Paisagens da geomorfologia: Temas e conceitos no século XXI
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Sobre este e-book
Inspirado em Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos – organizado por Antonio José Teixeira Guerra e Sandra Baptista da Cunha; pioneiro e até hoje uma das principais referências do país sobre o tema –, os capítulos deste Paisagens da geomorfologia conectam as análises a partir da geomorfologia e contrapõem suas diferentes possibilidades de abordagem. Os autores tratam de grandes temas e conceitos da paisagem geomorfológica, de uma geomorfologia da percepção, da evolução das paisagens e do relevo através da tecnologia da informação, da tectônica e das estruturas do relevo do Brasil, da geomorfologia que ultrapassa fronteiras políticas, e das mudanças ambientais e climáticas nas perspectivas da geomorfologia costeira, do quaternário e dos riscos de desastres que se acentuam nos ambientes serranos e de baixadas, além do ambiente cárstico.
Paisagens da geomorfologia traz um olhar sobre conceitos e abordagens de temas importantíssimos da geomorfologia brasileira, explorando tanto seu caráter como parte de uma ciência pura, quanto integrante de uma ciência de caráter sistêmico, não apenas em termos de sua natureza física, mas por seu cunho social e ambiental, de participação no dia a dia da sociedade, das cidades e seus espaços. Os textos reunidos consolidam tendências e são voltados aos estudos e aplicações das próximas décadas para a melhoria das condições e propostas para a sociedade brasileira.
O livro reúne grandes expoentes da geografia brasileira de diferentes gerações: Antonio Guerra, Hugo Loureiro, Alex Sousa, Ana Luiza Coelho Netto, Caio Santos, Clódis Andrades Filho, Gil Albuquerque Filho, Guilherme Fernandez, Jean Caneppele, Jonathas Santos, Jurandyr Ross, Marcelo Motta, Leonardo Freitas, Osvaldo Girão, Otávio Rocha Leão, Roberto Verdum, Rubson Maia, Saulo Vital, Sidnei Gass, Thaís Rocha, Vanda Claudino-Sales e Vânia Rocha.
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Paisagens da geomorfologia - Antonio José Teixeira Guerra
1ª edição
Bertrand BrasilRio de Janeiro | 2022
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
P165
Paisagens da geomorfologia [recurso eletrônico]: temas e conceitos no século XXI / organização Antônio José Teixeira Guerra, Hugo Alves Loureiro. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2022.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5838-155-6 (recurso eletrônico)
1. Geomorfologia - Brasil. 2. Livros eletrônicos. I. Guerra, Antônio José Teixeira. II. Loureiro, Hugo Alves.
22-80597
CDD: 551.41
CDU: 551.4
Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária – CRB-7/6439
Copyright © Antonio José Teixeira Guerra e Hugo Alves Soares Loureiro, 2021
Texto revisado segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990.
Todos os direitos reservados.
Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra, por quaisquer meios, sem a prévia autorização por escrito da Editora.
