Livro Se RBCV 2020i

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 610

49186001 capa.

indd 1 15/10/2020 19:14


E BEM-ESTAR
HUMANO
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS

BIOSFERA
NA RESERVA DA

DO CINTURÃO VERDE
DA CIDADE DE SÃO PAULO

São Paulo
2020
© INSTITUTO FLORESTAL
Rua do Horto, 931 - Horto Florestal
02377-000 - São Paulo - SP
Fone: +55 11 2231 8555
www.iflorestal.sp.gov.br [email protected]

Editores Revisão Textual e de Editoração


Elaine Aparecida Rodrigues Adriano Ambrósio Nogueira de Sá
Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor Amanda Rodrigues de Carvalho
Bely Clemente Camacho Pires Áurea Aparecida Kortz Vilas Bôas
Edgar Fernando de Luca Elaine Aparecida Rodrigues
Kaio Amann Vicente da Rocha
Conselho Editorial e Revisão Técnica
Pedro Paulo Carneiro
Antonio Manoel dos Santos Oliveira
Verônica Boarini Sampaio de Rezende
Bely Clemente Camacho Pires
Denise de Campos Bicudo
Edgar Fernando de Luca Projeto Gráfico e Diagramação
Elaine Aparecida Rodrigues Leni Meire Pereira Ribeiro Lima
Leni Meire Pereira Ribeiro Lima Dirceu Caróci
Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor Luisa Sadeck dos Santos
Yara Maria Chagas de Carvalho Carolina Cortasso Soares
Elaine Aparecida Rodrigues
Editora de Arte Regiane Stella Guzzon
Leni Meire Pereira Ribeiro Lima Priscila Weingartner

S446s

São Paulo (Estado). Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, Instituto


Florestal.
Serviços Ecossistêmicos e Bem-Estar Humano na Reserva da Biosfera do Cinturão
verde da Cidade de São Paulo. / Editores: Elaine Aparecida Rodrigues, Rodrigo Antonio
Braga Moraes Victor, Bely Clemente Camacho Pires, Edgar Fernando de Luca. -- São
Paulo : Instituto Florestal, 2020.
608p. : il. color

Vários autores
Disponível em: http://www.iflorestal.sp.gov.br
ISBN: 978-85-64808-21-8

1. Meio Ambiente - recursos naturais - Reserva da Biosfera. 2. Serviços Ecossistê-


micos - Reserva Biosfera Cinturão Verde - São Paulo. 3. Serviços Ecossistêmicos - Diag-
nóstico - Provisão alimentos - Recursos Florestais Madeireiros - Farmacológicos - Cultu-
rais - regulamentação - RBCV. I. Título. II. Instituto Florestal

CDU: 502.211(815.6)

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do Instituto Florestal


Bibliotecária: Penha Inês Cestini Gouveia - CRB 8/9880
JOÃO DÓRIA
Governador do Estado de São Paulo

MARCOS PENIDO
Secretário de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente

LUIS ALBERTO BUCCI


Diretor Geral do Instituto Florestal

RODRIGO LEVKOVICZ
Diretor Executivo da Fundação Florestal

ANITA CORREIA DE SOUZA MARTINS


Presidente do Conselho de Gestão da RBCV

RODRIGO RODRIGUES CASTANHO


Coordenador Executivo da RBCV
APRESENTAÇÃO

Os serviços ecossistêmicos, o território e o ser humano

A organização desta publicação conduzida pelo Instituto Flores-


tal traz à luz um tema fundamental para a atual e, sobretudo,
para as futuras gerações. O conteúdo deste documento é uma impor-
viabilizar programas e projetos para os meios
rural e urbano, com o estabelecimento de uma
gestão em parceria com o setor privado.
tante ferramenta para a tomada de decisões sobre o meio ambiente Em nível estadual, os índices relacionados
nas três esferas do poder público do Brasil e, notadamente, para as ao saneamento básico estão entre os melho-
ações que impactam diretamente o planejamento e o ordenamento res do país, principalmente no que se refere ao
territorial de uma das maiores metrópoles mundiais. abastecimento de água. Mas precisamos melhorar,
A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e sua área envoltó- sobretudo, no tratamento e coleta dos resíduos sólidos
ria foi declarada como Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cida- urbanos. Para isso, criamos o Comitê de Integração de Resí-
de de São Paulo (RBCV) pela UNESCO em 1994. Esse espaço singular duos Sólidos que junto aos municípios paulistas busca soluções
foi estabelecido como avaliação subglobal pela Avaliação Ecossistê- regionais definitivas para uma economia circular com resíduos
mica do Milênio (AEM). Solicitada em 2000 pelo Secretário Geral da mínimos. Ainda que os indicadores estaduais estejam satisfatórios,
ONU, Kofi Annan, a AEM configurou-se em um programa intergover- lembramos que, em nível regional, a Bacia Hidrográfica do Alto Tie-
namental pioneiro para o desenvolvimento de uma síntese sobre os tê apresenta um dos quadros mais alarmantes do Brasil em termos
serviços dos ecossistemas e o conhecimento sobre a biodiversidade. de estresse hídrico – desafio esse abordado na presente publicação
O estabelecimento de uma avaliação ecossistêmica no Cinturão e abraçado pela SIMA.
Verde se deu com o objetivo de destacar a relevância dos benefício da Com esse mesmo compromisso, estamos enfrentando a ques-
Reserva para a macrometrópole paulista, em uma área que abrange tão da despoluição dos rios. Nesse contexto, é fundamental a par-
78 municípios. Seus habitantes, que representam 55% da população ticipação ativa da população. Como exemplo, podemos mencionar
do estado, dependem diretamente desses ecossistemas e de seus ser- o projeto Novo Rio Pinheiros - uma das prioridades desta gestão
viços para o seu bem-estar. do Governo do Estado de São Paulo - que prevê intervenções nas
O Cinturão Verde de São Paulo é responsável principalmente áreas de todas as sub-bacias dos seus grandes afluentes. Cerca de
por fornecer alimento, água e amenização climática para mais de 25 3,3 milhões de pessoas vivem nesta região e serão envolvidas nas
milhões de habitantes que vivem na área abrangida pela RBCV. ações socioambientais para recuperação dos cursos d’água.
O livro Serviços Ecossistêmicos e Bem-Estar Humano na Reser- O Novo Rio Pinheiros atua em conjunto com outros programas
va da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo apresenta da Sabesp, como o Córrego Limpo, iniciado em 2007 em parceria
os resultados dos estudos de uma centena de parceiros, especialis- com a Prefeitura de São Paulo para melhoraria da qualidade da
tas em serviços ecossistêmicos e profissionais de comunicação, que água dos mananciais, rios e córregos da capital. Cento e cinquenta
representam a integração de cerca de 50 instituições, nacionais e e dois córregos já receberam intervenções, o que impacta direta-
internacionais. mente na qualidade dos alimentos produzidos no Cinturão Verde.
Em uma análise abrangente, esta publicação mostra a relação Por meio dos 21 comitês de bacias hidrográficas existentes no
íntima entre o desenvolvimento urbano e os serviços ecossistêmicos. estado, trabalhamos para atender de maneira equânime o aumen-
Seus resultados enfatizam a importância crucial do ambiente para a to da segurança de abastecimento hídrico da nossa população. Já
subsistência e a qualidade de vida dos habitantes da região e como o Projeto Tietê, que também engloba o rio Pinheiros, foi iniciado
a sociedade humana interfere (de forma positiva ou negativa) nas em 1992 com a criação de infraestrutura para coleta, transporte
características do fornecimento de água, qualidade do ar, amenização e tratamento de esgotos. Desde o seu início, a mancha de poluição
do clima, cultura, turismo, controle de erosão de solo, entre outros. do rio Tietê reduziu em 77% (de 530 km para 122 km - números
A edição dessa publicação foi concluída em um contexto histó- auditados pela Fundação SOS Mata Atlântica).
rico no qual o governador João Dória, para promover o crescimen- Todas essas ações mostram que é possível o desenvolvimen-
to do Estado com sustentabilidade, agregou as secretarias de Meio to econômico com sustentabilidade e reverberam diretamente
Ambiente, Saneamento e Recursos Hídricos, e Energia e Mineração no objeto de estudo deste livro e, sobretudo, na qualidade de vida
em uma nova pasta, designada Secretaria de Infraestrutura e Meio de toda a população. A SIMA e o Governo do Estado de São Paulo,
Ambiente (SIMA), que concentra os pilares do desenvolvimento sus- entendem que esses velhos desafios de ordem ambiental se tornam
tentável para o Estado. ainda mais prementes em um mundo em transformação, duramen-
De caráter multidisciplinar, a pasta é composta pela Compa- te afetado pela crise do novo coronavírus.
nhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Departamento de O que buscamos é um ecossistema em equilíbrio e pensar
Águas e Energia Elétrica (DAEE), Companhia de Saneamento Bási- na qualidade de vida das pessoas é nossa atribuição. O estado de
co do Estado de São Paulo (Sabesp), Fundação Florestal, Fundação São Paulo e o Brasil precisam se reinventar e construir oportuni-
Zoológico de São Paulo, Instituto de Botânica, Instituto Florestal e dades onde o desenvolvimento com equidade, responsabilidade,
Instituto Geológico que, juntos, têm o objetivo de garantir a geração transparência e sustentabilidade será o caminho seguro para um
de emprego com sustentabilidade ambiental, social e econômica no futuro melhor.
território paulista.
A SIMA tem como foco aprimorar o desenvolvimento sus- Marcos Penido
tentável no Estado, aliando estratégias de políticas públicas para Secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente
APRESENTAÇÃO

A RBCV, seus serviços ecossistêmicos e os Objetivos


de Desenvolvimento Sustentável em um mundo pós-pandemia

O processo de criação da Reserva da Biosfera do Cinturão


Verde da Cidade de São Paulo (RBCV) emanou de um
grande movimento popular na década de 1980, que reuniu
frente às consequências de uma crise de múltiplas
dimensões.
Ao mesmo tempo em que se multiplicam
150 mil assinaturas em resistência à Via Perimetral Metro- os impactos causados pelo COVID-19 no mundo,
politana Urbana (versão anterior do atual Rodoanel) que, a implementação da agenda do desenvolvimento
simultaneamente, solicitava a declaração do cinturão verde sustentável se torna mais urgente - erradicação da
como reserva da biosfera. Em 1994, a UNESCO declarou a pobreza, acesso a serviços de água e saneamento, redu-
RBCV como parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata ção de riscos, controle de mudanças climáticas, proteção
Atlântica e, em 2017, reconheceu sua individualização no dos ecossistemas e da biodiversidade. Em um mundo de
âmbito da Rede Mundial de Reservas da Biosfera. O Instituto incertezas e transformação o reconhecimento da inter-
Florestal (IF) foi responsável pela elaboração da documen- dependência entre o ser humano e o ambiente torna-se
tação técnica-científica que subsidiou a declaração da RBCV, crucial para evitar-se que alterações ambientais de ori-
permanecendo, desde seu reconhecimento, com a missão de gem antrópica provoquem graves problemas planetários
exercer sua coordenação executiva. de saúde humana e ambiental. Da mesma forma, este reco-
A área abrangida pela RBCV equivale a 0,22% do ter- nhecimento será fundamental para que sejam superados os
ritório brasileiro e 7,5% do território paulista. Nesse espaço, inúmeros desafios do pós-COVID-19, expressos em emer-
os serviços proporcionados pelos ecossistemas contribuem gência de saúde, emergência humanitária e emergência de
para o bem-estar de 12,1% da população brasileira (55,3% da desenvolvimento - todas essas ameaças evidenciam a desi-
população paulista) e para a sustentação de uma economia gualdade no bojo de nossas sociedades. O momento exige
correspondente a 18,8% do PIB brasileiro (61,2% do PIB pau- uma reflexão urgente sobre quem somos e sobre como nos
lista). A utilização do enfoque ecossistêmico na RBCV, a par- relacionamos com o outro e com a natureza. Desse repen-
tir do conceito de reserva da biosfera urbana e periurbana, sar, podemos estruturar novas formas de economia, que
representa um instrumental de expressiva importância para sejam solidárias e que sejam sustentáveis. Será necessário
a tomada de decisão neste espaço constituído por ecossis- um novo olhar para o local, enquanto espaço para a pro-
temas de significativa relevância em escala local, regional e moção do ecomercado de trabalho, do turismo sustentável,
global. Os estudos apresentados neste livro reforçam a neces- reconhecendo-o como território de pertencimento, de con-
sidade da adoção da RBCV como plataforma para gestão terri- templação, de saúde física e espiritual, de solidariedade e
torial, com a finalidade de se construir governança ambiental interdependência. É no local que encontraremos a base para
e, notadamente, robustecer a segurança hídrica da Região recomeçar. Esta publicação vem, oportunamente, trazer
Metropolitana de São Paulo (RMSP) e Região Metropolitana luz para o local, para os serviços prestados pelos ecossiste-
da Baixada Santista (RMBS). mas da RBCV. Seu reconhecimento, nas diversas instâncias
Ao iniciarmos a década de 2020, é de se destacar a rele- de governo, é fundamental para estruturarmos políticas
vância destes estudos para a proposição de políticas públi- públicas capazes de olhar para cada cidadão como um ser
cas na macrometrópole paulista e para o cumprimento da humano integral, que depende fortemente dos ecossistemas
Agenda 2030 e dos seus Objetivos de Desenvolvimento Sus- para viver e desenvolver suas potencialidades. Precisamos
tentável, da Organização das Nações Unidas. À medida que de uma resposta ambiental sólida para proteger as pessoas.
interferimos e degradamos o ambiente colocamos em risco o
bem-estar de toda a humanidade, situação essa evidenciada
tanto pelo dado de que 75% das doenças infecciosas emergen-
tes são causadas por vírus transmitidos dos animais para as Luis Alberto Bucci
pessoas, quanto pela fragilidade das opções de resposta Diretor Geral do Instituto Florestal
APRESENTAÇÃO

Unidades de Conservação – Territórios de Serviços Ecossistêmicos

I nformações cientificamente consistentes


são fundamentais para que a gestão de um
determinado território seja feita de forma qua-
criação e gestão desses territórios, hoje, mais do que nun-
ca, é fundamental informar o papel dessas áreas enquanto
provedoras e purificadoras dos recursos hídricos, regula-
lificada, conciliando suas funções de desenvol- doras do clima, mitigadoras de enchentes, fornecedoras de
vimento socioeconômico com as de conservação alimentos e fibras, e garantidoras dos espaços que possibi-
ambiental. Criadas em 1976 no âmbito do programa litam o turismo, lazer, fruição espiritual e demais valores
“O Homem e a Biosfera” da UNESCO, as reservas da bio- culturais fundamentais à memória da sociedade.
sfera vêm contribuindo enormemente com soluções impor- O livro Serviços Ecossistêmicos e Bem-Estar Humano
tantes para a gestão integrada de vastas áreas do planeta, na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São
dos trópicos ao ártico, passando por desertos, montanhas Paulo vem apresentar de forma clara e inovadora informa-
e áreas urbanas, assegurando que ecossistemas globais ções que ajudam a compreender os aspectos sistêmicos das
representativos estejam em condições de prover aos seus regiões metropolitanas de São Paulo e da Baixada Santista
habitantes as condições básicas para o bem-estar humano. com seu cinturão envoltório, e porque da gestão racional
A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade dessas áreas dependem uma série de fatores ligados à vida
de São Paulo (RBCV), parte integrante da Reserva da Biosfe- cotidiana das pessoas. Enquanto instituição gestora de uni-
ra da Mata Atlântica, é um caso bastante particular de uma dades de conservação, a Fundação Florestal entende que a
megacidade mundial envolvida por áreas bastante preser- metodologia apresentada por este livro valoriza sobrema-
vadas, que conservam expressiva biodiversidade ao mesmo neira os espaços especialmente protegidos e introduz parâ-
tempo que fornecem serviços ecossistêmicos absolutamen- metros bastante úteis para que os planejamentos em âmbito
te relevantes para a qualidade de vida de 25 milhões de metropolitano acolham essas áreas da forma mais orgânica
habitantes e fundamentais para a saúde econômica de uma possível, numa perspectiva de que a sustentabilidade das
região que produz quase 20% do PIB do Brasil. cidades do futuro só será atingida à medida que preservem
Cinquenta por cento da área terrestre e 73% da área suas áreas verdes e os ecossistemas que as nutrem.
marinha da RBCV são compostas por 100 unidades de con- Dados recentes da ONG Conservação Internacional
servação (UC) de 9 categorias do Sistema Nacional de Uni- revelam que as cidades estão cada vez mais se aproximan-
dades de Conservação. Vinte e nove delas são administra- do das unidades de conservação do mundo, sujeitando-as
das pela Fundação Florestal, que correspondem, em área, crescentemente aos impactos da urbanização. Tal fenômeno
à maioria dessas áreas protegidas. São unidades emblemá- é facilmente observado no Brasil e no estado de São Paulo.
ticas como o Parque Estadual Serra do Mar, maior parque Num futuro não muito distante, significativa proporção de
de mata atlântica do Brasil, de cuja extensão 57% estão nossas unidades de conservação estarão em contexto urba-
na RBCV, o Parque Estadual da Cantareira, a APA Marinha no e periurbano. Se por um lado essas áreas protegidas esta-
Litoral Centro e a APA Sistema Cantareira. Não por acaso, rão mais próximas e acessíveis às pessoas, por outro tere-
as UC são as maiores fornecedoras dos serviços ecossistê- mos que estar preparados para desafios adicionais de sua
micos da reserva da biosfera, com destaque aos serviços de gestão. Nesse sentido, a ferramenta de avaliação ecossistê-
suporte, responsáveis pelos processos que mantêm a biodi- mica apresentada por esta publicação tem forte potencial de
versidade, e à água que abastece esse enorme contingente assegurar que os benefícios das UC sejam compreendidos
populacional. pelo cidadão comum e forjar uma relação de respeito entre a
A abordagem ecossistêmica tem sido crescentemente população urbana e as áreas que asseguram seu bem-estar.
utilizada como ferramenta complementar para a gestão de
unidades de conservação do Brasil e do mundo. Ainda que Rodrigo Levkovicz
a conservação da biodiversidade seja o carro-chefe para a Diretor Executivo da Fundação Florestal
APRESENTAÇÃO

Reserva da biosfera em ambientes urbanos:


desafios e perspectivas para o Cinturão Verde

T emos a grata satisfação de apresentar o livro Serviços


Ecossistêmicos e Bem-Estar Humano na Reserva da Bios-
fera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, obra de refe-
produtos e subprodutos florestais; desequilíbrio do
clima; desastres geohidrológicos (desmoronamen-
tos, erosões, inundações); poluição do ar; diminui-
rência para a nossa Região. ção da capacidade de sequestro de carbono e gases
O presente livro traz um diagnóstico consistente e uma de efeito estufa; perdas de patrimônio genético, cien-
abordagem bastante ampla sobre os serviços ecossistêmi- tífico e cultural; entre muitos outros.
cos fornecidos pelo Cinturão Verde de São Paulo, essenciais Portanto, esta publicação, composta por importantes
à saúde e qualidade de vida de uma população superior a 25 e consistentes dados científicos, diagnósticos e indicado-
milhões de pessoas, distribuídas em um território abrangido res, gera grande otimismo e entusiasmo para os defen-
por 78 municípios, incluindo integralmente a região Metro- sores do Cinturão Verde de São Paulo, à medida em
politana de São Paulo (a 4ª maior do planeta) e quase inte- que constitui uma valiosíssima ferramenta para
gralmente a da Baixada Santista. tomadas de decisão e elaboração de políticas públi-
O território de análise deste estudo configura-se como a cas, voltadas à conservação da biodiversidade, ao
mais mais importante região econômica do país e da Améri- desenvolvimento sustentável e ao conhecimento
ca Latina, com equivalente riqueza ambiental: a RBCV abriga científico e tradicional. Esses são pilares funda-
valiosíssimos remanescentes da biodiversidade e recursos mentais para o equilíbrio entre o ser humano e o
naturais, principalmente do bioma Mata Atlântica. O Cintu- meio ambiente, definidos também como diretrizes do
rão Verde é responsável pelo fornecimento de serviços ecos- Programa Homem e a Biosfera – MAB da UNESCO que, em
sistêmicos de suporte, provisão, regulação e culturais que 1994, declarou o Cinturão Verde de São Paulo como reserva
garantem os elementos necessários ao bem-estar e à qualida- da biosfera, integrante da Rede Mundial, composta por 714
de de vida de seu grande contingente populacional. reservas da biosfera em 129 países, incluindo 21 sítios trans-
Infelizmente o Cinturão Verde de São Paulo vem assis- fronteiriços, em 2020.
tindo sistematicamente à degradação de sua biodiversidade
e de seus recursos naturais, provocados principalmente pela Anita Correia de Souza Martins
expansão urbana desordenada e atividades humanas explo- Presidente do Conselho de Gestão da
ratórias, praticadas de forma insustentável. Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo
Esses processos trazem como resultados a diminuição
quantitativa e qualitativa da capacidade de suporte, provisão
e regulação desses ecossistemas, gerando gravíssimos pro- Rodrigo Rodrigues Castanho
blemas como: perda de biodiversidade; escassez hídrica; com- Coordenador Executivo da Reserva da
prometimento da produção de alimentos e do fornecimento de Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo
PREFÁCIO / PREFACE

A humanidade depende dos serviços ecossis-


têmicos para o alimento que come, o ar que
respira, a água que bebe, e para o atendimento a
A ll of humanity relies on ecosystem services for the
food we eat, the air we breathe, the water we drink,
and for meeting many other needs including, flood control,
outras necessidades como o controle de enchen- the provision of medicines, the control of local and regional
tes, o fornecimento de remédios, o controle do weather and climate, and spiritual fulfilment. But in recent
clima local e regional e a realização espiritual. decades we have been transforming the global and local
Mas nas últimas décadas temos transformado ecosystems that provide these services at a pace exceeding any
os ecossistemas globais e locais que fornecem in human history.
esses serviços num ritmo sem precedentes na his- Many of the changes we make in ecosystems are done
tória humana. intentionally in order to increase the production of specific
Muitas das alterações que fazemos nos ecossistemas services, for example clearing forests in order to provide
têm a finalidade de aumentar a produção de serviços específi- more land for livestock or agricultural production. But
cos, como no caso do desmatamento para a abertura de novas it is rare that we take full account of how those ecosystem
áreas para a pecuária ou a produção agrícola. Mas raramente changes may affect other services that we rely on. The
levamos em consideração como as alterações dos ecossistemas clearing of a forest, for example, may increase food
podem afetar outros serviços dos quais dependemos. O desma- production but only while also reducing regional rainfall,
tamento pode, por exemplo, incrementar a produção de alimen- increasing local temperatures, and increasing the rate of
tos ao passo que reduz a precipitação regional, aumenta tempe- global climate change.
raturas locais e a taxa das mudanças climáticas globais. Recognizing that the transformation of ecosystems
Ao reconhecer que a transformação dos ecossistemas do across the planet was having profound, and largely under-
planeta estava tendo impactos profundos e subdimensionados appreciated, impacts on human well-being, the Secretary
no bem-estar humano, o secretário-geral das Nações Unidas General of the United Nations and three international
e três convenções internacionais (sobre Diversidade Biológi- conventions (the conventions on biodiversity, desertification,
ca, Combate à Desertificação e Zonas Úmidas de Importância and wetlands of international importance) called for an
Internacional) solicitaram uma avaliação científica interna- international scientific assessment to examine: a) the
cional com o objetivo de examinar: a) as consequências das consequences of ecosystem change for human well-being and,
alterações dos ecossistemas sobre o bem-estar humano e b) b) the scientific basis for actions to enhance the conservation
as bases científicas para as ações voltadas ao incremento da and sustainable use of ecosystems and their contributions to
conservação e uso sustentável dos ecossistemas e suas contri- human well-being.
buições ao bem-estar humano. That pioneering assessment, the Millennium Ecosystem
Essa avaliação pioneira, a Avaliação Ecossistêmica do Assessment (MEA), was launched in 2001 and its findings
Milênio (AEM), foi lançada em 2001 e seus resultados foram were published in 2005. More than 2000 experts contributed
publicados em 2005. Mais de 2000 especialistas contribuíram to the assessment as authors and reviewers. At that
na avaliação como autores ou revisores. Àquela época, se por time, while scientific understanding of the functioning of
um lado o conhecimento científico sobre o funcionamento ecosystems was well advanced, the scientific basis for fully
dos ecossistemas já estava bem avançado, por outro, as bases understanding how changes to ecosystems would affect
científicas para o pleno entendimento de como as alterações people was in its infancy. By synthesizing and assessing
nos ecossistemas afetavam as pessoas estavam em seus pri- the available scientific information and indigenous
mórdios. Ao sintetizar e avaliar as informações científicas knowledge, the MEA helped to directly inform decisions,
e o conhecimento tradicional disponíveis, a AEM colaborou and it also helped to validate and define a new focus for
diretamente na tomada de decisões e adicionalmente ajudou interdisciplinary research. The MEA proved so valuable
a validar e definir um novo foco para a pesquisa interdisci- to decision-makers that governments institutionalized a
plinar. A AEM se provou tão valiosa aos tomadores de decisão regular assessment process modeled on the MEA known
que governos instituíram um processo periódico de avaliação, as the Intergovernmental Panel for Biodiversity and
baseado na AEM, conhecido como Plataforma Intergoverna- Ecosystem Services (IPBES).
mental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). One of the pioneering aspects of the MEA was that
Um dos aspectos pioneiros da AEM foi ter sido a pri- it was the first “multi-scale” scientific assessment ever
meira avaliação científica "multiescalar" até então realiza- carried out, with interlinked assessments undertaken at
da, com avaliações interconectadas realizadas nas escalas local, watershed, national, regional and global scales. A
locais, de bacias hidrográficas, nacionais, subcontinentais multi-scale assessment is essential both because of how
e global. Uma avaliação multiescalar é essencial tanto pela people make decisions affecting ecosystems and because of
forma como as pessoas tomam decisões que afetam os ecos- how ecosystems affect people. A strictly global assessment
sistemas quanto pela forma como os ecossistemas afetam cannot easily meet the needs of all decision-makers at
as pessoas. Uma avaliação estritamente global não é capaz national, sub-national or city scales. And, any change in an
de atender às demandas de todos os tomadores de deci- ecosystem can have very different types of impacts at global
são nas escalas nacionais, subnacionais ou de suas cidades. versus local scales.
E qualquer mudança em um ecossistema pode ter diferentes Forest loss, for example, has a global impact on climate
tipos de impactos em escalas global e locais. through the release of greenhouse gases, but a local impact
A perda de cobertura florestal, por exemplo, gera impac- on weather through its impact on local temperatures and
tos no clima tanto globais pela emissão de gases de efei- rainfall patterns.
to estufa, quanto locais pelos impactos na temperatura e The São Paulo Green Belt was one of the eighteen
precipitação. subglobal assessments that was carried out as part of the
O Cinturão Verde de São Paulo foi uma das dezoito avalia- MEA. Each of the MEA subglobal assessments used the
ções subglobais conduzidas no âmbito da AEM. Cada uma das same conceptual framework as the overall MEA, sought to
avaliações subglobais usou o mesmo marco conceitual da AEM, involve the intended users of the assessment as stakeholders
buscou envolver os usuários pretendidos da avaliação, como and partners, and met high standards for peer review
suas partes interessadas e parceiros, e atendeu a padrões de and accuracy. Since the completion of the MEA in 2005,
excelência em revisão por pares e acurácia. Desde a finalização dozens of additional subglobal assessments were launched
da AEM em 2005, dezenas de avaliações subglobais adicionais around the world, and several of the original subglobal
foram deflagradas ao redor do planeta, e várias das avaliações assessments, including the São Paulo Green Belt Assessment,
subglobais originais, incluindo a Avaliação do Cinturão Verde have proceeded to carry out much more comprehensive and
de São Paulo, avançaram no sentido de desenvolver estudos authoritative studies.
mais abrangentes e com maior credibilidade. The book Ecosystem Services and Human Well-being in
O livro Serviços Ecossistêmicos e Bem-Estar Humano na the São Paulo City Green Belt Biosphere Reserve is the result of
Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Pau- this far more comprehensive analysis. Perhaps nowhere on
lo é o resultado dessa análise bem mais abrangente. Talvez earth is the tight interlinkage between urban development
em nenhum outro lugar do planeta a íntima relação entre o and ecosystem services clearer than in the case of São Paulo.
desenvolvimento urbano e os serviços ecossistêmicos seja Urban and peri-urban ecosystem services associated with
tão cristalina quanto no caso de São Paulo. Serviços ecossis­ São Paulo and the São Paulo Greenbelt Biosphere Reserve
têmicos urbanos e periurbanos associados a São Paulo e à have a profound influence on livelihoods and the quality
Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo of life in the region by affecting the quality and supply of
exercem profunda influência na subsistência e na qualidade water, air quality, local climate and air temperature, cultural
de vida da região ao interferir na qualidade e no fornecimen- services, tourism, soil erosion, landslides, and access to
to de água, qualidade do ar, clima e temperatura do ar locais, food, timber and non-timber forest products. Without sound
serviços culturais, turismo, erosão do solo, escorregamentos, scientific information on these services, how they change as
e acesso a alimentos, produtos florestais madeireiros e não the ecosystems change, and what the impact of those changes
madeireiros. Sem informações científicas consistentes sobre will be on human well-being, it is impossible for either the
esses serviços, a forma como se alteram com as modificações public or decision-makers to make sound choices about the
nos ecossistemas, e os impactos que essas mudanças terão future of the region.
no bem-estar humano, é impossível tanto para o público em This book provides the authoritative basis for decision-
geral quanto para os tomadores de decisão fazer escolhas making that is needed. The São Paulo City Green Belt
qualificadas sobre o futuro de sua região. Biosphere Reserve is an extraordinary asset that, if properly
Este livro fornece a base confiável que é necessária para managed, can enhance the livelihoods of the people in all the
a tomada de decisão. A Reserva da Biosfera do Cinturão Ver- cities and towns in the region, while contributing to Brazil’s
de da Cidade de São Paulo é um ativo extraordinário que, se national sustainable development goals. There are few major
adequadamente gerido, pode incrementar as bases de susten- metropolitan areas that have had the foresight to establish
tação das pessoas de todas as cidades e distritos da região, ao such a sophisticated arrangement of urban, peri-urban,
mesmo tempo em que contribui para os objetivos de desen- working lands and conservation areas as has occurred in
volvimento sustentável do Brasil. Poucas áreas metropolita- the São Paulo region. The information and guidance in this
nas de maior expressão tiveram a antevisão de estabelecer book now provides the basis for the sound land and resource
um arranjo tão sofisticado de áreas urbanas, periurbanas, management decisions that are needed to fully benefit from
produtivas e de conservação como ocorreu na região de São this unique situation.
Paulo. As informações e orientações deste livro propiciam
agora uma plataforma para decisão qualificada sobre gestão
de terras e de recursos necessária para lograr-se o máximo
proveito possível deste contexto tão particular.

Walter V. Reid Walter V. Reid


Diretor do Programa de Conservação e Ciência Conservation and Science Program Director
da Fundação David e Lucile Packard, David and Lucile Packard Foundation
343 Second Street, Los Altos, California, U.S.A. 343 Second Street, Los Altos, California, U.S.A.
Ex-Diretor de Avaliação Ecossistêmica do Milênio Former Director, Millennium Ecosystem Assessment
SUMÁRIO

UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO......................... 1

PARTE 1
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS DE PROVISÃO
1.1 O Produtor e o Serviço Ecossistêmico de Provisão
de Alimentos........................................................................... 35
1.2 Recursos Florestais Madeireiros e Derivados........................ 103
1.3
Produtos Bioquímicos, Medicamentos Naturais e Produtos
Farmacêuticos: o Potencial Farmacológico de Espécies
encontradas na RBCV............................................................ 129
1.4
Provisão, Regulação da Água e Bem-Estar Humano.............. 175

PARTE 2
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS DE REGULAÇÃO
2.1 Processos Geohidrológicos de Erosão, Escorregamentos,
Assoreamentos e Inundações............................................... 239
2.2 Qualidade do Ar..................................................................... 275
2.3 Fixação de Carbono em Superfície e Redução
de Gases de Efeito Estufa na Atmosfera............................... 317
2.4 Regulação Climática.............................................................. 367

PARTE 3
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS CULTURAIS
3.1 Serviços Culturais Folclorísticos: a dimensão do
Folclore Caipira..................................................................... 413
3.2 Lazer e Turismo: uma reflexão sobre o Ecoturismo, Turismo
Rural e Turismo de Aventura.................................................. 445

PARTE 4
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS DE SUPORTE
4.1 A Biodiversidade como Serviço Ecossistêmico de Suporte.... 505

PARTE 5
FERRAMENTAS DE APOIO À TOMADA DE DECISÃO
5.1 Valoração Econômico-Ecológica de Ecossistemas e seus
Serviços................................................................................. 541

MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS


ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE............................... 571
UM CINTURÃO DE VIDA
AO REDOR DE SÃO PAULO

Coordenadores
Elaine Aparecida Rodrigues | IF/SIMA - IPEN/USP
Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor | FF/SIMA

Autores
Elaine Aparecida Rodrigues | IF/SIMA - IPEN/USP
Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor | FF/SIMA
São Paulo
Autora contribuinte:
2019
Angelica Maria Fernandes Barradas | FF/SIMA
2 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto da abertura do capítulo: “A Reserva da Biosfera do Cinturão


Imagem de satélite
do território da RBCV.
Verde da Cidade de São Paulo
Fonte: Rodrigues; Victor (2014).
é a seiva que alimenta
a grande cidade do Planeta;
os elos desse Cinturão guardam
os tesouros da Mata Atlântica:

- a Cantareira, a Serra dos Cântaros,


manancial dos tempos do Império e de hoje;
- Jaraguá, o senhor do Vale encantado,
que escondia o outro em suas entranhas;
- Morro Grande, Caucaia,
o fogaréu na mata tingindo de sangue
o céu de outono;
- Guarapiranga, a garça vermelha
que retorna a cada primavera;
- Jurupará, meio macaco, meio demônio,
pesadelo dos caçadores;
- Paranapiacaba, mirador do oceano
na crista da Serra do Mar;
- Itapeti, a serra do lajeado branco;
- Nascentes do Tietê, rio profundo,
que corre ao contrário,
que teima em buscar o sertão,
que espelha a alma dos filhos desta Terra
que, inconformados, teimam em forjar
o próprio destino.”

Mauro Victor, 1993


UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 3

SUMÁRIO

1 | Da criação da RBCV à sua individualização na Rede Mundial de Reservas


da Biosfera...................................................................................................... 6

2 | Serviços ecossistêmicos................................................................................. 18

2.1 | Serviços ecossistêmicos e interações com o bem-estar humano.......... 18

2.2 | Cidades, biodiversidade e serviços ecossistêmicos............................... 22

3 | Do global ao local – serviços ecossistêmicos e bem-estar humano


na RBCV.......................................................................................................... 25

4 | Os ecossistemas do cinturão verde, seus serviços, vetores de alteração e


relação com o bem-estar humano.................................................................. 27

Referências............................................................................................................ 32
4 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 Rede Brasileira de Reservas da Biosfera.
Figura 2 Manifesto em defesa da Cantareira, década de 1980.
Figura 3 Entrega de abaixo-assinado, com cerca de 150 mil assinaturas, a Tânia Munhoz,
presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), para a declaração do Cinturão Verde como Reserva da Biosfera, em 1989.
Figura 4 Diploma da UNESCO de declaração da RBCV (1994).
Figura 5 Casa das Reservas da Biosfera, localizada no Parque Estadual Alberto Löfgren, que
abriga a Coordenação Executiva da RBCV, a Presidência da RBMA e suas equipes
técnicas.
Figura 6 Estudantes do PJ-MAIS, em atividades na Semana de Meio Ambiente (2006) (A) (B); NEE
São Bernardo do Campo (2005) (C); Caieiras (2006) (D); Cotia/Morro Grande (2006) (E) (F);
Cubatão, (2015) (G); Atividade PROMAFS (2006) (H); e no Caminhos do Mar (PESM) (I)".
Figura 7 Representação esquemática do zoneamento da RBCV em dois momentos: criação (1994)
e 2ª revisão do zoneamento (2019).
Figura 8 Imagem de satélite do território da RBCV, representação esquemática de sua localização
na América do Sul, da localização da RMSP e da cidade de São Paulo.
Figura 9 Diploma da UNESCO que reconheceu a individualização da RBCV, em 2017.
Figura 10 Unidades de conservação no território da RBCV, em 2020.
Figura 11 M arco conceitual da Avaliação Ecossistêmica do Milênio (A) e da Plataforma
Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (B).
Figura 12 Tendência de expansão urbana em áreas da RBCV em 2030 e potenciais conflitos para
a biodiversidade.
Figura 13 As avaliações subglobais no âmbito da Avaliação Ecossistêmica do Milênio.
Figura 14 I nclusão da ASG-RBCV como avaliação ecossistêmica aprovada junto à rede de avaliações
subglobais da AEM.
Figura 15 Capacidade de fornecimento de serviços ecossistêmicos na RBCV.

TABELAS
Tabela 1 Reservas da Biosfera no Brasil.
Tabela 2 Serviços ecossistêmicos identificados na proposta de criação da RBCV.
Tabela 3 Critérios de zoneamento da RBCV.
Tabela 4 Ficha técnica da RBCV.
Tabela 5 Estado geral dos serviços de provisão, regulação e culturais considerados na Avaliação
Ecossistêmica do Milênio.
Tabela 6 Tendências mundiais da capacidade da natureza para manter suas contribuições para
uma boa qualidade de vida, desde 1970 ao presente.
Tabela 7 Classificação de importantes serviços ecossistêmicos em áreas urbanas e seus
principais componentes e funções ecológicas.
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 5

SIGLAS
AEM Avaliação Ecossistêmica do Milênio | Millennium Ecosystem Assessment (MEA)
AHPCE Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica
AMAR Associação de Moradores e Amigos da RBCV
APA Área de Proteção Ambiental (categoria de UC do SNUC)
ASG-RBCV Avaliação Suglobal da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
CO2 Dióxido de carbono
COBRAMAB Comissão Brasileira para o Programa “O Homem e a Biosfera”
DF Distrito Federal
FE Floresta Estadual (categoria de UC do SNUC)
FF Fundação Florestal
ha Hectares
IF Instituto Florestal
IPBES Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem | Plataforma
Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos
IPEN Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
MAB Man And Bioshere | Programa O Homem e a Biosfera
NCP Nature's Contributions to People | contribuições da natureza para as pessoas
NEE Núcleo de Educação Ecoprofissional
ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
PDUI Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado
PE Parque Estadual (categoria de UC do SNUC)
PJ-MAIS Programa de Jovens – Meio Ambiente e Integração Social
PNM Parque Natural Municipal (categoria de UC do SNUC)
RB Reserva da Biosfera
RBAC Reserva da Biosfera da Amazônia Central
RBC Reserva da Biosfera do Cerrado
RBCA Reserva da Biosfera da Caatinga
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
RBMA Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
RBP Reserva da Biosfera do Pantanal
RBSE Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço
RM Região Metropolitana
RMBS Região Metropolitana da Baixada Santista
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
SCOPE Scientific Committee on Problems of the Environment | Comitê Científico sobre Problemas
do Meio Ambiente
SIMA Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
UNESCO United Nations Education, Scientific and Cultural Organization | Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
USP Universidade de São Paulo
6 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | DA CRIAÇÃO DA RBCV
À SUA INDIVIDUALIZAÇÃO NA
Para ultrapassar os conceitos tradicionais
de conservação, as reservas se apoiam em um

REDE MUNDIAL DE RESERVAS


esquema de zoneamento que integra as áreas

DA BIOSFERA
prioritárias para conservação com outras que
propõem usos diferenciados, com diferentes
graus de intervenção humana em que o desen-
volvimento sustentável é priorizado e promovi-

A
s reservas da biosfera (RB), criadas no âm- do com sistemas de governança em geral inova-
bito do Programa o Homem e a Biosfera (Man dores e participativos.
And Biosphere – MAB), da Organização das Na- Essas três zonas inter-relacionadas objeti-
ções Unidas para a Educação, Ciência e Cultura vam o atingimento das três funções complemen-
(UNESCO), representam mais do que uma figu- tares das reservas, que se reforçam mutuamen-
ra preservacionista tradicional, uma vez que te (UNESCO, 2020). O zoneamento das reservas
se baseiam em conceitos que apontam explici- da biosfera contempla:
tamente para a conciliação entre conservação ¢ zona núcleo: compreende ecossistemas
ambiental e desenvolvimento socioeconômico, mais íntegros, protegidos em regimes
em convergência com os pressupostos contem- mais restritivos de conservação e que
porâneos de sustentabilidade (RODRIGUES et al., melhor contribuem com a preservação
2006). As reservas da biosfera visam a cumprir das paisagens, ecossistemas, espécies e
três funções interconectadas: i) conservação variabilidade genética;
da biodiversidade e da diversidade cultural; ii) ¢ zona de amortecimento (e conectivida-
desenvolvimento econômico que seja ambiental, de): envolve ou une as zonas núcleo e é uti-
social e culturalmente sustentável (com espe- lizada para atividades compatíveis com
cial preocupação com o bem-estar humano); e boas práticas ecológicas, que incluem a
iii) apoio logístico (educação, treinamento, pes- pesquisa científica, treinamento e educa-
quisa e monitoramento como base para o desen- ção; buscam assegurar a conectividade
volvimento) (UNESCO, 2020; MMA, 2016). na paisagem para além da amortização
O Programa MAB teve início em 1971 e dos impactos da ação antrópica sobre as
tem como elemento essencial as reservas da zonas núcleo. Essas zonas também pos-
biosfera, definidas como “lugares de apren- suem, per se, importante função de con-
dizado para o desenvolvimento sustentável” servação da biodiversidade;
(UNESCO, 2020). Criadas em 1976, são carac- ¢ zona de transição (e cooperação): é a
terizadas como sítios destinados a explorar e área da reserva onde se dá a maioria
demonstrar abordagens da conservação e do das atividades humanas, como agricul-
desenvolvimento sustentável em escala regio- tura e pequenos núcleos urbanos; pro-
nal, sob a jurisdição soberana de cada país, que move o desenvolvimento econômico e
compartilham suas ideias e experiências no humano que seja sociocultural e ecolo-
âmbito da Rede Mundial de Reservas da Bios- gicamente sustentável.
fera (UNESCO, 2020; JAEGER, 2005). Essa rede
está constituída por 714 reservas, distribuídas As reservas da biosfera ainda se carac-
em 129 países: 86 reservas da biosfera em 31 terizam por apresentar foco em abordagem de
países da África; 33 reservas da biosfera em múltiplas partes interessadas, com particular
12 países nos Estados Árabes; 161 reservas da envolvimento das comunidades locais na ges-
biosfera em 24 países da Ásia e Pacífico; 303 tão; fomento ao diálogo para resolução de con-
reservas da biosfera em 40 países da Europa e flitos no uso dos recursos naturais; integração
América do Norte; e 131 reservas da biosfera da diversidade cultural e biológica, com especial
em 22 países da América Latina e do Caribe. Os atenção ao papel do conhecimento tradicional
países com maior número de reservas da bios- na gestão dos ecossistemas; demonstração de
fera em seus territórios são: Espanha (52); Rús- boas práticas e políticas adequadas de desen-
sia (47); México (42); China (34); Estados Uni- volvimento sustentável (definidas com base
dos (28); Itália (19); Alemanha (16); Argentina em pesquisa e monitoramento); atuação como
(15) (UNESCO, 2020). locais de excelência em educação e treinamento;
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 7

e participação na Rede Mundial de Reservas da dos recursos naturais, adotado internacional-


Biosfera (UNESCO, 2020). mente, com objetivos básicos de preservar a bio-
Ainda que o Brasil tenha criado a Comis- diversidade, desenvolver atividades de pesquisa,
são Brasileira do Programa sobre o Homem e a monitoramento ambiental, educação ambiental,
Biosfera em 1974, posteriormente designada desenvolvimento sustentável e melhoria da qua-
como Comissão Brasileira para o Programa lidade de vida de suas populações (BRASIL, 2000:
“O Homem e a Biosfera” (COBRAMAB), com o Art. 41; Brasil, 2002). Posteriormente, o estado de
objetivo de planejar, coordenar e supervisionar São Paulo inovou ao tratar as reservas da bios­
as atividades do MAB no país (BRASIL, 1974; fera como áreas protegidas (SÃO PAULO, 2014),
1999), somente na década de 1990 o país ini- o que trouxe um olhar diferenciado para as duas
ciou a implementação de reservas da biosfera reservas que abriga em seu território.
em seu território. O ingresso tardio do Brasil O MAB é reconhecido como o primeiro
na Rede Mundial de Reservas da Biosfera, em esforço internacional para considerar as cida-
grande parte devido ao entendimento, duran- des como sistemas ecológicos (CELECIA, 2006)
te o regime militar, de que isso pudesse repre- e estabelecê-las como referência para a gestão
sentar riscos à soberania nacional, teve como das reservas da biosfera em contextos urbanos,
aspecto positivo o alargamento do escopo de de modo a agregar benefícios tangíveis para
aplicação do conceito de reservas da biosfe- essas áreas (UNESCO, 2006). Nesse mesmo con-
ra em um país: o Brasil optou por estabelecer texto, as cidades são consideradas como uma
as reservas como instrumentos de gestão na nova classe de ecossistemas moldados pelas
escala dos grandes biomas/regiões biogeográ- interações dinâmicas entre sistemas ecológicos
ficas nacionais e, no caso da RBCV, como marco e sociais, que exigem respostas apropriadas de
de gestão integrada de uma grande metrópole governança (SECRETARIAT, 2012).
planetária com seus ecossistemas envoltórios Este olhar diferenciado é tão necessário
(ainda que a mancha urbana em si esteja fora quanto urgente pela constatação de que as cida-
do território da reserva) (Tabela 1 e Figura 1). des são um dos principais fenômenos sociais da
Em 2000, as reservas da biosfera foram humanidade. Este será lembrado pelas futuras
recepcionadas pelo Sistema Nacional de Unida- gerações como o século urbano. Em 1950, 30%
des de Conservação da Natureza (SNUC) insti- dos habitantes do planeta viviam em cidades
tuído pela Lei 9.985/2000, como um modelo de (751 milhões de pessoas). Entre 1950 e 2005, o
gestão integrada, participativa e sustentável nível de urbanização no mundo passou a 49%.

Ano de declaração
Reserva da Biosfera Área (km2) Divisão Administrativa
e de ampliações

Mata Atlântica 1991 (declaração) 895.266 Dezessete estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito
(RBMA) Ampliações: 1992, 1993, Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas
2000, 2002, 2008, 2019 Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí
Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe
Cinturão Verde da 1994 (integrante da RBMA) 24.006 Setenta e oito municípios (RMSP, RMBS
Cidade de São Paulo 2008 (ampliação e revisão e municípios envoltórios)
(RBCV) de zoneamento)
2017 (individualização
na Rede Mundial)
2019 (atualização de zonas)
Cerrado (RBC) 1993 (declaração) 285.387 Quatro estados e DF: Distrito Federal, Goiás,
2000; 2001 (ampliações) Maranhão, Piauí, Tocantins
Pantanal (RBP) 2000 260.642 Dois estados: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
Amazônia Central 2001 198.072 Amazonas
(RBAC)
Caatinga (RBCA) 2001 286.837 Nove estados: Piauí, Tabela 1 |
Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia Reservas da Biosfera no
e norte do estado de Minas Gerais Brasil.
Fonte: Elaboração
Serra do Espinhaço 2005 (declaração) 101.905 Cento e setenta e dois municípios de Minas Gerais própria. Com base em
(RBSE) 2019 (ampliação)
MMA (2019a).
8 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 1 |
Rede Brasileira de
Reservas da Biosfera.
Fonte: Adaptado de
MMA (2019a).

Enquanto em 2018 55% da população mundial Idealmente, esses serviços ecossistêmicos deve-
(4,8 bilhões de pessoas) viviam em cidades, em riam estar disponíveis tanto no entorno quan-
2030 a área urbana mundial deverá ser três vezes to no interior das áreas urbanas (RODRIGUES;
maior do que era em 2000 e passará de 400 mil VICTOR, 2014). O conceito de reserva da biosfera
km2 para 1,2 milhão de km2. Cenários apontam e sua aplicação ao contexto urbano estabelece as
que até 2050, com um acréscimo de 2,4 bilhões bases para um planejamento integrado dos sis-
de pessoas em relação a 2018 (o equivalente, em temas urbanos e periurbanos (UNESCO, 2003).
termos populacionais, a uma nova Londres a cada Na década de 1980, a degradação ambien-
sete semanas), serão 68% do total da população tal nas áreas periurbanas da metrópole pau-
mundial em áreas urbanas (UN-HABITAT, 2016; lista gerou uma grande mobilização liderada
McDONALD et al., 2018). Atualmente, a média pela ativista Vera Lucia Braga, cujo movimento
para o Brasil varia de 76% (IBGE, 2017) a 84% envolveu centenas de organizações e cidadãos e
(UN-HABITAT, 2016) da população vivendo em logrou reunir perto de 150 mil assinaturas num
zonas urbanas e, para a região Sudeste, onde está histórico abaixo-assinado com duplo intento:
localizada a RBCV, 87% (IBGE, 2017). oposição à Via Perimetral Metropolitana (ver-
As cidades são, ao mesmo tempo, agentes são anterior do atual Rodoanel Metropolitano)
e vítimas da degradação ambiental planetá- e declaração do cinturão verde como reserva da
ria, fato agravado pela crescente desconexão biosfera (Figura 2 e Figura 3).
de seus habitantes com os ecossistemas natu- Na esteira do movimento popular, o Ins-
rais. A humanidade depende dos ecossistemas tituto Florestal elaborou o documento técnico
para amenizar as ilhas de calor, regular a para subsidiar o pleito da declaração do cin-
qualidade do ar, controlar as enchentes e os turão verde como reserva da biosfera (VIC-
escorregamentos, entre outros. Os ecossistemas TOR et al., 1991), resultando na aprovação pela
produzem alimentos, produtos madeireiros e UNESCO, em 1993, da Reserva da Biosfera do
não madeireiros, fármacos e bioquímicos. São Cinturão Verde da Cidade de São Paulo (RBCV),
responsáveis pelos processos bióticos e abióti- cujo diploma foi expedido em 1994.
cos que geram a biodiversidade e proporcionam À época, já haviam sido instituídas as
serviços culturais, recreativos e espirituais. fases 1 e 2 da RBMA (1991 e 1992), a primeira
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 9

Figura 2 |
Manifesto em defesa
da Cantareira, década
de 1980.
Fonte: Arquivos da RBCV.

Figura 3 |
Entrega de abaixo-
assinado, em 1991, com
cerca de 150 mil
assinaturas, a
Tânia Munhoz,
presidente do Instituto
Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis
(IBAMA), para a
declaração do Cinturão
Verde como Reserva
da Biosfera.
Fonte: Arquivos da RBCV.

em terras brasileiras. Por ocasião da criação biosfera interdependentes, porém com autono-
da RBCV, cujo território estava integralmente mia de gestão e escala de atuação próprias. A
sobreposto ao da RBMA, foi estabelecida uma RBCV foi assim reconhecida como parte inte-
configuração inédita na Rede Mundial de Reser- grante da RBMA (VICTOR et al., 2011).
vas da Biosfera: uma reserva da biosfera (RBCV) O estudo que subsidiou a declaração da
dentro de outra reserva (RBMA). Devido a essa RBCV foi desenvolvido por mais de 20 especia-
superposição de áreas, foi definido um arranjo listas do Instituto Florestal de diversas áreas
institucional capaz de articular esses dois movi- do conhecimento (VICTOR et al., 1991). Ainda
mentos legítimos e inovadores, na forma de que este estudo não tenha mencionado o ter-
um sistema de gestão integrado de reservas da mo que veio a ser consagrado pela Avaliação
10 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Ecossistêmica do Milênio (AEM) uma década os serviços ecossistêmicos proporcionados


depois (MEA, 2003), a sua base conceitual foram pelas áreas periurbanas da metrópole paulista
os serviços ecossistêmicos, então denomina- (Tabela 2).
dos, pelo Instituto Florestal, de "benefícios do A declaração do Cinturão Verde como
Cinturão Verde". É provável que este estudo tenha reserva da biosfera (Figura 4) representou um
sido um dos primeiros documentos técnicos no avanço e uma oportunidade para a gestão inte-
Brasil com essa abordagem. Sua base foram grada de suas cidades e de seus ecossistemas,

Benefícios do Cinturão Verde Descrição


1 Estabilização climática O cinturão verde ameniza o clima da metrópole, com a mitigação do avanço
das ilhas de calor do centro em direção à periferia.
2 Regulação da qualidade do ar Filtragem do ar poluído, principalmente as partículas em suspensão originadas
nos aglomerados urbanos e polos industriais.
3 Absorção de CO2 O papel das florestas como absorvedores de CO2 atmosférico, com estimativa
de mais de 60% de fixação de carbono pelas áreas florestadas da RBCV em
relação à emissão de CO2 pela RMSP.
4 Preservação dos recursos hídricos Importância do Cinturão Verde para o abastecimento de água da população da
metrópole.
5 Regulação de processos erosivos A alteração nos ecossistemas do Cinturão Verde se reflete diretamente no
aumento do nível de erosão e da sedimentação de toda a rede de drenagem, e
Tabela 2 | potencializa as inundações.
Serviços
6 Produção de alimentos O Cinturão Verde abriga importante áreas hortifrutigranjeiras que produzem
ecossistêmicos alimentos básicos.
identificados na
proposta de criação 7 Biodiversidade O Cinturão Verde é rico em diversidade biológica, abrigada pelos fragmentos de
da RBCV. Mata Atlântica e seus ecossistemas associados.
Fonte: Elaboração 8 Benefícios culturais Na área do Cinturão Verde, são encontrados monumentos históricos e ambientes
própria. Com base em naturais e marcos da identidade cultural da memória local.
Victor et al (1991).

tanto por complementar as instâncias tradi-


cionais de gestão territorial como as munici-
pais, metropolitanas, de bacias hidrográficas
ou de unidades de conservação, quanto por
trazer a abordagem ecossistêmica em sua
esteira – desde a sua criação – como base
para seu planejamento territorial.
Além do ineditismo da supramencio-
nada sobreposição de reservas da biosfe-
ra, o reconhecimento enquanto tal de um
cinturão envoltório de uma grande mega-
lópole mundial foi o primeiro caso análogo
da Rede Mundial de Reservas da Biosfera,
fazendo da RBCV um marco referencial no
planeta enquanto reserva da biosfera em
contexto urbano/metropolitano.
Após a declaração da RBCV, foi esta-
belecido um Comitê Transitório com a fina-
lidade de desenvolver um sistema de gestão
para consolidar sua institucionalização. Em
um primeiro momento, houve a intenção de
institucionalizar a RBCV por meio de uma

Figura 4 |
lei estadual. O Comitê Transitório encerrou
Diploma da UNESCO
formalmente suas atividades em 1995 com a
de declaração da entrega de minuta de anteprojeto de lei. Essa
RBCV (1994). via, entretanto, não prosperou.
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 11

A Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de nove membros, eleitos entre os 34, incluindo o
2000, que instituiu o SNUC, e o seu regulamen- presidente do conselho. A coordenação executi-
to (Decreto Federal nº 4.340, de 22 de agosto de va é de responsabilidade do Instituto Florestal.
2002), ao reconhecerem as reservas da biosfera O conselho e o bureau definem a política geral e
em seu âmbito deu-lhes uma solidez institucional o plano de ação da Reserva, enquanto a coorde-
bastante importante no arcabouço jurídico bra- nação executiva tem por meta a sua execução
sileiro, especialmente no que se refere aos seus (RODRIGUES et al., 2006; VICTOR et al., 2011).1
conselhos de gestão (BRASIL, 2000; 2002). Essa A agenda da RBCV, atualmente, é dada prin-
legislação pavimentou o caminho para a edição cipalmente por seu plano de ação, que consiste
do Decreto Estadual nº 47.094, de 18 de setembro na sistematização de ações, projetos e progra-
de 2002, que criou o conselho de gestão da RBCV, mas estruturantes. Em 1995 a UNESCO adotou
juntamente com o Comitê Paulista da RBMA (SÃO a Estratégia de Sevilha, com recomendação de
PAULO, 2002). A primeira gestão do conselho da ações para o futuro desenvolvimento das re-
RBCV se iniciou em 2004 e sua principal tarefa foi servas da biosfera no século 21. A Estratégia
a de construir um sistema de gestão, cujas bases de Sevilha norteou o primeiro plano de ação do
foram os textos do Comitê Transitório. Cinturão Verde no período de 2005 a 2007. Pos-
Na RBCV, os componentes centrais desse teriormente, em 2008, no III Congresso Mundial
sistema são o seu conselho de gestão (BRASIL, de Reservas da Biosfera, foi construído o Plano
2000; 2002; SÃO PAULO, 2002), um bureau e uma de Ação de Madri para a Rede Mundial de Reser-
coordenação executiva. O conselho possui 34 vas da Biosfera, com o objetivo de que essas
membros, paritariamente integrado por repre- fossem as principais áreas internacionalmente
sentantes governamentais e não governamen- designadas dedicadas ao desenvolvimento
tais, enquanto o bureau é constituído por sete a sustentável.

Figura 5 |
Casa das Reservas da
Biosfera, localizada no
Parque Estadual Alberto
Löfgren (SP), que abriga
a coordenação executiva
da RBCV, a Presidência da
RBMA e suas equipes
técnicas. Contribuíram
com recursos para a
construção dessa sede
o Instituto Florestal
e a Casa Real Sueca.
Fonte: Rodrigo Victor (2020)

A implementação efetiva da RBCV se deu com a atuação


1
Maria de Lourdes Ribeiro Gandra (2015-2016); Rodrigo
de seu conselho de gestão. partir de 2004 presidiram Rodrigues Castanho (2016-atual). Além do Instituto Flo-
o seu conselho: Sérgio Zaratin (2005-2008); Maria de restal, destacaram-se para a efetivação das ações da RBCV:
Lourdes Ribeiro Gandra (2008-2011); Anita Correia de Fundação Florestal; AHPCE/Instituto AuÁ; UNESCO; Mi-
Souza Martins (2011-2012); Yara Maria Chagas de Carva- nistério do Meio Ambiente; Banco Mundial; Fundação das
lho (2013-2017); Anita Correia de Souza Martins (2017- Nações Unidas; prefeituras municipais da RBCV; Fundo
atual). Em 26 anos do Cinturão Verde, estiveram à frente dos Direitos Difusos; Avaliação Ecossistêmica do Milênio;
da coordenação executiva: Mauro Antonio Moraes Victor Scientific Committee on Problems of the Environment (SCO-
(1994-1995); Marc Etienne Bertier d' Alleman de Montri- PE); Academia de Ciências da China; Associação de Mora-
gaud (1995-2001); Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor dores e Amigos da RBCV (AMAR); Universidade de Ciên-
(2001-2009); Kátia Mazzei (2009-2010); Luis Alberto Buc- cias Aplicadas de Darmstadt, além de outras instituições
ci (2010-2014); Elaine Aparecida Rodrigues (2014-2015); de ensino, empresas e instituições parceiras.
12 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

O Plano de Madri e a Estratégia de Sevilha de Reservas da Biosfera, do Grupo Urba-


nortearam o 2° Plano de Ação da RBCV para o no do MAB e do Conselho Nacional da
período 2008-2012. Esse plano, com um total RBMA;
de 30 ações prioritárias, foi estendido até 2017. ¢ gestão: implementação do Sistema de

A construção do 3° plano de ação da RBCV se Gestão, condução das reuniões de Con-


deu a partir das diretrizes do Plano de Ação selho, Bureau e grupos temáticos, diá-
de Lima para o Programa MAB e sua Rede logo com zonas de amortecimento,
Mundial de Reservas da Biosfera (2016-2025) participação na elaboração de planos
(UNESCO, 1996; UNESCO, 2003; UNESCO, 2010; de manejo de unidades de conservação
UNESCO, 2016). (UC), produção de pareceres e documen-
O principal objetivo do plano de ação é tos técnicos sobre projetos de infraes-
orientar o planejamento e as ações para a ges- trutura no território, revisões de limites
tão integrada do território da reserva, miran- e zoneamento da RBCV, ações de gestão
do a conciliação da conservação ambiental e do na escala dos municípios, desenvolvi-
desenvolvimento socioeconômico, e oferecer mento dos planos de ação da RBCV;
uma plataforma de diálogo, conhecimento cien- ¢ conservação ambiental: fomento à cria-

Figura 6 | tífico, intervenções no território, intercâmbio de ção de áreas protegidas, com destaque
Estudantes do
PJ-MAIS, em
experiências, políticas integradas e mediação de para as UC do contínuo da Cantareira;
atividades na conflitos (RBCV, 2017). ¢ educação e desenvolvimento sustentá-

Semana de Meio Entre as principais ações realizadas pela vel: a RBCV abraçou o tema “Juventude
Ambiente (2006)
(A) (B); Atividade
RBCV nas últimas décadas, destacam-se: e Meio Ambiente” para a promoção do
de reflorestamento
¢ pesquisa e monitoramento: avaliação desenvolvimento local sustentável em
feita pelo NEE São dos serviços ecossistêmicos proporcio- seu território, por meio do Programa
Bernardo do Campo
na margem da
nados pelo Cinturão Verde, no âmbito de Jovens – Meio Ambiente e Integração
Billings
da AEM e da qual este livro é um dos Social (PJ-MAIS) (Figura 6). O PJ-MAIS
- projeto financiado produtos; promoveu o desenvolvimento integral
pelo Banco Mundial ¢ intercâmbio e cooperação: participação e a formação ecoprofissional de jovens
(2005) (C); Atividade
de Produção e
nas ações das redes Mundial e Brasileira residentes nas zonas de amortecimento
Manejo Florestal
Sustentável - NEE
A B C
Caieiras (2006 (D);
Jovem em atividade
na Oficina Consu-
mo, Lixo e Arte - NEE
Cotia/Morro Grande
(2006) (E); Atividade
de produção de
mudas - NEE Cotia
(2006) (F); Estudan-
tes do NEE Cubatão, D E F
no Centro de
Estudos e Pesquisas
em Meio Ambien-
te/USP (2015)
(G);Atividades da
Oficina de Produção
e Manejo Florestal
Sustentável (projeto
financiado pelo
Banco Mundial G H I
(2006) (H);
Jovens em ativida-
des no Caminhos
do Mar - Parque
Estadual da Serra
do Mar (I).
Fonte: Arquivos
da RBCV.
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 13

das UC do Cinturão Verde e zonas de A RBCV engloba inteiramente a Região


transição da reserva, ao mesmo tempo Metropolitana de São Paulo (RMSP), quase
em que fomentou o chamado ecomer- integralmente a da Baixada Santista (RMBS)
cado de trabalho em territórios da e parcialmente as regiões metropolitanas de
RBCV. Em 20 anos de atividades (1996 Sorocaba; Vale do Ribeira e Litoral Norte; Cam-
– 2016) foram implantados 20 núcleos pinas e região administrativa de Registro. Ao
de educação ecoprofissional (NEE) em centro da RBCV encontra-se a cidade de São
mais de 15 municípios, que atenderam Paulo, densamente urbanizada, com os outros
a milhares de jovens, com a geração de 38 municípios que compõem a sua região metro-
uma ampla gama de atuação ecoprofis- politana (FUNDAÇÃO SEADE, 2019). Outros
sional, renda e inclusão social. 39 municípios, em sua maioria periurbanos,
Uma das grandes evoluções no campo do contemplam o rol de cidades abrangidas total ou
planejamento territorial da RBCV foi a primeira parcialmente pela RBCV, em um conjunto de 78
revisão do seu zoneamento em 2008, com alte- municípios (Figura 8).
rações de seus limites terrestres, inclusão de Na RBCV estão localizadas importan-
ecossistemas costeiros e marinhos e o estabele- tes bacias hidrográficas do estado, que pres-
cimento de metodologia própria de zoneamen- tam o serviço de abastecimento de água para
to em função de suas características urbanas e milhões de pessoas. Formações florestais
periurbanas (Tabela 3). A Figura 7 apresenta os diversificadas compõem o Cinturão Verde,
limites e zoneamento original da RBCV (1994) e em significativa parte cobrindo serras ele-
de sua segunda revisão (2018). vadas em relação às regiões urbanizadas.

Zonas Critérios de definição


Núcleo n UC de proteção integral.
n Zonas de vida silvestre das UC da categoria Áreas de Proteção Ambiental (APA).
Tampão ou n APA terrestres ou marinhas (excluindo suas respectivas zonas de vida silvestre, quando houver).
amortecimento n Zonas de amortecimento de UC.
n Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais (não urbanizadas).
n Florestas maduras segundo o Inventário Florestal do Instituto Florestal.
n Rede de zonas verdes e parques urbanos das cidades de São Paulo e de Santo André.
n Zona especial de interesse ambiental da cidade de Santo André (em referência às áreas de Tabela 3 |
conservação e de recuperação de florestas). Critérios de
zoneamento da RBCV.
Transição ou n Áreas restantes, com exceção das grandes zonas urbanas. Fonte: Adaptado de
cooperação
Victor et al (2011: p. 70).

Figura 7 |
Representação
esquemática do
zoneamento
da RBCV em dois
momentos: criação
(1994) e 2ª revisão do
zoneamento (2019)
Fonte: Elaboração
própria. Com base
Victor et al (1991);
Victor et al (2011);
MAZZEI (2019),
14 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 8 |
Imagem de satélite
do território da RBCV,
representação
esquemática de
sua localização na
América do Sul, da
localização da RMSP
e da cidade de
São Paulo.
Fonte: Rodrigues;
Victor (2014).

Ao sul da RMSP está o paredão da Serra do Internacional do Programa MAB, a UNESCO


Mar, contendo uma exuberante amostra da formalizou a individualização da RBCV (Figu-
Mata Atlântica brasileira e que separa a ra 9). Com essa individualização, a RBCV foi
metrópole paulista da Baixada Santista. Ao reconhecida como reserva da biosfera com iden-
norte da cidade de São Paulo localiza-se a tidade própria, fundamental enquanto instância
Serra da Cantareira, uma das grandes florestas de gestão integrada em seu território. Ao mesmo
urbanas do mundo. A Serra do Japi, a Reserva tempo, mantém efetiva integração com a RBMA,
Estadual do Morro Grande, o Parque Estadual materializada na sobreposição integral desses
(PE) do Jurupará, a Serra do Itapeti e entorno, dois territórios e na articulação de seus sistemas
as UC do contínuo Cantareira e demais frag- de gestão (SÃO PAULO, 2002).
mentos do corredor Cantareira-Mantiqueira A RBCV se configura como instância ino-
compõem outros maciços florestais de signifi- vadora de ordenamento territorial, sob a con-
cativa dimensão na RBCV; outras tipologias de cepção da cidade enquanto organismo vivo. Seu
vegetação, como o cerrado, os campos de alti- desafio é compreender e empreender meca-
tude, os manguezais e as restingas completam nismos diferenciados de gestão sistêmica das
o mosaico de vegetação nativa da reserva. regiões urbanizadas com seus entornos verdes,
Embora o diploma de criação da RBCV de em um conjunto que encerra 25,36 milhões
1994 já a estabelecesse como reserva da bios- de pessoas, onde é gerado um PIB equivalen-
fera, ela não aparecia de forma individualizada te a 61,2% do estado de São Paulo e 18,8% do
nas listagens da Rede Mundial, o que levou o seu Brasil (IBGE, 2019) e em cujo território está
conselho de gestão, a partir 2008, a pleitear localizada a quarta maior região metropoli-
junto à COBRAMAB esse reconhecimento (RBCV, tana do mundo (UN-HABITAT, 2016). Ao se
2017). Isso foi finalmente levado a cabo em 2017 considerar a totalidade de seus espaços (áreas
quando, por decisão do Conselho Coordenador urbanas, terrestre e marinha) 19,8% da RBCV
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 15

corresponde à sua área marinha; as grandes


manchas urbanas no interior da reserva, que dela
formalmente não fazem parte, equivalem
a apenas 14,5% de sua área terrestre.
Ressalte-se o predomínio, em termos de super-
fície territorial, dos ecossistemas nativos e áre-
as cultivadas sobre as áreas urbanizadas. Esses
números revelam uma metade cheia do copo: se
por um lado foi instalado um padrão de urbani-
zação que conflitou intensa e permanentemente
com a integridade dos ecossistemas (água, solo
e áreas verdes), por outro ainda existe expres-
sivo território de áreas envoltórias periurbanas
e rurais em muito bom estado de conservação
ambiental, com robusta capacidade de forne-
cimento de serviços ecossistêmicos para sus-
tentar a teia da vida desse imenso contingen-
te populacional. Na RBCV, 40,6% da sua área
terrestre e 54% de sua área total correspon-
dem a ecossistemas nativos (vegetação e mar).
A RBCV representa apenas 7,5% do territó-
rio estadual, mas abarca cerca de 17,4% da Figura 9 |
vegetação paulista. A RBCV abriga 100 UC de Diploma da UNESCO
que reconheceu a
individualização da
9 diferentes categorias, sendo 23 federais, 45
estaduais e 32 municipais. Destas, 65 são de ges- RBCV, em 2017.
tão pública e 35 são Reservas Particulares do
Patrimônio Natural (RPPN). Região Norte: Atibaia, Bom Jesus dos
¢

Os 78 municípios que integram total ou Perdões, Bragança Paulista, Jarinu, Joa-


parcialmente a RBCV foram agrupados em sete nópolis, Mairiporã, Nazaré Paulista,
regiões, com o objetivo de estabelecer a repre- Piracaia, Tuiuti e Vargem;
sentatividade municipal em seu sistema de ges- ¢ Região Noroeste: Araçariguama, Barue-

tão. Esta segmentação compreende: ri, Cabreúva, Caieiras, Cajamar, Campo


Limpo Paulista, Carapicuíba, Francis-
¢ Região São Paulo: cidade de São Paulo; co Morato, Franco da Rocha, Itapevi,
¢ Região Baixada Santista e Serra do Mar: Jandira, Jundiaí, Osasco, Pirapora do
Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Bom Jesus, Santana de Parnaíba e Vár-
Itariri, Mongaguá, Pedro de Toledo, zea Paulista
Peruíbe, Praia Grande, Santos e São ¢ Região Oeste: Alumínio, Cotia, Embu

Vicente; das Artes, Ibiúna, Itapecerica da Serra,


¢ Região Grande ABC: Santo André, São Juquitiba, Mairinque, Piedade, São Lou-
Bernardo do Campo, São Caetano do renço da Serra, São Roque, Taboão da Ser-
Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Rio ra, Vargem Grande Paulista, Votorantim.
Grande da Serra. As UC abarcam 54,1% do território da
¢ Região Leste: Arujá, Biritiba-Mirim, RBCV (48,6% da área terrestre e 73,4% da
Ferraz de Vasconcelos, Guararema, área marinha)2, sendo 11,3% correspondentes
Guarulhos, Igaratá, Itaquaquecetuba, a UC de Proteção Integral (14,27% da área ter-
Jacareí, Jambeiro, Mogi das Cruzes, restre e 1% da área marinha)3 (Figura 10).
Natividade da Serra, Paraibuna, Poá, Destacam-se, pela dimensão, o Parque Estadual
Redenção da Serra, Salesópolis, Santa 2
O cálculo desconta sobreposições entre UC
Branca, Santa Isabel, São José dos 3
O cálculo desconta sobreposições entre UC de Proteção
Campos e Suzano; Integral
16 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

(PE) Serra do Mar (maior parque de mata Cabreúva/Cajamar/Jundiaí, Itupararanga (esta-


atlântica do Brasil), de cuja totalidade 56,8% duais) e a Bacia Paraíba do Sul (federal). Outras
estão na RBCV, e as Áreas de Proteção Ambien- tantas UC estaduais, como o simbólico PE da Can-
tal (APA) Marinha Litoral Centro, Sistema Canta- tareira, municipais e federais compõem o conjunto
reira/Piracicaba Juqueri-Mirim Área II, dessas áreas especialmente protegidas na RBCV.

Aspecto Informação
Área total da RBCV 2.400.682 ha
(terrestre e marinha)
Área terrestre 1.863.032 ha
Área marinha 537.650 ha
Área urbana envolvida pelo 315.111 ha
cinturão verde
Área da RB + área urbana 2.715.793 ha
Instituição n Declaração da UNESCO (1994), como parte integrante da RBMA.
n Diploma da UNESCO (2017) de individualização na Rede Mundial de Reservas
da Biosfera.
Dispositivos Regulamentares n Decreto Presidencial de 21/09/1999. Dispõe sobre a Comissão Brasileira para o
Programa “O Homem e a Biosfera” – COBRAMAB.
n Lei Federal nº 9.985, de 18/07/2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza (SNUC) e dispõe sobre as reservas da biosfera em
seu Capítulo VI.
n Decreto Federal nº 4.340, de 22/08/2002. Regulamenta o SNUC.
n Decreto nº 47.094, de 18/09/2002. Cria o Comitê Estadual da RBMA no estado
de São Paulo, incluindo o Conselho de Gestão da RBCV.
n Decreto nº 60.302, de 27/03/2014, Institui o Sistema de Informação e Gestão de
Áreas Protegidas e de Interesse Ambiental do Estado de São Paulo (SIGAP).
População encerrada pela RBCV 25.369.023 habitantes3
(RB + área urbana interior)1
Número de municípios 78
Regiões administrativas 2
RMSP integral e quase a totalidade da RMBS
Parcialmente: RM Sorocaba, Campinas, Vale do Paraíba e Litoral Norte,
São José dos Campos e Região Administrativa de Registro.
Área total de vegetação nativa 757.074 ha
Tipos principais de vegetação Floresta Atlântica - Ombrófila Densa e Semidecidual;
contato Savana/Floresta Ombrófila Densa; Cerrado, Campos Naturais,
Florestas de Altitude, Restingas, Manguezais.
Superfície de reservatórios 64.517 ha
Bacias hidrográficas Integralmente Alto Tietê e quase integralmente Baixada Santista
Parcialmente: Sorocaba / Médio Tietê; Piracicaba / Capivari / Jundiaí;
e Ribeira do Iguape e Litoral Sul.
Sistemas de abastecimento Somente para RMSP existem oito sistemas de abastecimento (Cantareira;
de água Alto Tietê; Rio Claro; Rio Grande; Guarapiranga; Alto Cotia; Baixo Cotia;
Ribeirão da Estiva). Na RBCV existem outros sistemas, incluindo a Baixada
Santista que, em sua totalidade, fornecem água para mais de 25 milhões
de pessoas.
Unidades de Conservação 37
de Proteção Integral
Unidades de Conservação 63
de Uso Sustentável
Área de reflorestamento Eucalyptus spp: 104.723 ha
Tabela 4 | com espécies exóticas Pinus spp: 2.389 ha
Ficha técnica Produto Interno Bruto (PIB) R$ 1,28 trilhão
da RBCV. (RBCV + áreas urbanas
Fonte: elaboração internas) (2018)1
própria com base Relação com o PIB 61,2%
em Fundação do estado (2018)1
Florestal (2020) e
Instituto Florestal Relação com o PIB 18,8%
do Brasil (2018)1
(2019).
Notas: 1 IBGE (2019); 2 Fundação SEADE (2019); 3 Não foram considerados os dados dos municípios de Itariri, Natividade da Serra, Pedro de Toledo,
Peruíbe, Redenção e São José dos Campos por apresentarem uma pequena parcela de seus territórios dentro do limite da RBCV e cujas manchas
urbanas estão fora desses limites.
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 17

Figura 10|
Unidades de
conservação no
território da RBCV,
em 2020.
Fonte: Fundação
Florestal (2020);
Instituto Florestal
(2020); MMA (2019b)
Arquivos de dados
georreferenciais de
UC municipais na
RBCV.
18 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Em complemento ao robusto conjunto para os serviços ecossistêmicos (LA NOTTE


de UC públicas no território da RBCV, as reser- et al., 2017), para esta publicação é utilizada a
vas particulares (RPPN) protegem áreas dos categorização em linhas funcionais apresentada
mais distintos ecossistemas e fitofisionomias da pela AEM (MEA, 2003; 2005a): de provisão (ali-
reserva, por meio da valorosa e crescente inicia- mentos, água, combustível); de regulação (como
tiva de proprietários particulares que desejam a purificação da água, do ar e a regulação do cli-
contribuir com a conservação ambiental e dos ma); culturais (educação, lazer, inspiração); e de
serviços ecossistêmicos em suas regiões. suporte, que mantém todos os demais serviços

2 | SERVIÇOS
(ciclagem de nutrientes, formação do solo, produ-

ECOSSISTÊMICOS
ção primária).
Mesmo com uma demanda crescente pelos

2.1 | Serviços ecossistêmicos e


serviços dos ecossistemas, presenciamos a
degradação cada vez mais intensa da capacida-
interações com o bem-estar humano de dos ecossistemas de fornecê-los. A própria
falta de conhecimento sobre os serviços pres-
Os serviços proporcionados pelos ecos- tados pelos ecossistemas constitui uma das
sistemas são definidos como as características, barreiras à proteção do patrimônio natural.
funções ou processos ecológicos que contribuem A degradação dos ecossistemas e a consequente
direta ou indiretamente para o bem-estar mudança em seus serviços afetam diretamente o
humano, ou seja, são os benefícios que as pes- bem-estar humano, com impactos na segurança,
soas obtêm dos ecossistemas (MEA, 2003; nos bens materiais necessários para uma vida
COSTANZA et al., 1997; ANDERSON et al., 2019; saudável, na saúde e nas relações sociais e
GEIJZENDORFFER et al., 2017). culturais. Estes componentes do bem-estar
A ideia de que os sistemas naturais forne- influenciam na liberdade de escolha das pes-
cem benefícios que apoiam o bem-estar huma- soas e, ao mesmo tempo, são influenciados por
no é considerada tão antiga quanto a própria eles (Figura 11) (MEA, 2003; 2005a).
humanidade, todavia, apenas na década de Por sua vez, o marco conceitual da AEM
1980 se deu a ampliação das pesquisas e as reproduzido na Figura 11A apresenta as
aplicações políticas dessa abordagem (DAILY conexões entre os vetores indiretos e diretos
et al., 1997; GÓMEZ-BAGGETHUN, 2010; COS- de alteração ambiental que afetam os servi-
TANZA et al., 1997; 2017), cuja popularização ços ecossistêmicos e a biodiversidade (como
e trajetória exponencial4 decorreram dos tra- população, tecnologia, estilos de vida) e como
balhos desenvolvidas pela AEM (Millennium as mudanças nos ecossistemas e nos serviços
Ecosystem Assessment – MEA) (MEA, 2003; que fornecem afetam o bem-estar humano.
2005), por apresentar uma forma holística de Essas ligações ocorrem entre escalas espaciais
compreender e avaliar o impacto humano e a e temporais. No marco conceitual é ilustrado
saúde do planeta e a relação dos ecossistemas que podem ser tomadas ações para responder
com as dinâmicas socioeconômicas locais e a mudanças negativas ou incrementarem-se
regionais (UN-CBD, 2007; BENNETT, 2017). mudanças positivas em quase todos os pontos
A AEM é considerada a primeira grande da estrutura (barras pretas) (MEA, 2003).
força-tarefa científica já realizada para avaliar as Os resultados da AEM apontam grandes
consequências das mudanças nos ecossistemas problemas associados à gestão dos ecossistemas
para o bem-estar humano, base científica para que afetam principalmente as populações mais
a ação (MEA, 2003; 2005a; 2005b; LA NOTTE et pobres. Em escala global, destaca-se a degrada-
al., 2017; UN-CBD, 2007; BENNETT, 2017). Embo- ção ou o uso insustentável de aproximadamente
ra tenham sido propostas várias classificações 60% dos serviços examinados (15 dos 24)
(MEA, 2005b) (Tabela 5). Estes serviços em
De 1980 a 2019, foram identificadas mais de 22.700 pu-
4 declínio incluem água pura, pesca de captura,
blicações na base científica Web of Science, com o termo purificação do ar e da água, regulação climática
“ecosystem services”; enquanto as publicações anteriores
aos resultados do MEA somaram apenas 446 registros local e regional, controle de ameaças naturais e
(RODRIGUES et al, 2019). de doenças. Muitos serviços se deterioram em
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 19

Figura 11 |
Marco conceitual
da Avaliação
Ecossistêmica do
Milênio (A) e
da Plataforma
Intergovernamental
de Biodiversidade
e Serviços
Ecossistêmicos (B).
Fonte: Adaptado de
MEA (2003); Diaz
(2015).

consequência de ações realizadas para inten- metodológicas entre o IPBES e a AEM. Para
sificar o fornecimento de outros serviços ecos- o IPBES, o serviços dos ecossistemas foram
sistêmicos – os chamados trade-offs, cuja gestão redefinidos como contribuições da natureza
envolve diferentes objetivos, valores e partes para as pessoas (NCP), com uma abordagem
interessadas (MEA, 2003; 2005a; CAVENDER- considerada uma interpretação mais inclusiva
-BARES et al., 2015; DAW et al., 2015; TURKEL- e diversa das relações humano-natureza (IPBES,
BOOM et al., 2018). 2019a; DIAZ et al., 2015; 2018; PASCUAL et al.,
Os trade-offs envolvem uma ampla e 2017), do qual os serviços ecossistêmicos seriam
complexa gama de trocas relacionadas ao um subconjunto (DIAZ et al., 2019) (Figura 11B).
uso dos ecossistemas, incluindo mudança no Ainda que seja muito cedo para avaliar a
uso da terra, regimes de manejo, soluções eficácia e a aceitação da proposta de redefini-
tecnológicas versus aquelas baseadas na natu- ção feita pelo IPBES tanto para pesquisadores
reza, uso de recursos naturais e manejo de quanto para tomadores de decisão (COSTAN-
espécies. O custo total resultante da perda e ZA et al., 2017; FAITH, 2018; AINSCOUGH et al.,
deterioração desses serviços é de difícil men- 2019), em seu pluralismo, o conceito de servi-
suração, no entanto, as evidências apontam ços ecossistêmicos adota uma série de pers-
para valores substanciais e crescentes (MEA, pectivas e conecta ecologistas, economistas e
2005a). Em 1997, os serviços prestados pelos cientistas sociais.
ecossistemas foram estimados, em média, em Apesar dos debates sobre estruturas con-
US$ 33 trilhões/ano. Para 2011, a estimativa ceituais, metodologias de avaliação, valora-
foi de que os serviços ecossistêmicos totali- ção e de classificação (DIAZ et al., 2019; MAES
zaram US$ 125 trilhões/ano (considerando et al., 2018), os serviços ecossistêmicos são um
apenas as atualizações nos valores dos servi- conceito operacional (AINSCOUGH et al., 2019),
ços). As mudanças no uso da terra corresponde- notadamente por se configurarem numa forma
ram a perda de serviços ecossistêmicos entre útil de destacar, medir e avaliar o grau de inter-
US$ 4,3 e US$ 20,2 trilhões/ano no período de dependência entre o ser humano e a natureza.
1997 a 2011 (COSTANZA et al., 1997; 2014). Ao mesmo tempo, fornecem ferramentas que se
A Plataforma Intergovernamental de comunicam com diferentes públicos, a fim de se
Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos alcançarem propósitos diferenciados nas áreas
(Intergovernmental Science-Policy Platform on da ciência e das políticas públicas.
Biodiversity and Ecosystem – IPBES), criada Os relatórios da AEM forneceram infor-
em 2012, sucessora da AEM, é o maior esforço mações relevantes sobre a real extensão dos
global para desenvolver uma síntese sobre os impactos humanos no planeta e, sobretudo,
serviços dos ecossistemas e o conhecimento correlacionaram tal diagnóstico com as questões
sobre a biodiversidade (IPBES, 2019a), res- críticas à sobrevivência humana na Terra. Esse
saltando-se, entretanto, existirem diferenças diferencial, que contribuiu ainda mais para
20 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Serviço Subcategoria Status Nota

Serviços de provisão

Alimento lavoura p aumento substancial na produção

animais de criação p aumento substancial da produção

pesca de captura q produção em queda, devido à sobre-explotação

aquicultura p aumento substancial da produção

alimentos silvestres q produção em queda

Fibras lenha qp perda de florestas em algumas regiões,


crescimento em outras

algodão, cânhamo, qp diminuição da produção em alguns casos, aumento em


seda outros

combustível q produção em queda


de madeira

Recursos genéticos q perda por extinção de espécies e perda de recursos


genéticos da lavoura

Produtos bioquímicos, q perda por extinção, sobre-explotação


remédios naturais,
produtos farmacêuticos

Água água doce q uso não sustentável para consumo humano, indústria e
irrigação; capacidade da energia hidráulica não
alterada, mas os diques aumentam o potencial de
geração dessa energia

Serviços de regulação

Regulação da q capacidade da atmosfera para se despoluir diminuiu


qualidade do ar

Regulação climática global p fixação de carbono aumentou a partir de meados do


século 20

regional e local q preponderância de impactos negativos

Regulação hídrica qp varia dependendo da mudança e do local do ecossistema

Regulação da erosão q perda de regulação da erosão devido à degradação


do solo

Purificação da água e q piora na qualidade da água


tratamento de resíduos

Regulação de doenças qp varia em função da mudança do ecossistema

Regulação de pragas q controle natural prejudicado pelo uso de pesticidas

Polinização q aparente queda global da atividade de polinização

Regulação de ameaças q perda de amortecedores naturais (zonas úmidas,


Tabela 5 | naturais manguezais)
Estado geral dos
Serviços culturais
serviços de provisão,
regulação e culturais Valores espirituais q rápido declínio de bosques e espécies consideradas
considerados na e religiosos sagradas
Avaliação

Ecossistêmica do Valores estéticos q declínio na quantidade e na qualidade de terras naturais


Milênio. Adaptado de Recreação e ecoturismo qp Mais áreas acessíveis, muitas delas degradadas
MEA (2005b).
Nota: Para os serviços de provisão, a “melhora” foi definida como sendo o aumento da produção do serviço devido às alterações das áreas nas
quais o serviço é fornecido, a exemplo das áreas de expansão agrícola, ou aumento da produção por unidade de área. Foi considerado “piora”
no serviço quando o seu uso corrente ultrapassa os níveis sustentáveis. Para serviços de regulação, “melhora” refere-se a uma alteração no
serviço que acarreta mais benefícios para as pessoas. Como exemplo, o serviço de regulação de doenças pode ser incrementado por meio
da erradicação de um vetor que transmite doenças às pessoas. A degradação nos serviços de regulação significa uma redução dos benefícios
obtidos pelo serviço, seja por alguma mudança no serviço (como a perda de manguezais que reduz os benefícios de proteção contra tempes-
tades), ou por excesso de pressões humanas que excedem a capacidade de realização do serviço (por exemplo, quando a poluição é maior
que a capacidade dos ecossistemas de manter a qualidade da água). Para os serviços culturais, o incremento ou a degradação se referem a
alguma mudança nas características do ecossistema que aumenta ou reduz os benefícios culturais (recreacionais, estéticos, espirituais, etc.)
fornecidos pelo ecossistema.
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 21

a singularidade do processo, foi possível, em Avaliação Mundial sobre a Diversidade Bio-


grande medida, pela metodologia adotada, que lógica e os Serviços dos Ecossistemas (IPBES,
explorou de forma integrada as interfaces entre 2019b), apresentou a primeira avaliação con-
o meio ambiente e o ser humano, ou seja, os ser- duzida por um organismo intergovernamental
viços proporcionados pelos ecossistemas. sobre o estado e as tendências do mundo natu-
A abordagem metodológica e pioneira da ral, as consequências sociais dessas tendên-
AEM constituiu um instrumento efetivo para cias, suas causas diretas e indiretas e, sobre-
planejamento e gestão territorial, lançando tudo, as medidas que podem ser adotadas para
perspectivas futuras sobre as consequências garantir um futuro melhor para todos.
das decisões que afetam os ecossistemas e o Para o IPBES (Tabela 6) a maioria das
bem-estar das pessoas. Os resultados da AEM, contribuições da natureza não são totalmente
passados 15 anos de sua publicação, ainda são substituíveis ou são insubstituíveis. Embora
bastante atuais. Em adição, o IPBES, em sua a humanidade tenha criado substitutos para

Tabela 6 |
Tendências mundiais
da capacidade da
natureza para manter
suas contribuições
para uma boa
qualidade de vida,
desde 1970 ao
presente.
Fonte: IBPES (2019b).
22 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

algumas contribuições da natureza, muitos des- proposta (WELLER et al., 2017): das 442 cidades
ses substitutos são imperfeitos ou proibitivos. com mais de 300 mil habitantes vivendo em
Em termos gerais, esses serviços substitutos conflito com a biodiversidade nos Hotspots
feitos pela humanidade não oferecem toda a Mundiais de Biodiversidade, foram seleciona-
gama de benefícios oferecidos pela natureza, ou das as 33 cidades mais populosas e com maior
não oferecem benefícios sinérgicos. A avaliação crescimento populacional entre os 36 hotspots
sobre as tendências mundiais da capacidade da biológicos reconhecidos, incluindo São Paulo
natureza em manter suas contribuições para e Brasília. São cidades que, ao mesmo tempo,
uma boa qualidade de vida, desde 1970 até o configuram-se como beneficiárias e depositá-
momento presente, mostra uma diminuição em rias da biodiversidade mais valiosa do mundo.
14 das 18 categorias analisadas. Para cada uma dessas 33 cidades, foi fei-

2.2 | Cidades, biodiversidade


ta uma estimativa de expansão urbana para

e serviços ecossistêmicos
o ano de 2030, ressaltando-se os potenciais
pontos de conflito entre o crescimento urbano
e a biodiversidade (WELLER et al., 2017). No
Entre 1992 e 2000 a urbanização foi mapa de São Paulo (Figura 12), que abarca a
responsável pela perda de 190.000 km² dos região da RBCV, observa-se grande tendência de
habitats naturais do globo, equivalente a 16% pressão e supressão de ecossistemas nativos nas
do que foi suprimido no período. Mantidas franjas da área urbanizada da RMSP e RMBS,
as taxas atuais de crescimento urbano, esse constituídos por áreas de mananciais, unidades
número pode chegar a 290.000 km² em 2030, de conservação e vegetação de forma geral, que
com especial prejuízo às florestas úmidas. Os abrigam importante biodiversidade e proveem
países que mais perderão ecossistemas nativos significativos serviços ecossistêmicos às popu-
por urbanização (> 10.000 km²) na próxima lações metropolitanas.
década serão Estados Unidos, Brasil, Nigéria e Em avaliação do impacto que a urbaniza-
China. Os habitats potencialmente suprimidos ção poderá ter sobre grandes UC de proteção
nesse período armazenam 1,19 bilhão de tone- integral (UCPI) do planeta (> 50.000 ha), a The
ladas de carbono, equivalente à emissão anual Nature Conservancy (TNC) (McDONALD et al.,
de 931 milhões de veículos. As emissões evi- 2018) elaborou duas listas complementares:
tadas desse carbono representariam um custo i) das 23 UCPI com significativa área urbana
social de US$ 182,8 bilhões (McDONALD et al., em um raio de 50 km, conforme dados do ano
2018). 2000; e ii) das 37 UCPI cujo entorno de 50 km
Em termos de relevância para a conser- experimentarão significativo crescimento
vação em âmbito mundial, a RBCV figura como urbano (> 5%) no período 2000-2030. Duas UC
área de forte destaque em quatro mapas glo- brasileiras se enquadraram nesses critérios:
bais de prioridade de conservação da biodiver- o Parque Estadual Serra do Mar e o Parque
sidade, que se valem de métricas e indicadores Nacional da Serra do Itajaí, sendo que somen-
complementares mas distintos. São eles: i) te nove UCPI do planeta estão simultaneamen-
200 Ecorregiões Globais Prioritárias (riqueza, te nas duas listas. Essas unidades poderão
endemismo, ameaças e outras características); sofrer impacto ecológico, a menos que sejam
ii) Hotspots de Biodiversidade (regiões com adequadamente geridas, ao mesmo tempo
mais de 1.550 plantas vasculares endêmicas que os habitantes em seu entorno poderão se
que perderam mais de 30% de sua vegetação beneficiar pelo maior contato com a natureza
natural original); iii) Sítios da Aliança Para (McDONALD et al., 2018).
Extinção Zero (locais em que existem as únicas Os processos de crescimento urbano
populações conhecidas de espécies extrema- (crescimento das cidades em área ou popula-
mente raras); e iv) Áreas-Chaves de Biodiversi- ção) e urbanização (processo pelo qual uma fra-
dade (biodiversidade geograficamente restrita, ção maior da população vive em cidades) estão
integridade ecológica, processos biológicos e conectados com processos ecológicos e biofí-
insubstituibilidade) (McDONALD et al., 2018). sicos. Embora as áreas urbanizadas ocupem
Em complemento às já citadas, uma nova apenas uma pequena porção da super-
categoria, denominada de “Hotspots Cities”, foi fície do planeta, sua contribuição para os
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 23

Figura 12 |
Tendência de expansão
urbana em áreas da
RBCV em 2030 e
potenciais conflitos para
a biodiversidade.
Fonte: Weller et al. (2017).

impactos antropogênicos na biosfera são imen- elas também são capazes de se autossuprir, em
sos. As cidades se apropriam de vastas áreas de graus distintos, desses serviços.
ecossistemas funcionais para seu consumo e Para um melhor entendimento de como
deposição de resíduos. A maior parte dos ser- as cidades se relacionam com manutenção de
viços ecossistêmicos consumidos em cidades biodiversidade e serviços ecossistêmicos, é
são gerados por ecossistemas fora das cida- importante ter-se em mente que as áreas urba-
des, muitas vezes em outras partes do mun- nas, numa visão multiescalar, ao mesmo tem-
do (McGRANAHAN; MARCOTULLIO, 2005; po abrigam ecossistemas e se configuram elas
GÓMEZ-BAGGETHUN et al., 2013; McDONALD mesmas como ecossistemas, especialmente
et al., 2018). sob um ponto de vista mais amplo, que abrange
Não obstante a dependência, por par- a transição das áreas mais adensadas para as
te das cidades, de serviços ecossistêmicos zonas periurbanas (McGRANAHAN; MARCO-
provenientes de distintos lugares do planeta, TULLIO, 2005).
24 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Os chamados ecossistemas urbanos abar- multiescalar é, inclusive, necessária para o


cam tanto a infraestrutura construída quanto a manejo dos serviços ecossistêmicos (SECRE-
infraestrutura ecológica, esta entendida como TARIAT, 2012).
o papel da água e vegetação, dentro e próxi- O fornecimento de serviços ecossistê-
mas às áreas construídas, em áreas urbanas micos urbanos está também associado à pre-
(árvores, quintais, loteamentos) ou periurba- sença das florestas urbanas, definidas como
nas (lagos, florestas), no fornecimento de ser- redes ou sistemas que compreendem as flores-
viços ecossistêmicos em diferentes escalas tas, grupos de árvores e árvores individuais
espaciais (residência, rua, bairro, região). A localizadas em áreas urbanas e periurbanas
definição de limites precisos dos ecossistemas (SALBITANO et al., 2016), em uma perspectiva
urbanos é geralmente difícil, posto que muitos complementar e convergente à dos ecossiste-
dos relevantes fluxos e interações necessários mas urbanos.
para o entendimento do funcionamento des- Essas abordagens conceituais são rele-
ses ecossistemas se estendem para muito além vantes tanto para o entendimento das análi-
dos limites urbanos definidos segundo crité- ses efetuadas nos capítulos que compõem esta
rios políticos ou biofísicos. Portanto, o escopo publicação quanto para a constatação de que
apropriado de análise do ecossistema urbano os limites propostos para a RBCV foram muito
avança para as áreas adjacentes que guardam consistentes do ponto de vista da necessidade
relações de fluxos de matéria e energia com o nú- de gestão integrada das suas cidades em face
cleo urbano e suburbano, que incluem florestas de seus serviços ecossistêmicos. Os conceitos e
periurbanas, bacias hidrográficas e áreas cul- classificações de serviços ecossistêmicos nor-
tivadas (GÓMEZ-BAGGETHUN et al., 2013). malmente associados a ecossistemas urbanos
Essa abordagem integrada, abrangente e são sintetizados na Tabela 7.

Tipos de serviços
Funções ecossistêmicas Exemplos
ecossistêmicos
Conversão de energia em plantas Produção de alimento Vegetais produzidos por loteamentos urbanos e áreas
comestíveis por meio de fotossíntese periurbanas
Percolação e regulação do escoa- Mitigação de escoamento superficial Solo e vegetação percolam a água durante eventos de
mento superficial e vazão do rio precipitação intensa e/ou prolongada
Fotossíntese, sombreamento e Regulação de temperatura urbana Árvores e outras vegetações urbanas fornecem sombra,
evapotranspiração criam umidade e bloqueiam o vento
Absorção das ondas sonoras pela Redução de ruído Absorção de ondas sonoras por barreiras de vegetação,
vegetação e pela água especialmente vegetação adensada
Deposição a seco de gases e Purificação do ar Absorção de poluentes pela vegetação urbana em
material particulado folhas, caules e raízes
Barreira física e absorção de energia Controle de eventos ambientais extremos Amenização de tempestades, inundações e de ondas
cinética por barreiras de vegetação; absorção de calor duran-
te ondas de calor severas; áreas úmidas intactas prote-
gem as inundações do rio
Remoção ou quebra de nutrientes Tratamento de resíduos Filtragem de efluentes e fixação de nutrientes por áreas
xênicos úmidas urbanas
Sequestro e armazenamento de Regulação climática global Fixação e armazenamento de carbono pela biomassa
carbono por fixação em fotossíntese de árvores e arbustos urbanos
Tabela 7 |
Movimento de gametas florais pela Polinização e dispersão de sementes Ecossistema urbano fornece habitat para pássaros,
Classificação de
biota insetos e polinizadores
importantes serviços
ecossistêmicos Ecossistemas com valores Recreação As áreas verdes urbanas oferecem oportunidades para
em áreas urbanas recreativos recreação, meditação e relaxamento
e seus principais
Experiência humana dos Desenvolvimento cognitivo Jardinagem comunitária como preservação do
componentes
ecossistemas conhecimento socioecológico
e funções
ecológicas. Ecossistemas com valores estéticos Benefícios estéticos Visão de parques urbanos a partir das casas
Adaptado de
Provisão de habitat Habitat para biodiversidade Os espaços verdes urbanos fornecem habitat para pás-
Gómez-Baggethun
saros e outros animais que as pessoas gostam de ver
et al., (2013).
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 25

3 | DO GLOBAL AO LOCAL –
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
como uma dessas avaliações subglobais (ASG-
-RBCV), em sintonia com o próprio estudo de

E BEM-ESTAR HUMANO
criação dessa reserva que, em 1991, já des-

NA RBCV
tacava a relevância dos benefícios da reserva
para a metrópole.
A RBCV se inseriu na AEM como uma
Como as causas e os efeitos de mudanças Avaliação Associada e, em janeiro de 2005,
ambientais ocorrem em múltiplas escalas, a foi elevada à condição de Avaliação Aprova-
AEM foi concebida e desenvolvida como uma da (Figura 13 e Figura 14), mediante pro-
avaliação multiescalar, com avaliações inter- cesso específico de candidatura chancelado
conectadas entre si, que utilizam a mesma pelo Comitê Executivo do Conselho da AEM.
metodologia do processo global, porém reali- As Avaliações Aprovadas são espelhos do
zadas em âmbito local, de bacia hidrográfica, processo metodológico desenvolvido pela AEM
nacional e regional - as chamadas avaliações em sua escala global (MEA, 2019b).
subglobais (ASG). Essas avaliações, além de for- Durante os anos em que transcorreu a
necerem importantes subsídios sobre como as AEM, foram desenvolvidas várias ações pela
relações entre ser humano e meio ambiente se ASG-RBCV para divulgação dessa iniciativa
dão em distintas escalas geográficas do plane- global entre os seus usuários e a comunidade
ta, também são poderosos instrumentos para a científica, além do estabelecimento do próprio
gestão dessas regiões. desenho metodológico da ASG-RBCV.
A escala na qual as avaliações são rea- Ocorreram duas missões da AEM a São
lizadas pode influenciar seus resultados. Por Paulo, que culminaram com a realização de
isso, para capturar em sua totalidade a com- dois eventos. Em 8 de dezembro de 2003 foi
plexidade da influência da ação humana sobre realizado o Seminário Internacional Ecos-
a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos sistemas e Bem-Estar Humano: A Proposta da
e sua relação com o bem-estar humano, as Avaliação Ecossistêmica do Milênio e, em 1 de
avaliações multiescalares são tão necessárias abril de 2005, São Paulo sediou o Seminário
(MEA, 2003; ARICO; CAR, 2010). Internacional sobre a Avaliação Ecossistêmica
Em 2002 o Instituto Florestal/RBCV do Milênio, um dos maiores eventos globais
se engajaram na AEM e, em conjunto com a simultâneos de lançamento dos resultados
direção do Programa, estabeleceram a RBCV da AEM. De igual relevância foi a participação

Figura 13 |
As avaliações subglobais
no âmbito da Avaliação
Ecossistêmica do Milênio.
Fonte: MEA (2019a).
26 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Mesmo finda a AEM em 2005,


por meio do MA Follow-up Initiative foi
possível desenvolver uma rede de ava-
liações subglobais que, em 2010, conta-
va com aproximadamente 79 iniciati-
vas realizadas em todo o mundo e em
diversas escalas (ARICO; CAR, 2010).
Essas avaliações subglobais tive-
ram continuidade e, juntamente com
IPBES, foi estabelecido o Catálogo de
Avaliações de Biodiversidade e Serviços
Ecossistêmicos <www.catalog.ipbes.net>,
uma plataforma on-line, implementada
para fornecer acesso direto a diretrizes
e relatórios das avaliações. Os dados
disponíveis para novembro de 2019
indicam a existência de 248 iniciativas
em diferentes escalas do planeta.
A ASG-RBCV tem o objetivo de for-
necer aos tomadores de decisão da re-
gião informações sobre: i) a importân-
cia dos serviços ecossistêmicos do Cin-
turão Verde para o bem-estar em suas
áreas urbanas e periurbanas; ii) as for-
mas pelas quais os vetores de alteração

Figura 14 |
ambiental ameaçam a continuidade des-
Inclusão da
ses processos vitais; iii) as consequên-
ASG-RBCV como cias desses processos para o bem-estar
avaliação
ecossistêmica
da população; e iv) as opções de respos-
aprovada junto à
tas para ampliar a conservação da biodi-
rede de avaliações versidade e os benefícios da RBCV para
subglobais da AEM. os seus habitantes (VICTOR et al., 2003).
Fonte: Arquivo
da RBCV.
Ainda que a ASG-RBCV não tenha
sido plenamente desenvolvida de acor-
da coordenação local do projeto nas reuniões e do com sua proposta original, a publicação deste
encontros técnicos internacionais promovidos livro se constitui em um marco para esse proces-
pela AEM, que se configuraram em aprendi- so regional de avaliação ecossistêmica. De igual
zado metodológico amplamente replicado em relevância, contribui muito oportunamente com
programas e projetos no estado de São Pau- as necessidades de conhecimento para uma ges-
lo. Durante esse período, a ASG-RBCV ganhou tão mais criteriosa desse espaço territorial vital
generoso espaço na mídia pelo pioneirismo da para o bem-estar de mais de 25 milhões de pes-
proposta em âmbito nacional, num momento em soas e para a própria economia do país.
que comunidade científica e sociedade se fami- Em 2018, no âmbito do Plano de Desenvol-
liarizavam cada vez mais com o termo serviços vimento Urbano Integrado (PDUI) da RMSP, a
ambientais, posteriormente consagrado serviços RBCV realizou oficina com especialistas com o
ecossistêmicos. objetivo de contribuir para a espacialização de 14
A ASG-RBCV procurou, por outro lado, serviços ecossistêmicos de seu território. Como
aprimorar metodologias de avaliação ecossis- insumo para a reflexão dos capítulos que cons-
têmica em ambientes urbanos e periurbanos, tituem este livro, a Figura 15 sintetiza a capaci-
de modo a igualmente contribuir para o pro- dade intrínseca dos ecossistemas da reserva em
cesso da AEM como um todo. fornecer esses serviços.
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 27

Figura 15 |
Capacidade de
fornecimento
de serviços
ecossistêmicos
na RBCV.
Fonte: Victor; Furlan;
Nalon; Iembo (2019).

4 | OS ECOSSISTEMAS DO
CINTURÃO VERDE, SEUS
Regulação da qualidade do ar, que trouxe dados
específicos para parques da cidade de São Pau-

SERVIÇOS, VETORES DE
lo; ou dos Serviços culturais folclorísticos: a

ALTERAÇÃO E RELAÇÃO
dimensão do folclore caipira, baseados na rea-
lidade de comunidade tradicional no contexto

COM O BEM-ESTAR HUMANO


do PE do Jurupará.
A riqueza ambiental e de serviços propor-
cionados pelos ecossistemas do Cinturão Verde
Em 29 de agosto de 2009, na Faculdade de guardam relações diretas com a expressividade
Medicina da Universidade de São Paulo (USP), de seu território, que encerra uma população
ocorreu a oficina de integração de pesquisado- superior a 25 milhões de habitantes e um PIB
res para discutir os temas e a base metodológi- regional de 18,8% em relação ao PIB do Brasil
ca para elaboração deste livro, que se configura (IBGE, 2019). A área abrangida pela RBCV sofre
em uma publicação que apresenta um panora- com a utilização irracional do solo, poluição
ma da situação atual dos serviços ecossistêmi- ambiental em larga escala, uso insustentável de
cos associados aos principais ecossistemas da energia e aridez da região urbanizada, que con-
RBCV. Sua base de análise foram dados secun- trastam com a sua zona periurbana envoltória,
dários resultantes de pesquisas existentes, que onde grandes extensões de florestas e zonas
foram integrados, correlacionados e/ou com- com pouco grau de alteração guardam um valio-
parados, a partir de um roteiro metodológico so capital de serviços dos ecossistemas.
comum a todos os serviços estudados. Embora os ecossistemas forneçam ser-
Nem todos os serviços ecossistêmicos viços que sustentam o bem-estar humano,
avaliados nesta publicação o foram para a parte desses serviços diminui a um ritmo sem
escala da RBCV. Em função de disponibilidade precedentes em âmbito mundial. Esse quadro
de dados ou da abordagem estabelecida pelos demanda políticas públicas baseadas em infor-
autores, alguns serviços foram analisados em mações cientificamente relevantes, que levem
setores da reserva, a exemplo do capítulo de em conta as complexas relações existentes
28 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

entre os diversos componentes dos ecossiste- demográficas e ambientais dessa reser-


mas e entre estes e o bem-estar humano, abor- va da biosfera; histórico do desenvol-
dagem que permeia toda a publicação. vimento do conceito de serviços dos
A integração e a correlação entre as várias ecossistemas, os processos globais de
áreas do conhecimento realizadas para a publi- avaliação dos ecossistemas e a avalia-
cação Serviços Ecossistêmicos e Bem-Estar ção subglobal dos ecossistemas no ter-
Humano na RBCV representam poderosa fer- ritório da RBCV.
ramenta para os tomadores de decisão. Assim, ¢ O Produtor e o Serviço Ecossistêmico

configuram-se como subsídios para orientar e de Provisão de Alimentos | Trata da


compor políticas, ações e planos regionais e/ou agricultura urbana e periurbana, volta-
locais, sobretudo relacionados com a Agenda da para a produção de frutas, legumes,
2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sus- aves, pecuária e pesca existente no inte-
tentável (OSD), a Convenção da Diversidade rior e ao redor da cidade de São Paulo, a
Biológica e a Convenção de Combate às Mudan- partir da análise de três sistemas (pla-
ças Climáticas. nalto, costeiro e UC). Altamente depen-
Esta integração multidisciplinar somen- dente da água, a produção agrícola é
te se fez possível pelo trabalho conjunto de diversificada e basicamente abastece o
mais de 50 instituições de referência em suas mercado interno regional. Está direta-
áreas de atuação, com envolvimento de mais mente associada ao bem-estar huma-
de 100 especialistas na temática socioambien- no, garantindo a segurança alimentar e
tal e profissionais de comunicação. O objetivo nutricional, com impacto nas condições
maior foi produzir informações científicas crí- de saúde das pessoas.
ticas, credíveis, independentes, revestidas de ¢ Recursos Florestais Madeireiros e Deri-
uma abordagem inovadora e, ao mesmo tem- vados | A cobertura florestal com espé-
po, de fácil acesso, entendimento e utilização. cies exóticas para a produção comer-
O livro Serviços Ecossistêmicos e Bem-Estar cial (principalmente Eucalyptus spp e
Humano na RBCV se constitui em um documen- Pinus spp) na RBCV ocupa mais de 107
to referencial, quer por consolidar os resultados mil hectares. Para alguns municípios, o
de uma avaliação ecossistêmica de uma grande valor da produção florestal é altamente
metrópole do planeta e sua área periurbana, significativo, aproximando 9% do PIB
quer pela grande quantidade de serviços ava- municipal. Essas ocupações proporcio-
liados, alguns raramente utilizados em outras nam, entre outros importantes serviços
avaliações, o que amplia o seu alcance e impacto ecossistêmicos, o estoque de cerca de 23
potencial em políticas públicas. milhões de toneladas de carbono em CO2
Ademais deste prólogo e do epílogo, a equivalente. Em uma situação hipotéti-
publicação apresenta cinco partes que foram ca de supressão dessas áreas florestais,
definidas, inclusive em seu projeto gráfico e sucedida por urbanização, isso repre-
estrutura de cores, com base nas categorias sentaria um acréscimo de 34% da área
funcionais dos serviços ecossistêmicos: i) ser- urbanizada da RBCV.
viços ecossistêmicos de provisão; ii) servi- ¢ Produtos Bioquímicos, Medicamentos
ços ecossistêmicos de regulação; iii) serviços Naturais e Produtos Farmacêuticos: o
ecossistêmicos culturais; iv) serviços ecossis- Potencial Farmacológico de Espécies
têmicos de suporte; v) ferramentas de apoio à encontradas na RBCV | As plantas medici-
tomada de decisão. nais movimentam um mercado mundial
Nesta estrutura, foram organizadas as ava- de U$ 21,7 bilhões/ano (2008). No Brasil,
liações temáticas, representadas em capítulos. as estimativas estão em torno de R$ 1,1
¢ Um Cinturão de Vida ao Redor de São bilhão para a venda de fitoterápicos em
Paulo | apresentação das informações 2014. Na RBCV existem 2.256 espécies
essenciais sobre a RBCV, seu processo de plantas catalogadas (Programa Bio-
de criação e estabelecimento de seu sis- ta-Fapesp). Desse total, levantamentos
tema de gestão, síntese de informações preliminares indicam que 277 (12%)
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 29

constituem-se como fonte de compostos ¢ Qualidade do Ar | A poluição atmosfé-


químicos, medicamentos naturais e rica se configura como um dos maio-
produtos farmacêuticos. Ao analisar as res problemas ambientais e de saúde
277 plantas catalogadas, 12 delas cons- pública das cidades, com sérios danos
tam da lista das 74 plantas medicinais aos ecossistemas e comprometimen-
adotadas pelo SUS em 2006, com estu- to da saúde das pessoas, em especial
dos (farmacológicos pré-clínico, clíni- nos grandes centros urbanos, como a
co e toxicológicos) necessários à sua RMSP. Como reduzem a poluição do ar,
distribuição. as árvores são um importante instru-
¢ Provisão, Regulação da Água e Bem-Estar mento de gestão pública para as cida-
Humano | A superfície terrestre da RBCV des. Estudos em cinco parques da cida-
apresenta 39,9% de cobertura vegetal de de São Paulo demonstraram que as
natural, que propicia serviços de regula- áreas centrais dos parques possuem
ção das águas superficiais e subterrâne- menor concentração de poluentes que
as. Devido aos processos de antropização em suas bordas, comprovando sua efi-
do seu território, as bacias hidrográficas ciência na redução de particulados.
da RBCV estão classificadas em catego- O aumento ou a diminuição das áre-
ria “crítica” e “muito crítica”, ao se con- as verdes urbanas pode determinar
siderar a relação entre disponibilidade impactos positivos ou negativos consi-
e demanda hídrica. A bacia do Alto Tietê, deráveis à saúde pública.
com 19 milhões de habitantes é a mais ¢ Serviço de Fixação de Carbono em Super-

crítica do Brasil, com demanda superior fície e Redução de Gases de Efeito Estufa
a 100% de sua disponibilidade. A descon- na Atmosfera | As mudanças climáticas
sideração das condições necessárias à globais configuram um risco de ameaças
renovação da água na RBCV compromete sem precedentes para a vida no plane-
os serviços ecossistêmicos e afeta o bem- ta. Para enfrentamento desse desafio foi
-estar de sua população em decorrência adotada, em 1992, a Convenção-Quadro
da diminuição da disponibilidade hídri- das Nações Unidas sobre Mudança do
ca (em qualidade e quantidade) e devido Clima (UNFCCC). Como as emissões pau-
às perdas humanas e materiais provo- listas de gases de efeito estufa equivalem
cadas por inundações, deslizamentos e a praticamente um quarto do montante
enchentes. brasileiro, os serviços ecossistêmicos
¢ Processos Geohidrológicos de Ero- proporcionados pelos ecossistemas da
são, Escorregamentos, Assoreamen- RBCV são relevantes em escala local,
tos e Inundações | Na RBCV, a ocu- regional e global para cumprimento das
pação inadequada dos seus espaços metas relacionadas às mudanças climá-
provoca a perda de serviços ecossis- ticas e seus efeitos no ambiente. O esto-
têmicos e gera impactos que implicam que de carbono na vegetação na RBCV é
na paralisação de atividades econô- aproximadamente 450 milhões de tone-
micas; maior custo de manutenção ladas em CO2 equivalente; essa quanti-
de infraestruturas (drenagem urba- dade corresponde a quase uma década
na, sistemas e reservatórios de abas- de emissões de CO2 proveniente de com-
tecimento de água e sistema portuário); bustíveis fósseis por todo o estado de São
danos ao patrimônio público e privado; Paulo. A taxa de remoção atmosférica
comprometimento da saúde física e pelas florestas em processo de regenera-
psíquica da população. Tal cenário exige ção ultrapassa 28 milhões de toneladas
a adequação do uso do solo à conserva- de carbono em CO2 equivalente por ano
ção de áreas de cobertura vegetal para (36% das emissões estaduais anuais).
a produção dos serviços ecossistêmi- Estes dados evidenciam a importância
cos de regulação na RBCV, com signifi- da vegetação e dos povoamentos flores-
cativos e imediatos ganhos para o bem- tais da RBCV frente às mudanças climá-
-estar humano. ticas globais.
30 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

¢ Regulação Climática | Com a urbaniza- de industrialização e urbanização, com


ção ao longo do tempo, a área central da vulnerabilidade dessa cultura em face
RBCV teve a sua rede de drenagem reco- da deficiência de políticas públicas, con-
berta por ruas e avenidas, com alteração forme demonstrado nos estudos de caso
do ciclo da água e da circulação do ar. sobre a situação atual de comunidades
Na cidade de São Paulo, nos últimos 75 tradicionais.
anos, houve aumento de temperatura do ¢ Lazer e Turismo: uma reflexão sobre o
ar de 2,1oC, elevação muito superior ao Ecoturismo, Turismo Rural e Turismo
aumento da temperatura média global de Aventura | Os ecossistemas urbanos
do planeta (0,5oC); diminuição da umi- e periurbanos apresentam atrativos
dade relativa em 7%; aumento das chu- marcados por expressiva beleza cêni-
vas em quase 400 mm (litros por metro ca e biodiversidade, principalmente
quadrado); diminuição da intensidade em áreas especialmente protegidas
dos ventos; aumento do número de horas e propriedades rurais distribuídas
de brilho solar ou diminuição da nebulo- pelo território da RBCV. Esses ecos-
sidade, redução da garoa e aumento das sistemas propiciam locais de lazer,
temperaturas mínimas do ar. Nos últi- descanso, recreação e oportunidades
mos anos, 65% dos eventos de enchen- educativas, que possibilitam o desen-
tes foram causados pela combinação de volvimento de atividades de turismo
ilha de calor urbano e brisa do mar. Nas sustentável, como o ecoturismo, o
últimas décadas, houve diminuição da turismo rural e o turismo de aventu-
quantidade de vapor de água em virtude ra. As áreas naturais da RBCV concen-
da redução das áreas vegetadas. Siner- tram 100 UC e atrativos naturais em
gicamente, devido às mudanças no seus 78 municípios. Destacam-se os
microclima da RBCV, a população está programas governamentais, como Tri-
mais exposta aos riscos ambientais lhas de São Paulo e a inserção da RBCV
advindos do desenvolvimento urbano. no Mapa Turístico do Brasil 2017-2019,
Na RBCV, foram identificadas as diferen- com 15 regiões turísticas que abran-
tes fontes de vapor d'água que abaste- gem roteiros sobre aspectos natu-
cem seu território (Nordeste, Pantanal, rais, históricos e gastronômicos de 67
Amazônia e Oceano Atlântico). Como municípios do Cinturão Verde.
as alterações nos ecossistemas afetam ¢ A Biodiversidade como Serviço Ecossis-
desde o microclima até às condições cli- têmico de Suporte | A RBCV abriga dife-
máticas regionais, essa relação deve ser rentes formações vegetais com alta
considerada no planejamento e ordena- diversidade biológica. Sua conserva-
mento territorial em escalas diferencia- ção é fundamental para que os demais
das de intervenção. serviços ecossistêmicos possam ser
¢ Serviços Culturais Folclorísticos: a di- adequadamente providos pelo ambien-
mensão do Folclore Caipira | Os ecos- te. No entanto, muitas espécies da
sistemas fornecem serviços culturais flora e da fauna estão ameaçadas de
para as comunidades tradicionais cai- extinção pela perda e degradação de
piras, expressos por rituais culturais seus habitats, sobrexploração e intro-
folclóricos. A cultura tradicional caipi- dução de espécies exóticas invasoras.
ra, influenciada pelas características No Brasil, o domínio da Floresta Atlân-
do ambiente estava presente, no passa- tica apresenta a maior riqueza de espé-
do, em todo o entorno da cidade de São cies catalogadas de plantas e fungos,
Paulo, representada pela fabricação de com cerca de 20 mil espécies. Na RBCV,
artefatos e utensílios, por ritos, mitos, a fauna de vertebrados continentais
culinária e religiosidade. Ao longo do corresponde a 58% da fauna conti-
tempo, os núcleos caipiras foram redu- nental do estado de São Paulo, apre-
zidos drasticamente devido ao processo sentando espécies endêmicas. Do
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 31

total de espécies de vertebrados ame- apresenta-se, assim, como importante


açados de extinção no estado, as espé- ferramenta para a constituição de parâ-
cies da RBCV representam 38% e, no metros mínimos necessários à elaboração
caso das endêmicas da RBCV, 68% e implementação de políticas que impac-
são consideradas ameaçadas. A per- tam os serviços e seus ecossistemas.
da irreversível de espécies pode levar ¢ Mãos Unidas para os Serviços Ecossis-

a impactos adversos em atividades têmicos e para a Biodiversidade | Como


socioeconômicas em função da alte- esta publicação se propõe a contribuir
ração dos serviços prestados pela para a sustentabilidade de uma das
biodiversidade. Esta situação exige maiores aglomerações humanas do
políticas integradas de conservação planeta, tal desafio somente poderia
e uso racional dos sistemas naturais ser enfrentado a partir do trabalho de
essenciais ao bem-estar humano. uma centena de especialistas na temá-
¢ Valoração Econômico-Ecológica de Ecos- tica socioambiental e de profissionais
sistemas e seus Serviços | A valoração de comunicação. De forma colaborati-
econômico-ecológica é uma metodolo- va e multidisciplinar, esse time se uniu
gia distinta da prática de valoração cor- para fornecer contribuições relevantes
rentemente praticada, na medida em ao futuro dessa região de tão significa-
que procura levar em conta a natureza tiva importância em âmbito nacional.
complexa dos ecossistemas e os distin-
tos valores que lhes são associados, bem A partir da abordagem metodológica e das
como os riscos de perdas irreversíveis, informações trazidas por esta publicação, espe-
potencialmente catastróficas, de estrutu- ra-se contribuir de forma proativa tanto para a
ras e funções ecossistêmicas. As políticas compreensão de que os ecossistemas urbanos e
ambientais foram estudadas, com ênfase periurbanos do cinturão verde, sustentadores
no marco regulatório sobre pagamento da vida na metrópole, precisam ser melhor estu-
por serviços ambientais no Brasil e em dados, especialmente enquanto prestadores de
São Paulo, que considera a regulamen- serviços ecossistêmicos, quanto para a urgente
tação estabelecida pela Política Estadual e necessária adoção da RBCV como marco terri-
de Mudanças Climáticas (PEMC). Foram torial de gestão integrada da cidade e seus ecos-
estabelecidas perspectivas de valora- sistemas envoltórios. Essa perspectiva apresen-
ção de serviços ecossistêmicos para a ta grande potencial de assegurar, no presente e
RBCV, com apresentação do intervalo de no futuro, as condições essenciais para o bem-
valores encontrados para cada serviço -estar de 55,3% da população do estado e a con-
e as técnicas de valoração mais utiliza- servação da biodiversidade de um espaço singu-
das. A valoração econômica-ecológica lar da mata atlântica brasileira.
32 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

REFERÊNCIAS
AINSCOUGH, Jacob et al. (2019). Navigating Nature, v. 387, n. 6630, p. 253.
pluralism: Understanding perceptions of the
COSTANZA, R.; KUBISZEWSKI, I. (2012). The
ecosystem services concept. Ecosystem Services,
authorship structure of “ecosystem services” as a
v. 36, p. 100892.
transdisciplinary field of scholarship. Ecosystem
ANDERSON, Christopher B. et al. (2019). Determining Services, v. 1, n. 1, p. 16-25.
nature’s contributions to achieve the sustainable
COSTANZA, Robert et al. (2014). Changes in the
development goals. Sustainability Science, v. 14,
global value of ecosystem services. Global
n. 2, p. 543-547.
environmental change, v. 26, p. 152-158.
ARICO, S; CAR, M. (2010). Marco internacional
COSTANZA, R. et al. (2017). Twenty years of
para la evaluación de la biodiversidade y los servi-
ecosystem services: how far have we come and
cios de los ecosustemas: resultados de La Evalua-
how far do we still need to go? Ecosystem
ción de los Ecosistemas del Milenio, implicaciones y
Services, v. 28, p. 1-16.
nuevas aplicaciones. In: Servicios de los ecosis-
temas y bienestar humano: la contribución DAILY, G. C. et al. (1997). Nature’s services.
de la Evaluación de los Ecosistemas del Mi- Island Press, Washington, DC.
lenio. FERNÁNDEZ, N.V.; SAAVEDRA, M.M. DAW, T. M. et al. (2015). Evaluating taboo trade-offs
(Coord.). UNESCO Etxea. in ecosystems services and human well-being.
BENNETT, E. M. (2017). Research frontiers in Proceedings of the National Academy of
ecosystem service science. Ecosystems, v. 20, n. 1. Sciences, v. 112, n. 22, p. 6949-6954.
BOLUND, P.; HUNHAMMAR, S. (1999). Ecosystem DÍAZ, S., S. et al. (2015). The IPBES conceptual
services in urban areas. Ecological economics, v. framework - connecting nature and people. Current
29, n. 2, p. 293-301. Opinion in Environmental Sustainability 14:1-16.
BRASIL (1974). Decreto nº 74.685, de 14 de outu- DÍAZ, S., et al. (2018). Assessing nature’s contri-
bro de 1974. Cria, no Ministério das Relações Exte- butions to people. Science 359(6373):270-272.
riores, a Comissão Brasileira do Programa sobre o
DÍAZ, et al. (2019). RE: There is more to nature’s
Homem e a Biosfera, promovido pela UNESCO (re-
contributions to people than ecosystem services -
vogado pelo Decreto de 21 de setembro de 1999).
a response to de Groot et al. Science E-Letter, 12
BRASIL (1999) Decreto Presidencial de 21 de March. [online]. <http://science.sciencemag.org/
setembro de 1999. Dispõe sobre a Comissão Bra- content/359/6373/270/tab-e-letters>
sileira para o Programa “O Homem e a Biosfera”
FAITH, D. P. (2018). Avoiding paradigm drifts in
- COBRAMAB, e dá outras providências.
IPBES: reconciling “nature’s contributions to people,”
BRASIL (2000) Lei n. 9.985, de 18 de julho de biodiversity, and ecosystem services. Ecology and
2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, Society 23(2):40.
III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Nature- FUNDAÇAO FLORESTAL (2020). Banco de dados
za e dá outras providências. georreferenciado de áreas protegidas (2019).

BRASIL. (2002) Decreto n. 4.340, de 22 de agos- FUNDAÇÃO SEADE (2019). Estado de São Paulo
to de 2002. Regulamenta artigos da Lei no 9.985, e suas regionalizações. Disponível em: < http://
de 18 de julho de 2000, que dispõe sobre o Siste- produtos.seade.gov.br/produtos/divpolitica/>.
ma Nacional de Unidades de Conservação da Na- Acesso: 12 dez. 2019.
tureza - SNUC, e dá outras providências. GEIJZENDORFFER, I. R. et al. (2017). Ecosystem
CATALOG .IPBES (2019). Catalog of Assessments services in global sustainability policies. Envi-
on Biodiversity and Ecosystem Services. Dispo- ronmental Science & Policy, v. 74, p. 40-48. 25.
nível em: <http://catalog.ipbes.net/>. Acesso: 18 GÓMEZ-BAGGETHUN, E. et al. (2010). The
nov. 2019. history of ecosystem services in economic theory
CAVENDER-BARES, J., S. POLANSKY, E. KING; P. and practice: from early notions to markets and
BALVANERA. (2015). A sustainability framework payment schemes. Ecological economics, v. 69,
for assessing trade-offs in ecosystem services. n. 6, p. 1209-1218.
Ecology and Society 20(1): 17. GÓMEZ-BAGGETHUN; E. et al., (2013). Chapter
CELECIA, J. (2006). El fenomeno urbano y el pro- 11 Urban Ecoystem Services. In: ELMQVIST, T. et al.
grama MAB de UNESCO. In: Un resurgimiento (2013) Urbanization, biodiversity and ecosystem
esperado, las Reservas de Biosfera en ambientes services: challenges and opportunities: a
urbanos. Revista Ambiente Digital, n. 96. global assessment. Springer Nature.
COSTANZA, R. et al. (1997). The value of the IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
world's ecosystem services and natural capital. E ESTATÍSTICA (2017). Classificação dos espaços
UM CINTURÃO DE VIDA AO REDOR DE SÃO PAULO 33

rurais e urbanos no Brasil: uma primeira aproxima- www.millenniumassessment.org/en/index.html>.


ção / IBGE, Coordenação de Geografia - Rio de Ja- Acesso: 12 dez. 2019.
neiro, In: Estudos e pesquisas. Informação geo- MEA – MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT
gráfica. n. 11. Disponível em: <>. Acesso: 18 nov. (2019b). Reports: Subglobal assessments:
2019. Brazi (São Paulo Greenbelt). Disponível em
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA <https://www.millenniumassessment.org/en/
E ESTATÍTICA (2019). Cidades e estados. (Banco SGA.Brazil.html>. Acesso: 18 nov. 2019.
de Dados. Todos os Municípios - SP). Disponível MEA – MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT
em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ (2005a). Ecosystems and human well-being:
sp.html>. Acesso: 25 nov. 2019. a framework for assessment. Word Resources
INSTITUTO FLORESTAL (2019). Banco de dados Institute.
georreferenciado de áreas protegidas (2019). MEA – MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT
IPBES. Intergovernmental Science-Policy (2005b). Ecosystems and human well-being:
Platform on Biodiversity and Ecosystem Synthesis. Island Press, Washington, DC. Dispo-
Services (2019a). Disponível em: <https://www. nível em: <https://www.millenniumassessment.
ipbes.net/ > . Acesso: 12 dez. 2019. org/documents/document.356.aspx.pdf>. Aces-
so: 18 nov. 2019.
IPBES - Intergovernmental Science-Policy
Platform on Biodiversity and Ecosystem MEA – MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT
Services (2019b). Summary for Policymakers of (2003). Ecosystems and Human Well Being:
the IPBES Global Assessment Report on Biodi- Synthesis. Island Press.
versity and Ecosystem Services. Disponível em: MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (2019a).
<https://ipbes.net/sites/default/files/2020-02/ Áreas protegidas: Instrumentos de Gestão:
ipbes_global_assessment_report_summary_for_ Reservas da Biosfera. Disponível em: <https://
policymakers_en.pdf>. Acesso: 21 abr. 2020. www.mma.gov.br/areas-protegidas/instrumen-
JAEGER. T. Nuevas perspectivas para el pro- tos-de-gestao/reserva-da-biosfera.html>. Acesso
grama MAB y las Reservas de Biosfera: Lec- 18 dez. 2019.
ciones aprendidas en América Latina y el Caribe. MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (2019).
Programa de Cooperación Sur-Sur. França, Unes- CNUC – Cadastro Nacional de de Unidades
co, 2005. (Documientos de Trabajo, n. 35). de Conservação. Disponível em: < https://www.
LA NOTTE, A. et al. (2017). Ecosystem services mma.gov.br/areas-protegidas/cadastro-nacional-
classification: a systems ecology perspective of the -de-ucs>. Acesso: 06 mar. 2020.
cascade framework. Ecological indicators, v. 74, MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (2016).
p. 392-402. Rede Brasileira de Reservas da Biosfera. Brasí-
LAYKE, C.; MAPENDEMBE, A.; BROWN, C.; lia-DF. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/
WALPOLE, M.; WINN, J. (2012). Indicators from images/arquivo/80252/REDE%20RB/LIVRO_Re-
the global and sub-global Millennium Ecosystem servas%20da%20Biosfera%20Brasileira_FINAL_
Assessments: An analysis and next steps. WEB.pdf>. Acesso: 18 nov. 2019.
Ecological Indicators, 17, 77-87. PASCUAL, U. et al. (2017). Valuing nature’s con-
tributions to people: the IPBES approach. Current
MAES, J.; BURKHARD, B.; GENELETTI, D. (2018).
Opinion in Environmental Sustainability, v. 26,
Ecosystem services are inclusive and deliver
p. 7-16.
multiple values. A comment on the concept of
nature's contributions to people. One Ecosystem, RBCV – RESERVA DA BIOSFERA DO CINTU-
v. 3, p. e24720. RÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO (2017).
Individualization: the case of GBBR and AFBR.
MAZZEI, K. (2020). Zoneamento da Reserva da
Documento técnico não publicado. Disponível nos
Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São
arquivos da RBCV.
Paulo [mapa]. São Paulo.
RODRIGUES, E.A.; AQUINO, A. R.; CARVALHO,
McDONALD, R. et al. (2018). Nature in the Urban
A. R. (2019). Convergence Between Studies on
Century: A global assessment of where and
Ecosystem Services and Nuclear Technology -
how to conserve nature for biodiversity and
A Necessary Approximation. In: International
human wellbeing, The Nature Conservancy - TNC.
Nuclear Atlantic Conference – INAC 2019:
McGRANAHAN, G.; MARCOTULLIO, P. J. et al. Nuclear new horizons: fueling our future,
(2005). Urban systems, in MEA, Ecosystems October 21-15, 2019, Santos, SP, Brazil.
and Human Well-Being: Current Status and
RODRIGUES, E. A.; VICTOR, R. A. B. M. (2014). Os
Trends, Island Press, Washington DC, p. 795–825.
serviços dos ecossistemas e sua importância para
MEA – MILLENNIUM ECOSYSTEM o bem-estar humano no Cinturão Verde da Cida-
ASSESSMENT (2019a). Disponível em: <https:// de de São Paulo. In: Serviços ecossistêmicos
34 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

e bem-estar humano na Reserva da Biosfera UNESCO – UNITED NATIONS EDUCATIONAL,


da Cidade de São Paulo: Sumário Executivo SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION
(RODRIGUES, E.A. – Coord.) 1. ed. São Paulo, Ins- (2016). Plan de Acción de Lima para el Programa
tituto Florestal. el Hombre y la Biosfera (MAB) de la UNESCO
y su Red Mundial de Reservas de Biosfera
RODRIGUES, E.A.; VICTOR, R. A. B. M.; PIRES B.
(2016-2025). Plan de Acción de Lima aprobado
C. C. (2006). A Reserva da Biosfera do Cinturão
durante el 4º Congreso Mundial de Reservas de
Verde da Cidade de São Paulo como marco para
Biosfera el 17 de marzo de 2016, y aprobado
a gestão integrada da cidade, seus serviços am-
por la 28ª Reunión del CIC del MAB el 19 de
bientais e o bem-estar humano. São Paulo em
marzo de 2016, Lima, Perú. Disponível em: <http://
Perspectiva, v. 20, n. 2, p. 71-89.
www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/
SALBITANO, F. et al. (2016). Guidelines on urban HQ/SC/pdf/Lima_Action_Plan_es_final.pdf>.
and peri-urban forestry. FAO. Acesso 18 nov. 2019.
SÃO PAULO (Estado) (2014). Decreto nº 60.302, UNESCO – UNITED NATIONS EDUCATIONAL,
de 27 de março de 2014. Institui o Sistema de SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION
Informação e Gestão de Áreas Protegidas e de (2010). Plano de Ação de Madri para as Re-
Interesse Ambiental do Estado de São Paulo - servas da Biosfera (2008-2013). Tradução
SIGAP e dá outras providências. Jeanne Sawaya. SC-2008/WS/36. Impresso no
Brasil.
SÃO PAULO (Estado) (2002). Decreto nº 47.094,
de 18 de setembro de 2002. Cria o Comitê Es- UNESCO – UNITED NATIONS EDUCATIONAL,
tadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION
no Estado de São Paulo, incluindo o Conselho de (2006). Urban biosphere reserves – A report of
Gestão da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde the MAB Urban Group.
da Cidade de São Paulo. UNESCO – UNITED NATIONS EDUCATIONAL,
SECRETARIAT OF THE CONVENTION ON SCIENTIFIC AND CULTURAL (2003). Application
BIOLOGICAL DIVERSITY (2012). Cities and of the biosphere reserve concept to urban are-
Biodiversity Outlook. Montreal. as and their hinterlands.

TURKELBOOM, F. et al. (2018). When we cannot UNESCO – UNITED NATIONS EDUCATIONAL,


have it all: Ecosystem services trade-offs in the SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION
context of spatial planning. Ecosystem services, (1996). Reservas de Biosfera: La Estrategia de
v. 29, p. 566-578. Sevilla y el Marco Estatutario de la Red Mundial.
VICTOR, M. A.M. et al. (1991). Reserva da Biosfera
UN – CBD (2007). Convenio sobre la Diversidad
do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, docu-
Biológica. Repercusiones de las conclusiones
mento técnico, Instituto Florestal.
de la Evaluación de los Ecosistemas del
Milenio para la labor futura del Convenio. VICTOR, R. A. B. M.; FURLAN, S.; NALON, M.A.;
Órgano Subsidiario de Asesoramiento Científi- IEMBO, J. (2019). Potencial de fornecimento de
co, Técnico y Tecnológico. Duodécima Reunión.: Serviços Ecossistêmicos na RBCV: Resultado
UNESCO, Paris, 2-6 de julio de 2007, (UNEP/CBD/ de Painel com Especialistas [mapa]. Documento
SBSTTA/12/4). interno.
UN – DEVELOPMENT PROGRAMME (2015). VICTOR, R.A.B.M. et al. (2011). Reserva de Biosfe-
Transforming our World: The 2030 Agenda for ra del Cinturón Verde de la Ciudad de São Paulo:
Sustainable Development. Outcome Document Revisión del Proceso de Zonificación – Fase II /
for the UN Summit to Adopt the Post-2015 2008. In: Documento de trabalho nº 40, UNESCO
Development Agenda: Draft for Adoption. New (Programa de Cooperación Sur-Sur, Paris (Francia).
York. VICTOR, R.A.B.M. et al. (2003). Application of the
UN – HABITAT. UNITED NATIONS HUMAN Biosphere Reserve Concept to Urban Areas:
SETTLEMENTS PROGRAMME (2016). The Case of the São Paulo City Green Belt
Urbanization and development emerging Biosphere Reserve. São Paulo Green Belt
futures. World cities report. Summary Report.

UNESCO – UNITED NATIONS EDUCATIONAL, WELLER, R.J.; HOCH, C.; HUANG, C. (2017). Atlas
SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION for the end of the world. University of Pennsyl-
(2020). Man and the Biosphere Programme In: vania, Martin and Margy Meyerson Chair of
Natural sciences / Environmental / Ecological Urbanism and Chair of the Department of
sciences. Disponível em: <http://www.unesco. landscape architecture.
org/new/en/natural-sciences/environment/ WWF (2018). Living Planet Report - 2018: Aiming
e co l o g i ca l -s c i e n ce s / m a n - a n d - b i os p h e re - Higher. Grooten, M. and Almond, R.E.A.(Eds).
programme/>. Acesso 12 nov. 2020. WWF, Gland, Switzerland.
PARTE 1
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS DE PROVISÃO

1.1 O PRODUTOR E O
SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE
PROVISÃO DE ALIMENTOS

Coordenadora
Yara Maria Chagas de Carvalho | IEA/SAA

Autores
Yara Maria Chagas de Carvalho | IEA/SAA
Tatiana Maria Cecy Gadda | UTFPR
Adalberto José Monteiro Junior | IP/SAA
Elisabete Salay | UNICAMP
Lídia Sumile Maruyama | IP/SAA
Luciana Carvalho Bezerra de Menezes | IP/SAA
Lúcio Fagundes | IP/SAA
Marcelo Ricardo de Souza | IP/SAA
Paula Lazzarin Uggioni | UFSC
Paula Maria Gênova de Castro | IP/SAA

Autores contribuintes
Elizabeth Nascimento | FCF/USP
Katia Mazzei | IBt/SIMA
Marcio Rossi | IF/SIMA
Newton José Rodrigues da Silva | CDRS/SAA
Nilson Antonio Modesto Arraes | FEAGRI/UFSC
Terezinha Joyce Fernandes Franca | IEA/SAA
36 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto da abertura do capítulo:


Agricultor orgânico.
Fonte: Hamilton Trajano (2006).
SUMÁRIO

Resumo.................................................................................................................. 41

1 | Introdução....................................................................................................... 42

2 | Conceituando o serviço ecossistêmico de provisão de alimentos.................. 44

2.1 | Os sistemas estudados: produção agropecuária e


bacias hidrográficas............................................................................... 44

2.2 | Evolução do serviço ecossistêmico provisão de alimentos nos


subsistemas considerados na RBCV...................................................... 49

2.3 | Impactos ambientais negativos da produção de alimentos:


uma análise de trade-offs negativos...................................................... 69

2.4 | Impactos ambientais positivos da produção de alimentos:


uma análise dos trade-offs positivos...................................................... 75

2.5 | Evolução dos principais vetores que impactam o serviço


ecossistêmico da produção de alimentos.............................................. 79

2.6 | Situações de estresse acentuado nos ecossistemas que colocam


em risco a continuidade do serviço ecossistêmico................................ 83

3 | Alterações no ecossistema, o serviço ecossistêmico alimento e o


bem-estar humano na RBCV.......................................................................... 85

3.1 | A contribuição à preservação do espaço rural....................................... 85

3.2 | Geração de emprego de baixo custo: indicador de bem-estar humano.. 86

3.3 | Aspectos nutricionais e segurança alimentar........................................ 87

Conclusões ........................................................................................................... 91

Referências............................................................................................................ 93

Glossário .............................................................................................................. 99
38 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 As bacias hidrográficas do sistema de gestão dos recursos hídricos, os reservatórios e os
municípios nas regiões da RBCV.
Figura 2 Unidades de conservação na região da RBCV.
Figura 3 Número de estabelecimentos, área do principal município e área total de cada região da
RBCV, para os anos de 1970 e 2006.
Figura 4 Percentual da área das regiões da RBCV por grandes classes de uso, 1996 e 2007.
Figura 5 Região Leste da RBCV, município de Mogi das Cruzes.
Figura 6 Região Oeste da RBCV, Sistema Agroflorestal (SAF) em implantação, no município
de Ibiúna.
Figura 7 Região Noroeste da RBCV, área produtora de uva, no município de Jundiaí.
Figura 8 Região Leste da RBCV, município de Guarulhos.
Figura 9 Região Oeste da RBCV, município de Vargem Grande, Tico, agricultor orgânico.
Figura 10 Região Oeste da RBCV, município de Ibiúna, José Jacinto, agricultor orgânico.
Figura 11 Região Leste da RBCV, município de Biritiba Mirim, sistema de irrigação.
Figura 12 Região Leste da RBCV, município de Paraibuna, produção de cambuci, Sítio do Bello.
Figura 13 Uso agrícola preponderante e qualidade da água (IQA) nos reservatórios da RBCV.
Figura 14 Uso do solo e qualidade da água (IQA) dos reservatórios da RBCV.
Figura 15 Região Leste da RBCV, Casa de Chá no município de Mogi das Cruzes.
Figura 16 Região Oeste da RBCV, bairro rural no município de Mairinque.
Figura 17 Região São Paulo da RBCV, bairro rural Marsilac.
Figura 18 Região Leste da RBCV, bairro São Lázaro, no município de Biritiba Mirim.
Figura 19 Região Noroeste da RBCV, pesqueiro no município de Jundiaí.
Figura 20 Região Leste da RBCV, sítio de lazer no município de Salesópolis.
Figura 21 Região Oeste da RBCV, SPA Aventura, no município de Ibiúna.
Figura 22 Região Norte da RBCV, Hotel Paradies, no município de Jarinu.
Figura 23 Região São Paulo da RBCV, o rural e o urbano.
Figura 24 Região Leste da RBCV, o rural e o urbano no município de Guarulhos.

TABELAS
Tabela 1 Descrição das terras indígenas na área da RBCV.
Tabela 2 Indicadores sobre política de agricultura urbana em alguns municípios da RBCV.
Tabela 3 Recomendação e consumo de grupos por alimentos no Sudeste e característica da
produção na RBCV.
Tabela 4 Cálculo da Pegada Ecológica das hortaliças na RMSP (1976 a 2006).
Tabela 5 Distribuição de pessoas residentes em famílias com renda familiar inferior a 1/4 do
salário mínimo, per capita. Por tipo de aglomeração urbana: Brasil, Nordeste, Sudeste e
estado de São Paulo, 2001 (em %).
Tabela 6 Relação entre a população do município de São Paulo e Brasil; município de São Paulo
e estado de São Paulo; Grande São Paulo e Brasil; Grande São Paulo e estado de São
Paulo e município de São Paulo e Grande São Paulo, entre 1872-2010.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 39

Tabela 7 Vazão e demanda de água (m3/s) nas bacias hidrográficas da RBCV.


Tabela 8 Participação relativa de alimentos e grupos de alimentos no total de calorias no estado
de São Paulo, área urbana da RMSP e área urbana do município de São Paulo, para o
período de 2002-2003.
Tabela 9 Prevalência de déficit de peso, excesso de peso e de obesidade na população adulta
(com mais de 20 anos de idade), por gênero e situação de domicílio no Brasil, na região
Sudeste, no estado de São Paulo, área urbana da RMSP e área urbana do município de
São Paulo, para o período 2002/2003.

SIGLAS
a.a. ao ano
ABC Identificação dos municípios de Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema
ABIA Associação Brasileira da Indústria da Alimentação
ANA Agência Nacional das Águas
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APRM-G Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais do Reservatório Guarapiranga
APA Área de proteção ambiental (categoria de UC)
APTA Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
CATI Coordenadoria de Assistência Técnica Integral / Coordenadoria de Desenvolvimento Rural
Sustentável (CDRS)
CBAT Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê
CEAGESP Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo
CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e Caribe
CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
COOPAT Cooperativa de Pescadores do Alto Tietê
CPISP Comissão Pró-Índio de São Paulo
DBO Demanda bioquímica de oxigênio
EBIA Escala Brasileira de Insegurança Alimentar
EBC Agência Brasil
EEc Estação Ecológica (categoria de UC)
EMPLASA Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano
ENDEF Estudo Nacional de Despesas Familiares
FAO Food and Agriculture Organization / Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
Agricultura
FCF Faculdade de Ciências Farmacêuticas (Universidade de São Paulo)
FE Floresta Estadual (categoria de UC)
FEAGRI Faculdade de Engenharia Agrícola (Universidade de Campinas)
FEMA Fundo Especial do Meio Ambiente
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBt Instituto de Botânica
IEA Instituto de Economia Agrícola
IF Instituto Florestal
IMC Índice de Massa Corporal
40 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

INAN Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição


IP Instituto de Pesca
IQA Índice de qualidade das águas
ITEP Instituto de Tecnologia de Pernambuco
IVA Índice de qualidade das águas para proteção da vida aquática e de comunidades aquáticas
Kcal quilocaloria
LabTox Laboratório de Toxicologia Ambiental (Instituto de Tecnologia de Pernambuco)
LMR Limite máximo para resíduos
LUPA Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MDS Ministério do Desenvolvimento Social
MO Matéria orgânica
MPA Ministério da Pesca e Aquicultura
ONG Organização Não Governamental
PCJ Bacia hidrográfica dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
PE Pegada Ecológica
PIRI Pesticides Impact Rating Index | Índice de Classificação de Impacto de Pesticidas
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNCR Plano Nacional de Controle de Resíduos
PNM Parque Natural Municipal (categoria de UC)
PNSN Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição
POF Pesquisa de Orçamento Familiar
PP Produtividade primária
PqE Parque Estadual (categoria de UC)
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável (categoria de UC)
RESEX Reserva Extrativista (categoria de UC)
RM Região Metropolitana
RMBX Região Metropolitana da Baixada Santista
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
SAA/SP Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SAF Sistema agroflorestal
SEBRAE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SHR Departamento de Hidráulica e Saneamento
SIMA/SP Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo
SIGRH Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
SPAT Sistema Produtor Alto Tietê
t tonelada
UC Unidade de conservação
UGRHI Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
UPA Unidades de Produção Agropecuária
UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná
VET Valor energético total
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 41

RESUMO

P ara o território da RBCV, o serviço ecossistêmico de provisão de alimentos é de


fundamental importância. É dada ênfase tanto ao papel do consumidor como do
produtor de alimentos nos sistemas Planalto Paulista, Costeiro e Unidades de Conservação.
Devido ao estresse em que se encontra o serviço ecossistêmico de provisão de água na região,
a caracterização da produção de alimento está associada não só ao uso e ocupação do solo,
mas também às bacias hidrográficas e aos reservatórios de água existentes. A produção de
alimentos agropecuários e extrativistas caracteriza principalmente o serviço de provisão, mas
quando a escolha tecnológica adotada é a agroecologia, são proporcionados os serviços
de regulação da água, cultural e de suporte. O alto nível de urbanização presente na área
da RBCV remete às especificidades da agricultura urbana. Na perspectiva do consumidor,
foi realizado estudo da pegada ecológica das hortaliças comercializadas através da Central
Atacadista que abastece a Região Metropolitana de São Paulo (CEAGESP). Igualmente, foi
analisado o consumo alimentar, o estado nutricional e a situação de insegurança alimentar,
para a região Sudeste do Brasil, estado e Região Metropolitana de São Paulo. De forma breve,
são apresentados alguns trade-offs negativos e positivos a outros serviços ecossistêmicos
discutidos neste livro, além dos principais vetores que atuam sobre o ecossistema. Isto
evidencia a importância do fortalecimento das formas alternativas de agricultura. Analisa-se o
estresse ambiental e social com foco na água e solo, buscando considerar se a capacidade de
renovação do sistema está comprometida e buscam-se alguns indicadores de impacto sobre
o bem-estar humano. As evidências apresentadas indicam que as políticas de distribuição de
renda, segurança alimentar, agriculturas urbana e agroecológica podem contribuir para reduzir
a degradação dos ecossistemas, contribuir à proteção das características rurais do Cinturão
Verde, revertendo a tendência de afastamento das áreas de produção do núcleo consumidor,
contribuindo, considerando também o trade-off com outros serviços ecossistêmicos, a melhoria
do bem-estar social. A agricultura urbana agroecológica atua de forma educativa, tanto para
fortalecer a demanda por produtos saudáveis como para melhorar o padrão alimentar e
nutricional da população da RBCV.
42 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO agrícola, este tema será tratado aqui com foco


no trade-off água e esta, uma vez que a agri-

A área da RBCV está localizada principal-


mente no domínio do bioma Mata Atlân-
tica, com uma pequena porção no Cerrado. A
cultura se configura como uso que compete
pela água de qualidade. No capítulo Provisão,
Regulação da Água e Bem-Estar Humano, o
intensidade da ocupação na região foi marcada assunto será amplamente abordado.
pelo ciclo econômico do café (final do século A água é um recurso natural tornado
19) e industrialização. Era o extremo meri- escasso na região em função do forte cresci-
dional das terras portuguesas, sob o Tratado mento urbano que acompanhou o processo de
de Tordesilhas e, assim, ponto estratégico na industrialização brasileiro, principalmente a
ocupação geopolítica portuguesa. No estado, partir dos anos 1970. A forte expansão demo-
são importantes a agricultura de exportação e gráfica pressionou os recursos hídricos tanto
a cana-de-açúcar, mas também a produção de pelo lado do abastecimento como pela precarie-
alimentos para o mercado interno: hortifruti, dade das condições de saneamento ambiental e
ao lado da produção de flores. Estas são mui- o comprometimento da qualidade da água de
to relevantes na região da RBCV, acrescidas de superfície, usada no abastecimento. As águas
pecuária bovina e reflorestamento para indús- superficiais e os reservatórios são fundamen-
tria de papel e celulose. tais para o consumo humano, mas também à
Insere-se neste espaço uma das áreas agricultura.
urbanas mais populosas do mundo: a Região De forma geral, a agricultura praticada na
Metropolitana de São Paulo (RMSP), e a Região região pode ser definida como urbana. Inclui
Metropolitana da Baixada Santista (RMBS). Em agricultores tradicionais, estabelecidos há
2019 a RBCV encerrava uma população equi- várias gerações na região, mas também aque-
valente a 12,1% da população nacional, cujo les que chegaram mais recentemente através
território é responsável por 18,8% do Produto de iniciativas, pública ou privada, de geração
Interno Bruto (PIB) nacional. Seu território, de emprego e renda. A disponibilidade de ter-
entretanto, representa somente 0,22% da área ras estimula o processo de ocupação espontâ-
do país (IBGE, 2019). nea, que pode ser de uso eventual ou de longa
Este capítulo visa retratar a produção e duração. A presença da agricultura familiar é
consumo de alimentos e as condições nutri- importante na região.
cionais da população na RBCV, com objetivo Na perspectiva do suprimento de ali-
de analisar as condições atuais e perspectivas mento foi considerado o extrativismo vegetal
futuras dos ecossistemas continuarem a forne- e animal (incluindo a pesca) e a agropecuária,
cer esse serviço ecossistêmico (alimento), fun- com ênfase na diversidade tecnológica utiliza-
damental ao bem-estar humano. da. O alimento está associado a várias etapas
A área da RBCV compreende três siste- do processo produtivo e cada qual depende
mas: 1) Planalto Paulista, que se subdivide em e impacta o ecossistema, mas considerou-se
rural e urbano; 2) costeiro, que apresenta uma somente a atividade primária. Experiências de
sub-região: o estuário; e 3) unidades de con- tecnologias alternativas, apesar de não serem
servação (UC) e terras indígenas. É importan- estatisticamente relevantes, têm impacto
te ressaltar que a área da RBCV possui muitos localizado e assumem papel de indução de
reservatórios de água, que são responsáveis mudanças.
pelo abastecimento à população. Muitas vezes, A produção e o consumo de alimentos
estão associados à UC ou a outras áreas espe- não obedecem às fronteiras da RBCV. O impac-
cialmente protegidas, caracterizadas e regula- to ambiental do consumo ocorre para além
mentadas por legislação específica. dos limites da Reserva e justifica a estimati-
Nas áreas de baixa densidade, a ativi- va da Pegada Ecológica (PE). Ao se considerar
dade agrícola interage com os reservatórios que o sistema urbano é parte fundamental da
de água para abastecimento urbano. Dada a RBCV, é enfatizado também a importância do
criticidade da disponibilidade hídrica regio- estudo das condições de nutrição e saúde da
nal e seu crescente impacto sobre a atividade população.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 43

A PE tem sido amplamente usada alimentar e nutricional da população1. Não


como ferramenta para indicar o impacto da existem informações em relação ao consumo
demanda de recursos naturais associada à alimentar, estado nutricional e situação de
população de uma área específica e para deter- insegurança alimentar dos municípios inte-
minar se esta população está usando mais grantes da RBCV; estes dados encontram-se
recursos do que a biocapacidade – área biopro- disponíveis somente para a região sudeste do
dutiva disponível (suprimento) da área onde estado e para a RMSP. O consumo alimentar
reside. Nesta situação caracteriza-se o estado é influenciado por vários fatores que variam
de sobre-exploração ou sobrecarga (overshoot). em cada localidade. Embora não seja possível
Este é estimado por meio da área de terra ou extrapolar os dados de outras regiões para a
água biologicamente produtiva que é neces- RBCV, a análise do quadro onde este território
sária para produzir os recursos consumidos e está inserido pode fornecer elementos impor-
para absorver o lixo gerado pela população em tantes de discussão.
questão, com o emprego da tecnologia prevale- O período considerado no capítulo variou
cente (REES; WACKERNAGEL, 1996). em função da natureza do problema em foco e
Como indicativo, foi estimada a tendên- das limitações de dados; ainda assim procurou-
cia histórica (1976 – 2006) da PE das hortali- -se captar o impacto da forte migração e cresci-
ças na RMSP área mais densamente povoada, mento populacional a partir de 1970.
com o uso do método dos fatores de equiva- O desenvolvimento do texto sobre o ser-
lência para suavizar as distorções quando viço ecossistêmico de provisão de alimentos
se agrega demandas por diferentes tipos de vai se orientar pelas seguintes perguntas:
uso do solo, cujas produtividades biológicas (1) Qual é a condição e a tendência do serviço
diferem. de provisão de alimentos e dos sistemas que
O bem-estar humano está associado prestam este serviço? (2) Quais são os prin-
diretamente ao serviço ecossistêmico de pro- cipais vetores de alteração (drivers) que afe-
visão de alimento devido à sua capacidade de tam o serviço ecossistêmico de produção de
garantir a segurança alimentar e nutricional, alimentos e qual a tendência da sua evolução
com impacto direto nas condições de saúde. e impacto sobre a quantidade e qualidade do
O padrão agrário, sobre o qual se estrutura a serviço? (3) Existe um limite para as altera-
produção de alimentos, estabelece as condicio- ções na capacidade do ecossistema de gerar
nantes do modelo de desenvolvimento e de jus- serviços? Neste contexto, qual a situação atu-
tiça social na distribuição dos seus benefícios. al e a perspectiva futura da continuidade
Indiretamente atua sobre a paisagem, a preser- de fornecimento do serviço ecossistêmico?
vação cultural e o silêncio, fundamentais para (4) Como as alterações no ecossistema afe-
o desenvolvimento integral do indivíduo e da tam o bem-estar humano? (5) O que se pode
sociedade.
A segurança alimentar é definida como a
garantia de que todas as pessoas tenham aces- Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD)
1

so a alimentos inócuos, nutritivos, em quanti- de 2004 incorporou a Escala Brasileira de Inseguran-


ça Alimentar (EBIA); inquéritos nutricionais como o
dade suficiente e de modo permanente, de for- Estudo Nacional de Despesas Familiares (ENDEF), de
ma a satisfazer suas necessidades nutricionais 1975/1975; Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição
e preferências alimentares, a fim de levar uma (PNSN), realizada em 1989 pelo extinto Instituto Nacio-
nal Alimentação e Nutrição (INAN) e Instituto Brasileiro
vida ativa e saudável (FAO, 2010). A Lei 11.346 de Geografia e Estatística (IBGE). No início da década de
de 15/09/2006 estabeleceu o Sistema Nacio- 1990, o INAN avaliou a aquisição de alimentos em cinco
nal de Segurança Alimentar e Nutricional municípios (Rio de Janeiro, Curitiba, Goiânia, Campinas
e Ouro Preto) e o consumo de alimentos no Rio de Janeiro
(SISAN) que, além dos aspectos mencionados
(YOKOO et al., 2008). As Pesquisas de Orçamentos Fami-
anteriormente, incorpora a alimentação como liares (POF) estimam a disponibilidade de alimentos por
direito humano fundamental e responsabili- domicílios (disponíveis e não efetivamente consumidas,
za, principalmente, o Estado por sua garan- pois não inclui perdas nem refeições fora de casa) são
de 2002-2003, realizadas pelo IBGE, periodicamente. O
tia (BRASIL, 2006; MS, 2006). No Brasil, são levantamento de 2008/09 não estava disponível quando
restritas as fontes de dados sobre segurança este texto foi escrito.
44 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

propor para iniciar um debate sobre política Os serviços culturais são os benefícios
pública para preservar os ecossistemas e forta- intangíveis obtidos mediante o enriquecimen-
lecer o bem-estar humano? to espiritual, cognitivo e a recreação. O modo

2 | CONCEITUANDO
de vida dos agricultores e pescadores que

O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO
residem junto a sua área de produção resiste
às mudanças da sociedade globalizada e, neste

DE PROVISÃO DE ALIMENTOS
sentido, preservam características culturais
que podem se configurar como museus vivos
da história, hábitos e tradições locais, embora
Serviços ecossistêmicos são os benefí- fortemente ameaçados na região. O alimento
cios que as pessoas obtêm da natureza. Como é parte importante da cultura e identidade de
mencionado na seção inicial, classificam-se em uma sociedade, tanto em termos da produção
serviços de provisão, regulação, cultural e de (o que, e como produzir), como consumo, pois
suporte. Os serviços de provisão são essenciais está relacionado à culinária, às exigências, aos
à manutenção da vida humana, entre eles estão hábitos e preferências do consumidor e à rela-
os alimentos provenientes dos sistemas terres- ção da alimentação com a vida familiar e social
tres e aquáticos, resultantes dos processos de (CARVALHO; FRANCA, 2006).
produção ou extração. A tendência desse servi- Desta forma, o serviço ecossistêmico de
ço é influenciada pelas condições econômicas e provisão de alimentos tem um forte trade-off
sociais prevalecentes na região e no país, que com vários outros serviços que serão tratados
definem o padrão de consumo e nutricional da em capítulos específicos, incluindo folclore
população. Por outro lado, a escolha tecnológi- caipira, lazer e turismo, provisão e regulação
ca e as práticas de manejo provocam impactos de água, biodiversidade, provisão de recursos
diferenciados sobre solo, água e biodiversida- madeireiros e controle de processos geohi-
de, podendo contribuir na geração de outros drogeológicos. Neste capítulo serão apontadas
serviços ecossistêmicos ou simplesmente algumas interações.
transformar a atividade em vetor de degrada-
ção. A opção pela tecnologia ambientalmente
2.1 I Os sistemas estudados:
produção agropecuária e bacias
adequada pode contribuir com o serviço ecos-

hidrográficas
sistêmico de suporte, por meio da melhoria na
fertilidade do solo; preservação e purificação
da água e recuperação de espécies ameaçadas
de extinção. A capacidade de produzir alimentos na
A baixa densidade populacional, que RBCV vem sendo afetada pela redução das áre-
caracteriza o espaço onde ocorre a produção de as agrícolas onde se expande a urbanização,
alimentos na RBCV, está associada a um modo
de vida distinto da que acontece nas concen- 2
Está relacionado ao conceito de multifuncionalidade do
trações urbanas. A rede social dos agricultores espaço rural. Para Pecqueur (VOLLET, 2002), a multi-
familiares, que organiza a vida neste espaço, é funcionalidade resulta da coordenação das atividades
monofuncionais da agricultura e do conjunto de atores,
um importante elemento (capital social) para o em estratégias coletivas de combinação destas funções,
monitoramento e defesa da preservação cultu- o que depende da regulação pela cooperação e recipro-
ral e dos recursos naturais2. O produtor e sua cidade baseada sobre valores, normas, identidade, con-
fiança e solidariedade, além da ação pública. Neste senti-
rede social são fundamentais para garantir que do, baseia-se na rede social, no capital social, construída
o ecossistema possa prestar vários serviços de com a participação dos agricultores. Para este mesmo
provisão e regulação através da preservação autor, a multifuncionalidade assume o papel de fazer a
convergência das funções secundárias e de produtos não
das matas, florestas, biodiversidade, nascen-
comercializáveis para o mercado, com o objetivo de esti-
tes, cursos de água e reservatórios. O turismo mular a oferta conjunta do território, assumindo tam-
agrícola/pesqueiro pode valorizar a paisagem, bém o papel de redistribuir recursos se quem produziu o
com fortalecimento não só da prestação dos bem não é quem se beneficia dele. A multifuncionalidade
reforça assim o marco teórico para se tratar dos trade-
serviços de provisão e regulação, mas também -offs do serviço ecossistêmico de alimentos com outros
dos culturais. serviços.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 45

mas isto fica subestimado nas estatísticas disponíveis por municípios e agregadas por regi-
agropecuárias devido à incorporação de áreas ões da RBCV. Como mencionado anteriormente,
de matas e florestas. Em termos de produção, a associação à água é fundamental, por isso bus-
isto pode ser atenuado pela intensificação do cou-se inserir nesta caracterização a identifica-
uso do solo e produção em solo construído ção das bacias hidrográfica e reservatórios exis-
(estufas)3. De acordo com o IBGE, os dados de tentes. A Figura 1 apresenta as regiões, bacias e
1970 a 2006 (IBGE, 1971; 2000; 2009) mostram principais reservatórios na área da RBCV.
redução do número de estabelecimentos Na RBCV estão presentes quatro bacias
(22.061 para 13.870) e de área (760.588 para hidrográficas delimitadas por cadeias de
572.476 ha). No período de 1996 a 2006, os montanha. O rio Tietê é separado pela Serra do
dados do LUPA indicam redução de 18.359 Mar das duas bacias do litoral (Iguape e Baixa-
para 14.931 UPA e, em termos de área, de da Santista), que faz com que suas águas cor-
594.704 para 522.273 ha. Ainda que esses dois ram para o interior e atravessem o estado, até
levantamentos oficiais possuam metodologias encontrar o rio Paraná. A quarta, o rio Paraíba
distintas, ambos atestam a redução da área do Sul, corre entre a Serra do Mar e a da Man-
cultivada e do número de estabelecimentos. tiqueira, desembocando no Atlântico, no estado
Segundo o LUPA, a redução das áreas de matas do Rio de Janeiro. Sua área de drenagem é isola-
e florestas é da ordem de 35% e do número de da do Tietê por uma área de relevo ondulado. O
UPA com este uso é de 17%. Sistema Integrado de Gerenciamento dos Recur-
Do ponto de vista da pesca marítima, a sos Hídricos (SIGRH) foi estabelecido pela Lei
tendência é de redução da produção do litoral 9.433/1997, que definiu a Política Nacional de
paulista. De 1967 a 1999 variou de 70 mil tone- Recursos Hídricos. Como a legislação que esta-
ladas para cerca de 25 mil toneladas, sendo 70% beleceu o sistema estadual foi anterior à política
proveniente da Baixada Santista (ÁVILA-DA- nacional, o mesmo foi posteriormente adequado
-SILVA, CARNEIRO; 2007). A pesca no Planalto ao disciplinamento nacional (SÃO PAULO, 1991;
também vem se reduzindo. Embora os dados BRASIL, 1997). O SIGRH paulista identifica tre-
sejam escassos, o que vem ocorrendo na repre- chos do Tietê como unidades gerenciais distin-
sa Billings pode ser tomado como indicador. tas denominando-as de bacias hidrográficas. As
Na década de 1990, Minte-Vera (1997) estimou bacias hidrográficas da área da RBCV estão defi-
em 101 o número de pescadores, mas existiam nidas pela Lei Estadual 7.663 de 30/12/1991. Na
aproximadamente 200 entre as décadas de área da RBCV, no sistema Planalto, encontram-
1930 e 1940 (ROCHA, 1984). De acordo com -se parte da bacia do Paraíba do Sul e três uni-
relatos de pescadores mais antigos, a Billings, dades de gestão da Bacia do Tietê: a do Alto Tietê
em décadas passadas, chegou a abrigar cerca (que corresponde grosseiramente à RMSP), sub-
de 600 famílias de pescadores, mas hoje a ati- dividida em sub-bacias e duas associadas ao seu
vidade já não é praticada. trecho Médio: o Médio Tietê e Alto Sorocaba e o
A caracterização da produção e extra- Piracicaba-Capivari-Jundiaí ou PCJ (na Figura 1,
tivismo agropecuário nos sistemas Planalto, as bacias 2, 5, 6 e 10). O sistema costeiro é consti-
Costeiro e UC baseiam-se em informações tuído integralmente da bacia da Baixada Santis-
ta e parte pequena do Ribeira de Iguape (Figura
3
A produção agrícola estadual pode ser caracterizada por 1, as bacias 7 e 11).
meio de duas fontes de dados censitários, por município. Com o objetivo de incorporar a dimen-
O Censo Agropecuário dos anos 1970, 1996 e 2006, rea-
lizado pelo IBGE (1971, 2000, 2009) e o Levantamento são territorial em seu sistema de gestão, os 78
das Unidades de Produção Agropecuária (LUPA) (PINO, municípios da RBCV foram agrupados em sete
1997; SAA, 2008) realizado pela Secretaria da Agricul- regiões, tendo a cidade de São Paulo como uma
tura do Estado de São Paulo. O IBGE utiliza o conceito de
exploração, que considera como unidade de levantamen-
região específica; a região da Baixada Santis-
to todas as áreas com autonomia na gestão. Era realiza- ta e Serra do Mar; região Leste, região Norte,
do a cada cinco anos e, mais recentemente, a cada dez. O região Noroeste, região Oeste e região Grande
LUPA tem como unidade de levantamento a propriedade.
ABC. Esta classificação não obedece a um cri-
Foi feito levantamento em 1996 e 2008. O Censo Agrope-
cuário (IBGE, 2017a) e a última atualização do LUPA, não tério único, mas considera o aspecto natural,
estavam disponíveis quando este estudo foi elaborado. social, político e administrativo:
46 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

¡ São Paulo: se restringe a este municí- em área de baixa densidade demográfica,


pio e faz parte de todas as sub-bacias do com predomínio da produção de
Alto Tietê. No município localiza-se o hortifruti5. Os municípios que fazem
reservatório Guarapiranga. Este reser- parte da região Leste da RBCV são Aru-
vatório foi construído para regulari- já, Biritiba-Mirim, Ferraz de Vasconce-
zação da vazão da Billings, mas passou los, Guararema, Guarulhos, Igaratá, Ita-
a ser utilizado para abastecimento em quaquecetuba, Jacareí, Jambeiro, Mogi
1929. Recebe vazões revertidas da bacia das Cruzes, Natividade da Serra, Parai-
do Rio Capivari (Bacia Baixada Santista) buna, Poá, Redenção da Serra, Salesópo-
e, a partir de 2000, do braço do Taquace- lis, Santa Branca, Santa Isabel, São José
tuba da represa Billings. Está localizado dos Campos e Suzano;
em área sob impacto da urbanização e ¡ Região Norte: abrange os municípios de
a maior parte da sua área de drenagem Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Bragança
está em área rural; Paulista, Jarinu, Joanópolis, Mairiporã,
¡ ABC: constituído pelos municípios que Nazaré Paulista, Piracaia, Tuiuti e Vargem,
foram o berço da indústria automobilís- localidades da bacia do PCJ que alimen-
tica nacional (Santo André, São Bernardo tam o sistema Cantareira, na sub-bacia
do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Juqueri-Cantareira, do Alto Tietê. Esse
Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Ser- sistema é composto pela reversão das
ra) e estão organizados através de consór- águas dos rios Jaguari, Jacareí (represa
cio. Compõe a sub-bacia Billings, da bacia Jaguari-Jacareí), Cachoeirinha (Represa
Alto Tietê, onde se localiza o reservatório Cachoeira) e Atibaia (Represa Atibainha)
de mesmo nome, além dos denominados para a represa de Juqueri (Paiva Castro).
Riacho Grande e Rio das Pedras4; Deste reservatório, a água é bombeada
¡ Região Leste: constituída de duas sub- para o reservatório de Águas Claras. Es-
-bacias do Alto Tietê e parte da bacia do tes dois últimos já estão situados na bacia
rio Paraíba do Sul, cujos dois rios forma- do Alto Tietê. Os municípios onde se loca-
dores nascem no estado de São Paulo. lizam os reservatórios não sofrem forte
Nesta última sub-bacia, estão os reser- impacto da urbanização e, na área do PCJ,
vatórios Paraibuna, Santa Branca e do predomina a pastagem. Em Mairiporã
Jaguari (no rio Jaguari), no eixo urbano- predomina a vegetação natural. O Sis-
-industrial Rio – São Paulo. Esta área tem tema Produtor Cantareira responde por
menor impacto da urbanização e o uso cerca de 50% do abastecimento da RMSP;
da terra predominante é a pastagem. As ¡ Região Noroeste: constituída pela área
duas sub-bacias do Alto Tietê são: Cabe- de drenagem do rio Jundiaí, na bacia PCJ
ceiras, onde há também um consórcio e parte das sub-bacias Juqueri-Cantarei-
de municípios e a Penha-Pinheiros, nas ra e a Pinheiros-Pirapora, passando pela
quais estão os reservatórios Tanque represa Edgar de Souza, que recebe as
Grande, Cabuçu. Nesta região, locali- águas do Tietê, depois de passar por toda
zam-se os reservatórios do sistema de região metropolitana, até o reservatório
abastecimento também conhecido como Pirapora. É a região menos importante
Sistema Produtor do Alto Tietê (SPAT), em termos de reservatórios de água para
abastecimento e abarca os municípios de
Os sistemas produtores de água Billings, Guarapiranga e
4
Araçariguama, Barueri, Cabreúva, Caiei-
Cotia (Zona Oeste) operam de forma integrada, através
de reversões entre eles. Esse sistema é extremamente
complexo, pois sua operação envolve aspectos de abas- Ponte Nova, Ribeirão do Campo, Jundiaí, Biritiba-Mirim,
5

tecimento, geração de energia, controle de inundações, Taiaçupeba. O Sistema Produtor do Alto Tietê (SPAT) é
recreação e preservação ambiental (CBAT, 2002). A responsável por 15% do abastecimento da RMSP (sub-
represa Billings recebe a reversão do Rio Pinheiros, mas -bacia Cabeceiras). Foi inicialmente planejado para con-
passou a ser usada para abastecimento no braço do Rio trole de enchentes. É um sistema em cascata que usa o
Grande. Nos anos 80 o braço do Rio Grande foi isolado leito do rio Tietê e canal artificial conectando os reser-
por uma barragem, para esse fim. Localiza-se em área vatórios (CBAT, 2002). Somente o último está em área
fortemente urbanizada e em geral sem uso agrícola. bem urbanizada.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 47

Figura 1 |
As bacias hidrográficas
do sistema de gestão
dos recursos hídricos,
os reservatórios e os
municípios nas regiões
da RBCV.
Fonte: Elaboração
própria.

ras, Cajamar, Campo Limpo Paulista, (Pedro Beicht, Graça e Isolina)6 e o


Carapicuíba, Francisco Morato, Franco reservatório Cachoeira do França (Ribei-
da Rocha, Itapevi, Jandira, Jundiaí, Osas- ra do Iguape) em área de mata, revertido
co, Pirapora do Bom Jesus, Santana de para o Planalto. Fazem parte da região
Parnaíba e Várzea Paulista; Oeste os municípios de Alumínio, Cotia,
¡ Região Oeste: constituída de partes Embu das Artes, Embu-Guaçu, Ibiúna,
da bacia do Alto Sorocaba/Médio Tietê, Itapecerica da Serra, Juquitiba, Mairin-
da sub-bacia Guarapiranga da Bacia que, Piedade, São Lourenço da Serra, São
do Alto Tietê, e da bacia do Ribeira de Roque, Taboão da Serra, Vargem Grande
Iguape. A porção relevante para a RBCV Paulista, Votorantim;
refere-se ao Alto Sorocaba, em fun- ¡ Região Baixada Santista e Serra do
ção dos rios formadores do Sorocaba Mar: caracteriza o sistema costeiro e
(Sorocabuçu e Sorocamirim). Na área corresponde à bacia hidrográfica da Bai-
da Bacia do Alto Sorocaba/Médio Tietê xada Santista e dois municípios da bacia
está o reservatório de Itupararanga, o do Ribeira de Iguape, que concentram a
principal manancial do chamado Pólo produção agropecuária regional. Este sis-
Dinâmico de Sorocaba, denominação da tema pode ser caracterizado pelas encos-
região no contexto da macrometrópo- tas da região banhadas pelo oceano que
le paulista. Esta é uma região de forte avançam no mar até a isóbata de 23,6 m
atividade agrícola. Além desse, exis- – limite seguido pelo zoneamento ecoló-
tem os reservatórios da sub-bacia Cotia gico-econômico do estado de São Paulo. A
região da Baixada Santista compreende
a encosta da Serra do Mar voltada para
O sistema Cotia é composto por barragens ao longo do
6 a planície litorânea e a região estuarina
rio. A de Pedro Beicht é para regularização e está a mon- que envolve os municípios de Santos, São
tante. A partir do reservatório da Graça é feita uma deri- Vicente, Guarujá e Cubatão. Além des-
vação para abastecimento: sistema Alto Cotia. A jusante,
tes municípios, pertencem a esta região
no mesmo Rio Cotia, a barragem de Isolina permite a
derivação para o sistema Baixo Cotia (CBAT, 2002), loca- Bertioga, Itanhaém, Itariri, Mongaguá,
lizada em áreas de forte impacto da urbanização. Pedro de Toledo, Peruíbe e Praia Grande.
48 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

A Bacia do Alto Tietê (Figura 1), em geral, dos poços do pré-sal da Petrobrás, de petróleo
apresenta condições críticas em termos da uti- e gás na bacia de Santos, está colocando maio-
lização dos recursos hídricos, com inúmeros res desafios ambientais para o ecossistema
fatores de estresse (CBAT, 2002): escassez de costeiro que, em 2019, teve quatro novos poços
água, e por esse motivo necessita da impor- em operação (EBC AGÊNCIA BRASIL, 2019).
tação de água, mais significativamente do PCJ A ocupação urbana é limitada principal-
mas com tendência a ampliar cada vez mais mente pelas características geomorfológicas
para outras bacias; comprometimento dos encontradas na costa paulista. Ao norte do
mananciais de superfície, principalmente pela município de Santos observa-se uma planí-
ocupação urbana descontrolada, pelo rece- cie costeira estreita, devido à proximidade da
bimento de esgotos não tratados e disposição Serra do Mar com a linha da costa, que limita
inadequada de lixo domiciliar; impermeabili- a ocupação. Em contrapartida, ao sul, as pla-
zação do solo e ocupação indevida das várzeas, nícies costeiras mais extensas e retilíneas da
com interferência nas questões de quantidade costa favorecem o crescimento urbano.
e qualidade da água. Na bacia da Baixada Santista, a captação
Itupararanga, Cachoeira do França e os de água é feita diretamente dos rios, dentro
reservatórios do SPAT, principalmente os loca- do Parque Estadual da Serra do Mar. Parte do
lizados próximo à nascente do Tietê, possuem esgoto urbano em alguns municípios é jogada
águas límpidas e bem oxigenadas, com baixa ao mar através de canais. Em 1979, o emissário
condutividade e pequena quantidade de par- submarino, o interceptor oceânico de Santos
tículas em suspensão. Localizam-se em áreas e a estação de pré-condicionamento de esgo-
fundamentalmente agrícolas e de sítios de lazer. to entraram em operação, com atendimento a
No entanto, a maior parte dos reservatórios no Santos, São Vicente, Cubatão, Guarujá e seu dis-
Planalto está localizada em áreas de grande trito de Vicente de Carvalho. O esgoto coletado
adensamento populacional, sofrendo impactos em Santos é tratado (SHS..., 2007).
por parte de efluentes domésticos e industriais. O rio Ribeira de Iguape possui como prin-
No Sistema Costeiro encontra-se a sétima cipal afluente o rio Juquiá, com diversos reser-
região da RBCV. Na porção estuarina da região vatórios, sendo que o situado mais a montante,
Baixada Santista e Serra do Mar, há três canais Cachoeira de França, se encontra nos limites
de acesso (canal dos Barreiros, do Estuário e de da RBCV, nos municípios de Juquitiba e Ibiúna.
Bertioga) há grande quantidade de rios em sua Este reservatório não está inserido em área de
margem esquerda (Piaçabuçú, Mariana, Rio adensamento urbano.
Branco), central (Casqueiro, Cubatão, Diana, O terceiro sistema considerado refere-
Mogi) e direita (Jurubatuba, Quilombo, Santo -se às unidades de conservação (UC) e terras
Amaro, do Meio, Icanhema) (SIQUEIRA; BRA- indígenas. Para que os ambientes naturais da
GA, 2001). O maior adensamento demográfico RBCV possam prestar serviços ecossistêmicos
está nos municípios de São Vicente, Santos e necessários ao bem-estar humano e à geração
Cubatão, onde se localiza o maior porto da Amé- de riqueza para a metrópole paulista, são fun-
rica Latina, um importante polo petroquímico damentais os espaços naturais protegidos em
e uma das mais importantes áreas siderúr- seu território como UC.
gicas do país. Estas características tornaram As UC são espaços territoriais com caracte-
a região conhecida como uma das áreas mais rísticas naturais relevantes, estabelecidas pelo
poluídas da costa brasileira. Apesar da com- poder público (em terras públicas ou em áreas
plexidade das diferentes atividades praticadas particulares), com o objetivo de conservação da
e dos avanços institucionais dados pelo Plano natureza, que inclui o seu manejo, preservação,
Estadual de Gerenciamento Costeiro (SÃO PAU- manutenção, utilização sustentável, restaura-
LO, 1998) e pelo Zoneamento Ecológico Econô- ção e recuperação do ambiente natural.
mico da Baixada Santista (SÃO PAULO, 2013a), O Sistema Natural de Unidades de Conser-
não há um Plano de Gerenciamento Costeiro vação da Natureza (SNUC) prevê 12 categorias
efetivo, o que acirra os conflitos entre diferen- complementares, a partir de diferenciados obje-
tes atores (CETESB, 1981; 2001). A expansão tivos de conservação e níveis de intervenção
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 49

permitidos. Estas categorias se dividem em dois A maior UC de proteção integral na área


grupos. O primeiro, de proteção integral, admite da RBCV é o PqE da Serra do Mar, que se esten-
apenas uso indireto dos recursos naturais (esta- de entre o planalto e a região costeira para
ção ecológica – EEc; reserva biológica – REBIO; além dos limites da reserva da biosfera. Deli-
parque nacional / estadual / natural municipal mitado em 1977, o Parque Estadual da Serra do
– PN / PqE / PNM; monumento natural – MONA; Mar criou uma limitação de uso para as popu-
e refúgio da vida silvestre – RVS). O segundo, lações que ali viviam. As UC estão apresentadas
de uso sustentável, visa conciliar a conserva- na Figura 2.
ção da natureza com o uso sustentável dos seus Ao se considerar a área total das UC pre-
recursos naturais (área de relevante interesse sentes na RBCV, estas representam cerca de
ecológico – ARIE; floresta nacional / estadual / 54% da área dessa reserva da biosfera, pois
municipal – FLONA / FE / FM; reserva de fau- representam 1.299.746 ha dos 2.400.682 ha que
na – RF; reserva de desenvolvimento sustentá- constituem a área total (terrestre e marinha) da
vel – RDS; reserva extrativista – RESEX; área de RBCV (com desconto de sobreposições entre UC
proteção ambiental – APA; e reserva particular no cálculo). Um dos conflitos inerentes ao esta-
do patrimônio natural – RPPN) (BRASIL, 2000). belecimento destes espaços, pode ser a inade-
As áreas de mananciais possuem características quação de sua categoria de proteção em relação
similares a deste grupo. às populações tradicionais existentes em seu
As áreas núcleo da RBCV são formadas perímetro, problema este observado, sobretudo,
por UC de proteção integral (BRASIL, 2000) em UC já consolidadas e característico de toda
– parques nacionais, estaduais e municipais, a região da Mata Atlântica (PINTO et al., 2006);
estações ecológicas, reservas biológicas, monu- este tema será tratado mais adiante.
mentos naturais, refúgios de vida silvestre, Neste mosaico de ambiente e de terras
reservas particulares do patrimônio natural protegidas que constituem a RBCV, estão loca-
(VICTOR et al., 2011) e zonas de vida silvestre lizadas 14 terras indígenas com algum tipo de
de áreas de proteção ambiental, e englobam reconhecimento pela FUNAI (Fundação Nacio-
principalmente remanescentes da Mata Atlân- nal do Índio), destas, a maioria (11), estão
tica, seus ecossistemas associados e algumas regularizadas, enquanto três estão em fase
áreas de Cerrado. inicial de identificação. As terras indígenas da
Para 2020, foram sistematizadas informa- RBCV encontram-se em situação de vulnera-
ções das UC de proteção integral, em nível esta- bilidade, decorrente de uma grande diversida-
dual, federal e municipal, presentes no território de de ameaças e pressões (CPISP, 2019).
dos municípios que integram a RBCV, a partir do As terras indígenas localizadas nos muni-
Cadastro Nacional de Unidades de Conservação cípios que integram a RBCV e nos municípios de
(CNUC) (MMA, 2019), dos bancos de dados geo- Miracatu e São Sebastião, cujos dados encon-
espaciais do Instituto Florestal e da Fundação tram-se agrupados, totalizam uma população
Florestal e de informações geoespaciais e nor- de 3.924 indígenas em um território declarado
mativas de criação de unidades de conservação e homologado de 39.390,25 ha (CPISP, 2019) e
municipais no território da RBCV. Como os dados estão relacionadas na Tabela 1.

