Álgebra Geométrica de Euclides

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS FÍSICAS E MATEMÁTICAS


DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA

A Álgebra Geométrica de Euclides

RENATA LEANDRO BECKER

Florianópolis - 2004
Esta monografia foi julgada adequada como TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO no curso de Matemática - Habilitação Licenciatura e aprovada em sua forma
final pela Banca Examinadora designada pela Portaria no . 064 / SGC / 2004.

Profa . Carmem Suzane Comitre Gimenez


Professora responsável pela disciplina

Banca examinadora:

Eliezer Batista
Orientador

José Luiz Rosas Pinho

Antônio Vladimir Martins


SUMÁRIO

Introdução 4

1 As Origens da Álgebra Geométrica 6

2 Euclides de Alexandria e o Livro II de Os Elementos 8


2.1 Identidades Algébricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.1.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.1.2 Proposições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 Resolução Geométrica de Equações Quadráticas . . . . . . . . . . . . . . . 28

3 A Matemática Árabe 31
3.1 Os Fundamentos Geométricos da Álgebra de al-Khowarizmi . . . . . . . . . 33
3.2 Resolução Geométrica de Equações Cúbicas . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4 René Descartes 42
4.1 La Géométrie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Considerações Finais 53
Introdução

A motivação para este trabalho, surgiu do meu interesse particular por geometria. De
todas as disciplinas que cursei no curso de matemática, estas foram as que mais gostei,
desde a geometria quantitativa, a geometria euclidiana, até a geometria diferencial, sempre
procurei aprofundar meus conhecimentos nessa área. Pela minha aptidão de pensar na
resolução de problemas, inicialmente de maneira geométrica, surgiu o interesse de estudar
na matemática esta linha de pensamento.
Este trabalho, apresenta um estudo sobre a evolução da linguagem algébrica aplicada
a problemas geométricos, além de estudar o problemas inverso, o da linguagem geométrica
sendo aplicada a problemas algébricos.
No Capı́tulo 1, começamos o estudo sobre as origens da Álgebra geométrica grega,
que surge um função dos problemas encontrados pelos gregos em trabalhar com a álgebra
herdada pelo babilônios.
No capı́tulo 2, estudamos grande parte do Livro II de Os Elementos de Euclides,
em que ele descreve a Álgebra geométrica grega, na forma de raciocı́nio lógico dedutivo.
Nesse estudo, utilizamos conceitos de geometria moderna para explicar o trabalho de
Euclides na representação de identidades algébricas em linguagem geométrica, assim como
na resolução geométrica de equações quadráticas. Ao mesmo tempo, que analisamos a
visão grega dos conceitos algébricos, sobre os números, as identidades algébricas e as
equações quadráticas.
No capı́tulo 3, acompanhamos a evolução da Álgebra Geométrica no perı́odo árabe,
perı́odo este em que se desenvolveu também a álgebra de al-Khowarizmi, que deu origem
a álgebra como conhecemos hoje. Nos estudos sobre a obra de al-Khowarizmi, nos con-
centramos nos elementos geométricos de sua álgebra, estudando as suas justificativas
geométricas para as soluções algébricas de equações quadráticas, que desempenharam um
papel fundamental na evolução do conceito abstrato da álgebra. Na segunda parte deste
capı́tulo, veremos o estudo que Omar Khayyam desenvolveu para encontrar a raiz positiva
de uma cúbica, além de observar as mudanças que haviam ocorrido sob a visão árabe, dos
conceitos algébricos e geométricos.
No capı́tulo 4, estudamos a vida e obra de René Descartes, que desenvolve em seu tra-
balho La Géométrie, entre muitos outros assuntos, o estudo das representações geométricas
das operações aritméticas, das identidades algébricas e também das resoluções de equações
quadráticas. Além disso, veremos que foi neste trabalho, que Descartes desenvolveu o es-
tudo que deu origem a geometria analı́tica. Mas, o fato mais importante do capı́tulo, foi
o método que Descartes desenvolveu para resolver determinados problemas geométricos.
Este método, consistia em aplicar álgebra aos problemas geométricos, afim de simplificar
a sua resolução.

5
Capı́tulo 1

As Origens da Álgebra Geométrica

Na época de Platão, a matemática grega sofreu drásticas modificações. Platão (427


a.C. a 347 a.C.) foi um dos grandes pensadores que motivaram o estudo da matemática
grega em sua época. Ele fundou sua Academia em Atenas por volta de 387 a.C, uma
instituição orientada por propósitos sistemáticas de investigação cientı́fica e filosófica, e
a dirigiu por toda a sua vida. Mesmo após a morte de Platão, quase todos os trabalhos
matemáticos importantes do século IV a.C., foram feitos por seus amigos ou discı́pulos,
fazendo da Academia a ligação da matemática dos pitagóricos com a posterior e duradoura
Escola de Alexandria.
Dos estudos e trabalhos matemáticos da época de Platão, a dicotomia entre número e
grandezas contı́nuas forneceu a principal motivação de criar um novo método para tratar
da álgebra herdada pelos babilônios. Os velhos problemas em que, dada a soma e o
produto de dois lados de um retângulo se pediam as dimensões, tinham de ser tratados de
modo diferente dos algoritmos numéricos dos babilônios. Decorrente dessa necessidade,
foi criada uma nova “Álgebra Geométrica”, que tomou o lugar da antiga “Álgebra arit-
mética”, e nessa nova álgebra não podia haver somas de segmentos com áreas ou de áreas
com volumes. Mas para esclarecer essa motivação, devemos conhecer os fundamentos
da álgebra babilônia e verificar os motivos que levaram os gregos a procurar uma nova
abordagem para a álgebra da época.
Os matemáticos babilônios faziam o uso de tabelas numéricas na realização de cálculos.
Essas tabelas continham números e seqüências de números, várias delas quando descober-

6
tas foram tomadas por um registro de negócios da época babilônia. No entanto, em al-
gumas tabelas após ser feita uma análise, podia-se verificar que nelas havia um profundo
significado matemático, como na tabela Plimpton 322, que continha uma seqüência de
ternas pitagóricas.
Na época em que o alfabeto ainda não havia sido inventado, os babilônios utilizavam
uma outra maneira para representar quantidades desconhecidas; eles usavam palavras
como comprimento, largura, área e volume. Mas embora empregassem o uso de palavras
num sentido abstrato, eles não hesitavam em somar um comprimento com uma área, ou
uma área com um volume. Além disso, em muitos problemas babilônios havia a falta
de enunciados explı́citos, de algoritmos e regras. Em vários algoritmos, os babilônios
faziam o uso de aproximações em cálculos e a falta de distinção entre resultados exatos e
aproximados constituı́a-se em um problema grave nas bases da álgebra babilônia.
O problemas encontrados pelos gregos em lidar com a álgebra babilônia os levaram a
criar a “Álgebra Geométrica”, onde não podiam haver somas de áreas com volumes, devia
haver uma forma homogênea de escrita dos termos da equação e principalmente que todas
essas equações deviam ser interpretadas geométricamente. E para encontrar as soluções
de alguns problemas algébricos, faziam o uso do processo conhecido como “a aplicação de
áreas”, uma parte da álgebra geométrica completamente estudada em Os Elementos, de
Euclides.
Outro grande fator que levou os gregos a utilizarem a aplicação de áreas para re-
solver problemas algébricos, foi a dificuldade que encontraram em representar grandezas
incomensuráveis, dessa forma evitavam as razões que só seriam abordadas muito tempo
depois por Euclides, também em Os Elementos.

7
Capı́tulo 2

Euclides de Alexandria e o Livro II


de Os Elementos

Neste capı́tulo, apresentaremos as proposições do Livro II de Os Elementos, que con-


stituem a Álgebra Geométrica de Euclides. Faremos uma análise moderna das proposições
deste livro, mostrando a sua significação geométrica, já que se trata de uma tradução grega
das operações algébricas herdadas pelos babilônios. A seguir, veremos o contexto histórico
em que Euclides escreveu sua obra mais famosa. Obra essa, que constitui o foco principal
deste trabalho, pois como veremos mais adiante, o trabalho de Euclides foi posteriormente
estudado pelos árabes, para depois ser difundido na Europa, sendo amplamente estudado
e considerado uma das maiores obras já publicadas.
A morte de Alexandre, o Grande em 323 a.C., levou as disputas entre os generais do
exercito grego. Seu império se dividiu entre alguns de seus lı́deres militares, resultando na
emergência de três impérios, com governantes independentes, mas unidos pelos laços da
civilização helênica decorrente das conquistas de Alexandre. O controle da parte egı́pcia
do império estava firmemente nas mãos de Ptolomeu I, que somente em 306 a.C. começou
a governar efetivamente. Escolheu Alexandria como sua capital e, para atrair homens de
saber à sua cidade, imediatamente começou a construir a famosa Escola de Alexandria,
que possuı́a uma das melhores bibliotecas de seu tempo. Para compor uma equipe de
intelectuais para a escola, Ptolomeu recorreu a Atenas, como professores ele chamou um
grupo de sábios de primeira linha para desenvolver os vários campos de estudo. Euclides,

8
possivelmente de Atenas foi escolhido para chefiar o departamento de matemática.
Pouco se sabe sobre a vida de Euclides, tanto que nenhum lugar de nascimento é
associado ao seu nome. Sabe-se apenas que era conhecido por Euclides de Alexandria,
porque foi chamado para lá ensinar matemática. Da natureza de seu trabalho pode-se
presumir que estudou com os discı́pulos de Platão, se não na própria academia. Pelos
relatos que existem atualmente sobre Euclides, ele era conhecido pela sua capacidade de
ensinar e por sua habilidade ao expor os conceitos matemáticos.
Euclides foi o autor do texto de matemática mais bem-sucedido de todos os tempos.
Embora ele fosse autor de pelo menos outros doze trabalhos, cobrindo tópicos variados,
desde óptica, astronomia, música e mecânica até um livro sobre secções cônicas, sua fama
repousa principalmente sobre sua obra, Os Elementos. O sucesso da obra de Euclides, é
resultante da sua forma axiomática e lógica de expor a matemática, sua obra era um livro-
texto, de modo nenhum o primeiro, mas com certeza foi o mais importante já publicado.
Euclides reuniu em Os Elementos, uma coleção de treze livros, contendo todos os
conhecimentos gregos da matemática elementar, como a aritmética (no sentido de teoria
dos números), geometria sintética (de pontos, retas, cı́rculos e esferas), e álgebra (não no
sentido simbólico moderno, mas na forma de representação geométrica).
O Livro II de Os Elementos é pequeno e apresenta 14 proposições que na época de
Euclides tiveram grande significado. Elas lidavam com transformações de áreas e com
a álgebra geométrica da escola Pitagórica. Ao passo que em nosso tempo as grandezas
são representadas por letras que se entende representarem números, conhecidos ou não,
sobre os quais operamos com as regras algorı́tmicas da álgebra, nos dias de Euclides
as grandezas eram representadas como segmentos de reta, satisfazendo aos axiomas e
teoremas da geometria. Algumas vezes é dito que os gregos não possuı́am uma álgebra,
mas isso é evidentemente falso. Tinham o Livro II de Os Elementos, que é uma álgebra
geométrica servindo aos mesmos fins que nossa álgebra simbólica. A seguir, apresentamos
11 proposições do Livro II de Euclides, que constituem sua Álgebra Geométrica. Ana-
lisaremos a interpretação geométrica das identidades algébricas, e mostraremos como os
gregos resolviam geométricamente alguns problemas envolvendo equações quadráticas.

9
2.1 Identidades Algébricas
No Livro II de Os Elementos, Euclides apresenta dez proposições que tratam das
identidades algébricas, mas que aqui são apresentadas através de uma representação
geométrica. Não há duvida que a álgebra moderna facilita consideravelmente a mani-
pulação de relações entre grandezas. Mas também é verdade que um geômetra grego
conhecendo as proposições da “álgebra”de Euclides era muito mais capaz de aplicar estas
proposições a questões práticas de mensuração do que um geômetra experiente de hoje. A
álgebra geométrica antiga não era fácil de ser compreendida, e muitas vezes seus métodos
podem parecer complexos e exaustivos, mas apesar dela não ter sido o instrumento ideal,
com certeza era a mais eficaz.

