Atividades de Logística Reversa Desenvolvidas em Empresas Produtoras de Calçados Na Cidade de Campina Grande-Pb

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ATIVIDADES DE LOGÍSTICA REVERSA

DESENVOLVIDAS EM EMPRESAS PRODUTORAS DE


CALÇADOS NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE- PB

MARLENE LEAL DO NASCIMENTO


Universidade Federal de Campina Grande
[email protected]

ADRIANA SALETE DANTAS DE FARIAS


Universidade Federal de Campina Grande
[email protected]
ATIVIDADES DE LOGÍSTICA REVERSA DESENVOLVIDAS EM EMPRESAS
PRODUTORAS DE CALÇADOS DA CIDADE DE CAMPINA GRANDE- PB

Resumo: As empresas mantêm uma constante relação com o meio ambiente, visto que muitas
atividades econômicas dependem da disponibilidade de recursos naturais, que serão utilizados como
matérias-primas no fornecimento de bens e serviços para a sociedade. Por isso, é de extrema
importância as empresas adotarem medidas que permitam atender às necessidades e exigências de seus
clientes causando o mínimo impacto ambiental. O desenvolvimento de canais reversos pode ajudar a
alcançar essa meta através da revalorização dos resíduos gerados nos processos produtivos. Nesse
sentido, a presente pesquisa teve como objetivo identificar atividades de logística reversa
desenvolvidas em empresas produtoras de calçados, na cidade de Campina Grande/PB. Para tanto,
utilizou-se como principal contribuição teórica o Modelo de Leite (2009), que suportou a análise em
três empresas do setor. Como principais resultados verificou-se que as empresas estudadas realizam
atividades de remanufatura e substituição de componentes de produtos para atender às regulamentações
de proteção ao consumidor e desenvolvem atividades reversas de reuso de alguns resíduos no processo
produtivo e em outra atividade econômica, reciclagem dentro e fora da empresa. A principal
dificuldade encontrada para ampliação das atividades de canais reversos está relacionada ao pouco
volume de resíduos gerados, o que não justifica economicamente sua ampliação.

Palavras-chave: Logística reversa; Produção de calçados; gestão ambiental empresarial.

Abstract: Companies maintain a constant relationship with the environment, since many economic
activities depend on the availability of natural resources that will be used as raw materials in the supply
of goods and services to society. Therefore it is extremely important companies adopt measures to meet
the needs and demands of its customers with the least environmental impact. The development of
reverse channels can help achieve this goal by upgrading waste generated in production processes. In
this sense, the present study aimed to identify the reverse logistics activities in companies producing
shoes in the city of Campina Grande/PB. For both, it was used as the main theoretical contribution of
the model of Leite (2009), which supported the analysis into three companies. As main results we
found that the studied companies perform activities of remanufacturing and replacement of components
of products to meet consumer protection regulations and develop activities of reverse reuse some waste
in the production process and other economic activity, recycling inside and outside company. The main
difficulty for the expansion of the activities of reverse channels is related to the low volume of waste
generated, which is not economically justify its expansion.

Key words: Reverse logistics; Footwear production; enterprise environmental management.

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1 INTRODUÇÃO
A cada dia aumentam as preocupações da sociedade com as questões ambientais. Nesse sentido, as
empresas são agentes importantes porque são grandes consumidoras de recursos naturais e porque
estimulam o consumo e o descarte de produtos. Todavia, as empresas desempenham importante papel
social e econômico à medida que fornecem bens e serviços necessários à vida humana. Assim, por um
lado, a atividade econômica empresarial é necessária à sobrevivência da sociedade e para o
atendimento de vários tipos de demandas, como podem causar significativos impactos ambientais
negativos.
O elevado nível de consumo ocorrido nos últimos anos e o aumento do lançamento de novos produtos
com menor tempo de ciclo mercadológico e obsolescência precoce tem contribuído para o aumento do
volume dos produtos descartados no ambiente com pouco ou nenhum uso ou, ainda, em extinção de
vida útil (LEITE, 2009).
Torna-se importante o comprometimento da sociedade, em geral e, das empresas, em particular, com a
minimização dos impactos ambientais decorrentes do atual estilo de vida. Em função de exigências
legais e/ou de pressões sociais, as empresas cada vez mais têm considerado e incorporado práticas
gerenciais e produtivas que de alguma forma correspondem ao reconhecimento da responsabilidade
social e ambiental que dessas entidades.
Aspectos competitivos também podem motivar a incorporação de gestão ambiental empresarial para
suportar a criação e a manutenção de vantagem competitiva de uma empresa em função dos benefícios
ambientais presentes em seus produtos e serviços. Independentemente da motivação, a gestão
ambiental empresarial é cada vez mais necessária para auxiliar condições produtivas e a qualidade de
vida da sociedade, no presente e no futuro, convergindo com os princípios do desenvolvimento
sustentável.
A preocupação com a minimização dos impactos ambientais decorrentes da geração dos resíduos
industriais e do descarte de produtos pós-consumo também pode representar oportunidades de novos
negócios, baseados na revalorização desse tipo de item. Nesse sentido uma ferramenta de gestão
ambiental empresarial que pode contribuir muito é a logística reversa.
Leite (2009) define Logística reversa como área da logística empresarial que planeja, opera e controla o
fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo
ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-
lhes valor de natureza econômica, ecológica, logística, de imagem corporativa, dentre outros.
A logística reversa soma-se à logística tradicional, agregando-lhe um conjunto de operações e ações
para tratamento e redução de perdas de matérias-primas até a destinação final correta dos produtos,
materiais e embalagens que por algum motivo perderam seu valor inicial e podem ser revalorizados por
processos como reuso, reciclagem e/ou produção de energia.
Pereira et al (2012) acrescenta que a logística reversa pode ser vista como um processo estratégico
empresarial, visto que suas atividades de movimentação de bens após sua eliminação pelo possuidor
original até outro ciclo produtivo ou de negócios permitem agregar ou recuperar valor de um produto,
podendo resultar em aumento dos lucros para a empresa e de vários benefícios ambientais e sociais.
Com a intensificação dos processos produtivos das empresas para atender o aumento da demanda dos
consumidores e o consequente aumento do volume de produtos descartados pela população, tem-se

