MÚSICA - Canção Infantil

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Canção Infantil — Cesar MC

Questionamentos iniciais:

1. O que vem à sua mente quando você pensa em “Canção Infantil”?


2. O que você espera ouvir em uma canção que tenha esse título e que tenha como compositor/
cantor um MC?
3. O que você pensa sobre os contos de fadas?
4. Você acha que a vida é um conto de fadas ou que a vida é uma canção infantil? Por quê?

Escute a canção do Cesar MC (disponível em https://youtu.be/Ri-eF5PJ2X0) e veja por que ele diz
que a vida é uma canção infantil. Será que você vai concordar com ele?

CANÇÃO INFANTIL
Cesar MC (2019)

Era uma casa não muito engraçada


Por falta de afeto, não tinha nada
Até tinha teto, piscina, arquiteto
Só não deu pra comprar aquilo que faltava
Bem estruturada, às vezes lotada
Mas memo lotada, uma solidão

1
Dizia o poeta, o que é feito de ego
Na rua dos tolos gera frustração

Yeah, havia outra casa, canto da quebrada


Sem rua asfaltada, fora do padrão
Eternit furada, pequena, apertada
Mas se for colar tem água pro feijão
Se o mengão jogar, pode até parcelar
Vai ter carne, cerveja, refri e carvão
As moeda contada, a luz sempre cortada
Mas fé não faltava, tinham gratidão

Yeah, yeah, yeah


Mas era tão perto do céu
Yeah, yeah, yeah, yeah
Mas era tão perto do céu

Como era doce o sonho ali


Mesmo não tendo a melhor condição
Todos podiam dormir ali
Mesmo só tendo um velho colchão

Mas era feita com muito amor


Mas era feita com muito amor

A vida é uma canção infantil


É, sério
Pensa, viu?
Belas e feras, castelos e celas
Princesas, Pinóquios, mocinhos e…

É, eu não sei se isso é bom ou mal


Alguém me explica o que nesse mundo é real
O tiroteio na escola, a camisa no varal
O vilão que tá na história ou aquele do jornal
Diz por que descobertas são letais?

2
Os monstros se tornaram literais
Eu brincava de polícia e ladrão um tempo atrás
Hoje ninguém mais brinca
Ficou realista demais

As balas ficaram reais perfurando a Eternit


Brincar nós ainda quer, mas o sangue melou o pique
O final do conto é triste quando o mal não vai embora
O bicho-papão existe, não ouse brincar lá fora
Pois cinco meninos foram passear
Sem droga, flagrante, desgraça nenhuma
A polícia engatilhou: Pá, pá, pá, pá
Mas nenhum, nenhum deles voltaram de lá
Foram mais de cem disparos nesse conto sem moral
Já não sei se era mito essa história de lobo mau

Diretamente do fundo do caos procuro meu cais no mundo de cães


Humanos são maus, no fundo, a maldade resulta da escolha que temos nas mãos
Uma canção infantil, à vera
Mas lamento, velho, aqui a bela não fica com a fera
Também pudera, é cada um no seu espaço
Sapatos de cristal pisam em pés descalços

A rapunzel é linda sim, com os dreads no terraço


Mas se a lebre vem de Juliet, até a tartaruga aperta o passo
Porque é sim tão difícil de explicar
Na ciranda, cirandinha, a sirene vem me enquadrar
Me mandando dar meia-volta sem ao menos me explicar
De Costa Barros a Guadalupe, um milhão de enredos
Como explicar para uma criança que a segurança dá medo?
Me explicar que oitenta tiros foi engano?
Oitenta tiros, oitenta tiros, ah

Carrossel de horrores, tudo te faz refém


Motivos pra chorar até a bailarina tem
O início já é o fim da trilha

3
Até a Alice percebeu que não era uma maravilha

Tem algo errado com o mundo


Não tire os olhos da ampulheta
O ser humano em resumo é o câncer do planeta
A sociedade é doentia e julga a cor, a careta
Deus escreve planos de paz, mas também nos dá a caneta
E nós, nós escrevemos a vida, iphones, a fome, a seca
Os homi, os drone, a inveja e a mágoa
O dinheiro, a disputa, o sangue, o gatilho
Sucrilhos, mansões, condomínios e guetos

Tá tudo do avesso, falhamos no berço


Nosso final feliz tem a ver com o começo
Somente o começo, somente o começo
Pro plantio ser livre a colheita é o preço
A vida é uma canção infantil, veja você mesmo
Somos Pinóquios plantando mentiras
E botando a culpa no Gepeto
Precisamos voltar pra casa

Onde era feita com muito amor


Onde era feita com muito amor

(Mesmo só tendo um velho colchão)


Mas era feita com muito amor
Mas era feita com muito amor

PARTE I: Trabalhando a letra da música

1. A música “Canção Infantil” do Cesar MC é construída a partir de uma mescla de ficção e realidade,
ou seja, contos de fadas e situações da realidade brasileira. Encontre pelo menos 4 dos contos de
fadas citados na música e explique por que eles são mencionados.

2. Os trechos iniciais da música lembram o poema “A Casa” de Vinícius de Moraes. Compare os


versos do poema original com os versos da canção e responda às questões:
4
Era uma casa muito engraçada Era uma casa não muito engraçada
Não tinha teto Por falta de afeto
Não tinha nada Não tinha nada
Ninguém podia Até tinha teto, piscina, arquiteto
Entrar nela, não Só não deu pra comprar aquilo que
Porque na casa faltava
Não tinha chão Bem estruturada, às vezes lotada
(...) Mas memo lotada, uma solidão
Mas era feita
com muito esmero Dizia o poeta, o que é feito de ego
Na Rua dos Bobos Na rua dos tolos gera frustração
Número zero

a. Qual é a diferença entre a casa descrita por Vinícius de Moraes e a casa descrita por
Cesar MC?

b. Sobre os versos “Só não deu pra comprar aquilo que faltava / Bem estruturada, às
vezes lotada / Mas memo lotada, uma solidão”. Por que não foi possível “comprar
aquilo que faltava”? O que faltava? Por que mesmo lotada havia solidão? Como você
entende estes versos?

c. Como você entende o trecho “Dizia o poeta, o que é feito de ego / Na rua dos tolos
gera frustração”?

d. O eu-lírico fala de uma “outra casa”, na segunda estrofe. Como era esta outra casa?
Em que ela se diferenciava da casa descrita na primeira estrofe?

3. Por que o eu-lírico afirma que “A vida é uma canção infantil”? Que argumentos ele usa para
defender essa tese?

4. Como você compreende o trecho “Somos Pinóquios plantando mentiras/E botando a culpa no
Gepeto”? O que você acha que o compositor quis dizer com isso?