2.1.1 Definições

Antes de iniciar a exposição das proposições temos que dar alguns esclarecimentos
sobre as concepções que Euclides atribuı́a a alguns elementos geométricos.
Nos livros Os Elementos de Euclides ele usava a palavra reta ou linha reta para definir o
que chamamos atualmente de“segmento”. Para ele uma reta podia ser estendida o quanto
quiséssemos, mas não existia ainda a noção de infinito e continuidade. Além disso, não se
mediam segmentos nos Elementos de Euclides, pois há segmentos incomensuráveis com
qualquer unidade que se adote. Este fator, pode ter sido o motivo principal pelo qual
o gregos optaram por apresentar seus resultados de maneira geométrica, sendo que não
havia para eles números irracionais para representar seus comprimentos. A comparação
entre dois segmentos se fazia mediante o conceito de razão entre eles, mas razões entre
grandezas não eram consideradas números, e esta é uma das caracterı́sticas importantes
a serem observadas aqui. Os gregos, utilizavam uma visão diferente da atual. Para eles o
próprio segmento era tomado como a solução de um problema, ou até mesmo significava
um número.
Da mesma forma, não havia medida de áreas na matemática grega. Na realidade,
Euclides em Os Elementos não menciona em nenhum momento uma definição de área, ele
diz apenas que duas figuras são chamadas “iguais”quando têm a mesma magnitude, isto
é, o mesmo comprimento se são segmentos ou compreendem a mesma região se são figuras

10
planas. Em sua obra, a noção de área era muito mais qualitativa que quantitativa, no
sentido que se referia à região delimitada por uma figura do que propriamente um valor
numérico atribuı́do à região.
Neste trabalho, usaremos a definição moderna de área, em que uma área é basicamente
um número real positivo atribuı́do a uma região delimitada por uma curva fechada e
simples1 . Esta quantidade deverá apresentar as seguintes propriedades:

1. Duas figuras congruentes tem a mesma área.

2. Se duas figuras se interceptam no máximo por pontos de fronteira2 , então a área da


união destas figuras é igual à soma numérica das áreas das figuras componentes.

3. A área de um quadrado de lado 1 é definida como sendo 1.

Portanto, medir uma área é comparar a região com um quadrado padrão. Utilizaremos
como notação, para a área de uma determinada figura, a letra A seguida da determinação
da figura, ou seja, a área de um quadrado ABCD, por exemplo, será A(ABCD), ou a
área de um retângulo EF GH, será A(EF GH), bem como a área de qualquer outra figura
plana.
Daremos continuidade ao trabalho apresentando as proposições do Livro II de Eu-
clides, que representam diversas identidades algébricas, de maneira geométrica. Faremos
comentários sobre as identidades, explicando a representação geométrica dada em cada
uma delas. Em especial faremos a demonstração Euclidiana, ou seja, como o próprio
Euclides fez em Os Elementos, da Proposição 4 do Livro II, devido ao fato de que esta
é a conhecida identidade (a + b)2 = a2 + 2ab + b2 , e que a sua representação geométrica
constitui uma maneira significativa de entender a forma algébrica da mesma.

2.1.2 Proposições

Veremos a seguir, dez proposições do Livro II de Os Elementos, sendo apresentadas com


seus enunciados e figuras originais. Salientamos, que os enunciados apresentam um deter-
minado nı́vel de dificuldade de compreensão para os leitores que não estão acostumados
1
Uma curva é dita se simples se não possuir pontos de auto intersecção.
2
Pontos que não estão no interior de uma região, ou seja, pontos em que uma bola centrada nele não
possui apenas pontos interiores à região.

11
com a linguagem euclidiana, por isso, tentaremos elucidar o que cada enunciado significa,
além de traduzi-los para linguagem moderna. Faremos comentários sobre as identidades
algébricas, que correspondem a cada uma das representações geométricas apresentadas
nas proposições, sendo que na Proposição 4, demonstraremos de maneira euclidiana a
proposição, devido a importância da mesma, como já foi mencionado anteriormente.

Proposição 2.1 (Prop. 1 - Livro II) Dadas duas retas, uma das quais é dividida num
número qualquer de partes, o retângulo contido pelas duas retas é igual à soma dos
retângulos contidos pela reta não dividida e cada uma das partes da outra.

Para que possamos compreender claramente o enunciado da proposição, daremos um


exemplo. Inicialmente são dados dois segmentos AB e AC, onde podemos dividir o
segmento AC. Neste exemplo, dividiremos a segmento AC em três partes não necessari-
amente iguais, e depois construı́mos o retângulo ACHB, como pode ser visto a seguir
(Fig. 01).
A b D c E d C

B F G H
Fig. 01 - Representação geométrica da Proposição 1 - Livro II

Então, o resultado da proposição nos diz que:

A(ACHB) = A(ADF B) + A(DEGF ) + A(ECHG)

Analisando sob o ponto de vista da geometria moderna, podemos escrever cada área
descrita anteriormente, como a área correspondente a cada retângulo em função de seus
lados, sendo assim:

(AB × AC) = (AB × AD) + (AB × DE) + (AB × CE)

12
Agora podemos escrever cada segmento na forma, AB = a, AC = b + c + d, AD = b,
DE = c e CE = d, como pode ser observado na figura anterior. Portanto, o resultado da
proposição pode ser escrito da seguinte maneira, a(b + c + d) = ab + ac + ad.
Ou seja, esta proposição é o equivalente geométrico da conhecida lei distributiva,

a(b + c + d + · · · ) = ab + ac + ad + · · · .

Podemos observar, que esta representação corresponde bem ao pensamento grego, de


que não ter medidas para os segmentos, eles conseguiram representar de maneira to-
talmente geométrica a propriedade da distributividade. Estudando estas proposições,
primeiramente do ponto de vista de um grego e depois aplicando definições mais moder-
nas, podemos construir uma justificativa consistente para diversas identidades algébricas.

Proposição 2.2 (Prop. 2 - Livro II) Se uma reta é dividida em duas partes quaisquer,
o retângulo contido sobre todo e ambas partes da reta é igual ao quadrado contido sobre a
reta toda.

A proposição nos diz que dado um segmento AB, podemos dividi-lo em duas partes
quaisquer AC e BC. Construı́mos dois retângulos com cada uma das partes de AB, sendo
que o outro lado dos retângulos é um segmento AD com mesma medida que AB, como
pode ser observado na figura a seguir (Fig. 02).

A a C b B

a+b

D F E
Fig. 02 - Representação geométrica da Proposição 2 - Livro II

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Então, o resultado da proposição nos diz que:

A(ACF D) + A(CBEF ) = A(ABED)

Analisando sob o ponto de vista da geometria moderna, podemos escrever cada área
descrita anteriormente, como a área correspondente a cada retângulo em função de seus
lados, e de mesma maneira para a área do quadrado, sendo assim:

(AC × AD) + (BC × AD) = (AB × AD)

Observando a figura, podemos escrever os segmentos na forma, AC = a, BC = b e


AB = AD = a + b. Portanto, o resultado da proposição pode ser escrito da seguinte
maneira, a(a + b) + b(a + b) = (a + b)(a + b). Ou seja, esta proposição é o equivalente
geométrico identidade algébrica, a(a + b) + b(a + b) = (a + b)2 .

Proposição 2.3 (Prop. 3 - Livro II) Se uma reta é dividida em duas partes quaisquer,
o retângulo contido sobre toda uma reta é igual ao retângulo contido por uma reta e o
quadrado sobre a outra reta.

A proposição nos diz que dado um segmento AB, podemos dividi-lo em duas partes
quaisquer AC e BC, construı́mos um retângulo cujos lados são os segmentos AB a AE,
sendo que AE tem a mesma medida de BC, como pode ser observado na figura a seguir
(Fig. 03).

A a C b B

E D F
Fig. 03 - Representação geométrica da Proposição 3 - Livro II

14
Então, o resultado da proposição nos diz que:

A(ABF E) = A(ACDE) + A(CBF D)

Analisando sob o ponto de vista da geometria moderna, podemos escrever cada área
descrita anteriormente, como a área correspondente a cada retângulo em função de seus
lados, e de mesma maneira para a área do quadrado, sendo assim:

AB × AE = (AC × AE) + (BC × AE)

Observando a figura, podemos escrever os segmentos na forma, AB = a + b, AC = a e


AE = BC = b. Portanto, o resultado da proposição pode ser escrito da seguinte maneira,
(a + b)b = ab + b2 . Ou seja, esta proposição é o equivalente geométrico da identidade
algébrica citada anteriormente.

Proposição 2.4 (Prop. 4 - Livro II) Se uma reta é dividida em duas partes quaisquer,
o quadrado sobre a reta toda é igual aos quadrados sobre as duas partes, junto com duas
vezes o retângulo que as partes contém.

Inicialmente demonstraremos esta proposição, da mesma forma que Euclides demons-


trou em Os Elementos. Lembremos que, Euclides justificava o argumento em suas demon-
strações, utilizando os Axiomas e as Proposições que já haviam sido vistos anteriormente
em sua obra, que serão comentados em algumas notas.

Demonstração:

Seja a reta AB dividida em duas partes quaisquer em C; A proposição diz que o


quadrado sobre AB é igual aos quadrados sobre AC e CB, e duas vezes o retângulo
contido por AC e CB (Fig. 04).

Seja o quadrado ADEB sobre o lado AB 3 , ligue os pontos BD; Por C trace CF
3
Proposição 46 - Livro I: Que permite construir um quadrado sobre um segmento.

15
paralelo a AD ou EB, (e seja G o cruzamento de BD com CF ) por G seja HK
paralelo a AB ou DE 4 .

Como CF é paralelo a AD, e BD cruza ambas, o ângulo exterior C ĜB é igual


ao ângulo exterior e oposto AD̂B 5 .

A a C b B
b
H K
G

D F E

Fig. 04 - Representação geométrica da Proposição 4 - Livro II

Mas o ângulo AD̂B é igual ao ângulo AB̂D, uma vez que o lado BA é igual ao
lado AD6 ; Portanto, o ângulo CGB é igual ao ângulo GBC e assim o lado BC é
igual ao lado CG7 .

Mas CB é igual a GK, e CG é igual a KB, portanto GK é igual a KB 8 .


Portanto, CGKB é um quadrilátero equilátero.

Esse quadrilátero também é retângulo, pois CG é paralelo a BK e os ângulos


K B̂C e GĈB são iguais a dois ângulos retos3 .

Mas o ângulo K B̂C é reto; Portanto o ângulo B ĈG também é reto e portanto
os ângulos opostos C ĜK e GK̂B também são retos6 .

Portanto, CGKB é retângulo e como foi provado que ele é equilátero, então ele
é quadrado e é descrito sobre o lado CB.
4
Proposição 31 - Livro I: Que permite traçar por um ponto, uma reta paralela a uma reta dada.
5
Proposição 29 - Livro I: Que afirma que uma reta cruzando retas paralelas determina ângulos alternos
internos iguais, o ângulo exterior igual ao ângulo interior e oposto, e os dois ângulos interiores e do mesmo
lado iguais a dois ângulos retos
6
Proposição 5 - Livro I: Que afirma que em um triângulo isosceles os ângulos da base são iguais.
7
Proposição 6 - Livro I: Que afirma que se os dois ângulos da base de um triângulo são iguais, então
o triângulo é isosceles.
8
Proposição 34 - Livro I: Que afirma que em paralelogramos, os lados apostos e ângulos opostos são
iguais e o diâmetro (diagonal) divide a área ao meio.

16
De maneira similar, HF 9 também é um quadrilátero e é descrito sobre o lado
HG, que é igual a AC 6 .

Portanto, os quadrados HF e KC são quadrados sobre AC e CB.

