Sa - Geria - Aula 3 - Emergencia Geriatrica
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GERIATRIA
DELIRIUM
1. INTRODUÇÃO: envolvidas e de múltiplos fatores etiológicos
associados.
- Delirium deriva do latim “delilare” que literalmente
significa estar fora dos trilhos - Estudos envolvendo populações de idosos que vivem
na comunidade mostraram prevalência de delirium em
- É uma manifestação neuropsiquiátrica de doença
torno de 1 a 2%,
orgânica, que acomete principalmente idosos, em
especial os hospitalizados. - Enquanto em idosos admitidos em unidades de
2. HISTÓRIA: urgência a taxa de prevalência observada foi de até
40%
- Foi um dos primeiros transtornos mentais descritos
na história da medicina - A taxa de ocorrência no pós-operatório tem grande
variabilidade, apresentando-se entre 2 e 60%, sendo
- Hipócrates possuía relatos usando o termo que em unidade de terapia intensiva a incidência pode
- Celsius foi o provável introdutor do termo delirium variar entre 70 e 87%.
na literatura médica, no século 1 d.C.; esse termo, Obs.: Delirium é importante não apenas pela sua
porém, era utilizado na Antiguidade de forma ambígua frequência, mas também porque pode constituir-se,
e inconsistente para designar distúrbios mentais muitas vezes, na única ou principal forma de
crônicos como também quadros de início agudo apresentação de doença física potencialmente grave, e
associados a doenças febris. os pacientes podem cursar com pior prognóstico tanto
- Avanços na evolução conceitual de delirium na vigência da internação como após a alta hospitalar.
ocorreram somente a partir do século 19, sendo que, no - Apesar de sua importância, estima-se que em 36 a
século 20, Engel e Romano estabeleceram uma base 67% dos casos não é feito o diagnóstico correto de
científica aos conceitos da fisiopatologia. delirium, sendo confundido com outras síndromes,
- Concluíram, após estudos clínicos e experimentais, como, por exemplo, demência ou depressão, ou mesmo
que o delirium era consequente à redução da taxa de como parte do processo fisiológico do envelhecimento
metabolismo cerebral, documentado pelo - À primeira avaliação do paciente em uma unidade de
alentecimento difuso no padrão do emergência, o não reconhecimento do delirium,
eletroencefalograma. especialmente na forma hipoativa, pode chegar a 76%
Obs.: Apesar da descrição sobre delirium ter ocorrido 5. QUADRO CLÍNICO:
nos primórdios da medicina, muitos aspectos sobre a
- As manifestações clinicas refletem um largo espectro
síndrome são ainda desconhecidos.
da disfunção cerebral
- Na literatura encontram-se mais de 30 sinônimos para
- Caracterizam-se por apresentar distúrbios na
designar delirium, sendo os mais utilizados estado
cognição, atenção e consciência, no ciclo sono-vigília
confusional agudo e confusão mental aguda.
e no comportamento psicomotor.
3. DEFINIÇÃO:
- Têm início agudo e curso flutuante dos sintomas, o
- É definido como uma síndrome cerebral orgânica que dificulta muitas vezes o seu diagnóstico
sem etiologia específica caracterizada pela presença
simultânea de perturbações da consciência e da - No paciente idoso, o início dos sintomas
atenção, da percepção, do pensamento, da memória, do normalmente é insidioso, precedido de alguns dias por
comportamento psicomotor, das emoções e do ritmo manifestações prodrômicas como diminuição da
sono-vigília. concentração, irritabilidade, insônia, pesadelos ou
alucinação transitória
- A duração é variável, e a gravidade varia de formas
leves a formas muito graves. DISFUNÇÃO GLOBAL DA
COGNIÇÃO:
4. EPIDEMIOLOGIA: - Comprometimento da memória: diretamente
associada ao prejuízo da atenção e nível de
- A ocorrência registrada na literatura é extremamente consciência.
variável, devido a heterogeneidade das populações
- Ausência de orientação: frequentemente
comprometida na sua forma temporoespacial.