2.2 | Evolução do serviço


de criação de UC são dinâmicos e dependem da
atualização do órgão gestor das áreas protegi-
ecossistêmico de provisão
das, as UC assim estabelecidas e que não estavam

de alimentos nos subsistemas


registradas no CNUC ou que não constavam nos

considerados na RBCV
bancos de dados geoespaciais utilizados, deixa-
ram de ser consideradas neste estudo.
São 37 as UC de proteção integral identi-
ficadas no território dos municípios que inte- Os primeiros projetos para atração de
gram total ou parcialmente a área da RBCV. imigrantes, na história brasileira, promoveram
Essas UC de proteção integral totalizam cer- seu assentamento nas regiões próximas a São
ca de 271.360 ha na área terrestre e marinha da Paulo. Os imigrantes que vieram como colo-
RBCV. nos para as fazendas de café, na crise dos anos
50 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 2 I
Unidades de
Conservação na
região da RBCV.
Fonte: Rodrigues;
Victor; Barradas
(2020).
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 51

Terras Povo Etapa Dimensão


Aldeias Pop. Município
indígenas Indígena do processo (ha)
Aldeinha Aldeinha Tupi-Guarani 631 Sem A identificar Itanhaém
(Ñandeva) providências
Barragem Barragem Guarani Mbya 8672 Homologada 26,30 São Paulo

Guarani de Paranapuã Guarani Mbya 82 1


Em identificação A identificar São Vicente
Paranapuã
(Xixova Japui)

Guarani do Aguapeú, Guarani Mbya 1092 Homologada 4.372,25 Mongaguá


Aguapeú Cerro Corá

Itaóca Itaóca I, Guarani Mbya, 961 Declarada 533,00 Mongaguá


Itaóca II Tupi-Guarani
(Ñandeva)

Itariri (Serra Rio do Azeite; Tupi-Guarani 441 Homologada 1.212,47 Itariri


do Itatins) Capoeirão (Ñandeva

Jaraguá Pyau, Itakupe, Tupi-Guarani 5733 Homologada 1,76 São Paulo


Yvy Porã, Ita (Ñandeva), (1,76 ha) Osasco
Endy, Ita Vera, Guarani Mbya Declarada 532
Ytu (532 ha)
Ka’Aguy Mirim Uruity Guarani Mbya 321 Identificada 1.190,00 Miracatu4
Pedro de
Toledo

Krukutu Krukutu Guarani Mbya 2321 Homologada 25,88 São Paulo

Peruíbe Bananal Tupi-Guarani 321 Homologada 480,47 Peruíbe


(Ñandeva)

Piaçaguera Piaçaguera, Tupi-Guarani 1991 Homologada 2.773,79 Peruíbe


Tanyguá, (Ñandeva)
Tabaçu
Kekoypy,
Kuara’y
-mimim,
Nhamandu
-mirim

Ribeirão Silveira Ribeirão Guarani Mbya, 3931 Homologada 948,40 São


Silveira Tupi-Guarani (948,40) Sebastião4
(Ñandeva) Declarada 8.468,93 Bertioga
(8.468,93) Salesópolis

Rio Branco Rio Branco Guarani Mbya 741 Homologada 2.856,00 Itanhaém
São Vicente
São Paulo

Tenondé Porã Karumbe’y, Guarani Mbya 1.1282 Declarada 15.969,00 São Paulo
Pai Matias, São Bernardo
Kalipety, do Campo
Ventura oikoa, São Vicente
Yyrexakã, Mongaguá Tabela 1 I
Guyrapaju, Descrição das
Kuaray terras indígenas
Rexakã, Tape na área da RBCV.
Mirim, Tekoa Fonte: Elaboração
Porã própria. Com base
em CPISP (2019).
Nota: 1 Sesai (2013) apud CPISP (2019); 2 Funai Litoral Sudeste (s.d) apud CPISP (2019); 3 Despacho Presidência Funai nº 544 (2013) apud CPISP
(2019); 4 Município não integra a RBCV.
52 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1920/1930, associaram-se aos já instalados, A força da política de distribuição de terras


comprando pequenas propriedades próximas à e de incentivo à agricultura local, acrescida do
capital do estado. Desta forma, a produção de movimento espontâneo de ocupação, caracteri-
frutas, legumes e verduras e, mais recentemen- za-se como um esforço relevante na região para
te flores, concentraram-se nesta área e provêm, se contrapor ao movimento de expulsão da agri-
fundamentalmente, de pequenas unidades de cultura para áreas mais distantes. Destacam-
produção. As famílias de ascendência japonesa -se, neste sentido, o município de São Paulo, que
se dedicaram principalmente à produção de ampliou a área em quase a mesma magnitude
hortaliças e construíram fortes canais de do que havia no município no censo anterior, o
comercialização. Estão reunidas na região Les- que resultou em uma taxa de expansão da área
te e no município de São Paulo, mas estão aban- agrícola de 50,36% no período intercensitário.
donando a atividade em busca de atividades Outros municípios como Franco da Rocha (22%),
mais rentáveis (CARVALHO et al; 2005; 2006; Itapecerica da Serra (31%) e São Lourenço da
2010; CARVALHO, 2015). Serra (29%) tiveram esforço semelhante, com
Os solos da região da RBCV, por se loca- resultado em expansão da área agrícola. Estes
lizarem no planalto cristalino e na borda leste últimos casos são ainda mais significativos por
da depressão periférica, têm elevada suscetibi- apresentarem pouca agricultura no censo ante-
lidade aos processos erosivos. Os solos são pou- rior. Entre os municípios que se destacam pela
co férteis, ácidos e, muitas vezes, dependentes tradição agrícola, é interessante enfatizar Mogi
de adição de matéria orgânica (principalmente das Cruzes e Jundiaí. No primeiro, a expansão
nas regiões produtoras de hortifruti) e neces- induzida pela política ou como processo espon-
sitam, portanto, de correção tanto química tâneo de ocupação foi de 37% da área identifi-
quanto física. Essas regiões são muito seme- cada pelo censo e levou a uma taxa de variação
lhantes em termos de suscetibilidade à erosão, da área, em relação ao censo anterior, de quase
sendo o relevo o principal elemento diferencia- 94%. Em Jundiaí, embora o esforço de expan-
dor. Análise mais detalhada sobre solo encon- são tenha sido de 25%, não foi suficiente para
tra-se no capítulo Serviço de controle de proces- manter a área antes existente e apresentou uma
sos geohidrológicos de erosão, escorregamento, redução de 28%. No território da RBCV houve
assoreamento e inundações. um esforço de política e de ocupação espontâ-
Através do Censo Agropecuário (IBGE, nea de cerca de 6% da área agrícola existente,
2017), pode-se ter o retrato mais atual da agri- mesmo assim apresentou uma taxa de variação
cultura na área da RBCV.7 A principal região negativa entre censos de cerca de 13% – mais de
produtora é Mogi das Cruzes, com cerca de 1% a.a., em média.
45% do total da área agrícola regional. A seguir Os dados do Censo Agropecuário (IBGE)
vem a região de Atibaia com 26%, Ibiúna com e do LUPA (SAA/SP) de anos anteriores permi-
12% a 15% e Osasco – Jundiaí com 5% ou 7%, tem caracterizar a produção agrícola na RBCV.
se incluir ou não os municípios que estão só Ao se considerar as grandes categorias de
parcialmente na RBCV. A área agrícola da RBCV uso e ocupação do solo constata-se, pelo IBGE
corresponde a 3% do estado, quando conside- (IBGE, 1971, 2000, 2009), que no período
rado também os municípios parcialmente con- de 1970 a 2006 houve redução do número de
tidos na área da reserva da biosfera. estabelecimentos na ordem de 40% e da área
total em 42%, o que indica estabilização do
O Censo Agropecuário (IBGE, 2017) e a última atualiza-
7

ção do LUPA, não estavam disponíveis quando este estu-


tamanho médio da exploração.
do foi inicialmente proposto. Nesta atualização, é utiliza- Quando considerado o período 1996/2006,
da somente a informação de área do Censo Agropecuário observa-se aumento tanto em termos de núme-
de 2017, uma vez que foram feitas mudanças na metodo-
logia do censo que tornaram a comparação de número de ro de estabelecimentos (28%) como de área
estabelecimentos viesada. Os novos critérios reduziram (159%), indicando também uma ampliação da
o número de estabelecimentos por considerar as áreas
não contínuas em um mesmo município como uma única exploração média. Esses resultados são eviden-
unidade. Também não foram contabilizados como esta- ciados na paisagem em que se vê a expansão
belecimentos as áreas de produtor/empregado/mora-
dor. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/ de áreas com monocultura acompanhada de
censo-agropecuario/censo-agropecuario-2017>. precarização das condições de moradia no seu
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 53

entorno, sugerindo substituição do trabalho atividade agrícola significativa juntamente


em área própria por trabalhadores remunera- com importante atividade econômica no setor
dos. O comportamento desses dois indicadores secundário (industrial) e terciário (serviços),
no período 1996/2006, entretanto, ocorre de ocorreu a tendência oposta: expansão do tama-
forma desigual entre as regiões da RBCV. Nas nho das UPA.
regiões de São Paulo e Oeste houve redução do Essas considerações indicam8 que ainda
número de estabelecimentos; na Baixada San- existem áreas de fronteira que atraem famílias
tista e Serra do Mar diminuiu a área e o ABC de agricultores a se estabelecerem no espaço
apresentou redução em ambos. Nas demais, geográfico da RBCV. Em algumas áreas, onde a
houve ampliação dos dois indicadores. agricultura é uma atividade de menor impor-
No período 1996/2006 houve também tância econômica (por ter desaparecido ou em
redução do número de estabelecimentos com comparação com alternativas econômicas), seu
áreas de mata natural ou plantada e ampliação desenvolvimento parece favorecer unidades
dos que apresentam as demais categorias. O maiores de exploração. Isso determina um per-
número de estabelecimentos com pastagem fil social diferenciado para o espaço rural e
foi o que menos aumentou. Em termos de área, para a rede social local, com impacto na defini-
todos os diversos usos apresentaram expansão ção das ações voltadas à conservação do espaço
significativa (mais do que duplicaram em todas rural e de seus atributos ambientais.
as categorias). A pastagem teve desempenho Em termos de uso e ocupação do solo, os
mais fraco. dados do ano de 2006 (IBGE, 2009) demonstram
O LUPA (PINO et al., 1997; SAA, 2008) tam- a heterogeneidade da região. Alguns municípios
bém captou esta mesma tendência para o perí- da RBCV não possuem mais estabelecimentos
odo 1996/2008, ou seja, expansão em termos agropecuários. Na RMBS, 38% dos municípios
de número de UPA e de área. Houve entretanto não apresentam área agrícola e mais 25% (San-
redução do número de estabelecimentos com tos e São Vicente) contam com área insignifican-
cultura temporária (3%) e da área com cultu- te. Dois municípios da área litorânea da RBCV,
ra permanente (22%). O que mais cresceu foi o que não fazem parte da RMBS, contribuem for-
número de estabelecimentos com refloresta- temente à área agrícola regional que está con-
mento (31%) e mata natural (35%). Em termos centrada no extremo sul da região, afastada do
de área a mata natural também mostrou um polo urbano. Predominam ali as matas naturais
crescimento significativo (17,63%), além da e a lavoura permanente. Essa região concentra
expansão do reflorestamento (7%). Este tema a produção de banana (67%) e palmito juçara
será enfatizado no capítulo Recursos Florestais (77%) da RBCV. A mandioca, importante para a
Madeireiros e não Madeireiros. Quando se consi- subsistência da população local, corresponde a
dera a área, a maior expansão ocorreu com cul- 31% do que é produzido na área da RBCV. Ape-
turas temporárias (26%) e pastagem (24%). Em sar de não ser uma agricultura muito dinâmi-
termos do LUPA, as principais áreas agrícolas ca, localizam-se aí 8% das UPAs e 12% da área
(Leste, Oeste e Norte) apresentaram diminui- agrícola da RBCV. Nesta região não existem
ção média das áreas. Isto também ocorreu nas reservatórios de água para abastecimento.
duas regiões onde a agricultura praticamente Na RMSP, a região industrial do ABC tem
desapareceu, sugerindo a ampliação de uma perfil ainda mais urbanizado. Cerca de 58%
nova atividade, espontânea ou fruto de política dos municípios não possuem área agrícola e
pública, associada à complementação de renda os restantes 42% possuem área insignifican-
ou geração de emprego. Em ambos os casos há te, com predomínio de culturas temporárias:
aumento do número de pequenas unidades de alface, almeirão, brócolis, couve e rúcula. Nes-
produção, ainda que com perfil diferenciado. sa região está o reservatório Billings, que se
Em São Paulo e na região Noroeste, onde existe encontra bastante poluído.
Na região Noroeste há uma área de forte
dinamismo econômico e social, que se localiza
A divergência entre as duas fontes sugere que, nos dados
8

do IBGE, houve incorporação de estabelecimentos em


na faixa que liga Sorocaba a Jundiaí e separa
2006 que não foram considerados em 1996. as regiões metropolitanas de Campinas e São
54 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Paulo, além de apresentar alguns municípios Itupararanga, é o principal município produtor


não impactados pelas atividades urbanas. Cer- de hortaliças (50% do total da região). O segun-
ca de 50% dos municípios fazem parte da RMSP do é Itapecerica da Serra, onde se destaca a pre-
e, entre estes, estão os que não possuem área servação das áreas de matas e florestas (99%).
agrícola (25% do total da região). Os demais, Em 33% dos municípios prevalecem composi-
apesar da forte urbanização, também apresen- ções diferentes destas categorias de uso do solo.
tam áreas agrícolas. Nessa região predomina No restante dos municípios (25%), a área agrí-
área de pastagem (40%), lavoura temporá- cola é insignificante. Todas as áreas de produ-
ria (27%) e matas e florestas naturais (24%). ção de cebola e alcachofra da RBCV estão nesta
Em 36% dos estabelecimentos há presença de região, assim como parcela significativa da área
matas e florestas naturais. Essa é a principal de batata (52%), mandioquinha (74%), cenou-
região produtora de uva de mesa (75%), pês- ra (48%) e beterraba (37%). A região é impor-
sego (31%), tangerina (27%), ameixa (26%), tante na produção de folhas e temperos.
caqui (16%) e laranja (16%) na RBCV, concen- A contribuição em termos de alface, por exem-
trada no município de Jundiaí. A produção de plo, é de 27%, e do repolho chega a 40%.
frango de corte também tem alguma relevância Na região Norte, 60% dos municípios
(21%), mas não está associada à produção de estão fora da influência dos processos fortes
milho para a criação (6%). A pecuária bovina, de urbanização e industrialização, enquan-
que justificaria a importância das pastagens, to somente 10% encontra-se na RMSP e 30%
é pouco relevante (leite 1% e corte 4%), suge- na área de dinamismo econômico e social
rindo que estas são (áreas que perderam sua de Sorocaba – Jundiaí. Esta área distingue-
biodiversidade e deixaram de ser interessantes -se das demais pela importância da área de
para a atividade agropecuária). Estão abertas pastagem (77% da área agrícola total), que
à expansão urbana. O plantio de alface (3%) é se configura como o uso do solo mais impor-
uma atividade significativa para a região, mas tante em 70% dos municípios. Nos 30% res-
não é representativa para a totalidade da área tantes destacam-se a lavoura permanente,
da RBCV. De forma geral, pode-se definir essa matas e florestas naturais, além da lavoura
região da RBCV como importante produtora de temporária. A característica fundamental des-
frutas, mas não de hortaliças. Os reservatórios sa região é a importância do solo com baixa
de água dessa área recebem o rio Tietê após cobertura vegetal e predominância da pecuá-
passar por São Paulo e são os mais poluídos. ria. Essa região contribui com pequenos ani-
Localizam-se nos municípios de Bom Jesus de mais (frangos 77% e suínos 84%), bovinos de
Pirapora e Santana do Parnaíba. Estes municí- corte (53%) e de leite (54%), assim como milho
pios não possuem área agrícola. forrageiro (85%) e milho (88%) – alimentos
A região Oeste é bastante heterogênea importantes para a criação. Vem também des-
em termos de urbanização. Cerca de 66% dos sa região todo feijão preto, sorgo e parte con-
municípios fazem parte da RMSP, enquanto siderável do feijão fradinho (78%) produzido
outros 33% não estão em áreas associadas a na RBCV. Entre as culturas anuais, destacam-
forte industrialização e urbanização. Cerca de -se ainda a vagem (66%) e a couve-flor (56%).
50% dos municípios têm uma significativa área Entre as culturas permanentes, a principal
agrícola. Essa é uma das principais regiões pro- é o café (71%), mas produz também algumas
dutoras de hortaliças do estado e abastece prin- frutas (figo, laranja, pêssego e ameixa). A fru-
cipalmente o município de São Paulo. Os demais, ta mais importante para a região é o morango
50%, dividem-se igualmente entre os que não (88%), cujo cultivo é anual.
dispõem ou possuem pouca área agrícola. De Na região Leste predominam os municí-
forma geral, a região caracteriza-se pela predo- pios da RMSP (73%), mas existe também muni-
minância de áreas de lavoura temporária, matas cípio (7%) que está na área de forte expansão
e florestas naturais. Esta é a característica de econômica e social de São José dos Campos,
42% dos municípios da região Oeste, fortemente enquanto os demais (20%) não sofrem impacto
influenciada por dois deles. Ibiúna, onde se loca- da urbanização e industrialização. Sobressaem
liza parte do reservatório Cachoeira de França e na região as áreas de matas e florestas naturais
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 55

(38%), embora a pastagem natural também seja encontra-se neste município, embora sua área
importante (36%). Este sistema de produção de drenagem se estenda por municípios vizi-
predomina em 47% dos municípios. A pasta- nhos. Nessa região, em função da saída da
gem é a atividade mais importante em 14% dos nova geração das famílias de origem japonesa
municípios. Essa região é, entretanto, a mais para trabalhar no Japão, bem como devido à
significativa no abastecimento de hortaliças legislação e à efetividade da fiscalização para
para a RMSP ainda que, em termos de uso do desmatamento para uso agrícola, era comum
solo, represente somente cerca de 10% de sua encontrar áreas arrendadas a custo zero, como
área. O uso e ocupação do solo por cultura tem- estratégia para manter a área como agrícola.
porária, permanente e a preservação de matas A volta dos imigrantes foi estimulada durante
e florestas naturais predominam em 33% dos o período de crescimento da economia brasi-
municípios, todos eles na área de drenagem leira e a recente crise no Japão (CARVALHO et
do SPAT, importante para o abastecimento de al., 2005) (CARVALHO, 2015).
água da RMSP. Uso do solo com preponderân- Uma caracterização da evolução do núme-
cia da cultura temporária e pastagem natural ro e da área dos estabelecimentos para o mais
representam 7% dos municípios dessa região. importante município agrícola e para o total da
Em termos das hortaliças, essa região tem região foi colocada sobre a área demarcada nos
uma estrutura semelhante à da região Oeste municípios pertinentes e pode ser observada
sendo responsável, por exemplo, por 59% da no Figura 3. A informação para a RBCV, como
alface, 48% do repolho e 70% de tomate pro- um todo, está ao lado do mapa. O ano de 1970
duzido na RBCV, com uma produção um pouco é representado em marrom claro e o de 2006
menor da batata inglesa (49%). Todavia, difere em marrom escuro. Pode-se observar a tendên-
no que diz respeito à produção de ovos (85%) e cia geral à redução da área e número de esta-
de frutas, pois é o principal produtor de caqui belecimentos em cada uma e no conjunto das
(76%). Por outro lado, assemelha-se à região regiões da RBCV. A evolução do uso e da ocu-
Norte, na área limítrofe. Predominam ali a pação do solo é apresentada na Figura 4, onde
pecuária, em termos de gado de corte (38%) e os diversos usos são apresentados em gráfico
leite (42%), com importante produção de for- em forma de pizza para os anos de 1995/1996
rageiras (88%) e de cana forrageira (79%). Por e 2007/2008. As áreas em marrom claro repre-
ser área estratégica para o abastecimento de sentam matas nativas. Predominam na RBCV
água à RMSP, o conflito pelo uso da água é forte. e em muitas das suas regiões. Na RBCV, entre-
Apesar disto, responde por 100% da produção tanto, a importância das pastagens, refloresta-
de agrião da RBCV, a cultura que mais utiliza mentos e cultura temporária juntas superam
água. Agricultores próximos aos reservatórios em pouco as áreas de mata nativa.
observam aumento da umidade e maior inci- Nas regiões Norte e Leste da RBCV, todos
dência de doenças nas hortaliças. os municípios possuem área agrícola e é tam-
Resta tratar do município de São Paulo. bém onde estão os principais reservatórios
Predominam, na sua área rural, as áreas de e áreas de drenagem dos principais sistemas
matas e florestas (75%) com peso equivalente de abastecimento de água da RMSP: Cantarei-
das culturas temporárias e pastagens naturais. ra, alimentado por águas do PCJ e SPAT, respec-
O principal alimento produzido é o chuchu, tivamente. No município de São Paulo, a área
combinado com toda a gama de produtos rural preservada é onde se concentra a ativi-
hortícolas, como nas regiões Leste e Oeste, dade agrícola, o reservatório Guarapiranga e
mas em pequena dimensão. Plantas orna- parte da sua área de drenagem. As margens do
mentais e pinheiros de natal ocupam áreas reservatório estão quase totalmente integra-
relevantes. Apesar da importância das áreas das à mancha urbana.
classificadas como de pastagem, a atividade Parece, portanto, existir forte correlação
pecuária é insignificante. Essas áreas são de espacial entre áreas agrícolas e ocorrência
fato campos naturais ou áreas abertas pela de reservatórios de água para abastecimen-
extração de madeira, conservadas para ocu- to, sugerindo a necessidade de mensurar esta
pação urbana. O reservatório de Guarapiranga superposição e a indagar sobre o impacto do
56 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 3 I
Número de
estabelecimentos,
área do principal
município e área total
de cada região da
RBCV, para os anos
de 1970 e 2006. Fonte:
Elaboração própria.
Com base em IBGE
(1971, 2009).

Figura 4 I
Percentual da área
das regiões da RBCV
por grandes classes
de uso, 1996 e 2007.
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em SAA (2008).

serviço ecossistêmico de provisão de alimen- às anteriores. As áreas de mata predominam no


tos sobre o serviço de provisão e regulação da município de São Paulo (75 %), Baixada Santista
água. Ainda que, os reservatórios sejam sem- e Serra do Mar (57%) embora a lavoura perma-
pre construídos em áreas de baixa densidade nente seja aí relevante (34%); ABC (52%) com
de ocupação, a expansão urbana desordenada presença forte da lavoura temporária (40%). Já
acaba alcançando-os. Manter um uso produtivo na região Oeste predomina a temporária (50%)
e uma ocupação menos impactante parece ser a mas as áreas de mata são bastante significativas
melhor forma de preservar as fontes de abas- (26%). A região Leste apresenta equilíbrio entre
tecimento de água, indicando a importância da área de mata (38%) e pastagem. Onde predomina
opção tecnológica na agropecuária. No entanto, mata, desenvolvem a lavoura temporária e per-
há que se considerar também o impacto que manente (26% somadas). A Região Norte tem
a construção dos reservatórios tem sobre o forte presença da pastagem (78%) enquanto a
microclima e a atividade agropecuária. noroeste, apesar do predomínio da pastagem
Em 2006, ao se considerar a área total da (40%), tem também área de mata significativa
RBCV as áreas de matas e florestas naturais (24%). As áreas de pastagem são, muitas vezes,
(32%) e de pastagem plantada (32%) se equiva- campos abertos sem ocupação econômica e de
lem e caracterizam as formas predominantes do fácil conversão à expansão urbana. De forma
uso e ocupação do solo na região; todavia, as áre- geral, existe diversidade na produção agropecu-
as de lavoura temporária (24%) e permanente ária, que é voltada ao abastecimento do mercado
(12%) em conjunto são ligeiramente superiores interno regional (SAA, 2008).
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 57

2.2.1 | Especificidades do serviço


ecossistêmico da produção
de alimentos nos diversos sistemas

A agricultura desenvolvida na RBCV


assume características próprias, em decorrên-
cia do sistema no qual se insere. A seguir será
caracterizada a agricultura praticada no siste- Figura 5 |
Região Leste da RBCV,
município de Mogi
ma Planalto Paulista (6 das 7 regiões da RBCV),
das Cruzes.
no Costeiro, que se refere a Baixada Santista e
Serra do Mar e as incrustadas nestes sistemas, Foto: Elcio Kenji
mas dentro de UC. Nakagawa (2004).

2.2.1.1 | Agricultura no Planalto

Existe grande diversidade de sistemas de


cultivo e criação na região da RBCV. Em termos
de consumo de água, o mais importante envol-
ve a produção de hortaliças. Na produção de
hortaliças por agricultores familiares, o can-
teiro é a unidade de planejamento. O que plan-
Figura 6 |
Região Oeste da RBCV,
tar leva em conta o ciclo da variedade, as con-
Sistema Agroflorestal
dições de mercado, o clima, as necessidades
de consorciação e rotação de culturas para (SAF) em implantação,
adequar a irrigação e aproveitar melhor o fer- no município de Ibiúna.
tilizante do solo e as próprias preferências. Foto Ágata Cobos (2010).

Isso torna a definição da produção sempre


muito conjuntural. Esta é uma atividade de
mão-de-obra intensiva, na qual é difundida
a contratação de meeiros, responsáveis por
área própria cultivada com os mesmos produ-
tos, para comercialização conjunta. Na região
Leste, é significativa a utilização de adubação

Figura 7 |
orgânica em caráter complementar à química.
Região Noroeste da RBV,
O preparo do solo é, em geral, mecanizado e
pode ser usado o arado ou a enxada rotati- área produtora de uva,
va – esta última causa compactação na sub- no município de Jundiaí.
Foto: João Paulo Soares
de Andrade (2002).
-superfície do solo e pulverização do perfil
superficial, tornando-o mais suscetível à ero-
são (FERREIRA, 2006).
Na região Leste, no período de menos chu-
va, são buscadas áreas mais férteis próximas a
sua fonte de água o que permite a redução do
custo da energia para irrigação, sendo utiliza-
das preferencialmente as áreas de várzea. Na
época de chuvas, quando a necessidade de água
é menor e há risco de inundação das várzeas,
são ocupadas as áreas onduladas. Nestes casos,
Figura 8 |
Região Leste da RBCV,
muitas vezes são realizados plantios morro
município de Guarulhos.
abaixo para evitar que a água estoure os can-
teiros. Em desacordo com a orientação técnica Foto: Elaine Zuchiwschi
para evitar escorrimento e erosão (FERREIRA, (2004).
58 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

2006). Em geral, é usada água de nascente e frota para transporte. Nas packing houses,
represada em tanque de captação, que muitas o consumo de água na pós colheita pode ser
vezes recebe escorrimento da área de plantio. excessivo. As áreas de monocultura crescem
O preparo do produto para comercialização no município de São Paulo e na região Oeste.
envolve lavagem em água de boa qualidade. No primeiro caso, parece estar associado ao
Quando a água superficial está contaminada, arrendamento sem custo9. No principal muni-
são empregadas fontes subterrâneas. cípio produtor de hortaliças da região Oes-
Os equipamentos de irrigação são muitas te, observou-se no campo, em 2008, grandes
vezes colocados de maneira que as áreas pró- áreas arrendadas com monocultura, princi-
ximas aos canteiros também possam receber palmente de repolho. A crise econômica no
água. Principalmente na região Oeste é comum mercado de um produto específico causa o não
ver lançamento ou escorrimento da água da plantio e o desemprego rural. Essas tendências
irrigação nas estradas. Em estudo realizado na ameaçam a rede social dos agricultores fami-
região Leste, principal produtora de hortaliças liares, o modo de vida rural e a preservação da
da RBCV, Arruda et al., (2006) avaliou a eficiên- multifuncionalidade da agricultura.
cia de 8 sistemas de irrigação. A eficiência tecno- Em trabalhos de campo realizados, obser-
lógica na irrigação é obtida ao se aplicar água em vou-se que a produção de frutas muitas vezes
intervalos adequados para a planta não sofrer compõe o sistema de produção com as hortali-
déficit hídrico que prejudique a produção eco- ças, mas outras vezes é feito de forma indepen-
nômica da cultura; de maneira mais uniforme dente. A prática principal é a busca da amplia-
possível, sem causar erosão; e molhando o perfil ção e do deslocamento do período da colheita
de solo explorado pela maioria do sistema radi- pela poda, para obter melhores preços. Em
cular da cultura (WINTER, 1984; PIRES et al., áreas com declive é recomendado não somente
2000). As evidências são de que o período entre o plantio em nível, mas a rebrota natural para
regas praticado pelos agricultores é inferior ao proteção do solo. Estas práticas, muitas vezes,
que, em média, é necessário; portanto, há des- não são observadas. É especialmente preocu-
perdício de água. Os equipamentos utilizados pante nas áreas de solos argilosos presentes
foram considerados razoáveis, sendo apenas tanto na região Leste como Noroeste – princi-
um considerado excelente e um muito pobre. pais áreas de produção de frutas.
No geral, bastaria orientação técnica, pequenos De forma geral, pode-se dizer que a agri-
reparos e boa manutenção para reduzir o consu- cultura no Planalto causa erosão, poderia usar
mo de água. Foi constatada a forte necessidade água de forma mais eficiente e deve estar pro-
de controle de enxurradas e da erosão e verifi- vocando contaminação do solo pelo uso inade-
cou-se também o bom nível da produção agríco- quado de agroquímicos e fertilizantes carre-
la, embora o aperfeiçoamento das práticas pos- ados para os cursos de água, principalmente
sa levar a aumentar ainda mais a produtividade pelos escorrimentos.
(ARRUDA et al., 2006). Com relação à pecuária, existem padrões
Na região Leste, ao lado dos agriculto- diferenciados, mas em geral é empregada a
res familiares, convivem outros de maior pecuária extensiva e com baixa utilização de
porte que são parceiros estratégicos para o tecnologia. O exemplo da sub-bacia Cabeceiras
escoamento da produção para os supermer- demonstra o diferencial tecnológico pois, segun-
cados. Em geral, possuem estrutura para pre- do o LUPA, 9,7% do total de UPA fazem vermifu-
parar e embalar (packing house) a produção gação e 9% a mineralização. No entanto, quan-
do consideradas somente as propriedades com
mais de 50 ha, esses percentuais sobem para
28,8% e 28,2%, respectivamente (VICENTE et
Pelos dados do LUPA de 1995/1996 para a bacia do Gua-
9

rapiranga, os arrendatários representavam 4,1% das al., 2004). O rebanho é predominantemente mis-
formas de acesso à terra às UPA, enquanto na sub-bacia to, permitindo obtenção de renda pela venda do
do Itaim, mais impactada pela ocupação urbana repre- leite e abate dos machos. A contaminação hídri-
sentava 6,1% (VICENTE et al., 2004). Trabalho de campo
realizado nesta região identificou que este arrendamen- ca ocorre principalmente pelo acesso do gado
to era fundamentalmente sem pagamento de renda. aos cursos de água.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 59

2.2.1.2 | Agricultura na Baixada Santista 2.2.1.3 | A agricultura em unidades


e Serra do Mar de conservação

As atividades agropecuárias na região da Como o estabelecimento de unidades


Baixada Santista e Serra do Mar são pratica- de conservação, em especial em décadas pas-
das fundamentalmente (89%) em estabeleci- sadas, não levou em conta a complexidade do
mentos de até 50 ha, na porção sul da região, território, muitas vezes as restrições de uso em
e se estende também por Pedro de Toledo e áreas declaradas como UC de proteção integral
Itariri. Além da bananicultura, da mandioca imprimiram nova configuração às relações
e do milho usados para subsistência, o culti- entre as pessoas e entre essas e o ambiente.
vo da pupunha para produção de palmito e a A EEc Juréia-Itatins, nos municípios de Ita-
criação de peixes de água doce estão emergin- riri, Peruíbe e Iguape, em 1986, foi transfomada
do como alternativas. O artesanato produzido em modalidade de UC que não permite ativida-
com fibra de bananeira e o turismo, tanto o de humana, com isso os moradores passaram a
rural quanto o ecológico, são atividades que sofrer pressão para deixar a região. A maior par-
despontam, mas exigem maior apoio do Poder te dos residentes (48%) foram criados na região
Público. e, entre eles, mais da metade chegou à região
O cultivo da banana começou em 1870 na antes da constituição da UC. Em estudos da
região de Santos e se expandiu para sul e norte década de 2000, verificou-se que os moradores
ao longo do litoral paulista, atingindo Pedro de se dedicavam fundamentalmente à agropecuá-
Toledo em 1950, época em que a ação pública ria e ao comércio relacionado ao turismo, apesar
se mobilizou após o surgimento do mal de siga- da restrição legal imposta pela categoria EEc.
toka (doença causada pelos fungos Mycospha- Parte dos moradores considerava que a proibi-
erella musicola ou Pseudocercospora musae) ção de caça, o maior vetor de degradação, pre-
e o desenvolvimento de tecnologia para o seu judicou a alimentação dos moradores que não
combate. A expansão foi facilitada devido à dis- tinham recursos para consumir outro tipo de
ponibilidade de terras virgens e o baixo nível proteína animal. As associações de moradores
técnico. A produção de banana foi implantada reivindicavam, desde 1991, alteração na catego-
em morros e vales principalmente por meio ria da UC. As condições de vida dos agricultores
de investidores que contratavam empreiteiros são semelhantes em outras UC de proteção inte-
para formar o bananal, ou pelo próprio pro- gral (PANZUTTI, 2003).
prietário que o implantava e o entregava aos Constatou-se que a atividade agrícola
cuidados de empregado residente. A introdução desenvolvida era de base familiar, eventual-
da cultura se deu por meio de duas coopera- mente organizada em grupos de vizinhança
tivas sediadas em Santos que tinham como sem especialização do trabalho, desenvolvida
objetivo a exportação. Em meados da década de forma precária como atividade de subsistên-
de 1980, estas cooperativas perderam compe- cia nas áreas planas. Plantava-se arroz, feijão,
titividade e o destino da produção passou a ser milho, mandioca, frutas adaptadas às condições
majoritariamente o mercado interno. Aproxi- locais, cana, batata e gengibre. A mandioca e a
madamente 70% dos produtores comerciali- cana eram comercializadas entre os moradores
zam para intermediários que embalam a fruta locais para obtenção de renda monetária. Não
no campo e a transportam para os centros con- compravam ou utilizavam qualquer insumo quí-
sumidores (SAES, 2001). mico ou mineral. Os equipamentos utilizados
Já a palmeira pupunha é planta exóti- eram rudimentares, sem uso de tração animal
ca na região. Lotes de plantas sem espinhos ou arado. Era comum a criação de pequenos ani-
foram adaptadas em campo de experimentação mais para consumo próprio. Poucos possuíam
regional e introduzidas com sucesso em 1991, algum gado de leite e de corte. O animal era ven-
como alternativa econômica ao palmito Jussara dido vivo e o leite usado para consumo próprio
(Euterpe edulis) extraído da mata. (PANZUTTI, 2002). As condições econômicas
60 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

dos agricultores eram muito precárias e a renda (1.828 ha); RDS da Barra do Una (1.487 ha);
monetária – quando não proveniente da aposen- (iv) RDS do Despraiado (3.953 ha); (v) EEc da
tadoria ou da venda de serviços de membros da Jureia-Itatins (84.425 ha) (SÃO PAULO, 2013b).
família, era originada do excedente destes pou- A criação de duas RDS no Mosaico permi-
cos produtos comercializados. te moradores caiçaras o desenvolvimento de
Informações de campo atestaram que em atividades controladas, o que resolve parte dos
Peruíbe alguns produtores praticavam a banani- conflitos. Residem na região famílias que não
cultura (banana ouro) no interior do então Nú- são consideradas tradicionais, por isto os con-
cleo Itariru do Parque Estadual da Serra do Mar flitos persistem. Quando da criação do Mosai-
(que abrange a área dos municípios localizados co, em 2013, verificou-se também que haviam
entre Juquitiba a Peruíbe, e tem sua sede ins- famílias tradicionais estabelecidas nas
talada em Pedro de Toledo). Raramente usavam áreas dos parques ou da estação ecológica;
insumos agrícolas por falta de recursos financei- para estes casos, poderão ser assinados ter-
ros. Comercializavam para intermediários que mos de compromisso, a título precário, para
faziam a climatização e revendiam nas estradas. que essas pessoas possam continuar onde
Estes produtores indicaram a pupunha como vivem até sua realocação para uma das RDS,
atividade em expansão. No Núcleo Itariru, o cul- ou indenização, caso precisem deixar o local
tivo era autorizado somente na área de entorno (ALESP, 2013).

2.2.1.4 | Pesca continental no Planalto


da UC, se o produtor assinasse um documento
comprometendo-se a não permitir que as plan-
tas produzissem frutos, impedindo assim, a sua
contaminação para a área protegida. A pesca continental no estado é pratica-
Segundo informação dos técnicos de cam- da em áreas represadas e em trechos livres de
po, trabalhos de apoio a agricultores familia- grandes rios, geralmente, de forma artesanal e
res em UC têm buscado promover a agricul- em pequena escala, individual ou em grupos,
tura orgânica. Na verdade, é uma prática com constituindo-se em importante fonte de renda,
tecnologia rudimentar e introdução das técni- geração de emprego e produção de proteína
cas de manutenção e recuperação da fertilida- para as populações socialmente menos favo-
de do solo e de combate alternativo das pragas recidas (MARUYAMA, 2007). É praticada como
e doenças. Todavia, a ilegalidade das atividades fonte total ou parcial de emprego e alimenta-
agrícolas em UC com restrição de uso, dificulta ção em três modalidades: artesanal (profissio-
a obtenção de certificação para comercializa- nal), amadora-esportiva e de subsistência. O
ção diferenciada. gerenciamento da pesca é de responsabilidade
A UC Juréia-Itatins vigorou como EEc do poder público federal (Ministério da Pes-
entre os anos 1986 a 2013, em situação confli- ca e Aquicultura – MPA e Instituto Brasileiro
tiva, uma vez que não permitia a ocupação por do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis
moradores tradicionais caiçaras, sendo regis- – IBAMA) e seus escritórios estaduais, que
trado um acentuado histórico de lutas políti- atuam no estabelecimento de regras que levam
cas. Em 2006, a UC foi transformada no Mosai- em conta medidas de ordenamento, como
co de Unidades de Conservação Juréia-Itatins petrechos permitidos, definição de tamanhos
com seis categorias, incluindo a Reserva de mínimos de captura, épocas de defeso, etc.
Desenvolvimento Sustentável (RDS) da Barra Conhecimento de campo permite afirmar
do Una, com o objetivo de atender as comu- que na região abrangida pela RBCV, a atividade
nidades tradicionais. Em 2009, uma ação de pesqueira artesanal-profissional é mais sig-
inconstitucionalidade obrigou o retorno da nificativa na sub-bacia do Alto Tietê-Billings
área à sua configuração original de Estação (região ABC) e secundariamente no rio Soro-
Ecológica (FERREIRA; RAIMUNDO, 2016). caba (região de Ibiúna). Nas demais regiões da
Em 2013, a Lei 14.982, ampliou os limites RBCV, a pesca profissional é muito pequena.
da EEc da Jureia-Itatins, e reclassificou a área, Prevalece a pesca amadora praticada por apo-
que passou a ter a seguinte configuração: (i) sentados e moradores locais, sendo basicamen-
PqE do Itinguçu (5.040 ha); (ii) PqE do Prelado te com cunho de lazer. Essa atividade é intensa
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 61

nos finais de semana no complexo Billings e dos pescadores que atuavam no reservatório
Guarapiranga, principalmente nos braços do de Barra Bonita vieram da capital e do Gran-
rio Pequeno e Capivari, nos reservatórios do de ABC, mudança ocasionada pela escassez de
rio Grande e das Pedras, locais menos afetados peixes. Em levantamento realizado por Alves
pela poluição. Não se tem uma estimativa real da Silva (2008), foram entrevistados 52 pesca-
da quantidade de pessoas que a praticam. De dores, identificados nove núcleos pesqueiros
acordo com Matarazzo-Neuberger (1994), na e chegou-se a uma estimativa de 113 pescado-
região do complexo Billings em 1990, havia dia- res regularmente atuantes nos diversos locais
riamente cerca de 600 pescadores amadores. visitados, distribuídos entre São Paulo (57%),
Alguma informação existe em relação a São Bernardo do Campo (31%) e Ribeirão Pires
esta atividade nos reservatórios. Segundo Gia- (10%). Sabe-se, entretanto, que o número de
mas et al. (2004), a pesca na represa de Ponte pescadores vem diminuindo através dos anos
Nova (Salesópolis) não apresenta grande ex- em função da qualidade da água e disponibi-
pressão na economia da região sendo realizada lidade de peixes. De forma geral, os locais de
por poucos pescadores artesanais; em função pesca e os pontos de desembarque se localizam
da escassez de peixes disponíveis na represa, na parte oeste da Billings, menos impactada
os pescadores migraram para outras regiões. pela urbanização e próxima à Guarapiranga.
Barbieri et al. (2000) observou na Guarapi- A pesca de pequena escala praticada no
ranga (São Paulo), a existência de apenas uma reservatório Billings é constituída, geralmen-
dezena de pescadores que sobreviviam da pes- te, por grupo familiar, composta em geral por
ca artesanal-profissional e de subsistência. quatro pessoas, de baixa renda (cerca de 1,5
Grande parte dos frequentadores utilizavam salários mínimos), com idade média de 38
a represa para fins de lazer e turismo, prin- anos (18-60 anos) e 13 anos na profissão. A
cipalmente nos fins de semana. Em 2008, na maioria possui outras atividades complemen-
represa de Taiaçupeba (Suzano), foi fundada a tares, embora existam famílias de pescadores
cooperativa de pescadores do Alto Tietê (COO- tradicionais na região que trabalhem há mais
PAT). Segundo informações obtidas em oficinas de trinta anos. A principal arte de pesca
entre pescadores e pesquisadores do Instituto empregada é a rede-de-espera, com diversos
de Pesca, realizadas pelo Serviço de Apoio às tamanhos de malha, para a captura da maioria
Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), na épo- das espécies e a pesca da batida, método mais
ca estavam cadastrados 30 pescadores profis- eficaz para a pescaria da tilápia do Nilo e afri-
sionais mas, atualmente acredita-se que este cana (O. niloticus e T. rendalli). A pesca da bati-
contingente seja muito maior. Com exceção da da é a estratégia mais utilizada no reservatório
represa Billings, são escassas ou inexistentes para a captura da tilápia. É bastante emprega-
as informações sobre a atividade pesqueira nos da nos açudes do Nordeste do Brasil, mas ainda
demais reservatórios da RBCV. não foi legalizada no Estado. Consiste no uso
No reservatório Billings, apesar do forte da rede-de-espera de modo ativo, já que tal
impacto urbano, a atividade de pesca artesa- espécie dificilmente cai em redes paradas devi-
nal-profissional é antiga e resistente, por isto do a sua visão apurada. As redes malhadeiras
é a mais estudada. A construção do Rodoanel são posicionadas próximas às margens. São
Mário Covas parece ter provocado forte impac- realizadas pancadas na água com um soquete
to sobre a atividade, embora ainda não existam de madeira e/ou bambu, fazendo com que os
estudos disponíveis. peixes se movimentem, fiquem atordoados e
Na década de 1990, Minte-Vera (1997) caiam nas malhas da rede. A pesca de batida
estimou em 101 o número de pescadores, causa também efeito em outras espécies nati-
anteriormente totalizados em cerca de 200 vas mais delicadas.
entre as décadas de 1930 e 1940 (ROCHA, 1984). Foram identificadas 22 espécies captura-
De acordo com relatos de pescadores mais anti- das pela pesca profissional, entre elas, 11 nati-
gos, a Billings em décadas passadas, chegou a vas, sete alóctones (de outras regiões do Brasil)
abrigar cerca de 600 famílias de pescadores e cinco exóticas (de outros países). O acará (Geo-
na região. Maruyama (2007) relata que 17% phagus brasiliensis), o lambari (A. fasciastus,
62 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

2.2.1.5 | Pesca na Baixada Santista


e Serra do Mar
A. eigenmanniorum) e duas espécies de tilápias
representaram mais de 80% do volume desem-
barcado (ALVES DA SILVA, 2008).
O fechamento das comportas do rio A área costeira é acessível às pequenas
Pinheiros, em meados da década de 1990, está embarcações, principalmente pela proximida-
associado à substituição da tilápia (O. niloticus de da terra firme, o que possibilita a pescaria
e T. rendalli), como a espécie com maior volume de sol a sol praticada normalmente sem a uti-
desembarcado), pelo acará (G. brasiliensis). Tal lização de instrumentos de navegação. A prá-
declínio foi observado pelos pescadores e com- tica da captura do alimento pode ocorrer por
provado pelos trabalhos de Minte-Vera (1997), vários métodos, sendo muitas vezes realizada
segundo o qual 81,4% do total capturado, nos sem embarcação ou qualquer petrecho de pes-
anos de 1996 a 1997, foi de tilápia; e por Alves ca, como no caso da cata de mariscos e ostras.
da Silva (2008), que identificou que o acará foi A continuidade da atividade depende da
a principal espécie, contribuindo com 42,9% preservação desses ecossistemas, fortemente
do total capturado, enquanto a tilápia passou ameaçados pelas ações antrópicas.
a representar somente 25,2% nos anos de 2005 Parte da biomassa está disponível para
a 2007. Nos anos intermediários aos trabalhos ser capturada no estuário enquanto outra
citados, não foram encontrados registros sobre parte migra para o oceano. Até o ano de 2019,
a produção pesqueira, impossibilitando uma era pouco conhecido o número correto de pes-
análise integrada e comparativa da produção e cadores profissionais e os volumes capturados
da qualidade da água ao longo de todo o perío- de diferentes recursos no ambiente estuarino.
do. A diminuição da tilápia no reservatório O grau de dependência dos usuários deste
vem sendo observada pelos pescadores, desde recurso é variável quando avaliada a cadeia
a década de 1970, após a desativação das esta- do pescado. O elo mais frágil são os pescado-
ções de piscicultura. O rendimento pesquei- res artesanais que dependem desses recursos
ro observado para o triênio 2005-2007 foi de para subsistência.
23,74 kg/dia e 320,8 kg/mês, considerando os Ao se considerar a pesca realizada na Bai-
pescadores monitorados que atuavam na cap- xada como um todo, a Unidade Laboratorial de
tura e no comércio do pescado, em trabalho de Referência em Controle Estatístico da Produção
campo do Instituto de Pesca. Pesqueira do Instituto de Pesca, que integra a
Os pescadores consideram que a tilápia Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
diminuiu no reservatório em função da retira- (APTA) da Secretaria de Agricultura e Abasteci-
da de aguapés, habitat de proteção aos alevinos mento (SAA), estima que, de dezembro de 2008 a
e pequenos peixes, e pela maior transparência novembro de 2009, foram obtidas 19.662 t, sen-
da água observada nos últimos anos. Estas con- do 97% proveniente da região Santos – Guarujá.
dições facilitam a pesca pelos biguás (tipo de Essa estimativa não inclui a captura realizada no
ave) e a fuga das redes pelas tilápias. A pesca estuário, particularmente, do camarão-branco.
excessiva da tilápia também pode ser um dos Na safra, pescadores profissionais e ilegais povo-
fatores explicativos, mas não existem traba- am o estuário para fornecer ao varejo. A pesca
lhos comprobatórios. ilegal, artesanal e industrial, é normalmente
Pode-se assim concluir que há uma clara praticada por barcos e/ou pescadores sem licen-
perda da biodiversidade e redução dos esto- ça ou com petrechos proibidos.
ques pesqueiros, trazendo impacto econômico Verificou-se que a produção vem decli-
e nutricional para o segmento da população nando. De 1967 até 1999, a produção do litoral
que a realiza como complementação alimentar. paulista oscilava ao redor de 70 mil t e, a partir
Assim, a continuidade da atividade pesqueira daí, se mantém em torno de 25 mil t. A Baixa-
está bastante ameaçada na Billings e em todos da Santista contribui em média com 70% dessa
os reservatórios da RBCV, com condições seme- produção (ÁVILA-DA-SILVA; CARNEIRO, 2007).
lhantes em termos de qualidade da água. Mantém-se o hábito do consumidor local de
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 63

adquirir o pescado fresco, apesar da maioria integrada à cidade. Economias de aglomeração


das embarcações artesanais trabalhar sem cui- prevalecem sobre as de escala (MOUGEOT, 2000)
dados com processos de conservação. – mais importante do que a quantidade produzi-
A presença do polo industrial de Cubatão, da é ter maior diversidade, agregar valor ao pro-
área portuária com alta densidade demográfica duto e torná-lo mais facilmente disponível para o
e atividades de agricultura e pecuária, tornam comprador (CARVALHO, 2015).
a área bastante suscetível à poluição. A eutrofi- O conceito de agricultura urbana na polí-
zação causada pelo despejo de efluentes do polo tica brasileira (MDS, 2018) aponta dois parâ-
industrial e o lançamento de esgotos clandesti- metros de identificação: a) o uso de insumos e
nos comprometem a qualidade da água (ANCO- mão-de-obra local; e b) a articulação com a ges-
NA et al., 2006). Atualmente, a poluição mais pre- tão territorial e ambiental da cidade ou metro-
ocupante ainda é a proveniente do esgoto e lixo politana (ARRAES; CARVALHO, 2015)
doméstico, apesar do emissário submarino. O estudo de Santandreu e Lovo (2007),
Na disputa pela produção de alimentos do Panorama da agricultura urbana e periurbana
ambiente costeiro há conflito entre pescadores no Brasil e diretrizes políticas para sua pro-
artesanais e industriais; minimizados pela for- moção, de iniciativa do Ministério do Desen-
mação de áreas de proteção ambiental (APA) volvimento Social (MDS), abrangeu 11 regiões
marinha (SÃO PAULO, 2008), que definiu áreas metropolitanas e registrou 635 experiências.
de exclusão da pesca industrial. O estudo apontou que 75% dessas experiên-
A poluição das águas e a pesca predatória cias estão concentradas nas capitais. Das expe-
comprometem o recurso pesqueiro e o próprio riências da região Sul e Sudeste, 50% se auto-
estilo de vida dos pescadores, que podem vir a definem como orgânicas ou agroecológicas. A
se tornar atores importantes na preservação partir de uma amostra de 77 experiências da
do recurso natural. região Sul e Sudeste, constatou-se que 52%

2.2.2 | Influência das mudanças


recebem apoio, promoção ou financiamento da

das preferências do consumidor


sociedade civil, academia e/ou do setor priva-

sobre o serviço ecossistêmico


do, 26% do governo federal e 22% dos governos
estadual ou municipal.
de produção de alimentos Na região da RBCV, vários municípios têm
desenvolvido atividades de agricultura urbana
A característica fortemente urbana e cos- e periurbana, sendo, em geral, programa das
mopolita das grandes cidades no território da prefeituras. Em Diadema, São Bernardo do
RBCV influencia as preferências dos consumi- Campo, Santo André e Guarulhos são denomi-
dores, com especificidades qualitativas ao ser- nados de Programas de Agricultura Urbana,
viço ecossistêmico da produção de alimentos enquanto em São Paulo se identifica também
de ordem tecnológica (agricultura orgânica ou a Agricultura Periurbana. Em Embu, é deno-
agroecológica) e de preocupação cidadã (proxi- minado de Colhendo Sustentabilidade: Práticas
midade entre produção e consumo, e/ou gera- em Segurança Alimentar e Agricultura Urbana.
ção de emprego e renda) associados ao fortale- Em Osasco, o projeto da prefeitura foi iniciado
cimento da agricultura urbana. em parceria com o Centro de Pesquisa Mokiti
Okada, depois passou a ser realizado pela ONG
2.2.2.1 | Agricultura urbana Instituto Auá, mas está atualmente desativado.
Alguns destes projetos têm inovado suas estra-
O conceito de agricultura urbana inclui tégias, dando ênfase a parcerias com o terceiro
tanto aquela realizada dentro da cidade setor. A prefeitura de São Paulo, por exemplo,
(intra) como a periurbana (MOUGEOT, 2000). utilizou-se de editais para identificar projetos
A integração da agricultura com o mercado con- que sejam de interesse da política pública e
sumidor é o ponto fundamental na caracterização que, ao mesmo tempo, fossem apoiados pela
dessa agricultura. A agricultura urbana enfatiza sociedade civil, fortalecendo a Agenda 21 local.
que a lógica econômica da agricultura de esca- A abertura de novas oportunidades de
la não é válida para a agricultura desenvolvida comercialização direta, através de feiras livres
64 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ou vendas institucionais estimularam a presen- naturais e dos socioeconômicos disponíveis,


ça de agricultores tradicionais nas áreas periur- bem como o respeito à integridade cultural das
banas e a iniciativa de novas famílias atraídas comunidades rurais (BRASIL, 2003).
pelos possíveis ganhos econômicos. Os dados do O sistema orgânico tem por objetivo a sus-
Censo Agropecuário (IBGE, 2017), apresentados tentabilidade econômica e ecológica, a maximi-
anteriormente, tornaram evidente o impacto zação de benefícios sociais e a minimização da
destas políticas em alguns municípios. dependência de energia não-renovável. Para
Nas informações disponíveis nos sites das tal, faz uso de métodos culturais, biológicos e
prefeituras, revistas e organizações ligadas ao mecânicos – sempre que for possível, em con-
meio ambiente ou inclusão social, comprovam- traposição ao uso de materiais sintéticos, bem
-se as conclusões do estudo de Santandreu e como elimina o uso de organismos genetica-
Lovo (2007): a grande insegurança de conti- mente modificados e radiações ionizantes, em
nuidade das ações governamentais de estímu- qualquer fase do processo de produção, pro-
lo à produção, que ficam à mercê da vigência cessamento, armazenamento, distribuição e
das gestões municipais. A Tabela 2 apresenta comercialização e cuida da proteção do meio
indicadores ilustrativos das informações ambiente (BRASIL, 2003).
disponibilizadas em sítios da internet sobre Com base no levantamento por municí-
agricultura urbana em municípios da RBCV. pio de Previsões e Estimativas das Safras, de
Ao se considerar as informações disponí- 2004, foi apresentado um indicador de área,
veis no Perfil dos Municípios Brasileiros para número de produtores e principais produtos
o ano específico de 2018, dos 78 municípios da da agricultura orgânica naquele período para
RBCV, 17% (13 municípios) indicaram desen- a região da RBCV10. Na RBCV foram identifi-
volver atividades de agricultura urbana – Ati- cadas como principais regiões produtoras de
baia; Bragança Paulista; Diadema; Franco da orgânicos, em termos de área, a Oeste (40%) e
Rocha; Guarulhos; Itaquaquecetuba; Mauá; o município de São Paulo (33%). A região Leste
Mongaguá; Osasco; Peruíbe; Santos; São Paulo; contribuiu com 14%, a Noroeste com 12% e a
e Suzano (IBGE, 2018). Norte com 1%. Todavia, a informação apresen-

2.2.2.2 | Agricultura alternativa


ta algumas inconsistências. A área plantada
com a cultura pode ter sido contada pela agre-
gação das áreas de cada safra ou pela da área
A Lei 10.831 de 23/12/2003 define sistema do imóvel dedicado exclusivamente ao plantio
orgânico de produção no Brasil como todo aque- orgânico. No caso de São Paulo, a área média
le em que se adotam técnicas específicas, que cultivada com orgânico seria 15,60 ha. Em
consideram a otimização do uso dos recursos 2009, foram identificadas 11 UPA com produção

Ano de criação Número de pessoas


Área de cultivo
do programa/projeto envolvidas
Diadema1 - Bairros -
Embu das Artes 2
2008 13 230 famílias
Tabela 2 |
Guarulhos3 2008 - 56 agricultores cadastrados8
Indicadores sobre
política de agricultura Osasco4 2007 11 hortas 53 produtores
urbana em alguns Santo André5 2005 2,8 mil m2 20 agricultores
municípios da RBCV. São Bernardo do Campo6 2003 7 hortas 70 famílias
Fonte: Elaboração
própria. São Paulo7 2004 256 -
Nota: 1 Diadema (2019); 2 Embu (2019); O Eco (2009); SEAE (2015); 3 Guarulhos (2008); 4 Osasco Agora (2010); Osasco (2019);
5
Santandreu; Lovo (2007); 6 São Bernardo do Campo (2017); 7 São Paulo (2004); 8 Informações relativas a 2010.

10
Levantamento de Previsão de Safra realizado pela CATI/IEA, cinco vezes ao ano. Os questionários são preenchidos
pelos técnicos responsáveis pelas Casas de Agricultura de cada município do estado, de acordo com seu conhecimento
da região, mas com a supervisão de um técnico regional (Escritório de Desenvolvimento Regional – CATI). A informa-
ção é indicativa, pois depende de vários fatores, entre eles: existência de técnico no município, interesse pela questão,
conhecimento da realidade, tempo de trabalho no município, etc. Os dados são tabulados e analisados pelo Instituto de
Economia Agrícola.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 65

orgânica ou em transição, o que resultaria em


uma área de 172 ha com orgânicos, superior
a Ibiúna, o que é contestado pela experiência
de campo. A região Oeste é a que apresentou a
menor área média (2,73 ha) possivelmente com
estimativa da área média destinada especifi-

Figura 9 |
camente ao cultivo orgânico. A importância de
Região Oeste da RBCV,
Ibiúna seria então ainda maior.
O município de Ibiúna apareceu como o município de Vargem
maior produtor (66 ha), fato consistente com a Grande, Tico, agricultor
orgânico.
Foto: Hamilton Trajano
percepção de campo, seguido de Mogi das Cru-
zes (31 ha), Cotia (30,2 ha), Piedade (30 ha) e (2006).
São Roque (27 ha). Todos, exceto Mogi das Cru-
zes, localizados na região Oeste da RBCV onde
se encontra o Centro de Referência em Agro-
ecologia da APTA, voltada a agricultura eco-
lógica. Em conformidade com aquele levanta-
mento, foram produzidos 39 produtos diferen-
tes, sendo 13 deles frutas, cogumelos, legumes
e verduras. Os cinco principais produtos em
Figura 10 |
Região Oeste da RBCV,
termos de área foram: alface (119 ha) prove-
município de Ibiúna,
niente principalmente de Ibiúna; couve (60
ha) procedente principalmente de Mogi das José Jacinto, agricultor
orgânico.
Foto: Hamilton Trajano
Cruzes; repolho (46 ha) oriundo principalmen-
(2006).
te de São Roque e beterraba (45 ha) e cenoura
(44 ha) produzido principalmente em Ibiúna.
A maior área com frutas foi a de caqui, com 12
ha produzidos fundamentalmente em Cotia. A organizam-se em 6 eixos temáticos: produ-
área de frutas representou somente 6,5% da ção; uso e conservação dos recursos naturais;
área total de produtos orgânicos da região da conhecimento, comercialização e consumo;
RBCV (CAMARGO FILHO et al., 2006). terra e território; sociobiodiversidade.
De forma complementar, o Decreto 7794 Em 2018 foi implantada a Política Esta-
de outubro de 2012 criou o Plano Nacional de dual de Agroecologia e Produção Orgânica –
Agroecologia e Produção Orgânica - PLANAPO, PEAPO no estado de São Paulo; com destaque
para orientar o desenvolvimento sustentável, para o conceito de transição ecológica, pro-
com participação e controle social, através da cesso gradual orientado de transformação das
indução à transição agroecológica. Tem como bases produtivas e sociais com o objetivo de
diretrizes promover a soberania e seguran- recuperar a fertilidade e o equilíbrio do agro-
ça alimentar, o uso sustentável dos recursos ecossistema, tendo como base os princípios da
naturais, sistemas justos e sustentáveis de pro- Agroecologia, que deve priorizar o desenvol-
dução, distribuição e consumo de alimentos, a vimento de sistemas agroalimentares locais e
valorização da agrobiodiversidade, valorização sustentáveis (SÃO PAULO, 2018). Os dados de
de experiências locais, redução das desigual- 2019 mostram que, enquanto o Brasil apresen-
dades de gênero e participação da juventude. ta 22,5% dos municípios com algum projeto
Foram elaborados dois Planos: 2013/2015 orgânico, o estado de São Paulo conta com
e 2016/2019. No primeiro período do Plano 44,5% dos municípios (287 localidades), com
foram investidos R$ 2,9 bilhões em várias ações projetos orgânicos, e um total de 2.236 produ-
públicas promovendo integração entre agentes tores (KAMIYAMA, 2019).
públicos e privados nas três esferas de governo. Embora não se tenha informação sobre
O segundo Plano avançou nos ensinamentos o manejo orgânico agroecológico estabelecido
da primeira experiência. As ações propostas nestas áreas, há informação sobre o impacto
66 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

2.2.3.1 | Serviço de provisão de alimentos


e consumo
no solo em campos de experimentação com
este tipo de manejo. Foram cultivadas 15 espé-
cies de hortaliças, em rotação com as culturas
A pressão do consumo sobre o ecossiste-
de milho, feijão e adubos verdes, com manejo
ma da RMSP foi avaliada pela PE. Com os dados
orgânico, de 1990 até 2010. Nestas condições,
do IBGE, foi estimado que, em 1986, a RMSP
a média dos teores de matéria orgânica (MO)
usava 8% a mais da sua biocapacidade; em
dos solos mostrou elevações significativas,
1996 passou a usar 182% a mais, com redução
revelando aumento do teor médio observado
de 21% em 2006. Por outro lado, os dados do
de 1,70% em 1990 (ano inicial), atingindo valor
LUPA sugerem que se caminha de forma contí-
máximo de 3,7% em 2006 (elevação de 118%).
nua para a sobrecarga. Em 1996, a RMSP usava
Conhecendo-se os benefícios que pequenas fra-
153% a mais que sua biocapacidade, passan-
ções de matéria orgânica representam para o
do em 2006 para 209%. Esta diferença entre
solo e todo o sistema produtivo, pode-se afir-
as duas bases de informações provavelmente
mar que esta elevação nos teores de matéria
decorre de problemas nos dados do IBGE para
orgânica tem propiciado a manutenção e
estes dois últimos anos.
melhoria da fertilidade, com reflexos extrema-
A disponibilidade de alimentos está direta-
mente benéficos nas demais características do
mente associada à composição da dieta consumi-
solo e no desenvolvimento das culturas (SOU-
da e está fortemente relacionada ao bem-estar da
ZA; PEREIRA; PREZOTTI, 2010).
população. Na Tabela 3 são apresentados alguns

2.2.3 | A perspectiva do consumo



indicadores relacionados às recomendações de
consumo dos grupos de alimentos propostos
Na perspectiva do consumo, é analisada a pelo Guia Alimentar para a População Brasilei-
PE, indicador do padrão de consumo de uma dada ra, a realidade de consumo na região Sudeste e o
sociedade (demanda) frente à capacidade de pro- perfil da produção na região (MS, 2006).
visão de alimentos. Apesar das limitações, a aná- Contrapondo a questão da proporção
lise apresentada demonstrou que o consumo de nutricional recomendada dos alimentos e os
alimento na RMSP (evidenciado pelas hortaliças) utilizados na região Sudeste, apresenta-se a
não está em equilíbrio com sua oferta. produção na área da RBCV de acordo com a

Quantidade Quantidade consumida


Grupos recomendada Quantidade (% das calorias
de (% das calorias totais - produzida na RBCV totais – Valor
alimentos Valor Energético (% kg) Energético
Total (VET) Total (VET)

Área urbana Área rural

Cereais, raízes,
tubérculos e 45 – 65 10,26 38,6 46,3
derivados
Feijões 5 0,61 5,3 9,9
Tabela 3 |
Frutas, verduras 6 – 7 70,85 2,9 1,4
Recomendação
e legumes
e consumo de grupos
por alimentos Leite e derivados, 25 13,32 19,57 12,9
no Sudeste e carne e ovos
característica da Óleos, gorduras,
produção na RBCV. sementes de até 10 0 16,0 15,2
Fonte: Adaptados de oleaginosas
IBGE (2004);
Açúcares e doces até 10 4,95 14,1 15,0
MS (2006).
Nota: O Guia Alimentar propõe um consumo de 9 a 12% do VET. (MS, 2006).
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 67

classificação nutricional. Interessante notar reduz as complexas inter-relações ambientais


que a produção se concentra nos perecíveis: em uma única unidade (hectares per capita).
frutas, verduras e legumes; leite e derivados; O alimento consumido na RMSP vem de
carne e ovos. Entre os cereais predominam regiões cada vez mais distantes e, por isto, os
também produtos de maior perecibilidade e possíveis efeitos adversos nem sempre são
de consumo popular. Isto sugere a preferência notados no local de consumo. Isto acontece
pelo consumo por produtos frescos. mesmo para as folhosas, alimentos que são pre-
ferencialmente cultivados próximos ao merca-
2.2.3.2 | Pegada ecológica (PE) do consumidor, por serem altamente perecí-
veis e pela preferência do consumidor de que
Foram examinadas as tendências históri- tenha sido colhido no dia anterior.
cas do consumo de hortaliças na RMSP, a região A apropriação per capita de hortaliças
mais rica e povoada da RBCV. O padrão de con- dentro da RMSP caiu de 297 kg em 1976 para
sumo alimentar no Brasil tem mudado confor- 278 kg em 1986. Em 1996, o consumo cres-
me mudanças econômicas e de preferência de ceu para 366 kg e atingiu seu pico em 2006,
consumo. Assim, foi utilizada a PE para cal- com 405 kg per capita (GADDA, 2012) (Tabe-
cular as mudanças no consumo de hortaliças la 4). Este resultado (consumo calculado com
na RMSP de 1976 a 2006 a partir de dados do base na apropriação tanto do mercado ataca-
maior mercado atacadista da América do Sul. dista quanto varejista) difere dos dados sobre
A PE tem sido amplamente usada como consumo domiciliar (POF) do IBGE11, devido ao
uma ferramenta que indica o impacto da crescimento do hábito de comer fora de casa e/
demanda de recursos naturais por uma popu- ou do crescimento do lixo gerado antes do consu-
lação dentro de uma área e para determinar se mo domiciliar. Nota-se que mesmo cidades como
esta população está usando mais recursos do Tóquio, que faz grandes esforços para diminuir os
que a biocapacidade da área onde residem. Por resíduos provenientes de alimentos, têm sofrido
esta razão tem sido chamada de um indicador uma tendência de aumento do descarte (GADDA,
de (in)sustentabilidade. O conceito tem captu- 2006). Com base na fórmula de Wada (1999), cal-
rado a atenção de acadêmicos e daqueles envol- culou-se a PE das hortaliças e a pegada per capita
vidos na elaboração de políticas públicas, pois para os anos de 1976, 1986, 1996 e 2006.

Ano
Variáveis
1976 1986 1996 2006
Apropriação total (t)
1
2.981.640 4.238.385 6.067.029 7.969.337
Apropriação total1 (kg) 2.981.640.410 4.238.384.890 6.067.029.360 7.969.336.920
Apropriação per capita (kg/capita) 297 278 366 405
População total da RMSP 10.041.132 15.233.512 16.581.933 19.677.506
Pegada Ecológica total dos vegetais (ha) 115.206 163.764 234.420 307.922
Pegada Ecológica dos vegetais per capita 0,0115 0,0108 0,0141 0,0156

Biocapacidade total pelo IBGE (ha)
2
221.396 151.848 83.032 254.652
Déficit ecológico (ha) 106.190 - 11.916 - 151.388 - 53.270 Tabela 4 |
Cálculo da Pegada
Ecológica das
Biocapacidade total pelo LUPA3 (ha) 92.480 99.808 hortaliças na RMSP
(1976 a 2006).
Déficit ecológico (ha) - 141.940 - 208.114
Fonte: Gadda (2012).
Notas: 1 soma do varejo e atacado que permanece na RMSP; 2 inclui a soma de cada ano das áreas de lavoura temporária, áreas em descan-
so e terras produtivas, mas não utilizadas; 3 soma das áreas de lavoura permanente, temporária e inaproveitada.

11
Em 1987 o consumo per capita de hortaliças foi 47,98 kg, em 1996 passou a 34,42 kg e em 2002 a 29,00 kg. Isto é, o con-
sumo domiciliar de hortaliças encolheu 40%, quando comparamos 1987 e 2002.
68 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

nos critérios de agregação dos dados levou,


PE = Suprimento de hortaliças na RMSP entretanto, a buscar alternativas. A melhor
opção é considerada muito conservadora, por
Produção primária
abarcar mais área do que a área de produção
efetiva. Nesta opção, estão incluídas a soma de
A Organização das Nações Unidas para a cada ano das áreas de lavoura temporária, per-
Agricultura e alimentação (FAO) apresenta na manente, em descanso e terras produtivas, mas
Food Balance Sheets (FAO, 2010) o suprimento não utilizadas. Foram considerados os valores
de alimentos para o Brasil até 2005 (no qual os para os censos agropecuários de 1975, 1985 e
valores para 2006 foram considerados iguais 1996 como iguais aos dos anos de 1976, 1986
aos de 2005). Estimou-se que 10% se referem à e 1996, respectivamente. Como hortaliças cos-
RMSP, obedecendo a relação existente em ter- tumam ter seu plantio realizado quatro vezes
mos de população. Questões como a diferença ao ano (segundo as informações de campo, o
entre população residente e a que se alimenta de cultivo é feito de 3 a 4 vezes na mesma área,
fato na RMSP são irrelevantes frente à hipóte- durante o ano), a área considerada para esti-
se feita para a estimativa da fórmula de Wada. mar a biocapacidade para produção de horta-
Os possíveis descartes e perdas no local de liças na RMSP foi quadruplicada. O cálculo não
produção ou no transporte não puderam ser considerou a demanda por outros alimentos
incluídos por falta de dados, subestimando a PE. e demais produtos agrícolas necessários para
A produtividade primária (PP) é a quan- o bem-estar humano; assim como a questão
tidade total de carbono inorgânico fixado por tecnológica e outros impactos na produtivida-
organismos produtores (plantas) através da de como poluição, erosão, mudança climática,
fotossíntese, por unidade de área. A PP conta etc., não foram examinados. Também não foi
principalmente com a luz, mas também depen- incluída a energia e os recursos incorporados
de de outros fatores como água, dióxido de car- a uma determinada mercadoria (WACKERNA-
bono, temperatura e nutrientes. Por esta razão, GEL; REES, 1996), ou seja, a energia e materiais
diferentes regiões geográficas (em ecossiste- usados para sua produção, transporte, armaze-
mas terrestres ou aquáticos) apresentam dife- nagem, empacotamento e descarte. Por todas
rentes produções primárias. Os valores para as estas razões a estimativa da biocapacidade é
hortaliças da RMSP foram extraídos de Camar- considerada conservadora.
go Filho e Camargo (2008). A biocapacidade foi calculada para os
Biocapacidade é a quantia de terra (ou anos de 1976, 1986, 1996 e 2006 com base nos
água) necessária para produzir as mercadorias dados do IBGE. A informação censitária totali-
e serviços demandados pela população huma- za uma área agrícola variável que acompanha
na (GADDA; MARCOTULLIO, 2007). O supri- as mudanças de uso do solo. Há fortes críticas
mento ecológico, ou a biocapacidade da área sobre a cobertura dos dados de 1996 e falhas
terrestre, é igual à produção máxima de um nos dados publicados referentes a 2006. Isto
recurso renovável por unidade de área. Uma pode estar associado à estimativa de intensifi-
maneira de medir a biocapacidade é através cação no uso da biocapacidade até 1996, o que
da PP da unidade espacial, ou a quantidade de aumenta o estresse sobre o ecossistema, bem
biomassa por unidade de área. Por falta de como sua redução devido à expansão da bioca-
dados para a RMSP, todas as áreas foram consi- pacidade de 1996 a 2006. Por isto, recorreu-se
deradas como igualmente produtivas. A RMSP também aos dados do LUPA (PINO et al., 1997;
conta com 39 municípios que se estendem por SAA, 2008) para 1995/1996 e 2007/2008. No
uma área de 805.100 ha. Em 2006, 31% eram LUPA, a categoria utilizada de uso do solo refe-
de produção agrícola (IBGE, 2009) indicando o re-se à lavoura temporária.
potencial de expansão. A comparação entre a PE e a biocapaci-
A partir dos dados do Censo Agropecuário dade revela se o capital natural existente é
do IBGE, considerou-se que as áreas de lavoura suficiente para dar suporte aos padrões de
classificadas como de uso temporário seriam consumo e produção. Qualquer unidade geográ-
adequadas para esta análise. A descontinuidade fica cuja PE exceda sua biocapacidade sofre de
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 69

déficit ecológico (MONFREDA; WACKERNAGEL; são aproximadamente 15 milhões de brasileiros


DEUMLING, 2004), que é a diferença entre a que se utilizam do chamado fastfood. Este
biocapacidade da RMSP e sua PE; este déficit serviço representa 25% do total de venda de
ecológico somente acontece quando o valor é alimentos, movimentando R$ 10 bilhões em
negativo. Estes déficits encontram resposta 1997 (SEBRAE, 1999). Este crescimento no con-
através de duas alternativas: importação de sumo de hortaliças ocorreu ao longo da década
outras unidades geográficas e degradação do de 1980, apesar do ritmo de crescimento popu-
capital natural (overshoot ecológico). lacional na RMSP ter se reduzido à metade do
O uso da PE como único indicador para o verificado na década anterior.
desenvolvimento sustentável é, ao mesmo tem- A PE encoraja os tomadores de decisão a
po, poderoso e limitado. Neste estudo, o histó- considerar os efeitos dos padrões de consumo
rico da PE das hortaliças consumidas na RMSP e produção e os seus efeitos ambientais, assim
demonstrou uma associação entre apropriação como a equidade no uso de recursos naturais.
crescente e crescimento da renda (Tabela 4). Por outro lado, tem fragilidades: a) a subjeti-
A PE das hortaliças, tanto em termos vidade envolvida nos fatores de equivalência e
gerais quanto per capita, mostrou aumento hipóteses simplificadoras; b) um falso senso de
constante de 1976 a 2006. A PE aumentou 30% algo concreto gerado pelo uso de área de terra
de 1976 a 1986 e outros 30% na década seguin- como indicador agregante (VAN DEN BERGH;
te. De 1996 a 2006, o ritmo de crescimento VERBRUGGEN, 1999; VAN VUUREN; SMEETSE,
diminuiu para 24%. Já a PE per capita diminuiu 2000); e c) pode encobrir aspectos problemáti-
6,7% de 1976 a 1986, saltou para 24% de 1986 a cos relacionados ao consumo.
1996 e sofreu aumento de 10% na última déca- O resultado das aplicações da PE para
da. Estes resultados refletiram a ligação entre cidades varia com as diferentes suposi-
o crescimento econômico e o consumo e, tam- ções e os níveis de detalhe dos dados usados
bém, entre o consumo e os padrões de alimen- (WARREN-RHODES; KOENIG, 2001). Entre-
tação fora de casa12. tanto, apesar das diferenças metodológicas,
Assim, tendo como base para o cálculo estes estudos mostram que as PE das cidades
da biocapacidade os dados do IBGE, aparente- atuais são de duas a três ordens de magnitude
mente, desde 1986 já havia déficit ecológico. Em maiores do que as áreas geográficas ou políticas
1986, a RMSP usava 8% a mais da sua biocapa- que elas ocupam (REES, 2002). Apesar das limi-
cidade, subindo para 182% em 1996, mas redu- tações, há evidência do estresse crescente que a
zindo para 21% em 2006. Já, quando a base de RMSP coloca sobre seus recursos naturais rema-
dados é o LUPA, o overshoot é crescente de 1996 nescentes para produzir o serviço ecossistêmico
(a RMSP usava 153% a mais do que a sua bio- alimento, necessário ao bem-estar de sua popu-
capacidade) para 2006 (209% a mais que sua lação. Estes resultados sugerem a importância
biocapacidade). de fortalecer a preservação dos ecossistemas.

2.3 | Impactos ambientais


A partir de meados dos anos 80 foram
introduzidos os restaurantes fastfood, que

negativos da produção de alimentos:


oferecem ao consumidor várias combinações

uma análise dos trade-offs negativos


de alimentos (inclusive folhosas). Isto parece
estimular o consumo de uma maior variedade
de folhosas por refeição13. Segundo a Associação
Brasileira da Indústria da Alimentação (ABIA), A atividade econômica de produção de ali-
mentos pode ter impactos ambientais negativos
que a transformam em vetor de degradação do
ecossistema. O impacto positivo ou negativo
12
Consultar Food Service: Quem come fora, come mais sobre o benefício percebido de outros serviços
horti-fruti (VIANA; SABIO, 2009). ecossistêmicos é conhecido pelo termo trade-
13
O sucesso deste tipo de restaurante está associado também
-off (ASH et al., 2010) que será analisado a seguir
à inflação. Por exemplo, em março de 2008, com a alta da
inflação, comer fora de casa havia ficado 1,13% mais caro, para o serviço ecossistêmico de provisão de
contra 4,48% da refeição residencial (CPT, 2019). alimentos.
70 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

mais relevantes, não só em termos de erosão,


mas também deslizamentos, assoreamentos,
enchentes e inundações, conforme detalhado
no capítulo Controle de processos geohidrológi-
cos de erosão, escorregamentos, assoreamentos
e inundações.

Figura 11 | 2.3.2 | Trade-off negativo entre os


serviços ecossistêmicos de produção
Região Leste da
RBCV, município de
Biritiba Mirim, de alimento e de produção e regulação
sistema de irrigação.
da água: poluição
Foto: Elcio Kenji
Nakagawa (2006).
A atividade agrícola afeta a qualidade da
água através do impacto do uso de fertilizan-
tes cuja principal consequência é a eutrofiza-
ção e pelo uso de defensivos agrícolas, que são
tóxicos e colocam em risco a saúde e o bem-
-estar de todas as espécies. Trabalho realizado
Figura 12 |
na região do Alto Tietê (SENDACZ et al., 2005)
Região Leste da identificou que, independente da poluição pro-
RBCV, município de vocada pela agricultura, o impacto da urbani-
Paraibuna, produção
de cambuci,
zação é o elemento mais relevante da deterio-
Sítio do Bello.
ração da qualidade da água.
Foto: Aniello de Vita A eutrofização pode ser decorrente do uso
- Expressão Studio.
Fonte: TUR.SP (2019).
de fertilizantes químicos na agricultura ou por
produtos compostos por polifosfatos. Esses,

2.3.1 | Trade-off negativo entre os


produzem mudanças na qualidade da água,

serviços ecossistêmicos de produção


incluindo a redução de oxigênio dissolvido,

de alimento e de regulação do processo


redução das qualidades cênicas, morte exten-

geohidrológico: erosão
siva de peixes e aumento de incidência de flo-
rações de microalgas e cianobactérias (AZEVE-
DO; VASCONCELOS, 1998). O mesmo acontece
Na RBCV, a susceptibilidade à erosão está com a utilização de ração em viveiros e pesque-
associada fundamentalmente ao relevo aciden- -pagues, que contribui para o enriquecimento
tado e ao manejo inadequado do solo. Práticas de nutrientes nesses corpos de água.
agrícolas conservacionistas referem-se princi- O acúmulo de metais pesados nos reserva-
palmente ao plantio acompanhando as curvas tórios é outro problema que agrava o compro-
de nível, o terraceamento e à utilização de pro- metimento da qualidade da água, pois os mes-
cessos de cultivo mínimo. Na região, entretan- mos apresentam alta taxa de enriquecimento e
to, não se verifica a utilização dessas práticas. baixa taxa de remoção (MCELDOWNEY; HARD-
Em alguns locais é comum observar o plantio MAN; WAITE, 1993), sendo considerados seve-
conhecido como morro abaixo, que facilita o ros poluentes inorgânicos devido ao seu efeito
escoamento superficial e a erosão. O plantio tóxico na biota (ALLOWAY; AYRES, 1997) e na
em nível é mais comum, no entanto, sem obe- saúde humana. Geralmente esses compostos
decer rigorosamente às orientações técnicas. são provenientes de efluentes industriais, mas
Contudo, a agricultura não é a única nem a também de defensivos agrícolas.
principal causa da erosão na área da RBCV. Des- Apesar do alto consumo de agrotóxicos e
taca-se o impacto das estradas rurais mal pla- do relativo grau de liberalidade no seu uso, não
nejadas e com manutenção precária e a urbani- existe um sistema de monitoramento dos diver-
zação, principalmente decorrente da ocupação sos princípios ativos que colocam em risco a
desordenada que provoca distúrbios muito qualidade das águas, dos solos e dos alimentos
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 71

produzidos. Programas de monitoramento de foi o princípio ativo mais utilizado, seguido da


agrotóxicos em água, de modo geral, objetivam azoxistrobina. Os princípios ativos que apre-
proteger a saúde pública e o meio ambiente, sentam possibilidade de contaminação em
garantir a qualidade hídrica para os diferentes águas superficiais são o glufosinato (sal de
usos a que se destinam, determinar a razão de amônio), glifosato, metolacloro, clorotalonil
dissipação dos agrotóxicos nos corpos hídri- e azoxistrobina, sendo que os três primeiros
cos, reduzir ou prevenir a contaminação das são herbicidas e os dois últimos fungicidas.
águas por agroquímicos, bem como avaliar o O clorotalonil e azoxistrobina são também
grau, a extensão e a rota ambiental de conta- problemáticos para a Daphnias sp. Porém,
minação dos corpos hídricos. Embora existam cipermetrina e lambda cialotrina, embora não
protocolos para o monitoramento de agrotó- apresentem problemas para águas superficiais,
xicos no campo, a infraestrutura requerida é atingem este organismo. Na produção de frutas
muito dispendiosa. No Brasil, existem poucos são utilizados sete ingredientes ativos, sendo
laboratórios capacitados para essa atividade. A dois inseticidas, quatro fungicidas e um her-
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo bicida. O metamidofós e o tiofanato metílico
(CETESB) monitora a qualidade da água para são os pesticidas que oferecem maior perigo de
alguns indicadores, mas tem consciência da contaminação de águas superficiais. Na
limitação tecnológica para um monitoramento avaliação de toxicidade, os mesmos princípios
efetivo na agricultura. ativos se encontram no topo como os mais
Diversos modelos matemáticos e sistemas preocupantes, embora somente o metami-
computacionais têm sido desenvolvidos para dofós se mostre como muito perigoso para a
avaliar o potencial de contaminação da ativi- Daphnias sp.
dade agrícola no ambiente hídrico, como eta- As elevadas cargas de nitrogênio e fós-
pa preliminar ao monitoramento. O Pesticides foro, assim como os elevados valores de
Impact Rating Index (PIRI) foi desenvolvido por coeficientes de exportação obtidos em pesqui-
Kookana; Correll; Miller (2005). Trata-se de um sas sobre pesque-pague (CASTRO et al., 2006)
sistema computacional que elenca os ingre- na região da bacia hidrográfica do Alto Tietê,
dientes ativos dos agrotóxicos em relação aos indicaram que os pesqueiros contribuíram
impactos que podem causar aos corpos hídri- com o incremento dos nutrientes nos tributá-
cos superficiais e subterrâneos, ao considerar a rios e reservatórios inseridos nas sub-bacias.
mobilidade e a toxicidade dos agrotóxicos, bem Tais empreendimentos, conjuntamente com
com os parâmetros do local de aplicação como, as atividades agrícolas, industriais e urbanas
por exemplo, pluviosidade e distância do corpo respondem por grande parcela do aporte de
hídrico. nutrientes, promovendo um aumento no pro-
Luchini e Vieira (2009) avaliaram o cesso de eutrofização desses sistemas. Tan-
potencial de risco de contaminação dos solos e ques-rede não são significativos nesta região,
águas superficiais e subterrâneas no Alto Tie- de forma que não existem estudos indicativos
tê Cabeceiras em áreas de produção de hor- da contaminação das águas nesses locais em
taliças e frutas, utilizando o simulador PIRI. consequência desta atividade.
Foi simulada a contaminação de águas super- As evidências são de que há necessidade
ficiais e subterrâneas, a partir da mobilida- urgente de introdução de melhores práticas
de dos agrotóxicos bem como da toxicidade agrícolas e pesqueiras, com monitoramento
de agrotóxicos a organismos aquáticos-alvo, dos princípios ativos nas regiões agrícolas da
como a Daphnias sp. A avaliação dos impactos RBCV, de capacitação e fiscalização dos pesque-
ambientais causados pelo uso de agrotóxicos -pague, elaboração e divulgação permanente
foi feita para hortaliças e frutas. Os resultados da lista de produtos a serem proibidos, a partir
mostraram que essas culturas não oferecem da avaliação do impacto para a saúde do ecos-
risco de contaminação para o lençol freático. sistema e o bem-estar humano.
São utilizados 14 ingredientes ativos na pro- Por outro lado, ao se considerar a base de
dução de hortaliças sendo três inseticidas, dados oficiais e cruzamento de informações
seis fungicidas e cinco herbicidas. O glifosato sobre produção agrícola e qualidade das águas
72 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

nos reservatórios, conclui-se que a agricultura foi citado é a mesma da importância do uso.
não é o principal vetor para a deterioração da É um indicador grosseiro na medida em que
qualidade de água dos reservatórios, e sim a uma segunda categoria pode ter sido incluída
urbanização. em função de uma contribuição ínfima (0,50%)
A análise da qualidade se baseia no moni- ou por valores representativos (de até 25%),
toramento regular dos corpos hídricos do esta- além de não haver coincidência entre os limites
do de São Paulo, realizado pela CETESB. O Índice municipais e a área de drenagem. Além disso,
de Qualidade da Água (IQA) e o Índice de Quali- há uma defasagem de três anos entre os dados
dade das Águas para Proteção da Vida Aquática agrícolas e o de qualidade da água. Os dados da
e de Comunidades Aquáticas (IVA) foram usados CETESB utilizados foram os de 2011. O valor
para caracterizar os reservatórios da RBCV e utilizado refere-se à média simples dos valores
relacionar com a atividade agropecuária pró- disponíveis para cada reservatório.
xima ao reservatório (IBGE, 2009). O cálculo Os reservatórios com qualidade ótima
do IQA leva em consideração nove variáveis de estão localizados em municípios em que pre-
qualidade da água, que podem ser afetadas pela valece mata; mata com cultura permanente;
atividade agropecuária: 1) coliformes fecais, pastagem com mata; e exclusivamente cul-
provenientes de adubo orgânico e dejetos de turas temporárias ou pastagem. Nestes dois
animais, se provenientes da agricultura; 2) pH, últimos casos tende-se, conceitualmente, a
alterado pelas características do solo, uso de associar mais com sedimentos e escorrimento
calcário e alguns pesticidas carreados do solo de agroquímicos. Por outro lado, os reservató-
para o corpo hídrico; 3) DBO proveniente de res- rios com qualidade de água ruim ou péssima
tos culturais, dejetos de animais, matéria orgâ- estão localizados no ponto mais a jusante do
nica e agrotóxicos que causam a mortalidade Rio Tietê, dentro da área da RBCV e, portan-
de organismos vivos, bem como derramamento to, recebem as águas deste rio após passar por
acidental de insumos que consomem o oxigênio toda área de concentração urbana de São Pau-
para decomposição; 4) nitrogênio total, prin- lo. Localizam-se em municípios onde o uso do
cipalmente proveniente da adubação; 5) fósfo- solo pela agricultura foi caracterizado por ter
ro total, também proveniente da adubação; 6) informação estatística sem relevância ou sem
temperatura associada a falta de mata ciliar; informação. Santana do Parnaíba, onde está
7) turbidez causada pela erosão e pela falta de localizado o reservatório Edgar de Souza, pos-
mata ciliar; 8) resíduo total resultante do revol- sui somente 20 estabelecimentos, um pouco aci-
vimento do solo para plantio, erosão e falta de ma do número de corte para considerá-lo sem
cobertura vegetal entre a colheita e plantio; e estatística relevante (IBGE, 2009). Estas consi-
9) oxigênio dissolvido resultante do impacto da derações são consistentes com a concepção de
agricultura, que estimula a eutrofização e aera- que, apesar do impacto da agricultura, o IQA
ção da água. reflete, principalmente, a contaminação dos
No período de 2003 a 2010, não houve corpos hídricos ocasionada pelo lançamento de
uma deterioração clara da qualidade da água esgotos domésticos.
medida em termos do IQA em nenhum reserva- O IVA tem o objetivo de avaliar a quali-
tório. Houve uma melhora em alguns reserva- dade das águas para fins de proteção da fauna
tórios, particularmente Jaguari e Jundiaí e uma e flora em geral. Fornece informações não só
pequena degradação na Billings, Paiva Castro, sobre a qualidade da água, em termos ecoto-
Taiaçupeba e Rio Grande. xicológicos, como também sobre o seu grau de
Na Figura 13 apresenta-se o cruzamento trofia (CETESB; SABESP, 2011).
das informações agrícolas com o indicador de Com relação ao IVA, o comportamento
qualidade dos reservatórios (IQA). Os dados observado no período 2003 – 2010 apresen-
agrícolas referem-se ao principal uso da área tou certa homogeneidade com relação à bacia
agrícola em cada município com base no IBGE hidrográfica a que pertence. Na bacia do rio
de 2006, segundo categorias de uso. Identifi- Paraíba e no médio Sorocaba houve claramen-
caram-se os usos informados que represen- te uma melhora. O primeiro, caracterizou-se
tam mais que 50% da área. A ordem com que pelo menos como regular, enquanto o segundo
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 73

Figura 13 |
Uso agrícola
preponderante
e qualidade da
água (IQA) nos
reservatórios
da RBCV.
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em IBGE (2009);
CETESB (2011).
Nota: 1 Reservatório Jaguari; 2 Reservatório de Pirapora; 3 Reservatório do Rasgão; 4 Reservatório de Itupararanga; 5 Reservatório Cachoeira
da Graça; 6 Reservatório Pedro Beicht; 7 Represa Jurupará; 8 Represa Cachoeira do França; 9 Represa do Barra; 10 Represa Cachoeira da
Fumaça; 11 Represa de Guarapiranga; 12 Represa Billigs; 13 Reservatório de Taiaçupeba; 14 Reservatório de Jundiaí; 15 Reservatório Ponte Nova;
16
Reservatório Ribeirão do Campo; 17 Represa do Rio Paraitinga; 18 Represa Santa Branca; 19 Represa do Rio Jaguari; 20 Reservatório Atibainha;
21
Reservatório Cachoeira; 22 Represa Juqueri; 23 Sem nome.

atingiu melhor avaliação. Na bacia do Alto Tietê apresentaram condições sistematicamente pés-
a característica geral foi de degradação, sendo simas ou nem se coleta a informação.
que alguns reservatórios mostraram certa ten- Na Figura 14 busca-se estabelecer a relação
dência à estabilidade em uma situação regular: entre uso do solo e o IQA. Os indicadores
das Graças, Guarapiranga no ponto de coleta de foram estimados de forma semelhante aos
água para abastecimento da SABESP e Jundiaí; descritos para a Figura 13. A situação crítica
outros, mostraram estabilidade em uma situação dos reservatórios pareceu não estar associada
ruim: Billings e o ponto urbano da Guarapiran- ao uso do solo, como aqui caracterizado, o que
ga. Comportamento menos claro apresentaram sugere a necessidade de estudos mais apri-
Taiaçupeba e Rio Grande. Somente Tanque morados. O reservatório com qualidade óti-
Grande e Paiva Castro mostraram tendência ma está localizado em área com predomínio
a melhora. Os três reservatórios, localizados de lavoura temporária e de pastagem, exata-
mais a jusante do rio Tietê, nos limites da RBCV, mente ao contrário do que seria de esperar se
74 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 14 |
Uso do solo e
qualidade da
água (IQA) dos
reservatórios
da RBCV.
Elaboração própria.
Com base em
IBGE (2006);
CETESB (2011).
Nota: 1 Reservatório Jaguari; 2 Reservatório de Pirapora; 3 Reservatório do Rasgão; 4 Reservatório de Itupararanga; 5 Reservatório Cachoeira
da Graça; 6 Reservatório Pedro Beicht; 7 Represa Jurupará; 8 Represa Cachoeira do França; 9 Represa do Barra; 10 Represa Cachoeira da
Fumaça; 11 Represa de Guarapiranga; 12 Represa Billings; 13 Reservatório de Taiaçupeba; 14 Reservatório de Jundiaí; 15 Reservatório Ponte
Nova; 16 Reservatório Ribeirão do Campo; 17 Represa do Rio Paraitinga; 18 Represa Santa Branca; 19 Represa do Rio Jaguari; 20 Reservatório
Atibainha; 21 Reservatório Cachoeira; 22 Represa Juqueri; 23 Sem nome.

2.3.3 | Trade-off negativo entre os


serviços ecossistêmicos de produção
existe grande escorrimento de insumos

de alimento e de biodiversidade
agrícolas. O que apresentou qualidade boa
está em área com predominância de matas.
Por outro lado, os de qualidade ruim pare-
cem estar associados fundamentalmente ao Fica explícita a insustentabilidade cres-
uso urbano, sem relevância estatística para cente da metrópole de São Paulo pela ampliação
mata, lavoura temporária e mata com pasta- da sua PE, mesmo que estimada somente em
gem (IBGE, 2009). termos do consumo de verduras, e o overshoot
Os dados oficiais da CETESB e do IBGE, (sobrecarga) em termos da biocapacidade da
usados para uma primeira aproximação da área definida estatisticamente como agrícola
relação do trade-off negativo entre agricultu- pelo IBGE e LUPA. Embora não seja a agropecu-
ra e qualidade da água, não são conclusivos. O ária o vetor primordial do esgotamento desse
trade-off claro é entre urbanização e qualidade ecossistema, seu impacto também precisa ser
da água. considerado.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 75

A produção biológica dos recursos pes- peixes se instalam em conjunto com diferen-
queiros é condicionada por uma gama de fatores tes composições e abundância de indivíduos.
bióticos e abióticos que estão fora do contro- Alguns desses habitats são únicos e abrigam
le humano, o que torna difícil estabelecer com um conjunto determinado e particular de pei-
suficiente confiabilidade os máximos de produ- xes. Desse modo, sua contaminação e destrui-
ção e captura e, assim, manejar e ordenar a ati- ção também têm contribuído para a diminuição
vidade de forma mais efetiva. A dificuldade em da biodiversidade (BARRELLA, 1997). Na área
garantir um processo sustentável relaciona-se estuarina, nos canais de navegação que são
ao fato de o homem controlar apenas alguns ele- margeados por manguezais, o turismo náutico
mentos, ainda que com muita dificuldade, como é o maior vetor, causando conflito com a ativi-
a quantidade, o tamanho dos peixes, os locais e dade pesqueira e, muitas vezes, com o modo de
as épocas das capturas. A mobilidade dos recur- vida das comunidades residentes. Nos locais
sos pesqueiros, dentro de uma mesma bacia próximos das expansões urbanas desordena-
hidrográfica, dificulta a estimativa da biomassa das, principalmente em áreas sobre palafitas, o
disponível. Ainda se tem pouco controle sobre os lixo urbano é o motivo de maior preocupação. A
petrechos utilizados para captura que incluem ameaça no canal de Bertioga vem da expansão
outras espécies (como fauna acompanhante), e do Porto de Santos e da cava subaquática, que
sobre o conflito e a competição entre atores que recebe resíduos sólidos de Cubatão.
se utilizam dos recursos de livre acesso, bem De modo geral, é esperada uma diminui-
como sobre a escassez do recurso pesqueiro, ção da oferta de produtos da pesca na região
que aumenta o preço e estimula a sobrepesca, do estuário, na área costeira da Baixada San-
sobrecarga ou exploração. tista e no Planalto quando se consideram,
A introdução de espécies exóticas é uma principalmente, os corpos de água (rios e
das principais ameaças à fauna de peixes de reservatórios) localizados em áreas urbanas
água doce do Brasil. Por outro lado, Minte-Vera ou periurbanas.

2.4 | Impactos ambientais positivos


(1997) considerou a introdução da tilápia na
Billings como benéfica, porque esta represa já

da produção de alimentos: uma


vem sofrendo diferentes alterações antrópicas

análise dos trade-offs positivos


há décadas. Essa espécie pode ser a solução,
principalmente, para o período de defeso, já que
a tilápia é uma espécie exótica e pode ser captu-
rada mesmo durante esse período. Existe, entre- A atividade de produção de alimentos pode
tanto, efeitos negativos como a bioturbação, ou auxiliar na preservação dos ecossistemas. A
seja, o revolvimento do sedimento aumentando principal contribuição advém da multifunciona-
o aporte interno de fósforo e, assim, causando a lidade do espaço rural, em função da atividade
eutrofização. de produção de alimentos e da rede social for-
Em consequência dos impactos antrópicos mada em torno das populações tradicionais, dos
nos ecossistemas costeiro e estuarino, o servi- agricultores familiares e pescadores.

2.4.1 | Trade-off positivo entre os


ço ecossistêmico de provisão de alimentos pro-

serviços ecossistêmicos de produção


veniente da pesca marítima está cada vez mais

de alimento e o serviço de produção e


ameaçado, principalmente a pesca artesanal

regulação da água:
realizada no estuário. Tais atividades resistem,

volume de água superficial


muitas vezes, apenas por ser a única forma de
sobrevivência de seus atores, respondendo por
parte das necessidades proteicas e econômicas
da população que a desenvolve. A redução do volume de água superficial
O conjunto de habitats constituintes de é observada por moradores antigos que viven-
uma bacia hidrográfica é relevante à manuten- ciaram o processo de desmatamento cres-
ção da ictiofauna. Esses ambientes são natural- cente e é também relatado por praticantes de
mente distribuídos em forma de mosaicos ou esportes náuticos. No caso da represa Guara-
manchas, não sequenciais, onde as espécies de piranga, durante a elaboração do diagnóstico
76 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

participativo, coordenado pelo Instituto Socio- o principal vetor da sua ocupação na principal
ambiental - ISA, este fato foi relatado por veleja- região agrícola da RBCV sendo, mais provavel-
dores, o que levou à proposta de prolongamen- mente, a principal responsável pelo impacto de
to dos limites do PqE da Várzea do Embu-Guaçu redução do volume de água na região.
até o espelho de água da represa Guarapiranga, Como o processo de ocupação urbana
devido ao rebaixamento do nível da água em segue a lógica de ocupar áreas desocupadas,
um período de cerca de 10 anos (SEMINÁRIO a manutenção da atividade agrícola pode ser
GUARAPIRANGA, 2006). O desmatamento pró- importante para conter a tendência à redução
ximo às nascentes pode promover o desapare- do volume dos cursos de água. Cresce a visão da
cimento de cursos d’água. Quando realizado em importância da relação agricultura e água nos
áreas de alta declividade e ao longo dos corpos espaços multi-setoriais das regiões metropoli-
hídricos, pode causar o assoreamento dos tanas e da RBCV.

2.4.2 | Trade-off positivo entre os


rios; no entanto, a causa parece estar mais

serviços ecossistêmicos de produção


fortemente associada à urbanização. Neste sen-

de alimento e o serviço ecossistêmico


tido, a rede social de agricultores familiares e
pescadores pode tanto coibir usos predatórios
como auxiliar no monitoramento. cultural do turismo e folclore:
Moraes e Carvalho (2006) analisaram
multifuncionalidade e a preservação
do patrimônio histórico e cultural
o uso e ocupação do solo na sub-bacia Tietê-
-Cabeceiras nos anos de 1977, 1988 e 2001
pela técnica de sensoriamento remoto, a par- A complexidade do espaço rural da RBCV
tir da compilação de mapeamentos existentes, exige estudos locais ainda inexistentes, uma
processamento digital de imagens de satélite vez que a história das diversas áreas resulta
e interpretação de ortofotos aéreas. Os usos em formas distintas de ocupação. O conceito de
foram classificados em mata primária, secun- rugosidade ajuda a compreender a diversidade
dária, reflorestamento, pastagem, culturas da configuração territorial hoje existente, uma
anuais e horticultura-fruticultura. Na primei- vez que oferece, mesmo sem tradução imedia-
ra década analisada observaram forte redução ta, restos de uma divisão de trabalho interna-
das áreas de várzea (19%) e expansão das áre- cional manifestada localmente por combina-
as urbanas (96%). Nesse período, ocorreu tam- ções particulares do capital, das técnicas e do
bém uma forte redução (40%) das principais trabalho utilizado (SANTOS, 1986). Assim, a
atividades agrícolas da região (horticultura- configuração socioeconômica de cada região
-fruticultura). No período seguinte, cresceu resulta das forças sociais, políticas e econô-
a ocupação das áreas de várzea (24%) com micas globais que atuam e são lapidada pelas
expansão urbana menor (14%). Para o perío- características da sociedade local, resultando
do compreendido entre 1988 e 2001, os auto- em uma conformação, em processo contínuo de
res destacaram o aumento de 39% das áreas redefinição, determinada no âmbito da divisão
de mineração ou solo exposto e de reflores- internacional do trabalho.
tamento (28%), além da redução de 29% das As regiões da RBCV se diferenciam pelo
culturas temporárias, como a batata. Apesar grau de impacto da expansão urbana sobre sua
disto, a horticultura-fruticultura manteve-se área periurbana, seja diretamente por conta
bastante estável (-2%). Mostraram, ainda, que das forças de expansão da urbanização, seja
no período de 1977-2001 o aumento das áre- como resposta às políticas públicas ou à orga-
as urbanizadas ocorreu principalmente sobre nização social que tenham procurado conter
áreas de várzea. Nesse período, a produção de este avanço.
hortifruti se expandiu sobre áreas de reflores- Carvalho e França (2006) analisaram três
tamento (33%) e menos significativamente nas microbacias do Alto Tietê pertencentes à RBCV,
de várzea (13%). Como conclusão, os autores na perspectiva da multifuncionalidade dos
demonstraram que embora a agricultura tam- espaços rurais. Associaram ao agricultor e à
bém ocupe áreas de várzea, a urbanização foi sua rede social o papel central da preservação
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 77

da paisagem e da produção de água. Os autores


enfatizaram a questão do território, a iden-
tidade social dos atores com o espaço, a exis-
tência de perspectivas “mais ou menos asso-
ciadas ou dependentes” dos diversos atores e a
disponibilidade para participar de processos
Figura 15 |
Região Leste da RBCV,
de concertação, que poderá ser fortalecido
Casa de Chá no
mediante ação pública. Concluíram que as três
regiões estudadas (sub-bacias Guaraçau, em município de Mogi
Guarulhos; do Itaim, em São Paulo; e Balainho, das Cruzes.
Foto: João Paulo
Soares Andrade (2003).
em Suzano) podem ser consideradas como ilus-
trativas do efeito progressivo da urbanização
sobre sua área periurbana ao considerar a polí-
tica urbana, o impacto da proximidade da cida-
de e sua história de ocupação. Destacaram a
importância de identificar as áreas onde ainda
seja possível resgatar e fortalecer a organiza-
ção social, ou seja, onde a configuração terri-
torial ainda permita promover uma política de
Figura 16 |
multifuncionalidade da agricultura.
Muito pouco tem sido feito para se res- Região Oeste da
gatar e valorizar a história dessas regiões. Os RBCV, bairro rural
no município de
Mairinque.
bairros rurais das regiões Leste e Oeste são
Foto: Yara M. C.
ainda o centro de uma vida rural; os violeiros
e a tradição de Reis em Ibiúna, permanecem, Carvalho (2003).
ainda que de forma frágil. No passado promo-
viam a integração dos bairros do sertão, toda-
via, presentemente, como relatado por jovens
locais, somente alimentam conflitos. As igre-
jas rurais antigas, que sinalizam os primeiros
anos da ocupação do planalto pelos jesuítas;
os roteiros de peregrinação à Pirapora do Bom
Jesus ou a locais como São Sebastião, em Ibiú-
na; a recuperação da Casa de Chá em Mogi das
Figura 17 |
Região São Paulo da
Cruzes, tombada pelo Patrimônio Nacional; as
RBCV, bairro rural
festas tradicionais de pescadores da Baixada
Santista: Bom Jesus na comunidade da Ilha Marsilac.
Diana e Dia de São Pedro, padroeiro dos pes- Foto de Yara M. C.
cadores, bem como a cultura caipira e caiçara Carvalho (2004).

e as áreas indígenas, são lembranças vivas de


um tempo que já não se reconhece, mas que
começa a ser valorizado por políticas de turis-
mo. Manter o bem-estar das famílias de agri-
cultores familiares e pescadores artesanais é
fundamental para preservar este patrimônio
Figura 18 |
cultural. Este tema é detalhado nos capítulos
Serviços culturais folclorísticos: a dimensão do Região Leste da RBCV,
folclore caipira e Lazer e turismo: uma reflexão bairro São Lázaro,
no município de
Biritiba Mirim.
sobre o ecoturismo, turismo rural e turismo de
aventura. Foto: João Paulo Soares
Andrade (2003).
78 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

2.4.3 | Trade-off positivo entre o


serviço de provisão de alimentos
e o serviço cultural de lazer e turismo:
o turismo no rural
A apropriação do espaço rural, para
satisfazer as necessidades de ócio e lazer da
Figura 19 | sociedade urbana, tem potencializado enor-
Região Noroeste da
RBCV, pesqueiro no
memente as suas aptidões turísticas, não
município de Jundiaí.
para a prática do turismo massificado, mas
Foto: João Paulo de diversas formas alternativas de turis-
S. Andrade (2010). mo, caracterizadas pela baixa densidade e
adaptadas às especificidades do espaço rural
(SILVEIRA, 2001). Em especial, o turista de gran-
des concentrações urbanas busca o turismo no
espaço rural, como algo distinto da vida que leva
em seus locais de origem. Esta atividade econô-
mica é vista como uma alternativa para geração
de emprego e renda, em especial em áreas com
Figura 20 |
Região Leste da
restrições ambientais e/ou em ecossistemas
RBCV, sítio de lazer
vulneráveis. Na sequência, são tratados alguns
no município de aspectos ligados ao turismo agrícola.
Salesópolis. O circuito das frutas nasceu no final da
Foto: João Paulo
S. Andrade(2004).
década de 1990 na região de Jundiaí como uma
nova alternativa de agregação de valor aos
produtos e propriedades rurais. Apoiado pela
Associação de Turismo Rural do Circuito das
Frutas, criada em outubro de 2000, a partir da
união de vários proprietários rurais. Em 2019
incorpora dez municípios, sendo três deles na
área da RBCV: Atibaia, Jarinu e Jundiaí (CIR-
CUITO DAS FRUTAS, 2019).
O modelo de gestão do circuito das frutas
Figura 21 | está apoiado na regionalização do turismo e
Região Oeste da incorpora a noção de território e de arranjos pro-
RBCV, SPA Aventura no
município de Ibiúna.
dutivos. Promove a preservação e conservação
Foto: Ágata Cobos
do patrimônio cultural e ambiental e o engaja-
(2010). mento das comunidades rurais com a atividade
turística, valorizando a relação do homem com o
meio rural (OTANI; FREDO; RAMOS, 2012).
Outro circuito que vem se desenvolvendo
está relacionado à produção de uva e vinho arte-
sanal, com atividades realizadas principalmen-
te em São Roque, São Miguel Arcanjo, Louveira e

Figura 22 |
Jundiaí (VERDI et al., 2007; OTANI, 2010).
Região Norte da
As diversas atividades implementadas
RBCV, Hotel Paradies, com os turistas podem levar ao aperfeiçoamen-
no município de to e a promoção do artesanato local e da arte
Jarinú.
Foto: Paulo Li –
popular, bem como ao resgate de atividades
Expressão Studio. como a cavalgada e o tropeirismo, além de pos-
Fonte: TUR.SP (2019). sibilitar ao visitante a vivência com os sitiantes
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 79

e o contato com os processos que envolvem a Por outro lado, existem também con-
sua alimentação diária. Este tipo de atividade é dicionantes sociais, econômicos, políticos e
ainda muito frágil na região. culturais que constituem a base ampla em
O circuito das frutas vem fortalecendo que se organiza a produção de alimentos na
social e economicamente o agricultor e a popu- RBCV. Compreender a complexidade des-
lação rural para permanecerem na atividade tas forças e como atuam é tarefa complexa.
e na região. Desta forma, a agricultura, base Optou-se aqui por restringir a algumas das
fundamental para o turismo rural, gera trade- principais forças identificadas, fazendo bre-
-offs positivos sobre os serviços ecossistêmicos ves comentários a serem aprofundados em
culturais folclorísticos, fortalecendo a manu- outra oportunidade.

2.5.1 | Vetor: contaminação química


tenção da paisagem e da cultura.

2.5 | Evolução dos principais vetores dos alimentos: segurança alimentar


que impactam o serviço ecossistêmico e saúde
da produção de alimentos
O modelo predominante da tecnologia
da agricultura brasileira se baseia no uso de
A perspectiva do serviço ecossistêmico
insumos químicos e minerais para aumentar
alimento está, antes de tudo, baseada na evo-
a fertilidade e combater pragas e doenças. A
lução da tecnologia empregada, considerando
contaminação dos produtos agrícolas produ-
os avanços científicos e como esses são apro-
zidos na região da RBCV pode ocorrer em fun-
priados pela sociedade tanto em termos de uso
ção do uso inadequado de agrotóxicos ou de
como do monitoramento de sua utilização. As
água contaminada. O Laboratório de Resíduos
preocupações ambientais na área da RBCV são
do Instituto Biológico manteve um convênio
crescentes. Cada vez mais se associa a agricul-
com a Companhia de Entrepostos e Armazéns
tura em áreas de mananciais à práticas alter-
Gerais de São Paulo (CEAGESP) para a reali-
nativas. A Lei específica da Guarapiranga (SÃO
zação de análises de resíduos de inseticidas
PAULO, 2006a; 2006b)14 e mais recentemente
organoclorados e organofosforados em frutas
o programa Guarapiranga Sustentável15 são
e hortaliças comercializadas nesse entreposto.
exemplos disso.
As amostras são identificadas de acordo com a
sua origem, e os dados obtidos fornecem sub-
sídios à orientação de agricultores, quanto ao
14
Lei Estadual 12.233/06 foi regulamentada pelo Decreto
Estadual 51.686/07. O Artigo 42 da referida lei prevê a uso adequado dos agrotóxicos. O monitora-
elaboração de um programa que contemple: boas práti- mento não inclui a produção comercializada
cas agrícolas; instrumentos para difusão das boas práti- diretamente nos hipermercados e outros equi-
cas agrícolas, com ênfase em agricultura orgânica; crité-
rios para determinação de normas e parâmetros para a
pamentos de varejo. Como exemplo, pode-se
atividade agropecuária; medidas para o controle, uso e considerar o caso do morango no qual, entre
manejo adequado de agroquímicos e descarte adequado julho de 1994 e outubro de 1996, foram anali-
de embalagens de agroquímicos. Isto deve compor um
sadas 123 amostras por cromatografia gasosa.
manual de boas práticas para a atividade na APRM-G.
15
Em março de 2010, para garantir práticas sustentáveis Foram pesquisados 68 princípios ativos e os
de agricultura na região do reservatório Guarapiranga, resultados indicaram a presença de resíduos
a então Secretaria de Estado do Meio Ambiente, SAA, de praguicidas em 57,7% das amostras analisa-
Prefeituras, ONGs e outras representações da sociedade
civil deram início ao Projeto Guarapiranga Sustentável. das, sendo 39,0% de produtos não autorizados
O objetivo era promover o desenvolvimento da agroeco- pela legislação vigente para uso em morango,
logia nos municípios da bacia da Guarapiranga. Uma das 17,9% resíduos de praguicidas abaixo do limi-
estratégias foi a criação de um Protocolo a ser seguido.
O Manual de Boas Práticas, a extensão rural agroecoló-
te máximo de resíduos (LMR) estabelecido
gica, a Rede de Agroecologia, a premiação de proprie- pela legislação vigente e 0,8% acima desse
dades-modelo, a criação de Centro de Referência em limite (GEBARA, 2000). Mais recentemente,
Agroecologia e o acesso a mercados especializados são
(GEBARA; CISCATO; MONTEIRO, 2008), com
outras estratégias do Projeto. O Projeto foi iniciado em
São Paulo, onde os trabalhos continuam, mas não houve base neste mesmo programa, foram analisadas
expansão para outros municípios. 1.779 amostras de frutas, entre 2002 a 2005, e
80 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

os resultados mostraram 26,6% de amostras e centrais de abastecimento. As análises são


positivas para praguicidas sendo que, destas, realizadas em laboratórios oficiais do MAPA
46,4% continham resíduos não autorizados ou credenciados, todos acreditados pelo INME-
para as culturas e 2,9% excederam os LMR. TRO. Paralelamente, em 2001 foi criado o Pro-
Alguns dos resíduos encontrados no estudo grama de Análise de Resíduos de Agrotóxicos
não tinham uso autorizado ou haviam sido em alimentos (PARA), com foco no consumidor.
proibidos no Brasil, tais como: aldrim, carbofe- Coordenado pela Agência Nacional de Vigilância
notiona, dicrotofós, formotiona, fosalona, HCB, Sanitária (ANVISA). Trabalha em conjunto com
alfa HCH, mirex, ometoato, parationa etílica e órgãos estaduais e municipais de vigilância san-
quintozene. Entre as frutas analisadas, as que tária e laboratórios estaduais de saúde. As amos-
apresentaram maior número de amostras com tras são obtidas em equipamentos de varejo.
resíduos foram maçã, pêssego e morango. Os O PNCR foi criado pela IN SDA/MAPA 42 de
praguicidas mais frequentemente encontrados 31/12/2008. O programa nacional coleta amos-
foram: captana, clorpirifós e dimetoato. Os tras de agricultores mas também beneficiado-
resultados encontrados mostram que, ao se res e centrais de abastecimento. As análises são
avaliar o risco da ingestão crônica destes pra- realizadas em laboratórios oficiais do MAPA ou
guicidas para amostras de frutas, os valores credenciados, todos acreditados pelo INMETRO.
não ultrapassam os limites toxicologicamen- Paralelamente, em 2001 foi criado o Programa
te aceitáveis. Estes limites estão relacionados de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em ali-
com o conceito de ingestão diária aceitável, que mentos (PARA), com foco no consumidor. Coor-
estabelece o quanto uma pessoa pode ingerir denado pela ANVISA. Trabalha em conjunto com
de uma determinada quantidade de praguici- órgãos estaduais e municipais de vigilância san-
das ou outro composto qualquer, todos os dias, tária e laboratórios estaduais de saúde. As amos-
por toda a vida, sem que acarrete danos. tras são obtidas em equipamentos de varejo.
Nestes estudos constata-se que o pequeno No que diz respeito à produção pesqueira, é
número de amostras acima dos LMR vem sen- necessário considerar a contaminação da água e
do uma constante e indica que os praguicidas seus reflexos na produção, principalmente estua-
são utilizados de acordo com as recomendações rina e dos pesque-pague, assim como a refrigera-
técnicas. As amostras que apresentam resíduos ção dos barcos pesqueiros artesanais que comer-
não autorizados é um problema recorrente, uma cializam o produto fresco na região litorânea.

2.5.2 | Vetor: pobreza


vez que está relacionado às práticas inerentes
de solicitação pelas empresas de agroquímicos
do registro de uso para culturas menores ou
minorcrops16, junto às agências governamentais. O modelo primário-exportador, carac-
Atualmente as amostras de frutas e vegetais do terístico da origem histórica brasileira fun-
CEAGESP são enviadas ao LabTox do Instituto damentado na plantation e no trabalho escra-
de Tecnologia de Pernambuco (ITEP), como par- vo, definiu a estrutura social que ainda hoje
te do Plano Nacional de Controle de Resíduos influencia as escolhas das políticas públicas no
(PNCR), do Ministério da Agricultura, Pecuária país, mantendo a estrutura dual caracterizada
e Abastecimento (MAPA). pela grande concentração de renda. Costuma-
O PNCR foi criado pela IN SDA/MAPA 42 de -se referir a isto como Os dois Brasis (LAM-
31/12/2008. O programa nacional coleta amos- BERT, 1959) que convivem: o Brasil moderno e
tras de agricultores mas também beneficiadores o arcaico, levando parte da população a viver
em condição de pobreza e pobreza absoluta.
Culturas cuja produção não compensa financeiramente
16
Na periferia das cidades da RBCV a pobre-
aos produtores de agrotóxicos regularizar seu uso no
país. Em 2010 o Brasil adotou procedimento equivalen-
za é um desafio bem conhecido, que compro-
te ao internacional e passou a utilizar a denominação mete o bem-estar humano devido à falta de
de culturas com suporte fitossanitário insuficiente. O segurança alimentar e de nutrição suficiente
registro passou a ser para um grupo de culturas como
e adequada à saúde, além do já considerado
nos demais países (IN conjunta 01 de 23/02/2010 revo-
gada pela IN conjunta 1 de 16/06/2014) (MAPA; IBAMA; impacto ambiental das ocupações urbanas
ANVISA, 2010; 2014). desordenadas.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 81

Vários estudos demonstraram a relevân- Entre as políticas públicas voltadas a


cia do tema nas áreas metropolitanas, princi- essa população, enfatiza-se o “Bolsa Família
palmente em São Paulo. A Tabela 5 reprodu- (política pública de transferência de renda), a
zida do trabalho de Torres e Marques (2004) distribuição direta de alimentos, a agricultura
evidencia este fato ao considerar somente urbana como forma de diminuir a dependência
o indicador renda. Nestes locais de concen- da compra de alimentos de qualidade e com-
tração de pobreza faltam serviços públicos e plementar a renda familiar, além do apoio à
redes sociais pessoais que possam ajudar a sair agricultura periurbana, com melhoria nas con-
desta condição. No entanto, já se evidenciou dições de mercado para venda dos produtos.
que este é somente um entre muitos aspectos Estes elementos impactam fundamen-
a serem considerados. Nas regiões metropoli- talmente o serviço ecossistêmico produção
tanas, as aquisições de bens e serviços domi- de alimentos na perspectiva da alimentação
nam quase inteiramente as relações de troca e nutrição, mas também há que se considerar
e os meios para a sobrevivência diária, com a relação entre pobreza e ocupação de áreas
menor acesso às chamadas rendas não mone- periféricas para habitação, tratada a seguir, e a
tárias. Os padrões de consumo urbano criam agricultura urbana, já mencionada.

2.5.3 | Vetor: crescimento populacional


expectativas e valores que se impõem em todas

e expansão urbana desordenada


as diferentes camadas sociais. Ao lado disso,
a pobreza metropolitana tem especificidades
próprias, em que o custo de vida costuma ser
mais elevado e em que os vínculos sociais se O crescimento desigual da economia bra-
mostram mais frágeis do que os apresentados sileira está na base do forte movimento migra-
nas pequenas cidades e nas áreas rurais (MIN- tório que transformou a realidade da região,
GIONE, 1999; MENEZES, 2010). principalmente a partir dos anos 1970. Com
A Comissão Econômica para a Améri- base nos censos demográficos brasileiros, pode-
ca Latina e Caribe (CEPAL, 2014), distingue a -se dizer que a população do estado cresceu
pobreza da pobreza extrema. Neste último gru- continuamente em proporção à brasileira. Em
po, a questão fundamental é garantir a alimen- 1872, data do primeiro censo, a população do
tação e os serviços públicos básicos. Utilizando estado representava somente 8,43%. Em 1920
os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de este percentual passa para aproximadamen-
Domicílios (PNAD), mostrou-se sua evolução te 15% para atingir, no último censo de 2010, o
entre 2005 e 2013. Em 2005, 36,4% da popula- percentual de 22,15%. Este crescimento popu-
ção era caracterizada como abaixo da linha da lacional se dá inicialmente no município de
pobreza, enquanto a pobreza extrema atingia São Paulo para depois se distribuir na RMSP,
10,7%. Houve uma grande melhora nos anos e no estado. Em 1872 a população do muni-
que se seguiram, até 2012 quando os percen- cípio representava 3,75% da população esta-
tuais passaram a ser 18,6% e 5,4%, respectiva- dual, atingiu o máximo de 33,84% em 1980, e
mente. O ano de 2013 já demonstrava reversão a partir daí começou a cair, chegando em 2010,
da tendência em relação a pobreza extrema: com 26,63%. Por outro lado, a RMSP, criada
18% e 5,9%, respectivamente. em 1973 e regulamentada no ano seguinte,
Tabela 5 |
Tipo de aglomeração Distribuição de
Região pessoas residentes
Urbana não
Metropolitana1 Rural em famílias com renda
metropolitana
familiar inferior a 1/4
do salário mínimo,
Brasil 19,1 46,6 34,3 per capita, por tipo de
aglomeração urbana:
Nordeste 11,04 43,8 45,16
Brasil, Nordeste,
Sudeste 38,78 43,13 18,09 Sudeste e estado de
São Paulo, 2001 (em
Estado de São Paulo 54,91 37,64 7,45 %). Fonte: IBGE/PNAD
(2001) apud Torres e
Nota: 1Inclui: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Marques (2004).
82 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

passou de 21,84% da população estadual em redução geral de 13,09% no território da RBCV,


1940 para 36,93% em 1960; 45,32% em 1970 apesar de vários municípios significativos para
e 49,61% em 1980, quando começou a perder a agricultura regional apresentarem expansão
importância como polo atrativo da imigração da área agrícola.
para o resto do estado. Em 2010, o índice era A pressão do crescimento urbano sobre as
de 46,56%. Os anos 1980 marcam, portanto, a áreas agrícolas foi salientada pelos trabalhos de
reversão da tendência crescente da atuação do Ueno (1985; 1989). Este autor, com base na ori-
vetor crescimento populacional sobre os ser- gem das hortaliças comercializadas no CEAGESP,
viços ecossistêmicos do território da RBCV. identificou que o abastecimento de São Paulo,
Internamente, na RMSP, a cidade de São Paulo durante o período de 1973–84, passou a vir de
foi perdendo importância para os demais muni- regiões cerca de 50 a 80 km mais distantes e que
cípios, com queda contínua do percentual de os legumes se distanciaram ainda mais.
habitantes da capital em relação à RMSP, que Quando a comparação é feita entre 1996
passou de 84,58% em 1940 para 57,17% em 2010. e 2006 esta variação é influenciada pela cla-
Os dados podem ser observados na Tabela 6. ra subestimação dos dados de 1996, uma vez
Esta população migrante ocupa áreas na que os estabelecimentos cresceram em 28%
franja da cidade, sem infraestrutura urbana, enquanto a área agrícola cresceu em 59%.
com pressão sobre os recursos naturais. Ocu- Outra fonte de informação, o LUPA, sugere
pam a área através da compra pelo parcela- esta subestimação, embora as unidades nos
mento de propriedade rural e/ou através da dois levantamentos sejam diferentes (no IBGE
ocupação de áreas desocupadas. a unidade é a exploração agropecuária, ou
No que diz respeito a estrutura agrária, seja, qualquer unidade em que haja um res-
os dados do Censo Agropecuário no período de ponsável pela produção independentemente
1970 – 2006 mostram que houve uma variação da propriedade; para o LUPA a unidade está
de cerca de 60% no número de estabelecimentos associada a propriedade). Segundo o LUPA, o
acompanhada de uma redução menor da área17. aumento do número de propriedades na área
Quando considerados os dados de área de da RBCV foi de 11% enquanto o da área foi de
2010, como descrito anteriormente, houve uma 6% para o período 1995/1996 a 2007/2008.

% São Paulo % São Paulo


%Grande % Grande % São Paulo
Tabela 6 |
(município)/ (município)/
São Paulo/ São Paulo / (Município)/
Relação entre Ano
Brasil São Paulo Brasil São Paulo Grande
população do
(Estado) (Estado) São Paulo
município de São
Paulo e Brasil; 1872 8,43% 3,75%
município de São
Paulo e estado de 1890 9,66% 4,69%
São Paulo; Grande 1900 13,09% 10,51%
São Paulo e
Brasil; Grande São 1920 14,99% 12,61%
Paulo e estado de
1940 17,41% 18,47% 3,80% 21,84% 84,58%
São Paulo; e
município de São 1950 17,59% 24,06% 5,18% 29,44% 81,75%
Paulo e Grande
1960 18,28% 29,48% 6,75% 36,93% 79,84%
São Paulo, entre
1872-2010. 1970 19,00% 27,72% 8,61% 45,32% 61,17%
Fonte: Censos
demográficos de 1872 1980 20,95% 33,84% 10,39% 49,61% 68,22%
a 2010 (em alguns 1991 21,47% 30,52% 10,51% 48,97% 62,32%
anos é fornecida
a população 2000 21,84% 28,10% 10,54% 48,28% 58,20%
presente) apud 2010 22,15% 26,63% 10,32% 46,59% 57,17%
Pasternak (2011).

17
Para 2006 foram utilizados dados preliminares que indicam redução do número de estabelecimentos em 64% enquanto
a área foi reduzida em 25%. Os dados definitivos disponibilizados trazem classificação distinta, dificultando a com-
paração. Neste caso, a estimativa pode estar subestimada por não incluir forrageiras. A redução seria de 60% e 48%,
respectivamente.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 83

De qualquer forma, fica evidente que a redução


da taxa de crescimento da população urbana
vem acompanhada da expansão da atividade
agrícola na região até 2006: uma agricultura
de menor escala, provavelmente dependente de
formas diretas de consumo e comercialização.
Os dados de 2017 indicam redução da área agrí-
cola na RBCV de 13%, no período intercensitário. Figura 23 |
Região São Paulo da
RBCV, o rural e o urbano.
A política nacional de correção das desi-
Foto: Jéssica F.
gualdades regionais e a política paulista de
descentralização do parque industrial alte- Viégas (2004).
raram o fluxo migratório dentro do estado e,
mais recentemente, entre as regiões do país.
Associado a isso, o avanço da política urbana
e a obrigatoriedade da elaboração de Planos
Diretores em municípios com mais de 20.000
habitantes (CF, 1988: art. 182, §1) atua sobre
este vetor de grande impacto na prestação do
serviço de provisão alimentos. A ocupação Figura 24 |
Região Leste da RBCV,
o rural e o urbano no
desordenada localiza-se principalmente nas
áreas de baixo valor de mercado, caracteriza- município de Guarulhos.
das como áreas de risco: encostas íngremes e Foto: Elaine
várzeas. Sem serviço de saneamento, a ocupa- Zuchiwsch (2004).
ção dessas áreas compromete os corpos hídri-
estão sob estresse na região da RBCV. No
cos, usados para irrigação, e a disponibilidade
caso do solo, a questão fundamental refere-
de água para abastecimento urbano.
-se à expansão da urbanização e à preca-
A proximidade física das áreas de produ-
rização das condições de produção com
ção agrícola com a população marginalizada
expulsão contínua da atividade para áreas
expõe ambos, agricultor e agricultura, ao rou-
mais distantes e sua recriação dentro de um
bo e à violência. Estes fatores associados à valo-
movimento inovador, mas não consolidado.
rização econômica da terra e ao custo crescente
Evidências do censo de 2017 trazem algum
da força de trabalho vêm expulsando a agri-
otimismo por haver crescimento de área agrí-
cultura tradicional da região para localidades
cola em municípios relevantes, como resposta
cada vez mais distantes, deixando estas áreas
espontânea ou induzida pelas políticas que
para expansão urbana. Este processo vem sen-
estimulam a agricultura urbana regional.
do observado desde os anos 1970 (UENO, 1985;
A insustentabilidade da metrópole de São
MORAES e CARVALHO, 2006).
Paulo, identificada pela ampliação crescente da
O desenvolvimento da economia globa-
sua pegada ecológica e ampliação da sobrecar-
lizada transforma São Paulo em um centro de
ga (overshooting), demonstra que efetivamente
serviços. Isto exige mão-de-obra especializada e
a disponibilidade de solo agrícola na área da
gera pouco emprego de baixa qualificação, com
RBCV sinaliza estresse, podendo vir a com-
estímulo à reversão do fluxo migratório, e com
prometer a capacidade de produção do serviço
possibilidade de ampliação da força desse vetor.
ecossistêmico alimentos.
2.6 | Situações de estresse
A expansão da população regional trans-

acentuado nos ecossistemas


formou uma região de alta precipitação plu-

que colocam em risco a continuidade


viométrica e abundantes recursos hídricos

do serviço ecossistêmico
superficiais em local de escassez da água para
uso doméstico e produtivo. A disponibilidade
depende de um sistema complexo de trans-
Os dois recursos naturais fundamen- posição entre bacias que está se mostrando
tais à produção agropecuária, solo e água, insustentável e gradativamente se estende para
84 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

regiões mais distantes. A bacia do Alto Tietê rece- Alto Tietê. Assume importância maior na bacia
be águas de duas bacias (PCJ e Baixada Santis- do Paraíba do Sul e na do Sorocaba, mas nestes
ta) e diante da crise hídrica de 2016 estão sen- casos, a disponibilidade hídrica ainda é alta (é
do realizadas obras em bacias vizinhas (Ribei- demandando 27% e 29% do disponível). No PCJ
ra de Iguape e Paraíba do Sul). Existem planos a questão é preocupante não somente porque
técnicos para expandir esta transferência para o consumo se aproxima do volume disponível,
bacias ainda mais distantes (COBRAPE, 2009). mas também porque o uso agrícola está próxi-
Os comitês de bacia, que possuem legalmente mo a 20%. Nesta região da RBCV os municípios
autonomia para definir o preço do recurso natu- são voltados à pecuária, embora cana-de-açú-
ral transferido, estão pressionando o comitê do car e frutas estejam entre as principais ativida-
Alto Tietê por um preço mais elevado e/ou redu- des agrícolas da região.
ção do volume utilizado. A negociação com o PCJ A crise hídrica trouxe a discussão de uma
já exigiu a interferência da ANA. É imperativo política para promover o uso eficiente da água na
reduzir o consumo, ampliar o reuso e proteger agricultura, em um primeiro período, e depois a
as fontes de água. mudança de tecnologia, para privilegiar aque-
A agricultura consome cerca de 37% da las de menor consumo. Os agricultores somente
água no estado de São Paulo. Nas bacias que receberam orientação técnica sobre irrigação dos
fazem parte da RBCV o comportamento é muito próprios vendedores de equipamentos. Não exis-
variado. Nas bacias do litoral o uso pela agri- tiu um programa oficial de capacitação técnica
cultura é inexistente (na Santista) ou muito intensivo sobre o tema e o desafio é fazer chegar
baixo (Ribeira do Iguape, com 1,3%). Nas bacias a eles este conhecimento, já que a cobrança pelo
do Alto Tietê o uso agrícola é também baixo uso da água é um fato real. Do ponto de vista dos
(4,2%). Assume valores médios, mas abaixo da agricultores familiares, a dificuldade está em
média do estado, no PCJ (19,1%) e no Paraíba obter a outorga, em função da complexidade da
do Sul (28,1%), onde existe plantio de arroz documentação exigida e do alto custo para obtê-
irrigado por inundação, porém fora da área da -la, primeiro passo para a implantação da cobran-
RBCV. A única bacia onde há consumo acima da ça, que deverá estimular o uso racional da água
média do estado é a do Sorocaba/Médio Tietê, em todos os setores. Durante a crise hídrica de
onde está inserida a região oeste da RBCV, que 2015, os equipamentos de irrigação na região les-
consome 46,4% e produz principalmente hor- te da RBCV foram lacrados, até que os agricultores
taliças (COBRAPE, 2009). regularizassem sua situação em relação a outorga.
A Tabela 7 apresenta na primeira coluna A alternativa simplista de transferir o
a demanda de água sobre a vazão disponível volume consumido pela agricultura para uso
nas bacias hidrográficas que compõem a RBCV. doméstico tende a agravar o problema não só
Fica evidente a situação crítica da bacia do pela não adequação da demanda doméstica,
Alto Tietê e a do PCJ, da qual depende. A quar- mas também por eliminar o uso produtivo da
ta coluna estabelece a relação entre o consumo terra que age como barreira à ocupação desor-
de água pela agricultura e o total; e demonstra denada das áreas de mananciais.
que a irrigação representa somente um peque- Com relação à água, observam-se local-
no percentual da água consumida na bacia do mente os principais desafios do século 21

Demanda/ Demanda Demanda Demanda


UGRHI vazão Global Irrigação Irrigação/
% M3 /seg M3 /seg Global %

Paraíba do Sul 27 19,63 5,52 28,10


Piracicaba-Capivari-Jundiaí 95 40,83 7,80 19,1
Tabela 7 | Alto Tietê 432 86,42 3,59 4,2
Vazão e demanda de Baixada Santista 61 23,29 0 0
água (m3/s) nas
bacias hidrográficas Ribeira do Iguape 29 3,20 0,4 1,3
da RBCV. Sorocaba-Médio Tietê 29 17,98 8,35 46,4
Fonte: COBRAPE
Estado 417,26 155,54 37,3
(2009) e Silva (2008).
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 85

referentes à crise hídrica: a escassez de água; CETESB sobre qualidade da água. De forma geral,
a deterioração de sua qualidade; a falta de per- por utilizar água de nascentes, a agropecuária
cepção de gerentes e do público em geral sobre local não representa um risco para quem conso-
a gravidade da crise; a fragmentação e disper- me os alimentos. É preocupante, principalmen-
são do gerenciamento dos recursos hídricos. te, a tendência de expulsão da atividade agro-
Nas últimas décadas, o aumento das cargas de pecuária da região e sua substituição por novos
nitrogênio e fósforo, de substâncias tóxicas e atores; neste cenário, perder-se a possibilidade
da produção de toxinas por cianobactérias são de fomentar uma política de multifuncionali-
alguns dos muitos fatores que têm atingido os dade do espaço rural, costeiro e marítimo que,
ecossistemas aquáticos continentais (TUNDI- como salientado, é dependente do capital social
SI; MATSUMURA-TUNDISI; ROCHA, 1999). construído pela vida em comunidade dos agri-
A atividade agrícola pode interferir nas cultores familiares e pescadores. Através dos
condições da água dos rios pela maior expo- trade-offs positivos, contribui para a preserva-
sição do solo, com aumento do escoamento ção do ecossistema e a continuidade do forneci-
superficial das águas pluviais. Esse efeito, asso- mento dos serviços ecossistêmicos.

3 | ALTERAÇÕES NO
ciado à adição de fertilizantes minerais, acar-
reta maior transporte de sedimentos e nutrien-

ECOSSISTEMA, O SERVIÇO
tes, particularmente nitrogênio e fósforo para

ECOSSISTÊMICO ALIMENTO
os rios, contribuindo com sua eutrofização. A
adição de outros produtos, como os vários tipos

E O BEM-ESTAR HUMANO NA
de praguicidas, também contribui para o apor-

RBCV
te nos corpos d'água.
Do ponto de vista do ambiente aquático,
as modificações vêm afetando diretamente a
abundância dos estoques, a composição da ictio- A capacidade do ecossistema continuar
fauna e a produtividade pesqueira em diversas a prover o serviço alimentos pode ser alterada
regiões do estado de São Paulo (BARBIERI et pela forma como o serviço é produzido, pelos
al., 2000; CASTRO et al., 2006). Em ambientes trade-offs positivos e negativos estabelecidos
eutrofizados a diversidade de espécies ten- com outros serviços identificados como água
de a ser pequena, sendo dominado por pou- (quantidade e qualidade), cultura, lazer, turis-
cos grupos específicos, conforme observado mo, silêncio (paisagem), entre outros, e também
nas represas de Guarapiranga (BARBIERI et al., pelos vetores que podem atuar diretamente no
2000) e reservatório Billings (MINTE-VERA, ecossistema. O objetivo da produção agropecuá­
1997). A baixa riqueza de espécies presentes na ria é atender as necessidades humanas para
pesca e a alta dominância de algumas são indi- promover o bem-estar humano, particularmen-
te alimento saudável e de nutrição da população.

3.1 | A contribuição à preservação


cativos de comunidades submetidas a estres-
se, tais como: transformação do ecossistema

do espaço rural
lótico em lêntico, através do represamento;
eutrofização e contaminação do ecossistema; e
a introdução de espécies (MINTE-VERA, 1997; A política urbana no Brasil surge somen-
BARBIERI et al., 2000). te com a Constituição de 1988. Até então o
Constata-se assim que a disponibilidade de espaço rural sempre teve um papel passivo
solo agricultável e hídrica, assim como sua qua- de criar condições para o crescimento urba-
lidade, são os grandes fatores que colocam em no. Assim sendo, os trabalhos de Ueno (1985,
risco a viabilidade dos ecossistemas na região da 1989), Moraes e Carvalho (2006), além dos
RBCV continuarem a prestar o serviço de produ- dados censitários do IBGE e do LUPA demons-
ção de alimentos. A atividade agropecuária pode traram que a atividade agrícola contribui para
estar comprometendo seriamente a qualidade contenção da expansão urbana desordenada,
do recurso hídrico, embora seja importante res- principal vetor de degradação do ecossiste-
saltar que o setor não é o principal vetor de alte- ma. A família agricultora se configura como
ração, quando se considera os dados oficiais da barreira à ocupação urbana e pode assim
86 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

contribuir à organização social defensora e de água de qualidade, do patrimônio cultural


promotora do desenvolvimento local. Com estão associados ao bem-estar da população
base em valores culturais tradicionais, pre- que procura o rural para viver ou para suas
servação da paisagem, do silêncio, promoção horas de lazer.

3.2 | Geração de emprego


do desenvolvimento humano integral e holís-
tico, do lazer e do turismo, promovem o espa-
ço rural como um museu vivo da história que
de baixo custo:
indicador de bem-estar humano
ali transcorre. Através disto, pode contribuir
também para regulação da quantidade e qua-
lidade da água, com redução do estresse sobre
os recursos solo e água que colocam em perigo A pobreza e a marginalização de parte da
a continuidade da prestação do serviço ecos- população nas grandes cidades têm levado os
sistêmico da produção de alimentos na região municípios a darem ênfase crescente à política
da RBCV, determinante fundamental do bem- de agricultura urbana. A produção de alimentos
-estar humano. dentro das cidades tem o potencial de aumentar
O aspecto mais relevante para que isto a eficiência do uso da terra urbana e diminuir
seja possível é o fortalecimento do capital social o risco de redução ou mesmo interrupção no
construído ao longo da história pelas comuni- fornecimento de alimentos às pessoas. Dentre
dades locais, empoderando-as para implemen- os benefícios sociais alcançados estão a possibi-
tarem, juntamente com o poder público e os lidade de melhoria na qualidade dos alimentos
novos atores econômicos e sociais na região, a ingeridos pelas pessoas mais pobres, especial-
proposta de desenvolvimento territorial local. mente crianças, idosos e gestantes; e a criação
Casas de chá, casas de taipa, igrejas barrocas, de alternativa de renda e emprego para os habi-
trilhas de romeiros, festas religiosas, comidas tantes. As vantagens ambientais estão associa-
típicas, culinária no fogão a lenha, turismo das à reciclagem de resíduos, à menor demanda
rural, entre outros, criam condições para a por combustíveis fósseis e à conservação dos
promoção do bem-estar humano associado à espaços verdes. A limpeza e a revegetação de
preservação do espaço rural, alimentando os terrenos baldios, ou o seu uso para o plantio e
valores que mantêm uma sociedade democrá- outras formas de produção também proporcio-
tica, na busca do bem-estar comum. nam a diminuição da proliferação de vetores de
Este estudo identificou que o serviço doenças, contribuindo para o controle das mes-
ecossistêmico produção de alimentos está mas (MACHADO; MACHADO, 2002).
diretamente ligado ao bem-estar humano, não Ao permitir uma atividade econômica de
somente pela disponibilidade do próprio ali- baixo custo, a agricultura urbana de geração de
mento, mas em especial pela preservação do emprego e renda resgata as condições de vida
espaço rural e costeiro/marítimo e suas con- e viabiliza alimentos saudáveis de baixo custo,
dições de sustentabilidade. Para a agropecuá- contribuindo para melhor bem-estar humano
ria, isto remete a escolha da tecnologia a ser da parcela da população de baixa renda, que
empregada que, sendo alternativa, contribui seria privada pelas condições econômicas que
para a recuperação do solo e cria um trade-off imperam no país.
positivo com o serviço de suporte18, produz ali- O estímulo a permanência de produtores
mento saudável com melhores condições nutri- tradicionais e atração de novos produtores se
cionais e gera mais empregos de baixo custo, dá pela implementação de políticas de fomento à
aliviando a pobreza. produção local de qualidade, através da criação
Indicadores associados à preservação do de novos pontos de comercialização para produ-
espaço rural, da biodiversidade, da produção tos de qualidade diferenciada (orgânico, área de
manancial, local), da assistência técnica e da defi-
nição de zoneamento de áreas rurais. Os dados
18
Embora não seja objetivo do presente estudo, é impor-
apresentados do Censo Agropecuário (IBGE,
tante observar que práticas agrícolas, como várzeas
construídas, podem ser incentivadas para promover a 2017) sugerem a eficácia das estratégias políti-
recuperação da água. cas dos últimos anos. Da mesma forma, políticas
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 87

de apoio aos pescadores artesanais têm buscado A participação relativa de alimentos e


reduzir o impacto da degradação do ecossistema grupos de alimentos nos domicílios brasilei-
e da concorrência com formas mais capitalizadas ros indicou que os alimentos básicos de ori-
de exploração dos recursos pesqueiros. O impac- gem vegetal (cereais, leguminosas, raízes e
to das novas estratégias políticas do governo tubérculos) corresponderam a cerca de 50%
federal, iniciado em 2019, parecem comprometer das calorias totais enquanto os alimentos
estas expectativas. essencialmente calóricos (óleos e gorduras

3.3 | Aspectos nutricionais


vegetais e animais, açúcar, refrigerantes e
bebidas alcoólicas) atingiram aproximada-
e segurança alimentar
mente 28%. Produtos de origem animal (car-
nes, ovos, leite e derivados) corresponderam
a 18% e as frutas, verduras e legumes a 2,3%,
O bem-estar humano está diretamente
ou seja, cerca de 1/3 do recomendado (6-7%
relacionado com a quantidade (segurança ali-
das calorias totais da dieta de 2.300 kcal/dia)
mentar) e a qualidade dos alimentos (nutri-
(IBGE, 2004).
ção) consumidos. Aspectos nutricionais como
No estado, na RMSP e na cidade de São
subnutrição, obesidade e saúde tem relação
Paulo, esse quadro é similar ao de outras re-
direta com o serviço ecossistêmico alimentos
giões do Brasil. A participação dos alimentos
pois são indicadores de bem-estar providos
básicos de origem vegetal correspondeu a apro-
por este serviço. Situações de insegurança
ximadamente 44% das calorias totais, seguidos
alimentar e nutricional podem ser detectadas
de óleos e gorduras vegetais, gordura animal,
a partir de problemas como fome, obesidade,
açúcar e refrigerantes, e bebidas alcoólicas,
doenças associadas à má alimentação, con-
com cerca de 30%, 26%, e 25%, e os produtos
sumo de alimentos de qualidade duvidosa ou
de origem animal com 20%, 23% e 23%, res-
prejudicial à saúde, estrutura de produção de
pectivamente. Frutas, verduras e legumes cor-
alimentos predatória em relação ao ambiente,
responderam somente a 2,9%, 3,6% e 4,0% das
bens essenciais com preços abusivos e imposi-
calorias totais. Em comparação ao que ocorre
ção de padrões alimentares que não respeitem
no país, é observado maior consumo de produ-
a diversidade cultural.
tos de origem animal, frutas, legumes e verdu-
3.3.1 | Consumo alimentar ras e menor de alimentos básicos (Tabela 8).
Com relação à aquisição de sal para con-
Os resultados da POF de 2002/2003 sumo domiciliar, dados da POF mostraram que
(IBGE, 2004) apontaram que a disponibilidade a aquisição per capita anual corresponde a 3kg.
domiciliar média de alimentos no Brasil foi esti- Isso sugere um consumo diário de 8,2 g per
mada em 1.811,2 kcal por pessoa/dia (1.689,7 capita/dia, correspondendo a 1,4 vezes o limite
kcal no meio urbano e 2.401,9 kcal no meio recomendado, que é de 5 g per capita/dia. Con-
rural). No estado de São Paulo, na RMSP e na siderando uma estimativa de 16,7% para o sal
cidade de São Paulo, esses valores ficaram em indireto (consumido a partir de produtos pron-
torno de 1.677,4; 1.327,6 e 1.401,4 kcal/dia, res- tos adquiridos para consumo no domicílio),
pectivamente. Destaca-se que a recomendação obtém-se um consumo per capita/dia de 9,6 g/
média para as calorias totais da dieta do bra- dia, que corresponde a quase duas vezes o con-
sileiro é de 2.300 kcal/dia. A menor disponibi- sumo recomendado. O consumo de sal nos ali-
lidade de calorias na área urbana precisa ser mentos consumidos fora do domicílio não está
relacionada com a maior frequência das refei- computado (MS, 2006).
ções fora de casa (não contabilizada pela POF) e Destaca-se, em relação à disponibilidade
menores necessidades energéticas (IBGE, 2004). domiciliar de alimentos entre as regiões do país,
Levy-Costa et al., (2005) acrescentam que não é que a área urbana da região sudeste apresentou
possível avaliar a adequação deste indicador de contribuições significativas na dieta de açúcar,
disponibilidade calórica, uma vez que não se refrigerantes e bebidas alcoólicas. No que diz
dispõe de uma avaliação direta dos alimentos respeito ao consumo do grupo de frutas, ver-
realmente consumidos pelas famílias. duras e legumes, a região Sudeste apresentou
88 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Participação relativa de alimentos e


Alimentos e grupos no total de calorias (%)
grupos de alimentos
Município Estado de SP RMSP
de SP

Cereais e derivados 37,3 36,7 37,0


Feijões e outras leguminosas 4,8 4,5 4,7
Raízes, tubérculos e derivados 1,6 1,8 2,0

Óleos e gorduras vegetais 14,8 13,7 13,0


Gordura animal 1,0 0,9 1,2
Açúcar 11,0 8,8 8,4
Refrigerantes 2,1 2,3 2,3
Tabela 8 | Bebidas alcoólicas 0,7 0,7 0,6
Participação relativa
de alimentos e Carnes 12,1 14,1 13,7
grupos de alimentos Leite e derivados 8,2 8,9 9,2
no total de calorias Ovos 0,0 0,0 0,0
no estado de
São Paulo, área Frutas e sucos naturais 2,1 2,7 2,8
urbana da RMSP e
Verduras e legumes 0,8 0,9 1,0
área urbana do
município de
Refeições prontas e misturas industrializadas 2,5 2,9 3,0
São Paulo, para o
período 2002-2003.
Condimentos 0,9 1,0 1,0
Fonte: Elaboração
própria. Com base
Oleaginosas 0,1 0,1 0,1
em IBGE (2004).

consumo de 1,9% e 0,8%, respectivamente, Sudeste observou-se um excesso no teor de


aquém das recomendações preconizadas. A gorduras (mais de 30% das calorias totais) e
área rural apresentou um consumo de fru- percentuais muitos próximos do limite para
tas ainda menor (0,9%) que a da área urbana gorduras saturadas (9,3% das calorias totais).
(2,0%). O mesmo pode ser observado no con- A área urbana da região Sudeste apresentou
sumo de verduras e legumes (área rural 0,5% teor excessivo de gorduras totais e saturadas
contra 0,9% na área urbana). A pesquisa apon- chegando a valores de 30,9% e 9,5% quando
ta que regiões economicamente mais desen- comparada à área rural que apresentou
volvidas, como a Sudeste, e no geral as áreas porcentagens de 27,8% e 8,2%, respectivamen-
urbanas e as famílias com maior rendimento, te. O excesso de açúcar (sacarose) ocorreu em
apresentam inadequações na dieta, e, além do todas as regiões brasileiras, com destaque para
consumo insuficiente de frutas e hortaliças, um a região Sudeste (contribuição de 14,5%). Nessa
consumo excessivo de açúcar, gorduras e gor- região, a área rural apresentou porcentagens
duras saturadas. maiores no consumo de carboidratos totais e
A composição da dieta em relação aos açúcares simples (64,3% e 15,3%, respectiva-
macronutrientes19 mostrou adequação do teor mente) do que a área urbana (56,7% e 14,4%).
proteico (de 12,0 a 14,0% das calorias totais) Considerando-se os estudos sobre a dis-
e adequação no teor de carboidratos (55,0 a ponibilidade domiciliar de alimentos nas áreas
64,8%) nas cinco regiões brasileiras. Na região metropolitanas desde a década de 70 até 2003,
observam-se os seguintes aspectos negativos
da dieta do brasileiro: redução do consumo de
19
As recomendações nutricionais da OMS e da FAO é de
alimentos como arroz, feijão, raízes e tubércu-
que sejam de 10,0% a 15,0% das calorias totais para los, aumento de até 400% do consumo de bis-
proteínas, de 15,0% a 30,0% para gorduras totais, sen- coitos e refrigerantes e, ao longo deste perío-
do menos de 10,0% para gorduras saturadas. Em relação
do, consumo excessivo de açúcar e o consumo
aos carboidratos, a recomendação é de 55% a 75% das
calorias totais, sendo que o consumo de açúcares sim- reduzido de frutas e hortaliças (LEVY-COSTA et
ples deve ser menor que 10% (WHO, 2003). al., 2005).
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 89

3.3.2 | Estado nutricional:


indicador do bem-estar humano
e na cidade de São Paulo, observou-se maior
prevalência em mulheres com valores de 4,7%,
4,0% e 3,8%, respectivamente (Tabela 9).
A avaliação do perfil antropométrico- No estado de São Paulo e na RMSP obser-
-nutricional da população adulta usada na POF vou-se que a proporção de adultos com excesso
segue a recomendação proposta pela OMS: de peso é preocupante, principalmente no caso
Índice de Massa Corporal (IMC), que consis- dos homens A obesidade feminina apresentou
te no peso em quilos dividido pelo quadrado índices mais elevados, no estado, RMSP e cida-
da altura em metros. Segundo esta avaliação, de de São Paulo, com valores de 14,7%, 13,7%,
os indivíduos adultos são classificados como 13,2%, respectivamente.
portadores de déficits de peso (IMC < 18,5 kg/ Observou-se que as prevalências de défi-
m²), excesso de peso (IMC ≥ 25,0 kg/m²) ou cit de peso-para-idade entre as crianças na
de obesidade (IMC ≥ 30,0 kg/m²). A Tabela 9 região Sudeste são de 3,7% no total para crian-
apresenta estes dados para o conjunto do país, ças de 0 a 4 anos (3,8% na zona urbana e 2,9%
região Sudeste, São Paulo, RBCV e município na rural) e 1,5% para crianças de 5 a 9 anos
de São Paulo. (1,4% na zona urbana e 2,3% na rural). Ao se
Segundo a POF, não existe déficit de peso comparar dados de outras regiões, verificou-
no Brasil de acordo com o padrão internacio- -se que a região Sudeste está entre as que apre-
nal (5%). Na região Sudeste, a prevalência do sentam as menores prevalências de déficit em
déficit de peso foi maior no meio rural (6,2%). crianças de 0 a 4 anos.
A prevalência de déficits ponderais em mulhe- O déficit de altura para idade de adoles-
res ficou abaixo de 5% nas áreas urbanas. Por centes apresentou prevalências de 7,1% para
outro lado, quando se comparou valores de a população de meninos (maior na área rural,
déficit de peso no estado de São Paulo, na RMSP 10,9%) e 5,9% para as meninas (menor na

Prevalência de déficit de peso, excesso de peso e


obesidade na população adulta (com mais de 20 anos de idade) (%)

Localidade Masculino Feminino
Situação do domicílio Situação do domicílio
Total Total
Urbano Rural Urbano Rural
Déficit de peso
BRASIL 2,8 2,7 3,5 5,2 5,1 6,1
Sudeste 2,8 2,7 4,2 5,0 4,9 6,2
Estado de SP 2,4 - - 4,7 - -
RMSP 2,8 - - 4,0 - -
Município de SP 2,5 - - 3,8 - -
Excesso de peso Tabela 9 |
BRASIL 41,1 43,8 28,5 40,0 39,9 40,7 Prevalência de déficit
de peso, excesso de
Sudeste 44,4 45,7 32,0 40,7 40,5 43,1 peso e de obesidade
Estado de SP 47,5 40,9 - 40,9 - - na população adulta
(com mais de 20 anos
RMSP 46,5 39,9 - 39,9 - - de idade), por gênero e
Município de SP 45,3 36,2 - 36,2 - - situação de domicílio
no Brasil, na região
Obesidade Sudeste, no estado de
BRASIL 8,9 9,7 5,1 13,1 13,2 12,7 São Paulo, área urbana
da RMSP e área urbana
Sudeste 10,0 10,3 7,0 13,8 13,9 13,0 do município de São
Estado de SP 11,3 - - 14,7 - - Paulo, para o período
2002/2003.
RMSP 11,4 - - 13,7 - - Fonte: Elaboração
Município de SP 10,3 - - 13,2 - - própria. Com base
em IBGE (2004).
90 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

área rural, 5,4%) na região Sudeste inferior anos observou-se a manutenção do consumo
aos indicadores para o país (11,3% e 8,3%, excessivo de açúcar e o aumento do consumo
respectivamente). de gorduras. Além disso, a ingestão de frutas e
O baixo peso foi observado em 5,3% hortaliças continua insuficiente e abaixo das
dos meninos e 8,6% das meninas, ambos com recomendações nutricionais. Ao comparar os
maior prevalência na área rural, com valores resultados da análise do estado nutricional
semelhantes ao país. O excesso de peso e a obe- das POF de 2002/2003 e 2008/2009, a ten-
sidade, respectivamente, foram constatados dência de declínio da desnutrição infantil é
em 21,5% e 1,9% dos meninos e 18 e 3,8% das confirmada. Com relação ao excesso de peso
meninas do Sudeste, ambos com maior preva- e à obesidade, em todas as idades confirma-se
lência na área urbana e superior ao conjunto a tendência de aumento desses problemas. A
do país. A situação dos adolescentes é menos frequência de pessoas com excesso de peso
contundente do que entre adultos, mas segue a nos últimos seis anos cresceu mais de um
mesma tendência. ponto percentual ao ano, indicando que, em
A POF enfatiza que existem restrições cerca de dez anos, o excesso de peso poderia
quanto à interpretação dos resultados com alcançar dois terços da população de adultos
relação ao estado nutricional das crianças, do Brasil (IBGE, 2010).

3.3.3 | Segurança alimentar:


porque os dados contaram com um único indi-

indicador do bem-estar humano


cador do estado nutricional (peso-para-idade)
para crianças com menos de 10 anos de idade
(IBGE, 2006b).
Observa-se no Brasil o processo que se A PNAD divulgou resultados sobre o per-
reconhece como transição nutricional. Este fil de segurança alimentar no Brasil, Grandes
processo está relacionado ao alto consumo de Regiões e Unidades da Federação. Os domicílios
gorduras, gorduras saturadas, açúcares, sal e foram classificados de acordo com a condição
à baixa ingestão de frutas, verduras, legumes de segurança alimentar em quatro categorias:
e, indiretamente, ao baixo aporte de fibras na 1) segurança alimentar; 2) insegurança ali-
alimentação (dieta ocidental) e a estilos de mentar leve, descrita como a preocupação com
vida definidos por baixos níveis de atividade relação ao acesso aos alimentos no futuro ou
física. A este processo associa-se o aumento qualidade inadequada destes; 3) insegurança
da prevalência da obesidade e das doenças alimentar moderada, corresponde a diminui-
crônicas não transmissíveis (a exemplo das ção na quantidade de alimentos entre os adul-
cardiovasculares, diabetes mellitus e alguns tos e/ou ruptura nos padrões de alimentação
tipos de câncer) e uma redução da prevalência resultante da falta de alimentos; e 4) inseguran-
da desnutrição (BATISTA FILHO; RISSIN, ça alimentar grave, descrita como uma redução
2003). A região parece apresentar menores quantitativa de alimentos entre as crianças
déficits de peso. e/ou ruptura nos padrões de alimentação
Autores como Monteiro et al. (2009) reco- resultante da falta de alimentos (IBGE, 2006a).
nhecem um declínio significativo na prevalên- A segurança alimentar é definida como a
cia de todas as formas de desnutrição. Pode-se garantia de que todas as pessoas tenham aces-
observar que, no caso das crianças do Brasil, so a alimentos inócuos, nutritivos, em quanti-
a evolução observada é bastante satisfatória a dade suficiente e de modo permanente, de for-
ponto de ultrapassar o Objetivo do Milênio das ma a satisfazer suas necessidades nutricionais
Nações Unidas, que foi a redução da desnutri- e preferências alimentares, a fim de levar uma
ção à metade no período de 1990 a 2015. vida ativa e saudável (WORLD FOOD SUMMIT,
Nos resultados apresentados para este 1996); enquanto que a insegurança alimentar
capítulo, foi utilizada a POF realizada em grave está relacionada com a fome, isto é, quan-
2002/2003. Destaca-se que, em relação ao novo do alguém fica o dia inteiro sem comer por falta
levantamento desenvolvido em 2008/2009, de dinheiro para comprar alimentos.
no geral houve a manutenção das caracterís- Os estados da região Sudeste apresen-
ticas gerais descritas. No decorrer desses seis taram proporções de 9,4% de insegurança
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 91

moderada e 4,1% de insegurança grave, sem A demanda urbana por água criou o
grande disparidade entre a área urbana (4,1%) estresse hídrico, acirrando a competição e
e rural (3,8%) e inferiores aos índices para o criando restrições crescentes para o uso agro-
país (insegurança moderada, 12,3% e grave pecuário, o que pode levar à redução das áreas
6,5%). Quanto à situação dos domicílios, obser- não urbanizadas onde estão os remanescentes
vou-se que a área rural apresentou proporções dos recursos naturais que prestam os diver-
de segurança e insegurança alimentar grave sos serviços ecossistêmicos. A deterioração
(64,4% e 3,8%, respectivamente) ligeiramente da qualidade das águas interiores e marítimas
menor que a urbana (69,9% e 4,1%, respecti- criam restrições crescentes para a aquicultura
vamente). No estado de São Paulo, a pesquisa e pesca extrativista e agropecuária; ao mesmo
apontou que 75,8% dos domicílios apresenta- tempo, exige que os produtores remanescentes
vam segurança alimentar, 13,6% insegurança se utilizem de áreas de águas puras como nas-
leve e 7,2% moderada (IBGE, 2004). centes, braços de represa, etc, e tenham cuida-
Como em outros países, quadros de segu- dos especiais com os alimentos que fornecem.
rança ou insegurança alimentar têm forte rela- A escassez e a crescente dependência de
ção com a composição da unidade domiciliar. A água proveniente de outras bacias para abaste-
situação de segurança alimentar foi constatada cimento da RMSP estão criando duas perspec-
em 80,4% dos domicílios da região Sudeste sem tivas de enfrentamento da questão. De um lado,
moradores menores de 18 anos. Entretanto, esta enfatiza-se o papel da agricultura para proteger
proporção foi menor quando foram analisados os as condições adequadas para o serviço de pro-
domicílios com pelo menos um morador menor visão de água através da ação identificada como
de 18 anos, resultando em 66,8% (IBGE, 2004). multifuncionalidade do espaço rural e, de outro,
Assim, em relação ao estado nutricional, os que consideram que a atividade agropecuá-
os indicadores apresentados sugerem que, em ria deve ser restringida onde existe estresse
geral, ocorrem elevadas proporções de indi- hídrico. Esta parece ser a visão hegemônica do
víduos com sobrepeso e obesidade, aparecen- órgão público especializado nos recursos hídri-
do com menor importância o baixo peso. Mas cos. Restrições impostas à agricultura regional
existe uma parcela da população vivendo em ao invés de medidas de diminuição da demanda,
situação de insegurança alimentar. Interven- reuso e proteção das fontes de água devem se
ções para melhorar o padrão alimentar e esta- intensificar em cenários de crise hídrica.
do nutricional da população são necessárias. Em áreas protegidas, o conflito com a popu-
lação que vive em seu entorno tem demonstrado

CONCLUSÕES
a necessidade de buscar modelos de convivência
eficientes para garantir a proteção ambiental
em situações de pressão demográfica intensa.
O serviço de provisão de alimentos na Crescem os movimentos sociais e a visão da
região da RBCV se encontra ameaçado em fun- importância de desenvolver atividades susten-
ção da forte urbanização, seja pelo seu efei- táveis que possam transformar a população em
to sobre o solo ou sobre a água. A expansão protetores do patrimônio natural.
urbana vem afastando continuamente a área Isto sugere que existe uma carência de
agrícola, quer por sua ação direta por meio da políticas territoriais associadas às políticas
violência e contaminação hídrica, quer indire- agrícolas. Os Planos Diretores municipais não
tamente. através do preço do trabalho e da ter- parecem compreender a importância da preser-
ra. Por outro lado, a política voltada ao estímulo vação das áreas rurais. Uma política metropoli-
da agricultura familiar e urbana, a valorização tana de municípios produtores e consumidores
pelo consumidor dos produtos locais de qua- de água (prevista em legislação específica) e de
lidade e a falta de oportunidades no mercado alimento parece ser fundamental para preser-
de trabalho urbano podem ser os fatores res- vação da capacidade do ecossistema em conti-
ponsáveis pela expansão da ocupação de áreas nuar a prover serviços ecossistêmicos para o
agrícolas em alguns municípios da RBCV, iden- bem-estar humano. Uma política metropolitana
tificada no Censo Agropecuário (IBGE, 2017). que reconheça a importância da manutenção
92 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

do patrimônio natural e cultural que existe no Diretor) e nutricionais (como as hortas esco-
rural e a importância que a rede social de agri- lares e os programas de venda direta para a
cultores tem para contribuir para sua preserva- merenda escolar do Governo Federal e de com-
ção é identificada como multifuncionalidade da pra dos municipais) que já assumem certa sig-
agricultura. Esta, se inicia pelo planejamento nificância e poderiam ser fortalecidas. Muitos
que orienta e limita a expansão urbana. são os municípios que têm procurado estabe-
Foi visto pelo cálculo da pegada ecológica lecer uma política para fortalecer os agricul-
que há uma tendência crescente de sobrecarga e tores de seus municípios através da mudança
que o estado nutricional da população se carac- tecnológica e de novos locais de comercializa-
teriza como de transição nutricional marcado ção direta. Acima de tudo, precisa-se desen-
pelo consumo excessivo de gorduras, sal, açú- volver uma política agrícola supra-municipal
car; e ingestão insuficiente de frutas, legumes de circuito curto, voltada ao abastecimento do
e verduras, associado a baixos níveis de ativi- mercado urbano, que dialogue com a questão
dade física com consequências diretas sobre a ambiental e estimule os agricultores a, grada-
saúde e o bem-estar humano. Com relação aos tivamente, adotarem as novas propostas tec-
aspectos nutricionais, os indicadores de déficit nológicas que lhe sejam oferecidas através de
de peso e de altura sugerem uma evolução mais projeto contínuo de capacitação.
favorável na região do que no resto do estado e O projeto estadual Guarapiranga Sus-
país, enquanto a obesidade e o excesso de peso tentável é um exemplo de política a ser for-
são mais acentuados no estado, mas declinam talecido, embora esteja ainda circunscrito ao
um pouco na RMSP e município de São Paulo. município de São Paulo e sujeito a mudanças
Com respeito à segurança alimentar, o estado de acordo com a renovação dos quadros polí-
de São Paulo apresenta índices melhores do ticos municipais. A Secretaria do Verde e Meio
que no país e na região sudeste. O indicador de Ambiente do Município de São Paulo, através
segurança alimentar é de 75,8% com insegu- do Fundo Especial do Meio Ambiente (FEMA),
rança grave da ordem de 3%. fortalece a capilaridade das ações junto aos
Quando a produção gerada na região foi agricultores.
classificada em termos dos grupos nutricio- Muito ainda há para aprimorar, mas já se
nais, identificou-se a grande concentração nos testou um embrião, também na política federal,
produtos altamente perecíveis sugerindo a que promove o produtor (agropecuário-pesca-
importância dada pelo consumidor ao frescor dor) a ser prestador de serviços ecossistêmicos
dos alimentos. de provisão de alimentos. Existem, entretanto,
Por outro lado, a tecnologia utilizada na fortes indícios de que a tendência da política
atividade agropecuária é também um vetor de brasileira atual em todas as esferas, caminhe
alteração do ecossistema e pode vir a compro- atualmente em sentido oposto.
meter sua capacidade de continuar a prestar Órgãos públicos, como a extinta EMPLA-
serviços ecossistêmicos. A preocupação funda- SA, e conselhos de base territorial precisam jun-
mental é com a contaminação do solo e água, tar esforços para liderar ações de coordenação
mas também com o uso ineficiente da água dos três níveis hierárquicos e a sociedade civil
para irrigação. na busca da construção de projetos de desen-
Existem evidências de estratégias tecno- volvimento territorial, com o objetivo de pre-
lógicas (agricultura orgânica ou agroecológi- servar os ecossistemas e sua capacidade de
ca), de políticas sociais (agricultura urbana de gerar serviços ecossistêmicos para o bem-
geração de emprego e renda), urbanas (Plano -estar humano.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 93

REFERÊNCIAS
ALESP – ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO BARRELLA, W. (1997). Alterações das comuni-
DE SÃO PAULO (2013). Mosaico Jureia-Itatins dades de peixes nas Bacias dos rios Tietê e
protege maior parte da população tradicional Paranapanema (SP), devido à poluição e ao
caiçara. Publicação: 1.08.2013. Disponível em represamento. Rio Claro: Instituto de Biociên-
<https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=336930>. cias, UNESP. Tese de Doutorado, p. 94.
Acesso: 8 nov. 2019.
BATISTA FILHO, M., RISSIN, A. (2003). A transi-
ALLOWAY, B. J.; AYRES, D. C. (1997). Chemical ção nutricional no Brasil: tendências regionais e
Principles of Environmental Pollution. UK: temporais. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Chapman & Hall. Janeiro, n. 19 (sup. 1), p. 181-191.
ALVES DA SILVA, M. E. P. (2008). Pescadores e BRASIL (1997). Lei nº 9.433, de 8 de janeiro
Pescarias de Pequena Escala em Comunida- de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos
des Locais: O caso do Reservatório Billings Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerencia-
(Alto Tietê, SP). Dissertação de Mestrado, Insti- mento de Recursos Hídricos, regulamenta o inci-
tuto de Pesca. São Paulo, p. 116. so XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera
o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990,
ANCONA, C. M.; SALDANHA-CORRÊA, F. M.
que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro
P.; STEPHAN, M.; GIANESELLA, S. M. F. (2006).
de 1989.
Variação espaço-temporal da biomassa fito-
planctônica no estuário e baía de Santos. In: Sim- BRASIL (2000). Lei nº 9.985, de 18 de julho de
pósio Brasileiro de Oceanografia, 3, Resumos. 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II,
São Paulo, v. 1. p. 1-2. III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Nature-
ANVISA - Agencia Nacional de Vigilância Sanitá-
za e dá outras providências.
ria. Programa de Análise de Resíduos de Agro-
tóxicos em Alimentos. Disponível em: portal BRASIL (2003). Lei nº 10.831, de 23 de dezem-
anvisa.gov.br/programa-de-analise-de-registro- bro de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica
-de-agrotoxico-para. e dá outras providências.
ARRAES, N. A. M.; CARVALHO, Y. M. C. (2015). BRASIL. (2006). Lei nº 11.346, de 15 de setem-
Agricultura Urbana e Agricultura Familiar: interfa- bro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segu-
ces conceituais e práticas. Informações Econô- rança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas
micas, São Paulo, v. 45, n. 6, p: 30-44. em assegurar o direito humano à alimentação
adequada e dá outras providências.
ARRUDA, F. et al. (2006). Observações e suges-
tões sobre a irrigação em alguns produtores BRASIL AGROECOLOGICO. Apresentação da
de hortaliças na bacia do Alto Tietê. Serviço politica nacional de Agroecologia e produção
Ambiental da Agricultura: Alto Tietê – Região orgânica - PLANAPO. Disponível em: /agroeco-
metropolitana de São Paulo. NEGOWAT/APTA. logia.gov.br/plano/apresentacao.
Yara M. C. Carvalho (ed). p. 219-234.
CAMARGO FILHO, W. P. et al. (2006). Banco de
ASH, N; et al. (2010) Ecosystem and human dados agricultura orgânica em São Paulo. São
well-being: a manual for assessment Paulo: CATI/IEA, 2006. Disponível em: <www.iea.
practitioners. Washington DC: Island Press. sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/tec2-0308.pdf>.
Acesso: 8 nov. 2019.
ÁVILA-DA-SILVA, A. O.; CARNEIRO, M. H. (2007).
Produção pesqueira marinha do Estado de São CAMARGO FILHO, W. P.; CAMARGO, F. P. (2008)
Paulo no Ano 2005. Série Relatórios Técnicos. Planejamento da produção sustentável de hortali-
São Paulo, n. 26, p. 1-44. ças folhosas: organização das informações deci-
sórias ao cultivo. Informações Econômicas, São
AZEVEDO, S. M. F. O.; VASCONCELOS, V. (1998).
Paulo, v. 38, n. 3, p. 27-36.
Toxinas de cianobactérias: causas e conseqüên-
cias para a Saúde Pública. Revista virtual de CARVALHO, Y.M. C. et al. (2005). Perspectivas
Medicina – Medicina Online, v. 3, n. 1, p. 1-17, para a Agricultura da Bacia do Alto Tietê. IEA/
1998. Disponível em: <http://letc.biof.ufrj.br/sites/ APTA, Disponível em: <http://negowat.cirad.fr/
default/files/1998%20Azevedo%20Toxinas.pdf>. Docs4Web/Brazil_pdf/15_Brazil.pdf>. Acesso: 9
Acesso: 8 nov. 2019. nov. 2019.
BARBIERI, G. et al. (2000). Avaliação qualitativa CARVALHO, Y. M. C. et al. (2006). Agricultura: Ser-
da comunidade de peixes da Represa de Guarapi- viço ambiental para a bacia do Alto Tietê Cabe-
ranga, São Paulo. Instituto de Pesca. São Paulo, ceiras. São Paulo em Perspectiva (Impresso), v.
n. 30 (único), p. 21. 20, p. 118-135.
94 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

CARVALHO, Y. M. C.; FRANCA, T. J. F. (2006). metrópole Paulista. São Paulo: DAEE, SSA, SEP e
A preservação dos mananciais da Região SMA, Power Point.
Metropolitana de São Paulo e a multifuncio-
CPISP – COMISSÃO PRÓ-INDIO DE SÃO PAULO
nalidade. Porto Alegre: FAO.
(2019). Terras indígenas. Disponível em: < http://
CARVALHO, Y. M. C. et al. (2010). Mudança tecno- cpisp.org.br/ >. Acesso: 9 nov. 2019.
lógica na produção agrícola de área de manan- CPT – CENTRO DE PRODUÇÕES TÉCNICAS
cial através da criação de um selo ambiental na (2019). Restaurante self-service oferece rapi-
sub-bacia hidrográfica do Alto Tietê Cabeceiras. dez e qualidade no mundo moderno. Disponível
In: José Eli da Veiga. (Org.). Economia Socioam- em: <https://www.cpt.com.br/cursos-pequenas
biental. São Paulo: SENAC, p. 139-163. empresas-comomontar/artigos/restaurante-
CARVALHO, Y. M. C. (2015). Desafios da Agricul- self-service-oferece-rapidez-qualidade-mundo-
tura em Áreas Fortemente Urbanizadas: a Região -moderno>. Acesso 8 nov. 2019.
do Alto Tietê-Cabeceiras. Informações Econô- DIADEMA (2019). Agricultura urbana. Disponível
micas, SP, v. 45, n. 6. Disponível em: <www.iea. em: <http://www.diadema.sp.gov.br/sesa-agricul-
sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/ie/2015/tec4-1215. tura-urbana>. Acesso em 8 nov. 2019.
pdf>. Acesso: 9 nov. 2019.
EBC – EMPRESA BRASILEIRA DE COMUNICA-
CASTRO P. G. et al. (2006). Perspectivas da ati- ÇÃO (2019). Agência Brasil. Plataforma Petro-
vidade de pesqueiros no Alto Tietê: Contribui- brás começa a operar este ano no pré-sal
ção à gestão de usos múltiplos da água. Bole- de Santos. Rio de Janeiro, 2019. Disponivel em:
tim do Instituto de Pesca, São Paulo, v. 32, n. <http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noti-
1, p. 1-14. cia/2019-09/plataforma-da-petrobras-comeca-
CBAT – COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO -operar-este-ano-no-pre-sal-de-santos>. Acesso
ALTO TIETÊ (2002). Plano de Bacia do Alto Tie- em 19 set. 2019.
tê. Relatório Final. São Paulo, FUSP/CBAT. EMBU DAS ARTES (2019). Conheça o Programa:
CEPAL – COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉ- Programa Municipal de Agricultura Sustentá-
RICA LATINA E O CARIBE (2014). Panorama vel de Embu das Artes. [publicação s/d]. Dispo-
Social da América Latina, Síntese, LC/L.3954, nível em: <http://cidadeembudasartes.sp.gov.br/
Santiago do Chile. embu/portal/secretaria/ver/417>. Acesso 8: nov.
2019.
CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO
DE SÃO PAULO (1981). Metais pesados na baía FAO – FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION
de Santos e estuários de Santos e São Vicen- (2010). Food Balance Sheet, FAOSTAT. Dis-
te. Relatório Técnico, 1981. ponível em:<http://faostat.fao.org>. Acesso em:
03/10/2010.
CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTA-
DO DE SÃO PAULO (2001) Sistema Estuarino FERREIRA, S.E (2006). Caracterização do Sistema
de Santos e São Vicente. Relatório Técnico, Agrário da região da Microbacia Hidrográfica do
2001. Ribeirão Balainho, pertencente a sub-bacia Hidro-
gráfica Alto Tietê Cabeceiras, Município de Suza-
CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTA- no. In: Serviço Ambiental da Agricultura: Alto
DO DE SÃO PAULO; SABESP - COMPANHIA DE Tietê – Região metropolitana de São Paulo.
SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAU- Relatórios NEGOWAT/APTA. Yara M. C. Carvalho
LO. (2011). Monitoramento Integrado – Bacias (ed), p. 3-43, 2006.
do Alto e Médio Tietê: Avaliação da Qualidade
FERREIRA, P. T. A; RAIMUNDO, S. (2016). Con-
da Água - Água, Sedimento e Peixes. São Pau-
flitos e possibilidades para um desenvolvimen-
lo, Relatório.
to do turismo de base comunitária na Vila de
CF – CONSTITUIÇÃO FEDERAL (1988). Cons- Barra do Una em Peruíbe (SP). Caderno Vir-
tituição da República Federativa do Brasil. tual de Turismo. Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p.
Brasília, DF. 150-167.
CIRCUITO DAS FRUTAS (2019). Turismo rural: GADDA, T. M. C. Understanding the Changing
Circuito das Frutas. Disponível em: <https:// Appropriation of Natural Resources by Cities: A
w w w.circuitodasfrutas.com.br/municipios>. Case Study of Seafood Consumption in Tokyo
Acesso: 8 nov. 2019. from 1953 to 2003 (2006). In: Graduate School
of Science and Technology. Chiba University.
COBRAPE – COMPANHIA BRASILEIRA DE PRO-
JETOS E EMPREENDIMENTO (2009). Agricultura GADDA, T.; MARCOTULLIO, P. J. (2007) Seafood
irrigada: Relatório (2009). Plano Diretor de Apro- Consumption Patterns. UNU-IAS Working Paper
veitamento de Recursos Hídricos para a Macro- nº 145.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 95

GADDA, T. (2012). When Vegetable Consumption de 2017 Resultados Preliminares. Rio


is not a Silver Bullet. Seção de pôster apresentado de Janeiro. Disponível em: <https://sidra.
em: Planet Under Pressure, 26-27 março, Lon- ibge.gov.br/pesquisa/censo -agropecuario/
dres, Reino Unido. censo-agropecuario-2017>.
GEBARA, A. (2000). Resíduos químicos em frutas. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
In: III Reunião itinerante de fitossanidade do ESTATÍTICA (2019). Cidades e estados. (Banco
Instituto Biológico. Mogi das Cruzes: Instituto de Dados. Todos os Municípios - SP). Disponível
Biológico, p. 28-34. em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/
sp.html>. Acesso: 25 nov. 2019.
GEBARA, A. B; CISCATO, C. H. P.; MONTEIRO,
S.H. (2008). Pesticide residues evaluation in fruit IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
samples commercialized in São Paulo city, Brazil, ESTATÍSTICA (2018). Cidades@. Disponível em: <
2002-2005. Revista Brasileira de Toxicologia, https://cidades.ibge.gov.br/ >. Acesso 8 nov. 2019.
v. 21, n. 2, p. 87-92, 2008. Disponível em: <http://
KAMIYAMA, A. (2019). Política Estadual de
citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10
Agroecologia e Produção Orgânica – PEAPO:
.1.1.625.6984&rep=rep1&type=pdf>. Acesso: 08
Lei 16.684 de 19 de março de 2019 (Palestra –
nov. 2019.
Apresentação em Powerpoint). Disponível em:
GIAMAS, M. T. D. et al. (2004). A ictiofauna da <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/palestras/pea-
Represa de Ponte Nova, Salesópolis (São Paulo), po.pdf >. Acesso 9 nov. 2019
Bacia do Alto Tietê. B. São Paulo: Inst. Pesca, v. KOOKANA, R. S.; CORRELL, R. L.; MILLER, R. B.
30, n. 1, p. 25-34. (2005). Pesticide impact rating index – a pestici-
GUARULHOS (2008). Lei 6.426, de 1 de outubro de risk indicator forwater quality. Water, Air, and
de 2008. Cria o Programa de Agricultura Urbana Soil Pollution. Focus, v. 5, n. 1-2, p. 45–65.
e Periurbana – PROAURP no Município de Guaru- LAMBERT, J. (1959). Os dois brasis. Centro Bra-
lhos e define suas diretrizes. sileiro de Pesquisas Educacionais, Rio de Janeiro.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA LAMARCHE, H. (1993). Agricultura familiar:
E ESTATÍSTICA (1971). Censo Agropecuário de uma realidade multiforme, v. 1, coord. Hugues
1970. Rio de Janeiro. Lamarche, SP: Editora UNICAMP, Campinas.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA LEVY-COSTA, R. B. et al. (2005). Disponibilidade
E ESTATÍSTICA (2000). Censo Agropecuário de domiciliar de alimentos no Brasil: distribuição e
1996. Rio de Janeiro. evolução (1974-2003). Revista de Saúde Públi-
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ca, v. 39, n. 4, p. 530-540.
E ESTATÍSTICA (2004). Pesquisa de Orçamento LUCHINI, L.; VIEIRA, E. (2009). Resíduos de agro-
Familiar (POF) 2002/2003. Análise da disponibi- tóxicos em água e sedimento. Relatório Projeto
lidade domiciliar de alimentos e do Estado Nutri- AGROAGUA – FAPESP. São Paulo: FAPESP, 2009.
cional no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE. (mimeo)
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA MACHADO, C. T. T.; MACHADO, A. T. (2002).
E ESTATÍSTICA (2006a). Pesquisa Nacional de Agricultura urbana. Documentos 48. Planal-
Mostra de Domicílios (PNAD): Segurança Ali- tina, DF: Embrapa Cerrados. Disponível em:
mentar 2004. Rio de Janeiro: IBGE. <w w w.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E bitstream/doc/565842/1/doc48.pdf>. Acesso:
ESTATÍSTICA (2006b). Pesquisa de Orçamento 9 nov. 2019
Familiar (POF) 2002/2003: Medidas antropo- MAPA – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁ-
métricas de crianças e adolescentes. Comuni- RIA E ABASTECIEMNTO; IBAMA – INSTITUTO
cação social. Rio de Janeiro: IBGE. BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECUR-
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA SOS NATURAIS RENOVÁVEIS; ANVISA – AGÊN-
E ESTATÍSTICA (2009). Censo Agropecuário de CIA NACIONAL DE VIGILÂNIA SANITÁRIA (2010).
2006. Rio de Janeiro. Instrução Normativa Conjunta nº 1, de 23 de
fevereiro de 2010, culturas com suporte fitossa-
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA nitário insuficiente [revogada].
E ESTATÍSTICA (2010). Pesquisa de Orçamento
MAPA – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁ-
Familiar (POF) 2008/2009: Antropometria e
RIA E ABASTECIEMNTO; IBAMA – INSTITUTO
Estado Nutricional de Crianças, Adolescentes
BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECUR-
e Adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE.
SOS NATURAIS RENOVÁVEIS; ANVISA – AGÊN-
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA CIA NACIONAL DE VIGILÂNIA SANITÁRIA (2014).
E ESTATÍSTICA (2017). Censo Agropecuário Instrução Normativa Conjunta nº 1, de 16 de
96 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

junho de 2014, culturas com suporte fitossanitá- MORAES J. F. L.; CARVALHO, J.P. (2006). Carac-
rio insuficiente. terização e evolução do uso das terras na sub-
-bacia hidrográfica Tietê-Cabeceiras. In: Serviço
MAPA – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁ-
Ambiental da Agricultura: Alto Tietê – Região
RIA E ABASTECIEMNTO (2019). Cadastro Nacio-
metropolitana de São Paulo. Artigos NEGO-
nal de Produtores Orgânicos (2019). Disponível
WAT/APTA. Yara M. C. Carvalho (ed), p. 25-36.
em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/
sustentabilidade/organicos/arquivos-organicos/ MOUGEOT, L. J. A. (2000). Urban agriculture:
copy_of_CNPO_MAPA_30_11_2019.xlsx>. Aces- definition, presence, potentials and risks. In:
so: 9 nov. 2019. ZEEUW, H. et al. (Eds.). Growing cities, growing
food: urban agriculture on the policy agenda.
MARUYAMA, L. S. (2007). A pesca artesa-
Alemanha: DSE, p. 1-42.
nal no Médio e Baixo Rio Tietê (São Paulo,
Brasil): Aspectos estruturais, sócio-econô- MS – MINISTÉRIO DA SAÚDE (2006). Secretaria
micos e de produção pesqueira. São Paulo: de Atenção à Saúde, Coordenação Geral da Polí-
Instituto de Pesca/APTA/SAA-SP. Dissertação tica de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar
de Mestrado. para a população brasileira: promovendo a ali-
mentação saudável. Brasília, DF. Série A. Nor-
MATARAZZO-NEUBERGER, W. M. (1994). Guil-
mas e manuais técnicos. Disponível em: <http://
das, organização e estrutura da comunidade:
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_ali-
análise da avifauna da Represa Billings, São
mentar_populacao_brasileira_2008.pdf>. Aces-
Paulo. São Paulo: Instituto de Biociências, Univer-
so: 8 nov. 2019.
sidade de São Paulo. Tese de Doutorado, p. 174.
O ECO (2009). Da horta urbana para o pra-
MCELDOWNEY, S.; HARDMAN, D. J.; WAITE, S.
to. Disponível em: < https://www.oeco.com.br/
(1993). Pollution: Ecology and Biotreatment.
reportagens/20834-da-horta-urbana-para-o-pra-
Malaysia: Addison Wesley Longman.
to/>. Acesso: 8 nov. 2019.
MDS – MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO
OSASCO AGORA (2010). Projeto de agricul-
SOCIAL. Portaria nº 467, de 7 de fevereiro de
tura urbana de Osasco participa de evento
2018. Institui o Programa Nacional de Agricultura
internacional no Rio de Janeiro. Disponível
Urbana e Periurbana.
em: <https://www.osascoagora.com.br/projeto-
MENEZES, F. (2010). Pobreza e Desigualdade: -de-agricultura-urbana-de-osasco-participa-de-
Avanços e Desafios. In: Políticas sociais para o -evento-internacional-no-rio-de-janeiro/>. Data
desenvolvimento: superar a pobreza e promo- de publicação: 24.03.2010. Acesso: 8 nov. 2019.
ver a inclusão; Simpósio Internacional sobre
OSASCO (2019). Projeto Agricultura Urbana
Desenvolvimento Social. Org: Maria Francisca
de Osasco oferece produtos diferenciados
Pinheiro Coelho, Luziele Maria de Souza Tapa-
e preços convidativos. Disponível em: <http://
jós e Monica Rodrigues. Brasília: Ministério do
www.osasco.sp.gov.br/noticias/projeto-agricultu-
Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
ra-urbana-de-osasco-oferece-produtos-diferen-
UNESCO, p. 155-169.
ciados-e-precos-convidativos>. Publicada em:
MINGIONE, E. (Org.). (1999). Urban Poverty and 18.03.2019. Acesso: 8 nov. 2019.
the Underclass. New York: Blackwell.
OTANI, M. N. (2010). Estratégias de reprodu-
MINTE-VERA, C. V. (1997). A pesca artesanal no ção social em áreas periurbanas: os produto-
reservatório Billings (São Paulo). Campinas: res de vinho artesanal comercial em Jundiaí.
Instituto de Biologia, UNICAMP. Dissertação de Faculdade de Engenharia Agrícola, Universi-
Mestrado, p. 86. dade de Campinas. Dissertação de Mestrado.
Campinas.
MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (2019).
Cadastro Nacional de Unidades de Conser- OTANI, M. N.; FREDO, C. E.; RAMOS, R. C. (2012).
vação. Disponível em: <https://www.mma.gov. Circuito das Frutas Paulista: caracterização
br/areas-protegidas/cadastro-nacional-de-ucs>. socioeconômica. Informações Econômicas, v.
Acesso: 7 nov. 2019. 42, n. 3.
MONFREDA, C.; WACKERNAGEL, M.; DEUMLING, PANZUTTI, N. P. (2003). Impactos socioambien-
D. (2004). Establishing national natural capital tais na Estação Ecológica Juréia-Itatins, Esta-
accounts based on detailed ecological footprint do de São Paulo. Agricultura em São Paulo, v. 50,
and biological capacity assessments. Land Use n. 1, p. 73-92.
Policy, v. 21, n. 3, p. 231-246.
PANZUTTI, N. P. (2002). Agricultura Familiar em
MONTEIRO, C. A. et al. (2009). Causas do declínio Itinguçu – Estação Ecológica Juréia-Itatins,
da desnutrição no Brasil, 1996-2007. Revista de São Paulo. São Paulo: Humanitas/CERU, n9, p.
Saúde Pública, v. 43, n. 1, p. 35-43. 11-27.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 97

PASTERNAK, S. (2011). O Estado de São Pau- diretrizes políticas para sua promoção: iden-
lo no Censo 2010. Rio de Janeiro: Observatório tificação e caracterização de iniciativas de
das Metrópoles, Instituto Nacional de Ciência e AUP em regiões metropolitanas brasileiras.
Tecnologia. Belo Horizonte: FAO/MDS.
PINO, F. A. et al. (1997). Censitário de Unidades SANTOS, M. (1996). Por uma Geografia Nova.
de Produção Agrícola do Estado de São Paulo. Hucitec, São Paulo.
São Paulo: IEA/CATI/SAA, v. 4, 1997.
SÃO BERNARDO DO CAMPO (2017). Prefeitura
PINTO, L. P. S. et al. (2006). Mata Atlântica Brasi- de São Bernardo inaugura Horta Urbana na
leira: os desafios para a conservação da biodiver- Vila Vivaldi. Disponível em: <http://www.saober-
sidade de um hotspot mundial. In: ROCHA, C. F. D.; nardo.sp.gov.br/home/-/asset_publisher/YVwa-
BERGALLO, H. G.; VAN SLUYS, M.; ALVES, M. A. H6UqAMbt/content/prefeitura-de-sao-bernardo-
S. (Org). Biologia da conservação: essências. -inaugura-horta-urbana-na-vila-vivaldi/maximize
São Carlos: RiMa, p. 91-118. d?inheritRedirect=false>. Acesso: 8 nov. 2019.
PIRES, R. C. M. et al. (2000). Manejo da irrigação SÃO PAULO (Estado) (1991). Lei nº 7.663, de 30
em hortaliças. Horticultura Brasileira. Brasília, v. de dezembro de 1991. Estabelece normas de
18, p. 147-158. orientação à Política Estadual de Recursos Hídri-
REES, W. E. (2002). Globalization and sustainability: cos, bem como ao Sistema Integrado de Geren-
conflict or convergence? Bulletin of Science, ciamento de Recursos Hídricos.
Technology and Society, v. 22, n. 4, p. 249-268. SÃO PAULO (Estado) (1998). Lei nº 10.019, de 3
REES, W.; WACKERNAGEL, M. (1996). Urban eco- de julho de 1998. Dispõe sobre o Plano Estadual
logy footprints: why cities cannot be sustainable de Gerenciamento Costeiro, e dá outras provi-
- and why they a key to sustainability. Environmental dências. Disponível em: <http://licenciamento.
Impact Assessment Review. Springer US, p. 223- cetesb.sp.gov.br/legislacao/estadual/leis/1998_
248, 1996. Lei_Est_10019.pdf>. Acesso 10 fev. 2010.

REES W. E. (1992). Ecological Footprints and SÃO PAULO (Estado) (2006a). Lei nº 12.233, de
appropriated carrying capacity: what urban 16 de janeiro de 2006. Define a Área de Proteção
economics leaves out. Environmentand e Recuperação dos Mananciais da Bacia Hidro-
Urbanization. Nottingham, v.4, p. 121-130. gráfica do Guarapiranga.

ROCHA, A. A. (1984). A ecologia e os aspectos SÃO PAULO (Estado) (2006b). Decreto nº


sanitários e a saúde pública da Represa Billin- 51.686, de 16 de janeiro de 2006. Regulamenta
gs. Uma contribuição a sua recuperação. São dispositivos da Lei Estadual nº 12.233, de 16 de
Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade janeiro de 2006 – Lei Específica Guarapiranga,
de São Paulo. Tese de Livre Docência, p. 166. que define a Área de Proteção e Recuperação dos
Mananciais da Bacia Hidrográfica do Guarapiran-
RODRIGUES, E. A.; VICTOR, R. A. B. M.; BARRA- ga – APRM-G.
DAS; A. M. F. (2020). Um cinturão de vida ao
redor de São Paulo. In: RODRIGUES, E. A., et al. SÃO PAULO (Estado) (2008). Decreto nº 53.526,
Serviços Ecossistêmicos e Bem-Estar Humano na de 8 de outubro de 2008. Cria a Área de Pro-
RBCV. Instituto Florestal: São Paulo. teção Ambiental Marinha do Litoral Centro, e dá
providências correlatas.
RUAF FOUNDATION (2019). Revista de Agricul-
tura Urbana. Disponível em: <https://www.ruaf. SÃO PAULO (Estado). (2013a). Decreto nº 58.996,
org/revista-de-agricultura-urbana>. Acesso: 28 de 25 de março de 2013. Instituiu o Zoneamento
nov. 2019. Ecológico-Econômico do Setor da Baixada San-
tista e dá providências correlatas.
SAA – SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABAS-
TECIMENTO (2008). Coordenadoria de Assistên- SÃO PAULO (Estado). (2013b). Lei nº 14.982, de
cia Técnica Integral. Instituto de Economia Agrí- 8 de abril de 2013. Altera os limites da Estação
cola. Levantamento Censitário das Unidades Ecológica da Jureia-Itatins, na forma que especi-
de Produção Agropecuária do Estado de São fica, e dá outras providências.
Paulo – LUPA 2007/2008. São Paulo: SAA/CATI/
SÃO PAULO (Estado). (2018). Lei nº 16.685, de 19
IEA. 2008. Disponível em: <www.cati.sp.gov.br/
de março de 2018. Institui a Política Estadual de
projetolupa/>. Acesso em: 29/05/09 e 20/09/2009.
Agroecologia e Produção Orgânica – PEAPO, e dá
SAES, L. A. (2001). Bananicultura no Vale do outras providências.
Ribeira. In: Simpósio Brasileiro sobre Banani-
SÃO PAULO (Município) (2004). Lei nº 13.727, de
cultura. Jaboticabal: Funep, p. 1-17.
12 de janeiro de 2004. Cria o Programa de Agri-
SANTANDREU, A.; LOVO, I. C. (2007). Panorama cultura Urbana e Periurbana no município de São
da agricultura urbana e periurbana no Brasil e Paulo e define suas diretrizes.
98 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

SEAE – SOCIEDADE ECOLÓGICA AMIGOS DE TUR.SP - Companhia Paulista de Eventos e Turis-


EMBU (2015). Colhendo Sustentabilidade. Dis- mo S/A; (2019). Banco de Imagens do Estado de
ponível em: <http://seaembu.org/seae/colhendo- São Paulo. Disponível em: <http://bancodeima-
-sustentabilidade/>. Acesso: 8 nov. 2019. gens.expressaostudio.com.br/bncTur/>. Acesso:
11 nov. 2019.
SEBRAE – SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (1999). Análise UENO, L. H. (1985). O Deslocamento do Cintu-
de Negócios: Restaurante Self-Service. 1999. rão Verde de São Paulo no Período de 1973
SEMINÁRIO GUARAPIRANGA (2006). Proposi- a 1980. Piracicaba: ESALQ-USP. Dissertação de
ção de ações prioritárias para garantir água Mestrado, p. 193.
de boa qualidade para abastecimento público UENO, L. H. (1989). Estudo sobre alterações na
[organizadoras Marussia Whately e Pilar Cunha]. localização do Cinturão Verde de São Paulo, no
São Paulo: Instituto Socioambiental. Período 1979-84. Agricultura em São Paulo, São
SENDACZ, S. et al. (2005) Sistema em Cascata: Paulo, v. 36, n. 2, p. 97-145.
Concentrações e cargas de nutrientes no siste- URB-AL – PROJETO POLÍTICAS E AÇÕES MUNI-
ma produtor Alto Tietê, São Paulo. In: Ecologia de CIPAIS DE SEGURANÇA ALIMENTAR. Meio
Reservatórios: Impactos potenciais, ações de Ambiente e Produção de Alimentos: São Ber-
manejo e sistemas de manejo. RIMA, São Carlos. nardo do Campo (dados de 2004). Disponí-
SHS Consultoria e projetos de Engenharia (2007). vel em: <http://www.urbal.piracicaba.sp.gov.br/
Situação dos Recursos Hídricos da Bacia Espanhol/levantamentodea%E7%F5es/questio-
Hidrográfica da Baixada Santista – Relatório. nariodiscursivo/questionario_saobernardo.htm>.
Acesso: 8 nov. 2019.
SILVA, R.T. (2008). Total urban water management
in São Paulo, Brasil: a case of on going experiences VAN DEN BERGH J. C. J. M.; VERBRUGGEN H.
on applied research and public policy. Tempe, (1999). Spatial sustainability, trade and indica-
Arizona, Arizona State University, UGEC View tors: an evaluation of the "ecological footprint".
points/N 1. Boletim Técnico. Disponível em: Ecological Economics, v. 29, n. 1, p. 61-72.
<https://d3dqsm2futmewz.cloudfront.net/docs/
VAN VUUREN D. P.; SMEETSE. M. W. (2000). Eco-
ugec/viewpoints/ugec-viewpoints-1.pdf>. Acesso:
logical Footprints of Benin, Bhutan, Costa Rica
9 nov. 2019.
and the Netherlands. Ecological Economics, v.
SILVEIRA, M. A. T. da. (2001). Política de turis- 34, n. 1, p.115-130.
mo: oportunidades ao desenvolvimento local. In:
RODRIGUES, A. B. (Org.). Turismo rural: práti- VIANA, M.M.; SABIO, R.P. (2009). Food Service:
cas e perspectivas. São Paulo: Contexto. (Cole- Quem come fora, come mais hortifrutis. Hortifru-
ção Turismo Contexto). ti Brasil, Ano 7, n. 78, abri-2009, p. 6-13, CEPEA
– ESALQ/USP. Disponível em: <https://www.
SIQUEIRA, G. W.; BRAGA, E. S. (2001). Estudo dos hfbrasil.org.br/br/revista/acessar/food-service-
teores de Hg na fração fina do sedimento: uma -quem-como-fora-come-mais-hortifrutis.aspx>.
visão ambiental com aplicação de normalizantes Acesso: 8 nov. 2019.
geoquímicos para as regiões estuarina de San-
tos/São Vicente e baía de Santos. In: Anais do VERDI, A. R. et al. (2007). Revitalização da Cadeia
VIII Congresso Brasileiro de Geoquímica & I Vitivinícola Paulista. Instituto de Economia Agrí-
Simpósio de Geoquímico do Mercosul, Curiti- cola. Análise e Indicadores do Agronegócio,
ba/PR. Cd-Room. São Paulo, v. 2, n. 1.

