investidores de capital de risco. É um momento em
que a empresa necessita de recursos para obter um retorno que
provavelmente só vira num prazo um pouco mais longo – por isso nem
sempre é fácil obter dinheiro com empréstimos, pois o prazo maior de
retorno é visto como um risco pelos bancos.
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Empresa do setor industrial. O primeiro exemplo é o de uma empresa do
segmento industrial, com o um fluxo de caixa operacional de 1,299 bilhão
de reais, o que é bastante elevado. Dividindo esse valor pela receita de
11,97 bilhões, descobrimos que de cada 100 reais em vendas a operação
gera 11 reais para o caixa. (Para saber se isso é muito ou pouco,
precisamos comparar com outras companhias do mesmo segmento ou
com a própria empresa nos períodos anteriores).
Por fim, o fluxo de caixa livre, que é a soma do fluxo de caixa operacional
com o fluxo de caixa de investimentos, foi positivo em 466 milhões de
reais, mostrando que a empresa gerou caixa livre para pagar investidores.
O fluxo de caixa do financiamento, porém, foi bem maior, chegando a um
a valor negativo em 1,466 bilhão de reais, levando a uma variação do caixa
total que ficou negativa em 980 milhões de reais.
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mostra que a empresa está em crescimento, enquanto o fluxo de caixa
livre indica uma maturidade. Embora aparentemente conflitantes, esses
sinais são bastante favoráveis para o negócio, que mantém os
investimentos ao mesmo tempo em que gera caixa livre para os
investidores, o que assegura uma valorização maior.
33
Empresa de mineração: O terceiro exemplo é de uma empresa de
mineração com um fluxo de caixa operacional gigantesco: 47 bilhões de
reais. Em relação a receita, a eficiência na geração de caixa aponta um
indicador de 36%. A depreciação no período foi de 12 bilhões de reais,
para um fluxo de caixa de investimentos negativo em apenas 900 milhões.
Significa que a empresa não repôs a depreciação e não investiu para
manter o nível de atividade. É uma característica de declínio ou de
reposicionamento. Pode ser uma situação transitória e que, no momento
seguinte, a empresa retome o investimento.
Por fim, vemos que o fluxo de caixa livre foi de expressivos 47 bilhões de
reais. Desse valor, 40 bilhões foram pagos aos investidores – o restante foi
incorporado ao caixa. Nesse caso, a empresa apresenta uma característica
de maturidade e outra de declínio, mas é importante observar os períodos
subsequentes para verificar se esse processo de declínio será mantido.
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CONCEITO E ANÁLISE
DO CAPITAL DE GIRO
O termo capital de giro tem muitas interpretações equivocadas. Por isso é
importante prestar atenção em algumas definições. Ao falar em capital de
giro, estamos nos referindo ao dinheiro que uma empresa tem aplicado
no curto prazo.
O capital de giro, portanto, seria o ativo circulante. Veja, porém, que uma
parte dos recursos aplicados no ativo circulante tem origem no passivo
circulante.
35
Vejamos agora um exemplo de duas empresas apresentadas na figura a
seguir.
𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒
Í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 =
𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒
36
Dá para aprofundar essa análise. Imagine uma empresa com um grande
ativo circulante, como é comum no segmento imobiliário, no qual o
estoque é constituído pelos imóveis disponíveis para venda. Ora, pode ser
que demore mais para vender um imóvel do que que as peças de roupa
que estão no estoque de um varejista ou os alimentos de um
supermercado. Em situações assim, o investidor pode querer analisar a
situação da empresa independentemente da venda dos estoques. Para
isso, existe um indicador: o índice de liquidez seca, que considera a razão
entre o ativo circulante, excluídos os estoques, e o passivo circulante.
𝐶𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑒 𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
Í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑖𝑚𝑒𝑑𝑖𝑎𝑡𝑎 =
𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒
Desses indicadores que vimos até agora, os mais utilizados para uma
análise de risco são o Capital de Giro Líquido (CGL) e o índice de liquidez
corrente (os outros dois indicadores ajudam a aprofundar a análise, como
veremos adiante).
