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GEOQUÍMICA

APONTAMENTOS

Maria Manuela da Vinha G. da Silva

Departamento de Ciências da Terra

FCTUC
MMVG Silva Apontamentos GEOQUÍMICA
DCT- FCTUC

1. Introdução
1.1. Objetivos globais da Geoquímica
A Geoquímica é um ramo da Geologia relativamente novo, tendo começado no princípio do
século XX e envolve o desenvolvimento e aplicação dos princípios químicos na resolução
de problemas geológicos. Os geoquímicos estudam a química da Terra e dos seus
componentes e reservatórios: litosfera, hidrosfera, atmosfera e as interações com a biosfera.
As questões a que os geoquímicos tentam responder são: como é que os elementos químicos
se distribuem entre os vários componentes da Terra, porque se distribuem desse modo e
quais são os princípios que governam essa distribuição.

1.2. Início e desenvolvimento


Os primeiros trabalhos de Geoquímica datam do início do século XX, quando F.W. Clarke
publicou em 1908, The Data of Geochemistry (USGS Bulletin). A Geoquímica começa a
ganhar destaque como ramo da Geologia na primeira metade do século XX, com os trabalhos
de N.L. Bowen, de V.M. Goldschmidt, que é considerado o “pai” da Geoquímica moderna
e de S.S. Goldich.

Bowen realizou as primeiras experiências sistemáticas que explicaram a


cristalização dos magmas, publicando vários diagramas de fase das rochas ígneas.

Goldschmidt publicou o primeiro livro abrangente sobre Geoquímica quantitativa


e fez o primeiro estudo geoquímico da distribuição dos elementos (V. M.
Goldschmidt, The principles of the distribution of the chemical elements in minerals
and rocks, 1937).

Goldich dedicou-se ao estudo da geoquímica da meteorização e equilíbrio mineral


a baixa temperatura.

O desenvolvimento da Geoquímica esteve sempre relacionado com o desenvolvimento de


novas técnicas analíticas: espectroscopia, difração de raios-X, espectrometria de massa e a
radioatividade. A Geoquímica começou no laboratório, mas rapidamente passou a ser

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aplicada no campo e muito do seu desenvolvimento inicial ocorreu na antiga URSS (onde
dois cientistas sobressaem: A. Y. Fersman e V.I. Vernadsky), sendo largamente aplicada na
prospeção geoquímica. Além estudos de laboratório e de campo existiram também os
estudos teóricos e experimentais (por ex. os trabalhos de Bowen).

Para os objetivos a Geoquímica usa as seguintes abordagens:

Geoquímica Analítica – usa métodos analíticos para a análise química das amostras
geológicas e desenvolvimento de novas metodologias.

Geoquímica Experimental – faz a simulação dos processos geológicos no


laboratório, o que é muito útil para o estudo das partes inacessíveis da Terra
(litosfera profunda, manto e núcleo);

Geoquímica Teórica – Aplica as bases dos princípios químicos para fazer previsões
sobre a distribuição dos elementos e comportamento dos sistemas geológicos.

Presentemente a Geoquímica abrange um campo muito vasto do conhecimento, pois a


maioria dos processos geológicos envolve sempre reações químicas. É dividida em várias
subdisciplinas: Cosmoquímica; Cristaloquímica, Geoquímica dos processos endógenos
(magmatismo e metamorfismo); Geoquímica dos processos exógenos (pedogénese,
sedimentação e diagénese); Geoquímica dos oceanos; Geoquímica da atmosfera;
Geoquímica orgânica; Hidrogeoquímica; Geoquímica Isotópica; Geoquímica Ambiental;
Prospeção Geoquímica.

1.3. Contribuições para a Geologia


As contribuições da Geoquímica para o conhecimento da Terra e do Sistema Solar nos
últimos 50 anos têm sido enormes. A Geoquímica de meteoritos e de amostras colhidas na
Lua têm fornecido dados preciosos sobre origem do Sistema solar e a Geoquímica isotópica
permitiu o estabelecimento escala radiométrica do tempo geológico. A geoquímica Isotópica
permitiu determinar a idade da Terra, da crusta e dos oceanos.

A Geoquímica também tem permitido:

• Reconhecimento das plumas mantélicas

• Determinação de T e P de câmaras magmáticas

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• Reconhecimento da subducção de sedimentos

• Determinação de P e T de formação de rochas metamórficas

• Determinação das velocidades de soerguimento e erosão das cadeias montanhosas

• Estabelecer modelos sobre a formação e evolução da crusta terrestre

• Conhecer a formação e evolução da atmosfera terrestre

• Saber causas das idades do gelo e sua extensão

• Determinar a evidência química de vida

A Geoquímica está no cerne das ciências e preocupações ambientais (chuva ácida, buraco
de ozono, aquecimento global, poluição do solo e da água são estudados e explicados pela
Geoquímica), é aplicada largamente na prospeção de recursos minerais e energéticos e é
imprescindível nos estudos das mudanças globais da Terra. A Geoquímica relaciona-se
fortemente com a Biologia e sabe-se que processos biológicos afetam a distribuição dos
elementos no ambiente, falando-se em ciclos biogeoquímicos dos elementos.

1.4. Aplicabilidade
A grande abrangência da Geoquímica faz dela uma disciplina imprescindível no campo

da pesquisa científica básica (Geoquímica pura), sendo fundamental no estudo:

• da génese e evolução das rochas ígneas, metamórficas e sedimentares;

• da distribuição e migração dos elementos químicos e seus isótopos entre os

diversos reservatórios que constituem o planeta;

• dos outros corpos do sistema solar;

• da génese e distribuição dos depósitos minerais;

As aplicações da Geoquímica (Geoquímica Aplicada) no âmbito das necessidades da


sociedade são feitas pela Prospeção Geoquímica, pela Geoquímica Ambiental e pela
Geoquímica/Geologia Médica e todas estas subdisciplinas fazem uso de mapas geoquímicos,
obtidos pela Cartografia Geoquímica.
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A Prospeção Geoquímica é usada para a descoberta de recursos minerais ou


beneficiação/extensão dos existentes. Em todo o mundo a Geoquímica tem desempenhado
papel fundamental na descoberta de grandes depósitos minerais. Os seus grandes utilizadores
são os organismos estatais ou as grandes companhias de prospeção. A Prospeção
Geoquímica usa os princípios da distribuição dos elementos na natureza, na procura de
indicadores para a localização de depósitos minerais ou para beneficiação dos existentes.

A Geoquímica Ambiental, com história ainda curta, tem tido um grande desenvolvimento,
com um campo muito vasto de aplicação. Técnicas geoquímicas de amostragem, análise e
análise estatística de amostras de solos, águas e sedimentos de corrente permitem separar
anomalias geoquímicas naturais daquelas originadas pelo homem, auxiliando na prevenção
e remediação de danos ambientais. Os seus utilizadores são os governos, as organizações
não governamentais com preocupações ambientais e grandes empresas privadas.

A Geoquímica Médica/Geologia Médica investiga os efeitos dos processos e fatores


geológicos, na saúde das populações (Epidemiologia), tentando encontrar as ligações entre
as concentrações dos elementos químicos no ambiente e o estado de saúde das populações.

A Cartografia Geoquímica permite a obtenção dos mapas geoquímicos, que condensam


informação sobre a variação dos teores dos elementos químicos na superfície da Terra. São
indispensáveis para o planeamento, com aplicações em vastos domínios. O Atlas
Geoquímico da Europa (Parte 1) foi publicado em 2005, tendo os trabalhos começado em
1996 e envolveu 26 países europeus, através dos seus Serviços Geológicos.

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2. Da formação dos elementos à


diferenciação geoquímica da Terra
2.1. Abundância dos elementos químicos
Os “tijolos” de todos os minerais e rochas são 84 elementos químicos (há 90 elementos
químicos naturais) e as suas quantidades são muito variáveis no Sistema Solar (Fig.2.1). A
massa de H+He é cerca de 98% da massa de todo o material que constitui o sistema solar;
todos os outros elementos são apenas 2% e observa-se um decréscimo na abundância dos
elementos com o aumento do número atómico (Fig.2.1).

Esta relação não é só observada no nosso sistema solar. A análise espectral das estrelas,
mesmo daquelas mais afastadas, mostra a mesma relação. É assim de admitir que o universo
é constituído essencialmente por H e He.

Fig.2.1- Abundâncias estimadas dos elementos químicos no Sistema Solar. (MHz`as -


SolarSystemAbundances.jpg, CC BY-SA 3.0,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=18565711)

No sistema solar o hidrogénio é o elemento mais abundante, seguido do He, pois este é o
primeiro produto da fusão nuclear do H. Deve notar-se na figura 2.1 que:

• há um decréscimo nas abundâncias dos vários elementos com o aumento do número


atómico;

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• os elementos com número atómico par são mais abundantes do que os elementos com
número atómico ímpar;

• há um aumento na abundância nos elementos com número de massa perto de 56 (Fe


com Z=26).

Este padrão de variação das abundâncias dos elementos com os vários picos e o declive
negativo observado na figura 2.1 constitui uma assinatura de todos os corpos do sistema
solar. Estes factos são explicados pelos processos de nucleossíntese. Elementos com A (nº
de massa) entre 1 e 56 são formados por fusão nuclear no núcleo de estrelas a partir de H e
He, o que provoca o decréscimo de abundância observado na figura 2.1. Elementos com A
maior que 56 só são formados em estrelas massivas, pelo que estes elementos presentes no
sistema solar foram herdados de antigas estrelas mais massivas que explodiram.

O Fe tem a mais alta energia de ligação nuclear, o que o torna o núcleo mais estável da
Tabela Periódica e assim a sua abundância é a mais alta. Núcleos com Z par são mais estáveis
do que aqueles que possuem Z ímpar (regra de Oddo-Harkins) e daí o padrão em picos
observado na figura 2.1.

2.2. Formação de H e He- nucleossíntese cosmológica


Quando o Universo se formou e arrefeceu para 1010 K deu-se a formação de 1H (protão) e
quando T baixou para 109 K (3 minutos depois do Big Bang) formou-se 2H (núcleo de
deutério). A fusão entre o deutério e o protão leva à formação de núcleos de He, sendo a
proporção + 1He/12H, que é a encontrada ainda hoje. Além de H e He formou-se também
pequena quantidade de 7Li e 7Be.

Portanto depois do Big Bang emergiram núcleos de hidrogénio, hélio e traços de lítio e
berílio. A esta nucleossíntese chama-se cosmológica. Passado pouco tempo a temperatura
decaiu abaixo de 109 K, deixa de haver fusão nuclear. Cerca de 380 000-370 000 anos depois,
quando o universo arrefeceu para 3000 K, os eletrões ligam-se aos núcleos e formam-se
átomos num processo chamado recombinação.

Cerca de 0,5 Ga depois do Big Bang formaram-se protogaláxias; as primeiras estrelas ter-
se-ão formado a partir do material original do universo, ou seja de H e He. Todos os outros
elementos, com exceção do Li, Be e B têm sido criados posteriormente, nos núcleos de
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estrelas e são dispersos para o espaço no final da vida das estrelas, de modo gradual ou com
explosões de supernovas, em vários ciclos de nucleossíntese estelar.

2.3. Nucleossíntese galáctica


Produz continuamente Li, Be e B no espaço interestelar, pela interação dos raios cósmicos
galácticos, com gás interestelar e poeiras. Os raios cósmicos galácticos são fluxos de
partículas muito energéticas que fluem pela galáxia, compostos por protões, neutrões e
núcleos de átomos que perderam os seus eletrões, na mesma proporção que a encontrada no
sistema solar. Os elementos Li, Be e B são muito abundantes nos raios cósmicos e são
formados pela fragmentação de núcleos de C, N e O, pelo impacto com 1H e 4He.

2.4. Nucleossíntese estelar


As estrelas mais velhas e as estrelas novas possuem composições distintas. As mais novas,
designadas por estrelas de população I, são mais ricas em elementos pesados (elementos
mais pesados que H e He), que se identificam pelas linhas espectrais caraterísticas destes
elementos, nos espectros destas estrelas (Fig.2.2). O Sol é uma destas estrelas.

Fig. 2.2. Exemplo de um espectro de uma estrela com riscas de absorção. Tirado de:
http://www.physics.sjsu.edu/tomley/ObjectSpectra/Rigel.html

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Os espectros das estrelas mais velhas ou de população II, possuem linhas espectrais dos
elementos pesados muito ténues (Fig.2.3). A abundância dos elementos mais pesados é
apenas 3% daquela observada nas estrelas da População I. As estrelas mais velhas formaram-
se a partir do material primordial do universo e são pobres em metais (exemplo da Fig. 2.3-
espectro da estrela S1020549). As menos massivas sobreviveram e são agora as estrelas de
população II. As mais massivas tiveram uma evolução mais rápida e já não existem ou já
não brilham.

Fig. 2.3 – Espectro da estrela S1020549, da galáxia anã do Escultor, muito pobre em metais, em comparação
com o espectro do Sol, rico em metais. Retirado de: http://space.mit.edu/home/afrebel/sculptor.html

A evolução das estrelas de massa semelhante à do Sol (baixa) ou <4 Mʘ, (1 Mʘ = 1,99
x1030 kg) produz carbono e oxigénio pela fusão nuclear do hidrogénio e hélio, mas nas
estrelas mais massivas outros elementos mais pesados são construídos. Durante a sua
evolução e quando as estrelas morrem, elas expelem estes elementos para o espaço
interestelar (Fig. 2.4), formando nebulosas planetárias. O material expelido será
eventualmente incorporado nas estrelas de população I.

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Vejamos então como se processa a nucleossíntese estelar:

a) Estrelas de massa < 4 Mʘ

Queimam hidrogénio no seu núcleo, originando hélio e C. A queima do hélio também


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produz O. a convecção transporta para as camadas exteriores da estrela os elementos
químicos que são produzidos no núcleo.

A queima do hélio produz essencialmente oxigénio e carbono no núcleo da estrela.


Quando todo o hélio tiver sido queimado no núcleo, começa a contração deste, aquecendo
as camadas externas, estrela expande-se e liberta-se completamente das suas camadas
externas em várias erupções e em cada uma ejeta material para o espaço (Fig.2.5). O que
resta é um núcleo de C-O rodeado por camadas brilhantes de gases ejetados (Fig.2.4),
constituindo nebulosas planetárias.

Camada externa em
expansão de material
expelido rico em C

Fig. 2.5- A estrela TT Cygni a expelir uma das


suas camadas externas rica em C, 700000
Estrela atrás. http://apod.nasa.gov/apod/ap010304.html

b) Estrelas de massa > 4 Mʘ

Estas estrelas são capazes de entrar em novos e vários ciclos de reações termonucleares,
dependendo da sua massa. A queima do carbono consome carbono e produz néon, sódio e
magnésio. A queima do oxigénio origina enxofre, silício, fósforo e magnésio. Quando todo
o oxigénio tiver sido usado dá-se a queima do silício (dura cerca de um dia), originando
uma série de núcleos pesados desde o enxofre até ao ferro e níquel .

Entre cada fase de queima no núcleo, que se contrai, há um período de queima das camadas
externas da estrela, que se expande, até se formar uma supergigante. Enquanto tudo isto
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acontece a estrela vai perdendo a sua massa a grande taxa (Fig. 2.6) e libertando para o
espaço os elementos que foi construindo enquanto as reações termonucleares se
processaram.

NGC 2359

Fig. 2.6 – Perda de massa pela estrela supergigante NGC 2359, com M > 40 Mʘ, na constelação de Cão
Maior. A estrela perde massa, com um forte vento solar. Quando o vento colide com o gás e poeira
interestelar forma o bolbo que se observa - nebulosa Elmo de Thor

A tabela 2.1 faz uma síntese. Pode observar-se que com a evolução estelar de uma estrela
massiva há um aumento de densidade e um aumento de temperatura do núcleo (Fig.2.7).

Tabela 2.1- Estágios evolucionários de uma estrela com massa 25Mʘ


Temperatura do Duração do
Estágio Densidade do núcleo (kg/m3)
núcleo (K) estágio
Queima de H 4 x 107 5 x103 7 x106 anos
Queima de He 2 x 108 7 x105 7 x105 anos
Queima de C 6 x 108 2 x108 1k a 600 anos
Queima de Ne 1,2 x 109 4 x109 1 ano
Queima de O 1,5 x 109 1010 6 meses
Queima de Si 2,7 x 109 3 x1010 1 dia
Colapso do núcleo 5,4 x109 3 x1012 1/4 segundo
Ressalto do núcleo 2,3 x1010 4 x1015 milissegundos
Supernova cerca de 109 varia 10 segundos
De acordo com Woosley e Weaver, retirado de Freedman e Kaufmann III (2002) - Universe, 6º edi. W.H.
Freeman and Company, New York.

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Como as estrelas muito massivas consomem elementos cada vez mais pesados para formar
outros ainda mais pesados, as reações termonucleares produzem uma grande variedade de
elementos. Algumas reações libertam neutrões e a absorção destes pelos núcleos cria vários
elementos e isótopos que não são produzidos nas reações termonucleares.

Fig. 2.7. Percurso evolutivo de uma estrela com 25 Mʘ

Cada estágio de fusão no núcleo (queima) gera uma nova camada de material em torno do
núcleo. Após vários estágios a estrutura interna de uma estrela muito massiva parece uma
cebola (Fig.2.8) Como as reações termonucleares podem ocorrer simultaneamente em várias
camadas, a energia é libertada a uma taxa tão elevada que as camadas externas da estrela
expandem imenso, resultando numa estrela supergigante. Várias das estrelas mais brilhantes
são supergigantes e são extraordinariamente luminosas.

A sequência de reações termonucleares não continua indefinidamente. A fusão nuclear


liberta energia, como resultado da força de atração nuclear que liga os nucleões. Contudo os
protões também se repelem devido à força elétrica. Devido a esta repulsão elétrica a adição
de mais protões a núcleos que tenham mais de 26 protões (ferro) não liberta energia, mas
consome energia.

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Orbita de Júpiter

Raio da Terra

Fig. 2.8. A estrutura de uma estrela supergigante . Retirado de


http://outreach.atnf.csiro.au/education/senior/astrophysics/stellarevolution_postmain.html

Assim, núcleos de ferro não são combustível para as reações termonucleares, pelo que a
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sequência de queimas acaba na queima do Si. Um produto desta queima é Fe origina-se
uma estrela com um núcleo de ferro onde não se processam reações termonucleares.

Neste estágio a região produtora de energia da estrela está contida num volume que é mais
ou menos do tamanho da Terra, muito mais pequena que o volume global da estrela que pode
ser igual ao da órbita de Júpiter (Fig. 2.8).

Estrelas com massa baixa perdem os elementos que construíram sob a forma de nebulosas
planetárias (Fig.2.4 e 2.5). O núcleo estabiliza e a estrela transforma-se numa anã branca. As
supergigantes não passam pela fase de nebulosa planetária, são destruídas como supernovas.

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2.5. Nucleossíntese explosiva

Se a massa do núcleo de ferro da estrela atinge 1,4 Mʘ dá-se o colapso do núcleo estelar em
algumas décimas de segundo. O tamanho do núcleo, semelhante ao da Terra, é reduzido para
uma esfera de 20-100 km de raio, a temperatura dispara para 109 K e a matéria no centro do
núcleo atinge a densidade da matéria nuclear (4 x1017 kg/m3).

Quando a matéria no centro do núcleo estelar atinge a densidade nuclear, fica rígida não
consegue contrair mais, as forças repulsivas entre os núcleos são mais fortes do que a
gravidade o que provoca o ressalto do núcleo, enviando uma onda de choque para a parte
externa do núcleo da estrela.

Quando a onda de choque atravessa as diferentes camadas mais externas do núcleo,


comprime-as de tal modo, que se dá a sua re-ignição, produzindo elementos mais pesados
por nucleossíntese explosiva. Quando esta onda atinge a superfície do núcleo, as partes mais
externas da estrela explodem numa supernova.

Os raios  emitidos pelo núcleo muito quente possuem alta energia e quando colidem com
os átomos de ferro desintegram-nos num processo chamado fotodissociação. A
fotodissociação ocorre em segundos e desfaz os elementos que foram construídos pela
estrela ao longo de milhões de anos e cria grande quantidade de neutrões.

Os neutrões produzidos pela fotodissociação são capturados pelos núcleos atómicos e como
há grande quantidade de neutrões os núcleos também os capturam a alta taxa, antes deles
puderem decair. O resultado é a formação de núcleos instáveis ricos em neutrões, que
decaem para isótopos estáveis, capazes de captar mais neutrões. O processo terá uma duração
de 1 a 100 segundos durante o pico da explosão da supernova.

Portanto enquanto os elementos mais leves, até ao ferro, podem ser produzidos por
nucleossíntese estelar nos núcleos das estrelas, os elementos mais pesados são formados e
espalhados pela explosão de supernovas. A este material chama-se remanescente de
supernova (Fig. 2.9), que se vai espalhar pelo espaço e será a matéria prima de novas estrelas
de população I.

A parte interna do núcleo da estrela colapsa de tal modo que os eletrões e os protões se unem
formando neutrões. O resultado da explosão de uma supernova será uma estrela de neutrões
ou um buraco negro, dependendo da sua massa.
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Fig. 2.9 . Remanescente da


supernova W49B. Retirado de:
http://www.nasa.gov/mission_pag
es/astro-e2/news/fossil-
fireballs.html, em 14/11/2012.

A Tabela Periódica seguinte mostra as origens dos elementos químicos que a constituem.

2.7. Formação do sistema solar


Todos os planetas do Sistema Solar orbitam o Sol na mesma direção e mais ou menos no
mesmo plano. Esta observação levou Kant e Laplace a considerarem que não se tratava de
coincidência, mas que o sistema solar se tinha formado de uma vasta nuvem de gás e poeira
cósmica em rotação, a nebulosa ou nébula solar.

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Observações astronómicas indicam que as estrelas se formam quando grandes nuvens de gás
e poeiras, ou parte delas, colapsam (Fig. 2.11). Essas nuvens são formadas por H e He
(~98%), cerca de 1% da massa consiste em partículas de poeira de tamanho inferior a micra
e cerca de 1% são moléculas gasosas mais pesadas que He.

Um equilíbrio entre a força (gravidade) que tende a colapsar a nuvem e as forças que tendem
a expandi-la pode resultar na estabilidade indefinida da nuvem. Contudo pode ocorrer
colapso da nuvem ou porque houve remoção de uma das forças que tendem a expandi-la
pela ação de uma força externa, como uma onda de choque da explosão de uma supernova
perto.

A atração gravitacional faz com que a nébula (ou a sua parte) se contraia. A contração acelera
o movimento de rotação e ao rodar mais depressa a nébula começa a achatar-se. Cerca de
105 anos depois do começo da contração, a nebulosa desenvolve uma estrutura em forma de
disco, com um proto-Sol central. A contração faz com que a maior parte da matéria se
concentre no proto-Sol, mas não toda, pois o movimento de rotação impede que toda a
matéria se precipite para o proto-Sol.

A partir da matéria do disco formam-se os planetas e a sua massa total é apenas 0,1-0,2 %
da massa do Sol. Porque se formaram a partir do mesmo disco rotativo os planetas giram
todos mais ou menos no mesmo plano e na mesma direção.

A nuvem de gás e poeira a partir da qual se formou o sistema solar possuía T próximas de
50 K, pelo que a maioria das substâncias existia sob a forma de grãos e gelo (H2O, CO2,
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CH4, NH3). Hélio e H possuem temperaturas de condensação muito perto do zero absoluto
(1 e 14 K, respetivamente) pelo que existiam sempre sob a forma de gás durante a criação
do sistema solar.

Devido à contração de Kelvin-Helmholtz, as temperaturas no interior do proto-Sol


aumentaram para vários milhares de kelvins, pois a energia libertada pela contração
gravitacional é transformada em energia térmica. Passados cerca de 10 Ma depois de a
contração ter começado, as temperaturas no interior do proto-Sol atingiram 109 kelvins.
Nestas temperaturas começam as reações termonucleares, que convertem o H em He, pois a
barreira de energia para as reações nucleares é ultrapassada, a contração gravitacional acaba
e a estrela nasce.

Quando se formou, o Sol aqueceu as partes mais internas da nébula para T perto de 2000 K,
pelo que apenas as substâncias com pontos de condensação mais elevados podiam aí
permanecer, tais como os compostos que formam as CAIs e compostos de Fe-Ni. Água
(H2O), metano (CH4) e amónia (NH4) foram vaporizados e só poderiam ocorrer como gelo
nas partes mais frias da nébula (Fig. 2.12). Portanto as poeiras que originaram os planetas
terrestres possuíam alta T de condensação e terão permanecido sólidas nos estágios iniciais
da acreção. Seriam semelhante às inclusões CAI, que ocorrem em condritos.

Fig. 2.12. Sequência de condensação mineralógica simplificada.

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Os planetesimais (com +1 km de diâmetro) formados pela colisão destes grãos de poeira,


refratários, evoluem para protoplanetas (+ do tamanho da Lua), que evoluíram para planetas
pela colisão de mais material - este processo de formação de corpos cada vez maiores chama-
se acreção. As simulações em computador mostram que a acreção continuou por cerca de
100 Ma depois da formação dos CAIs e originando os 4 planetas terrestres.

Após a formação inicial dos protoplanetas a Terra era provavelmente um corpo poeirento,
seco, frio, estéril, continuamente bombardeado por meteoros e cometas, que lhe adicionavam
componentes voláteis. Com o passar do tempo a Terra aqueceu e fundiu, formando um ou
vários oceanos de magma por uma combinação de três processos:

1) O decaimento radioativo de 26Al, U, Th e 40K. A geração de calor diminuiu com o


tempo, porque a abundância de elementos radioativos diminuiu devido ao decaimento
radioativo.
2) Compressão gravitacional da Terra ainda não totalmente compactada. A energia
potencial gravitacional é convertida em calor durante a compactação.

3) Impactos de meteoritos aquecem a superfície do planeta.

A formação de oceanos de magma teve consequências. Uma vez atingida a temperatura de


fusão do ferro, a mistura inicialmente aleatória de partículas de poeira e gases começou a
diferenciar-se de acordo com a densidade dos vários materiais envolvidos. A fusão do ferro,
também conhecido como o "evento de ferro", foi uma importante referência no
desenvolvimento inicial da Terra. Dela resultou a formação do núcleo e a estratificação
composicional e térmica da Terra que é o motor de muitos dos aspetos da dinâmica da Terra
que observamos hoje (tectónica de placas, campo magnético).

Este processo de separação dos matérias de acordo com as suas densidades e afinidades
geoquímicas, chama-se diferenciação geoquímica primária e originou os núcleos de ferro
dos planetas terrestres e permitiu que os materiais de maior densidade (Fe) afundem para o
núcleo, ficando os mais leves (O, Si, Al) na superfície do planeta, envolvidos pelos voláteis.
Da diferenciação geoquímica primária resulta um planeta formado por várias camadas de
composições químicas distintas onde os elementos químicos ocorrem com abundâncias
muito diferentes.

O nascimento e a infância da Terra envolveram uma reorganização interna maciça em


núcleo, manto e proto-crosta, tudo dentro de algumas centenas de milhões de anos após a
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formação do sistema solar. Após a segregação inicial num núcleo central de ferro (+ níquel)
e uma zona mais externa de silicatos, ocorreu uma diferenciação adicional num núcleo
interno interior (sólido) e externo (líquido), devido ao efeito da pressão: o ferro sólido é mais
densamente compactado do que o ferro líquido.

Nem tudo, no entanto, se explica pela densidade. O urânio e o tório são elementos muito
densos e, portanto, esperar-se-ia que eles estivessem enriquecidos no núcleo terrestre. No
entanto eles estão concentrados em crosta e manto. A razão para essa discrepância deve-se
ao tamanho grande e alta carga dos iões e às afinidades químicas de U e Th, que os impedem
de serem incorporados nas estruturas densas que o ferro assume nas altas pressões
encontradas no núcleo da Terra. O U e Th entram muito mais facilmente nas estruturas
cristalinas mais abertas dos silicatos e óxido, concentrados em crosta e manto.

Inicialmente, grandes porções da crosta podem ter sido fundidas e teriam arrefecido para
formar uma camada de crosta basáltica. É provável que a crosta inicial da Terra tenha sido
refundida várias vezes devido a impactos com grandes asteroides. (Os impactos continuaram
a ocorrer até 3,9 Ga). O último grande impacto levou à formação da Lua (cerca de 30 a 100
Ma depois da formação do sistema solar) e levou provavelmente à formação do último
oceano de magma. O núcleo de ferro do Theia terá sido englobado pelo manto, vindo a ser
incorporado no núcleo da Terra. A idade da Lua dada pelos isótopos de Sm-Nd é de 4,456
Ma

Assim que a crosta primordial se tornou fria o suficiente para não ser toda fundida, a
tectónica de placas começou. Inicialmente, como a Terra estava muito mais quente do que
era hoje, mais calor teria subido do manto. Isso criaria inúmeros pontos quentes e riftes,
resultando em muitas pequenas placas e zonas de subducção, bem como movimentos
vigorosos das placas.

A maior parte da crosta continental ter-se-ia formado depois, pois a formação de crusta
continental típica necessita de água. A refusão de crosta basáltica hidratada ao longo de
zonas de subducção teria causado a formação dos primeiros magmas félsicos (ricos em sílica,
K e Na) e os arcos insulares resultantes. Sabe-se, através dos isótopos de oxigénio em zircões
com 4,375 Ga, que já existiria água livre no planeta para provocar meteorização e possibilitar
a formação de magmas graníticos, que originaram crosta continental. Além disso, a fusão da
crosta nos pontos quentes também poderia ter criado magmas félsicos. Logo após o início

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da tectónica de placas os primeiros continentes ter-se-iam formado, provavelmente


produzidos como pequenas massas de terra em colisão.

2.8. Atmosfera e hidrosfera


Quando a Terra se formou por acreção, os gases ficaram aprisionados no seu interior e a sua
proporção deveria ser semelhante à da nébula solar. A primeira atmosfera da Terra seria
essencialmente H e He. Como a Terra teve vários episódios de fusão e houve a formação da
Lua, é de admitir que a maioria desses gases escaparam para o espaço. Neste caso gases da
atmosfera primitiva não serão gases da nébula, contudo há outros autores têm dados que
parecem apontar nesse sentido.

Os gases da atmosfera poderão ter sido adicionados à atmosfera pela desgaseificação


provocada pelos vários episódios de fusão e pelo vulcanismo. Há contudo também a juntar
a contribuição de asteroides.

O vapor de água deveria ser o gás mais abundante na atmosfera primitiva e provavelmente
foi também altamente enriquecida em CO2 (talvez até 100 vezes a quantidade atual). A água
líquida existiria até 230 ºC, devido à elevada pressão de CO2 na atmosfera.

As evidências diretas mais antigas para a presença de águas superficiais são rochas
sedimentares chamadas de banded iron formation (BIF) que estão expostas no sudoeste da
Groenlândia num local chamado Isua. A sua existência requer a presença de água superficial
estável, pelo menos localmente para a deposição química dos sedimentos há cerca de 3,8 Ga.
Contudo os zircões detríticos de Jack Hills, possuem composição isotópica de oxigénio que
indica a presença de água líquida na superfície da Terra desde há 4,3 Ga (Mojzsis et al, 2001;
Nature, 409(6817):178-181.

O jovem Sol tinha apenas 70% da luminosidade que tem hoje, o que causaria condições
glaciais em todo o mundo sob nossa atmosfera atual. O que evitou o gelo eterno foi a
presença do CO2, um gás com efeito de estufa e que permanece como gás mesmo a baixa T.
A sua quantidade na atmosfera foi suficiente para elevar a temperatura e provocar o degelo
ou evitar o gelo total.

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A abundância de CO2 na Terra primitiva deve ter sido muito grande e não foi perdido para
o espaço, foi aprisionado nas rochas carbonatadas. Este processo removeu muito CO2 da
atmosfera. Embora isto enfraquecesse o efeito de estufa a luminosidade do Sol aumentou.

O aparecimento dos organismos fotossintéticos, levou à libertação de O2. As moléculas de


O2 são muito reativas e o primeiro O2 produzido originou óxidos. Com a proliferação da vida
o O2 aumentou e começou a acumular-se na atmosfera entre 2,4 e 2 Ga: grande evento de
oxigenação.

2.9. Composição da Terra


A Terra pode ser subdividida em vários reservatórios, ou porções coerentes, com massa,
composição química e propriedades físicas distintas (Tabela 2.2). São eles a atmosfera, os
oceanos, a crusta, o manto, o núcleo, que existem devido à diferenciação geoquímica, que
opera desde que a Terra se formou. Estes reservatórios têm evoluído ao longo do tempo
geológico e mostram interação entre eles.

Dados de Lodders and Fegley, 1998- The planetary scientist's companion. Oxford University Press.

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A Terra sólida é constituída por O (30,1%), Fe (32,1%), Mg (~13,9%), Si (~15,1%), Al


(1,41%), Ca (1,54), Ni (1,8) e S (2,9), e outros elementos (1,2%) (Fig. 2.13). A maior parte
do Fe está no núcleo, que constitui 32,5% da Terra.

O “manto primitivo” é a composição teórica do total da massa silicatada da Terra. Designa-


se também por bulk silicate Earth, (BSE), ou seja, manto+crusta. Representa a parte sólida
rochosa da Terra menos a massa do núcleo e representando também a composição do manto
antes da sua diferenciação para originar a crusta, ou seja, o manto primitivo.

