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WORKSHOP
PREVENÇÃO E CONTROLE
DO LIXO NO MAR
Cleber Ferrão Corrêa
Adriana Florentino de Souza
Flavio de Miranda Ribeiro
Organizadores
Chanceler Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Reitor Prof. Me. Marcos Medina Leite
Pró-Reitora Administrativa Profª. Dra. Mariângela Mendes Lomba Pinho
Pró-Reitora de Graduação Profª. Dra. Rosângela Ballego Campanhã
Pró-Reitor de Pastoral Prof. Me. Pe. Cláudio Scherer da Silva

COMISSÃO CIENTÍFICA

Prof. Dr. Cesar Bargo Perez


Profa. Dra. Marcia Aps
Profa. Dra. Maria Aparecida dos Santos Accioly

Editalivros Produções Editoriais


CNPJ: 21.639.165/0001-88 • Insc. Estadual: 633.513.261.113
Av. Conselheiro Nébias, 197 (térreo) – Vila Mathias
CEP: 11015-021 – SANTOS / SP
https://elcio62.wixsite.com/editalivros
Atendimento
[email protected]
Cleber Ferrão Corrêa
Adriana Florentino de Souza
Flavio de Miranda Ribeiro
(organizadores)

WORKSHOP
Prevenção e Controle do Lixo no Mar

Santos
2023
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Workshop [livro eletrônico] : prevenção e controle


do lixo no mar / organização Cleber Ferrão
Corrêa, Adriana Florentino de Souza, Flavio
de Miranda Ribeiro. -- 1. ed. -- Santos, SP :
Editalivros Produções Editoriais, 2023.
PDF

Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-69918-12-7

1. Ecologia marinha 2. Lixo - Eliminação -


Aspectos ambientais 3. Lixo - Recuperação - Aspectos
ambientais 4. Poluição marinha 5. Poluição - Aspectos
ambientais I. Corrêa, Cleber Ferrão. II. Souza,
Adriana Florentino de. III. Ribeiro, Flavio de
Miranda.

23-164521 CDD-363.7282
Índices para catálogo sistemático:

1. Lixo : Reciclagem : Problemas sociais 363.7282

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

Revisão
Organizadores

Planejamento Gráfico / Diagramação / Capa


Editalivros Produções Editoriais

Sobre o Ebook
Formato: 160 x 230 mm • Mancha: 115,5 x 190 mm
Tipologia: Goudy Old Style (textos), Acumin Variable Concept (títulos)
Tiragem: 500 exemplares • Gráfica: Pallotti

Colabore com a produção científica e cultural.


Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização do editor.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.............................................................07

Capítulo 1
O LIXO NO MAR: CONTEXTO E MOTIVAÇÃO PARA
REALIZAÇÃO DO “WORKSHOP PREVENÇÃO E
CONTROLE DO LIXO NO MAR - PERSPECTIVAS NO
GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS E
SANEAMENTO NA REGIÃO METROPOLITANA DA
BAIXADA SANTISTA”...........................................................21
Flávio de Miranda Ribeiro

Capítulo 2
PLANO ESTRATÉGICO DE MONITORAMENTO E
AVALIAÇÃO DO LIXO NO MAR DO ESTADO DE SÃO
PAULO – PEMALM..........................................................36
Maria Fernanda Romanelli

Capítulo 3
CIDADES INTELIGENTES E OS DESAFIOS DA
GESTÃO DO LIXO NO MAR........................................48
Alessandro Cardoso Lopes, Patrícia Ralianko Bianchi e Cleber Ferrão Corrêa
Capítulo 4
A NECESSIDADE DA REGULAÇÃO AMBIENTAL
PARA PREVENÇÃO AO LIXO NO MAR: O CASO DOS
PARABENOS NA INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS........62
Luciano Cristian Cabral e Flávio de Miranda Ribeiro

Capítulo 5
MAPEAMENTO DE HABITATS MARINHOS EM
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E COMBATE À PESCA
FANTASMA....................................................................76
Luiz Miguel Casarini, Rafael Romero Munhoz, Arianne Carvalho Fonseca,
José Edmilson A. Mello Junior, Mônica Doll Costa e Leandro Costa Nogueira

Capítulo 6
PLÁSTICOS NOS MARES E OCEANOS: UM PROBLEMA
QUE NÃO PODE ESPERAR MAIS.....................................90
Juarez Ramos da Silva e Marcia Aps

Capítulo 7
GOVERNANÇA METROPOLITANA DA BAIXADA
SANTISTA: PLANO REGIONAL DE GESTÃO
INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS (LIXO NO
MAR).................................................................102
Márcio Aurélio de Almeida Quedinho
APRESENTAÇÃO


Dentre as discussões ambientais contemporâneas tem tido


crescente o destaque ao problema dos resíduos sólidos encon-
trados no ambiente marinho, seja em alto-mar ou nas águas cos-
teiras, praias, costões e mangues. A presença destes materiais e
substâncias provoca danos não apenas à vida e aos ecossistemas
daquele ambiente, mas também promove prejuízos à saúde hu-
mana, à subsistência da população e à economia dos municípios
defrontantes ao mar.
A presente publicação é parte dos produtos gerados no pro-
jeto do “Workshop Prevenção e Controle do Lixo no Mar: pers-
pectivas no gerenciamento dos recursos hídricos e saneamento
na Região Metropolitana da Baixada Santista”, realizado com
financiamento do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHI-
DRO) do estado de São Paulo, por meio da Deliberação CBH-BS
Nº 364/2019. Seu objetivo é consolidar e divulgar as experiências
sobre o tema do lixo no mar reunidas previamente à realização
do Workshop, com foco na Região Metropolitana da Baixada
Santista, de forma a criar subsídios às discussões e debates a se-
rem realizados.
Nessa Introdução, trazemos a visão geral do problema, sua
conexão com os recursos hídricos, o contexto específico da ques-
tão para a Baixada Santista e os objetivos e justificativas do pro-
jeto.
Entende-se por “lixo no mar” todo o resíduo sólido de ori-
gem nas atividades humanas e que, independente de sua origem,
entra no ambiente marinho (MMA, 2019).
Segundo estimativas internacionais (JAMBECK et al., 2015),
80% de todo o lixo no mar possui origem terrestre, com predomi-
nância dos plásticos, borrachas, metais, vidros, têxteis e papéis.
Em relação aos plásticos, principal componente do lixo no mar
(chegando a 90% de sua composição), a pesquisa estima que no
ano de 2010 entraram nos oceanos algo entre 4,8 e 12,7 milhões
de toneladas - principalmente oriundos da parcela reciclável dos
resíduos sólidos urbanos mal gerenciados, tais como embalagens,

lacres, tampas e outros utensílios. Conforme previsões da Fun-
dação Ellen MacArthur (EMF, 2016), se as tendências atuais na
gestão de resíduos sólidos em terra não forem alteradas em 2050
teremos mais peso de plástico do que de peixes no mar (hoje a
relação estimada é de 1 para 5). Mesmo antes deste cenário, pro-
blemas já vêm sendo detectados, como por exemplo o fato de o
lixo marinho ser o causador da morte anual de cerca de 100 mil
mamíferos marinhos e 1 milhão de aves marinhas (MMA, 2017,
Apud IPT, 2018).
Segundo um estudo internacional, financiado pela Agência
Sueca de Ambiente (VELIS et al., 2017) estas “perdas” de mate-
riais ao mar ocorrem por dois mecanismos principais: o descarte
irregular pelas pessoas, em virtude da realização das diversas ativi-
dades humanas (seja em áreas urbanas ou em momentos de lazer
à beira-mar); e desvios internos dos sistemas de gerenciamento
de resíduos, quando operados de forma inadequada. Outras fon-
tes podem compor em menores quantidades o lixo no mar, tais
como as operações pesqueiras, portuárias, industriais ou mesmo
agrícolas, quando realizadas nas proximidades da costa.
Segundo o relatório internacional sobre prevenção de lixo
no mar, publicado pela ISWA- International Solid Waste Asso-
ciation (VELIS et al., 2017), os resíduos, e em especial os plásti-
cos, atingem o meio marinho majoritariamente por meio de vias
navegáveis, rios e descargas de água residuais - inclusive de águas
pluviais, como canais de drenagem. No trabalho ainda menciona-
do que muitos dos resíduos dispostos inadequadamente podem
até não chegar ao mar, acumulando-se assim nos corpos d`água
com impactos ao ambiente e à saúde local, além de problemas
econômicos relacionados ao turismo e à pesca. Este estudo traz
importantes constatações, como o dado de que anualmente são
lançados aos oceanos entre 1,2 e 2,4 milhões de toneladas de
plásticos “a partir de fontes interiores através de rios” (VELIS et
al., 2017, p.5), o que representa cerca de 2% de todo o plástico
produzido no mundo vazando para o mar pelos corpos d`água
superficiais que nele desaguam.
Estas constatações denotam a relevância de se atuar junto

aos atores determinantes da gestão dos recursos hídricos em terra
para resolver o problema, no que se inclui o papel institucional
dos Comitês de Bacias Hidrográficas. Esta realidade é, inclusive,
reconhecida pelo prof. Benedito Braga, atual Presidente da Com-
panhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo- SABESP,
e Presidente do Conselho Mundial da Água. Em entrevista con-
cedida em 2018 sobre as principais ações de conexão entre a Polí-
tica Nacional de Resíduos Sólidos e a Política Nacional de Recur-
sos Hídricos, este mencionou que um “exemplo claro do efeito
negativo da disposição inadequada dos resíduos sólidos sobre os
recursos hídricos é a poluição difusa, que atinge muitos córregos
e rios” (ENTREVISTA, 2018, p.21), que no caso de cidades lito-
râneas compõe a parte mais significativa do lixo no mar.
Os autores do estudo da ISWA (VELIS et al., 2017) destacam
que o problema do lixo no mar é mais grave em países e regiões
em desenvolvimento, uma vez que a falta de infraestrutura e as
práticas inadequadas de gestão de resíduos levam muitas pessoas
a despejar seus resíduos diretamente nos corpos d`água, e sem
enfrentar esta realidade “nunca seremos capazes de eliminar a
crise do lixo marinho” (VELIS et al., 2017, p. v).
No Brasil a questão do lixo no mar tem sido discutida desde
a década de 1970, com estudos acadêmicos relacionados à ocor-
rência de pellets de polietileno em praias do Rio Grande do Sul
(GOMES, 1973, apud MMA, 2019). Considerando os 8.500 km
de costa brasileira, nos quais 274 municípios se distribuem em
frente ao mar, o problema tem preocupado de forma crescente
tanto a comunidade científica como os gestores municipais e a
população. O Projeto MARPLAST, parceria entre a entidade se-
torial Plastivida e o Instituto Oceanográfico da Universidade de
São Paulo (IO-USP), confirmou a predominância dos resíduos
plásticos no mar brasileiro, em uma proporção de 90% do lixo
monitorado em praias e restingas, superando a média mundial,
com predominância de itens como tampas, garrafas, sacolas e
outros (TURRA, 2018). No mesmo sentido, um levantamento
anterior (OCEAN CONSERVANCY, 2010, apud IPT, 2018)
quantificou a geração média de lixo no mar no Brasil em 168

kg/km de praia por dia, número bastante significativo.
Um marco importante na discussão do lixo no mar no país
foi a publicação do Plano Nacional de Gerenciamento Costei-
ro- PNGC, em 1990, trazendo diversas determinações dentre as
quais a criação de planos de gestão sobre o assunto - incluindo a
questão dos resíduos sólidos e dos recursos hídricos (IPT, 2018).
Desde o ponto de vista da Governança Internacional, um
importante marco neste tema foi a Conferência da Organização
das Nações Unidas sobre os Oceanos, realizada em Nova Iorque
no ano de 2017. Naquela ocasião, vários governos, organizações
não governamentais e empresas se reuniram para discutir o pro-
blema, e diversos acordos foram estabelecidos. Da parte do gover-
no brasileiro, a proposta consistiu em desenvolver uma estratégia
nacional para o problema, que culminou na recente publica-
ção do Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar - PNCLM
(MMA, 2019).
O PNCLM contempla um diagnóstico do problema do lixo
no mar no Brasil, trazendo valores de referência e propostas de
implementação de diretrizes, com indicadores, plano de ação e
uma agenda de atividades. As ações se dividem em seis eixos de
implementação (resposta imediata; gestão de resíduos sólidos;
pesquisa e inovação tecnológica; instrumentos de incentivo e pac-
tos setoriais; normatização e diretrizes; educação e comunicação),
e prevê 30 ações de curto, médio e longo prazo. Para os fins desta
Introdução, é de se destacar a forte presença de diversas inicia-
tivas a serem realizadas junto aos corpos hídricos que desaguam
no mar, incluindo desde a instalação de dispositivos de retenção
(como redes coletoras em galerias pluviais e barreiras flutuantes
em rios e afluentes), passando por ações de estímulo à coleta se-
letiva e logística reversa nos municípios costeiros, e chegando ao
fomento a projetos de inovação tecnológica para aproveitamento
do plástico recolhido do ambiente marinho (MMA, 2019).
Neste sentido, e considerando a governança do tema, o PN-
CLM propõe determinadas iniciativas concretas em seus eixos de
implementação - dentre as quais para os fins da presente proposta
se destaca o Eixo 2, no qual se apresenta o “Fortalecimento dos

instrumentos de planejamento em nível local, ressaltando a im-
portância de articulação deste plano com outros planos, como,
por exemplo, de saneamento, de resíduos, de recursos hídricos,
e de educação ambiental” (MMA, 2019, p.23). Neste sentido, en-
tendemos como fundamental o papel dos Comitês de Bacia das
áreas litorâneas na discussão das soluções do problema do lixo
no mar, justificando a presente a proposta com vistas a permitir
ao Comitê assumir o natural papel de protagonismo e promover
os debates e discussões necessários à articulação das diversas ini-
ciativas em andamento na região da Bacia Hidrográfica da Baixa-
da Santista com o PNCLM.
Lançado pelo Ministro de Meio Ambiente em fevereiro de
2019 em um evento na cidade de Santos, o PNCLM prevê den-
tre outras iniciativas a elaboração de planos regionalizados, mais
aplicados aos problemas de cada localidade, motivação para a
realização do projeto na região da Baixada Santista.
A questão do lixo no mar na Baixada Santista não é nova,
e sua relação com os resíduos sólidos foi recentemente aborda-
da no Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
da Baixada Santista (IPT, 2018). Neste documento se afirma que
com os dados demográficos da região, principalmente o alto ín-
dice de população flutuante durante a temporada, e os aspectos
geográfico da costa e econômico das atividades desenvolvidas na
região, há um potencial de geração e descarte de 3.300 kg/dia de
lixo no mar para os municípios que compõe a Bacia Hidrográfica
da Baixada Santista (denominada como UGRHI-07).
Dentre diversos dados relevantes ao tema o Plano (IPT, 2018)
traz um capítulo específico dedicado ao lixo no mar reconhecen-
do não apenas a relevância da agenda, mas principalmente sua
conexão com a melhoria do gerenciamento dos resíduos sólidos
na região. O Plano afirma que “os apontamentos e discussões
deixam clara a conexão entre a gestão dos resíduos sólidos no
continente e seu potencial impacto nos ambientes marinhos,
onde o controle do lixo marinho se dá essencialmente em re-
duzir os impactos das fontes baseadas em terra, considerando
todos os tipos de resíduos como fontes potenciais” (IPT, 2018,

p. 117). No mesmo texto, é destacada a necessidade de incluir o
gerenciamento costeiro nos planos de investimento público em
saneamento básico, visando a melhoria dos sistemas e a redução
da pressão sobre os recursos hídricos.
Segundo o Plano (IPT, 2018), ainda que sejam escassas as
ações concretas sobre o lixo no mar previstas nos Planos Muni-
cipais de Resíduos Sólidos dos municípios da Baixada Santista,
com exceções à Bertioga e Guarujá, são diversas as iniciativas
pontuais já em andamento na região - como por exemplo os pro-
jetos de conscientização ambiental nas praias, como o “Verão no
Clima”, do Governo do Estado; as ações de coleta de resíduos
flutuantes, como o projeto Catamarã em Santos, que recolhe cer-
ca de 6 t/mês de resíduos; ou a limpeza das praias, como aquela
realizada em São Vicente e que soma quase 7 mil t/ano de resí-
duos diversos recolhidos (IPT, 2018).
Assim, percebe-se uma crescente delimitação do problema
na região, não apenas na documentação específica sobre lixo no
mar, mas também em documentos do próprio Comitê da Ba-
cia Hidrográfica, como no Relatório de Situação divulgado em
2019 (CBH-BS, 2019). Neste documento a crescente pressão da
sociedade sobre os recursos hídricos é descrita, com destaque à
contaminação dos corpos d`água por resíduos sólidos gerencia-
dos de forma inadequada, seja aqueles oriundos de ocupações
irregulares, aqueles descartados pela população nas vias públicas,
ou aqueles de outras origens.
O diagnóstico realizado pelo Comitê (CBH-BS, 2019) apre-
senta um preocupante quadro, com aumento de 1,07% na gera-
ção de resíduos sólidos na região, bastante acima do crescimento
populacional para o mesmo período, de 0,92%. Este aumento,
destacam, não foi acompanhado de crescimento nas estratégias
de redução da destinação final de resíduos, tais como a coleta
seletiva e a logística reversa. Há, porém, importantes iniciativas
já em curso, sendo reconhecido que “os municípios de maneira
geral (...) realizam a implantação de programas que visam inserir
cooperativas de catadores no processo de coleta e destinação dos
resíduos recicláveis; desenvolvendo tecnologias para a retirada

dos resíduos flutuantes nas áreas do estuário e rios da região e
ainda ações diretas com programas de educação ambiental, que
têm por foco a reciclagem dos resíduos” (CBH-BS, 2019, p. 46).
Cabe ainda mencionar que o Plano Gestão Integrada de Re-
síduos Sólidos da Baixada Santista, em seu capítulo sobre lixo
no mar, conclui pela necessidade de “um plano adequado de
gestão dos resíduos, atrelado à manutenção das praias” (IPT,
2018, p. 118), evidenciando a relação entre os dois temas. Estas
constatações evidenciam um grande potencial para a região da
UGHRI-07 estabelecer-se como pioneira na consolidação das di-
versas iniciativas existentes em um plano ordenado de combate
ao lixo no mar, o que motivou o Projeto do qual a presente pu-
blicação é um dos produtos.
Ainda, os litorais paulistas ganharam um Plano Estratégico
de Monitoramento e Avaliação do Lixo no Mar (Pemalm). Do-
cumento traz informações para compreender a problemática do
lixo no mar e é pioneiro no Brasil e foi lançado pela Secretaria
de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA), pela Universidade
de São Paulo (USP), por meio do Instituto Oceanográfico (IO/
USP), da Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano,
e por meio do Instituto de estudos Avançados (IEA/USP).
Iniciado em 2019, o documento que contou com a participa-
ção de diversos setores da sociedade: público, privado, sociedade
civil e academia. Sendo o estado paulista o primeiro a elaborar
o documento. O plano traz um conjunto de indicadores como
a geração de lixo, de exposição e de impactos que irão permitir
uma análise das melhores opções para o combate efetivo do pro-
blema.
A partir da situação anteriormente apresentada, a Univer-
sidade Católica de Santos julgou pertinente a realização de um
projeto que permitisse o diálogo amplo sobre o tema. Assim, em
2019 propôs-se ao FEHIDRO a realização de um Workshop com
o objetivo geral de promover uma ampla discussão sobre a pro-
blemática do lixo no mar na Região Metropolitana da Baixada
Santista, com foco específico na conexão deste tema com a gestão
dos recursos hídricos e dos resíduos sólidos.