SOUZA, J. L.; PEREIRA, V. A.; PREZOTTI, L. C. VICENTE, M. C. M. et al. (2004). Uso do solo
(2010). Monitoramento da fertilidade de solos no rural e indicadores sócio econômico nas sub-
cultivo orgânico de hortaliças durante 20 anos. -bacias de Tietê Cabeceiras e Guarapiranga.
Horticultura Brasileira, v. 28, n. 2, p. S2803-2810. In: Negowat Project Report.
TORRES, H. da G.; MARQUES, E. (2004). Políticas VICTOR et al. (2011). Reserva de la Biosfera del
Sociais e Território: Uma Abordagem Metropoli- Cinturón Verde de la ciudad de São Paulo: Revi-
tana. São Paulo em Perspectiva, v. 18, n. 4, p. sion del processo de zonificacion - Fase II /
28-38. 2018. In: Programa de Cooperacion Sur-Sur.
Documentos de trabajo n. 40, UNESCO, Paris,
TUNDISI, J. G.; MATSUMURA-TUNDISI, T.; ROCHA,
Francia.
O. (1999). Limnologia de águas interiores. Impac-
tos, conservação e recuperação de ecossistemas VOLLET, D. (2002). Les Chalreis de la multifonc-
aquáticos. In: REBOUÇAS, A. C.; BRAGA, B.; TUN- tionnalité. Multifinctionnalité et territoires: justi-
DISI, J. G. (eds). Águas Doces no Brasil. Capital fications et modalités de la territorialisation des
Ecológico, uso e conservação. São Paulo: Escritu- politiques publiques. Dispositif lnra-Cemagref-
ras Editora, p. 195-223. -Cirad. Les Cahiers de la multifonctionnalité.
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 99

WACKERNAGEL, M.; REES, W. (1996). Our Eco- WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION.(2003).
logical Footprint: Reducing Human Impact Diet, nutrition and prevention of chronic diseases.
on the Earth. Gabriola Island, BC: New Society Report of joint WHO/FAO expert consultation.
Publishers. Geneva.
WADA Y. (1999). The Myth of "Sustainable WINTER, E. J. (1984). A água, o solo e a planta:
Development": The Ecological Footprint of aproveitando os recursos naturais de água
Japanese Consumption. PhD Dissertation Van- para a horticultura. 2 ed. São Paulo: Nobel.
couver BC, The University of British Columbia, WORLD FOOD SUMMIT. (1996) Rome Declara-
School of Community and Regional Planning. tion on World Food Security.
WARREN-RHODES K.; KOENIG A. (2001). Ecosys- YOKOO, E. M. et al. (2008). Proposta metodológi-
tem appropriation by Hong Kong and its implica- ca para o módulo de consumo alimentar pessoal
tions for sustainable development. Ecological na pesquisa brasileira de orçamentos familiares.
Economics, Elsevier, v. 39, n. 3, p. 347-359. Revista de Nutrição, v. 21, n.6, p. 767-776.

GLOSSÁRIO
A B
Abióticas | Denominam-se fatores abióticos Biocapacidade | O suprimento ecológico, ou a bio-
todas as influências que os seres vivos possam capacidade da área terrestre, é igual à produção
receber em um ecossistema, derivadas de aspec- máxima de um recurso renovável por unidade de
tos físicos, químicos ou físico-químicos, como a área. Uma maneira de medir a biocapacidade é atra-
luz, o vento e etc. vés da produção primária (PP) da unidade espacial,
ou a quantidade de biomassa por unidade de área.
Ações antrópicas | Ações relativas à humanida-
de, à sociedade humana, à ação do homem. Biomassa | É o peso total de todos os organis-
mos vivos de uma ou várias comunidades, por
Agricultura familiar | Corresponde a uma uni-
uma unidade de área.
dade de produção agrícola onde a propriedade
e trabalho estão intimamente ligados à família. Bióticos | Denominam-se fatores bióticos todos
A decisão de investir está fundamentalmente os efeitos causados pelos organismos em um
baseada no bem-estar da família (LAMARCHE, ecossistema que condicionam as populações que
1993). Um possível indicador para sua clas- os formam.
sificação estatística relaciona maior número
Bioturbação | É revolvimento ou agitação do
de horas de trabalho da família em relação à
sedimento, sendo causado por seres vivos.
contratada.
Agricultura orgânica | Na agricultura orgânica
não é permitido o uso de substâncias que colo-
C
quem em risco a saúde humana e o meio ambien- Carbofenotiona | Acaricida não sistêmico com
te. Não são utilizados fertilizantes sintéticos solú- ação residual.
veis, agrotóxicos e transgênicos. Carbono inorgânico | A principal forma inorgâ-
Agricultura urbana | Pode ser definida como o nica do carbono é o gás carbônico ou CO2. Suas
cultivo e a criação animal dentro e ao redor das origens no meio aquático são: atmosfera, chuva,
cidades. O aspecto mais importante que distingui água subterrânea, decomposição e respiração de
a agricultura urbana em relação à rural, é que é organismos.
integrada ao sistema ecológico e econômico da Cialotrina lambda | Inseticida concentrado e
cidade (RUAF, 2019). emulsionável, indicado para o combate de mos-
Agroecologia | A Agroecologia se institui pela cas, formigas, borrachudos, mosquitos, baratas,
incorporação de uma dimensão ecológica à pro- cupins, aranhas, escorpiões, percevejos, pulgas
dução agropecuária e se estabelece pela contra- e carrapatos.
posição aos princípios da agricultura moderna. Cianobactérias | São bactérias que obtêm ener-
Atividade primária | O setor primário está rela- gia através da fotossíntese, conhecidas popular-
cionado a produção através da exploração direta mente como algas-azuis.
e recursos da natureza. Inclui a agricultura, a pes- Cipermetrina | É uma substância do grupo dos
ca, pecuária e a mineração. piretróides (substâncias sintéticas derivadas da
Atazoxistrobina | Fungicida de amplo espec- piretrina natural) e possui classificação toxicoló-
trum usado contra fungos em frutas e verduras. gica nível II (altamente tóxico). É fotoestável, não
100 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

se degradando com a luz solar. Como muitos pire- D


tróides é um inseticida e acaricida de ação muito
ampla. Daphnias sp. | Pequeno crustáceo de água doce
que se alimenta de algas e é o alimento preferi-
Clorpirifós | É um insecticida cristalino da clas- do de várias espécies de peixes. O nome vulgar,
se dos organofosforados que inibe a transmissão “pulga de água”, resulta do seu tipo de locomo-
dos receptores do sistema nervoso. É utilizado ção, em pequenos saltos, provocado pelo movi-
para controlar vários tipos de insetos praga e é mento do segundo par de antenas. É muito utili-
conhecido por vários nomes de marca regista- zada em testes toxicológicos para avaliação dos
da. O Clorpirifós é moderadamente tóxico e já foi efeitos de agentes químicos de efluentes urbanos
atribuído ao uso deste químico efeitos neuroló- e industriais.
gicos, atrasos e problemas no desenvolvimento
de crianças, assim como problemas no sistema Defeso | É a época em que a pesca fica proibida
auto-imune. Em 2001 nos EUA a empresa DOW ou controlada, normalmente vinculada a época
voluntariamente abdicou da licença para uso de reprodução ou desova.
doméstico, pois assim reduziria o risco de crian- Dicrotofós | É um organofosfato usado como
ças serem expostas ao inseticida. inseticida.

E
Clorotalonil | É um composto orgânico usado
principalmente como um fungicida não sistêmico
de largo espectro. Ecotoxicológicos | Resultado de testes de toxi-
cidade com organismos, também chamados de
Coeficiente de exportação de cargas poluen-
bioensaios. São testes feitos em laboratório que
tes | São indicadores obtidos através de modelos
determinam o grau e efeito biológico de uma
como o de correlação de uso do solo/qualidade
substância desconhecida ou de uma substância
da água (MQUAL) desenvolvido pela Secretaria
teste (como drogas, hormônios, químicos, etc)
do Meio Ambiente de São Paulo para a bacia do
sobre indivíduos, populações e comunidades de
Guarapiranga.
organismos.
Consertação | Acordo entre diferentes atores,
Eutrofização | É um processo normalmente de
por exemplo, governo e parceiros sociais (sindi-
origem antrópica (provocado pelo homem), ou
cato, associações profissionais ou de moradores,
raramente de ordem natural, tendo como princí-
etc) para identificação de propostas que possam
pio básico a gradativa concentração de matéria
promover objetivos comuns.
orgânica acumulada nos ambientes aquáticos.
Cromatografia gasosa | É uma técnica para
separação e análise da mistura de substâncias F
voláteis e tem como objetivo a identificação de
Fatores bióticos | São fatores/efeitos causa-
substâncias, a separação e a purificação de mis-
dos por seres vivos dentro de um determinado
turas usando propriedades como solubilidade,
ecossistema.
tamanho e massa. Acontece pela passagem de
duas fases: uma estacionária (fixa) e outra móvel. Fatores abióticos | São fatores/efeitos que não
A amostra é vaporizada e introduzida em um fluxo são causados por seres vivos podendo ter origem
de gás adequado denominado de fase móvel ou no meio físico, químico ou físico-químico.
gás de arraste. Este fluxo de gás com a amostra Fatores de equivalência | O fator de equivalên-
vaporizada passa por um tubo contendo a fase cia (Feq) é um número utilizado para realizar a
estacionária onde ocorre a separação da mistura. conversão da massa do sal ou éster para a massa
Cultivo mínimo | É um sistema de cultivo situa- da base ou do fármaco hidratado para o anidro.
do entre o sistema convencional e o plantio direto. A conversão é uma forma de compensação, uma
O uso de máquinas é mínimo para garantir o vez que as substâncias apresentam pesos mole-
menor revolvimento do solo. culares diferentes.
Curva de nível | Na agricultura, curva de nível é Florações de microalgas | As microalgas são
um procedimento de cultivo, baseando-se nas fra- importantes constituintes da base da cadeia
ções altimétricas do território em questão. As cur- alimentar de ambientes aquáticos. No entanto,
vas auxiliam na retenção dos componentes solú- em situações específicas como no caso de uma
veis do solo, possibilitando o aumento da produção. floração nociva (maré vermelha), as microalgas
A água das chuvas, ao se deparar com as frestas podem ter efeitos deletérios que afetam ativida-
e as plantas, não escoa e penetra no solo, deixan- des como navegação, pesca, maricultura, recrea-
do-o molhado e impedindo a lixiviação e a erosão. ção, qualidade de águas e saúde pública, assim
O PRODUTOR E O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE PROVISÃO DE ALIMENTOS 101

como a própria biota aquática. Há um aumento Metamidofós | Proibido no Brasil desde


crescente da incidência e duração de florações 30/06/2012 por prejudicar o desenvolvimento
nocivas, em escala global. embriofetal. É tóxico para o sistema endócrino e
reprodutor.
Fosalona | Ingrediente ativo do grupo dos orga-
nofosforados. É inseticida e acaricida. Mineralização | É o processo onde uma subs-

G
tância orgânica é convertida em uma inorgânica.
Minorcrops | Culturas de suporte fitossanitário
Glifosato | Herbicida sistêmico não seletivo insuficiente para as quais prevalece a falta ou
(mata qualquer tipo de planta) desenvolvido para número insuficiente de agroquímicos registrados
matar ervas, principalmente perenes. É o ingre- para o manejo e controle de pragas e doenças.
diente principal do Roundup, utilizado em produ-
tos geneticamente modificados. O
Glufusinato | Ingrediente ativo derivado de ami- Organismos aquáticos-alvo | Qualquer espécie
noácido. Herbicida e controlador do crescimento. ou subespécie de um organismo aquático susce-

I
tível de ser prejudicial ao ambiente aquático que é
objeto de introdução ou translocação, com exclu-
Ictiofauna | É o conjunto das espécies de peixes são dos organismos patogênicos.
que existem em uma determinada região biogeo- Organoclorados | Os inseticidas subdividem-
gráfica. Pode referir-se, por exemplo, à ictiofauna -se em três amplos grupos, que são os organo-
da Represa Billings. clorados, os organofosforados e carbamatos e as
Isobata | É uma linha imaginária que une pontos piretrinas. Os organoclorados são os agrotóxicos
do mar com a mesma que persistem por mais tempo no ambiente, che-
gando a permanecer por um período de 30 anos.
L A absorção desse agente se dá pela mucosa oral,
respiratória e pele, alcançando o sistema nervoso
Lótico (ecossistema) | É aquele cuja a água central e periférico. Estes são responsáveis por
é corrente, como por exemplo, rios, nascentes, causar câncer e, por esse motivo, seu uso foi eli-
ribeiras, e riachos. Esse ecossistema tem como minado em diversos países.
características o movimento, o contato água e
terra e o teor de oxigênio propício a organismos Organofosforados e carbamatos | São inseti-
aquáticos. cidas amplamente utilizados na atualidade e tam-
bém apresenta absorção pela via oral, respirató-
Lêntico (ecossistema) | É aquele ambiente onde ria e dérmica.
a água é parada na maior parte do tempo, que não
correm ou fluem. Compreende todas as águas Outorga da água | A Política Nacional de Recur-
interiores, como os lagos, lagoas e pântanos. sos Hídricos define seis instrumentos de política,
entre eles a outorga que é um ato administrativo,
M de autorização ou concessão do Poder Público a
um interessado a fazer uso da água por determi-
Macronutriente | São nutrientes necessários nado tempo, finalidade e condição.
ao organismo em grandes quantidades, como os
carboidratos, proteínas e gorduras. Constituem a
maior parte na dieta e fornecem energia e compo-
P
nentes fundamentais para o crescimento e manu- Pecuária extensiva | Criação de gado usando
tenção do corpo. tecnologias que permitam o aumento da produti-
vidade como a manipulação genética e a insemi-
Mal de Sigatoka | Doença causada pelos fun-
nação artificial.
gos Mycosphaerella musicola ou Pseudocercospo-
ra musae. Pegada ecológica | O conceito de Pegada Eco-
lógica traduz-se como a área de terra ou água que
Método de espera | Consiste na utilização de
seria necessária para dar suporte a uma popula-
redes de emalhar, que são armadas nos locais
ção humana definida e seu padrão de consumo e
de pesca, onde ficam a “espera” dos peixes, que
absorção de resíduos indefinidamente (WACKER-
ficam presos em sua malha. Como as redes ficam
NAGEL; REES, 1996).
estáticas nos locais durante este tempo, o méto-
do é considerado como um método passivo de Perfil antropométrico-nutricional | As técni-
pesca. cas da antropometria (estudo das dimensões e
102 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

das partes do corpo humano) podem ser utiliza- água. O tamanho das malhas pode variar dependo
das como ferramenta para avaliar o estado nutri- da espécie ou do tamanho do peixe a ser capturado.
cional de um indivíduo. A antropometria nutri-
cional, portanto, é um indicador direto do estado S
nutricional obtido através da verificação do peso,
estatura, as pregas cutâneas e as circunferên- Sobre-exploração | Ou sobre-explotação ou so-
cias, por exemplo. bre carga. É quando uma ou mais espécies são cap-
turadas ou retiradas de seu habitat em quantidade
Pesca da batida | Pesca direcionada à captu- maior que a sua capacidade de suporte, compro-
ra de tilápias. Consiste na utilização de redes de metendo esse recurso para as gerações futuras.
emalhar que são armadas próximas às margens
do rio ou represa, formando um cerco. Dentro T
deste cerco o pescador embarcado, com o auxílio
de um soquete bate na água espantando os pei- Terraceamento | É uma técnica agrícola de
xes que vão de encontro com a rede armada. É conservação do solo, usado para controlar a
considerado um método ativo, devido a interven- erosão hídrica e a formação de sulcos, em ter-
ção da batida na captura. renos muito inclinados. Consiste na criação de
terraços nivelados construídos para parcelar o
Petrechos de pesca | São equipamentos utiliza- declive.
dos para a captura de peixes ou para a catação
de crustáceos, ostras e mexilhões. Trade off | Ocorre quando a extração ou uso de
um serviço ecossistêmico tem impacto em outro.
Plantas exóticas | São as que não são encontra- Este impacto pode ser positivo ou negativo (ASH,
das na flora original local. 2010).
Princípio ativo | Ou fármaco é a molécula de Trofia | Sufixo nominal de origem grega, que
uma planta responsável pelo efeito terapêutico. exprime a ideia de desenvolvimento, nutrição.

R V
Rede de emalhar | Apetrecho de pesca com- Vermifugação | É o tratamento para eliminar
posta de uma rede com bóias na parte superior e os vermes, parasitos internos, que prejudicam
chumbadas na parte inferior da rede, permitindo o crescimento e o desenvolvimento dos animais
que a rede se mantenha esticada verticalmente na hospedeiros.
PARTE 1
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS DE PROVISÃO

1.2 RECURSOS FLORESTAIS


MADEIREIROS E DERIVADOS

Coordenadores
Francisco José do Nascimento Kronka | IF/SIMA
Edgar Fernando de Luca | IF/SIMA

Autores
Francisco José do Nascimento Kronka | IF/SIMA
Edgar Fernando de Luca | IF/SIMA
Ciro Koiti Matsukuma | IF/SIMA
Elaine Aparecida Rodrigues | IF/SIMA - IPEN/USP
Leni Meire Pereira Ribeiro Lima | IF/SIMA
Luis Alberto Bucci | IF/SIMA
Marina Mitsue Kanashiro | IF/SIMA
Reinaldo Herrero Ponce | FF/SIMA
Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor | FF/SIMA
104 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto de abertura do capítulo:


Colheita de madeira de
reflorestamento.
Fonte: Acervo IF (2005).
SUMÁRIO

............................................................................................................... 107
Resumo .....

1 | Introdução...................................................................................................... 108

2 | O serviço de provisão de recursos florestais - as florestas no mundo e o


setor florestal no Brasil.................................................................................. 108

3 | A estrutura fundiária e as florestas plantadas na RBCV................................ 110

4 | Produtos madeireiros e derivados produzidos no território da RBCV............. 114

5 | Valoração dos produtos madeireiros e derivados produzidos na RBCV......... 117

6 | Serviços ecossistêmicos em florestas plantadas e sua relação com a RBCV 119

Conclusões........................................................................................................... 125

Referências........................................................................................................... 125

Glossário.............................................................................................................. 127
106 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 Distribuição da superfície mundial de florestas nativas e plantadas (plantação e outras
florestas).
Figura 2 Proporção de espécies exóticas e nativas nas plantações florestais, por região, em 2020.
Figura 3 A cadeia produtiva do setor florestal brasileiro.
Figura 4 Distribuição de florestas plantadas com os gêneros Eucalyptus spp e Pinus no território da
Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo – RBCV.
Figura 5 Produção florestal (2008-2017): carvão vegetal (milhar ton) RBCV e estado de São Paulo
(A); lenha (milhão m3) RBCV e estado de São Paulo (B); madeira em tora (milhão m3), para
celulose e outras finalidades, RBCV e estado de São Paulo (C). Utilização de Eucalyptus,
Pinus e outras espécies (2013-2017): carvão vegetal (milhar ton) RBCV e estado de São
Paulo (D); lenha e madeira em tora (milhão m3) RBCV (E) e estado de São Paulo (F).
Figura 6 Grau relativo de fornecimento de serviços ecossistêmicos de florestas nativas, seminaturais,
plantadas e árvores isoladas.
Figura 7 Transformação urbana em Cajamar: Reflorestamentos (2003) cedem lugar para centros de
distribuição (2020).
Figura 8 Prováveis consequências sobre o bem-estar humano dos serviços ecossistêmicos afetados
pela crise hídrica.

QUADRO
Quadro 1 Crise hídrica e produção florestal na RBCV

TABELAS
Tabela 1 Tamanho, quantidade de propriedades rurais e total de suas ocupações (ha) no Brasil, no
estado de São Paulo e no território da RBCV.
Tabela 2 Área (ha) ocupada por Eucalyptus spp e Pinus spp nos municípios que compõem a RBCV,
em suas respectivas Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Tabela 3 Produção e valor agregado de carvão, lenha e madeira em tora no território da RBCV
(média do decênio 2008-2017).
Tabela 4 Serviços ecossistêmicos de florestas plantadas: beneficiários, escala de provisão, unidades
de medida dos benefícios e comparação de serviços ecossistêmicos de florestas
intensivamente manejadas com outros ecossistemas nativos e modificados.
Tabela 5 Impactos do período de estiagem 2013-2015 na produção madeireira, vulnerabilidade
a incêndios e a pragas/doenças e impacto econômico em quatro grandes empresas

SIGLAS
florestais com plantios nas bacias de abastecimento da cidade de São Paulo e vizinhanças.

CBH Comitê de Bacia Hidrográfica


ha hectare
IBÁ Indústria Brasileira de Árvores
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations | Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação
PIB Produto Interno Bruto
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
SNIF Sistema Nacional de Informações Florestais
UGRHI Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos
WWF World Wide Fund for Nature
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 107

RESUMO

A humanidade utiliza madeira e outros produtos florestais não madeireiros desde os


primórdios de seu surgimento. A produção de alimentos, a construção naval e civil,
os usos energéticos e, mais recentemente, a urbanização foram causas da drástica redução da
vegetação nativa no planeta. Com vistas à oferta de fontes alternativas de produtos florestais,
o reflorestamento com espécies exóticas surgiu no Brasil no início do século XX, principalmente
com os gêneros Eucalyptus spp e Pinus spp. O Brasil destaca-se com tecnologia de ponta no
cenário mundial da silvicultura com esses gêneros, o que contribuiu significativamente para o
abastecimento dos mercados nacional e internacional nos setores de celulose e papel, energético,
mobiliário e de madeira sólida e reconstituída. Na RBCV existem aproximadamente 107 mil
hectares de reflorestamento com Eucalyptus e Pinus, em área equivalente a cerca de 6% de sua
superfície terrestre. Além da provisão de produtos madeireiros, derivados e não madeireiros, esses
povoamentos florestais prestam outros serviços ecossistêmicos, como conservação de água,
controle de erosão e escorregamentos de solo, amenização climática, redução da concentra-
ção de carbono atmosférico e habitat para biodiversidade. A estocagem de carbono na
RBCV nesses tipos florestais atinge a ordem de 23 milhões de toneladas em equivalente CO2
(C-CO2). A estimativa da taxa anual de remoção de carbono atmosférico, devido ao crescimento
dessas culturas, é de quase seis milhões de toneladas de C-CO2. A RBCV produz cerca de 42%
do carvão vegetal do estado de São Paulo e, para alguns de seus municípios, o valor da produção
florestal é altamente significativo, podendo se aproximar a 9% do PIB municipal. Considerando
a tendência de aumento da urbanização em áreas ambientalmente vulneráveis, esses plantios
exercem papel relevante no controle da expansão urbana e consequente conservação de serviços
ecossistêmicos da RBCV. Entretanto, ultimamente, grandes extensões de áreas reflorestadas
têm sido objeto de especulação imobiliária para conversão em condomínios, expansão urbana
e obras de infraestrutura. Em um cenário hipotético, se todas as áreas reflorestadas da RBCV
fossem urbanizadas, sua mancha urbana aumentaria em quase 35%, ocasionando drásticas
perdas de serviços ecossistêmicos, com impactos negativos ao bem-estar humano.
108 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO envolveria o uso de produtos não renováveis


e potencialmente menos sustentáveis. Neste

A sociedade humana sempre fez uso dos contexto, as florestas plantadas se tornam uma
serviços e produtos da floresta, utilizan- parte cada vez mais importante do patrimônio
do a caça para sua alimentação ou a madeira e florestal mundial, devido à sua alta produtivi-
folhas, para construções de casas e geração de dade e qualidade adequadas ao uso múltiplo de
energia para seus veículos e embarcações pri- seus produtos.
mitivas. Enquanto o crescimento da população Uma proporção substancial das florestas
forçava a domesticação de animais e o cultivo plantadas recentemente estabelecidas envolve
de vegetais para o suprimento de alimentos, o espécies dos gêneros Eucalyptus e Pinus, e exer-
fornecimento de madeira ocorria por meio da ce papel essencial para garantia dos suprimen-
exploração das florestas. tos de produtos madeireiros e não madeireiros
As florestas nativas fornecem habitat exigidos pelo setor econômico. O Brasil, com sua
importante para a biodiversidade mundial. Ao tecnologia de ponta no cenário mundial da silvi-
mesmo tempo, o desmatamento global contínuo cultura, contribui significativamente com o abas-
é uma das maiores preocupações ambientais. tecimento dos mercados nacional e internacional
O crescente aumento do consumo de madei- nos setores de celulose e papel, madeira sólida e
ra e seus derivados para o suprimento das reconstituída e energético, destacando-se como
indústrias de carvão, celulose e papel, painéis, maior exportador de celulose do mundo. Ao mes-
construção de casas, móveis e outros produtos, mo tempo, as florestas plantadas também forne-
colocam em risco as florestas nativas, que são cem habitat importante para a biodiversidade e
insuficientes para atender à grande demanda proporcionam múltiplos benefícios para a socie-
por matéria-prima. dade humana, como fixação de carbono, ciclagem
Nesse contexto surgiram as florestas de nutrientes e redução de incidência de pragas
plantadas, inicialmente para o fornecimento (THOMPSON et al., 2014; IBÁ, 2019).
de lenha – combustível de locomotivas, como Se, por um lado, estas florestas plantadas
aconteceu no Brasil no início do século passa- exercem um papel fundamental na provisão de
do; ou para o suprimento de carvão para a side- produtos florestais, com diminuição da explo-
rurgia, e de madeira, para celulose. ração madeireira nas matas nativas, por outro
A indústria de madeira sólida, por neces- lado, tanto florestas nativas como florestas
sitar de toras de maior diâmetro, continuou plantadas são ameaçadas devido à mudança da
dependendo de matéria-prima das florestas cobertura e uso da terra, incluindo a conversão
nativas, com aproveitamento de toras das der- associada à expansão agrícola e urbanização.
rubadas para liberação de terras para a agro- O processo de mudanças no território devido à
pecuária, ou com cortes seletivos nas matas expansão urbana é bastante intenso na área da
nativas, extraindo as espécies mais apreciadas. RBCV, com tendência futura de continuidade,
Essa situação tornou a indústria madeireira temas estes tratados no presente capítulo.

2 | O SERVIÇO DE PROVISÃO
não sustentável a médio ou longo prazo e compro-

DE RECURSOS FLORESTAIS –
meteu ecossistemas naturais em todo o mundo.
Do mesmo modo que ocorre na Amazônia, outras

AS FLORESTAS NO MUNDO E O
regiões florestais tropicais já atingiram situações

SETOR FLORESTAL NO BRASIL


em que a exploração florestal se tornou insusten-
tável. No Sudeste da Ásia, os grandes exportado-
res de madeira estão diminuindo a produção e
sua participação no mercado. Existem muitos tipos florestais, incluindo
Um caminho para evitar a exaustão das as florestas de ocorrências naturais (nativas)
florestas nativas seria a compatibilização do e aquelas de origem plantada, que apresentam
consumo com um nível de extração sustentá- capacidades diferenciadas de proporcionar
vel, o que exigiria a redução do consumo de serviços ecossistêmicos. E, embora a área total
madeira. Todavia, sua substituição por outros das florestas do mundo abarque cerca de um
materiais tais como plásticos, aço ou concreto terço da superfície do planeta (4,06 bilhões de
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 109

ha), sua distribuição geográfica não é equitati- plantações florestais são formadas principal-
va, e mais da metade das florestas (54%) está mente por espécies alóctones. Há grandes dife-
situada em apenas cinco países: Rússia, Brasil, renças regionais nas composições das planta-
Canadá, Estados Unidos e China (FAO, 2020; ções florestais: por exemplo, na América Central
BARAL et al., 2016). A distribuição entre flores- e do Norte são compostas predominantemente
tas nativas e plantadas é ilustrada na Figura 1. por espécies nativas, e na América do Sul, por
As florestas nativas representam 93% espécies introduzidas (FAO, 2020) (Figura 2).
da superfície florestal do mundo. A FAO define O Brasil é o segundo país em área de flo-
dois tipos de florestas plantadas: as “plantações restas do mundo, com cerca de cerca de 498
florestais – plantation” e “outras florestas plan- milhões de ha, o que equivale a 58,5% do seu
tadas”. As florestas designadas plantações flo- território, sendo 98% de florestas nativas e
restais são aquelas estabelecidas sob regime de apenas 2% de florestas plantadas (9,89 milhões
intenso nível de manejo, utilizando apenas uma de ha) (FAO, 2020; SNIF, 2019). Os gêneros
ou duas espécies e buscando a uniformidade Eucalyptus (76,23%) e Pinus (20,05%) são os
global do sistema, visando máxima produtivi- mais representativos no território brasileiro,
dade possível. O sistema brasileiro de produção seguidos de outras espécies (3,71%) que tam-
de florestas homogêneas de eucalipto com alta bém são cultivadas, como acácia (Acacia spp),
produtividade é um exemplo claro de plantação araucária (Araucaria angustifolia), paricá (Shi-
florestal. Outras florestas plantadas diferem das zolobium amazonicum), seringueira (Hevea
plantações florestais em objetivo e estrutura, brasiliensis), teca (Tectona grandis), álamo
pois podem ser estabelecidos com várias espé- (Populus spp) (SNIF, 2019; ARAUJO et al., 2017;
cies, inclusive introduzidas via distribuição de IBGE, 2019a). Em 2018, o estado com maior
sementes, e podem ter finalidade de proteção, área em floresta plantada foi Minas Gerais
seja de solo ou de recursos hídricos. Nessas con- (2,02 milhões de ha), seguido do Paraná (1,50
dições, na maturidade, podem se assemelhar milhão ha), Mato Grosso do Sul (1,13 milhão ha)
a florestas nativas. Em nível mundial 44% das e São Paulo (1,12 mi ha) (IBGE, 2019a).

Figura 1 |
Distribuição da superfí-
cie mundial de florestas
nativas e plantadas
(plantação e outras
florestas).
Fonte: Adaptado de
FAO (2020).

Figura 2 |
Proporção de espécies
exóticas e nativas nas
plantações florestais,
por região, em 2020.
Fonte: FAO (2020, p. 33).
110 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Todos os setores produtivos dependem de m3 – US$ 144,3 milhões). Papel e papelão


direta ou indiretamente dos produtos flores- tiveram alto valor de exportação (1,8 milhão de
tais, com estimativas de que o setor de base flo- tonelada – US$1,69 bilhão. Entre os não madei-
restal (carvão, madeira sólida, papel e celulose, reiros, a castanha de caju é a responsável pelo
painéis reconstituídos, produtos não madeirei- maior valor de exportação, US$ 116,1 milhões.
ros) responda por 4% do PIB brasileiro e por 6 Na sequência, se destacaram as ceras vegetais
milhões de empregos (SNIF, 2020) (Figura 3). (14,13 mil toneladas – US$ 92,51 milhões) e a
Os produtos florestais representam a quar- erva-mate (36,16 mil toneladas – US$ 84,94
ta posição na classificação do valor das expor- milhões) (SNIF, 2019).

3 | A ESTRUTURA FUNDIÁRIA
tações do agronegócio nacional, abaixo do

E AS FLORESTAS PLANTADAS
complexo soja, carnes e complexo sucroal-
cooleiro (MAPA, 2018). Em 2018 a expor-

NA RBCV
tação brasileira de produtos madeireiros
alcançou US$ 13,86 bilhões, acrescidos de
US$ 366 milhões de produtos não madei-
reiros, com destaque para a celulose que, Na atualidade, mais da metade da popu-
em 2018, representou 58% da receita de lação do mundo (55%) vive em cidades, que
exportação (15,2 milhões de toneladas – US$ ocupam menos de 1% do território do planeta
8,27 bilhões). Cavacos e partículas correspon- (McDONALD, et al., 2018). Essa alta concentra-
deram a um grande volume de produtos expor- ção populacional em pequenas áreas urbanas
tados com menor valor agregado (6,5 milhões eleva a demanda e provoca o crescente

Figura 3 |
A cadeia produtiva
do setor florestal
brasileiro.
Fonte: Serviço
Nacional de
Informações
Florestais (2020).
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 111

sufocamento sobre os serviços dos ecossistemas. Em São Paulo a categoria mais represen-
Esta situação é característica da RBCV, que abran- tativa em quantidade de imóveis é aquela entre
ge praticamente integralmente a Região Metro- 10 e 25 ha (26%, ou 128 mil unidades). Porém,
politana de São Paulo – quarta maior aglomera- o número de propriedades acima de 10 mil hec-
ção urbana do mundo (UNITED NATIONS, 2019). tares é mínimo (0,0035%, ou 17 unidades), e
Além da metrópole paulista a RBCV abrange inexistente a partir de 50 mil hectares. A maior
quase integralmente a Região Metropolitana concentração de terras acontece na categoria
da Baixada Santista e, parcialmente, as regiões 100 a 250 ha (18%, ou 4,4 milhões de hectares).
metropolitanas de Sorocaba; Vale do Ribeira e A quantidade referenciada de imóveis rurais
Litoral Norte; Campinas e região administrativa no estado é 487.419, que somam 23.874.732 ha.
de Registro, com destaque para as áreas urba- Ainda que em nível nacional tenham sido iden-
nizadas, que pressionam os ecossistemas que tificadas apenas 424 propriedades acima de
sustentam a grande metrópole. cem mil hectares, esses latifúndios represen-
Para melhor compreensão do território na tam a maior concentração de terras no país
RBCV, é importante um olhar sobre sua estru- (18%, ou 143 milhões de hectares).
tura fundiária (quantidade de imóveis em cada O território da RBCV apresenta, propor-
categoria de tamanho da propriedade rural), cionalmente, uma estrutura relativamente
em comparação com os dados nacionais e esta- semelhante ao estado, porém, ocorre um deslo-
duais, sendo aqui considerados os municípios camento de maiores representatividades para
parcialmente contidos na área da reserva da propriedades de menor tamanho. Isso pode ser
biosfera (Itariri, Natividade da Serra, Pedro de entendido como um efeito da maior urbaniza-
Toledo, Peruíbe, Redenção da Serra e São José ção desse território em relação ao estado como
dos Campos). Em linhas gerais, o estado de São um todo. Em relação a quantidade de proprie-
Paulo segue semelhanças em relação à estrutu- dades, a maior representatividade é referente
ra fundiária brasileira (Tabela 1). ao tamanho 2 a 5 ha (31%, ou 22 mil unidades).

Tamanho da Quantidade Área total Quantidade Área total Quantidade Área total
propriedade de imóveis (ha) de imóveis (ha) de imóveis (ha)
rural (ha)
BRASIL SÃO PAULO RBCV
0 > 1 160.069 79.623 14.095 5.739 6.777 2.368
1 > 2 201.808 276.768 11.214 15.521 4.070 5.512
2
>
5 937.468 3.151.197 96.531 315.093 22.442 69.657
5 > 10 992.227 7.168.885 76.250 565.456 12.474 90.386
10 > 25 1.596.285 25.861.238 127.736 2.126.144 14.259 228.808
25
>
50 987.842 34.770.285 69.279 2.467.569 5.640 196.824
50 > 100 703.947 48.849.863 41.866 2.939.219 2.929 202.733
100 > 250 494.612 75.173.602 28.255 4.386.236 1.566 236.069
250 > 500 183.213 64.589.863 9.559 3.292.231 420 143.009
500 > 1 mil 97.979 68.201.481 4.127 2.844.666 136 93.770
1 mil > 2 mil 50.536 69.578.512 1.543 2.101.958 64 88.438
2 mil > 2,5 mil 13.264 29.698.464 270 602.982 9 20.897
2,5 mil > 5 mil 22.142 76.493.735 367 1.244.429 28 107.675 Tabela 1 |
5 mil > 10 mil 7.439 53.080.115 100 688.049 11 81.955 Tamanho, quantidade
de propriedades rurais
10 mil > 20 mil 1.832 25.129.741 12 163.213 0 0
e total de suas
20 mil > 50 mil 1.053 31.558.632 5 116.225 0 0 ocupações (ha) no
50 mil > 100 mil 268 19.050.675 0 0 0 0 Brasil, no estado de
São Paulo e no
100 mi < 424 142.810.727 0 0 0 0 território da RBCV.
Inconsistentes excluídos 122.422 0 6.210 0 1.409 0 Fonte: Elaboração
própria. Com base
TOTAL 6.574.830 775.523.406 487.419 23.874.732 72.234 1.568.100
em INCRA (2018).
112 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Nas categorias entre dois mil e 10 mil hectares 18.715 ha (Tabela 2). A Bacia Hidrográfica do
o número de propriedades diminui significati- Alto Tietê (CBH-AT) contempla o maior número
vamente (9% ou 28 unidades), e é inexistente de municípios (13) que contam com refloresta-
acima de 10 mil hectares. A maior concentra- mentos desses gêneros exóticos, seguido por
ção de terras ocorre na categoria 100 a 250 ha CBH-PCJ (8), CBH-SMT (8) e CBH-PS (7). Ape-
(15% ou 236 mil hectares). A quantidade nas o município de Joanópolis conta com mais
referenciada de imóveis rurais no território da de dez mil hectares reflorestados (13.750 ha).
RBCV é 72.234, que somam 1.568.100 ha. Entre cinco mil e dez mil hectares estão outros
Apesar da controversa existência de pro- nove municípios: Salesópolis (CBH-AT, 9.664
priedades rurais de grande porte, como aque- ha), Paraibuna (CBH-PS, 8.740 ha), Mogi das
las acima de 500 ha, em um território altamente Cruzes (6.719 ha), Nazaré Paulista (CBH-PCJ,
populoso e densamente povoado, como é o 6.250), Guararema (CBH-PS, 5.666), Bragança
caso da RBCV que concentra mais da metade Paulista (CBH-PCJ, 5.400) e Piedade (CBH-SMT,
da população do estado (55,3%), essas proprie- 5.023). Abaixo desses valores as áreas reflores-
dades podem exercer, ainda que involuntaria- tadas estão distribuídas em 4.850 ha (Biritiba
mente, um papel extremamente importante na Mirim, CBH-AT) e 10 ha (Arujá, CBH-AT).
contenção da expansão e concentração urba- Apenas nove municípios declararam reflo-
na e populacional nesse território. O soma- restamento com Pinus, com maior concentração
tório das áreas ocupadas por propriedades de ocorrência na Bacia Hidrográfica do Médio
acima de 500 hectares atinge quase 400 mil Tietê (1.635 ha). Com exceção de Ibiuna (CBH-
ha, equivalente a um quarto do somatório de -SMT) todos os municípios apresentaram área
áreas das propriedades rurais do território. ocupada por Eucalyptus spp superior à área ocu-
Esse valor equivale a aproximadamente 80% pada por Pinus spp, sendo também o único muni-
da estimativa de áreas urbanizadas da RBCV. cípio a apresentar acima de mil hectares planta-
Nessas condições, percebe-se claramente que dos com esse gênero. Essa maioridade do gênero
um eventual desmembramento dessas pro- Eucalyptus em relação ao gênero Pinus reflete
priedades, ainda que parcialmente, pode levar as grandezas de produção de bens madeireiros
a um cenário de expansão urbana, altamente e derivados, que serão apresentadas adiante, na
preocupante. próxima seção.
No território da RBCV são expressivos os A distribuição de florestas plantadas com
povoamentos florestais plantados, formados os gêneros Eucalyptus spp e Pinus spp no territó-
pelos gêneros Eucalyptus e Pinus. Estes reflo- rio da RBCV é apresentada na Figura 4.
restamentos com espécies desses grupos estão Pode-se observar uma maior concentração
presentes em 41 municípios integrantes da de florestas de eucalipto na porção sudeste do ter-
RBCV, sendo considerados nesta análise 35 ritório, correspondente às bacias hidrográficas
municípios, posto que Itariri, Natividade da do Alto Tietê e do Paraíba do Sul. Enquan-
Serra, Pedro de Toledo, Peruíbe, Redenção da to florestas de pinus apresentam concentra-
Serra e São José dos Campos, encontram-se ções nas porções sudeste, sudoeste e noroeste,
apenas marginalmente inseridos no território correspondentes às bacias do Alto Tietê, Soroca-
da RBCV. A abrangência de distribuição des- ba e Médio Tietê e Piracicaba, Capivari e Jundiaí,
ses municípios envolve quatro Unidades de respectivamente.
Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI), Assim como no Brasil, a base dos povoamen-
representadas pelos Comitês de Bacia Hidro- tos florestais plantados na RBCV é representada
gráfica (CBH), com as seguintes áreas (ha) pelos gêneros Eucalyptus e Pinus. Em escalas
reflorestadas: i) bacia hidrográfica do Paraíba menores ocorrem “outras espécies” de gêneros
do Sul (CBH-PS / UGRHI 02): 24.233 ha; ii) bacia distintos. As áreas (ha) plantadas com espécies
hidrográfica do Piracicaba, Capivari e Jundiaí desses três grupos no Brasil, no estado de São
(CBH-PCJ / UGRHI 05): 34.797 ha; iii) bacia Paulo e no território da RBCV são, respectiva-
hidrográfica do Alto Tietê (CBH-AT / UGRHI mente: 7.543.542; 1.984.333 e 367.685; 917.550,
06): 29.367 ha; iv) bacia hidrográfica do Soro- 204.965 e 3.900 e 104.723, 2.389 e 111. Sendo
caba e Médio Tietê (CBH-SMT / UGRHI 10): assim, as proporções de hectares plantados
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 113

Eucalyptus spp Pinus spp Eucalyptus + Pinus


Território / Município
ha
Brasil 7.543.542 1.984.333 9.527.875
São Paulo 917.550 204.965 1.122.515
RBCV 1
104.723 2.389 107.112
Bacia Hidrográfica: Paraíba do Sul / Comitê: CBH-PS / UGRHI 02
24.233 - 24.233
Guararema 5.666 - 5.666
Igaratá 1.400 - 1.400
Jacareí 1.250 - 1.250
Jambeiro 2.000 - 2.000
Paraibuna 8.740 - 8.740
Santa Branca 3.700 - 3.700
Santa Isabel 1.477 - 1.477
Bacia Hidrográfica: Piracicaba, Capivari e Jundiaí / Comitê: CBH-PCJ / UGRHI 05
34.047 750 34.797
Atibaia 3.300 - 3.300
Bom Jesus dos Perdões 797 - 797
Bragança Paulista 5.400 - 5.400
Joanópolis 13.000 750 13.750
Nazaré Paulista 6.250 - 6.250
Piracaia 3.000 - 3.000
Tuiuti 900 - 900
Vargem 1.400 - 1.400
Bacia Hidrográfica: Alto Tietê / Comitê: CBH-AT / UGRHI 06
29.363 4 29.367
Arujá 10 - 10
Biritiba Mirim 4.850 - 4.850
Caieiras 2.241 4 2.245
Cajamar 3.028 - 3.028
Franco da Rocha 954 - 954
Guarulhos 103 - 103
Itaquaquecetuba 60 - 60
Mairiporã 407 - 407
Mogi-das-Cruzes 6.719 - 6.719
Ribeirão Pires 90 - 90
Salesópolis 9.664 - 9.664
São Paulo 350 - 350
Suzano 887 - 887 Tabela 2 |
Área (ha) ocupada
Bacia Hidrográfica: Sorocaba e Médio Tietê / Comitê: CBH-SMT / UGRHI 10
por Eucalyptus spp
17.080 1.635 18.715 e Pinus spp nos
Alumínio 2.580 - 2.580 municípios que
compõem a RBCV,
Araçariguama 1.850 80 1.930
em suas
Cabreúva 550 - 550 respectivas
Ibiuna 600 1.500 2.100 Unidades de
Gerenciamento de
Mairinque 1.400 10 1.410
Recursos Hídricos
Piedade 5.000 23 5.023 (UGHRI).
São Roque 1.000 10 1.010 Elaboração própria.
Com base em IBGE
Votorantim 4.100 12 4.112
(2019a); São Paulo
Os municípios de Itariri, Natividade da Serra, Pedro de Toledo, Peruíbe, Redenção da Serra e São José dos Campos, embora com
(2019).
1

expressiva produção florestal, não foram considerados por não estarem integralmente abrangidos pela RBCV.
114 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 4 |
Distribuição de
florestas plantadas
com os gêneros
Eucalyptus spp e limite da área terrestre
Eucaliptus limite da área marinha área urbana
Pinus spp no da RBCV da RBCV
território da RBCV. Pinus limites municipais RMSP
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em São Paulo (2010).

com eucalipto do Brasil para o estado de São exemplo do carvão vegetal. Os bens não madei-
Paulo e para a RBCV são 8/1 e 72/1, respecti- reiros de produção direta são, principalmen-
vamente. Em relação ao pinus e a “outras espé- te, as seivas, como a goma resina, produzida
cies” essas proporções são 10/1 e 831/1 e 94/1 e por algumas espécies florestais coníferas, e
3.312/1, respectivamente. o látex, produzido, mais significativamente,
Na RBCV, a área ocupada pelos refloresta- pela seringueira (Hevea brasiliensis). Também
mentos com os gêneros Eucalyptus e Pinus (pou- compõem essa classificação as cascas e folhas,
co mais de 107 mil ha) representa cerca de 6% como, por exemplo, casca de acácia-negra
de sua área terrestre. (Acacia decurrens) e folhas de Corymbia citrio-

4 | PRODUTOS MADEIREIROS
dora (antigo Eucalyptus citriodora), matérias
primas para a extração de tanino e de óleos

E DERIVADOS PRODUZIDOS
essenciais, respectivamente. O censo utilizado

NO TERRITÓRIO DA RBCV
por esse estudo para a referência de dados esta-
tísticos (IBGE, 2019) mostrou que os produtos
madeireiros são produzidos em grande escala
Os produtos florestais podem ser madei- pela RBCV. Por outro lado, este censo mostrou
reiros e não-madeireiros. Os produtos madei- produção zero para casca de acácia-negra,
reiros podem ser divididos em diretos, a exem- folhas de eucalipto e goma resina de Pinus spp,
plo da lenha e madeira sólida; e derivados, a além de não referenciar a produção de látex ou
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 115

de mel. Por esses motivos esses produtos não maioria da produção de lenha. No último quin-
serão apresentados. quênio as contribuições de pinus para as pro-
A maioridade dos povoamentos do duções de lenha pela RBCV (Figura 5E) e pelo
gênero Eucalyptus em relação ao gêne- estado (Figura 5F) foram 8,8% e 4,1%, respec-
ro Pinus na RBCV reflete as grande- tivamente. Considerando todo o estado de São
zas dos produtos florestais madeirei- Paulo a contribuição de outras espécies foi des-
ros proporcionados por essas florestas prezível (0,01%).
plantadas. A produção de carvão vegetal no Até 2010 a produção anual de madeira em
território da RBCV no período do decênio tora pela RBCV esteve abaixo de dois milhões
2008-2017 é marcada por três fases, apresen- de metros cúbicos (1,35-1,93 mi m3). A partir de
tando um gradiente de produção: 2008-2010; 2011 a produção ultrapassou esta referência,
2011-2015 e 2016-2017, com médias de 12,4, mantendo-se acima dela até 2017 (2,27-2,80
19,1 e 48 mil toneladas anuais, respectiva- mi m3). Esta elevação na produção se refletiu
mente. A produção de todo o estado apresen- na porcentagem em relação ao produzido pelo
tou pequena variação até 2015, com média estado. Até 2014 a porcentagem de madeira
de 71,4 mil toneladas anuais. Porém, os anos em tora produzida pela RBCV esteve abaixo de
2016 e 2017 mostraram aumento nas produ- uma dezena (5,4% a 8,6%) do que foi produzi-
ções: 117,9 e 112,1 mil toneladas, respectiva- do pelo estado. A partir de 2015 esta proporção
mente. Com sua produção em crescimento, no esteve acima de (10,2% a 11,2%). Por sua vez a
ano 2017 a RBCV foi responsável por 42% de produção pelo estado de São Paulo passou por
toda a produção de carvão vegetal do estado elevações e decréscimos. Entre 2011 e 2014 a
de São Paulo (Figura 5A). No último quinquê- produção média anual esteve entre 26,4 e 31,1
nio a totalidade do carvão produzido na RBCV mi m3, mas abaixo desses valores nos demais
ocorreu a partir da madeira de eucalipto. Em anos do decênio (21,0-26,2 mi m3). Inclusive, o
outras regiões do estado, além da RBCV, hou- menor valor do período ocorreu no último ano
ve produção de carvão a partir da madeira de medido (2017) (Figura 5C).
pinus. Porém, a contribuição desse gênero na Historicamente a produção de madei-
produção total pelo estado foi menor do que ra sólida, em tora, pelo estado de São Paulo e
três por cento. Outras espécies tiveram parti- pela RBCV, é voltada, majoritariamente, para
cipação ainda mais diminuta (Figura 5D). a produção de celulose. Outras finalidades são
Quanto à produção de lenha pela RBCV representadas, basicamente, pela construção
a evolução no decênio apresentou comporta- civil e pela indústria de movelaria. Em relação
mento inverso à produção de carvão vegetal, ao total de madeira em tora as porcentagens
ou seja, decréscimo nos últimos anos. Esse médias anuais de destinação à produção de
também foi o comportamento da produção celulose pela RBCV e pelo estado de São Pau-
de lenha pelo estado. Nos períodos 2008- lo foram 75% e 64%, respectivamente (Figura
2012 e 2013-2017 as produções médias anu- 5C). Da mesma maneira que em relação ao car-
ais pela RBCV foram de 1,37 e 1,05 milhão de vão vegetal e à lenha, a produção de madeira
m3 (mi m3), respectivamente. Neste último em tora é representada em grande maioridade
período a produção mais elevada (2016=1,21 pelo eucalipto. Para a RBCV, no último quin-
mi m3) foi inferior à produção mais baixa do quênio, o eucalipto contribuiu com 100% da
período anterior (2010=1,29 mi m3). O esta- madeira em tora para a produção de celulose.
do de São Paulo refletiu esse comportamento, No caso da madeira em tora destinada para
apresentando produções médias anuais de outras finalidades a contribuição de pinus foi
6,82 e 5,76 mi m3 nos períodos 2008-2013 e 1,4% (Figura 5E). Ao se considerar todo o esta-
2014-2017, respectivamente. Neste decênio a do, a contribuição da madeira de pinus em tora
produção de lenha pela RBCV esteve muito pró- para a produção de celulose foi 2,4%, e para
ximo de 20% da produção do estado, com exceção outras finalidades foi 9,0%. Considerando todo
dos anos 2013 (14%) e 2017 (16%) (Figura 5B). o estado de São Paulo a contribuição de madei-
Igualmente em relação à produção de carvão ra em tora de outras espécies foi desprezível
vegetal o eucalipto foi responsável pela grande (0,004%) (Figura 5F).
116 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 5 |
Produção florestal
(2008-2017): carvão
vegetal (milhar ton)
RBCV e estado de
São Paulo (A); lenha
(milhão m3) RBCV e
estado de São Paulo
(B); madeira em tora
(milhão m3), para
celulose e outras
finalidades, RBCV e
estado de São Paulo
(C). Utilização de
Eucalyptus, Pinus
e outras espécies
(2013-2017): carvão
vegetal (milhar ton)
RBCV e estado de
São Paulo (D); lenha
e madeira em tora
(milhão m3) RBCV (E)
e estado de
São Paulo (F).
Fonte: Elaboração
própria, com base
em: IBGE (2019a;
IBGE, 2019b).

As proporções médias anuais (últi- O eucalipto também foi utilizado em


mo quinquênio) de uso de “Eucalyptus”, maioria para a produção de lenha e de madeira
“Pinus” e “outras espécies” no tocante à em tora (para fabricação de celulose ou outras
produção de carvão (toneladas) e madei- finalidades), tanto pela RBCV como pelo esta-
ra (lenha e tora, m3) foram: RBCV = 96,9%; do de São Paulo. Na RBCV o uso de pinus ocor-
3,1% e 0,0% e estado de São Paulo = 95,31%; reu mais aparentemente para a produção de
4,68% e 0,01%. O carvão vegetal da RBCV foi lenha (93 mil m3, ou 8,7% do total), porém, foi
produzido exclusivamente com espécies do nulo ou desprezível na produção de madeira
gênero Eucalyptus. No estado de São Paulo em tora (Figura 5E).
esse gênero também foi utilizado em grande No estado o uso de pinus foi mais apa-
maioria, porém, houve também uma pequena rente: lenha = 250 mil m3, ou 4,1% do total;
proporção de uso do gênero Pinus e de outras madeira em tora para celulose = 387 mil m3, ou
espécies: 2.510 toneladas, ou 2,85% do total 2,4% do total e madeira em tora para outras
(Figura 5D) e 0,256 toneladas, ou 0,29% do finalidades = 806 mil m3, ou 9,0% do total
total, respectivamente. (Figura 5F).
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 117

5 | VALORAÇÃO DOS
PRODUTOS MADEIREIROS E
Paulista, Biritiba Mirim e Guararema. Entre
cinco e nove milhões (5,0 – 9,1 mi R$) estive-

DERIVADOS PRODUZIDOS NO
ram: Piedade, Santa Branca, Ibiúna, Paraibuna,

TERRITÓRIO DA RBCV
Jacareí e Atibaia. Para os demais municípios os
valores estiveram abaixo de cinco milhões de
reais. Alguns municípios constam como produ-
Além de apresentar a produção de bens ção zero e outros não foram citados.
madeireiros e derivados é importante proce- A madeira em tora teve o maior valor de
der a uma avaliação da geração de recursos produção, seguido por lenha e carvão. No decê-
financeiros proporcionados por esses bens, nio 2008-2017 o valor médio anual da madei-
obtidos pelo estado de São Paulo, pela RBCV e ra em tora para o território da RBCV foi 130,6
por seus municípios. mi R$, correspondentes a 9,8% do valor refe-
O valor médio anual no decênio 2008- rente ao estado de São Paulo (1,33 bi R$). Os
2017 para a totalidade dos produtos e deriva- valores referentes às aplicações em celulose
dos madeireiros (carvão, lenha, e madeira em e em outras finalidades para a RBCV e o esta-
tora) da RBCV foi 198 milhões de reais (mi R$), do foram: 114,2 e 31,1 mi R$ (76% e 21,4% do
correspondentes a 11,8% do valor referente total) e 836,5 e 497,2 mi R$ (62,7% e 37,3%),
ao estado de São Paulo (1,67 bilhão de reais – respectivamente. O valor da lenha na RBCV foi
bi R$). Apesar de essa valoração representar 43,4 mi R$, ou 17,4% do valor do estado (248,8
mais de dez por cento da valoração florestal mi R$). O derivado madeireiro carvão gerou 24
madeireira do estado ela está muito aquém da mi R$, ou 28,5% do estado (84,0 mi R$) .
significância da RBCV sobre o estado em rela- Além de proporcionar maiores valores
ção aos seus respectivos Produto Interno Bru- de produção, a madeira em tora foi também
to (PIB). Pois, nesse aspecto, a participação do a opção mais comum dentre os municípios da
PIB da RBCV em relação ao estado é 61,2%. RBCV. Com diversas proporções em relação
Ou seja, em termos proporcionais, a RBCV é aos outros produtos madeireiros, a madei-
muito mais significante para a economia do ra em tora foi produzida pela grande maio-
estado em outras áreas que não sejam a área ria dos municípios que apresentam alguma
florestal. Isso fica também evidenciado pela produção. Dentre os 36 municípios da RBCV
participação do valor florestal madeireiro abrangidos neste estudo, 17 deles obtiveram
em relação ao PIB de cada região. Enquanto a acima de 90% da soma de valores (referentes
participação do valor florestal madeireiro da a carvão, lenha e tora) na madeira em tora, e
RBCV em seu PIB foi de 0,015%, para o esta- apenas cinco deles não a produziram (Ibiúna,
do essa proporção foi de 0,080. Ou seja, cinco São Roque, Mairiporã, Ribeirão Pires e Arujá).
vezes maior (Tabela 3). A lenha representou acima de 50% da soma de
Entretanto, para alguns municípios da valores para 14 municípios (Alumínio, Bom
RBCV o valor florestal madeireiro representou Jesus dos Perdões, Cabreúva, Cajamar, Franco
proporções mais significativas em seu próprio da Rocha, Ibiúna, Mairinque, Nazaré Paulis-
PIB. Os dois municípios que apresentaram esse ta, Tuiuti, Vargem, Arujá, Mairiporã, Ribeirão
valor acima de cinco pontos percentuais foram: Pires e São Roque). Para os quatro últimos, o
Salesópolis (8,68%) e Joanópolis (6,82%). produto representou 100% da soma de valo-
O município integrante da RBCV com res. O carvão não representou maioridade de
maior valor florestal madeireiro anual foi Sale- valor para qualquer município, e foi produzi-
sópolis (17,4 mi R$). Na grandeza de duas deze- do por apenas nove deles (Bragança Paulista,
nas de milhões (11,4 – 15,7 mi R$) encontraram- Joanópolis, Piracaia, Nazaré Paulista, Piedade,
-se também: Bragança Paulista, Votorantim, Ibiúna, Atibaia, Vargem e Bom Jesus dos Per-
Joanópolis, Mogi das Cruzes, Piracaia, Nazaré dões) (Tabela 3).
118 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Valor Valor Valor Valor Total % do


Carvão Lenha Tora
Localidade milhão milhão milhão (VT) VT no
ton m3 m3
R$ R$ R$ milhão R$ PIB1
SÃO PAULO 80.117 84.038 6.397.234 248.820 25.513.720 1.333.782 1.666.640 0,0796
RBCV 22.869 23.959 1.211.283 43.416 2.041.958 130.631 198.006 0,0153
Salesópolis 0 0 22.412 749 276.036 16.613 17.362 8,681
Bragança Paulista 5.466 5.593 77.125 2.898 115.235 7.250 15.740 0,298
Votorantim 0 0 126.329 4.292 162.747 11.149 15.441 0,341
Joanópolis 4.115 4.071 74.850 2.446 112.053 7.690 14.206 6,823
Mogi das Cruzes 0 0 8.088 284 233.886 13.581 13.865 0,093
Piracaia 4.965 4.993 53.040 2.197 77.660 6.078 13.267 2,938
Nazaré Paulista 3.934 3.817 180.800 7.250 26.199 1.565 12.632 3,944
Biritiba Mirim 0 0 5.244 226 186.227 11.464 11.690 1,529
Guararema 0 0 7.463 359 167.772 11.029 11.388 0,768
Piedade 1.950 2.650 38.807 1.081 97.386 5.392 9.123 0,770
Santa Branca 0 0 0 0 94.788 7.230 7.230 2,838
Ibiúna 615 966 199.827 5.889 0 0 6.856 0,419
Paraibuna 0 0 498 20 106.136 6.634 6.654 2,601
Jacareí 0 0 0 0 76.321 5.675 5.675 0,056
Atibaia 1.451 1.493 61.420 2.389 22.356 1.393 5.275 0,087
Caieiras 0 0 6.199 267 81.841 4.298 4.565 0,161
Jambeiro 0 0 0 0 39.198 3.917 3.917 1,338
Igaratá 0 0 0 0 45.273 3.531 3.531 1,958
Vargem 245 255 52.700 1.879 9.643 574 2.708 2,493
Santa Isabel 0 0 21.941 1.095 21.900 1.533 2.628 0,205
Tuiuti 0 0 49.340 1.866 10.317 673 2.540 2,214
Alumínio 0 0 55.432 1.513 16.400 632 2.145 0,116
São Roque 0 0 63.319 2.016 0 0 2.016 0,077
Bom Jesus Perdões 131 123 28.560 1.081 10.590 669 1.873 0,314
Mairinque 0 0 29.908 1.152 11.000 420 1.572 0,086
Mairiporã 0 0 17.177 976 0 0 976 0,056
São Paulo 0 0 3.340 133 16.088 574 707 0,000
Suzano 0 0 1.628 71 13.009 564 634 0,006
Cajamar 0 0 10.387 570 970 34 605 0,004
Cabreúva 0 0 8.056 371 3.689 151 522 0,012
Tabela 3 |
Produção e valor Franco da Rocha 0 0 4.320 235 1.323 45 280 0,011
agregado de Guarulhos 0 0 280 10 2.794 175 185 0,000
carvão, lenha e
Ribeirão Pires 0 0 2.438 86 0 0 86 0,003
madeira em tora no
território da RBCV Jarinu 0 0 80 4 1.932 58 61 0,003
(média do decênio Jundiaí 0 0 0 0 831 23 23 0,000
2008-2017).
Fonte: Elaboração Várzea Paulista 0 0 170 7 300 14 21 0,001
própria. Elaborado Santos 0 0 0 0 59 5 5 0,000
com base em
Arujá 0 0 106 4 0 0 4 0,000
IBGE (2019).
Nota: 1 PIB do estado de São Paulo = R$ 2.092.765.519.175; PIB da RBCV = R$ 1.287.963.862.994 (somatório dos PIB de cada município que
compõe o território considerado), excluindo os municípios de Itariri, Natividade da Serra, Pedro de Toledo, Peruíbe, Redenção da Serra e São
José dos Campos, que não foram considerados por não estarem apenas integralmente abrangidos pela RBCV.
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 119

6 | SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS EM
Florestas plantadas geralmente diferem
de florestas nativas em diversidade de espécies,

FLORESTAS PLANTADAS E
características de regeneração, funcionamento

SUA RELAÇÃO COM A RBCV


de ecossistemas e o fornecimento de serviços
ecossistêmicos a elas associados, especial-
mente em seu estágio inicial de crescimento.
O conceito de florestas plantadas evo- Tanto florestas plantadas quanto plantações
luiu consideravelmente após a década de 1960, florestais possuem finalidades produtivas
especialmente no sentido de se diferenciar das (produtos madeireiros ou não-madeireiros,
plantações florestais (forest plantations). Esse principalmente) ou protetivas (restauração
conceito se consolidou no início dos anos 2000 de habitats e fornecimento de outros serviços
de forma a incluir modalidades que não se res- ecossistêmicos) (KANNINEN, 2010; BARAL et
tringiam apenas a plantios de espécies exóticas al., 2016). É importante, dessa forma, compre-
em monoculturas. Florestas plantadas são com- ender as florestas plantadas para além de sua
preendidas como florestas predominantemente dimensão produtiva. A Figura 6 sintetiza, de
compostas de árvores estabelecidas a partir do forma esquemática, os serviços associados aos
plantio ou semeadura induzida de espécies nati- ecossistemas de florestas nativas e plantadas.
vas ou introduzidas (KANNINEN, 2010). A magnitude dos serviços ecossistêmicos
Se, por um lado, a ampliação do conceito das florestas plantadas varia em função de seus
lançou um olhar mais inclusivo sobre todas as objetivos, características e regimes de manejo.
florestas produzidas pela ação humana, por Assim, existe diferença dos serviços obtidos em
outro ampliou a área mundialmente planta- relação à natureza dessas florestas (industrial,
da de 140 para 270 milhões de ha. Enquanto ambiental, agroflorestal); às espécies escolhidas
a área global de florestas nativas diminui, a (exóticas, nativas, monocultura, reflorestamen-
superfície de florestas plantadas, que equivale tos mistos, característica da madeira); aos obje-
a 7% de todas as florestas do planeta, cresceu tivos de manejo (produção, proteção); à rotação
5 milhões de ha/ano entre 2000 e 2010. Ainda (curta: menor que 10 anos; média: entre 10 – 20
que se considerando o alargamento de concei- anos; longa: maior que 20 anos); à sua finalidade
to supramencionado, uma porção significativa (toras, produtos não madeireiros, celulose, bio-
das florestas plantadas é basicamente voltada energia); à intensidade de manejo (intensivo ou
à produção madeireira (KANNINEN, 2010; extensivo); à escala de operação (larga e contí-
BROCKERHOFF et al., 2013; THOMPSON et al., gua ou pequena e fragmentada) e em relação ao
2014). padrão fundiário (industrial, pequena e média

Figura 6 |
Grau relativo de
fornecimento de
serviços
ecossistêmicos de
florestas nativas,
seminaturais,
plantadas e árvores
isoladas.
Fonte: Baral et al.,
(2016).
Nota: A lagura das setas indicam a taxa relativa de fornecimento de serviços ecossistêmicos.
120 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

propriedade, arrendamento) (BARAL et al., benefícios que esses ecossistemas formados


2016). por florestas plantadas proporcionam. Enquan-
Como exemplo, as plantações de espécies to os dividendos da produção madeireira, por
exóticas em regime de monocultura em cur- exemplo, se circunscrevem ao produtor e àque-
tas rotações fornecem mais recursos madei- les mais diretamente envolvidos na cadeia
reiros mas provavelmente menos serviços de produtiva, outros serviços ecossistêmicos são
regulação e culturais se comparado com plan- de benefício público, como mitigação climática
tações mistas com espécies nativas em rotações local e global, regulação hídrica, conservação
maiores (BARAL et al., 2016). Em outro caso, de solo e serviços de habitat. A escala de forne-
para a obtenção de benefícios de múltiplos ser- cimento dos serviços também é variável, o que
viços ecossistêmicos das florestas plantadas, permite que pessoas a dezenas ou centenas de
o World Wide Fund for Nature (WWF) lançou quilômetros de distância de florestas planta-
em 2007 a plataforma das plantações da nova das delas se beneficiem.
geração, advogando por um manejo flores- Nesse contexto, para uma análise rele-
tal balanceado de forma a integrar produção vante dos serviços ecossistêmicos das florestas
madeireira e mitigação climática com outros plantadas na RBCV, cabe a pergunta: o que essas
serviços ecossistêmicos importantes à socie- florestas plantadas estão substituindo e por o
dade e ao meio ambiente (SILVA, 2019). que, hipoteticamente, podem ser substituídas?
Para melhor compreensão destas rela- É correto inferir que a substituição de
ções, é apresentado importante marco concei- ecossistemas nativos por reflorestamento com
tual para avaliação de serviços ecossistêmi- espécies exóticas leva à diminuição da maio-
cos de florestas plantadas (Tabela 4), em uma ria dos serviços ecossistêmicos e, especial-
perspectiva global. mente, da biodiversidade (serviços de suporte
A literatura também reporta efeitos nega- ou de habitat) (VICTOR, 1992; BROCKERHOFF
tivos das florestas plantadas (“desserviços ecos- et al., 2013). Essa prática, utilizada no Brasil
sistêmicos”) associados a questões hidrológi- até as décadas de 1960 (BROCKERHOFF et al.,
cas, infestação de ervas daninhas, poluição de 2013) e 1970, inclusive com apoio governa-
águas, erosão de solos e interferências em valo- mental, desde há muito deixou de ser realiza-
res sociais, o que não são problemas intrínsecos da pelo setor florestal, especialmente o mais
dessas florestas mas falhas de planejamento, organizado, que passou a adotar práticas mais
manejo e engajamento das comunidades no rigorosas e sustentáveis de produção e mane-
desenho e estabelecimento dos plantios (BARAL jo de florestas plantadas. Na primeira década
et al., 2016). de 2000, resquícios de práticas de substitui-
É compreensível que o padrão mais carac- ção de florestas nativas por eucalipto, de ocor-
terístico das florestas plantadas no Brasil e na rência pontual em alguns setores da pequena
RBCV não apresente de forma homogênea os produção de lenha e carvão na RBCV, foram
serviços ecossistêmicos listados na Tabela 4, fortemente coibidas pelo poder público e hoje
especialmente em relação aos culturais. Da mes- não representam mais um vetor importante
ma forma, nossas florestas plantadas (salvo em de desmatamento.
sistemas agroflorestais, que não são significati- Por outro lado, a ocupação do refloresta-
vos na reserva) não produzem alimentos para mento com espécies exóticas em áreas degra-
as pessoas, o que pode ser comum em florestas dadas ou em substituição a outros usos agro-
temperadas (ex. frutas nativas e cogumelos) pecuários, uma prática no Brasil desde o fim da
(BARAL et al., 2016). década de 1960 , tende a incrementar a maior
Entretanto, os benefícios ambientais des- parte dos serviços ecossistêmicos, até mesmo
ses ecossistemas necessitam de avaliações mais os de habitat, que possuem relação direta com a
complexas, com abordagens comparativas, biodiversidade (VICTOR, 1992; BROCKERHOFF
visando a subsidiar melhores tomadas de deci- et al., 2013; BARAL et al., 2016).
são em relação ao uso da terra, priorizando, em Por exemplo, no caso do reflorestamento
última análise, o bem-estar humano. com eucalipto no Brasil, as duas principais con-
Assim, é evidente que o planejamento e o tribuições para a conservação da biodiversida-
ordenamento territorial devem incorporar os de ocorrem dentro dos talhões, especialmente
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 121

Fornecimento de serviços ecossistêmicos de


Serviços Beneficiário Unidade de florestas plantadas em relação a
Escala 1
ecossistêmicos ou uso medida Florestas Campos Pasto
Agricultura
nativas nativos manejado
Serviços de provisão
Produção Privado Nº de
de / público P alimentos Inferior Inferior Similar Inferior
alimentos ou Kg ha-1
Produtos
florestais Privado P M3 ou Superior Superior Superior Superior
madeireiros e ton ha-1
não madeireiros
Produtos N° espécies
medicinais Público P-R ou kg Inferior Inferior Superior Superior
ha-1
Água doce Público P-R ML ha-1 ano -1 Inferior Superior Inferior Superior
Serviços de regulação
Regulação o
C ou ton.
climática local Público L-R de remoção Inferior Superior Superior Superior
e de qualidade de poluentes
do ar ha-1 ano-1
Sequestro e
estocagem Público P-R Mg ha-1 Superior Superior Superior Superior
carbono / Privado
Recarga de Público
aquíferos / Privado P-R -- Inferior Inferior Inferior Superior
Regulação de
desastres N° de
naturais/ Público P-L eventos Inferior Superior Superior Superior
eventos protegidos
extremos
Regulação e
purificação Público P-R M3 ha-1 Inferior Inferior Superior Superior
da água / Privado
Regulação N° doenças
de doenças Público evitadas Inferior Indefinido Superior Superior
N° de, ou
impacto de
Polinização Privado P-R espécies Inferior Inferior Inferior Superior
/ Público poliniza-
doras
Prevenção
de erosão,
proteção e Público P Ha ano-1 Similar Inferior Similar Superior
manutenção da / Privado
fertilidade
do solo
Controle Público N° de Não Não Não Não
biológico / Privado P-R espécies avaliado avaliado avaliado avaliado
benéficas Tabela 4 |
Serviços de suporte ou de habitat Serviços
Habitat para N° de ecossistêmicos de
espécies Público P-R espécies Inferior Inferior Superior Superior florestas plantadas:
presentes beneficiários, escala
Manutenção da de provisão, unidades
diversidade Público P-G -- Inferior Inferior Indefinido Superior de medida dos
genética
benefícios e
Serviços culturais comparação de
Valores serviços ecossistê-
religiosos e Público P-L -- Inferior Inferior Indefinido Indefinido micos de florestas
espirituais intensivamente
Valores manejadas com outros
estéticos Público P-L -- Inferior Inferior Indefinido Indefinido ecossistemas nativos
Recreação, e modificados.
ecoturismo, Público P-R -- Inferior Indefinido Superior Superior Fonte: Elaboração
saúde física / Privado própria. Com base
e mental
em: Baral et al. (2016).
N
otas: 1 Escalas: (P) escala da propriedade; (L) escala local, de 100 m – 10 km; (R) escala regional, de 10 – 1000 km; (G) escala global, maior
que 1000 km.
122 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

quando o manejo permite manutenção de por esses tipos florestais na RBCV atinge a
subosque, e na paisagem, pelos fragmentos de ordem de 23 milhões de toneladas em equiva-
vegetação nativa frequentemente associados lente CO2 (C-CO2). Já a estimativa da taxa anual
às plantações florestais (BROCKERHOFF et al., de remoção de carbono atmosférico, devido ao
2013). O setor de árvores plantadas conserva crescimento dessas florestas, é de quase seis
em âmbito nacional 5,6 milhões de hectares milhões de toneladas de C-CO2. Assim, verifica-
de vegetação nativa, mescladas às plantações -se que entre os serviços ecossistêmicos pres-
de produção, proporção de 0,7 ha de área con- tados pelas florestas plantadas no território
servada para cada ha plantado (IBÁ, 2019). da RBCV, destaca-se a sua contribuição para
Estudos demonstram o papel das florestas a amenização climática global e a redução da
plantadas também como matriz preferencial concentração de carbono atmosférico.
para aves da mata atlântica (TEIXEIRA, 2015) Na RBCV, um novo cenário torna-se preo-
e outros grupos de fauna em regiões de floresta cupante: o da substituição de florestas planta-
estacional semidecidual e cerrado no estado de das por outros usos e ocupações, como urbanos
São Paulo (SANTOS, 2014), quando compara- e de infraestrutura. A RBCV possui cerca de 120
dos a outros usos como pastagem, citrus e café. mil hectares de áreas plantadas principalmente
Em outra situação, por sua vez, em estudo com com os gêneros Eucalyptus e Pinus (SÃO PAULO,
duas espécies de avifauna de mata atlântica, a 2010). Em contexto metropolitano ou de áreas
matriz de cana-de-açúcar se mostrou mais per- que vêm experimentando alta valorização imo-
meável que a do eucalipto (GIUBBINA, 2015). biliária, é tendência que o custo de produção
Outro serviço ecossistêmico relevante das madeireira seja sobrepujado pelo custo das ter-
florestas plantadas na RBCV é a remoção e estoca- ras para outras finalidades. Essa lógica de mer-
gem de carbono. O reflorestamento com o gênero cado possui potencial, ainda não devidamente
Eucalyptus é a terceira categoria de cobertura flo- estimado, de promover substituição da ativida-
restal da reserva – com 6%, precedido pelas for- de florestal por usos que impliquem em perdas
mações floresta ombrófila densa (30% da RBCV) substantivas de serviços ecossistêmicos.
e contatos com floresta ombrófila mista (12%), Ao contrário do crescimento urbano
seguidas de outras formas de vegetação com sobre vegetação nativa, que se dá principal-
menor área ocupada. A quantificação de carbono mente por ocupações e supressões de vege-
estocado nos diferentes compartimentos dos tação irregulares, as áreas de florestas plan-
tipos florestais ocorrentes na RBCV (em toneladas tadas possuem potencial muito maior de
por hectare) foi calculado a partir das referências conversão de uso pelas vias legais, com os
de literatura, considerando os distintos estágios devidos licenciamentos e autorizações. Isso é
de desenvolvimento dessas formações (maduro e indiscutivelmente positivo, já que o licencia-
em crescimento) e seus diversos compartimentos mento tende a garantir a essas áreas impor-
de armazenamento de carbono (biomassa viva tantes salvaguardas ambientais. Entretanto,
acima e abaixo do solo; biomassa morta lenhosa não se pode assegurar que o balanço final de
e serrapilheira; e matéria orgânica no solo (IPCC, serviços ecossistêmicos seja automaticamen-
2006; FAO, 2006; BERNOUX et al., 2002). te positivo, especialmente à luz do histórico
Para as formações em estágio maduro, padrão de ocupação na RBCV.
foi utilizado valor único de acúmulo final de O município de Cajamar, na RMSP, a sudes-
biomassa, enquanto que para as florestas plan- te da capital paulista, exemplifica este cenário
tadas em estágio de crescimento é indicado de ocupação de grandes áreas cobertas com
taxa única de acúmulo anual específico para reflorestamento (Figura 7). A partir de 2000, a
Eucalyptus spp ou Pinus spp. Assim, conside- indústria logística iniciou suas atividades, com
rou-se que as unidades em crescimento apre- a instalação de gigantescos galpões industriais e
sentam idade média entre a idade de plantio forte impacto territorial ao longo do eixo da Via
(zero) e a maturidade comercial (Eucalyptus Anhanguera (EIGENHEER, 2018).
= 7 anos, idade média = 3,5 anos; e Pinus = 21 As manchas urbanas na RBCV totalizam
anos, idade média = 10,5 anos). 315.111 ha. Em um cenário extremo, de ple-
As estimativas realizadas para este estu- na conversão das áreas de florestas plantadas
do indicam que a estocagem atual de carbono em usos urbanos, de logística e correlatos,
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 123

Figura 7 |
Transformação
urbana em Cajamar:
Reflorestamentos
(2008) cedem lugar
para centros de
distribuição (2020).
Fonte: Google Earth
(2020).

essas manchas cresceriam em cerca de 35%, limitações intrínsecas de ocorrência, posto que
trazendo consigo perdas inestimáveis de ser- muitas das áreas reflorestadas não seriam aptas
viços ecossistêmicos e de bem-estar humano, e legalmente passíveis de ocupação urbana;
com agravamento de problemas como ilhas de adicionalmente, nem todos os padrões de ocu-
calor, inundações, erosão de solo, diminuição pação são necessariamente ruins. Em alguns
de qualidade e disponibilidade de água, perdas loteamentos e condomínios, por exemplo, o
de habitat e corredores para biodiversidade e saldo em áreas verdes antes e após o empreen-
agravamento de impactos às florestas nativas dimento pode ser positivo. Ainda assim, o tema
por aumento nos efeitos de borda, entre outros. inspira preocupações e deve merecer atenção
Naturalmente, esse cenário extremo teria especial no planejamento territorial da RBCV.
124 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Entre 2013 e 2015, a região sudeste do Brasil em 65 anos impactaram outros serviços ecossis-
enfrentou uma severa crise no abastecimento de têmicos e, potencialmente, a biodiversidade da
água, resultado direto de variações nos padrões RBCV (BUCKERIDGE e RIBEIRO; 2018). Produção
históricos dos índices pluviométricos. Como os de alimentos, lazer e turismo e produção madei-
reservatórios de abastecimento de água depen- reira foram alguns dos serviços ecossistêmicos
dem da estação chuvosa para o seu preenchimen- afetados. Questionários com quatro empresas
to, as secas e elevadas temperaturas ocorridas florestais com plantações na RBCV e áreas circun-
desde 2013 fizeram com que seus níveis atingissem vizinhas revelaram que os impactos da estiagem
volumes críticos em 2014. O sistema de abasteci- se refletiram na produção madeireira, maior vulne-
mento mais comprometido foi o Cantareira, princi- rabilidade a incêndios e a pragas e doenças (com
pal fornecedor de água para a RMSP que, na época, destaque para o percevejo bronzeado - Thaumas-
abastecia mais de 8 milhões de pessoas (AMBRIZZI tocoris peregrinus) (VICTOR et al., 2018).
e COELHO, 2018; BUCKERIDGE e RIBEIRO; 2018; A Tabela 5 destaca esses impactos e a
Tabela 5 | MILANO et al., 2018; BRAGA e KELMAN, 2016). Figura 8 representa as prováveis consequências
Impactos do período Além das questões ligadas à segurança desses impactos ao bem-estar humano dos pro-
de estiagem 2013- hídrica do maior contingente populacional do Bra- dutores florestais, diferenciados entre pequenos e
2015 na produção sil, as anomalias de precipitação mais severas grandes produtores.
madeireira,
vulnerabilidade Empresa Produção Vulnerabilidade Vulnerabilidade Impacto
a incêndios e a madeireira a incêndios a pragas e doenças econômico
pragas/doenças e
impacto econômico A Diminuiu Aumento Aumento Prejuízo
em quatro grandes discretamente significativo significativo econômico discreto
empresas florestais B Não se alterou Aumento significativo Aumento discreto Prejuízo econômico
com plantios nas discreto
bacias de abaste-
cimento da cidade C Diminuiu Prejuízo econômico
de São Paulo e discretamente Não se alterou Aumento discreto discreto
vizinhanças.
D Diminuiu Prejuízo econômico
Fonte: Victor et al.
consideravelmente Não se alterou Aumento significativo significativo
(2018: 64).
Para além da produção madeireira, é regulação da água por elas proporcionados. Consi-
necessária a visão sistêmica e sinérgica entre os derando que parte dos problemas do abastecimen-
vários componentes ecossistêmicos na RBCV: to da RMSP se relacionam com uso e ocupação da
estiagens severas afetam o bem-estar huma- terra (BUCKERIDGE; RIBEIRO, 2018), é importante
no pelo impacto na segurança hídrica e pela assegurar o correto manejo das florestas plantadas
redução de outros serviços dos quais depen- e mitigar as eventuais perdas dos serviços hídricos
dem importantes setores econômicos; por outro dessas áreas em virtude de sua conversão para
lado, as florestas plantadas contribuem ao abas- usos urbanos e outros com potenciais impactos
tecimento público pelos serviços de provisão e negativos sobre a água.

Quadro 1 |
Crise hídrica e
produção florestal
na RBCV.

Figura 8 |
Prováveis
consequências
sobre o bem-estar
humano dos
serviços ecossis-
têmicos afetados
pela crise hídrica.
Fonte: Victor et al.,
(2018: 67).
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 125

CONCLUSÕES uma perspectiva inovadora e necessária para


o planejamento e ordenamento territorial da
A melhoria da produtividade das florestas RBCV. Sua função de habitat e conectividade
plantadas, sobretudo ao longo do século 20, no na paisagem é importante para a conserva-
Brasil e, de forma especial, na RBCV, decorre ção da biodiversidade, ao passo que remoção
do desenvolvimento de tecnologia em todos e estocagem de carbono, conservação do solo,
os setores ligados à produção florestal, desde regulação hídrica e climática compõem outros
a produção de sementes e mudas melhoradas elementos importantes ao bem-estar huma-
geneticamente, aos tratos silviculturais e a no. Para que esses objetivos sejam atingidos,
colheita e processamento dos produtos flores- entretanto, é necessário incentivarem-se as
tais madeireiros, não madeireiros e seus deri- boas políticas e práticas produtivas e o correto
vados. Esses avanços estão refletidos na sig- manejo florestal, visando à redução ou elimi-
nificativa produção florestal do estado de São nação de eventuais “desserviços ecossistêmi-
Paulo e, especificamente, do território da RBCV cos” desses ecossistemas.
e de seus municípios integrantes. Os valores Diante da tendência observada de substi-
das produções florestais anuais do estado e da tuição das florestas plantadas por usos urbanos
RBCV ultrapassam as grandezas de 1,6 bilhão e e de infraestrutura, é urgente que o tema entre
198 milhões de reais, respectivamente. Ainda no radar do planejamento territorial da RBCV,
que a representatividade do valor econômico para fins de adoção de medidas preventivas e
da produção florestal da RBCV seja diminuta mitigadoras na escala dos empreendimentos
em relação ao seu PIB global, esta é altamen- e da própria reserva da biosfera. Sem prejuí-
te significativa para alguns municípios, atin- zo de outras respostas no campo das políticas
gindo a margem de décimos e ultrapassando a públicas, sugerem-se: i) ações de incentivo à per-
proporção de 8% do PIB municipal específico. manência da atividade florestal, mediante, por
Ademais, a reserva produz consideráveis 42% exemplo, pagamentos por serviços ambientais;
(2017) do carvão vegetal do estado de São Pau- ii) transformação de parte desses imóveis em
lo e, abaixo da escala regional, a atividade flo- áreas públicas e unidades de conservação,
restal representa excelente oportunidade de considerando-se, a título de exemplo, as pos-
negócio econômico para pequenos e médios sibilidades de medidas compensatórias que a
proprietários de terra que exercem atividades legislação ambiental estabelece; e iii) ampla
em seus municípios. discussão e implementação de formas mais
A abordagem dos serviços ecossistêmicos sustentáveis de conversão dessas florestas,
traz um outro olhar sobre essas florestas para valorizando a manutenção de serviços ecos-
além da madeira e outros produtos derivados. sistêmicos relevantes para a biodiversidade, o
A identificação destas florestas plantadas como bem-estar humano e a economia no território
provedoras de serviços ecossistêmicos lança da RBCV.

REFERÊNCIAS
AMBRIZZI, T.; COELHO, C. A. S. (2018). A crise BARAL, H.; et al., (2016). A proposed framework
hídrica e a seca de 2014 e 2015 em São Paulo: for assessing ecosystem goods and services from
Contribuições do clima e das atividades huma- planted forests. Ecosystem Services, v. 22, p.
nas. In: Buckeridge, M. and Ribeiro, W. C. Livro 260-268.
Branco da Água: A crise hídrica na Região BERNOUX, M. (2002). Brazil’s soil carbon stocks.
Metropolitana de São Paulo em 2013-2015: Soil Science Society of America Journal,
Origens, impactos e soluções. São Paulo: Insti- 66:888-896.
tuto de Estudos Avançados. 175, p. 22-35.
BRAGA, B.; KELMAN, J. (2016). Facing the
ARAUJO, V. A. et al. (2017). Importância da madei- challenge of extreme climate: the case of Metro-
ra de florestas plantadas para a indústria de politan São Paulo. Water Policy, 18(S2), 52-69.
manufaturados. Pesquisa Florestal Brasileira, BRASIL (2014). Decreto n. 8.375, de 11 de
v. 37, n. 90, p. 189-200. dezembro de 2014. Define a Política Agrícola
126 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

para Florestas Plantadas. Publicado no DOU de FAO – Food and Agriculture Organization of Uni-
12.12.2014. ted Nations (2006). Global Forest Resources
Assessment 2005: Progress Towards
BROCKERHOFF, E. G. et al. (2013). Role of Sustainable Forest Management, FAO Forestry
eucalypt and other planted forests in biodiversity Paper 147. FAO, Rome, Italy.
conservation and the provision of biodiversity-
Google Earth (2020). Disponível em: <https://ear-
-related ecosystem services. Forest Ecology
th.google.com/web/>. Acesso: 14 set. 2020.
and Management, v. 301, p. 43-50.
IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores (2019). Rela-
BUCKERIDGE, M.; RIBEIRO, W. C. (coord). (2018). tório 2019 / Report 2019. Indústria Brasileira de
Livro Branco da Água: A crise hídrica na Árvores, Brasilia, DF, 80 p.
Região Metropolitana de São Paulo em 2013-
2015: Origens, impactos e soluções. São Paulo: IPCC – INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLI-
Instituto de Estudos Avançados. 175 p. MATE CHANGE (2006). Guidelines for National
Greenhouse Gas Inventories, Prepared by
DOBBS et al. (2018). Beneficios de la silvicultura the National Greenhouse Gas Inventories
urbana y periurbana In: Unasylva 250, Vol. 69, Programme, EGGLESTON H.S., BUENDIA
2018/1, 88p. p. 22-29. L., MIWA K., NGARA T. and TANABE K. (eds).
EIGENHEER, D. M. (2018). Vetor noroeste e Published: IGES, Japan.
eixo São Paulo - Campinas: novos territó- KANNINEN, M. (2010). Plantation forests: Global
rios metropolitanos. Daniela Maria Eigenheer; perspectives. In Bauhus, J.; Meer, P. ; Kanninen,
Orientador Nestor Goulart Reis. Tese (Doutorado) M. (Eds.), Ecosystem goods and services from
- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni- plantation forests. (pp. 205-227). Washington,
versidade de São Paulo. Área de concentração: DC: Earthscan.
História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanis-
mo. 129 p. MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (2018). Projeções do Agronegó-
GIUBBINA, M. F. (2015). O efeito da estrutura cio - Brasil 2017/18 a 2027/28 - Projeções de
da matriz na percepção de aves de sub-bos- Longo Prazo. Secretaria de Política Agrícola. –
que na paisagem. Dissertação de mestrado, Brasília : MAPA/ACE, 112 p.
UNESP. 60 p.
McDONALD, R. et al. (2018). Nature in the Urban
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRA- Century: A global assessment of where and how
FIA E ESTATÍSTICA (2019a). Produção da to conserve nature for biodiversity and human
Extração Vegetal e Silvicultura, 2018. Rio de wellbeing, The Nature Conservancy - TNC.
Janeiro, 2019. Disponível em: <https://cidades.
ibge.gov.br/brasil/pesquisa/16/12705>. Acesso: MILANO, M., et al. (2018). Water supply basins
24/10/2019. of São Paulo metropolitan region: hydro-clima-
tic characteristics of the 2013-2015 water crisis.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E Water, 10(11), 1517; pp 1-19; doi:10.3390/w10111517.
ESTATÍSTICA (2019b). Cidades e estados. (Banco
de Dados. Todos os Municípios - SP). Disponível PEVS – Produção da Extração Vegetal e da Sil-
em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ vicultura (2018). Instituto Brasileiro de Geografia
sp.html>. Acesso: 25 nov. 2019. e Estatística (IBGE). Disponível em: <https://www.
ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e -e-pecuaria/9105-producao-da-extracao-vege-
Reforma Agrária (2018). Núcleo de Estudos Esta- tal-e-da-silvicultura.html>. Acesso: 13 set. 2020.
tísticos Cadastrais – NEEC, 2018. Disponível
em:<http://www.incra.gov.br/sites/default/files/ RICKETTS, T.H. (2001). The Matrix Matters:
uploads/estrutura-fundiaria/regularizacao-fun- Effective Isolation in Fragmented Landscape. The
diaria/estatisticas-cadastrais/estrutura_fundia- American Naturalist, 158: 87-99.
ria_-_brasil-07-2018.pdf>. Acesso em: 16/10/2019. SANTOS, J. S. (2014). Influência da permeabili-
FAO – Food and Agriculture Organization of dade da matriz e da heterogeneidade da pai-
United Nations (2020). Global Forest Resources sagem na conservação da biodiversidade de
Assessment 2020: Main report. Food and mamíferos terrestres. Tese de Doutorado. INPE,
Agriculture Organization of the United Nations, 82 p.
Rome. 184 p. SÃO PAULO (Estado). (2010). Secretaria do Meio
Ambiente. Inventário Florestal da Vegetação
FAO – Food and Agriculture Organization of
Natural do Estado de São Paulo (2008-2009),
United Nations (2010). Global Forest Resources
São Paulo: SMA/Instituto Florestal.
Assessment 2010 – Main report. FAO Forestry
Paper 163, Food and Agriculture Organization of SILVA, L. N.; FREER-SMITH, P.; MADSEN, P.
the United Nations, Rome, Italy. Production, restoration, mitigation: a new
RECURSOS FLORESTAIS MADEIREIROS E DERIVADOS 127

generation of plantations. New Forests, v. 50, n. UNITED NATIONS. (2019). Department of


2, p. 153-168, 2019. Economic and social Affairs, Population Division.
World Urbanization Prospects 2018: Highlights
SNIF – Sistema Nacional de Informações Flo-
(ST/ESA/SER.A/421), 38 p.
restais (2020). Portal do SNIF. Disponível em:
<http://snif.florestal.gov.br/pt-br/>. Acesso: 14 VICTOR, M. A. M. (1992). Aspectos positivos y
set. 2020. negativos de reflorestaciones industriales con
especies introducidas. Bosques y Futuros, n. 8,
SNIF – Sistema Nacional de Informações Flores-
p. 3-8.
tais (2019). Boletim SNIF 2019. Ed. 1. 2019. Servi-
ço Florestal Brasileiro, Brasília, DF., 37 p. VICTOR, R. A. B. M. et al. (2018). A escassez hídri-
ca e seus reflexos sobre os serviços ecossistêmi-
TEIXEIRA, F. D. (2015). O papel da matriz sobre os
cos e o bem-estar humano na Reserva da Bios-
padrões de diversidade da comunidade de aves
fera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo.
em fragmentos de Mata Atlântica. Dissertação
In: BUCKERIDGE, M.; RIBEIRO, W. C. Livro Branco
de Mestrado. UFMG, 59 p.
da Água: A crise hídrica na Região Metropolitana
THOMPSON, I. D. et al. (2014). Biodiversity and de São Paulo em 2013-2015: Origens, impactos e
ecosystem services: lessons from nature to soluções. São Paulo: Instituto de Estudos Avança-
improve management of planted forests for dos. 175, p. 54-73.
REDD-plus. Biodiversity and conservation, v.
23, n. 10, p. 2613-2635.

GLOSSÁRIO
A H
Alóctone | Espécie que não é originária da região Habitat | Local no qual vive determinado orga-
onde se encontra. nismo, inclui suas dimensões físicas, químicas e
biológicas.
B
Biomassa | Agregação de tecidos de origem
I
orgânica, vivos ou mortos, em um indivíduo, sis- Imóvel rural | Prédio rústico em área contínua,
tema ou comunidade. independente da localização (perímetro urba-
no, suburbano ou rural), que realiza atividades
C de exploração extrativa, agrícola, pecuária ou
Carvão vegetal | Combustível para geração de agro-industrial.
energia feito da queima parcial da madeira.
L
CO2 equivalente | Medida quantitativa de um
Látex | Líquido branco-leitoso encontrado nos
Gás de Efeito Estufa (GEE) em comparação ao
vasos laticíferos de algumas plantas, como, por
CO2, levando em consideração o Potencial de
exemplo, a seringueira (Hevea brasiliensis), utili-
Aquecimento Global desse gás. Expressa o quan-
zado para a produção de borracha.
to de CO2 seria emitido caso o GEE em questão
fosse emitido na forma deste gás. Lenha | Termo utilizado no campo energético
para se referir a madeira empregada para gera-
E ção de energia.
Eucalyptus | Gênero de plantas originário da M
Oceania com grande importância comercial devi-
do a suas propriedades físicas e químicas, que Matriz | Um complexo de mosaicos de diferentes
possibilitam diversos usos. tipos de uso e cobertura da terra que cercam as
áreas de habitat (RICKETS, 2001).
G
P
Goma resina | Produto de espécies de pinus
Permeabilidade da matriz | O quanto organis-
extraídos através da resinagem, comumente uti-
mos são capazes de se movimentar na matriz,
lizado em produtos farmacêuticos, cosméticos e
função não apenas de sua composição e estrutu-
de limpeza.
ra, mas também de características biológicas das
espécies (GIUBBINA, 2015; RICKETTS, 2001).
128 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

P
Pinus | Gênero de plantas pertencente à famí- Serviços ecossistêmicos | Benefícios diretos e
lia Pinaceae, com ocorrência natural quase que indiretos que o homem obtém a partir das intera-
exclusiva do Hemisfério Norte. Sua madeira é uti- ções que ocorrem nos ecossistemas.
lizada na construção civil, movelaria, produção
Silvicultura | Ciência dedicada ao estudo das
de papel e celulose entre outros usos, além da
técnicas naturais e artificiais de restauração,
resinagem, que possui grande valor comercial.
melhoramento e manutenção das florestas, defi-
Produto Interno Bruto (PIB) | Somatória de nindo a forma e momento no qual serão feitas
todos os bens e serviços produzidos em uma intervenções a fim de satisfazer as necessidades
cidade, estado ou país, geralmente no período de do mercado.
um ano.
T
S
Tora | Pedaço de madeira serrada sem ramos e
Serrapilheira | Biomassa acumulada sobre o galhos, com ou sem casca.
piso da superfície de sistemas vegetais. Origi-
nária da queda de orgãos ou partes das plantas
locais.
PARTE 1
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS DE PROVISÃO

1.3 PRODUTOS BIOQUÍMICOS,


MEDICAMENTOS NATURAIS E
PRODUTOS FARMACÊUTICOS:
O POTENCIAL
FARMACOLÓGICO DE
ESPÉCIES ENCONTRADAS
NA RBCV

Coordenadora
Massako Nakaoka Sakita | IF/SIMA

Autores
Massako Nakaoka Sakita | IF/SIMA
Denis Soares de Melo | UFBA

Autores contribuintes
Marina Mitsue Kanashiro | IF/SIMA
Debora Alves Ribas | Pesquisadora independente
Bely Clemente Camacho Pires | Pesquisadora independente - RdA
130 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto de abertura do capítulo:


Lantana camara L.,
cambará - medicinal e tóxica.
Fonte: Massako Nakaoka
Sakita (2013).
SUMÁRIO

Resumo.................................................................................................................. 135

1 | Introdução....................................................................................................... 136

2 | Serviço de provisão de produtos bioquímicos, medicamentos naturais


e produtos farmacêuticos............................................................................... 136

2.1 | Plantas medicinais no Brasil.................................................................. 138

3 | Provisão de produtos bioquímicos, medicamentos naturais e produtos


farmacêuticos na RBCV.................................................................................. 142

3.1 | As espécies tóxicas na RBCV: identificação, cuidados e medidas


preventivas............................................................................................. 150

4 | Contribuição dos serviços de provisão de produtos bioquímicos,


medicamentos naturais e produtos farmacêuticos para o bem-estar
humano na RBCV............................................................................................ 156

Conclusões ........................................................................................................... 162

Referências............................................................................................................ 163

Glossário .............................................................................................................. 167


132 SERVIÇOS
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
ECOSSISTÊMICOS EE BEM-ESTAR
BEM-ESTAR HUMANO
HUMANO NANA
RESERVA
RESERVA DA
DA BIOSFERA
BIOSFERA DO
DO CINTURÃO
CINTURÃO VERDE
VERDE DA
DA CIDADE
CIDADE DE
DE SÃO
SÃO PAULO
PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 Mercado mundial de fitoterápicos.
Figura 2 Cadeia produtiva de plantas medicinais.
Figura 3 Uso de plantas medicinais para pesquisa.
Figura 4 Uso de fitoterápicos na rede pública (Sistema Único de Saúde) do Brasil.
Figura 5 Quantidade de saída e de entrada de fitoterápicos, no Sistema Único de Saúde, de 2012
a 2018.
Figura 6 Criação e produção industrial de medicamentos a partir de princípios ativos de plantas.
Figura 7 Áreas potenciais de provisão de produtos bioquímicos, medicamentos naturais e
produtos farmacêuticos.
Figura 8 Senecio brasiliensis (Spreng.) Less.
Figura 9 Holocalyx balansae Mich.
Figura 10 Cestrum nocturnum L.
Figura 11 Triifolium repens L.
Figura 12 Euphorbia cotinifolia L.
Figura 13 Erythrina crista-galii L.
Figura 14 Euphorbia milii L.
Figura 15 Jatropha curcas L.
Figura 16 Mandala medicinal implantada por alunos do PJ-MAIS no NEE Horto / Cantareira.
Figura 17 Relação entre as principais atividades sobre os sistemas biológicos e o número de espécies
encontradas no levantamento botânico da RBCV.
QUADRO
Quadro 1 Mandala e horta medicinal.

TABELAS
Tabela 1 Lista de espécies utilizadas em produtos bioquímicos, medicamentos naturais e produtos
farmacêuticos encontrados na RBCV.
Tabela 2 Lista alfabética de algumas espécies medicinais de ocorrência na RBCV, com nome
científico, popular, parte usada e ações terapêuticas.
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 133
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

SIGLAS
MEA Millennium Ecosystem Assessment - Avaliação Ecossistêmica do Milênio
BIOTA/FAPESP Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso
Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo
CBIF Canadian Biodiversity Information Facility
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CRIA Centro de Referência em Informação Ambiental
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FEBRAFARMA Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
JRS Foundation JRS Biodiversity Foundation
MCTIC Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
OMS Organização Mundial da Saúde
PJ- MAIS Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social
PROMAFS (Oficina de) Produção e Manejo Agrícola e Florestal Sustentáveis
RAM Mecanismo de Reação Adversa
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
SES Secretaria de Estado da Saúde
SINITOX Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas
SUS Sistema Único de Saúde
134 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 135
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

RESUMO

D e acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso de plantas medicinais


na terapêutica é tão antigo quanto a própria civilização e está relacionado com
a evolução do homem. As plantas medicinais, as preparações fitofarmacêuticas e os produtos
naturais isolados constituem um mercado que movimenta bilhões de dólares, tanto em países
industrializados como em desenvolvimento. Os fitoterápicos sempre representaram uma
parcela expressiva no mercado de medicamentos. O setor movimentou, mundialmente, US$ 25
bilhões por ano em 2008. No Brasil foram vendidas aproximadamente 56 milhões de unidades
de fitoterápicos em 2014, gerando um faturamento total de R$ 1,1 bilhão, que representa 2,8%
do faturamento do mercado de medicamentos em geral. Atualmente, 12 espécies de plantas
fazem parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME, do SUS. Dentro
do escopo dos serviços ecossistêmicos da RBCV e sua relação com o bem-estar humano, o
presente trabalho teve como objetivo efetuar um levantamento e mapeamento da vegetação
com estudos publicados sob o ponto de vista químico, farmacológico, fitoquímico, medicinal
e tóxico. De acordo com o levantamento preliminar efetuado em 277 plantas entre as 2.256
espécies catalogadas pelo BIOTA-FAPESP, de ocorrência nos 78 municípios da RBCV, todas as
espécies listadas neste diagnóstico apresentaram algum estudo, demonstrando o potencial
que esta vegetação apresenta como serviços de provisão de produtos naturais. Entre as 277
plantas catalogadas, 20 espécies constam da lista das 74 plantas medicinais selecionadas
para estudos de interesse ao SUS, com monografias e estudos farmacológico pré-clínico,
clínico e toxicológico necessários para sua distribuição e uso pela população. A análise do
potencial farmacológico das espécies encontradas na RBCV traz resultados promissores para
os 78 municípios que compõem o Cinturão Verde, no tocante à utilização dessas plantas sob
o ponto de vista medicinal e farmacológico, contribuindo com o desenvolvimento de ações
relacionadas à conservação e preservação da vegetação para as gerações presentes e futuras.
136 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO Ombrófila Densa, Cerrado, Campos Naturais,


Florestas de Altitude, Restingas e Manguezais,

O
com cerca de 757 mil hectares de vegetação
uso de plantas medicinais na terapêutica
nativa. Nessa área, predomina a Mata Atlânti-
é tão antigo quanto a própria civilização e
ca, um dos biomas mais biodiversos e ameaça-
está relacionado com a evolução do ser huma-
dos do planeta.
no (UNESCO, 1996). Segundo Brito (1996),
Localmente, as matas do Cinturão Verde
países como França e Alemanha reconhecem
são determinantes no oferecimento de servi-
oficialmente o uso de plantas medicinais para
ços ecossistêmicos essenciais à manutenção
uso terapêutico e possuem farmacopeias espe-
da vida, como formação dos solos, ciclagem de
cializadas no assunto. Para Di Stasi (1996), as
nutrientes, produção primária, polinização,
plantas medicinais referem-se única e exclusi-
resiliência. Em função da sua biodiversidade,
vamente às espécies vegetais que durante gera-
o Cinturão Verde se constitui como reserva
ções foram incorporadas na cultura dos povos
para descobertas em benefício do ser huma-
graças ao seu potencial terapêutico.
no, como a produção de fármacos e substân-
Cerca de 250 mil espécies vegetais são
cias de valor econômico e se configura como
fontes de drogas para a população mundial
importante provedor de produtos medicinais
e, aproximadamente 220 drogas usadas atu-
naturais (RODRIGUES; VICTOR; PIRES, 2006).
almente, são derivadas de plantas (NEVES,
Embora a biodiversidade (plantas e animais)
2001). Dos medicamentos utilizados na terapia
seja fonte de vários componentes usados em
moderna, 24% foram produzidos pela extração
produtos bioquímicos, medicamentos naturais
de produtos naturais, dos quais 120 são obtidas
e produtos farmacêuticos, este capítulo abor-
de plantas (HOSTETTMANN et al., 2003).
dará somente os usos de plantas medicinais,
Tanto a pressão urbana sobre os recursos
sua abordagem na legislação brasileira, espé-
naturais como exploração comercial de plantas
cies existentes na região abrangida pela RBCV
medicinais, podem comprometer a disponibi-
(incluindo espécies consideradas tóxicas) e sua
lidade deste serviço ecossistêmico em deter-
contribuição com o bem-estar humano, especi-
minadas regiões. Os apelos econômicos destas
ficamente para tratamentos de saúde.
plantas, que se apresentam como alternativa

2 | SERVIÇO DE PROVISÃO
de geração de renda, aumentam os riscos de

DE PRODUTOS BIOQUÍMICOS,
destruição do nicho ecológico de várias espé-

MEDICAMENTOS NATURAIS
cies, podendo levar à erosão genética (MON-
TANARI JÚNIOR, 2002), já que a degradação

E PRODUTOS FARMACÊUTICOS
acelerada dos ecossistemas e o desmatamento
está provocando a extinção de espécies nativas
(RODRIGUES; VICTOR; PIRES, 2006).
Incluindo integralmente as regiões Muitas espécies abrigadas pelos ecossis-
metropolitana de São Paulo e da Baixada San- temas são fundamentais para a saúde huma-
tista e municípios de características periur- na. Segundo a Avaliação Ecossistêmica do Milê-
banas, a RBCV foi declarada pela UNESCO em nio (Millennium Ecosystem Assessment - MEA
1994, com o objetivo de promover o equilíbrio (MILLENNIUM..., 2005), importantes drogas,
entre o cinturão verde da cidade de São Paulo como a aspirina, são derivadas de produtos natu-
e as cidades que ele circunda. Na definição de rais, levando a indústria farmacêutica a investir
seus limites, foram considerados os aspectos pesadamente na exploração de espécies pre-
sistêmicos de seu metabolismo para assegurar sentes em florestas tropicais e corais de recifes.
a conservação da biodiversidade e dos serviços Ainda segundo a Avaliação do Milênio, a malária,
ecossistêmicos de suas áreas e o bem-estar da umas das doenças mais letais do mundo, tem
população dessa região (RODRIGUES; VICTOR; sido historicamente tratada com medicamentos
PIRES, 2006). derivados de produtos naturais, como o quini-
Na RBCV, os principais tipos de vegetação no. Produtos naturais também são importantes
são a Floresta Atlântica Ombrófila Densa e Semi- fontes de novos componentes de fármacos para
decidual, áreas de contato Savana/Floresta tratamento de doenças como câncer.
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 137
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

As plantas medicinais, as preparações Rodrigues; Nogueira (2008) e Batalha et al.,


fitofarmacêuticas e os produtos naturais iso- (2003).
lados constituem um mercado que movimenta A Figura 2 ilustra o acesso do consumidor
bilhões de dólares, tanto em países industria- final às plantas medicinais, que pode ser feito
lizados como em desenvolvimento (SKELLY, diretamente nos ecossistemas, como indireta-
1996). Na indústria farmacêutica brasilei- mente por meio de produtores ou intermediá-
ra, em 1996, foi registrado que 25% dos U$ 8 rios (vendas com ou sem manipulação). Obser-
bilhões de faturamento foram provenientes de va-se também processos de cultivo, pesquisa,
medicamentos derivados de plantas (GUERRA; industrialização, comercialização e uso dessas
NODARI, 2003). Os fitoterápicos sempre apre- plantas em diferentes produtos, como cosméti-
sentaram uma parcela expressiva no mercado cos, medicamentos e alimentos, possibilitando
de medicamentos. Segundo Carvalho (2008), a movimentação financeira, além da já citada
o setor movimenta mundialmente US$ 21,7 especificamente para o mercado fitoterápico.
bilhões por ano. Segundo o IMS Health, citado A Fitoterapia descreve medidas preven-
por ANVISA (2015), em 2014 foram vendidas tivas contra as enfermidades e tratamento de
no Brasil aproximadamente 56 milhões de uni- doenças e distúrbios da saúde por meio do uso
dades de fitoterápicos, faturando um total de de plantas e pelas suas preparações. As plantas
R$ 1,1 bilhão, que representa 2,8% do fatura-
mento do mercado de medicamentos em geral.
(ANVISA, 2019).
De acordo com Alves (2010), o comércio
mundial de fitoterápicos entre 2002 e 2005 foi
da ordem de US$ 25 bilhões por ano, sendo US$
7 bilhões na Europa (onde a Alemanha é res-
ponsável por 50% desse valor) e US$ 4 bilhões
na Ásia (Figura 1). No Brasil esse mercado
alcança U$ 160 milhões por ano. Uma estimati-
va da Global Industry Analysts (TERRA, 2013)
sobre o mercado mundial de suplementos de Figura 1 |
Mercado mundial
de fitoterápicos.
ervas medicinais indicava que deveriam ser
Fonte: International
movimentados US$ 107 bilhões em 2017.
A Figura 2 mostra a cadeia produtiva de Medical Statistics (2008
plantas medicinais, elaborada com base em apud ALVES, 2010)

Figura 2 |
Cadeia produtiva de
plantas medicinais.
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em Rodrigues
e Nogueira (2008) e
Batalha et al. (2003).
138 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

utilizadas para esse fim são denominadas de 2.1 I Plantas medicinais no Brasil
plantas medicinais1. A fitoterapia é somente
uma parte do estudo mais abrangente das plan- No Brasil, o uso de plantas medicinais,
tas medicinais, o qual engloba a fitoquímica, a principalmente em populações carentes, é
fitofarmácia, a fitofarmacologia e a fitoterapia decorrente de vários fatores, incluindo o difícil
(Figura 3). acesso à assistência médica e farmacêutica, o
A fitoquímica ocupa-se exclusivamente custo dos medicamentos industrializados e à
dos constituintes das plantas e descreve pos- tendência dos consumidores a utilizarem pro-
síveis compostos que possam ser investigados dutos de origem natural decorrente de uma
quanto à sua ação farmacológica. O objetivo consciência ecológica estabelecida nos últimos
da fitofarmácia é a droga vegetal, isto é, para anos (SIMÕES et al., 1998).
cada medicamento, a matéria prima necessá- Apesar do uso de plantas com finalidades
ria, que pode ser usada sob a forma de chá ou medicinais ser bastante antigo, a Organização
de preparações farmacêuticas, obtidas atra- Mundial da Saúde (OMS) aceitou que os fitoterá-
vés de diferentes métodos extrativos. Uma picos são eficazes na profilaxia e no tratamento
parte importante da fitofarmácia é a farma- e cura de várias doenças somente em 1978. Em
cognosia que identifica a droga vegetal por 2005, a OMS publicou o documento Política Na-
inspeção e métodos físico-químicos altamente cional de Medicina Tradicional e Regulamenta-
especializados para a identificação da droga ção de Medicamentos Fitoterápicos2, que discu-
vegetal. A fitofarmacologia engloba a farma- te a situação mundial a respeito de políticas de
cologia pré-clínica (eficácia e mecanismo de medicina tradicional e fitoterápicos, reforçando
reação adversa - RAM - do fármaco nos ani- o compromisso com o estímulo e com sua inser-
mais mamíferos) e farmacologia clínica (efi- ção no sistema oficial de saúde de seus 191 esta-
cácia e mecanismo de reação adversa - RAM dos membros, incluindo o Brasil. A inclusão bra-
- do fármaco no ser humano, voluntário sadio), sileira é reforçada pelo fato do país ter a maior
com importância na avaliação da eficácia dos diversidade genética vegetal do mundo, totali-
medicamentos fitoterápicos. A fitoterapia des- zando aproximadamente 55.000 espécies cata-
creve as possibilidades e limites do tratamen- logadas de um total estimado entre 350.000 e
to com medicamentos fitoterápicos nas indi- 550.000 espécies e, também, por possuir ampla
cações da medicina humana (FINTELMANN; tradição do uso das plantas medicinais, vincula-
WEISS, 2010). da ao conhecimento popular, transmitido oral-
mente por gerações.

Figura 3 |
Uso de plantas
medicinais para
pesquisa.
Fonte: elaboração
própria.
1
Plantas medicinais - é a planta selecionada, silvestre populacional, uma doença), curativa ou para fins de
ou cultivada, utilizada popularmente como remédio no diagnóstico, com benefício para o usuário. É o produto
tratamento de doenças. final acabado, embalado e rotulado. Não podem estar
2
Medicamentos fitoterápicos - é todo medicamento tec- incluídas substâncias ativas de outras origens, não sen-
nicamente obtido e elaborado empregando-se exclu- do considerado produto fitoterápico quaisquer substân-
sivamente matérias-primas vegetais, com finalidade cias ativas isoladas (ainda que de origem vegetal), ou
profilática (medidas que visam prevenir, em nível mesmo em misturas.
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 139
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

Com a aprovação e a publicação do Decre- espécies vegetais nativas e exóticas


to nº 5.813, em 22 de junho de 2006 (BRASIL, adaptadas, priorizando as necessida-
2006a), instituindo a Política Nacional de Plan- des epidemiológicas da população;
tas Medicinais e Fitoterápicos - (PNPMF) e com ¢ Incentivar a incorporação racional de
a publicação pelo Ministério da Saúde do texto: novas tecnologias no processo de produ-
“A Fitoterapia no SUS e o Programa de Pesquisas ção de plantas medicinais e fitoterápicas;
de Plantas Medicinais da Central de Medicamen-
¢ Garantir e promover segurança, eficá-
tos” (BRASIL, 2006b), contendo a listagem de 74
cia e qualidade no acesso a plantas medi-
plantas já utilizadas pela população, a fitote-
cinais e fitoterápicas; promover o uso
rapia reforçou seu papel de resgatar a cultura
sustentável da biodiversidade e a repar-
tradicional do uso de plantas medicinais, de
tição dos benefícios derivados do uso
contribuir com o fortalecimento dos princípios
dos conhecimentos tradicionais asso-
fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS)
ciados e do patrimônio genético;
e de propiciar a uniformização dos padrões de
produção e fornecimento das plantas medici- ¢ Promover a inclusão da agricultura
nais e fitoterápicos, garantindo a qualidade nos familiar nas cadeias e nos arranjos pro-
serviços e insumos disponíveis aos usuários do dutivos das plantas medicinais, insu-
SUS (RODRIGUES; SANTOS; AMARAL, 2006). mos e fitoterápicos;
Nestas 74 plantas selecionadas foram ¢ Estabelecer uma política intersetorial
efetuados ensaios farmacológicos pré-clínicos para o desenvolvimento socioeconô-
e/ou clínicos de toxicologia pré-clínica e/ou mico na área de plantas medicinais e
clínica toxicológica. Esta legislação amplia as fitoterápicos;
opções terapêuticas aos usuários, com garan- ¢ Incrementar as exportações de fitote-
tia de acesso às plantas medicinais (coleta e rápicos e insumos relacionados, priori-
identificação botânica correta), fitoterápicos e zando aqueles de maior valor agregado;
serviços relacionados à fitoterapia, com segu- ¢ Estabelecer mecanismos de incentivo
rança, eficácia e qualidade, na perspectiva da para a inserção da cadeia produti-
integralidade da atenção à saúde, considerando va de fitoterápicos no processo de
o conhecimento tradicional das plantas medi- fortalecimento da indústria farma-
cinais (BRASIL, 2006a; 2006b). cêutica nacional.
Entre as diretrizes contidas no Decreto
podem-se citar:
A Política Nacional de Plantas Medicinais
¢ Regulamentar o cultivo, o manejo sus-
e Fitoterápicos vem garantir à população brasi-
tentável, a produção, a distribuição e o
leira o acesso seguro e o uso racional de plantas
uso de plantas medicinais e fitoterápi-
medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso
cas, conforme as experiências da socie-
sustentável da biodiversidade, o desenvolvimen-
dade civil nas suas diferentes formas
to da cadeia produtiva e da indústria nacional.
de organização;
(Figura 4 e 5).
¢ Promover a formação técnico-cientí- Segundo um estudo feito por Caccia-Brava
fica e capacitação no setor de plantas et al., (2015), a partir de um levantamento de
medicinais e fitoterápicas; incentivar informações em 2.285 unidades do SUS de 413
a formação e a capacitação de recur- municípios paulistas, 104 municípios disponi-
sos humanos para o desenvolvimento bilizam medicamentos fitoterápicos ou plantas
de pesquisas, tecnologias e inovação medicinais elencadas na Relação Nacional de
em plantas medicinais e fitoterápicas; Medicamentos Essenciais (RENAME) para uso
estabelecer estratégias de comunica- no SUS. Os autores ressaltam que o estudo não
ção para divulgação do setor de plantas evidencia a existência de políticas públicas que
medicinais e fitoterápicas; estruturem essa prática e sim apenas o uso de
¢ Fomentar pesquisa, desenvolvimen- medicamentos fitoterápicos. Também é ressal-
to tecnológico e inovação com base na tado que o estudo não é completo, uma vez que,
biodiversidade brasileira, abrangendo em 60 municípios, os responsáveis das unidades
140 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 4 |
Uso de
fitoterápicos
na rede pública
(Sistema Único de
Saúde) do Brasil.
Fonte: Adaptado
de Jornal do
Senado (2018).

Figura 5 |
Quantidade de
saída e de entrada
de fitoterápicos,
no Sistema Único
de Saúde,
de 2012 a 2018.
Fonte: Adaptado
de Brasil (2019).
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 141
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

de saúde informaram haver disponibilidade de plantas cientificamente validadas como medi-


fitoterápicos ou plantas medicinais, mas não cinais, daquelas que trabalham com plantas de
souberam informar a planta utilizada. Os fito- uso empírico ainda sujeito a validação científi-
terápicos do elenco da RENAME levantados no ca (MATOS, 2002a).
estudo foram espinheira-santa, guaco, alcacho- Em 12 de fevereiro de 2001 foi instituí-
fra, cáscara-sagrada, aroeira, garra-do-diabo, da a Resolução SES nº 1.590 que, em seu Anexo
isoflavona-de-soja e unha-de-gato. Os municí- I, Item. 1.1.11, estabeleceu pela primeira vez a
pios da RBCV que informaram o uso de algum Farmácia Viva no sistema de saúde do estado
desses fitoterápicos foram: Campo Limpo Pau- do Rio de Janeiro (RIO DE JANEIRO, 2001). A
lista, Cotia, Itarari, Mauá, Praia Grande, Santos. normativa abrange estrutura e prática de cul-
O uso de plantas medicinais pelo SUS dá tivo de plantas medicinais nativas ou aclimata-
início ao uso disciplinado do emprego da fitote- das, com perfil (estudo) químico definido, para
rapia de base científica a partir do conjunto de dispensação (ato de fornecimento ao consu-
plantas colecionadas por gerações sucessivas midor de drogas, medicamentos fitoterápicos,
de uma população que tinha como única alter- insumos farmacêuticos e correlatos), de planta
nativa para a cura dos seus males o uso empí- fresca e ou seca, podendo ter acoplada uma Ofi-
rico de plantas medicinais de fácil acesso em cina de Fitoterápicos. Por sua vez, a Oficina Far-
cada região do país (MATOS, 2002b). macêutica de Fitoterápicos pode conter área
Como exemplo do uso das plantas medi- física acoplada ou não, aos canteiros de plantas
cinais no SUS, destaca-se o projeto “Farmácias medicinais e manipulação de medicamentos
Vivas”, estabelecido pela Portaria nº 886/2010 fitoterápicos magistrais e oficinais.
(BRASIL, 2010), e cujo idealizador, define como Na Figura 6 observam-se as etapas que
um meio de desenvolver a assistência social uma Farmácia Viva pode conduzir até à indus-
farmacêutica prestada a comunidades gover- trialização e comercialização, passando por
namentais ou privadas, cuja execução exige a identificação botânica correta, estudos quími-
colaboração interativa entre o médico, o far- cos e farmacológicos, síntese e modificação de
macêutico e o agrônomo (MATOS, 2002a). Com molécula. Em cada etapa é representada, por
a designação de Farmácias Vivas, procura-se meio dos símbolos de cifrão, a respectiva movi-
distinguir o tipo de horta onde se cultivam mentação financeira.

Figura 6 I
Criação e produção
industrial de
medicamentos a
partir de princípios
ativos de plantas.
Fonte: Adaptado
de Matos (2007).
142 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

A Portaria nº 886, de 20 de abril de 2010 das plantas e pela orientação do trabalho desde
(BRASIL, 2010), que institui a Farmácia Viva no a etapa de coleta, preparação e controle de qua-
âmbito do SUS, sob gestão estadual, municipal lidade dos fitoterápicos; agrônomo, contribuin-
ou do Distrito Federal, prevê que a Farmácia do com treinamento em horticultura e técnicas
Viva deve realizar todas as etapas necessárias de multiplicação de plantas, para orientar seu
ao uso das plantas medicinais, desde o cultivo cultivo, controle do crescimento das plantas e a
(preparo do local para plantio); sementeira; preparação de mudas (MATOS, 2002a; 2002b).

3 | PROVISÃO DE PRODUTOS
propagação (por sementes, propagação vege-

BIOQUÍMICOS,
tativa3, estaquias4); plantio de mudas (divisão
de touceira); coleta; processamento (limpeza e

MEDICAMENTOS NATURAIS E
secagem); armazenamento de plantas medici-

PRODUTOS FARMACÊUTICOS
nais; manipulação e a dispensação de prepara-
ções magistrais5 e oficinais6 de plantas medici-

NA RBCV
nais e fitoterápicos.
De acordo com a Portaria, a implantação
de Projeto Farmácia Viva, visa realizar o aten-
dimento integrado da população em Fitotera- A Avaliação Ecossistêmica do Milênio -
pia, implementar uma horta de plantas medi- MEA foi implementada e conduzida entre 2001
cinais, produzir medicamentos fitoterápicos e e 2005 com a participação de governos, setor
promover o resgate e a valorização da cultura privado, organizações não governamentais e
popular no que se refere à utilização de plantas de cientistas, com o objetivo de compreender
medicinais bem como a introdução de conhe- qual a consequência das mudanças nos ecos-
cimentos científicos, através de palestras edu- sistemas para o bem-estar humano e analisar
cativas, informativos, cartilhas, visitas domi- as alternativas para a melhor conservação
ciliares. Para tanto, são elencados as etapas a dos ecossistemas. O MEA enfoca com particu-
serem seguidas (BRASIL, 2010): lar atenção os vínculos entre os serviços dos
1. Envolvimento da comunidade ecossistemas e o bem-estar humano. (MILLEN-
2. Levantamento do uso popular de plan- NIUM..., 2003).
tas medicinais Um ecossistema é um complexo dinâmico
3. Seleção de espécies medicinais a se- de comunidades de plantas, animais e micro-
rem produzidas organismos e o meio ambiente inorgânico inte-
4. Implantação da Farmácia Viva ragindo como uma unidade funcional. Os pro-
5. Repasse do conhecimento popular dutos da biodiversidade incluem muitos dos
A Farmácia Viva instalada em uma comu- serviços prestados pelos ecossistemas. Além
nidade deve contar com apoio técnico-científico do importante papel em prover os serviços dos
como requisito, e ser dirigida com a colabora- ecossistemas, a diversidade das espécies têm
ção dos seguintes profissionais: médico fitote- valor intrínseco independentemente de seu
rapeuta responsável pelo diagnóstico e orien- significado para os seres humanos.
tação do tratamento com plantas; farmacêutico Os serviços dos ecossistemas são os bene-
com treinamento em farmacognosia e farma- fícios que as pessoas obtêm desses sistemas.
cotécnica como responsável pela identificação Inclui serviços de provisão, regulação, serviços
culturais e suporte, que afetam diretamente
o ser humano. Estes serviços mantêm a biodi-
3
Reproduzir plantas através de partes da planta mãe ou versidade e produtos do meio ambiente como:
matriz. madeira, combustíveis de biomassa, produtos
4
Estacas entre 5 a 20 cm como melissa, sabugueiro,
boldo baiano. farmacêuticos, industriais e precursores (MIL-
5
Preparada na farmácia, a partir de uma prescrição de LENNIUM..., 2003).
profissional habilitado, destinada a um paciente indi-
vidualizado, e que estabeleça em detalhes sua composição, Em relação ao serviço ecossistêmico de
forma farmacêutica, posologia e modo de usar. provisão de produtos bioquímicos, medica-
6
Preparada na farmácia, cuja fórmula esteja inscrita no
Formulário Nacional ou em Formulários Internacionais
mentos naturais e produtos farmacêuticos na
reconhecidos pela ANVISA. RBCV, foram consideradas todas as áreas com
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 143
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

vegetação natural (KRONKA et al., 2005), como da planta), Farmacológico - FARMAC (ensaios
área potencial para fornecer este serviço, espe- pré-clínico e clínico dos extratos vegetais),
cificamente plantas medicinais. Foram utiliza- Medicinal - MED (estudo de plantas com ativi-
dos dados do programa BIOTA/FAPESP para dade fitoterápica) e Tóxico - TÓXICO (plantas
poder relacionar quais são as espécies já estu- com princípios ativos tóxicos) (ALBIERO, 2005;
dadas dentro da área (BIOTA FAPESP, 2019). BRAZ FILHO; SOUZA; MATTOS, 1981; CONE-
Dentro do Programa BIOTA/FAPESP foi GERO et al., 2003; DAILY, 1997; DOMINGUEZ,
organizado um banco de dados intitulado “Bio- 1973; FERRO, 2008; FUKUYAMA et al., 1983;
ta Georreferenciada do Estado de São Paulo”, FURUTA; FUKUYAMA; ASAKAWA, 1986; GUP-
que apresenta registros pontuais da ocorrên- TA, 1995; KLEIN JÚNIOR, 2011; LUNG; FOSTER,
cia de espécies para todo o estado de São Paulo. 1996; MARTINS et al., 1995; MARTINS, 1998;
Partindo deste banco de dados, efetuou- MARTINS et al., 2000; MARTINS et al., 2009;
-se o levantamento para os 78 municípios que MATOS, 2012; MATOS, 2007; MATTOS, 1996;
a RBCV abrange, resultando na catalogação de MORAES et al., 2002; MORAES; BRAZ FILHO,
2.256 espécies. 2007; SANTOS, 2012; SETZER et al., 2000; SILVA
Baseado neste estudo efetuou-se o levan- et al., 2009; SILVA-JR et al., 1994; TONA, 1999).
tamento inicial das espécies com estudo Quími- Foi elaborado mapa de áreas potenciais des-
co - QUIM (caracterização química dos princí- te serviço ecossistêmico, conforme Figura 6 e
pios ativos extraídos das plantas), Fitoquímico Tabela 1, onde são destacadas as espécies de
- FITOQ (estudo dos metabólitos secundários interesse do SUS.

Figura 7 I
Áreas potenciais
de provisão
de produtos
bioquímicos,
medicamentos
naturais e produtos
farmacêuticos.
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em Kronka et al.
(2005).
144 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Família Espécie Nome popular Farmac. Fitoq. Quím. Med. Tóxico


Asteraceae Achillea millefolium mil-folhas
Asteraceae Achyrocline satureoides marcela-do-campo
Solanaceae Acnistus arborescens fruto-de-sabiá
Asteraceae Ageratum conyzoides mentrasto
Euphorbiaceae Alchornea glandulosa tapiá
Euphorbiaceae Alchornea sidifolia tanheiro
Euphorbiaceae Alchornea triplinervia tapiá
Verbenaceae Aloysia virgata cambará
Amaranthaceae Alternanthera brasiliana doril
Amaranthaceae Alternanthera tenella caruru
Amaranthaceae Amaranthus retroflexus bredo
Amaranthaceae Amaranthus spinosus caruru
Asteraceae Ambrosia polystachya cravo-da-roça
Anacardiaceae Anacardium occidentale caju
Leguminosae Anadenanthera colubrina angico-branco
Leguminosae Anadenanthera falcata angico-do-cerrado
Leguminosae Anadenanthera peregrina angico-de-curtume
Leguminosae Andira fraxinifolia angelim
Leguminosae Andira humilis pau-de-morcego
Annonaceae Annona cacans araticum-cagão
Annonaceae Annona montana fruta-do-conde
Annonaceae Annona squamosa fruta-pinha
Aristolochiace Aristolochia cymbifera jarrinha
Bignoniaceae Arrabidaea chica cipó-cruz
Asteraceae Artemisia vulgaris artemísia
Apocynaceae Aspidosperma cylindrocarpo peroba-poca
Apocynaceae Aspidosperma olivaceum guatambu
Apocynaceae Aspidosperma parvifolium pau-pereira
Apocynaceae Aspidosperma ramiflorum peroba-amarela
Asteraceae Baccharis dracunculifolia vassourinha
Asteraceae Baccharis elaeagnoides vassourão
Asteraceae Baccharis gaudichaudiana carqueja
Asteraceae Baccharis genistelloides carqueja
Asteraceae Baccharis illinita erva-milagrosa
Asteraceae Baccharis ligustrina carqueja
Asteraceae Baccharis megapotamica miomio-do-banhado
Asteraceae Baccharis oxyodonta carqueja
Asteraceae Baccharis punctulata carqueja
Tabela 1 I
Lista de espécies Asteraceae Baccharis serrulata vassoura
utilizadas em
Asteraceae Baccharis trimera carqueja
produtos bioquímicos,
medicamentos Rutaceae Balfourodendron riedelianu
pau-marfim
naturais e produtos
Leguminosae Bauhinia forficata pata-de-vaca
farmacêuticos
encontrados na RBCV. Leguminosae Bauhinia microstachya escada-de-macaco
Fonte: Elaboração
Leguminosae Bauhinia purpurea unha-de-vaca
própria.
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 145
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

Família Espécie Nome popular Farmac. Fitoq. Quím. Med. Tóxico


Berberidaceae Berberis laurina raiz-de-são-joão
Asteraceae Bidens pilosa picão-preto
Asteraceae Bidens segetum picão-carrapicho
Myrtaceae Blepharocalyx salicifolius murta, guámirim
Rubiaceae Borreria verticillata vassourinha-de-botão
Leguminosae Bowdichia virgilioides sucupira-preta
Brassicaceae Brassica rapa nabo
Bromeliaceae Bromelia antiachantha maguatá
Solanaceae Brunfelsia pauciflora manacá-de-cheiro
Solanaceae Brunfelsia uniflora manacá-de-cheiro
Malpighiaceae Byrsonima intermedia murici
Leguminosae Caesalpinia echinata pau-brasil
Leguminosae Caesalpinia ferrea pau-ferro
Leguminosae Cajanus cajan guandu
Asteraceae Calea cuneifolia raposeira-branca
Asteraceae Calea pinnatifida cipó-cruz-do-norte
Asteraceae Calendula officinalis calendula
Clusiaceae Calophyllum brasiliense guarandi
Myrtaceae Calyptranthes lucida guamirim
Myrtaceae Campomanesia guaviroba gabiroba
Myrtaceae Campomanesia phaea cambuci
Myrtaceae Campomanesia xanthocarpa
gabiroba
Solanaceae Capsicum baccatum pimenta
Flacourtiaceae Casearia sylvestris guaçatonga
Leguminosae Cassia cathartica sene-do-campo
Leguminosae Cassia ferruginea chuva-de-ouro
Leguminosae Cassia fistula lixeirinha
Leguminosae Cassia tora lixeirinha
Cucurbitaceae Cayaponia martiana tamirá
Cucurbitaceae Cayaponia pilosa cabeça-de-negro
Cucurbitaceae Cayaponia tayuya abobrinha-do-mato
Cecropiaceae Cecropia glaziovii embaúba
Cecropiaceae Cecropia hololeuca embaúba-prata
Cecropiaceae Cecropia pachystachya embaúba
Meliaceae Cedrela fissilis cedro-rosa
Meliaceae Cedrela odorata cedro-do-brejo
Apiaceae Centella asiatica centela
Tabela 1 I
Leguminosae Centrolobium robustum araribá Lista de espécies
Leguminosae Centrolobium tomentosum araribá utilizadas em
produtos bioquímicos,
Solanaceae Cestrum corymbosum coerana-amarela
medicamentos
Solanaceae Cestrum laevigatum coerana naturais e produtos
farmacêuticos
Solanaceae Cestrum nocturnum dama-da-noite
encontrados na RBCV.
Asteraceae Chaptalia nutans língua-de-vaca Fonte: Elaboração
própria.
Rubiaceae Chiococca alba cainca
(continuação)
146 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Família Espécie Nome popular Farmac. Fitoq. Quím. Med. Tóxico


Lauraceae Cinnamomum hirsutum canela
Vitaceae Cissus tinctoria
Vitaceae Cissus verticillata cipó-pucá
Capparaceae Cleome spinosa mussambé
Leguminosae Clitoria guyanensis cunhã
Polygonaceae Coccoloba crescentiaefolia
tangara-guaçu-caa
Leguminosae Copaifera langsdorffii copaíba
Boraginaceae Cordia curassavica erva-baleeira
Boraginaceae Cordia ecalyculata café-de-bugre
Boraginaceae Cordia verbenacea erva-baleeira
Brassicaceae Coronopus didymus mentruz
Euphorbiaceae Croton celtidifolius pau-sangue
Euphorbiaceae Croton floribundus capixingui
Euphorbiaceae Croton fuscescens caatinga-de-cheiro,
canelinha ou
alecrim-de-cabloco
Euphorbiaceae Croton macrobothrys pau-sangue
Euphorbiaceae Croton salutaris sangue-de-drago
Euphorbiaceae Croton urucurana sangra-d'água
Lauraceae Cryptocarya aschersoniana
canela-batalha
Lauraceae Cryptocarya moschata amecica
Lythraceae Cuphea carthagenensis sete-sangria
Dilleniaceae Curatella americana lixeira
Convolvulaceae Cuscuta racemosa cipó-chumbo
Leguminosae Cyclolobium clausseni quebra-machado
Poaceae Cymbopogon citratus capim-limão
Cyperaceae Cyperus esculentus tiririca
Cyperaceae Cyperus rotundus tiririca-do-brejo
Leguminosae Dalbergia ecastophyllum marmelo-do-mangue
Leguminosae Desmodium adscendens trevinho-do-campo,
pega-pega-graúdo.
Leguminosae Dimorphandra mollis
faveiro
Leguminosae Dioclea violacea cipó-de-imbiri
Sapindaceae Dodonaea viscosa vassoura-vermelha
Alismataceae Echinodorus grandiflorus chapéu-de-couro
Alismataceae Echinodorus macrophyllus chapéu-de-couro
Alismataceae Eclipta alba erva-botão
Asteraceae Elephantopus mollis língua-de-vaca
Tabela 1 I
Lista de espécies Asteraceae Emilia sonchifolia falsa-serralha
utilizadas em Leguminosae Erythrina cristagalli suinã
produtos bioquímicos,
Leguminosae Erythrina falcata corticeiro-da-serrra
medicamentos
naturais e produtos Erythroxylacea Erythroxylum vaccinifolium
catuaba
farmacêuticos
Myrtaceae Eugenia beaurepaireana eucalipto
encontrados na RBCV.
Fonte: Elaboração Myrtaceae Eugenia brasiliensis grumixama
própria.
Myrtaceae Eugenia cerasiflora guamirim
(continuação)
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 147
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

Família Espécie Nome popular Farmac. Fitoq. Quím. Med. Tóxico


Myrtaceae Eugenia cereja cerejeira
Myrtaceae Eugenia florida pitanga-preta
Myrtaceae Eugenia involucrata cereja-do-mato
Myrtaceae Eugenia pyriformis uvaia
Myrtaceae Eugenia speciosa laranjinha-do-mato
Myrtaceae Eugenia sulcata pitanga-preta
Myrtaceae Eugenia uniflora pitanga
Asteraceae Eupatorium laevigatum vassoura
Euphorbiaceae Euphorbia cotinifolia leiteiro-vermelho
Euphorbiaceae Euphorbia milii coroa-de-cristo
Moraceae Ficus insipida fiqueira-branca-
-do-brasil
Apiaceae Foeniculum vulgare fucho
Rubiaceae Genipa americana jenipapo
Meliaceae Guarea guidonia marinheiro
Meliaceae Guarea macrophylla guarea
Sterculiaceae Guazuma ulmifolia mutambo
Amaranthaceae Hebanthe paniculata ginseng-brasileiro
Chloranthaceae Hedyosmum brasiliense hortelã-do-brejo
Leguminosae Holocalyx balansae alecrim-de-campinas
Leguminosae Hymenaea courbaril jatobá
Clusiaceae Hypericum brasiliense erva-de-são joão
Hypericaceae Hypericum perforatum erva-de-são joão
Aquifoliaceae Ilex paraguariensis erva-mate
Convolvulaceae Ipomoea batatas batata-doce
Convolvulaceae Ipomoea cairica ipoméia
Euphorbiaceae Jatropha curcas pinhão-manso
Euphorbiaceae Jatropha gossypifolia pinhão-roxo
Lythraceae Lafoensia pacari dedaleiro
Verbenaceae Lantana camara cambará
Melastomatacea Leandra australis pixirica
Melastomatacea Leandra purpurascens pixirica
Lauraceae Licaria armeniaca louro-pimenta
Verbenaceae Lippia alba cidrão,
alecrim-do-mato
Caprifoliaceae Lonicera japônica madressilva
Tiliaceae Luehea divaricata açoita-cavalo
Leguminosae Machaerium scleroxylon jacarandá-ferro,
caviuna
Tabela 1 I
Euphorbiaceae Manihot esculenta mandioca Lista de espécies
Myrtaceae Marlierea obscura araçazeiro utilizadas em
produtos bioquímicos,
Myrtaceae Marlierea tomentosa marlieria, pindaíba medicamentos
Celastraceae Maytenus aquifolia espinheira-santa naturais e produtos
farmacêuticos
Celastraceae Maytenus dasyclada coração-de-bugre
encontrados na RBCV.
Celastraceae Maytenus evonymoides coração-de-bugre Fonte: Elaboração
própria.
Celastraceae Maytenus glaucescens cancorosa
(continuação)
148 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Família Espécie Nome popular Farmac. Fitoq. Quím. Med. Tóxico


Celastraceae Maytenus gonoclada maiteno-gonoclada
Celastraceae Maytenus ilicifolia espinheira-santa
Celastraceae Maytenus littoralis

Celastraceae Maytenus robusta cafezinho
Celastraceae Maytenus salicifolia maiteno-robusta
Lamiaceae Mentha pulegium poejo
Melastomatacea Miconia albicans miconia-branca
Melastomatacea Miconia cabussu cabussu
Melastomatacea Miconia chamissois jacatirão-do-brejo
Melastomatacea Miconia fallax
Melastomatacea Miconia ligustroides miconia
Melastomatacea Miconia sellowiana miconia
Asteraceae Mikania cordifolia guaco
Asteraceae Mikania glomerata guaco
Asteraceae Mikania laevigata guaco
Asteraceae Mikania lanuginosa guaco-cabeludo
Leguminosae Mimosa scabrella bracatinga
Myrtaceae Myrceugenia myrcioides araçarana
Myrtaceae Myrceugenia pilotantha
Myrtaceae Myrcia pubipetala guamirim-araçá
Myrtaceae Myrcia richardiana ingabaú
Myrtaceae Myrcia rostrata guamirim-da-
folha-fina
Myrtaceae Myrcia tomentosa mirtácia
Myrtaceae Myrciaria floribunda cambuí
Leguminosae Myrocarpus frondosus cabreúva-vermelha
Leguminosae Myroxylon peruiferum cabreúva
Lauraceae Nectandra grandiflora canela-amarela
Lauraceae Nectandra membranacea canela-branca
Lauraceae Nectandra puberula canela-imbuia
Lauraceae Ocimum selloi benth alfavaca
Lauraceae Ocotea aciphylla canela-poca
Lauraceae Ocotea catharinensis canela-preta
Lauraceae Ocotea corymbosa canela-de-porco
Lauraceae Ocotea glaziovii canela-amarela
Lauraceae Ocotea nectandrifolia canela-burra
Lauraceae Ocotea odorifera canela-sassafrás
Lauraceae Ocotea puberula canela-guaicá
Tabela 1 I
Lista de espécies Lauraceae Ocotea pulchella canela-lageana
utilizadas em Lauraceae Ocotea teleiandra canela-limão
produtos bioquímicos,
medicamentos Ochnaceae Ouratea multiflora

naturais e produtos Ochnaceae Ouratea parviflora coração-de-bugre
farmacêuticos
Ochnaceae Ouratea semiserrata caju-bravo
encontrados na RBCV.
Fonte: Elaboração Passifloraceae Passiflora alata maracujá
própria.
Phytolaccaceae Petiveria alliacea L guiné
(continuação)
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 149
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

Família Espécie Nome popular Farmac. Fitoq. Quím. Med. Tóxico


Amaranthaceae Pfaffia glomerata ginseng-brasileiro
Phytolacaceae Phytolacca americana cururú
Myrtaceae Pimenta pseudocaryophyllus
pau-cravo
Piperaceae Piper abutiloide
Piperaceae Piper aduncum pimenta-de-macaco
Piperaceae Piper amalago pimentinha-de-macaco
Piperaceae Piper arboreum pimenta-de-macaco
Piperaceae Piper caldense jaborandi
Piperaceae Piper cernuum pariparoba;
jaborandi-cepoti;
pimenta-de-morcego
Piperaceae Piper crassinervium jaborandi
Piperaceae Piper gaudichaudianum jaborandi
Piperaceae Piper hispidum pimenta-de-macaco
Piperaceae Piper malacophyllum

Piperaceae Piper mikanianum pariparoba
Piperaceae Piper mollicomum jaborandi
Piperaceae Piper permucronatum
Piperaceae Piper regnellii caapeba
Piperaceae Piper solmsianum caapeba e jaguarandi
Leguminosae Piptadenia adiantoides
Leguminosae Piptadenia gonoacantha pau-jacaré
Plantaginaceae Plantago australis tanchagem
Polygalaceae Polygala cyparissias gelol-da-praia, gelol
Polygonaceae Polygonum persicaria erva-de-bicho
Polygonaceae Polygonum hidropiperoides
erva-de-bicho
Sapotaceae Pouteria gardneriana guapeva-peluda
Piperaceae Pothomorphe umbellata caapeba
Myrtaceae Psidium cattleyanum araçá
Myrtaceae Psidium guajava L goiabeira
Vochysiaceae Qualea grandiflora pau-terra
Rosaceae Rubus brasiliensis amora-preta
Anacardiaceae Schinus molle aroeira
Anacardiaceae Schinus terebinthifolius aroeira-mansa
Leguminosae Schizolobium parahyba guapuruvu
Leguminosae Sclerolobium denudatum passariúva
Scrophulariace Scoparia dulcis vassourinha-doce
Asteraceae Senecio brasiliensis maria-mole,
flor-das-almas
Tabela 1 I
Sapindaceae Serjania caracasana
Lista de espécies
Smilacaceae Smilax fluminensis salssaparilha utilizadas em
produtos bioquímicos,
Solanaceae Solanum lycocarpum lobeira
medicamentos
Solanaceae Solanum paniculatum jurubeba-verdadeira naturais e produtos
farmacêuticos
Asteraceae Solidago microglossa arnica-brasileira
encontrados na RBCV.
Malpighiaceae Stigmaphyllon tomentosum
cipó-de-ouro Fonte: Elaboração
própria.
Leguminosae Stryphnodendron adstringens
barbatimão
(continuação)
150 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Família Espécie Nome popular Farmac. Fitoq. Quím. Med. Tóxico


Styracaceae Styrax camporum benjoeiro
Apocynaceae Tabernaemontana fuchsiaefo
leiteiro
Apocynaceae Tabernaemontana laeta cinco-chagas
Magnoliaceae Talauma ovata pinha-do-brejo
Leguminosae Tipuana tipu tipuana
Leguminosae Trifolium repens trevo-branco
Asteraceae Vernonia condensata boldo-da-bahia
Asteraceae Vernonia diffusa pau-toucinho
Tabela 1 I
Lista de espécies Asteraceae Vernonia ferruginea assa-peixe
utilizadas em Asteraceae Vernonia polyanthes vassourão-branco
produtos bioquímicos,
Vochysiaceae Vochysia tucanorum vinhático
medicamentos
naturais e produtos Annonaceae Xylopia aromatica pau-tucano
farmacêuticos
Annonaceae Xylopia brasiliensis pimenta-de-macaco
encontrados na RBCV.
Fonte: Elaboração Rutaceae Zanthoxylum riedelianum pindaíba
própria.
Sterculiaceae Waltheria indica L malva-branca
(continuação)
Nota: Em destaque: Espécies que constam da lista da publicação “A fitoterapia no SUS e o Programa de Pesquisa de Plantas da Central
de Medicinais" (RODRIGUES; SANTOS e AMARAL, 2006).

3.1 I As espécies tóxicas na RBCV:


identificação, cuidados e medidas
Nos levantamentos realizados na área

preventivas
abrangida pela RBCV, foram registrados 38
municípios com ocorrências de espécies com
uso farmacológico, destacando-se São Paulo
(487 ocorrências), Ibiúna (247) e Cotia (99). Nesta seção são apresentadas algumas
Quanto às espécies com estudos fitoquímicos, plantas consideradas tóxicas ou responsáveis
foram registrados 33 municípios com ocor- por intoxicações, com suas respectivas ilustra-
rências, sendo que os que apresentaram maior ções fotográficas, nomes científicos, sinonímia
número de espécies foram Cotia (84), Ibiúna botânica, nomes populares, princípio tóxico
(209), Jundiaí (44) e São Paulo (388). Em rela- quando conhecido, sintomatologia da intoxica-
ção ao levantamento químico inicial, 45 muni- ção, prevenção e tratamento.
cípios apresentam espécies com estudos quí- As plantas tóxicas têm provocado graves
micos publicados, destacando-se os municípios acidentes, e representam a quarta causa de
de Cotia (104), Ibiúna (258), Jundiaí (60) e São intoxicações no âmbito da saúde pública, com
Paulo (632). perda de vidas humanas, com incalculável pre-
As espécies com utilização medicinal juízo para o erário, com instalação e manuten-
foram encontradas em 35 municípios. Des- ção dos serviços de emergência especializada
tacam-se: Arujá (2), Atibaia (8), Bertioga (6), (MATOS et al., 2011).
Biritiba-Mirim (4), Bragança Paulista (19), Entre essas plantas consideradas tóxicas,
Cabreúva (3), Caieiras (1), Cajamar (1), Cotia muitas são ornamentais e podem ser encontra-
(43), Embu (1), Guarujá (2), Guarulhos (6), Ibi- dos em jardins, quintais, parques, vasos, pra-
úna (74), Iguape (1), Itanhaém (4), Jacareí (2), ças e terrenos baldios. Algumas dessas plantas
Jaraguá (1), Joanópolis (2), Jundiaí (34), Juquiti- são conhecidas e muito bonitas. Todavia, quan-
ba (1), Mogi das Cruzes (5), Nazaré Paulista (4), do colocadas na boca ou manipuladas, podem
Osasco (1), Paraibuna (3), Pereiras (1), Piracaia causar graves intoxicações, principalmente em
(1), Salesópolis (6), Santa Branca (1), Santa Isa- crianças menores de 5 anos.
bel (1), Santos (3), São José dos Campos (9), São Esses acidentes com plantas tóxicas
Paulo (374), São Roque (3), São Sebastião (4), podem ocorrer de forma direta ou indireta. Em
São Vicente (2). sua forma direta, ocorre pela ingestão acidental
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 151
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

de frutos tóxicos confundidos com alimentos, por S.brasiliensis também em equinos (PILATI;
ou pelo uso inadequado de chás de plantas BARROS, 2007).
medicinais ou abortivas ingeridas por engano, Manihot esculenta Crantz (mandioca-bra-
ou por imprudência. Os acidentes ocorridos de va, macaxeira, aipim) foi encontrada em Cotia e
forma indireta se dão pelo consumo de produ- Franco da Rocha. Os tubérculos se constituem
tos de animais que tenham ingerido plantas alimento para o ser humano, desde que elimi-
tóxicas cujo princípio ativo possa estar acumu- nado o excesso de ácido cianídrico (HCN). Os
lado no leite ou na carne (MATOS et al., 2011). princípios tóxicos são os glicosídios linamari-
Apesar de a Lantana camara L. (cambará- na e lotoaustralina. Um dos cuidados refere-
-de-cheiro, camará) ser citada e utilizada como -se ao cultivo de tipos de mandioca com menor
medicinal, estudos apontam que os frutos con- teor de cianogênicos. O tratamento deve ser
têm substância tóxica, necessitando de cuida- imediato, com lavagem gástrica e com inalação
dos em sua utilização. A intoxicação por Lanta- de nitrito de amila por 3 segundos e respiração
na camara ocorre no bovino, ovinos e caprinos artificial (MATOS et al., 2011).
(MATOS et al., 2011). No ser humano pode ocor- Quanto às intoxicações dos animais, ocor-
rer pela ingestão dos frutos de sabor adocicado, rem quando são administrados os tubérculos
que pode atrair principalmente as crianças. Os aos ruminantes imediatamente após a colhei-
sinais são caracterizados pela náusea, vômitos, ta ou durante a fabricação de farinha e outros
diarreia, letargia, fotofobia e midríase, poden- produtos, quando os animais têm acesso à
do evoluir até o óbito. Para evitar a intoxicação, manipueira, líquido rico em ácido cianídrico
as crianças devem ser alertadas quanto ao ris- resultante da compressão da massa ralada dos
co da ingestão dos frutos ou torná-los inacessí- tubérculos (CANELLA; DOBEREINER; TOKAR-
veis. Os princípios tóxicos são os lantadenos A e NIA, 1968).
B. Quanto ao tratamento, pode ser complemen- As espécies Anadenanthera falcata Ben-
tado com pomadas à base de vitamina A para th. Speg. (angico-do-cerrado), Cestrum noctur-
cicatrização, anti-histamínicos e antibióticos num L. (dama-da-noite), Erythrina cristagalli L.
(TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000; (corticeira), Euphorbia milli L. (coroa-de-cris-
RIET-CORREA et al., 1993). to), Euphorbia cotinifolia Holocalyx balansae
Verificou-se a ocorrência de Lantana Mich. (alecrim-de-campinas), Jatropa curcas
camara L. em Cotia e São Paulo. Foi encontra- L. (pinhão-roxo), Machaerium scleroxylon Tul.
do Senecio brasiliensis (Spreng.) Less (flor- (caviúna), Solanum lycocarpum A. St. Hil (lobei-
-das-almas) espécie tóxica com ocorrência ra ou fruta-de-lobo), Stryphynodendron adstri-
nos municípios de Bragança Paulista, Cotia, gens (Mart.) Coville (barbatimão) e Trifolium
Piracaia e São Paulo. Por ser planta de pasta- repens L. (trevo-branco) citadas como tóxicas
gem, ocorre a intoxicação de gados que podem foram encontradas no município de São Paulo.
se alimentar, passando o alcaloide para o lei- É de suma importância mencionar as espécies
te produzido (HOEHNE, 1978; BARROS et al., consideradas tóxicas uma vez que a população
2007). Verificou-se intoxicação experimental utiliza muitas plantas como fitoterápicos.
152 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Família: Asteraceae.
Nome Científico: Senecio brasiliensis (Spreng.). Less
Nome Popular: maria-mole, flor-das-almas.
Partes Tóxicas: folhas e frutos.
Princípio Ativo: alcaloides não atropínicos, senecina, seneco-
filina e brasilenecina.
Sintomas: predominam sintomas gastrointestinais: náuseas,
cólicas abdominais diarreia. Distúrbios hidroeletrolíticos. Rara-
mente torpor e discreta confusão mental.
Tratamentos: esvaziamento gástrico (muitas vezes não é
necessária lavagem gástrica). Antiespasmódico, antiemético.
Manter o estado de hidratação. Pronto atendimento, lavagem
gástrica e procedimentos para neutralizar os componentes.
Referências: Barros et al. (2007); Hoehne (1978); Pilati; Barros
Figura 8 | (2007).
Senecio brasiliensis
(Spreng.) Less.

Família: Caesalpinaceae.
Nome Científico: Holocalyx balansae Mich.
Nome Popular: alecrim-de-campinas, alecrim, pau-alecrim,
ibirapepê.
Partes Tóxicas: a planta toda.
Princípio Ativo: planta cianogênica, que possui glicosídeo
cianogênico como princípio ativo principal. Este se torna tóxico
ao entrar em contato com enzima específica, presente no trato
digestivo, que o hidroliza produzindo ácido cianídrico, glicose e
benzaldeído.
Os efeitos tóxicos se devem ao íon cianeto, proveniente do áci-
do cianídrico, que atua inibindo a enzima citocromo oxidase,
impedindo que as células de receberem oxigênio das hemácias.
Sintomas: alteração da postura (desequilíbrio); cabeça baixa; apatia; taquicardia; dispneia; pulso negativo;
poliúria. Evolução dos sintomas para contração espasmódica da musculatura dos membros e pescoço, cul-
minando em queda brusca e permanência em decúbito lateral. Os sintomas podem aparecer de 3 a 5 minutos
após ingestão da planta, podendo regredir entre 6 a 8 minutos ou evoluir até o óbito em 3 a 5 horas.
Tratamentos: pronto atendimento. Exames laboratoriais para detecção de tiocianatos na saliva ou cianeto no
sangue. Nitrito de amila por via inalatória 30 seg a cada 2 min: formação de cianometahemoglobina (atóxica).
Nitrito de Sódio 3% - 10mL EV (adultos).
Figura 9 | Origem: Brasil.
Holocalyx balansae
Referências: Francisco; Pinotti (2000); Matos et al. (2011).
Mich.

Família: Solanaceae.
Nome Científico: Cestrum nocturnum L.
Nome Popular: dama-da-noite, flor-da-noite, jasmim-da-noite,
rainha-da-noite, coirana, coerana, jasmim-verde.
Partes Tóxicas: frutos imaturos e folhas.
Princípio Ativo: glicosídeo do grupo das saponinas.
Sintomas: náuseas e vômitos, seguidos de agitação psico-
motora, distúrbios comportamentais e alucinações, midríase e
secura das mucosas.
Tratamentos: pronto atendimento, lavagem gástrica e procedi-
mentos para neutralizar os componentes.

Figura 10 | Referências: Matos et al. (2011).


Cestrum nocturnum L.
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 153
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

Família: Fabaceae.
Nome Científico: Trifolium repens L.
Nome Popular: trevo-branco, trevo-coroa-de-rei,
trevo-da-holanda, trevo-ladino e trevo-rasteiro.
Partes Tóxicas: folhas e brotos.
Princípio Ativo: glicosídeo cianogênico.
Sintomas: quando hidrolisado produz o ácido cia-
nídrico. Impede a respiração celular, vômitos, debi-
lidade nos membros, visão turva, convulsões, perda
de consciência, parada cardiorespiratória, chegan-
do à morte.
Tratamentos: pronto atendimento, lavagem gás-
trica e procedimentos para neutralizar o ácido
cianídrico.
Referências: Pereira (1992). Figura 11|
Triifolium repens L.

Família: Euphorbiaceae.
Nome Científico: Euphorbia cotinifolia L.
Nome Popular: leiteiro-vermelho, caracasa-
na, barrabás, aiapana, açacuí, figueirinha-roxa,
maleiteira.
Partes Tóxicas: látex.
Princípio Ativo: toxalbumina (4 deoxigenol).
Sintomas: irritação de pele e mucosas com hipere-
mia ou vesículas e bolhas; pústulas, prurido, dor em
queimação.
Ingestão: lesão irritativa, sialorreia, disfagia, ede-
ma de lábios e língua, dor em queimação, náuseas,
vômitos. Contato ocular: Conjuntivite (processos
inflamatórios), lesões de córnea.
Tratamentos: lesões de pele: cuidados higiênicos, lavagem com permanganato de potássio 1:10.000, poma-
das decorticoides, anti-histamínicos VO. Ingestão: evitar esvaziamento gástrico. Analgésicos e antiespasmó-
dicos. Protetores de mucosa (leite, óleo de oliva). Casos graves: corticoides. Contato ocular: lavagem com
água corrente, colírios antissépticos, avaliação oftalmológica.
Figura 12 |
Referências: Matos et al. (2011).
Euphorbia cotinifolia L.

Família: Fabaceae (Leguminosae).


Nome Científico: Erythrina crista-galii L.
Nome Popular: mulungu, murungu, sanandu, suína,
suína, corticeira-do-banhado, sananduva, corticeira,
crista-de-galo, samauveiro, seibo, flor-de-coral.
Partes Tóxicas: a planta inteira.
Princípio Ativo: alcaloides (eritroidina, eritramina,
eritralina e eritradina).
Sintomas: depressão neurológica, astenia, parali-
sia muscular, podendo ocorrer a morte por asfixia
em consequência da paralisia de músculos do sis-
tema respiratório. Segundo especialistas, os alca-
loides desta planta são facilmente absorvidos pelo
trato gastrintestinal, sendo rapidamente eliminados
pelos rins, diminuindo a gravidade da intoxicação.
Tratamentos: o tratamento é sintomático, esvaziamento gástrico, poderá ser feita lavagem gástrica. Não há
dose letal registrada na literatura.
Referências: Hoehne (1978); Lorenzi ; Matos (2002). Figura 13 |
Erythrina crista-galii L.
154 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Família: Euphorbiaceae.
Nome Científico: Euphorbia milii L.
Nome Popular: coroa-de-cristo, coroa-de-espinhos.
Partes Tóxicas: todas as partes da planta.
Princípio Ativo: látex irritante.
Sintomas: a seiva leitosa causa lesão na pele e mucosas,
edema de lábios, boca e língua, dor, queimação e coceira.
O contacto com os olhos provoca irritação, lacrimejamen-
to, edema das pálpebras e dificuldade de visão.
Se os olhos forem atingidos, esse látex pode provocar per-
furação da córnea e, consequentemente, cegueira.
Tratamentos: nos casos de ingestão da planta, é neces-
sária a realização de uma lavagem gástrica, com pos-
terior administração de carvão ativado, laxantes e de
analgésicos.
Origem: Madagascar.
Figura 14 | Referências: Matos et al. (2011).
Euphorbia milii L.

Família: Euphorbiaceae.
Nome Científico: Jatropha curcas l.
Nome Popular: pinhão-de-purga, pinhão-de-cerca,
purgante-de-cavalo, manduigaçu, figo-do-inferno,
mamoninho, pinhão roxo.
Partes Tóxicas: folhas e frutos.
Princípio Ativo: ésteres de forbol.
Sintomas: Ingestão: a ingestão do fruto causa náuseas,
vômitos, cólicas abdominais intensas, diarreia sangui-
nolenta, sangramento da mucoca, dispneia, hipotensão,
arritmia e parada cardíaca. Evolução para desidratação
grave, choques, insuficiência renal, coma. Apresentam
atividades carcinogênicas e ação inflamatória. Contato:
O contato com o látex, pelos e espinhos, são irritante de
pele e mucosas.
Tratamentos: não existem antídotos específicos. Anties-
pasmódicos, antieméticos, eventualmente antidiarreicos.
O tratamento tem sido sintomático e preventivo, a fim de se evitar complicações cardiovasculares, neurológi-
cos e renais. A lavagem gástrica sempre deve ser tomada como medida preliminar. Lesões de pele: soluções
antissépticas, analgésicos, anti-histamínicos. Casos graves: corticoides.
Figura 15 |
Referências: Matos et al. (2011).
Jatropha curcas L.

No Brasil, 60% dos casos de intoxica- ¢ Conhecer as plantas venenosas exis-


ção por plantas tóxicas ocorrem com crianças tentes em casa e arredores pelo nome e
menores de nove anos e 80% dessas ocorrências características;
são acidentais (VINICIUS, 2009). Para auxiliar ¢ Ensinar as crianças a não colocar plan-
na prevenção desses acidentes, o Sistema Nacio- tas na boca e não utilizá-las como brin-
nal de Informações Tóxico-Farmacológicas - quedos (fazer comidinhas, tirar leite,
SINITOX, em parceria com os centros de Belém, etc);
Salvador, Cuiabá, Campinas, São Paulo e Porto
¢ Não preparar remédios ou chás casei-
Alegre, criaram em junho de 1998, o Programa
ros com plantas sem orientação médica;
Nacional de Informações sobre Plantas Tóxicas.
A elaboração e distribuição de material educati- ¢ Não comer folhas e raízes desconheci-
vo de prevenção e tratamento são as principais das. Lembrar que não há regras ou tes-
metas do programa. Destacam-se como medidas tes seguros para distinguir as plantas
preventivas para evitar acidentes: comestíveis das venenosas. Nem sem-
¢ Manter as plantas venenosas fora do pre o cozimento elimina a toxicidade
alcance das crianças; da planta;
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 155
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

¢ Tomar cuidado ao podar as plantas que Em caso de dúvidas e esclarecimentos,


liberam látex provocando irritação na a população pode entrar em contato com o
pele, principalmente nos olhos; Disque-Intoxicação, cujo telefone é 0800-722-
¢ Evitar deixar os galhos em qualquer 6001. A ligação é gratuita e o usuário é atendi-
local onde possam vir a ser manusea- do por uma das 36 unidades da Rede Nacional
dos por crianças; de Centros de Informação e Assistência Toxico-
¢ Quando estiver lidando com plantas lógica (RENACIAT), presentes em 19 Estados.
venenosas, usar luvas e lavar bem as Estas e outras informações podem ser
mãos após esta atividade; obtidas no Sistema Nacional de Informações
¢ Em caso de acidente, procurar imedia- Tóxico-Farmacológicas – SINITOX /Fundação
tamente orientação médica e guardar a Oswaldo Cruz – FIOCRUZ (SISTEMA NACIO-
planta para identificação. NAL..., 2001).

O Programa de Jovens - Meio Ambiente e


Integração Social (PJ-MAIS), iniciado em 1996, é
um programa de educação ecoprofissional e for-
mação integral de adolescentes de 15 a 21 anos
Quadro 1 |
de idade, habitantes de zonas periurbanas e de Mandala e horta
entorno de áreas protegidas da RBCV. medicinal.
O treinamento ecoprofissional ocorre em
quatro oficinas temáticas que abrangem uma
ampla gama de possibilidade de atuação pro-
fissional do jovem no chamado “ecomercado
de trabalho”. Estas oficinas são: i. Produção e
Manejo Agrícola e Florestal Sustentáveis; ii.
Turismo Sustentável; iii. Consumo, Lixo e Arte; iv.
Agroindústria Artesanal. As oficinas abrangem
uma ampla gama de possibilidade de atuação
profissional do jovem no ecomercado de trabalho. embasamento teórico prático da Oficina de
O PJ-MAIS tem se consolidado como um mode- PROMAFS.
lo exitoso de conservação ambiental, educação No âmbito do PJ-MAIS foi desenvolvido
ecoprofissional, uso sustentável de recursos estudo de caso exploratório-descritivo, sobre a
naturais, formação de redes locais e inclusão implantação de horto medicinal no NEE Horto/
social (RBCV, 2006). As oficinas ocorrem nos Cantareira (RIBEIRO et al., 2008). Os critérios
chamados Núcleos de Educação Ecoprofissio- empregados pelos autores para a escolha de
nal (NEEs), implantados em sistema de parceria plantas foram espécies nativas da Mata Atlântica
entre o poder público municipal, estadual e o ter- e disponibilidade de informação científica sobre
ceiro setor. as espécies. Os autores efetuaram levantamen-
No Núcleo de Educação Ecoprofissional Hor- to bibliográfico e documental sobre PJ-MAIS, a
to Florestal/Cantareira, do PJ-MAIS, instalado RBCV e as oficinas desenvolvidas no Programa.
no Parque Estadual Alberto Loefgren, no período Foram realizadas entrevistas não estruturadas
de 2006 a 2009, os educandos desenvolveram com pesquisadores e técnicos do PJ-MAIS e do
como atividade complementar da Oficina de Instituto Florestal. Para esta pesquisa, os autores
Produção e Manejo Agrícola e Florestal Susten- utilizaram as espécies Baccharis trimera (Less.)
tável (PROMAFS), as etapas de planejamento, DC. (carqueja-amarga) e Ageratum conyzoides L.
operacionalização e o monitoramento de uma (mentrasto) por serem nativas da Mata Atlântica,
mandala medicinal. herbáceas (facilitando o manejo) e pela facilida-
O plantio em forma de mandala se deve ao de de literatura disponível. Os dados foram ana-
seu formato circular, orgânico, sem início e sem lisados para identificar o potencial de implanta-
fim, como símbolo de equilíbrio e harmonia das ção de uma horta medicinal visando à formação
energias. A atividade prática na implantação da ecoprofissional dos alunos. Os autores concluí-
mandala medicinal integra a capacitação com- ram que a implantação de hortas medicinais no Figura 16 |
plementar dos jovens no resgate dos conhe- PJ-MAIS é viável do ponto de vista educacional, Mandala medicinal
cimentos tradicionais e culturais de diversas possibilitando o aprendizado sobre o uso das implantada por alunos do
etnias, em que os estudos etnobotânicos das plantas, seu cultivo, processamento e sobre a PJ-MAIS no NEE Horto /
interações entre populações tradicionais e apli- conservação ambiental e o potencial de uso da Cantareira.
Fonte: Massako Nakaoka
cações das plantas medicinais contribuem no flora da Mata Atlântica.
Sakita (2009).
156 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

4 | CONTRIBUIÇÃO DOS
SERVIÇOS DE PROVISÃO DE
saúde. A diferença entre sintoma e sinal é que
este pode ser percebido por outra pessoa sem

PRODUTOS BIOQUÍMICOS,
o relato ou comunicação do paciente e o sinto-

MEDICAMENTOS NATURAIS E
ma é a queixa relatada pelo paciente, mas que

PRODUTOS FARMACÊUTICOS
só ele consegue perceber. Sintomas são subje-
tivos. A variabilidade descritiva dos sintomas

PARA O BEM-ESTAR HUMANO


varia enormemente em função da cultura do

NA RBCV
paciente, assim como da valorização que cada
pessoa dá às suas próprias percepções. Assim
é importante conhecer quais são as princi-
pais causas, bem como os principais sinais e
Desde 1978, a Organização Mundial de
sintomas, das principais doenças que afetam
Saúde (OMS) tem feito incentivos em investi-
os seres humanos. Como exemplos de sinais e
mentos públicos em plantas medicinais. Por
sintomas que nem sempre estão associados a
causa da pobreza e da falta de acesso a medica-
doenças específicas pode-se citar taquicardia,
mentos industrializados, aproximadamente 65
bradicardia, palpitação, dor, boca seca, febre/
a 80% da população mundial que vive nos paí-
pirexia, caquexia, xerostomia (LÓPEZ; LAU-
ses em desenvolvimento utilizam de plantas
RENTIS, 1988).
medicinais (OMS, 2000). Oliveira (1985) cita
No intuito de conhecer o potencial de ser-
que medicina popular se constitui como uma
viços ecossistêmicos de provisão de produtos
entre várias medicinas, devendo ser entendida
bioquímicos, medicamentos naturais e produ-
na sua relação com as demais. Lorenzi; Matos
tos farmacêuticos da RBCV e sua contribuição
(2002a; 2002b) citam a medicina popular tam-
com o bem-estar humano, especificamente o
bém como “caseira” ou “tradicional”. De acordo
uso de plantas medicinais para tratamento de
com a Política Nacional de Plantas Medicinais
saúde, foi feito um levantamento botânico da
e Medicamentos, os fitoterápicos são medica-
região. As plantas descritas nesse levantamen-
mentos cujos componentes terapeuticamente
to englobam inúmeras atividades biológicas,
ativos são exclusivamente plantas ou deriva-
dentre as quais se destaca as seguintes apli-
dos vegetais (extratos, sucos, óleos, ceras, etc.),
cações: afecções das vias respiratórias, gota
não podendo ter em sua composição, a inclusão
(inflamação nas articulações devido ao acú-
de substâncias ativas isoladas, de qualquer
mulo de ácido úrico), dores musculares e nas
origem, nem associações destas com extratos
articulações, gastrite, hemorroidas, gengivite,
vegetais. Fitofármacos é fármaco (composto
escabiose (sarna), anemia, gripe, agitação psi-
químico com atividade terapêutica) extraído
comotora e deficiência de vitamina A.
de vegetais ou seus derivados. O uso de medica-
mentos fitoterápicos com finalidade profilática, Adicionalmente, estas plantas apresen-
curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico, tam ações adstringentes, analgésica, ansiolítica,
passou a ser oficialmente reconhecido pela antiartrítica, antiasmática, antibiótica, anti-
OMS em 1978, que recomendou a difusão, em blenorrágica, antidiarreica, antiespasmódica
nível mundial, dos conhecimentos necessários (espasmolítica), antihemorrágica, antiinflama-
para o seu uso (BRASIL, 2001). tória, antimalárica, antiofídica, antipirética,
Quando se busca o tratamento contra antireumática, antiséptica, antisifilítica, anti-
alguma enfermidade, o que se procura é com- tumoral, antitussígena, cicatrizante, colerética,
bater suas causas e/ou combater os sinais e colagoga, diurética, fungicida, hepatoproteto-
sintomas. Define-se sintoma como qualquer ra, hipnótica, hipotensora, imunoestimulante,
alteração da percepção normal que uma pes- sedativa, laxante, bronco-pulmonares, repelen-
soa tem de seu próprio corpo, do seu meta- te de insetos, sedativa, sudorífica e tônica (Figu-
bolismo, de suas sensações, podendo ou não ra 16).
consistir em um indício. Sintomas são fre- Este levantamento botânico foi reali-
quentemente confundidos com sinais, que zado a partir de uma pesquisa realizada na
são as alterações percebidas ou medidas por Plataforma Sistema de Informação Distribu-
outra pessoa, geralmente um profissional de ído para Coleções Biológicas - SPECIES LINK,
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 157
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

Figura 17 |
Relação entre as
principais
atividades sobre
os sistemas
biológicos e o
número de
espécies
encontradas no
levantamento
botânico da RBCV.
Fonte: elaboração
própria.

disponível no endereço <www.splink.org.br>. A pesquisa no site foi iniciada a partir da


Trata-se de um sistema de informação que seleção do Tipo de Acervo (Plantas e Fungos),
integra, em tempo real, dados primários de da Localização da Coleção (todos), da Rede
coleções científicas, desenvolvido por meio do (Brasil) e Fonte de Dados (todos). A pesquisa foi
apoio das instituições: Fundação de Amparo realizada selecionando-se os nomes de todos
à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP); os municípios da RBCV, para se obter um levan-
Global Biodiversity Information Facility (GBIF); tamento botânico de espécies por município.
J.R.S. Biodiversity Foundation; Ministério da Manualmente, foram selecionadas as espécies
Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação de plantas, excluindo-se as espécies de fungos.
(MCTIC); Conselho Nacional de Desenvolvi- Obteve-se, assim, uma planilha onde constam
mento Científico e Tecnológico (CNPq); Finan- todas as espécies vegetais presentes na área da
ciadora de Inovação e Pesquisa (FINEP); Rede RBCV, por município. Na sequência, a partir do
Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP); e Centro resultado do levantamento botânico da região
de Referência em Informação Ambiental (CRIA) da RBCV, as atividades biológicas das plantas
(SPECIES LINK, 2014). sobre as causas, sinais e sintomas de doenças
estão descritas por espécie.
158 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Nome Nome Ocorrência Parte Indicações/


científico popular (RBCV) utilizada ações terapêuticas

Croton sangue-de-drago, Ibiúna Casca Cicatrizante, anti-inflamatório, contra herpes,


urucurana sangue-d’água, e e antiúlcera, anti-blenorrágica, hemostática,
Bail urucurana São Paulo resina antibacteriana (TAYLOR, 1969; LORENZI; MATOS, 2008)

Desmodiuns amor-seco, Bertioga, Folhas, Antiespasmódico, antiasmática, antihistamínica,


adscendens amor-do-campo, São Paulo, raízes antianafilática, broncodilatadora, leucorreia,
(Sw.) DC. pega-pega, São Sebastião blenorragia, infecção urinária, inflamação de ovários,
amor-agarrado corrimento vaginal e hemorragia. Os glicosídeos triter-
penoides encontrados são potentes agonista e canais
de potássio. Reduz as contrações durante o choque
anafilático, inibe a contração induzida pela histamina
(LORENZI; MATOS, 2008; CRUZ, 1995).

Equinodorus chapéu-de-ouro, Biritiba Mirim toda planta, Antiinflamatória, laxativa, adstringente, antirreumática,
grandiflorus erva-do-pântano rizomas eliminador do ácido úrico e depurativo no tratamento da
Mich. (cataplasma sífilis, moléstia do fígado, pele, afecções renais
para hérnias) (inflamação da bexiga e cálculos renais, diurético,
arteriosclerose (CORREA et al., 2001 apud LORENZI;
MATOS, 2008).

Equinodorus aguapé, chá-de- Rio Grande toda planta Antiartrítica, anti-inflamatória, antiofídica,
macrophyllus campanha, da Serra antirreumática, antisifílitica, colagogo, depurativo do
(Kunh) Micheli erva-do-pântano, sangue, diurético, ácido úrico, afecções das vias
chapéu-de-couro urinárias (litíase, nefrite, etc.), fígado, estômago,
arteriosclerose bócio, colesterol, dermatose, manchas
na pele (LORENZI; MATOS, 2002; PANIZZA, 1997).

Eclipta alba erva-botão, Caieiras folhas, Possuem ações tônicas, estimulante do fígado
(L.) Hassk. agrião-do-brejo, raízes (hepatoprotetor), adstringente, antiofídica, cicatrizante,
erva-cidreira, imunoestimulante, ascite, cirrose, gastroenterite,
lanceta, surucuína astenia, asma, hemorragias, pedra nos rins e vesícula
(REIS et al., 1992).

Erythrina mulungu, corticeira, Paraibuna, casca. Inseticida e veneno para peixes (SCHULTES; RAFFAUF,
falcata Mart. bico-de-papagaio, Piracaia, 1990 apud LORENZI; MATOS, 2008); ansiedade,
ex Benth. suinã São Paulo insônia, agitação psicomotora (CRUZ, 1995; ALMEIDA,
1993 apud LORENZI; MATOS, 2008; ANDERSON et al.,
1998 apud LORENZI; MATOS, 2008).
Contra asma, bronquite, hepatite, gengivite,
inflamações hepáticas esplênicas, febres, insônia,
hipotensor (EASTERLING, 1993 apud LORENZI;
MATOS, 2008)

Hypericum mil-facadas, Biritiba Mirim, toda a Antidepressivo, anti-séptica, adstringente, analgésica,


perforatum L. mil-furadas, Ibiúna, planta calmante do sistema nervoso, redutora de inflamações
alecrim-bravo, São Paulo e promove a cicatrização (ALZUGARAY; ALZUGARAY,
orelha-de-gato 1996, BOORHEM et al., 1999). Excitante, antiespasmódi-
ca, antiofídica, anti-inflamatória, analgésica, antibacte-
riana. (CARVALHO et al., 2003).
Asma brônquica, bronquite crônica, tosses, cefaleias
e dores de origem reumáticas. As espécies brasileiras
são usadas como vulnerária antiespasmódica e anti
ofídica na forma de gargarejo contra aftas e estomatite
(MORS; RIZINI; PEREIRA, 2000).

Ilex mate, erveira, Cotia, folhas Digestivo, antirreumático, diurético, laxante, vaso
paraguariensis congonha, Ibiuna, dilatadoror, antioxidante, estimulante sobre o sistema
A. St. Hill. erva-verdadeira, São Paulo nervoso central (SIMÕES et al., 2001 apud LORENZI;
chá-mate, chá-das- MATOS, 2008); vitaminas B, C, D e sais minerais como:
missões, chimarrão cálcio, manganês, potássio. Combate radicais livres.
Não é indicado para pessoas que sofrem de insônia e
nervosismo, pois é estimulante natural. Contém sapo-
nina que é um dos componentes da testosterona, razão
pela qual se acredita proporcionar melhora na libido.
Tabela 2 |
Lista alfabética de Ipomeas batata-doce, Caieiras, raiz, folhas, As folhas e brotações também são comestíveis. O chá
algumas espécies batatas (L.) batata-da-terra, Cajamar, brotação das folhas aumenta a lactação. O tipo amarelo, espe-
Lam. batata-da-ilha Cotia, Ibiúna, cialmente de cor abóbora, tem um teor de beta caroteno
medicinais de
Itanhaém, maior que a cenoura. Por isso, seu uso como alimento-
ocorrência na RBCV, São Paulo, Mauá, medicamento é indicado contra a deficiência de vitamina
com nome científico, Guarulhos, A, reconhecida pelo atraso no crescimento, pele
popular, parte usada e Piracaia, áspera, cegueira noturna e úlcera da córnea, que pode
ações terapêuticas. Santa Branca, levar até à cegueira completa, observada entre as
Fonte: Elaboração Biritiba Mirim crianças no interior de Nordeste (LORENZI; MATOS,
2008).
própria.
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 159
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

Nome Nome Ocorrência Parte Indicações/


científico popular (RBCV) utilizada ações terapêuticas

Lantana camará, cambará, São Paulo folhas Apresenta efeitos tóxicos. É considerada
camara L. cambará-de-jardim, e flores tóxica para o gado vacum e carneiros. Essa toxicidade
camarazinho, é atribuída a uma reação de fotossensibilização da pele
lantana-cambará ao sol devido à presença de triterpenoides da planta.
É usada na medicina caseira em muitas regiões do Brasil.
Suas folhas são consideradas como tônica, sudorífica,
indicada para problemas bronco-pulmonares e reuma-
tismo. O xarope de suas folhas e flores frescas é indica-
do para estados febris e afecções das vias respiratórias.
O chá de suas folhas (decocto) é recomendado na
forma de compressa, contra reumatismo, contusões,
esfoladuras, dores musculares e dores nas articulações
(MORS; RIZINI; PEREIRA, 2000).

Lonicera madressilva, Santo André folhas e Diurética, antisséptica, antitérmica, anti-inflamatório,


japônica madressilva-do- flores hipotensora-miorrelaxante, sudorífica.
Thumb ex Japão, madressilva- As preparações de suas folhas são adstringentes e
Murray do-jardim, maravilha indicadas para o tratamento de inflamações da boca e
da garganta através de bochechos de seu decocto.
(BOORHEM et al., 1999 apud LORENZI; MATOS, 2008).

Mentha poejo, poejinho, Guarulhos folhas Expectorante contra gripe, tosse crônica, calmante para
pulegium L. poejo-real, poejo- o sistema nervoso, constipações, insônias, dores
das-hortas, poejo- reumáticas, acidez do estômago, fermentação, enjoo,
dos-reis, menta- bronquites e asma. Pode apresentar como efeitos
selvagem, vique colaterais a bronco-constipação (efeito paradoxal em
crianças menores) em doses altas e prolongadas
provoca dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia,
letargia, convulsões e hepatite tóxica. É contra-indicado
em casos de gravidez, lactação, crianças menores e
pessoas alérgicas (MATOS, 2002)

Mikania cipó-cabeludo, São Bernardo folhas O uso desta planta na medicina tradicional é restrito
cordifolia (L.f .) cipó-catinga, cipó- do Campo a apenas algumas regiões do país, sendo empregado
Willd. sucurijú, coração- principalmente como anti-inflamatório, antiparasitário,
de-jesus, erva-cobre, contra asma, antirreumático, analgésico e febrífugo
guaco, guaco- (RUPPELT, 1991). Estudos farmacológicos in vitro com
trepador dois ácidos cafeoilquímico isolados desta planta
revelaram apreciável atividade anti-inflamatória
(PELUSO et al., 1995 apud LORENZI; MATOS, 2008).

Mikania cipó-almecega, Salesópolis folhas Anti-albumínico, diurético, anti-nevrálgico, é indicada


lanuginosa guaco-cabeludo, contra ácido úrico, artrite, cistite, nefrite, uretrite,
DC. sinonímia: cipó-almecega- coceira, contusão, dores no corpo, frieira, gota, manchas
Mikania cabeludo, da pele, pielite, pedra na vesícula, reumatismo, diarreia,
hirsutissima cipó-catinga blenorragia. É altamente eficaz no tratamento da
DC nefrite, sendo uma das plantas mais usadas contra este
mal (ALMEIDA, 1993; CARIBE; CAMPOS, 1997;
COIMBRA, 1994 apud LORENZI; MATOS, 2008).

Ocimum selloi elixir-paregórico, Mairiporã, folhas e Planta condimentar e medicinal. Digestivo-estomacal,


Benth alfavaca, Mauá, flores hepático-biliar, elimina gases intestinais, gastrite,
alfavaquinha, anis, Salesópolis vômitos, tosse, bronquite, gripe, febre resfriados,
atroveran, alfavaca- antinflamatório (LORENZI; MATOS, 2002), além de ter
cheiro-de-anis comprovada atividade como repelentes de insetos
(PAULA; GOMES-CARNEIRO; PAUMGARTTEN, 2003).
Para problemas digestivo-estomacal é recomendado o
seu chá por infusão despejando-se 1 xícara (chá) água
fervente sobre 1 colher (sobremesa) de folhas e
inflorescências picadas, 2 a 3 vezes ao dia (PANIZZA,
1998 apud LORENZI; MATOS, 2000).

Ocotea canela-cheirosa, Mairiporã flores, Todas as partes desta planta, inclusive a madeira, são
odorífera canela-parda, casca, empregadas para a produção de óleo essencial Tabela 2 |
(Vell.) Rohwer casca-cheirosa, madeira mediante destilação. Seu principal componente é o Lista alfabética de
casca-preciosa, safrol, amplamente utilizado em perfumaria, medicina algumas espécies
louro-cheiroso, e como combustível em naves espaciais (TEIXEIRA;
medicinais de
sassafrás-amarelo BARROS, 1992).
O óleo é muito empregado em medicamentos com ocorrência na RBCV,
propriedades sudoríficas, antirreumáticas, anti- com nome científico,
-sifilíticas, diuréticas e como repelente de mosquitos. popular, parte usada e
Em uso caseiro da medicina tradicional, suas flores e
cascas são muito empregadas para o tratamento de ações terapêuticas.
várias moléstias, como sudorífica, depurativa do Fonte: Elaboração
sangue, diurética e antirreumática (MORS; RIZINI; própria.
PEREIRA, 2000).
(continuação)
160 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Nome Nome Ocorrência Parte Indicações/


científico popular (RBCV) utilizada ações terapêuticas

Passiflora maracujá, Biritiba-Mirim, folhas, Sedativos, hipnótico, analgésico, antiespasmódico,


edulis Sims & maracujá-de-suco, Embu-Guaçu, fruto e tranquilizante, diurético, usado nas excitações
Passiflora alata maracujá-azedo, Salesópolis e sementes nervosas, histeria, neurastenia, cefaleias, provoca
Curtis maracujá-perobas, Santo André sono natural, indicado nas insônias. Indicado
maracujazeiro, também na hiperatividade e falta de concentração
maracujá-ácido das crianças (MATOS, 2002a; 2002b).

Petiveria gambá, Poá folhas e Utilizado como abortivo, analgésico (hipnótico,


alliacea L. pau-de-guiné, raízes anestésico), antiespasmódico, antirreumático,
cangambá, bactericida, diurético, fungicida, imuno-estimulante
mucura-caá, Em dose e ansiolítico (HOYOS et al., 1992 apud LORENZI;
erva-pipi, tipi, elevada é MATOS, 2008). As raízes parecem ser mais ativas do
tetê, erva-de-alho, tóxica e que as folhas sendo consideradas analgésicas e
amansa-senhor, abortiva anestésicas (LIMA et al., 1991 apud LORENZI; MATOS,
raiz-de-guiné 2008). Aplicação tópica localizada contra contusões,
traumatismos, dores lombares, reumáticas e de
cabeça (MORS et al., 2000 apud LORENZI; MATOS,
2008). Na forma de cataplasma das folhas, usada
externamente, tem sido empregada contra dores de
cabeça, dentes e muscular; inchaço, inflamação da
boca, gengivite, dor reumática, paralisia nervosa,
hidropsia, nevralgias, (MORS; RIZZINI, 2000 apud
LORENZI; MATOS, 2008). Tem poder inseticida
(JONHSON et al., 1997 apud LORENZI; MATOS, 2008).

Piper tapa-buraco, Ferraz de folhas, Chá ou infusão alcoólica de suas folhas, raízes e
aduncum L. jaborandi-falso, Vasconcelos raízes e frutos é empregado como tônico, carminativo,
aperta-ruão, frutos antiespasmódico, contra blenorragia, e para
aduncum, matico- afecções do fígado, vesícula e baço (VAN DER BERG,
falso, caá-peba, 1993 apud LORENZI; MATOS, 2008). Às folhas são
cheirosa, falso- atribuídas propriedades tônicas, estomáquica e
jaborandi antiespasmódica. E, às raízes ação eficaz contra
picada de cobra e ação estimulante e colagoga,
externamente são usadas contra erisipela (MORS et
al., 2000 apud LORENZI; MATOS, 2008).

Plantago tanchagem, Arujá folhas, Diurética, antidiarreica, expectorante, hemostática,


australis Lam. tansagem, flores, cicatrizante, bronquite crônica, úlceras pépticas. São
Sinonímia: língua-de-vaca, sementes também empregadas tanto as flores como as
Plantago major plantagem sementes contra conjuntivite, terçol e irritações
L., P. media L., oculares devidas a traumatismos. (GRENAND et al.,
P. lanceolata L. 1987 apud LORENZI; MATOS, 2008). Possui
compostos mucilaginosos, fenólicos, lipídicos e
alcaloídicos em seus tecidos (FRANCO, 2001). A
presença de taninos, pectinas, colina, enxofre, flavo-
noides e vitamina C, glicosídeo Plantamajosídeo,
capaz de inibir bactérias e fungos (RANV; BRIMER,
1988 apud FREITAS et al., 2002). A literatura etnofar-
macológica recomenda tomar, em jejum, o chá de
suas sementes, preparado adicionando-se água
fervente em 1 copo contendo 1 colher (sopa) de
sementes e deixado em maceração durante a noite,
como laxante e depurativo (LORENZI; MATOS, 2008).
Recomenda-se cataplasma de suas folhas amassadas
em pilão em mistura com glicerina e espalhadas sobre
gaze, aplicada sobre feridas, queimaduras e picadas
(PANIZZA, 1998 apud LORENZI ; MATOS, 2008).

Polygonum erva-de-bicho, Arujá, folhas e Adstringente, estimulante, diurética, vermicida,


hydropiperoides acataia,capiçoba, Cotia ramos antigonorreica e antihemorroida, sendo empregada
Michx. pimenta-do-brejo, localmente, contra úlceras de pele, erisipela e artrite
pimenta-d’água Considerada (MORS et al., 2000 apud LORENZI; MATOS, 2008).
Tabela 2 | abortiva, Para afecções das vias urinárias, erisipelas,
Lista alfabética de não sendo eczemas, varizes, fragilidade capilar e como
recomendada estimulante da circulação recomenda-se o seu chá.
algumas espécies para E em aplicações locais de seu chá concentrado
medicinais de gestantes contra afecções de pele, feridas e úlceras varicosas
ocorrência na RBCV, e, na forma de banho de assento, contra hemorroidas
e como cataplasma, nos casos de reumatismo,
com nome científico,
artrites e dores musculares (PANIZZA, 1998 apud
popular, parte usada e LORENZI; MATOS, 2008).
ações terapêuticas.
Potomorphe pariparoba, caapeba, Itapecerica folhas, Diurética, antiepilética, antipirética, usada contra
Fonte: Elaboração umbellata L. caena malvaísco, da Serra hastes, doenças do fígado fígado, inchaços e inflamações
própria. sinonímia Piper lençol-de-santa- raízes das pernas, contra erisipela e filariose (MORS et al.,
(continuação) umbellatum L. bárbara, catajé, 2000; VAN DEN BERG, 1993 apud LORENZI; MATOS,
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 161
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

Nome Nome Ocorrência Parte Indicações/


científico popular (RBCV) utilizada ações terapêuticas

Potomorphe aguaxima São Paulo Esta planta tem atividade antimalárica e é desprovida
umbellata L. de atividade mutagênica (AMORIN et al., 1988; BARROS
sinonímia Piper et al., 1996 apud LORENZI ; MATOS, 2008). A cataplas-
umbellatum L. ma de suas folhas é empregada externamente em
aplicação localizada para maturação de furúnculos, quei-
maduras leves, dor de cabeça e reumatismo (MORS et
al., 2000; PANIZZA, 1988 apud LORENZI; MATOS, 2008).
Psidium goiaba, araçá- Cotia, folhas, Segundo a literatura etnofarmacológica, a goiabeira é a
guajava L. -goiaba, araçá- Salesópolis casca, planta medicinal mais utilizada no tratamento caseiro
-guaçu, guaíba- semente, de diarreias em crianças.
vermelha, guaiava gomos Também o uso de chá para bochechos e gargarejos no
foliares tratamento de inflamações da boca na garganta ou em
lavagens locais de úlceras e na leucorreia. A análise
fitoquímica revela a presença de óleo volátil rico em
bisaboleno e outros sesquiterpenos, além dos acetais
dioximetano e dioxietano que dão aroma aos frutos.
Nas sementes foi identificado o ácido linoleico como
principal constituinte de seu óleo fixo.
Nas folhas, os principais constituintes estão taninos
elágicos, predominando a pedunculagina e as guavinas,
acompanhadas de beta-sitosterol, triterpenoides e
como princípio antidiarreico, a quercetina e arabino
-quercetina. (SOUZA et al., 1991 apud LORENZI;
MATOS, 2008).

