Experiencias de Extensao Na Pandemia - Ebook

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EXPERIÊNCIAS

DE EXTENSÃO
NA PANDEMIA
Maria do Socorro Barbosa e Silva Dauci Pinheiro Rodrigues
Rochane Villarim de Almeida Ivonildes da Silva Fonseca
Rostand de Albuquerque Mélo Kalina Naro Guimarães
Antonio Augusto Pereira de Sousa Ana Isabella Arruda Meira Ribeiro
Paulo Eduardo e Silva Barbosa Sibele Thaise Viana Guimaraes
Organizadores(as)

EXPERIÊNCIAS
DE EXTENSÃO
NA PANDEMIA

Campina Grande-PB | 2023


Universidade Estadual da Paraíba
Profª. Célia Regina Diniz | Reitora
Profª. Ivonildes da Silva Fonseca | Vice-Reitora

Editora da Universidade Estadual da Paraíba


Cidoval Morais de Sousa | Diretor

Conselho Editorial
Alessandra Ximenes da Silva (UEPB)
Alberto Soares de Melo (UEPB)
Antonio Roberto Faustino da Costa (UEPB)
José Etham de Lucena Barbosa (UEPB)
José Luciano Albino Barbosa (UEPB)
Melânia Nóbrega Pereira de Farias (UEPB)
Patrícia Cristina de Aragão (UEPB)

Editora indexada no SciELO desde 2012 Editora filiada a ABEU

EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA


Rua Baraúnas, 351 - Bairro Universitário - Campina Grande-PB - CEP 58429-500
Fone: (83) 3315-3381 - http://eduepb.uepb.edu.br - email: [email protected]
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Cidoval Morais de Sousa (Diretor)

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Comunicação
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Copyright © EDUEPB
A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violação da
Lei nº 9.610/98.
CONSELHO EDITORIAL DE EXTENSÃO

Maria do Socorro Barbosa e Silva


Dauci Pinheiro Rodrigues
Rochane Villarim de Almeida
Ivonildes da Silva Fonseca
Rostand de Albuquerque Mélo
Kalina Naro Guimarães
Antonio Augusto Pereira de Sousa
Ana Isabella Arruda Meira Ribeiro
Paulo Eduardo e Silva Barbosa
Sibele Thaise Viana Guimaraes
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

CULTURA EM REDE E DEMOCRATIZAÇÃO MIDIÁTICA:


UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO
CAMPINA CULTURAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Deivide Eduardo de Souza Gomes
Bruna da Silva Araújo
Emanuelly Lucena Batista
Wanderson Gomes de Oliveira
Ada Kesea Guedes Bezerra

ANTI-HORÁRIO E ESTUDANTES DE ESCOLAS PÚBLICAS


DESENVOLVEM NARRATIVAS POSITIVAS EM CONTRAPONTO
AO NOTICIÁRIO SOBRE COVID-19 .............................................................. 37
Antonio Simões Menezes

SOCIALIZANDO EM REDE: ADAPTAÇÃO E SUPERAÇÃO


ACADÊMICAS EM MEIO À CRISE SANITÁRIA DO SÉCULO XXI ........... 53
Manuela Eugênio Maia
Liliane Braga Rolim Holanda de Souza
Danielle Harlene da Silva Moreno
Jacqueline Echeverría Barrancos
José Wilker de Lima Silva
Milena Borges Simões de Araújo
Palloma Raphaely Carvalho Alves

COMUNICAÇÃO E INTERPROFISSIONALIDADE NA
PANDEMIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE
O PROJETO ATIVA IDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Jarda Eduarda Mendes Jerônimo
Josineide da Silva Barbosa
Williane Vitória Santos de Lima
Vânia Maria Oliveira de Farias
Renata Cardoso Rocha Madruga
PROJETO DE EXTENSÃO MAIS ACESSIBILIDADE:
UM RELATO DA EXPERIÊNCIA EM TEMPOS
DE PANDEMIA EM 2021 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Débora Regina Fernandes Benício
Géssica Quênia de Oliveira Alves
Janielly Petrúcia Matias de Lima

EM MEIO À COVID-19, CONSTRUINDO POSSIBILIDADES:


EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA SOB O CHÃO DA CIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
Maria Jackeline Feitosa Carvalho

QUANDO A ESCUTA CHEGA: DIÁLOGO,


SUBJETIVIDADE E CONSCIENTIZAÇÃO NA PANDEMIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Rita de Cássia da Rocha Cavalcante
João Faustino dos Santos

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OS DIREITOS HUMANOS


E O ECA NO CURRÍCULO ESCOLAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Lenilda Cordeiro de Macêdo
Adna Berardo da Costa
Marizete Araújo dos Santos
Maria Franciele Mouzinho Martins
Maria Lívia Gomes de Almeida

ESCRITA CRIATIVA E PRODUÇÃO DE SABERES


DE ESCRITORES(AS) PARAIBANOS(AS):
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DO CÂMPUS III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
Verônica Pessoa da Silva
João Matias de Oliveira Neto
Mirella Karla Bezerra Crispim de Souza

TELEATENDIMENTO NA CEFALEIA TENSIONAL E ALGIAS


NA COLUNA DURANTE O PERÍODO PANDÊMICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
Taís Santos Vieira
Elivelton Duarte dos Santos
Wilza Aparecida Brito de Oliveira
Kelly Soares Farias
Maria do Socorro Barbosa e Silva
RELATO DE EXPERIÊNCIA PROJETO ATIVA IDADE:
INTERDISCIPLINARIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
Lívia Maria Almeida de Araújo
Ricarlly Almeida de Farias
Vânia Maria Oliveira de Farias
Renata Cardoso Rocha Madruga
Claudia Holanda Moreira

CONECTIV-IDADES 60+: PROMOVENDO SAÚDE MENTAL


E INCLUSÃO DIGITAL DE PESSOAS IDOSAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
Josevânia da Silva
Elayne Cristina de Sousa Chagas
Amanda Kilse Macedo da Silva
Marcela Tavares Silva Ribeiro
Anadja Michelly dos Santos Souza
Maria Clara da Silva Nascimento
Inaiê Caldas Lins Volta

GERONTOTECNOLOGIA: INTERVENÇÕES
EM PSICOEDUCAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
Maria Gabriela Pereira da Silva
Victória Maria de Freitas Nunes
Mirella Raquel Alves de Araújo Rodrigues
Virgínia Maria Bezerra Silva
Maria do Carmo Eulálio

ESTRATÉGIAS DE MARKETING DIGITAL


PARA ALAVANCAGEM DE NEGÓCIOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
Sandra Maria Araújo de Souza
Ana Beatriz Silva de Farias
Bruna Rodrigues Monteiro
Elissandra Gonçalves dos Santos
Emerson Gonzaga da Silva
Maria Eduarda Ferreira de Farias
APRENDER A EMPREENDER: DESAFIOS
E CONQUISTAS NO PERÍODO DA PANDEMIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
Jacqueline Echeverría Barrancos
Manuela Eugênio Maia
Viviane Barreto Motta Nogueira
Keila Silva de Macedo
Kethlyn Queiroz Lourenço
Natasha Rosana Silva Santos
Wanderley Junior da Silva

PLANO DE CLASSIFICAÇÃO DO ARQUIVO DA EECI COMPOSITOR


LUIZ RAMALHO-JOÃO PESSOA/PB 271
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Viviane Barreto Motta Nogueira


Aline Cristina da Silva
APRESENTAÇÃO

“Ir além dos muros da universidade”. Está é, provavelmente,


a primeira definição que virá à sua mente quando nos propomos
a falar sobre extensão. A expressão, usada de modo recorrente,
revela o caráter dialógico e comprometido da extensão universi-
tária. Mas como cumprir o objetivo de intervir positivamente nas
comunidades em um contexto de isolamento social? Este foi o desa-
fio imposto pela Covid-19 às universidades públicas do Brasil a par-
tir de março de 2020.
Durante a pandemia, a metáfora do “muro” foi ressignificada.
Não se tratava apenas da ideia de romper as barreiras entre aca-
demia e comunidade. Ou a provocação necessária para estimular
o compartilhamento de todo o saber produzido nos laboratórios e
salas de aula, traduzindo-o de modo sensível para que seja efetiva-
mente apropriado nas demandas da vida cotidiana. O “muro” dei-
xou de ser um obstáculo apenas institucional, pois vivíamos uma
experiência de isolamento extremo, onde o recolhimento indivi-
dual se tornou um ato coletivo de preservação da vida.
Como manter aberto o canal de diálogo com a comunidade
quando as universidades estavam vazias? Como seria possível estar
próximo dos atores sociais no momento em que a relação entre
professores e estudantes estava sendo mantida através das telas de
computadores e celulares? Como traduzir corretamente os concei-
tos da produção acadêmica se ainda tentávamos dominar a lingua-
gem das tecnologias de informação usadas no trabalho remoto?

11
Apesar dos obstáculos, a extensão não parou. Estratégias ino-
vadoras foram sendo construídas criativamente, estabelecendo
novas pontes e links com a comunidade. As barreiras de acesso aos
dispositivos e até mesmo a conexão de boa qualidade não impedi-
ram que projetos e programas de extensão continuassem presentes
na vida das comunidades atendidas. O que nos paralisou em um
primeiro momento acabou nos “empurrando” para mudanças. A
extensão, mais uma vez, exerceu o papel de resistência.
Apresentamos neste e-book “Experiências de Extensão na
Pandemia” casos exitosos de ações extensionistas desenvolvidas
durante a pandemia no contexto da Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB). A obra reúne 16 relatos de experiência relaciona-
dos a projetos e programas, abrangendo seis áreas temáticas: comu-
nicação, direitos humanos, educação, saúde, tecnologia e trabalho.
Comunicação é o eixo temático de 4 relatos de experiência.
A professora Ada Kesea Guedes Bezerra e os discentes Bruna da
Silva Araújo, Deivide Eduardo de Souza Gomes, Emanuelly Lucena
Batista e Wanderson Gomes de Oliveira apresentam a experiên-
cia do projeto “Campina Cultural: A Cultura Como Inclusão Social
na Região Imediata de Campina Grande”. A iniciática foi criada em
2020 com o objetivo de utilizar as mídias digitais para conferir visi-
bilidade pública aos artistas e produtores culturais, atendendo um
dos setores mais afetados pela pandemia. A criação de um site de
jornalismo cultural e o uso da rede social Instagram estão entre as
estratégias do projeto, além da realização de oficinas, palestras e
encontros por meio do uso das plataformas digitais.
Outra iniciativa oriunda do curso de Jornalismo da UEPB é o
projeto Anti-horário, coordenado pelo professor Antônio Simões
Menezes. A proposta surgiu em 2018 com o objetivo de produzir
conteúdo jornalístico pautado por histórias positivas, colocando
em prática o conceito de “jornalismo de soluções”. A temática era
abordada também em oficinas de escolas públicas. Com a pande-
mia, o projeto foi adaptado ao contexto das atividades remotas, rea-
lizando lives no Instagram e oficinas usando a plataforma Google
Meet, além da construção de parcerias com o Instituto Federal de

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Educação (IFPB) e a Feira Literária de Campina Grande (FLIC). O
“Anti-horário” apresentou um contraponto ao noticiário negativo
da Covid-19, com informações úteis e promovendo esperança.
O curso de Arquivologia do Campus V da UEPB também
está presente entre os relatos da área de comunicação, com o
artigo “Socializando em rede: adaptação e superação acadêmicas
em meio à crise sanitária do século XXI”. O texto é de autoria das
professoras Manuela Eugênio Maia (coordenadora do projeto) e
Jacqueline Echeverría Barrancos, do professor José Wilker de Lima
Silva, das bibliotecárias Danielle Harlene da Silva Moreno, Liliane
Braga Rolim Holanda de Souza, Milena Borges Simões de Araújo e
da bolsista Palloma Raphaely Carvalho Alves. No relato os autores
apresentam uma avaliação quanti-qualitativa sobre duas palestras
promovidas em formato on-line na pandemia, promovendo a divul-
gação do conhecimento científico.
Promovendo um diálogo entre comunicação e saúde, o projeto
“Ativa Idade” apresenta os resultados do atendimento aos idosos
da Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Cinza, em Campina
Grande. O projeto contribuiu no combate à desinformação sobre a
Covid-19, promovendo a orientação correta para um dos principais
grupos de risco. As informações foram difundidas por canais como
WhatsApp, Instagram e com a produção de um podcast. O relato
de experiência é de autoria da professora de Odontologia Renata
Cardoso Rocha Madruga, das estudantes de enfermagem Jarda
Eduarda Mendes Jerônimo e Williane Vitória Santos de Lima, da
estudante de jornalismo Josineide da Silva Barbosa e da assistente
social Vânia Maria Oliveira de Farias.
Na área de direitos humanos, o projeto “Mais acessibilidade”
apresenta o relato das atividades desenvolvidas em 2021, ainda no
contexto das atividades remotas. Vinculado ao curso de Pedagogia,
o projeto promove a inclusão social de pessoas de deficiência ou
mobilidade reduzida. A formação da equipe extensionista foi
realizada por meio de plataformas virtuais, também utilizadas
para a produção de conteúdo educativo, a exemplo da cartilha
“Acessibilidade: uma questão de cidadania”, além de podcasts para

13
divulgação via WhatsApp, vídeos e palestras. O texto é de autoria
da professora Débora Regina Fernandes Benício, coordenadora
do projeto, e das ex-bolsistas Géssica Quênia de Oliveira Alves e
Janielly Petrúcia Matias de Lima.
Outra ação vinculada à área de direitos humanos foi discutida
no texto “Em meio à covid-19, construindo possibilidades: extensão
universitária sob o chão da cidade”, de autoria da Maria Jackeline
Feitosa Carvalho, do Departamento de Ciências Sociais. Com o obje-
tivo de democratizar o debate e as decisões sobre a implementação
das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) em Campina Grande,
o projeto “Formas e expressão da participação popular nas ZEIS
em Campina Grande” realizou oficinas, rodas de diálogo e debates
abertos à sociedade civil organizada. Entre os resultados da ação
extensionista está a produção do documentário “Sob o chão de
cidade – espaço de vidas e memórias” e a elaboração da cartilha
ZEIS.
Outros três relatos tratam de ações na área de educação. É
o caso no relato “Quando a escuta chega: diálogo, subjetividade e
conscientização na pandemia”, sobre as ações do projeto “Pra te
escutar”, desenvolvido no Centro da Humanidades (CH) da UEPB
em Guarabira. A professora Rita de Cássia da Rocha Cavalcante e o
estudante João Faustino dos Santos apresentam as ações do projeto,
que ofereceu o serviço de escuta on-line por meio do Google Meet,
promoveu oficinas por meio da plataforma Even e realizou uma
campanha de conscientização nas redes sociais. Além da comuni-
dade do CH, foram atendidas pessoas da comunidade do entorno
e de outros campi, com atendimentos até em outros estados como
Pernambuco, Bahia e Goiás.
O artigo “Educação e cidadania: os direitos humanos e o ECA
no currículo escolar” destacou a realização de um ciclo de debates
com professores e docentes em formação sobre a obrigatoriedade
da inclusão do estudo do Estatuto da Criança e do Adolescente no
currículo escolar. A ação foi coordenada pela professora Lenilda
Cordeiro de Macêdo, que assina o texto juntamente com as estu-
dantes de Pedagogia Adna Berardo da Costa, Marizete Araújo dos

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Santos, Maria Franciele Mouzinho Martins e Maria Lívia Gomes de
Almeida. Adaptado ao contexto pandêmico, o projeto promoveu
oito encontros virtuais e síncronos, com periodicidade quinze-
nal, atendendo a um total de 55 pessoas dos estados da Paraíba e
Pernambuco.
O terceiro relato da área de educação aborda a experiência
de mais um projeto desenvolvido no campus III, em Guarabira.
Trata-se do projeto “Aprofundando a escrita criativa e produção de
saberes”, coordenado pela docente Verônica Pessoa da Silva, autora
do texto ao lado da bolsista Mirella Karla Bezerra Crispim de Souza
e o estudante João Matias de Oliveira Neto. Foram realizados 13
encontros virtuais com os participantes do projeto, contando ainda
com a presença de escritores e escritoras da Paraíba, incluindo
autores vinculados ao movimento negro, movimentos de mulheres
e da comunidade LGBTQIAP+, considerando assim o lugar de pro-
dução do texto literário enquanto espaço político.
A saúde também foi tema de três textos do e-book. O relato
“Teleatendimento na cefaleia tensional e algias na coluna durante o
período pandêmico” apresenta o processo de adaptação da Oficina
de Massagem da UEPB para realizar o monitoramento virtual dos
pacientes com atendimentos semanais, via WhatsApp e Google
Meet. O acompanhamento promoveu o autocuidado e estimulou a
atividade física, resultando na redução do estresse e melhor qua-
lidade de sono. O projeto é coordenado pela professora Maria do
Socorro Barbosa e Silva, autora do texto em parceria com a pro-
fessora Kelly Soares e os estudantes Taís Santos Vieira, Elivelton
Duarte dos Santos e Wilza Aparecida Brito de Oliveira.
O projeto “Ativa Idade” foi destaque em mais um relato de
experiência, desta vez com foco no caráter interdisciplinar da
iniciativa que agrega estudantes dos cursos de Educação Física,
Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Jornalismo, Odontologia,
Psicologia e Serviço Social. A atuação integrada de uma equipe tão
plural contribuiu para a adaptação ao contexto pandêmico, garan-
tindo a continuidade do atendimento aos idosos, além de estimu-
lar uma formação humanizada e cidadã de profissionais de áreas

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tão diversas. O relato de experiência foi escrito pelas professoras
Cláudia Holanda Moreira, Renata Cardoso Rocha Madruga, pela
assistente social Vânia Maria Oliveira de Farias e pelos discentes
Lívia Maria Almeida de Araújo e Ricarlly Almeida de Farias.
O cuidado com os idosos também é a prioridade do projeto
Conectiv-Idades 60+ que promoveu ações de saúde mental e inclu-
são digital. Para mensurar os resultados, foi aplicado um questio-
nário e uma entrevista semiestruturada com um grupo de nove
pessoas com mais de 60 anos. Além de proporcionar um espaço
virtual de acolhimento, a equipe contribuiu para o aprendizado dos
idosos sobre as tecnologias digitais e para o combate à desinfor-
mação. O relato foi escrito pela coordenadora Josevânia da Silva,
do Departamento de Psicologia, em coautoria com as estudantes
Elayne Cristina de Sousa Chagas, Amanda Kilse Macedo da Silva,
Marcela Tavares Silva Ribeiro, Anadja Michelly dos Santos Souza,
Maria Clara da Silva Nascimento e Inaiê Caldas Lins Volta.
A área de tecnologia foi representada por dois relatos e o pri-
meiro deles também destaca a preocupação com um dos principais
grupos de risco da pandemia: os idosos. Em “Gerontotecnologia:
intervenções em psicoeducação”, as autoras Maria do Carmo
Eulálio (coordenadora), Maria Gabriela Pereira da Silva, Victória
Maria de Freitas Nunes, Mirella Raquel Alves de Araújo Rodrigues e
Virgínia Maria Bezerra Silva relatam o trabalho on-line de interven-
ção psicossocial desenvolvido com idosos da Universidade Aberta à
Maturidade (UAMA) em 2021. O projeto realizou 15 oficinas apre-
sentando ferramentas digitais que poderiam auxiliá-los no coti-
diano, estimulando maior autonomia e impactando positivamente
aspectos como sociabilidade e autoestima.
Já o projeto “Marketing Digital para Alavancagem de Negócios”
busca estimular o empreendedorismo através da capacitação para o
uso das ferramentas digitais. Na pandemia, muitos negócios foram
obrigados a migrar rapidamente para as vendas on-line, mas sem
experiência em comércio eletrônico e sem condições para custear
uma consultoria. Diante desse cenário, o projeto realizou workshops
com empreendedores, com quem pretendia empreender no futuro

16
e com estudantes do ensino médio que foram estimulados a cons-
truir propostas de start ups. O texto foi escrito por Sandra Maria
Araújo de Souza, Ana Beatriz Silva de Farias, Bruna Rodrigues
Monteiro, Elissandra Gonçalves dos Santos, Emerson Gonzaga da
Silva e Maria Eduarda Ferreira de Farias.
O empreendedorismo também é o foco do projeto “Apreender
a Empreeender”, um dos dois relatos de experiência do eixo temá-
tico “trabalho”. Vinculado ao programa da Incubadora Universitária
do Campus V de João Pessoa, o projeto promoveu palestras e oficina
sobre temas como comportamento do empreendedor, modelo de
negócios, análise de mercado e marketing para um público formado
por empreendedores individuais e potenciais empreendedores.
O relato foi escrito pelas professoras de Arquivologia Jacqueline
Echeverría Barrancos (coordenadora), Manuela Eugênio Maia,
Viviane Barreto Motta Nogueira e pelos discentes Keila Silva de
Macedo, Kethlyn Queiroz Lourenço, Natasha Rosana Silva Santos e
Wanderley Junior da Silva.
Por fim, o relato intitulado “Plano de classificação do arquivo
da EECI Compositor Luiz Ramalho” discute o trabalho de reformu-
lação da gestão documental da escola da rede estadual, localizada
no bairro de Mangabeira, em João Pessoa. O projeto foi coorde-
nado pela professora Viviane Barreto Motta Nogueira do curso
de Arquivologia da UEPB, campus V, e contou com a participação
da bolsista Aline Cristina da Silva, que dividem a autoria do texto
apresentado no e-book. Mesmo no contexto de isolamento social,
foram realizados encontros presenciais e remotos com a equipe da
escola, permitindo o correto diagnóstico dos problemas e a cria-
ção de estratégias de limpeza, separação e controle dos arquivos e
garantindo o direito de acesso ao arquivo público escolar.
Diante da diversidade de estratégias e linhas de atuação, acre-
ditamos que os frutos gerados pela extensão na UEPB durante a
pandemia são fonte de inspiração para iniciativas futuras. A acele-
ração de processo de incorporação das tecnologias de informação
e da Comunicação (TICs) às práticas pedagógicas abriu novas pos-
sibilidades de atuação. Se por um lado o contato direto foi limitado

17
durante as medidas de isolamento social, por outro tivemos a
ampliação da abrangência das ações, alcançando novos públicos de
fora da universidade e até pessoas de outros estados, superando
barreiras culturais e geográficas.
O uso de linguagens e plataformas características do ambiente
digital permanecerá exercendo um papel de protagonismo, mesmo
com a tão esperada retomada às atividades presenciais. As preo-
cupações sociais, econômicas e políticas que caracterizam a atua-
ção dos projetos e programas de extensão continuam apontando a
direção para as novas propostas, em sintonia com as demandas das
comunidades. Novos canais de diálogos foram abertos e devem ser
mantidos, com o objetivo de estreitar laços e levar até a população
os saberes e serviços produzidos e disponibilizados pela universi-
dade na sua missão de transformação social.

Rostand de Albuquerque Melo


Professor do curso de Jornalismo
e integrante do Conselho Editorial da UEPB.

18
CULTURA EM REDE E DEMOCRATIZAÇÃO MIDIÁTICA:
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
DO PROJETO CAMPINA CULTURAL

Deivide Eduardo de Souza Gomes1


Bruna da Silva Araújo2
Emanuelly Lucena Batista3
Wanderson Gomes de Oliveira4
Ada Kesea Guedes Bezerra5

Introdução

Este relato de experiência contempla os fazeres de um pro-


jeto de caráter extensionista que surge durante e em decorrência
da pandemia da COVID-19, em 2020, quando os discentes Deivide
Eduardo de Souza Gomes e Bruna da Silva Araújo, então alunos do 2º

1 Aluno voluntário do Projeto de Extensão “Campina Cultural: a cultura como inclu-


são social na Região Imediata de Campina Grande” (PROBEX Cota 2022-2023) do
Departamento de Comunicação Social (DECOM), Campus I – Campina Grande, da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
2 Aluna voluntária do Projeto de Extensão “Campina Cultural: a cultura como inclu-
são social na Região Imediata de Campina Grande” (PROBEX Cota 2022-2023) do
Departamento de Comunicação Social (DECOM), Campus I – Campina Grande, da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
3 Aluna voluntária do Projeto de Extensão “Campina Cultural: a cultura como inclu-
são social na Região Imediata de Campina Grande” (PROBEX Cota 2022-2023) do
Departamento de Comunicação Social (DECOM), Campus I – Campina Grande, da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
4 Aluno bolsista do Projeto de Extensão “Campina Cultural: a cultura como inclu-
são social na Região Imediata de Campina Grande” (PROBEX Cota 2022-2023)
do Departamento de Comunicação Social (DECOM) da Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB)
5 Doutora em Ciências Sociais (UFCG). Professora do Departamento de Comunicação
Social (DECOM), Campus I – Campina Grande, da Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB). Coordenadora do Projeto de Extensão “Campina Cultural: a cultura como
inclusão social na Região Imediata de Campina Grande” (PROBEX Cota 2022-2023)

19
período do curso de jornalismo, do Departamento de Comunicação
Social, levantaram as seguintes problemáticas: Como trabalhar com
jornalismo cultural de modo a democratizar o conhecimento e pro-
mover o caráter reflexivo sobre pautas que contemplem a comple-
xidade da cultura de um povo, de sua identidade e fazeres diversos?
E como realizar esse feito de forma extensionista e assim fomentar
a democratização dos espaços de mídia junto a produtores cultu-
rais em tempos de pandemia?
Imersos no exercício criativo necessário à concepção de uma
proposta desta natureza, os estudantes, que ainda não eram exten-
sionistas, contataram dois de seus professores para fomentarem a
discussão e então identificarem pressupostos teóricos, metodoló-
gicos e operacionais condizentes com a ideia que então se desen-
volvia. Assim, os dois estudantes, juntamente com a professora
do curso de jornalismo Ada Kesea Guedes Bezerra, que se tornou
coordenadora do projeto e o professor e Pró-Reitor de Cultura,
José Cristóvão de Andrade, que passou a atuar como colaborador,
empreenderam exercício fundamentado nos preceitos freireanos,
com escolhas metodológicas em uma perspectiva holística, dialó-
gica e humanística, a partir de uma prática educativa alicerçada na
valorização do saber do outro, como mostrou Freire (1996).
E assim, fruto da iniciativa e autonomia de discentes, em um
fazer dialógico e colaborativo, emerge o Campina Cultural: a cul-
tura como inclusão social na Região Imediata de Campina Grande.
O objetivo geral do projeto consistia e ainda consiste em promover
a prática do jornalismo cultural nas mídias digitais como estímulo
à diversidade cultural presente na Região Geográfica Imediata de
Campina Grande, bem como no reconhecimento midiático da cul-
tura como fator de impacto para a inclusão de grupos e/ou indiví-
duos historicamente invisibilizados.
Na construção desta proposta de projeto, partiu-se, portanto,
da premissa de que é possível a prática de um jornalismo consciente
da necessidade de democratização de informação, conhecimento e
bens culturais de forma acessível a todos. Uma missão que não é do
produtor de cultura e sim daquele que comunica, que torna visível e

20
acessível aquilo que por vezes está invisibilizado ou está ao alcance
de uma elite. Ou seja, ao jornalista cabe despertar a reflexão a partir
de análises e críticas contundentes e não sectárias, sobretudo, atra-
vés de conteúdos que façam o cidadão refletir sobre uma cultura,
um povo, sobre identidade, realidades e manifestações que repre-
sentam a condição humana, e, portanto, a diversidade. Um exercício
capaz de provocar a valorização das culturas local e regional.
Está no cerne deste projeto a ideia de que a atuação consciente
de profissionais da comunicação junto às culturas locais e regio-
nais é capaz de provocar valorização em cadeia e mudar realida-
des também no âmbito econômico, político e social. É esse tipo de
prática que se pretende estimular no público-alvo desta proposta,
no sentido de contribuir para combater a invisibilidade de culturas
minoritárias e grupos artísticos marginalizados, que conforme a
Unesco (2009, p. 20), “em parte não tem acesso a cargos editoriais,
de gestão, ou de tomada de decisão quanto ao que é publicado ou
não nos veículos de mídia”.
Consciência que precisa ser despertada ainda por ocasião da
formação do jornalista, tanto como profissional como enquanto
sujeito, e a extensão universitária existe justamente para colabo-
rar com tal conduta bem como para cumprir a missão de agre-
gar, adquirir e compartilhar experiências e saberes para além dos
muros acadêmicos.
Nesse sentido, como público-alvo, destacam-se três grupos
ora alcançados: 1. Estudantes do curso de jornalismo, que atra-
vés das ações são contemplados com uma formação mais crítica
sobre os fazeres, as expressões e conjuntura sócio-política da cul-
tura em nossa região; 2. Ativistas, artistas e produtores de cultura
com quem se estabelece diálogo profícuo com ganhos multilaterais
ao enriquecermos nosso repertório de conhecimento a partir das
experiências desses sujeitos, bem como provocamos meios e espa-
ços de divulgação de seus trabalhos através do jornalismo cultural
em espaços de mídias digitais; 3. A sociedade em geral, alcançada
pelo trabalho de divulgação da equipe do projeto em forma de con-
teúdo de caráter jornalístico e de infotenimento.

21
Uma interação que se efetivou e se efetiva de forma multifo-
cada, mas articulada teórica e metodologicamente. Que concebe o
público em sua função colaborativa e não meramente passiva. Que,
sobretudo, tem se concretizado exclusivamente a partir do protago-
nismo dos extensionistas.

Os esforços para a democratização do acesso


à informação em Cultura

O exercício do jornalismo bem como o respeito ao fazer cultu-


ral de nosso povo se relacionam desde muito cedo aos princípios
democráticos do Estado Brasileiro. Tomando esta asserção como
base, o projeto Campina Cultural buscou desenvolver um veículo
de comunicação que concentrou esforços na produção de conte-
údo jornalístico na perspectiva regional. Neste sentido, a equipe
idealizadora da proposta fundamentou-se nos estudos do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que definiu, no ano de
2017, o atual modelo de Divisão Regional do Brasil.
O estado da Paraíba possui, neste modelo, quatro Regiões
Geográficas Intermediárias (João Pessoa, Campina Grande, Patos e
Sousa-Cajazeiras) que correspondem a “uma escala intermediária
entre as Unidades da Federação e as Regiões Geográficas Imediatas”
(IBGE, 2017, p. 20). Neste formato, escolhemos como escopo de atu-
ação a Região Geográfica Imediata de Campina Grande, localizada
na Região Geográfica Intermediária de mesmo nome, composta por
47 cidades paraibanas. De acordo com o Instituto:

As Regiões Geográficas Imediatas têm na rede


urbana o seu principal elemento de referência.
Essas regiões são estruturas a partir de cen-
tros urbanos próximos para a satisfação das
necessidades imediatas das populações, tais
como: compras de bens de consumo duráveis
e não duráveis; busca de trabalho; procura por
serviços de saúde e educação; e prestação de

22
serviços públicos, como postos de atendimento
do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS,
do Ministério do Trabalho e de serviços judici-
ários, entre outros. (IBGE, 2017, p. 20).

A escolha desta área para cobertura midiática de um projeto,


feito inicialmente a tão poucas mãos, se mostrou preciosa para o
entendimento dos articuladores da proposta nas problematiza-
ções sobre inclusão e exclusão social. Sabe-se, pois, que diferentes
grupos ou indivíduos se desdobram em suas produções através de
suas relações espaciais e socioeconômicas com os grandes centros
urbanos.
Vale lembrar, a partir deste recorte regional, que o município
de Campina Grande está classificado como Capital Regional C pelo
estudo Regiões de Influência das Cidades (IBGE, 2018). Assim, este
município é entendido como um centro urbano de forte influência
nos municípios da região. Ao compreendermos que esta influência
se estende na produção e veiculação de notícias pela grande mídia,
optamos por escolher visibilizar iniciativas culturais desenvolvidas
na Região aqui relatada e que cotidianamente fogem aos olhos da
mídia tradicional local.
Entre os fatores que motivaram a cobertura midiática para
além do município de Campina Grande destaca-se a necessidade
imperiosa que a equipe do projeto buscou em contribuir para
a redução dos impactos causados pelos desertos de notícias6

6 São nomeados desertos de notícias aquelas cidades localizadas longe de centros


urbanos e que são afetadas de forma negativa pela falta de informações locais,
isso ocorre porque é comum que nessas localidades, geralmente não existam veí-
culo jornalístico. A partir dessa definição, o Atlas da Notícia começou a mapear
esses locais no Brasil a partir de 2017, tomando como base um estudo existente
nos Estados Unidos, o “American’s Growing News Deserts” (Desertos de Notícias
Crescentes da América) realizado com a finalidade de mapear os municípios que
dispõem ou não de meios jornalísticos. Em 2018 Judith Miller, do Manhattan
Institute, publica o artigo: “News Deserts: no news is bad News”, ao mesmo tempo
em que o fenômeno passa a ser debatido por institutos e acadêmicos em difer-
entes países.

23
(MILLER, 2018) e pelos quase desertos na Região Nordeste. De
acordo com a Iniciativa Atlas da Notícia, no ano de 2021 o Norte e
o Nordeste do país estavam enquadrados como as maiores concen-
trações de vazios de cobertura local7. Este cenário persistiu no ano
seguinte, nos estudos publicados em 2022. Mesmo com iniciativas
digitais e a presença de rádios como principais meios noticiosos,
o Nordeste se manteve com o segundo maior percentual de deser-
tos de notícias do país (64,4%), ficando um pouco atrás da Região
Norte, com 63,1%.8
Em pesquisa exploratória, verificamos pela base de dados do
Atlas da Notícia que, das 47 cidades da Região Geográfica Imediata
de Campina Grande, apenas cinco municípios estão categorizados
como não-desertos. Além disso, 13 municípios são considerados
quase desertos enquanto 29 são desertos de notícias9. Mesmo
com os veículos digitais capitaneando a redução dos desertos, o
Campina Cultural é o único portal, entre os 129 veículos on-line
ativos registrados pelo Atlas da Notícia e presentes na Região
Geográfica Imediata de Campina Grande, que é especializado em
cultura.

7 Fonte: CORREIA, M. Digital reduz desertos de notícias no Nordeste. Atlas da


Notícia. [S.l.], 2 fev. 2021. Disponível em: https://www.observatoriodaimprensa.
com.br/atlas-da-noticia/digital-reduz-desertos-de-noticias-no-nordeste/. Acesso
em: 9 out. 2022.
8 Fonte: CORREIA, M. Internet e rádio encolhem desertos de notícias no Nordeste.
Atlas da Notícia. [S.l.], 22 fev. 2022. Disponível em: https://www.observatorio-
daimprensa.com.br/atlas-da-noticia/internet-e-radio-encolhem-desertos-de-no-
ticias-no-nordeste/. Acesso em 9. out. 2022.
9 Estes dados foram coletados pelos autores deste relato através da base de informa-
ções do Atlas da Notícia em 9 de outubro de 2022. Disponível em: https://www.
atlas.jor.br/dados/app/.

24
FIGURA 1 – Quantidade de municípios e sua classificação
quanto à presença de veículos locais de comunicação

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do Atlas da Notícia (2022).

A escolha fundamentada em dados oficiais não foi suficiente


para que o Campina Cultural, em seu primeiro ano de existência,
não sofresse resistências dentro da estrutura institucional, em
diferentes frentes, acerca do uso desta classificação como área de
cobertura midiática. Como exemplo disso, verificamos que peças
noticiosas tiveram nossa área de atuação alterada para Região da
Borborema ou, até mesmo, em discussões sugeridas por pares, a
proposta de mudança de atuação para a Mesorregião do Agreste
Paraibano. Esta resistência foi superada, aos poucos, à medida que
o projeto promovia ações conjuntas e dialógicas com docentes e
discentes do Curso de Jornalismo, bem como na criação de seção
específica em seu website para tratar do tema de forma elucidativa
e atualizada.

Percurso metodológico do Campina Cultural

A metodologia utilizada pelo projeto consistiu na articulação


transversal entre as diferentes competências já conhecidas e desen-
volvidas no campo da educação midiática, que é definida como “um
conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar
de maneira crítica do ambiente informacional em todos os seus

25
formatos, dos impressos aos digitais” (FERRARI, MACHADO, OCHS,
2020, p. 54). As atividades aqui relatadas foram desenvolvidas
entre os meses de janeiro de 2021 a janeiro de 2022.
Para fins de estruturação do projeto, foi utilizada a concepção
metodológica proposta pelo Instituto Palavra Aberta, que explora
três grandes eixos da educação midiática: ler, escrever e participar.
Ferrari, Machado e Ochs (2020) apresentam um modelo que cha-
mam de Mandala EducaMídia, que pode ser utilizado como suporte
às ações de apoio à implementação da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.
Ao ver que o modelo permanecera em consonância com diver-
sos elementos presentes na formação acadêmica do profissional
de jornalismo, a equipe idealizadora realizou adaptações para que
esta proposta se fizesse útil à realidade dos estudantes do Curso de
Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), congre-
gando-os às diretrizes para ações da Extensão Universitária.
Neste formato, o projeto se propôs a explorar, em suas ativi-
dades, a habilidade “escrever” em que os envolvidos exploram o
desenvolvimento avançado da autoexpressão e da fluência digital.
Neste eixo a atenção se deu para o público de estudantes extensio-
nistas e alunos envolvidos nas ações do projeto. Houve, também, o
enfoque na habilidade “participar” através da qual foi estimulado
o exercício da “cidadania digital e a participação cívica” (FERRARI,
MACHADO, OCHS, 2020, p. 58) para a promoção de conteúdo jor-
nalístico atentos às narrativas de grupos culturais, coletivos e
entusiastas que são ou atuam com a cultura na Região Geográfica
Imediata de Campina Grande.
Para fins de gestão do trabalho e reconhecimento de quais
habilidades deveriam ser exploradas no fazer extensionista do
projeto, as atividades foram estruturadas em ações programáticas
que se desdobraram em três Eixos, e redistribuídas via cronograma
anual de execução. Foram eles:

26
• Eixo 01 – Articulação projetual: composto por ações que
visaram o funcionamento interno do projeto, contemplando
atividades obrigatórias e de acompanhamento e autoavalia-
ção das ações: a) reuniões de apresentação da equipe e pla-
nejamento operacional; b) reuniões de avaliação interna; c)
produção de relatórios parciais e relatório final; d) comuni-
cação de resultados e investigações;
• Eixo 02 – Autoexpressão midiática: que corresponde à
potencialização e desenvolvimento de habilidades de autoex-
pressão midiática e, por extensão, de fluência digital atentas
para a produção de conteúdo em diversas linguagens com e
para personagens da cultura na Região Geográfica Imediata
de Campina Grande, sendo estruturado em: a) planejamento
de mídia; b) planejamento visual das plataformas; c) imersão
em conteúdo multimidiático, com atenção especial às indica-
ções de artistas e ativistas locais; d) reuniões de pauta para a
produção de conteúdo jornalístico; e) produção de matérias
jornalísticas.
• Eixo 03 – Participação cívica: composto por ações dedicadas
ao uso de recursos de mídia e promoção de narrativas. Este
eixo foi composto por: a) veiculação de conteúdo jornalístico
integrado aos personagens da cultura local; b) veiculação de
conteúdo midiático em suporte à visibilização dos fazeres na
cultura local; c) promoção e/ou mediação de encontros dia-
lógicos com produtores culturais, ativistas, artistas e pesqui-
sadores da cultura em diferentes frentes.

Contribuições do projeto à comunidade

Falar das contribuições à comunidade apenas do ponto de


vista quantitativo, ou seja, citar quantos sujeitos foram envolvidos
nas ações contradiz o que o próprio fazer extensionista orienta.
Pensando nisso e sabendo que nosso impacto pode ser traduzido
para além dos números, apresentamos resultados alinhados de

27
acordo com cada uma das cinco diretrizes para ações da Extensão
Universitária, propostas pela Política Nacional de Extensão
Universitária (FORPROEX, 2012).
Consideramos, para tanto: a) Interação dialógica; b).
Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade; c) Indissociabilidade
entre Ensino, Pesquisa e Extensão; d) Impacto na formação do
estudante; e) Transformação social. Em cada uma delas explana-
mos resultados que mostram o uso de habilidades de educação
midiática intrínsecos ao estímulo da cultura como inclusão social.
Além disso, segue também resultados quantitativos relacionados
ao público-alvo do projeto. Reforçamos, contudo, que tais resulta-
dos não puderam ser alcançados através de blocos temáticos isola-
dos e incomunicáveis, pois, foi o seu imbricamento que permitiu a
ampliação da proposta em momento posterior ao relatado.

Interação Dialógica: não damos voz, reverberamos saberes

Os processos de interação dialógica se desdobraram em três


frentes. A primeira delas se deu na concepção de encontros dia-
lógicos, denominados Encontros & Diálogos, e organizados pela
equipe de extensionistas. Foram realizadas duas edições on-line
que envolveram pesquisadores e ativistas dos campos da Cultura e
da Comunicação. A saber, em cada proposta foi possível colocar “em
relevo a contribuição de atores não universitários em sua produção
e difusão” (FORPROEX, 2012, p. 30).
O I Encontros & Diálogos teve como tema “Caminhos
Conectados: saberes, mídia e ativismo cultural”. A proposta se arti-
culou à I Edição do Programa Univer-CIDADE10, da UEPB, ocorrendo
remotamente no dia 26 de julho de 2021. Teve a mediação dos
extensionistas Eduardo Gomes e Bruna Araújo. Para a composição

10 O Programa Univer-CIDADE tem como proposta estabelecer o compartilhamento


de práticas e saberes a partir da participação cidadã, coletiva e colaborativa
visando o desenvolvimento de municípios do estado da Paraíba.

28
da mesa, tivemos ainda a participação do ativista cultural, então
Contramestre de Capoeira Evaldo Batista dos Santos (Evaldo
Morcego), da Coordenadora do Campina Cultural Drª Ada Guedes
e do professor Dr. Antônio Roberto Faustino da Costa. O público-
-chave do encontro foi composto por estudantes dos componentes
curriculares Jornalismo Impresso e Comunicação Comunitária.
Destacamos pautas importantes apresentadas nas falas de
Evaldo Morcego. Com a apresentação “O ativismo cultural, a resis-
tência da capoeira e das culturas populares no Brasil”, os discen-
tes puderam discutir acerca da importância do ativismo cultural
na Paraíba em diferentes frentes. Ele também promoveu reflexões
sobre a representatividade da população negra no cenário da cul-
tura local, destacando as representações da capoeira enquanto luta,
jogo e dança.
O II Encontros & Diálogos foi concebido a partir do convite da
Escola Cidadã Integral Técnica Agenor Clemente dos Santos, locali-
zada no município paraibano de Alagoinha. O intuito da proposta
foi a articulação da III Mostra de Literatura, Arte, Multiletramento
e Cultura (III LAMCULT), intitulada “O Nordeste e sua cultura por
toda parte”. O evento foi realizado em formato on-line entre os dias
21 e 24 de setembro de 2021. Na oportunidade também estive-
ram envolvidos o poeta e cordelista Chico Mulungu, a atriz parai-
bana Zezita Matos e o Diretor do Memorial Augusto dos Anjos, José
Aderaldo Elias.
Os extensionistas promoveram a divulgação do evento entre os
estudantes do Curso de Jornalismo da UEPB. Além disso, a extensio-
nista Bruna Araújo e a coordenadora do projeto Ada Guedes apre-
sentaram o tema “Redes Culturais – Estratégias de fortalecimento e
visibilidade da cultura e seus representantes”. Nesta oportunidade
mostramos como redes culturais existentes no contexto paraibano
são importantes para a consolidação do próprio fazer cultural.
A segunda frente dialógica foi constituída através de deman-
das que não estavam previstas no projeto, mas que trouxeram
contribuições significativas para a promoção de personagens e

29
saberes culturais. Entre estas atividades estão os convites rece-
bidos pelo projeto para dialogar em disciplinas do Curso de
Jornalismo, a exemplo do que ocorreu junto ao componente curri-
cular Folkcomunicação e Cultura Popular, no qual o extensionista
Eduardo Gomes foi requisitado pelo professor da disciplina, Dr.
Luiz Custódio da Silva, para mediar um encontro com a turma, em
parceria com um dos interlocutores e fonte jornalística do projeto,
o professor, contador de histórias e ativista cultural Radamés Alves
da Rocha Silva.
A terceira frente dialógica tomou como fundamento a entre-
vista, enquanto técnica jornalística, como meio para a promoção do
conhecimento entre pessoas da cultura e estudantes extensionis-
tas. A cada encontro, houve a promoção de novos conhecimentos e
a ressignificação de saberes que estimularam olhares plurais para à
cultura como inclusão social e para o jornalismo como instrumento
da democratização da informação. Neste sentido, foram realizadas
nove entrevistas com produtores culturais e artistas, e vale destacar
que parte deles, se tornaram parceiros do projeto, sempre trazendo
contribuições para o desenvolvimento de conteúdo jornalístico do
projeto. Tais entrevistas culminaram em matérias publicadas no
website Campina Cultural, com divulgação também via perfil do
projeto na rede social Instagram para fins de engajamento para as
páginas das redes sociais dos interlocutores.

Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade: caminhos convergentes

Da concepção do projeto ao andamento de suas atividades,


o Campina Cultural se propôs a manter abordagens interdiscipli-
nares, sempre vislumbrando a busca pela transdisciplinaridade.
Campos como o da Comunicação, da Sociologia e os estudos das
Ciências da Informação foram articulados de tal modo que possí-
veis lacunas, geralmente encontradas em áreas superespecializa-
das, tal como é o jornalismo cultural, pudessem ser superadas no
fazer extensionista. Buscamos ir além da simples aglutinação de

30
conhecimentos distintos, nos propomos a uma experiência forma-
tiva que não busca apenas uma hiperespecialização, mas, sobrema-
neira, o conhecimento técnico e científico plural.
Neste espectro, mãos parceiras se somaram ao desenvol-
vimento e continuidade da proposta e fomentaram a diretriz da
interprofissionalidade (FORPROEX, 2012). Do ponto de vista da
Sociologia, estabelecemos colaboração direta com o então Pró-
Reitor de Cultura e Mestre em Ciências Sociais José Cristóvão de
Andrade, que nos auxiliou no entendimento sobre cultura como
elemento de inclusão social. Além disso, houve as contribui-
ções do Doutor em Artes Visuais Radamés Alves Rocha da Silva,
com sua experiência e estudos atentos a práticas de valoriza-
ção da cultura em comunidades locais e do professor Doutor em
Educação e Membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Cultura
e Desenvolvimento (CNPq/UEPB) Antônio Roberto Faustino da
Costa, que fomentou a exploração de conhecimentos relacionados
aos estudos da Folkcomunicação.
Com cada uma destas contribuições, buscamos “imprimir às
ações de Extensão Universitária a consistência teórica e opera-
cional de que sua efetividade depende” (FORPROEX, 2012, p. 32).
Assim, o conhecimento na produção jornalística especializada em
cultura, que fundamenta as bases do projeto, foi capaz de alcançar
resultados tanto na formação dos discentes envolvidos como no
desenvolvimento de produtos experimentais que protagonizaram
as pessoas da cultura na Região Geográfica Imediata de Campina
Grande. São alguns dos produtos desenvolvidos o website, editorias
especializadas em cultura e o perfil no Instagram.
A concepção do website11 se deu a partir de um duplo interesse
dos estudantes extensionistas do projeto: exercer a prática do jor-
nalismo cultural no adverso contexto epidemiológico da COVID-19
no ano de 2021 e, ao mesmo tempo, mobilizar a sociedade para as
demandas da cultura local a partir das vozes daqueles que atuam no

11 Ver em: www.campinacultural.com.

31
setor cultural. Houve investidas na identidade visual da proposta,
perpassando pela criação do logotipo, seleção cromática, desenvol-
vimento de conceito-manifesto, além de investidas nos estudos da
arquitetura da informação e de atualizações de SEO - Search Engine
Optimization (otimização para mecanismos de busca).
Com o site criado, o projeto também foi capaz de desenvolver
três editorias próprias de cultura: a Editoria Feito, composta por
reportagens que tratam da força criadora, dos feitos de artistas e
ativistas culturais, sobretudo, a partir da narrativa de seus idea-
lizadores; a Editoria Fato, articulada em entrevistas temáticas no
formato pingue-pongue e que evidenciam as relações entre cultura
e aspectos sociais relacionados a grupos minorizados e populações
vulneráveis; e a Editoria Gente, constituída por perfis jornalísti-
cos com olhares para personagens que estão fora dos holofotes da
mídia tradicional.
Diante destes resultados, os extensionistas desenvolveram
uma rotina produtiva atenta à produção de conteúdo com caráter
jornalístico, informativo e de entretenimento, publicizados, tam-
bém, por meio de um perfil na rede social Instagram12. Nesta pla-
taforma, os estudantes desenvolveram produtos que não estavam
previstos no texto do projeto, a exemplo das colagens digitais que
“tornou-se exitosa de modo que contribuiu para que o perfil do pro-
jeto pudesse alcançar, antes de completar o terceiro mês de ativi-
dades on-line, o segundo maior número de seguidores” (ARAÚJO
et al, 2021, p. 6) entre as atividades de Extensão nas quais tinham
estudantes de Jornalismo envolvidos em seus fazeres.

Indissociabilidade e Formação do Estudante: autonomia e dignidade

As atividades do projeto Campina Cultural – trabalhadas em


contato constante com produtores culturais, artistas e ativistas da
região – nos fez reconhecer a importância do papel da cultura no
âmbito acadêmico. Concordamos, pois, com o que reforça Souza et

12 Ver em: https://www.instagram.com/campinacultural.

32
al (2021, p. 29) que a compreende como “a quarta dimensão da
tríade constitutiva” e seguem apontando que o Ensino, a Pesquisa,
a Extensão e a Cultura são “dimensões articuladas que ampliam a
compreensão da função social” da universidade.
O estímulo à autonomia e à dignidade do estudante com vistas
a tal indissociabilidade possibilitou que o aluno extensionista deste
projeto fosse compreendido como “protagonista de sua formação
técnica” e, também, de sua “formação cidadã – processo que lhe
permite reconhecer-se como agente de garantia de direitos e deve-
res e de transformação social” (FORPROEX, 2012, p. 32).
A sala de aula, portanto, esteve na comunidade e junto a ela.
Buscamos construir caminhos para que o estudante extensionista
do Campina Cultural pudesse adquirir um perfil profissional com
“sólida formação acadêmica na especificidade do jornalismo e,
igualmente, com formação cultural, ética, humana, crítica e cientí-
fica que permita lidar com os fundamentos da profissão tanto no
campo profissional quanto no campo científico” (UEPB, 2016, p.
35).

Transformação Social: a cultura como inclusão social

A partir do que foi relatado, o projeto Campina Cultural mos-


trou importantes conquistas em seu primeiro ano de atuação. A
primeira delas é o empenho desenvolvido para que futuros jorna-
listas estejam cada vez mais atentos à democratização do acesso à
informação para a cultura na Paraíba em meio a um cenário social
e governamental tão adverso a própria democracia e inclusão. Os
futuros jornalistas compreenderam a importância da função social
do jornalismo em nossa sociedade.
A segunda conquista diz respeito à apropriação da Extensão
Universitária e da Cultura no fazer jornalístico. Buscamos estreitar
os laços com a produção cultural à medida em que cada entrevista
jornalística articulada pelas alunas e alunos repórteres se constituiu
em um processo de interação dialógica capaz de fortalecer vínculos

33
e aproximar o jornalismo da cultura. Em nossa rotina produtiva, a
entrevista – fazer comum no jornalismo – foi o recurso estratégico
de diálogo e de ênfase no aspecto de inclusão social visto nos feitos
de nossa gente.
Uma terceira conquista é sem dúvida, o fato do projeto con-
seguir conceber um veículo experimental que, a cada dia, se for-
talece como fonte jornalística, tanto para estudantes do Curso
de Jornalismo como, também, para a própria mídia tradicional,
que poderá acessar conteúdo especializado em cultura que possa
escapar às suas pautas cotidianas e inseri-los em suas produções.
Assim, novas oportunidades de midiatização de saberes da cultura
e valorização de artistas, ativistas e produtores culturais estarão
disponíveis para acesso, produção e consumo na Região Geográfica
Imediata de Campina Grande.
A quarta e última conquista se apresenta aqui como um cons-
tructo de resultados que contempla alcance de público, cobertura
midiática e produtos desenvolvidos somente no primeiro ano de
atuação do projeto. Com a criação de 01 website, 01 perfil na rede
social Instagram, 20 cidades contempladas, 06 treinamentos inter-
nos, 04 produções técnicas/instrucionais, 04 participações/media-
ções de eventos, 07 produções artísticas, 09 matérias jornalísticas,
01 relato de experiência, 01 artigo científico, 42 notas sobre artis-
tas/eventos, 458 peças gráficas e 587 pessoas envolvidas direta
e indiretamente. Um trabalho, feito majoritariamente através de
mídias digitais, capaz de fazer circular debate e reflexão sobre a cul-
tura local e regional mesmo em tempos de distanciamento social.

