Horizontes
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61 | 2021
Governança reprodutiva
Edição electrónica
URL: https://journals.openedition.org/horizontes/5650
ISSN: 1806-9983
Editora
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Edição impressa
Data de publição: 30 novembro 2021
Paginação: 7-46
ISSN: 0104-7183
Refêrencia eletrónica
Claudia Fonseca, Diana Marre e Fernanda Rifiotis, «Governança reprodutiva: um assunto de suma
relevância política», Horizontes Antropológicos [Online], 61 | 2021, posto online no dia 06 dezembro
2021, consultado o 13 dezembro 2021. URL: http://journals.openedition.org/horizontes/5650
© PPGAS
Apresentação Introduction
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832021000300001
Claudia FonsecaI
https://orcid.org/0000-0002-7761-6095
[email protected]
Diana MarreII
https://orcid.org/0000-0003-2852-3762
[email protected]
Fernanda Rifiotis I
https://orcid.org/0000-0002-7307-2254
[email protected]
I
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Porto Alegre, RS, Brasil
II
Universitat Autònoma de Barcelona – Barcelona, Catalunha, Espanha
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reações em diferentes escalas contra o tipo de abuso que ocorreu com Andrielli
desde as denúncias mediáticas, protestos de movimentos sociais (em particu-
lar, do movimento negro – já que tantos casos envolvem mães não brancas),
audiências públicas, pesquisas acadêmicas coordenadas e até uma nota da pró-
pria Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Essas reações assinalam não
só brechas nos desenhos modernistas de controle, mas também o potencial de
protestos coletivos e a própria agência das pessoas envolvidas.
Ao iniciar nossa discussão com esse caso, nossa intenção é de sublinhar
como, muito além de ser um fenômeno biológico bem delimitado, a reprodução
humana está inevitavelmente entrelaçada com interesses de coletividades e
forças políticas que perpassam o tecido social. Representa um problema tanto
material quanto político perpassado por questões não só de gênero e sexua-
lidade, mas também de Estado, raça e mercado que, via corpos e afetos, inter-
conectam o micrológico com processos transnacionais (Murphy, 2012). Assim,
a história de Andrielli reúne uma série de eventos passiveis de problematiza-
ção à luz da temática do presente número: a Governança Reprodutiva, termo
consagrado, em 2012, pela dupla de antropólogas feministas Lynn Morgan e
Elizabeth Roberts:
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A linha analítica que nos interessa aqui começa recentemente, nos emaranha-
dos entre feminismo e direitos reprodutivos. Embora suscitada já no final dos
anos 1960 pela Comissão de Direitos Humanos da ONU, foi a Conferência do
Cairo que consagrou a ideia de direitos reprodutivos em 1994 para se referir ao
bem-estar completo, físico e mental, em todos os processos e funções relacio-
nadas ao sistema reprodutivo. No mesmo ano, o Black Women’s Caucus, em
Chicago, acrescentou uma nova dimensão fundamental às discussões, se refe-
rindo à justiça reprodutiva. Segundo essa noção, tão importante quanto o direito
a não ter filhos era o direito a ter e criar filhos em condições dignas. A noção de
governança reprodutiva tem suas raízes nessa conjuntura histórica, forjada pela
2 Claudia Fonseca conta com o apoio financeiro do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico) na forma de uma bolsa de produtividade em pesquisa; Diana
Marre participou como IP do projeto PID2020-112692RB-C21/AEI/10.13039/501100011033
financiado pelo Ministerio de Ciencia, Innovación y Universidades de España e graças ao prê-
mio ICREA Acadèmia que recebeu para o período 2020-2024.