Rubus amora-verde, Cotia, todas as Diarreia de sangue, disenteria, enfermidade da cabeça,


brasiliensis amoreira-da-selva, Salesópolis partes da escorbuto, espasmo, febre inflamatória, icterícia. Suas
Mart. amoreira-do-mato, planta raízes possuem propriedades laxativas e diuréticas. Os
framboesa-negra, frutos ingeridos in natura são utilizados em casos de
sarça-amoreira diarreia sanguinolenta e o chá como bebida tônica e
medicação antidiarreica. Brotos e inflorescências são
utilizados como antiespasmódico, na forma de decocto.
O chá das folhas é utilizado como diurético, também na
forma de decocto (MORS et al., 2000 apud LORENZI;
MATOS, 2008).

Schinus araguaíba, aroeira, Caieiras, casca, A casca é utilizada na forma de decocto, em banhos de
terebentifolius aroeira-do-campo, Cotia, folhas, assento após o parto como cicatrizante e antiinflama-
Radd aroeira-da-praia, Guarulhos, fruto tório, antibacteriano tratamento do sistema urinário e
aroeira-do-sertão, Mauá, do aparelho respiratório, hemoptise. A hemorragia
aroeira-mansa, Osasco, uterina, ferimento na pele, cervicite. As folhas e frutos
aroeira-pimenteira, Santa Isabel são adicionados à água de lavagem de feridas e úlceras.
coração-de-bugre, A análise fitoquímica registra alto teor de tanino,
fruto-de-sabiá biflavonoides e ácidos triterpênicos nas cascas e de
até 5% de óleo essencial nos frutos e nas folhas
(MATOS, 2002a; 2002b).

Smilax japecanga-verda- Ferraz de raiz Impotência sexual, reumatismo, problemas de pele,


brasileinsis deira, japicanga, Vasconcelos sífilis, gonorreia, artrite, febre, tosses, escrófula,
Griseb. inhapecanga, hipertensão, psoríases, purificador de sangue
nhupicanga, (TAYLOR, 1999 apud LORENZI; MATOS, 2008).
raiz-da-china, Atividade antibiótica e adjuvante no tratamento da
salsaparrilha, lepra (D’AMICO, 1950; FITZPATRICK, 1954; ROLLIER,
salsa-de-espinho 1959 apud LORENZI; MATOS, 2008).

Solanum jurubeba, caapeba, Suzano raíz, folha, A infusão das folhas, flores ou frutos são indicados
paniculatum L. jurubeba-branca, frutos e contra afecções hepáticas, febres e debilidade em
jurubeba-verdadeira, flores geral. O suco das raízes ou frutos usados contra cistite,
jurubebinha, juvena, anemia, tumores, abscessos internos. A cataplasma
juuna das folhas como uso externo no caso de feridas e
úlceras, suco dos frutos com mel de abelha é
empregado como diurético, contra bronquite e tosse
Tabela 2 |
(CRUZ, 1995 apud LORENZI; MATOS, 2008).
Lista alfabética de
Solidago arnica, arnica- Embu, folhas, Suas flores são apícolas. São atribuídas às suas algumas espécies
microglossa DC -brasileira, arnica- Itapecirica inflores- preparações caseiras qualidades de medicação
Sin. Solidago -da-horta, arnica- da Serra cência amarga, estomáquica, adstringente, cicatrizante e medicinais de
chilensis -de-terreiro, vulnerária. Por ser considerada tóxica, seu uso interno ocorrência na RBCV,
Meyen, arnica-do-brasil, só deve ser feito com estrita indicação e acompanha- com nome científico,
Solidago arnica-silvestre, mento médico (CORREA et al., 1988 apud LORENZI e
linearifolia var. erva-lanceta, MATOS, 2008). É empregada externamente no trata-
popular, parte usada e
brachypoda espiga-de-ouro, mento de ferimentos, escoriações, traumatismos e ações terapêuticas.
Speg. flecha, rabo-de-rojão, contusões em substituição à arnica verdadeira (Arnica Fonte: Elaboração
sapé-macho, montana L.) (BOORHEN et al., 1999; CORREA et al.,
própria.
macela-miúda 1998; MORS et al., 2000 apud LORENZI; MATOS, 2008).
(continuação)
162 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Nome Nome Ocorrência Parte Indicações/


Científico popular (RBCV) utilizada Ações terapêuticas

Vernonia assa-peixe, Arujá e folhas, Suas raízes e folhas, em decocção, são utilizadas como
polyanthes chamarrita, Guarulhos raízes diuréticas, balsâmicas e antireumáticas indicadas nos
Less. cambará-branco, casos de gripes, bronquites e tosses persistentes.
camabará-guaçu A infusão das raízes é indicada nos casos de hemoptises
e abscessos internos, devido suas propriedades
diuréticas. Seu uso externo é indicado nos casos de
afecções da pele, dores musculares e reumatismo sob
a forma de compressas das folhas frescas amassadas.
Tabela 2 | Chá das folhas em decocção para cálculos renais
(LORENZI; MATOS, 2008).
Lista alfabética de
algumas espécies Walteria douradinha- Cotia casca, Estimulante, emética, sudorífica, diurética. É indicada
medicinais de indica L. -do-campo, folha e contra disenteria, catarro-brônquico, afecções dos
malva-branca, ramos pulmões, blenorragia e cistite (MORS et al., 2000 apud
ocorrência na RBCV, malva-veludo LORENZI; MATOS, 2008). A tintura da casca é utilizada
com nome científico, como tônico cardíaco e a casca dos ramos e folhas são
popular, parte usada e consideradas diuréticas e hipotensoras (SIMÕES et al.,
1998 apud LORENZI; MATOS, 2008). Estudos
ações terapêuticas. farmacológicos demonstraram a eficácia hipotensora,
Fonte: Elaboração cardiotônica e diurética dos alcaloides, taninos e
própria. saponinas encontrados nas hastes e nas folhas
(WASICKY et al., 1964 apud LORENZI; MATOS, 2008).
(continuação)

Como toda planta, a utilização das espé- voltados à garantia do acesso seguro e uso
cies encontradas na RBCV, deve seguir os cui- racional de plantas medicinais e fitoterápicos
dados necessários como: correta identificação em nosso país, ao desenvolvimento de tecnolo-
científica do material botânico a ser utilizado, gias e inovações, assim como ao fortalecimen-
não se basear em nome popular, pois há varia- to das cadeias e dos arranjos produtivos, uso
ção destes nomes de local para local, verificar sustentável da biodiversidade brasileira e seu
que parte da planta vai ser utilizada, a forma desenvolvimento industrial e comercial.
correta de fazer os chás (infusão, decocção, De acordo com o levantamento prelimi-
maceração) o tempo de fervura, os utensílios a nar efetuado em 277 plantas entre as 2.256
ser usado (vidro, louça esmaltada, porcelana), espécies catalogadas pelo BIOTA-FAPESP, de
não utilizar recipientes de alumínio, verifica- ocorrência nos 78 municípios da RBCV, veri-
ção das dosagens recomendadas e não utilizar ficou-se que todas as espécies listadas neste
plantas que tenham atividades tóxicas e abor- diagnóstico, apresentaram algum estudo (quí-
tivas (TRINDADE; SARTÓRIO; REZENDE, 2008; mico, fitoquímico, farmacológico, medicinal e
FINTELMANN; WEISS, 2010; MATOS, 2002a; toxicológico), demonstrando o potencial que
2002b). esta vegetação representa dentro do escopo de
serviços de provisão de produtos naturais.

CONCLUSÕES
O levantamento dessa vegetação pode
ser vislumbrado em produtos comercializá-
veis – tornar-se um importante mecanismo
de geração de benefícios, sociais e ambientais,
Nos últimos anos, tem-se observado gran- contribuindo para o desenvolvimento econô-
de aumento na utilização de plantas medicinais mico e a conservação da biodiversidade, desde
não somente por parte da população em geral, que algumas condições sejam satisfeitas. Entre
mas principalmente nos programas oficiais de essas condições, destacam-se: sua valoração;
saúde apoiados pela OMS, ressaltando-se no legislações ambientais apropriadas; mecanis-
Brasil a Política Nacional de Plantas Medicinais mos de mercado adequados (contratos, paten-
e Fitoterápicos, aprovada por meio do Decreto tes, royalties); divisão justa e equitativa dos
Nº 5.813, de 22 de junho de 2006, que estabele- benefícios, transferência de tecnologia.
ceu diretrizes e linhas prioritárias para o de- Dentro das 277 plantas catalogadas, veri-
senvolvimento de ações em torno de objetivos ficou-se que 20 espécies constam da lista das
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 163
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

74 plantas medicinais estudadas pelo Sistema e farmacológico e como consequência, a impor-


Único de Saúde (SUS) em 2006, com monogra- tância na conservação e preservação da vege-
fias e estudo farmacológico pré-clínico, clínico tação para as presentes e futuras gerações.
e toxicológico, necessários para distribuição e Haverá necessidade de dar continuidade
uso pela população. ao levantamento das 1.879 plantas dentro da
Acredita-se que este levantamento trará listagem de 2.256 espécies quanto ao estudo
resultados promissores para os 78 municípios químico, fitoquímico, medicinal, farmacológico
que compõem a RBCV, no tocante à utilização e tóxico, para se obter um mapa georreferen-
dessas plantas sob o ponto de vista medicinal ciado completo da vegetação com estes estudos.

REFERÊNCIAS
ALBIERO, A.L.M, et al. (2005). Morfoanatomia dos Reader´s Digest Brasil. Ltda., Rio de Janeiro,
órgãos vegetativos de Piper crassinervium H.B. & 416p.
K.(Piperaceae) Acta bot. bras. 19(2): 305-312 p.
BRASIL (2001). Ministério da Saúde. Secretaria de
ALVES, L. F. (2010). Plantas Medicinais e Fito- Políticas de Saúde. Proposta de Política Nacio-
química no Brasil: Uma Visão Histórica. Phar- nal de Plantas Medicinais e Medicamentos
mabooks, São Paulo. 389 p. Fitoterápicos. Brasília, DF, 38 p.
ALZUGARAY, D.; ALZUGARAY, C. (1996). Plantas BRASIL (2006a). Decreto nº 5.813, em 22 de
que curam. Editora Três, São Paulo, 2 volumes. junho de 2006. Aprova a Política Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos e dá outras
AMORIN, C. Z. et al. (1988). Screening for anti- providências.
malarial activity in the genus Pothomorphe. J. of
ethnopharmacol. Elsevier Scientific Publishers BRASIL (2006b). Ministério da Saúde. Secretaria
Ireland Ltd., 24: 101-106. de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Departamento de Assistência Farmacêutica. A
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sani- Fitoterapia no SUS e o Programa de Pesquisa
tária (2019). Primeira edição de Memento Fito- de Plantas Medicinais da Central de Medica-
terápico Brasileiro terá consulta pública. Dis- mentos. Brasília-DF. Ministério da Saúde, 148 p.
ponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/resultado- (Série B. Textos Básicos de Saúde).
de-busca?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&p_p_
state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_ BRASIL. Ministério da Saúde (2010). Portaria nº
id=column-1&p_p_col_count=1& _101_struts_ 886, de 20 de abril de 2010. Institui a Farmácia
action= %2Fa s set _ publisher %2Fview_ con- Viva no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
tent&_101_assetEntryId=2692062&_101_type= BRASIL. Ministério da Saúde (2019). Plantas
content&_101_groupId=219201&_101_urlTitle= medicinais e fitoterápicos no SUS Disponível em:
primeira- edicao - de-memento -fitoterapico - <http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/
brasileiro-tera-consulta-publica&inheritRedirect= programa-nacional-de-plantas-medicinais-e-fito-
true.>. Acesso: 24 ago. 2019. terapicos-ppnpmf/plantas-medicinais-e-fitotera-
BARROS, C. L. S. et al. (2007). Biópsia hepática no picos-no-sus>. Acesso: 24 nov. 2019.
diagnóstico da intoxicação por Senecio brasilien- BRAZ FILHO, R.; SOUZA, M. P.; MATTOS, M. E. O.
sis (Asteraceae) em bovinos. Pesquisa Veteriná- (1981). Piplartine-dimero A, new alkaloid from
ria Brasileira, v.27, p. 53-60. Piper tuberculatum Phytochemistry. Pergamon
BATALHA, M. O. et al. (2003). Plantas Medicinais no Press Ltd. in England, 20: 345-346.
Estado de São Paulo: Situação Atual, Perspectivas BRITO, A. R. M. S. (1996). Legislação de Fitoterápi-
e Entraves ao Desenvolvimento. Florestar Esta- cos In: Plantas Medicinais: arte e ciência. Um
tístico, São Paulo, vol. 6, n. 15, p. 27-35, 2003. guia de estudo interdisciplinar. São Paulo; Edi-
BIOTA FAPESP (2019). Programa de Pesquisas tora da Universidade Estadual Paulista, 230p.
em Caracterização, Conservação, Restau- CANELLA, C. F. C.; DOBEREINER, J. e TOKARNIA, C.
ração e Uso Sustentável da Biodiversidade. H. I. (1968). Intoxicação experimental pela maniçoba
Disponível em <http://www.biota.org.br/biotafa- (Manihot glaziovi Muell. Arg.) em bovinos. Pesquisa
pesp/>. Acesso: 10 fev. 2019. Agropecuária Brasileira, v.3, p. 347-350.
BOORHEM, R. L. et al. (1999). Reader´s Digest. CARVALHO, E. S. et al. (2003). Caracterização quí-
Segredos e virtudes das Plantas Medicinais. mica do óleo essencial de Hypericum brasiliense
164 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Choisy. Revista Brasileira de Farmacognosia. hydropiper prossessing anti-inflammatory acti-


Curitiba, Pr. v. 13 spl. p. 34-36. vity. Phytochemistry, Pergamon Press Ltd in
England. v. 25, p. 517-520.
CARVALHO, A. C. B. et al. (2008). Situação do
registro de medicamentos fitoterápicos no Brasil. GUERRA, M. P.; NODARI, R. O. Impactos ambien-
Revista Brasileira de Farmacognosia. 18 (2): p. tais das plantas transgênicas: as evidências e as
314-319, abr./Jun. incertezas. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 13,
n. 1, p. 153-166, jun. 2003.
CONEGERO, L. S. et al. (2003) Constituintes quí-
micos de Alchornea glandulosa (Euphorbiaceae). GUERRA, P. M.; NODARI O. R. (2003). Biodiversi-
Química Nova. Impresso: ISSN 1678-7064. Publi- dade: aspectos biológicos, geográficos, legais e
cação da Soc. Brás. de Química- Inst. de Química éticos. In: SIMÕES, C. M. O. (Org.) et al. Farma-
v.26, nº 6, p. 825- 827. cognosia: da planta ao medicamento. 5.ed.
rev.ampl. Porto Alegre: Editora da UFRGS; Floria-
CRUZ, G. L. (1995). Dicionário de Plantas úteis nópolis: Editora da UFSC. cap.1, p. 14-28.
do Brasil. 5ª edição. Editora Bertrand. Rio de
Janeiro. GUPTA, M. P. (1995). Plantas medicinais Iberoa-
mericanas. Santafé de Bogotá: Editorial, 270 p.
DAILY, G. C. (1997). “Introduction: what are
Ecosystem Services?” em G. C. Daily (org.) HOEHNE, F. C. (1978) Plantas e substâncias
Nature’s Services Societal Dependence on Natu- vegetais tóxicas e medicinais. Reimpressão.
ral Ecosystems Washington: Island Press. São Paulo: Departamento de Botânica, 355p.
HOSTETTMANN, K.; QUEIROZ E. F.; VIEIRA P. C.
DI STASI, l. C. (1996). Plantas Medicinais: arte e
(2003). Princípios ativos de plantas superio-
ciência. Um guia de estudo interdisciplinar. São
res. São Paulo: EDUFSCAR.
Paulo; Editora da Universidade Estadual Paulista,
230p. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA (2019). Cidades e estados. (Banco
DOMINGUEZ, X. A. (1973). Métodos de investiga-
de Dados. Todos os Municípios – SP). Disponí-
cion fitoquímica. Editorial Limusa – México, 281 p.
vel em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-esta-
FERRO, D. (2008) Fitoterapia – Conceitos clíni- dos/sp.html>. Acesso: 25 nov. 2019.
cos. São Paulo. Editora Atheneu, 501 p.
JORNAL DO SENADO (2018). Especial Cidadania
FINTELMANN, V. e WEISS, R. F. (2010). Manual de - Tratamento com fitoterápicos aumenta na
Fitoterapia. 11ª Edição revisada. Editora Guana- rede pública de saúde. Disponível em: <https://
bara Koogan S.A., 526 p. www12.senado.leg.br/jovemsenador/home/noti-
FITOTERAPIA E TERAPIAS COMPLEMENTARES. cias-1/externas/2018/11/especial-cidadania-tra-
(2019). Disponível em: www.fitoterapia.com.br. tamento-com-fitoterapicos-aumenta-na-rede-
Acesso: 09 set. 2019. -publica-de-saude>. Acesso: 24 nov. 2019.
KLEIN JÚNIOR, L. C. et al. (2011). Perfil cromato-
FLOR-DAS-ALMAS (Senecio brasiliensis). (2013).
gráfico obtido por CLAE-DAD do extrato meta-
Fitoterapia, São Paulo. Seção Plantas na Far-
nólico de Polygala cyparissias e avaliação de seu
macopeia. <www.fitoterapia.com.br>. Acesso: 09
potencial anti-hipernociceptivo. Sociedade Bra-
set. 2019.
sileira de Química (SBQ). QPN280 qpn. produtos
FRANCISCO, I. A.; PINOTTI, M. H. P. (2000). Cya- naturais - 34ª Reunião Anual da Sociedade Bra-
nogenic glycosides in Plants. Brazilian Archives sileira de Química. Disponível em <sec.sbq.org.
of Biology and Technology, v. 43, n. 5. p.487- br/cdrom/34ra/resumos/T3601-2.pdf>. Acesso:
492 Paraná Institute of Technology Publication. 09 set. 2019.
FRANCO, L. L. (2001). As sensacionais 50 plan- KRONKA, F. J. N. et al. (2005). Inventário flores-
tas medicinais, campeãs de poder curativo. tal da vegetação natural do estado de São
Volume 1. 5ª edição. Editora Lobo. Curitiba. Paulo. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente/
FREITAS, A. G. et al. (2002). Atividade antiestafilo- Instituto Florestal. Imprensa Oficial.
cócica do Plantago major L. Revista Brasileira de LÓPEZ, M.; LAURENTIS, J. M. (1988). Semiologia
Farmacognosia, Soc. Bras. de Farmacognosia Médica, Livraria Atheneu, Livraria Interminas.
Universidade Federal do Paraná - Jd. Botânico, LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. (2002). Plantas
Curitiba, PR. v.12, supl., p. 64-65. medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Ins-
FUKUYAMA, Y. et al. (1983). Hydropiperoside, tituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda., Nova
a novel coumaryl glycoside from the roots of Odessa, SP., 1ª edição. 254p.
Polygonum hydropiper. Phytochemistry, Perga- LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. (2008). Plantas
mon Press Ltd in England v. 22, n.2, p. 549-552. medicinais no Brasil: nativas e exóticas.
FURUTA, T.; FUKUYAMA, Y.; ASAKAWA, Y. (1986). Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda.
Polygonolide, a isocoumarin from Polygonum Nova Odessa, SP., 2ª edição 544 p.
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 165
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

LORENZI, H. (2000). Plantas Daninhas no Bra- Robert Scholes, Neville Ash. Washington, DC:
sil – terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. Island Press.
Instituto Planarum de Estudos da Flora Ltda.,
MONTANARI JUNIOR, I. (2002). Exploração Eco-
Nova Odessa, SP., 3ª edição, 640 p.
nômica de Plantas Medicinais da Mata Atlântica.
LUNG, A.; FOSTER, S. (1996). Encyclopedia of In: Sustentável Mata Atlântica: A exploração
common Natural Ingredients. John Wiley & de seus recursos florestais. SIMÕES L. L. e
Sons, Inc. New York. LINO C. F. (organizadores) São Paulo: Editora
SENAC São Paulo. p. 35-54.
MARTINS, E. R. et al. (1995). Plantas Medicinais.
Viçosa: UFV, Imprensa Universitária, 220 p. MORAES L. A. S. et al. (2002). Phytochemical cha-
racterization of essential oil from Ocimum selloi.
MARTINS, E. R. (1998). Estudos em Ocimum selloi
Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio
Benth: isoenzimas, morfologia e óleo essencial.
de Janeiro RJ ,74: 183-186.
In: MING L.C. et al. Plantas medicinais e aro-
máticas condimentares: avanços na pesquisa MORAIS, S. M.; BRAZ FILHO, R. (2007). Produtos
agronômica. Botucatu: UNESP. p. 97-126. Naturais – Estudos Químicos e Biológicos. For-
taleza. Ed.UECE, 2007, 240 p.
MARTINS, E. R. et al. (2000). Plantas Medicinais.
Viçosa: UFV, p. 106-107. MORS, W. B.; RIZINI, C. T.; PEREIRA, N. A. (2000).
Medicinal plants of Brazil. DeFilipps, R.A. Ed..
MARTINS, M. B. G. et al. 2009. Caracterização
Reference Publication, Algonac (U.S.A.). 501 p.
anatômica, química e antibacteriana de folhas de
Brunfelsia uniflora (manacá) presentes na Mata NEVES, M. C. M. (2001). Plantas Medicinais: Diag-
Atlântica. Revista Brasileira de Farmacogno- nóstico e Gestão. 2ª ed. Brasília DF. IBAMA. Ed.
sia; Sociedade Brasileira de Farmacognosia, IBAMA – Série Meio Ambiente em Debate, 35
Universidade Federal do Paraná - Jd. Botânico, Catalogação na fonte do Instituto Brasilei-
Curitiba, PR. 19(1a): 106-114 jan-mar, São Paulo. ro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais
Renováveis, 52 p.
MATOS, E. H. S. F. (2012). Plantas tóxicas mais
comuns no Brasil. Medidas Preventivas e Cura- OLIVEIRA, E. R. (1985). O que é medicina popu-
tivas – dossiê técnico. Centro de Apoio ao Desen- lar. São Paulo: Abril cultural: Brasiliense. 91 p.
volvimento Tecnológico – CDT/UnB. 15 p.
OMS - ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD
MATOS, F. J. A. (2002a). Farmácias Vivas - Sis- (1978). Promoción y desarrollo de la medicina tra-
tema de utilização de plantas medicinais pro- dicional. Ginebra, OMS. (Série de Informes Téc-
jetado para pequenas comunidades. 4ª Edição nicos 622).
revisada e ampliada. Editora UFC, Fortaleza, 267 p.
OMS - ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD
MATOS, F. J. A.. (2002b). Plantas Medicinais – (2000). Situación regulamentaria de los medi-
guia de seleção e emprego de plantas usadas camentos: uma resena mundial. Traducción del
em fitoterapia no nordeste do Brasil. Impr. Uni- inglés: Organización Panamericana de la Salud.
versitária / Edições UFC, Fortaleza, 344 p. Washington: OPAS, 62 p.
MATOS, F. J. A. (2007). Plantas Medicinais – PANIZZA, S. (1997). Plantas que Curam (Cheiro
guia de seleção e emprego de plantas usa- do Mato) 24ª Edição – IBRASA – Instituição Brasi-
das em fitoterapia no nordeste do Brasil. 3ª leira de Difusão Cultural Ltda. São Paulo, 279 p.
ed. Fortaleza Imprensa. Universitária / Edições
PAULA, J. P; GOMES-CARNEIRO, M. R.; PAU-
UFC, 394 p.
MGARTTEN F. J. R. (2003) Chemical composi-
MATOS, F. J. A. et al. (2011). Plantas Tóxicas – tion, toxicity, and mosquito repelency of Ocimum
estudo de fitotoxicologia química de plantas selloi oil. Journal of Ethnopharmacology,
brasileiras. Instituto Plantarum de Estudos da Elsevier Scientific Publishers Ireland Ltd, 88:
Flora Ltda.347p. 253-260 p.
MATTOS J. K. A. (1996). Plantas medicinais: PELUSO G, et al. (1995). Studies on the inhibi-
aspectos agronômicos. Brasília: UnB. 51 p. tory effects of caffeoylquinic acids on monocyte
migration and superoxide ion production. J. Nat
MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT.
Prod. Washington, May; 58(5): 639-646.
(2003). Ecosystems and human well-being: a
framework for assessment. EUA: World Resour- PEREIRA, C. A. (1992). Plantas Tóxicas e Intoxi-
ces Institute. cações na Veterinária. UFG: Goiânia. 279 p.
MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT. (2005). PILATI, C.; BARROS, C. S. L. (2007). Intoxicação
Ecosystems and human well-being: current experimental por Senecio brasiliensis (Asteraceae)
state and trends: findings of the Condition and em equinos. Pesquisa Veterinária Brasileira,
Trends Working Group / edited by Rashid Hassan, v.27, p. 287-296.
166 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

REIS, H. H. T. et al. (1992). Como utilizar plantas 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de
medicinais. Goiânia. Sistema Único de Saúde – Química (SBQ), São Paulo, SP. PN 019.
Ministério da Saúde, 74 p. SILVA-JR, A. A. et al. (1994). Plantas medicinais,
RBCV – RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO caracterização e cultivo. Florianópolis: EPAGRI,
VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO. Formação 71 (Boletim Técnico, 68).
Ecoprofissional e Ecomercado de Trabalho – SIMÕES, C. M. O. et al. (1998). Plantas da Medi-
Vivência do Programa de Jovens. São Paulo: cina Popular do Rio Grande do Sul. 5ª edição,
RBCV, 2006 Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS, 174p.
RIBEIRO, A. A. N. et al. (2008). Potencial de explo- SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES TÓXI-
ração econômica e de educação ambiental de CO-FARMACOLÓGICAS - SINITOX/CICT/FIO-
plantas medicinais da Mata Atlântica. 2º Seminá- CRUZ; CIT/PA (2001). Belém; CIAVE/BA - Salvador;
rio de Iniciação Científica do Instituto Flores- CCI/SP – São Paulo; CCI/SP - Campinas; CIAVE/
tal. IF Série Registro. São Paulo, jul. 36 p. 63-71. MT - Cuiabá; CIT/RS - Porto Alegre. Plantas Tóxi-
RIO DE JANEIRO (Estado) (2001). Resolução SES cas no Brasil. Julho, Cartaz e folder.
nº 1.590, de 12 de fevereiro de 2001. Republica- SKELLY. A. (1996). The blooming of Botanical. The
da no D.O. nº 51, de 18 de março de 2004. Aprova nutrition, [S.1.], p.13. Summer.
o Regulamento Técnico para a prática da Fitotera-
SPECIESLINK NETWORK - Herbário Virtual
pia e Funcionamento dos Serviços de Fitoterapia
da Flora e dos Fungos. Disponível em: <www.
no âmbito do Estado do Rio de Janeiro e dá outras
splink.org.br>. Acesso: 02 mar. 2020.
providências.
TAYLOR, L. (1969). Sangue de Grado (Cróton
RODRIGUES, E. A.; VICTOR, R. A. B. M.; PIRES, B.
salutaris, C. lechleri, C. planostigma). Technical
C. C. (2006). A Reserva da Biosfera do Cinturão
Report. Raintree Nutrition, USDA Forest Service
Verde da Cidade de São Paulo como marco para
Inc. Databse on the internet.
gestão integrada da cidade, seus serviços ambien-
tais e o bem estar humano. Revista São Paulo em TEIXEIRA, M. L.; BARROS, L. M. (1992). Avalia-
Perspectiva, São Paulo, v.20, n.2, p. 71-89, 2006a. ção do teor de óleo essencial da canela-sassa-
frás (Ocotea pretiosa (Nees) Mez), na Região do
RODRIGUES, A.G.; SANTOS, M.G.; AMARAL, A.C. Sul do estado de Minas Gerais. In: Congresso
(2006). Políticas Públicas em Plantas Medicinais Nacional sobre Essências Nativas. São Paulo.
e Fitoterápicos In: A Fitoterapia no SUS e o Pro- Silvicultura em São Paulo, v. 16-A, pt. 2, p. 1076-
grama de Pesquisas de Plantas Medicinais da 1080, Edição dos Anais do Congresso Nacional
Central de Medicamentos, Brasília – DF, Minis- sobre Essências Nativas.
tério da Saúde. 147p.
TERRA (2013). Plantas medicinais têm poten-
RODRIGUES, W.; NOGUEIRA, J. M. (2008). Com- cial inexplorado no Brasil. Terra, São Paulo,
petitividade da Cadeia Produtiva de Plantas mai. 2013. Disponível em <http://economia.ter-
Medicinais no Brasil: Uma Perspectiva a Partir do ra.com.br/brasil-rural/plantas-medicinais-tem-
Comérico Exterior Informe GEPEC, Toledo, vol -potencial-inexplorado-no-brasil,7e8db8ecfe0fe
12, n.2, p.91-105. Disponível em: <http://e-revista. 310VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html>. Aces-
unioeste.br/index.php/gepec/article/viewArti- so: 05 set. 2019.
cle/1908>. Acesso: 09 set. 2019.
TONAKARNIA, C. H.; DÖBEREINER, J.; PEIXOTO,
RUPPELT B. M. et al. (1991). Pharmacological P. V. (2000). Deficiências minerais em animais
screening of plants recommended by folk medici- de fazenda, principalmente bovinos. Pesq. Vet.
ne as anti-snake venom--I. Analgesic and anti- Bras. v.20, n.3, p.127-138.
-inflammatory activities. Mem Inst Oswaldo
Cruz., Rio de Janeiro, RJ. 86 Suppl 2:203-5. TRINDADE, C.; SARTÓRIO, M. L.; REZENDE, P.
(2008). Farmácia Viva – Utilização de Plantas
SANTOS, T. G. et al. (2012). Composição química Medicinais. Viçosa, MG, CPT – Centro de Produ-
e avaliação da atividade antimicrobiana do óleo ções Técnicas, 266p.
essencial das folhas de Piper malacophyllum (C.
Presl.) C. DC. Quím. Nova vol.35, nº 3, São Paulo. UNESCO - UNITED NATIONS EDUCATION,
SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION
SÃO PAULO (Estado). (2010). Secretaria do Meio (1966), Culture and Health: Orientation Texts:
Ambiente. Inventário Florestal da Vegetação World Decade for Cultural Development 1998-
Natural do Estado de São Paulo (2008-2009), 1997. Document CLT/DEC/PRO. Paris, 129 p.
São Paulo: SMA/Instituto Florestal.
VINICIUS, R. Plantas tóxicas no Brasil (2009). SINI-
SETZER, W. N. O. et al. (2000). Fitoterapia, Else- TOX- Sistema Nacional de Informações Tóxico-
vier Scientific Publishing Company, Amsterdam, -Farmacológicas. Inst. de Comunicação e Infor-
71, 195p. mações Científica e Tecnológica em Saúde.
SILVA, F. C. et al. (2009). Triterpenos pentacícli- Disponível em <https:// sinitox.icict.fiocruz.br/>.
cos de Maytenus gonoclada (Celastraceae). In: Acesso: 24 nov. 2019.
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 167
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

GLOSSÁRIO

A
Ácido úrico | A hiperuricemia é o nome que se Antibacteriano | Inibe o desenvolvimento das
dá ao aumento de ácido úrico na corrente sanguí- bactérias, ou que destrói as bactérias.
nea. Sua principal consequência é a gota, doença Antibiótico | Substância que tem capacidade
caracterizada pela inflamação das articulações de interagir com microorganismos que causam
que sofrem com a deposição de cristais de áci- infecções no organismo. Os antibióticos interfe-
do úrico. Indivíduos com hiperuricemia ou gota rem com estes micro-organismos, matando-os ou
devem seguir uma alimentação equilibrada, com inibindo seu metabolismo e/ou sua reprodução,
restrição de bebidas alcoólicas - principalmente permitindo ao sistema imunológico combatê-los
cerveja - e baixa ingestão de alimentos de ori- com maior eficácia.
gem animal ricos em purinas, tais como: aren-
que, anchova, mexilhão, bacalhau, ovas de peixe, Antidiarreico | Medicamento utilizado para con-
cavala, truta, sardinha, salmão, carne de vitela, trolar a diarreia.
bacon e miúdos. Antiepiléptico | Também chamado anticonvul-
sivo; é um termo que se refere a um fármaco ou
Aclimatadas | Adaptado a certo clima, adapta-
droga ou outra substância destinada a combater,
do, acostumado.
prevenir ou interromper a convulsão ou ataques
Adstringente | Produto que contrai, estreita, epilépticos.
reduz, produz constrição, que contrai os tecidos e Antiespasmódico | Que acalma os espasmos
vasos sanguíneos. ou contrações da musculatura lisa.
Alcaloide | São compostos de caráter básico que Anti-hemorrágico | Substância que promove a
ocorrem naturalmente, sobretudo no reino vege- hemostasia (processo que pára o sangramento).
tal, com ação fisiológica mais ou menos intensa Também pode ser conhecido como um agente
sobre os animais. Ex. cafeína, teobromina, etc. hemostático. Os agentes anti-hemorrágicos usa-
dos na medicina têm vários mecanismos de ação:
Agonistas | Quando uma substância química se Drogas sistêmicas que funcionam inibindo a fibri-
liga em um receptor e o ativa, essa substância é nólise (promovem a coagulação); agentes hemos-
chamada de agonista, drogas que produzem uma táticos de ação local, causando vasoconstrição
resposta. (promove a agregação plaquetária).

Analgésico | Substância ou medicamento que Anti-histamínico | Medicamento que combate o


previne ou alivia a dor. efeito da histamina, liberta das reações patológi-
cas alérgicas.
Anemia | Do grego OXI AIMA significando "sem
sangue" - é uma síndrome na qual a capacidade Anti-inflamatória | Medicamentos ou um grupo
do sangue transportar oxigênio para os tecidos variado de fármacos que têm em comum a capa-
está reduzida, seja pela redução de eritrócitos cidade de reduzir ou controlar a inflamação, de
(hemácias) seja pela redução de hemoglobina. analgesia (reduzir a dor) e de combater a hiper-
Essa falta de oxigênio nos órgãos é conhecida termia (febre).
como hipoxia. Antimalárico | Medicamento usado para tratar
a malária.
Ansiolítico | Medicamento sedativo cujo efei-
to principal é diminuir ou extinguir a ansiedade Antiofídico | Substância que imuniza ou comba-
das pessoas, sem afetar em demasia as funções te o veneno de cobra.
psíquicas e motoras. É também chamado de Antioxidante | Substâncias que combatem os
tranquilizante. radicais livres, diminuindo o seu poder de reação
Antiartrítico | Substância ou medicamento que química.
combate a artrite. Antipirético ou antitérmico | Medicamento ou
Antiasmático | São fármacos usados no trata- substância que previne ou reduz a febre, dimi-
mento da asma. A asma é uma doença inflamató- nuindo a temperatura do corpo.
ria dos brônquios, causada por reações alérgicas. Antirreumático | Exerce uma ação anti-inflama-
tória em certas afecções reumáticas.
Antialbumínico | Diurético; usado com grande
êxito nas doenças renais e das vias urinárias, ure- Antiséptico | Se refere a tudo o que for utilizado
trites, cistites, pielites, nefrites infecciosas. no sentido de degradar ou inibir a proliferação de
168 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

microorganismos presentes na superfície da pele B


e mucosas. São substâncias usadas para desin-
fetar ferimentos, evitando ou reduzindo o risco de Benzaldeído | Também designado por óleo de
infecção por ação de bactérias ou germes. amêndoas amargas ou ainda aldeído benzoico,
consiste num líquido incolor, com um odor carac-
Antisifilítico | Atua contra a sífilis (doença terístico a amêndoas amargas. O benzaldeído
venérea). encontra-se presente em certas folhas, como as
Antitumoral | Substâncias ou fármacos que de cerejeira, de loureiro e pessegueiro, e sob a
atuam destruindo ou inibindo os tumores. forma combinada em certas nozes e caroços de
frutas (alperces e amêndoas amargas). Utiliza-se
Antitussígena | Acalma ou combate a tosse. em produtos alimentares, em corantes e na indús-
Arritmia | De repente, o coração começa a bater tria dos perfumes. Também se usa como solvente
mais rápido. Uma alteração no ritmo normal do e no fabrico do ácido cinâmico.
coração que produz frequências cardíacas velo- Biodiversidade | “Bio" significa "vida" e diver-
zes, lentas e/ou irregulares. sidade "variedade". Biodiversidade ou diver-
Arteriosclerose | Processo degenerativo do sidade biológica compreende a totalidade de
qual resulta o endurecimento e o espessamento variedade de formas de vida que são encontra-
da parede das artérias pela diminuição da elasti- das na Terra (plantas, aves, mamíferos, insetos,
cidade arterial. microorganismos...).

Artrite | É a inflamação das articulações. As Blenorragia | Doença sexualmente transmissí-


artrites são um tipo de reumatismo portanto é vel (DST), causada pela bactéria Neisseria gonor-
estudado pela reumatologia. Raramente tem uma rhoeae, ou gonococo.
origem conhecida mas todas envolvem fatores
Bócio | Conhecido popularmente como papo, é
genéticos, orgânicos, ocupacionais e ambientais.
um aumento do volume da tireoide.
São mais comuns em adultos e idosos.
Bronquite | É uma inflamação dos brônquios,
Ascite | Hepato esplenias ou nomes populares:
canais que conduzem o ar inalado até os alvéolos
água na barriga, barriga d'água - acúmulo anor-
pulmonares.
mal de líquido no abdome, em torno do intestino.
Asma brônquica | É uma doença inflamatória Broncodilatador | que dilata os brônquios e
crônica das vias aéreas que se manifesta como facilita a passagem do ar e a eliminação das
crises de falta de ar devidas a um edema da muco- secreções.
sa brônquica que resulta na contração dos brôn- Broncoconstipação | Associada à asma brôn-
quios e bronquíolos, motivando diminuição de seu quica aguda e crônica, enfisema pulmonar e
diâmetro e consequente redução ou obstrução bronquite.
total do fluxo de ar. Esse estreitamento geralmen-
te é reversível, espontaneamente ou através de Broncopulmonar | Distúrbio pulmonar crônico
medicações, porém pode também tornar-se per- que pode afetar bebês que precisam de terapia
manente. Além da presença de células inflama- de oxigênio extensiva ou respiradores artificiais.
tórias nas vias aéreas tem-se também exsudação

C
de plasma, hipertrofia dos músculos brônquicos,
rolhas de muco e descamação do epitélio, o que
ajuda na obstrução dos tubos respiratórios.
Carminativo | Medicamento usados na redução
Aspirina | No século V a.C., Hipócrates, médico dos gases intestinais.
grego e pai da medicina científica, escreveu que
o pó ácido da casca do salgueiro ou chorão (que Caqueixa | Caquexia (do grego KALA, "ruim", e
contém salicilatos, mas é potencialmente tóxico) SYNTHIKI. "condição") é uma síndrome complexa
aliviava dores e diminuía a febre. Um dos medi- e multifatorial que se caracteriza pela perda de
camentos mais famosos à base de ácido acetil- peso, atrofia muscular, fadiga, fraqueza e perda
salicílico é a Aspirina. O seu nome foi obtido da de apetite por alguém que não está a tentar per-
seguinte maneira: A vem de acetil; Spir se refe- der peso. Atinge 5 a 15% dos pacientes com insu-
re a Spiraea ulmaria (planta que fornece o ácido ficiência cardíacas ou renais crônicas e 60 a 80%
salicílico); e o in era um sufixo utilizado na época, dos pacientes com câncer terminal.
formando o nome Aspirin, que depois foi aportu-
guesado para Aspirina. Carcinogênico | Substância com potencial can-
cerígeno, isto é, que tem como propriedade o
Astenia | Termo empregado em medicina para potencial de desenvolvimento de câncer, como a
designar uma fraqueza orgânica. nicotina, o benzeno e radiações.
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 169
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

Cataplasma | Emplastro ou emplasto é uma for- Depurativo | Que purifica o organismo, facilitan-
ma de medicação caracterizada pela colocação do a eliminação de produtos do metabolismo.
sobre a pele de alguma substância sólida quen-
Dermatose | Designação genérica das doenças
te com o intuito de esquentar e/ou amolecer os
de pele.
tecidos acelerando o processo de cura. Também
é conhecido por compressa. Disfagia | As pessoas que sofrem com a disfa-
gia têm dificuldades para engolir e sentem dores
Cefaleia | Dor de cabeça.
durante a deglutição. Qualquer problema no pro-
Cervicite | Ferida no colo do útero. cesso de deglutição que impeça ou dificulte uma
alimentação normal chama-se disfagia.
Cianogênicos | Os glicosídeos cianogênicos são
substâncias de defesa encontradas em alguns Dispneia | Também chamada de falta de ar é um
vegetais, capazes de liberar ácido cianídrico por sintoma no qual a pessoa tem desconforto para
meio de reações de hidrólise (hidrólise (do grego respirar, normalmente com a sensação de res-
“hidro”, água; e “lysis”, separação) é uma reação piração incompleta. É um sintoma comum a um
química de quebra de ligação química de uma grande número de doenças, em especial na área
molécula com a adição de uma molécula água. da cardiologia e pneumologia. Exemplos são as
Nessa reação ocorre a quebra da molécula de afecções pulmonares, as lesões no bulbo raqui-
água em íons de hidrogênio (H+) e hidroxila (OH–) diano ou as obstruções da laringe, etc.
que se ligam às duas moléculas resultantes da
Diurético | Agente que aumenta a quantidade de
quebra, estas últimas podem ter caráter positivo
urina eliminada.
e negativo.
Droga vegetal | É o nome dado à planta medi-
Cistite | Inflamação da bexiga. cinal ou suas partes, após processos de coleta,
Ciclagem de nutrientes | É uma das alternati- estabilização e secagem.
vas para recompor a fertilidade do solo, diminuir

E
a aplicação de fertilizantes. É a contínua trans-
ferência de nutrientes do solo para as plantas, e
destas para o solo. Ecossistema | Designa o conjunto formado por
Colagogo | Diz-se do medicamento que atua todas as comunidades que vivem e interagem em
aumentando o volume da secreção biliar. determinada região e pelos fatores abióticos que
atuam sobre essas comunidades. São exemplos
Colerética | Diz-se do medicamento que aumen- de ecossistema uma floresta, um rio, um lago ou
ta a secreção biliar, aumentam a quantidade de um jardim. Os ecossistemas apresentam dois
bílis segregada pelo fígado que fica armazenada componentes básicos: as comunidades vivas
na vesícula biliar. (biótico) e os elementos físicos e químicos do meio
Constipação | Refere-se a uma mudança nos (abiótico). A parte biótica é formada por plantas,
hábitos intestinais diários, principalmente uma animais e microorganismos. A porção abiótica é
diminuição do número ou consistência da motili- o conjunto de nutrientes, água, ar, gases, energia
dade intestinal ou dor ou dificuldade ao evacuar. e substâncias orgânicas e inorgânicas do meio
ambiente.
Contração | É um processo fisiológico caracte-
rístico das fibras musculares que corresponde a Edema | É o nome que se dá ao inchaço locali-
capacidade de gerar tensão com a ajuda de um zado em alguma parte do corpo, como olhos ou
neurônio motor. lábios.
Edema palpebral | O inchaço da pálpebra, tam-
bém chamado de edema palpebral, pode ocorrer
D em uma das pálpebras (inferior ou superior), ou
mesmo em ambas. Existem algumas situações
Decocção | Ato de preparar o decocto; o mesmo que podem levar a ocorrência deste tipo de ede-
que cozinhar. ma. Dentre estas situações causadoras de incha-
ço na pálpebra, pode-se citar como: processos
Decocto | Extrato aquoso obtido pela fervu-
alérgicos, calázio, hordéolo (terçol), além de
ra da matéria vegetal em água. O mesmo que
irritações oculares que podem ser causadas por
cozimento.
uma grande quantidade de agentes, como poeira,
Decúbito dorsal | Decúbito dorsal ou supina a agentes químicos, cosméticos, insetos, etc., além
pessoa deita com a barriga voltada para cima. de tumores palpebrais e alterações da tireoide.
Decúbito lateral | a pessoa fica deitada de lado Emenagogo | Que provoca menstruação; nas
com ambos os braços para frente e os joelhos e doses fortes é abortivo.
quadris fletidos. Emético | Substância que induz o vômito.
170 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Enzima | Enzimas são um grupo de substâncias de medicamentos e outras formas farmacêuti-


orgânicas de natureza normalmente proteica, cas para uso em saúde. Esta entidade pertence
com actividade intra ou extracelular que têm fun- à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVI-
ções catalisadoras (em química, o catalisador é SA). É a entidade homóloga do INFARMED em
uma substância que acelera a velocidade de uma Portugal.
reação, sem ser consumido, durante o processo).
Farmacotécnica | Trata-se de uma parte da Far-
Erisipela | É uma infecção cutânea causada macologia que cuida das drogas, transformando-
geralmente pela bactéria Streptcoccus pyogenes -se nas várias formas farmacêuticas utilizadas na
do grupo A, mas pode também ser causada por prevenção.
Haemophilus influenzae tipo B, que penetram atra-
vés de um pequeno ferimento (picada de inseto, Fitoquímica | Química dos vegetais. Encarrega
frieiras, micoses de unha, etc.) na pele ou na de estudar as substâncias ativas, sua estrutura,
mucosa, disseminam-se pelos vasos linfáticos e distribuição na planta e as suas modificações.
podem atingir o tecido subcutâneo e o gorduroso. Fitofarmacologia | Estudo farmacológico das
Erosão genética | Consiste na perda de diver- plantas.
sidade genética (entre e dentro das populações) Fitofármaco | É uma substância química isolada
ao longo do tempo em decorrência tanto da inter- de vegetais, empregada para modificar ou explo-
venção humana como das alterações ambientais. rar sistemas fisiológicos dos estados patológicos
Escabiose | A escabiose (ou sarna) é uma doen- em benefício da pessoa à qual se administra.
ça altamente infecciosa causada pelo ácaro para- Fitofarmácia | É a terapêutica baseada no uso
sita, Sarcoptes scabie, transmitida de uma pessoa de substâncias medicinais extraídas de vegetais.
a outra pelo contato direto com a pele do indiví-
duo. A sarna acomete qualquer pessoa, indepen- Fitoterápico | Medicamento obtido a partir e
dentemente de raça, idade ou hábitos de higiene unicamente, de matérias-primas ativas vegetais.
pessoal. O Sarcoptes scabie alimenta-se da que- É caracterizado pelo conhecimento da eficácia
ratina, a proteína que constitui a camada super- e dos riscos de seu uso, assim como pela repro-
ficial da pele. Após o acasalamento, a fêmea põe dutibilidade e constância de sua qualidade. Sua
ovos, média de seis por fêmea, que eclodem após eficácia e segurança é validada através de levan-
duas semanas. A doença é caracterizada por uma tamentos etno-farmacológicos de utilização,
coceira intensa, principalmente à noite. documentações técnico-científicas em publica-
ções de ensaios clínicos fase 3. Não se conside-
Escrófula | Uma inflamação de gânglio linfático ra medicamento fitoterápico aquele que, na sua
ou linfonodo submandibular e cervical e que está composição, inclua substâncias ativas isoladas,
associada à tuberculose. de qualquer origem, nem as associações destas
Estomatite | Comumente conhecida como aftas, com extratos vegetais.
constitui lesões vesiculares que se rompem e Fotofobia | É a sensação de medo, sensibilidade
formam úlceras arredondadas, com bordas. É o ou de aversão a qualquer tipo de luz.
nome geral que se dá para qualquer inflamação
da boca ou gengivas. Uma das estomatites mais Fotossensibilização | Doença de bovinos, ovi-
comuns é o sapinho. nos, caprinos, e equinos que ocorre devido a uma
sensibilização das camadas superficiais da pele
Expectorante | O que provoca a eliminação de quando expostas à radiação solar intensa, devi-
muco ou de outras secreções que estejam nos do à ação de certas drogas, plantas ou outras
pulmões, brônquios e traqueia. substâncias.
Fungicida | Destrói ou inibe a ação dos fungos

F
que geralmente atacam as plantas. No caso da
agricultura alternativa, mais conhecida como
Farmacognosia | Caracterização botânica das agricultura orgânica o controle dos fungos é rea-
espécies vegetais com atividade farmacológi- lizado com produtos naturais e com técnicas de
ca e o estudo da sua composição química com manejo alternativas.
isolamento, identificação e dosagem dos seus
constituintes.
G
Farmacopeias | É o compêndio que define as
Gastrite | É a inflamação aguda ou crônica da
especificações para o controle de qualidade de
mucosa que reveste as paredes internas do
medicamentos e insumos para saúde. A Farma-
estômago.
copeia Brasileira é o Código Oficial Farmacêuti-
co seguido no Brasil. Tem como função principal Gastroenterite | É uma inflamação e infecção
estabelecer os requisitos mínimos de qualidade do estômago e dos intestinos delgado e grosso,
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 171
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

causada por organismos tais como vírus, bacté- substâncias estranhas, uma de suas primeiras
rias e parasitas. ações é liberar histamina. Ela aumenta a circula-
ção de sangue no local, deixando a pele vermelha
Gânglios linfáticos | Pequenos órgãos perfu-
e inchada. Por outro lado, o sangue que aumen-
rados por canais que existem em diversos pon-
tou sua circulação traz mais células de defesa.
tos da rede linfática. Os gânglios linfáticos são
Isso faz com que as substâncias estranhas sejam
órgãos de defesa do organismo humano e produ-
eliminadas mais rapidamente. Logo, a histamina
zem anticorpos.
pode ser considerada uma aliada do corpo.
Gengivite | Inflamação da gengiva.

I
H Imunoestimulante | Estimula e aumenta a defe-
sa imunológica do organismo.
Hemostático | Agente capaz de estancar hemor-
ragias; o mesmo que anti-hemorrágico. Infusão | Extrato aquoso obtido da matéria vege-
tal colocada em água quente; o mesmo que chá
Hepatoprotetor | Substância ou grupo de subs-
ou chá abafado.
tâncias capaz(es) de proteger a célula hepática
(fígado) contra agentes tóxicos. Insônia | Caracteriza-se pela falta de sono ou
por uma dificuldade prolongada para adormecer
Herpes | O herpes é uma doença causada por
por vários dias.
um vírus, que pode ser de dois tipos. O herpes
simples manifesta-se nos lábios ou na região

L
genital. O herpes zoster geralmente aparece na
região do tórax. O herpes simples, seja labial ou
genital, é adquirido por contato direto com uma Lantadenos | São compostos isolados das folhas
pessoa contaminada. As chances de transmis- da Lantana câmara (Verbenaceae) que causa
são são bem maiores se a pessoa infectada pelo hepatotoxicidade (a hepatotoxicidade é um dano
vírus estiver com lesões ativas. Já o herpes zoster no fígado causado por substâncias químicas cha-
é a reativação do vírus da varicela (ou catapora) madas hepatotoxinas) tanto em ruminantes (são
que a pessoa já havia adquirido, provavelmente animais cujo aparelho digestivo é dotado de um
na infância. Tanto o vírus simples como o zoster estômago duplo, com quatro cavidades como em:
ficam latentes, isto é, 'adormecidos' nos gânglios bovinos, ovinos, cordeiro - filhote do carneiro e da
linfáticos. Quando há uma queda da resistência ovelha), caprinos - cabrito - filhote do bode e da
orgânica, da imunidade (como pós-febre, trauma, cabra), bubalinos (são raças de búfalos), girafas,
quimioterapia, estresse, luz solar, desnutrição, veado etc.) como em humanos.
menstruação, etc.), o vírus volta a se multiplicar,
dando origem a um novo surto. O herpes simples Laxante | Que atua como purgativo fraco; que
tende a ter recorrências frequentes, enquanto o facilita a evacuação intestino.
zoster raramente recorre. Leucorreia | A leucorreia (ou corrimento vaginal)
Hidroeletrolíticos | O controle hidroeletrolítico é é também chamado de vaginite ou vulvovaginite.
quando se controla a entrada e a saída de líquidos São as alterações caracterizadas por um fluxo
de uma pessoa. vaginal anormal, geralmente com volume aumen-
tado, podendo ter ou não cheiro desagradável,
Hidropsia | A hidropsia é definida como excesso irritação, coceira ou ardência na vagina ou na
de líquidos no feto em duas ou mais áreas corpo- vulva e vontade de urinar frequentemente.
rais, como tórax, abdômen ou a pele.
Letargia | Do latim “lethargia”; “lethe”: esqueci-
Hiperemia | É um aumento da quantidade de mento e argia - inacção; é a perda temporária ou
sangue circulante num determinado local, oca- completa da sensibilidade e do movimento por
sionado pelo aumento do número de vasos san- causa fisiológica.
guíneos funcionais. Excesso de sangue em qual-
Linfonodo | Mesmo que gânglios linfáticos.
quer parte da superfície do corpo. Hiperemia:
congestão e hemorragia. Litíase | Do trato urinário; também chamada de
cálculo ou pedra no rim, ureter e bexiga.
Hipnótico | São fármacos capazes de induzir o
sono.
Hipotensor | Que faz diminuir ou baixar a pres- M
são sanguínea.
Mata Atlântica | É formada por um conjunto de
Histamina | Uma das armas que nosso corpo formações florestais (Florestas: Ombrófila Densa,
produz para combater as substâncias estranhas. Ombrófila Mista, Estacional Semidecidual, Esta-
Quando o sistema de defesa do corpo detecta cional Decidual e Ombrófila Aberta) e ecossiste-
172 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

mas associados como as restingas, manguezais P


e campos de altitude, que se estendiam original-
mente por aproximadamente 1.300.000 km2 em 17 Planta medicinal | É a planta selecionada, sil-
estados do território brasileiro. vestre ou cultivada, utilizada popularmente como
remédio no tratamento de doenças. Segundo a
Malária | Malária ou paludismo é uma doença
OMS (1978), é toda e qualquer planta contendo
infecciosa transmitida por mosquitos e provocada
substâncias que possam ser usadas para preve-
por protozoários parasitários do género Plasmo-
nir, aliviar, curar ou modificar um processo fisio-
dium. A doença é geralmente transmitida através
lógico normal ou patológico e que possa servir
da picada de uma fêmea infectada do mosquito
como fonte de fitofármacos e de seus precursores
Anopheles, a qual introduz no sistema circulatório
para síntese químico-farmacêutica.
do hospedeiro os microorganismos presentes na
sua saliva, os quais se depositam no fígado, onde Periurbana | Área que se localiza para além
maturam e se reproduzem. A malária manifesta- dos subúrbios de uma cidade. Corresponde a
-se através de sintomas como febre e dores de um espaço onde as atividades rurais e urbanas
cabeça, que em casos graves podem progredir se misturam, Situado na vizinhança imediata de
para coma ou morte. A doença encontra-se dis- uma cidade.
seminada em regiões tropicais e subtropicais ao Pielite | Inflamação da pelve do rim. Ela é acom-
longo de uma larga faixa em redor do equador, panhada por dor espontânea e à palpação nas
englobando grande parte da África subsariana, regiões lombares, irritabilidade da bexiga, febre
Ásia e América. Existem cinco espécies de Plas- remitente, urina sanguínea ou purulenta, diarreia,
modium capazes de infectar e de serem transmi- vômito e uma dor peculiar à flexão da coxa.
tidas entre seres humanos. A grande maioria das Pirexia | Febre ou pirexia é a elevação da tem-
mortes é provocada por P. falciparum e P. vivax, peratura do corpo humano para cima dos limites
enquanto que as P. ovale e P. malariae geralmente considerados normais (36ºC a 37,4°C).
provocam uma forma menos agressiva de malária Profilaxia | Profilaxia é um termo muito utilizado
e que raramente é fatal. na medicina e na odontologia, que são medidas
Metabólitos secundários | São compostos para prevenir ou atenuar doenças. O termo profi-
orgânicos que não estão diretamente envolvidos laxia é de origem grega e significa precaução. Pro-
nos processos de crescimento, desenvolvimen- filaxia é muito mais utilizado na área da medicina,
to e reprodução dos organismos. Os metabóli- que são as medidas que podem ser tomadas para
tos secundários têm frequentemente um papel reverter ou evitar doenças, desde procedimentos
importante no mecanismo de defesas vegetais complexos, como o uso de remédios, até os mais
contra a herbivoria (nome dado à predação, simples. Um grande exemplo da profilaxia, foi a
quando o predador é um animal herbívoro que se criação da vacina, que faz com que o sistema imu-
alimenta de tecidos vegetais vivos) e outras defe- ne reconheça os elementos externos que podem
sas inter-espécies. atingi-los e assim desencadeiam uma reação de
Midríase | É a dilatação da pupila em função da defesa.
contração do músculo dilatador da pupila. Prurido | Do latim "pruritu”, designado também
por coceira ou comichão, corresponde a uma
Miorrelaxante | Diz-se de um medicamento que
sensação desagradável causada por doenças ou
produz o relaxamento dos músculos.
agentes irritantes, que levam o indivíduo a coçar-
-se em procura de alívio, e constitui uma das quei-
N xas mais comuns dentro das patologias dermato-
lógicas. O ato de arranhar-se, para se coçar, faz
Nevralgia | Ou neuralgia é a dor em um ou mais com que as células e terminações nervosas se
nervos provocada por uma mudança na estrutu- inflamem e liberem histamina.
ra ou função neurológica dos nervos, em vez de
Psicomotora | Que se refere à integração das
serem por excitação dos receptores saudáveis de
funções motoras e psíquicas.
dor.
Nefrite | Também chamada glomerulonefrite; é Pústulas | É uma pequena elevação da epider-
um termo usado para descrever enfermidades me, a camada mais externa da pele, contendo
renais, nas quais a parte filtrante do rim (gloméru- fluído turvo ou purulento (com pus).
lo) está inflamada.
Nicho ecológico | O nicho é um conjunto de con-
dições em que o indivíduo (ou uma população)
Q
vive e se reproduz. Nicho ecológico é a parte de Quinina | É um alcaloide de gosto amargo
um habitat, com condições específicas, é o modo que tem funções antitérmicas, antimaláricas
como cada espécie, de animais ou de plantas e analgésicas. É extraída da quina, do gênero
vivem e sobrevivem. Cinchona.
PRODUTOS BIOQUÍMICOS, MEDICAMENTOS NATURAIS E PRODUTOS FARMACÊUTICOS: 173
O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS NA RBCV

R Triterpenoides | Substâncias derivadas dos tri-


terpenos por ligação de um mais átomos de car-
Repelente de insetos | São substâncias aplica- bono ao oxigênio.
das sobre a pele, roupas e superfícies que desen-
corajam a aproximação de insetos. U
Resiliência | Voltar ao estado natural, normal. Uretrite | É o nome dado às doenças inflamató-
rias e infecciosas da uretra, a qual é um canal que

S
conduz a urina desde a bexiga até o meio externo.

Sedativo | Medicamentos capazes de reduzir a V


ansiedade e exercer um efeito calmante. Vesícula | É um termo com origem no latim "vesi-
Sialorreia | Ou salivação excessiva. cula" - bolha, pequena bexiga ou cavidade. A vesí-
cula biliar é um órgão em forma de saco, parecido
Sinonímia botânica | A sinonímia ocorre quando
com uma pera, localizada abaixo do lobo direito
a uma espécie foi atribuído dois ou mais nomes.
do fígado. Sua função é armazenar a bile, líqui-
Sudorífico | Qualquer órgão que produza suor do produzido pelo fígado que atua na digestão de
ou substância semelhante. Nosso corpo é provido gorduras no intestino. A bile é formada pela mis-
de glândulas sudoríficas que ajudam a controlar a tura de várias substâncias, entre elas o coleste-
temperatura do corpo. Quando suamos estamos rol, responsável pela imensa maioria da formação
liberando calor e mantendo a temperatura ideal, de cálculos (pedras na vesícula), que podem impe-
em torno de 36ºC. dir o fluxo da bile para o intestino e causar uma
inflamação (colecistite).

T Vulneraria | Curativa de feridas e chagas.

X
Taquicardia | Aumento da frequência cardíaca.
Convenciona-se como normal no ser humano
uma frequência cardíaca entre 60 e 100 batimen-
Xerostomia | Também conhecida como boca
tos por minuto. A partir de 100, inclusive, conside-
seca ou secura da boca é um sintoma relaciona-
ra-se que há taquicardia.
do à falta de saliva. A xerostomia pode causar
Terpeno | Denominação geral de monoterpenos, dificuldade em falar e comer. Também pode levar
sesquiterpenos, diterpeno e triterpenos, formado à halitose (mau hálito) e aumento dramático de
de carbono e hidrogênio. cáries dentárias, já que o efeito de proteção da
Tônico | Medicamentos que aumentam a ação saliva não está presente, e também pode fazer
vital dos tecidos, que tonifica, que reforça o orga- com que a mucosa da boca se torne mais vulne-
nismo; fortificante. rável a infecções.
174 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO
PARTE 1
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS DE PROVISÃO

1.4 PROVISÃO, REGULAÇÃO


DA ÁGUA E BEM-ESTAR
HUMANO

Coordenadores
Denise de C. Bicudo | IBt/SIMA
Carlos E. de M. Bicudo | IBt/SIMA

Autores
Denise de C. Bicudo | IBt/SIMA
Carlos E. de M. Bicudo | IBt/SIMA
Carlos Maldaner | CEPAS/USP
Corina Sidagis-Galli | IIEGA
Donato Seiji Abe | IIEGA
Elaine Aparecida Rodrigues | IF/SIMA - IPEN/USP
Francisco Carlos Soriano Arcova | IF/SIMA
Luiz Antonio Dias Quitério | GVS XXV
Márcia Nascimento | SIMA
Maurício Ranzini | IF/SIMA
Renato Tagnin | SENAC/CAS
Ricardo Hirata | CEPAS/USP
Sandra Costa-Böddeker | IGeo
Valdir de Cicco | IF/SIMA
Veridiana Martins | CEPAS/USP
176 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto de abertura do capítulo:


Serviços de suporte
(manutenção da biodiversidade
e dos processos ecológicos),
de regulação (pela várzea)
e de provisão (montante do
reservatório de abastecimento
de Ponte Nova). Várzea próxima
à nascente do rio Tietê.
Fonte: Donato S. Abe, acervo do
Instituto Internacional
de Ecologia (2004).
SUMÁRIO

Resumo.................................................................................................................. 181

1 | Introdução....................................................................................................... 182

2 | Águas superficiais na bacia do Alto Tietê: serviços de provisão ................... 183


2.1 | Características da BAT........................................................................... 185
2.2 | Disponibilidade de água........................................................................ 186
2.3 | Qualidade de água................................................................................ 191

3 | Serviço de regulação da água superficial....................................................... 198


3.1 | Água e floresta....................................................................................... 198
3.2 | Função hidrológica da mata ciliar.......................................................... 200
3.3 | Produção e regulação de água pela floresta......................................... 201
3.4 | Várzeas e áreas alagadas como sistemas de purificação de represas.. 204

4 | Águas subterrâneas na bacia hidrográfica do Alto Tietê (BAT)...................... 206


4.1 | Serviços de águas subterrâneas............................................................ 206
4.2 | A importância do recurso hídrico subterrâneo para a segurança
hídrica do abastecimento na BAT........................................................... 206
4.3 | Os limites da explotação dos aquíferos da BAT..................................... 207
4.4 | Os riscos associados à qualidade da água subterrânea........................ 211
4.5 | A proteção das águas subterrâneas...................................................... 214

5 | Mudanças climáticas globais e serviços de provisão de água....................... 215


5.1 | Efeitos sobre a qualidade da água......................................................... 215
5.2 | Eutrofização e gases de efeito estufa.................................................... 216
5.3 | Efeitos sobre a quantidade de água....................................................... 216

6 | Política de proteção e recuperação dos mananciais: caso Guarapiranga


e Billings.......................................................................................................... 217

7 | Água e bem-estar humano na RBCV.............................................................. 221

Conclusões ........................................................................................................... 228

Referências............................................................................................................ 230

Glossário .............................................................................................................. 235


178 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 A água no contexto dos serviços ecossistêmicos e sua relação com o bem-estar humano.
Figura 2 Disponibilidade hídrica (m³/hab . ano) nas sub-bacias paulistas.
Figura 3 Mapa de hidrografia da RBCV, com a delimitação das Unidades de Gerenciamento dos
Recursos Hídricos (UGRHI).
Figura 4 Disponibilidade hídrica (vazão mínima superficial, Q7,10) e demanda de água nas
unidades hidrográficas inseridas ou que contribuem para o balanço hídrico da RBCV:
Alto Tietê, Piracicaba / Capivari / Jundiaí (PCJ) e Baixada Santista / Litoral Sul.
Figura 5 Sistemas produtores da RMSP e suas áreas de cobertura: 1) Sistema Cantareira;
2) Sistema Alto Tietê; 3) Sistema Rio Claro; 4) Sistema Rio Grande; 5) Sistema
Guarapiranga; 6) Sistema Alto Cotia; 7) Sistema Baixo Cotia; 8) Sistema Ribeirão da
Estiva.
Figura 6 Índice de estado trófico (IET) na RMSP, referente ao ano de 2009.
Figura 7 Índice de qualidade da água bruta para fins de abastecimento público (IAP) na RMSP,
referente ao ano de 2009.
Figura 8 Índice de qualidade de água para a proteção da vida aquática (IVA), níveis relativos ao
ano de 2009.
Figura 9 Quantidade de produtos químicos utilizados (kg/1000 m³/s) para o tratamento de água
na RMSP entre 2001 e 2004.
Figura 10 Represa Guarapiranga inserida na RMSP (bacia do Alto Tietê - BAT): vista geral da
barragem e ocupação irregular às margens.
Figura 11 Histórico do processo de eutrofização e degradação ambiental na represa Guarapiranga.
Figura 12 Processos hidrológicos em microbacias hidrográficas com floresta.
Figura 13 Síntese dos processos hidrológicos predominantes na Mata Atlântica.
Figura 14 Mapa de vegetação natural da RBCV.
Figura 15 Riacho protegido por mata ciliar na região da RBCV.
Figura 16 Efeito do corte-raso de uma floresta no escoamento total (deflúvio) de uma microbacia
ao longo do tempo (A); hidrogramas de microbacias em uma mesma região, mas sob
diferentes usos do solo (B).
Figura 17 Coletor de água de transprecipitação instalado no interior de microbacia na Mata
Atlântica no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI).
Figura 18 Ciclagem biogeoquímica realizada pelas áreas alagadas; zona limnética ou água aberta:
área mais central de um ecossistema aquático.
Figura 19 Concentração de nitrogênio total dissolvido e nitrogênio total ao longo da várzea do rio
Parelheiros.
Figura 20 Modelos conceituais de circulação de água nos sistemas aquíferos: (A) Cristalino e (B)
Sedimentar.
Figura 21 Mapa hidrogeológico da bacia do Alto Tietê.
Figura 22 Rebaixamento do nível de água causada pelo bombeamento de um poço (A) e de dois
poços com interferência (B).
Figura 23 Mapa de vulnerabilidade à contaminação de aquíferos da BAT.
Figura 24 Aspecto geral de via interna do loteamento Cantinho do Céu (SP), antes e depois das
intervenções.
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 179

Figura 25 Margens do reservatório Billings no loteamento Cantinho do Céu (SP) após as inter-
venções de recuperação das áreas de proteção permanente (APP).
Figura 26 Margem do reservatório recuperada e área de lazer implantada no loteamento Can-
tinho do Céu (SP).

QUADROS
Quadro 1 O processo de eutrofização da represa Guarapiranga: 100 anos de informação.
Quadro 2 Processos hidrológicos na microbacia do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga,
São Paulo.
Quadro 3 Estudo de caso: Várzeas do sistema Guarapiranga como filtros de nutrientes.
Quadro 4 Estudo de caso: o loteamento Cantinho do Céu, em São Paulo, na bacia hidrográfica do
reservatório Billings.

TABELAS
Tabela 1 Disponibilidade e demanda hídrica na bacia do rio Tietê, na bacia da Baixada Santista
e no estado de São Paulo. Em destaque (negrito), as bacias inseridas ou que contribuem
para o balanço hídrico da RBCV: Alto Tietê (AT), Piracicaba / Capivari / Jundiaí (PCJ) e
Baixada Santista / Litoral Sul (BS).
Tabela 2 Disponibilidade hídrica por região, com destaque (negrito) para a bacia hidrográfica do
Alto Tietê.
Tabela 3 Disponibilidade hídrica dos sistemas produtores e produção da SABESP.
Tabela 4 Indicadores operacionais dos sistemas de abastecimento de água das sub-bacias
hidrográficas da bacia do Alto Tietê, ano base 2005.
Tabela 5 Quantidade (mg/L) de nitrogênio total dissolvido e de nitrogênio total retido ao longo
da várzea do rio Parelheiros.
Tabela 6 Potencial hídrico subterrâneo da bacia do Alto Tietê.
Tabela 7 Disponibilidade hídrica subterrânea para as sub-bacias da BAT.
Tabela 8 Índices de vulnerabilidade à contaminação das unidades hidrogeológicas da BAT.
Tabela 9 Carga de contaminação potencial às águas subterrâneas nas sub-bacias da BAT.

SIGLAS
ANA Agência Nacional de Águas
APP Área de Preservação Permanente
APRM Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais
BAT Bacia Hidrográfica do Alto Tietê
Br Bromo
CBH Comitê de bacia hidrográfica
CEPAS Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (Instituto de Geociências/USP)
CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
CL Cloro
CH4 Metano
CO2 Dióxido de carbono
CVS Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde
DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica
180 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

DBO Demanda Biológica de Oxigênio


EMPLASA Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano
ETA Estação de Tratamento de Água
FECOMERCIO Federação do Comércio do Estado de São Paulo
F Flúor
FUSP Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo
ha hectare
Had CM3 Handley Centre Coupled Model
I Iodo
IAP Índice de qualidade da água bruta para fins de abastecimento público
IET Índice de estado trófico anual
IF Instituto Florestal
IIEGA Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental
IGc Instituto de Geociências
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change / Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas
ISA Instituto Socioambiental
IVA Índice de qualidade de água para a proteção da vida aquática
kg quilograma
LABHAB Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos
LAMO Laboratório de Modelos Físicos
m3/s metros cúbicos por segundo
MDDA Sistema de Monitorização da Doença Diarreica Aguda
MEA Millennium Ecosystem Assessment / Avaliação Ecossistêmica do Milênio
mg/L miligrama por litro
NO2 Óxido nitroso
O2 Oxigênio
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PCJ Piracicaba / Capivari / Jundiaí (bacia hidrográfica)
PMDI Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado
PRM Programa de Recuperação de Mananciais
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
SABESP Companhia de Saneamento Básico de São Paulo
SAF Sistema Aquífero Fraturado
SAS Sistema Aquífero Sedimentar
SENAC/CAS Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial / Unidade Santo Amaro
SIGRH Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SIMA Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente
SUS Sistema Único de Saúde
TUBS Technische Universität Braunschweig
UGRHI Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos
UNDP United Nations Development Programme / Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento
USP Universidade de São Paulo
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 181

RESUMO

O s processos de antropização do território geram impactos significativos sobre


os serviços de provisão, regulação e suporte relacionados à água. Nesse
sentido, destacam-se, na RBCV, os serviços ecossistêmicos de provisão de água superficial e
subterrânea em seus aspectos tanto qualitativos quanto quantitativos, com ênfase nas bacias
hidrográficas do Alto Tietê e da Baixada Santista, integralmente inseridas na RBCV, e bacia do
Piracicaba / Capivari / Jundiaí, parcialmente inserida nesse território, mas com complicações
severas quanto à provisão de água. A bacia do Alto Tietê abriga uma população de mais de 19
milhões de habitantes (10.232 hab/km2) e tem a demanda mais crítica do estado por recursos
hídricos, pois seu consumo é maior do que o dobro de sua disponibilidade (incluindo as reservas
de água subterrânea). A superfície da RBCV possui 41,7% de cobertura por vegetação natural,
que propicia serviços de regulação das águas superficiais e subterrâneas, com destaque para
a relação água-floresta, água-mata ciliar e para os serviços de purificação da água de rios e
córregos eutrofizados, providos pelas várzeas e áreas alagadas. Por meio da análise das
políticas públicas de recursos hídricos para as áreas urbanas densamente ocupadas, foram
avaliadas as normas de proteção e recuperação dos mananciais de abastecimento público
da RMSP (Guarapiranga e Billings). A partir da contextualização dos principais vetores diretos
e indiretos de alteração dos serviços ecossistêmicos da água e seus riscos para o bem-estar
humano, verificou-se que a desconsideração das condições necessárias à renovação da água
compromete os serviços ecossistêmicos e afeta, diretamente, a qualidade de vida da população
em decorrência da crescente diminuição da disponibilidade hídrica (em qualidade e quantidade),
da exposição a fatores de risco à saúde, tanto de natureza microbiológica como físicos e
químicos e das perdas humanas e materiais provocadas por inundações, deslizamentos e
enchentes, sendo urgente conter o quadro de deterioração dos serviços ecossistêmicos da água
no Cinturão Verde. É fundamental reconhecer efetivamente a necessidade de dedicar a RBCV
ao desempenho dos serviços ecossistêmicos, lançando mão de meios legais, de sustentação
econômica e de viabilização da compensação aos municípios, em nível que permita superar
os atuais processos de degradação e de perda da integridade das áreas que lhe garantiram
o reconhecimento como Reserva da Biosfera. Somente assim o cenário poderá ser revertido,
propiciando o aumento da segurança coletiva da população na RBCV e das bacias vizinhas e
aliviando as pressões sobre o bem-estar humano das populações atuais e futuras.
182 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO existente, os quais estão distribuídos entre


calotas polares (68,9%), aquíferos (29,9%), rios

N o contexto da chamada Avaliação Ecossis-


têmica do Milênio (MEA), a água é conside-
rada um serviço oferecido pelos ecossistemas,
e lagos (0,3%) e outros tipos de reservatórios
(0,9%). Isso significa que apenas 1% da água doce
é um recurso aproveitável pelos seres humanos
bem como um sistema, o de águas continentais e outros seres, o que representa 0,007% de toda
– superficiais e subterrâneas (MEA, 2005). Pelo água do planeta (TUNDISI, 2005).
fato do ciclo da água desempenhar vários papéis Em nível global, apesar de uma quantidade
no clima, na química e na biologia da Terra, é substancial de água doce renovável na Terra ser
muito difícil separar seus serviços de suporte, acessível ao homem (cerca de 30.000 m³), pouco
provisão e regulação. Dessa forma – como tam- mais do que 10% do recurso hídrico é utilizado
bém esclarecido em Vörösmarty et al. (2005) – (VÖRÖSMARTY, 2005); a mesma está distribuí-
apesar do papel fundamental da água para os da de forma bastante heterogênea no planeta e,
serviços de suporte e regulação, a inserção do o que é mais preocupante, as pressões sobre tal
presente capítulo em serviços de provisão foi recurso estão crescendo a passos alarmantes.
feita apenas por questão prática, já que os recur- No século 20, enquanto a população aumentou
sos hídricos são os mais tangíveis e constituem quatro vezes, o uso da água aumentou 7,7 vezes
o aspecto mais bem documentado do amplo (UNDP, 2006). Como tendência geral, esse con-
espectro dos serviços prestados pela água doce. sumo aumenta de acordo com a urbanização e a
Os serviços de suporte da água são muito renda da população (UNDP, 2006); mais de dois
notórios, pois é ela que mantém a vida na Terra. bilhões de pessoas vivem em países com alto
Basta mencionar que, de modo geral, os organis- estresse hídrico e cerca de 4 bilhões já sofrem
mos possuem de 60 a 90% de água. Em particu- escassez severa de água durante pelo menos um
lar, o corpo humano é constituído de 70 a 75% mês ao ano (WWAP, 2019) .
desse elemento vital, o que equivale dizer que Segundo o Relatório Mundial sobre o
uma pessoa de 100 kg possui entre 60 e 70 kg Desenvolvimento da Água 2019, o uso desse
de água (um litro de água equivale a um quilo- recurso tem aumentado em cerca de 1% ao ano
grama de peso). Assim, a falta desse elemento em todo o mundo desde os anos de 1980, impul-
vital pode acarretar a morte do organismo em sionado por uma combinação de fatores, como
poucos dias. Não menos relevante é o papel fun- crescimento população, desenvolvimento socio-
damental da água para o processo de fotossínte- econômico e mudanças nos padrões de consumo.
se das plantas, que é a primeira etapa que leva Até 2050, esta tendência continuará crescente o
à produção de biomassa. Dessa forma, a água é que representa um aumento de 20 a 30% acima
também fundamental para a manutenção da do nível atual de uso da água (WWAP, 2019).
cadeia alimentar e da biodiversidade sobre a A escassez da água, reconhecida como
Terra, além de liberar o oxigênio atmosférico via um problema globalmente significativo é rela-
fotossíntese. Ela igualmente participa dos pro- tivamente recente (VÖRÖSMARTY, 2005), já
cessos modeladores na superfície terrestre, pela que se desenvolveu apenas ao longo das cin-
dissolução de materiais e pelo transporte de co últimas décadas. Diante desse cenário,
partículas, mantendo os ciclos biogeoquímicos entende-se por que a Organização das Nações
do planeta e suas paisagens. Ainda, como será Unidas (ONU) escolheu o período de 2005 a
abordado nos capítulos que tratam do diagnós- 2015 como a Década Internacional da Água,
tico dos serviços de provisão, é essencial para as com o lema “Água, fonte de Vida”. Certamente,
múltiplas atividades do ser humano. o grande desafio para o século 21 será geren-
Como esse elemento é finito e está sen- ciar a água doce para equilibrar as demandas
do continuamente renovado pelo ciclo hidro- da humanidade e as dos ecossistemas, de for-
lógico, a água que hoje usamos é a mesma que ma que os últimos possam continuar a pres-
existe há cerca de 4,6 bilhões de anos (SUGUIO, tar outros serviços essenciais ao bem-estar
2006). É importante destacar que a concepção humano (VÖRÖSMARTY, 2005).
de abundância de água doce no planeta é falsa, O Brasil destaca-se pela grande descarga
já que esta constitui somente 3% de toda a água de água doce dos rios em seu território (vazão
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 183

média anual de 179 mil m³/s), o que corresponde profundas oscilações na oferta natural de água,
a aproximadamente 12% da água superfi- colocando em risco o equilíbrio dinâmico dos
cial do planeta (1,5 milhão m³/s) (ANA, 2009). ecossistemas, a produtividade agrícola e
Todavia, esse cenário de boa disponibilidade industrial e o próprio progresso humano. Isso
mascara importantes diferenças locais e regio- provoca graves consequências econômicas e
nais, subestimando situações críticas a muito sociais para as regiões que não implementarem
críticas em regiões de baixo regime pluviomé- ações efetivas de conservação do meio ambien-
trico ou de elevada densidade demográfica, te e de uso sustentável dos serviços proporcio-
como é o caso da região central da RBCV. nados pelos ecossistemas.
Na seção 2 será abordada a situação da Os serviços ecossistêmicos da água refe-
provisão de água nas bacias hidrográficas inte- rem-se a serviços de suporte, provisão e de
gralmente inseridas na RBCV (bacias hidro- regulação, que representam um papel funda-
gráficas do Alto Tietê e da Baixada Santista), mental para o ser humano e para a manuten-
e bacias hidrográficas parcialmente inseridas ção dos demais serviços proporcionados pelos
na RBCV, porém com implicações severas sobre ecossistemas da RBCV. A Figura 1 apresenta
esse serviço (bacia do Piracicaba / Capivari / uma aproximação a respeito desses serviços
Jundiaí); será dada ênfase à situação de provi- ecossistêmicos hídricos e sua relação com os
são de água superficial e subterrânea na bacia componentes do bem-estar humano.
do Alto Tietê (BAT), por ser uma das principais Os processos de antropização do territó-
bacias que compõem a RBCV, mas principal- rio desenvolvem-se no tempo, gerando distin-
mente por ser emblemática no que se refere à tos estágios de dominação e de inter-relação
segurança hídrica. Na sequência, será apresen- sociedade-natureza, tendo como pressuposto
tado o serviço de regulação de água superficial, que toda e qualquer ação do ser humano produz
com destaque para a relação entre água e flo- impactos no ambiente. Esses impactos alteram
resta. A seção 4 enfatiza a situação de provisão significativamente a quantidade e a qualida-
da água subterrânea na BAT, uma das princi- de dos serviços de provisão, de regulação e de
pais bacias que compõem a RBCV, enquanto a suporte relacionados à água. É nesse comple-
seção 5 discute a relação entre mudanças glo- xo cenário que se insere a RBCV, localizada na
bais e serviços de provisão de água. Conside- divisão hidrográfica Paraná que, em termos da
rando a relevância das áreas de mananciais relação demanda / disponibilidade hídrica, é
para a segurança hídrica na RMSP, a seção 6 classificada como confortável, segundo o Plano
apresenta a política de proteção e recuperação Nacional de Recursos Hídricos do Ministério
dos mananciais Guarapiranga e Billings. do Meio Ambiente (MMA, 2006). Todavia, par-
Por fim, a seção 7 aborda a intrínseca rela- ticularmente na bacia do Alto Tietê (BAT), loca-
ção entre os serviços dos ecossistemas relacio- liza-se um dos maiores aglomerados urbanos
nados a provisão de água, regulação de água e do mundo, a RMSP, com mais de 21,73 milhões
assimilação de efluentes e as diversas dimen- de habitantes, o que representa 85,7% da popu-
sões do bem-estar humano. lação encerrada pela RBCV, estimada em 25,36

2 | ÁGUAS SUPERFICIAIS
milhões de habitantes (IBGE, 2019) (Figura 2).

NA BACIA DO ALTO TIETÊ:


Na RBCV estão presentes duas bacias
hidrográficas em sua totalidade e, parcialmen-

SERVIÇOS DE PROVISÃO
te, quatro bacias hidrográficas delimitadas por
cadeias de montanha. O Tietê é separado das
duas bacias do litoral (Iguape e Baixada San-
No desenvolvimento da humanidade, a tista) pela Serra do Mar, que faz com que suas
água sempre constituiu elemento vital cuja águas corram para o interior, atravessando
evidência se encontra na própria análise his- o estado até encontrar o rio Paraná. A do rio
tórica: As principais civilizações que tiveram Paraíba do Sul corre entre as serras do Mar e
maior desenvolvimento floresceram em locais da Mantiqueira, desembocando no Atlântico, no
com disponibilidade abundante de água. Toda- estado do Rio de Janeiro. Sua área de drenagem é
via, essas mesmas ações antrópicas provocam isolada do Tietê por uma área de relevo ondulado.
184 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 1 |
A água no contexto
dos serviços
ecossistêmicos e
sua relação com o
bem-estar humano.
Fonte: Adaptado de
Victor et al.
(2018: p. 46).

Figura 2 |
Disponibilidade
hídrica (m 3/hab . ano)
nas sub-bacias
paulistas.
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em São Paulo (2013).
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 185

A gestão dos recursos hídricos no estado é população. Devido à sua relevância, a BAT é tra-
feita pelo Sistema Integrado de Gerenciamento tada com maior detalhe neste estudo.

2.1 I Características da BAT


de Recursos Hídricos (SIGRH) e adota as bacias
hidrográficas como Unidades de Gerenciamento
de Recursos Hídricos (UGRHI), estabelecendo
um sistema de gestão descentralizado, base- A BAT apresenta área de drenagem de
ado no Comitê de Bacias Hidrográficas (CBH), 5.775 km² e localiza-se, integralmente, no esta-
que congrega órgãos estaduais e municipais e do de São Paulo, no Planalto Atlântico, à alti-
a sociedade civil. O SIGRHI identifica trechos tude média de 750 m acima do nível do mar. A
do Tietê como unidades gerenciais distintas. precipitação média anual na bacia, da ordem de
Assim, em âmbito da RBCV, o sistema planalto 1.400 mm, pode ser considerada elevada. Suas
inclui toda a bacia do Alto Tietê (UGRHI 06 – Alto nascentes localizam-se na divisa dos municípios
Tietê), parte das bacias do Médio Tietê (UGRHI de Salesópolis e Paraibuna e a bacia estende-se,
10 – Sorocaba/Médio Tietê), do rio Piracicaba seguindo a direção geral leste-oeste, até a bar-
(UGRHI 05 – PCJ: Piracicaba / Capivari / Jundiaí) ragem do Rasgão, no município de Pirapora do
e do Paraíba do Sul (UGRHI 02 – Paraíba do Sul). Bom Jesus. É uma bacia de cabeceira, com vazão
Ainda, o sistema costeiro é constituído integral- média de apenas 84 m³/s. Inclui toda a bacia do
mente da bacia da Baixada Santista (UGRHI 07 – rio Pinheiros e algumas represas construídas
Baixada Santista) e de parte pequena do Ribeira para os mais diversos fins (geração de energia
de Iguape (UGRHI 11 – Ribeira do Iguape/Lito- hidrelétrica, abastecimento de água, regulari-
ral Sul) (Figura 3). zação de vazão). Entre essas, constam as repre-
Em termos de serviços ecossistêmicos da sas Billings, Rio Grande, Rio das Pedras, Ribei-
água, é inquestionável a relevância da bacia do rão do Campo, Ponte Nova, Paraitinga, Biritiba,
Alto Tietê (BAT) para a RBCV, que apresenta Jundiaí, Taiaçupeba, Pedro Beicht, Cachoeira
um dos quadros mais críticos do Brasil no que da Graça, Paiva Castro (ou Juqueri), Edgard de
diz respeito à garantia de água em quantida- Souza, Pirapora, Águas Claras e Guarapiranga.
de e de qualidade para o abastecimento de sua Os principais afluentes de sua margem direita

Figura 3 |
Mapa de hidrografia
da RBCV, com a
delimitação das
Unidades de
Gerenciamento dos
Recursos Hídricos
(UGRHI).
Fonte: Barradas
(2020).
186 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

(sentido montante-jusante) são os rios Paraitin- e 8,6%, respectivamente (FUSP, 2009). A vege-
ga, Baquirivu-Guaçu, Cabuçu de Cima e Juqueri tação natural cobre ao redor de 30,5% do terri-
e, da margem esquerda, os rios Claro, Biritiba- tório (1.764 km²), com remanescentes de Mata
-Mirim, Jundiaí, Taiaçupeba-Açu, Aricanduva, Atlântica que ocorrem de forma contínua nas
Tamanduateí, Pinheiros, Cotia e São João do porções sul, sudeste, centro-norte e sudoeste e,
Barueri. Divide-se em seis sub-bacias hidro- de forma fragmentada, em toda a bacia. A região
gráficas Tietê-Cabeceiras (área de drenagem: abriga inúmeras unidades de conservação e cin-
1.859,2 km²), Juqueri-Cantareira (848,7 km²), co regiões de mananciais (Juqueri-Cantareira,
Billings-Tamanduateí (824 km²), Cotia-Guarapi- Alto Tietê-Cantareira, Cotia-Guarapiranga,
ranga (858 km²), Penha-Pinheiros (852,7 km²) e Pinheiros-Pirapora, Billings-Tamanduateí) que,
Pinheiros-Pirapora (531,9 km²) (FABHAT, 2018). presentemente, fazem parte do SIGRH. Essas
A referida bacia compreende 34 municí- regiões estão organizadas em subcomitês, que
pios, e seu território é quase coincidente com o têm atribuições consultivas no que se refere às
da RMSP. Dentre os municípios metropolitanos, decisões tomadas pelo comitê da BAT (SÃO PAU-
não integram a BAT apenas os de Guararema, LO, 2009a; FABHAT, 2018).

2.2 | Disponibilidade de água


Juquitiba, Santa Isabel e Vargem Grande Paulis-
ta. Embora as áreas desses últimos municípios
2.2.1 | Disponibilidade e demanda
sejam relativamente grandes, suas populações
de recursos hídricos
correspondem, em conjunto, ao redor de 0,5% do
total metropolitano. Portanto, 99,5% da popula-
ção da RMSP estão localizados na área da BAT o A demanda por recursos hídricos na
que, na prática, implica em uma quase coincidên- BAT é considerada a mais crítica do estado de
cia para fins de tendências demográficas, sociais São Paulo, visto que o consumo total da bacia
e econômicas. A BAT abriga, por outro lado, qua- excede, em muito, sua própria produção hídri-
se metade da população do estado de São Paulo, ca. Em 2018, a disponibilidade per capita foi
e centraliza importantes complexos industriais, de 128m³/hab.ano resultado bem inferior ao
comerciais e financeiros, constituindo o maior valor mínimo estabelecido pela ONU para boa
polo de riqueza nacional, responsável pela gera- disponibilidade (> 2.500 m³/hab.ano), mesmo
ção de quase 15% do PIB brasileiro (SÃO PAULO, considerando as transposições existentes e as
2009a; FUSP, 2009; FABHAT, 2018). planejadas, como a do Itapanhaú, a classifica-
A aglomeração urbana da BAT, com cerca ção permaneceria crítica (FABHAT, 2018). A
de 20,27 milhões de habitantes, está entre as demanda total de 84 m³/s representa, aproxi-
maiores do mundo. A densidade média popula- madamente, o dobro da disponibilidade míni-
cional é de 10.232 hab/km² e os municípios com ma (Q7,10) de 39 m³/s, incluídas as reservas
menor e maior densidade são, respectivamen- exploráveis de água subterrânea (Tabela 1).
te, Salesópolis (40 hab/km²) e Taboão da Serra É importante destacar que o balanço hídri-
(14.006 hab/km²). O município de São Paulo co geral e o das águas superficiais são conside-
possui a maior população (12.176.866 habitan- rados críticos, enquanto o balanço hídrico das
tes), enquanto Salesópolis é a cidade menos águas subterrâneas já denota estado de atenção
populosa (17.022 habitantes). (SÃO PAULO, 2009a). Para suprir esta deman-
Os usos do solo na BAT podem ser divi- da, é feita a transposição de águas da bacia do
didos em três tipos principais. Desses, o uso rio Piracicaba (Bacia PCJ) – para o Sistema
urbano (área urbanizada, favela, loteamento Produtor Cantareira, que contribui com quase
desocupado, chácara, indústria, rodovia, equi- 50% do volume da água para abastecimento da
pamento urbano, reservatório de retenção, ater- RMSP. Entretanto, tal sistema já se encontra em
ro sanitário, lixão e movimento de terra) repre- estado muito crítico e em seu limite de expor-
senta 27,8% da área total da RMSP; a cobertura tação, uma vez que deve suprir o acréscimo da
vegetal (mata, capoeira, campo e várzea), 56,6% projeção futura da demanda para a bacia do
da RMSP; e os usos não urbanos, representa- Rio Piracicaba (Tabela 1 e Figura 4), situação
dos pelos usos agrícolas (hortifrutigranjeiros) que vem causando grandes dificuldades aos
e pelas áreas de reflorestamento, ocupam 3,1% municípios e indústrias nessa bacia, gerando
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 187

Disponibilidade (m2/s)
Vazão Reservas Disponi- Demanda Demanda /
UGRHIs / mínima exploráveis bilidade total disponibili- Classificação1
regiões superficial de água total (m2/s) dade (%)
subterrânea Tabela 1 I
Disponibilidade e
AT 20,0 19,1 39,1 81,93 209,53 Muito crítica demanda hídrica na
bacia do rio Tietê,
PCJ 43,0 24,0 67,0 52,58 78,48 Muito crítica
na bacia da Baixada
SMT 22,0 7,8 29,8 19,29 64,74 Muito crítica Santista e no estado
de São Paulo. Em
TJ 40,0 12,9 52,9 34,01 64,30 Muito crítica
destaque (negrito), as
TB 31,0 10,0 41,0 13,63 33,25 crítica bacias inseridas ou
que contribuem para
BT 27,0 12,2 39,2 11,60 29,58 crítica o balanço hídrico da
Bacia do Rio Tietê 183,0 86,0 269,0 213,05 79,20 Muito crítica RBCV: Alto Tietê (AT),
Piracicaba / Capivari /
BS 38,0 15,0 53,0 24,46 46,16 Muito crítica Jundiaí (PCJ) e Baixada
Santista / Litoral Sul
Estado/SP 893,0 336,1 1229,1 462,83 37,66 crítica
(BS). Fonte: SÃO PAULO
Nota: 1 Critério de severidade adotado pela “European Environmental Agency”, ONU e pela Agência Nacional de Águas (2009) para vazões (2009a).
médias, em função do percentual entre demanda e disponibilidade: até 5% (excelente), de 5% a 10% (confortável), de 10 a 20% (preocupan-
te), de 20 a 40% (crítica) e acima de 40% (muito crítica).

Figura 4 |
Disponibilidade hídrica
(vazão mínima
superficial, Q7,10) e
demanda de água nas
unidades hidrográficas
inseridas ou que
contribuem para o
balanço hídrico da
RBCV: Alto Tietê,
Piracicaba /Capivari /
Jundiaí (PCJ) e Baixada
Santista/Litoral Sul.
Fonte: São Paulo (2009).

períodos de desabastecimento em vários muni- mesmo mais crítico do que, por exemplo, o estado
cípios (MORETTI; GONTIJO JR, 2005). de Pernambuco, situado no Nordeste (Tabela 2).
A disponibilidade hídrica de apenas 200 Tal situação faz com que, na BAT, a relação entre
m³/hab.ano na BAT está muito aquém do índice a demanda e a disponibilidade seja bem superior
crítico, segundo a Organização Mundial da Saú- a 40%, o que classifica a situação como muito crí-
de (OMS), que é de 1.500 m³/hab.ano. Está, con- tica nesta bacia, conforme dados apresentados
sequentemente, em um cenário muito crítico, até na Tabela 2. Tal nível de disponibilidade hídrica


Região Disponibilidade hídrica Classificação da ONU
(m3/hab.ano) (m3/ hab.ano)
Brasil 35.000 Abundante
(> 20.000) Tabela 2 |
Disponibilidade hídrica
Estado de São Paulo 2.209 Pobre por região, com
(entre 1.500 e 2.500) destaque (negrito) para
a bacia hidrográfica do
Estado de Pernambuco 1.270 Crítica
Alto Tietê.
Bacia do Piracicaba 408 (< 1.500)
Fonte: Modificado de
Bacia do Alto Tietê1 200
FECOMERCIO (2010).
Nota: 1 A disponibilidade hídrica da BAT é apresentada em valores diversos em função das diferentes fontes consultadas.
188 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

é classificado como de escassez de água (< 1.000 a estes, em menor escala, outros usos (7%) e irri-
m³/hab.ano) (UNDP, 2006). Essa situação exige gação (1,46%) (SÃO PAULO, 2009a; FUSP, 2009).

2.2.2 | Sistemas produtores


intensa atividade de gerenciamento e grandes
investimentos e agrava-se, ainda mais, quando
se considera que a BAT centraliza importantes de água no Alto Tietê
complexos industriais, comerciais e financeiros,
constituindo o maior polo de riqueza nacional. A A BAT é formada por oito sistemas pro-
vulnerabilidade da segurança hídrica na BAT veio dutores, localizados nas áreas de mananciais
à tona durante a severa crise hídrica na região da RMSP. Os sistemas produtores são sistemas
Sudeste do Brasil, caracterizada pela ausência de de produção administrados pela Companhia
chuvas de primavera e verão em 2013/2014. Neste de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
período ocorreram 444 mm de chuvas na região (SABESP), destinados à captação, ao armazena-
do Cantareira (média para região de 995 mm), ou mento e ao tratamento de água para abasteci-
seja, com 55% de redução o que levou a severo mento. Os sistemas da BAT são: Cantareira, Gua-
racionamento no fornecimento e consumo de rapiranga, Alto Tietê, Rio Grande, Rio Claro, Alto
água na RMSP e a constituição de um grupo téc- Cotia, Baixo Cotia e Ribeirão da Estiva (Tabela
nico de assessoramento à gestão do sistema can- 3 e Figura 5).
tareira (SABESP, 2015). Segundo o Plano Diretor de Abastecimen-
Os principais usos da água na BAT são pa- to de Água da RMSP, elaborado em 2004 pela
ra abastecimento urbano (56%) e uso industrial SABESP, a BAT apresenta disponibilidade hídri-
(33%), sendo o último atendido, em parte, pela ca total de 67,8 m³/s, considerando o sistema
rede pública (15% do total distribuído) e, em par- Cantareira (bacia do Rio Piracicaba, UGRHI PCJ),
te, por abastecimento próprio mediante capta- o qual contribui com 33 m³/s, ou seja, cerca de
ção e extração de água subterrânea. Seguem 50% da água de abastecimento da RMSP. Vale

Produção Vazão
Sistemas da SABESP garantida População Municípios /
produtores (m3/s)2 com 95% (milhões)2 Regiões Atendidas2
(m3/s)1
Cantareira 33,0 31,3 8,1 Zonas Norte, Central e partes das
zonas Leste e Oeste da capital, bem
como os municípios de Franco da
Rocha, Francisco Morato, Caieiras,
Osasco, Carapicuíba e São Caetano
do Sul e parte dos municípios de
Guarulhos, Barueri, Taboão da
Serra e Santo André
Guarapiranga 14,0 16,0 3,7 Zonas Sul e Sudoeste da capital
Alto Tietê 10,0 15,6 3,1 Zona Leste da capital e os municípios
de Arujá, Itaquaquecetuba, Poá,
Ferraz de Vasconcelos, Suzano, Mauá,
Mogi das Cruzes e parte de Santo
André e de Guarulhos
Rio Grande 5,0 4,8 1,2 Diadema, São Bernardo do Campo
e parte de Santo André
Rio Claro 4,0 4,0 1,5 Bairro de Sapopemba na Capital, e
parte dos municípios de Ribeirão Pires,
Mauá e Santo André.
Alto Cotia 1,2 1,1 0,409 Cotia, Embu, Itapecerica da Serra,
Tabela 3 I Embu-Guaçu e Vargem Grande
Disponibilidade
Baixo Cotia 0,9 0,8 0,361 Barueri, Jandira e Itapevi
hídrica dos sistemas
produtores e Ribeirão
produção da SABESP. da Estiva 0,1 0,1 0,038 Rio Grande da Serra
Fonte: 1 FABHAT (2011);
2
SABESP (2013). Total 68,2 73,7 18,408
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 189

Figura 5 I
Sistemas produtores da
RMSP e suas áreas de
cobertura (em azul).
1) Sistema Cantareira;
2) Sistema Alto Tietê;
3) Sistema Rio Claro;
4) Sistema Rio
Grande; 5) Sistema
Guarapiranga; 6)
Sistema Alto Cotia;
7) Sistema Baixo Cotia;
8) Sistema Ribeirão da
Estiva.
Fonte: Google Earth
(2020); Adaptado de
Fernandes (2010).
destacar que os sistemas produtores já são insu- O sistema Cantareira é integrado por um
ficientes para atender a demanda atual, estima- conjunto de represas localizadas na bacia do
da em 79 m³/s. rio Piracicaba e na bacia do Alto Tietê (repre-
A Tabela 3 apresenta a disponibilidade sas Jaguari-Jacareí, Cachoeira, Atibainha, Paiva
hídrica dos sistemas produtores da RMSP e a Castro e Barragem Cascatinha), conectadas por
produção da SABESP. Os valores de vazão refe- túneis e canais de interligação, que variam de
rem-se à vazão mínima garantida em 95% do 670 m a 9,9 km de extensão. Esse sistema con-
tempo (Q7,10). tribui com aproximadamente 50% do volume
O sistema Cantareira é considerado um dos de água para o abastecimento da RMSP, aten-
maiores produtores de água do mundo e o maior dendo a cerca de 8,8 milhões de pessoas, que
da RMSP. Esse sistema ocupa área de aproxi- correspondem a 46% da população dessa área.
madamente 228 mil ha, abrange 12 municípios, Ressalte-se a severa crise hídrica sem prece-
quatro dos quais situados no estado de Minas dentes deste sistema durante o período atípico
Gerais. Capta água dos rios Jaguari, Jacareí, de estiagem em 2013/2014, que apresentou que-
Cachoeira, Atibainha e Juqueri, com produção de da de 56% na produção de água – de 33 m³/s no
33 m³/s. Desses, 31 mil litros são produzidos na início da crise para 14 m³/s em março de 2015,
bacia do rio Piracicaba, sendo que os reservató- com severo comprometimento do abastecimen-
rios Jaguari-Jacareí, cujas bacias estão inseridas to da metrópole (SABESP, 2015). Além das zonas
majoritariamente no estado de Minas Gerais, são Norte, Central, Oeste e parte da zona Leste da
responsáveis pela produção de 22 m³/s. Apenas capital, este sistema também abastece, total ou
2 mil litros são produzidos na bacia do Alto Tie- parcialmente, 10 municípios (Franco da Rocha,
tê pelo Rio Juqueri (WHATELY; CUNHA, 2007). Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicu-
Assim, as principais nascentes das bacias hidro- íba, São Caetano do Sul e parte dos municípios
gráficas formadoras dos reservatórios Jaguari- de Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo
-Jacareí e Cachoeira estão situadas na região sul André) (SABESP, 2013).
do estado de Minas Gerais. Adicionalmente, as O sistema Guarapiranga é o segundo maior
águas do reservatório Atibainha, oriundas da produtor de água, atendendo a cerca de 20% da
bacia hidrográfica do rio Piracicaba, são reverti- população da RMSP. Suas águas provêm da
das para bacia do Alto Tietê. reversão das cabeceiras do rio Capivari
190 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

(transposição da Baixada Santista) e da retira- O sistema Rio Claro – está localizado a 70


da da represa de Guarapiranga. Produz 14 m³/s e km da capital. Foi construído em 1930, sendo
abastece 3,2 milhões de pessoas das zonas sul e ampliado na década de 1970. Suas águas são
sudoeste da capital. Os principais contribuintes provenientes do rio Ribeirão do Campo, repre-
são os rios Embu-Mirim, Embu-Guaçu e Pare- sadas na represa de mesmo nome, e recebem
lheiros, pelas transferências dos rios Capivari e tratamento na estação Casa Grande. Produz 4
Monos, da vertente marítima (transposição da m³/s, que abastecem 1,2 milhões de pessoas
Baixada Santista) e pelas ramificações da mar- do bairro paulista de Sapopemba e parte dos
gem esquerda da represa Billings (braço Taqua- municípios de Ribeirão Pires, Mauá e Santo
cetuba), desde o ano 2000 (SABESP, 2013). Em ter- André (SABESP, 2013).
mos relativos, os principais afluentes contribuem O sistema Alto Cotia – foi construído entre
com 64% da produção de água, dos quais o braço os anos de 1916 e 1933, este sistema produz
Taquacetuba / Billings contribui com 29% e o rio 1.000 litros de água por segundo (1 m³/s), que
Capivari com 7% (WHATELY; CUNHA, 2006). abastecem cerca de 400 mil habitantes de cinco
O sistema Alto Tietê – Sistema Produtor Alto municípios (Cotia, Embu das Artes, Itapecerica
Tietê (SPAT) – é, presentemente, o terceiro maior da Serra, Embu-Guaçu e Vargem Grande). A água
produtor de água. Fornece cerca de 10 m³/s de vem da represa Pedro Beicht, formada pelos rios
água bruta para a estação de tratamento de água Capivari e Cotia do Peixe. A captação é feita na
(ETA) em Taiaçupeba. Todavia, visa à disponibi- represa da Graça e transportada para a estação
lização de até 15 m³/s de água para a RMSP, o de tratamento Morro Grande (SABESP, 2013).
que deverá beneficiar mais de 4,0 milhões de O sistema Baixo Cotia – está localizado na
pessoas quando, então, passará a ser o segundo região inferior do Alto Tietê. O sistema Baixo
maior produtor de água para a RMSP. Cotia entrou em funcionamento em 1963, a par-
Compreende cinco reservatórios em casca- tir da operação das barragens Isolina Superior,
ta, interligados por túneis e canais: Ponte Nova Isolina Inferior e da ETA Baixo Cotia, a fim de
(município de Salesópolis), Jundiaí (Mogi das aproveitar o excedente hídrico do sistema Alto
Cruzes), Taiaçupeba (divisa de Mogi das Cru- Cotia. Por sua vez, o excedente hídrico do siste-
zes e Suzano), Biritiba (em Biritiba-Mirim) e ma Baixo Cotia encontra-se com o rio Barueri e
Paraitinga (Salesópolis). As águas provenientes escoa para o rio Tietê (OKA; ROPERTO, 2002).
dos reservatórios de Ponte Nova e Paraitinga Com a produção de 900 litros por segundo, esse
escoam pelo rio Tietê até as proximidades da foz sistema é responsável pelo abastecimento de
do rio Biritiba, de onde são parcialmente deri- aproximadamente 460 mil moradores de áreas
vadas para uma estação elevatória. As águas da zona Oeste da RMSP, como Barueri, Jandira e
são recalcadas até o túnel de interligação Tietê/ Itapevi. A fonte de abastecimento é a barragem
Biritiba, a partir do qual todo o escoamento é do Rio Cotia (SABESP, 2010).
feito por gravidade e através de sistemas canal- O sistema Ribeirão da Estiva capta água
-túnel-canal, passando pelos reservatórios sub- do rio Ribeirão da Estiva e produz 100 litros
sequentes (Biritiba e Jundiaí) até atingir o de de água por segundo (0,1 m³/s), abastecendo
Taiaçupeba, onde é feita a captação pela SABESP. 40 mil pessoas do município de Rio Grande da
Os principais contribuintes do rio Tietê, em sua Serra. O sistema foi escolhido para receber e
área de cabeceiras, são os rios Claro, Paraitinga, colocar em prática as novas tecnologias desen-
Jundiaí, Biritiba-mirim e Taiaçupeba que, junto volvidas pela SABESP ou por parcerias com
com o Tietê, compõem o quadro dos mais impor- universidades e centros de pesquisa. O objetivo
tantes mananciais de abastecimento para esta é torná-lo um centro de referência tecnológica
região, com destaque para os reservatórios de em automação em todas as fases da produção
Ponte Nova, Jundiaí e Taiaçupeba. de água (SABESP, 2013).

2.2.3 | Distribuição e consumo de água


O sistema Rio Grande configura-se como
um braço da represa Billings e produz 4,8
m³/s, abastecendo 1,2 milhões de pessoas em
Diadema, São Bernardo do Campo e parte de Na Tabela 4 estão apresentados os dados
Santo André. médios para as seis sub-bacias da BAT (médias
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 191

Índice de Consumo Consumo


Sub-bacia atendimento médio por médio por
Municípios
hidrográfica urbano de água economia habitante
(%) (m3/mês econ.) (L/hab.dia)

Alto Diadema, Ribeirão Pires,


Tamanduateí- Rio Grande da Serra, Santo
Billings André e São Bernardo do 94,23 13,54 156,01
Campo
Cabeceiras Arujá, Biritiba-Mirim, Ferraz
de Vasconcelos, Guarulhos,
Itaquaquecetuba, Mogi das 88,84 12,30 118,31
Cruzes, Poá, Salesópolis
e Suzano
Cotia- Cotia, Embu das Artes,
Guarapiranga Embu-Guaçu, Itapecerica da 77,32 12,55 130,40
Serra e S. Lourenço da Serra
Juqueri- Caieiras, Cajamar,
Cantareira Francisco Morato, Franco 83,45 12,27 109,81
da Rocha, Mairiporã
Penha-Pinheiros Mauá, São Caetano do Sul, Tabela 4 |
99,91 14,37 167,20 Indicadores
São Paulo, Taboão da Serra
operacionais dos
Pinheiros- Barueri, Carapicuíba, sistemas de
Pirapora Itapevi, Jandira, Osasco, abastecimento de
Pirapora do Bom Jesus e 90,80 15,41 150,76
água das sub-bacias
Santana de Parnaíba hidrográficas da bacia
Média para do Alto Tietê, ano base
Alto Tietê 95,78 14,02 156,18 2005.
Fonte: FUSP (2009).

para municípios) sobre a cobertura do sistema Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Suzano, Embu
de distribuição de água e os consumos médios das Artes, Caieiras, Francisco Morato, Franco da
por economia e per capita. Tais informações Rocha, Mauá, Itapevi e Jandira). Em contraste, os
foram obtidas a partir da consulta ao Sistema maiores consumos médios são registrados em
Nacional de Informações sobre Saneamento São Caetano do Sul e Santana de Parnaíba, com
(SNIS) relativas a 2005 (FUSP, 2009). valores que atingem de 254 L/hab.dia e 212 L/
Ao considerar o acesso à rede de água, hab.dia, respectivamente (FUSP, 2009).

2.3 | Qualidade da água


existe certa homogeneidade entre as sub-bacias
hidrográficas, com exceção à de Cotia-Guara-
piranga (77%) e, mais moderadamente, à de
Juqueri-Cantareira (83%). Todavia, os valores O estado da qualidade das águas super-
médios de consumo de água apresentam dife- ficiais ilustra a natureza complexa e de longo
renças notáveis. Enquanto a sub-bacia Juqueri- prazo das interações do ser humano com o seu
-Cantareira apresenta o menor consumo médio ambiente. Sem dúvida, o crescimento popu-
per capita (109,8 L/hab.dia), a sub-bacia Penha- lacional é o maior vetor indireto de mudança
-Pinheiros, onde se encontra o município de São na provisão da qualidade da água. Problemas
Paulo, apresenta o maior consumo per capita de poluição advindos de efluentes domésticos,
(167,2 L/hab.dia), seguida pela sub-bacia do Alto agrícolas e/ou industriais, tornaram-se um
Tamanduateí-Billings (156 L/hab.dia). Em rela- dos grandes desafios para os recursos hídri-
ção aos valores médios por município, o menor cos, principalmente em países industrializados
consumo foi observado em Mairiporã (92,5 L/ e em desenvolvimento. Mais recentemente, o
hab.dia), embora diversos outros mostrem valo- novo desafio para a qualidade das águas são os
res ao redor de 100 L/hab.dia. Admitido um resíduos farmacêuticos sintéticos gerados pelos
desvio de 20%, mais 14 municípios podem ser pela humanidade e os livestock, que estão sendo
englobados nessa faixa de consumo (Biritiba- descobertos em doses pequenas em rios, lagos
-Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, e represas em escala mundial (VÖRÖSMARTY,
192 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

2005). Essas substâncias vêm sendo apontadas relação ao total coletado e 38,7% de tratamen-
como potenciais causadoras de interferências to do total gerado. Como consequência, a car-
endócrinas no organismo de animais e seres ga orgânica lançada diariamente nos corpos
humanos, podendo ser bioacumuladas no teci- d’água da bacia do Tietê como um todo equivale
do de organismos vivos e biomagnificadas na a 1,36 milhões kg DBO/dia (demanda bioquí-
cadeia trófica. A grande preocupação associa- mica de oxigênio por dia), sendo que somente
da com a exposição a interferentes endócri- a BAT e a PCJ contribuem com o percentual de
nos deve-se aos efeitos potenciais adversos na 72,8% e 18,5%, respectivamente.
reprodução e no desenvolvimento de animais e Ao detalhar mais as informações para
seres humanos, visto que tais substâncias têm a BAT, com base em dados populacionais dos
mostrado interferir na sinalização endócrina municípios e nos indicadores operacionais do
em estudos com animais in vivo e in vitro (GHI- SNIS de 2005, a FUSP (2009) realizou um diag-
SELLI; JARDIM, 2007). Apesar da gravidade nóstico do volume de esgoto urbano coletado
desses contaminantes, muito pouco ou quase e tratado para cada município, agrupados por
nada se conhece sobre sua ocorrência nos ecos- sub-bacias hidrográficas. Verifica-se grande
sistemas aquáticos, incluindo as represas de heterogeneidade nos índices de atendimento
abastecimento no país como um todo. urbano de esgoto por municípios. Os de Santo
A BAT, em particular, por apresentar a André e São Caetano do Sul são os únicos que
maior população do estado, recebe grande apresentam índices de 100% de atendimento de
impacto sobre seus corpos d’água em função esgoto, ao passo que os municípios de Itapeceri-
do lançamento de efluentes urbanos e indus- ca da Serra e Arujá são aqueles com os menores
triais, agravado pela tendência da periferização índices de atendimento (4% e 16%, respectiva-
das populações em áreas de mananciais e des- mente). Ainda, 41% dos municípios não dispõem
providas de saneamento, como nos distritos de de qualquer sistema de tratamento, com lança-
mananciais ao Sul, a Norte e a Leste, nas cabe- mento direto de seus efluentes nos cursos d’água
ceiras da bacia (SÃO PAULO, 2009a; FUSP, 2009). (SÃO PAULO, 2009a). Apesar do município de São
Conforme relatório da Secretaria de Paulo apresentar índice relativamente mais ele-
Infraestrutura e Meio Ambiente (SÃO PAULO, vado de atendimento urbano de esgotos (88%)
2009a), das seis UGRHI que compõem a bacia e um índice de tratamento de esgoto de 57%
do rio Tietê, a do Alto Tietê (BAT - UGRHI 6) e dentre os mais altos nos municípios da BAT, o
a do PCJ (UGRHI 5) são as duas maiores gera- volume produzido pela população não atendida
doras de esgotos na região do estado e as que (1,3 milhão de habitantes) é correspondente a
contam com os melhores percentuais de cole- 65.427 milhões de m3/ano. Como consequência,
ta (85% e 84%, respectivamente). Todavia, são a sub-bacia Penha-Pinheiros é aquela que apre-
também as que recebem menos tratamento de senta o maior índice de atendimento urbano
esgoto (43% e 41% do total coletado, respecti- de esgotos dentre as demais sub-bacias da BAT
vamente), percentual que decresce ainda mais (87%), o maior índice de tratamento de esgoto
quando se considera a quantidade de esgoto (53,9%) e, mesmo assim, a população urbana
tratado em relação ao total gerado (< 35%). não atendida pela coleta de esgotos corresponde
A situação da outra bacia inteiramente cir- a 1,5 milhão de habitantes, superior à população
cunscrita na RBCV, a bacia da Baixada Santis- total da cidade de Montevidéu, por exemplo. Se
ta, também é pouco confortável, uma vez que for considerada toda a BAT, a população urbana
apresenta um dos piores percentuais de coleta não atendida por esgotos domésticos correspon-
de esgoto no estado de São Paulo (60%) apesar de a 4 milhões de habitantes, superior à popu-
do tratamento do esgoto coletado (60%) ficar lação total de algumas capitais mundiais, como
acima da média estadual. Todavia, quando se Madrid, Berlim e Buenos Aires.
considera o percentual tratado em relação ao Tal situação é claramente refletida em
total gerado (36%), o valor fica próximo dos diferentes índices de qualidade de água. Consi-
observados para a BAT. Para fins comparati- derando o índice de estado trófico anual (IET),
vos, os percentuais para o estado de São Pau- que avalia a qualidade da água quanto ao enri-
lo são: 86% de coleta, 43% de tratamento em quecimento por nutrientes, o monitoramento
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 193

realizado em 49 pontos pela Companhia eutrofizados. Em relação a 2016, 16 pontos exi-


Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), biram melhora (pontos localizados nos reserva-
em 2009, classificou 33% dos corpos de água da tórios do Cabuçu e Juqueri, ribeirão dos Cristais
BAT como hipereutróficos, ou seja, com a pior e os rios Embu-Guaçu e Tietê), que atingiram
qualidade (CETESB, 2010). Somando-se esses condição de baixa trofia; apenas 3 exibiram
corpos de água (hipereutróficos) com os clas- piora. O rio Tietê, a partir de Itaquaquecetuba,
sificados como eutróficos e supereutróficos, a apresentou condições extremamente eutrofi-
porcentagem aumenta para 59%, ou seja, mais zadas com indícios de impactos relacionados
da metade dos corpos de água superficiais moni- ao lançamento de efluentes domésticos no pró-
torados da BAT encontram-se eutrofizados. Na prio corpo d’água bem como de seus afluentes
Figura 6 está apresentado o mapa da RMSP com (CETESB, 2017).
a classificação dos corpos de água pelo índice de Conforme CETESB (2017), na UGRHI 6, os
estado trófico feito pela CETESB (2010). A região esgotos domésticos representam uma contri-
da sub-bacia Penha-Pinheiros, a qual apresen- buição substancial para a degradação dos cor-
ta a maior população não atendida por esgota- pos hídricos, uma vez que participam com cerca
mento, apresentou quase que a totalidade dos de 57% de toda carga orgânica remanescente.
corpos de água monitorados classificada como É importante destacar que a população desta
supereutrófica e hipereutrófica. Na sub-bacia bacia corresponde a cerca de 48% da população
Cabeceiras, os corpos de água localizados nos total do estado e que existem problemas históri-
municípios de Arujá, com baixo índice de atendi- cos de ocupações irregulares que também cola-
mento urbano de esgoto e de Guarulhos, sem sis- boram para a degradação dos corpos hídricos.
tema de tratamento de esgotos em 2009, foram Na Figura 7 estão os resultados do índice
também majoritariamente classificados como de qualidade da água bruta para fins de abas-
supereutróficos e hipereutróficos. tecimento público (IAP) utilizado pela CETESB
Dados de 2017 (46 pontos monitorados) para o ano de 2009 (CETESB, 2010). A água
demonstram que 48% dos pontos se encontram captada do rio Cotia para a ETA do Baixo Cotia
em condição de baixa e média trofia e 52% estão (COTI 03900) foi classificada como péssima,

Figura 6 |
Índice de estado trófico
(IET) na RMSP, referente
ao ano de 2009.
Fonte: CETESB (2010).
194 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 7 |
Índice de qualidade
da água bruta
para fins de
abastecimento
público (IAP) na
RMSP, referente
ao ano de 2009.
Fonte: CETESB (2010).

sendo que as águas captadas no rio Tietê para cujo cálculo é baseado nas variáveis essen-
Mogi das Cruzes (TIET 02090), na represa ciais para os organismos que vivem no meio
Taiaçupeba (PEBA 00900) e na represa Cacho- aquático, como oxigênio dissolvido, toxicidade
eira das Graças, para a captação do Alto Cotia e estado trófico. Das águas coletadas nos pon-
foram classificadas como ruins. Já a água cap- tos monitorados pela CETESB em 2009, 13%
tada no ribeirão dos Cristais para a ETA de foram classificadas como péssimas, 37% foram
Cajamar, bem como as águas captadas nas classificadas como ruins, 37% como regula-
represas Guarapiranga (braço Rio Grande) e res, 10% como boas e apenas 3% como ótimas.
Jundiaí foram classificadas como regulares. Assim, deste total, 50% das águas monitoradas
Por outro lado, as águas captadas nos reser- foram classificadas como péssimas ou ruins.
vatórios de Tanque Grande para a ETA de Gua- As águas classificadas como péssimas foram
rulhos; Paiva Castro, do sistema Cantareira; e aquelas amostradas no ribeirão Pires (PIRE
no braço Taquacetuba, para a represa Guara- 02900), no rio Baquirivu-Guaçu (municípios
piranga, foram classificadas como boas. de Guarulhos e Arujá), no rio Juqueri (muni-
Conforme CETESB (2017), o IAP não cípio de Cajamar) e no ribeirão das Pedras,
apresentou uma tendência definida ao longo próximo a Itapevi. As classificadas como ruins
dos últimos seis anos, mantendo-se em torno foram as águas da represa Billings, com exce-
de 80% dos pontos nas categorias ótima, boa ção do braço rio Grande e do braço Taquacetu-
e regular. Os resultados de 2017 indicaram o ba, bem como da porção montante da represa
papel negativo da carga difusa na qualidade da Guarapiranga, incluindo o braço Embu-Mirim,
água para o abastecimento público, refletido do baixo rio Cotia e do rio Taiaçupeba-Mirim.
pelos valores elevados do potencial de forma- Classificadas como regulares foram as águas
ção dos trihalometanos na estação chuvosa e das represas Pedro Beicht e Cachoeira das Gra-
pelo número de células de cianobactérias, prin- ças (sistema Alto Cotia), bem como a porção
cipalmente em reservatórios. jusante da represa Guarapiranga, os braços rio
A situação agrava-se mais quando se Grande e Taquacetuba, da represa Billings, a
considera o Índice de Qualidade de Água para represa Paiva Castro e as represas Taiaçupeba
a Proteção da Vida Aquática – IVA (Figura 8), e Jundiaí.
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 195

Figura 8 |
Índice de qualidade de
água para a proteção
da vida aquática (IVA),
RMSP. Níveis relativos
ao ano de 2009.
Fonte: CETESB (2010).

Em 2017 para o estado de São Paulo, man- dos corpos d’água, uma vez que leva à grande
teve-se a mesma classificação de 2016, com 80% simplificação estrutural da comunidade aquá-
dos pontos classificados nas categorias ótima, tica, ao aumento da produtividade primária
boa e regular. As principais variáveis que afeta- do ecossistema, ao crescimento não controlado
ram negativamente o IVA foram o grau de trofia, de macrófitas aquáticas flutuantes e à floração
seguido das baixas concentrações de oxigênio de cianobactérias, algumas das quais tóxicas,
dissolvido e dos efeitos tóxicos, que represen- com a produção de cianotoxinas (substâncias
tam 88% dos fatores que resultaram em clas- tóxicas produzidas pelas cianobactérias). Tais
sificações ruim e péssima para o IVA. Particu- metabólitos atuam nos mamíferos em diferentes
larmente na UGRHI 6, ocorreram pontos com níveis, afetando o fígado, as sinapses nervosas, o
classificação super e hipereutrófico, resultantes trato gastrointestinal podendo, inclusive, levar à
tanto de intensa urbanização, como de lança- morte. Dessa forma, a degradação dos ecossiste-
mentos industriais e de fontes difusas da ativi- mas aquáticos tem se tornado um problema bas-
dade agrícola (CETESB, 2017). tante sério nas águas de abastecimento, com ele-
Esse panorama é extremamente preo- vação significativa do custo de seu tratamento,
cupante em se tratando dos recursos hídricos bem como para conservação da biodiversidade
superficiais da BAT, dado o elevado volume de aquática e dos serviços ecossistêmicos providos
esgotos não coletados produzido, sobretudo por esses ecossistemas. É importante destacar
nas bacias das represas localizadas na mancha que o processo da eutrofização ocorre mais rapi-
urbana da RMSP, como Guarapiranga, Billings, damente em regiões tropicais e que as águas com
Taiaçupeba, entre outras, que vêm sofrendo um temperaturas mais elevadas são mais propícias
processo de eutrofização contínuo e acelerado. para o aparecimento e a manutenção de floração
Como reportado em nível mundial, os efei- de cianobactérias, como demonstrado no estudo
tos da eutrofização são multifacetados, abran- de caso realizado em represa urbana situada na
gendo impactos ambientais, econômicos, sociais RBCV (BICUDO et al., 2007).
e riscos para saúde pública. Um dos impactos Cabe ainda considerar que as represas
bem documentado é sobre a qualidade ecológica mais comprometidas têm apresentado inúmeras
196 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

outras desconformidades em relação aos da qualidade da água a ser disponibilizada ao


padrões requeridos para a potabilização de suas abastecimento. Além desse aspecto, a degra-
águas (WHATELY; CUNHA, 2007). De maneira dação da qualidade da água dos mananciais
geral, para as águas da BAT, a CETESB detectou demanda processos de tratamento mais sofisti-
um aumento da toxicidade em 2009 acima do cados, como a utilização de carvão ativado para
que ocorreu com a média do estado, toxicidade remoção de cianotoxinas, gosto e odor da água,
aguda em reservatórios como Billings, bacia do e permanganato de potássio e/ou peróxido de
rio Cotia e Ribeirão Pires, possivelmente cau- hidrogênio, para degradação da matéria orgâ-
sada por poluição industrial, bem como altos nica. Os algicidas, por sua vez, repercutem no
níveis de toxicidade nos sedimentos monitora- acúmulo de metais – como o cobre – nos sedi-
dos dessa bacia. mentos, trazendo efeitos potencialmente tóxi-
Ressalta-se, também, que embora nem cos. Para fins comparativos, no sistema produ-
todo o esgoto produzido tenha como destino tor Guarapiranga, por exemplo, cuja produção
os recursos hídricos superficiais, uma vez que de água tratada é de 14 m3/s para abastecer 3,8
uma parte substancial é direcionada às fossas milhões de pessoas da RMSP, houve aumento
sépticas e fossas rudimentares (principalmente da quantidade de produtos químicos em 20%
nas áreas rurais), o risco de contaminação per- de 2001 para 2004 (Figura 9), tornando os
siste uma vez que o grande volume de esgotos custos mais elevados e com reflexo para o con-
destinados às fossas têm risco potencial de con- sumidor final (MANCINI, 2008). Situação bem
taminação dos aquíferos. distinta é verificada no sistema produtor Can-
Conforme mencionado anteriormente, o tareira, no qual a quantidade de produtos quí-
aumento da degradação da qualidade da água micos para tratamento praticamente se mante-
afeta diretamente o custo de tratamento devido ve constante, uma vez que a ocupação humana
ao aumento da quantidade de produtos quími- na bacia não cresceu de forma tão significativa
cos necessários para este e para a manutenção no período.

Figura 9 |
Quantidade de
produtos químicos
utilizados (kg/1000
m3/s) para o
tratamento de água
na RMSP entre 2001
e 2004.
Fonte: Reis (2004)
apud Mancini (2008).
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 197

A represa de Guarapiranga (Figura 10) é um começa, em 1928, a ser utilizada como principal
reservatório emblemático na RMSP. É um dos fonte de água para abastecimento público do
mais importantes sistemas de abastecimento município de São Paulo. Nas décadas 1960/70,
público de água da região uma vez que contri- a cidade aproximou-se perigosamente deste
bui com 20% de sua produção total. Os cenários manancial, com um crescimento explosivo em Quadro 1 |
históricos de suas alterações ambientais refle- suas margens. O ano de 1970 marca os primei- O processo de
tem as transformações multifacetadas causa- ros sintomas de sua degradação ambiental e o eutrofização da represa
das pela urbanização não planejada desprovida início do monitoramento regular pela CETESB. Guarapiranga: 100 anos
de infraestrutura e saneamento adequado de A partir da década de 1970 ocorreu acelerada de informação.
sua bacia de drenagem. Construída no perío- ocupação urbana informal, com loteamentos
do de 1906 a 1909 com a finalidade de produzir empilhados, sem infraestrutura adequada de
energia elétrica e regularizar a vazão do rio Tietê saneamento ambiental.

Figura 10 |
Represa Guarapiranga
inserida na RMSP (bacia
do Alto Tietê - BAT):
vista geral da barragem
e ocupação irregular às
margens.
Fonte: ECODEBATE (2019).

A pesquisa tem seus alicerces na foram utilizados para inferir sobre a eutrofiza-
Paleolimnologia, uma ciência que permite o ção e a degradação ambiental.
resgate da trajetória passada do ecossistema Este estudo de caso demonstra que a eutrofização
a partir dos sedimentos depositados no fundo é um problema multifacetado que traz consequên-
da represa em camadas sucessivas ao longo do cias em curto, médio e longo prazos, as quais são
tempo e permite resgatar informações anterio- até mesmo imprevisíveis nos contextos econômico,
res ao impacto antropogênico. Diferentes mar- ambiental e de saúde pública (Figura 11). Será um
cadores ambientais (diatomáceas, geoquímicos caminho sem volta?
e isótopos) e análise do uso e ocupação do solo

Figura 11 |
Histórico do processo
de eutrofização e
degradação ambiental
na represa
Guarapiranga.
Fonte: Fontana et al.
(2014); Araújo (2017);
Bicudo; Bicudo (2017).
198 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

3 | SERVIÇO DE REGULAÇÃO
DA ÁGUA SUPERFICIAL
O piso florestal, por apresentar grande rugosi-
dade, impede o escoamento direto da água para

3.1 | Água e floresta


as partes mais baixas do terreno, o que favo-
rece sua infiltração. Uma parcela da água infil-
A quantidade e a regulação dos fluxos ao trada é absorvida pelas raízes e transpirada
longo do tempo, assim como a qualidade da água pelas plantas. O remanescente movimenta-se
que provém de uma microbacia hidrográfica em profundidade, é armazenado nas camadas
recoberta por floresta, é resultado da interação mais interiores do solo e na região das rochas
da água que entra no sistema via atmosfera e alteradas, alimentando gradualmente os cur-
dos seus diferentes compartimentos, represen- sos d’água pelo chamado escoamento de base.
tados pela vegetação, solo e substrato rochoso Esse mecanismo possibilita que os rios tenham
(WALLING, 1980). vazão regular ao longo do tempo.
Os processos hidrológicos que predo- Embora os processos que governam os
minam em ambientes florestais podem ser fluxos de água sejam semelhantes para as dife-
visualizados na Figura 12. Parte da água da rentes formações florestais, a magnitude deles
chuva que alcança a microbacia hidrográfica varia de acordo com as características da flo-
é, temporariamente, retida pelas copas das resta, da bacia hidrográfica e do clima. A Figura
árvores, evaporando a seguir para a atmosfera 13 mostra os processos que atuam na relação
pelo processo denominado de interceptação. entre a Mata Atlântica – o principal bioma da
A taxa de evaporação dessa água varia com a RBCV – e a água; e sintetiza resultados de pes-
espécie, a idade, a densidade e a estrutura da quisas do Instituto Florestal no Parque Esta-
floresta, além das condições climáticas de cada dual da Serra do Mar, Núcleo Cunha. Do total
região. O restante da água alcança o piso flores- de chuva que chega às microbacias experimen-
tal por meio de gotejamento de folhas e ramos tais, a maior parte sai na forma de escoamento
(transprecipitação ou precipitação interna), total (70%), e somente 30% é transferido para
ou escoando pelo tronco de árvores e arbus- a atmosfera por meio da evapotranspiração,
tos. Na superfície do solo, a água infiltra-se ou mostrando dessa forma a importância da Mata
é armazenada em depressões nela existentes. Atlântica na produção de água.

Figura 12 |
Processos
hidrológicos em
microbacias
hidrográficas
com floresta.
Fonte: Arcova;
Cicco (2005).
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 199

Figura 13 |
Síntese dos processos
hidrológicos
predominantes na
Mata Atlântica.
Fonte: Cicco (2009).
200 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Na Figura 14 observa-se a presença de zona ripária. É parte essencial da paisa-


vegetação natural da RBCV, cobrindo cerca de gem, constituindo um ecossistema de
41,7% do total de sua superfície, que se estende transição entre o ambiente terrestre e o
do sul ao sudoeste da RMSP, onde estão locali- aquático da microbacia hidrográfica. Esses
zados os reservatórios de água de Guarapiran- terrenos têm grande valor como “tampão”
ga e Billings, entre outros. São áreas com ser- e “filtro” entre as atividades antropogêni-
viços ecossistêmicos muito importantes, pois cas e o recurso de suporte mais importan-
a relação entre a floresta e a água propicia a te à vida: a água. Possuem características
conservação dos recursos hídricos, em termos hidrológicas distintas do restante da micro-
de quantidade e qualidade da água, regime de bacia e merecem, por isso, receber um
vazão e manutenção das vazões mínimas. tratamento diferenciado e serem protegi-

3.2 | Função hidrológica da mata ciliar


das. A vegetação que ocupa a zona ripária
é chamada de vegetação ciliar e, quando
constituída por f loresta, é chamada mata
As áreas adjacentes às nascentes, cór- ciliar (Figura 15).
regos e rios recebem a denominação de

Figura 14 |
Mapa de vegetação
natural da RBCV.
Fonte: Ivanauskas
et al (2020).
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 201

Figura 15 |
Riacho protegido
por mata ciliar na
região da RBCV.
Fonte: Cicco (2009).

A presença de mata ciliar contribui para parte da radiação solar que, na ausência des-
o bom funcionamento dos processos hidroló- tas, chegaria diretamente nos pequenos cur-
gicos da zona ripária, notadamente os rela- sos d’água. Assim, nos rios protegidos por
cionados com os fluxos rápidos de água da mata ciliar, onde as temperaturas da água são
microbacia hidrográfica, ou seja, o escoamen- minimizadas, as concentrações de oxigênio
to superficial e o subsuperficial. A mata ciliar dissolvido tendem a ser mais elevadas, isso
ainda influencia de modo positivo a qualidade porque a relação entre ambas é inversamen-
da água dos rios, ao atuar como filtro, agen- te proporcional (ARCOVA, 2006). Os níveis de
te de transformação e fonte de substâncias oxigênio dissolvido indicam a capacidade de
do ambiente que acompanha o curso d’água. um dado corpo d’água manter a vida aquática.
A mesma é especificamente útil no tratamen-

3.3 | Produção e regulação de água


to dos poluentes não pontuais, isto é, daque-

pela floresta
les gerados de forma difusa na microbacia
(TIMS, 1994). Também atua diretamente na
redução da sedimentação da água por meio
da estabilização das margens dos rios, agin- Como foi visto anteriormente, a presença
do na retenção das partículas de solo oriun- da floresta é muito importante no ciclo hidro-
das das porções mais elevadas da microbacia lógico, visto que copas e sistemas radiculares
hidrográfica. O controle de nutrientes ocorre das árvores interferem no escoamento total de
por meio de mecanismos relacionados com o água de uma microbacia hidrográfica. Assim, a
escoamento superficial e subsuperficial da evaporação de água da chuva pelo processo de
água. Adicionalmente, a vegetação ciliar age interceptação é maior em florestas do que em
na atenuação das condições microclimáti- culturas agrícolas e pastagens (DREW, 1986),
cas, reduzindo os extremos de temperatura de forma que a mudança no uso do solo influi
da água. As copas das árvores interceptam no volume de água que chega ao curso d’água.
202 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Hibbert (1967) sintetizou os resultados de quantidade de água. É importante destacar que


diversos experimentos e concluiu que a remo- a transformação de chuva em maior percentual
ção da floresta ocasiona, em geral, o aumento de vazão, com o desmatamento, pode significar
da produção hídrica, sendo este incremento apenas utilitariamente produção; porém, numa
proporcional à área cortada. Por outro lado, perspectiva de equilíbrio na provisão de água,
Bosch e Hewlett (1982) verificaram em uma o que importa é a regularização (atenuação dos
extensa revisão bibliográfica, a redução do extremos hidrológicos e manutenção de vazões
volume de escoamento total da água em áreas firmes) e a depuração (garantia da qualida-
com floresta quando comparadas com aquelas de) - que são os serviços ecossistêmicos que a
de vegetação de menor porte. A Figura 16A vegetação propicia.
ilustra os efeitos do corte-raso e da regenera- O aumento da produção de água pode
ção da floresta sobre a produção de água. A res- não ser o único efeito hidrológico causado
posta ao desmatamento foi imediata e abrupta, pelo corte da floresta. Há, também, um aumen-
tendo o escoamento total anual do curso d’água to do ritmo da vazão e do escoamento super-
aumentado substancialmente. Com a regene- ficial (DREW, 1986). A Figura 16B mostra hi-
ração da floresta, esse escoamento diminuiu drogramas resultantes das chuvas em micro-
ao longo do tempo. Ainda, após um segundo bacias hidrográficas semelhantes, porém,
corte-raso, houve uma nova súbita elevação da com usos diferentes do solo. Observa-se que

Figura 16 |
Efeito do corte-raso
de uma floresta no
escoamento total
(deflúvio) de uma
microbacia ao longo
do tempo (A);
hidrogramas de
microbacias em uma
mesma região, mas
sob diferentes
usos do solo (B).
Fonte: Adaptado
de Drew (1986).
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 203

a microbacia com agricultura reage pronta- lado, a presença da floresta concorre para o
mente à precipitação pluvial, gerando mais consumo (maior evapotranspiração) da água
escoamento superficial, que é o fluxo d’água da microbacia e, portanto, reduz sua disponi-
responsável pela erosão dos solos e pelas bilidade nos períodos secos. Por outro lado,
inundações. O oposto ocorre na bacia com entretanto, sua presença favorece a infil-
floresta natural, onde o escoamento aumenta tração, levando à maior recarga de água no
lentamente após a chuva, com o valor máxi- solo e ao aumento do deflúvio. Resultados de
mo em nível muito inferior. A microbacia par- vários estudos experimentais indicam tanto
cialmente regenerada após o desmatamento o aumento quanto o decréscimo do deflúvio
apresenta uma forma intermediária entre os no período seco e concluem que essa variação
dois extremos. depende do solo, da topografia, da precipi-
Os impactos da floresta sobre o deflú- tação e de outros fatores específicos de cada
vio em períodos secos são complexos. Por um local (CALDER, 2002).

A redistribuição das chuvas pelas copas das com as copas das árvores. A interceptação da
árvores e os processos de transprecipitação e água foi estimada pela equação:
interceptação foram avaliados em uma micro-
[Interceptação = Precipitação acima das copas –
bacia coberta com Mata Atlântica, situada no
(Transprecipitação + Escoamento pelo tronco)],
Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI). A
área onde o experimento foi realizado está total- O escoamento foi desconsiderado nos cál-
mente inserida no maior centro urbano do país, culos, uma vez que outros estudos realizados
a cidade de São Paulo e os resultados obtidos em ambiente de Mata Atlântica avaliaram uma
podem ser vistos como um bom exemplo dos contribuição não significativa para este fluxo
processos hidrológicos que devem ocorrer nas de água (ARCOVA et al., 2003).
áreas protegidas da RBCV. Verificou-se que, em média, 22% do volume
O estudo realizado por Cicco (2009) com- de água das chuvas são interceptados pela vege-
preendeu a medição da água de chuva sob as tação de Mata Atlântica e retornam à atmosfera
copas das árvores (transprecipitação) em 36 na forma de vapor sem, ao menos, alcançar o
pontos no interior da microbacia, durante o solo. A influência da sazonalidade foi clara, de
período de dois anos e meio. Para tanto, foram forma que, no período seco, a interceptação foi
usados coletores de chuva constituídos de funil de 29% e, na estação das chuvas, de 22%. Um
de polietileno acoplados a galões do mesmo montante de 78% chegou ao piso florestal como
material, com capacidade de armazenamento transprecipitação, sendo esta a água que esta-
de cinco litros (Figura 17). Um pluviômetro foi rá disponível para os processos hidrológicos que
utilizado em área descoberta da microbacia ocorrem no interior do solo, dentre eles, os que
para quantificar as chuvas antes da interação alimentam os cursos d’água da microbacia.

Quadro 2 |
Processos
hidrológicos na
microbacia do Parque
Estadual das Fontes
do Ipiranga,
São Paulo.

Figura 17 |
Coletor de água de
transprecipitação
instalado no interior
de microbacia na
Mata Atlântica no
Parque Estadual das
Fontes do Ipiranga
(PEFI).
Fonte: Cicco (2009).
204 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

3.4 | Várzeas e áreas alagadas como


sistema de purificação de represas
Um dos principais fatores para o proces-
so de depuração hídrica nas áreas alagadas
e várzeas é a vegetação aquática. As macró-
As áreas alagadas e as várzeas fornecem fitas aquáticas removem nutrientes através
grande variedade de serviços ecossistêmicos da assimilação direta e fornecem substra-
para os ecossistemas adjacentes. Alguns desses tos para microrganismos, como bactérias
serviços são destacados a seguir: e fungos, que degradam compostos orgâni-
¡ durante períodos de elevada precipita- cos solúveis (HATANO et al., 1993). Entre os
ção, agem como esponjas, armazenan- diversos sistemas existentes, as áreas alaga-
do parte da água excessiva que flui ao das apresentam as condições mais propícias
longo dos rios, reduzindo problemas de para o estabelecimento da desnitrificação,
enchente à jusante; processo este realizado por bactérias aeró-
¡ muitas áreas alagadas e várzeas são im- bias que, na deficiência de oxigênio, utilizam
portantes regiões de recarga de aquíferos; uma via respiratória alternativa para oxidar
¡ são importantes berçários para diversas a matéria orgânica a partir da redução de
espécies de peixes, aves aquáticas, rép- óxidos de nitrogênio (NO3- e NO2-, NO e N2O),
teis, anfíbios e insetos, entre outros. Esti- que resulta na formação de N2 (nitrogênio)
ma-se que 45% das espécies de animais (ABE et al., 2006).
em extinção e 26% das espécies de plan- Dessa forma, as áreas alagadas regulam
tas em extinção vivem em áreas alagadas o nitrato da biosfera e controlam o processo
ou dependem delas para sua existência; de eutrofização e a contaminação das águas
¡ agem como filtros naturais, ao con- dos ecossistemas adjacentes. A estimativa
tribuir para purificar a água e remo- da capacidade de remoção de nitrogênio dos
ver o excesso de material particulado, sedimentos de áreas alagadas fornece dados
nutrientes e substâncias tóxicas, como para a predição da capacidade tampão desses
metais e pesticidas; sistemas, que permitiram estabelecer valo-
¡ por serem importantes depósitos de car- res funcionais e estratégias de manejo para
bono orgânico, constituem, em geral, esses ecossistemas (DUFF; TRISKA, 1990). O
ambientes muito produtivos, nos quais diagrama esquemático do funcionamento das
ocorrem intensos processos de ciclagem áreas alagadas como sistemas tampão está na
natural de nutrientes. Figura 18.

Figura 18 |
Ciclagem
biogeoquímica
realizada pelas
áreas alagadas;
zona limnética ou
água aberta: área
mais central de um
ecossistema
aquático.
Fonte: Jorgensen
(2007).
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 205

Um dos serviços naturais de grande relevân- jusante da várzea, próxima à foz na represa Gua-
cia exercido pelas áreas alagadas e várzeas é o rapiranga, os valores foram correspondentes a
processo de purificação das águas de rios e cór- 1,46 mg/L de nitrogênio total dissolvido e de 1,60
regos eutrofizados que afluem para as represas mg/L de nitrogênio total (Tabela 5). Ao considerar
de abastecimento. Essa situação é muito comum que as diferenças entre esses valores correspon-
em represas cujas bacias estão densamente dem à quantidade de nitrogênio retida pela vár- Quadro 3 |
Estudo de caso:
ocupadas, como no caso do sistema Guarapi- zea, a capacidade de retenção de nitrogênio total
Várzeas do sistema
ranga de abastecimento. Os esgotos domésticos dissolvido obtida foi correspondente a 54%, sendo
Guarapiranga como
produzidos em ocupações irregulares no entorno que a capacidade de retenção de nitrogênio total filtros de nutrientes.
das represas Guarapiranga e Billings são, em foi correspondente a 50%. Portanto, a várzea do
grande parte, lançados nos cursos de água que rio Parelheiros retém, aproximadamente, a meta-
aportam cargas significativas de matéria orgâ- de do nitrogênio proveniente tanto do rio Parelhei-
nica, nutrientes e outros contaminantes nessas ros quanto da água transposta do braço Taqua-
represas, trazendo consequências negativas cetuba, que afluem para a represa Guarapiranga.
como florações de cianobactérias potencialmen- Em um estudo semelhante realizado por Andra-
te tóxicas, crescimento excessivo de macrófitas de (2005) verificou-se que a várzea do rio Pare-
aquáticas, mortandade de peixes, entre outros lheiros possui, também, a capacidade de reten-
impactos. Por outro lado, as áreas alagadas e ção de DBO (21%), cianobactérias (61%) e micro-
várzeas nesses sistemas retêm grande parte das cistinas (75%) provenientes do braço Taquacetuba
cargas, agindo como filtros naturais. da represa Billings, resultados esses que reforçam
Em estudo realizado em 2004 na várzea do a importância dessa várzea na redução das car-
rio Parelheiros, um importante tributário da repre- gas de contaminantes na represa Guarapiranga.
sa Guarapiranga, Abe et al. (2006) verificaram Caso fosse realizada a transposição tradi-
nítida diminuição do teor de nitrogênio da mon- cional das águas do braço Taquacetuba para a
tante para a jusante da várzea (Figura 19). O rio represa Guarapiranga, sem a utilização da vár-
Parelheiros recebe cargas muito elevadas de zea do rio Parelheiros, certamente as cargas de
esgotos domésticos sem tratamento da região de nitrogênio e de toxinas provenientes das flora-
Parelheiros, com cerca de 202 mil habitantes, e ções de cianobactérias que ocorrem no braço
antes de desaguar na represa Guarapiranga, for- Taquacetuba seriam, pelo menos, 50% superio-
ma uma extensa várzea com área aproximada de res. A presença da várzea e seu funcionamento
992.000 m2. Na porção a montante, a várzea do minimizam, portanto, o processo de eutrofização
rio Parelheiros recebe as águas transpostas do da represa Guarapiranga.
braço Taquacetuba da repre-
sa Billings para regularização
da vazão da represa
Guarapiranga.
Na porção da várzea a
jusante da saída da água
transposta do braço Taqua-
cetuba, denominada Jacegua-
va no estudo, os autores obser- Figura 19 |
varam concentrações de nitro- Concentração de
nitrogênio total
gênio total dissolvido e de ni-
dissolvido e
trogênio total na água aci- nitrogênio total ao
ma da interface com o sedi- longo da várzea do
mento correspondentes a 3,14 rio Parelheiros
e 3,21 mg/L, respectivamente, Fonte: adaptado de
sendo que na porção a Abe et al. (2006).

Nitrogênio total dissolvido Nitrogênio total


Tabela 5 |
Local da Várzea
Quantidade (mg/L)
mg/L d.p. mg/L d.p.
de nitrogênio total
Montante – Jaceguava 3,14 0,12 3,21 0,27 dissolvido e de
nitrogênio total retido
Porção central 1,96 0,08 2,21 0,03
ao longo da várzea do
Foz na Guarapiranga 1,46 0,09 1,60 0,11 rio Parelheiros (d.p.
Quantidade retida na várzea 1,68 1,61 desvio padrão).
Fonte: adaptado de
% retida na várzea 54% 50%
Abe et al. (2006).
206 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

4 | ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA
BACIA HIDROGRÁFICA DO
Os problemas antrópicos, advindos da fal-
ta de conhecimento das características físicas e

ALTO TIETÊ (BAT)


químicas dos reservatórios de água subterrâ-
nea e da quase ausência no gerenciamento dos

4.1 | Serviços de águas subterrâneas


recursos hídricos subterrâneos têm se agravado
nas últimas décadas. Eles são associados à supe-
As águas subterrâneas desempenham um rexplotação ou à degradação da qualidade de
importante papel social, econômico e ecológi- suas águas, que geralmente apresenta excelen-
co, embora ainda desconhecido por boa parte te qualidade natural. A superexplotação é aqui
dos tomadores de decisões (stakeholders) e téc- entendida como a extração da água subterrânea
nicos responsáveis pelos recursos hídricos da que cause um ou mais dos seguintes problemas:
BAT. São utilizadas largamente como recurso a) extração da água em quantidades ou intensi-
suplementar ao abastecimento público, gran- dades além daquelas associadas à redução dos
demente baseado em fontes superficiais. A fluxos de base em rios; e b) problemas de equi-
RMSP é uma das mais dependentes das águas dade social, quando grandes usuários reduzem
subterrâneas no país, com extrações que supe- os níveis do aquífero pela extração, impossibili-
ram 12 m3/s, em mais de 12 mil poços tubula- tando que pequenos usuários tenham água.
res (HIRATA et al., 2002). Assim, se de um lado os recursos subterrâ-
Como integrante do ciclo hidrológico, a neos são fundamentais para a vida na BAT e suas
água subterrânea é fundamental para a manu- cidades, de outro, a atenção que tem merecido
tenção dos fluxos de base de rios, sobretudo dos órgãos competentes está longe de acompa-
durante a estiagem, mantendo não somente a nhar essa sua importância. As boas práticas de
paisagem, mas também auxiliando na sustenta- gestão das águas subterrâneas relacionam-se
ção da vida de animais e plantas em áreas alaga- as respostas às seguintes perguntas: a) qual é
diças e no próprio curso dos rios, bem como no a importância do recurso hídrico subterrâneo
transporte de sedimentos e na diluição de esgo- para a segurança no abastecimento na BAT? b)
tos e efluentes o que contribui para os serviços quanto de água pode ser explotada dos aquífe-
de suporte e de regulação. ros de forma sustentável? c) quais são os riscos
O entendimento das águas subterrâneas e associados à degradação da qualidade da água
sua interação com as cidades é também quase subterrânea? d) o que pode ser feito para prote-
desconhecido. As cidades modificam completa- ger as águas subterrâneas? Essas e outras ques-
mente o ciclo hidrológico (FOSTER et al., 2010), tões serão discutidas aqui.

4.2 | A importância do recurso hídrico


reduzindo a recarga natural pelo aumento da

subterrâneo para a segurança hídrica


impermeabilização do terreno, mas incremen-
tam a recarga antrópica devido às fugas das
do abastecimento na BAT
redes públicas de água, esgoto e galerias de
água pluvial, ou mesmo da infiltração direta de
fossas sépticas e negras. Obras de engenharia Não é exagero dizer que a segurança hídri-
civil necessitam baixar os níveis freáticos para ca da BAT depende de 12 mil poços, muitos dos
a construção de obras subterrâneas, algumas quais ilegais! Muito embora as águas subterrâ-
vezes permanentemente. Em contrapartida, neas atendam apenas 16% da demanda total por
o abandono de poços tubulares e o cessar da água, sendo o sistema público responsável por
explotação subterrânea em uma dada região faz 79 m3/s, o problema é que, caso haja perdas do
com que a recuperação dos níveis freáticos pos- recurso subterrâneo, as concessionárias hoje
sa causar alagamento em garagens, nas linhas não têm como suprir essa demanda adicional
de metrô ou em outras obras subterrâneas que sem investimentos bilionários e, em longo pra-
foram, no passado, construídas em zonas não zo, trazendo água de outras bacias hidrográ-
saturadas. Alguns casos de subsidência de ter- ficas. Dos 12 mil privados, apenas 30% encon-
reno (ou afundamento) associados à explotação tram-se legalizados (HIRATA et al., 2002), ou
de aquíferos são relatados na BAT, em áreas de seja, possuem licença de explotação, como pre-
estrutura cárstica, causando prejuízos econômi- conizam a Lei Estadual nº 6.134/1988 (SÃO PAU-
cos importantes. LO, 1988) e o Decreto Estadual nº 32.955/ 1991
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 207

(SÃO PAULO, 1991). Como a maior parte dos usu- (onde está o poço) e às características construti-
ários privados de água subterrânea está conec- vas da própria captação. Já o segundo, às caracte-
tada à rede pública, abandono dos poços fará rísticas de recarga do aquífero, às interferências
com que eles migrem para esta, inviabilizando-a causadas pela alta densidade de poços existentes
e até colapsando-a. em uma mesma área e às funções ecológicas das

4.3 | Os limites da explotação


descargas subterrâneas aos rios.

dos aquíferos da BAT


A BAT é uma unidade hidrológica cujo
substrato engloba duas grandes unidades geo-
lógicas, os sedimentos terciários da bacia sedi-
Há dois componentes que devem ser ana- mentar de São Paulo, que afloram em 1.452 km²
lisados quando se avalia a explotação potencial e se sobrepõem às rochas pré-cambrianas (mais
de um aquífero: a vazão individual do poço – que antigas que 542 milhões de anos) do emba-
é o máximo que aquela obra de captação pode samento cristalino, aflorantes em 4.323 km².
extrair – e o volume total do aquífero (ou parte Nesse contexto geológico definem-se: o Sistema
dele) associado à sustentabilidade da explotação. Aquífero Sedimentar (SAS) e o Sistema Aquífero
O primeiro está relacionado à hidrogeologia local Fraturado (SAF) (Figuras 20 e 21).

Figura 20 |
Modelos conceituais
de circulação de
água nos sistemas
aquíferos:
Cristalino (A); e
Sedimentar (B).
Fonte: Hirata;
Ferreira (2001).
208 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 21 |
Mapa hidrológico da
bacia do Alto Tietê.
Fontes: FUSP (2009).
Mapa: Emplasa
(2002). Mapa de
uso e ocupação
do solo. Hirata, R;
Silva, W. (1999).
Mapa das Unidades
Aquíferas da Bacia
Hidrográfica do Alto
Tietê.
LIG-IGC-USP.
Macedo, A.B.
(coord.) 1988.
Banco de dados
espaciais da Bacia
Hidrográfica do Alto
Tietê. São Paulo,
FEHIDRO-DAEE.
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 209

O SAF ocupa 75% da BAT, com águas que ingressa no aquífero, naturalmente ou artifi-
circulam por descontinuidades da rocha (fratu- cialmente, ao longo do tempo; b) às interferên-
ras e falhas), é de caráter livre, semilivre, algu- cias que os poços provocam no aquífero; c) à
mas vezes confinado pelos sedimentos sobre- manutenção dos fluxos de base em corpos de
postos, fortemente heterogêneo e anisotrópico. água superficial, sejam rios, lagos e reservató-
Apresenta vazão média de 11,7 m³/h por poços, rios; e d) à indução de água de baixa qualidade
embora se reconheçam produções diferencia- pela mudança das direções de fluxo devido ao
das, segundo o tipo de litologia (Tabela 6). bombeamento.
O SAS, embora recobrindo apenas 25% Uma explotação sustentável será uma
da área da bacia hidrográfica, é o mais inten- fração do volume que corresponde à recarga
samente explorado, é livre a semiconfinado e do aquífero. Extrações superiores a esse valor
bastante heterogêneo. No SAS foi possível iden- podem, a longo prazo, exaurir o aquífero. Mas,
tificar duas unidades de acordo com a geologia por um lado, mesmo quando as vazões totais
(Figura 21): aquelas associadas à Formação extraídas estão dentro desse limite em uma
São Paulo e à Formação Resende (Tabela 7). As dada bacia, a potencialidade do aquífero esta-
formações neocenozoicas, Tremembé e Itaqua- rá também associada à densidade de poços
quecetuba, e os sedimentos quaternários alu- existentes na área. Por outro lado, é importan-
vionares não definem unidades aquíferas devi- te ressaltar também que as recargas variam
do à sua pequena expressão em área. No SAS, a longo prazo, com a explotação e com as
as maiores produtividades estão associadas mudanças dos regimes hídricos e da ocupação
às áreas de maior espessura saturada e pre- do terreno, sobretudo quando se avizinham os
dominância da Formação Resende em relação problemas associados a mudanças climáticas.
à Formação São Paulo. As vazões médias por Qualquer extração de um poço cria um cone
poços nessas formações são de 11,6 e 8,6 m³/h, de rebaixamento, poços muito próximos farão
respectivamente. com que os cones individuais de cada poço se
O volume máximo que pode ser extraído sobreponham, criando rebaixamentos locali-
de um aquífero está intimamente associado: zados, muitas vezes insustentáveis ao aquífe-
a) à recarga, ou seja, à quantidade de água que ro (Figura 22). Portanto, a boa exploração do

Unidade Nº poços Profundidade Vazão Vazão


Sistema Capacidade específica (m3/h m)
Aquífero
geológica estudados média dos média mediana
Aquífero
poços (m) (m3/h) (m3/h) Média Mediana Desvio padrão
Sedimentar São Paulo Osp 58 156 8,6 7,5 0,3 0,2 0,5
Resende Orl 196 156 11,6 7,0 0,7 0,3 0,9
Resende Orf 7 183 17,3 16,5 1,1 0,9 1,1

Fraturado Rochas PЄg 88 202 7,6 3,5 0,2 0,04 0,5


Granitoides PЄgo 209 204 8,3 5,0 0,2 0,1 0,3
PЄgn 6 168 16,5 12,6 0,4 0,2 0,4

Rochas PЄq 35 198 9,6 7,0 0,2 0,1 0,4


Metasse- PЄa 11 137 10 8,0 0,5 0,1 0,8
dimentares PЄf 17 166 10,8 8,0 0,3 0,1 0,5
PЄx 200 188 12,1 7,0 0,4 0,1 0,8 Tabela 6 |
Potencial hídrico
Rochas subterrâneo da bacia
Metacar PЄc 6 117 18,9 10,0 1,8 0,3 2,9 do Alto Tietê.
bonáticas Fonte: elaboração
própria.
Nota: Osp – Predominantemente camadas de areia e cascalho; Orl – Predominância de lamito arenoso a argiloso com seixos; Orf – Predo-
minância de lamito com seixos e subordinadamente lamito arenoso; PЄg – Rochas granitóides predominantemente maciças de granulação
variada; PЄgo – Rochas granitóides orientadas e/ou foliadas, de granulação variada, incluindo porções gnáissicas, migmatíticas e blasto-
miloníticas associadas; PЄgn – Rochas predominantemente gnáissicas, incluindo, porções locais de rochas granitóides orientadas, xistos
feldspatizados e milonitos diversos subordinados; PЄq – Predominância de quartzitos, com ocorrências subordinadas de metassiltitos e
xistos; PЄa – An-fibolitos; PЄf – Predominância de filitos ocorrendo subordinadamente xistos; PЄx – Predominância de micaxistos, com
quartzitos e metassiltitos subordinados, localmente feldspatizados; PЄc – Rochas metacarbonáticas.
210 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 22 |
Rebaixamento do
nível de água
causada pelo
bombeamento de
um poço (A) e de
dois poços com
interferência (B).

aquífero passa por considerar tanto a recarga, mesma. Estudos conduzidos por Hirata e Fer-
como também os volumes extraídos de água reira (2001) que utilizaram os dados de estu-
pelo novo poço, compatibilizando-os às obras dos anteriores (DAEE, 1975; ROCHA et al., 1989;
existentes ao seu redor, ou seja, não permi- SABESP et al. 1994, IRITANI, 1993; MENEGAS-
tindo que os poços novos interfiram (criem SE-VELASQUEZ, 1996) estimaram uma recarga
cones de rebaixamento demasiadamente pro- de 498 mm3/ano (15,8 m3/s), que representa-
fundos) nos poços existentes. Quedas pronun- ria a soma das perdas físicas de água (19,7%
ciadas nos níveis aquíferos podem redundar do total distribuído) e de esgoto (5% do total
em maiores custos da extração de água, pela escoado), mais a recarga natural em áreas
necessidade de maiores gastos de energia elé- urbanizadas de 150 mm/ano (0,15 mm3/km2
trica, aprofundamento de poços e perdas de ano). Nas áreas onde não há rede de esgoto,
poços que secam. Esses problemas são chama- entende-se que as águas servidas são infiltra-
dos genericamente de superexplotação. das no solo, através de fossas sépticas e negras.
Há grande dificuldade em estimar a recar- Em outra abordagem, o Laboratório de
ga em áreas altamente urbanizadas, como as Modelos Físicos (LAMO) do Centro de Pesqui-
encontradas na BAT, pois quase não há dados sas de Águas Subterrâneas (CEPAS) do Insti-
de campo. Os poucos estudos existentes mos- tuto de Geociências da Universidade de São
tram taxas de recarga globais aplicadas a toda Paulo (USP), a partir da demanda do Plano da
a bacia, não caracterizando regiões dentro da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, iniciou uma
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 211

4.4 | Os riscos associados


à qualidade da água subterrânea
avaliação da recarga urbana. Esses estudos
têm resultado em melhor precisão na ava-
liação da recarga e da proporção da recarga
esperada por fontes naturais e antrópicas, ou As águas subterrâneas dos sistemas aquí-
seja, aquelas advindas das fugas das redes de feros da BAT apresentam, geralmente, boa qua-
água e esgoto. A partir de estudos isotópicos, lidade natural, com atendimento aos padrões
foi verificado que a recarga da área do centro de potabilidade vigentes. São águas não duras,
expandido da cidade de São Paulo consiste em de baixa salinidade e classificadas como bicar-
uma proporção de 45-60% de águas da fuga bonatadas sódicas e potássicas (SAS) e bicar-
da rede pública de água e esgoto e, o restante bonatadas cálcicas e sódicas (SAF), típicas de
(40-55%), de águas da recarga natural (DIAS ambientes pouco reativos e de pequeno tempo
et al, 2005). Em outro estudo, Viviani-Lima de trânsito, ou seja, águas jovens. Restritamen-
(2007) calculou a recarga de duas localidades te, há relatos de águas sulfatadas em porções
na cidade de São Paulo; uma, a Vila Eutália, rasas do aquífero, provavelmente associadas às
uma pequena sub-bacia na zona leste, com emissões atmosféricas de veículos e indústrias,
ocupação típica residencial de classe média e entretanto, nada que restrinja o seu uso.
outra, a cidade universitária da USP, uma área Não há muitos estudos prévios que apon-
de baixa densidade ocupacional, com maior tem para problemas de contaminação natural
cobertura vegetal. As recargas foram de 437 das águas ocasionado pela dissolução de rocha
mm/ano e de 311 mm/ano, respectivamente. ou sedimento. Recentemente, um projeto de
Esses valores foram posteriormente corrobo- pesquisa coordenado por integrantes do LAMO
rados através da aplicação de outras técnicas investigou concentrações anômalas de flúor
por Martins (2008). (até 10 mg/L) em poços tubulares profundos na
Assim, a partir desses cálculos, foi pos- BAT e concluiu que a origem é da própria rocha
sível estabelecer que as recargas totais da pré-cambriana. Há relatos pontuais, com maior
BAT são de 69 m3/s. Muito embora essa vazão ocorrência em aquíferos sedimentares de con-
seja superior ao explotado atualmente, há centrações anômalas de ferro e manganês, que
várias sub-bacias onde os volumes extraídos inclusive se associam à turbidez de suas águas
já superam aqueles considerados como segu- (DAEE, 1975).
ros, indicando problemas de superexplotação Muito embora a vulnerabilidade de aquí-
(Tabela 7). feros à poluição (Figura 23) nunca tenha

Vazão Reservas Comprometimento Densidade Probabilidade de


Sub-bacia explorada explotáveis da reserva das captações problemas de
(m3/s)1 (m3/s)2 explotável (%) subterrâneas3 superexploração3
Penha-Pinheiros 5,0 5,6 89% •••• ••••
Billings-
Tamanduateí 1,7 5,0 35% ••• ••
Jusante
Pinheiros- 1,6 3,2 50% •• •••
Pirapora
Cabeceiras 1,1 10,9 10% •• •
Cotia-
Guarapiranga 0,8 5,0 15% • • Tabela 7 |
Disponibilidade hídrica
Juqueri- subterrânea para as
Cantareira 0,9 4,9 18% • • sub-bacias da BAT.
Fonte: Elaboração
Total 11,1 34,5 32% - -
própria.
Nota: 1 Vazão explorada estimada para um universo de 8000 poços, com captação contínua de 120 m3/dia. 2 Reservas explotáveis = 50% da
recarga. 3 •••• Alta, ••• Alta-Moderada, •• Moderada, • Baixa (baseada no comprometimento da reserva explotável)
212 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 23 |
Mapa de vulnera-
bilidade à contami-
nação de aquíferos
da BAT. Fonte: FUSP
(2009). Emplasa,
2002.
Mapa de uso e
ocupação do solo.
Macedo, A.B. (coord.)
1998. Banco de
dados espaciais da
bacia hidrográfica do
Alto Tietê, São Paulo.
FEHIDRO-DAEE.

sido considerada no planejamento da ocupa- água armazenada. A CETESB, órgão respon-


ção territorial na BAT o que se nota, ainda, é sável pela gestão de áreas contaminadas, lis-
uma pequena ocorrência de casos sérios de tou, até novembro de 2009, um total de 1.565
contaminação das águas subterrâneas, com- sítios com problemas comprovados de conta-
parativamente à sua extensão e ao volume de minação de diversas magnitudes. Embora as
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 213

informações sobre casos de poluição de solos estes dois últimos de ocorrência comum em
e aquíferos ainda sejam bastante restritas, aquíferos de zonas urbanizadas e industriais.
motivadas por denúncias e por investigações Outro grave problema que afeta sistemati-
de detalhe em atividades específicas, geral- camente as cidades é a contaminação por nitra-
mente dirigidas aos empreendimentos indus- to advindo de efluentes residenciais, sobretudo
triais, à disposição incorreta de resíduos sóli- em áreas não esgotadas por rede pública. Adi-
dos e aos postos de combustíveis e serviços, cionalmente, estudos conduzidos pelo LAMO
é importante salientar que o Estado tem pro- têm mostrado que, mesmo em áreas onde a
cedimentos claros de identificação e manejo rede de esgoto já existe há mais de 30 anos, a
das áreas comprovadamente contaminadas. contaminação por nitrato nas porções mais
Entretanto, a pequena equipe que analisa os rasas do aquífero é fato bastante comum. Essa
estudos de contaminação é ainda um impedi- contaminação é atribuída a fugas da rede de
mento que limita a identificação de todas as esgoto, que não recebe manutenção adequada.
áreas que oferecem risco à população na BAT. Dessa forma, é preocupante a situação a
A responsabilidade da averiguação e do que se expõem os usuários das águas subter-
acompanhamento da qualidade da água extraí- râneas na BAT. Há sérios riscos à saúde huma-
da de poços é do usuário. Infelizmente, o na, pelo consumo de água de baixa qualidade
que se nota é o pouco conhecimento dessas microbiológica e química, acobertado pelo des-
pessoas sobre a manutenção do poço, o que conhecimento de sua qualidade.
redunda na falta de análise física, química e Uma avaliação da contaminação antrópica
bacteriológica inicial e periódica das águas. potencial a que estão sujeitos os aquíferos foi
Raramente, no elenco de parâmetros, anali- desenvolvida a partir de um mapa de vulnera-
sam-se metais pesados e, quase nunca, com- bilidade dos aquíferos da BAT, mostrando áreas
postos orgânicos sintéticos ou mesmo produ- mais susceptíveis que outras à atividade antró-
tos associados a combustíveis fósseis, sendo pica (Tabela 8). Essa avaliação, conjuntamente

Valor da Água
Vulnerabilidade Classificação da
Aquífero Zona Não Saturada Importância Potencialidade
Intrínseca Vulnerabilidade
do recurso 1
Hídrica 2

Unidade Neo- Predominantemente areno- Alta
Cenozoica Livre, argilosas, subordinadamente ∙∙∙ ∙∙∙ . vulnerabilidade
porosidade primária com intercalações de Alta Baixa Baixa (só para
e pouca espessura cascalhos captações rasas
Aquífero de Rochas Alteração de rochas
Metacarbonáticas metacarbonáticas e suas ∙∙∙ . .. Alta
Livre e fraturado correspondentes sãs em Alta Baixa Média vulnerabilidade
profundidade
Aquífero Resende Predominância de lamitos arenosos
Livre a a argilosos c/ seixos e ∙∙∙ ... .. Média
semiconfinado, intercalações de até 1 m de Alta-média Alta Média vulnerabilidade
porosidade primária areias e cascalhos ∙∙∙
Aquífero São Paulo Predominância de camadas de
Livre a semiconfinado, cascalhos e areias ∙∙∙ ∙∙ ... Média
porosidade primária Alta-média Média Alta vulnerabilidade
Aquífero de Rochas Alteração de rochas metassedi- Média
Metassedimentares mentares, incluindo quartzitos, .. .. .. vulnerabilidade
Livre e fraturado xistos, metassiltitos, e suas Média Média Média quando o manto de
correspondentes sãs em alteração for
profundidade espesso (>20 m), Tabela 8 |
caso contrário, alta Índices de
Aquífero de Rochas
Alteração de rochas ígneas e Média a baixa vulnerabilidade à
Granitoides
metamórficas, incluindo granitos, .. ... . vulnerabilidade contaminação das
Livre e fraturado
gnaisses e suas correspondentes Média Alta Baixa quando o manto unidades
sãs em profundidade de alteração for hidrogeológicas da BAT.
espesso (>20 m), Fonte: Elaboração
caso contrário, alta própria.

Nota: à ∙ Maior para menor influência na elevação do índice de vulnerabilidade de aquífero. Importância do recurso: dependência relativa
1

do usuário de água subterrânea em cada aquífero. 2 Potencialidade: disponibilidade relativa de água para extração em cada aquífero.
214 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

com a classificação de cargas contaminantes possam atuar nas ações listadas nos
potenciais, permitiu mostrar os perigos a que itens “a” e “b”, integrando as águas
cada sub-bacia está sujeita (Tabela 9). subterrâneas a outros recursos e per-

4.5 | A proteção das águas


mitindo a sua interação orgânica com

subterrâneas
outros atores da área do planejamen-
to territorial e do ambiente;
d) criação de um manejo adaptativo.
Problemas sérios de rebaixamento acen-
Dada a grande incerteza associada às
tuado dos níveis aquíferos, que ocasionam a
condições envolvendo as águas sub-
perda das reservas têm sido reportados nos
terrâneas, é amplamente desejável
últimos anos em algumas sub-bacias da BAT,
uma estratégia adaptativa para a ges-
sobretudo nas regiões centro-leste, centro-
tão dos recursos baseada em um con-
-norte e sudoeste da cidade de São Paulo. Con-
tínuo monitoramento dos problemas
flitos entre usuários, pela forte interferência
associados à explotação, incluindo a
entre poços próximos bombeando o mesmo
queda dos níveis de água a partir de
aquífero têm sido registrados e suas ocorrên-
redes de poços de monitoramento, e
cias são cada vez mais frequentes. Por outro,
ao aumento das tendências de degra-
a falta de controle do uso da terra que vise à
dação na qualidade, sobretudo uti-
proteção das águas subterrâneas, associada
lizando indicadores, como nitrato e
a lançamentos e a deposições incorretas de
salinidade, ou informações de casos
efluentes líquidos e de resíduos sólidos têm
de contaminação;
causado a contaminação das porções mais
e) estabelecimento de estratégias de ges-
superficiais do aquífero. Diante desses proble-
tão que visem aumentar a segurança
mas, são necessárias ações imediatas e estra-
do abastecimento público, através do
tégicas, com o desenvolvimento de um progra-
incentivo à explotação responsável
ma de proteção das águas subterrâneas que
das águas subterrâneas por usuários
deve ser considerado como parte integrante
privados, com vistas a: 1) maximizar
do plano de recursos hídricos da BAT, confor-
os benefícios dos investimentos pri-
me os seguintes princípios norteadores:
vados, enquanto se tenta minimizar os
a) detalhamento das reais capacidades
riscos associados; e 2) legalizar (regu-
dos aquíferos em prover o abasteci-
larizar) os poços de produção priva-
mento privado de forma integrada e
dos de maiores extrações destinados
conjunta ao abastecimento público,
ao abastecimento de propriedades
baseado no recurso hídrico superficial;
multirresidenciais, hotéis, comércio e
b) avaliação de áreas de maior perigo de
indústria. Então, uma avaliação de ris-
perda do recurso hídrico subterrâneo
co balanceada entre as práticas de uso
devido à contaminação;
de poços privados é um pré-requisito
c) fortalecimento das instituições res-
para o desenvolvimento de uma políti-
ponsáveis pela gestão dos recur-
ca sustentável para a BAT.
sos hídricos subterrâneos, para que

Porcentagem da área Porcentagem Carga de contaminação


Sub-bacia ocupada por indústria, de áreas potencial às águas
aterro sanitário e lixões1 contaminadas2 subterrâneas3
Penha-Pinheiros 7% 58% ••••
Billings-Tamanduateí 6% 23% ••••
Jusante Pinheiros-Pirapora 5% 9% •••
Tabela 9 |
Cabeceiras 3% 6% ••
Carga de
contaminação Cotia-Guarapiranga 1% 3% •
potencial às águas Juqueri-Cantareira 1% 1% •
subterrâneas nas
Total 3% 100% -
sub-bacias da BAT.
Nota: 1 Área industrial, aterros sanitários e lixões / Área total da sub-bacia. Fonte: Emplasa (2002). 2 CETESB (2006). 3 •••• Alta, ••• Alta-
-Moderada, •• Moderada, • Baixa (baseado no índice de ocupação industrial).
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 215

5 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS
GLOBAIS E SERVIÇOS
pela expansão urbana. Estudos feitos na RBCV
por Pereira-Filho; Santos; Xavier (2007) mos-

DE PROVISÃO DE ÁGUA
tram que houve, entre 1936 e 2005, um aumen-
to da quantidade de precipitação na ordem de
395 mm e da temperatura média anual na ordem
Não se pode mais negar que a temperatura de 2,1oC. Essa elevação de temperatura é ainda
da Terra está mudando e que a velocidade des- maior do que a registrada na América Central e
sa mudança é preocupante. Os resultados dis- na América do Sul (1oC) que, por sua vez, é supe-
ponibilizados pelo Intergovernmental Panel on rior à média mundial de 0,74oC (MAGRIN et al.,
Climate Changes (IPCC), indicam que, no perío- 2007), o que indica que tais alterações podem
do 1900-2100, a temperatura global do Planeta ser ainda mais impactantes nos grandes centros
poderá subir de 1,4 a 5,8oC, isto é, um aqueci- urbanos, a exemplo da RMSP.
mento mais rápido do que o observado em todo

5.1 | Efeitos sobre a qualidade


o século 20, atingindo valores que, aparente-

da água
mente, não têm precedente nos últimos 10.000
anos (MARENGO; SILVA-DIAS, 2006).
Os riscos derivados das mudanças climá-
ticas, sejam de origem natural ou antropogê- Há fortes indícios de que as mudanças
nica, têm gerado grande preocupação nos cír- climáticas estejam intensificando a degra-
culos científicos e do governo, sendo o setor dação dos ecossistemas aquáticos, uma vez
de recursos hídricos um dos mais impactados, que as precipitações mais elevadas e intensas
afetando tanto a qualidade quanto a quantida- aumentam o escoamento de contaminantes e
de de água (MARENGO; TOMASELLA; NOBRE, nutrientes (cargas difusas), o que pode tornar
2010). O aumento de temperatura tem efeitos os ecossistemas impróprios para uso ou para
diretos sobre o ciclo hidrológico com altera- manutenção da vida aquática.
ção dos montantes pluviométricos, sua distri- Alguns resultados têm gerado grande pre-
buição temporal e espacial, o que leva a uma ocupação, uma vez que o aquecimento global
maior frequência de secas e enchentes e afe- tem intensificado os efeitos da eutrofização.
ta processos hidrológicos, como os de escoa- Estudos comparativos de lagos da região tem-
mento e infiltração (MARENGO, TOMASELLA; perada apontam para as seguintes tendências
NOBRE, 2010). sobre a alteração da qualidade desses lagos sob
Análise de registros de chuva durante os efeito das mudanças climáticas globais, prin-
últimos 50 anos mostram que eventos extre- cipalmente, as relacionadas com o aquecimen-
mos de chuva são cada vez mais frequentes e to: 1) aumento da carga externa de nutrientes
intensos e que projeções de modelos globais e (aumento da precipitação líquida e, principal-
regionais para o futuro sugerem que essa ten- mente, intensificação dos eventos extremos de
dência pode continuar e se intensificar. Segun- chuva, o que leva ao maior escoamento super-
do Marengo; Tomasella; Nobre (2010), o Brasil ficial de nutrientes e ao impacto por fontes
também é vulnerável às mudanças climáticas difusas); 2) aumento da temperatura da água
que se projetam para o futuro, especialmen- superficial, levando à maior estabilidade da
te quanto aos extremos climáticos. Todavia, coluna da água, acompanhada da diminuição
a maior quantidade de informação sobre os do teor de oxigênio no fundo e do consequente
impactos das mudanças climáticas no país pro- aumento do processo de liberação de fósforo
vém das projeções da elevação da temperatura a partir dos sedimentos de lagos/represas; 3)
sobre as plantações agrícolas isto é, sobre as ambos os aspectos antes citados contribuíram
espécies de uso direto pelo homem, bem como para a aceleração do processo da eutrofização;
sobre os impactos ligados à hidroeletricidade. 4) maior risco de dominância de cianobactérias
Muito pouco ainda se sabe sobre os efeitos de e de florações mais duradouras, bem como da
tais mudanças sobre as águas continentais. formação de densos bancos de macrófitas flutu-
O comportamento climático na área da antes; 5) diminuição da transparência da água
RMSP vem sendo substancialmente alterado provocada tanto pelo aumento da biomassa de
216 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

algas quanto pela diminuição da capacidade das estado trófico dos reservatórios sobre a emis-
plantas submersas de manterem as condições são de gases de efeito estufa na interface água
de águas claras do ecossistema; e 6) mudanças – ar. Tendo em conta que os reservatórios do
na cadeia trófica, propiciando condições para médio Tietê, dispostos em cascata, apresentam
passagem para a condição de águas turvas. um gradiente decrescente de eutrofização, os
Todos esses fatores apontam para uma autores verificaram que os fluxos máximos de
maior probabilidade dos lagos temperados do CH4, CO2 e N2O foram medidos no reservatório
hemisfério Norte se assemelharem mais aos de de Barra Bonita (sistema mais eutrofizado) e os
regiões tropicais/subtropicais, no sentido de menores fluxos no reservatório de Promissão
se tornarem mais vulneráveis à eutrofização e (oligotrófico-mesotrófico). Como consequên-
passarem para a condição de águas turvas. A cia, os fluxos difusivos de CH4 e N2O apresen-
despeito da relativa pouca base de dados para taram alta correlação com as concentrações de
ambientes tropicais/subtropicais, estudos de nitrogênio total e de fósforo total nos diferen-
casos isolados sinalizam para uma maior difi- tes reservatórios, confirmando o fato de que
culdade na recuperação de ambientes eutrófi- as taxas de emissão desses gases estão direta-
cos situados nas zonas mais quentes do globo mente relacionadas com o grau de eutrofização
e antecipam a intensificação dos problemas do sistema. Portanto, é possível que algumas
associados à eutrofização com o aquecimento das represas localizadas na RBCV que estão
global (BICUDO; BICUDO, 2008; JEPPENSEN et em estágios avançados de eutrofização, como
al., 2014). Billings, Guarapiranga e Isolina, entre outras,

5.2 | Eutrofização e gases de efeito


contribuam com elevadas taxas de emissão de
gases de efeito estufa para a atmosfera e, con-
estufa sequentemente, agravem o processo de aqueci-
mento global.
Estudos realizados em reservatórios 5.3 | Efeitos sobre a quantidade de água
do Brasil demonstraram que a emissão para
a atmosfera de gases de efeito estufa está As mudanças climáticas globais têm
diretamente relacionada com o aumento da provocado episódios tanto de falta quanto de
eutrofização (ABE et al., 2009). O aumento da excesso de água. A água já é escassa em muitas
produção da biomassa na coluna de água pro- partes do Planeta, situação esta agravada pela
movido pelo aumento das cargas de nutrien- pressão crescente da agricultura, do aumento
tes em reservatórios resulta no acúmulo de demográfico, da urbanização e da mudança do
matéria orgânica nos sedimentos, pelo afun- padrão de consumo desse recurso. Tal escas-
damento dos organismos mortos e das partí- sez deverá se tornar ainda mais globalizada
culas fecais. A matéria orgânica acumulada com o avanço inevitável das mudanças climá-
nos sedimentos possibilita uma intensa cicla- ticas. A falta de água para a agricultura e para
gem de carbono, nitrogênio e fósforo, mediada as necessidades humanas básicas ameaça as
por microrganismos que, em última instância, pessoas de todas as partes do mundo. Parti-
resultam na produção, acúmulo e emissão de cularmente no âmbito da RBCV, essa relação
gases como dióxido de carbono (CO2), metano entre provisão de água para agricultura e
(CH4) e óxido nitroso (N2O), bem como no con- eventos climáticos foi detalhada em decor-
sumo de oxigênio (O2), o que torna o ambiente rência da crise hídrica de 2013-2015 (SABESP,
deficiente em O2 ou até anóxico. As condições 2015; COUTINHO; KRAENKEL; PRADO, 2015;
de deficiência de oxigênio e mesmo de ano- VICTOR et al., 2018).
xia no sedimento e no hipolímnio favorecem Dentre os problemas relacionados com
a produção de CH4 e de N2O, respectivamente, fortes chuvas está a intensificação dos pro-
os quais apresentam elevados potenciais de cessos de erosão, que contribuem para o asso-
aquecimento na atmosfera (IPCC, 2007). reamento de rios e reservatórios, que poten-
Nos reservatórios do médio rio Tietê, no cializam as inundações. No capítulo sobre
estado de São Paulo, Abe et al. (2009) realiza- Controle de processos geoidrológicos de erosão,
ram um estudo para verificar a influência do escorregamentos, assoreamentos e inundações,
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 217

os autores destacam que os municípios da RBCV Além disso, a gestão dos recursos hídricos
mais afetados por esse problema são os situa- deverá considerar as projeções das mudan-
dos na periferia da RMSP, muitos dos quais situ- ças climáticas globais e de suas incertezas na
ados em áreas de mananciais. implementação de políticas públicas (MAREN-
Adicionalmente, as mudanças climáti- GO; TOMASELLA; NOBRE, 2010). Finalmente,
cas afetarão o armazenamento de água no conforme esses autores, evidências científicas
solo e, portanto, a recarga dos aquíferos. apontam para o fato de que as mudanças cli-
Assim, é de se esperar que as mudanças cli- máticas representam um sério risco para os
máticas afetem os níveis dos aquíferos, o recursos hídricos no Brasil. Nesse sentido, não
que tem consequência não apenas no abas- é difícil antever a vulnerabilidade dos recursos
tecimento humano, mas também na capa- hídricos da RBCV diante dos impactos espera-
cidade de regularização dos grandes rios, dos com as mudanças climáticas globais.
com influência em todos os usos da água ou

6 | POLÍTICA DE PROTEÇÃO
mesmo indiretamente, em atividades como a

E RECUPERAÇÃO DOS
construção civil e a mineração (MARENGO;

MANANCIAIS: CASO
TOMASELLA; NOBRE, 2010).
Segundo Hirata e Conicelli (2011), os

GUARAPIRANGA E BILLINGS
impactos que as mudanças climáticas exerce-
rão nas águas subterrâneas serão, possivel-
mente: 1) diretos: alteração na recarga dos
aquíferos, pela variação nos regimes de preci- A busca por soluções para atendimen-
pitação e evapotranspiração, em intensidade e/ to do abastecimento de água da população é,
ou frequência; e 2) indiretos: maior demanda há muito tempo, objeto de preocupação nos
sobre os aquíferos pelo usuário público e pri- órgãos públicos vinculados à questão sanitária
vado devido à diminuição da disponibilidade e de saúde pública em São Paulo e, atualmente,
de recurso hídrico superficial, dada a diminui- na RMSP. Diante do quadro de escassez hídrica
ção do nível dos reservatórios e da vazão dos nessa região, acentuado pela perda de qualida-
rios. Particularmente no Brasil, os impactos de da água em função do descarte de efluentes
esperados pelas mudanças climáticas na recar- resultantes do crescimento econômico e demo-
ga de aquíferos mostram que as regiões Norte gráfico, outros aspectos e formas de aborda-
e Nordeste serão aquelas mais afetadas nega- gem do conflito entre a demanda e a oferta de
tivamente pela redução do excedente hídrico, água foram inseridos para discussão de alter-
em até 30 a 70% e até mais de 70%, respectiva- nativas e usos múltiplos dos recursos hídricos,
mente (comparado com valores de 2010). Já nas em especial, referentes aos mananciais.
regiões Sul e Sudeste, espera-se que a recarga Na década de 1970, o governo de São
aumente ou se mantenha em 30% e até 100% Paulo, preocupado com a expansão da cida-
em algumas áreas mais restritas. Esses dados de e a necessidade de produção hídrica para
são interpretações de Döll e Flöke (2005), base- atendimento das diversas finalidades de uso
ados no modelo HadCM3 (Handley Centre Cou- das águas, aprovou o 1o Plano Metropolita-
pled Model), desenvolvido na Inglaterra, que no de Desenvolvimento Integrado (PMDI).
considera a circulação oceano – atmosfera no Nesse, definiu o limite da área de proteção
globo, a partir do recorte regional de Hirata e aos mananciais, situado em grandes porções
Conicelli (2011). dos vetores Norte e Sul da metrópole e, ain-
Sendo assim, o impacto das mudanças cli- da, a zona de uso predominantemente indus-
máticas sobre as águas é multifacetado e inte- trial, consoante leis estaduais no 898/1975,
grado. Além do mais, não pode ser tratado iso- 1.172/1976 e 1.817/1978 (SÃO PAULO, 1975;
ladamente dos usos atuais desse recurso. Mas, 1976; 1978). Dessa forma, buscava-se a indu-
certamente, tais mudanças poderão amplificar ção da ocupação nos vetores Leste – Oeste da
e acentuar todos os problemas antes assinala- capital e a destinação bem delimitada de terri-
dos. Assim, ações para adaptação e mitigação tórios com vocação para a produção industrial
dos impactos são absolutamente urgentes. e hídrica, nos vetores Norte – Sul.
218 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

O modelo de planejamento do uso e ocu- ocupação e, em geral, em desconformidade com o


pação do solo para as áreas de mananciais per- modelo de uso e ocupação do solo previsto na lei.
mite a implantação de usos e atividades, desde Impulsionado pelos diversos conflitos ali
que não interfiram na quantidade, qualidade existentes entre a questão social e a ambien-
e recarga hídrica dos mananciais, respeite as tal, o poder público estadual, em 1997, enviou
diretrizes e parâmetros urbanísticos de bai- projeto de lei para aprovação pelo poder legis-
xa densidade populacional e implantação de lativo, sendo aprovada a Lei Estadual 9.866
infraestrutura sanitária pública ou localiza- (SÃO PAULO, 1997) denominada, então, de
da, conforme a lei no 1.172/1976 (SÃO PAULO, nova Política de Proteção e Recuperação dos
1976). Ocorre que, ainda na década de 1970 e Mananciais. Esta política ampliou a área de
associado ao processo de expulsão da popula- abrangência para todo e qualquer manancial
ção de menor renda de áreas em processo de de interesse regional de abastecimento público
valorização imobiliária, inúmeras indústrias no estado de São Paulo, constituindo um mode-
instalaram-se na região Sul, criando um forte lo de planejamento e gestão, com o objetivo
vetor de ocupação nos mananciais, origina- principal de estabelecer diretrizes regionais de
do pelo fluxo de trabalhadores às indústrias modo a não comprometer o uso do manancial
e pela implantação de benfeitorias públicas, pelas gerações atuais e futuras. Incluiu ainda
tais como vias de acesso, transporte público, o termo recuperação, justamente para tratar
rede de infraestrutura de água e esgoto, den- o passivo ambiental decorrente, dentre outros
tre outras. Esse cenário induziu ainda mais a fatores, da falta de articulação entre os órgãos
ocupação urbana nessa região com resultado, públicos estaduais e municipais envolvidos e
na maior parte dos casos, de situações de uso e que não existiria caso a lei da década de 1970
ocupação do solo em desacordo com o previs- alcançasse a efetividade e a eficácia esperadas.
to nas leis de proteção aos mananciais. A política de mananciais estabeleceu
Em meados da década de 1980, o processo também a necessidade de criação de leis espe-
de ocupação irregular das áreas próximas às cíficas para cada Área de Proteção e Recupe-
bacias hidrográficas dos reservatórios Guarapi- ração dos Mananciais – APRM, buscando pre-
ranga e Billings foi intensificado. Tal fato levou o servar a água em quantidade e qualidade para
poder público a discutir a revisão da legislação e uso regional no abastecimento público. Isto se
buscar uma atuação mais eficaz da fiscalização, deve ao fato de que a experiência de aplicação
por meio da criação de grupos de fiscalização da lei 1.172/1976 (SÃO PAULO, 1976) tornou
integrada como o SOS Mananciais Guarapiran- evidente a necessidade de contemplar em nor-
ga e Billings, composto por representantes dos mativas específicas as características do ter-
municípios e dos órgãos estaduais. ritório, tanto naturais quanto as antrópicas,
Cabe ressaltar que, apesar da pressão por considerando, desta maneira, as peculiarida-
ocupação de áreas periféricas da RMSP, grandes des socioeconômicas e ambientais da região,
porções das áreas de mananciais mantiveram como se verifica na aplicação da referida lei
remanescentes florestais bastante preservados na RMSP. Assim, em termos de uso e ocupa-
devido, em parte, à aplicação da lei de proteção ção do solo, a legislação prevê parâmetros
da década de 1970, fortalecida por outros ins- iguais para áreas bastante distintas, como na
trumentos de proteção e preservação, a exem- região do Alto Tietê-Cabeceiras (onde ainda é
plo de sua inserção dentro dos limites da RBCV, encontrada atividades de produção de horti-
ou de Áreas de Proteção Ambiental – categoria frutigranjeiros) e o entorno dos reservatórios
de unidade de conservação de uso sustentável Guarapiranga e Billings (com características
integrante do Sistema Nacional de Unidades de urbanas de alta densidade de ocupação e pre-
Conservação da Natureza (BRASIL, 2000; 2002). dominância de população de baixa renda).
No entanto, nem todas as áreas foram manti- A partir da promulgação da lei 9.866/1997
das com baixa ocupação, em especial aquelas (SÃO PAULO, 1997), inicia-se o processo de
do entorno dos reservatórios Guarapiranga e substituição das leis da década de 1970 pelas
Billings, mananciais de grande importância para leis específicas, ajustando a realidade local à
o abastecimento público que sofreram intensa nova política estadual. Inicialmente houve a
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 219

criação da lei específica da APRM do reserva- em um longo período de hesitação sobre que
tório Guarapiranga e, em seguida, da lei espe- medidas tomar. Como consequência, gran-
cífica da APRM Billings (respectivamente, lei de parte da ocupação urbana dessas bacias
no 12.233/2006 e decreto 51.686/2007, e lei ocorreu após a edição da Lei de Proteção de
no 13.579/2009 e decreto 55.342/2010) (SÃO Mananciais acima citadas.
PAULO, 2006; 2007a; 2009b; 2010). O biênio 1991-1992 marca o início da
A alteração do marco jurídico é de gran- mudança da política pública para as áreas de
de importância, pois possibilita a implanta- mananciais urbano-metropolitanos, sobre-
ção de infraestrutura de saneamento público tudo Billings e Guarapiranga, resultando em
onde antes não era permitido, o que criava um amplo conjunto de investimentos conhecido
círculo vicioso entre a ocupação irregular, a por Programa Guarapiranga. Em seguida, a lei
ausência de infraestrutura e a poluição dos específica da represa Guarapiranga (SÃO PAU-
mananciais causada pelo lançamento indevi- LO, 2006) estabeleceu um zoneamento para o
do dos esgotos nos corpos d´água, com riscos território da bacia e fixou uma carga máxima
de contaminação da água e de saúde pública. de afluente de fósforo total com meta a ser atin-
Em termos de diretrizes e normas para gida até 2015, a qual não foi atingida. Assim, a
uso e ocupação do solo, as leis específicas esta- despeito de todas as políticas públicas e dos
belecem que: 1) em locais onde há necessidade investimentos em saneamento básico não se
de ações de recuperação de caráter urbanísti- conseguiu reverter o quadro de degradação
co e sanitário, a lei prevê parâmetros urbanís- dessas áreas. Cabe refletir sobre quais estra-
ticos condizentes com esta situação, ou seja, tégias permanecem válidas, o que falta e o que
urbanizar onde é urbanizável; enquanto que, está eventualmente errado nas linhas de ação
em locais com baixa densidade de ocupação e que foram gradativamente implementadas
presença de vegetação e remanescentes flores- nas últimas décadas (ARAÚJO, 2017).
tais preservados, as diretrizes continuam bas- Nos últimos anos, a importância da
tante restritivas. Dessa forma, é possível res- temática ambiental favoreceu a divulgação
guardar o objetivo principal das leis, ou seja, da problemática da água na RMSP. A educação
salvaguardar a quantidade e a qualidade da ambiental assume importante papel no escla-
água dos reservatórios para uso pelas gerações recimento dos impactos da ocupação desor-
atuais e futuras e evitar riscos à saúde pública; denada nos mananciais e seus riscos à saúde
e 2) a definição de instrumentos de gestão que pública. Ainda que a população não tenha con-
vinculam a qualidade da água do reservatório dições socioeconômicas para solucionar iso-
ao uso e ocupação do território dos manan- ladamente o impacto ambiental proveniente
ciais, inserindo o monitoramento da qualidade das suas ocupações nos mananciais, cada vez
da água, enquanto principal recurso natural a mais sua participação junto aos órgãos públi-
ser preservado pela legislação. cos estaduais e municipais, com reivindicação
É oportuno considerar que a ocupação de melhorias na infraestrutura sanitária e nas
das áreas da Billings e Guarapiranga apresen- condições de habitação, pressiona os poderes
tou um agravante, pois além de um passivo públicos para implantação de intervenções e
de infraestrutura e ambiental, também rece- obras de recuperação dos mananciais.
beu menor escala de investimentos públicos O grande desafio que se coloca diante do
e privados em função das restrições específi- processo de implementação das leis específi-
cas estabelecidas pela legislação de proteção cas das APRM Guarapiranga e Billings consis-
dos mananciais – Leis Estaduais 898/1975 te em efetivar a integração e o compromisso
e 1.172/1976 (SÃO PAULO, 1975/ 1976). Uma dos órgãos envolvidos no planejamento e na
vez que o avanço da ocupação dessas áreas foi gestão do território, em trabalho conjunto
bem além das restrições estabelecidas, princi- com o Estado, os municípios e a sociedade
palmente por ser uma ocupação marcada pela civil, de modo a garantir as boas qualidade e
informalidade (fora do alcance do controle quantidade de água para abastecimento das
da legislação urbana), o poder público entrou populações atuais e futuras da RMSP.
220 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Quadro 4 |
Estudo de caso: Durante muitos anos, o loteamento irregu- A partir da atuação do Ministério Público Esta-
o loteamento Cantinho lar Cantinho do Céu, às margens do reserva- dual, da prefeitura municipal de São Paulo e,
do Céu, em São Paulo, tório Billings, em São Paulo, foi utilizado como mais recentemente, com a vigência da lei espe-
na bacia do exemplo de um tipo de ocupação inadequada cífica da APRM Billings, uma nova imagem do
reservatório Billings. e precária existente nas áreas de mananciais. loteamento está se delineando.