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Sumário
Prefácio
1. Grandes temas e conceitos da paisagem geomorfológica à luz do século XXI
2. Geomorfologia da percepção: espaço, ambiente e forma
3. Tectônica e Geomorfologia estrutural na formação do relevo brasileiro
4. Cuesta do haedo: paisagem transfronteiriça Brasil-Uruguai
5. Relevo, paisagem e a tecnologia da informação
6. Geomorfologia cárstica no contexto da modificação das paisagens e dos riscos
7. Geomorfologia Costeira e do Quaternário: perspectiva histórica e mudanças ambientais
8. Mudanças ambientais e climáticas relacionadas com ameaças e perigos naturais no sistema da paisagem: medidas não estruturais para redução de riscos de desastres (RRD)
Autores
Prefácio
Paisagens da geomorfologia: Temas e conceitos no século XXI é uma obra essencial aos estudos ambientais contemporâneos. Inspirada no livro Geomorfologia: Uma atualização de bases e conceitos (Bertrand Brasil, 1994), organizado por Antonio José Teixeira Guerra e Sandra Baptista da Cunha, esta publicação preenche uma lacuna na reflexão contemporânea dos fenômenos ambientais presentes na paisagem geomorfológica. Assunto presente já no primeiro capítulo, Grandes temas e conceitos da paisagem geomorfológica à luz do século XXI
, de Hugo Alves Soares Loureiro e Antonio José Teixeira Guerra. Os textos aqui reunidos propõem uma mediação interessante: de um lado, refletem o intenso trabalho investigativo sobre erosão e conservação ambiental realizado pelo professor Antonio José Teixeira Guerra, bem como sua produção acadêmica no Laboratório de Geomorfologia Ambiental e Degradação dos Solos, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (LAGESOLOS — UFRJ), por outro lado, os textos representam o trabalho do professor Hugo Alves Soares Loureiro, que representa a novíssima geração da geografia brasileira e cuja produção tem se mostrado bastante importante para os estudos das áreas ambientais no estado do Rio de Janeiro e no Brasil.
Do encontro dessas duas gerações de geomorfólogos nasce este livro, organizado de modo multidisciplinar e de leitura obrigatória para geógrafos, historiadores, economistas, pesquisadores e todos os leitores interessados em temas ligados à geografia e à conservação ambiental. O que podemos captar da paisagem enquanto conceito integrante da geomorfologia é cuidadosamente trabalhado por Marcelo Motta de Freitas, Otávio Miguez da Rocha Leão e Gil Clementino Cavalcanti de Albuquerque Filho, no capítulo 2, Geomorfologia da percepção: Espaço, ambiente e forma
.
As origens do relevo do Brasil são minuciosamente tratadas no capítulo 3, elaborado por Vanda de Claudino-Sales, Rubson Pinheiro Maia e Clódis de Oliveira Andrades Filho, em Tectônica e geomorfologia estrutural na formação do relevo brasileiro
.
Roberto Verdum, Sidnei Luís Bohn Gass e Jean Carlo Gessi Caneppele vão além da descrição, no capítulo 4 os autores resgatam referências científicas sobre a Cuesta do Haedo para lançar bases ao planejamento e gestão binacional desta unidade da paisagem.
O capítulo 5, de Jurandyr Luciano Sanches Ross, Alex da Silva Sousa e Jonathas Jesus dos Santos, traça um histórico conceitual das relações entre o relevo e a paisagem, analisadas através das geotecnologias, que permitem manipular e processar dados, gerando informação geográfica.
No capítulo 6, os autores Saulo Roberto de Oliveira Vital, Osvaldo Girão da Silva e Caio Lima dos Santos abordam o conceito de carste, as características de sua paisagem e fatores que determinam sua formação, bem como os componentes deste sistema. Tratam, ainda, dos riscos associados, com exemplos no Brasil, visto que a temática vem ganhando notoriedade e importância.
A geografia dialoga com o ambiente e, parafraseando McLuhan (McLuhan, M.; Fiore, Q. The Medium is the Message. NY: Random House, 1st Edition, January 1, 1967), o meio ambiente seria uma mensagem que, se compreendida, sugere os caminhos possíveis ao seu manejo e conservação. Este viés está desenhado por Guilherme Borges Fernandez e Thaís Baptista da Rocha no capítulo 7, Temas e conceitos da geomorfologia costeira e do Quaternário nas perspectivas histórica e das mudanças ambientais
. O objetivo é trazer a geomorfologia costeira e do Quaternário, em uma perspectiva histórica, destacando temáticas atuais.
No último capítulo, Mudanças climáticas e ameaças naturais: Medidas não estruturais para redução de riscos de desastres
, de Ana Luiza Coelho Netto, Leonardo Esteves de Freitas e Vânia Rocha, os autores discutem maneiras de tratar os riscos gerados pelos efeitos das mudanças ambientais antropogênicas sobre os regimes climáticos que impactam outros fenômenos naturais, degradando o meio ambiente e a qualidade de vida.