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alta da Europa. Até 1993, tinha caído para 1,3 – uma das mais baixas do mundo e
bem abaixo da reposição demográfica. Se, logo depois da Segunda Guerra Mun-
dial, calculava-se que apenas 10% das espanholas nunca teriam filhos, passados
30 anos, essa proporção já era quatro vezes maior. Parte desse aumento é atribu-
ída à tendência de mulheres a entrar no mercado de trabalho em número cada
vez maior. Muitas delas acabam se dedicando a suas carreiras, adiando a mater-
nidade para um momento quando as chances de engravidar são menores. Mas
existem, como nos lembra Briggs (2017), outras influências das políticas neoli-
berais que passam a restringir as aspirações à vida familiar. A redução do valor
real de salários fez com que ambos os membros do casal tivessem que se engajar
na força de trabalho, inclusive com uma carga horária maior do que em gerações
anteriores. Simultaneamente, com as restrições orçamentárias para serviços
públicos de apoio, a responsabilidade pelos cuidados de pessoas dependentes
passou a recair cada vez mais sobre as famílias nucleares (principalmente sobre
as mulheres). Restrito ao setor comercial, o custo de um eventual auxílio por
ajudantes pagos ficou proibitivo para boa parte dos jovens casais. Assim, até
ter a estabilidade financeira para equilibrar as diversas demandas (domésticas,
maternas, profissionais) às quais deviam atender, muitas mulheres já teriam
atingido uma idade que tornaria a procriação “natural” difícil.
O alto custo dos diferentes processos “assistidos” de ter filhos – quer seja
através da adoção ou da intervenção médica– introduz uma segunda particula-
ridade que distingue o hemisfério norte do sul. Enquanto as políticas neolibe-
rais de austeridade faziam estragos no mundo inteiro, boa parte dos cidadãos da
Europa ocidental e a América do Norte – seja pelo emprego, seja pelas subven-
ções estatais – ainda gozavam de condições que lhes permitiam participar dos
variados mercados de consumo. É nesse contexto que pesquisadores chamam
atenção para a maneira como as relações íntimas, e também os demais elemen-
tos do trabalho reprodutivo tradicionalmente associados à esfera doméstica, se
tornaram objeto de comodificação (Constable, 2009). Práticas tais como adoção
infantil e maternidade assistida tomam seu lugar, ao lado de outros serviços
reprodutivos, para se transformar em produtos mercadológicos, envolvendo
pesados investimentos e lucros financeiros de uma classe média vultosa.
Lembremos que, num primeiro momento, mulheres tendo dificuldade para
engravidar procuravam resolver seu problema, tal como em gerações anterio-
res, pela adoção de um bebê. Entretanto, por diversas razões, a oferta “local” de
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dos estrangeiros que vinham buscar filhos adotivos nessa região do mundo.
A América Latina tinha se conectado aos circuitos de adoção transnacional
como fornecedora de crianças para famílias na Europa e América do Norte
(Cardarello, 2012). Contudo, à medida que as estruturas de governo foram
sendo aprimoradas na era da reabertura democrática, os governos nacionais
tendiam a concentrar a administração da adoção no Judiciário para garantir o
prevalecimento do “interesse superior da criança”. O importante era prevenir
abusos que tinham ocorrido no passado, tal como a apropriação criminosa de
crianças durante a ditadura argentina (Villalta, 2012) e o tráfico internacional
de bebês para a adoção. Assim, no Brasil, por exemplo, vedava-se a autorização
de agências privadas ou quaisquer outros intermediários que não fossem do
poder público. Os controles crescentes praticamente deram fim a adoções por
estrangeiros (que caíram de mais de 2.000 em 1990 para 67 em 2018), e coloca-
ram limites aos trâmites da adoção doméstica.
Invertendo visões anteriores, emergiu a narrativa de que faltavam crianças
disponíveis à adoção no país – pelo menos crianças na primeira infância e em
boa saúde, tal como a maioria de pretendentes desejava. Desde 2008, quando
as estatísticas oficiais passaram a ser divulgadas na mídia, os números anun-
ciam inevitavelmente cinco a seis pretendentes para cada jovem disponível.
Apesar de existir um aparato institucional (profissionais, cadastros, etc.) para
regular o encontro entre adotantes e adotados, em certas regiões, os magistra-
dos encarregados da adoção continuam ligados a redes filantrópicas e grupos
associativos de pais adotivos, muitos sob forte inspiração religiosa. Longe de
terem recursos para buscar um filho adotivo no exterior, pretendentes à pater-
nidade adotiva acabam se enredando nessas redes locais. E é nessa conjuntura
de discursos sobre direitos da criança, misturados a moralidades filantrópicas
e humanitárias, que a maioria de pesquisadores da adoção tem concentrado
suas energias (Finamori, Silva, 2019; Rinaldi, 2019; Uziel, 2007).