Como AG é igual a GE 10 , e AG é o retângulo contido por AC e CB. Portanto,


AG e GE resultam em duas vezes do retângulo contido por AC e CB.

Mas, HF , CK, AG e GE é todo o quadrado ADEB, que é o quadrado sobre


AB.

Então o quadrado sobre AB é igual aos quadrados sobre AC, CB e duas vezes
o retângulo contido por AC e CB.

Como podemos observar, as demonstrações euclidianas podem ser extensas, mas ape-
sar disso, a forma de raciocı́nio lógico e dedutivo, torna o entendimento da proposição o
mais claro possı́vel. Observando agora a Fig. 04, tomamos os segmentos AB, AC e CB
correspondentes aa medidas (a + b), a e b respectivamente. Desta forma, podemos con-
cluir que esta proposição é a representação geométrica da conhecida identidade algébrica,
(a + b)2 = a2 + b2 + 2ab.

Proposição 2.5 (Prop. 5 - Livro II) Se uma reta é cortada em partes iguais e desiguais,
o retângulo contido pelas partes desiguais do todo, junto com o quadrado contido pela reta
entre os pontos da seção, é igual ao quadrado contido pela metade.

Simplificando o enunciado da proposição, temos que dado um segmento de reta AB,


primeiro o dividimos em duas partes iguais em D e depois o dividimos em duas partes
desiguais em C (Fig. 05). A proposição diz que, o retângulo contido pelos segmentos
AC e CB, e o quadrado sobre o segmento CD juntos, tem a mesma área que o quadrado
sobre o segmento DB. Então, o resultado da proposição nos diz que:

A(AEIC) + A(F GHI) = A(DGKB)


9
Se referindo ao quadrilátero HDF G apenas pela sua diagonal.
10
Se referindo aos quadriláteros AHGC e GF EK respectivamente.

17
a

A       
D  
C b B
        

        

        

        

b
        

        

        

        

      









I J
E F 










 
 

G H K
Fig. 05 - Representação geométrica da Proposição 5 - Livro II

Analisando sob o ponto de vista da geometria moderna, podemos escrever cada área
descrita anteriormente, como a área correspondente ao retângulo em função de seus lados,
e de mesma maneira para a área dos quadrados, sendo assim:

(AC × AE) + (F I × F G) = (DB × DG)

Agora, tomando a medida associada a cada segmento, teremos que AC = a e CB =


a + b 
AE = b. Da mesma maneira, veremos que F I = F G = − b , supondo a > b. E
2
a+b
finalmente, o segmento DB = DG = . Desta forma, a proposição em questão é o
2
equivalente geométrico da identidade algébrica,

a + b 2  a + b 2  a − b 2  a + b 2
ab + −b = ⇒ ab + =
2 2 2 2

 a + b 2  a − b 2
⇒ − = ab.
2 2
Observamos que, considerarmos a > b, pois no Livro II de OsElementos, Euclides
evita problemas que possam recair em números negativos, tanto em suas representações
geométricas, quanto em suas demonstrações, ele nunca se preocupa com aqueles casos, em
que quando “diminuı́mos”ou subtraı́mos um comprimento, seu resultado é negativo. Ele
trabalha sempre com comprimentos que possam ser trabalhados sem ter este problema.
Agora, podemos interpretar o enunciado da proposição de outro modo, e escrever
a = α + β e b = α − β, revelando que na verdade esta proposição trata-se de uma
representação da conhecida identidade, (α + β)(α − β) = α2 − β 2 .

18
Proposição 2.6 (Prop. 6 - Livro II) Se uma reta é bissectada e uma outra é acrescen-
tada a ela em linha reta, o retângulo contido pelo todo (com a reta que foi acrescentada)
e pela reta acrescentada junto com o quadrado sobre a metade, é igual ao quadrado sobre
a reta formada com a metade e a reta acrescentada.

O enunciado fala de um segmento de reta AD, primeiro o dividimos em duas partes


iguais em C e depois acrescentamos na mesma reta que contém o segmento AD, outro
segmento DB (Fig. 06). Segundo a proposição, o retângulo contido pelos segmentos AB
e DB, junto com o quadrado sobre o segmento CD, é igual a área do quadrado sobre o
segmento CB. Então, o resultado da proposição nos diz que:

A(AKM B) + A(LEGN ) = A(CEF B)

A a C a D b B
b
K M
L N

E G F
Fig. 06 - Representação geométrica da Proposição 6 - Livro II

Analisando sob o ponto de vista da geometria moderna, podemos escrever cada área
descrita anteriormente, como a área correspondente ao retângulo em função de seus lados,
e de mesma maneira para a área dos quadrados, sendo assim:

(AB × AK) + (LN × LE) = (CB × CE)

Agora, tomando a medida associada a cada segmento, teremos que AB = 2a + b,


DB = AK = b, CD = LN = LE = a e CB = CE = a + b, supondo a > b. Desta forma,

19
a proposição em questão é o equivalente geométrico da identidade algébrica,

(2a + b)b + a2 = (a + b)2 .

No entanto, podemos interpretar o enunciado de outro modo e escrever a = α e


b = β − α, revelando que na verdade esta proposição trata-se de uma representação da
conhecida identidade, (α + β)(β − α) = β 2 − α2 .

Proposição 2.7 (Prop. 7 - Livro II) Se uma reta é dividida em duas partes quaisquer,
o quadrado contido pela reta toda, junto com o quadrado sobre uma parte da reta, é igual
a duas vezes o retângulo contido pela reta toda e por uma das partes da reta, junto com o
quadrado contido pela outra parte restante da reta.

Simplificando o enunciado, temos que um dado segmento de reta AB é divido em duas


partes quaisquer em C (Fig. 07). Segundo a proposição, o quadrado sobre o segmento
AB, junto o quadrado sobre o segmento CB, é igual a duas vezes a área do retângulo
sobre os segmentos AB e CB, junto quadrado sobre o segmento AC. Então, o resultado
da proposição nos diz que:

A(ADEB) + A(CGKB) = A(AHKB) + A(CF EB) + A(HDF G)

A a C b B
b
H K
G

D F E

Fig. 07 - Representação geométrica da Proposição 7 - Livro II

Analisando sob o ponto de vista da geometria moderna, podemos escrever cada área

20
descrita anteriormente, como a área correspondente aos retângulos em função de seus
lados, e de mesma maneira para a área dos quadrados, sendo assim:

(AB × AD) + (CB × CG) = (AB × AH) + (CB × CF ) + (HG × HD)

Agora, tomando a medida associada a cada segmento, teremos que AB = AD = CF =


a + b, CB = CG = AH = b e AC = HG = HD = a, supondo a > b. Desta forma, a
proposição em questão é o equivalente geométrico da identidade algébrica,

(a + b)2 + a2 = 2(a + b)a + b2 .

No entanto, podemos interpretar o enunciado de outro modo e escrever a = β e


b = α − β, revelando que na verdade esta proposição trata-se de uma representação da
conhecida identidade, α2 − 2αβ + β 2 = (α − β)2 .

Proposição 2.8 (Prop. 8 - Livro II) Se uma reta é dividida em duas partes quaisquer,
quatro vezes o retângulo contido pela reta toda e por uma das partes da reta, junto com o
quadrado contido pela reta restante, é igual ao quadrado contido pela reta toda acrescen-
tada de uma das partes.

O enunciado nos fala de um segmento de reta AB que é divido em duas partes quaisquer
em C. Segundo a proposição, quatro vezes a área do retângulo sobre os segmentos AB e
CB, junto o quadrado sobre o segmento AC, é igual a área do quadrado sobre o segmento
AB acrescentado do segmento CB.
Como podemos observar na figura a seguir (Fig. 08), dado um segmento AB, que
foi dividido em C, acrescentamos o segmento BD, em que BD = CB. Construı́mos o
quadrado AEF D sobre o segmento AD. Traçamos os segmentos CH e BL, paralelos ao
lado AE ou DF . De maneira similar, traçamos os segmentos M N e OP , paralelos a AD
ou EF , de modo que AM e M O sejam iguais a CB.

21
A a C b B b D
b
G K
M N
b
O P
Q R

E H L F

Fig. 08 - Representação geométrica da Proposição 8 - Livro II

Por construção, podemos observar que as áreas dos retângulos AM GC, M OQG,
QHLR e RLF P , são iguais. Assim como, as áreas dos quadrados CGKB, BKN D,
GQRK e KRP N são iguais. Desta forma, segundo o enunciado da proposição, a área do
retângulo sobre o segmento AB e CB, equivale a área do retângulo sobre o segmento AB
e AM , que é a soma das áreas do retângulo AM GC com a área do quadrado CGKB.
Portanto, as quatro áreas do retângulo sobre os segmentos AC e CB, referentes ao enun-
ciado da proposição, são equivalentes as áreas dos quatro retângulos e quatro quadrados
citados anteriormente. Afim de exemplificar melhor a explicação anterior, faremos o uso
de um artifı́cio visual (Fig. 09), baseado na Fig. 08.
      
      

      
      

      
      

      
      

        
      

 

        
      

      
    

 

      
    

 

    
      

 

    
      

 

Fig. 09 - Artifı́cio Visual

Então, o resultado da proposição nos diz que:

4 × A(AM KB) + A(OEHQ) = A(AEF D)

22
Analisando sob o ponto de vista da geometria moderna, podemos escrever as áreas
descritas anteriormente, como a área correspondente ao retângulo em função de seus lados,
e de mesma maneira para a área do quadrado, sendo assim:

4 × (AB × AM ) + (OQ × OE) = (AD × AE)

Agora, tomando a medida associada a cada segmento, teremos que AB = a + b,


AM = b, OQ = OE = a e AD = AE = a + 2b, supondo a > b. Desta forma, a proposição
em questão é o equivalente geométrico da identidade algébrica,

4(a + b)b + a2 = (a + 2b)2 .

No entanto, podemos interpretar o enunciado de outro modo e escrever a = α − β


e b = β, revelando que na verdade esta proposição trata-se de uma representação da
identidade,
(α + β)2 − (α − β)2 = 4αβ.

Proposição 2.9 (Prop. 9 - Livro II) Se uma reta é cortada em partes iguais e desiguais,
os quadrados contidos pelas partes desiguais, são iguais ao dobro do quadrado sobre a
metade da reta toda, junto com o quadrado contido pela reta entre os pontos da seção.

Simplificando o enunciado da proposição, temos que dado um segmento de reta AB,


primeiro o dividimos em duas partes iguais em C e depois o dividimos em duas partes
desiguais em D. O enunciado nos diz que, a soma das áreas dos quadrados, sobre os
segmentos AD e DB, são iguais ao dobro da área do quadrado sobre o segmento AC,
junto com a área do quadrado sobre o segmento CD.
Como podemos observar na figura a seguir (Fig. 10), um segmento AB que foi dividido
em duas partes iguais em C, e dividido em duas partes desiguais em D. Construı́mos o
quadrado DGHB sobre o segmento DB, e o quadrado AF ED sobre o segmento AD.
Traçamos os segmentos KJ e OL, paralelos a AD ou F E, de modo que AK e KO sejam
iguais a CD. De maneira similar, traçamos os segmentos CM e P Q, paralelos ao lado
AF ou DE, sendo que QM = CD.