A BSE possui 6% Fe, 44% O, 23% Mg, 21% Si, 2,5% Ca e 2,4% Al (Fig. 2.13) sendo
constituída em + 99,5 % pelo manto. Admite-se que a BSE teria uma composição
homogénea no início da história da Terra mas tem vindo a diferenciar-se em vários sub-
reservatórios.

Fig. 2.13 – Composição da Terra sólida e da BSE

O manto é constituído pelo manto empobrecido, que é o manto residual depois da extração
da crusta, pelo manto não diferenciado, que possui a composição da BSE e pelos
componentes que já foram reciclados na crusta e que voltaram ao manto, constituindo o
manto enriquecido. A tabela 2.3 dá a composição destes reservatórios.

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Tabela 2.3- Composição dos principais reservatórios da Terra

_________________________________________________________________________

Os condritos CI (meteoritos rochosos carbonáceos) possuem composição semelhante à da


nébula solar (com excepção dos voláteis), Fig. 2.14, sendo considerados os “tijolos” a partir
dos quais s se formou o sistema solar.

Fig. 2.14. Abundância dos elementos na fotosfera solar versus a sua abundância nos condritos carbonáceos.
Retirado de Winter (2007)

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A Terra possui uma assinatura geoquímica semelhante à do sistema solar (comparar figuras
2.1 com 2.15), obtendo-se um diagramas com vários picos quando se projetam as
abundâncias dos elementos em função do seu nº atómico (Fig. 2.15).

Fig. 2.15- Abundancias de elementos químicos na Terra de acordo com Morgan, J. W. e Anders, E. (1980).
"Chemical composition of Earth, Venus, and Mercury". Proceedings of the National Academy of Sciences. 77
(12): 6973–6977. doi:10.1073/pnas.77.12.6973.PMC350422.PMID16592930.

Comparações entre a composição dos vários materiais que constituem a Terra são mais bem
conseguidas eliminando este efeito. Como todos os materiais do sistema solar herdaram essa
assinatura, normalizando (por divisão) para um dado material este efeito desaparece. As
normalizações mais comuns são para condritos-CI ou para “manto primitivo”.

2.10. Composição da crusta


A crusta oceânica e a continental possuem propriedades físicas e composições mineralógicas
e químicas muito distintas (Tabela 2.3), sendo a crusta oceânica enriquecida em Mg, Ca e
Fe e empobrecida em Si em relação à crusta continental. Essa diferença é expressa na
mineralogia e litologia da crusta oceânica. Além disso a estrutura das duas crusta é também
muito distinta.

A crusta oceânica, localizada abaixo do nível do mar, com a estrutura seguinte (Fig. 2.16):

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Fig. 2.16- Estrutura da crusta oceânica. http://www.newgeology.us/presentation44.htm

É uma crusta fina, com ~7-10 km de espessura média, densa (2,9 g/cm3), formada
essencialmente por basaltos, jovem (< 200 Ma) e constitui + 0,2% da BSE. A tabela 2.4
apresenta a estimativa da sua composição. A crusta oceânica inferior é mais rica em Mg, Ca,
Al e mais pobre em Ti, Fe, Na e K do que a crusta oceânica superior representada pelos
MORB.

Tabela 2.4- Composição química (% peso) da crusta oceânica

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Os elementos traço permitem inferior os protólitos dos basaltos oceânicos, sendo possível
distinguir os basaltos MORB, derivados da fusão parcial do manto superior, dos basaltos de
ilhas oceânicas, alcalinos, derivados da fusão parcial do manto mais profundo (Fig. 2.17).

Fig. 2.17- Teores de elementos incompatíveis normalizados para BSE de basaltos MORB e basaltos OIB.
Extraído de White (2013)

A espessura da crusta continental é medida até à Moho, que marca a transição crusta –
manto a cerca de 35-40 km. Mas a passagem pode ser contínua e não descontínua, pelo que
há debate onde começa o manto. A extensão lateral da crusta continental vai até ao talude
continental.

As estimações da composição da crusta continental são feitas a partir de dados obtidos nos
continentes. Cerca 31% da crusta continental está submersa, constituindo a plataforma
continental e com acesso difícil. Isto implica que se a amostragem que se tem da crusta
continental foi feita nos continentes a composição global da crusta continental pode ser
distinta do que se admite. Contudo os dados geofísicos indicam que as propriedades físicas
da plataforma e da crusta continentais são as mesmas, pelo que a amostragem que se faz nos
continentes será também representativa da crusta submersa, que constitui a plataforma. Esta
será um local onde a crusta é mais fina.

A crusta continental é composta por vários tipos de rochas, que dão uma composição média
tipo andesítica, com densidade média de 2,7 g/cm3 e constitui + 0,6% da BSE. Os dados
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sísmicos indicam que há crusta continental superior, intermédia e inferior, sendo estas duas
últimas designadas por crusta profunda. As suas composições são dadas na Tabela 2.5.

Elementos maiores em %; elementos traço em ppm (g/g) com excepção de Ru, Pd, Ag, Re, Os, Ir, Pt que
são dados em ng/g (ppb)

A a crusta continental tem 35-40 km de espessura; crusta superior vai até 12 km, a média vai
até 23 km e aí começa a crusta inferior. Contudo a profundidade e espessura são variáveis
de acordo com o enquadramento tectónico. Em zonas de rift a crusta profunda só atinge 27
km, enquanto nas cadeias orogénicas Cenozóicas vai té aos 51 km ou mais.

A composição média da crusta continental superior é granodiorítica (Tabela 2.4), consiste


de rochas metamórficas supracrustais intruídas por granitos. A crusta intermédia é
constituída por terrenos migmatíticos metamorfisados na fácies anfibolítica/base da

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granulítica. A crusta inferior tem composição média diorítica e é constituída por mistura
heterogénea de rochas ígneas e metamórficas, metamorfizadas na fácies granulítica.
Há várias excepções a este esquema global. Em zonas de rifts a crusta intermédia e inferior
contêm rochas da fácies xistos-verdes e anfibolítica, respetivamente, enquanto em zonas
orogénicas ocorrem rochas das fácies granulítica e eclogítica na crusta intermédia e inferior,
respetivamente.

Na crusta continental há grande heterogeneidade composicional, mas observa-se tendência


para que as rochas mais profundas sejam mais ricas em MgO, FeOT, CaO e mais pobres em
SiO2, Na2O e K2O (Tabela 2.4).

Os teores de elementos incompatíveis são muito distintos na crusta profunda, sendo mais
empobrecida nestes elementos (Fig. 2.18). Na crusta profunda os elementos Ba e Sr são
enriquecidos em relação aos elementos adjacentes, originando-se uma anomalia positiva no
perfil, enquanto na crusta mais superficial há empobrecimento nestes elementos (Fig. 2.18).
Na crusta média e superior o Sm, Nb e Ta mostram anomalia negativa, não observada na
crusta profunda.

Fig. 2.18. Teores de elementos incompatíveis normalizados para BSE da crusta continental superior, média e
inferior. Extraído de White (2013)

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2.11. Tabelas úteis


Composição do planeta Terra e composição do núcleo terrestre

Retirado de: W.F. McDonough, 2003- The compositinal model for Earth´s core. In Rudnick and
Gao (Ed)Treatise on Geochemistry.

Retirado de: W.F. McDonough, 2003- The compositinal model for Earth´s core. In Rudnick and
Gao (Ed)Treatise on Geochemistry. No sublinhado amarelo há um erro- ver tabela
seguinte com cálculos.
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55.85 Fe 32 0.572963 0.149


16 O 29.7 1.85625 0.483
28.1 Si 16.1 0.572954 0.149
24.3 Mg 15.4 0.633745 0.165
58.7 Ni 1.82 0.031005 0.008
40.1 Ca 1.71 0.042643 0.011
27 Al 1.59 0.058889 0.015
32.1 S 0.64 0.019938 0.005
52 Cr 0.47 0.009038 0.002
23 Na 0.18 0.007826 0.002
31 P 0.07 0.002258 0.001
54.9 Mn 0.08 0.001457 0.000
12 C 0.07 0.005833 0.002
1H 0.03 0.03 0.008
total 3.8448 1.000

H. Palme e O´Neil H.St. C. (2003). Cosmochemical estimates of mantle compostion. In In Rudnick


e Gao (Ed)Treatise on Geochemistry.

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Composição do condrito (CI) e do manto primitivo (PM)

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3. Classificação dos elementos


3.1. Classificação dos elementos de Goldschmidt
Goldschmidt classificou os elementos químicos em 4 grandes categorias: atmófilos, litófilos,
calcófilos e siderófilos, de acordo com a sua ocorrência global na Terra (Tabela 3.1, Fig.
3.1).

• Os atmófilos são elementos muito voláteis e formam gases ou líquidos na superfície


da Terra, estando concentrados na atmosfera e hidrosfera (H, N e O).
• Litófilos têm afinidade para fracionar nas fases silicato e estão concentrados na porção
silicatada da Terra (crusta e manto).
• Os siderófilos têm afinidade para fracionar na fase de ferro metálico e estarão
concentrados no núcleo da Terra.
• Os calcófilos têm afinidade para fracionar na fase sulfureto, estão empobrecidos na
fase silicatada e poderão estar enriquecidos no núcleo ou não.

Apesar de algumas exceções (por ex.: muitos depósitos metálicos originaram-se da fase
fluida aquosa e não da fase sulfureto; um elemento calcófilo não está necessariamente
concentrado em depósitos metálicos, mas a maioria está; muitos siderófilos são calcófilos e
vice-versa) esta classificação continua a ser uma referência em Geoquímica.

Tabela 3.1- Classificação de Goldschmidt dos elementos


Siderófilos Calcófilos Litófilos Atmófilos

Fe*, Co*, Ni* Cu, Ag (Au) Li, Na, K, Rb, Cs H, N, (O) (C)

Ru, Rh, Pd Zn, Cd, Hg Be, Mg, Ca, Sr, Ba (Pb) (F), (Cl), (Br) (I)

Os, Ir, Pt Ga, In, Tl, B, Al, Sc, Y, REE He, Ne, Ar, Kr, Xe

Au, Re†, Mo† (Ge), (Sn), Pb Si, Ti, Zr, Hf, Th

Ge*, Sn*, W‡ (As), (Sb), Bi P, V, Nb, Ta

C‡, P‡, Cu*, Ga* S, Se, Te O, Cr, U

Ge*, As†, Sb† (Fe), Mo, (Os) H, F, Cl, Br, I

(Ru), (Rh), (Pd) (Fe), Mn, (Zn), (Ga)

* calcófilos e litófilos na crusta terrestre

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† calcófilos na crusta terrestre ‡ litófilos na crusta terrestre

Fig. 3.1- Classificação dos elementos de Goldschmidt (modificado de Winter, 2013)

Os elementos litófilos ocorrem nos extremos da Tabela Periódica, nos grupos 1 a 5, 17, são
os elementos leves do grupo 13 (B e Al) e o silício do grupo 14, também é litófilo. Os
siderófilos estão nos grupos 8, 9 e 10 (e seus vizinhos). Os calcófilos estão nos grupos 11,
12 e são os elementos pesados dos grupos 13 a 16. Os gases nobres, o oxigénio, o nitrogénio
e o hidrogénio são atmófilos.

Os elementos litófilos têm eletronegatividades muito baixas ou muito altas e tendem a formar
ligações iónicas (embora a ligação Si—O seja 50% iónica). Os elementos siderófilos e
calcófilos têm eletronegatividades intermédias e tendem a formar ligações covalentes.

Os metais que constituem os minerais silicatados, ligados ao Si e O, pertencem aos grupos


1, 2 e 13 da Tabela. São os elementos maiores e são Al, Mg, Ca, Na e K (pode ser elemento
menor). O Fe não pertence a estes grupos da Tabela, pertencendo ao grupo 8, mas ocorre nos
minerais devido à sua grande abundância, sendo também um elemento maior e o Mn, com
propriedades químicas muito semelhante ao ferro, é um elemento menor assim como o Ti,

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do grupo 4. Outros metais ocorrem em substituição destes e são designados por elementos
traço.

3.2. A Tabela Periódica da Geoquímica


A classificação do Goldschmidt é relevante para explicar a distribuição dos elementos
químicos nos meteoritos e nos principais reservatórios da Terra. Contudo, como na parte
externa da Terra há uma grande abundância de oxigénio, não se formam metais nativos e os
elementos siderófilos não têm o comportamento que distingue um elemento siderófilo. Do
mesmo modo a escassez de S não permite a formação de sulfuretos. Como tal, elementos
siderófilos como o Ni e calcófilos como o Pb ocorrem geralmente em silicatos na crusta e
manto. Os elementos químicos podem ser classificados em função do seu comportamento
na porção silicatada da Terra (Fig. 3.2), que é o aspeto que mais interessa à Geoquímica.

Fig. 3.2- Classificação geoquímica dos elementos (White, 2013)

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3.3. Características dos grupos

3.3.1.Voláteis

Grupo 18 da TP – hidrogénio (H), hélio (He), néon (Ne), árgon (Ar),

crípton (Kr) , xénon (Xe) (atmófilos de Goldschmidt) + nitrogénio (N)

Os agses raros são quimicamente inertes e voláteis; não formam ligações nas rochas e
minerais. Com excepção do He têm grandes raios atómicos e não são acomodados nas
malhas cristalinas, logo ocorrem em concentrações muito baixas na litosfera, da ordem
de 10-1 a 10-9 ppm em condições PT normais.

A sua solubilidade em magmas silicatados é função de P, do raio iónico e composição do


magma. Quanto maior P maior a sua solubilidade; quanto maior o raio, menor a sua
solubilidade e quanto maior a acidez maior a solubilidade. Embora não formem ligações
químicas podem ser adsorvidos às superfícies dos minerais por ligações van der Waals.

Nos minerais silicatados o nitrogénio está presente como amónia (NH3) e não como N2.
Deste modo substitui facilmente K+. Amónia é muito solúvel em fluidos aquosos e pode
ser facilmente transportada por eles. Amónia e N2, são voláteis, pelo que ambos fracionam
para a fase volátil dos magmas.

A forte ligação tripla N=N faz com que o nitrogénio N2 seja não reactivo pelo que é
fortemente fraccionado para a atmosfera, assim como os gases nobres. Contudo pode
formar ligações covalentes fortes com outros elementos.

Em solução aquosa o nitrogénio está presente como N2, como ião amónio (NH4+), nitrato
(NO3-), nitrito (NO2-) e são produzidos pelo decaimento de compostos orgânicos de
nitrogénio.

3.3.2. Semi-Voláteis

Carbono (C), cloro (Cl), flúor (F), bromo (Br), iodo (I), arsénio (As), antimónio (Sb),
enxofre (S), selénio (Se), telúrio (Te).

O F, Cl e Br fracionam para a fase líquida e gasosa dos magmas ou formam compostos


que são voláteis (SO2, CO2). A fraccionação do S entre a fase líquida e gasosa dos
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magmas depende de fO2. Se fO2 for alta S está presente como SO2, se for baixa S está
presente como sulfureto. A solubilidade do sulfureto em magmas é muito baixa,
ocorrendo exsolvência. Estes líquidos ricos em S, são ricos em Fe e Ni e outros calcófilos
e são a fonte de depósitos metálicos. Grandes volumes de magmas ricos em S são raros,
mas gotas microscópicas ocorrem em MORB.
A solubilidade do CO2 em magmas silicatados é pequena e é fortemente condicionada
pela pressão. A baixas concentrações de CO2, este exsolve dos magmas e forma uma fase
vapor CO2-H2O. Mas a altas concentrações e altas razões CO2/H2O formam-se magmas
carbonatíticos onde a fase dominante é CaCO3.

Os outros elementos semi-voláteis (As, Sb, Se e Te) ocorrem sempre em quantidades


traço e nunca saturam em magmas, pelo que nunca exsolvem como fase gasosa
independente, mas ficam na fase gasosa formada pela exsolvência de CO2 e H2O.

3.3.3. Os elementos alcalinos e alcalino terrosos

Lítio (Li), berílio (Be), potássio (K), rubídio (Rb), estrôncio (Sr), césio(Cs), bário(Ba).

Formam ligações iónicas (com exceção do Be que forma ligações covalentes), são
solúveis em água e muito móveis no metamorfismo e meteorização. Potássio, Rb, Cs, Sr,
Ba são designados por grandes iões litófilos (LIL). O seu comportamento nos magmas é
governado pela carga do ião, que é baixa, e pelo raio iónico, que é grande.

Os principais minerais do basalto e do peridotito (olivinas e piroxenas) possuem 2 tipos


de sites catiónicos na sua malha: pequenos, tetraédricos, ocupados por Si4+ e Al3+ (com
Fe3+ e Ti4+ em menor grau) e grandes sites, octaédricos, ocupados por Ca2+, Mg2+, Fe2+ e
mais raro por Na+.

O raio iónico dos catiões K, Rb, Cs, Sr, e Ba é superior ao do site octaédrico, pelo que
eles são excluídos da malha destes minerais na cristalização e fraccionam para a fase
líquida ou fundido (magma). São elementos designados de elementos incompatíveis -
fraccionam para o fundido quando o manto sofre fusão. Os elementos compatíveis
entram ou permanecem na fase sólida (ex. Ni, V). Ao longo da história geológica a fusão
parcial do manto fez enriquecer a crusta em elementos incompatíveis.

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O Be tem um raio muito pequeno e a sua substituição também não é favorecida pelo que
também é incompatível de modo moderado. O Li tem raio iónico semelhante ao do Mg e
Fe2+, mas a sua pequena carga requer uma substituição dupla, o que também é
energeticamente desfavorável, logo também é elemento incompatível de modo moderado.

3.3.4. Elementos terras raras (REE) e actinídeos (U, Th)

Em Geoquímica é comum chamar elementos terras raras (ETR) ou REE (em inglês) aos
lantanídeos a que se junta o Y, que tem carga e raio iónico semelhantes às REE pesadas,
por isso possui características químicas semelhantes e costuma juntar-se às REE.
Costuma considerar-se as REE leves (La, Ce, Nd), de acrónimo LREE, as REE pesadas
(Er-Lu) com acrónimo HREE. A separação é feita pelo európio (Eu) e há autores que
consideram as terras raras intermédias (Sm, Gd, Tb).

Estes elementos formam ligações iónicas. Os lantanídeos têm valência 3+ num grande
leque de fO2. Mas nas altas fO2 da superfície terrestre o Ce pode estar em parte como Ce4+.
O Eu pode estar na valência 2+ no interior da Terra, onde fO2 é baixa.

No período 6 da Tabela Periódica, depois das camadas 6s serem preenchidas são


preenchidas as camadas 4f, pelo que a configuração dos eletrões de valência é semelhante
em todas as REE, que logo têm comportamento químico semelhante. O raio iónico, que
decresce de La ao Lu (contração lantanídea), é a característica que governa o
comportamento relativo deste grupo de elementos.

Devido à sua alta carga e alto potencial iónico as REE são elementos incompatíveis, mas
o grau de incompatibilidade é variável. As HREE substituem Al3+ na granada, pelo que
podem ficar concentradas neste mineral. O Eu2+ pode substituir facilmente o Ca2+ na
plagioclase, pelo que este mineral é enriquecido em Eu de modo anómalo e os outros
minerais presentes ficam empobrecidos em Eu. As LREE são fortemente incompatíveis.

Dos actinóides, apenas o urânio (U) e tório (Th) têm núcleos estáveis para sobreviver na
história geológica. O tório tem valência 4+. O U pode ser 4+ (baixa fO2 ) ou 6+ (alta fO2).
São na maioria insolúveis devido à sua alta carga e alto potencial iónico, sendo a exceção
o U6+, que forma compostos muito solúveis. São fortemente incompatíveis.

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3.3.5. Elementos de alta intensidade de campo (HFSE)

Zircónio (Zr), háfnio (Hf), nióbio (Nb), tântalo (Ta), por vezes também titânio (Ti),
urânio (U), tório(Th).

São assim chamados pela sua elevada carga iónica e pequeno raio (Fig. 3.3). Zircónio e
háfnio têm carga 4+, tântalo e nióbio têm 5+. Tântalo e Nb fazem ligações com alto grau
de covalência. Embora o seu raio permita a substituição na malha dos minerais, a sua alta
carga exige substituições múltiplas, que são energeticamente instáveis e por isso são
incompatíveis. Urânio e tório, que são actinídeos, são por vezes incluídos neste grupo, se
bem que o seu raio iónico não seja pequeno.

Háfnio e Zr são moderadamente incompatíveis, Nb e Ta são muito incompatíveis. São


insolúveis pelo que são imóveis durante a meteorização e metamorfismo, com exceção
do UVI. São assim valiosos no estudo de séries de rochas ígneas antigas pois podem dar
indícios do ambiente onde se formaram, mesmo que a meteorização ou o metamorfismo
de baixo grau tenha afetado as rochas.

Nióbio e Ta mostram concentrações muito baixas em magmas de arco; de facto isto é


considerado diagnóstico de vulcanismo relacionado com subducção. Pensa-se que este
empobrecimento talvez seja consequência da sua baixa solubilidade e a consequente falha
dos fluidos aquosos, gerados pela desidratação, para os transportar para a zona de geração
de magmas.

Fig. 3.3- Raio iónico versus carga iónica para elementos incompatíveis em magmas máficos. Elementos
com Z/r >2 são classificados como elementos de alta intensidade de campo.

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3.3.6. Metais da 1ª série de transição

Escândio (Sc), vanádio (V), crómio (Cr), manganês (Mn), cobalto (Co), níquel (Ni),
cobre (Cu), cinco (Zn).

Estes elementos localizam-se na parte central do período 4 da TP e correspondem ao


preenchimento das orbitais d. Possuem química complexa pois possuem 2 ou mais
estados de valência e têm eletronegatividade maior do que os metais alcalinos e alcalino-
terrosos, pelo que as ligações covalentes têm papel importante no seu comportamento
geoquímico. A sua ligação com o oxigénio nos óxidos e com o silício nos silicatos é
predominantemente iónica, mas com outros não metais, tais como o S, pode ser
largamente covalente.

A sua solubilidade em água é menor do que a dos metais alcalinos e alcalino-terrosos,


mas é muito variável, e o seu comportamento em magmas é também variável. Vão de
moderadamente incompatíveis (titânio, cobre, zinco) a muito compatíveis (crómio,
níquel, cobalto). Com exceção do manganês, que é litófilo, são também siderófilos e/ou
calcófilos.

3.3.7. Os metais nobres

Os elementos do grupo da platina ou platinoides – ródio (Rh), ruténio (Ru),

paládio (Pd), ósmio (Os), irídio (Ir) e platina (Pt) mais o ouro (Au).

São metais nobres, pois são raros, não reativos e estáveis na forma metálica. A sua
raridade é consequência do seu carácter siderófilo, mas são também calcófilos (Au é o
menos calcófilo). Estes elementos são também elementos de transição e podem existir
com várias valências de 0 a 8+ , com química complexa.

A sua concentração na Terra silicatada é apenas 1% da sua concentração nos condritos.


Talvez a maior parte esteja no núcleo terrestre. Considerando as associações nos
depósitos minerais, os platinóides (PGE) podem ser divididos em dois grupos:

a- o grupo do irídio (irídio, ósmio, ruténio) – estes elementos aparecem associados


a cromites em rochas ultramáficas, como ligas nativas metálicas ou como
sulfuretos.

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b- o grupo do paládio (ródio, paládio e platina) – estes elementos aparecem associado


a sulfuretos magmáticos de Fe, Ni e Cu, em gabros.

No manto podem estar sulfuretos intergranulares, grãos de metais nativos (ex. osmirídio).
Platina, Au e Pd são incompatíveis, Rh, Ru, Os e Ir são compatíveis.

3.3.8. Outros elementos

Boro (B) –Na natureza forma o ião borato BO33-, solúvel, sendo um ião maior na água do
mar. O B é facilmente lixiviado ou adicionado às rochas na meteorização e
metamorfismo. Nos sistemas ígneos é moderadamente incompatível. Boro é facilmente
removido da crusta oceânica e dos sedimentos na subducção, pelos fluidos libertados na
desidratação e vai enriquecer os magmas relacionados com a subducção, sendo a
turmalina um mineral frequente em magmas do tipo S, formados neste ambiente.

Rénio (Re) – Este elemento tem interesse em geoquímica isotópica, pois decai para ósmio
(187Re➔ 187
Os). É adjacente aos PGE e possui algumas das suas características, sendo
altamente refratário em condições redutoras, é fortemente siderófilo e calcófilo, tem
vários estados possíveis de valência, é resistente à oxidação e forma óxido
moderadamente volátil. Concentra-se me rochas ultramáficas e máficas. É adsorvido em
condições redutoras, o que leva à sua concentração em materiais ricos em matéria
orgânica, como shales e filitos negros e carvões.

Chumbo (Pb) – Este elemento interesse na geoquímica isotópica, pois é produto do


decaimento do 235U, 238U e 232Th, tem importância económica e ambiental. Pb é calcófilo,
relativamente volátil. A sua solubilidade é baixa na maioria das condições, mas forma
complexos fortes com o Cl e pode ser facilmente transportado em soluções metamórficas
e hidrotermais. Nos sistemas ígneos é moderadamente incompatível.

Fósforo (P) - A concentração do P pode ser alta em algumas rochas, constituindo um


elemento maior. Com valência de +5 e sendo moderadamente eletropositivo ocorre na
superfície da Terra e na hidrosfera sob a forma de oxi-anião PO43- e é relativamente
móvel. É moderadamente incompatível nas rochas máficas e ultramáficas ígneas.

Os elementos do decaimento do U e Th não possuem núcleos estáveis. Existem na Terra


pois são continuamente criados pelo decaimento do U e Th e têm interesse na Geoquímica

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pela sua radioatividade. Podem ser usados na geocronologia. Como elementos radioativos
geram riscos ambientais e têm interesse devido a este aspeto (por. Ex. radão)

Radão (Rn) é o que causa maior preocupação, pois é um gás nobre, muito móvel e
radioactivo.

Gálio (Ga) e germânio (Ge) podem substituir o Al e o Si respetivamente. São ambos


moderadamente incompatíveis. A sua concentração nos silicatos é, contudo, baixa devido
ao seu carácter siderófilo. A razão Ga/Al é usada para distinguir os granitos do tipo A,
que a possuem maior do que os outros tipos de granitos.

Molibdénio (Mo) é calcófilo e ocorre sob a forma de molibdenite. Em soluções oxidantes


o Mo forma oxi-anião muito solúvel, MoO42- pelo que a sua concentração na água do mar
é alta. Este metal é importante para a indústria.

Tungsténio (W) - parece ser altamente incompatível e o seu comportamento é semelhante


ao do Ba. Metal importante para a fabricação de ligas metálicas.

Estanho (Sn) e antimónio (Sb) são moderadamente incompatíveis. São móveis e o Sn


forma espécies solúveis. São ambos elementos tóxicos e importantes na fabricação de
ligas metálicas.

3.4. Substituição dos elementos traço


3.4.1. Definição de elemento traço

Um elemento traço é um elemento que não é constituinte estequiométrico das fases do


sistema de interesse, ou seja, não é constituinte estequiométrico dos minerais constituintes
das rochas. Por ex. o K nunca forma um mineral nos MORB, a sua concentração
raramente excede 1500 ppm. Nos basaltos MORB o K é um elemento traço, mas nas
rochas graníticas há várias fases que contêm K (micas, microclina, plagioclase) e nestas
rochas o K é um elemento maior.

Para a maioria das rochas silicatadas O, Si, Al, Na, Mg, Ca, e Fe são elementos maiores,
mas a que se pode juntar o K, H, C, S, P, Ti, Cr, e Mn em certas rochas. Estes são
chamados por vezes de elementos menores e podem ser constituintes estequiométricos de

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fases. Todos os outros são elementos traço, com excepção de alguns a ocorrerem em
pegmatitos e depósitos minerais, por exemplo o Li em pegmatitos litiníferos.

Na água o Cl-, SO42-, CO32-, HCO3-, Mg2+, Ca2+, K+ e Na+ são considerados elementos
maiores, se bem que Sr2+, HBO32- e Br- também sejam por vezes considerados maiores
na água do mar. Incluem 99,99% do total de sólidos dissolvidos. Na atmosfera o CO2,
SO2, O3, CO, NO, NO2, NO3, etc. são gases traço.

Os elementos traço nas rochas, minerais e águas não afetam as características físicas e
químicas do sistema como um todo. Contudo podem determinar a cor de um mineral. Na
atmosfera os gases traço afetam as características físicas e químicas do sistema
(atmosfera). O CO2 apenas com +/- 400 ppm na atmosfera afeta a transparência da
radiação infravermelha e como resultado, afeta o clima da Terra. O ozono a baixas
concentrações na estratosfera controla a transparência da atmosfera à radiação ultravioleta
e como resultado afeta a proteção conferida por esta à vida.

Como os elementos traço ocorrem em concentrações muito baixas podem ser


considerados como componentes de soluções ideais.

3.4.2. Importância dos elementos traço

Os elementos traço fornecem muita mais informação do que os elementos maiores e o


seu contributo tem sido enorme para se conhecer a evolução da crusta, do manto e do
núcleo da Terra.

• As variações nas suas concentrações são muito grandes, quando comparadas com
as variações dos elementos maiores.
• Em qualquer sistema há mais elementos traço do que elementos maiores
• Cada elemento tem propriedades químicas únicas.
• Contêm informação química não disponível nos elementos maiores.
• Os tipos de comportamento são vários e são sensíveis a processos aos quais os
elementos maiores são insensíveis.
• O seu comportamento é sempre mais simples do que o dos elementos maiores,
pois comportam-se como componentes de soluções ideais

Como exemplos da sua importância: a) a pressão onde ocorre fusão parcial no manto é
calculada a partir dos teores de elementos traço. Quando o manto funde os magmas
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possuem composição (expressa em termos de elementos maiores), que é apenas


levemente dependente da pressão➔ produz-se sempre basalto. Mas certos elementos
traço são muito sensíveis à P de fusão. Por exemplo os MORBs, que são magmas gerados
a baixa P são mais ricos em Zr e Hf em relação a Th-Nb e Th-Ta, do que OIBs, gerados
a mais alta P.

b) Numa escala larga a composição do manto parece ser uniforme; só os elementos traço
permitiram mostrar que o manto é heterogéneo. Quando combinados com isótopos
indicam as assinaturas dos diferentes reservatórios terrestres.

c) Sabemos que grande parte do manto superior sofreu tem sofrido fusão parcial e estes
magmas parciais têm criado a crusta continental ao longo do tempo.

d) As abundâncias de elementos traço gasosos no manto e a sua composição isotópica


mostram que a Terra sólida sofreu desgaseificação extensiva nas primeiras centenas de
milhões de anos da sua história.

e) A abundância de alguns siderófilos no manto dá razões para acreditar que a segregação


do núcleo de Fe-Ni deve ter ficado quase completa antes da Terra ter sido totalmente
acrecionada da nébula solar.

f) Magmas de ambientes tectónicos específicos possuem elementos traço característicos,


o que permite fazer as reconstituições de paleo enquadramentos tectónicos.

g) Fornecem pistas sobre a origem dos depósitos de sulfuretos.

h) As concentrações de Sr nos corais fornecem medidas da temperatura dos oceanos.

3.4.3. Regras de substituição de Goldschmidt


Os elementos traço ocorrem em substituição dos elementos maiores, formadores das
malhas cristalinas. Essa substituição obedece a regras que foram estabelecidas por
Goldschmidt.

1- Os iões de um elemento podem substituir extensivamente os de outro nos cristais


se os seus raios diferirem <15%. Por ex:

Rb+➔K+ Ca2+➔ Sr2+

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2- A substituição é fácil se os iões tiveram a mesma carga. Se a diferença de carga


for um, a substituição acontece mas a neutralidade elétrica tem de ser mantida.
Por ex.:plagioclases a substituição Na+➔Ca2+ é compensada pela Si4+➔Al3+

Se a diferença de carga > 1 a substituição é pouco extensa.

3- Quando dois iões possam ocupar o mesmo site cristalino (posição na estrutura
cristalina), o ião com maior potencial iónico (maior carga e menor raio) forma
ligações mais fortes com os iões vizinhos.

4- A substituição pode ser limitada se as ligações forem e tipos diferentes

A importância destas leis reside nas previsões que permitem sobre as substituições entre
elementos nas rochas. As regras descritas acima podem ser expressas de outro modo:

• Se dois iões têm o mesmo raio e a mesma carga entram numa malha cristalina
com igual facilidade.
• Se dois iões tiverem raio semelhante e a mesma carga o ião mais pequeno entra
mais facilmente na malha cristalina
• Se dois iões tiverem raio semelhante, aquele que tiver carga mais alta entra mais
depressa na malha cristalina
• Quanto mais forte a ligação mais provável a substituição.

Estas são as regras de Goldschmidt para as substituições. Ringwood adicionou outra


regra: sempre que uma substituição seja possível entre 2 elementos com
electronegatividades muito distintas (Δ> 0,1) aquele com electronegatividade mais baixa
será preferencialmente incorporado. Esta regra explica porque razão o Na+ e o Cu+ não
se substituem na malha dos minerais.

3.4.4. Regularidades na distribuição dos elementos traço em rochas


ígneas
• Catiões com grandes raios e baixa carga substituem K. São os grandes iões
litófilos LIL. A sua abundância dá indicação da diferenciação.
• As REE são incompatíveis e substituem o Ca.