As novas tecnologias reprodutivas, por sua vez, já chamavam interesse
na América Latina desde os anos 1980, quando nasceram os primeiros bebês
por esse meio, mas só chegaram a criar maior impacto em torno da virada do
milênio. Surgiu, então, uma pletora de estudos nos laboratórios e nas clínicas
médicas sobre as consequências dessa nova fase da biomedicalização da repro-
dução (Grossi; Porto; Tamanini, 2003; Luna, 2007; Ramirez-Galvez, 2009; Straw
et al., 2016; Tamanini, 2015). A produção dava destaque em particular à maneira
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como o uso de gametas doados por terceiras abria possibilidades não só para
solteiras, mas para casais gays e lésbicos. Na ausência de leis sobre essa prá-
tica médica, sugiram orientações emitidas por corporações médicas (tal como
o Conselho Federal de Medicina no Brasil) estabelecendo as normas aceitáveis
de atuação profissional. Com o avanço dos direitos sexuais das comunidades
LGBTT – o reconhecimento do matrimônio entre parceiros do mesmo sexo e
seu direito de adotar crianças –, diminuem na maioria de países da região as
restrições que dificultavam a reprodução por casais homossexuais (Straw et al.,
2016). Contudo, por causa das relações nem sempre claras entre o governo, a
ciência médica e o os lucros proporcionados pelas tecnologias de procriação
medicamente assistidas, permanecem preocupações sobre os possíveis riscos
das inovações tecnológicas para a saúde dos vários atores envolvidos.
Viera Cherro (neste número), na sua discussão sobre as novas tecnologias
reprodutivas no Uruguai, retoma a complexa relação entre elementos encar-
nados (biológicos) dos processos reprodutivos, gênero e a bioeconomia global,
acrescentando a questão fundamental da religião. Expõe, por um lado, o dogma
altamente conservador do Vaticano veiculado por especialistas católicos da
bioética e de lideranças nacionais do clero. Foi sob a influência dessa doutrina
que a primeira lei uruguaia sobre a reprodução medicamente assistida (2003)
ditou parâmetros estreitos de ação, restringindo intervenções a casais heteros-
sexuais, sem possibilidade de doação de óvulos por terceiras. Por outro lado, ao
destacar como foi um católico praticante que dez anos depois patrocinou uma
lei muito mais progressista, a autora embaralha qualquer associação mecânica
entre dogma, crença e prática. Ao aprender que, já desde o início do século, três
quartos das intervenções envolvendo doação de esperma eram realizadas por
casais lésbicos, o leitor acaba por se convencer de que a nova lei simplesmente
legalizou práticas que já vinham ocorrendo de forma rotineira. Numa evi-
dente cumplicidade solidária entre profissionais e pacientes, as mulheres com
dinheiro suficiente conseguiam pagar um procedimento, independentemente
da orientação sexual (ou religião).
A introdução do aspecto financeiro do tratamento, com a possibilidade
de comercialização de serviços e acúmulo de lucros, abre a discussão para
uma tensão frequentemente silenciada nos debates éticos. Procedimentos
tais como doação de óvulos e criopreservação de embriões não só colocam
em destaque o biovalor dos materiais, como também implicam um “trabalho
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Até o fim do século passado, já era evidente para a maioria dos cientistas sociais
que os mecanismos de governo diziam respeito a muito mais do que os ins-
trumentos mais visíveis do poder (legislação, tribunais, polícia). Para propiciar
de forma efetiva determinadas condutas, era preciso incluir a colaboração de
uma variedade de aparatos profissionais e administrativos. Esse conjunto de
aparatos normalizadores requeria a validação por saberes científicos. Assim,
apelando para a natureza técnica antes do que política das normas que pro-
moviam, um novo exército de “pequenos juízes”, ajudaria a moldar subjetivi-
dades e dirigir comportamentos para determinados fins (Rose; Valverde, 1998).