5. O eu-lírico afirma que brincava de “polícia e ladrão” e que hoje não se brinca mais, pois a
brincadeira ficou “realista demais”. Como você entende essa afirmação?

6. Quem são os cinco meninos citados na música, no trecho: “Pois cinco meninos foram passear”? O
que aconteceu com eles?

5
7. Na canção, há uma referência ao conto A lebre e a tartaruga: “Mas se a lebre vem de Juliet, até a
tartaruga aperta o passo”. O que o autor quis dizer com essa afirmação?

8. A brincadeira de roda, muito comum no universo infantil, foi retratada nos versos: “Na ciranda,
cirandinha, a sirene vem me enquadrar/ Me mandando dar meia-volta sem ao menos me
explicar”. Qual o significado do verbo “enquadrar”? Qual a crítica envolvida nesse verso? Você
ou alguém que você conhece já foi “enquadrado”? Como foi?

9. Por que o cantor diz “Não tire os olhos da ampulheta”? O que é uma ampulheta e por que não
devemos tirar os olhos dela?

10. O que se pode dizer sobre a sonoridade da música?

11. Há partes em que os instrumentos param de tocar e o cantor começa a declamar a letra, como uma
poesia. Por que isso ocorre?

12. O que é possível dizer sobre a entonação da voz emitida pelo cantor? É a mesma durante toda a
música?

PARTE II: Interpretação do clipe

Assista ao videoclipe da música Canção Infantil e repare:

 Em quais lugares as cenas acontecem?


 Quem está presente nas cenas?
 Quais são as cores predominantes?
 O que esse clipe te faz sentir?

6
Disponível em: https://youtu.be/Ri-eF5PJ2X0. Acesso em: 16 ago. 2021.

1. Onde se passa o clipe da música?

2. Que elementos do ambiente nos fazem lembrar da infância? O que eles representam?

3. O que se pode dizer sobre as cores no clipe? Elas mudam? Como isso ocorre?

4. Além dos músicos, quem são as pessoas que aparecem no clipe? Por que elas estão
presentes?

5. Durante o clipe, as crianças que estão na sala de aula tomam a voz da música e começam a
cantá-la. Para você, por que isso ocorre?

6. Em uma das cenas da sala de aula, é focalizado um menino que diz: “A vida é uma canção
infantil. É sério, pensa, viu? (...)”. Que relação pode ser estabelecida entre esse menino, sua
fala, a sala de aula e o Cesar MC?

7. Em certos momentos, Cesar MC está dentro de um carro, que logo parece ser atingido por
tiros. A que tragédia ocorrida na realidade essas cenas se referem?

8. O que acontece com a roupa do cantor ao longo do clipe? Por que isso acontece?

7
9. O figurino também é um elemento a se observar no clipe. Como é a vestimenta das
crianças?

10. No fim do clipe, o que fazem as crianças que estão no auditório assistindo à apresentação? O
que isso significa?

11. Quais sentimentos podem ser trazidos pela música? Escolha uma parte do clipe que chamou
a sua atenção e fale sobre o que ela te faz sentir.

PARTE III: Relacionando com a realidade brasileira

1. A violência urbana, inclusive, policial, está presente em vários versos da canção, como em:
“O tiroteio na escola, a camisa no varal”, “As balas ficaram reais perfurando a Eternit”, “A
polícia engatilhou: Pá, pá, pá, pá” e “Me explicar que oitenta tiros foi engano?”. Quais são
as situações de violências descritas nesses versos, ou seja, a quais eventos reais eles se
referem?

2. Que problema atemporal enfrentado por inúmeros brasileiros é levantado nos versos: “As
moeda contada, a luz sempre cortada”?

3. O trecho “A sociedade é doentia e julga a cor, a careta” denuncia o racismo presente em


nossa sociedade. Por que a sociedade “julga pela cor”? Por que isso caracteriza a sociedade
como “doentia”?

4. O que significa o trecho “A rapunzel é linda sim, com os dreads no terraço”? O que esse
trecho nos faz pensar sobre as personagens femininas dos contos de fadas e as mulheres
reais?

5. Como você compreende a pergunta: “Como explicar para uma criança que a segurança dá
medo?” Que segurança é essa? Por que ela dá medo?

6. “Tá tudo do avesso, falhamos no berço / Nosso final feliz tem a ver com o começo”. Como
você entende esses versos? O que seria um bom começo?

PARTE IV: Trabalhando com figuras de linguagem


8
1. A aliteração é uma figura de linguagem caracterizada pela repetição de consoantes ou
sílabas para remeter a um som e criar efeitos sonoros específicos num texto, poema ou letra
de música. Encontre partes do texto em que esse recurso linguístico é usado e responda: por
que ele é usado? Que sensações ele provoca?

2. A metáfora é um recurso de produção de significados explorando comparações,


normalmente implícitas. Como você explicaria a seguinte metáfora: “O ser humano em
resumo é o câncer do planeta”. Você concorda com essa ideia?

3. Metonímia é uma figura de linguagem que consiste em “usar uma palavra ou por outra com
a qual se relaciona”1. Quais são as metonímias presentes no verso “Sapatos de cristal pisam
em pés descalços”?

4. Na letra da música encontramos a presença de uma onomatopeia (que consiste na


reprodução de um som natural da realidade). Aponte qual é essa onomatopeia e, em seguida,
explique o efeito que ela pode trazer à canção.

PROPOSTA DE PRODUÇÃO II: Denunciando os problemas sociais

“Tem algo errado com o mundo”. O que está errado? O que podemos fazer para consertar?

Disponível em: https://escrevalolaescreva.blogspot.com/2019/01/. Acesso em: 26 jul. 2021.

1
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 48.ed. rev. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 2008, p. 514.

9
Que tal colocar em prática toda a discussão feita sobre os problemas apontados na canção e pensar
em soluções para eles? Nessa proposta, cada grupo deverá eleger um problema social (racismo,
desigualdade social, pobreza, entre outros). Primeiramente, vocês vão criar um mural com imagens
- encontradas ou criadas por vocês - que exponham esse problema. Vocês podem escolher uma
imagem da internet ou criar seu próprio trabalho do zero. Essas imagens servirão para denunciar o
problema social que vocês escolheram. Além das imagens, vocês podem apresentar dados e
informações a respeito desse problema (definição, caracterização, número de pessoas nessa situação
etc.). Lembre-se de citar a fonte das imagens e das informações usadas.
Deixem uma parte do mural reservada para vocês e os seus colegas apontarem soluções para esse
problema e, quando o mural do seu grupo estiver pronto, será hora de mostrar e compartilhar com
outras pessoas. Que tal postar nas redes sociais de sua escola?
Passo a passo do projeto de criação:
● Faça uma dupla ou um pequeno grupo com seus colegas;
● Comecem pensando no tema da sua imagem, ou seja, qual problema social vocês querem
denunciar;
● Façam uma pesquisa, a fim de selecionar imagens que retratam o problema social escolhido
por vocês ou criem suas imagens sobre esse tema;
● Pesquisem sobre o momento ou acontecimento que as imagens retratam;
● Criem uma legenda ou título sobre o conteúdo daquela imagem e o que vocês pretendem
denunciar a partir dela;
● Montem o mural digital com elas no aplicativo sugerido pelo professor(a);
● Agora é só compartilhar pela internet!

