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Rev Bras Futebol 2016; v. 9, n. 2, p. 24

ISSN: 1983-7194

ESTADO DE HIDRATAÇÃO PRÉ-EXERCÍCIO EM JOGADORES DE FUTEBOL NA CATEGORIA DE BASE

PRE-EXERCISE HYDRATION STATUS IN SOCCER PLAYERS IN JUNIOR CATEGORIES

Cássio Luiz Maciel da Silva1


Especialista em Futebol da Universidade Federal de Viçosa

Rômulo José Mota Júnior1


Doutorando em Educação Física da Universidade Federal de Viçosa

Samuel Ângelo Ferreira Oliveira1


Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa

Milla Fontes Dalha Valhe²

1: Universidade Federal de Viçosa; 2

Endereço de correspondência:

Cássio Luiz Maciel da Silva

Avenida Francisco Vieira Martins, 275, loja 3, Bairro Palmeiras

CEP: 35.430-226 - Ponte Nova, MG.

Contato: [email protected]
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ESTADO DE HIDRATAÇÃO PRÉ-EXERCÍCIO EM JOGADORES DE FUTEBOL NA CATEGORIA DE BASE

RESUMO

Introdução: A ingestão de líquidos antes do início dos exercícios físicos promove uma melhora no
desempenho dos atletas em treinamentos e competições, prevenindo uma possível desidratação
ao longo das atividades.

Objetivo: Investigar o estado de hidratação pré-exercício em jovens atletas nas categorias de base.

Metodologia: Antes do início de uma sessão de treino, foi realizada a coleta da urina em uma
amostra com 51 atletas do sexo masculino com idades entre 11 e 15 anos e analisada o grau de
sua coloração, com base na The Urine Color Chart® adaptada de Armstronget al.(1994).

Resultados: Um total de 66,5% foram caracterizadosem um estado levemente desidratado e


apenas 29,5% foram considerados bem hidratados.

Conclusão: Jovens atletas das categorias de base no futebol estão chegando aos locais de
treinamento com uma hidratação inadequada, prejudicando assim o seu desempenho durante os
treinos, e posteriormente aos jogos.

Palavras-chave: Hidratação, Pré-exercício; Futebol; Jovens atletas; Desidratação.

PRE-EXERCISE HYDRATION STATUS IN SOCCER PLAYERS IN JUNIOR CATEGORIES.

ABSTRACT

Introduction: The ingestion of liquids before the beginning of physical exercises promotes athletes
an improvement in performance in trainings and competitions, preventing a possible dehydration
during the activities.

Objective: Investigate the pre-exercise hydration status in young athletes in junior categories.

Methodology: Before the beginning of session training, the urine of 51 male athletes aged
between 11 and 15 years was collected in a sample and the degree of their coloration was
analyzed, based on The Urine Color Chart® adapted from Armstrong et al (1994).

Results: Of these athletes, 66,5% were in a slightly dehydrated state and only 29,5% were
considered well hydrated.

Conclusion: Young athletes from the junior categories in soccer are arriving at training sites with
inadequate hydration, thus impairing their performance during training, and after the games.

Keywords: Hydration; Pre-exercise; Soccer; Young athletes; Dehydration.


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INTRODUÇÃO

O futebol proporciona uma elevada demanda metabólica ao atleta, tanto nos


treinamentos quanto em competições, ressaltando a importância de medidas educativas relativas
à hidratação antes, durante e depois do exercício, reduzindo os riscos de desidratação. Entre
algumas medidas educativas se destaca, a ingestão de líquidos antes mesmo da sensação de sede
(BASTOS, 2011; BRITOSet al., 2006; DIAS et al.,2012; DRUMOND, 2007; FERREIRA et al., 2009;
GOMES, 2010; MARINS et al., 1996, 2004, 2005; MONTEIRO et al., 2003, 2010; PINTO, 2014; L. E.
SILVA et al., 2010; R. P. DA SILVA et al., 2012; ZAFFALON, 2009) [8, 9, 17, 18, 19, 22, 30, 32, 34, 37, 38, 43, 49, 50, 55],
o uso da escala de Armstrong de coloração da urina para avaliar o estado de
hidratação(ARMSTRONG et al., 1994, 1998; PINTO, 2014; SILVA et al., 2012; SHIRREFFS, 2003)[2, 3,
43, 50, 51]
, e a utilização da técnica de pesagem antes e após o esforço físico para restabelecer o
equilíbrio hídrico do corpo (GODOIS et al., 2014; HAUSEN, 2013; LEITÃO, 2007; MACHADO-
MOREIRA et al., 2006; MAIA et al., 2015;NIEHUES, 2011; PINTO, 2014; F. SILVA et al., 2011; R. P.
DA SILVA et al., 2012; TOZETTO, 2014)[21, 25, 27, 28, 29, 39, 43, 48, 50, 53]
.