23
a

A C D






b 



B
    
    

    
    

I J 










K 



































b
O

























P N L 

























a 























































G H
    

b 

























    
    

    
    

    
    

F b Q M E

Fig. 10 - Representação geométrica da Proposição 9 - Livro II

Por construção, podemos observar que as áreas dos retângulos AKIC e KON I, são
iguais. Assim como, as áreas dos retângulos P QM N e N M EL também são iguais. E o
mesmo pode ser verificado, para os quadrados CIJD e IN LJ. Outro fato a ser observado,
é que o segmento AF = AD, pois AF é o lado do quadrado construı́do sobre AD. Mas,
 AB 
AD = + CD e como por construção AF = AK + KO + OF , e sabemos que AK
2  AB 
e KO são iguais a CD, podemos concluir que OF = − CD . Portanto, podemos
2
verificar que os segmentos OP , OF , DB e DG são iguais. Logo, a área dos quadrados
OF QP e DGHB são iguais.
Então, o resultado da proposição nos diz que:

 
A(AF ED) + A(DGHB) = 2 × A(KF M I) + A(CIJD)

O quadrado KF M I foi usado no lugar do quadrado sobre o lado AC, porque ambos
são equivalentes, já que AC, KI e KF são iguais. Portanto, como podemos observar
na figura, o quadrado KF M I é composto pelos retângulos KON I e P QM N , e pelo
quadrado OF QP . Podemos concluir então, que o dobro da área do quadrado KF M I,
corresponde a soma das áreas dos retângulos AKIC, KON I, P QM N e N M EL, mais a
soma das áreas dos quadrados CIJD, IN LJ, OF QP e DGHB.
Analisando agora, sob o ponto de vista da geometria moderna, podemos escrever as
áreas descritas anteriormente, como as áreas correspondentes aos quadrados em função

24
de seus lados:

(AD × AF ) + (DB × DG) = 2 × [(KI × KF ) + (CD × CI)]

Agora, tomando a medida associada a cada segmento, teremos que AD = AF = a,


a + b a + b 
DB = DG = b, KI = KF = AC = e CD = CI = − b , supondo a > b.
2 2
Desta forma, a proposição em questão é o equivalente geométrico da identidade algébrica,
" #
 a + b 2 a + b 2
a2 + b 2 = 2 + −b .
2 2

No entanto, podemos interpretar o enunciado de outro modo e escrever a = α + β e


b = α − β, revelando que na verdade esta proposição trata-se de uma representação da
identidade,
(α + β)2 + (α − β)2 = 2(α2 + β 2 ).

Proposição 2.10 (Prop. 10 - Livro II) Se uma reta é bissectada e uma outra é acrescen-
tado a ela em linha reta, o quadrado contido pela reta toda (com a reta que foi acrescen-
tada), junto com o quadrado contido pela reta adicionada, são iguais ao dobro do quadrado
contido pela metade da reta bissectada, junto com o quadrado contido pela reta correspon-
dente a uma metade da reta bissectada acrescentada da outra reta.

Simplificando o enunciado da proposição, temos que dado um segmento de reta AB,


primeiro o dividimos em duas partes iguais em C e depois acrescentamos na mesma reta
que contém o segmento AB, outro segmento BD. O enunciado nos diz que, a soma
das áreas dos quadrados, sobre os segmentos AD e BD, são iguais ao dobro da área do
quadrado sobre o segmento AC, junto com a área do quadrado sobre o segmento CD.
Como podemos observar na figura a seguir (Fig. 11), um segmento AB que foi dividido
em duas partes iguais em C, e acrescentado de um segmento BD. Construı́mos o quadrado
AF ED sobre o segmento AD. Traçamos os segmentos LG e M P , paralelos a AD ou F E,
de modo que AL seja igual a BD, e LM seja igual a AC. De maneira similar, traçamos
os segmentos CO e BH, sendo que BH seja igual a BD.

25
A a C a B b D
b
L K H G

M N P

F O E

Fig. 11 - Representação geométrica da Proposição 10 - Livro II

Por construção, podemos observar que as áreas dos retângulos ALKC e CKHB, são
iguais. Assim como, as áreas dos retângulos KN P G e N OEP também são iguais. Outro
fato a ser observado, é que o segmento AF = AD, pois AF é o lado do quadrado construı́do
sobre AD. Mas, AD = AB+BD e como por construção AF = AL+LM +M F , e sabemos
AB AB
que LM é igual a AC, sendo que AC = , portanto podemos concluir que M F = .
2 2
Desta forma, os segmentos LK, LM , M N e M F são iguais a AC, e os quadrados LM N K
e M F ON são iguais.
Então, o resultado da proposição nos diz que:

 
A(AF ED) + A(BHGD) = 2 × A(LKM N ) + A(CN P D)

O quadrado LKM N foi usado no lugar do quadrado sobre o lado AC, porque ambos
são equivalentes, já que AC, LK e LM são iguais. E como podemos observar na figura,
o quadrado CN P D é composto pelos retângulos CKHB e KN P G, e pelo quadrado
BHGD. Podemos concluir então, que a área do quadrado AF ED, corresponde a soma das
áreas dos quadrados LM N K e M F ON , mais a área do quadrado BHGD, acrescentada
ainda das áreas dos retângulos ALKC, CKHB, KN P G e N OEP .
Analisando agora, sob o ponto de vista da geometria moderna, podemos escrever as
áreas descritas anteriormente, como as áreas correspondentes aos quadrados em função

26
de seus lados:

(AD × AF ) + (BD × BH) = 2 × [(LK × LM ) + (CD × CN )]

Agora, tomando a medida associada a cada segmento, teremos que AD = AF = 2a+b,


BD = BH = b, LK = LM = AC = a e CD = CN = a + b, supondo a > b. Desta forma,
a proposição em questão é o equivalente geométrico da identidade algébrica,

(2a + b)2 + b2 = 2 a2 + (a + b)2 .


 

No entanto, podemos interpretar o enunciado de outro modo e escrever a = α e


b = β − α, revelando que na verdade esta proposição trata-se de uma representação da
identidade,
(α + β)2 + (β − α)2 = 2(α2 + β 2 ).

27
2.2 Resolução Geométrica de Equações Quadráticas
Nesta seção, iremos analisar algumas construções geométricas encontradas no Livro
II de Os Elementos, que tratam da resolução de equações quadráticas. Para analisar a
validade das construções, faremos o uso de conceitos de geometria moderna.
A primeira equação que apresentaremos, seguida da construção geométrica que fornece
as suas soluções, é a equação quadrática x2 + ax − a2 = 0. Esta equação, surge na
proposição 11 do Livro II, cujo problema é dividir um segmento AB, de modo que o
retângulo sobre o segmento todo e uma das partes, possua a mesma área que o quadrado
construı́do sobre a outra parte do segmento (Fig. 12). Ou seja, achar H de modo que
a(a−x) = x2 . Em outras palavras, achar a raiz positiva x (ou AH) da equação quadrática
x2 + ax = a2 .
Na figura, construı́mos o quadrado ABDC sobre
o segmento AB = a. Dividimos AC ao meio em E.
F G Traçamos EB e estendemos CA, com centro em E
e raio EB traçamos o arco encontrando o ponto F ,
x
desta forma EF = EB. Construı́mos o quadrado
x a−x
A B F GHA. Então, afirmamos que H é o ponto procu-
H
rado (de maneira que x = AH é a raiz positiva de

E a x2 + ax − a2 = 0):
a
Sabemos que AB = a e EA = , pelo Teorema de
2
Pitágoras no 4AEB:
C K D √
2 2 2 2 5a2 5
Fig. 12 - Construção da AB + AE = EB ⇒ EB = ⇒ EB = a
4 2
solução da equação √
a 5 a
quadrática x2 + ax = a2 EB = EF = EA + AF ⇒ AF = AH = −
2 2

Sabemos que a equação quadrática citada anteriormente, possui uma solução negativa.
No entanto, Euclides cita apenas a solução positiva em Os Elementos, devido ao fato
de que para ele não existiam os números negativos, sendo assim a outra solução era
considerada “falsa”. Sabemos que AF é raiz da equação porque√é igual a AH, sendo
a 5 a
assim a solução “falsa”ou negativa é dada pelo segmento CF = + .
2 2

28
Além disso, não vamos nos esquecer do problema inicial que impulsionou a resolução
da equação quadrática em questão, para Euclides o problema consistia em encontrar um
ponto H de modo que as áreas do retângulo HBDK e do quadrado F GHA fossem iguais,
mas na verdade o problema recaı́a em uma equação quadrática. Analisando o pensamento
grego, pela visão de Euclides, podemos perceber que as soluções são dadas por segmentos,
que possibilitam a construção dos quadriláteros desejados. É provável que Euclides não
estava pensando na solução de equações quadráticas, mas sim na solução de um problemas
envolvendo áreas. Porém, hoje sabemos que estas construções nos possibilitam encontrar
as soluções para equações quadráticas.
Além disso, esta construção nos√permite construir o “número de ouro”, basta tomarmos
5−1
AB = a = 1 e assim obter AH = , ou seja, a conhecida razão áurea.
2
A próxima equação quadrática, surgiu na proposição 5 do Livro II, que já foi vista
na seção anterior. A construção fornece a solução da equação x2 − ax + b2 = 0, sendo
que na verdade o problema inicial que justifica a resolução desta equação, é o problema
de encontrar o ponto D, que divide um segmento AB em duas partes desiguais, de modo
que satisfaça a proposição em questão. Como esta proposição já foi vista, vamos nos
concentrar na solução da equação quadrática.
Dado um segmento AB = a, o dividimos ao meio em C e traçamos OC = b perpen-
dicular a AB por C (Fig. 13). Prolongamos o segmento OC e marcamos o segmento ON ,
a
de modo que ON = CB = . Com centro em O e raio ON , encontramos em AB os
2
pontos D e E. Assim, a raiz positiva da equação será o segmento DB.
a
N Sabemos que OC = b e OD = ON = ,
2
E D pelo Teorema de Pitágoras no 4CQB:
A B
C

CD2 + OC 2 = OD2 ⇒ CD2 = OD2 − OC 2


 2 √
O 2 a 2 a2 − 4b2
CD = − b ⇒ CD =
2 2
Fig. 13 - Construção da solução da √
a a2 − 4b2
equação quadrática x2 + b2 = ax DB = CB − CD = −
2 2

Como já foi comentado anteriormente, Euclides desprezava a raiz “falsa”da equação

29
por esta ser negativa. Neste caso, a raiz negativa é determinada pelo segmento
√ EB, em
a a2 − 4b2
que CD = EC e portanto podemos concluir que EB = EC + CB = + .
2 2
A equação seguinte, surgiu na proposição 6 do Livro II, que também já foi vista na
seção anterior. A construção fornece a solução da equação x2 + ax − b2 = 0, sendo
que na verdade o problema inicial que justifica a resolução desta equação, é o problema
de encontrar o ponto D, de modo que satisfaça a proposição em questão. Como esta
proposição já foi vista, vamos nos concentrar na solução da equação quadrática.
Dado um segmento AB = a, o dividimos ao meio em C e traçamos BQ = b perpen-
dicular a AB por B (Fig. 14). Sobre o prolongamento do segmento AB, e com centro em
C e raio CQ, encontramos o ponto D. Assim, a raiz positiva da equação é determinada
pelo segmento BD.
a
Sabemos que BQ = b e CB = , pelo Teorema de Pitágoras no 4COD:
2
Q
 2
2 2 2 a 2
CQ = CB +BQ ⇒ CQ = +b2
2

a2 + 4b2
Portanto, CQ = .
A C B D 2
CD = CB + BD ⇒ BD = CD − CB
Fig. 14 - Construção da solução da √
a2 + 4b2 a
equação quadrática x2 + ax = b2 Logo, BD = − .
2 2

Neste caso, podemos verificar√que a raiz “falsa”ou negativa, descartada por Euclides,
a2 + 4b2 a
corresponde ao segmento CD = + .
2 2
Como já foi comentado na primeira construção, os problemas de Euclides que levam a
resoluções de equações quadráticas, eram na verdade problemas sobre áreas de quadriláteros.
Além disso, vimos neste capı́tulo, que os gregos usavam segmentos para representar
números, e que todas as operações algébricas eram geométricas.
Continuaremos o trabalho, desenvolvendo o estudo sobre a evolução da visão das
operações algébricas, que começaram a ter uma representação simbólica. Além de estudar,
a forma como outros povos trabalharam com a Álgebra Geométrica grega, como veremos
no próximo capı́tulo.