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observado uma considerável elevação nos índices de resíduos sólidos que são gerados. Os
resíduos sólidos, urbanos ou industriais, podem ser reintegrados ao ciclo econômico por meio de sua
reutilização, recuperação ou reciclagem na própria indústria ou externamente, servindo como matéria
prima secundária para fabricação de novos produtos, o que pode reduzir a quantidade de matérias-
primas virgens extraída do meio ambiente e o consumo de energia (CAIXETA-FILHO e GAMEIRO,
2011).
Tomando como referência o setor de produção de calçados, em couro e materiais similares, percebe-se
que este segmento industrial produz uma variedade de resíduos em seus processos produtivos,
principalmente resíduos como aparas e retalhos de couro, material sintético, borracha, papelões,
embalagens de cola, espumas, pincéis e resíduos de produtos químicos (VIEIRA e BARBOSA, 2012).
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados – ABICALÇADOS (2013), a
Paraíba é o segundo estado do Brasil em exportação de calçados. O setor calçadista da Paraíba é
composto por cerca de 300 empresas formais, responsável pela empregabilidade de, aproximadamente,
25 mil funcionários.
A cidade de Campina grande contabiliza aproximadamente 80 fábricas formais, destas, 90% são de
pequeno porte, 8% apresentam médio porte e apenas 2% das empresas calçadistas de Campina Grande
são classificadas como sendo de grande porte. Além disso, o setor de calcados em Campina Grande é
responsável pela geração de mais de 10 mil empregos, sendo essa cidade um importante polo calçadista
do Estado (FIEP, 2013).
O setor calçadista de Campina Grande contribui de forma significativa para a geração de receitas da
cidade devido à grande melhoria apresentada pelo segmento com relação à qualidade do produto e
treinamento da mão-de-obra. Esse avanço foi possibilitado, principalmente, pela atuação do Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, que tem treinado e desenvolvido diversos programas
voltados para melhoria e aperfeiçoamento da gestão daqueles que fazem parte da administração,
especialmente os executivos.
Não obstante a grande contribuição econômica do setor coureiro-calçadista, em níveis nacional e local,
esse setor também é responsável pela geração de uma variedade de resíduos industriais que impactam
negativamente o meio ambiente. Por isso, esse setor deve incorporar práticas ambientais, a exemplo das
atividades de logística reversa, para minimizar o descarte desses resíduos e o reaproveitamento deles
em suas atividades produtivos e/ ou em outras atividades onde esses resíduos possam ser revalorizados.
Em função das características das atividades produtivas do setor de calçados esse estudo teve como
objetivo identificar as atividades de logística reversa desenvolvidas por empresas calçadistas da cidade
de Campina Grande-PB. Para tanto, foi utilizado como principal contribuição teórica o modelo de
canais de distribuição reversos apresentados por Leite (2009). A seguir apresenta-se a base teórica que
orientou a construção dessa pesquisa.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A função logística vem assumindo uma grande importância na gestão empresarial, desenvolvendo
novas práticas gerenciais no intuito de favorecer a criação de vantagem competitiva. Em relação à
logística de suprimentos, as atividades desenvolvidas são relacionadas à obtenção de produtos e
materiais, de forma que garanta a satisfação e o bom funcionamento do sistema produtivo da empresa.

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A logística de apoio, por sua vez, inclui as atividades relacionadas com o planejamento, à
programação e o apoio às operações de produção. Já a logística de distribuição trata da movimentação
de produtos acabados para entrega aos clientes e sua principal atribuição é vincular um canal de
marketing aos seus clientes, sejam eles o seu consumidor final, o varejista, o atacadista ou outro
fabricante (BOWERSOX e CLOSS, 2010). Ampliando as contribuições da função logística
empresarial, a logística reversa é responsável pelo retorno dos produtos de pós-venda e de pós-
consumo, bem como pelo seu endereçamento aos diversos destinos.
Foi a partir de 1990 que a logística reversa ganhou uma maior importância no cenário empresarial. As
empresas estão se defrontando com um ambiente em transformação, onde se observa um crescimento
da conscientização dos consumidores com relação aos impactos dos produtos no meio ambiente, ao
mesmo tempo em que, por motivos legais ou estratégicos, os executivos e funcionários estão
demonstrando uma maior sensibilização referente às questões ambientais, fazendo com que as
empresas assumam sua responsabilidade social e adote processo que minimizem os impactos
ambientais (LEITE, 2009).
Os meios pelos quais uma parcela de produtos, com pouco uso após a venda, com ciclo de vida útil
ampliado ou após a extinção de sua vida útil, retorna ao ciclo produtivo de negócios são denominados
por Leite (2009) de canais de distribuição reversos ou, simplesmente, canais reversos. O objetivo da
estruturação desses canais reversos é revalorizar itens de pós-venda ou de pós-consumo, no mesmo
mercado original ou em mercados secundários, por meio de seu reaproveitamento total ou de seus
componentes ou de seus materiais constituintes.
Considerando os motivos pelos quais os bens retornam ao ciclo de negócios, Leite (2009) distingue três
categorias de fluxo reverso de pós-venda: retorno comercial, retorno de garantia/qualidade e
substituição de componentes.
Na categoria de retorno comercial, os bens retornam sob duas formas, contratual e não-contratual. O
retorno comercial contratual ocorre quando há um acordo prévio entre as partes envolvidas na
operação, sendo mais comuns as devoluções nos casos de contratos de produtos com venda em
consignação. Já no caso dos retornos comerciais não contratuais, as devoluções são ocasionadas por
erros de expedição em operações realizadas entre as empresas e nas vendas diretas aos consumidores
efetuadas no ato do recebimento do produto ou após prazo determinado, podendo também essa forma
de retorno ser ocasionada quando o cliente detecta algum problema na qualidade do produto ou na
embalagem.
A categoria de retorno por garantia/ qualidade inclui os bens de pós-venda que são devolvidos devido a
falhas de funcionamento, defeito de fabricação e/ou montagem, avarias no produto ou na embalagem e
outros problemas que possam afetar a qualidade dos produtos vendidos.
Nas devoluções para substituição de componentes, os bens duráveis e semiduráveis são
remanufaturados por meio da substituição de peças e componentes e retornam ao mercado primário ou
secundário. Caso não haja possibilidades de reaproveitamento, esses bens são enviados à reciclagem,
para serem transformados em matéria prima secundária para outros produtos, ou encaminhados a um
destino final (seguro ou não).
O beneficio econômico da logística reversa de pós-venda é a recapturação do valor financeiro de bens
de pós-venda por meio de sua comercialização em mercados primários ou secundários. Já o beneficio
legal consiste em atender ao cumprimento das diversas leis e regulamentações que visam à proteção do