Entende-se que a realização desta iniciativa se justifica tanto
pela relevância do tema do lixo no mar em si, como bem pela for-
te influência da poluição em corpos d’água (rios, córregos, canais
naturais e de drenagem, mangues, etc) na ocorrência do proble-
ma do lixo no mar. Esta importância, inclusive, foi recentemente
reconhecida pela Organização das Nações Unidas, ao propor a
inclusão do tema nominalmente em um de seus Objetivos para o
Desenvolvimento Sustentável - ODS, o “ODS 14- Conservação e
uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos
para o desenvolvimento sustentável”. Neste caso a minimização
do lixo marinho é incluída como uma das metas, de forma a “Até
2025, prevenir e reduzir significativamente a poluição marinha
de todos os tipos, especialmente a advinda de atividades terres-
tres, incluindo detritos marinhos e a poluição por nutrientes”
(ONU, 2019).
No mesmo sentido, é fundamental também destacar a cons-
tatação do PNCLM reconhecendo que “grande parte desses resí-
duos chega aos oceanos através dos cursos d´água” (MMA, 2019,
p.21), o que traz novamente à tona que a maior parte dos resídu-
os encontrados no ambiente marinho é oriundo da geração nos
municípios, tornando a gestão dos recursos hídricos um aspecto
central do combate ao lixo no mar. Além disso, o Plano indica
a necessidade da convergência da agenda de combate ao lixo no
mar com os planos e programas tanto de recursos hídricos como
de resíduos sólidos (MMA, 2019).
Assim, mais além de apenas apresentar a questão do lixo no
mar, a proposta do Workshop também visa a discutir a potencial
elaboração de um Plano Regional de Combate ao Lixo Marinho,
tendo como base as ações de prevenção e controle a previstas nas
diretrizes do Plano Nacional de Combate ao Lixo Marinho.
Desta maneira, de forma ampla o Workshop possui diversos
objetivos, dentre os quais podemos destacar:
• Contextualizar o problema do lixo no mar e discutir sua
relação com o conteúdo do Plano da Bacia Hidrográfica da
Baixada Santista (UGRHI 07);
• Discutir os planos (públicos e privados), marcos legais, de- 
terminações administrativas e iniciativas em geral existentes
no tema do lixo no mar, principalmente aqueles aplicáveis à
Baixada Santista;
• Promover o debate entre governo, universidades, empre-
sas e a sociedade civil em geral sobre a problemática do lixo
no mar e suas possíveis soluções no âmbito da Bacia Hidro-
gráfica da Baixada Santista;
• Incorporar o tema do lixo no mar na pauta do Comitê
da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista, assegurando seu
protagonismo e participação na governança e nas discussões
do tema na região;
• Capacitar os diversos atores sociais, com destaque para os
gestores públicos, acadêmicos e representantes da sociedade
civil organizada, quanto à elaboração de planos e programas
específicos para prevenção e combate ao lixo marinho;
• Discutir, a partir das contribuições do Workshop, a pro-
posta de elaborar um Plano Regional de Combate ao Lixo
no Mar para a Baixada Santista, alinhado e em atendimento
ao seu equivalente federal; e
• Avaliar a possibilidade de projetos cooperativos entre os
participantes para desenvolvimento de pesquisas e estudos
acadêmicos sobre o tema na região
O Workshop teve como expectativa de atender a um públi-
co diverso, composto por profissionais de instituições públicas
e privadas, envolvidos com a gestão de recursos hídricos, geren-
ciamento de resíduos sólidos, saneamento básico e atividades
potencialmente geradoras dos resíduos que acabam destinados
ao mar, tais como as operações portuárias e pesqueiras, dentre
outras, nos municípios da Região Metropolitana da Baixada San-
tista.
De forma a assegurar a representatividade das entidades da
região, esta Comissão Científica mapeou e convidou os princi-
 pais atores sociais envolvidos com a questão na Baixada Santista.
Além disso, a ampla divulgação busca atrair também o público
em geral, trazendo à iniciativa um caráter de ampla participação
e representatividade da sociedade civil.
O evento contou com 5 mesas redondas, debate em salas
simultâneas e um Debate plenário para finalização das atividades
conforme quadro abaixo.
Das Atividades do Evento

Palestra de Abertura: Prevenção e Controle de Lixo no Mar

Ementa: Conferência de abertura do Workshop Prevenção e Controle de Lixo no Mar com a participação do Professor Dr.
Costa Velis da Universidade de Leeds (Reino Unido) que apresentará uma abordagem global do tema Lixo no Mar,
discutindo problemas e soluções no mundo sobre esta temática

Moderador: Prof. Dr. César Bargo Perez & Prof. Cleber Ferrão Corrêa, Programa de Pós-Graduação em Direito da
Universidade católica de Santos

Convidado: Prof. Costa Velis, University Leeds – UK

Mesa Redonda 1: O problema do lixo do mar e a gestão dos recursos hídricos

Ementa: O problema do lixo no mar e a gestão dos recursos hídricos: discussão sobre a gestão dos recursos hídricos, com
vista as diferentes faces e áreas do conhecimento que compõem a natureza multidisciplinar da temática, abordando o
problema do lixo no mar como foco central da discussão e suas implicações, desafios e possibilidades para a gestão dos
recursos hídricos

Moderador: Prof. Dr. Flávio de Miranda Ribeiro, Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade católica de Santos

Convidados:
Lixo no Mar: problemas e desafios - Alexander Turra, Instituto Oceanográfico -USP
Gerenciamento de resíduos sólidos e lixo marinho - Gabriela Otero, Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública
e Resíduos Especiais - ABRELPE
Impacto do lixo nas APAs Marinhas – Maria de Carvalho Tereza Lanza, Fundação Florestal
Mesa Redonda 1: O problema do lixo do mar e a gestão dos recursos hídricos

Ementa: O problema do lixo no mar e a gestão dos recursos hídricos: discussão sobre a gestão dos recursos hídricos, com
vista as diferentes faces e áreas do conhecimento que compõem a natureza multidisciplinar da temática, abordando o
problema do lixo no mar como foco central da discussão e suas implicações, desafios e possibilidades para a gestão dos
recursos hídricos

Moderador: Prof. Dr. Flávio de Miranda Ribeiro, Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade católica de Santos

Convidados:
Lixo no Mar: problemas e desafios - Alexander Turra, Instituto Oceanográfico -USP
Gerenciamento de resíduos sólidos e lixo marinho - Gabriela Otero, Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública
e Resíduos Especiais - ABRELPE
Impacto do lixo nas APAs Marinhas – Maria de Carvalho Tereza Lanza, Fundação Florestal

Mesa Redonda 2: Planejamento para o combate ao lixo no mar

Ementa: Planejamento para o Combate do Lixo no Mar: Debate a questão do planejamento para o combate do lixo no
mar a partir do olhar de diferentes instituições que tem esta temática em seu escopo de trabalho, trazendo à tona a
discussão sobre as dificuldades e as necessidades de avanço na área do planejamento

Moderador: Profa. Dra. Maria Luiza Machado Granziera, Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Católica
de Santos

Convidados:
Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar – Prof. Dr. Ronaldo Torres, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
Plano Estratégico de Monitoramento e Avaliação do Lixo no Mar do Estado de São Paulo - Maria Fernanda Romanelli,
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do estado de São Paulo - SIMA
Políticas e ações em curso na Bacia Hidrográfica da Baixada Santista - Nelson Portéro, Comitê da Bacia Hidrográfica da
Baixada Santista - CBH-BS

Mesa Redonda 3: Questões associadas ao Lixo no Mar na Baixada Santista

Ementa: Questões Associadas ao Lixo no Mar na Baixada Santista: apresenta uma abordagem geral da temática na
Região Metropolitana da Baixada Santista discutindo a atual realidade das questões do lixo no mar na RMBS e os
desafios e perspectivas

Moderador: Prof. Dr. Cleber Ferrão Corrêa, Universidade Católica de Santos

Convidados:
Saneamento e qualidade das águas na Baixada Santista – Cláudia Lamparelli, Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo - CETESB
O Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Baixada Santista - Cláudia Teixeira, Instituto de Pesquisas
Tecnológicas IPT/USP
Petrechos de pesca e pesca fantasma - Luiz Miguel Casarini, Instituto de Pesca

Mesa Redonda 4: Governança na prevenção e controle do lixo no mar 


Ementa: Debate o papel das instituições, da sociedade civil organizada e da população em geral no processo de governança
e tomada de decisões diante das necessidades, dificuldades e perspectivas para a prevenção e controle do lixo no mar no
âmbito federal, estadual e principalmente regional

Moderador: Prof. Dr. Fernando Fernandes Cardozo Rei, Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Católica
de Santos

Convidados:
O descarte incorreto de plástico e seus impactos ambientais - Prof. Me. Marco Antonio Cismeiro Bumba Universidade
Católica de Santos
O Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos na Baixada Santista - Márcio Aurélio de A. Quedinho - Agência
Metropolitana da Baixada Santista – AGEM
Atuação dos municípios na redução do lixo no mar: caso da prefeitura de Santos – Marcus Fernandes, Secretaria de Meio
Ambiente de Santos

Mesa Redonda 5: Ações da sociedade no combate ao lixo no mar

Ementa: Continuação do debate o papel das instituições, da sociedade civil organizada e da população em geral no
processo de governança e tomada de decisões diante das necessidades, dificuldades e perspectivas para a prevenção e
controle do lixo no mar no âmbito federal, estadual e principalmente regional

Moderador: Prof. Dr. Cleber Ferrão & Prof. Me. Jhonnes Alberto Vaz (Universidade Católica de Santos)

Convidados:
Papel da sociedade civil no combate ao lixo no mar – Rodrigo Azambuja – ONG Ecomov
Prevenção do lixo no mar pela indústria – Miguel Bahiense, Associação Brasileira da Indústria do Plástico - ABIPLAST
Papel da Universidade no combate ao lixo no mar – Carla Liguori, Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP

Debate em salas simultâneas: Panorama para elaboração de um Plano Regional de Combate ao Lixo no Mar

Moderadores: Prof. Dr. Cleber Ferrão & Prof. Me. Jhonnes Alberto Vaz (Universidade Católica de Santos)

Ementa: Panorama para elaboração de um Plano Regional de Combate ao Lixo no Mar: Realização de discussões e
debates, com divisão de grupos, que abordarão a questão do lixo no mar na Região Metropolitana da Baixada Santista,
diante dos desafios e possibilidades, com o objetivo de propor elementos para um plano regional de combate ao lixo no mar

Debate plenário: Perspectivas para um Plano Regional de Prevenção e Controle do Lixo no Mar

Ementa: Tem como objetivo de propor elementos para elaboração de documento com sugestões para um plano regional
de combate ao lixo no mar

Moderador: Prof. Dr. Alcindo Dr. Alcindo Fernandes Gonçalves (Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade
Debate em salas simultâneas: Panorama para elaboração de um Plano Regional de Combate ao Lixo no Mar

Moderadores: Prof. Dr. Cleber Ferrão & Prof. Me. Jhonnes Alberto Vaz (Universidade Católica de Santos)

Ementa: Panorama para elaboração de um Plano Regional de Combate ao Lixo no Mar: Realização de discussões e
debates, com divisão de grupos, que abordarão a questão do lixo no mar na Região Metropolitana da Baixada Santista,
diante dos desafios e possibilidades, com o objetivo de propor elementos para um plano regional de combate ao lixo no mar

Debate plenário: Perspectivas para um Plano Regional de Prevenção e Controle do Lixo no Mar

Ementa: Tem como objetivo de propor elementos para elaboração de documento com sugestões para um plano regional
de combate ao lixo no mar

Moderador: Prof. Dr. Alcindo Dr. Alcindo Fernandes Gonçalves (Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade
Católica de Santos) & Prof. Me. Jhonnes Alberto Vaz, Universidade católica de Santos

REFERÊNCIAS

CBH-BS - COMITÊ DA BACA HIDROGRÁFICA DA


BAIXADA SANTISTA. Relatório de Situação 2019. Santos:
CBH-BS, 2019.
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síduos. São Paulo, Ed. 10, Ano 3, 2018. p.16 a 21.
GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito de águas disci-
plina jurídica das águas doces. 5ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2014.

IPT - INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS.
Plano regional de gestão integrada de resíduos sólidos da
Baixada Santista, PRGIRS/BS [coordenadoras Fernanda
Faria Meneghello, Cláudia Echevenguá Teixeira]. São Pau-
lo: IPT; Santos: Agência Metropolitana da Baixada Santista,
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JAMBECK, J.R; GEYER, R.; WILCOX, C. SIEGLER, T.R.,
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load/1042_b6b7b1d8c635c6cfe7033a11c7e065c3.html.
Acesso em: 3 out. 2019.
ONU- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Obje-
tivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: ht-
tps://nacoesunidas.org/pos2015/. Acesso em: 7 out. 2019.
TURRA, A. Contextualizando a problemática do Lixo nos
Mares. In: Seminário por um Mar Limpo. São Paulo, 2018.
VELIS, C.; LERPINIERE, D.; TSAKONA, M. (2017). Pre-
vina o lixo marinho plástico- agora! Produto da Força-Tare-
fa de Lixo Marinho da ISWA- INTERNATIONAL SOLID
WASTE ASSOCIATION. São Paulo: ABRELPE/ISWA.
Disponível em http://abrelpe.org.br/prevencao-a-poluicao-
-marinha/. Acesso em 03 de out de 2019.

Cleber Ferrão Corrêa


Adriana Florentino de Souza
Flavio de Miranda Ribeiro

(organizadores)


1
CAPÍTULO
O LIXO NO MAR: CONTEXTO E
MOTIVAÇÃO PARA REALIZAÇÃO
DO “WORKSHOP PREVENÇÃO
E CONTROLE DO LIXO NO
MAR - PERSPECTIVAS NO 

GERENCIAMENTO DOS RECURSOS


HÍDRICOS E SANEAMENTO NA
REGIÃO METROPOLITANA DA
BAIXADA SANTISTA”

Flávio de Miranda Ribeiro1

Resumo

A questão do lixo no mar tem trazido preocupação em todo


o mundo, principalmente em função dos impactos à vida
1
Doutor em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo, Professor do Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Santos.
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

marinha, saúde humana e à economia das cidades. No caso


da Baixada Santista, o problema ganha destaque pela forte
influência do lixo de origem terrestre, que chega ao mar por
meio de rios, canais, mangues e praias. Em função da emer-
gência do problema, a Unisantos – Universidade Católica
de Santos realizou o “Workshop Prevenção e Controle do
Lixo no Mar”, com financiamento pelo FEHIDRO- Fun-
do Estadual de Recursos Hídricos, visando discutir o tema,
apresentar as iniciativas existentes e debater possíveis solu-
ções. O presente capítulo traz o contexto do projeto, bem
como uma síntese de suas motivações e conteúdo, de forma
a introduzir a presente publicação.
Palavras-chave

Lixo no mar. Resíduos sólidos. Baixada Santista. FEHIDRO.


Abstract

The issue of waste in marine environment has raised con-
cern around the world, mainly due to the impacts on marine
life, human health and the economy of cities. At the Santos
Basin, Brazil, the problem is exacerbated by the strong in-
fluence of inland waste, which reaches the sea through rivers,
channels, mangroves and beaches. Due to the emergence of
the problem, Unisantos – Santos Catholic University held
the “Workshop Prevention and Control of waste at oceans”,
funded by FEHIDRO- State Fund for Water Resources, in
order to discuss the topic, present existing initiatives and
discuss possible solutions. The present chapter provides the
context of the project, as well as a summary of its motiva-
tions and content, in order to introduce the publication.
Keywords

Marine Litter. Solid Waste. Baixada Santista. FEHIDRO.


                

1. INTRODUÇÃO

Dentre as discussões ambientais contemporâneas, tem rece-


bido crescente destaque o problema dos resíduos sólidos no am-
biente marinho, seja nos oceanos, mares, áreas costeiras, praias,
costões e mangues. A presença desses materiais provoca danos
não apenas à vida e aos ecossistemas, mas também promove pre-
juízos à saúde humana, à subsistência da população e à economia
dos municípios.
No contexto da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hí-
dricos 07- Baixada Santista (UGRHI 07), o tema ganha destaque
pela forte influência da poluição proveniente de corpos d’água
(rios, córregos, canais, mangues etc.) que chegam ao mar. Essa
importância foi recentemente reconhecida pelas Nações Unidas,
ao propor a inclusão do tema em um de seus Objetivos do De-
senvolvimento Sustentável - ODS, como o “ODS 14- Conserva-
ção e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos
para o desenvolvimento sustentável”. Nesse caso, a redução do lixo
marinho é incluída como meta, para “Até 2025 prevenir e reduzir 
significativamente a poluição marinha de todos os tipos, especialmente
a advinda de atividades terrestres, incluindo detritos marinhos e a polui-
ção por nutrientes” (ONU, 2019).
A percepção desses fatos trouxe à Universidade Católica de
Santos (Unisantos) a motivação para a realização de um projeto
visando contribuir à discussão e evolução do tema na região. As-
sim, o presente capítulo apresenta o problema do lixo no mar,
sua situação no Brasil e na Baixada Santista, as principais ações
já realizadas pelos governos e o projeto da Unisantos, do qual a
presente publicação é um dos resultados.

1.1 A questão do lixo no mar

“Lixo no mar” é um termo geral aplicado a todo resíduo sóli-


do de origem humana e que, independentemente de sua origem,
entra no ambiente marinho (MMA, 2019). Segundo estimativas
(JAMBECK et al., 2015), 80% de todo o lixo no mar do mundo
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

possui origem terrestre, com predominância de plásticos, borra-


chas, metais, vidros, têxteis e papéis. Os plásticos representam
cerca de 90% desse montante, sendo estimado que no ano de
2010 entraram nos oceanos algo entre 4,8 e 12,7 milhões de to-
neladas do material, oriundos basicamente dos resíduos sólidos
urbanos mal gerenciados.
Segundo previsões da Fundação Ellen Macarthur (EMF,
2016), se as tendências na gestão de resíduos não forem alteradas,
em 2050 teremos mais peso de plástico do que de peixes no mar.
Porém, mesmo antes disso, o lixo no mar já tem causado muitos
impactos, como por exemplo a morte de cerca de 100 mil mamí-
feros marinhos e um milhão de aves marinhas por ano (MMA,
2017, Apud IPT, 2018).
Um estudo financiado pela Agência Sueca de Ambiente (VE-
LIS et al., 2017) mostra que anualmente são lançados aos oceanos
entre 1,2 e 2,4 milhões de toneladas de plásticos “a partir de fontes
interiores através de rios” (VELIS et al., 2017, p.5), cerca de 2% de
todo plástico produzido no mundo. Estas “perdas” ocorrem por

dois mecanismos: o descarte irregular de resíduos pelas pessoas
(em áreas urbanas ou no lazer à beira-mar); e desvios no geren-
ciamento de resíduos, quando operados de forma inadequada.
Outras fontes podem compor menores quantidades, como ope-
rações pesqueiras, portuárias, industriais ou agrícolas, quando
próximas à costa.
Segundo os autores, o problema se agrava em países e regiões
em desenvolvimento, uma vez que a falta de infraestrutura e as
práticas inadequadas de gestão de resíduos levam muitas pessoas
a descartá-los diretamente nos corpos d`água, e sem enfrentar
esta realidade “nunca seremos capazes de eliminar a crise do lixo ma-
rinho” (VELIS et al., 2017, p. v). Estas constatações denotam a
relevância de se atuar junto aos atores determinantes da gestão
dos recursos hídricos e dos resíduos sólidos em terra para resol-
ver o problema do lixo do mar, evidenciando a complexidade da
questão.
                