Por exemplo, os profissionais da pediatria e outros especialistas da mulher e
da criança não só definiam os modos adequados do desenvolvimento e educa-
ção infantis, como também adquiriam a suposta capacidade de prever a saúde
futura da população. São essas definições e essas atribuições – com seu poder
de estabilizar e disseminar padrões de normalidade no tocante a assuntos
como corpo, gênero, sexualidade e família – que inspiraram uma grande escola
de analistas a investigar as implicações morais da própria ciência médica.
É compreensível que, ao se debruçarem sobre assuntos da biomedicina, um
importante contingente de antropólogas da reprodução chama atenção para
problemas ligados ao acesso desigual ou práticas discriminatórias – quando, por
exemplo, constata-se que mulheres negras, indígenas ou simplesmente pobres
são sujeitas a formas particulares de violência obstétrica na rede pública de
atendimento (Castro, Savage, 2019; Sesia 2020). Surgem também preocupações
mais do que relevantes quanto às insuficiências dos serviços básicos – quando,
por exemplo, a política da “saúde integral da mulher” anunciada por gestores
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4 Retomando o tema da maternidade, recorrente em sua filmografia, o cineasta proferiu esse dis-
curso na apresentação de Madres paralelas, um filme que revela o drama das famílias cujos filhos
foram fuzilados e enterrados em milhares de valas comuns, sem nunca serem identificados.
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Cuidado na governança
5 Em que pese a dificuldade em traduzir a palavra care, em função da sua polissemia e dos riscos
de redução de sentidos, optamos por manter o termo em português “cuidado”, que nos parece
guardar o sentido de care. Dessa forma, ao acionarmos a palavra “cuidado”, desejamos destacar
sua dimensão conceitual (Casanova; Brites, 2019) e também sinalizar que estamos mobilizando
elementos/questões de uma trama teórico-conceitual diversa, que varia segundo os países, as
correntes e as disciplinas.
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pela versatilidade das suas formas de exercício capaz de “[…] capturar múltiplas
expressões, termos e sentidos acionados em diferentes contextos para articular
um amplo leque de valores, afetos, compromissos, obrigações, práticas e apara-
tos administrativos […]” (Lowenkron, 2016, p. 81).
Aproveitamos essa versatilidade para propor uma discussão, pouco elabo-
rada nos trabalhos de governança reprodutiva, sobre o cuidado. Justamente pela
maneira que abrange um amplo campo de ações e práticas, consideramos que o
cuidado se relaciona intimamente, ora como figura, ora como fundo, com as tec-
nologias de governo. Nosso olhar se volta para além de uma relação diádica entre
quem cuida e quem é cuidado, para o leque de agentes implicados nas múltiplas
relações de cuidado e, portanto, para a dimensão política do cuidado (Bessin,
2012). Sugerimos que – por sua associação com formas de resistência e de agen-
ciamentos múltiplos – o cuidado tem uma forte eficácia política que anda de par
com seu potencial transformativo, suas lógicas de temporalização e as ambigui-
dades “agonísticas” que carrega. Tal como construímos esse diálogo, as autoras
e os autores aqui reunidos nos apresentam experiências de cuidado cujos sen-
tidos estão em permanente disputa, podendo a todo momento se alterar depen-
dendo da perspectiva assumida por cada sujeito nas relações que estabelece.
Seguindo tal perspectiva, as experiências analisadas, no presente número,
revelam as ambiguidades do “cuidado” (pelas fronteiras embaçadas e móveis
entre proteção e controle, mercado e não mercado, entre âmbito profissional
e doméstico, entre dominação e reciprocidade, técnicas e afetos, entre apego e
repulsão e amor e ódio), sem, no entanto, cair na armadilha da dicotomização
que essas oposições a princípio parecem sugerir (Paperman, 2011). Chamamos
atenção em particular para o par proteção e controle/tutela que a noção de cui-
dado suscita. Entre estes se estabelece uma “relação agonística” que permite
reforçar a ideia de que o cuidado opera tanto no registro da proteção (veiller sur)
quanto no do controle/vigilância (surveiller); há, portanto, entre esses termos
uma incitação permanente e produtiva (Bessin, 2011; Cruz Rifiotis; Rifiotis, 2019).