A água é o maior componente do corpo humano, representando entre 45% e 70% de seu
volume, e possui papel importantíssimo na regulação da temperatura corporal (OLIVEIRA, 2013)
[41] [14]
. Segundo WILMORE e COSTILL (2001) podemos sobreviver a perdas de até 40% de nosso
peso corporal de carboidratos, proteínas e gorduras, mas uma perda de apenas 9% a 12% do peso
corporal de água pode levar um indivíduo a morte.

Durante a prática de exercícios, há perdas significativas de líquidos e minerais, por isso,


uma hidratação adequada é fundamental para que o rendimento físico e a saúde não sejam
prejudicados (OLIVEIRA, 2013) [41]. Segundo MARINS et al. (2009) [35], durante a prática esportiva, a
taxa de transpiração é altamente variável, oscilando entre 1 e 2 litros de líquidos por hora de
exercício, dependendo da intensidade, condições climáticas, aclimatação e condições físicas do
atleta, bem como de características individuais fisiológicas e biomecânicas.

Um estado de desidratação, que pode ser identificado por uma redução entre 1 e 2% do
peso corporal, provoca um aumento da temperatura do organismo em 0,4ºC para cada percentual
subsequente de desidratação. A reposição em volumes equivalentes às perdas previne o declínio
no volume de ejeção ventricular, o que acarreta benefícios a termorregulação, favorecendo o
fluxo sanguíneo periférico e facilitando a transferência de calor (CARVALHO et al., 2010) [12].
27

Diversos fatores são fundamentais para que os exercícios físicos possam ser executados de
forma segura e que assim obtenha-se um desempenho máximo. Dentre eles, podemos destacar a
eliminação de calor, devendo este processo ocorrer de forma eficiente e precisa, uma vez que
temperaturas corporais muito altas > 40Cº (hipertermia) aumentaria os riscos de lesão e a
instauração da fadiga prematura causados pela desidratação, (ZAFFALON, 2009) [55].

Dentre os mecanismos termorregulatórios, o mais eficaz durante a prática de exercícios é


a evaporação do suor. Portanto, não basta transpirar, é necessária a evaporação do suor para que
o calor seja liberado pelo organismo (CARVALHO et al., 2010) [12].

Crianças e adolescentes possuem características termorregulatórios e metabólicas


diferentes dos adultos, principalmente quando submetidos ao esforço. Uma das implicações no
aumento da produção de energia pelo organismo durante os exercícios reside na maior produção
de calor metabólico. Devido ao elevado custo energético no desempenho das atividades físicas, as
crianças produzem mais calor por unidade de peso corporal que os adultos (BAR-OR, 1989 apud
BAR-OR, 2000) [6]. Se esse calor extra não se dissipar a temperatura interna aumenta, podendo em
Nsituações extremas levar a uma indisposição comprometendo a saúde e o desempenho físico
(BAR-OR, 2000) [6].

Estratégias de hidratação vem sendo elaboradas, sendo a água pura a substância mais
acessível e recomendada neste procedimento, devido sua facilidade de consumo e de baixo
custo(AHNKE, 2013; BARBOSA, 2011; CARDOSO, 2010; GUERRA, 2004;GUTTIERRES et al., 2008;
RIBEIRO, 2010; TAVARES et al., 2008)[1, 7, 11, 23, 42, 44, 52] .

O COLÉGIO AMERICANO DE MEDICINA DO ESPORTE (ACMS) (2016) [4,5] orienta que 2 horas
antes do exercício o consumo de líquidos deve ser de 475-710 ml e 15 minutos antes da prática
ingerir mais 240 ml, este espaço de 2 horas é necessário para que os mecanismos do balanço
hídrico possam regular a hidratação e assim excretar o excesso de líquidos através da urina,
podendo o controle do estado de hidratação ser feito por meio da coloração da mesma.