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• Catiões de raio pequeno e alta carga são concentrados nos magmas félsicos por
dificuldades de substituição - HFSE. São elementos incompatíveis. Com excepção
do zircónio (Zr) não formam minerais silicatos próprios. O Zr forma zircão.
• elementos dos grupos de transição substituem Mg e Fe. O crómio, Ni e Co
substituem Mg nas rochas ultramáficas. Manganês, V e Ti têm abundância
máxima em rochas máficas.
• os elementos calcófilos podem substituir K, Fe e Ca mas a maioria são deixados
nos líquidos residuais - formam os depósitos de sulfuretos.
• alguns elementos são tão semelhantes a elementos formadores de minerais que
não se diferenciam e não formam minerais próprios. Ex, Ga, Rb, Hf, Cd.

3.4.5. Tipos de substituição dos elementos traço

Há três tipos de substituição dos elementos traço

1- Camuflagem - ocorre quando um elemento traço tem a mesma carga e o mesmo


raio iónico que o elemento maior. Ex Zr4+ (0,80 Å); Hf4+ (0,79 Å). O háfnio não
forma minerais, mas aparece camuflado na malha do zircão em substituição do
zircónio (ZrSiO4).

2- Captura – o elemento traço entra no cristal preferencialmente ao elemento maior


porque tem maior potencial iónico (Z/r ou carga/raio iónico). Ex. O feldspato
potássico no início da cristalização captura Ba2+ (1,44 Å; Z/r = 1,39) em vez do
K+ (1,46 Å, Z/r = 0,68). Esta substituição requer outra para balanço de carga-

K+ + Si4+ ➔ Ba2+ + Al3+

3- Admissão – pode entrar na malha um elemento traço com potencial iónico menor
do que o do elemento maior, mas o elemento maior é preferido primeiro. Ex. Rb+
(1,57 Å; Z/r = 0,637) substitui o K+ (1,46 Å, Z/r = 0,68) no feldspato potássico.

3.5. Coeficientes de partição ou de distribuição


As regras de Goldschimdt e de Ringwood não são suficientes para explicar qual o
elemento químico que entra preferencialmente numa malha cristalina durante a
cristalização magmática. Há grande quantidade de fatores a ter em conta o que leva a uma
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série de hipóteses sobre raios iónicos, ligações, tipo de sites cristalinos etc. O coeficiente
de partição, ou de distribuição, toma em conta todos estes parâmetros globalmente.

O estado de um sistema, ou seja, suas propriedades físicas, é predominantemente


controlado pela composição química do sistema, expressa pelos elementos maiores. São
estes que ditam, em grande parte, quais fases minerais se formam numa rocha, quais
espécies químicas estão presentes em um líquido, etc. A densidade, viscosidade e
temperatura de fusão de uma rocha, ou a densidade, ponto de congelamento e ponto de
ebulição de um líquido são controlados, em última instância, pela composição dos
elementos maiores presentes. A qualquer temperatura ou pressão dada, o estado de um
sistema é essencialmente definido termodinamicamente por sua composição química.

Os elementos traço estão presentes em pequenas quantidades e exercem pouco ou nenhum


controle sobre o estado de um sistema. Raramente formam fases minerais e em sistemas
aquosos, não são as espécies principais. A sua distribuição dentro de um sistema é
controlada pela forma como ele é fracionado nas várias fases do sistema. O fracionamento
entre várias fases (por exemplo, fases mineral e fundido ou entre dois minerais) ocorre de
maneira previsível e, por esta razão, podem ser usados como "traçadores" passivos para
estudar como a massa é redistribuída dentro ou entre os sistemas.

O coeficiente de partição relaciona a concentração entre duas fases. É medido com


facilidade, tanto experimentalmente como por observação. Experimentalmente as duas
fases são equilibradas a P, T de interesse e a concentração do elemento i é medida em
ambas as fases. Por observação a concentração do elemento i é medida em duas fases
naturais que se sabe ou admite estarem em equilíbrio. Por exemplo: Uma lava que tenha
fenocristais de plagioclase (sólido) com 500 ppm de Sr e na qual a concentração de Sr na
matriz vítrea (admitida como representando o líquido) seja de 100 ppm o KdSr s/l = 500/
100 = 5. Também se usa D para representar Kd.

O que está sempre implícito na definição e determinação do coeficiente de partição é o


equilíbrio químico. O coeficiente de partição e a constante de equilíbrio são muitas vezes
usados como sinónimos, mas efeitos cinéticos podem levar a coeficientes aparentes.

Elementos incompatíveis possuem D << 1. Compatíveis possuem D> 1. O coeficiente de


partição de um dado elemento varia muito entre as fases presentes e pode ser <,1 para

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umas e >,1 para outras. Logo os termos compatível e incompatível só têm significado
quando se especificam as fases.

A expressão do coeficiente de partição de um elemento i por duas fases  e  é

Di = ci  ci

Por convenção se uma fase é líquida a razão de concentração é escrita sólido sobre
líquido. Di s/l = Cis / Cil

E se a fase for gás (g) a convenção é Di l/g = Cil / Cig

A geoquímica de elementos traço assume que estes estão presentes num mineral por
substituição, formando soluções sólidas muito diluídas. Como possuem concentrações
muito baixas assume-se que constituem soluções ideais, ou seja, a sua concentração iguala
a sua atividade → ai=Xi onde ai é atividade e Xi é concentração.

O coeficiente de partição total de um elemento numa rocha é calculado é pela expressão

Di= x1 D1 + x2 D2 + xn Dn

Onde x1-n são as proporções dos diferentes minerais e D1-n são os coeficientes de
distribuição dos diferentes minerais.

Ex. uma rocha formada por 50% de olivina, 30% enstatite e 20% de augite o coeficiente
de partição global para o elemento i na rocha será

Kd= 0,5x Di(olivina) + 0,3x Di (enstatite) + 0,2 xKi (augite).

Outro modo de formular o coeficiente de partição é pelo coeficiente duplo.

Ex. Ni a substituir Mg na olivina

D= Ni/Mg (olivina)/Ni/Mg (magma)

Num sistema com 3 fases,   e  se  e  estiverem em equilíbrio e  e  estiverem em

equilíbrio então  e  também estarão em equilíbrio. Daqui se segue que

D = D / D 

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Esta regra tem uso prático- podemos determinar D entre piroxena e magma e entre

granada e piroxena e depois calcular o D granada-magma.

Normalmente os termos incompatível e compatível referem-se à partição entre magmas


silicatados e minerais comuns em rochas máficas e ultramáficas (basaltos e peridotitos).
É esta associação de fases que dita se os elementos traço litófilos, que são incompatíveis
estão concentrados na crusta, logo daí o significado destes termos.

Os coeficientes de partição dependem da composição das fases pois dependem da


concentração dos elementos maiores. Por ex. elementos que são incompatíveis em
sistemas máficos muitas vezes têm coeficientes >1 em sistemas ácidos. Este
comportamento é exemplificado pelo zircónio. Em líquidos basálticos o zircão só
precipita quando a concentração de Zr no líquido atinja 10000 ppm (1%) ou mais. Nestes
magmas o Zr é um elemento incompatível, pois tem tendência a permanecer no líquido.
Em líquidos graníticos o zircão precipita com teores de Zr no líquido de 100 ppm, sendo
compatível, pois mesmo com baixos teores o Zr é incorporado na fase sólida, que é o
zircão.

Os coeficientes de partição variam com T, P, fO2, H2O do magma, química do cristal, mas
o fator mais importante é a composição do sistema. Têm sido medidos para vários
minerais para líquidos basálticos/basálticos - andesíticos, andesíticos e dacíticos/riolíticos
e existem publicados vários valores de coeficientes de partição para várias fases minerais
em magmas basálticos, andesíticos e riolíticos (Rollinson, 1993) (Fig. 3.8). O site
https://earthref.org/GERM/ possui uma listagem dos coeficientes de partição em rochas.

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Fig. 3.8- Extrato das tabelas dos coeficientes de partição mineral/magma, apresentadas em: Rollison, H.R
(1993). Using geochemical data: evaluation, Presentation, Interpretation. Longman Group. 352 pp.

3.6. Aplicações dos valores de D


Para determinar qual elemento i ou j que entra na fase mineral  em equilíbrio com a fase
 basta comparar os coeficientes de partição, o que tiver mais alto coeficiente entra
preferencialmente na fase .

3.6.1. Na geoquímica de REE


As REE são muitas vezes conservativas o que quer dizer que as distribuições de REE em
minerais que formam os sedimentos são representativas da rocha-mãe, com algumas
ressalvas. Veremos como mudam as REE em função da meteorização do granito. A tabela
dá as REE do granito e de minerais deste, de solos e sedimentos de rio e também os
valores de condrito.

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Calcular o D aparente para cada mineral em que DLapla/gra= CLapla/CLagra. Considerar que o
granito representa o líquido/magma. Calcular os D aparentes, considerando o granito
como a fase primária.

Teores de REE em várias fases


Z condritogranito plagi. ort apa mus bio solo sed águ poro águ rio
57 La 0,34 16,3 7,74 3,97 103,28 3,15 60,72 17,63 16,4 0,1884 0,021
58 Ce 0,91 37,51 17,19 8,94 298,05 7,93 147,08 38,27 38,9 0,1145 0,034
59 Pr 0,121 4,66 2,03 1,01 51,21 0,95 17,73 4,35 4,8 0,0128 0,0072
60 Nd 0,64 17,28 7,4 3,71 276,8 3,49 66,22 15,4 20,5 0,058 0,041
62 Sm 0,195 4,14 1,58 0,83 132,83 0,89 14,05 2,72 5,5 0,0176 0,017
63 Eu 0,073 0,35 0,33 0,48 9,99 0,04 0,24 0,25 0,9 0,0039 0,0031
64 Gd 0,26 3,09 1,03 0,59 109,1 0,66 9,8 1,54 6,2 0,0198 0,02
65 Tb 0,047 0,49 0,14 0,08 16,8 0,11 1,36 0,18 1 0,0036 0,0038
66 Dy 0,3 2,45 0,64 0,33 71,36 0,56 5,9 0,76 5,2 0,019 0,022
67 Ho 0,078 0,37 0,1 0,05 9,37 0,09 0,86 0,13 0,88 0,0032 0,0041
68 Er 0,2 0,82 0,23 0,11 16,93 0,18 1,89 0,31 2,3 0,0087 0,012
69 Tm 0,032 0,12 0,03 0,01 2,33 0,03 0,26 0,05 0,3 0,0017 0,002
70 Yb 0,22 0,69 0,2 0,09 11,87 0,15 1,37 0,27 1,86 0,0109 0,013
71 Lu 0,034 0,09 0,03 0,01 1,45 0,02 0,19 0,04 0,27 0,0013 0,002

Teores de REE normalizados para condrito

Valores de D aparentes

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As REE entram preferencialmente na apatite e biotite (fases sólidas) durante a


cristalização do granito (fase líquida), com exceção do Eu, que se comporta como
incompatível na cristalização da biotite, possuindo um D aparente de 0,686. As REE
entram preferencialmente no sedimento derivado do granito, especialmente as HREE.
Apenas o La e Ce entram preferencialmente no solo derivado do granito, sendo as outras
REE imóveis durante a formação do solo, permanecendo no granito.

Fig. 3.9. Perfis de REE normalizados para condrito

3.6.2. Cálculo da % de F de um magma


Icenhower e London (1997) propuseram uma fórmula que permite calcular a %F de um
magma usando a composição da biotite cristalizada desse magma. O coeficiente de
partição do flúor entre a biotite e o magma D = % Fbiotite / % Fmagma
Segundo estes autores o coeficiente D = 0.1008 x Mg*-1.08, equação determinada
experimentalmente onde Mg* = [Mg / (Mg + Fe2+ + Mn) ] x 100

3.6.3. Geotermómetros e geobarómetros


D (KD) depende de T e de P, mas a dependência de T é muito mais importante, pois a
substituição isomórfica não provoca grandes variações de volume; pelo contrário lnD
varia linearmente com 1/T. Há vários geotermómetros e geobarómetros que fazem uso
dos coeficientes de partição.

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3.6.4. Temperaturas de saturação da apatite e do zircão.


Determinadas por Watson e Harrison, 1983 e Harrison e Watson, 1984- Earth plane. Scin
Letter, 64, 295-304 e Geochi e Cosmoch acta, 48, 1467-1477.
As T dependem dos teores de P e Zr do magma e da composição do magma. São T
mínimas e só são T do liquidus quando se pode mostrar independentemente que são
minerais do liquidus; neste caso Zr e P decrescem com a evolução devido à subtração do
zircão e apatite.
Deve notar-se que as T do liquidus deverão ser semelhantes para ambos os minerais, mas
usualmente as da apatite são superiores o que se pode dever:
Modelo inadequado para apatite que não considera a água e os alcalis. Algum P pode
estar noutros minerais; a apatite pode ser cumulus. O teor de Zr pode ter decrescido por
mistura.

ln DZr zircão/magma = [-3.80-(0.85(M-1)] + 12900/T K


onde M= (Na+K+2Ca) x 100/ AlxSi catiões
ln DPap/magma = {[8400+((SiO2-0.5)x 26400)] /T} – {3.1 + [12.4(SiO2-0.5)]}
onde SiO2 é fração em peso

3.7. Diagramas spider (normalizados)

3.7.1. Diagramas multielementos

Frequentemente é útil visualizar as concentrações de vários elementos traços no mesmo


gráfico para maximizar o conteúdo da informação. Para fazer isso, os geoquímicos usam
digramas spider. Nestes diagramas, a concentração elementos traço medida numa amostra
é normalizada por alguma composição de referência. Porque é que se faz a normalização?

1- As abundâncias dos elementos químicos de número atómico par no sistema solar


são muito maiores do que as dos elementos químicos de número atómico ímpar
(Ver figura 2.1 - efeito Oddo-Harkins).

2- Devido à nucleossíntese as abundâncias decrescem com o aumento do número


atómico (ver Fig. 2.1).

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Assim um simples gráfico de abundâncias fica com vários picos e declive negativo, como
se pode ver na figura 2.1. Para eliminar estes picos faz-se a normalização e os gráficos
ficam mais suaves. Para aplicações geoquímicas de alta temperatura, é comum normalizar
para uma hipotética composição de “manto primitivo” ou para uma composição
condrítica.

A ordem pela qual se projetam os elementos nestes diagramas, não é arbitrária; são
ordenados pelo aumento da sua compatibilidade. Contudo deve-se lembrar que a sua
compatibilidade muda em função da composição química do sistema, mas há um
consenso aceitável (Fig. 3.10). Por convenção, a ordem relativa de compatibilidades é
aproximadamente definida de modo que o diagrama spider da crosta continental
normalizado para manto primitivo (ou condrito) produz uma inclinação negativa suave.

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Uma característica importante da Figura 3.10 é que o padrão da crosta continental é suave,
exceto para Nb (Ta), Zr e Hf. As posições desses elementos não correspondem às suas
posições na ordem de enriquecimento observada na crosta continental. O Nb (Ta) são
projetados próximo do U enquanto Zr e Hf são próximos do Sm. Isto porque o Nb e Ta
têm uma compatibilidade muito semelhante a U e Zr e Hf ao Sm, durante a formação de
basaltos da dorsal meso-oceânica.

Projetando Nb próximo do U, vemos que a crosta continental tem uma anomalia negativa
de Nb. Isso implica que os processos petrogenéticos que controlam a partição de Nb
durante a formação da crosta continental não são os mesmos, que nos MORB.

Fig. 3.10. Abundâncias de elementos traço da crusta continental, MORB e OIB normalizadas para manto
primitivo

3.7.2. Diagramas de REE (Masuda-Coryell)

Os diagramas spider são largamente usados no estudo da geoquímica de REE. A variação


sistemática no comportamento dos lantanídeos é ilustrada projetando o log das suas
abundâncias relativas (em relação ao condrito) como função do número atómico (Fig.
3.11). Este diagrama é chamado um gráfico Masuda, Masuda-Coryell, Coryell ou mais

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simplesmente um diagrama de REE. O condrito escolhido para fazer a normalização pode


variar (ver quadros seguintes).

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Fig. 3.11- Exemplo de diagramas de REE normalizadas para condrito

Há vários valores que são usados, mas as abundâncias relativas são similares. Crê-se que
as abundâncias das REE na Terra como um todo são semelhantes às dos condritos, ou
seja, o padrão de REE da Terra global seria plano. Os MORB possuem um padrão
empobrecido em LREE (Fig. 3.12a) e as rochas da crusta continental superior um padrão
enriquecido em LREE e com forte anomalia negativa de Eu (Fig.3.12b).

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Figura 3.12– Exemplos de diagrama de REE para basaltos dos arcos de ilhas (triângulos negros) em
comparação com MORB (a); diagrama de REE para rochas da crusta continental (b) onde UCC- crusta
continental superior. Notar a anomalia negativa de európio.

O empobrecimento em LREE dos MORB reflete o empobrecimento em elementos


incompatíveis do manto superior, de onde estes magmas derivaram. Este empobrecimento
resultou da extração de magmas parciais onde estes elementos incompatíveis se
concentram. Estes magmas parciais cristalizaram para formar a crusta, sendo esta
enriquecida nestes elementos. Como as REE são insolúveis os padrões não se modificam
durante o metamorfismo, pelo que podem dar informação sobre a história pré-
metamórfica. Também fornecem indicação sobre a proveniência dos sedimentos.

Os coeficientes de partição das REE nos minerais que formam as rochas são muito
variáveis. A granada, ortopiroxena, olivina concentram as HREE; a clinopiroxena,
anfíbola, concentram as MREE; a plagioclase e o feldspato potássico concentram o Eu.

O padrão apresentado nos diagramas depende de quais minerais envolvidos. Se a granada,


olivina e ortopiroxena não fundiram na fonte, onde permanecem como resíduo
granulítico, o magma originado por essa fusão parcial vai ser rico em LREE em relação
às HREE. Do mesmo modo a fracionação da plagioclase (ou a sua retenção no protólito)
provocam anomalia negativa deste elemento no magma derivado (ou no magma originado
por fusão) e acumulação de plagioclase provoca anomalias positivas.

A anomalia de európio calcula-se pela razão EuN/Eu* onde N indica que é valor
normalizado e onde Eu* = (SmN+GdN)/2 ou preferencialmente Eu*= √𝑆𝑚𝑁 𝑥 𝐺𝑑𝑁

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A anomalia negativa de Eu é típica de muitas rochas continentais, de sedimentos e da


água do mar. A anomalia ocorre devido ao facto de as rochas terem sido produzidas por
fusão parcial infracrustal. Os resíduos destes magmas, que ficam retidos na crusta
inferior, são ricos em plagioclase (concentra o Eu), sendo os magmas derivados pobres
em Eu o que provoca a anomalia negativa nas rochas que resultam da sua cristalização.
Os sedimentos e a água adquirem a anomalia das suas fontes na crusta continental
superior pobre em plagioclase.

A incompatibilidade das REE é dependente do seu raio e massa atómica é conveniente


determinar o grau de enriquecimento das LREE em relação às HREE (LREE/HREE), que
nos indica a fracionação das REE. Esta fracionação é quantificada pelo declive que se
observa nos perfis e é calculada pela divisão dos valores normalizados de La/Lu ou de
La/Yb, se bem que alguns autores também usem Ce/Yb e Ce/Lu.

O grau de incompatibilidade diminui com o aumento do número atómico, pelo que se


observa um aumento da razão LREE/HREE, em rochas cogenéticas, com a diferenciação
magmática. Rochas cogenéticas possuem perfis de REE semelhantes e subparalelos, com
exceção de Eu/Eu* e do aumento do declive, enquanto rochas derivadas de processos
distintos mostram perfis que se cortam ou não paralelos.

Sendo as REE elementos incompatíveis a diferenciação provoca um aumento das suas


concentrações nos magmas residuais. Contudo nos magmas félsicos os minerais
acessórios titanite, alanite, monazite, zircão, apatite e granada, possuem coeficientes de
partição muito elevados e apesar de ocorrerem em baixas concentrações são os
controladores do comportamento das REE. Monazite e alanite concentram as LREE, a
apatite e titanite concentram as MREE e o zircão e granada concentra as HREE. A
interpretação da geoquímica das REE nestas rochas requer uma análise petrográfica muito
cuidada.

3.7.3. Diagramas de REE para rochas sedimentares

Nas rochas sedimentares detríticas a normalização que se faz quando se estudam as REE
é por vezes para NASC (North American shale composite) (Fig. 3.13) ou para os valores
da crusta continental superior (CCS ou UCC em inglês).

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Fig. 3.13 –Tabela com os valores NASC e b) Exemplo de um diagrama de REE de sedimentos de linhas
de água

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4. Termodinâmica aplicada à Geologia


A ENERGIA DO UNIVERSO É CONSTANTE E A SUA ENTROPIA TENDE PARA UM MÁXIMO

-CLAUSIUS-

4.1. Introdução
Todas as mudanças que ocorrem na natureza são acompanhadas pela conversão de
energia de uma forma para outra. Portanto, todas as reações químicas e todas as mudanças
dos estados da matéria envolvem sempre trocas de energia. A Termodinâmica é a ciência
que faz o estudo da energia e das suas transformações, pelo que nos permite prever e
compreender muitos dos processos geoquímicos. Com ela estudam-se as relações que
existem entre a energia envolvida nas reações químicas e o estado de equilíbrio.

A termodinâmica é útil para os sistemas em equilíbrio. Se o equilíbrio for perturbado a


termodinâmica prevê o novo estado do equilíbrio, contudo não nos pode dizer como e
quando esse novo estado de equilíbrio será atingido pelo sistema. Muitas vezes o
equilíbrio químico não é atingido na Terra ou só o é muito lentamente. É a cinética que
permite compreender como é que o equilíbrio é atingido.

4.2. Sistemas e seus tipos


Um sistema é uma parte isolada do universo que estamos a considerar. O que rodeia o
sistema chama-se vizinhança. O isolamento que se faz pode ser físico ou mental e as
dimensões do sistema são escolhidas em função do problema específico que se pretende
estudar. O planeta Terra pode ser um sistema, um cristal de zircão separado de um granito
pode ser um sistema.

A limitar o sistema existe uma fronteira (também escolhida). A fronteira não tem massa,
não ocupa espaço e pode ser fixa ou móvel. O tipo de fronteira permite distinguir vários
tipos de sistemas:

Se a fronteira não permite que seja atravessada por energia ou matéria o sistema diz-se
isolado. Sistemas isolados não existem na natureza. Este é um conceito teórico.

Se a fronteira permite que matéria e energia a atravessem o sistema diz-se aberto.

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Se a fronteira permitir a troca de energia, mas não de matéria, o sistema diz-se fechado.
Os sistemas fechados que só trocam trabalho, mas não trocam calor são adiabáticos,
sendo isolados termicamente.

Podemos dizer que, na sua maioria dos sistemas geológicos são abertos, contudo as taxas
de transferência de matéria são em muitos casos tão baixas, que muitos sistemas
geológicos podem ser considerados, sem grande erro, como fechados no estudo do
equilíbrio químico. Embora sistemas adiabáticos naturais sejam também pouco
prováveis, podemos considerar que muitos sistemas geológicos estão suficientemente
isolados termicamente para se considerarem abiabáticos, pois as rochas são más
condutoras de calor.

Questão
O planeta Terra como um todo, limitado pelo espaço, pode ser considerado como um
sistema fechado ou aberto?
A litosfera cujas fronteiras podem ser consideradas a atmosfera e a astenosfera, é um
sistema aberto ou fechado?
Uma rocha pelítica a passar da fácies dos xistos verdes para a anfibolítica constitui um
sistema aberto ou fechado?

4.3. Sistema em equilíbrio, estabilidade e espontaneidade


Um sistema em equilíbrio é um sistema estático – nada acontece a nível macroscópico;
é um sistema num estado estável. As reações que nele ocorrem são sempre balanceadas
pelas reações inversas. Diz-se que as taxas da reação direta e inversa são iguais. As
propriedades de um sistema em equilíbrio- as funções de estado- apresentam valores bem
definidos.

Todos os sistemas naturais tendem para uma configuração de energia mínima. Quando
um sistema está no estado de energia mínima diz-se que é um sistema estável.
Permanecerá nesse estado enquanto as condições se mantiverem. Contudo, nem todos os
sistemas naturais mudam espontaneamente para um estado de energia mínima. Podem
permanecer num estado intermédio de mais baixa energia, mas não de mínima - dizem-
se metastáveis.

Muitos minerais e rochas endógenas que ocorrem na superfície da Terra são metastáveis;
parecem estar em equilíbrio, ou seja, parecem estáveis, pois são observados em tempos

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muito curtos comparados com as taxas das reações que os alteram. O percurso da reação,
entre o estado metastável e o estado estável, envolve uma série de passos intermédios
difíceis de se realizarem, e só tomam lugar muito lentamente, ou não tomam mesmo lugar.

Estes passos intermédios são designados por barreiras de energia. Para ultrapassar estas
barreiras é necessária energia. O esquema seguinte (Fig.4.1), faz uma analogia.

- O estado de energia mínima ou de estabilidade é atingido quando a rocha está


no fundo do vale, onde a sua energia potencial é a menor;

- O estado transitório ou instável é caracterizado pela rocha a descer a encosta;

- O estado metastável ocorre quando a rocha fica presa numa pequena depressão.
O bordo da depressão é uma barreira de energia potencial (barreira cinética).

Fig. 4.1- Estados de um sistema (modificado de White, 2013). Uma rocha desce uma encosta até ao fundo
do vale.

Portanto o estado de equilíbrio é um estado para o qual os sistemas se deslocam na


ausência de constrangimentos. As barreiras de energia podem ser de energia potencial ou
de energia cinética. São as barreiras cinéticas que impedem que as rochas endógenas se
alterem totalmente e rapidamente quando expostas na superfície da Terra.

Exemplo:

Um cristal de cianite numa rocha metamórfica pelítica a 0,5 GPa (5 kbar) e 500 ºC constitui um sistema
estável, que está na sua energia mínima. Se a rocha for soerguida adiabaticamente e a pressão decrescer
para 1 bar, a cianite fica instável (estado de energia alta) e transformar-se-á em andaluzite, que é a fase
estável para baixas pressões. Contudo, a taxa de transformação da cianite para andaluzite é baixa e se o
soerguimento for rápido, podemos encontrar cianite na rocha à superfície da Terra, numa situação
metastável. A barreira cinética que impede a transformação da cianite em andaluzite pode ser vencida se a
rocha sofrer aquecimento.
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A mudança de um certo estado de equilíbrio para outro é um processo. Para haver esta
mudança o sistema tem de interatuar com a sua vizinhança, trocando energia sob a forma
de trabalho ou calor.

Uma reação espontânea é aquela que ocorre sem influência externa, sendo os produtos
favorecidos sobre os reagentes. A espontaneidade termodinâmica não está relacionada
com velocidade da reação: pode ser rápida, moderada ou muito lenta. A espontaneidade
é favorecida quando o calor é libertado na reação ou quando a reação causa um aumento
na dispersão de energia ou de matéria (este aspeto será focado no estudo da entropia).

Muitos processos naturais são irreversíveis. Isto quer dizer que em certas condições só
uma reação tem lugar, ou seja, o sistema onde se desenvolvem não está em equilíbrio.
Nestes casos a termodinâmica só pode ser aplicada admitindo-se o equilíbrio local. O
equilíbrio local considera que em pequenas partes do sistema há equilíbrio, se bem que
todo o sistema não esteja em equilíbrio.

O conceito de equilíbrio local é muito usado na Petrologia Metamórfica para discutir


associações mineralógicas que estão bem definidas à escala microscópica da lâmina
delgada, mas que diferem em diferentes amostras de mão e de afloramento para
afloramento. Em pequenas partes do sistema as taxas de reação são rápidas para manter
o equilíbrio e a termodinâmica pode dar informação útil sobre a existência e abundância
dos minerais que nos interessam e prever as direções de mudança do sistema como um
todo.

4.4. Fases e componentes


A matéria num sistema é constituída por fases, distintas pelas suas propriedades físicas.
As fases são partes homogéneas do sistema, fisicamente distintas e podem ser separadas
mecanicamente (em princípio). Fase não é sinónimo de composto químico, pois há muitos
compostos químicos que existem em mais de uma fase e as fases não precisam de ter
composição química única. A grande maioria dos minerais, que são fases nas rochas,
possuem composições químicas variáveis.

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Se um sistema for constituído por uma única fase diz-se homogéneo, se tiver mais fases
diz-se heterogéneo. Estes termos também se aplicam às reações que ocorrem no sistema.

As fases são constituídas por componentes químicos. Estes podem ser definidos da
maneira mais conveniente e não precisam de ser entidades químicas reais. São as
entidades variáveis, independentes, que são necessárias para descrever a composição de
cada fase. São termos algébricos numa reação química. Os componentes são considerados
dependendo do estudo que se pretende e do grau de complexidade.

As fases de um sistema podem ter a


mesma composição química. Por
exemplo o sistema constituído pelos
polimorfos de SiO2 com T de 400-
2800 ºC e P de 0-12 GPa, tem 7
fases (6 minerais e o fundido que é
líquido) e todas têm a mesma
composição química – SiO2 (Fig.
4.2)

Fig. 4.2- Sistema dos polimorfos de SiO2


Segundo Swamy e Saxena (1994), J.
Geophys. Res., 99, 11,787-11,794.

Por exemplo considerar a formação da calcite: na reação que transforma a aragonite em


calcite só se considera um componente químico, CaCO3, mas na precipitação da calcite
da água, consideram-se dois componentes Ca2+ e CO32-. Quando se considera o sistema
que representa a cristalização da plagioclase podemos considerar os componentes albite
(NaAlSi3O8) e anortite (CaAl2Si2O8). Estes componentes são constituídos pelos óxidos
(compostos químicos ou espécies químicas) SiO2, Al2O3, Na2O e CaO, mas não precisam
de ser considerados, basta considerar a albite e a anortite.

Numa solução sólida de olivina (Fe, Mg)2SiO4 há vários componentes possíveis:


Mg2SiO4, Fe2SiO4, MgO, FeO, SiO2, Mg2+, Fe2+, Si4+, O2-,. A escolha dos componentes

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depende do problema termodinâmico que se estuda, mas é conveniente considerar os


membros finais das soluções sólidas.

Ex. na olivina (Fe,Mg)2SiO4 considerar os componentes : Mg2SiO4, Fe2SiO4

Na piroxena (Ca,Na)(Mg,Fe,Al)Si2O6 considerar: CaMgSi2O6, CaFeSi2O6 e NaAlSi2O6

No feldspato (K,Na,Ca) (Al,Si)2Si2O8 considerar : KAlSi3O8, CaAl2Si2O8 e NaAlSi3O8

As espécies químicas, que são entidades químicas, geralmente elementos ou compostos.


Este termo é mais usado no contexto de gases e líquidos. Uma fase líquida simples, como
uma solução aquosa pode conter várias espécies químicas. Enquanto os componentes
podem ser entidades virtuais, as espécies químicas são entidades que realmente existem.
Por ex. a fase água em contacto com a fase ar contém as espécies, H2O, H2CO3, HCO3-,
CO32-, H+, OH-.

O número mínimo de componentes de um sistema é definido como o número mínimo de


entidades variáveis independentes, necessárias para descrever a composição de cada fase
do sistema. Nas Petrologias, Ígnea e Metamórfica os componentes muitas vezes
considerados são os óxidos que constituem as rochas e os minerais, (outras vezes são os
membros terminais de soluções sólidas), mas se estivermos a estudar sistemas isotópicos
então os componentes serão isótopos.

4.5. Funções de estado e seus tipos


A cada estado de equilíbrio de um sistema está associado um conjunto de valores bem
definidos das propriedades que caracterizam esse estado. Estas propriedades são
designadas por funções de estado, por exemplo P, T, V, U, m, etc. A variação de uma
destas propriedades entre dois estados de equilíbrio é sempre a mesma, qualquer que seja
o percurso.

Há outras variáveis termodinâmicas como o trabalho ou o calor que estão associadas a


processos e não a estados - os seus valores depende do percurso - são designadas por
funções de processo.

Há dois tipos de funções de estado:

Extensivas –definidas para o sistema completo; estas propriedades dependem da


quantidade de matéria no sistema e são aditivas; são uma medida do tamanho ou extensão

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do sistema. Exemplos são a massa, o volume (V), a energia interna (U), o número de
moles (ni), de um dado componente químico.

Intensivas - propriedades tais como a temperatura (T), a pressão (P), o potencial químico
(i), que não dependem da quantidade de matéria no sistema, não são aditivas e tomam
os mesmos valores em cada ponto do sistema. Normalmente em Geoquímica consideram-
se as variáveis intensivas, o que trás a vantagem de não termos de considerar o tamanho
do sistema.

A conversão das variáveis extensivas em intensivas faz-se com normalização para um


tamanho conveniente do sistema. Quando se usa a massa para fazer a normalização
obtém-se uma propriedade intensiva específica. Ex. o volume específico é v = V/m. A
entropia específica s = S/m. Dividindo a propriedade extensiva pelo número de moles
obtêm-se uma propriedade intensiva molar. O volume molar Vm = V/n. A energia molar
Em= E/n.

As funções de estado fundamentais na Termodinâmica são temperatura (T), entropia (S),


energia interna (U), pressão (P) e volume (V). Todas as outras podem ser derivadas destas.

4.6. Formas de energia


Energia pode ser definida como a capacidade para provocar mudança e pode cruzar as
fronteiras de um sistema fechado realizando trabalho ou transferindo calor. Se um
sistema tem capacidade para realizar trabalho ou aquecer um objeto, ele possui pelo
menos uma forma de energia disponível para transformação em outra forma de energia.