GIULIANNA MONTENEGRO
- Prejuízo do pensamento: encontra-se invariavelmente FATORES PREDISPONENTES X FATORES
presente, tornando-se vago e fragmentado; varia de PRECIPITANTES
lento ou acelerado, nas formas leves, a sem lógica ou
- Os fatores predisponentes estão relacionados aqueles
coerência, nas formas graves.
já presentes na hora da admissão
- Anormalidades da sensopercepção: manifestam-se
- Os fatores precipitantes referem-se a diversos fatores
mais comumente por meio de ilusões e alucinações
que contribuem para o desenvolvimento de delirium
visuais que, embora não essenciais para o diagnóstico,
podem estar presentes em 40 a 75% dos pacientes - Entre os fatores predisponentes na admissão:
idosos com delirium
Déficit cognitivo prévio,
- Distúrbios de linguagem: ocorrem disnomias e Doença grave
disgrafias. Uremia e déficit sensorial,
História prévia de delirium,
- Distúrbio da atenção: dificuldade em manter a
Depressão e alcoolismo
atenção em um determinado estímulo e em mudá-la
História de acidente vascular encefálico
para um estímulo novo, não se conseguindo manter o
Idade maior do que 75 anos.
fluxo de conversação com o paciente.
Obs.: O déficit cognitivo prévio pode ser encontrado
- Estado de alerta ou vigilância alterado: pode estar
nos pacientes com delirium e aumenta em 2 a 3 vezes
reduzido ou aumentado.
o risco para o seu desenvolvimento
- Desorganização do ritmo circadiano do sono: é
- Entre os fatores precipitantes para pacientes idosos
comum, com sonolência diurna e sono noturno
internados:
reduzido e fragmentado
6. ETIOLOGIA: Restrição física
Má nutrição (albumina < 3 g/dL)
- Multifatorial, podendo ser atribuído virtualmente a Uso simultâneo de mais de 3 medicações,
qualquer afecção médica, uso ou abstinência de drogas principalmente uso de substancias psicoativas
Uso de sonda vesical
- Qualquer condição que comprometa a função
Iatrogenia
cerebral pode causar delirium, embora em geral resulte
Fatores psicossociais como estresse
de um número limitado de condições clinicamente
psicológico, perda do suporte social, ambiente
comuns
não familiar e privação do sono
- Entre as causas clínicas, destacam-se:
- Entre os fatores que levam a manutenção dos
Processos infecciosos: pneumonia e infecção sintomas na vigência da alta:
do trato urinário
Demência
Afecções cardiovasculares, cerebrovasculares
Déficit visual
e pulmonares: AVC, IC descompensada,
Alta comorbidade
arritmias, IAM, DPOC descompensado
Restrição física durante o delirium
Distúrbios metabólicos: DHE, insuficiência
Prejuízo funcional
hepática, IRA
Fraturas Obs.: O delirium pode durar de 3 a 6 meses após a alta
Mudanças de ambiente hospitalar
Uso de alguns Medicamentos: como
8. FISIOPATOLOGIA:
antidepressivos tricíclicos, antiparkinso-
nianos, neurolépticos e o uso/abstinência de - A fisiopatologia do delirium ainda não é bem
hipnóticos e sedativos, digitálicos, diuréticos, compreendida na atualidade, principalmente em
hipotensores, analgésicos narcóticos, anti- decorrência da natureza flutuante e transitória, e a
inflamatórios não hormonais, antimi- condição de ser um distúrbio mais funcional do que
crobianos, antifúngicos, anti-histamínicos, estrutural.
bloqueadores H2
- Alguns fatores tem sido rotulados como responsáveis
7. FATORES DE RISCO: para o desenvolvimento da síndrome, especialmente
toxidade a fármacos e resposta a inflamação e estresse
- No paciente hospitalizado:
Giulianna MontenegrO
- O delirium é considerado como uma manifestação reação exaltada. Níveis aumentados ou
neuropsiquiátrica não especifica de um distúrbio do diminuídos de serotonina também têm sido
metabolismo cerebral e da neurotransmissão postulados em diferentes tipos de delirium.