As ambiguidades do cuidado, e a “relação agonística” que se estabelece
entre proteção e controle, aparecem fortemente no artigo de Llobet e Villalta
(neste número), nas formas como se conjugam práticas estatais e dinâmicas
familiares. Nos programas de acolhimento familiar, na Argentina, o cuidado
das crianças se desenvolve segundo esquemas baseados em uma distribui-
ção de gênero tradicional, a saber, são as mulheres que são encarregadas da
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maior parte das tarefas. Chama atenção o fato de estar expressamente proibido
que essas mulheres recebam remuneração por tais tarefas. É justamente esse
“caráter solidário” e “não remunerado” das tarefas de cuidado que é altamente
valorizado no desenho do projeto e pelos próprios agentes. “Donde empiezan a
darle dinero por cada niño, esto termina mal porque empieza a ser um trabajo”,
revela uma das profissionais do programa não governamental de acolhimento
familiar observado pelas pesquisadoras. Do ponto de vista institucional e dos
próprios agentes, cuidado e dinheiro não combinam. Para que o programa
tenha um caráter de fato solidário o trabalho de cuidar precisa ser altruísta,
precisa ser uma doação, há que se “fazer milagres” com poucos recursos e pas-
sar longe, portanto, de uma profissionalização.
Na base do programa está um certo “modelo familiar”. Para funcionar, como
o próprio nome diz, como se fossem uma família, as famílias acolhedoras devem
ser orientadas por uma visão romântica em que assuntos de família não se mis-
turam com assuntos de dinheiro ou finanças, pois estes seriam desprovidos de
considerações, de sentimento e moralidades (Luna, 2007). Para imitar “la inti-
midad familiar sin alterar las relaciones de parentesco”, seguindo orientações
oficiais, as acolhedoras devem operar a dissociação entre as tarefas de cuidado
e o “trabalho”. Reatualizando a dualidade que tem sido longamente problema-
tizada nos estudos sobre cuidado, “amor, afeto e emoções” seriam exclusivos
do domínio familiar e, portanto, do âmbito privado, ao passo que o cuidado
enquanto fazer/técnica estaria associado ao trabalho remunerado, próprio da
esfera pública (Engel, 2020; Fietz, 2020; Hirata; Guimarães, 2012). É interessante
notar como em relação às famílias de origem – vistas como tendo falhado em ter-
mos de suas obrigações morais e de afeto – essa “economia de afeto” serve como
justificação potente na avaliação/controle e intervenção estatal. Por outro lado,
transladado ao programa de famílias acolhedoras, o respeito pela “esfera privada”
como âmbito de afeto supostamente fora do alcance do Estado opera como uma
espécie de “blindagem”, mantendo essas avaliações e esses controles à distância.
Interessante também pensar como são equacionadas as relações entre afe-
tos, cuidados e lucro no contraponto entre as famílias acolhedoras e as famílias
de origem. Conforme a visão moral dos “mundos hostis” (dinheiro e cuidado
precisam ser mantidos separados, sobretudo no âmbito das famílias), o bom
cuidado é baseado no amor desinteressado (Zelizer, 2012). Mas essa visão se tra-
duz de forma variável conforme o lugar que ocupa a família na hierarquia moral.
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Os pedidos de ajuda financeira por parte das famílias acolhedoras, quando apa-
recem, são legitimados, pois no limite não visam o “lucro” e sim o “bom cuidado”
da criança. Por outro lado, qualquer solicitação de ajuda financeira por parte
das famílias de origem lhes coloca sob suspeição: o deles poderia ser um amor
“interesseiro”, visando benefício próprio.
O cuidado infantil e as controvérsias em torno do “bom” e o “mal cuidado”
são temas que reaparecem nas reflexões de Nucci e Fazzioni (neste número)
sobre as experiências de amamentação cruzada – isto é, de mulheres que
amamentam os filhos de outras mulheres, ou porque estas não puderam ama-
mentar (por problemas fisiológicos) ou para que possam seguir com suas vidas
(trabalhar, estudar, etc.). Ao evocarem os debates que surgem em torno de uma
policial em Belo Horizonte que amamenta um bebê enquanto a mãe deste é
atendida na delegacia, as autoras revelam um cenário atravessado por fortes
tensões envolvendo diferentes atores e mecanismos de regulação (morais,
médicos, legislativos, econômicos, políticos e sociais).