Iniciar um exercício físico intensivo específico como um treino de futebol ou uma partida
já em estado de desidratação irá prejudicar o desempenho, pois será mais rápido de atingir
valores superiores aos 2% de perda de água corporal. Um atleta desidratado terá prejuízo em sua
função cognitiva que é um aspecto importante nos jogos coletivos, tais como o futebol, podendo
diminuir a capacidade de trabalho em cerca de 30%. (MARINS, 2011) [31].
28

Desta forma, iniciar o treino ou partida em níveis ótimos de hidratação é garantia a


qualidade do treino e segurança do atleta, pois terá menor risco de apresentar uma lesão
provocada pelo calor.

Alguns estudos observaram que é razoalvelmentefreqüente um atleta iniciar um treino


[10]
desidratado. São exemplos os trabalhos realizado por BRITO e MARINS (2005) que estudou
sobre as práticas de hidratação em atletas de judô, e revelou procedimentos inadequados de
hidratação, NÓBREGA et al. (2007) [40] em estudo realizado com jovens atletas amadoras de futsal,
[16]
e DETONI, (2014) mostrando o efeito da desidratação em uma sessão de treino em respostas
fisiológicas bem como em meninas atletas de ginástica rítmica.

Para minimizar o risco de iniciar o treino ou partida já desidratado, a ingestão de líquidos


antes do exercício é extremamente benéfica para o atleta. Com a desidratação o desempenho
diminui. Para evitar que isso ocorra, é necessário educar os jogadores em relação à importância da
ingestão de líquidos antes do exercício, promovendo assim uma otimização no desempenho
destes por MONTEIROet al. (2003, 2010) [37, 38].

O futebol é um esporte com características bastante peculiares em relação à hidratação,


principalmente pelo fato de não possuir pausas regulares para que os jogadores possam ingerir
líquidos durante os jogos. Avaliar os níveis de hidratação pré-exercício em jovens jogadores de
uma categoria de base, serve para que os clubes através de suas comissões técnicas possam
monitorar e/ou avaliar melhor estes atletas para se realizar um trabalho específico de hidratação
com os mesmos, ajudando-os a se manter no nível elevado de qualidade do desempenho durante
os treinamentos e jogos. Sendo assim, o objetivo desta investigação foi analisar o estado de
hidratação pré-exercício de jovens futebolistas nas categorias de base.

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento deste trabalho, empregou se uma metodologia tanto qualitativa


como quantitativa, por meio de uma pesquisa exploratória. Foi realizada uma avaliação física com
a aferição da massa corporal, estatura, e dobras cutâneas. A coleta de urina foi realizada em um
pequeno recipiente, descartando o primeiro jato, para a verificação de sua coloração e
posteriormente sua classificação de acordo com a tabela de coloração da urina proposta por
[4,5]
ARMSTRONG et al. (1994) , esta é usada para identificar o grau de hidratação do organismo.
Sua escala adota oito cores diferentes de urina, variando entre o amarelo claro (cor nível 1) e o
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verde acastanhado (cor nível 8), para definição do índice de coloração urinária.

Características da Amostra:

Todos os participantes foram informados dos objetivos e procedimentos da pesquisa,


optando por participar ou não destes procedimentos, podendo ainda, abandonar a pesquisa a
qualquer momento. Este estudo buscou seguir as orientações éticas da lei 466/12, sobre estudos
com seres humanos. Participaram do estudo 51 atletas do sexo masculino, de diferentes estados
brasileiros com média de idade de 13 anos, nas categorias sub-13 (n= 23) e sub-15 (n=28)
pertencentes a um clube de formação de base em Minas Gerais que disputa os campeonatos
organizados pela Federação Mineira de Futebol (FMF). Todos os atletas apresentavam boas
condições de saúde, sem problemas de doenças metabólicas ou renais, tendo sido avaliado pelo
corpo médico da equipe. Os atletas treinavam em média 5 vezes por semana, no mínimo de 1 hora
e 30 minutos cada sessão por dia.

Procedimentos da coleta de dados:

A coleta foi realizada na cidade de Ubá-MG localizada no centro da zona da mata mineira,
no mês de maio de 2016, com uma temperatura térmica aproximada de 25°C. Devido ao
planejamento de treinamentos/competições do clube, foi realizada em um dia do meio da semana
(quarta-feira), tendo inicio dos procedimentos às 14 horas em um amplo espaço das dependências
da academia do clube, estruturado com equipamentos próprios e banheiros.