1.2 Lixo no mar no Brasil e na Baixada Santista

Com 8.500 km de costa, distribuídos em 274 municípios de


frente ao mar, não é de hoje que se discute a questão do lixo no
mar no Brasil, à exemplo do estudo que diagnosticou a ocorrên-
cia de pellets de polietileno em praias do Rio Grande do Sul na
década de 1970 (GOMES, 1973, Apud MMA, 2019). Porém, foi
apenas nos últimos anos que o problema passou a preocupar de
forma mais ampla a sociedade.
Um importante trabalho foi o Projeto MARPLAST, parceria
entre a entidade setorial Plastivida e o Instituto Oceanográfico da
Universidade de São Paulo (IO-USP), que confirmou a predomi-
nância dos resíduos plásticos no mar brasileiro, em uma propor-
ção de 90% do lixo monitorado em praias e restingas, superando
a média mundial, com predominância de itens como tampas,
garrafas, sacolas e outros (TURRA, 2018). Um levantamento
anterior (OCEAN CONSERVANCY, 2010, Apud IPT, 2018) já
tinha quantificado a geração média de lixo no mar no Brasil, em
168 kg/km de praia por dia, número bastante significativo. 
Do ponto de vista da Baixada Santista, o problema encontra-
-se bem delimitado, não apenas na documentação já menciona-
da, mas também no Relatório de Situação divulgado pelo respecti-
vo Comitê de Bacia (CBH-BS, 2019). No documento, a crescente
pressão da sociedade sobre os recursos é descrita, com destaque
para a contaminação por resíduos sólidos gerenciados de forma
inadequada, sejam oriundos de ocupações irregulares, pelo des-
carte da população nas vias públicas, ou de outra origem.
Nesse aspecto, o diagnóstico realizado (CBH-BS, 2019) apre-
senta um preocupante quadro de ampliação de 1,07%, na ge-
ração de resíduos sólidos na Região Metropolitana da Baixada
Santista em 2018, bastante acima do crescimento populacional
na região no mesmo período, de 0,92%. Esse aumento, destaca
o documento, não foi acompanhado de crescimento equivalente
nas estratégias de redução do descarte dos resíduos, como a cole-
ta seletiva e a logística reversa.
Há, porém, importantes iniciativas já em curso na região,
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

sendo que “os municípios de maneira geral, atendem às diretrizes dos


planos Nacional, Estadual e Regional de Resíduos, e também realizam
a implantação de programas que visam inserir cooperativas de catadores
(...); desenvolvendo tecnologias para a retirada dos resíduos flutuantes
nas áreas do estuário e rios da região e ainda ações diretas com progra-
mas de educação ambiental” (CBH-BS, 2019, p. 46).
Outro instrumento regional para melhoria da situação é o
Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Baixada
Santista (IPT, 2018), elaborado pelo IPT- Instituto de Pesquisas
Tecnológicas mediante um projeto aprovado pelo FEHIDRO,
por proposição da Agência Metropolitana da Baixada Santista
(Agem) e do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropo-
litana da Baixada Santista (Condesb). Essa importante iniciativa
afirma que com os dados demográficos da região, principalmen-
te o alto índice de população flutuante durante a temporada, e
os aspectos geográfico da costa e econômico das atividades de-
senvolvidas na região, há um potencial de geração e descarte de
3.300 kg/dia de lixo no mar para os municípios que compõe a

UGRHI-07.
Além de trazer um capítulo específico sobre o lixo no mar, o
Plano afirma que “o controle do lixo marinho se dá essencialmente em
reduzir os impactos das fontes baseadas em terra” (IPT, 2018, p. 117).
No mesmo texto, é destacada a necessidade de incluir o geren-
ciamento costeiro nos planos de investimento público em sane-
amento básico, visando a melhoria dos sistemas e a redução da
pressão sobre os recursos hídricos, criando demanda para ações
de governo específicas.

1.3 Ações de governo específicas para enfrentamento ao lixo


no mar

Um importante marco preliminar nas políticas públicas de


combate ao lixo no mar no Brasil foi o Plano Nacional de Gerencia-
mento Costeiro (PNGC) de 1990, que trouxe diversas determina-
ções, como a criação de planos de gestão (IPT, 2018).
Mais recentemente, a movimentação internacional no tema
                

motivou novas iniciativas do governo brasileiro, com destaque à


participação na Conferência da Organização das Nações Unidas sobre
os Oceanos, em 2017 na cidade de Nova Iorque. Na ocasião gover-
nos, organizações não governamentais e empresas se reuniram
para discutir o problema e estabelecer acordos para enfrentamen-
to conjunto do problema.
Como resultado destes compromissos, o governo federal
brasileiro passou a discutir uma estratégia, que culminou na pu-
blicação do Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar (PNCLM),
lançado em fevereiro de 2019 na cidade de Santos (MMA, 2019).
O PNCLM contempla um diagnóstico do problema do lixo no
mar no Brasil, com valores de referência e propostas de diretrizes,
indicadores, plano de ação e uma agenda de atividades. As ações
se dividem em seis eixos de implementação2 e preveem trinta ini-
ciativas de curto, médio e longo prazo, dentre as quais se desta-
cam algumas realizadas junto aos corpos hídricos que desaguam
no mar - desde a instalação de dispositivos de retenção (redes
coletoras em galerias pluviais e barreiras flutuantes em rios), pas-
sando pela coleta seletiva e logística reversa, até o apoio a pro- 
jetos de inovação tecnológica para aproveitamento do plástico
recolhido do mar (MMA, 2019).
O PNCLM prevê também a elaboração de planos regiona-
lizados, aplicados aos problemas de cada localidade, motivação
da iniciativa que deu origem ao projeto do qual a presente publi-
cação é parte. Da mesma forma, indicam a necessidade de con-
vergência da agenda de combate ao lixo no mar com os demais
planos e programas - sejam de recursos hídricos ou de resíduos
sólidos (MMA, 2019).
Como resultados, o ministro de Meio Ambiente destacou
(VICENTE, 2022) que o PNCLM já realizou 400 mutirões até
março de 2022, coletando 274,2 t de lixo do mar, mesmo consi-
derando o cenário da pandemia nos anos de 2020 e 2021. Mas
afirmou que, para ampliar os resultados, é necessário maior en-
volvimento da sociedade, como proposto no próprio PNCLM,
2
Resposta imediata; gestão de resíduos sólidos; pesquisa e inovação tecnológica; instrumentos
de incentivo e pactos setoriais; normatização e diretrizes; educação e comunicação
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

que traz importantes conexões do tema com os recursos hídricos,


ao resumir os resultados da consulta pública realizada. Dentre
estes, destacam-se “Desenvolver infraestrutura e adotar as melhores
práticas para a gestão de resíduos sólidos, reduzindo as entradas destes
materiais em corpos hídricos” e “Incrementar a gestão de recursos hídri-
cos voltada ao enfrentamento de resíduos sólidos que chegam ao mar
através de canais de drenagem, sistemas de esgoto, rios e tributários”.
Esta última proposta se desdobra em sub-ações, incluindo “incen-
tivar a elaboração de planos de ações de gestão de recursos hídricos para
o Combate ao Lixo no Mar” e “criar estratégias de Educação Ambiental
voltada para gestão de recursos hídricos” (MMA, 2019).
Já em relação ao estado de São Paulo, como menciona Ro-
manelli et al. (2021), diversas ações já têm sido conduzidas, tais
como: o Projeto Verão no Clima, realizado desde 2017 pela Se-
cretaria Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA) em
parceria com os 16 municípios litorâneos para conscientização
junto a frequentadores das praias; o Programa Litoral Susten-
tável, parceria entre os governos de estado e municípios visan-

do conter o impacto de ocupações irregulares e a poluição dos
corpos d’água; além da elaboração do Plano Estadual de Ge-
renciamento Costeiro, dos Planos de Manejo das Unidades de
Conservação Marinhas e do Plano Estadual de Resíduos Sólidos,
instrumentos com diretrizes e metas para orientar as atividades
em ambientes costeiros, incluindo as diretamente ligadas ao lixo
no mar.
Adicionalmente, em reconhecimento à diretriz do PNCLM
de elaborar planos locais, em 2021 publicou-se o PEMALM – Pla-
no Estratégico de Monitoramento e Avaliação do Lixo no Mar
do Estado de São Paulo (PEMALM, 2021), que estabeleceu por
meio de um processo participativo um canal de comunicação
para agregar iniciativas e criar oportunidades de aprendizado co-
letivo para soluções ao problema do lixo no mar.
laborado no âmbito de um Convênio entre a SIMA e o Ins-
tituto Oceanográfico da USP, o PEMALM traz uma identificação
dos principais atores, dados e iniciativas no tema em São Paulo,
e propões indicadores de geração, exposição e efeito do lixo no
                

mar, com vistas à criação de estratégias de monitoramento e ava-


lição no estado, além arranjos institucionais para elaboração de
um futuro Plano Estadual de Combate ao Lixo no Mar (ROMA-
NELLI et al., 2021).
Já na Baixada Santista, segundo o respectivo plano regional
de resíduos (IPT, 2018), ainda que sejam escassas as ações concre-
tas sobre o lixo no mar nos planos municipais, com exceções à
Bertioga e Guarujá, são diversas as iniciativas já em andamento
na região. Exemplos são as ações de conscientização ambiental
nas praias e as campanhas de coleta de resíduos - como o projeto
Catamarã em Santos, que recolhe cerca de seis toneladas ao mês
de resíduos; ou a limpeza das praias realizada em São Vicente,
que recolhe quase sete mil toneladas ao ano. Cabe ainda citar
que o plano conclui, em seu capítulo sobre lixo no mar, pela
necessidade de “um plano adequado de gestão dos resíduos, atrelado à
manutenção das praias” (IPT, 2018, p. 118).
Essas constatações evidenciam um grande potencial para a
região da UGHRI-07 estabelecer-se como pioneira na consolida-

ção das diversas iniciativas existentes, por exemplo, com um pla-
no ordenado de combate ao lixo no mar, para o qual se pretende
que o projeto realizado pela Universidade Católica de Santos seja
um primeiro passo.

1.4 O “Workshop: Prevenção e Controle do Lixo no Mar”

No contexto da problemática apresentada, e aproveitando a


entrada da discussão do lixo no mar na agenda política internacio-
nal, a Unisantos decidiu por trazer à sociedade local uma oportu-
nidade de melhor compreender como este problema se apresenta
na Baixada Santista, quais as ações em andamento, bem como
debater propostas de encaminhamento para a região. Assim, deci-
diu-se redigir um projeto (RIBEIRO, 2019) e captar recursos junto
ao Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), no âmbito
da Deliberação CBH-BS n. 364/2019, com vistas a organizar um
evento internacional em suas instalações, trazendo autoridades, es-
pecialistas e demais interessados na questão do lixo no mar.
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

A proposta teve como objetivo “promover uma ampla discussão


sobre a problemática do lixo no mar na Região Metropolitana da Baixa-
da Santista, com foco específico na conexão deste tema com a gestão dos
recursos hídricos” (RIBEIRO, 2019, p. 15).
Para tanto, a proposta apresentava dentre seus objetivos es-
pecíficos: contextualizar o problema e discutir sua relação com
o Plano da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista, os marcos
legais e determinações administrativas; disseminar informações
atualizadas e apresentar as principais iniciativas em andamento
na região; promover o debate entre governo, universidades, em-
presas e a sociedade civil; incorporar o tema do lixo no mar na
pauta do respectivo Comitê da Bacia Hidrográfica, assegurando
seu protagonismo e participação; capacitar os diversos atores so-
ciais; discutir a proposta de elaborar um Plano Regional de Comba-
te ao Lixo no Mar para a Baixada Santista; avaliar a possibilidade de
projetos cooperativos; e editar e lançar um livro que consolide e
divulgue as experiências sobre o tema (RIBEIRO, 2019).
A princípio a proposta consistia na organização de um

Workshop de dois dias, com uma palestra magna de convida-
do internacional, cinco mesas de debates3 e grupos de trabalho
para debater a proposta de um plano regional. A definição da
programação final ficaria a cargo de uma Comissão Científica,
que também teria como papel o gerenciamento dos textos para
a publicação.
A proposta foi submetida em junho de 2019 e, após aprecia-
ção, foi aprovada para realização no segundo semestre de 2021.
Porém, com as restrições sanitárias advindas com a pandemia
da COVID-19, houve necessidade de ajustes e, assim, em junho
2021 uma proposta de revisão foi submetida e, em seguida, acei-
ta.
Com a revisão, o projeto passou a consistir de um conjunto
de três eventos on-line:
3
Lixo do mar e gestão dos recursos hídricos; Planejamento para o combate ao lixo no mar;
Situação dos Recursos Hídricos e do Lixo no Mar na Bacia Hidrográfica da Baixada Santista;
Ações públicas de prevenção e controle do lixo no mar; Ações privadas de prevenção e con-
trole do lixo no mar
                

• um Evento preparatório, realizado em setembro 2021, no


lugar das reuniões preliminares com os principais atores lo-
cais;
• o Workshop em si, realizado em outubro de 2021, man-
tendo a programação apenas com ajustes ao formato virtual;
e
• um Colóquio, realizado em março de 2022, complemen-
tando as informações e ampliando os debates.
A programação de cada um desses eventos encontra-se no
anexo a este Capítulo. Importante destacar que a presente publi-
cação consolida os resultados deste projeto, ressaltando que mais
informações, tais como as gravações dos eventos e documentos
disponibilizados, encontram-se disponíveis no portal “Observa-
tório da Água” da Unisantos4.

2. CONCLUSÃO

A questão do lixo no mar tem assumido cada vez mais des-



taque na sociedade, tanto pelo seu próprio agravamento, quanto
pela maior consciência sobre seus diversos impactos ambientais,
sociais e econômicos. Principalmente em regiões litorâneas com
alta concentração de habitantes e diversidade de atividades eco-
nômicas, como é o caso da Baixada Santista, esta questão assume
uma grande relevância.
Em resposta aos desafios desta agenda, diversas ações têm
sido efetivadas, desde trabalhos acadêmicos de diagnóstico, até
políticas, planos e projetos por governos das três esferas no país
para sua solução. Esses esforços têm recebido incrementos recen-
tes, inclusive do ponto de vista internacional, com a emergência
de acordos voluntários e propostas de protocolos internacionais.
No contexto da Baixada Santista, isso não é diferente. Várias
iniciativas têm sido desenvolvidas por atores relevantes na região,
muitas das quais já com resultados positivos – como apresenta-
do nas etapas do projeto de Workshop realizado pela Unisantos,
com apoio financeiro do FEHIDRO. Tanto nas discussões con-
4 Disponível em: https://www.unisantos.br/observacbhbs/.
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

duzidas de forma direta com os atores no evento preparatório;


nas apresentações e debates ocorridos com público mais amplo
durante o Workshop; ou nos casos concretos trazidos no Coló-
quio, foi possível perceber a enorme convergência de interesses
comuns em torno dos mais diversos aspectos do problema do
lixo no mar – seja para seu melhor diagnóstico, sua prevenção,
ou mesmo seu controle e remediação.
Neste ínterim, consideramos que o objetivo da proposta
apresentada ao FEHIDRO foi atingido, promovendo a discussão
sobre o lixo no mar e conectando este problema à diferentes as-
pectos fundamentais para seu enfrentamento, como a gestão dos
recursos hídricos, o saneamento, o gerenciamento de resíduos,
dentre outros.
Esperamos assim que o projeto do Workshop tenha sido
apenas o primeiro passo em nossa região rumo à um maior e
mais amplo enfrentamento do problema do lixo no mar, com
a sociedade participando ativamente dos debates e construção
conjunta de ações regionais, sejam relacionadas às políticas pú-

blicas, às ações empresariais ou mesmo às pesquisas acadêmicas.
Da parte da Unisantos, seguimos no tema com nossos projetos,
sempre de portas abertas às demandas da sociedade.

REFERÊNCIAS

CBH-BS - COMITÊ DA BACA HIDROGRÁFICA DA


BAIXADA SANTISTA. Relatório de Situação 2019. San-
tos: CBH-BS, 2019.
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ciplina Jurídica das Águas Doces. 5. Ed. São Paulo: Atlas,
2014.
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Combate ao Lixo no Mar. Brasília: MMA, 2019. Disponível
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TURRA, A. Estratégias para o combate ao lixo no mar:
Iniciativas no Estado de São Paulo e na Baixada Santista.
VI CIDAI – Congresso Internacional de Direito Ambiental
Internacional. Santos: Unisantos, 2021.
TURRA, A. Contextualizando a problemática do Lixo nos
Mares. In: Seminário por um Mar Limpo. São Paulo, 2018.
PEMALM. Plano Estratégico de Monitoramento e Avalia-
ção do Lixo no Mar do Estado de São Paulo. Org: Turra,
A.; Neves, A. M.; Panarelli, A. M.; Elliff, C. I.; Romanelli,
M. F.; Mansor, M. T., Andrade, M. M.; Grilli, N. M.; Car-
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

doso, O. A.; Zanetti, R.; Scrich, V. M. Primeira edição. São


Paulo: PEMALM, 2021. 72 p. Disponível em: https://www.
pemalm.com/o-plano. Acesso em: 9 de ma. 2021.
VELIS, C.; LERPINIERE, D.; TSAKONA, M. (2017). Pre-
vina o lixo marinho plástico- agora! Produto da Força-Tare-
fa de Lixo Marinho da ISWA- INTERNATIONAL SOLID
WASTE ASSOCIATION. São Paulo: ABRELPE/ISWA.
Disponível em http://abrelpe.org.br/prevencao-a-poluicao-
-marinha/. Acesso em: 3 out. 2019.
VICENTE, E. Programas já retiram 275t de lixo do mar.
Folha de São Paulo. Caderno Ambiente, p. B6.17 de março
de 2022.


2
CAPÍTULO
PLANO ESTRATÉGICO DE
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO
DO LIXO NO MAR DO ESTADO DE
SÃO PAULO – PEMALM


Maria Fernanda Romanelli1

Resumo

Com os padrões de consumo da sociedade contemporânea,


são gerados cada vez mais resíduos. No entanto, a taxa de re-
cuperação destes (seja por reaproveitamento, reciclagem ou
diferentes formas de tratamento) ainda é bastante inferior,
de forma que a maioria dos resíduos ainda é disposta em
aterros sanitários ou é descartada inadequadamente. A ges-
tão ineficiente ou a ausência de sistemas de gerenciamento
de resíduos podem ocasionar inúmeros problemas ambien-
tais, dentre eles, a poluição de corpos hídricos, mares e do
oceano. Foi nesse contexto que o Plano Estratégico de Mo-
1
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo - SIMA/Coordenado-
ria de Planejamento Ambiental – CPLA.
                

nitoramento e Avaliação do Lixo no Mar do Estado de São


Paulo (PEMALM) foi desenvolvido. A iniciativa visa combi-
nar conhecimento, engajamento e interação de atores-chave
para criar uma base de informações qualificadas e capital
institucional para monitorar e avaliar o problema do lixo no
mar no estado de São Paulo.
Palavras-chave

Resíduos; Poluição; PEMALM; Lixo no Mar; Oceanos.


Abstract

With the consumption patterns of contemporary society,


more and more waste is generated. However, the recovery
rate of these (either by reuse, recycling, or different forms of
treatment) is still much lower, so that most of the waste is
still disposed of in landfills or is improperly disposed of. Ine-
fficient management or the absence of waste management 
systems can cause numerous environmental problems, inclu-
ding pollution of water bodies, seas, and the ocean. It was in
this context that the Strategic Plan for the Monitoring and
Evaluation of Garbage in the Sea of the State of São Paulo
(PEMALM) was developed. The initiative aims to combine
knowledge, engagement, and interaction of key actors to cre-
ate a base of qualified information and institutional capital
to monitor and evaluate the problem of litter at sea in the
state of São Paulo.
Keywords

Waste; Pollution; PEMALM; Marine Litter; Oceans.