Considerações finais

O Campina Cultural é projeto de extensão, mas é também


um veículo de comunicação especializado em jornalismo cultural.
É ainda um espaço de criatividade e afetividades, pois através da
ação colaborativa e do protagonismo discente, tem forjado inicia-
tivas, revelado talentos, e principalmente, suscitado autoestima e

34
auto reconhecimento de habilidades tanto dos estudantes envolvi-
dos quanto dos artistas e produtores culturais locais. Uma inicia-
tiva fruto dos esforços e protagonismo dos discentes envolvidos
e do fomento do Programa de Concessão de Bolsas de Extensão
(PROBEX), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Um trabalho que cresce e se fortalece a cada dia, a cada traba-
lho desenvolvido, não apenas interagindo com as redes culturais,
mas sendo também um mecanismo de fortalecimento dessas redes.
Assim, mesmo surgindo a partir da intenção de ser campo de visi-
bilidade, o projeto hoje é agente do fazer cultural, integra uma rede
de agentes culturais. De modo que, as bases iniciais não comportam
mais as ideias que surgem, bem como as ações que se desenvolvem.
Neste trabalho, que é extensionista, se faz também pesquisa,
se dialoga com o ensino de forma constante, se apresenta com múl-
tiplas potencialidades e já busca ocupar novos espaços e imple-
mentar novos fazeres, numa emergente necessidade de ampliação
de suas ações.

Referências

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Disponível em: https://educamidia.org.br/habilidades. Acesso em:
25 nov. 2020.

FERRARI, A. C.; MACHADO, D.; OCHS, M. Guia da Educação


Midiática. 1 ed. São Paulo: Instituto Palavra Aberta, 2020.
Disponível em: https://educamidia.org.br/guia. Acesso em 9 out.
2022.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 25 ed. São Paulo: Paz e


Terra, 1996.

FORPROEX. Política Nacional de Extensão Universitária.


Manaus: [s.n.], 2012.

35
IBGE, Coordenação de Geografia. Divisão Regional do Brasil
em Regiões Geográficas Imediatas e Regiões Geográficas
Intermediárias 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2017. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/
divisao-regional/15778-divisoes-regionais-do-brasil.html?=&t=a-
cesso-ao-produto. Acesso em: 14 out. 2022.

IBGE, Coordenação de Geografia. Regiões de influência das cida-


des: 2018 / IBGE Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: https://
biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=deta-
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MILLER, Judith. News Deserts: No news is bad news. In: Urban


Policy. Manhattan Institute, 2018. Disponível em: https://manhat-
tan.institute/article/news-deserts-no-news-is-bad-news. Acesso
em: 09 out. 2022.

SOUZA, A. S. A. et al. Cultura e Universidade: a organização do


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Paraíba. Revista Mundi Sociais e Humanidades, Curitiba, v. 6, n.
2, ago/dez. 2021. Disponível em: https://periodicos.ifpr.edu.br/
index.php?journal=MundiSH&page=article&op=view&path%5
B%5D=1743. Acesso em: 29 set. 2022.

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cultural e no diálogo intercultural. Paris. Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2009. Disponível
em: http://www.dhnet.org.br/dados/relatorios/r_edh/relatorio_
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIBA. Pró-Reitoria de


Graduação. Projeto Pedagógico do Curso (PPC): Jornalismo.
Campina Grande, 2016. Disponível em: https://uepb.edu.br/
prograd/ensino/cursos-de-graduacao-2/#1634217393434-e-
870465a-11e2547c-7946495f-1637. Acesso em: 29 de set. 2022.

36
ANTI-HORÁRIO E ESTUDANTES DE ESCOLAS
PÚBLICAS DESENVOLVEM NARRATIVAS POSITIVAS
EM CONTRAPONTO AO NOTICIÁRIO SOBRE COVID-19

Antonio Simões Menezes1

Introdução

É provável que você já tenha deixado de acessar o noticiá-


rio para evitar o contato com uma série de narrativas desagradá-
veis. Cada vez mais, aumenta o número de brasileiros que tomam
decisão semelhante, seja de forma esporádica ou cotidianamente.
O 2022 Digital News Report2, relatório do Reuters Institute for the
Study of Journalism, da Universidade de Oxford, revelou que 54%
dos brasileiros ouvidos deixam de consumir as notícias muitas
vezes ou às vezes. Há três anos, a chamada fuga das notícias era
de 34% dos entrevistados. A pesquisa publicada em 2022 constata
que o público sofre “fadiga de más notícias”.
De acordo com a pesquisa do Reuters Institute, as notícias
sobre a pandemia da Covid-19 contribuíram para o crescimento
do índice de pessoas que preferem manter distância dos produtos
jornalísticos. Com base nesses dados, fica claro que o projeto Anti-
horário acertou ao escolher permanecer a trabalhar na construção
de narrativas inspiradoras e focadas em soluções mesmo diante do
cenário de medo e incerteza que marcou os anos de 2020 e 2021,

1 Departamento de Comunicação Social/ Campus 1/ Campina Grande / Jornalismo


móvel em escolas públicas: formação de produtores de narrativas inspiradoras
(cota 2019/2020); Projeto Anti-horário fomenta os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável: Lives inspiradoras (cota 2020/2021).
2 Disponível em: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/digital-news-re-
port/2022/brazil. Acesso em: 01 ago 2022.

37
período em que 619.056 brasileiros morreram3 em decorrência da
Covi-19.
Não foi uma decisão fácil, em meio ao caos provocado pela
pandemia, continuar com esse viés noticioso propositivo que marca
o projeto Anti-horário desde a sua criação, em 2018. Mas, havia a
percepção de que dar visibilidade para ações, projetos e demais res-
postas aos desafios sociais seriam essenciais para demonstrar que,
mesmo no meio de um acontecimento tão avassalador e imponde-
rável, há histórias inspiradoras para serem contadas e encherem o
público de esperança
Com o claro objetivo de produzir conteúdos inspiradores e
capacitar estudantes de escolas públicas de Campina Grande para
produção de histórias positivas sobre seu cotidiano, o projeto tinha
o desafio de jamais colocar em risco qualquer pessoa envolvida
na execução de suas ações. No total, dez estudantes de graduação
(sendo um bolsista e nove voluntários) participaram das ações do
projeto, que capacitaram cerca de 60 alunos de escolas públicas.
Dessa forma, em julho de 2020, o projeto foi completamente
adaptado para ser desenvolvido de forma remota. Em 2021, embora
já houvesse a expectativa da vacinação contra a doença permitir o
retorno das atividades presenciais nas instituições de ensino4, o
projeto foi estruturado para ocorrer novamente de maneira remota.
Nos próximos tópicos, serão apresentadas as atividades de
extensão, que tiveram como referencial teórico principal o gênero
jornalístico Entrevista (LAGE, 2011), jornalismo live streaming
(SILVA, 2008) e jornalismo de soluções (LOOSE, 2019), realizadas
nesse período. Espera-se que este relato possa contribuir para a
preservação da memória dos processos, narrativas e produtos
midiáticos, materializados graças aos esforços de jovens universitá-
rios, de estudantes e de educadores de escolas públicas de Campina

3 Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/brasil-encerra-2021-com-


412-880-mortes-por-covid-19/. Acesso em: 03 out 2022.
4 Na UEPB, as aulas presenciais só foram retomadas no dia 25 de abril de 2022.

38
Grande, que ousaram construir uma realidade inspiradora em meio
ao caos da Covid-19.

Anti-horário capacita estudantes via internet

Em janeiro de 2020, a equipe do Anti-horário estava muito


empolgada. Havia a possibilidade de publicar um artigo cien-
tífico, sobre as ações do projeto, na revista Leia Escola, perió-
dico do Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino, da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). A maior parte do
texto foi escrito naqueles primeiros dias do ano. O trabalho fina-
lizado foi enviado, no mês seguinte, para apreciação com o título
“Um smartphone nas mãos e algumas ideias na cabeça: Repórter
Literário em ação”5.
Tudo fluía muito bem. Ainda em fevereiro, foram efetuadas
as primeiras conversas sobre a composição integral da equipe
para o ano de 2020. Também ficou combinado que a bolsista iria
desenvolver propostas para melhorar a visibilidade do projeto
nas redes sociais e o roteiro de um novo vídeo “institucional” do
projeto. Finalmente, foi iniciada a análise da viabilidade de desen-
volver material para ser submetido no 9º Congresso Brasileiro de
Extensão Universitária (CBEU).
Porém, no dia 17 de março de 2020, foi iniciada a paralisação
das aulas presenciais na UEPB. A interrupção, prevista para seguir
até o dia 12 de abril daquele ano, buscava ajudar a evitar que a
comunidade acadêmica fosse contaminada pelo novo coronavírus.
Contudo, como o número de acometidos pela doença só aumentava,
as aulas presenciais não foram retomadas sequer naquele ano tam-
pouco em 2021. Apesar de todo o medo que a nova doença gerava

5 O artigo foi publicado na revista Leia Escola e está disponível em: http://revis-
tas.ufcg.edu.br/ch/index.php/Leia/issue/view/N%C3%BAmero%20Especial.
Acesso em: 03 out 2022.

39
na maior parte da população, o Anti-horário resistia e ainda em
março elaborava e submetia, de forma remota, resumo ao 9º CBEU6.
Com o gradativo aumento da gravidade da pandemia, as ativi-
dades do Anti-horário ficaram suspensas durante os meses de abril,
maio e junho. A única exceção foi a redação do artigo “Produção de
narrativas audiovisuais em sentido anti-horário: empoderamento
de estudantes de escolas públicas”, efetuada pelo coordenador
e pela bolsista do projeto. Ele foi submetido e publicado no livro
“Mídias sociais, gênero e política no cenário brasileiro”.
Mesmo sabendo da importância desse tipo de produção
bibliográfica, havia o desejo de retomar o contato com a comuni-
dade e desenvolver produtos e serviços para beneficiá-la direta-
mente. Em julho de 2020, a equipe do Anti-horário participou de
uma videoconferência, por meio da plataforma Google Meet, para
avaliar a retomada das atividades e ficou decidido o caminho para
atingir esse objetivo: ministrar oficinas de jornalismo móvel, origi-
nalmente planejadas para ocorrerem presencialmente, via internet.
Aliás, todo o processo, desde a preparação das oficinas até a apre-
sentação dos trabalhos desenvolvidos pelos estudantes, ocorreu de
forma remota. Antes, os professores de escolas públicas foram son-
dados sobre a pertinência da execução do treinamento na modali-
dade remota.
Com a resposta positiva dos profissionais das instituições de
ensino, a equipe do projeto começou a definir a reconfiguração das
oficinas. Elas seriam ministradas por meio da plataforma Google
Meet. Esta foi escolhida por já ser adotada institucionalmente pela
UEPB e, assim, facilitar o desenvolvimento das atividades pelos
estudantes de jornalismo. Com relação aos secundaristas, a plata-
forma escolhida, por ser bastante intuitiva e amplamente conhe-
cida, provavelmente melhoraria o engajamento e a participação
desses adolescentes ao longo do curso.

6 O trabalho foi aceito, apresentado e faz parte dos anais do evento. Disponível em:
https://www.ufmg.br/cbeu/wp-content/uploads/2022/09/AnaisCBEU-ufmg-
unifal-com.pdf. Acesso em: 05 out 2022.

40
No mesmo mês de julho, também foi oficializada a parceria
do projeto com a FLIC, por meio do Repórter Literário. Mais uma
vez, os estudantes de jornalismo iriam capacitar adolescentes de
escolas públicas para participarem da cobertura do evento. Mas,
dessa vez, em acordo com a equipe da FLIC, ficou acertado que os
secundaristas iriam ser capacitados por meio do ensino remoto e o
produto final do treinamento seria uma série de entrevistas7 com
autores paraibanos. Elas seriam produzidas por meio do Google
Meet e publicadas em formato de texto no Blog da FLIC.
O conteúdo das oficinas de jornalismo móvel também preci-
sava ser redefinido. Foram realizadas duas reuniões para debater
ideias referentes ao novo formato do treinamento direcionado aos
secundaristas. Uma com a bolsista e voluntários do Anti-horário e
outra, para fechamento das propostas e encaminhamentos, dos uni-
versitários com o coordenador do projeto. Nela, foi definida a nova
proposta para o produto final da oficina, o qual teria como tema
central das narrativas, que seriam produzidas pelos adolescentes, a
“Beleza nas pequenas coisas”. O objetivo era desafiar o adolescente
a enxergar a beleza existente no cotidiano domiciliar, mesmo em
pleno isolamento social. Em seguida, cada equipe usaria o conhe-
cimento adquirido na oficina para construir um vídeo, com até um
minuto de duração, sobre essas belezas “invisíveis”.
Betto (2018) garante que o processo de ensino e aprendi-
zagem deve ir além do material didático convencional. O conte-
údo audiovisual seria apresentado aos colegas de turma e havia a
expectativa de ajudá-los a enfrentar a quarentena com mais suavi-
dade, percebendo o belo que insiste em ficar escondido dos olha-
res menos atentos, mas que permeia a nossa vida todos os dias. A
questão era como captar tudo isso sem sair de casa, construir uma
narrativa caracterizada pela sensibilidade e com a intenção de levar
à audiência para a reflexão sobre a invisibilidade desses episódios

7 Disponível em: https://flicfeira.com.br. Acesso em: 01 ago 2022.

41
cotidianos, os quais, paradoxalmente, são tão importantes para
vida de cada pessoa.
Dessa forma, mais uma vez, o projeto buscou contribuir para
a construção de narrativas que apresentem um lado da realidade
quase que totalmente esquecido pela maioria da mídia hegemô-
nica: a beleza inerente à vida social.

Como, por sua natureza, toda a informação é


necessariamente seletiva, a câmara reproduz
sempre a subjetividade do produtor e sua for-
mação profissional. Segundo os cânones em
uso, há que se filmar “imagens telegênicas”,
reter o extraordinário, não o ordinário. O ordi-
nário é a paz, o extraordinário é o escândalo e o
conflito violento. Mas, ao acumular-se o extra-
ordinário na tela e na prensa (notícia não é que
o cão morda o menino, mas sim que o menino
morda o cão), inverte-se a relação: a ação vio-
lenta e o conflito se convertem no ordinário.
E a ordem pacífica fica de fora. É como se o
“mundo” contasse unicamente de atos violen-
tos e acionismo. (CONTRERA, 2002, p. 17).

Havia chegado o momento de traçar a estratégia de sensibili-


zação dos estudantes para a importância da oficina. Principalmente
nessa etapa e ao longo do restante da execução das atividades, o
trabalho foi desenvolvido em parceria com professores das escolas,
que ofereceram todo o suporte para a divulgação e execução das
oficinas.
A equipe do Anti-horário criou um vídeo, denominado “Beleza
nas pequenas coisas”, para apresentar a oficina e servir como
referência para o conteúdo a ser produzido pelos secundaristas.
Também elaboraram um formulário on-line para inscrição dos
interessados em participar da capacitação. Apesar do formato de
ensino remoto, as oficinas eram planejadas para estimular uma
conversa com os secundaristas. Foram usados slides e materiais

42
jornalísticos como estratégias didáticas, mas, sobretudo, o diálogo
e troca de saberes era a prioridade do processo de ensino oferecido.
Partia-se do pressuposto de que ensinar não significa transferir
conteúdo, mas gerar condições para a produção do conhecimento
pelos próprios estudantes (FREIRE, 1996).
Assim, sempre houve o cuidado de levar em consideração e
aproveitar o conhecimento que os estudantes já possuem, por
exemplo, sobre a produção audiovisual com smartphones, um dos
dispositivos digitais mais comuns na produção de conteúdo base-
ado na perspectiva do jornalismo móvel (SILVA, 2015). A ideia é
que a aula fosse tão interativa quanto uma live8.
A oficina abordou conteúdos teóricos e práticos para a produ-
ção de narrativas jornalísticas audiovisuais, com uso de smartpho-
nes, dentro do escopo do projeto, que é o jornalismo propositivo,
adequando a temática abordada ao período de isolamento social
vivenciado. Ela ocorreu nos dias 01, 03 e 08 de setembro de 2020,
na plataforma Google Meet.
Ao longo desse período, a equipe manteve o contato perma-
nente com os adolescentes de forma remota, já que foi criado um
grupo no WhatsApp, onde ficaram disponibilizados arquivos com
o conteúdo sobre a oficina. No grupo, os universitários também
acompanharam a produção dos vídeos pelos estudantes, sempre
prontos para tirar dúvidas durante toda a execução do trabalho.
O conteúdo produzido foi apresentado e debatido pelos pró-
prios estudantes. Sem dúvidas, um espaço enriquecedor para per-
ceber que o belo resiste até mesmo em um momento tão doloroso
da história da humanidade. As narrativas desenvolvidas pelos
estudantes contribuíram para fazer um contraponto, junto à comu-
nidade escolar, à avalanche de notícias perturbadoras sobre a Covid-
19 e seus impactos econômicos, sociais e políticos. Embora estas

8 Transmissão audiovisual pela internet. Elas podem ser feitas por meio de platafor-
mas específicas ou a partir de ferramentas disponíveis em redes sociais como, por
exemplo, Instagram e Facebook.

43
notícias da grande mídia tenham sido relevantes para o combate da
doença, os relatos de esperança desenvolvidos pelos adolescentes
apresentavam uma espécie de luz no fim do túnel em meio ao caos.
Nos primeiros dias de setembro, simultaneamente, a equipe
do projeto preparou a oficina a ser ministrada para estudantes
do Ensino Fundamental que participariam da cobertura da FLIC.
A oficina do Repórter Literário teve início no dia 10 de Setembro,
também na plataforma Google Meet, contando novamente com a
participação dos alunos beneficiados anteriormente e que, por isso,
já possuíam habilidades necessárias para assumir uma nova mis-
são: entrevistar autores paraibanos pela internet.
O primeiro conteúdo abordado foi a entrevista pingue-pon-
gue . Os adolescentes aprenderam noções básicas desse gênero
9

clássico do jornalismo. Em seguida, foram apresentados elementos


essenciais sobre a produção de perfil. Finalmente, experimentaram
aplicativos e técnicas auxiliares que deviam ser usados na execução
da entrevista. No segundo encontro, realizado em 15 de setembro,
foram revisados os conceitos apresentados anteriormente e revela-
dos os nomes dos escritores que os secundaristas iriam entrevistar.
Em seguida, os adolescentes foram divididos em duplas para a exe-
cução das entrevistas.
Um terceiro encontro, ocorrido no dia 24 de setembro, foi
dedicado para tirar todas as dúvidas dos adolescentes sobre a
entrevista. Essa foi a estratégia encontrada para dar mais segu-
rança aos estudantes, já que alguns ainda pareciam inseguros para
dialogar com os autores, embora uma dupla já tivesse realizado a
primeira entrevista no dia anterior. No quarto encontro, em pri-
meiro de outubro, os estudantes aprenderam a fazer a edição das

9 Entrevista pingue-pongue é um formato jornalístico informativo caracterizada


principalmente pela publicação de perguntas (realizadas pelo jornalista) e respos-
tas da pessoa entrevistada.

44
entrevistas. Finalmente, foi estabelecido um prazo para a entrega
das entrevistas10 editadas.
Depois da edição das entrevistas, a equipe do projeto de exten-
são, juntamente com uma das professoras dos secundaristas, revi-
sou todo o material encaminhado pelos alunos e realizou os ajustes
necessários para a publicação do material, que ocorreu ao longo da
3ª edição da FLIC, realizada on-line de 08 a 12 de outubro de 2020.
Ao final de todo esse processo, ficou a evidente ser possível
trabalhar com a extensão mesmo sem sair de casa. Sobretudo, ape-
sar de um ano tão difícil, havia a doce sensação de dever cumprido
e a alegria de contribuir para melhorar o ensino nas escolas públi-
cas, além de construir narrativas positivas em plena pandemia da
Covid-19.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em pauta

O início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil trouxe a espe-


rança da retomada das aulas presenciais em 2021. Infelizmente, a
realidade foi bem diferente das expectativas mais otimistas. A pan-
demia matou ainda mais brasileiros em 2021 e, por questão de
segurança, não foi possível voltar a ter encontros presenciais com
os estudantes. A única alternativa para continuar trabalhando era
o ensino remoto.
O projeto foi preparado para ser desenvolvido totalmente
on-line, sem a necessidade de ir presencialmente até a comunidade.
A metodologia foi baseada na experiência positiva desenvolvida no
ano anterior. Logo no início de 2021, integrantes do projeto foram
convidados para ajudar a planejar a realização de mais uma edição
da FLIC e propuseram uma oficina de fotojornalismo e mostra foto-
gráfica sobre a temática do evento: “Todas as formas do ler”.

10 Durante todas as entrevistas, os alunos foram orientados pela equipe do projeto


de extensão, além do acompanhamento diário através dos grupos de WhatsApp.
Todas as entrevistas e a notícia foram publicadas no Blog da FLIC. Disponível em:
https://flicfeira.com.br/. Acesso em: 01 ago 2022.

45
Estudantes da rede municipal de ensino de Campina Grande,
mais uma vez, foram beneficiados. Com a parceria da Secretaria de
Educação de Campina Grande (SEDUC), ficou mais fácil e rápido
divulgar a proposta para o público-alvo. Com o know-how adquirido
no ano anterior, a equipe do Anti-horário rapidamente desenvolveu
o formulário de inscrição, que foi disponibilizado on-line. A divul-
gação do curso contou com material audiovisual e banners, desen-
volvidos pelos integrantes do Anti-horário e da FLIC.
Na tarde de 9 de março de 2021, durante aproximadamente
uma hora e meia, estudantes do curso de jornalismo apresenta-
ram conceitos sobre fotojornalismo e, principalmente, informaram
como usar smartphones e aplicativos para melhorar a produção de
fotografias. Várias imagens foram usadas para inspirar os secun-
daristas. Afinal, eles teriam como missão, para colocar em prática
o conhecimento construído coletivamente, registrar “Todas as for-
mas do ler”.
Exatos 20 dias foram destinados para o trabalho ficar conclu-
ído. Houve, obviamente, a orientação para os estudantes não corre-
rem riscos, como fazer aglomerações ou deixar de usar máscaras,
na execução da atividade. O resultado apresentado demonstrou
que as recomendações foram seguidas e que os adolescentes efetu-
aram um excelente trabalho sem correr riscos. Por exemplo, houve
um percentual considerável de autorretratos. As fotos foram anali-
sadas, selecionadas e publicadas por integrantes do Anti-horário e
da FLIC, que compuseram a curadoria da mostra fotográfica11.
Em paralelo, já estava sendo efetuado o mapeamento de pos-
síveis entrevistados a participarem das “Lives inspiradoras”. O
objetivo principal era dar visibilidade para ações que contribuem
com a execução dos ODS. Assim, os integrantes do projeto pratica-
vam o jornalismo de soluções, caracterizado por dar visibilidade

11 Com o objetivo de evitar qualquer tipo de risco de aumentar a contaminação pela


Covid-19, a mostra foi planejada para ser realizada on-line. Ela continua disponível
em: https://flicfeira.com.br/mostra-fotografica-todas-as-formas-do-ler/. Acesso
em: 05 out 2022.

46
às respostas para problemas sociais (LOOSE, 2019), e o chamado
jornalismo live streaming.
Conforme Silva (2008), este foi possível com o avanço dos dis-
positivos digitais e o contínuo processo de renovação do jornalismo
amparado pela evolução tecnológica. O autor foi o primeiro a expli-
car essa nova modalidade jornalística.

Na compreensão deste fenômeno, o live stream


mencionado significa, por exemplo, a condição
técnica de transmissão de vídeo ou áudio em
tempo real e de forma contínua cuja possibili-
dade até então era exclusividade dos broadcas-
ting como emissoras de rádio e TV e, mesmo
assim, a partir da utilização de um aparato
mais complexo formado por uma estrutura
mais pesada e que exigia um maior número de
profissionais envolvidos no processo de cober-
tura. (SILVA, 2008, p. 2-3)

As lives de entrevistas foram produzidas da casa dos integran-


tes do projeto. Assim, os estudantes de jornalismo tiveram a opor-
tunidade de vivenciar dois dos formatos inovadores de jornalismo
na contemporaneidade. E o mais importante: entrevistados e entre-
vistadores não corriam nenhum risco de serem contaminados pela
Covid-19.
Em uma reunião on-line, foi definida pela equipe o formato e
duração das lives inspiradoras, além da apresentação dos nomes de
possíveis entrevistados. Elas teriam 30 minutos e seriam transmiti-
das pelo perfil do projeto Anti-horário no Instagram. Nesse site de
rede social (RECUERO, 2012), também foi efetuada toda a divulga-
ção das entrevistas e postados, em superfícies como Feed, Stories e
Reels, centenas de conteúdos sobre ODS.
Em maio de 2021, aconteceu a live inaugural, que abordou
a temática “Produção e consumo consciente”. A conversa foi com
Karol Oliveira, digital influencer do nicho de moda e consumo

47
sustentável. Um dos destaques do diálogo foram as dicas sobre
como economizar, ficar na moda e ainda contribuir para um mundo
mais sustentável.
O próximo bate-papo enfocou uma questão ainda mais urgente
durante a pandemia da Covid-19: “Educação de qualidade”. Dessa
vez, a educomunicadora e uma das idealizadoras da FLIC, Iasmin
Mendes, explicou como superar os desafios para melhorar o ensino
e a aprendizagem nas escolas. Ela destacou como agentes da socie-
dade civil organizada podem ajudar nessa tarefa e detalhou como a
FLIC ajuda a melhorar a qualidade da educação pública em Campina
Grande.
Na véspera de São João, no dia 23 de junho de 2021, foi a vez
de aprender mais sobre agroecologia. A produtora agroecológica,
Marlene Pereira, e o professor do Departamento de Biologia da
UEPB, Simão Lindoso, conversaram com o Anti-horário sobre agri-
cultura sustentável. Em tempo real, as pessoas que acompanhavam
a entrevista, podiam fazer perguntas e faziam comentários, apro-
veitando a maior interatividade com o público proporcionada pela
apropriação dessa tecnologia. Essa interatividade foi buscada em
todas as lives.
A última entrevista teve como convidado Carlos Thadeu, res-
ponsável pela área de advocacy da ONG Pimp My Carroça e do App
Cataki. As várias ações realizadas pela organização foram aborda-
das na conversa, que tinha como temática principal “Comunidades e
cidades sustentáveis”. Ele salientou a importância vital das pessoas,
que percorrem as ruas das grandes cidades em busca de material a
ser reciclado, para um mundo mais sustentável.
Depois da realização de quatro lives, todas as entrevistas
tinham recebido em torno de 500 visualizações. A equipe percebeu
que o formato não havia agradado o público-alvo do projeto e resol-
veu cancelar a realização de novas entrevistas e investir na produ-
ção de outros tipos de conteúdo sobre os ODS. De todo modo, sete
mil visualizações das postagens realizadas baseadas nos 17 ODS,
no perfil do Anti-horário no Instagram, foram obtidas até setembro

48
de 2021. Os Reels elaborados alcançaram mais de 6 mil pessoas.
Dados que demonstram a grande visibilidade alcançada pelos ODS,
graças ao conteúdo produzido pelos universitários.
No mês seguinte, começou o planejamento de mais uma ação
para colocar os ODS em pauta principalmente perante a comu-
nidade estudantil de ensino Médio e Superior. Em parceria com
a FLIC e o IFPB, campus Campina Grande, o projeto Anti-horário
iria viabilizar a construção de um podcast sobre os ODS, que seria
produzido por estudantes de escolas públicas de Campina Grande.
Novamente, todas as ações seriam desenvolvidas on-line, desde a
inscrição dos estudantes até a divulgação e difusão dos episódios
que eles produziriam.
As oficinas, que capacitaram os alunos de escolas públicas
sobre a teoria e práticas inerentes ao processo de elaboração de
podcast jornalístico, ocorreram durante o mês de novembro na
plataforma Google Meet. A novidade desse curso foi a criação de
uma sala no Google Classroom, onde todo material oferecido nos
encontros síncronos estavam disponíveis, além de conteúdos com-
plementares. A plataforma também podia ser usada para os discen-
tes tirarem dúvidas com os universitários, que ainda respondiam
as demandas dos futuros podcasters em um grupo no WhatsApp.
Em um dos encontros da oficina, ficou decidido com os estu-
dantes que o nome do podcast seria ODS Cast Literário, a duração
de cada episódio deveria ser de 15 a 20 minutos e quais os ODS
abordados. No total, foram produzidos quatro programas que estão
disponíveis na plataforma Spotify12. Em cada um deles foi entre-
vistado um escritor paraibano, indicado pela FLIC. A conversa teve
como tema central uma das obras desses escritores, que dialogava
com ODS. Os entrevistadores precisavam ter lido o livro previa-
mente e também estudaram sobre os 17 ODS.

12 Disponível em: https://open.spotify.com/show/6VCPpHFhjhToAgk2qAWfDw.


Acesso em: 05 out 2022.

49
Dessa forma, o projeto Anti-horário, junto com a FLIC e o IFPB,
conseguiu estimular a leitura de autores paraibanos, a interação
dos estudantes de escolas públicas com esses escritores e a apro-
priação pelos discentes de técnicas jornalísticas para a produção de
conteúdo que colocava em pauta alguns dos ODS. Mesmo ainda em
um contexto de ensino remoto, foi possível incentivar a cooperação
e a divisão de responsabilidades entre os adolescentes, por meio
do trabalho em equipe que resultaria na materialização do podcast
planejado anteriormente. Além disso, os estudantes capacitados
passavam a ser multiplicadores dos ODS em suas escolas, famílias
e comunidades.

Considerações finais

Em cerca de um ano e meio de atividades remotas de exten-


são, o projeto Anti-horário ofereceu oficinas de audiovisual, pod-
cast e fotografia para estudantes de escolas públicas de Campina
Grande. Experimentou o jornalismo de soluções e o jornalismo live
streaming, ambas abordagens inovadoras no campo jornalístico.
Participou de eventos acadêmicos como o Congresso Brasileiro de
Extensão Universitária e também teve suas atividades relatadas em
livro acadêmico.
Esses resultados demonstram que, em plena pandemia da
Covid-19, o projeto conseguiu se reinventar e ficou ainda mais
forte. Afinal, demonstrou que consegue superar grandes adversida-
des e, talvez ainda mais importante, sabe que não está sozinho na
sua caminhada em busca de uma sociedade com mais justiça social.
Nesse sentido, consolidou a parceria com a FLIC e iniciou um traba-
lho conjunto com o IFPB.
Além disso, conquistou mentes e corações de estudantes do
curso de jornalismo para a importância de trabalhar em prol de dar
visibilidade para as respostas aos desafios cotidianos. Mesmo em
anos tão difíceis, quando pairava a dúvida se os estudantes iriam
continuar a se engajar na extensão, havia gente querendo partici-
par do Anti-horário como voluntário.

50
Graças ao trabalho árduo dessas pessoas, foi possível chegar
até a comunidade por meio da internet. Ir a campo ganhou outra
dimensão nesse período. Sem sair de casa, os discentes do curso
de jornalismo mostraram que as tecnologias digitais conectadas
à internet, como já previa Lévy (1990), permitem superar barrei-
ras geográficas e viabilizam ferramentas para melhorar o ensino e
aprendizagem de estudantes de escolas públicas.
Os futuros jornalistas também produziram conteúdo inova-
dor de forma remota. Comprovaram que é possível se apropriar de
gêneros clássicos do jornalismo, como a Entrevista, e a ressignifica-
ram ao instigarem uma participação mais ativa do público na con-
versa com o entrevistado. Afinal, por meio de sites de redes sociais,
a audiência tem um maior potencial de interagir com entrevistador
e entrevistado.
Ao contrário do que muitos poderiam imaginar, as ações remo-
tas de extensão aconteceram de forma relativamente tranquila,
após a criação de rotinas de trabalho específicas para o momento
vivenciado, e apresentaram resultados significativos. Universitários
e comunidade continuaram a aprender mutuamente e desenvolve-
ram conjuntamente diversos bens simbólicos que vislumbram a
existência de um mundo mais justo e fraterno em gestação.

Referências

BETTO, Frei. Por uma educação crítica e participativa. Rio de


Janeiro: Anfiteatro, 2018.

CONTRERA, Malena Segura. Mídia e pânico: saturação da infor-


mação, violência e crise cultural na mídia. São Paulo: Annablume/
Fapesp, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à


prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

51
LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista. São
Paulo: Record, 2011.

LÉVY, Pierry. Cibercultura. São Paulo: editora 34, 1999.

LIMA, Elizabeth Christina de Andrade; FORTUNATO, Maria


Lucinete. Mídias sociais, gênero e política no cenário brasileiro.
São Paulo: Mentes Abertas, 2021.

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ticas: Estudo sobre a cobertura da mitigação no site brasileiro G1.
In: FERNÁNDEZ-REYES, Rogelio; CANO, Daniel Rodrigo (coord.). La
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Espanha: Egregius, 2019, p.89-108.

RECUERO, Raquel. A conversação em rede: comunicação mediada


por computador e redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina,
2012.

SILVA, Fernando Firmino da. Jornalismo live streaming: tempo


real, mobilidade e espaço urbano. In: 6º Encontro Nacional de
Pesquisadores em Jornalismo, Universidade Metodista de São
Paulo, 2008, São Paulo.

SILVA, Fernando Firmino da. Jornalismo móvel. Salvador: EDUFBA,


2015.

52
SOCIALIZANDO EM REDE: ADAPTAÇÃO
E SUPERAÇÃO ACADÊMICAS EM MEIO
À CRISE SANITÁRIA DO SÉCULO XXI

Dra. Manuela Eugênio Maia1


Ma. Liliane Braga Rolim Holanda de Souza2
Ma. Danielle Harlene da Silva Moreno3
Dra. Jacqueline Echeverría Barrancos4
Me. José Wilker de Lima Silva5
Ma. Milena Borges Simões de Araújo6
Palloma Raphaely Carvalho Alves7

Introdução

Em março de 2020, vivenciamos no Brasil a epidemia de um vírus


letal, o Servere Acute Respitratory Syndrome – Related Coronavirus
2 (SARS-CoV-2), também nominado de COVID-19 (CASOS DE
CORONAVÍRUS…, 2020). Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), em fevereiro do mesmo ano, já estaríamos numa pandemia,

1 Professora do curso de Arquivologia/Campus V/UEPB. Coordenadora do projeto


“Socialização do uso de bases de dados científicas no âmbito das pesquisas aca-
dêmica e escolar para as comunidades do Campus V da Universidade Estadual da
Paraíba e da escola estadual de ensino médio José Lins do Rêgo: desafios na for-
mação de novos pesquisadores” (cota 2019-2020), área temática “Comunicação”,
linha programática “17. Divulgação Científica e Tecnológica”.
2 Bibliotecária (UEPB). Doutoranda e Mestre em Ciência da Informação (PPGCI/
UFPB). Colaboradora.
3 Bibliotecária (UEPB). Doutoranda e Mestre em Ciência da Informação (PPGCI/
UFPB). Colaboradora.
4 Professora do curso de Arquivologia/Campus V/UEPB. Colaboradora.
5 Professor do Campus V/UEPB. Colaborador.
6 Bibliotecária (UEPB). Mestre em Ciência da Informação. Colaboradora.
7 Discente do curso de Arquivologia/Campus V/UEPB. Bolsista.

53
pois tal enfermidade atingira escalas globais (ORGANIZAÇÃO PAN-
AMERICANA DA SAÚDE, 2020; ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE
SALUD, 2020).
As medidas de prevenção e as formas de contágio logo foram
disseminadas e compartilhadas por meio da internet. Pesquisadores,
infectologistas e profissionais de saúde foram unânimes em orien-
tar a população quanto aos hábitos de higiene e ao urgente distan-
ciamento social. As relações laborais logo foram substituídas pelo
trabalho remoto, incluindo escolas e universidades, atendendo as
medidas emergenciais (ALVES, 2020). Nessa direção, de acordo
com Maia, Dorneles, Barrancos e Llarena (2021):

o governo do estado da Paraíba publicou um


série de normativas legais visando minimizar
a propagação da pandemia, das quais destaca-
mos: o decreto nº 40.122, de 13 de março de
2020, que declara a situação de emergência no
estado ante a situação nacional e a declaração
da condição de pandemia (PARAÍBA, 2020a)
e o decreto nº 40.168, de 04 de abril de 2020,
que dispõe sobre ‘a adoção de medidas sociais
temporárias e emergenciais para o combate
aos efeitos do COVID-19 de alcance aos muni-
cípios e o setor privado estadual’ (PARAÍBA,
2020b, on-line).

Imediatamente, a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB),


por meio do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE),
promoveu uma série de debates remotos com a propositura de
instituir normativas para o funcionamento das atividades técni-
co-acadêmicas, a exemplo da Instrução Normativa/UEPB/GR nº
001/2020 (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA, 2020a), que
estabeleceu disciplinou o uso de tecnologias digitais de informação
e de comunicação para fins de ministração de conteúdos vincula-
dos aos componentes curriculares de natureza teórica.

54
Na sequência, publicou a Portaria nº 0014/2020, que “dispõe
sobre a suspensão das atividades letivas na UEPB, em face à pro-
pagação e infecção iminentes do Coronavírus” (UNIVERSIDADE
ESTADUAL DA PARAÍBA, 2020b, on-line). E, visando orientar a
comunidade universitária, efetivou protocolos de segurança laboral
acerca da adaptação das atividades universitárias, também aprova-
dos pelo CONSEPE/UEPB via Resolução nº 0229/2020:

estabelece normas para a realização de com-


ponentes curriculares, bem como outras ativi-
dades de ensino e aprendizagem, orientação,
pesquisa e extensão, por meio de atuação não
presencial, na graduação, pós-graduação e
no ensino médio/técnico, excepcionalmente
durante o período de suspensão das atividades
acadêmicas presenciais, por causa da pande-
mia da COVID- 19 (PARAÍBA, 2020c, on-line).

Foi nesse contexto que o projeto de extensão “Socialização do


uso de bases de dados científicas no âmbito das pesquisas acadê-
mica e escolar para as comunidades do Campus V da Universidade
Estadual da Paraíba e da Escola Estadual de Ensino Médio José Lins
do Rêgo: desafios na formação de novos pesquisadores”, cota 2019-
2020, foi ressignificado. Idealizado em 2019 por profissionais com
formação em Biblioteconomia, o projeto tinha como parâmetros a
promoção, a divulgação e o manuseio prático de bases de dados de
perfil acadêmico, específicas para os públicos alvos (universitário e
escolar), auxiliando in loco os usuários nas consultas no tocante à
arenosa e movediça internet. Tais parâmetros permaneceram, mas
os cursos foram reformatados para a organização de webconferên-
cia, reconfigurando para o seguinte objetivo: promover palestras de
alto nível acadêmico no modelo remoto de comunicação transmiti-
das pelo GoogleMeet e pelo StreamYard/Youtube. Com base nessa
concepção, a proposta visou ao desenvolvimento de estratégias de
divulgação científica no intuito de ultrapassar os limites territoriais
da região nordeste, disseminando de forma amplificada a UEPB.

55
Assim como as demais atividades acadêmicas e serviços pro-
movidos pela instituição em tela, o nosso projeto extensionista
também se reconfigurou, adequando-se ao uso exclusivo das tecno-
logias da informação e comunicação. Nesse contexto, os objetivos
específicos foram: (a) selecionar temas atuais e palestras pales-
trantes de alta performance; (b) organizar equipe para o manu-
seio das tecnologias da informação e comunicação em ambiente da
transmissão dos eventos on-line; (c) criar e gerenciar o Instagram
como mecanismo de marketing e de divulgação das palestras; (d)
realizar eventos de alta performance.
Assim, buscamos nesse documento relatar a nossa experi-
ência, oriunda do processo de socialização do conhecimento no
ambiente digital, adaptando-nos e superando os desafios impostos
em meio à crise sanitária do século XXI.

Dos procedimentos teórico-metodológicos

A proposta ancorou-se numa abordagem quanti-qualitativa,


em que nos utilizamos de dados coletados e analisados a partir das
percepções de natureza intersubjetiva e de elementos estatísticos
(MINAYO, 1994; RICHARDSON, 1999).
Para tal, a coleta de dados deu-se por meio da comunicação no
grupo de WhatsApp entre os componentes do projeto, de documen-
tos biográficos disponíveis na plataforma Lattes das palestrantes
e de formulários de inscrição e de questionários de avaliação dis-
poníveis no GoogleForms, aplicados aos usuários que participaram
dos dois eventos promovidos e transmitidos pelo GoogleMeet e pelo
StreamYard/Youtube.
Nessa direção, viabilizando a proposta, adotamos os seguin-
tes procedimentos: (a) em pesquisas de temas que despertassem
o interesse das comunidades científicas nacionais, (b) na busca de
palestrantes paraibanas de alto nível e (c) na ampla divulgação via
redes sociais, especificamente, o Instagram. Duas palestras foram
formatadas, a saber, “Caminhos da pesquisa científica: acesso e uso

56
de base de dados no fazer da ciência” e “A construção do conheci-
mento remoto em tempos de infobesidade”, somando 363 inscritos,
238 participantes on-line e 202 certificados emitidos, perfazendo o
nosso universo de análise.
No tocante aos formulários e aos questionários aplicados,
seguiram as seguintes estruturas:

(1) inscrição - formulário que solicitava endereço de e-mail, nome


completo, instituição e área de atuação dos inscritos;
(2) avaliação dos eventos - questionário com 6 (seis) perguntas
fechadas8 e obrigatórias e 2 (duas) abertas não-obrigatórias com as
seguintes questões:

(a) Nome completo;


(b) E-mail;
(c) A plataforma utilizada para as palestras foi adequada;
(d) O conteúdo foi apresentado de maneira dinâmica e objetiva;
(e) As palestrantes atenderam as suas expectativas;
(f) As palestrantes usaram linguagem de fácil compreensão;
(g) O processo de mediação colaborou com o desenvolvimento
das palestras;
(h) O tempo para as palestrantes foi suficiente;
(i) Sugira outros temas de interesse vinculados à comunicação
científica e à metodologia da pesquisa;
(j) Espaço para críticas, sugestões e elogios.

Os dados dos formulários e dos questionários foram tabula-


dos e organizados em forma de quadros e de figuras detalhadas em

8 Estruturadas em escala Likert para representar o nível de sat-


isfação dos participantes, de maneira que 1 (um) representava o
nível mais baixo de satisfação, enquanto o 5 (cinco) mais alto.

57
gráficos em estilo de colunas, tornando didática a sua apresentação
e a sua análise interpretativa.

Descrição e análise

Por propor o formato de relato de experiência, apresentamos


os dados coletados em módulo de quadros e de figuras tabulados a
partir da resposta dos usuários quanto aos formulários de inscri-
ção e aos questionários de avaliação das webconferências propos-
tas pelo projeto de extensão em tela.

Da escolha das propostas e dos palestrantes

Com a pandemia da COVID 19, foi visível a disseminação


e a explosão de lives de cunho acadêmico (MAIA; DORNELES;
BARRANCOS; LLARENA, 2021; RIBEIRO, 2021). As redes sociais,
como o Instagram, TikTok, WhatsApp e Youtube, potencializaram a
aproximação entre pessoas em meio à crise sanitária vivenciada no
Brasil a partir de março de 2020.
Acompanhando tais redes sociais na área da Ciência da
Informação e afins, percebemos naquele momento emergir/reforçar
temas como: big data, ciência aberta, ensino e metodologia aberta,
fake news, infobesidade, pandemia, perspectiva para o pós-pande-
mia, saúde mental e informação, trabalho remoto (home office), uso
de ferramentas educacionais, entre outros. Corroborando tais argu-
mentos, em levantamento recente realizado na Base de Dados em
Ciência da Informação (BRAPCI), utilizamos os seguintes critérios
na busca avançada: (1) o termo selecionado foi “pandemia”; (2) tal
termo deve constar no resumo; e (3) a delimitação temporal das
publicações foi entre 2020-2020. A resposta da pesquisa foi de 145
títulos, os quais selecionamos os 20 primeiros resultados no intuito
confirmar as temáticas emergentes naquele momento, apresenta-
dos no QUADRO 1:

58
QUADRO 1: Levantamento das 20 publicações da BRAPCI, ano 2020-2020
Título Revista

01 Bibliotecas universitárias públicas federais Revista Fontes


do estado da Bahia Documentais
Revista Eletrônica
02 Saúde e política na crise da Covid-19: apontamentos de Comunicação,
sobre a pandemia na imprensa brasileira Informação e
Inovação em Saúde
Revista Fontes
03 Covid-19 Documentais
Revista Fontes
04 Ciência Aberta Documentais
05 Desinformação, infodemia e caos social: impactos Em Questão
negativos das fake news no cenário da COVID-19
Pandemia e desigualdade social: Centro Revista P2P e
06 de Referência da Assistência Social e o enfrentamento INOVAÇÃO
à Covid-19 em Arapiraca/Alagoas
Revista Fontes
07 Covid-19 e Arquivos Documentais
08 Desmaterialização e preservação digital Revista Fontes
de arquivo clínico na pandemia Documentais
Revista Fontes
09 Infodemia e desinformação na pandemia da covid-19 Documentais
Revista Fontes
10 A pandemia mudou o mundo Documentais
11 A economia solidária como resposta à crise pandêmica Revista P2P e
e fator de outro tipo de desenvolvimento INOVAÇÃO
12 O combate à desinformação sobre a pandemia de covid-19 Revista P2P e
na amazônia: o caso do perfil da Sespa (PA) no Instagram INOVAÇÃO
Revista Brasileira de
13 A leitura e a leitura de clássicos literários: reflexões Educação em Ciência
em tempos de pandemia da Informação
14 Do 11/9 à COVID-19: a vigilância de Estado na perspectiva Informação &
da ética intercultural da informação Informação
Uma análise dos aspectos e práticas da conservação Revista Eletrônica
15 preventiva de livros presentes em vídeos amadores da ABDF
de booktubes brasileiros
A sociedade da (des)informação em tempos de pandemia no Revista Brasileira de
16 Brasil: ferramentas digitais no combate às fake news para a Educação em Ciência
prevenção e o controle da propagação do novo coronavírus da Informação
Revista Fontes
17 Informação sobre a Covid-19 em comunidades periféricas Documentais
Os desafios dos serviços psicológicos mediados pelas TIC no Revista Folha
18 contexto da Pandemia do Coronavírus 2019-2020 de Rosto
Revista Eletrônica
Covid-19: a catástrofe latino-americana, de Comunicação,
19 entre a caça e a imaginação Informação e
Inovação em Saúde
Emergência de saúde pública global Revista Folha
20
por pandemia de Covid-19 de Rosto
Fonte: Base de Dados em Ciência da Informação (2022).

59
Assim, visando atender os temas big data, ciência aberta aberta
e fake news, construiu-se a primeira palestra “Caminhos da pes-
quisa científica: acesso e uso de base de dados no fazer da ciência”,
cujas palestrantes foram duas doutoras; 1 (uma) da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) e a outra da UEPB.
A segunda palestra, nominada “A construção do conheci-
mento remoto em tempos de infobesidade”, ministrada também
por 2 (duas) doutoras, a época ambas vinculadas à UEPB, incluía os
temas infobesidade, saúde mental e informação e trabalho remoto
(home office).
Foi com base nos currículos (CONSELHO NACIONAL DE...,
2020), prezando pela excelência acadêmica, que selecionamos tais
palestrantes para os dois eventos.

Da divulgação nas redes sociais e inscrições

Assim como as demais etapas necessárias para a realização das


palestras, a divulgação científica também deu-se de maneira remota,
tendo em vista o momento pandêmico. Assim sendo, a ferramenta
empregada foi o Instagram @basededadoscientificauepbv, por meio
do perfil do projeto com cerca de 954 seguidores e postagens no
feed, dias antes dos eventos, e, diariamente, nos stories durante o
período das inscrições. Além de contar com o apoio de outros per-
fis acadêmicos das áreas de Arquivologia, de Biblioteconomia e de
Ciência da Informação, que repostaram nosso conteúdo e amplia-
ram a disseminação do evento para públicos diversos.
Para a inscrição, foi elaborado um formulário no GoogleForms
para cada palestra com a estrutura já demonstrada anteriormente.
O alcance conquistado foi mensurado pelas instituições e pela for-
mação acadêmica dos participantes, conforme observado nos gráfi-
cos, representados conforme as FIGURAS 1 e 2:

60
Do alcance das palestras: instituições inscritas
e formação acadêmica / área de atuação

O alcance das palestras pode ser analisado sob a perspectiva


geográfica, identificando as instituições e as suas respectivas loca-
lizações, como também do ponto de vista de área do conhecimento
dos participantes inscritos. Das instituições, foram identificadas 27,
incluindo duas de outros países, Cuba e Portugal.
A maioria dos inscritos pertence à Universidade Estadual
da Paraíba (UEPB) (151), instituição organizadora do evento.
Obtivemos 16 ouvintes vinculados à Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), talvez devido às afiliações de algumas palestran-
tes e organizadoras. Em função da divulgação, observamos ampla
cobertura nacional, advindo de Instituições de Ensino Superior (IES)
como: Universidade Federal de Sergipe (UFSE) (7); Universidade
Federal Fluminense (UFF) (4); Universidade Federal do Rio Grande
(UFRG) (4); Centro Universitário Educacional Leonardo da Vinci
(UNIASSEVI) (3); Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UFRJ) (3); Universidade Federal de Alagoas (UFAL) (2); e Centro
Universitário Maurício de Nassau (2), além das outras instituições
com a presença de 1 (um) participante. Atravessando as frontei-
ras brasileiras, contamos com a participação de 1 (um) sujeito da
Universidad de La Habana e outro da Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro, conforme o gráfico da FIGURA 1 demonstra:

FIGURA 1: Instituições inscritas nas palestras

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

61
As instituições participantes em sua maioria foram públicas,
a exemplo da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte
e de uma Escola Pública de nome não especificado no formulário.
Estando vinculadas às instituições, as áreas de formação acadêmica
e/ou de atuação dos participantes também foram diversificados por
meio dos seguintes cursos: Arquivologia (125), Biblioteconomia
(27), Letras – Espanhol/ Língua Portuguesa (15), História (8),
Ciência da Informação (7), Biologia e Contabilidade / Ciências
Contábeis (5), Relações Internacionais (4), Pedagogia / Ciência da
Educação (3), Gastronomia (2) e Administração, Agronomia, Arte,
Comunicação, Hotelaria, Memória Social, Mestrado em Formação
de Professores, Psicologia Social e Organizacional, Nutrição,
Odontologia, Psicologia Social e Organizacional e Serviço Social (1),
dispostas na FIGURA 2:

FIGURA 2: Formação acadêmica / Área de atuação dos participantes

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

Esse panorama, com 27 instituições identificadas e 21 áreas


de atuação/ formação, demonstra-nos o aspecto positivo dos even-
tos promovidos. Destacamos que a divulgação e a realização on-line
possibilitaram a reunião de pessoas tão distantes fisicamente, refle-
tindo acerca da ciência e da pesquisa científica.
Para complementar a análise, as seções subsequentes tra-
tam da percepção dos participantes do evento sobre a palestra 1

62
“Caminhos da pesquisa científica: acesso e uso de base de dados
no fazer da ciência” e palestra 2 “A construção do conhecimento
remoto em tempos de infobesidade”, em momentos distintos deste
estudo.

Da avaliação da palestra 1: plataforma, conteúdo, palestrante,


mediação e tempo

O questionário sobre a palestra 1, “Caminhos da pesquisa cien-


tífica: acesso e uso de base de dados no fazer da ciência”, respondido
por 119 do total de 149 participantes após o evento, além de dados para
identificação desse público, formulou 6 (seis) questões fechadas afim
de compreender a percepção sobre a palestra 1 realizada. Dispostas em
formato Likert escalonada em 5 (cinco) níveis, em que 1 (um) repre-
sentava o nível mais baixo e 5 (cinco) o mais alto de satisfação, as
FIGURAS 4, 5, 6, 7, 8 e 9 apresentam tais resultados em gráficos.
A primeira questão avaliativa, acerca da plataforma ter sido ade-
quada à transmissão da palestra, que na ocasião foi o GoogleMeet,
constatou que 86% dos participantes concordaram que a plataforma foi
totalmente adequada (5), enquanto 10,1% acharam adequada (4) e 4%
se mantiveram com opinião de que nem concordaram nem discordaram
(3) quanto à adequação da plataforma. Não houveram respostas discor-
dantes (1 e 2) (0%) sobre esse quesito, como apresenta a FIGURA 3:

FIGURA 3: Plataforma foi adequadas para transmissão da palestra 1

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

63
Quanto ao conteúdo da palestra, se foram apresentadas de
maneira dinâmica e objetiva, como demonstrado na FIGURA 4, a
resposta mais prevalecente com 81,5% de adesão foi a de maior
nível (5) concordando totalmente, já 16% concordaram embora
não totalmente (4), 1,7% nem concordaram nem discordaram (3),
enquanto 0,8 discordaram totalmente (1).