37
corrente vai ser superior a 1 – e há baixo risco de a empresa não
cumprir as obrigações de curto prazo.
38
A análise pode ser aprofundada com os demais indicadores, começando
pelo índice de liquidez seca. O resultado mostra que, se a Empresa 1 não
vender nada de seus estoques, terá ativos de curto prazo suficientes para
cumprir 87,5% do passivo com vencimento em até 12 meses. Essa
dependência é maior no caso da Empresa 2, com um ILS de 0,508 – ou
seja, os ativos de curto prazo cobrem 50,8% (praticamente a metade) do
passivo circulante, que são as obrigações de curto prazo.
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Podemos dividir os componentes do ativo circulante em dois grupos:
40
Vejamos um exemplo com os dados da Empresa 1, que vimos
anteriormente, e encontraremos uma NCG de 500 reais:
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Agora veja um outro exemplo. Vamos calcular a NCG para a empresa
abaixo:
ACO = Contas a receber + estoques PCO = Forn. Obrig. Sociais+ Obrig. Tribut.
ACO = 400+300 PCO = 300+150+120
ACO = 700 PCO = 570
Vamos supor que essa empresa cresça 50% de um ano para o outro.
Inicialmente, um empreendedor pode achar que vai sobrar dinheiro, já
que as vendas vão aumentar. Isso engana muita gente. Veja qual a
consequência desse crescimento para o caixa da empresa, considerando
algumas premissas:
42
Vejamos o que acontece:
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ao mesmo valor – é isso que está no caixa. Ou seja: a empresa cresceu e o
caixa diminuiu. Motivo: o aumento da Necessidade de Capital de Giro, que
cresceu de 130 reais para 195 reais. Esse adicional não veio dos sócios,
pois o patrimônio líquido não aumentou, nem de terceiros (o valor dos
empréstimos e financiamentos se manteve). Logo, esses recursos vieram
do próprio caixa, cuja variação é exatamente a mesma da NCG: 65 reais. A
conclusão é que o aumento da NCG consome caixa.
Empresa 1 Empresa 2
ACO ACO
Estoques + Contas a receber + outros Estoques + Contas a receber + outros
1.200+3.000+300 = 4.500 900 + 1.200 + 200 = 2.300
PCO PCO
Fornecedores + Obrig. Fiscais + Outros Fornecedores + Obrig. Fiscais + Outros
2.500 + 300 + 200 = 3.000 800+ 250 + 120 = 1.170
NCG NCG
ACO - PCO = ACO – PCO =
4.500 - 3.000 = 1.500 2.300 – 1.170 = 1.130
44
Encontramos que a Empresa 1 tem uma NCG maior do que a da Empresa
2, em termos absolutos – mas também tem vendas duas vezes maiores.
Vamos calcular então a NCG em relação a receita líquida para saber
quanto cada empresa precisa de capital de giro para cada real em vendas:
Empresa 1 Empresa 2
NCG/Receita líquida = ACO
1.500/9.000 = 17% 1.130/4.500 = 25%
NECESSIDADE DE CAPITAL
DE GIRO E CICLO FINANCEIRO
Existem alguns fatores que influenciam a necessidade de capital de giro:
45
com alguns momentos importantes para determinar os prazos e a
movimentação financeira de uma operação.
46
Do momento da compra da matéria-prima até o recebimento dos clientes
fecha-se um ciclo operacional, do qual decorre um ciclo de caixa ou ciclo
financeiro, que começa no momento em que a empresa paga os
fornecedores (com uma saída de dinheiro) e finaliza com o recebimento
do pagamento feito pelos clientes (uma entrada de dinheiro).