1. INTRODUÇÃO

Devido aos padrões de consumo da sociedade contempo-


rânea, geramos cada vez mais resíduos. No entanto, a taxa de
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

recuperação dos resíduos gerados (seja por reaproveitamento, re-


ciclagem ou diferentes formas de tratamento) ainda é bastante
inferior, de forma que a maioria dos resíduos ainda é disposta
em aterros sanitários ou é descartada inadequadamente. A gestão
ineficiente ou a ausência de sistemas de gerenciamento de resí-
duos podem ocasionar inúmeros problemas ambientais, dentre
eles, a poluição de corpos hídricos, mares e do oceano.
O termo “lixo no mar” tem sido genericamente utilizado
para se referir a todo resíduo sólido que é encontrado no oceano,
visando adequação à linguagem internacional.
O lixo no mar causa diferentes impactos negativos na econo-
mia, na saúde e segurança do ser humano, além de diversos da-
nos ambientais. A magnitude desses impactos está diretamente
relacionada ao tipo de resíduo (características ou propriedades),
à sua abundância, à vulnerabilidade dos diferentes compartimen-
tos onde ele se acumulará (linha de costa, superfície e coluna
d’água, fundo marinho e biota) e das atividades humanas que ele
afetará. De acordo com o Grupo de Especialistas em Aspectos

Científicos de Poluição Marinha – GESAMP (GESAMP, 2019),
os impactos causados pelo lixo no mar podem ser sintetizados
em sete grandes temas de preocupação para as políticas públicas,
a saber:
1. Turismo;
2. Segurança Alimentar;
3. Navegação;
4. Saúde e bem-estar humano;
5. Pesca e Aquicultura;
6. Bem-estar animal;
7. Biodiversidade.
De acordo com o estudo realizado por Jambeck et al. (2015),
cerca de 80% de todo o lixo no mar possui origem terrestre, com
predominância dos plásticos, borrachas, metais, vidros, têxteis e
papéis. Desta forma, estima-se que apenas a parcela de 20% do
lixo que está no mar tenha sido gerada em atividades como a
navegação, a pesca e o turismo, dentre outras atividades que são
                

realizadas nos ambientes marinhos. No entanto, mais estudos


ainda são necessários para se obter valores mais precisos.
O lixo no mar é um problema complexo, global, transfron-
teiriço e que vem se intensificando com o passar do tempo. Ape-
sar de diversas iniciativas já serem empregadas hoje por diferen-
tes setores para a prevenção, mensuração e remoção de resíduos
no ambiente costeiro e marinho, não há no Brasil valores de
referência ou uma base de dados nacional com informações so-
bre o lixo no mar. Diagnosticar as principais fontes de resíduos
e os caminhos que são percorridos enquanto são carreados até
o oceano é um dos pontos de partida para o planejamento de
ações de combate mais precisas. Programas de monitoramento e
avaliação da eficácia e da eficiência das ações implementadas são
necessários para reduzir as incertezas associadas ao problema do
lixo no mar.
Foi nesse contexto que o Plano Estratégico de Monito-
ramento e Avaliação do Lixo no Mar do Estado de São Paulo
(PEMALM) foi desenvolvido, a partir de uma parceria entre o

Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), a Cátedra
da UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano, no âmbito do
Instituto de Estudos Avançados - IEA e do Instituto Oceanográ-
fico da Universidade de São Paulo - IOUSP, a Secretaria de Infra-
estrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo – SIMA e a
Embaixada da Noruega.
A iniciativa visa combinar conhecimento, engajamento e
interação de atores-chave para criar uma base de informações
qualificadas e capital institucional para monitorar e avaliar o
problema do lixo no mar no estado de São Paulo. Nesse senti-
do, o PEMALM é a consolidação do esforço coletivo de diversos
setores da sociedade para responder à necessidade de se compre-
ender o problema do lixo no mar no estado, para então buscar
formas de combatê-lo.
Ademais, a proposta do PEMALM vai ao encontro de duas
importantes iniciativas internacionais: a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável e a Década das Nações Unidas
da Ciência Oceânica. Um dos Objetivo do Desenvolvimento
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

Sustentável (ODS) dentro da Agenda 2030, definida em 2015


pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o ODS 14 – Vida na
Água visa “Conservar e promover o uso sustentável do oceano,
dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento
sustentável” (ONU, 2016). Proclamada pela Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura -
UNESCO, a Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica
para o Desenvolvimento Sustentável, a ser construída entre os
anos 2021-2030, tem como objetivo com produzir a ciência que
necessitamos para o oceano que queremos.
Mais especificamente, a meta 14.1 da Agenda 2030 propõe
“Até 2025, prevenir e reduzir significativamente a poluição mari-
nha de todos os tipos, especialmente a advinda de atividades ter-
restres, incluindo detritos marinhos e a poluição por nutrientes”
(UNESCO, 2019), e atingir o primeiro resultado esperado da
Década do Oceano, “um oceano limpo”, que visa combater uma
das grandes ameaças à saúde do oceano: a poluição por resíduos
sólidos.

2. PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PEMALM

Em 2018, quando a SIMA iniciou o processo de revisão do


Plano Estadual de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo, cuja
primeira versão foi publicada em 2014, ficou evidente a neces-
sidade de aprofundamento sobre o tema “Lixo no Mar”. Para
tanto, a SIMA buscou uma aproximação com o Instituto Ocea-
nográfico da USP – IOUSP, visando à elaboração de um capítulo
específico sobre Lixo no Mar para a revisão do Plano Estadual.
Como fruto desta aproximação, foi celebrado um Convênio de
Cooperação Técnica entre as duas instituições, no âmbito da
Cátedra da UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano, que
possibilitou a incorporação de dados e evidências científicas a
este respeito à revisão do Plano Estadual de Resíduos Sólidos.
A cooperação técnico-científica, prevista no convênio, abriu ca-
minho para a construção do PEMALM, como uma etapa inter-
mediária e imprescindível para a criação de uma base de dados e
                

informações que subsidiarão a elaboração de um futuro plano de


combate ao lixo no mar para o estado de São Paulo.
O processo de construção do PEMALM envolveu a combi-
nação entre conhecimento, engajamento e interação de atores-
-chave para criar uma base de informações qualificadas e capital
institucional para monitorar o problema do lixo no mar no esta-
do de São Paulo.
Dessa forma, os objetivos do PEMALM são (PEMALM,
2021):
• promover instrumentos e ações de monitoramento e ava-
liação do lixo no mar;
• contribuir com a estruturação da governança da gestão do
lixo no mar no estado de São Paulo;
• contribuir com o atendimento do ODS 14.1 - Prevenir e
reduzir significativamente a poluição marinha de todos os
tipos, até 2025;
• colaborar com o desenvolvimento da Década do Oceano e
seus resultados esperados, especialmente os relacionados ao 
alcance de um oceano limpo e valorizado por todos; e
• subsidiar a elaboração do plano de combate ao lixo no
mar do estado de São Paulo.
Para o início dos trabalhos de construção do PEMALM, fo-
ram identificados indivíduos e organizações do poder público,
iniciativa privada, sociedade civil e academia, já mobilizados com
a produção e/ou processamento de informações sobre resíduos
sólidos e lixo no mar no estado de São Paulo. Além disso, foram
realizadas a revisão da literatura científica produzida sobre lixo
no mar no estado, a identificação do histórico de iniciativas e
políticas públicas que abordassem o tema lixo no mar, bem como
o levantamento de dados sobre resíduos sólidos e/ou lixo no mar
já coletados pelos atores identificados anteriormente.
Com vistas à elaboração participativa do PEMALM, com o en-
volvimento e o engajamento dos diferentes atores identificados, fo-
ram promovidos diferentes momentos de capacitação, troca de expe-
riências e construção coletiva de subsídios para o Plano, organizados
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

e coordenados pela equipe da SIMA e IOUSP, conforme Figura 1.


Figura 1 - Linha do tempo referente ao processo de construção do PEMALM

Fonte: elaborado pela autora

O I Workshop do PEMALM foi realizado na sede do IOUSP


(Figura 2), em São Paulo, e teve como principais atividades: o
 nivelamento da base de conhecimento sobre lixo no mar e sua
contextualização em nível global, nacional e estadual; a elabo-
ração de mapas conceituais com informações sobre atividades
geradoras de resíduos, compartimentos ambientais onde o lixo
se acumula e seus efeitos; dentre outras atividades.
Figura 2 - I Workshop do PEMALM, realizado na sede do IOUSP, em São Paulo

Fonte: elaborado pela autora


                

Foram realizadas Reuniões Bilaterais em quatro regiões do


estado de São Paulo (litorais Sul, Centro e Norte, além da capi-
tal do estado), onde novos atores foram incluídos em discussões
acerca de aspectos regionais de monitoramento e avaliação de
lixo no mar a serem considerados no PEMALM, bem como em
momentos de reflexão sobre expectativas para a estrutura e con-
teúdo do plano.
O II Workshop, realizado em formato virtual devido à pan-
demia da COVID-19, contou com atividades voluntárias de in-
teração coletiva e atividades assíncronas, de responsabilidade in-
dividual, com vistas à continuidade do processo de construção
coletiva do PEMALM, por meio de debates e comentários sobre
os materiais disponibilizados aos participantes. Além disso, foi
possível validar e complementar a lista de indicadores de gera-
ção, de exposição e de efeito para o monitoramento e avaliação
do lixo no mar, propostos com base nas atividades anteriores e na
consulta à literatura, além de validar e complementar a proposta
da macroestrutura do plano.

O texto-base do PEMALM, elaborado pela equipe da SIMA
e IOUSP, a partir dos subsídios gerados durante os momentos de
interação com a rede de atores e sistematização de informações,
foi disponibilizado para consulta pública durante o período de
1 e 26 de outubro de 2020, que se constituiu como uma impor-
tante etapa estratégica de participação social, visando fortalecer o
desenvolvimento do PEMALM de forma democrática e legítima,
respondendo aos anseios da sociedade.

3. RESULTADOS E PRÓXIMOS PASSOS

O PEMALM, lançado oficialmente em janeiro de 2020, re-


presenta uma importante estratégia de integração e conjunção de
esforços dos diferentes setores da sociedade para o enfrentamen-
to do lixo no mar no estado de São Paulo. Dentre os resultados
do PEMALM está a pactuação de um rol de 40 indicadores para
o monitoramento, sendo 14 indicadores de geração, 10 indicado-
res de efeito e 16 indicadores de exposição, que possibilitarão um
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

olhar mais apurado e uma avaliação sobre as melhores opções


para combate ao lixo no mar.
Outro importante resultado obtido ao longo de todo o pro-
cesso de construção do PEMALM foi a mobilização de cerca de
450 atores dos diferentes segmentos, conforme a Figura 3:
Figura 3 - Representatividade de cada setor da sociedade mobilizados durante o
processo de construção do PEMALM

Fonte: elaborado pela autora

 Uma vez lançado, o PEMALM está agora em fase de organi-


zação da sua implementação, envolvendo as seguintes atividades:
• manutenção da rede de atores ativa e engajada;
• articulação e fomento às possíveis pactuações/compromis-
sos voluntários das organizações colaboradoras para ações de
monitoramento e fornecimento periódico de dados sobre
lixo no mar;
• construção de uma plataforma colaborativa de dados so-
bre o lixo no mar no estado de São Paulo;
• organização de um programa de monitoramento e avalia-
ção de lixo no mar;
• estruturação da Governança Multissetorial do PEMALM;
busca pelo diálogo do PEMALM com outras políticas pú-
blicas existentes, tais como planos de manejo de unidades
de conservação costeiras, planos de ação e gestão dos zone-
amentos ecológico-econômicos costeiros (ZEEC), planos re-
gionais e municipais de resíduos sólidos, dentre outras;
• busca pela integração do PEMALM com políticas setoriais
                

relacionadas à segurança alimentar, turismo, navegação, pes-


ca e aquicultura, bem-estar animal e proteção da biodiversi-
dade;
• cumprimento das estratégias de acompanhamento e revi-
são do PEMALM, e
• elaboração do plano de combate ao lixo no mar do Estado
de São Paulo a partir dos subsídios gerados pelo PEMALM.
Para o cumprimento dos próximos passos previstos no
Plano, é fundamental continuarmos trabalhando de forma inte-
grada e valorizando a corresponsabilidade das diferentes institui-
ções, visando à construção coletiva de estratégias para o enfrenta-
mento da complexidade que lixo no mar representa.
Cabe destacar que a implementação do PEMALM, com a
consolidação e o desenvolvimento de indicadores propostos no
Plano, é uma das metas previstas no Plano de Resíduos Sólidos
do Estado de São Paulo (SIMA, 2020).
Mais informações sobre o PEMALM e o seu processo de
construção podem ser obtidos em: https://www.pemalm.com/. 
Todo o conteúdo audiovisual do PEMALM pode ser consultado
pelo canal PEMALM SP do YouTube.

REFERÊNCIAS

PEMALM. Plano Estratégico de Monitoramento e Avalia-


ção do Lixo no Mar do Estado de São Paulo. Org: Turra,
A.; Neves, A. M.; Panarelli, A. M.; Elliff, C. I.; Romanelli,
M. F.; Mansor, M. T., Andrade, M. M.; Grilli, N. M.; Car-
doso, O. A.; Zanetti, R.; Scrich, V. M. Primeira edição. São
Paulo: PEMALM, 72 p. 2021. Disponível em: https://drive.
google.com/file/d/1wNbGl1sn6gJ8RMeRQr5zpizLOfPip-
GwY/view. Acesso em: 10 out. 2021.
GESAMP. Guidelines for the monitoring and assessment
of plastic litter and microplastics in the ocean (Kershaw
P.J., Turra A. and Galgani F. editors), (IMO/FAO/UNES-
CO-IOC/UNIDO/WMO/ IAEA/UN/UNEP/ UNDP/
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

ISA Joint Group of Experts on the Scientific Aspects of Ma-


rine Environmental Protection). Rep. Stud. GESAMP No.
99, 130p. 2019. Disponível em: http://www.gesamp.org/
publications/guidelines-for-the-monitoring-andassessment-
-of-plastic-litter-in-the-ocean. Acesso em: 10 out. 2021.
JAMBECK, J.R; GEYER, R.; WILCOX, C. SIEGLER, T.R.,
PERRYMAN, M.; ANDRADY, A.; NARAYAN, R.; LAV-
ENDER, K. Plastic waste inputs from land in to the ocean.
Science Magazine, v. 347, Issue 6223. 2015. Disponível em:
https://science.sciencemag.org/content/347/6223/768.
full. Acesso em: 10 out. 2021.
ONU. Transformando nosso mundo: A Agenda 2030
para o Desenvolvimento Sustentável. 49p. 2016. Disponí-
vel em: https://www.undp.org/content/dam/brazil/docs/
agenda2030/undp-br-Agenda2030-completo-pt-br-2016.pdf.
Acesso em: 10 out. 2021.
UNESCO. A ciência que precisamos para o oceano que

queremos: a Década das Nações Unidas da Ciência Oce-
ânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030).
24p. 2019. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/
ark:/48223/pf0000265198_por. Acesso em: 10 de out. 2021.
SIMA. Plano de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo.
São Paulo: SIMA. 275p. 2020. Disponível em: https://smas-
tr16.blob.core.windows.net/home/2020/12/plano-resi%C-
C%81duos-solidos-2020_final.pdf. Acesso em: 10 out. 2021.
3
CAPÍTULO
CIDADES INTELIGENTES E OS
DESAFIOS DA GESTÃO DO LIXO
NO MAR

 Alessandro Cardoso Lopes1;


Patrícia Ralianko Bianchi1;
Cleber Ferrão Corrêa2

Resumo

De acordo com o primeiro relatório do Painel Brasileiro


de Mudanças Climáticas (PBMC), o Brasil enfrentará uma
grande crise devido às mudanças climáticas nas próximas
décadas, e seus centros urbanos, especialmente as cidades
litorâneas, serão os locais mais vulneráveis, sendo esse
um dos principais precedentes para a implantação do
conceito de cidade inteligente no país e no mundo. Assim,
o capítulo faz a reflexão sobre o fenômeno da urbanização
e seus desafios em relação ao gerenciamento dos resíduos
sólidos e as tratativas sobre o desenvolvimento sustentável.
1
Mestrando do Programa de Mestrado em Direito da Universidade Católica de Santos.
2
Docente do Programa de Mestrado em Direito da Universidade Católica de Santos.
                

No entanto, tendo em mente que a proposta de Cidades


Inteligentes deve ser vista e avaliada com cautela em relação
ao lixo no mar.
Palavras-chave

Lixo no mar. Resíduos sólidos. Urbanização. Cidades inteli-


gentes. Mudanças climáticas.
Abstract

According to the first report of the Brazilian Panel on Cli-


mate Change (PBMC), Brazil will face a major crisis due to
climate change in the coming decades, and its urban centers,
especially coastal cities, will be the most vulnerable places,
this being one of the main precedents for the implemen-
tation of the smart city concept in the country and in the
world. Thus, the chapter reflects on the phenomenon of
urbanization and its challenges in relation to solid waste 
management and negotiations on sustainable development.
However, keeping in mind that the Smart Cities proposal
should be viewed and evaluated with caution in relation to
marine litter.
Keywords

Marine Litter. Solid waste. Urbanization. Smart cities. Cli-


mate change.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com o primeiro relatório do Painel Brasileiro de


Mudanças Climáticas (PBMC), o Brasil enfrentará uma grande
crise devido às mudanças climáticas nas próximas décadas, e seus
centros urbanos, especialmente as cidades litorâneas, serão os lo-
cais mais vulneráveis (CAMPOS e MUEHE, 2020).
Esse é um dos principais precedentes para a implantação
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

do conceito de cidade inteligente no país e no mundo. Faz uso


total das capacidades das tecnologias modernas de informação e
comunicação para melhorar a entrega e gestão de serviços e infra-
estrutura pública e usa a inovação para aumentar sua sustentabi-
lidade e resiliência. Enquanto, o PBMC foi concebido como um
painel apolítico, no sentido de não estar relacionado a nenhuma
agenda política específica, e baseado em uma separação entre fa-
tos e valores (DUARTE, 2019), a carta das Cidades Inteligentes
retratam a transformação digital como uma mudança fundamen-
tal das nossas cidades (BRASIL, 2022).
Assim a reflexão sobre o fenômeno da urbanização e seus de-
safios em relação ao gerenciamento dos resíduos sólidos e possí-
vel oportunidades são necessárias visto que a grande quantidade
de dados e informações geradas pela atual revolução digital do
século XXI e as discussões sobre o desenvolvimento sustentável.
Grandes empresas de tecnologia da informação e comunicação
são as únicas proprietárias desse capital de informação. Elas per-
cebem que as cidades são grandes mercados para a venda de seus

equipamentos, sensores, programas e aplicativos. No entanto, de-
ve-se ter em mente que a proposta de Cidades Inteligentes deve
ser vista e avaliada com cautela.
O discurso urbano inteligente não deve retratar um lugar
imaginário ou utópico para onde convergem todas as ideias de
desenvolvimento sustentável e democratização do acesso e bom
uso da informação. Em vez disso, deve ter como objetivo uma
forma pragmática e viável para que tais ideias sejam realizadas.
Se por um lado o discurso pode ser usado para desenvolver
projetos inteligentes que melhorem as condições de vida urba-
na, por outro, gestores públicos ou associações políticas devem
utilizá-lo para manter uma boa agenda de exercício inovador do
processo de governança para projetar políticas urbanas (FELIX
JÚNIOR et al., 2020). Dentro dos princípios da boa governança
destaca-se a ética, transparência, justiça, responsabilidade, con-
formidade e a responsabilidade estrita. Nesta evolução percebe-se
que o grande capital do século 21 são as pessoas que vivem nas
cidades e as grandes organizações de tecnologia da informação
                

e comunicação começam a digitalizar estas cidades em busca de


seus dados e informações, marcando a gênese da cidade digital.
Como exemplo os smartphones logo se tornaram a melhor
fonte de dados, principalmente com o uso de softwares utilizados
para troca de mensagens de texto instantaneamente, além de ví-
deos, fotos e áudios através de uma conexão à internet e a adição
de outras redes sociais já existentes. Depois vieram as câmeras de
monitoramento de vídeo, instaladas em quase todas as cidades.
Desde então, muitas cidades começaram a instalar sensores para
uma ampla variedade de propósitos, especialmente voltados para
segurança pública.
Rapidamente percebeu-se que os dados e informações
provenientes dessas tecnologias permaneciam de posse apenas
das grandes empresas que as utilizam para o desenvolvimento
de soluções de problemas nas cidades. Nasceu então o concei-
to de Smart Cities, que é estudada hoje amplamente como um
fenômeno contemporâneo do urbanismo (GUIMARÃES e XA-
VIER, 2016), que utilizam uma plataforma tecnológica para inte-

grar todas as tecnologias existentes, para conseguir a integração
de dados e informações para uma gestão eficaz e eficiente da ci-
dade, com democratização e transparência de acesso.
As megacidades do mundo hoje são um testemunho do su-
cesso e do fracasso civilizacional: sucesso no desenvolvimento
da humanidade e fracasso na organização social e econômica do
mundo urbano. Por um lado, o sucesso na qualidade de vida que
oferece aos seus habitantes, comparada com a vida no campo ou
nas cidades tradicionais; por outro lado, o fracasso dos indicado-
res sociais e existenciais que provoca.