Algumas imagens para se inspirar:

Disponível em: https://www.instagram.com/midianinja/. Acesso em: 16 ago. 2021.

10
Disponível em: https://www.politize.com.br/wp-content/uploads/2018/11/. Acesso em: 16 ago. 2021.

*****

11
Canção Infantil — Cesar MC
Material do Professor(a)

Objetivos:

● Analisar a letra e o videoclipe da música;


● Trabalhar as intertextualidades presentes na música e o efeito proporcionado por elas;
● Compreender e identificar figuras de linguagem a partir da música;
● Relacionar a canção com problemas sociais brasileiros;
● Possibilitar que os alunos atuem como potenciais agentes para a transformação da
sociedade.

Alguns conteúdos curriculares vinculados à atividade (BNCC):

Ler e compreender com certa autonomia cantigas, letras de canção, dentre outros
● EF02LP12 gêneros, considerando a situação comunicativa e o tema/assunto do texto e
relacionando sua forma de organização à sua finalidade.
Analisar, entre os textos literários e entre estes e outras manifestações artísticas
(como cinema, teatro, música, artes visuais e midiáticas), referências explícitas ou
● EF67LP27 implícitas a outros textos, quanto aos temas, personagens e recursos literários e
semióticos.
● EF69LP06 Produzir e publicar notícias, fotodenúncias, fotorreportagens, reportagens,
reportagens multimidiáticas, infográficos, podcasts noticiosos, entrevistas, cartas de
leitor, comentários, artigos de opinião de interesse local ou global, textos de
apresentação e apreciação de produção cultural – resenhas e outros próprios das
formas de expressão das culturas juvenis, tais como vlogs e podcasts culturais,

12
gameplay, detonado etc.– e cartazes, anúncios, propagandas, spots, jingles de
campanhas sociais, dentre outros em várias mídias, vivenciando de forma
significativa o papel de repórter, de comentador, de analista, de crítico, de editor ou
articulista, de booktuber, de vlogger (vlogueiro) etc., como forma de compreender as
condições de produção que envolvem a circulação desses textos e poder participar e
vislumbrar possibilidades de participação nas práticas de linguagem do campo
jornalístico e do campo midiático de forma ética e responsável, levando-se em
consideração o contexto da Web 2.0, que amplia a possibilidade de circulação desses
textos e “funde” os papéis de leitor e autor, de consumidor e produtor.
Posicionar-se em relação a conteúdos veiculados em práticas não institucionalizadas
de participação social, sobretudo àquelas vinculadas a manifestações artísticas,
produções culturais, intervenções urbanas e práticas próprias das culturas juvenis que
● EF69LP21 pretendam denunciar, expor uma problemática ou “convocar” para uma
reflexão/ação, relacionando esse texto/produção com seu contexto de produção e
relacionando as partes e semioses presentes para a construção de sentidos.
Identificar e apreciar criticamente diversas formas e gêneros de expressão musical,
● EF15AR13 reconhecendo e analisando os usos e as funções da música em diversos contextos de
circulação, em especial, aqueles da vida cotidiana.
Identificar diferenças étnico-raciais e étnico-culturais e desigualdades sociais entre
● EF05GE02 grupos em diferentes territórios.
Identificar as formas e funções das cidades e analisar as mudanças sociais,
● EF05GE03 econômicas e ambientais provocadas pelo seu crescimento.
Analisar características de países e grupos de países da América e da África no que
se refere aos aspectos populacionais, urbanos, políticos e econômicos, e discutir as
● EF08GE20 desigualdades sociais e econômicas e as pressões sobre a natureza e suas riquezas
(sua apropriação e valoração na produção e circulação), o que resulta na espoliação
desses povos.
Discutir e analisar as causas da violência contra populações marginalizadas (negros,
● EF09HI26 indígenas, mulheres, homossexuais, camponeses, pobres etc.) com vistas à tomada de
consciência e à construção de uma cultura de paz, empatia e respeito às pessoas.

Questionamentos iniciais:

1. O que vem à sua mente quando você pensa em “Canção Infantil”?


2. O que você espera ouvir em uma canção que tenha esse título e que tenha como compositor/
cantor um MC?
3. O que você pensa sobre os contos de fadas?
4. Você acha que a vida é um conto de fadas ou que a vida é uma canção infantil? Por quê?
Professor(a), essas perguntas servem para levar os alunos a pensar sobre o título da música, sobre
o que ela poderá dizer, ativar conhecimentos sobre o universo das canções infantis, sobre os contos
de fadas, sobre as composições dos MCs e relacionar o conto de fadas / canção infantil com a
realidade. Para saber um pouco mais sobre a canção que será analisada nesta atividade, sugerimos
o seguinte link: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2019/07/04/cancao-infantil-rap-que-
faz-chorar-revela-cesar-mc-que-estudou-matematica-e-foi-campeao-brasileiro-de-rima.ghtml.

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Escute a canção do Cesar MC (disponível em https://youtu.be/Ri-eF5PJ2X0) e veja por que ele diz
que a vida é uma canção infantil. Será que você vai concordar com ele?

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CANÇÃO INFANTIL
Cesar MC (2019)

Era uma casa não muito engraçada


Por falta de afeto, não tinha nada
Até tinha teto, piscina, arquiteto
Só não deu pra comprar aquilo que faltava
Bem estruturada, às vezes lotada
Mas memo lotada, uma solidão
Dizia o poeta, o que é feito de ego
Na rua dos tolos gera frustração

Yeah, havia outra casa, canto da quebrada


Sem rua asfaltada, fora do padrão
Eternit furada, pequena, apertada
Mas se for colar tem água pro feijão
Se o mengão jogar, pode até parcelar
Vai ter carne, cerveja, refri e carvão
As moeda contada, a luz sempre cortada
Mas fé não faltava, tinham gratidão

Yeah, yeah, yeah


Mas era tão perto do céu
Yeah, yeah, yeah, yeah
Mas era tão perto do céu

Como era doce o sonho ali


Mesmo não tendo a melhor condição
Todos podiam dormir ali
Mesmo só tendo um velho colchão

Mas era feita com muito amor


Mas era feita com muito amor

A vida é uma canção infantil


É, sério
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Pensa, viu?
Belas e feras, castelos e celas
Princesas, Pinóquios, mocinhos e…