- A disfunção generalizada dos neurônios corticais - O ácido gama-aminobutírico (GABA) é,
pode ser devida a alterações metabólicas nas próprias quantitativamente, o principal neurotransmissor
células, secundarias, por exemplo, a condições como inibitório do sistema nervoso central. Tem sido
hipoglicemia, hipoxia ou deficiência de tiamina ou na implicado no delirium em condições em que sua
transmissão de sinais a partir de estruturas não atividade está aumentada como na encefalopatia
corticais hepática, e também em condições em que sua atividade
está diminuída, como na abstinência de
TEORIA NEUROQUÍMICA: benzodiazepínico ou álcool
- Existem evidências de que a disfunção de - A histamina tem participação na regulação
neurotransmissores tenha participação importante na hipotalâmica do ciclo sono-vigilia:
patogênese do delirium
Antagonistas de receptores H1 da histamina de
- Estes, em grande parte, são secretados em núcleos primeira geração estão associados à redução
localizados no tronco cerebral que têm importante do estímulo (excitação) e ao delirium,
efeito modulador sobre a atividade de neurônios especialmente em pacientes idosos.
corticais. Porém, as propriedades anticolinérgicas dos
anti-histamínicos podem ser importantes para
- Desses núcleos partem axônios colinérgicos,
causar delirium.
dopaminérgicos, serotoninérgicos e noradrenérgicos,
Antagonistas H1 também aumentam as
com atuação direta ou indireta (via núcleos talâmicos)
catecolaminas e serotonina, como possíveis
sobre o córtex cerebral
mecanismos envolvidos no delirium.
- Deficiência relativa de acetilcolina parece ser um dos
- O glutamato, aminoácido excitatório, tem sua
mecanismos mais importantes na patogênese do
liberação aumentada com a hipoxia, e seus receptores
delirium.
podem ser ativados por alguns fármacos, como as
Anormalidades da transmissão colinérgica quinolonas, que podem estar relacionadas com o
podem levar, principalmente, à diminuição do quadro de delirium.
nível de consciência e de excitabilidade bem
como a prejuízo da memória. TEORIA NEUROINFLAMATÓRIA:
Obs.: Essa noção é reforçada por observações clínicas - Condições clínicas ou cirúrgicas como trauma,
de que fármacos anticolinérgicos que atravessam a infecção, cirurgia, podem levar ao aumento de
barreira hematoencefálica podem precipitar o delirium. mediadores inflamatórios, provocando uma reação
exacerbada que pode levar ao comprometimento do
Da mesma forma, condições clínicas que sistema nervoso central.
reduzem a síntese de acetilcolina, como
hipoxia, hipoglicemia e deficiência de - Reconhecimento do estímulo inflamatório na barreira
tiamina, estão relacionadas com delirium. hematoencefálica (BHE) aumenta sua permeabilidade,
seguida por uma cascata de eventos com ativação das
Obs.²: Outros neurotransmissores também podem estar células da glia (micróglia e astrócitos)
envolvidos na patogênese, como por exemplo, o
excesso de dopamina que tem sido implicado como - Forma-se um ambiente inflamatório com expansão da
causa de delirium e pode explicar por que população microglial e produção de citocinas pró-
bloqueadores dos receptores da dopamina, como o inflamatórias (TGFb1, ILB, fator de necrose tumoral
haloperidol, podem auxiliar no tratamento sintomático [TNF] alfa, fator de crescimento insulino-símile 1
do delirium [IGF1], espécie de oxigênio reativo [ROS]);
- A serotonina tem efeito inibitório, sendo postulado - Ocorre comprometimento funcional dos neurônios,
que o sistema serotoninérgico tem função com disfunção neuroquímica, desconexão de algumas
estabilizadora no processo de informação. Além disso, áreas do cérebro e geração de sintomas vinculados ao
parece ser um dos componentes na modulação do ciclo delirium como perda da atenção, distúrbio psicomotor,
sono-vigília, ajudando a causar o sono normal. alteração da consciência, inversão do ritmo sono-
vigília, entre outras
Na deficiência de serotonina, os indivíduos
tornam-se distractíveis, impulsivos e com
Giulianna MontenegrO
- Com o envelhecimento ocorre a imunossenescência, - CAM:
com maior suscetibilidade a infecções e ao mesmo
Inicio agudo:
tempo um aumento de 2 a 4 vezes os valores basais de
“Há evidencia de uma mudança aguda do
mediadores inflamatórios circulantes, incluindo
estado mental de base do paciente?”