A energia pode ser classificada em duas grandes categorias, energia macroscópica e


energia microscópica. Formas macroscópicas de energia são aquelas que um sistema
inteiro possui em relação a uma referência externa fixa, por exemplo a energia cinética e
potencial de um corpo, que não têm importância para a Geoquímica, ou seja, não interessa
se o sistema como um todo está ou não em movimento ou está ou não colocado num
campo gravítico, a não ser que ele influencie o estado do sistema; por ex. a pressão na
atmosfera é função da altitude.

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Formas microscópicas de energia são aquelas que se relacionam com o sistema ao nível
molecular ou atómico, constituindo a energia interna, U, que é a soma de todas as várias
formas de energia microscópica, dentro do próprio sistema.

4.6.1. Trabalho
É energia mecânica e é realizado sempre que uma massa (ou corpo) é movida ao longo
de uma distância (x) pela aplicação de uma força F. Uma quantidade infinitesimal de
trabalho, dw, é definida como:

dw = F.dx (onde F é força e dx é a distância infinitésima).

As massas podem ser atuadas por várias forças e temos

dw =  Fi dxi

As forças podem resultar em pressão hidrostática, litostática, pressão dirigida (tensão),


tensão superficial, potencial elétrico ou magnético. Todas as formas de trabalho são
equivalentes. O trabalho sendo uma forma de energia tem como unidade o joule. Em
sistemas geoquímicos o trabalho é geralmente realizado quando ocorre uma mudança de
volume dV provocada por aplicação de pressão. Vejamos como:

dw = F. dx

e temos P= F/A onde P é a pressão, F é força e A é área. Daqui vem que F = PA

Fica dw = P. A . dx. como A, que é área, multiplicada por distância, dx, que é distância
fica volume dV ➔ dw = P. dV

Supor o caso de um magma de massa m, em ascensão adiabática na crusta, contra a força


da gravidade. Sendo a distância vertical (H) a força da gravidade F = mg

a energia mecânica (trabalho) despendida w = m. g. H.

Como P=F/área temos que F= P x A ➔ w = P x A x H. Como V = A x H.

➔ w = P V onde P é a pressão e V é a variação de volume.

Trabalho que é feito por expansão contra uma pressão externa. Logo o sinal do trabalho
vai ser negativo. A expressão mostra que um magma em ascensão adiabática se expande.

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Se as pressões externa e interna nunca diferirem mais que quantidades infinitésimas, P


pode tomar-se como a pressão externa atuando no sistema.

Como um sistema sob pressão tem a capacidade para realizar trabalho sobre a vizinhança,
a pressão é uma medida da energia potencial armazenada, por unidade de volume.
Portanto, está relacionada com a densidade de energia e pode ser expressa em
joules/metro cúbico (J / m3 = Pa).

4.6.2. Energia térmica e energia química


A temperaturas acima do zero absoluto todas as partículas que constituem a matéria estão
em movimento, ou seja, possuem energia cinética. A energia cinética constitui uma
fração da energia interna do sistema chamada energia sensível, que é a energia necessária
para alterar a temperatura de um sistema.

Outra forma de energia é a energia latente, que é a quantidade de energia necessária para
produzir uma mudança no estado físico. O estado físico em que a matéria se encontra
também reflete a sua energia. A passagem da fase líquida à fase vapor, requer a quebra
das ligações intermoleculares da fase líquida. Essa quebra é feita com fornecimento de
energia, pelo que a fase gasosa possuiu mais energia do que a líquida, mesmo que estejam
à mesma temperatura e a fase líquida possui mais energia do que a fase sólida. Essa
energia associada à mudança de fase, sem mudança da T, designa-se por energia latente.
A energia latente não traduz temperatura. A energia cinética mais a energia latente
constituem a energia térmica.

A energia química, uma energia microscópica, é uma forma de energia potencial


armazenada nas ligações químicas, que unem os átomos em moléculas. Resulta das forças
electromagnéticas que agem sobre os átomos e eletrões. Quando se formam ligações
químicas numa reação química é transferida (usualmente libertada) energia química. Está
relacionada com as energias de ligação.

A energia de ligação é uma medida da força de uma ligação química específica. Energia
é libertada quando se formam ligações pelo que para quebrá-las é necessária energia.
Quanto maior a energia média da ligação, por ligação de par de electrões de uma
molécula, mais forte a ligação, mais difícil é quebrá-la e ao dar-se a reação, menor energia
o sistema terá.
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4.6.3. Energia interna


Há toda uma multiplicidade de parcelas de energia e o teor energético total de uma
substância, não é possível de ser quantificado. A energia interna, U de um sistema é a
soma de todas as formas microscópicas de energia e também não pode ser quantificada.
Contudo pode medir-se a diferença de energia interna U entre estados de equilíbrio dos
sistemas e quando o fazemos é sempre em relação a um estado padrão não nulo. Um
estado padrão típico são as condições normais de laboratório 25°C (298,15 K) e 1 atm
(condições STP). São as variações de energia U, que são importantes para a
Termodinâmica e não o seu valor absoluto.

A energia interna é essencialmente a soma da energia potencial armazenada nas ligações


interatómicas (energia química) e da energia térmica. Substâncias com energia potencial
ou química baixa, possuem energia interna baixa e do mesmo modo, quando uma
substância é arrefecida de tal modo sua energia cinética ou térmica seja reduzida, a sua
energia interna baixa.

4.7. Lei zero da Termodinâmica


A Lei Zero da Termodinâmica afirma que, se dois sistemas estão em equilíbrio
termodinâmico com um terceiro sistema, os dois sistemas originais estão em equilíbrio
térmico entre si. Da Lei vem que sistemas em equilíbrio térmico têm a mesma temperatura
e se os sistemas estiverem em equilíbrio térmico, não haverá fluxo de calor entre eles,
independentemente de como os objetos interagem (mesmo que dois objetos não toquem,
o calor ainda pode fluir entre eles, por radiação, por exemplo).

Cada objeto tem uma certa temperatura, e quando dois objetos estão em equilíbrio térmico
as suas temperaturas são iguais, o que implica que as temperaturas indicam se o calor se
moverá entre os objetos. A lei permite o uso de termómetros que produzem uma escala
de temperaturas. A escala usada na Termodinâmica é sempre a escala absoluta – escala
Kelvin, cujas unidades são da mesma magnitude que as da escala Celcius. No zero
absoluto (-273,15 ºC), as partículas não possuem energia cinética estão perfeitamente
estáticas.

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O calor é a energia térmica transferida entre sistemas, provocada ela diferença de


temperaturas entre eles e só ocorre quando existem diferenças de temperaturas. Ou seja,
o calor é uma função de processo e não sendo função de estado do sistema.

4.8. Primeira lei da Termodinâmica - lei da conservação da


energia
Esta lei pode ser enunciada de várias maneiras:

- calor e trabalho são equivalentes


- a energia é conservada em qualquer transformação
-a mudança de energia do sistema é independente do percurso tomado.
De um modo geral é enunciada assim: a energia não pode ser criada nem destruída. Para
exprimir esta lei de modo matemático, considera-se a função de estado do sistema
chamada energia total, E. O valor absoluto desta energia é difícil de determinar, mas o
que interessa é a variação dessa energia.

A energia pode ser transferida do sistema para o exterior e vice-versa por calor, trabalho,
radiação e advecção (energia associada à massa transferida). Considerando que o sistema
é fechado não haverá transferência de massa; em Geoquímica na maior parte das vezes a
energia associada à radiação não é importante. Assim consideramos apenas trabalho e
calor.

Supor um sistema que absorve calor, Q, da vizinhança, pelo que a sua energia E varia,
mas em contrapartida ele teve de exercer trabalho, W, sobre essa vizinhança (por ex. ao
aumentar T, aumentou o seu volume e vai exercer mais pressão sobre a vizinhança). A
primeira lei estipula que a mudança na energia do sistema é igual à diferença entre o calor
adicionado e o trabalho realizado

E = Efinal – Einicial = Q – W

Nesta expressão Q tem valor positivo porque representa energia adicionada ao sistema,
enquanto W tem valor negativo porque representa energia cedida pelo sistema, quando
ele executa trabalho sobre a vizinhança. A energia total envolvida permanece constante.
A equação pode ser escrita sob a forma E = Q-W, ou

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E = Q-PV

pois o tipo de trabalho mais frequente é o trabalho PV.

- Num sistema adiabático, e sem produção de calor interno, Q será zero; se o único
trabalho (W) for devido à variação de volume e sendo P=Pexterna então E = W. Neste
caso E pode ser determinado medindo a variação de volume e conhecendo P.

- Num sistema em que V seja constante e em que o trabalho seja só PV (que será =0)
então E = Q. Neste caso E pode ser determinado medindo a transferência de calor a
V constante. A maioria das reações na Terra ocorre com variação de V e de Q, sendo P
constante; estão envolvidas variações de calor e trabalho, por isso:

E = Q-PV. Daqui vem que Q = E + PV

Esta equação permite definir uma nova função de estado H (entalpia) que descreve as
mudanças de calor que ocorrem a P constante.

4.9. Entalpia
A entalpia é uma medida da energia térmica e representa a quantidade de calor na
formação de uma substância. A variação da entalpia é a variação de calor mais a energia
ganha pelo cristal pelo facto de não ter podido mudar de volume. A sua expressão pode
escrever-se H = Q +VP

Quando P é constante vem que VP = 0 e vem H = Q + 0

E daqui vem que a pressão constante H = Q

Nesta condição H é a variação de calor da reação, ou seja, o calor trocado mais o calor
produzido internamente na reação, a P constante (e quando apenas se considera o trabalho
PV). Se qualquer reação estiver em equilíbrio a produção de calor interno é zero, pelo que
H é o calor (reversível) absorvido da vizinhança, quando o sistema muda de um estado
para outro, a P constante.

O calor da reação é medido num calorímetro, medindo T antes e depois da reação. A


entalpia desta reação é conhecida como calor de formação ou entalpia de formação

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(Hf ). Quando os produtos de uma reação possuem menos entalpia que os reagentes, a
reação libertou calor, é exotérmica. Se os produtos possuem mais entalpia a reação é
endotérmica.

Os valores padrão da entalpia de formação Hof são definidos como a variação na


quantidade de calor quando se forma uma mole de um composto a partir dos seus
elementos, nas condições normais de 298,15 K e 100 kPa (1 bar) - estado padrão. Por
definição a entalpia de formação de um elemento é zero. As tabelas termodinâmicas
(Tabela 4.1) listam os valores da entalpia de formação Hof. As unidades das entalpias
são J e as das entalpias de formação são J.mol –1

Considerar a entalpia da forsterite pura Mg2SiO4. A entalpia dos cristais de Mg, Si e do


gás O2 é zero a T=298 K e P=1bar. A entalpia da forsterite é obtida do calor da reacção
2Mg + Si +2O2→Mg2SiO4
Hreacção = Hforest - 2HMg – HSi -2HO2

= -2177,23 kJ – 0-0-0 a 1 bar e 298 K

Exemplo:

Hof (CO2)(g) = - 394 kJmol –1, o que quer dizer que 394 kJ de energia são libertados
quando se forma uma mole de CO2 a partir de mole de O2 e de uma mole de C a 298 K.

C(s) + O2 (g) → CO2 (g) + 394 kJ

As entalpias de formação podem ser combinadas para calcular a mudança de entalpia de


outras reações químicas. Esta preposição faz uso da Lei de Hess: a entalpia da reação é
igual à entalpia dos produtos menos a entalpia dos reagentes:

Hr =  i Hof,i (i é o coeficiente estequiométrico das espécies i)

Exemplo
CO (g) + ½ O2 (g) → CO2 (g) .
H (reação ) =  Ho (produtos) -  Ho ( reagentes)
= -394 kJ.mol–1 – (-111 kJ.mol –1 + 0) = -283 kJ.mol –1 É uma reação exotérmica.

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4.10. Calorimetria
O calor numa reação química, pode ser medido usando um calorímetro. O fluxo de calor
observado no calorímetro (q) é igual a H se a pressão em que ocorre a reação for
constante. O calor libertado ou absorvido na reação e a variação de T observada, estão
relacionados pela capacidade calorífica do material que sofre variação de T.

A capacidade calorífica C=Q/T de uma substância é a quantidade de calor requerida


para elevar a temperatura dessa substância de um grau kelvin, as suas unidades são JK-1.
A capacidade calorífica específica ou calor específico é a quantidade de calor requerida
para aumentar a temperatura de um kg da substância em um grau kelvin. As suas unidades
são J. kg-1.K-1. Também se define a capacidade calorífica molar, como a quantidade de
calor requerida para elevar a temperatura de uma mole de uma substância em um grau
kelvin.

A água líquida é uma substância que possui um dos maiores calores específicos

CH2O= 4185,5 J.kg-1K-1 ( a 15 ºC e 1 bar)

q = m C T onde q é o calor em J, m é a massa em kg, C é o calor específico e


T é a variação da temperatura.

4.11. Variação de H com T e Capacidade calorífica


Vimos que a P constante H = Q e a entalpia aumenta com o aumento de T. O aumento
é distinto de substância para substância e é expresso pela capacidade calorífica. A
capacidade calorífica de uma substância é diferente consoante o aumento de T se fizer a
P constante ou a V constante. Ou seja uma substância tem duas capacidades caloríficas
Cp e Cv. Em Geoquímica usa-se Cp, pois nas situações naturais os volumes não
permanecem constantes. A relação entre entalpia, T e capacidade calorífica (Cp) é
definida por:

H = C x T pois vimos que C=Q/T

As capacidades caloríficas dos sólidos aproximam-se de zero quando T se aproxima do


zero absoluto.

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Podemos ter de calcular as entalpias a mais alta T. Mas Cp não é independente de T.


Contudo, quando se consideram reações entre minerais, os valores calculados tendo em
conta a variação de Cp com T, e os valores de H a 298 K, são similares, não havendo
necessidade de fazer o cálculo da variação de C com T para calcular H na maioria das
questões geológicas mais comuns.

NOTA: Na Tabela 4.1 os parâmetros a, b, c referentes à capacidade calorífica CP permitem fazer o cálculo da variação
de CP com o aumento de T.

Tabela 4.1- Dados termodinâmicos de algumas fases minerais (Retirado de White, 2007)

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As TabelasDadosTermodinamicosKrauskopfBird e DADOS TERMODINÂMICOS


MINERAIS JOULES (no material disponível para esta disciplina) são bases de dados
termodinâmicos mais alargadas.

4.12. Segunda lei da Termodinâmica ou da entropia


Há várias maneiras de enunciar esta lei:

• os processos naturais espontâneos tendem a nivelar concentrações de qualquer


tipo de energia, decrescendo o gradiente energético, ou seja uniformizando a
concentração de qualquer tipo de energia.
• qualquer sistema deixado por ele próprio muda para uma condição de
probabilidade máxima (em média), o que quer dizer que a entropia do sistema
aumenta sempre.
• em qualquer processo espontâneo a entropia do universo aumenta.

A segunda lei da termodinâmica define uma função do estado do sistema chamada


entropia. A entropia (S) e é uma propriedade extensiva. É uma medida da uniformidade
na concentração da energia num sistema. A entropia está relacionada com o grau de
desordem interna. Quanto maior a entropia maior a desordem. Os sólidos possuem menos
entropia do que os líquidos e estes possuem menos entropia do que os gases.

Se uma fase se torna mais ordenada durante uma reação, reduzindo sua entropia, o calor
liberado deve aumentar a entropia do ambiente exterior numa quantidade ainda maior.

A segunda lei estipula que a mudança da entropia num sistema fechado devida a um
processo reversível (processo no qual mudanças infinitésimas podem fazer com que o
processo se inverta a qualquer altura – equilíbrio), é igual ao calor absorvido nesse
processo dividido pela temperatura absoluta---ou seja S = Q/T.

Para processos irreversíveis dS> 0 ➔ A entropia de um sistema sempre aumenta durante


processos irreversíveis. A mudança total de entropia será maior do que o calor absorvido
dividido por T: Ssist > Q/T

Vimos que a P constante  =Q e que  =Cp T. ➔ S = Cp T /T

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Do mesmo modo que se considerou para a entalpia também não é necessário, na maior
parte das questões em Geoquímica, calcular a entropia para outras temperaturas, podemos
usar os valores de entropia dados em tabelas, referentes a 298,15K.

Pode-se calcular a mudança de entropia padrão para uma reação do mesmo modo que
fizemos para a entalpia de uma reação, aplicando a Lei de Hess.

So (reação) =  So (produtos) -  So (reagentes)

Por ex. Na (s) + ½ Cl2(g) ➔ NaCl (s)

So (reação) = So NaCl(s) - So Na(s) - ½ SoCl2(g)

= 72 J/mol/K – [(+51 J/mol/K) - ½ (+223 J/mol/K)]

= -90 J/mol/K.

Há um decréscimo de entropia neste processo pois envolve a perda de uma meia mole de
gás. A reação é espontânea à temperatura ambiente pelo que é controlada pela mudança
na entalpia e realmente a entalpia de formação do cloreto de sódio é -411 kJ/mol.

4.11. A terceira lei da Termodinâmica -a entropia absoluta


A entropia do sistema ao contrário da energia interna e da entalpia é medida de modo
absoluto. Enquanto que podemos apenas medir variações de H, podemos medir um valor
absoluto de S, a desordem, pois considerou-se um sistema perfeitamente ordenado que
serve de referência. Esse sistema perfeitamente ordenado é a substância perfeitamente
cristalina no zero absoluto.

A terceira lei estipula que a entropia de uma substância no estado cristalino, no zero
absoluto, pode ser tomada como zero. Cada substância tem assim uma entropia positiva
finita; no zero absoluto a entropia tende para zero e fica zero no caso de uma substância
perfeitamente cristalina. Isto acontece porque a capacidade calorífica tende para zero
quando T tende para zero.

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4.12. Entropia configuracional ou de mistura


A entropia absoluta é medida em termos absolutos pelo que até os elementos simples têm
valores de entropia. O ponto zero é tomado como aquele de um cristal perfeito no zero
absoluto. Na realidade a entropia absoluta dos minerais/fases (não puros) não tende para
zero no zero absoluto, ou seja, não são “perfeitamente cristalinas” no sentido da 3ª Lei.
Com efeito podemos considerar a entropia de mistura, que é o reflexo da mistura de 2 ou
mais tipos de átomos (ou isótopos) em sites cristalográficos equivalentes.

Considerar por exemplo a solução sólida feldspato alcalino, cujos membros terminais são
albite NaAlSi3O8 e ortoclase KAlSi3O8. Na estrutura há um site catiónico que tanto pode
ser ocupado ou por Na ou por K, nos membros intermédios da solução sólida. Se
quisermos tirar um catião desse site temos a probabilidade x, que seja ocupado por K e a
probabilidade 1-x, que seja ocupado por Na. Ou seja, a mistura introduz desordem que
não está presente nos membros terminais.

A entropia de mistura pode ser calculada pela fórmula (se usarmos frações molares)

Sconf = -R  mj  Xij ln Xij

onde R é a constante dos gases perfeitos (8,314 J.mol-1.K-1), mj é o número total de átomos
no site cristalográfico jth (em nº de átomos por fórmula) e Xij é a fracção molar do átomo
ith no site jth.

Considerar a granada de fórmula (Ca,Mg,Fe,Mn)3 Al2Si3O12

Só precisamos de considerar o site octaédrico porque o Al, Si e o O são os únicos tipos


de átomos que ocupam os sites tetraédricos e dos aniões, nesta fórmula específica. Os
valores de X para estes sites são 1 e ln(1)=0.

m=3 Sconf = - R x 3(XCalnXCa+XMglnXMg+ etc. )

XCa = Ca/(Ca+Mg+Fe+Mn) (valores retirados da fórmula estrutural)

A contribuição da entropia de mistura na entropia total é pequena. A maior contribuição


vem da entropia calorífica ou térmica.

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Exemplo:

A olivina é uma solução sólida na qual o Fe e o Mg se substituem mutuamente no site


octaédrico. Se a olivina tiver a composição (Mg0,8Fe0,2)2SiO4, qual será a sua entropia
configuracional?

Para o site octaédrico m=2, XMg=0,8/2 e XFe=0,2/2.

Smix = -R  mj  Xij ln Xij

Smix= -8,314 x 2[0,4 ln(0,4) + 0,1ln(0,1)] = 9,92 J.mol-1.K-1

4.13. Espontaneidade das mudanças físicas e químicas


Uma mudança física ou química para a qual os produtos são termodinamicamente mais
estáveis do que o reagente, sob as condições dadas, diz-se ser favorecida para os produtos,
ou espontânea, sob essas condições. O contrário, será não espontânea. Uma reação
espontânea é aquela que pode acontecer sem qualquer influência externa contínua.
Embora uma reação espontânea possa ocorrer rapidamente, a espontaneidade
termodinâmica não está relacionada com a velocidade. O fato de um processo ser
espontâneo não significa que ele ocorrerá mais velozmente. Pode ocorrer rapidamente, a
uma taxa moderada ou muito lentamente.

4.14. Energia livre e equilíbrio


Algumas reações são espontâneas apesar de serem endotérmicas, ou seja, extraem calor
da vizinhança por elas próprias. Por exemplo a dissolução do nitrato de potássio em água
é endotérmica (H0 = +35,1 kJmol-1) mas ocorre espontaneamente.

KNO3(s) ➔ K+ + NO3-

Assim a variação da entalpia não nos indica de modo infalível a tendência de uma reação.
A reação de dissolução do nitrato de potássio é controlada pelo aumento da entropia.

A formação do cloreto de sódio é uma reação onde ocorre diminuição da entropia, pelo
que a variação da entropia também não nos indica de modo infalível a tendência de uma

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reação. Para se saber qual a tendência de uma reação temos de considerar tanto a variação
da entropia como da entalpia simultaneamente.

A 1ª e 2ª leis da termodinâmica são conjugadas na equação

G = H –TS

Onde G é a energia livre de Gibbs. A energia livre de Gibbs é o potencial termodinâmico


que nos diz para que lado a reação progride, dado um conjunto de condições físicas.
Quando H =TS então G = 0 e há equilíbrio. A energia livre de Gibbs é a variável
mais importante em Geoquímica pois fornece um critério para estabelecer o equilíbrio:

Se G =0 a reação está em equilíbrio

Se G <0 a reação será espontânea na direção em que há abaixamento da energia livre

Se G > 0 a reação não põe ter lugar como está escrita, a não ser que haja energia
fornecida por fonte externa.

Questão:

Considerar o quadro seguinte e escreva qual o resultado

H S G Resultado

Negativo positivo sempre negativo espontânea


positivo negativo sempre positivo
positivo positivo negativo a alta T
negativo negativo negativo a baixa T

Valores de G para reações simples podem ser combinados, do mesmo modo que os
valores de H e S para dar valores de reações mais complexas. Valores de Gº de
formação de compostos a partir dos seus elementos também existem tabelados para T, P
e estados padrão - energias livres de formação padrão Gºf.

A lei de Hess também se aplica e tem-se que Greação = Gprodutos - Greagentes

Para temperaturas mais altas e para a maioria das situações geológicas que envolvem
sólidos pode admitir-se que Cpreação ≈ 0, não sendo necessário efetuar os cálculos para
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H e S a mais alta temperatura. Os erros que se cometem quando se usa H298 e S298
em vez de HT e ST para calcular GT são pequenos.

Assim G1bar,T = H1bar –TS

Questão:
Considerar a reação forsterite + quartzo → enstatite
Mg2SiO4 + SiO2 → 2MgSiO3
Determinar se a enstatite é produzida a 298 e a 1273 K. A mudança de entalpia do sistema
produzida pela reação de
1 mole de forsterite + 1 mole de quartzo → 2 moles enstatite
é dada pela relação:
Hºr = Henst –Hfor –Hqtz. = 2x(-1546,77)-[-2175,68+(-910,65)] =-7,21 kJ.mol-1
Sºr = Senst –Sfor –Sqtz. = 2x67,86-(95,19+41,34)=-0,75 J.mol-1.K-1
A 25º C (298 K) temos:
Gº298 = -7210 -298 x(-0,75)= - 6968,5 J.mol-1 .
A 1273 K
G = Hº -TSº fica que G1273 = -7210 -1273 x(-0,75)= -6255,25 J.mol-1.
A enstatite é produzida tanto a 298 como a 1273 K, mas tem mais tendência a 298 K.

A variação de G de 298 até 1273 K = -6255,25-6968,5 = 731,25 J.mol-1. Ou seja quando


T varia 975 K a variação de G = 731,25 J.mol-1. Escrevendo Gr/dT temos 731,25
J.mol-1 /975 K = 0,75 J.mol-1.K-1 ou seja -S.

A dependência de Gr da variação de T é expressa pela relação: Gr/dT = -Sr.

Vejamos o exemplo de cima

-S = 0,75 J.mol-1.K-1 ➔ variação de G com a variação de T é positiva, logo G


aumenta com o aumento de T - a reação inversa é favorecida. Ou seja, com o aumento de
T há tendência para a desestabilização da enstatite.

Nota: lembrar que na cristalização fracionada, com o abaixamento de T, a olivina (forsterite) transforma-
se em piroxena (enstatite)

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No exemplo precedente apenas se considerou a variação de T, mas quando a pressão


também varia, as energias livres podem ser calculadas para qualquer pressão e
temperatura dadas as entalpias, entropias, capacidades caloríficas e volumes a P=0,1
MPa (1 bar) e T = 298 K. Para reações que envolvam apenas sólidos é válido assumir que
Cpreação≈0 e que V é constante. Expressando P em bares fica que

GP,T = H1bar, 298 –TS1bar, 298 + (P-1) V

onde H, S e V são constantes.

A variação de G também depende da variação de P e é dada pela relação: Gr/dP = Vr

Resumindo: Dependência de T ➔ Gr/dT = -Sr

Dependência de P ➔ Gr/dP = Vr

Vejamos a reação de trás:

V = Vreação = Vprodutos - Vreagentes

V = -3,92 cm3.mol-1 ou seja a variação de G com P é negativa, logo G diminui com


o aumento de P - a reação direta é favorecida.

NOTAS SOBRE VOLUMES : Quando V não é dado pode ser sempre calculado a partir
da massa específica da fase e do seu peso molecular:
V(cm3) = peso molecular/massa específica
Ex: A massa molecular do piropo (Mg3Al2Si3O12) = 403,13 g/mol e a sua massa
específica é 3,78 g/cm3 . O seu volume molar será:
403,13 / 3,78 = 106,65 cm3/mol.
Outra relação importante ➔ 1 cm3.mol-1 = 1 J.MPa-1.mol-1 ou
0,1 cm3.mol-1 = 1 J.bar-1.mol-1
que vem d: w=PV ➔ J= Pa.m3 e de 1 MPa= 10 bares

Questão:
Para a reação coesite ➔ quartzo- em que a 298 K e 1 bar temos:
Fase Sº (J.mol-1.K-1) Vº (cm3.mol-1) Hº (J.mol-1)
Coesite 40,38 20,64 851620
Quartzo- 41,34 22,69 910650

Será o produto ou o reagente favorecido por aumento de:


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a) pressão ?
b) temperatura?

Questão:
Mostre que uma das transformações que ocorre no manto terrestre, com aumento da
profundidade, é a transformação do peridotito com plagioclase em peridotito com
espinela, de acordo com a reação:

Anortite + 2forsterite ➔ diópsido + espinela + 2enstatite

Resolução
Calcular as energia livre Gr da reação: Gr = -6,95 k.J.mol-1
Como Gr < 0 a reação prossegue para a direita, portanto a associação dos produtos é
mais estável a 298 K e1 bar. Qual a associação que é mais estável com aumento de P?

O valor de Vr é -20,01 cc.mol-1. Gr/dP = Vr ➔ G diminui com o aumento de P, logo
os produtos são mais estáveis com o aumento de P. O volume dos produtos é menor do
que o dos reagentes, o que indica que um aumento de P os produtos são mais estáveis.

Podemos calcular a variação da energia livre de uma reação a várias pressões pela

fórmula: G1barP = (P-1bar) V

Exemplo

Calcular a variação da energia livre da reação seguinte se P aumentar para 10 kbar.

2 jadeíte ➔ albite + nefelina

(Vnefelina+Valbite -2Vjadeite) = 33,35 cm3/mol = 3,335 J.bar-1.mol-1

G1barP = (10000-1) x (Vnefelina+Valbite -2Vjadeite) = 10000 x 3,335 = 33,35 kJ.mol-1

A variação da energia livre desde 1 bar até 10 kbar, considerando que T é constante
(G10kbar,298 – G1bar,298 ) é de 33,35 kJ.mol-1.

Sabendo G a um bar, somamos 33,35 kJ e temos G a 10 kbar.

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4.15. Cálculo do contorno da reação e a equação de Clapeyron


Um problema comum em Geoquímica e em Petrologia é saber como é que a fronteira
entre fases varia no espaço P-T; por ex. como é que a temperatura de fusão varia com P,
qual o declive da fronteira que separa os campos de estabilidade de dois minerais. Numa
fronteira de fase as duas fases estão em equilíbrio, ou seja G da reação entre as fases é
zero ➔ Gr = 0

Vimos que Gr/dP = Vr e Gr/dT = -Sr e no equilíbrio a soma de ambas = 0

A fronteira descreve a condição VrdP –Sr dT = 0 ➔ VrdP = SrdT

Então o declive da fronteira entre as fases é dado por:

dP/dT =Sr / Vr

Esta equação é a equação de Clapeyron.

Como Vr e Sr são funções de P e T este é um declive instantâneo, mas para sólidos a
dependência de Vr e Sr de P e T não é grande e o declive será constante num grande
leque de P e T. Esta equação também se pode escrever na forma

dP/dT = Hr / TVr

A equação permite a construção dos diagramas de estabilidade das associações minerais


no diagrama P-T, ou seja, calcular o declive do contorno de uma reação a qualquer P e T
a partir de S e V.

No equilíbrio Gr = 0= Hr –Sr ou Hr = TSr.

Supor o equilíbrio a 1 bar ➔ A temperatura de equilíbrio = Hr / Sr

Para P mais alta usa-se a equação Gr = Hºr –Sºr + (P-Pref)Vr = 0

Exemplo: Considerar a reação

Enstatite + anortite ➔ diópsido + silimanite ( a 1 bar e 298 K)

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º S v
diópsido -3202340 143,09 66,09
Vr = -16,08 cm3.mol-1 ou
silimanite -2573570 96,78 49,9
enstatite -1546770 67,86 31,28
Vr = -1,608 J.bar-1.mol-1
anortite -4215600 205,43 100,79
reação -13540 -33,42 -16,08

Tequ,1bar= -13540 J.mol-1/-33,42 J.K-1.mol-1= 405,15 K

Portanto para P= 1 bar a temperatura Tequilíbrio = 405,15 K

Supor T=900 K ➔ 0 = -13540 -900 x (-33,42) + (P-1) x (-1,608)

Calcula-se P para 900 K, o que dá 10285 bares e podemos desenhar a curva da reação
no espaço P-T (Fig. 4.3).

Fig. 4.3. Linha que representa a


reacção enstatite+anortite ➔
silimanite+diópsido no espaço P-T

Usando a equação de Clausius-Clapeyron: dP/dT = S  V dP/dT = 20,78 bar.K-1

dP = 20,78 x (900-405) ➔ dP = 10285 bares.

Nos cálculos efetuados foi admitido que não há variação da capacidade calorífica com o
aumento de T ou seja que Hr e Sr se mantêm constantes. Por isso a linha que representa
a reação é uma reta. Tendo em conta a variação de Hr e Sr com o aumento de T a linha
que representa a reação seria representada por uma curva, designada por curva de reação
Contudo para a maioria das situações encontradas em Geologia a precisão do tipo da
figura 4.3 é suficiente. A figura 4.4 mostra da curva de reação albite ➔ jadeíte +
quartzo, construída tendo em conta a variação de de Hr e Sr com o aumento de T.

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Jadeíte +
quartzo

Fig. 4.4 – Curva de reação albite


albite
➔ jadeite +quartzo no espaço P-T

A figura 4.5 mostra exemplos de curvas de reação conhecidas da Petrologia Metamórfica

Fig. 4.5 – Exemplos de curvas de reação a marcar os campos de estabilidade de algumas associações
minerais. Retirado de Winter (2001).

Exercício : Construir os campos de estabilidade dos polimorfos de Al2SiO5 (andaluzite-


cianite-silimanite).

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Gº º Sº V
3
J/mol J/K/mol cm /mol J/bar
cianite -2426910 -2581100 83,68 44,09 4,409
andaluzite -2429180 -2576780 92,88 51,53 5,153
silimanite -2427100 -2573570 96,78 49,9 4,99
reações Tequ (K) dP/dT (bar/K)
cianite-silimanite -190 7530 13,1 5,81 0,581 574,8092 22,547
andaluzite-silimanite 2080 3210 3,9 -1,63 -0,163 823,0769 -23,926
cianite -andaluzite -2270 4320 9,2 7,44 0,744 469,5652 12,366
1) Equilíbrio cianite ➔ silimanite.

Como S é positivo quanto maior for T, menor será G ➔ a silimanite é a fase estável
em altas temperaturas.

Tequ,1bar = H/S ➔ Tequ = 575 K

dP/dT = S/ V ➔ = 13,1/0,581 ➔ dP/dT = 22,55 bar/K

Portanto o declive da fronteira entre a cianite e a silimanite num diagrama P-T é 22,55
bar/K e Tequ,1bar = 575 K

2) Equilíbrio andaluzite ➔ silimanite.


Como S é positivo a silimanite é a fase estável em altas T.