FIGURA 4: Conteúdo da palestra 1 foi apresentada de maneira dinâmica e objetiva

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

Outra questão relacionada às palestrantes foi sobre as expec-


tativas dos participantes. A FIGURA 5 mostra que 83,2% conside-
ram totalmente que as palestrantes atenderam às expectativas (5),
12,6%, concordaram (4), 3,4% nem concordaram nem discorda-
ram (3) e 0,8% não concordaram em parte (2).

FIGURA 5: Palestrantes atenderam às expectativas

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

64
Ainda avaliando as palestrantes, outra questão quis revelar se a
linguagem usada fácil e compreensível, entendendo que a proposta
da palestra 1 era atender um público heterogêneo, englobando
diversos níveis e áreas do conhecimento. Os resultados dispostos
no gráfico a seguir (FIGURA 6) podem consideram que a proposta
foi atendida, contemplando que 73,1% concordam totalmente que
sim (5), 21%, concordaram (4), 5,9% nem concordaram nem dis-
cordaram (3), as duas outras opções (1 e 2) não foram marcadas
pelos participantes.

FIGURA 6: Palestrantes usaram linguagem fácil e compreensível

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

Quanto à mediação, também apresentou um resultado posi-


tivo pela maioria dos respondentes, pois 89,9% consideram total-
mente colaborativo o desenvolvimento das palestras (5), 9,2%,
concordaram (4), 0,8% nem concordaram nem discordaram (3), as
duas outras opções (1 e 2) não foram marcadas pelos participantes,
conforme pode ser observado na FIGURA 7.

65
FIGURA 7: Processo de mediação colaborou com o desenvolvimento da palestra 1

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

Representada na FIGURA 8, a última pergunta fechada: “o


tempo para os palestrantes foi suficiente?” Assim como as demais
repostas, podem ser consideradas como um aspecto bem sucedido
da palestra 1, por terem altos índices de resposta com nível 5 (con-
cordo totalmente). Nesse caso, 78,2% consideram totalmente que
sim (5), 18,5%, concordaram (4), 3,4% nem concordaram nem dis-
cordaram (3) e as outras duas outras opções (1 e 2) não foram mar-
cadas pelos participantes.

FIGURA 8: Tempo para as palestrantes foi suficiente

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

66
Podemos asseverar, com base nas respostas do questionário
fechado, que o evento foi satisfatório na escolha dos temas e das
palestrantes.

Da avaliação da palestra 1: críticas, sugestões e elogios

Para encerrar o questionário, as duas últimas perguntas foram


de característica aberta, ficando o participante à vontade para emi-
tir suas respostas, primeiro suas críticas, sugestões e elogios e, em
seguida, opinião sobre temáticas interessantes para as próximas
palestras.
Dos 119 questionários respondidos, 69 responderam a pri-
meira pergunta aberta para críticas, sugestões e elogios. A aná-
lise realizada nos comentários nos permite mencionar que 67 das
respostas foram feitas no sentido de elogiar, sendo constante nos
comentários a presença de atributos como “excelente”, “ótima”,
“maravilhosa”, “parabéns” referindo-se a palestra, palestrante,
mediação, organização e tema, e parabenizando e agradecendo
por esses pontos. Uma sugestão foi apontada solicitando “dividir
melhor o tempo por palestrante, a palestra foi um pouco desigual
no tempo dividido.” Também houve uma crítica mencionando que
“a primeira palestrante falou rápido, ficando difícil o acompanha-
mento do raciocínio Dela!”. Contudo, podemos considerar que o
impacto no público foi bem satisfatório.
A sugestão de temas de interesse vinculados à comunicação
científica e à metodologia da pesquisa, obtiveram 31 respostas.
Algumas com sugestões de abordagens mais tradicionais na ciên-
cia, como metodologia da pesquisa científica; outras, com discus-
sões mais recentes no meio acadêmico, como a ciência aberta,
blockchains, big data, armazenamento em nuvens. Por fim, todas as
sugestões de fundamental importância para a construção da ciên-
cia contemporânea.
Tais informações emitidas pelos participantes também nos
auxiliaram na escolha e na organização da nossa segunda palestra.

67
Da avaliação da palestra 2: plataforma, conteúdo, palestrante,
mediação e tempo

“A construção do conhecimento remoto em tempos de infobe-


sidade” foi o tema da palestra 2 organizada pelo nosso projeto de
extensão, em parceria com o curso de Arquivologia/UEPB e os
Grupos de Pesquisa Gecimp/UFPB, Gei/UEPB e Giaco/UFPB. O
questionário, respondido ao final do evento por 83 participantes
dos 90 que assistiram a palestra, foi idêntico ao aplicado no pri-
meiro evento, com questões sobre a identificação dos participantes,
6 (seis) questões fechadas em escala Likert de nível 5 e 2 (duas)
perguntas abertas sobre a percepção dos ouvintes.
Sobre a plataforma ter sido adequada à transmissão da pales-
tra, como apresenta a FIGURA 9, 88% dos participantes concorda-
ram que a plataforma foi totalmente adequada (5), 9,6% acharam
adequada (4), 1,2% não estiveram satisfeitos quanto à adequação da
plataforma e, esse mesmo percentual, 1,2%, estiveram totalmente
insatisfeitos quanto à adequação da plataforma. Ressaltamos que
a intenção era que a transmissão fosse realizada pelo GoogleMeet,
porém devido a mudança dos termos da plataforma e não permitir
mais de 100 pessoas, foi necessário transferir para a transmissão
via StreamYard/Youtube, pelo Canal do SESA, projeto de extensão
do Campus V/UEPB de mesmo nome.

FIGURA 9: Plataforma foi adequadas para transmissão da palestra 2

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

68
Para a questão, com intuito de saber se o conteúdo da pales-
tra foi apresentado de maneira dinâmica e objetiva, a resposta mais
presente foi a de nível 5 com 89,2% de adesão concordando total-
mente, 8,4% concordaram (4) e 1,2% discordaram totalmente (1),
como explicitado na FIGURA 10.
FIGURA 10: Conteúdo da palestra 2 foi apresentada de maneira dinâmica e objetiva

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

No tocante às expectativas acerca das palestrantes, apresen-


tada na FIGURA 11, 90,4% consideraram totalmente atendidas (5),
7,2%, concordaram (4) e 1,2% de respostas para a alternativa nem
concorda nem discorda (3) e igual valor para os que discordam
totalmente (1). Enquanto “não concordam” não foi escolhida (2).

FIGURA 11: Palestrantes atenderam às expectativas

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

69
“As palestrantes usaram linguagem fácil e compreensível?” foi
a pergunta que deu origem a FIGURA 12, cujas respostas eviden-
ciaram que: 89,2% consideram totalmente que sim (5), 9,6%, con-
cordaram (4), 1,2% discordam totalmente e as respostas 2 e 3 não
foram marcadas pelos participantes.

FIGURA 12: Palestrantes usaram linguagem fácil e compreensível

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

Na FIGURA 13, do processo de mediação, os respondentes


apontaram que 88% consideram totalmente positiva a colaboração
com o desenvolvimento das palestras (5), 9,6%, concordaram (4),
1,2% discordaram totalmente (1), enquanto as duas outras opções
(2 e 3) não foram marcadas pelos participantes.

FIGURA 13: Processo de mediação colaborou com o desenvolvimento da palestra 2

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

70
A última pergunta para compreender se o tempo para os pales-
trantes foi suficiente, observou que 77,1% concordam totalmente
(5), 21,7% consideram que sim (4) e 1,2% discordaram (1) desse
aspecto e as outras duas outras opções (2 e 3) não foram marcadas
pelos participantes (FIGURA 14).

FIGURA 14: Tempo para as palestrantes foi suficiente

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

Assim como na palestra 1, no segundo evento, percebemos


aprovação da maioria das respostas emitidas pelos ouvintes.

Da avaliação da palestra 2: críticas, sugestões e elogios

As duas últimas perguntas abertas do questionário foram para


verificar as críticas, as sugestões e os elogios e também a opinião
sobre temáticas para as próximas palestras. Obtivemos, respectiva-
mente, 39 e 20 respostas nos 83 questionários respondidos, já que
essas eram opcionais.
Contempla-se que 38 respostas do primeiro bloco de questões
foram elogios, enaltecendo, felicitando e agradecendo pela pales-
tra, palestrantes, temática e organização. Percebemos uma crítica
em relação à plataforma usada, seguida de um elogio no mesmo
comentário: “apenas algumas ressalvas em relação própria pla-
taforma do Google, de resto, conteúdo excelente”. Assim como a

71
palestra anterior, de acordo com os comentários, o evento deixou
uma excelente impressão nos participantes.
As sugestões de temas de interesse vinculadas à comunicação
científica e à metodologia da pesquisa possuem temas diversos
de interesse dos participantes, tais como: Ciência da Informação/
Biblioteconomia, arquivo / Arquivologia, pós-humanismo, pós-
-modernidade, inclusão escolar, aprendizado on-line, entre outros.
Algumas sugestões convergem para temas que abordam a pande-
mia, tecnologia da informação/ internet e pesquisa científica.
Como resultados, além de atender à comunidade do Campus V
da UEPB, os eventos promoveram a participação de várias universi-
dades brasileiras. Desta forma, esses dados apontam que foram ele-
vados o debate e a reflexão de temas acerca da ciência e da pesquisa
científica, ultrapassando os limites territoriais da região nordeste,
disseminando de forma amplificada a UEPB como almejado. Diante
dos resultados obtidos com os instrumentos de coleta de dados,
podemos afirmar que essa proposta alcançou o desenvolvimento
técnico-científico, conseguindo atingir os objetivos propostos no
processo de reformulação estrutural do projeto.

Considerações finais

A crise sanitária do século XXI antecipou de modo repentino o


uso constante das tecnologias da informação e comunicação no dia
a dia. Atividades domésticas, laborais e culturais foram replaneja-
das para que se pudesse manter o processo de socialização humana
e minimizar o distanciamento entre pessoas. A COVID-19 exigiu das
autoridades e dos dirigentes organizacionais de instituições públi-
cas e privadas agilidade e perspicácia para garantir o atendimento
e o funcionamento dos serviços.
“Preservar vidas” e “fique em casa” foram as frases que se ouvia
constantemente na programação diária de programas televisivos,
canais de internet e radiofônicos. Nessa direção, na UEPB, foi sagaz
em garantir a orientação das entidades sanitárias internacionais

72
e nacionais. Portarias e resoluções foram aprovadas legitimando
que as atividades universitárias fossem efetivamente remotas.
Professores tiveram que atender tais demandas e reconfigurar as
formas de ensino, de pesquisa e de extensão. Assim, o nosso projeto
foi redirecionado a cumprir metas exequíveis dentro da proposta
extensionista e considerando a nova forma de operar exclusiva-
mente de modo remoto.
Assim, em meio a uma reconfiguração abrupta em 2020 das
atividades universitárias, superamos as adversidades impostas
pelo momento pandêmico, reinventando-nos enquanto proposta
extensionista, atendendo academicamente 238 usuários-inter-
nautas, que participaram on-line de nossos 2 (dois) eventos pro-
movidos, a saber, “Caminhos da pesquisa científica: acesso e uso
de base de dados no fazer da ciência” e “A construção do conheci-
mento remoto em tempos de infobesidade”. Destes, emitimos 202
certificados aos seus participantes.
Contribuímos notoriamente para divulgação da UEPB
enquanto produtora e disseminadora de saberes, envolvendo a
comunidade universitária interna e externa de forma direta, origi-
nando reflexões e a percepção diferenciada acerca de temas atuais
no âmbito da produção científica em tempos de pandemia.

Referências

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mundo e no Brasil no mês de março. Eco Debate: site de informa-
ções, artigos e notícias socioambientais. Boletim diário, 8 dez. 2020.
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produção sobre pandemia em 2020. Curitiba: Rio Grande do Sul:

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BRAPCI, 2022. Disponível em: https://www.brapci.inf.br/. Acesso
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g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/03/31/casos-
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humana pelo Coronavírus definida pela Organização Mundial de
Saúde. A União – Diário do Estado da Paraíba, João Pessoa, 14 mar.
2020a. Disponível em: https://auniao.pb.gov.br/servicos/arqui-
vo-digital/doe/janeiro/marco/diario-oficial-14-03-2020.pdf/.
Acesso em: 10 ago. 2022.

PARAÍBA. Decreto nº 40.168, de 03 abr. 2020. Dispõe sobre a ado-


ção, no âmbito da Administração Pública direta e indireta, de regime
de trabalho remoto, em razão das medidas temporárias e emergen-
ciais de prevenção de contágio pelo COVID-19 (Novo Coronavírus).
A União – Diário do Estado da Paraíba, João Pessoa, 4 abr. 2020b.
Disponível em: https://auniao.pb.gov.br/servicos/arquivo-digital/
doe/janeiro/abril/diario-oficial-04-04-2020.pdf. Acesso em: 10
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PARAÍBA. Resolução/UEPB/CONSEPE/0229/2020, de 29 jun.


2020. A União – Diário do Estado da Paraíba, João Pessoa, 30 jun.
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RICHARDSON, Roberto Jerry. Pesquisa social: métodos e técnicas.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA. PROGRAD. Instrução


Normativa/UEPB/GR nº 001/2020. Estabelece instruções nor-
mativas para disciplinar o USO FACULTATIVO de tecnologias digi-
tais de informação e comunicação para fins de ministração de
conteúdos vinculados a componentes curriculares de natureza
teórica, durante o período estabelecido na PORTARIA/UEPB/
GR/0014/2020. Campina Grande: UEPB, 19 mar. 2020a. Disponível
em: http://www.uepb.edu.br/download/documentos/documen-
tos_2020/Instrucao-Normativa-001-2020-Uso-de-TDICs-para-
ministracao-de-conteudo-pegadogico-teorico-na-UEPB.pdf. Acesso
em: 10 ago. 2022.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA. Portaria/UEPB/GR nº


0014, de 17 mar. 2020. Suspensão de atividades. Campina Grande:
UEPB, 17 mar. 2020b. Disponível em: http://transparencia.uepb.
edu.br/download/portaria-0014-2020-suspensao-de-atividades/.
Acesso em: 10 ago. 2022.

76
COMUNICAÇÃO E INTERPROFISSIONALIDADE
NA PANDEMIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
SOBRE O PROJETO ATIVA IDADE

Jarda Eduarda Mendes Jerônimo1


Josineide da Silva Barbosa2
Williane Vitória Santos de Lima3
Vânia Maria Oliveira de Farias4
Renata Cardoso Rocha Madruga5

Introdução

No dia 11 de março de 2020 foi anunciado que o mundo se


encontrava em uma Pandemia de COVID-19, visto que, um surto
que afetava apenas a cidade de Wuhan, na China, se disseminou
por diferentes continentes. Assim, com essa realidade os idosos
ganharam um destaque evidente, pois muitos possuem comor-
bidades e devido ao envelhecimento imunológico aumenta-se a
probabilidade de se infectar com as patologias infectocontagiosas
(HAMMERSCHMIDT; SANTANA, 2020).

1 Estudante do Departamento de Enfermagem, Campus I – Campina Grande – PB -


([email protected])
2 Estudante do Departamento de Jornalismo, Campus I, Campina Grande – PB - (josi-
[email protected])
3 Estudante do Departamento de Enfermagem, Campus I – Campina Grande - PB -
([email protected])
4 Assistente Social da UBS Dr. Antônio Aurélio de Oliveira Ventura e Preceptora do
Projeto - ([email protected])
5 Profa. Dra. do Departamento de Odontologia, Campus I, Campina Grande e
Coordenadora do Projeto de Extensão Ativa Idade – Envelhecimento Saudável na
comunidade - Cota PROBEX 2020-2021 - ([email protected])

77
O projeto Ativa Idade - Envelhecimento Saudável na
Comunidade atua na UBS Antônio Aurelio Ventura, a unidade faz a
cobertura dos conjuntos habitacionais: Rogério Lustosa (conhecido
por Cinza) e João Agripino. Possui seis micro áreas geográficas. A
renda familiar da população assistida é entre ½ e 4 salários míni-
mos, sendo uma média de 2 salários mínimos. A população esti-
mada é de 3.100 habitantes, sendo 360 pessoas idosas, destes 15
domiciliados e 17 acamados, sendo entre eles as doenças mais pre-
valentes: hipertensão, diabetes, artroses, artrites e outras (depres-
são, doenças respiratórias). A Equipe assiste a população idosa por
meio de atendimentos na UBS e em domicilio, atividades grupais,
realização de eventos, passeios e em parceria com as Universidades,
através dos projetos de extensão ATIVA IDADE e PET SAÚDE.
Antes do advento da pandemia, o Projeto tinha o objetivo
de estimular o envelhecimento ativo e saudável da comunidade.
Contudo, diante do contexto adverso pandêmico criou-se grandes
desafios no que se refere ao controle das fake news, da falta de
informações acerca da COVID-19 e de como devem ser efetivados
os cuidados preventivos. Logo, uma infodemia foi consolidada, pois
muitos indivíduos ficaram confusos e inseguros diante dessa situa-
ção. Vale salientar que, o uso excessivo das mídias sociais e da inter-
net contribuiu para esse fenômeno (INOUE et al., 2022).
Com isso, pode-se enfatizar que o grupo geriátrico ficou ainda
mais vulnerável, pois apesar do amplo acesso da sociedade a infor-
mações sobre a COVID-19, se sabia muito pouco como ocorria a
interpretação do conteúdo e qual era a sua fonte de recebimento
(ROE et al., 2022). Deste modo, os integrantes (docentes, precep-
tores e discentes de diferentes áreas de atuação) do projeto se
preocuparam e por meio de diálogos em reuniões, notou-se que,
apesar do distanciamento social, era de suma importância que o
cuidado à saúde do idoso se efetivasse. Assim, a promoção da saúde
foi somada as orientações sobre prevenção contra a Covid, combate
as fake news no âmbito da saúde pública, bem como, o incentivo à
prevenção por meio da utilização de álcool e máscara de proteção
facial.

78
Nesse sentido, se reinventar foi necessário, não só para que
o vínculo com os idosos da Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr.
Antônio Aurélio de Oliveira Ventura localizada no bairro Cinza,
município de Campina Grande – PB permanecesse, como também,
para realizar a perpetuação de conhecimentos verídicos sobre os
cuidados de prevenção da COVID-19, bem como, incentivar a per-
manência destes em casa e sempre reafirmando a importância de
se cuidar. Portanto, utilizou-se dos meios como as ligações telefôni-
cas, as redes sociais, como, por exemplo: o Instagram, aplicativo de
mensagem (WhatsApp) e as plataformas digitais, para também dis-
seminar conhecimentos relacionados ao trabalho interprofissional.
É importante salientar que a educação interprofissional em
saúde possui estratégias de ensino e aprendizagem, que são de
suma importância não apenas para os universitários se preparem
/ capacitarem para o mercado trabalho, como também, para que
seja efetivado um cuidado integral às necessidades da pessoa idosa
(JÚNIOR; MONTANARI; ÁVILA, 2018). Assim, para a criação de
conteúdos educativos em saúde para o Instagram, por exemplo, os
estudantes de cursos diferentes se uniam e elaboravam postagens
com linguagem clara e objetiva, imagens ilustrativas que visavam
o fácil entendimento, além disso, as letras utilizadas na produção
prezavam por facilitar a leitura e a compreensão do público idoso.
Torna-se evidente, portanto, que o Projeto Ativa Idade teve
papel fundamental na disseminação de informações da COVID-19
para idosos. Logo, a articulação do ensino-serviço-comunidade
proporcionou aos acadêmicos a ideia de que estes estão suscetíveis
a se transformarem e a construirem um olhar de saúde expandido,
uma vez que, oportuniza a realização de contribuições por meio
das práticas, que podem se transformar em práticas cada vez mais
articuladas e humanizadas. Assim, o presente relato de experiên-
cia tem o objetivo de mostrar o quão importante é uma comunica-
ção efetiva para esclarecer determinadas informações e para isso a
interprofissionalidade revelou-se essencial no Projeto Ativa Idade.

79
Descrição e análise teórico-metodológica

Inicialmente, após o decreto de emergência de saúde pública


em março de 2020, foi necessário que o projeto interrompesse suas
atividades de forma presencial. Porém, após um período de 5 meses,
as atividades precisaram ser retomadas, e adaptações se fizeram
importantes para que se conseguisse proporcionar a continuidade
de estímulos a um envelhecimento ativo e saudável. Deste modo,
os meios digitais foram utilizados com uma maior intensidade,
visto que, os encontros com extensionistas para planejamento pas-
saram a ser realizados por plataformas como o Google Meet. Com
isso, pudemos observar que as tecnologias se apresentaram como
aliadas, o que proporcionou aos estudantes, preceptores, docentes
e idosos (comunidade) a troca de informação e comunicação nos
mais diversos âmbitos. (ALMEIDA; FERRAZ, 2021)
Outrossim, o planejamento de posters e conteúdos educati-
vos em saúde passaram a ter seus bastidores de produção em apli-
cativos de mensagens como o Whatsapp entre extensionistas de
áreas distintas, com intuito de incentivar a interprofissionalidade,
gerando assim um conhecimento extremamente rico para a reali-
zação das produções. Vale salientar que, com esse novo cenário, o
contato com os idosos também passou a ser feito de forma remota.
Para isso, se fez necessário utilizar as ferramentas de comunica-
ção, como o Whatsapp, uma vez que, por meio deste se conseguiu
realizar ligações telefônicas, chamadas de vídeo e mensagens de
textos. Logo, a fim de viabilizar e se adaptar ao novo cenário, fez-se
necessário o uso das redes sociais e das Tecnologias da Informação
e Comunicação (TIC) (MELO; et al., 2021). Assim, estas favoreceram
a aproximação e o contato da equipe de extensão e idosos atendi-
dos pelo projeto.
Porém, isso só foi possível, devido a atuação dos Agentes
Comunitários de Saúde (ACS) da Unidade Básica de Saúde (UBS)
do Cinza, pois estes conseguiram captar os idosos que estavam
interessados em participar do projeto e coletaram o número tele-
fônico de cada indivíduo. Esse momento aconteceu a partir das

80
suas visitas domiciliares que ocorreram antes da consolidação da
pandemia da COVID-19, logo verifica-se que essa prática foi crucial
para a continuidade das atividades do projeto. Pois, o contato tele-
fônico era repassado para os extensionistas, logo depois, tendo em
vista a quantidade de membros da equipe e quantidade de idosos
interessados, era realizado a distribuição de forma igualitária dos
contatos telefônicos para iniciar as atividades.
Segundo Pereni-Santos (2022): “Aqui está o nó do problema: a
pandemia nos pede mais e mais confiança, ao mesmo tempo em que
ela cria um ambiente de profunda desconfiança”. Portanto, diante de
um contexto tomado pela desinformação, o projeto se propôs for-
necer orientações e dar suporte ao público de idosos com os recur-
sos que tinham. Com isso, vale frisar que fontes do Ministério da
Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) foram utilizadas,
tendo em vista que estes órgãos forneciam informações confiáveis.
Desta forma, nota-se que o projeto passou a contactar os idosos que
fazem parte do território da UBS do Cinza e compartilhou todos os
cuidados de prevenção que são necessários para interromper o
ciclo de contaminação da COVID-19.
Ademais, devido ao isolamento social se utilizou também do
aplicativo Instagram para proliferar informações relevantes, vale
enfatizar que o projeto já possuía uma conta na rede social (@
ativa_idadeuepb), mas que passou a utiliza-lá de forma ainda mais
ativa. Pois, a comunidade precisava ainda mais de uma iniciativa
que olhasse pela causa da pessoa idosa, já que estes foram consi-
derados do grupo de risco em razão das comorbidades e doenças
preexistentes. Todavia, infelizmente, poucas informações se tinham
sobre o vírus. Logo, é evidente que era algo muito novo para todos,
assim o projeto buscou de forma efetiva combater as desinforma-
ções que circulavam na época.
Nesse sentido, por meio de conteúdos educativos buscou-se
levar informações para os idosos da comunidade do Cinza, deste
modo estes receberam conteúdos de forma direta por meio de
aplicativos de mensagens, por meio de ligações telefônicas e ou
até mesmo os que acompanhavam por meio das redes sociais. É

81
evidente que por um lado foi proporcionado uma limitação explí-
cita no contato humano, porém pelo outro permitiu o alcance de
um grupo maior, inclusive, extramuros ao Projeto Ativa Idade e aos
acadêmicos da UEPB.
A respeito das postagens do Instagram, que conta com 507
seguidores hodiernamente (incluindo os idosos que foram atendi-
dos), tendo no total 139 publicações no feed (incluindo Reels), além
de corriqueiramente produzir conteúdo para os stories. As publi-
cações abordam temas distintos, todos pensados de acordo com
a proposta do projeto de contribuir para o envelhecimento ativo
e saudável da comunidade. O post que retrata sobre cuidados pós
vacina da covid foi o mais curtido (62 curtidas) e os posts sobre o
Estatuto do Idoso e 10 Motivos para celebrar a vida foram os mais
comentados com (13 comentários cada). Além de curtir e comentar,
a informação também pode ser divulgada, através do compartilha-
mento de postagem, sendo que o post referente ao porquê faz mal a
superproteção foi o mais compartilhado com (23 compartilhamen-
tos). Por se tratar de um perfil ligado a um projeto de extensão é
nítido o seu crescimento e sua aceitação social neste pouco tempo,
bem como a relevância dos conteúdos abordados e a sua contribui-
ção para a sociedade.
Para melhor exemplificar os dados obtidos pela atuação do
projeto no contexto pandêmico um quadro sinóptico com algumas
das publicações realizadas nessa rede social foi feito, com intuito
de fazer a coleta dos dados acerca dos seguintes componentes: pos-
tagem, data de publicação, curtidas, comentários, compartilhados,
salvamentos (Quadro 1).
Em parceria com o PET Saúde Interprofissionalidade UEPB,
extensionistas de ambos os projetos desenvolveram o Podcast A
Voz do Cinza, a iniciativa buscou trazer informações educativas
em saúde para a comunidade do Cinza, interagir com o público,
tirar dúvidas e incentivar a prevenção de doenças e o cuidado com
a saúde. Alguns dos temas abordados no podcast foram: como o
Diabetes afeta a saúde bucal, papo sobre a semana do bebê, dia

82
internacional do idoso e quem pode ser vacinado com a Coronavac,
a cada episódio os extensionistas buscavam trazer informações téc-
nicas sobre a saúde de forma acessível e com uma linguagem clara.
Especialistas eram convidados a participar do podcast para tirar
as dúvidas mais comuns sobre os temas abordados, além disso, o
contexto (apresentação dos temas) também era realizado.
Levando em consideração as limitações técnicas, qualidade
dos equipamentos dos idosos e do público em geral e para que de
fato o maior número de pessoas possível tenha acesso aos conte-
údos produzidos, os áudios dos podcasts eram enviados para os
idosos que não possuíam acesso às plataformas de podcasts, assim
como as artes educativas produzidas e veiculadas nas redes sociais
do projeto também eram encaminhadas para o grupo de whatsapp
da equipe da UBS do cinza para serem socializadas e compar-
tilhadas, como também para os idosos que recebiam as ligações
telefônicas.
No dia 18 de junho de 2021, foi realizada uma “live” com a
temática: “Violência contra a pessoa idosa” no Instagram do pro-
jeto, com a participação da Assistente Social Vânia Farias que é
especialista em Política Social e Saúde da Família e Verônica Santos
que também é Assistente Social especialista em gerontologia e mes-
tre em educação. Essa “live” foi mediada pelos extensionistas Túlio
Chaves e Raquel Andrade. Organização e convidados trataram de
temas como tipos de violência e onde procurar ajuda em casos de
violência. Com isso, nota-se que conhecimentos importantíssimos
foram disseminados para todos os seguidores e não seguidores do
nosso Instagram, visto que, ocorreram inúmeros compartilhamen-
tos durante a live.

83
QUADRO 1. Algumas postagens e suas respectivas datas de publicações, curtidas,
comentários, compartilhados, salvamentos e alcances.
Data de
Postagem Curtidas Comentários Compartilhados Salvamentos
Publicação

Práticas do
12/03/21 17 6 0 0
autocuidado

Dia Mundial
07/04/21 21 2 1 0
da Saúde
Vacinação dos
idosos do Bairro 07/04/21 24 1 1 0
do Cinza
Cuidados pós
- vacina da 14/04/21 62 1 19 13
COVID-19

Cuidados
necessários para a 06/05/21 22 0 2 0
prótese dentária

Conscientização
da violência contra 15/06/21 26 2 6 0
a pessoa idosa

Horta medicinal
06/07/21 27 4 4 3
e seus benefícios

Impactos saudáveis
com a prática de 05/08/21 31 10 6 1
atividade física

10 motivos para
13/09/21 48 13 6 6
celebrar a vida

Conheça o Estatuto
01/10/21 50 13 1 5
do Idoso

Alimentos que
auxiliam na saúde 21/12/21 28 5 11 0
bucal
Janeiro branco
e a saúde mental 27/01/21 26 5 11 0
e emocional
Março lilás e a
conscientização ao
14/03/21 35 6 8 0
câncer de colo de
útero

84
Data de
Postagem Curtidas Comentários Compartilhados Salvamentos
Publicação

Dicas de como
ter uma vida 07/04/22 29 4 12 1
saudável

A importância da
assistência social 18/05/22 33 4 7 3
para a pessoa idosa

Vacinação contra
COVID- 19 e 09/06/22 17 1 4 0
Influenza

Por que a
superproteção em 16/06/22 35 4 23 7
idosos faz mal?

Receita saudável
para o São João: 23/06/22 27 5 2 0
Bolo de Milho

Conheça mais
29/07/22 28 4 4 1
sobre o Alzheimer

Dia Nacional da
Saúde e suas 05/08//22 34 3 4 0
curiosidades
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Com o isolamento social, o projeto que já possuía conta no


Instagram passou a utilizá-la de forma ainda mais ativa, uma vez
que os encontros presenciais foram suspensos pelo estado de
emergência de saúde pública e a comunidade precisava ainda mais
de uma iniciativa que olhasse pela causa da pessoa idosa. No iní-
cio da pandemia os idosos foram o ciclo de vida mais afetado; as
comorbidades e as doenças preexistentes colocaram este público
em constante alerta, contudo, como pouca informação se tinha
sobre o vírus, era algo muito novo para todos. O projeto buscou de
forma efetiva combater as desinformações que circulavam na época
e por meio de conteúdos educativos buscou levar informações para
os idosos da comunidade do Cinza que receberam estes conteúdos

85
de forma direta por meio de aplicativos de mensagens, por meio
de ligações telefônicas e/ou até mesmo os que acompanhavam por
meio das redes sociais. A partir do momento que o projeto passa a
ter uma presença mais ativa nas redes sociais não só acadêmicos da
UEPB passam a acompanhar o projeto e suas ações, como também,
a comunidade em geral. Além de produções com temáticas acerca
do uso do álcool em gel, a importância da máscara e do isolamento
social, também foram produzidos conteúdos sobre saúde em geral.
Desse modo, podemos afirmar que devido este contexto, as
medidas adotadas pelo projeto, com o objetivo a se adaptar à nova
realidade pandêmica vivida pelo mundo, foram efetivas e que via-
bilizaram a continuidade das ações propostas pelo projeto, fazendo
com que as ações de extensão continuassem a promover a produ-
ção e disseminação do conhecimento universitário, sendo de suma
relevância para a sociedade (Falcão; Gomes, 2020). De fato, com
essas novas modificações, o projeto continuou a ganhar visibili-
dade. E enquanto projeto de extensão para a comunidade acadê-
mica e geral, além de apresentar suas ações, isso tudo através do
olhar dos extensionistas do projeto.
Buscando dar visibilidade as ações extensionistas, a Pró-
Reitoria de Extensão e a Coordenadoria de Comunicação da UEPB
planejaram e executaram o Concurso Meu Projeto em 3 Minutos,
o concurso convidou estudantes da universidade a apresentarem
seus projetos de extensão e projetos de pesquisa de forma que o
que é desenvolvido pela UEPB ultrapasse os muros da universi-
dade, ou seja, que a sociedade conheça o que é desenvolvido de
projetos de extensão, Iniciação Científica, bem como pesquisas de
Mestrado. Inicialmente, a categoria Extensão foi dividida em sub
categorias (áreas do conhecimento) desse modo, na primeira fase
do concurso o Ativa Idade teve uma representação homologada na
categoria saúde e uma na categoria comunicação. Em seguida, o
projeto seguiu no concurso na área de Comunicação.
O Ativa Idade teve 2 representações na 1ª fase (dois vídeos
aprovados na competição), os vídeos das extensionistas Maria

86
Aparecida6 e Josineide Barbosa, o projeto seguiu para a 2ª fase da
competição, fase de votação popular do Meu projeto em 3 minu-
tos, e foi premiado levando o terceiro lugar na categoria projeto de
extensão7, área de comunicação ao todo foram mais de 2.300 (duas
mil e trezentas curtidas) e 221 comentários. Com essa visibilidade
adquirida durante a competição foi possível propagar as ações
desenvolvidas pelo projeto.

Considerações finais

Portanto, podemos afirmar que as ações promovidas pelo


projeto de extensão Ativa Idade, não só durante a pandemia, mas
também nas ações desenvolvidas nas cotas subsequêntes, vem
impactando diretamente a vida de extensionistas, estudantes dos
cursos de graduação da UEPB, idosos da UBS do Cinza, que “abraça-
ram” e deram continuidade ao projeto para o desenvolvimento das
ações e cumprimento dos seus objetivos, colaboradores da unidade
básica e comunidade em geral. Estes impactos que se apresentam
como contribuições positivas, tanto do ponto de vista formativo,
quanto do ponto de vista humano. O projeto busca a humanização
do atendimento em saúde.
A atuação de equipes multiprofissionais é algo recorrente
na área da saúde, contudo, uma equipe que conte com profissio-
nais da comunicação é algo menos recorrente, e nesse contexto
de pandemia, um momento marcado por desafios que impossibi-
lita a consolidação de verdades, visto que a população passa por
uma experiência jamais esperada e desconhecida, a desinforma-
ção e propagação de fake news se fez/faz presente. Dessa forma,
profissionais da comunicação se tornam fundamentais no quesito

6 Vídeo disponível em: <https://www.instagram.com/tv/CWCO4BVl4Oj/?igshid=


MDJmNzVkMjY=>. Acesso em 14 de outubro de 2022.
7 Vídeo disponível em:<https://youtu.be/zpfiqHh1XN8?list=PLjvanEHZti2AK-cJJA-
PHAc-O0yilX5Mgn>. Acesso em 12 de outubro.

87
de transmitir conhecimento, informações verídicas e de relevância
para a comunidade.
Desse modo, este diferencial se apresentou como a base para
a efetivação das ações propostas pelo projeto de extensão Ativa
Idade. A interprofissionalidade possibilitou por meio da comuni-
cação potencializar as ações do projeto de modo que a iniciativa
extensionista beneficiou ainda mais pessoas.
Tendo em vista que o objetivo da extensão seja a propaga-
ção de ações universitárias na comunidade, podemos afirmar que
este projeto conseguiu efetivar este objetivo com êxito e excelên-
cia ultrapassando os muros da universidade, trazendo benefícios
não só para a comunidade, mas contribuiu significativamente para
que estudantes dos cursos de graduação tivessem um contato ainda
maior com suas áreas de atuação de forma prática e efetiva.

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89
PROJETO DE EXTENSÃO MAIS ACESSIBILIDADE:
UM RELATO DA EXPERIÊNCIA
EM TEMPOS DE PANDEMIA EM 2021

Professora Débora Regina Fernandes Benício1


Géssica Quênia de Oliveira Alves2
Janielly Petrúcia Matias de Lima3

Introdução

No período de 2021-2022, período de vigência deste projeto,


muitas mudanças sociais ocorreram em função da Pandemia da
COVID-19. O mundo todo passou a enfrentar situações nunca vistas
em sociedade. O Coronavírus dizimou parte da população de mui-
tos países, trouxe sequelas para muitos que sobreviveram e ainda
hoje faz vítimas e deixa familiares órfãos de seus entes queridos.
Em meio a esta situação, várias instituições sociais tiveram que
manter o isolamento social para evitar a proliferação do referido
vírus e se reinventar para dar continuidade às suas atividades. É
o caso da escola. A escola passou a funcionar em regime de ensino
remoto emergencial. Professores tiveram que utilizar as novas tec-
nologias da comunicação e informação (TICs) e em pouco tempo
tiveram que conseguir ter o domínio destas tecnologias para con-
tinuarem suas atividades pedagógicas. Na educação básica, nem
sempre foi possível garantir em massa o uso de tais tecnologias. No
caso das universidades, muitas ofertaram o auxílio conectividade,

1 (Coordenadora/Autora) / Departamento de Educação. UEPB Campus III.


Guarabira-PB / Projeto de Extensão Mais Acessibilidade / Cota 2021-2022.
Emenda Parlamentar 153/2021
2 (Ex-bolsista/Coautora)
3 (Ex-bolsista/Coautora)

91
foi o caso da UEPB, para que estudantes com poucos recursos finan-
ceiros pudessem iniciar ou dar continuidade aos seus estudos.
Dentro deste contexto acima exposto, estivemos ao longo do
ano de 2021 com atividades remotas para realização de ativida-
des de extensão universitária, com bolsas mantidas pela Emenda
Parlamentar nº. 153/2021. As atividades aqui relatadas foram
desenvolvidas pelo Projeto de Extensão Mais Acessibilidade, vin-
culado ao curso de Pedagogia da UEPB Campus III, localizado na
cidade de Guarabira-PB.
Considerando a necessidade de uma discussão sobre a temá-
tica, preparamos duas bolsistas ao longo de três meses para que
pudessem elaborar uma cartilha, quatro vídeos e seis podcasts e
organizar duas palestras envolvendo a temática da Acessibilidade
voltada para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.
Perseguimos como objetivo geral: Contribuir com a inclusão
social de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida,
favorecendo a reflexão sobre a necessidade de ampliação das con-
dições de acessibilidade deste público. Adotamos como objetivos
específicos: a) favorecer a formação de educadores comprometidos
com a inclusão social e escolar; b) promover ações que colaborem
com a acessibilidade física e na comunicação para pessoas com
deficiência ou mobilidade reduzida.
Este trabalho se justifica pela necessidade de sensibilização
das pessoas no que diz respeito aos direitos das pessoas com defi-
ciência e mobilidade reduzida e a de difusão de orientações impor-
tantes para colaborar com um processo de inclusão social mais
amplo.
Quanto aos procedimentos teórico-metodológicos, trabalha-
mos com encontros semanais para formação das bolsistas, na pri-
meira etapa do projeto, contando também com a contribuição de
colaboradores durante a referida formação e, na segunda etapa,
fomos produzindo os materiais audiovisuais e organizando duas
palestras previstas no Projeto. Ao longo da formação, foram estu-
dados alguns documentos legais que tratam da acessibilidade, tais

92
como: a NBR 9050, o ECA, o Estatuto do Idoso, a Lei Brasileira de
Inclusão e textos de autores, como: Sassaki (2009), Feijó e Pinheiro
(2021), Tangarife (2007) e Araújo (2015). As contribuições dos
colaboradores contemplaram assuntos voltados para a escrita
acadêmica e uso de ferramentas tecnológicas, a saber: Normas da
ABNT para trabalhos acadêmicos, organização de vídeos e pod-
casts e Power Point. Além disso, contamos com duas professoras
do Campus III da UEPB para a revisão da cartilha, elaborada pela
equipe do Projeto Mais Acessibilidade.
A seguir, apresentamos uma fundamentação teórica sobre a
temática e, logo depois, o relato de experiência acerca das ativida-
des desenvolvidas pelas bolsistas e pela coordenadora do Projeto
Mais Acessibilidade.

Acessibilidade e inclusão

Historicamente, a questão da acessibilidade foi evoluindo


gradativamente.
Sassaki (2005), citado por Tangarife (2007, p. 34-35) nos
registra essa evolução histórica da seguinte forma:

Historicamente, a origem do termo acessibili-


dade para designar a condição de acesso das
pessoas com deficiência está no surgimento
dos serviços de reabilitação física e profissio-
nal, no final da década de 40. Na década de 50,
com a prática da reintegração de adultos rea-
bilitados, ocorrida na própria família, no mer-
cado de trabalho e na comunidade em geral,
profissionais de reabilitação constatavam que
essa prática era dificultada e até impedida
pela existência de barreiras arquitetônicas nos
espaços urbanos, nos edifícios e residências e
nos meios de transporte coletivo. Surgia assim
a fase da integração, que duraria cerca de 40
anos até ser substituída gradativamente pela
fase da inclusão.

93
Na década de 60, algumas universidades ame-
ricanas iniciaram as primeiras experiências de
eliminação de barreiras arquitetônicas existen-
tes em seus recintos: áreas externas, estaciona-
mentos, salas de aula, laboratórios, bibliotecas,
lanchonetes etc.
Na década de 70, graças ao surgimento do
primeiro centro de vida independente do
mundo (que aconteceu na cidade de Berkeley,
Califórnia, EUA), aumentaram a preocupação
e os debates sobre a eliminação de barreiras
arquitetônicas, bem como a operacionalização
das soluções idealizadas.
Na década de 80, impulsionado pela pressão
do ano internacional das pessoas deficientes
(1981), o segmento de pessoas com deficiên-
cia desenvolveu verdadeiras campanhas em
âmbito mundial para alertar a sociedade a res-
peito das barreiras arquitetônicas e exigir não
apenas a eliminação delas (desenho adaptável)
como também a não-inserção de barreiras já
nos projetos arquitetônicos (desenho acessí-
vel). Pelo desenho adaptável, a preocupação é
no sentido de adaptar os ambientes obstruti-
vos. Já pelo desenho acessível, a preocupação
está em exigir que os arquitetos, engenheiros,
urbanistas e desenhistas industriais não incor-
porem elementos obstrutivos nos projetos de
construção de ambientes e utensílios. Tanto
no desenho adaptável como no acessível, o
beneficiado específico é a pessoa com defi-
ciência. Na segunda metade da década de 80,
surgiu o conceito de inclusão contrapondo-se
ao de integração. Na década de 90, começou
a ficar cada vez mais claro que a acessibili-
dade deveria seguir o paradigma do desenho
universal, segundo o qual os ambientes,
os meios de transporte e os utensílios fossem
projetados para todos e, portanto, não apenas
para pessoas com deficiência. E, com o advento

94
da fase da inclusão, hoje entendemos que a
acessibilidade não é apenas arquitetônica, pois
existem barreiras de vários tipos também em
outros contextos que não o do ambiente arqui-
tetônico. (SASSAKI, 2005).

A garantia de direitos sociais, políticos e econômicos está esta-


belecida na legislação vigente em vários países, inclusive no Brasil.
São inúmeros os documentos legais que regulamentam a vida das
pessoas em sociedade. Muitas foram as lutas de diversas pessoas,
profissionais e movimentos sociais para que esses direitos pudes-
sem ser garantidos. Mas, é preciso um processo de conscientização
em longo prazo para que tais direitos se efetivem na prática.
No Brasil, o direito de acesso aos espaços públicos e privados,
aos meios de comunicação, aos meios de transporte, encontra-se,
por exemplo: na Lei nº 10.098/2000 ou Lei da Acessibilidade, na
Lei 13.146/ 2015 (Lei Brasileira de Inclusão), na NBR 9050, no
Estatuto do Idoso.
Na Lei da Acessibilidade nº 10.098/2000, em seu artigo 2º,
inciso I, temos a seguinte definição de acessibilidade:

[...] possibilidade e condição de alcance para


utilização, com segurança e autonomia, de
espaços, mobiliários, equipamentos urbanos,
edificações, transportes, informação e comu-
nicação, inclusive seus sistemas e tecnologias,
bem como de outros serviços e instalações
abertos ao público, de uso público ou privados
de uso coletivo, tanto na zona urbana como
na rural, por pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida (Redação dada pela Lei
nº 13.146, de 2015)

E embora a Lei da Acessibilidade garanta esse direito, ainda


há um longo percurso a ser percorrido, tanto nas áreas urbanas
quanto nas áreas rurais.

95
Segundo Sassaki (2009, p. 1), a acessibilidade tem seis
dimensões:

As seis dimensões são: arquitetônica (sem bar-


reiras físicas), comunicacional (sem barreiras
na comunicação entre pessoas), metodológica
(sem barreiras nos métodos e técnicas de lazer,
trabalho, educação etc.), instrumental (sem bar-
reiras nos instrumentos, ferramentas, utensílios
etc.), programática (sem barreiras embutidas
em políticas públicas, legislações, normas etc.)
e atitudinal (sem preconceitos, estereótipos,
estigmas e discriminações nos comportamentos
da sociedade para pessoas que têm deficiência).

Sem dúvida, todas as dimensões são importantes para a garan-


tia da acessibilidade plena, mas a atitudinal faz diferença para que
as demais sejam promovidas.
À medida que ações tendo em vista a eliminação de barreiras
forem tomadas na perspectiva de garantia do que determina a legis-
lação, é possível favorecer o processo de inclusão social de todas as
pessoas, inclusive aquelas com deficiência ou mobilidade reduzida.
A escola é uma instituição onde acontece a formação dos
cidadãos para a vida em sociedade e tem um papel relevante para
promover ações que permitam à sua comunidade escolar uma par-
ticipação efetiva no que diz respeito à aquisição de conhecimentos
historicamente acumulados e à construção de novos conhecimen-
tos. Mas, isto só é possível mediante um trabalho que envolva a
todos, que permita o acesso e a permanência dos seus estudantes
no espaço escolar.
De acordo com Mantoan (2015, p.28), a inclusão escolar: “[...]
implica uma mudança de perspectiva educacional, pois não atinge
apenas alunos com deficiência e os que apresentam dificuldades
de aprender, mas todos os demais, para que obtenham sucesso na
corrente educativa geral [...]”. Então, é possível afirmar que ao tra-
balhar para garantir um bom acompanhamento de estudantes com

96
deficiência, a escola contribuirá com a aprendizagem dos demais
estudantes.
O Projeto ora apresentado tem por objeto de estudo a acessibi-
lidade, tendo por objetivo geral contribuir com a inclusão social de
pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo
a reflexão sobre a necessidade de ampliação das condições de aces-
sibilidade deste público, especialmente nas escolas. A proposta de
trabalho deste Projeto foi executada em 2021 e a seguir apresenta-
mos o relato da experiência desenvolvida nesse período.

Relato da experiência do Projeto Mais Acessibilidade


em tempos de pandemia em 2021

Em março de 2021, em plena pandemia da COVID-19, houve a


seleção e teve início o trabalho de formação das bolsistas de forma
remota, por meio do Google Meet e de Whats App, para que pudes-
sem em breve produzir materiais didáticos que envolvessem a
temática da acessibilidade. Tudo isso só foi possível porque:

No enfrentamento à pandemia, as institui-


ções públicas de ensino superior produzi-
ram respostas imediatas, seja na adaptação
ao ensino remoto, seja no desenvolvimento
de ações extensionistas e de pesquisas que
visassem à superação das desigualdades que
se agudizaram neste período. [...] (FORPROEX-
UBERLÂNDIA, 2022, p. 01)

No nosso caso, a situação não foi diferente. A equipe for-


mada por duas bolsistas e a coordenadora trabalhou de março a
julho de 2021 nessa formação. Os conteúdos foram relacionados a:
Definição de Acessibilidade; Aspectos históricos da Acessibilidade;
Legislação e Acessibilidade; Tipos de Barreiras; Tipos de deficiência
e Acessibilidade; Pessoas com mobilidade reduzida; Acessibilidade
nas edificações; Acessibilidade na urbanização; Acessibilidade nos

97
transportes; Acessibilidade na comunicação; Tecnologias assisti-
vas/ ajudas técnicas; Como elaborar cartilha; Como produzir vídeos
acessíveis; Como produzir áudios educativos.
A coordenação assumiu a parte inicial de estudo de conceitos
e aspectos históricos e legais da acessibilidade e alguns colabora-
dores (uma bibliotecária e um monitor de Tecnologia da Educação)
contribuíram com a formação relacionada às Normas Técnicas da
ABNT para trabalhos acadêmicos, à produção de cartilhas, à produ-
ção de vídeos e podcasts.
Nessa etapa, foi possível perceber a importância das ativi-
dades extensionistas, que trazem a oportunidade de favorecer o
aprofundamento de determinados conteúdos para garantirem uma
boa articulação com a prática a ser vivenciada pelos extensionistas
junto à comunidade.
Entre julho e agosto, após a formação, a equipe passou a discu-
tir como organizar a cartilha “Acessibilidade: uma questão de cida-
dania” (ver FIGURA 1), primeiro recurso didático a ser elaborado.
Combinamos que as imagens seriam de acesso público, retiradas
da internet, feita pelo Canva (ferramenta on line de design gráfico),
e com informações que orientassem as pessoas quanto à questão
da importância da acessibilidade para pessoas com deficiência ou
mobilidade reduzida.

FIGURA 1: Capa da Cartilha: Acessibilidade uma questão de cidadania

Fonte: Acervo do Projeto Mais Acessibilidade de 2021

98
A produção desse tipo de recurso, assim como os demais que
foram desenvolvidos pela equipe do Projeto Mais Acessibilidade,
envolveu atividade de pesquisa, estudo e planejamento para que
os bolsistas pudessem apresentar um resultado satisfatório para a
realização da atividade.
Nos dias 11 e 12 de agosto, a equipe participou do SEMEX –
Semana de Extensão da UEPB, que também aconteceu de forma
remota. A participação nesses eventos abre novos horizontes para
a troca de experiências vivenciadas ao longo da graduação.
Em setembro, após a elaboração da cartilha, passamos a orga-
nizar a primeira palestra intitulada: “Acessibilidade e Atendimento
Educacional Especializado (AEE) em Tempos de Pandemia”. Esta
palestra foi proferida por duas professoras do AEE, uma que tra-
balhava em escola pública de Dona Inês e outra em Cuitegi e
Guarabira, todos municípios paraibanos. A Cartilha foi lançada
durante a palestra.
O evento, realizado em 24 de setembro de 2021, foi rico em
trocas de experiências sobre o atendimento educacional especia-
lizado em tempos de pandemia. Participaram dele estudantes de
licenciatura, professores e gestores. O que foi importante porque:
“Formar o professor na perspectiva da educação inclusiva implica
ressignificar o seu papel, o da escola, o da educação e o das práti-
cas pedagógicas usuais do contexto excludente, em todos os níveis”.
(MANTOAN, 2015, p. 81)
Ao longo do mês de outubro de 2021, produzimos sete áudios.
No formato de podcasts, que foram divulgados à comunidade por
meio do Whats App. Esses materiais educativos versaram sobre as
dimensões da Acessibilidade baseadas nas contribuições de Romeu
Sassaki, a saber: Arquitetônica, Comunicacional, Metodológica,
Instrumental, Programática, Atitudinal e Natural. Assim, semanal-
mente, foram divulgados áudios curtos e objetivos acerca desta
temática.

99
Sassaki (2009, p. 06) apresenta o que diz a Resolução CNE/
CEB nº 02, de 11/09/2001 acerca desta questão:

‘Em consonância com os princípios da educa-


ção inclusiva, as escolas das redes regulares
de educação profissional, públicas e privadas,
devem atender alunos que apresentem neces-
sidades educacionais especiais, mediante a
promoção das condições de acessibilidade
[acessibilidade arquitetônica, comunicacional
e programática], a capacitação de recursos
humanos [acessibilidade atitudinal], a flexibili-
zação e adaptação do currículo [acessibilidade
metodológica e instrumental] ...’ (Resolução
CNE/CEB nº 2, de 11/9/01, art. 17)

Então, cabe aos educadores promoverem ações que caminhem


na direção da garantia desses direitos, que considerem tais dimen-
sões da acessibilidade. No caso da escola:

O desafio é construir uma prática no ambiente


escolar uma pedagogia que consiga ser comum
ou válida para todos os alunos da classe esco-
lar, porém capaz de atender os alunos cujas
ações pessoais e características de aprendiza-
gem requeiram uma pedagogia diferenciada.
Tudo isto sem demarcações, preconceitos ou
atitudes nutridoras dos indesejados estigmas.
Ao contrário, pondo em andamento, na comu-
nidade escolar, uma conscientização crescente
dos direitos de cada um. (BEYER, 2006, p. 76)

Em novembro de 2021, produzimos quatro vídeos. Os referi-


dos vídeos foram produzidos com a contribuição de gestores e pro-
fessoras do Atendimento Educacional Especializado (AEE). Duas
escolas disponibilizaram imagens e materiais informativos sobre o
AEE e, assim, a equipe de posse desse material pôde trabalhar na
produção dos vídeos que foram divulgados por meio digital.