É, eu não sei se isso é bom ou mal


Alguém me explica o que nesse mundo é real
O tiroteio na escola, a camisa no varal
O vilão que tá na história ou aquele do jornal
Diz por que descobertas são letais?
Os monstros se tornaram literais
Eu brincava de polícia e ladrão um tempo atrás
Hoje ninguém mais brinca
Ficou realista demais

As balas ficaram reais perfurando a Eternit


Brincar nós ainda quer, mas o sangue melou o pique
O final do conto é triste quando o mal não vai embora
O bicho-papão existe, não ouse brincar lá fora
Pois cinco meninos foram passear
Sem droga, flagrante, desgraça nenhuma
A polícia engatilhou: Pá, pá, pá, pá
Mas nenhum, nenhum deles voltaram de lá
Foram mais de cem disparos nesse conto sem moral
Já não sei se era mito essa história de lobo mau

Diretamente do fundo do caos procuro meu cais no mundo de cães


Humanos são maus, no fundo, a maldade resulta da escolha que temos nas mãos
Uma canção infantil, à vera
Mas lamento, velho, aqui a bela não fica com a fera
Também pudera, é cada um no seu espaço
Sapatos de cristal pisam em pés descalços

A rapunzel é linda sim, com os dreads no terraço


Mas se a lebre vem de Juliet, até a tartaruga aperta o passo
Porque é sim tão difícil de explicar
Na ciranda, cirandinha, a sirene vem me enquadrar

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Me mandando dar meia-volta sem ao menos me explicar
De Costa Barros a Guadalupe, um milhão de enredos
Como explicar para uma criança que a segurança dá medo?
Me explicar que oitenta tiros foi engano?
Oitenta tiros, oitenta tiros, ah

Carrossel de horrores, tudo te faz refém


Motivos pra chorar até a bailarina tem
O início já é o fim da trilha
Até a Alice percebeu que não era uma maravilha

Tem algo errado com o mundo


Não tire os olhos da ampulheta
O ser humano em resumo é o câncer do planeta
A sociedade é doentia e julga a cor, a careta
Deus escreve planos de paz, mas também nos dá a caneta
E nós, nós escrevemos a vida, iphones, a fome, a seca
Os homi, os drone, a inveja e a mágoa
O dinheiro, a disputa, o sangue, o gatilho
Sucrilhos, mansões, condomínios e guetos

Tá tudo do avesso, falhamos no berço


Nosso final feliz tem a ver com o começo
Somente o começo, somente o começo
Pro plantio ser livre a colheita é o preço
A vida é uma canção infantil, veja você mesmo
Somos Pinóquios plantando mentiras
E botando a culpa no Gepeto
Precisamos voltar pra casa

Onde era feita com muito amor


Onde era feita com muito amor

(Mesmo só tendo um velho colchão)


Mas era feita com muito amor
Mas era feita com muito amor

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PARTE I: Trabalhando a letra da música

1. A música “Canção Infantil” do Cesar MC é construída a partir de uma mescla de ficção e


realidade, ou seja, contos de fadas e situações da realidade brasileira. Encontre pelo menos 4
dos contos de fadas citados na música e explique por que eles são mencionados.
Professor(a), é importante para a compreensão dessa canção que os alunos percebam as
intertextualidades presentes. Canções e histórias como “A casa” (de Vinícius de Moraes), “Ciranda
da bailarina” (de Chico Buarque e Edu Lobo), “Pinóquio”, “A bela e a fera”, “Rapunzel”, entre
outras, foram usadas para estabelecer o contraste entre ficção e realidade e servir de argumento
para a tese de que a vida é uma canção infantil.
Se achar pertinente, apresente o conceito de “intertextualidade” para os alunos e mostre como foi
usado nessa música. Assim, eles poderão reconhecer e nomear o uso desse recurso em outras
situações. Como sugestão, eis o link para o Glossário CEALE, da Faculdade de Educação da
UFMG: http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/intertextualidade.

2. Os trechos iniciais da música lembram o poema “A Casa” de Vinícius de Moraes. Compare


os versos do poema original com os versos da canção e responda às questões:

Era uma casa muito engraçada Era uma casa não muito engraçada
Não tinha teto Por falta de afeto
Não tinha nada Não tinha nada
Ninguém podia Até tinha teto, piscina, arquiteto
Entrar nela, não Só não deu pra comprar aquilo que faltava
Porque na casa Bem estruturada, às vezes lotada
Não tinha chão Mas memo lotada, uma solidão
(...)
Mas era feita Dizia o poeta, o que é feito de ego
com muito esmero Na rua dos tolos gera frustração
Na Rua dos Bobos
Número zero

a. Qual é a diferença entre a casa descrita por Vinícius de Moraes e a casa descrita por
Cesar MC?
Professor(a), no poema original temos uma casa fantasiosa: “Era uma casa muito
engraçada/não tinha teto/não tinha nada”. É a descrição de um espaço (“casa”) desprovido
de suas partes (teto, chão). Em contrapartida, na música “Canção infantil” tem-se uma
“casa” com suas partes e até mesmo muito luxuosa (“até tinha teto, piscina, arquiteto”)
mas desprovida de “afeto”.

b. Sobre os versos “Só não deu pra comprar aquilo que faltava / Bem estruturada, às
vezes lotada / Mas memo lotada, uma solidão”. Por que não foi possível “comprar
aquilo que faltava”? O que faltava? Por que mesmo lotada havia solidão? Como você
entende estes versos?
18
Na contemporaneidade vemos um cenário composto por pessoas que mesmo possuindo
bens, obtendo conquistas e estreitando harmoniosas relações com os demais, ainda sentem
um certo vazio existencial, uma certa incompletude. A canção aborda esta falta de amizade,
de amor, de empatia.

c. Como você entende o trecho “Dizia o poeta, o que é feito de ego / Na rua dos tolos
gera frustração”?
Esse trecho retrata uma sociedade individualista, um modelo social que não gera
completude, pois ninguém se realiza sozinho. Nesse contexto, o que é feito com egoísmo, por
vaidade, acaba gerando decepção ou desgosto.

d. O eu-lírico fala de uma “outra casa”, na segunda estrofe. Como era esta outra casa?
Em que ela se diferenciava da casa descrita na primeira estrofe?
Era uma casa pequena e pobre com o telhado (“Eternit”) furado, mas onde havia fé,
gratidão e afeto. Era uma casa acolhedora: “Todos podiam dormir ali / Mesmo só tendo um
velho colchão” porque “era feita com muito amor”.