Tequ,1bar = H/S ➔ Tequ = 823 K


dP/dT = S/ V = -23,93 bar/K

Portanto o declive da fronteira entre a andaluzite e a silimanite num diagrama P-T é -


23,93 bar/K e Tequ,1= 823 K

3) Equilíbrio cianite ➔ andaluzite


Tequ,1bar = 470 K
dP/dT = S/ V = 12,37 bar/K

Portanto o declive da fronteira entre cianite e andaluzite num diagrama P-T é de


12,37 bar/K e Tequ para 1 bar = 470K

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4) Calcular o ponto invariante

G = 0 = H - TS + (P-Pref) V TS = H + (P-Pref) V

T = H/S + (P-Pref)V/S T = Tequilíbrio + (P-1)V/S

cianite-silimanite ➔ T = 575 +(P-1) x 0,0444

andaluzite-silimanite ➔ T = 823 + (P-1) x (-0,0418)

cianite –andaluzite ➔ T = 470+ (P-1) x 0,0809

Resolvendo o sistema de 2 equações vem que as coordenadas do ponto invariante são:

P=2880 bares e T = 703 K ou 430 ºC.

Com os valores constrói-se o diagrama de fases. Dão-se valores de T e calculam-se as P


respetivas tendo em conta os declives já calculados. (O declive m = P2-P1/T2-T1).

Com os pares de valores constrói-se a reta da reação no espaço P-T (Fig. 4.6)

Fig. 4.6- Construção do diagrama de fases dos polimorfos de Al2SiO5

91
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4.16. Potencial químico


A energia livre é uma propriedade extensiva, dependente da quantidade de matéria e
dependente da composição do sistema ou da fase não pura, sendo conveniente definir uma
propriedade que expresse esta relação entre a energia livre e a composição.

Para as propriedades extensivas pode definir-se um valor molar parcial (dividindo pelo
número de moles) que expressa o modo como essa propriedade depende das mudanças
de quantidade de um componente numa fase não pura ou num sistema. A variável
extensiva é transformada em intensiva, dividindo pelo número total de moles (n).

No caso do volume define-se um volume molar parcial de um componente i numa fase


j, que nos diz como é que o volume da fase varia com a adição infinitesimal do
componente i, se todas as outras variáveis forem constantes.

Vmolar =  ni vi onde V é o volume molar parcial e ni é a fração molar e vi é o volume

molar parcial. Se a fase for pura ni =1. Exemplo com a plagioclase:

Na tabela 8 vê-se que o volume molar da albite (100,07 cc.mol-1) é distinto do da anortite
(100,79 cc.mol-1); podemos definir o volume molar parcial da albite na plagioclase, que
nos indica como varia o volume da plagioclase com a adição de quantidades infinitesimais
de albite.

Questão: Calcular o volume molar de uma plagioclase cuja composição é An80Ab20


Vmolar plagioclase = 100,07x0,20+100,79 x 0,8= 100,65 cc.mol-1

Estas considerações podem ser generalizadas para todas as outras variáveis extensivas.

G é uma propriedade extensiva e a energia livre molar parcial de um componente

designa-se por potencial químico desse componente - i

A energia livre de uma fase G = ni i

Por exemplo a fase olivina (Mg,Fe)2SiO4 é descrita pelos seus dois componentes Mg2SiO4
e Fe2SiO4 . Se n1 = nº moles de Mg2SiO4 e n2 = nº moles de Fe2SiO4 então:

92
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Golivina = n1x  𝒐𝒍𝒊𝒗𝒊𝒏𝒂


𝐅𝐞 𝐒𝐢𝐎
+ n2 x  𝒐𝒍𝒊𝒗𝒊𝒏𝒂
𝐌𝐠𝟐𝐒𝐢𝐎𝟒
𝟐 𝟒

O potencial químico indica quanto da energia livre de Gibbs de uma olivina está
relacionada com o componente de forsterite e quanto está relacionado com o componente
faialite. Portanto o potencial químico diz-nos como muda a energia livre de uma fase,
com o nº de moles (ni) de um componente i, mantendo T, P e o número de moles de todos
os outros componentes da fase constantes.

O potencial químico de qualquer componente i é uma função do estado do sistema, o


que significa que i tem um valor único se P e T e composição global do sistema forem
fixos e este valor é independente do modo como o sistema atingiu P e T até esse ponto.

Para uma fase pura de um componente fica G=n ou =G/n. Neste caso a energia livre
molar da fase é igual ao potencial químico do seu componente. Usa-se Ga para referir a

energia livre molar ou energia livre molar da fase e  𝒇𝒂𝒔𝒆 para o potencial do
𝐜𝐨𝐦𝐩𝐨𝐧𝐞𝐧𝐭𝐞
componente i na fase a. Se a fase a for pura (só um componente i) teremos

𝒇𝒂𝒔𝒆
Ga = 
𝐜𝐨𝐦𝐩𝐨𝐧𝐞𝐧𝐭𝐞

Valores absolutos de energia livre das fases ou dos potenciais químicos dos componentes
não podem e não precisam de ser determinados. As energias livre são medidas em relação
a padrões, elementos ou óxidos e foram construídas escalas de energia livres relativas ou
de potenciais químicos.

As unidades de G são J as do potencial químico são J.mol-1. Como o potencial químico é


uma propriedade molar é independente do número de moles presentes no sistema, ou seja
é fixo para uma dada P e T independentemente de haver 10 ou mil moles no sistema – é
uma propriedade intensiva.

- Num sistema em equilíbrio o potencial químico de cada componente numa fase é igual
ao potencial químico desse mesmo componente em todas as outras fases nas quais está
presente.

-Num processo espontâneo os componentes estão distribuídos entre as fases de forma a


minimizar o potencial químico de todos os componentes.

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A condição de equilíbrio para reações balanceadas (mesmo número de átomos em cada


lado) é expressa como zero de diferença entre os potenciais químicos, só precisamos de
saber a diferença entre s do componente nos reagentes e nos produtos, para saber para
onde se desloca a reação.

Ou seja o critério de equilíbrio de uma reação ii=0 onde i é o coeficiente

estequiométrico, que é positivo para produtos e negativo para reagentes. Os valores de 


podem ser referidos a um estado padrão io, usado por conveniência para qualquer cálculo

e não tem efeito no estado final.

Considerar o equilíbrio seguinte onde os minerais (fases) estão escritos como puros
3Plagioclase → granada + 2cianite + quartzo
3CaAl2Si2O8 → Ca3Al2Si3O12 + 2Al2SiO5 + SiO2

𝒈𝒓𝒂𝒏𝒂𝒅𝒂 𝒑𝒍𝒂𝒈𝒊𝒐𝒄𝒍𝒂𝒔𝒆
G = 𝐂𝐚 + 2 𝒄𝒊𝒂𝒏𝒊𝒕𝒆
𝑨𝒍 𝑺𝒊𝑶
+  – 3 𝑪𝒂𝑨𝒍
𝟑𝐀𝐥𝟐𝐒𝐢𝟑𝐎𝟏𝟐 𝟐 𝟓 𝟐𝑺𝒊𝟐𝑶𝟖

No equilíbrio G = 0.

O critério de equilíbrio de uma reação é  i i=0 onde i é o coeficiente

estequiométrico, que é positivo para produtos e negativo para reagentes.

O potencial químico de um componente i numa fase j é dado por


𝒋 𝒋
 =  𝟎 R T ln 𝒂
𝐢 𝐢 𝐢

Exemplo

O potencial químico do componente almandina (Fe3Al2Si3O12) de uma solução sólida


granada (Fe, Mg, Ca, Mn)3Al2Si3O12 é

𝒈𝒓𝒂𝒏𝒂𝒅𝒂
𝒂𝒍𝒎𝒂𝒏𝒅𝒊𝒏𝒂
= 𝟎𝒂𝒍𝒎𝒂𝒏𝒅𝒊𝒏𝒂 + RT ln 𝒂𝒈𝒓𝒂𝒏𝒂𝒅𝒂
𝒂𝒍𝒎𝒂𝒏𝒅𝒊𝒏𝒂

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𝒋 - i o)/RT )
Actividade de um componente será: 𝒂𝒊 = e( (ij e reflecte a diferença entre o
potencial químico de i na fase j sob certas condições de PT e composição e o potencial
químico no estado padrão io ( Po,To )

Portanto : a)  𝟎 é o potencial químico do componente em seu estado de referência puro


𝐢
e varia em função da pressão e temperatura e mede-se com calorimetria;
𝒋
b)  é o potencial químico real varia em função da composição de fases; que se conhece
𝐢
pela sua análise química.

Atividades são as concentrações efetivas ou a disponibilidade dos componentes para a


reação e referem-se a soluções ideais. Nas soluções reais é conveniente relacionar os
parâmetros termodinâmicos não ideais com a composição da solução, pois esta pode
medir-se facilmente de modo preciso. As atividades estão relacionadas com as frações
molares (ou concentrações) pelo coeficiente de atividade , sendo a equação

ai = (Xii).

Onde  é coeficiente de ocupação do site. Para compostos ideais  = 1.

4.17. Constante de equilíbrio


Considerar a equação genérica entre os componentes X, Y, Z e Q que possuem os
coeficientes estequiométricos (i ) n, m, o, p, respetivamente.

nX +mY ➔ oZ + pQ

Para esta equação G = i i

𝒋 𝒋
Se substituir-mos i pela equação  =  𝟎 + RT ln 𝒂 no final fica
𝐢 𝐢 𝐢
𝒑
que G = Go + RT ln [(𝒂 𝒐𝐳 x 𝒂 )/( 𝒂 𝒏 x 𝒂 𝒎 )]
𝐐 𝐗 𝐘

𝒑
Se K = (𝒂 𝒐 x 𝒂 )/( 𝒂 𝒏 x 𝒂 𝒎 )
𝐙 𝐐 𝐗 𝐘

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G = Go + RT ln K

A razão entre as atividades chama-se constante de equilíbrio e designa-se por K e no


equilíbrio G= 0. Esta formulação permite determinar Keq se conhecermos Gºr.

No equilíbrio a 25º C e um bar Gr =0

0= Gor + RT ln K ➔ Gor = - RT ln K

Outro modo de medir Gºr, que é usado nas reações de oxirredução é pela equação

Gºr = nfEº e nfEº = -W´

onde W´ é o trabalho elétrico; n é o nº de moles, Eº é a força eletromotriz ou potencial


redox, e f é a constante de Faraday (96485 C.mol-1). Tendo o valor de Gºr calculado
pelas tabelas de dados termodinâmicos pode saber-se Eº de uma reação de oxirredução.

Vejamos a relação entre K e Gr com o exemplo da dissolução da anidrite pura, ou seja
aanidrite = 1 CaSO4 ➔ Ca2+ + SO42-

Se considerar-mos os valores de G0 tabelados seria

G0 = -553,6 -744,5+1321,8 = +23,7 kJ.

Gor = - RT ln K ➔ K = 10-4,15

O valor experimental desta constante de equilíbrio é 10-4,46-. Os valores são semelhantes.

O facto de G ser positivo indica que a reação tende para a esquerda em condições padrão,
e as atividades das espécies envolvidas são consideradas =1.

______________________________________________________________________

Dependência de K de T
Ho 1 1
log KT = log KTref – x[ − ]
2,303 𝑅 𝑇 𝑇𝑟𝑒𝑓

Exercício

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A dissolução do feldspato em meio ácido para dar moscovite, quartzo e iões K+ em


condições padrão tem a constante de equilíbrio 109,58 e o H0 da reação é -26,43 kJ/mol.
Considerando que a variação da entalpia é independente de T calcular K para 250 ºC .
Resposta: K = 107,56

Dependência de K de P
Vo
log KP = log KPref – x[ 𝑃 − 𝑃𝑟𝑒𝑓]
2,303 𝑅𝑇
_____________________________________________________________________

4.18. Cálculo das curvas de reação envolvendo fases não puras


Vimos como se constrói uma curva de equilíbrio no espaço P-T para fases puras. Podemos
fazer para fases multicomponentes. Os dados adicionais necessários para construir essa
curva são as composições das fases e as relações entre as atividades dos componentes e a
composição das fases.

Exemplo: A reação plagioclase ➔ granada + cianite+ quartzo

3CaAl2Si2O8 ➔ Ca3Al2Si3O12 + 2Al2SiO5 + SiO2

Tomando todos os componentes como sendo a fase pura a 1 bar e 298 K, a mudança de
energia livre desta reação é dada por:

GoP,T = Ho1,T – T SoT + (P-Pref) V

Ho=(-6624,93-2x2581,1-910,65)-(-3x4215,6)= -50980 J.mol-1

So=254,68+2x83,68+41,34 -3x205,43=-152,91 J.mol-1.K-1

V= 125,3+2x44,09+22,69-3x100,79 = -66,2 J.MPa-1mol-1 = -6,62 J.bar-1mol-1

O equilíbrio de qualquer associação destas 4 fases puras (ai=1) necessita desta condição

(Go)P,T = -RT ln K = 0 = -50980-T x (-152,91) -6,62 x (P-1)

Esta equação é usada para calcular a linha P-T na qual as 4 fases coexistem em equilíbrio.
Por ex. a 900 K , P= 13,1 kbar. A 1200 K será de 20 kbar.

Ou podemos usar a equação de Clayperon, que vem a dar o mesmo valor.

Mas se as fases não forem puras:

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3CaAl2Si2O8 ➔ Ca3Al2Si3O12 + 2Al2SiO5 + SiO2

A plagioclase é uma solução sólida entre CaAl2Si2O8 e NaAlSi3O8 e a granada é uma


solução sólida de composição (Mg,Fe,Mn,Ca)3Al2Si3O12

Supor que: cianite e quartzo são puros, que a atividade do componente grossulária na
granada (aCa3Al2Si3O12 )=10-3,9 e que a atividade do componente anortite na plagioclase é
0,2 ➔ aCaAl2Si2O8 =0,2

Neste caso vem que K = 10-3,9 /0,23= 0,0156 ➔ ln K = - 4,16

(Go)P,900 = -RT ln K = -8,314 x 900 x (-4,16) = 31127,6

Como GoP,T = 31127,6 = Ho1,T – T SoT + (P-1) V

-50980-900 x (-152,91) -6,62 x (P-1) = 31127,6

Temos que a 900 K, P = 8,4 kbar. A 1200 K será de 13,7 kbar. Portanto os valores de P
são menores do que os calculados considerando que as fases são puras. Estas relações
podem ser vistas na figura 4.7.

Fig. 4.7 – curvas de reação para fases


puras (___) e impuras (-----)

Na figura 4.8 são mostradas algumas curvas de reação para fases puras e não puras.

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Conhecendo a composição química


dos minerais é possível usar estas
reações como geotermómetros ou
geobarómetros.

Fig. 4.8 – Curvas de reação para fases


puras e não puras

4.19. Cálculo do contorno da reação e que envolve fase fluida


Para reações que envolvem voláteis a equação que permite calcular as curvas de reação
é a seguinte: H0 - T S0 = - RT lnP + (P- 1)Vsólidos

Deste modo sabendo H0, S0 e V dos sólidos pode calcular-se T para várias P e
construir a curva da reação no espaço P-T.

Para a reação calcite+quartzo ➔ volastonite + CO2

CaCO3 + SiO2 ➔ CaSiO3 + CO2

H = 89400 J/mol S = 160,9 J/K/mol e Vsólidos= -19,69 cm3/mol

➔ H0 - T S0 = - RT lnP + (P-1)V

Para 5 kbares ➔ ln5000= 8,517

89400 – T x 160,9 = -8,314 x T x 8,517 - (5000 x 1,969 )

89400 -160,9T= -70,81T -9843 ➔ 99243 = 90,09T ➔ T = 1101,6 K

Fazer o cálculo para várias P e obtem-se a figura 4.9. A figura 4.10 mostra esta curva de
reação retirada de Winter (2001). Quando há componentes gasosos os declives das curvas
de reação são muito condicionados pela P (Fig. 4.9 e 4.10). Os fluidos são muito mais
compressíveis pelo que V decresce muito com o aumento de P e este decréscimo produz
um aumento em dP/dT.

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Fig. 4.9- Curva da reação


calcite+quartzo ➔ volastonite + CO2

Fig. 4.10 –Curva da da reação calcite+quartzo ➔ volastonite


+CO2 retirada de Winter (2001).

Os cálculos para a construção da curva desta reação estão nesta tabela

P lnP R lnP P dV P dV + DH T (K) T(ºC)


10 2,302585093 19,14369246 19,69 89419,69 141,7563075 631 358
100 4,605170186 38,28738493 196,9 89596,9 122,6126151 731 458
200 5,298317367 44,05021059 393,8 89793,8 116,8497894 768 495
500 6,214608098 51,66825173 984,5 90384,5 109,2317483 827 554
1000 6,907755279 57,43107739 1969 91369 103,4689226 883 610
2000 7,60090246 63,19390305 3938 93338 97,70609695 955 682
3000 8,006367568 66,56493996 5907 95307 94,33506004 1010 737
4000 8,29404964 68,95672871 7876 97276 91,94327129 1058 785
5000 8,517193191 70,81194419 9845 99245 90,08805581 1102 829
6000 8,699514748 72,32776562 11814 101214 88,57223438 1143 870
7000 8,853665428 73,60937437 13783 103183 87,29062563 1182 909
8000 8,987196821 74,71955437 15752 105152 86,18044563 1220 947

100
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6. Geoquímica de rochas ígneas


Cristalização de magmas
A geoquímica das rochas magmáticas é controlada fundamentalmente pela composição e
mineralogia do protólito, mas também pelo processo de fusão do protólito e pelo grau de
fusão, que dependem de P e T no local da fusão. A composição dos magmas pode ainda
ser modificada durante a ascensão. A composição do protólito é ela própria função dos
processos de mistura na área fonte.

Quando um magma se forma está em equilíbrio como protólito, mas sendo menos denso
têm tendência a deixar o local de fusão e ascender na crusta, vindo a implantar-se em
câmaras magmáticas onde cristaliza, libertando energia e por vezes matéria para o
encaixante, ou se tiver energia suficiente, atinge a superfície da Terra originando rochas
vulcânicas.

O magma é muitas vezes um sistema aberto. Troca calor com a vizinhança e também
troca muitas vezes matéria, mudando a sua composição. Esta mudança na composição
ocorre por processos de recarga na câmara magmática, assimilação de rochas encaixantes,
mistura de magmas, desgaseificação, que são processos em sistema aberto. A
cristalização faccionada é um processo de diferenciação magmática que ocorre em
sistema fechado. Outro é a imiscibilidade líquida, que origina magmas muito ricos em
sulfuretos e magmas carbonatíticos, mas estes processos são raros e ocorrem em pequena
escala.

Depois e durante a intrusão ou extrusão as composições são modificadas pela


desgaseificação ou interação com um fluído. Idealmente as rochas devem ser analisadas
frescas, mas por vezes isto não é possível. Muitos corpos ígneos ao intuírem induzem a
formação de um sistema hidrotermal que afeta a rocha encaixante e leva à sua própria
alteração posterior.

Para se compreender estes processos de evolução magmática existem modelos teóricos e


os dados geoquímicos permitem testar estes modelos de evolução magmática. Os modelos
muitas vezes consideram os processos em separado, mas há modelos mais complexos que
juntam processos. Na modelização são usados elementos maiores, elementos traço, por
vezes também razões isotópicas, e para a modelização é necessário o conhecimento dos
108
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coeficientes de partição. Antes de se proceder à modelização há que identificar as


tendências de evolução na composição química, o que é feito recorrendo a diagramas de
variação.

Os dados geoquímicos permitem ainda inferir o enquadramento tectónico em que os


magmas se formam pois, as séries magmáticas originadas em diferentes enquadramentos
possuem geoquímicas distintas.

Diagramas discriminantes e tectomagmáticos.


Os diagramas que usam a composição química das rochas permitem classificar as rochas
e determinar as séries magmáticas a que as rochas em estudo pertencem. Os diagramas
que usam elementos traço, chamados diagramas tectonomagmáticos, permitem inferir
quais os ambientes de geração de séries magmáticas. Vejamos a figura 6.2 como exemplo,
onde se representa a variação Nb-Rb de basaltos atuais em vários ambientes tectónicos.

Fig. 6.2- Diagrama de dispersão Nb-Rb em basaltos atuais.

O diagrama permite distinguir magmas gerados em ambiente distensivo intraplaca, ricos


em Nb e pobres em Rb, de magmas gerados em arcos magmáticos, pobres em Nb e mais
ricos em Rb. Com estas relações é possível construir diagramas discriminantes de modo
empírico, a partir da análise discriminante de milhares de análises químicas de rochas.

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Existem na literatura vários diagramas tectonomagmáticos, que permitem inferior os


enquadramentos tectónicos de rochas antigas. São amplamente usados para rochas
ultrabásicas, básicas e relacionadas. Contudo os que existem para granitos são
considerados com reticências, pois alguns autores consideram que estes diagramas
reflectem a variação da composição dos protólitos e não a diferença nos ambientes
tectónicos. A figura 6.3 recorda os enquadramentos tectónicos onde se geram magmas
básicos (basálticos) e ácidos (granitóides).

Fig. 6.3. Enquadramentos tectónicos de geração de magmas granitóides e básicos.

Diagramas de variação
Os primeiros passos na identificação dos processos evolutivos começam pela construção
de diagramas de variação. São diagramas x-y, em que se projeta a variação de teores de
elementos função de um parâmetro indicador de diferenciação. Os diagramas de variação
condensam a informação e racionalizam um grande número de dados geoquímicos, que
são ininteligíveis se apresentados em tabelas. O elemento usado nas abcissas usualmente
é o SiO2 e os diagramas chamam-se diagramas de Harker. Em rochas básicas usa-se por
vezes o MgO, pois o leque de variação do SiO2 pode ser pequeno. Por vezes também se
usa FeOt, as proporções catiónicas, as % molares ou mg* = Mg/(Mg+Fe2+).

Nos diagramas de variação obtêm-se tendências que reflectem coerência na variação dos
teores dos vários elementos químicos (Fig. 6.4). O diagrama deve mostrar a variação entre
as amostras e identificar tendências. A coerência obtida nos diagramas de variação indica
que há um processo que explica as variações. Tendências contínuas, bem definidas,
regulares nos diagramas de Harker são a melhor evidência de um processo de fracionação.

110
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Fig.6.4- Exemplo de diagramas de Harker de rochas ígneas.

111
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As inclusões microgranulares devem ser incluídas nos diagramas. Se tiver havido


mingling elas irão projectar-se afastadas das tendências definidas pelas outras rochas
projectadas. Quanto maior número de amostras melhor a tendência e quanto melhor a
tendência melhor a modelização. Os passos mais importantes: campo, petrografia e
geoquímica tem de ser integrados com feed back entre as várias aproximações.

Identificação do processo de diferenciação: antes da modelização deve pôr-se a hipótese


de identificação do processo. A mistura de dois componentes é identificada pelas
tendências lineares em todos os diagramas, mas se a mistura for de mais de dois
componentes a identificação é difícil. A cristalização fraccionada (CF) dá tendências
curvas nos diagramas.

Cristalização fracionada e cristalização fracionada com


assimilação simultânea (AFC)
A cristalização fracionada é um dos processos mais importantes na evolução de muitas
rochas ígneas e é frequentemente a causa das variações observadas nos diagramas de
variação. Nas rochas vulcânicas é possível definir a linha de descida do líquido,
estabelecida em diagramas triangulares. Esta linha de descida do líquido é a tendência
que os líquidos residuais tomam pela sucessiva cristalização e remoção de minerais do
contacto com o magma. Portanto a identificação desta linha de descida do líquido indica
que provavelmente há um processo de cristalização fraccionada a relacionar as rochas.

Contudo há que ter em conta que tendências de variação iguais àquelas apresentadas pela
cristalização fraccionada nos diagramas de Harker, podem também ser apresentadas em
séries de rochas relacionadas por fusão parcial. Além disso a variação da composição
química dos minerais nas várias rochas também deve seguir a mesma tendência.

A tendência observada nos diagramas de Harker pode também ser devida à a assimilação
de rochas encaixantes simultaneamente com a cristalização fraccionada - processo ACF.

A assimilação de rochas é um processo endotérmico e por isso é difícil de ocorrer durante


o arrefecimento/cristalização dos magmas. Mas a cristalização fraccionada é um processo
exotérmico, sendo libertado o calor latente da cristalização, pelo que este calor pode ser
suficiente para fundir a rocha encaixante. Assim se os dois processos forem simultâneos
podem mudar a composição dos magmas.

112
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O processo ACF só é bem demonstrado nos elementos traço e nos isótopos, pois um
magma só consegue assimilar rochas que tenham um ponto de fusão inferior, ou seja
rochas mais diferenciadas. Ora estas rochas possuem composição química semelhante às
originadas por um processo de fraccionação, pelo que nos diagramas de elementos
maiores não é possível distinguir qual o processo.

Fusão parcial
Contrariamente à cristalização fracionada, num processo de fusão parcial, os magmas
mais recentes vão possuir uma composição menos evoluída (menos rica em SiO2, K2O e
mais rica em MgO, CaO, FeO), mas este processo é difícil de distinguir em diagramas de
variação pois as tendências são semelhantes às da cristalização fracionada, já que ambos
os processos representam o equilíbrio cristal-líquido. Será distinguível se tivermos as
idades das rochas originadas pela cristalização dos magmas sucessivos, com erro
pequeno.

Para a fusão parcial consideram-se dois tipos: fusão “batch” ou em equilíbrio e


fracionada. Na fusão “batch” o magma gerado reage continuamente com o resíduo sólido
no local da fusão até que escape como um pulso simples (batch). Na fusão fracionada ou
fusão Rayleigh o magma produzido é imediatamente separado do resíduo da fusão. O
processo que opera depende da permeabilidade da fonte. A fusão fracionada parece ser
apropriada para explicar a geração de magmas basálticos, onde as experiências mostram
que pequenas frações de magma podem ser removidas do protólito enquanto se vão
formando. Magmas mais viscosos provavelmente são produzidos por fusão batch.

Mistura de magmas
Magmas de diferentes reologias (possuem diferentes densidades, temperaturas de
cristalização, diferentes composições, diferentes conteúdos de fases sólidas e voláteis e
diferentes velocidades e processos de ascensão) têm dificuldade em misturar-se.
Frequentemente os magmas básicos estagnam na base crusta continental, pois apesar de
serem líquidos possuem densidade superior à da crusta continental ou estagnam na base
de câmaras siliciosas. A este processo de estagnação de magmas básicos dá-se o nome de
underplating, sendo responsável pelo aumento de T das rochas ou magmas sobrejacentes.

Contudo a mistura de magmas é um processo aceite e provado, ocorrendo durante a


evolução magmática se os magmas distintos adquirirem reologias semelhantes ou se o
113
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solidus do magma básico for inferior à da temperatura de equilíbrio entre os dois magmas.
A incorporação de água pelo magma básico é um processo pelo qual o seu solidus pode
baixar.

A mistura é também facilitada se a proporção do magma básico for muito superior à do


silicioso e neste caso a injecção o magma básico aumenta a temperatura do magma
silicioso e diminui-lhe a viscosidade, promovendo a mistura. A mistura é muitas vezes
incompleta e glóbulos do magma máfico, modificados pela interação com o magma
silicioso, são encontrados como encraves microgranulares no interior de rochas graníticas
- diz-se que se originou um “mingling” de magmas (Fig. 6.7).

Fig. 6.7. Encraves


microgranulares no
interior do granito de
Lavadores Vila Nova de
Gaia

Modelização da cristalização fraccionada


A cristalização fraccionada é modelizada a partir da composição da rocha que representa
o magma parental, da sua análise modal, da composição dos seus minerais e da
composição da rocha que representa o magma final. O que se faz é retirar da composição
da rocha que representa o magma parental (de cada óxido), porções de óxidos dos vários
minerais nele existentes, fazendo variar essas proporções até se obter a composição do
magma final. Além disso as proporções de minerais retiradas devem ser semelhantes à
composição modal da rocha que representa o magma parental e principalmente a
composição da plagioclase deve ser mais anortítica.

Nota: Os cálculos da modelização são muito demorados, pois há que fazer imensas iterações até se obter
sucesso.

114
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Modelização com elementos traço


O comportamento dos elementos traço na cristalização de uma série de magmas, em
sistema fechado, pode ser explicado por 3 modelos principais: cristalização em equilíbrio,
cristalização fracionada e in situ. Existem também modelos de cristalização em sistema
aberto, nomeadamente a mistura de magmas e o processo ACF. Estes modelos necessitam
do conhecimento dos coeficientes de partição dos elementos nas fases minerais, para
sistemas de diferentes composições. No site http://earthref.org/KDD/#top pode-se
encontrar os Kd para vários minerais em vários tipos de rochas.

Cristalização fracionada ou Rayleigh

Os cristais são removidos do local de cristalização depois desta ter acontecido. Na sua
forma mais simples a cristalização fraccionada pode ser descrita pela lei de Rayleigh

CL = Co F D-1

onde CL e Co são os teores dos elementos no líquido final e no líquido parental, F é a


fracção de líquido e D é o coeficiente de partição total.

Na figura 6.8 são dadas a variações na razão Cl/Co em função de F para a cristalização
fracionada para valores de D de 0,1, 1 e 5. Elementos compatíveis (D=5) decrescem nos
líquidos residuais e elementos incompatíveis (D=0,1) aumentam nos líquidos residuais.

Modelização da mistura de magmas


Se um magma misto (M) foi produzido pela mistura de dois magmas (A e B) a
concentração de um elemento i na mistura (Cim) depende da concentração do elemento
em cada magma CiA e CiB e da proporção entre as massas de A e B. Sabemos que X A +
115
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XB = 1. A mistura simples entre dois magmas pode ser testada pelo método de Foucard e
Allegre (1981), que tem por base a equação
Cim – CiA = X (CiB - CiA)
aplicada a cada elemento onde X é a fração do componente B na mistura. Projetando Cim
- CiA versus CiB - CiA para todos os elementos obtêm-se uma reta (Fig. 6.10) cujo declive
dá a proporção da mistura se o coeficiente de correlação for significativo.
O teste é primeiro feito para os elementos maiores e deve ser confirmado para os
elementos traço usando a mesma equação. As diferenças entre os teores calculados e os
analisados devem ser pequenas (Fig.6.11) para que se aceite o modelo.

Fig. 6.9 – Modelização de mistura de magmas

Fig. 6.10 – Modelização da mistura de magmas- elementos traço

116
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9. Geoquímica Isotópica
9.1. Introdução e conceitos
A Geoquímica Isotópica é, presentemente, a mais importante subdisciplina da
Geoquímica e das Ciências da Terra, tendo explicado com grande sucesso problemas
fundamentais das Ciências da Terra, mas também problemas da Cosmoquímica.
Presentemente há muito poucas áreas da Geologia que não usem a Geoquímica Isotópica.

Os isótopos dão informação sobre a diferenciação magmática, permitem obter


temperaturas de equilíbrio, fazer inferições sobre os reservatórios geoquímicos
envolvidos na formação das rochas e dos depósitos minerais e sobre as interações
rocha/fluidos. A geoquímica isotópica também permite a compreensão de muitos
processos ambientais, sendo usada em estudos de mudanças globais.

Uma das mais importantes aplicações da Geoquímica Isotópica é a geocronologia e a


cosmocronologia, mas tem explicado muitos fenómenos que fascinam o Homem. Por
exemplo permitiu determinar as idades precisas das idades do Gelo além da extensão
exata das mudanças da temperatura. A cronologia das idades do gelo permitiu estabelecer
os ciclos de Milankovitch. São largamente aplicados na geoquímica ambiental, pois os
isótopos são traçadores de poluição.

A radioatividade foi descoberta por Becquerel nos finais do século XIX e o


reconhecimento de que há elementos que sofrem decaimento espontâneo a taxa constante,
permitiu obter a idade absoluta das rochas. Com a radioatividade foi possível datar as
rochas e obter as idades das sucessões de estratos, construindo-se assim a escala
radiométrica do tempo geológico.

A maioria dos elementos químicos possui mais de um isótopo. Os isótopos possuem o


mesmo número de protões (Z), mas diferente número de neutrões (N). Por exemplo o
16
oxigénio ocorre como 3 isótopos estáveis O, 17O e 18O, cujas abundâncias são 99,759%,
0,037% e 0,204%.

O número sobrescrito dá o número de massa atómica A

A= nº de protões + nº de neutrões no núcleo.

171
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Daqui vem que A= N+Z e ao número de neutrões em excesso chama-se I=N-Z. Os vários
isótopos de um elemento distinguem-se pelo número de neutrões no núcleo e como a
massa do átomo está quase toda concentrada no núcleo, os isótopos distinguem-se pela
sua massa atómica. Isótopos possuem o mesmo Z. Os isóbaros possuem o mesmo valor
de A e os isótonos têm o mesmo N

As razões isotópicas ou abundâncias isotópicas num elemento são fixas e o peso atómico
de elemento reflete estas razões isotópicas. Por exemplo o Rb possui os isótopos 85Rb e
87
Rb, cujas abundâncias são 72,17% e 27,83% respetivamente. Como a massa dos
isótopos é 84,911794 e 86,909187 temos que o peso atómico do Rb é = 84,911794 x
0,7217 + 86,909187 x 0,2783 = 85,4677, que se lê na Tabela Periódica.

Os isótopos podem ser estáveis ou radioativos. Os isótopos estáveis não sofrem


decaimento radioativo ao longo do tempo; em contraste com os radioativos sofrem
decaimento espontâneo, dependente do tempo e formam novos isótopos (ditos
radiogénicos) do mesmo elemento ou de outro elemento. A figura 9.1 mostra os nuclídeos
estáveis e pode observar-se que até Z= 14 os núcleos estáveis possuem N=Z.

Fig. 9.1- Projeção de N em função de Z e tipos de decaimento.