A dualidade/paradoxo que envolve a amamentação cruzada é sintetizada
pelas autoras na pergunta: ato de amor ou prática de risco? Parece simples, mas
a equação se torna complexa à medida que nos questionamos sobre os senti-
dos que pode assumir o cuidado para os diferentes sujeitos, a partir da posição
que ocupam na relação e, portanto, sempre de forma contingencial e localizada.
O cuidado é contextual (não essencialista) e relacional, por isso mesmo que sua
caracterização demanda muita atenção aos detalhes precisos de cada situação
(Mol, 2008; Tronto, 2012). Do ponto de vista biomédico, como por exemplo do
manual de boas práticas da OMS, a amamentação cruzada seria um “mau cui-
dado” que coloca a vida do bebê em risco, viola seus direitos. Do ponto de vista
das mulheres, trata-se de um ato de amor, de garantir o melhor cuidado possí-
vel para as crianças que dependem delas. Seria possível pensar também que
nessa equação de cuidado (bom ou mau), vê-se tanto “formas ostensivamente
familiares” de cuidado (que são frequentemente objeto de julgamentos morais
justamente porque escapam às tentativas de controle próprias das tecnologias
de governo) quanto práticas mediadas por políticas institucionais e serviços
públicos (como os bancos de leite) cujos modos de funcionamento são passíveis
de controle e padronização institucional (Fonseca; Fietz, 2018).
A amamentação cruzada mobiliza redes de cuidados que são múltiplas (em
termos das suas ramificações e agentes envolvidos) e desordenadas (do ponto
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de vista normativo e das políticas públicas) nos modos em que são tecidas.
Envolvem relações simétricas, como bem pontuam as autoras, e de recipro-
cidade (cuja obrigação de retribuir pode inclusive ser adiada, aparecendo só
muito tempo depois) (Bessin, 2016). Na outra ponta, temos a impessoalidade,
as assimetrias, outras temporalidades e mediações nas formas de produzir vín-
culos e de retribuir cuidado.
São também essas ambiguidades entre o risco e o amor, entre o bom e o
mau cuidado que atravessam a história da Andrielli com a qual começamos
esta apresentação. A mãe que não pode amamentar a filha, ou seja, que não
pode escolher a melhor forma de cuidar mesmo diante da recusa da bebê à
fórmula que lhe administraram em lugar do leite materno, nos faz pensar:
O que é feito/produzido em nome do cuidado dos sujeitos? Como os diferentes
agentes agem em função das diversas concepções de cuidado? A mãe, por ser
impedida de amamentar (por não poder ofertar à filha o que entende por “bom
cuidado”), tem seus direitos violados, ao passo que a filha não tem direito ao
leite materno, por entenderem que a mãe, em sua história pregressa, teria sido
negligente (não oferecendo esse “bom cuidado”), violando os direitos de seus
outros filhos.
Se são passíveis de serem borrados os limites entre o bom e o mau cuidado, o
“binômio cuidado/não cuidado”, cujos termos são “frequentemente tidos como
dicotômicos, aparecem muitas vezes embaralhados”, sobretudo quando se trata
de experiências no âmbito da proteção da infância e adolescência (Lowenkron,
2016, p. 82). Esse é o caso da relação entre Marcela e seu filho Ricardo, que ins-
pira o artigo de Efrem Filho e Mello (neste número) sobre as experiências de
maternidade à luz dos constrangimentos de Estado. Não é por acaso que a “mãe”
tem se tornado um operador ideal das políticas públicas, como bem destacam
os autores. A esse lugar/posição de parentesco converge uma série de expecta-
tivas morais relacionadas em geral com afetos, emoções e, sobretudo, cuidado.
Mas o que acontece “quando uma mãe renuncia a ser “mãe”?, se questionam os
autores. Na esteira dessa renúncia, seguem-se muitas ameaças, mas uma em
particular preocupa Marcela: poderia ela ser presa por não querer mais cuidar
do filho mais velho, mesmo tendo esse filho lhe espancado? A “renúncia da mãe”
remete a uma quebra de expectativa em relação à qualidade “natural” e “perma-
nente” dessa entidade “mãe” e também em relação ao cuidado como qualidade
“inata” das mulheres, em particular, das mães.
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