100
Com o intuito de facilitar o acesso aos conceitos da
Acessibilidade, foi organizado o primeiro vídeo. O segundo e o ter-
ceiro vídeo registraram de forma prática o que fora apresentado no
primeiro vídeo de abertura. Participaram destes vídeos duas esco-
las estaduais do Município de Guarabira/PB, que são referência
para os demais municípios como escolas que promovem a inclusão
e a acessibilidade. Nas referidas escolas, pesquisamos a situação
de acessibilidade e recebemos fotos de professoras que atuavam
nelas. Em seguida, foram feitos os vídeos que ilustravam e relata-
vam as condições acessíveis desses espaços.
O quarto e último vídeo falou sobre o desenho universal, sua
origem e história, assim como a sua importância para toda a socie-
dade. Assim, foram mostrados nesse vídeo os sete princípios do
desenho universal. De acordo com Sassaki (2009, p. 02), o desenho
universal beneficia tanto as pessoas com deficiência com as que
não apresentam deficiência. Vejamos:

[…] a acessibilidade é uma qualidade, uma


facilidade que desejamos ver e ter em todos os
contextos e aspectos da atividade humana. Se a
acessibilidade for (ou tiver sido) projetada sob
os princípios do desenho universal, ela benefi-
cia todas as pessoas, tenham ou não qualquer
tipo de deficiência.

Em 25 de novembro de 2021, realizamos a segunda palestra


do Projeto Mais Acessibilidade, através do Google Meet, intitulada
“Contribuições da Cultura, Esporte e Lazer para inclusão social da
pessoa com deficiência”. Participaram do evento 62 duas pessoas e
a comissão organizadora.
Colaboram como palestrantes: uma professora de dança defi-
ciente visual e um professor de educação física adaptada. Na oca-
sião, também esteve presente a artista e musico terapeuta. Vale
ressaltar que os três convidados trabalham de forma prática com a
inclusão das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Ficou

101
claro por meio das apresentações, que todos procuravam promo-
ver a inclusão das pessoas através da cultura, do esporte e do lazer,
especialmente daquelas com deficiência ou mobilidade reduzida.
Ao longo da realização das atividades, houve participação
ativa de todas as bolsistas, desde o planejamento à execução das
atividades. Ao final de cada etapa de trabalho, fomos avaliando as
atividades desenvolvidas pela equipe.

Considerações finais

O relato que foi apresentado mostrou a importância do traba-


lho de educadores que contribuem com a inclusão social de pessoas
com deficiência ou com mobilidade reduzida. Isso favoreceu a refle-
xão sobre a necessidade de ampliação das condições de acessibili-
dade deste público.
Os objetivos específicos foram apresentados na perspectiva de
favorecer a formação de educadores comprometidos com a inclu-
são social, especialmente as bolsistas, demais licenciandos que par-
ticiparam, professores e gestores. Além disso, buscamos promover
ações que colaborassem com a acessibilidade física e na comuni-
cação para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Esses
objetivos foram alcançados dentro do limite do possível.
Sabemos que as conquistas sociais materializadas em docu-
mentos legais levam tempo até que sejam garantidas de fato, mas
precisamos acreditar que o trabalho desenvolvido pelos profissio-
nais da educação é importante no sentido de promover mudanças
significativas para a sociedade. Foi com este pensamento que desen-
volvemos e trabalhamos, ao longo do ano de 2021, no Projeto Mais
Acessibilidade, em tempos tão sombrios quanto os de Pandemia da
COVID-19. De forma remota, superamos as dificuldades e sabemos
que há um longo caminho a ser percorrido. Deixamos o convite
para que novas ações sejam desenvolvidas na direção de mudanças
significativas a favor de todos(as) os(as) cidadãos(ãs), independen-
temente da sua condição socioeconômica e política ou psicofísica.

102
Referências

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Pessoas Portadoras de Deficiência às Edificações, Espaço Mobiliário
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planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm Acesso em: 08 jun. 2022.

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103
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br/ccivil_03/leis/l10098.htm Acesso em 10 dez. 2021.

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Disponível em: https://www.ufmg.br/proex/renex/images/
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sultado&nrSeq=10500@1 Acesso em 20 mar. 2021.

104
EM MEIO À COVID-19, CONSTRUINDO
POSSIBILIDADES: EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
SOB O CHÃO DA CIDADE

Maria Jackeline Feitosa Carvalho1

Introdução

O presente artigo visa socializar ação extensionista vincu-


lada ao Curso de Sociologia (DCS/UEPB) que teve por objetivos
promover a participação das Zonas Especiais de Interesse Social
( ZEIS) frente o desafio de fortalecimento das ZEIS em Campina
Grande (PB);de tal modo detalharemos as ações com ênfase na
discussão teórica- metodológica sobre as desigualdades urbanas;
direito à cidade e controle social , situando o processo desenvolvido
enquanto metodologia de Extensão do trabalho em redes .
A ação Extensionista aqui descrita deu continuidade ao que
vem sendo tecido desde 2018 (Edital PROBEX 2018-2019; 2019-
2020; 2020-2021) a partir da tentativa em consolidar um trabalho
processual e colaborativo em redes2 envolvendo o Grupo de Estudo
e Pesquisas sobre o Urbano/ GEUR/UEPB e o Observatório das
Metrópoles — Núcleo Paraíba com a experimentação de práticas de
organização que busca envolver a comunidade em suas organiza-
ções sociais através da parceria com a União Campinense de Equipes
Sociais( UCES ) e Sociedades Amigas de Bairros( SAB’s); assim

1 (DCS, Campus I) Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Urbano (GEUR/ Universidade


Estadual da Paraíba – UEPB/Paraíba/Brasil) / Observatório das Metrópoles
(Núcleo PB) / Título do Projeto: FORMAS E EXPRESSÕES DA PARTICIPAÇÃO
POPULAR NAS ZEIS EM CAMPINA GRANDE (PB): morar e se apropriar da cidade.
Cota: 2019-2020
2 A esse respeito cf: Cartilha sobre participação popular nas zonas especiais de inte-
resse social é lançada por projeto de extensão (uepb.edu.br)

105
como de maneira mais institucional a Secretaria de Planejamento
(SEPLAN) da Prefeitura Municipal de Campina Grande(PMCG)
através da Coordenadoria de Habitação e o Fórum ZEIS. A Extensão
teve por ÁREA: Direitos Humanos (organizações populares), a
LINHA DE EXTENSÃO: Desenvolvimento Urbano e OBJETIVOS DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL — OD: Objetivo 11 — Tornar
as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resi-
lientes e sustentáveis.

Metodologia

Em termos de Metodologia, desenvolvemos oficinas e rodas


de conversas que se caracterizaram por debates abertos ao público
sobre temas relacionados às ZEIS e a luta pelo direito à cidade. As
ações foram desenvolvidas a partir de uma metodologia de plane-
jamento coletivo a cada atividade com entidades parceiras, colabo-
radores e discentes Extensionistas— a saber: UCES; Fórum ZEIS;
SAB’s; Observatório das Metrópoles; e SEPLAN — caracterizando
um processo de construção antes e pós-atividades de avaliação
contínua.
Mesmo em meio à Pandemia da COVID-19, trabalhamos inten-
samente com a comunidade através de 09 oficinas. Inicialmente em
formato online através do aplicativo Google Meet e, mais recente-
mente, nas próprias comunidades com a realização 15 micro-docs
trazendo a história de cada ZEIS em Campina Grande. Merece des-
taque também a elaboração da Cartilha ZEIS, retratando o processo
da Extensão junto às comunidades; ambos os produtos traduziram
os elementos de aprendizagem e formação teórica e prática.
A partir das oficinas remotas com moradores e representantes
de organizações comunitárias trabalhamos o poder de organização
nos territórios ZEIS, de maneira que se tornou imprescindível a
participação e incidência das comunidades neste processo.

106
Fundamentação teórica

As variáveis da dinâmica da produção habitacional, através


das vertentes da produção formal e informal, traçam o panorama
das políticas habitacionais desenvolvidas nacionalmente e local-
mente com seu rebatimento espacial. Visto que tais políticas habi-
tacionais exercem relevante influência na morfologia, na forma e
função da cidade.
Isso nos obriga a desvendar a trama da produção habitacional
enquanto conquista de um direito à cidade, que deva ser marcado
pela conquista da democracia e a implementação de um modelo de
gestão democrática e participativa. (LIMA, 2010). De tal modo, o
direto à cidade vai além de ter acesso ao que a cidade tem a ofere-
cer (HARVEY, 2012), é o direito de transformar a cidade de diver-
sas maneiras de acordo com as necessidades coletivas. É nesta
perspectiva que dialogamos com a concepção do direito à cidade,
entendendo como direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento
ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços
públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gera-
ções (BRASIL, 2001).
Há um processo o qual institucionalizou e impulsionou a
possibilidade de democratizar o solo urbano e o combate à desi-
gualdade sociourbanística, de maneira a consolidar a organização
das áreas mais empobrecidas da cidade. Em termos históricos
cabe apontar que a primeira experiência ZEIS surge ainda no ano
de 1987, na cidade de Recife (PE), através do PREZEIS – Plano de
Regulamentação da ZEIS. Com a aprovação da lei federal nº 10.257
de julho de 2001, denominada Estatuto da Cidade, passa a se
estabelecer o instrumento jurídico das ZEIS como um direito fun-
damental de combate ao padrão de urbanização excludente repro-
duzido nas cidades brasileiras, visto que as ZEIS refletem a forma
desigual como as cidades brasileiras se urbanizaram, de maneira
rápida e, quase sempre, dissociando a moradia como um direito à
cidade.

107
Com base nas definições estabelecidas pelo Estatuto da Cidade,
passa a ser exigido a nível dos movimentos sociais uma prática do
planejamento urbano enquanto instrumento de direito humano
posto através do direito à moradia. Assim se torna relevante com-
preender que as ZEIS têm uma distinção em relação a outras áreas
da cidade, seja pela forma de sua ocupação ou pelo tipo de uso
do solo para os diferentes tipos, em função de situações urbanas
diferenciadas, de tal maneira que devem incidir sobre áreas cen-
trais mais bem servidas de infraestrutura e com maior potencial
de adensamento, ou em áreas intermediárias, onde seja mais ade-
quado adotar um potencial de adensamento médio, em relação aos
padrões vigentes no município. (MIN. CIDADES, 2009, p. 25).
As ZEIS necessitam ser priorizadas enquanto um instrumento
urbanístico e regulatório, incluído no zoneamento da cidade, que
incide sobre territórios precários ou áreas destinadas à produção
de novas moradias para segmentos de baixa renda, com parâme-
tros urbanísticos específicos que deveriam, por um lado, facilitar
a implementação de projetos de regularização urbanística e fun-
diária e de habitação de interesse social e, por outro, inviabilizar
os empreendimentos imobiliários de grande porte voltados para
outros grupos de renda.
A partir do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) é difun-
dido o instrumento jurídico ZEIS como um direito fundamental de
combate ao padrão de urbanização excludente reproduzido nas
cidades brasileiras, posto que os territórios precários refletem a
forma desigual como as cidades brasileiras se urbanizaram, entre
omissões e ações autoritárias e sem participação nas decisões
do planejamento da cidade. Tais processos caracterizaram um
modelo de cidades onde “as ideias estão fora do lugar, e o lugar fora
das ideias”(Maricato, 2001) e a moradia como um direito. Estes
assentamentos e seus moradores, no contexto da financeirização
e mercantilização das cidades, têm se tornado, cada vez mais, vul-
neráveis a remoções e despossessões, visto que há uma guerra dos
lugares (Rolnik, 2014), ampliando o desafio de garantir o direito
à cidade para todos (Lefebvre, 2001). Nesse sentido, as ZEIS se

108
tornam um importante instrumento para a proteção de direitos.
Nesse sentido:

(…) as ZEIS passam a ser priorizadas enquanto


um importante instrumento urbanístico-regu-
latório, incluído no zoneamento da cidade, que
incide sobre assentamentos precários ou áreas
para a produção de novas moradias para seg-
mentos de baixa renda, com parâmetros urba-
nísticos específicos que devam, por um lado,
facilitar a implementação de projetos de regu-
larização urbanística e fundiária e de habita-
ção de interesse social e, por outro, inviabilizar
os empreendimentos imobiliários de grande
porte voltados para outros grupos de renda.
(MORAES; AZEVÊDO,2017).

Ou seja, sendo a cidade um campo de disputa, a questão fundi-


ária e distributiva da terra torna-se fundamental para entendermos
o porquê de uma parte da população tender a resolver a crise da
moradia, que vem acompanhada de tantas outras, fora do mercado
imobiliário formal. Esse entendimento tem a ver como se deu a
produção do ambiente construído no Brasil e o papel do Estado na
produção do espaço urbano (Castells, 2009) onde, quase sempre, a
lei e o direito à propriedade ignoram silenciosamente a existência e
exigência de sua função social (Maricato, 2016).
Há uma produção histórica de uma dualidade que denota,
de um lado, a organização patrimonial de um sistema tradicional,
retrógrado, pobre e baseado nas relações pessoais dominação e
lealdade e, de outro, um sistema capitalista industrial, fundado na
impessoalidade das relações interpessoais que exprimirá o abismo
no mundo urbano brasileiro (Zaluar & Alvito, 2006; DaMatta,
1986).O que caracteriza um conflito entre os que precisam da
cidade para viver e os que dela extraem lucro com sua produção e
reprodução.

109
De acordo com Rolnik (1998) as ZEIS têm os seguintes obje-
tivos: a) permitir a inclusão de parcelas da população que foram
marginalizadas na cidade; b) permitir a introdução de serviços e
infraestrutura urbana nos locais onde eles não chegavam, melho-
rando a condição de vida da população; c) regular o conjunto do
mercado de terras urbanas, pois com a redução das diferenças de
qualidade entre os diferentes padrões de ocupação, reduz-se tam-
bém as diferenças de preço entre as terras; d) introduzir mecanis-
mos de participação direta dos moradores no processo de definição
dos investimentos públicos em urbanização para consolidar os assen-
tamentos; e) aumentar a arrecadação do município, visando que
as áreas que são regularizadas passam a pagar impostos e taxas
como o caso do IPTU, o que não acontece nas favelas; e por fim, f)
aumentar a oferta de terras para o mercado urbano de baixa renda.
(ROLNIK apud DANTAS, 2015).
Em termos locais, a Secretaria de Planejamento da Prefeitura
Municipal de Campina Grande (PMCG/ SEPLAN,2008) definiu os
seguintes critérios para uma área se tornar ZEIS : 1. A área ter uso
predominantemente habitacional; 2. Abrigar população predomi-
nantemente de baixa renda; 3. Apresentar precariedade de infraes-
trutura urbana e/ou de infraestrutura de suas habitações;4. Deve
ter existência, em suas imediações, de imóveis vazios, inutilizados
ou subutilizados capazes de abrigar a população a ser relocada
após reurbanização e redução do adensamento da área.
Em Campina Grande, as ZEIS foram regulamentadas em
dezembro de 2009, através da Lei Municipal nº. 4.806, com a ins-
tituição de dezenove (19) assentamentos precários, destes dezes-
sete (17) regulamentadas. A saber: 01 ZEIS Califon / Estação Velha;
02 ZEIS Catingueira / Riacho do Bodocongó / Bairro das Cidades;
03 ZEIS Ocupação Macaíba / Ocupação Novo Horizonte; 04 ZEIS
Ocupação Santa Cruz; 05 ZEIS Ocupação do Alto Branco; 06 ZEIS
Ocupação do Pelourinho; 07 ZEIS Ocupação Verdejante; 08 ZEIS
Ocupação Brotos; 09 ZEIS Três Irmãs; 10 ZEIS Vila de Santa Cruz; 11
ZEIS Novo Cruzeiro ; 12 ZEIS Catolé de Zé Ferreira 13 ZEIS Jardim

110
Europa; 14 ZEIS Ocupação Ramadinha II; 15 ZEIS Pedregal; 16 ZEIS
Jeremias 17 ZEIS Nossa Senhora Aparecida; 18 ZEIS Beira Rio; 19
ZEIS Ocupação Jardim Tavares.
Entretanto, em Campina Grande, as ZEIS ainda não foram
implementadas em conformidade com a previsão da lei, sendo
imprescindível que a comunidade possa participar e intervir no
processo de planejamento e gestão das ZEIS, algo que não está
ocorrendo. Uma vez que a participação social tem sido reduzida,
tanto em relação ao controle social das organizações e movimentos
de luta pela moradia na cidade como das decisões que possam vir
a favorecer a inclusão socioterritorial da população de baixa renda,
a ampliação do acesso e permanência à moradia, ao solo e aos ser-
viços urbanos. Daí a importância em subsidiar a participação e o
trabalho de diferentes atores sobre o desenvolvimento urbano e as
questões da cidade.

Resultados

Em termos gerais, a Extensão fomentou a participação e o


trabalho de diferentes atores sobre o desenvolvimento urbano
na incidência do direito à cidade através da articulação e troca de
experiências entre as comunidades ZEIS e a UEPB, enquanto expe-
rimentação de práticas de formação sobre a realidade de vida nas
periferias e as estratégias de organização praticadas pelas comu-
nidades. De maneira que a referida experiência potencializou
saberes através de oficinas; rodas de diálogo e debates abertos
ao público (sociedade civil em geral). Conforme registros abaixo
(FIGURAS 1 e 2).

111
FIGURA 1: Em tempos pandêmicos, a Extensão resiste. (card de divulgação)

FIGURA 2: A formação (Oficinas, via Google Meet)

Fontes: Projeto PROBEX 2020-2021

Deste modo, em consonância com todo esse processo e da ação


extensionista aqui socializada, cabe destacar que em novembro de
2020 iniciamos as atividades de filmagens de 15 micro-docs nas
comunidades ZEIS que possibilitaram o lançamento (em outubro de
2021) do Documentário SOB O CHÃO DA CIDADE — ESPAÇO DE

112
VIDAS E MEMÓRIAS: mudanças e desafios das ZEIS em Campina
Grande (PB). O documentário terminou por fortalecer a inserção
da universidade no processo participativo e efetivamente demo-
crático, ao articular a troca de experiências na busca do direito à
cidade. Ainda trabalhou a formação de lideranças nos territórios
ZEIS, de maneira a contribuir para o avanço de políticas públicas
que potencializem a reforma urbana, a autonomia, a capacidade de
mobilização e de intervenção propositiva dos atores sociais popula-
res e da universidade como mediadora de saberes e práticas inova-
doras do diálogo propositivo com a sociedade. Conforme registros
e imagens a seguir.

FIGURAS 3;4: Ouvir; construir a Extensão – filmagens do documentário (ZEIS Pedregal).

Fonte: Projeto PROBEX 2020-2021

113
A produção dos micro-documentários3 teve por objetivo trazer
as falas e memórias de moradores e moradoras dos territórios pop-
ulares de Campina Grande, de maneira a resgatar o processo de luta
pela moradia e inserir uma cartografia social da cidade quase sem-
pre silenciada, oculta e não valorizada. SOB O CHÃO DA CIDADE
resgata uma memória urbana importante à compreensão das várias
Campina Grande, um olhar atento que busca dar voz, trazer discur-
sos historicamente negligenciados e, assim, fortalecer o direito à
cidade através da luta pelo solo urbano em Campina Grande.

Discussões

A ação Extensionista contribuiu para ampliar as percepções e


leituras de moradores e moradoras das ZEIS e discentes da UEPB,
articulando teoria e prática, a partir da inserção dos discentes com
a realidade local da luta pela moradia na cidade. Conforme FIGURAS
a seguir.

3 Nesse intuito foi criado um canal para assentar os Micro-docs e, amplamente,


divulgar o acesso a todo o processo de luta moradia em Campina Grande. A esse
respeito cf: https://youtube.com/channel/UCnIxf7AGQHE-wsa6hNEUfxA
https://uepb.edu.br/projeto-de-extensao-lanca-micro-documentarios-sobre-a-
-luta-pela-moradia-em-campina-grande/
https://youtu.be/-lIq8ZfOcrA
https://youtube.com/channel/UCnIxf7AGQHE-wsa6hNEUfxA
https://drive.google.com/file/d/1zJhysb-k8idEz5w_EAYEudGLuF3OoakY/
view?usp=sharing

114
FIGURAS 5;6;7: Extensionistas em prática: da universidade às comunidades ZEIS.

Fontes: Projeto PROBEX 2020-2021

O lançamento do Documentário(vide FIGURA 8 e seguintes)


SOB O CHÃO DA CIDADE se definiu para nós enquanto perspec-
tiva de um dos caminhos que a Universidade deva trilhar, qual seja
o cumprimento de sua função social e de conexão com a comuni-
dade. De tal maneira, o Documentário, em especial, fez da teoria um
elemento da prática revertida na reflexão e contato direto com as
comunidades ZEIS, possibilidade de construção da justa e necessá-
ria incorporação desses territórios ao tecido social da cidade, dada
a diversidade de usos e formas da estrutura urbana de Campina
Grande.

115
FIGURA 8: Lançamento de 15 micro-docs

Fonte: Projeto PROBEX 2020-2021

FIGURAS 9 e 10: Da memória à participação: moradores e moradoras


dos territórios ZEIS quando do lançamento do Documentário.

Fontes: Projeto PROBEX 2020- 2021.

116
De tal modo apontamos em três direções o envolvimento da
universidade nesse processo: 1) a inserção da UEPB como meto-
dologia horizontal de participação das comunidades ZEIS; 2) a
visibilidade e construção do debate público local sobre a preca-
riedade urbana e regularização das ZEIS no processo decisório
de planejamento urbano; 3) o fortalecimento da função social da
UEPB na mediação da luta pelo direito à cidade e, em todo o pro-
cesso, a inserção dos discentes dos Cursos de Sociologia, Geografia,
História, Serviço Social, Letras e Jornalismo na agenda urbana local,
com ênfase na discussão teórica e metodológica do direito à cidade.

FIGURA 11: A precariedade urbana em discussão

Fonte: Projeto PROBEX 2020-2021

117
O processo da Extensão resultou em uma relevante incidên-
cia junto à gestão urbana local no sentido de tentar democratizar a
participação com fins à urbanização e regularização das ZEIS; tra-
balhar junto às Organizações de Bairros, através da UCES; estimular
a participação nas SAB’s; estabelecendo, ainda, colaborações com
outros protagonistas da agenda urbana local, a exemplo da Frente
Pelo Direito à Cidade e o Fórum ZEIS.

Considerações finais

Destacamos como objetivo alcançado a contribuição dada pela


UEPB junto ao fortalecimento da sociedade civil organizada em
redes para o debate público na formulação e implementação das
ZEIS em Campina Grande. Ou seja, a inserção da UEPB na interlocu-
ção com os movimentos sociais de direitos à moradia em Campina
Grande tem contribuído à proteção dos direitos das comunidades
pobres contra os impactos negativos resultantes da segregação
urbana. O que para nós se coloca enquanto reforço da capacidade
da universidade quanto ao cumprimento das ZEIS em Campina
Grande.
Em um contexto de crise de investimentos na habitação popu-
lar, a ação extensionista teve uma relevância social, pois buscou
fortalecer a atuação dos movimentos de luta pela moradia em
Campina Grande, pela formação de lideranças e comunidades.
Assim, enquanto produto final da Extensão, realizou e documentou
o registro de um outro olhar sobre Campina Grande ao fomentar a
incidência popular sobre o acesso à terra e moradia nos territórios
pobres e vulneráveis.
Em considerações, a justificativa desta proposta de Extensão
possibilitou, em especial, contato direto com as comunidades,
enquanto possibilidade de construção do direito à cidade.

118
Referências

DANTAS, Denis Rodrigues. Áreas pobres de Campina Grande: análise


da evolução socioespacial dos espaços urbanos através das Zonas
Especiais de Interesse Social.2015. 50f. Monografia. (Curso de
Geografia) — Universidade Federal de Campina Grande, Campina
Grande.

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro,2001.

MARICATO. Ermínia. Para entender a crise urbana. São Paulo:


Expressão Popular, 2016.

MORAES, Demóstenes Andrade de; AZEVÊDO, Viviane Ramos


de. Apontamentos sobre a inserção urbana dos moradores de
Assentamentos Precários e de ZEIS em Campina Grande – PB.
Disponível em: https://cchla.ufrn.br/rmnatal/evento_2017/anais/
ST3/apontamentos_sobre.pdf. Acesso em: 05 maio 2019.

ROLNIK, Raquel. Guerra dos lugares. a colonização da terra e da


moradia na era das finanças. São Paulo: Boitempo, 2014

______________. Zonas Especiais de Interesse Social. Revista Pólis 29,


São Paulo, 1989.

ZALUAR, Alba; ALVITO, Marcos. Um século de favela.5ª ed. Rio de


Janeiro: Edt. FGV, 2006.

119
QUANDO A ESCUTA CHEGA: DIÁLOGO,
SUBJETIVIDADE E CONSCIENTIZAÇÃO NA PANDEMIA

Rita de Cássia da Rocha Cavalcante1


João Faustino dos Santos2

Introdução

Nos últimos anos, no Centro de Humanidades (CH) da


Universidade Estadual da Paraíba, notamos que os estudantes vêm
procurando pela escuta. Alguns chegam com questões familiares
ou pessoais e necessitam de atendimento pedagógico e terapêutico.
A realidade adversa na qual estão inseridos é o cenário de muitos
jovens e adultos que se encontram em formação acadêmica.
Ações esporádicas vêm sendo empreendidas por alguns docen-
tes. Às vezes, na salade aula, eclodem problemas difíceis de tratar.
O professor e os estudantes geralmente acolhem os relatos de
vida e passam a ocupar o tempo de aula como apoio. No entanto,
vários casos identificados em sala de aula demandam um tempo
extraclasse para serem adequadamente trabalhados. Além disso,
a complexidade exposta em diferentes casos exige conhecimentos
que os professores não dominam na formação específica, e a escola,
na lógica prescritiva, não consegue visualizá-los e propor ações de
intervenção significativas.
Pensando nisso, elaboramos um projeto de extensão universi-
tária baseado na interação, na compreensão e na interlocução como

1 Professora da Universidade Estadual da Paraíba — Centro de Humanidades —


Departamento de Educação. Coordenadora do projeto de extensão “Pra te escu-
tar: novos horizontes para a formação humana” aprovado na cota especial nº
001/2021 da Emenda Parlamentar 354/2021 da UEPB/PROEX
2 Estudante da Universidade Estadual da Paraíba — Centro de Humanidades —
Departamento de Letras. Bolsista do “Pra te escutar: novos horizontes para a for-
mação humana”

121
matrizes curriculares, cujo objetivo geral foi o de conscientizar as
pessoas sobre a importância de ressignificar o processo educativo
por meio da escuta. A ideia inicial era de focar nas questões trazi-
das pelo público-alvo — estudantes, professores e demais profis-
sionais da educação - que atuavam nas escolas públicas do entorno
do CH-UEPB e na comunidade acadêmica.
Ressalte-se, contudo, que, no período da pandemia, quando
a proposta foi executada, repercutiu em medidas para proteger a
vida e, consequentemente, na suspensão das atividades presen-
ciais, abrindo novos espaços de intervenção e reduzindo as dis-
tâncias interpostas pelos limites geográficos e físicos das salas de
aula. Nesse sentido, com a divulgação, nas redes sociais (Instagram,
Facebook e WhatsApp), de escutas on-line por meio do Google
Meet, várias pessoas de diferentes campis universitários e escolas
públicas procuraram informações e participaram das atividades
propostas, sobretudo das oficinas realizadas ao longo do ano (pela
plataforma Even, de forma gratuita e sem qualquer pré-requisito).
Neste artigo, pensamos em apresentar os detalhamentos do
projeto acima indicado e intitulado “Pra te escutar: novos hori-
zontes para a formação humana”, que foi aprovado em cota espe-
cial e funcionou no período de março a dezembro de 2021. Para
tanto, marcamos, nas palavras de abertura, o chamado para o foco
“a chegada da escuta” e os aspectos importantes que julgamos que
deveriam ser recolhidos desse processo educativo — diálogo, sub-
jetividade e conscientização. Houve algumas discussões sobre a
escuta na escola e a exposição de aspectos destacados para refletir-
mos sobre a educação em tempos difíceis e atuais e as apreensões
das pessoas sobre o “Fique em casa”.

122
Projeto pra te escutar: delineamentos
de uma proposta de extensão universitária

O projeto de extensão ‘Pra te escutar: novos horizontes para


a formação humana’ foi elaborado a partir de uma demanda real
identificada no CH-UEPB, sendo aprovado em 2021 e executado
em dez meses consecutivos do ano em curso. Devido ao contexto
da pandemia, as ações foram desenvolvidas através de plataformas
digitais e da internet. Como o papel do docente é primordial no pro-
cesso de escuta, as ações do projeto partiram das demandas indica-
das pelos professores que estão atuando em sala de aula e dos/as
demais interessados/as.
Para tanto, houve uma campanha para sensibilizar os docen-
tes e os discentes de escolas públicas do entorno do CH-UEPB e
no próprio campus universitário, durante a divulgação do projeto,
por meio de grupos de Whatsapp do Centro de Humanidades, do
envio de mensagens às Secretarias de Educação, via e-mail, e de
páginas do projeto no Instagram - @Prateescutar. Nesse momento,
explicamos a importância da proposta e da colaboração de todos/
as os/as envolvidos/as no processo de seleção e acompanhamento.
Em seguida, com a solicitação da escuta, enviamos convites para
participação.
Sempre que é necessário, ofertamos oficinas voltadas para
os problemas identificados pelos atendidos/as na escuta. Visando
preservar o anonimato dos atendidos pelo projeto, as inscrições
nos eventos possibilitaram o envolvimento de diferentes pessoas,
desde as que passaram pela escuta até outros indivíduo/s e exter-
no/s, advindos/as da comunidade acadêmica ou do entorno. Para
nossa surpresa, os últimos eventos realizados extrapolaram o
espaço geográfico do CH e do estado da Paraíba (Pernambuco/PE,
Salvador/BA e Goiás/GO).
Para acompanhar o processo, usamos técnicas de entrevistas
abertas e focadas, além dos procedimentos compatíveis com os
casos atendidos. Nos casos em que a equipe do projeto interna ao

123
CH-UEPB percebeu que não poderia intervir, de forma adequada e
responsável, por extrapolar a área pedagógica, e que que exigiam
conhecimentos de outros profissionais, sobretudo os que envol-
viam questões relativas aos aspectos psicológicos, foram indicados
os serviços de atenção aos estudantes da Pró-Reitoria Estudantil -
PROEST - e aos promovidos através do serviço público por meio do
Serviço Único de Saúde - SUS (psicólogos e médicos).
Segundo Cerqueira3 (2006, p. 32-33), é importante que, nesse
processo, haja

disponibilidade permanente por parte do


sujeito que escuta para a abertura à fala do
outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro.
Isto não quer dizer, evidentemente, que escu-
tar exija de quem realmente escuta sua redu-
ção ao outro que fala. Isto não seria escuta, mas
autoanulação. A verdadeira escuta não diminui
em nada, a capacidade de exercer o direito de
discordar, de opor-se, de posicionar- se. Pelo
contrário, é escutando bem que me preparo
para melhor colocar-me, ou melhor, situar-me
do ponto de vista das ideias.

O monitoramento e o acompanhamento do projeto eram fei-


tos pela equipe bimestralmente, com a realização de oficinas, duas
delas por meio da plataforma Even, com títulos que marcaram a pro-
moção do evento pelo projeto e temas mencionados nas escutas. Em
maio, oferecemos o primeiro evento com prioridade para os que par-
ticiparam da escuta, mas aberto à comunidade em geral a “I Oficina
do Projeto pra te escutar”. A segunda oficina foi organizada e ofer-
tada no evento alusivo ao centenário de Paulo Freire pelo CH-UEPB,
intitulada ‘Da alegria que nos move à esperança dos achados - por
uma pedagogia da autonomia’, no mês de setembro, e o último foi a

3 Ver CERQUEIRA, 2021.

124
‘II oficina do Projeto de Extensão pra te Escutar - a importância da
escuta na escola’, que ocorreu em novembro de 2021.
Os referidos eventos foram amplamente divulgados e com
intensa participação. As vagas ofertadas foram preenchidas rapi-
damente. O público participante inicialmente foram estudantes e
professores do CH-UEPB e da educação básica. Com o passar do
tempo, esses eventos foram se ampliando, atingiram outros campi
da universidade e extrapolaram os limites físicos da UEPB e do pró-
prio Estado da Paraíba.

Discussões sobre a escuta nas escolas: primeiras aproximações

Neste projeto, entendemos e assumimos com Neto Molina e


Molina (2002, p.61) que “a capacidade de escutar que defendemos,
ao longo deste texto, é uma atitude pessoal e docente. É muito mais
do que ouvir. É, sobretudo, compreender os fenômenos na perspec-
tiva e na lógica de seus protagonistas”.
Assim, concordamos com Cerqueira (2021, p.32), quando
afirma que

o educando deve assumir seu papel de sujeito


da produção de sua inteligência do mundo
e não apenas o de recebedor da que lhe seja
transferida pelo professor. É nesse sentido que
a escuta sensível do professor é essencial para
que o mesmo possa ajudar o aluno a reconhe-
cer-se como construtor de seu conhecimento.

Nesse sentido, o professor assume um papel fundamental na


escuta. Através de sua atuação, abre-se a dinâmica de construção
do conhecimento e da subjetividade. (CERQUEIRA, 2006), pois “a
escuta é uma exigência para que mulheres e homens reconheçam a
si mesmos como criadores e criaturas da cultura e digam sua pala-
vra” (MEATO, 2021, p.01).

125
Por meio da escuta sensível, entendida como a possibilidade
de criar novos vínculos, podem-se desenvolver múltiplas dimen-
sões humanas. Uma das tarefas da aprendizagem interativa é de
desenvolver o conhecimento cognitivo, afetivo e social mediados
pela escuta.
Nesse sentido,

escutar sensivelmente esses alunos implica dar


espaço para que eles inventem e reinventem
seus processos de descobertas e de aprendi-
zagens a partir de suas próprias característi-
cas potencializando esses indivíduos para se
expressarem em atividades que serão realiza-
das na montagem do espetáculo. A escuta sen-
sível é utilizada como ferramenta provocadora
desse processo, é com ela que tangenciamos os
saberes do aluno-ator e também fazemos com
que o aluno-ator também se habilite a ouvir o
grupo (BARBOSA, 2021, p. 9).

O processo de escuta demanda de quem ouve uma postura de


não julgamento e possibilita o aprendizado no sentido de vivenciar
o exercício de despojamento dos seus conceitos e preconceitos. Um
processo de respeito e acolhimento, que propicia um aprendizado
mútuo e exige de quem ouve disponibilidade de tempo. Significa
escutar, no sentido de estabelecer uma relação de troca favorável
e intensa com o outro (RINALDI, 2016, p. 236, apud ARCURI, 2017,
p. 44).
Para isso, é imprescindível uma pedagogia da escuta, em que a
educação popular seja promovida, sobretudo nas escolas públicas.
A esse respeito, assumimos o postulado por Freire (1996, p.135)
de que

escutar, no sentido aqui discutido, significa


a disponibilidade permanente por parte do
sujeito que escuta para abertura à fala do outro,

126
ao gosto do outro, às diferenças do outro. (...)
A verdadeira escuta não diminui em mim, em
nada, a capacidade de exercer o direito de dis-
cordar, de me opor, de me posicionar.

Esse processo de escuta efetiva possibilita que se reconheça


a fala do outro, considerando suas subjetividades. Nesse processo,
a escuta real tenta compreender os obstáculos que levam o sujeito
falante a não entender algo ou entender de modo distinto de quem
escuta. Dessa forma, o ato de escutar nos permite entender a per-
cepção dos sujeitos no/com o mundo, com grande teor afetivo, pro-
piciando a legitimação e a autoconfiança, capazes de enriquecer
tanto quem escuta quanto quem é ouvido.

O olhar da ciência no contexto de desigualdade social e de pandemia

O mundo enfrentou uma das mais brutais pandemias, a COVID-


19 (SARS-CoV-2), que afetou diversos continentes com um expres-
sivo número de infectados e de mortos. A Organização Mundial da
Saúde – OMS, no mês de março no ano de 2020, decretou estado de
pandemia e adotou medidas de distanciamento, isolamento e qua-
rentena, porque as pessoas assintomáticas poderiam transmitir o
vírus e torná-lo mais perigoso do que outros (WHO, 2020).
Em decorrência da dimensão do contágio do vírus, em
diversos locais do mundo, o pânico e o sofrimento se instalaram.
Oficialmente, passou-se pouco mais de um ano e meio de pan-
demia com números assustadores. Recentemente, registraram-
-se 20.494.2012 casos confirmados e 571.541 mortes (Cf. Portal
CoronaVírus, 2021). Como consequência desse momento atípico
e emergencial, as aulas foram suspensas, milhares de estudantes
ficaram sem frequentar a escola, em muitos países, e, no Brasil, os
professores passaram a exercer suas funções a distância ou através
do trabalho remoto.

127
A incerteza sobre a vida humana no planeta veio nos rodear.
Um mundo imprevisível, com cenários de extremas dificuldades
nos foi revelado, como apontam diferentes estudos. A morte esteve
mais presente em diversos lugares, e as dores e os sofrimentos
invadiram as casas de muitas famílias. De repente, vimo-nos sem
perspectivas.
Um inimigo invisível e desconhecido colocou em cheque a
forma de vida humana (KRENAC, 2020). De seres superiores e evo-
luídos, como muitos afirmaram que somos, vimo-nos em meio às
agruras da impossibilidade de vencer e conquistar o direito à vida.
Para alguns, a perversa lógica capitalista e a cruel pedagogia
do vírus vêm nos levando à destruição (KRENAC, 2020, SANTOS,
2020). Desrespeitamos a natureza, envenenamos o meio ambiente
e nosso habitat, isolamos populações e subjugamos grupos inteiros
ao longo de nossa história.
Assim, a humanidade adoeceu ou deixou transparecer que, há
muito, estava necessitando de cuidados. Preocupados em acumu-
lar riquezas materiais, fomos abrindo mão de outros horizontes
que deveriam fazer parte desse novo olhar mais amplo e alimen-
tar o ser humano. Reduzimos pessoas a mercadorias, como obje-
tos em que colocamos rótulos com preços para serem negociadas
no mercado cada vez mais atônito e feroz. Escravos de uma lógica
perversa, construímos um mundo que não nos cabe ou onde não
cabem todos os seres, principalmente os despossuídos da Terra e
os não humanos.
Nesse contexto, o olhar das ciências humanas e sociais para a
crise sanitária, numa relação social de desigualdade e vulnerabili-
dade que estão expostos grupos humanos, alerta-nos que

até a aparentemente trivial fórmula “água


e sabão salva vidas” precisa ser situada.
Sabidamente, muitas comunidades economi-
camente vulneráveis e vítimas de um racismo
ambiental estruturado não têm água nas tor-
neiras de forma regular e segura. Sabão é item

128
de luxo. Praticar isolamento em casa implica
em ter casa, e ter cômodos separados em
quantidade suficiente para os seus moradores
(SEGATA, 2020, p. 01, Grifos do autor).

Diante disso, o autor afirma que, ao tratar sobre os últimos


acontecimentos, as pessoas

(...) partilham experiências e compõem


ambientes singulares. Então, a pandemia pre-
cisa ser considerada como uma experiência
vivida nos corpos e nas sensibilidades coleti-
vas. Cada experiência conta; faz história. E nós
seguimos essas histórias e aprendemos com
elas.

Embora, fugir de nós mesmos parece um padrão que criamos


para não ter que agir com consciência, pois, sem consciência, não
nos conhecemos em profundidade, tampouco podemos conhecer
os outros. Mergulhados nessa insensibilidade e nessa cegueira,
seguimos tentando, por impulso, manter a lógica que nos aprisiona,
isto é, não sair da zona de conforto, mesmo que essa seja apenas
mais uma de nossas ilusões.
Então, questionamos: Como podemos conviver em cenários
tão adversos? O que fazer numa crise que põe em dúvida a própria
existência humana? Que educação é necessária para enfrentar tem-
pos tão sombrios?
Na tentativa de encontrar respostas para essas questões, ela-
boramos este projeto de extensão universitária, com a perspectiva
de ressignificar a vida e o processo educativo, de ampliar a compre-
ensão de que o universo abarca mais do que seres humanos e que
os seres humanos ainda tem facetas e dimensões desconhecidas.

129
O cenário da educação na pandemia: mudanças, desafios e propostas

A pandemia do novo coronavírus impôs mudanças significati-


vas no cenário educacional. Devido à impossibilidade de desenvolver
as atividades pedagógicas presencialmente, muitas instituições de
ensino passaram a usar a tecnologia para executar o processo de ensi-
no-aprendizagem. Um fenômeno em processo, ativo e de curta dura-
ção, inicialmente, que, de forma ampla, vem acontecendo no Brasil,
com mais força, desde as promulgações de legislações pelo Ministério
da Educação do Brasil e do Conselho Nacional de Educação. Esses
documentos dispõem da flexibilização do tempo de aula, do registro
de atividades a distância, entre outros (FIOCRUZ, 2020).
Em um estudo sobre a experiência massiva de educação on-line,
o pesquisador, com base em depoimentos de docentes, afirma que
eles “parecem estar exaustos pelo aumento da carga de trabalho na
preparação dos materiais e na gravação das aulas. Relatam também
se sentir despreparados para ensinar nesta nova modalidade – que
requer novo tipo de planejamento e produção de materiais especí-
ficos” (DELLAGNELO, 2020, p. 01).
Machado (2020, p. 01) demonstra que há proporcionalidade
entre recurso e interação e assevera que,

quanto mais recursos as redes de ensino têm,


maior a possibilidade de estabelecer interação
entre os estudantes. Porém, se de uma ponta
desta equação precisamos que as instituições
de ensino provenham aos docentes uma estru-
tura adequada, na outra ponta desta relação
estão os discentes e suas condições de vida.

O Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) acre-


dita que

uma escola conectada é aquela que tem uma


visão clara e estratégica do uso da tecnologia
para aprendizagem, expressa no seu currículo

130
e nas práticas pedagógicas adotadas por seus
professores. Gestores e professores devem
possuir competências digitais que englobam
habilidades pedagógicas, de cidadania digital e
de desenvolvimento profissional. A escola deve
possuir um repertório de recursos digitais sele-
cionados alinhados ao currículo, e disponibili-
zar infraestrutura adequada ao uso pedagógico
da tecnologia, tanto em termos de equipamen-
tos quanto de conectividade (DELLAGNELO,
2020, p. 01).

Os desafios, nesse caso, não se limitam a fatores relativos


ao formato das aulas, ao método de ensino ou ao uso de tecnolo-
gias, porquanto também se estendem às condições psicológicas e
emocionais que tanto os professores quanto os alunos enfrentam
durante essa jornada.
Os altos índices de desigualdade social foram marcados pela
falta de acesso às tecnologias e de um espaço de boa qualidade para
as demandas do ensino remoto (MARTINS; MENDONÇA; BARROS,
2020). Além disso, os professores tiveram que enfrentar o desafio
de aprender a utilizar os recursos e as ferramentas tecnológicas
para trabalhar com as atividades remotas, encarando uma transi-
ção imediata e não planejada para o ambiente virtual de aprendi-
zagem (AVA), porquanto a falta de formação inicial e continuada
para eles nas instituições brasileiras os impedia de lidar adequa-
damente com situações como as atuais que podem fomentar novas
reflexões sobre a formação, a atuação e a valorização dos saberes
docentes.

131
Das escutas realizadas em tempo de pandemia —
quando a escuta chega

O projeto “Pra te escutar” foi criado para ser um espaço de


respeito, acolhimento e empatia. Depois que foi aprovado, no mês
de maio de 2021, as escutas se iniciaram. Durante os dez meses
de existência da proposta, muitos estudantes e professores foram
ouvidos atentamente e com o cuidado de evitar julgamentos sobre
o que traziam. Por meio digital, as falas apareceram, e as imagens,
nem sempre nítidas, oscilavam junto com a conexão. O tempo fluido
e difícil envolveu as pessoas nas tramas de vidas. Muitas questões
foram colocadas. Dor, sofrimento e isolamento são tônicas das
vivências de jovens que ousaram sair de casa em busca de estudo,
reconhecimento e melhores condições de vida e de trabalho e tive-
ram que forçosamente retornar.
Nesta parte, trazemos recortes de algumas situações enuncia-
das nas escutas que nos fizeram refletir sobre o processo educa-
tivo e a pedagogia no período pandêmico, sobretudo do “Fique em
casa”. Os subtítulos indicados foram construídos a partir das falas
e expressam fatos e percepções das pessoas sobre o período pan-
dêmico. Optamos por apresentar algumas falas seguidas do termo
pessoa e numeração sequencial a fim de preservar o anonimato dos
sujeitos.

De volta pra casa

Com a suspensão das aulas presenciais, vários estudantes e pro-


fessores voltarampara casa. Alguns para as casas dos pais, e outros,
de parentes, mas a maioria saiu de suas residências localizadas em
área urbana e geralmente próximas da universidade ou do local de
trabalho e passaram a dividir um cômodo na antiga casa. O retorno
à zona rural e a saída do município e do Estado foram o caminho
encontrado naquele momento.Era preciso voltar. Não fazia sentido
continuar a pagar por um espaço para manter o estudo on-line e

132
não se tinha condições financeiras de manter esse espaço, porque
muitasfamílias perderam seus empregos, e algumas delas sobrevi-
viam com o pagamento do auxílio emergencial ou no subemprego.
Outras, oriundas dos povoados e dos sítios, ocupavam-se em cuidar
das terras e dos animais, para garantir seu sustento.

Pessoa 1: Agora eu estou no sítio. Acordo muito


cedo para ajudar nos trabalhos. Às vezes fico
tão ocupada que não consigo assistir as aulas.
Também a internet nem sempre ajuda.
Pessoa 2: Eu estava com acompanhamento de
nutricionista, mas, desde que suspenderam
as aulas, abandonei. Fico comendo sem parar.
Hoje já tomei vários din-din, comi salgadinhos.
Não estou conseguindo mais fazer minha ali-
mentação. Vou para casa de minha mãe e lá
como qualquer coisa.

A alimentação mudou, o cardápio deixou de existir, e a dureza


de ter que dividir o prato terminou por pintar o quadro real. Os/as
que faziam dietas esqueceram e voltaram a consumir em excesso
açúcar e gordura. Tudo o que era acessível definia a alimentação.

A casa como lugar de insegurança

A volta para casa também se deveu ao aumento do risco do


contágio, porque as casas, geralmente pequenas e com poucos vãos,
passaram a acomodar mais pessoas, que dividiriam a ocupação dos
espaços. Algumas delas já haviam contraído a doença e sabiam da
possibilidade de transmiti-la para outras pessoas.

Pessoa 3: Eu estou com medo de ficar em casa.


Tenho muito medo de pegar o vírus aqui. Um
parente meu está doente e estou com medo.
Não consigo ler mais. Quando começo a estudar,

133
me vem um certo desespero. Também não abro
mais as janelas e não consigo fazer minhas
caminhadas. E não consigo falar com ninguém
sobre isso em minha casa, muito menos na sala
de aula. Alguns colegas meu estão estranhando
meu jeito de ser agora.

Isso afetou fortemente alguns estudantes que temiam a expo-


sição, sobretudo nos momentos de reunião ou de encontros. As
mulheres que se ocupavam dos afazeres domésticos falavam do
aumento do trabalho e da perda da privacidade em suas casas.
Como mães e professoras, elas passaram a assumir a dupla, tripla
jornada de trabalho sem sair de casa. Tiveram que dar conta da con-
centração de trabalho e de encarar os novos cuidados de higiene do
lar. A insegurança rondou os passos desse grupo e colou em seus
corpos, marcados pelo cansaço, pelo sofrimento e pela dor.

Pessoa 4: Quando olho para minha casa, me dá


vontade de desistir de tudo. É crianças demais
para dar conta. As atividades em casa e na
escola estão me deixando desanimada. À noite
eu caio na cama e não vejo mais nada. Não vejo
a hora de tudo isso acabar.

A casa como lugar de trabalho

O retorno a casa revelou esse espaço como um lugar de tra-


balho. As horas passadas, muitas vezes, estiveram voltadas ape-
nas para buscar uma forma de se manter financeiramente. Como
o estudo on-line possibilitava ficar em casa, evitar gastos e tentar
aproveitar o tempo para ganhar algum dinheiro, essa ideia esteve
muito presente. Assim, vários estudantes tiveram que se envolver
com os pequenos negócios dos pais, fazer atividades domésticas,

134
ajudar na manutenção da casa, para além do que vinham realizando
quando moravam sozinhos/as ou com outros estudantes.

Pessoa 5: Meu pai perdeu o emprego, minha


mãe tomava conta de casa. As coisas aperta-
ram por aqui. Tivemos dias muito difíceis. Mas
minha mãe conseguiu um dinheiro emprestado
e começou um negócio de quentinha. Eu estou
indo fazer as entregas a pé ou com a bicicleta.
Às vezes tenho que sair antes de terminarem as
aulas. Não tem sido fácil!

Apesar da insegurança, era preciso seguir. Eles/as estavam


experimentando o medo, a angústia e a ousadia de ser capaz.

A casa como espaço não compartilhado

O retorno a casa e ao trabalho não possibilitou o compartilha-


mento do ambiente físico assim como o uso dos objetos e dos espa-
ços. Era preciso ter cuidado e evitar a aproximação e o toque tão
comuns no dia a dia. Também faltava o espaço da sala de aula. As
mesas e as cadeiras nem sempre estavam disponíveis, e o silêncio,
durante as exposições, agora era cortado por diferentes ruídos (das
pessoas que chegavam, dos animais que entravam em cena, entre
outros).

Pessoa 6: Dividir o quarto com minha irmã é


complicado. Ela ocupa tudo! Vejo tudo desor-
ganizado. Não tem mais horário nem lugar
para estudar. Já estou com dificuldades de
escrever meus trabalhos. Assistir as aulas nem
sempre consigo com o barulho das pessoas
conversando.

135
O horário de estudo também se flexibilizou, e a disciplina, nem
sempre vivida, dava espaço às influências do meio sobre o ser. As
atividades ampliaram-se. Elas estavam a ocupar mais tempo, tempo
de vida. Essa foi a mais forte constatação que as escutas trouxeram.
Muitos professores e estudantes não estavam dando conta de tan-
tos trabalhos. Essa não seria uma questão local e específica, mas
apontada anteriormente em vários estudos.
A princípio, podemos dizer que o retorno a casa, nas condições
como as aludidas, negou o direito à aprendizagem. Muitos estudan-
tes afirmaram dificuldades de acompanhar o ensino on-line, e os
professores sentiram-se pouco à vontade para lidar com as tecnolo-
gias. Ambos não tinham conhecimentos suficientes para enfrentar
a nova situação. Além disso, devido a essas dificuldades menciona-
das, não tinham a base necessária para investir tempo e dinheiro.
Estavam no mesmo barco. Apesar das ofertas de cursos e de treina-
mentos, essa nova história teimava em não ser bem escrita.

Considerações finais

Observando as escutas realizadas, pudemos aprender que a


aprendizagem escolar demanda estruturas física, psíquica, emocio-
nal, entre outras. Durante a pandemia, essas estruturas foram afe-
tadas, posto que as casas não ofereciam ambientes propícios para a
aprendizagem escolar, tampouco encontramos registros de
crescimento e desenvolvimento no contexto da pandemia. Algumas
pessoas sentiram tão fortemente as dores das perdas que se auto-
abandonaram. Muitas vezes, elas nem sentiam ânimo para acordar,
estudar, trabalhar, isto é, viver.
Outro aprendizado foi que precisamos interferir nas subjeti-
vidades e, por meio do diálogo, resgatar o autocuidado e o auto-
conhecimento, numa lógica inversa à usual do tempo pandêmico.
Precisávamos, cada vez mais, olhar para nós mesmos. Esse processo
de conscientização poderia ajudar a ressignificar o movimento

136
educativo e promover uma pedagogia mais humana, o que corro-
bora o pensamento de Freire (1996) sobre a escuta.
Para tanto, forças extraordinárias que extrapolariam os limites
do trabalho e do cognitivo teriam que ser descobertas e praticadas
no sentido de reconstituir os vínculos afetivos e emocionais. Isso
poderia possibilitar saltos no encontro do elo perdido ou de nós
mesmos. Esse esforço exigiria ressignificar os espaços educativos,
desde a casa até as salas de aula. Nesse exercício, a escuta atenta,
sensível e empática foi uma possibilidade educativa e de formação
permanente, aludida ao longo deste artigo em diferentes autores.

