Bastos 2023
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Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar a correspondência oficial enviada pelo Presidente da Província do
Parará, José Cesário de Miranda Ribeiro, às Câmaras Municipais sobre a abolição da escravidão no Brasil. Diferente
da Lei Áurea, curta e concisa, esta correspondência tratava de questões maiores, como cidadania e trabalho. Para isso
analisaremos as legislações que tinham por objetivo a criação de um projeto desescravizador, que continha a Lei do
Ventre Livre de 1871, Lei de Locação de Serviços de 1879 e a Lei dos Sexagenários de 1885. Ademais, analisaremos
a economia paranaense na segunda metade do século XIX, principalmente relativo ao uso de mão de obra nas
atividades econômicas do período, pois elas indicam como a correspondência era voltada não apenas aos recém
libertos, mas também aos trabalhadores da província em geral.
Abstract: The purpose of this article is to analyze the official correspondence sent by the President of the Province
of Paraná, José Cesário de Miranda Ribeiro, to the Municipal Chambers about the abolition of slavery in Brazil.
Unlike the Lei Áurea, which was short and concise, the correspondence dealt with larger issues, such as citizenship
and work. For this, we will analyze the legislation that had the objective of creating a deslavery project, which
contained the Law of Free Birth of 1871, the Leasing of Services Law of 1879 and the Sexagenarians Law of 1885.
In addition, we will analyze the economy of Paraná in the second half of the 19th century, mainly related to the use
of labor in the economic activities of the period, as they indicate how correspondence was aimed not only at the
newly freed, but at workers in the province in general.
Keywords: Slavery in Brazilian Empire; Slavery in Paraná; Economy in Paraná; Abolition of Slavery
As mudanças econômicas, sociais e culturais que ocorreram no Brasil nas últimas décadas do
século XIX foram significativas. O fim da escravidão, algo muito discutido e esperado nas décadas
anteriores, foi concretizado no dia 13 de maio de 1888 com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.
Não podemos analisar este evento como algo isolado ou que aconteceu por benevolência dos governantes,
uma vez que as pressões da sociedade foram importantes para a abolição. Mesmo com ampla discussão, os
efeitos desse ato para aqueles que mais seriam beneficiados não foram planejados. A notícia sobre a
abolição foi enviada as províncias e cada uma delas foi responsável pelo envio da notícia as Câmaras
1
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em História – PPGHis da Universidade Federal do Paraná – UFPR. Bolsista CAPES.
[email protected]
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Municipais. No Paraná, ainda no dia 13, foi enviado pelo Presidente da Província José Cesário de Miranda
Ribeiro um telegrama às cidades, informando a notícia em poucas palavras. Mesmo assim, mantinha-se
necessário informar de forma oficial a Abolição e por isso em 22 de maio foi enviada pelo Presidente uma
correspondência oficial com estes informes. Esta carta, diferente da Lei Áurea, tinha outras questões sendo
apresentadas, relacionadas à cidadania dos libertos, o uso do trabalho e noções morais.
Com esta análise, objetivamos compreender as motivações existentes por detrás da escrita desta
correspondência, a partir do estudo das legislações utilizadas na criação do projeto desescravizador. Tal
projeto iniciou com a Lei do Ventre Livre, seguido pela Lei dos Sexagenários, visando o desmantelamento
gradual da escravidão no Império. Com objetivo de existir uma transição do trabalho escravo para o
trabalho livre também foi promulgada, em 1879, a Lei de Locação de Serviços, que regulamentava o
trabalho por meio de contratos e também intencionava ser um atrativo para a vinda de imigrantes europeus
ao país.
Ademais, este artigo analisará como a economia e a sociedade paranaense comportavam-se nesse
período de mudanças, principalmente porque as principais produções econômicas da província naquele
período absorviam apenas uma baixa quantidade de trabalhadores. A partir da análise desses elementos,
iremos propor que a carta enviada às Câmaras Municipais do Paraná sobre a Abolição da escravidão no
Império não tinha como objetivo ser referente apenas aos libertos pela lei, mas a toda uma massa de
trabalhadores, principalmente aos que não tinham uma ocupação.
Durante a segunda metade do século XIX setores da sociedade brasileira empreenderam discussões
intensas sobre a escravidão e seu fim. O tráfico atlântico havia sido abolido em 1850, mas este ato não era
visto como necessariamente uma motivação para o fim da escravidão no Império, pois tinham como
exemplo os Estados Unidos da América, onde o contingente populacional de escravos recrudesceu e
alcançou seu auge depois que a vinda de novos escravos africanos havia sido proibida. Nas décadas de 1870
e 1880 foram iniciados os primeiros projetos com objetivo de supressão do “elemento servil”. O principal
receio encontrado pelos parlamentares era que a libertação dos cativo executada por uma legislação poderia
ocasionar uma crise nas atividades econômicas empreendidas no país. Considerando esses fatores, as
discussões do projeto desescravizador foram realizas em conjunto com a análise das possibilidades para a
substituição do trabalho escravo para o trabalho livre.