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consumidor final. O beneficio de competitividade, por sua vez, consiste em oferecer
serviços que acrescentem valor perceptível a seus clientes por meio do gerenciamento dos produtos
retornados e realocação dos estoques excedentes do cliente.
A logística reversa de pós-consumo pode atuar no retorno de produtos de diversas formas. Os produtos
duráveis ou semiduráveis, que possuem vida útil de algumas décadas ou anos, entram no canal reverso
de reuso quando ainda apresentam condições de uso e são lançados no mercado de segunda mão,
agregando valor de reutilização ao bem de pós-consumo.
Os produtos duráveis ou semiduráveis que se encontram no final de sua vida útil retornam por meio dos
canais reversos de remanufatura e reciclagem, onde são desmontados e seus componentes são
remanufaturados ou reciclados, retornando ao mercado secundário ou à própria indústria de reciclagem.
Neste caso, os canais reversos agregam valor econômico, ecológico e logístico ao produto de pós-
consumo ao possibilitar a integração de seus componentes e materiais no ciclo de negócios e a
substituição de matérias-primas novas.
No caso de bens descartáveis, que geralmente apresentam vida útil de apenas algumas semanas, os
produtos retornam por meio do canal de reciclagem, no qual os seus materiais constituintes são
reaproveitados e se transformam em matérias-primas secundárias, retornando ao ciclo produtivo,
original ou secundário. Não havendo condições de revalorização do bem de pós-consumo, este deve ser
enviado a destinos finais seguros, como aterros sanitários ou incineração que podem agregar valor
econômico ao transformar os resíduos em fonte de energia elétrica.

2.1 Canais de distribuição Reversos


Leite (2009) apresenta os principais canais de distribuição reversos: reuso, remanufatura, reciclagem,
desmanche e destinação final segura.
Reuso - Os canais reversos de reuso são definidos como aqueles em que se tem a extensão do uso de
um produto de pós-consumo ou de seu componente, com a mesma função para o qual foi originalmente
concebido, ou seja, sem nenhum tipo de remanufatura. Para que haja o canal reverso de reuso, é
necessário que o bem de pós-consumo apresente condições de utilização e que a cadeia reversa esteja
estruturada para a coleta, seleção e revalorização. Existindo tais condições, esses produtos de pós-
consumo serão encaminhados ao mercado de bens de segunda mão. Além de proporcionar uma
extensão do uso integral do bem de pós-consumo, o canal de reuso pode destinar esses bens para
subcanais reversos de desmanche ou desmontagem ou como sucatas para as indústrias de
transformação.
Remanufatura - É o canal reverso no qual os produtos podem ser reaproveitados em suas partes
essenciais, por meio da substituição de componentes complementares reconstituindo-se um produto
coma mesma finalidade e natureza do original. O canal reverso de remanufatura é constituído por
empresas industriais, comerciais e de serviços. Essas empresas são responsáveis pela coleta,
classificação, segregação e transporte de bens de pós-consumo aos diferentes locais de processos de
remanufatura, onde recuperam valor de alguma natureza. Além de representar, em muitos casos, um
importante volume financeiro de negócios, o canal reverso de remanufatura proporciona enormes
possibilidades de economia de recursos e aumento da produtividade.