2. DESENVOLVIMENTO

É nas grandes cidades que se encontra a oferta de emprego


e renda, os serviços públicos de saúde e educação, a mais
difundida e completa atividade cultural. Ao mesmo tempo, é
nas grandes cidades que o desemprego, as crises existenciais, as
desigualdades de renda, a sensação de fracasso, a perda de vidas
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

devido à violência, o trânsito ou os longos períodos perdidos


nos deslocamentos entre locais de vida, casa, trabalho ou lazer,
acontecem.
Por volta do ano de 2012, um movimento para humanizar as
Cidades Inteligentes surgiu na Europa, de modo que o foco não
era apenas a tecnologia, mas também a educação e os interesses
dos cidadãos. Nasceu, assim, o conceito de Cidades Inteligen-
tes e Humanas, um desdobramento do conceito anterior. Este
desenvolvimento de Cidade Inteligente para Cidade Inteligente
e Humana, e na sequência para Cidade Inteligente, Humana e
Sustentável atendeu aos Objetivos de Desenvolvimento Susten-
tável (ODS) da ONU, bem como à ISO 37.120; 37.122; e 37.123,
que são padrões internacionais, portanto desse encontro surgiu
o desenvolvimento do conceito final de Cidades Humanas, Inte-
ligentes, Criativas e Sustentáveis.
Entretanto, havia uma necessidade percebida de realizar a
integração de tecnologias por meio de plataformas abertas e in-
teroperáveis que, por um lado, ajudariam as cidades a gerenciar

seus serviços de maneira inteligente e, por outro lado, permiti-
riam que as pessoas se conectassem a essas plataformas e tives-
sem acesso a dados e informações, formando assim uma “rede
neural” de gerenciamento das Cidades Inteligentes. No entanto,
deixar tudo para a tecnologia sem entender que a cidade inteli-
gente deve considerar também os desenvolvimentos sociais, urba-
nísticos, arquitetônicos e ambientais parece ser descabido, pois
o futuro nos reserva o novo modus vivendi que dependerá de
muitos recursos naturais e boa interação social.
O conceito de Cidades Inteligentes, Humanas e Sustentá-
veis desenvolvido resulta no debate sobre o grande paradigma
do século 21: quem, como e quando teremos a posse do conhe-
cimento; todos nós, ou apenas as grandes organizações tecnoló-
gicas? Acidade inteligente está disponível com dados abertos e
transparentes ou com dados verificados por alguns? Estará acessí-
vel agora ou quando não for mais possível quebrar o domínio de
poucos sobre muitos?
Entre outras metas de civilização e polidez praticáveis dentro
                

das cidades, devemos buscar torná-las: pacíficas, amigáveis,


separadas, solidárias, limpas, saudáveis, educadas, bonitas, mas
devem ser acima de tudo inteligente e economicamente viáveis.
Com uma economia atual baseada em matérias-primas fi-
nitas, a economia criativa se apresenta como uma alternativa ao
desenvolvimento econômico das Cidades Inteligentes, em que
a criatividade surge como um ponto chave e as relações entre
território, criatividade, economia e cultura são múltiplas. Como
descrito por Diniz e Mendes (2017), que para a criatividade ser
realizada e bem-sucedida, é necessário que existam condições e
indicadores de gestão favoráveis.
A economia criativa está profundamente enraizada nas eco-
nomias nacionais. Ao produzir benefícios econômicos e empre-
gos nos setores de serviços e manufatura relacionados, promove
a diversificação econômica, a renda, o comércio e a inovação.
Ajuda a revitalizar áreas urbanas em declínio, abrir e desenvolver
áreas rurais remotas e promover a conservação dos recursos am-
bientais e do patrimônio cultural de um país (UNCTAD, 2010).

Esse processo está sendo reforçado em todo o mundo, pois
neste verdadeiro cenário exposto, o uso da criatividade das pes-
soas e seus vínculos serão cada vez mais fundamentais para a
reinvenção e sustentabilidade da economia, gerenciamento dos
municípios litorâneos e encontrar soluções para redução e desti-
nação dos resíduos sólidos e do lixo no mar.
A investigação e os desafios da implantação de Cidades In-
teligentes no Brasil não são pequenos, principalmente quando
os principais problemas sociais ainda carecem de melhores so-
luções: renda, saneamento básico, educação, mobilidade, saúde
e segurança. Enquanto isso, essas questões devem ser tratadas
pelos governos, empresas e academia, unindo forças para criar
cidades brasileiras mais inteligentes e sustentáveis.
Destaca-se aqui um desafio maior para os municípios lito-
râneas dentro do processo de transformação para Cidades Inte-
ligentes, pois o oceano participa de forma decisiva no equilíbrio
climático e tem sofrido constantemente com o lixo no mar. Sen-
do que planos de combate ao lixo no mar são necessários para
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

qualidade de vida e desenvolvimento sustentável dessas regiões,


em particular os resíduos plásticos que representam uma ameaça
ao ambiente marinho.
O Ministério do Meio Ambiente em conjunto com a Se-
cretaria de Qualidade Ambiental e do Departamento de Gestão
Ambiental Territorial realizou a elaboração a Agenda Nacional
de Qualidade Ambiental Urbana (BRASIL, 2019). Entretanto, a
implementação de agendas não deve ser vista como a única e ine-
quívoca solução para resolver os problemas do lixo no mar que
muitas cidades do litoral brasileiro têm vivido. É imperativo
que a implementação de agendas seja apoiada por avaliações ra-
zoáveis de aplicabilidade e benefícios dados como resultado dos
investimentos feitos. É importante a preocupação com a estra-
tégia a ser seguida, principalmente considerando os aspectos fi-
nanceiros, jurídicos, políticos e ambientais. Dentro do processo
de governança, para se tratar desses problemas, se faz necessário
para superar limitações: acordos de cooperação, convênios, par-
cerias público-privadas e outras formas de cooperação que po-

dem ser utilizadas na melhor forma de lei e no melhor interesse
das cidades litorâneas, principalmente voltadas para o combate
no lixo no mar.
Mesmo com os esforços internacionais para prevenir e redu-
zir o lixo no mar o problema ainda é recorrente, sendo necessária
ações de pesquisa e coletas de dados para mapeamento das fontes
de origem, depósitos destes nos corpos d’água e sua chegada ao
mar. Assim, o uso de tecnologias para ações de reciclagem e logís-
tica reversa nas cidades se faz urgente para que esta se qualifique
realmente como inteligente.
Todavia, é necessária uma nova forma de pensar sobre o que
é a cidade e uma nova estratégia para desenvolvê-la sustentavel-
mente. A pergunta é como combater o lixo no mar dentro da
complexa dinâmica dos municípios litorâneos. Esta dinâmica en-
volve os espaços-chave da economia global, principalmente para
cidades portuárias, onde se observam os efeitos da própria globa-
lização como o forte acumulo e fluxo de capitais, processos de ur-
banização desarticulados da realidade, expansão e concentração
                

espacial dos setores manufatureiro e de serviços, segmentação do


mercado de trabalho, polarização sócio espacial e ainda os confli-
tos socioambientais.
O cenário atual mostra que a intensa urbanização traz per-
das de funcionalidades básicas, afetando significativamente a
qualidade de vida da população devido as deficiências na gestão
de resíduos; escassez, desperdícios e má gestão dos recursos na-
turais; restrições nos sistemas de saúde, educação, habitação e
segurança pública; limitações nos sistemas de mobilidade urbana
e de transportes; obsolescência e encurtamento do ciclo de vida
das infraestruturas públicas.
Para encaminhamentos dos problemas o Brasil apresenta o
Estatuto da Cidade (EC), Lei Federal Brasileira Nº 10.2573, apro-
vada em 2001 e o Estatuto da Metrópole, Lei Nº 13.0894, de 12
de janeiro de 2015, com grande destaque técnico para o ordena-
mento jurídico em relação ao impacto das questões do desenvol-
vimento urbano e regional e dando garantia ao desenvolvimento
das cidades sustentáveis. Ambos estatutos podem ser entendidos
como um enfrentamento e aproveitamento adequado das capa- 
cidades atuais e futuras, melhorando a eficiência e reinventando
a organização das cidades ou viabilizadores das futuras Cidades
Inteligentes.
Também, se faz necessário entender a Política Nacional de Re-
síduos Sólidos (PNRS) 5, a Política Estadual Paulista de Resíduos
Sólidos do Estado de São Paulo6, os Planos Municipais de Sanea-
mento Básico (PMSB) e de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
(PGIRS) como ferramentas de gestão integrada e gerenciamento.
A efetividades dessas políticas são necessárias para o desenvolvi-
mento das futuras Cidades Inteligentes no Brasil.
Em relação aos resíduos sólidos os municípios litorâneos
3
Lei Nº 10.257 de 10 de julho de 2001 que regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição
Federal e estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências.
4
Lei Nº 13.089 de 12 de janeiro de 2015 que institui o Estatuto da Metrópole, altera a Lei nº
10.257, de 10 de julho de 2001, e dá outras providências.
5
Política Nacional de Resíduos Sólidos — PNRS, criada pela lei n° 12.305, de 2010 e regula-
mentada pelo decreto n° 7.404/2010.
6
Política Estadual Paulista de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo subordinado à Lei
n°l2.300/2006 e decreto n° 54.645/2009.
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

não podem pensar no seu gerenciamento de forma isolada do


seu território geográfico ou da bacia hidrográfica que compõem
sua unidade de gerenciamento dos recursos hídricos. A PNRS
incumbe, na forma da Lei, aos Municípios a gestão integrada dos
resíduos sólidos gerados nos respectivos territórios, sem prejuízo
das competências de controle e fiscalização de outros órgãos pú-
blicos e da responsabilidade do gerador pelo gerenciamento de
resíduos.
Em atendimento à Políticas Nacional e Estadual de Resídu-
os Sólidos, a secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do
Estado de São Paulo em conjunto com a Companhia Ambiental
do Estado de São Paulo revisaram no ano de 2020 o Plano de
Resíduos Sólidos de São Paulo, elaborado no ano de 2014, e des-
tacam a estrutura do sistema ambiental paulista (Figura 1).
Figura 1 – Estrutura do sistema ambiental paulista



Fonte: elaborado pelos autores

O monitoramento do lixo no mar é um grande desafio e


seus indicadores devem ser utilizados como instrumentos de ges-
tão para Cidades Inteligentes. Segundo Raubenheimer (2019) e
GESAMP (2019) um bom indicador para o lixo no mar deverá
refletir o contexto político, institucional e cultural no qual estão
sendo concretizados e com aderência a realidade local (Figura 2).
                

Figura 2 - Indicadores de gestão utilizados para medir o resultado de um processo

Fonte: RAUBENHEIMER (2019) e GESAMP (2019), modificado pelos autores (2022)

Como atualmente as cidades estão mais interconectadas e


instrumentalizadas devido ao processo de globalização, o sucesso
da sua gestão por meio do uso de indicadores se direciona em
primeiro plano para o gerenciamento dos recursos, a partir de
uma perspectiva sustentável, para que se tornem ambientalmen-
te adequadas e atraentes para os diversos atores, implementando
um tipo de gestão ambiental mais inovadora. 
Em segundo plano criando ações para o desenvolvimento
econômico-social, onde os atores possam interagir e reformular
a organização da dinâmica urbana utilizando para isso os ferra-
mentais do processo de governança. Assim, nos dois planos a
aplicação de indicadores de gestão propiciariam o desenvolvi-
mento sustentável e viabilizando um modelo capaz de implemen-
tar maior inteligência para as cidades em relação a gestão do lixo
no mar. Entretanto, é necessário atentar para particularidades de
cada localidade e analisar modelos de indicadores a serem empre-
gados mais aderente à realidade local.
Segundo IBGE (2017) 167 países adotaram a Nova Agenda
Urbana (NAU) que objetiva orientar a política para a urbanização
pelos próximos 20 anos. Essa agenda aponta que, até 2050, a
população urbana do mundo irá praticamente dobrar, tornando
a urbanização uma das tendências mais transformadoras do
Século XXI. Consequentemente, inúmeros desafios deverão
ser enfrentados por todos estes países para se adequarem a esse
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

crescimento populacional e para que as transformações urbanas


sejam executadas com sucesso.

3. CONCLUSÃO

O crescimento da população exigirá dos gestores e dos pró-


prios cidadãos uma melhor utilização dos recursos ambientais.
Com isso, é necessária uma nova consciência sobre a forma de
produção e consumo, baseado na eficiência energética, redução
de desperdícios, alocação correta de recursos, mobilidade urbana
e ações de combate ao lixo no mar nos municípios litorâneos,
dentre outros.
Assim, a gestão do lixo no mar é um dos maiores desafios
dos municípios litorâneos para a sua transformação em Cidades
Inteligentes. Para esta transformação deverá ser realizado um es-
forço coletivo do mais diversos setores da sociedade para com-
preensão do problema e buscar formas de combatê-lo. Portanto,
se faz necessário o desenvolvimento de estratégias metodológi-
 cas com constantes diagnósticos atrelados a valores de referência
nestes municípios, associado ao desenvolvimento de um modelo
de governança, eixos de implementação e a estruturação de um
plano de ação que envolvam ações executivas e estruturantes para
consolidação das políticas públicas.

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BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Carta


Brasileira para Cidades Inteligentes. Disponível em: ht-
tps://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/desenvolvimento-re-
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pdf. Acesso em: 5 out. 2021.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda Nacional
de Qualidade Ambiental Urbana: plano de combate ao lixo
no mar [recurso eletrônico] / Ministério do Meio Ambiente,
Secretaria de Qualidade Ambiental, Departamento de
Gestão Ambiental Territorial, Coordenação-Geral de
                

Gerenciamento Costeiro. Brasília, DF: MMA, 2019.


Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/centrais-
de-conteudo/plano-nacional-de-combate-ao-lixo-no-mar-pdf.
Acesso em: 5 ago. 2021.
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WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

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gramme. 2019. 21p. Disponível em: https://smastr16.blob.
core.windows.net/gerco/sites/256/2021/09/guidelines-for-
-the-development-of-action-plans-on-marine-litte.pdf. Acesso
em: 25 jul. 2021.
UNCTAD. Relatório de Economia Criativa. Nações Uni-
das. Disponível em: https://unctad.org/system/files/offi-
cial-document/ditctab20103_pt.pdf. Acesso em: 9 dez. 2021.

4
CAPÍTULO
A NECESSIDADE DA REGULAÇÃO
AMBIENTAL PARA PREVENÇÃO
AO LIXO NO MAR: O CASO DOS
PARABENOS NA INDÚSTRIA DE

COSMÉTICOS

Luciano Cristian Cabral1


Flávio de Miranda Ribeiro2

Resumo

O presente estudo traz uma abordagem interdisciplinar com


o objetivo de revelar algumas das consequências da poluição
nos mares e oceanos por resíduos contendo parabenos, mais
especificamente o Metilparabeno (MP) e o Propilparabeno
(PP) oriundos de produtos cosméticos. A presença dos
1
Doutorando em Direito Ambiental Internacional pela Universidade Católica de Santos.
Mestre em Auditoria Ambiental pela Universidade Santa Cecília. Pós-Graduado em Admi-
nistração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Professor do CENEP – Porto
de Santos.
2
Doutor em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo, Professor do Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Santos.
                

resíduos contendo essas substâncias no meio ambiente


aquático promove diversos riscos ambientais, como se
apresenta em estudos realizados anteriormente. Não há,
porém, na legislação brasileira vedação expressa quanto ao
uso dos parabenos na formulação de produtos de uso pessoal
e cosméticos, apesar de alguns países já reconhecerem os
riscos causados por essas substâncias, sendo sugerido que
seja observada a experiência legislativa internacional, como
a proibição existente na União Européia. Objetiva-se, por
meio do método dedutivo utilizando pesquisa bibliográfica
e documental, demonstrar a necessidade de avanço
regulatório, com a observância do princípio da prevenção e
da governança para a necessária alteração legislativa, visando
ao banimento dessas substâncias conservantes em prol da
sustentabilidade global e em atendimento à Agenda 2030
das Nações Unidas.
Palavras-chave

Lixo no mar. Regulação ambiental. Poluentes emergentes e
persistentes. Princípio da prevenção. Agenda 2030.
Abstract

The present study brings an interdisciplinary approach, ai-


ming to reveal consequences of marine pollution from waste
containing paraben residues, more specifically Methylpara-
ben (MP) and Propylparaben (PP) from cosmetic products.
The presence of these substances in the aquatic environment
promotes several environmental risks, as demonstrated in
previous studies. However, Brazilian legislation does not ex-
pressly prohibit the use of parabens in the formulation of
personal care products, although some countries already re-
cognize the risks caused by these substances, suggesting that
international legislative experience must be observed, such
as the existing ban in European Union. The objective is,
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

through the deductive method using bibliographic and do-


cumentary research, to demonstrate the need of regulatory
advance, observing the prevention principle and governan-
ce for the necessary legislative change, aiming to ban these
preservatives in favor of global sustainability, in accordance
with the United Nations 2030 Agenda.

Keywords

Garbage in the sea. Environmental regulation. Emerging


and persistent pollutants. Principle of prevention. Agenda
2030.

1. INTRODUÇÃO

Refere-se como “lixo no mar” ao conjunto de todo resíduo


sólido que é encontrado no oceano, nos mares ou na zona cos-
teira. Muito embora haja descarte destes materiais nas atividades
 desenvolvidas no ambiente marinho, estima-se que 80% tenha
origem terrestre, e que 90% seja de material plástico, com forte
presença de embalagens de bens de consumo indevidamente des-
cartadas ou mal gerenciadas pelos sistemas de gestão dos resídu-
os urbanos (JAMBECK et al., 2015).
Os resíduos sólidos são resultantes de produtos nos estados
sólido e semi-sólido, provenientes de atividades antropogênicas
(ABNT, 2004). A maioria desses resíduos sólidos é formado por
materiais sintéticos, do qual processos de degradação são mais
lentos em comparação com aqueles de origem orgânica.
Desta forma, a origem do lixo marinho é algo complexo e ge-
neralizado, e sua problemática é ampliada por problemas sociais
como a falta de moradia digna, saneamento adequado, educação
ambiental e deficiências na regulação e controle das atividades
econômicas por parte do poder público; bem como por práticas
inadequadas de produção e descarte por parte das pessoas e em-
presas, além de outras atividades domésticas, industriais, comer-
ciais e agrícolas.
                

O Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP, 2022)


estima que cerca de 300 milhões de toneladas de resíduos plás-
ticos (montante equivalente ao peso da população humana) são
produzidos anualmente. No entanto, apenas 9% deste é recicla-
do, e a grande maioria se acumula em aterros sanitários ou no
ambiente natural. Quando expostos ao tempo, esses materiais
podem se dividir em microplásticos, que facilitam poluentes na
cadeia alimentar humana, sistemas de água doce e no ar.
De acordo com o relatório, o lixo marinho e a poluição plás-
tica podem interromper habitats e processos naturais, reduzindo
a capacidade dos ecossistemas de se adaptarem à crise climática.
Isso afeta os meios de subsistência, a segurança alimentar e o
bem-estar social de milhões de pessoas, e que também represen-
ta inúmeros custos ocultos para a economia (UNEP, 2022). No
caso das embalagens, muitas possuem em seu interior restos dos
produtos, que podem ter em sua composição substâncias que
apresentam risco à saúde e ao meio ambiente, como no caso dos
itens de uso pessoal e cosméticos, objeto da presente pesquisa.

A ONU decidiu em março de 2022, iniciar as negociações
para o primeiro acordo global contra a poluição plástica, uma
iniciativa histórica na luta pela preservação da biodiversidade. O
documento foi aprovado por Chefes de Estado, ministros e mi-
nistras do Meio Ambiente e outros representantes de 175 nações
(UNEP, 2022), e promete trazer novas perspectivas à solução do
lixo no mar.

2. IDENTIFICAÇÃO DO LIXO NO MAR NAS PRAIAS


DA CIDADE DE SANTOS/SP

O Município de Santos, localizado no litoral do Estado de


São Paulo, Brasil, possui extensa praia urbana, com a presença
de edificações, atividades comerciais e turística. Nesse ambiente
há ausência de vegetação pós praia, e de acordo com estudo re-
alizado por Orlandi et al. (2015), que analisou a quantidade e o
tipo de materiais sólidos lançados ao ambiente de praia, foram
encontrados tanto aqueles de origem biológica (sementes galhos,
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

matéria orgânica, bolachas do mar, peixes, crustáceos, moluscos


e conchas), como outros de origem antrópica (sacolas plásticas,
embalagens de alimentos, embalagens plásticas (duras), metais,
isopor, vidros, embalagens de cosméticos, preservativos, garra-
fas PET, tampas plásticas, tecidos, madeira, isopor, brinquedos,
barbantes, copos plásticos, embalagens plásticas, canudos, luvas
cirúrgicas, embalagens de alumínios, raízes, cigarros, curativos e
restos de alimentos).
O estudo realizado por Orlandi et. al. (2015) constatou que
a maior parte do material encontrado, incluindo resíduos como
embalagens plásticas, canudos e embalagens de cosméticos estava
localizado nas regiões entre canais, trazidas pela maré. A análise
concluiu que os resíduos citados no estudo têm origem na região
interna do sistema estuarino de Santos-São Vicente, local onde
há manguezais, ocupações irregulares sobre palafitas e bairros
sem estruturas adequadas de coleta de lixo.
Dentre estes resíduos, para o presente estudo destacam-se as
embalagens de cosméticos e produtos de higiene e cuidados pes-

soais (PCPs), que apresentam resíduos dos produtos contendo,
dentre outros ingredientes, as substâncias denominadas como
parabenos, que como veremos acarretam inúmeros problemas à
saúde e impactos ao meio ambiente aquático. Outra rota que
essas substâncias percorrem até os corpos d’água é através dos
lixões e outras formas de disposição irregular, pois o lixiviado de
seus resíduos pode atingir o lençol freático e as águas superficiais.
Esta percepção é confirmada pelos estudos de Montes-Gra-
jales et al. (2017), que encontrou resíduos de 43 tipos de PCPs
nas águas superficiais de países em todo o mundo, tais como a
Austrália, Alemanha, Coréia do Sul, China, República Checa,
Suíça, Dinamarca, Espanha, Reino Unido, França, Índia, Japão,
Roménia, Cingapura, Taiwan, Estados Unidos e até na Antártica.
Além disso, reportam a presença de resíduos de 23 PCPs em
águas subterrâneas de oito países, sendo que o maior número de
produtos químicos pertencentes a este grupo foi encontrado na
China e na Espanha.
Conforme levantamento realizado foi ainda constatada a
                

presença de um total de 64 PCPs em águas residuais, encontrados


na Antártida, Austrália, Áustria, Canadá, China, Colômbia,
Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, França, Alemanha, Grécia,
Índia, Itália, Japão, Holanda, Portugal, Cingapura, Coréia do
Sul, Espanha, Suécia, Suíça, Taiwan, Estados Unidos e Reino
Unido (MONTES-GRAJALES et al., 2017).