Figura 24 |
Aspecto geral de
via interna do
loteamento Cantinho
do Céu (SP),
antes e depois das
intervenções.
Foto: Arquivos
da JNS-HAGAPLAN
(2009).

Com a execução das intervenções e das outras regiões nos finais de semana. Aos pou-
obras de desocupação das áreas de preserva- cos, o círculo vicioso de irregularidade gerando
ção permanente (APP) ao longo do reservató- mais irregularidade está se transformando em
rio Billings e a implantação de equipamentos círculo virtuoso, com o empenho da Municipali-
públicos de lazer, criou-se um parque linear dade de São Paulo na implantação de áreas de
municipal no entorno do reservatório, que é lazer, propiciando a inclusão social e ambien-
utilizado tanto pela comunidade residente no tal da população na recuperação e proteção
Cantinho do Céu quanto por moradores de dos mananciais.

Figura 25 |
Margens do
reservatório Billings
no loteamento
Cantinho do Céu
após as intervenções
de recuperação das
áreas de preservação
permanente (APP).
Foto: Arquivos
da JNS-HAGAPLAN
(2009).

Figura 26 |
Margem do
reservatório
recuperada e área
de lazer implantada
no loteamento
Cantinho do
Céu (SP).
Foto: Arquivos
da JNS-HAGAPLAN
(2010); Marcia
Nascimento (2010).
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 221

7 | ÁGUA E BEM-ESTAR
HUMANO NA RBCV
serviços, que demandam grande quantidade de
água na sua produção, distribuição, consumo e
descarte. Tamanha dependência nos remete à
necessidade crescente de manter e expandir a
Os serviços ecossistêmicos responsáveis
base material – a água propiciada pela RBCV;
pelo bem-estar da população são identificados
porém, verificam-se nas regiões metropoli-
como aqueles que propiciam segurança1, base
tanas do estado de São Paulo, inseridas nessa
material2, saúde3, boas relações sociais4, bem
reserva da biosfera, as piores relações entre a
como aqueles ligados à liberdade de escolha e
demanda e a disponibilidade de água do país.
de ação5 (MEA, 2005). Para a manutenção des-
De acordo com a CETESB (2009), as vazões
sas condições de bem-estar é necessário que a
médias de água na bacia do Alto Tietê, que cor-
fonte desses serviços, no caso a RBCV, conser-
respondem ao trecho em que se situa a RMSP,
ve sua integridade – o que não está ocorren-
variam entre 84 m³/s e 20 m³/s. Cabe observar,
do. Quais são as implicações desse cenário em
ainda, que essa situação crítica de disponibili-
relação às águas?
dade de água também se estende para as regiões
De maneira geral e, mais intensamente,
metropolitanas vizinhas, da Baixada Santista e
no território da RBCV, as águas estão sub-
de Campinas, de onde são retiradas águas para
metidas a ameaçadas pela desconsideração
o suprimento da população da RMSP.
das condições necessárias à sua renovação.
Essa escassez relativa estende-se a outras
A localização de uma grande aglomeração de
regiões próximas, como a de Sorocaba; e
cidades, a macrometrópole nas cabeceiras dos
poderá alcançar, no futuro, o Vale do Paraíba,
rios do estado, une uma limitação natural de
que também sediam importantes atividades
vazões – suas bacias reduzidas captam menos
econômicas e grande população, em franco
águas das chuvas a uma enorme demanda em
crescimento, compondo a chamada Macrome-
franco crescimento. A desproporção entre o
trópole Paulista. Nesse contexto, coloca-se a
crescimento da população e o de seu consumo
necessidade de gerir, com extrema cautela, a
tende a se elevar, cada vez mais, pelo cres-
água disponível, em especial ao considerar que
cente consumo de toda a sorte de produtos e
sua falta de qualidade resulta numa disponi-
bilidade ainda menor por habitante e adiciona
perigosos ingredientes à saúde da população,
1
Capacidade de viver em um ambiente seguro e saudável cujos efeitos sinergéticos e de longo prazo ain-
e capacidade de reduzir a vulnerabilidade às alterações
da requerem pesquisas para serem mais bem
nos ecossistemas, ou seja, acesso seguro aos recursos
naturais e a outros recursos, segurança pessoal e prote- identificados. Atualmente, os tipos de deman-
ção contra desastres naturais e desastres causados pelo da de água dessa bacia são estimados em 86,4
homem. m³/s; dos quais 68,5 m³/s são destinados aos
2
Capacidade de acesso a recursos para obtenção de sus-
tento seguro e adequado, alimentos suficientes a qual- usos urbanos que incluem o abastecimento da
quer tempo, moradia, vestuário, acesso a bens e geração população; 14,3 m³/s aos variados usos indus-
de renda. triais; e 3,6 m³/s à irrigação agrícola; quase
3
Capacidade de estar adequadamente alimentado, com
ausência de doenças passíveis de prevenção, um ambien-
todos esses usos requerem altos níveis de qua-
te físico salutar que inclui água potável, ar limpo, pos- lidade, levando-se ao questionamento de como
sibilidade de acessar energia que garanta conforto obter essa qualidade.
térmico.
Quanto menores são as vazões, piores são
4
Inclui coesão social, respeito mútuo, capacidade de aju-
dar o semelhante, oportunidade de expressar valores as possibilidades de serem diluídos os esgotos
estéticos e recreacionais associados aos ecossistemas; lançados por milhões de habitantes e ativida-
expressar valores culturais e espirituais; observar, des econômicas. De acordo com os dados da
estudar e aprender sobre os ecossistemas.
5
Inclui a oportunidade de se alcançar o que se almeja. A CETESB, em 2008, 85% dos esgotos gerados
liberdade de escolha e de ação é influenciada por outros na RMSP foram coletados e o tratamento foi
elementos do bem-estar (e por outros fatores, notada- aplicado a cerca de 44%. Por meio desse trata-
mente educação) e é também uma condição prévia para
se experimentar outros elementos do bem-estar, em
mento foram removidos cerca de 30% da car-
especial aqueles ligados a igualdade, justiça e aqueles ga poluidora total, sendo o restante lançado
vinculados ao bem-estar psíquico e à espiritualidade. oficial ou clandestinamente nos cursos d’água,
222 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

em sua maior parte nos rios Tietê, Pinheiros e Esse sistema hidroenergético foi criado
Tamanduateí. A despeito de expressivos inves- na primeira metade do século 20 para gerar
timentos na despoluição, os resultados não são energia com o lançamento de águas acumula-
percebidos, por inúmeras razões, o que mos- das na represa Billings até a Usina Henry Bor-
tra que os números absolutos de população den, localizada em Cubatão, aproveitando um
não atendida pelo sistema completo de esgoto desnível de cerca de 700 m. Seu funcionamen-
e a eficácia limitada do sistema de tratamen- to baseia-se na utilização das águas dos rios
to resultam em grande poluição dos cursos Tietê e Pinheiros para obtenção de energia a
d’água, agravada pela grande quantidade e partir dessa represa, que se situa em um nível
variedade de resíduos e efluentes produzidos mais alto que o restante da cidade. Para isso,
pelas inúmeras atividades econômicas6. Para as águas do rio Tietê são barradas em Santa-
a CETESB, “Nesses rios descaracterizados sob os na do Parnaíba e, assim, elevam seu nível até
aspectos sanitário e hidrológico, pode-se dizer entrarem pelo rio Pinheiros, que foi modifica-
que nas épocas de estiagem praticamente ine- do na sua condição natural para acumular e
xiste contribuição do lençol freático, sendo ali- conduzir essa água até o reservatório Billings,
mentados majoritariamente por grandes cargas por meio de duas estações elevatórias (SÃO
de esgotos” (CETESB, 2009). PAULO, 1999). Vale destacar que essa utiliza-
Essa carga poluidora dos rios e córre- ção das águas foi concedida pelo governo à
gos é bastante ameaçadora na medida em que antiga Light por meio de um decreto, em que
alcança locais de onde será retirada a água que está estabelecida a condição de que o abaste-
abastece a população. Isso ocorre pela infil- cimento da população não fosse prejudicado
tração no solo, que alimenta as reservas de (BRASIL, 1925).
água subterrâneas, também utilizadas de for- Porém, o crescimento da cidade, acelera-
ma crescente para diferentes finalidades, que do também pela maior oferta de energia, foi
incluem o abastecimento. A outra forma se dá acompanhado pelo contínuo aumento no lan-
quando essa carga é lançada diretamente em çamento de esgotos e lixo nas águas e de outros
reservatórios, ou em seus afluentes ou, ainda, importantes conflitos, como a impermeabili-
quando chega a esses locais de captação para zação das bacias urbanizadas, a ocupação das
abastecimento por intermédio de sistemas de várzeas sujeitas à inundação e o aumento das
bombeamento, como ocorre no caso do Sistema retiradas de água para abastecer a população
Hidroenergético Tietê – Pinheiros – Billings. e para suprir a atividade econômica.
A sucessiva degradação dos mananciais
em uso e a crescente demanda motivam a con-
Whately e Diniz (2009) identificam em informações
6 tínua incorporação de novas fontes de supri-
divulgadas pelo governo do estado de São Paulo, res- mento aos sistemas de abastecimento, como a
ponsável pelos projetos (no sítio: http://www.saopaulo.
sp.gov.br/sis/lenoticia.php?id=100465&c=6), que “ape-
do sistema Cantareira, que limita as possibi-
sar dos investimentos, melhoras efetivas na qualidade lidades de expansão populacional e econômi-
de suas águas são pouco perceptíveis e o Rio Tietê ainda ca na região de Campinas, o que gera grande
encontra-se bastante poluído. São apontados três fatores:
disputa por esse suprimento. Por outro lado,
a porção do Rio que corta a Grande São Paulo é próxima
às suas cabeceiras, com vazão menor e mais lenta, o que ao se tornarem esgotos após seu uso na RMSP,
dificulta a dispersão de poluentes. A segunda razão, é que essas águas despejadas nos córregos e rios
o Projeto Tietê tem como foco a coleta e tratamentos de alimentam o processo de produção de ener-
esgotos industriais e domésticos, e não contempla a polui-
ção difusa, gerada nas ruas e que é transportada para o gia em Henry Borden e pioram a condição dos
rio pelos sistemas de drenagem (que não possuem qual- mananciais Billings.
quer tratamento). A terceira razão, está relacionada com Ao longo do século 20, a combinação de
o déficit de coleta e tratamento de esgotos existente nos
municípios da grande São Paulo (...). Outra razão aponta-
todos esses processos provocou maiores difi-
da pelo Governo do Estado diz respeito às ligações clan- culdades para escoar as águas das enchentes
destinas de esgotos nas redes de águas pluviais, porém rio abaixo, na medida em que os espaços das
as informações disponíveis não compreendem os volu-
várzeas e a infiltração na bacia foram reduzi-
mes envolvidos e, portanto, não permitem dimensionar a
participação desses na poluição do rio.” (Whately; Diniz dos com a urbanização, o que foi piorado com
2009). o interesse da geração de energia em conduzir
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 223

essas águas – já bastante poluídas – no senti- metrópole paulista refletem diretamente os


do contrário, para dentro de um reservatório efeitos da reversão de bacias, de sua proximi-
de onde também são retiradas águas para o dade com a urbanização e a atividade indus-
abastecimento da população. Em função des- trial. Os mais prejudicados são o reservatório
ses impactos, diversas foram as tentativas de Billings e seu braço Rio Grande, o Guarapiran-
se interromper ou reduzir o bombeamento de ga, o Jundiaí e o das Graças, além dos rios Tietê
águas para a Billings, até que um dispositivo e baixo Cotia nos trechos em que são utilizados
inserido na Constituição Estadual de 1989 (SÃO como mananciais. Dentre as manifestações
PAULO, 1989, art. 46) determinou sua paralisa- desse comprometimento, particularmente nos
ção, o que ocorreu em 1992. Desde então, essa reservatórios citados, pode ser destacada a
reversão é acionada caso haja ameaça de inun- grande quantidade de nutrientes derivados dos
dação nas várzeas urbanizadas dos rios Pinhei- esgotos e a eutrofização, cujos efeitos na proli-
ros e Tietê (CARMO; TAGNIN, 2001). feração de algas potencialmente tóxicas podem
Mesmo com essa reversão das águas prejudicar muito o tratamento das águas
reduzida a alguns períodos de cheia durante para o abastecimento. Por essa razão também
o ano, grande parte da poluição metropolita- são utilizadas técnicas de controle, como os
na é lançada na Billings. Estimativas de 1997 algicidas, que repercutem no acúmulo de
(SÃO PAULO, 1999) dimensionaram que 75% metais, como o cobre e nos sedimentos, tam-
da carga poluente que a Billings recebia era bém com efeitos potencialmente tóxicos.
proveniente desse sistema de bombeamento, Além disso, a maioria dos mananciais
mesmo considerando que a população da sua citados tem sofrido inúmeras outras descon-
bacia já alcançava mais de 700 mil habitantes. formidades em relação aos padrões requeri-
Essa proporção vem diminuindo com o cresci- dos para a potabilização de suas águas, o que
mento da população dentro da bacia Billings requer esforços governamentais proporcionais
e a implantação de maior nível de tratamento à gravidade dessa situação (WHATELY; CUNHA,
de esgotos lançados nos rios Tietê e Pinheiros; 2006; 2007). De maneira geral, para as águas da
mas ainda é responsável por sérios problemas bacia hidrográfica do Alto Tietê, onde se locali-
de qualidade desse reservatório, cujas águas za a RMSP, a CETESB detectou um aumento da
são aproveitadas para abastecer a região do toxicidade em 2009 acima do que ocorreu com
ABC, parte de São Paulo, municípios vizinhos a média do estado, além de toxicidade aguda em
(pela sua transferência até a represa Guarapi- reservatórios como o Billings, bacia do Rio Cotia
ranga) e a Baixada Santista, ao chegar a Cuba- e Ribeirão Pires, possivelmente causada por fon-
tão. Fundamentalmente, verifica-se uma série tes de poluição industrial. No que diz respeito
de curtos-circuitos entre os resíduos e efluentes aos sedimentos, também há forte comprometi-
da cidade e as águas que suprem suas necessi- mento, com altos níveis de toxicidade em todos
dades, num território reduzido e super utiliza- os pontos monitorados dessa bacia.
do; situação agravada pelo sistema de geração Nesse contexto, cabe destacar os desa-
de energia / controle de cheias implantado, que fios de se assegurar a manutenção da saúde,
desvia das nascentes do Tietê águas preciosas um elemento sempre presente na definição de
da bacia para lançá-las quase diretamente no bem-estar humano. É sabido que a cobertura
mar e de cuja falta a metrópole e o restante do dos serviços de saneamento, especialmente o
estado se ressentem na atualidade. abastecimento de água, a partir da década de
Independente do quadro geral de com- 1970, privilegiou áreas com população mais
prometimento das águas da região metropo- adensada. Por isso, é razoável supor que a redu-
litana, é nos mananciais destinados ao abas- ção na incidência da febre tifóide constatada no
tecimento da população que a ocorrência de estado de São Paulo entre os anos 1960 e 2004,
problemas de qualidade está “aumentando sua tenha se dado, em grande medida, nos municí-
vulnerabilidade e risco para a saúde da popula- pios da RBCV. Outras doenças provocadas por
ção” (TUNDISI, 2008: p. 93-94), desafiando os microrganismos passíveis de inativação pela
sistemas de tratamento existentes. De acordo desinfecção da água com cloro tiveram seus
com a CETESB, os principais reservatórios da números de casos e incidências reduzidos.
224 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Essas evidências nortearam programas dimensionar o papel da qualidade da água na


de controle e vigilância da qualidade da água, sua veiculação.
elegendo a análise bacteriológica da água e a O diagnóstico da situação de vulnerabilida-
dosagem do cloro residual livre como os parâ- de dos mananciais de abastecimento existentes
metros mais importantes para assegurar sua na RBCV pode fornecer subsídios importantes
adequação para consumo humano. Exemplo para uma estimativa do risco à saúde relacio-
disso é o Programa de Vigilância da Qualidade nado ao consumo humano dessas águas. Além
da Água para Consumo Humano – PROAGUA dos mananciais superficiais, também merecem
(POCOL, 2004), criado em 1992 no âmbito da atenção os mananciais subterrâneos. Estudos
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e indicam que a utilização de água proveniente
executado pelos órgãos regionais e municipais de poços artesianos vem aumentando na RMSP.
de vigilância sanitária, cujos levantamentos Estima-se que cerca de 70% dos 12 mil poços
permitem inferir sensíveis melhorias na quali- tubulares privados existentes na região são ile-
dade da água consumida no estado, no período gais. O caso mais emblemático talvez seja o da
de 1996 a 2007, ao considerar os parâmetros região do Jurubatuba, zona Sul do município de
indicados. São Paulo. Ali existem cerca de 1700 poços tubu-
Entretanto, a ampla pesquisa bibliográ- lares e, em 46 deles, foram encontrados conta-
fica e a consulta a especialistas que subsidia- minantes químicos variados, como solventes
ram a revisão da norma nacional de potabili- halogenados, arsênio, chumbo, entre outros. Em
dade da água e que culminou com a edição da muitos poços as concentrações excederam os
Portaria Federal 1.469, em 2000 (MS, 2000), limites preconizados pelas normas.
atualizada pela Portaria MS 518/2004 (MS, O caso veio a público em 2001, mas a ati-
2004), acrescentaram novas preocupações. vidade geradora da contaminação remonta à
A emergência de surtos de diarreia provoca- década de 1980. Durante esse período, a água
dos por protozoários como o Cryptosporidium teve usos variados, expondo pessoas aos con-
e a Giardia, cujas formas infectantes (oocis- taminantes de múltiplas maneiras (por contato
tos) são resistentes ao cloro, mostraram que com a pele, pela inalação e ingestão). Inferir ris-
outros parâmetros deveriam ser acrescen- co à saúde com essas variáveis é tarefa comple-
tados à colimetria e à dosagem de cloro para xa, uma vez que as doenças associadas a esses
uma avaliação mais precisa da inocuidade da fatores de risco raramente têm manifestação
água. A etapa de filtração da água nas estações aguda. Entretanto, como tantas outras situ-
de tratamento passou a ser considerada obri- ações envolvendo a saúde como elemento do
gatória como forma de reduzir a quantidade bem-estar humano, o reconhecimento do risco
desses microrganismos na água final. A pro- já é suficiente para a implementação das medi-
teção do manancial surgiu como medida de das de controle. No caso Jurubatuba, órgãos
proteção da saúde. Alterações na turbidez da reguladores dos recursos hídricos e da saúde
água são quase sempre associadas às chuvas e se empenharam na implementação de medidas
ao carreamento de solo pelas enxurradas que, restritivas ao uso da água subterrânea. É preci-
por sua vez, se formam devido a atividades so associar a cada uma das ameaças ao Cintu-
como desmatamento e mineração irregulares. rão Verde uma ou mais ameaças à saúde de sua
Nesse contexto, a doença diarreica aguda população, considerando que a realidade das
passa a merecer especial atenção do Sistema áreas metropolitanas atuais se mostra muito
Único de Saúde (SUS). Sua notificação pelas mais complexa, o que requer maiores esforços
vigilâncias epidemiológicas e a investigação e a integração de novas informações.
em conjunto com as vigilâncias sanitárias Hoje, a questão da qualidade da água na
dos municípios e do estado conformam, desde macrometrópole e, em particular, na RMSP,
2002, o Sistema de Monitorização da Doença é crítica nos seus mananciais inseridos na
Diarreica Aguda (MDDA). A análise dos dados RBCV, em função da expansão urbana que vem
resultantes da notificação e da investigação se dando nessa região (SOCRATES et al., 1985;
oportunas dos surtos permitirá saber mais MARCONDES, 1995; TORRES et al., 2007). Con-
sobre a presença desses agentes na RBCV e firmando essa situação, desde as primeiras
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 225

versões dos diagnósticos e dos planos elabo- tratamento de água e em programas defasados
rados para a sua bacia, os maiores conflitos na recuperação das condições sanitárias de
identificados e priorizados para resolução são alguns dos assentamentos mais críticos, loca-
aqueles entre a urbanização e as águas que lizados nas imediações desses reservatórios
afetam o abastecimento, a qualidade da água (SÃO PAULO, 2007b). Tanto em um caso, como
e a ocorrência de inundações. Cabe destacar no outro, não há investimentos destinados a
que essa disputa de mananciais já tem casos prevenir o avanço e/ou adensamento das áreas
emblemáticos, como aquele com a Região urbanas localizadas nesses mananciais, que
Metropolitana de Campinas cuja expansão seguem deteriorando as poucas áreas produ-
econômica e populacional é limitada pela toras de água ainda disponíveis8.
supressão de boa parte de suas águas (efetua- Como reconhecimento da ineficácia des-
da por meio do sistema Cantareira) para abas- sas medidas, verifica-se a busca de mananciais
tecer metade da população da RMSP. Nesse, e cada vez mais distantes, como delineado no
em outros mananciais, o avanço dos usos se Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos
dá sobre a RBCV, com redução da produção Hídricos para a Macrometrópole Paulista (SÃO
de água e piora da qualidade daquela que ali PAULO, 2013), sem que se verifique a avaliação
é precipitada e alimenta os reservatórios, que dos conflitos que serão deflagrados pelo apro-
também são afetados em sua capacidade de veitamento dessas novas fontes de suprimento,
reservação e qualidade, com o assoreamento localizadas em regiões com franca expansão
decorrente da perda de vegetação que protege agrícola, agroindustrial, industrial e urbana
o solo de suas bacias. que, desde 2006 enfrentam limitações impor-
As respostas a essa degradação e à pro- tantes na disponibilidade de água (SÃO PAULO,
gressiva perda de mananciais vêm se dando 2006). Vale destacar, ainda, que investimentos
de várias formas. De um lado, a formulação de setoriais como a implantação do anel viário
nova legislação, como as leis específicas pre- metropolitano – o Rodoanel Mário Covas – ele-
vistas pela Lei estadual 9.866/1997 (SÃO PAU- vam as pressões de ocupação dos mananciais
LO, 1997) para proteger os mananciais, que já em uso, que podem repetir no trecho Sul a
avançam em alguns sentidos, mas retrocedem expansão urbana promovida no trecho Oeste
em um ponto da maior importância ao possi- dessa obra (LABHAB, 2005), pela facilitação de
bilitar um grande aumento da ocupação urba- acesso e atração de atividades9 em áreas ainda
na nesses mananciais em relação ao previsto protegidas além de, efetivamente, ter provoca-
na legislação anterior (WHATELY; SANTORO; do o desmatamento e o aterramento de áreas
TAGNIN, 2008). De outro lado, verifica-se
um investimento crescente7 nos sistemas de
8
Apesar do PRM ser um programa com mais recursos, ele
não pode ser visto como a garantia de que a RMSP e seus
O objetivo do Programa de Recuperação de Mananciais
7
mais de 20 milhões de habitantes alcançarão definitiva-
(PRM), ou “Programa Vida Nova”, é recuperar e proteger mente a rota da sustentabilidade em relação ao uso de seus
os mananciais. O mesmo se estrutura em um conjunto de recursos hídricos e abastecimento de água. Isso porque é
obras a serem implantadas em áreas das bacias da Gua- reproduzido o formato de intervenção do Programa Gua-
rapiranga, Billings, Alto Tietê, Cantareira e Cotia, cinco rapiranga que, embora tenha atingido resultados positi-
dos principais mananciais de água que abastecem os vos em relação à urbanização de favelas, não logrou evitar
moradores da Grande São Paulo. O Programa é coordena- a piora na qualidade da água dos mananciais da região e
do pela Secretaria de Estado de Saneamento e Energia e fornecer soluções adequadas para reverter as tendências
em duas frentes de atuação, com fontes de recursos dife- de degradação das bacias hidrográficas, incluindo a ocu-
rentes: Projeto Mananciais (governo do estado, Sabesp, pação desordenada da região, o desmatamento das mar-
Prefeituras de São Bernardo e Guarulhos, e Banco Mun- gens das represas e o lançamento de esgoto nos rios e cór-
dial) e o Programa Guarapiranga e Billings (prefeitura regos. Estes vetores redundam exatamente na diminuição
de São Paulo e governo federal, por meio do Programa da qualidade da água de todos os reservatórios da RMSP
de Aceleração do Crescimento - PAC). Os investimentos (WHATELY; DINIZ, 2009)
do Programa totalizam R$ 1,22 bilhão. Em 2009, o PRM 9
Conforme pode ser visto na implantação de grandes
contava com cerca de 10 anos de implementação pelo empreendimentos e na elevação da procura de imóveis,
governo do estado. Em 2008, se juntaram a PRM dois refletida também no aumento do preço dos terrenos,
novos programas governamentais: o PAC Mananciais e o que vão sendo anunciados no mercado imobiliário com
Programa Mananciais, este último da prefeitura de São a vantagem de estarem localizados “a poucos minutos do
Paulo (WHATELY; DINIZ, 2009). Rodoanel”.
226 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

úmidas em remanescentes estratégicos da estar limpas e acumuladas nos reservatórios,


RBCV, situados nos já ameaçados mananciais para abastecê-los e à população, conforme
Billings e Guarapiranga. analisado no capítulo Regulação climática.
Portanto, deve-se considerar que falta, Um elemento comum a ligar o excesso
sobretudo, a aplicação de um princípio básico e a falta de água é a degradação da RBCV. As
que é o da prevenção (TAGNIN, 2005), o qual inundações e a escassez são determinadas,
também não está contemplado ao se falar em em boa medida, pela ocupação humana des-
consumo de água. Nesse caso, as políticas for- ses espaços em que a água se acumula, depu-
muladas dedicam-se à ampliação da oferta; ra e regulariza sua vazão que, em equilíbrio,
porém, muito pouco na redução das perdas reduz os riscos de escassez e de inundações.
dos sistemas de abastecimento e nada no con- Ao desenvolver-se à margem desse enfoque
trole do desperdício e do superconsumo, ou ecossistêmico, a cidade tem agravado os fenô-
na gestão da demanda. O que está em ques- menos naturais, sem que as soluções tecno-
tão é a segurança da água (VIEIRA; MORAIS, lógicas adotadas alcancem a magnitude dos
2005), um tema que vem mobilizando também problemas e a extensão das áreas povoadas,
a OMS na formulação de políticas e metodolo- particularmente quando implanta seus prin-
gias para alterar profundamente a forma de cipais eixos de circulação em marginais aos
gerenciar esse recurso. Dentre suas propos- cursos d’água e, a partir deles, estrutura seus
tas que encontram eco em normas dos seto- principais usos sobre planícies inundáveis,
res brasileiros de saúde destaca-se a ênfase com avanço indistinto no restante do territó-
na prevenção dos problemas que irão reper- rio e consequente vulnerabilização de gran-
cutir na água, portanto, na saúde da popula- des contingentes populacionais com prejuízos
ção (BASTOS; BEZERRA; BEVILACQUA, 2007). econômicos e problemas sanitários e sociais.10
Com isso, é questionado o tradicional enfoque Apesar da taxa de crescimento populacio-
de se medir ou de tentar solucionar os proble- nal sofrer desaceleração nessa bacia, quando se
mas apenas depois que já foram deflagrados estima o crescimento a partir de uma base de
e escapam ao controle. Mesmo o desempenho 19 milhões de habitantes tem-se o correspon-
nesse “fim de tubo” vem sendo criticado, tanto dente a uma cidade de médio porte acrescida a
pela fragilidade dos instrumentos de moni- cada ano à RMSP. Nesta perspectiva, um cresci-
toramento em uso, que não são capazes de mento moderado na RMSP significa uma nova
medir – com segurança – as múltiplas amea- Guarulhos a cada cinco anos. Sem considerar
ças presentes na água, como pela precarieda- outras variáveis que afetam o consumo global
de das soluções de saneamento adotadas para de água, isso representa um aumento anual de
enfrentar essas ameaças. quase 1 m³/s na demanda de água para o sis-
O avanço dos diferentes usos nesse ter- tema metropolitano. Outra tendência observa-
ritório altera o microclima, reduz a umidade da bastante preocupante é a periferização das
e aumenta sua temperatura (MATARAZZO- populações em áreas de mananciais desprovi-
-NEUBERGER, 2010), o que passa a desequi- das de saneamento. Altas taxas de crescimento
librar a distribuição de chuvas (PEREIRA demográfico vêm sendo registradas em distri-
FILHO; ROCHA, 2010). Dentre os casos mais tos de mananciais ao sul, bem como em áreas
extremos dessas alterações, está o da forma- de mananciais ao norte e ao leste, nas cabecei-
ção das ilhas de calor sobre os aglomerados ras da bacia (SÃO PAULO, 2009a; FUSP 2009).
urbanos, cujo efeito sobre a distribuição de No entanto, a acelerada expansão da
chuvas, para o caso da metrópole paulista, é o superfície urbanizada dessa região supera
de promover sua concentração nas áreas urba- o requerido pelo crescimento da população,
nizadas de São Paulo, reduzindo as que cai-
riam sobre os mananciais. Com isso, são ain-
da mais agravadas duas situações já críticas:
A vulnerabilidade combina a exposição ao risco, à inca-
10
aumentam as vazões que inundam a cidade e
pacidade de reação e à dificuldade de adaptação diante
se sujam com ela, contaminando a população; da materialização do risco (MOSER, 1998 apud ALVES et
além de diminuírem aquelas que necessitam al., 2008).
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 227

numa dinâmica em que se combinam a exclu- Esses riscos tendem a ser potencializados em
são social e a degradação ambiental11 no que função do aumento de dias com fortes chuvas
vem sendo chamado de migração intrametro- decorrente das mudanças climáticas, sobretu-
politana (CUNHA, 1995; 2014). Os proprietá- do locais. Estudos preliminares indicam que o
rios dos imóveis das áreas centrais são bene- número de dias com chuva intensa (acima de 10
ficiados com a crescente valorização de seus mm) na capital paulistana poderá dobrar entre
imóveis pela aplicação dos recursos públicos 2070 e 2100 em função de uma elevação média
em infraestrutura e serviços, o que impe- na temperatura da região de 2oC a 3oC (NOBRE
de os segmentos de menor renda habitarem et al., 2010). Como enfrentar essa situação?
onde poderiam usufruir desse atendimento. Esse enfrentamento não será possível
A alternativa viável consiste em migrar para com a continuidade da atribuição de res-
locais economicamente acessíveis, portanto, ponsabilidade à falta de planejamento, uma
para regiões distantes, desprovidas de níveis protagonista improvável na medida em que
mínimos de serviços públicos ou condições nenhum dos grandes investimentos que dire-
de habitabilidade, situadas nas fronteiras cionaram recursos públicos ou privados para
ou sobre os remanescentes de vegetação da essa ou aquela área e atividade foi desprovi-
RBCV. A sua falta de recursos os torna mais do de intenções, planos ou projetos. Há que se
dependentes dos serviços ecossistêmicos que verificar, sim – e de forma ampla e democrá-
desaparecem junto com a vegetação; resta a tica – o que vem sendo planejado, para qual
esses segmentos encarar o pior dos mundos, na finalidade e para quem, bem como quais são
medida em que também foram apartados dos os custos diretos e indiretos e quem vai arcar
seus substitutos – os meios tecnológicos, que com eles. Até aqui, a própria realidade tem
poderiam atenuar essa perda. dado essas respostas, porém o acesso a elas
Ao seguir essa tendência, os cenários continua restrito e viesado por interesses dos
não são animadores. Ao contrário, à medida beneficiários dessas situações.
em que se projeta para 2030 um crescimento Há distinções a serem feitas entre os
da superfície urbanizada da macrometrópole segmentos sociais e suas diferentes condi-
sobre territórios da RBCV ainda mais frágeis, ções de risco e vulnerabilidade; portanto, em
projeta-se a ampliação e agravamento de suas relação à segurança, que é um dos componen-
consequências em termos de inundações, des- tes do bem-estar influenciado pelos serviços
lizamentos e escassez de água para um maior ecossistêmicos aqui tratados. Os segmentos
contingente de população. Caso o padrão histó- sociais tradicionalmente apartados do aces-
rico de expansão seja mantido, a mancha urba- so às mais básicas soluções de saneamento e
na da RMSP terá dobrado em 2030 em rela- condições de moradia seguem sendo expostos
ção à sua dimensão em 2010. Neste cenário, a aos maiores riscos; assim como as desigual-
região sofrerá aumento na incidência de riscos dades socioeconômicas dificultam o alcance
de enchentes, inundações e deslizamentos. As das boas relações sociais possibilitadas pelos
consequências serão sentidas pela população serviços ecossistêmicos.12 Projeções suscitam
com um todo e, sobretudo pelos mais pobres e a exigência de superar os níveis básicos de
haverá grande pressão sobre os recursos natu- atendimento, agregando a necessidade de se
rais, uma vez que a expansão urbana deverá
ocorrer, principalmente, na periferia, em lote-
amentos e construções irregulares e em áre- 12
Essa vulnerabilidade socioambiental pode ser enten-
as frágeis, como terrenos instáveis e várzeas. dida como a sobreposição ou a cumulatividade de pro-
blemas e riscos (sociais e ambientais) concentrada em
determinadas áreas que estão espalhadas por toda a
metrópole. Esta coexistência espacial - ou sobreposi-
11
De acordo com Alves et al. (2008) “tem havido uma inten- ção - provoca o agravamento de situações de pobreza e
sificação das interrelações entre os fenômenos de expan- vulnerabilidade social, presentes em áreas periféricas
são urbana e vulnerabilidade socioambiental, nas últimas e periurbanas, devido a riscos e degradação ambiental,
décadas, com disseminação destes processos para territó- tais como enchentes, deslizamentos de terra, poluição,
rios cada vez mais dispersos e distantes das malhas urba- contato com doenças de veiculação hídrica etc. (ALVES
nas consolidadas das sedes dos municípios da metrópole” et al. 2008).
228 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

tratar em nível local e metropolitano as cau- entre o crescimento da população e seu con-
sas das mudanças climáticas, paralelamente à sumo. Essa situação resultou na insuficiência
premência de se promover adaptações àquelas dos sistemas produtores da BAT em atender a
mudanças já consideradas inevitáveis, para demanda da RMSP, culminado na importação
elevar a resiliência13 dos habitantes da metró- de cerca de 50% de água de outra bacia hidro-
pole (NOBRE et al., 2010). Para tanto, leva-se gráfica (bacia dos rios Piracicaba / Capivari
em conta, primordialmente, as causas e con- / Jundiaí – PCJ). Essa passou, por sua vez, a
sequências das mudanças climáticas locais e enfrentar a escassez hídrica, a ponto de limi-
o papel dos ecossistemas na amenização do tar as possibilidades de expansão populacio-
clima local e da regulação hídrica. nal e econômica de parte de seus municípios,
Neste contexto, emergem indagações o que incitou grande disputa por seu supri-
diretamente vinculadas à liberdade de esco- mento. Por sua vez, na bacia hidrográfica da
lha e de ação – um dos aspectos do bem-estar Baixada Santista, a disponibilidade de água
humano. Assim, podemos refletir em que pode ser considerada relativamente boa e sem
medida a população conhece essas implica- previsão de aumento do consumo na maioria
ções e o crescente risco de se prosseguir nesse dos municípios, todavia, a expansão portuária
caminho em nível tal que se mobilize a colabo- e a instalação da Petrobrás na bacia de Santos
rar – e cobrar – atitudes para a reversão desse podem alterar essa tendência.
cenário. Outro aspecto não menos preocupante é

CONCLUSÕES
a poluição das águas na RBCV. A maior parte
dos reservatórios está localizada em áreas de
grande adensamento populacional que sofrem
impactos por efluentes domésticos e indus-
Na RBCV, é notório o reconhecimento do
triais. Das seis bacias que compõem a região
crescimento populacional (junto com a alte-
hidrográfica do rio Tietê, a BAT e a do PCJ são
ração dos padrões de uso e consumo de água)
as duas maiores contribuintes para a geração
como o maior vetor indireto de mudança nos
de esgotos na região do estado. Nessas bacias,
serviços de provisão da água em seus aspectos
assim como também na Baixada Santista, o
qualitativos e quantitativos, bem como de seus
percentual de esgoto tratado em relação ao
múltiplos efeitos sobre o bem-estar humano.
total gerado é menor do que 35%, a despeito
Particularmente na bacia do Alto Tietê
das duas primeiras apresentarem os mais ele-
(BAT), onde está um dos maiores aglomera-
vados percentuais de coleta de esgoto (aproxi-
dos urbanos do mundo (RMSP), delineia-se
madamente 85%). Isso equivale a dizer que só
um dos quadros mais críticos do Brasil, no
na BAT a população urbana não atendida por
que se refere à garantia de água para o abas-
esgotos domésticos corresponde a 4 milhões de
tecimento da população. A situação é agrava-
habitantes! Como consequência, mais da meta-
da quando se considera que esta bacia abriga
de (59%) dos corpos de água monitorados pela
quase metade da população do estado de São
CETESB na BAT estão eutrofizados e a metade
Paulo e centraliza importantes complexos
deles apresenta índice de qualidade de água
industriais, comerciais e financeiros que
para a proteção da vida aquática classificado
demandam grande quantidade (e qualidade)
como péssimo ou ruim. É pertinente ressal-
de água em sua produção, distribuição, consu-
tar que o efeito da degradação das águas pela
mo e descarte, gerando enorme desproporção
eutrofização é multifacetado, com impactos
ambientais, econômicos, sociais e riscos para
S ão três as características que definem a resiliência
13
saúde; e vem se intensificando e alastrando
aplicada aos ecossistemas, ou aos sistemas integrados
da população e do ambiente natural: 1) a quantidade
principalmente nas duas últimas décadas.
ou proporção de mudança que um sistema pode sofrer, Também merecem atenção os contami-
mantendo os mesmos controles sobre sua estrutura e nantes provenientes de efluentes industriais,
função; 2) o grau segundo o qual um sistema é capaz de
defensivos agrícolas, de centros urbanos e,
se auto-organizar; e 3) a habilidade de construir e de
aumentar a capacidade de aprendizado e se adaptação mais recentemente, os resíduos farmacêu-
(RESILIENCE, 2008). ticos sintéticos e interferentes endócrinos,
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 229

muitos dos quais ainda pouco conhecidos e que, reconhecidamente, afetam de maneira
não incluídos na rede de monitoramento das significativa os serviços de provisão de água,
águas pela CETESB, que podem limitar o ser- sendo ainda mais notório nos grandes cen-
viço de provisão de água para uso domésti- tros urbanos, a exemplo da RMSP. As mudan-
co e produção de alimentos. Muitos desses ças poderão amplificar e acentuar todos os
compostos podem causar doenças crônicas problemas antes assinalados, de forma que a
e alguns ainda são muito pouco compreen- gestão dos recursos hídricos deverá conside-
didos. O comprometimento da qualidade rar as projeções dessas mudanças e de suas
da água adiciona, assim, ingredientes peri- incertezas na implementação de políticas
gosos à saúde da população, cujos efeitos públicas.
sinergéticos e de longo prazo precisam ser O diagnóstico apresentado aponta para
pesquisados. a extrema urgência no estabelecimento de
Os serviços de provisão pelas águas sub- estratégias que conservem e recuperem os
terrâneas também merecem atenção, poden- serviços ecossistêmicos da biosfera relaciona-
do-se dizer que são estratégicos para a segu- dos à provisão e regulação da água superficial
rança hídrica em área com escassez, como na e subterrânea, representados por coberturas
BAT; muito embora atendam a apenas 16% da vegetais, matas ripárias, várzeas e áreas ala-
demanda total nesta bacia. A contaminação gadas, sobretudo, em áreas de mananciais.
mais comum na BAT é por nitrato advindo O grande desafio consiste em efetivar a
de efluentes residenciais, principalmente em integração entre os poderes municipal, esta-
áreas não esgotadas por rede pública, ain- dual, comitês de bacia e setores da iniciativa
da que, mesmo em áreas com rede de esgoto privada em relação à gestão da água (super-
existente há quatro décadas, a contaminação ficial e subterrânea) e ao uso e à ocupação
das porções mais rasas é fato bastante comum do solo. Reconhecer e promover os serviços
devido a fugas da rede de esgoto que não rece- múltiplos da água como valores econômico,
be manutenção adequada. social, ambiental e cultural e a interdepen-
A tendência da expansão urbana na dência entre tais valores são questões-chave.
RBCV, em particular na BAT, é crítica para Promover o desenvolvimento de técnicas mais
seus mananciais, com efeitos negativos para sustentáveis voltadas para o reuso da água, a
a saúde humana, comprometimento dos ser- redução do consumo e do desperdício, bem
viços ecossistêmicos de provisão e regulação como investir pesadamente no saneamento
da água e perda de habitat e biodiversidade. e no abastecimento são medidas imprescin-
Esse quadro é ainda mais preocupante com díveis para evitar a busca pelos serviços de
a tendência da periferização das popula- provisão de água em bacias mais distantes,
ções em áreas de mananciais desprovidas de com irradiação dos impactos já experimenta-
saneamento. dos na RBCV. Fundamentalmente, trata-se de
É evidente que para melhorar as condi- reconhecer efetivamente a vocação da RBCV
ções de bem-estar humano na RBCV é neces- no fornecimento de serviços ecossistêmicos,
sário que se invista na conservação de sua lançando mão de meios legais, de sustentação
integridade. Todavia, ao se manterem as ten- econômica e de viabilização da compensação
dências atuais, o quadro de escassez de água aos municípios, em nível que permita superar
em parte da RBCV, aliado à degradação de os atuais processos de degradação e de perda
suas águas, trarão riscos crescentes à saúde da integridade das áreas que lhe garantiram
da população, com aumento das disparidades o reconhecimento como Reserva da Biosfera.
entre segmentos sociais e limitação do alcan- Somente assim o cenário poderá ser revertido,
ce das boas relações sociais possibilitadas propiciando o aumento da segurança coletiva
pelos serviços ecossistêmicos. da população na RBCV e das bacias vizinhas e
Outro desafio são os impactos advindos o alívio das pressões sobre o bem-estar huma-
das mudanças climáticas globais e locais, no das populações atuais e futuras.
230 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

REFERÊNCIAS
ABE, D.S. et al. (2006). Avaliação da capacida- BASTOS, R. K. X.; BEZERRA, N. R.; BEVILAC-
de de remoção de nitrogênio em uma várzea QUA, P. D. (2007). Planos de segurança da água:
da cabeceira do reservatório de Guarapiran- novos paradigmas em controle de qualidade da
ga, Região Metropolitana de São Paulo. In: água para consumo humano em nítida conso-
Tundisi, J.G., Matsumura-Tundisi, T. & Sidagis- nância com a legislação brasileira. In: 24º Con-
-Galli, C. (ed.). Instituto Internacional de Ecologia, gresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e
São Carlos. p. 241 – 253. Ambiental.
______. et al. (2009). The effect of eutrophication BICUDO, C. E. M.; BICUDO, D. C. (2008). Mudan-
on greenhouse gas emissions in three ças climáticas globais: efeitos sobre as águas
reservoirs of the Middle Tietê River, continentais superficiais. In: Buckeridge, M. (org.)
southeastern Brazil. Verh. Int. Verein. theor. Biologia e Mudanças Climáticas no Brasil. São
Ang. Limnol. 30: 822 – 825. Carlos: RiMa Editora, p. 151-165
ALVES, C.D. et al. (2008). Análise dos Proces- BICUDO, C. E. M.; BICUDO, D. C. (org.) (2017).
sos de Expansão Urbana e das situações de 100 Anos da Represa Guarapiranga: Lições e
Vulnerabilidade Socioambiental em escala Desafios. Curitiba: Editora CRV, 504p.
Intra-urbana. Trabalho apresentado no IV Encon-
tro Nacional da ANPPAS. Brasília, 4, 5 e 6 de junho BICUDO, D. C. et al. (2007) Undesirable side
de 2008. effects of water hyacinth control in a shallow
tropical reservoir. Freshwater Biology, v. 52, n.
ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUA (2009). 6, p. 1120-1133.
Conjuntura dos recursos hídricos no Bra-
sil 2009. Agência Nacional das Águas, Brasília. BOSCH, J. M.; HEWLETT, J. D. (1982). A review of
204p. catchment experiments to determine the effect
of vegetation changes on water yield and evapo-
ANDRADE, A. A. S. (2005). Análise da eficiência transpiration. Journal of Hydrology 55. p. 3-23.
da Várzea do Ribeirão Parelheiros na melho-
ria de qualidade de águas que afluem à Repre- BRASIL (1925). Decreto nº 16.844, de 27 de mar-
sa do Guarapiranga, São Paulo. Dissertação de ço de 1925. Aprova o plano das obras que “The
Mestrado, Universidade de São Paulo, São Car- São Paulo Tramway, Ligth & Power Company Limi-
los. 105p. ted” pretende executar nos municípios de Salle-
sopolis, Santos, Mogy das Cruzes, São Bernardo,
ARAÚJO, R. (2017). Recuperação urbana e sanea-
Santo Amaro e Itapecerica, no Estado de São
mento ambiental na bacia hidrográfica do Gua-
Paulo, para aproveitamento da força hydraulica
rapiranga: de onde viemos, onde estamos e para
do rio Tieté e de alguns de seus afluentes, e decla-
onde vamos. In: Bicudo, C.E.M. & Bicudo, D.C.
ra a urgência da desapropriação dos terrenos e
(org.) 100 Anos da Represa Guarapiranga:
bemfeitorias comprehendidos nas respectivas
Lições e Desafios. Curitiba: Editora CRV, p. 429
– 450. plantas.
BRASIL (2000). Lei nº 9.985, de 18 de julho de
ARCOVA, F. C. S. (2006). Influências da zona
ripária sobre os processos hidrológicos de micro- 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II,
bacias. In: Rodrigues, V.A. & Bucci, L.A. (orgs.). III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema
Manejo de bacias hidrográficas: experiências Nacional de Unidades de Conservação da Nature-
nacionais e internacionais. FEPAF, Botucatu, p. za e dá outras providências.
37-50. BRASIL (2002). Decreto nº 4.340, de 22 de
______; CICCO, V. (2005). Manejo de bacias hidro- agosto de 2002. Regulamenta artigos da Lei no
gráficas. In: HONDA, E.A. YAMAZOE, G. (orgs.). 9.985, de 18 de julho de 2000, que dispõe sobre
25 anos de cooperação JICA-Instituto Flores- o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
tal. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, São da Natureza – SNUC, e dá outras providências
Paulo. p. 34-46. CALDER, I. R. (2002). Forests and hydrological
______.; ______.; ROCHA, P.A.B. (2003). Precipita- services: reconciling public and science
ção efetiva e interceptação das chuvas por flores- perceptions. Land Use and Water Resources
ta de mata atlântica em uma microbacia experi- Research 2. p. 1-12.
mental em Cunha, São Paulo. Revista Árvore, 27. CARMO, R. L.; TAGNIN, R. A. (2001). Uso Múltiplo
p. 257 – 262. da Água e Múltiplos Conflitos em Contextos Urba-
BARRADAS, A.M.F. (2020). Hidrografia da RBCV, nos: o caso do Reservatório Billings. In: HOGAN D.
com a delimitação das Unidades de Gerencia- J. et al. (orgs.) Migração e Ambiente nas Aglo-
mento dos Recursos Hídricos – UGRHI. [mapa]. merações Urbanas. p. 421-444. Núcleo de Estu-
São Paulo. dos de População. Unicamp, Campinas.
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 231

CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO Frankfurt, Hydrology Paper 03, Institute of


DE SÃO PAULO. (2006). Cadastro de áreas con- Physical Geography, Frankfurt University,
taminadas. Acessado em novembro de 2006. Frankfurt am Main, Germany, 21p.
CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DREW, D. (1986). Processos Interativos Homem
DE SÃO PAULO. (2009). Relatório de qualidade – Meio Ambiente. São Paulo: DIFEL. 206p.
das águas interiores do Estado de São Paulo –
DUFF, J. H.; TRISKA, F. J. (1990). Denitrification
2008. São Paulo: CETESB, 528p.
in sediments from the hyporheic zone adjacent to
CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO a small forested stream. Canadian Journal of
DE SÃO PAULO. (2010). Relatório de qualidade Fisheries and Aquatic Sciences, 47. p. 1140-1147.
das águas superficiais do Estado de São Pau-
lo 2009 (recurso eletrônico). CETESB, 310p. São ECODEBATE (2019). Site de informações, arti-
Paulo: CETESB. gos e notícias socioambientais. Disponível em:
<https://ecodebate.com.br/foto/guarapirangasa-
CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO
besp.jpg>. Acesso: 30 nov. 2019.
DE SÃO PAULO. (2017)
EMPLASA – EMPRESA PAULISTA DE PLANEJA-
CICCO, V. (2009). Determinação da evapotrans-
MENTO METROPOLITANO. (2002). Mapeamen-
piração pelos métodos dos balanços hídricos
to de Uso e Ocupação do Solo da RMSP. São
e de cloreto e a quantificação da intercepta-
Paulo.
ção das chuvas na Mata Atlântica: São Paulo,
SP e Cunha, SP. 124 p. Tese de Doutorado, Uni- FABHAT – FUNDAÇÃO AGÊNCIA DA BACIA
versidade de São Paulo, São Paulo. 2009. HIDROGRÁFICA DO ALTO TIETÊ (2018). Relató-
______ ; ARCOVA, F. C. S.; RANZINI, M.; SANTOS, rio de Situação dos Recursos Hídricos. Bacia
J. B. A. (2006). Cooperação técnica entre Instituto hidrográfica do Alto Tietê – UGRHI 06. Ano Base
Florestal e o governo do Japão/JICA. In: RODRI- 2018. Disponível em: http://www.fabhat.org.br/
GUES, V. A.; BUCCI, L. A. (orgs.). Manejo de site/images/docs/Rel.Sit.2011.AT.pdf. Acesso: 22
bacias hidrográficas: experiências nacionais out. 2019.
e internacionais. FEPAF, Botucatu p. 51-59. FECOMERCIO – FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DO
COUTINHO, R. M.; KRAENKEL, A; PRADO, P. ESTADO DE SÃO PAULO. (2010). O uso racio-
I. (2015). Catastrophic Regime Shift in Water nal da água no comércio. 56p. Disponível em:
Reservoirs and São Paulo Water Supply Crisis. <http://site.sabesp.com.br/uploads/file/asabesp_
PloS one 10(9):e0138278. doctos/cartilha_fecomercio.pdf >. Acesso: 18 out.
CUNHA, J. M. P. da. (1995) A mobilidade pendular: 2019.
uma contrapartida da migração intrametropoli- FERNANDES, A.N. (2010). Gestão de Recursos
tana. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR, 6., Hídricos na RMSP – SABESP. In: VII Simpósio
Anais... Brasília: Anpur, 1995. p. 518-526. Internacional de Qualidade Ambiental. 17 a 19
CUNHA, J. M. P. da. (2014). Migração intrametro- de maio de 2010. Centro de Eventos da PUCRS
politana: movimentos dos pobres? Revista Brasi- – Porto Alegre. Painel: Otimização do Uso de
leira de Estudos de População, 12(1/2), 59-80. 2º Recursos Hídricos. Palestra em formato eletrô-
Edição. Disponível em: <https://www.rebep.org. nico. 44 transparências. Disponível em: <http://
br/revista/article/view/455>. Acesso: 01 dez. 2019. www.abes-rs.org.br/qualidade/palestras/adil-
son_nunes_fernandes.pdf> Acesso: 22 out. 2019.
DAEE – DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ENERGIA
ELÉTRICA (1975). Estudo de Águas Subterrâ- FONTANA, L., et al. (2014). The eutrophication
neas, Região Administrativa 1, Grande São history of a tropical water supply reservoir in
Paulo. São Paulo. SOMA. 3 vol. Brazil. Journal of Paleolimnology 51: 29 – 43
DIAS, J. P. R. V. (2005). Composição isotópica FOSTER, S., HIRATA, R., MISRA, S. & GARDUÑO,
de oxigênio e hidrogênio da precipitação e H. (2010). Urban groundwater use policy –
sua relação com as águas subterrâneas na balancing the benefits and risks in developing
cidade de São Paulo. 153p. Dissertação de Mes- nations. Sustainable Groundwater Management
trado. Instituto de Geociências, Universidade de Contributions to Policy Promotion. GW-MATE
São Paulo. 2005. Strategic Overview Series Number 3. World Bank.
DIAS, P; BABINSKI, M; HIRATA, R; MANCINI, L; Disponível em: <http://documents.worldbank.org/
ROSÁRIO, M.; AZEVEDO, A. (2005). Caracteriza- curated/pt/471001468159609056/pdf/575570BRI
ção isotópica da procedência da chuva em São 0Box31rban0Groundwater0Use.pdf>. Acesso: 18
Paulo (Brasil) e sua relação com as águas subter- out. 2019.
râneas, VIII Cong. de Geoquímica dos Países FUSP – FUNDAÇÃO DE APOIO À UNIVERSIDADE
de Língua Port. Aveiro, Portugal, p. 433-436. DE SÃO PAULO (2009). Plano da bacia hidrográ-
DÖLL, P.; FLÖRKE, M. (2005). Global - Scale fica do Alto Tietê – 2009. Sumário Executivo: 63p.,
Estimation of Diffuse Groundwater Recharge. vol. 1: 604p., vol. 2: 271p., vol. 3: 127p., vol. 4: 312p.
232 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

GHISELLI, G.; JARDIM, W.F. (2007). Interferentes MAGRIN, G. et al. (2007). Latin America. Climate
endócrinos no ambiente. Química Nova 30 (3). change 2007: impacts, adaptation and vulnerabi-
p. 695-706. lity. In: PARRY, M. L. et al. (eds.) Contribution of
HATANO K.; TRENTIN, C. C.; HOUSE, C. H.; working group II to the 4th Assessment Report
WOLLUM, A. G. (1993). Microbial population and of the Intergovernamental Panel on Climate
decomposition activity in three subsurface flow Change. Cambridge University Press, Cambridge.
constructed wetlands. In: Moshiri, G.A. (ed.). p. 581 – 615.
Constructed wetlands for water improvement. MANCINI, R. M. (2008). Gestão de recursos
Ed. Lewis Publishers. hídricos no Estado. Palestra apresentada na
HIBBERT, A. D. (1967). Forest treatment effects Conferência “Urban Age São Paulo Workshop”, 04
on water yield. In: Forest Hydrology. Pergamon de abril de 2008, São Paulo.
Press, Oxford. p. 527-543. MARCONDES, M. J. A. (1995). Urbanização e
HIRATA, R.; FERREIRA, L. (2001). Os aquíferos da meio ambiente: os mananciais da metrópole
bacia hidrográfica do Alto Tietê: disponibilidade paulista. 1995. 337p. São Paulo. Tese de Douto-
hídrica e vulnerabilidade à poluição. Revista Bra- rado, FAU/USP.
sileira de Geologia 31, p. 43-50. MARENGO, J. A.; SILVA-DIAS, P. L. (2006). Mudan-
______ ; ______ ; FERRARI, L. & PEDE, M. (2002). ças climáticas globais e seus impactos nos recur-
La explotación de las aguas subterráneas en la sos hídricos. In: REBOUÇAS, A. C.; BRAGA, B.;
cuenca hidrográfica del Alto Tietê: crónica de una TUNDISI, J. G. (Orgs). Águas doces no Brasil:
crisis anunciada. Boletín Geológico Minero, 113. capital ecológico, uso e conservação. Escritu-
273 – 282. ras Editora e Distribuidora de Livros Ltda. São
Paulo, 3. ed. rev. ampl.
______ ; CONICELLI, B. (2011). Groundwater
resources in Brazil: a review of possible impacts ______ ; TOMASELLA, J.; NOBRE, C. A. (2010).
caused by climate change. Anais da Academia Mudanças climáticas e recursos hídricos. In:
Brasileira de Ciências (no prelo, trabalho aceito BICUDO, C. E. M.; TUNDISI, J. G.; SCHEUENS-
para publicação). TUHL, M. C. B. (Orgs). Águas do Brasil: análises
estratégicas. Instituto de Botânica, São Paulo. p.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E 201-215.
ESTATÍSTICA (2019). Cidades e estados. (Banco
de Dados. Todos os Municípios – SP). Disponí- MARTINS, V. T. S. (2008). Aplicação de isótopos
vel em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-esta- de Pb, Sr, H e O como traçadores da recarga
dos/sp.html>. Acesso: 25 nov. 2019. e da contaminação de aquíferos metropolita-
nos: um exemplo da bacia do Alto Tietê: um
IPCC – INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLI-
exemplo da bacia do Alto Tietê. 220 p. Tese de
MATE CHANGE (2007). The physical science
Doutorado. Instituto de Geociências, Universida-
basis. Sumary for Policymakers. Disponível em:
de de São Paulo.
<https://www.ipcc.ch/report/ar4/wg1/>. Acesso:
18 out. 2019. MATARAZZO-NEUBERGER, W. M. (2010). Ser-
viços ambientais prestados pelas florestas
IRITANI, M. A. (1993). Potencial Hidrogeológico
da bacia da represa Billings. São Bernardo do
da Cidade Universitária de São Paulo. 1993.
Campo: Ed. do Autor.
108 p. Inst. de Geociências, Universidade de São
Paulo, São Paulo, Dissertação de Mestrado. MEA – MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT.
(2005). Ecosystems and human well-being:
JEPPENSEN, E. et al. (2014). Climate chan-
current state and trends. Vol. 5. Island Press,
ge impacts on lakes: an integrated ecological
Washington, DC.
perspective based on a multi-faceted approach,
with special focus on shallow lakes. Journal of MENEGASSE-VELÁSQUEZ, L. N. (1996). Efeitos
Limnology 73: 88 – 111. da Urbanização Sobre o Sistema Hidrológico:
Aspectos da Recarga no Aquífero Freático e o
JORGENSEN, S. E. (2007). Wetlands applied to
Escoamento Superficial. 124p. Inst. de Geociên-
solve Water Management Problems. Palestra
cias, Universidade de São Paulo, São Paulo, Tese
proferida dia 22 de janeiro de 2007 aos alunos do
de Doutoramento, 1996.
Curso sobre wetlands construídas. Instituto Inter-
nacional de Ecologia, São Carlos. MORETTI, L. R.; GONTIJO JÚNIOR, W. C. (2005).
Conciliação de conflito dentro da política brasilei-
LABHAB – LABORATÓRIO DE HABITAÇÃO E
ra de recursos hídricos: o caso do sistema Can-
ASSENTAMENTOS HUMANOS. Faculdade de
tareira. Anais do XVI Simpósio Brasileiro de
Arquitetura e Urbanismo/USP. (2005). Impac-
Recursos Hídricos.
tos urbanísticos do Trecho Oeste do Rodoa-
nel Mario Covas. São Paulo: FAU/USP. (Estudo MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (2006).
preliminar). Secretaria de Recursos Hídricos. Plano Nacional
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 233

de Recursos Hídricos – Síntese Executiva. Bra- da Região Metropolitana de São Paulo. Diag-
sília: Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de nóstico Final. Convênio SABESP/CEPAS – IG/USP.
Recursos Hídricos, 2006, 135p. São Paulo. 1994. 115p.
MS – MINISTÉRIO DA SAÚDE (2000). Portaria nº SABESP – COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSI-
1.469, de 29 de dezembro de 2000. Estabele- CO DE SÃO PAULO (2013). Complexo Metropo-
ce os procedimentos e vigilância da qualidade litano – 2013.
da água para consumo humano e seu padrão de
SABESP – COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSI-
potabilidade, e dá outras providências
CO DE SÃO PAULO (2015). CHESS – Crise Hídri-
MS – MINISTÉRIO DA SAÚDE (2004). Portaria nº ca, estratégias e soluções da SABESP para a
518, de 25 de março de 2004. Estabelece os Região Metropolitana de São Paulo - 2015.
procedimentos e responsabilidades relativos ao
SÃO PAULO (Estado) (1975). Lei nº 898, de 18 de
controle e vigilância da qualidade da água para
dezembro de 1975. Disciplina o uso do solo para
consumo humano e seu padrão de potabilidade, e
proteção dos mananciais, cursos e reservatórios
dá outras providências.
de água e demais recursos hídricos de interesse
NOBRE, C. A. et al. (2010). Vulnerabilidades das da Região Metropolitana da Grande São Paulo.
Megacidades Brasileiras às Mudanças Cli- Diário Oficial [do] Estado de São Paulo. 19 dez.
máticas: Região Metropolitana de São Paulo. 1975. Ano 85. n. 245.
Sumário Executivo, São Paulo: INPE, UNICAMP,
USP, IPT, UNESP. 2010. SÃO PAULO (Estado) (1976). Lei nº 1.172, de 17
de novembro de 1976. Delimita as áreas de pro-
OKA, C.; ROPERTO, A. (2002). Plano de Trabalho teção relativas aos mananciais, cursos e reserva-
para o Sistema Cotia, São Paulo. 2002. tórios de água, a que se refere o artigo 2º da Lei
PEREIRA FILHO, A. J.; SANTOS, P. M.; XAVIER, T. nº 898, de 18/12/1975, estabelece normas de res-
M. B. S. (2007). Evolução do tempo e do clima trição de uso do solo em tais áreas. Diário Oficial
na Região Metropolitana de São Paulo. São [do] Estado de São Paulo, 18 nov. 1976. p. 2.
Paulo: Linear B. SÃO PAULO (Estado) (1978). Lei nº 1.817, de 27
______ , A. J.; ROCHA, K. (2010). Equipe EM – de outubro de 1978. Estabelece os objetivos e as
IAGUSP. Impactos Antrópicos no Tempo e no diretrizes para o desenvolvimento metropolitano
Clima da RMSP, palestra proferida na Câmara e disciplina o zoneamento industrial, a localiza-
Municipal de São Paulo em 08 abr. 2010. ção, a classificação e o licenciamento de estabe-
lecimentos industriais na Região Metropolitana
POCOL, A. P. (2004). Uma Análise do Uso dos
da Grande São Paulo. Diário Oficial [do] Estado
Indicadores para Monitoramento das Ações
de São Paulo, 28 out. 1978. Suplemento.
do Programa de Vigilância da Qualidade da
Água para Consumo Humano do Estado de SÃO PAULO (Estado) (1988). Lei nº. 6.134, de 2
São Paulo – PROÁGUA. (2004). Dissertação de de junho de 1988. Dispõe sobre a preservação
Mestrado, Faculdade de Ciências Médicas da dos depósitos naturais de águas subterrâneas do
Santa Casa de São Paulo. estado de São Paulo e dá outras providências.
REIS, L. V. S. (2004). Cobertura florestal e cus- Diário oficial [do] Estado de São Paulo. São Paulo,
to do tratamento de águas em bacias hidro- 3 jun. 1988. v. 98. p. 101.
gráficas de abastecimento público: caso do SÃO PAULO (Estado) (1991). Decreto nº 32.955,
manancial do município de Piracicaba. Tese de 7 de fevereiro de 1991. Regulamenta a Lei n.
de Doutorado, Escola Superior de Agricultura 6.134, de 2 de junho de 1988, que dispõe sobre
“Luiz de Queiroz”, Universidade de São. 2004. a preservação dos depósitos naturais de águas
RESILIENCE (2008). Resilience, adaptation and subterrâneas do Estado. Diário Oficial [do] Estado
transformation in turbulent times: International de São Paulo. Seção I. 101 (26). p.7, retificado em 9
science and policy conference. International fev. 1991, Seção I. 101 (27), p. 2.
Science and Policy Conference. Stockholm – SÃO PAULO (Estado) (1989). Constituição Esta-
Sweden, 2008, april 14-17. dual, de 5 de outubro de 1989. Atualizada até a
ROCHA, G. A.; GONÇALVES, V. G.; REBOUÇAS, Emenda Constitucional nº 47, de 14 de março de
A.; BARRETO, L. M. B. (1989). Hidrogeologia 2019. Disponível em: <https://www.al.sp.gov.br/
da bacia de São Paulo. In: IGc/USP e SBG/SP, repositorio/legislacao/constituicao/1989/compi-
Workshop Geologia da Bacia de São Paulo. lacao-constituicao-0-05.10.1989.html>. Acesso:
Atas, p. 44-49. 01 dez. 2019.
SABESP – COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSI- SÃO PAULO (Estado) (1997). Lei nº 9.866, de 28
CO DO ESTADO DE SÃO PAULO; CEPAS – CEN- de novembro de 1997. Dispõe sobre diretrizes e
TRO DE PESQUISAS DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS normas para a proteção e recuperação das bacias
(IGc/USP) (1994). Diagnóstico Hidrogeológico hidrográficas dos mananciais de interesse regional
234 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

do Estado de São Paulo. Diário Oficial [do] Estado de Saneamento e Recursos Hídricos; Depar-
de São Paulo, 29 nov. 1997. Seção I. p. 1/3. tamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE),
2013, 44p. Disponível em: <http://www.daee.
SÃO PAULO (Estado) (1999). Secretaria do Meio
sp.gov.br/index.php?option=com_content&view
Ambiente do Estado de São Paulo. Termo de
=article&id=1112:plano-diretor-de-aproveitamen-
referência para o Programa de Recuperação
to-dos-recursos-hidricos-para-a-macrometro-
Ambiental da Bacia da Billings. São Paulo:
pole-paulista&catid=42:combate-a-enchentes>.
Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Coorde-
Acesso: 01 dez. 2019.
nadoria de Planejamento Ambiental, São Paulo,
1999. SÃO PAULO (Estado) (2013b). Secretaria de
Saneamento e Recursos Hídricos. Coordenadoria
SÃO PAULO (Estado) (2006). Conselho Esta-
de Recursos Hídricos. Plano Estadual de Recur-
dual de Recursos Hídricos Plano Estadual de
sos Hídricos (PERH): 2012/2015. São Paulo:
Recursos Hídricos: 2004 / 2007. Resumo. São
SSRH/CRHi, 2013. 210p.: il.
Paulo, DAEE.
SÃO PAULO (Estado) (2006). Lei nº 12.233, de 16 SOCRATES, J. R.; GROSTEIN, M. D.; TANAKA, M.
de janeiro de 2006. Define a Área de Proteção e M. S. (1985). A cidade invade as águas: qual a
Recuperação dos Mananciais da Bacia Hidrográ- questão dos mananciais? São Paulo: FAUUSP.
fica do Guarapiranga. – Diário Oficial [do] Estado 1985.
de São Paulo, 17 jan. 2006. p. 1. SUGUIO, K. (2006). Água. Ribeirão Preto: Editora
SÃO PAULO (Estado) (2007a). Decreto nº 51.686, Holos, 242 p. 2006.
de 22 de março de 2007. Regulamenta dispositi- TAGNIN, R. A. A (2005). Capacidade de preven-
vos da Lei estadual n° 12.233, de 16 de janeiro de ção é irrecuperável? In: DOWBOR, L.; TAGNIN,
2006, Lei Específica Guarapiranga, que define a R. A. Administrando a Água como se fosse
Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais importante: Gestão ambiental e sustentabili-
da Bacia Hidrográfica do Guarapiranga – Diário dade. São Paulo: Senac, p. 147-160.
Oficial [do] Estado de São Paulo, 23 mar. 2007.
Seção I. p. 1. TIMS, J. (1994). The role of riparian zone as
it affects water quality. In: Symposium on
SÃO PAULO (Estado) (2007b). Secretaria de Riparian Zone Management, Fredericton.
Saneamento e Energia do Estado de São Paulo. Proceedings… Canadian Forest Service,
Projeto Mananciais: Relatório Ambiental dos Maritimes Region, Fredericton. p. 9 – 21.
Componentes do Projeto. Sumário Executivo. São
Paulo. 2007. TORRES, H. G.; ALVES, H.; OLIVEIRA, M. A. (2007).
Expansão Urbana, Mercado Imobiliário e Degra-
SÃO PAULO (Estado) (2009a). Secretaria do Meio dação Ambiental em São Paulo. In: Hogan, D.
Ambiente do Estado de São Paulo. Coordenado- J. (org.) Dinâmica populacional e mudança
ria de Recursos Hídricos. Situação dos recursos ambiental: cenários para o desenvolvimento
hídricos no Estado de São Paulo. Secretaria do brasileiro. p. 165-184. Campinas: Núcleo de Estu-
Meio Ambiente, São Paulo. 2009, 149p. dos de População – NEPO/UNICAMP.
SÃO PAULO (Estado) (2009b). Lei nº 13.579, de TUNDISI, J. G. (2005). Água do Século XXI:
13 de julho de 2009. Define a Área de Proteção enfrentando a escassez. 2.ed. Rima Editora,
e Recuperação dos Mananciais da Bacia Hidro- São Carlos. 248p.
gráfica do Reservatório Billings – APRM – B. Diá-
rio Oficial [do] Estado de São Paulo, 17 jul. 2009b. ______ . (2008). Desafios atuais e futuros para
Seção I. p. 1/7. garantir a qualidade da água dos mananciais do
município e da Região Metropolitana de São Pau-
SÃO PAULO (Estado) (2010). Decreto nº 55.342,
lo. In: WHATELY, M. et.al. Mananciais: uma nova
de 13 de janeiro de 2010. Regulamenta dispo-
realidade? Instituto Socioambiental. São Paulo:
sitivos da Lei nº 13.579, de 13 de julho de 2009,
Instituto Socioambiental. p. 83-97.
que define a Área de Proteção e Recuperação dos
Mananciais da Bacia Hidrográfica do Reservató- UNDP – UNITED NATIONS DEVELOPMENT
rio Billings – APRM – B, e dá providências corre- PROGRAMME. (2006). Human Development
latas. Diário Oficial [do] Estado de São Paulo, 14 Report 2006, beyond scarcity: power, poverty
jan. 2010. Seção I. p. 1. and the global crisis. New York: Palgrave Mac-
millan. 440p.
SÃO PAULO (Estado) (2013a). Macrometró-
pole: Sumário Executivo: Plano Diretor de VICTOR, R. A. B. M et al. (2018). A escassez
Aproveitamento de Recursos Hídricos para hídrica e seus reflexos sobre os serviços ecos-
a Macrometrópole Paulista. Secretaria de Pla- sistêmicos e o bem-estar humano na Reserva
nejamento e Desenvolvimento Regional (SPDR); da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São
Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SMA); Paulo: o caso da provisão de alimentos, pro-
Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos dução madeireira, lazer e turismo aquático. In:
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 235

BUCKERIDGE, Marcos; RIBEIRO, Wagner Costa; WHATELY, M.; CUNHA, P. M. (2006). Guarapiranga
AMBRIZZI, Tércio; et al. Livro Branco da Água. 2005: como e por que São Paulo está perden-
Estudos Avançados da USP – IEA – USP[S.l: do este manancial: resultados do diagnóstico
s.n.], p. 54-73. socioambiental participativo da Bacia Hidro-
gráfica do Guarapiranga. São Paulo: ISA – Insti-
VIEIRA, J. M. P.; MORAIS, C. (2005). Planos de
tuto Socioambiental, 51p. Disponível em: <https://
Segurança da Água para consumo humano
acervo.socioambiental.org/sites/default/files/
em sistemas públicos de abastecimento. Edi-
publications/26D00004.pdf>. Acesso: 22 out. 2019.
ção: Instituto Regulador de Águas e Resíduos,
Universidade do Minho. WHATELY, M.; CUNHA, P. M. (2007). Cantareira
2006: um olhar sobre o maior manancial de
VIVIANI-LIMA, J. B. (2007). Estimativa de recar- água da Região Metropolitana de São Paulo:
ga em áreas urbanizadas: estudo de caso na resultados do diagnóstico socioambiental
Bacia do Alto Tietê. 2007. 219p. Tese de Douto- participativo do Sistema Cantareira. São Pau-
ramento. Instituto de Geociências, Universidade lo: ISA – Instituto Socioambiental. 68p. Disponí-
de São Paulo. vel em: https://acervo.socioambiental.org/sites/
______ ; HIRATA, R.; ARAVENA, R. (2007). Estima- default/files/publications/24L00004.pdf. Acesso:
tion of groundwater recharge in the Metropo- 22 out. 2019.
litan Área of São Paulo, Brazil. IAH Internation ______ ; SANTORO, P.; TAGNIN, R. A. (2008). Con-
Congress. Lisbon. tribuições para a elaboração de leis especí-
ficas de mananciais: o exemplo da Billings.
VÖRÖSMARTY, C. J.; BOS, R.; BALVANERA, P.
Instituto Socioambiental. São Paulo.
(2005). Fresh Water. Ecosystems and Human
Well-Being: Current State and Trends: Findings ______ ; DINIZ, L. (2009). Água e esgoto na
of the Condition and Trends Working Group, v. 1, grande São Paulo: situação atual, nova lei de
p. 165. Disponível em: <http://www.millenniumas- saneamento e programas ambientais propos-
sessment.org/documents/document.276.aspx. tos. São Paulo: Instituto Socioambiental.
pdf>. Acesso: 18 out. 2019.
WWAP - Programa Mundial de Evaluación de los
WALLING, D. E. (1980). Water in the catchment Recursos Hídricos de la UNESCO (2019). Infor-
ecosystem. In: GOWER, A.M. (ed.). Water quality me Mundial de las Naciones Unidas sobre el
in catchment ecosystems. John Wiley & Sons, Desarrollo de los Recursos Hídricos 2019: No
New York. p. 1 – 47. dejar a nadie atrás. París, UNESCO.

GLOSSÁRIO
A
Águas não duras ou leves | Águas com pou- seja, não há obstáculos entre a superfície terres-
ca quantidade dissolvida de sais de cálcio e tre e a água subterrânea, apenas poros vazios da
magnésio. rocha (em contraste com aquífero confinado).

Algicida | Produto químico utilizado para eli-


minar ou controlar o desenvolvimento de algas. Aquífero semi-confinado | Parte de sua exten-
Pode ser usado em represas, lagos e locais de são encontra-se confinada sob camada de rocha
armazenamento e distribuição de água para con- impermeável, impedindo contato direto com a
sumo e/ou uso industrial. superfície terrestre e a atmosfera.
Anisotrópico | Material que apresenta compor- Áreas de mananciais | Mananciais de água são
tamento hidráulico diferente (como a permeabili- as fontes, superficiais ou subterrâneas, utilizadas
dade) segundo a direção no espaço. para abastecimento humano e manutenção de
atividades econômicas. As áreas de mananciais
Anoxia | Ausência de oxigênio na água. compreendem as porções do território percor-
Aquífero confinado | Reservatório de água sub- ridas e drenadas pelos cursos d´água, desde as
terrânea coberto, tanto na parte superior como na nascentes até os rios e represas.
inferior, por camadas de rochas ou sedimentos de
menor permeabilidade gerando pressões.
B
Bacia hidrográfica | Área de captação da água
Aquífero livre | É aquele em que a superfície da de precipitação, demarcada por divisores topo-
água que se encontra nos poros das rochas está gráficos, onde toda a água captada converge
em contato direto com a pressão atmosférica, ou para um único ponto de saída, o exutório. Os
236 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

divisores topográficos ou divisores de água são bacteriana. A DBO é proporcional ao tempo, ou


as cristas das elevações do terreno, que separam seja, quanto maior o tempo, mais a matéria orgâ-
a drenagem da precipitação entre duas bacias nica biodegradável é decomposta pela atividade
adjacentes. Na bacia hidrográfica, desenvolvem- aeróbica das bactérias. Adotam-se 5 dias como
-se atividades humanas que utilizam a água para tempo padrão nas medidas de DBO da água ou do
múltiplas finalidades, inclusive de recepção, dilui- efluente.
ção e assimilação de esgotos urbanos, de efluen-
Desnitrificação | Processo em que as bacté-
tes industriais e de rejeitos agrícolas.
rias reduzem o nitrato (NO3) a nitrito (NO2) e a
nitrogênio gasoso (N2), o qual volta para atmosfe-
C ra constituindo um mecanismo de diminuição do
nitrogênio em águas residuárias ou excesso de
Cadeia trófica (ou alimentar) | Relação entre
eutrofização. Em áreas alagadas e pantanosas,
os seres vivos que compõem um ecossistema, a
esse processo é comum e fundamental.
partir da qual a energia é transferida de um orga-
nismo a outro através da alimentação. É consti-

E
tuída pelos seguintes níveis: produtores e consu-
midores, que podem ser primários, secundários e
terciários. Estruturas cársticas | Estruturas relacionadas
Cianobactérias | Organismos primitivos, pro- ao carste, ou seja, às rochas carbonáticas que
cariontes (sem núcleo definido), fotossintetizan- formam cavernas, dutos e outras estruturas de
tes, antes conhecidos como algas azuis. Habi- dissolução.
tam a Terra há 2,5 bilhões de anos. Algumas Estudos isotópicos | Estudos que incluem isó-
espécies são capazes de fixar nitrogênio do ar. topos, que são elementos químicos de mesmo
Outras podem crescer rapidamente e causar número atômico, mas diferentes massas atômi-
alterações na qualidade da água, conferindo- cas e permitem avaliar, através do comportamen-
-lhe cor, odor e gosto. Ainda outras podem ser to físico-químico desses elementos, diferentes
tóxicas (com produção de cianotoxinas) e causar origens das águas subterrâneas.
sérios problemas à saúde pública, até a morte
dos organismos infestados. Eutrofização | Processo de aumento da pro-
dução de matéria orgânica nos ecossistemas
Colapso de terreno | Processo em que o terreno aquáticos devido ao enriquecimento resultan-
sofre um afundamento, por dissolução de rochas te, principalmente, do aumento da concentra-
carbonáticas e formação de cavidades. ção de nitrogênio e fósforo na água. É conhe-
Comitê de Bacias Hidrográficas (CBH) | Órgão cida como artificial ou cultural quando resulta
consultivo e deliberativo de nível regional, ao qual de atividades humanas tais como de despejos
compete: aprovar o Plano Estadual de Recursos de esgotos domésticos e industriais e da des-
Hídricos e a proposta de programas anuais e plu- carga de fertilizantes aplicados na agricultura.
rianuais de aplicação de recursos financeiros em A eutrofização artificial acelera o processo de
serviços e obras de interesse para o gerencia- produção orgânica e causa a deterioração da
mento dos recursos hídricos; aprovar a proposta qualidade da água e outros efeitos deletérios à
do plano de utilização, conservação, proteção e biodiversidade do ambiente, trazendo implica-
recuperação dos recursos hídricos da bacia hidro- ções ambientais, econômicas, sociais e riscos
gráfica, em especial o enquadramento dos corpos para saúde pública.
d’água em classes de uso preponderante, com o
apoio de audiências públicas; promover entendi-
mentos, cooperação e eventual conciliação entre
F
os usuários dos recursos hídricos; promover estu- Floração de cianobactérias | Crescimento
dos, divulgação e debates, dos programas priori- exagerado de uma ou de poucas espécies de
tários de serviços e obras a serem realizados no cianobactérias usualmente resultante do enri-
interesse da coletividade; e apreciar o relatório de quecimento de ambientes aquáticos pela ação do
situação dos recursos hídricos da bacia hidrográ- homem.
fica. Os comitês são formados por representantes
Formação Resende | Sequência de rochas
do poder público (federal, estadual e municipal),
sedimentares que caracterizam um ambiente de
dos usuários e da sociedade civil.
leques aluviais, depositada no Eoceno-Oligoceno

D
(há aproximadamente 30 milhões de anos).
Formação São Paulo | Sequência de rochas
Demanda Bioquímica de Oxigênio | É a medi- sedimentares que caracterizam um ambiente flu-
da da quantidade do oxigênio dissolvido em vial, depositada no final do Oligoceno (há aproxi-
um corpo d’água, consumido pela atividade madamente 23 milhões de anos).
PROVISÃO, REGULAÇÃO DA ÁGUA E BEM-ESTAR HUMANO 237

H P
Hipolímnio | Camada (ou estrato) mais profun- Porosidade primária | Porosidade (presença de
da de um lago e/ou reservatório originada pela poros) criada durante a formação da rocha e não
diferença de temperatura e densidade na coluna posteriormente.
d’água, por meio da estratificação térmica. É a

Q
camada mais fria e densa de todas.

I Q7,10 | Vazão mínima superficial de 7 dias conse-


cutivos em um determinado corpo d’água, para
Índice de Estado Trófico (IET) | Tem por fina- um período de retorno de 10 anos.
lidade classificar corpos d’água em diferentes
graus de trofia, ou seja, avaliar a qualidade da
água quanto ao enriquecimento por nutrientes e R
seu efeito relacionado com o crescimento exces-
sivo das algas, ou o potencial para a infestação Recarga | Água que se infiltra pela superfície ter-
de macrófitas aquáticas. restre e atinge o aquífero, alimentando-o.

Índice de qualidade de água bruta para fins Recarga antrópica | Corresponde à parte da
de abastecimento (IAP) | Índice que inclui no recarga da água subterrânea influenciada pela
grupo de substâncias tóxicas do ISTO, o Teste de ação humana, como vazamentos de redes de
Ames e o Potencial de Formação de THM (tri-halo- distribuição de água e coleta de esgoto, e não
metano, compostos organoclorados derivados do exclusivamente pelos processos naturais, como
metano e resultantes da reação do cloro com a a chuva.
água que contém matéria orgânica). É aplicado

S
para os locais de monitoramento que são utiliza-
dos para abastecimento público.
Índice de qualidade de água para a proteção Sinapse nervosa | Ponto de comunicação em
da vida aquática (IVA) | Avalia a qualidade das que as extremidades de neurônios vizinhos se
águas para fins de proteção da fauna e da flora. encontram e o estímulo passa de um neurônio
Fornece informações não só sobre a qualidade para o seguinte, através de mediadores físicos e
da água em termos toxicológicos, como também químicos conhecidos como neurotransmissores.
sobre seu estado trófico. Sistema Integrado de Gerenciamento de
Recursos Hídricos (SIGHR) | Sistema integra-

M
do por órgãos e colegiados relacionados à gestão
dos recursos hídricos, com o objetivo de assegu-
Macrófitas aquáticas | Plantas aquáticas ma- rar os meios financeiros e institucionais para: uti-
croscópicas que podem ser inteiramente submer- lização racional dos recursos hídricos superficiais
sas (submersas livres ou enraizadas nos sedi- e subterrâneos; priorização do abastecimento
mentos), parcialmente submersas com folhas público; maximização dos benefícios econômicos
fora d’água (emersas), ou com folhas flutuantes e sociais do uso múltiplo dos recursos hídricos;
(enraizadas), ou inteiramente flutuantes (flutuan- proteção e defesa contra eventos hidrológicos crí-
tes livres). São muito comuns em lagos, represas ticos; desenvolvimento e aproveitamento econô-
e rios. Exemplos: aguapé, alface-d’água, ninfeia, mico e programas permanentes de conservação e
salvínia, entre outras. proteção das águas. O SIGRH visa à execução da
política estadual de recursos hídricos e à formu-
Metabólito | Produto do metabolismo (conjunto lação, à atualização e à aplicação do Plano Esta-
de reações químicas) de determinado organis- dual de Recursos Hídricos, congregando órgãos
mo. Pode ser classificado como primário quando estaduais e municipais e a sociedade civil (Lei
envolvido diretamente no crescimento, desen- estadual nº 7663/91). Adota as bacias hidrográfi-
volvimento e reprodução; ou secundário quando, cas como Unidades de Gerenciamento de Recur-
embora não esteja diretamente envolvido em tais sos Hídricos (UGRHI), estabelecendo um sistema
processos, podem apresentar uma importante de gestão descentralizado, baseado nos Comitês
função ecológica. das Bacias.
Sistema Produtor | Sistemas administrativos
N da SABESP (Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo) destinados à captação,
Neocenozoicas | Rochas geradas em período ao armazenamento e ao tratamento da água para
que compreende os últimos 23 milhões de anos. abastecimento.
238 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Sistemas tampão | Áreas alagadas, flores- das águas subterrâneas em aquíferos que apre-
tas ripárias, interfaces entre sistemas terrestres sentam tal susceptibilidade.
e aquáticos são regiões tampão que removem
nitrogênio (por desnitrificação) e fósforo (por
precipitação e complexação no sedimento e
U
agregado em partículas às raízes de macrófitas Unidade Hidrográfica de Gerenciamento de
aquáticas). Além disso, precipitam metais pesa- Recursos Hídricos (UGRHI) | Unidade de pla-
dos e complexam esses elementos; e removem nejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
material em suspensão, impedindo seu transpor- (Leis estaduais nº 7.663/91 e nº 9.043/94). Está
te para sistemas aquáticos. estruturada no conceito de bacia hidrográfica,
em que os recursos hídricos convergem para um
Solvente halogenado | Substância química da
corpo d’água principal.
classe dos solventes orgânicos capaz de dissol-

Z
ver um determinado material. São altamente volá-
teis e possuem, em sua estrutura, átomos de clo-
ro (Cl), flúor (F), bromo (Br) e iodo (I).
Zona limnética | Região que corresponde à área
Subsidência de terreno | Processo em que mais central de um lago ou reservatório. É tam-
o terreno sofre um afundamento que pode ter bém conhecida como “região pelágica” ou “água
várias causas, inclusive o intenso bombeamento aberta”
PARTE 2
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS DE REGULAÇÃO

2.1 PROCESSOS
GEOHIDROLÓGICOS
DE EROSÃO,
ESCORREGAMENTOS,
ASSOREAMENTOS E
INUNDAÇÕES

Coordenador
Antonio Manoel dos Santos Oliveira | Pesquisador independente

Autores
Antonio Manoel dos Santos Oliveira | Pesquisador independente
Marcio Rossi | IF/SIMA
Kátia Canil |UFABC
Marcio Roberto Magalhães de Andrade | CEMADEN
Marina Mitsue Kanashiro | IF/SIMA

Autora contribuinte
Maria José Brollo | IG/SIMA
240 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto de abertura do capítulo:


Perda de serviço
ecossistêmico e processos
geohidrológicos decorrentes
de erosão e assoreamento de
curso d’água. Implantação do
Rodoanel Norte na região
de Guarulhos, com
desmatamento, corte e aterro.
Fonte: Antonio Manoel
dos Santos Oliveira (2014).
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 241

SUMÁRIO

............................................................................................................. 245
Resumo ......

1 | Introdução...................................................................................................... 246

2 | Conceitos básicos.......................................................................................... 246

3 | Os processos geohidrológicos na RBCV........................................................ 247

3.1 | Condicionantes do meio físico: os terrenos da RBCV.......................... 248

3.2 | Condicionantes do meio antrópico: o uso do solo da RBCV................. 252

3.3 | Os processos geohidrológicos na RBCV .............................................. 256

3.4 | Ônus dos processos geohidrológicos na RBCV ................................... 265

4 | O serviço de regulação do escoamento de água e o bem-estar humano


na RBCV......................................................................................................... 267

5 | Mudanças climáticas e os processos geohidrológicos................................... 268

Conclusões............................................................................................................ 270

Referências............................................................................................................ 270

............................................................................................................. 272
Glossário ......
242 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 Geomorfologia da RBCV.
Figura 2 Geologia da RBCV.
Figura 3 Pedologia da RBCV.
Figura 4 Uso e ocupação do solo na RBCV.
Figura 5 Evolução da cobertura vegetal natural para a RBCV.
Figura 6 Ocupação do morro do Jabaquara em Santos.
Figura 7 Degradação dos serviços ecossistêmicos pela ocupação irregular do loteamento do Novo
Recreio na periferia de Guarulhos, e manifestação de erosões e escorregamentos.
Figura 8 Distribuição de classes de declividades dos terrenos da RBCV.
Figura 9 Intensos processos erosivos nos aterros de área terraplenada para loteamento em
São Paulo.
Figura 10 Escorregamento em Francisco Morato.
Figura 11 Córrego Taquara do Reino, afluente do rio Baquirivu – Guaçu, da bacia do Alto Tietê,
assoreado com sedimentos e resíduos, devido à ocupação urbana na periferia de
Guarulhos.
Figura 12 Foto área de 1986 mostra a área sendo terraplenada para loteamento na cabeceira do
córrego Pau d'Álho, região do Cabuçu, em Guarulhos.
Figura 13 Assoreamento do fundo do vale do córrego do Pau d’Alho, com perda de edificações.
Figura 14 Inundação das margens do rio Pinheiros.
Figura 15 Comparação entre o número de acidentes de escorregamentos na RBCV e no Estado de
São Paulo.
Figura 16 Distribuição dos serviços ecossistêmicos da biosfera com base no mapa de uso do solo.

QUADROS
Quadro 1 Tipos de relevo, ocorrências de processos de inundações e escorregamentos, e
municípios afetados na RBCV.
Quadro 2 Relevo, seu domínio de declive, comportamento hídrico decorrente e processos
dominantes em áreas desmatadas.
Quadro 3 Estudo de Caso: A microbacia do Pau d'Alho, Guarulhos, SP.
Quadro 4 Análise qualitativa de impactos dos processos geohidrológicos na RBCV – Planalto, em
termos de risco envolvendo a probabilidade de suas ocorrências como acidente ambiental.
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 243

SIGLAS
APA Área de Proteção Ambiental (categoria de UC)
CEMADEN Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais
CTH Centro Tecnológico de Hidráulica
DAEE Departamento de Água e Energia Elétrica
EMPLASA Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica
IF Instituto Florestal
IG Instituto Geológico
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
SEADE Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados
SIMA Secretaria de Infraestrutura e Ambiente (Estado de São Paulo)
SVMA Secretaria do Verde e Meio Ambiente (Prefeitura de São Paulo)
UFABC Universidade Federal do ABC
UGRHI Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos
ZCAS Zona de Convergência do Atlântico Sul
244 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 245

RESUMO

N a RBCV, o serviço de regulação do escoamento superficial, responsável pelos


processos geohidrológicos, é observado nos compartimentos geomorfológicos.
No Planalto Atlântico a ocupação iniciou-se nas colinas de arenitos/argilitos e se expandiu
para os morros de granitos, gnaisses, xistos e filitos, onde o relevo, mais acidentado com
solos suscetíveis à erosão e ocupação inadequada, manifesta-se de risco. Mas, a cultura
de morar no plano e a ocupação sem respeitar os limites do meio físico geram processos
indesejáveis (inundações e alagamentos na metrópole paulista). Na Escarpa da Serra do
Mar, destacam-se obras de transposição (rodovias, ferrovias, dutovias, linhas de energia),
hidroelétricas, indústrias e ocupação irregular (bairros-cota), em áreas de elevado declive,
que favorecem os processos (erosão, escorregamento, corrida de detritos), colocando-as em
risco, seja na Serra ou na Baixada contígua. Nessa Baixada Litorânea se destacam os morros
(Santos, São Vicente e Guarujá), com escorregamentos que submetem as ocupações a graves
situações de risco. O Sistema Estuarino recebe os sedimentos produzidos pelos processos,
exigindo constante dragagem para a manutenção do sistema portuário. Os impactos desses
processos, induzidos pela ocupação inadequada, implicam em paralisação de atividades
econômicas; maior custo de manutenção de infraestruturas (drenagem urbana, sistemas e
reservatórios de abastecimento de água e sistema portuário); danos aos patrimônios públicos
e privados; comprometimento da saúde física e psíquica da população (óbitos e vítimas de
acidentes); aumento dos custos da gestão pública (obras corretivas, ações de defesa civil,
sistemas de saúde). Esse balanço exige a adequação do uso do solo à conservação de áreas
de cobertura vegetal para produção dos serviços ecossistêmicos de regulação na RBCV, com
significativos e imediatos ganhos para o bem estar-humano, incluindo vantagens econômicas
a médio e longo prazos.
246 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 |INTRODUÇÃO No meio ambiente natural da superfície do


planeta, os componentes bióticos e físicos inte-

E ste capítulo sobre a regulação do escoa- ragiram e coevoluiram ao longo de milhões de


mento superficial, como serviço ecossistê- anos, em sucessivos ecossistemas complexos,
mico, contempla os processos geohidrológicos dos antigos até os atuais. Estes, quando obser-
de erosão, escorregamentos, assoreamentos vados em curtos períodos de tempo como o da
e inundações. existência humana, parecem dotados de certo
Após apresentar os conceitos básicos, equilíbrio, dinâmico, porém relativamente está-
essencialmente teóricos, o capítulo avança na vel. Nessas condições, a biosfera dos ecossiste-
caracterização dos processos geohidrológicos mas vem se autossustentando e se renovando
que efetivamente ocorrem na RBCV, apresentan- ao longo dos anos, contando com a ação contí-
do os principais estudos de referência e traçan- nua dos processos geohidrológicos na paisagem
do os principais condicionantes de ordem natu- natural (SAUER 1928, apud CHRISTOFOLETTI,
ral e antrópica. 1999), como o metabolismo de um planeta vivo
No tocante aos condicionantes naturais, o (TRICART, 1972) e que se autorregula segundo a
capítulo apresenta as principais características teoria Gaia (LOVELOCK, 1988).
do relevo, pela abordagem geomorfológica e Entretanto, a ação humana do uso do solo,
pela natureza dos terrenos, os solos e o substra- quando iniciada pela remoção da vegetação,
to rochoso, segundo abordagens da pedologia e implica na supressão radical do componente
da geologia. biótico natural do ecossistema, instaurando o
No que se refere aos condicionantes antró- meio antrópico. Por exemplo, a substituição de
picos, apresenta o quadro do uso do solo que, uma floresta por uma ocupação urbana corres-
em seguida, é traduzido como distribuição atual ponde à transformação de um meio ambiente
dos serviços ecossistêmicos da RBCV. natural em um meio antrópico. O meio físico,
Na sequência, o capítulo discute os ônus com forma e estrutura originais, persiste por
dos processos geohidrológicos instalados na pouco tempo nas novas condições, passan-
RBCV, por perda dos serviços ecossistêmicos da do a ser submetido a novos processos geo-
biosfera e uso do solo inadequado às condições hidrológicos, agora não mais naturais, mas
geoambientais. culturais, ou antropogênicos, ou, ainda, tecno-
Finalmente, expõe as relações existentes gênicos (TER-STEPANIAN, 1988). As alterações
entre o serviço de regulação do escoamento dos processos geohidrológicos resultam das
superficial e o bem-estar humano, analisando os alterações do balanço hídrico do ecossistema,
impactos decorrentes dos processos geohidroló- que se manifestam pela redução da evapotrans-
gicos considerados, quando esses se manifestam piração e do aumento do escoamento super-
em decorrência da falta desse serviço. ficial. De início, quando ainda restam os hori-
zontes superficiais do solo e a serrapilheira, a

2 |CONCEITOS BÁSICOS
infiltração também aumenta. Entretanto, com a
perda desses horizontes, a infiltração vai sendo
reduzida, passando a incrementar o escoamen-
Dentre os serviços ecossistêmicos da bios- to superficial que, por sua vez, contribui para
fera, os serviços de regulação atuam no balanço o desenvolvimento dos processos geohidroló-
hídrico, regulando o escoamento da água e, em gicos, como as erosões e os escorregamentos.
decorrência, regulando os processos geohidro- Esses processos agem na direção da busca de
lógicos correspondentes, de erosões hídricas um novo equilíbrio na paisagem em transforma-
de encostas, escorregamentos (movimentos de ção, caracterizada por Ab’ Saber (1965) como
massa), solapamentos, assoreamentos e inun- uma fase de resistasia antrópica.
dações. Esses processos de dinâmica superfi- Quando, após o desmatamento, o solo é
cial da biosfera do planeta, também conhecidos ocupado de forma ambientalmente inadequa-
por processos geomorfológicos, vêm modelan- da, a manifestação desses processos geohidro-
do a superfície terrestre ao longo dos períodos lógicos se intensifica, provocando significativos
geológicos. impactos ambientais, que resultam na redução
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 247

3 | OS PROCESSOS
GEOHIDROLÓGICOS NA RBCV
dos níveis de bem-estar humano e na perda da
qualidade de vida.
Entretanto, nos ecossistemas onde o com-
ponente biótico permanece estrategicamente Os processos geohidrológicos na RBCV, que
preservado, mesmo que parcialmente, graças a ocorrem em função dos condicionantes do meio
um planejamento mais adequado do uso e da ocu- físico e do uso do solo, gerando importantes
pação do solo, o escoamento superficial pode ser consequências socioeconômicas, são, em segui-
atenuado. Assim, o componente biótico presente da, apresentados com base nos estudos realiza-
promove a regulação do escoamento superficial, dos e disponíveis.
evitando a manifestação de impactos ambientais O Quadro 1 apresenta os riscos de ocor-
significativos, desempenhando o papel de presta- rência dos principais processos erosivos por
dor de serviço ecossistêmico em associação aos tipo de relevo nos municípios da RBCV. Cabe res-
outros serviços que a biosfera presta à humani- saltar, aqui, que se trata de áreas de ocorrência
dade (ALCAMO, 2003). dos processos, devidamente registrados e, tam-
A atenuação dos impactos dos proces- bém, de áreas com alta probabilidade de ocor-
sos geohidrológicos, especialmente dos seus rências devido aos condicionantes dos relevos,
eventos extremos como as inundações e os especialmente suas amplitudes e declividades,
escorregamentos, constitui um importante dos solos, das litologias e, finalmente, dos diver-
fator do bem-estar da comunidade que vive sos usos praticados pela ocupação.
nesses ecossistemas.

Tipo de relevo Municípios atingidos Municípios atingidos


Ponçano et al (1981) por inundações por escorregamentos

Planícies aluviais Atibaia, Bragança Paulista, ---


Jacareí, Guararema
Planície litorânea Bertioga, Cubatão, Itanhaém, Praia ---
Grande, Santos e São Vicente
Mangues Cubatão, Bertioga ---

Colinas da RBCV – Planalto Carapicuíba, Diadema, Guarulhos, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Jacareí,


Jacareí, Itaquaquecetuba, Mauá, Mauá, Osasco, Poá, Santo André,
Osasco, Poá, Santo André, São São Paulo, Suzano, Taboão da Serra
Caetano do Sul, Suzano,
Taboão da Serra

Morrotes da RBCV – Planalto Arujá, Tuiuti, Alumínio, Barueri, Alumínio, Araçariguama, Barueri,
Bragança Paulista, Cotia, Embu, Bragança Paulista, Cotia, Embu, Itapevi,
Itapeti, Jandira, Jundiaí Jandira, Jundiaí, Osasco, São Paulo,
Taboão da Serra, Vargem Grande

Morros da RBCV - Planalto Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Atibaia, Bom Jesus dos Perdões,
Caieiras, Campo Limpo Paulista, Cajamar, Campo Limpo Paulista,
Francisco Morato, Franco da Rocha, Francisco Morato, Franco da Rocha,
Ibiúna, Igaratá, Itapecirica da Serra Ibiúna, Itapevi, Jacareí, Jundiaí,
Jacareí, Jarinu, Jundiaí, Juquitiba, Juquitiba,Ribeirão Pires, Mairinque,
Mairinque, Mairiporã, Paraibuna, Mairiporã, Nazaré Paulista, Osasco,
Ribeirão Pires, Salesópolis, Santa Paraibuna, Piracaia, Rio Grande da Quadro 1 |
Branca e Santa Isabel, Santana de Serra, Salesópolis, Santa Branca, Tipos de relevo,
Parnaíba, Várzea Paulista Santana de Parnaíba, São Paulo,
Várzea Paulista
ocorrências de
processos de
Morros isolados da RBCV - Guarujá Guarujá, Santos e São Vicente inundações e
Baixada
escorregamentos,
Serras e montanhas Araçariguama, Cajamar, Mongaguá, Cajamar, Joanópolis, Nazaré Paulista, e municípios
São Roque e Vargem Grande Osasco, São Paulo e São Roque afetados na RBCV.
Fonte: elaboração
Escarpas --- Cubatão
própria.
248 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

3.1 | Condicionantes do meio físico:


os terrenos da RBCV
No meio físico da RBCV, as principais for-
mas do relevo relacionadas às suas litologias
propiciam o desenvolvimento de diferentes
O comportamento dos processos geohi- tipos de solos, com suas dinâmicas próprias,
drológicos na RBCV pode ser compreendido, representadas pelos processos dominantes, ace-
sob o ponto de vista da caracterização geo- lerados ou deflagrados pela ação antrópica.
morfológica da paisagem. A relação entre os Com base nessa abordagem, foram con-
materiais e as formas do relevo condiciona a sideradas as informações contidas em: Mapa
ocorrência de determinados processos, que Geomorfológico do Estado de São Paulo (PON-
na área da RBCV, manifestam-se predomi- ÇANO et al., 1981) (Figura 1); Mapa Geológico
nantemente na forma dos movimentos de mas- do Estado de São Paulo (BISTRISCHI et al., 1981)
sa, com domínio de escorregamentos, erosão (Figura 2) e Mapa Pedológico do Estado de
hídrica, inundação e assoreamento de rios e São Paulo (OLIVEIRA et al., 1999; ROSSI, 2017)
corpos d’água. (Figura 3).

Figura 1 |
Geomorfologia
da RBCV.
Fonte: Adaptado de
Ponçano et al. (1981).
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 249

Figura 2 |
Geologia da RBCV.
Fonte: Adaptado
de Bistrischi
et al. (1981).

A RBCV, no continente, está inserida em São Paulo de idade Terciária, que pode ser consi-
sua maior parte no Planalto Atlântico, tendo derada a paleo-planície do rio Tietê.
uma pequena porção na escarpa da Serra do Mar
e na Baixada Santista.
3.1.1 | Os terrenos da RBCV-Planalto
O substrato geológico da RBCV é notada-
mente seccionado por inúmeras falhas geológi- O Planalto Atlântico é uma região de ter-
cas e várias zonas de cisalhamento que formam ras altas, constituídas por formas de topos con-
um mosaico de blocos geológicos diferenciados. vexos, grande densidade de drenagem e vales
No relevo, eles se mostram desnivelados, refle- profundos. As formas de relevo predominantes
xo de manifestações tectônicas e neotectônicas, são os morros, as montanhas, os morrotes e as
definindo montanhas, morros e planícies. Essas colinas, ocorrendo ainda, como relevo de
macroestruturas estão relacionadas à forma- agradação, planícies aluviais, porém pouco
ção da borda litorânea da costa brasileira e da expressivas em área.
escarpa da Serra do Mar. No planalto, ele é res- Em linhas gerais, a área da RBCV-Planalto
ponsável pela formação da Bacia Sedimentar de apresenta uma configuração geomorfológica que
250 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 3 |
Pedologia da RBCV.
Fonte: Rossi (2017).
favorece a deflagração de processos de escorre- são na RBCV-Planalto, dominando os seus limites,
gamentos, de erosão e, portanto, de produção de leste, norte e oeste, em torno de áreas de mor-
de sedimentos, sobretudo nas ocupações inade- rotes e colinas, como se pode ver na Figura 1.
quadas. Os canais de drenagem, que esculpem o As montanhas compõem as serras que se
relevo entalhado, transportam os materiais pro- destacam na RBCV-Planalto. A sudoeste, a Serra
duzidos nas cabeceiras para as partes mais bai- de Paranapiacaba; a oeste, a Serra de Taxaquara,
xas do relevo e, ao se depositarem, configuram na região de São Roque; a norte, a Serra do Japi,
os depósitos de assoreamento, potencializando, na região de Jundiaí, e, ainda, a Serra da Pedra
assim, a ocorrência de enchentes e inundações. Vermelha, em Atibaia, e as Serras da Cantareira

3.1.1.1 | Relevos de morros e montanhas


e de Itaberaba, na região de Guarulhos e Mairi-
porã; a leste, a Serra de Itapeti em Mogi das Cru-
zes, a Serra dos Monos, e outras em Santa Isabel
O relevo de morros e montanhas, de for- e Paraibuna.
te ondulado a montanhoso, com declividades Os morros ocorrem, do ponto de vista dos
médias a altas, frequentemente de 30% a mais sistemas de relevo (PONÇANO et al., 1981), em
de 60%, e amplitudes locais de 100 m a mais de três tipos: mar de morros, morros paralelos e
300 m, em altitudes superiores a 800 m, até mais morros com serras restritas, que se assemelham
de 1.500 m, são os que ocorrem com maior expres- quanto ao formato arredondado dos topos.
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 251

Esse relevo mais acidentado, de morros e que a erosão linear, e os escorregamentos que,
montanhas da RBCV-Planalto, é sustentado pre- entretanto, podem ocorrer em áreas específicas,
dominantemente por rochas cristalinas, ígneas e de declividade mais acentuada.

3.1.1.3 | Relevo de colinas


metamórficas, destacando-se o conjunto de gra-
nitoides, gnaisses, migmatitos, e o conjunto de
metassedimentos e metavulcânicas, conforme
apresenta a Figura 2. O relevo de colinas, de suave ondulado a
Desenvolveram-se nesse relevo, a partir ondulado, é restrito ao centro da RBCV, na área
dessas rochas, solos dos tipos argissolos, cam- central do município de São Paulo, entre os rios
bissolos e latossolos, conforme mostra a Figu- Tietê e Pinheiros. As colinas têm amplitudes infe-
ra 3, todos com horizontes pedológicos A e B, riores a 100 m, áreas de interflúvio de 1 a 4 km2,
em geral argilosos, pouco espessos, porém com com topo plano e vertentes com perfis convexos
horizonte C, de rocha alterada, que pode ser a retilíneos e declividades que podem ser acen-
muito profundo. tuadas. Esse relevo foi moldado em rochas sedi-
As vertentes dos morros e montanhas têm mentares terciárias, argilitos, siltitos e arenitos,
perfis de convexos a retilíneos, e a drenagem é nas quais se desenvolveram predominantemente
de alta densidade, com vales em geral fechados, argissolos.
verificando-se a presença de cones de dejeção e A rede de drenagem é de baixa densidade,
corpos de tálus localizados. e os vales são fechados. Os topos planos favore-
Os escoamentos da água superficial, nes- cem a infiltração, porém, nas vertentes, o escoa-
se compartimento, tanto difusos quanto con- mento difuso, lento a moderado, pode se inten-
centrados, atingem alta velocidade e, portanto, sificar quando há concentração do escoamento
contribuem para a deflagração de processos de superficial nas vertentes mais íngrimes. Pelas
erosão natural, laminar e linear, que se intensi- características gerais desse tipo de relevo, pode
ficam quando as encostas são ocupadas. Outros ocorrer erosão laminar de baixa a média intensi-
processos também podem ocorrer, sobretudo dade, erosão linear em sulcos e, eventualmente,
quando tais relevos são ocupados, como escor- ravinas de baixa intensidade. Entretanto, com
regamentos induzidos, em geral planares, além ocupação inadequada, podem ocorrer escorre-
de queda e rolamento de blocos. Entretanto, em gamentos de forma localizada.

3.1.1.4 | Relevo de planícies


áreas de declividades extremamente acentuadas
com cobertura vegetal natural, escorregamentos
naturais podem também ocorrer por ocasião de Por fim, as planícies fluviais, que corres-
chuvas excepcionais. pondem aos terrenos baixos e planos, junto às
3.1.1.2 | Relevos de morrotes margens dos rios, sujeitos periodicamente a
inundações, são constituídas por sedimentos
O relevo de morrotes, de ondulado a for- quaternários. Caracterizam-se por escoamento
te ondulado, predomina na região das represas difuso e lento, e são suscetíveis aos processos de
Billings e Guarapiranga, estendendo-se para enchente, inundação e assoreamento, além de
sudoeste (Figura 1). Apresenta declividades sofrerem com o solapamento de margem fluvial.

3.1.2 | Os terrenos da Serra do Mar:


médias a altas, de 15% a 30% e amplitudes locais
inferiores a 100 m. Possuem topos arredondados
e vertentes com perfis convexos a retilíneos. a RBCV-Escarpa
A drenagem é de alta densidade, os vales
são fechados a abertos, e estão associados às Na Serra do Mar, destaca-se o relevo de
mesmas rochas cristalinas das áreas de relevo escarpas, de montanhoso a escarpado, que cons-
de morros e montanhas (Figura 2) e aos solos titui uma transição do Planalto para a Baixada.
do tipo Latossolos e Cambissolos (Figura 3). É o relevo de maior energia da RBCV, com pre-
Nesse compartimento, tanto o escoamento dominância de amplitudes da ordem de 300 m,
difuso quanto o concentrado se manifestam de podendo atingir 400 m, onde se encontram
forma menos acelerada que nos morros, favore- declividades acima de 30%, podendo chegar a
cendo mais processos de erosão laminar intensa mais de 60%.
252 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

O relevo de escarpas apresenta encos- leste nos municípios de Arujá, Guararema, Igara-
tas bastante entalhadas, cabeceiras de dre- tá, Jacareí, Santa Branca e Santa Isabel, ao norte
nagens e grotas profundas, topos angulosos, na região de Bragança Paulista e Atibaia, e, a oes-
vertentes retilíneas e vales fechados, topos te, nos municípios de Alumínio, Araçariguama,
estreitos e alongados, vales fechados e abruptos Cabreúva, Mairinque e São Roque.
(PONÇANO et al., 1981). Esse relevo é sustenta- Considerando que as direções predomi-
do por granitoides, gnaisses e migmatitos, onde nantes dos ventos sejam dos quadrantes sul e
se desenvolvem predominantemente, solos sudeste, destaca-se a importância do cinturão
rasos como cambissolos e neossolos litólicos. verde da vegetação natural que se encontra
Neste compartimento, o escoamento paralela ao litoral e a sudeste da RBCV, exercen-
superficial se dá de forma concentrada e tor- do certa proteção da Região Metropolitana de
rencial e sua conjugação com a declividade dos São Paulo (RMSP).
terrenos promove o desenvolvimento intenso Verifica-se estreita relação entre as diver-
de erosão laminar e linear, na forma de sulcos sas formas de uso do solo e o relevo da região
e ravinas, alta ocorrência de escorregamentos, planáltica da RBCV, ou seja, a vegetação natural
quedas de blocos e processos correlatos, mesmo predomina em terrenos de altas declividades
em áreas não ocupadas. Eventualmente ocorrem de escarpas, montanhas e morros, enquanto
corridas de massa.
que o uso urbano, destacado pela grande man-

3.1.3 | Os terrenos da RBCV-Baixada


cha da RMSP, expande-se a partir dos terrenos
mais suaves de colinas na bacia sedimentar de
São Paulo, marcada pelos rios Tietê e Pinheiros.
A Baixada Litorânea, formada por proces-
Finalmente, o uso agrícola se encontra no entor-
sos de sedimentação flúvio-marinha recente,
no, em regiões de morros.
apresenta planícies, terraços marinhos e morros
Na Baixada Litorânea, as grandes manchas
isolados. Os terrenos das planícies e terraços,
urbanas estabeleceram-se principalmente, pela
planos, são quaternários, provenientes dos pro-
instalação do Porto de Santos e serviços portuá-
cessos de movimentos de massa ocorridos nas
rios do polo industrial de Cubatão, e pelo turis-
escarpas da Serra do Mar intercalados a sedi-
mo ao longo das praias. Nas escarpas, em grande
mentos marinhos. Os solos mais frequentes nas
parte cobertas pela vegetação natural de flores-
planícies são os espodossolos. Nos morros isola-
ta ombrófila densa da Mata Atlântica, o uso do
dos, com relevo forte ondulado, os terrenos são
solo corresponde às obras viárias de transposi-
cristalinos, granitoides, gnaisses e migmatitos,
ção da Serra do Mar, e aos assentamentos precá-
onde se desenvolvem predominantemente os
rios e irregulares dos bairros Cota ao longo das
cambissolos.
rodovias. Tais assentamentos estão atualmente

3.2 | Condicionantes do meio


sendo desconstruídos por programa da Subse-

antrópico: o uso do solo da RBCV


cretaria de Estado do Meio Ambiente.
A Figura 5 apresenta a evolução da ocupa-
ção desde a situação primitiva revelando duas
A Figura 4 apresenta os diferentes tipos frentes de desmatamento: uma referente à área
de uso que ocorrem na RBCV, englobando três urbana (RMSP) e outra às áreas agrícolas e eixos
categorias básicas, (1) vegetação natural, (2) viários principais desenvolvidos a partir da
uso agrícola, (3) uso urbano e outros usos, con- década de 1920, destacando-se hoje o eixo São
forme legenda. Paulo-Campinas, com as rodovias Bandeirantes
Destacam-se, na RBCV, as manchas urbanas, e Anhanguera. A frente de desmatamento apre-
especialmente a da RMSP, Eixo São Paulo-Campi- senta uma aceleração a partir de 1952, conse-
nas e Baixada Santista. As florestas em seus diver- quente ao processo de industrialização e urba-
sos estágios de desenvolvimento, concentram-se nização da RMSP.
nas escarpas da Serra do Mar e da Serra de Para- Nesse processo de evolução, depreende-
napiacaba, na região sudoeste, abrangendo os -se que o zoneamento da RBCV é transitório,
municípios de Cotia, Itapecerica da Serra e São permanecendo intocadas somente as áreas
Lourenço da Serra. O uso agrícola predomina a núcleo, correspondentes às Unidades de
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 253

Figura 4 |
Uso e ocupação do
solo na RBCV.
Fonte: Adaptado de
Kronka et al. (2005;
2007); EMPLASA
(2005); MMA (2005).

Conservação de Proteção Integral, enquanto desordenado que começou a desacelerar na


as áreas urbanas se expandem com perdas das década de 1980. Entre 2000 e 2010, ainda que
áreas de transição e cooperação, e das zonas de o crescimento registrado tenha sido de 0,97%
amortecimento e conectividade. ao ano, a RMSP registrou um acréscimo abso-
Desta forma, os ecossistemas naturais luto de mais de 2,4 milhões de habitantes com
estão sendo transformados pelo uso do solo efeito direto nas políticas de serviços públicos,
em ecossistemas antrópicos. Os ecossistemas de infraestrutura e habitacionais (EMPLASA,
naturais, não diretamente eliminados pelo uso 2019). Em um território que atinge cerca de
do solo, acabam também por sofrer impactos 1.500 km2 de área urbanizada, do qual cerca
negativos, especialmente pelo assoreamento de 92% situa-se dentro da bacia do rio Tietê, a
que atinge várzeas, manguezais, estuários e população passou a 21 milhões de habitantes,
zonas costeiras. que corresponde a 47% da população do esta-
A RMSP, com 39 municípios e uma área do de São Paulo (EMPLASA, 2019).
total de aproximadamente 8 mil km2, passou Atualmente, a RMSP conta com uma popu-
por um processo de crescimento intenso e lação de 21,73 milhões de habitantes (IBGE,
254 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 5 |
Evolução da
cobertura vegetal
natural para a RBCV.
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em Victor (1975).
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 255

2019). O resultado é que a mancha urbana A expansão periférica das áreas urbanas,
alcançou áreas onde predominam os terrenos por vezes sem bases legais, em terrenos cada vez
cristalinos, com declividades mais acentuadas menos favoráveis, sobre áreas de relevo intenso,
e solos rasos suscetíveis ao processo erosivo como morros e alta densidade de drenagem,
e, dependendo da forma de uso do solo, onde vem provocando alterações significativas da
ocorre manifestação intensa de erosão, capaz topografia e gerando aterros frágeis, suscetí-
de proporcionar elevadas taxas de produção veis à erosão e aos escorregamentos (Figura 6).
de sedimentos, segundo Campagnoli (2002). Nesse processo, não só são perdidos os serviços
Esse autor mostra que os sedimentos produzi- ecossistêmicos da cobertura vegetal, como são
dos nas microbacias localizadas no entorno da geradas áreas de riscos geotécnicos.
RMSP tendem a desembocar em rios de maior Portanto, a degradação ambiental das áreas
porte, como o Cabuçu de Cima, em Guarulhos, assim ocupadas soma dois ônus: a perda dos
possibilitando a liberação de sedimentos e o serviços, os prejuízos econômicos e danos
assoreamento dos principais rios da RMSP, sociais decorrentes dos processos geohidrológi-
como o Tietê. cos que se manifestam intensamente. A Figura 7,

Figura 6 |
Ocupação do morro do
Jabaquara em Santos.
Fonte: Arquivo
do IPT (2005).

Figura 7 |
Degradação
dos serviços
ecossistêmicos pela
ocupação irregular do
loteamento do Novo
Recreio na periferia
de Guarulhos,
e manifestação
de erosões e
escorregamentos.
Fonte: A.M.S. Oliveira
(nov. 2007).
256 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

na periferia de Guarulhos, apresenta esse qua- potencializados pelo uso do solo. Nas condições
dro de degradação ambiental que associa a per- do meio antrópico em franco processo de ocu-
da dos serviços ecossistêmicos às erosões e aos pação, além dos processos induzidos adquiri-
escorregamentos. rem magnitudes e frequências muito superiores

3.3 | Os processos geohidrológicos


aos naturais, podem ser completamente novos,

na RBCV
como, por exemplo, aqueles que se manifes-
tam em áreas terraplenadas, especialmente em
aterros.
O relevo, dentre os fatores naturais dos terre- Tendo em vista o peso da declividade no
nos da RBCV, constitui o principal condicionante fator relevo, a Figura 8 apresenta a distribui-
da manifestação dos processos geohidro- ção das classes de declividade criteriosamente
lógicos. Esses processos, pouco intensos e pou- selecionadas pelo potencial de manifestação dos
co frequentes nas áreas naturais, exceto quan- processos geohidrológicos de encosta, conforme
do deflagrados por chuvas excepcionais, são apresentado no Quadro 2.

Figura 8 |
Distribuição
de classes de
declividades dos
terrenos da RBCV.
Fonte: elaboração
própria.
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 257

Relevo e classes
Comportamento Processos dominantes em áreas
de declividades
hídrico de solo exposto
correspondentes

Encharcamento, assoreamento, inundação ou


Plano
Escoamento difuso enchente (do regime fluvial) e alagamento
0 a 3 % (< 1°)
muito lento a lento. (independente do regime fluvial). Solapamento
Relevo de planícies
de margem de cursos d’água.
Escoamento difuso
lento a moderado,
Suave ondulado a ondulado eventualmente rápido. Erosão laminar de baixa a média intensidade.
3 a 15% (1° a 7°) Pode ocorrer Erosão linear em sulcos e eventualmente ravinas e
Relevo de colinas escoamento rastejos nas vertentes mais acentuadas. Quadro 2 |
concentrado. Relevo, seu
Escoamento difuso domínio de declive,
Ondulado a forte ondulado Erosão laminar e linear muito intensas. comportamento
rápido.
15 a 30 % (7° a 14°) Escorregamentos planares frequentes. hídrico decorrente
Escoamento
Relevo de morrotes Quedas e rolamentos de blocos. e processos
concentrado rápido.
dominantes em áreas
Montanhoso a escarpado Escoamento Erosão laminar e linear, muito intensas.
desmatadas.
> 60% (> 27°) concentrado Escorregamentos intensos e frequentes.
Fonte: elaboração
Relevo de montanhas e escarpas torrencial. Quedas e rolamentos de blocos.
própria.

3.3.1 | Erosão como a erosividade das chuvas, a erodibilidade


dos solos e a declividade dos terrenos, é funda-
Dentre os processos geohidrológicos atuan- mentalmente determinada pela ação do homem,
tes na área da RBCV, a erosão é um dos mais manifestando-se sobretudo em áreas intensa-
intensos e recorrentes. Uma de suas principais mente terraplenadas, especialmente nos ater-
consequências é a contribuição de sedimentos ros, como mostra a Figura 9.
para os cursos d’água que assoreiam rios e reser- Segundo o IPT (1992), a erosão associada
vatórios de abastecimento, potencializando, aos processos de uso urbano do solo na Bacia do
quando ocorrem fortes chuvas, enchentes e Alto Tietê, que está totalmente inserida na área
inundações. Esse quadro resulta de uma série da RBCV, é a que realmente tem capacidade para
de intervenções sem planejamento adequado, de produzir sedimentos em grande quantidade.
políticas habitacionais ineficientes, entre outros Com o processo de ocupação, cada vez
fatores relativos à gestão pública. mais os solos são expostos à erosão pela
Destacam-se como municípios que mais movimentação de terra com o processo de
sofrem com esse problema aqueles situados na construção das edificações. Ao longo do siste-
periferia da RMSP, por possuírem as áreas de ocu- ma viário, a erosão tende a se acelerar devi-
pação mais recentes, onde se processam as trans- do ao aumento do escoamento superficial
formações do uso do solo rural em urbano. Essas determinado pelo crescimento progressivo
são agravadas pelo fato de vários desses municí- da impermeabilização do solo, produzido
pios fazerem parte de áreas de mananciais, que pela ocupação dos lotes. Além do leito viário,
têm uma política de restrição à ocupação que não também sofrem erosão os taludes de corte
é respeitada pela pressão da expansão urbana. e os corpos de aterro adjacentes executados
Acrescenta-se a esse cenário as caracte- para a própria instalação do sistema viário e
rísticas do meio físico, onde as áreas periféricas das edificações em áreas de relevo acentuado.
correspondem aos terrenos mais suscetíveis aos Quando o estágio de ocupação atinge uma
processos erosivos e, portanto, menos favorá- densidade relativamente alta, e inicia-se a consoli-
veis à ocupação. Nesse sentido, configura-se um dação do parcelamento, com a instalação progres-
quadro crítico quanto à degradação dessas áreas, siva de pavimentação, do sistema de drenagem
que necessitam de recursos vultosos para sua de águas pluviais ao longo do sistema viário, reti-
recuperação. ficação ou canalização dos córregos e outros itens
A erosão acelerada, embora condiciona- de infraestrutura urbana, a presença de solos
da pelas características naturais do meio físico, expostos tende a diminuir e até desaparecer.
258 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 9 |
Intensos processos
erosivos nos
aterros de área
terraplenada para
loteamento em
São Paulo.
Fonte: Arquivo
do IPT (2004).

A contribuição ao assoreamento provém, municípios, situados no extremo leste da


nesse estágio, quase que exclusivamente das RMSP, ou seja, nas cabeceiras do rio Tietê,
alterações urbanas, como as reformas, as edifi- ainda não foram totalmente afetados pelo
cações e escavações para fundação ou implanta- processo de expansão urbana acelerada. No
ção de infraestrutura subterrânea, como água, município de Salesópolis as feições erosivas,
esgoto, metrô, etc. caracterizando superfícies com solo em expo-
A gravidade do processo erosivo decorre, sição, concentram-se em área de morros altos.
contudo, tanto em consequência da extensão No município de Biritiba Mirim, as feições
da intervenção humana como da suscetibili- erosivas estão presentes nas áreas urbanas
dade natural do terreno. Os solos de alteração e de expansão, que correspondem às áreas de
são mais erodíveis do que os solos superficiais transição entre as planícies fluviais e os morros
e, dentre eles, os solos resultantes da alteração baixos. Em direção à jusante, passando pelo
de rochas cristalinas são, em sua maioria, mais município de Mogi das Cruzes, as feições erosivas
frágeis à ação da erosão quando comparados aos aumentam e estão, na sua maior parte, associa-
de sedimentos terciários. das às áreas urbana e periurbana do município,
IPT (1993) apresentou uma caracterização localizadas em terrenos de morros baixos e pla-
da situação dos processos erosivos na área da nícies aluviais. Os processos erosivos estão asso-
Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, onde se desta- ciados às áreas de solo exposto, movimentos de
cam alguns aspectos expostos a seguir. terra, áreas urbanas sem infraestrutura e áreas

3.3.1.1 | Municípios da sub-bacia Tietê –


com atividades de mineração. O mesmo ocorre

Cabeceiras (Salesópolis, Biritiba Mirim,


com os municípios de Suzano, Poá, Ferraz de
Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Arujá, que,
Mogi das Cruzes, Suzano, Ferraz de apesar de apresentarem menor índice de fei-
Vasconcelos, Poá, Itaquaquecetuba, ções erosivas, essas se manifestam nas áreas
Arujá e Guarulhos)
de expansão urbana, predominantemen-
te em terrenos de morros baixos. O muni-
Salesópolis e Biritiba Mirim não apre- cípio de Guarulhos apresenta o maior índi-
sentam feições erosivas significativas. Esses ce de ocorrência de processos erosivos, em
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 259

geral associadas às áreas de morrotes e à ocupação, mas que, de fato, são caracteriza-
morros, decorrentes principalmente do proces- das por loteamentos sem infraestrutura, tor-
so de expansão urbana e da ausência de infraes- nando-se áreas potenciais quanto à produção
trutura na grande maioria dos loteamentos de sedimentos. Poucas feições erosivas foram
recentes. encontradas no município de Rio Grande da Ser-
ra, que ainda apresenta extensas áreas que são
3.3.1.2 | Municípios da sub-bacia recobertas por cobertura vegetal. No município
Juqueri – Cantareira (Cajamar,
de Ribeirão Pires e Mauá, as feições erosivas se

Francisco Morato, Franco da Rocha,


desenvolvem em terrenos de morrotes e morros

Caieiras e Mairiporã)
baixos. Em Mauá, as feições erosivas estão asso-
ciadas à falta de infraestrutura da área urbana.
No município de Cajamar, predominam Grande parte da população ocupa áreas de risco,
áreas com solo exposto associadas a terrenos de caracterizadas por assentamentos urbanos pre-
morrotes e morros baixos. Em Franco da Rocha, cários. No município de Santo André ocorrem,
as feições erosivas significativas se distribuem predominantemente nos terrenos de morrotes
pelos terrenos de colinas e morros baixos. Tam- e morros baixos, áreas de solo exposto e movi-
bém foram identificados trechos importantes dos mentação de terra. Em São Bernardo do Cam-
cursos d’água com depósitos de assoreamento, po, as principais áreas produtoras de sedimen-
correspondentes às planícies aluviais. As feições tos estão localizadas nos terrenos de morrotes
erosivas no município de Caieiras estão distribuí- e morros baixos, que correspondem às áreas
das nos diversos compartimentos do terreno, que de expansão urbana do município. Nos envol-
correspondem aos morrotes, aos morros baixos, tórios da Represa Billings foram identificados
e se concentram nas unidades de terrenos de diversos trechos de depósito de assoreamento,
morros altos, serras e escarpas, áreas passíveis evidenciando o impacto nesse importante
de ocupação com sérias restrições, e áreas impró- manancial de abastecimento.

3.3.1.4 | Municípios da sub-bacia


prias, respectivamente. Em Mairiporã, as feições

Cotia – Guarapiranga (Juquitiba,


erosivas presentes em áreas de solo exposto,
área de mineração e área urbana sem infraestru-
tura predominam no compartimento de morros Embu-Guaçu, São Lourenço da Serra,
baixos. Nesse setor, o reservatório Paiva Castro
Itapecerica da Serra, Cotia, Embu e
Taboão da Serra)
é a principal fonte de abastecimento de água da
região. Com a pressão da expansão urbana e a
ausência ou deficiência no sistema de infraestru- A maior parte desses municípios apresenta
tura, nota-se um número expressivo de áreas de áreas com restrições à ocupação. As intervenções
produção de sedimentos. O material transporta- antrópicas estão em sua maioria associadas
do pelos cursos d’água atinge o reservatório pro- às áreas de expansão urbana, desprovidas de
vocando o assoreamento e reduzindo a capacida- planejamento e infraestrutura. Os impactos
de de abastecimento do mesmo, comprometendo recaem, sobretudo, sobre as áreas de proteção
os benefícios do serviço ecossistêmico de provi- aos mananciais dos reservatórios da Guarapiran-
são de água da RBCV. ga e Alto Cotia. Nos municípios de Embu-Guaçu

3.3.1.3 | Municípios da sub-bacia


e Itapecerica da Serra, foram identificadas áreas
caracterizadas por superfícies com solo expos-
Billings - Tamanduateí (Rio Grande da to, favorecendo o desenvolvimento de processos
Serra, Ribeirão Pires, Mauá, Santo erosivos e contribuindo para a produção de sedi-
André, São Bernardo do Campo,
mentos, além também de ocorrência de áreas de

Diadema e São Caetano do Sul)


mineração. No município de Cotia, há diversas
áreas urbanas sem infraestrutura, caracterizando
Grande parte das intervenções antrópicas situações de alta suscetibilidade aos processos
que ocorrem nesses municípios estão situadas erosivos, e consideradas críticas quanto à produ-
próximas ao manancial da represa Billings. Ocor- ção de sedimentos. O resultado pode ser observa-
rem principalmente em áreas com restrições do pelo assoreamento dos canais fluviais.
260 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

3.3.1.5 | Municípios da sub-bacia


Pinheiros – Pirapora (Osasco,
intervenções antrópicas e feições erosivas iden-
tificadas predominam nas periferias do muni-
Carapicuíba, Barueri, Jandira, Itapevi, cípio, limitando-se com os municípios vizinhos
Santana do Parnaíba e Pirapora nas direções sul, leste, norte e oeste.
do Bom Jesus)
3.3.2 | Escorregamentos
Nessa sub-bacia, destacam-se os municí-
pios de Itapevi, Santana do Parnaíba e Pirapo- Os escorregamentos são processos geohi-
ra do Bom Jesus, por apresentarem as maiores drológicos que se apresentam com grande seve-
concentrações de ocorrências de processos ridade na RBCV porque muitas vezes ocasionam
erosivos. Além do impacto proporcionado pela perdas de vidas humanas, além de danos patri-
produção de sedimentos, a poluição do rio Tietê moniais públicos e privados e à infraestrutura
é um grave problema que afeta diretamente os urbana (Figura 10). A recorrência desse cenário
dois últimos municípios. tem levado o poder público a estabelecer polí-
ticas voltadas ao gerenciamento do risco geo-
3.3.1.6 | Municípios da sub-bacia Penha técnico, que envolve o mapeamento das áreas
– Pinheiros (São Paulo) de risco, a elaboração de planos municipais de
redução de riscos, considerando alternativas de
A sub-bacia se localiza na região central intervenções estruturais (obras de estabilidade,
da Bacia do Alto Tietê, faz parte de todos os controle e remoção de moradias) e não-estrutu-
subcomitês, envolvendo quase todo o municí- rais (planos de monitoramento e atendimento
pio de São Paulo. Observa-se que, a maioria das emergencial).

Figura 10 |
Escorregamento em
Francisco Morato.
Fonte: Arquivo do
IPT (mar. 2005).
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 261

No território brasileiro, Ab’ Saber (1966) A vulnerabilidade na avaliação de ris-


destaca a região de Domínio de Mares de Morros, co corresponde à maior ou menor resistência
que inclui serras e escarpas, como a mais sujeita da ocupação aos impactos dos escorregamen-
aos fortes processos de movimentos coletivos de tos, portanto, correspondente às condições
solos. Esses movimentos são deflagrados pela socioeconômicas dessa ocupação.
ação das chuvas intensas e contínuas, em geral O dano refere-se à quantidade de pessoas,
provocadas por frentes frias estacionárias na aos bens e às propriedades envolvidos no qua-
Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), dro de risco.
durante os meses de verão (dezembro a março). Na RBCV, os casos mais comuns de escor-
Na RBCV, essas condições são potencializadas regamentos, expressam-se na forma de fluxo
pelas ocupações inadequadas feitas por mora- de detritos em aterros lançados nas encostas,
dias precárias, de baixo padrão construtivo. muitas vezes com a presença de resíduos sólidos
É possível constatar que o desenvolvimen- (lixo) e entulho. Também se observam quedas de
to socioeconômico na RBCV vem acompanhado blocos e escorregamentos em taludes de corte no
de uma urbanização de risco condicionada por contato solo/rocha, em geral do tipo planar, com
um processo de exclusão territorial devido à volumes variados, sendo mais raros os casos de
especulação imobiliária, gerando um mercado escorregamentos rotacionais e os em cunha.
de moradia pobre, periférico e disperso, voltado Não é difícil observar na RBCV numerosas
para áreas com características ambientais mais situações que envolvem bolsões de pobreza em
frágeis, perigosas e difíceis de habitar, como espaços com ocupação muito densa, reunindo
é o caso das encostas íngremes dos morros elevada vulnerabilidade e a possibilidade de
(ROLNIK; CYMBALISTA, 1997). muitos danos.
Conceitualmente, o risco geotécnico de No estado de São Paulo, embora existam
escorregamentos pode ser entendido como resul- registros de escorregamentos, esses não estão
tado de um conjunto de fatores que podem ser adequadamente sistematizados, de forma a
analisados em uma equação empírica geral que retratar a extensão dos problemas e de suas con-
relaciona o risco com o produto entre o perigo, a sequências, para um gerenciamento mais efetivo
vulnerabilidade e o dano (TOMINAGA, 2009). das áreas de risco (BROLLO; FERREIRA, 2009).
O perigo de escorregamentos é representado No entanto, em 2010 a então Secreta-
pela associação de dois fatores: a suscetibilidade ria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo
natural e o potencial de indução. Os atributos que apresentou uma análise das áreas de risco dos
determinam as condições de suscetibilidade natu- municípios por Unidades de Gerenciamento
ral estão relacionados ao relevo, ao substrato geo- de Recursos Hídricos do estado de São Paulo
lógico, ao solo e ao clima. Já o potencial de indução (UGRHI).
refere-se à forma como se dá a ocupação do solo. A UGRHI do Alto Tietê é a única que está
Portanto, as características físicas natu- totalmente incluída na RBCV. Com relação à
rais do meio são fatores determinantes para a UGRHI da Baixada Santista, apenas o município
ocorrência dos escorregamentos, especialmen- de Peruíbe não está totalmente no território da
te porque a hidrodinâmica e a estabilidade das RBCV. A RBCV também inclui parte das UGRHI
encostas são decorrentes das chuvas e da topo- Paraíba do Sul; Piracicaba-Jundiaí-Capivari; e
grafia do terreno, resultante da interação dos Ribeira de Iguape–Litoral Sul, porém, em peque-
materiais que caracterizam o substrato rochoso na proporção.
e das características do solo. No Alto Tietê, os municípios que podem
O potencial de indução é dado pela ocupa- ser considerados mais críticos são os de São
ção do solo caracterizada como agente efetivo Paulo, Guarulhos, Mairiporã, Caieiras, Franco da
no desencadeamento dos escorregamentos. Esse Rocha, Francisco Morato, Ferraz de Vasconce-
potencial é avaliado em função da densidade de los, Guararema, São Bernardo do Campo, Santo
ocupação, do seu padrão construtivo, do seu está- André, Mauá, Diadema, Ribeirão Pires, Rio Gran-
gio de consolidação e do ordenamento urbano. de da Serra, Embu Guaçu, Juquitiba, Santana do
262 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Parnaíba, Osasco, Carapicuíba, Barueri, Itapevi, nas áreas de expansão das cidades da RMSP,
Jandira, Taboão da Serra, Embu, Itapecerica da especialmente nas periferias, onde ocorre a
Serra e Cotia (NOBRE et al, 2010). transformação das condições ambientais rurais
Na Baixada Santista, os municípios que em urbanas.
podem ser considerados mais comprometidos Santos; Nakazawa (1992) relatam que,
são Santos, São Vicente, Guarujá e Cubatão. a princípio, a ocupação ficou restrita a terre-
Portanto, pode-se concluir que a conserva- nos sedimentares de topografia suave e de
ção da vegetação natural com a manutenção dos características geológico-geotécnicas favoráveis
serviços ecossistêmicos nas encostas dos mor- à ocupação urbana. Com o crescimento acele-
ros é de grande importância na estabilização rado e desordenado, outras áreas vêm sendo
dos processos de escorregamentos responsáveis ocupadas, por vezes sem critérios específi-
por prejuízos tão graves para a região. A ocupa- cos, em terrenos de rocha cristalina de relevo
ção de áreas de morros depende de processos mais energético e com solos de alteração mais
rigorosos de planejamento e gestão pela socie- vulneráveis à erosão. Como resultado desses
dade, com soluções que passam tanto por polí- processos, as taxas de erosão e produção de
ticas habitacionais voltadas a essa problemática, sedimentos aumentam à medida que novas
quanto por padrões e estímulos diferenciados áreas estão sendo ocupadas.
de uso para essas áreas. As áreas de periferia da RMSP estão em
locais mais elevados, correspondentes às nascen-
3.3.3 | Assoreamento tes dos diversos cursos d’água da bacia do Alto
Tietê, cujas águas se dirigem para as calhas dos
Os sedimentos que provocam o assorea- rios Tietê e Pinheiros, pela rede de drenagem que
mento dos corpos d’água são produzidos por pro- atravessa os bairros mais consolidados da RMSP
cessos erosivos que se manifestam, sobretudo, (Figura 11). Assim, a erosão, que se manifesta

Figura 11 |
Córrego Taquara
do Reino, afluente
do rio Baquirivu –
Guaçu da bacia do
Alto Tietê, assoreado
com sedimentos e
resíduos, devido à
ocupação urbana na
periferia
de Guarulhos,
apresentada na
Figura 7.
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 263

em tais terrenos, especialmente pela ocupação cúbicos de sedimento por ano. Somente a bacia
inadequada, produz os sedimentos que também do rio Tietê, com cerca de 800 km2, apresenta,
se deslocam na mesma direção, aproveitando segundo Ramos (2002), taxas de assoreamento
as canalizações dos cursos d’água que exercem entre 1.150.000 e 1.480.000 m3/ano, valor que
a transferência dos sedimentos com a mais alta tem a mesma ordem de grandeza dos valores de
eficiência. Junto a esses sedimentos também são desassoreamento praticados nesse rio de 1976
encontrados detritos diversos, provenientes da a 1989, de 1.100.000 m3/ano. Quanto à compo-
disposição inadequada dos resíduos sólidos. sição dos sedimentos, o mesmo autor e Santos
Nos rios Tietê e Pinheiros, os sedimentos (2002) relatam que, no rio Tietê, foi verifica-
e os detritos que assoreiam a sua calha, redu- do que 5% do material é constituído por lixo
zem a eficiência das obras de engenharia da das mais diferentes formas. O restante, 95%, é
sua ampliação, bem como dos serviços de dra- constituído por sedimentos, sendo 50% areia
gagem, concorrendo para a intensificação das fina, 45% areia média, 4% areia grossa e 1%
enchentes. Adicionalmente, os sedimentos tam- silte-argila. Esses sedimentos corresponderiam
bém atingem os reservatórios que vêm sofrendo não só a partículas de solos e rochas dos terre-
forte redução de sua capacidade de armazena- nos naturais das bacias, mas agregam restos de
mento, interferindo no potencial de abasteci- matérias de construção alóctones provenientes
mento de água para a RMSP. de bacias em processo de ocupação.
Na RMSP, o processo assume, às vezes, Entretanto, segundo Santos et al. (2001
proporções catastróficas, com inundações de apud MAIA, 2006), a porcentagem dos sedimen-
bairros, ruas e avenidas, por transbordamento tos que atingem e efetivamente são transporta-
de canais de córregos e mesmo dos rios Tietê e dos pelos rios é geralmente pequena em relação
Pinheiros. Tendo em vista o papel do assorea- ao produzido pela erosão nas bacias. Essa por-
mento na potencialização de tais fenômenos, centagem depende da área de drenagem e de
diversos estudos tratam dessa questão, desta- outras características fisiográficas das bacias.
cando-se os do Instituto de Pesquisas Tecnoló- Campagnoli (2002), Moretti (2001) e Rossini
gicas (IPT) e do Centro Tecnológico de Hidráu- (2005) destacam que faltam medidas de taxas ou
lica (CTH) (IPT, 1993; NAKAZAWA et al., 1994; volumes de sedimentos produzidos pelas peque-
NAKAZAWA; HELOU, 1993; RAMOS, 2002). nas bacias hidrográficas, pois, em geral, não exis-
Rossini (2005) destaca que, de acordo com tem, para este porte de bacia, dados de vazões
o IPT e o Departamento de Águas e Energia Elé- médias mensais e transporte de sedimentos, de
trica do estado de São Paulo (DAEE), chegaram fundo ou em suspensão. Entretanto, o estudo de
a ser retirados da rede hidrográfica natural e Souza (2007) apresenta uma medida realizada
construída (calhas da bacia hidrográfica do Alto com base nos depósitos presentes no fundo do
Tietê, canais, reservatórios, rede urbana de dre- vale de uma pequena bacia hidrográfica, confor-
nagem da RMSP) cerca de 5 milhões de metros me apresentado no Quadro 3.
264 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

A microbacia do Pau d’Alho, afluente do do que sucede com frequência nas áreas de
rio Cabuçu de Cima da bacia do rio Tietê, na expansão urbana na RBCV. A foto aérea registra
periferia urbana de Guarulhos, constitui um caso a área terraplenada sujeita aos processos
que apresenta, de forma notável, os processos erosivos nas cabeceiras e o assoreamento
de erosão e escorregamentos deflagrados pela correspondente no fundo do vale do córrego
ocupação inadequada de um grande loteamento do Pau d’Alho, com perda de várias edificações
regular, Parque Continental, e de uma ocupação como ilustra a foto a seguir.
clandestina, Vila Operária, como um exemplo Por meio de pesquisa dos depósitos de
assoreamento, tecnogênicos, que
se formaram no fundo do vale, foram
reconhecidas duas fases de uso do
solo, rural e urbana. Na fase rural a
produção específica de sedimento
foi estimada em 120 m3.km-2.ano-1;
na fase urbana foi cerca de 20
vezes superior, atingindo 2.320
m3.km-2.ano-1, implicando em uma
produção bruta de sedimentos
de quase 30.000 m3. A relação
de liberação de sedimentos reve-
lou-se muito elevada (81%), indican-
do uma grande eficiência de trans-
ferência de sedimentos da micro-
bacia, que se depositaram na foz
no rio Cabuçu de Cima, formando
extenso depósito que constitui
área fonte de sedimentos para
a calha do rio Tietê. Assim o rio
Tietê vai sofrendo assoreamento
como efeito da erosão provocada
pelos loteamentos inadequados na
periferia da metrópole.
Figura 12 |
Foto aérea de 1986 mostra a área
sendo terraplenada para loteamento
na cabeceira do córrego Pau d’Alho,
região do Cabuçu em Guarulhos.
Fonte: Souza (2007).

Quadro 3 | Figura 13 |
Estudo de Caso: Assoreamento do fundo do vale do
A microbacia córrego do Pau d’Alho com perda de
do Pau d'Alho, edificações.
Guarulhos, SP. Fonte: A.M.S. Oliveira (2006).
Fonte: Souza (2007).
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 265

3.3.4 | Inundações considerados nos setores geomorfológicos onde


se manifestam, seja nas encostas ou vertentes,
As causas das inundações se devem a como é o caso das erosões e dos escorregamen-
fatores cumulativos que somam ao efeito das tos, seja nos fundos de vales, correspondentes
ocupações de cabeceiras de drenagens nas aos assoreamentos, aos solapamentos ou ero-
áreas de morros, passam pela intensa imper- sões fluviais, e às inundações. Há uma forte rela-
meabilização do solo nas bacias, pela obsoles- ção entre os processos de vertentes e de fundos
cência do sistema de drenagem, por erosão de vale que estão à jusante daqueles, pois as
intensa e assoreamento, entre outros fatores. erosões e escorregamentos produzem sedimen-
Assim, as alterações no uso do solo na zona de tos que, ao se depositarem nos fundos dos vales,
amortecimento da RBCV contribuem signifi- promovem o assoreamento e intensificam os
cativamente para as inundações no centro da processos de solapamento e inundação.
área urbana. Portanto, os ônus dos processos geohidro-
Segundo o DAEE, as sub-bacias mais críti- lógicos, para serem contabilizados de forma
cas na metrópole paulistana que estão sob aten- adequada, devem ser considerados por bacia
ção são: rio Aricanduva; rio Baquirivu-guaçu; hidrográfica, sendo apropriado para analisá-los,
rio Pirajussara; ribeirão Vermelho; ribeirão dos o sistema das UGRHI, definidas conforme Polí-
Meninos; ribeirão dos Couros; e córrego do Ora- tica Estadual dos Recursos Hídricos. Deve-se
tório, além da própria calha do rio Tietê e do ainda considerar que todos esses processos
Pinheiros (Figura 14). acabam por interferir, quando se situam em

3.4 | Ônus dos processos


bacias que deságuam no Oceano Atlântico,

geohidrológicos na RBCV
nos processos costeiros de erosão e sedimen-
tação, destacando-se no ambiente costeiro
da RBCV, os impactos nas áreas de mangue,
Os ônus, prejuízos ou danos, causados no estuário de Santos – São Vicente, trazendo
pelos processos geohidrológicos, podem ser prejuízos econômicos para o Porto de Santos.

Figura 14 |
Inundação das margens
do rio Pinheiros.
Fonte: Arquivo do IPT
(2005).
266 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Os acidentes cadastrados pela Defesa Civil Esses números certamente se ampliam,


Estadual de 2000 a 2008, nos municípios da considerando a RBCV como um todo, tendo em
RBCV, destacam as inundações e os alagamen- vista a existência de diversos casos conhecidos
tos com 423 casos, seguidos de escorregamen- nos municípios da região.
tos com 176 casos e apenas 3 de erosão. Embo- Com relação aos dados de escorregamen-
ra os acidentes de erosão sejam em pequeno tos da Defesa Civil no período de 2000 a 2008,
número, não se pode esquecer que são elas que destacam-se os seguintes municípios acima de
produzem os sedimentos que potencializam as cinco ocorrências no período e seus respectivos
inundações. números: São Paulo (33 ocorrências); Guarujá
(15 ocorrências); Santos (8 ocorrências); Guaru-
3.4.1 | Ônus nas encostas
lhos, Santa Branca e São Vicente (7 ocorrências);
Jundiaí, Ribeirão Pires (6 ocorrências); Barueri,
Cubatão e Paraibuna (5 ocorrências).
Nas vertentes, os ônus correspondem às
Assim, é possível fazer uma estimativa
perdas de edificações, da infraestrutura urbana e
representativa para a RBCV, considerando os
mesmo de vidas humanas, em áreas de risco de
dados do Alto Tietê e da Baixada Santista (Figu-
escorregamentos e processos correlatos. Situa-
ra 15), que demonstra uma situação preocu-
ções inadequadas de ocupação urbana, em geral
pante, pois é verificado que no período de 2000
periférica, em quase todos os municípios da RBCV,
a 2008, a região concentrou cerca de 40% das
que ocorrem sobre paisagens de morros e monta-
ocorrências do estado de São Paulo.
nhas, apresentam histórico de problemas que se
Como a expansão urbana da RMSP está se
repetem anualmente, no período de chuvas.
dando na direção de sistemas de relevo menos
O município que apresenta um histórico de
favoráveis à ocupação, há uma forte probabilida-
cadastros de risco mais significativo é o de São
de de aumento do número de áreas de risco na
Paulo, onde, em 2003, foram relacionadas cerca
periferia, atingindo, segundo o zoneamento da
de 11.500 moradias em situação de risco alto a
RBCV, as Áreas de Transição e Cooperação, e, o
muito alto de escorregamento, distribuídas por
que é mais preocupante, as Zonas de Amorteci-
205 áreas de risco (SVMA; IPT, 2004). Em 2010,
mento e Conectividade a sul e a norte da RMSP.
em um novo levantamento, em elaboração pela

3.4.2 | Ônus nos fundos dos vales


Prefeitura de São Paulo e pelo Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas, foram mapeadas quase
500 áreas. No município de Guarulhos, foram Quanto às inundações e aos alagamentos,
identificadas, em 2004, 2.320 moradias em ris- a Defesa Civil Estadual, no período de 2000 a
co de escorregamentos e solapamentos, sendo, 2008, registrou, da mesma forma: São Paulo
somente de escorregamentos, 1.728 moradias (155 ocorrências); Guarulhos (29 ocorrên-
(GUARULHOS, 2004). cias); Osasco (25 ocorrências); Mogi das Cruzes

Figura 15 |
Comparação entre
o número de
acidentes de
escorregamentos
na RBCV e no estado
de São Paulo.
Fonte: Elaboração
própria.
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 267

4 | O SERVIÇO DE REGULAÇÃO
DO ESCOAMENTO DE ÁGUA E
(19 ocorrências); Santo André e São Bernardo
do Campo (13 ocorrências); Taboão da Serra

BEM-ESTAR HUMANO NA RBCV


(10 ocorrências); Barueri, Ribeirão Pires e São
Caetano do Sul (9 ocorrências); Atibaia (8 ocor-
rências); Mauá e São Vicente (7 ocorrências);
Diadema, Francisco Morato e Jacareí (6 ocorrên- O procedimento de elaboração do mapa
cias); Cajamar, Guarujá, Itaquaquecetuba, Parai- síntese do uso do solo (Figura 5) facilita a inter-
buna e Santos (5 ocorrências). pretação dos serviços ecossistêmicos que estes
As inundações, ao contrário dos escorre- usos podem oferecer.
gamentos, incidem em maior proporção no inte- Assim, a Figura 16, elaborada com
rior da mancha urbana, de ocupação mais antiga base no mapa da Figura 5, apresenta o mapa
e consolidada, coincidindo com as planícies flu- dos serviços ecossistêmicos, agrupando-os
de acordo com a maior ou a menor signifi-
viais dos principais rios, ribeirões e córregos. Os
cância desses serviços, conforme exposto a
prejuízos econômicos são vultosos, e o grande
seguir.
agravante à saúde pública resulta da contamina-
¡ Serviços ecossistêmicos ausentes a
ção com esgotos. Apenas o rio Tietê recebe em
pouco significativos: aterro sanitário,
média cerca de 700 toneladas por dia de esgoto.
equipamento urbano, favela, indústria,
As inundações em extensas áreas de pla-
área urbana, lixão, loteamento desocupa-
nície da RMSP, ocupada por residências, comér-
do, mineração, movimento de terra, solo
cios, indústrias, serviços e segmentos importan-
exposto, área não classificada e outros
tes da malha viária metropolitana, contabilizam
usos.
custos extremamente elevados aos patrimônios
¡ Serviços ecossistêmicos moderada-
público e privado.
mente significativos: agricultura, agro-
Custos para o desassoreamento e a preven-
pecuária, chácara, hortifrutigranjeiro,
ção das inundações no rio Tietê, de responsabili-
pecuária (pastagem).
dade do DAEE, totalizaram 27,2 milhões de reais
¡ Serviços ecossistêmicos significativos:
em 2009, para a retirada de um volume calculado
campo, reflorestamento.
em 40 milhões de m3 (TAVARES; ZANCHETTA,
¡ Serviços ecossistêmicos muito sig-
2009). Esse material, em sua grande maioria,
nificativos: Floresta Estacional Semide-
é proveniente da erosão de solos expostos em
cidual, Floresta Ombrófila Densa, For-
loteamentos implantados na Grande São Paulo.
mação Arbórea /Arbustiva Herbácea em
Pode-se concluir que a conservação da Terrenos Marinhos Lodosos, Formação
Zona de Amortecimento da RBCV tem importan- Arbórea/Arbustiva Herbácea em Região
te papel de conter os efeitos inevitáveis dos pro- de Várzea, Formação Arbórea/Arbusti-
cessos geohidrológicos que ocorrem em situa- va Herbácea de Sedimentos Marinhos
ções extremas. Esse aspecto ganha importância Recentes, Savana, Vegetação Secundá-
maior ao se verificar que as bacias hidrográficas ria da Floresta Estacional Semideci-
da região apresentam naturalmente um regime dual, Vegetação Secundária da Floresta
de escoamento que é superior à infiltração. Ombrófila Densa.
Os processos costeiros de erosão e sedi-
mentação, com forte contribuição do continen- Na Figura 16, observa-se que as áreas
te, onde os serviços ecossistêmicos da biosfera com serviços ecossistêmicos muito significa-
foram eliminados e os processos geohidrológicos tivos resistem a sul e a sudoeste da RMSP. Sua
desencadearam a degradação ambiental até a expansão, nessas direções, resultará numa per-
zona costeira, podem ser destacados no Porto de da significativa de qualidade de vida da metró-
Santos e nos ecossistemas de mangues do litoral. pole. Verifica-se também a perda eminente dos
268 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 16 |
Distribuição
dos serviços
ecossistêmicos
da biosfera com
base no mapa
de uso do solo.
Fonte: elaboração
própria.

5 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS
E OS PROCESSOS
serviços significativos (campos e reflorestamen-
to) pela ocupação urbana (manchas vermelhas

GEOHIDROLÓGICOS
na Figura 16), a menos que sejam criadas uni-
dades de conservação de proteção integral.
O Quadro 4 apresenta uma análise qua-
litativa de impactos dos processos geohidroló- Inicialmente, deve-se considerar que a
gicos na RBCV – Planalto, em termos de risco expansão urbana vem alterando de forma sig-
envolvendo a probabilidade de suas ocorrências nificativa o comportamento climático da região.
como acidente ambiental. O estudo de Pereira Filho et al. (2007) sobre a
Da análise do Quadro 4, resulta a impor- evolução do tempo e do clima na RMSP em 70
tância significativa dos processos de escorrega- anos (1936 – 2005) demonstra o aumento das
mento e de inundação. Entretanto, não se pode precipitações em 395 mm e um aumento das
deixar de considerar o inter-relacionamento temperaturas médias anuais de 2,1oC, responsa-
existente dos diversos processos geohidrológi- bilizando a ilha de calor urbano como a principal
cos que potencializam as manifestações. causa das alterações.
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 269

Processo/
impacto do Erosão Escorre- Solapamento e
Assoreamento Inundação
acidente gamento erosão fluvial
provocado

Risco de Morte Baixo Alto Baixo a Alto Baixo Baixo a Alto


no Acidente dependendo da
intensidade e
da dinâmica da
inundação

Risco de Baixo Baixo Baixo Baixo Alto


Incidência de
Doenças

Risco de Baixo a Alto; Alto Alto Baixo a Alto Alto


Estresse dependendo do
Psicológico porte e da
dinâmica da
erosão

Risco de Baixo a Alto; Alto Alto Baixo a Alto Alto


Perda de Bens dependendo dependendo da
Materiais do porte e da intensidade e da
dinâmica da dinâmica do
erosão assoreamento

Risco de Baixo a Alto: Baixo a Alto: Alto Alto Baixo a Alto:


Degradação se expressa pelo se expressa pelo depende do uso
de Recursos assoreamento assoreamento do solo da bacia
Hídricos e depende da
presença de lixo

Risco de Alto Alto Baixo a Alto Baixo a Alto: Alto


Colapso Local expressa-se
da Circulação pela inundação
Viária Quadro 4 |
Análise qualitativa
Risco de Colapso Baixo Baixo a Alto Baixo a Alto Baixo a Alto: Baixo a Alto de impactos dos
Regional da expressa-se pela processos geo-
Circulação Viária inundação hidrológicos na RBCV
– Planalto, em termos
de risco envolvendo a
Ponderação 12 17 16 13 18
da Importância probabilidade de suas
do Risco ocorrências como
Baixo 1, Baixo a acidente ambiental.
Alto 2, Alto 3 Fonte: elaboração
própria.

Além das mudanças climáticas devidas à chuvas intensas (acima de 10 mm) na capital
ilha de calor da RMSP, talvez mudanças cli- paulista.
máticas globais possam ter influência nas Entretanto, os estudos realizados até hoje
condições da RBCV, conforme Nobre et al. sobre os processos geohidrológicos vêm demons-
(2010), que estimam, entre 2070 e 2100, uma trando que, preponderantemente, são o uso do
elevação média na temperatura da região de solo inadequado e a má gestão pública os princi-
2,0oC a 3,0oC. Neste cenário de influência pais fatores que vêm criando os problemas geo-
das mudanças climáticas globais, é projeta- -hidrológicos adversos, devidos às perdas dos
do o dobro o dobro do número de dias com serviços ecossisêmicos da biosfera na RBCV.
270 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

CONCLUSÕES cobertura vegetal nas áreas de maior declive e


a proteção de corpos d’água, entre outras ações
O diagnóstico aqui apresentado aponta consideradas sob o enfoque da sustentabilidade
para a necessidade de se estabelecerem estra- de microbacias urbanas.
tégias, tanto regionais como locais, que con- Todas essas medidas e ações pressupõem
servem os serviços ecossistêmicos da biosfera, a existência de políticas integradas nas regiões
representados pelas coberturas vegetais, espe- metropolitanas de São Paulo e da Baixada San-
cialmente as matas. tista, além das articulações necessárias em nível
Em nível regional, há necessidade de cria- estadual, envolvendo todos os setores do poder
ção de unidades de conservação, seja de uso sus- público.
tentável como as Áreas de Proteção Ambiental Somente dessa maneira, será possível um
(APA), seja de proteção integral, como foi o caso ganho na qualidade de vida e no bem-estar da
recente dos Parques de Itapetinga e Itaberaba na população, que justifique o esforço de desenvol-
região da Serra da Cantareira. No âmbito local, vimento socioeconômico da RBCV no país, dada
especialmente no interior das APA, é possível a sua importância de comportar 12,1% da popu-
planejar a ocupação buscando a preservação da lação brasileira e 18,8% do PIB nacional.

REFERÊNCIAS
AB’SABER, A. N. (1957). Geomorfologia do Sítio Hidráulica) - Escola Politécnica, Universidade de
Urbano de São Paulo. 1957. Tese (Doutorado) - São Paulo, São Paulo.
Departamento de Geografia, Faculdade de Filoso- CANIL, K. (2006). Indicadores para monitora-
fia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de mento de processos morfodinâmicos: aplica-
São Paulo, São Paulo, 1957. ção na Bacia do Ribeirão Pirajuçara, RMSP (SP).
_________. (1965). Da participação das depres- 2006. Tese (Doutorado), Departamento de Geo-
sões periféricas e superfícies aplainadas na grafia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
compartimentação do Planalto Brasileiro. Tese Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
(Livre docência) – Instituto de Geografia, Univer- _________. (2004). Caracterização de áreas de
sidade de São Paulo. 178 p. produção de sedimentos no ribeirão Pirajussara,
_________. (1966). O Domínio dos ‘Mares de S.P., visando à prevenção de enchentes. In: SIM-
Morros’ no Brasil. Geomorfologia. São Paulo, PÓSIO BRASILEIRO DE DESASTRES NATU-
USP - IGEOG, no 2. 1966. RAIS, I., 2004, Florianópolis. Anais... Florianópo-
lis: GEDN/UFSC, p.434-442 (CD-ROM)
_________. (1980). Súmula geomorfológica do Pla-
CHRISTOFOLETTI, A. (1999). Modelagem de sis-
nalto Paulistano. In: MESA REDONDA ASPECTOS
temas ambientais. São Paulo: Edgard Blucher
GEOLÓGICOS E GEOTÉCNICOS DA BACIA SEDI-
Ltda. 236 p.
MENTAR DE SÃO PAULO. 1980. São Paulo. Publi-
cação Especial... - São Paulo: ABGE/ SBG, p. 33-36. CPRM - COMPANHIA DE PESQUISA DE RECUR-
SOS MINERAIS (SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRA-
ALCAMO, J. et al. (2003). Ecosystems SIL). (2005). Mapa geológico do estado de São
and human well-being: a framework for Paulo. São Paulo: CPRM. 1: 750.000.
assessment: Millennium Ecosystem
Assessment. EUA: World Resources Institute. EMPLASA - EMPRESA PAULISTA DE PLANEJA-
MENTO METROPOLITANO. (2006). Mapa do uso
BISTRICHI, C.A. et al. (1981). Mapa geológico e ocupação do solo da Região Metropolitana
do Estado de São Paulo; escala 1:500.000. In: de São Paulo e Bacia do Alto Tietê. CD.
ALMEIDA, F.F.M. de - Mapa Geológico do Estado
de São Paulo; 1: 500.000, texto. São Paulo. 2v. EMPRESA EMPRESA PAULISTA DE PLANEJAMEN-
IPT-Publicação 1184, Série Monografias 6. TO METROPOLITANO (2019). RMSP. Disponível
em: <https://www.pdui.sp.gov.br/rmsp/?page_
BROLLO, M. J.; FERREIRA, C. J. (2009). Indicado- id=56>. Acesso: 26 nov. 2019.
res de desastres naturais no Estado de São Paulo.
GUARULHOS (Cidade). (2004). Mapeamento
Anais do 11º Simpósio de Geologia do Sudeste.
de riscos associados a escorregamentos em
São Pedro, SP. p. 225.
encostas e solapamentos de margens de cór-
CAMPAGNOLI, F. A. (2002) Aplicação do asso- regos nas áreas de assentamento precário do
reamento na definição de geoindicadores município de Guarulhos em CD-ROM: texto e
ambientais em áreas urbanas do Alto Tie- cartografia multimídia. Guarulhos: Rosa e Bindo-
tê. 2002. 192 f. Tese (Doutorado em Engenharia ne Engenharia Ltda. 1 CD-ROM.
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 271

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- físicos e antrópicos. In: 10º Simpósio Brasileiro
tica. Mapeamento topográfico. Escala 1:50.000. de Recursos Hídricos; 1º Simpósio de Recursos
Rio de Janeiro, vários mapas, color. Hídricos do Cone Sul, Gramado. Anais... Grama-
do: ABRH, 1993. v. 5, p. 464-273.
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍTICA (2019). Cidades e estados. (Banco NAKAZAWA, V. A.; FREITAS, C. G.; DINIZ, N. C.
de Dados. Todos os Municípios - SP). Disponível (1994). Carta geotécnica do estado de São
em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ Paulo. São Paulo: IPT. Publicação 2089. 2v.
sp.html>. Acesso: 25 nov. 2019.
NOBRE, C. A. et al. (2010). Vulnerabilidade
IPT - INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGI- das megacidades brasileiras às mudan-
CAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. (1993). Ero- ças climáticas: Região Metropolitana de São
são e assoreamento nas bacias dos rios Tietê Paulo. Sumário Executivo acessado em <www.
e Pinheiros na Região Metropolitana de São inpe.br/noticias/arquivos/pdf/megacidades.
Paulo: diagnóstico e diretrizes para a solução pdf>. 32p. Acesso: 18 jun.2010.
integrada do problema.São Paulo: IPT, 3 v. (Rela- OLIVEIRA, J. B. de; CAMARGO, M. N. de; ROSSI,
tório Técnico, 30 796). M.; CALDERANO FILHO, B. (1999). Mapa pedoló-
IPT - INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS gico do Estado de São Paulo: legenda expan-
DO ESTADO DE SÃO PAULO. Arquivos de fotos - dida. Campinas: Instituto Agronômico/EMBRAPA
2004; 2005. Solos, v. 1. 64 p.

IPT - INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓ- PEREIRA FILHO, A. J.; SANTOS, P. M.; XAVIER, T.
GICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO; DAEE – M. B. S. (2007). Evolução do tempo e do clima
DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ENERGIA ELÉ- na Região Metropolitana de São Paulo. São
TRICA. (1995). Mapa de erosão do estado de Paulo: Linear B; IAG/USP. 282 p.
São Paulo. São Paulo: IPT. DAEE. 1995. Escala PERROTTA, M. M. et al. (2005). Mapa Geológico
1:1.000.000. do Estado de São Paulo, escala 1:750.000. Pro-
KRONKA, F. J. N. et al. (2002). Inventário flores- grama Geologia do Brasil - PGB, CPRM, São Paulo.
tal das áreas reflorestadas do Estado de São PONÇANO, W. L. et al. (1981). Mapa geomorfoló-
Paulo. 1. ed. São Paulo: Pancron, 2002. v. 1. 183 p. gico do Estado de São Paulo. São Paulo. Insti-
KRONKA, F. J. N. et al. (2007). Inventário florestal tuto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São
da vegetação natural do Estado de São Paulo: Paulo. Monografia. 5. v. 1 e 2. Escala 1:1.000.000.
Regiões administrativas de São José dos Campos ROLNIK, R.; CYMBALISTA, R. (1997). Instrumen-
(litoral), Baixada Santista e Registro; Secretaria do tos urbanísticos contra a exclusão social.
Meio Ambiente, Imprensa Oficial do Estado de São Publicação Pólis, 29. São Paulo: Pólis, 112p.
Paulo, p. 140.
ROSS, J. L. S.; MOROZ, I. C. (1997). Mapa geomor-
KRONKA, F. J. N. (2005). Inventário florestal da
fológico do estado de São Paulo. São Paulo: Labo-
vegetação natural do Estado de São Paulo. 1.
ratório de Geomorfologia, Depto. Geografia, FFLCH/
ed. São Paulo: Imprensa Oficial, v. 1. 200 p.
USP; Laboratório de Cartografia Geotécnica, Geolo-
LOVELOCK, J. E. (1988). The Ages of Gaia: a gia Aplicada, IPT; FAPESP, Mapas e relatórios.
Biography of our living Earth. New York: W.W.
ROSSI, M. (1999). Fatores formadores da paisa-
Norton & Company, Inc.
gem litorânea: a bacia do Guaratuba, São Pau-
MAIA, A. G. (2006). As consequências do asso- lo - Brasil. São Paulo. 1999. 1v. (Tese - Doutorado)
reamento na operação de reservatórios forma- - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Huma-
dos por barragens, 2006. 163 f. Tese (Doutorado nas, Universidade de São Paulo - Departamento
em Engenharia Hidráulica) - Escola de Engenharia de Geografia. 160p.
de São Carlos.
ROSSI, M. et al. (2009).Macro-Relação entre Pai-
MMA - Ministério do Meio Ambiente. Mapas sagem e seus Formadores Físicos: Município de
de Cobertura Vegetal dos Biomas Brasileiros. Guarulhos – SP. In: CONGRESSO BRASILEIRO
<http://mapas.mma.gov.br/mapas/aplic/probio/ DE CIÊNCIA DO SOLO, XXXII., 2009, Fortaleza.
datadownload.htm>. Acesso: 14 out.2009. Anais... Ceará: SBCS, 2009. 1CD.
MORETTI, L. R. (2001). Avaliação da erosão em ROSSI, M. (2017). Mapa pedológico do Estado
pequenas bacias hidrográficas rurais. São Pau- de São Paulo: revisado e ampliado. São Paulo:
lo. 128 f. Tese (Doutorado em Engenharia Hidráu- Instituto Florestal, V.1. 118p.
lica) - Escola Politécnica, Universidade de São
ROSSINI, J. C. C. (2005). Estudo da relação de
Paulo, São Paulo.
vazão sólida x vazão líquida em pequenas
NAKAZAWA, V. A.; HELOU, G. C. N. (1993). Erosão bacias urbanas. São Paulo. 2005. 160 f. Disserta-
nas bacias dos rios Tietê e Pinheiros: aspectos ção (Mestrado em Engenharia Hidráulica) - Escola
272 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Politécnica, Departamento de Engenharia Hidráu- córrego do Pau d’Alho, Guarulhos. SP. 2007. Dis-
lica e Sanitária, Universidade de São Paulo. sertação de mestrado. Guarulhos: Universidade
Guarulhos. Mestrado em Análise Geoambiental.
SANTOS, A. R.; NAKASAWA, V. A. (1992). Erosão e 75 p. Anexos.
assoreamento na Região Metropolitana de São
Paulo. In: Seminário sobre problemas geológicos TAVARES, B.; ZANCHETTA, D. (2009). Desasso-
ne geotécnicos na Região Metropolitana de São reamento do Rio Tietê será estendido por 1
Paulo. 1. 1992. São Paulo. Anais. São Paulo: ABGE. ano. O Estado de São Paulo. São Paulo, 9 de set.
2009. Disponível em: <http://www.estadao.com.
SAUER, C. O. (1925). The morphology of br/noticias/geral,desassoreamento-do-rio-tiete-
landscape. Publications in Geography, 2: 19-53. -seraestendido-por-1-ano,431828,0.htmm>. Aces-
Berkeley, University of California. so: 26 nov. 2019.
SECRETARIA MUNICIPAL DO VERDE E DO MEIO TER-STEPANIAN, G. (1988). Beginning of the
AMBIENTE - SVMA; INSTITUTO DE PESQUISAS Technogene. Bulletin of the International
TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO - Association of Engineering Geology: (38):
IPT. (2004). GEO cidade de São Paulo: panora- 133-142.
ma do meio ambiente urbano. São Paulo: Pre-
feitura do Município de São Paulo/ SVMA; Brasília: TOMINAGA, L. K. (2009). Escorregamentos.
PNUMA, 204 p. In: TOMINAGA, L. K.; SANTORO, J.; AMARAL, R.
Desastres naturais: Conhecer para prevenir. São
SIMONETTI, C. (2001). As relações entre o relevo, Paulo: Instituto Geológico, p. 25-38.
os solos e a floresta atlântica na Serra do Mar
(Bacia do Rio Itamambuca, Ubatuba, SP). 2001. TRICART, J. (1972). La Terre, planète vivante.
Tese (Doutorado) - Instituto de Biociências, Univer- Paris. Presses Universitaires de France.
sidade de São Paulo, São Paulo. VICTOR, M. A. M. (1975). A devastação florestal.
SOUZA, O. (2007). Produção de sedimentos Sociedade Brasileira de Silvicultura.
em áreas urbanas. O caso da microbacia do

GLOSSÁRIO
A
Antropogênico | Termo que indica a origem de relevo muito movimentado, quando às vezes
humana de qualquer componente do meio físico, se associam a afloramentos de rocha. Estes solos
como por exemplo, um depósito sedimentar quan- são muito diversificados em função do relevo e
do induzido pelo uso do solo. O termo também se dos materiais de origem.
aplica ao processo que revela a ação do homem, Cones de dejeção | São depósitos de sedimentos
contrapondo-se ao processo natural equivalente, que ocorrem nos sopés de morros ou montanhas
como por exemplo, erosão antrópica. como dejeções de linhas de drenagem que con-
Argissolos | Argissolos são solos que se carac- centram o escoamento superficial desses relevos.
terizam por uma diferenciação significativa de Os sedimentos podem apresentar diversas granu-
textura dos horizontes A e B, tendo o A uma textu- lometrias, argilas, siltes, areias, podendo também
ra mais arenosa que o B, onde se concentram as conter blocos, sendo neste caso denominados
argilas. Os Argissolos, depois dos Latossolos, são depósitos ou corpos de tálus.
os que apresentam a maior extensão territorial no Corpos de tálus | São depósitos compostos por
Brasil. sedimentos heterogêneos, com materiais finos e
Assoreamento | O assoreamento corresponde blocos ou matacões que se acumulam nos sopés
tanto ao fenômeno de deposição de sedimentos de encostas íngremes ou escarpas.
quanto ao depósito por eles formados em corpos Corridas de massa | Um tipo de movimento de
d’água, em ambientes continentais, rios, lagos, massa, correspondente a um fluxo de grande volu-
reservatórios etc., ou ambientes marinhos, praias, me (centenas a milhares de m3) de detritos, com-
canais etc., naturais ou provocados pela ação postos por solos, rochas, vegetais, água, escom-
antrópica. bros de construções etc., que se desloca, em geral
a altas velocidades (m/s) em fundos de vales. O
C fluxo, que se comporta como o escoamento de
um líquido mais ou menos viscoso, em função da
Cambissolos | Os cambissolos são solos pou- quantidade de água presente, é alimentado por
co desenvolvidos, com presença de material de uma ocorrência intensa de escorregamentos nas
alteração do substrato de origem, em geral pouco encostas da bacia, deflagrados por chuvas excep-
espessos, sobretudo quando ocorrem em áreas cionalmente intensas.
PROCESSOS GEOHIDROLÓGICOS DE EROSÃO, ESCORREGAMENTOS, ASSOREAMENTOS E INUNDAÇÕES 273

E G
Encosta | No relevo, corresponde à superfície Gnaisses | Gnaisses são rochas metamórficas
natural que liga o topo de uma elevação ao fundo que possuem em geral composição semelhante à
do vale. Esta superfície, também denominada de do granito apresentando, porém, orientação dos
vertente, constitui uma conexão dinâmica entre os seus minerais.
divisores de águas e os fundos de vales, por onde
Granitóides | Granitóides são um tipo gené-
escoam as águas de chuva e se manifestam vários
rico de rochas ígneas compostas basicamen-
processos de dinâmica superficial como a erosão.
te por quartzo, feldspatos e micas, com textura
Erosão natural, laminar e linear | A erosão geralmente granular, sendo o granito o tipo mais
natural é um processo de perda de solo, provoca- conhecido.

H
do por diversas causas, destacando-se, na região
da RBCV, a chuva. O processo é comandado por
diversos condicionantes, como os tipos de solo,
Horizontes pedológicos | Os horizontes pedoló-
o relevo e o substrato geológico. No caso da ero-
gicos, ou horizontes dos solos, podem ser obser-
são não natural ou antrópica destaca-se o homem
vados nos perfis verticais dos solos, apresentan-
como agente de erosão, por suas ações de uso do
do-se como se fossem camadas superpostas,
solo. A erosão laminar corresponde a uma erosão
aproximadamente paralelas, que se destacam por
difusa, provocada pelo escoamento da água não
diversos atributos diferentes, especialmente por
concentrado sobre a superfície dos terrenos. A
diferentes cores, e que se desenvolvem a partir da
erosão linear resulta da concentração do escoa-
alteração da rocha subjacente. Os principais hori-
mento superficial em linhas onde se desenvolvem
zontes são o horizonte A, superficial, com maté-
sulcos, ravinas e mesmo voçorocas.
ria orgânica, o horizonte B, abaixo, resultante da
Escorregamento | Um tipo de movimento de transformação significativa do material de origem
massa correspondente à instabilização de encos- e o C que corresponde ao material de origem que
tas ou taludes que apresenta deslocamentos de se pode encontrar em estágio avançado de altera-
volume de solo e/ou rocha com velocidades variá- ção, mas ainda mostra estruturas da rocha.
veis de médias (m/h) a altas (m/s) que em geral
ocorrem em decorrência de chuvas intensas, I
podendo causar danos significativos em áreas
ocupadas, denominadas áreas de risco. Também Inundações | Inundações são processos de
é conhecido por deslizamento e, popularmente, extravasamento das águas fluviais, em resposta
por desbarrancamento ou barreira de estrada. a precipitações intensas, para as áreas margi-
nais dos cursos d’água, ou seja, suas várzeas ou
Espodossolos | Espodossolos são solos, em geral planícies de inundação. As inundações, corres-
arenosos, que apresentam acumulação de maté- pondentes a manifestações naturais de cheias ou
ria orgânica ou de óxidos de ferro e alumínio em enchentes de rios, podem ser intensificadas pela
profundidade destacando horizontes subsuper- intervenção do homem no uso do solo das bacias
ficiais cinza escuro até preto ou avermelhado ou hidrográficas.
amarelado dependendo do material concentrado,
em contraste com o horizonte superficial, em geral L
mais claro.
Latossolos | Os latossolos são os solos que mais
Evapotranspiração | A evapotranspiração cor- ocorrem no Brasil, desenvolvidos em ambiente tro-
responde à soma da água transpirada pelas pical úmido, de coloração avermelhada ou amare-
plantas com a que evapora de superfícies líqui- lada, em geral com mais de um metro de espessu-
das. Em uma bacia hidrográfica, o volume anual ra, frequentemente em relevos suaves, de planos a
da evapotranspiração, somado ao volume anual ondulados, formados por processos que provocam o
escoado dessa bacia, corresponde ao volume de acúmulo de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio.
água das chuvas que a bacia recebeu, no ciclo
de um ano. M
F
Migmatitos | se apresentam como uma espécie
de rochas híbridas, entre rochas metamórficas e
ígneas, em regiões da crosta onde ocorrem pro-
Falhas geológicas | Falhas geológicas são des-
cessos de fusão parcial.
continuidades ou grandes fraturas que, na cros-
ta terrestre, separam blocos que se deslocaram Movimentos de massa | Processos geológicos
entre si. As rochas junto às falhas se apresentam da dinâmica superficial dos terrenos, correspon-
em geral fragmentadas. dentes à instabilização de volumes significativos
274 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

de solos e/ou rochas que se deslocam na direção por folhas, caules e outros restos vegetais,
dos pés de taludes ou encostas. Podem ser natu- depositada sobre a superfície do solo, com
rais ou induzidos pelo uso do solo. O tipo mais presença de organismos que participam do pro-
frequente de movimento de massa no Brasil é o cesso de decomposição dessa matéria.
escorregamento.
Solapamentos | Fenômeno de erosão fluvial de
R margens que provoca a instabilização e queda de
volumes de solos para dentro da calha do curso
Ravinas | Um tipo de erosão linear, ou seja, forma- d’água. Também conhecido popularmente por
da por concentração do escoamento superficial, desbarrancamentos.
em geral com profundidade maior que meio metro,
não chegando a atingir o lençol freático. Seu com- Z
primento é frequentemente superior a uma dezena
de metros, largura variável de mais de um a vários Zonas de cisalhamento | São zonas da crosta
metros e, em geral, com um formato em V. terrestre que sofreram deformações, impondo
localmente foliações às rochas, e que delimitam
S blocos que sofreram deslocamentos entre si.

Serrapilheira | Camada de matéria orgânica,


de uma área com cobertura vegetal, composta
PARTE 2
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS DE REGULAÇÃO

2.2 QUALIDADE DO AR

Coordenador
Paulo Hilário Nascimento Saldiva | FMUSP

Autores
Paulo Hilário Nascimento Saldiva | FMUSP
Ana Paula Garcia Martins | IIES
Marco Antonio Garcia Martins | HSPH
Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor | FF/SIMA
Thais Mauad | LPAE/ FMUSP
276 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto de abertura do capítulo:


Aspectos da poluição urbana
“Tentamos proteger a árvore, esquecidos de que é ela quem nos protege.”
em São Paulo com efeitos Carlos Drummond de Andrade
diretos sobre a saúde humana
e a qualidade ambiental.
Pedra Grande, Parque
Estadual da Cantareira.
Fonte: Francisco de Assis
Honda (2010). “Hoje em dia, o ser humano tem ante si apenas três grandes problemas
que foram ironicamente provocados por ele próprio: a super povoação, o
desaparecimento dos recursos naturais e a destruição do meio ambiente.
Triunfar sobre estes problemas, vistos sermos nós a sua causa, deveria ser
a nossa mais profunda motivação.”
Jacques Yves Cousteau (1910-1997)
SUMÁRIO

Resumo .............................................................................................................. 281

1 | Introdução........................................................................................................ 282

2 | O problema: poluição do ar, doenças urbanas e periurbanas......................... 283

2.1 | Material particulado (MP)........................................................................ 283

2.2 | Ozônio..................................................................................................... 285

2.3 | Efeitos da poluição do ar sobre a saúde humana................................... 286

2.4 | Exposição e vulnerabilidade da população da Região Metropolitana


de São Paulo à poluição atmosférica...................................................... 288

3 | A vegetação como elemento de redução das concentrações de poluentes


atmosféricos.................................................................................................... 290

4 | O Serviço Ecossistêmico de Regulação da Qualidade do Ar no município de


São Paulo......................................................................................................... 293

Conclusões ........................................................................................................... 311

Referências ........................................................................................................... 312

.............................................................................................................. 314
Glossário ......
278 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 Esquema representando exemplos dos diâmetros aerodinâmicos do material particulado,
sua composição e origem mais provável.
Figura 2 Imagem capturada pelo método da microscopia de varredura, mostrando os diferentes
aspectos morfológicos de partículas ambientais em filtro de nitro-celulose, coletadas no
centro de Porto Alegre.
Figura 3 Taxa estimada de deposição das partículas ambientais, ao longo de diferentes segmentos
do trato respiratório, em um adulto respirando pela boca (VAS = vias aéreas superiores).
Figura 4 Representação esquemática da absorção de compostos tóxicos contidas nas partículas
depositadas nos alvéolos.
Figura 5 Esquema representativo da relação entre gravidade dos efeitos da poluição e o número de
pessoas afetadas pela poluição em uma dada comunidade.
Figura 6 Expectativa de vida em seis cidades americanas que exibem diferentes níveis ambientais
de MP2,5.
Figura 7 Relação entre medidas de MP10 realizadas em dias diferentes, em diferentes áreas do
Hospital das Clínicas da FMUSP (indoor) com medidas simultâneas de MP10, realizadas
pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) em sua estação Cerqueira
César, distante 300 metros do Hospital.
Figura 8 Variação do incremento de mortalidade para uma variação interquartil de MP10 em
diferentes regiões da cidade de São Paulo, diferenciadas por nível socioeconômico (fração
da população com educação de nível superior).
Figura 9 Mapeamento dos Remanescentes de Mata Atlântica, Plano Municipal de Conservação e
Recuperação da Mata Atlântica do Município de São Paulo – 2017.
Figura 10 Localização dos parques Jardim da Luz, Trianon, Aclimação, Previdência, Ibirapuera (em
São Paulo) e Embu-Guaçu (região controle).
Figura 11 Imagem aérea do Parque da Previdência, em São Paulo.
Figura 12 Distribuição dos poluentes bário (Ba); cobalto (Co); cromo (Cr); e cobre (Cu) nas cascas
das árvores amostradas no Parque Previdência, no jardim Ademar, em São Paulo.
Figura 13 Localização do Parque Previdência e distribuição dos poluentes ferro (Fe); enxofre (S);
zinco (Zn); cálcio (Ca) e chumbo (Pb) nas cascas de árvores estudadas.
Figura 14 Imagem aérea do Parque Jardim da Luz, no Bom Retiro, em São Paulo.
Figura 15 Distribuição dos poluentes bário (Ba); cobalto (Co); cromo (Cr); cobre (Cu) nas cascas das
árvores estudadas no Parque Jardim da Luz.
Figura 16 Localização do Parque Jardim da Luz e distribuição dos poluentes ferro (Fe); enxofre (S);
zinco (Zn); cálcio (Ca) e chumbo (Pb) nas cascas das árvores estudadas.
Figura 17 Imagem aérea do Parque Trianon, no bairro Cerqueira César, em São Paulo.
Figura 18 Distribuição dos poluentes bário (Ba); cobalto (Co); cromo (Cr); cobre (Cu) nas cascas das
árvores estudados no Parque Trianon.
Figura 19 Localização do Parque Trianon e distribuição dos poluentes: ferro (Fe); enxofre (S); zinco
(Zn); cálcio (Ca) e chumbo (Pb) nas cascas das árvores estudadas.
Figura 20 Imagem aérea do Parque Aclimação, no bairro Aclimação, região região central de São
Paulo.
QUALIDADE DO AR
QUALIDADE DO AR
279
279

Figura 21 Distribuição dos poluentes bário (Ba); cobalto (Co); cromo (Cr); cobre (Cu) nas cascas das
árvores estudadas no Parque da Aclimação.
Figura 22 Localização do Parque Aclimação e distribuição dos poluentes ferro (Fe); enxofre (S);
zinco (Zn); cálcio (Ca) e chumbo (Pb) nas cascas das árvores estudadas.
Figura 23 Imagem aérea do Parque Ibirapuera, na Vila Mariana, em São Paulo.
Figura 24 Distribuição dos poluentes bário (Ba); cobalto (Co); cromo (Cr); cobre (Cu) nas cascas das
árvores estudadas no Parque Ibirapuera.
Figura 25 Localização do Parque Ibirapuera e distribuição dos poluentes ferro (Fe); enxofre (S);
zinco (Zn); cálcio (Ca) e chumbo (Pb) nas cascas das árvores estudadas.
Figura 26 Médias e desvios padrão das concentrações dos elementos obtidas nas amostras de cascas
de árvores, agrupadas nos fatores 1, 2 e 3, em cada região interna dos parques estudados
e na região controle.
Figura 27 Cobertura vegetal x coeficiente de redução de poluentes nos parques.
Figura 28 Atenuação de cobalto (Co) nas cascas das árvores de 4 parques municipais de São Paulo,
em relação à distância da sua borda viária (concentração x distância).
Figura 29 Atenuação de enxofre (S) nas cascas das árvores de 4 parques municipais de São Paulo,
em relação à distância da sua borda viária (concentração x distância).
Figura 30 Vias em que exposições a áreas verdes podem resultar em desfechos na saúde.