9.2. Decaimento radioativo


O decaimento radioativo ocorre a uma taxa que é insensível a variações de T, P ou
potenciais químicos, ou seja a reações químicas. Quando um elemento radioactivo fica
aprisionado na malha de um mineral os seus átomos decaem para o elemento filho,

172
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elemento radiogénico, e decaem a taxa constante. A razão elemento filho/elemento pai


vai aumentando e as medições dessa razão dão-nos o tempo que decorreu desde que o
elemento pai foi aprisionado.

As variações de energia associadas aos processos químicos são mínimas quando


comparadas com as variações de energia associadas ao decaimento radioativo. Estas
variações de energia são medidas em mudanças de massa e são da ordem de 1011 J.mol-1,
enquanto as mudanças de energia dos processos químicos são da ordem de centenas de
kJ mol-1.

Há vários processos de decaimento radioactivo: beta mais (+), beta menos (-), captura
electrónica, alfa, fissão nuclear e emissão gama, que produzem novos nuclídeos que
também decairão se forem radioactivos, produzindo séries de decaimento. As séries de
decaimento acabam quando se formar um isótopo estável.

9.2.1. Decaimento 

No decaimento beta a carga do núcleo muda mas o número de nucleões permanece


oconstante. Há dois tipos:

Decaimento beta negativo -  - – há emissão de uma partícula - do núcleo. Isto faz com
que o número de neutrões decresça uma unidade e produz-se um protão de acordo com a
equação : neutrão ➔ protão + - + raios 

Esta reação produz um novo elemento cujo número atómico é uma unidade superior ao
do seu pai. Por exemplo:
87
Rb (Z=37) ➔ 87
Sr (Z=38) + - + raio 
40
K (Z=19) ➔ 40
Ca (Z=20) + - + raio 

Decaimento beta positivo - + - há emissão de um positrão, formando-se um neutrão e a


reação é: protão ➔ neutrão + + + raios 

É também produzido um novo elemento, mas em que o número atómico é uma unidade
26 26
menor do que o do seu pai. Por exemplo o Al (Z=13) decai para Mg (Z=12) por
emissão +.

173
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9.2.2. Captura eletrónica


Um novo elemento é produzido quando um protão é convertido num neutrão, por ter
capturado em eletrão localizado perto do núcleo. A equação é

protão + e- ➔ neutrão + raios 

O número atómico do elemento produzido é uma unidade menor do que o do núcleo pai.
É semelhante ao  +. Por exemplo:
7
Be (Z= 4) + e- ➔ 7Li (Z=3) + raio 
40
K(nº atómico 19) + e- ➔ 40
Ar (nº atómico 19) + raio 

9.2.3. Decaimento alfa

Uma partícula alfa, 2+, formada por 2 neutrões + 2 protões é ejetada do núcleo. O número
atómico decresce 2 unidades e o número de massa, 4 unidades. Por exemplo 238U (Z= 92)
decai para 234Th (Z= 90) por emissão alfa de acordo com a reação
238
U ➔ 234Th + 2+ + raios 

Os isótopos produzidos num decaimento também podem decair e como resultado alguns
235 238 232
isótopos originam uma série de decaimento (Fig. 9.2). Os isótopos U, Ue Th
originam séries de decaimento, antes de serem transformados em isótopos não
radioactivos de Pb (207Pb, 206Pb, e 208
Pb, respetivamente).

Fig. 9.2- As séries de decaimento radioativo do 235U, 238U e 232Th

174
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9.2.4. Fissão espontânea


O núcleo divide-se em dois ou mais fragmentos. É um processo comum nos isótopos
artificiais. Os isótopos 235U, 238U e 232Th também sofrem fissão natural, mas o processo é
muito lento, comparado com a emissão alfa e pode ser ignorado nos cálculos de
geoquímica isotópica.

9.3. Equações do decaimento

Durante um intervalo de tempo fixo (dt) uma proporção de isótopos pai, P, muda para
isótopos filho (D) e a taxa de decaimento (nº de átomos P que decai por unidade de tempo)
é proporcional ao número de átomos P presentes, designando-se a constante de
proporcionalidade por constante de decaimento,   Esta constante expressa a

probabilidade que um dado núcleo se desintegra num intervalo de tempo dt e é expressa


em anos-1.

A relação é dP/dt = -P dá a taxa de decaimento de um isótopo e o sinal menos indica

que há decréscimo da sua quantidade com o tempo (t). A expressão P chama-se


actividade e é o número de desintegrações por unidade de tempo. A actividade é medida
em becquerel – 1Bq= desintegração por segundo (1/s). Também se usa o curie (1 Ci= 3,7
x1010 Bq)

Rearranjando a equação

dP/dt = -P ➔ dP/P = -dt e integrando desde t=0, no final vem que

ln P/Po = -t ou P/Po = e-t ou Po = P e t em que Po é o nº de átomos pai

presentes em t=0. Como P0= P+D fica D + P = P e t ou D = P (e t


- 1)
A constante de decaimento está relacionada com o tempo de meia-vida, que é o tempo

em que metade dos isótopos pai decaem. Como ln P/Po = -t, se P=Po/2 fica

ln2 = -   t ½ Assim t ½ = 0,693/

175
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Como podem haver alguns isótopos filho já presentes (Do), além dos que resultam do
t
decaimento então D = Do + P (e - 1) esta é a equação básica da geocronologia,
mas necessitamos de saber qual o valor de Do

Como se pode saber Do?

1 - Medir as razões isotópicas em minerais que não contenham o isótopo filho quando se
formaram, de tal modo que todos os isótopos radiogénicos (filho), só provêm do
decaimento radioactivo dos isótopos radioativos.

2- A equação D = Do + P (e  t - 1) é a equação de uma recta: se D de várias amostras

for projectado contra P, o declive da recta = (e  t - 1), dá-nos o tempo t e a ordenada na

origem dá-nos Do. A linha recta chama-se isócrona e representa pontos com igual tempo

Para se usar este método há que admitir que:

 −  não mudou com o tempo

2 - O sistema permaneceu fechado (esta premissa é muitas vezes questionável).

A medição de razões isotópicas é feita em espectrómetros de massa e são mais precisas


do que a determinação absoluta da quantidade de um isótopo simples. Por isso usam-se
razões isotópicas, usando como denominador um isótopo não afectado por processos de
decaimento. Por exemplo o decaimento do 87Rb para originar 87Sr usa-se o 86Sr.

No diagrama isocrónico (Fig.9.3) o declive da isócrona permite calcular a idade. Quanto


maior o declive mais idade a rocha tem. Quando a rocha se formou no tempo t0, todas as
suas amostras (a, b, c, d) possuíam o mesmo valor de 87Sr/86Sr, que é o valor 87Sr/86Sr0,
87
mas com o passar do tempo as amostras mais ricas em Rb ficam mais ricas em Sr,
enquanto ficam mais pobres em 87Rb e as suas composições mudam.

176
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Fig.9.3– Esquema da mudança de composição das amostras com o passar do tempo

Na tabela dão-se as características de alguns sistemas usados em Geologia

9.4. Cálculo da isócrona


Tomemos o sistema Rb-Sr como exemplo. O que se determina com o espectrómetro de
massa são as razões 87Sr/86Sr e 87Rb/86Sr e a equação de decaimento tem a forma
87
Sr/86Srm =87Sr /86Sro + 87Rb /86Srm (eλt -1)

Isto é a equação de uma recta com declive =(eλt-1) e a ordenada na origem é 87Sr /86Sro

Tendo no mínimo 6 amostras é possível traçar a recta de regressão pelo método dos
mínimos quadrados e obter o seu declive e ordenada na origem. Como os dados nunca se
ajustam totalmente a uma recta é necessário saber os erros na estimação do declive e da
ordenada na origem. Os métodos estatísticos usuais permitem calcular estes erros, mas
assumem que x é variável independente e que se conhece de modo absoluto. Ora os dados
das razões isotópicas são obtidos por análises que possuem sempre um erro associado e
não são independentes.

177
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Tanto as abcissas como as ordenadas possuem erros analíticos que devem ser tomados
em conta para uma estimação o mais correta e precisa do declive (que dá a idade das
rochas) e do intercepto (ordenada na origem). Há que considerar para cada ponto da reta
os erros na sua determinação analítica, o que não é um procedimento linear.

York (1969) deu uma solução para a determinação do erro associado à construção de uma
isócrona. Usa-se o MSWD (mean squares weight desviation) que tem em conta os erros
associados à determinação de 87Sr/86Sr e 87Rb/86Sr. Este cálculo é feito com um programa
Isoplot, pois os cálculos à mão são muito trabalhosos. O MSWD deve ser o mais baixo
possível, podendo admitir-se até 1. Se forem analisados os minerais as suas razões
isotópicas devem alinhar-se na isócrona, se o sistema não tiver sido perturbado. Nestas
condições podem obter-se as idades de cristalização pelas análises isotópicas de pares de
minerais (Fig.9.4).

Fig. 9.4- Exemplo de isócronas de pares de amostras

O sistema Rb-Sr é facilmente perturbado pela alteração de rochas, mistura de magmas,


perda de Sr radiogénico, perda de Rb pelo que por vezes as rectas de regressão obtidas
nos diagramas isocrónicos não são isócronas, mas errócronas ou então são linhas de
mistura. A perturbação do sistema faz com que as idades obtidas em diferentes minerais
separados da mesma rocha sejam diferentes.

9.5. Uso do sistema Rb-Sr como indicador petrogenético


O Sr assim é uma mistura de vários isótopos e as quantidades dos isótopos radiogénicos
têm aumentado com o passar do tempo desde que a Terra se formou. Além disso, as várias
razões isotópicas, numa dada amostra, não são constantes, dependem da história
178
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geológica desse material, de quanto elemento radioactivo havia e quanto elemento


radiogénico foi produzido. Se bem que as diferenças nas razões gerais sejam pequenas
elas podem ser facilmente detectadas e são instrumentos para estudar a história das rochas
e concretamente determinar os reservatórios geoquímicos de onde provêm.

O manto possui baixas concentrações de Rb, o que origina razões Rb/Sr baixas e razões
87
Rb /86Sr também baixas, pelo que magmas derivados da fusão do manto possuem razões
87
Sr/86Sro baixas enquanto os derivados da fusão da crusta possuem razões elevadas. A
87
razão Sr/86Sr no manto é baixa e mais ou menos uniforme enquanto os valores desta
razão na crusta são muito variáveis e são mais elevados. Por isso a razão 87Sr/86Sro é usada
como indicador petrogenético.

A razão 87Sr/86Sr actualmente no manto, medida em basaltos que extruem em ambientes


oceânicos e em xenólios varia entre 0,7025 e 0,7065 e considera-se o valor médio
87
Sr/86Sr de 0,7040. Estimativas da razão 87Sr/86Sr para a Terra global, hoje, variam entre
0,7045 e 0,7052, indicando valores de Rb/Sr entre 0,03 e 0,032. A crusta derivou do
manto muito cedo nos tempos geológicos e sendo o comportamento do Rb e do Sr
diferente durante a diferenciação, a crusta é enriquecida em Rb o que leva a um
enriquecimento em Sr radiogénico na crusta, em relação ao manto. Então o material
crustal terá maiores razões 87Sr/86Sr, que se admite serem próximas de 0,72.

A razão 87Sr/86Sr do material que originou o sistema solar, quando este se formou, e que
se admite ter composição representada pelos condritos é de 0,69897+0,00003. Este valor
é referido como BABI (Basaltic Achondrite Best Initial).

É possível construir um diagrama de evolução dos isótopos de Sr (Fig. 9.5). Tendo as


87
razões iniciais Sr/86Sr de uma rocha ígnea e a sua idade é possível determinar se o
magma que a originou é ou não um diferenciado do manto ou da crusta.

Fig. 9.5- Diagrama de evolução isotópica. (Extraído de White, 2013).


179
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9.6. Sistema Sm-Nd


O 143
Nd é produzido pelo decaimento  do 147
Sm. O seu uso em geocronologia está
restrito a rochas básicas e ultrabásicas muito antigas, devido ao facto de as rochas ácidas
possuírem razões Sm/Nd uniformes, o que não possibilita a construção de uma isócrona
e ao fato do tempo de meia vida ser muito grande (106 Ga).

O Sm e o Nd são elementos pouco móveis, que formam compostos refractários, pelo que
as idades e as razões iniciais não são sensíveis à meteorização e ao metamorfismo,
contrariamente ao que acontece no sistema Rb-Sr. A razão Sm/Nd no manto é maior do
que na crusta pelo que a razão 143Nd/144Nd é maior no manto do que na crusta.

Assim este sistema é mais usado na petrogénese de rochas ígneas e metamórficas e


raramente na geocronologia. Assume-se que o sistema solar era isotopicamente
143
homogéneo quando a Terra se formou e que a razão inicial Nd/144Nd da Terra (bulk
Earth) é idêntica à razão inicial 143Nd/144Nd dos condritos. Admite-se também que a razão
147
Sm/144Nd na Terra é a semelhante (mas não igual) à dos condritos (0,1967) que
corresponde a uma razão Sm/Nd de 0,32.

A bulk Earth tem evoluído ao longo do tempo de modo semelhante aos condritos. A
crusta, que é formada pela fusão do manto tem menor razão Sm/Nd logo tem menor razão
143
Nd/144Nd. A fusão do manto faz com que ele fique empobrecido em Nd, o que faz com
que fique com maior razão Sm/Nd e logo maior razão 143Nd/144Nd.

A partir dos valores dos condritos assumimos os valores de 143Nd/144Nd, 147Sm/144Nd da


bulk Earth presentemente e a evolução de 143Nd/144Nd ao longo do tempo desde 4,55 Ga.
143
O valor atual Nd/144Ndchon = 0,512638, o valor atual de 147
Sm/144Ndchon= 0,1967 e o
valor 143Nd/144Nd4,55Ga = 0,506609.

Como sabemos o valor de 143Nd/144Nd da bulk Earth em qualquer tempo, é útil considerar
143
os desvios de Nd/144Nd de qualquer rocha, relativamente a este valor. Esses desvios
são expressos pela notação épsilon ()

9.7. A notação epsilon


É um modo de exprimir as razões isotópicas que permite grande flexibilidade no modo
com os dados isotópicos são apresentados.

180
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 Nd(t) = 104 x [(143Nd/144Nd)(t) – (143Nd/144Ndchon(t) )] / (143Nd/144Ndchon(t) )


Exemplo
Uma rocha possui 143Nd/144Nd = 0,51197. Quanto é o seu valor  Nd?
Nd = 104 x (0,51197 – 0,512638) / 0,512638 = -13,03 ➔ Nd= -13,03
O valor epsilon mede o desvio de uma amostra ou série de amostras do valor estimado no
reservatório uniforme condrítico (CHUR), tomado como referência e pode ser usado
como parâmetro normalizador para amostras de diferentes idades, pois os dados
isotópicos só são comparéveis se as amostras forem da mesma idade. É normalmente
usado para o Nd mas também se pode usar para o Sr.

O valor Nd é o desvio em relação ao valor 143Nd/144Ndchon. As vantagens desta notação


são a simplificação nos cálculos (é mais fácil usar dois dígitos do que 6) e o facto de a
maioria da rochas terem valores de  Nd entre -20 e +10. Além disso sabendo se Nd é
positivo ou negativo sabemos imediatamente algo sobre a sua história.

A evolução isotópica do Nd na Terra tem sido descrita em termos de um modelo CHUR-


reservatório uniforme condrítico definido por DePaolo e Wasserburg (1976). Como
143
sabemos a idade da Terra, razão inicial de Nd/144Nd e a razão atual de 147
Sm/144Nd
(determinados em condritos) pode-se ter um modelo de evolução do Nd na Terra, que se
assume ser semelhante ao dos meteoritos condríticos.

Podemos calcular o valor de CHUR em qualquer tempo (t) no passado pelas equações:
143
Nd/144Nd CHUR (t) = 143Nd/144Nd CHUR (presente) - 147Sm/144NdCHUR (presente) (et-1)

Ou 143
Nd/144Nd CHUR (t) = 0,512638 – 0,1967(et-1).

O modelo CHUR pode ser usado para calcular o tempo em que o Nd presente numa dada
rocha crustal se separou do seu reservatório condrítico- determina-se o tempo em que a
razão 143Nd/144Nd na rocha era igual à do CHUR- a esse tempo chama-se a idade modelo
CHUR ou tCHUR.

Sabemos que o manto é heterogéneo, tendo o manto inferior uma composição semelhante
ao CHUR, mas o manto superior tem Sm/Nd maior do que o CHUR, logo a razão
143
Nd/144Nd será maior no manto superior empobrecido em relação ao CHUR (Fig. 9.6a).
Durante a formação da crusta há uma grande fraccionamento na razão Sm/Nd, mas uma
vez formado, um bloco crustal vai manter a razão Sm/Nd (a razão 147Sm/144Nd da grande

181
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maioria das rochas crustais é próxima de 0,13). Na figura 9. 6b, quando se usa a notação
épsilon vemos que as rochas crustais tem evoluído com um declive negativo ao longo do
tempo, enquanto as rochas do manto têm evoluído com declive positivo no mesmo
diagrama.

Fig. 9.6- linha de evolução do CHUR e a do manto empobrecido, usando valores da razão isotópica (a) e
valores de épsilon (b). (Extraído de White, 2013).

9.8. Idades modelo


Podemos calcular o tempo de residência crustal ou a idade modelo de uma dada rocha ou
bloco crustal, que é o tempo em que o material que a forma, passou a fazer parte da crusta.
Assim o modelo CHUR pode ser usado para calcular o tempo em que o Nd presente numa
dada rocha crustal se separou do seu reservatório condrítico- determina-se o tempo em
que a razão 143Nd/144Nd na rocha era igual à do CHUR - a esse tempo chama-se a idade
modelo CHUR.

143
Nd/144NdCHUR= 0,512638 e 147Sm/144Nd CHUR= 0,1967

Sabemos que o manto não é uniforme e que tem ficado continuamente empobrecido na
sua parte superior. O modelo do manto empobrecido pode ser usado para calcular o tempo
em que o Nd presente numa dada rocha crustal se separou do manto empobrecido-
143
determina-se o tempo em que a razão Nd/144Nd na rocha era igual à do manto
empobrecido – idade tDM.

182
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143
Nd/144NdDM= 0,51315 e 147Sm/144Nd DM= 0,2137

143
A figura 9.7 mostra o significado das idades modelo. Os valores de Nd/144Nd são
147
extrapolados para trás (com declive que depende de Sm/144Nd) até encontrarem as
rectas de evolução de CHUR e DM.

Fig. 9.7 - Idades modelo Sm-Nd (Extraído de White, 2013).

9.9. Complementaridade dos sistemas Rb/Sr e Sm/Nd


Os sistemas Sm/Nd e Rb/Sr complementam-se. As variações das razões Sm/Nd são
grandes em rochas básicas e pequenas em rochas ácidas, enquanto as variações das razões
Rb/Sr são pequenas em rochas básicas e grandes em rochas ácidas. O uso combinado das
razões isotópicas destes dois sistemas é uma ferramenta geoquímica poderosa pois
permite a identificação de protólitos de magmas e dos seus percursos evolutivos.

As razões isotópicas Sr e Nd mostram correlação negativa (Fig. 9.8) no manto e nos


magmas derivados dele. O local da figura onde se verifica esta correlação negativa
chama-se “mantle array”. A correlação negativa reflecte as compatibilidades dos pares
pai-filho. O Rb é mais incompatível que o Sr, enquanto o Sm é mais compatível que o
Nd. Os processos magmáticos afectam as razões Rb/Sr e Sm/Nd de modos opostos, o que,
com o tempo, leva a uma relação inversa entre 87Sr/86Sr e 143Nd/144Nd (ou Nd, que é uma
183
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DCT- FCTUC

forma mais conveniente de expressar a razão isotópica). O facto da anti correlação só se


observar bem nas rochas mantélicas mostra que a evolução isotópica e química do manto
tem sido dominada pelos processos magmáticos.

Fig. 9.8- Razões isotópicas dos principais reservatórios geoquímicos. Retirado de White (2013).

A maior parte das rochas mantélicas possuem valores de 143Nd/144Nd ( ou Nd) maiores
87
e de Sr/86Sr menores que a bulk Earth, o que implica que as razões Sm/Nd têm sido
superiores no manto em relação à Terra, enquanto as razões Rb/Sr têm sido inferiores, e
principalmente nos MORB. Tal implica que o protólito dos MORB (manto superior) tem
sido empobrecido ao longo do tempo em elementos mais incompatíveis daí se chamar a
esse manto de empobrecido. Esse empobrecimento tem ocorrido devido à fusão parcial,
que vai extraindo os elementos mais incompatíveis (Rb e Nd).

9.8. Sistema U-Th-Pb


238 235 234
O U natural consiste de uma mistura de U (99,27%), com U (0,72%) e U
238 234 235 231
(0,0059%). O U decai para Th e U decai para Th por decaimento alfa. Os
isótopos de Th decaem por uma série de isótopos para 206Pb e 207Pb.

As relações totais são

238
U ➔ 206Pb com t1/2 = 4,468 x109 anos e 238 = 1,551 x 10-10 a-1
184
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235
U ➔ 207Pb com t1/2 = 0,7038 x109 anos e 235 = 9,849 x 10-10 a-1

235𝑈 1
92
238𝑈 = esta é a razão atual entre 235U/238U
92 137,88

Os minerais de U também podem conter 232Th, que decai para 208Pb

232
Th ➔ 208Pb com t1/2 =14,01 x109 anos e 232 = 4,948 x 10-11 a-1

Os 3 sistemas de datação são 238


U➔ 206
Pb; 235
U➔ 207
Pb e 232Th ➔ 208
Pb. O isótopo
não radiogénico usado como referência é o 204Pb.

A equação para 238U == 206Pb é ➔ 206Pb/204Pb = 206Pb/204Pbo + 238U/204Pb (et-1)

Para 235U e 232Th as equações são semelhantes.

Para evitar erros na determinação da razão inicial 206Pb/204Pb , usa-se um mineral que não
permita Pb na sua malha - zircão, monazite, uraninite, titanite, apatite de modo que o todo
o Pb que contem proveio do decaimento do U e Th. Um bom mineral para usar o sistema
U-Th-Pb é o zircão, que é resistente à meteorização e permanece como sistema fechado.
Além disso tende a concentrar U e excluir Pb da sua malha durante o crescimento, logo
tem uma razão pai/filho alta necessária para datação precisa.

Então com os 3 sistemas temos 3 equações e será possível calcular as 3 idades para uma
amostra e deveriam ser iguais ou concordantes. Contudo muitas vezes as idades não
concordam – são discordantes - pois o sistema pode não ter sido perfeitamente fechado e
ter havido perda de isótopos intermédios ou de Pb.

Apesar disto podem calcular-se as idades a partir das equações respetivas para o U,
mesmo que tenha havido perda de Pb, pois como as taxas de decaimento são diferentes
as razões dos isótopos filho são uma medida do tempo. Isto é feito usando um diagrama
de concórdia.

9.9. Diagrama concórdia


Usar as razões 206Pb*/238U e 207
Pb*/235U em que * significa radiogénico
O 206Pb* produzido pelo decaimento do 238U é 206
Pb* = 238U (e t -1)
e o 207Pb* produzido pelo decaimento do 235U é Pb* = 235U (e t -1).
207

Fazendo as razões isotópicas vem


185
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206
Pb* = 238U (et -1) ➔ 206Pb* /238U = (et -1)
207
Pb* = 235U (et -1) ➔ 207Pb* / 235U = (et -1)

Calculando estas razões para vários tempos (Fig. 9.9a) e projetando os valores, obtêm-se
o diagrama de concórdia (Fig. 9.9 b). A curva de concórdia é a linha que define os locais
onde as idades são concordantes pelos dois métodos. Se não tiver havido perda de Pb os
pontos projetam-se todos na concórdia. Como a perda de Pb não é a mesma para todas as
amostras do mesmo mineral há que fazer várias análises. Se a perda de Pb ocorreu num
único episódio, obtém-se uma linha recta - discórdia- que cruza a concórdia em dois
pontos (Fig. 9.9 c).

A discórdia indica perda de chumbo e tanto a intercepção superior com a concórdia como
a inferior têm significado petrológico. O prolongamento da discórdia até interceptar a
concórdia dá a idade da formação inicial da série de amostras. O prolongamento para
baixo dá a intercepção inferior e representa a idade de perda de chumbo, se esta tiver sido
única. Se tiver havido perda contínua de P, não há intercepção inferior. A idade pode ser
calculada ancorando a discórdia em zero.

Fig. 9.9- Valores de 296Pb/238U e 207Pb/235U para várias idades (a), diagrama concórdia (b) e diagrama
concórdia com discórdia (c)

186
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Portanto a idade de zircões magmáticos sem núcleos herdados é dada pela intercepção
superior e a intercepção inferior indica-nos uma perda episódica de Pb, que se deve a uma
perturbação do sistema, por ex. a rocha ter sofrido aquecimento. Se a rocha tiver zircões
herdados que também foram analisados a intercepção superior dá-nos a idade do protólito
e a intercepção inferior a idade de cristalização da rocha.

O SHRIMP (microssonda iónica) tem permitido datar cristais isolados. Na figura 9.10
mostram-se análises de zircões de metassedimentos da fácies granulítica. A idade 3,2 Ga
é a idade da fonte dos zircões detríticos, que foi estabelecida a partir dos zircões
arredondados e dos núcleos de zircões com sobrecrescimentos. Esta discórdia intercepta
a concórdia em 1,1 Ga - tempo do metamorfismo da fácies granulítica. Grãos irregulares
e os sobrecrescimentos definem outra discórdia que indica a idade do metamorfismo da
fácies granulítica (1,1Ga).

Esta técnica permitiu obter as idades mais antigas, até agora, na Terra, nos zircões
detríticos de uma sequência metassedimentar detrítica, no oeste da Austrália, os zircões
de Jack Hills (Fig. 9.11).

Fig. 9.10 – Diagrama da concórdia e análises de zircão por SHRIMP (retirado de Rollinson, 1993)

Zircões magmáticos nas rochas félsicas podem ser usados para datar o tempo de
cristalização no intercepto superior da discórdia. Nas rochas graníticas que possuem
zircões herdados o intercepto superior dá a idade da fonte crustal e o intercepto inferior
pode dar a idade de cristalização. Zircões detríticos em sedimentos podem datar a área-
mãe dos sedimentos e zircões nas rochas metamórficas podem datar o protólito ou no
caso de metassedimentos a área-mãe dos sedimentos.
187
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Fig. 9.11. Diagrama de concórdia das análises obtidas nos zircões de Jack Hills (Wilde et al., 2001) e
imagem de catodoluminescência de dois cristais datados, indicando as idades obtidas.

188
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208
e Pb/204Pb= 29,476. Estes valores são semelhantes aos determinados em condritos, e
incluindo os côndrulos de Allende. Chen e Wasserburg (1983) confirmam esses
206
resultados, ou seja: Pb/204Pb=9,3066; 207
Pb/204Pb=10,293 e 208
Pb/204Pb= 29,475,
respetivamente.

9.12. Isótopos estáveis


A geoquímica de isótopos estáveis é aplicada na geotermometria, na identificação dos
processos geológicos, por exemplo da interação ente magmas e rochas encaixantes, na
determinação da origem da água mineral e fluidos hidrotermais, na paleoclimatologia,
entre outros. Os principais elementos com interesse na geoquímica de isótopos estáveis
são: O, H, C, N, S, Li, B e S.

Entre os isótopos leves do mesmo elemento há grande diferença de massa. Por exemplo
18
no caso do oxigénio e do hidrogénio: a massa do O= 17,999160 e a massa do
16
O=15,994915, ou seja a massa do 18O é 12,5% maior do que a massa do 16O. O isótopo
2
H (2,014102 ) tem o dobro da massa do 1H (1,007825).

Durante os processos geológicos ocorre uma fracionação isotópica nestes elementos


leves, que não se observa com os pesados. O urânio ou Sr removidos de uma rocha por
alteração hidrotermal terão no fluido a mesma proporção isotópica da que permanece na
rocha, mas com o oxigénio e com o hidrogénio leves isto não acontece. Como os isótopos
mais leves têm maiores frequências de vibração, são mais facilmente vaporizados e ocorre
uma fracionação isotópica durante as reações químicas em que intervêm estes elementos.

A fracionação isotópica pode dar-se por 3 mecanismos:


▪ 1) mecanismo depende das propriedades físicas tais como evaporação,
precipitação. Por exemplo a evaporação da água faz com que a água das nuvens seja
enriquecida em 16O e 1H em relação à água do mar que é enriquecida em 18O e 2H. Do
18
mesmo modo quartzo que precipita de uma solução será enriquecido em O e 2H em
relação à solução.
▪ 2) mecanismo depende da cinética das reações envolvidas: os efeitos cinéticos
fazem com que as taxas de reação sejam mais baixas a temperaturas mais baixas e a
difusão é mais rápida nos isótopos mais leves.

194
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▪ 3) reacções de troca para atingir o equilíbrio isotópico entre duas ou mais


substâncias.
Ex. Considerar que o CO2 só contém 16O e que se mistura com água, que só contém 18O:
Dar-se-á uma troca até que o equilíbrio seja atingido
½ C16O2 + H218O ➔ ½ C18O2 + H216O .

A constante de equilíbrio da reação tem a forma

K= [C18O2]1/2 x [H216O] ou K= [C18O2/ C16O2]1/2


[C16O2]1/2 x [H218O] [H218O / H216O]

No equilíbrio a razão 18O / 16O será aproximadamente igual no CO2 e na água. Não será
exatamente igual porque as forças das ligações são diferentes. Um ex. geológico é dado
18
pela troca isotópica entre soluções hidrotermais com baixo valor O e feldspato ou
quartzo que têm alto 18O, num plutão em arrefecimento. Como regra geral o isótopo mais
leve forma uma ligação mais fraca.

9.13. Notação delta e fator de fracionação ( 18O/16O)


As razões isotópicas de isótopos estáveis são medidas relativamente a um padrão e são
expressas na notação delta () em partes por mil ou permil (%o). Para a água é o SMOW,
acrónimo de Standart Mean Ocean Water ou VSMOW, em que V significa Viena. Neste
padrão a razão absoluta 18O/16O= 2005,20 × 10−6

As razões isotópicas são expressas nesta notação delta ()

18𝑂 18𝑂
16𝑂 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 − 16𝑂 𝑉𝑆𝑀𝑂𝑊
18O (%0) = 18𝑂 x 1000 (equação I)
16𝑂 𝑉𝑆𝑀𝑂𝑊

Um valor positivo de 18O significa enriquecimento da amostra em relação ao VSMOW.

A água dos rios tem valor de 18O = –60 %o, sendo empobrecida na razão 18O/16O em

relação ao VSMOW, o que quer dizer que é empobrecida no isótopo mais pesado e
enriquecida no mais leve. O oxigénio do ar tem valor de +23,5 %o, sendo mais
18 16
enriquecidos em O do que O, em relação ao VSMOW, porque a respiração
195
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16
preferencialmente consome O e a fotossíntese produz também algum enriquecimento
em 18O. O CO2 tem 18O =+41%o.

Os isótopos de H são também definidos em relação ao VSMOW e os isótopos de carbono


são definidos em reação ao padrão Pee Dee belemnite (PDB). Os isótopos de oxigénio
em carbonatos são também definidos em relação a PDB. Os isótopos de S são definidos
em relação à trolite no meteorito de Canyon Diablo (CDT).

A extensão da fracionação isotópica entre duas fases A e B é expressa pelo fator de


fracionação:  A/B=RA/RB onde a fase A é o regente e a fase B é o produto da reação e
onde R é a razão de concentrações isótopo pesado/isótopo leve.

A relação entre  e  é dada por :


 B-A = RA/RB = (A + 103) / (B + 103).

Nota: para encontra esta relação é rearranjar a equação I para a as fases A e B

A fraccionação entre 2 fases é muitas vezes reportada como A-B = A- B

E a relação entre  e  ➔  ≈ (-1) x103 ou  ≈ 103 ln 

Exemplo: Quando a calcite precipita da água do mar sob condições de equilíbrio a troca
de isótopos de oxigénio entre a calcite e a água do mar pode ser expressa pela reacção:

CaC16O3 + H218O ➔ CaC18O3 + H216 O.


A constante de equilíbrio pode ser expressa por
K = ( [CaC18O3 ] / [CaC16O3] )
[H218O] / [H216O]
K = Rcalcite / Rágua =  =  e o valor de  em relação ao VSMOW é:
 ≈ (-1) x103  = +28,6 %o que é semelhante a  ≈ 103 ln ()  = +28,2%o

Os fatores de fracionação  (que se relacionam com ) dependem de T ➔ =C/T2.


Quando T aumenta  diminui. Pode-se calcular T pela equação empírica

196
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onde A e B são constantes experimentais para reações específicas e T é a temperatura


em kelvins.
Por exemplo:
calcular T para a reação de troca isotópica do 18O entre a magnetite e o quartzo sabendo
que =1,009 e que os valores experimentais da reação são A=6,29 e B=0
Resolução:
103 ln (1,009) =6,29 x106 / T2 ➔ T= 838K ou 565 ºC.

Pode-se também calcular sabendo os valore de 18O das fases envolvidas tendo de ter
em conta se os valores de 18O são >10 ou <10.