O trabalho foi dividido em 3 diferentes etapas, em uma delas estava o pesquisador


responsável, e em cada uma das outras duas etapas estavam os colaboradores da pesquisa. 1ª
etapa - coleta dos dados pessoais, 2ª etapa - mensuração da massa corporal e estatura, e a 3ª
etapa - mensuração do percentual de gordura corporal.

Para a caracterização da amostra foram realizados os seguintes registros antropométricos:

A mensuração da massa corporal e da estatura que foi realiza por meio de uma balança
antropométrica com precisão de 100g e escala de 0 a 150 kg e com um estadiômetro integrado
metálico com escala de 0 a 250 cm da marca (Filizola, Brasil)®. Foram avaliados com os indivíduos
portando roupas leves, descalços e com o olhar voltado para um ponto fixo a sua frente em
posição ortostática. Com os dados de massa corporal e estatura foram calculados o Índice de
Massa Corporal (IMC). (WHO, 1998) [54]. A mensuração do percentual de gordura corporal (% GC)
30

foi realizada por meio do procedimento de dobras cutâneas, segundo o protocolo de Faulkner
[20]
(1968) . Foram mensuradas as dobras cutâneas na região tricipital, supra ilíaca, abdominal e
subescapular. Para estas mensurações foi utilizado um compasso de dobras cutâneas da marca
Cescorf Científico (Cescorf Brasil)®. Todos os procedimentos antropométricos foram feitos nas
instalações do próprio clube, utilizando o método antropométrico, baseado no protocolo da ISAK
(International Society of the Advancement of Kinanthropometry), proposto por Ross e Marfell-
Jones (1991) [46].

Obtenção da amostra de urina

Terminadas as três etapas anteriores, o responsável e os colaboradores da pesquisa,


davam um recipiente coletor descartável para cada atleta se dirigir até o banheiro sozinho para
coletar a urina e logo após devolvê-los para os mesmos, com a coleta realizada aproximadamente
15 minutos antes do treinamento no estado de repouso. Ao final de todos os procedimentos
realizados com os atletas, o pesquisador responsável pela pesquisa juntamente com os outros dois
colaboradores, analisaram cada recipiente com a urina de forma individualizada comparando a sua
[4,5]
coloração com a tabela proposta por ARMSTRONG et al. (1994) , esta em tamanho A4
plastificada.

Os dados do presente estudo foram coletados em um dia típico de treinamento, no


período da tarde, não tendo sido realizado nenhuma divulgação prévia a fim de evitar
comportamentos atípicos relacionados a hidratação por parte dos atletas. Ambas as categorias
foram realizadas no mesmo dia.

A amostragem de urina foi coletada em recipientes coletores descartáveis individualizados


para cada atleta, com esterilização por radiação ionizante, com capacidade de 80 ml da marca
(J.Prolab, Brasil) ®, sendo necessário para a detecção da cor, entre 30-45ml de urina desprezada.
Sua coleta foi realizada de acordo com o protocolo da coloração da urina segundo a escala de
ARMSTRONG et al. (1994) [2, 3] (figura 1), sendo recomendado que descartassem o primeiro jato, e
em seguida, urinasse dentro deste recipiente.

A partir da obtenção da amostra da urina, foi realizado um comparativo entre a coloração


da mesma e o grau correspondente na tabela de coloração da urina proposta por ARMSTRONGet
al. (1994) [5], como pode ser observado. De acordo com a figura, são consideradas um bom nível de
hidratação com os escores de 1 a 3; níveis inadequados são 4 a 6; e totalmente desidratados 7 e 8.
31

Figura 1: Índices de coloração da urina para classificação do nível de hidratação e desidratação


proposto porARMSTRONG et al. (1994).