O primeiro estudo que tinha por objetivo a criação de um projeto desescravizador foi realizado em
1864 pelo senador José Antônio Pimenta Bueno por encomenda de d. Pedro II e tinha como principal ação a
Preferiu, todavia, as regras estabelecidas no sistema progressivo, que também foi adotado
pela minoria da comissão presidida pelo duque de Broglie que quando em 1843 apresentou o
projeto de lei sobre a abolição da escravidão nas colônias francesas.
Consultado a necessidade de atender, não só ao futuro como ao presente, a comissão
procurou indicar medidas que, extinguindo gradualmente a escravidão para a futura geração,
facilitassem também à geração atual os meios mais apropriados ás nossas circunstancias,
para que sem abalo possamos regular um modo lento mas eficaz a extinção do elemento
servil no Império.3
A lei nº 2.040, conhecida como Lei do Ventre-Livre4 foi promulgada em 28 de setembro de 1871 e
tinha como principal proposta à libertação do ventre das escravas, ou seja, os filhos destas seriam
considerados livres. Esta libertação ainda estava ligada a escolha do proprietário, que poderia optar ou entre
a libertação dos ingênuos tutelados aos 8 anos de idade, sendo que o senhor receberia indenização de
600$000 réis e o estado faria o encaminhamento desta criança, ou poderia optar por manter o indivíduo sob
sua tutela até os 21 anos, usufruindo do seu trabalho e libertá-lo nesta idade, neste caso sem indenização.
A libertação dos filhos das escravas não foi a única medida adotada pela lei. No Relatório sobre o
Elemento Servil, citado anteriormente, é apontado uma dificuldade de mensurar o tamanho do contingente
de escravos dentro do Império, visto que as estimativas eram realizadas através de documentos diversos
produzidos pelas províncias, sem uma padronização de dados, que dificultava a análise dos números totais.
O próprio relatório apontava a existência de 1.191.1285 cativos no país em 1870, sendo que muitos dos
documentos utilizados para chegar a este número já estavam defasados. Por esta razão uma das medidas
2
MENDONÇA, Joseli Maria Nunes. Entre a mão e os anéis: a lei dos sexagenários e o caminho da abolição no Brasil.
Campinas: Editora UNICAMP. 1999. p. 278.
3
BRASIL. Parecer sobre o projeto de lei do elemento servil apresentado a Câmara dos Deputados, Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1870, p. 19. Disponível em <https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/227359> Acesso em 13 jul. 2022.
4
BRASIL, Lei nº 2.040, de 28 de Setembro de 1871, Declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a
data desta lei, libertos os escravos da Nação e outros, e providencia sobre a criação e tratamento daqueles filhos menores e sobre a
libertação anual de escravos. Coleção de Leis do Império do Brasil. - 1871. Vol. 1 pt. I.. Disponível em:
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/185618> Acesso em 13 jul. 2022.
5
BRASIL. Parecer… p. 36.
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propostas na lei de 1871 foi a criação da Matrícula de Escravos, onde constariam informações sobre os
cativos. Desta forma seria possível, a partir dessas informações, estudar e propor medidas mais específicas
sobre a escravidão em determinados locais, já que o mercado interno de compra e venda de escravos via um
recrudescimento após o fim do tráfico atlântico.
Outra proposta dos parlamentares incluída na legislação foi sobre a criação de um Fundo de
Emancipação. O dinheiro utilizado para a compra das cartas de liberdade seria proveniente de impostos
sobre compra e venda de escravos, doações particulares e de uma porcentagem da arrecadação de loterias
criadas pelo Império. A proposta é que esta compra de liberdade fosse realizada a partir de uma lista de
prioridades, sendo escolhidos critérios específicos sobre os escravos que ficariam nas maiores posições. A
lei também propunha que escravos poderiam, através de pecúlio, compra da sua própria liberdade se esta
fosse autorizada pelo proprietário. Esta ação foi considerada no Relatório com “eminentemente civilizadora,
infundindo amor ao trabalho e os hábitos de economia, deve auxiliar poderosamente ao fim desejado”6, ou
seja, ela não era apenas uma proposta para a libertação de escravos, mas, na visão dos deputados, uma
possibilidade de ensinar a estes indivíduos a importância do trabalho, o que poderia evitar uma crise nas
atividades econômicas do Império. A libertação dos cativos pertencentes ao governo e a regulamentação das
sociedades emancipacionistas foram às outras duas propostas apresentadas pela lei.
A liberdade gradual dos cativos foi a principal motivação da aceitação da lei por parte dos
parlamentares das duas casas legislativas. Os efeitos desta legislação sobre os filhos de escravas seriam
sentidos somente após 8 anos da sua promulgação, logo não seria algo imediato, podendo neste tempo
propor novas medidas a serem tomadas para o fim da escravidão. Com esta legislação, os laços entre libertos
e seus antigos proprietários era mantida, principalmente porque a decisão da liberdade, mesmo que feita por
medida legal, passava pelo crivo do proprietário. Esta situação seria necessária para manter esses indivíduos
em suas atividades, como uma forma de pagamento pela liberdade oferecida pelo senhor.