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Vamos calcular o prazo médio de estocagem. Suponha que a mesma
empresa que vende 2,4 milhões de reais por ano tenha os seguintes dados
de custo anual de mercadoria vendida (CMV) e de estoque:
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Para encontrar o prazo médio de pagamento ao fornecedor, dividimos o
valor do saldo de fornecedores a pagar pela compra média mensal:
49
Perceba então que:
50
Existe ainda uma outra situação: a das empresas com ciclo financeiro
negativo – ou seja, em que a empresa recebe dos clientes antes de pagar
aos fornecedores. Nesse caso, a NCG, em percentagem da receita,
também será negativa. Redes de supermercados podem apresentar essa
característica. O estoque dessas empresas costuma ser vendido
rapidamente, principalmente no caso de produtos alimentícios e
perecíveis. O mais comum é que os clientes comprem à vista, pagando em
dinheiro e em cartões de crédito, débito ou alimentação. O pagamento
aos fornecedores, porém, costuma ser a prazos mais longos
(principalmente nas redes maiores e com maior poder de negociação). Ou
seja: os prazos de recebimento e de estocagem são curtos e o de
pagamento é longo. Uma NCG negativa significa que a empresa tem mais
valores a pagar aos fornecedores do que em estoques e contas a receber.
Essa é uma situação favorável – o cuidado a tomar é que a empresa
mantenha saldo em caixa para cumprir as obrigações com os fornecedores
e manter o risco baixo.
ANÁLISE DO ENDIVIDAMENTO
O endividamento é geralmente percebido como algo ruim por aumentar o
risco, mas ele também é importante, já que as empresas precisam captar
recursos para realizar suas atividades. Logicamente, é preciso verificar se o
endividamento é excessivo não está trazendo mais riscos para o negócio.
Essa análise, porém, deve ser equilibrada. Nem toda empresa endividada
está indo para uma direção ruim, e nem todo negócio com baixo
endividamento tem um excelente desempenho.
O problema é que a teoria das finanças não tem uma resposta sobre qual
o nível ideal de endividamento. Cabe ao responsável pela análise de uma
51
empresa considerar dois aspectos: a evolução dessas dívidas e a
comparação com outras companhias.
52
Primeiro, vamos calcular o endividamento geral, somando o passivo
circulante e o não circulante e dividindo o resultado pelo passivo total.
ENDIVIDAMENTO TOTAL
53
preciso avaliar o endividamento oneroso, que mostrará a porcentagem do
total dos recursos que vem de dívida onerosa.
ENDIVIDAMENTO ONEROSO
54
CÁLCULO DO ÍNDICE DE COBERTURA DE JUROS
55
• Aumentar o capital de giro.
• Investir em ativos imobilizados e intangíveis.
• Pagar imposto de renda.
• Remunerar os sócios.
• Pagar dívidas.
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O primeiro passo é calcular a dívida líquida, somando e empréstimos e
financiamentos e subtraindo desse resultado o caixa e as aplicações.
CÁLCULO DO EBITDA
ALAVANGEM EBITDA
57
Ebitda for menor que zero, é preciso tomar um certo cuidado. O indicador
pode ser negativo porque o Ebitda é negativo – e nesse caso o risco será
muito alto, pois a empresa não tem capacidade para gerar caixa. Se a
dívida líquida for negativa, significa que a empresa tem mais caixa do que
dívida – e seu risco será muito baixo.
Para saber quanto lucro está sendo obtido em relação à receita, deve-se
calcular uma medida de rentabilidade (lucro dividido pelo ativo). Essa
relação entre lucro e ativo é o que determina a rentabilidade, refletida
num indicador chamado de ROA (Return On Assets, ou simplesmente
retorno sobre os ativos). Note que essa relação naturalmente depende do
giro e da margem.
58
Vamos ver aqui um exemplo numérico para observar a lucratividade e a
rentabilidade. Suponha que uma empresa tenha uma receita de 150 reais
e um lucro de 15 reais. Sua margem líquida será de 10% (lucro divido pela
receita). Quer dizer que a empresa obtém 10 reais de lucro a cada 100
reais em vendas.
O ROA, o retorno sobre os ativos. será obtido pela razão entre o lucro e os
ativos, ou seja, 15% (15 reais de lucro sobre 100 reais de ativos). Note que
nesse caso o ROA de 15% equivale ao giro do ativo (1,5) multiplicado pela
margem líquida (10%). Isso não acontece por acaso.
Dissemos que o ROA é obtido pela razão entre lucro e ativo. Além disso,
também pode ser obtido pelo produto do giro do ativo (que é igual à
receita sobre o ativo) pela margem líquida (obtida pela razão do lucro
líquido sobre a receita).