3. OS RISCOS DOS PARABENOS NOS RECURSOS


HÍDRICOS.

As embalagens de PCPs, como as de shampoo, condiciona-


dor, dentifrício, sabonete, creme de barba, batom, protetor solar,
desodorante, antisséptico bucal, pós facial, dentre outros, contém
geralmente restos das substâncias utilizadas em sua composição.
Dentre estas pode se destaca o Metilparabeno (MP), que é um
agente antimicrobiano utilizado como conservante em medica-
mentos e cosméticos, conhecido também como “Nipagin”. Esta
substância é pertencente à classe dos parabenos, que são ésteres
derivados do ácido p-hidroxibenzóico, e apresenta um amplo es- 
pectro de ação antimicrobiana, sendo utilizado na formulação
dos PCPs por ser efetiva contra bactérias, tanto gram-positivas
quanto gram-negativas, leveduras e fungos (TOXNET, 2022).
Outra substância utilizada na formulação dos PCPs é o Pro-
pilparabeno (PP), um conservante antimicrobiano também da
classe dos parabenos, derivado do ácido p-hidroxibenzóico, fre-
quentemente conhecido pelo nome comercial “Nipazol”. O PP é
utilizado nas indústrias cosméticas e farmacêuticas como preser-
vante cosmético, juntamente com o metilparabeno, sendo con-
servantes antimicrorbianos amplamente utilizados na fabricação
destes produtos (TOXNET, 2022).
Resultados obtidos em estudos ecotoxicológicos anteriores
(CABRAL, 2019), apontam que a toxicidade dessas substâncias
(MP e PP), empregando o organismo Echinometra lucunter (espé-
cie de ouriço do mar) as classificam como nocivas dentro da clas-
sificação da Diretiva 93/67/CEE da União Europeia (COMMIS-
SION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES, 1996).
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

O MP e o PP são também substâncias bioacumulativas,


causando impactos de longo prazo ao meio ambiente aquático,
como cita Wang (2013): inibição na reprodução de organismos,
deformidades no crescimento de organismos, retardo no cresci-
mento de organismos, e alterações endócrinas em alguns peixes,
podendo causar a feminização e, consequentemente, levar a es-
pécie à extinção. Desta forma, as respectivas substâncias MP e PP
são consideradas poluentes persistentes.
Além do descarte destas substâncias como componente dos
restos de produtos nos resíduos de embalagem, sabe-se que outra
rota pela qual atingem o meio ambiente aquático é através da
utilização e consumo dos próprios PCPs, o que faz como que
essas classes de substâncias (MP e PP) sejam descartadas diaria-
mente e constantemente no meio ambiente pela rede de esgo-
to até atingir as estações de tratamento de efluentes. Como em
geral essas estações não estão preparadas para reter esse tipo de
substâncias, elas acabam atingindo o meio ambiente aquático
marinho, sendo esta outra rota de descarte de parabenos no mar.

4. A FALTA DE REGULAÇÃO PARA OS PARABENOS
NO BRASIL E O CONTEXTO INTERNACIONAL

Embora sejam internacionalmente reconhecidos como no-


civos, e considerados poluentes emergentes, ainda não existe no
Brasil uma regulamentação que incida diretamente sobre os resí-
duos de MP e PP.
A Lei Federal 6.938, de 31 de agosto de 1981, que institui
a Política Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 1981), prevê a
necessidade de controlar a presença de poluentes no meio am-
biente, proibindo seu lançamento em níveis nocivos ou perigo-
sos para os seres humanos e outras formas de vida. Em sentido
semelhante, a Lei Federal 9.433, de 08 de janeiro de 1997, que
instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL,
1997), estabelece o enquadramento dos corpos d’água com vistas
a “assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes
a que forem destinadas” (Art. 9º, inc. I).
                

De forma a efetivar essas diretrizes, o Conselho Nacional


do Meio Ambiente-CONAMA editou a Resolução CONAMA
nº 357, de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2005), para garantir
a qualidade das águas, e com isso o meio ambiente equilibrado.
Além disso, a Resolução CONAMA n° 430, de 13 de maio de
2011 (BRASIL, 2011), dispõe sobre as condições, parâmetros,
padrões e diretrizes para gestão do lançamento de efluentes em
corpos de água receptores, alterando parcialmente e complemen-
tando a legislação anterior (Resolução CONAMA n° 357).
Neste contexto, como estabelece a Resolução CONAMA
430/2011 (BRASIL, 2011):
“O lançamento indireto de efluentes no cor-
po receptor deverá observar o disposto nesta
Resolução quando verificada a inexistência de
legislação ou normas específicas, disposições
do órgão ambiental competente, bem como
diretrizes da operadora dos sistemas de coleta
e tratamento de esgoto sanitário” (Artigo 1,
parágrafo único).

Assim, nota-se que dentro das atuais regras vigentes no Bra-
sil a regulamentação não supriu a ausência de parâmetros claros
quanto a destinação e limites de concentrações dos parabenos
(MP e PP) constituintes dos PCPs nos corpos hídricos.
Já em âmbito internacional, a União Europeia estabeleceu
em sua Diretiva 2008/105/CE (CE, 2018) conhecida como “po-
lítica da água”, uma lista de substâncias químicas a serem moni-
toradas nos corpos hídricos, que comtempla contaminantes de
preocupação emergente, tais como hormônios sintéticos e anti-
bióticos. Dentro dessas categorias, encontram-se os parabenos.
Em complementação à esta Diretiva, o Regulamento EU
nº358/2014 da Comissão Europeia (CEC, 2014) já proibia o uso
em PCPs de diversas classes de parabenos que tem efeitos conser-
vantes. Essa regulação foi uma resposta a uma decisão unilateral
da Dinamarca, de proibição de parabenos, suas isoformas e seus
sais, nos produtos PCPs destinados a crianças de idade inferior
a três anos, com base na potencial atividade endócrina, tomada
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

ao abrigo do artigo 12° da Diretiva 76/768/CEE do Conselho.


Desta forma, em atendimento à essas normativas os parabenos,
incluindo o MP e PP, já tem seu uso banido na formulação de
PCPs nos países-membros do bloco (DARBRE 2014).
De modo ainda mais abrangente, de acordo com os Obje-
tivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com os quais as
Nações Unidas estabeleceram as metas da Agenda 2030 temos,
além do ODS 14 que trata da “vida na água”, o ODS 12 buscan-
do “assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis”. Neste
sentido, adquire especial relevância a meta 12.4, que visa (ONU
BRASIL, 2022):
“Até 2020, alcançar o manejo ambientalmente
saudável dos produtos químicos e todos os resíduos,
ao longo de todo o ciclo de vida destes, de acordo
com os marcos internacionais acordados, e reduzir
significativamente a liberação destes para o ar,
água e solo, para minimizar seus impactos nega-
tivos sobre a saúde humana e o meio ambiente”.


5. CONCLUSÃO

O presente estudo se caracteriza como uma pesquisa explo-


ratória e descritiva, de natureza qualitativa, valendo-se do méto-
do dedutivo mediante pesquisa bibliográfica e documental. Pro-
pondo uma abordagem interdisciplinar, tem-se como objetivo
discutir as consequências da poluição de resíduos PCPs ao meio
ambiente marinho, e evidenciar a necessidade de regulação am-
biental adicional ao tema no Brasil.
Neste contexto, considera-se que o princípio da prevenção
deve ser aplicado ao caso, uma vez que é comprovado cientifica-
mente através de estudos anteriores (CABRAL, 2019) que a con-
taminação por produtos que contenham os parabenos, e mais
especificamente o MP e PP, como as embalagens de PCPs descar-
tadas irregularmente, podem causar impactos no meio ambiente
marinho.
Assim, entende-se que cabe às empresas e aos órgãos
                

reguladores determinar métodos e alternativas para substituição


da matéria-prima conservante, papel hoje desempenhado pelo
MP e PP, banindo essas substâncias da formulação dos PCPs,
como forma de melhoria do produto final com vistas à adequação
ambiental e busca de uma produtividade sustentável.
Como referência temos já em vigor, e em pelo atendimento,
a regulação vigente na Europa, onde os produtos cosméticos e de
uso pessoal (PCPs) já se encontram livres de parabenos em sua
formulação. Vale destacar que em muitos casos as empresas que
já cumprem essas determinações na Europa seguem operando
em outros países, como o Brasil, mantendo os parabenos (inclu-
sive o MP e PP) na composição de seus produtos, não obstante o
comprovado efeito nocivo dessas substâncias à saúde e aos ecos-
sistemas, incluindo o ambiente marinho.
Em conclusão, o presente estudo recomenda ao legislador
pátrio utilizar as bases epistêmicas de conhecimento, bem como
os parâmetros legais já definidos internacionalmente, no sentido
de evoluir o sistema legislativo brasileiro no sentido de regular

a presença das substâncias MP e PP na formulação de produtos
cosméticos e de uso pessoal, eventualmente com o banimento
destas considerando o apresentado no presente estudo, com cla-
ros benefícios tanto à saúde humana como aos ecossistemas ma-
rinhos.

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5
CAPÍTULO
MAPEAMENTO DE HABITATS
MARINHOS EM UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO E COMBATE À
PESCA FANTASMA


Luiz Miguel Casarini1;


Rafael Romero Munhoz1;
Arianne Carvalho Fonseca1;
José Edmilson A. Mello Junior2
Mônica Doll Costa2;
Leandro Costa Nogueira2

Resumo

Este capítulo descreverá um projeto dedicado à pesquisa,


desenvolvimento e inovação, o primeiro no Brasil, e que
atendeu ao chamado da Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação para as questões da pesca
fantasma. Tem como objetivos mapear os habitats marinhos
e detectar a presença de petrechos fantasmas, remover e
1
Instituto de Pesca/SAA.
2
Parque Estadual Marinho Laje de Santos - Fundação Florestal/SIMA.
                

implementar soluções sustentáveis para esses materiais,


promovendo medidas preventivas no setor pesqueiro
e o consumo responsável. Atualmente se reconhece os
impactos causados pelo lixo no mar. Os petrechos fantasmas
representam uma ameaça global para a saúde e produtividade
dos oceanos. A cada ano aumenta a perda acidental ou
abandono deliberado dos petrechos de pesca no mar devido
ao maior esforço de captura empregado, conflito entre as
modalidades de pesca e os eventos climáticos de maior
intensidade.
Palavras-chave

ONU. FAO. Oceanos. Lixo no mar. Petrechos fantasmas.


Abstract

This chapter will describe a project dedicated to research,


development, and innovation, the first in Brazil, and one 
that responded to the United Nations Food and Agricul-
ture Organization’s call for ghost fishing issues. Its objecti-
ves are to map marine habitats and detect the presence of
ghost gear, remove, and implement sustainable solutions
for these materials, promoting preventive measures in the
fishing sector and responsible consumption. Currently, the
impacts caused by garbage in the sea are recognized. Ghost
gear poses a global threat to ocean health and productivity.
Every year, the accidental loss or deliberate abandonment of
fishing gear at sea increases due to the greater capture effort
employed, conflict between fishing modalities and more in-
tense weather events.
Keywords

UM. FAO. Oceans. Marine litter. Ghost fishing.


WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

1. O LIXO NO MAR E OS PETRECHOS DE PESCA


FANTASMA

Atualmente são reconhecidos os impactos causados pelo


lixo no mar, composto quase totalmente por materiais sintéti-
cos (plásticos), que são uma ameaça real, difícil de se remediar
(LEBRETON et al., 2018). As fontes que lançam esses materiais
nos oceanos são diversas, entre elas a atividade extrativa da pesca
que tem grande importância na produção de alimentos e geração
de empregos, mas por falta de gestão adequada deixa um passi-
vo ambiental de resíduos sintéticos de grande magnitude. Isso
teve início a partir dos anos 1950, quando houve a substituição
gradual dos materiais naturais pelos sintéticos utilizados na pes-
ca, tais como o nylon (poliamida) entre outros, geralmente mais
leves e resistentes (LINK et al., 2019). Foi assim que a atividade
pesqueira se tornou refém do plástico (plástico-dependência) na
confecção dos petrechos utilizados para realizar as capturas. Essa
dependência tem efeito impactante nos rios e oceanos com gran-
 des quantidades de petrechos de pesca abandonados, perdidos
ou descartados (ALDFG), denominados petrechos fantasmas que
possuem alta persistência no ambiente (Figura 1).
Os petrechos fantasmas representam uma ameaça global
para a saúde e para a produtividade dos oceanos. A cada ano
aumenta a perda acidental ou abandono deliberado de petrechos
de pesca no mar devido ao maior esforço de captura empregado,
conflito entre as modalidades de pesca e os eventos climáticos de
maior intensidade. Esses petrechos se acumulam nos oceanos a
uma taxa estimada de 640 mil t.ano-1, o que representa 10% do
total utilizado pela pesca mundial. Assim, a cada 125 toneladas
de pescados, perdem-se aproximadamente uma tonelada de pe-
trechos nos oceanos (UNEP, 2009). Além disso, esses resíduos
geram microplásticos de segunda ordem e adicionam pressão so-
bre as espécies comerciais e sobre os meios de subsistência das
comunidades costeiras.
                

Figura 1 - Rede de emalhe fantasma originada da pesca ilegal capturando tartaru-


gas-verde (Chelonia mydas) na Baía de Santos

Fonte: Projeto Petrechos de Pesca Perdidos no Mar

O código de conduta para a pesca responsável (FAO, 1995) aler-


ta para a gestão responsável das artes de pesca devido os impactos no 
ambiente aquático. Além disso, estão também associadas ao proble-
ma questões que afetam a sustentabilidade dos recursos vivos, tais
como as mudanças climáticas globais e a pesca ilegal, não declarada
e não regulamentada (IUU), incluindo a segurança alimentar.

2. O PROJETO PETRECHOS DE PESCA PERDIDOS


NO MAR

Em 2009, o Projeto Petrechos de Pesca Perdidos no Mar foi


criado pela parceria entre o Instituto de Pesca da Secretaria da
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e o Parque
Estadual Marinho Laje de Santos (PEMLS) - Fundação Florestal,
para entender a magnitude do problema dos petrechos fantas-
mas nas Unidades de Conservação (UCs) (https://bluelinesys-
tem.blogspot.com).
Esse projeto é dedicado à pesquisa, desenvolvimento e inova-
ção, foi o primeiro do gênero no Brasil e atendeu ao chamado da
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

(FAO, 2009) para as questões da pesca fantasma. Tem como ob-


jetivos, mapear os habitats dentro das UCs, detectar a presença
de petrechos fantasmas, remover e implementar soluções susten-
táveis para esses materiais, promovendo medidas preventivas no
setor pesqueiro e o consumo responsável.
A metodologia denominada Sistema Linha Azul (Figura 2)
foi desenvolvida para funcionar com a fase preventiva (curta) ca-
racterizada por uma série de ações implementadas com a indús-
tria, comércio e pescadores para conscientização ambiental com
foco na redução dos petrechos fantasmas. E na fase de mitigação
(longa) os petrechos fantasmas são detectados, identificados, re-
movidos do mar e analisados por meio de pesquisas científicas.
Posteriormente, essas fases se juntam através dos próprios petre-
chos de pesca fantasma removidos para criação de novos objetos
que irão impactar positivamente os consumidores, evitando cau-
sar mais danos à vida marinha. Com base nos resultados dessas
fases, o projeto viabiliza a redução dos impactos negativos da pes-
ca fantasma e ilegal, minimiza as perdas ambientais e socioeconô-

micas e promove soluções inovadoras e sustentáveis.
Figura 2 - Fluxograma com as bases estabelecidas pelo projeto em 2010 para o
enfrentamento à pesca fantasma

Fonte: Projeto Petrechos de Pesca Perdidos no Mar


                

3. ENTÃO POR QUE MAPEAR OS HABITATS


MARINHOS?

Devido aos graves problemas emergentes, as atenções têm se


voltado ao ambiente marinho, no que foi denominado pela Or-
ganização das Nações Unidas (ONU) como a Década do Oceano.
Uma das iniciativas é o Projeto Seabed 2030, uma das primeiras
ações oficialmente endossadas como parte da Década do Oceano
que pretende mapear todo o fundo marinho até o final de 2030.
Apesar de ter atingido valores próximos a 20% do total em junho
de 2021 (SPECKTOR, 2021), existem regiões que devem receber
atenção especial dada a especificidade a ser mapeada, como regi-
ões de grande biodiversidade e áreas de proteção ambiental. Nes-
se contexto, também devem ser consideradas as áreas marinhas
com atividades e empreendimentos que se sobrepõem, ou seja,
compartilham o mesmo espaço (CASARINI e OBERG, 2007)
e podem ocasionar impactos direto e/ou indireto, tais como a
geração de petrechos fantasmas.
Utilizando métodos como o sonar de varredura lateral (SVL) 
comercial e a câmera rebocada, Switzer et al. (2020) sincronizaram
imagens acústicas com vídeo para obtenção da verdade de campo
(ground truth) e classificaram-se habitats bentônicos em recifes de
peixes e corais no Golfo Oriental do México. No Brasil, CA-
SARINI et al. (2015) utilizaram, em Unidades de Conservação,
esses dois métodos integrados e potencializaram a capacidade da
localização de anomalias, que conforme THE NORTHWEST
STRAITS FOUNDATION (2011), com o mesmo propósito já
haviam obtido relativo sucesso na detecção de petrechos fantas-
mas em algumas áreas específicas.
Essas metodologias têm se tornado comum para ambientes
rasos, até aproximadamente 50 m, e áreas de difícil acesso, por
exemplo, as elevações rochosas submersas. Sonares operados em
média e alta frequência, 455 e 990 kHz, respectivamente, geram
produtos de maior resolução e fornecem dados de anomalias
acústicas que são registradas em arquivos de histórico (sonogra-
mas). Esses dados processados em softwares gratuitos ou de baixo
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

custo geram mosaicos do fundo e perfis de batimetria, permitin-


do a classificação e segmentação do fundo marinho, tais como,
consolidado e não consolidado, entre outras características de
cobertura fornecida pelo sinal acústico (backscattering).
Complementar ao uso de sonares, o projeto desenvolveu a
unidade submersível protótipo “GHost_v.3”, com partes de ma-
teriais reciclados e estrutura hidrodinâmica que acopla micro
ROV (remotely operated underwater vehicle), câmeras de alta resolu-
ção, sensores de temperatura e luminosidade e ponteiras laser.
Esse arranjo possibilita a validação dos dados como verdade de
campo mesmo em locais de difícil acesso quando sincronizado
com o sonar (Figura 3).
Figura 3 - Imagem acústica de 83 kHz mostrando o perfil do fundo marinho com
o trajeto da unidade submersível “GHost_v3” em destaque



Fonte: Projeto Petrechos de Pesca Perdidos no Mar

Essa metodologia foi utilizada no PEMLS, UC de proteção


integral situada a 42 km da costa de Santos com 5 mil hectares
de extensão dentro do Setor Itaguaçu da APA Marinha Litoral
Centro (APAMLC), onde as profundidades estão próximas de
40 m, com grande biodiversidade e servem também como corre-
dores ecológicos de espécies marinhas migratórias. No entanto,
devido à dificuldade de fiscalização as elevações rochosas sub-
mersas são alvos frequentes da pesca ilegal (Figura 4).
                