Ademir Gebara argumenta que “O que estava em jogo com a aprovação dessa lei não era somente a
observância de seu texto ao nível de querela jurídica: era sim, fundamentalmente, a formação de uma
política de desescravização e organização do mercado de trabalho livre.”7, ou seja, a lei de 1871 foi o início
não somente do projeto de desescravização, mas também da formação de um mercado de trabalho livre para
substituir a mão de obra escrava. O historiador também aponta que a legislação não pretendia acabar com a
escravidão, mas manter o sistema escravista estável em um momento que a escravidão começava a ser
questionada e com o início das manifestações de grupos abolicionistas8.
6
Ibid., p. 27.
7
GEBARA, Ademir. O mercado de trabalho livre no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 61.
8
Ibid., p. 67.
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Após o início do projeto desescravizador, iniciam-se as discussões sobre uma legislação que inicia a
transição para o trabalho livre. A primeira legislação que tinha por objetivo uma organização do trabalho era
datada de 1830, mas, com as mudanças que estavam ocorrendo no Império na segunda metade do século
XIX, fez se necessária uma nova legislação. No final da década de 1870 começaram estudos para a
substituição dos trabalhadores escravos por trabalhadores chineses. Esta proposta foi coordenada pelo
Ministro da Agricultura e Presidente do Conselho de Ministros Cansanção Sinimbu, que em 1878 liderou
uma missão diplomática à China com outros parlamentares que visavam viabilizar a vinda desses
trabalhadores ao Brasil. Esta missão considerava os trabalhadores chineses como um intermediário entre o
trabalhador escravo e o trabalhador livre. Os principais apoiadores da ideia, como Sinimbu e Moreira de
Barros, tinham relações com os fazendeiros de café de São Paulo, que percebiam na proposta a
representação dos seus interesses, principalmente em relação a expansão das plantações9. A proposta não foi
seguida, pois os trabalhadores chineses não eram vistos como capacitados para esta transição, sendo
cogitado que esses trabalhadores iriam exercer as suas funções em um estado de semi-escravidão.
Diferentemente dos chineses, os europeus eram considerados uma mão de obra desejada para
substituir os escravos de origem e descendentes de África. Os parlamentares não analisavam somente a
capacidade para o trabalho, mas consideravam que estes indivíduos trariam ao país uma “elevação moral” de
toda a sociedade. Pensando em atrair esses imigrantes ao Brasil foi promulgada em 15 de março de 1879 o
Decreto nº 2.827. Conhecida também como Lei de Locação de Serviços a legislação tinha por objetivo
organizar e padronizar os contratos celebrados entre trabalhadores e empregadores, criando garantias as duas
partes desta negociação.
Para aderir a estes contratos, o trabalhador deveria ser maior de 21 anos, ou, quando menor de idade,
estar acompanhado dos responsáveis. Deveriam ser firmados em escrituras públicas os contratos que
durariam de três a seis anos se o trabalhador fosse brasileiro. Se o trabalhador fosse estrangeiro o contrato
não poderia exceder cinco anos e existia a possibilidade destes serem realizados no país de origem do
trabalhador, sendo necessário a autenticação pelo consulado brasileiro. Os recém-libertos estavam sob as
normas da lei de 1871 durante cinco anos após a libertação, não sendo possível realizarem os contratos
propostos pela lei durante este período. A lei é dividida entre serviços agrícolas e pecuários, descrevendo
cada uma de suas atribuições.10
O contrato realizado com estrangeiros pode ser considerado o principal aspecto deste decreto, pois
pretendiam tornar a migração mais atrativa e segura. O não cumprimento de uma das partes poderia levar a
9
LAMOUNIER, Maria Lúcia, O trabalho sob contrato: a Lei de 1879: Revista Brasileira de História, v. 6, n. 12, p. 101–124,
1986, p. 118.
10
BRASIL, Decreto nª 2.827 de 15 de março de 1879, Dispondo o modo como deve ser feito o contrato de locação de serviços.
Coleção de Leis do Império do Brasil – 1879, 11 Vol. 1 pt. I. Disponível em <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-
1899/decreto-2827-15-marco-1879-547285-publicacaooriginal-62001-pl.html> Acesso em 13 jul. 2022.
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quebra de contrato. Quando o trabalhador era estrangeiros a rescisão poderia ser realizada após um mês de
trabalho e após o pagamento da dívida pela vinda ao país, que geralmente eram custeadas pelo empregador.
Gebara argumenta que a promulgação e discussão para a realização deste decreto demonstram a importância
que esse tipo de projeto tinha naquele momento pois, mesmo que não tenha sido aderido por uma parcela
dos trabalhadores, a sua existência demonstra a necessidade da mão de obra livre em um momento que a
escravidão começava a demonstrar abalos em sua estrutura que poderiam levar ao seu fim em um período
próximo.