Ao longo desses oito capítulos, os organizadores dão destaque ao que há de mais atual e inovador em termos de conceitos, processos, formas, técnicas e preocupações nas principais temáticas basilares da geomorfologia. E, assim, disponibilizam aos leitores novos olhares e perspectivas sobre a ciência geográfica, cujo caráter sistêmico não se perfaz apenas em termos de sua natureza física, mas também em seu cunho social e ambiental e de participação no cotidiano social nas cidades e em seus espaços.
Prof. Dr. Raphael David dos Santos Filho Faculdade de Arquitetura e Urbanismo — UFRJ
1
grandes temas e conceitos da paisagem geomorfológica à luz do século xxi
Hugo Alves Soares Loureiro1
Antonio José Teixeira Guerra2
1. Introdução
O conceito de paisagem tem sido abordado por cientistas dos mais variados campos de conhecimento. A geografia é um deles, que procura entender a paisagem como natureza integrada, síntese dos aspectos físicos e sociais. Seu conhecimento torna-se importante para o manejo adequado e sustentável dos recursos naturais, e para as sociedades como um todo (GUERRA; MARÇAL, 2018). Destes conhecimentos pode-se destacar alguns: abiótica, biótica, antrópica, cultural, equilibrada, estável, geomorfológica, geológica, integrada, natural, progressiva, morfológica, conservada, protegida, preservada, urbana, rural etc.
Neste capítulo serão abordadas várias características relativas às paisagens, e, nesse sentido, o estudo da geomorfologia tem sido cada vez mais relevante, em especial na elaboração de relatórios e diagnósticos que contribuem com o planejamento das paisagens. A geomorfologia ambiental procura integrar as questões sociais às demandas da natureza, que são fundamentais na determinação dos processos de mudanças, e podem ocorrer no ambiente físico e socioambiental.
Na abertura deste capítulo, não poderíamos deixar de chamar atenção para o livro Os domínios de natureza no Brasil — Potencialidades paisagísticas, porque Ab’Saber (2003) afirma que todos aqueles que se iniciam no estudo das ciências da natureza acabam atingindo a ideia de que paisagem é sempre um legado de processos fisiográficos e patrimônio coletivo dos povos que historicamente as herdaram como território de atuação de suas comunidades
(AB’SABER, 2003. p.9).
O termo paisagem tem ampla conotação de sentidos e significados. Por exemplo, Walters et al. (2021) descrevem iniciativas de larga escala envolvendo a conservação da paisagem em áreas de comunidades locais realizadas por organizações não governamentais em conjunto com gestores ambientais e cientistas, com o objetivo de atingir a sustentabilidade da paisagem na República de Camarões, na África. O foco deste projeto foram as paisagens com florestas, onde as comunidades locais, reunidas com ecólogos da paisagem, desenvolveram conhecimento conjunto a fim de elaborar intervenções relacionadas à conservação ambiental dessas florestas. Walters et al. (2021) procuraram entender como a ecologia da paisagem pode se engajar com a gestão da paisagem, de forma a contribuir para o seu manejo sustentável.
Para avaliar mudanças no uso da terra, de longo termo, pode-se lançar mão de mapas topográficos antigos, planos cadastrais, fotografias aéreas e outros materiais de arquivos. No entanto, essas mudanças também podem ser interpretadas pela comparação entre pinturas antigas de paisagem com a paisagem atual (HEVLICEK et al., 2021). Segundo esses autores, existe atualmente na República Tcheca um projeto que tem introduzido pinturas da paisagem como fonte capaz de capturar mudanças no uso da terra, suplementando informações a partir de mapas, com outra dimensão e detalhe. Com a ajuda de pinturas da paisagem é possível reconhecer, em mais detalhe, a estrutura da paisagem, o manejo da terra, o arranjo da estrutura de colonização, o tipo de vegetação predominante, algumas vezes até espécies de vegetais e formações geomorfológicas de interesse.