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Reciclagem - É o canal reverso de revalorização no qual os materiais constituintes dos
produtos descartados, quando não apresentam mais condições de utilização nos canais de reuso e
remanufatura, são extraídos industrialmente, transformando-se em matérias-primas secundárias ou
recicladas, que serão reincorporadas à fabricação de novos produtos. Os produtos reciclados geram
materiais secundários que são comercializados com as indústrias de fabricação de bens diversos ou com
indústrias de fabricação de matérias-primas, que substituirão em parte, ou totalmente, as matérias-
primas novas. Os materiais constituintes de bens de pós-consumo, após sua revalorização, podem ser
reintegrados ao ciclo produtivo para a fabricação de um produto similar ao que lhe deu origem ou a um
produto distinto.
Desmanche - No processo industrial de desmanche, é realizada a revalorização de componentes
íntegros destinados diretamente ao mercado secundário e dos componentes a serem remanufaturados
para sua posterior comercialização nesses mesmos mercados. Nos casos em que os componentes não
apresentam condições de reaproveitamento, os seus materiais constituintes são revalorizados por meio
de sua comercialização com empresas de reciclagem industrial. Os materiais restantes, que apresentam
dificuldades de serem extraídos ou separados e que apresentam baixo valor comercial, são
encaminhados à disposição final em aterros ou à incineração.
Destinação final segura- É o desembaraço final de produtos, materiais e resíduos usando-se um meio
controlado que não danifique o ambiente e que não atinja, direta ou indiretamente, a sociedade. São
consideradas disposições finais seguras, sob o ponto de vista ecológico, os aterros sanitários
tecnicamente controlados e a incineração. Nos aterros sanitários, os resíduos são dispostos com os
devidos cuidados para não contaminar o lençol freático. Os itens destinados à incineração são
revalorizados pela queima e recuperação de energia desses resíduos. A destinação final não segura
corresponde à disposição de bens e materiais de pós-consumo em locais impróprios, como lixões não
controlados, rios e terrenos baldios, resultando em poluição ambiental.

Pereira et al (2012) identifica cinco fatores necessários para a organização da logística reversa:
 Fatores econômicos: são as condições que permitem a realização de economias necessárias à
integração das matérias-primas secundárias ao processo produtivo que possibilitam o retorno
financeiro aos agentes da cadeia reversa.
 Fatores tecnológicos: referem-se às tecnologias necessárias para o tratamento econômico dos
resíduos a partir de seu descarte até sua reintegração ao ciclo produtivo.
 Fatores logísticos: referem-se à existência de sistemas de transportes, localização e organização
entre os diversos elos da cadeia reversa.
 Fatores ecológicos: são aqueles motivados pela sensibilidade ecológica e de sustentabilidade
ambiental. Incluem iniciativas do governo, pressões sociais que induzem o governo à
intervenção, a seletividade ecológica da sociedade no consumo de bens e a preocupação da
responsabilidade ambiental por parte das empresas.
 Fatores legais: são motivados pela busca de redução de custos governamentais e da satisfação
de pressões de grupos sociais ou políticos, visando à regulamentação, promoção, educação e
incentivos à melhoria de condições de retornos dos produtos ao ciclo produtivo.
A busca pela elevação da competitividade também constitui outro fator que impulsiona as empresas a
adotarem processos reversos em seus negócios. As empresas que aliam atividades reversas às suas

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estratégias obtêm ganhos de competitividade de diversas formas, seja por meio da redução
dos custos decorrente do reaproveitamento de componentes ou materiais constituintes ou através da
fidelização de clientes e reforço da imagem corporativa ao demonstrar responsabilidade social.
O objetivo econômico dos canais reversos de pós-consumo é a reintegração dos materiais constituintes
dos bens de pós-consumo como substitutos de matérias-primas na fabricação de outras matérias-primas
ou na fabricação de novos produtos. As empresas revalorizam ecologicamente seus bens de pós-
consumo como uma forma de recapturar valor e reduzir os custos dos impactos no meio ambiente
provocados pela ação nociva desses produtos à vida humana ou pelo excesso desses bens. Já o
beneficio legal da logística reversa de pós-consumo resulta do crescente aumento de políticas e normas
ambientais em relação aos produtos, que estendem a responsabilidade das empresas em recuperar os
produtos após o seu descarte pelo consumidor.
Considerando que os processos industriais são responsáveis pela geração de boa parte dos resíduos que
contaminam o ambiente e afetam a saúde da população, percebe-se a importância do desenvolvimento
de atividades reversas nos processos logísticos, a exemplo das empresas do setor calçadista, cujas
atividades podem contribuir para o aumento dos impactos ambientais quando os resíduos por elas
gerados não são tratados de maneira adequada.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Para a classificação dessa pesquisa, foram utilizados os critérios propostos por Vergara (2010). Assim,
quanto aos fins, a presente pesquisa se classifica como pesquisa descritiva, pois visa identificar e
descrever as atividades de logística reversa desenvolvidas por empresas produtoras de calçados em
Campina Grande.
Quanto aos meios, a pesquisa é do tipo estudo de caso, que corresponde à investigação de uma ou
poucas unidades de análise e tem caráter de profundidade e detalhamento. Nesse sentido, foram
estudadas três empresas produtoras de calçados: uma empresa que produz calçados femininos, em
couro e material sintético (identificada como empresa Alfa); uma empresa que produz calçados
esportivos e populares, em material sintético (identificada como empresa Beta); e, a terceira empresa
(identificada como empresa Gama), que produz calçados femininos adultos em couro.
A pesquisa teve início com a revisão da literatura sobre logística reversa e seus principais canais de
distribuição reversos para revalorização de itens de pós-venda e pós-consumo, conforme definições do
Modelo de Leite (2009), principal abordagem teórica utilizada para coleta e análise dos dados
primários nessa pesquisa. Esse modelo fundamentou a elaboração de um roteiro semiestruturado que
orientou a observação das atividades produtivas e a realização das entrevistas junto aos responsáveis
pelas empresas pesquisadas.
As visitas às empresas da pesquisa e a respectiva coleta de dados primários foi realizada durante o mês
de Fevereiro de 2014. As entrevistas foram feitas com os proprietários e/ou gerentes de produção destas
empresas. De forma complementar à coleta de dados primários, foi realizada uma visita técnica ao
Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado Albano Franco – CTCC/SENAI, localizado em Campina
Grande. Essa visita permitiu observar o processo produtivo de calçados e acessar material publicado
sobre as atividades do setor couro-calçadista nacional e local.