O último projeto de desescravização foi a promulgação da Lei nº 3.270 de 28 de setembro de 1885,
conhecida como Lei Saraiva-Cotegipe ou Lei dos Sexagenários11. As discussões para a promulgação da lei
foram intensas, sendo muitas vezes interpretada por opositores abolicionistas como uma postergação da
abolição definitiva, mas que foi a continuidade do projeto desescravizador iniciado em 1871. Apesar de ser
conhecida como lei dos sexagenários, a lei tinha como principal objetivo regulamentar a Matrícula de
Escravos iniciada com a Lei do Ventre Livre. Ao reorganizar e atribuir novos valores máximos aos
indivíduos escravos em uma divisão etária, a lei exclui-a desta tabela os indivíduos acima dos 60 anos,
sendo a disposição sobre a libertação desses indivíduos dispostas a seguir no texto da lei.
Essas legislações podem ser entendidas em conjunto, pois elas tiveram o objetivo de levar a uma
abolição gradual da escravidão no Império com as devidas preocupações sobre os trabalhadores que iriam
ocupar os espaços dos ex-escravos em ofícios necessários para a manutenção das atividades econômicas.
Foram propostos mecanismos que retardassem ao máximo uma abolição geral, chegando ao ponto de que
próximo a abolição da escravidão, em 13 de maio de 1888 o número de escravos no Império já havia
diminuído em relação aos períodos anteriores. Logo, mesmo que essas legislações não tivessem alcançado
os objetivos exatamente na sua forma proposto, elas tiveram importância na diminuição no número de
cativos e ocasionar o fim da escravidão de forma “organizada”.
A produção do café no Vale do Paraíba, entre São Paulo e o Rio de Janeiro, foi a principal atividade
econômica do Império durante o século XIX. O Paraná, que teve sua emancipação política em 1853, por
causa de sua proximidade e laços com São Paulo, teve suas atividades econômicas, trabalho e escravidão
fortemente influenciados pela província vizinha. Os dois principais produtos comercializados pelo Paraná,
11
BRASIL, Lei nº 3.270, de 28 de setembro de 1885, Regula a extinção gradual do elemento servil, Coleção de Leis do Império
do Brasil – 1885, Vol. 1 pt. I. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM3270.htm> Acesso em 13 jul.
2022.
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que tiveram seu início antes da emancipação política da província, foram a produção de erva mate e a
criação de animais, entre muares e gado.
A erva mate foi o principal produto paranaense exportado durante o século XIX. As origens desta
indústria podem ser remetidas a 1722 quando houve uma autorização régia do comércio deste produto com a
região Platina. Esta autorização foi concedida pelas possibilidades que este comércio poderia causar na
região. Magnus Pereira aponta que as vilas rurais fundadas na região “tendiam a regredir à pura
autossubsistência e a praticar o escambo para a obtenção de alguns produtos europeus”12, logo, o fomento a
uma atividade econômica era necessária para um desenvolvimento daquelas localidades. A partir da criação
de tecnologias que aperfeiçoaram os processos fabricos, no início do século XIX, e em conjunto com a
proibição de comércio com a Argentina imposta pelo Paraguai, principal produtor de erva mate, fizeram o
valor e a procura do mate paranaense aumentar, torando-se em poucos anos o principal produto exportado
pela província.13
A produção ervateira Paranaense era realizada principalmente no Litoral e na região de Curitiba,
onde ficavam as principais indústrias que beneficiavam a erva. A produção do mate era baseada em duas
etapas: a colheita e o beneficiamento. A primeira delas, a colheita, era realizada de forma sazonal por
trabalhadores autônomos, em florestas e ervais, dado a facilidade de encontro desta erva naturalmente. Logo
o trabalho era somente extrativista. A segunda parte do processo, o beneficiamento, no início do século XIX
era realizado todo de forma manual, desde a torra, pilagem e embalagem. Com o desenvolvimento
tecnológico e a introdução primeiro das rodas d'água e posteriormente máquinas à vapor fez com que o
número de trabalhadores nessa indústria diminuísse. Magnus Pereira aponta que com a introdução desses
novos mecanismos o trabalho na indústria do mate foi afetado. O autor cita, por exemplo, que o valor pago
aos trabalhadores variava conforme o seu ofício. Enquanto trabalhadores responsáveis pelas máquinas de
pilagem ganhavam por tempo de serviço, que com a modernização começou a ser ditado pelo tempo da
máquina, os trabalhadores responsáveis pela embalagem ganhavam por unidades, pois o tempo neste ofício
era administrado pelo trabalhador, que poderia fazer um maior ou menor número de embalagens conforme a
sua disposição14. Os escravos estavam inseridos nessa produção. Antes da modernização eram responsáveis
pelos processos de beneficiamento, mas, com a modernização, foram transferidos para a colheita do mate.
A pecuária, seja de gado ou de muares, foi desenvolvida principalmente nos Campos Gerais e nos
Campos de Guarapuava. A região do Paraná desde o século XVIII era local de passagem dos animais
criados no Rio Grande do Sul e vendidos em São Paulo. Com a abertura do Caminho de Viamão, que ia do
12
PEREIRA, Magnus Roberto de Mello. Semeando iras rumo ao progresso: ordenamento jurídico e econômico da sociedade
paranaense (1829-1889). 2ª ed. Curitiba: Editora UFPR, 2021. p. 52.