citocinas e proteínas de fase aguda
Distúrbio da atenção:
Obs.: Elevação de cortisol em diferentes situações de “O paciente teve dificuldade em focalizar
estresse também pode contribuir para o delirium sua atenção, por exemplo, distraiu-se
facilmente ou teve dificuldade em
9. DIAGNÓSTICO:
acompanhar o que estava sendo dito?”
CRITÉRIOS PARA DELIRIUM Paciente ausente em todo o momento
da entrevista
SEGUNDO DSM-V, 2013:
Presente em algum momento da
- Distúrbio da atenção (ou seja, redução da capacidade entrevista, porém de forma leve
de dirigir o foco, manter e desviar a atenção) e da Presente em algum momento da
consciência; entrevista, de forma marcante
Incerto
- Mudança na cognição (com o déficit de memória, “Se presente ou anormal, este
desorientação, distúrbio da linguagem, distúrbio da comportamento variou durante a entrevista,
percepção), que não é melhor explicada por uma isto é, tendeu a surgir e desaparecer ou
demência pre-existente ou estabelecida; aumentar e diminuir de gravidade?”
- O distúrbio desenvolve-se após curto período de SIM
tempo (em geral horas a dias) e tende a flutuar durante NÃO
o dia; Obs.: Se for relatado comportamento anormal, deve
- Evidência por meio da história, exame físico ou ser descrito no prontuário.
achados laboratoriais de que o distúrbio seja causado Pensamento desorganizado:
por consequências fisiológicas diretas de uma condição “O pensamento do paciente era
médica geral, uma substância intoxicante, uso de desorganizado ou incoerente, com a
medicamentos ou mais de uma causa conversação dispersiva ou irrelevante, fluxo
de ideias pouco claro ou ilógico, ou mudança
OS 3 D’S DA GERIATRIA: imprevisível de assunto?”
Alteração do nível de consciência:
“Em geral como você classificaria o nível de
consciente do paciente?”
Alerta (normal)
Vigilante (hiperalerta, hipersensível a
estímulos ambientais,assustando-se
facilmente)
Letárgico (sonolento, facilmente
acordável)
Estupor (dificuldade para despertar)
Coma
Incerto
Desorientação:
“O paciente ficou desorientado durante a
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO: entrevista, por exemplo, pensando que estava
em outro lugar que não o hospital, que estava
- A despeito de sua base orgânica, o diagnóstico de no leito errado ou noção errada de hora do
delirium é primariamente clínico, e o uso de critérios dia?”
específicos tem contribuído para tal. Distúrbio/ prejuízo da memória:
“O paciente apresentou problemas de
- Para avaliação inicial de delirium por profissionais de
memória durante a entrevista, tais como
saúde, não treinados na área psiquiátrica, destaca-se o
incapacidade de se lembrar de eventos do
CAM, que abrange 9 itens derivados de critérios do
hospital ou dificuldade para se lembrar de
DSM III-R, e formulados em linguagem de simples
instruções?”
compreensão
Giulianna MontenegrO
Distúrbios da percepção: - O principal diagnóstico diferencial é a DEMENCIA
“O paciente apresentou sinais de distúrbios
- A história é fundamental, pois informações como
da percepção, como por exemplo
inicio agudo e curso flutuante dos sintomas, oscilação
alucinações, ilusões ou interpretações
do nível de consciência e déficit de atenção são
errôneas (pensando que algum objeto fixo se
características marcantes do delirium
movimentava)?”