Hevlicek et al. (2021) destacam que as localidades encontradas a partir de pinturas de paisagens antigas, comparadas com a situação atual, publicadas em sites, possuem alto potencial para o turismo e a recreação. Ou seja, tais pinturas podem trazer ganhos significativos a partir da visão que os pintores imprimiram dessas paisagens, sendo dessa forma acessíveis aos turistas que visitam essas áreas. Ainda, a publicação de réplicas dessas pinturas pode trazer nova dimensão aos painéis em trilhas educativas e ajudar a atrair turistas para áreas pouco conhecidas, fora do circuito de trilhas com maior visitação.
Dentro da temática do presente capítulo, a agroecologia combina conceitos agronômicos e ecológicos, relaciona serviços ecossistêmicos ao suporte da produção agrícola e está subordinada à melhoria da biodiversidade. A propósito disso, Jeanneret et al. (2021) afirmam que a agroecologia é dependente de interações biológicas para a estruturação da gestão dos sistemas agrícolas nas paisagens com lavouras. Os autores, consequentemente, realizam uma boa revisão da paisagem ecológica, a fim de compreender e promover a biodiversidade, a regulação de pestes e a polinização das lavouras para a organização das paisagens agroecológicas.
Jeanneret et al. (2021) abordam o uso de tais métodos para dar apoio aos sistemas agroflorestais — como um exemplo do desenvolvimento agroecológico —, propondo caminhos para implementar essa forma de uso e manejo da terra, numa escala agroecológica. Ainda apontam como a paisagem ecológica contribui para o desenvolvimento agroecológico, mostrando que a agroecologia necessita de um pensamento que vai além da escala de campo para considerar o posicionamento, a qualidade e a conectividade dos diversos campos e dos habitats seminaturais, em uma escala espacial maior. Consequentemente, os autores concluem que a adoção de práticas agroecológicas vai além dos limites das fazendas, visto que levam a uma interação entre as diversas unidades produtivas e criam uma rede de fazendas para ampliar a adoção da agroecologia em uma escala de paisagem.
A noção de paisagem tem tomado diversos caminhos, na geografia e em outras ciências. De acordo com Bluwstein (2021), do século XVIII à primeira metade do século XX, a noção de paisagem com características físicas e culturais prevaleceu. Geralmente associadas a Carl Sauer e à Escola de Berkeley, as paisagens eram estudadas através de observações empíricas e descritivas. Em contrapartida, a geografia quantitativa da década de 1960 provocou uma mudança, privilegiando o espaço sobre a paisagem como um conceito analítico (BLUWSTEIN, 2021). Enquanto uma geografia positivista abandonou as paisagens como objetos de análise, uma nova geografia cultural a reviveu na década de 1970. E assim as paisagens passaram a ser entendidas histórica e culturalmente como modos de ver, observar e conhecer o mundo (BLUWSTEIN, 2021). Segundo o referido autor, um engajamento crítico passou a delinear as paisagens levando em conta referências à arte, à literatura e à ciência. Tais abordagens sugerem que a paisagem é, acima de tudo, uma noção com consequências materiais.
Bluwstein (2021) destaca ainda que mais do que afirmar que as paisagens são espaços onde a natureza e a cultura se encontram, deveríamos começar nossos estudos prestando mais atenção ao paisagismo, e tendo em mente a ideia de que a paisagem é mobilizada para entender e intervir nas relações entre a natureza e a sociedade.
Bertrand (2004), em seu famoso esboço metodológico Paisagem e geografia física global
, conceitua a paisagem como parte do espaço resultante de combinações dinâmicas, e consequentemente instáveis, entre os elementos físicos, biológicos e antrópicos, cujas reações dialéticas tornam a paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução
(BERTRAND, 2004, p. 141).