30
Capı́tulo 3

A Matemática Árabe

Neste capı́tulo, veremos uma outra concepção de álgebra geométrica que se desen-
volveu no perı́odo árabe. Mostraremos o trabalho que al-Khowarizmi desenvolveu com
a Álgebra geométrica, que com ele adquiriu uma nova visão com relação a forma como
eram tratados os conceitos da Álgebra Geométrica grega. Além disso, sabemos que do tra-
balho sobre álgebra de al-Khowarizmi, mais conhecido como Al-jabr, deu origem à palavra
“álgebra”. Num segundo momento, veremos o trabalho que Omar Khayyam desenvolveu
com equações cúbicas, trabalho este que representou um ponto crucial para a evolução
da Álgebra Geométrica. Inicialmente daremos um panorama do contexto histórico, in-
vestigado os motivos que levaram o conhecimento dos gregos aos árabes, bem como o
desenvolvimento desse estudo pelos mesmos.
Na década que se seguiu à fuga de Maomé de Meca para Medina em 622 d.C., deu-
se o inı́cio da era maometana que exerceria forte influência sobre o desenvolvimento da
matemática. Dez anos se passaram e Maomé estabeleceu um estado com centro em Meca,
onde judeus e cristãos recebiam proteção e liberdade de culto. Em 632 d.C., enquanto
planejava atacar o império Bizantino, Maomé morreu em Medina. Mas sua morte súbita,
não impediu a expansão do domı́nio islâmico, seus seguidores invadiram rapidamente
os territórios vizinhos. Dentro de poucos anos Damasco, Jerusalém e grande parte do
vale mesopotâmico cederam perante os conquistadores, e em 641 d.C. a universidade de
Alexandria, que por muitos anos fora o centro matemático do mundo, foi capturada. Sabe-
se que após as invasões, acorreram terrı́veis depredações à biblioteca de Alexandria, onde

31
se perderam muitos volumes preciosos, que tiveram como triste destino, a sua destruição
nas fogueiras.
Por mais de um século os conquistadores árabes lutaram entre si e com seus inimigos.
Durante este perı́odo houvera confusão polı́tica e cultural, os árabes no inı́cio não tinham
interesses intelectuais, e tinham pouca cultura, e impunham sua lı́ngua aos povos que
venciam. No entanto, por volta de 750 d.C., os vencedores se mostravam ansiosos por
absorver a cultura das civilizações que tinham sobrepujado. Foi de importância fundamen-
tal para a conservação da grande parte da cultura mundial a maneira como os árabes se
apoderaram do saber grego e hindu. Os califas de Bagdá foram governantes esclarecidos e
muitos deles se tornaram patronos da cultura e convidaram intelectuais para se instalarem
juntos às suas cortes. Inúmeros trabalhos de astronomia, medicina e matemática gregos
foram traduzidos para o árabe e assim preservados até que posteriormente intelectuais
europeus tivessem condições de traduzi-los para o latim ou outras lı́nguas.
Muitos intelectuais escreveram sobre matemática e astronomia, sendo o mais famoso
de todos Mohammed ibn Musa al-Khowarizmi, cujo nome, como o de Euclides iria tornar-
se familiar na Europa Ocidental. Deve-se a ele um tratado de álgebra e um livro sobre
os numerais hindus, que foram traduzidos para o latim no século XII. Outro erudito de
uma época um pouco posterior, famoso como médico, filósofo, lingüista e matemático, foi
Tabit ibn Qorra (826 d.C. - 901 d.C.). Entre seus trabalhos, consta a primeira tradução
árabe realmente satisfatória dos Elementos, além disso tem-se que suas outras traduções
de Apolônio, Arquimedes, Ptolomeu e Teodósio estão entre as melhores que já se fizeram.
De importância especial são suas traduções dos livros V, VI e VII das Secções Cônicas
de Apolônio, pois somente através delas esses livros se preservaram.
Muitos árabes deram contribuições significativas à matemática, os poucos que foram
citados anteriormente, mereceram tal citação devido à sua importância neste trabalho,
mas sem dúvida a matemática tem muito a dever aos vários pensadores árabes que pro-
duziram conhecimentos, desenvolveram estudos de grandes obras e conservaram o saber
grego à espera que fossem descobertos e desenvolvidos posteriormente pela Europa.
Mas talvez a mais profunda e original contribuição algébrica tenha sido a resolução
geométrica de uma equação cúbica feita por Omar Khayyam (cerca de 1050 - 1122).

32
3.1 Os Fundamentos Geométricos da Álgebra de al-
Khowarizmi
Sabemos que al-Khowarizmi é considerado o pai da álgebra. Nenhum ramo da matemática
aparece amadurecido, cada ramo possui um inı́cio ou uma inspiração. Desta forma, não
podemos deixar de perguntar de onde veio a inspiração para a álgebra árabe.
Nos seis primeiros capı́tulos do seu livro Al-jabr, encontramos uma matemática com-
posta por regras sob uma forma estritamente numérica, que nos faz lembrar a matemática
Babilônia. Além disso, encontram-se traços da matemática da Índia. Porém, quando
lemos o livro Al-jabr de al-Khowarizmi, depois de seu sexto capı́tulo, uma luz inteira-
mente nova é lançada sobre a questão:

Já dissemos o bastante no que se refere a números, sobre os seis tipos de


equações. Agora, porém, é necessário que demonstremos geométricamente a
verdade dos mesmos problemas que explicamos com números.

O tom dessa passagem é obviamente grega, não babilônio ou indiano. Existem então,
três diferentes teorias quanto à origem da álgebra árabe. Uma dá ênfase a influencias hin-
dus, outra aponta a tradição babilônia e a terceira aponta inspiração grega. Na verdade,
a álgebra de al-Khowarizmi pode ser tomada como uma combinação dessas três teorias.
Não há dúvidas de que sua álgebra revela inconfundı́veis elementos gregos, mas as
demonstrações geométricas têm pouco em comum com a matemática grega clássica. Ve-
remos a seguir, a justificativa geométrica de al-Khowarizmi (Fig. 15), para solução da
equação quadrática x2 + c = bx, que é dada por:
s
b  b 2
x= ± − c.
2 2

Inicialmente, al-Khowarizmi representa x2 pelo quadrado ACDB de lado x, e o retângulo


ABN H representa c. Portanto, o segmento HC representa b. Desta forma, a figura repre-
senta geométricamente a equação quadrática anterior. Agora, marcamos G ponto médio
de HC, traçamos por G o segmento T G paralelo a CD ou AB. Estendemos T G até K,

33
de modo que GK = GA e completamos o retângulo GKM H. Escolhemos L em KM , de
modo que KL = GK e completamos o quadrado KLRG. Observando a construção da
figura, podemos concluir que os retângulos M LRH e GABT são iguais.

M




















L K
   
   

   
   










A x C
H R





G 










 
 











x
 
 

 
 

N T B D

Fig. 15 - Justificativa da equação quadrática x2 + c = bx

 2
b
Pela figura, a área do quadrado KM N T é . A área deste quadrado, menos a
2
área do quadrado KLRG, será igual a área do retângulo ABN H (ou c), sendo que a área
 2
b
do quadrado KLRG é igual a − c. Por construção, sabemos que KL = KG = GA
2
então, segue que x = AC = GC − GA. Assim teremos que:
s
b  b 2
x= − − c.
2 2

Portanto, verificamos geométricamente que a solução algébrica esta correta. E embora,


os árabes também rejeitassem as raı́zes negativas, como faziam os gregos, eles conheciam
as regras que governam o que chamamos de números com sinal.
Uma comparação entre a Fig. 15, tirada da álgebra de al-Khowarizmi, com a Fig. 06
encontrada em Os Elementos (Capı́tulo anterior), nos leva à conclusão de que a álgebra
árabe tinha muito em comum com a geometria grega. No entanto, a parte aritmética da
álgebra de al-Khowarizmi é evidentemente estranha ao pensamento grego. Devido ao fato,
de que al-Khowarizmi quebrou a homogeneidade entre comprimentos e áreas, atribuindo
ao coeficiente c da equação, uma área. Criando uma abordagem algébrica abstrata, que
não havia sido vista antes. A seguir, veremos um trabalho de Omar Khayyam, que mais
tarde contribuiu para que fosse fechada a separação entre a álgebra e a geometria, vendo-as
como dois ramos da matemática que podiam caminhar juntos.

34
3.2 Resolução Geométrica de Equações Cúbicas
Omar Khayyam foi o primeiro a trabalhar com qualquer tipo de equação cúbica que
admitisse uma raiz positiva. Ele acreditava que métodos aritméticos de solução nesse
caso eram impossı́veis, o que foi demonstrado ser possı́vel mais tarde no século dezesseis,
por isso, deu apenas soluções geométricas. É necessário ressaltar que nas antigas soluções
geométricas gregas das equações cúbicas, os coeficientes eram segmentos de reta enquanto
que na obra de Omar Khayyam eram números especı́ficos.
Segundo Omar Khayyam a resolução geométrica da cúbica x3 + b2 x + a3 = cx2 , podia
ser interpretada tomando os segmentos de reta com comprimentos correspondentes às
grandezas a, b, c e x. Como podemos observar a seguir (Fig. 16), daremos inı́cio ao
processo de construção da raiz positiva da cúbica supracitada.

J
D H

E K F

A a 3/ b 2 B L G C

Fig. 16 - Construção geométrica da raiz positiva da equação cúbica x3 + b2 x + a3 = cx2

a3
Na figura construa AB = e BC = c. Trace uma semi-circunferência de diâmetro
b2
AC e suponha que a perpendicular a AC por B a corte em D. Sobre BD marque BE = b
e por E trace EF paralela a AC. Encontre G em BC de maneira que (BG)(ED) =
(BE)(AB) e complete o retângulo DBGH. Trace por H a hipérbole equilátera de
assı́ntotas EF e ED e suponha que ela corte a semi-circunferência em J. Sejam K e
L as intersecções da paralela a DE por J com EF e BC, respectivamente. Enfim, o
segmento BL é uma raiz positiva da equação cúbica dada.

35
A seguir demonstraremos utilizando definições modernas, que o método geométrico de
Omar Khayyam, realmente fornece a raiz positiva da cúbica em questão, e na seqüência
faremos algumas considerações sobre alguns fatos importantes para a realização da cons-
trução geométrica que vimos anteriormente.

Demonstração:

Pelas propriedades da hipérbole, teremos que:

1 1 1
EK = e ED = , mas como DH = BG ⇒ ED =
KJ DH BG

e sendo assim, (EK)(KJ) = (ED)(BG). (∗)

Então, tomando as seguintes relações de proporção teremos que:

BG BE
= ⇒ (BG)(ED) = (AB)(BE)
AB ED

e por (∗) ⇒ (EK)(KJ) = (BG)(ED) = (AB)(BE). (1)

Pela figura temos que, AL = AB + BL ⇒ (BE)(AL) = (BE)(AB + BL)

(BE)(AL) = (BE)(AB) + (BE)(BL). De (1) e por BL = EK

(BE)(AL) = (EK)(KJ) + (BE)(EK) = EK(KJ + BE) , mas BE = LK ,temos

(BE)(AL) = EK(KJ + LK) = (EK)(LJ) , pois KJ + LK = LJ.

Portanto, (BE)(AL) = (EK)(LJ) = (BL)(LJ). (2)

Observando a figura, podemos verificar que pelo fato de LJ ser perpendicular a AC


no ponto L cruzando a semi-circunferência em J, que LJ é a média geométrica de
p 2
AL e LC. Logo, LJ = (AL)(LC) ⇒ (LJ) = (AL)(LC). (3)

Pela relação (2) temos que:

BE LJ (BE)2 LJ 2 (3) (BE)2 (AL)(LC)


= ⇒ 2 = 2 ⇒ 2 =
BL AL (BL) (AL) (BL) AL2

36
(BE)2 LC
⇒ 2 = ⇒ (BE)2 (AL) = (BL)2 (LC). (4)
(BL) AL
a3
Voltando à construção da figura, sabemos que BE = b, AB = 2 e BC = c, sendo
b
assim podemos fazer as substituições em (4):

(BE)2 (AL) = (BL)2 (LC) ⇒ (BE)2 (AB + BL) = (BL)2 (BC − BL)

 a3 
⇒ b 2
+ BL = (BL)2 (c − BL) ⇒ (BL)3 + b2 (BL) + a3 = c(BL)2 .
b2

Logo, BL é uma raiz da equação cúbica dada.