Agitação psicomotora: Obs.: A depressão pode ser semelhante a um delirium
Parte 1 – “Durante a entrevista, o paciente hipoativo
apresentou aumento anormal da atividade
motora, tal como agitação, beliscar de Comportamento apático, linguagem
cobertas, tamborilar com os dedos ou lentificada, distúrbio do sono são comuns em
mudança súbita e frequente de posição?” ambas as condições, podendo dificultar o
Retardo Psicomotor: diagnóstico. Entretanto, a depressão
Parte 2 – “Durante a entrevista, o paciente apresenta-se habitualmente com inicio
apresentou diminuição anormal da atividade gradual, sem alterações pronunciadas da
motora, como letargia, olhar fixo no vazio, cognição ou da atenção, mantendo o estado de
permanência na mesma posição por longo alerta normal.
tempo ou lentidão exagerada de
10. PREVENÇÃO:
movimentos?”
- Entre as medidas utilizadas, realizadas por meio de
Alteração do ciclo sono-vigília: protocolos, incluíram-se, por exemplo: orientação e
“O paciente apresentou sinais de alteração do estímulo cognitivo; redução de ruído noturno
ciclo sono-vigília, como sonolência diurna complementado por música suave e ingestão de bebida
excessiva e insônia noturna?” morna ao deitar; mobilização precoce, evitando-se ao
máximo condições restritivas, como uso de sondas,
- O diagnóstico de delirium envolve duas etapas
cateteres ou restrição física; uso de óculos e aparelhos
essenciais: estabelecer o diagnostico sindrômico e
auditivos, se necessário; e correção da desidratação
determinar a sua etiologia
- Somadas às intervenções citadas, quando necessário,
- O diagnóstico sindrômico é realizado com base na
o suporte de oxigênio adequado, balanço
história, no exame físico e pela aplicação dos critérios
hidroeletrolítico; tratamento da dor grave, evitando-se,
diagnósticos específicos, que podem ser realizados por
na medida do possível, medicamentos com ação no
instrumentos de avaliação, como, por exemplo, o
sistema nervoso central e ação anticolinérgica; e a
CAM.
regulação das funções fisiológicas, evitando-se a
- O diagnóstico etiológico é feito a partir de uma constipação intestinal, constituem medidas muito úteis
investigação clínica e laboratorial. na prevenção do delirium.
11. TRATAMENTO:
COMO DEVE-SE FAZER:
- O tratamento do delirium já instalado envolve a
- Listar todos os medicamentos em uso, suspendendo
correção da causa básica, minimizando os sintomas.
os não essenciais e reduzindo a dose dos essenciais;
deve-se também considerar a possibilidade de - É condição fundamental a identificação dos fatores
abstinência a álcool ou benzodiazepínicos. etiológicos envolvidos bem como sua terapêutica.
- O exame clínico deve ser minucioso, procurando - A terapêutica de suporte visa corrigir condições
doenças agudas ou crônicas em fase de frequentes como desidratação, desequilíbrio
descompensação hidroeletrolítico, desnutrição, úlceras de pressão,
aspiração, entre outras complicações da imobilidade
- A seleção laboratorial depende do juízo clínico de
cada caso, sendo solicitados, habitualmente: - Todos os fármacos, especialmente os que têm ação
hemograma, exames bioquímicos, análise de urina, anticolinérgica, devem ser considerados como fatores
culturas e raios X de tórax e eletrólitos etiológicos potenciais, necessitando-se analisar a
interrupção de seu uso ou a redução da dose,
Obs.: Em casos selecionados, dosagens de fármacos,
ponderando sempre o risco-benefício da conduta.
punção liquórica, hormônios tireoidianos,
eletroencefalograma, tomografia computadorizada de - A retirada súbita de álcool ou sedativos também deve
crânio podem ser requeridos ser sempre considerada como possível fator
desencadeante.