13
WESTPHALEN, Cecília Maria; BALHANA, Altiva Pilatti; MACHADO, Brasil Pinheiro. História do Paraná – Volume 1.
Curitiba: GRAFIPAR. 1969. p. 136.
14
PEREIRA, op. cit., p. 86-87.
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Rio Grande do Sul até a Feira de Sorocaba, uma das maiores do período colonial, o trajeto foi facilitado.
Neste período as fazendas de engorda, denominadas invernadas, eram o último ponto de parada antes do
destino final. Os proprietários dessas fazendas alugavam o espaço para os tropeiros, logo, além de ser uma
atividade econômica sem riscos, a mão de obra utilizada era pouca, sendo principalmente realizada por
alguns agregados que tinham funções de vigilância e uma produção agrícola de subsistência. Na segunda
metade do século XIX, com o declínio da Feira de Sorocaba, o mercado de muares sofre uma diminuição na
demanda por esses animais. Os números de animais comercializados, que na década de 1860 chegavam a
100.000, e no final do século estagnou em 5.000 ao ano15. Esta queda foi responsável pela desagregação da
sociedade campeira paranaense, onde os indivíduos responsáveis por esta criação saíram do campo para as
cidades em busca de trabalho.
Essas atividades econômicas supracitadas eram as principais atividades empreendidas no Paraná e
esta situação era considerado por alguns como um risco a economia paranaense, pois, havendo alguma crise
na demanda de algumas delas, a província não poderia recorrer as outras atividades. Uma das críticas
empreendidas por políticos locais era relativa a baixa produção de outros gêneros alimentícios. Os lucros e a
facilidade de produção e criação fizeram com que o mate e o gado fossem mais explorados. As produções
alimentícias eram feitas por poucos produtores, fazendo com que a província tivesse que comprar estes
produtos de outros lugares. Isso fica demonstrado nas legislações municipais que controlavam a venda de
gêneros agrícolas, que tinham por função proteger e manter esses produtos no mercado local, evitando sua
venda em outras províncias16.
A escravidão esteve presente como forma de mão de obra desde as primeiras explorações da região.
Em 1872 é publicado o primeiro grande recenseamento do Império, nele podemos analisar a quantidade de
escravos presentes na província em relação aos outros indivíduos. O Paraná, naquele período, tinha 126.722
habitantes, dos quais 10.560 (8,33%) eram escravos17.
15
BALHANA; MACHADO; WESTPHALEN, op. cit., p. 152.
16
PEREIRA, op. cit., p. 56.
17
BRASIL, Recenseamento Geral do Brasil, 1872, v. 9. Disponível em < https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-
catalogo?view=detalhes&id=225477> Acesso em 15 nov 2022.
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Tabela 1: População do Paraná em relação a ofícios e profissões - 1872
Neste censo podemos observar algumas questões importantes para a nossa análise, que serão
essenciais para entender a posição da população paranaense em relação a alocação de mão de obra. É
observado que a maior parte da população eram lavradores (31,2%), criados e jornaleiros (16,84%) e sem
profissão (43,95%). Os serviços especializados somados equivalem a apenas 6,58% da população.
Proporcionalmente o número de lavradores livres e escravos eram parecidos21 (31,35% e 29,99%
respectivamente), mas, em relação aos jornaleiros e serventes, o número de escravos com esta ocupação era
maior (14,24% para 44,44% respectivamente). O contrário ocorria entre os sem profissões, enquanto os
escravos nesta situação eram somente 21,91% do total de cativos da província, entre os livres nesta situação
somavam 47,20%, ou seja, entre a população livre, quase metade dos indivíduos não tinham profissão. Esta
categoria de “sem profissão” compreendia indivíduos que não estavam em idade produtiva, como crianças,
idosos e também aqueles sustentados por uma pessoa em específico. Diego Bissigo aponta para a hipótese
deste grupo conter indivíduos que ao responder o senso não apontavam esta característica, sendo esta lacuna
18
Trabalhadores Liberais: Religiosos (seculares e regulares); Juristas (juízes, advogados, notários e escrivães, procuradores e
oficiais de justiça); Médicos; Cirurgiões; Farmacêuticos; Professores e homens de letras Empregados públicos; Artistas.
19
Industriários e Comerciantes: Manufatura e Fabricantes; Comerciantes, Guarda Livros e Caixeiros.
20
Profissões manuais ou mecânicas: Costureiras; Operários (em metais; em madeira; em tecido; de edificações; em couros e peles;
em tinturarias; de vestuário; de chapéus e de calçados)
21
Excluindo os trabalhadores estrangeiros.
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preenchida como “sem profissão”22. Mesmo quando comparamos os números da categoria de “sem
profissão” com outras províncias como São Paulo (32,07%), Santa Catarina (40,24%) e Rio Grande do Sul
(32,49%)23 o Paraná mantinha uma proporção maior da população inserida neste grupo. Isso corrobora com
a tese apresentada por Magnus Pereira de que no Paraná não tinham ocupações específicas para escravos e
libertos, podendo eles trabalharem lado a lado em ofícios como o beneficiamento do Mate, construção civil,
cuidados do gado e agricultura24.