59
ROA = Giro do ativo x Margem líquida
↓ ↓ ↓
Lucro líquido = Receita Lucro líquido
ativo Ativo Receita
Um investidor pode ter outro ponto de vista: não foi ele que financiou o
total dos ativos da empresa. Em termos contábeis, sua participação
corresponde ao patrimônio líquido. Portanto, é preciso olhar para o
patrimônio líquido na continuação dessa análise. Existe uma relação entre
lucro e patrimônio líquido. O acionista quer saber o quanto obtém de
lucro em relação ao patrimônio dos acionistas. O indicador que dá essa
resposta é o chamado ROE (Return On Equity, ou retorno sobre o
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patrimônio líquido) e é calculado pela razão entre lucro e patrimônio
líquido. Fazendo a conexão entre o PL e o lucro, percebe-se que o ROE
depende do giro, da margem e também da relação entre patrimônio
líquido e ativos (quanto a empresa tem de ativos em relação ao
patrimônio líquido), o que é chamado de indicador de alavancagem do
patrimônio líquido.
Vamos voltar ao nosso exemplo. Suponha que a empresa, cujo ativo era
de 100 reais, tenha um patrimônio líquido de 40 reais. Sua alavancagem
do PL será de 2,5 (100/40). Ou seja: para cada 1,00 real de PL, a empresa
tem 2,50 reais de ativos – assim a relação com o passivo (circulante e não
circulante) vai ser de 1,50. Em outras palavras, para cada 1,00 real de ativo
a empresa terá 1,50 real em capital de terceiros. Quanto maior a
alavancagem, portanto, mais alto o endividamento.
61
Vamos agora calcular o ROE. O acionista obteve um lucro de 15 reais a
partir de um investimento de 40 reais, o que dá 37,5%. Perceba que o ROE
é igual ao ROA (que calculamos anteriormente em 15%) pela alavancagem
do PL (2,5). A explicação matemática é a seguinte:
62
Perceba que o custo médio da dívida foi de 7%, metade do retorno sobre
o investimento. O endividamento, nesse caso, elevou o retorno ao
acionista, calculado pelo ROE, de 9,8% para 17,2%. O lucro, em números
absolutos, caiu de 9.800 reais para 6.860 reais, devido às despesas
financeiras. No entanto, sobrou mais dinheiro para cada real investido
pelo acionista.
63
Nesse segundo exemplo, o custo da dívida superou o ROI. Assim, a
empresa captou recursos a uma taxa maior do que o retorno obtido com a
operação. Isso acabou reduzindo o retorno para o acionista.
64
fatores, o que muitas vezes está relacionado ao setor de atividade e à
natureza do negócio.
A relação entre risco e retorno precisa ser bem compreendida para que
possamos ter uma análise sobre a rentabilidade mínima de uma empresa.
Suponha que um investidor tenha uma rentabilidade igual à da taxa Selic
para um investimento sem risco (com base nas projeções de juros para os
próximos anos). Se for para investir numa empresa, que obviamente
oferecerá alguns riscos, é preciso ter a expectativa de obter uma
porcentagem adicional, que é um prêmio pelo risco. Quanto maior o risco,
mais alto o prêmio que o investidor esperará obter.
Perceba que uma empresa muito exposta aos riscos pode proporcionar
uma rentabilidade muito alta, mas também está sujeita a perdas. A lógica
é que a expectativa de rentabilidade mais elevada compensa o risco a que
o investidor se expõe. É preciso, portanto, saber avaliar os riscos a partir
de uma série de fatores qualitativos:
65
também existe um risco associado à necessidade de inovação
constante para lançar novos produtos.
66
(que não acarretam despesas financeiras se forem pagas até o
vencimento, como fornecedores a pagar, obrigações sociais e trabalhistas
e outros passivos).