Análise Estatística:

Para verificar a pressuposição de normalidade das variáveis do estudo foi utilizado o teste
de Shapiro-Wilk, sendo que massa corporal, estatura e IMC apresentaram distribuição paramétrica
enquanto idade e % de gordura corporal apresentaram distribuição não-paramétricas. A análise
dos dados constituiu na exploração descritiva das variáveis estudadas (média e desvio-padrão para
os dados paramétricos; mediana, valores máximo e mínimo para os dados não paramétricos) e no
cálculo dos percentuais. O teste t Student foi utilizado para comparar os dados paramétricos
(Massa Corporal, Estatura e IMC), e Mann-Whitney para comparar as variáveis não-paramétricas
(Idade e % de Gordura) entre os grupos (Sub-13 e Sub-15). Para todos os tratamentos adotou-se
um nível de significância menor ou igual a 5%. Todas as análises estatísticas foram realizadas
através do programa SPSS para Windows, versão 20.0 (Chicago, EUA).

RESULTADOS

Participaram do estudo 51 indivíduos, com idade média de 13 anos,


pertencentes as categorias Sub-13 e Sub-15. A tabela 1 apresenta as características da amostra
total e estratificada pela categoria.
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Tabela 1:Nível de características da amostra estratificado pelas categorias


TODOS SUB13 SUB15 P
IDADE 13 12 14
(11-15) (11-13) (13-15) < 0,001
(Anos)
56,0 47,5 58,0
MASSA CORPORAL (kg) (9,7) (7,5) (8,8) 0,52

ESTATURA 1,65 1,56 1,68


(0,1) (0,05) (0,09) 0,64
(Metros)
IMC 19,85 19,31 20,29
(1,95) (2,1) (1,8) < 0,001
(Kg/m²)
10,9 12,1 10,7
GORDURA CORPORAL (%) (8,8-19,6) (8,8-19,6) (9,1-16,5) 0,185

4 4 5
HIDRATAÇÃO (1-7) (2-7) (1-7) 0,56

A tabela 2 apresenta a frequência absoluta e relativa de indivíduos classificados de acordo


com os diferentes graus de hidratação segundo a categoria.

Tabela 2:Graus de desidratação de jovens futebolistas estratificados pelas categorias

Todos Sub 13 Sub 15


Grau de
N % N % N %
Desidratação
1 1 2 0 0 1 3,5
2 3 6 2 8,5 1 3,5
3 11 21,5 4 17,5 7 25
4 11 21,5 7 30,5 4 14,5
5 14 27,5 7 30,5 7 25
6 9 17,5 2 8,5 7 25
7 2 4 1 4,5 1 3,5
8 0 0 0 0 0 0

A figura 2 apresenta a classificação do estado de hidratação de jovens futebolistas


estratificados pela categoria.
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TODOS SUB 13 SUB 15

Figura 2-Classificação do estado de hidratação estratificado pelas categorias

DISCUSSÃO

Quanto ao nível de hidratação, não houve diferenças significativas entre as


categorias sub-13 e sub-15. Os atletas apresentaram um leve grau de desidratação como dado de
maior relevância nesta pesquisa (Tabela 2).
Ao avaliar o estado de hidratação dos jovens futebolistas, por meio da coloração da urina,
é possível observar que 70,5% possuem um nível de desidratação maior ou igual ao grau 4 (Tabela
[15]
2). De acordo com CHEUVRONT e SAWKA, (2006) um grau de hidratação neste nível é
indicativo de um princípio de desidratação, já sendo observado queda de desempenho atlético.
De acordo com a tabela, quanto menor o número, melhor é o nível de hidratação. A urina
classificada de 1 a 3 indica bom estado de hidratação, ou seja, funções fisiológicas normais e
desempenho esportivo preservado. Entre 4 e 6, o indivíduo está mal hidratado e/ou
significativamente desidratado, com sua termorregulação severamente prejudicada e
desempenho esportivo grandemente afetado, e por último a classificação de 7 e 8, é um sinal de
desidratação severa, que pode acarretar além de queda brusca do desempenho um risco de
colapso. (CASA et al., 2000) [13].
A tabela da Coloração da Urina avalia o grau de hidratação do organismo do indivíduo,
apresentando uma boa correlação com a densidade e a osmolaridade urinária e plasmática.
Comparando a cor da urina é possível identificar se a ingestão de líquidos está adequada, e no
caso de inadequação, fazer a correção da mesma.
34

Algumas observações devem ser levadas em consideração para que a classificação


não corra o risco de ser invalidada, uma vez que alguns medicamentos e alimentos podem alterar
[45]
a coloração da urina. Segundo a nefrologista RODRIGUES (2014) , algumas colorações mais
escuras, podem estar associadas a problemas de saúde, como por exemplo, uma
urina turva/escura como indicativo de infecção do trato urinário, ela marrom-escura/limpa, de
doenças hepáticas. Desta forma, qualquer anormalidade deve ser investigada de forma mais
criteriosa com profissionais especializados da área médica.