Embora, os passos da construção geométrica sejam simples de serem compreendidos,


daremos algumas considerações sobre esta construção geométrica, já que temos também
como objetivo, analisar os métodos e conceitos utilizados por Omar Khayyam.

Considerações:

a3
(I) Presumimos que para construir o segmento AB = , Omar Khayyam deve ter
b2
utilizado os conhecimentos gregos sobre as proporções (Fig. 17). Portanto, para se con-
a z
struir o segmento AB, deve-se achar z de tal forma que = e depois achar AB tal que
b a
a AB
= .
b z

z AB

a a

b a b z
a3
Fig. 17 - Construção geométrica do segmento AB =
b2

(II) Para a construção da hipérbole, iremos analisar inicialmente algumas das pro-
priedades gerais da mesma e algumas propriedades especı́ficas da hipérbole equilátera.

37
A Hipérbole é uma curva plana aberta de ramos infinitos, na qual é constante a
diferença das distâncias de cada um de seus pontos a dois pontos fixos situados em seu
plano. De acordo com a figura a seguir (Fig. 18) e por definição temos que:

F P − F P 0 = AA0

S C R
P

O
X X’
F A a a A’ F’

P D Q

Y’

Fig. 18 - A hipérbole e seus pontos e retas caracterı́sticos

Assim os pontos F e F 0 da figura são os focos da hipérbole e a distância F F 0 entre


eles é a distância focal. Os pontos A e A0 são os vértices de hipérbole e a distância AA0 é
representada por 2a.
A hipérbole tem dois eixos. Um transverso ou real que é o segmento AA0 da linha reta
XX 0 e outro não transverso ou imaginário e que é o segmento CD da linha reta Y Y 0 .
Estes dois eixos se cortam no centro O da curva. As assı́ntotas da hipérbole são as retas
obtidas através do prolongamento das diagonais do retângulo SP QR.
Na hipérbole equilátera o comprimento do eixo real é igual ao comprimento do eixo
imaginário, conseqüentemente as suas assı́ntotas são perpendiculares.
Na construção de Omar Khayyam temos que construir uma hipérbole equilátera, sendo
que temos apenas um par de retas perpendiculares, que são as assı́ntotas, e um ponto
por onde deve passar a hipérbole. Sabemos que é possı́vel encontrar geométricamente
pontos de uma hipérbole, mas como a solução do problema depende da intersecção da

38
hipérbole com uma semi-circunferência, o simples procedimento onde encontramos pontos
aleatórios da hipérbole, pode não fornecer o ponto exato da intersecção, sendo assim temos
a necessidade de utilizar um método pelo qual seja possı́vel obter o traço da hipérbole,
para então encontrar o ponto exato da intersecção.
Sabemos que no caso da elipse, por exemplo, podemos fixar cada ponta de um bar-
bante, que possua comprimento maior que a distância focal, nos focos e posicionando a
ponta de um lápis no barbante esticando-o e passar todo o comprimento do barbante
desta maneira, podemos desenhar uma elipse. Este procedimento garante a propriedade
da elipse de manter constante a soma das distancias entre o seus pontos e os focos.
A hipérbole também possui um procedimento semelhante para se obter o seu traçado,
considerando a diferença constante entre os pontos da hipérbole e os seus focos. Como
podemos observar a seguir (Fig. 19), descreveremos o processo em que utilizamos uma
régua, um barbante, dois alfinetes e um lápis para determinar o traçado.

            
            

            
            


































































S
            
            
























































M











            
            

            
            

            
            

            
            

            
            

            
            

            
            

            
            

            
            














O















F A a a A’ F’

Fig. 19 - Obtendo o traço da hipébole

Para garantir o movimento necessário do lápis, cravamos dois alfinetes nos pontos F
e F 0 e fixamos uma régua no ponto F de modo que ela possa girar no papel ao redor
do alfinete. Tomemos um fio (mais curto que a régua) e fixamos uma de suas pontas no
extremo da régua e outra no alfinete no ponto F 0 . Estiramos agora o fio, apoiando-o na
régua mediante a ponta M do lápis. Então a diferença entre as distâncias M F e M F 0
será igual a:
(M F + M S) − (M F 0 + M S) = F S − (M F 0 + M S),

39
ou seja, será igual a diferença entre os comprimentos da régua e do fio. Se girarmos a
régua ao redor de F , nela apoiando o lápis e mantendo o fio esticado, o lápis escreverá
no papel uma curva tal que a diferença das distâncias de qualquer de seus pontos a F e
F 0 será sempre a mesma e igual à diferença m entre os comprimentos da régua e do fio,
que nada mais é do que a diferença 2a que corresponde a distância entre os vértices da
hipérbole.
Como foi visto anteriormente, para traçar a hipérbole especı́fica necessitamos conhecer
os focos e a distância entre os vértices, para então poder determinar a diferença que a
régua e o barbante devem ter. Como em nosso problema, temos somente as assı́ntotas
e um ponto da hipérbole, temos que encontrar os focos e os vértices da mesma. Para
isso, faremos o uso de algumas construções geométricas utilizando régua e compasso (Fig.
20), tentando reproduzir as construções geométricas gregas que Omar Khayyam pode ter
usado em sua construção.

assíntota
H
xo
ei

ei
xo

F’
C

Q A’
O
assíntota

H’ A
D
F

Fig. 20 - Construção geométrica dos pontos da hipérbole

Tendo as assı́ntotas da hipérbole, traçamos as retas que irão conter os eixos real e
π
imaginário, pois sabemos que o ângulo formado pelas assı́ntotas e os eixos é de , pelo
4
fato da hipérbole ser equilátera. Depois, traçamos uma reta passando pelo ponto H, que
corte as assı́ntotas e que seja perpendicular a reta que contém o eixo imaginário. Pelas
propriedades da hipérbole, sabemos que a distância da intersecção da reta com a assı́ntota
até o ponto H, será igual a distância da intersecção da reta com a outra assı́ntota até um

40
determinado ponto H 0 . Assim, encontramos o ponto H 0 , que também é outro ponto da
hipérbole.
Agora, com centro em Q e raio QH 0 encontramos o ponto A que será um dos vértices
da hipérbole, da mesma maneira encontramos o outro vértice A0 . Pela propriedade da
hipérbole equilátera, sabemos que o comprimento do eixo real e imaginário são iguais,
desta forma marcamos os pontos C e D. Finalmente, as distâncias AC e A0 C serão iguais
e correspondentes às distâncias focais OF e OF 0 . Tendo encontrado os focos e a distância
entre o vértices da hipérbole, podemos aplicar o método para obter o traçado da mesma.
Sabemos que este método não é totalmente preciso, porque utilizamos um processo
mecânico para obter o traço da hipérbole. Sabemos que a curva de uma hipérbole não
pode ser traçada, através de uma construção com régua e compasso, podemos construir
apenas pontos desta maneira. Mas, supomos que este foi o método empregado por Omar
Khayyam, sendo que ele poderia ter tido contato com obras gregas, que dispunham de
tais conhecimentos sobre construções de cônicas.
Deve-se observar também, que nas antigas soluções geométricas gregas das equações
cúbicas, os coeficientes eram segmentos de retas, enquanto que na obra de Omar Khayyam
eram números especı́ficos. Os árabes, deram uma grande contribuição através da reunião
e harmonização, das diferentes teses e correntes de pensamento. Os seus trabalhos colabo-
raram com o fechamento da separação que existia entre a álgebra e a geometria. O passo
decisivo nesta direção veio muito mais tarde, com René Descartes, mas Omar Khayyam
estava avançando nesta direção quando escreveu:

“Quem quer que imagine que a álgebra é um artifı́cio para achar quantidades desconhecidas
pensou em vão. Não se deve dar atenção ao fato de a álgebra e a geometria serem diferentes
na aparência. As álgebras são fatos geométricos que são provados”

No próximo capı́tulo, estudaremos um pouco sobre a vida e obra de René Descartes,


dando ênfase ao seu trabalho La Géométrie, que concretizou a união da álgebra com a
geometria.

41
Capı́tulo 4

René Descartes

Neste capı́tulo, estudaremos a vida de um dos maiores pensadores do século XVI,


René Descartes. Nosso interesse pela vida de Descartes está relacionado com a sua obra
mais famosa, o Discours de la méthode pour bien conduire sa raison et chercher la vérité
dans les sciences (Discurso sobre o método para bem conduzir a razão e buscar a verdade
através da ciência). Nesta obra, em grande parte filosófica, ele apresentou três apêndices,
em que ele pensou dar ilustrações de seu método filosófico geral. Um desses tratados,
considerado o mais famoso, é o La Géométrie (Geometria), um tratado contendo estu-
dos sobre Álgebra Geométrica como havia sido feito por al-Khowarizmi. Contudo, o
trabalho de Descartes em La Géométrie tinha outro objetivo além de dar significados à
interpretações da álgebra por meio de interpretações geométricas, ele almejava através de
processos algébricos libertar a geometria de diagramas. Pelo estudo que veremos a seguir,
neste capı́tulo, poderemos observar a mudança ocorrida com a Álgebra Geométrica que
levou às raı́zes da atual Geometria Algébrica, foco principal deste trabalho.
René Descartes, foi filósofo e matemático, que nasceu em La Haye, na Touraine, cerca
de 300 quilômetros a sudoeste de Paris, em 31 de março de 1596, e veio a falecer em
Estocolmo, Suécia, a 11 de fevereiro de 1650, aos 54 anos. Ele pertenceu a uma famı́lia de
posses, dedicada ao comércio, ao direito e à medicina. Aos oito anos, em 1604, Descartes
foi matriculado no colégio jesuı́ta Real de La Flèche, em Anjou, onde estudou por quase
dez anos, até 1614. Na escola, um tanto desinteressado dos estudos e muito inclinado a
”meditar”, tinha por desculpa sua saúde frágil que o forçava a permanecer muito tempo

42
na cama, um hábito que manteve mesmo depois de adulto, e que só no último ano de
sua vida foi obrigado a mudar, modificação que lhe foi fatal. Apesar das aulas perdi-
das todas as manhãs, era inteligente o bastante para acompanhar o curso e concluı́-lo
sem maiores dificuldades. As disciplinas eram designadas genéricamente por “filosofia”,
contendo fı́sica, lógica, metafı́sica e moral; e “filosofia aplicada”, que compreendia me-
dicina e jurisprudência. Também estudou matemática através dos manuais didáticos do
monge Clavius, matemático jesuı́ta que algumas décadas antes havia criado o Calendário
Gregoriano. Descartes disse mais tarde que, embora admirasse a disciplina e a educação
recebida dos jesuı́tas em La Flèche, o ensino propriamente era fútil e desinteressante,
sem fundamentos racionais satisfatórios, e que somente na matemática havia encontrado
algum atrativo.
Decidido a deixar os estudos regulares, pois não queria a vida de um erudito e intelec-
tual, Descartes decidiu viajar pelo mundo para observar e adquirir experiências. Antes
porém, passou um curto perı́odo em Paris e, depois, para atender ao pai, ingressou num
curso de Direito de dois anos na universidade de Poitier onde seu irmão também se for-
mara. Concluı́do o curso em 1616, não seguiu a tradição da famı́lia. Em 1618 Descartes foi
para a Holanda e se alistou na escola militar de Breda como oficial não pago do exército
de Maurı́cio de Nassau, prı́ncipe de Orange. Estudou arte de fortificações e a lı́ngua
flamenga.
O serviço militar era uma escolha conveniente da parte de Descartes, uma vez que a
pratica da guerra era uma complementação da educação dos cavalheiros que não seguiam
a carreira eclesiástica, além de ser, por excelência, o campo de aplicação das matemáticas,
tanto no aperfeiçoamento das armas como na construção de fortalezas e edifı́cios em geral.
É dado como improvável, que Descartes tenha participado de alguma luta real, mas a
vida de campanha o aborreceu. Ele continuava a observar e fazer notas e sobretudo a sua
fascinação pelas ciências matemáticas ganhou ı́mpeto por seu conhecimento casual seguido
de amizade com o duque filosofo, doutor e fı́sico Isaac Beeckman, um professor distinguido
pelos seus conhecimentos de mecânica e matemática e reitor do Colégio Holandês em Dort.
Beeckman teria ficado surpreso com a habilidade matemática do jovem oficial francês,
capaz de resolver sozinho e rapidamente um complicado quebra-cabeça matemático.