Giulianna MontenegrO
- Inúmeras condições patológicas, especialmente as intravenosa, porque embora tendo início rápido de
doenças infecciosas, metabólicas, cardiovasculares e ação, apresenta efeito terapêutico curto e pode induzir
cerebrovasculares, que se manifestam muitas vezes de arritmias.
forma atípica no idoso, devem ser minuciosamente
Obs.: Os antipsicóticos atípicos como risperidona,
investigadas e tratadas o mais precocemente possível.
olanzapina e quetiapina estão disponíveis apenas na
TRATAMENTO NÃO forma oral, porém geram com menos frequência
efeitos extrapiramidais.
FARMACOLÓGICO:
- Nos casos de delirium secundário à abstinência de
- O suporte psicossocial pode ser fornecido pela equipe
álcool ou benzodiazepínicos, o tratamento é feito com
de saúde, familiares ou amigos.
benzodiazepínico, dando-se preferência ao lorazepam,
- Medidas simples, como informações repetidas sobre por sua vida curta e menor quantidade de metabólitos
orientação no tempo e no espaço, condições de saúde ativos.
atual e procedimentos a serem realizados, podem ser
- Haloperidol: 0,5 a 1,0 mg VO 2x/ dia com dose
extremamente úteis
adicional a cada 4 h se necessário (efeito máximo 4 a 6
- A presença de familiares e amigos próximos também h)
é útil no controle dos sintomas, com permanente
Dose máxima de 3 a 5 mg / dia
reorientação verbal, evitando-se, porém, alternância
Manutenção: metade da dose adicional
frequente entre os acompanhantes
Efeitos extrapiramidais se> 3 mg
- A correção de déficits sensoriais, fornecendo ao Evitar endovenosa pela curta duração de ação
paciente óculos e aparelho auditivo, quando e indução de arritmia
necessários, também é benéfica
- Lorazepam: é utilizado apenas em casos de
- O ambiente hospitalar deve ser tranquilo, com abstinência de BZD em doses de 0,5 a 1 mg, VO,
presença de janela no quarto, algum estímulo sensorial repetir a cada 4h
como iluminação suave à noite e estímulo sonoro em 12. PROGNÓSTICO:
baixo volume;
- Pacientes que desenvolvem delirium podem cursar
- Calendário, relógio e objetos pessoais já conhecidos com pior prognóstico tanto na vigência da internação,
também podem ser úteis. quanto após a alta hospitalar.
- A restrição ao leito deve ser evitada sempre que - Os pacientes hospitalizados, sua ocorrência está
possível associada a maior tempo de internação complicações
como quedas, úlceras de pressão, incontinência
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: urinária e prejuízo funcional.
- O tratamento farmacológico deve ser reservado aos
- Há também aumento da taxa de mortalidade
casos de delirium hiperativo com agitação grave, em
hospitalar, relacionada principalmente com a gravidade
que há o risco potencial de segurança do paciente, dos
da doença, déficit cognitivo prévio e idade avançada.
cuidadores e da equipe, e no sucesso terapêutico da
etiologia ou nos distúrbios acentuados da senso- - Após a alta hospitalar, estudos de seguimento
percepção (alucinação ou ilusão). mostram maior taxa de hospitalização,
institucionalização e piora da função cognitiva, além
- Embora possa reduzir a agitação e os sintomas
de maior taxa de mortalidade
comportamentais, não há evidência de que melhore o
prognóstico, com crescente evidência de que possa
prolongar o delirium e associar-se a prejuízo cognitivo
- Os antipsicóticos constituem-se como primeira linha
na terapêutica, sendo o haloperidol considerado o
fármaco de escolha.
- Suas vantagens são o custo baixo e as formas de
apresentação por via oral e parenteral (intramuscular e
intravenosa).
- A primeira via, quando possível, é preferida por sua
farmacocinética favorável, devendo-se evitar a
Giulianna MontenegrO