Referências

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pandemia. FIOCRUZ, Rio de Janeiro,06 abr. 2020. Disponível em:
<https://portal.fiocruz.br/noticia/redes-municipais-de-educacao-
-diante-da-pandemia>. Acesso em: 04 jun. 2020.

ARCURI, Priscila Abel. A participação é um convite, e a escuta é


um desafio. Estudo sobre a participação e a escuta de crian-
ças em contextos educativos diversos. 2017. 98f. Dissertação
(Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Educação. Área de
Concentração: Sociologia da Educação). Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2017. Disponível em:
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-
20032018-145657/pt-br.php>. Acesso em: 09 nov. 2021.

BARBOSA, Fabianna Kamilla Lopes. Pedagogia da escuta como


potencializadora da vivência do processo colaborativo por
alunos-atores. 2016. 31 f. Monografia (Licenciatura em Artes
Cênicas) — Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível
em: <https://bdm.unb.br/bitstream/10483/14010/1/2016_
FabiannaKamillaLopesBarbosa.pdf>. Acesso em: 09 nov. 2021.

137
CERQUEIRA, Teresa Cristina Siqueira. O professor em sala de
aula: reflexão sobre os estilos de aprendizagem e a escuta sensí-
vel. Psic, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 29- 38, jun. 2006. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1676-73142006000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 03
mar. 2021.

COVID-19: Brasil registra 55 mortes e 10,6 mil novos casos da doença


em 24 horas. BBC News Brasil, [S.l], 02 mar. 2020. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51713943>. Acesso
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DELLAGNELO, Lúcia. O coronavírus e a educação on-line: como a


pandemia do COVID- 19 representa uma oportunidade de apren-
der importantes lições sobre educação massiva on-line. Porvir, São
Paulo, 11 mar. 2020. Disponível em: <https://porvir.org/o-corona-
virus-e-a-educacao-on-line/>. Acesso em: 03 jun. 2020.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à


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KRENAC, Ailton. O amanhã não está à venda. 1. ed. São Paulo:


Companhia das Letras, 2020.

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dade social e seus impactos na educação pública da cidade
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Grande: Realize Editora, 2020. Disponível em: <https://editorare-
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MEATO, Juliana. Por uma pedagogia da escuta. Jacobin Brasil, [S.l.]


19 set. 2021. Disponível em: https://jacobin.com.br/2021/09/
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138
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-ihr-emergency-committee-on-novel-coronavirus-(2019-ncov)>.
Acesso em: 17 set. 2021.

139
EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OS DIREITOS HUMANOS
E O ECA NO CURRÍCULO ESCOLAR

Dra. Lenilda Cordeiro de Macêdo1


Adna Berardo da Costa2
Marizete Araújo dos Santos3
Maria Franciele Mouzinho Martins4
Maria Lívia Gomes de Almeida5

Introdução

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8069/90


completou 32 anos, no dia 13 de julho e, lamentavelmente, continua
sendo, para a maioria dos cidadãos, sobretudo as crianças e adoles-
centes, desconhecido, embora esteja sendo atacado no Congresso
Nacional, através da Proposta de Emenda à Constituição – PEC 171-
E /93, que trata sobre a imputabilidade penal do maior de 16 anos,
alterando, portanto, o artigo 228 da Constituição, que diz: “São penal-
mente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas
da legislação especial” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, artigo 228).
O ECA, desde 2007 deve fazer parte do currículo escolar,
segundo a Lei 11.525/2007, que altera o art. 32 da LDB/96, acres-
centando o §5

O currículo do ensino fundamental incluirá,


obrigatoriamente, conteúdo que trate dos
direitos das crianças e dos adolescentes, tendo

1 DE/ Campus I, Campina Grande. Projeto: Educação e Cidadania: os Direitos


Humanos e o ECA no Currículo Escolar – PROBEX, Cota 2020-2021
2 Pedagogia/ Campus I, Campina Grande
3 Pedagogia/Campus I, Campina Grande
4 Pedagogia Campus I, Campina Grande
5 Pedagogia/ Campus I, Campina Grande

141
como diretriz a Lei 8.069, de 13 de julho de
1990, que institui o Estatuto da Criança e do
Adolescente, observada a produção e distribui-
ção de material didático adequado. (BRASIL,
1996, art. 32, §5).

O artigo 205, da Constituição Federal; o artigo 53, do ECA e


o artigo 2, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, res-
saltam a função da educação escolar: a preparação para o traba-
lho e o exercício pleno da cidadania. Percebemos que a partir da
Constituição de 1988 e da legislação infraconstitucional segue a
diretriz de se relacionar educação com cidadania e não há como
aprender/construir consciência e atitudes cidadãs sem conhecer
os direitos e compreender quais são as responsabilidades que estão
intrínsecas aos mesmos. Em síntese, ser cidadão implica o reco-
nhecimento e a concretização dos direitos civis políticos e sociais.
“Cidadania resulta na efetivação de tais direitos e na luta incessante
para alcançá-los, independentemente da condição pessoal ou social
do indivíduo. Também implica o cumprimento de seus deveres”
(FERREIRA, 2008, p. 99-100). Em tempos tão obscuros, de reti-
rada de direitos, no qual temos sofrido um retrocesso enorme, no
que tange às políticas públicas, como educação, saúde, assistência
social, cultura, esporte, dentre outras, urge que as escolas formem,
de fato, para o exercício pleno da cidadania.
Frente a necessidade de as crianças e adolescentes conhece-
rem seus direitos, elencados no ECA, dentre outras leis infracons-
titucionais e, de a família, o Estado e a Sociedade assumirem a
responsabilidade para promover, proteger e defender tais direitos
elaboramos, no ano de 2021, um projeto de extensão, com foco na
formação continuada, com os seguintes objetivos: refletir sobre a
condição de cidadãos de direitos, a partir de debates sobre os direi-
tos humanos e o Estatuto da Criança e do Adolescentes; realizar
debates/estudos sobre os direitos humanos; despertar a comuni-
dade escolar e futuros docentes para refletir, coletivamente, sobre a
formação cidadã; fomentar propostas pedagógicas que possibilitem

142
a formação cidadã e a vivência dos direitos e deveres no contexto da
escola e da sociedade.
Nossa proposta metodológica foi a realização de um curso,
com a duração de 40 horas, na modalidade remota, para docentes,
gestores e coordenadores pedagógicos, que atuam na educação
básica e para os estudantes, futuros docentes. O curso foi coorde-
nado pela professora do Departamento de Educação do Centro de
Educação da UEPB/ Campus I, Dra. Lenilda Cordeiro de Macêdo e
ocorreu entre junho e novembro de 2021, totalizando oito encon-
tros, realizados quinzenalmente, com uma duração de 2 horas, com
aulas síncronas, pela plataforma google meet, nas quais realizáva-
mos palestras, seguidas de debates.

QUADRO 1 – Temáticas dos Ciclos de Debates

• Ciclo de Debates I – A Educação em Direitos Humanos na perspecti-


va da Educação Inclusiva.
• Ciclo de Debates II - O Processo Histórico das Leis Menoristas no
Brasil e a Consagração das Crianças e Adolescentes como Sujeitos
de Direitos no Brasil.
• Ciclo de Debates III - Crianças e Adolescentes em Situação de Risco
Social e as Instituições de Acolhimento
• Ciclo de Debates IV – O Sistema de Garantia de Direitos e as Diver-
sas Expressões de Violências Contra as Crianças e Adolescentes e as
medidas socioeducativas.
• Ciclo de Debates V – Paulo Freire e os Direitos Humanos
• Ciclo de Debates VI - A Educação em Direitos Humanos e o ECA no
Currículo Escolar
• Ciclo de Debates VII - Os Direitos Humanos, o ECA e as Questões
étnico-raciais e de gênero no Currículo Escolar.
• Ciclo de Debates VIII- A Responsabilidade dos Professores e da
Comunidade Escolar Frente à Proteção das Crianças e Adolescentes
e o Papel do Conselho Tutelar.

Fonte: arquivo pessoal das pesquisadoras

143
Além das atividades síncronas, tínhamos o ambiente virtual de
aprendizagem (AVA), pela plataforma classroom, onde disponibili-
zamos materiais, tais como: o ECA, tratados internacionais, livros
em PDF e/ou e-books, videoaulas e slides, para que fossem consulta-
dos, previamente à realização das aulas síncronas e, após os encon-
tros colocávamos propostas de atividades, a exemplo de resenhas
críticas, estudos dirigidos, dentre outras. Ao final do curso, propo-
mos a realização de um projeto didático, para ser implementado
nas escolas com a temática dos direitos humanos e/ou do ECA. A
quantidade de atividades previstas para a realização das leituras e
propostas de atividades foi de 24 horas aulas.

Reflexões sobre os Direitos Humanos e os Direitos


das Crianças no Currículo Escolar

Considerando o limite de páginas deste artigo, produzimos um


relato de experiência de apenas quatro encontros, dentre os oito
que, efetivamente, ocorreram. Assim, passamos a descrever/anali-
sar o primeiro, o segundo, o quinto e o sétimo encontros.
O primeiro Encontro do curso de extensão “Educação e
Cidadania: Os Direitos Humanos e o ECA no Currículo Escolar” acon-
teceu no dia 13 de julho de 2021 e teve como tema “A Educação em
Direitos Humanos na Perspectiva da Educação Inclusiva”. A palestra
foi proferida pelo professor Dr. Eduardo Gomes Onofre, no formato
remoto e transmitida pela plataforma google meet.
Na sua fala, o professor destacou, primeiramente, a Convenção
Internacional sobre a Pessoa com Deficiência, defendendo como as
pessoas com deficiência ainda são estigmatizadas e discriminadas
perante a sociedade, classificadas como inaptas, carecendo adap-
tar-se à sociedade e encaixar-se em padrões ditos “normais”, com
seus direitos negligenciados, muito embora estes estejam garanti-
dos em Lei.
Por um longo tempo, as pessoas com deficiência não tinham
seus direitos assegurados, não podiam frequentar escolas regulares,

144
trabalhar, ir a lugares de convívio público, nem exercer sua cidada-
nia através do voto. No entanto, lentamente, essas barreiras foram
sendo rompidas e as pessoas com deficiência foram conquistando,
através da luta, seus direitos, sendo um marco internacional impor-
tante a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), pro-
mulgada em 1948, pela Organização das Nações Unidas (ONU), na
qual estão presentes os direitos ao respeito, à valorização e à inclu-
são das pessoas com deficiência.
Segundo o palestrante, a Convenção Internacional sobre os
Direitos da Pessoa com Deficiência tem como propósito “promo-
ver, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os
direitos humanos e as liberdades fundamentais para todas as pes-
soas com deficiência, além de promover o respeito pela sua digni-
dade inerente” (BRASIL, 2009, art.1º), rompendo com os estigmas
de incapacidade e dando maior autonomia aos sujeitos.
Em seguida, o palestrante enfatizou a importância da quebra
de estigmas, que dificultam o processo de aprendizagem e inclu-
são no ambiente escolar. “A aprendizagem e desenvolvimento das
pessoas com deficiência, ao contrário do que se pensou, por muito
tempo, se dá com mais ênfase na interação, nas trocas mútuas de
conhecimentos (informação verbal6). Para que isso aconteça, a
família, a comunidade e a escola devem ser parceiras na busca de
garantir uma educação inclusiva. A educação inclusiva é um pro-
cesso social que defende um espaço de aprendizagem onde todos
os indivíduos, independentemente de suas limitações e particula-
ridades possam ser sujeitos ativos no processo de ensino aprendi-
zagem, de modo que as diferenças deixem de ser vistas de forma
negativa e sejam compreendidas do ponto de vista da diversidade.
A educação inclusiva, atualmente, ainda enfrenta muitos obs-
táculos, como a escassez de recursos destinados à melhoria e manu-
tenção de espaços públicos, falta de investimento em equipamentos

6 Dr. Eduardo Gomes Onofre, “A Educação em Direitos Humanos na Perspectiva


da Educação Inclusiva” (palestra), Universidade Estadual da Paraíba, Campina
Grande, PB, 13 de jul. de 2021

145
no processo educativo, a falta de preparo por parte dos professores
e da comunidade escolar no convívio com pessoas com deficiência,
um lapso na formação docente, por exemplo, poucos profissionais
sabem a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e o Braille, além de
desconhecerem metodologias para desenvolver habilidades dos
alunos com deficiência.
Diante do exposto, compreendemos que há um longo percurso
a ser percorrido no Brasil para a garantia dos direitos da pessoa
com deficiência. Muito já foi feito, porém, a educação inclusiva
ainda precisa percorrer um longo caminho para que consiga garan-
tir a todos uma educação de qualidade, que todos possam aprender,
levando-se em consideração as especificidades dos sujeitos em tur-
mas heterogêneas. Para que isso aconteça, é de suma importância
que, cada vez mais, as pessoas tenham acesso à informação e apren-
dam a conviver com pessoas com deficiência para que possamos
aprender a lidar com as especificidades de cada sujeito e a romper
com as barreiras do preconceito.
O segundo Encontro aconteceu no dia 27 de julho de 2021, no
formato remoto e teve como tema “O Processo Histórico das Leis
Menoristas no Brasil e a Consagração das Crianças e Adolescentes
como Sujeitos de Direitos”. A exposição foi realizada pela pedagoga
Evanda Helena Bezerra Sobral e pela licencianda em Pedagogia
Edvania Soares Policarpo.
A pedagoga Evanda Helena B. Sobral discorreu sobre as Leis
elaboradas para as crianças e adolescentes no Brasil, destacando
que “até os anos de 1990, foram excludentes e desprovidas da garan-
tia de direitos” (informação verbal7). No contexto da Proclamação
da República, no final do século XIX, não havia uma única legisla-
ção voltada, especificamente, para proteger as crianças no Brasil.
Éramos uma sociedade que tinha libertado os escravos, por força
da Lei Áurea (1888), portanto, havia uma população de crianças

7 Evanda Helena Bezerra Sobral, “O Processo Histórico das Leis Menoristas no Brasil
e a Consagração das Crianças e Adolescentes como Sujeitos de Direitos” (palestra)
Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB, 27 de jul. de 2021

146
filhas de ex escravos, órfãs e abandonadas, chamadas de desvalidas,
cujo atendimento era de cunho caritativo e religioso. As crianças e
adolescentes que cometiam algum tipo de delito recebiam o mesmo
tratamento dado aos adultos, tendo como parâmetro o código penal
de 1890. Foi nesse contexto político da República que médicos e
juízes, influenciados pelos discursos internacionais, passaram a
defender a causa da infância. A criança que não era bem nascida,
passou a ser compreendida, ao mesmo tempo, como problema e
solução para o país. (FALEIROS, 2009, p. 47)
Apesar de algumas iniciativas pontuais, privadas, para aten-
der a infância desvalida, o Estado brasileiro aprovou a primeira Lei
regulamentando o atendimento das crianças e adolescentes em
1927, o Código de Mello Matos. Até o momento, as crianças e ado-
lescentes eram objeto de caridade, por parte da Igreja e de filantro-
pia, da parte de juristas, que criaram algumas instituições no Rio
de Janeiro e, em algumas capitais, as quais foram organizadas com
base em uma ideologia de nação moderna que cuida das crianças
porque são o futuro da nação. Nesse sentido, as chamadas Casas
Correcionais tinham uma proposta de cuidar da saúde, corrigir e
educar as crianças e adolescentes abandonados, órfãos e “delin-
quentes”. Inferimos que o Código de Mello Matos é a expressão mais
marcante da ideologia da classe dominante da época: combinando
repressão, higienismo e instrumentalização da criança pobre para
o trabalho, pois a infância era um privilegio das crianças bem nas-
cidas (RIZZINI, 2009).
Em 1979, em plena Ditadura Militar, o Código de Mello Matos
foi substituído pela Lei n.6.697, de 10 de outubro de 1979, ficando
instituído o Novo Código de Menores que adotou a doutrina da situ-
ação irregular, ou seja, os menores só seriam atendidos pelas ações
do Estado apenas quando se encontrassem em um estado de pato-
logia social. “A doutrina da situação irregular era entendida como
privação de condições essenciais a subsistência, saúde, educação,
por omissão ou irresponsabilidade dos pais / responsáveis ou
por maus tratos e/ ou exploração” (FALEIROS, 2009, p. 70). Neste
sentido, a pobreza e/ou falta de condições objetivas de vida, além

147
do abandono era culpa da família e/ou da criança, fazendo-se da
vítima réu. O Código de 1979 é considerado mais repressivo do que
o Código de Mello Matos.
A partir dos anos de 1980, teve início um lento processo
de redemocratização no país com a instalação da Assembleia
Constituinte, em 1985. A sociedade civil organizada foi chamada a
participar da elaboração da nova Constituição. Os principais atores
deste processo foram: o Movimento de Meninos e Meninas de Rua
(MMMR), a Pastoral do Menor, entidade ligada à Igreja católica, enti-
dades de direitos humanos, dentre outras organizações, que colo-
caram como pauta, “o reconhecimento constitucional da criança
como sujeito de direitos, através da apresentação de Emendas
Constitucionais em defesa dos direitos das crianças e adolescen-
tes brasileiros, que refletiam discussões internacionais, a exemplo
da Convenção Internacional das Nações Unidas sobre os Direitos
da Criança de 1989” ( informação verbal8). Em 1987, a Conferência
Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) exerceu um papel de destaque
em defesa das crianças e adolescentes, visto que “a Campanha da
Fraternidade teve como tema, Quem Acolhe o Menor, a Mim Acolhe”
(FALEIROS, 2009, p. 75).
É importante destacar que a luta da sociedade civil em prol
da defesa das crianças e adolescentes reverberou na Assembleia
Constituinte, através de forte articulação da Comissão Nacional
Criança Constituinte, criada a partir de uma portaria interminis-
terial, formada por vários órgãos do governo e da sociedade civil,
que conseguiu cerca de 1.200.000 assinaturas para aprovação
da Emenda Constitucional, além de realizar um forte lobby junto
aos parlamentares para a instauração da Frente Parlamentar
Suprapartidária, pelos direitos das crianças e adolescentes.
Ademais, foram organizados vários Fóruns em Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente (DCAs) por todo o Brasil.

8 Edvania Soares Policarpo, “O Processo Histórico das Leis Menoristas no Brasil e


a Consagração das Crianças e Adolescentes como Sujeitos de Direitos” (palestra)
Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, Pb ,27 de jul. de 2021

148
A partir da grandiosa luta dos atores supracitados, o artigo 227
da Constituição Federal expressou a concepção de criança cidadã
de direitos e garantiu prioridade absoluta na promoção, proteção
e defesa dos direitos, cuja responsabilidade é tripartite: família,
Estado e sociedade:

É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, explora-
ção, violência, crueldade e opressão. (BRASIL,
1988, art. 227)

A defesa das crianças e adolescentes considerados, historica-


mente, como “menores”, marginalizados pela situação de pobreza e
abandono, pela cor da pele e explorados como mão de obra barata,
culminou na aprovação da Emenda Constitucional, através dos
artigos 227, 228 e 229 da Carta Magna, consolidando-se uma nova
concepção a respeito das crianças e adolescentes brasileiras, que
passaram a ser cidadãs e cidadãos de direitos e o Estado brasileiro
inaugurou um novo paradigma de atendimento, tendo como princí-
pios o universalismo, a proteção integral e a prioridade absoluta, a
serem garantidos pela família, Estado e sociedade.
O quinto Encontro aconteceu no dia 31 agosto de 2021, tam-
bém realizado através da plataforma google meet. O tema foi “Paulo
Freire e os Direitos Humanos”, tendo a professora Dra. Elisabete
Carlos do Vale como ministrante. A palestrante esboçou pontos
principais de algumas das obras de Freire e fez uma conexão com
o atual contexto da sociedade brasileira. Abordou a importância de
se defender os direitos humanos, principalmente as minorias, res-
saltando o quanto, em virtude da conjuntura político-econômica e

149
social do Brasil, tem se negligenciado os direitos fundamentais à
dignidade humana de grupos que são oprimidos e marginalizados.
A professora destacou como Paulo Freire defendia os direitos
humanos e sua contribuição para se educar em direitos humanos.
No livro Pedagogia do Oprimido (FREIRE, 1987), o autor discute
sua luta em Defesa dos direitos e da humanização daqueles que
ele nomeia desumanizados. “A desumanização, que não se verifica,
apenas, nos que têm sua humanidade roubada, mas também, ainda
que de forma diferente, nos que a roubam, é distorção da vocação
de ser mais. É distorção possível na história, mas não vocação his-
tórica.” (FREIRE,1987, p. 15).
Freire assume uma postura de reconhecimento da desumani-
zação e negação de direitos como algo cabível de luta e transfor-
mação. Nesta perspectiva, cabe a importância da educação como
uma das principais ferramentas de transformação desta realidade.
“O que quero repetir, com força, é que nada justifica a minimização
dos seres humanos, no caso, das maiorias compostas por minorias
que não perceberam ainda que, juntas, seriam a maioria” (FREIRE,
2021, p. 98). Segundo o autor, a educação é fundamental para a
construção da autonomia e para o respeito da diversidade. Ele res-
salta a importância de que a educação seja libertadora, respeite as
diferenças, busque conhecer e entender o educando.
A professora também ressaltou alguns princípios da escola
cidadã, afirmando que “foi a partir da experiência da educação em
direitos humanos da gestão de Paulo Freire, na secretaria de educa-
ção de São Paulo, que esta proposta educativa passou a ser conce-
bida e disseminada em nosso país” (informação verbal9). A escola
cidadã traz um currículo que estimula a aprendizagem com base
nas experiências acumuladas ao longo da vida de cada educando e
enfatiza o respeito às diferenças e às diversidades culturais

9 Dra. Elisabete Carlos do Vale, “Paulo Freire e os Direitos Humanos” (palestra)


Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB, 31.de ago. de 2021.

150
No dia 28 de setembro de 2021, foi realizado o sétimo Encontro,
na modalidade remota com o tema “O ECA e as Questões Étnico-
Raciais e de Gênero no Currículo Escolar”. Realizaram a palestra, as
professoras: Dra. Margareth Maria de Melo e Dra. Lígia Pereira dos
Santos.
Em relação às questões de gênero no currículo escolar, a pro-
fessora Dra. Lígia Pereira ressaltou que “a situação das mulheres
varia na história, dependendo do espaço e do tempo, explicitando a
mulher como agente ativo na história da humanidade e pautando a
necessidade da busca pelas origens da hierarquia e das desigualda-
des presentes nas relações que se estabelecem entre as mulheres e
os homens na sociedade” (informação verbal10).
Nesse sentido, se apresentam como contribuições do femi-
nismo, a compreensão da existência de variadas concepções acerca
de mulher e do homem no ambiente escolar, cujas relações esta-
belecidas no lar se estendem à escola. A começar pela decoração
das escolas que, por vezes, são realizadas como se fossem a con-
tinuação do quarto da criança, despertando a reflexão de que as
escolas deveriam provocar maiores incentivos, no que diz respeito
às questões relacionadas à ciência. Tendo como base essa reflexão
acerca da organização e ornamentação do espaço escolar, infere-se
que elas refletem a concepção pedagógica da instituição educacio-
nal. Desse modo, quando as salas e os demais espaços escolares são
organizados imitando decorações de quarto feminino ou mascu-
lino, reforça-se a ideia de segregação de gêneros.
Sarti apud Silva e Podolak (2021, p. 199) discorre que a par-
tir de 1970, “abriu-se espaço tanto para a reivindicação no plano
das políticas públicas, quanto para o aprofundamento da reflexão
sobre o lugar social da mulher, desatualizando-o, pela consolidação
da noção de gênero como referência para a análise”. Nesse sentido,
o gênero é tido como indicador social de como se dá a educação

10 Dra. Lígia Pereira dos Santos, “O ECA e as Questões Étnico- Raciais e de Gênero no
Currículo Escolar”, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB, 28 de
set. de 2021.

151
pautada nos papeis/concepções do que é ser homem e o do que é
ser mulher. Tais concepções, estruturadas na percepção do gênero,
culminam na construção do “ser mulher” que designa a mulher
como sujeito do cuidado, gerando a necessidade da elaboração de
instrumentos políticos educacionais para a transformação da situ-
ação social da mulher.
A professora Margareth Maria de Melo, ao tratar da questão
étnico-racial no currículo escolar, fez um breve relato de sua inser-
ção no movimento negro e como esta experiência reverberou na sua
formação como pesquisadora e na atuação docente. Após o ano de
1988, a professora se inseriu no movimento negro, participando de
vários eventos, como seminários e encontros da Nova Consciência,
em Campina Grande, dentre outras atividades. A palestrante rela-
tou que, a cada ano, era realizado algo que marcasse o grupo.
Posteriormente, passou a compor o quadro de professores da UEPB
(em 1992, como professora substituta e, em 1993, como efetiva),
no Departamento de Educação. A partir deste período, formou um
grupo de mulheres que funcionou durante seis meses. As dificul-
dades sentidas na sustentação do grupo diziam respeito à falta de
prática de grupo de pesquisa. Porém, o que se tentou reproduzir, a
partir da experiência no movimento negro, nesse novo grupo foi a
militância. Entretanto, a sobrecarga de trabalho não permitiu que
tal grupo perdurasse e, com o ingresso no mestrado, acabou se
ausentando do grupo.
Em 2006, participando da comissão de reformulação do
curso de Licenciatura em Pedagogia, foi questionada, pela comis-
são, por que não se discutia a questão do negro no currículo do
curso tendo, como referência a Lei 10.639 de 2003, que trata das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira
e Africana emergindo, a partir desse processo, as inquietações para
direcionar suas pesquisas e ensino para as questões étnico-raciais.
É importante destacar que a Lei 10.639/2003, “Altera a Lei no
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, para incluir, no currículo oficial das

152
redes de ensino a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura
Afro-Brasileira’, e dá outras providências” (BRASIL, 2003, art. 26-A).
Dentre as providências, a Lei garante que:

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o


caput deste artigo incluirá o estudo da História
da África e dos Africanos, a luta dos negros no
Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na
formação da sociedade nacional, resgatando a
contribuição do povo negro nas áreas social,
econômica e política pertinentes à História do
Brasil. (BRASIL, 2003, art. 26-A)

No ano de 2006, a professora Margareth Maria de Melo foi con-


vidada por um colega do curso de História para participar de um
grupo que estava em formação, cujo objetivo era discutir a ques-
tão étnico-racial na universidade (UEPB). Em 2007, passou a par-
ticipar do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro e Indígena (NEABI),
o primeiro Núcleo do Estado da Paraíba. O Núcleo é formado por
professores dos cursos de História, Pedagogia, Sociologia e Serviço
Social do Centro de Educação/UEPB, Campus I e, também, por
alguns alunos, no qual se desenvolvem pesquisas, trabalhos de
extensão e um curso de especialização que está sendo planejado,
além de realizar o Abril Indígena e, em novembro, atividades rela-
cionadas ao Dia Nacional da Consciência Negra.
Como membro do NEABI, a professora começou a desenvol-
ver trabalhos de pesquisas voltados para o livro didático e a abor-
dagem das questões étnico-raciais em escolas municipais, além de
desenvolver sua tese de doutorado a partir das identidades negras.
O primeiro livro didático de História analisado na pesquisa conti-
nha apenas uma frase relacionada às pessoas negras. Na aborda-
gem dos livros didáticos, os negros eram tratados como minorias.
Porém, compõem grande parte da população. “Foi negado, por sécu-
los, seu protagonismo, bem como abordado, de forma inadequada,
o Movimento Abolicionista, protagonizado pelos negros, não pelos

153
brancos, diferentemente de como se mostravam nos livros didáti-
cos” (informação verbal11)
A professora Margareth Melo ressaltou que outras docentes
do Departamento passaram a realizar estudos e discussões rela-
cionadas a diversidade, gênero e questões étnico-raciais, as quais
possibilitaram que ocorresse a inserção do componente curricu-
lar que tratasse das questões étnico raciais, no Projeto Pedagógico
do curso de Licenciatura em Pedagogia (CEDUC/UEPB), com uma
carga horária de 30 horas aulas, insuficiente, em relação à impor-
tância e a complexidade do tema.

Considerações finais

As temáticas discutidas nos Encontros relatados possibili-


taram uma ampla reflexão acerca da necessidade de se abordar,
sistematicamente, nos currículos das instituições de educação
conteúdos sobre os direitos humanos e a perspectiva da Educação
Inclusiva. Foi destacada a importância do respeito às diferenças e a
valorização da diversidade, além de se abordar o processo histórico
de consagração das crianças como sujeitos de direitos, a perspec-
tiva de Freire sobre os direitos humanos e as questões étnico-ra-
ciais e de gênero no currículo escolar.
Constatamos que as reflexões e debates realizados foram sig-
nificativos e atingiram os objetivos gerais previstos: refletir sobre a
condição de cidadãos de direitos e realizar debates/estudos sobre
os direitos humanos; despertar a comunidade escolar e futuros
docentes para refletir, coletivamente, sobre a formação cidadã.
Das 106 pessoas inscritas, 43 atingiram os critérios para recebi-
mento do certificado, apesar de a frequência ter variado, sempre
para uma média maior de participação em relação a realização das

11 Margareth Maria de Melo, “O ECA e as Questões Étnico-Raciais e de Gênero no


Currículo Escolar”, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, Pb, 28 de
set. de 2021.

154
atividades assíncronas, disponíveis na sala do google classroom. Ou
seja, grande parte dos cursistas não realizaram as propostas de ati-
vidades, o que os impediu de serem certificados.
Em linhas gerais, avaliamos que o curso contribuiu com a for-
mação continuada dos futuros e atuais profissionais da educação
básica, isto porque tiveram a oportunidade de estudar e debater
questões necessárias e urgentes sobre os direitos humanos, direi-
tos das crianças e adolescentes e sobre cidadania. Esperamos ter
contribuído para a construção de conhecimentos sobre os direitos
humanos e, especificamente sobre o ECA e, para a formação críti-
co-cidadã das crianças e adolescentes e, demais atores da comuni-
dade escolar, visando promover e fortalecer a cultura do respeito
pelos direitos humanos e das crianças, na escola e na sociedade em
geral, e, sobretudo, para uma formação cidadã crítica, responsável
e comprometida com a cultura da não violência.
Em face do exposto, concluímos que um modelo de escola
inclusiva e comprometida com a defesa dos direitos humanos é a
escola que promove uma educação libertadora, na qual os sujeitos
tenham a possibilidade de exercer sua cidadania, de saírem da con-
dição de oprimidos, tornando-se emancipados.

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158
ESCRITA CRIATIVA E PRODUÇÃO DE SABERES
DE ESCRITORES(AS) PARAIBANOS(AS):
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DO CÂMPUS III

Verônica Pessoa da Silva1


João Matias de Oliveira Neto2
Mirella Karla Bezerra Crispim de Souza3

Introdução

Esse relato resulta das vivências decorridas no Projeto de


Extensão Aprofundando a escrita criativa e produção de sabe-
res: ampliando as redes e os espaços de diálogos com escrito-
ras e escritores paraibanos contemporâneos, que foi realizado
em sua segunda versão, no ano de 2021, de forma remota, conside-
rando a pandemia da Covid-19.
Ao idealizar este projeto, temos também por perspectiva atuar
na promoção de abertura da universidade para novos saberes; isto
é, saberes contingenciados fora do âmbito das universidades que,
para Boaventura de Sousa Santos (1994), emergem como saberes
emergentes para uma vida decente, aproximando a universidade
da sociedade e das ideias produzidas e materializadas no cotidiano,
proporcionando, por sua vez, um amplo canal de diálogo e troca de
experiências, com o objetivo de democratizar o acesso ao conheci-
mento e de repensar a própria universidade como espaço que, mais

1 (Coordenadora) Departamento de Educação/Centro de Humanidades – Campus


III (Guarabira/PB). Projeto: APROFUNDANDO A ESCRITA CRIATIVA E PRODUÇÃO
DE SABERES: REDES E ESPAÇOS DE DIÁLOGOS COM ESCRITORAS(ES)
PARAIBANAS(OS) CONTEMPORÂNEOS Cota: 2022 (EDITAL ESPECIAL Nº
003/2022 PROEX)
2 (Extensionista Colaborador)
3 (Bolsista)

159
do que criar projetos da extensão “de dentro para fora”, também
o faz de “fora para dentro”, reforçando o diálogo com a realidade
social.
Atentos ao fato de que o Campus III da UEPB é referência na
formação de professores, constituindo-se em cursos que priorizam
a licenciatura, o ensino e o aprendizado que nos conduz a repen-
sar o modelo de universidade que queremos, tal projeto também
objetiva a inclusão de novos conhecimentos na própria prática
pedagógica. Quais seja: o conhecimento sobre a produção de livros
artesanais, novas técnicas e saberes sobre a produção de literatura,
além de refletir sobre gêneros literários e a literatura paraibana, e
de sua aplicação na prática diária do professor.
Os resultados apontaram a importância de abordagens que
aprofundem os diálogos entre literatura e educação, especialmente
junto aos estudantes de graduação. Ao formar-se professores e pro-
fessoras nos cursos que abrangem o Campus III da UEPB, notada-
mente História, Geografia, Letras, Pedagogia e Direito, ofertamos
a oportunidade de vivência da linguagem da literatura aos nossos
estudantes enquanto uma “ontologia do presente”, isto é, um espaço
através do qual podemos refletir sobre questões sociais, políticas e
educacionais ao nos dispor a tomar contato com a própria experi-
ência do que é estar no mundo.
É através da literatura, sobretudo, que podemos tomar con-
tato com realidades das mais diversas. Daí a importância de ter-
mos, entre o grupo de escritores que integrou este projeto, escritas
e vivências negras, LGBTQIAP+, mulheres e de autores e autoras
paraibanas contemporâneos. Nesse diálogo com sua produção, os
estudantes foram instigados a, igualmente, produzir seus textos e
refletir sobre como se poderia dialogar com autores tão diversos
em sala de aula.
Ora, é a partir do legado deixado pela literatura que se pode
levar questões tão tangenciais à nossa formação histórica, geográ-
fica, linguística e educacional para a sala de aula. Os textos literários
e os autores contemporâneos que respondem por eles puderam

160
oferecer aos estudantes envolvidos no projeto um outro olhar
sobre a história local, sobre nossa própria geografia humana, sobre
a natureza e diversidade da linguagem no texto literário, bem como
da viabilidade de apropriação do texto literário como instrumenta-
ção e prática pedagógica, seja de letramento, seja de construção do
olhar crítico sobre o oprimido, a realidade nacional e suas imbrica-
ções com os problemas da sociedade brasileira.

Metodologia

Este projeto foi desenvolvido com a colaboração de docentes e


estudantes do Departamento de Educação e que atuam no Curso de
Pedagogia, por meio do diálogo, da construção coletiva e dos prin-
cípios da ação-reflexão-ação.
Por ocasião da pandemia da Covid-19 e da normativa ins-
tituída pela UEPB, e seguida pelo Campus III, os encontros entre
os participantes e os escritores e escritoras se deram através da
plataforma Google Meet. Desta feita, o escritor ou escritora convi-
dada, com dias de antecedência, se incumbia de nos enviar textos
literários de sua autoria e, posteriormente, os encontros se davam
na plataforma do Google Meet para a discussão das qualidades e
características literárias da obra, sempre observando sua inserção
no contexto das discussões sobre raça, gênero, identidade, cultura
e contemporaneidade.
Os debates, por sua vez, seguiam uma rotina de reiterar ques-
tões contemporâneas relacionadas à escrita criativa e produção de
saberes: colonialidade do saber/decolonialidade, lugar de fala na
literatura, questão narrador/personagem, dialética autor/narra-
dor, questões de gênero, raça e classe social, a historicidade local
nos textos literários, literatura brasileira e literatura paraibana.
Logo, buscou-se, através da escrita criativa, um esforço na intera-
ção com os saberes contemporâneos, nas mais diversas perspec-
tivas, como nos traz a noção de Boaventura de Souza Santos sobre
universo dos saberes intramuros e extramuros nas universidades.

161
Isto é, discutimos, em debates, questões contemporâneas relacio-
nadas à identidade de nossos autores e autoras, bem como de que
maneira essa identidade se articula com categorias de articulação
da diferença por gênero, raça, origem etc.
Também conformamos uma apreciação da lógica dos oprimi-
dos através da literatura, enfocando que muitos dos textos trazi-
dos por nossos autores e autoras convidadas abordavam questões
sociais e problemáticas psicossociais associadas ao negro, à mulher,
ao LGBTQIAP+ e ao nordestino num sentido geral. Refletir, pois,
sobre a experiência da literatura nordestina é parte de uma refle-
xão socio-histórica, mas também de como o reflexo do oprimido na
obra encontra ressonâncias na produção material de nossas vidas,
nas objetificações da realidade cotidiana em termos políticos e
sociais, como nos ensina Paulo Freire.
A experiência de debate dos textos literários nos trouxe ainda
o contato com esse lugar do “outro” que nos fala, isto é, dos autores
e autoras paraibanos e paraibanas contemporâneos que escrevem
a partir de seus lugares e à sua própria maneira vão se tornando
conhecidos pelos seus leitores. Tal proposta nos instiga a conhe-
cer, nos alunos e alunas extensionistas, escritores e escritoras em
formação. Daí apostarmos nos debates dos textos literários dos
escritores como formas de deslocamento e descentramento para a
compreensão da experiência cultural de um “outro” de forma hete-
rogênea e dinâmica.
Considerando a continuidade e, de certo modo, aprofunda-
mento da pandemia, bem como seguindo o protocolo da UEPB,
instituindo medidas de segurança sanitária da comunidade aca-
dêmica, os encontros permaneceram sendo realizados através da
Plataforma Google Meet. Importante considerar que tais encontros
constituíam também um acalento a jovens estudantes durante o
período de isolamento social suscitado pela pandemia da Covid-19.
Assim, os encontros eram permeados por um clima de reencontros
e de trocas afetivas importantes, sobretudo para aqueles e aquelas
cujo isolamento social lhes levava a se afastar de amigos e familia-
res próximos.

162
Os debates, por sua vez, foram sempre marcados por uma par-
ticipação ativa dos estudantes, que analisavam desde a trajetória
dos escritores e escritoras até as edições, cartografias e conteúdos
de suas obras literárias. Além da ampliação das formas de intepre-
tação dos escritos, sentimos, igualmente, a motivação de alguns
alunos participantes para se aventurarem no exercício da escrita.
Nesse ínterim, muitas ideias para futuros trabalhos de conclusão de
curso, estratégias pedagógicas e estímulo à leitura de obras literá-
rias contemporâneas também puderam ser percebidos.
A cada encontro, fazíamos uma avaliação, mapeando os ganhos
advindos do processo e extraindo as lições dos aprendizados. Com
uma frequência bastante regular, contando com uma média de 40
participantes, percebia-se um clima de cooperação, ânimo e curio-
sidade pelos escritores e escritoras convidados. Longe de haver
uma prática da pedagogia de viés bancário, com o autor ou autora
convidada falando para uma turma de alunos silenciosos, o diálogo
era algo recorrente e necessário para o aprendizado mútuo.
Ao final, utilizamo-nos do método de leitura dirigida no intuito
de promover esse deslocamento para o lugar do autor do texto e do
texto em si, como também nos utilizamos dos debates e das entre-
vistas com os escritores e escritoras convidados para dar o lugar de
voz a esse “outro” que nos fala. Assim, após o debate, os escritores e
escritoras convidados eram sempre instados a refletir para os par-
ticipantes sobre sua experiência como autor e autora, suas obras, os
detalhes dos textos socializados, seu processo de autodescoberta e
suas expectativas como autor e autora de literatura na e da Paraíba.
Concluindo as etapas mês a mês, resta que a experiência da lingua-
gem é uma experiência de pertença no mundo e, através dele, uma
forma de sentir-se nele.

163
Fundamentação teórica

Com mais de sete feiras literárias em seu território, a Paraíba


se firma como um Estado em franco desenvolvimento no número
de iniciativas para o apoio e incentivo à leitura e formação de novos
escritores, poetas, cordelistas e profissionais da produção edito-
rial. Assim, este projeto se firmou na ideia de exercer uma ativi-
dade de ensino e aprendizagem extracurricular que permitisse aos
estudantes, professores e demais convivas do Campus III da UEPB
um maior contato com formas alternativas de produzir e publicar
poesias e textos literários; novas maneiras de pensar a atividade
da escrita acadêmica, da escrita literária e da poética; auxiliar aos
estudantes na atividade da escrita, propiciando oficinas de apri-
moramento e de conhecimento dos gêneros e daqueles que atual-
mente estão em atividade.
Para fundamentar teoricamente este trabalho, nos ampara-
mos na pedagogia do oprimido e da autonomia, conforme lida em
Paulo Freire (2002), para fazer com que nossos estudantes passem
pela experiência da literatura como a de uma experiência sobre a
produção material da vida, identificando questões sociais, políticas
e econômicas que modificam nosso modo de ver o mundo e de per-
tencer a ele. Uma “ontologia do presente”, principalmente, que nos
permite ver a literatura mais do que como ferramenta, mas através
da possibilidade de uma epistêmica do presente, isto é, das deman-
das do presente e da materialização da vida (SOARES, 2014).
Importante ainda ressaltar o olhar de Boaventura de Sousa
Santos (1994; 1988) sobre os processos de descolonização das uni-
versidades, abertura para novas ideias e novos aprendizados advin-
dos dos movimentos sociais, dos grupos excluídos do processo de
conformação socio-histórica hegemônico de exclusão social e de
exclusão da participação política. Por isto, tivemos entre nossos
escritores e escritoras convidadas autores advindos do movimento
negro, LGBTQIAP+, movimento de mulheres e demais lugares de
pertença que nos permitam refletir sobre a produção de saberes a
partir da experiência destes indivíduos nestes grupos.

164
O lugar de produção do texto literário, enquanto um lugar de
pertença também político, nos leva a refletir sobre como a experi-
ência do autor e do texto dialoga com nossos próprios lugares de
pertença. É via que entendemos a literatura como um processo de
tradução de experiências de mundo, como o retrata Boaventura
de Sousa Santos, e como uma ontologia do presente, como destaca
Soares; ou seja, ao apresentar-se como um modo de ler o presente,
a partir de sujeitos e sujeitas subalternizados, podemos ter contato
com experiências vívidas de constituição do presente vivido por
elas. Assim, preocupamo-nos em dar uma conformação aos nossos
encontros de modo que não se excluísse mulheres, pessoas pretas
e pardas e LGBTQIAP+. Buscou-se, sobretudo, uma adequação da
seleção dos escritores às demandas contemporâneas, com vistas à
abertura da universidade para todos e todas.

Resultado e discussão

Além da divulgação dos produtos resultantes das oficinas nos


espaços de circulação de pessoas, no âmbito do Campus III da UEPB,
a sistematização dos dados do Projeto foi feita por meio de fotogra-
fias, filmes e registros escritos sobre a experiência dos estudantes
e demais envolvidos, tanto no projeto quanto nas oficinas referidas.
Além disso, ao manter uma página virtual sobre essa experiência,
reunimos relatos de experiências dos estudantes participantes da
oficina, suas produções e um canal de diálogo direto com os profis-
sionais ministrantes das oficinas de criação, produção e difusão de
obras literária na Paraíba.
A avaliação do projeto foi desenvolvida de modo contínuo,
tem como principais etapas: a) registro visual e escrito das ativida-
des das oficinas, b) sistematização dos debates com os estudantes
envolvidos na execução das ações planejadas, c) autoavaliação dos
estudantes envolvidos no projeto e d) avaliação dos profissionais
ministrantes dos temas/módulos. Utilizamos, ainda, uma caixa de
sugestões e avaliação permanentes quanto às ações realizadas,

165
além de disponibilizar um e-mail oficial do projeto e um grupo de
um aplicativo de mensagens para fins de comunicação.
Os alunos envolvidos na execução do projeto participaram de
reuniões quinzenais para avaliação e aperfeiçoamento das vivên-
cias, oficinas e demais atividades resultantes deste processo. As
ações deste Projeto, por fim, estiveram vinculadas às realizações do
Grupo de Pesquisa PELEJA – Pesquisas e Estudos em Letramentos
de Jovens e Adultos, registrado desde o ano de 2013, com ações
diversas no campo da Educação Popular/Educação de Jovens e
Adultos.

Considerações finais

O Projeto permitiu o aprofundamento das discussões e a par-


ticipação de estudantes dos diversos cursos da UEPB na atividade
da Extensão Universitária. Apesar das dificuldades geradas pela
pandemia da Covid-19 e da utilização de ferramentas virtuais no
ensino, avaliamos que o desenvolvimento do Projeto de forma
remota garantiu uma melhor adequação para a participação dos
estudantes, sobretudo por ser ofertado em horário intermediário,
no intraturno das aulas.
A pandemia nos trouxe momentos complexos e desafiadores,
mas a adesão dos estudantes, o legado da experiência de um ano
de trabalho remoto e a adesão de diversos escritores e escritoras
paraibanas nos permitiu avançar, especialmente no que diz res-
peito às discussões.
Ao final do processo, o interesse dos estudantes apontou para
a criação de um grupo de leitura literária como possibilidade de
continuidade dos estudos e a produção de trabalhos nesse campo
de saber.
Esperamos, com essa iniciativa, ter contribuído para que a
extensão cumpra seu papel de chegar às comunidades em suas
necessidades e interesses e, sobretudo, para que a universidade
pública realize plenamente a tríade ensino-pesquisa-extensão.

166
Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à


prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

JÚNIOR, José de Sousa Campos. Tendências da literatura paraibana


de autoria feminina. Sociopoética. Campina Grande: Programa de
Pós-Graduação em literatura e interculturalidade. v. 1, n. 21 (2019).

SANTOS, Boaventura de Sousa. Da ideia de universidade a uni-


versidade das ideias. In: ____. Pela mão de Alice. Porto: Edições
Afrontamento, 1994.

____. Um discurso sobre as ciências na transição para uma ciência


pós-moderna. Estudos Avançados. vol.2, no.2 São Paulo, Mai/Ago,
1988.

SOARES, E. V. Embora lidando com literatura, você está fazendo socio-


logia. Dossiê: Diálogos do Sul. Civitas, Rev. Ciênc. Soc. 14 (1) • Jan-
Apr 2014. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2014.1.16183

SILVA, Verônica Pessoa da. No vai e vem da esperança: um balanço


dos processos migratórios a partir dos saberes e aprendizados
populares no Nordeste brasileiro. Tese (Doutorado em Educação).
Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, p. 210. 2013.

167
TELEATENDIMENTO NA CEFALEIA TENSIONAL E
ALGIAS NA COLUNA DURANTE O PERÍODO PANDÊMICO

Taís Santos Vieira1


Elivelton Duarte dos Santos2
Wilza Aparecida Brito de Oliveira3
Dra. Kelly Soares Farias4
Dra. Maria do Socorro Barbosa e Silva5

Introdução

A cefaléia é definida como uma algia em qualquer região cra-


niana, facial ou craniofacial. Tem uma prevalência muito elevada
na população em geral, sendo uma das manifestações clínicas mais
comuns na prática médica. Apesar de ser uma síndrome bastante
incapacitante, não tem sido dada a devida atenção pelos clínicos,
levando não raramente a diagnóstico errôneo e, consequente-
mente, a um tratamento inadequado (OLIVEIRA, 2011).
Causadora de forte impacto socioeconômico na saúde pública
é a algia que mais prevalece em jovens em idade produtiva. Fatores
genéticos explicam a maior suscetibilidade de algumas pessoas a
apresentarem maior frequência e intensidade dos sintomas, e os
fatores ambientais como a preocupação e a ansiedade são poten-
ciais desencadeadores dela (MEDEIROS, 2013). Contudo, há

1 Acadêmica do Curso de Fisioterapia; UEPB, Rua Baraúnas, 351,Campus I, Campina


Grande- PB.
2 Acadêmico do Curso de Fisioterapia; UEPB, Rua Baraúnas, 351,Campus I, Campina
Grande- PB.
3 Acadêmica do Curso de Fisioterapia; UEPB, Rua Baraúnas, 351,Campus I, Campina
Grande- PB.
4 Professora do Departamento de Fisioterapia UEPB, Rua Baraúnas, 351, Campus I.
5 Coordenadora do Programa de Extensão Cefaleia do tipo tensional e algias na
coluna - Oficina de Massagem, Rua Baraúnas, 351, Campus I, Campina

169
estudos que apontam uma maior frequência desse tipo de cefaleia
no gênero feminino, em pessoas com idade inferior a 55 anos e
uma estreita relação com o estresse (FRIEDMAN, 2010; MEDEIROS,
2013; QUEIROZ, 2008).
Uma das causas de algias musculares e cefaleias do tipo tensio-
nal podem estar associadas a má postura, causando encurtamento
muscular e dores. A má postura pode ser ocasionada por uma vida
estressante, maus posicionamentos laborais, maus hábitos postu-
rais, o que pode acarretar uma vida sedentária. Os maus hábitos
posturais estão intimamente ligados à limitação da amplitude das
articulações, da extensibilidade dos músculos e da plasticidade dos
ligamentos e tendões (MOLINARI, 2000).
Devido à pandemia da COVID-19, no Brasil, as primeiras medi-
das de isolamento social começaram a ser adotadas em março
de 2020 (GARCIA; DUARTE, 2020 apud SILVA et al, 2020). Sendo
assim, as restrições sociais impostas interromperam ou limitaram
a realização de atividades de vida diária das pessoas, impactando,
inclusive, no cotidiano daquelas que necessitavam deslocar-se até
centros de reabilitação especializado (CUBO, 2020; REQUIA et al.
2020 apud SILVA et al, 2020).
Diante desse cenário, as atividades presenciais do projeto de
extensão cefaleia do tipo tensional e algias na coluna - Oficina de
Massagem foram paralisadas, como alternativa de manter o projeto
ativo e manutenção do atendimento a comunidade, tomou como
medida tomadas a adesão ao Teleatendimento/Telereabilitação,
tendo como objetivo, atenuar algias musculares na coluna ver-
tebral e cefaleia do tipo tensional através do desenvolvimento de
materiais de orientações posturais, vídeos de automassagem ela-
borados pelos discentes, bem como alongamentos que poderiam
ser realizados pelos participantes em seus próprios domicílios. O
teleatendimento elimina esse tempo para pacientes e médicos, tor-
nando a experiência mais confortável. Além disso, o apoio familiar
aumenta a efetividade do paciente para aderência ao tratamento
(ALMATHAMI et al., 2020.

170
O teleatendimento, recurso que abrange a telereabilitação
pode ser definido como o uso de tecnologias de telecomunicação
para levar cuidados de saúde a pacientes que estão distantes de um
profissional e aprovada pela resolução no 516 de 20 de março de
2020 pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
(COFFITO). Esta estratégia de telereabilitação não se mostra supe-
rior à qualidade do atendimento presencial tradicional, no entanto,
a prática de telereabilitação é associada com resultados compará-
veis e foi a solução encontrada para a situação pandêmica (SILVA et
al, 2020).
A telessaúde se dá pelo contato entre o profissional de saúde e
o paciente, quando os dois estão separados por distância. Esse con-
tato pode ocorrer de maneira síncrona, ou seja, em tempo real, por
meio de chamadas telefônicas ou videochamadas; ou de maneira
assíncrona na qual a informação é armazenada e encaminhada
por mensagens instantâneas (SMS) e e-mails (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2017). Sendo assim, as ferramentas voltadas para
telessaúde/telereabilitação possuem potencial para impactar posi-
tivamente os serviços de atenção à saúde, aumentando a acessibili-
dade, proporcionando manutenção dos cuidados de reabilitação e
reorganização dos serviços (AQUINO et al., 2020).
A relevância dos atendimentos e ações realizadas pelo projeto
dá-se através de medidas eficazes que possibilitam a promoção
da saúde, tendo por finalidade contemplar a comunidade campi-
nense e circunvizinha, além de docentes, funcionários e estudan-
tes da própria instituição de ensino. Assim, este projeto atinge uma
das principais metas do programa de extensão universitária, que
é integrar e interagir educação, cultura e saber científico de forma
indissociável através do ensino e da pesquisa, executando o vínculo
transformador entre universidade e sociedade.