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Para avaliar a intensidade dos resíduos gerados, foram estabelecidos parâmetros para que a
empresa identificasse o volume do resíduo gerado com relação à quantidade de material original
utilizada, conforme demonstra a Tabela I, a seguir.
Tabela I- Parâmetros de avaliação dos resíduos gerados nas empresas produtoras de calçados

Volume do resíduo gerado Intensidade


Até 10% Baixa
Entre 10% e 20% Média
Acima de 20% Alta

Fonte: elaboração própria

O tratamento dos dados foi feito de forma qualitativa, através da análise comparativa entre o modelo
teórico adotado e as práticas de logística reversa desenvolvidas pelas empresas.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS


De acordo com o SENAI (2012), a fabricação de calçados de um ou de variados tipos como
masculinos, femininos, de couro ou de materiais similares, apresenta um fluxo de produção dividido
em cinco etapas: modelagem, corte, costura, montagem e acabamento.
Na etapa de modelagem, o modelo é desenvolvido pelo modelista, que define os materiais (couro,
sintético) que serão utilizados e a numeração do produto. O processo tradicional utiliza o escalógrafo,
que escala as peças de modelos que serão cortadas por uma máquina manual denominada facão. Nesta
etapa também pode ser utilizado o pantógrafo, que proporciona a dupla vantagem de escalar e, ao
mesmo tempo, cortar as peças escaladas.
A etapa do corte tem como objetivo cortar os materiais que formarão as diversas partes do calçado,
desde o cabedal até a palmilha e forração. O processo tradicional utiliza três tipos de balancins
(hidráulico, ponte e mecânico), máquinas chanfradeiras e máquinas divisoras. O corte do couro é feito
com o balancim hidráulico, enquanto o balancim ponte hidráulico é utilizado para cortar materiais
diversos como termoplásticos, sintético, espuma, tecidos, etc.; já o balancim mecânico é usado para
cortar materiais mais pesados como solas e borrachas. As máquinas chanfradeiras diminuem a
espessura do couro e material sintético, já a máquina divisora é utilizada para dividir o cabedal.
Na etapa da costura são unidas as diferentes partes do cabedal cortadas na etapa anterior. As diferentes
peças podem ser costuradas, dobradas, picotadas ou coladas. As principais máquinas de costura para
calçados são máquina de base coluna, máquina de base em braço e máquina de base plana. A aplicação
de adornos em enfeites em couro e material sintético é feita com o uso de máquina de pesponto.
A etapa da montagem une o cabedal, montado na etapa anterior, ao solado e a palmilha por meio de
uma nova costura, colagem ou prensagem. Finalmente, na etapa de acabamento, o calçado passa pelo
processo de colocação de forros, pintura, enceramento etc. Nesta fase também é realizado o controle de
qualidade do produto.

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As empresas locais desenvolvem essas etapas de forma muito próxima umas das outras,
sob a orientação de técnicos do Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado Albano Franco - CTCC,
que aperfeiçoa a produção em tecnologia e inovação. O objetivo deste centro é desenvolver ações de
tecnologia e inovação que propiciam sistemas de apoio à competitividade e estabelecimento do setor
couro-calçadista, além de promover a educação para o trabalho e cidadania (SENAI, 2012).
O CTCC desenvolve atividades de logística reversa a fim de minimizar o lançamento de resíduos
líquidos e sólidos no meio ambiente. O CTCC possui um sistema de tratamento de efluentes, no qual a
água retirada do couro após o seu processo de limpeza/secagem passa pelo processo de decantação. A
água é novamente utilizada na etapa de remolho do couro e os resíduos sólidos são destinados à
incineração.
Diante do reconhecimento de que as atividades do setor couro-calçadista podem contribuir de forma
significativa para o aumento dos impactos ambientais, o desenvolvimento de atividades reversas nos
processos produtivos e logísticos das empresas calçadistas permite a obtenção de benefícios ambientais
e econômicos, proporcionando também o melhoramento da imagem da empresa perante os
consumidores. A seguir apresentam-se as análises feitas em cada empresa pesquisada.

4.1 A empresa Alfa


A empresa Alfa atua no mercado há mais de dez anos e encontra-se consolidada no mercado regional.
Suas atividades estão voltadas para a produção e comercialização de calçados em couro e material
sintético, direcionados ao público feminino das classes A, B e C. Segundo os critérios estabelecidos
pela FIEP (2013), a empresa Alfa é classificada como micro empresa, apresentando uma capacidade de
produção de 800 pares por dia. A empresa é dirigida pelo seu proprietário e mantém em seu quadro
funcional um total de 21 colaboradores, dos quais 20 trabalham nas atividades de produção. O volume
de demanda dos produtos da empresa apresenta-se relativamente constante, com pequenas alterações
em algumas épocas do ano ou em função de novas tendências de cada nova coleção.
A empresa realiza algumas atividades de logística reversa para tratar os produtos que podem retornar
por motivos de garantia de qualidade, em cumprimento a regulamentação do direito do consumidor; e
para o tratamento dos resíduos gerados nas etapas produtivas, em cumprimento à regulamentação
relativa à proteção ambiental.
Em relação aos ganhos econômicos decorrentes das atividades de logística reversa, na visão da empresa
Alfa, eles são inferiores aos ganhos de imagem da empresa em relação ao compromisso com clientes e
com sua responsabilidade socioambiental. Por isso, a empresa Alfa busca adquirir matérias-primas e
outros insumos de fornecedores que demonstram responsabilidade ambiental e que também atendam às
legislações ambientais vigentes.
Os resíduos gerados nas etapas do processo produtivo da empresa Alfa, identificados como itens de
pós-consumo, podem seguir para quatro destinações: alguns resíduos têm reaproveitamento no
processo produtivo, outros são destinados para reciclagem fora da empresa, outros são coletados e
enviados para incineração e, finalmente, os demais são destinados para a coleta de lixo urbano.
As aparas de couro geradas na etapa de corte apresentam um volume considerado baixo e são
reaproveitadas no processo produtivo da empresa na fabricação de peças menores. Quando as aparas de
couro não apresentam condições para corte de pequenas peças, elas são destinadas à incineração.