Esta tabela nos apresenta informações importantes sobre os estrangeiros que haviam migrado para o
Paraná. Este recenseamento foi realizado antes da promulgação da lei de 1879, que, como vimos
anteriormente, tinha por objetivo fazer a imigração mais atrativa ao Brasil. O número de imigrantes no
Paraná naquele momento era de 3.627, sendo 2,86% da população da província. Ao comparar com os
números de Santa Catarina, que tinha 15.974 sendo 11,10% da população total de 143.828 habitantes, e Rio
Grande do Sul, que tinha 41.562 sendo 9,55% da população total de 434.813 habitantes, percebemos que
esses indivíduos estavam em menor quantidade no Paraná25. Com estes dados podemos verificar que apesar
da população total paranaense ser numericamente próxima da catarinense, o número de estrangeiros era
menor. Esse dado foi considerado importante pelo governo provincial, que criou frentes de trabalho para a
vinda de trabalhadores europeus como uma substituição das classes baixas, visto que os costumes dos
paranaenses pobres eram vistos como “bárbaros”, devendo ser esquecidos26. Em suma, a imigração foi
fomentada no Paraná com o objetivo de ser uma substituição de uma classe baixa de não-morigerados, onde
estavam inseridos livres e libertos pobres, com costumes considerados inferiores pela elite dominante, por
uma classe baixa morigerada, que seriam europeus também pobres, mas, por causa de suas características
raciais, teriam uma moral elevada que beneficiaria toda a sociedade em eliminar os costumes inferiores.
Logo, mesmo após a abolição, os libertos não eram vistos como cidadãos de forma plena, pois ainda eram
mantidos os estigmas de não-morigerados e da escravidão nesta população.
O crescimento do número de imigrantes abalou a frágil economia paranaense, pois se com um baixo
contingente populacional já existia uma certa dificuldade na absorção de trabalhadores, com a vinda de um
grande contingente populacional cria-se uma desestabilização da oferta de trabalho nas cidades. Eduardo
Spiller Pena aponta que com a chegada dos europeus e o aumento da oferta ocasionaram uma diminuição
no valor dos serviços que, em conjunto com o elevado custo de vida na província, ocasionado
22
BISSIGO, Diego Nones. Das listas de família ao Recenseamento do Império: a produção da “legibilidade” da população no
senso de 1872. In: Seminário Internacional Brasil no século XIX, 1., 2015, Vitória. Anais […]. Niterói: Sociedade de Estudos
Oitocentos.. 2015. p.10-11.
23
Recenseamento Geral do Brazil 1872 São Paulo; Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Disponível em
<https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=225477> Acesso em 5 nov. 2022.
24
PEREIRA, op. cit., p. 96.
25
BRASIL Recenseamento do Brazil em 1872. vol 11 -, disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=225477>. acesso em: 15 nov. 2022.
26
PEREIRA, op. cit., p. 143.
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principalmente pela maior parte dos produtos terem de ser importados de outras localidades, fizeram com
que trabalhadores estrangeiros e nacionais, cativos e libertos e até mesmo livres, tivessem que concorrer
por serviços de menor valor agregado, como o trabalho doméstico27.
Se compararmos essas características sobre o trabalho com a forma de produção de bens na
província podemos percebemos que os dois principais produtos, a erva-mate e a pecuária, não tinham
capacidade de absorção desses trabalhadores. Isso se deve ao fato de que a quantidade de mão de obra
necessária para essas produções era pouca. A erva-mate era colhida facilmente sendo esse também o motivo
do pouco empenho em outras formas de agricultura e o seu beneficiamento, pois com o emprego de
tecnologia de máquinas a vapor e hidráulicas, a indústria ervateira não necessitavam de um grande número
de trabalhadores28.
A escravidão no Paraná neste contexto estava ligada diretamente com os fatores econômicos
apresentados. A falta de alocação de serviços para os habitantes, principalmente pelo formato da economia
da província, ocasionou na participação de trabalhadores livres e escravos em ofícios iguais. Esse também é
uma das explicações da baixa imigração de estrangeiros neste período na região. Enquanto Rio Grande do
Sul e Santa Catarina já tinha um grande contingente de trabalhadores europeus instalados e produzindo, no
Paraná a quantidade era menor e estavam trabalhando exclusivamente na produção agrícola. Com o
aumento da produção cafeeira em São Paulo, o Paraná perde um grande número de escravos. Mesmo com a
criação de barreiras, como o aumento do imposto sobre o comércio de escravos, que ficou maior que o
imposto sobre animais, a transferência dessa mão de obra para a província vizinha foi inevitável.