O processamento digital das imagens capturadas pela unida-


de submersível permitiu a identificação de espinhel próximo aos
40 m de profundidade. O pós processamento dos dados possibi-
litou a organização de forma a caracterizar as elevações rochosas
e identificar regiões com potencial de pesca ilegal e de petrechos
fantasmas (Figura 4).
Figura 4 - Produtos de pós processamento a partir dos dados acústicos dos sonares
e imagens digitais de alta resolução



(A) linhas batimétricas mostrando a variação da temperatura, (B) trecho da ele-


vação rochosa com as setas indicando a presença de parte do cabo principal do
espinhel de fundo, (C) sobreposição de camadas raster mostrando o trajeto da
“GHost_v3” no fundo marinho e a posição dos petrechos de pesca fantasma de-
tectados.
Fonte: Projeto Petrechos de Pesca Perdidos no Mar

4. ECONOMIA CIRCULAR AZUL E OS PETRECHOS


FANTASMAS

O uso de tecnologias para detecção de petrechos é importante


para realizar sua remoção como método de remediação do
problema da pesca fantasma. A destinação sustentável desses
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

petrechos tem sido cada vez mais necessária, e a solução viável que
tem se tornado realidade em diversos países é a implementação da
logística reversa para o reprocessamento das componentes a fim
de originar novos produtos. No Brasil, esta prática ainda é muito
limitada e geralmente a indústria da reciclagem exige material
limpo e pronto para ser reprocessado. Esses materiais quando
removidos do mar geralmente apresentam alto nível de resíduos,
incrustações, deformação e desgaste, não sendo atrativo para a
indústria de reprocessamento. Portanto, o desafio de reprocessar
mecanicamente o nylon requer o ajuste de parâmetros específicos
para obter um produto sustentável e de qualidade suficiente para
atender o mercado consumidor.
Em contrapartida, manter as características residuais dos pe-
trechos no momento do seu reprocessamento é uma forma de agre-
gar valor ambiental e econômico nesses novos produtos (upcycle),
devido à baixa pegada de carbono, redução das etapas de proces-
samento com baixa carga de aditivos e, consequentemente, menor
custo ambiental. Além disso, podem transportar uma memória

(história) conhecida de impacto ambiental no ambiente marinho e
que passa ser acessível ao público por meio de objetos ressignifica-
dos. Esse processo visa levar ao consumidor a história de impacto
desses objetos quando ainda eram redes fantasmas, por meio de
mídias embutidas na forma de eco mensagem. As tecnologias e
estratégias disponíveis são diversas, e torna o processo inovador
para disponibilizar à indústria focada em produtos sustentáveis e
matéria-prima para designers, bem como outras aplicações infinitas.
A certificação dos produtos derivados das redes de pesca re-
processadas pode ser facilitada por banco de dados que permite
ser rastreado e consultado a qualquer momento por auditoria fei-
ta por agência reguladora de proteção ao consumidor. Dessa for-
ma, se dificulta a possibilidade de ocorrer greenwhasing ou mais
especificamente o termo bluewahsing, práticas enganosas onde a
conduta da empresa não condiz com seu marketing ambiental-
mente e socialmente responsável (WAKAHARA, 2017).
Esse processo trata da reinserção dos petrechos na cadeia
produtiva a partir do conceito da economia circular azul (Figura
                

5), no qual o resíduo é considerado recurso para originar outro


produto, permanecendo no fluxo do ciclo pelo máximo de tempo
de vida útil, reduzindo a retirada de matéria prima da natureza,
minimizando os impactos negativos de produção e o desperdício
(LEITÃO, 2015). Esta nova forma de produção traz benefício am-
biental, social e econômico por induzir a práticas comerciais ma-
rinhas mais sustentáveis, criar novas oportunidades de negócios e
empregos, além de oportunizar vantagens competitivas no merca-
do, pois é um modelo econômico que segue as exigências socioam-
bientais feita por consumidores conscientes (WAKAHARA, 2017;
EUROPEAN COMMISSION, 2021; VERBICARO, 2021).
Essa ecoinovação conduz a uma nova realidade para a eco-
nomia se tornar comprometida com os oceanos. O interesse do
setor de reciclagem e indústria de reprocessamento na compra
desses materiais estimula o setor pesqueiro a reavaliar a gestão
dos petrechos de pesca. Dessa forma, evitar perdas e fazer a des-
tinação correta quando estão inservíveis, tornando possível o
comércio dos produtos poliméricos inovadores com alto valor

ambiental agregado (CASARINI et al., 2018).
Figura 5 - Eco inovação dos petrechos de pesca fantasma inseridos na economia
circular azul

Fonte: Projeto Petrechos de Pesca Perdidos no Mar


WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

Agradecimentos

Agradecemos as equipes do Parque Estadual Xixová-Japuí


(PEXJ) e da Área de Proteção Ambiental Marinha Litoral Centro
(APAMLC) pela logística no projeto COTEC 003929/2020-78
e pelo apoio financeiro processo nº 2019/19502-2, Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

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6
CAPÍTULO
PLÁSTICOS NOS MARES E
OCEANOS: UM PROBLEMA QUE
NÃO PODE ESPERAR MAIS

 Juarez Ramos da Silva1


Marcia Aps1

Resumo

Este artigo tem o objetivo de discutir e alertar a emergente


problemática global do lixo, notadamente dos plásticos, nos
mares e oceanos. Consiste em uma abordagem qualitativa
a partir de discussão teórica, a luz de dados e informações
disponíveis nos meios de comunicação, pesquisas acadêmicas
e propostas de organismos preocupados com o meio
ambiente. Face aos argumentos apresentados, conclui-se que
o lixo lançado nos mares e oceanos representa um enorme
impacto para o ambiente natural e para a sociedade em geral,
que deve urgentemente rever seus padrões de consumo e
comportamento. O plástico vem das resinas derivadas do
petróleo e pertence ao grupo dos polímeros (moléculas
1
Docentes da Universidade Católica de Santos
                

muito grandes, com características especiais e variadas). A


palavra plástico tem origem grega e significa aquilo que pode
ser moldado. Além disso, uma importante característica do
plástico é manter a sua forma após a moldagem.
Palavras-chave

Poluição dos oceanos. Lixo. Plásticos. Mar. Ambiente natu-


ral. Sustentabilidade.
Abstract

This article aims to discuss and alert the emerging global


problem of garbage, especially plastics, in the seas and oce-
ans. It consists of a qualitative approach based on theoretical
discussion, in the light of data and information available in
the media, academic research and proposals from organisms
concerned with the environment. In view of the arguments
presented, it is concluded that the garbage released into the 
seas and oceans represents a huge impact on the natural en-
vironment and on society in general, which must urgently
review its consumption patterns and behavior. Plastic comes
from petroleum-derived resins and belongs to the group of
polymers (very large molecules, with special and varied cha-
racteristics). The word plastic is of Greek origin and means
that which can be molded. In addition, an important cha-
racteristic of plastic is that it retains its shape after molding.
Keywords

Pollution of the oceans. Trash. Plastics. Sea. Natural envi-


ronment. Sustainability.

1. INTRODUÇÃO

Desde tempos remotos, as populações adotaram viver próxi-


mo aos mares e oceanos, onde estima-se que 2/3 da população
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

mundial atualmente vive próximo ao mar, onde fatores como o


clima, a vegetação, a alimentação, a abundância de água doce,
o sal, o relevo, as riquezas minerais e a facilidade de transporte,
influenciaram essa medida, sem contar o aspecto de que morar
próximo ao mar, é bastante aprazível e traz qualidade de vida,
pois o lazer é garantido. Os oceanos cobrem 71% da superfície
do nosso planeta e são fundamentais para nossa sobrevivência.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), cerca de 70% da população brasileira vive na faixa situ-
ada a até 200 km do litoral. No Brasil, com seus mais de 8.600
quilômetros de costa, esta relação fica ainda mais clara, já que
nosso país, na forma que conhecemos hoje, nasceu e se desenvol-
veu a partir do litoral.
O clima litorâneo pode ser bem positivo também para o
fortalecimento do sistema imunológico. Ele melhora considera-
velmente as defesas do corpo contra doenças em geral. Outros
benefícios de morar perto do mar são o aumento da circulação
corporal e a melhora significativa na hidratação da pele, e é be-

néfico para quem tem pressão alta, não exatamente em função
do mar ou da praia em si, mas em função do Sol (FAPESP, 2014).
Todavia, não estamos cuidando bem dos nossos mares e ocea-
nos. Há uma enorme quantidade de lixo, resíduos e poluentes,
lançados diariamente nos mares e oceanos, mundo afora. Inde-
pendente do continente, lá estão eles: os poluentes dos oceanos.
E essa é uma questão bastante complexa, visto que há inú-
meros fatores e componentes nessa equação, tais como o aumen-
to do uso dos recursos naturais, as mudanças climáticas, o esgo-
to doméstico e industrial, os metais pesados, os fertilizantes, os
fármacos, os derivados de petróleo, e o famoso lixo (plásticos
e pneus entre outros), que cedo ou tarde, alcançam o mar e as
praias. A Figura 1 apresenta uma relação estimada da produção
do lixo e o contato com o oceano para o caso Brasileiro.
                

Figura 1 - Lixo no litoral do Brasil

Fonte: Ministério da Defesa 2019

Os ambientes costeiros apresentam vocações e fragilidades


especializadas e exclusivas, e não dar a devida atenção aos recur-
sos naturais resulta hoje no fato de que a maioria dos ambientes 
costeiros têm que lidar com impactos ambientais complexos. De
uma maneira geral, a preocupação com o uso sustentável dos
recursos naturais é recente, e nem sempre foi (ou tem sido) uma
prioridade para governantes e empresários.
O lixo que chega ao oceano é um dos problemas mais visí-
veis. E, ainda assim, podemos não o observar em sua totalidade,
pois 80% do que já chegou ao mar está submerso, depositado no
fundo dos oceanos. Além disso, há cada vez mais partículas de
tamanhos diminutos que não vemos, o micro plástico. Na verda-
de, o lixo já está presente nos lugares mais remotos do planeta,
como pequenas ilhas, nos pontos mais profundos do oceano e
nas regiões polares. Uma vez que praticamente toda atividade hu-
mana gera algum tipo de resíduo, com quase 8 bilhões de pessoas
no mundo e padrões de consumo cada vez mais insustentáveis,
um dos desafios da sociedade contemporânea é lidar com o lixo
gerado dia a dia. Com variadas formas e destinos, a maior parte
do lixo no mar (80%) tem origem nas atividades em terra.
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

O lixo no mar, que é um problema global e impactante, é de-


finido como qualquer material sólido persistente, processado ou
manufaturado, que é descartado ou perdido e chega ao ambien-
te costeiro e marinho, é composto predominantemente de itens
plásticos, que são muito resistentes no ambiente. Para muitos,
os oceanos são considerados fonte de riquezas, supostamente,
inesgotáveis. Esses ambientes cobrem dois terços da superfície
terrestre (CASTRO; HUBER, 2012; PEREIRA), e são ambien-
tes também considerados como um aporte de diversos tipos de
resíduos produzidos pelo ser humano, tais como efluentes líqui-
dos sanitários/industriais e resíduos sólidos, e como exemplo po-
demos citar plásticos, vidros e materiais radioativos (ARAUJO;
COSTA 2003).

2. A SOCIEDADE DO PLÁSTICO E OS IMPACTOS


NOS OCEANOS

O plástico, devido as suas características básicas como male-


 abilidade, dureza, resistência ao calor e ao choque, tornou-se, no
último século, a matéria base da indústria de eletroeletrônicos,
automotivos e embalagens industriais. Nas últimas décadas, seu
uso expandiu-se ainda mais, com a inclusão, no consumo de va-
rejo, das sacolas plásticas.
O plástico é produzido a partir do petróleo, um recurso re-
lativamente barato e abundante, apesar de ser um recurso não
renovável. Apresenta menores custos de produção, quando com-
parado a outros materiais como, por exemplo, os metais. Plástico
é como chamamos os polímeros sintéticos produzidos a partir
de derivados do petróleo, cujas características químicas e físicas
podem variar dependendo das moléculas envolvidas na sua cons-
tituição e que resultam em diferentes tipos de produto final. A
produção do plástico se acumula no ambiente, uma vez que seu
processo de decomposição em condições naturais é lento, po-
dendo alcançar centenas de anos. Essa característica o tornou o
maior poluidor e problema do planeta. Embora uma parcela dos
produtos plásticos possa ser destinada à reciclagem, a maior parte
                

acaba nos aterros sanitários e nos oceanos, o que representa um


agravante ambiental, devido ao aumento do tempo de decompo-
sição nesse ambiente. Estima-se que enquanto nos aterros sanitá-
rios o Nylon (um plástico poliamida) se decompõe entre 30 e 60
anos, nos oceanos essa decomposição levaria 650 anos.
A poluição oceânica por plástico é um problema ambiental de
escala planetária que ameaça a sobrevivência da vida marinha e que
impacta, inclusive, a atividade pesqueira e o tráfego das embarcações
em alto mar. O plástico chega aos oceanos principalmente, através
dos rios, que trazem o lixo descartado indevidamente nos continen-
tes e também por lançamento direto em águas profundas.
O destino dos plásticos lançados nos oceanos tem intrigado
os cientistas. Atualmente, o volume de plástico descartado à de-
riva nos mares, é da ordem de 7 a 35 mil toneladas. No entanto,
esse número representaria apenas de 1 a 3% do total de plástico
já lançado nos oceanos desde a sua invenção. Como não hou-
ve tempo suficiente para a sua decomposição, existem diferentes
hipóteses para explicar o destino desse material. A ideia mais

aceita é de que uma parcela tenha sido degradada pela ação solar,
outra pequena parte tenha sedimentado sob o leito oceânico e o
restante tenha sido consumido pela fauna mesopelágica (organis-
mos marinhos que vivem em profundidades entre 200 e 1.000
m, na sua maioria pequenos peixes e crustáceos), que constituem
a maior parte da população marinha.
O oceano e a humanidade estão fortemente interligados.
Este é um dos Princípios do Oceano, que consistem em ideias
chave a partir de conceitos fundamentais que tornam possível
que a sociedade compreenda e se envolva com os temas do mar.
Em 1997, o oceanógrafo Charles J. Moore escreveu um arti-
go no qual relatava uma presença massiva de lixo em uma deter-
minada região do Pacífico, que posteriormente foi apelidada de
Ilha de Plástico. Trata-se de um acúmulo do lixo humano despe-
jado no mar, que ficou aprisionado em uma determinada área
oceânica, devido à ação das correntes marinhas. Esse montante
de resíduos é composto basicamente por plásticos, em 80%, isso
o leva a flutuar, sendo que a maioria do material fica submersa a
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

poucos metros de profundidade.


Em 2018, segundo estudos, foi detectado um depósito de resí-
duos plásticos a flutuar no Oceano Pacífico entre a Califórnia e o
Havaí, sendo estimado em conter pelo menos 79.000 toneladas de
material plástico espalhados por 1.600.000 km², e não para de cres-
cer (LEBRETON et al, 2018). A Figura 2 mostra áreas onde ocorre o
acúmulo do lixo nos oceanos devido às correntes oceânicas.
O lixo em geral, segue um caminho longo até chegar aos
mares e oceanos, e muitas vezes vem de lugares distantes, sem o
descarte adequado, vai para os lixões que muitas vezes são pró-
ximos a cursos d’água ou são descartados em terrenos baldios,
rua ou mesmo em rios, estes que terão como destino final o mar,
sendo que metade desse lixo é constituído de material plástico
de acordo com a Associação Internacional de Resíduos Sólidos.
O problema ambiental do lixo no mar que tem sido apresen-
tado e discutido cada vez mais atualmente pode ser considerado
também uma questão social, cultural e da vida em sociedade;
pois é resultado das transformações vividas pela humanidade (se-

jam elas econômicas, políticas, culturais ou institucionais).
Figura 2 - Locais onde ocorre o acúmulo do lixo nos oceanos devido às correntes
oceânicas

Fonte: Instituto Água Sustentável 2021


                

As transformações que afetam a estrutura e funcionamento


de uma organização social e modificam o curso da sua história,
incluindo no ambiente natural, são objeto de estudo das ciências
sociais. Segundo Leff (2014), por exemplo, a crise ambiental se-
ria um reflexo das ideologias voltadas unicamente ao progresso
e crescimento. Ao abordar o mundo social moderno, o autor
conclui que o capitalismo, o industrialismo e o desenvolvimento
científico-tecnológico têm grande impacto na natureza, apresen-
tando-os como uma cultura de risco pela forma como o mundo
social tem se organizado de maneira dissociada da preservação
do meio ambiente. Os problemas que hoje enfrentamos com
o lixo no mar estão originados em fatores como práticas inade-
quadas, falta de infraestrutura para gestão dos resíduos, produtos
que foram desenhados sem se considerar os impactos do seu ciclo
de vida, escolhas do consumidor, perda acidental ou deliberada
de utensílios de pesca e resíduos de navios, e a pouca compressão
das pessoas sobre as consequências potenciais de suas ações (IN-
TERNATIONAL MARINE DEBRIS CONFERENCE, 2011).

É necessário que estejamos constantemente refletindo
o mundo em que vivemos, de modo a relacionar as ações e o
comportamento humano com o mundo em que se deseja viver
e deixar para as futuras gerações. Ao atentar para a existência do
problema específico do lixo no mar, por exemplo, é momento de
agir no sentido de uma mudança que é também social. Estimati-
vas apontam que há uma tendência de aumento de produção de
plásticos em 5% ao ano “[...] se não for diminuído o ritmo com
que se descartam itens como garrafas plásticas, sacolas e copos
depois de um único uso, até 2050, os oceanos terão mais plásti-
cos que peixes [...]” ONU, 2017). O modo de pensar a sociedade
está completamente relacionado ao modo como nos aliamos à
natureza ou à desprezamos cotidianamente (LEFF, 2014). Gid-
dens (2001) menciona que não é possível fazer generalizações
sobre o comportamento humano, mas uma das características
observadas pela ciência social ortodoxa é o fato de não temos
consciência do porquê fazemos as coisas e nossas atitudes, a cha-
mada causação social.
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Resolver a poluição marinha não é tarefa fácil e nem rápida,


uma vez que a quantidade de produtos, principalmente plásticos,
continuará a ser produzida em larga escala e educar e conscien-
tizar pessoas também não é tarefa fácil, requer empenho, persis-
tência e deve-se começar com as crianças.
Há a urgente necessidade de se trabalhar a conscientização
de que somos responsáveis pelos mares e oceanos e por todas as
formas de vida na Terra, independentemente da localização geo-
gráfica (regiões litorâneas e não litorâneas), contribuindo direta-
mente para um oceano saudável. Como primeira diretriz, se faz
de extrema importância a ampla divulgação da iniciativa Década
do Oceano (2021-2030), seja através de abordagens diversificadas
dentro e fora do ambiente acadêmico, de forma presencial e re-
mota informando sobre as ações que estão sendo desenvolvidas
para atingir todos os objetivos proposto pela ONU. Salienta-se
que entre as inúmeras ameaças a poluição dos mares e oceanos,
 estão o lançamento dos resíduos industriais e esgoto e principal-
mente os plásticos que se decompõe paulatinamente em micro
fragmentos que são ingeridos pela fauna marinha, o que faz com
que cheguem à nossa alimentação com consequências ainda des-
conhecidas para a saúde humana.
O plástico conseguiu chegar ao ponto mais profundo do
planeta: o abismo Challenger, situado a 11.000 metros de pro-
fundidade, onde praticamente nem mesmo o homem é capaz de
chegar. A descoberta é a melhor prova da dimensão do problema
e de que chegou o momento de se conscientizar e fazer o possível
para reverter essa situação. Adotar hábitos mais sustentáveis e
responsáveis é o primeiro passo. Estamos esperando o que?
                

REFERÊNCIAS

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rinho. Ciência Hoje, v. 32, n.191, p. 64-69 Rio de Janeiro
– RJ.
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Takatuka Editorial; 1. ed., 64 p. 2019.
CASTRO, P.; HUBER M.E. Biologia Marinha. AMGH
Editora Ltda. 8. ed., 2012.
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GIDDENS, A. Em defesa da sociologia: ensaios, interpreta- 
ções e tréplicas. São Paulo: UNESP, 2001.
INSTITUTO ÁGUA SUSTENTÁVEL. Lixo no oceano tem
solução. 2021. Disponível em: https://www.aguasustentavel.
org.br/blog/109-lixo-no-oceano-tem-solucao#:~:text=O%20
lixo%20segue%20um%20caminho,como%20destino%20
final%20o%20mar. Acesso em: 20 out. 2021.
INTERNATIONAL MARINE DEBRIS CONFERENCE.
Proceedings of the International Marine Debris Conferen-
ce on Derelict Fishing Gear and the Ocean Environment,
Honolulu, Hawaii, USA, 2011.
LEBRETON, L.; SLAT, B.; FERRARI, F.; SAINTE-ROSE,
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SOLO, S.; SCHWARZ, A.; LEVIVIER, A.; NOBLE, K.;
DEBELJAK, P.; MARAL, H.; SCHOENEICH-ARGENT,
R.; BRAMBINI, R. and REISSER, J., 2018. Evidence that
the Great Pacific Garbage Patch is rapidly accumulating plas-
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

tic. Scientific Reports, 8. 2018.