3. Por que o eu-lírico afirma que “A vida é uma canção infantil”? Que argumentos ele usa para
defender essa tese?
Porque na realidade presenciamos situações bem parecidas com as que permeiam o universo das
canções infantis e que são vivenciadas pelas princesas, Pinóquios, mocinhos, monstros, belas e
feras. Na música, para defender a tese que a vida é uma canção infantil, o autor compara diversas
situações da vida real com as histórias e personagens bastante conhecidos do universo infantil.

4. Como você compreende o trecho “Somos Pinóquios plantando mentiras/E botando a culpa
no Gepeto”? O que você acha que o compositor quis dizer com isso?
Esse trecho promove uma intertextualidade ao associar a história do Pinóquio, criticando o que é
ilusório, fruto de mentiras, enganações e omissões. Fora da ficção, há uma realidade composta por
pessoas culpando as outras: “mas será de quem a culpa?” Essa indagação nos leva a refletir sobre
situações como: a série de tiros em direção ao carro de uma família que fora confundida com
meliantes, os 5 meninos assassinados pela polícia no Rio de Janeiro e tantas outras balas perdidas
que ceifam a vida de muitas crianças, com a da menina Ágatha. Diante disso, nós indagamos: “De
quem é a culpa dessa violência?”. Colocar a culpa no Gepeto pode ser interpretado como colocar a
culpa no “criador”, que pode ser interpretado de várias maneiras pelos alunos.

5. O eu-lírico afirma que brincava de “polícia e ladrão” e que hoje não se brinca mais, pois a
brincadeira ficou “realista demais”. Como você entende essa afirmação?
Por meio dessa afirmação podemos compreender que a concepção de “polícia e ladrão” mudou, ou
seja, agora a violência está muito próxima de nós, é parte do cotidiano. Há “polícia” e “ladrão”
em toda parte. Além disso, esse trecho nos possibilita pensar sobre questões como o papel da
polícia na sociedade brasileira e sua atuação em relação ao que é considerado “ladrão”. Por meio
dessa discussão, é possível abordar também o preconceito racial e como, em muitos casos, se vestir

19
com um tipo de vestimenta e andar de um determinado jeito já é considerado suspeito por parte da
polícia, por exemplo. Os seguintes versos da música ilustram isso: “Mas se a lebre vem de Juliet,
até a tartaruga aperta o passo” e “Me mandando dar meia-volta sem ao menos me explicar”.

6. Quem são os cinco meninos citados na música, no trecho: “Pois cinco meninos foram
passear”? O que aconteceu com eles?
Essa é uma referência a uma tragédia real ocorrida no Rio de Janeiro, em 2015, que ficou
conhecida como “A chacina de Costa Barros”. No dia 28 de novembro de 2015, cinco jovens foram
assassinados por policiais militares no bairro de Costa Barros, na zona norte da capital carioca,
com 111 tiros. Os policiais responsáveis foram condenados pela Justiça a cumprir 52 anos de
prisão pelo crime cometido.
Não queremos com essa pergunta jogar os alunos contra a polícia. É importante que eles percebam
que a violência pode vir de vários lugares e estar em várias situações. Chame a atenção dos alunos
para a intertextualidade nesse trecho com a canção popular dos “cinco patinhos que foram
passear”. A diferença entre a canção e a realidade é que na primeira os patinhos voltaram para
reencontrar a mãe, o que, infelizmente, não aconteceu com os jovens.
Link para a notícia: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/11/09/pms-sao-condenados-
a-52-anos-de-prisao-pela-chacina-de-costa-barros.ghtml.

7. Na canção, há uma referência ao conto A lebre e a tartaruga: “Mas se a lebre vem de Juliet,
até a tartaruga aperta o passo”. O que o autor quis dizer com essa afirmação?
No conto, a tartaruga ganha a corrida da lebre mesmo tendo um passo lento e silencioso. Na
canção, a referência apresentada nos ajuda a construir uma cena comum em que a forma de vestir
revela preconceitos. A lebre usa Juliet, um tipo de óculos espelhados e com lente colorida da marca
Oakley, muito utilizado por funkeiros e jogadores de futebol - e que é objeto de desejo de crianças e
adolescentes de comunidades carentes. A lebre segue assim o estilo usado por jovens das periferias
brasileiras. Podemos associar esse perfil então à ideia de violência e discriminação: a tartaruga
passa a andar mais rápido ao ver a lebre usando o tal óculos pois tem medo de ser assaltada.

8. A brincadeira de roda, muito comum no universo infantil, foi retratada nos versos: “Na
ciranda, cirandinha, a sirene vem me enquadrar/ Me mandando dar meia-volta sem ao
menos me explicar”. Qual o significado do verbo “enquadrar”? Qual a crítica envolvida
nesse verso? Você ou alguém que você conhece já foi “enquadrado”? Como foi?
Nesse contexto, o verbo “enquadrar” significa ser abordado por policiais. A crítica presente nos
versos revela um tipo de ação que, em determinadas situações, é realizada de forma agressiva, sem
muitas explicações.
Professor(a), de acordo com uma pesquisa da Central Única das Favelas, 42% dos negros pobres
dizem já terem sido desrespeitados pela polícia durante uma abordagem e o chamado “enquadro” é
uma realidade que atinge principalmente as populações periféricas, especialmente, pessoas negras.
Fonte: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/50-dos-negros-no-brasil-ja-foram-constrangidos-
pela-policia-diz-pesquisa/.

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9. Por que o cantor diz “Não tire os olhos da ampulheta”? O que é uma ampulheta e por que
não devemos tirar os olhos dela?
A ampulheta é um relógio de areia, um objeto formado por dois recipientes de vidro ligados por um
orifício por onde os grãos caem, medindo a passagem do tempo. Na música, a frase pode remeter à
urgência e angústia do tempo se acabando, de uma contagem regressiva que não se consegue
interromper - só aguardar o fim. Por outro lado, ao dizer isso o compositor pode querer mostrar
que há um presente que irá passar, ou seja, as violências irão cessar e um novo futuro existirá. Com
isso ele nos transmite uma ideia de início de um novo ciclo e a de que a esperança existe, ou seja,
ele nos leva a acreditar e ansiar por uma mudança de atitudes, de concepções e de mentalidades.

10. O que se pode dizer sobre a sonoridade da música?


A música é composta por múltiplos instrumentos musicais. É possível ouvir sons de violão, piano,
bumbo, entre outros. A sonoridade emitida pelos diferentes estilos musicais é capaz de evocar
distintos sentimentos em quem ouve: melancolia, revolta, esperança. Há a delicadeza do violão, do
violino, de sons que lembram caixinhas de música e brinquedos de bebês, que contrastam em
algumas partes com a força e aspereza na voz do cantor. O coro das crianças traz de volta o
sentimento de amor e de esperança.