Ab’Saber (2003, p. 10) resume muito bem isso tudo, quando afirma que há que se conhecer melhor as limitações de uso específicas de cada tipo de espaço e paisagem
. Ele fala ainda da consciência do significado das heranças paisagísticas e ecológicas, bem como os esforços que os cientistas têm feito em trabalhar pelo uso racional da paisagem e dos recursos naturais. Destaca, também, que o Brasil apresenta um mostruário completo de paisagens e ecologias do mundo tropical (AB’SABER, 2003). As imagens encontram-se no último caderno deste livro.
Bolòs (1981), da Universidade de Barcelona, propõe uma classificação de paisagem em que reforça o papel da energia no controle da dinâmica ambiental. A autora entende a paisagem como uma porção do espaço geográfico que se ajusta ao modelo geossistêmico proposto por Sotchava, o qual enfatiza que a paisagem é o resultado da interação do geossistema (elementos, estrutura e dinâmica), com sua localização espaço-temporal (BOLÒS, 1981; GUERRA e MARÇAL, 2018). A partir daí podemos conceber diferentes tipos de paisagens. Como este capítulo faz a abertura e, ao mesmo tempo, a apresentação deste Paisagens da geomorfologia: Temas e conceitos no século XXI, serão aqui caracterizadas e exemplificadas paisagens com os mais diversos significados.
2. Tipos de paisagens
Existe uma infinidade de conceitos de paisagem, dependendo do ponto de vista que se esteja trabalhando. Por exemplo, para a geografia, de modo tradicional e bastante consensual, a paisagem pode ser definida como todos os elementos do espaço que os nossos sentidos conseguem perceber e interpretar, o que lhe confere uma grande carga visual (SANTOS, 2012; VENTURI, 2018). Ela pode representar o momento presente, se modificando no tempo, carregando em si a materialização dessa passagem temporal. Por isso, mesmo em um livro que aborda, em diversos capítulos, as paisagens da geomorfologia, e apesar de podermos considerar vários conceitos e formas de analisar as paisagens, sempre ficará faltando algo.
Contudo, Venturi (2018) contra-argumenta a ideia desse conceito de paisagem mais tradicionalmente aceito, que a restringe ao campo visual. Sua principal crítica à paisagem como tudo aquilo que nossa visão alcança
é a de que o campo de visão, ou as bordas e molduras de um enquadramento que fazemos da paisagem, não são capazes de abarcar algumas relações, como a dinâmica dos processos que a produziram e o jogo de escalas possíveis ou necessários para a sua análise. O autor insiste que é necessário estabelecer a compreensão da paisagem como um sistema holístico, integrado e dinâmico que funciona segundo leis naturais, tal qual o amplo conceito de paisagem de Alexander von Humboldt. Cita, ainda, Huggett e Perkins (2004 in VENTURI, 2018), que entendem a paisagem enquanto forma, processo e significado. É, porém, na mais complexa definição realizada por Monteiro (2000 in VENTURI, 2018) — que trata a paisagem como composição, dimensão (delimitada pelo objeto de análise) e dinâmica — que Venturi (2018) encontra o que seria a conceituação adequada de paisagem. Como feito em seu trabalho, também transcrevemos o que é paisagem para Monteiro:
É uma entidade espacial delimitada segundo um nível de resolução do geógrafo (pesquisador) a partir dos objetivos centrais da análise, de qualquer modo, sempre resultante da integração dinâmica, portanto instável, dos elementos de suporte e cobertura (físicos, biológicos e antrópicos) expressa em partes delimitáveis infinitamente, mas individualizadas através das relações entre elas que organizam um todo complexo (Sistema), verdadeiro conjunto solidário e único, em perpétua evolução (MONTEIRO, 2000, p. 39 in VENTURI, 2018, p. 7).