TABELAS
Tabela 1 Coeficientes relacionando aumento de mortalidade por diferentes causas a exposição
crônica a MP2,5.
Tabela 2 Resumo de estudos representativos relacionando variações agudas de ozônio com
mortalidade.
Tabela 3 Quantificação da remoção anual da poluição atmosférica por árvores em 25 cidades. As
quantidades são médias por hectare em áreas com cobertura arbórea (as quantidades em
parênteses são médias por hectare em áreas com alta cobertura arbórea).
Tabela 4 Distribuição das categorias de vegetação em hectares, percentual e número de fragmentos,
no município de São Paulo, em 2016.

SIGLAS
As Arsênio
Ba Bário
Br Bromo
BOH Bosque Heterogêneo
Ca Cálcio
CAM Campo Alto Montano
Cd Cádmio
CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
CO Monóxido de Carbono
Co Cobalto
CPO Campos Gerais
Cr Cromo
Cu Cobre
280 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

CVA Campo de várzea e vegetação aquática


EDXRF Energy Dispersive X-Ray Fluorescence – Fluorescência de Raios-X por Dispersão de Energia
Fe Ferro
FF Fundação Florestal
FMUSP Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
g gramas
ha hectare
Hg Mercúrio
HSPH Harvard T.H. Chan School of Public Health
IC Intervalo de Confiança
IIES Instituto Itapetiningano de Ensino Superior
kg quilograma
LPAE Laboratório de Poluição Ambiental Experimental
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
m metros
MAV Mata de Várzea
Mn Manganês
MOD Mata Ombrófila Densa
MP Material Particulado
Ni Níquel
NO2 Dióxido de nitrogênio
O3 Ozônio
P Fósforo
Pb Chumbo
PMMA Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica
ppb Parte por bilhão
PS Pronto Socorro
S Enxofre
Sb Antimônio
Se Selênio
SIMA Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente
Sr Estrôncio
SO2 Dióxido de enxofre
SVMA Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente
USP Universidade de São Paulo
V Vanádio
VAS Vias Aéreas Superiores
Vs versus
Zn Zinco
µm Micrômetro
QUALIDADE DO AR 281

RESUMO

A poluição atmosférica tornou-se um dos maiores problemas ambientais e de


saúde pública nas cidades; causa sérios danos aos ecossistemas e afeta a saú-
de das pessoas. Os habitantes dos grandes centros urbanos, como a RMSP, são os mais afe-
tados pela ação deletéria dos poluentes atmosféricos. As árvores configuram-se como um
importante instrumento de gestão pública para as cidades, já que podem reduzir a poluição
do ar. São capazes de conter os poluentes de quatro maneiras: absorção pelos estômatos
das folhas, deposição de gases e particulados nas folhas e cascas, diminuição da velocidade
do vento devido à barreira formada pela vegetação, fazendo o material particulado decantar,
e redução de ozônio e outros poluentes a partir da diminuição da temperatura e aumento da
umidificação do ar que propiciam. Estudos em diversas partes do mundo demonstram que
parques e árvores em áreas urbanas podem diminuir entre 1% e 80% a poluição atmosférica
de uma determinada região. Como a mortalidade por doenças cardiorrespiratórias e o câncer
do pulmão estão associados à exposição prolongada ao material particulado, especialmente a
sua fração mais fina (MP2,5), o adensamento da vegetação nas cidades influencia diretamente
a qualidade de vida das pessoas, diminuindo mortalidade e impactando positivamente nos
gastos em saúde pública. Em pesquisa conduzida em cinco parques da cidade de São Paulo,
onde foram coletadas amostras de cascas de árvores como biomonitores da poluição atmos-
férica, demonstrou-se que as áreas centrais dos parques possuem menor concentração de
poluentes que em suas bordas, comprovando sua eficiência na redução de particulados. Em
conclusão, pode-se avaliar que: i) o Cinturão Verde de São Paulo é um potencial redutor de
poluição atmosférica gerada pelas áreas urbanas; ii) no interior das áreas urbanas, pequenas
e médias áreas verdes possuem importante papel na redução de poluentes; iii) o aumento
ou a diminuição das áreas verdes urbanas pode determinar impactos positivos ou negativos
consideráveis na saúde pública.
282 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO do ar. Milhões de vidas ceifadas pelas doenças


acima expostas criaram, na época, um conceito

A evolução do homem foi acompanhada de


intensas mudanças no seu relacionamento
com a natureza. Nos primórdios da civilização,
sobre a natureza: o da sua periculosidade.
A proliferação da “mal-ária” (ar ruim)
não era vista como um desequilíbrio ecológico
as atividades extrativistas, a caça e a pesca foram causado pelas atividades humanas, mas como
a base da sobrevivência humana no planeta. As produto das emanações pestilentas advindas
incertezas de provimento de recursos necessá- dos pântanos que circundavam Roma. Assim, a
rios à subsistência de ajuntamentos humanos de natureza não deveria ser apenas subjugada, mas
maior vulto foram a força motriz do desenvolvi- também, em alguns casos, destruída.
mento da agricultura primitiva e da criação de O desequilíbrio da natureza trouxe tam-
animais para o consumo e serviços. Esta nova bém problemas indiretos à saúde humana. Por
forma de organização social representou uma exemplo, as alterações climáticas e a prática da
radical mudança no modo de pensar das socie- monocultura foram as principais determinantes
dades humanas. para a proliferação do fungo causador da praga
As atividades extrativistas colocavam o da batata, na Irlanda, no século 19, provocando
homem como integrante de um todo da natu- milhares de mortes por fome e quase aniqui-
reza, ao passo que a agricultura e a pecuá- lando a economia. Para combater esta situação,
ria introduziram o conceito de submissão da agentes químicos foram produzidos e utilizados,
natureza aos interesses de uma única espécie. ocasionando a contaminação das águas super-
Embora os conceitos acima expostos possam ficiais, do solo e dos alimentos, manifestando
soar simplistas em demasia, é possível que, outros efeitos adversos à saúde.
com o passar dos séculos, a sociedade humana São Paulo não foi exceção a essa forma de
tenha consolidado de forma gradual e irrever- pensar. Os rios do planalto de Piratininga não
sível o conceito de proprietária do planeta, se fluíam diretamente para o mar, mas aponta-
“autorizando” a utilizar todo e qualquer bem vam para o interior do imenso sertão do estado.
natural em benefício próprio. Os rios locais foram os caminhos da conquista
A ordenação progressiva dos agrupamen- do continente, da escravização dos índios e da
tos humanos, associada à crescente produção de extração de ouro e pedras preciosas.
bens, culmina com uma melhor organização da Esta busca de aventura e riqueza trouxe o
sociedade, consolidada materialmente na forma desapego à cidade, criando a cultura do efême-
de cidades. Nas cidades germinaram a cultura e ro. Cada descoberta nova, ouro nas Gerais ou
a ciência; por outro lado, criou-se a necessida- diamantes em algum ponto do sertão, levava ao
de de prover alimentação a um grupo crescente êxodo de São Paulo. A mobilidade das pessoas
de pessoas que, por sua vez, não produziam ali- sempre é acompanhada pelo desinteresse do
mentos, fato que amplia a tendência da submis- que se deixa para trás. Talvez seja esta a base
são da natureza ao consumo humano. cultural da capacidade que São Paulo tem para
Nas cidades criaram-se as condições de crescer e interferir com os serviços ecossistêmi-
propagação de doenças infecciosas, fruto tanto cos. A expansão da monocultura do café no pas-
do aumento da contagiosidade pela proximida- sado e da cana de açúcar no presente são exem-
de das pessoas, como da deterioração ambien- plos eloquentes desta situação.
tal dos assentamentos humanos, causada pelas No cenário urbano de São Paulo, o binômio
péssimas condições sanitárias. criação-destruição foi exercitado em sua pleni-
Malária, cólera, peste, varíola e tubercu- tude. O coração da cidade já mudou várias vezes
lose foram produtos da deterioração ambiental de lugar, do centro velho ao redor da Praça da Sé,
urbana, decorrente da contaminação das águas para o outro lado do vale do Anhangabaú em dire-
por detritos e do manejo inadequado dos resí- ção à Praça da República, subiu a rua da Consola-
duos sólidos, que formavam verdadeiros criado- ção trocando casarões por grandes corporações
res dos vetores de transmissão de moléstias. A na avenida Paulista, desceu a avenida 9 de Julho
queima de lenha e carvão se constituiu em fator para estacionar por alguns anos na avenida Faria
importante para a deterioração da qualidade Lima, escorreu pelas margens do maltratado rio
QUALIDADE DO AR 283

Pinheiros para se estabelecer em mausoléus de levado em conta quando a definição de políti-


concreto e vidro na avenida Berrini. cas de combustível ou transporte é discutida.
A mancha urbana se espalhou com incrível Por exemplo, o programa de etanol combustível
velocidade, ocupando várzeas de rios, destruin- foi implantado em nosso país devido aos seus
do a vegetação existente e criando bairros com aspectos econômicos e não propriamente pelos
infraestruturas precárias de abastecimento, de seus efeitos sobre a saúde.
serviços sanitários, de equipamentos públicos Nunca se estudou o impacto ambiental
como educação, saúde e segurança, comprome- e os efeitos adversos à saúde, tanto da produ-
tendo a qualidade de vida da população. ção quanto das emissões veiculares, antes da
As ilhas de calor e a baixa umidade causadas implantação deste novo combustível (etanol),
pelo deserto de concreto urbano trazem agravos bem como os efeitos de suas proporções adicio-
respiratórios e cardiovasculares, principalmen- nadas à gasolina, que são alteradas deliberada-
te em idosos e crianças. As mudanças climáticas mente por razões estritamente econômicas.
regionais alteram o ritmo e intensidade de chu- Esta mesma despreocupação também
vas, promovendo inundações que colaboram para ocorre na definição do uso e ocupação do solo
o aumento dos casos de leptospirose e diarreia. urbano. Drásticas modificações de rotas de trá-
Os poluentes emanados pelos milhões fego podem, por vezes, afetar regiões residen-
de veículos circulantes na cidade promovem ciais, sem que se leve em conta a exposição da
a morte precoce de 4.000 paulistanos por ano população nas áreas de maior impacto. Esta
(ANDRADE et al., 2010; MIRANDA et al., 2012), situação parece indicar que as pessoas não se
sendo hoje a maior ameaça ambiental à saúde sentem ameaçadas pelos veículos que são, em
humana na cidade de São Paulo. última análise, objetos de desejo e não de perigo.
Nos últimos anos, estudos importantes vêm Uma vez reconhecido o íntimo comparti-
sendo realizados em todo o mundo sobre a capa- lhamento do espaço entre veículos (e suas emis-
cidade que o verde urbano ou as florestas urbanas sões tóxicas) e a população urbana, é imprescin-
têm em interceptar, captar e amenizar os fatores de dível a consideração de que os efeitos à saúde
prejuízo à saúde humana citados anteriormente. humana façam parte das políticas de transpor-
Entre os serviços ecossistêmicos ofere- te, de combustível, de engenharia veicular, de
cidos pela área abrangida pela RBCV à região ocupação do espaço urbano, enfim, de todos os
metropolitana de São Paulo, a regulação da qua- aspectos que regulam o tráfego e as emissões
lidade do ar é o tema deste capítulo, que trata automotoras no cenário urbano. Há, todavia, que
do impacto da urbanidade sobre a qualidade do reconhecer que a tarefa não é trivial.
ar, sua repercussão à saúde humana e o papel Na cidade de São Paulo, os principais poluen-
desempenhado pelas florestas urbanas. tes regulamentados que possuem níveis acima do

2 | O PROBLEMA: POLUIÇÃO
aceitável, ou seja, níveis comprovadamente capa-

DO AR, DOENÇAS URBANAS


zes de trazer efeitos adversos à saúde da população
exposta, são o material particulado (MP) e ozônio.

E PERIURBANAS 2.1 | Material particulado (MP)

Considerando que o meio ambiente urbano O material particulado é o poluente atmos-


é o habitat mais característico de veículos moto- férico mais consistentemente associado a efeitos
rizados, a exposição de grande número de indi- adversos à saúde humana. A toxicidade do mate-
víduos a poluentes atmosféricos é uma situação rial particulado depende de sua composição e
inevitável. Este é precisamente o caso da cidade diâmetro aerodinâmico. Exemplo da variação na
de São Paulo, onde as emissões automotivas são composição de acordo com o diâmetro das par-
preponderantes em relação às demais fontes. tículas poluentes está demonstrado na Figura 1.
Mesmo os mais ferrenhos admiradores de Na Figura 2 podemos ver a ampla variação
veículos concordam que a inalação de gases de na morfologia das partículas ambientais (partí-
emissão automotiva não faz bem à saúde. Ape- culas totais em suspensão coletadas em filtro de
sar deste consenso, o fator saúde é raramente nitro-celulose).
284 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 1 |
Esquema
representando
exemplos dos
diâmetros
aerodinâmicos
do material
particulado, sua
composição e
origem mais
provável.
Fonte: Adaptado de
Environmental
Agency (2004).
Nota: MP2,5: Material particulado com diâmetro aerodinâmico menor ou igual a 2,5 µm; MP10: Material particulado com diâmetro aerodinâ-
mico menor ou igual a 10 µm

Figura 2 |
Imagem capturada
pelo método da
microscopia de
varredura,
mostrando os
diferentes aspectos
morfológicos de
partículas ambientais
em filtro de
nitro-celulose,
coletadas no centro
de Porto Alegre.
QUALIDADE DO AR 285

Análises da composição química realizadas depositam na luz dos alvéolos (de uma maneira
em partículas ambientais revelam a presença de mais simples, espaços entre os alvéolos), onde
espécies químicas com grande potencial para se inicia a transferência de espécies tóxicas das
promover agravos à saúde humana, as quais partículas para o ambiente alveolar e para o
podem ser citadas: os metais pesados (cádmio, meio interno, como demonstrado na Figura 4.
chumbo, cobre, cromo, níquel, manganês, zin- De modo geral, quanto menor a partícula,
co, entre outros), compostos orgânicos voláteis maior a possibilidade de acesso de seus compos-
(antraceno, b-antraceno, pireno, b- pireno, fluo- tos ao meio interno do organismo. A literatura
ranteno, entre outros) e micro-organismos aler- médica tem revelado que as partículas ultrafinas
gênicos (fungos e bactérias). (de diâmetro aerodinâmico igual ou menor do
A composição também interfere de for- que 0,1μm) têm potencial tóxico mais elevado
ma significativa com sua toxicidade. Este é do que o das partículas maiores. No entanto, a
um ponto que merece reflexão, visto que a literatura sobre os efeitos tóxicos das partículas
legislação ambiental estabelece padrões de ultrafinas ainda é bastante escassa do ponto de
qualidade do ar somente em termos de sua vista epidemiológico, sendo dominada por estu-
concentração em massa. No entanto, deveria dos em animais ou em modelos in vitro.

2.2 | Ozônio
ser considerado também seu potencial tóxico.
Como exemplos podem ser citadas as emissões
de veículos a diesel, que apresentam potencial
tóxico significativamente maior que a mesma O ozônio e outros oxidantes fotoquímicos
massa de aerossol marinho (partículas prove- são poluentes que não são emitidos diretamente
nientes do mar). pelas fontes, mas formados a partir de uma série
Outra informação que merece considera- de reações fotoquímicas na atmosfera. Estas
ção é a taxa de deposição pulmonar efetiva de reações ocorrem devido à energia transferida às
cada uma das frações do material particulado, substâncias precursoras quando elas absorvem
visto que o diâmetro aerodinâmico das par- fótons a partir da radiação solar. Os precursores
tículas interfere com a sua retenção ao longo mais caracteristicamente associados à formação
dos diferentes segmentos do trato respiratório de espécies oxidantes na atmosfera são o dió-
(Figura 3). xido de nitrogênio (NO2) e os compostos orgâ-
A toxicidade das partículas é determina- nicos voláteis, ambos presentes nas emissões
da pelos compostos presentes naquelas que se veiculares ou na queima de biomassa.

Figura 3 |
Taxa estimada de
deposição das
partículas ambientais,
ao longo de diferentes
segmentos do trato
respiratório, em um
adulto respirando pela
boca (VAS = vias
aéreas superiores).
Fonte: Adaptado de
Heinsohn & Kabel (1998).
286 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 4 |
Representação
esquemática da
absorção de
compostos tóxicos
contidas nas
partículas
depositadas nos
alvéolos.
Fonte: Paulo Hilário
Nascimento Saldiva.

A reação final do ciclo de formação do ozô- com diferentes tempos de latência: efeitos com-
nio na atmosfera, que produz nitratos orgânicos, portamentais e cognitivos; inflamações pulmo-
pode ser entendida como uma forma de estabi- nares e sistêmicas; alterações no calibre das
lização e transporte do NO2 a longas distâncias vias aéreas, do tônus vascular e do controle do
(principalmente na forma de peroxi-acetil nitra- ritmo cardíaco; alterações reprodutivas; morbi-
to), uma vez que o equilíbrio da reação pode ser dade e mortalidade por doenças cardiorrespi-
revertido em áreas distantes da fonte primária ratórias; aumento da incidência de neoplasias,
de NO2. Desta forma, as concentrações de ozô- entre outros.
nio tendem a ser substancialmente maiores nas Dada à multiplicidade de ocorrências pos-
regiões mais distantes dos pontos da emissão síveis, é necessária a definição, de forma objeti-
primária de seus precursores, dependendo do va, de efeito adverso à saúde. A partir desta defi-
transporte pelos ventos e a altura da camada de nição, é possível selecionar quais são os eventos
inversão, fazendo com que as áreas de atenção úteis para se determinar o impacto que alguma
por ozônio possam ocorrer distantes dos gran- modificação ambiental terá sobre a população
des centros e em áreas desprovidas de monito- exposta.
ramento ambiental. A definição mais amplamente adotada
para caracterizar um efeito adverso à saúde tem

2.3 | Efeitos da poluição do ar


sido aquela preconizada pela American Thoracic

sobre a saúde humana


Society (1985), que define agravo à saúde como:

Um evento médico significativo, caracterizado por


Inicialmente, é necessário estabelecer os um ou mais dos seguintes fatores: 1) interferência
com a atividade normal dos indivíduos afetados;
limites dos efeitos à saúde que se pretende avaliar.
2) doença respiratória episódica; 3) doença inca-
Os efeitos à saúde da população devido à exposi- pacitante; 4) doença respiratória permanente; 5)
ção a poluentes ambientais são diversos, exibin- disfunção respiratória progressiva (ANDREWS;
do diferentes intensidades e manifestando-se BUIST; FERRIS, 1985).
QUALIDADE DO AR 287

No ano de 2000, à luz dos novos conheci-


mentos científicos, a Sociedade Americana de
Doenças Torácicas expandiu o escopo de sua
definição anterior, incorporando os seguintes
eventos: biomarcadores, qualidade de vida,
alterações fisiológicas, sintomas, aumento de
demanda por atendimento médico e, finalmente,
mortalidade (SAMET, J. et al., 2000).
Figura 5 |
Mais recentemente, em 2004, a Sociedade
Americana de Cardiologia (BROOK et al., 2004) Esquema representativo
publicou um documento reconhecendo a poluição da relação entre
gravidade dos efeitos
da poluição e o número
atmosférica como um fator de risco para o agrava-
de pessoas afetadas
mento de doenças cardiovasculares, notadamente
infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca pela poluição em uma
dada comunidade.
Fonte: Adaptado de
congestiva e desenvolvimento de arritmias.
American Thoracic
Estudos realizados com dados da American
Cancer Society (POPE et al., 2002) incluem neo- Society (2000).
plasias pulmonares (câncer no pulmão) como
um indicador de efeitos da poluição atmosférica. coração (pequena arritmia) ou queda dos indica-
Finalmente, alterações reprodutivas, tais como dores de função pulmonar. Em um nível de gra-
baixo peso ao nascer, abortamentos e alterações vidade maior, indivíduos que utilizam medicação
das proporções entre sexos ao nascimento tam- cronicamente para o controle de doenças respi-
bém foram incorporados no conjunto de indi- ratórias e cardíacas (asma e hipertensão arterial,
cadores de efeitos prejudiciais significativos da por exemplo), necessitarão de maior quantidade
poluição do ar. de medicamento para controlar a sua doença.
Alguns dos efeitos adversos da poluição do Haverá aqueles que, incapazes de controlar,
ar sobre a saúde humana podem se manifestar por si próprios, as alterações adversas, procura-
de forma aguda – horas ou dias após a exposição rão o médico para consultas ou, nos casos mais
– enquanto outros somente são evidenciados após graves, serão internados em prontos-socorros ou
longos períodos de exposição – os chamados efei- hospitais. Por fim, uma parte dos afetados morre-
tos crônicos. Tantos os efeitos agudos como os crô- rá no dia ou poucos dias depois, em virtude dos
nicos podem exibir diferentes níveis de gravidade, efeitos da poluição a que foram expostos.
abrangendo uma gama de consequências que osci- Como a maior parte dos estudos que
lam desde um desconforto vago até a morte. avaliam os efeitos agudos da poluição utiliza
A pirâmide de efeitos mostrada na Figu- somente desfechos graves, como internações
ra 5, apresenta a relação entre a gravidade dos respiratórias e mortalidade, é provável que os
efeitos gerados pela poluição atmosférica e a coeficientes que relacionam o prejuízo à saú-
proporção da população atingida. de humana decorrente da poluição atmosfé-
Alguns exemplos podem ser citados para rica estejam subestimados, já que os eventos
ilustrar essa relação. Quando a poluição do ar que comprometem a qualidade de vida mas
aumenta, uma grande parte da população apre- não geram internação ou morte não são com-
sentará alterações cognitivas ou irritabilidade putados pela inexistência de sua notificação
não específica. Uma menor proporção dos indi- obrigatória.
víduos expostos apresentará um aumento de A Tabela 1 mostra os coeficientes que rela-
marcadores plasmáticos (sanguíneos) e pulmo- cionam exposição crônica a partículas inaláveis
nares de inflamação, indicando a presença de – MP (aumento de 10 µg/m3 de MP2,5) e a morta-
inflamação subclínica (sem sintomas). lidade por doenças respiratórias, cardiovascula-
Em uma proporção ainda menor da popula- res e câncer do pulmão, obtidos pelo estudo de
ção, esta inflamação poderá acarretar alterações cerca de 500.000 pessoas de diferentes regiões
funcionais, como aumento da pressão arterial, da América do Norte por 21 anos (POPE et al.,
discreto distúrbio do controle autonômico do 2002).
288 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Tabela 1 | Mortalidade % de aumento (IC)


¡ exposições de curta duração produzem
Coeficientes
inflamação do trato respiratório, predo-
relacionando Todas as causas 1,06 (1,02 - 1,4) minantemente nas vias aéreas superio-
aumento de res e na região de transição entre o bron-
mortalidade por Cardiopulmonar 1,09 (1,03 - 1,16)
diferentes causas a
quíolo respiratório e os alvéolos;
exposição crônica Câncer do pulmão 1,14 (1,04 - 1,23)
¡ estudos de câmaras de intoxicação
ao MP2,5. demonstram que os níveis de ozônio
Fonte: Pope et al. Outras causas 1,01 (0,95 - 1,04)
(2002).
presentes nas grandes cidades do Bra-
sil (160 μg/m3) são capazes de induzir
inflamação pulmonar significativa, tanto
em seres humanos como em animais, se
O estudo de Pope et al. (2002) indica cla- estabelecendo poucas horas após o tér-
ramente que a mortalidade por doenças car- mino da exposição;
diorrespiratórias e o câncer do pulmão está ¡ a inalação de ozônio é capaz de induzir
associada à exposição prolongada ao material reação inflamatória sistêmica;
particulado, especialmente a sua fração mais ¡ a inalação de ozônio prejudica as defesas
fina (MP2,5). Como resultado do aumento des- pulmonares;
tas doenças, ocorre uma redução da expectati- ¡ níveis ambientais de ozônio causam
va de vida, como demonstrado pelo estudo de aumento da reatividade brônquica.
seis cidades norte americanas conduzido por
Dockery et al. (1996) (Figura 6). Alguns fatores do indivíduo exposto à
poluição modulam a magnitude da resposta
ao ozônio, tais como idade, comorbidade res-
piratória e fatores genéticos que modulam a
síntese de substâncias antioxidantes pelo trato
respiratório.
Estudos realizados em várias cidades e
estudos de meta-análise mais recentes demons-
tram que há efeitos agudos das variações de ozô-
nio e mortalidade da população exposta. O resu-
mo destes estudos pode ser visto na Tabela 2.

Figura 6 |
Expectativa de vida
2.4 | Exposição e vulnerabilidade
em seis cidades da população da RMSP à poluição
atmosférica
americanas que
exibem diferentes
níveis ambientais
de MP2,5 .
Fonte: Dockery
Nos grandes centros urbanos, geralmente
et al. (1996). as maiores concentrações de poluentes estão
nas regiões centrais. Contraditoriamente, em
muitas regiões do planeta, são as regiões mais
desprovidas de árvores.
Os resultados demonstrados na Figura 6 O aumento da suscetibilidade aos poluen-
indicam que a expectativa de vida decresce em tes é dependente de fatores individuais, de
aproximadamente um ano e meio para cada 10 moradia e de condicionantes socioeconômicas.
µg/m3 de MP2,5, devido a doenças cardiopul- Entre os fatores de natureza individual os mais
monares e câncer de pulmão. importantes são idade, morbidades associadas e
Estudos utilizando inalações controladas, características genéticas.
tanto em animais como em seres humanos, indi- Os extremos da pirâmide etária têm
cam que o ozônio tem potencial de provocar sido consistentemente apontados como alvos
efeitos adversos à saúde humana, como: preferenciais da ação adversa dos poluentes
QUALIDADE DO AR 289

Local do Estudo Achados Referência

95 cidades 20 µg/m3 de ozônio foi associado a incrementos de


norte-americanas 0,52% da mortalidade geral e 0,64% da mortalidade Bell et al. (2004)
cardiorrespiratória.

Um aumento de 10 µg/m3 foi associado a um aumento


23 cidades europeias de 0,33% na mortalidade geral, 0,45% da mortalidade Gryparis et al. (2004)
cardiovascular e 1,13% na mortalidade respiratória.

Meta-análise de estudos Um aumento de 10 µg/m3 foi associado a um aumento


conduzidos em 7 cidades de 0,3% na mortalidade geral e 0,4% da mortalidade por Anderson et al. (2004)
europeias doenças cardiovasculares.

14 cidades Um aumento de 20 µg/m3 na média horária de ozônio foi


norte-americanas associado a um incremento da mortalidade respiratória Schwartz, 2005
de 0,23%.

Meta-análise de
39 estudos de séries Um aumento de 10 µg/m3 foi associado a um incremento Bell; Dominici;
temporais realizados de 1,1% de mortalidade por doenças cardiovasculares. Samet (2005)
nos Estados Unidos

Meta-análise de
43 estudos realizados
em diferentes partes do Um aumento de 20 µg/m3 da média horária de ozônio Ito; De Leon; Tabela 2 |
mundo acrescidos foi associado a um incremento de 0,39% na Lippmann (2005) Resumo de estudos
de 7 estudos mortalidade geral. representativos
norte-americanos relacionando
variações agudas
Meta-análise de Aumento de 0,21% na mortalidade geral para um Levy; Chemerynski; de ozônio com
28 estudos incremento de 10µg/m3 na concentração média Sanart (2005) mortalidade.
norte-americanos de ozônio. Fonte: Elaboração
própria.

atmosféricos, especialmente nos segmentos O tipo de construção também afeta o


abaixo dos cinco e acima dos 65 anos de idade. grau de penetração dos poluentes no interior
Morbidades associadas, tais como asma, bron- das residências. Construções mais antigas e
quite crônica, doença aterosclerótica, diabetes desprovidas de condicionamento de ar ten-
mellitus, miocardiopatias e arritmias cardíacas dem a apresentar maior grau de penetração
estão entre as condições patológicas sabida- dos poluentes atmosféricos. A Figura 7 ilustra
mente predisponentes da suscetibilidade aos este fato ao mostrar a correlação entre medi-
efeitos dos poluentes atmosféricos. das de MP10, feitas em diferentes áreas do Hos-
As condições de moradia afetam a dose pital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
recebida e, consequentemente, a suscetibilida- Universidade de São Paulo (USP) e as medidas
de aos poluentes. Nos grandes centros urbanos, realizadas simultaneamente na estação de
existem áreas onde a geração dos poluentes é monitoramento do ar da CETESB no bairro de
grande e a dispersão é deficitária, favorecen- Cerqueira César, distante cerca de 300 metros
do níveis significativamente maiores de polui- do Hospital.
ção do que a média urbana. Áreas vizinhas aos A Figura 7 demonstra que um prédio
grandes corredores de tráfego, as baixadas construído na década de 1940, como o Hospital
urbanas, regiões sujeitas a constantes con- das Clínicas, é bastante permeável ao material
gestionamentos, são pontos que condicionam particulado ambiental. Quanto às condições
maior risco aos seus habitantes. Por exemplo, socioeconômicas também interferirem na sus-
medidas de MP2,5 realizadas sob o elevado Pre- cetibilidade aos poluentes atmosféricos, foi
sidente João Goulart (o popular Minhocão) em demonstrado que na cidade de São Paulo, dada
São Paulo, revelaram valores três vezes supe- uma mesma variação de poluição ambiental
riores à média da cidade. (expressa em termos de MP10), a mortalidade
290 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 7 |
Relação entre
de compra de medicamentos para tra-
medidas de MP10
tamento de doenças;
realizadas em dias b) condições que favorecem uma maior
diferentes, em exposição aos poluentes: a relação
diferentes áreas
do Hospital das
entre exclusão social e maior expo-
Clínicas da FMUSP sição aos poluentes ocorre tanto em
(indoor) níveis continentais, como dentro de
com medidas
simultâneas de
cada comunidade. Processos indus-
MP10, realizadas
triais mais “sujos”, veículos com tec-
pela CETESB em nologia menos desenvolvida, com-
sua estação
Cerqueira César,
bustíveis com maiores teores de
distante 300 metros
contaminantes, são eventos reconhe-
do Hospital. cidamente mais frequentes nos países
Fonte: Elaboração em desenvolvimento.
própria.
será maior nos bairros com piores indicadores Em menor escala, dentro de uma mesma
socioeconômicos. comunidade, é comum o fato de que as pro-
A Figura 8 mostra o incremento percen- fissões que levam a uma maior exposição aos
tual de mortalidade para idosos com idade poluentes (trabalhadores de rua, por exemplo)
acima de 65 anos, em diferentes regiões da sejam exercidas pelos segmentos mais caren-
cidade de São Paulo em função dos indicado- tes da população. Da mesma forma, moradias
res socioeconômicos (no caso, fração da popu- nas bordas de vias com alto tráfego e a utiliza-
lação com educação de nível superior). ção de lenha ou resíduos para a preparação de
Como evidencia na Figura 8, a região alimentos são eventos mais comuns aos gru-
mais carente de educação apresentou um pos menos favorecidos.
aumento da mortalidade em aproximadamen- Desta forma, a maior vulnerabilidade dos
te seis vezes, se comparado com o observado segmentos de menor poder econômico aos
na área com maior indicador de estudo. poluentes atmosféricos é determinada tanto
Os fatores que determinam a maior vul- pelas piores condições basais de saúde e aces-
nerabilidade da população menos favorecida so aos instrumentos de saúde, quanto por uma
frente aos poluentes atmosféricos podem ser maior exposição à poluição.

3 | A VEGETAÇÃO COMO
divididos em dois grandes grupos:
a) eventos relacionados às condições de

ELEMENTO DE REDUÇÃO
saúde e o acesso a cuidados e medi-

DAS CONCENTRAÇÕES DE
camentos: é sabido que a população
mais carente apresenta condição de

POLUENTES ATMOSFÉRICOS
saúde mais precária devido a proble-
mas de saneamento, nutrição, acesso
aos serviços médicos e menor poder
Figura 8 |
Se por um lado é cada vez maior a pro-
Variação do
porção da população mundial em áreas urba-
incremento de nas, por outro lado, a supressão da cobertura
mortalidade para vegetal nas grandes cidades tem provocado a
uma variação
interquartil de MP10
perda de serviços ecossistêmicos, com refle-
em diferentes xos diretos no bem-estar humano. A literatura
regiões da cidade reporta quatro principais formas de contri-
de São Paulo,
diferenciadas por
buição das áreas verdes (plantas e árvores) na
nível socioeconômico
atenuação da poluição atmosférica:
(fração da população a) absorção pelos estômatos das folhas a
com educação de
nível superior).
partir da interceptação dos poluentes
Fonte: Martins et al.
pela sua superfície. Dentro das folhas,
(2004). os gases se difundem nos espaços
QUALIDADE DO AR 291

intercelulares, podendo ser reabsor- Em estudo semelhante, Escobedo et al.


vidos por filmes d´água (Smith, 1990 (2012) examinaram o papel das árvores na cida-
apud NOWAK; CRANE; STEVENS, 2006; de de Gainesville, Flórida, e constataram que as
NOWAK et al., 2014); árvores removeram 390 toneladas de poluição
b) interceptação da poluição pelas árvores, do ar (CO, NO2, O3, PM10, SO2 – monóxido de
permanecendo retida na superfície da carbono, dióxido de nitrogênio, ozônio, parti-
planta e posteriormente ressuspensa à culados e dióxido de enxofre) no ano do estudo,
atmosfera, lavada pelas chuvas e depo- resultando em benefícios econômicos de US$ 2
sitada no solo pela queda das folhas e milhões. Escobedo et al. (2011), em outro estu-
galhos. Nesse caso, as árvores são apenas do, realizado em Miami-Dade, avaliaram que as
um agente intermediário de retenção da árvores urbanas da região retiraram do ar 2.350
poluição (NOWAK; CRANE; STEVENS, toneladas de poluentes no ano das medições,
2006; NOWAK et al., 2014; ESCOBEDO et gerando ganhos econômicos em saúde humana
al., 2012; KONIJNENDIJK et al., 2013); na ordem de US$ 20 milhões.
c) formação de barreira pela vegetação, Ekpe et al. (2012) concluíram que em
que diminui a velocidade do vento, Orlando, Flórida, as árvores urbanas removem
fazendo com que o material particula- do ar cerca de 860 toneladas de poluentes anu-
do decante (JAMIL et al., 2009); almente, incluindo monóxido de carbono (CO)
d) diminuição de ozônio e outros poluen- (2% das remoções totais), monóxido de nitrogê-
tes a partir da redução da temperatura nio (NO) (8%), ozônio (O3) (60%), particulado
e umidificação do ar propiciada pelas (PM10) (27%) e dióxido de enxofre (SO2) (3%).
árvores (NOWAK; CRANE; STEVENS, Cada metro quadrado de copa de árvore remove
2006; ESCOBEDO et al., 2012; KONIJ- cerca de 11,9 gramas de poluição do ar.
NENDIJK et al., 2013). Na cidade britânica de Torbay, Rogers et
Árvores e parques em áreas urbanas podem al. (2012) calcularam que as árvores urbanas
filtrar até 80% da poluição atmosférica da região. retiram cerca de 50 toneladas de poluentes do
Estudos afirmam o potencial das folhas das árvo- ar anualmente, com benefícios estimados de £
res na captura e filtragem de poluentes atmos- 281,000.
féricos e recomendam o plantio de árvores em Uma avaliação conduzida por Konijnen-
locais críticos para reduzir a exposição das pes- dijk et al. (2013) examinou 7 estudos sobre o
soas à poluição (BERNATZKY, 1982; BOLUND; papel de parques urbanos sobre a poluição do
HUNHAMMAR, 1999; MITCHELL et al., 2009). ar (excluindo monóxido de carbono – CO) em
Nowak et al. (2006) examinaram o papel diferentes regiões do mundo. Todos os estudos
das árvores urbanas para a purificação do ar nas apontaram os benefícios dos parques urbanos
cidades dos Estados Unidos. Para os poluentes para a redução da poluição. Por exemplo, os
ozônio (O3), material particulado (PM10), dió- parques de Xangai demonstraram redução de
xido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre 9.1% de partículas suspensas, 5,3% de dióxido
(SO2), monóxido de carbono (CO), obteve-se um de enxofre (SO2) e 2,6% de dióxido de nitrogê-
valor de remoção da poluição do ar de 711.000 nio (NO2).
toneladas/ano (10,8g de poluentes/m2/ano), Shan et al. (2007) observaram que a arbo-
representando um serviço ecossistêmico equi- rização de ruas formando uma espécie de cin-
valente a US$ 3.8 bilhões. Embora a limpeza do turão verde de um mínimo de 5m de largura
ar pelas árvores seja, em média, menor que 1% em Xangai (China) obteve eficiente remoção
em situações de cobertura arbórea de 100%, os das partículas totais em suspensão. Em Santia-
benefícios de curto prazo (1 hora) em algumas go (Chile), Escobedo et al. (2008) observaram
cidades chegou a 16% para ozônio (O3) e dióxi- que o custo da manutenção da floresta urbana
do de enxofre (SO2) 9% para dióxido de nitrogê- é mais baixo do que o custo de outras técnicas
nio (NO2) e 8% para particulados. Entretanto, os e programas adotados para a melhoria da qua-
autores assinalam que o papel das árvores para lidade do ar.
a melhoria das condições do ar perto do nível do A vegetação arbórea possui maior efi-
solo ainda é bastante subestimada. ciência na retenção de material particulado do
292 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

que outros tipos de ocupação do solo. Um estu- média da qualidade do ar promovida por essa
do realizado no Reino Unido concluiu que um remoção represente menos de um por cento do
aumento de 54% na cobertura vegetal de uma total. As maiores remoções de poluentes ocor-
cidade seria capaz de elevar a taxa de remo- reram nas zonas rurais, enquanto que os bene-
ção de partículas inaláveis (MP10) em 26% (Mc fícios na saúde humana predominaram nas
DONALD et al., 2007). zonas urbanas.
A redução de 20% da área vegetada de uma Elmqvist et al. (2015), em análise de ser-
cidade pode aumentar em 14% a concentração viços ecossistêmicos urbanos em 25 cidades
de ozônio (O3) e o aumento de 20% para 40% da americanas, canadenses e chinesas, refletem
cobertura arbórea pode significar a diminuição sobre a necessidade e os grandes benefícios
de 1ppb de ozônio (O3) a cada hora. O decréscimo monetários e não monetários associados à res-
das concentrações de O3 tem um efeito positivo tauração da infraestrutura verde nas cidades,
local imediato, mas a tendência é que esta dimi- tornando-as mais biodiversas e resilientes. Nes-
nuição ocorra em escala regional (NOWAK et al., se estudo, os autores apresentam a quantificação
2000). de cinco serviços ecossistêmicos dessas cidades,
No entanto, a poluição também pode cau- incluindo a remoção da poluição atmosférica. Os
sar danos e provocar o declínio da vegetação benefícios econômicos da purificação do ar, para
urbana. Segundo Baumback (1996), os gases essas urbes equivalem, em média, a US$ 647/
e particulados têm efeitos diretos nas plantas, ha/ano (variação de 60 a 2.106), enquanto as
principalmente nas folhas e acículas e poste- quantidades de poluentes removidos são apre-
riormente nas raízes, por meio da contamina- sentados na Tabela 3.
ção do solo. Cada poluente gera uma interação Em abrangente estudo realizado em Bar-
diferente com a vegetação, assim como a reação celona, envolvendo 792.649 pessoas entre 2010
das plantas ao poluente também varia entre e 2014, Nieuwenhuijsen et al. (2018) avaliaram
espécies e estágio de crescimento (BAYCU et os efeitos da poluição do ar, ruído, áreas verdes
al., 2006). e corpos hídricos sobre mortes prematuras de
Além da redução da poluição do ar, a vege- quaisquer causas. A pesquisa concluiu que a
tação nas cidades pode diminuir o aquecimento exposição às áreas verdes diminuiu esse tipo de
da superfície asfáltica, reduzindo os reparos e mortalidade, ao passo que a exposição ao dió-
gerando uma economia de 58% (McPHERSON et xido de nitrogênio (NO2) e aos corpos hídricos
al., 2005). elevou o risco das mortes prematuras de quais-
Em avaliação sobre o impacto de árvores quer causas.
e florestas, urbanas e rurais, sobre redução Estimativas realizadas para o território da
de poluição atmosférica nos Estados Unidos, RBCV indicam que a taxa de remoção atmos-
Nowak et al. (2014) estimam que em 2010 férica pelas florestas em processo de regene-
foram permanentemente removidos um total ração ultrapassa 28 milhões de toneladas de
de 17,4 milhões de toneladas de poluentes carbono equivalente por ano - o que representa
atmosféricos (variação entre 9 e 23,2 milhões 36% das emissões estaduais anuais (LUCA et al,
de toneladas), com benefícios para a saúde 2014). Em escala local, será discutido o papel
estimados em 6,8 bilhões de dólares (varia- da vegetação na atenuação da poluição atmos-
ção entre 1,5 a 13 bilhões), embora a melhoria férica para a cidade de São Paulo.
QUALIDADE DO AR 293

Cidade ou Estado Poluição removida (kg/ha/ano)

Beijing 132
Casper, WY 6.2 (69.9)
Chicago, IL 13.5 (74.9)
Guangzhou 42.4
Indiana (áreas urbanas) 13.6 (67.6)
Kansas (áreas urbanas) 14.6 (104.6)
Lanzhou 4.1
Los Angeles, CA 14.7 (71.4)
Minneapolis, MN 18.3 (53.8)
Modesto, CA 210
Morgantown, WV 23.4 (59.0)
Nebraska (áreas urbanas) 32.0 (213.6)
New York (NY) 19.0 (91.0)
North Dakota (áreas urbanas) 1.3 (48.3)
Tabela 3 |
Philadelphia, PA 15.3 (73.5) Quantificação da
remoção anual da
Sacramento, CA 9.3 poluição atmosférica
San Francisco, CA 10.7 (66.7) por árvores em
25 cidades. As
Scranton, PA 15.6 (70.9) quantidades são
South Dakota (áreas urbanas) 10.3 (60.8) médias por hectare
em áreas com
Syracuse, NY 15.2 (56.6) cobertura arbórea
(as quantidades em
Tennessee (áreas urbanas) 39.1 (103.6)
parênteses são
Toronto, Canadá 29.9 (112.4) médias por hectare
em áreas com alta
Washington, DC 23.8 (68.0)
cobertura arbórea).
Wisconsin (áreas urbanas) 17.6 (65.8) Fonte: Adaptado de
Elmqvist et al. (2015).

4 | O SERVIÇO ECOSSISTÊMICO
DE REGULAÇÃO DA QUALIDADE
habitantes da cidade e, principalmente, são
elas que prestam importantes serviços ecos-

DO AR NO MUNICÍPIO DE
sistêmicos à população desse centro urbano.

SÃO PAULO
De acordo com o Plano Municipal de Con-
servação e Recuperação da Mata Atlântica no
Município de São Paulo (SÃO PAULO, 2017), os
fragmentos do bioma em território paulistano
O processo de ocupação acelerado da somam 45.906,64 ha, ou 30,4% da superfície
cidade de São Paulo e dos municípios do municipal. Entretanto, essa vegetação está bas-
entorno fez com que a cidade avançasse sobre tante irregularmente distribuída, como pode ser
as áreas verdes, que hoje se restringem a áreas observado na Figura 9.
protegidas estaduais, municipais e proprie- A distribuição das categorias de vegeta-
dades particulares. Essas áreas representam ção no município de São Paulo é apresentada
atualmente os meios de lazer e recreação dos na Tabela 4.
294 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 9 |
Mapeamento dos
Remanescentes de
Mata Atlântica –
Plano Municipal de
Conservação
e Recuperação da
Mata Atlântica do
Município de São
Paulo.
Fonte: São Paulo
(2017).
QUALIDADE DO AR 295

Categoria de Área Porcentagem Fragmentos


vegetação (hectares) (por categoria) (unidade)

Bosque Heterogêneo (BOH) 6.039,62 13,16 1.498


Campo Alto Montano (CAM) 576,13 1,26 353
Tabela 4 |
Campos Gerais (CPO) 2.548,66 5,55 783 Distribuição das
categorias de
Campo de Várzea e vegetação em
Vegetação Aquática (CVA) 1.783,10 3,88 404 hectares, percentual
Mata de Várzea (MAV) 671,54 1,46 107 e número de
fragmentos, no
Mata Ombrófila Densa (MOD) 34.287,58 74,69 1.351 município de
Total 45.906,64 100,00 4.496 São Paulo.
Fonte: São Paulo (2017).

Esse padrão de distribuição da vegetação, A avaliação dos poluentes foi feita a partir
que reflete o histórico de ocupação da cidade, da análise química de cascas de árvores, técni-
faz com que os serviços ecossistêmicos estejam ca utilizada desde a década de 1970 (BARNES;
mais vigorosamente disponíveis a um setor de HAMADAH; OTTAWAY, 1976; BOHM et al., 1998;
sua população, enquanto milhões de pessoas SCHELLE et al., 2008; FAGGI et al., 2011), conhe-
vivem com pouco ou praticamente nenhum con- cida como biomonitoramento.
tato com os benefícios dos ecossistemas. Arndt e Schweizer (1991) definem bioindi-
Os serviços dos ecossistemas são fundamen- cadores como organismos ou conjunto de orga-
tais para tornar viável a vida nas metrópoles que nismos que reagem a perturbações ambientais
deles se utilizam e determinar o nível de quali- por meio de alterações nas suas funções vitais
dade de vida de suas populações. Alguns desses ou composição química e podem ser usados
principais serviços associados aos ecossistemas para avaliação da extensão das mudanças em
urbanos e periurbanos, característicos das peque- seu ambiente.
nas e grandes áreas verdes que compõem o cintu- São várias as vantagens da utilização de
rão verde da cidade de São Paulo são: produção de vegetais como bioindicadores, podendo ser cita-
alimentos; recursos madeireiros e não madeirei- dos o baixo custo, aplicação da técnica em áreas
ros; produtos bioquímicos e farmacêuticos; pro- em que não há a presença do monitoramento
visão e regulação da água; controle de processos instrumental convencional, facilidade do trei-
geohidrológicos de erosão, escorregamento, asso- namento de pessoal para manuseio das técnicas
reamento e inundações; regulação climática local correspondentes, potencial educativo do pro-
e regional; serviços culturais folclorísticos, de cesso, entre outros.
lazer e turismo; além da regulação da qualidade A utilização de cascas de árvores é classi-
do ar, objeto deste capítulo (RODRIGUES, 2014). ficada como biomonitoramento passivo, em que
Para este último, os estudos realizados por Mar- os indivíduos já se encontram no local da amos-
tins (2009) e Martins et al. (2011), a seguir deta- tragem. Essa técnica evita despesas com trans-
lhados, demonstram o papel dos ecossistemas na portes ou produção/manutenção de mudas, não
regulação da qualidade do ar da RBCV. ocasiona danos às plantas, uma vez que apenas
Os trabalhos supramencionados foram as camadas mais externas são retiradas, além
conduzidos em determinadas "células" da RBCV de permitir o georreferenciamento dos indiví-
– parques urbanos localizados no município de duos para posteriores análises geoestatísticas.
São Paulo, que se configuram como zonas de Trata-se de alternativa bastante eficiente, segu-
amortecimento e conectividade desta reserva da ra, disponível e barata para complementar o
biosfera. Esses estudos consistiram em analisar monitoramento tradicional.
o padrão de dispersão de determinados elemen- Schelle (2008) aponta a conveniência da
tos químicos (elementos-traço) dentro desses utilização das cascas de árvores como método
parques gerados pelo tráfego urbano em suas para o monitoramento urbano e industrial, em
redondezas e a contribuição da vegetação para complemento aos métodos convencionais, indi-
a redução desses poluentes. cando adequadamente “hot spots” de poluição;
296 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

o autor também destaca o potencial das árvores fontes específicas de poluentes atmosféricos; iii)
como filtros naturais de poluentes. Schelle et al. associar a dispersão dos poluentes dentro dos
(2008), em análise de 642 amostras de cascas parques com a densidade de cobertura vegetal
de árvores da região metropolitana de Sheffield, dessas áreas verdes.
Inglaterra, associaram concentrações de arsênio Dos elementos químicos analisados, alguns
(As), cádmio (Cd), e níquel (Ni) nos indivíduos são bem característicos das diferentes fontes de
arbóreos com emissões antropogênicas, com poluição atmosférica incidentes numa grande
destaque para a inexistência de diferenças signi- cidade, aqui classificados em fatores:
ficativas de concentração dos elementos avalia- ¡ Fator 1: bário (Ba), cobalto (Co), cromo
dos entre as diferentes espécies amostradas, o (Cr), cobre (Cu) e ferro (Fe) são resultantes
que indica que a medição de poluentes em espé- de emissões dos freios veiculares, fricção
cies variadas, numa mesma região, não ocasio- dos pneus e desgaste de partes metálicas.
na erros significativos no biomonitoramento da ¡ Fator 2: zinco (Zn) e enxofre (S) são
poluição atmosférica. resultantes dos escapamentos veiculares,
O biomonitoramento a partir das cascas de especialmente importantes em países
árvores nos parques paulistanos, trabalho pio- como o Brasil, com combustíveis ainda
neiro na cidade, permitiu a coleta de um grande contendo altos níveis de enxofre. As par-
número de amostras em regiões sob significati- tículas geradas por essa via são menores
va influência da emissão de poluentes por trá- do que aquelas geradas por fricção.
fego urbano, tornando esse levantamento finan- ¡ Fator 3: chumbo (Pb) e cádmio (Ca) são
ceira e operacionalmente viável na escala e com resultantes da erosão do asfalto e ressus-
a intensidade amostral realizados. pensão do chumbo depositado na malha
Em cada parque, foram coletadas amostras viária.
de diferentes espécies de árvores, com diferen- Os estudos sobre o papel dos ecossistemas
tes diâmetros, em alturas de 1,20m a 1,50m aci- de São Paulo na regulação da qualidade do ar
ma do nível do solo, com preferência às cascas foram realizados em cinco parques, cujas carac-
rugosas. As amostras, devidamente georreferen- terísticas de entorno apresentam a seguinte
ciadas, foram classificadas em externas (locali- configuração:
zadas a menos de 50m dos limites do parque), a) regiões com tráfego intenso e predomi-
internas (localizadas a mais de 200m das mar- nância de veículos leves: Parque da Acli-
gens, no interior dos parques) e intermediárias mação (rua Muniz de Souza, 1119, Acli-
(situadas entre as duas categorias anteriores). mação; e Parque do Ibirapuera (avenida
As amostras foram analisadas utilizando-se Pedro Álvares Cabral, s/n, Vila Mariana);
a técnica de fluorescência de raios-x por disper- b) regiões centrais com tráfego intenso,
são de energia (EDXRF) visando à determinação presença de veículos leves e pesados de
quantitativa dos elementos arsênio (As), bário transporte coletivo: Parque Jardim da
(Ba), bromo (Br), cálcio (Ca), cádmio (Cd), cobal- Luz (praça da Luz, s/n, Bom Retiro); e
to (Co), cromo (Cr), cobre (Cu), ferro (Fe), mercú- Parque Tenente Siqueira Campos – Par-
rio (Hg), manganês (Mn), níquel (Ni), fósforo (P), que Trianon (rua Peixoto Domide, 949,
chumbo (Pb), enxofre (S), antimônio (Sb), selênio Cerqueira César);
(Se), estrôncio (Sr), vanádio (V) e zinco (Zn). c) região mais periférica próximo de
Os resultados obtidos para os elementos arsê- rodovia sob forte influência de veículos
nio (As), cádmio (Cd), mercúrio (Hg), selênio (Se) pesados movidos a diesel, como ônibus
e vanádio (V) ficaram abaixo do limite de detecção e caminhões: Parque Previdência (rua
do equipamento e, por isso, não foram utilizados. Pedro Peccinini, 88, Jardim Ademar).
Martins (2009, 2011) teve por objetivos: i) Foi ainda estabelecida uma região con-
caracterizar a área de influência de corredores trole para coleta de amostras, em um parque
de tráfego veicular em cinco parques da cidade no município vizinho de Embu-Guaçu, distan-
de São Paulo por meio do biomonitoramento de te de tráfego ou indústrias.
elementos-traço acumulados em cascas de árvo- A localização dos parques analisados e da
res; ii) verificar a possibilidade de identificar região controle podem ser vistas na Figura 10.
QUALIDADE DO AR 297

Figura 10 |
Localização dos
parques Jardim da
Luz, Trianon,
Aclimação,
Previdência,
Ibirapuera (em São
Paulo) e Embu-Guaçu
(região controle).
Fonte: Elaboração
própria. Adaptado de
Martins (2009).

Os mapas dos cinco parques de São Paulo com as análises espaciais de distribuição apresen-
tados dos elementos da Figura 11 à Figura 25.
298 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 11 |
Imagem aérea
do Parque da
Previdência, no
Jardim Ademar,
em São Paulo.
Fonte: Google
Earth (2019).

Figura 12 |
Distribuição dos
poluentes bário
(Ba); cobalto (Co);
cromo (Cr); e cobre
(Cu) nas cascas
das árvores
amostradas no
Parque Previdência,
em São Paulo.
Elaboração própria.
Com base em
Martins (2009).
QUALIDADE DO AR 299

Figura 13 |
Localização do
Parque Previdência e
distribuição dos
poluentes ferro (Fe);
enxofre (S); zinco (Zn);
cálcio (Ca) e chumbo
(Pb) nas cascas de
árvores estudadas.
Fonte: Elaboração
própria. Com base em
Martins (2009); Google
Earth (2019).
300 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 14 |
Imagem aérea do
Parque Jardim
da Luz, no
Bom Retiro,
em São Paulo.
Fonte: Google
Earth (2019).

Figura 15 |
Distribuição dos
poluentes bário
(Ba); cobalto (Co);
cromo (Cr); cobre
(Cu) nas cascas
das árvores
estudadas no
Parque Jardim
da Luz. Elaboração
própria. Com base
em Martins (2009).
QUALIDADE DO AR 301

Figura 16 |
Localização do
Parque Jardim da Luz
e distribuição dos
poluentes ferro (Fe);
enxofre (S); zinco (Zn);
cálcio (Ca) e chumbo
(Pb) nas cascas das
árvores estudadas.
Fonte: Elaboração
própria. Com base em
Martins (2009); Google
Earth (2019).
302 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 17 |
Imagem aérea do
Parque Trianon,no
bairro Cerqueira
César, em
São Paulo.
Fonte: Google
Earth (2019).

Figura 18 |
Distribuição dos
poluentes bário
(Ba); cobalto (Co);
cromo (Cr);
cobre (Cu) nas
cascas das árvores
estudados no
Parque Trianon.
Elaboração própria.
Com base em
Martins (2009).
QUALIDADE DO AR 303

Figura 19 |
Localização do Parque
Trianon e distribuição
dos poluentes: ferro
(Fe); enxofre (S); zinco
(Zn); cálcio (Ca) e
chumbo (Pb) nas
cascas das árvores
estudadas.
Fonte: Elaboração
própria. Com base em
Martins (2009); Google
Earth (2019).
304 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 20 |
Imagem aérea do
Parque Aclimação,
no bairro
Aclimação, região
região central
de São Paulo.
Fonte: Google
Earth (2019).

Figura 21 |
Distribuição dos
poluentes bário
(Ba); cobalto (Co);
cromo (Cr); cobre
(Cu) nas cascas
das árvores
estudadas no
Parque da
Aclimação.
Elaboração própria.
Com base em
Martins (2009).
QUALIDADE DO AR 305

Figura 22 |
Localização do
Parque Aclimação e
distribuição dos
poluentes ferro (Fe);
enxofre (S); zinco (Zn);
cálcio (Ca) e chumbo
(Pb) nas cascas das
árvores estudadas.
Fonte: Elaboração
própria. Com base em
Martins (2009); Google
Earth (2019).
306 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 23 |
Imagem aérea
do Parque do
Ibirapuera, na
Vila Mariana,
em São Paulo.
Fonte: Google
Earth (2019).

Figura 24 |
Distribuição dos
poluentes bário
(Ba); cobalto (Co);
cromo (Cr); cobre
(Cu) nas cascas
das árvores
estudadas no
Parque Ibirapuera.
Elaboração própria.
Com base em
Martins (2009).
QUALIDADE DO AR 307

Figura 25 |
Localização do
Parque Ibirapuera
e distribuição dos
poluentes ferro (Fe);
enxofre (S); zinco (Zn);
cálcio (Ca) e chumbo
(Pb) nas cascas das
árvores estudadas.
Fonte: Elaboração
própria. Com base em
Martins (2009); Google
Earth (2019).
308 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

As distribuições espaciais exibidas nas Em vista dos resultados obtidos, as áreas


Figuras 11 a 25 permitem avaliar que, para estudadas foram classificadas em três catego-
todos os parques e todos os elementos-traço rias: rural (Embu-Guaçu, região considerada
analisados, existe decaimento dos poluentes “controle”), urbana (parques localizados dentro
amostrados nas cascas das árvores, ainda que da cidade) e categoria rodovia (parque situado
em níveis distintos, das bordas para o centro em vizinhança de rodovia). Por essa classifica-
dos parques. ção, na área da categoria urbana estão os par-
O comportamento observado para o ques que sofrem influência predominante de
decaimento dos poluentes é diferente para os veículos leves e na categoria rodovia, o parque
elementos-traço pertencentes aos fatores 1, 2 e que sofre maior influência de veículos pesados
3, como se pode notar na Figura 26. (caminhões e ônibus, movidos a diesel) (MAR-
A regulação da qualidade do ar desempe- TINS, 2009).
nhada pelos parques é mais evidente para os A segunda etapa do trabalho, que consis-
elementos do fator 1, presentes em partículas tiu na avaliação da influência da densidade de
mais grossas e pesadas, com taxa de espalha- vegetação sobre a redução de poluição (MAR-
mento mais restrita e menor tempo de disper- TINS et al, 2011), utilizou como elementos
são atmosférica. A quantidade desses elementos marcadores o cobalto (Co) e o enxofre (S) nas
decai mais fortemente no sentido borda-centro cascas das árvores, justamente por serem indi-
dos parques, se comparada à dos elementos do cadores de fontes de poluição distintas e pos-
fator 2 – enxofre (S) e zinco (Zn), provavelmen- suírem tamanho e peso molecular diferentes,
te um indicativo da composição do material sendo o cobalto (Co) mais pesado que as com o
particulado mais fino a que estes pertencem, o enxofre (S).
que explica sua distribuição mais homogênea. A análise de cobertura arbórea versus
Os dados obtidos mostram que o tráfego veicu- redução de poluição do ar foi aplicada em qua-
lar impacta o entorno dos parques, porém com tro parques: Trianon, Previdência, Jardim da
distâncias variáveis, posto que alguns elemen- Luz e Ibirapuera, com porcentagens de cober-
tos mostram decaimento a apenas dezenas de tura vegetal, respectivamente, de 99,8%, 75,9%,
metros de distância dos principais corredores 63,5% e 30,8% (MARTINS et al., 2011). As Figu-
de tráfego enquanto outros se espalham por ras 27 a 29 apresentam os gráficos das análises.
centenas de metros (MARTINS, 2009). As análises (MARTINS, 2009; MARTINS
A região controle em Embu-Guaçu mos- et al., 2011) demonstram respostas positivas
trou concentrações menores de todos os ele- da porcentagem de cobertura arbórea dos
mentos-traço quando comparada aos parques parques sobre a redução dos poluentes, con-
paulistanos, exceção feita à comparação com os firmando que vegetação é um elemento redu-
elementos do fator 1 no centro dos cinco par- tor da poluição atmosférica, com a ressalva já
ques municipais de São Paulo que, na média, feita anteriormente de que a eficiência do ser-
estavam presentes em quantidades tão baixas viço ecossistêmico varia em função do elemen-
quanto aquelas da área controle (MARTINS, to analisado. As figuras, gráficos e resultados
2009). apresentados convidam a algumas reflexões:

Figura 26 |
Médias e desvios
padrão das
concentrações dos
elementos obtidas
nas amostras de
cascas de árvores,
agrupadas nos
fatores 1, 2 e 3,
em cada região interna
dos parques estuda-
dos e na região contro-
le. Fonte: Elaboração
própria. Adaptado
de Martins (2009).
QUALIDADE DO AR 309

Figura 27 |
Cobertura arbórea
x coeficiente de
redução de poluentes
nas cascas das
árvores nos parques.
Fonte: Martins (2011).

Figura 28 |
Atenuação de cobalto
(Co) nas cascas das
árvores de 4 parques
municipais de
São Paulo, em relação
à distância da sua
borda viária
(concentração x
distância).
Adaptado de Martins
et al. (2011).

Figura 29 |
Atenuação de enxofre
(S) nas cascas das
árvores de 4 parques
municipais de São
Paulo, em relação à
distância da sua borda
viária (concentração x
distância).
Fonte: Adaptado de
Martins et al. (2011).
310 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

¡ verifica-se, de forma significativa, a pre- tempo de permanência da casca no tron-


sença do serviço ecossistêmico de regu- co das árvores. Por isso, não se sabe ao
lação da qualidade do ar nos parques certo o período correspondente às con-
estudados, observando-se a tendência centrações de poluentes encontrados.
da redução da concentração de poluen-
tes no sentido borda-centro dessas Esses resultados sobre o papel regula-
áreas; dor da vegetação sobre a poluição atmosférica
¡ esse papel de filtragem é bastante deveriam ser intensificados, não apenas nos
influenciado pela porcentagem de cober- parques de menor dimensão e mais centrais,
tura arbórea de cada parque; mas também nas extensas áreas verdes periur-
¡ para as regiões avaliadas, observou-se banas características da RBCV, para que se
que a vegetação é mais eficiente para conheça mais profundamente a importância
filtragem dos elementos predominan- desse território para a saúde humana, incluin-
temente originários de atritos e des- do os impactos decorrentes para a economia
gaste dos veículos – bário (Ba), cobalto com a redução dos gastos nos sistemas público
(Co), cromo (Cr), cobre (Cu) e ferro (Fe) e privados de saúde.
do que para aqueles mais comumente Os dados apresentados sinalizam na
advindos de combustão de alta tempe- direção de que políticas públicas robustas de
ratura, lançados pelos escapamentos ampliação das áreas verdes, especialmente nas
veiculares – enxofre (S) e zinco (Zn); regiões mais urbanizadas da RBCV, devem ser
¡ vários outros fatores interferem na dis- implementadas como forma complementar de
tribuição microespacial dos elementos- regulação da poluição atmosférica, associadas
-traço dentro de cada parque; além da a medidas de maior eficiência na gestão do trá-
cobertura arbórea e tamanho das par- fego metropolitano e adoção de medidas tecno-
tículas, existem interferências associa- lógicas que visem a diminuição da emissão de
das à localização urbana e o tipo e quan- poluentes.
tidade de tráfego na região de influência Muitos estudos já demonstraram efei-
do parque, distância das vias de tráfego, tos benéficos da presença de áreas verdes em
pontos de redução de velocidade como regiões urbanas sobre diversos aspectos da
semáforos, lombadas eletrônicas, pon- saúde humana. Parte destes efeitos são deri-
tos de ônibus, cruzamentos, subidas e vados dos serviços ecossistêmicos oferecidos
o próprio “anda-e-para” do tráfego, trá- pelas áreas verdes como a captação de mate-
fego aéreo (o que pode explicar maio- rial particulado derivado da poluição, regula-
res concentrações de chumbo (Pb) nos ção térmica, aumento da umidade e diminui-
parques Ibirapuera e Trianon), direção ção do ruído. Acredita-se que a presença das
e velocidade dos ventos, entre outros; áreas verdes nas cidades leve à diminuição do
¡ algumas limitações metodológicas stress, propicie a realização de atividade física
podem ter interferido nos resultados e aumente a coesividade social.
das análises: i) os resultados das aná- Dentre os benefícios relacionados à saú-
lises de bário (Ba) por fluorescência de destaca-se menor índice de ansiedade e
de raios x por dispersão de energia depressão em residentes com maior densidade
(EDXRF) demonstraram não ser muito de áreas verdes. Outros estudos relatam efeitos
precisos o que, associado à interferên- benefícios em relação à saúde cardiovascular e
cia do elemento titânio (Ti), pode expli- a distância de parques, o que parece ser media-
car altos teores em algumas amostras; do por maior atividade física. Residir em áreas
ii) em relação ao biomonitoramento com maior densidade de verde propicia melhor
com o emprego de cascas de árvores, saúde perinatal. Finalmente, estudos consis-
não foi estudado o tipo de deiscência tentemente relatam menor índice de morta-
das cascas de árvores amostradas, o lidade geral relacionadas à áreas com maior
que impossibilita dizer, com precisão, o densidade arbórea (Figura 30).
QUALIDADE DO AR 311

Figura 30 |
Vias em que
exposições a áreas
verdes podem resultar
em desfechos na saúde.
Fonte: Adaptado de
James et al. (2015).

CONCLUSÕES a árvore, esquecidos de que é ela que nos prote-


ge” sintetiza tudo o que foi escrito por nós. Em
Com as informações apresentadas no nossa presunção humana, achamos que temos o
decorrer do capítulo, é chegado o momento de dever de proteger os ecossistemas que nos cer-
algumas reflexões. Primeiramente, há que se cam, motivados por altruísmo e generosidade
combater a dissociação entre o meio ambiente que são admiráveis. No entanto, após uma refle-
urbano e os ecossistemas/sistemas silvestres. xão mais profunda, talvez pudéssemos acres-
Esses dois compartimentos foram artificial- centar outras motivações para a preservação
mente separados por modelos de gestão políti- das reservas florestais, incluindo aquelas que,
ca, que, em nome da praticidade, decompõem o como a RBCV, estão encravadas no coração das
ambiente em que vivemos em compartimentos metrópoles. Sentimentos menos nobres, como
estanques, a despeito da unicidade ambiental egoísmo e autopreservação poderiam perfeita-
que foi apresentada anteriormente neste estudo. mente ser admitidos por nós. Devemos preser-
Na verdade, a frase de Drummond, apresentada var as florestas não somente pela saúde dos seus
logo no início deste texto “Tentamos proteger componentes naturais, mas também pela nossa
312 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

própria saúde e sobrevivência. No momento em que devemos fazer para nos tornarmos mais
que, há centenas de milhares de anos, começa- saudáveis. É até mesmo provável que a maior
mos a nos distanciar da natureza em que vive- parte das mudanças positivas que tomamos
mos, invocando-nos o papel de controladores do sejam feitas em hospitais, superando aquelas
mundo, criamos as condições de deterioração que ocorrem nas igrejas. Na verdade, muitos
ambiental do nosso ambiente, que nos ameaça de nós somente procuramos auxílio divino
sob a forma de mudanças climáticas e escassez quando nos defrontamos com problemas de
de recursos naturais. grande monta. Seja pela medicação ou pela ora-
Nossas cidades estão doentes. São Paulo ção, a nossa doença urbana merece uma séria
tem febre nas suas ilhas de calor, obstrução modificação de atitude em relação ao nosso
arterial nas suas vias congestionadas, vias ambiente. O momento da reversão da tendência
aéreas inflamadas pela poluição do ar, edema de degradação ambiental em São Paulo é ago-
durante as chuvas, diarreia nos seus rios e ra. Não importa em que proporção, os vários
diabetes pelo uso inadequado da energia. Nós, sentimentos associados ao tema – altruísmo,
células vivas deste tecido urbano, também generosidade, consciência, egoísmo ou inte-
nos tornamos enfermiços pelas nossas ações. resse pessoal – criarão as condições de uma
Este é, paradoxalmente, um bom momento. melhor sustentabilidade. O importante é que
Cremos que a doença nos tira da zona de con- não acrescentemos mais uma mazela ao elenco
forto em que nos acomodamos, fazendo-nos dos diagnósticos de nossa cidade, qual seja, a
refletir sobre o que somos e sobre as mudanças impotência.

REFERÊNCIAS

ARNDT, U.; SCHWEIZER, B. (1991). The use of BARNES, D.; HAMADAH, M. A.; OTTAWAY, J. M.
bioindicators for environmental monitoring in (1976). The lead, copper and zinc content of tree
tropical and subtropical countries. In Biological rings and bark. Science of Total Environment;
monitoring. Signals from the environment (H. 5: 63-67.
Ellenberg, ed.). Vieweg, Eschborn, p.199-298.
BAYCU, G.; TOLUNAY, D.; ÖZDEN, H.; GÜNE-
ANDREWS, C.; BUIST, A.S.; e FERRIS, B.G. (1985). BAKAN, S. (2006). Ecophysiological and seasonal
American Thoracic Society Guidelines as to what variations in Cd, Pb, Zn and Ni concentration in
constitutes an adverse respiratory health effect, the leaves of urban deciduos trees in Istambul.
with special reference to epidemiologic studies Environmental Pollution, London, v. 143, p.
of air pollution. Am. Rev. Respir. Dis. 131(4), 545-554.
666-668.
BELL, M. L. et al. (2004). Ozone and short-term
ANDERSON, H. R. et al. (2004). Meta-analysis mortality in 95 urban communities, 1987-2000.
of time-series studies and panel studies of JAMA; 292(19): 2372.
Particulate Matter (PM) and Ozone (O3). Report
BERNATZKY, A. (1982). The contribution of trees
of a WHO task group. Disponível em: <http://
and green spaces to a town climate. Energy and
www.euro.who.int/document/e82792.pdf>. Aces-
Buildings; 5: 1-10.
so 20 out. 2019.
BOHM, P. et al. (1998). The use of tree bark for
ANDRADE, M. F. et al. (2010). Vehicle emissions
environmental pollution monitoring in the Cze-
and PM2.5 mass concentrations in six Brazilian
ch Republic. Environmental Pollution; 102:
cities. Air quality atmosphere and health, 2010;
243-250.
v. 5, p. 79.
BOLUND, P.; HUNHAMMAR, S. (1999). Ecosystem
BAUMBACK, G. (1996). Air quality control,
services in urban areas. Ecological Economics;
formation and sources, dispersion,
29: 293-301.
characteristics and impact of air pollutants:
measuring methods, techniques for reduction BROOK, R. D. et al. ( 2004). Air pollution and
of emission and regulation for air quality cardiovascular disease – A statement for
control. Berlin: Springer, 490 p. healthcare professionals from the expert panel
QUALIDADE DO AR 313

on population and prevention science of the KONIJNENDIJK, C. C. et al. (2013). Benefits of


American Heart Association. Circulation; Urban Parks - A systematic review. A Report for
109:2655-2671 IFPRA, Copenhagen & Alnarp.
DOCKERY, D. W.; BRUNEKREEF, B. (1996). Lon- LEVY, J. I.; CHEMERYNSKI, S. M.; SARNAT, J. A.
gitudinal studies of air pollution effects on lung (2005). Ozone exposure and mortality: an empiric
function. Am J Respir Crit Care Med. Dec;154(6 bayes metaregression analysis. Epidemiology;
Pt 2):S250-6. 16(4):458-68.
EKPE, E. K. et al. (2012). Orlando, Florida’s Urban MARTINS, A. P. G. et al. (2011). The effects of
and Community Forests and Their Ecosystem vegetation in the local dispersion on traffic
Services. University of Florida-IFAS, EDIS FOR derived air pollution a biomonitoring approach.
290. São Paulo, 11p. Documento não publicado.
ELMQVIST, T. et al. (2015). Benefits of restoring MARTINS, A. P. G. (2009). Cascas de árvores
ecosystem services in urban areas. Current como biomonitores da poluição atmosférica
opinion in environmental sustainability; v. 14, de origem veicular em parques urbanos da
p. 101-108. cidade de São Paulo [tese]. São Paulo: Faculda-
de de Medicina da Universidade de São Paulo –
ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY (2004). FMUSP, 2009.
Air Quality Criteria for Particulate Matter,
USA, October, EPA/600/P-99/002aF MARTINS, M. C. et al. (2004). Influence of
socioeconomic conditions on air pollution
ESCOBEDO, F. J. et al. (2008). Analyzing the cost adverse health effects in elderly people: an
effectiveness of Santiago, Chile´s policy of using analysis of six regions in Sao Paulo, Brazil.
urban forests to improve air quality. Journal of J Epidemiol Community Health; 58(1):41-6.
Environmental Management; 86: 148-157.
McDONALD et al. (2007). Quantifying the effect
ESCOBEDO, F. J. et al. (2011). Miami-Dade of urban tree planting on concentrations and
County’s Urban Forests and Their Ecosystem depositions of PM10 in two UK conurbations.
Services. University of Florida-IFAS, EDIS FOR Atmospheric Environment, v. 41, Issue 38,
285. December, Pages 8455-8467 .
ESCOBEDO, F. J.; KROEGER, T.; WAGNER, J.E. McPHERSON et al. (2005). Effects of street tree
(2011). Urban forests and pollution mitigation: shade on asphalt concrete pavement perfor-
analyzing ecosystem services and disservices. mance. Journal of Arboriculture 31(6): 303-310.
Environ Pollut. 2011 Aug-Sep; 159(8-9):2078-87.
MITCHELL R.; MAHER, B. A. (2009). Evaluation
GRYPARIS, A. et al. (2004). Acute effects of ozone and application of biomagnetic monitoring of tra-
on mortality from “the air pollution and health: a ffic-derived particulate pollution. Atmospheric
European approach” project. Am J Respir Crit Environment Volume 43, Issue 13, April 2009,
Care Med; 170 (10):1080-7. Pages 2095-2103.
FAGGI, A. M. et al. (2011). Use of tree bark for c MIRANDA, R. M. et al. (2012). Urban air pollution:
omparing environmental pollution in diffe- a representative survey of PM 2.5 mass
rent sites from Buenos Aires and Montevideo. concentrations in six Brazilian cities. Air Quality,
Environmental monitoring and assessment; Atmosphere & Health, 5(1), 63-77.
178: 1-4, 237-245.
M. L.; DOMINICI, F.; SAMET, J. M. (2005). A meta-
HEINSOHN, R. J.; KABEL, R. L. (1998). Sources -analysis of time-series studies of ozone and
and control of air pollution: Engineering mortality with comparison to the national
principles. morbidity, mortality, and air pollution study.
ITO, K.; DE LEON, S. F.; LIPPMANN, M. (2005). Epidemiology; 16(4):436-45.
Associations between ozone and daily mortali- NOWAK, et al. (2000). A modeling study of the
ty: analysis and meta-analysis. Epidemiology; impact of urban trees on ozone. A modeling
16(4):446-57.ands. study of the impact of urban trees on ozone.
Atmospheric Environment Volume 34, Issue 10,
JAMES, P; BANAY, R. F.; HART, J. E.; LADEN, F. A.
Pages 1601-1613.
(2015). Review of the Health Benefits of Green-
ness. Curr Epidemiol Rep. Jun; 2(2): 131-142. NOWAK, D. J.; CRANE, D. E.; STEVENS, J. C.
(2006). Air pollution removal by urban trees and
JAMIL et al. (2009). Fly ash trapping and metal
shrubs in the United States. Urban Forestry &
accumulating capacity of plants: Implication
Urban Greening; v 4; p 115-123.
for green belt around thermal power plants.
Landscape and Urban Planning Volume 92, NOWAK, D. J. et al. (2014). Tree and forest effects
Issue 2, 15 September 2009, Pages 136-147. on air quality and human health in the United
314 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

States. Environmental Pollution; v 193, p SÃO PAULO (cidade). (2017). Plano Municipal de
119-129. Conservação e Recuperação da Mata Atlântica no
Município de São Paulo; São Paulo, 2017. Disponí-
NIEUWENHUIJSEN, M. et al. (2018). Air pollution,
vel em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/
noise, blue space, and green space and
secretarias/upload/PMMA _final_8_jan%20ok.
premature mortality in Barcelona: a mega
pdf>. Acesso 20 out. 2019.
cohort. International journal of environmental
research and public health, v. 15, n. 11, p. 2405. SHAN et al. (2007) Effects of vegetation status
POPE III, C. A. et al. (2002). Lung cancer, cardio- in urban green spaces on particle removal in
pulmonary mortality and long-term exposure a street canyon atmosphere. Acta Ecologica
to fine particulate air pollution. Journal of the Sinica, 27(11), 4590-4595.
American Medical Association. 2002; 9: 1132-1141. SCHELLE, E. et al. (2008). Mapping aerial metal
RODRIGUES, E. A. (coord). (2014). Serviços ecos- deposition in metropolitan areas from tree bark: A
sistêmicos e bem-estar humano na Reserva case study in Sheffield, England. Environmental
da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de Pollution; 155: 164-173.
São Paulo: Sumário Executivo. 1. ed. - São Pau- SÃO PAULO (Cidade). (2019). Secretaria do Ver-
lo: Instituto Florestal. de e do Meio Ambiente. Disponível em: <https://
ROGERS, K. et al. (2011). Measuring the ecosystem www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/
services of Torbay’s trees: The Torbay i-Tree Eco meio_ambiente/pmma/index.php?p=219941>..
pilot project. In: Proceedings of the ICF-Urban Acesso 14 out. 2019.
Tree Research Conference. Birmingham.
SCHWARTZ, J. (2005). How Sensitive Is the
SAMET, J. et al. (2000). What constitutes an Association between Ozone and Daily Deaths to
adverse health effect of air pollution? Am J Control for Temperature? Am J Respir Crit Care
Respir Crit Care Med. 161: 665–673 Med Vol 171. pp 627–631.

GLOSSÁRIO

A
Arritmia cardíaca | Alterações elétricas que Compostos orgânicos voláteis | Compostos
provocam modificações no ritmo das batidas do orgânicos que possuem alta pressão de vapor
coração. sob condições normais a tal ponto de vapori-
zar significativamente e entrar na atmosfera.
Asma | Doença inflamatória crônica das vias
Uma grande variedade de moléculas à base de
aéreas, de caráter heterogêneo. A doença é asso-
carbono, tais como aldeídos, cetonas, e outros
ciada a episódios recorrentes de sibilância, falta
hidrocarbonetos leves são compostos orgânicos
de ar, aperto no peito, e tosse, de intensidade e
voláteis.
frequência variáveis. Os episódios são associa-

D
dos com obstrução variável das vias aéreas no
pulmão.
Deiscência | Fenômeno em que um órgão vege-

B
tal (fruto, esporângio, antera etc.) abre-se natu-
ralmente ao alcançar a maturação. Aplica-se
Bronquite crônica | Caracteriza-se por tosse também ao desprendimento da casca da árvore
produtiva com duração superior a três ou mais Diabetes mellitus | Doença caracterizada pela
meses por ano e durante pelo menos dois anos. elevação da glicose no sangue (hiperglicemia).
Pode ocorrer devido a defeitos na secreção ou na

C
ação do hormônio insulina, que é produzido no
pâncreas, pelas chamadas células beta.
Cólera | Infecção do intestino delgado por algu- Doença aterosclerótica | Doença vascular crô-
mas estirpes das bactérias Vibrio cholerae. Os nica e progressiva que normalmente manifesta-se
sintomas podem variar entre nenhum, moderados na idade adulta ou idade avançada. A ateroscle-
ou graves. O sintoma clássico é a grande quanti- rose é uma forma de arteriosclerose caracteriza-
dade de diarreia aquosa com duração de alguns da pela inflamação crônica das artérias de gran-
dias. Podem também ocorrer vômitos e cãibras de e médio calibre, com a acumulação e oxidação
musculares. de lipoproteínas na parede arterial.
QUALIDADE DO AR 315

E N
Efeitos Cognitivos | Efeitos relacionados ao pro- Neoplasia | Tipo de crescimento anormal e
cesso de aquisição de conhecimento (cognição). excessivo de tecido. O crescimento de uma neo-
plasia é descoordenado com o tecido circundante
Efeitos Comportamentais | Conjunto de rea-
normal e persiste a crescer de maneira anormal,
ções de um sistema dinâmico face às interações
mesmo que o gatilho original seja removido.
e renovação propiciadas pelo meio onde está
envolvido.
Elementos-traço | Elementos químicos que P
ocorrem naturalmente em níveis de parte por Peste | Infecção bacteriana causada pelo
milhão ou abaixo disso. Yersinia pestis, transmitida pela pulga que parasi-
Epidemiológico | Ao que se propõe estudar ta roedores. Famosa por causar diversas pande-
quantitativamente a distribuição dos fenômenos mias na Europa e Ásia.
de saúde/doença, e seus fatores condicionantes
e determinantes, nas populações humanas.
S
L Substância precursora | Substância que se
necessita para obter outra diferente a partir de
Latência | Diferença de tempo entre o início de uma reação química.
um evento e o momento em que os seus efeitos se

T
tornam perceptíveis.

M Tônus vascular | Determina quanto de oxigênio


e nutrientes são distribuídos às diferentes partes
Miocardiopatias | Grupo de doenças que afe- do corpo, incluindo o coração. Este tônus é regu-
tam o músculo cardíaco. lado pela interação entre as células endoteliais
Morbidade | Morbidade ou morbilidade é a taxa e as células da musculatura lisa vascular, pelo
de portadores de determinada doença em rela- Sistema Nervoso Autônomo e por mediadores
ção à população total estudada, em determinado neuro-hormonais.
local e em determinado momento.
Tuberculose | É uma doença infecto-conta-
Material Particulado | Particulados, ou material giosa causada por uma bactéria Mycobacte-
particulado (sigla em inglês, PM, de particulate rium tuberculosis ou Bacilo de Koch (BK), que
matter), são partículas muito finas de sólidos ou afeta principalmente os pulmões, mas, também
líquidos suspensos no ar. Para ser considerado podem ocorrer em outros órgãos do corpo, como
MP, suas dimensões (diâmetro) variam desde 20 ossos, rins e meninges (membranas que envol-
micra até menos de 0,05 mícron. vem o cérebro).
MP2,5 | Partículas inaláveis (material particulado)

V
cujo diâmetro aerodinâmico é menor ou igual a
2,5 mm.
MP10 | Partículas inaláveis (material particulado) Varíola | Doença infecciosa causada por uma de
cujo diâmetro aerodinâmico é menor ou igual a 10 duas estirpes do vírus da varíola – Variola major e
mm. Variola minor. O último caso natural da doença foi
Malária | Doença infecciosa transmitida por diagnosticado em outubro de 1977, o que levou a
mosquitos e causada por protozoários parasitá- Organização Mundial de Saúde a certificar a erra-
rios do género Plasmodium. dicação da doença em 1980.
316 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO
PARTE 2
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS DE REGULAÇÃO

2.3 FIXAÇÃO DE CARBONO


EM SUPERFÍCIE E REDUÇÃO
DE GASES DE EFEITO ESTUFA
NA ATMOSFERA

Coordenadores
Edgar Fernando de Luca | IF/SIMA
Elaine Aparecida Rodrigues | IF/SIMA – IPEN/USP
Giuliana Del Nero Velasco | IPT

Autores
Edgar Fernando de Luca| IF/SIMA
Elaine Aparecida Rodrigues | IF/SIMA – IPEN/USP
Giuliana Del Nero Velasco | IPT
Amanda Rodrigues de Carvalho| UnB – PIBIC/CNPq-IF
Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor | FF/SIMA
Hilton Thadeu Zarate do Couto | ESALQ/USP
318 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto da abertura do capítulo:


Vegetação de interior de
quando o sol
Floresta de Mata Atlântica:
se derramar em toda a sua essência,
serviços ecossistêmicos desafiando o poder da ciência
de sequestro de carbono
e redução de gases
pra combater o mal,
de efeito estufa. e o mar
Fonte: Rodrigo Antonio Braga
Moraes Victor (2010).
com suas águas bravias
levar consigo o pó dos nossos dias,
vai ser um bom sinal...

os palácios vão desabar


sob a força de um temporal,
e os ventos vão sufocar
o barulho infernal.
os homens vão se rebelar
dessa farça descomunal,
vai voltar tudo ao seu lugar,
afinal...

vai resplandecer,
uma chuva de prata do céu vai descer,
o esplendor da mata vai renascer,
e o ar de novo vai ser natural.
vai florir,
cada grande cidade o mato vai cobrir,
das ruínas um novo povo vai surgir,
e vai cantar afinal...

as pragas e as ervas daninhas,


as armas e os homens de mal
vão desaparecer
nas cinzas de um carnaval...

João Nogueira / Paulo César Pinheiro


(Clara Nunes)
SUMÁRIO

.............................................................................................................. 323
Resumo ......

1 | Introdução........................................................................................................ 324

2 | Poluição atmosférica global, regional e local: consequências


ambientais....................................................................................................... 325

3 | A Convenção do Clima e os serviços ecossistêmicos de fixação de


carbono e redução de emissões de GEE ......................................................... 328

4 | Setores antrópicos de produção e emissão de GEE: foco nacional ................ 334

5 | O papel da vegetação na regulação do clima em contextos urbanos


e periurbanos................................................................................................... 338

6 | Quantificação de carbono estocado na vegetação da RBCV:


comparação com as emissões de CO2 oriundo da queima de
combustíveis fósseis pelo estado de São Paulo ............................................. 339

7 | Forças atuantes e tendências do serviço ecossistêmico de fixação de


carbono e redução de emissões de GEE na RBCV: contribuição para
o bem-estar humano ...................................................................................... 342

8 | Tendências recentes da evolução de produção e consumo de energia


pelo estado de São Paulo frente a legislações regulatórias e acordos
regionais, nacionais e mundiais ..................................................................... 347

Conclusões ........................................................................................................... 352

Referências ........................................................................................................... 353

Glossário .............................................................................................................. 356


320 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 Impactos generalizados atribuídos às Mudanças Climáticas Globais (MCG).
Figura 2 Contribuições do IPCC para a ciência climática e a formulação de políticas.
Figura 3 Checagem de realidade sobre MCG.
Figura 4 Estimativa de emissões (brutas) brasileiras de GEE (bilhões de toneladas – Pg CO2 eq, 1P
= 1015) pelos setores de produção antrópica (período 1990-2017).
Figura 5 Participações relativas (%) dos principais GEE nas estimativas das emissões (CO2 eq)
pelo Brasil (anos 2005, 2010 e 2016).
Figura 6 Taxas de desmatamentos anuais (km2 ano-1) na Amazônia Legal (período 2008-2018).
Figura 7 Tipos florestais naturais em seus estágios de crescimento e reflorestamento com gêneros
exóticos (Eucalyptus e Pinus) compreendidos pela RBCV.
Figura 8 Síntese das projeções climáticas para a Região Metropolitana de São Paulo - RMSP.
Figura 9 Avaliação qualitativa de possíveis impactos das mudanças de extremos de chuva na RMSP.
Figura 10 Proporção (%) de consumo de energia no estado de São Paulo por categorias de fontes
energéticas (período 1990-2008).
Figura 11 Proporção (%) de consumo de energia no estado de São Paulo por fontes energéticas
(período 1990-2008).
Figura 12 Imagem de satélite e delimitação da RBCV em 1994 e em 2020.

QUADRO
Quadro 1 Ecossistemas de carbono azul e a área marinha da RBCV.

TABELAS

Tabela 1 Cenários de concentrações atmosféricas de Gases de Efeito Estufa – GEE e resultados


simulados para variáveis ambientais (até 2100).
Tabela 2 Linha do tempo detalhando a resposta internacional às Mudanças Climáticas Globais.
Tabela 3 GEE mais comuns e respectivas atividades emissoras.
Tabela 4 Principais GEE: suas concentrações atmosféricas em diferentes períodos, aumento desde
a era pré-industrial e potencial de aquecimento.
Tabela 5 Setores de produção antrópica e suas respectivas atividades.
Tabela 6 Áreas (ha) dos tipos florestais de ocorrência na RBCV nos estágios de desenvolvimento
maduro e em crescimento.
Tabela 7 Classificação dos compartimentos florestais contentores de carbono.
Tabela 8 Estoques de carbono nos compartimentos de sistemas florestais compreendidos na
RBCV, em estágios maduro e em desenvolvimento.
Tabela 9 Projeções para os principais efeitos esperados de temperaturas e fenômenos climáticos
extremos em zonas urbanas.
Tabela 10 Cenários de riscos, vulnerabilidades e impactos sobre o bem-estar humano para a RMSP.
Tabela 11 Categorias e fontes de energia produzidas e consumidas no estado de São Paulo.
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 321
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

SIGLAS
ADP Ad Hoc Working Group on the Durban Platform for Enhanced Action (Grupo de Trabalho ad hoc
para a Plataforma de Durban para a Ação Aprimorada
APP Área de preservação permanente
Ar Argônio
AR Assessment Report
C Carbono
CFC Clorofluorcarbono
CIE Comércio Internacional de Emissões
CH4 Metano
cm Centímetro
CMP Meeting of the Partes (Reunião das Partes do Protocolo de Quioto)
CO Monóxido de carbono
CO2 Dióxido de carbono
CO2 eq Equivalente em dióxido de carbono
COP Conference of the Parties (Conferência das Partes)
EUR Emission Reduction Unit (Unidade de Redução de Emissões)
FES Floresta Estacional Semidecidual
FO Floresta Ombrófila
FOD Floresta Ombrófila Densa
FOM Floresta Ombrófila Mista
GEE Gás de Efeito Estufa
G Giga (1 G = 109)
ha Hectare
HFC Hidrofluorcarbonos
HCFC Hidroclorofluorcarbonos
IJ Joint Implementation (Implementação Conjunta)
INC Intergovernmental Negotiating Committee (Comitê Intergovernamental de Negociação)
INDC Intended Nationally Determined Contributions (Contribuições Pretendidas Nacionalmente
Determinadas)
IPCC International Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas)
km2 Quilômetro quadrado
LULUCF Land Use, Land Use Change, and Forestry (Uso da Terra, Mudança de Uso da Terra e
Floresta)
M Mega (1 M = 106)
MCG Mudanças Climáticas Globais
MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
mm Milímetro
NDC Nationally Determined Contributions (Contribuições Nacionalmente Determinadas)
322 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

NWP Nairobi Work Programme (Programa de Trabalho de Nairobi)


N Nitrogênio
N2O Óxido nitroso
PAWP Paris Agreement Work Programme (Programa de Trabalho do Acordo de Paris)
PIB Produto Interno Bruto
PEMC Política Estadual de Mudanças Climáticas
PNMC Política Nacional de Mudanças Climáticas
PFC Perfluorcarbonetos
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
ppb Partes por bilhão
ppm Partes por milhão
O Oxigênio
O3 Ozônio
ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo
RCP Representative Concentration Pathway (Trajetórias de Concentração Representativas)
RMBS Região Metropolitana da Baixada Santista
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
MR Methodology Report (Relatório de Metodologia 2019 do IPCC)
SBSTA Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice (Órgão Subsidiário de Assessoramento
Científico e Tecnológico)
SF6 Hexafluoreto de enxofre
SO2 Dióxido de enxofre
spp Várias espécies de determinado gênero, referente à classificação internacional de espécies
SR15 Special Report - Global Warning of 1.5oC (Relatório Especial do IPCC: Aquecimento Global
1,5oC)
SRCCL Special Report Climate Change and Land (Relatório Especial do IPCC: Mudanças Climáticas
e Terra)
SROCC Special Report on the Ocean and Cryosphere in a Changing Climate (Relatório Especial do
IPCC sobre oceano e a criosfera em um clima em mudança)
T Tera (1 T = 1012)
UE União Européia
UNEP United Nations Environmental Programme (Programa das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente)
UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change (Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre Mudanças do Clima)
WMO World Meteorological Organization (Organização Meteorológica Mundial)
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 323
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

RESUMO

O efeito estufa é um fenômeno atmosférico natural caracterizado por retenções


da energia solar incidente na biosfera, que condiciona temperaturas adequadas
à sobrevivência das espécies animais e vegetais na Terra. Essas retenções ocorrem ao nível
molecular de alguns gases presentes na atmosfera terrestre, os chamados gases de efeito
estufa (GEE), cujo principal representante é o dióxido de carbono (CO2). A problemática da
temperatura começa a existir com a industrialização maciça do sistema produtivo (Revolução
Industrial) no planeta, quando as emissões desses gases cresceram demasiadamente,
tornando suas concentrações atmosféricas exponencialmente mais elevadas em relação
aos níveis históricos até então. Como resultado houve o aumento de temperatura causando
aquecimento da atmosfera e da superfície terrestre em escala global. Este capítulo objetivou
estimar a estocagem de carbono (C) pela vegetação ocorrente na área compreendida pela
RBCV, além do estudo de medidas e ações que contribuam para mitigar emissões e incrementar
a fixação e estocagem em superfície dos GEE atmosféricos. A estocagem atual de carbono
pelos tipos florestais em estágio maduro ocorrentes na área equivale a mais de meia década
das emissões totais oriundas de combustíveis fósseis por todo o estado de São Paulo. Enquanto
que as absorções atmosféricas pela vegetação em estágio de crescimento contribuem com
a neutralização de 36% dessas emissões. Embora esses valores sejam expressivos, para se
almejar nível de emissões compatíveis com regulações estabelecidas por legislações locais
e nacionais e por tratados internacionais se faz necessário um conjunto de medidas e ações
que representem reformulações do sistema produtivo. Principalmente a busca por geração de
energias oriundas de fontes renováveis e mudanças de comportamento de vivência, sobretudo
relativos a sistemas de transporte que priorizem a coletividade. Em região com característica
metropolitana como a RBCV, práticas dessa natureza podem contribuir significativamente
para que o Estado possa atingir metas de adequação ambiental no que se refere às mudanças
climáticas.
324 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO a existência de vida na forma de organismos


superiores.

A região que compreende a RBCV é compos-


ta por diferentes ecossistemas, incluindo
florestas, mangues, restingas, cerrados e reflo-
O balanço dos fluxos gasosos determina o
caráter de uma região, que pode se configurar
como emissora ou absorvedora de carbono, num
restamentos; além de ambientes urbanos e área sentido mais amplo ou global. Considerando as
marinha. Cada um desses sistemas participa nos contabilizações líquidas, os aglomerados urba-
processos de fluxos de gases entre o ambiente nos se apresentam como sistemas emissores,
terrestre e a atmosfera, seja pela emissão e/ou uma vez que os componentes com fluxo positivo
pela absorção destes. (emissões) superam em muito aqueles com flu-
A composição da atmosfera terrestre se dá xo negativo (absorção). Neste caso, o principal
majoritariamente pelos gases nitrogênio (N2) processo de emissão ocorre mediante a queima
(78%) e oxigênio (O2) (21%) e todos os demais de combustíveis fósseis, especialmente no uso
componentes são considerados gases traços, de veículos e processos industriais. Enquanto as
cujo mais abundante é o argônio (Ar) (0,93%). absorções ocorrem em escala diminuta, repre-
Outros numerosos gases traços desempenham sentada por manchas de arborização urbana,
importante papel sobre a regulação climática da natural ou plantada. Por outro lado, ambientes
atmosfera terrestre. Dentre esses estão inclusos florestais são sistemas absorvedores, já que
os Gases de Efeito Estufa (GEE), ozônio (O3) e embora desempenhem ambos os processos de
seus precursores e os aerossóis. Os GEE são um emissão (decomposição) e absorção (fotossín-
grupo de gases com a capacidade de impactar o tese), as florestas em processo de crescimento
balanço energético na atmosfera terrestre. Uma resultam em saldo positivo para a absorção.
minoria deles tem origem exclusivamente antro- Abrangendo integralmente a Região Me-
pogênica: clorofluorcarbonos (CFC); hidroclo- -tropolitana de São Paulo (RMSP) e Baixada
rofluorcarbonos (HCFC); perfluorcarbonetos Santista (RMBS) e, parcialmente, as Regiões
(PFC); hidrofluorcarbonos (HFC) e hexafluori- Administrativas de Campinas, Registro, São José
do de enxofre (SF6). Mas, a maioria: dióxido de dos Campos e Sorocaba, a RBCV abriga impor-
carbono (CO2); metano (CH4) e óxido de nitro- tantes serviços ecossistêmicos proporcionados
gênio (N2O) tem origem antropogênica e natural por diferentes formações vegetais e aquáticas.
(WMO, 2013). Esses serviços estão vinculados ao cotidiano da
O efeito estufa é um fenômeno natural metrópole e são influenciados por vetores dire-
ocasionado pela característica dos GEE em tos e indiretos de alteração ambiental, gerados
reter frações da radiação solar na atmosfera pelo mesmo aglomerado urbano.
terrestre. Ao atingir a superfície terrestre, par- O presente capítulo analisa componen-
te da radiação ultravioleta é refletida de volta tes da dinâmica de fluxo de carbono (C) entre
à atmosfera na forma de radiação infraverme- superfície e atmosfera para a área abrangi-
lha. Os GEE presentes na atmosfera absorvem da pela RBVC, e tem como objetivos apresen-
e refletem parte dessa radiação novamente em tar uma estimativa de fixação e estocagem de
direção à superfície, formando ondas que repe- carbono pelos seus ecossistemas florestais e
tem esse processo permitindo o aquecimento alternativas para o melhor manejo desses ecos-
da Terra. Em decorrência desse fenômeno a sistemas, além de estudar alguns aspectos da
temperatura média da superfície do planeta é geração e uso de energia pelo estado de São
mantida em cerca de 15°C, criando condições Paulo. Espera-se com isso contribuir para for-
que possibilitam a existência da vida na Terra. mulação de políticas públicas visando o melhor
Sem a ocorrência do efeito estufa, estima-se desenvolvimento do sistema produtivo no sen-
que a temperatura média global seria em tor- tido de adequação ambiental e aumento da
no de 33°C a menos que a temperatura atual capacidade de absorção e fixação de carbono
(IPCC, 2013), de maneira que seria impossível atmosférico nesse território.
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 325
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

2 | POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
GLOBAL, REGIONAL E
atenção nos impactos das mudanças climáticas e
a necessidade de adaptação. O Quarto Relatório

LOCAL: CONSEQUÊNCIAS
de Avaliação (AR4 – Fourth Assessment Report,

AMBIENTAIS
2007), estabeleceu o trabalho de base para um
acordo pós-Quioto, concentrando-se em limitar
o aquecimento a 2°C. O último relatório conclu-
A poluição atmosférica global pode ser ído, o Quinto Relatório de Avaliação (AR5 – Fifth
compreendida como as atividades humanas que Assessment Report), foi finalizado entre 2013 e
interferem nas mudanças climáticas e danificam 2014, sendo suas principais conclusões: a influ-
a camada de ozônio. A mudança climática con- ência humana no sistema climático é clara; as
siste em alteração de clima que possa ser direta recentes emissões antrópicas de GEE são as
ou indiretamente atribuída à atividade humana mais altas da história, com impactos generali-
que modifique a composição da atmosfera mun- zados sobre os sistemas humanos e naturais; a
dial e que se some àquela provocada pela varia- sociedade humana tem os meios para limitar a
bilidade climática natural, observada ao longo mudança climática e construir um futuro mais
de períodos comparáveis (UNFCCC, 1992). próspero e sustentável (IPCC, 2019).
Com o objetivo de fornecer aos formulado- O IPCC produziu recentemente um Relató-
res de decisões avaliações científicas regulares rio Metodológico sobre inventários nacionais de
sobre o estado atual do conhecimento sobre a GEE, e três Relatórios Especiais: i) o Aquecimen-
mudança climática, em 1988 foi estabelecido o to Global de 1,5°C (IPCC, 2018); ii) um relatório
Painel Intergovernamental sobre Mudança do sobre Mudança Climática e o Uso da Terra (IPCC,
Clima (IPCC - Intergovernmental Panel on Climate 2019c) e iii) um relatório sobre o Oceano e a
Change), como órgão da Organização das Nações Criosfera em contexto de Mudança Climática
Unidas (ONU) para avaliar a ciência relacionada (IPCC, 2019d), concluídos em agosto e setem-
à mudança climática. Desde 1988, o IPCC reali- bro de 2019, respectivamente. Adicionalmente,
zou cinco ciclos de avaliação e entregou relató- o IPCC está desenvolvendo o Sexto Relatório de
rios especiais e cinco Relatórios de Avaliação, Avaliação (AR6 – Sixth Assessment Report), com-
os relatórios científicos mais abrangentes sobre posto por contribuições dos seus três Grupos de
mudanças climáticas produzidos mundialmen- Trabalho (Grupo de Trabalho I - Base da Ciência
te. O IPCC não realiza sua própria pesquisa, mas Física; Grupo de Trabalho II - Impactos, Adap-
identifica onde há acordo na comunidade cientí- tação e Vulnerabilidade; Grupo de Trabalho III -
fica, onde existem diferenças de opinião e onde Mitigação das Mudanças Climáticas) e um Relató-
mais pesquisas são necessárias (IPCC, 2019). rio Síntese, que integrará essas contribuições em
O Primeiro Relatório de Avaliação do IPCC um documento conciso e adequado aos formula-
(AR1 – First Assessment Report , 1990), destacou dores de políticas e outras partes interessadas. Os
a importância da mudança climática como um relatórios deste ciclo deverão ser finalizados até
desafio com consequências globais e que requer 2022, antecedendo a primeira avaliação global,
cooperação internacional. Este relatório desem- procedimento previsto no Acordo de Paris que
penhou papel decisivo na criação da Convenção- visa analisar a sua implementação e o progres-
-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do so coletivo para alcançar o objetivo de 2°C. Com
Clima (UNFCCC – United Nations Framework periodicidade de cinco anos, a primeira avaliação
Convention on Climate Change), principal tra- ocorrerá em 2023 (IPCC, 2019b; UNFCCC, 2015).
tado internacional para reduzir o aquecimento Em seu último relatório disponibilizado, o
global e lidar com as consequências da mudan- Quinto Relatório de Avaliação (AR5 – Fifth Asses-
ça climática. O Segundo Relatório de Avalia- sment Report), o IPCC divulgou resultados de
ção (AR2 – Second Assessment Report, 1995), uma modelagem de quatro cenários simulados
forneceu material importante para o período em relação às concentrações atmosféricas de
que antecedeu ao Protocolo de Quioto, primei- GEE que poderiam ocorrer até 2100. Foram esti-
ro tratado com metas de redução de GEE do madas variáveis dos compartimentos atmosféri-
mundo. O Terceiro Relatório de Avaliação (AR3 cos e oceânicos, tais como balanço de radiação,
– Third Assessment Report, 2001) concentrou a temperatura do ar e nível do mar (IPCC, 2014).
326 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Os modelos climáticos descritos na Tabela o cenário RCP4.5 (nível de confiança médio),


1 são representações matemáticas de proces- mas é improvável que seja maior que 2°C para
sos importantes no sistema climático da Terra. o cenário RCP2.6 (nível de confiança médio)
Os cenários incluem um cenário de mitigação (IPCC, 2014).
estrito (RCP2,6), dois cenários intermediários O aquecimento da atmosfera em nível glo-
(RCP4,5 e RPC6,0) e um cenário com nível mui- bal é resultado direto do aumento das concen-
to alto de emissões de GEE (RCP8,5). Os cená- trações atmosféricas dos GEE, apresentadas nos
rios são esforços adicionais para limitar as cenários prognosticados (IPCC, 2014). Dentre as
emissões (cenários de referência) e não levam consequências ambientais resultantes do aque-
em conta possíveis mudanças nos forçamentos cimento global destacam-se: derretimento de
naturais (como erupções vulcânicas). O conjun- geleiras e expansão volumétrica das águas devi-
to padrão de cenários utilizados no AR5 recebe do ao seu aquecimento, resultando em elevação
o nome de Trajetórias de Concentração Repre- dos níveis dos oceanos e subsequentes erosões
sentativas (RCP – Representative Concentration de áreas costeiras (com possibilidade de refluxo
Pathway). de águas marinhas). O Relatório do IPCC de 2007
Em todos os cenários de emissões avalia- já havia apontado aumento médio de 20 cm nos
das (Tabela 1) as projeções assinalam que a níveis dos oceanos até 2012 (IPCC, 2007a). O
temperatura média global na superfície conti- aquecimento de águas marinhas resulta em
nuará aumentando ao longo do século XXI. É menor capacidade destas em absorver dióxido
muito provável que as ondas de calor ocorram de carbono (CO2) atmosférico, além da possibi-
com maior frequência e tenham mais longa lidade de elevação da acidez das águas.
duração, e que os episódios de precipitações Em relação às mudanças climáticas globais
extremas sejam mais intensos e frequentes em (MCG), existe 90% de certeza de que ocorrerá
muitas regiões. O oceano continuará em pro- diminuição dos números de dias e noites frios e
cesso de aquecimento e acidificação, e o nível aumento dos dias e noites quentes, assim como
médio global do mar continuará em elevação. é “extremamente provável” (95% de certeza)
Em comparação com 1850-1900, as projeções que mais da metade do aumento da temperatura
sugerem que, provavelmente até o final do sécu- global entre 1951 e 2010 tenha sido causada por
lo XXI (2081-2100), a temperatura média glo- influência das atividades antrópicas. É reconhe-
bal em superfície será superior a 1,5°C para os cido que nos últimos quinze anos tenham ocor-
cenários RCP4.5, RCP6.0 e RCP8.5 (alto nível de rido quedas na taxa de aquecimento global, pois
confiança). É provável que a referida temperatu- a taxa média por década no período 1951-2012
ra seja superior a 2°C para os cenários RCP6.0 e foi 0,12°C, enquanto no período 1998-2012
RCP8.5 (alto nível de confiança), mais provável essa taxa decadencial foi 0,05°C. Entretanto,
do que improvável que seja superior a 2°C para ainda que as emissões de GEE fossem cessadas

Período Período
2046-2065 2081-2100

Componentes analisados Cenário Média Faixa Média Faixa


provável provável
Alteração na temperatura média RCP2,6 1,0 0,4, a 1,6 1,0 0,3 a 1,7
global na superfície (ºC)
Tabela 1 | RCP4,5 1,4 0,9, a 2,6 1,8 1,1 a 2,6
Cenários de
concentrações RCP6,0 1,3 0,8, a 1,8 2,2 1,4 a 3,1
atmosféricas de RCP8,5 2,0 1,4, a 2,6 3,7 2,6 a 4,8
GEE e resultados
simulados para Elevação do nível médio global RCP2,6 0,24 0,17 a 0,32 0,40 0,26 a 0,55
variáveis do mar (m)
RCP4,5 0,26 0,19 a 0,33 0,47 0,32 a 0,63
ambientais
(até 2100). RCP6,0 0,25 0,18 a 0,32 0,48 0,33 a 0,63
Fonte: IPCC
RCP8,5 0,30 0,22 a 0,38 0,63 0,45 a 0,82
(2014, p. 64).
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 327
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

imediatamente, muitos aspectos das MCG per- em mais de 80% nos próximos oitenta anos; Ásia
manecerão por muitos séculos. Também é “muito – prejuízos à produção de grãos devido a estia-
provável” (90% de certeza) que mais de 20% do gens, com relevante perda de produção para o
carbono emitido persistirá na atmosfera por mais seu maior produtor, a China; Continente austra-
de mil anos, até ser de alguma forma reabsorvido liano – maior incidência de incêndios, devido às
e fixado novamente em superfície (IPCC, 2014). secas; África – graves problemas de falta de água;
Alguns danos causados pelas MCG são qua- Europa – enchentes em regiões do norte, devido
lificados como "severos" e "irreversíveis" (IPCC, ao derretimento de gelo na Groenlândia; seca e
2014). Dentre diversas consequências da altera- enchentes em outras regiões. Citam-se também
ção do clima, pode-se destacar: América do Sul – problemas como necessidade de migração da
ameaças de extinção de espécies e perda de biodi- agricultura para regiões mais frias, diminuição
versidade, sobretudo na Amazônia; a quantidade de água potável e de alimentos, com consequente
de chuva no nordeste brasileiro pode diminuir aumento de preços (Figura 1).

Figura 1 |
Impactos
generalizados
atribuídos às MCG.
Fonte: Adaptado de
IPCC ( 2014, p. 7).
Nota: A partir de evidência científica, foram atribuídos impactos às mudanças climáticas, que refletem uma base de conhecimentos cada vez maior, ainda que as
publicações sejam limitadas para muitas regiões, sistemas ou processos. Os símbolos indicam categorias de impactos atribuídos; relativa contribuição da mudan-
ça climática (grande ou pequena) ao impacto observado; e nível de confiança na atribuição. Cada símbolo representa uma ou mais entradas, de modo que se
agrupam impactos conexos em escala regional. Os valores nos círculos se referem aos totais regionais de publicações sobre mudança climática de 2001 a 2010,
segundo a base de dados bibliográfica Scopus para publicações em inglês em que o nome de um país se menciona no título, no resumo ou nas palavras chaves
(em julho de 2011). Estes dados proporcionam uma ideia geral da documentação científica disponível sobre mudança climática nas regiões. Os estudos relativos às
regiões polares e às ilhas pequenas foram agrupados com as regiões continentais vizinhas. A inclusão de publicações para a avaliação da atribuição se ajustou
aos critérios do IPCC sobre evidência científica; as publicações incluídas na análise de atribuições procedem de uma gama mais ampla de documentos avaliados.
328 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Nos últimos decênios, as MCG têm cau- da temperatura na Terra era resultado de uma
sado impactos diretos nos sistemas naturais e conjugação da presença de GEE e do comprome-
humanos em todos os continentes e oceanos. timento de sistemas atuantes como sumidouros
Em muitas regiões, as alterações nas precipita- de dióxido de carbono (CO2) (florestas e ocea-
ções e derretimento de neve e gelo estão alte- nos). A inserção das MCG como pauta política,
rando os sistemas hidrológicos, o que afeta a tendo como ponto de partida o AR1, possibilitou
quantidade e a qualidade dos recursos hídricos a promoção de encontros governamentais para
disponíveis. Muitas espécies terrestres, de água implementar uma regulamentação em nível glo-
doce e marinha, têm modificado suas áreas de bal sobre a matéria, que deveriam abranger: i)
distribuição geográfica, bem como suas ativida- políticas generalizadas de reflorestamento em
des estacionais, rotas migratórias, abundância toda a parte do mundo; ii) redução de gases CFC
e interação com outras espécies. Nos sistemas e halogênios, dióxido de carbono (CO2), metano
humanos também são observados impactos (CH4) e óxido nitroso (N2O); iii) preservação do
atribuídos à mudança climática, com destaque ozônio troposférico; e iv) adoção de política de
para o impacto negativo sobre o rendimento dos combate ao desflorestamento, em particular nas
cultivos. Alguns impactos da acidificação dos florestas tropicais.
oceanos nos organismos marinhos são imputa- Esse quadro possibilitou a adoção da
dos à influência humana. Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Em seu Relatório sobre o aquecimento glo- Mudança do Clima – UNFCCC, firmada em 1992.
bal de 1,5°C o IPCC (2018) concluiu que a tem-

3 | A CONVENÇÃO DO
peratura média global na década anterior a 2015
era de 0,86°C acima dos níveis pré-industriais.

CLIMA E OS SERVIÇOS
No entanto, no período de 2014-2018, essa

ECOSSISTÊMICOS DE FIXAÇÃO
média se elevou para 1,04°C acima da linha de

DE CARBONO E REDUÇÃO DE
base pré-industrial. Os 20 anos mais quentes já
registrados ocorreram nos últimos 22 anos, sen-

EMISSÕES DE GEE
do que os quatro últimos foram os mais quentes
de todos.
Mesmo que a dramaticidade projetada das
consequências ambientais das MCG seja variável O combate à mudança do clima e seus
entre os especialistas que estudam e tratam o impactos, por meio de ação multilateral, tem
assunto e entre os cenários do IPCC, é pratica- como base UNFCCC, sob a qual foram negocia-
mente consensual os apontamentos acerca das dos os principais tratados internacionais sobre
atitudes imediatas que se fazem necessárias, mudança do clima, a exemplo do Protocolo de
ao menos no sentido de prevenção de seu agra- Quioto (UNFCCC, 1997; UNITED NATIONS TRE-
vamento, quais sejam: i) redução das emissões ATY COLLECTION, 2019a) e do Acordo de Paris
de GEE, ii) cessação dos desmatamentos e iii) (UNFCCC, 2015; UNITED NATIONS TREATY
aumento proporcional da produção e consumo COLLECTION, 2019b). A Convenção foi acordada
de fontes bioenergéticas em relação às fontes e adotada pelo Comitê Intergovernamental de
fósseis. Negociação para uma Convenção-Quadro sobre
Muitas substâncias presentes na atmosfera Mudança do Clima (Intergovernmental Negotia-
podem ser consideradas impactantes do ponto ting Committee for a Framework Convention on
de vista socioambiental, uma vez que seus efei- Climate Change) e aberta para assinatura duran-
tos trazem consequências diretas e indiretas ao te a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
equilíbrio dos fenômenos atmosféricos e super- Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio
ficiais, à saúde humana e animal e à conservação de Janeiro, em 1992 (UNITED NATIONS TREATY
do patrimônio público. COLLECTION, 2019c).
Em decorrência do cenário futuro relacio- Em vigor em 21 de março de 1994, a
nado a esses impactos, o século XX foi marcado UNFCCC foi o ponto de partida para o desenvolvi-
por discussões científicas, notadamente entre a mento de um regime internacional de mudanças
década de 1980 e 1990, denotando que o aumento climáticas, que visa o clima como uma unidade
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 329
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

conceitual a ser protegido por normas inter- 197 partes (UNITED NATIONS TREATY COLLEC-
nacionais ad hoc (SOARES, 2001). A UNFCCC TION, 2019c).
foi assinada pelo Brasil em 4 de junho de 1992 A UNFCCC (1992) estabelece a estreita
e ratificada em 29 de fevereiro de 1994 (UNI- cooperação com o IPCC, para assegurar que o
TED NATIONS TREATY COLLECTION, 2019c), Painel possa responder à necessidade de conse-
sendo promulgada em 1998 (BRASIL, 1998). lhos científicos e técnicos objetivos. Esta atua-
Atualmente, a Convenção do Clima conta com ção conjunta é ilustrada na Figura 2.

Figura 2 |
Contribuições
do IPCC para a
ciência climática
e a formulação de
políticas.
Fonte: IPCC (2019b).
Nota: AR1: Primeiro Relatório de Avaliação; AR2: Segundo Relatório de Avaliação; AR3: Terceiro Relatório de Avaliação; AR4: Quarto Relatório de Avaliação; AR5:
Quinto Relatório de Avaliação; AR6: Sexto Relatório de Avaliação; UNEP: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente; UNFCCC: Convenção Quadro das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas; WMO: Organização Meteorológica Mundial; MR: Relatório de Metodologia 2019 - Refinamento das Diretrizes do
IPCC de 2006 para Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa; SR15: Aquecimento Global de 1,5ºC, relatório especial do IPCC sobre o aquecimento global
de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais e fontes de emissão de GEE relacionadas, no contexto de fortalecimento da respostas global à ameaça da mudança
climática, e desenvolvimento de esforços para erradicar a pobreza; SRCCL: Mudanças Climáticas e Terra, relatório especial do IPCC sobre mudança climática,
desertificação, degradação da terra, manejo sustentável da terra, segurança alimentar e fluxos de GEE em ecossistemas terrestres; SROCC: Relatório especial
sobre o oceano e a criosfera em um clima em mudança.

Em um instantâneo dos desafios relacio- ondas de calor na europa, em 2003 e 2010,


nados às mudanças climáticas e aos riscos de provocaram cerca de 66 mil e 50 mil mortes,
desastres enfrentados pela UNFCCC, desta- respectivamente; iv) se as emissões globais
cam-se: i) a década de 2010 tem sido a mais continuarem sem interrupção, a Terra está a
quente já registrada em 160 anos de monito- caminho de cerca de 5°C de aquecimento, per-
ramento; ii) o Ártico atualmente tem menos to de 10°C no Ártico (WRI, 2011). A Figura 3
de um terço do gelo que tinha em 1980; iii) a ilustra uma verificação da realidade sobre as
humanidade assiste a um aumento significa- mudanças climáticas.
tivo no clima extremo e nos eventos climáti- A principal meta da UNFCCC é a estabili-
cos, esses eventos danificam infraestruturas e zação da concentração de GEE na atmosfera de
afetam também o bem-estar humano - duas forma a prevenir níveis nocivos de interferência
330 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 3 |
Checagem
de realidade
sobre mudança
climática.
Fonte: Adaptado
de IPCC (2013).

antropogênica no sistema climático. Para isso, Anexo I (países industrializados de renda alta
a Convenção estabelece um quadro com prin- com maiores emissões) e Não-Anexo I (o restan-
cípios amplos, obrigações gerais, arranjos insti- te dos países).
tucionais básicos, e um processo intergoverna- O primeiro período de compromisso do
mental para acordar ações específicas ao longo Protocolo iniciou em 2008 e finalizou em 2012.
do tempo (UNFCCC, 2020). O segundo período de compromisso começou
Esse processo consiste na reunião que em 1° de janeiro de 2013, com término previsto
ocorre anualmente entre os governos signatá- para 2020.
rios da Convenção, nas chamadas Conferências Após anos de negociação entre as Partes,
das Partes (COP– Conference of the Parties), cujos a COP-21, realizada em 2015 (Paris, França),
objetivos incluem monitorar o cumprimento das adotou o Acordo de Paris (Paris Agreement),
obrigações dos países e dar prosseguimento às principal tratado em vigência para a mitigação
discussões sobre o combate à mudança do cli- da mudança do clima e seus efeitos (UNFCCC,
ma (UNFCCC, 2020). A primeira COP ocorreu 2015). Em 2018 foi realizada em Katowice
em Berlim, no ano de 1995 (SOUZA e CORA- (Polônia) a COP-24 que representou o fim das
ZZA, 2017; UNFCCC, 2020). Dois anos depois, negociações para o Programa de Trabalho do
no Japão, foi adotado o Protocolo de Quioto Acordo de Paris (PAWP - Paris Agreement Work
(Kyoto Protocol) (UNFCCC, 1997), que estabe- Programme) (UNFCCC, 2020).
leceu metas compulsórias de redução de emis- Os principais marcos na evolução da polí-
sões de GEE para os países maiores emissores, tica climática internacional são apresentados na
com isso categorizando as Partes em países do Tabela 2.
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 331
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

Ano Marcos na evolução da política internacional do clima

1988 A Organização Mundial de Meteorologia (World Meteorological Organization – WMO) e o Progra-


ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA (United Nations Environment Programme –
UNEP) estabeleceram o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental
Panel on Climate Change – IPCC). As avaliações do IPCC se mantém como base científica para as
negociações internacionais, ao mesmo tempo em que fornecem informações fundamentais para o
gerenciamento do risco de eventos extremos.
1990 É divulgado o primeiro relatório de avaliação do IPCC (First Assessment Report – AR1), relatando
que as emissões resultantes das atividades humanas estavam aumentando substancialmente as
concentrações atmosféricas de GEE.
1990 A Assembléia Geral da ONU estabeleceu o Comitê Intergovernamental de Negociação (Intergo-
vernmental Negotiating Committee – INC) para uma Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima.
O INC realizou cinco sessões em que mais de 150 Estados discutiram compromissos vinculantes,
metas e cronogramas para redução de emissões, mecanismos financeiros, transferência de tec-
nologia e responsabilidades comuns porém diferenciadas de países desenvolvidos e em
desenvolvimento.
1992 O texto da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (United Nations Fra-
mework Convention on Climate Change – UNFCCC) é adotado em maio na sede das Nações Uni-
das, em Nova York.
1992 A UNFCCC é aberta para assinatura na Cúpula da Terra no Rio de Janeiro (Earth Summit), reunin-
do o mundo para reduzir as emissões de GEE e se adaptar às mudanças climáticas. A UNFCCC
tem duas convenções irmãs também adotadas no Rio, a Convenção das Nações Unidas sobre
Diversidade Biológica e a Convenção de Combate à Desertificação.
1994 Em 21 de março de 1994 a UNFCCC entra em vigor. Os países que assinam o Tratado são conhe-
cidos como “Partes”. Com 196 signatários, a UNFCCC tem adesão quase universal. As partes se
reúnem anualmente na Conferência das Partes (Conference of the Parties - COP) para negociar
respostas multilaterais às mudanças climáticas.
1995 COP 1 – Berlim, Alemanha. Na primeira COP as Partes concordaram que os compromissos
assumidos eram “inadequados” para atender aos objetivos da Convenção. O Mandato de Berlim
estabelece um processo para negociar compromissos reforçados para os países desen-
volvidos, constituindo as bases para o Protocolo de Quioto (Kyoto Protocol).
1996 O Secretariado da UNFCCC muda de Genebra para sua atual sede em Bonn, que se torna um
centro internacional de sustentabilidade ao abrigar 18 organizações da ONU e empregar cerca de
mil funcionários, dos quais a UNFCCC é a maior organização.
1997 COP 3 – Quioto, Japão. A Terceira Conferência das Partes alcança um marco histórico com a
adoção do Protocolo de Quioto, o primeiro tratado de redução de GEE do mundo.
2001 É divulgado o Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC (Third Assessment Report - AR3).
2001 COP 6 – Bonn, Alemanha. É alcançado um grande avanço na segunda parte da COP 6 em Bonn,
com as Partes chegando a um amplo acordo político sobre o conjunto de regras operacionais para
o Protocolo de Quioto de 1997.
2001 COP 7 – Marrakesh, Marrocos. Negociação dos Acordos de Marrakesh em preparação para a ratifi-
cação do Protocolo de Quioto (Kyoto Protocol). Tem-se a formalização de acordo sobre regras ope-
racionais para o Comércio Internacional de Emissões (International Emissions Trading), o Mecanis-
mo de Desenvolvimento Limpo - MDL (Clean Development Mechanism) e a Implementação Con-
junta (Joint Implementation), juntamente com um regime de conformidade e procedimentos
contábeis.
2005 O Esquema de Comércio de Emissões da União Européia (European Union Emissions Trading
Scheme), primeiro e maior esquema de comércio de emissões do mundo, é lançado como um Tabela 2 |
importante pilar da política climática da União Europeia (UE). As instalações regulamentadas pelo Linha do tempo
regime são coletivamente responsáveis por quase metade das emissões de dióxido de carbono detalhando ações
(CO2) da UE. da ONU quanto ao
2005 O Protocolo de Quioto (Kyoto Protocol) entra em vigor com a ratificação da Rússia. estabelecimento de
medidas em relação
2005 COP 11 – Montreal, Canadá. Após a entrada em vigor do Protocolo de Quioto (Kyoto Protocol), a às Mudanças
COP 11 é realizada, pela primeira vez, em conjunto com a primeira COP na qualidade de Reunião Climáticas Globais.
das Partes do Protocolo de Quioto (Meeting of the Partes - CMP 1). Fonte: Elaboração
2006 O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (Clean Development Mechanism), um mecanismo funda- própria. Com base
mental sob o Protocolo de Quioto (Kyoto Protocol), é aberto para negociações. em UNFCCC (2019).
(continua...)
332 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ANO
Ano MARCOS NA EVOLUÇÃO DAnaPOLÍTICA
Marcos evolução INTERNACIONAL DO CLIMA
da política internacional do clima

2006 COP 12 – Nairobi, Quênia. O Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Tecnológico


(Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice - SBSTA) está encarregado de realizar um
programa para abordar impactos, vulnerabilidade e adaptação à mudança climática. É desenvol-
vido o Programa de Trabalho de Nairobi (Nairobi Work Programme – NWP).
2007 Quarto Relatório de Avaliação do IPCC (Fourth Assessment Report – AR4) é divulgado. A ciência do
clima entrou na consciência popular.
2007 COP 13 – Bali, Indonésia. Foi adotado o Roteiro de Bali (Bali Road Map), incluindo o Plano de Ação
de Bali (Bali Action Plan), que traça o caminho para um novo processo de negociação para lidar
com as mudanças climáticas. O Plano tem cinco categorias principais: visão compartilhada,
mitigação, adaptação, tecnologia e financiamento.
2008 Tem início o mecanismo do Protocolo de Quioto (Kyoto Protocol) “Implementação Conjunta” (Joint
Implementation). Isso permite que um país com um compromisso de redução ou limitação de
emissões sob o Protocolo ganhe unidades de redução de emissões (Emission Reduction Units –
ERUs) de um projeto de redução de emissões ou remoção de emissões em outro país com
compromissos semelhantes.
2008 COP 14 – Poznan, Polônia. Progresso nas negociações para ajudar os países em desenvolvimen-
to, incluindo o lançamento do Fundo de Adaptação (Adaptation Found) no âmbito do Protocolo de
Quioto (Kyoto Protocol) e o Programa Estratégico de Transferência de Tecnologia de Poznan
(Poznan Strategic Programme on Technology Transfer).
2009 COP 15 – Copenhagen, Dinamarca. Estabelecimento do Acordo de Copenhague (Copenhagen
Accord). Os países desenvolvidos prometem até U$ 30 bilhões em financiamento de início rápido
para o período 2010-2012. Posteriormente, as Partes enviaram compromissos de redução de
emissões ou promessas de medidas de mitigação, todos não vinculantes.
2010 COP 16 – Cancun, Caribe. Foram ajustados os Acordos de Cancún (Cancun Agreements), um paco-
te abrangente para ajudar as nações em desenvolvimento a lidar com as mudanças climáticas.
Destaca-se o Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund), o Mecanismo Tecnológico
(Technology Mechanism) e o Marco de Adaptação de Cancún (Cancun Adaptation Framework).
2011 COP 17 – Durban, África do Sul. Lançamento do Momento para a Mudança (Momentum for Chan-
ge), iniciativa da UNFCCC que lança luz sobre a ação climática inovadora e transformadora
realizada em todo o mundo. Durante a COP 17 as Partes se comprometem com um novo acordo
universal sobre mudanças climáticas até 2015 para o período após 2020, levando ao lançamento
do Grupo de Trabalho Ad Hoc para a Plataforma de Durban para Ação Aprimorada (Ad Hoc
Working Group on the Durban Platform for Enhanced Action or ADP).
2012 COP 18 – Doha, Catar. As Partes concordam em trabalhar rapidamente em direção a um acordo
universal sobre mudanças climáticas até 2015 e encontrar maneiras de aumentar os esforços
antes de 2020, além das promessas existentes de reduzir as emissões. Também foi adotada a
Emenda de Doha (Doha Amendment) ao Protocolo de Quioto pelo CMP 8, que lançou um segundo
período de compromisso.
2013 O IPCC divulga a contribuição do Grupo de Trabalho 1 para seu Quinto Relatório de Avaliação
(Fifth Assessment Report – AR5), sobre a ciência das mudanças climáticas.
2013 COP 19 – Varsóvia, Polônia. As principais decisões adotadas na COP 19 / CMP 9 incluem decisões
sobre o avanço da Plataforma de Durban (Durban Platform), do Fundo Verde para o Clima e do
Financiamento de Longo Prazo (Green Climate Fund and Long-Term Finance), do Marco de
Varsóvia para REDD Plus (Warsaw Framework for REDD Plus) e do Mecanismo Internacional para
Perdas e Danos de Varsóvia (Warsaw International Mechanism for Loss and Damage). Sob a
Plataforma de Durban, as Partes concordaram em enviar “Contribuições Pretendidas Determina-
das Nacionalmente” (Intended Nationally Determined Contributions – INDCs), bem antes da
Tabela 2 | Conferência de Paris.
Linha do tempo
detalhando ações 2014 A UNFCCC celebra o seu 20º aniversário em março de 2014.
da ONU quanto ao 2014 O IPCC divulga a contribuição do Grupo de Trabalho 2 para seu Quinto Relatório de Avaliação
estabelecimento de (Fifth Assessment Report – AR5) sobre impactos, adaptação e vulnerabilidade.
medidas em relação
às Mudanças 2014 Climate Summit 2014 – Catalyzing Action – Nova York, EUA. A ONU sediou uma cúpula do clima,
Climáticas Globais. convocando chefes de Estado e governos, empresas, finanças, sociedade civil e líderes locais
Fonte: Elaboração para mobilização sobre mudança climática antes da COP 21, em Paris (2015).
própria. Com base 2014 COP 20 – Lima, Peru. As partes adotaram o Lima Call for Action, que elaborou os principais
em UNFCCC (2019). elementos do Acordo de Paris (Paris Agreement).
(continua...)
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 333
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

Ano Marcos na evolução da política internacional do clima

2015 COP 21 – Paris, França. Adoção do histórico Acordo de Paris (Paris Agreement). Em 12 de
dezembro de 2015, 195 países concordaram em combater as mudanças climáticas e implementar
ações e investimentos para um futuro de baixo carbono, resiliente e sustentável. O Acordo de
Paris, pela primeira vez, traz todas as nações em uma causa comum baseada em seus históricos,
atuais e futuras responsabilidades. O Acordo entrou em vigor em novembro de 2016.
2016 COP 22 – Marrakech, Marrocos. Lançamento da parceria de Marrakech para a Ação Climática
Global (Marrakech Partnership for Climate Action). Um resultado crucial da Conferência do Clima
em Marrakech foi avançar na redação do livro de regras do Acordo de Paris (Paris Agreement).
2017 COP 23 – Bonn, Alemanha. A UNFCCC foi realizada na cidade sede do Secretariado da Conven-
ção e foi a primeira COP presidida por um pequeno Estado insular em desenvolvimento (Fiji).
2018 COP 24 – Katowice, Polônia. Conclusão das negociações para o Programa de Trabalho do Acordo Tabela 2 |
de Paris (PAWP - Paris Agreement Work Programme). Também chamado de “Pacote Climático de Linha do tempo
Katowice”, apresenta um conjunto de diretrizes para guiar a concretização do acordo e operacio- detalhando ações
nalização do seu regime climático. A sua adoção pelas Partes marca o início da fase de imple- da ONU quanto ao
mentação, o que possibilita ações efetivas de combate à mudança climática no âmbito do acordo. estabelecimento de
medidas em relação
2019 COP - 25 - Realizada sob a Presidência do Governo do Chile com apoio logístico do Governo da
às Mudanças
Espanha. Um objetivo principal da COP 15 era concluir vários assuntos relacionados à operacio-
Climáticas Globais.
nalização total do Acordo de Mudança Climática de Paris. Embora com importantes progressos,
Fonte: Elaboração
em especial no setor privado, a comunidade internacional perdeu a oportunidade para mostrar
própria. Com base
maior ambição em mitigação, adaptação e financiamento para enfrentar a crise climática.
em UNFCCC (2020).

É importante observar que os esforços de da promoção do manejo sustentável de florestas


combate à mudança do clima podem ter maior e oceanos, bem como de outros ecossistemas ter-
impacto se forem entendidos em conjunto com restres, costeiros e marinhos (UNFCCC, 2019).
o desenvolvimento sustentável. A Agenda 2030, A taxa de acumulação de dióxido de carbono
e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável na atmosfera pode ser reduzida com a fixação des-
(ODS) constituem planos de ação estabelecidos te gás na vegetação e nos solos dos ecossistemas
pela ONU para guiar os governos e a sociedade terrestres. Para a UNFCCC, qualquer processo,
na busca de soluções para os problemas atuais atividade ou mecanismo que remova um GEE da
de forma sustentável, incluindo os desafios rela- atmosfera é chamado de sumidouro. As ativida-
cionados à pobreza, desigualdade, degradação des humanas impactam os sumidouros terrestres,
ambiental, prosperidade, paz e justiça e clima através das atividades de Uso da Terra, Mudança
(UNITED NATIONS, 2015; 2019). de Uso da Terra e Floresta (LULUCF - Land Use,
A ação climática, indicada como ODS–13, Land Use Change, and Forestry), consequente-
se relaciona direta e indiretamente com outros mente, a troca de dióxido de carbono (ciclo de
ODS em decorrência da mudança climática afe- carbono) entre o sistema terrestre da biosfera e a
tar todos os países em todos os continentes, com atmosfera é alterada (UNFCCC, 2019).
sérias perturbações nas economias nacionais, O papel das atividades LULUCF na mitiga-
na vida das pessoas e nos sistemas naturais. As ção da mudança climática é reconhecido a muito
pessoas mais pobres e vulneráveis são as mais tempo. As florestas apresentam um estoque glo-
afetadas pelas alterações dos padrões climáticos bal significativo de carbono acumulado através
(UNITED NATIONS, 2019). do crescimento de árvores e aumento no carbo-
Como as atividades de uso da terra podem no do solo (UNFCCC, 2019). A Avaliação Global
resultar tanto em emissões de GEE para a atmos- dos Recursos Florestais de 2015 estima que as
fera como em sua remoção, a ocupação do territó- florestas do mundo e outras áreas arborizadas
rio desempenha um importante papel nos ciclos armazenam mais de 458 gigatoneladas (1 Gt =
climáticos. A UNFCCC reconhece que o uso da ter- 1 bilhão de toneladas) de carbono, sendo 260
ra pode contribuir significativamente para a miti- Gt na biomassa (53%), 37 Gt em madeira morta
gação das mudanças climáticas, inclusive através (8%) e 189 Gt no solo (39%) (FAO, 2016).
334 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

4 | SETORES ANTRÓPICOS
DE PRODUÇÃO E EMISSÃO
O dióxido de carbono (CO2) também é res-
ponsável por 64% do aumento do forçamento

DE GEE: FOCO NACIONAL


radioativo global medido em 2010 e comparado
à era pré-industrial (1750). Tomando como base
aquele ano de medição, ele é responsável por
Os GEE são os constituintes gasosos da 85% do aumento do forçamento radioativo das
atmosfera, naturais e/ou antrópicos, que absor- duas últimas décadas, e por 81% do aumento
vem e emitem radiação infravermelha, aque- dos últimos cinco anos. Até a revolução indus-
cendo, dessa forma, a atmosfera e a superfície trial, em meados do século XVIII, a concentração
do planeta. Os GEE mais comuns são o dióxido atmosférica de CO2 permaneceu quase constan-
de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso te. Desde então, essa concentração aumentou
(N2O) e os halogenados, cujas principais ativida- 39% até 2010, primariamente, devido à quei-
des antrópicas emissoras são a produção e o con- ma de combustíveis fósseis, desmatamento e
sumo de bens industriais e agrícolas (Tabela 3). mudanças de uso da terra. O metano (CH4) con-
A intensificação do efeito estufa é resultado da tribuiu com 18% do aumento do forçamento
elevação nas concentrações atmosféricas desses radioativo global e é o segundo GEE mais impor-
gases. Suas concentrações e forçamentos radio- tante. Desde a era pré-industrial sua concen-
ativos têm aumentado desde a revolução indus- tração atmosférica se elevou em 158%. O óxido
trial, mais marcadamente nas últimas décadas. nitroso (N2O) contribuiu com 6% do aumento do
Dentre os GEE aquele de maior importância é o forçamento radioativo global, e é o terceiro GEE
dióxido de carbono (CO2) responsável por apro- mais importante. Sua concentração atmosférica
ximadamente 77% das emissões globais totais se elevou em 20% (Tabela 4).
(IPCC, 2007a; 2007b). Embora apresente menor potencial de aque-
Ainda que outros gases sejam produzi- cimento, o dióxido de carbono (CO2) ocorre em
dos pelo processo de combustão, incluindo o concentrações atmosféricas muito mais elevadas
monóxido de carbono (CO); como o dióxido de do que todos os outros GEE. Enquanto sua con-
carbono é o principal gás produzido durante a centração ocorre em “ppm” (partes por milhão),
oxidação completa (queima) de combustíveis, os os demais GEE são expressos em “ppb” (partes
estudos de emissões de carbono ou de GEE, de por bilhão). Por este motivo é considerado como
maneira geral, expressam valores em unidades gás de maior relevância para o efeito estufa e, por-
equivalentes em CO2. tanto, é estrategicamente fundamental conhecer

GEE Atividades emissoras

Dióxido de Carbono (CO2) Uso de combustíveis fósseis, desflorestação e mudanças de uso da terra.
Tabela 3 |
Gases de Efeito Metano (CH4) Produção e consumo de energia (incluindo biomassa), atividades
Estufa (GEE) agrícolas, resíduos sanitários e águas residuais.
mais comuns e
respectivas Óxido nitroso (N2O) Uso de fertilizantes, produção de ácidos, queima de biomassa e de
atividades combustíveis fósseis.
emissoras. Halogenados
Fonte: Adaptado de hidrofluorcarboneto (HFC) Indústria, refrigeração, aerossóis, propulsores, espumas expandidas e
Protocolo do perfluorcarboneto (PFC) solventes.
Quioto - Anexo A hexafluoreto de enxofre (SF6)
(UNFCCC, 1997).

Tabela 4 | Aumento Potencial de


Principais GEE: GEE 2010 desde a era 1991 a 2000 2001 a 2010 aquecimento
suas concentrações pré-industrial global
atmosféricas em
diferentes períodos, Dióxido de
aumento desde a Carbono – CO2 389 ppm 39% 361 ppm 380 ppm 1
era pré-industrial e Metano – CH4 1808 ppb 158% 1.758 ppb 1.790 ppb 21
potencial de
aquecimento. Óxido nitroso – N2O 323 ppb 20% 313 ppb 320 ppb 310
Fonte: adaptado
de WMO (2010). Nota: ppm = partes do gás, em volume, por milhão de partes do ar seco.
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 335
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

e desenvolver atividades que contribuam para a aumento do desmatamento no período, sobre-


diminuição de sua concentração na atmosfera. tudo no ano 1995 (Figura 4). Em 1990 a esti-
Estimativas das emissões de GEE pelo Brasil mativa das emissões totais (CO2 eq) pelo país foi
mostraram uma mudança de cenário em relação 2,1 bilhões de toneladas (Pg), atingindo em 1995
à participação dos setores produtivos emissores o pico de 3.035 Tg para o quinquênio. Em 2004
desses gases. O Ministério da Ciência, Tecnolo- as emissões atingiram a maior estimativa regis-
gia, Inovação e Comunicação (MCTIC) classificou trada no período (3,8 Pg) voltando a decrescer
cinco setores produtivos como emissores para o no ano seguinte (3,0 Pg) até atingir níveis está-
período entre 1990 e 2014 (Energia; Agropecuá- veis entre 2009 e 2017, com 2,1 Pg para este últi-
ria; Processos industriais; Tratamento de resíduos; mo ano de avaliação.
e Uso da terra e florestas;) (Tabela 5). Até 2008 o Essa alteração das participações relativas
setor “uso da terra e florestas” liderou o ranquea- dos setores nas emissões do país refletiu de
mento das emissões de GEE (dióxido de carbo- maneira semelhante nas participações relati-
no equivalente – CO2 eq) seguido pelos setores vas de cada tipo de GEE (Figura 5). Em 2005,
“agropecuária”, “energia”, “processos industriais” e a maior proporção de emissão ocorreu para
“tratamento de resíduos”. o dióxido de carbono (CO2) (72,9%), seguido
A partir de 2009 os setores “agropecuá- do metano (CH4) (18,5%) e do óxido nitroso
ria” e “energia”, juntos, passaram a emitir quan- (N2O) (8,3%), restando cerca de 0,3% para a
tidades de GEE equivalentes a “uso da terra e participação de outros GEE. Diferentemente,
florestas” (Figura 4). Do início das estimati- em 2010 houve diminuição da participação de
vas até 2004, todos os setores apresentaram dióxido de carbono (CO2) e aumento das parti-
aceleração nas quantidades totais emitidas. A cipações de metano (CH4) óxido nitroso (N2O),
partir de 2005, o setor “uso da terra e florestas” com as seguintes proporções: CO2 (57,3%);
passou a diminuir suas emissões, enquanto CH4 (28,3%) e N2O (13,9%) e 0,5% para outros
os demais mantiveram a tendência em ritmo GEE. Em uma avaliação mais abrangente para
crescente. “Energia”, “tratamento de resíduos” e o período 1970-2016 sobre os GEE no Brasil
“agropecuária”, nesta ordem, foram os setores e suas implicações para políticas públicas e a
que mantiveram maiores ritmos de crescimen- contribuição brasileira para o Acordo de Paris,
to das emissões até 2017. as emissões desses gases foram estimadas con-
Entre os anos 1990 e 1995 houve aumen- siderando os fatores de conversão para CO2 eq
to de 69% das emissões brasileiras de GEE. no formato GWP. A Figura 5 retrata essas par-
Este resultado está diretamente relacionado ao ticipações relativas em diferentes períodos,

Setor produtivo Atividade


Energia Emissões pela queima de combustíveis e emissões fugitivas da indústria de petró-
leo, gás e carvão mineral. As emissões de dióxido de carbono (CO2) devido ao
processo de redução nas usinas siderúrgicas foram consideradas no setor de Pro-
cessos Industriais.
Agropecuária Emissões devido à fermentação entérica do gado, manejo de dejetos animais,
solos agrícolas, cultivo de arroz e queima de resíduos agrícolas.

Processos Emissões resultantes dos processos produtivos das indústrias e que não são resul-
industriais tados da queima de combustíveis. Subsetores: produtos minerais, metalurgia e
química, além da produção e consumo de hidrofluorcarboneto (HFC) e hexafluore-
to de enxofre (SF6).

Tratamento Emissões pela disposição de resíduos sólidos e pelo tratamento de esgotos, tanto
de resíduos doméstico/comercial quanto industrial, além das emissões pela incineração de Tabela 5 |
resíduos e pelo consumo humano de proteínas. Setores de produção
antrópica e suas
Uso da terra Emissões e remoções resultantes das variações da quantidade de carbono (C),
respectivas
e florestas seja da biomassa aérea, seja do solo, considerando-se todas as transições possí-
atividades emissoras
veis entre diversos usos; emissões de dióxido de carbono (CO2) por aplicação de
de GEE.
calcário em solos agrícolas e emissões de metano (CH4) e óxido nitroso (N2O)
Fonte: Elaboração
pela queima de biomassa nos solos. O crescimento da vegetação em áreas consi-
própria, com
deradas manejadas gera remoções de dióxido de carbono (CO2).
base em MCTI (2017).
336 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ainda que as estimativas entre as fontes não padrões distintos (MCTI, 2013; OBSERVATÓ-
sejam comparáveis entre si pelo fato de usarem RIO DO CLIMA, 2018).

Figura 4 |
Estimativa de
emissões (brutas)
brasileiras de
GEE (bilhões de
toneladas – Pg CO2
eq 1P = 1015) pelos
setores de
produção antrópica
(1990-2017).
Legenda: ENG =
energia; AGP =
agropecuária;
PIN = processos
industriais; TRS
= tratamento de
resíduos; e
UTF = uso da terra
e florestas. Fonte:
Elaboração própria.
Com base em
MCTI (2017).

Figura 5 |
Participações
relativas (%) dos
principais GEE nas
estimativas das
emissões (CO2 eq)
(2005, 2010 e 2016)
pelo Brasil.
Fonte: Adaptado
de MCTI (2013);
Observatório do
Clima (2018).
Nota: Observatório do Clima (2018) utiliza como padrão os fatores de conversão para carbono equivalente no formato GWP presente do
Quinto Relatório do IPCC (AR5 – Fifth Assessment Report), padrão mais atual. Fonte: MCTI (2017).
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 337
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

A diminuição relativa de dióxido de carbono variaram entre 5.012 km2 para 2014 e 7.900 km2
(CO2) e consequente aumento relativo de metano em 2015 (INPE, 2019).
(CH4) e óxido nitroso (N2O) decorre da natureza Estes resultados e estimativas relaciona-
das atividades de cada setor. Enquanto em “uso das às emissões de GEE no Brasil se inserem
da terra e florestas” o gás mais emitido é o dióxido no âmbito da Política Nacional sobre Mudança
de carbono (CO2), em “agropecuária” este é emiti- do Clima (PNMC). Instituída com o objetivo de
do em proporções diminutas comparativamente garantir que o desenvolvimento econômico e
ao metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). social contribuam para a proteção do sistema
É importante destacar que a diminuição climático global, a PNMC estabeleceu o compro-
das estimativas de emissões pelo setor “uso da misso de redução das emissões de GEE entre
terra e florestas” no Brasil é decorrente da redu- 36,1% e 38,9% das emissões projetadas até
ção de desmatamentos na Amazônia Legal, que 2020 (BRASIL, 2009).
abrange nove Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Para cumprir esta determinação, o desma-
Pará, Rondônia, Roraima e parte dos estados de tamento da Amazônia deveria ser reduzido em
Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Desde 1988 80%; o do Cerrado em 40%, além da restauração
o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial – INPE de 15 milhões de hectares de pastagens degrada-
realiza o monitoramento, com levantamentos das. Todavia, este cenário ideal se mostra com-
anuais da área desmatada na região (Figura 6). prometido ao se considerar a tendência atual
Entre 1988 e 1991 houve queda das taxas das emissões de GEE do Brasil, com crescimento
de desmatamento, diminuindo de 21 mil para 11 em 2016 de 9% das emissões brutas de GEE em
mil km2 ano-1. Porém, a partir de 1992 iniciou-se relação ao ano anterior e de 32% em relação a
a tendência de crescimento, atingindo 29 e 28 mil 1990. Desse total de emissões, 51% é decorrente
km2 em 1995 e 2004, respectivamente. A partir do desmatamento, principalmente na Amazônia
de 2005 as taxas de desmatamento voltaram a e no Cerrado (OBSERVATÓRIO DO CLIMA, 2019).
diminuir e em 2009 ocorreu, pela primeira vez A governança climática implementada no país a
nessa série histórica, uma taxa de desmatamento partir de 2019, com tendência à marginalização
abaixo de 10 mil km2 ano-1, tendência que prosse- do aquecimento global e das políticas relaciona-
guiu até 2012 - único ano cuja estimativa ficou das a conservação, preservação e recuperação
abaixo de 5 mil km2. Entretanto, em 2013 ocorreu ambiental, constituem aspectos fundamentais
o preocupante aumento da área desmatada em para o não cumprimento dos compromissos
relação ao ano anterior, atingindo quase 6 mil assumidos, com consequências no cenário inter-
km2; nos anos seguintes as áreas desmatadas nacional a médio e longo prazos para o Brasil.

Figura 6 |
Taxas de
desmatamentos
anuais (km2 ano-1)
na Amazônia Legal.
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em INPE (2019).
Nota: O ano 2018 foi atualizado em 23/11/2018; para o referido ano não foram computados dados do Estado do Amapá.
338 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

5 | O PAPEL DA VEGETAÇÃO
NA REGULAÇÃO DO CLIMA
elétrica devido à maior necessidade de resfria-
mento do ambiente de vivência humana (TAHA

EM CONTEXTOS URBANOS E
et al., 1988).

PERIURBANOS
Diversos estudos pontuam a importância
da vegetação como modificadora do clima de
uma cidade, principalmente no que diz respeito à
As preocupações acerca das mudanças cli- atenuação de temperatura (TARIFA e AZEVEDO,
máticas fizeram crescer o interesse em medidas 2001; WENG, 2003), sendo ressaltada a impor-
para reduzir o nível de GEE. Nesse sentido, a tância da vegetação para mitigar os efeitos antro-
vegetação desempenha importante papel, pois pogênicos gerados nas áreas urbanas (AVISSAR,
devido a sua capacidade em absorver o carbono 1996). Também é conhecido que em ambien-
atmosférico, tem grande potencial para minimi- te urbano as árvores desempenham diver-
zar tais efeitos. Ao mesmo tempo, o intenso pro- sos serviços importantes na regulação hídrica
cesso de urbanização e metropolização, como o e climática como, por exemplo, as reduções do
que se observa na RBCV, se caracteriza tanto por escoamento superficial das águas (runoff) por
benefícios econômicos e logísticos e intenso flu- meio de interceptação da precipitação; da car-
xo populacional e adensamento de edificações, ga de poluentes em suspensão na atmosfera,
como pelo aumento da temperatura nos centros por meio da retenção foliar; dos níveis de gases
urbanos, o que afeta milhões de pessoas. atmosféricos potencialmente tóxicos, por meio
Entre os desafios inerentes aos impactos de absorção foliar; da redução da temperatu-
urbanos sobre os ecossistemas, destacam-se: ra do ar, pela modificação do fluxo de radiação
i) carências de recursos naturais e degradação solar que atinge a superfície; além de aumentar
ambiental; ii) alteração do clima, com consequên- a umidade relativa do ar, de reduzir a velocidade
cias sobre o aumento no nível do mar, elevação dos ventos, entre outros.
de temperaturas, variação na pluviosidade e As árvores também apresentam a capaci-
enchentes, secas, tempestades e ondas de calor dade de reduzir o uso de energia elétrica para
mais frequentes e severas; iii) mudanças demo- o condicionamento de temperaturas ambientes.
gráficas e sociais associadas à urbanização; e iv) Isso possivelmente ocorre devido à alteração no
redução dos serviços ecossistêmicos. A compre- regime de radiação solar (SIMPSON; McPHER-
ensão de como os ecossistemas prestam servi- SON, 1998). Com a presença de vegetação, tam-
ços, quem se beneficia com eles, o que acontece bém ocorre menor variação de temperatura do
quando um sistema muda e como os ecossiste- ar, ou seja, tem-se menor amplitude térmica em
mas podem contribuir para uma maior resiliên- ambientes sob vegetação, principalmente no
cia é fundamental para o desenvolvimento de verão, período em que a densidade foliar e a eva-
cidades sustentáveis (SECRETARIAT..., 2012). potranspiração das plantas são mais intensas
Neste contexto, parte-se do princípio de (MASCARÓ, 2004). Ademais, árvores em aveni-
que há uma correlação entre microclimas urba- das são capazes de filtrar até 70% da poluição
nos e variáveis relacionadas ao uso e ocupação do ar (BERNATZKY, 1982).
do solo, considerando-se que o espaço construí- A vegetação exerce um papel fundamen-
do é um dos fatores que contribui para a criação tal em termos de alteração microclimática em
de microclimas diferenciados em relação ao cli- ambientes urbanos. Isso ocorre porque as árvo-
ma regional (DUARTE, 2000). As áreas urbanas res utilizam energia solar para completarem
frequentemente apresentam superfícies mais seu processo metabólico, absorvendo carbono
escuras e menor cobertura por vegetação quan- e liberando oxigênio no processo de fotossín-
do comparadas às suas áreas circunvizinhas. tese. O carbono é fixado sempre na presença
Essas diferenças afetam o clima, o uso de ener- de energia solar, podendo ser simplificado pela
gia e a qualidade de vida nas cidades, levando equação que representa o balanço estequiomé-
à criação das chamadas ilhas de calor urbanas trico simplificado da reação de fotossíntese:
(ROSENFELD et al., 1995). Em regiões de clima
quente as ilhas de calor contribuem significati- 6 CO2 + 6 H2O → C6H12O6 + 6O2
vamente para o aumento das contas de energia
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 339
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

6 | QUANTIFICAÇÃO DE
CARBONO ESTOCADO NA
A condição prévia para o processo fotos-
sintético ocorrer é a absorção de energia radian-

VEGETAÇÃO DA RBCV:
te pelos cloroplastos (LARCHER, 2004). Como

COMPARAÇÃO COM AS
as plantas não armazenam calor no interior

EMISSÕES DE CO2 ORIUNDA


das células e, em média, entre 60% e 75% da
energia solar é consumida nos processos fisio-

DA QUEIMA DE COMBUSTÍVEIS
lógicos, suas folhas absorvem, refletem e trans-

FÓSSEIS PELO ESTADO DE


mitem a energia incidente (BERNATZKY, 1982).
Embora a energia absorvida seja alta, a tempe-

SÃO PAULO
ratura superficial da folha não é elevada, man-
tendo-se abaixo da temperatura dos corpos
vizinhos, visto utilizar parte da energia recebi-
da para o processo da fotossíntese (BARBUGLI, A área terrestre compreendida pela RBCV
2004). A redução de temperatura gerada pela apresenta 1.605.928 hectares dos quais 864.272
presença de árvores ocorre de forma direta e (53,8%) são cobertos por algum tipo florestal,
indireta, pelo sombreamento e pelo processo de em estágios maduro ou em crescimento (vegeta-
evapotranspiração, respectivamente. ção secundária). O tipo mais representativo é a
A ocorrência de vegetação no território floresta ombrófila densa (FOD), com maior con-
abrangido pela RBCV torna-se essencial para centração na faixa litorânea (Figura 7).
minimizar os efeitos da crescente urbanização Este tipo de vegetação cobre mais de 30% da
da macrometrópole paulista. Essa mesma vege- RBCV e representa mais de 60% da sua área total
tação que atua na regulação dos GEE, presta vegetada. A floresta ombrófila (FO) ainda exer-
outros importantes serviços à população, como ce influência sobre o segundo tipo florestal mais
por exemplo, o serviços ecossistêmicos de ame- representativo, em contato com a floresta ombró-
nização do clima. As áreas com maior cobertura fila mista (FOM) (12%). Ainda em termos quanti-
vegetal apresentam menor temperatura do ar, tativos, o reflorestamento com o gênero Eucalyp-
comparada às áreas com menor vegetação, com tus é o terceiro representante da vegetação (6%)
diferenças de até 2,14oC. Área com maior por- seguido pelo gênero Pinus que juntamente com os
centagem de cobertura vegetal também apre- outros tipos florestais naturais ocorrem em quan-
sentou menores valores de graus-hora de calor, tidades diminutas (Figura 7 e Tabela 6).
indicando ser a área com menor necessidade de Outras formas de vegetação presentes na
refrigeração artificial, o que significa menor con- RBCV estão inseridas no contexto urbano tais
sumo de energia e, indiretamente, menor emis- como parques, praças e arborização viária. Estes
são de GEE (VELASCO, 2007). tipos de vegetação foram considerados elemen-
Apesar dos benefícios que proporcionam tos traços, portanto não foram contabilizados
para um grande percentual da população mun- neste estudo.
dial que vive em áreas urbanas e, notadamente A referência Guidelines for National Green-
para 25,36 milhões de habitantes encerrados house Gas Inventories (IPCC, 2006) classifica cin-
pela RBCV (IBGE, 2019), em geral, a gestão e o co compartimentos como contentores de carbono
planejamento para os serviços dos ecossistemas em sistemas florestais: “biomassa viva acima do
são desconsiderados nas cidades. Com frequên- solo; biomassa viva abaixo do solo, biomassa lenho-
cia, o padrão de urbanização é definido pelo sa morta, serapilheira e matéria orgânica do solo”.
uso ineficiente da terra, com evidente negli- Como forma simplificada este guia também apre-
genciamento tanto da relação entre sociedade senta os compartimentos de maneira agrupada,
e ambiente, como de áreas importantes para a cujas definições são apresentadas na Tabela 7.
conservação. O planejamento e ordenamento A quantificação de carbono estocado nos
territorial deve, necessariamente, incorporar os diferentes compartimentos dos tipos florestais
benefícios que esses ecossistemas proporcio- ocorrentes na RBCV foi calculada com base em
nam para o bem-estar das pessoas, como será referências de literatura. Para “biomassa viva”
observado pela quantificação de carbono esto- e “serapilheira” utilizou-se a fonte IPCC (2006);
cado na vegetação da RBCV. para “biomassa lenhosa morta” utilizou-se a fonte
340 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 7 |
Tipos florestais
naturais em seus
estágios de
crescimento e
reflorestamento
com gêneros
exóticos (Eucalyptus
e Pinus),
compreendidos
pela – RBCV.
Fonte: Elaboração
própria. Com
base em São Paulo
(2010).
Tabela 6 |
Áreas (ha) dos Estágio de desenvolvimento
tipos florestais de
ocorrência na RBCV Tipo maduro em crescimento maduro + Proporção na
nos estágios florestal crescimento RBCV (%)
de desenvolvimento ha
maduro e em
crescimento. FOD 133.006 394.893 527.899 32,87
Fonte: Elaboração FO / FOM 194.538 194.538 12,11
própria. Com base
Eucalyptus 40.904 81.809 122.713 7,64
em São Paulo (2010).
Legenda: Pinus 838 1.677 2.515 0,16
FOD = Floresta Mangue 9.899 9.899 0,62
Ombrófila Densa;
FO = Floresta Várzea 6.216 6.216 0,39
Ombrófila; FO/ Cerrado 164 3.995 4.159 0,26
FOM = Floresta
Ombrófila Mista; Cerrado 846 846 > 0,1
FES = Floresta FES 72 72 > 0,1
Estacional
Área total 191.873 676.984 868.857 54,1
Semidecidual.
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 341
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

Compartimentos Definição

Toda biomassa da vegetação viva acima do solo, lenhosa


acima do solo e herbácea, incluindo tronco, galho, casca, semente e
BIOMASSA folhagem.
VIVA
Toda biomassa das raízes vivas até 2,0 mm de diâmetro.
abaixo do solo Raízes vivas abaixo dessa dimensão (finas) geralmente
são excluídas por não serem distinguidas da serapilheira
ou da matéria orgânica do solo.

Toda biomassa lenhosa morta não incluída na serapilhei-


lenhosa ra. Em pé, tombada no chão ou contida no solo, incluindo
raízes mortas até 2,0 mm e troncos mortos até 10 cm de
diâmetro.
BIOMASSA
MORTA Toda biomassa morta com tamanho entre os limites da
matéria orgânica do solo (< 2,0 mm) e da biomassa lenho-
serapilheira sa morta (> 10 cm), em superfície ou incorporada ao solo.
Raízes finas vivas são inclusas quando não podem ser Tabela 7 |
distinguidas. Classificação dos
compartimentos
Carbono orgânico de solos numa profundidade específica florestais contentores
SOLO matéria (o padrão é até 30 cm), incluindo raízes finas vivas ou de carbono.
orgânica do solo mortas e matéria orgânica morta incorporada ao solo Fonte: Elaboração
(<2,0 mm) quando não podem ser distinguidas. própria. Com base
em IPCC (2006).

FAO (2006). Essas duas fontes indicam a quanti- anos. Portanto, considerou-se 2/3 com idade
dade de biomassa por hectare em cada um desses <20 anos, enquanto 1/3 com idade >20 anos.
compartimentos, de acordo com o tipo florestal. Nos casos de florestas plantadas considerou-se
Considerou-se o teor de carbono na biomassa que as unidades em crescimento apresentam a
como 47% (IPCC, 2006). Para “matéria orgânica idade média entre a idade de plantio (zero) e
do solo” utilizou-se a fonte Bernoux et al. (2002), da maturidade comercial (Eucalyptus = 7 anos,
que apresenta um mapeamento da quantidade de idade média =3,5 anos e Pinus = 21 anos, idade
carbono nos solos brasileiros. Portanto, as quan- média = 10,5 anos).
tificações foram obtidas multiplicando os valores De acordo com as estimativas para este
propostos por essas referências (em toneladas estudo, o estoque total de carbono nos sistemas
por hectare) pela quantidade em hectares de florestais na RBCV é superior a 122 milhões
cada tipo florestal da RBCV (Tabela 6). de toneladas, equivalente a aproximadamente
As fontes indicam valor único de acúmu- 447 milhões de toneladas de dióxido de carbo-
lo final de biomassa nos casos de unidades em no (CO2 eq). Mesmo que o acúmulo de carbono
estágio maduro, específico para cada tipo flo- por unidade de área nos sistemas florestais em
restal. Porém, quando se considera a floresta estágio maduro seja maior que as taxas anuais
em estágio de crescimento, os valores indica- de incremento pelos sistemas em crescimento,
dos referem-se a taxa anual de acúmulo de bio- estes últimos são responsáveis por maior esto-
massa. Para florestas nativas as taxas variam que total de carbono pelo fato de ocorrerem em
conforme a idade (< 20 anos ou > 20 anos), e no maior quantidade de área. A “biomassa viva aci-
caso de florestas plantadas é indicado taxa úni- ma do solo” é o compartimento de maior acúmu-
ca de acúmulo anual, específico para Eucalyptus lo, seguido pela “matéria orgânica do solo”, pela
spp ou para Pinus spp. Para esse estudo consi- “biomassa viva abaixo do solo”, pela “biomassa
derou-se que a idade de maturidade das flores- lenhosa morta” e, por fim, a “serapilheira”. Estes
tas nativas é 30 anos e, nesse caso é razoável dois últimos compartimentos acumulam meno-
considerar que as florestas em crescimento se res quantidades de carbono.
encontram com idades igualmente distribuí- É possível estabelecer um comparativo
das nos terços: 0-10 anos; 10-20 anos e 20-30 dessa quantidade de carbono estocada pela
342 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

7 | FORÇAS ATUANTES E
TENDÊNCIAS DO SERVIÇO
vegetação da RBCV em relação aos valores de
emissões de dióxido de carbono (CO2) pelo esta-

ECOSSISTÊMICO DE FIXAÇÃO
do de São Paulo devido à queima de combustí-

DE CARBONO E REDUÇÃO DE
veis fósseis para geração de energia. Estimativas

GEE NA RBCV: CONTRIBUIÇÃO


do inventário dessas emissões no período 1990-
2008 (CETESB, 2010) mostram que no último

PARA O BEM-ESTAR HUMANO


ano de avaliação o estado emitiu 79 milhões de
toneladas de dióxido de carbono (CO2), o que
representa aumento de 39% em relação às emis-
sões de 1990. Nessas condições a estocagem Como demonstrado até aqui a mudança cli-
global atual de dióxido de carbono (CO2) pelos mática é descrita como um dos maiores desafios
sistemas florestais da RBCV é equivalente a qua- a serem enfrentados, juntamente com a urbani-
se seis anos de emissão por todo o estado. Cabe zação. Entre 1950 e 2005, as emissões globais de
observar que esses valores não contabilizam as carbono provenientes da queima de combustíveis
emissões fugitivas de outros GEE produzidas fósseis aumentaram quase 500%, enquanto o nível
durante os processos de produção, armazena- de urbanização aumentou de 29% para 49%. Os
mento, distribuição e uso de energia. últimos quatro anos foram os mais quentes dos
Ao se multiplicar as taxas de crescimento últimos 22 anos e, embora a mudança climática
em “biomassa viva” e de formação de “biomassa seja uma questão global profunda, ela também é
lenhosa morta” indicadas em IPCC (2006) pelas uma questão local, já que as áreas urbanas apre-
áreas das florestas em crescimento na RBCV sentam um papel crucial no cenário da mudan-
(já apresentadas na Tabela 6), estima-se que ça climática. Como consequência da expansão
estas absorvam anualmente mais de 28 milhões da urbanização, a área urbana mundial em 2030
de toneladas de dióxido de carbono (CO2). Esta deverá ser três vezes maior do que era em 2000,
capacidade de absorção representa potencial passando de 400 mil km2 para 1,2 milhão de km2
de neutralização de aproximadamente 36% das (UN-HABITAT, 2016).
emissões anuais derivadas de combustíveis fós- As áreas urbanas da RBCV concentram
seis por todo o estado de São Paulo, tomando atividades econômicas, estruturas familiares,
como base o ano 2008. Os dados foram consoli- indústrias e infraestruturas que são pontos de
dados na Tabela 8. consumo de energia, bem como as principais
Estes resultados evidenciam o relevante fontes emissoras de GEE. Atualmente, é ampla-
papel desempenhado pelas florestas em cresci- mente aceito que a urbanização traz mudanças
mento. Além de representar reservatório atual fundamentais nos padrões de produção e consu-
de carbono apresentam taxa anual de absor- mo que, quando associadas a desenhos urbanos
ção de dióxido de carbono devido ao processo não funcionais e a estrutura das cidades, contri-
fotossintético do próprio crescimento, ou seja, buem para um maior nível de consumo de ener-
desempenham papel de remoção de dióxido de gia e emissões de GEE (UN-HABITAT, 2016). As
carbono lançados continuamente na atmosfera áreas urbanas do planeta representam de 71% a
pelas atividades antrópicas. 76% das emissões de dióxido de carbono do uso

Estágio de desenvolvimento

Maduro +
Compartimento maduro em crescimento
crescimento
tonelada de carbono (Mg C)
Tabela 8 | Biomassa viva acima do solo 22.623.754 28.539.794 51.163.548
Estoques de
carbono nos Biomassa viva abaixo do solo 7.807.617 9.115.569 16.923.186
compartimentos de Biomassa lenhosa morta 2.070.714 3.739.434 5.810.148
sistemas florestais
compreendidos na Serapilheira 989.794 1.752.208 2.742.002
RBCV, em estágios Matéria orgânica do solo 9.993.112 35.381.115 45.374.227
maduro e em
Total 43.484.991 78.528.120 122.013.111
desenvolvimento.

FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 343
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

final de energia global, ao mesmo tempo, estas A vulnerabilidade às mudanças climáticas


áreas correspondem a altas concentrações de depende de fatores como padrões de urbani-
ativos e atividades financeiras, de infraestrutu- zação, desenvolvimento econômico, exposição
ra e contingentes humanos, que são vulneráveis física, planejamento urbano e preparação para
às mudanças climáticas. Nas próximas décadas, desastres (UN-HABITAT, 2016). A convergência
centenas de milhões de pessoas em áreas urba- entre urbanização e mudança climática ameaça
nas provavelmente serão afetadas pelo aumento com impactos sem precedentes a economia, a
do nível do mar e da precipitação, por inunda- qualidade de vida e a estabilidade social (Tabela
ções, ciclones e tempestades mais frequentes e 9) (UN-HABITAT, 2011).
mais fortes, e por períodos de calor e frio mais Para o Brasil, as projeções indicam que o
extremos (UN-HABITAT, 2019). aumento da temperatura média poderá ficar
Com população de 21,73 milhões de habi- entre 2oC e 4oC em relação à temperatura média
tantes (IBGE, 2019), a RMSP é a 4ª maior do mun- aferida entre 1961 e 1990, o que provocaria
do (UN-HABITAT, 2016). Ao redor dessa imensa maior frequência e intensidade das ondas de
metrópole, encontra-se o seu cinturão verde com calor e exacerbação do impacto do calor extre-
1,8 milhão de hectares, dos quais 757.074 mil mo no verão, devido a umidade relativa do ar
hectares são ecossistemas de vegetação nativa. associada à frequência de chuvas mais intensas
Outros usos da terra como áreas cultivadas, resi- (NOBRE et al., 2010). Na RMSP, a crescente urba-
denciais e outras áreas verdes, reservatórios de nização atua em sinergia com o aumento de tem-
água, infraestrutura e solo descoberto se somam peratura e apresenta potencial para a ocorrência
a esse território (SÃO PAULO, 2010). O cinturão de eventos com precipitação intensa cada vez
verde de São Paulo também engloba quase inte- mais frequentes. O município de São Paulo, com
gralmente a RMBS; com uma extensa área cos- 11,8 milhões de habitantes (IBGE, 2019), apre-
teira, é formada por nove municípios, respondeu senta muito alta probabilidade de ocorrência de
por 3,1% do PIB paulista em 2018 e concentra acidentes relacionados a enchentes e escorrega-
4,09% da população do estado (1,871 milhão de mentos decorrente do elevado número de áreas
pessoas) (IBGE, 2019). de risco, concentração populacional nessas áre-
Na RBCV estão abrigados 78 municípios, as e vulnerabilidade das ocupações existentes
cuja população encerrada pela reserva da biosfe- em virtude de sua precariedade.
ra é superior a 25 milhões de pessoas em 2019, A Figura 8 apresenta os indicadores de
essas economias produziram 18,8% do PIB total mudança do clima na RMSP. De forma qualitati-
do Brasil em uma área correspondente a apenas va e considerando que as condições futuras de
0,22% do território nacional (IBGE, 2019). vulnerabilidade se manterão como as atuais,
Tanto o funcionamento das cidades como pode-se inferir que até o ano 2050 a intensidade
seu tecido básico podem ser perturbados por for- das mudanças do clima e extremos parece ser
tes precipitações e eventos climáticos, com impli- maior devido ao crescimento da mancha urbana
cações generalizadas para a economia, infraes- e da urbanização comparada com o aumento da
trutura e população. Em 2014, 87% dos desastres concentração de GEE (NOBRE et al., 2010). Estas
estavam relacionados ao clima. Com frequência, projeções foram baseadas, exclusivamente, na
nos países em desenvolvimento as cidades são forçante de aumento na concentração de GEE. As
particularmente vulneráveis, tanto a novos even- tendências observadas para a RMSP mostram os
tos climáticos extremos, quanto à exacerbação da efeitos das ilhas urbanas de calor e crescimento
pobreza existente e à degradação ambiental. As da mancha urbana. As mesmas foram definidas
áreas costeiras de baixa altitude são especialmen- qualitativamente até 2050, com indicação da
te vulneráveis a eventos climáticos. Um aumento confiabilidade das projeções. Os índices extre-
de um metro no nível do mar representaria uma mos relacionados com a variável temperatura
grande ameaça para muitas cidades costeiras. apresentam uma alta confiabilidade, já a confia-
Esses riscos são amplificados em cidades que não bilidade dos modelos em projetar as tendências
dispõem de infraestrutura e instituições neces- nos índices extremos relacionados à precipita-
sárias para responder às mudanças climáticas ção é de baixa a média, decorrente da diferença
(UN-HABITAT, 2016). de resultados entre os modelos utilizados.
344 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Fenômenos climáticos Probabilidade Principais efeitos


Dias e noites menos frios Quase certo Diminuição da demanda de energia para
aquecimento.
Dias e noites quentes, mais Quase certo Aumento da demanda de energia para ar
frequentes na maior parte condicionado.
da superfície terrestre
Temperaturas mais quentes Quase certo Diminuição na interrupção de transporte devido
a neve e efeito do gelo durante turismo de inver-
no. Mudança no permafrost (solo que fica per-
manentemente congelado), danos a edifícios e
infraestruturas.
Períodos quentes/ondas de Muito provável Redução da qualidade de vida das pessoas em
calor mais frequentes na áreas quentes sem ar condicionado. Impacto
maior parte da superfície nos idosos, jovens e pobres. Perdas de vidas
terrestre humanas. Aumento de consumo de energia
para ar condicionado.
Chuvas fortes mais Muito provável Problemas em assentamentos humanos, comér-
frequentes na maioria da cio, transporte e nas sociedades por inundação.
superfície da terra Perda significativa de vidas humanas, danos e
perdas à propriedade e à infraestruturas. Aumento
do uso da água da chuva na produção de energia
hidroelétrica.
Aumento de zonas Provável Escassez de água para residências, indústrias e
afetadas pela seca serviços. Diminuição de potenciais para a produ-
ção de energia hidrelétrica.
Aumento da atividade de Provável Problemas em assentamentos humanos. Inunda-
ciclones tropicais intensos ções e ventos fortes. Problemas com fornecimen-
to de água. Retirada da cobertura de risco por
Tabela 9 | seguradoras privadas em áreas vulneráveis
Projeções para (pelo menos nos países desenvolvidos). Perdas
os principais humanas importantes, danos e perdasà pro-
efeitos esperados priedade. Migração da população.
de temperaturas
Aumento da incidência da Provável Aumento dos custos de proteção costeira e dos
e fenômenos
da elevação do nível do mar custos da relocalização do uso da terra. Menor
climáticos extremos
probabilidade de água doce por infiltração sali-
em zonas urbanas.
na. Importantes perdas humanas, danos e per-
Fonte: Adaptado
das à propriedade. Movimentos populacionais
de UN-HABITAT
(êxodo).
(2011, p. 32).

Com base nestes cenários climáticos, a das temperaturas do ar, de noites quentes e de
Figura 9 apresenta uma avaliação dos possíveis ondas de calor (NOBRE et al, 2010).
impactos das mudanças de extremos de chuva na A Figura 9 mostra os possíveis impactos
RMSP, a partir de análises qualitativas de vulnera- (maiores ou menores) e ponderações sobre o
bilidade que consideram as forçantes de aumento grau de vulnerabilidade como consequência do
nas concentrações de GEE relacionado ao proces- aumento na frequência de extremos de chuva
so de urbanização. Ressalta-se que o impacto se acima de 30 mm-1, até o horizonte temporal de
deve mais ao aumento da frequência e severidade 2030-2150 (NOBRE et al., 2010). Para a RMSP e
dos eventos de chuva do que à mudança do uso seus municípios envoltórios, abrangendo a totali-
da terra ou de construções em áreas vulneráveis dade da RBCV, o principal aumento de risco deve-
a extremos de chuva/enchentes. Nos casos das rá ser a ampliação no número e na intensidade de
inundações de extensas planícies já urbaniza- eventos extremos de chuva e temperatura.
das, a vulnerabilidade se dará mais por força da Em uma abordagem mais abrangente,
mudança do uso da terra do que pelo aumento a Tabela 10 apresenta uma síntese de possí-
da frequência e severidade dos eventos de chuva, veis riscos, áreas afetadas e impactos sobre o
incluindo-se os efeitos decorrentes do aumento bem-estar humano para RMSP e seu Cinturão
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 345
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

Figura 8 |
Síntese das
projeções climáticas
para a RMSP.
Fonte: Adaptado de
Nobre et al. (2010).

Figura 9 |
Avaliação qualitativa
de possíveis
impactos das
mudanças de
extremos de chuva
na RMSP.
Fonte: Adaptado de
Nobre et al. (2010).
346 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Evento Risco Setores Impacto sobre o bem-estar humano


vulneráveis
Indústria
Comércio e serviços Danos em bens e imóveis e prejuízos no setor de
produção e comércio.
Habitação/Moradia

Áreas residenciais
(favelas ou não) Danos causados ao sistema viário - lentidão ou
situadas nos leitos paralisação do trânsito, principalmente no entro-
(margens) de rios, em camento das rodovias, marginais e vias principais.
Enchentes e APPs e várzeas
alagamentos
Saneamento/ Danos causados ao sistema de esgoto (tratamento
Segurança hídrica/ e coleta), contaminação das águas e assoreamento,
Energia/ Infraes- paralisação do sistema de abastecimento de água e
trutura urbana de energia, danos em obras de infraestrutura.

Mortes causadas por acidentes e afogamentos.


Precipitação Saúde e serviços
públicos Doenças causadas por contaminação e traumas
intensa diversos.
Indústria Mortes causadas por acidentes, soterramentos e
asfixia.
Comércio e serviços
Danos em bens e imóveis e prejuízos no setor de
Áreas residenciais produção e comércio.

Sistema viário / Danos causados ao sistema viário - lentidão ou


Deslizamentos / paralisação do trânsito, principalmente no entron-
Transportes
Desmoronamentos camento das rodovias, marginais e vias principais.
Saneamento / Danos causados ao sistema de esgoto (tratamento
Segurança hídrica / e coleta), contaminação das águas e assoreamen-
Energia/ Infraes- to, paralisação do sistema de abastecimento de
trutura urbana água, energia, danos em obras de infraestrutura.

Saúde e serviços Mortes e interrupções no atendimento dos hospi-


públicos tais; doenças causadas por contaminação e trau-
mas diversos.
Doenças cardiovasculares (com risco de infarto).
Desidratação (crianças e idosos).
Propagação de
doenças Saúde e serviços Epidemias (malária, febre amarela).
públicos
Doenças infecciosas.
Gastrointerites com proliferação de cianobactérias.
Desconforto Indústria Aumento da demanda por energia
térmico (ar condicionado) e água (abastecimento).
Comércio e serviços
Efeito das ilhas de Sobrecarga no sistema de fornecimento de
calor acentuado Habitação / moradias água e energia.
Perdas de recur- Áreas de proteção,
sos naturais e da parques e florestas Queimadas - espontâneas ou não.
Aumento da
biodiversidade urbanas
temperatura, ondas
de calor e períodos Indústria
de seca
Comércio e serviços
Redução da Habitação / Moradia Paralisação do fornecimento de água e energia.
disponibilidade
Saneamento /
de água nos Segurança hídrica /
reservatórios Energia / Infraes- Paralisação de sistemas de transporte público e de
trutura urbana saúde (falta de água e energia).

Transporte público
Saúde e serviços
públicos
Tabela 10 | Indústria
Cenários de riscos, Comércio e serviços
vulnerabilidades e Contaminação do ar, efeito estufa.
impactos sobre o Poluição do ar Habitação / Moradia
exacerbada
bem-estar humano Transporte público
para a RMSP.
Saúde e serviços Mortes por doenças respiratórias e cardiovascula-
Fonte: Adaptado de públicos res, acidentes no trânsito.
Nobre et al. (2010).
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 347
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

8 | TENDÊNCIAS DA
EVOLUÇÃO DE PRODUÇÃO E
Verde quanto aos eventos precipitação intensa e
aumento da temperatura, ondas de calor e perío-

CONSUMO DE ENERGIA PELO


dos de seca.

ESTADO DE SÃO PAULO


As consequências das mudanças climá-
ticas para as áreas urbanizadas dependem de
fatores que incluem a vulnerabilidade e a resi-
liência das populações. Os municípios da RBCV É importante proceder a um estudo mais
e, notadamente a cidade de São Paulo, sua detalhado das informações apresentadas no
região metropolitana e a da Baixada Santista inventário de emissões de dióxido de carbono
são altamente vulneráveis a desastres natu- (CO2) pelo estado devido à queima de combustí-
rais – incluindo aspectos como possibilidade veis fósseis para geração de energia no período
de comprometimento dos grandes sistemas de 1990-2008 (CETESB, 2010). Tal análise possibi-
abastecimento de água, de geração e transmis- lita melhor compreensão sobre como as ativida-
são de energia, de transportes e de saúde. Em des antrópicas causam aumento das concentra-
grande medida, para o território da RBCV, as ções de GEE na atmosfera e, consequentemente,
alterações no uso das terras sem considerar o fornecer subsídios para se repensar e melhorar
ordenamento territorial com foco nos serviços as formas de produção de energia no estado e no
ecossistêmicos tem contribuído para o aumen- país. A Tabela 11 sintetiza as categorias e fon-
to de desastres e da vulnerabilidade às mudan- tes de energia que são produzidas e consumidas
ças climáticas. no estado de São Paulo: "Derivados de Petróleo;

Fontes
Categorias de fontes
renováveis não renováveis

Derivados óleo diesel, óleo combustível gasolina, GLP,


de petróleo nafta, querosene, gás natural*
gás canalizado
gás de refinaria
outros energéticos de petróleo, produtos não
energéticos

Derivados bagaço de cana*


de cana álcool anidro,
álcool hidratado

Eletricidade hidrelétrica termoelétrica
Tabela 11 |
Carvão mineral coque de carvão mineral Categorias e
e derivados carvão vapor* fontes de energia
gás de coqueira produzidas e
consumidas
Madeireiros lenha*, carvão vegetal no estado de
São Paulo.
Outras fontes lixívia*, Fonte: Elaboração
outras fontes primárias própria. Com base
em CETESB (2010).
Notas: * Fontes energéticas anotadas com asterístico são primárias, as demais fontes energéticas são secundárias, ou seja, passaram por
algum grau de processamento.
348 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Derivados de cana; Eletricidade; Carvão mineral torno de 50% entre o início e o final do período
e derivados; Madeireiros e outras fontes". de estimativa (Figura 10).
Os “Derivados de petróleo” compõem a cate- O óleo Diesel (Figura 11a), cujo consumo
goria de fonte energética consumida em maior está em torno de 15% do total das fontes de ener-
proporção no estado. Estimativas do período gia utilizadas, é o principal combustível deriva-
avaliado mostram proporção próxima a 50% do de petróleo, com consumo cerca de 30-40%
dessa categoria em relação ao somatório de con- maior que a gasolina (Figura 11b). Essa carac-
sumo de todas as fontes. Porém, a partir de 2002 terização de maior consumo de diesel dentre os
iniciou-se um ligeiro declínio no consumo dessa energéticos utilizados no setor é resultado da
categoria e, em 2005, pela primeira vez no perío- priorização do modal rodoviário para transpor-
do ocorreu claramente proporção de consumo te de cargas, ao nível nacional, em detrimento de
abaixo de 50% do total. A segunda categoria de outros modos de transporte.
fonte energética em consumo é “derivados de O álcool anidro (Figura 11c), por ser uti-
cana”, com média em torno de 20% até 2005, lizado em mistura à gasolina, teve padrão de
a partir de quando se inicia um ligeiro aumen- consumo semelhante a este combustível, osci-
to neste consumo, ultrapassando a proporção lando entre 1,5-2,0% do total a partir de 1994.
de 25% em 2007-2008, em detrimento da pro- Enquanto o álcool hidratado (Figura 11d), uti-
porção de consumo de “derivados de petróleo”. A lizado como combustível único, teve consumo
seguir ocorre o consumo de “eletricidade”, com oscilatório no período. Até 1996 era consumido
média variando em torno de 17-20% em todo em torno de 5-6% do total, passando por um
o período. Essas três categorias perfazem 93% período de queda que baixou o consumo em
do consumo de energia no estado e o restante proporções próximas a 1-2% até 2004, quando
provém de “carvão mineral e derivados” (3,4%), então o consumo voltou a crescer (introdução
produtos “madeireiros” (2,3%) e “outras fontes” massiva de motores flex fuel no mercado auto-
de energia (1,4%), com destaque para a redução mobilístico nacional) retornando a 5-6% da pro-
do consumo de “carvão mineral e derivados” em porção total em 2008.

Figura 10 |
Proporção (%)
de consumo de
energia no estado
de São Paulo por
categorias de
fontes energéticas
(período 1990-2008).
Elaboração própria.
Com base em
CETESB (2010).
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 349
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

Figura 11 |
Proporção (%) de
consumo de energia
no estado de
São Paulo por fontes
energéticas (período
1990-2008).
Legenda: a) óleo
diesel; b) gasolina;
c) álcool anidro; d)
álcool hidratado;
e) bagaço de cana;
f) gás natural.
Adaptado de
CETESB (2010).

Por ter origem de fonte renovável de ener- valores alterados para 82% e 78%, respectiva-
gia (biocombustível) as emissões oriundas da mente, com a eliminação da prática da queima
queima de etanol não devem ser contabilizadas para colheita da cana (SOARES et al., 2009). De
no cálculo das emissões líquidas; uma vez que, forma similar, foram relatadas reduções de GEE
quantitativamente, essas emissões são compen- de 77% a 82% em relação à gasolina (WANG
sadas pelo processo fotossintético de renovação et al., 2012). Na comparação com o diesel de
dos canaviais, fonte primária da energia. O mes- petróleo, o biodiesel apresenta significativas
mo princípio se aplica ao biodiesel, cujas fontes vantagens ambientais, com redução na emissão
primárias são, geralmente, plantas oleaginosas. de gases poluentes, como material particulado,
Outro aspecto favorável aos biocombus- óxidos de enxofre (SO2), hidrocarbonetos (HFC)
tíveis é o fato de serem derivados de biomas- e monóxido de carbono (CO) (ESTEVES e PEREI-
sa renovável que podem substituir, parcial ou RA, 2016).
totalmente, os combustíveis que são derivados A evolução do consumo de energéticos
de petróleo e gás natural em motores a com- pelo estado (1990-2008) demonstra a impor-
bustão ou em outro tipo de geração de energia tante característica de aumento da proporção
(ANP, 2019). O uso veicular do etanol gerou de uso da biomassa (energia renovável), muito
73% e 68% menos dióxido de carbono compa- além da proporção de aumento da oferta bruta
rado ao uso da gasolina e do diesel, sendo estes total de energia. A principal fonte dessa energia
350 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

renovável é o bagaço de cana (Figura 11e), uti- parece ser difícil para o estado alcançar a meta
lizado na produção de vapor e energia elétrica estabelecida pela Política Estadual de Mudanças
(cogeração). Até 2001 sua proporção de consu- Climáticas (PEMC), com redução global de 20%
mo esteve em torno de 15%, iniciando aí uma das emissões de CO2 em relação a 2005 até 2020
crescente até atingir 20% em 2007 e ultrapassar (SÃO PAULO, 2009). Dados do inventário de emis-
esta dezena em 2008 (22,5%). Além do aumento sões mostram que em 2005 o estado emitiu qua-
linear no consumo do gás natural – fonte menos se oitenta milhões de toneladas do gás (CETESB,
intensa em carbono comparado aos combustí- 2010), de modo que as emissões contabilizáveis
veis fósseis líquidos, passando de menos de um em 2020 não deveriam ultrapassar 64 milhões.
por cento no início para mais de sete por cento Entretanto, desde 1996 a totalização das emis-
no final do período avaliado (Figura 11c). sões entrou na casa dos setenta milhões, estabili-
A participação de biogás (metano origi- zando-se dentro dessa dezena até 2008.
nário de aterros sanitários) ainda é insuficiente A importância do estado de São Paulo para
para estimativa de suas emissões. Porém, por se o cumprimento das obrigações assumidas pelo
tratar de um biocombustível, o uso dessa fonte Brasil junto ao regime do clima se justifica ao
renovável tende a aumentar em um futuro próxi- analisar a dimensão das emissões paulistas:
mo. Dessa forma, configura-se a tendência de um dados de 2003 mostram que se o estado fosse um
cenário de redução das emissões contabilizadas país estaria em 39º lugar no ranking das nações
pelo estado nos próximos anos (CETESB, 2010). que mais emitem dióxido de carbono (CO2) na
Para diminuir as consequências das atmosfera, o que equivale a praticamente um
mudanças climáticas, o uso sem restrições de quarto do montante brasileiro (FAPESP, 2010).
combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) Como a Política Nacional (BRASIL, 2010) e
deve ser suspenso até 2100, ao passo que o uso a Política Estadual Paulista (SÃO PAULO, 2009)
de combustíveis renováveis deve se elevar dos sobre mudança climática foram instituídas logo
atuais 30% para 80% de proporção de uso de após a entrada em vigor do Protocolo de Quioto
combustíveis no setor “energia” até 2050 (IPCC, (2005), que abarcou como primeiro período de
2014). Neste contexto, o estado de São Paulo compromisso os anos de 2008 a 2012, pode-se
apresenta melhor padrão de consumo de fontes inferir que houve, à época, um esforço político
renováveis de energia (“derivados de cana”, “ele- para o cumprimento dos compromissos assumi-
tricidade” e “madeireiros”) do que a média mun- dos pelo Brasil no âmbito do regime internacio-
dial, pois a proporção de consumo dessas fontes nal de mudanças climáticas. Com o estabeleci-
em relação ao total variou de 38% a 47% entre mento do Acordo de Paris (UNFCCC, 2015), cada
1990 e 2007, e atingiu 50% em 2008. Parte da Convenção submeteu sua Pretendidas
Ainda que São Paulo tenha a tendência Contribuições Nacionalmente Determinada
de aumento proporcional de fontes de energia (iNDC - Intended Nationally Determined Contri-
renováveis (álcool hidratado e bagaço de cana) butions), com as respectivas ações para comba-
ou menos poluentes (gás natural) no setor de ter as mudanças climáticas, incluindo as suas
transportes, o consumo de fontes fósseis não metas de redução de GEE e medidas adicionais.
renováveis (óleo diesel, gasolina, óleo combus- O Brasil se comprometeu a reduzir as emissões
tível, querosene) não apresentou redução nas de GEE em 37% abaixo dos níveis de 2005, em
duas últimas décadas de avaliação do inventá- 2025, com uma contribuição indicativa sub-
rio (CETESB, 2010). E infelizmente os últimos sequente de reduzir as emissões de GEE em
governos federais têm deixado em menor pla- 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030. Após
no os investimentos em combustíveis renová- a aprovação pelo Congresso Nacional, o Brasil
veis, em favorecimento aos “derivados de petró- concluiu o processo de ratificação do Acordo de
leo”, culminando com o fechamento de usinas Paris e, com isto, as metas brasileiras deixaram
sucroalcooleiras. de ser pretendidas e se tornaram compromis-
Embora haja perspectiva de redução das sos oficiais, passando a ser denominadas NDCs
emissões de dióxido de carbono (CO2) deriva- (Nationally Determined Contributions).
do da queima de combustíveis fósseis, ao se Devido ao que representam as emissões
considerar o histórico de produção e consumo, de GEE do estado de São Paulo, quer para o
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 351
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

atingimento das metas brasileiras no Acordo invariavelmente é geradora de resíduos, dentre


de Paris, quer para o próprio cumprimento da os quais os GEE aparecem como uns dos mais
PEMC, é fundamental a análise de sua correla- impactantes no ambiente.
ção com os novos marcos do regime internacio- Mesmo que as últimas estimativas tenham
nal de mudanças climáticas e sua inserção nas mostrado aumento das emissões de GEE pelo
NDCs brasileiras. estado, estas estimativas também sinalizam
Os resultados apresentados mostram que um melhor uso de fontes renováveis de energia
os ecossistemas florestais e a vegetação urbana apontando um caminho de redução das emis-
desempenham importante papel no ciclo do car- sões contabilizáveis. Estratégias sobre a infra-
bono dentro da área compreendida pela RBCV. estrutura dos transportes necessitam de remo-
Em larga escala, os sistemas florestais além de delações visando diminuir o uso de veículos
atuarem como enormes reservatórios de car- com baixa capacidade de transporte. No campo
bono também são responsáveis pela absorção comportamental é importante promover ações
e fixação de outras significativas quantidades, que visem diminuição do uso de veículos pes-
contribuindo para a neutralização parcial das soais e aumento do uso de transporte coletivo,
emissões antrópicas desse elemento. Numa com opção pelo uso de biocombustíveis; medi-
escala intermediária, os reflorestamentos apre- das, estratégias e comportamentos em confor-
sentam importante potencial de recuperação de midade com os objetivos da Política Estadual de
ambientes degradados. Além de ser uma alter- Mudanças Climáticas do estado.
nativa para a recuperação das funções ecossis- Finalmente, se faz necessário um conjunto
têmicas desses ambientes, os reflorestamentos de medidas que atuem de forma integrada para
também podem contribuir com a neutralização a preservação dos ecossistemas florestais com-
das emissões. Em pequena escala a presença preendidos pela RBCV, tanto para garantir sua
da vegetação urbana é responsável pela dimi- função ecossistêmica como para alcançar miti-
nuição das emissões indiretas de carbono, pois gações das emissões de GEE. O sucesso de defi-
permite menor uso de energia elétrica devido à nições e aplicações dessas medidas certamente
regulação climática que exercem sobre os micro- dependerá funcionalmente de fatores diversos,
ambientes; além de proporcionarem maior con- mas essencialmente da conscientização e do
forto térmico e contribuírem para diminuição da fomento à pesquisa voltada ao conhecimento
poluição atmosférica. científico e tecnológico de adaptação às neces-
As estratégias de produção e desenvol- sidades presentes. Estas incluem estratégias de
vimento com consumo sustentável e ações compreensão social do valor ambiental desem-
comportamentais que busquem baixa emissão penhado pelos ecossistemas e entendimento
de carbono são fundamentais para a diminui- da importância de práticas e manejos florestais
ção das concentrações atmosféricas atuais dos com fins de conservação e produção, visando
gases de efeito estufa. Tratando-se de região melhor uso, produtividade e ocupação da terra.
que engloba uma das maiores metrópoles do Por outro lado, no campo econômico é funda-
mundo, a RBCV sofre as pressões sociais causa- mental buscar estratégias voltadas para a sus-
das pela necessidade crescente de produção de tentabilidade da produção, do desenvolvimento
bens de consumo e de vivência; atividade que e dos comportamentos de vivência.
352 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 12 |
Imagem de satélite
e delimitação da
RBCV em 1994
e em 2020.
Fonte: Google
Earth (2020).