43
A Beeckman Descartes dedicou o Compendium musicae, no qual indaga as relações
matemáticas que determinam a ressonância, o tom e a dissonância musical, um tópico
evidentemente de acordo com sua inclinação pitagórica de então. Beeckman o atualizou
com respeito a vários progressos na matemática, incluindo o trabalho do matemático
francês Viète, um dos pioneiros da álgebra moderna. Uma parte importante da fama
de Descartes vem, justamente, de ter aplicado a formulação algébrica para problemas
geométricos em lugar de grupos de desenhos geométricos e teoremas separados. O encontro
com Beeckman renovou o entusiasmo de Descartes em prosseguir no caminho escolhido
para seus estudos, despertando-lhe a ambição de encontrar uma fórmula geral, racional,
de conhecimento universal.
Deixando o exército do prı́ncipe de Orange após dois anos na Holanda, Descartes viajou
para a Dinamarca, Polônia e Alemanha. Ele passou o inverno em Neuburg, no Danúbio
Sul, onde segundo seu próprio relato, dispunha de um compartimento bem aquecido,
dormia dez horas toda noite, o que muito apreciava, e se ocupava de seus próprios pensa-
mentos. Disse que teve então alguns sonhos dos quais, de acordo com sua interpretação,
significavam que ele tinha a missão de reunir todo o conhecimento humano em uma ciência
universal única, toda construı́da de certezas racionais. Certamente ele se referia à fı́sica
pois, era o sonho comum dos sábios na época encontrar uma fórmula matemática para o
universo. Havia pois, na Fı́sica, a possibilidade de reduzir a fórmulas matematicamente
exatas as leis fundamentais da natureza. Em Descartes era uma aspiração mais de ordem
mı́stica, embora buscasse uma solução racional, muito de acordo com seu interesse pela
filosofia de Pitágoras, com fundamento em números, e pelos segredos dos Rosacruzes.
Vivendo de rendas e perseguindo a realização de seu sonho profético, viajou por vários
paı́ses da Europa. Em 1623, renuncia definitivamente à carreira militar para dedicar-se
à investigação cientı́fica e filosófica. Do outono de 1623 à primavera de 1625, ele vagou
pela Itália onde ficou em Veneza, Roma e Florença por algum tempo, retornando depois
à França, onde viveu principalmente em Paris.
A França à época de Descartes é a França de Luı́s XIII e do Cardeal Richelieu.
A polı́tica de Richelieu gerou grande progresso para a França, atribuindo privilégios e
monopólios aos negociantes e manufatureiros e ampliou o comércio marı́timo. Porém a

44
ciência oficial continuava estagnada em torno dos comentários dos antigos (particular-
mente de Aristóteles), isso porque tal atraso interessava indiretamente ao absolutismo
monárquico. Discussões com amigos, estudos privados e reflexão eram o padrão da vida
de Descartes em Paris. Realiza, com o matemático Mydorge, experiências de ótica. Fez
novos amigos entre os sábios e renovou velhos conhecimentos, especialmente com o Padre
Marin Mersenne, seu contemporâneo de La Flèche. Mersenne, um grande erudito, seria
depois seu conselheiro e correspondente de confiança, e quem o manteria informado sobre
o universo cultural europeu por muitos anos no futuro. Estava em contato com todos os
intelectuais famosos da Europa e, desta forma, numa posição única para apresentar seus
trabalhos a eles e relatar de volta seus comentários e crı́ticas.
Em novembro de 1627 Descartes participa de um debate na residência do núncio
papal. Após alguém expor uma nova filosofia, ele fez um aparte em sucinta argumentação,
baseada em raciocı́nios semelhantes com os métodos de prova matemáticos. Sua tese
causou viva impressão no cardeal De Bérulle, que era o lı́der da reação católica contra o
Calvinismo. O cardeal insistiu que Descartes assumisse o dever de utilizar seus talentos
ao máximo e completasse o estudo que havia alı́ delineado para sua audiência. Todos os
presentes ficaram profundamente impressionados: o nome do jovem filósofo começou a
ficar conhecido.
No outono de 1628, aos 32 anos, ele passou uns poucos meses no norte da França mas,
decidiu-se pela Holanda como a terra que melhor se adaptava à realização de seus planos.
Na Holanda, desde que cuidasse de sua própria vida e não se metesse com os calvinistas
dominantes, encontrou uma elite que vivia pelos padrões sociais mais altos da época,
um panorama polı́tico intenso e aventureiro e liberdade para escrever. Essa liberdade
atraia cientistas e filósofos de toda a Europa. Encontrou-se com Beeckman em Dordrecht
e depois se instalou em Franeker, no litoral da Friesland, onde fez prontamente vários
amigos, particularmente Constantyn Huygens, pai do futuro cientista Christian Huygens.
Lá podia gozar perı́odos de trabalho solitário e ainda manter contato com amigos por
meio de visitas e correspondência.
Por quatro anos, de 1629 para a frente, Descartes gastou seu tempo primeiro buscando
a consolidação de um método, segundo o qual, partindo da dúvida absoluta pudesse

45
chegar à mais absoluta certeza. Depois, ateve-se ao estudo de diferentes ciências, as
quais, unificadas pelo novo método, levariam a um esquema universal de conhecimento.
Descartes leva avante sua pesquisa em ciências fı́sicas e matemáticas trocando in-
formações com amigos, freqüentemente através de cartas, especialmente com o padre
Mersenne. A pesquisa cobria muitos campos: ótica, a natureza da luz, as leis da refração
e meteorologia, a natureza e estrutura dos corpos materiais, a matemática e especialmente
a geometria. Fez também estudos de anatomia e de fisiologia. Era ambição de Descartes
publicar um trabalho abrangente que ele intitula o “Mundo”(Le Monde, ou Traité de la
Lumière), que por volta de 1633 ele tinha quase completado o rascunho quando então
soube, por uma carta de Mersenne, que o astrônomo Galileu tinha sido condenado em
Roma pela igreja católica por advogar o sistema de Copérnico. Beeckman lhe passou um
livro de Galileu, no qual ele reconheceu muitas de suas próprias conclusões, particular-
mente seu apoio à teoria coperniana do movimento da terra ao redor do sol. Apesar de não
estar se arriscando a nenhum perigo fı́sico na Holanda, ele foi suficientemente prudente
para não publicar seu trabalho. Nem sequer mandou o manuscrito para Mersenne. Mas
continuou com uma inabalável convicção a respeito da verdade das conclusões de Galileu.
Descartes foi, no entanto, pressionado pelos seus amigos para publicar suas idéias.
Escreveu um tratado de ciência expondo um método de se chegar à verdade e decidiu
publicá-lo anonimamente. Nessa obra intitulada Discours de la méthode pour bien con-
duire sa raison et chercher la vérité dans les sciences (Discurso sobre o Método para Bem
Conduzir a Razão a Buscar a Verdade Através da Ciência), o novo método é exposto
em termos simples e com menos ênfase à matemática, com uma introdução sobre alguns
traços autobiográficos, relatando seu método e doutrina filosófica. Essa se tornou sua
mais famosa obra. Os três apêndices desta obra foram La Dioptrique, Les Météores, e
La Géométrie. O tratado foi publicado em Leyden em 1637 e Descartes escreveu para
Mersenne dizendo que havia buscado no seu La Dioptrique e no seu Les Météores mostrar
que o seu método era melhor que o vulgar, e no seu La Géométrie havia demonstrado isso.
A obra descreve o que Descartes considerava um meio mais satisfatório de adquirir o con-
hecimento que o representado pela lógica aristotélica. Somente a matemática, Descartes
sente, está certa, assim tudo deve ser baseado na matemática.

46
La Dioptrique é um trabalho no sistema ótico e nele trata da lei da refração. Embora
Descartes não cite cientistas precedentes para as idéias que apresenta, os fatos apresenta-
dos não são novos. Entretanto sua aproximação através da observação e da experiência
era uma contribuição nova muito importante. Les Météores é um trabalho de meteo-
rologia e é importante por ser o primeiro trabalho que tenta colocar o estudo do tempo
em bases cientı́ficas, que busca uma explicação cientı́fica sobre o tempo, e inclui uma
explicação do arco-iris. Entretanto, muitas colocações cientı́ficas de Descartes estão não
somente erradas como também poderiam ser evitadas se ele tivesse feito algumas ex-
periências simples. Após a publicação do Les Météores as obras de Boyle, Hooke e Halley
se encarregaram de contestar e corrigir suas postulações falsas. O terceiro, La Géométrie,
talvez cientı́fica e historicamente o mais importante, introduz as famosas “coordenadas
cartesianas”, que teriam sido assim batizadas por G. W. Leibniz, e lança os fundamen-
tos da moderna geometria analı́tica usando a notação algébrica para tratar os problemas
geométricos.
A despeito da anonimidade do ”Discurso”, o nome do autor e suas teorias logo se
tornaram conhecidos nos cı́rculos ilustrados da Europa. Seu dito ”Penso, logo existo”tornou-
se prontamente popular entre os franceses. Porém, foram os ensaios cientı́ficos das três
partes que atrairiam a atenção dos matemáticos e provocariam muita controvérsia. Ainda
em 1637 Descartes começa a preparar o “Meditações sobre a filosofia primeira”, uma versão
pouco modificada do “Discurso”escrita em latim e dirigida aos filósofos e teólogos, que
vai explorar o êxito da parte filosófica do Discurso. Por isso o “Meditações”constitui a
principal exposição da doutrina filosófica de Descarte.
Se a publicação das “Meditações”trouxe para Descartes renome como um famoso
filósofo, também o envolveu direta ou indiretamente em amargas controvérsias de conotações
teológicas. Na própria Holanda, o presidente da Universidade de Utrecht (ao sul de Am-
sterdã) acusou-o de ateı́smo e Descartes foi, de fato, condenado pelas autoridades locais
em 1642 e em 1643. Descartes pediu o apoio de Huygens e, através dele e do embaixador
francês, obteve a proteção do Prı́ncipe de Orange, o que evitou conseqüências piores. Em
1644 aparece em Amsterdã o Principia Philosophiae (Princı́pios da Filosofia), um livro
em grande parte dedicado à fı́sica, especialmente às leis do movimento e à teoria dos

47
vórtices.
Na França, em 1647, Descartes se encontrou com Pascal e discutiram sobre o vácuo,
cuja existência era necessária ao postulado da influência à distância. Resultou a famosa
experiência de Pascal, provando que o ar exerce pressão sobre todos os objetos. Sua
última visita a Paris, em 1648, permitiu-lhe rever ainda uma vez alguns de seus famosos
contemporâneos, entre eles Gassendi e Hobbes, este exilado em Paris desde 1640, e, é
claro, seu amigo Mersenne, que haveria de morrer em breve.
Uma cópia manuscrita do “Tratado das Paixões”foi para a Raı́nha Cristina da Suécia,
quem, desde 1647, através do embaixador francês, tinha obtido os trabalhos de Descartes e
começou a escrever para ele. Ela estava ansiosa para conhece-lo, com o plano de naturalizá-
lo sueco, introduzi-lo na aristocracia sueca e dar-lhe uma propriedade em terras que havia
tomado à Alemanha. Chegando em Estocolmo em outubro de 1649, Descartes foi recebido
com grande cerimônia e ficou impressionado pela determinação e energia da rainha de
23 anos de idade e sua devoção aos estudos clássicos. Dispensado da maior parte do
cerimonial da corte, exceto de escrever versos franceses para um ballet, sua obrigação
principal era instruir a rainha em matemática e filosofia. O horário da aula era cinco
horas da manhã, o que o obrigou a quebrar o hábito de se levantar diariamente por volta
das 11 horas. No clima rigoroso, onde, nas palavras do filósofo, os pensamentos do homem
congelam-se durante os meses de inverno, sua saúde deteriorou. Em Fevereiro de 1650,
ele pegou um resfriado que se transformou em pneumonia. Dez dias depois, após receber
os últimos sacramentos, faleceu.
Além de seus escritos publicados ou apenas rascunhados, Descartes deixou uma cor-
respondência volumosa e de grande valor documental, principalmente a correspondência
com Mersenne e com Antoine Arnauld. Ela cobre uma variedade de campos, desde a
geometria às ciências polı́ticas, medicina à metafı́sica e, principalmente, sobre os proble-
mas da interação do corpo com o espı́rito, buscando aspectos mecânicos e fisiológicos que
pudessem explicá-la.