171
Fundamentação teórica

Aproximadamente 95% das pessoas têm ou terão um episó-


dio de cefaléia ao longo da vida. Estudos epidemiológicos apontam
que a prevalência da cefaléia ao longo da vida é elevada (94% dos
homens e 99% das mulheres) e cerca de 70% das pessoas apresen-
taram o sintoma no último ano. Nos ambulatórios de clínica médica,
a cefaleia é a terceira queixa mais frequente (10,3%), suplantado
apenas por infecções de vias aéreas e dispepsias, nas Unidades de
Saúde, a cefaleia é responsável por 9,3% das consultas não agenda-
das, e nos ambulatórios de neurologia é o motivo mais frequente de
consulta (SPECIALI, 2018)
Os mecanismos envolvidos na geração das cefaleias do tipo
tensional, por serem controversos e sua fisiopatologia pouco elu-
cidada, sugerem envolvimento de processos centrais de disfunção
antinociceptiva e periféricos de comprometimento muscular. O
aumento das contrações musculares, decorrentes de tensão emo-
cional, elevam os níveis de catecolaminas circulantes, que por sua
vez, provocam a contração de fibras musculares. Assim, a ansie-
dade, a depressão e o estresse podem desencadear crises de cefa-
leia do tipo tensional (BOSCHETTI, 2012).
As algias da coluna, por sua vez, afetam em torno de 70% a
80% da população adulta em algum momento da vida e são con-
sideradas uma das razões mais comuns de aposentadoria precoce
por incapacidade total ou parcial (BRAGA, 2011).
A fisioterapia realiza diversas atividades curativas e preventi-
vas, trabalha evitando complicações possíveis em saúde e uma das
atuações desse profissional é justamente a prevenção em algias da
coluna vertebral. O fisioterapeuta é um dos profissionais funda-
mentais para essas abordagens. (CASELLATO, 2020)
Segundo Alencar e Matias (2010), uma das manobras tera-
pêuticas utilizadas para proporcionar melhora das característi-
cas da cefaléia e algias da coluna é o alongamento. O alongamento
aumenta a mobilidade dos tecidos moles por promover aumento do

172
comprimento das estruturas encurtadas, objetivando um aumento
da flexibilidade e de amplitude de movimento (ADM).
Além disso, outra abordagem baseada nas evidências cien-
tíficas para melhorar a qualidade de vida destes indivíduos é a
educação em saúde desenvolvida por meio das orientações postu-
rais. Nestas orientações, trabalha-se a conscientização sobre man-
ter uma relação adequada entre os segmentos do corpo e entre o
corpo e o ambiente para realizar uma determinada tarefa. Jornadas
longas de trabalhos e de estudos favorecem a maiores tempos na
postura sentada, o que ocasiona sobrecarga dos músculos e arti-
culações, levando a fadiga muscular e dores na coluna vertebral
(BRAGA, 2011).
Diante do cenário pandêmico, Darzi et al. (2016) afirmam que
aumentar o acesso e otimizar o uso dos serviços de saúde já dispo-
níveis por meio da oferta de “reabilitação baseada na comunidade”
e “reabilitação em casa” são modalidades viáveis e aceitáveis para
melhorar os resultados da reabilitação. O uso dessas tecnologias
de informação e comunicação (TIC) possui um importante papel
na promoção da cobertura universal de saúde, podendo ocorrer
de diferentes formas, como por exemplo, através da Telessaúde e
do m-Health (mobile-Health) (DIAS, 2019). O m-Health é definido
como o uso de dispositivos móveis, como telefones celulares, nas
práticas de saúde. Esta modalidade tem aumentado seu potencial
devido ao crescimento exponencial mundial do uso de dispositivos
móveis (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017).
O teleatendimento é uma aliada importantíssima no sistema
de saúde do Brasil, principalmente no enfrentamento do COVID-19,
pois ela forneceu serviços direcionados para o setor da saúde, auxi-
liando o atendimento dos profissionais além disso, durante esse
período pontual, esse sistema foi indispensável na comunicação
dos usuários/pacientes para com os profissionais sem precisar rea-
lizar o deslocamento até os serviços de saúde, conseguindo levar
mais conforto e paz para o equilíbrio emocional dos indivíduos (
BRITO BO e LEITÃO LPC,2020).

173
Metodologia

O formulário online para inscrição dos participantes foi divul-


gado no site da UEPB e permaneceu disponível por sete dias para
realização da inscrição. Posteriormente, os extensionistas faziam a
triagem, contactaram os participantes e os convidaram para a rea-
lização da avaliação física.
Originalmente, o projeto era realizado na Clínica Escola de
Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba. O primeiro con-
tato com os participantes era por meio da anamnese. Na ocasião,
além da identificação pessoal, eram investigados sinais e sintomas
clínicos e, em seguida, os participantes se submetiam a uma avalia-
ção física criteriosa da Coluna Vertebral ou específica da Cefaleia
Tensional, de acordo com a necessidade de cada um.
Ainda neste primeiro contato, eram dadas orientações pos-
turais básicas a todos pacientes, que além de serem trazidas em
formato de folder eram demonstradas pelos extensionistas. Essas
orientações tinham o intuito de chamar atenção quanto à postura
corporal, autocorreção e consciência corporal , integrando-os aos
hábitos de vida diários.
Em consequência da pandemia e respeitando as medidas de
isolamento social, o projeto teve seus atendimentos presenciais
interrompidos após uma semana de atendimento presencial e
passou por modificações em sua abordagem de avaliação e trata-
mento visando a qualidade de vida dos participantes inscritos. Em
razão disso, os participantes foram informados sobre as mudanças
e aqueles que aceitaram continuar na nova metodologia de teles-
saúde, receberam o atendimento via Google Meet e WhatsApp,
tanto de forma síncrona como de forma assíncrona.
Reuniões semanais ou quinzenais eram realizadas via Google
Meet entre os coordenadores e extensionistas do projeto com o
objetivo de estabelecer estratégias de abordagem, comunicação
e instrução com os participantes dessa nova modalidade de aten-
dimento. Um novo cronograma de atendimentos foi proposto de

174
acordo com as queixas mais comuns entre os participantes que já
haviam sido avaliados e os atendimentos tiveram início via disposi-
tivo móvel, mais especificamente utilizando o aplicativo WhatsApp,
que foi ode melhor adaptação por parte dos participantes.
Quanto ao protocolo de atendimento, a conduta terapêutica
proposta/aplicada tinha embasamento científico e os mesmos
objetivos terapêuticos dos encontros presenciais. Os atendimen-
tos duravam em média, 30-40 minutos, sendo realizado uma vez
por semana. A cada sessão era encaminhado, aos participantes,
um material produzido pelos extensionistas com o tema proposto
do dia, de acordo com o cronograma. A partir disso, o material
era apresentado ao participante para sanar as possíveis dúvidas
durante a reunião on-line e/ou por meio de áudios e mensagens
de texto. Após oito encontros online, o cronograma era encerrado e
iniciava-se um novo ciclo de atendimentos com outros participan-
tes, totalizando dois ciclos.
Quanto ao cronograma, foram elaborados portable document
format, folders e vídeos sobre respiração consciente, orientações
posturais, auto massagem facial, no couro cabeludo e nos segmen-
tos cervicais, torácicos e lombares da coluna vertebral, além de
alongamentos para a região cervical, torácica, lombar e medidas
de autocuidado. Os métodos descritos anteriormente eram aplica-
dos de acordo com a necessidade de alívio álgico do participante.
Pensando na divulgação e alcance de um público maior, todo os
materiais que eram compartilhados com os pacientes durante o
teleatendimento eram divulgados também na rede social Instagram.

Resultados

Durante o ano de 2020 dentre os 121 inscritos, nos perío-


dos letivos 2020.1 e 2020.2 no Projeto de Extensão Oficina de
Massagem, foram selecionados 55 participantes para prestação de
atendimento, sendo destes 70,9% (n=39) mulheres e 29,1% (n=16)
homens. Em relação à ocupação dos participantes, a amostra foi

175
composta por 18 estudantes, 1 doméstica, 2 jornalistas, 1 aten-
dente de telemarketing, 1 motorista, 7 professores, 5 assistentes
administrativos, 3 técnicos laboratoriais, 1 auxiliar de biblioteca, 1
advogada, 1 agente comunitário de saúde, 1 analista de sistemas,
2 aposentadas, 1 assessora de cerimonial, 2 assistentes técnicos, 1
auxiliar de serviços gerais, 2 funcionários públicos, 1 nutricionista,
2 psicólogas, e 2 vendedoras.
No que diz respeito à localização da dor, 25,5% (n=14) usuá-
rios queixavam-se de cefaléia do tipo tensional e 74,5% (n=41) se
queixavam de dores na coluna. Dentre os 41 usuários que se quei-
xavam de dor na coluna, 7,3% (n=3) usuários referiram dor ape-
nas na coluna cervical, 2,4% (n=1) referia dor apenas na torácica e
4,9% (n=2) referia dor apenas na lombar. Adicionalmente, 56,1%
(n=23) dos pacientes relataram dores em mais de uma região (ex.:
cervical e torácica, torácica e lombar, cervical e lombar) e 29,3%
(n=12) pacientes apresentavam dor nas regiões cervical, torácica
e lombar.
De acordo com estes dados, a localização da dor entre os par-
ticipantes foi em mais de uma área da coluna vertebral. Assim, as
sessões de teleatendimento foram direcionadas aos participantes
de acordo com a sua sintomatologia individual, para um maior
aproveitamento e efetividade. Todavia, ao longo dos atendimentos
e em meio à difícil situação pandêmica, alguns participantes desis-
tiram dos atendimentos, e assim, permaneceram até o último aten-
dimento apenas 50,9% (n=28) dos participantes.
Apesar destas desistências, obtivemos bons resultados com os
pacientes que se mantiveram frequentes aos 8 atendimentos de 30
minutos de duração cada um. Uma forma de comprovar foi através
da análise dos dados da Escala Visual Analógica (EVA) (FIGURA 1),
sendo a inicial coletada na inscrição do usuário e a final coletada no
último dia de atendimento, considerando de 0 a 2 sem dor ou dor
leve, 3 a 7 dor moderada e 8 a 10 dor intensa:

176
FIGURA1 - Eva dos pacientes atendidos no período 2020.1

EVA dos pacientes atendidos no período 2020.1

Pacientes EVA Inicial EVA Final


A.S.R. 4 2
A.T.C 9 6
D.V. 8 7
E.A.L. 7 5
E.G.A 10 7
G.A.B 4 2
G.M.S 8 3
G.P.G.M. 8 5
H.A.A. 9 6
I.L.C 7 1
I.C.G. 8 2
I.K.C.P. 8 6
J.A 8 6
J.A.B.M. 6 2
J.S.R.C. 8 3
K.B.P. 6 1
K.M.O.R. 5 0
L.M.S.S 8 3
M.A.M.F 8 2
M.R.B.A 7 2
M.S.B.R 9 5
R.B.M.S 8 6
R.D.S.S 8 5
R.P.E 7 1

177
EVA dos pacientes atendidos no período 2020.1

S.A.S. 7 5
T.B.R 7 5
T.S.A. 4 2
Y.S. 7 5
Fonte: Elaborada pelo autor, 2022.

Por fim, após a aplicação do cronograma proposto, todos os


usuários relataram diminuição do quadro álgico após os atendi-
mentos, que foi ratificado a partir da análise da EVA (FIGURA 2).

FIGURA 2 - Nível de Alívio da Dor Após os Atendimentos

Fonte: Elaborada pelo autor, 2022.

Além disso, os pacientes assistidos relataram que o atendi-


mento remoto contribuiu para a melhora da qualidade de vida. Dos
28 usuários que se adaptaram a nova modalidade, 67,9% (n=19)
afirmam que os atendimentos amenizaram a sensação de estresse,
35,7% (n=10) melhorou questões de ansiedade, 85,7% (n=24)
promoveu sensação de relaxamento, em 50% (n=14) instigou uma
rotina de autocuidado, em 42,9% (n=12) incentivou a prática de
atividade física, em 46,4% (n=13) propiciou qualidade de sono e
apenas 3,6% (n=1) afirmou que não houve melhora.

178
Discussão

Diante dos resultados obtidos, podemos afirmar que, apesar


das dificuldades encontradas em razão da pandemia da COVID-19,
a utilização das mídias digitais possibilitou a continuidade das ati-
vidades do projeto. Houve adaptação, colaboração e dedicação dos
extensionistas e participantes para a efetividade e eficiência dos
objetivos do projeto. Estes dados estão de acordo com a literatura,
uma vez que a utilização dessa estratégia tende a se tornar cada
vez maior no contexto da globalização, com a universalização das
telecomunicações e o aumento da inclusão digital (CAMPOS et al.,
2009; OLIVEIRA; JACQUES, 2006).
O uso do teleatendimento na área da saúde, tem apresentado
resultados positivos, alguns autores destacam vários serviços que
podem ser ofertados nesse formato, como triagem e prevenção,
permitindo novas possibilidades para o futuro, especialmente após
a pandemia de COVID-19. Neste caso, a telemedicina é um facilita-
dor no gerenciamento do cuidado à distância, com baixo custo e
alta cobertura (CAETANO et al,2020).
O teleatendimento apresenta potencial econômico e social ao
gerar inovações, demandar e incorporar avanços tecnológicos de
outras áreas impulsionando diferentes indústrias a democratizar
o acesso aos serviços de saúde, proporcionando estratégias para o
cuidado, corroborando assim para a ampliação do acesso à saúde,
através dos meios digitais (MALDONADO; MARQUES; CRUZ, 2016).
Apesar desta facilidade de acesso, nem todas as pessoas sen-
tem-se contempladas pelo cuidado pelas vias digitais, um ponto a
se destacar é que houve, nos meses iniciais do isolamento social,
um bombardeio às telas. Neste sentido, neste projeto, houve desis-
tência por parte de alguns pacientes. Dentre as várias justificativas,
além do mencionado anteriormente, é importante destacar que o
próprio isolamento social foi um fator de risco para o desenvolvi-
mento de manifestações psíquicas e alterações comportamentais, o
que pode ter favorecido a desistência. (SOUZA et al,2021), além da

179
falta de segurança em meios virtuais e pela dificuldade ou falta de
habilidades com os equipamentos/meios digitais (PORTNOY J, et
al., 2020).
Os participantes que compuseram a nossa amostra relataram
redução do quadro álgico e consequentemente, melhora em aspec-
tos da qualidade de vida. Araújo, et al (2020) relataram que durante
o teleatendimento de pacientes que tiveram COVID -19 durante a
pandemia era percebida a satisfação do atendimento por meio das
mídias digitais, sanando dúvidas sobre sintomas e características
da COVID-19, com alívio dos sintomas e gratidão pela prestação
desse tipo de assistência, além da possibilidade da continuidade
do cuidado e do vínculo paciente-profissional. Aqui, observamos o
mesmo nível de satisfação e gratidão ao final de cada ciclo de pro-
jeto, por parte dos participantes e extensionistas.

Conclusão

A realização deste projeto com empenho e assiduidade possi-


bilitou alcançar resultados positivos, sendo notório a cada sessão
realizada. Isso se deve a melhora significativa no quadro álgico dos
participantes, acarretando predomínio ao final dos atendimentos
uma diminuição de sensação de estresse e ansiedade. Além disso,
promoveu sensação de relaxamento, instigou uma rotina de auto-
cuidado, incentivou a prática de atividade física e propiciou quali-
dade de sono.
A TICs facilitou e viabilizou a execução do projeto Oficina de
Massagem ao formato online durante este período pandêmico e de
tanta vulnerabilidade enfrentada pelo mundo. O uso desta tecno-
logia gerou uma ação conjunta e participativa dos acadêmicos de
Fisioterapia à comunidade Campinense e cidades circunvizinhas.
Dessa maneira, pode-se dizer que o teleatendimento mostrou-se
como uma nova forma de cuidado ao paciente, principalmente aos
indivíduos que apresentavam entraves quanto à locomoção até a
instituição para serem atendidos pelo projeto, ou seja, fomos além
da estrutura física, promovendo saúde mesmo que à distância.

180
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183
RELATO DE EXPERIÊNCIA PROJETO ATIVA IDADE:
INTERDISCIPLINARIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA

Lívia Maria Almeida de Araújo1


Ricarlly Almeida de Farias2
Vânia Maria Oliveira de Farias3
Renata Cardoso Rocha Madruga4
Claudia Holanda Moreira5

Introdução

A interdisciplinaridade, que segundo Japiassu (1976), é muito


mais do que um conceito teórico, ela surge para superar a fragmen-
tação entre o conhecimento e a prática, proporcionando a constru-
ção de um diálogo entre as disciplinas.
Dessa forma, na interdisciplinaridade não existe a superva-
lorização de um campo do conhecimento, procura-se promover a
integração e desenvolvimento dos diversos campos visando a for-
mação de alunos que dialoguem entre si e entre os demais cursos,
desenvolvendo pesquisas, reflexões e atividades sobre temas com a
contribuição de cada um deles (DA SILVA, 2019).
Entretanto, Perez (2018) apresenta uma reflexão sobre a ado-
ção do termo e as consequências sobre o entendimento do que seria
a interdisciplinaridade. Segundo ela, um problema que poderia vir
a surgir refere-se à criação de uma supremacia do conhecimento se
essa for interpretada como uma união de disciplinas, que poderia

1 ([email protected])
2 ([email protected])
3 ([email protected])
4 ([email protected])
5 ([email protected])

185
impactar “anulando, inclusive, os pressupostos teóricos e metodo-
lógicos de um campo do conhecimento’’ (p. 464).
Nos cursos de bacharelados de progressão linear, apesar de
ser comum haver a orientação para que certas disciplinas sejam
ministradas de modo interdisciplinar, é a fragmentação do saber,
indo na contramão da interdisciplinaridade e impactando sobre a
formação do futuro profissional (PEREZ, 2018). Dessa forma, mui-
tos discentes recorrem aos projetos de extensão universitária inter-
disciplinares disponibilizadas pela sua instituição de ensino, para
ter essa experiência prática mais ampliada.
Nesse sentido, como abordado por Ribeiro e colaboradores:

[...] a extensão torna-se uma ferramenta impor-


tante de inserção no meio profissional. Além
disso, promove proatividade e autonomia no
processo de aprendizagem/desenvolvimento,
concedendo oportunidades de conhecimento
das realidades locais, possíveis espaços de atu-
ação profissional (RIBEIRO et al, 2016, p. 61).

Com o acelerado crescimento da população idosa e a complexi-


dade que envolve o processo do envelhecimento, o desenvolvimento
de atividades interdisciplinares com idosos vem demonstrando
resultados bastante positivos, tendo em vista que o atendimento
integral aos idosos é mais eficaz quando são baseados nessa prá-
tica. Além da melhoria da qualidade e da continuidade do cuidado
prestado a essa população, essa prática contribui para uma visão
abrangente do envelhecimento humano, contemplando pesquisas
sobre as principais teorias e as subjetividades relacionadas à idade,
e da atuação em equipe, possibilitando aos alunos uma visão inte-
gral do cuidado, desenvolvimento de habilidades de comunicação
e colaboração interprofissional (FRIZON; PICHLER; DE MOURA
SCORTEGAGNA, 2019).
Com a declaração em março de 2020 da pandemia do Covid-
19 (SARS-CoV-2) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a

186
aplicação dos protocolos de isolamento social como medida sani-
tária para deter o contágio deste vírus até então desconhecido, o
desenvolvimento das atividades interdisciplinares de extensão
universitária, principalmente aquelas voltadas às pessoas idosas,
tendo em vista que essa população é a mais susceptível ao vírus,
tornou-se um desafio. Assim, além dos vários setores que tiveram
suas atividades paralisadas, o meio acadêmico também teve que se
adaptar a essa nova realidade (ROMÃO; DA SILVA JÚNIOR, 2022;
NUNES et al., 2021).
O presente artigo tem por objetivo descrever as atividades
interdisciplinares realizadas pelo projeto de extensão “Ativa Idade
- Envelhecimento Saudável na Comunidade” durante a pandemia.

Descrição e análise teórico-metodológicas

Com o advento da pandemia do Covid-19, o mundo entrou em


um estado de emergência sanitária. Isso ocorreu, visto que, esse
vírus, muitas vezes, proporciona uma infecção respiratória aguda
de evidente potencialidade que é provocada pelo Sars-Cov-2. Apesar
do organismo humano não ser o seu hospedeiro natural, as con-
sequências causadas pelo vírus foram e são preocupantes. Desta
forma, a saúde passou a ter um destaque, visto que, este patógeno
possuía uma alta taxa de proliferação e os conhecimentos científi-
cos que existiam eram muito escassos (CARMO et al, 2021; COSTA
et al., 2021; HAMMERSCHMIDT; SANTANA, 2020).
É importante ressaltar que todos os indivíduos têm a possibi-
lidade de ser infectado pelo novo coronavírus, contudo os idosos
foram considerados do grupo de risco, pois estes possuem comor-
bidades, como hipertensão, diabetes mellitus, doenças cardiovas-
culares e outras. Assim, caso esses indivíduos sejam contaminados
existe uma maior probabilidade de irem a óbito. Nesse sentido,
com a intenção de protegê-los, o distanciamento social surgiu como
uma solução eficiente, já que era preciso desacelerar a transmissão
(COSTA et al., 2021; VELHO et al, 2020).

187
Esse artigo trata-se de um relato de experiência com idosos
de uma comunidade na Cidade de Grande-PB. As atividades que
serão aqui relatadas ocorreram entre os anos de 2021 e meados de
2022, que foram adaptadas à nova realidade advinda da pandemia
do Covid-19.
Vale salientar que:

O ponto de partida para toda ação extensio-


nista relacionada a qualquer tema, inclusive
para a COVID-19, centra-se em apropriar-se
no maior conhecimento possível acerca do
tema, que é muito novo, bem como elaborar
um conhecimento próprio capaz de ecoar nas
necessidades do cenário social. Desse modo,
os envolvidos na extensão universitária podem
alcançar um sólido e crítico desvelar da reali-
dade e possibilitar a participação da sociedade
em suas atividades tanto como colaboradores
quanto como avaliadores (MOURA, 2020, p.
57).

O projeto de extensão “Ativa Idade - Envelhecimento Saudável


na Comunidade” atua desde 2015 desenvolvendo atividades de
promoção e educação em saúde voltada para os idosos atendidos
pela Unidade Básica de Saúde Antônio Ventura localizado no bairro
do Cinza em Campina Grande-PB, pautadas nas estratégias de ação
da Política Nacional de Promoção à Saúde.
A equipe de extensionistas do projeto envolve alunos dos
cursos de Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia,
Jornalismo, Odontologia, Psicologia e Serviço Social, visando con-
tribuir para a formação de profissionais humanizados e com com-
promisso social de diferentes áreas.
O projeto se propõe a observar e descrever as características
demográficas e socioeconômicas dos idosos contemplados, con-
tendo informações relativas à classe social, renda e escolaridades,

188
como também informações relativas a saúde dos idosos; avaliar as
informações referentes ao acesso aos serviços de saúde, autoper-
cepção e morbidade referida; motivar os idosos a serem agentes
multiplicadores de saúde; propor ações de promoção de saúde geral
e Educação em Saúde, propiciando a aquisição de conhecimentos
básicos de saúde e desenvolvimento crítico sobre saúde; estimular
a criatividade dos extensionistas durante a socialização de saberes,
na perspectiva da formação do futuro profissional enquanto cida-
dão; articular as atividades de extensão em Saúde Coletiva com o
ensino e a pesquisa; e fornecer a integração entre a universidade e
a comunidade.
Nesse sentido, é importante ressaltar que a proposta da exten-
são não se resume apenas em prestar serviço à população/comu-
nidade, mas levar o extensionista a refletir sobre o seu papel diante
do compromisso social e os pressupostos teóricos e metodológicos
(RIBEIRO et al., 2016).
Diante da pandemia da Covid-19, visando manter o vínculo
com os idosos e dando continuidade às atividades propostas, o
projeto precisou reinventar-se, recorrendo ao contato por meio de
ligações telefônicas e/ou vídeo chamadas através de aplicativos de
mensagens, como o WhatsApp. Essas adaptações foram necessárias
para que as atividades pudessem ser continuadas e, como apontado
por Romão e Da Silva Júnior (2022), “a forma mais convencional
durante esse período foi a transferência dos trabalhos presenciais
para a forma remota” (p. 10686). Para isso, contaram com o auxílio
da supervisora do campo, que, através dos demais agentes de saúde
da unidade básica, realizou o levantamento dos contatos telefôni-
cos dos idosos da comunidade advinda. Posteriormente, ocorreu
uma divisão dos contatos entre a equipe de acadêmicos extensio-
nistas, onde cada um ficou responsável pelo contato, semanal ou
quinzenal, e de acordo com o interesse dos idosos dos quais fica-
ram responsáveis, realizando o feedback das ligações no grupo do
WhatsApp da equipe.
Essa mudança foi de suma importância, principalmente no que
diz respeito ao momento em que se encontrava a pandemia, tanto

189
para o acompanhamento da saúde dos idosos, as desmistificações
sobre o vírus e as informações sobre o acesso à saúde quanto para
a criação de vínculos afetivos, permitindo o compartilhamento
remoto de vivências e experiências durante a pandemia.
O levantamento das demandas das ligações realizadas auxiliou
na realização das posteriores atividades, tendo em vista que essa
estratégia, como citado por Rios, Sousa e Caputo:

[...] além de serem embasadas no conhecimento


vigente, fossem também capazes de propiciar o
diálogo; a escuta atenta e qualificada da comu-
nidade; o estímulo à participação social; a valo-
rização dos saberes próprios dos habitantes do
assentamento; a construção compartilhada de
questionamentos; a autonomia; a criatividade;
e o desenvolvimento da consciência crítica, a
fim de subsidiar uma atuação que valorizasse
não apenas a colaboração entre distintos cam-
pos científicos, mas também o encontro e as
diversas contribuições resultantes do diálogo
com os saberes populares para o enfrenta-
mento dos problemas (RIOS; SOUSA; CAPUTO,
2019, p. 8).

Em relação à inclusão da pessoa idosa no meio digital pode-


-se destacar a importância de propiciar empoderamento e um novo
olhar ao mundo e a si mesmo, contribuindo para a sua autonomia
frente às mudanças do envelhecimento. A ampliação de novas pos-
sibilidades permite a construção da figura do idoso diferente de
outros tempos (JANTSCH et al., 2012).
Quinzenalmente eram realizadas reuniões remotas por meio
do Google Meet entre toda a equipe do projeto, visando um trabalho
interdisciplinar e de forma integrada, para análise das informações
obtidas dos feedbacks dos idosos e elaboração do planejamento
das próximas atividades. Foi possível perceber que a assistência à
saúde da pessoa idosa, como citado na Política Nacional de Saúde

190
da Pessoa Idosa (2006), além do seu objetivo de garantir e promo-
ver a autonomia e a independência à saúde dessa população requer
uma abordagem global e interdisciplinar, tendo em vista a influên-
cia de diversos fatores na qualidade de vida, como os aspectos psi-
cossociais e físicos.
Com o avançar das campanhas de vacinação, a garantia da ter-
ceira dose da vacinação dos idosos e a queda da curva de contágio do
vírus, foi possível a realização de três encontros presenciais, respei-
tando o distanciamento social e uso de equipamentos de proteção
individual. O primeiro encontro teve como pauta principal o cui-
dado, onde, após o acolhimento inicial, apresentação da equipe do
projeto e as contribuições dos relatos dos idosos participantes, foi
realizada a lavagem dos pés dos idosos como simbolismo de afeto,
vínculo e cuidado. O segundo encontro foi direcionado ao comparti-
lhamento tanto das experiências vivenciadas durante a pandemia e
suas repercussões à saúde física, mental e bucal, quanto abordando
as arboviroses que estavam em alta na cidade, tendo em vista que
essa população foi uma das mais atingidas e impactadas nesses
quesitos. Já no terceiro e último encontro foi abordada a questão da
saúde mental, a importância de uma rede de apoio fortalecida e do
cuidado da mente, do corpo e do espírito, enfatizando os serviços
onde eles poderiam recorrer em caso de urgência.
Todo planejamento para essas atividades foram realizados
remotamente e cada extensionista, de acordo com o seu curso de
origem, fez a sua contribuição nas dinâmicas e apresentações pro-
postas. Essa possibilidade de integração propiciada pela extensão
entre a equipe e a comunidade é de grande importância para a for-
mação dos futuros profissionais, desenvolvendo e potencializando
habilidades como a comunicação, escuta e o trabalho em equipe.
O incentivo a participação da equipe em eventos e publica-
ções que são relevantes para a agregação de conhecimentos sobre
o envelhecimento e a interprofissionalidade, para além das práticas
interventivas mencionadas, proporciona reflexões sobre a prática,
o compartilhamento de conhecimentos com outras realidades e
torna o saber mais significativo, visto que esse conhecimento sobre

191
as necessidades tanto físicas quanto psicológicas da população
idosa contribui para a formação do profissional de saúde que inevi-
tavelmente terá esse público aos seus cuidados futuramente.
Além disso, eram produzidos conteúdos informativos para o
perfil do Instagram, conteúdos esses que também eram comparti-
lhados com os idosos, estimulando a criatividade e a socialização
dos saberes dos extensionistas, na perspectiva da formação integral
do futuro profissional enquanto cidadão, e motivando os idosos a
serem agentes multiplicadores de saúde. Nesse sentido, Da Silva e
Meinhardt (2018) apontam que com a globalização e as novas tec-
nologias, há uma maior facilidade de acessar e disseminar grandes
números de informações em qualquer lugar do mundo, que por um
lado torna-se um aspecto positivo, mas que exige um pensamento
crítico e reflexivo para filtrar essas informações.
Com isso, os meios tecnológicos passaram a ser utilizados com
a intenção de diminuir os efeitos da distância social entre os ido-
sos e seus familiares. Além disso, essas ferramentas ajudaram con-
sideravelmente nos atendimentos da saúde, visto que, suprimiu a
locomoção desses indivíduos e os possibilitou uma maior indepen-
dência perante esse cenário desordenado. Desta forma, nota-se que
a tecnologia se encontra cada vez mais inserida no cotidiano desses
indivíduos e que proporcionou consequências relevantes (COSTA et
al, 2021; HAMMERSCHMIDT; SANTANA, 2020; VELHO et al, 2020).
Torna-se evidente, portanto, que essas ações educativas volta-
das aos idosos, por meio das tecnologias de informação e comuni-
cação no contexto pandêmico do Projeto de Extensão “Ativa Idade
– Envelhecimento Saudável na Comunidade” para a comunidade
idosa, contribuiu para a troca de conhecimento sobre a saúde sistê-
mica e um aprofundamento sobre os cuidados em saúde em geral,
além de trabalhar temas relacionados à prevenção de agravos em
saúde, onde foi possível perpetuar as ações educativas para melho-
ria do autocuidado, prevenção contra a Covid-19 e solução de dúvi-
das com interação social.

192
Assim, destaca-se a relevância e compreensão da extensão
universitária “como uma parte integrante da formação, indissoci-
ável e não menos importante que o ensino e a pesquisa, de forma a
compreender e reverberar em suas práticas o seu caráter político,
social e científico” (RIBEIRO et al., 2016, p. 66).

Conclusão

Dessa forma, verificou-se a colaboração das ações do Projeto


Ativa Idade na pandemia com idosos de uma comunidade de
Campina Grande-PB, que vivenciaram, por meio da comunicação
pelo WhatsApp, encontros virtuais com os extensionistas sobre o
processo de saúde e cuidado. Apesar das dificuldades enfrentadas,
como o isolamento, distanciamento social e adaptação ao modelo
remoto, foi uma conquista mútua reinventar-se com parceria inter-
disciplinar e coletiva. Pode-se, no entanto, compreender a extensão
universitária como ponte articuladora entre a universidade e socie-
dade fortalecendo a troca de saberes e interação social.

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195
CONECTIV-IDADES 60+: PROMOVENDO SAÚDE MENTAL
E INCLUSÃO DIGITAL DE PESSOAS IDOSAS

Josevânia da Silva1
Elayne Cristina de Sousa Chagas2
Amanda Kilse Macedo da Silva3
Marcela Tavares Silva Ribeiro4
Anadja Michelly dos Santos Souza5
Maria Clara da Silva Nascimento6
Inaiê Caldas Lins Volta7

Introdução

A Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda em dezembro


de 2019, alertava acerca do número acentuado nos casos de pneu-
monia na cidade de Wuhan, na China. Posteriormente, constatou-se

1 Departamento de Psicologia, Campus I, Campina Grande, Projeto Conectiv-Idades


60+: promovendo saúde mental e inclusão digital de pessoas idosas, Cota 2020-
2021, Coordenadora.
2 Departamento de Psicologia, Campus I, Campina Grande, Projeto Conectiv-Idades
60+: promovendo saúde mental e inclusão digital de pessoas idosas, Cota 2020-
2021, Bolsista.
3 Departamento de Psicologia, Campus I, Campina Grande, Projeto Conectiv-Idades
60+: promovendo saúde mental e inclusão digital de pessoas idosas, Cota 2020-
2021, Voluntária.
4 Departamento de Psicologia, Campus I, Campina Grande, Projeto Conectiv-Idades
60+: promovendo saúde mental e inclusão digital de pessoas idosas, Cota 2020-
2021, Voluntária.
5 Departamento de Psicologia, Campus I, Campina Grande, Projeto Conectiv-Idades
60+: promovendo saúde mental e inclusão digital de pessoas idosas, Cota 2020-
2021, Voluntária.
6 Departamento de Psicologia, Campus I, Campina Grande, Projeto Conectiv-Idades
60+: promovendo saúde mental e inclusão digital de pessoas idosas, Cota 2020-
2021, Voluntária.
7 Departamento de Psicologia, Campus I, Campina Grande, Projeto Conectiv-Idades
60+: promovendo saúde mental e inclusão digital de pessoas idosas, Cota 2020-
2021, Voluntária.

197
que se tratava de um novo tipo de infecção respiratória aguda, cau-
sada pelo coronavírus SARS-CoV-2, denominada Covid-19 (WU et
al., 2020). Logo, foi instaurado um estado de alerta em razão dos
elevados índices de contágio da doença, bem como seus impac-
tos em processos de adoecimento e morte, o que vinha contri-
buindo para sobrecargas nos serviços de saúde (OMS, 2020). É
frente a esse cenário que, mediante decreto, em 30 de janeiro de
2020, a OMS anuncia Emergência de Saúde Pública de Importância
Internacional (ESPII).
No Brasil, em 26 de fevereiro, o Ministério da Saúde confirmou
o primeiro caso de coronavírus no estado de São Paulo (UNA-SUS,
2020). Anteriormente, conforme padrões de contaminação eviden-
ciados nos demais países, em 3 de fevereiro, através da Portaria nº
188, foi declarada Emergência em Saúde Pública de Importância
Nacional (ESPIN) em face à confirmação do novo coronavírus em
território brasileiro (BRASIL, 2020).
Embora a população geral tenha sofrido as consequências da
pandemia, alguns grupos apresentaram maior suscetibilidade aos
impactos físicos, psíquicos e sociais decorrentes desse contexto,
dentre eles, a população com 60 anos ou mais. Segundo dados da
Fiocruz, até o início de outubro de 2020, as pessoas idosas corres-
pondiam a 53,1% do total de casos e 75,2% dos óbitos confirmados
por Covid-19 no Brasil, contabilizando respectivamente 210.007 e
100.059 em número de casos e óbitos confirmados no país (2020),
interferindo diretamente na representação dessa população sobre
a doença e sobre a incorporação social das medidas preventivas.
Para mitigar os impactos da pandemia de Covid-19, algumas
medidas foram tomadas, tais como o isolamento e distanciamento
social, a recomendação para evitar locais de alta circulação e/ou
manuseio de objetos contaminados, o fechamento de academias
e shoppings, entre outras recomendações (Ministério da Saúde,
2020). Essas medidas, no entanto, romperam bruscamente com os
moldes cotidianos de vida até então estabelecidos por cada sujeito.
Na população idosa, tais medidas impactaram processos de socia-
lização, no convívio familiar e no exercício das suas atividades

198
diárias, gerando sofrimento psíquico e estresse (VAN et al., 2020
apud SANTOS; SILVA; PACHÚ, 2020).
Pesquisas realizadas com idosas em cidades rurais da Paraíba
(SILVA, 2015; SILVA; PICHELLI; FURTADO, 2017) evidenciaram
que, mesmo em períodos anteriores a pandemia da Covid-19, havia
uma prevalência de Transtornos Mentais Comuns nessa população,
apontando para sintomatologias como as de ansiedade e depres-
são, consumo elevado de álcool e tabaco. A pandemia da Covid-19,
além de gerar sofrimento psíquico, contribuiu para o agravamento
das demandas em saúde mental já existentes.
Propostas interventivas precisaram ser levantadas, dentre as
quais destacam-se os grupos de ajuda mútua, que tem por objetivo
proporcionar espaços de convívio e suporte social, como também
de circulação da palavra e amparo empático entre os seus partici-
pantes (VASCONCELOS; WCCK, 2020). Partindo do contexto de iso-
lamento social ao qual foi proposto como medida de saúde durante
a pandemia da Covid-19, os grupos de ajuda mútua tiveram de ser
adaptados ao virtual/online, mediados pelo uso das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC`s).
Quando utilizadas de maneira efetiva pelas pessoas idosas, as
TIC`s podem ser importantes ferramentas de promoção à saúde e
qualidade de vida dessa população (MENDES, 2019). Desse modo,
a ação de extensão “Conectiv-idades60+: promovendo saúde men-
tal e inclusão digital de pessoas idosas” foi desenvolvida enquanto
uma gerontecnologia por se caracterizar como grupo online de
ajuda mútua. Tendo em vista evidenciar os benefícios da ação
extensionista, este artigo tem por objetivo analisar a percepção de
idosos sobre suas vivências no projeto Conectiv-Idades 60+ e como
estas contribuíram para a promoção da saúde mental e da inclusão
digital.

199
Metodologia

A pesquisa caracteriza-se como sendo exploratória, descritiva


e transversal, com abordagem qualitativa. A amostra foi constituída
a partir de idosos participantes do projeto de extensão Conectiv-
Idades 60+, inseridos no grupo de ajuda mútua online, desenvolvido
por meio da plataforma Google Meet, tendo como base metodoló-
gica os pressupostos teóricos da gerontecnologia e das metodolo-
gias ativas.
Tais vivências das pessoas idosas no projeto de extensão
ocorreram nos períodos letivos de 2020.2 e 2021.1 (Cota 2020-
2021). Os encontros foram realizados semanalmente, abordando
temáticas norteadoras, tais como: Identidade ou autoconceito;
Resiliência; Estresse e Solidão; Idadismo; Sentido e Propósito
de vida; Laços sociais; Saúde mental de idosos no contexto da
Covid-19; Esperançar; Autocompaixão; O tempo; Longevidade;
Autoaceitação; Finitude da vida, e etc, adequando-os, também, as
necessidades dos idosos.
Os grupos de ajuda mútua online contava, no primeiro semes-
tre, com a participação de trinta pessoas idosas, divididas em dois
grupos (A e B). Participaram da pesquisa nove pessoas idosas, de
forma não probabilística e por conveniência. O número dos par-
ticipantes da pesquisa foi definido pelo critério de saturação das
entrevistas. Os participantes, inicialmente, foram convidados a par-
ticiparem da pesquisa através de mensagens de voz via WhatsApp,
onde foram explicitados os objetivos da pesquisa e a disponibili-
dade para a participação voluntária. A partir do agendamento
prévio, foi realizada a aplicação do instrumento quantitativo e da
entrevista, os quais tiveram os áudios (dados de voz) gravados para
posterior transcrição e análise. Os critérios de inclusão atribuídos
foram: possuir idade igual ou superior a 60 anos; ter participado
de grupos de convivência online durante a pandemia da Covid-19;
ter acesso a internet e dispositivo smart (celular, tablet ou com-
putador) durante a coleta de dados da pesquisa. Para preservar a

200
identidade dos participantes, utilizou-se nomes fictícios que fazem
referência à mitologia grega.
Para a coleta de dados, foram utilizados os seguintes instru-
mentos de pesquisa: I. Questionário sociodemográfico: contendo
questões relativas à escolaridade, região onde reside, idade e sexo,
buscando traçar o perfil dos participantes; II. Entrevista semiestru-
turada: composta por oito questões norteadoras, do tipo abertas,
relacionadas às vivências das pessoas idosas e sua percepção sobre
os grupos de convivência online. Após aprovação da pesquisa pelo
comitê de ética (CAAE: 38256720.3.0000.5187), deu-se início ao
processo de coleta de dados, que ocorreu de forma remota, durante
os meses de novembro de 2021 e abril de 2022, por meio do recurso
chamada de vídeo, na plataforma Google Meet. O pesquisador res-
ponsável estava localizado na cidade de Campina Grande - PB, e os
participantes estavam distribuídos entre as cidades de Esperança,
Lagoa Seca, Campina Grande e João Pessoa, no estado da Paraíba, e
um participante residia na cidade de Pindamonhangaba, no estado
de São Paulo.
Os dados decorrentes das entrevistas foram analisados a par-
tir da análise de conteúdo do tipo categorial temática, proposta
por Bardin (2011), cujo objetivo é analisar comunicações ou dis-
cursos diretos e simples, por meio do desmembramento do texto
em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos.
Ressalta-se que foram considerados todos os preceitos éticos de
pesquisas com seres humanos, conforme a Resolução nº 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde (CNS).

Fundamentação teórica

Envelhecimento e Gerontotecnologias em Saúde

O aumento da longevidade é uma conquista da humanidade,


e fruto das diversas transformações sociais, científicas e tecnoló-
gicas, as quais contribuíram para melhorias nas condições de vida
das pessoas (SILVA; PICHELLI; FURTADO, 2017). Não obstante,

201
existem diversos modos de se envelhecer, motivo pelo qual a expec-
tativa de vida varia entre os diversos países e entre regiões de um
mesmo país, o que é observado na realidade brasileira. Aspectos
como renda, lugar de moradia, acesso a saneamento básico, condi-
ções de trabalho, acesso aos serviços de saúde são marcadores que
repercutiram na longevidade das pessoas (SILVA; LEITE, 2020).
Mais que acrescentar anos de vida, é preciso acrescer qualidade de
vida aos anos.
No cenário da Covid-19, a população idosa foi categorizada
como de risco, o que repercutiu no bem-estar e na saúde mental
desse grupo etário (BONSAKSEN et al., 2021). Em razão da necessi-
dade de maior rigidez no cumprimento do isolamento social, foram
observadas diversas repercussões psicossociais para a população
idosa, a saber: quebras de rotinas, sentimentos de medo, ansie-
dade, estresse, sentimentos de solidão, entre outros (PARKS et al.,
2023; AMERIO et al., 2023).
Nos últimos anos, no Brasil, ocorreu o aumento da problemati-
zação das questões relacionadas ao envelhecimento, demandando
a ampliação de estudos no campo da Gerontologia (ALMEIDA et al.,
2012), que tem como objetivo a descrição e a explicação das mudan-
ças típicas, ou não, do processo de envelhecimento, abarcando seus
determinantes biológicos, psicológicos e socioculturais. Ademais,
esses estudos permitem pensar em ações que minimizem proces-
sos de fragilização do sujeito, seja decorrente de questões bioló-
gicas, como as doenças crônicas, seja por falta de redes de apoio,
promovendo assim a qualidade de vida da pessoa idosa (AZEREDO;
AFONSO, 2016).
A gerontotecnologia caracteriza-se como um campo do saber
interdisciplinar cujos estudos são direcionados ao processo do
envelhecimento humano em seu amplo espectro e necessidades e,
também, a partir do desenvolvimento de tecnologias que podem
servir como solução para uma gama de situações vividas pela popu-
lação idosa, impactando de forma positiva em suas vidas (CASTRO,
2010). Refere-se à utilização de ferramentas que possam promover
o desenvolvimento de um modelo assistencial potencializador das

202
habilidades de cuidado, auxiliando na promoção de estratégias efe-
tivas quanto à manutenção das práticas de cuidado, aprimorando a
assistência à saúde (CARLETO; SANTANA, 2017). Nessa direção, os
grupos online de ajuda mútua podem ser caracterizados como uma
gerontecnologia na promoção de saúde mental e inclusão digital
das pessoas idosas (PRADO; SAYD, 2006).

Grupos de ajuda mútua

Nos últimos anos, um meio de intervenção em saúde que tem


tomado bastante relevância têm sido os grupos de ajuda mútua, em
que se trata de espaços nos quais os participantes, a partir da dis-
cussão de temas considerados como relevante para o grupo, buscam
constituir um lugar de acolhida, de troca de experiências e de apoio
emocional, estimular a comunicação e a livre expressão de senti-
mentos, valorizar a experiência de vida dos participantes, incenti-
var o companheirismo e fortalecer laços afetivos (VASCONCELOS
et al., 2013). A literatura (TAHAN, CARVALHO, 2011; WICHMANN,
2013) têm apontado evidências da efetividade dos grupos enquanto
ferramenta de cuidado em saúde mental, principalmente no que se
refere ao contexto de pessoas idosas.
A maioria dos estudos versava sobre os grupos de ajuda mútua
em contextos de interação face a face e de forma presencial. No
entanto, com o aparecimento da pandemia da Covid-19, na tenta-
tiva de se adaptar nesta nova realidade, os diversos tipos de grupos
tiveram que migrar do formato presencial para o virtual, tendo em
vista a busca de novas formas de cuidado em saúde. De acordo com
Vasconcelos e Weck (2020), devido essa transição, pode-se obser-
var aspectos negativos e positivos.
Nos grupos online de ajuda mútua, apesar da ausência do con-
tato físico, que muitas vezes é essencial na observação de determi-
nados elementos para além da narrativa verbal, foi possível o acesso
e participação de pessoas de diversos lugares geográficos. As TIC`s
possibilitaram reunir, no mesmo lugar (em tempo real), pessoas de

203
vários contextos e realidades geográficas. Ademais, levando em con-
sideração o contexto pandêmico, os grupos online de ajuda mútua
funcionaram como uma rede de apoio e de laços afetivos, podendo
ser uma forte alternativa para amenizar o isolamento social pre-
sencial, dados os riscos de contágio (VASCONCELOS, WECK, 2020).

Resultados e discussão

O perfil sociodemográfico evidenciou que a maioria dos par-


ticipantes era do sexo feminino, sendo oito mulheres e apenas um
participante do sexo masculino. A idade das pessoas idosas variou
de 63 a 77 anos. E quanto à região, a maioria dos participantes resi-
diam no Nordeste. Estes e outros dados podem ser observados na
FIGURA 1 abaixo.

FIGURA 1. Perfil sociodemográfico dos participantes.


Variáveis Frequência
Feminino 08
Sexo
Masculino 01

Idade 63 a 70 anos 06
71 a 77 anos 03
Fundamental incompleto 01
Médio incompleto 01
Escolaridade Médio completo 03
Superior incompleto 02
Superior completo 02
Paraíba 08
Estado 01
São Paulo
Fonte: dados da pesquisa.

A análise categorial temática evidenciou duas categorias e


seis subcategorias, as quais abarcam 89 unidades de conteúdo. A
maioria dos conteúdos das falas dos participantes (67,4%) versa-
ram sobre a experiência de participação nos grupos online de ajuda

204
mútua, seguido dos relatos sobre a importância dos grupos durante
a pandemia da Covid-19, totalizando 32,6% das unidades de conte-
údo, conforme figura 2 abaixo:

FIGURA 2. Categorias, subcategorias e unidade de conteúdo.


Categorias Subcategorias UC (f) UC (%)
Acolhimento e valorização
17
A experiência de da pessoa idosa
67,4
participação Espaço de fala e socialização 28
Bem-estar e felicidade 15
Importância do Enfrentar o sofrimento psíquico 07
grupo durante Enfrentar o distanciamento social 16 32,6
a pandemia Enfrentar a solidão 06
TOTAL 89 100%
UC: unidade de conteúdo; f: frequência; %: porcentagem.

A experiência de participação

Nesta primeira categoria, as pessoas idosas falaram sobre


como se sentiram durante a participação nos grupos e sobre o
quanto o grupo contribuiu para ser um espaço de fala e socializa-
ção e para a promoção do bem-estar e da felicidade. Os grupos de
ajuda mútua, conforme literatura (VASCONCELOS; WECK, 2020),
se propõem a ser em primeira instância espaços de acolhimento
mútuo, nos quais seus participantes costumeiramente amparam
de maneira empática os demais colegas de experiência comum,
recriando vínculos de suporte e amizade. Sendo assim, devido a
estas posturas, os participantes passam a verbalizar de maneira
confortável seus conteúdos, apoiados por um sentimento de valo-
ração de si e do outro, observado em falas como:

“Uma palavra só define o que nós sentimos:


incluídos. E quando a gente se sente incluído, a
gente fica à vontade, é muito agradável” (Vênus
do Olimpo, 69 anos).

205
“Eu me sentia super bem e super assim…, não
sei se a palavra é valorizada. Acho que é valo-
rizada, assim… é respeitada, respeitada na
minha idade” (Plutão de Ares, 69 anos).
“No acolhimento de acolher a gente nessa
idade, que a gente nem sempre tem esse aco-
lhimento, né!” (Plutão de Ares, 69 anos).
“Quando a gente se sente acolhida, a gente
melhora significativamente. (...) Sou impor-
tante para você (...), eu sou importante para o
outro” (Mercúrio de Atena, 68 anos).

À vista destas falas, observa-se, ainda, o sentimento de valori-


zação por parte de um grupo etário, ou seja, como pessoas idosas.
Tais falas denunciam o peso que a pessoa idosa pode vir a carregar
socialmente por fazer parte desse grupo, sentindo-se, por vezes,
descartável em determinados contextos e espaços sociais, o que
pode vir a impactar consideravelmente a forma como enxergam
a si mesmos, a ponto de um espaço proposto ao acolhimento ser
majoritariamente lembrado por proporcionar-lhes a certeza de que
são importantes. A valorização da pessoa idosa se mostrou espe-
cialmente importante durante a pandemia, uma vez que o cenário
epidêmico trouxe à tona estereótipos relacionados à pessoa idosa,
e com isso, tanto o ageismo e como as práticas discriminatórias em
razão da idade ficaram mais evidentes (ABRANCHES; LOURENÇO,
2022).
O grupo representou um espaço de estimulação à participa-
ção social, além de contribuir para uma percepção de bem-estar,
felicidade e qualidade. Segundo Almeida (et al., 2010), os grupos
de convivência propiciam uma maior atribuição a autonomia dos
sujeitos, proporcionando melhoras na qualidade de vida, autoes-
tima, senso de humor e promovendo inclusão social (WICHMANN,
2013). Tratando-se dos grupos online, pode ser acrescido a estes
benefícios a inclusão também digital de pessoas idosas. Com rela-
ção a estes aspectos, podemos observar a seguir:

206
“Hoje eu me dou valor, e hoje eu sei que eu sou
importante. Hoje eu sou uma pessoa idosa,
mas eu tenho outra cabeça, outros pensamen-
tos, e a minha vida não termina por aqui. Eu
tenho muita ainda coisa a fazer e a participar”
(Mercúrio de Atena, 68 anos).
“Eu gosto de um grupo assim bem plural e bem
eclético, embora a gente seja idosa a gente se
sente jovem (...) Não jovem na idade né, mas
jovem assim no pensamento, no desenvolvi-
mento intelectual, tudo (...) Dá oportunidade a
todo mundo né, todo mundo falava e foi muito
bem pensado” (Saturno de Zeus, 74 anos).
“Esse grupo eu achei fantástico, né! E a criação
do grupo foi de muita importância. Eu acredito
que salvou a vida de todos nós que estivemos
participando sabe?” (Plutão de Ares, 69 anos).
“Me fez e me faz muito bem (...) é como um
refúgio sabe.” (Urano de Ártemis, 66 anos).

Os resultados desta pesquisa corroboram com outros estudos


realizados com pessoas idosas. A relação entre qualidade de vida e
grupos de convivência em idosos foi analisada em um estudo reali-
zado por Braz, Zaia e Bittar (2015) que, ao comparar a qualidade de
vida em idosos frequentadores e não-frequentadores de grupos de
convivência, verificaram níveis de qualidade de vida significativa-
mente maiores entre idosos participantes de grupos de convivência.

Importância do grupo durante a pandemia da Covid-19

Na segunda categoria temática, as pessoas idosas destacaram


a importância dos grupos online para o enfrentamento do sofri-
mento psíquico, do distanciamento social e da solidão. Os relatos
compreendem a dimensão psíquica durante a pandemia, principal-
mente, acerca de sintomas de ansiedade e depressão durante esse

207
período, sendo possível perceber que o grupo auxiliou as pessoas
idosas nos cuidados da saúde mental e enriqueceu a rotina dos par-
ticipantes, conforme pode ser observado nos relatos abaixo:

“Veio a pandemia, e foi um impacto muito


grande. E eu dizia assim: a gente vai terminar
louco. Eu que já tenho ansiedade, não é, eu
disse: eu vou parar onde com isso? A partici-
pação nesse grupo deu uma quebra nesse iso-
lamento e mostrando que é possível” (Marte
Dionísio, 72 anos).
“De repente, a gente se viu todo mundo tumul-
tuado dentro de casa, sem poder sair, sem
poder conversar, sem poder abraçar, sem
poder fazer nada. Eu sempre tive um pouco de
depressão, né, eu sempre tive. Então, o que me
tirou mais desse pico foi o grupo” (Urano de
Ártemis, 66 anos).