Em 2008, com a revisão do zoneamento numerosos benefícios e serviços que contri-


da RBCV, foram alterados os seus limites, com buem com a capacidade humana de mitigar
ampliação de área terrestre e incorporação de e adaptar-se aos impactos das mudanças cli-
uma grande área marinha adjacente, que abri- máticas. Ademais, representam um importante
ga inúmeros e preciosos ecossistemas costei- papel na mitigação da mudança climática glo-
ros e de transição, ecossistemas marinhos e bal, devido à sua capacidade de sequestrar e
complexos insulares. armazenar importantes quantidades de carbo-
Este novo limite da RBCV é convergente com no, denominado carbono azul, da atmosfera e
atuais políticas de integração entre a gestão de dos oceanos. O total de carbono estocado (por
áreas marinhas e terrestres e, sobretudo, repre- km2) nos sistemas costeiros pode ser até cinco
senta o aperfeiçoamento dos seus objetivos vezes maior que o do carbono armazenado em
ecossistêmicos de criação refletidos no territó- florestas tropicais. Sua capacidade de absorver
rio. Os ecossistemas da área marinha da RBCV, ou fixar carbono pode chegar a uma proporção
apresentam expressiva biodiversidade, e servi- até 50 vezes maior do que a mesma área de flo-
ços ecossistêmicos relacionados aos recursos resta tropical (THE BLUE CARBON INITIATIVE,
pesqueiros e extrativistas e ao turismo. Este 2019).
complexo, com 505.503 hectares, guarda espe- A acelerada destruição desses ecossiste-
cial relevância para a fixação de carbono e con- mas de carbono azul ao longo das áreas cos-
sequente diminuição da concentração atmos- teiras do mundo resultam em significativas
férica de GEE. A inclusão de área marinha à quantidades de emissões de dióxido de carbo-
RBCV considerou a relevância da preservação no (CO2) para a atmosfera, atuando como fator
destes ecossistemas marinhos e costeiros, cru- de agravamento das mudanças climáticas.
ciais para a segurança alimentar, diminuição Estima-se que a drenagem de uma zona úmida
da pobreza e para a economia dessas regiões. costeira típica (como manguezal ou pântano)
Os manguezais, pântanos salgados e prados libera 250 mil toneladas de dióxido de carbono
Quadro 1 | marinhos apresentam alto valor de biodiversi- (CO2) por km2 de solo perdido. Estima-se que se
Ecossistemas dade ao proporcionar áreas de reprodução para destrua entre 340 mil e 960 mil hectares destes
de carbono azul espécies piscianas e outras formas de recursos ecossistemas a cada ano (THE BLUE CARBON
e a área marinha de pesca. Em especial, estas áreas oferecem INITIATIVE, 2019).
da RBCV.

CONCLUSÕES sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em 2009


o estado de São Paulo estabeleceu sua Política
Os gases de efeito estufa (GEE) que mais Estadual de Mudança Climática (PEMC) e defi-
influenciam as mudanças climáticas globais são niu a meta de reduzir em 20% as emissões de
o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o CO2 ocorridas em 2005, até 2020. Nesse cená-
óxido nitroso (N2O), emitidos principalmente rio, a vegetação e os povoamentos florestais
pelas atividades antrópicas de produção e con- da RBCV têm papel importante frente às MCG
sumo de bens servíveis. Entre as estratégias e à PEMC; além da regulação dos GEE, prestam
para diminuir a concentração atmosférica dos serviços ecossistêmicos como produção de água,
GEE estão as reduções das emissões derivadas controle de processos erosivos e escorregamen-
de combustíveis fósseis e do desflorestamento, to de solo e amenização do clima, o que contribui
além da racionalização das mudanças de uso da com o bem-estar de 25 milhões de habitantes da
terra. Na esteira da Convenção-Quadro da ONU Região Metropolitana de São Paulo e seu entorno.
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 353
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

A estocagem atual de carbono pelos ecos- um quarto do montante brasileiro, os serviços


sistemas florestais da RBCV é cerca de 450 ecossistêmicos proporcionados pelos ecossis-
milhões de toneladas em equivalente CO2 temas da RBCV são relevantes em escala local,
(C-CO2), o que representa mais de década das regional e global, ao contribuir para o cumpri-
emissões totais derivadas de queima de com- mento das metas nacionais e subnacionais em
bustível fóssil por todo o estado. Já a taxa de relação às mudanças climáticas e seus efeitos no
remoção atmosférica pelas florestas em pro- ambiente. Em escala local, as florestas trazem
cesso de regeneração ultrapassa 28 milhões benefícios à população da metrópole. Todavia,
de toneladas de C-CO 2 por ano (36% das a manutenção dessa contribuição ecossistêmi-
emissões estaduais anuais). ca depende da conservação da vegetação, posto
Decorrente das sucessivas negociações no que eventual expansão do desflorestamento na
âmbito do regime internacional de mudança RBCV concorrerá para o aumento das emissões
climática, o Brasil definiu suas metas de redu- e redução do potencial de sequestro de carbono,
ção de contribuições nacionalmente determi- acarretando prejuízos à qualidade de vida urba-
nadas (NDC) junto ao Acordo de Paris. Como as na e periurbana e ao cumprimento das metas
emissões paulistas equivalem a praticamente supramencionadas.

REFERÊNCIAS
ANP. AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS CERRI, C.E.P.; BERNOUX, M.; CERRI, C.C. (2002).
NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS (2019). Biodiesel. Influência das mudanças climáticas nos ecos-
Disponível em: <http://www.anp.gov.br/perguntas sistemas florestais. In: BICUDO, D.C.; FORTI,
/283-produtos-regulados-faq/biodiesel/3753-bio- M.C.; BICUDO, C.E.M. (Orgs). Parque Estadual
diesel-faq>. Acesso em 10 jun. 2019. das Fontes do Ipiranga (PEFI): unidade de con-
servação que resiste à urbanização de São Paulo.
AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE (1988).
Editora Secretaria do Meio Ambiente do Estado de
Alcohols and ethers. Washington. 34p. (Publica-
São Paulo.
tion, 4261).
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de
BARBUGLI, R.A. (2004). Influência do ambiente
São Paulo (2010). Inventário das Emissões de
construído na distribuição das temperaturas
CO2 por queima de combustíveis no Estado de
do ar em Araraquara/SP. 2004. 170 p. Disserta-
São Paulo, 1990 a 2008: abordagem de Refe-
ção (Mestrado em Construção Civil) – Universida-
rência (Top Down). Governo do Estado de São
de Federal de São Carlos.
Paulo, Secretaria do Meio Ambiente.
AVISSAR, R. (1996) Potenciais efeitos da vege-
DUARTE, D.H.S. (2000) Padrões de ocupação do
tação no ambiente térmico urbano. Ambiente
solo e microclimas urbanos na região de clima
atmosférico , v. 30, n. 3, p. 437-448.
tropical continental. 278 p. Tese (Doutorado em
BERNATZKY, A. (1982). The contribution of trees Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanis-
and green spaces to a town climate. Energy and mo, Universidade de São Paulo, São Paulo.
Buildings, Lausanne, v. 5, p. 1-10.
DUARTE, D.H.S.; SERRA, G.G. (2003). Padrões
BERNOUX, M. (2002). Brazil’s soil carbon sto- de ocupação do solo e microclimas urbanos na
cks. Soil Science Society of America Journal, região de clima tropical continental brasileira: cor-
66:888-896. relações e propostas de um indicador. Ambiente
Construído, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 7-20.
BERNOUX, M.; CARVALHO, M.C.S.; VOLKOFF, B.
& CERRI, C.C. (2001). Brazil’s soil carbon stocks. ESTEVES, R. A.; PEREIRA, R. G. (2016). Análise
Soil Science Society of America Journal. sobre a Evolução do Biodiesel no Brasil. Revista
Espacios. Vol. 37 (n. 2). p. 5.
BRASIL (1998). Decreto nº 2.652, de 1º de julho
de 1998. Promulga a Convenção-Quadro das FAO - Food and Agriculture Organization of
Nações Unidas sobre Mudança do Clima, assina- United Nations (2006). Global Forest Resources
da em Nova York, em 9 de maio de 1992. Assessment 2005: Progress Towards Sustainable
Forest Management, FAO Forestry Paper 147. FAO,
BRASIL (2009). Lei nº 12.187, de dezembro de
Rome, Italy.
2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança
do Clima - PNMC e dá outras providências. Publi- FAO. Food and Agriculture Organization of the
cado no DOU de 30 dez. 2009 - Edição extra. United Nations (2016). Global Forest Resources
354 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Assessment 2015: How are the world’s forests R.K. Pachauri y L.A. Meyer (eds.)]. IPCC, Ginebra,
changing? Second edition. Suiza.
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Esta- IPCC - INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
do de São Paulo. Políticas públicas para mudan- CLIMATE CHANGE (2018). Global Warming of
ças climáticas. Disponível em: < http://agencia. 1.5ºC: An IPCC Special Report on the impacts
fapesp.br/politicas-publicas-para-mudancas-cli- of global warming of 1.5ºC above pre-industrial
maticas/12917/>. Acesso em 15 mar. 2019. levels and related global greenhouse gas
emission pathways, in the context of strengthening
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E the global response to the threat of climate
ESTATÍSTICA (2019). Cidades e estados. (Banco change, sustainable development, and efforts to
de Dados. Todos os Municípios - SP). Disponível eradicate poverty. Summary for Policymakers.
em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ IPCC, Switzerland.
sp.html>. Acesso: 25 nov. 2019.
IPPC - INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E CLIMATE CHANGE (2019a). Disponível em: <https://
ESTATÍSTICA (2017). Sistema de Contas Nacio- www.ipcc.ch/about/>. Acesso em 03 jun. 2019.
nais Brasil 2015. Contas Nacionais número 56.
Rio de Janeiro: IBGE. IPCC - INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
CLIMATE CHANGE (2019b). The IPCC and the
INPE - INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS Sixt Assessment Cycle. Disponível em: <https://
ESPACIAIS (2019). Observação da Terra. Pro- www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/11/AR6_
des - Amazônia: Monitoramento da Floresta brochure_en.pdf>. Acesso em: 4 jun. 2019.
Amazônica Brasileira por Satélite. Disponível
em: <http://www.obt.inpe.br/prodes/dashboard/ IPCC - INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
prodes-rates.html>. Acesso em 11 fev. 2019. CLIMATE CHANGE (2019c). Climate Change and
Land. An IPCC special report on climate change,
IPCC - INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMA- desertification, land degradation, sustainable land
TE CHANGE (2006). Guidelines for National management, food security, and greenhouse gas
Greenhouse Gas Inventories, Prepared by the fluxes in terrestrial ecosystems. IPCC, Switzerland.
National Greenhouse Gas Inventories
Programme, EGGLESTON H.S., BUENDIA L., MIWA IPCC - INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
K., NGARA T. and TANABE K. (eds). Published: IGES, CLIMATE CHANGE (2019d). Special Report
Japan. on the Ocean and Cryosphere in a Chan-
ging Climate. The IPCC approved and accepted
IPCC - INTERGOVERNMENTAL PANEL ON Special Report on the Ocean and Cryosphere in
CLIMATE CHANGE (2007a), Climate chan- a Changing Climate at its 51st Session held on
ge 2007: The physical science basis. Fourth 20 – 23 September 2019. The approved Summary
Assessment Report (AR4): Working Group I. IPCC, for Policymakers (SPM) was presented at a
Geneva, Switzerland. Disponível em: <https:// press conference on 25 September 2019. IPCC,
www.ipcc.ch/report/ar4/wg1/>. Acesso em: 31 Switzerland.
mai. 2019.
LARCHER, W. (2004). Ecofisiologia vegetal. São
IPCC. INTERGOVERNMENTAL PANEL ON Carlos: RiMa.
CLIMATE CHANGE (2007b), Climate change
MASCARÓ, L. (2004) Ambiência urbana. 2.ed.
2007: Mitigation of Climate Change. Fourth
Porto Alegre: Mais Quatro Editora.
Assessment Report (AR4): Working Group III.
IPCC, Geneva, Switzerland. Disponível em: MCTI - MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
<https://www.ipcc.ch/report/ar4/wg3/>. Acesso INOVAÇÃO (2013). Estimativas anuais de emis-
em 31 mai. 2019. sões de Gases de Efeito Estufa no Brasil. 1ª
Edição. Brasília: MTCI.
IPCC - INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE
CHANGE (2013): Climate Change: The Physical MCTIC - MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA,
Science Basis. Contribution of Working Group INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES (2017). Estima-
I to the Fifth Assessment Report of the IPCC tivas anuais de emissões de Gases de Efeito
[STOCKER, T.F. et al. (eds.)], Cambridge University Estufa no Brasil. 4ª Edição. Brasília: MCTIC.
Press, Cambridge, United Kingdom and New York, MINNEN, J.G. Van.; STRENGERS, B.J.;
NY, USA. EICKHOUT, B.; SWART, R.J.; LEEMANS, R. (2008).
IPCC - INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE Quantifying the effectiveness of climate change
CHANGE (2014). Cambio climático 2014: mitigation through forest plantations and carbon
Informe de síntesis. Contribución de los Grupos de sequestration with an integrated land-use model.
trabajo I, II y III al Quinto Informe de Evaluación del Carbon Balance and Management, v. 3, n. 3.
Grupo Intergubernamental de Expertos sobre el NOBRE, C. A. et al. (2010). Vulnerabilidades
Cambio Climático [Equipo principal de redacción, das megacidades brasileiras às mudanças
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 355
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

climáticas: Região Metropolitana de São Pau- TARIFA, J. R.; AZEVEDO, T. R. de. (Org.). (2001). Os
lo. Embaixada Reino Unido, Rede Clima e Progra- climas na cidade de São Paulo: teoria e prática.
ma FAPESP em Mudanças Climáticas. São Paulo. São Paulo: GEOUSP.
OBSERVATÓRIO DO CLIMA (2018). GEE no Bra- TAHA, H. et al. (1988). Residential cooling loads
sil e suas implicações para políticas públicas and the urban heat island – the effects of albedo.
e a contribuição brasileira para o Acordo de Building and Environment, Oxford, v. 23, n. 4,
Paris: Período 1970-2016 - Documento de Análise. p. 271-283.
Observatório do Clima (Coord. Técnica). Azevedo,
THE BLUE CARBON INITIATIVE. Carbono Azul:
T. R. e Angelo, C. (Redação e Org.).
Métodos para evaluar las existencias y los factores
RAVINDRANATH, N.H.; OSTWALD, M. (2008). de emisión de carbono en manglares, marismas
Carbon Inventory Methods – Handbook for y pastos marinos. Disponível em: <https://www.
greenhouse gas inventory, Carbon mitigation thebluecarboninitiative.org/manual-espanol>.
and roundwood production projects. Springer. Acesso em 10 jun. 2019.
2008. UNFCCC - UNITED NATIONS FRAMEWORK CON-
ROSENFELD, A.H.; AKBARI, H.; BRETZ, S.; FISH- VENTION ON CLIMATE CHANGE. (1992). United
MAN, B.L.; KURN, D.M.; SAILOR, D.; TAHA, H. Nations Framework Convention on Climate Change.
(1995). Mitigation of urban heat islands: materials, Disponível em: <https://unfccc.int/sites/default/
utility programs, updates. Energy and Buildings, files/convention_text_with_annexes_english_for_
Lausanne, v. 22, p. 255-265. posting.pdf>. Acesso em: 03 jun. 2019.
SÃO PAULO (Estado). (2009). Lei 13.789, de 09 de UNFCCC - UNITED NATIONS FRAMEWORK CON-
novembro de 2009. Institui a Política Estadual de VENTION ON CLIMATE CHANGE. (1997). Kyoto
Mudanças Climáticas - PEMC. Protocol to the United Nations Framework
Convention on Climate Change. Disponível em:
SÃO PAULO (Estado). (2010). Secretaria do Meio <https://unfccc.int/sites/default/files/kpeng.pdf.
Ambiente. Inventário Florestal da Vegetação
Natural do Estado de São Paulo (2008-2009), UNFCCC - UNITED NATIONS FRAMEWORK CON-
São Paulo: SMA/Instituto Florestal. VENTION ON CLIMATE CHANGE. (2015). Paris
Agreement. Disponível em: <https://unfccc.int/
SATTERTHWAITE, D. (2008). Cities contribution sites/default/files/english_paris_agreement.
to global warming: notes on the allocation of pdf>. Acesso em 4 jun. 2019.
greenhouse gas emissions. Environment &
Urbanization, v. 20, n. 2, p. 539-549. UNFCCC - UNITED NATIONS FRAMEWORK
CONVENTION ON CLIMATE CHANGE (2020). In:
SCHILLER, S. de; EVANS, J.M. (1996). Training <https://unfccc.int/>. 20 mai. 2020.
architects and planners to designd with urban
microclimates. Atmospheric Environment, UNFCCC - UNITED NATIONS FRAMEWORK CON-
Oxford, v. 30, n. 3, p. 449-454. VENTION ON CLIMATE CHANGE. (2019). Land
Use. In: UNFCCC Topics. Disponível em: <https://
SECRETARIAT of the Convention on Biological unfccc.int/topics#:d6466783-27a7-4ddf-b357-
Diversity (2012). Cities and Biodiversity 58474e555a5e>. Acesso em 4 jun. 2019.
Outlook. Montreal.
UNITED NATIONS (2015). General Assembly.
SIMPSON, J. R.; McPHERSON, E.G. (1998) Trans-forming our world: the 2030 Agenda for
Simulation of tree shade impacts on residential Sustainable Development. [A/res/70/1]. Dispo-
energy use for space conditioning in Sacramento. nível em: <https://www.un.org/ga/search/view_
Atmospheric Environment, Oxford, v. 32, p. doc.asp? symbol=A/RES/70/1&Lang=E>. Acesso
69-74. em 5 jun. 2019.
SOARES, G. F. S. (2003). Direito internacional UNITED NATIONS (2019). Sustainable
do meio ambiente: emergência, obrigações e Development Goals. Disponível em: <https://
responsabilidades. 2. ed. São Paulo: Atlas. www.un.org/sustainabledevelopment/sustaina-
SOARES, L. H de B. et al. (2009). Mitigação das ble-development-goals/>. Acesso em 5 jun. 2019.
emissões de gases efeito estufa pelo uso de etanol UN-HABITAT - UNITED NATIONS HUMAN
da cana-de-açúcar produzido no Brasil. Embrapa SETTLEMENTS PROGRAMME. (2011). Las
Agrobiologia-Circular Técnica (INFOTECA-E). ciudades y el cambio climático: orientaciones
para políticas: informe mundial sobre asenta-
SOUZA, M. C. O.; CORAZZA, R. I., (2017). Do Pro-
mientos humanos 2011. Resumen Ejecutivo.
tocolo Kyoto ao Acordo de Paris: uma análise das
mudanças no regime climático global a partir do UN-HABITAT - UNITED NATIONS HUMAN
estudo da evolução de perfis de emissões de gases SETTLE-MENTS PROGRAMME. (2016).
de efeito estufa. FFPR: DeMA – Desenvolvimento Urbanization and development emerging
e Meio Ambiente, v. 42, p. 52-80, dezembro 2017. futures. World cities report.
356 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

UN-HABITAT - UNITED NATIONS HUMAN SET VELASCO, G.D.N. (2007) Potencial da arborização
TLEMENTS PROGRAMME. (2019). For a better viária na redução do consumo de energia elétrica:
urban future. Climate change. Disponível em: definição de três áreas na cidade de São Paulo –
<ht tp s://n e w.unha b itat.org/top ic/climate - SP, aplicação de questionários, levantamento de
change>. Acesso em 10 jun. 2019. fatores ambientais e estimativa de Graus-Hora de
calor. 123 p. Tese (Doutorado em Agronomia) –
UNITED NATIONS TREATY COLLECTION (1997).
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
Kyoto Protocol to the United Nations
Universidade de São Paulo, Piracicaba.
Framework Convention on Climate Chan-
ge. Status as at 04-06-2019 - 05:00:39EDT. VELASCO, G.D.N; HIGUCHI, N. (2009). Estimativa
Disponível em: <https://treaties.un.org/pages/ de seqüestro de carbono em mata ciliar: projeto
ViewDetails.aspx?src=IND&mtdsg_no=XXVII-7- POMAR, São Paulo (SP). Ambiência. Guarapua-
a&chapter=27&clang=_en>. Acesso em 4 jun. 2019. va. V.5, n.1, p.135-141.
UNITED NATIONS TREATY COLLECTION (2015). WANG, M. et al. (2012). Well-to-wheels energy use
Paris Agreement. Status as at 04-06-2019 - and greenhouse gas emissions of ethanol from
05:00:39EDT. Disponível em: <https://treaties. corn, sugarcane and cellulosic biomass for US
un.org/pages/ViewDetails.aspx?src=IND&mtdsg_ use. Environmental Research Letters, v. 7, n. 4,
no=XXVII-7-d&chapter=27&clang=_en>. Acesso p. 45905, 1 dez. 2012.
em 4 jun. 2019. WMO - WORLD METEOROLOGICAL ORGANI-
UNITED NATIONS TREATY COLLECTION (1992). ZATION (2013). The global climate 2001–2010: A
United Nations Framework Convention on decade of climate extremes. WMO nº 1103. Gene-
limate Change. Status as at 04-06-2019 - 05:00: va, Switzerland: WMO.
39 EDT. Disponível em: <https://treaties.un.org/ WRI – WORLD RESEARCH INSTITUTE (2011).
pages/ V iew D etails.a spx?src= IND& mtds g _ Building the climate change regime survey
no=XXVII-7-d&chapter=27&clang=_en>. Acesso and analysis of approaches. WRI Working
em 4 jun. 2019. Paper, Washington, DC.
VALERIO, A.F.; SILVESTRE, R.; SANTOS, R.T.dos.; YU, C. M. (2000). As florestas e o carbono. UNITED
KOHELER, H.S.; WATZLAWICK, L.F. (2006). Quan- STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY.
tificação de biomassa e do estoque de carbono Average Annual Emissions and Fuel Consumption
em área de mata atlântica. Anais da 58ª Reu- for Passenger Cars and Light Trucks. 2000.
nião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho. Disponível em: www.epa.gov.

GLOSSÁRIO

A
AAU – Assigned Amount Unit | Unidade de Quan- Adesão | Accession. Um ato pelo qual um Esta-
tidade Atribuída. Unidade do Protocolo de Quioto do se torna Parte de um tratado já negociado e
igual a uma tonelada métrica de CO2 equivalente. assinado por outros Estados, tem o mesmo efeito
Cada Parte do Anexo I emite AAUs até o nível de legal que a ratificação.
sua quantidade atribuída, estabelecida de acordo
Adaptação | Ajustamentos em sistemas naturais
com o Artigo 3º, parágrafos 7 e 8 do Protocolo de
ou humanos em resposta a estímulos climáticos
Quioto. Unidades de quantidade atribuída podem
reais ou esperados ou seus efeitos, o que modera
ser trocadas através do comércio de emissões.
o dano ou explora oportunidades benéficas.
Marrakesh Accords | Acordos de Marrakesh.
Aerossóis | Suspensão de partículas microscó-
Acordos alcançados na COP 7 que estabelecem
picas sólidas ou fluidas, contidas em recipiente
várias regras para “operar” as disposições mais
fechado (lata) ou dispersa na atmosfera.
complexas do Protocolo de Quioto. Entre outras
coisas, incluem detalhes para estabelecer um AOSIS – Alliance of Small Island States | Aliança
sistema de comércio de emissões de GEE, imple- dos Pequenos Estados Insulares. Uma coalizão ad
mentar e monitorar o Mecanismo de Desenvolvi- hoc de países baixos e insulares. Essas nações são
mento Limpo do Protocolo, e estabelecer e operar particularmente vulneráveis ao aumento do nível
três fundos para apoiar os esforços de adaptação do mar e compartilham posições comuns sobre a
às mudanças climáticas. mudança climática, agregando 43 membros.
Abatimento | Abatement. Refere-se à redução APA – Ad Hoc Working Group on the Paris
do grau ou intensidade das emissões de GEE. Agreement | Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre o
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 357
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

Acordo de Paris. O APA foi criado para preparar corta as emissões de GEE porque as plantas que
a entrada em vigor do Acordo de Paris e para a são as fontes de combustível capturam CO2 da
convocação da primeira sessão da Conferência atmosfera.
das Partes na qualidade de Reunião das Partes
do Acordo de Paris (CMA). C
Autoridade Nacional Designada | Designated Camada de Ozônio | O ozônio (O3) é um dos
National Authority – DNA. Um escritório, ministério gases que compõe a atmosfera e cerca de 90%
ou outra entidade oficial designada por uma Par- de suas moléculas se concentram entre 20 e 35
te do Protocolo de Quioto para revisar e aprovar km de altitude, região denominada de Camada de
nacionalmente os projetos propostos sob o Meca- Ozônio. Sua importância está no fato de ser o úni-
nismo de Desenvolvimento Limpo (Clean Develo- co gás que filtra a radiação ultravioleta do tipo B
pment Mechanism). (UV-B), nociva aos seres vivos.
AWG-LCA – Ad hoc Working Group on Long-
Carbono azul | Carbono acumulado em man-
-term Cooperative Action under the Conven-
guezais, marinhas e pastos marinhos, e o solo,
tion | Grupo de Trabalho sobre Ação Cooperativa
a biomassa aérea viva (folhas, ramos, galhos), a
de Longo Prazo no âmbito da Convenção. O AWG-
biomassa subterrânea viva (raízes) e a biomassa
-LCA foi estabelecido em Bali (2007) para condu-
morta (detritos e madeira morta).
zir negociações sobre um acordo internacional
fortalecido sobre mudança climática. Cerrado | Localiza-se principalmente no Planal-

B
to Central Brasileiro e é um ecossistema similar
às Savanas da África e da Austrália. É constituído
Balanço de Radiação | Radiation balance. Refle- por árvores relativamente baixas (até 20 metros),
te a relação entre as quantidades de entrada e distribuídas entre arbustos e gramíneas. A vege-
saída de radiação solar incidente na atmosfera tação típica do Cerrado possui troncos e ramos
terrestre, indicando se o saldo de radiação arma- retorcidos, cascas espessas e folhas grossas. O
zenada é positivo ou negativo. Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana
mais rica do mundo em biodiversidade.
Balanço estequiométrico | Relacionado com
estequiometria de reações; cálculo da quantida- Chuva ácida | É chamada de chuva ácida a chu-
de das substâncias envolvidas em uma reação va ou outra precipitação atmosférica que tenha
química, com base na lei de reações e executado, acidez maior que a do resultado obtido entre o
em geral, com o auxílio das equações químicas dióxido de carbono da atmosfera dissolvido na
correspondentes. água precipitada. Esta acidificação é produzida
BAP – Bali Action Plan | Plano de Ação de Bali, pelo dióxido de enxofre (SO2) e dióxido de nitro-
incluído no Roteiro de Bali (Bali Road Map), adota- gênio (NO2), ambos surgem da queima de car-
do na COP 13 (Bali, Indonésia, 2007), introduziu o vão, poluentes industriais e combustíveis fósseis.
AWG-LCA. Estes gases passam, então, a fazer parte da
atmosfera terrestre e, quando entram em contato
Biodiesel | Combustível biodegradável deriva- com o hidrogênio (vapor d’água), originam chuvas
do de fontes renováveis que pode ser produzido carregadas de ácido nítrico e sulfírico.
a partir de gorduras animais e espécies vegetais,
como soja, palma, girassol, babaçu, amendoim, Cloroplastos | São organelas (estruturas que
mamona e pinhão-manso. No Brasil, a soja é prin- ficam dentro das células) presentes nas células
cipal matéria-prima utilizada. de vegetais e de outros organismos que realizam
fotossíntese como, por exemplo, as algas.
Biomassa | Toda matéria orgânica não fós-
sil, de origem animal ou vegetal, que pode CMA – Meeting of the Parties | Encontro dos paí-
ser utilizada na produção de calor, seja para ses membros de um acordo que já foi assinado,
uso térmico industrial, seja para geração no caso, o Protocolo de Quioto, com o objetivo de
de eletricidade e/ou que pode ser transfor- revisar o progresso feito em sua implementação e
mada em outras formas de energias sólidas debater novos avanços. A CMP é uma das reuni-
(carvão vegetal, briquetes), líquidas (etanol, bio- ões simultâneas que ocorrem durante a COP.
diesel) e gasosas (biogás de lixo).
CMP – Conference of the Parties serving as the
Biocombustíveis | Biofuels. Um combustível pro- Meeting of the Parties to the Kyoto Protocol |
duzido a partir de matéria orgânica seca ou óle- Conferência das Partes na qualidade de Reunião
os combustíveis produzidos pelas plantas. Esses das Partes do Protocolo de Quioto. O órgão supre-
combustíveis são considerados renováveis desde mo da Convenção é a COP, que serve como reu-
que a vegetação que os produz seja mantida ou nião das Partes do Protocolo de Quioto. As ses-
replantada, como a lenha, o álcool fermentado a sões da COP e da CMP são realizadas durante o
partir do açúcar e os óleos combustíveis extraídos mesmo período para reduzir custos e melhorar a
da soja. Seu uso no lugar de combustíveis fósseis coordenação entre a Convenção e o Protocolo.
358 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

CMS – Convention on the Conservation of Conformidade | Cumprimento pelos países


Migratory of Wild Animals | Convenção da ONU / empresas / indivíduos dos compromissos de
sobre a Conservação de Espécies Migratórias de redução e relato de emissões sob a UNFCCC e o
Animais Silvestres. Protocolo de Quioto.
Coalizão para as Nações de Floresta Tropical COV – Compostos Orgânicos Voláteis | São
| Coalition for Rainforest Nations. Um grupo volun- substâncias químicas que contêm carbono que
tário de nações com florestas tropicais; a maioria, se convertem facilmente em vapores ou gases.
em desenvolvimento. Aborda questões relaciona- Junto com o carbono, contêm outros gases ele-
das à sustentabilidade ambiental específica das mentos, como o hidrogênio, oxigênio, flúor, cloro,
florestas tropicais. A participação não implica bromo, enxofre ou nitrogênio. Os COV são libera-
necessariamente que os países aderiram a quais- dos em vários processos, tais como a aplicação
quer políticas internas específicas ou posições de de tintas e lacas, uso de solventes, fabrico de aço,
negociação dentro do contexto internacional. fundição de sucatas, produção de materiais sinté-
ticos (plásticos, alcatifas), queima de combustí-
CO2 equivalente – CO2 eq | Carbon Dioxide
veis como a gasolina, emprego de aromatizantes,
Equivalent. Medida quantitativa de um GEE em
desengorduramento de peças, lavagem a seco
comparação ao CO2, levando em consideração
de roupa entre outras atividades tanto em nível
o Potencial de Aquecimento Global desse gás.
industrial como doméstico.
Expressa o quanto de CO2 seria emitido caso o
GEE em questão fosse emitido na forma deste CRF – Common Reporting Format | Formato de
gás. Entretanto, neste documento, o conceito de relatório padronizado para relatar estimativas de
carbono equivalente refere-se à comparação em emissões e remoções de GEE e outras informa-
termos de composição molecular. ções relevantes pelas Partes do Anexo I.
Comércio de emissões | Um dos três mecanis- CSD – United Nations Commission on Sustaina-
mos de Quioto, pelo qual uma Parte do Anexo I ble Development | Comissão das Nações Unidas
pode transferir unidades do Protocolo de Quioto para o Desenvolvimento Sustentável.
para outra Parte do Anexo I ou adquirir unidades

D
de outra Parte do Anexo I. Uma Parte do Anexo I
deve atender a requisitos específicos de elegibi-
lidade para participar do comércio de emissões. Declaração | Uma declaração política não
Compromissos voluntários | Um esboço de arti- vinculativa feita por ministros que participam
go considerado durante a negociação do Protoco- de uma reunião importante (por exemplo, De-
lo de Quioto que permitiria aos países em desen- claração Ministerial de Marrakesh da COP 7).
volvimento aderirem voluntariamente a metas de
Delegação nacional | Um ou mais funcioná-
emissões legalmente vinculantes. A linguagem
rios com poderes para representar e negociar em
proposta foi abandonada na fase final das nego-
nome de um Governo.
ciações. A questão permanece importante para
algumas delegações e continua a ser discutida, Desenvolvimento sustentável | Desenvolvi-
atualmente no contexto do Plano de Ação de Bali, mento que atenda às necessidades do presente
em termos do que constitui “voluntário”. sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de atender suas próprias necessidades.
Comunicação nacional | Um documento sub-
metido de acordo com a Convenção (e o Pro- Desmatamento | Deforestation. Conversão de
tocolo) pelo qual uma Parte informa as outras floresta para não-floresta.
Partes sobre as atividades realizadas para tra-
Diálogo de Cartagena | Cartagena Dialogue.
tar da mudança do clima. A maioria dos países
Uma coleção de cerca de 40 países que estão tra-
desenvolvidos já submeteu sua quinta comuni-
balhando para um ambicioso acordo legalmente
cação nacional. A maioria dos países em desen-
vinculativo sob a UNFCCC e que estão compro-
volvimento completou sua primeira comunicação
metidos em se tornar ou permanecer com baixo
nacional e está preparando a segunda.
carbono no mercado interno. Os participantes
Conferência das Partes (Conference of the incluem: Antígua e Barbuda, Austrália, Bangla-
Parties - COP) | Órgão máximo da UNFCCC, desh, Barbados, Burundi, Chile, Colômbia, Costa
composta por todos os países que a ratificaram. Rica, Dinamarca, República Dominicana, Etiópia,
É o corpo supremo da Convenção. Atualmente União Européia, França, Gâmbia, Geórgia, Ale-
reúne-se uma vez por ano para rever o progres- manha, Gana, Granada, Guatemala, Indonésia,
so da Convenção. A palavra "conferência" não é Quênia, Líbano, Malawi, Maldivas, Ilhas Marshall,
usada aqui no sentido de "reunião", mas sim de México, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Pana-
"associação". A "Conferência" se reúne em perío- má, Peru, Ruanda, Samoa, Espanha, Suazilândia,
dos de sessões, por exemplo, a "quarta sessão da Suécia, Suíça, Tajiquistão, Tanzânia, Uganda,
Conferência das Partes". Emirados Árabes Unidos e Reino Unido.
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 359
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

E Convenção entra em vigor 90 dias após essa par-


te ratificar a Convenção.
Efeito Estufa | Fenômeno natural de aquecimen- Environmental Integrity Group | Grupo de Inte-
to térmico da Terra, essencial para manter a tem- gridade Ambiental. Coalizão ou aliança de nego-
peratura do planeta em condições ideais para a ciação formada pelo México, República da Coréia,
sobrevivência dos seres vivos. Suíca, Lichtenstein e Mônaco.
Efeitos indiretos (também chamados de “efei- Era pré-industrial | Refere-se ao modo de vida
tos rebote” ou “efeitos de retomada” | Rever- da sociedade até aproximandamente 1750, ante-
berações em países em desenvolvimento são rior à Revolução Industrial.
causadas por ações tomadas por países desen-
volvidos para reduzir as emissões de GEE. Por ESCAP – Economic and Social Commission for
exemplo, as reduções de emissões nos países Asia and the Pacific | Comissão Econômica e
desenvolvidos poderiam reduzir a demanda por Social para a Ásia e o Pacífico.
petróleo e o seus preços internacionais, levando
Eutrofização | Processo através do qual um
a um maior uso do petróleo e maiores emissões
corpo d’água adquire níveis altos de nutrientes,
nos países em desenvolvimento, parcialmente
especialmente fosfatos e nitratos, provocan-
compensando os cortes originais. As estimati-
do o posterior acúmulo de matéria orgânica em
vas atuais são de que a implementação em lar-
decomposição.
ga escala do Protocolo de Quioto pode fazer com
que 5% a 20% das reduções de emissões nos paí-
ses industrializados “vazem” para os países em F
desenvolvimento.
Fast-start Finance – FSF | Na COP 15 (Copenha-
EIT – Countries with Economies in Transition
gue, 2009), os países desenvolvidos se compro-
| Países com Economias em Transição. Países da
meteram a fornecer recursos novos e adicionais,
Europa Central e Oriental e antigas repúblicas da
incluindo florestas e investimentos, aproximando-
União Soviética em processo de transição de eco-
-se de US$ 30 bilhões para o período 2010-2012 e
nomias controladas pelo Estado para economias
com alocação equilibrada entre mitigação e adap-
de mercado.
tação. Esse compromisso coletivo passou a ser
Emissões antropogênicas de GEE | Emissões conhecido como “Fast-start Finance” (financiamen-
de GEE resultantes de atividades humanas. to rápido).
Emissões brutas | As estimativas de emissões Fermentação entérica do gado | Herbívoros
brutas de GEE não consideram a remoção de CO2 ruminantes, como bovinos, ovinos, bubalinos e
pelas mudanças de uso do solo, isto é, a quan- caprinos, através da fermentação entérica, um
tidade de carbono fixado pelo crescimento da processo digestivo que ocorre no rúmen, produzem
vegetação. metano. As emissões globais desse gás geradas a
partir dos processos entéricos são estimadas em
Emissões fugitivas de combustível | Emissões 80 milhões de toneladas anuais, correspondendo a
de GEE como subprodutos ou desperdício no cerca de 22% das emissões totais de metano gera-
processo de produção, como o metano, liberado das por fontes antrópicas (U.S EPA, 2000).
durante a perfuração e o refino de petróleo e gás
ou vazamento de gás natural de dutos. Floresta Estacional Semidecidual – FES | A
Floresta Estacional Semidecidual responde ao
Emissões líquidas | Estimativas de emissões clima com um ritmo sazonal: no período desfavo-
de GEE que considera a remoção do CO2 pela rável do ano, parte das árvores do dossel perdem
mudança de uso do solo, ou seja, quantidade de folhas, o que resulta em maior variação e dispo-
carbono fixado pelo crescimento da vegetação nibilidade de luz para as espécies de subosque e,
(emissões menos as remoções). portanto, refletindo na dinâmica florestal.
Energia renovável | Energia renovável é aque- Florestas Ombrófilas – FO | As florestas ombró-
la originária de fontes naturais que possuem a filas são caracterizadas por serem perenifólias
capacidade de regeneração (renovação), ou seja, (sempre verde) e ocorrerem em clima de elevadas
não se esgotam. temperaturas e alta precipitação bem distribuída
Entrada em vigor | O ponto no qual um acordo durante o ano.
intergovernamental se torna legalmente vinculan- Florestamento | Afforestation. Plantio de novas
te, ocorrendo em um intervalo pré-estabelecido florestas em terras que historicamente não conti-
depois que um número pré-estabelecido e reque- nham florestas.
rido de ratificações por países foi alcançado. A
UNFCCC exigiu 50 ratificações para entrar em Forçamento radioativo | Radiative Forcing –
vigor. A partir de então, para cada nova Parte, a RF. Medida da influência de um GEE em alterar
360 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

o equilíbrio de entrada e saída de energia no sis- Green Climate Fund – GCF | Fundo Climático
tema Terra-atmosfera. Perturbação no balanço Verde. Estabelecido na COP 16 (Cancún, 2010),
entre as radiações solar incidente e infraverme- como uma entidade operacional do mecanismo
lho emergente que ocorre devido a mudança na financeiro da Convenção no âmbito do seu Artigo
concentração dos GEE. 11. O GCF apoia projetos, programas, políticas e
outras atividades em países em desenvolvimento.
Fotossíntese | Processo realizado por organis-
mos produtores onde a água e o dióxido de carbo- Grupo de Ligação Conjunta | Joint Liai-
no são sintetizados em carboidratos, na presença son Group – JLG. Grupo de representantes das
de luz (energia). Secretarias da UNFCCC, CDB e UNCCD, criado
para explorar atividades comuns para enfrentar
Fundo dos Países Menos Desenvolvidos |
problemas relacionados às mudanças climáticas,
Least Developed Country Fund – LDCF. O fundo
biodiversidade e desertificação.
foi estabelecido para apoiar um programa de
trabalho para assistir as Partes de Países Menos GRULAC | Grupo integrante da UNFCCC, for-
Desenvolvidos a realizar, preparar e implemen- mado pelos Estados Latino-Americanos e
tar programas de ação nacionais de adaptação Caribenhos.
(NAPAs). O Global Environment Facility – GEF,
Grupo de 77 (G - 77) e China | Uma grande
como a entidade que opera o mecanismo finan-
aliança de negociação de países em desenvolvi-
ceiro da Convenção, foi encarregado de operar
mento que se concentra em vários tópicos inter-
esse fundo.
nacionais, incluindo a mudança climática. O
Fundo Especial sobre Alterações Climáticas | G -77 foi fundado em 1967, sob os auspícios da
Special Climate Change Fund – SCCF. Criado para Conferência das Nações Unidas sobre Comércio
financiar projetos relacionados com adaptação, e Desenvolvimento (United Nations Conference on
transferência de tecnologia e capacitação, ener- Trade and Development – UNTAD). Procura har-
gia, transportes, indústria, agricultura, silvicultura monizar as posições negociadoras dos seus 131
e gestão de resíduos e diversificação econômica. Estados membros.
Este fundo deve complementar outros mecanismos
Grupo de países montanhosos sem litoral |
de financiamento para a implementação da Con-
Grupo de negociações formalmente estabele-
venção. O Global Environment Facility (GEF), como
cido em junho de 2010 pelos governos da Armê-
entidade que opera o mecanismo financeiro da
nia, Quirguistão e Tadjiquistão, enfocou as ques-
Convenção, foi encarregado de operar esse fundo.
tões enfrentadas pelos países montanhosos em

G
desenvolvimento, especificamente vulneráveis
aos custos de transporte e insegurança alimen-
tar, com vistas a expandir o grupo para incluir
Gases de efeito estufa – GEE | Greenhouse
outros países interessados.
Gases – GHGs. Os gases atmosféricos responsá-
veis por causar o aquecimento global e as mudan- Grupos regionais | Alianças de países, na maio-
ças climáticas. Os principais GEE são dióxido ria dos casos compartilhando a mesma região
de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso geográfica, que se reúnem privadamente para
(N20). Menos prevalente - mas muito poderoso - discutir questões e nomear membros do escritó-
os gases de efeito estufa são hidrofluorcarbonos rio e outros funcionários para atividades sob a
(HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e hexafluoreto UNFCCC. Os cinco grupos regionais são a África,
de enxofre (SF6). a Ásia, a Europa Central e Oriental (CEE), a Améri-
ca Latina e o Caribe (GRULAC) e o Grupo da Euro-
Gases traços | Trace Gases. Qualquer compo-
pa Ocidental e Outros (WEOG).
nente gasoso cuja concentração na atmosfera
terrestre seja menor do que 1%. GWP – Global Warming Potential | Potencial de
Global Environment Facility – GEF | Fun- Aquecimento global. Índice representando o efeito
do Mundial para o Meio Ambiente. O GEF é uma combinado dos diferentes tempos de GEE perma-
organização financeira independente que forne- necerem na atmosfera e sua eficácia relativa na
ce subsídios a países em desenvolvimento para absorção de radiação infravermelha de saída.
projetos que beneficiam o meio ambiente global
e promovam meios de subsistência sustentáveis
em comunidades locais. As Partes da Convenção
H
atribuíram a operação do mecanismo financeiro Halogênios | São compostos derivados dos
ao GEF em uma base contínua, sujeita a revisão a hidrocarbonetos pela substituição de um ou mais
cada quatro anos. O mecanismo financeiro é res- átomos de hidrogênio por um átomo de um halo-
ponsável perante a COP. gênio. Os halogênios são, em ordem de peso
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 361
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

atômico, flúor, cloro, bromo, iodo e outros elemen- Anexo I deve atender a requisitos específicos de
tos menos importantes. Os compostos de cloro e elegibilidade para participar da Implementação
bromo destroem a camada de ozônio. Conjunta.
“Hot air” | “Ar quente”. Se refere à preocupação IMO – International Maritime Organization |
de que alguns governos poderão cumprir suas Organização Marítima Internacional.
metas de emissões de GEE com o mínimo esforço INC – Intergovernmental Negotiating
e inundar o mercado com créditos de emissões, Committee for UNFCCC | Comitê Intergo-
reduzindo o incentivo para outros países corta- vernamental de Negociações da UNFCCC
rem suas próprias emissões domésticas. (1990-1995), criado para redigir a Convenção. O
INC reuniu-se em cinco sessões, entre fevereiro

I
de 1991 e maio de 1992. Depois que o texto da
Convenção foi aprovado em 1992, o INC se reuniu
IAR – Independent Assessment Report | Rela- mais seis vezes para preparar a COP 1. Concluiu
tório de Avaliação Independente do Registro de seus trabalhos em fevereiro de 1995.
Transações Internacionais de cada Parte do Ane- iNDC – Intended Nationally Determined Contri-
xo I que, por sua vez, faz parte dos requisitos de butions | Pretendidas Contribuições Nacional-
relatório da Parte à UNFCCC. O IAR é encami- mente Determinadas. Intenção de metas de redu-
nhado para equipes de revisão de especialistas ção de GEE, proposta voluntariamente por cada
como parte da revisão de registros adicionais no Parte, no âmbito do Acordo de Paris. Com a rati-
âmbito do Artigo 8 do Protocolo de Quioto. O pro- ficação do Acordo de Paris pela Parte, as metas
cedimento para produzir o IAR é projetado para deixam de ser pretendidas e se tornam compro-
fornecer uma avaliação independente de cada missos oficiais, passando a ser designadas NDC
registro nacional. - Nationally Determined Contributions.
ICCP – International Climate Change Partner- IPCC – Intergovernmental Panel on Climate
ship | Coalizão global de empresas e associa- Change | Painel Intergovernamental sobre Mudan-
ções comerciais comprometidas com a partici- ças Climáticas. Estabelecido em 1988 pela Orga-
pação construtiva na formulação de políticas nização Meteorológica Mundial e pelo Programa
internacionais sobre mudança climática. das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o IPCC
pesquisa literatura científica e técnica mundial e
ICLEI – International Council of Local Environ-
publica relatórios de avaliação que são ampla-
mental Initiatives | Conselho Internacional de
mente reconhecidos como as fontes de informa-
Iniciativas Locais.
ção mais confiáveis sobre as mudanças climáti-
IEA – International Energy Agency | Agência cas. O IPCC também trabalha com metodologias
Internacional de Energia. e responde a solicitações específicas dos órgãos
subsidiários da Convenção. O IPCC é indepen-
IGO – Intergovernmental Organization | Orga-
dente da Convenção.
nização Intergovernamental.

J
Ilhas de calor | Ilhas de calor se refere a uma
anomalia térmica resultante, entre outros fatores,
das diferenças de absorção e armazenamento JUSSCANNZ | Acrónimo representando países
de energia solar pelos materiais constituintes da industrializados não pertencentes à UE que oca-
superfície urbana. Suas principais causas são: sionalmente se reúnem para discutir várias ques-
atividades antrópicas (mudança de uso e cober- tões relacionadas com as alterações climáticas.
tura da terra, ar condicionado, indústrias, meios Os membros são Japão, Estados Unidos, Suíça,
de transporte, etc); e propriedades das superfí- Canadá, Austrália, Noruega e Nova Zelândia. A
cies urbanas (telhados e pavimentos são tipica- Islândia, o México e a República da Coréia tam-
mente escuros e absorvem mais de 80% da ener- bém podem participar das reuniões do Grupo de
gia da radiação solar. Essas superfícies emitem Trabalho Conjunto JUSSCANNZ.
calor e fazem o ar do entorno aquecer).
Implementação Conjunta | Joint Implementa-
tion - JI. Um mecanismo sob o Protocolo de Quioto
L
através do qual um país desenvolvido pode rece- Legalmente vinculante | Legally binding. Um
ber “unidades de redução de emissões”, quanto acordo é legalmente vinculante quando ele tem
ajuda a financiar projetos que reduzem as emis- peso de lei internacional e países que não cum-
sões líquidas de GEE em outro país desenvolvido. prirem estão sujeitos a sanções de algum tipo. O
Na prática, o país receptor provavelmente será Protocolo de Quioto é “legally binding”, o Acordo
um país com “economia em transição”. A Parte do de Copenhague não o é.
362 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

M Development Mechanism), o Comércio de Emis-


sões (Emissions Trading)e a Implementação Con-
Macrometrópole Paulista | É um dos maiores junta (Joint Implementation).
aglomerados urbanos do Hemisfério Sul. Abriga a
Mercado de carbono | Carbon market. Termo
Região Metropolitana de São Paulo (entre as seis
popular (mas enganoso) para um sistema de
maiores do mundo), além das RMs da Baixada
comércio através do qual os países podem com-
Santista, de Campinas, de Sorocaba e do Vale do
prar ou vender unidades de emissões de GEE em
Paraíba e Litoral Norte, as Aglomerações Urbanas
um esforço para cumprir seus limites nacionais
de Jundiaí e de Piracicaba e a Unidade Regional de
de emissões, sob o Protocolo de Quioto ou outros
Bragantina, ainda não institucionalizada; totaliza
acordos, como entre Estados membros da UE. O
175 municípios - 50% da área urbanizada do Estado.
termo vem do fato de que o CO2 é o GEE predomi-
Mangue | Vegetação presente nos estuários que nante, e outros gases são medidos em unidades
são os corpos d’água costeiros que se encon- chamadas de “CO2 equivalente”.
tram, permanente ou periodicamente, abertos ao
Mitigação | No contexto das alterações climá-
mar e no qual existe variação de salinidade devi-
ticas, uma intervenção humana para reduzir as
do à mistura de água salgada com a água doce
fontes ou aumentar os sumidouros de GEE. Os
proveniente dos rios do continente.
exemplos incluem o uso mais eficiente de com-
Material Particulado | Refere-se a um conjunto bustíveis fósseis para processos industriais ou
de poluentes constituídos de poeiras, fumaça e geração de eletricidade, mudança para energia
todo tipo de material sólido e líquido que se man- solar ou eólica, melhoria do isolamento de edifí-
tém suspenso na atmosfera por causa de seu cios e expansão de florestas e outros "sumidou-
pequeno tamanho. As principais fontes de emis- ros" para remover maiores quantidades de dióxi-
são de particulados para a atmosfera são: veícu- do de carbono da atmosfera.
los automotores, processos industriais, queima MRV – Measurable, Reportable and Verifiable |
de biomassa, ressuspensão de poeira do solo, Mensurável, Reportável e Verificável. Um processo/
entre outros. conceito que potencialmente apoia uma maior
Mecanismo Financeiro | Financial Mecha- transparência no regime de mudanças climáticas.
nism. Para facilitar o fornecimento de finan- Mudanças Climáticas Globais | Mudança de
ciamento climático, a UNFCCC estabeleceu clima que possa ser direta ou indiretamente atri-
um mecanismo financeiro para fornecer fun- buída à atividade humana que altere a composi-
dos aos países em desenvolvimento Parte da ção da atmosfera mundial e que se some àquela
Convenção. O mecanismo financeiro também provocada pela variabilidade climática natural
atende ao Protocolo de Quioto. A Convenção observada ao longo de períodos comparáveis.
estabelece que o funcionamento do mecanis-

N
mo financeiro pode ser confiado a uma ou mais
entidades internacionais existentes. O Global
Environment Facility – GEF, serviu como uma Não-Parte | Non-Party. Um Estado que não rati-
entidade operacional do mecanismo financeiro ficou a Convenção, mas participa de reuniões
por muitos anos e, na COP 17 (2011), as Partes como observador.
também decidiram designar o Green Climate
Fund – GCF, como uma entidade operacional do National Adaptation Programmes of Action
mecanismo financeiro. O mecanismo financeiro – NAPAs | Programas Nacionais de Adaptação.
é responsável perante a COP, que decide sobre Documentos preparados pelos países menos
suas políticas, prioridades do programa e crité- desenvolvidos (Least Developed Countries – LDCs)
rios de elegibilidade para financiamento. identificando necessidades urgentes e imediatas
de adaptação às mudanças climáticas.
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
| Clean Development Mechanism – CDM. Um Nationally Appropriate Mitigation Actions –
mecanismo sob o Protocolo de Quioto através do NAMAs | Ações de Mitigação Nacionalmente Apro-
qual os países desenvolvidos podem financiar pro- priadas. Na COP 16, em Cancún, em 2010, os Esta-
jetos de redução ou remoção de emissões de GEE dos decidiram criar um mecanismo para registrar
em países em desenvolvimento, e receber créditos as ações de mitigação nacionalmente apropria-
para isso que podem ser aplicados para cumprir das, buscando apoio internacional, para facilitar
limites obrigatórios em suas próprias emissões. a compatibilização de financiamento, tecnologia
e apoio à capacitação com essas ações.
Mecanismos de Quioto | Três procedimen-
tos estabelecidos no Protocolo de Quioto para Nationally Determined Contributions – NDC |
aumentar a flexibilidade e reduzir os custos Contribuições Determinadas a Nível Nacional. De
de cortes nas emissões de GEE. São eles: o acordo com o Artigo 4º, parágrafo 2, do Acordo
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (Clean de Paris, cada Parte deverá preparar, comunicar e
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 363
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

manter sucessivas contribuições determinadas a and Technological Advice – SBSTA. Órgão subsidi-
nível nacional (NDCs) que pretende alcançar. As ário permanente da UNFCCC, estabelecido pela
Partes deverão adotar medidas nacionais de miti- COP / CMP. O SBSTA é o elo entre informações e
gação, com o objetivo de alcançar os objetivos de avaliações fornecidas por fontes especializadas
tais contribuições. (como o IPCC). Suas principais áreas de atuação
incluem impactos, vulnerabilidade e adaptação às
Normas internacionais ad hoc | Normas inter-
alterações climáticas, promover o desenvolvimen-
nacionais definidas para finalidade específica. to e a transferência de tecnologias ambientalmente
adequadas e a realização de trabalho técnico para
O melhorar as diretrizes para a elaboração e revisão
de inventários de GEE a partir das Partes do Anexo I.
Observadores | Organizações não-governamen- O SBSTA realiza trabalho metodológico sob a Con-
tais e governos que não são Partes da Convenção, venção, o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris,
que podem participar, mas não votar, nas reuni- e promove a colaboração no campo da pesquisa e
ões da COP, da CMP e dos órgãos subsidiários. observação sistemática do sistema climático.
Os observadores podem incluir as Nações Unidas
Organizações não-governamentais – ONGs |
e suas agências especializadas, outras organiza-
Organizações que não fazem parte de uma estru-
ções intergovernamentais, como a Agência Inter-
tura governamental. Incluem grupos ambienta-
nacional de Energia Atômica, e as organizações
listas, instituições de pesquisa, grupos empresa-
não-governamentais (ONGs) credenciadas.
riais e associações de governos urbanos e locais.
OECD – Organization for Economic Co-opera- Muitas ONGs participam das negociações climá-
tion and Development | Organização para a Coo- ticas como observadores. Para ser credenciado
peração e o Desenvolvimento Econômico. para participar das reuniões sob a UNFCCC, as
ONGs devem ser sem fins lucrativos.
“Opções sem arrependimentos” | “No-regrets
options”. Tecnologia para reduzir as emissões de
GEE cujos outros benefícios (em termos de eficiên-
P
cia ou custos reduzidos de energia) são tão exten- Países Menos Desenvolvidos – PMD | Least Deve-
sos que o investimento vale a pena apenas por loped Countries – LDCs. Os países mais pobres do
esses motivos. Por exemplo, as turbinas a gás de mundo. Os critério atualmente usados pelo Conse-
ciclo combinado - nas quais o calor do combustível lho Econômico e Social (ECOSOC) para designação
em combustão aciona as turbinas a vapor enquan- como um PMD incluem baixa renda, fraqueza de
to a expansão térmica dos gases de escape acio- recursos humanos e vulnerabilidade econômica.
nam as turbinas a gás - podem aumentar a eficiên- Atualmente, 48 países foram designados pela
cia das usinas geradoras de eletricidade em 70%. Assembleia Geral da ONU como PMDs.
OPEP – Organization of Petroleum Exporting Parte | Party. Um Estado (ou organização regio-
Countries | Organização dos Países Exportadores nal de integração econômica, como a União Euro-
de Petróleo. péia), que concorda em estar obrigado por um
tratado e para o qual o tratado entrou em vigor.
Órgão Subsidiário | Um comitê que auxilia a
Conferência das Partes. Dois órgãos subsidiá- Partes do Anexo I | Annex I Parties. Definido pela
rios permanentes foram criados pela UNFCCC: UNFCCC. É a lista de países industrializados que
o Órgão Subsidiário de Implementação (SBI) e o teriam metas de mitigação a cumprir obrigatoria-
Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e mente pelo Protocolo de Quioto. Na lista estão os
Tecnológico (SBSTA). Dois dos principais órgãos países do chamado Primeiro Mundo e as econo-
temporários existentes atualmente são o Grupo mias em transição, do Leste Europeu.
de Trabalho Ad Hoc sobre Compromissos Adicio- Partes (não) Anexo I da UNFCCC | Refere-
nais para as Partes do Anexo I no âmbito do Proto- -se aos países que ratificaram ou aderiram à
colo de Quioto (AWG-KP), estabelecido na COP 11 UNFCCC e que não estão incluídos no Anexo I
em Montreal, e o Grupo de Trabalho Ad Hod sobre da Convenção. Atualmente, constam 154 Partes
Ação Cooperativa de Longo Prazo sob a Conven- (não) Anexo I.
ção (AWG-LCA), estabelecido na COP 13 em Bali.
Partes do Anexo II da UNFCCC | Annex II Par-
Organismos subsidiários adicionais podem ser
ties. Os países listados no Anexo II da Convenção,
estabelecidos conforme necessário.
que têm a obrigação especial de fornecer recur-
Órgão Subsidiário de Implementação | Subsidia- sos financeiros e facilitar a transferência de tec-
ry Body for Implementation – SBI. O SBI faz recomen- nologia para os países em desenvolvimento. As
dações sobre questões políticas e implementação Partes do Anexo II incluem 24 membros, integran-
para a COP e, se solicitado, para outros órgãos. tes da OCDE e da UE.
Órgão Subsidiário de Assessoramento Cientí- Particulados Totais em Suspensão – PTS |
fico e Tecnológico | Subsidiary Body for Scientific Partículas de material sólido ou líquido que ficam
364 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

suspensos no ar, na forma de poeira, neblina, Os protocolos normalmente fortalecem uma con-
aerossol, fumaça, fuligem, etc., com tamanho < venção, adicionando novos compromissos mais
100 micra (unidade de medida que corresponde à detalhados.
milionésima (1 milhão) parte do metro. Principais
Protocolo de Montreal | Montreal Protocol on
fontes antropogênicas: processos industriais, veí-
Substances that Deplete the Ozone Layer – Proto-
culos automotores, (exaustão), poeira de rua res-
colo de Montreal sobre Substâncias que Destro-
suspensa, queima de biomassa. Principais fontes
em a Camada de Ozônio, um acordo internacional
naturais: pólen, aerossol marinho e solo.
adotado em Montreal, em 1987.
Perdas e danos | Na COP 16 (Cancún, 2010), os
governos estabeleceram um programa de traba- Protocolo de Quioto | Kyoto Protocol. Um acor-
lho para considerar abordagens para lidar com do internacional que se mantém independente e
perdas e danos associados aos impactos das requer ratificação separada por parte dos gover-
mudanças climáticas em países em desenvolvi- nos, mas ligado à UNFCCC. O Protocolo de Kyoto,
mento, que são particularmente vulneráveis aos entre outras coisas, estabelece metas obrigató-
efeitos adversos da mudança climática, como rias para a redução das emissões de GEE pelos
parte do Cancun Adaptation Framework. países industrializados.

Permafrost | Também designado de pergelissolo


é o tipo de solo encontrado na região do Ártico,
R
constituído por terra, gelo e rochas permanente- Radiação ultravioleta – R-UV | É a parte do
mente congelados. espectro eletromagnético referente aos compri-
Pesquisa e observação sistemática | Uma obri- mentos de onda entre 100 e 400 nm.
gação das Partes da UNFCCC, que são chamados Ratificação | Aprovação formal, muitas vezes por
a promover e cooperar em pesquisa e observação um Parlamento ou outra legislação nacional, de
sistemática do sistema climático, e convocados a uma convenção, protocolo ou tratado, permitindo
ajudar os países em desenvolvimento a fazê-lo. que um país se torne uma Parte. A ratificação é
um processo separado que ocorre após um país
PIB – Produto Interno Bruto | É a soma de todos
ter assinado um acordo. O instrumento de ratifica-
os bens e serviços finais produzidos por um país,
ção deve ser depositado junto a um “depositário”
estado ou cidade, geralmente em um ano. Todos
(no caso da UNFCCC, o Secretário-Geral da ONU)
os países calculam o seu PIB nas suas respecti-
para iniciar a contagem regressiva para se tornar
vas moedas.
uma Parte (no caso da Convenção do Clima, a con-
Pluviosidade | É o volume (quantidade) de chu- tagem regressiva é de 90 dias).
vas que ocorre em uma determinada área (cida-
Recomendação | Um ato formal da COP ou da
de, bairro ou região) em um determinado período
CMP que é mais fraco que uma decisão ou uma
de tempo (dia, mês ou ano).
resolução, e não é vinculante para as Partes da
Políticas e Medidas | Policies And Measures – UNFCCC ou do Protocolo de Quioto.
PAMs. Expressão frequentemente usada referen-
REDD | Reducing Emissions from Deforestation
te às medidas implementadas ou a serem toma-
and Forest Degradation. Redução de Emissões do
das pelos países para reduzir as emissões de GEE
Desmatamento e Degradação Florestal.
sob a UNFCCC e o Protocolo de Quioto. Algumas
políticas e medidas possíveis estão listadas no Reduções Certificadas de Emissões | Certified
Protocolo e podem oferecer oportunidades para Emission Reductions – CER. Unidade do Protoco-
cooperação intergovernamental. lo de Quioto igual a 1 tonelada métrica de CO2
equivalente. CERs são emitidos para reduções
Potencial de Aquecimento Global | Global War-
de emissões de atividades de projeto de MDL.
ming Potential – GWP. Índice utilizado para repre-
Dois tipos especiais de CERs denominados redu-
sentar o potencial de aquecimento de um GEE em
ção temporária de emissões certificadas (tCERs
relação ao potencial de aquecimento do CO2.
– temporary Certified Emission Reduction) e redu-
ppb | unidade de concentração. Representa par- ções certificadas de emissão de longo prazo
tes do elemento em questão por bilhão de partes (long-term Certified Emission Reductions) são emi-
do meio que o envolve. tidos para remoções de emissões de projetos de
florestamento e reflorestamento de MDL.
ppm | unidade de concentração. Representa par-
tes do elemento em questão por milhão de partes Reflorestamento (Reforestation) | Re-plantar
do meio que o envolve. florestas em terras que anteriormente continham
florestas, mas que foram convertidas para algum
Protocolo | Um acordo internacional vinculado
outro uso.
a uma convenção existente, mas como um acor-
do separado e adicional que deve ser assinado e Região Metropolitana da Baixada Santista –
ratificado pelas Partes da convenção em questão. RMBS | A RMBS é integrada por nove municípios
FIXAÇÃO DE CARBONO EM SUPERFÍCIE E 365
REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA

– Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Monga- Runoff | Escoamento superficial. Fluxo de água
guá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicen- que ocorre na superfície do solo quando este se
te. A região responde por 3,15% do PIB paulista encontra saturado de umidade.
(2016) e concentra 4,09% da população do estado
(1,81 milhão de pessoas).
S
Região Metropolitana de São Paulo – RMSP
Secretaria de Mudanças Climáticas | Climate
| A RMSP concentra 39 municípios e é o maior
Change Secretariat. O escritório é composto por
polo de riqueza nacional. Com uma população de
funcionários públicos internacionais responsá-
20,99 milhões de pessoas (2019), participa com
veis por “atender” à UNFCCC e garantir o seu
54,36% no PIB do Estado (2016). Fazem parte da
bom funcionamento. O secretariado organiza as
RMSP: São Paulo; Sub-região Leste: Arujá, Biri-
reuniões, compila e prepara relatórios e realiza
tiba-Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema,
a coordenação de ações com outros organis-
Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes,
mos internacionais relevantes. A Secretaria de
Poá, Salesópolis, Santa Isabel, Suzano; Sub-
Mudanças Climáticas, com sede em Bonn, na
-região Norte: Caieiras, Cajamar, Francisco Mora-
Alemanha, está institucionalmente vinculada à
to, Franco da Rocha, Mairiporã; Sub-região Oes-
ONU.
te: Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco,
Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba; Sequestro de carbono | Carbon sequestration. O
Sub-região Sudeste: Diadema, Mauá, Ribeirão processo de remoção de carbono da atmosfera e
Pires, Rio Grande da Serra, Santo André, São Ber- seu depósito em um reservatório.
nardo do Campo, São Caetano do Sul; Sub-região
SIDS – Small Island Developing States |
Sudoeste: Cotia, Embu das Artes, Embu-Guaçu,
Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento.
Itapecerica da Serra, Juquitiba, São Lourenço da
Serra, Taboão da Serra, Vargem Grande Paulista. Sink – Sumidouro | Qualquer processo, ativida-
de ou mecanismo que remova um GEE, um aeros-
Reservatórios ou sumidouros | Um componen-
sol ou um precursor de um GEE da atmosfera.
te ou componentes do sistema climático onde um
Florestas e outras vegetações são consideradas
GEE ou um precursor de um GEE é armazenado.
sinks por que elas removem o dióxido de carbono
As árvores são “reservatórios de GEE".
através da fotossíntese.
Revolução industrial | processo marcado pela
transformação do modo de produção artesanal
para o modo industrial, aproximadamente entre
1750 e 1840. Neste período ocorreram o desenvol-
T
vimento de máquinas e a substituição da madeira Transferência Tecnológica | Um amplo conjun-
pelo carvão mineral como fonte de energia. to de processos cobrindo os fluxos de know-how,
experiências e equipamentos para mitigação e
RIO 92 | Conferência das Nações Unidas sobre
adaptação às mudanças climáticas entre os dife-
Desenvolvimento Sustentável, também designa-
rentes interessados.
da como "Cúpula da Terra". Evento marco para
três convenções ambientais, duas das quais
foram adotadas na "Cúpula da Terra" de 1992 no U
Rio de Janeiro: a Convenção-Quadro das Nações
Unidas de Combate à Desertificação (UNFCCC) UNFCCC – United Nations Framework Conven-
e a Convenção sobre Biodiversidade (CBD), tion on Climate Change | Convenção-Quadro
enquanto a terceira, a Convenção das Nações das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
Unidas. Combat Desertification (UNCCD), foi
União Europeia – UE | Enquanto uma organiza-
adotada em 1994. As questões abordadas pelos
ção regional de integração econômica, a UE é par-
três tratados estão relacionadas - em particu-
te da UNFCCC e do Protocolo de Quioto. No entan-
lar, as alterações climáticas podem ter efeitos
to, ela não tem um voto separado daquele de seus
adversos na desertificação e biodiversidade - e
Estados membros. Dado que a UE assinou a Con-
através de um Grupo de Ligação Conjunta, os
venção quando era conhecida como CEE (Comu-
secretariados das três convenções tomam medi-
nidade Econômica Européia), a UE conserva este
das para coordenar as atividades para alcançar
nome para todos os fins formais relacionados à
um progresso comum.
UNFCCC. Os membros são: Áustria, Bélgica, Bul-
Rio + 20 | Conferência das Nações Unidas gária, Chipre, República Checa, Dinamarca, Estô-
sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada nia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos,
no Rio de Janeiro, Brasil, de 4 a 6 de junho de Polônia, Portugal, Romênia, Eslováquia, Eslovênia,
2012. Espanha, Suécia e Reino Unido.
366 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Unidade de Redução de Emissões | Emission V


Reduction Unit – ERU. Unidade do Protocolo de
Quioto igual a uma tonelada métrica de CO2 equi- Vazamento | A parcela de corte das emissões de
valente. As ERUs são geradas para reduções de GEE pelos países desenvolvidos - países que ten-
emissões ou remoções de emissões de projetos tam cumprir os limites obrigatórios do Protocolo de
conjuntos de implementação. Quioto - que podem reaparecer em outros países
não limitados por tais limites. Por exemplo, as cor-
Unidade de Remoção | Removal Unit – RMU. porações multinacionais podem transferir fábricas
Uma unidade de remoção do Protocolo de Quio- de países desenvolvidos para países em desenvol-
to é igual a uma tonelada métrica de dióxido de vimento para escapar de restrições às emissões.
carbono equivalente. As RMUs são geradas nas
partes do Anexo I pelas atividades LULUCF que Vulnerabilidade | O grau em que um sistema
absorvem dióxido de carbono. é suscetível ou incapaz de lidar com os efeitos
adversos da mudança climática, incluindo a varia-
Uso da terra, mudança no uso da terra e flo- bilidade climática e os extremos. A vulnerabilidade
restas | Land Use, Land Use Change and Fores- é uma função da característica, magnitude e taxa
try – LULUCF. Um setor de inventário de GEE que de variação climática à qual um sistema é exposto,
cobre as emissões e remoções de GEE resultan-
sua sensibilidade e sua capacidade adaptativa.
tes do uso direto da terra, mudanças no uso da
terra e atividades florestais.
W
WEOG – Western European and Others Group |
Grupo regional das Nações Unidas para a Europa
Ocidental e outros.
PARTE 2
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS DE REGULAÇÃO

2.4 REGULAÇÃO CLIMÁTICA

Coordenador
Augusto José Pereira Filho | IAG/USP

Autores
Augusto José Pereira Filho | IAG/USP
Elaine Aparecida Rodrigues | IF/SIMA - IPEN/USP
Frederico Luiz Funari | IAG/USP
368 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto da abertura do capítulo:


Inversão térmica na
Cidade de São Paulo,
a partir do Pico do Jaraguá.
Fonte: Augusto José Pereira
Filho (2006).
SUMÁRIO

Resumo .................................................................................................................. 373

1 | Introdução........................................................................................................ 374

2 | O clima na RBCV.............................................................................................. 375

3 | Clima e ecossistemas...................................................................................... 387

4 | Ilhas de calor urbano....................................................................................... 393

5 | Serviço ecossistêmico de regulação climática e bem-estar humano.............. 404

Conclusões ........................................................................................................... 407

Referências ........................................................................................................... 408

.............................................................................................................. 411
Glossário ....
370 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 Esquema do ciclo hidrológico no sistema terrestre global, Precipitação (P); Evaporação/
Evapotranspiração (E); Transporte de vapor d' água (Q); Escoamento superficial (Ro);
Escoamento subterrâneo (Ru).
Figura 2 Imagem da RBCV, com a RMSP ao centro e localizações da EMC do IAG/USP, na avenida
Paulista até 1932 (EMC) e, depois, no PEFI. Cores marrons, verde escuro e claro indicam
áreas urbanas, vegetadas e represas, respectivamente.
Figura 3 Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), São Paulo.
Figura 4 Distribuição espacial da precipitação média (A) e fração de dias de chuva média anual (B)
no estado de São Paulo no período de 1947 a 1997. Escala de cores indica acumulação
(mm).
Figura 5 Evolução temporal da precipitação diária (A) e temperatura diária (B) máximas absolutas
anuais medidas no PEFI entre 1933 e 2018. As respectivas médias e desvios padrão são
74,3 mm +/- 22,5 mm e 33,4oC +/- 1,1oC.
Figura 6 Projeção de aumento da temperatura média global entre 2071 e 2100 para os hemisférios
Norte e Sul (A) e anomalia de temperatura da superfície do mar em 5 de julho de 2018 (B).
Figura 7 Evolução temporal das anomalias de temperatura do ar (T), umidade relativa (UR) (A),
vento zonal (u) e meridional (v) e pressão (B), definidas a partir das médias anuais do
período de 1936 a 2005 estimadas com os dados da Estação Meteorológica do IAG USP.
Figura 8 Ilha de calor registrada em imagem IR do satélite GOES-12 às 1540 UTC de 29 de março de
2007. Escala de cores indica temperatura (oC) estimada.
Figura 9 Imagem de satélite (EOS 2008) da RBCV, com RMSP, ao centro (A); média mensal da
Temperatura da Superfície Terrestre (TST) para períodos diurnos (B) e noturnos (C), em
outubro de 2001. A figura (A) mostra as localizações de áreas rurais (r), centro urbano (u)
e limite (b) da RMSP.
Figura 10 Ilustração dos efeitos da ilha de calor, provocadas pelo homem (A), na variabilidade e
localização de precipitação (B).
Figura 11 Baixada Santista e suas áreas urbanizadas (A) e a orla alterada de Santos (B).
Figura 12 As diferentes fontes de vapor de água que abastecem a RBCV, vindas do Nordeste, Pantanal,
Amazônia e Oceano Atlântico.
Figura 13 Campos de vento em 850 hPa (m s-1) (A) e umidade específica (kg kg-1) (B).
Figura 14 Espessura ótica da pluma de material particulado proveniente das queimadas na Amazônia
sobre a RBCV, em 19 de agosto de 2019.
Figura 15 Imagem do satélite GOES-16 dos canais IR (A) e VIS (B), precipitação (mm h-1) com radar
meteorológico de São Paulo (C) e registro fotográfico (D) às 16h29, de 19 de agosto de 2019.
Figura 16 Imagem da RBCV, com destaque para a RMSP e 20 sites selecionados para integrar a rede
Micronet de estações meteorológicas automáticas. A letra "P" corresponde às estações
previstas e a letra “I” para as áreas com estações instaladas no PEFI (Parque CienTec) e
EACH/USP.
Figura 17 Cercado da Estação Meteorológica com o abrigo meteorológico no primeiro plano,
pluviômetros no segundo plano e torre metálica da Estação Meteorológica Automática ao
fundo (A); rede de sensores de umidade de solo (B); e sensor de nível do lago do PEFI (C)
instalados no Parque CienTec.
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 371

Figura 18 Evolução temporal da temperatura do solo e do ar média mensal (A) e energia onda curta
e saldo de energia (B); chuva acumulada mensal (C) e volume de água total armazenada
no solo até 3 m de profundidade (D); perfil médio, máximo e mínimo de umidade no solo
(E) e variação mensal da umidade do solo (F).
Figura 19 As 10 maiores precipitações diárias e temperaturas horárias registradas na cidade de
São Paulo, medidas pela Estação Meteorológica do IAG/USP, entre 1933 e 2018; estão
indicados o ano da ocorrência e respectivo valor.
Figura 20 Radiação solar e refletida (albedo) e fluxos de calor sensível e latente para diferentes usos
e ocupações do solo: floresta (A); pastagem (B) e urbano (C), para condições de calmaria.
Figura 21 Cobertura arbórea (A) e temperatura aparente de superfície em 2008 (B) e em 2015 (C)
no município de Guarulhos.
Figura 22 Projetos implantados pelo PIV em Guarulhos. Avenida Paulo Facchini (centro), trecho
entre a av. Tiradentes até a av. Monteiro Lobato, em 2009 (A) e 2017 (B) e ilha verde
implantada no Parque CECAP/SEMA, em 2009, com temperatura ao sol registrada de 35oC
(C) e em 2017, com temperatura de superfície 17oC, registrada à sombra (D).
Figura 23 Temperatura de brilho do canal IR do satélite GOES-8 em 11 de outubro de 2002. Tons
escuros indicam temperaturas mais altas e, tons mais claros, mais baixas. Contorno
geográfico do Estado de São Paulo está indicado em preto, RBCV em contorno branco.
Horários em UTC.
Figura 24 Evolução temporal de variáveis meteorológicas de 18 eventos de enchentes associadas à
brisa marítima e ilha de calor.
Figura 25 Distribuição espacial de chuva acumulada estimada com o radar meteorológico de São
Paulo, para 18 eventos de enchentes associados com brisa marítima e ilha de calor na
RBCV.
Figura 26 Distribuição espacial da frequência (%) de chuva acumulada, acima (A) e abaixo (B) de 10
mm h-1 para todos os 18 eventos de enchentes associadas com brisa marítima e ilha de
calor na RBCV.
Figura 27 Número de danos causados por eventos severos na RMBS, registrados por município
(1980-2015).
Figura 28 Registros fotográficos de impactos relacionados a eventos climáticos na RMBS: queda de
marquise de um posto de combustíveis em Santos (A); maré alta e ressaca em Santos
(B); desabamento do teto do shopping de Praia Grande (C); árvore que caiu sobre dois
ambulantes, na Praça Carlos Antonio Menon, em São Vicente (D); queda de árvore com
destruição de calçada em Santos (E).
Figura 29 Imagem aérea do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, com a localização do Parque
CienTec, em São Paulo. Parque Estadual Fontes do Ipiranga, São Paulo.
Figura 30 Vista aérea do Parque CienTec/USP, localizado no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga.
Figura 31 Entrada do Parque CienTec/USP.
Figura 32 Áreas de estudo sobre potencial da arborização viária na redução do consumo de energia,
na cidade de São Paulo.

QUADROS
Quadro 1 O Programa Ilhas Verdes Urbanas do município de Guarulhos.
Quadro 2 Estudo de caso: O Parque Estadual das Fontes do Ipiranga.
Quadro 3 Estudo de caso: Potencial da arborização viária na redução do consumo de energia elétrica.
372 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

TABELAS
Tabela 1 Valores médios mensais de variáveis climáticas: temperatura, umidade relativa,
precipitação, pressão atmosférica, insolação, radiação solar e evaporação.
Tabela 2 Balanço hídrico (mm) da bacia hidrográfica PEFI (1999-2000).
Tabela 3 Valores da Temperatura Aparente em Superfície 0C (TAS) de acordo com o tipo de cobertura
da terra.
Tabela 4 Eventos severos na cidade de São Paulo, entre 2002 e 2004.
Tabela 5 Ocorrência mensal de pontos de alagamento na cidade de São Paulo.
Tabela 6 Precipitação mensal e anual (mm) para a cidade de São Paulo para o período de 1998/1999

SIGLAS
e 2010/2011.

BM Brisa marítima
CIENTEC (Parque) Parque de Ciência e Tecnologia/USP
o
C Graus Celsius
CGE Centro de Gerenciamento de Emergências
CLP Camada Limite Planetária
e.g. por exemplo
DEA Descargas elétricas atmosféricas
DCA Departamento de Ciências Atmosféricas
DT Deslizamento de terra
EM Estação Meteorológica
EMA Estação Meteorológica Automática
FSP Faculdade de Saúde Pública
IAG Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change. Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas
IR Infravermelho
PA Pontos de alagamento
PEFI Parque Estadual das Fontes do Ipiranga
PCR Pico de congestionamento registrado
Pmax Precipitação máxima
PMSP Prefeitura Municipal de São Paulo
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
RMBS Região Metropolitana da Baixada Santista
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
RFV Rajadas de vento forte
TAI Transporte aéreo interrompido
TAS Temperatura Aparente de Superfície
Tdmx Temperatura do ponto de orvalho máxima
Tmax Temperatura do ar máxima
USP Universidade de São Paulo
VT Vítimas fatais
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 373

RESUMO

A Vila de São Paulo de Piratininga, atualmente cidade de São Paulo, assim


como outras grandes cidades do mundo, cresceu ao longo dos seus rios,
essenciais para as atividades humanas. Com a urbanização, na área central da RBCV, a
rede de drenagem foi recoberta por ruas e avenidas e alterou o ciclo da água e a circulação
do ar. As características de tempo e clima da região se configuram como objeto de análise,
destacando-se as consequências da ação antrópica na Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP) e na Serra do Mar (SM). Os principais sistemas de tempo locais são discutidos à
luz das suas características morfológicas e respectivos impactos, tais como enchentes e
deslizamentos. A climatologia e evolução climática são objeto de análise a partir das séries de
dados da Estação Meteorológica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
(IAG) da Universidade de São Paulo (USP), que possibilitou a avaliação do papel do clima no
estabelecimento dos ecossistemas e a regulação destes nas condições climáticas da RBCV.
Com a degradação, diminuição e desaparecimento dos ecossistemas originais, o ambiente
perde sua capacidade de proporcionar benefícios ecossistêmicos. Sinergicamente, devido
às mudanças no microclima da RBCV, a população está mais exposta aos riscos ambientais
advindos do desenvolvimento urbano. Enchentes, inundações, deslizamentos, trovoadas,
rajadas de vento, granizo, entre outras ocorrências meteorológicas no período de primavera
e verão têm causado perdas de vidas e materiais cada vez maiores e mais frequentes. Da
mesma forma, as inversões térmicas, altas temperaturas, baixa umidade relativa e altas
concentrações de poluentes no outono e inverno contribuem para reduzir a qualidade de vida
e o bem-estar humano da população da metrópole. Esse quadro exige ações adequadas para
prevenir e mitigar eventos extremos e para integrar governo, defesa civil, instituições públicas
e privadas, mídia e sociedade, de modo a se antecipar às situações de risco, bem como atuar
fortemente na recuperação dos ambientes degradados.
374 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO Havia amplas planícies de inundação ao


longo do rio Tietê e ao longo de seus principais
tributários, tais como Tamanduateí, Aricandu-

A s grandes cidades do mundo cresceram ao


longo de rios, essenciais para o desenvol-
vimento das atividades humanas. A então Vila
va e Pinheiros que ficavam alagadas no perío-
do chuvoso. Com a urbanização, canalização e
aterros na bacia do rio Tietê, as chuvas passa-
de São Paulo de Piratininga, hoje cidade de São ram a causar maiores transtornos por causa do
Paulo, se desenvolveu, a partir de 1554, em uma aumento do volume de água escoado superfi-
colina entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, cialmente pela rede de drenagem, que foi reco-
tributários ao Rio Tietê. Os moradores e movi- berta por ruas e avenidas.
mentos das bandeiras se utilizaram do Rio Tietê A população mais antiga usava os rios e
para seu deslocamento no estado de São Paulo. seus serviços ecossistêmicos para consumo,
Mais tarde, no século 19, a produção agrícola do alimentação, recreação e transporte fluvial.
interior de São Paulo foi escoada até o Porto de A mudança de uso e ocupação do solo imper-
Santos por meio de ferrovias que passavam pela meabilizou a superfície e transformou os rios
cidade de São Paulo. remanescentes em esgotos a céu aberto, com a
As ferrovias, aliadas ao clima e à dispo- impossibilidade de obter dos rios os serviços
nibilidade de recursos hídricos e de serviços ecossistêmicos anteriormente disponíveis.
ecossistêmicos, deram impulso ao crescimento No ambiente mais rural, a maior parcela da
populacional. A partir dessas condições iniciais, chuva infiltrava no solo. No ambiente mais urba-
a indústria, o comércio e o setor de prestação no, a maior parcela da chuva, de duração e inten-
de serviços se desenvolveram e atraíram mais sidade similar, escoa pelas superfícies vertentes
investimentos e ondas de emigração e imigra- sem infiltrar. Esse maior volume de água causa
ção, que resultaram em um crescimento urbano enxurradas, inundações e enchentes de maiores
mais rápido a partir do final da primeira metade proporções. O ambiente urbano também provo-
do século 20, com o fim da Segunda Guerra Mun- ca mudanças na circulação do ar, que somadas
dial, em 1945. ao sobreaquecimento da superfície e à influên-
O ambiente paulista, mais rural no início cia da brisa marinha, em especial na primavera
do século, mudou para mais urbano, com contí- e no verão, aumenta a intensidade das tempesta-
nuo adensamento e transformação. Rios foram des e das chuvas associadas a essas.
canalizados (e.g. Tamanduateí) e retificados (e.g. O resultado tem sido um aumento ainda
Alto Tietê), além de córregos que foram canali- maior do volume de chuvas, com transtornos,
zados e aterrados (e.g., Anhangabaú) na primei- perdas, riscos e degradação ambiental mais
ra metade do século 20, para dar lugar às ruas e pronunciada nas bordas da mancha urbana que
avenidas marginais e permitir o desenvolvimen- cresce radialmente para fora em direção às por-
to da cidade, com base no transporte individual ções mais preservadas da RBCV. No outono e
por carros. inverno, as frequências e intensidade de chuvas
Concomitantemente, o clima tropical de diminuem com a redução da temperatura do ar e
altitude úmido é adequado para o desenvol- da umidade. O ar mais estável reduz a circulação
vimento e a manutenção de uma vegetação e aumenta a poluição do ar produzida por emis-
abundante e diversificada, denominada de Mata sões de gases orgânicos.
Atlântica. O clima úmido e fresco mudou gradu- Essa poluição é visível no horizonte na for-
almente ao longo do tempo para um mais seco, ma de uma camada rasa acinzentada (foto do
quente e poluído por causa das atividades antró- capítulo). A exposição à baixa umidade e à alta
picas. A superfície vegetada mais permeável à concentração de poluentes causa doenças res-
chuva se modificou com a urbanização, e passou piratórias nos seres vivos (humanos, animais e
a escoar mais água pela superfície. Há relatos vegetais). Esses assuntos de tempo e clima serão
históricos da Vila de São Paulo de Piratininga tratados nas próximas seções à luz das mudan-
do século 16 que sugerem chuvas abundantes e ças ambientais antrópicas, com apresentação de
intensas naquela época. estratégias para amenizar os impactos antrópicos
mais significativos.
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 375

O sistema terrestre resulta da interação dos subsistemas que produz o ciclo hidrológico glo-
continentes, oceanos, geleiras polares, atmosfe- bal terrestre e é responsável pela complexidade
ra e biosfera com a energia solar. As inter-rela- e diversidade da vida no planeta.
ções são complexas e ocorrem em escalas de O ciclo hidrológico global (Figura 1) é
tempo que variam de segundos a milhares de composto pela Hidrosfera (Oceanos), Atmosfe-
anos e em escalas espaciais que variam de micro ra, Litosfera (Continentes), Criosfera (Geleiras)
a macro distâncias, isto para acomodar mudan- e Biosfera. As letras na Figura 1 indicam: (E)
ças e estabelecer o equilíbrio entre esses com- evaporação (oceanos e continentes); (P) preci-
ponentes sistêmicos. pitação; (Q) transporte de vapor de água; (Ro)
Clima e tempo serão tratados do nível mais escoamento superficial (continentes) e (Ru)
elevado do sistema para a escala local da RBCV. escoamento subterrâneo. A energia geradora
Uma condição climática, em uma dada área do do ciclo da água é a radiação solar que interage
sistema terrestre, é determinada pelas interações com os cinco componentes do sistema terrestre
das escalas espaço-temporais, da maior para a em escalas de tempo e espaço de poucos segun-
menor. Elas determinam as condições de desen- dos a milhares de anos, de centímetros (tur-
volvimento e crescimento da vida, que, por sua bulência) a milhares de quilômetros (ondas de
vez, podem causar mudanças locais no sistema Rossby). Há um equilíbrio entre o volume de
com impactos adversos ou benéficos às diversas água evaporado da superfície terrestre e o volu-
formas de vida condicionada à ação antrópica. me de água precipitado durante longos períodos
Neste contexto, constitui objetivo deste de tempo em escala global. Porém, na medida em
capítulo descrever o papel do clima no estabe- que as escalas de tempo e espaço decrescem, os
lecimento de ecossistemas e a regulação destes regimes de evaporação e precipitação se tornam
nas condições climáticas da região compreendida mais complexos e o balanço entre estas variá-
pela RBCV, incluindo a avaliação dos distúrbios veis não é mantido; algumas regiões do planeta
climáticos causados pela eliminação ou empo- sofrem estiagem permanente, como no Deserto
brecimento desses ecossistemas e seus reflexos do Saara; enquanto em outras, como na Ama-
na relação entre o serviço ecossistêmico e o bem- zônia, a chuva é superabundante. Enchentes e
-estar humano. estiagens são exemplos de fenômenos extremos

2 | O CLIMA NA RBCV
de tempo e clima que afetam a vida e as ativi-
dades humanas, e são manifestações das intera-
ções do sistema climático global.
O sistema Terra é composto pela atmosfe- Os processos responsáveis pelo aco-
ra, hidrosfera, criosfera, litosfera e biosfera. Sua plamento das fases terrestre e atmosférica
evolução espaço-temporal depende da evolução do ciclo hidrológico, seus impactos sobre os
destes cinco componentes e dos vários mecanis- recursos hídricos e o meio ambiente são obje-
mos de interação com eles, enquanto se utilizam to de pesquisa em estudos de variabilidade e
da energia solar disponível. A substância água mudanças climáticas e de estratégias para o
é um dos elementos de interligação entre estes desenvolvimento de sistemas sustentáveis.

Figura 1 |
Esquema do ciclo
hidrológico no
sistema terrestre
global. Precipitação
(P); Evaporação/
Evapotranspiração
(E); Transporte de
vapor d' água (Q);
Escoamento
superficial (Ro);
Escoamento
subterrâneo (Ru).
Fonte: Adaptado de
Peixoto e Oort (1992).
376 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Uma das abordagens é estudar a previsibili- A evapotranspiração é serviço ecossistêmico


dade das alterações dos recursos hídricos em de suporte, importante para o ciclo hidrológi-
diversas escalas de tempo e espaço, em esca- co regional, e que influencia, direta e indireta-
las de poucas horas para pequenas bacias e de mente, outros serviços ecossistêmicos
meses para grandes bacias. A RMSP, que é uma das maiores áreas
O ciclo hidrológico determina a vasta urbanas do planeta (UN-HABITAT, 2016), está
maioria dos serviços ecossistêmicos disponí- integralmente inserida na RBCV. O rápido cres-
veis no planeta. O ciclo global da água depende cimento populacional e a concomitante expan-
de mecanismos locais e remotos de controle de são da mancha urbana nos últimos cem anos
precipitação sobre os continentes. Esse ciclo é resultaram em mudanças ambientais muito
dependente, ainda, da variabilidade global dos significativas. Ressaltam-se aquelas associadas
mecanismos locais de controle da precipitação ao tempo e ao clima. Enchentes, inundações,
e dos mecanismos de realimentação do ciclo deslizamentos, trovoadas, rajadas de vento, gra-
hidrológico e suas relações com períodos chu- nizo, entre outras ocorrências meteorológicas
vosos e secos. O ciclo da água requer a medição no período de primavera e verão, têm causado
da evaporação (oceanos) e evapotranspiração perdas de vidas e materiais cada vez maiores e
(continentes) e precipitação, entre outras variá- mais frequentes.
veis hidrometeorológicas, de modo a monitorar As inversões térmicas, altas temperatu-
e antecipar o balanço de água local na escala ras, baixa umidade relativa e altas concentra-
das bacias hidrográficas, na periodicidade de ções de poluentes no outono e inverno também
horas a meses. Esse conhecimento permite contribuem para reduzir a qualidade de vida da
avaliar situações de excesso de chuva, como as população da metrópole. As análises de dados
enchentes e de escassez, como as secas. Estas meteorológicos da cidade de São Paulo, para
situações podem comprometer os demais ser- um período de 75 anos, mostram um aumento
viços ecossistêmicos. da temperatura do ar de 2,1oC; diminuição da
O ciclo hidrológico global pode ser subdi- umidade relativa em 7%; aumento das chu-
vidido em áreas menores para estudar o efeito vas em quase 400 mm (litros por metro qua-
destas escalas regionalizadas na escala global drado); diminuição da intensidade dos ventos;
e vice-versa. O procedimento utilizado sobre aumento do número de horas de brilho solar ou
áreas continentais é a seleção de unidades diminuição da nebulosidade; entre outras alte-
hidrológicas formadas por bacias hidrográficas. rações tais como a redução da garoa e aumen-
A partir destas unidades hidrológicas, pode-se to das temperaturas mínimas do ar (PEREIRA
estudar e entender os processos físicos associa- FILHO et al., 2007).
dos ao fluxo de água na superfície e subsolo e a Em anos recentes, 65% dos eventos de
evaporação de água de volta à atmosfera. Simi- enchentes foram causados pela combinação de
larmente, o fluxo do vapor de água para a atmos- ilha de calor urbana e brisa do mar (PEREIRA
fera e subsequente precipitação de volta à super- FILHO et al., 2004), que produzem tempestades
fície pode ser estudado, porém com uma exceção: com muita chuva, granizo, ventos fortes e des-
a atmosfera não possui fronteiras rígidas. cargas elétricas concentradas sobre a metrópole.
Normalmente, as fronteiras na atmosfera Medidas estruturais para prevenir inundações,
são determinadas arbitrariamente pela dispo- tais como a canalização de rios e a construção
nibilidade de dados e/ou em função da escala de reservatórios, falham todas as vezes que um
do fenômeno gerador de chuva. A vazão dos dado evento de chuva é maior do que aquele utili-
rios é produto da precipitação sobre a bacia zado para dimensionar o projeto hidráulico.
hidrográfica e dos processos físicos na superfí- Um canal projetado para escoar chuvas
cie e solo. Estimativas precisas de precipitação que ocorrem mais ou menos a cada 50 anos
têm importância fundamental para o enten- transborda toda vez que ocorrer um evento de
dimento hidrológico. Por outro lado, a dis- chuva com período de recorrência maior. Nes-
tribuição espaço-temporal do vapor de água, tes casos, medidas não estruturais tais como
entre outras variáveis, modula os processos a utilização de sistemas de alerta reduzem as
dinâmicos e termodinâmicos da atmosfera. fatalidades e perdas materiais.
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 377

Historicamente, o Instituto de Astrono- A conservação dos ecossistemas flores-


mia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da tais do PEFI (Figura 3) permitiu que, no decor-
Universidade de São Paulo (USP) faz medições rer dos anos, as condições físicas e ambientais
de variáveis meteorológicas no Parque Esta- permanecessem praticamente constantes. Isto
dual das Fontes do Ipiranga (PEFI), há quase propiciou uma boa consistência de dados da
90 anos. Até 1930, a sede do Serviço Meteoro- longa série climatológica temporal ali medida
lógico do Estado de São Paulo era o Observa- a partir de 1933, de modo que quaisquer varia-
tório Astronômico e Meteorológico da Capital, ções observadas serão devidas certamente às
situado na Avenida Paulista, onde também variações no clima da RMSP.
funcionava sua Estação Meteorológica Central Na sequência, são apresentadas as prin-
(EMC) (Figura 2). Com o crescimento da cidade cipais características da evolução do clima em
em volta da sede, transferiu-se a mesma para o um ambiente urbano em expansão, com degra-
Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), dação ambiental devido ao crescimento popu-
no bairro paulista da Água Funda, inclusive a lacional e atividades humanas, por meio desta
Estação Central, de modo que foi necessária a série climatológica temporal, no período de
instalação de outra para substituí-la (PEREIRA 1936 a 2005.1
FILHO et al., 2007; 2007b).
Essa nova Estação Central foi instalada
no local onde já havia iniciada a construção
1
A Estação Meteorológica do IAG-USP está na posi-
ção geográfica: latitude = 23º39’ S, longitude = 46º 37’
de um novo Observatório, no centro do citado W e altitude = 799 m. As variáveis meteorológicas
parque, que por ser de propriedade do Estado, medidas são: visibilidade horizontal, nebulosidade,
era uma garantia de manutenção das condições direção e velocidade do vento, pressão atmosféri-
ca, temperatura do ar (seca e úmida), umidade do ar
locais para preservação dos seus ecossistemas (relativa, pressão do vapor e temperatura do ponto de
por tempo indeterminado. A nova Estação orvalho), temperaturas do solo (várias profundida-
Central foi inaugurada em 22 de novembro de des), evaporação, precipitação, radiação solar global
e horas de brilho solar (insolação), além de fenôme-
1932, mas as operações regulares começaram
nos diversos. No período em que não há observador
mais tarde, em 1 de janeiro de 1933 (PEREIRA (0 h às 6 h), os dados são deduzidos de instrumentos
FILHO et al., 2007a; 2007b). registradores completando, assim, o período de 24h.

Figura 2 |
Imagem da RBCV,
com a RMSP ao centro
e localizações da EMC
do IAG/USP, na avenida
Paulista até 1932 (EMC)
e, depois, no PEFI.
Cores marrons, verde
escuro e claro
indicam áreas urbanas,
vegetadas e represas,
respectivamente.
Fonte: Google Earth
(2019).
378 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

oceano. Das massas de ar, em face das condi-


ções locais, dependem todas as características
do tempo e, consequentemente, a variação dos
tipos de tempo que ocorrem durante o ano. As

Figura 3 |
principais massas de ar que atuam na região
Parque Estadual
são: Tropical Atlântica, Polar Atlântica, Tro-
das Fontes do pical Continental e Equatorial Continental. A
Ipiranga,
São Paulo.
fonte de perturbações na circulação geral da
Foto: Rubens Chiri.
atmosfera na região é a massa Polar Atlânti-
Fonte: FV&CP – SP ca que perturba e produz fenômenos, como
(2019). as frentes frias. Antes da chegada das frentes,
sopram na superfície ventos locais de compo-
A RBCV encerra uma população da ordem nente N-NW, com grande intensidade, que pre-
de 25,36 milhões de habitantes (IBGE, 2019); nunciam a invasão do ar polar. A frequência
sua porção central – que corresponde à RMSP maior dessas ondas é na primavera, outono e
– é uma das regiões mais densamente povoa- inverno e são mais raras no verão.
das do Brasil (com 21,73 milhões de pessoas) e A Região Metropolitana da Baixada San-
é a 4ª maior região metropolitana do planeta tista (RMBS), assim como a RMSP, está inte-
(UN-HABITAT, 2016; IBGE, 2019). A metrópole gralmente inserida na RBCV. A Baixada Santis-
paulista abrange, em linhas gerais, a área dos ta é uma região separada da RMSP pela escarpa
depósitos terciários da Bacia do Alto Tietê e de linha de falha geológica da Serra do Mar e
abarca o sítio urbano da cidade de São Paulo, com apresenta características climáticas semelhan-
seus bairros, subúrbios e a zona rural dos cam- tes à da RMSP, apenas com influência maior da
pos, residencial ou agrícola (horticultura), e as presença do mar e da menor altitude. As mas-
grandes e pequenas aglomerações urbanas dos sas de ar são as mesmas, acrescidas da brisa
outros 38 municípios que pertencem à região marítima que atinge com frequência a bacia
metropolitana. Ao redor desta imensa metró- paulistana, trazendo nevoeiros e precipitação.
pole, há um Cinturão Verde com 1,8 milhão de A Tabela 1 mostra as normais climato-
hectares, dos quais 757 mil hectares são ecos- lógicas representativas da RBCV. Nota-se um
sistemas da Mata Atlântica. Outros usos da ter- ciclo anual bem definido dessas variáveis. Por
ra, como áreas cultivadas, residenciais e outras exemplo, a temperatura média do ar varia
áreas verdes, reservatórios de água, infraestru- entre 21,7oC (fevereiro) e 15,1oC (julho), a umi-
tura e solo descoberto, compõem esse território dade relativa 84,5% (março) e 78,7% (agosto),
de 78 municípios (SÃO PAULO, 2010). a precipitação média mensal é máxima em
Na RMSP, a topografia é de planícies alu- janeiro (219,8 mm) e, mínima, em agosto (39,1
viais com meandros divagantes. Um horizonte mm). Esses valores normais têm sido alterados
irregular de colinas baixas vai encontrar limi- em grande parte pelo uso e ocupação do solo,
tes em serras e morros, que chegam a ultrapas- em especial na porção central da RBCV, com
sar 1000 m de altitude, formando barreiras ao acentuado crescimento da área urbana. Estes
norte e oferecendo a ocidente e a oriente obs- aspectos de evolução do microclima são trata-
táculos menores. A parte sul sofre a influência dos nas próximas seções.
da proximidade com o oceano Atlântico do qual A variabilidade da precipitação no leste
o centro da cidade dista menos de 60 km. Na do estado de São Paulo, onde está localizada a
parte sul da região se encontram as represas RBCV, é muito alta. Os campos da precipitação
Guarapiranga e Billings. Considerando-se a anual média e dias chuvosos são mostrados na
posição geográfica da RMSP, cortada pelo tró- Figura 4. Notam-se núcleos de maior precipi-
pico de Capricórnio, predomina um clima tro- tação nas regiões serranas do estado, o maior
pical temperado pela altitude. deles ao longo da Serra do Mar, modulado pela
É indispensável ainda no estudo do clima circulação de brisa marítima e proximidade do
desta região, considerar as posições relativas oceano (PRADO et al., 2007) e o segundo na Ser-
das massas de ar sobre o continente e sobre o ra da Mantiqueira, modulado pela circulação de
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 379

Mês Temperatura UR Vento Precipitação Pressão Insolação Radiação Evaporação


o
C % km h-1 mm hPa h MJ m-2 Mm

Jan. 21,6 83,4 8,7 219,8 923,1 158,4 611,1 56,4


Fev. 21,7 83,8 8,1 207,0 923,8 150,0 535,6 50,6
Mar. 21,0 84,5 7,8 165,0 924,5 168,8 537,4 51,9
Abr. 19,1 84,2 7,8 79,6 926,1 168,5 464,5 48,3
Mai. 16,9 83,7 7,2 64,1 927,3 167,7 397,2 44,8
Jun. 15,8 82,2 7,2 50,7 928,6 162,9 351,5 46,5
Jul. 15,1 80,6 7,6 40,0 929,4 175,6 385,5 52,3
Tabela 1 |
Ago. 16,3 78,7 8,1 39,1 928,6 184,2 448,4 61,9
Valores médios
Set. 17,0 81,3 8,9 77,1 927,1 143,2 456,1 57,0 mensais de variáveis
climáticas:
Out. 18,3 83,2 9,4 125,5 925,2 145,4 544,4 55,1
temperatura, umidade
Nov. 19,3 82,8 9,5 123,3 923,5 157,3 601,0 56,4 relativa, precipitação,
pressão atmosférica,
Dez. 20,5 83,3 9,5 181,3 922,8 154,1 617,9 57,6 insolação, radiação
Ano 18,5 82,6 8,3 1372,5 925,8 161,3 495,9 638,7 solar e evaporação.
Fonte: EM-IAG/USP.
Nota: Período das medições: Temperatura 1933/2007; Umidade Relativa 1936/2007; Vento 1936/2007; precipitação 1933/2007; Pressão
Atmosférica 1936/2007; Insolação 1933/2007; Radiação Solar global 1961/2007; Evaporação Piche Abrigado 1950/2007.

vale montanha. A precipitação decresce em direção ao interior do estado em parte pela queda em
altitude (Figura 4A).
A precipitação média anual é
diretamente proporcional ao seu
desvio padrão. O campo da fração
média de dias chuvosos está mostra-
do na Figura 4B. A região litorânea
apresenta maior fração de dias chu-
vosos do que o interior do estado,
com máximos na região de Ilha Com-
prida e Registro. O campo da fração
de dias chuvosos e o da precipitação
anual média sugerem que a brisa
marítima tenha impacto até cerca de
100 km continente adentro.
A fração de dias chuvosos
decresce de 0,4 para 0,2 da região
litorânea para o oeste do estado de
São Paulo, respectivamente. Similar-
mente, a precipitação média anual
Figura 4 |
Distribuição espacial
varia de 2500 mm na região litorâ-
nea a 1200 mm no extremo oeste do da precipitação média
estado de São Paulo. Estes resultados (A) e fração de dias de
chuva média anual
(B) no estado de São
indicam que essa variação no sentido
Paulo, no período de
do interior para o litoral ocorre em
função do menor número de dias de 1947 a 1997. Escala de
cores indica
acumulação (mm).
chuva do que em relação à diminui-
Fonte: Adaptado de
ção da intensidade média dos siste-
mas precipitantes. Nota-se ainda que Prado et al. (2007).
380 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ao longo da Serra da Mantiqueira a fração média temporal das médias mensais de temperatu-
de dias chuvosos é relativamente pequena quan- ra do ar, umidade relativa, insolação, pressão
do comparada ao total anual médio de chuva, o atmosférica mínima, precipitação e rosa dos
que sugere que a intensidade dos sistemas preci- ventos foram analisadas. Verificou-se que hou-
pitantes nesta região seja maior. ve mudanças significativas no ciclo anual das
Como a maior parte da população encerra- variáveis ao longo das últimas oito décadas com
da pela RBCV (21,7 milhões de pessoas, que cor- aumento da temperatura (+2,1oC), precipitação
respondem a 85,7% da população) está concen- (+ 400 mm), insolação e diminuição da umidade
trada na RMSP (IBGE, 2019), sendo esta parcela relativa do ar (-7%).
a mais afetada pela perda do serviço ecossistê- Entretanto, os extremos de precipitação
mico de regulação climática, esta área central diária e temperatura do ar sofreram alterações
da RBCV foi considerada o ponto focal das análi- menos significativas. Os valores máximos de
ses climatológicas realizadas neste capítulo. precipitação acumulada diária anual medidos
Para a RMSP, as médias diárias de tempera- no PEFI pela Estação Meteorológica do IAG/USP
tura do ar, umidade relativa, intensidade e dire- estão mostrados na Figura 5.
ção do vento, pressão atmosférica, insolação e As temperaturas máximas anuais indicam
precipitação diária da EM do IAG/USP foram uti- uma tendência de aumento ao longo das déca-
lizados nas análises, no período de 1936 a 2005. das em virtude de efeitos locais associados à
Assim, foram obtidas para estas variáveis as ilha de calor urbano da RMSP, com uma tendên-
médias diárias e totais. As análises da evolução cia de diminuição da nebulosidade e aumento

Figura 5 |
Evolução temporal
da precipitação
diária (A) e
temperatura diária
(B) máximas
absolutas anuais
medidas no PEFI
entre 1933 e 2018.
As respectivas
médias e desvios
padrão são 74,3
mm +/- 22,5 mm
e 33,4oC +/- 1,1oC.
Fonte: Estação
Meteorológica
do IAG/USP.
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 381

da incidência de radiação solar. De fato, o recor- Apesar de os resultados indicarem que


de absoluto ocorreu em 2014 durante o período houve um aumento da precipitação anual
de intensa estiagem sob o efeito do sistema de na RMSP da ordem de 400 mm por causa do
alta pressão atmosférica do Atlântico Sul. Tal efeito local de ilha de calor, os parâmetros da
tendência na precipitação máxima diária anu- estatística de extremos de precipitação diária
al é menos evidente ou ausente porque esta foram pouco alterados. Sugere-se que os efeitos
variável depende de outros fatores dinâmicos antrópicos locais são mais significativos sobre
e termodinâmicos locais, regionais e globais. a temperatura do ar máxima horária anual do
Mesmo assim, nota-se que o recorde absoluto que na precipitação máxima diária anual.
de precipitação diária ocorreu em 2009, duran- O aquecimento generalizado da atmosfe-
te um episódio de El Niño. Nos anos subsequen- ra (Figura 6A), decorrente das mudanças cli-
tes os valores máximos de precipitação diárias máticas globais (MCG), tenderia a aumentar a
voltaram ao padrão das décadas anteriores. umidade do ar e, consequentemente, aumentar

Figura 6 |
Projeção de aumento
da temperatura
média global entre
2071 e 2100 para os
hemisférios Norte e
Sul (A) e anomalia
de temperatura da
superfície do mar,
em 05 de julho de
2018 (B).
Fontes: (A) IPCC
(2002); (B) NASA.
382 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

o volume de precipitação, em especial no Hemis- a média global de aumento da temperatura do


fério Sul, onde há maior superfície de oceanos. ar para 2085, neste cenário, seja de de 3.1oC, a
Entretanto, resultados recentes de Pereira Filho Figura 6B ilustra o maior aquecimento espe-
et al., (2018) indicam uma ligeira tendência de rado para o Hemisfério Norte, em relação ao
diminuição da precipitação média anual sobre Hemisfério Sul.
o Brasil, ou seja, uma tendência de diminuição Observa-se, ainda, uma marcante mudança
da umidade associada à diminuição da tem- na pressão mínima diária ocorrida na década de
peratura do ar próximo à superfície terrestre 1970, quando houve uma mudança sazonal, com
onde se concentra a umidade do ar, corroborado mínimas relativas no período de inverno e máxi-
pelo histórico de diminuição de temperatura da mas relativas na primavera e verão; também hou-
superfície do mar, ilustrado na Figura 6B. ve uma queda na insolação diária média no mes-
Essas análises indicam uma tendência mo período. A precipitação média diária mensal
de resfriamento no Hemisfério Sul que pode aumentou significativamente, principalmente no
ser corroborada por meio da temperatura da período chuvoso. As magnitudes das mudanças
superfície dos oceanos Atlântico e Pacífico Sul. de longo período são apresentadas adiante.
Portanto, sugere-se que os fatores antrópicos A Figura 7 apresenta a evolução temporal
locais são mais significativos do que os globais das anomalias de temperatura, umidade relati-
no Hemisfério Sul. va, vento zonal e meridional e pressão. A rápida
O referido cenário é reforçado pelas pro- expansão da área urbana da RMSP até a década
jeções de aquecimento global do Painel Intergo- de 1960 resultou em um aumento da tempera-
vernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), tura do ar sem, necessariamente, um aumento
para o período 2071-2100 (Figura 6A). Embora concomitante da quantidade de vapor de água

Figura 7 |
Evolução temporal
das anomalias de
temperatura do
ar (T), umidade
relativa (UR) (A);
vento zonal (u) e
meridional (v) e
pressão (B),
definidas a partir
das médias anuais
do período de 1936
a 2005 estimadas
com os dados
da Estação
Meteorológica
do IAG USP.
Fonte: Pereira Filho
et. al. (2007).
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 383

próxima à superfície ou, como se sugere, houve Sugere-se que essa mudança esteja relacionada
uma diminuição da quantidade de vapor de água com circulações térmicas induzidas pela ilha de
em virtude da redução das áreas vegetadas. calor, evidenciada na Figura 8.
Na RMSP, os remanescentes florestais De qualquer forma, as anomalias de vento
maiores e mais numerosos se localizam princi- até a década de 1970 traziam ar relativamente
palmente nas áreas de encosta da Serra do Mar seco e frio e, depois desta década, ar relativa-
(MITTERMEIER et al., 1999), em virtude da topo- mente quente e úmido. O aumento de tempera-
grafia acidentada e das dificuldades de utilização tura do ar na RMSP no período de 1961 a 1991
dessas áreas para a agricultura. Fragmentos mais foi maior do que 1,0oC, acima da estimativa
significativos também são encontrados nas re- global de 0,5oC (SHEIN, 2006). Isto sugere que,
giões periféricas, principalmente nas cabeceiras somado ao aumento global da temperatura, hou-
e áreas de proteção aos mananciais (CATHARINO ve um aumento local da temperatura mais sig-
et al., 2006). Na metrópole paulista, a expansão nificativo, que contribuíram para as mudanças
urbana se deu sobre áreas e habitats biologica- climáticas observadas na RMSP.
mente críticos, com alterações severas na forma Análises complementares realizadas com
da paisagem, com consequências sobre suas fun- as séries de dados de temperatura do ar, pressão
ções e usos. Essa expansão envolveu especulação do ar, vento zonal (leste-oeste) e vento meridio-
em terras varzeanas, grilagem de espaços bal- nal (norte-sul), umidade relativa, precipitação
dios, construção de marginais em terraços artifi- e insolação possibilitaram várias evidências.
ciais beiradeiros, com quebras da funcionalidade Além dos ciclos de insolação anual e sazonal
do organismo urbano (AB’SABER, 2004). intensos, foram verificados ciclos de dois a onze
Nessas condições de expansão urbana, o anos com ciclos menos significativos de mais
aumento da temperatura do ar e a manutenção longo prazo (maiores do que trinta anos) – exce-
ou diminuição da quantidade de vapor de água to para a temperatura média do ar, que apre-
têm resultado em um contínuo decréscimo da sentou apenas ciclos mais curtos de dois a sete
umidade relativa do ar, mais significativamen- anos, possivelmente associados ao fenômeno
te a partir da década de 1960. Por outro lado, El Niño (La Niña)/Oscilação do Sul (ENOS). Ou
as anomalias de vento que eram de sudoeste seja, há fatores de mudanças associadas a sis-
até a década de 1970 mudaram para nordeste. temas transientes globais e outros associados

Figura 8 |
Ilha de calor
registrada em imagem
IR do satélite GOES-12
às 1540 UTC de 29 de
março de 2007. Escala
de cores indica
temperatura (oC)
estimada.
Fonte: Pereira Filho
et al. (2007).
384 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

com mudanças locais de origem antrópica, ao alteração climática, de origem antrópica na qual
se considerar, notadamente, o intenso proces- a baixa pressão atmosférica causada pela ilha de
so de urbanização da RMSP, entre 1950 e 2010 calor gera correntes convectivas, causam deslo-
– neste período, a metrópole paulista aumentou camento dos focos de precipitação.
dez vezes, passando de 2 milhões para mais de Esses resultados sugerem que as grandes
20 milhões de habitantes nos últimos 60 anos, cidades tropicais do planeta sofrem mais por
acumulando problemas dramáticos em relação causa da mudança do balanço energético na
à mudança do uso da terra (FLORES et al., 2016). camada da atmosfera próxima do solo. Nessa
Nas áreas urbanas, a introdução de mate- camada limite planetária houve aumento das
riais de superfície, tais como concreto, asfalto temperaturas mínimas, em particular decor-
e ladrilhos, bem como a emissão de calor, de rente da urbanização e eliminação dos ecos-
umidade e de poluentes que produzem a turbi- sistemas naturais e, em menor grau, devido às
dez atmosférica modificam a troca de energia e mudanças globais relacionadas ao aumento
de umidade entre superfície e atmosfera. Com dos gases do efeito estufa. As medições obtidas
frequência, tem-se alteração dramática das demonstram que a densa área urbana da RMSP
propriedades do sistema superfície-atmosfera tende a ser mais aquecida do que o cinturão ver-
(radioativas, térmicas, hídricas e transporte de que a abraça, por causa da menor capacidade
turbulento) que fazem com que as temperaturas térmica das várias estruturas civis em relação
locais do ar e da superfície subam vários graus às áreas verdes (PEREIRA FILHO et al., 2013).
acima das temperaturas dos locais rurais envol- Em um cenário de aumento do contraste de
tórios. Assim, os microclimas urbanos são, em temperatura entre o centro geométrico da área
geral, mais quentes do que seus arredores, para urbana e sua periferia, a tendência é de maior
qualquer hora do dia, nas cidades de latitude concentração de sistemas de tempestades sobre
média (FLORES et al., 2016). Esta situação para ela (Figura 10). Menos precipitação haveria
a RMSP é visualizada na Figura 9. sobre as bacias de mananciais, nas bordas da
Da análise do agrupamento das variáveis RBCV do Planalto. Ainda, enchentes, rajadas de
médias anuais se verificou que o vento é alta- vento e descargas elétricas seriam mais inten-
mente correlacionado com a temperatura média. sas, com o agravamento dos conhecidos impac-
Estas duas variáveis se relacionam com a umida- tos negativos sobre a população da área urbani-
de relativa e, estas, com a insolação. Agrupando- zada da RBCV, em especial, na RMSP e na RMBS.
-se à precipitação e pressão com as demais vari- Eventos intensos de precipitação, rajadas de
áveis, estes resultados sugerem que, embora o vento, descargas elétricas e granizo no período
volume de precipitação diário dependa da circu- de verão e os eventos de intensa poluição e bai-
lação do ar, quantidade de energia solar, tempe- xas umidades no outono e inverno têm impac-
ratura do ar e umidade relativa, a pressão atmos- to significativo na população (PEREIRA FILHO
férica determina o total anual de precipitação. et al., 2004) e sobre os ecossistemas e os servi-
Figura 9 | Este resultado sugere que a intensidade do anti- ços que proporcionam.
Imagem de satélite
(EOS 2008) da
ciclone subtropical do Atlântico Sul influencia o A Região Metropolitana da Baixada San-
RBCV, com RMSP,
total anual de precipitação. O deslocamento des- tista, também integralmente inserida na RBCV,
ao centro (A); te para Oeste deve reduzir as chuvas, enquanto faz limite com o Litoral Norte, Litoral Sul e com
média mensal da
Temperatura da
para Leste tende a aumentar a precipitação. Esta a RMSP. Em relação a seus aspectos físicos,
Superfície Ter-
restre (TST) para
períodos diurnos
(B) e noturnos (C),
em outubro de
2001. A figura (A)
mostra as
localizações de
áreas rurais (r),
centro urbano (u) e
limite (b) da RMSP.
Fonte: Flores
et al. (2016).
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 385

Figura 10 |
Ilustração dos efeitos
da ilha de calor,
provocada pelo
homem (A), na
variabilidade
e localização de
precipitação (B).
Fonte: Elaboração
própria.

destaca-se sua grande fragilidade, caracterizada de chuvas extremas, inundações e alagamen-


por limiares muito baixos de estabilidade física tos dependentes tanto da frequência como da
natural que, constantemente, vêm sendo dimi- intensidade no sistema chuva-vazão-maré asso-
nuídos por ocupação irregular, poluição, desma- ciados aos sistemas atmosféricos regionais
tamento, entre outros fatores (SANTOS, 2017). (NASCIMENTO JUNIOR, 2019).
Por tratar-se de região costeira, o clima é As escarpas da Serra do mar apresentam
altamente associado à interface que se dá entre vales entalhados, bem como elevada declivi-
continente-oceano-atmosfera, cujas manifes- dade e variação altimétrica, o que resulta na
tações podem ser observadas pela ocorrência formação de solos pouco evoluídos e altamente
386 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

instáveis, com suscetibilidade a movimentos o ou resfriamento em pequeno intervalo de


de massa diante da ocorrência de eventos tempo) são favorecidas na região da baixada
pluviométricos intensos ou contínuos, em santista, em função da alternância de estações
especial nos municípios nos quais a faixa de combinada com variações bruscas do ritmo
terra ocupada pela população é bastante pró- e da sucessão dos tipos de tempo (TARIFA;
xima à Serra do Mar (Cubatão, Guarujá, São ARMANI, 2000).
Vicente e Santos). O ambiente tropical úmido A expressiva urbanização observada na
associado a esses aspectos favorece o intempe- RMBS favorece a formação de ilha de calor e a
rismo químico decorrente das condições plu- alta verticalização dos imóveis funcionam como
viométricas, temperaturas elevadas e pressão. barreira para a circulação local, o que influen-
Já as planícies litorâneas se caracterizam pela cia as condições climáticas. Nos municípios de
baixa declividade, pequena variação altimé- Guarujá, Praia Grande, Santos e São Vicente
trica e sedimentos inconsolidados, com des- a verticalização observada na orla da praia
taque para suscetibilidade natural do solo modifica tanto a dinâmica de circulação dos
a inundações e acomodações de terrenos. A ventos como a insolação na praia, desenca-
região se insere em um clima de transição em deando processos que aumentam os riscos
latitude subtropical permanentemente úmido, de instabilidade (SANTOS, 2017). A paisa-
com atividade frontal intensa ao sul e, ao nor- gem litorânea alterada, com destaque para
te, marcado por um período menos úmido, no a densa urbanização, é visualizada na
outono e inverno (SANTOS, 2017). As variações Figura 11.

Figura 11 |
Baixada Santista
e suas áreas
urbanizadas
(em cinza) (A) e a
orla alterada de
Santos (B).
Fonte: Google
Earth (2019).
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 387

As características relacionadas às varia- Trata-se de uma interação importan-


ções atmosféricas abruptas, à ocupação de en- te entre a litosfera, atmosfera, hidrosfera e
costas suscetíveis a movimentos de massa biosfera, mais intensa nas regiões equatoriais
recorrente, à presença de temperaturas médias e tropicais do planeta. As escalas de mudanças
elevadas (22oC), umidade alta e precipitação espaciais e temporais associadas à fonte de
elevada, combinados com a configuração do energia solar estão no intervalo de anos (man-
espaço urbano da RMBS e às desigualdades chas solares) até centenas de milênios (varia-
socioespaciais (deficiência e disparidade de ções orbitais da Terra). As interações mais
infraestrutura pública e de serviços), con- locais e curtas ocorrem quando há mudanças
correm para vulnerabilidade crescente desta nas circulações atmosféricas com impacto nos
região face à perda de serviços ecossistêmicos ecossistemas. Essas mudanças nas circula-
relacionados à regulação climática. ções atmosféricas ocorrem em função da dis-

3 | CLIMA E ECOSSISTEMAS
ponibilidade de energia solar e do estado de
cada um dos cinco componentes sistêmicos
(litosfera, criosfera, hidrosfera, atmosfera e
Os ecossistemas se desenvolvem a par- biosfera).
tir das condições climáticas e de solo. Estu- Por sua vez, os ecossistemas têm um
dos indicaram que há 18 mil anos, na última impacto das condições microclimáticas (como
grande era glacial, quando o planeta estava RBCV) às climáticas regionais (e.g., Amazônia).
mais frio, a Amazônia e seus ecossistemas Os ecossistemas da Amazônia são resultado de
foram reduzidos aos típicos de regiões de radiação solar, temperaturas do ar e chuvas
savanas, com menor diversidade e densida- elevadas, além dos solos. As chuvas na região
de desses, por causa da menor quantidade amazônica resultam do alto transporte de
de água disponível no sistema. Entretanto, vapor de água do Oceano Atlântico. Sem este
resultados mais recentes de Pinaya et al. importante fator ambiental, a floresta ama-
(2019) sugerem que houve uma mudança no zônica seria reduzida a condições mais secas,
regime de precipitação e temperaturas que similares ao nordeste brasileiro por causa da
possibilitaram a propagação de vegetação falta de chuvas. No passado, a área abrangida
típica do sul do Brasil até a Amazônia. De pela RBCV foi caracterizada pela diversidade
fato, em São Paulo há remanescentes da flo- de ecossistemas e vegetação abundante, por
resta Araucária que remonta ao último perí- causa dos solos, chuvas abundantes e radiação
odo glacial. De qualquer forma, a quantidade solar. O vapor de água que produz as chuvas
de vapor de água no ar depende essencial- na RBCV tem origem na Amazônia, da evapo-
mente da temperatura do ar. Quanto maior a transpiração da floresta trazida por circula-
temperatura, maior o estado de agitação mole- ções atmosféricas de Noroeste, e circulações
cular, que permite o maior entranhamento de locais que transportam água do Oceano Atlân-
vapor de água, ou seja, quanto maior a tempe- tico na borda continental por meio da circula-
ratura do ar maior a capacidade deste manter ção de brisa marítima. A região do Pantanal e
maior massa de umidade. Na medida em que os mesmo o Nordeste Brasileiro também contri-
ecossistemas se desenvolvem com a vegetação, buem secundariamente como fontes de umida-
estes alteram as condições climáticas locais. Há de (Figura 12). A análise da razão isotópica do
um aumento da umidade do ar, da oxigenação, oxigênio 16/18 na água de chuva coletada no
uma diminuição do albedo (fração da luz solar interior de São Paulo realizada por Gastmans
incidente refletida pela Terra e sua atmosfera) e et al. (2017) indica três regiões fontes de vapor
da temperatura do ar, maior infiltração de água d'água na Amazônia, Pantanal e Nordeste com
no solo, maior bombeamento da umidade do características mais estratiformes, prolon-
solo de volta para a atmosfera, desde o sistema gadas e de maior volume total de chuva asso-
radicular até ao sistema estomatal na folhagem ciadas à primeira fonte e mais convectiva e
da vegetação. Assim, se estabelece um equilíbrio de curta duração associadas com a segunda e
ecossistêmico enquanto as condições edafo- terceira. Na RBCV há também o transporte de
climáticas persistirem. vapor d'água diretamente do Oceano Atlântico
388 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 12 |
As diferentes
fontes de vapor de
água que
abastecem a
RBCV, vindas
do Nordeste,
Pantanal,
Amazônia e
Oceano Atlântico.
Fonte: Elaboração
própria.

associado com a circulação de brisa marítima. de material particulado foi muito acima do nor-
A razão isotópica do vapor d'água da Amazô- mal e causou alteração nas nuvens de chuva para
nia é similar ao do Oceano Atlântico enquanto nuvens nimbostratus, caracterizada por grande
que a do Nordeste com massa molecular maior extensão vertical e baixa precipitação que redu-
sugere um regime de alta evaporação. O vapor zem a incidência solar na superfície. A Figura
d'água com origem no Pantanal está entre estes 15C (radar) mostra a distribuição de taxa de
dois extremos isotópicos. chuva no momento de maior chuva na Cidade
Recentemente, os ventos de noroeste, que de São Paulo. A baixa radiação solar observada
normalmente trazem umidade da Amazônia naquela tarde (Figura 15D) (fotos) foi mais em
(Figura 13A) e vento (Figura 13B) para a RBCV, decorrência do tipo de nuvem nimbostratus do
trouxeram também material particulado (Figu- que ao material particulado associado.
ra 14C) (espessura ótica) com origem nas áreas A região abrangida pela RBCV é caracte-
de queimada no sul da Amazônia. rizada por um período menos úmido, por causa
Esse excesso de material particulado cau- da diminuição da temperatura do ar, que reduz
sou alterações na microfísica das nuvens e das a capacidade de entranhamento de vapor de
gotas de chuva associadas a uma frente fria que água. Entre maio e agosto, as condições atmos-
se deslocava para RBCV mostrada nas Figura féricas removem umidade da vegetação com
15A (IR) e Figura 15B (VIS) do satélite GOES-16 a queda de folhas com sistema radicular mais
na tarde de 19 de agosto de 2019. A concentração raso. A partir de setembro, com o aquecimento
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 389

Figura 13 |
Campos de vento em
850 hPa (m s-1) (A) e
umidade específica
(kg kg-1) (B).
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em NOAA/ESRL/PSD
(vento e umidade).

Figura 14 |
Espessura ótica da
pluma de material
particulado
proveniente das
queimadas na
Amazônia sobre a
RBCV, em 19 de
agosto de 2019.
Fonte: ECMWF
(espessura ótica).
390 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 15 |
Imagem do
satélite GOES-16
dos canais IR (A)
e VIS (B),
precipitação
(mm h-1) com radar
meteorológico de
São Paulo (C) e
registro fotográfico
(D) às 16h29, de 19
de agosto de 2019.
Fontes: NOAA/
ESRL/PSD; SAISP
(radar).
Fotos: G1 - São
Paulo (2019);
Estadão (2019).

e injeção de umidade no ar, as chuvas se inten- proporciona os serviços ecossistêmicos neces-


sificam, umidificam o solo e permitem o desen- sários à economia e à sustentação da vida na
volvimento de folhagem no dossel da vegetação metrópole, houve uma mudança no microclima
(copa das árvores). Esta por sua vez contribui induzida pela redução, simplificação e remo-
para o aumento da umidade do ar numa suces- ção dos ecossistemas típicos de Mata Atlântica,
são de interações que levam ao pleno funciona- bioma no qual está inserida a RBCV.
mento e desenvolvimento dos ecossistemas. Para compreender as características de
Desde que estas condições foram alte- tempo e clima na região, foi realizada uma aná-
radas ao longo do tempo, com o surgimento lise hidrometeorológica no Parque de Ciência
e crescimento da RMSP na área central e Tecnologia (CienTec/USP), localizado no Par-
RBCV e seu avanço sobre o cinturão verde, que que Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI),
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 391

que indica as condições ambientais originais tempo e o clima da RBCV (Figura 16). Em com-
existentes antes da intensa urbanização ocor- plemento, a Figura 17 mostra os vários sensores
rida na RMSP. As estações meteorológicas instalados no Parque CienTec e na EACH/USP.
instaladas no Parque CienTec e na Escola de Para melhor compreender os resulta-
Artes e Ciências Humanas (EACH/USP) cons- dos obtidos com os sistemas de medição, é
tituem duas unidades de uma rede idealizadas importante observar que se tratam de dados
para o monitoramento da RMSP. Trata-se da de balanço hídrico, temperatura e armazena-
Micronet, rede de 20 estações meteorológi- mento de água no solo, relacionados a elemen-
cas automáticas, idealizada para monitorar o tos básicos do ciclo hidrológico.

Figura 16 |
Imagem da RBCV,
com destaque para
a RMSP e 20 sites
selecionados para
integrar a rede
Micronet de estações
meteorológicas
automáticas; a letra
"P" corresponde às
estações previstas
e a letra “I” para as
áreas com estações
instaladas no PEFI
(Parque CienTec) e
EACH/USP.
Fonte: Elaboração
própria.

Figura 17 |
Cercado da Estação
Meteorológica com o
abrigo meteorológico
no primeiro plano,
pluviômetros no
segundo plano e torre
metálica da Estação
Meteorológica Auto-
mática ao fundo (A);
rede de sensores de
umidade de solo (B); e
sensor de nível do lago
do PEFI (C) instalados
no Parque CienTec.
392 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Em relação aos resultados obtidos com (Figura 18A). Em geral, a evolução da tempe-
os sistemas de medição, a Figura 18 mostra ratura do ar acompanha a do solo. A radiação
o comportamento térmico e hídrico da atmos- solar global e saldo de energia radiante indi-
fera integrado aos do solo e da vegetação no cam um ciclo anual também marcante.
âmbito da Mata Atlântica.2 O saldo de energia positivo varia entre 25
A evolução temporal das médias de W m-2 e 100 W m-2 (Figura 18B), e é devido à
temperatura do solo até 40 cm de profundi- temperatura do solo muito mais alta do que na
dade e temperatura do ar a 1,5 m acima do atmosfera ao longo dos meses. A maior ampli-
solo apresenta um ciclo anual bem definido tude de temperatura ocorre na superfície

Figura 18 |
Evolução temporal
da temperatura do
solo e do ar média
mensal (A) e
energia onda
curta e saldo de
energia (B); chuva
acumulada
mensal (C) e
volume de água
total armazenada
no solo até 3 m de
profundidade (D);
perfil médio,
máximo e mínimo
de umidade no
solo (E) e variação
mensal da
umidade do
solo (F).
Fonte: Elaboração Nota: Unidades e variáveis estão indicadas. Dados da EMA e SOLO do Parque CienTec medidos entre 10/2007 e 12/2008.
própria

As médias mensais de variáveis foram medidas com a Estação Meteorológica Automática e com os sensores de umidade
2

do solo e nível de vazão instalados no Parque CienTec entre outubro de 2007 e dezembro de 2008.
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 393

do solo, em contato direto com a radiação foram escoados superficialmente e 77,9%


solar. Os totais mensais de precipitação indi- evapotranspiraram. (Tabela 2).
cam um ciclo anual que também evoluiu de Esta estimativa contrasta com as reali-
acordo com a temperatura do ar, com pico em zadas na Bacia Amazônica onde a evapotrans-
janeiro e mínimo em julho (Figura 18C). piração corresponde a cerca de 60% do total
A evolução temporal do armazenamento precipitado. Este resultado sugere que a bacia
total da água no solo até 3 m de profundida- do PEFI, dentro da mancha urbana da RMSP,
de (Figura 18D) é modulada pela precipita- esteja em um processo de estresse térmico
ção. Nota-se o impacto da evapotranspiração, permanente devido à ilha de calor urbano. Ou
particularmente no fim do período seco com seja, a diferença de evopotranspiração entre a
o maior bombeamento de água do solo para Amazônia e a RBCV é decorrente de distúrbio
a atmosfera. O perfil médio de umidade do provocado pela urbanização e não por outros
solo (Figura 18E) e a sua variação mensal fatores climáticos e fitofisionômicos.
(Figura 18F) indicam menor armazenamen- De qualquer forma, nota-se que a água da
to até 1 m de profundidade do solo devido aos chuva infiltrada no solo retorna à atmosfera no
efeitos de infiltração e percolação (passagem período seco por meio da evapotranspiração.
de água pelo solo e rochas permeáveis) e a eva- Quando o nível de umidade do solo, particular-
potranspiração da vegetação mais significati- mente próximo à superfície baixa muito, o estra-
va até 1 m de profundidade. O estrato superior to da vegetação com sistema radicular mais raso
da vegetação (árvores) remove umidade de tende a murchar permanentemente. Apenas as
profundidades maiores abaixo do nível freá- árvores com raízes mais profundas e que se uti-
tico. No início do período chuvoso (setembro), lizam da umidade de solo de níveis abaixo de
o armazenamento de água no solo até 1 m de 1 m de profundidade permanecem folhadas nos
profundidade é máximo positivo. períodos secos (inverno). Assim, a estratificação
No fim do período seco (julho) o armaze- vertical da vegetação aumenta a evapotranspi-
namento de água no solo até 1 m de profun- ração nas primeiras camadas do solo, o que con-
didade é mínimo negativa. Estes resultados tribui para maior infiltração e armazenamento
indicam o comportamento térmico e hídrico de água de chuva no período chuvoso.

4 | ILHAS DE CALOR URBANO


da atmosfera integrado aos do solo e da vege-
tação no âmbito da Mata Atlântica. Estes inte-
ragem com os outros componentes do sistema
terrestre de maneira complexa e determinam As ilhas de calor urbano se desenvolvem
o clima regional. Mas, as condições microcli- com o processo de urbanização, no qual os ecos-
máticas são em geral moduladas pela intera- sistemas existentes são diminuídos, simplifi-
ção local entre atmosfera, litosfera, hidrosfera cados ou substituídos por áreas construídas.
(Oceano Atlântico) e biosfera (Mata Atlântica). As ilhas de calor ocorrem em todas as gran-
A microbacia do PEFI foi monitorada des metrópoles do planeta com alta densidade
por meio de medições de precipitação, vazão, populacional, tais como as cidades de São Pau-
transprecipitação e evapotranspiração estima- lo, do Rio de Janeiro, de Nova Iorque, da Cidade
da entre 1999 e 2000. O balanço hídrico indi- do México e de Tóquio, entre outras. As ilhas de
ca um volume total de precipitação de 1290,5 calor na RBCV se desenvolveram ao longo do
mm, com 22,3% interceptado pela vegetação e século 20, com mudanças graduais nas condi-
77,3% que chegou à superfície. Destes, 22,1% ções climáticas.

Componentes do Balanço Hídrico Balanço Hídrico Percentual (%)


Precipitação 1290,5 100
Transprecipitação 1002,1 77,7 Tabela 2 |
Interceptação 288,4 22,3 Balanço hídrico (mm)
da bacia hidrográfica
Vazão 285,6 22,1 PEFI (1999-2000).
Fonte: Castilhano;
Evapotranspiração 1004,9 77,9
Pereira Filho (2001).
394 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Para a RMSP houve um aumento na tem- aquecimento do ar logo acima da superfície. A


peratura média do ar de 2,1oC, elevação essa remoção da vegetação reduz a umidade do ar
muito superior ao aumento da temperatura devido à redução da evapotranspiração. Este
média global do planeta, que foi de 0,5oC, regis- processo é ilustrado pela Figura 20.
trado no período entre 1933 e 2007. O histórico Nas áreas cobertas de vegetação (Figura
dos recordes de precipitação diárias e tempe- 20A), o baixo albedo do dossel da floresta for-
ratura para a cidade de São Paulo entre 1933 e nece energia suficiente para as plantas fotossin-
2018 é apresentado na Figura 19. tetizarem e transpirarem, levando a uma alta
Em ambientes rurais, a energia solar é perda de calor latente que esfria a superfície.
usada no processo de fotossíntese que resulta Nas áreas desmatadas (Figura 20B), o albedo
em produção de oxigênio e vapor de água por mais alto do solo descoberto reduz a quantida-
meio da evapotranspiração. Em ambientes de de energia absorvida na superfície. A perda
urbanos, a radiação solar aquece a superfície de calor latente é reduzida e a superfície aquece,
construída. Por causa da baixa capacidade tér- o processo de remoção da energia é menor. Nas
mica da superfície construída, há um rápido áreas densamente urbanizadas (Figura 20C), a

Figura 19 |
As 10 maiores
precipitações
diárias e
temperaturas
horárias
registradas na
cidade de São
Paulo, medidas
pela Estação
Meteorológica do
IAG/USP, entre
1933 e 2018; estão
indicados o ano
da ocorrência e
respectivo valor.
Fonte: Elaboração
própria.

Figura 20 |
Radiação solar e
refletida (albedo)
e fluxos de calor
sensível e latente
para diferentes
usos e ocupações
do solo: floresta
(A); pastagem (B);
e urbano (C), para
condições de
calmaria.
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em Foley et al.
(2003); Ferreira
et al. (2012).
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 395

radiação solar aquece a superfície construída, Na Figura 23, é possível verificar o


com rápido aquecimento do ar. aquecimento diurno que causou desconforto
A tendência atual de expansão da área térmico e consumo elevado de água (PEREIRA
urbanizada da RMSP para o seu cinturão verde FILHO et al., 2004). Observam-se várias regiões
envoltório concorre para a ampliação do efeito com elevadas temperaturas de brilho no norte
das ilhas de calor e as consequências destas no e sudoeste do estado de São Paulo, na RMSP e
desconforto térmico, hídrico e outros impac- no Vale do Paraíba na imagem das 14h45 UTC
tos diversos associados aos eventos de tempo (Figura 23C). Há ainda forte contraste térmi-
severos que se desenvolvem para neutralizar co sobre o rio Tietê, do centro para o norte do
ou reduzir as ilhas de calor. A ausência de polí- estado de São Paulo, Vale do Ribeira, no Lito-
ticas públicas adequadas neste contexto deve ral Sul de São Paulo e, mais significativamente,
agravar ainda mais os impactos sobre os ser- entre o continente e oceano Atlântico.
viços ecossistêmicos e sobre o bem-estar da Particularmente na RBCV, a maioria dos
população na RBCV. episódios de enchentes está associada ao forte
Atualmente, há inúmeros estudos e expe- aquecimento diurno, convergência induzida
rimentos para quantificar os impactos das ilhas pelo aquecimento e interação com a circula-
de calor no balanço de energia, no balanço hídri- ção de brisa marítima. Somente para o perío-
co e nos ecossistemas, como o Programa Ilhas do entre 2000 e 2004, o número de eventos
Verdes Urbanas, desenvolvido no município de anuais de enchentes relatados foram 9, 15, 17,
Guarulhos (Quadro 1). Entretanto, esses esfor- 13 e 11, respectivamente3. Estes eventos cau-
ços são muito recentes, com uma grande lacu- saram perdas de vidas humanas e materiais.
na quanto ao desenvolvimento de índices para As crianças e idosos foram as vítimas mais
medir os impactos e sua evolução temporal. frequentes dos deslizamentos de terra. As
Estudos de Pereira Filho et al., (2004) mos- enchentes tiveram, ainda, um impacto direto
tram que as chuvas de verão são mais intensas sobre os sistemas de transporte e de distribui-
na RMSP devido aos efeitos de ilha de calor e ção de energia eletricidade.
circulação de brisa marítima. A Figura 23 mos- Trata-se, portanto, de fenômenos atmos-
tra uma imagem no canal infravermelho (IR) féricos de grande relevância para a sociedade
do dia 11 de outubro de 2002, onde se observa e o governo, e requer ações coordenadas contí-
a ilha de calor da RMSP, que apresenta tempera- nuas para mitigar essas perdas e transtornos.
turas acima de 30oC no início da tarde. As tem- A seguir, são apresentadas análises de eventos
peraturas nas bordas da RMSP são pelo menos de enchentes com ênfase aos eventos associados
5oC menor em relação ao centro da ilha de calor com a ilha de calor e brisa marítima. Para a cida-
urbano. Estimativas de chuva acumulada foram de de São Paulo, os eventos de enchentes foram
obtidas na área de abrangência do radar meteo- selecionados a partir de registros jornalísticos
rológico de São Paulo. A precipitação acumula- entre 2002 e 2004. A maioria dos eventos foi
da é obtida da integração temporal das taxas de monitorada em tempo real por meio de dados do
precipitação. A chuva acumulada total foi esti- radar meteorológico de São Paulo, imagens de
mada apenas para os eventos de enchente asso- satélite e dados de altitude e superfície.
ciados com brisa marítima e ilha de calor entre As informações jornalísticas enfatizam
2002 e 2004 (PEREIRA FILHO et al., 2004). apenas os impactos mais significativos das
Para melhor compreender esse fenômeno enchentes, com destaque para o número de
das ilhas de calor e seus reflexos sobre o bem- vítimas fatais, extensão total de congestiona-
-estar humano, destaca-se um estudo sobre mentos, interrupção do fornecimento de ener-
enchentes na RMSP, associadas com ilha de calor gia elétrica, número de pontos alagados, tre-
e brisa marítima. A RMSP é a maior área urba- chos inundados, regiões mais afetadas pelas
na brasileira onde tem havido uma degradação chuvas, fechamento de aeroportos e algumas
ambiental marcante devido à expansão urbana outras informações menos frequentes.
desordenada. Essa mancha urbana tem produ-
zido alterações químicas, energéticas e hídricas
3
Dados meteorológicos da estação meteorológica do
Departamento de Ciências Atmosféricas (DCA) da USP,
na camada limite planetária, que é aquela cama- para os registros de enchentes de grande impacto
da do ar mais próxima da superfície terrestre. ambiental e socioeconômico.
396 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Com uma área de 318 km2 e uma popula- (cores em tons vermelhos) estão naqueles
ção estimada em 1,33 milhões de habitantes setores com ausência de vegetação arbórea,
em 2019 (IBGE), o município de Guarulhos é identificando-se os hotspots de TAS superiores
um dos 39 municípios que compõem a RMSP, a 40oC, como as regiões industriais e o aero-
limitado ao sul e oeste pela cidade de São porto internacional de Guarulhos. Por outro
Paulo. Em uma abordagem ecossistêmica, a lado, foram observados valores da TAS inferio-
partir da análise da Temperatura Aparente da res a 20oC na porção nordeste do município,
Superfície (TAS), verificou-se que as áreas que apresenta melhor cobertura vegetal
do município com maiores temperaturas (Figura 21).

Figura 21 |
Cobertura arbórea
(A) e temperatura
aparente de
superfície
em 2008 (B) e
em 2015 (C) no
município
de Guarulhos.
Adaptado de UnG
LAB GEOPRO
(apud VIEIRA, Classe TAS oC
2017).
Min. Máx. Média Média Média entre tipo de
total solo e média total

Tabela 3 | Corpo d’água 24,84 36,37 28,89 -2,11


Valores da Vegetação arbórea 22,83 38,89 27,36 -3,64
Temperatura A
parente em Vegetação arbustiva/herbácea 23,59 38,97 30,80 31 -0,2
Superfície oC
Área urbana 26,88 40,39 36,39 4,39
(TAS) de acordo
com o tipo de Solo exposto 26,75 39,74 32,56 1,56
cobertura da terra.
Fonte: BALISA Na Tabela 3 é possível observar que os 2 graus entre bairros localizados em um raio de
(2016). maiores valores de TAS são aqueles referentes apenas 1 km. Estes fenômenos microclimáticos
às áreas urbanas, que também apresentaram intensificam a temperatura e provocam descon-
as maiores discrepâncias em relação a TAS por forto à população e agravam as ondas de calor,
tipo de solo e a TAS média. Com base na cor- que podem causar morbidade e mortalidade,
relação entre TAS e cobertura da área ocupada em especial de idosos e doentes com redução
por vegetação, verificou-se que cerca de 94% da capacidade de termorregulação corpórea
dos dados de temperatura podem ser explica- (BOAVENTURA, 2018) As ações do PIV são
dos pela presença ou não de vegetação, assim, desenvolvidas em quatro focos: 1) escolas - mini
os bairros com maiores temperaturas são aque- bosques e telhados verdes; 2) empresas - mini
les mais carentes de vegetação (BALISA, 2016). bosques e telhados verdes; 3) praças, parques
Com o objetivo de nortear a política ambiental e viário - mini bosques, arborização, refloresta-
para conservação e implantação de áreas ver- mento, recuperação de áreas de preservação
des no município, foi editada a Lei municipal permanente, vegetação em vias, canteiros,
6.551, de 24 de agosto de 2009, disciplinando alças e rotatórias; 4) empreendimentos - mini
que, com base em dados de mapeamento ter- bosques, arborização, telhado verde (VIEIRA,
mal por imagem de satélite, deverão ser priori- 2017). Desde a sua implantação em 2009, mais
zadas as regiões para adoção de medidas de de 30 mil árvores foram plantadas em dois anos
combate às ilhas de calor, por meio da intensi- de Programa, por meio de diversos projetos
Quadro 1 | ficação da arborização urbana (GUARULHOS, (Figura 22), como o projeto de paisagismo no no
O Programa Ilhas 2009). Esta política pública implantada em Gua- córrego dos Cavalos; o Programa Ilhas Verdes
Verdes Urbanas rulhos tem o propósito de reduzir as altas tem- nas escolas, que distribui mudas e realiza pales-
do município
peraturas na cidade, provocadas pelas ilhas de tras sobre conscientização ambiental e sobre os
de Guarulhos.
(continuação)
calor, e expressas em uma diferença de quase plantios e sua importância (BALISA, 2016).
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 397

Ademais de amenizar a temperatura, a ar; maior permeabilidade do solo e drenagem


vegetação em área urbana presta outros ser- das águas da chuva; fornecimento de som-
viços ecossistêmicos para a população, dire- bra; embelezamento da paisagem; valores
tamente associados ao bem-estar humano, educativos sobre preservação e conservação
como a redução de gás carbônico, da poluição (VIEIRA, 2017). Em 2010 o PIV foi reconhecido Figura 22 |
do ar e da poluição sonora; barreira de vento como exemplo de política pública pela UNES- Projetos
e poeira; habitat para pássaros e outras espé- CO, com suas ações divulgadas para Argen- implantados pelo PIV,
cies de fauna; aumento da umidade relativa do tina, Chile, Costa Rica e Peru (BALISA, 2016). em Guarulhos.
Avenida Paulo
Facchini (centro),
trecho entre a av.
Tiradentes até a av.
Monteiro Lobato, em
2009 (A) e 2017 (B); e
ilha verde implantada
no Parque CECAP/
SEMA, em 2009, com
temperatura ao sol
registrada de 35oC
(C) e em 2017, com
temperatura de
superfície 17oC,
registrada à
sombra (D).
Fonte: Vieira (2017).

Figura 23 |
Temperatura de
brilho do canal IR do
satélite GOES-8 em 11
de outubro de 2002.
Tons escuros indicam
temperaturas mais
altas e, tons mais
claros, mais baixas.
Contorno geográfico
do Estado de São
Paulo está indicado
em preto, RBCV em
contorno branco.
Horários em UTC.
Fonte: Pereira Filho
et al. (2004).
398 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Os eventos de enchentes associados à levantamento foi realizado por meio de repor-


ilha de calor e circulação de brisa marítima tagens do Jornal Folha de São Paulo (FSP), dados
foram utilizados para caracterizar a distribui- do Centro de Gerenciamento de Emergências
ção espacial e distribuição de frequências de (CGE) da Prefeitura do Município de São Paulo
taxas de precipitação mais e menos intensas, (PMSP), do radar meteorológico de São Paulo e
associadas com brisa marítima. Estes perfa- da Estação Meteorológica do Departamento de
zem 65% do total de eventos do período ana- Ciências Atmosféricas da USP.
lisado. A Tabela 4 mostra eventos meteoroló- As datas dos eventos em azul correspon-
gicos e seus impactos na cidade de São Paulo dem a eventos de ilha de calor e brisa maríti-
(PEREIRA FILHO et al., 2007a; 2007b). Esse ma, num total de 65% dos eventos de enchente

Data FSP VF PA RVF PCR DT TAI PMax Norte Sul Centro Leste Oeste RADAR BM TMax Td Max

24/03/2002 sim 21 sim sim sim sim sim FF 24.3 20.7

07/07/2002
sim sim sim FF 18.1 10.0

20/09/2002 sim 23 sim 198 39.5 sim sim sim sim sim FF 25.8 18.2

29/10/2002
sim 8 80 33.5 sim sim sim 32.4 21.2

28/11/2002 sim 51 sim 154 sim 81.0 sim sim sim sim 32.8 22.9

01/12/2002 sim 17 sim sim sim sim sim 33.5 20.4

17/12/2002 sim 2 41 93 sim sim sim sim sim 29.2 21.1

02/01/2003
sim 23 sim sim sim 32.3 21.6

03/01/2003 sim 37 sim 15 sim 113.0 sim sim sim 28.6 21.1

16/01/2003
sim 30 sim 66 sim sim sim sim 28.7 19.1

21/01/2003
sim 9 sim sim sim 29.7
22.7

27/01/2003 sim 8 sim sim sim FF 24.4 19.7

28/01/2003
sim 69 sin sim sim FF 23.5
20.4

17/02/2003
sim sim sim FF 25.2
20.0

03/03/2003
sim 29 sim sim sim 33.7
23.2

05/03/2003
sim 24 60 sim 73.0 sim sim sim 29.7 21.8

07/03/2003
sim 36 sim 129 sim sim sim
30.2
21.4

09/10/2003 sim 19 sim 162 sim sim sim 30.4 18.9

17/11/2003 sim sim 89 sim JJ 28.1 19.4

23/12/2003 sim 11 128 sim sim sim FF 27.5 19.8

12/01/2004 sim sim 98 sim sim sim sim 27.9 19.5

23/01/2004
sim 3 20 sim 147 sim sim sim sim 27.8
20.1

30/01/2004 sim 33 sim 151 sim 62.4 sim sim sim sim 31.3 20.1

31/01/2004
sim 19 32.7 sim sim sim
30.8
19.1

02/02/2004
sim 47 sim 85 65.0 sim
sim sim sim 32.3
22.7

Tabela 4 | 04/02/2004
sim 32 sim 73.3 sim sim sim 32.6 21.0
Eventos severos 19/02/2004 sim 14 sim 106 sim 43.7 sim sim sim 32.6 18.3
na cidade de São
22/02/2004
sim 26 sim sim FF 23.4
20.2
Paulo, entre 2002
e 2004. Fonte: 04/04/2004
sim 15 sim sim
sim sim JJ 25.8
18.4
Pereira Filho
06/04/2004
sim 291 142 sim 79.5 sim sim sim sim 26.3 20.6
et al. (2007a;
2007b). 21/04/2004
sim 1 13 sim sim sim sim sim 25.2 19.8

Nota: A legenda acima indica, da esquerda para a direta, a data do evento (ano, mês, dia), disponibilidade de registro jornalístico da FSP,
número de vítimas fatais (VF), pontos de alagamento (PA), ocorrência de rajadas de vento forte, pico de congestionamento registrado (PCR)
em km, ocorrência de deslizamento de terra (DT), de transporte aéreo interrompido (TAI), precipitação máxima (Pmax) em mm, regiões da
PMSP atingidas (Norte, Sul, Centro, Leste e Oeste), disponibilidade de dados de radar (RADAR), ocorrência de brisa marítima (BM), tempe-
ratura do ar máxima (Tmax) e temperatura de ponto de orvalho máxima (Td max) em oC. Os símbolos JJ e FF se referem a eventos de jato de
altos níveis e frente fria, respectivamente. Fonte: Pereira Filho et al. (2004).
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 399

no período. O monitoramento da brisa maríti- A Figura 24 mostra a evolução temporal


ma com o radar MXPOL e com a rede Micronet de variáveis meteorológicas de 18 eventos de
(ainda não implantada) permitem uma ante- enchentes associadas à brisa marítima e ilha
cipação de trinta minutos a duas horas antes de calor (Tabela 4). Mais da metade dos even-
mesmo da formação das tempestades, o que tos está associada com temperatura do ar aci-
pode auxiliar na mitigação de tais eventos. ma de 30oC no período da tarde. A maioria dos
Utilizaram-se dados meteorológicos da eventos de chuvas intensas está relacionada com
estação automática do DCA/ USP, localizada na temperaturas de ponto de orvalho acima de 20oC
zona Oeste da RMSP. Obteve-se a temperatura antes do início da chuva. Nota-se também uma
do ar e temperatura de ponto de orvalho máxi- diminuição da umidade do ar entre o início da
ma. Os eventos com penetração de brisa foram manhã e meio da tarde quando da chegada da
identificados a partir dos dados de direção do frente de brisa. Esta diminuição é causada pela
vento, pressão e temperatura do ar e tempera- maior mistura vertical do ar devido à expansão
tura de ponto de orvalho. Estimativas da chuva da camada limite planetária (CLP) pelo aque-
acumulada foram obtidas na área de abrangên- cimento radiativo diabático. Os ventos são em
cia do radar meteorológico de São Paulo. geral de noroeste e nordeste e giram para sul
Os dados de chuva estimada com radar e sudeste após a penetração da frente de brisa.
meteorológico possuem resolução espacial Esta pode ser também identificada pela mudança
de 2-km x 2-km e temporal de 5 minutos. As da tendência de baixa para alta pressão. A queda
taxas de precipitação são interpoladas na alti- da pressão em geral varia em torno de 3 hPa.
tude de 3 km e armazenadas com 16 níveis de A intensidade do vento aumenta em geral
intensidade entre 1 e 100 mm h-1. A chuva acu- entre a manhã e fim da tarde devido à mistu-
mulada é obtida da soma das taxas de precipi- ra vertical de momento da atmosfera acima
tação ao longo do tempo. As acumulações de da CLP. Portanto, a característica mais signi-
chuva diária foram realizadas em 0000 UTC ficativa é o aumento de umidade do ar devi-
do dia e 0000 UTC do dia seguinte.4 do à brisa marítima. A mistura de ar urbano

Figura 24 |
Evolução temporal
de variáveis
meteorológicas de
18 eventos de
enchentes
associadas à brisa
marítima e ilha de
calor.
Fonte: Pereira Filho
et al. (2007a; 2007b).
Nota: Evolução temporal da temperatura do ar (vermelho), temperatura de ponto de orvalho (rosa), pressão atmosférica (laranja), precipita-
ção acumulada (azul), direção (amarelo) e intensidade do vento (verde) dos 18 eventos de enchentes associadas com brisa marítima e ilha
de calor. Dados medidos com a estação meteorológica do DCA. Unidades indicadas no gráfico. Fonte: Pereira Filho et al. (2004).

Ressalta-se que a qualidade das estimativas de chuva acumulada é afetada por erros inerentes ao radar meteorológico.
4

Utilizaram-se nas análises de eventos de enchentes e de ilha de calor sequências de imagens do satélite GOES-8 do canal
IR obtidas no laboratório de sinótica MASTER do DCA. Estas imagens possuem resolução espacial de 4 km x 4 km e
permitem o monitoramento espaço-temporal das temperaturas de brilho da superfície na ausência de nuvens, e destas,
quando presentes.
400 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

relativamente quente e seco com ar relativa- FILHO; NAKAYAMA, 2001). Por último, nota-
mente frio e úmido oceânico, além do empuxo -se também que as chuvas mais intensas estão
gerado pela frente de brisa, resultam numa sobre o continente, padrão típico de verão.
desestabilização do ar próximo à superfície, A Figura 26 apresenta informações
que ascende até a tropopausa impulsionada similares, exceto para a distribuição espa-
pela liberação de calor latente. Essas células cial de frequências de taxas de precipitação
profundas geram também correntes descen- abaixo (direita) e acima (esquerda) de 10 h-1
dentes intensas e frentes de rajadas. para todos os 18 eventos de enchentes asso-
A maioria dos eventos com quedas de ciadas com brisa marítima e ilha de calor.
árvores devido a rajadas de ventos intensas Novamente, as frequências de ambas as cate-
está associada com eventos de enchentes devi- gorias é maior sobre a RMSP. O núcleo de alta
do à brisa marítima e ilha de calor. De fato, frequência de chuvas intensas na RMSP é até
todos os casos de interrupção no fornecimento três vezes maior do que o das áreas vizinhas.
de energia elétrica no período analisado estão Ou seja, nos casos de enchentes causadas
associados com quedas de árvores sobre a por brisa marítima e ilha de calor há maior
rede elétrica. A distribuição espacial das célu- probabilidade de eventos extremos sobre a
las convectivas e a distância entre as mesmas RMSP, especialmente sobre a região Leste da
podem organizar outras células convectivas cidade de São Paulo.
por meio da colisão das respectivas frentes Supondo-se que a umidade não deva variar
de rajadas (PEREIRA FILHO et al. 2002). A muito ao longo da frente de brisa em toda exten-
Figura 25 mostra a distribuição espacial de são da costa, o núcleo de maior precipitação é
chuva acumulada nos 18 eventos de enchentes. devido ao maior empuxo vertical e concomi-
Nota-se um núcleo de maior acumulação coin- tante convergência próxima à superfície pro-
cidente com a área da RMSP. duzida pela ilha de calor. Assim, o aquecimento
Há um alinhamento dos núcleos de alta devido à ilha de calor induz maior precipitação
acumulação paralelo à costa da Serra Mar, sobre a RMSP. A baixa capacidade de infiltração
uma outra característica dos eventos de chu- da RMSP resulta em enchentes e inundações. A
va associados com brisa marítima. As acu- frequência maior de chuvas intensas na região
mulações de chuva decrescem rapidamente leste da cidade de São Paulo é devida, em geral, à
para além de 120 km do radar meteorológico predominância de ventos de Noroeste nos níveis
em virtude do efeito da distância (PEREIRA médios da atmosfera (BAIK; CHUN, 1997). A
maior frequência de chuvas menos intensas
sobre a região costeira do litoral do estado de
São Paulo indica que alguns sistemas se deslo-
cam para sudeste na fase de decaimento. A con-
figuração circular no mapa de frequência das

Figura 25 |
chuvas menos intensas indica o efeito de pre-
Distribuição
enchimento do feixe do radar para os sistemas
espacial de chuva precipitantes mais distantes do radar meteoro-
acumulada
estimada com o
lógico na fase de decaimento.
radar
Uma média de 13 eventos de enchente por
meteorológico de ano ocorreu entre 2000 e 2004; um número
São Paulo, para bastante elevado. Esta alta probabilidade de
18 eventos de
enchentes
enchentes na RMSP requer medidas estrutu-
associados com
rais e não estruturais para mitigar os impac-
brisa marítima tos de tais eventos. Uma medida não estrutural
e ilha de
calor na RBCV.
importante é o uso de sistemas de monitora-
Nota: Escala de cores indica total de chuva (mm). Estão indicados mento e previsão do tempo. Estes sistemas se
os contornos geográficos de São Paulo, Sul de Minas Gerais e Rio utilizam de densa rede de estações meteoroló-
de Janeiro. Circunferência indica o raio de abrangência do radar
meteorológico de 240 km. Latitudes e longitudes estão também
gicas, radares meteorológicos, com maior sen-
indicadas. Fonte: Pereira Filho et al. (2004). sibilidade para a detecção dos estágios iniciais
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 401

de formação dos sistemas precipitantes e, ain- relação aos eventos analisados entre 2000 e
da, a utilização de modelos numéricos de altís- 2004 acima descritos.
sima resolução espacial para uma maior ante- A Tabela 5 mostra a ocorrência mensal de
cipação dos eventos de chuva intensa. Estudos pontos de alagamento na cidade de São Paulo e
hidrológicos e de modelagem numérica de a Tabela 6 os totais mensais de chuva no perío-
mesoescala na RMSP podem ser obtidos em do chuvoso (novembro do ano a abril do ano
Barros et al. (2004) e Hallak et al. (2004). seguinte) entre 1998/1999 e 2010/2011. Em
O levantamento atualizado de eventos geral, o número de alagamentos está correla-
reportados pelo Jornal Folha de São Paulo cionado com os totais de precipitação mensal.
até 2012 indica a ocorrência de 237 eventos Nota-se que houve um aumento de alagamen-
no período ou uma média de 18 eventos de tos anos de 2010 e 2011 no mês de janeiro por
enchentes e deslizamentos por ano na cidade causa do aumento do total de precipitação do
de São Paulo. Assim, houve um aumento em mês nestes dois anos.

Figura 26 |
Distribuição espacial
da frequência (%) de
chuva acumulada
chuvas acima (A) e
abaixo (B) de 10 mm
h-1 para todos os 18
eventos de enchentes
associadas com brisa
marítima e ilha de
calor na RBCV. (Tabela
4 e Figura 23)
Fonte: Pereira Filho
et al. (2004).

Mês
Período TOTAL
Nov Dez Jan Fev Mar Abr
1998/1999 7 163 175 467 240 29 1081
1999/2000 37 93 403 206 94 3 836
2000/2001 109 217 239 177 248 24 1014
2001/2002 69 186 249 83 265 35 887
2002/2003 208 181 324 140 143 22 1018
2003/2004 31 67 149 160 58 86 551
2004/2005 174 162 331 105 162 138 1072
2005/2006 115 197 378 58 378 19 1145
2006/2007 225 261 69 260 184 51 1050
2007/2008 90 85 217 192 86 66 736
2008/2009 96 137 245 210 120 11 825
2009/2010 114 270 537 377 150 48 1496 Tabela 5 |
Ocorrência mensal
2010/2011 83 194 581 324 39 41 1262 de pontos de
alagamento na
Média 104 170 300 212 167 45 998
cidade de São Paulo.
402 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO


Precipitação mensal e anual (mm)
Período TOTAL
Nov Dez Jan Fev Mar Abr
1998/1999 33,4 191,3 244,5 339.4 157,1 44,9 1010,6
1999/2000 70 115,4 286,1 286,2 119,8 3,6 881,1
2000/2001 206.9 249,8 180,1 176,4 204 33,3 1050,5
2001/2002 155,9 198,1 265,9 169,8 220 41,9 1051,6
2002/2003 182,5 203 269 129,7 134,9 46,4 965,5
2003/2004 84,4 117,2 207,3 235.1 111,3 127,3 883,2
2004/2005 183,3 159,4 290,2 116,2 167,3 81 997,4
2005/2006 78 200,8 277,8 137,4 341,6 43,5 1079,1

Tabela 6 | 2006/2001 217,2 221,8 131,2 211,3 144,9 70,7 997,1


Precipitação 2007/2008 152,8 171,8 242,6 172,1 101,3 93,1 933,7
mensal e anual
(mm) para a 2008/2009 101,6 123,6 246,4 184,3 115,5 46,2 817,6
cidade de São
2009/2010 118,2 260,4 461,3 243,5 167,9 104 1415,3
Paulo para o
período de 2010/2011 125 239,9 412,5 239 73,4 101,4 1191,2
1998/1999 e
Média 136 189 270 203 158 64 1021
2010/2011.

A partir de 2012, houve uma diminuição chuvas, há um aumento de doenças cárdio-


de eventos de enchente, alagamento e desliza- -respiratórias com de vítimas fatais por causa
mento, mais marcante em 2014, por causa da da poluição do ar urbano com as suas múlti-
seca provocada por condições atmosféricas plas fontes em situação de baixa dispersão de
(alta pressão) e oceânicas (anomalias frias) de poluentes.
grande escala. Naquele período, os volumes de Na contextualização histórica e configu-
reservação de água para abastecimento urba- ração socioespacial do litoral santista, des-
no na RBCV diminuíram tanto que houve rodí- taca-se a fundação de São Vicente, em 1532,
zio de abastecimento e severas restrições ao primeira cidade organizada no país e a cria-
consumo. Destaca-se que a rápida diminuição ção da RMBS, em 1996. O crescimento signi-
das reservas de águas foi causada pelo aumen- ficativo da metrópole santista entre 1940 e
to do consumo em razão do calor excessivo da 2000 (cerca de 700%), decorrente tanto das
ilha de calor da RMSP e, concomitantemente, atividades do pólo petroquímico de Cubatão
as temperaturas elevadas nas bacias hidrográ- e do Porto de Santos, como às melhorias na
ficas dos sistemas de reservatórios da SABESP infraestrutura de transportes que favore-
aumentaram a evaporação nos espelhos d´água cem a ligação com a RMSP. Dos nove municí-
das represas e da transpiração da vegetação pios que atualmente compõem a RMBS, três
nos seus entornos. se formaram a partir do desmembramento
Assim, a RMSP é cada vez mais vulnerá- de Santos (Guarujá, 1934; Cubatão, 1948;
vel a situações de excesso e escassez de preci- Bertioga, 1991); um a partir de São Vicente
pitação com enchentes em um extremo e secas (Praia Grande, 1964) e dois a partir de Ita-
no outro, respectivamente. Esta última tem nhaém (Peruíbe e Mongaguá, em 1959), no
tido um impacto sócio econômico muito maior que se observa o crescimento regional a par-
por afetar toda a sociedade. Por outro lado, em tir de Santos e São Vicente, municípios mais
situações mais próximas da normalidade de centrais. Com a imigração e o crescimento
precipitação e temperatura no período chuvo- econômico da região, intensificaram-se o uso
so, aumenta-se o risco da incidência de doen- e ocupação do espaço sem o necessário pla-
ças infecciosas causadas pelo aedes aegypti, nejamento e ordenamento territorial, o que
conforme estudo realizado por Karam et al. levou a problemas urbanos como impactos
(2016). Ainda, no período de outono e inverno, ambientais e distribuição desigual da popu-
com a diminuição da temperatura do ar e das lação no espaço (SANTOS, 2017).
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 403

Em uma análise de desastres naturais Fortes rajadas de vento de até 88 km h-1


relacionados a eventos climáticos na Baixada provocaram a queda de árvores na metrópole
Santista, verificou-se que a RMBS apresenta santista e da marquise de um posto de com-
histórico de diversas ocorrências calamitosas, bustíveis em Santos, em 2018. A maré alta,
que decorrem tanto de episódios pluviométri- com elevação de até 1,8 m na Baía de Santos e
cos extremos, como de eventos considerados mais de 2 m no interior do Estuário, somada às
dentro do habitual, mas que deflagram impac- chuvas moderadas, provocou alagamentos em
tos significativos em função da desestrutura- diversas regiões. Em 28 de abril de 2019 o tem-
ção socioespacial. Entre 1980 e 2015, foram poral que atingiu a Baixada Santista provocou
identificados 12.613 registros de impactos, a desabamentos, interrupção no fornecimento
maioria concentrada no setor central da Bai- de energia elétrica, queda de árvores provo-
xada Santista, especialmente Guarujá, Santos cando obstrução de vias públicas e vítima fatal
e Cubatão. Estes impactos afetaram mais de 50 registrada no município de São Vicente. Os
mil pessoas, sendo cerca de 17 mil em Peruíbe municípios de Santos, São Vicente e Praia Gran-
e mais de 16 mil no Guarujá (Figura 27). de registram o maior número de ocorrências,

Figura 27 |
Número de danos
causados por eventos
severos na RMBS,
registrados por
município (1980-2015).
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em Santos (2017).
404 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

com rajadas de vento que chegaram na Ponta Os serviços ecossistêmicos na RBCV


da Praia a 150 km h-1 (Figura 28). foram degradados ou reduzidos na proporção
Estas ocorrências ilustram que, com o cres- do crescimento e expansão da RMSP. A chuva
cimento contínuo da população urbana na RBCV, na bacia do Alto Tietê, antes da degradação do
há um potencial risco de diminuição dos servi- ambiente, era armazenada no solo, escoada
ços ecossistêmicos com perda maior da qualida- pelo sistema de drenagem e evapotranspira-
de de vida, e de perdas materiais e humanas de da da vegetação para a atmosfera. A água era
toda a população. Políticas públicas apropriadas utilizada pelos ecossistemas para a sua própria
estruturantes são necessárias e urgentes à luz sustentação e, estes em contrapartida, devol-
dos crescentes impactos antrópicos na RBCV de viam-na na forma de evapotranspiração para a
cunho econômico às custas da sustentabilidade atmosfera e produção de biomassa a partir da
ambiental e da própria sociedade. energia solar disponível.

5| SERVIÇO ECOSSISTÊMICO
O ambiente assim estabelecido provia

DE REGULAÇÃO CLIMÁTICA E
água, alimento, energia e materiais para o
desenvolvimento humano. Outros benefícios

BEM-ESTAR HUMANO
sistêmicos associados eram uma atmosfera
sem poluentes antropogênicos, temperaturas
amenas, cursos de água limpos, reservas de
As interações dos componentes do sis- água naturais, harmonia e beleza ambiental,
tema terrestre litosfera, criosfera, hidrosfe- entre outros serviços importantes para a saú-
Figura 28 |
ra, atmosfera e biosfera produzem ambientes de, lazer e bem-estar humanos. Este quadro foi
Registros
e ecossistemas diversos. Na escala local, o se transformando ao longo do tempo para um
fotográficos de microclima, determinado pelos componentes cenário com poluição do ar, poluição das águas
impactos
relacionados a
do sistema global, favorece o desenvolvimento superficiais e subterrâneas, poluição sonora,
eventos climáticos
de certos tipos de ecossistemas e seus serviços poluição visual, com degradação e diminuição
na RMBS: queda disponíveis para regulação do microclima e e desaparecimento dos ecossistemas originais.
de marquise do bem-estar dos seres vivos, em particular o
de um posto de
Nestas condições, a população está mais
combustíveis em
bem-estar humano. exposta aos riscos ambientais advindos do
Santos (A);
maré alta e
ressaca em
Santos (B);
desabamento do
teto do shopping
de Praia Grande
(C); árvore que
caiu sobre dois
ambulantes, na
Praça Carlos
Antonio Menon,
em São Vicente
(D); queda de
árvore com
destruição de
calçada em
Santos (E).
Fotos: Marcela
Pierotti/G1 (A);
Francisco Arrais/
Prefeitura de
Santos (B);
Reprodução (C);
Bruno Maraccini
(D); Vanessa
Rodrigues (E).
Fonte: G1 Santos
e Região (2018;
2019).
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 405

Quadro 2 |
Estudo de caso:
O Parque Estadual das
Fontes do Ipiranga.

Figura 29 |
Imagem aérea do
Parque Estadual das
Fontes do Ipiranga,
com a localização do
Parque CienTec, em
São Paulo.
Fonte: Google Earth.
Os estudos realizados no Parque Estadual das Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, que surgiu no
Fontes do Ipiranga (Parque do Estado), em um ambien- século 19 com o objetivo de proteger as nascentes do
te de Mata Atlântica original da RBCV, indicam uma Riacho Ipiranga. No Parque do Estado, foi construído
redução do escoamento superficial em 400% em rela- em 1928 o Observatório de São Paulo e, neste mesmo
ção a um ambiente urbanizado. Ainda, temperatura espaço, a USP criou em 2001 o Parque CienTec, que se
do ar 10% mais baixa, redução das chuvas em 30% e tornou uma das reservas ecológicas da Universidade
aumento da umidade relativa em 10%, além da maior de São Paulo, em 2012. Além do Parque CienTec e do
oxigenação do ar e bombeamento de água do solo Observatório de São Paulo, o Parque do Estado abriga
para a atmosfera, com aumento da complexidade e o Jardim Botânico e o Jardim Zoológico.
diversidade dos ecossistemas.
Portanto, a ampliação de áreas verdes tende a
reduzir o escoamento superficial, com redução do
impacto das enchentes, aumento da capacidade de
infiltração, menor amplitude térmica e menor efeito de
ilha de calor. As ilhas verdes reduzem a intensidade
das ilhas de calor. Essas, nos casos mais significativos
de verão, aumentam a profundidade das tempestades
em 50%. Este aumento, em geral, eleva a probabilida- Figura 30 |
de de chuvas mais intensas com rajadas de vento mais Vista aérea do Parque
fortes e ocorrência de granizo. Tais aumentos resultam Cientec/USP, localizado
em mais alagamentos, enxurradas, enchentes, quedas no Parque Estadual das
de árvores, danos a equipamentos elétricos e eletrôni-
Fontes do Ipiranga.
cos, comprometimento de sistemas de sinalização; os
Foto: Monolito Nimbus.
impactos mais severos relacionam-se à perda de vidas
Fonte: SANTOS (2017).
e de bens materiais.
O retorno às condições originais na RMSP é impra-
ticável. Mas, é possível ampliar as áreas verdes por
meio de programas e de leis, tais como o dia da cons-
ciência da arborização, já estabelecido por lei estadual.
Sugere-se ainda reduzir a velocidade de aumento da
urbanização por meio de planos diretores que incorpo-
rem índices e metas ambientais mais objetivos e com
base em medições hidrometeorológicas, de qualidade
do ar e cartas geotécnicas de riscos aos ecossistemas Figura 31 |
e aos respectivos ambientes. Sugere-se também a Entrada do Parque
educação ambiental nos níveis fundamental e médio, Cientec/USP.
em especial com visitas a ambientes degradados pela Foto: Marcos
urbanização, como a zona leste de São Paulo, e em Santos/USP Imagens.
espaços com os remanescentes de Mata Atlântica do Fonte: SANTOS (2017).
406 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 32 |
Áreas de estudo
sobre potencial
da arborização
viária na redução
do consumo de
energia, na cidade
de São Paulo.
Fonte:
Velasco (2007).

Pesquisa feita por Velasco (2007) investigou na chegando a diferenças de até 2,14oC entre áreas. Tal
cidade de São Paulo, o potencial da arborização viária fato corrobora com diversas pesquisas que confir-
na redução do consumo de energia elétrica. Por meio mam que um ambiente com maior presença de vege-
de ferramentas de geoprocessamento, mapas climáti- tação altera o microclima pela atenuação da radia-
cos e aferição a campo, foram definidas três áreas na ção solar pela copa das árvores, reduzindo a fração
cidade de São Paulo (SP) diferenciadas entre si quan- de radiação que chega à superfície, tal como o asfal-
to a presença de vegetação. Nessas três áreas, foram to, por exemplo.
coletados e analisados dados relativos à temperatura, A área com maior porcentagem de cobertura
umidade, consumo de energia elétrica, vegetação viá- vegetal foi a que apresentou menores valores de
ria com o objetivo de estabelecer relações entre consu- graus-hora de calor o que, em outras palavras,
mo de energia, presença de aparelhos de refrigeração seria a área que teria menor necessidade de refri-
e vegetação viária. Também foram aplicados ques- geração artificial. Desta forma, o uso de vegetação
tionários aos moradores das residências estudadas. – seja em calçadas, quintais, praças e parques –
Por fim, elaborou-se uma estimativa de graus-hora de colabora para a amenização da temperatura do ar
Quadro 3 | calor (necessidade de refrigeração) a qual foi relacio- nas cidades, reduzindo a necessidade de refrige-
Estudo de caso: nada com os dados coletados. ração artificial. Por consequência, a menor queima
Potencial da O estudo comprovou que na área com maior de combustíveis fósseis para geração desta ener-
arborização viária
cobertura vegetal a temperatura do ar foi menor gia, reduz a emissão de gases de efeito estufa para
na redução do
quando comparada a áreas com menor vegetação, a atmosfera.
consumo de
energia elétrica.

desenvolvimento urbano. Os mais graves se con- urbano, como observado em setembro de 2002,
centram na primavera e verão com maior ocor- durante um denominado veranico com menos
rência de chuvas mais intensas e localizadas, chuvas, temperaturas elevadas e baixa umi-
com rajadas fortes de vento, descargas atmosfé- dade do ar. Recentemente, a escassez hídrica
ricas, granizo, entre outras. As chuvas intensas brasileira de 2014, afetou atividades produti-
são rapidamente escoadas pela superfície e for- vas relacionadas do abastecimento urbano à
mam enxurradas, que se acumulam nas partes geração elétrica. Para a região sudeste do país
mais baixas e produzem inundações ou escoam e, em especial, para a RMSP, houve redução da
para os córregos e rios com cheias e enchentes. precipitação, remoção de umidade da vegeta-
O saneamento básico limitado faz com que as ção e dos solos e aumento da evaporação e da
águas das chuvas sobre as regiões urbanas se evapotranspiração. Como os mananciais da
transformem instantaneamente em carga difu- região também são utilizados para o abasteci-
são altamente poluída pelo lixo e esgoto. mento urbano, a menor precipitação associada
Esta situação reduz a oferta de água, além à maior evaporação e ao aumento do consumo
de aumentar e agravar os problemas de saúde em decorrência do aumento da temperatura do
pública relacionados às doenças transmitidas ar, provocou o rápido crescimento do déficit
pela água. Atualmente, cerca de 50% da água hídrico e a crise de abastecimento de água na
consumida na RMSP vem de outras bacias peri- RMSP (PEREIRA FILHO, 2015).
féricas distantes, o que aumenta o custo desse Isto decorre da diminuição de áreas
importante serviço ecossistêmico. As altas verdes que proporcionam serviços ecossis-
temperaturas, mesmo no inverno, resultante têmicos de regulação hídrica, térmica, da
da ilha de calor e pelo ar mais seco induzem qualidade do ar, da ventilação, da umidade e
a um aumento de consumo de água. Isto pode conforto ambiental. O restabelecimento de ecos-
levar a um colapso no abastecimento de água sistemas baseado na avaliação de necessidade
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 407

de recuperação de serviços ecossistêmicos um ecossistema tem em fatores climáticos


melhoraria todo um conjunto de serviços locais, como a precipitação e a temperatura.
ecossistêmicos a partir do aumento da vege- Essa influência se dá por meio de efeitos como
tação. Cita-se, como exemplo, o caso da arbori- sombra, absorção ou liberação de umidade e
zação, onde áreas verdes permitem maior oxi- absorção ou reflexão de luz solar. Na RBCV e,
genação do ar, maior umidade relativa, menor sobretudo, em suas áreas urbanizadas, a perda
temperatura, além de aumento da intercep- do serviço ecossistêmico de regulação do clima
tação da chuva, da infiltração no solo e da decorrente das alterações ambientais antró-
evapotranspiração. picas afeta toda a sua população. Todavia, os
Em especial na RMSP tem havido um empe- mais expostos às mudanças microclimáticas
nho do poder público para reter a água em reser- e ecossistêmicas antropogênicas e eventos
vatórios denominados de piscinões e implemen- de tempo violento são as crianças e os idosos,
tação de ações que possibilitem o aumento da especialmente os que vivem em áreas degra-
infiltração de água no solo para reduzir o impac- dadas das periferias da metrópole paulista. Os
to de enchentes e inundações. Entretanto, dado o provérbios “prevenir é melhor do que remediar”
nível de perda de água tratada para o subsolo e a e “colhe-se o que se planta” precisam fazer parte
ausência ou diminuição da vegetação com siste- da sabedoria ambiental da sociedade urbana.
ma radicular profundo, a água no subsolo não é Ações governamentais para prevenir e mitigar
bombeada de volta para atmosfera. Além disso, a eventos extremos são limitadas se não enten-
elevação do nível do lençol freático tende a resul- didas e compartilhadas com a sociedade. Pla-
tar em maior circulação de água no solo com ero- nos de contingência devem integrar governo,
sões subterrâneas e transporte de poluentes por defesa civil, instituições públicas e privadas,
distâncias maiores. Este tipo de degradação pro- mídia e sociedade, de modo a se antecipar às
vocada por ações que visam, a princípio, ame- situações de risco.
nizar os efeitos do clima ao bem-estar humano, Embora se possa pouco para conter o
provoca efeito inverso ao esperado, quer seja por poder da natureza, ao entendê-la melhor a
comprometer e/ou prejudicar o restabelecimen- sociedade humana pode se ajustar e se prepa-
to de ecossistemas, quer seja por seu potencial rar adequadamente, como fazem os moradores
de dano à saúde de todos os seres vivos, quer ao longo do Rio Amazonas. A educação ambien-
pelos prejuízos ao bem-estar humano da popu- tal de toda sociedade deve produzir uma com-
lação abrigada pela RBCV. preensão global dos problemas ambientais
e motivar ações locais nas comunidades. Há

CONCLUSÕES
necessidade de se entender melhor o passado
e presente do ambiente e quais são os meios
para garantir a sua sustentabilidade futura. A
Os ecossistemas proporcionam nume- sociedade precisa estar engajada na recupera-
rosos benefícios ou serviços ecossistêmicos. ção dos ambientes degradados ao seu redor e
A regulação climática local é a influência que preservá-los para as próximas gerações.
408 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

REFERÊNCIAS

AB'SÁBER, A. N. (2004). São Paulo: ensaios entre- CATHARINO, E. L. M. et al. (2006). Aspectos da
veros. Edusp, 2004. composição e diversidade do componente arbó-
reo das florestas da Reserva Florestal do Morro
AKABANE, Thomas Kenji; OLIVEIRA, Paulo Eduar-
Grande, Cotia, SP. Biota Neotropica, v. 6, n. 2,
do de; SAWAKUCHI, André Oliveira; CHIESSI, Cris-
p. 1-18.
tiano Mazur; PINAYA, Jorge. (2019). Assinaturas
palinológicas modernas da Bacia do Amazonas DCA – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ATMOS-
como base para a interpretação do registro fóssil. FÉRICAS. (2005). Medições e observações de
Boletim de resumos. Simpósio de Pós-Graduação superfície efetuadas na Estação Meteorológi-
do Instituto de Geociências-USP. São Paulo: IGc. ca do IAG/USP. Seção Técnica de Serviços
Meteorológicos. Publicação IAG/USP. ISSN
ARMANI, G.; FUNARI, F. L.; SALUM, S. T. (2008).
1415-4374, 34pp.
Ocorrência do Orvalho na Cidade de São Paulo.
Revista do Instituto Geológico, São Paulo, Ins- ESTADÃO – FOTOS. Dia vira noite em São Pau-
tituto Geológico. Secretaria do Meio Ambiente do lo, com escuridão atípica: A avenida Paulis-
estado de São Paulo. Vol. 29 (1/2):41-48. ta por volta das 16h30 nesta segunda-feira, 19;
nuvens escureceram a cidade. Foto: JF DIÁRIO/
BAIK, J.; CHUN, H. (1997). Um modelo dinâmico
ESTADÃO. Publicado em 19.08.2019. Disponí-
para ilhas de calor urbanas. Meteorologia de
vel em: <https://fotos.estadao.com.br/galerias/
camada limite, v. 83, n. 3, p. 463-477.
cidades,dia-vira-noite-em-sao-paulo-com-escu-
BALISA, E. G. (2016). Estudo de serviços ecos- ridao-atipica,40620>. Acesso: 4 out. 2019.
sistêmicos no município de Guarulhos, SP.
FV&CP – SP – Federação de Convention & Visitors
Dissertação (mestrado em análise geoambiental)
Bureaux do Estado de São Paulo (2019). Banco
- Centro de Pós-Graduação e Pesquisa, Universi-
de imagens do Estado de São Paulo. Disponí-
dade de Guarulhos: Guarulhos.
vel em: <http://www.fcvb-sp.org.br/bancodeima-
BARROS, M. T. L., et al. (2004). Impacto hidrológico gens/>. Acesso: nov. 2019.
das precipitações observadas na Região Metro-
FERREIRA, M. J. et al. (2012). Radiation balance at
politana de São Paulo nos dias 04 de fevereiro de
the surface in the city of São Paulo, Brazil: diurnal
2004 e 29 de janeiro de 2004. XIII Congresso Bra-
and seasonal variations. Theor Appl Climatol
sileiro de Meteorologia, Fortaleza, CE.
(2012) 107:229–246.
BARROS, M. T. L.; BRAGA JR., B. P. F.; PEREIRA
FLORES, J. L. et al. (2016). Estimation of long
FILHO, A. J., (1987) Climatologia de precipitação
term low resolution surface urban heat island
na área de abrangência do radar de Ponte Nova
intensities for tropical cities using MODIS remote
– SP. VII Simpósio Brasileiro de Hidrologia e
sensing data. Urban Climate, v. 17, p. 32-66.
Recursos Hídricos, Salvador, 1987, 2, pp. 1 – 16.
FOLEY, J. A. et al. (2003). Green Surprise? How
BOAVENTURA, A. (2018). Prefeitura trabalha
terrestrial ecosystems could affect earth's clima-
ampliação do Programa Ilhas Verdes para com-
te. Frontiers in Ecology and the Environment,
bater aquecimento. In: Guarulhos Hoje. Repor-
v. 2. p. 38-44.
tagem publicada em 11.07.2018. Disponível em:
<https://www.guarulhoshoje.com.br/2018/07/11/ FRANÇA, A. (1946). Estudo sobre o Clima da Bacia
prefeitura-trabalha-ampliacao-do-programa- de São Paulo. Boletim num. LXX da Faculdade
-ilhas-verdes-para-combater-aquecimento/>. de Filosofia, Ciências e Letras da Universida-
Acesso: 11 dez. 2019. de de São Paulo. 59p.
BORGES, A. S.; PEREIRA FILHO, A. J. (2000). Aná- GASTMANS, D. et al. (2017). Controlling key
lise das condições meteorológicas de superfície drivers in isotopic variations in daily precipitation
antecedentes à precipitação de origem convecti- in central zone of São Paulo State (Brazil). In:
va na Cidade de São Paulo. XI Congresso Bra- International Congress on Climate Change
sileiro de Meteorologia, SBMET, Rio de Janeiro, and its Impacts - ICCCI, Peru.
RJ, Outubro de 2000. II Seminário de Brasileiro de
G1 – SANTOS E REGIÃO (2018). Rajadas de vento
Hidrologia.
de quase 90 km/h derrubam marquise e cau-
CASTILHANO, L.; PEREIRA FILHO, A. J. (2001). sam transtornos no litoral de SP: Marquise de
Caracterização hidrológica de uma bacia rural em um posto de combustíveis caiu em Santos, no lito-
um mega ambiente urbano. XIV Simpósio Bra- ral de São Paulo. Ninguém ficou ferido. Publicado
sileiro de Recursos Hídricos e V Simpósio de em 25.08.2018. Disponível em <g1.globo.com/sp/
Hidráulica e Recursos Hídricos dos Países de santos-regiao/noticia/2018/08/25/rajadas-de-
Língua Oficial Portuguesa, Aracaju, SE, -vento-de-quase-90-kmh-causam-transtornos-
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 409

-em-cidades-da-baixada-santista.ghtml>. Aces- MITTERMEIER, R. A. et al. (1999). Hotspots: Earth's


so: 01 out. 2019. biologically richest and most endangered
terrestrial ecoregions. CEMEX, SA, Agrupación
G1 – SANTOS E REGIÃO. (2019). Rajadas de ven-
Sierra Madre, SC.
to chegam a 150 km/h e provocam destrui-
ção e morte em SP: uma idosa morreu em São NASCIMENTO JUNIOR, L. (2019). O clima urbano
Vicente. Cidades ficaram durantes horas sem como risco climático. Geo UERJ, Rio de Janeiro,
energia elétrica. Publicado em 28.04.2019. Dispo- n. 34, e, 40956.
nível em: <https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/
OCCHIPINTI, A.G.; MARQUES DOS SANTOS, P.
noticia/2019/04/28/temporal-provoca-quedas-
(1965). Análise das máximas intensidades de
-de-arvores-nas-cidades-da-baixada-santista.
chuva na cidade de São Paulo. IAG/USP, 41p.
ghtml>. Acesso: 01 out. 2019.
PEIXOTO, J. P.; OORT, A. H. (1992). Physics of
G1 – SÃO PAULO. (2019). Dia viara ‘noite’ em SP climate.
com frente fria e fumaça vinda de queimadas
na região da Amazônia. Disponível em: <https:// PEREIRA FILHO, A. J. (1999). Radar measurements
g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/08/19/ of tropical summer convection: urban feedback
dia-vira-noite-em-sao-paulo-com-chegada-de- on flash floods. 29th Conf. on Radar Meteor,
-frente-fria-nesta-segunda.ghtml>. Acesso: 4 out. Montreal, AMS, 939-940.
2019. PEREIRA FILHO, A. J. (2000) Chuvas de verão e
GIN, R. B. B; BENETI; C. A. A.; PEREIRA FILHO, A. J. as enchentes na Grande São Paulo: El Niño, Brisa
(2004). Cloud-to- ground lightning flashes in Sou- Marítima e Ilha de Calor. Anais do XI Congresso
theastern Brazil in 2001: case study. 4th Annual Brasileiro de Meteorologia, Rio de Janeiro, Rio
Meeting of the European Meteorological de Janeiro, 16 a 20 de Outubro de 2000 . CDROM.
Society. Proceedings. PEREIRA FILHO, A. J.; NAKAYAMA, P. T. (2001).
GOOGLE EARTH (2019). Disponível em: <https:// Intercomparison of radar rainfall estimates and
earth.google.com/web/>. Acesso: 03 out. 2019. rain gage measurements in Sao Paulo, Brazil. In:
5th International Symposium on Hydrological
GUARULHOS. Lei nº 6.441, de 24 de agosto Applications of Weather Radar, Kyoto, Japan.
de 2009. Institui o Programa Ilhas Verdes - PIV
no Município de Guarulhos e dá providências PEREIRA FILHO, A. J.; HAAS, R.; AMBRIZZI, T.
correlatas. (2002). Caracterização de eventos de enchentes
na bacia do Alto Tietê por meio do radar meteoro-
HALLAK, R.; PEREIRA FILHO, A. J.; GANDU; A. lógico e da modelagem numérica de mesoescala.
W.; BARROS, M. T. (2004). Simulação numérica de 3° Seminário Brasileiro de Meteorologia por
precipitação intensa na Região Metropolitana de Radar e Física de Nuvens do XII Congresso
São Paulo com o modelo de mesoescala ARPS. In Brasileiro de Meteorologia, Foz do Iguaçu, PR.
Proceedings of the 13th Congresso Brasileiro
de Meteorologia, Fortaleza, Brazil, September PEREIRA FILHO, A. J.; RODRIGUES, L. C. T.; GINEZ,
2004. W. (2004). Impacto das condições meteorológicas
no consumo de água na Região Metropolitana de
HALLAK, R. (2007). Simulações numéricas de São Paulo. 1o Seminário de Planejamento Urba-
tempestades severas na Região Metropolita- no e Desastres Naturais, XIII Congresso Brasi-
na de São Paulo. Tese de doutorado em Ciências leiro de Meteorologia, Fortaleza, CE.
Atmosféricas. Instituto de Astronomia, Geofísica
PEREIRA FILHO, A. J., et al. (2004) Barros, M. T.
e Ciências Atmosféricas da Universidade de São
L.; Hallak, R.; Gandu, A.W. Enchentes na Região
Paulo. 219 p.
Metropolitana de São Paulo: aspectos de mesoes-
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E cala e avaliação de impactos. XIII CBMET. Anais.
ESTATÍTICA (2019). Cidades e estados. (Banco Fortaleza, CE. 2004. CDROM.
de Dados. Todos os Municípios - SP). Disponível
PEREIRA FILHO, A. J.; HALLAK, R.; BARROS, M.
em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/
T. L. (2004). Aspectos sócio- econômicos e hidro-
sp.html>. Acesso: 25 nov. 2019.
meteorológicos das enchentes na Região Metro-
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Chan- politana de São Paulo no período de 2000 a 2004.
ge (2002). Climage Change and Biodiversity. I Simpósio Brasileiro de Desastres Naturais –
IPCC Techinical Paper V - Working Group II Tech- Riscos Geoambientais Relacionados a Episó-
nical Support Unit. dios Pluviais Intensos. Florianópolis.
KARAM, H.A. et al. (2016) Dynamic Modelling PEREIRA FILHO, A. J.; SILVA, F. D. S. (2005). The
of Dengue Epidemics in Function of Available morphology of tropical rainfall systems and their
Enthalpy and Rainfall. Open Journal of hydrological significance. 32nd Conference on
Epidemiology, 6, 50-79. http://dx.doi.org/10.4236/ Radar Meteorology, Albuquerque, NM, 24-29
ojepi.2016.61007. October 2005. Paper P13R.10.
410 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

PEREIRA FILHO, A. J., et al. (2005). A hydrome- XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídri-
teorological forecast system for the Metropo- cos, São Paulo.
litan Área of São Paulo. WWRP Workshop on
SANTOS, C. M. (2017). Em meio ao cinza da
Nowcasting and Very Short Term Forecasting.
capital, USP conserva trechos de Mata Atlân-
Toulouse, France. Proceedings on CDROM.
tica: divididas entre a Cidade Universitária e
PEREIRA FILHO, A. J.; SANTOS, C. C. (2006). o Parque CienTec, reservas garantem a pre-
Modeling a densely urbanized watershed with servação de mata nativa da cidade. Disponível
an artificial neural network, weather radar and em: <https://jornal.usp.br/universidade/em-meio-
telemetric data. J. of Hydrology, 317, 31-48. -ao-cinza-da-capital-usp-conserva-trechos-de-
-mata-atlantica/>. Acesso: 01 out. 2019.
PEREIRA FILHO, A. J. (2007). Estimativa e Previsão
de Precipitação por meio de Redes de Superfície, SANTOS, P. M.; et al. (2006). Evolução climática na
Sensoriamento Remoto e Modelagem Numérica Região Metropolitana de São Paulo. XIV CBMET,
no Âmbito de um Sistema de Previsão Hidrome- Anais. Florianópolis, SC, 2006. CDROM.
teorológica. Tese de Livre- docência IAG USP. SANTOS, B. B. de O. (2017). Pluviosidade e limia-
176p. res de estabilidade: uma revisão para a Região
PEREIRA FILHO, A. J.; SANTOS, P. M. dos; XAVIER, Metropolitana da Baixada Santista. Dissertação
T. M. B. S (2007). Evolução do tempo e do clima (mestrado). Universidade Estadual de Campinas,
na RMSP. IAG-USP, Linear B, 282p. Instituto de Geociências: Campinas.