Por outro lado, Corrêa (2019) vai além, pois inclui o campo visual na concepção de um conceito de paisagem geomorfológica que é, em primeiro lugar, resultado da combinação processo versus forma em determinada escala espacial e temporal. O pesquisador explica que todo relevo é a expressão da relação entre a superfície e seu material estruturador, que refletem processos atuais e pretéritos operantes a partir de gatilhos climáticos, tectônicos, antropogênicos, autocontrolados, ou por qualquer combinação entre esses
(CORRÊA, 2019, p. 198). Ele afirma, pois, que a base espacial necessária a esse conjunto de relações, que conferem de forma inerente à geomorfologia uma componente sensorial visível e mensurável, é sintetizada pela ideia de paisagem, sendo por isso um conceito recorrente em seus trabalhos (CORRÊA, 2019).
Jatobá e Silva (2017) afirmam que diversas ciências abordam a descrição e análise das paisagens, tais como artes, engenharia, filosofia, arquitetura, biologia e geografia. Os referidos autores propõem que cada uma delas expressa seu conceito próprio de paisagem. Dessa forma, podemos afirmar que existe uma certa dificuldade para se encontrar uma definição de paisagem que poderia ser aceita por todos os ramos científicos mencionados, uma vez que cada ramo de conhecimento possui seus princípios e métodos de estudo, o que faz com que o conceito de paisagem varie de um para outro. A propósito disso, Jatobá e Silva (2017) afirmam ainda que o
[...] estudo das paisagens sob o enfoque da Geoecologia de Paisagens pressupõe a interdisciplinaridade estabelecida entre diversos ramos do conhecimento científico, particularmente das geociências, em face dos vários elementos que compõem as paisagens, e que demandam análises específicas, com metodologias particulares (JATOBÁ e SILVA, 2017, p. 8).
Propomos neste capítulo uma concepção ampla de paisagem, a partir da reunião e adequação de diferentes conceitos citados. Paisagem, em nosso entendimento, portanto, abarca em si as múltiplas formas de entendimento e análise daquilo que está posto no meio ambiente, ou seja, nos meios natural e social. Estão incluídos tanto o tempo presente quanto o tempo passado e, ainda, a passagem dos diferentes tempos; a predominância de elementos naturais, culturais, tecnológicos ou os resultados de sua integração. Pode ser real ou mesmo virtual, representada através de diferentes formas e instrumentos, desde uma pintura artística ou desenho infantil, passando por lentes fotográficas de câmeras amadoras e profissionais, até imageamento por satélites e, portanto, cartograficamente percebida. Desse modo, esperamos que seja possível alcançar uma paisagem geomorfológica que possa ser um quadro da realidade, sem restringir-se necessariamente aos seus limites ou a um determinado campo visual. Ou seja, o objeto e o método de análise serão os definidores de que tipo ou representação de paisagem estará em pesquisa.
2.1. Paisagem geomorfológica
Falar de paisagem geomorfológica é quase um pleonasmo, porque quase tudo que se estuda em geomorfologia pode constituir algum tipo de paisagem. Assim, neste subcapítulo, serão apresentadas algumas reflexões, bem como alguns exemplos brasileiros, que nos ajudam a entender as diferentes paisagens aqui abordadas. As fotografias relacionadas encontram-se no último caderno deste livro. Segundo Guerra e Marçal (2018), a paisagem geomorfológica e sua evolução dependem de diversos fatores, representados em diferentes escalas de espaço e tempo
. Tais paisagens se moldam e resultam em cenários que podem ter rara beleza, sendo aproveitadas pelo geoturismo. O que significa dizer que a geodiversidade fornece unicidade e beleza às paisagens. Isso tudo deve levar à sua geoconservação, que, além de proteger essas paisagens, as tornam ainda mais atrativas ao turismo.