O capital próprio, por sua vez, tem as vantagens de ser um direito residual
– ou seja, o acionista/investidor recebe de acordo com o resultado da
empresa –, tem menor prioridade sobre o fluxo de caixa e não contam
com vencimento definido, a menos que haja o compromisso de pagar
dividendos, por exemplo. Suas desvantagens para a empresa (que são
vantagens para o acionista) é que essas obrigações não são dedutíveis do
imposto de renda (a não ser no caso do pagamento de juros sobre o
capital próprio) e dão ao acionista ou investidor direito de influenciar a
gestão.
67
A teoria de finanças não determina o que seria uma estrutura de capital
ideal. É um tema muito complexo e depende de cada caso. Para tomar
decisões estratégicas, as empresas levam em conta não só a estrutura,
mas também o custo do capital, que é o retorno mínimo que a empresa
vai obter com suas atividades para remunerar os investidores (sócios e
credores). Em outras palavras, se a rentabilidade de um determinado
investimento de uma empresa for inferior ao custo de capital, o retorno
obtido não será suficiente para remunerar quem nela investiu.
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A estrutura de capital é diferente da estrutura patrimonial contábil. O lado
direito está dividido entre os investimentos em capital de giro e os ativos
não circulantes (imobilizados, intangíveis, realizáveis ao longo prazo). Os
recursos destinados ao capital de giro ou aos ativos não circulantes vêm
de duas fontes: a dívida líquida (que como vimos é a dívida bruta de
empréstimos e financiamentos menos o caixa e as aplicações) e o
patrimônio líquido (o dinheiro dos acionistas).
Considere ainda que o total dos empréstimos seja de 400 reais e que os
recursos captados pelos acionistas somem 600 reais, totalizando 1.000
reais de capital investido
69
Se os credores investiram 400 reais e querem uma rentabilidade de 10%,
sua remuneração será de 40 reais. Esse valor é considerado como despesa
financeira para a empresa e, portanto, pode ser abatido da base de
cálculo do Imposto de Renda (gerando, assim, um benefício fiscal de 13,60
reais, considerando uma alíquota de 34%). Esse benefício fiscal vai reduzir
o custo da dívida para 26,40 reais (40,00 reais de juros pagos menos 13,60
reais do benefício fiscal).
Onde:
• Kd – custo da dívida
• T – alíquota dos tributos sobre o lucro
• D% - proporção de capital de terceiros
• ke – custo de capital dos sócios
• E% - a proporção do capital dos sócios
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Para calcular o custo médio ponderado de capital precisamos da estrutura
de capital, do ke e do kd. Vejamos as fórmulas para encontrar esses três
valores:
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movimentações do mercado. Uma empresa com beta inferior a 1
seria pouco sensível às oscilações de mercado – no caso brasileiro,
poderia ser uma companhia de energia ou indústria de alimentos.
Uma empresa com beta maior do que 1 tem alta exposição aos
riscos – como uma companhia aérea, que no Brasil tem parte
significativa dos custos em moeda estrangeira, um componente de
grande volatilidade. É isso que vai determinar o ke de cada empresa
– e para ter bom desempenho, uma empresa deve ter um ROE
superior ao ke.
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Em outras palavras, o ponto de partida é uma taxa de retorno livre de
risco, à qual é somada o prêmio requerido pelos investidores – para a
seguir multiplicar tudo pela sensibilidade da empresa ou das ações à
economia.
O prêmio de risco de mercado (rm - rf) pode ser obtido pelo chamado
Implied Equity Risk Premium (o prêmio de risco implícito do mercado de
ações - uma das fontes é o site do professor Aswath Damodaran, da New
York University e um dos maiores especialistas em avaliação de empresas
no mundo). Esse indicador reflete o diferencial de retorno requerido pelos
investidores que está implícito no preço das ações.
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Ao Implied Equity Risk Premium, somamos o prêmio de risco país (Country
Risk Premium - CRP), que pode ser obtido pelo Embi (que é a diferença
entre a taxa de retorno dos títulos brasileiros em moeda estrangeira e os
títulos americanos) ou a taxa do CDS do Brasil (credit default swap, um
derivativo que protege o investidor contra a inadimplência de um título do
país).
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Vamos aplicar os dados desse laudo na fórmula que acabamos de estudar:
Onde:
• ke BRL: custo do capital próprio em reais.