Em relação à classificação do estado de hidratação de acordo com os diferentes graus de


hidratação é possível perceber que 66,5% dos atletas apresentam um estado de desidratação
leve. Entre os jogadores da categoria sub 13 e sub 15 este percentual foi de 69,5% e 64,5%
respectivamente (Figura 2).
Os resultados obtidos nesta investigação se aproximaram dos resultados obtidos
[17]
por DIAS, et al. (2012) em nadadores, onde 52,6% dos atletas não realizavam estratégias de
hidratação adequada em dias de treinamento. Em contrapartida, o estudo de MARINS
[35]
et al. (2009) com jovens futebolistas este percentual (30,1%) foi bem abaixo do obtido na
presente investigação.
Esta discrepância observada entre os estudos pode ser explicada pela hierarquia dos
[19]
clubes, mostrada no estudo de (FERREIRA et al., 2009) que atletas pertencentes as categorias
de base de clubes da série A e B, são mais difundidas questões relativas à hidratação.
Ainda em relação a classificação dos níveis de hidratação, apenas 29,5% dos atletas
apresentaram-se bem hidratados, sendo de suma importância para o rendimento e/ou
desempenho destes jogadores no momento do treino com uma qualidade elevada no que diz
respeito aos aspectos fisiológicos, físicos e técnicos.
É pouco provável que a hiper-hidratação pré-exercício traga alguma vantagem extra, caso
seja feita uma hidratação adequada durante o transcorrer do evento. Entretanto, sabe-se que é
raro entre os atletas ocorrer uma reposição integral de fluidos durante um evento esportivo,
sendo esta geralmente menor que 50% dos líquidos perdidos através do suor e da urina (SAWKA e
PANDOLF, 1990) [47].
Se por um lado há dúvidas a respeito das vantagens de uma hiper-hidratação pré-
exercício, por outro, é consenso que uma perda hídrica durante o mesmo, sem uma reposição
adequada, vai gerar um estado de desidratação, com diminuição do rendimento e prejuízos aos
35

mecanismos de termorregulatórios (BRITO e MARINS, 2005; INSTITUTE OF MEDICINE, 2004;


MEYER e PERRONE, 2004;) [10, 26, 36].
[47]
Segundo SAWKA e PANDOLF (1990) a desidratação interfere negativamente
na performance da atividade física, sendo que os efeitos negativos se acentuam quanto maior for
o grau de desidratação e quanto maior for o tempo de atividade.
Sendo assim, iniciar a prática de exercícios físicos aqui em questão o futebol com suas
características peculiares em um estado de desidratação são elevadas as probabilidades de
ocorrer efeitos adversos nas funções fisiológicas e no rendimento atlético. Já em um estado de
eu-hidratação, esses efeitos adversos são minimizados (GUTTIERRES, 2011; MARINS et al. 2000)
[24,33]
.
Na presente investigação foi possível observar que a grande maioria dos atletas
apresentaram níveis indesejados de hidratação, independente da categoria. Entretanto, apenas
4% dos atletas apresentaram níveis de desidratação severa.
Desta forma sugere-se que os clubes de formação do futebol brasileiro necessitam
dispender uma maior atenção à dieta dos atletas, tanto na ingestão de líquidos, bem como na
alimentação realizada nos períodos de treinamento e competição, pois dessa forma haverá um
ganho significativo de produtividade nestes períodos. Os resultados obtidos por esta investigação
é um sinal de alerta para os clubes, que podem estar perdendo rendimento nos treinamentos e
competições por uma série de hábitos inadequados de hidratação, sendo um problema de fácil
solução.
Como limitação do estudo seria o fato de não ter sido feito análise sanguínea para
mensurar o hematócito que poderia dar maior validade aos resultados ou mesmo a densidade da
urina.

CONCLUSÃO

Os dados observados levam a conclusão que os jovens atletas das categorias de base no
futebol estão chegando aos locais de treinamento com uma hidratação inadequada,
prejudicando assim o seu desempenho durante os treinos, e posteriormente aos jogos.
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