11. Há partes em que os instrumentos param de tocar e o cantor começa a declamar a letra,
como uma poesia. Por que isso ocorre?
Pode-se entender que, nesse momento, o foco passa para a letra e a mensagem da canção. Essa
atitude é muito comum no gênero musical rap.

12. O que é possível dizer sobre a entonação da voz emitida pelo cantor? É a mesma durante
toda a música?
É possível perceber que a entonação da voz do cantor muda, de branda, calma em “...Deus também
nos dá a caneta” para uma entonação mais forte, intensa e carregada de emoção em “os homi, os
drone, a inveja e a mágoa, o dinheiro, a disputa, o sangue (…) tá tudo do avesso”.

PARTE II: Interpretação do clipe

Assista ao videoclipe da música Canção Infantil e repare:

 Em quais lugares as cenas acontecem?


 Quem está presente nas cenas?
 Quais são as cores predominantes?
 O que esse clipe te faz sentir?

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Disponível em: https://youtu.be/Ri-eF5PJ2X0. Acesso em: 16 ago. 2021.

1. Onde se passa o clipe da música?


As cenas se passam dentro do ambiente escolar, tanto em sala de aula, quanto no auditório de um
colégio.

2. Que elementos do ambiente nos fazem lembrar da infância? O que eles representam?
Há alguns elementos presentes no ambiente do clipe, em específico, no auditório do teatro, que nos
remetem à infância, como as letras penduradas em um varal, algo comum em feiras, apresentações
escolares e em salas de aulas. Outro elemento que também dialoga com o universo infantil é o
balanço, objeto comum na vida de muitas crianças, que aparece no meio do palco e é usado
inclusive pelo cantor.

3. O que se pode dizer sobre as cores no clipe? Elas mudam? Como isso ocorre?
O clipe tem três ambientes: as cenas em que o cantor aparece em um carro, o auditório e a sala de
aula. Há um forte contraste entre os dois primeiros e o último: enquanto a sala de aula é bem
iluminada e prevalecem cores brancas e amarelas, as outras cenas são caracterizadas por sombras
e os tons são azuis escuros e pretos. De uma certa forma, a escola parece um espaço de paz, afeto e
acolhimento: no início os alunos aparecem brincando e se divertindo. Ao contrário, as outras cenas
são caracterizadas pela seriedade, pela violência, tristeza e drama.

4. Além dos músicos, quem são as pessoas que aparecem no clipe? Por que elas estão
presentes?
Além de Cesar MC, da cantora Cristal e da banda, as crianças são os personagens principais do
clipe. A vida retratada na canção é comparada a elementos da infância, na qual as crianças são
protagonistas e, além disso, crianças simbolizam a inocência, a fragilidade e o futuro – e precisam
ser protegidas.

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5. Durante o clipe, as crianças que estão na sala de aula tomam a voz da música e começam a
cantá-la. Para você, por que isso ocorre?
As crianças são colocadas como protagonistas, capazes de usar suas próprias vozes e expor todas
os graves problemas sociais citados na letra da música – inclusive em um ambiente em que
tradicionalmente elas somente escutam, aceitam, obedecem.

6. Em uma das cenas da sala de aula, é focalizado um menino que diz: “A vida é uma canção
infantil. É sério, pensa, viu? (...)”. Que relação pode ser estabelecida entre esse menino, sua
fala, a sala de aula e o Cesar MC?
Essa parte do clipe nos possibilita imaginar que a partir da figura do menino o cantor relembra da
sua infância e da sua vida escolar. É como se pelas lentes dessa criança fosse possível reviver o
Cesar MC quando era jovem.

7. Em certos momentos, Cesar MC está dentro de um carro, que logo parece ser atingido por
tiros. A que tragédia ocorrida na realidade essas cenas se referem?
Como inclusive é mencionado na letra, essa parte do clipe refere-se ao ocorrido em 2015 no bairro
Costa Barros, no Rio de Janeiro, quando cinco jovens foram assassinados por policiais militares
com 111 tiros enquanto estavam dentro de um carro.

8. O que acontece com a roupa do cantor ao longo do clipe? Por que isso acontece?
A roupa dele vai se manchando de sangue, durante as cenas no palco do auditório. Essa é uma
maneira de representar todas as tragédias mencionadas na letra, intensificando o impacto visual do
clipe e a mensagem da música.

9. O figurino também é um elemento a se observar no clipe. Como é a vestimenta das


crianças?
Quanto ao figurino, as roupas de Cesar MC e Cristal buscam contrastar com os tons dos diferentes
ambientes: elas são escuras na sala de aula e brancas nas cenas do carro e no palco, para inclusive
deixar mais impactante a mancha de sangue que vai surgindo no peito do cantor, do meio para o
final do videoclipe.
As crianças, na sala de aula, usam uniforme brancos (para harmonizar com os tons do ambiente).
No entanto, como pode ser visto por exemplo aos 5 minutos do clipe, elas vestem outra roupa
quando aparecem no auditório. Essa roupa aparece mais detalhadamente quando uma criança
entra no palco, aos 6 minutos: a estampa apresenta fachadas de várias casas simples das
comunidades. As crianças, então, representariam todos os moradores das periferias das grandes
cidades brasileiras.

10. No fim do clipe, o que fazem as crianças que estão no auditório assistindo à apresentação? O
que isso significa?
Em resposta à desesperança, ao cansaço e tristeza do cantor, ensanguentado e ajoelhado no palco,
elas começam a cantar e algumas delas acendem e balançam em sincronia as lanternas de seus

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celulares. Esse ato pode significar o nascimento de um sentimento de esperança. Podemos também
pensar na ideia de que juntos podemos mudar a realidade, que o amor vai nos ajudar a superar
esses momentos e fazer uma vida cheia de afeto para todos.

11. Quais sentimentos podem ser trazidos pela música? Escolha uma parte do clipe que chamou
a sua atenção e fale sobre o que ela te faz sentir.
Professor(a), o clipe e a letra da música nos trazem vários sentimentos, como a tristeza, revolta,
indignação, raiva, esperança, nostalgia. Assim, cabe aos alunos expor os seus sentimentos,
mencionando trechos do clipe que mais chamaram a atenção deles.