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As aparas de solado TR, consideradas de baixo volume, passam pelo canal reverso de
reciclagem fora da empresa. O fornecedor desse material recolhe todos os resíduos do solado e realiza
o processo de reciclagem, transformando esses resíduos em matéria-prima secundária para fabricação
de outros tipos de solados.
Os demais resíduos gerados nas diversas etapas do processo produtivo (resíduo de fitas, peles, linhas,
tiras, fivelas, cola, adesivo, rebites, ilhoses, etiquetas, retalho de tecidos e aparas de material sintético)
são destinados a uma empresa especializada em incineração. Apenas os resíduos de cartolina e papelão
são destinados à coleta de lixo urbano, sem nenhum tratamento por parte da empresa. Todos os
resíduos gerados nas atividades produtivas da empresa Alfa foram considerados como de baixa
intensidade.
O Quadro I identifica os principais tipos de resíduos gerados em cada etapa do processo produtivo da
empresa Alfa, bem como a intensidade do resíduo em relação ao volume total do material utilizado.

Quadro I - Principais resíduos gerados e a intensidade de seus volumes na empresa Alfa


Etapa do processo Resíduo gerado Intensidade
produtivo
Modelagem Resíduo de fitas Baixa
Resíduo de cartolina e papelão Baixa
Corte Aparas de couro Baixa
Aparas de solado TR Baixa
Resíduo de pele de peixe Baixa
Retalho de tecido Baixa
Aparas de material sintético Baixa
Costura e preparação Resíduo de linhas Baixa
Resíduo de tiras e fivelas Baixa
Resíduo de cola Baixa
Embalagem de cola Baixa
Resíduo de adesivos e fitas Baixa
Resíduo de rebites e ilhoses Baixa
Montagem e Resíduo de etiquetas Baixa
acabamento

Fonte: Elaboração própria

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Com relação ao retorno de produtos finais à empresa, considerados itens de pós-venda, são
observados dois motivos do retorno: retorno de garantia/qualidade e retorno para substituição de
componentes. Na categoria de retorno por garantia/qualidade, os bens retornam devido a defeitos de
fabricação e/ou montagem. Neste caso, os produtos são remanufaturados e voltam diretamente para o
mesmo cliente que os comprou. Já no caso do retorno para substituição de componentes, os produtos
devolvidos sofrem um processo de remanufatura para substituição de peças e retornam diretamente
para o cliente que os comprou. No caso em que produto que retornou à empresa Alfa não apresenta
condições de remanufatura, ele é enviado para a incineração e o cliente recebe um novo produto.
A principal dificuldade encontrada na estruturação das atividades de logística reversa na empresa Alfa
está relacionada com a intensidade dos volumes dos resíduos, considerada baixa para todos, o que não
justifica economicamente a estruturação de um canal reverso para, por exemplo, a reciclagem interna
na empresa de algum desses resíduos.

4.2 A empresa Beta


As atividades da empresa Beta estão voltadas para a produção e comercialização de calçados populares
em material sintético, direcionados as classes A, B C, D e E, sendo suas principais linhas de produtos
compostas por tênis, chuteiras e botas de segurança. Com atuação no mercado há 20 anos, a empresa
encontra-se consolidada em todo o mercado nacional. Na sua classificação quanto ao porte, é
identificada como uma pequena empresa e possui uma capacidade de produção de 1.500 pares por dia.
A empresa é dirigida pelo proprietário e apresenta em seu corpo funcional um total de 55
colaboradores, dos quais 50 deles são pertencentes à área de produção. A demanda de seus produtos é,
predominantemente, constante.
A empresa realiza algumas atividades de logística reversa para tratar os produtos que podem retornar
por motivos de garantia de qualidade, em cumprimento a regulamentação do direito do consumidor; e
para o tratamento dos resíduos gerados nas etapas produtivas com a finalidade de reduzir os impactos
ambientais e obter ganhos em termos financeiros e de melhoramento da imagem da empresa.
Os resíduos gerados nas etapas do processo produtivo da empresa, identificados como itens de pós-
consumo, apresentam duas destinações: apenas um tipo de resíduo é reaproveitado na empresa e os
demais são destinados a coleta de lixo urbano.
As aparas de material sintético geradas na etapa de corte apresentam um volume considerado médio e
passam pelo processo de reciclagem dentro da própria empresa, no qual os materiais constituintes do
material sintético são reintegrados ao ciclo produtivo constituindo uma nova matéria-prima, o Cloreto
de Polivinila (PVC), que será utilizada na fabricação de solados.
Os demais resíduos gerados no processo produtivo não são reaproveitados na empresa, sendo todos eles
destinados a coleta de lixo urbano. Com exceção dos resíduos de material sintético, que apresentam um
volume médio, todos os resíduos gerados na atividade produtiva da empresa Beta são considerados
como de baixa intensidade.
O Quadro II, abaixo, identifica os principais tipos de resíduos gerados em cada etapa do processo
produtivo da empresa Beta, bem como a intensidade do resíduo em relação ao volume total do material
utilizado.