Segundo Sousa et al. (2021), a desconexão social expõe os


idosos a um maior risco de depressão, ansiedade e declínio funcio-
nal, visto que, quanto a cidadania, conviver em sociedade é um dos
pilares essenciais no que diz respeito à qualidade de vida e enve-
lhecimento ativo (SILVA, et al., 2020). Em uma pandemia, o medo
aumenta os níveis de ansiedade e estresse em indivíduos saudáveis
e intensifica os sintomas daqueles com transtornos psiquiátricos
pré-existentes (OLIVEIRA et. al, 2021). Assim, torna-se imprescin-
dível a arte do cuidado psicoemocional como sendo um dos prin-
cipais fatores para a prevenção de doenças físicas, emocionais e
melhora na qualidade de vida durante o isolamento para os idosos
(OLIVEIRA et. al, 2021).
Os relacionamentos sociais são fatores importantes para o
bem-estar físico e mental na velhice (FRUTUOSO, 1999). Os resul-
tados deste estudo demonstram que a utilização de grupos online
de ajuda mútua com idosos caracterizou-se como uma gerontecno-
logia capaz de promover saúde mental e interação social, além dos

208
benefícios advindos do uso das tecnologias digitais e virtuais. Com
isso, Sun et. al. (2020) reforça que níveis mais elevados de utiliza-
ção da Internet são preditores significativos de níveis mais eleva-
dos de apoio social, redução da solidão, melhor satisfação de vida e
bem-estar psicológico em idosos.

“Foi ótimo [O grupo], sabe. Foi o que não dei-


xou muita gente é ficar deprimida, muito depri-
mida. Porque foi um baque muito grande, né,
a pandemia. E essa vivência virtual nos dando,
assim, um aconchego, compreende? Conversar
com as pessoas. E eu me recolhi muito, me
recolhi muito porque tive medo. (...) Eu ficava
ansioso que chegasse o dia do grupo” (Vênus
do Olimpo, 69 anos).
“A gente ficou isolada dentro de casa, sem sair
para canto nenhum, para canto nenhum. A
gente recebia delivery em casa, farmácia em
casa, tudo em casa. Foi um caos. Então, para a
gente que mora só, o grupo foi fundamental. Eu
vejo no nosso grupo que tem muita gente que
mora sozinha (...). Aí, você imagina esse povo
na pandemia, tudo sozinha.” (Caronte de Hera,
63).
“Ajudou, ajudou muito [o grupo]. Esse momento
da pandemia foi muito… E ainda está, né…
traumatizante, né. Isolou as pessoas, isola as
pessoas, as perdas que a gente teve, tudo isso
mexeu com a gente (...) Foi no tempo certo que
esse grupo veio, um momento muito impor-
tante” (Saturno de Zeus, 74 anos).

O enfrentamento da solidão foi um dos benefícios da participa-


ção nos grupos online, que foi relatado pelas pessoas idosas. A rea-
lização de grupos de convivência online com idosos tem colaborado
para o enfrentamento da solidão e para uma percepção de suporte
emocional. O suporte emocional, tem relação com a percepção dos

209
sujeitos de que possuem pessoas com as quais possam confiar, sen-
tir-se amparadas, valorizadas, bem como a percepção de que estas
pessoas se preocupam com ela (CARVALHO et al., 2011).

“No meu caso, ele [o grupo] permitiu eu não


sentir esse sentimento de solidão (...)porque
chegou bem na hora H. Para mim, foi assim,
chegou bem na hora.” (Plutão de Ares, 69 anos).
“Eu não sabia que era solidão. Eu não sabia que
tinha nome (...) Eu tenho muito isso, faz tempo.
(...) Com o grupo, melhorei muito da solidão.”
(Netuno Poseidon, 77 anos).
“Com a pandemia e aí eu fiquei num aparta-
mento isolada. Então esse grupo representou,
realmente, uma rede de apoio, não é?” (Marte
Dionísio, 72 anos).

A pandemia da Covid-19 gerou impactos em diversas esferas


da vida (FARIA; PATIÑO, 2022), o que demandou o desenvolvi-
mento de ações e tecnologias em saúde que fossem de fácil acesso
e aplicação. Os resultados demonstraram que o uso de tecnologias
virtuais contribuiu para o enfrentamento da pandemia em diver-
sos aspectos (sofrimento psíquico, distanciamento social e soli-
dão) através de grupos online de ajuda mútua. Além disso, o grupo
de convivência torna-se um ambiente que possibilita a criação de
novas e boas amizades.

Considerações finais

A pandemia da Covid-19 impactou a vida da população idosa


em diversos aspectos, gerando repercussões psicossociais. Por
terem sido colocados na condição de grupos de risco, as pessoas
idosas isolaram-se dos seus convívios e das suas rotinas habituais,
vivenciando perdas afetivas e materiais, além de serem acometidas

210
pelo aumento dos níveis de ansiedade, de estresse e de solidão.
Assim, este artigo teve por objetivo analisar a percepção de ido-
sos sobre suas vivências no projeto Conectiv-Idades 60+ e como
estas contribuíram para a promoção da saúde mental e da inclusão
digital.
Os resultados evidenciaram que as pessoas idosas participan-
tes, perceberam o grupo de ajuda mútua online como um espaço de
acolhimento, valorização, inclusão digital e socialização. Ademais,
o grupo de ajuda mútua online foi concebido, pelos participantes,
como um meio de enfrentamento ao sofrimento psíquico, ao dis-
tanciamento social e à solidão.
A partir desses dos achados evidenciados, considera-se que o
grupo de ajuda mútua online, criado a partir do projeto de extensão
Conectiv-Idades 60+, permitiu às pessoas idosas a construção de
novos vínculos, o fortalecimento da autoestima, o sentir-se valori-
zado e aceito pelo outro e a diminuição dos sentimentos de solidão
e isolamento. A percepção positiva das pessoas idosas participan-
tes foi baseada, sobretudo, nas vivências durante os encontros, as
quais caracterizaram-se como espaço de fala, acolhimento e valori-
zação da velhice.
Considerando a relevância social do projeto de extensão
Convectiv-Idades 60+, ao se propor desenvolver e aplicar uma
gerontecnologia para a promoção de saúde mental de idosos, os
grupos online de ajuda mútua configuram-se como estratégia de
inovação, de fácil acesso, podendo ser aplicada em outros contextos
com o objetivo de promover saúde e qualidade de vida às pessoas
idosas, além de poder contemplar outros grupos, tais como familia-
res, cuidadores e profissionais de saúde.

211
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216
GERONTOTECNOLOGIA: INTERVENÇÕES
EM PSICOEDUCAÇÃO

Maria Gabriela Pereira da Silva1


Victória Maria de Freitas Nunes2
Mirella Raquel Alves de Araújo Rodrigues3
Virgínia Maria Bezerra Silva4
Maria do Carmo Eulálio5

Introdução

O envelhecimento populacional se constitui como uma das


características mais marcantes da atualidade (ALVES, 2019).
Embora haja um aumento do número de pessoas idosas, não raro,
em muitas culturas os idosos são estereotipados e tais estigmas
passam a fazer parte de seu cotidiano. A sociedade das mercado-
rias e mercadores, que é regida pelos ditos do imediato, do novo,
do produtivo, do transitório e da aparência, submete em diferen-
tes modos, todos os indivíduos, nessa lógica, se imprime ao idoso
o selo de anacrônico. Sendo assim, a figura do idoso é comumente
associada ao avesso do criativo, do produtivo, da vitalidade, da
virilidade, da força, da beleza, da rapidez e da agilidade (VIEIRA,
MACIEL, 2020).
Este cenário foi acentuado com a pandemia da Covid-19
uma vez aflorou o destaque aos idosos, principalmente devido ao

1 Graduanda do Curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba


2 Graduada do Curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba
3 Graduanda do Curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba
4 Graduanda do Curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba
5 Prof.ª Dr.ª docente do Mestrado em Psicologia da Saúde da Universidade Estadual
da Paraíba – Coordenadora do Projeto: Intervenção Psicossocial online com idosos
da UAMA para promoção de saúde, cota 2020/2021. Departamento de Psicologia,
Campus I, Campina Grande

217
potencial de risco, reforçando os preconceitos a este grupo etário,
como o emblemático caso que foi divulgado nas redes sociais do
carro da “cata véio” (HAMMERSCHMIDT; SANTANA, 2021) como
também acentuando o fenômeno de exclusão digital (BONETTI;
BICA, 2022).
Tal fenômeno pode provocar diversos prejuízos à saúde do
idoso, uma vez que o uso das tecnologias vem se constituindo como
uma possibilidade de aprimoramento das relações, como a produ-
ção de novas tecnologias na saúde e qualidade de vida da popu-
lação e expansão do conhecimento científico (SOARES, COLARES,
2020). O uso das TDICs por idosos em situação de isolamento social
pode proporcionar o aumento das sensações de segurança, prote-
ção, independência e do prazer, bem como a redução da solidão
(BONETTI; BICA, 2022).
No entanto, é importante considerar que por mais que o uso
dessas ferramentas apresentem benefícios, como a aproximação
social, historicamente, a população idosa brasileira apresenta baixa
escolaridade e dificuldade de acesso aos recursos tecnológicos
(HAMMERSCHMIDT; SANTANA, 2021). Logo, surge a necessidade
de criar conteúdos direcionados e adequados ao público idoso para
suprir os obstáculos ocasionados pela pandemia e pela exclusão
digital (BONETTI; BICA, 2022).
Nesse sentido, ao se deparar com a temática e com relatos de
idosos sobre as dificuldades no uso das TDICs, o Grupo de Estudos
e Pesquisas em Envelhecimento e Saúde - GEPES realizou interven-
ções online em psicoeducação sobre o uso das TDICs com um grupo
de idosos durante o período de isolamento social. Assim, o presente
estudo tem como objetivo apresentar o plano de intervenções rea-
lizado e analisar quais os efeitos de intervenções em psicoeducação
com um grupo de idosos durante a pandemia da Covid-19. Os obje-
tivos específicos consistem em discutir sobre a relação de TIDCs e
pessoas idosas no contexto pandêmico e apresentar possibilidade
de recursos para realização de oficinas no formato remoto com pes-
soas idosas.

218
Metodologia

Trata-se de um estudo qualitativo exploratório realizado por


componentes do grupo de pesquisa GEPES do curso de Psicologia
da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

Participantes

Os participantes das oficinas foram pessoas idosas com idade


acima de 60 anos que participaram do curso de Educação para o
Envelhecimento Humano da Universidade Aberta à Maturidade
(UAMA) da Universidade Estadual da Paraíba. O convite para
participação se deu a partir das atividades do GEPES que, com a
pandemia da Covid-19 e com o isolamento social, readaptou suas
atividades para o formato remoto e se deparou com as dificuldades
dos idosos na utilização e manuseio de tecnologias. Nesse sentido,
foi proposto ao grupo a realização de oficinas, conforme Afonso
(2006) de psicoeducação sobre tecnologias e 17 expressaram o
desejo de participar.

Procedimento

As oficinas foram realizadas no período de maio a setembro


de 2021. Ocorreram através da plataforma digital Google Meet,
ferramenta esta selecionada devido ao uso recorrente para as ati-
vidades da UAMA e do GEPES. Inicialmente, foi criado um grupo
no Whatsapp para envio dos links de acesso às chamadas virtuais,
lembrete dos dias e horários das oficinas, interação entre os parti-
cipantes, suporte e envio do material de apoio.
Os temas das oficinas foram traçados à posteriori e juntamente
aos participantes, de acordo com as demandas iniciais e as que
foram surgindo ao decorrer do desenvolvimento do grupo. Nesse
sentido, os temas foram escolhidos de acordo com as necessidades

219
dos participantes e o número de oficinas destinadas ao tema foi de
acordo com o tempo e desenvolvimento do grupo.
A proposta engloba não só atividades nas oficinas, compreen-
dendo o fornecimento de apoio informativo e instrumental através
do Whatsapp de forma individual e grupal, bem como o envio de
materiais de apoio e atividades de treino do conteúdo estudado a
serem realizadas durante a semana. Os materiais de apoio foram
constituídos por um material escrito didático e vídeos tutoriais.
Foram realizadas 15 oficinas de forma didática com dura-
ção média de 90 minutos. Foram estruturadas em 4 momentos:
Apresentação estilo tutorial dos principais recursos e ferramen-
tas do tema escolhido; Aplicações da tecnologia para o cotidiano;
Dúvidas e esclarecimentos; Discussão sobre a atividade da semana.

Registro e avaliação

O registro das oficinas foi realizado através da construção de


diários de campo. A avaliação do programa de intervenções se deu
a partir do feedback dos participantes e reuniões de orientação e
supervisão com a coordenadora do projeto. Ao final das oficinas, foi
realizada a avaliação pelos participantes do grupo.

Considerações éticas

Todos os processos descritos foram permitidos pelos parti-


cipantes de forma verbal e por meio do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, preenchido de forma online através do Google
Forms. Foram tomados todos os cuidados éticos concernentes à
proteção dos direitos, bem-estar e dignidade dos participantes.

220
Fundamentação teórica

Envelhecimento e Gerontotecnologia

O envelhecimento é um fenômeno natural, universal, irreversí-


vel e não ocorre de forma simultânea e igualitária nos seres huma-
nos, sendo uma etapa que faz parte da vida (BORGES et al., 2017). O
indivíduo passa por alterações decorrentes nessa fase, tendo com-
prometimento em áreas fundamentais, como nas funções mecâni-
cas, físicas, bioquímicas, psicológicas e sociais (NÓBREGA, 2022).
Há questões que no decorrer dos anos vem melhorando bastante,
com a incorporação de novos hábitos que ajudam na construção
de uma rotina mais saudável, ter um médico acompanhando sua
situação e políticas públicas se voltando para o idoso têm contri-
buído para o aumento da expectativa de vida dessa população. Mas
mesmo com os avanços é possível que os idosos apresentem indí-
cios de declínios de saúde que são próprios do processo de enve-
lhecimento (TAVARES; DE SOUZA, 2012).
Envelhecer, por muito tempo significou viver excluído da
sociedade e ser um peso para a família. Nos últimos anos, com o
avanço da ciência e da medicina, esta etapa da vida começa a ser
vivida com mais qualidade. Para minimizar o impacto desses declí-
nios, a tecnologia se torna uma ferramenta que ocupa o tempo livre
que o idoso passa a ter. É também dentro dessa perspectiva que se
faz necessário buscar caminhos que possibilitem que o idoso não
seja isolado, trazendo uma nova conexão para ele por meio da tec-
nologia uma vez que estão em constante avanço, podendo se adap-
tar e ser um meio facilitador (ALMÊDA, 2017; CARDOSO, 2014; DA
SILVEIRA, 2010; NÚNCIO, 2015; TAVARES, DE SOUZA, 2012)
Se por um lado, as novas gerações apresentam familiaridade
com o uso das inovações tecnológicas que surgem aceleradamente
as gerações mais velhas, dos idosos, por sua vez, encontram-se no
extremo oposto, sentindo-se no meio de um “bombardeio tecnoló-
gico” que lhes causa estranheza, medo e/ou receio (DA SILVEIRA,

221
2010). No entanto, o surgimento da gerontotecnologia traz diver-
sas alterações ao campo do envelhecimento, com os novos métodos
de apoio e monitorização de idosos.

A gerontotecnologia veio alterar a maneira


como se envelhece, quer seja a nível institu-
cional, promovendo a autonomia de um idoso
utilizando um aparelho de aviso para a toma
de medicação seja de num horário ou de um
medicamento específico; quer seja residir
em domicílio [...]. Este tipo de tecnologias são
facilitadoras do processo de envelhecimento,
permitindo que os idosos que as utilizam mini-
mizem as dificuldades sentidas no seu dia a
dia. (MARTINS, 2017, p.6)

Ainda de acordo com o autor, o domínio tecnológico que


associa o desenvolvimento de novas tecnologias e o aperfeiçoa-
mento das existentes, é vista como um instrumento de inclusão e
acessibilidade e minimizando o isolamento (BARROS et al., 2012;
NÓBREGA, 2022).

Uso das TDICs e pandemia

Para o ser humano, o processo de socialização ocorre desde a


infância, o indivíduo é inserido ao meio social desde que nasce e vai
assimilando o que aprende ao interagir com os outros ao seu redor.
Dessa forma, a base para esse contato inicial é a família, em que
a criança receberá de forma primária suas referências, sendo esse
processo denominado de socialização primária (BERGER; BERGER,
1977). Esse aspecto também ajuda a constituir a identidade do
indivíduo, uma vez que é por ele que o indivíduo compreende as
configurações da sociedade em que está inserido. Levando-se em
consideração o aspecto social para a formação da identidade.

222
Ao adentrarmos na questão das redes sociais, percebemos um
grande espaço que elas vêm ocupando na vida das pessoas, princi-
palmente com a intensificação do uso após o momento de reclusão
social causado pela quarentena devido a pandemia do COVID-19.
Assim como para Marteleto (2001), entendemos por redes sociais
um espaço de comunidade não físico, em que um grupo de indiví-
duos se agrupam por afinidades que compartilham entre si.
Na sociedade atual contemporânea, há uma grande circulação
de informações e de produções, o que acarreta em um ambiente
social mais plural e diversificado. (SETTON, 2005). Dessa forma, há
diversos grupos possíveis para que o indivíduo interaja e crie novos
vínculos a todo momento. E as pessoas idosas no tempo atual, tam-
bém se deparam com essa nova configuração da realidade e de
novas possibilidades de conexão com os outros.
Neste contexto, a pandemia modificou não somente as estrutu-
ras socioeconômicas, mas também as interações humanas. Devido
ao distanciamento social, o uso das TDICs proporcionou a automa-
ção da comunicação, sendo utilizadas como ferramentas media-
doras de ensino e aprendizagem. Frente a isso, foram percebidos
desafios e oportunidades perante ao uso das tecnologias, visando
possibilitar um cenário de inclusão digital com maior acesso para
público da pessoa idosa. A interação online contribuiu para que
algumas dificuldades relacionais, escolares e profissionais fossem
minimizadas. As conversações na internet com amigos e familiares,
a educação a distância e o teletrabalho certamente não resolveram
as limitações impostas pelo isolamento social, mas permitiram que
a crise não fosse ainda maior (PRIMO, 2020).
Assim têm-se constatado que a pandemia do novo coronaví-
rus alavancou as tecnologias digitais como um marco que passou a
ser utilizado de forma precisa no “novo normal”, sendo que antes
essas eram usufruídas apenas de forma voluntária e até mesmo
dispensável mesmo já sendo de conhecimento de uma parcela da
sociedade.

223
Resultados e discussão

A participação das oficinas foi potencializada pela disponibili-


dade e vontade dos participantes em aprender sobre as temáticas
discutidas e aprofundarem seus conhecimentos prévios, com amplo
espaço para explanação de dúvidas e experiências vivenciadas.
O grupo de facilitadores constituiu-se em um grupo de suporte,
com caráter educativo e informativo, homogêneo e coordenado por
quatro extensionistas. Ao decorrer dos encontros foram identifi-
cadas as dificuldades mais presentes e sanadas de forma didática
e interativa por meio da utilização de recursos audiovisuais, com
suporte de forma simultânea à exposição dos temas nas oficinas,
bem como no decorrer da semana, à medida em que os participan-
tes treinavam as atividades aprendidas.
As Oficinas consistiram em espaço virtual de forma grupal,
não houve desistência de nenhum dos participantes da amostra.
Com relação a frequência, 53% da amostra participou de 70% das
oficinas. Os 30% dos idosos faltaram de 1 a 3 encontros, mas jus-
tificaram previamente a equipe, e os motivos alegados foram con-
sultas previamente agendadas e exames médicos. Para que não
houvesse perda de conteúdo, buscou-se sanar os prejuízos da falta
com o envio de instruções e materiais de apoio.
Foi criado também, além das oficinas, um espaço virtual, gru-
pal e individual, para apoio e instrução durante o treino e a reali-
zação de atividades durante os demais dias da semana. Este espaço
adequou-se ao envio de instruções, esclarecimentos, materiais de
apoio e vídeos tutoriais das atividades para que os participantes
pudessem exercitar mais a prática, como também que os auxilias-
sem nas dificuldades.
O contato entre os participantes e a equipe foi além das ofici-
nas na sala virtual dos encontros. Foi criado um grupo de mensagens
virtuais através do aplicativo whatsapp e foram disponibilizados
chats individuais com a equipe facilitadora para que fosse possível
um suporte individual.

224
A equipe facilitadora foi percebida como importante fonte de
suporte social proporcionando apoio informacional e instrumental,
uma vez que o apoio informacional está associado à ajuda e à assis-
tência em tarefas e o apoio informacional compreende a orientação
e informação (SIQUEIRA; BETTS; DELL-AGLIO, 2006).

Projeto de intervenções

As oficinas foram estruturadas conforme ilustra o quadro


abaixo.
QUADRO 1 - Planejamento e realização das oficinas.

Oficinas Temas trabalhados Recursos utilizados


Conhecendo o Cuidados importantes antes Material audiovisual e
Google Meet de entrar em uma chamada; imagens ilustrativas com
entrar e sair de uma reunião; recortes do aplicativo.
verificar a conexão; desativar
e ligar microfone; recurso
de levantar a mão; desligar e
ligar a câmera.
1,2,3… testando! Treino das atividades Técnica elaborada pela
trabalhadas na oficina equipe.
anterior
Pesquisando Pesquisa por voz, texto e
com o Google imagem no Google; correção Material audiovisual e
das palavras no Google; o imagens ilustrativas com
uso do Google para o auxílio recortes da plataforma.
à atividades cotidianas;
possibilidades de temas para
pesquisa.

225
Oficinas Temas trabalhados Recursos utilizados
Google Maps O que é o Google Maps; como Material audiovisual, imagens
utilizar; principais recursos e do aplicativo e a técnica
ferramentas. “Cada pesquisa, uma história”
(elaborada pela equipe como
treino para as atividades
trabalhadas na oficina
anterior). Cada participante
pesquisou sobre algo que
lhe marcou e compartilhou
com o grupo, como poemas
e músicas, indicando como
pesquisou e o site em que
encontrou.
O mundo na Treino e aplicação dos Técnica elaborada pela equipe
palma das mãos assuntos trabalhados na em que cada participante
- Conhecendo oficina anterior. escolheu um lugar que
lugares com o gostaria de conhecer e o
Google Maps encontrou no Google Maps,
visualizando as ruas através
do recurso “visão imersiva” da
plataforma.
Identificando Como saber se um site é Material audiovisual e
sites seguros e seguro; verificando notícias imagens ilustrativas.
fake news de fontes confiáveis;
identificando fake news.
Desvendando o O que é um status, como Material audiovisual,
Whatsapp atualizar, apagar, silenciar e vídeos tutoriais e imagens
visualizar; como fixar, apagar ilustrativas com recortes do
ou arquivar uma conversa; aplicativo.
como enviar arquivos; como
enviar emojis e figurinhas;
o que é uma imagem
temporária e como enviar;
como realizar ligações de voz
e áudio em grupo e individual.

226
Oficinas Temas trabalhados Recursos utilizados
Desvendando o Configurações; privacidade; Material audiovisual,
Whatsapp explorando as ferramentas vídeos tutoriais e imagens
de uma conversa individual; ilustrativas com recortes do
explorando as ferramentas aplicativo.
de uma conversa em grupo;
configurações de conversa;
whatsapp e armazenamento.
Abrindo as Como realizar chamadas pelo Material audiovisual,
janelas virtuais Gmail, Google meet, Whatsapp vídeos tutoriais e imagens
- Como realizar e Instagram. ilustrativas com recortes do
chamadas pela aplicativo.
internet
Youtube Layout do youtube; principais Material audiovisual,
recursos e ferramentas; como vídeos tutoriais e imagens
pesquisar por texto e por ilustrativas com recortes do
voz; como transmitir para aplicativo.
TV; como ativar notificações,
se inscrever em um canal e
compartilhar o vídeo; como
curtir e comentar um vídeo;
como salvar; como ter mais
informações sobre o vídeo;
como acessar o histórico dos
vídeos que visualizou; como
publicar um vídeo.
Google Drive O que é o Google drive; Material audiovisual e
principais recursos; como imagens ilustrativas com
inserir um arquivo no drive; recortes do aplicativo.
como criar uma pasta no
drive.
Google Fotos O que é o Google Fotos e como Material audiovisual e
utilizar; como entrar em sua imagens ilustrativas com
conta; o que é um backup e recortes do aplicativo.
como fazer; lixeira; download
de arquivos; pesquisa e
favoritos.

227
Oficinas Temas trabalhados Recursos utilizados
Instagram Como criar uma conta; Material audiovisual,
como vincular ao Facebook; vídeos tutoriais e imagens
configurações iniciais; ilustrativas com recortes do
aprendendo o significado aplicativo.
dos termos do aplicativo:
Feed, Story, reels, live, direct,
boomerang e perfil; como
postar uma foto; como enviar
uma mensagem; como seguir
alguém; como interagir com
as publicações de outras
pessoas; configurações de
privacidade.
Gmail Como criar uma conta no Material audiovisual e
Gmail; como fazer login; como imagens ilustrativas com
deixar a conta mais segura; recortes do aplicativo.
como realizar uma chamada
pela conta do Gmail; como
excluir a conta.
Encerramento Retrospectiva do Material audiovisual.
desenvolvimento do grupo;
avaliação e feedback;
agradecimento da equipe e
encerramento do grupo.
Fonte: Elaboração própria.

Sociabilidade

Um dos aspectos que esteve presente de forma frequente nas


falas dos participantes, refere-se ao caráter de sociabilidade das
redes sociais, em que é possível por meio delas realizar conexões
de diferentes formas com várias pessoas, permitindo uma maior
sociabilidade para os usuários. Uma vez que a sociabilidade ganhou
novas formas na medida em que a internet surgiu, pois permitiu
que houvesse interações sociais sem que os indivíduos estivessem
presentes fisicamente no mesmo espaço (AMARAL, 2016).

228
Esse apontamento das redes sociais serem espaços de socia-
bilidade foi motivo para os participantes demandarem aprender
como mexer nessas redes, principalmente no Instagram que foi bas-
tante requisitado para ser tema das aulas. E, após essa demanda ser
acolhida, às pessoas idosas relataram sobre a facilidade com que
se pode conversar com os outros nessa rede social, principalmente
em ser fácil de acompanhar as atualizações na vida das pessoas por
quem eles têm apreço, seja familiares, amigos e colegas da UAMA, e,
até mesmo entre eles, o grupo que fez parte dos encontros.
Com as atividades e os treinos nas oficinas, os participantes
relataram maior facilidade na utilização. Ao ser trabalhado sobre o
Instagram, os participantes puderam aprender não só a postar atu-
alizações, fotos e compartilhar publicações, mas também interagir
com as outras pessoas e suas publicações. Já no que diz respeito
ao whatsapp, foi possível perceber maior desempenho e habili-
dade até mesmo nas conversas do grupo virtual e na realização das
atividades..
Compreendendo a universidade como um meio de socializa-
ção e responsável por promover também não apenas um espaço
em que essa sociabilidade apareça, mas que seja responsável em
aprimorar esse aspecto para os indivíduos idosos se incluírem nas
novas formas de socialização que surgem através da internet e as
plataformas online que buscam priorizar a conexão entre os indiví-
duos como no caso das redes ditas sociais.
Além da socialização proporcionada com a utilização das
TDICs, foram percebidos benefícios nesse aspecto com o desenvol-
vimento do grupo. Os idosos, por vezes, manifestaram o sentimento
de pertencimento do meio, além de se sentirem felizes por conse-
guir realizar pequenas atividades no meio digital, como afirma uma
das participantes: “O que vocês me ensinaram, me serve hoje e para
frente também. Fico muito feliz por postar no feed do Instagram,
mandar mensagens, filmar alguma coisa, mexer no Whatsapp foram
muito úteis. Tô aproveitando bastante!” (Mulher 8, 67 anos).

229
Sendo assim, verificou-se pelos relatos que os participantes
do grupo de extensão, conseguiram aprofundar suas habilidades
sociais no âmbito virtual. Assim como essa mesma questão trouxe
sensações de pertencimento, reforçando ligações/conexões já
existentes entre eles e pessoas quistas por eles. Ademais, há uma
integração dessas pessoas idosas ao cenário das redes sociais que
geralmente são mais habitadas por pessoas mais jovens, o que per-
mite incluir mais pessoas a essas redes, rompendo com o estereó-
tipo de que esses locais virtuais são para um público mais jovem,
quando na verdade, essa afirmação esconde a realidade de que as
pessoas idosas desejam estar presentes nesses meios virtuais de
sociabilidade, mas, podem não estar presentes neles por não serem
devidamente instruídos acerca de como mexer nesses aplicativos,
como também foi relatado pelos participantes, além de que apon-
taram sobre a falta de paciência das pessoas em ensinarem como
mexer nesses aplicativos e redes sociais. Ao pedirem para aprender
outras coisas, é percebido que eles querem ser incluídos no meio
digital, rompendo com o estereótipo de que ali não é o lugar de
idoso.

Autonomia

O processo de envelhecimento pode trazer diversas impli-


cações para a qualidade de vida do indivíduo, impactando aspec-
tos como a autonomia e independência nas atividades diárias
(CARDOSO, 2018). Somado a isso, o distanciamento social, advindo
da pandemia de COVID-19, implicou a diminuição da mobilidade
urbana e da sociabilidade, resultando no aumento da virtualização
das relações sociais e no alargamento do uso de tecnologias para
busca de informações, lazer e entretenimento (MONTENEGRO et
al., 2020).
Para aqueles que não tinham tanto costume com o ambiente
virtual, se tornou um desafio. Com muitas dificuldades em pla-
taformas como Google meet, que era a mais exigida já que eles

230
também participavam de aulas online, havia a dificuldade de abrir
o microfone, a câmera, além de não terem conhecimento de todos
os recursos. Foi nesse sentido que nos colocamos como facilitado-
ras e estimuladoras, tirando dúvidas e interagindo de maneira com
que eles pudessem usar recursos não apenas do Google meet, mas
também do Instagram e Whatsapp, Youtube e outros aplicativos.
São dificuldades que refletem, por exemplo, em situações do coti-
diano como na impossibilidade de pessoas idosas em gerenciar seu
dinheiro, comprometendo mais uma vez a independência e autono-
mia dos mesmos, condição direta da qualidade de vida. Transferir
dinheiro até entrar em redes sociais se torna dificultoso por pos-
suírem uma interface menos amigável, foi visto que a falta de segu-
rança, o crescente números de golpes em idosos por aplicativos
aliados a fake news se tornaram mais um obstáculo que os faziam
resistir a novas facilidades que a tecnologia pode oferecer.
Conhecer e dominar a linguagem, os recursos eletrônicos,
torna-se passaporte para o ingresso na modernidade (KACHAR,
2003). Então, quanto mais ele adentrar nesse mundo, mais se sen-
tirá seguro, além de saber se prevenir contra golpes. Nos encon-
tros também foram apresentadas algumas maneiras de se proteger,
como reconhecer números oficiais do banco no Whatsapp e verifi-
car fake news, além de procurar sites seguros, sempre trazendo o
estímulo para que perguntassem e apre.
Era pedido que eles tentassem postar uma foto no instagram,
tentar criar um grupo no whatsapp, ou algo relacionado ao que foi
dado. Esta independência ou autoeficácia adquirida com o uso da
internet gera nos idosos um sentimento de utilidade, ou seja, pas-
sam a perceber que são capazes de realizar diversas atividades sem
ajuda de terceiros (PIRES, 2015).
A oficina também funcionava como um estímulo coletivo para
aprender, ir atrás de outros cursos, estudar e levar dúvida para o
grupo, um dos alunos relata: “Eu aprendi as coisas, mas eu queria
aprender mais a partir do que vocês trouxeram e acabei fazendo um
cursinho, aí eu aprendi muitas coisas, eu já sabia de alguma coisa, e
aprendi um pouco mais” (Homem 3, 71 anos).

231
Considerações finais

Esse estudo evidenciou as melhorias nos âmbitos da autono-


mia, socialização e adesão em um grupo de 17 idosos na adoção
de TDICs (Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação)
como forma de inclusão digital. Dessa forma, podemos correla-
cionar qualidade de vida com tecnologia, de maneira que é obser-
vado no grupo que eles conseguem ampliar seu ciclo de amizades,
seus hobbys e serem estimulados a aprenderem mais. Mediante o
exposto, é compreensível que por meio da laboração das ferramen-
tas digitais pôde ser desenvolvido e compartilhado a construção de
novos saberes para o uso de tecnologias pelos participantes.
A falta de conhecimento e prática se transformam em obstá-
culos que impedem o idoso de avançar. Apesar de identificarmos
a insegurança com o novo, o receio de fazer uma pergunta inade-
quada ou que já tenha sido respondida, a dificuldade de acesso a
recursos de auxílios que facilitem a aprendizagem, a dificuldade
com as atualizações e o medo com a segurança dentro da internet,
as extensionista ensinaram coisas mais básicas como mexer em
redes sociais que eles mais usam e que tem pelo menos um pouco
de prática.
A partir do exposto, aponta-se para propostas educativas mais
leves, descontraídas e prazerosas, onde a afetividade e a paciência
devem ser um ponto crucial. É nesse processo de aprendizagem
que a confiança e autoestima do idoso é reforçada e estimulada,
melhorando o convívio social, sua relação com novas atividades e
com o mundo de maneira geral.

232
Referências

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são digital: análise do uso das ferramentas tecnológicas pelos
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235
ESTRATÉGIAS DE MARKETING DIGITAL
PARA ALAVANCAGEM DE NEGÓCIOS

Sandra Maria Araújo de Souza


Ana Beatriz Silva de Farias
Bruna Rodrigues Monteiro
Elissandra Gonçalves dos Santos
Emerson Gonzaga da Silva
Maria Eduarda Ferreira de Farias
(Estratégias de Marketing Digital
para Alavancagem de Negócio - Cota 2020/2021)

Introdução

A quarta revolução industrial, ou também conhecida como a


indústria 4.0, tem se tornando uma realidade incontestável entre
as organizações deste século, onde grande parte dos processos que
compõem as operações comerciais passam por incessantes trans-
formações em inovação e desenvolvimento. A união de sistemas
inteligentes e da internet protagoniza o novo momento das corpo-
rações tecnológicas, que encontraram no comércio automatizado
um novo conceito para a eficiência, isto se deve ao crescimento
expressivo da escala produtiva, estas modificações abarcam uma
maior competitividade para as empresas, por racionalizar sua alo-
cação de recursos, também de se obter a integralização e otimiza-
ção de todas as suas atividades (BATINGA et. al., 2021).
Para reagir frente à concorrência, as organizações criam téc-
nicas cada vez mais sofisticadas para garantirem a sua existência
e expansão, é neste contexto que o Marketing Digital se mostra
como uma estratégia essencial para atrair novos clientes e fideli-
zar os antigos. A incorporação desta ferramenta aos propósitos de
relacionamento com o público alvo abarca em uma assertividade

237
no direcionamento da comunicação, seja para vender um produto,
receber feedbacks, estar por dentro de tendências, realizar parce-
rias, entre diversas outras possibilidades. Por isso, muitas funções
exercidas pelos gestores de vendas necessitam passar por adap-
tações para lidar com a realidade da modernidade, demandando
um novo perfil de profissional que se adapta aos canais midiáticos
dinâmicos das gerações Z e Millennials.
Os anos de 2020 e 2021 ficaram marcados como os momentos
mais delicados da crise sanitária causada pelo vírus da COVID-19,
em relação a este período o portal Agência Brasil (2022) observa os
efeitos da pandemia no acréscimo considerável no percentual das
micros e pequenas empresas, com aumento de 53,9% se comparado
a 2018, evidenciando que este fato histórico afetou profundamente
a vida das pessoas e da economia. Boa parcela das motivações deste
fenômeno se devem por questões de necessidade, porém o encon-
tro de oportunidades também ocorreu. Nesta perspectiva, o posi-
cionamento do empreendedor inexperiente por ainda não estar
consciente do cenário que se moldou e a falta de desenvolvimento
da sua maturidade digital podem acarretar em grandes dificulda-
des na adaptação ao necessitar criar um canal de comunicação bem
elaborado e moderno.

Justificativa

De acordo com Tapscott (1996), um dos primeiros autores a


refletir sobre o impacto das novas tecnologias da informação e comu-
nicação sobre a atividade empresarial, o mundo está presenciando
o nascimento de uma nova era, chamada de Era da Inteligência em
Rede, na qual surge uma nova economia, uma nova política e uma
nova sociedade, baseadas em indivíduos que, por intermédios de
redes, podem combinar sua inteligência, seu conhecimento e sua
criatividade para criar riqueza e desenvolvimento social.
Com isso, o computador e a internet passam a exercer influ-
ência importante na comunicação, que buscam ter a inovação,

238
agilidade e o aprendizado organizacional para construir relações
sólidas e duradouras com seus clientes. Entretanto, por ser uma
prática em sua essência mais experimental que técnica, surgem,
sobretudo para empreendedores individuais, algumas lacunas no
que tange à aplicar conceitos do marketing digital em seus negócios.
A partir então do reconhecimento dessas carências à adapta-
ção aos meios digitais em face do fomento na utilização das redes
sociais como ferramenta de vendas de produtos e serviços, é que
se buscou criar um projeto de estudo das estratégias fundamen-
tais para utilização do marketing digital como vetor comercial. O
estudo buscou fornecer conceitos e informações a respeito das fer-
ramentas básicas do marketing digital, a fim de capacitar pequenos
empreendedores e pessoas com o interesse de empreender para
utilizá-las em seus negócios.
Dessa forma, conseguimos traçar o objetivo central de desen-
volvimento e impulsionamento de cada negócio por meio desta
macro estratégia. Essa tendência digital, portanto, vem designando
um rumo essencial às pequenas empresas atualmente, qual seja,
estarem conectadas.
Graças a seu grande poder de propagação, a internet pode ser-
vir, portanto, para os pequenos empreendimentos, como elemento
estratégico básico para a divulgação de informações, que pode ser
feita diretamente para o público-alvo das empresas, aumentando
as possibilidades de repercussão na medida em que os receptores
da mensagem tendem a compartilhá-la (COLNAGO, 2014).

Referencial teórico

A Pandemia

Medidas de segurança sanitária foram implementadas em


diversos países na intenção de frear o contágio do vírus SARS-
CoV-2 e diminuir as chances de casos clínicos graves. Com o distan-
ciamento social e as incertezas que assolaram a população neste

239
período, as organizações foram compelidas a deslocar suas ativida-
des do ambiente físico para o meio digital.
Houve uma retração nas receitas em até 85% e a queda de
leads em até 83% das 500 empresas brasileiras estudadas pela
Ramper, plataforma de prospecção digital, Cruvinel (2020) aponta
a carência de investimentos em inovação e desenvolvimento nas
vendas como o principal motivo deste infortúnio, por outro lado
as companhias que já tinham agregado ferramentas de marketing
digital sofreram menos impactos durante a pandemia.
Empresas que souberam manusear bem ferramentas de
comunicação como as redes sociais despontaram no mercado e
conseguiram melhor administrar o momento adverso em favor do
seu negócio, melhorando até mesmo processos como é o caso do
atendimento ao cliente, ou customer success. Bezerra e Gibertoni
(2021) mencionam o fato de que metade da população atual utiliza
as mídias sociais e no ano de 2021 este número cresceu em 13%
durante um dos momentos mais delicados da crise global, alcan-
çando cerca de meio bilhão de usuários novos.

A Internet e as Redes Sociais

As redes sociais estão presentes na Internet e configuram


hoje muito mais que um meio de comunicação. O que vemos é uma
maior interação, geração de entretenimento, conhecimento e a
criação de um ambiente de negócios para os usuários. São definidas
por Ellison, Steinfield e Lampe (2007) como um espaço da Web que
permite a seus usuários construir perfis públicos, articular suas
redes de contatos e tornar visíveis essas conexões.
De forma complementar, Meira (2009) as considera como
mecanismos que possibilitam a construção do imaginário coletivo
e podem ser imprescindíveis para a criação e manutenção da socie-
dade em rede. A internet, com infinitas ferramentas, promove um
custo próximo a zero, um espaço interativo, dinâmico e didático,
propício aos negócios e a comercialização de produtos e serviços,

240
promovendo a aproximação das empresas e de seus públicos, além
de ser utilizada no posicionamento estratégico de marcas e na
diminuição de custos (COLNAGO, 2014).
Segundo Marques e Vidigal (2018), explorar o potencial das
redes sociais por meio da criação de valor na construção de relacio-
namentos; cuidar do conteúdo disponibilizado; integrar a estraté-
gia das redes sociais às estratégias da organização, principalmente,
de relacionamento; e estar apto a dar respostas rápidas aos clien-
tes, para Dong-Hun (2010), é um diferencial para as organizações
estarem à frente em seus mercados de atuação. Este mercado pro-
pulsor para pequenos negócios ficou mais evidente durante a pan-
demia do Covid-19.

Marketing Digital

Klein e Todesco (2021) destacam que em meio a discussão


sobre implicações práticas, encontra-se a necessidade de traçar
uma estratégia baseada no conhecimento para lidar com a situação
atual e as incertezas futuras. Ou seja, a aceleração do uso das novas
tecnologias deve ser acompanhada de um estudo voltado para as
necessidades específicas de cada empreendimento, o que compre-
ende entender a estrutura da empresa e adequar a melhor estraté-
gia em cada caso.
Sendo assim, Filho e Nascimento (2021) destacam o marke-
ting digital como a utilização estratégica de ferramentas aplicadas
ao espaço online, englobando a comunicação, publicidade, propa-
ganda, entre outros. Se esta tática for executada de forma assertiva
e transparente, uma relação de confiança pode ser criada, aproxi-
mando o cliente da marca. Com isto em mente, as principais técni-
cas abordadas pela extensão são:

241
QUADRO 1 - Técnicas abordadas pela extensão

A intenção é dar maior visibilidade ao negócio, traçando


meios para que mais pessoas conheçam a marca. As
redes sociais podem ser uma maneira de alcançar este
objetivo por permitirem e incentivarem a criação de
Perfil empresarial
perfis empresariais.
“Como no Instagram Business, você poderá alcançar
mais contas, utilizar métricas e conhecer seu público
com maior profundidade. ” Fonte: Recria, 2021.

Este conteúdo destrincha os valores e conceitos que


Identidade a organização pretende transmitir ao seu público,
da marca ressaltando a sua personalidade e se diferenciando dos
demais.

É a área de estudo que aborda a Neurologia e o Marketing


na esfera do comportamento do consumidor, através
Neuromarketing dele é possível assimilar o impacto emocional que o
consumidor tem ao entrar em contato com determinado
produto ou marca.

Refere-se ao fluxo de visitantes ao web espaço da marca,


aumentando as chances de vendas ou contratação.
Tráfego orgânico O modo orgânico se traduz nas visitas espontâneas,
e pago enquanto o modo pago reflete a publicidade onerosa,
a qual aumenta o alcance das postagens, além de ser
direcionado para o nicho de interesse.

Ao gerenciar a rede social da empresa é crucial estar


atento ao posicionamento da marca na plataforma, para
Gestão de redes
que o alcance e a reputação não sejam prejudicados,
sociais
como por exemplo comprar seguidores, postar com
baixa frequência, não interagir com o público e etc.
Fonte: Adaptado de Recria, 2021.

Estas matérias explanam o marketing digital para um exer-


cício cotidiano, onde a organização interage com seu público com
um grande imediatismo e precisa se adaptar a uma realidade
com tendências que mudam corriqueiramente, à vista disso, con-
seguir se destacar da concorrência pode não ser uma tarefa fácil,

242
especialmente para o empreendedor inexperiente. Scandolara
(2018) demonstra a visibilidade como um grande aliado na impul-
são de vendas, entretanto é imprescindível segmentar para atin-
gir o público alvo com o menor dispêndio de recursos e facilitar
a implementação da comunicação personalizada, a qual possibilita
uma interação mais próxima do consumidor. A empresa, de marke-
ting de recompensas, Minu (2022) reforça em seu blog que consu-
midores online interagem em até 72% mais com marcas que estão
atreladas aos seus interesses, ademais, brasileiros tendem a recom-
prar em lojas com atendimento personalizado em até 73%.

Objetivos

O objetivo geral do projeto foi fornecer conceitos e informa-


ções a respeito de ferramentas básicas do marketing digital, com
intuito de capacitar pequenos empreendedores e pessoas com o
interesse de empreender e utilizá-las em seus futuros negócios.
Para atingir o objetivo geral foram estabelecidos os seguintes
objetivos específicos: a) Apresentar conceitos básicos a respeito
do tema; b) Apresentar a importância do marketing digital para os
pequeno empreendedores; c) Debater como aumentar as vendas
através do marketing digital; d) Demonstrar como o uso de ferra-
mentas digitais simples podem facilitar e influenciar positivamente
o crescimento de seus negócios.

Objetivos alcançados

Na primeira edição, o projeto foi desenvolvido junto a estu-


dantes, empreendedores e pessoas com interesse em empreender
futuramente. Desse público, 57,9% eram estudantes, 23,7% tinham
o interesse de empreender futuramente e 18,4% já empreendiam.
Todos os objetivos propostos foram atendidos. Na primeira edição
do projeto foram discutidos os temas “Empreendedorismo no meio
digital” e “Instagram para pequenos e futuros empreendedores”.

243
Obtivemos um feedback positivo dos participantes, no qual 81,6%
classificaram o projeto como sendo ótimo e 18,4% como bom.
Na segunda edição, o projeto foi desenvolvido junto a estudan-
tes do segundo ano do ensino médio, da cidade de Campina Grande,
que tinham como objetivo a construção de uma ideia para a forma-
ção de uma start up. Dessa forma, foi realizada uma parceria com
o Ouse Criar, um projeto desenvolvido pelo Governo do Estado da
Paraíba, no qual foram realizadas diversas oficinas que serviram
como base para a formação das startups, tendo sido o “Estratégias
de Marketing Digital para alavancagem de Negócios” uma dessas.
Foram repassadas para esses alunos informações a respeito do que
é marketing digital, sobretudo o que é voltado às redes sociais e que
pudessem contribuir para que os alunos ampliassem suas visões
sobre o assunto. Outro objetivo alcançado foi o de familiarizar os
alunos com termos e métricas próprias do marketing digital e que
fazem parte do dia a dia do profissional de marketing, a fim de que
pudéssemos demonstrar melhor a rotina e as ferramentas de traba-
lho utilizadas nesta área.

Metodologia

Descrição metodológica

Para alcançar os objetivos propostos foram realizadas reuni-


ões e discussões remotas entre os participantes, pois a extensão
foi executada em um dos piores momentos da pandemia. Assim,
observou-se que a melhor abordagem para disseminar o conte-
údo seria com a realização de workshops e o contato direto pelas
redes sociais, com esses métodos seria possível discutir e aplicar os
conceitos de Marketing Digital de forma mais interativa, como tam-
bém explanar sobre como essas ferramentas auxiliam na gestão da
comunicação entre os seus usuários num perfil criado exclusiva-
mente para o Instagram.

244
Através do Revolução Criativa (RECRIA) – nome dado ao pro-
jeto na rede social, de emails aos alunos do Curso de Administração
da UEPB e representantes de turma, a extensão teve seus conteú-
dos divulgados com plenitude. Os materiais criados na plataforma
tinham temáticas específicas sobre o Marketing Digital e para orde-
nar a linha de raciocínio das postagens um calendário foi criado
entre os integrantes, com a seguinte divisão das demandas: (a) fon-
tes e conteúdos; (b) criação de artes, (c) legendas e revisões e (d)
interações e parcerias. A cada 2 dias eram realizadas pesquisas que
culminaram em publicações, interações e/ou mapas mentais para
serem divulgados no feed ou nos stories do perfil RECRIA.
Em um segundo momento, as aplicações das atividades pas-
saram a ser realizadas com a parceria de professores locais, junta-
mente com professores da Universidade Estadual da Paraíba- UEPB,
que atuam no curso de administração. O esquema desta colabora-
ção foi de levar informações científicas sobre o Empreendedorismo
Digital, sendo assim, os petianos ficaram responsáveis em gerir um
evento online que integrasse tanto os alunos, quanto os professores
e empreendedores convidados. As tarefas operacionais planejadas
eram: a divulgação, as inscrições, o evento, emissão de certificados
e coleta de dados.
Os workshops permitiram aos ouvintes uma troca de conhe-
cimentos muito enriquecedora com os profissionais da área. A
primeira edição foi dividida em dois dias, com os workshops
gratuitos que ocorreram nos dias 12 de maio de 2021, às 19
horas, com a consultora empresarial Pamela Abreu, a qual pales-
trou sobre o Empreendedorismo no Meio Digital, e 13 de maio
de 2021, no mesmo horário, com o social media Dyego Naque,
enunciando os conteúdos do Instagram para pequenos e futuros
empreendedores.

245
Análise metodológica

Tendo em vista que os micro e pequenos empreendedores


tiveram que migrar com urgência suas vendas para o online, o
grupo compreendeu que seria de suma importância disseminar o
conhecimento com métodos que os envolvidos conseguissem assi-
milar e aplicar de maneira prática em suas vidas, então um canal
de comunicação seria muito bem-vindo para possibilitar a união da
teoria com a prática, além de estabelecer um vínculo interlocutivo.
Deste modo, o projeto adotou a plataforma Instagram como o seu
principal meio de divulgação, pelo fato desta rede social ser uma
das mais relevantes da contemporaneidade, além de ter um grande
potencial para auxiliar nas vendas online por possuir recursos que
divulgam e engajam produtos/serviços.
Este diálogo iniciou o contato com o público-alvo na intenção
de divulgar conceitos básicos do Marketing Digital, a coordenação
das informações que eram difundidas despertaram o interesse da
plateia e geraram engajamento aos eventos que foram realizados
em momentos conseguintes.

Considerações finais

Consideramos que nossos objetivos foram alcançados, pois


todo o conhecimento possível (dentro das limitações) a respeito
do tema foram transmitidos aos participantes. Os participantes
demonstraram interesse pelo tema, fizeram diversas perguntas e
tiveram uma boa interação com os ministrantes dos workshops.
Alguns dos participantes já possuíam seus negócios e tiraram dúvi-
das sobre como implantar as estratégias do marketing digital em
seus empreendimentos.
O desenvolvimento deste projeto, pode atender a uma parcela
de empreendedores que não conseguiam custear consultorias, ou
até mesmo cursos de desenvolvimento de estratégias de negócios,

246
por estarem iniciando no ramo e enfrentarem dificuldades para
tornar seu empreendimento sustentável economicamente.
Outro ponto de destaque a se mencionar neste relato, trata-se
da segunda edição do projeto, com alunos do ensino médio da rede
pública de ensino. Nesta etapa do projeto, podemos apresentar a
estratégia digital não apenas como uma ferramenta para difusão de
marcas e modelos de negócios, mas também como um novo âmbito
profissional, onde, diariamente, surgem inúmeras oportunidades
de trabalho.
Com este foco, o público jovem, que está buscando qualificação
profissional e direcionamento de carreira pode enxergar as novas
possibilidades que o mercado apresenta e os caminhos flexíveis
que podem ser seguidos nesta área de tecnologia da informação
e marketing, mais especificamente. Assim, buscamos apresentar a
importância do marketing digital para os negócios e, com isto, gerar
o sentimento de oportunidade nestes jovens, uma vez que quando
criamos um mercado, também criamos necessidades, e nesse caso,
necessidades latentes de profissionais preparados e munidos de
boas informações.