PARTE III: Relacionando com a realidade brasileira

Professor(a), uma sugestão para abordar algumas partes dessa canção é dividir a turma em pequenos
grupos e dar a cada um deles um verso ou trecho da música para que discutam e compartilhem a
interpretação deles com os colegas. Algumas sugestões de versos:
 “Lamento, velho, aqui a bela não fica com a fera”
 “Sapatos de cristal pisam em pés descalços”
 “A rapunzel é linda sim, com os dreads no terraço / Mas se a lebre vem de Juliet, até a
tartaruga aperta o passo”
 “O início já é o fim da trilha”
 “O ser humano em resumo é o câncer do planeta”
 “Deus escreve planos de paz, mas também nos dá a caneta”
 “Tá tudo do avesso, falhamos no berço”
 “Nosso final feliz tem a ver com o começo”
 “Pro plantio ser livre a colheita é o preço”
 “Somos Pinóquios plantando mentiras e botando a culpa no Gepeto”
Outra possibilidade é pedir que os alunos escolham trechos da canção que eles gostam e expliquem como
eles entendem esses trechos e por que escolheram esses versos. Caso queiram, eles podem criar desenhos (à
mão livre ou digitais) – ou até pensar em estampas de camisetas - a partir desses versos, lembrando sempre
de citar o autor.
Uma terceira opção é você fazer um questionamento interativo usando, por exemplo, a ferramenta online
Mentimeter (https://www.mentimeter.com) a partir de perguntas como:
 Em uma palavra, qual é o tema da canção?
 O que o eu-lírico/narrador está sentindo?
 O que você sentiu quando ouviu a canção?
 Qual é o principal problema apontado na canção?
 Qual é a solução para esse problema?
Para cada questão, o Mentimeter criará uma nuvem de palavras e os alunos poderão comparar as respostas
deles com a dos colegas e toda a turma poderá conversar a respeito das possibilidades que apareceram.
Isso pode ser feito também no quadro ou no papel.

1. A violência urbana, inclusive, policial, está presente em vários versos da canção, como em:
“O tiroteio na escola, a camisa no varal”, “As balas ficaram reais perfurando a Eternit”, “A

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polícia engatilhou: Pá, pá, pá, pá” e “Me explicar que oitenta tiros foi engano?”. Quais são
as situações de violências descritas nesses versos, ou seja, a quais eventos reais eles se
referem?
Na reflexão, cabe a cada aluno pensar sobre o que dizem esses versos, ou seja, sobre o que eles
dizem quanto à violência nas grandes cidades. No que tange aos eventos reais que os versos
descrevem, o aluno deve responder algo relacionado a casos de balas perdidas que levam a morte
de diversas pessoas, principalmente, nas comunidades. Explicitamente na letra da música, há o caso
da família que, ao ser confundida com pessoas de má índole, teve o carro baleado, o que resultou na
morte do músico Evaldo Rosa.
Link da notícia: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/12/16/militares-suspeitos-de-
matar-musico-com-mais-de-80-tiros-prestam-depoimento-nesta-segunda-no-rio.ghtml.

2. Que problema atemporal enfrentado por inúmeros brasileiros é levantado nos versos: “As
moeda contada, a luz sempre cortada”?
A “Canção Infantil”, criada no ano de 2019, ainda demonstra e evoca outras questões atuais
importantes. O verso “As moeda contada, a luz sempre cortada” retrata o cotidiano de muitas
pessoas no Brasil: vivemos em um cenário marcado por graves desigualdades e sucessivas crises
econômicas, que contribuem para aumentar o desemprego e as dificuldades financeiras de muitos
brasileiros, que estão com “As moeda contada” e passando por situações como ter “a luz sempre
cortada”. Sobre esse mesmo assunto, também é mencionado na música o hábito de consumo por
meio do parcelamento: “Se o mengão jogar, pode até parcelar”.
É bom chamar a atenção dos alunos para a falta de concordância em “as moeda contada”, que
reflete a oralidade e uma variante não formal da nossa língua.

3. O trecho “A sociedade é doentia e julga a cor, a careta” denuncia o racismo presente em


nossa sociedade. Por que a sociedade “julga pela cor”? Por que isso caracteriza a sociedade
como “doentia”?
O racismo na sociedade brasileira é histórico e se faz presente ainda hoje. Apesar da existência de
uma lei que considera esse tipo de ato algo criminoso (Inciso XLII do Artigo 5 da Constituição
Federal de 1988: “A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão, nos termos da lei”), temos uma sociedade que “julga pela cor”. Ou seja, que ainda
persegue quem é negro, seja em compras no supermercado, seja no trabalho, no caminhar pela rua
etc. Essa concepção e essa atitude, por parte da sociedade, são derivadas de raízes históricas e são
cultivadas e consolidadas em diversas práticas preconceituosas. Ao dizer que a sociedade é
“doentia”, o compositor aponta para a falta de sentido, a anormalidade - e para a necessidade da
cura de uma enfermidade, de uma moléstia.
São comumente noticiados nas mídias diversos casos de racismo, como o caso da professora
universitária negra que foi acusada de furto e o assassinato de George Floyd, em 2020, em que um
homem negro morto asfixiado por um policial de cor branca durante uma abordagem.
Segue o link das reportagens sobre os respectivos casos de racismo:
 https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/05/27/caso-george-floyd-morte-de-homem-negro-
filmado-com-policial-branco-com-joelhos-em-seu-pescoco-causa-indignacao-nos-eua.ghtml
 https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2020/03/10/professora-denuncia-racismo-apos-ser-
acusada-de-furto-ao-guardar-compras-em-ecobag-em-curitiba.ghtml

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Outros links com reportagens para se pensar sobre a temática:
 https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/06/28/onu-casos-de-luana-barbosa-e-joao-pedro-
sao-exemplos-de-racismo-institucional-no-brasil-como-o-de-george-floyd-nos-eua.ghtml
 https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52922015
 https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/03/31/rodrigo-branco-e-acusado-
de-racismo-o-que-dizem-especialistas-sobre-tema.htm
Professor(a), para ajudá-lo com a temática de racismo, sugerimos também o canal “Politize!”:
 https://www.youtube.com/watch?v=jQWzD8b8UIs
 https://www.politize.com.br/artigo-5/criminalizacao-do-racismo/

4. O que significa o trecho “A rapunzel é linda sim, com os dreads no terraço”? O que esse
trecho nos faz pensar sobre as personagens femininas dos contos de fadas e as mulheres
reais?
O verso pode significar que não importa qual o estilo/tipo de cabelo utilizado pelas pessoas, todas
são “lindas” à sua maneira. Esse trecho nos possibilita pensar sobre como pode ser perverso o
padrão de beleza, seja no tipo de cabelo ou corpo idealizado: por exemplo, ainda é referência um
modelo feminino caracterizado por cabelo loiro, pele branca e corpo magro, ou seja, uma “boneca”
com traços europeus. Podemos relacionar essa temática com uma comparação entre as
personagens femininas dos contos de fadas e as mulheres reais. Nos contos de fadas, a maioria das
princesas são brancas, magras e com cabelos lisos: um padrão que não representa, em sua maioria,
as mulheres brasileiras, tão diversas em cabelos, peles e corpos. É recente a criação de
personagens femininas distintas e mais próximas da diversidade das belezas reais (como Tiana,
Moana e Merida, no caso da Disney), o que só aconteceu depois de muitos debates e críticas feitas
em vários países ao longo de muitos anos. Precisamos continuar discutindo essa questão para gerar
mudanças e conseguir retratar os diferentes perfis existentes, de modo a “quebrar”, gradualmente,
o padrão de beleza ainda hegemônico.