1) Se algum valor de 18O for superior a 10 usa-se a equação:

A-B = ( 18OA + 103) / ( 18OB + 103)

2) Se os valores de 18O forem inferiores a 10 usa-se a equação:

103 ln = 18OA- 18OB = A-B = Ax106/T2 + B

Exemplos:
1) Os minerais quartzo-ortopiroxena coexistentes num granulito, possuem as seguintes
razões isotópicas: 18Oqtz= 10,2%o e 18Oortopirx= 7,9%o. Calcular o valor da temperatura
de equilíbrio. O valor da constante A para a fracionação quartzo/ortopiroxena é de 2,75 e
o valor de B é zero. Como 18Oqtz>10 usa-se:
 quartzo/ortopiroxena = ( + 103) / (+ 103)=1,0028
103 ln (1,0028) = 2,279
2,279= 2,75 x106/T2 ➔ T = 1098 K ou 825 ºC.

2) Minerais separados de um tonalito dão os seguintes valores de 18O do quartzo e da


biotite, desde a rocha mais fresca (amostra 1) até à rocha mais alterada hidrotermalmente
(amostra 3). Calcular a temperatura inicial de cristalização e a temperatura do fluido
hidrotermal. As constantes experimentais são A=3,69 e B=-0,60
Valores de 18O do quartzo da biotite são dados no quadro
197
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Como 18O é sempre <10 usa-se 103 ln = 18OF1- 18OF2 = A-B = Ax106/T2 + B

Resolução
18
Valores de  O quartzo biotite  +B T2 T (K) T (ºC)
Amostra 1 +6,5 +4,0 2,5 3,1 1190323 1091 818
Amostra 2 +8,1 +4,1 4 4,6 802173,9 896 623
Amostra 3 +9,0 +4,4 4,6 5,2 709615,4 842 569

Resposta
As temperaturas variaram entre 818 ºC (temperatura inicial da cristalização) e 569 ºC,
que será a temperatura do fluido hidrotermal.

9.14. Variações de 18O nos reservatórios terrestres


Os valores de 18O permitem inferior quais os reservatórios envolvidos num dado
processo geológico, identificando a origem de componentes de um dado sistema.

Os valores de 18O na natureza variam cerca de 100 %o (Fig.9.16). A maior variação é


apresentada pela água meteórica, que possui os valores mais negativos de 18O.. Tal deve-
se ao facto de o 16O se evaporar mais facilmente, por possuir maior energia vibracional,
enriquecendo a atmosfera em 16O, que acaba incorporado na chuva e neve.

O valor mantélico de 5,7+0,3 %o parece ter-se mantido constante em toda a história da


Terra. Os valores de 18O dos sedimentos e na crusta continental são sempre positivos
(Fig. 9.16), refletindo a fracionação do 18O para os minerais crustais, durante os processos
18
geológicos que ocorrem na superfície a baixa T, pois o O, possui menor energia
vibracional a baixa T, sendo mais facilmente incorporado nos sólidos. (nota: os efeitos
vibracionais na fracionação são mais acentuados a baixa T). Valores próximo ou superiores a 10
em alguns granitóides indicam filiação metassedimentar destas rochas.

198
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DCT- FCTUC

Fig. 9.16. – Valores de 18O em vários reservatórios naturais.

9.15. Isótopos de oxigénio e paleotemperaturas


A fraccionação depende de T. Assumindo que:
1- a razão (18O/16O)água tem permanecido constante;
2- que os carbonatos das conchas possuem a mesma razão isotópica que a água do mar;
3- que a calcite não mudou de composição ou recristalizou;
Então a composição isotópica do oxigénio nos carbonatos das conchas pode dar indicação
da temperatura da água do mar ao longo das últimas centenas de milhares de anos.
Contudo o problema é mais complicado porque a razão (18O/16O)água tem variado. A
composição isotópica da água do oceano varia entre as épocas glaciares e interglaciares,
sendo a água isotopicamente leve (16O) armazenada em glaciares, pelo que a água dos
oceanos é enriquecida em 18O nos períodos glaciares (Fig. 9.17a). Ou seja, a variação
isotópica que se observa nas conchas é devida à variação de T ou devido ao facto de a
água ter composição isotópica variável por causa das glaciações?

A questão de quanto da variação é devida ao acúmulo de gelo e quanto é devida ao efeito


da temperatura no fracionamento é um fator importante. A resolução depende, em parte,
da composição isotópica do gelo glaciar e de quanto pode variar entre períodos glaciares
e interglaciares. No auge da Glaciação de Wisconsin (a mais recente), calcula-se que o
δ18O do oceano teria aumentado em 1,5 ‰, mas o valor exato continua em debate.
199
MMVG Silva Apontamentos GEOQUÍMICA
DCT- FCTUC

Ou seja, a estimação da temperatura da água do mar tem de ter em conta esta variação.
Durante as glaciações a água do oceano fica mais rica em 18O (18O=1,5%o), pelo que as
conchas também ficam mais enriquecidas neste isótopo. A água fria é mais rica em 18O,
o que também faz com que as conchas fiquem enriquecidas neste isótopo.

Fig. 9.17- a) Esquema mostrando a variação das razões isotópicas do oxigénio na água do mar. b)
Variações isotópicas nos sedimentos de 5 sondagens e média dos 5 valores

As variações observadas na composição isotópica de oxigénio em sedimentos recolhidos


em sondagens realizadas em vários oceanos mostram uma periodicidade de cerca de
100 000 anos (Fig. 79b). Esta observação já tinha sido feita por Emiliani em 1955, que
conclui serem estes ciclos devidos a mudanças nos parâmetros orbitais da Terra- referidos
como ciclos de Milankovitch.

200
MMVG Silva Exercícios Geoquímica
DCT-FCTUC

Análise por Microssonda electrónica (EMPA)


Nas figuras apresenta-se um esquema e uma foto de uma microssonda electrónica.

Um feixe de electrões bombardeia a


amostra (lâmina ou superfície polida),
raios-X e electrões são produzidos com os
comprimentos de onda característicos dos
elementos que existem na amostra. Uma
variedade de detectores está colocada em
redor da câmara da amostra para recolher e
medir a intensidade dos raios -X e
electrões que são ejetados pela amostra. A
intensidade é proporcional à concentração
do elemento(s).
Os detectores permitem que se
determinem os teores e também permitem
gerar imagens da superfície da amostra .
Acoplado existe um microscópio.

A análise com microssonda eletrónica EMPA ou EPMA produz análises rápidas e precisas em áreas
muito pequenas (1-2 m), pelo que os minerais individuais numa rocha podem ser estudados em
detalhe. A análise é feita em lâminas delegadas ou superfícies polidas.

26
MMVG Silva Exercícios Geoquímica
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a) Pode observar-se o zonamento expresso pela variação de Mg na olivina do bordo ao


núcleo
b) Aqui pode ver-se a variação nos teores de Mg, Al, Cr e Fe ao longo do perfil
c) Variação de Ni, Cr, e Fo em olivina ao longo dos perfis observados nas imagens.

As limitações são: não pode analisar com precisão elementos leves como oxigénio, determinar
a quantidade de água presente e não pode determinar os estados de valência (por exemplo, Fe2+
vs. Fe3+). Geralmente assume-se que todo o ferro é ferroso (FeII ou Fe2+). Para alguns minerais
é possível desdobar os teores de FeOt obtidos por microssonda em teores de FeO e de Fe2O3,
tendo em conta a estequiometria. Outro modo de o fazer é separar o mineral e fazer uma análise
química clássica do teor de FeO, por titulação. Este procedimento é questionável, pois é comum
os minerais terem inclusões, o que dá pouco rigor ao método.

Quando se analisam silicatos e óxidos, o problema do oxigénio é contornado, assumindo que


cada catião está associado com a quantidade estequiométrica de oxigénio necessária para formar
o óxido do catião. As fórmulas estruturais são calculadas a partir de análises assumindo um
número fixo de átomos de oxigénio no fórmula ideal. Ocasionalmente estes procedimentos
podem ser questionáveis mas, são usados rotineiramente nas análises por EMPA.

27
MMVG Silva Exercícios Geoquímica
DCT-FCTUC

Com os dados analíticos obtidos por EMPA calculam-se as fórmulas estruturais dos minerais e as
proporções das moléculas isomorfas presentes nas fases minerais. No livro de Deer, Howie e
Zussman, (1992) An introduction to the rock-forming minerals, é ensinado como se calculam as
fórmulas estruturais.

Fórmulas estruturais, classificação de minerais e rochas

Presentemente as análises químicas de minerais são realizadas por microssonda elctrónica


(EMPA), que não distingue os estados de oxidação do ferro. Há, contudo, rotinas escritas em
Excel que permitem fazer a distribuição do ferro pelos 2 estados de oxidação e estimar o
conteúdo em H2O, tendo em conta a estequiometria dos minerais.

Exercício 19
Na tabela são dados os resultados obtidos por EMPA em olivina. Qual o conteúdo em
forsterite desta olivina?.

% peso
SiO2 41,05
TiO2 0,01
Al2O3 0,05
Cr2O3 0,31
FeO 8,72
MnO 0,22 % Fo= Mg/(Mg+Fe+Mn)
MgO 48,71
NiO 0,53
CaO 0,34
TOTAL 99,94

Exercício 20
Foi analisada uma anfíbola por microssonda e o valor de FeO(t) determinado foi de
12,45%. A anfíbola não possui inclusões e por isso foi separada da rocha e analisada para
determinar a sua quantidade de FeO, por titulação. O valor foi de 11,42 %. Determinar
quais as quantidades de FeO e de Fe2O3 da anfíbola.

Exercício 21
Calcular as fórmulas estruturais (em apfu) das piroxenas e dos feldspatos cujas análises
químicas são dadas e fazer a sua classificação no diagrama de classificação de piroxenas
de Morimoto et al. (1988) e no diagrama de classificação dos feldspatos.

28
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DCT-FCTUC

Composição químca (% massa) de piroxenas


PIRX 1 PIRX 2 PIRX 3 PIRX 4 PIRX 5

SiO2 57,1 50 46,95 51,47 46,71


TiO2 0,17 0,49 0,11 0,29 0,95
Al2 O3 0,7 0,47 0,92 1,56 0,93
Cr2 O3 0,27 0,09 0,04 0,07 0,01
FeO (t) 5,95 34,73 41,93 22,99 32,01
MnO 0,17 0,84 5,02 0,52 0,26
MgO 34,58 11,51 3,49 21,68 0,14
CaO 0,62 1,74 1,43 1,45 18,75
Na2 O 0,07 0,2 0,05 0,07 0,26
K2 O 0,03 0,05 0,01 0,03 0,03
Total 99,66 100,12 99,95 100,13 100,05

Composição química ( % massa) de feldspatos


P1 P2 P3 P4 P5 P6
SiO2 51,71 52,19 53,4 57,56 65,32 57,55
Al2 O3 30,41 29,99 29,15 26,49 21,27 26,48
FeO (t) 0,02 0,15 0,14 0,15 0 0,04
CaO 13,45 12,99 11,95 8,93 2,99 8,98
Na2 O 4 4,13 4,88 6,53 10,32 6,35
K2 O 0,08 0,08 0,09 0,13 0,05 0,09
BaO 0,01 0,02 0,02 0,03 0,02 0,03
P2 O 5 0,02 0,01 0,03 0,01 0,04 0,03
Total 99,7 99,56 99,66 99,84 100,01 99,55

29
MMVG Silva Exercícios Geoquímica
DCT-FCTUC

Fórmulas estruturais de micas

As análises de micas por EMPA são usadas paar calcular as fórmulas estruturais e é possível
também fazer a distribuição do ferro, estimar o conteúdo em H2O e em Li2O. Há equações para
a biotite e moscovite. Bruiyn et al. (1983) [The estimation of FeO, F and H2O+ by regression
in microprobe analyses of natural biotite, Journal of Trace and microprobe techniques, 1(4)]
apresentaram uma equação para distribuição do ferro e estimação da água em biotites e
Tischendorf et al. (1999) [The correlation between lithium and magnesium in trioctahedral
micas: Improved equations for Li2O estimation from MgO data Mineralogical Magazine 63(1)]
aprentaram equações para estimar o Li2O em biotites.

Exercício 22
As análises químicas de biotites ocorrentes num granitóide são dadas na tabela seguinte.
Estimar o seu conteúdo em Li e determinar a que tipo de série de rochas o granitóide
pertence, usando o diagrama de Nachit et al. (1985) [Composition chimique des biotites et
typologie magmatique des granitoïdes. C.R. Acad. Sci. Paris, Ser. II 301]

30
MMVG Silva Exercícios Geoquímica
DCT-FCTUC

Análises de biotites
Amostra nº
SiO2 34,10 34,32 35,15 34,81 34,86 34,92 34,44 34,92 35,09
TiO2 3,73 3,49 3,28 3,65 3,93 3,50 3,94 4,11 3,82
Al 2O3 18,63 18,64 18,99 18,94 18,72 18,71 18,59 18,89 19,01
Cr2O3 0,05 0,00 0,05 0,03 0,05 0,04 0,03 0,07 0,02
FeO t 20,56 19,02 19,24 19,93 20,61 20,70 20,57 20,38 19,75
MnO 0,20 0,17 0,20 0,18 0,14 0,21 0,21 0,15 0,12
MgO 7,58 7,66 8,20 7,71 7,10 7,83 6,91 7,19 7,48
ZnO 0,08 0,14 0,10 0,06 0,12 0,08 0,06 0,11 0,07
NiO 0,00 0,05 0,01 0,04 0,00 0,00 0,00 0,00 0,04
CaO 0,01 0,08 0,02 0,02 0,02 0,00 0,02 0,00 0,02
Na 2O 0,17 0,24 0,15 0,24 0,21 0,18 0,17 0,17 0,27
K2O 9,03 8,70 9,22 8,74 9,23 9,03 9,07 9,36 9,12
BaO 0,13 0,11 0,16 0,09 0,09 0,16 0,19 0,13 0,14
Rb2O 0,11 0,13 0,15 0,13 0,13 0,14 0,14 0,13 0,15
Cs2O 0,09 0,08 0,09 0,09 0,11 0,09 0,09 0,08 0,07
F 0,23 0,27 0,22 0,18 0,14 0,23 0,16 0,16 0,11
Cl 0,04 0,07 0,05 0,09 0,05 0,03 0,08 0,06 0,07
total 94,73 93,17 95,26 94,93 95,48 95,82 94,69 95,90 95,35

1,8
Ms
alu
1,6
AlIV+AlVI (nº catiões)

1,4

1,2

0,8
0 0,5 1 1,5 2

Mg- nº catiões

Ms- moscovite
alu- aluminossilicatos (andaluzite, cordierite, estaurolite, silimanite)
S

Granadas
As granadas não hidratadas são um grupo de minerais com a fórmula geral

3RO * R2O3 * 3RO2


onde RO= FeO, CaO, MnO, MgO
R2O3= Al2O3, Fe2O3, Cr2O3
RO2= SiO2, TiO2
31
MMVG Silva Exercícios Geoquímica
DCT-FCTUC

os minerais mais frequentes são:


piropo Mg3Al2Si3O12
almandina Fe3Al2Si3O12 que formam série isomorfa
espessartina Mn3Al2Si3O12

andradite Ca3Fe3+2(Si,Ti)3O12
grossulária Ca3Al2Si3O12 que formam série isomorfa
uvarovite Ca3Cr2Si3O12

o K, Na, P, V, aparecem como impureza.

Exercício 23
Considere as granadas cujas análises químicas, obtidas por microssonda electrónica, são
dadas na tabela. Recalcule as análises distribuindo o ferro pelos dois estados de oxidação,
escreva as fórmulas químicas das granadas e determine se há diferenças no tipo de
granadas em termos das proporções de moléculas isomorfas presentes.

Representative chem ical analyses of garnet of rocks from the


Mouriscas Com plex, Central Portugal.
Rock type Protom ylonitic m eta-trondhjem ite Garnet am phibolite
Occurence Porphc. Matrix Porphb.
SiO2 37,36 36,59 37,23
TiO2 0,01 0,00 0,09
Al2O3 20,70 20,34 20,14
Cr 2O3 0,00 0,00 0,00
FeOt 35,19 37,91 33,34
MnO 1,44 2,08 2,00
MgO 3,72 2,23 2,48
NiO 0,00 0,05 0,00
ZnO 0,00 0,00 0,00
CaO 1,54 0,88 4,63
Total 99,96 100,08 99,91

32
MMVG Silva Exercícios Geoquímica
DCT-FCTUC

Análises químicas de rochas, solos e sedimentos – questões básicas

Estes materiais têm de ser, normalmente, dissolvidos ou fundidos antes de puderem ser
analisados. A dissolução ou digestão é geralmente ácida, sendo usados ácidos concentrados. Os
mais usados são o nítrico, o clorídrico, o perclórico e também o fluorídrico. O pó da amostra é
misturado com os ácidos, a quente ou frio até ficar todo dissolvido.

O ácido fluorídrico é o único que consegue destruir os silicatos e libertar para a solução os
elementos químicos que constituem a amostra. Contudo há minerais resistentes (ex. zircão,
cassiterite, barite) que o HF não consegue dissolver. A digestão ácida pode ser feita em cadinhos
dentro de hotte, processo que pode levar vários dias ou usando micro-ondas, que é mais rápido.

Depois de dissolvida a amostra em solução pode ser analisada por vários métodos, normalmente
espectrométricos, como absorção atómica (AAS), espectrometria de emissão óptica com
plasma acoplado (ICP-OES), espectrometria de massa com plasma acoplado (ICP-MS),
espectrometria de UV-Vis, espectrometria de emissão óptica com microplasma (MP-OES), que
são os mais difundidos.

A dissolução total eficiente e rápida só é conseguida com fusão. Neste caso o pó da amostra é
misturado com um fundente ou fluxo, para baixar o ponto de fusão, e vai a fundir num forno,
mufla ou queimador mecker. Depois de a amostra estar fundida ou se deixa arrefecer e o vidro
resultante é analisado por fluorescência de raios-X (FRX) ou o vidro é dissolvido com ácido,
obtendo-se também uma solução que é analisada por métodos espectrométricos. A análise por
FRX é a aconselhada para elementos maiores, mas possui limites de deteção muito altos para
os elementos traço. A activação neutrónica permite fazer análises de pó de amostra sem ser
necessário fusão ou digestão, mas os limites de deteção são também altos.

Todos os métodos analíticos referidos são instrumentais e usam a lei de Beer-Lambert. Os


resultados das amostras são obtidos depois de se ter feito uma curva de calibração usando vários
padrões laboratoriais, de que se conhece a concentração, construídos a partir de soluções
padrão. De acordo com a lei, a intensidade da radiação emitida ou transmitida é proporcional
à concentração do analito na solução (ver figura seguinte).
A curva ou recta de calibração é construída a partir das absorvâncias ou transmitâncias lidas
nos padrões com várias concentrações conhecidas e o teor da amostra é determinado pela sua
posição nesta recta. A recta de calibração está definida para um dado intervalo de
concentrações, acima das quais a lei de Beer não é obedecida. Se tal acontecer é necessário
fazer diluições.

33
MMVG Silva Exercícios Geoquímica
DCT-FCTUC

Esquema de uma curva de calibração, onde os pontos azuis são os padrões e o ponto cor de laranja é a incógnita
ou seja a amostra. A amostra tinha um absorvância de 59050, que corresponde a 295 mg/L.

Exercício 24

Quinze amostras de granitóides foram analisadas para o CaO por absorção atómica (AA)
de acordo com o seguinte procedimento:

Pesaram-se 15 amostras, sendo as massas apresentadas na tabela seguinte. As amostras foram


atacadas por mistura triácida, obtendo-se, de cada uma, uma solução que se colocou em balões
de 100 mL, aferidos à marca com água desmineralizada. Os resultados estão dados na tabela.
Para 7 das amostras (a9-a15), o valor obtido está fora da zona óptima de trabalho do aparelho
(0,9 -9 ppm), pelo foi necessário proceder a uma diluição. Para tal tomou-se 5 mL da solução
atrás obtida, se colocou em balões de 50 mL aferidos à marca. Nestas novas soluções o aparelho
indicou as concentrações da Ca expressas na tabela. Calcular a % CaO de cada amostra.

massa ppm Ca no
amostras ppm Ca no aparelho depois % Ca da % CaO da
(mg) aparelho da diluição amostra amostra
a1 100,2334 7,3 0,73 1,02
a2 100,9001 8,34 0,83 1,16
a3 100,3445 4,11 0,41 0,57
a4 99,9899 7,12 0,71 1,00
a5 100,5411 6,34 0,63 0,88
a6 101,218 7,78 0,77 1,08
a7 100,0761 8,08 0,81 1,13
a8 99,912 8,52 0,85 1,19
amostras com concentrações acima da zona óptima de trabalho
a9 101,0021 9,2 2,13 2,11 2,95
a10 100,987 9,35 2,04 2,02 2,83
a11 100,871 12,39 3,11 3,08 4,32
a12 100,513 16,46 4,02 4,00 5,60
a13 101,002 9,66 1,82 1,80 2,52
a14 99,9999 11,46 1,99 1,99 2,79
a15 101,259 12,21 3,05 3,01 4,22

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Geoquímica

Aulas de laboratório

M. Manuela da Vinha G. Silva

1
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Preparação de uma amostra de rocha para análise química e separação de


minerais

Cominuição de uma amostra de granito e obtenção da amostra laboratorial.


A cominuição é o processo de redução do tamanho do grão (por moagem) e do tamanho da
amostra mantendo a sua representatividade por esquartejamento/quarteamento. Primeiramente
a amostra deve ser limpa de zonas alteradas e musgos e cortada em esquírolas (figura seguinte)
com serra diamantada. Este procedimento é feito quando se fazem as lâminas delgadas
imprescindíveis em estudos de geoquímicos.

A quantidade de amostra a processar depende da textura

Tamanho/massa da amostra Tamanho do grão massa mínima da amostra


(mm) (kg)
Depende do objetivo
<1 0,5
Depende da textura 1- 10 1
10-30 2
Depende da homogeneidade
>30 5

A moagem é feita com vários tipos de moinhos e introduz sempre alguma contaminação na
amostra. Essa contaminação resulta da abrasão que a amostra provoca no almofariz do moinho,
sendo que material do almofariz é introduzido na amostra. Temos de admitir um grau para esta
contaminação e o grau permitido depende do objetivo da moagem:
1- Análise química, elementos traço e isótopos – requer contaminação mínima
se houver contaminação detetável introduzida pelos moinhos não vale a pena fazer…

2
DCT-FCTUC MM Vinha G Silva Geoquímica Prática

2- Separação de minerais – podem usar-se moinhos que introduzem contaminação, mas no


processo de separação essa contaminação é eliminada.

Os moinhos devem ser usados de acordo com as especificações do fabricante ou estragam-se


facilmente além disso há que atender às normas elementares de segurança:

Laboratório de Preparação de amostras e Separação de Minerais no DCT


Segurança

Uso de bata (ou ficar cheio de pó)


Uso de óculos de proteção (ou ir para o hospital para retirar grãos dos olhos)
Ter a exaustão sempre ligada quando se trabalha (ou ganhar silicose)
Disponibilidade de tempo e de espírito (ou ser muito infeliz)
Cuidados no manuseamento do equipamento (ou dedos esmagados)
Conhecimento sobre o uso do equipamento (informar-se / perguntar)
Deixar o laboratório limpo (ou ser conhecido por ser “badalhoco”)
Deixar o material identificado enquanto trabalha (ou ficar sem amostras)
Não ocupar todo o laboratório (não ser açambarcador - há mais utilizadores)
Fazer separação de lixos (ou ser reacionário ecológico)
Levar os restos das amostras que não precisa para o contentor (ou ser anti-social)

Preparação de amostras para análise química, elementos traço e isótopos


Amostra moída a pó muito fino (no mínimo 75 m) com moinhos com almofariz de ágata
Requer moagem prévia da amostra até uma granulometria aceite pelo moinho.
Esta moagem prévia pode ser feita de 2 modos: compressão da amostra com macaco hidráulico
e moinho de maxilas, que será descrito mais à frente na secção de separação de minerais.

Compressão da amostra com macaco hidráulico (figuras seguintes). Este procedimento é o que
que introduz o menor grau de contamiançao.
A amostra fica dentro de almofariz de aço e é comprimida com um pilão de aço.
Como a abrasão do almofariz pela amostra é mínima a contaminação é mínima.

3
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A amostra deve ser totalmente moída até à granulometria que se pretende, sendo esta controlada
por crivagem, que deve ser feita ao longo do processo, o que melhora a eficiência do processso.
Por precaução deve usar-se um crivo de malha larga para protecção do crivo de malha fina.

4
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Pode moer-se à granulometria que se pretender, mas o procedimento é árduo e demorado.


Costuma moer-se a <2 mm ou 0,5 mm porque é com estas granulometrias que as amostras
entram no moinhos de ágata (0,5 mm) ou no moinho de bolas de ágata (< 2 mm).

Limpeza do almofariz e pilão

Quando toda a amostra foi moída à granulometria pretendida limpa-se o almofariz e o pilão
com lixa, no final com acetona e devem ser guardados em exsicador, pois oxidam-se facilmente.
O macaco hidráulico, a banca e o chão devem ser aspirados.

Procedimentos na moagem por compressão em almofariz de aço


1. Fragmentar a amostra de rocha, que foi previamente cortada pela serra diamantada, com
a ajuda do martelo em esquírolas de 2-3cm.
2. Colocar as esquírolas no almofariz de aço.
3. Colocar o pilão do almofariz no moinho.
4. Colocar o almofariz com as esquírolas debaixo do pilão e comprimir com a ajuda do
macaco hidráulico até não conseguir mais fragmentação
5. Retirar o almofariz e esvaziá-lo para um recipiente.
6. Crivar com o peneiro de 2 mm ou de 0,5 mm, mas colocar sobre este um peneiro de 5
mm para evitar que se destrua a malha do peneiro mais fino.
7. A amostra que não passou no peneiro de 2 mm (0,5 mm) volta para o almofariz para
nova compressão. A que passou é colocada num saco de plástico e etiquetada.
8. O processo é repetido até que toda a amostra passe no peneiro de 2mm (0,5 mm)
não deitar fora nenhuma fração da amostra
9. Retirar o pilão do moinho e limpá-lo com lixa rija.
10. Limpar o almofariz com lixa.
11. Limpar todo o material com um pano seco ou papel e depois com acetona
NUNCA USAR ÁGUA
12. Colocar o almofariz e o pilão dentro de um exsicador.
13. Limpar os peneiros com ar comprimido ou escova, lavá-los com a ajuda do pincel e
secá-los na estufa a < 40 ºC.
14. Aspirar a bancada e o chão e limpar bancada com pano húmido, que se deve lavar e
secar.

5
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Moinhos de ágata
Os moinhos de ágata podem ser rotativos e de bolas. O moinho rotativo do DCT admite grãos
com granulometria até 0,5 mm e o moinho de bolas admite grãos com granulometria até 2 mm.

6
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A amostra tem de ser totalmente moída até 150 m e a granulometria é controlada por crivagem
que deve ser feita ao longo do processo, pois o material fino impede a moagem. Os crivos de
malha fina devem ser manuseados com cuidado para não danificar a malha e o crivo.
Nestes moinhos se houver contaminação esta é em SiO2, que pode ser desprezada pois é
geralmente pequena, além de que o SiO2 é o principal constituinte das rochas ígneas e
metamórficas.

Limpeza dos moinhos de ágata

No final do procedimento a limpeza é feita com acetona mas o almofariz e as bolas de ágata do
moinho de bolas podem ser limpos com água. Se houver material agarrado às paredes do
moinho faz-se um moagem de quartzo e depois procede-se à limpeza.

A banca deve ser aspirada e limpa com pano húmido.

Procedimentos na moagem a 150 ou 75 m em moinho de ágata


1. Colocar uma porção de amostra, previamente moída por compressão, no almofariz
de ágata, não ultrapassando 1/2 da capacidade do almofariz.
2. Colocar o almofariz no moinho e ligar este durante o tempo necessário, dependente
do tipo de amostra. Num granito cerca de 15min.
3. Crivar a amostra para 150 m. Pode ajudar com um pincel, mas com cuidado para
não danificar os peneiros.
4. A amostra que não passou no crivo, torna a ir ao moinho. A que passou é colocada
em saco de plástico e etiquetada. Moer toda a amostra.
5. Limpar o almofariz e o pilão com pano com acetona.
6. Limpar o crivo com ar comprimido, escova, lavá-lo e secá-lo
7. Aspirar e lavar a bancada.

Deve limpar-se com quartzo (moer uma mão cheia de quartzo com granulometria < 0,5 mm)
se a rocha que deixou resíduos agarrados às paredes do almofariz. Geralmente a moagem de
um granito fresco não requer limpeza com quartzo

7
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Procedimentos na moagem com moinho de bolas de ágata


1. Colocar uma porção de amostra moída a menos de 2mm dentro do almofariz de ágata,
colocar lá dentro as bolas e tapar com a tampa de ágata, tendo o cuidado de colocar o anel de
borracha na tampa. Nunca ultrapassar 2/3 da capacidade do almofariz.
2. Colocar o almofariz no moinho e fixá-lo bem.
3. Ligar o moinho por 15 minutos.
4. Proceder como na moagem em moinho de ágata.
5. A limpeza é com quartzo, se houver material agarrado, se não houve basta limpeza
com pano e acetona ou lavagem com água.

Quarteamento e obtenção da amostra laboratorial.

No final da moagem fica-se com a amostra totalmente moída a <150 m ( ex. 2 kg) e para o
laboratório são necessários cerca de 30-50 g. Há que retirar uma porção – a amostra laboratorial,
com cerca de 30-50 g - de uma amostra muito maior e a amostra laboratorial tem de ser
representativa.

A moagem é feita em várias tomas, pois a dimensão do almofariz não permite que seja moída
numa única vez, o que causa heterogeneidades na amostra moída. Daí ser necessária uma
homogeneização, que é feita por rolamento do pó da amostra num papel liso (papel kraft por
exemplo). Depois da homogeneização faz-se o quarteamento ou esquartejamento

Com o quarteamento retira-se uma amostra mais pequena de outra maior garantindo a
representatividade. A amostra mais pequena deve ser retirada de modo aleatório (figura
seguinte).

No final fica-se com a amostra laboratorial que tem cerca de 30-50 g. Esta amostra será
pulverizada até <75 m num moinho com almofariz de ágata, rotativo. Os minerais também
são pulverizados neste moinho e pode haver necessidade de no final moer quartzo de 150 m
para a sua limpeza.

8
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Procedimentos na obtenção da amostra laboratorial


1. Deitar toda a amostra sobre uma folha de papel Kraft , na sua face mais lisa.
2. Rolá-la sobre si própria, várias vezes até obter homogeneização total.
3. Certificar-se com ajuda da espátula que está bem homogeneizada.
4. Com a ajuda da espátula grande espalhar a amostra sobre o papel de modo a obter uma
camada fina de forma tabular.
5. Desenhar sobre a camada, com a ajuda da espátula, quadrados com cerca de 5cm de
lado
6. Retirar uma pequena porção de amostra de cada quadrado, que se vai colocando num
pequeno saco de plástico ou num cartucho de papel. Etiquetar.
7. Colocar o resto num saco de plástico e etiquetar.
8. Aspirar a bancada, limpar a espátula e desprezar o papel.

Atenção: a magnetite pode ficar agarrada à espátula. Se a rocha tiver magnetite usar espátula
de plástico.
Em rochas com megacristais (tanto ígneas como metamórficas) o pó destes pode ser difícil de
se misturar com o resto do pó da amostra. Calcar o pó com a espátula e ver se tal acontece. Pode
ser necessário ajudar a homogeneização com a espátula.

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Separação de minerais
Podem usar-se moinhos que introduzem contaminação mas o material introduzido na amostra
é depois retirado no processo de purificação dos minerais. Têm a vantagem de serem muito
rápidos.

Estes moinhos também podem ser usados para preparar amostras para a análise química de
elementos que não façam parte das ligas que constituem as maxilas ou os anéis. Por exemplo
análises de K, Ar, U, Th.

No DCT há um moinho de maxilas, com maxilas em aço-Mn e um moinho de anéis, com anéis
de carboneto de W, de cerâmica e Cr-Ni. O moinho de maxilas pode moer esquírolas. Para que
se possa moer no moinho de anéis a amostra deve estar moída a < 0,5 cm. Ou seja primeiro tem
de ser moída no moinho de maxilas.

Moinho de maxilas

Neste moinho a amostra é moída essencialmente por compressão contras as maxilas, sendo a
fricção pequena. Por isso pode-se usar este moinho até uma granulometria de < 2 mm antes de
se moer nos moinho de ágata, as mostras para análise química.

No moinho de maxilas pode moer-se as amostras até várias granulometrias, basta ir apertando
as maxilas, mas se a amostra tiver uma fração fina significativa, a admissão da amostra no funil
alimentador deve ser lenta ou as maxilas podem encravar. Se a amostra tiver alguma alteração
(minerais de argila) as maxilas podem também encravar.

Com a moagem neste moinho os minerais acessórios de menores dimensões separam-se quase
inteiros, do resto dos minerais principais. Este é o moinho que deve ser usado quando se
pretende separar zircão ou monazite. Além disso neste moinho podem moer-se amostras de
grandes dimensões (10-15 kg), que são normalmente as usadas para a separação dos minerais
acessórios.

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Procedimentos na moagem com moinho de maxilas


1. Fechar as maxilas do moinho com o espaçamento pretendido e colocar-lhe a gaveta.
2. Colocar a amostra, que pode ter sido cortada pela serra diamantada, no funil do moinho
e tapá-lo.
3. Ligar o moinho.
4. Desprezar a primeira porção de amostra.
5. Encher novamente o funil e moer toda a amostra.
6. Colocar a amostra num saco de plástico e etiquetar.