Referências

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tos em 2021 – Levantamento do Sebrae mostra recorde entre
micro e pequenas empresas. Brasília. 2022. Disponível em:
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250
APRENDER A EMPREENDER: DESAFIOS
E CONQUISTAS NO PERÍODO DA PANDEMIA

Dra. Jacqueline Echeverría Barrancos1


Dra. Manuela Eugênio Maia2
Dra. Viviane Barreto Motta Nogueira3
Keila Silva de Macedo4
Kethlyn Queiroz Lourenço5
Natasha Rosana Silva Santos6
Wanderley Junior da Silva7

Introdução

Em um momento de constantes mudanças, a preocupação com


a sustentabilidade do planeta, a necessidade de inovar para garan-
tir o futuro dos empreendimentos e a busca por alternativas para
sobrepor a crise são os desafios marcantes na história do empre-
endedorismo. Ao longo do tempo, o estudo do empreendedorismo
tem se tornado atrativo e de grande interesse para diversos públi-
cos e segmentos que visam a uma relação com o desenvolvimento
da economia (DORNELAS, 2014; LOPES; OROFINO 2016). O Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2020a),
órgão da sociedade que presta um serviço de apoio aos empreende-
dores, vem atualizando suas metodologias e trabalhando com esse

1 Professora do Curso de Arquivologia - Campus V/UEPB -Coordenadora do pro-


jeto ‘Aprender a empreender: desafios e conquistas no período da pandemia’
(cota 2020-2021) - Área temática: Trabalho; linha programática: ‘17. Divulgação
Científica e Tecnológica’
2 Professora do Curso de Arquivologia - Campus V/UEPB. Colaboradora
3 Professora do Campus V/UEPB - Colaboradora
4 Discente do Curso de Arquivologia - Campus V/UEP - Colaboradora
5 Discente do Curso de Arquivologia - Campus V/UEPB - Colaboradora
6 Discente do Curso de Arquivologia - Campus V/UEPB - Bolsista
7 Discente do Curso de Arquivologia - Campus V/UEPB. Colaborador

251
perfil do empreendedor para solucionar os problemas da melhor
forma possível junto com o público empreendedor.
Compreende-se que, nesse contexto, o mundo vive momen-
tos de crise provocados pelo surto da doença causada pelo novo
coronavírus (SARS-COV-2), que, segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS), trata-se de uma emergência da Saúde Pública de
importância internacional – que é o mais alto nível de alerta consi-
derado por esse órgão como uma pandemia que levou as pessoas a
cumprirem medidas de isolamento social (OPAS, 2020). Essa rup-
tura gerada pelo coronavírus também impulsionou a mudança
dentro das empresas de qualquer porte. Se, antes, havia certa relu-
tância em abraçar as transformações digitais, agora se compreende
que é preciso inovar (FILHO, 2020).
Em resposta a esse novo panorama, a Universidade Estadual
da Paraíba (UEPB) promoveu, imediatamente, uma série de dis-
cussões e debates remotos junto com a comunidade para instituir
normativas para o funcionamento das atividades técnico-acadêmi-
cas, como a Instrução Normativa/UEPB/GR nº 001/2020 (UEPB,
2020a), que

estabelece instruções normativas para dis-


ciplinar o uso facultativo de tecnologias
digitais de informação e comunicação para
fins de ministração de conteúdos vincula-
dos a componentes curriculares de natureza
teórica, durante o período estabelecido na
PORTARIA/UEPB/GR/0014/2020

A Resolução nº 0229/2020, discutida e aprovada pelo Conselho


de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE), na UEPB, no sentido de
seguir as recomendações da OMS e das autoridades sanitárias do
país e fortalecer o isolamento social,

estabeleceu normas para a realização de com-


ponentes curriculares, bem como outras ativi-
dades de ensino e aprendizagem, orientação,

252
pesquisa e extensão, por meio de atuação não
presencial, na graduação, pós-graduação e no
ensino médio/técnico. (UEPB, 2020b)

A decisão conjunta do Egrégio Conselho do Ensino, Pesquisa e


Extensão (CONSEPE) e do Conselho Universitário (CONSUNI), em
reunião ordinária realizada em sete turnos, nos dias 18, 22, 23, 25
e 26 de junho de 2020, levou a UEPB a implementar novas formas e
rotinas de trabalho de forma virtual.
Nessa nova conjuntura, o projeto de extensão ‘Aprendendo
a Empreender’, inserido no Programa da Criação da Incubadora
Universitária, passou a ser um desafio, uma vez que todo o seu
processo de Educação Empreendedora proposta pelo SEBRAE visa
ressignificar as práticas de aprendizagem, de forma a considerar
fundamentos de autonomia para aprender de acordo com os quatro
pilares da educação (aprender a conhecer, aprender a fazer, apren-
der a viver juntos e aprender a ser) propostos pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Nesse sentido, a metodologia do minicurso ‘Aprender a
Empreender’ envolve 90% de práticas de aprendizado vivencial,
para que os participantes tenham a oportunidade de trabalhar os
hemisférios cerebrais de forma harmônica, adquiram autoconheci-
mento e desenvolvam atitudes empreendedoras. Entretanto, nessa
configuração, não foi possível conduzir o minicurso e foi necessário
aceitar os desafios, buscando soluções criativas para continuar a
ministrá-lo e incentivar os participantes da comunidade do Bairro
do Cristo Redentor a fazê-lo em formato online, porquanto o público
que se pretendia atingir para oferecê-lo era composto de pessoas
da comunidade.
Tendo em vista essa nova realidade, este estudo partiu do
seguinte questionamento: Qual(ais) o(os) desafio(s) a ser(em)
enfrentado(s) no período da pandemia do novo coronavírus na
perspectiva de aprender a empreender? Para tanto, o objetivo geral
do estudo foi de analisar os desafios gerados pela pandemia do

253
novo coronavírus, na perspectiva de ‘Aprender a Empreender’, para
disseminar a cultura empreendedora na comunidade acadêmica,
fazer uma revisão bibliográfica e selecionar as estratégias de forma
a conduzir o minicurso com êxito.

Cenário

Em tempos de um novo paradigma definido pelas tecnologias


da informação, como a internet das coisas, muito se fala em uma
possível falência dos métodos tradicionais de educação (BRUCE,
2018). Para Magaldi e Neto (2018), esse ambiente requer ousadia,
pensamento em longo prazo e, sobretudo, compromisso e coragem
para executar planos que fogem ao status quo. O estímulo à ação
fará toda a diferença no mundo em transformação, pois é do agir
que virão as principais lições de disrupção.
Quanto ao contexto para ofertar o minicurso, foi possível per-
ceber, no cotidiano das pessoas, a necessidade de avançar em seus
projetos pessoais e profissionais. Por tal motivo, foram elencados
os seguintes indicadores:
» A educação se renova, visto que as pessoas aprendem e
se adaptam ao novo de maneira particular em função de
suas habilidades de perceber e de absorver os conteúdos
e os interesses.
Quanto às experiências didáticas, foram aplicadas e
difundidas metodologias tecnológicas em sala de aula,
como o computador e, mais recentemente, o telefone celu-
lar, o smartphone, o notebook e o tablet (mobilidade),
todos conectados à internet, que impuseram uma adapta-
ção rápida ao ‘novo normal’ para apresentar os conteúdos
e produzir conhecimentos de forma eficaz. Atualmente, a
Web disponibiliza várias redes sociais online - Facebook,
Instagram, Pinterest, Reels, Messenger, Telegram, Linkedin,
Ning, Myspace, Wikipedia, Youtube, Twitter, entre outras
(ALCARÁ et al., 2006).

254
O uso do Instagram (lives), do WhatsApp (reuniões, cursos
com inteligência artificial), do Tiktok, do Youtube (vídeos),
da Plataforma Zoom (palestras) e da Plataforma Google
Meet (oficinas e palestras) foi um novo processo de ensi-
no-aprendizagem que resultou em novas vivências e expe-
riências na educação.
» Relação entre o tempo, o espaço e o custo: nas ativida-
des de trabalho como ‘home office’, o processo de ensino-
-aprendizado ficou mais flexível para organizar horários.
O espaço não chega a impor uma estrutura, para entender
que, com um smartphone, um celular, um tablet, um com-
putador ou um notebook, podem oferecer condições de
trabalho com o menor custo para obter os melhores resul-
tados e condições no processo educacional.

Dos procedimentos teórico-metodológicos

Considerando que o projeto de extensão foi realizado em meio


a um público formado por empreendedores individuais e outros
potenciais empreendedores de forma virtual, tendo como campo de
estudo a definição de estratégias para implementar no minicurso
‘Aprender a Empreender’ e que, na literatura atual, o assunto é rela-
tivamente inexplorado, foi adotada uma estratégia exploratório-
-descritiva como abordagem metodológica. O método exploratório é
considerado particularmente adequado, porque é empregado para
analisar problemas complexos e quando existe pouca ou nenhuma
informação prévia sobre o problema em questão (RICHARDSON,
2008; MALHOTRA, 2001). Devido ao pouco conhecimento que se
tem desse perfil das decisões estratégicas, nesta pesquisa, só foram
adotadas as medidas recomendadas pelo SEBRAE.
Por outro lado, a pesquisa descritiva procura descrever fenô-
menos ou estabelecer relações entre as variáveis, uma vez que se
preocupa em investigar, analisar e descrever as estratégias que
foram viabilizadas para enfrentar a crise no período da pandemia
do novo coronavírus (MCDANIEL; GATES, 2003; MICHEL, 2009).

255
Nesse transcurso de tempo e dos novos desafios, o minicurso
‘Aprender a Empreender’ foi ofertado de forma virtual, seguindo a
metodologia recomendada pelo SEBRAE (LOPES, OROFINO, 2016).
Porém, o percurso não foi realizado completamente, com as dinâ-
micas e uma série de práticas, simulações e jogos de negócios que
só poderiam ser feitos presencialmente (SEBRAE, 2022).
Ressalte-se, entretanto, que os participantes foram informa-
dos do uso de algumas estratégias relevantes que complementam
o processo, como: Design Thinking, Oceano Azul e Modelo Canvas.
A primeira tem o objetivo de auxiliar o empreendedor a entender
as demandas reais do mercado e a adotar estratégias para atender
a dessas demandas; a segunda visa conhecer o mercado da concor-
rência, com reais condições para que ele possa criar produtos que
ainda não foram ofertados no mercado; e a terceira objetiva facili-
tar a compreensão e visualizar o negócio como um todo, mediante
um mural que expõe nove ações para o empreendedor.
A metodologia baseia-se nos novos paradigmas, em que o
empreendedorismo adota as redes sociais em um sentido amplo,
sistêmico e sustentável. Como a metodologia empregada foi semia-
berta, os participantes adequaram o empreendedorismo à realidade
cultural e social, aprimorando e ampliando as vivências propostas
para que os participantes tivessem a oportunidade de trabalhar os
hemisférios cerebrais de forma harmônica.

Descrição e análise

A disciplina foi estruturada em quatro oficinas, cada uma com


10 horas-aula de duração, portanto, 40 horas de aplicação com os
participantes. Os conteúdos e as oficinas do minicurso foram orga-
nizados em encontros. Cada oficina foi constituída de 2h/a, aplica-
das em um único encontro, conforme o planejamento já organizado.
Redes sociais, como o Instagram, o WhatsApp e o Youtube, possibili-
taram a aproximação entre pessoas em meio à crise sanitária viven-
ciada no Brasil a partir de março de 2020.

256
QUADRO 1: Estrutura do minicurso ‘Aprender a Empreender’
Carga
Oficina Temas Palestras
horária
Empreendedorismo e
Oficina 1 O Empreendedor características do comporta- 4h/a
mento empreendedor
O Empreendedor e Análise do mercado e a
Oficina 2 20h/a
as oportunidades identificação de oportunidades
Modelo de Negó- Simulação do modelo
Oficina 3 06h/a
cios de negócios Canvas
Unidades informacionais
Oficina 4 Marketing 10h/a
no Arquivo
Fonte: Dados da pesquisa - 2022

Para entender bem mais esse processo, do ponto de vista da


estrutura do minicurso ofertado no contexto do Campus V, tivemos
o objetivo de desenvolver projetos de educação empreendedora.
Ao longo dessa jornada de atividade acadêmica, participamos de
treinamentos e capacitação em parceria com o SEBRAE (2020) e de
outros eventos e palestras de valor ligadas ao ambiente empresa-
rial e organizacional. Iniciamos o trabalho em 2011 e, ao longo do
tempo, esse projeto foi se credenciando pela procura e demanda de
atuais e potenciais empreendedores.
Dados do SEBRAE mostram que atualmente o Brasil tem 19
milhões de empresas, das quais 9.810483 são microempresas indi-
viduais. Na Paraíba, são 134.368 empresas. Desse segmento, estão
em primeiro lugar as áreas de serviços, comércio, indústria, cons-
trução civil e agropecuária.

Ambiente virtual de aprendizagem aplicado


do ensino de empreendedorismo

Atualmente, o novo panorama do mundo digital e conectado


propicia a criação de ferramentas educacionais, o que contri-
bui para o surgimento dos ambientes virtuais de aprendizagem.
O ambiente virtual de aprendizagem é uma plataforma que

257
disponibiliza ferramentas de comunicação, colaboração, adminis-
tração e interação.
A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) disponibilizou
gratuitamente, para toda a comunidade (professores, estudantes
e técnicos administrativos), a plataforma G Suite. Para a UEPB, foi
uma adesão, sem custos, da Instituição aos serviços Google que pas-
sam a ter acesso a e-mail ilimitado, Google Drive, Agenda, Hangouts,
Meet, Fóruns, Google Sala de Aula, entre outras ferramentas dispo-
níveis pela plataforma (LIMA; et al 2020).
Partindo dessa perspectiva, Valle e Marcom (2020) observa-
ram que o “novo normal” abriu um chamado para investigar os
Projetos Políticos (PP) que se apresentam como campo fecundo
para pensar a respeito do momento histórico vivenciado pela edu-
cação em 2020.
Nesse escopo e com a finalidade de realizar novas ações, tendo
em vista que o curso foi ofertado de forma virtual, iniciou-se um
processo de comunicação com o público para que conhecesse os
eventos ofertados pelo Projeto de Extensão.
Para essa etapa, foram realizadas diversas ações com a equipe
do projeto, como: design, logotipo e alimentação das informações. A
ferramenta utilizada para tal foi o Instagram @empreenderuepb, por
meio do perfil do projeto, postagens no feed, dias antes do evento, e
pelos stories diariamente durante o período de inscrição. (FIGURA 1)

FIGURA 1. Aprender a Empreender @empreenderuepb

Fonte: Elaborada pelos autores (2022)

258
Identificação das ações desenvolvidas

Com o objetivo de tornar o minicurso ‘Aprender a Empreender”


atrativo e difundir o espírito de empreendedorismo com os partici-
pantes, foram desenvolvidas diversas ações: i) planejamento de ati-
vidades com a coordenadora do Programa da criação da Incubadora
Universitária; participação em reuniões com a equipe de trabalho;
iii) participação em cursos para promover o curso de forma virtual;
iv) Minicurso Aprender a Empreender; v) lançamento da conta do
Instagram e vi) oferta de palestras para a comunidade.
Durante os dois meses de planejamento das ações, algumas
questões norteadoras foram sobre como estimular atitudes inova-
doras em salas de aulas virtuais e questões sobre a efetividade do
ensino prático de empreendedorismo e das práticas para despertar
nos participantes comportamentos e estimular atitudes.

i. Participação em reuniões com a equipe de trabalho


Quinzenalmente, as reuniões foram realizadas para aprimorar
a nova modalidade ofertada de forma virtual. Essas reuniões foram
realizadas para definir o cronograma de ações, como oferta do mini-
curso para os estudantes do Curso de Relações Internacionais do
Campus V; participação em cursos para aprimorar o conhecimento
das ferramentas virtuais; definição do conteúdo e capacitação pelo
SEBRAE; lançamento do Instagram ‘Aprender a Empreender’ e
organização de palestras.

ii. Participação em cursos de capacitação


Considerando a necessidade de aprimorar os conhecimentos
para ofertar o minicurso ‘Aprender a Empreender’, todos os parti-
cipantes da equipe de trabalho participaram de módulos de capa-
citação para aprender sobre empreendedorismo. Os cursos eram
promovidos pelo SEBRAE, via Whatsap. Foram sete cursos. (Ver
FIGURA 2):
• Conhecendo e valorizando seu cliente
• Planeje suas metas e resultados

259
• Avaliando as vendas do seu negócio
• Será que sou empreendedor? (Finalizado)
• Empreendedor de sucesso
• Controle de movimentação financeira
• Marketing digital: planejar para vender pela Internet
(Iniciado)

FIGURA 2. Módulo de Capacitação

Fonte: Elaborada pelos autores (2022)

Lopes, Lima e Nassif (2017) afirmam que, em época de crise,


quando o número de desempregados aumenta, e as oportunida-
des de emprego encurtam, mesmo para o segmento de jovens mais
capacitados, como os universitários, é necessário ajudá-los a desen-
volver uma perspectiva ampla de suas carreiras, estimular uma
mentalidade empreendedora e capacitá-los nessas competências
para prepará-los para a sociedade do conhecimento e para contex-
tos mais incertos. Essa foi uma das contribuições mais importantes
para a equipe de trabalho aprender sobre a educação empreende-
dora, especialmente temas que, para eles, seriam complexos, como,
por exemplo, o controle de movimentação financeira.

260
Na Oficina 1, o tema foi ‘O Empreendedor’, se trabalhou com
um curso básico sobre empreendedorismo e características do
comportamento empreendedor, a oficina durou 4 h/a”. (FIGURA 3)

FIGURA 3: Minicurso ‘Aprender a Empreender’

Fonte: Elaborada pelos autores - 2022

Conforme o calendário e o planejamento de atividades,


o minicurso foi promovido para os estudantes do Projeto da
Incubadora Universitária, com a finalidade de transmitir o conhe-
cimento básico sobre as ferramentas necessárias para empreen-
der as características do empreender e motivá-lo a empreender. A
capacitação foi realizada de forma virtual, por meio da plataforma
do Google Meet, em 29.04.21, em uma quinta-feira, das14:00
às18:00h. Link: meet.google.com/jtt-wgbb-pym. Compareceram
dez alunos do Curso de Relações Internacionais (RI), duas profes-
soras e duas monitoras.
A oficina foi desenhada para que os participantes dominas-
sem os principais conceitos de empreendedorismo e dinâmicas
de trabalho para estimular e inovar, criando formas e ambientes
para o desenvolvimento de ideias em sturtups, não apenas com
técnicas expositivas, mas também, sobretudo, com técnicas que
estimulassem o desenvolvimento de competências empreendedo-
ras das alunas de RI. Podemos inferir que a UEPB deve participar

261
desse esforço, a fim de que os estudantes de RI ampliem sua visão e
tomem a iniciativa de empreender, transferir e aproveitar o conhe-
cimento na comunidade e inseri-lo em empresas e outros tipos de
atores.

FIGURA 4. Participantes do minicurso ‘Aprender a Empreender’

Fonte: Elaborada pelos autores (2022)

No segundo momento da oficina, foi aplicado um questioná-


rio com os dez comportamentos empreendedores mapeados por
David McClelland. Cada campo contempla as características orga-
nizadas em três conjuntos, a saber: Características relacionadas ao
Conjunto de Realização (Busca de oportunidades, Persistência,
Comprometimento, Exigência de qualidade, Eficiência e Correr
riscos calculados). Características relacionadas ao Conjunto de
Planejamento (Estabelecimento de metas, Busca de informação,
Planejamento e Monitoramento sistêmico). Características rela-
cionadas do Conjunto de Poder (Persuasão, Rede de contatos,
Independência e Autoconfiança).

262
FIGURA 5: Perfil empreendedor de características

Fonte: Dados da pesquisa (2022)

Na FIGURA 5, vê-se que as características mais impactantes


estão inseridas no campo do Poder, em que ser empreendedor sig-
nifica ter independência, autoconfiança, persuasão e redes de con-
tato, além de planejar e estabelecer metas.
Na Oficina 2, cujo tema foi ‘Oportunidades’ e que durou 20
h/a, o objetivo foi de entender e estimular atitudes do empreende-
dor para fazer acontecer e estimular pequenas ações práticas dos
participantes. Na FIGURA 5, apresenta-se um dos encontros para
realizar essas atividades.

FIGURA 6: Participantes da oficina

Fonte: Elaborada pelos autores (2022)

263
Como pode ser visto na FIGURA 6, os desafios para quebrar a
rotina e experimentar o diferente podem ser realizadas no dia a dia,
em casa, e foram exemplos de atitudes que os participantes assumi-
ram e aprenderam a desvencilhar da zona de conforto, aprendendo
a explorar novas possibilidades, ampliar a capacidade do cérebro,
perceber oportunidades e vislumbrar soluções.
A Oficina 3 – ‘Modelo de Negócios’ – em que se trabalhou
com o Ensino de Empreendedorismo, foi organizada em formato
de palestra, intitulada ‘Empreendedorismo: a arte de empreen-
der em ‘arquivos”. Com um público mais abrangente, a oficina foi
promovida em parceria com a professora Manuela Eugênio Maia,
em 20 de agosto de 2021, e divulgada pelo Instagram. Foram ins-
critas 100 pessoas, por meio do link https://drive.google.com/
file/d/1MMs7-
Nessa oficina, trabalhou-se com a metodologia do Oceano Azul,
cujo objetivo é de possibilitar que qualquer organização – grande
ou pequena, estreante ou veterana – assume o desafio de criar oce-
anos azuis para maximizar oportunidades e minimizar riscos (KIM;
MAUBORGNE, 2019).
A estratégia do oceano azul rompe com o estrangulamento da
competição. O ponto nevrálgico da oficina é a noção de mudança
da visão de competir para criar uma nova oportunidade de mer-
cado e tornar a competição irrelevante (KIM; MAUBORGNE, 2019;
OROFINO; LOPES, 2016).
A Oficina 4, em que foi abordado o tema ‘Marketing’, foi
organizada em formato de palestra, intitulada ‘Marketing para
Unidades de Arquivos: usos e usuários da Informação’. A oficina,
da qual participou um público mais abrangente, foi promovida
em parceria com a professora Manuela Eugênio Maia, em 27 de
agosto de 2021. Foi divulgada via Instagram e teve um alcance
de 75 inscritos. Link da palestra: https://drive.google.com/
file/d/1CCNnr_zJEOt0Rxr-s7IDhN6NR1qPJ-1C/view

264
FIGURA 7: Divulgação das palestras no Instagram

Fonte: Elaborada pelos autores (2022)

Na palestra sobre Marketing, foi trabalhado o Modelo Design


Thinking, um processo de pensamento que vai além da necessi-
dade de criar um produto ou serviço. Significa se colocar no lugar
do outro para compreender melhor seu comportamento de com-
pra e seus desejos. Assim, é possível traduzir observações em insi-
ghts que podem acenar para melhorar a vida das pessoas. Do ponto
de vista da filosofia do Marketing, propõe, em seu escopo, que se
atenda às necessidades do consumidor.

FIGURA 8: Participantes da palestra sobre Marketing

Fonte: Elaborada pelos autores (2021)

265
Finalizando o projeto de extensão, com a viabilidade e a execu-
ção das ações, convém afirmar que o empreendedorismo pode ser
ensinado a qualquer pessoa, desde que sejam utilizadas metodolo-
gias de ensino apropriadas, com procedimentos, vivências e técni-
cas adequados ao processo de ensino-aprendizagem.
Maia et al (2021) asseveram que, além das instituições de
ensino e das organizações que focalizam os processos de aprendi-
zagem, a educação é um importante ambiente em transformação
que demanda uma reflexão profunda sobre os modelos de aprendi-
zado mais adequados para essa nova era.

Considerações finais
Com o estudo de extensão, foi possível concluir que o fenô-
meno empreender já vinha se expandindo no Brasil, quanto aos
desafios de aprender e empreender. Mesmo antes da pandemia
do coronavírus, mas, devido ao isolamento social, os cursos online
passaram a ser bastante procurados, e isso gerou demandas.
Considerando que o minicurso ‘Aprender a Empreender’ é
curto e que teve algumas limitações devido ao isolamento social, o
projeto-piloto teve excelentes resultados, demonstrados na satis-
fação dos participantes, que declararam que as oficinas trazem
abordagens inovadoras para o desenvolvimento de competências
empreendedoras. Nesse contexto, as oficinas promovidas acenam
para um caminho viável quando se trata de ensinar empreendedo-
rismo para vários públicos, vão além da formação em negócios e
possibilitam que a atitude de empreender seja desenvolvida dentro
dos princípios da educação contidos nos quatro pilares da UNESCO.
Com a pandemia, no que diz respeito ao processo de ensino-
-aprendizagem no âmbito online, a educação passou a ser uma nova
realidade para muitas organizações, um cenário que antes parecia
distante da realidade. Manter esse vínculo pode ser uma chave para
as grandes empresas abrirem as portas do futuro pós-pandemia
e para que os pequenos empreendedores tenham acesso a novos
mercados e novos clientes.

266
É importante destacar o desempenho da UEPB, que, por meio
de Portarias e de Resoluções, manteve as suas atividades universi-
tárias em formato remoto. O corpo docente teve que se adaptar às
novas formas de promover o ensino, a pesquisa e a extensão, visto
que contribui para fazê-los perceber que podem ser os protagonis-
tas de mudanças no universo das atividades acadêmicas.
No caso do SEBRAE, ao cooperar com a UEPB, oferece acor-
dos e parcerias para implementar a educação empreendedora, com
soluções metodológicas e a expertise na capacitação dos professo-
res para difundir uma cultura mais empreendedora nas IES e pro-
mover oportunidades.
No caso específico do minicurso ‘Aprender a Empreender’,
um novo caminho a ser percorrido e não pavimentado desafiou-
-nos a saber fazer as coisas em momentos muito críticos de enfren-
tamento da saúde pública mundial e a superar as adversidades
impostas pela crise da pandemia. Como proposta extensionista,
foram atendidos, aproximadamente, 130 usuários-internautas, que
participaram on-line de nossas quatro oficinas promovidas, para
cujos participantes foram emitidos certificados.

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componentes curriculares, bem como outras atividades de ensino
e aprendizagem, orientação, pesquisa e extensão, por meio de
atuação não presencial, na graduação, pós-graduação e no ensino
médio/técnico, excepcionalmente durante o período de suspensão
das atividades acadêmicas presenciais por causa da pandemia da
COVID- 19. Campina Grande, 2020b. Disponível em: http://trans-
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270
PLANO DE CLASSIFICAÇÃO DO ARQUIVO DA EECI
COMPOSITOR LUIZ RAMALHO-JOÃO PESSOA/PB

Viviane Barreto Motta Nogueira1


Aline Cristina da Silva2

Introdução

Assim como a humanidade vem sofrendo uma evolução cons-


tante nos seus processos e atuações profissionais, não tem sido
diferente com a arquivologia onde as mudanças ao longo dos
anos, têm sido positivas. Na antiguidade, os arquivos em guardas
eram para reivindicação de direitos, no entanto com a evolução do
tempo, mais especificamente, entre os séculos XVIII e XIX, os arqui-
vos ganharam valor histórico e imprescindível para as organizações
públicas e privadas.
De acordo com Bottino (1994), ainda na antiguidade, os arqui-
vos surgiram quando os indivíduos passaram a registrar seus atos
e informações necessárias à sua vida social, política e econômica.
Com o crescimento e evolução da escrita e da vida social, o ser
humano passou a compreender melhor o valor da informação e,
por conseguinte, o valor dos documentos.

Arquivos são locais destinados à guarda orde-


nada de documentos criados por instituições
ou pessoas, no decorrer de suas atividades,
buscando a preservação desta documentação
como um conjunto e não como unidades isola-
das, pois estes na sua maioria servem de prova

1 (Coordenador) Departamento de Administração e Economia – DAEC Campus I


– Campina Grande - Plano de Classificação do Arquivo da Escola Estadual EECI
Compositor Luiz Ramalho – João Pessoa/PB (COTA 2020/2021)
2 (Bolsista) Discente do Arquivologia -Campus V – João Pessoa

271
de transações documentais realizadas e estão
relacionados com os direitos e deveres destas
instituições ou pessoas (LOPES, 2004, p.1).

A Pandemia da Covid-19 tem imposto ao mundo e às institui-


ções, formas de pensar e se articular em novas rotinas de vida pes-
soal e convívio social, dessa forma, este estudo se justifica através
da importância da aplicação dos conceitos da gestão documental e
plano de classificação para ser implantado na Escola Estadual EECI
Compositor Luiz Ramalho, reforçando a perspectiva de proporcionar
a organização do arquivo escolar e facilitar o acesso aos documentos,
pois a ausência do mesmo na sua estrutura administrativa influencia
diretamente na tardia resposta às demandas de seus usuários.
A gestão documental qualificada, dentro do ambiente escolar
que é grande produtora de documentos, é de extrema importância,
sendo necessário buscar meios precisos na gestão de documentos,
esclarecer aos órgãos responsáveis sobre a importância do profis-
sional arquivista nesse processo cuja finalidade é promover uma
gestão otimizada desses documentos, nos locais que necessitam
desta prática.
Outra vertente a ser adotada diz respeito a classificação de
documentos que tem que ser pensada no âmbito geral da estrutura
escolar visando a organização dos documentos produzidos e rece-
bidos pela Instituição em suas atividades desde a produção até sua
recuperação. O objetivo principal da classificação de documentos é
a organização e acesso do arquivo, transformando o manuseio des-
ses documentos e sua acessibilidade para que responda de forma
eficaz e eficiente aos usuários e conscientizando os órgãos respon-
sáveis, sobre a importância da adoção de um plano de classificação
para um bom desempenho funcional, seja ele administrativo, pro-
batório ou histórico.

A necessidade de gestão do ciclo de vida dos


documentos, as questões relacionadas com
a acumulação documental e o problema

272
imperativo de determinar qual o destino a dar
aos diferentes tipos de documentos, condu-
zem-nos a considerar a classificação como um
elemento fundamental para a definição de pra-
zos de conservação de toda a informação pro-
duzida e recebida pelas instituições (GAIATO,
2012, p.14).

A questão central que norteia este estudo se deu junto à Escola


Estadual EECI Compositor Luiz Ramalho na busca de soluções para
os problemas encontrados dentro dos arquivos da Escola, que
foram: a ausência de normas, métodos e procedimentos que resul-
taram no acúmulo desordenado de documentos desvalorizando-os
e transformando-os em meros depósitos. Considerando que o papel
da Universidade está voltado para o tripé educacional (ensino, pes-
quisa e extensão), proporcionando o desenvolvimento das comu-
nidades locais, por meio do binômio: teoria x prática, o objetivo do
projeto é implantar um plano de classificação para o arquivo da
Escola Estadual EECI Compositor Luiz Ramalho.
O projeto de extensão supracitado foi coordenado e orientado
pela autora e contou com uma aluna bolsista e discentes voluntá-
rios do curso de Arquivologia (Campus V), que mesmo diante das
dificuldades enfrentadas pela Covid – 19, no que concerne ao dis-
tanciamento social, desenvolveram um diagnóstico junto a Escola
Estadual EECI COMPOSITOR LUIZ RAMALHO, situada no bairro
de Mangabeira João Pessoa/PB, através de encontros remotos e
presenciais com os gestores a fim de atingir o objetivo proposto,
permitindo aos discentes do curso de arquivologia a aplicação dos
conceitos assimilados na sala de aula com a prática arquivista, con-
tribuindo para uma melhor formação acadêmica.

273
Fundamentação teórica

Arquivo Escolar

Segundo Ferreira (2019), constitui-se como Arquivo Escolar


o acervo formado pelo conjunto de documentos produzidos e
recebidos em decorrência das atividades das unidades escolares,
exercidas pelos professores, funcionários, alunos, equipes multidis-
ciplinares, estagiários, pais de alunos e todos aqueles que de alguma
forma participam da comunidade escolar. Também são espaços de
cultura, memória, conhecimento, ou seja, unidades de informação,
que custodiam documentos repletos de informações relevantes e
pesquisáveis, que podem construir conhecimento.

A gestão da documentação escolar, dentro do


ciclo de vida dos documentos, possibilita a
disponibilização da informação corrente, ao
mesmo tempo que viabilizam a preservação
da memória, testemunho da trajetória do esta-
belecimento escolar, e comprovam o efeito de
suas atividades-fim em determinada comu-
nidade. Os Arquivos Escolares são espaços de
memória, fontes de informação, espaços de
pesquisa, recursos informacionais produzidos
pelo trabalho da equipe escolar (FERREIRA,
2019, p.11).

A gestão documental é realizada baseando-se no ciclo vital dos


documentos, mais conhecida como teoria das três idades, na qual
são: a corrente, a intermediária e a permanente. Nessas fases ou ida-
des, cada documento terá uma função ou objetivo, ficando assim em
cada arquivo por um determinado período e após a passagem desse
tempo, passa-se de uma idade para outra. O documento corrente é
aquele que é emitido durante o ano vigente, seguindo o calendá-
rio oficial. Ao final de cada ano, a secretaria escolar vai transferir
os documentos para o nível intermediário, reabrir a numeração de

274
novas séries correntes. O documento intermediário é aquele que já
cumpriu sua função mais imediata, permanecendo em custódia da
secretaria escolar, para consulta e função probatória.
Cada tipo de documento possui um período de guarda, deter-
minado pela legislação que rege a atividade documentada. No caso
dos documentos escolares, a duração da idade intermediária é
de até oito anos após a emissão para séries e até oito anos após a
última consulta para prontuários. A partir do final da idade inter-
mediária, os documentos perdem sua função principal, ou seja, seu
efeito social e probatório, e passam a configurar a documentação
permanente.
Recolhidos ao Arquivo Permanente Escolar, na situação ideal,
os documentos passam a ter cuidados especiais, para a proteção de
seus suportes originais. A sua ordenação, organização, invólucro
e arranjo vão privilegiar a melhor conservação, mas também vão
viabilizar a recuperação de cada documento e da informação docu-
mental. Os recursos das Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC) apoiam a gestão documental do Arquivo Escolar Permanente,
por meio de procedimentos que visam dinamizar a sua consulta, ao
mesmo tempo que apoiam a preservação do suporte em papel, que
será menos manuseado e melhor armazenado, sendo necessário, por-
tanto o conhecimento voltado para a classificação dos documentos.

Plano de Classificação de Documentos

Conforme Bernardes e Delatorre (2008), em um programa de


gestão documental, deverá existir normas para que seja feito uma
produção, tramitação, classificação, avaliação de maneira técnica
durante todo ciclo de vida do documento (corrente, intermediário
e permanente) com prazos estabelecidos em sua guarda e sua des-
tinação final.

O plano de classificação de Documentos de


arquivo apresenta os documentos hierarqui-
camente organizados de acordo com a função,

275
subfunção e atividade (classificação funcio-
nal), ou de acordo com o grupo, subgrupo
e atividade (classificação estrutural), res-
ponsáveis por sua produção ou acumulação.
(BERNARDES; DELATORRE, 2008, p. 14, grifo
nosso)

Ainda de acordo com as autoras, a classificação é um conjunto


de operações técnicas que visam agrupar os documentos de arqui-
vos, relacionando-os ao seu órgão produtor e que o instrumento
resultante da classificação é o plano de classificação de documentos.
Dessa forma, conforme as autoras (op. cit.), os benefícios e
objetivos da classificação: organização e arquivamento correto;
recuperação da informação ou do documento; recuperação do con-
texto original de produção; divisibilidade das funções, subfunções e
atividades; padronização de denominação das funções, atividades e
tipos/séries documentais; controle do trâmite; atribuição de códi-
gos numéricos; subsídios para o trabalho de avaliação e aplicação
da tabela de temporalidade.
Na classificação dos arquivos é necessário que o arquivista
tenha conhecimento organizacional dos locais produtores permi-
tindo uma ligação entre setores de maneira orgânica incentivando
um melhor desempenho nas equipes de trabalho, racionalizando a
produção de documentos. Existem algumas dificuldades encontra-
das em algumas instituições devido à falta de uma gestão de docu-
mentos adequada e a falta de profissionais capacitados na área,
ocasionando atraso e dificultando o processo de classificação, orga-
nização e destinação, causando uma gestão totalmente equivocada.
No final do século XX, com o avanço da tecnologia, a arquivo-
logia teve que buscar uma renovação na gestão de documentos, e
no ciclo vital, sendo preciso avançar nas práticas exercidas. O uso
da tecnologia causou um efeito avassalador nas organizações, pro-
movendo desafios aos arquivistas, mudança de seus paradigmas e
a busca por atualizações nas novas formas e processos de classifi-
cação documental.

276
Processo de Classificação Documental

O processo de elaboração de planos de classificação não é uma


tarefa simples, requer o estudo do histórico, desenvolvimento fun-
cional e estrutural, características dos documentos da instituição
ou pessoa produtora e acumuladora dos arquivos e exige a escolha
de um método eficaz de classificação arquivística, pelo qual será
refletida a forma como os documentos devem ser organizados den-
tro de uma estrutura, que pode ser funcional, estrutural ou por
assunto.
Padilha e Spudeit (2014, p. 132 e 133) afirmam: [...] que os
métodos funcional, estrutural e por assunto, são os mais comuns a
serem utilizados, sendo que o método funcional é o que parece ser
o mais adequado para os variados contextos dos arquivos, por ser
flexível e por abrir margem para novas classes a cada nova função
e/ou atividade. De uma forma geral, o método funcional é o mais
indicado, pois permite uma identificação mais ampla e nele pode-se
identificar as séries, subséries e tipos documentais oriundos das
atividades.
Na realidade da administração pública, a classificação é feita
através do conhecimento empírico, ou seja, àquele que não é feito
por arquivistas e consiste basicamente por ato de recebimento e
expedição de documentos. É uma prática comum na maioria das
instituições públicas e na visão do arquivista é complexa, pois fal-
tam informações que caracterizam a qual função pertence o memo-
rando expedido, qual a sua finalidade, entre outros aspectos a
serem considerados na classificação dos documentos.
Mediante esses métodos descritos, percebe-se que a forma
“organizada” não corretamente, cabe ao arquivista apresentar os
benefícios de uma classificação correta visando possibilitar: auto-
mação no procedimento de destinação de documentos; padroni-
zação da denominação das funções, atividades, tipos documentais
e séries documentais; recuperação do contexto original de produ-
ção dos documentos; organização lógica e correto arquivamento

277
dos documentos; e, agilidade na recuperação da informação ou
documento.
A avaliação de documentos de arquivo permite identificar
os documentos a serem eliminados de forma criteriosa para que
não haja um acúmulo desnecessário, possibilitando a liberação de
espaço físico, preservação dos documentos de guarda permanente,
estimulando a pesquisa e uso de dados retrospectivos.
Dessa forma, entende-se que o método de classificação do
documento escolhido deve ser o mais eficiente, econômico e adap-
tado para cada instituição, além de ser o mais simples, de fácil com-
preensão para os usuários, flexível e que permita expansibilidade
de incorporação de novas classes e subclasses.
O fator de escolha do método possibilita dentre outros benefí-
cios: fácil compreensão e entendimento pelos usuários quando da
recuperação das informações; valorização das funções e necessida-
des operacionais dos setores aos quais se prestam serviço; sepa-
ração e segurança para as informações que requerem proteção
especial.
Assim, de acordo com Campos (2014), os processos classifica-
tórios dos documentos podem ser definidos como:

• classificação, facilitando a identificação e auxiliando na


construção de esquemas para agrupar os documentos a par-
tir de princípios estabelecidos;
• ordenação, método adotado para agrupar os tipos docu-
mentais dentro de suas divisões estabelecidas no esquema
de classificação;
• arquivamento, é a ação física de colocar em caixas ou pas-
tas orientadas pelo esquema de classificação e ordenação;
• codificação, é a posição nos documentos, símbolos corres-
pondentes ao método de arquivamento adotado e, por fim;
• O instrumento utilizado é o plano de classificação.

278
O processo classificatório é dividido em duas partes: inte-
lectual e física. O intelectual refere-se à classificação, ordenação e
codificação. A parte física em arquivamento dos documentos onde é
determinado pela classificação e ordenação do local a serem arqui-
vados os documentos, resultando em um plano de classificação.

Aspectos metodológicos

Este estudo se classifica quanto à abordagem qualitativa,


no que se refere aos propósitos, é de natureza exploratória e em
relação aos objetivos é de natureza descritiva, sendo classificado
também como uma pesquisa documental. Dessa forma, trata de
documentos oficiais, contratos, filmes e fotografias, além de relató-
rios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas, entre
outros.
Vale salientar que se procurou descrever a realidade obser-
vada e estudada da forma como ela se apresenta, buscando com-
preendê-la a partir daqueles que se envolveram ou se envolvem no
processo documental, para então se chegar a alguma conclusão.
Partindo desses pressupostos, o trabalho desenvolvido ini-
ciou com a revisão da literatura sobre gestão documental e plano
de classificação de documentos e a partir do 2º semestre/2020,
foi iniciado o levantamento de dados para traçar o diagnóstico dos
documentos da Escola Estadual EECI Compositor Luiz Ramalho,
por meio informações obtidas através de entrevistas semiestrutu-
radas remotas com o gestor da escola, realizadas pela aluna bolsista
e discentes voluntários, evitando a exposição direta dos discentes
no período de distanciamento social.
O instrumento utilizado para coleta de dados, durante os anos
2020/2021 junto a Escola Estadual EECI Compositor Luiz Ramalho
seguiu o modelo de Campos (2014), cujas etapas compreendem:
classificação, ordenação, arquivamento, codificação, resultando no
plano de classificação, apresentado nos resultados e discussões.

279
Cenário do Estudo

O cenário escolhido para a das ações extensionistas do projeto


foi a Escola da Rede Estadual de Ensino da Paraíba EECI Compositor
Luiz Ramalho, inserida na Secretaria de Estado da Educação e da
Ciência e Tecnologia, há 36 anos situada no Bairro de Mangabeira
I, construindo sua história e contribuindo para a formação de cida-
dãos críticos e conscientes de seu papel numa sociedade que passa
por constantes transformações.
A Escola já ofertou os anos finais do ensino fundamental (à
época: 5ª à 8ª série [6º ao 9º ano] – 1º grau) e o Ensino Médio
completo (à época: 2º grau [1º ao 3º ano]), o ensino era Regular de
forma que os estudos eram em meio período escolar. Atualmente,
oferta apenas o Ensino Médio Integral, pois a Instituição passou
por uma reformulação, com a criação das Escolas Cidadãs Integrais
(ECIs) por meio da Medida Provisória Nº 267 DE 07 DE FEVEREIRO
DE 2018.
A Instituição junto com a comunidade escolar lança todos os
anos um plano de ação, monitorado bimestralmente, a fim de obter
os melhores resultados e também elevar o padrão de qualidade do
ensino, buscando sempre atender da melhor maneira possível os
alunos. Através de seu histórico pode-se perceber a quantidade
de documentos produzidos em uma escola desse porte, por isso,
optou-se pela mesma para realizar ações extensionistas e tentar
manter o seu contexto de produtividade de documentos devida-
mente organizados.

Resultados e discussões

Para melhor compreensão das atividades realizadas durante


o projeto de extensão (COTA 2020/2021), esta seção foi dividida
em 2 partes, onde na primeira serão apresentadas a parte relativa à
gestão documental dos arquivos da Escola EECI Luiz Ramalho e as
ações desenvolvidas no ano de 2020 e, em seguida, a descrição da

280
proposta e implantação do plano de classificação documental rea-
lizada em 2021.

Parte 1 - Gestão Documental (2020)

Inicialmente, foi plantada uma semente positiva junto aos ges-


tores da escola quanto a importância de um arquivo organizado,
classificado e estruturado, ressaltando a importância de ser res-
peitado a ordem da produção dos documentos e a hierarquia das
funções dentro de uma escola, e como consequência, mudando um
paradigma que existe dentro de uma mentalidade ultrapassada que
arquivos são meros papéis velhos e esquecidos.

O diagnóstico do arquivo é a análise básica das


informações contidas nos documentos. Isso
significa não apenas analisar do que se trata
o arquivo em si, mas, sim, saber o seu estado
físico, localização, condições em que eles se
encontram nos setores e a frequência de con-
sulta dessas informações. (ACERVO, 2022, p.1)

Nesta etapa inicial, Oliveira e Melo (2010), corroboram com a


importância que os gestores devem ter com os documentos e arqui-
vos das Instituições:

Com a gestão de documentos pode-se observar


os benefícios proporcionados à organização e
à recuperação dos documentos produzidos e
recebidos com o fluxo da massa documental
controlada, evitando acúmulo de documentos
sem valor de guarda, que serão eliminados do
acervo. (OLIVEIRA; MELO, 2010, p.1).

Mesmo diante da situação pandêmica vivenciada por toda a


humanidade no ano de 2020, as ações de extensão definidas para

281
serem aplicadas na Escola Estadual EECI Compositor Luiz Ramalho,
foram redefinidas pela coordenadora do projeto junto aos discen-
tes (bolsista e voluntários), por meio de encontros remotos, e, por-
tanto, pode-se desenvolver as ações elencadas abaixo:

• Levantamento de dados, estrutura, funções e atividades


desenvolvidas na Escola, visando construir um diagnóstico
situacional dos arquivos, onde foram traçados o perfil do
arquivo; verificado a existência ou não de um plano de clas-
sificação de documentos; constatado o uso da tabela de tem-
poralidade em toda a instituição; verificado o processo de
avaliação documental utilizado; identificado as condições
físicas de armazenamento dos documentos no arquivo.
• Análise dos dados coletados junto aos gestores e arquivos
da Escola a fim de criar uma proposta de classificação dos
documentos e arquivos da escola e, posteriormente, sua
implantação.
• Criação de estratégias para realização de um plano de lim-
peza e separação da documentação da Escola, observando
os critérios de classificação e utilizando equipamentos de
proteção individual-EPI’s, como: máscaras, toucas, batas e
luvas.
• Elaboração de planilhas para controle dos arquivos, consi-
derando todos os critérios de organização e controle.

Após a realização das ações extensionistas durante o ano


2020, a equipe do projeto (coordenação, bolsista e voluntários do
Projeto), realizou uma reunião avaliativa, sendo unânime a neces-
sidade de se propor e implantar um plano de classificação para os
documentos da Escola Estadual EECI Luiz Ramalho.

282
Implantação do Plano de Classificação (2021)

A partir da reabertura de algumas escolas por parte dos muni-


cípios e estados, durante o ano de 2021, os alunos (extensionistas),
puderam realizar visitas técnicas in loco no setor de arquivo da
Escola, utilizando os equipamentos de proteção individual - EPIs
necessários, a fim de coletar dados sobre: a organização documen-
tal, a tipologia e função dos documentos e, assim implantar, por meio
da gestão documental, o plano de classificação para melhoria da
massa documental e arquivos da Escola Estadual EECI Compositor
Luiz Ramalho.
Corroborando com esse pensamento, ESESP (2018, p. 5),
afirma:

O Plano de Classificação é a representação


lógica da estrutura e do funcionamento da
organização. Por isso, o arquivo organizado de
acordo com a classificação proposta asseme-
lha-se a um espelho que reflete a imagem da
organização com toda fidelidade. (ESESP, 2018,
p. 5)

As ações de extensão realizadas pelos discentes, continuaram


sob a coordenação da docente, autora do projeto, tendo avanços
significativos e, considerando os protocolos de segurança, foi dado
prosseguimento às atividades de extensão junto a Escola Estadual
EECI Compositor Luiz Ramalho, seguindo a ordem de classificação
já pré-determinada, onde foi possível realizar atividades como:

• Limpeza do ambiente onde se encontra arquivo intermedi-


ário da instituição.
• Criação de um plano para limpeza e separação da
documentação
• Separação das caixas arquivos e limpeza individual da
documentação.

283
• Retirada de grampos, criação de cintas, separação em menor
quantidade para manter a integridade dos documentos e
armazenamento nas caixas arquivos.
• Ordenação dos documentos seguindo as normas de
classificação.
• Implantação do plano de classificação dos arquivos da
Escola Estadual EECI Compositor Luiz Ramalho.

As etapas acima desenvolvidas, corroboram com as autoras


Bernardes e Delatorre (2008), quando afirmam que a classificação
é um conjunto de operações técnicas que visam agrupar os docu-
mentos de arquivos, relacionando-os ao seu órgão produtor e que
o instrumento resultante da classificação é o plano de classificação
de documentos.
O método utilizado possibilitou fácil compreensão e enten-
dimento pelos usuários no que concerne a recuperação das infor-
mações; valorização das funções e necessidades operacionais dos
setores aos quais se prestam serviço; separação e segurança para
as informações que requerem proteção especial. Como se pode
perceber, a aplicação da teoria sobre gestão documental escolhida
neste estudo, buscou ser a mais eficiente, econômico e adaptado
para organização, possibilitando a implantação de um plano de
classificação para o arquivo da Escola Estadual EECI Compositor
Luiz Ramalho de fácil compreensão para os usuários, flexível e
que permite expansibilidade de incorporação de novas classes e
subclasses.
Pode-se demonstrar para a Escola Estadual EECI Compositor
Luiz Ramalho que, embora exista uma massa documental exces-
siva no ambiente estudado, manuseadas de forma desnecessárias,
devido à falta de capacitação dos atuais responsáveis pelo setor de
arquivo da escola, a gestão documental é imprescindível para a exe-
cução de um plano de classificação eficiente dentro de um arquivo,
com um retorno estrutural, financeiro e sustentável eficaz, tendo

284
em vista que um arquivo bem estruturado, traz benefícios diretos
para a Instituição, e para seus usuários.
Espera-se, que o plano de classificação adotado pela escola,
seja acessível e incentive os gestores a zelar pela documentação
escolar, transformando o arquivo escolar permanente em uma uni-
dade de informação viva, ativa e disseminadora da memória institu-
cional na comunidade servida e entre os pesquisadores, estudiosos,
gestores e dirigentes da Educação.
Deseja-se que este plano de classificação seja o ponto de par-
tida para a busca de uma gestão de arquivos escolares eficientes na
instituição e disponibilize informações com qualidade, garantindo
pleno acesso aos documentos públicos, destaque o papel da admi-
nistração pública e dos gestores escolares como atores na cons-
trução de arquivos escolares capazes de preservar a memória da
sociedade, favorecendo a tomada de decisões e a boa gestão das
instituições pública escolares, além de diminuir a distância entre
o cidadão e a escola, aumentando a confiança da sociedade no ser-
viço público.

Considerações finais

O objetivo deste projeto de extensão foi implantar um plano de


classificação para o arquivo da Escola Estadual EECI Luiz Ramalho.
É válido ressaltar que o referido plano permitirá aos discentes do
curso de Arquivologia a aplicação dos conceitos assimilados na sala
de aula com a prática arquivística e, consequentemente, contribuirá
para uma melhor formação acadêmica.
Durante as atividades de extensão desenvolvidas no biênio
2020/2021, foi possível conscientizar os gestores, arquivistas,
técnicos em arquivologia e estagiários da Escola Estadual EECI
Compositor Luiz Ramalho, sobre a importância e benefícios da
implantação do plano de classificação dos arquivos escolares,
considerando que uma administração planejada, organizada, diri-
gida e controlada, faz com que os documentos sejam manuseados

285
corretamente e seu acesso seja garantido tanto para os usuários
internos, quanto para os externos sem complicações.
Apesar das limitações e adaptações sofridas nas ações de
extensão, provenientes basicamente da pandemia da Covid-19, a
exemplo do fechamento das escolas e distanciamento social, pode-
-se afirmar que foi possível realizar a gestão documental e a implan-
tação do plano de classificação para os arquivos da Escola Estadual
EECI Compositor Luiz Ramalho com êxito, proporcionando uma
conquista e visão prática para os gestores da Escola e discentes do
curso de Arquivologia da UEPB.
Este estudo representou uma tentativa de ampliar a discus-
são na comunidade científica para que o direito de acesso aos
documentos de arquivos públicos escolares seja assegurado. O
que pressupõe arquivos organizados, pessoal qualificado, recur-
sos financeiros, legislação adequada e específica que conservem
os documentos escolares, além de programas de preservação de
documentos.
Como sugestão para estudos futuros, deve-se realizar um
estudo específico que trate da destinação/eliminação dos arquivos
da referida escola, com a atuação de arquivistas e técnicos, bem
como de estagiários do curso de Arquivologia, a fim de desenvol-
ver e promover a gestão documental integrada dentro do ambiente
escolar como um ato de utilidade pública, beneficiando os usuários
e facilitando o acesso de forma rápida, fator extremamente impor-
tante para o controle dos arquivos no âmbito geral das instituições
de ensino públicas.

286
Referências

ACERVO. Você Sabe o que é e como é feito o Diagnóstico do


Arquivo? Disponível em: https://acervonet.com.br/. Acesso em:
28 fev. 2021.

BERNADES, Ieda Pimenta; DELATORRE, Hilda. Arquivo Público do


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2008.

BOTTINO, Mariza. Interface arquivologia diplomática: alguns


aspectos para discussão. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ARQUIVOLOGIA, 10., 1994, São Paulo. Anais... São Paulo,1994, 21 p.

CAMPOS, Michael Marinho. Classificação Arquivística em Estudo:


uma Análise do Código de Classificação da Tabela de Temporalidade
relativos às Atividades-Fim das Instituições Federais de Ensino
Superior - IFES. Monografia (Curso Superior de Bacharel em
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GAIATO, Susana Helena Corraleira. Desenvolvimento de um


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Sobre o livro

Projeto Gráfico e Editoração Leonardo Araújo


Formato 15 x 21 cm
Mancha Gráfica 11 x 16,8 cm
Tipologias utilizadas Caladea 11 pt

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