Mesmo com a espera pela notícia da abolição da escravidão tendo chegado do Rio de Janeiro ao
Paraná no dia 13 de maio, foi necessário um comunicado oficial as cidades da província. Em 22 de maio de
1888, José Cesário de Miranda Ribeiro, o então recém-empossado presidente da província envia uma carta
as Câmaras Municipais informando sobre o fim da escravidão no Império. Diferente da própria Lei Áurea,
que tinha somente dois artigos curtos, esta correspondência nos apresenta uma interpretação de José
Cesário Ribeiro sobre a legislação promulgada:
27
PENA, Eduardo Spiller. Escravos, libertos e imigrantes: fragmentos da transição em Curitiba na segunda metade do século XIX.
História: questões e debates APAH. Ano 9, n. 16. p. 83-103. Jul 1988. p. 88.
28
LAGO, Luiz A. Corrêa do, Da escravidão ao trabalho livre: Brasil, 1550-1900, São Paulo, SP: Companhia Das Letras, 2014,
p. 412.
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Circular
Transmitindo a V. Sª Lei nº3353 de 13 do corrente, que declara extinta a escravidão no
Brasil, bem como o aviso circular do ministério da agricultura da mesma data,
recomendando a sua pronta execução, convém que vossa senhoria conforme consta do citado
artigo, faça sentir a população que, pelo uso útil da liberdade espera o Governo que os recém
libertos se mostrem dignos da condição de cidadãos a que acabam de ser chamados, e que a
liberdade, a troca dos direitos que confere, impõe deveres necessários a boa ordem social
que a melhor de todas as aplicações que os novos cidadãos podem fazer a sua atual condição
e o emprego da sua atividade, legitimamente retribuída, ou diretamente pelo trabalho em si
mesmo ou por meio de acordo livremente celebrados.
Deus guarde a vossa senhoria
José Cesário de Miranda Ribeiro29
Este documento, apesar das poucas palavras, pode nos apresentar uma síntese interessante que
levam em conta os acontecimentos do império, com relação a escravidão e da província do Paraná, com
relação à economia e o trabalho. Sobre a escravidão, o presidente informa que a lei deve ser cumprida
imediatamente e que agora o governo espera que os libertos “mostrem dignos da condição de cidadãos”. Ao
escrever sobre os deveres e a necessidade de manter a ordem social podemos remeter isso as preocupações
dos proprietários e dos governantes com uma abolição abrupta. As Leis de 1871 e 1885 tinham o objetivo
de serem gradualistas por esse motivo. Uma crise na ordem social neste momento poderia ter grandes
efeitos na economia. A pressão do movimento abolicionista, que organizaram uma boa parcela da sociedade
brasileira, associada com as fugas como forma de protesto pelo cativeiro teve efeitos importantes nas
promulgações dessas leis. Mesmo o Paraná sendo uma província com um contingente de escravos em pleno
declínio esses movimentos tiveram participação e importância na sociedade daquele período.
Em um segundo momento o presidente informa que a melhor maneira de se manter essa ordem
social e mostrar “dignidade” na condição recém-adquirida é pelo trabalho. Neste momento o autor da carta
informa da necessidade de que “acordos livremente celebrados” entre patrão e os trabalhadores seria uma
das alternativas para alcançar esta “dignidade”. A lei de Locação de Serviços ainda estava vigente e só seria
substituída na década seguinte, logo estes contratos ainda poderiam ser realizados e nesta carta é
apresentado um incentivo a esta realização. Essa parte não demonstra somente a preocupação do governo,
na figura de José Cesário Ribeiro, com o contingente de escravos que agora seriam libertos, mas sim uma
preocupação com a própria economia da provincial. Antes a lei de locação de serviços era somente para os
trabalhadores livres e estrangeiros, com a abolição os libertos poderiam se utilizar dela, talvez esse o
motivo da sua substituição posterior.
Ao analisarmos isso em conjunto com a economia local podemos entender que a mensagem contida
na correspondência não é somente para os libertos, mas para um grande contingente populacional que não
29
Correspondência informando sobre a abolição da escravidão, 1888. Centro de Documentação e Memória de Guarapuava -
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tinha sua mão de obra absorvida pelos empregos disponíveis na província, pois, levando como base o
recenseamento de 1872, somente 21,91% dos escravos não tinham ocupação, sendo somente 1,82% da
população total, que contrasta muito com os 43,95% dos trabalhadores livres sem ofício.
Algumas conclusões.
O Império do Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão. O dia seguinte a este ato o
foi de mais incertezas do que objetivos definidos. Com a promulgação da Lei do Ventre Livre, em 1871,
cria-se uma necessidade de transformação nas relações de trabalho, passando da utilização trabalho escravo
para a utilização do trabalho livre. Tentou-se cogitar a utilização de um tipo de trabalho como provisório
para este fim, com a imigração chinesa, mas que não foi levado adiante por causa dos receios da inserção
destes indivíduos no Império. Posteriormente em 1879 foi criada uma lei que organizava o trabalho livre no
país para ser um atrativo a imigração europeia, como uma substituição aos trabalhadores negros e
escravizados.