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Quadro II - Principais resíduos gerados e a intensidade de seus volumes na empresa Beta
Etapa do processo produtivo Resíduo gerado Intensidade
Modelagem Resíduo plástico Baixa
Resíduo de cartolina e papelão Baixa
Aparas de couro Baixa
Aparas de material sintético Média
Corte Resíduo de borracha Baixa
Resíduo de espuma Baixa
Resíduo de linhas Baixa
Resíduo de tiras e fivelas Baixa
Costura e preparação Resíduo de cola Baixa
Embalagem de cola Baixa
Resíduo de rebites e ilhoses Baixa
Montagem e acabamento Resíduo de cola Baixa
Fonte: Elaboração própria

Com relação ao retorno de produtos finais à empresa, considerados itens de pós-venda, são observados
dois motivos do retorno: retorno comercial e retorno de garantia/qualidade. Na categoria de retorno
comercial, os itens são devolvidos devido a erros de processamento de pedidos, configurando um
retorno comercial não contratual. Neste caso, a empresa recaptura o valor econômico dos itens
retornados por meio do seu redirecionamento a mercados primários, onde estes produtos serão
comercializados em seus preços originais. Já na categoria de retorno por garantia/qualidade, os bens
retornam devido a defeitos na fabricação e/ou montagem do produto. Neste caso, os produtos são
remanufaturados e voltam diretamente para o mesmo cliente que os comprou.
A principal dificuldade encontrada na estruturação das atividades de logística reversa na empresa Beta
está relacionada com a intensidade dos volumes dos resíduos, o que não justifica a estruturação de
canal reverso para a reciclagem interna de alguns desses resíduos.

4.3 A empresa Gama


A empresa Gama atua no mercado há quinze anos, produz sua marca própria e encontra-se consolidada
no mercado regional. A empresa tem suas atividades baseadas na produção e comercialização de
calçados em couro, direcionados ao público feminino adulto das classes B, C e D e suas principais
linhas de produtos são compostas por rasteiras, sapatilhas e anabelas. De acordo com os critérios
estabelecidos pela FIEP (2013) quanto ao porte, é classificada como uma micro empresa, mantendo em
seu quadro funcional um total de 14 funcionários, sendo que 11 deles estão ligados às atividades

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produtivas, e uma capacidade de produção de 100 pares por dia. A demanda pelos produtos
da empresa apresenta características de tendência.
A empresa Gama realiza algumas atividades reversas relacionadas ao tratamento de resíduos gerados
no processo produtivo e à reintegração de produtos de pós-venda em seu ciclo de negócios. A empresa
desenvolve atividades reversas com o intuito de contribuir para a redução dos impactos ambientais e,
também, para obter maiores ganhos econômicos. Esses fatores justificam a utilização dos resíduos do
couro, que apresentam substâncias tóxicas, em outra atividade econômica da empresa.
Os principais tipos de resíduos gerados em cada etapa do processo produtivo da empresa Gama, bem
como a intensidade do resíduo em relação ao volume total do material utilizado são identificados no
Quadro III:

Quadro III - Principais resíduos gerados e a intensidade de seus volumes na empresa Gama
Etapa do processo Resíduo gerado Intensidade
produtivo
Aparas de couro Baixa
Modelagem Resíduo de fitas Baixa
Resíduo de cartolina e papelão Média
Aparas de couro Média
Aparas de material sintético Média
Corte Resíduo de borracha Baixa
Resíduo de espuma Baixa
Resíduo de linhas Baixa
Costura e preparação Embalagem de solventes Baixa
Resíduo de adesivos e fitas Baixa
Resíduo de adesivos Baixa
Montagem e acabamento Resíduo de cola Baixa
Embalagem de cola Baixa
Fonte: Elaboração própria

Os resíduos gerados nas etapas do processo produtivo da empresa, identificados como itens de pós-
consumo, podem seguir para quatro destinações: alguns resíduos têm reaproveitamento no processo
produtivo, outros são reaproveitados em outra atividade econômica da empresa, alguns são recolhidos
por empresa especializada e os demais são destinados a coleta de lixo urbano.
As aparas de couro e de material sintético e os resíduos de borracha e papelão são reaproveitados no
próprio processo produtivo da empresa na fabricação de peças menores. Com exceção das aparas de

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couro, os demais resíduos, após seu reaproveitamento na empresa, são destinados à coleta
de lixo urbano. As aparas de couro também são reaproveitadas em outra atividade econômica da
empresa. Esses resíduos são utilizados na fabricação de pequenas bolsas (portas-moeda) que são
comercializadas na loja da empresa.
As embalagens de cola e solventes, que apresentam substâncias químicas, são recolhidas por uma
empresa especializada. Essas embalagens serão reutilizadas com a mesma finalidade original para a
qual foram produzidas. A destinação dada aos demais tipos de resíduos (adesivos, fitas, borracha, linha
e cola) é a coleta de lixo urbano sem nenhum tratamento por parte da empresa. A intensidade dos
volumes dos resíduos de couro, material sintético, cartolina e papelão gerado pela empresa Gama é
considerada média, enquanto que a intensidade do volume dos demais resíduos é considerada baixa.
Com relação ao retorno de produtos finais à empresa, considerados itens de pós-venda, são observados
dois motivos do retorno: retorno comercial e retorno por garantia/qualidade. Na categoria de retorno
comercial, os itens devolvidos devido a erros de processamento de pedidos são comercializados no
mercado secundário sob a forma de liquidação. Já na categoria de retorno por garantia/qualidade, os
itens retornam devido a defeitos na sua fabricação e /ou montagem. Neste caso, os processos passam
pelo processo de remanufatura e são comercializados no mercado secundário a preços reduzidos.
A principal dificuldade encontrada pela empresa na estruturação de canais reversos de distribuição está
relacionada ao fato da lucratividade obtida com as atividades reversas não ser capaz de remunerar de
forma satisfatória os agentes envolvidos.