LEFF, E. La apuesta por la vida: imaginación sociológica e
imaginários sociales em los territórios ambientales del sur.
México: Siglo XXI Editores, 2014.
MINISTÉRIO DA DEFESA. Marinha do Brasil. Combate
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ONU. Nações Unidas no Brasil. Campanha Mares Limpos
celebra dois anos de atividades contra o lixo plástico, 2019.
Disponível em: https://nacoesunidas.org/campanha-mares-
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ONU. Nações Unidas no Brasil. ONU lança campanha
contra poluição dos oceanos provocada por consumo de
plástico, 2017. Disponível em: https:/nacoesunidas.org/
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PEREIRA, Renato Crespo. Ecologia Marinha. Rio de Janei-
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PEREIRA, C. R.; GOMES, A. B. Biologia Marinha. 2. ed.
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TURRA, A.; BIAZON, T. Um plano para compreender e
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Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/um-plano-pa-
ra-a-compreender-e-combater-o-lixo-nomar/.
7
CAPÍTULO
GOVERNANÇA METROPOLITANA
DA BAIXADA SANTISTA:
PLANO REGIONAL DE GESTÃO
INTEGRADA DE RESÍDUOS

SÓLIDOS (LIXO NO MAR)

Márcio Aurélio de Almeida Quedinho1

Resumo

A discussão e a gestão sobre lixo no mar depende de uma série


de fatores,entre eles a questão da governança metropolitana
para a integração das ações e do entendimento da melhor
1
Diretor Técnico da Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM). Mestre em Bio-
tecnologia - Bioprodutos e Bioprocessos pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
Pós-graduado e especialista em Geoprocessamento e Georreferenciamento pela Universida-
de Cândido Mendes (UCM), Graduado como Tecnólogo em Processamento de Dados pela
Faculdade de Tecnologia Rubens Lara (Fatec/RL), Técnico em Turismo (ETEC Aristóteles
Ferreira) e Técnico em Processamento de Dados (O Executivo). Possui cursos de extensão
universitária: Cidades Inteligentes e Sustentáveis pela Faculdade de Tecnologia (Fatec); Ge-
oprocessamento, RFID, Mobilidade e Rastreamento pela Universidade de São Paulo (USP);
Monitoramento de Projetos em Regiões Metropolitanas pela Universidade de Campinas
(Unicamp). E-mails: [email protected], [email protected], [email protected]
                

política pública a ser adotada em conjunto entre estado,


municípios e sociedade. Instrumentos como o Plano Regio-
nal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é de extrema
importância para definir prioridades e as melhores ações a
serem tomadas de forma conjunta para o desenvolvimento
da Baixada Santista. A existência de um conselho de desen-
volvimento na Região, com a participação de entidades mu-
nicipal e estadual e de uma câmara temática setorial com
a temática meio ambiente e saneamento, proporciona um
ambiente para discussão e tomada de decisões para as ações
necessárias ao combate do problemado lixo no mar entre ou-
tros temas de grande importância para a Baixada Santista.
Palavras-chave

Região Metropolitana da Baixada Santista. Governança.


Meio Ambiente. Condesb. Agem.
Abstract 

The discussion and management of waste at sea depends on


a series of factors, including the issue of metropolitan gover-
nance for the integration of actions and the understanding
of the best public policy to be adopted jointly by the state,
municipalities and society. Instruments such as the Regio-
nal Plan for Integrated Solid Waste Management are extre-
mely important to define priorities and the best actions to
be taken together for the development of Baixada Santista.
The existence of a development council in the Region, with
the participation of municipal and state entitiesand a thema-
tic sectorial chamber with the theme of environment and
sanitation, provides an environment for discussion and deci-
sion-making for the necessary actionsto combat the problem
of garbage at sea, among other issues of great importance to
Baixada Santista.
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

Keywords

Metropolitan Region of Baixada Santista. Governance. En-


vironment. Condesb. Agem.

1. INTRODUÇÃO

O lixo no mar é um problema socioambiental, de grande


diversidade, que causa um significativo número de ameaças ao
meio ambiente e à saúde pública, estando presente em todo o
planeta. Esse problema é resultado da ação antropogênica, ad-
vindo de inúmeras gerações, para atender uma necessidade de
consumo crescente cada vez mais presente na atual sociedade e
a falta de uma correta destinação dos resíduos sólidos e logística
reversa.
Para o sucesso da implementação de qualquer ação voltada
a solucionar ou minimizar o problema referente ao lixo no mar,
dependerá estritamente de um trabalho interdisciplinar e da par-
 ticipação de toda a sociedade civil, organizações governamentais
e setor privado – seja de forma global, regional, nacional e local
(GRECHINSKI, 2020).
Nesse contexto há a necessidade da realização de uma go-
vernançametropolitana instituída e de instrumentos que apoiem
os trabalhos voltados para o combate do lixo no mar. A Região
Metropolitana da Baixada Santista (RMBS) possuiessa governan-
ça e instrumentos, como o Plano Regional de Gestão Integrada
de Resíduos Sólidos, que apoiem as políticas públicas e a tomada
de decisões.

1.1 Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS)

A Baixada Santista é a primeira região metropolitana insti-


tuída no Brasil, sem a participação de capital de Estado. A Região
compõe a Macrometrópole Paulistae foi criada pela Lei Comple-
mentar Estadual n.º 815, de 30 de julho de 1996. É formada pelo
agrupamento dos municípios (Figura 1) que integram o litoral
                

do estado de São Paulo: Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém,


Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente, consti-
tuída com uma área de 2.420,5 km² (SÃO PAULO, 1996).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(2018), em 2016 a RMBS apresentava aproximadamente 3,15%
do Produto Interno Bruto (PIB) paulista e concentra 4,05% da
população estadual com 1,85 milhão de habitantes segundo esti-
mativa no ano de 2018.
Figura 1 - Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS)



Fonte: AGEM (2018)

A RMBS é caracterizada por 65 km contínuos de litoral,


numa faixa alongada e estreita, limitada pelas escarpas da Serra
do Mar, com seus remanescentes de Mata Atlântica, e o Oceano
Atlântico. Apresenta uma grande diversidade de ecossistemas,
tais como manguezais, estuários, ilhas, restingas,enseadas, dunas,
praias e costões rochosos. A Região apresenta uma rede hídrica
ede drenagem que proporciona uma relação entre rios e mar ex-
tremamente complexa (Figura 2). Essa rede possui uma íntima
relação intersetorial com a habitação, com omeio ambiente, com
a mobilidade, com as questões socioespaciais entre outros.
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

Figura 2 - Rede de drenagem e hidrografia bifilar da Região Metropolitana da


BaixadaSantista

Fonte: Geoportal CBH-BS. Disponível em: http://www.cbhbs.com.br/index.php/sig-web-


-bs/. Acesso em: 5 nov. 2021

1.2 Estatuto da Metrópole

O Estatuto da Metrópole foi instituído por lei federal n.º



13.089, de 12 de janeiro de 2015, que estabelece diretrizes gerais
para o planejamento, gestão e a execução das funções públicas de
interesse comum em regiões metropolitanas. Também estabelece
normas gerais sobre o Plano de Desenvolvimento Urbano Inte-
grado (PDUI) e outros instrumentos de governança interfederati-
va no campo do desenvolvimento urbano (BRASIL, 2015).
O Estatuto prevê instrumentos de governança como o PDUI
(para a RMBSfoi definido o Plano Metropolitano de Desenvolvi-
mento Estratégico – entregue em 2014), os planos setoriais inter-
federativos (para o problema do lixo no mar há o PlanoRegional
de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Baixada Santista
– entregue em 2018), os fundos públicos, as operações urbanas
consorciadas interfederativa, aszonas para aplicação compartilha-
da dos instrumentos urbanísticos, os consórcios públicos, os con-
vênios de cooperação e os contratos de gestão (BRASIL, 2015).
                

2. GOVERNANÇA METROPOLITANA DA BAIXADA


SANTISTA

A governança metropolitana da Região Metropolitana da


Baixada Santista (RMBS) é realizada por órgãos públicos munici-
pais e estaduais que formam o Sistemade Planejamento Metropo-
litano (Figura 3).
Figura 3 - Sistema de Governança da Baixada Santista



Fonte: Adaptado pelo autor (AGEM, 2021)

Essa estrutura de governança apoia as tomadas de decisões pe-


los poderesexecutivos presentes na Região estabelecido pelo Esta-
tuto da Metrópole, através doConselho de Desenvolvimento da
Baixada Santista (CONDESB).

2.1 Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista


(CONDESB)

O Conselho de Desenvolvimento da Região Metropoli-


tana da Baixada Santista (CONDESB) é um conselho formado
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

por representantes das prefeituras da da Região e representan-


tes do Governo do Estado, indicados dentre as secretarias que
atuam na região. Ele tem caráter normativo e deliberativo, tra-
tando dos assuntosinerentes aos campos funcionais de interesse
comum da RMBS.
A participação de seus representantes é paritária entre o con-
junto das prefeituras e os representantes do Estado e atualmen-
te possui 16 câmaras temáticassetoriais (Figura 4) separados por
quatro grupos de trabalho (Mobilidade, MeioAmbiente, Políticas
Públicas e Desenvolvimento Econômico).
Figura 4 - Modelo de Gestão do Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista



Fonte: AGEM – Agência Metropolitana da Baixada Santista. Disponível em: https://www.


agem.sp.gov.br/?page_id=1065. Acesso em: 5 nov. 2021

A integração e a transversalidade de assuntos em comum são


discutidos no Grupo de Planejamento e Desenvolvimento Regio-
nal (GPDR) que conta com a participação do Comitê de Bacia
Hidrográfica da Baixada Santista (CBH-BS) e do Gerenciamento
Costeiro da Baixada Santista (GERCO).
                

2.2 Câmara Temática de Meio Ambiente e Saneamento do


CONDESB

Por Deliberação do Conselho de Desenvolvimento da Região


Metropolitanada Baixada Santista (CONDESB), as Câmaras Te-
máticas serão constituídas para as funções públicas de interesse
comum e as Câmaras Temáticas Especiais voltadas a um progra-
ma, projeto ou atividade específica, como subfunção entre as
funções públicas.
Nesse sentido, no ano de 1997, foi deliberado pelo CON-
DESB a criação da Câmara Temática de Meio Ambiente, para
atender a necessidade do equacionamento das questões ligadas
ao campo funcional Meio Ambiente, que devem ser classificados
como funções e serviços de interesse comum entre Estados e Mu-
nicípios e o mapeamento dos vários objetos da legislação ambien-
tal, dos consideráveis prejuízos, para o desenvolvimento normal
da ocupação e uso do solo regional, como também, para a pró-
pria proteção ambiental.
Para a discussão e trabalhos voltados ao lixo no mar, o CON- 
DESB designou a Câmara Temática de Meio Ambiente e Sanea-
mento, que atualmente tem o município de Guarujá na coorde-
nação e o município de Bertioga na relatoria.

2.3 Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM)

Após a criação da Região Metropolitana da Baixada Santista


(RMBS) e da estrutura do Conselho Metropolitano no ano de
1996, a Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM) foi
criada por Lei Complementar n.º 853, de 23 de dezembrode 1998
sendo uma autarquia do governo do Estado de São Paulo com a
finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execu-
ção das funções públicas de interesse comum na Região (SÃO
PAULO, 1998).
Ainda na referida Lei Complementar, em seu artigo 3.º, a
AGEM também tem a função de manter atualizadas as informa-
ções estatísticas e de qualquer outra natureza necessárias para o
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

planejamento metropolitano, especialmente as de natureza físi-


co-territorial, demográfica, financeira, urbanística, social, cultu-
ral, turísticae ambiental, que sejam de relevante interesse público
(SÃO PAULO, 1998).
A AGEM tem a função de secretaria executiva do CONDESB
e atualmenteestá vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Re-
gional do Estado de São Paulo, que entre suas funções está a in-
terlocução com os municípios e para as questõesmetropolitanas
está a elaboração e à implementação de programas, ações e proje-
tos, promovendo a inclusão da territorialidade nos processos de
elaboração de políticas públicas, o fortalecimento da capacidade
de gestão, da governabilidade quanto à formulação de políticas
públicas e à proposição de diretrizes com o apoio à realização de
estudos e pesquisas para a contínua melhoria da qualidade de
vida nas regiões metropolitanas (SÃO PAULO, 2019).

3. LIXO NO MAR

 Lixo no mar é qualquer material sólido (independentemente


do tamanho) antropogênico, manufaturado ou processado que
foi descartado, disposto ou abandonado no ambiente, incluindo
todos os materiais descartados para o mar, na costa, ou trazidos
indiretamente pelos rios, esgotos, águas pluviais, ondas ou ven-
tos. Este tipo de lixo pode resultar de atividades em terra ou no
mar (IMDC, 2011).
Segundo Jambeck et al. (2015) cerca de 80% do lixo en-
contrado no mar tem origem em atividades realizadas em terra
(gestão inadequada de resíduos sólidos, turismo, indústria, entre
outros), enquanto os outros 20% são originados em atividades
realizadas no mar através do transporte de cargas, da pesca, das
plataformas marítimas, entre outros.
O Ministério do Meio Ambiente estima que o lixo marinho
seja o causador da morte anual de cerca de 100 mil mamíferos ma-
rinhos e 1 milhão de aves marinhas (MMA, 2017). Além da ocor-
rência de acidentes, já que estes detritos podem enroscar em partes
de embarcações, provocando acidentes ou inatividade dos mesmos.
                

O problema ambiental referente ao lixo no mar, que vem ga-


nhando maiores discussões, é uma questão social, cultural e
da vida em sociedade, pois resultadas transformações vividas
pela humanidade, sejam elas econômicas, políticas, culturais ou
institucionais (GRECHINSKI, 2020).

4. PLANO REGIONAL DE GESTÃO INTEGRADA DE


RESÍDUOS SÓLIDOS DABAIXADA SANTISTA (PRGIRS/
BS)

O Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos


da Baixada Santista (PRGIRS/BS) foi elaborado pelo Instituto
de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em conjunto com a AGEM e
com a Câmara Temática de Meio Ambiente e Saneamento do
CONDESB. Ele foi elaborado com a participação da sociedade
civil com um amplo caminho para sua construção (Figura 5) e
entregue no ano de 2018.
Figura 5 - Caminho da construção do PRGIRS/BS 

Fonte: Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (AGEM e IPT, 2018)
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

O Plano apresenta diretrizes e os desafios para a gestão de re-


síduos na Baixada Santista, representados pela redução/minimi-
zação da geração de resíduos sólidos domiciliares e consequente
redução da disposição final; melhoria da gestão dos resíduos da
construção civil, de serviços de saúde, de limpeza urbana e mari-
nhos, de pesca e ambientes naturais; e educação ambiental, mo-
bilização social e comunicação (AGEM e IPT, 2018).
O PRGIRS/BS (2018) estabeleceu para a Baixada Santista a
caracterização do lixo no mar do estudo realizado pelo Ocean Con-
servancy (2010), com a divisão de cinco categorias: Costa e atividades
de recreação; Atividades relacionadas ao fumo; Oceano e transporte
aquático; Resíduos de descarte e; Higiene pessoal e saúde.
Atrelando a este estudo o potencial de impacto dos muni-
cípios da Baixada Santista, por meio da relação densidade popu-
lacional, população flutuante e extensão de orla, é possível obser-
var que durante os períodos de temporada, a taxa de aumento de
alguns municípios é superior a 100%, com potenciais de
geração de resíduosmarinhos na média de 3.300 kg/dia para os

municípios (Figura 6) que compõem a Baixada Santista (AGEM
e IPT, 2018).
Figura 6 - Principais características que afetam o lixo no mar

NA – Não se aplica

Fonte: Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (AGEM e IPT, 2018)
                

5. CONCLUSÃO

Os problemas enfrentados com o lixo no mar são ocasiona-


dos por práticas inadequadas, falta de infraestrutura para a cor-
reta gestão dos resíduos, falta de consideração dos impactos ge-
rados por produtos e seu ciclo de vida, escolhas do consumidor,
perda acidental ou deliberada de utensílios de pesca e resídu-
os de navios e a pouca compressão das pessoas sobre as poten-
ciais consequências de suas ações que diz respeito à relação ser
humano-natureza.
Há a necessidade de ações e políticas públicas para alterar a
realidade do lixo no mar, buscando atitudes que minimizem os
impactos negativos de suas ações na natureza. Um Plano adequa-
do de gestão dos resíduos, atrelado a manutenção daspraias, faz-se
necessário, de forma a evitar maiores impactos nos ambientes cos-
teiros(AGEM e IPT, 2018).
Assim, a Baixada Santista pode ser considerada uma Região
que possui uma governança metropolitana instituída legalmente
desde 1996, com diversos instrumentos que apoiam a discussão, 
a elaboração e integração de projetos e a viabilidade de políticas
públicas com ações voltadas a redução do lixo no mar.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA METROPOLITANA DA BAIXADA SAN-


TISTA – AGEM; INSTITUTO DE PESQUISAS TEC-
NÓGICAS – IPT. Plano Regional de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos da Baixada Santista | PRGIRS/BS. San-
tos, 2018.
AGÊNCIA METROPOLITANA DA BAIXADA SANTIS-
TA – AGEM. Regimento Interno. Disponível em: https://
www.agem.sp.gov.br/?page_id=873. Acesso em: 6 nov. 2021.
BRASIL. Lei n.º 13.089, de 12 de janeiro de 2015. Institui o
Estatuto da Metrópole, altera a Lei nº 10.257, de 10 de julho
de 2001, e dá outras providências. Disponível em: http://
WORKSHOP: Prevenção e Controle do Lixo no Mar

www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/
l13089.htm. Acesso em:17 nov. 2021.
BRITO, G. G.; CHRISTOFOLETTI, R. A. Caminhos para
a elaboração e implementação de um programa regional de
Educação Ambiental na região metropolitana da Baixada
Santista. Revista Brasileira de Educação Ambiental (Re-
vBEA), [S. l.], v. 16, n. 4, p. 359–376, 2021. Disponível em:
https://periodicos.unifesp.br/index.php/revbea/article/
view/11393. Acesso em: 17 nov. 2021.
GRECHINSKI, P. Lixo no mar: um problema social. Re-
vista Mosaicos Estudos emGovernança, Sustentabilidade e
Inovação. Curitiba, v. 2, n. 1, p. 30-43, 2020. Disponível em:
https://doi.org/10.37032/remos.v2i1.31. Acesso em: 6 nov.
2021.
IMDC, Fifth International Marine Debris Conference. A es-
tratégia de Honolulu. 2011. Disponível em: https://5imdc.
wordpress.com/about/honolulustrategy. Acesso em: 17 nov.

2021.
JAMBECK, J. R. et al. Plastic waste inputs from land into
the ocean. Science, Marine Pollution (6223), p. 768-771.
2015. Disponível em: https://slacc.org.uk/wp-content/
uploads/2017/12/10.-Jambeck2015.pdf. Acesso em: 17 nov.
2021.
SÃO PAULO. Lei Complementar n. 815, de 30 de julho
de 1996. Cria a Região Metropolitana da Baixada Santista e
autoriza o Poder Executivo a instituir o Conselho de Desen-
volvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista,
a criar entidade autárquica e a constituir o Fundo de De-
senvolvimento Metropolitano da Baixada Santista, e dá pro-
vidências correlatas. Disponível em: https://www.al.sp.gov.
br/repositorio/legislacao/lei.complementar/1996/lei.com-
pleme ntar-815-30.07.1996.html. Acesso em: 5 nov. 2021.
SÃO PAULO. Lei Complementar n.º 853, de 23 de
                

dezembro de 1998. Dispõe sobre a criação da Agência


Metropolitana da Baixada Santista - AGEM e dá outras
providências correlatas. Disponível em: https://www.al.sp.
gov.br/repositorio/legislacao/lei.complementar/1998/
original- lei.complementar-853-23.12.1998.html. Acesso em:
17 nov. 2021.
SÃO PAULO. Decreto n.º 64.063, de 01 de janeiro de 2019.
Organiza a Secretaria de Desenvolvimento Regional e dá
providências correlatas. Disponível em: https://www.al.sp.
gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2019/decreto-64063-
01.01.2019.html. Acesso em: 17 nov. 2021.



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