As diferentes paisagens brasileiras (figuras 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7) são bem conhecidas pelos geógrafos e por muitos outros cientistas, que se debruçam sobre essa temática, bem como por viajantes e turistas, que se interessam pela observação de paisagens. Ab’Saber (2003) afirma que
[...] apesar da maior parte das paisagens do país estar sob a complexa situação de duas organizações opostas e interferentes, ou seja, a da natureza e a dos homens, ainda existem possibilidades razoáveis para uma caracterização dos espaços naturais, numa tentativa mais objetiva de reconstrução da estruturação espacial primária das mesmas (AB’SABER, 2003, p. 11).
O estudo de paisagens também se relaciona à geomorfologia ambiental, que pode contribuir para solucionar uma gama variada de problemas do meio físico com que as sociedades se deparam (GUERRA e MARÇAL, 2018). Essa noção é reforçada por Hart (1986), que destaca a importância de se incluírem conhecimentos relativos ao manejo ambiental, avaliação de recursos naturais, técnicas geomorfológicas de mapeamento e avaliação de paisagens. Ou seja, o tema paisagem perpassa boa parte dos estudos de geomorfologia, como um todo, inclusive a geomorfologia ambiental. Consequentemente, existem diversas maneiras de se compreender uma paisagem geomorfológica, que pode ser definida como uma área composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e culturais. Nesse sentido, toda paisagem tem a sua individualidade, e uma relação com outras paisagens; isso também é verdadeiro com relação às formas que compõem uma paisagem. Elas podem ser analisadas do ponto de vista científico, para se compreender a evolução das formas de relevo, mas também, do ponto de vista turístico, quando oferecem algum tipo de beleza cênica, que atrai o interesse dos visitantes de uma determinada área.
2.2. Paisagem e processos erosivos
O termo paisagem, que é o fio condutor desse livro, e deste capítulo, é também eminentemente geográfico e geomorfológico, na medida em que cientistas de vários ramos do conhecimento procuram entender as paisagens a partir de diferentes abordagens. A geomorfologia — como a ciência que estuda formas de relevo, processos modeladores e materiais trabalhados por forças exógenas e endógenas — se debruça sobre a compreensão das formas resultantes que, na grande maioria das vezes, podem ser caracterizadas como paisagens. Nesse sentido, esse subcapítulo aborda os processos erosivos e suas feições resultantes, que, no presente caso, se aterá mais às ravinas e voçorocas causadas pelo escoamento superficial e subsuperficial, esculpindo diferentes formas e podendo dar origem a paisagens variadas (figuras 8, 9 e 10).
A erosão dos solos é um dos mais importantes temas ambientais, em paisagens naturais e modificadas pelo homem. Pode levar à perda de fertilidade, instabilidade das encostas e ruptura dos solos (MORGAN, 2005; JORGE e GUERRA, 2013; GUERRA, 2016; LOUREIRO, 2019; ABDULKAREEM et al., 2021), que causam efeitos irreversíveis em um recurso pobremente renovável. Dessa forma, a compreensão de parâmetros-chave e de fatores para modelar a erosão dos solos tornará capazes a conservação dos solos, serviços e recursos, evitando os efeitos onsite e offsite, causados pelo transporte e acumulação de sedimentos e água. Os solos estão sujeitos à influência da erosão por atividades humanas, devido ao desmatamento, práticas inadequadas de agricultura, superpastoreio, queimadas e rápido crescimento urbano. Esses fatores, em conjunto com outras práticas de manejo da terra impróprias, são responsáveis por dar início ao processo erosivo (ABDULKAREEM et al., 2021).
As paisagens sofrem grandes mudanças devido à erosão dos solos. Alguns exemplos de mudança do uso da terra que exercem grande influência na degradação dos solos, biodiversidade e materiais necessários à sobrevivência humana são: o rápido desmatamento para fins agrícolas, em áreas tropicais, ou o número crescente de áreas urbanas. Além disso, a mudança do uso da terra tem um papel primordial na regulação do ciclo hidrológico em uma bacia hidrográfica.