A limpeza deste moinho é muito complicada, pois é necessário limpar no interior das maxilas.
Usa-se lixa para retirar material que fique agarrado às maxilas e depois acetona. NUNCA
USAR ÁGUA. O moinho é limpo com ar comprimido e aspirador.

O chão e a banca devem ser aspirados e a banca limpa com pano húmido.

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Moinho de anéis (TEMA®)

No DCT há também um moinho de anéis (TEMA©), com almofariz e anéis de carboneto de


W, de cerâmica e Cr-Ni. Para ser moída no moinho de anéis a amostra deve estar previamente
moída a < 0,5 cm. Ou seja primeiro tem de ser moída no moinho de maxilas.

A moagem pelo moinho de anéis é muito rápida, conseguindo fazer- se pulverização em poucos
minutos. Contudo provoca uma grande fragmentação de todos os minerais e só deverá ser usado
se esta característica não for importante. Provoca também uma contaminação muito
significativa se a rocha tiver quartzo.
A amostra não deve ultrapassar 2/3 da capacidade do almofariz .

A limpeza do almofariz e anéis faz-se com acetona; havendo material incrustado usa-se quartzo
de limpeza e depois acetona. NUNCA ÁGUA. No final o moinho é aspirado. O almofariz e
respetivos anéis devem ser sempre guardados em exsicador.

Procedimentos na moagem com TEMA®


1. Usa-se uma amostra previamente moída a 0,5 cm no moinho de maxilas.
2. Colocar amostra dentro do almofariz e entre os anéis, até 2/3 da sua capacidade.

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3. Tapar o almofariz, tendo o cuidado de colocar o anel de borracha da tampa, colocá-lo


dentro do TEMA e tapá-lo.
4. Ligar o moinho. O tempo de moagem depende do tipo de amostra e também da
quantidade que se está a moer. Num granito começar com 16 s.
5. Crivar a amostra à granulometria pretendida, mas tendo o cuidado de usar um crivo de
4 ou 5mm sobre os crivos de malha fina, para evitar danificação da malha destes. Pode-se usar
um pincel para ajudar a crivagem.
6. A amostra que não passou no crivo pretendido volta ao almofariz e ao moinho.
7. Colocar a amostra moída dentro de um saco plástico e etiquetar. A amostra deve ser
toda moída.
8. Colocar quartzo puro moído a 5# dentro do almofariz e moê-lo para limpeza, quando
ficar material agarrado aos anéis e almofariz.
9. Deitar o quartzo fora.
10. Aspirar a bancada, o moinho e o chão.
11. Limpar o almofariz, os anéis, a tampa, com pano e acetona. (NUNCA USAR ÁGUA).
12. Limpar os crivos e os pincéis.
13. Colocar o almofariz com os respectivos anéis e tampa no exsicador.

Divisão de amostras muito grandes


Primeiro faz-se uma homogeneização, por rolamento da amostra sobre si própria numa folha
de papel Kraft, e um quarteamento como se mostra na figura seguinte, para a dividir para
metade. Uma das metades será guardada, pois pode vir a ser necessária, a outra irá ser usada.

Alguns laboratórios possuem


homogeneizadores/amostradores
automáticos.

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Limpeza no laboratório
Imprescindível para evitar a contaminação cruzada
O exaustor deve estar sempre ligado para limpeza e segurança
Usar compressor para retirar o pó dos crivos- fazer este procedimento dentro
da hotte e sempre no fundo no crivo.
Nos crivos grosseiros se houverem grãos entre as malhas, estes devem ser
retirados com agulha – sempre no sentido contrário ao da entrada do grão
na malha.
Crivos são lavados com água corrente e escova e secos na estufa a < 40 ºC.
Limpeza das bancas com aspirador e pano húmido. Lavar o pano e colocá-lo
a secar
Limpeza do chão com aspirador.
Lavagem e secagem dos pincéis e dos tabuleiros usados.
Os restos das amostras devem ser colocados no contentor de inertes

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Separação de minerais
Faz-se separação de minerais por várias razões: datação radiométrica; análises de isótopos
estáveis; medição de propriedades específicas do mineral, tais como densidade, elasticidade,
expansão térmica, compressibilidade, capacidade calorífica, etc.
A análise química de minerais, presentemente é feita com microssonda electrónica (EMPA) ou
microscópio electrónico de varredura (SME) em que se analisa o mineral, sem necessidade de
o separar da rocha. Para a datação os minerais que se separam são:

Técnicas Minerais datados


U-Pb, Th-Pb, Pb-Pb Zircão rútilo, titanite, alanite, monazite,
granada
Pb-Pb galena
Rb-Sr Micas, K-feldpato, minerais de argila,
plagioclase sódica a intermédia
Ar-Ar & K-Ar Micas, K-feldpato, minerais de argila,
horneblenda
Sm-Nd Granadas, piroxenas, anfíbolas
Lu-Hf Granada, lausonite
Fission track Apatite, zircão e titanite
(U-Th)/He Apatite, zircão e titanite
Carbon-14 Carbonatos de origem orgânica
U-Th Calcite

Estudos de isótopos estáveis são muito importantes para compreender as interações


rocha/fluidos (quantidades, composições/tipos de fluidos com os quais as rochas interagiram),
temperaturas de formação ou de equilíbrio dos minerais e saber a origem das rochas e depósitos
minerais. Isótopos estáveis de O, H, S e C são os mais analisados, mas também já há estudos
de isótopos pesados de Fe.

Isótopos de oxigénio: silicatos, óxidos e carbonatos


Isótopos de S: sulfuretos e alguns sulfatos
Isótopos de H; hidróxidos e silicatos hidratados
Isótopos de C: carbonatos

Antes de se começar a separação e portanto a moagem da rocha é necessário saber:


a) a abundância na rocha do mineral que se quer separar;
b) a granulometria do mineral que se quer separar

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c) Sabe se o mineral tem inclusões (não queremos que tenha!)


Se o mineral tiver mais de 10% na moda e for de grão médio ou grosseiro uma amostra com
15-20 cm de diâmetro é suficiente. Se for um mineral acessório vários kg podem ser necessários
(7, 10 ou mais kg)

Moer a rocha a uma granulometria de grão de uma areia e selecionar a fração a crivar
dependendo do tamanho do grão: o crivo deve ser ½ do tamanho de interesse.
A fração < 75 m é geralmente inútil a não ser que se queiram separar minerais de argila.
Normalmente deve ser retirada por decantações sucessivas a fim de se obter uma areia bem
calibrada. Depois da decantação a amostra deve ser seca em banho – maria ou em estufa.

Normalmente as frações entre 0,5 e 0,25 mm são as mais usadas, especialmente se se usar o
separador Frantz. Observar à lupa todas as frações e ver qual aquela onde o mineral de interesse
se concentra mais. Pode haver necessidade de fazer mais moagem.
Quando se tiver a fração que mais nos convém, lavá-la com álcool, ou água desprezando o
líquido sobrenadante. Secar e a amostra está pronta para a separação.

Separação usando o separador eletromagnético Frantz

Os minerais são classificados de acordo com a sua suscetibilidade magnética em:


Diamagnéticos: são repelidos por um imã
Paramagnéticos: alinham-se num campo magnético forte: por ex. minerais ferromagnesianos

16
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Ferromagnéticos: semelhantes aos paramagnéticos, mas alinham-se num campo magnético


externo fraco: por ex. o ferro.
Ferrimagnéticos: são naturalmente magnéticos: ex. magnetite

O separador isodinâmico Frantz separa os diferentes minerais de acordo com as suas


suscetibilidades magnéticas e ao modo como respondem a um campo eletromagnético versus
um campo gravítico. Funciona bem para grãos entre 600 a 75 m.
Um campo magnético forte é gerado por ação de uma corrente elétrica, que passa numa bobine
de cobre. O campo magnético gerado tem direção perpendicular ao plano da bobine e sentido
que aponta para o infinito (sai do plano da bobine) - ver esquema seguinte e foto seguinte. A
seta vermelha indica o campo magnético

Copo alimentador

Copo B Copo A

Qualquer mineral paramagnético que seja colocado na proximidade do campo magnético vai
deslocar-se nele e o deslocamento será tanto maior quanto maior a sua suscetibilidade
magnética. A intensidade do campo magnético é tanto maior quanto maior a intensidade da
corrente elétrica que percorre as espiras.

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DCT-FCTUC MM Vinha G Silva Geoquímica Prática

A figura de cima mostra foto de um separador magnético. Este possui uma calha, que está
colocada perpendicular à direção do campo magnético. Notar que o separador e a calha estão
inclinados (slope ou declive da calha), de tal modo que os grãos que são colocados dentro do
copo alimentador possam escorregar pela calha, por ação da gravidade e ajudados por um
vibrador colocado na extremidade da calha.

A calha está dividida longitudinalmente em duas partes. Os minerais com maior suscetibilidade
deslocam-se para a metade exterior da calha e são recolhidos no copo A, enquanto os minerais
com menor suscetibilidade não se deslocam e são recolhidos no copo B.

A calha, além de poder ter maior ou menor declive (slope), de modo a aumentar ou diminuir a
velocidade de queda dos grãos, pode também ser inclinada lateralmente (tilt) de modo a
melhorar a separação dos grãos. Quando se aumenta o tilt os grãos minerais com a maior
suscetibilidade e que serão deslocados para a parte externa da calha têm de vencer uma força
maior (por causa da gravidade) do que aqueles que se deslocam na parte interna da calha e desse
modo melhora-se a separação.

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Calha com tilt zero

Calha com tilt 15º. Os grãos têm de “subir” na calha


o que melhora a separação
Calhas vistas de perfil

Usualmente o separador é usado com um slope de 15º e um tilt de 10-15º (afastando-se do


operador)

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Procedimento normal/usual para separar um mineral específico.


• Espalhar a amostra numa folha de papel limpo e com a ajuda de um imã de mão retira-
lhe os minerais ferro e ferrimagnéticos. Recolher novamente a amostra para saco de plástico ou
cartucho de papel. Se não fizer isto os minerais ferro e ferrimagnéticos vão agarrar-se ao
separador e impedem a separação dos outros.
• Usar um slope de 15-20 º e o tilt de 10-15º.
• Encher o copo alimentador com a amostra e colocar os copos A e B no final da calha.

Cada mineral é separado com uma amperagem característica, dada numa tabela que acompanha
o separador. Ligar a corrente elétrica com uma intensidade que permita a geração de um campo
magnético com intensidade suficiente para separar o mineral de interesse. A intensidade da
corrente elétrica é medida com o amperímetro, que está no separador.
• Depois de saber qual a amperagem que permite a separação do mineral de interesse ligar
a corrente elétrica com essa amperagem. VER NOTA
• Ligar o vibrador
• Depois de ter uma fração já separada retirar uma pequena porção do copo A, colocá-la
num papel branco e observar na lupa binocular, para ver se separação é satisfatória. Se não o
for ajustar o tilt. Pode também ser necessário ajustar o slope.
• Quando estiver bem deixe passar toda a amostra.
• No final reduzir a amperagem para 0,1 A (nunca desligue diretamente para zero
amperes), desligar o vibrador e desligar a corrente.
• Colocar cada fração num saco ou cartucho, identificando cada uma delas.
• Colocar um papel por baixo da calha e com a ajuda de um pincel recolher os grãos de
minerais que ficam agarrados no separador- pode guardá-los para o futuro.
• Desligar o separador.
• Aspirar todo o separador, os copos, a calha, o copo alimentador e a base e depois usar
ar comprimido para limpeza final. Se precisar pode usar álcool, mas NUNCA ÁGUA.
• Aspirar a bancada.

NOTA: Começa-se com os minerais de menor suscetibilidade. Por exemplo se se pretende


separar zircão que tem uma baixa suscetibilidade magnética, primeiro temos de retirar a biotite,
que tem maior suscetibilidade magnética.

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Na tabela seguinte são dadas algumas características físicas que permitem a identificação de
minerais densos com a lupa binocular.

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DCT-FCTUC MM Vinha G Silva Geoquímica Prática

Quando as amostras de grandes dimensões, o que acontece quando o mineral que se pretende
separar ocorre em quantidades muito pequenas, o separador é usado em queda-livre sem calha,
sem o vibrador e usando a amperagem máxima. Este tipo de procedimento separa os minerais
paramagnéticos dos diamagnéticos. Se bem que a separação seja pouco eficiente a rapidez do
processo compensa.

Nota prática: o separador deve estar forrado a papel.

Separação usando líquidos densos

Baseia-se no facto dos minerais possuírem diferentes densidades. Usando líquidos com
densidades conhecidas podemos fazer a separação, pois um mineral com uma densidade A pode
depositar-se ou flutuar num líquido com densidade B.

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As densidades típicas dos minerais variam entre 2,2 a 8 g/cm3, mas geralmente para a maioria
dos silicatos estão entre 2,5 e 3, 5 g/cm3. Os líquidos orgânicos usados são:

• Bromofórmio ou tri-bromometano tem d= 2,89 g/cm3 e viscosidade de 1,8 cP


(centipoise = mPa.s). A sua baixa viscosidade, próxima da água (1,002 mPa.s) faz com
que seja muito usado na separação.
• Iodeto de metileno ou di-iodometano tem d=3,325 g/cm3 e viscosidade de 2,6 cP.
• Tetrabromoetano (TBE) (d=2,97 g/cm3) e viscosidade de 9 cP.

Estes líquidos são corrosivos, tóxicos, sendo absorvidos pela pele, libertam vapores tóxicos e o
bromofórmio e o tetrabromoetano são carcinogénicos. Como tal é indispensável usar hottes,
luvas e óculos durante o seu manuseamento. NUNA PODEM SER DEITADOS FORA, pois
além de serem muito caros são um perigo para o ambiente.

Líquidos densos não tóxicos podem ser preparados pela dissolução de poli-tungstatos em água.
Podem prepara-se com várias densidades, bastando variar a quantidade de água, mas nas suas
densidades máximas (+ 2,8 g/cm3) são muito viscosos, o que impossibilita a separação.
O SPT (sódio-metatungstato) e LMT (lítio metatungstato), são 25 vezes mais viscosos do que
a água. O LST (lítio heteropolitungstato) é o menos viscoso; a 25 ºC para uma densidade de 2,9
g/cm3, a sua viscosidade é de 11 cP.
A grande desvantagem é o seu preço e o tempo de operação que pode ser muito longo devido à
alta viscosidade. Usando centrífugas pode acelerar-se o processo de separação.

Procedimento para separação com líquido denso


• Por de baixo do balão de separação que vai usar, colocar um kitasato ao qual se acoplou
um funil de vidro coberto com papel de filtro (qualitativo) - ver figura
• Colocar um pouco de líquido denso no balão de separação, juntar o pó da amostra,
adicionar mais líquido até que toda a amostra esteja impregnada e ficar líquido suficiente para
que os minerais leves possam flutuar.
• Agitar e deixar em repouso até que os minerais densos se depositem e os leves
precipitem (ver figura).

23
DCT-FCTUC MM Vinha G Silva Geoquímica Prática

• Quando a separação estiver completa abrir a torneira do funil de separação - a fração


densa fica retida no filtro e o líquido é recolhido no kitasato. O uso do kitasato tem vantagem
pois pode-se fazer sução por vácuo se for necessário.
• Recolher o líquido, que poderá tornar a ser usado.
• A fração leve é tratada do mesmo modo.
• Lavar a fração densa - se for LST, SPT ou LMT usa-se água e recolhe-se para posterior
utilização. Se for líquido orgânico usa-se acetona; neste caso a limpeza tem de ser muito
cuidadosa, para não deixar líquido tóxico na amostra. Do mesmo modo a acetona de limpeza é
recolhida para se retirar o líquido para posterior utilização e NUNCA SE DEVE DEITAR
FORA. Observar se é necessário fazer ajustes à densidade do líquido (*)

(*) A densidade dos líquidos orgânicos pode ser diminuída pela adição de acetona e a
densidade dos politungstatos pela adição de água

Separação baseada na forma e densidade dos grãos (mesa de Wilfley)

A superfície de separação tem uma série de ranhuras, cortadas a um ângulo com o tilt da mesa
(ver figura)

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DCT-FCTUC MM Vinha G Silva Geoquímica Prática

A mistura de minerais é colocada na parte mais elevada da mesa e a água escorre sobre a
mistura, movimentando os grãos, enquanto a mesa vibra. Os grãos mais pesados são recolhidos
nas ranhuras e os mais leves são lavados ao longo do declive. Este tipo de separação é usado
extensivamente para fins comerciais e na extração mineira.

25
Respostas de Exame
GEOQUÍMICA

1. Explique o que é a nucleossíntese cosmológica.


É a formação de núcleos de hidrogénio e hélio e eventualmente traços de lítio e berílio
pouco depois do big bang (cerca de 3 minutos), pela fusão entre deutério e protão.

2. Qual a sequência de elementos químicos que o Sol pode sintetizar no seu


núcleo?

Sol ››› (População I) ˄ (< 4 Mʘ)


Queima hidrogénio no seu núcleo originando hélio e carbono, sendo que a
consequente queima de hélio produz, essencialmente, oxigénio e carbono.
Nota: quando a queima de hélio acabar dá-se o início da contração do núcleo, levando
à expansão das camadas externas e libertação das mesmas, ejetando material para o
espaço. Oxigénio e carbono.

3. A formação de oceano(s) de magma no início da formação da Terra teve


consequências consideráveis na sua evolução. Como se explica a
formação desse(s) oceano(s) e quais as consequências?

Três Processos:
• Decaimento radioativo de 26Al, U, Th e 40K provoca a diminuição da
geração de calor com o tempo, pois há cada vez menos elementos
radioativos disponíveis;
• Compressão gravitacional da Terra, sendo a energia potencial da gravidade
convertida em calor durante a compactação;
• Impactos de meteoritos que aquecem a superfície do planeta.
Consequências:
• Foi atingida a temperatura de fusão do ferro, sendo que a mistura aleatória
de partículas, poeiras e gases se começou a diferenciar de acordo com as
suas densidades (diferenciação geoquímica primária);
• Do evento do ferro acima referido resultou o núcleo de ferro e a
estratificação composicional e térmica da Terra (motor da tectónica de
placas e campo magnético da Terra).

1
4. Explique o conceito de Bulk Silicate Earth (BSE).

Representa a parte sólida rochosa da Terra menos a massa do núcleo (manto + crusta),
representando também a composição do manto antes da diferenciação para originar a
crusta (manto primitivo), sendo que ao início teria composição homogénea, mas tem
vindo a diferenciar-se em vários subreservatórios.

5. Sabemos que os basaltos oceânicos possuem protólitos distintos. Indique


quais são os dois protólitos principais e como se distinguem na sua
geoquímica.

Existem 2 tipos de basaltos sendo que os OIB (Ocean Island Basalts) têm como
origem a fusão parcial do manto mais profundo e os MORB (Mid Ocean Range
Basalts) que são originados pela fusão parcial do manto superior.

6. Em termos de concentração de elementos maiores como se distinguem a


crusta oceânica da crusta continental?

Crusta oceânica enriquecida em Mg, Ca e Fe, e empobrecida em Si em relação à crusta


continental.

7. Explique porque razão os elementos terras raras (REE) são elementos


litófilos.

Os elementos terras raras (REE) são litófilos uma vez que estes são elementos
incompatíveis, ou seja, elementos que tem têm dificuldade a entrar na malha de
cristalização dos minerais, ficando estes no magma. As REE possuem alta carga
dificultando a sua substituição na malha dos minerais. Desse modo, a crusta é rica em
elementos incompatíveis pois esta tem preferência por terras diferenciadas.

8. Indique quais são os elementos maiores, menores e traço.

Maiores: representados na forma de óxidos e assim na forma de percentagem, com


concentrações superiores a 1% .
São os elementos maiores: Al, Mg, Ca, Na e K (pode ser elemento menor).
Um elemento traço é um elemento que não é constituinte estequiométrico das fases
do sistema de interesse, ou seja, não é constituinte estequiométrico dos minerais
constituintes das rochas.
Para a maioria das rochas silicatadas O, Si, Al, Na, Mg, Ca, e Fe são elementos
maiores, mas a que se pode juntar o K, H, C, S, P, Ti, Cr, e Mn em certas rochas. Estes
são chamados por vezes de elementos menores e podem ser constituintes

2
estequiométricos de fases. Todos os outros são elementos traço, com exceção de
alguns a ocorrerem em pegmatitos e depósitos minerais, por exemplo o Li em
pegmatitos litiníferos.

9. Para que se usam os materiais de referência certificados quando se fazem


análises químicas de materiais geológicos?

Para que os materiais analisados possuam uma melhor precisão dos resultados uma
vez que utilizando materiais de referência certificados melhoram a qualidade dos
procedimentos laboratório não contaminando amostras e conferindo ensaios
padronizados.

10. Um magma basáltico tem uma temperatura que varia entre


1000 ± 200 ºC, mas, contudo, não consegue fundir a crusta granítica
encaixante, que tem uma temperatura de cristalização de 700 ± 50 ºC.
Porquê?

Não consegue fundir a crusta granítica encaixante uma vez que não fornece o calor
latente necessário à reorganização estrutural/destruição do granito para que este possa
fundir.
Para existir fusão seria necessário: 700 °C + calor latente.
Dá-se o processo ACF em que consiste num calor extra superior à temperatura de
fusão para destruir a rocha, reorganizando-a.

11. A reação de formação da água partir dos seus elementos a 25 ºC e 1 bar


é uma reação exotérmica ou endotérmica? Porquê? (ver Excel dados
termodinâmicos)

O2 + 2H2 – 2H2O
ΔHH2O – (ΔHO2 - ΔHH22) ››› ΔHO2 = 0 e ΔHH22 = 0
-241,81 0 = -241,81 kJ/mol
A reação é deste modo endotérmica.

3
12. A aragonite forma-se em rochas da fácies dos xistos azuis (baixa T e alta
P) enquanto a calcite forma-se em rochas da fácies zeolítica ou dos xistos
verdes (T baixa a moderada e P baixa a moderada). Mostre porquê.

Ir ao Excel dados termodinâmicos e registar os valores de Ca e Ar de V J.bar-1, em


que a Ca tem um valor de 3,693 e a Ar tem um valor de 3,415.
ΔG = ΔH – TΔS + (P – Pref)‧ΔV
0 = ΔG0 + (P - I) ) ‧ ΔV
- ΔG = P ‧ ΔV
Calcite ››› Aragonite
3,693 - 3,415 (Volume da aragonite é menor)
Logo, ΔV = -0, 278
Com aumento de T
-ΔS > 0 => ΔG diminui
ΔV < 0 => ΔG diminui
Com aumento de P
- ΔG => reação favorecida
+ P => - ΔV
Logo, o aumento de pressão favorece a aragonite.

Xistos azuis são compostos por aragonite , logo o aumento de pressão favorece os
xistos azuis.
Nota: Xistos azuis = fácies de pressões elevadas, que favorecem a formação de
aragonite.
Xistos verdes = fácies de baixas pressões.

13. O isótopo 𝟒𝟎
𝟏𝟗𝑲 decai para Ca e para Ar, sendo estes dois tipos de
decaimento usados em geologia. Explique-os.

𝟒𝟎
𝟏𝟗𝑲 -> 𝟒𝟎 +
𝟏𝟖𝑨𝒓 : neutrão transforma-se em protão ( ) por captura elétrica.
𝟒𝟎
𝟏𝟗𝑲 -> 𝟒𝟎 -
𝟐𝟎𝑪𝒂 : átomo perde protão logo temos ( ).
Decaimento beta negativo - ß - : há emissão de uma partícula - do núcleo. Isto faz com
que o número de neutrões decresça uma unidade e produz-se um protão.
Decaimento beta positivo - ß + : há emissão de um positrão, formando-se um neutrão.
Captura eletrónica: Um novo elemento é produzido quando um protão é convertido
num neutrão, por ter capturado em eletrão localizado perto do núcleo. (É semelhante
ao ß+).

4
14. O que se entende por discórdia no sistema U-Pb?

É a perda de chumbo do sistema U-Pb num único episódio.


Esperei que tenham todos a mesma idade, o erro das idades está associado ao erro
analítico.
No entanto, poderão existir vários tipos de zircão numa amostra que dão idades
diferentes pela perda de chumbo.
Logo, colocam-se os pontos da perda de chumbo passando uma reta (discórdia - reta
de idades que não são concordantes).

Se a perda de Pb ocorreu num único episódio, obtém-se uma linha reta - discórdia-
que cruza a concórdia em dois pontos.
A discórdia indica perda de chumbo e tanto a interceção superior com a concórdia
como a inferior têm significado petrológico. O prolongamento da discórdia até
intercetar a concórdia dá a idade da formação inicial da série de amostras. O
prolongamento para baixo dá a interceção inferior e representa a idade de perda de
chumbo, se esta tiver sido única. Se tiver havido perda contínua de P, não há
interceção inferior. A idade pode ser calculada ancorando a discórdia em zero.

15.Indique as desvantagens das análises por microssonda eletrónica.


As desvantagens são: não pode analisar com precisão elementos leves como oxigénio,
determinar a quantidade de água presente e não pode determinar os estados de
valência (por exemplo, Fe2+ vs. Fe3+). Geralmente assume-se que todo o ferro é ferroso
(FeII ou Fe2+). Para alguns minerais é possível desdobar os teores de FeOt obtidos por
microssonda em teores de FeO e de Fe2O3, tendo em conta a estequiometria. Outro
modo de o fazer é separar o mineral e fazer uma análise química clássica do teor de FeO,
por titulação. Este procedimento é questionável, pois é comum os minerais terem
inclusões, o que dá pouco rigor ao método.

16.Explique o que é o Evento do ferro e qual a sua importância.


A formação de oceanos de magma teve consequências. Uma vez atingida a temperatura
de fusão do ferro, a mistura inicialmente aleatória de partículas de poeira e gases
começou a diferenciar-se de acordo com a densidade dos vários materiais envolvidos. A
fusão do ferro, também conhecido como o "evento de ferro", foi uma importante
referência no desenvolvimento inicial da Terra. Dela resultou a formação do núcleo e a
estratificação composicional e térmica da Terra que é o motor de muitos dos aspetos da
dinâmica da Terra que observamos hoje (tectónica de placas, campo magnético).

5
17.Explique a importância dos elementos traço em geoquímica.
Os elementos traço fornecem muita mais informação do que os elementos maiores e o seu
contributo tem sido enorme para se conhecer a evolução da crusta, do manto e do núcleo da
Terra.
• As variações nas suas concentrações são muito grandes, quando comparadas com as
variações dos elementos maiores.
• Em qualquer sistema há mais elementos traço do que elementos maiores
• Cada elemento tem propriedades químicas únicas.
• Contêm informação química não disponível nos elementos maiores.
• Os tipos de comportamento são vários e são sensíveis a processos aos quais os elementos
maiores são insensíveis.
• O seu comportamento é sempre mais simples do que o dos elementos maiores, pois
comportam-se como componentes de soluções ideais.

18. Explique as razões da diferença que se admite entre os valores de 87Sr/86


no manto (87Sr/86 = 0,7045) e na crusta (87Sr/86 =0,7200).
86Sr = referência
87Sr = radiogénico , 87 Rb = radioativo, litófilo e é um elemento crustal, e substitui o -K.
O 87 Rb passa para 87 Sr.
Se a crusta tem muito 87 Rb, logo o 86 Sr decai para 87 Sr.
A rocha da crusta tem muito K e muito Rb porque o Rb substitui o K.

19. Explique os 3 mecanismos da fracionação isotópica de elementos leves.


A fracionação isotópica pode dar-se por 3 mecanismos:
 1) mecanismo depende das propriedades físicas tais como evaporação, precipitação.
Por exemplo a evaporação da água faz com que a água das nuvens seja enriquecida em
16O e 1H em relação à água do mar que é enriquecida em 18O e 2H. Do mesmo modo
quartzo que precipita de uma solução será enriquecido em 18O e 2H em relação à solução.
 2) mecanismo depende da cinética das reações envolvidas: os efeitos cinéticos fazem
com que as taxas de reação sejam mais baixas a temperaturas mais baixas e a difusão é
mais rápida nos isótopos mais leves.
 3) reações de troca para atingir o equilíbrio isotópico entre duas ou mais substâncias.

20. Genericamente, quais os elementos químicos que são formados na


nucleossíntese explosiva.
Quando a onda de choque atravessa as diferentes camadas mais externas do núcleo,
comprime-as de tal modo, que se dá a sua re-ignição, produzindo elementos mais
pesados por nucleossíntese explosiva.

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21. Dos seguintes elementos químicos quais os que estão enriquecidos na
crusta continental em relação à crusta oceânica: Ca, Fe, K, Na, Mg, Sr,
Ba, Li, La, Cr, Ni, Cu, Pb.
A crusta oceânica é enriquecida em Mg, Ca e Fe e empobrecida em Si em relação à crusta
continental. Essa diferença é expressa na mineralogia e litologia da crusta oceânica. Além
disso a estrutura das duas crusta é também muito distinta.

22. Explique o que e uma substituição por captura.


Captura – o elemento traço entra no cristal preferencialmente ao elemento maior porque
tem maior potencial iónico (Z/r ou carga/raio iónico).

23. Explique por que razão os elementos Zr, Hf, Nb, Ta (elementos de alta
força de campo) são elementos litófilos.
Zircónio e háfnio têm carga 4+, tântalo e nióbio têm 5+. Tântalo e Nb fazem ligações
com alto grau de covalência.
Háfnio e Zr são moderadamente incompatíveis, Nb e Ta são muito incompatíveis.
Os elementos litófilos têm eletronegatividades muito baixas ou muito altas e tendem a
formar ligações iónicas.

24. Como se averigua o erro analítico (reprodutibilidade) e como se


determina se o método analítico está a fornecer dados corretos (precisão
ou exatidão)?
Os métodos estatísticos usuais permitem calcular estes erros, mas assumem que x é
variável independente e que se conhece de modo absoluto. Ora os dados das razões
isotópicas são obtidos por análises que possuem sempre um erro associado e não são
independentes.
Tanto as abcissas como as ordenadas possuem erros analíticos que devem ser tomados
em conta para uma estimação o mais correta e precisa do declive (que dá a idade das
rochas) e do intercepto (ordenada na origem).
Se forem analisados os minerais as suas razões isotópicas devem alinhar-se na isócrona,
se o sistema não tiver sido perturbado. Nestas condições podem obter-se as idades de
cristalização pelas análises isotópicas de pares de minerais

25. Explique o que é o decaimento alfa () e quais os elementos químicos


com interesse na geocronologia que têm este tipo de decaimento.
Uma partícula alfa, 2+, formada por 2 neutrões + 2 protões é ejetada do núcleo. O
número atómico decresce 2 unidades e o número de massa, 4 unidades.
O 238U decai para 234Th e 235U decai para 231Th por decaimento alfa.
Os elementos químicos são: 238U e 234Th. (urânio e tório).

26. Explique por que razão os valores de 18O são fortemente positivos nas
rochas sedimentares. (pag 195).
Um valor positivo de 18O significa enriquecimento da amostra em relação ao VSMOW.
A água dos rios tem valor de 18O = –60 %o, sendo empobrecida na razão 18O/16O em
relação ao VSMOW, o que quer dizer que é empobrecida no isótopo mais pesado e
enriquecida no mais leve.

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27. Qual a relação que se espera entre a dureza de um mineral e o sua
entropia ?
A entropia (S) e é uma propriedade extensiva. É uma medida da uniformidade na
concentração da energia num sistema. A entropia está relacionada com o grau de
desordem interna. Quanto maior a entropia maior a desordem. Os sólidos possuem menos
entropia do que os líquidos e estes possuem menos entropia do que os gases.

28. No final da sua vida o Sol pode sintetizar no seu núcleo Fe. Porquê?
A fusão nuclear liberta energia, como resultado da força de atração nuclear que liga os
nucleões. Contudo os protões também se repelem devido à força elétrica. Devido a esta
repulsão elétrica a adição de mais protões a núcleos que tenham mais de 26 protões (ferro)
não liberta energia, mas consome energia.
Assim, núcleos de ferro não são combustível para as reações termonucleares, pelo que a
sequência de queimas acaba na queima do Si. Um produto desta queima é 56Fe origina-
se uma estrela com um núcleo de ferro onde não se processam reações termonucleares.
O núcleo estabiliza e a estrela transforma-se numa anã branca.

29. Por que razão os basaltos que estruem presentemente nas dorsais médio
oceânicas são empobrecidos em terras raras leves?

Os basaltos MORB resultam da fusão do peridotito mantélico, sim que o manto


Atlântico gera magmas basálticos logo esses magmas que dão origem a elevada
concentração de terras raras. Ao longo dos milhões de anos o protólito (peridotito)
diminui a concentração de terras raras, uma vez que as terras raras leves são
ligeiramente mais incompatíveis, tornando o magma basáltico menos rico em REE
leves.

30.Porque razão o lítio (raio iónico de 76 pm) e o césio (raio iónico de 167
pm) possuindo raios iônicos tão distintos se concentram nas micas de
pegmatitos graníticos?

O raio iónico dos catiões Cs é superior ao do site octaédrico, pelo que eles são
excluídos da malha destes minerais na cristalização e fracionam para a fase líquida ou
fundido (magma). São elementos designados de elementos incompatíveis - fracionam
para o fundido quando o manto sofre fusão.
O Li tem raio iónico semelhante ao do Mg e Fe2+, mas a sua pequena carga requer
uma substituição dupla, o que também é energeticamente desfavorável, logo também
é elemento incompatível de modo moderado.

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31.Dos seguintes elementos indique aqueles que se concentram
preferencialmente na crusta continental superior em relação à crusta
inferior.( pag 27)
Rb, Li, Zr, Cs, Ce, U, Th.

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