4.4 Comparação das atividades de logística reversa presentes nas empresas Alfa, Beta e Gama
Com base nos resultados apresentados no quadro, pode-se perceber que os processos produtivos das
três empresas geram praticamente os mesmos tipos de resíduos, porém, apresentam diferenças quanto
ao volume dos resíduos de matéria-prima. Na empresa Alfa, o volume de todos os resíduos é
considerado baixo, enquanto que a empresas Beta e Gama possuem um volume de resíduo de matéria-
prima considerado médio.
As três empresas possuem atividades reversas de reaproveitamento de resíduos, sendo que as empresas
Alfa e Gama reaproveitam parte desses resíduos no próprio processo produtivo da empresa na
fabricação de peças menores, já o reaproveitamento de resíduos de matéria-prima na empresa Beta é
feito por meio do processo de reciclagem. A empresa Gama também reaproveita parte de seus resíduos
de matéria-prima em outra atividade econômica da empresa. Com relação à destinação final dos
resíduos, apenas a empresa Alfa descarta seus resíduos de forma segura, destinando-os à incineração,
enquanto que nas empresas Beta e Gama os resíduos não reaproveitados são destinados à coleta de lixo
urbano.
As empresas Beta e Gama desenvolvem atividades reversas com o objetivo de contribuir para a
redução dos impactos ambientais e melhorar seus resultados financeiros. Já a empresa Alfa realiza
atividades reversas em cumprimento às regulamentações e fiscalização de órgãos de proteção ambiental
e, também, para melhorar a sua imagem no mercado. Com relação às dificuldades encontradas no
desenvolvimento de atividades reversas, as três empresas consideram que o volume dos resíduos
gerados não justifica economicamente a estruturação de um canal reverso. Além disso, a empresa
Gama considera que a lucratividade obtida com atividades reversas não é capaz de remunerar de forma
satisfatória os agentes envolvidos.
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Embora essas empresas já realizem algumas atividades reversas e possuam dificuldades na
estruturação de canais reversos, pode-se perceber oportunidades de desenvolvimento de novas
atividades reversas, por exemplo, essas empresas poderiam comercializar seus resíduos de cartolina e
papelão com empresas recicladoras de papel, o que proporcionaria um aumento nos resultados
financeiros dessas empresas ao mesmo tempo em que contribuiriam para a redução dos resíduos
enviados a uma destinação final.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resíduos gerados em maior quantidade pelas empresas produtoras de calçados em Campina Grande
são aparas de couro, material sintético e solado, seguidos pelos resíduos dos demais materiais utilizados
(cartolina, papelão, pele, tecidos, linhas, tiras, fivelas, adesivos, fitas, cola, solventes, rebites, ilhoses,
etiquetas, plástico, borracha e espuma).
No caso da Empresa Alfa, a realização das atividades reversa de reuso de alguns resíduos no processo
produtivo resulta em ganhos econômicos e ambientais, visto que proporciona redução de custos para a
empresa ao reutilizar esses materiais como matéria-prima na fabricação de peças menores, ao mesmo
tempo em que contribui para diminuição dos impactos ambientais ao gerar uma menor quantidade de
resíduos para descarte, ainda que parte desses sejam enviados a uma destinação final segura. Desta
forma, a empresa Alfa está também melhorando a imagem de sua marca ao participar como
fornecedora de um canal reverso de reciclagem com outra empresa, contribuindo para a reintegração de
materiais constituintes como substitutos de matéria-prima para a fabricação de outras matérias-primas
ou de novos produtos na empresa recicladora.
Os principais benefícios das atividades reversas na empresa Beta podem ser facilmente percebidos em
termos ambientais e econômicos, uma vez que as aparas de material sintético, que constituem os
resíduos de maior volume na empresa, reaproveitados por meio do canal reverso de reciclagem na
fabricação de uma nova matéria-prima, o tubo PVC, ao mesmo tempo em que evita que essa grande
quantidade de resíduo seja lançada de forma inadequada no meio ambiente. Com relação ao retorno de
bens de pós-venda, os itens retornados na categoria comercial recapturam valor econômico através de
seu redirecionamento e comercialização no mercado primário em seus preços originais, enquanto que a
remanufatura de produtos representa uma economia dos recursos que seriam utilizados para a
fabricação de um novo produto que substituiria o produto defeituoso do cliente.
Os principais fatores que impulsionam o desenvolvimento de atividades reversas na empresa Gama são
a redução dos impactos ambientais e obtenção de resultados financeiros. Os principais benefícios
obtidos com as atividades de reaproveitamento de aparas de couro no processo produtivo de calçados
são a redução de custos para empresa Gama ao reutilizar esses materiais na fabricação de peças
menores, como também contribuem para redução das quantidades de resíduos que serão destinados à
coleta de lixo urbano. Ao realizar esta atividade reversa de reaproveitamento das aparas de couro, a
empresa Gama obtém ganhos financeiros ao substituir matérias-primas virgens na fabricação de outro
tipo de produto. Além disso, contribui para a minimização dos riscos à saúde pública e ao meio
ambiente, visto que o couro, quando apresenta a substância cromo, constitui um dos resíduos mais
perigosos.
Embora essas empresas identifiquem a redução dos impactos ambientais como o principal motivo que
as levam a adotar atividades reversas, o que se pode perceber é que as atividades reversas

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desenvolvidas ainda são consideradas mínimas diante das diversas possibilidades de
reaproveitamento dos resíduos gerados em seus processos produtivos.

REFERÊNCIAS
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