A hidrologia de uma bacia hidrográfica é influenciada por suas características únicas, tais como propriedades dos solos, topografia e área drenada. As mudanças de uso da terra e o clima são considerados por desempenharem papel importante nas modificações de curto prazo, que certamente provocam transformações nas paisagens, como por exemplo a formação de voçorocas (GUERRA, 2016; GUERRA et al., 2017; LOUREIRO, 2019); ABDULKAREEM et al., 2021; WALTERS et al., 2021) (figuras 8, 9, 10, 11 e 12).
Abdulkareem et al. (2021) afirmam que tem sido dada pouca atenção à modelagem do transporte de sedimentos, ao longo da paisagem, em conexão com o aporte de nutrientes e carbono do solo em rios e oceanos. Destacam ainda que as transformações causadas pelo uso da terra afetam os solos, a água, assim como a atmosfera, que tem influência direta sobre problemas relacionados às mudanças climáticas globais. As modificações de uso da terra, de longo prazo, podem resultar na emissão de dióxido de carbono em conjunto com outros gases de efeito estufa (metano e óxido nitroso), que por sua vez também têm papel importante no aquecimento global, e assim provocam mudanças nas paisagens.
2.3. Estudos das paisagens geomorfológicas à luz do século XXI
Para além das temáticas trazidas em cada capítulo deste livro, é inconteste que não seria possível reunir em capítulos próprios cada abordagem, cada conceituação e temas pelos quais as paisagens da geomorfologia podem ser analisadas. Por isso, este subcapítulo traz diversos temas que têm se destacado e que necessitam de crescentes estudos, após decorridos quase um quarto do século atual, considerando seus desafios e avanços.
Para tratarmos da geomorfologia em algumas de suas principais tendências para os próximos anos do século atual, não podemos deixar de abrir esta seção com o tema da geomorfologia antropogênica. Estudos que compreendem o ser humano como agente de transformação das paisagens geomorfológicas a partir do uso de suas técnicas já existem desde o final do século XIX e início do XX, sendo os trabalhos de Marsh (1864) e Sherlock (1922) basilares dessa temática (NIR, 1983; GOUVEIA, 2010; BRITO DA FROTA FILHO, 2021).
Brito da Frota Filho (2021) apresenta em sua pesquisa uma série de pesquisadores, nacionais e internacionais, e suas conceituações acerca da geomorfologia antropogênica, vez ou outra chamada antropogeomorfologia ou geomorfologia tecnogênica, dentre os quais destacam-se: Nir (1983), Goudie (1990; 2013), Urban (2002), Szabó et al. (2010), Lóczy e Süto (2011), Pellogia (2011) e Rodrigues (2011; 2015).
Podemos, de forma básica, compreender a geomorfologia antropogênica como o estudo do papel humano na criação de formas de relevo e na modificação de como operam os processos geomorfológicos (GOUDIE, 1990). Ou seja, a ação humana é morfogenética, ao produzir relevo tecnogênico (PELLOGIA, 2011), é capaz não apenas de transformar, mas de criar formas geomorfológicas e de impor dinâmicas só existentes a partir de suas ações sobre a superfície do planeta. Como exemplificam Szabó et al. (2010), se as ações dos rios e suas resultantes são analisadas pela geomorfologia fluvial, a geomorfologia gerada pela ação humana e o que dela resulta por analogia devem ser analisadas pela geomorfologia antropogênica.
Rodrigues (2011; 2015) amplia essas noções e lhes dá maior caráter geográfico, ao considerar componentes dos estudos deste ramo da geomorfologia a acumulação histórica das intervenções humanas na geomorfologia em múltiplas escalas, a cartografia geomorfológica de detalhe, a identificação de processos e agentes sociais na produção do espaço, e o dimensionamento da magnitude e frequência das mudanças.
Em um contexto em que estão em voga os estudos