48
4.1 La Géométrie
A obra de Descartes é com demasiada freqüência descrita simplesmente como aplicação
da álgebra à geometria, devido ao estudo que levou à invenção da geometria analı́tica. Ver-
emos posteriormente que, na verdade ela poderia ser caracterizada como sendo também a
tradução das operações algébricas em linguagem geométrica. O conteúdo de La Géométrie,
reúne estudos sobre vários conceitos matemáticos, que mudaram o forma de pensar e tratar
diversos tipos de problemas tanto em álgebra, como em geometria. A La Géométrie está
dividida em três livros:
As duas primeiras seções do Livro I de La géométrie tem como tı́tulos, “Como os
cálculos de aritmética se relacionam com operações de geometria”e “Como a multiplicação,
a divisão e a extração de raı́zes quadradas são efetuadas geométricamente”. Descartes
mostra, como as cinco operações algébricas possuem correspondências a construções sim-
ples com régua e compasso, justificando assim a introdução de termos aritméticos em
geometria. Porém, havia uma diferença importante na maneira de visão nos estudos
de Descartes, ele foi mais longe que qualquer um dos predecessores na interpretação
geométrica da álgebra. Ao passo que pensamos em incógnitas como números, Descartes
pensava nelas como segmentos mas, não da mesma forma que já vimos com os matemáticos
árabes. Num ponto essencial ele rompeu coma tradição grega e árabe, pois em vez de
considerar x2 e x3 , por exemplo, como uma área e um volume, ele também os inter-
pretava como segmentos, e isso permitiu abandonar o princı́pio de homogeneidade, ao
menos explicitamente, e no entanto preservar o significado geométrico. Na verdade ele
foi responsável por substituir a homogeneidade formal por homogeneidade em pensa-
mento, o que tornou sua Álgebra geométrica mais flexı́vel, pois quando lemos xx como
“x quadrado”, jamais enxergamos um quadrado.
Ainda pensando em termos de Álgebra Geométrica, o livro I contém instruções deta-
lhadas para resolver equações quadráticas, de forma geométrica à maneira dos gregos anti-
gos. Apresentaremos a seguir, dois métodos para a solução geométrica de duas equações
quadráticas, que foram apresentados por René Descartes.
Para resolver a primeira equação x2 = ax + b2 , Descartes procede do seguinte modo.
Tracemos um segmento LM de comprimento b e em L levanta-se um segmento N L igual

49
a
a e perpendicular a LM (Fig. 21). Com centro em N construı́mos um cı́rculo de raio
a2
e traçamos a reta por M e N que cortará o cı́rculo em O e P . Então, OM = x é o
2
segmento desejado.

Como podemos observar na figura, o seg-


O
mento N M pode ser obtido aplicando o Teo-
N rema de Pitágoras no 4N LM :

a P  a 2
2 2 2
2 N L + LM = N M ⇒ + b2 = N M 2
2
L b M √
2a2 + 4b2 a2 + 4b2
NM = ⇒ NM =
4 2
Fig. 21 - Construção da solução da √
a a2 + 4b2
equação quadrática x2 = ax + b2 OM = ON +N M ⇒ OM = +
2 2

Através deste processo, também era possı́vel obter a outra raiz da equação quadrática,
a raiz P M da equação, que era ignorada, pois Descartes consideravas essas raı́zes como
sendo “falsas”, ou seja, negativas. A seguir, continuaremos com a resolução geométrica da
outra equação quadrática, para então prosseguir com a narrativa sobre os outros estudos
feitos por Descartes, em sua obra La Géométrie.
Para resolver a segunda equação x2 = ax − b2 , Descartes procede do seguinte modo.
Tracemos um segmento AB de comprimento a e seja O o seu ponto médio (Fig. 22).

Q
P

A O S B

Fig. 22 - Construção da solução da equação quadrática x2 = ax − b2

Com centro em O e raio AO descrevemos uma semi-circunferência. Pelo ponto B,


levantamos uma perpendicular a AB e escolha sobre ela o ponto P , de tal modo que o

50
a
segmento BP tenha comprimento igual a b (Considerando b < ). Por P , trace uma
2
paralela a AB. seja Q um dos pontos de intersecção coma semi-circunferência e S o pé
da perpendicular baixada de Q sobre AB. Então, SB = x é o segmento desejado.
Como podemos observar na figura, o segmento QS pode ser interpretado como sendo
a média geométrica dos segmentos AS e SB, logo QS 2 = (AS)(SB), em que QS = b.
Pelo Teorema de Pitágoras, obtemos as seguintes relações:

No 4AQS temos que: QS 2 + AS 2 = AQ2 ⇒ b2 + (a − SB)2 = AQ2 (1)


No 4QSB temos que: QS 2 + SB 2 = QB 2 ⇒ b2 + SB 2 = QB 2 (2)
No 4AQB temos que: AQ2 + QB 2 = AB 2 ⇒ AQ2 + QB 2 = a2 (3)

Substituindo em (3), os resultados (1) e (2) teremos que:

[b2 + (a − SB)2 ] + (b2 + SB 2 ) = a2

b2 + a2 − 2a(SB) + SB 2 + b2 + SB 2 = a2

2b2 − 2a(SB) + 2SB 2 = 0 ⇒ b2 − a(SB) + SB 2 = 0

SB 2 = a(SB) − b2

Portanto, SB é a raiz da equação quadrática x2 = ax − b2 .


Depois de ter mostrado, como as operações algébricas, inclusive a resolução de equações
quadráticas, são interpretadas geométricamente, Descartes se volta para a aplicação a
problemas geométricos determinados. Ele aplicava a álgebra aos problemas, preocupando-
se essencialmente com a equação final, que só podia conter uma quantidade desconhecida.
Depois de analisar o grau dessa equação algébrica resultante ele aplicava o seu método.
O método consiste em partir de um problema geométrico, traduzi-lo em linguagem de
equação algébrica, e depois, tendo simplificado ao máximo a equação, resolvê-la geomé-
tricamente, de modo semelhante ao que se usava para quadráticas.
Praticamente toda a La géométrie está dedicada a uma completa aplicação da álgebra
à geometria e da geometria à álgebra. O principal estudo desenvolvido no Livro II, foi

51
aquele que é considerado hoje, como o inı́cio da geometria analı́tica. Embora ainda não
houvesse nada sistemático sobre coordenadas retangulares, pois ordenadas oblı́quas eram
assumidas em seus escritos. O trabalho de Descartes, se concentrou em criar um método
para orientar pontos em uma região plana, e ele até sabia que as coordenadas negativas
são orientadas em sentido oposto ao tomado como positivo. Descartes indicou também
as condições sob as quais uma cônica é uma reta, uma parábola, uma elipse, ou uma
hipérbole. Há até um enunciado de um princı́pio fundamental de geometria no espaço, ele
diz que “Se faltam duas condições para a determinação de um ponto, o lugar do ponto é
uma superfı́cie.”. No entanto, Descartes não deu qualquer exemplo de tais equações, nem
amplificação dessa breve sugestão de geometria analı́tica em três dimensões.
Por fim, em seu Livro III, Descartes traz um curso sobre teoria elementar das equações.
Ele diz como descobrir raı́zes racionais, se existem, como abaixar o grau da equação, ou
multiplicá-las ou dividi-las por um número. Também mostra como determinar o número
da possı́veis raı́zes “verdadeiras”ou “falsas”(isto é, positivas ou negativas) pela bem conhe-
cida “Regra de sinais de Descartes”e como achar a solução algébrica de equações cúbicas
ou quárticas.
Como podemos observar, Descartes desenvolveu uma série de estudos que mostram
a evolução da linguagem algébrica, trabalhando ao mesmo passo com as interpretações
geométricas das mesmas. Além disso, ele introduz a idéia de aplicar álgebra a problemas
geométricos, com o objetivo de facilitar a resolução deste tipo de problema. Estes estudos,
delinearam assim, uma ligação entre estas duas áreas da matemática, que atualmente
trabalham juntas, no que conhecemos por Geometria Algébrica.

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Considerações Finais

A idéia original deste trabalho era estudar a evolução da Álgebra Geométrica grega
até a atual Geometria Algébrica. Porém, enquanto desenvolvi o trabalho, pude perceber
que este assunto é muito denso, pois possui uma enorme quantidade de informações. O
assunto principal, que delineava esta evolução, era a mudança dos conceitos algébricos e
geométricos, sob a visão das civilizações que os estudaram.
Dessa forma, me concentrei em estudar esta evolução, partindo do pensamento grego,
que era governado pela geometria. Para os gregos, todas as operações era feitas com
segmentos, áreas e sólidos, através de construções geométricas. Toda e qualquer operação
aritmética e algébrica era realizada geométricamente, utilizando segmentos, que eram
considerados por eles, como números.
Evoluı́mos então, até o pensamento árabe, em que já tı́nhamos conceitos algébricos
mais desenvolvidos e passamos a resolver problemas algébricos aplicando geometria, sendo
que a visão sobre os elementos geométricos mudaram, agora representávamos números
através de segmentos. Aqui, a geometria não era a única forma de resolver um problema
algébrico, como era para os gregos, ela era uma ferramenta que facilitava a resolução de
um problema.
Com Descartes, chegamos a um nı́vel mais elevado desta evolução, pois ele desenvolveu
o método que utilizava tanto geometria quanto álgebra como ferramentas, para resolver
seja um problema geométrico ou algébrico. Ele acabou com a separação entre estas duas
áreas da matemática, fazendo com que trabalhassem juntas, para que resolução de vários
problemas pudessem sem simplificadas ao máximo.
Referências Bibliográficas

[1] BAUMGART, Jhon K. - Tópicos de História da Matemática para uso em Sala de


Aula: Álgebra, Editora Atual, São Paulo, 2001.

[2] BOYER, Carl B. - História da Matemática, Editora Edgard Blücher, 2a Edição, São
Paulo, 2001.

[3] CARVALHO, Benjamin de A. - Desenho Geométrico, Editora A Livro Técnico S/A.,


Rio de Janeiro, 1976.

[4] EVES, Howard - Introdução à História da Matemática, Editora da UNICAMP, São


Paulo, 1995.

[5] EVES, Howard - Tópicos de História da Matemática para uso em Sala de Aula:
Geometria, Editora Atual, São Paulo, 2001.

[6] GUNDLACH, Bernard H. - Tópicos de História da Matemática para uso em Sala de


Aula: Números e Numerais, Editora Atual, São Paulo, 2001.

[7] HEATH, THOMAS L. - The Thirteen Books of Euclid’s Elements, vol. 1, Dover
Publications Inc. , New York, 1956.

[8] HEATH, THOMAS L. - The Thirteen Books of Euclid’s Elements, vol. 2, Dover
Publications Inc. , New York, 1956.

[9] HEATH, THOMAS L. - The Thirteen Books of Euclid’s Elements, vol. 3, Dover
Publications Inc. , New York, 1956.

[10] MARKUCHEVITCH, A.I. - Curvas Notáveis, Coleção Matemática: Aprendendo e


ensinando, Editora Atual, São Paulo, 1995.

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