• Ke USD: custo do capital próprio em dólares
• Inf BRL: projeção de inflação no Brasil (IPCA – vamos supor que seja
de 4%)
• Inf USD: projeção de inflação nos Estados Unidos (CPI – considere
que seja 2%)
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Assim, vimos como calcular o custo de capital próprio. O custo de capital
de terceiros pode ser encontrado pela taxa média ponderada de todas as
taxas de juros que a empresa possui.
Suponha que a empresa tenha uma taxa de juros pré-fixada (IPCA, por
exemplo) e um indexador (2%). Devemos então calcular o kd para todas as
dívidas que a empresa tem e por fim tirar a média ponderada:
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Do Nopat, subtraímos o custo do capital, que é o capital investido
multiplicado pelo custo de capital). O resultado será o EVA.
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Se o resultado for um EVA negativo, significa que o desempenho da
empresa foi inferior ao mínimo requerido pelo custo de capital – e a
empresa destruiu valor, pois a rentabilidade medida pelo ROIC ficou
abaixo do custo médio ponderado do capital (Wacc.). O ROIC mostrar a
capacidade da operação para gerar resultado e remunerar os investidores.
Sabemos que o valor contábil das empresas pode ser diferente do valor de
mercado, que é guiado sobretudo pelas expectativas futuras. Quando o
valor de mercado é superior ao do capital investido, chamamos a
diferença de MVA, sigla de Market Value Added, ou Valor de Mercado
Adicionado.
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A fórmula para calcular o MVA é a seguinte:
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ANÁLISE COM MÚLTIPLOS
A análise com múltiplos, muito utilizada nos processos de valuation,
relaciona informações de mercado com alguns dos indicadores que
encontramos nas demonstrações financeiras das empresas. Os múltiplos
ajudam a compreender se o preço da ação está acima ou abaixo do que
seria o “valor justo” com base em empresas comparáveis. Existem
diferentes múltiplos, e cada um deles é mais adequado a determinados
tipos de empresas.
PRICE-TO-BOOK
O primeiro múltiplo que vamos ver é o chamado price-to-book, ou preço-
valor patrimonial (PBV). Pode ser calculado dividindo o preço dessa ação
pelo seu valor patrimonial, ou dividindo o market cap da empresa pelo seu
patrimônio líquido.
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projeções futuras para avaliar ameaças que possam comprometer os
negócios da empresa.
EV/Ebitda
PRICE-EARNINGS
O price-earnings, ou preço-lucro, vai mostrar quanto vale a parte do
acionista em relação ao lucro líquido. Pode ser calculado dividindo-se o
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preço da ação pelo lucro por ação, ou dividindo o market cap pelo lucro
líquido. Suponha por exemplo que num dado momento você esteja vendo
a ação de uma empresa cotada a 20 reais, com um lucro por ação
projetado para o ano seguinte de 4 reais por ação (seja por meio
dividendos ou lucros retidos).
4 reais
20 reais
P/E = 20/4 = 5
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Um aspecto importante para ressaltar: invertendo o indicador e
calculando o lucro sobre o preço (4/20, portanto) se chega à rentabilidade
para o acionista (no caso, 20%) – e a rentabilidade ao valor de mercado. E
para que um investimento numa empresa seja viável, a rentabilidade para
o acionista ao valor de mercado precisa ser superior ao ke.
Evidentemente, o investidor quer adquirir ações que tenham price-
earnings baixo. Mas pode haver empresas com price-earnings alto. Isso
pode ocorrer em duas situações: quando a ação de fato está cara ou
quando existe uma expectativa de crescimento futuro embutida no preço.
DIVIDEND YIELD
O Dividend Yield representa a rentabilidade que o investidor vai obter com
o recebimento de dividendos. Seu cálculo é a divisão do dividendo por
ação pelo preço da ação.
Suponha, por exemplo, uma ação cujo preço seja de 20 reais e pague um
dividendo por ação de 2,50 reais:
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CONCLUSÃO
Chegamos ao fim da apostila de Análise de Balanços, na qual vimos como
extrair as principais informações das Demonstrações Financeiras das
empresas.
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