5. Como você compreende a pergunta: “Como explicar para uma criança que a segurança dá
medo?” Que segurança é essa? Por que ela dá medo?
Significa que uma parte da população brasileira tem medo dos agentes de segurança pública, que
são justamente quem deveria dar segurança à população, mas que infelizmente, em alguns casos e
lugares, intimidam os cidadãos com ações e abordagens violentas, muitas vezes movidas por
preconceitos.

6. “Tá tudo do avesso, falhamos no berço / Nosso final feliz tem a ver com o começo”. Como
você entende esses versos? O que seria um bom começo?
Esse verso nos possibilita compreender que a sociedade errou ao ter determinados pensamentos e
atitudes e que para que essa situação mude é preciso recomeçar, ou seja, olhar para o começo, para
as falhas (violência urbana, racismo, padrões de beleza, entre outros), para nossa história e a partir
disso mudar as mentalidades e comportamentos. É preciso também cuidar das crianças desde o
nascimento, protegendo o direito delas à saúde, ao amor, à educação etc. Desse modo, um bom
começo seria de fato recomeçar, em prol de uma sociedade mais harmônica, igualitária e justa.

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PARTE IV: Trabalhando com figuras de linguagem

1. A aliteração é uma figura de linguagem caracterizada pela repetição de consoantes ou


sílabas para remeter a um som e criar efeitos sonoros específicos num texto, poema ou letra
de música. Encontre partes do texto em que esse recurso linguístico é usado e responda: por
que ele é usado? Que sensações ele provoca?
Exemplo: “Diretamente do fundo do caos procuro meu cais no mundo de cães”. Há a repetição de
um som nas palavras caos, cais, cães. O recurso é utilizado para trazer um efeito sonoro que dá
ênfase em certas palavras e na relação entre elas, chamando a atenção, no caso, para a desordem,
para a busca por paz e tranquilidade e para a violência cometida pelos homens - que são temas
centrais da música.

2. A metáfora é um recurso de produção de significados explorando comparações,


normalmente implícitas. Como você explicaria a seguinte metáfora: “O ser humano em
resumo é o câncer do planeta”. Você concorda com essa ideia?
Essa metáfora pode significar que o ser humano é o principal responsável pelos graves problemas
que o planeta Terra está passando, sejam eles sociais ou ambientais. Professor(a), proponha aos
seus alunos que eles pensem em outra metáfora a partir do “ser humano”, que tenha um caráter
positivo, criando perspectivas para a mudança do atual cenário e a construção de um futuro
melhor.

3. Metonímia é uma figura de linguagem que consiste em “usar uma palavra ou por outra com
a qual se relaciona”2. Quais são as metonímias presentes no verso “Sapatos de cristal pisam
em pés descalços”?
Nesse verso, temos as metonímias “elite” por “sapatos de cristal” e “pobres” por “pés descalços”
e uma metáfora em “pisam” no lugar de oprimem, maltratam, humilham. Uma interpretação do
verso é que pessoas de uma classe social mais alta (que utilizam “sapatos de cristal”) pisam e
humilham aquelas pessoas de classe social mais baixa (as que se encontram descalças).

4. Na letra da música encontramos a presença de uma onomatopeia (que consiste na


reprodução de um som natural da realidade). Aponte qual é essa onomatopeia e, em seguida,
explique o efeito que ela pode trazer à canção.
Pode-se observar a presença de onomatopeia em: “A polícia engatilhou: Pá, pá, pá, pá”, simulando
o barulho de tiros. Esse recurso parece dar um tom realista à letra da canção.

PARTE V: PRODUÇÃO

2
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 48.ed. rev. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 2008, p. 514.

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PROPOSTA DE PRODUÇÃO II: Denunciando os problemas sociais

“Tem algo errado com o mundo”. O que está errado? O que podemos fazer para consertar?

Disponível em: https://escrevalolaescreva.blogspot.com/2019/01/. Acesso em: 26 jul. 2021.

Que tal colocar em prática toda a discussão feita sobre os problemas apontados na canção e pensar
em soluções para eles? Nessa proposta, cada grupo deverá eleger um problema social (racismo,
desigualdade social, pobreza, entre outros). Primeiramente, vocês vão criar um mural com imagens
- encontradas ou criadas por vocês - que exponham esse problema. Vocês podem escolher uma
imagem da internet ou criar seu próprio trabalho do zero. Essas imagens servirão para denunciar o
problema social que vocês escolheram. Além das imagens, vocês podem apresentar dados e
informações a respeito desse problema (definição, caracterização, número de pessoas nessa situação
etc.). Lembre-se de citar a fonte das imagens e das informações usadas.
Deixem uma parte do mural reservada para vocês e os seus colegas apontarem soluções para esse
problema e, quando o mural do seu grupo estiver pronto, será hora de mostrar e compartilhar com
outras pessoas. Que tal postar nas redes sociais de sua escola?

Passo a passo do projeto de criação:


● Faça uma dupla ou um pequeno grupo com seus colegas;
● Comecem pensando no tema da sua imagem, ou seja, qual problema social vocês querem
denunciar;

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● Façam uma pesquisa, a fim de selecionar imagens que retratam o problema social escolhido
por vocês ou criem suas imagens sobre esse tema;
● Pesquisem sobre o momento ou acontecimento que as imagens retratam;
● Criem uma legenda ou título sobre o conteúdo daquela imagem e o que vocês pretendem
denunciar a partir dela;
● Montem o mural digital com elas no aplicativo sugerido pelo professor(a);
● Agora é só compartilhar pela internet!
Algumas imagens para se inspirar:

Disponível em: https://www.instagram.com/midianinja/. Acesso em: 16 ago. 2021.

Disponível em: https://www.politize.com.br/wp-content/uploads/2018/11/. Acesso em: 16 ago. 2021.

Professor (a), essa proposta de produção consiste na criação e/ou edição de imagens já existentes ou
originais (criadas pelo próprio aluno), a partir de imagens impactantes que abordam sobre diversos
problemas sociais, também levantados pela música “Canção Infantil”. Essas criações dos alunos
funcionarão como “denúncias”, ou seja, formas de expor e levar a sociedade brasileira a pensar de forma
crítica sobre essas questões. É importante que seja um trabalho feito em conjunto para que os alunos
possam discutir, refletir e aprofundar nessas temáticas. Para a realização dessa tarefa, sugerimos que vocês
usem ferramentas como o Padlet, Pearltrees ou Jamboard, que são fáceis de usar para criar murais
colaborativos.

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