Neste contexto a economia Paranaense tinha singularidades próprias. Os bens produzidos pela
província, erva-mate e pecuária, tinham uma baixa absorção da mão de obra, o que colocavam
trabalhadores livres e escravos em funções similares. Ademais a produção era muito inferior as importações
realizadas, o que causava um déficit na economia. Com as legislações emancipacionistas e o crescimento
da economia cafeeira paulista o número de escravos no Paraná tem um declínio, mesmo com medidas
protetivas do governo. A vinda de imigrantes era esperada como uma substituição as classes baixas da
província, mas, com a vinda desses indivíduos, a concorrência de mão de obra é acirrada, o que leva a
indivíduos livres, libertos e estrangeiros concorrerem por ocupações mais baixas e com salários menores,
ocasionado pelo grande número de mão de obra disponível na província. Com a chegada da abolição da
escravidão esses problemas têm um aumento com a criação de um novo contingente de trabalhadores
libertos para competir com os trabalhadores livres. Podemos analisar esses fatores em conjunto, que
apresentam a nós uma melhor visão do período e os efeitos locais dessas ações.
Estudos mais recentes analisam as organizações de ajuda mutua no pós-abolição, como o Club 13
de Maio, fundada em Curitiba ainda em 1888, apontam que dentre os seus objetivos estavam a melhorias
ligadas a questões trabalhistas dos seus envolvidos30. Outra sociedade, fundada anteriormente à abolição,
foi a Sociedade Protetora dos Operários que tinha a participação de trabalhadores brancos e negros,
30
FABRIS, Pamela Beltramin; HOSHINO, Thiago. Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio: mobilização negra e contestação
política no pós-abolição. In: MENDONÇA, Joseli Maria Nunes; SOUZA, Jhonatan Uewerton. Paraná Insurgente: Histórias e
lutas sociais – Séculos XVIII e XXI. São Leopoldo: Casa Leiria, 2018.
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inclusive com indivíduos participando dos dois grupos31. Esses trabalhos nos apontam que após o fim da
escravidão a busca por direitos e principalmente por cidadania desses indivíduos não cessou, tendo apenas
uma mudança de foco.
Referências
BRASIL. Parecer sobre o projeto de lei do elemento servil apresentado a Câmara dos Deputados, Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1870, p. 19. Disponível em
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/227359>
BRASIL, Lei nº 2.040, de 28 de Setembro de 1871, Declara de condição livre os filhos de mulher escrava
que nascerem desde a data desta lei, libertos os escravos da Nação e outros, e providencia sobre a criação e
tratamento daqueles filhos menores e sobre a libertação anual de escravos. Coleção de Leis do Império do
Brasil. - 1871. Vol. 1 pt. I.. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/185618>
BRASIL, Recenseamento do Brazil em 1872. v. 9 e 11 -, disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=225477>.
BRASIL, Decreto nª 2.827 de 15 de março de 1879, Dispondo o modo como deve ser feito o contrato de
locação de serviços. Coleção de Leis do Império do Brasil – 1879, 11 Vol. 1 pt. I. Disponível em
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-2827-15-marco-1879-547285-
publicacaooriginal-62001-pl.html>
BRASIL, Lei nº 3.270, de 28 de setembro de 1885, Regula a extinção gradual do elemento servil, Coleção
de Leis do Império do Brasil – 1885, Vol. 1 pt. I. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM3270.htm> Acesso em 13 jul. 2022.
Correspondência informando sobre a abolição da escravidão, 1888. Centro de Documentação e Memória
de Guarapuava - CEDOC/G
Bibliografia:
BISSIGO, Diego Nones. Das listas de família ao Recenseamento do Império: a produção da “legibilidade”
da população no senso de 1872. In: Seminário Internacional Brasil no século XIX, 1., 2015, Vitória. Anais
[…]. Niterói: Sociedade de Estudos Oitocentos.. 2015
31
MENDONÇA, Joseli Maria Nunes; FABRIS, Pamela Beltramin, Os trabalhadores tem cor: militância operária na Curitiba do
pós-abolição. In: RIBEIRO, Luiz Carlos; GRUNER, Clóvis (org.). Utopias e experiências operárias: ecos da greve de 1917. São
Paulo: Editora Intermeios. 2019.
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FABRIS, Pamela Beltramin; HOSHINO, Thiago. Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio: mobilização
negra e contestação política no pós--abolição.
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Uewerton. Paraná Insurgente:: Histórias e lutas sociais – Séculos XVIII e XXI. São Leopoldo: Casa Leiria,
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GEBARA, Ademir. O mercado de trabalho livre no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1986
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LAMOUNIER, Maria Lúcia, O trabalho sob contrato: a Lei de 1879: Revista Brasileira de História,
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anéis: a lei dos sexagenários
rios e o caminho da abolição
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PEREIRA, Magnus Roberto de Mello. Semeando iras rumo ao progresso:
progresso ordenamento jurídico e
econômico da sociedade paranaense (1829
(1829-1889).
1889). 2ª ed. Curitiba: Editora UFPR, 2021
WESTPHALEN, Cecília Maria; BALHANA, Altiva Pil
Pilatti;
atti; MACHADO, Brasil Pinheiro. História do
Paraná – Volume 1. Curitiba: GRAFIPAR. 1969
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