PEREIRA FILHO, et al. (2007a). An operational SÃO PAULO (Estado). (2010). Secretaria do Meio
mobile XPOL for hydrometeorological applications Ambiente. Inventário Florestal da Vegetação
in Brazil. 33rd Conference on Radar Natural do Estado de São Paulo (2008-2009),
Meteorology. Paper P10.14. São Paulo: SMA/Instituto Florestal.

PEREIRA FILHO, A. J., et al. (2007b). MXPOL SHEIN, K.A. (2006). State of the climate in 2005.
Measurements of weather systems. 33rd Confe- Special Supplement to the Bulletin of the
rence on Radar Meteorology Cairns, Australia. American Meteorological Society, 87(6).
Paper 8A.5. SILVA, F. D. S.; PEREIRA FILHO, A. J.; HALLAK, R.
PEREIRA FILHO, A. J.; PRADO, L. F.; SANTOS, C.C. (2006). Características estatísticas espaço-tem-
dos (2013). Precipitação global, regional e local. porais de sistemas precipitantes no Leste de São
In: Ciclo Ambiental da Água. (TELLES, D. D’A. Paulo. XVI CBMET. Florianópolis.
org). São Paulo: Blucher, p. 93-117. TARIFA, J. R.; ARMANI, G. (2000). Atlas geoam-
PEREIRA FILHO, A. J. (2015). Análise da escassez biental do município de São Paulo. Secretaria do
hídrica brasileira em 2014. Revista USP, (104), Verde e do Meio Ambiente - SVMA/PMSP; Secre-
125-132. taria de Planejamento - SEMPLA/PMSP
VELASCO, G. D. N. (2007). Potencial da arbori-
PEREIRA FILHO, A. J., F. et al. (2018). A Step towards
zação viária na redução do consumo de ener-
Integrating CMORPH Precipitation Estimation
gia elétrica: definição de três áreas na cidade
with Rain Gauge Measurements. Advances in
de São Paulo - SP, aplicação de questionários,
Meteor., vol. 2018, DOI:10.1155/2018/2095304.
levantamento de fatores ambientais e estimati-
PINAYA, J. L. D. et al. (2019). Brazilian montane vas de Graus-Hora de calor. Tese (Doutorado).
rainforests expansion induced by Heinrich Stadial Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz:
1 event. Scientific Reports (In Press). Piracicaba.
PRADO, L. F.; PEREIRA FILHO, A. J.; HALLAK, R.; VIEIRA, F. R. M. (2017). Programa Ilhas Verdes
LOBO, G. A. (2006). Climatologia da precipitação combate as ilhas de calor urbanas. Lei Muni-
no Estado de São Paulo no período de 1947 a 1997. cipal 6.551/2009. Apresentação em Power Point.
XVI CBMET. Florianópolis. 161 slides.
PRADO, L. F., PEREIRA FILHO, A.J.; LOBO, G. A.; UN-HABITAT. UNITED NATIONS HUMAN SET-
HALLAK, R. (2007) Variabilidade espaço-tempo- TLEMENTS PROGRAMME. (2016). Urbanization
ral da precipitação no Estado de São Paulo e sua and development emerging futures. World cities
relação com ENOS entre 1947 e 1997. Anais do report.
REGULAÇÃO CLIMÁTICA 411

GLOSSÁRIO

A F
Albedo | Fração da luz solar incidente refletida Fração de dias de chuva média anual | Total de
pela Terra e sua Atmosfera. dias chuvosos num dado ano.
Atmosfera | Camada gasosa que envolve a Ter- H
ra composta em volume de Nitrogênio (78%), Oxi-
gênio (21%), Argônio (0.9%) e outros gases (e.g., Hidrosfera | Água líquida da Terra.
vapor de água).
hPa | Unidade de medida de pressão atmosférica
Aquecimento radiativo diabático | Aqueci- (peso da atmosfera por unidade de área) em cem
mento por radiação solar e terrestre com troca de (h) Newton por metro quadrado (Pascal).
calor.

B I
Bacias hidrográficas | Área coletora de precipi- Insolação | Luz solar que índice diretamente na
tação que converge para um exutório de um curso superfície terrestre.
d´água.
Biosfera | Sistema de fauna e flora da Terra. L
C
Litosfera | Compreende a parte sólida da crosta
terrestre.
Calor latente | Calor armazenado nas moléculas

M
de água pela evaporação da água.
Camada limite planetária | Camada de ar mais
próxima da superfície terrestre com grande mistu- Manchas solares | Regiões escuras na superfí-
ra de massa e energia com a altura. cie do Sol com emissão de ondas eletromagnéti-
cas de alta energia.
Ciclo hidrológico | Compreende o armazena-
mento, mudanças de fase e circulação da água Meandros divagantes |
no planeta Terra.
Condições edafoclimáticas | Características N
definidas por meio de fatores do meio, como o cli-
ma, a temperatura, a litologia, a midade do ar, a Nebulosidade | Quantidade de nuvens na
radiação, o tipo de solo, o relevo, a precipitação atmosfera.
pluvial e a composição atmosférica. Nível de vazão | Altura do nível de um curso
Criosfera | Sistema de geleiras nos polos terrestre. d'água relacionada a vazão do mesmo.

E O
El Niño / La Niña | Aquecimento/resfriamento Oscilação do Sul (ENOS) | Relação entre aque-
das águas do oceano Pacífico Equatorial. cimento do oceano Pacífico Equatorial e a dife-
Empuxo | Força de levantamento causa por dife- rença de pressão do ar entre a parte leste e oeste
rença de densidade de uma parcela de ar (menor) deste.
e a atmosfera (maior).
Entranhamento de vapor d’água | Injeção de P
moléculas de vapor de água no espaço intermole-
cular entre as moléculas dos gases constituintes Precipitação | Vapor d'água, água líquida e sóli-
da atmosfera. da que se deposita na superfície terrestre.

Evapotranspiração | Processo de evaporação Pressão atmosférica | Força por unidade de


de água do solo e transpiração da vegetação. área produzida pelo peso da atmosfera.
412 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

R U
Radiação solar global | Energia solar que incide UTC | Medida de tempo universal utilizada em
na superfície terrestre direta ou indiretamente. Meteorologia.

V
Rosa dos ventos | Frequências das direções do
vento num local.
Variações orbitais da Terra | Variações na dis-
S tância da Terra - Sol, na inclinação do eixo de
rotação da Terra e sua precessão.
Saldo de energia radiante | Balanço de ener-
gia de radiação de solar (onda curta) e terrestre Vento zonal | Intensidade do vento na direção
(onda longa) numa dada camada da atmosfera. leste-oeste.

Sistemas precipitantes | Estruturas de nuvens Vento meridional | Intensidade do vento na dire-


de chuva associadas à frentes, linhas de instabili- ção norte-sul.
dade, tempestades isoladas entre outras. Visibilidade horizontal | Distância máxima de
observação visual horizontal.

T Variáveis hidrometeorológicas | Grandezas


mensuráveis utilizadas para quantificar massa,
Temperatura do ponto de orvalho | Tempera- força e energia na atmosfera e respectivo conteú-
tura do ar que produz condensação do vapor de do de água.
água na atmosfera.
Tropopausa | Camada de ar mais estável logo
acima da troposfera onde a temperatura do ar
W
varia pouco com a altitude. W m-2 | Unidade de energia.
PARTE 3
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS CULTURAIS

3.1 SERVIÇOS CULTURAIS


FOLCLORÍSTICOS:
A DIMENSÃO DO FOLCLORE
CAIPIRA

Coordenadora
Cristina de Marco Santiago | IF/SIMA

Autora
Cristina de Marco Santiago | IF/SIMA

Autora contribuinte
Sueli Herculani | IF/SIMA
414 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto de abertura do capítulo:


Arte cesteira caipira:
um produto do serviço
cultural ecossistêmico.
Peça em acabamento,
tecida com taquara.
Fonte: Cristina de Marco
Santiago (2009).
SUMÁRIO

Resumo.. ............................................................................................................... 417

1 | Introdução...................................................................................................... 418

2 | O Serviço Cultural Folclorístico...................................................................... 418

2.1 | Uma abordagem conceitual..................................................................


. 418

2.2 | Caracterização do folclore caipira......................................................... 420

2.3 | Os serviços culturais do folclore caipira na RBCV: contexto, vetores


de pressão e tendências........................................................................ 423

3 | Estudo de caso............................................................................................... 430

3.1 | A decadência dos bairros tradicionais caipiras no município de


Juquitiba – Sertão de Itapecerica e a emergência do processo de
industrialização e urbanização da cidade de São Paulo....................... 430

3.2 | A arte do trançado e os caipiras nos municípios de Ibiúna e Juquitiba. 432

3.3 | Parque Estadual do Jurupará, um depositário da cultura material e


imaterial rústica caipira......................................................................... 434

4 | Indicadores dos serviços dos ecossistemas................................................... 437

5 | Contribuição dos serviços ecossistêmicos para o bem-estar humano.......... 438

Conclusões........................................................................................................... 441

Referências........................................................................................................... 442

Glossário..............................................................................................................
. 443
416 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

Figura 1 Mapa do cinturão caipira de São Paulo, com os principais núcleos caipiras e aldeamentos
indígenas no século XIX.
Figura 2 Esquema sintético da relação entre os principais vetores de alteração ambiental que
incidem sobre os serviços folclorísticos dos ecossistemas na RBCV.
Figura 3 Mapa da antiga distribuição dos bairros rurais tradicionais caipiras no âmbito da RBCV
e a localização das áreas de estudo.
Figura 4 Artefatos/utensílios característicos da cultura caipira na área de abrangência do Parque
Estadual do Jurupará.
Figura 5 Alimentos característicos da cultura caipira na área de abrangência do Parque Estadual
do Jurupará.
Figura 6 Vista geral do bairro rural tradicional dos Paulo.
Figura 7 Esquema sintético entre indicadores dos serviços ecossistêmicos, cultura caipira e ecos-
sistemas naturais.

QUADROS

Quadro 1 Artefatos/utensílios.
Quadro 2 Festas religiosas típicas da cultura caipira.
Quadro 3 As lendas da floresta: assombramentos e assombrações do mundo caipira.
Quadro 4 A natureza na expressão literária caipira.
Quadro 5 A presença dos elementos da floresta e outros ecossistemas naturais na habitação caipira.
Quadro 6 Alimentação/culinária, refletindo ao mesmo tempo a dimensão dos serviços culturais e
de aprovisionamento dos sistemas ecológicos naturais e agrícolas.
Quadro 7 Síntese dos principais vetores de alteração ambiental na RBCV, que impactaram as
comunidades tradicionais caipiras no último século.
Quadro 8 Exemplos dos artefatos produzidos nos municípios de Juquitiba e Ibiúna.
Quadro 9 Algumas das espécies nativas da Mata Atlântica utilizadas no processo de manufatura
das cestarias.
Quadro 10 Avaliação do impacto dos serviços culturais ao bem estar das comunidades tradicionais
caipiras e tendências futuras quanto à disponibilidade desses serviços.
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 417

RESUMO

O s serviços dos ecossistemas são avaliados sob a perspectiva da cultura,


adotando-se como princípio a relação intrínseca entre biodiversidade e
diversidade cultural. São abordadas as manifestações folclorísticas a partir do entendimento
de que o folclore exprime a relação sociedade-natureza de uma dada cultura, no caso,
a tradicional caipira, uma relíquia representativa da organização social rural do Brasil
Colônia. São tratados os elementos que compõem esta cultura e apresentados três
estudos de caso na área de abrangência da RBCV. A avaliação dos serviços culturais se
dá por meio de dados secundários que, tratados dentro do contexto histórico, permitiram
analisar as forças atuantes e suas tendências. Observa-se que os núcleos caipiras
foram reduzidos drasticamente devido ao processo de urbanização e industrialização,
e a cultura encontra-se vulnerável em face da deficiência de políticas públicas e de
estudos para embasá-las adequadamente. Assim, é eleito um conjunto de indicadores que
dimensionam os serviços culturais prestados pelos ecossistemas e a relação destes
serviços com o bem-estar das comunidades, prestando-se à sua aferição e monitoramento.
418 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO culturais dos ecossistemas e dos impactos ao


bem-estar das comunidades, provenientes das

O s ecossistemas, na abrangência da RBCV, alterações desses serviços.

2 | SERVIÇO CULTURAL
fornecem à sociedade uma gama de servi-

FOLCLORÍSTICO
ços. Entre eles, encontram-se os serviços cultu-
rais prestados às comunidades tradicionais cai-
piras, objeto de estudo deste trabalho.

2.1 | Uma abordagem conceitual


As sociedades humanas têm se desenvolvi-
do com forte interação com o ambiente natural.
A cultura, incluindo os sistemas de conhecimen-
to, a religião, os valores, as interações sociais, A dimensão cultural dos serviços dos ecos-
a realização artística e espiritual, o desenvolvi- sistemas aqui tratada parte do pressuposto da
mento intelectual e econômico, sempre foram intrínseca relação entre biodiversidade e diver-
influenciados pela natureza dos ecossistemas e sidade cultural, propondo uma leitura que não
pelas condições ecossistêmicas nas quais a cul- se restringe à cultura em suas manifestações fol-
tura é embasada (MEA, 2005). clorísticas específicas, como os mitos, os ritos,
Assim, os serviços culturais podem ser os artefatos ou as técnicas tradicionais, mas
expressos pelo folclore de uma dada cultu- enquanto um fato que descreve uma certa rela-
ra, todavia entende-se aqui a importância das ção sociedade-natureza.
manifestações folclorísticas pela sua função de O folclore, dessa perspectiva, não tem valor
acusar e reforçar a personalidade das comuni- em si mesmo, mas, em seu significado, por aqui-
dades, considerando-se a estrutura e a organi- lo que ele pode revelar sobre a cultura em que
zação internas dessas (QUEIROZ, 1973a). O fol- se inscreve, como expressão de uma realidade
clore abrange os elementos da cultura material sociocultural. Deve, assim, ser compreendido
e imaterial, os quais possibilitam a reprodução na sua conexão com o comportamento humano,
sociocultural. com a dinâmica da cultura, com a organização
No passado, a área que corresponde à social, com a natureza dos valores culturais de
Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cida- uma coletividade (FERNANDES, 1978).
de de São Paulo foi inteiramente marcada pela Entendido dessa forma, segundo Queiroz
ocorrência da cultura caipira. Hoje, contudo, (1973a), o folclore se liga, mais especificamen-
poucos são os municípios que abrigam os tra- te, a grupos de envergadura demograficamente
dicionais bairros rurais caipiras. modesta, caracterizados por um ambiente de
Por meio da abordagem histórica de relações íntimas, carregadas de afetividade,
dados secundários, é possível contextualizar a em que se formam costumes e peculiaridades,
abrangência e a importância da cultura caipi- crenças, lendas os quais se incorporam à tra-
ra no estado de São Paulo e suas transforma- dição de um grupo, tornando-o diferente dos
ções ao longo do tempo, identificando-se os demais.
principais vetores de pressão que se exerceram, A cultura caipira tradicional remonta à for-
a situação atual, e antevendo-se, ainda, o prová- ma de organização social rural do Brasil Colônia,
vel cenário futuro. sua origem histórica está intimamente ligada
As manifestações folclorísticas cai- à expansão geográfica dos paulistas, entre os
piras são representadas pela confecção de séculos XVI e XVIII, que resultou na fixação de
artefatos/utensílios, ritos, mitos, culinária, grupos no interior, em porções do grande ter-
religiosidade etc; influenciadas pelas caracte- ritório devassado pelas bandeiras e entradas
rísticas do ambiente natural no qual esses gru- (CANDIDO, 2003).
pos se inserem. Os estudiosos da chamada civilização cai-
Essas manifestações expressam o equi- pira admitem que, no passado, no estado de
líbrio social do grupo e dele com a natureza. São Paulo, ela teria coberto todo o litoral pau-
Desse modo, a partir delas é possível extrair lista; o vale do Paraíba; as serras da Mantiquei-
indicadores estratégicos de avaliação, funda- ra, de Quebra-Cangália, do Mar e de Paranapia-
mentais no monitoramento dos serviços caba; o planalto paulista; a zona bragantina; a
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 419

depressão periférica paulista; a zona do anti- Para Ribeiro (1995), o mameluco, portan-
go “Caminho da Mata”; e o planalto de Franca to o capira, foi um herói civilizador, cujo valor
(QUEIROZ, 1973b). maior advinha da sua rusticidade de meio-
Inserida no domínio das culturas tradicio- -índios, herdeiros do saber milenar acumulado
nais do Brasil, a cultura caipira relaciona-se ao pelos indígenas, das técnicas de adaptação dos
homem do campo, resultando do ajustamento povos tupis à floresta.
do colonizador português ao Novo Mundo, seja O caipira, ajustando-se às técnicas do índio,
por transferência e modificação dos traços da manteve os estreitos laços com a terra, absor-
cultura original, seja em virtude do contato com vendo as formas de equilíbrio ecológico desen-
o aborígine, de quem passa a adotar técnicas de volvidas anteriormente pelas tribos (CANDIDO,
orientação, defesa e utilização do meio natural 2003). Sempre lavrador (CANDIDO, 2003; QUEI-
(CANDIDO, 2003). ROZ, 1973a, 1973b; BRANDÃO, 1983a), "o feijão,
Para Queiroz (1973b), o caipira pode ser o milho e a mandioca, plantas indígenas, constituem, pois,
incluído na categoria dos “sitiantes tradicio- o que se poderia chamar triângulo básico da alimentação
nais”, os quais se situavam em uma camada caipira" (CANDIDO, 2003: p. 68).
social intermediária do Brasil rural, entre os Ainda que por meio da lavoura obtenha a
fazendeiros e os escravos, no período colonial, sua alimentação básica, é a floresta a provedora
e entre os fazendeiros e a mão de obra sem ter- de todas as suas necessidades, oferecendo-lhe
ra, no período pós-colonial, cuja existência, no diretamente os recursos dos quais necessita
passado, era totalmente ignorada na classifica- para a sua sobrevivência, inclusive o solo fértil
ção da sociedade rural. para a agricultura, já que é ela que repõe a ferti-
Assim como em todas as culturas tradicio- lidade da terra, após alguns anos de “descanso”
nais, as comunidades caipiras têm como fun- da lavoura (SANTIAGO, 2010; 2013).
damento o forte vínculo com a natureza, razão A cultura caipira, suas técnicas, sua organi-
pela qual seus territórios se caracterizam por zação social, foi impulsionada e se desenvolveu
combinar em iguais intensidades, funcionalida- em função da floresta (CANDIDO, 2003; RIBEI-
de e identidade, ou seja, são o abrigo e a base RO, 1995). Diz-se que ela se define como uma
de recursos conjugando-se, ainda, uma profun- cultura rústica, baseada em formas considera-
da identificação que os preenche de referenciais das precárias de existência (CANDIDO, 2003;
simbólicos, fundamentais à manutenção de sua QUEIROZ, 1973a).
cultura (HAESBAERT, 2005). Para Candido (2003: p. 107), tendo “con-
São, portanto, os ecossistemas naturais os seguido elaborar formas de equilíbrio ecológico
promotores e guardiões da cultura caipira, como e social, o caipira se apegou a elas como expres-
visto, amplamente distribuída por todo o estado são da sua própria razão de ser enquanto tipo de
de São Paulo no passado. cultura e sociabilidade”. Os trabalhos realizados
Etimologicamente, o termo caipira pode no âmbito da família caipira (em que se incluem
estar vinculado a “capipiara” que significa o que a produção agrícola e a indústria doméstica) e
é do mato; “capiâ”, de dentro do mato; ou, ainda, o auxílio vicinal determinavam os dois com-
“caapiára”, lavrador (PIRES, 1921). Mesmo não ponentes básicos da estrutura social caipira
se sabendo exatamente a sua origem, o certo é (CANDIDO, 2003).
que esses significados se prendem a caracterís- Os bairros rurais formaram-se, historica-
ticas marcantes do caipira. mente ligados à civilização caipira, eis porque
“Caipiras ... Mas que são os caipiras?” Per- constituíram e constituem ainda hoje, quan-
gunta e responde Cornélio Pires: do tradicionais, os portadores da cultura cai-
pira (QUEIROZ, 1973b). Como bem resume
São os filhos das nossas brenhas, de nossos cam- Antonio Candido, ele
pos, de nossas montanhas e dos ubérrimos valles
de nossos piscosos, caudalosos, encachoeirados é a estrutura fundamental da sociabilidade cai-
e innumeráveis rios, acostellados de milhares de pira, consistindo no agrupamento de algumas ou
ribeirões e riachos (PIRES, 1921: p. 5). muitas famílias, mais ou menos vinculadas pelo
420 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

sentimento de localidade, pela convivência, pelas A solidariedade, desse modo, é uma carac-
práticas de auxílio mútuo e pelas atividades terística marcante da cultura caipira, sendo o
lúdico-religiosas (CANDIDO, 2003: p. 82). mutirão a sua mais importante forma de mani-
festação. Trata-se da reunião de vizinhos, con-
Desse modo, o caipira tem por princípio a vocada por um deles, para ajudá-lo a efetuar
simplicidade e a vida em comunidade. Na sua um trabalho, e o seu caráter festivo é um dos
intrínseca relação com a natureza, vive em aspectos importantes da vida caipira (CANDIDO,
equilíbrio com os ciclos naturais, obedecendo 2003). A lida na lavoura, a construção de uma
a uma ordem social e simbólica relacionada ao casa ou mesmo os preparativos para as festas
sagrado, através das crenças e dos cultos pes- são exemplos de atividades realizadas por muti-
soais, familiares e comunitários (BRANDÃO, rão (MÜLLER, 1956).
1983a). A importância do mutirão está centrada na
Os elementos extraídos da floresta e de segurança da continuidade das tradições cultu-
outros ecossistemas naturais, bem como as rais já que, durante a execução das atividades,
variedades rústicas cultivadas por meio das são transmitidos aos demais componentes os
práticas agrícolas tradicionais são, ao mesmo conhecimentos necessários à realização do tra-
tempo, fonte de segurança, estabilidade social balho (BRANDÃO, 1983a).
e de herança cultural. Juntos, possibilitam Por meio dos ritos e das festas é promovida
a reprodução sociocultural e econômica do a solidariedade e a união do grupo. Nas festas,
caipira. homenageiam-se os santos idolatrados, pede-se
Evidencia-se, assim, que a manutenção saúde para as pessoas e os animais, boa colhei-
dos serviços culturais associados ao folclo- ta e chuva. Os participantes das festas buscam
re do meio rural tradicional depende, essen- o atendimento de seus pedidos, o que garanti-
cialmente, dos ecossistemas naturais e dos rá a existência da família (MÜLLER, 1956). Nas
agroecossistemas. Do mesmo modo, eviden- festividades, conectam-se o mundo natural e o
cia-se o quanto esses serviços culturais são sobrenatural.
essenciais à conservação da biodiversidade, Nas festividades são realizadas diversas
incluindo a agrobiodiversidade. atividades, de acordo com os papéis dos diferen-

2.2 | Caracterização do folclore caipira


tes personagens que, em geral, são o capelão, o
festeiro, o folgazão e seu ajudante, os dançarinos
e os demais componentes da festa. Representam
As manifestações folclorísticas arraigadas uma equipe de especialistas de trabalho religio-
no caipira tradicional, hoje raro, são extrema- so, no qual o desempenho define as diferenças
mente ricas e se expressam nos ritos, nas festas, na atuação do ritual do saber e do poder (BRAN-
na música, na poesia, nas lendas, nas danças, na DÃO, 1983b).
culinária, nos seus artefatos/utensílios etc. con- Durante todo o ano, ocorrem festividades
forme exemplificado nos Quadros 1 a 6. nos bairros. São elas: Nossa Senhora da Apa-
Tais manifestações expressam os sabe- recida, São Sebastião, São José, Divino Espírito
res sobre o uso e o manejo dos recursos natu- Santo, Nossa Senhora do Rosário, São Bom Jesus,
rais, e as estratégias sociais de manutenção Nossa Senhora da Boa Morte, São Benedito, São
da autonomia da família em relação à cida- João, São Pedro, Santo Antônio, São Gonçalo,
de, possíveis somente pela forte integração e Santa Cruz, entre outras, cada qual com seus sig-
homogeneização social entre os componentes nificados e rituais, conforme é possível verificar
do grupo. nos exemplos do Quadro 2.
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 421

Artefatos Descrição

São de uma diversidade muito grande os utensílios/artefatos produzidos para inúme-


ras finalidades pelo caipira, por exemplo: colheres e conchas de pau; cestos de palha
de milho, cipó e taquara; peneiras e abanos de lasca de taquara; balaios de taquara e Quadro 1 |
cipó; apá de taquara; esteira de taboa; jacá de baldeio de taquara; pilão de madeira; Artefatos/utensílios.
chapéu de taquara; gamelas; baú e monjolos. Fonte: Lima (1967);
Mello (2001).

Festas Descrição

São Gonçalo A motivação da festa é o cumprimento de uma promessa. A imagem de São Gonçalo é
carregada por um percurso em que as pessoas são convidadas a participar da festa e
a contribuir com serviços ou prendas. A organização da festa é realizada em mutirão
para auxiliar o festeiro, sendo o mutirão composto por homens e mulheres com fun-
ções distintas.
Há o violeiro, chamado de folgazão, e seus ajudantes; há capelães, para puxar as
rezas e as ladainhas, e há os dançadores. A última das seis voltas no entorno do altar
é chamada de caruru ou cajuru, é a mais longa das voltas, realizada já no amanhecer.
A festa acontece no dia sete de junho.

São João O objetivo é o preparo/agradecimento da colheita para os santos. Nas festas, dançam
o cateretê ou a catira, o caruru e o fandango, se estiverem no litoral sul do estado. O
símbolo desta festa é a flor do cipó São João, que simboliza a estação do ano. As espi-
gas de milho, dependuradas em um mastro, são retiradas, debulhadas e misturadas às
demais sementes selecionadas para a semeadura, acreditando-se aumentar o poder
germinativo pelo contato. Os tições e a cinzas da fogueira são guardados. O tição é
usado para “acender as queimadas”, de modo a garantir que o fogo não se “espalhe
sobre a palhada do vizinho ou pelos pastos secos”. Todos os elementos da festa possuem
um significado. A noite de São João para os participantes representa a “fonte de poder Quadro 2 |
sagrado”. Esse poder vem do mastro e dos elementos da natureza, o fogo e a água “em Festas religiosas
que é banhada a imagem do santo”. Trata-se de uma noite que tem significados “letárgi- típicas da cultura
cos das coisas vitais”. A festa acontece no dia vinte e quatro de junho. caipira.
Fonte: Müller (1956).

Assombramentos
Descrição
e assombrações

Saci A mais popular de todas as assombrações do mundo caipira é o saci, que, com uma
perna só, vive pulando e sorrindo. É um moleque danado. Brinca de vira mundo no
rodamoinho de poeira com o vento. Pode ser caçado apenas com o laço do rosário. O
gosto do saci é judiar dos animais no pasto galopando e trançando as crinas. No burro
ele não monta, porque o animal tem o pelo tosado.

Caipora É um caboclo legítimo. Tem um corpo peludo, com barba grande, testa peque- Quadro 3 |
na “nariz chimbevão, chato, beiço grosso e carão cheio”. Descansa no samambaial As lendas da floresta:
e atormenta quem caça nas sextas-feiras. A caça só acontece quando ele quer. assombramentos e
“E vacê vê que tem dia que, u as caça some u gente erra o que atira e inveiz de matá a caça assombrações do
mata o cumpanhêro u um cachorro”. mundo caipira.
Fonte: Pires (1921).
422 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Expressão
Descrição
literária

Poema ...Beija-frô azu e verde,


Que véve brejano as frô,
Proquê num só como ocê
Pra beija o meu amô!

Lá nas fôia do coquêro


Piriquito se balança,
Taliquá sonhos de amô
Nos gaio de uma esperança.

Poema
Moda da Morte

Eu fui no sertão, eu fui


No sertão pra explorá
Naquelle lugá tão triste,
no sertão do Parmitá.

Sertão grande degredo,


nem vale a pena alembrá
Achei a casa da Morte
Sem nunca eu esperá.
........

Chorano, disse p’ra Morte,


minha vida incumpridá...
- incumprida minha vida!
Posso i’ê gratificá...

Quadro 4 | Iê trago um vará de frango,


A natureza na
mais não é pra i’e cobra...
expressão literária
caipira. Iê trago batata doce,
Fonte: Lima (1967); Um picuásinho de cará..
Pires (1921).

Habitação Descrição

Casa Casas construídas de pau a pique, com ripas ou varas trançadas e amarradas com
Quadro 5 | cipó, barreadas e socadas com as mãos; cobertas com palha, folha de palmeira e sapé.
A presença dos A casa, em geral, divide-se em quarto, cozinha, sala de entrada e banheiro, do lado de
elementos da fora da casa. Fogão de barro.
floresta e outros Acessórios da Esteiras de taboa ou piri; camas de tábua ou vara; rede de cipó imbé ou então de fio de
ecossistemas habitação algodão. As “cadeiras de tábua trançada tripeças ou tamboretes” e também os troncos
naturais na de árvores utilizados como assento. Mesa rústica e lamparinas, candeeiros e lampiões
habitação caipira. alimentados com querosene ou óleo de mamona.
Fonte: Lima (1967).
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 423

Culinária Descrição

Refeições Quando o caipira acorda, de madrugada, toma o café simples “enquanto prepara o que
comer”, depois vem o café e o bolo de frigideira, de fubá e mandioca cozida.
Entre 8h30 min e 9h, o almoço. Às 11h30min, café com mistura ou alguma fruta; às
14h30min, jantar; às 17h, merenda; entre 19h30 e 20h, a ceia.

Pratos e a produção A vida do caipira tradicional é feita de muita fartura e apetite. A alimentação é pensada
de alimentos para eles próprios e para os animais.
Cultivam, por exemplo, a mandioca; a batata doce, branca ou roxa; o cará, o amendoim,
o feijão, a abóbora. A horta tem, entre outros, o repolho, o quiabo, as abobrinhas, a
taioba, o chuchu e o alho.
Na “roça”, na mata e nos brejos, vegetam espontaneamente a serralha, o almeirão
amargoso, a guarerova e o palmito doce.
As frutas são em abundância nos quintais, nos pastos e nas roças. A mata oferece ain-
da uma enorme variedade de méis. Quadro 6 |
Os peixes são também caçados com abundância. A carne de porco é a mais apreciada; Alimentação/
no passado, a caça era uma iguaria comum na mesa caipira. Tem-se ainda a galinha e culinária, refletindo
os seus fartos ovos. Já a carne de vaca é pouco comum. ao mesmo tempo
A farinha é fundamental na sua alimentação. A farinha de milho é mais comum no pla- a dimensão dos
nalto e a de mandioca, mais encontrada no litoral. serviços culturais e
Quanto aos pratos, tem-se, entre outros, o feijão, o virado – feijão com couve e farinha de aprovisionamento
de milho; linguiça, torresmo, suã de porco, aves, viradinho de milho verde e de cebola, dos sistemas
ensopados, palmito, cuscuz, angu, içás, peixes. Bolo de fubá e de amendoim, melado ecológicos naturais
com cará, canjica, paçoca, curau, milho verde assado ou cozido, doce de abóbora. e agrícolas.
Fonte: Pires (1921).

2.3 | Os serviços culturais do folclore


caipira na RBCV: contexto, vetores
marcaram a paisagem do Planalto Paulistano
(PETRONE, 1995).

de pressão e tendências
A grande concentração de aldeamentos
nos arredores mais próximos da cidade de
A área de abrangência da RBCV está vin- São Paulo, como pode ser observada no mapa
culada historicamente ao tradicional cinturão a seguir (Figura 1), estabelece uma paisagem
caipira, descrito por Petrone (1995), hoje com- cultural dominada pelos caipiras; seus conta-
pletamente alheio à realidade da metrópole. tos com a Metrópole eram feitos por meio de
Como explica o autor, os bairros rurais uma atividade comercial modesta. Em carguei-
caipiras tiveram sua origem fortemente rela- ros isolados, tropas ou carros de boi, levavam
cionada aos antigos aldeamentos indígenas, suas mercadorias para venda na cidade de São
ambos núcleos tipicamente rurais, tendendo à Paulo (PETRONE, 1995).
autossuficiência, cuja principal atividade era
Para Petrone (1995), esses tipos caracte-
a agricultura para consumo, seguida do bene-
risticamente caipiras das circunvizinhanças
ficiamento dos produtos agrícolas e das ati-
de São Paulo:
vidades artesanais: confecção de utensílios e
tecelagem. eram, é evidente, em grande parte, mestiços
Com raras exceções, os aldeamentos indí- com ascendência indígena. Seriam a resultan-
genas paulistas, definidos a partir de meados te, depois de um século, daqueles numerosos
do século XVI e existentes até as primeiras pardos que em 1836 viviam em torno do núcleo
décadas do século XIX, dispunham-se ao redor paulistano; não poucos, quem sabe, teriam
ascendência indígena não muito remota, consi-
de São Paulo de Piratininga, formando um cin-
derando que na segunda metade do século XIX
turão ocupado por indígenas, o qual, ao longo ainda viveriam pequenos grupos em parte mes-
dos séculos, em face da miscigenação e da ten- tiçados, em parte não, em Carapicuíba, Embu,
dência à dispersão espacial característica das São Miguel e Barueri (PETRONE, 1995: p. 374).
atividades indígenas (herdadas pelo caipira),
foi dando origem ao conhecido cinturão caipi- Assim, o bairro tradicional caipira é
ra, um dos elementos mais característicos que uma persistência do passado e, como tal,
424 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 1 |
Mapa do cinturão
caipira de São
Paulo, com
os principais
núcleos caipiras
e os aldeamentos
indígenas no
século XIX.
Fonte: Petrone
(1995).

sobreviveu em áreas em que o impacto da mo- afetadas pela expansão agrícola, urbana e
dernidade foi menos agressivo. Sob este aspec- industrial, as características ambientais e o
to, os arredores da cidade de São Paulo, o anti- difícil acesso a alguns trechos do Sertão de
go cinturão caipira, teve grande importância Itapecerica dificultaram e retardaram o pro-
no passado e ainda hoje. Lá, a cultura caipira cesso de desestruturação da vida caipira, o
foi amplamente disseminada, e resiste até os que, em outros locais, já ocorria de forma mar-
dias atuais. cante, conforme descrito por Queiroz (1973a,
O Sertão de Itapecerica (abrangendo origi- 1973b) e Candido (2003).
nalmente os municípios de Itapecerica da Ser- Naquele sertão, a cultura caipira man-
ra, São Lourenço, Juquitiba e Ibiúna) abrigou teve-se intacta no município de Juquitiba até
bairros considerados como os que mantinham, meados da década de 1930 (QUEIROZ, 1973a;
em todo o estado de São Paulo, as caracterís- QUEIROZ, 1973b), persistindo, de forma mais
ticas mais conservadas da cultura tradicional ou menos alterada, ao longo das décadas
caipira, até meados do século XX (QUEIROZ, deste século, em bairros isolados no municí-
1973a e b; PETRONE, 1995). pio de Ibiúna, nas áreas onde também a flo-
Apesar do vertiginoso crescimento e resta resistia, a exemplo dos bairros situados
das transformações socioespaciais da cidade na área de abrangência do Parque Estadual do
de São Paulo e seus arredores, ao contrário Jurupará. Ali se manteve o modo de vida tra-
do que ocorreu em outras regiões do estado, dicional praticamente inabalado até meados
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 425

da década de 1950 e início da década de 1960 caipiras tornaram-se raros, assim como muitas
(SANTIAGO, 2010; 2013). das suas manifestações folclorísticas que, cada
Os bairros rurais tradicionais no muni- vez mais, se perdem no passado.
cípio de Juquitiba foram bem descritos por A decadência econômica do caipira acar-
Queiroz (1973 a) em suas pesquisas efetuadas retou-lhe uma posição social subalterna e
na década de 1960. Segundo a autora, a vida do muito baixa. Se comparada com os padrões de
sitiante caipira, no passado, integrava-se à da vida da sociedade brasileira moderna, o termo
cidade, ritmada pelos trabalhos rurais e pela que define a existência do caipira é a miséria
periodicidade das festas religiosas. O auxílio (QUEIROZ, 1973a).
vicinal característico, o mutirão, era ampla- A cidade de São Paulo, há muitas déca-
mente empregado entre as famílias. das, não lhe demanda mais a comercializa-
As manifestações folclorísticas do cai- ção do excedente da produção agrícola, reti-
pira no Sertão, a exemplo do que foi descrito rando-lhe a possibilidade de obter os poucos
em trabalhos realizados nas ultimas décadas recursos financeiros que lhes são necessá-
(MELLO, 2001; SMA, 2009; SANTIAGO, 2010; rios por meio da lavoura (QUEIROZ, 1973b;
2013), foram (e são, nas poucas comunidades SANTIAGO, 2010; 2013; 2018).
que ainda restam) de grande riqueza, refletin- Além disso, cada vez mais suas áreas são
do a importância dos ecossistemas naturais e incorporadas pela dinâmica urbano-indus-
agrícolas para as comunidades caipiras locais. trial: por meio das grandes fazendas mono-
A persistência dos remanescentes flores- cultoras, desde a época do café; pelo intenso
tais possibilitou a manutenção de alguns bair- processo de urbanização; pelas chácaras e con-
ros tradicionais que neles se inseriam. Con- domínios de recreio, associadas ao processo
tudo, ainda assim as transformações sociais de especulação imobiliária; pela instalação de
pelas quais passou o Brasil, a partir da década empreendimentos hortigranjeiros; pelo repre-
de 1930, mais especialmente concentradas em samento de suas áreas com a instalação de
São Paulo que, para Monbeig (2004), refletem hidrelétricas e, ainda, pela criação de unidades
a substituição da civilização do Brasil Colô- de conservação da natureza, das quais não se
nia pela civilização do tipo norte-americana, podem dissociar o processo de desenvolvimen-
impactaram drasticamente a organização to econômico e as consequentes estratégias de
social do caipira e a sua qualidade de vida. desenvolvimento territorial adotada na socie-
A dinâmica da sociedade urbano-indus- dade contemporânea.
trial quase que extinguiu o patrimônio natural Importantes estudos foram realiza-
e cultural caipira dos arredores da cidade de dos sobre a cultura caipira e o impacto da
São Paulo. A vida simples do caipira, com parcos urbanização e da industrialização sobre a
recursos financeiros, mas festiva, farta em ali- mesma (QUEIROZ, 1973a; QUEIROZ, 1973b;
mentos e rica em autonomia de saberes e meios CANDIDO, 2003), levando à possível conclu-
de sustentação, fosse pelos recursos naturais são de sua inevitável tendência ao desapareci-
disponíveis ou pela organização social estabe- mento. Mas, o fato é que o caipira tradicional,
lecida (igualitária e de auxílio mútuo), tornou- quase que extinto da paisagem dos arredores
-se pobre em todos os aspectos. de São Paulo, ainda existe e, isolado e desper-
Não é o contato com a cidade que amea- cebido, busca formas de resistir, adaptando-
ça a cultura caipira. Queiroz (1973a; 1973b) -se as novas realidades de maneira a garantir
demonstrou, aliás, exatamente o contrário, a manutenção de antigos valores que lhe são
mas sim o isolamento social que lhe foi impos- caros. Todavia, muitas vezes, à custa da perda
to pela lógica moderna, em que a quebra das de saberes importantes relacionados ao uso e
relações econômicas com a cidade e seu iso- ao manejo dos recursos naturais, à custa da
lamento determinaram a degradação do seu perda de muitas das suas manifestações fol-
estilo de vida. clorísticas, já que a maneira de manterem-se
Antes disseminados em meio às matas dos vivos somente é possível por meio do trabalho
arredores de São Paulo, interagindo, frequen- assalariado, contrário à lógica de vida da cul-
temente, com a cidade, os bairros tradicionais tura caipira.
426 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Em sintonia com as políticas de proteção conjuntura, as professoras tornam-se agentes


à natureza, outro fator de impacto negativo às a serviço da implantação de atitudes, crenças e
comunidades tradicionais caipiras, um pouco valores, estranhos ao homem do campo.
mais recente, de tendência crescente nas áreas Herculiani (2009) ressalta, ainda, que os
naturais remanescentes, é a atividade de turis- conhecimentos levados pelos alunos não são
mo ecológico e cultural, também fruto do pro- considerados em sala de aula, pois há o des-
cesso de urbanização. Definida como uma ati- conhecimento das professoras sobre a cultura
vidade que beneficia a população local e o meio caipira de que o educando é portador.
ambiente é, por isso, fortemente adotada como A desvalorização dos saberes tradicio-
política pelos órgãos de conservação ambien- nais ocorre, frequentemente, ainda, na ação
tal, nos diversos níveis de governo. Contudo, rotineira de outros setores das políticas públi-
há décadas tem-se alertado sobre suas conse- cas, como os de saúde, agricultura e meio
quências negativas (FAO/PNUMA, 1993). Tra- ambiente. A falta de compreensão sobre a cultu-
ta-se de uma atividade demandada pela socie- ra caipira e sobre os conhecimentos empíricos
dade urbana e estruturada em função dessa. que ela comporta tem historicamente reforça-
Além do processo de urbanização e da espe- do sobremaneira a perda de saberes sobre os
culação imobiliária que o turismo instala nas ecossistemas.
pequenas cidades, em geral as comunidades Nesse processo de desvalorização, os ser-
são motivadas a substituir suas práticas de uso viços dos ecossistemas vêm se tornando indis-
dos recursos naturais para empregarem-se poníveis também pela perda gradativa, ao longo
em atividades relacionadas ao atendimento ao das gerações, dos conhecimentos tradicionais
público ou a estabelecer uma produção comer- sobre o uso e o manejo dos recursos naturais.
cial intensa de determinados artefatos para Conforme tratado em “A estratégia Glo-
atender à demanda turística, afastando-se do bal da Biodiversidade” (WRI/UICN/PNUMA,
modo de vida tradicional. 1992), a pesquisa sobre as dimensões sociais,
Embora nas últimas décadas as comuni- econômicas e ecológicas das relações entre
dades rurais tradicionais tenham sido repo- uma comunidade e sua base de recurso pode
sicionadas nas políticas nacionais e interna- ser a chave para mudanças institucionais
cionais de proteção à natureza, admitindo-se e para desfazer a falta de confiança entre o
entre os dez princípios para a conservação da Estado e a comunidade. Segundo o mesmo
biodiversidade a estreita relação entre esta e documento, uma boa pesquisa pode dissi-
a diversidade cultural (WRI/UICN/PNUMA, par estereótipos negativos e errôneos que os
1992), observa-se como um dos principais fato- funcionários do governo alimentam sobre a
res que ameaçam a cultura tradicional caipira população rural.
a dificuldade de se incorporar nas políticas A deficiência de estudos e a incompreen-
públicas setoriais a perspectiva de mundo des- são sobre a relação das comunidades tradicio-
ses grupos, de reconhecê-los nas suas especifi- nais caipiras com o seu território é sem dúvi-
cidades culturais. da o maior desafio a ser superado para que se
Nesse sentido, o estudo realizado por Her- possa delinear e aplicar políticas públicas de
culiani (2009) é exemplar. Abordando a inter- maneira adequada.

2.3.1 | Síntese dos principais vetores


ferência da escola na reprodução sociocultu-

de alteração incidentes sobre


ral caipira das famílias no Parque Estadual do
Jurupará, a autora identifica que os conteúdos
transmitidos têm pouco ou nenhum signifi- o serviço cultural folclorístico
cado para as crianças, pois desconsideram as - folclore caipira
características geográficas, socioculturais das
comunidades tradicionais, estabelecendo um Em todo o país, o estado de São Pau-
tipo de educação que não se adéqua à realidade lo (e em especial a Região Metropolitana de
por elas vivida; impõem-se conteúdos fortemen- São Paulo) foi o que mais rapidamente e com
te marcados por referências urbanas e, nessa maior intensidade absorveu e refletiu as
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 427

transformações trazidas pela lógica da socie- Desse modo, caso se mantenha o cenário
dade urbano-industrial contemporânea que se delineado a partir do século passado, corre-se
propagou no século passado. Assim, o modelo o risco, em médio prazo, da extinção dos ser-
de desenvolvimento econômico e social ado- viços culturais folclorístico dos ecossistemas,
tado e suas respectivas políticas territoriais no âmbito da RBCV, restando, quando muito,
e de desenvolvimento científico e tecnológico determinadas manifestações materiais do
tiveram como consequência a degradação irre- folclore caipira, esvaziadas de valores e refe-
versível dos ecossistemas, os conflitos socio- rências simbólicas, sem expressão alguma do
ambientais e a geração de pobreza e injustiça modo de vida tradicional.
social em relação às comunidades rurais tradi- O Quadro 7 apresenta a síntese, segun-
cionais caipiras. do o diagnóstico realizado, dos vetores de
Em tal perspectiva cabe destacar a alteração ambiental incidentes sobre o servi-
importância de se compreender que a perda ço cultural – folclore caipira, indicando se os
dos serviços culturais tem suas causas dire- respectivos vetores são diretos ou indiretos. Na
tas relacionadas à degradação dos ecossis- última coluna é apresentada a intensidade dos
temas ou à indisponibilidade de acesso aos respectivos vetores no século passado, e a ten-
mesmos, todavia, estas causas são o resultado dência dos impactos em um cenário futuro. A
de complexos fenômenos de ordem econômi- seguir, a Figura 2 demonstra esquematicamen-
ca, social e cultural. te a relação entre os principais vetores.

Vetor de alteração Intensidade


do serviço ecossistêmico Categoria Descrição dos impactos culturais e tendência

Fomento à industrialização e O lavrador tradicional caipira, de economia


à produção agrícola e doméstica, com produção visando prioritariamen-
pecuária de larga escala Indireto te o consumo da família e a venda de excedente
como estratégia de na cidade, tem suas atividades econômicas e
desenvolvimento econômico. socioculturais, afetadas.
Fomento governamental à Disseminação de grande número de cooperati-
criação e ao Indireto vas com diretrizes técnicas e lógicas de produ-
desenvolvimento de ção contrárias às tradicionais, cuja produção
cooperativas agrícolas. passa a competir com a do caipira.
Os lavradores tradicionais levavam o excedente da
Econômico

sua produção agrícola e pecuária para venda na


Quebra das relações cidade e de lá traziam os poucos itens de que não
comerciais positivas do dispunham para sua sobrevivência. Com a quebra
lavrador tradicional com Indireto
das relações comerciais, o caipira diminui signifi-
a cidade. cativamente as atividades agrícolas, passando a
buscar formas alternativas de sobrevivência.
Projetos desenvolvidos, no âmbito do Estado,
para a implantação do ecoturismo em UCs e
Incentivo à atividade
Indireto suas áreas de entorno incentivam a comunida-
econômica turística.
de local a realizar atividades que a afastam da
economia doméstica e modo de vida tradicional.

Criação de unidades de Conflito legal de uso do solo. A presença huma-


conservação da natureza Direto na é incompatível com o objetivo de manejo da
de proteção integral em unidade.
territórios tradicionais. Quadro 7 |
Instituição legal de categorias Síntese dos principais
Sociopolítico

de unidades de conservação vetores de alteração


de uso sustentável destina- A Lei impõe regras e obrigações que contrariam ambiental na RBCV,
das à proteção dos recursos Indireto a lógica tradicional de gestão dos territórios que impactaram
naturais necessários às ancestrais, as hierarquias locais, a economia e as comunidades
comunidades tradicionais o saber-fazer sobre o manejo dos ecossistemas. tradicionais caipiras
- Lei 9.985/2000 (Sistema no último século.
Nacional de Unidades de
Fonte: Elaboração
Conservação).
própria.
428 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Vetor de alteração Intensidade


do serviço ecossistêmico Categoria Descrição dos impactos culturais e tendência

Promulgação da Lei 9.985/

?
2000 (Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Reconhecimento legal sobre o direito e os sabe-
Natureza); Lei 11.428/2006 res das comunidades tradicionais. Todavia, exis-
(Uso e proteção da Mata tem grandes lacunas quanto à identificação, ao
Indireto
Atlântica) e Decreto 6.040/ cadastramento e à conscientização da socieda-
2007 (Política Nacional de de, quanto à importância do modo de vida tradi-
Desenvolvimento cional na proteção da biodiversidade e os direi-
Sustentável dos Povos e tos que lhes são conferidos pela legislação.
Sociopolítico

Comunidades Tradicionais).
Resolução da Secretaria de A norma exige: laudo de vegetação, plano de

?
Meio Ambiente do Estado uso, estimativa de volume dos produtos e sub-
027/2010 (procedimentos produtos florestais. São documentos e informa-
simplificados de autorização ções técnicas, estas completamente estranhas
para supressão de vegetação às práticas e às formas de saber da cultura tra-
Indireto
nativa para populações dicional, desconsiderando o seu conhecimento
tradicionais visando à sobre o manejo agrícola e florestal: as normas
agricultura sustentável nas consuetudinárias e o conhecimento empírico.
áreas de regeneração inicial Fato que acaba por inviabilizar a solicitação de
da Mata Atlântica). autorização para a prática agrícola.

Políticas setoriais de economia, educação, saú-


de, agricultura e meio ambiente que descon-

?
sideram a realidade e as especificidades da
cultura caipira, impulsionando a transformação
Crença na superioridade
dos hábitos de consumo em geral. Transforma-
dos valores e saberes da
Indireto ção nos costumes e nos saberes, envolvendo a
sociedade contemporânea
fitoterapia e a medicina popular, a produção e a
urbano-industrial em relação
comercialização dos produtos agrícolas e flores-
às comunidades de cultura
tais, os critérios de uso e a gestão dos territórios,
tradicional.
e o sistema de transmissão de conhecimento.
Ineficiência das leis que protegem o direito e o
modo de vida das comunidades tradicionais.
A alteração dos hábitos alimentares da socieda-
de contemporânea motiva a rejeição dos produ-
Cultural

Hábitos alimentares. Indireto tos provenientes da agricultura e pecuária tradi-


cional e estimula na comunidade o consumo de
produtos industrializados.
Sociedade contemporânea passa a valorizar e
Indireto a “consumir” espaços que possibilitem o conta-
Turismo. to com a natureza transformando os lugares e a
organização social das comunidades locais.
As condições de extrema pobreza motivaram a
substituição da religião originalmente adotada
Religião. Indireto pelas comunidades tradicionais. Alteração nas
crenças religiosas e consequentemente nas
referências mitológicas e morais que pautam a
relação sociedade-natureza na cultura caipira.
Instalação de pequenos Demanda por terras para atividades hortifruti-
empreendimentos agrícolas granjeiras. O caipira foi cedendo espaço para os
Direto
no entorno da cidade de pequenos produtores agrícolas, especialmente es-
Quadro 7 | São Paulo. trangeiros, que ocupavam os arredores da cidade.
Síntese dos A paisagem rural tipicamente produzida pelo
e na cobertura do solo

principais vetores Expansão das cidades, caipira, formada pelos sistemas agrícolas entre-
Alterações no uso

de alteração da agricultura e da pecuária Direto meados de floresta, nos diferentes estágios de


ambiental na moderna e suas respectivas sucessão, e as pequenas estruturas patrimo-
RBCV, que estruturas urbanas. niais foram sendo incorporadas pela dinâmica de
impactaram as urbanização e pelo processo de industrialização
comunidades As chácaras de recreio, em áreas de remanes-
tradicionais Turismo de segunda
residência e suas centes florestais e empreendimentos imobiliários
caipiras no último Direto (loteamentos, casas e apartamentos), especial-
século. respectivas estruturas
urbanas. mente no litoral, foram substituindo a paisagem
Fonte: Elaboração caipira e extinguindo a cultura local.
própria.
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 429

Vetor de alteração Intensidade


Categoria Descrição dos impactos culturais
do serviço ecossistêmico e tendência
Comunidades tradicionais são cooptadas no pro-
Implantação de cesso de desenvolvimento turístico, sendo afasta-
empreendimentos de das de suas práticas de agricultura e extração dos
Direto
ecoturismo e suas recursos naturais, seja em unidades de conserva-
respectivas estruturas. ção ou em terras particulares, muitas vezes, ante-
riormente, pertencentes aos seus antepassados.
As comunidades caipiras que resistiram à com-
pleta transformação, atingem condições extre-
Alterações no uso e na cobertura do solo

mas de pobreza, pois os ecossistemas naturais


remanescentes recebem severas restrições
legais, tonando-se muito difícil o exercício das
Redução drástica e práticas socioeconômicas e culturais do caipira.
confinamento dos Direto Perda do conhecimento tradicional sobre o uso e
ecossistemas naturais. o manejo dos recursos naturais. Passam a cair
em desuso os sistemas construtivos, utensílios,
equipamentos tradicionais.
Perda da autonomia territorial, dependência de
emprego e dissolução dos laços de solidarieda-
de: extinção do mutirão.
Alteração do modo de vida tradicional baseado
na agricultura, com consequente empobreci-
mento material e cultural.
Quase extinção dos Perda de conhecimento sobre a culinária e tec-
sistemas agrícolas nologia tradicional de produção, o processamen-
tradicionais e de sua Direto to e a conservação de alimentos.
respectiva paisagem. Perda de significado dos ritos e das festividades
vinculados às atividades agrícolas de plantio e
colheita. Perda da autonomia territorial, depen-
dência de emprego e dissolução dos laços de
solidariedade: extinção do mutirão.
A redução dos espaços disponíveis para a agri-
cultura tradicional (de pousio) e as políticas de
extensão rural conduzem ao uso de insumos agrí-
Uso de tecnologias colas modernos: uso de sementes geneticamente
e insumos externos. modificadas, fertilizantes e defensivos agrícolas.
Tecnológico

Direto A introdução de tecnologias modernas e a elimi-


nação de variedades rústicas adaptadas às con-
dições locais, repassadas de geração a geração,
impulsionam a perda do saber sobre o manejo
agrícola tradicional e a dependência de insumos
externos.
Quadro 7 |
Síntese dos principais
Impacto dos vetores de alteração sobre o Tendência atual dos vetores de alteração
vetores de alteração
serviço ecossistêmico de folclore caipira no sobre o serviço ecossistêmico de folclore caipira
ambiental na RBCV,
último século
Diminui Aumenta que impactaram
Baixo Moderado
as comunidades
tradicionais caipiras
Continua Aumenta rapidamente
no último século.
Fonte: Elaboração
Alto Muito Alto Desconhecido Diminui rapidamente
própria.
(continuação)
430 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 2 |
Esquema
sintético da
relação entre os
principais vetores
de alteração
ambiental que
incidem sobre
os serviços
folclorísticos dos
ecossistemas
na RBCV.
Fonte: Elaboração
própria.

3 | ESTUDO DE CASO os bairros rurais do Sertão de Itapecerica


definiam-se pelo alto grau de autossuficiência
Os estudos de caso a seguir explicitam o econômica, com pequena utilização do sistema
impacto da racionalidade urbano-industrial monetário e produção destinada ao consumo
da sociedade contemporânea à cultura caipi- direto e aproveitamento comercial do pequeno
ra e, ao mesmo tempo, a capacidade desta de excedente agrícola.
resistência às mudanças. A Figura 3 demons- Os sitiantes caipiras se instalavam em meio
tra, como visto anteriormente, a ampla distri- às clareiras da mata virgem, e ali faziam suas
buição da cultura caipira na RBCV no passa- roças. Pela extensão das terras, ocupando vas-
do, abrangendo todos os seus municípios, bem tas glebas, podiam eles ser chamados de “fazen-
como a área contemplada nos estudos de caso. deiros”. Mas, pelo tipo de cultivo e pelo estilo de
Cabe esclarecer que alguns municípios indi- vida, eram de fato sitiantes, ou seja, plantavam
cados no mapa como de antiga ocorrência caipira em suas terras roças cultivadas apenas com a
foram criados recentemente, todavia, seus ter- mão de obra familiar (QUEIROZ, 1973b).
ritórios eram abrangidos por outros municípios A produção dos sítios era suficiente para
citados nas bibliografias consultadas. alimentar as famílias produtoras e, em sen-
do o gênero de vida, a economia e a produção

3.1 | A decadência dos bairros


semelhante entre todos os sitiantes do Sertão,

tradicionais caipiras no município


as possibilidades de trocas econômicas eram
limitadas. Desse modo, o excedente era levado

de Juquitiba – Sertão de Itapecerica,


até a cidade de São Paulo, onde era trocado por

e a emergência do processo de
tecidos, pólvora, sal, vinho e aguardente. Cada

industrialização e urbanização
sitiante possuía uma tropa de burros e seu con-

da cidade de São Paulo


tato com a cidade de São Paulo era contínuo e
constante, ocorrendo pelo menos uma vez no
decorrer do mês. A partir do fim do século XIX
A cidade de Juquitiba dista 70 km da e durante quase duas gerações, o excedente
capital. Segundo Queiroz (1973a), no passado, da produção permitiu à população caipira um
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 431

Figura 3 |
Mapa da antiga
distribuição dos
bairros rurais
tradicionais caipiras
no âmbito da RBCV
e a localização das
áreas de estudo.
Elaboração: Antonio
Vanderlei Toledo.
Organização. Cristina
de Marco Santiago.
Mapa Base: Instituto
Florestal/RBCV, 2009.
Fonte: Fernandes
(1972); Queiroz (1973a;
1973b); Petroni (1995).
bom nível de vida, segundo os seus padrões da civilização caipira paulista e da civilização
culturais (QUEIROZ, 1973b). rústica brasileira (QUEIROZ, 1973b).
Havia um paralelismo complementar entre A maior parte dos moradores eram donos
a cidade e o caipira, de maneira que ela neces- de terras que passavam de geração a geração.
sitava muito mais dele do que ele dela, pois era O pagamento anual dos impostos garantia-lhes
o sitiante tradicional que a abastecia com seus a posse legítima da terra, os sitiantes desloca-
gêneros alimentícios (QUEIROZ, 1973b). vam-se para festas, para compras, para visitas
Apesar de povoada há centenas de anos, e para os deveres religiosos quando e como
a área era considerada, até algumas décadas quisessem (QUEIROZ, 1973b).
atrás, das mais isoladas e inexploradas de Todavia, o gênero de vida caipira no Ser-
todo o estado de São Paulo, persistindo ali, em tão de Itapecerica foi sofrendo alterações na
alguns bairros, até a década de 1960, na forma medida em que o desenvolvimento econômi-
mais tradicional, o ritmo de vida característico co do Estado estabeleceu para a capital novas
432 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

características, desligando-a de sua periferia. De qualquer modo, impôs-se um novo rit-


A melhoria da comunicação e a especializa- mo de vida, ocorrendo a desorganização social
ção da agricultura acabaram por desbancar o do caipira, o esfacelamento da vida comunitá-
comércio dos produtos agrícolas tradicionais ria e a quebra da sua relação com a natureza.
(QUEIROZ, 1973b). Com isso, muitos sitiantes passaram a sofrer
O processo de industrialização, por um processo de marginalização (FUKUI, 1968;
sua vez, determinava o consumo crescente QUEIROZ, 1973a).
de combustível, necessário para alimentar O antigo equilíbrio de complementarida-
as empresas que se multiplicavam. O car- de independente entre cidade e bairro rural se
vão vegetal passou, então, a partir de 1935, a destruiu e foi substituído por um equilíbrio de
substituir gradativamente o excedente agrí- complementaridade subordinada (QUEIROZ,
cola que era vendido pelo caipira na capital 1973b).
(FUKUI, 1968; QUEIROZ, 1973b). Atualmente, Juquitiba não se configura
A produção do carvão se expandiu e, mais como um território caracteristicamente
com a abertura de uma estrada estadual que caipira. A lógica de vida urbana expressa-se
chegava até Juquitiba, permitindo o aces- nas chácaras de recreio e no turismo ecológico.
so ao caminhão que vinha buscar o carvão,

3.2 | A arte do trançado e os caipiras


a maioria dos sitiantes tornou-se carvoeiro,

no município de Ibiúna e Juquitiba


deixando de lavrar a terra, inclusive para con-
sumo próprio. O contato com a cidade deixa
de existir; é o intermediário da venda do car-
vão quem impõe o preço de compra, assim Na região sudoeste do estado de São
como é ele que vende os mantimentos para Paulo, nos municípios de Juquitiba e Ibiúna,
consumo do antigo sitiante (FUKUI, 1968; incluídos aqui os moradores do Parque Esta-
QUEIROZ, 1973b). Outrora soberano, o sitiante dual do Jurupará, as manifestações artísticas
do Sertão de Itapecerica era, então, explorado se realizam através do domínio técnico do
pelo intermediário, que impunha o seu preço trançado e das escolhas estéticas, resultan-
(QUEIROZ, 1968). tes da sensibilidade do artista e da relação
O lucro da produção de carvão era gas- com a comunidade a que pertence (MELLO,
to em comida para a família e, entre 1935 e 2001).
1945, toda a lucratividade dessa atividade Comumente os artefatos produzidos
não atingiu os produtores. Sem roça, a subor- eram, e ainda são, para atender as necessi-
dinação do sitiante ao regime comercial e dades funcionais e estéticas, podendo ser
urbano, oposto ao seu, é total, e sua degrada- classificadas como: de subsistência (cestos
ção é máxima. Seu gênero de vida se empo- para transporte dos produtos agrícolas e para
brece. Vestindo farrapos, não organizava o fabrico de farinha de milho), de conforto
mais novenas, não conservava as suas rela- doméstico (esteira e abanador), de uso pes-
ções de parentesco e compadrio, chegando soal (bolsas e balaio de tampo), lazer e sociali-
ao grau mais elevado de isolamento (FUKUI, zação (miniaturas para brinquedos de criança)
1968; QUEIROZ, 1973a). (MELLO, 2001).
Com a abertura da BR 2, em 1960, as ter- Foram identificados e classificados 38
ras valorizaram-se, e como o preço do carvão artefatos elaborados por pessoas moradoras
era cada vez mais baixo, muitos venderam as na região, confeccionados com diversas espé-
terras ancestrais, em parte ou na totalidade, cies vegetais de ocorrência local evidenciando,
neste último caso tornando-se empregados assim, o saber tradicional que ainda portam as
do comprador em suas antigas terras ou em populações tradicionais e a importância dos
outra parte qualquer. Houve aqueles que, ecossistemas para a sua reprodução cultural
conseguindo apurar algum dinheiro com a (MELLO, 2001). Nos Quadros 8 e 9, são exem-
venda das terras, abriram vendas ou quitan- plificados, respectivamente, alguns dos arte-
das na beira da estrada (FUKUI, 1968; QUEI- fatos produzidos e algumas plantas frequente-
ROZ, 1973a). mente utilizadas.
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 433

Nome vernacular Nome técnico Tipologia funcional

Apá balaio Apá Uso e conforto doméstico

Balaio Cesto gameliforme Uso e conforto doméstico

Balaio de costura Cesto estojiforme Trançado para uso pessoal

Balança Cesto platiforme Uso e conforto doméstico

Cesto para galinha Cesto peneiriforme quadragular Uso e conforto doméstico


Quadro 8 |
Cesto para a abelha Cesto vasiforme cilíndrico Uso e conforto doméstico Exemplos
dos artefatos
Jacá de baldeio Cesto cargueiro paneiriforme Trançado como meio de transporte/ lazer e
produzidos nos
adorno doméstico
municípios de
Peneira para mariscar Cesto tigeliforme Trançado para pesca Juquitiba e Ibiúna.
Fonte: Mello (2001).

Nome popular das espécies e uso na confecção das cestarias

Confecção dos tecidos Tingimento Estrutura e forma Amarração e acabamentos

Cipó-São João Palmiteiro Canela-de-cotia Embira-branca


Cipó-d’alho Sassafrão Capauveiro Tucum
Cipó-peva Urupê Cuião-de-galo
Cipó-peva-miúda Espinheira-santa
Cipó-tripa-de-galinha Pau-de-pinha
Taboa Rabo-de-bugio
Quadro 9 |
Junco Algumas das
espécies nativas
Taquara-pinima
da Mata Atlântica
Taquara-ioça utilizadas no
processo de
Taquaruvu manufatura das
Taquara-do-reino cestarias.
Fonte: Mello (2001).

A confecção dos artefatos é realizada por "Sem ele, o aprendizado do artista é uma tare-
pessoas que conhecem os tipos de trançado, fa sem frutos. Todos os meninos camponeses
seguindo a tradição da tecnologia, criam con- aprendem com os adultos o trabalho da lavoura.
forme os já existentes, contudo ousam fazer Apenas alguns aprendem artes de ofícios rurais.
uma ornamentação estética própria e modifi- Um menor número ainda, entre todos, chega a
cam as formas e os tamanhos. (MELLO, 2001), ser adulto artista [...]. Entre o saber comum do
Sendo então considerados os melhores, pois trabalho produtivo e o saber do especialista
têm o dom de fazer. Os conhecimentos da arte do trabalho do artesão ou do artista, existe o
dado 'dom' a 'inclinação', 'inovação', o 'jeito' [...]"
da cestaria, envolvendo a coleta, o preparo da
(BRANDÃO, 1983b: p. 82).
matéria prima e as técnicas de trançado ocor-
rem de maneira informal. Os mais velhos são
os responsáveis por orientar todo o processo Também há a questão de gênero do fazer
para os mais novos da família. São as caracte- cesteiro: os jacás, em geral, são produzidos
rísticas individuais, suas histórias de vida que pelos homens, e as esteiras são de domínio das
fazem nascer o cesteiro, a paciência e a obser- mulheres. Contudo, não é pré-estabelecido o
vação são determinantes. Por estas razões tipo de artefato que deve ser confeccionado por
apenas alguns membros da família são artis- homem ou mulher (MELLO, 2001).
tas (MELLO, 2001). Como observa Brandão Na atualidade, a confecção de artefatos,
(1983b), “É sobre o dom que o saber se cumpre.” além de recuperar, a seu modo, os fragmentos
434 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

do passado, representam também uma ativida- imaterial de dois bairros: o do Rio Bonito e o
de econômica. dos Paulo. De diferentes formas, ambos guar-
Retomando o passado, era comum a tro- dam permanência da cultura rústica caipira
ca de artefatos, produzidos pelos especialistas, que resiste à modernidade. Esses bairros se
por prestação de serviços. Especialistas são referem a duas comunidades que, no passado,
aqueles membros da comunidade que têm integravam-se a uma rede de diversos outros
domínio de técnicas de trançar mais com- bairros do Sertão, os quais interagiam social-
plexas. Mas era comum também o comércio mente, utilizando os mesmos caminhos, com-
(MELLO, 2001). partilhando lugares sagrados e ritos religiosos
Como estratégia de manutenção da cultura (SANTIAGO, 2010; 2013).
do grupo, são realizadas adaptações de formas Os trabalhos de campo realizados no
e usos, como por exemplo, as ‘fruteiras’ confec- âmbito do referido Plano, bem como os estu-
cionadas a partir do ‘antigo balaio’. A memória dos efetuados por Santiago (2010; 2013; 2018)
coletiva não funciona como uma memorização, sobre a territorialidade caipira no bairro dos
Paulo, identificaram mostras representativas
pois as sociedades sem escrita conferem mais
do patrimônio histórico-cultural caipira coleti-
liberdade e possibilidades criativas à memó-
vo que expressam o domínio da cultura naque-
ria. São conhecimentos não institucionalizados
le território, bem como do patrimônio específi-
que de algum modo representam a consciência
co dos bairros amostrados.
coletiva de grupos inteiros – famílias, aldeias
A antiguidade da ocupação caipira e as
(MELLO, 2001: p. 110).
marcas pouco profundas no ambiente natural,
A arte do trançado se constitui em mani- característica peculiar às culturas tradicionais,
festações culturais realizadas com prazer e estabeleceram as condições para que ambos os
preocupação estética, e com base nos conhe- bairros fossem classificados como sítios arqueo-
cimentos e na memória. Mas essas manifesta- lógicos multicomponenciais, ou seja, que reúnem
ções passam por mudanças ao longo do tem- vestígios de mais de uma ocupação humana, no
po, constatadas ao se observar as formas e os caso, de ocupação indígena pré-colonial e de ocu-
materiais, de certo modo ainda vinculados com pação histórica do Brasil Colônia (SMA, 2009).
o passado (MELLO, 2001). Enquanto patrimônio coletivo, foram
registrados dois cemitérios (Capela Azul e

3.3 | Parque Estadual do Jurupará,


Tuins), com suas respectivas capelas, e o cami-

um depositário da cultura material


nho dos tropeiros, por séculos utilizado pelos

e imaterial rústica caipira


moradores locais como acesso a povoados e
centros urbanos, inclusive São Paulo, para
onde, frequentemente, deslocavam-se para
Resistindo ao passado, o Sertão de Ibiúna comercializar os seus gêneros e trazer os pou-
(parte integrante do Sertão de Itapecerica da Ser- cos itens que não produziam.
ra), na Serra de Paranapiacaba, guarda mostras Nos bairros amostrados foram identifica-
importantes da cultura rústica caipira do esta- dos, além da arqueologia, elementos da cultura
do de São Paulo (SMA, 2009; SANTIAGO 2010; que refletem os saberes e os modus vivendi das
2013; 2018). Na área de abrangência da RBCV, comunidades. Trata-se de paisagens rurais, com
não há dúvidas de que se trata de um dos últimos um pequeno número de estruturas construtivas
redutos da cultura tradicional caipira, conforme de pequenas dimensões, predominantemente
já descrito por Queiroz (1973a; 1973b) e Petro- em sistema de pau a pique, apresentando edifi-
ne (1995). São núcleos caipiras cujos territórios cações que datam de cerca de 100 anos, incluin-
ancestrais são compreendidos por uma Zona do capelas, paióis e residências (SMA, 2009).
Núcleo da Reserva: o Parque Estadual do Jurupa- No bairro dos Paulo, composto por vizinhos
rá, conforme é possível observar na Figura 3. vinculados a um mesmo ancestral, a religião
Nos estudos realizados para a elabora- católica, bem como todos os ritos e festas asso-
ção do Plano de Manejo do referido parque, ciados, apresenta-se extinta, tendo sido substi-
foram caracterizadas a cultura material e tuída pelo protestantismo. A cultura material e
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 435

Figura 4 |
Artefatos/utensílios
característicos da
cultura caipira na área
de abrangência do
Parque Estadual do
Jurupará: (1) esteira
de taboa, (2) peneira
de taquara, (3) banco
de madeira, (4)
concha de madeira,
(5) pilão de madeira,
(6) vassoura - cabo
de taquara e folhas
de “vassourinha”
amarradas com
embira, (7) ninho
de galinha feito de
taquara.
Fonte: 1, 2, 3, 4, 6 e 7 -
Santiago (2010);
5 - Herculiani (2009).

Figura 5 |
Alguns dos alimentos
característicos da
cultura caipira na
área de abrangência
do Parque Estadual
do Jurupará: (1) feijão
cara suja, (2) bolinho
de milho, (3) abóbora,
(4) pamonha cozida
em folha de caeté-
miúdo, (5), pepino
caipira, (6) mandioca.
Fonte: Santiago
(2010).
436 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

imaterial rústica ainda está fortemente presente, um saber fazer que, juntos, regram a existência,
seja na prática dos moradores, na mobília das a forma de agir e de ser do caipira. Dessa pers-
casas, nas próprias edificações, nos utensílios, pectiva, Santiago (2010; 2013; 2018) verificou,
nas ferramentas, nos equipamentos, nas técni- no bairro dos Paulo, como é possível observar
cas de plantio e nos contos da floresta ou, ainda, nos depoimentos abaixo, a persistência na cren-
enquanto lembranças dos pais e avós (SMA, 2009; ça de entidades, como o Saci, a Mula Sem Cabeça,
SANTIAGO, 2010; 2013; 2018). o Caipora e o Pé Grande, apesar das transforma-
SANTIAGO (2010; 2013) constatou que, ções impostas pela nova religião.
até o final da década de 1950, quando na cidade
A caipora é bicho agressivo, agora ninguém
vizinha, em Juquitiba, a cultura caipira já estava
fala mais nada, depois que a religião evangélica
em decadência, os sitiantes do bairro dos Pau-
avançô, foi escondendo [...]. Depois que o evangé-
lo ainda viviam de forma tradicional, plantan- lico avançô, aí dexô dessas coisa, mais, que tem,
do suas roças, utilizando os recursos naturais tem. Só que a pessoa num pode acreditá. Né?
e comercializando os excedentes do plantio na mais que tem, tem.
cidade. Tratava-se, segundo a autora, de uma Existí, existi memo, mas num pode acreditá.
economia semifechada, caracterizada por uma
grande autonomia em relação à cidade e com- A autora identifica, ainda, como o sobre-
pleta interação com a natureza, sendo a floresta natural se integra às práticas de manejo da flo-
o meio pelo qual se dava a reprodução não ape- resta, influindo nas regras de uso dos recursos.
nas material, mas também cultural desse e dos O Pé Grande é uma entidade local, considerado
demais bairros rurais tradicionais que forma- pelos nativos o pai do mato, o rei da caça que
vam um grande território construído há séculos, repreende o trabalho noturno, o caçador e
cuja identidade do grupo firmava-se, assim, pelo aquele que faz grandes derrubadas, é o guar-
vínculo ancestral e pelo modo de vida tradicio- dião da floresta (SANTIAGO, 2010):
nal, reconhecendo-se entre si como nativos.
Para os moradores, nativo é aquele que O meu pai contava: disse que ele tava fazendo
é nascido e criado de pai e mãe no Sertão de uma derrubada grande anssim, ele tava andando,
Ibiúna, é um ser humano do mato, é o mes- aí ele olhô anssim, ele tava na testada da roçada;
mo que dizer ‘do mato’, definições que explici- tinha uma grumixavera grande, de tão grande
tam a forte identificação com um modo de vida que era que ele pisô e levantô a copa dela intera,
integrado à floresta (SANTIAGO, 2010; 2013). aí ele viu. Í, o Pé Grande ó. Quando ele correu e
Enquanto fonte de recursos e significados olhô pra trais já num inxergô mais nada.
culturais, a floresta designa crenças, valores e
O bairro do Rio Boni-
to, por sua vez, é um guar-
dião do catolicismo rústico
brasileiro, preservando as
imagens de santos e a tradi-
ção especialmente dos ritos
e festas religiosas do mês de
junho, as famosas e pratica-
mente extintas festas juni-
nas autênticas (SMA, 2009).
Figura 6 |
Vista geral do
bairro rural
tradicional
dos Paulo.
Fonte: Santiago
(2010).
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 437

4 | INDICADORES
DOS SERVIÇOS DOS
manifestação cultural, a construção de indica-
dores pode partir de duas grandes referências:

ECOSSISTEMAS
a disponibilidade dos ecossistemas naturais,
especialmente a floresta, em toda a sua diver-
sidade biológica e a integridade do conjunto de
O principal desafio para a construção de manifestações culturais (saberes tradicionais)
indicadores culturais no caso de comunidades do caipira, fruto dessa relação (Figura 7).
tradicionais se refere à estreita relação entre Dessa perspectiva, podem ser conside-
cultura e biodiversidade, relação essa que defi- rados três grupos de indicadores dos serviços
ne elos indissociáveis entre serviços culturais, culturais dos ecossistemas:
de provisão e até de regulação. a) o acesso à terra e ao uso dos recursos
Em se tratando de comunidades caipiras, naturais (na diversidade biológica
o estabelecimento de indicadores dos servi- necessária ao exercício de seu saber
ços culturais e sua aferição são extremante fazer): terra em tamanho suficiente
complexos, seja pela abrangência do serviço, para comportar o sistema de explora-
pelas formas de adaptação cultural frente às ção agroflorestal tradicional;
severas pressões e alterações socioespaciais b) as práticas caipiras relacionadas ao
ocorridas no último século ou pela lacuna de uso dos recursos naturais: utensílios,
informações específicas necessárias à deter- mobílias, culinária, medicina tradi-
minação de parâmetros de avaliação. Nesse cional, técnicas construtivas, técnicas
sentido, pode-se falar em indicadores de for- florestais e agrícolas tradicionais;
ma genérica, devido à carência de estudos c) a permanência de ritos, mitos e cren-
científicos. ças tradicionais caipiras.
Entendida a intrínseca relação entre Os indicadores são ferramentas metodoló-
os ecossistemas naturais e a cultura caipira, gicas muito importantes para a avaliação, con-
bem como a importância do folclore enquanto tudo, deve-se ter claro que são uma referência,

Figura 7 |
Esquema sintético
da relação entre
indicadores
dos serviços
ecossistêmicos,
cultura caipira
e ecossistemas
naturais.
Fonte: Elaboração
própria.
438 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

dando indícios da permanência ou não do servi- da economia capitalista, pode também ser um
ço, mas não podem refletir com exatidão o grau indicador de alteração de traços culturais. Des-
de transformação ocorrido, que deve ser avaliado sa forma, a análise deve ser feita dentro de um
no contexto da estrutura e da organização social. contexto.
As grandes alterações nos ecossistemas Não há cultura estática e cada comunida-
e o vertiginoso crescimento urbano-industrial de deve ser estudada dentro de um processo
que se deu em todo o Estado, especialmente histórico, sob a perspectiva da cultura caipira
na Região Metropolitana de São Paulo, levou e das práticas e saberes particulares do grupo.
as comunidades caipiras a estabelecer estra- A partir dessa contextualização, é pertinente
tégias de manutenção da cultura. São adapta- efetuar, por intermédio de especialistas em
ções à nova realidade que se impôs, tornando uma perspectiva transdisciplinar, a análise e
ainda mais complexa a avaliação do serviço a avaliação das transformações e suas causas
cultural, pois são difíceis de serem identifica- específicas.
das como tal; muito frequentemente confunde- Tanto as avaliações como o processo
-se adaptação (enquanto forma de resistência de monitoramento são uma referência para
cultural) como perda da cultura; identifica-se o estabelecimento de estratégias e metas de
a descaracterização do folclore (como o aban- desenvolvimento social e territorial nas polí-
dono de um saber, de uma técnica, de um rito ticas públicas. Esse alerta é fundamental para
etc.), mas não se analisa a função social exer- que não se acentuem as injustiças ambientais e
cida pelo folclore, os valores maiores prezados sociais para com esses grupos, para que se pos-
pela tradição. sa reverter processos de deterioração do patri-
Por exemplo, a ausência do mutirão na mônio histórico-cultural e de pobreza, bem
lavoura (considerado um rito enquanto mani- como de degradação ambiental associados.
festação folclorística) pode estar relacionada

5 | CONTRIBUIÇÃO
ao trabalho assalariado que, como demons-

DOS SERVIÇOS
trou Queiroz (1973a; 1973b), é um importan-

ECOSSISTÊMICOS PARA
te indicador de desorganização social, pois se
opõe ao trabalho familiar, à obediência aos

O BEM-ESTAR HUMANO
ciclos de trabalho em conexão com a natureza,
e interfere nas relações de vizinhança. Porém,
o trabalho assalariado deve ser analisado no
contexto em que ele se insere, pois pode ser A dinâmica social característica do caipira
uma estratégia de fixação ao campo e mesmo à e as especificidades da sua relação com a natu-
terra ancestral, quando da impossibilidade de reza explicitam a importância fundamental dos
acesso aos recursos naturais como a restrição ecossistemas naturais na manutenção da cultu-
legal de exploração das terras para lavoura e ra e, consequentemente, nas suas manifestações
da floresta pela criação de uma unidade de con- folclorísticas. E o inverso também é verdadeiro,
servação, como demonstrou SANTIAGO (2010; ou seja, a importância desta cultura na manu-
2018). Portanto, neste caso, pode representar tenção dos ambientes naturais.
um fator de resistência cultural, além de um O folclore é resultado da experiência
fator de impacto negativo. peculiar de vida em comunidade, o qual é per-
Adaptando-se à nova situação, um ou manentemente vivido e revivido pelos seus
mais componentes do grupo procura formas de membros, inspirando e orientando valores
ajustar a sua permanência (individual ou fami- e comportamentos (FERNANDES, 1978); por
liar) na terra ao equilíbrio social e ecológico sua vez, a vida em comunidade, a organização
característico do caipira, por meio do trabalho social do caipira, como explica Candido (2003),
assalariado, esforçando-se em manter-se uni- está relacionada à manutenção do equilibro
do à comunidade e ao patrimônio herdado. ecológico entre o meio natural e o grupo.
Do mesmo modo, a produção cesteira Para o caipira tradicional, a terra, os
pode ser um indicador de prática cultural mas, recursos naturais que ela comporta e os sabe-
se comercializada dentro da lógica de mercado res sobre o seu uso e manejo são o seu grande
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 439

patrimônio familiar, que passa de geração a um cenário futuro em decorrência dos vetores
geração através dos séculos (SANTIAGO, 2010; de alteração ambiental.
2013). É este patrimônio material e imaterial A abordagem cultural exige o estabeleci-
que lhe proporciona condições dignas de vida: mento de parâmetros de avaliação compatíveis
autonomia, acesso à alimentação de boa quali- com a realidade socioeconômica tratada, pois a
dade, à saúde, à moradia, ao vestuário, ao desen- referência de bem-estar de uma cultura para a
volvimento físico, intelectual e moral. Enquanto outra pode variar muito. Neste caso, é impor-
patrimônio, terra e saberes comportam valores tante ter em mente que os indicadores devem
que impulsionam a relação sociedade-natureza, conceber e refletir a perspectiva de qualidade
necessários à reprodução biológica e sociocultu- de vida e bem-estar das comunidades rurais de
ral do caipira, intimamente ligada à conservação cultura tradicional, certamente, muito distinta
dos recursos naturais dos quais ele depende. da sociedade urbana.
Por esta razão, para Candido (2003), a Com base nos dados apresentados no
posse e a disponibilidade da terra (diríamos, a Quadro 10 identifica-se a urgência em se esta-
possibilidade de acesso aos sistemas ecológicos belecer pesquisas e monitoramentos científi-
naturais e agrícolas) são elementos fundamen- cos com vistas à avaliação da continuidade de
tais na manutenção das características da cul- oferta dos serviços culturais folclorísticos nas
tura caipira. comunidades tradicionais caipiras remanes-
A redução dos ecossistemas naturais e a centes, de forma que se possa nortear o pla-
predominância da lógica da sociedade urbano- nejamento e a gestão do patrimônio cultural e
-industrial nas políticas públicas, territoriais, natural associado ao respectivo serviço ecos-
econômicas e sociais, que se opõem à lógica sistêmico. Na sequência, é apresentada uma
tradicional, tornaram, no último século, a cul- aproximação de indicadores que podem orien-
tura rústica caipira extremamente vulnerável, tar estudos futuros, relacionando-se as formas
empobrecida e tendendo à extinção. de verificação à realidade local.
Em geral, poucos são os trabalhos que for- a) incidência de doenças;
necem parâmetros, na atualidade, para a ava- b) disponibilidade de alimentos em quan-
liação dos impactos negativos à cultura. Dife- tidade e diversidade suficientes para a
rentemente de outros serviços ecossistêmicos, boa saúde;
não é apenas a degradação do ecossistema em c) qualidade ambiental (ausência de
si que afeta a cultura caipira, mas, especial- poluição no solo, na água e no ar);
mente, a falta de entendimento da sociedade d) estado de conservação das moradias e
sobre como atuam esses serviços na qualidade dos equipamentos tradicionais;
de vida, no bem-estar e na sobrevivência cultu- e) manutenção das relações sociais (prá-
ral dessas comunidades. tica de ritos festivos e religiosos, pre-
Considerando o marco conceitual da Ava- sença de auxílio vicinal, trabalho em
liação Ecossistêmica do Milênio, os principais família);
vínculos entre a biodiversidade e os serviços f) disponibilidade de vestuário básico
folclorísticos da cultura caipira podem ser (especialmente em relação à segurança
estabelecidos a partir da análise dos diversos e à proteção);
componentes do bem-estar humano, agrupa- g) domínio de tecnologias tradicionais e
dos nas categorias: 1) recursos básicos para autonomia de saberes;
uma vida digna; 2) saúde; 3) boas relações h) direito à terra ancestral e ao uso dos
sociais; 4) segurança; 5) liberdade de escolha e recursos naturais;
ação (MEA, 2005). i) diversidade biológica conservada,
O Quadro 10 apresenta o quanto os ser- compatível com a diversidade de uso
viços culturais folclorísticos impactavam o de recursos naturais demandados pe-
bem-estar humano das comunidades tradicio- las comunidades caipiras (presença
nais caipiras em seus diversos aspectos, e mos- dos diferentes estágios sucessionais
tra a tendência de aumento ou diminuição da da vegetação; presença de espécies
disponibilidade dos respectivos serviços em tradicionalmente utilizadas);
440 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Serviços culturais dos ecossistemas naturais, agrícolas e pecuários


tradicionais que possibilitam o bem-estar humano
Dimensões do
bem-estar humano
Uso e manejo Uso e manejo Ritos, mitos,
Tecnologias
de espécies de espécies formas de Valores Identidade
de domínio
vegetais faunísticas expressão da simbólicos territorial
próprio*
nativas (caça e pesca) literatura oral

Provimento adequado de
alimentos, remédios e
outros bens necessários,
como: vestuário,
Recursos básicos
para vida digna

utensílios e moradia.
Possibilidade de ter
acesso a recursos
necessários para a
reprodução e
desenvolvimento
social estável.
Nutrição
adequada.
Prevenção a doenças
(bem-estar físico e
Saúde

emocional).
Acesso à água e ar
limpos.
Oportunidade de
expressão cultural e
espiritual.
Boas relações sociais

Organização social
igualitária e de auxílio
mútuo.
Oportunidade de
expressão de valores
estéticos e artísticos.
Oportunidade de sal-
vaguardar a cultura e o
saber tradicionais.

Possibilidade de viver
em um ambiente seguro
e livre de conflitos
(incluindo segurança
pessoal, alimentar e
Segurança

acesso a outros
recursos básicos).
Redução da vulnerabi-
lidade aos choques e
estresses ecológicos e
calamidades.
Oportunidades para
poder conquistar o que
Quadro 10 | um indivíduo valoriza
Liberdade de escolha

Avaliação do fazer e ser.


impacto dos
serviços culturais Autonomia: possibilida-
de de autogestão indivi-
e ação

ao bem-estar das
dual e coletiva, livre de
comunidades qualquer dependência
tradicionais ou subordinação entre
caipiras e pessoas ou diferentes
tendências grupos.
futuras quanto à
Contribuição do serviço ecossistêmico Tendência futura quanto à disponibilidade do
disponibilidade
cultural de folclore caipira ao bem-estar das serviço ecossistemico de folclore caipira na RBCV
desses serviços.
comunidades tradicionais Diminui Aumenta
Fonte: Elaboração
Baixo Moderado
própria. Continua Aumenta rapidamente
Com base Alto Muito Alto Desconhecido Diminui rapidamente
em MEA (2005).
Nota: * técnicas de confecção de utensílios, equipamentos e mobílias, técnicas construtivas, técnicas de agricultura e pecuária,
técnicas de processamento e conservação de alimentos e remédios.
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 441

j) acesso à educação formal de boa qua- para a vida e a integridade das comunidades,
lidade, adequada à realidade rural sua reprodução material e cultural.
tradicional; Somente com a degradação ambiental
k) acesso à saúde pública de boa quali- impactando a qualidade de vida e a economia
dade, adequada à realidade rural da sociedade moderna é que se voltou à
tradicional. atenção para a conservação dos ecossistemas,
contudo as comunidades tradicionais caipiras,
na prática, são insistentemente tratadas de

CONCLUSÕES
maneira indistinta da população urbana,
desconsiderando-se, nas políticas públicas,
suas práticas tradicionais, suas especificidades,
Na presente avaliação procurou-se de- necessidades e saberes inclusive sobre o uso e
monstrar que o folclore descreve as especifi- manejo da biodiversidade.
cidades da relação sociedade-natureza em Este cenário coloca em risco a manutenção
uma dada cultura. Nessa perspectiva, é dos serviços culturais folclorísticos dos
possível observar a indivisibilidade entre o ecossistemas no âmbito da RBCV, podendo
que se entende por benefícios não materiais restar, quando muito, manifestações materiais
e materiais dos ecossistemas para as do folclore caipira, esvaziadas de valores e
comunidades cuja cultura se vincula ao modo referências simbólicas, portanto sem expressão
de vida tradicional. alguma do modo de vida tradicional.
O desenvolvimento econômico do estado O monitoramento dos serviços culturais
de São Paulo, nos moldes em que se estabeleceu, folclorísticos e do impacto das mudanças nos
reduziu drasticamente os ecossistemas ecossistemas sobre o bem-estar das comu-
naturais e as comunidades tradicionais nidades caipiras é um instrumento importante
caipiras que junto a eles desenvolveram-se e para orientar as políticas publicas e está
estabeleceram-se ao longo dos séculos. associado a um processo complexo que envolve
À medida que a sociedade se urbanizava e preliminarmente estudos específicos sobre
se industrializava menos importância se dava cada território e a construção e mensuração de
à manutenção da biodiversidade, incluindo as indicadores. Tal medida torna-se imperativa
variedades agrícolas rústicas desenvolvidas tendo em vista a tendência crescente de perda
pelo sitiante caipira, adaptadas às condições do saber-fazer tradicional e o consequente
locais. Com a mudança de valores, também se prejuízo que tal fato representa à qualidade de
restringiu a compreensão geral da sociedade vida dessas comunidades e ainda à conservação
sobre o significado dos ecossistemas naturais da biodiversidade.
442 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, C. R. (1983a). Os caipiras de São HAESBAERT, R. (2005). Da desterritorialização


Paulo. São Paulo: Brasiliense, 92 p. à multiterritorialidade. In: ENCONTRO DE GEÓ-
GRAFOS DA AMÉRICA LATINA, 10, 2005. São
_________. (1983b). Casa de escola: cultura cam-
Paulo. Anais eletrônicos... São Paulo: USP. Dis-
ponesa e educação rural. São Paulo: Papirus,
ponível em: <http://www6.ufrgs.br/petgea/Artigo/
1983b. 248 p.
rh.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2010.
BRASIL. Lei federal nº 6938, de 31 de agosto de
HERCULIANI, S. (2009). A população tradicional
1981. Política nacional do meio ambiente. Diário
caipira e sua reprodução sociocultural frente
Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF,
às políticas públicas de conservação e os pro-
02 set. 1981. Seção 1, p. 5-6.
cessos de educação - Parque Estadual do Juru-
_________. Decreto nº 750, de 10 de fevereiro pará, Ibiúna – SP. 140 f. Dissertação (Mestrado
de 1993. Dispõe sobre o corte, a exploração e a em Geografia), Universidade de São Paulo, São
supressão de vegetação primária ou nos estágios Paulo, 2009.
avançado e médio de regeneração da Mata Atlân-
LIMA, R. T. (1967).Manifestações folclóricas em
tica, e dá outras providências. Diário Oficial da
São Paulo. In: BRUNO, E. S. (org.). São Paulo: Ter-
União, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 fev. 1993.
ra e povo. Porto Alegre: Globo, p. 167-189.
Seção 1, p. 5-6.
MEA - MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT.
_________. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000.
(2005). Ecosystems and human well-being: our
Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII
human planet – Summary for Decision-Makers.
da Constituição Federal, institui o Sistema Nacio-
Washington: Island Press, 109 p.
nal de Unidades de Conservação da Natureza e
dá outras providências. Diário Oficial da União, MELLO, A. R. T. (2001). A cestaria como trança-
Poder Executivo, Brasília, DF, 19 jul. 2000a. Seção do de memórias: a estética da produção cesteira
1, p. 1-6. na região do Juquiá. 177 f. Dissertação (Mestrado
em Antropologia). Pontifícia Universidade Católi-
_________. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de
ca de São Paulo. São Paulo. 2001.
2006. Dispõe sobre a utilização e proteção da
vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá MONBEIG, P. (2004). O crescimento da cidade de
outras providências. Diário Oficial da União, São Paulo. In: SZMRECSÁNYI, T. (org.). História
Poder Executivo, Brasília, DF, 26 dez. 2006. Seção econômica da cidade de São Paulo. São Paulo:
1, p. 1-4. Globo, p. 14-115.
_________. Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de MÜLLER, A. R. (1956). Ritos cablocos no estado
2007. Institui a Política Nacional de Desenvolvi- de São Paulo, Brasil: sua natureza e sua função
mento Sustentável dos Povos e Comunidades Tra- social. São Paulo: Escola de Sociologia e Política
dicionais. Diário Oficial da União, Poder Execu- de São Paulo, 40 p.
tivo, Brasília, DF, 7 fev. 2007. Seção 1, p. 316-317.
FAO - ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNI-
CANDIDO, A. (2003). Os Parceiros do Rio Boni- DAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACI-
to: estudo sobre o caipira paulista e a trans- ÓN; PNUMA - PROGRAMA DE LAS NACIONES
formação dos seus meios de vida. São Paulo: UNIDAS PARA EL MEDIO AMBIENTE. El turismo
Duas Cidades, 34 p. en los parques nacionales y otras áreas pro-
tegidas de América Latina. Santiago, Chile:
FERNANDES, L. L. (1972). Bairros rurais do
FAO/PNUMA, 1993. 119 p. (Documento Téc-
município de Limeira: estudo geográfico. 1972.
nico, 11).
Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universida- PETRONE, P. (1995). Aldeamentos paulistas.
de de São Paulo, São Paulo, 1972. São Paulo: Edusp, 396 p.
FERNANDES, F. (1978). O folclore em questão. PIRES, C. (1921). Conversas ao pé do fogo: estu-
São Paulo: Hucitec, 227 p. dinhos, costumes, contos, anedotas, cenas da
escravidão. São Paulo: Typografia Piratininga,
FUKUI, L. F. G. (1968). O sitiante brasileiro e as
252 p.
transformações de sua situação socioeconômica
(“O sertão de Itapecerica”: exemplo das relações QUEIROZ, M. I. P. (1968). O sitiante brasileiro e
entre uma sociedade rural de economia familiar as transformações socioeconômicas (a posição
e uma sociedade urbana de economia comer- social do sitiante na sociedade global brasilei-
cial). Cadernos do Centro de Estudos Rurais e ra). Cadernos do Centro de Estudos Rurais e
Urbanos (FFLCH/USP), n. 1, p. 111-154. Urbanos (FFLCH/USP), n. 1, p. 111-154.
SERVIÇOS CULTURAIS FOLCLORÍSTICOS: A DIMENSÃO DO FOLCLORE CAIPIRA 443

QUEIROZ, M. I. P. (1973a). O Campesinato Brasi- SMA - SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE (São


leiro: ensaios sobre civilização e grupos rústicos Paulo). Resolução SMA nº 027, de 30 de março
no Brasil. São Paulo: Vozes /EDUSP, 242 p. (Estu- de 2010. Dispõe sobre procedimentos simplifi-
dos Brasileiros). cados de autorização para supressão de vege-
tações nativas, a que se referem os artigos 33 e
_________. (1973b). Bairros rurais paulistas:
34 do Decreto Federal 6.660, de 21-11-2008, para
dinâmica das relações bairro rural - cidade. São
pequenos produtores rurais e populações tradi-
Paulo: Livraria Duas Cidades, 157 p.
cionais visando à agricultura sustentável nas áre-
RIBEIRO, D. (1995). O povo brasileiro: a forma- as de regeneração inicial da Mata Atlântica e dá
ção e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia outras providências. Diário Oficial, Poder Executi-
das Letras, 480 p. vo, Seção 1, São Paulo, SP, 31 de mar. 2010.
SANTIAGO, C. M. (2010). Os lavradores da Flo- _________. (2009a). Caracterização do Parque
resta: um estudo sobre as contradições das polí- Estadual do Jurupará. São Paulo. Relatório do
ticas públicas de conservação na proteção do Plano de Manejo. 418 p.
modo de vida tradicional, 269 p. Tese (Doutora-
UICN - UNIÓN MUNDIAL PARA LA NATURALAZA;
do em Geografia) – Departamento de Geografia,
PNUMA - PROGRAMA DE LAS NACIONES UNI-
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Huma-
DAS PARA EL MEDIO AMBIENTE; WWF - WORLD
nas, Universidade de São Paulo. São Paulo. 2010.
WILDLIFE FUND. (1980). Estrategia mundial
SANTIAGO, C. de M. (2013). Território caipira, ter- para la conservación: la conservación: la con-
ritório de conservação. Scripta Nova Revista servación de los recursos vivos para el logro de un
Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. desarrollo sostenido. Suiza: UICN/PNUMA/WWF,
Barcelona: Universidad de Barcelona, vol. XVII, nº 150 p.
449, 2013.
UICN - UNIÓN MUNDIAL PARA LA NATURALAZA.
SANTIAGO, C. M. (2018). Territorialidade de Sitian- PNUMA - PROGRAMA DE LAS NACIONES UNI-
tes Tradicionais no Estado de São Paulo. Merca- DAS PARA EL MEDIO AMBIENTE. (1991). Cuidan-
tor. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, v. do do Planeta Terra: uma estratégia para o futu-
17, ago 2018. ro da vida. São Paulo: CL-A Cultural, 246 p.

GLOSSÁRIO

A
Aborígine | habitantes originais, indígenas. preciosas, o apresamento de indígenas e a captu-
ra de escravos africanos fugitivos.
B P
Bandeiras e entradas | expedições que à época Pousio | Sistema de agricultura baseado em perío-
do Brasil Colônia adentravam o país com finalida- dos de descanso da terra, interrompendo-se tempo-
des diversas como a busca por metais e pedras rariamente o cultivo para possibilitar a recuperação
das propriedades físicas e químicas do solo.
444 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO
PARTE 3
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS CULTURAIS

3.2 LAZER E TURISMO:


UMA REFLEXÃO SOBRE O
ECOTURISMO, TURISMO
RURAL E TURISMO DE
AVENTURA

Coordenadores
Rodrigo Machado | SIMA
Vanessa Cordeiro de Souza | Pesquisadora independente

Autores
Rodrigo Machado | SIMA
Vanessa Cordeiro de Souza | Pesquisadora independente
Bely Clemente Camacho Pires | RdA – Pesquisadora independente
Elaine Aparecida Rodrigues | IF/SIMA – IPEN/USP

Autores contribuintes
Katia Mazzei | IBt/SIMA
Sidnei Raimundo | EACH/USP
Silvia Maria Bellato Nogueira | IF/SIMA
446 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto da abertura do capítulo:


Estudantes em visita ao
Núcleo Cabuçu, à sua zona de
amortecimento e comunidade
residente (Parque Estadual da
Cantareira, São Paulo).
Fonte: Rodrigo Machado
(2005).
SUMÁRIO

Resumo................................................................................................................. 451

1 | Introdução...................................................................................................... 452

2 | Lazer e turismo sustentável: serviços culturais viabilizados pelos


ecossistemas do território da RBCV................................................................ 453

2.1 | Lazer..................................................................................................... 453

2.2 | Turismo................................................................................................. 455

2.3 | Turismo sustentável, ecoturismo, turismo rural e turismo de aventura


como expressões do serviço ecossistêmico cultural de lazer e turismo.. 460

2.4 | Diagnóstico e potencialidades locais dos serviços ecossistêmicos


culturais de lazer e turismo na RBCV.................................................... 472

3 | Contribuições do serviço ecossistêmico cultural de lazer e turismo para


o bem-estar humano...................................................................................... 489

Conclusões........................................................................................................... 495

Referências........................................................................................................... 498

Glossário .............................................................................................................. 503


448 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 O turismo e suas distintas dimensões.
Figura 2 Modelo conceitual da Avaliação Ecossistêmica do Milênio adaptado ao contexto do Lazer
e Turismo.
Figura 3 Desembarques internacionais e domésticos e gastos de turistas no Brasil, entre 2016 e
2018.
Figura 4 Esportes de aventura no Monumento Natural da Pedra Grande, em Atibaia.
Figura 5 Feira de Artes e Artesanatos em Embu das Artes.
Figura 6 Aldeia de Carapicuíba, Carapicuíba.
Figura 7 Observação de aves, Ibiúna.
Figura 8 Perfil dos visitantes das UC do estado de São Paulo.
Figura 9 Turismo de aventura e turismo rural na RBCV.
Figura 10 Vinícolas tradicionais na Estrada do Vinho, em São Roque.
Figura 11 Esporte de aventura no rio Juquiá, em Juquitiba.
Figura 12 Praia do Perequê, Guarujá.
Figura 13 Número de UC (federal, estadual e municipal) nos municípios da RBCV, em 2019.
Figura 14 Categorização dos municípios da RBCV inseridos no Mapa do Turismo Brasileiro 2017-2019.
Figura 15 Represa de Redenção da Serra - Circuito Cultura Caipira e Rota da Liberdade.
Figura 16 Regiões turísticas dos municípios no Mapa Brasileiro de Turismo 2017-2019, Municípios
de Interesse Turístico e Estâncias Turísticas no território da RBCV.
Figura 17 Trilha Monumentos Históricos Caminhos do Mar.
Figura 18 Paredão de Lorena.
Figura 19 Trilha em campo de altitude no Núcleo Curucutu do PESM
Figura 20 Áreas de expansão da mancha urbana nas periferias da RMSP.
Figura 21 Parque Estadual Águas da Billings, São Bernardo do Campo.
Figura 22 Áreas com perda de vegetação na RMSP.
Figura 23 Bairro Cabuçu, Guarulhos.
Figura 24 Nascentes do Tietê, Salesópolis.
Figura 25 Canoagem ecológica, São Vicente.
Figura 26 Trilha do Bugio, Centro de Aventura Rio Abaixo, Juquitiba.
Figura 27 Rota das Ostras, Bertioga.
QUADROS
Quadro 1 Indicadores sobre o ecoturismo em UC.
Quadro 2 Serviços culturais de lazer e turismo na trilha Monumentos Históricos Caminhos do
Mar.
Quadro 3 Serviços culturais no Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar: o Lazer e o
Turismo.
Quadro 4 Ecossistemas, vetores de alteração e impactos como recursos pedagógicos do turismo
base local: a experiência com serviços ecossistêmicos de turismo no Cabuçu, Guarulhos.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 449

Quadro 5 Síntese dos principais vetores de alteração ambiental na RBCV que impactam o turismo
sustentável.
Quadro 6 Avaliação do impacto positivo dos serviços culturais de lazer e turismo sobre o
bem-estar do turista/visitante e tendências quanto à disponibilidade desses serviços.
TABELAS
Tabela 1 Atividades vinculadas ao turismo.
Tabela 2 Hábitos de consumo do turismo brasileiro.
Tabela 3 Atividades vinculadas ao ecoturismo (serviços ecossistêmicos culturais de turismo).
Tabela 4 Preferências nos hábitos de consumo do turismo brasileiro.
Tabela 5 Atividades do turismo de aventura.
Tabela 6 Legislação relacionada com o desenvolvimento de atividades turísticas.
Tabela 7 Trilhas selecionadas em UC estaduais na área da RBCV e municípios abrangidos.
Tabela 8 Regiões Turísticas do Mapa do Turismo Brasileiro 2017-2019 no território da RBCV e
municípios abrangidos.
Tabela 9 Iniciativas estaduais de promoção do turismo no território da RBCV e municípios
abrangidos.
Tabela 10 Municípios designados como Estância Turística e como Município de Interesse Turístico.

SIGLAS
ALESP Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
AM Avaliação Ecossistêmica do Milênio | Millennium Ecosystem Assessment
APA Área de Proteção Ambiental (Categoria de unidade de conservação)
CEA Coordenadoria de Educação Ambiental
CNUC Cadastro Nacional de Unidades de Conservação
EACH/USP Escola de Artes, Ciências e Humanidade/Universidade de São Paulo
EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo
IBt Instituto de Botânica
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IF Instituto Florestal
IPEN Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
MTur Ministério do Turismo
OMT Organização Mundial do Turismo
PJ-MAIS Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social
PNM Parque Natural Municipal
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SIMA Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
UC Unidade de Conservação
UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e a Cultura
USP Universidade de São Paulo
450 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 451

RESUMO

A s áreas naturais da RBCV são importantes fontes de serviços ecossistêmicos


culturais de lazer e turismo. Neste capítulo, a importância econômica do turismo
é reconhecida, sem deixar de lhe atribuir outros sentidos, possibilitando sua compreensão sob
diferentes abordagens, por vezes contraditórias. No aspecto social, o turismo compreende o
lazer orientado à reprodução das relações sociais de produção, mas criador de momentos de
educação e reflexão crítica. Na abordagem econômica, se destacam as atividades resultantes
do deslocamento de pessoas em busca de lazer, dando origem a serviços de hospedagem,
alimentação, transporte, organização de viagens e recreação. Com a abordagem ecossistêmica
é possível refletir sobre o turismo como um serviço cultural provido por áreas conservadas
onde se desenvolvem atividades de turismo sustentável, como o ecoturismo, o turismo
rural e o turismo de aventura. Nesta perspectiva, as áreas naturais da RBCV denotam sua
importância ao concentrar significativo número de unidades de conservação do estado de São
Paulo (100 UC), ao passo que seu território se sobrepõe ao da Região Metropolitana de São
Paulo, que pode ser compreendida como importante polo emissor de turistas e excursionistas.
No território da RBCV, existem atrativos naturais (provedores de serviços ecossistêmicos)
nos 78 municípios, em grande parte graças às unidades de conservação (UC) e propriedades
rurais distribuídas pelo Cinturão Verde. Destacam-se também programas governamentais
de estímulo ao turismo sustentável, como o programa Trilhas de São Paulo, da Secretaria de
Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo. No referido Programa, das 22 trilhas
apresentadas, cinco estão no território da RBCV, como Monumentos Históricos Caminhos
do Mar. No Mapa Turístico do Brasil 2017-2019, existem 15 Regiões Turísticas que abrangem
roteiros sobre aspectos naturais, históricos e gastronômicos de 67 municípios da RBCV, além
de outras cinco importantes iniciativas de roteiros turísticos para o Cinturão Verde, como o
Circuito Taypa de Pilão e a Rota do Cambuci. É necessário conhecer o que já ocorre na RBCV,
bem como apontar o potencial a ser adequadamente explorado, considerando vetores de
alteração decorrentes principalmente do desmatamento e que afetam o bem-estar humano
provido por estes serviços ecossistêmicos.
452 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO e turismo sustentável, que têm como possi-


bilidades o ecoturismo, o turismo rural e o

S egundo a Avaliação Ecossistêmica do Milê-


nio (MILLENNIUM..., 2005), os serviços
ecossistêmicos culturais são os benefícios não
turismo de aventura. Nota-se certa predomi-
nância em relação ao ecoturismo. Isso se deve
à hipótese de que as áreas protegidas do Cin-
materiais que as pessoas obtêm dos ecossiste- turão Verde são atrativos turísticos de contem-
mas, por meio de enriquecimento espiritual, plação consolidados e com maior potencial de
desenvolvimento cognitivo, reflexão, recre- reconhecimento.
ação e experiências estéticas. Nesse contex- A segunda seção dedica-se a apresentar
to encontram-se os serviços ecossistêmicos conceitualmente a temática deste capítulo. O
culturais de lazer e turismo, principalmente objetivo é expor noções, definições, dados e
aqueles disponibilizados pelos ecossistemas da informações secundárias produzidas por dife-
Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cida- rentes autores e órgãos oficiais, especialmente
de de São Paulo (RBCV), essenciais para o bem- pelo Ministério do Turismo que entre os anos
-estar humano numa região altamente pressio- de 2003 e 2010 realizou esforços com vistas a
nada pela atividade antrópica, como é o caso da produzir dados e informações que subsidiaram
Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). marcos regulatórios para o turismo nacional,
Embora se trate de uma abordagem ecos- bem como buscaram orientar a atividade turís-
sistêmica, abarcam-se também as bases concei- tica, seus atores e políticas públicas. Esses con-
tuais inerentes ao turismo enquanto fenômeno ceitos vão além da abordagem ecossistêmica e
social e suas consequentes atividades econô- possibilitam a melhor compreensão do turismo
micas. É importante salientar as diferenças enquanto fenômeno social dependente do meio
de abordagens ao longo do capítulo, que ora se natural e, simultaneamente, vetor de alteração
refere ao turismo como serviço ecossistêmico do mesmo, à medida em que uma série de ativi-
cultural, ora se refere ao fenômeno social que dades econômicas consequentemente se desen-
traz consigo atividades econômicas intrínse- volve e afeta os ecossistemas. Nesta seção tam-
cas: serviços de hospedagem, transporte, ali- bém é apresentado um panorama do que já
mentação, entretenimento. Propõe-se a repre- acontece e do potencial que pode ser melhor
sentação gráfica da Figura 1 com o objetivo de explorado no território da RBCV, além de uma
evidenciar as diferentes dimensões do turismo reflexão sobre os vetores de alteração dos ser-
para este capítulo. viços ecossistêmicos aqui tratados.
O capítulo se estrutura em quatro seções, Na sequência, a terceira seção é desti-
iniciando por esta introdução à temática com nada a estabelecer algumas relações entre os
breve discussão, também introdutória, sobre a serviços culturais abordados e o bem-estar
especificidade dos serviços culturais de lazer humano. A quarta e última seção dedica-se às

Figura 1 |
O turismo e suas
distintas dimensões.
Fonte: Elaboração
própria.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 453

considerações finais, à guisa de conclusão e Outro tema importante correlato ao ser-


apontamento de propostas baseadas na expo- viço ecossistêmico em análise são as abor-
sição deste capítulo. dagens sociais e econômicas, essenciais para

2 | LAZER E TURISMO
assegurar parte dos componentes do bem-estar
humano, como base material, boas relações

SUSTENTÁVEL: SERVIÇOS
sociais e liberdade de escolha. Nesse sentido,

CULTURAIS VIABILIZADOS
é necessário destacar as principais ativida-

PELOS ECOSSISTEMAS DO
des econômicas associadas ao turismo: servi-
ços de alimentação, hospedagem, transporte e

TERRITÓRIO DA RBCV
entretenimento. Têm-se então três abordagens
a serem verificadas neste capítulo: o lazer e
turismo como fenômeno social, os serviços de
Inicialmente é importante abordar o con- lazer e turismo enquanto atividade econômica
ceito e a natureza dos serviços ecossistêmicos e os serviços ecossistêmicos culturais de lazer
culturais. Segundo a Avaliação Ecossistêmica do e turismo. Uma quarta abordagem, decorrente
Milênio (MILLENNIUM..., 2003), estes serviços da ótica econômica e ecossistêmica, refere-se à
são os benefícios não materiais que as pessoas valoração destes serviços ecossistêmicos, por
obtêm dos ecossistemas, por meio de enrique- meio da corrente chamada economia ecológica,
cimento espiritual, desenvolvimento cognitivo, que é tratada no capítulo Valoração econômica-
reflexão, recreação e experiências estéticas. -ecológica de ecossistemas e seus serviços.
Embora a Avaliação Ecossistêmica do Milênio As inter-relações entre os serviços ecossis-
(MILLENNIUM..., 2005) tenha subdividido os têmicos de lazer e turismo, o bem-estar humano
serviços ecossistêmicos em culturais de iden- e os vetores de alteração sobre os ecossistemas
tidade, valores hereditários, espiritualidade, (fatores que impactam os ecossistemas de for-
inspiração, apreciação estética, recreação e ma negativa) podem ser visualizados na Figura
turismo, dificilmente seria possível separá-los 2, que adaptou o modelo conceitual da Avalia-
no que se refere aos benefícios para o bem-estar ção Ecossistêmica do Milênio (MILLENNIUM...,
humano, como no caso de uma visita a uma área 2003) para o contexto deste capítulo.
natural onde, na busca por inspiração artísti- Ao se abordar o lazer e turismo especifica-
ca, pode-se estar sendo levado a refletir sobre mente como serviços ecossistêmicos, é impor-
espiritualidade, à contemplação paisagística e à tante contextualizar o conceito geral de ambos,
diminuição da fadiga mental. em uma sociedade pautada pela ideia da produti-
Assim como é difícil a análise isolada de vidade, o que tornará mais evidente a importân-
cada subcategoria deste serviço ecossistêmico, cia desses serviços para o bem-estar humano.

2.1 | Lazer
sua análise desvinculada dos demais serviços
ecossistêmicos também é limitadora, tendo em
vista sua grande interdependência: ao mesmo
tempo que uma paisagem natural depende de A compreensão do tempo na sociedade
serviços de suporte e de regulação, a expressão contemporânea expressa, de certa forma, o
dos serviços ecossistêmicos culturais influen- condicionamento da organização do trabalho
ciam o modo como os ecossistemas são vistos no alienado. Ao considerar os seres humanos como
que se refere aos seus demais serviços disponi- produtivos ou com sua força de trabalho empre-
bilizados (MILLENNIUM... 2005). Para exempli- gada, a sociedade se encontra com o denomi-
ficar, no caso de uma comunidade tradicional, nado tempo de trabalho. Fora deste tempo de
uma floresta tanto pode ser fonte de alimentos trabalho há todo um espectro de divisões e cate-
como a morada de entidades espirituais, haven- gorizações do tempo denominado livre, também
do, portanto, um profundo respeito por essa reconhecido como tempo de “não-trabalho”,
área e a necessidade de sua manutenção. Para entendido como Tempo desocupado, ocioso,
uma população urbana, a mesma floresta tan- para a satisfação das necessidades básicas
to contribui com a amenização da temperatura vitais, entre outros. Neste tempo livre encontra-
como propicia lazer e recreação. -se o lazer.
454 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 2 |
Modelo conceitual
da Avaliação
Ecossistêmica do
Milênio, adaptado ao
contexto do Lazer e
Turismo.
Fonte: Elaboração
própria. Com base em
Millennium... (2003).

De acordo com Almeida e Gutierrez (2004), pautado tanto pela vinculação do tempo livre
no debate sobre lazer há uma abordagem que (e, portanto, o lazer) ao tempo industrial, como
se apoia na dicotomia lazer-trabalho, afirman- pela afirmação de características como o repou-
do o lazer inserido no tempo livre do trabalho so, a recuperação do e para o trabalho e, assim,
e, portanto, marcado pelo caráter voluntá- reprodução de condições essenciais à sociedade
rio; sendo assim um contraponto ao trabalho de consumo.
urbano-industrial. Neste contexto, a fragmentação do trabalho
Contudo, partindo da mesma dicotomia há, gera desconforto ao ser humano contemporâneo
segundo os autores, um entendimento crítico, e o leva a um sentimento de privação, que conduz
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 455

à consequente necessidade de ruptura com o uni- manifestações possíveis de lazer e de turismo


verso cotidiano, de busca de uma compensação e sustentável. São carregadas de potencialidade
fuga por meio do divertimento e evasão para um educadora, uma vez que, mesmo construídas a
mundo diverso daquele de todos os dias. Quando partir de intenções essencialmente mercado-
se tem uma vida de trabalho desprovida de senti- lógicas, guardam em sua gênese preocupações
do, esta remete o indivíduo à busca pelo sentido com os territórios dos quais precisam para
fora do trabalho (MEIRA; MEIRA, 2007: p. 13). existir (os recursos naturais, o campo ou o meio
Na conferência de abertura do 23º Encon- rural; em última análise, a fonte dos serviços
tro Nacional de Recreação e Lazer, Braman- ecossistêmicos culturais de turismo).
te expõe preocupação com um conflito sobre Os estudos sobre turismo são relativa-
o conceito de lazer. Se em 1997 o especialista mente recentes, sendo desenvolvidos com
compreendia o lazer como “uma dimensão pri- maior frequência a partir da segunda meta-
vilegiada da expressão humana dentro de um de do século XX, embora algumas definições
tempo conquistado" (aquele livre do trabalho), datem da década de 1920.
quinze anos depois passou a interpretá-lo como Há autores que o entendem como um cam-
“uma dimensão conflitiva da existência humana, po em construção, por conta de haver, nos esfor-
dentro de um tempo aparentemente livre e que ços de se construir um conceito de turismo, um
pode ocorrer, praticamente, em qualquer espaço” discurso dominante que possui uma pretensão
(BRAMANTE, 2012: p. 23). científica na qual “o léxico econômico-adminis-
Outra reconhecida referência no campo do trativo ecoa forte: mercado, demanda, oferta,
lazer nos traz mais uma evidência do entendi- produto, empresa e indústria vêm sempre acom-
mento já exposto acima. Para Camargo (2012), panhados do adjetivo ‘turístico’” (MEIRA; MEI-
a economia monetizada divide-se, na atualida- RA, 2007: p. 02). Por outro lado, há uma vertente
de, em duas vertentes. A primeira é centrada distinta, dedicada a conceber o turismo a partir
nos dias úteis, reservada à produção. A segun- das críticas àquele discurso hegemônico e cujos
da é focada em fins de semana, férias e feriados, “enunciadores são aqueles grupos de interesse
reservada ao lazer e ao consumo do lazer. que falam em sustentabilidade e, hoje em dia,

2.2 | Turismo
patrocinam o ecoturismo” (Id. Ibid.).
Do início dos anos 2000 até mais recen-
A marca reprodutora das relações sociais temente, pesquisadores no campo do turis-
de produção atribuída à ideia de lazer exposta mo (NETTO, 2005; NECHAR, 2011; NETTO;
anteriormente é aqui reconhecida como impor- NECHAR, 2014) têm direcionado seus esforços
tante consideração para se problematizar os sen- de reflexão, diálogo e debate para questões em
tidos existentes e aqueles que podem assumir a perspectiva crítica e reflexiva, a partir de inves-
atividade turística: simplesmente uma forma tigações sobre a epistemologia do turismo.
de lazer orientada e pensada para reproduzir o As tendências epistemológicas analítica e
status quo ou uma prática social contemporânea histórica do século XX não são convergentes nem
e reprodutora, por certo, mas criadora de espa- unificaram seus critérios para designar o pro-
ços/tempos voltados à promoção de reflexões duto final como ciência, já que se trata de vários
críticas em relação aos condicionamentos desta campos do saber com critérios, objetivos, pressu-
mesma sociedade política, histórica, cultural e postos, problemas e metodologias divergentes. O
economicamente organizada, com seus confli- mesmo se observa em relação ao turismo, cujas
tos, interesses, representações de meio ambien- escolas de pensamento, ao imitar a tradição posi-
te. Em síntese, situações, espaços e intervenções tivista da epistemologia analítica e o funciona-
educadoras que tomam o lazer e o turismo como lismo alienante, demarcam a impossibilidade de
meios, não como fins. fazer do turismo uma disciplina científica pela
Neste mesmo contexto de problematizar falta de rigorosidade, medida e exatidão em seus
o turismo, tanto em suas origens modernas critérios. A perspectiva crítica desponta nesse
como em seu sentido educador e perspectiva contexto como paradigma e eixo transforma-
crítica, pode-se compreender o ecoturismo, cional contra o objetivismo observado no turis-
o turismo rural e o turismo de aventura como mo. Com a crítica-reflexiva parece ser possível
456 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

superar o funcionalismo com que alguns pesqui- debate que vem se configurando no campo para
sadores desejam submeter a prática e o conheci- subsidiar a construção de outros sentidos ao
mento do turismo (NETTO; NECHAR, 2014). turismo como fenômeno social, articulando-o
A partir dessa discussão, destaca-se a a um dado da realidade, que é a ainda hegemô-
demarcação, primeiro, de que há uma corrente nica dimensão econômica. Assim, na sequên-
hegemônica na reflexão e produção de conheci- cia, será enfocada uma leitura de tal fenômeno
mento sobre o turismo. Essa corrente o entende, em seu viés econômico, para demonstrar que a
basicamente, como mera atividade econômica RBCV e seus serviços ecossistêmicos guardam
mensurada em dados frios que representam importância nesta dimensão, sem afastar-se da
uma função: legitimar o turismo como indús- reflexão e debate sobre o sentido mais amplo do
tria, como gerador de divisas, como mercadoria turismo no Cinturão Verde, que não se restringi-
a ser consumida. Esse entendimento reproduz a ria, portanto, à reprodução do status quo socioe-
ideia de crescimento econômico desconectado conômico, gerador de vetores de alteração sobre
de outras dimensões, como a socioambiental, os serviços ecossistêmicos.
cultural e ecológica. Como atividade econômica, o turismo é
A segunda demarcação, além de articu- definido a partir da demanda como resultado do
lar as demais dimensões mencionadas à análi- interesse dos visitantes. Dessa forma, diferenças
se econômica do turismo, caracteriza-se pela de perfil e de motivação dos turistas e diferenças
necessidade de refletir e debater o seu senti- de condições naturais e econômicas dos lugares
do: para que serve o turismo? Para ser mais visitados, implicam necessariamente em diferen-
uma manifestação de um modelo de desenvol- tes produtos consumidos (IBGE, 2012).
vimento insustentável, pelo consumo mercan- Tais diferenças de motivação e de perfil,
til de territórios, bens ambientais e serviços bem como especificidades da chamada oferta
ecossistêmicos (vertente positivista, econo- turística, definem o segmento turístico. Con-
micista, funcionalista)? Ou será que é possí- dicionam, também, grande parte das notícias,
vel e necessário problematizar esse entendi- investigações e estudos sobre a atividade. Na
mento quase natural, aceito acriticamente e década de 1990, Oscar de La Torre (pesquisa-
apontar outros sentidos, como por exemplo, dor mexicano sobre o turismo como fenômeno
o turismo como meio para conscientizar cri- social), propôs o seguinte conceito:
ticamente, educar, desenvolver territórios e
comunidades sem torná-los mercadorias a Turismo é um fenômeno social que consiste
serem vendidas, nesse caso, subsidiados pela no deslocamento voluntário e temporário
vertente em perspectiva crítica? de indivíduos ou grupos de pessoas que, fun-
A perspectiva crítica é referenciada como damentalmente por motivos de recreação,
método, não como noção mais afeta ao senso descanso, cultura ou saúde, saem do seu local
comum. Isso significa que, como método, caracte- de residência habitual para outro, no qual
riza-se por análise, reflexão, discernimento e bus- não exercem nenhuma atividade lucrativa
ca por novos sentidos. Já a noção de crítica mais nem remunerada, gerando múltiplas inter-
presente no senso comum restringe-se à mera -relações de importância social, econômica e
polêmica, a julgamentos preconcebidos sem fun- cultural (apud BARRETTO, 1995: p.12).
damentos consistentes, desqualificando o debate.
A reflexão mais recente e substancialmen- A Organização Mundial do Turismo
te relevante que foi destacada representa um (OMT, 2001) tem uma definição que propa-
ganho de consistência e maturidade do turismo ga para o mundo todo, e inclui influências
enquanto campo do conhecimento, dados os do mercado e da academia. Para a OMT, o
pesquisadores envolvidos e os veículos e oca- turismo compreende as atividades realiza-
siões nos quais se dissemina o eixo, paradig- das pelas pessoas durante suas viagens e
ma ou mesmo argumento emergente. Contudo, estadias a lugares distintos ao seu entorno
ainda há uma dimensão econômica – objetiva e habitual, por um período de tempo consecu-
funcionalista – muito presente na compreensão tivo inferior a um ano, com fins de desfrutar
do turismo. Para tanto, busca-se considerar o o tempo livre, por negócios e outros motivos
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 457

que não estejam relacionados a uma atividade média de ocupação de 65% e as atrações recebe-
remunerada no lugar visitado. Sampaio (2007) ram 20% mais visitantes.
ressalta a necessidade de reflexão desta defi- No Boletim de Desempenho Econômico do
nição, com destaque à desconsideração das Turismo (MTUR; FGV, 2014), constata-se que
comunidades receptoras, “dos esforços da OMT as empresas do setor de turismo pesquisadas
nas ações que possibilitam a melhoria da quali- registraram variação média de 7,1% no que
dade de vida das populações autóctones” (SAM- tange ao faturamento apurado no primeiro tri-
PAIO, 2007: p. 150). mestre de 2014 em comparação ao respectivo
A pretensão deste capítulo não inclui trimestre de 2013 (o faturamento no 1º trimes-
entrar no mérito do debate sobre o que se enten- tre de 2014 foi de R$ 8,5 bilhões, sendo gerados
de por turismo, mas sim tomar uma definição 75.496 postos de trabalho).
razoavelmente aceita para, então, compor um Há ainda, a verificação de “expansão em
diagnóstico sobre a atividade, com dados e 33% do mercado de turismo consultado, inalte-
informações nacionais, regionais e locais, tendo rabilidade em 47% e retração em 20% (saldo de
por base o território da RBCV e a importância 13%)” (MTUR; FGV, 2014: p.16). O segmento que
dos serviços ecossistêmicos culturais de lazer e apresenta saldo mais elevado de resposta é,
turismo neste contexto. É importante observar justamente, o de turismo receptivo (34%), dado
que, tomar tal definição não implica, necessária este importante para a análise do potencial da
e intencionalmente, encerrar o debate e legiti- RBCV enquanto receptora de turistas em busca
má-la, mas sim reconhecer seu peso político e dos serviços ecossistêmicos culturais de recre-
importância econômica nos campos acadêmico, ação e turismo ali disponíveis. Em relação ao
prático e discursivo do turismo na atualidade. ecoturismo e turismo de aventura, o Ministé-
Em termos econômicos, segundo o docu- rio de Turismo informou que a movimentação
mento Estatísticas Básicas do Turismo (MTUR, total no país em 2009 foi de R$ 515,9 milhões,
2013), a receita cambial gerada pelo turismo, no 21% mais alta que em 2008 e que o segmen-
Brasil, em 2012, foi de R$ 6,6 bilhões. to atende 5,4 milhões de turistas anualmente
Apenas no período da Copa do Mundo de (MTUR; FIPE, 2011).
2014, de acordo com o relatório da Sala de Moni- Em 2017, o faturamento informado no 3º
toramento do Atendimento ao Turista (SÃO PAU- trimestre foi de R$ 9,2 bilhões, com geração de
LO, 2014), o gasto e permanência médios dos 79.319 postos de trabalho (MTUR; FGV, 2017).
turistas na capital durante o campeonato foi de, Para a economia do turismo, as atividades dire-
respectivamente, R$ 2.217,00 em 4,4 noites para tamente relacionadas são variadas e articulam
320.281 brasileiros e R$ 4.818,00 em 8,8 noites uma diversidade de possibilidades econômicas
para 221.498 turistas estrangeiros. No mesmo de geração de trabalho e de renda (IBGE, 2012),
período, os meios de hospedagem tiveram taxa conforme apontado na Tabela 1.

Atividade econômica Descrição/exemplos

Serviços de alojamento Estabelecimentos hoteleiros; outros tipos de alojamento.

Serviços de alimentação Restaurantes e estabelecimentos de bebidas, com serviço completo; lanchonete e


similares; outros tipos de serviços de alimentação.

Transporte rodoviário Transporte rodoviário de passageiros, regular, não urbano.

Transporte aquaviário Transporte aquaviário de cabotagem; transporte marítimo de longo curso; trans-
porte por navegação interior de passageiros. Esta classe compreende: o transporte
não urbano de passageiros, regular e não regular, por rios, canais, lagos, lagoas e
outras vias de navegação interior, em percursos nacional ou internacional.

Atividades de agências e Organização e viabilização de pacotes turísticos, que articulam diferentes serviços,
organizadores de viagem tais como transporte, hospedagem, alimentação, entretenimento etc.

Atividades recreativas, Projeção de filmes e vídeos; atividades de teatro, música e outras atividades artís- Tabela 1 I
culturais e desportivas ticas e literárias; gestão de salas de espetáculos; outras atividades de espetáculos Atividades vinculadas
(como dança, bailes e danceterias); atividades de biblioteca e arquivos; atividades
de museus e conservação do patrimônio histórico; atividades de jardins botâni- ao turismo.
cos, zoológicos, parques nacionais e reservas ecológicas; atividades desportivas; Fonte: Elaboração
outras atividades como parques de diversão, marinas, equitação, aluguel de bar- própria. Com base no
cos e bicicletas. IBGE (2012).
458 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Ao se considerar uma abordagem econô- e feriados (deslocamentos, portanto, pelas


mica do turismo, nota-se que este tem forte regiões mais próximas), em busca de belezas
dependência de outros serviços ecossistêmi- naturais, praias e para conhecer cultura local
cos, como provisão de alimentos, por exemplo e em seus passeios, ir a bares e restaurantes, pra-
provisão e regulação de recursos hídricos. ticar atividades esportivas, dentre outros; hos-
A Tabela 2 expõe dados sobre os hábi- pedam-se em variados tipos de alojamento e
tos de consumo do turismo brasileiro, a par- predominantemente pagam à vista. Estas pes-
tir de levantamento realizado pelo Ministério soas afirmaram voltar e recomendar o lugar
do Turismo. É possível acessar informações visitado a outros – dado este bastante impor-
importantes para compor um panorama de tante, tendo em vista que para 45% dos respon-
orientação sobre os comportamentos mais dentes a fonte de informação sobre o destino
comuns em viajantes brasileiros pelo Brasil, corresponde às pessoas próximas.
no chamado turismo interno ou doméstico e, É interessante ressaltar o resultado obti-
desta forma, ilustrar a dimensão do conceito de do para a questão sobre o principal motivo da
turismo sob a abordagem social. escolha do destino, do qual se extrai alguns
Na pesquisa acessada há inúmeras outras indicadores da importância dos serviços ecos-
variáveis. Foram selecionadas as expostas na sistêmicos culturais de lazer e turismo para a
Tabela 2 para inferir que existe, neste contex- amostra pesquisada de turistas brasileiros: as
to de turismo, uma demanda composta razo- belezas naturais, praias, fauna e flora perfazem
avelmente por pessoas que viajam de carro 56,1% das respostas, ou seja, dentro das aspi-
ou ônibus com a família nos finais de semana rações do turista brasileiro, a necessidade de

Variável Dado/informação

Com quem viaja 27,9% (no estado de São Paulo) viaja com cônjuge e filhos.
habitualmente

Fonte de informação sobre 41,5% com parentes e amigos; 39,1% pela internet.
viagens no Brasil

Quando costuma viajar No estado de São Paulo, 40,0% nos finais de semana prolongados e 25% nos finais
de semana convencionais.

Pagamento das viagens 63,2% pagam à vista

Viajam por conta própria Em São Paulo (capital), 77,6% viajam por conta própria.
ou com pacote turístico

Hospedagem Hotel (45,1%); pousada (22,2%); casa de amigos/familiares (22,7%), casa alugada/
lugar alugado (6,9%); chalé (0,9%); outros (2,2%).

Transporte que utiliza Automóvel/carro (41,8%); ônibus/vans (23,8%).


normalmente

Principal motivo da Beleza natural/natureza (33,9%); praia (21,2%); cultura local/população (13,2%);
escolha do destino perfil do local (12,5%); festa popular (6,3%); rever familiares/amigos (3,9%); gastro-
turístico nomia (2,7%); história/arte/museus (1,9%); observação da fauna/flora (1,0%); lazer
em geral (0,3%); outras respostas (3,3%).

O que faltou na viagem Infraestrutura para atender o turismo (5,9%); segurança (3,7); opções de lazer
(3,1%); bons restaurantes (2,9%); informações turísticas (2,8%); transporte público
(1,8%); bons hotéis (1,5%); bancos/caixas eletrônicos (0,7%); assistência médica
para o turista (0,3%); outras respostas (1,9%); nada (74%).

Intenção de voltar 92,6 % certamente voltariam.


Tabela 2 I
Hábitos de Recomendação do lugar 95,5% recomendariam o lugar visitado.
consumo do
turismo brasileiro. Atividades realizadas Passeios para conhecer pontos turísticos (29,9%); ir para bares/restaurantes/dis-
durante a viagem cotecas/boates (35,2%); conhecer pratos/comidas típicas (7,6%); atividades cultu-
Fonte: Adaptado
rais (6,7%); praticar atividades esportivas (9,2%); fazer visitas a parques temáticos
de MTUR (2009); (3,1%); frequentar praias/tomar sol (5,6%); assistir a eventos esportivos (1,4%);
MTUR; VOX POPULI outras respostas (1,4%).
(2009).
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 459

interagir com elementos da natureza, obten- Dentre as motivações, destacam-se a pro-


do seus benefícios (serviços ecossistêmicos) cura por “sol e praia” (60,2%) e por “natureza,
alcança um significativo percentual. ecoturismo e aventura” (significativos 26,9%).
Em estudo sobre os fatores que influenciam A busca por “cultura” – outro importante pon-
a demanda por experiências no campo do ecotu- to de diálogo com o turismo sustentável, como
rismo e do turismo de aventura – duas das mani- se verá mais adiante – alcançou 8,5%; embora
festações de turismo sustentável tratadas neste este mesmo estudo de demanda apresenta a
capítulo – identificou-se que “a busca por lazer e ressalva de que a motivação “cultura” ao longo
entretenimento, o interesse em práticas esporti- dos anos vem sendo substituída pela motivação
vas e o contato com o meio ambiente demonstra- “natureza” (MTUR; FIPE, 2011).
ram ser os principais objetivos dos turistas entre- Cerca de 54% dos visitantes internacionais
vistados” (GOUVEIA et al., 2014: p. 570). hospedaram-se de maneira convencional, ou seja,
Para os mesmos autores, muitos consumi- em hotéis, flats, pousadas ou resorts. Isso aponta
dores do serviço de ecoturismo e de viagens de algumas possibilidades para a RBCV, como ofe-
turismo de aventura, organizam suas viagens de recer excursões de um dia e aproveitar a proxi-
forma independente, sem a participação de agên- midade com a capital paulista, onde há hotéis e
cias de viagem. Essa tendência é observada prin- flats, uma vez que a permanência média, segun-
cipalmente entre consumidores mais jovens, por do o estudo, é de 10 dias; ou compor arranjos
relacionar-se à maior flexibilidade e liberdade. Já produtivos locais considerando a viabilidade de
os consumidores com mais de 20 anos estão mais haver pousadas em espaços mais próximos dos
dispostos a utilizar os serviços de uma agência de pontos de interesse para o turismo sustentável.
viagens, se a mesma atender às duas especifica- Outro dado importante é que 27% dos visitantes
ções, oferecendo segurança e conforto. internacionais hospedam-se em casas de ami-
Em outro estudo a respeito da demanda gos ou parentes, sugerindo um público agregado
do turismo internacional no Brasil realiza- (amigos e parentes) a ser considerado em ações
do em 2010 (MTUR; FIPE, 2011), também se promocionais de circuitos ou roteiros turísticos
observam dados relevantes, tais como: 46% da RBCV; observa-se que a fonte de informações
deslocaram-se motivados para buscar momen- destes visitantes é a internet, com 30,9% e os pró-
tos de lazer (no qual podem ser incluídas ativi- prios amigos e parentes, com 28,4%.
dades ligadas ao turismo sustentável); destes, Estes dados se tornam ainda mais signi-
84,3% são visitantes de países vizinhos que ficativos quando relacionados às estatísticas e
se deslocaram por meios terrestres (ônibus indicadores sobre o turismo no Brasil, nos últi-
ou automóveis). Com atividades de lazer estes mos anos (Figura 3).
turistas despendiam, à época, cerca de US$ A expressividade dos números possibi-
70,00 por dia. lita uma melhor consideração sobre o papel

Figura 3 I
Desembarques
internacionais e
domésticos e gastos
de turistas no Brasil,
entre 2016 e 2018.
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em MTUR (2019a).
460 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

desempenhado pelo setor e, notadamente, Turismo sustentável é o que relaciona as


sobre o seu potencial. Em um período de três necessidades dos turistas e das regiões
anos, foram realizados mais de 310 milhões de receptoras, protegendo e fortalecendo
desembarques nacionais e internacionais, com oportunidades para o futuro. Contempla
uma receita cambial superior a U$ 17 milhões a gestão dos recursos econômicos, sociais
de dólares (MTUR, 2019a). e necessidades estéticas, mantendo a inte-
Este panorama demonstra-se positivo gridade cultural, os processos ecológicos
para locais que se preparam para desenvolver essenciais, a diversidade biológica e os sis-
seus recursos turísticos, tornando-os atrativos temas de suporte à vida (OMT, 1999 apud
para o cenário reconhecido acima. No caso do MTUR, 2010a: p. 20).
território do Cinturão Verde, pela proximidade
com a capital paulista, que se configurou como
8º destino demandado para junho/julho de No Brasil, a definição de ecoturismo
2019 (MTUR, 2019b) e, certamente uma grande tomada como oficial refere-se a um segmento
emissora de visitantes e turistas, há uma van- da atividade turística que, de forma susten-
tagem competitiva a ser mais bem aproveitada, tável, utiliza o patrimônio natural e cultural,
tanto em função de sua riqueza ecossistêmica incentivando sua conservação e contribuindo
(e consequentemente de serviços ecossistêmi- com a formação de uma consciência ambienta-
cos culturais turísticos), como pela possibilida- lista através da interpretação ambiental pro-
de de menores custos e tempo de deslocamento movendo, ainda, o bem-estar das populações
para o turista habitante da região e com poder (EMBRATUR apud MTUR, 2006: p. 9).
aquisitivo compatível. Em material elaborado pelo Ministério
do Turismo como subsídio para o ecoturismo

2.3 | Turismo sustentável,


no Brasil (BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN,

ecoturismo, turismo rural e


2009), o segmento inicia sua organização no

turismo de aventura como expressões


país ainda na década de 1970. Considera-se

do serviço ecossistêmico cultural de


como marco importante à expansão do eco-
turismo o início da década de 1990, por con-
lazer e turismo
ta da Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também
Após a explanação feita sobre as aborda- conhecida como Eco 92.
gens sociais e econômicas do turismo, apresen- No Brasil, o ecoturismo destaca-se a par-
ta-se a abordagem que tange o aspecto ecossis- tir do movimento ambientalista, com grupos
têmico inserido no turismo sustentável. sociais que imprimem à sociedade a premência
A noção de turismo sustentável tem sua do debate sobre a conservação e a necessida-
origem relacionada à reflexão crítica sobre de de tecnologias sustentáveis. Essa discus-
o turismo, com contribuições de diferen- são alcança o turismo, impulsionando a ideia
tes áreas do conhecimento, com destaque à de ecoturismo (BARTHOLO; SANSOLO; BUR-
geografia, ecologia, antropologia e história. SZTYN, 2009).
A segunda metade do século X X assistiu a Neste contexto, no que se refere às UC de
uma expansão sem precedentes do turismo, proteção integral e, sobretudo, considerando
tornando-o um fenômeno de massa. A partir que estas se expressam no território e no zone-
da identificação de seus impactos negativos amento da RBCV compondo as chamadas zonas
nas sociedades receptoras e no meio ambien- núcleo dessa reserva, pode-se inferir que estas
te, que é a fonte dos serviços ecossistêmicos áreas naturais protegidas não podem negligen-
culturais de lazer e turismo, foi consolidada ciar a oportunidade de aproximar o ser huma-
a necessidade de se pensar em outras formas no da natureza, colaborando com a formação
de desenvolver e gerir a atividade, dando ori- de consciência ambientalista; igualmente não
gem à noção de turismo sustentável (MTUR, podem negligenciar o seu potencial para via-
2010a). Segundo o Código Mundial de Ética bilizar que o ecoturismo beneficie diretamente
do Turismo, os moradores locais.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 461

O potencial das UC para o turismo é rele- estimular o desenvolvimento local com arran-
vante, especialmente para o ecoturismo e para jos produtivos de turismo, articulando serviços
o turismo de aventura (Figura 4). econômicos já citados, tais como transporte,
As áreas protegidas, em princípio, podem monitoria, alimentação, hospedagem, entrete-
ser o atrativo âncora (BARTHOLO; SANSOLO; nimento, artesanato local, etc. (Figura 5), ao
BURSZTYN, 2009) para as áreas próximas, ao mesmo tempo em que encerra vários serviços

Figura 4 I
Esportes de aventura
no Monumento Natural
da Pedra Grande, em
Atibaia.
Foto: Rubens Chiri.
Fonte: (FC&VB-SP, 2019).
462 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 5 I
Feira de Artes e
Artesanatos em
Embu das Artes.
Foto: Miguel
Schincariol.
Fonte: FC&VB-SP, 2019. O município de Embu das Artes abriga as inúmeros artistas se fixaram no município. Em
Áreas de Proteção Ambiental APA Mata da 1964, foi realizado o 1º Salão de Artes Plásti-
Santa Tereza; APA Embu Verde; APA Lagoa dos cas de Embu, fazendo a cidade ser reconhe-
Príncipes e APA Prado Rangel. Sua importância cida internacionalmente por sua arte. Embu
histórica remonta à década de 1920, quando das Artes integra o Circuito Taipa de Pilão.

ecossistêmicos importantes para seu entorno, de recursos é protegida, os benefícios econômi-


como regulação de clima, de temperatura, de cos associados ao seu uso serão sustentáveis”
processos geohidrológicos, de purificação de (MTUR, 2010a: p. 12).
água, além do próprio serviço ecossistêmico Além dos diversos serviços ecossistêmi-
cultural de lazer e turismo. cos que os ecossistemas da RBCV proporcio-
O governo do estado de São Paulo, por sua nam (de suporte, de provisão, de regulação),
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambien- oferecem condições para se desenvolver práti-
te, postula que o ecoturismo pode e deve ser cas sociais e econômicas pautadas por outros
fomentado e organizado nos territórios que modelos de desenvolvimento, uma vez que essa
abrigam UC e reconhece no ecoturismo uma modalidade de turismo pressupõe o desenvol-
oportunidade para compatibilizar proteção vimento de atividades que favoreçam a reflexão
ambiental e crescimento econômico. Nesse e a integração do homem ao ambiente, em uma
contexto, as UC, responsáveis pela proteção de inter-relação vivencial com o ecossistema, com
remanescentes de Mata Atlântica, configuram- os costumes e com a história local. O mesmo
-se como atrativos capazes de atrair o turismo deve ser planejado e orientado com o objetivo
regional bem como uma parcela crescente da de envolver o turista nas questões vinculadas
demanda internacional por esse tipo de ativi- à conservação do patrimônio natural e cultural
dade (SÃO PAULO, 2013). (Figura 6).
O ecoturismo tem como pressuposto As atividades vinculadas especificamente
contribuir à conservação dos ecossistemas de ao ecoturismo são apresentadas na Tabela 3,
que depende e, ainda, estabelecer situações onde é possível notar a diversidade de serviços
de ganho para todos os envolvidos: “se a base ecossistêmicos culturais de turismo.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 463

Figura 6 I
Aldeia de
Carapicuíba,
Carapicuíba.
Foto: Sergio Luiz Jorge.
Fonte: Expressão Studio
(TUR.SP, 2019).

Antiga aldeia de índios fundada pelo padre do século XVIII e continua totalmente preserva-
José de Anchieta em 1580 e que deu origem à da em com sua estrutura original em taipa de
cidade de Carapicuíba. A aldeia é remanescente pilão.

Atividade Breve descrição

Aves: atividade conhecida como birdwatching, demanda equipamentos específicos,


cujo uso não é imprescindível, mas facilita e aumenta o aproveitamento da atividade.

Mamíferos: o Brasil, que possui um número significativo de espécies de mamíferos


do mundo, apresenta algumas espécies consideradas ícones da nossa fauna, como a
onça-pintada, o tamanduá-bandeira, a anta e o lobo-guará.
Observação de fauna
relaciona-se com o Insetos: muito desenvolvida em outros países, como nos Estados Unidos, a observação
comportamento e desses animais vem ocorrendo no Brasil ainda timidamente – borboletas, vespas e abe-
habitats de determinados lhas, formigas, besouros, moscas e inúmeras outras espécies.
animais
Répteis e anfíbios: considerado o primeiro em espécies de anfíbios e o quarto em rép-
teis, destaca-se no país a observação de salamandras, sapos, rãs, pererecas, tartaru-
gas, jacarés, lagartos e cobras.

Peixes: a observação geralmente ocorre pela flutuação ou mergulho, com ou sem o uso
de equipamentos especiais, em ambientes marinhos ou de água doce.

Observação Permite compreender a diversidade dos elementos da flora, sua forma de distribuição e
de flora as paisagens que compõem um bioma, devendo estar associada às possibilidades de
interação com a fauna silvestre existente na localidade e na região.
Tabela 3 I
Observação de Atividade ainda tímida no Brasil, consiste geralmente em caminhada por área com Atividades vinculadas
formações características geológicas peculiares e que oferecem condições para discussão da ori-
gem dos ambientes (geodiversidade), sua idade e outros fatores, por meio da obser- ao ecoturismo (serviços
geológicas ecossistêmicos
vação direta e indireta das evidências das transformações que ocorreram na esfera
terrestre. culturais de turismo).
Fonte: Elaboração
Visitas a cavernas Atividade recreativa originada da exploração de cavidades subterrâneas, também
(espeleoturismo) conhecida por espeleologia – estudo das cavernas.
própria. Com base em
MTUR (2010a).
464 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Para Dias (2011), a observação de aves, baseada na observação de aves, o município


além de elevar o nível de conscientização do contribuiu para o aumento do conhecimento
visitante sobre questões ambientais, pode local da fauna. Isto possibilita um crescimen-
ser compreendida como recurso de educação to do interesse pela atividade, o que motiva a
ambiental para a população residente na loca- conservação e envolve diversos segmentos da
lidade visitada, com destaque particular para a sociedade, desde empresários, populações tra-
população mais jovem (Figura 7). dicionais e os alunos das escolas do município
Ao estudar o caso de turismo motivado (DIAS, 2011).
por observação de aves em Ubatuba (SP), o Também há necessidade de se pensar em
autor observa que ao desenvolver uma oferta serviços específicos e aqueles tomados como

Figura 7 I
Observação
de aves, Ibiúna.
Foto: Rubens Chiri.
Fonte: FC&VB-SP
(2019); São Paulo
(2019); CI Brasil (2019).

A observação de aves é uma atividade para o avistamento. No Estado de São Pau-


consolidada em muitos países, promovendo lo, o Passaporte de Aves de São Paulo - 2019
benefícios sociais, ambientais e econômi- selecionou 21 áreas protegidas para estimular
cos. Nos Estados Unidos, estima-se que exis- a observação de aves, incluindo o PE Canta-
tam 80 milhões de observadores de aves; na reira - Núcleo Pedra Grande (São Paulo), PE
Europa, três em cada 10 pessoas são obser- das Fontes do Ipiranga (São Paulo), Parque
vadores de aves. A rota de aves migratórias Ecológico Guarapiranga (São Paulo), PE Ser-
da Ásia para a Europa agrega 10 milhões de ra do Mar - Núcleo Padre Dória (Salesópolis),
observadores cadastrados e atuantes. No Parque Villa-Lobos (São Paulo) que estão na
Brasil, são cerca de 30 mil observadores e área da RBCV. As UC, os fragmentos de vege-
a atividade tem crescido nos últimos anos. tação nativa e os espaços verdes urbanos da
Para a prática, são buscados ambientes natu- RBCV oferecem possibilidades de geração de
rais para observar e fotografar as aves e os emprego e renda para o desenvolvimento da
registros são compartilhados em plataformas atividade de observação de aves, ao mesmo
colaborativas, como o WikiAves, maior plata- tempo que fortalece as estratégias de conser-
forma do Brasil, que divulga e atrai visitantes vação da biodiversidade.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 465

estruturais à localidade e aos visitantes, sob o Em São Paulo, as UC, especialmente os


ponto de vista da abordagem social e econômica. parques estaduais, já são destinos ecoturísti-
Segundo o Ministério do Turismo, os serviços de cos conhecidos no país e recebem um número
condução e guiamento, os serviços médicos e o expressivo de visitantes. Conforme dados da
de busca e salvamento são também fundamen- Fundação para a Conservação e a Produção Flo-
tais no ecoturismo e devem ser disponibilizados restal do Estado de São Paulo (Fundação Flores-
a partir de um processo que envolve a capacita- tal) as unidades estaduais receberam cerca de
ção adequada às peculiaridades das atividades 1,5 milhão de visitantes ao longo do ano de 2007
do segmento (MTUR, 2010a). (SÃO PAULO, 2009).
É importante ressaltar que o debate sobre O estado de São Paulo abriga 215 áreas
a sustentabilidade do ecoturismo, em um con- protegidas estaduais, sendo 178 UC; a maioria
texto marcado pelas relações sociais de pro- destas, administradas pela Fundação Florestal
dução capitalista, ainda está aberto. Haja vis- e pelo Instituto Florestal, vinculados à Secreta-
ta algumas – ainda poucas – menções críticas ria de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente
a eventuais tendências, como aponta Hintze (RODRIGUES, 2019). Alguns indicadores sobre o
(2009). O autor, ao pesquisar operadores de eco- serviço ecossistêmico aqui tratado podem ser
turismo e pesquisadores da área, adverte que observados a partir de dados sobre o próprio
“o Ecoturismo ter vários significados nos parece ecoturista em UC, conforme Quadro 1.
uma boa estratégia para que suas preocupações Embora o estudo sistematizado no Qua-
originais não sejam mais perseguidas e assim dro 1 seja de 2002, mostra-se relevante em
possa se entregar ao grande objetivo do capital: especial pelo fato de revelar o perfil do ecotu-
a busca do lucro de qualquer forma” (HINTZE, rista quando em visitas às áreas protegidas.
2009: p. 90). Outro levantamento, mais recente e específico
Para o mesmo autor, é possível que o ecotu- das UC paulistas, apresenta os dados expostos
rismo funcione como atividade compensatória na Figura 8.
e como válvula de escape da vida alienada das Existem, ainda, outras duas modalidades
pessoas e, nesse caso, teria função alienante. ou formas de manifestação do turismo, cujos
Nessa ótica, Hintze conclui sobre a necessidade objetos de atração de visitantes convergem com a
de que as práticas do ecoturismo possam contri- geografia do território da RBCV. São elas o turis-
buir para possibilitar consciências críticas. mo rural e o turismo de aventura (Figura 9).

o A permanência média das viagens em visita às áreas conservadas é de 5,5 dias.


Convém ressaltar que 42,0% dos entrevistados viajaram exclusivamente pelo motivo
da visita à UC.

o Quanto à permanência devido a outros motivos que não exclusivamente à UC, embo-
ra seja significativa a parcela dos que responderam positivamente a essa alternativa
(58,0%), tão significativo quanto é o resultado sobre a motivação dessas viagens ser
o turismo ecológico.

o A principal motivação apontada para as visitas das UC em geral é a “contemplação


ou contato com a natureza”, com 64% das respostas; seguida de “repouso ou fuga da
rotina”, com 22,7%, acumulando quase 90% das justificativas apresentadas.

o A maior parte das viagens daqueles que visitam as UC (65,5%), é motivada determi- Quadro 1 I
nantemente pelo fator “visita ao Parque”. Indicadores sobre
o ecoturismo
em unidades de
o Para aqueles que realizaram viagens com pernoite, exclusivamente por conta das conservação.
visitas aos parques, os principais meios de hospedagem utilizados foram: pousada Fonte: Elaboração
própria. Com base em
(40,6%); hotéis 1 a 5 estrelas (30,2%); e camping (17,3%).
MTUR; EMBRATUR;
FIPE (2002).
466 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 8 I
Perfil dos visitantes
das UC do
estado de São Paulo.
Fonte: KOGA;
OLIVEIRA;
OLIVEIRA (2011).

A B

C D

Figura 9 I
Turismo de aventura
e turismo rural
na RBCV.
Fotos: (A) Elias Gomes;
(B) Sergio Luiz Jorge;
(C) Rubens Chiri;
(D) Paulo Li.
Fonte: FV&CP-SP
(2019); TUR.SP (2019).
As áreas naturais preservadas e os ambientes encontra vivência de turismo rural e agricultura
rurais da RBCV proporcionam inúmeras oportuni- familiar, que oportunizam colher suas próprias
dades relacionadas ao turismo rural e turismo de verduras (colha e pague). O Circuito da Cultura
aventura. A Cachoeira dos Pretos (Joanópolis), Caipira e das Fazendas Históricas, que permeia
com 154 metros de queda, é uma das maiores e o território da RBCV, oferece opções de artesana-
mais deslumbrantes do estado; abriga a nascen- to local, que valorizam os produtos e sabores típi-
te do rio Piracicaba e possui estrutura de lancho- cos de cada região. Destacam-se os tradicionais
netes, passeios de jipe, bóiacross, pedalinho e fogões a lenha, símbolo das fazendas históricas
artesanato. Em Juquitiba, podem ser desenvol- que remetem a antiga arte de cozinhar, os adep-
vidas diversas atividades vinculadas ao turismo tos da culinária caipira garantem que os alimen-
de aventura. Em Araçoiaba da Serra, o visitante tos ganham um sabor especial e único.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 467

Da mesma forma que o ecoturismo, o As atividades vinculadas ao turismo rural,


turismo em espaços rurais também se contex- outra forma de expressão dos serviços ecos-
tualiza a partir da consideração de aspectos da sistêmicos de lazer e turismo, são similares
região metropolitana, suas relações – e even- àquelas do ecoturismo e do turismo em geral,
tuais tensões – com espaços urbanos e periur- com exceção de algumas especificidades, que
banos, sobretudo em se tratando do Cinturão são: 1) recepção à visitação em propriedades
Verde. Parte do entendimento de que morado- rurais; 2) recreação, entretenimento e ativida-
res de áreas urbanas viajam para reencontrar des pedagógicas vinculadas ao contexto rural;
suas origens, para interagir com a comunidade 3) eventos; e 4) outras atividades praticadas no
local e participar de suas festividades tradicio- meio rural e que existam em função do turismo
nais, para desfrutar da hospitalidade e do acon- ou se constituam no motivo da visitação.
chego das propriedades rurais, para conhecer Da mesma maneira que o ecoturismo, o
o patrimônio histórico e natural no meio rural, turismo rural também tem como base os ser-
para conviver com modos de vida, tradições, viços ecossistêmicos culturais de lazer e turis-
costumes e com as formas de produção prati- mo; todavia, vai além ao inserir nesse contexto
cados pelas populações que vivem no interior. o serviço ecossistêmico cultural de identidade
Esses moradores das áreas urbanas procu- e valores hereditários, como no caso cultura
ram, ainda, vivenciar novas experiências e bus- caipira.
car novos conhecimentos e saberes, descansar O contato consciente e orientado com sis-
física e mentalmente e adquirir produtos típicos temas produtivos agroecológicos, agroflores-
a partir da fuga da rotina da vida urbana (MTUR, tais e modos de vida representantes de relações
2010b). Segundo o documento Turismo Rural: intrínsecas entre biodiversidade e diversidade
orientações básicas, o turismo rural é definido cultural, dependentes dos serviços ecossis-
como o conjunto de atividades turísticas que são têmicos de provisão e culturais, por exemplo,
desenvolvidas no meio rural; o mesmo é com- reúne condições para promover deslocamentos
prometido com a produção agropecuária e agre- na compreensão dos visitantes sobre produção
ga valor a produtos e serviços, ao mesmo tempo e consumo de alimentos, a respeito de outros
em que resgata e promove o patrimônio cultural sistemas de valores e visões de mundo, bem
e natural local (MTUR, 2010b: p. 17). como suas relações com a RBCV (Figura 10).

Figura 10 I
Vinícolas tradicionais
na Estrada do Vinho,
em São Roque.
Foto: Miguel Schincariol.
Fonte: FC&CP-SP (2019).
468 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Há, neste contexto, uma variação do turis- Outros dados relevantes trazidos pela
mo rural, denominada turismo rural na agricul- referida pesquisa revelam que o perfil do turis-
tura familiar, cuja definição é dada como a ativi- ta que se desloca ao campo é, basicamente, de
dade turística que ocorre no âmbito da unidade moradores de grandes centros urbanos; pos-
produtiva dos agricultores familiares que man- suem entre 20 e 55 anos; são casais com filhos
têm as atividades econômicas típicas da agricul- e/ou amigos; deslocam-se em automóveis par-
tura familiar. Estes agricultores familiares estão ticulares, em um raio de até 150 km do núcleo
dispostos a valorizar, a respeitar e a comparti- emissor/urbano; fazem viagens de curta dura-
lhar o seu modo de vida, ou seja, o seu patrimônio ção em fins de semana e feriados e são aprecia-
cultural e natural, ao ofertar os produtos e ser- dores da culinária típica regional.
viços de qualidade e proporcionar bem-estar às Em outra publicação vinculada aos empre-
pessoas envolvidas no processos (MTUR, 2010b). sários de agências e organizações de viagens no
De acordo com o Guia de Turismo Rural Brasil, relativa ao primeiro semestre de 2019,
no Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2006), há destacaram-se entre os segmentos demandados
diversas modalidades registradas em fazendas pelos visitantes, aqueles diretamente vincula-
de café abertas à visitação, sendo a modalidade dos ao ambiente natural, que totalizaram 61,5%
mais recorrente a de pousada rural, com 312 dos destinos, sendo estes: sol e praia (49,2%);
propriedades. As demais modalidades e o núme- natureza e ecoturismo (9,0%); turismo de
ro de propriedades envolvidas são: agroturismo aventura (3,3%). Os demais segmentos foram:
e agroindústria artesanal (276), restaurante cultura/patrimônio histórico (15,3%); outros -
rural (213), pesque-pague (126), hotéis fazen- compras, estudos, saúde, eventos, etc. (10,1%);
da (95), eventos (61), turismo rural pedagógico negócios/trabalho (9,9%) e religião (3,2%)
(58), fazendas históricas (47), área rural de lazer (MTUR, 2019b). A expressividade destes dados
(44), cavalgadas (41), acampamento/camping é reforçada pela Pesquisa de Demanda Turísti-
(37), hotel rural de lazer (22), armazém rural (7) ca Internacional, do Ministério do Turismo, que
(SÃO PAULO, 2006). Cabe observar que existem aponta aumento de 23% no interesse de turistas
questionamentos quanto a variedade de modali- internacionais por atividades na natureza, entre
dades inseridas no turismo rural (algumas delas 2014 e 2015 (MTUR; FIPE, 2017).
essencialmente urbanas), por considerar que O turismo de aventura é o deslocamento
apenas atrações que guardem relação estreita de pessoas para a realização de esportes radi-
com o ambiente rural podem ser abarcadas den- cais, como rafting, rapel, mergulho, asa del-
tro da definição de Turismo Rural (BRICALLI ta, canyoning entre outros. São esportes que
apud PORTO; SOUSA, 2011). visam ao desafio de superar os limites físicos
Em um levantamento realizado em 2009 e conviver com situações arriscadas. A Figura
pelo Ministério do Turismo, verificou-se que 11 destaca atividade de aventura realizada no
as viagens ou visitas ao campo ocuparam o rio Juquiá, em Juquitiba, localizada a 74 km de
segundo lugar entre os hábitos dos turistas São Paulo. A cidade é uma boa opção para a prá-
brasileiros (MTUR, 2009). Nota-se que, embora tica de esportes de aventura e para o contato
o percentual seja expressivo, está abaixo dos com a natureza.
destinos preferenciais, que são os destinos lito- Muitas vezes utiliza-se da natureza para
râneos (Tabela 4). desenvolver essa modalidade e também traba-
lhar a conscientização ambiental (BENI, 2001).
Destino Percentual de preferência Para o Ministério do Turismo, o turismo de

Praia 64,9%
aventura compreende “os movimentos turís-
ticos decorrentes da prática de atividades de
Campo 13,5% aventura de caráter recreativo e não competiti-
Tabela 4 I
Cidades Históricas 12,0%
vo” (MTUR, 2008: p. 14).
Preferências nos
hábitos de consumo
As atividades desenvolvidas no turismo
Montanhas 8,1%
do turismo brasileiro.
de aventura encontram-se listadas na Tabela
Fonte: Adaptado de Outras respostas 1,5%
5. Quando envolvem algum risco, demandam
MTUR (2009). acompanhamento responsável e devidamente
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 469

Figura 11 I
Esporte de aventura no
rio Juquiá, em Juquitiba.
Foto: Sergio Luiz Jorge.
Fonte: Expressão Studio
(TUR.SP, 2019).

Atividades na terra

Arvorismo Locomoção por percurso em altura, instalado em árvores ou em outras


estruturas.

Bungee jump Atividade em que uma pessoa se desloca em queda livre, limitada pelo
amortecimento mediante a conexão a um elástico. O elástico é desenvolvido
especificamente para a atividade.

Cachoeirismo Descida em quedas d’água, seguindo ou não o curso d’água, utilizando téc-
nicas verticais.

Canionismo Descida em cursos d’água, usualmente em cânions, sem embarcação, com


transposição de obstáculos aquáticos ou verticais. O curso d’água pode ser
intermitente.

Caminhada Percursos a pé em itinerário predefinido.

Caminhada (sem pernoite) Caminhada de um dia. Também conhecida por hiking.

Caminhada de longo curso Caminhada em ambientes naturais, que envolve pernoite. O pernoite pode
ser realizado em locais diversos, como acampamentos, pousadas, fazendas,
bivaques, entre outros. Também conhecida por trekking.

Cavalgada Percursos em vias convencionais e não convencionais em montaria, também


tratadas de turismo equestre.

Cicloturismo Atividade de turismo que tem como elemento principal a realização de per-
cursos com o uso de bicicleta, que pode envolver pernoite.

Espeleoturismo Atividades desenvolvidas em cavernas, oferecidas comercialmente, em


caráter recreativo e de finalidade turística.

Espeleoturismo vertical Espeleoturismo de aventura que utiliza técnicas verticais. Tabela 5 I


Atividades do Turismo
Escalada Ascensão de montanhas, paredes ou blocos rochosos, com aplicação de
técnicas e utilização de equipamentos específicos. de Aventura.
Fonte: Adaptado de
Montanhismo Atividade de caminhada ou escalada praticada em ambiente de montanha. MTUR (2008).
(continua...)
470 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Atividades na terra

Turismo fora-de-estrada Atividade de turismo que tem como elemento principal a realização de per-
em veículos 4x4 ou cursos em vias não convencionais com veículos automotores. O percurso
bugues pode incluir trechos em vias convencionais.

Tirolesa A atividade principal consiste no deslizamento do praticante em uma linha


aérea ligando dois pontos afastados na horizontal ou em desnível, utilizando
procedimentos e equipamentos específicos.

Atividades na água

Bóia-cross Atividade praticada em um minibote inflável, onde a pessoa se posiciona


de bruços para descer o rio, com a cabeça na extremidade frontal da bóia e
os pés na parte final da bóia, já praticamente na água. Também conhecida
como acqua-ride.

Canoagem Atividade praticada em canoas e caiaques, indistintamente, em mar, rios,


lagos, águas calmas ou agitadas.

Duck Descida de rios com corredeiras utilizando botes infláveis e remos, com
capacidade para até duas pessoas.

Flutuação / Atividade de flutuação em ambientes aquáticos, com o uso de máscara e


Snorkeling snorkel, em que o praticante tem contato direto com a natureza, observan-
do rochas, animais e plantas aquáticas. Usualmente utilizam-se coletes
salva-vidas.

Kitesurfe Atividade que utiliza uma prancha fixada aos pés e uma pipa de tração com
estrutura inflável, possibilitando deslizar sobre a superfície da água e, ao
mesmo tempo, alçar voos executados sobre superfícies aquáticas, com ven-
tos fracos ou fortes.

Mergulho Produto turístico em que a atividade principal é o mergulho autônomo e o


autônomo turístico praticante não é necessariamente um mergulhador qualificado.

Rafting Descida de rios com corredeiras utilizando botes infláveis.

Windsurfe Atividade praticada em ambientes aquáticos, também denominada prancha


a vela, que se serve, basicamente, de técnicas do surfe e da vela.

Atividades no ar

Balonismo Atividade aérea feita em um balão de material não inflamável aquecido com
chamas de gás propano, que depende de um piloto.

Paraquedismo Salto em queda livre com o uso de para quedas aberto para aterrissagem,
normalmente a partir de um avião. Enquanto atividade de turismo de aventu-
Tabela 5 I ra, é praticado como salto duplo.
Atividades do Turismo
de Aventura. Voo livre Atividade com uso de uma estrutura rígida que é manobrada com o desloca-
(asa delta ou parapente) mento do peso do corpo do piloto ou por superfícies aerodinâmicas móveis
Fonte: Adaptado de
(asa delta), ou até por ausência de estrutura rígida como cabos e outros dis-
MTUR (2008). positivos (parapente).
(continuação)

reconhecido de profissionais dos esportes e/ expostas pelo Ministério do Turismo e que cor-
ou atividades de aventura, definidas como ati- respondam a outros serviços ecossistêmicos
vidades oferecidas comercialmente, usualmen- culturais de lazer e turismo; essas atividades
te adaptadas das atividades de aventura, que podem ser realizadas na terra, na água ou no ar.
tenham ao mesmo tempo o caráter recreativo e Do ponto de vista do usuário destes ser-
envolvam riscos avaliados, controlados e assu- viços ecossistêmicos no Brasil, foram localiza-
midos (ABNT, 2007). das algumas características levantadas pelo
As atividades possíveis de serem desen- Ministério do Turismo em parceria com a Asso-
volvidas no âmbito do turismo de aventura são ciação Brasileira das Empresas de Ecoturismo
variadas. Na Tabela 5 são apresentadas aquelas e Turismo de Aventura (ABETA). De acordo com
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 471

a pesquisa consultada, os turistas do segmen- afeto às atividades de ecoturismo, turismo


to têm idade entre 18 a 29 anos; a maioria é do rural e turismo de aventura, foi identifica-
sexo masculino; são solteiros; têm ensino supe- do e sistematizado na Tabela 6, que apre-
rior incompleto; figuram na classe social B; têm senta políticas públicas que inf luenciam a
hábitos de viajar em grupos; contribuem para conservação dos serviços ecossistêmicos
o planejamento da sua viagem; demonstram abordados neste capítulo. Observa-se que
respeito pelo ambiente natural e social; exigem em relação ao turismo de aventura, há uma
qualidade, segurança, acessibilidade e infor- normatização específica para cada ativida-
mação (MTUR; ABETA, 2009). de, que pode ser encontrada no documento
O arcabouço legal relacionado ao “Turismo de Aventura: orientações básicas”
turismo e ao meio ambiente, diretamente (BRASIL, 2008).

Área Normativa Ementa

Portaria MTur Define o Mapa do Turismo Brasileiro 2017.


nº 197/2017

Portaria MTur Estabelece regras e critérios para a formalização de instrumentos de transferência volun-
nº 39/2017 tária de recursos, para execução de projetos e atividades integrantes do Programa de
Turismo e respectivas Ações Orçamentárias.

Portaria MTur Estabelece normas para execução do estabelecido no Decreto nº 6.170/2007. Dispõe
nº 424/2016 sobre as normas relativas às transferências de recursos da União mediante con-
vênios e contratos de repasse, revoga a Portaria Interministerial nº 507/MP/MF/
CGU/2011.

Portaria MTur Revoga os arts. 2º, 3º e 4º, bem como a Portaria nº 116/2015. Alteração: Portaria nº
nº 205/2015 268/2016 (dá nova redação ao Art. 3º); Portaria nº 192/2018 (estabelece novos crité-
rios para a atualização do Mapa do Turismo Brasileiro.

Portaria MTur Estabelece a categorização dos municípios pertencentes às regiões turísticas do Mapa
Legislação Turística

nº 144/2015 do Turismo Brasileiro. Alteração: Portaria nº 30/2018 (Altera os arts. 1º, 2º e 7º da Por-
taria MTur nº 144/2015).

Portaria MTur Portaria que define o Mapa do Turismo Brasileiro. Alterações: Portaria nº 205/2015
nº 313/313 (revoga os arts. 2º, 3º e 4º, bem como a Portaria nº 116/2015); Portaria nº 172/2016
(revoga o anexo da Portaria nº 313/2013).

Portaria MTur Institui o Programa de Regionalização do Turismo. Alterações: Portaria nº 161/2016


nº 105/2013 (institui Comitê Executivo); Portaria nº 119/2016 (dá nova redação aos art. 1º, 3º, §
2º, 4º, inciso III; e 5º, incisos II e III); Portaria nº 221/216 (dá nova redação ao § 2º
do art. 3º).

Lei nº Política Nacional de Turismo. Define as atribuições do Governo Federal no planeja-


11.771/2008 mento, desenvolvimento e estímulo ao setor turístico, tendo como um de seus obje-
tivos propiciar a prática de turismo sustentável nas áreas naturais, promovendo a
atividade como veículo de educação e interpretação ambiental e incentivando a ado-
ção de condutas e práticas de mínimo impacto, compatíveis com a conservação do
meio ambiente natural.

Decreto nº Regulamenta a Lei do Turismo. Estabelece, entre outros, normas, mecanismos e crité-
7.381/2010 rios para o bom funcionamento do Sistema Nacional de Cadastramento, Classifica-
ção e Fiscalização dos Prestadores de Serviços Turísticos (SINASTUR). Define tam-
bém as infrações e as penalidades administrativas para os meios de hospedagem,
agências de turismo, transportadoras, organizadoras de eventos, parques temáticos
e acampamentos turísticos.

Constituição Capítulo VI – Do Meio Ambiente (Art. 225). Define como incumbência do poder públi-
Federal co em garantir a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de 1988 de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se tam-
Legislação
Ambiental

bém à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras Tabela 6 I


gerações.
Legislação relacionada
Lei nº Proteção à Fauna. Estabelece que todos os animais que vivem naturalmente fora de com o desenvolvimento
5.197/1967 cativeiro são propriedades do Estado, entre outras disposições. de atividades turísticas
(continua...)
472 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Área Normativa Ementa

Lei nº Responsabilidade por atividades lesivas ao meio ambiente. Dispõe sobre as san-
9.605/ 1998 ções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente.

Lei nº Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e Decreto de regulamentação. Apresenta


6.938/ 1981 sua finalidade e mecanismos de formulação e aplicação; constitui o Sistema Nacio-
nal de Meio Ambiente; institui o Cadastro de Defesa Ambiental; e ainda define con-
Decreto nº ceitos pertinentes. Determina que as atividades empresariais, inclusive as ativida-
99.274/1990 des turísticas, devem estar em consonância com as diretrizes dessa política.

Lei nº Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e Decreto de regu-


9.985 2000; lamentação: estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das
Decreto nº unidades de conservação.
4.340/2002

Decreto nº Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) e Decreto de regulamentação. Estabe-


1.922/1996; lece meios para que as propriedades particulares possam conservar ou preservar
Legislação Ambiental

Decreto nº locais de relevante beleza cênica ou representações de condições naturais primiti-


5.746/2006 vas ou recuperadas

Decreto nº Política Nacional da Biodiversidade. Considerando os compromissos assumidos


4.339/2002 pelo Brasil na Convenção da Diversidade Biológica, dispõe sobre sete eixos
temáticos.

Lei nº Política Nacional de Educação Ambiental e decreto de regulamentação. Apresenta


9.795/1999; seus objetivos, diretrizes e uma proposta programática de promoção da educação
Decreto nº ambiental em todos os setores da sociedade.
4.281 2002

Decreto nº Proteção das cavidades naturais subterrâneas. Apresenta o conceito de cavidade


99.556/1990 natural subterrânea (grutas, cavernas, abismos e outras), estabelecendo medidas
de proteção e fiscalização.

Lei Estadual nº Institui a Política Estadual de Educação Ambiental. Apresenta seus objetivos, diretri-
12.780/2007 zes e uma proposta programática de promoção da educação ambiental em todos os
Tabela 6 I setores da sociedade.
Legislação
relacionada com o Decreto nº Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas. Apresenta princípios, diretri-
desenvolvimento de 5.758/2006 zes e objetivos para a gestão ambiental do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação.
atividades turísticas
(continuação) Lei nº Novo Código Florestal. Apresenta novos entendimentos sobre áreas consolidadas em
Fonte: Elaboração 12.651/2012 propriedades rurais, as quais podem ter destinação turística, por exemplo.
própria

Na próxima seção será analisada a impor- em 2018 (IBGE, 2019). Detém, ainda, enorme
tância que o turismo sustentável pode assu- biodiversidade existente na Mata Atlântica,
mir diante da necessidade de conservação dos constituindo-se como importante fornecedor de
ecossistemas e seus serviços, comunidades e serviços ecossistêmicos que garantem o bem-
culturas existentes no Cinturão Verde. -estar de 12% da população brasileira, confor-
me destacado nesta publicação.

2.4 | Diagnóstico e potencialidades


O maior município da região, São Paulo,

locais dos serviços ecossistêmicos


integra a 4ª maior metrópole do planeta (UN-

culturais de lazer e turismo na RBCV


-HABITAT, 2016). A cidade abriga 12,25 milhões
de pessoas (IBGE, 2019) que disputam, nesse
mesmo espaço, melhores condições de mora-
A RBCV, assim declarada pela UNESCO dia, de saúde, de segurança e de bem-estar.
em 1994, por meio do programa MaB (Man and A criação da RBCV foi motivada por esta
Biosphere), é uma região que abrange (total ou problemática, com vistas a garantir a conser-
parcialmente) 78 municípios e encerra 25,36 vação dos bens e serviços ecossistêmicos exis-
milhões de habitantes (IBGE, 2019) e uma econo- tentes nessa região e permitir que sua popula-
mia que contribui com 18,8% do PIB brasileiro ção possa respirar, viver e conviver com o meio
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 473

ambiente, como bem de uso comum e essencial para o ecoturismo, o turismo rural e o turis-
à sadia qualidade de vida, conforme definido mo de aventura. Os três são manifestações
pela Constituição Federal, em seu artigo 225 de turismo sustentável, dependentes de con-
(BRASIL, 1988). dições específicas, como a existência e a con-
Nesta perspectiva, os ecossistemas urba- servação de ecossistemas naturais, de modos
nos e periurbanos do Cinturão Verde, deten- de vida diversos daqueles predominantes em
tores de expressiva biodiversidade e beleza, grandes cidades e de modelos de desenvol-
fornecem à sua população áreas para lazer e vimentos orientados para a justiça social, o
turismo (serviços ecossistêmicos) que são fon- equilíbrio ecológico e a viabilidade econômi-
tes de sobrevivência aos residentes, descanso ca. Daí a importância dessa reserva da bios-
e saúde àqueles que visitam e de educação a fera para o turismo sustentável e, reciproca-
ambos (elementos do bem-estar humano). Este mente, a importância potencial do turismo
contexto é observado na Praia do Perequê, no sustentável para a efetividade da RBCV e para
Guarujá, onde os barcos pesqueiros enfeitam o desenvolvimento humano integral de suas
o horizonte da praia, com 2.200 m de compri- populações.
mento e com destaque para a gastronomia e o Portanto, se o turismo se desenvolve
comércio local de pescados (Figura 12). apoiado em perfis e motivações da demanda
Como já mencionado, as diferenças de assim como na oferta de recursos turísticos
perfil e de motivação dos visitantes e turis- existentes, sem dúvida que as orientações e
tas, bem como as características da oferta decisões políticas adotadas podem dar origem
turística, condicionam o(s) segmento(s) mais a decisões comprometidas com a qualidade
apropriado(s) para cada região ou local. ambiental das localidades.
Considerando as características geográ- Conforme os dados do levantamento sobre
ficas, históricas, culturais e a biodiversidade os hábitos de consumo do turismo brasileiro
das regiões, municípios e áreas protegidas da (apresentados nas Tabelas 2 e 4), é possível
RBCV, é possível vislumbrar que há potencial identificar que os deslocamentos domésticos

Figura 12 I
Praia do Perequê,
Guarujá.
Foto: Miguel Schincariol.
Fonte: FC&CP-SP (2019).
474 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

são passíveis de melhor aproveitamento pelo Nacional de Unidades de Conservação da


território da RBCV. O contexto da área abran- Natureza (SNUC), um de seus objetivos é
gida pelo Cinturão Verde pode ser melhor com- favorecer condições e promover a educação
preendido por sua segmentação em 7 regiões, e interpretação ambiental, a recreação em
compreendendo a cidade de São Paulo, como contato com a natureza e o turismo ecológico
uma região específica, e as porções territoriais (BRASIL, 2000: art. 4º, inc. XII).
referentes a Região Baixada Santista e Serra do A expressão da potencialidade de lazer
Mar; Região Leste; Região Norte; Região Nor- e turismo na RBCV é ilustrada na Figura 13,
deste; Região Oeste; e Região Grande ABC. que sintetiza as áreas naturais declaradas
Para trabalhar esta demanda potencial como UC, em nível federal, estadual e munici-
cujo principal núcleo emissor é a capital, pal, espacializados por municípios e por regi-
observa-se que nessa região há forte poten- ões considerando a totalidade dos territórios
cial de serviços ecossistêmicos culturais de dos municípios que integram a RBCV. Para este
lazer e turismo representados pelos inúme- levantamento, foram consultados os dados
ros pontos de interesse natural e, notadamen- relativos a UC disponíveis no Cadastro Nacio-
te, pelas UC estabelecidas no seu território. nal de Unidades de Conservação da Natureza
Conforme definido pelo próprio Sistema (CNUC) (MMA, 2019) e informações em bancos

Figura 13 I
Número de UC
(federal, estadual
e municipal) nos
municípios da
RBCV, em 2019.
Fonte: Elaboração
própria
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 475

de dados georreferenciados do Instituto Flo- Para desenvolver esse potencial do ser-


restal e da Fundação Florestal. Ressalta-se viço ecossistêmico cultural de lazer e turismo
que, como os dados de criação de UC são dinâ- na RBCV, a Secretaria de Infraestrutura e Meio
micos e dependem da atualização do órgão Ambiente, por meio da Fundação Florestal,
gestor das áreas protegidas, as UC assim implantou em 2008 o Programa Trilhas de São
estabelecidas e que não constavam no CNUC Paulo, que busca incentivar a visitação pública
ou nos bancos geoespaciais utilizados, deixa- em 20 áreas naturais protegidas do estado. Na
ram de ser incorporadas neste estudo. capital, no interior e no litoral, são 22 trilhas,
A análise aos dados disponibilizados no distribuídas em 18 áreas naturais protegidas,
CNCU (2019) evidencia duas situações presentes em 20 cidades diferentes (SÃO PAULO, 2018a).
no território da RBCV. A primeira, refere-se às UC Estas trilhas são classificadas em três níveis de
pendentes de registro no CNUC - PNM da Gro- dificuldades (baixa, média e alta), permitindo
ta Funda (Atibaia); PNM Lago dos Padres; PNM que diferentes públicos conheçam estas UC e
Petronila Markowitz; PNM Refúgio das Aves sejam sensibilizados pela beleza e riqueza da
(Bragança Paulista); PNM de Cajamar (Cajamar); Mata Atlântica, ademais de conhecer seus prin-
APA Embu Verde (Embu das Artes); APA Muni- cipais vetores de alteração.
cipal do Morro do Voturuna e Manancial Santo As informações sobre as trilhas são dis-
André (Santana de Parnaíba); PNM do Perequê ponibilizadas em um livreto de bolso, o cha-
(Cubatão); APA Municipal da Serra do Guararu mado Passaporte, que traz mapas, atrativos,
(Guarujá); Estação Ecológica Tanque Grande, dados sobre a estrutura local e um espaço para
PNM da Cultura Negra - Sítio da Candinha (Gua- carimbo na página referente à trilha visitada
rulhos); PNM Francisco Affonso de Mello (Mogi (SÃO PAULO, 2018a). Destas trilhas, cinco estão
das Cruzes). Em segundo, chama-se a atenção localizadas na área da RBCV, conforme apre-
para a necessária categorização de outros atra- sentado na Tabela 7, que destaca as Regiões
tivos naturais identificados no território e áreas Turísticas (RT) do Mapa do Turismo Brasileiro
protegidas designadas com categorias distintas 2017-2019, nos quais os referidos municípios
para UC nas categorias do SNUC, incluindo aque- da RBCV estão inseridos.
las designadas como horto florestal, parque bal- As RT foram definidas no âmbito do Pro-
neário, parque ecológico, parque municipal, par- grama de Regionalização do Turismo, que inte-
que urbano, parque zoológico, reserva florestal, gra a Política Nacional de Turismo (BRASIL,
viveiro, zoológico. 2008) e norteia o desenvolvimento do turismo

Nome da Trilha
| Região Área Natural Atrativos Extensão Bioma Altitude
Turística (RT) | | Municípios | (ida e volta)

Trilha da Nascente PE Fontes do Nascente do córrego 720 m Mata 801m


| RT Capital | Ipiranga Pirarungáua, que Atlântica até 813 m
| São Paulo | forma o Riacho
Ipiranga. Trilha
inclusiva

Trilha da Vida Parque Ecológico Trilha sensorial e 50 m Mata 743 m


| RT Capital | Guarapiranga inclusiva Atlântica até 743 m
| São Paulo |

Trilha do Silêncio PE Jaraguá Tamboril - árvore de 700 m Mata 798 m


| RT Capital | | São Paulo | grande porte, espécie Atlântica até 811 m
nativa da flora local.
Trilha inclusiva
Tabela 7 I
Trilha Pedra Grande PE Cantareira - Vista panorâmica de 10 km Mata 836 m Trilhas selecionadas
| RT Capital | Núcleo Pedra Grande São Paulo Atlântica até 1021 m em UC estaduais na
| São Paulo | área da RBCV e
municípios abrangidos.
Trilha Monumentos PE Serra do Mar - Monumentos 9,5 km Mata 739 Fonte: Elaboração
Históricos Núcleo Caminhos do Históricos da Estrada Atlântica até 53 m própria. Com base em
| RT Costa da Mata Mar | São Bernardo do Velha de Santos.
São Paulo (2018a);
Atlântica | Campo e Cubatão |
MTUR (2017b;. 2019c).
476 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

no Brasil, como resultado de um processo de distribuídos em 51 RT; os municípios foram


planejamento descentralizado e compartilhado, dispostos nas categorias A, B e C que contem-
com enfoque territorial. O Programa foi reestru- plam aqueles que concentram o fluxo de turis-
turado em 2013 (MTUR, 2013) e tem como prin- tas domésticos e internacionais. As categorias
cipal objetivo apoiar a estruturação dos desti- D e E representam destinos que não possuem
nos, a gestão e a promoção do turismo no país, fluxo nacional e internacional, todavia, apre-
com vistas à promoção do desenvolvimento sentam importante papel no fluxo turístico
regional. O princípio de regionalização da Políti- regional e precisam de apoio para a geração e
ca Nacional de Turismo trabalha sob a perspec- formalização de empregos e estabelecimentos
tiva de que mesmo um município que não possui de hospedagens (MTUR, 2017b; MTUR, 2019c).
clara vocação para o turismo (ou seja, que não Para o estabelecimento das RT, foram
recebe turista em seu território), pode se bene- utilizados os seguintes critérios de categori-
ficiar com o turismo ao desempenhar um papel zação: possuir oferta turística entre os muni-
de provedor de recursos humanos ou de pro- cípios que as compõem; possuir características
dutos destinados a atender o turista, o que per- similares ou complementares e aspectos que
mite ganhos para toda a região (BRASIL, 2008; identifiquem os municípios (identidade histó-
MTUR, 2019c). rica, cultural, econômica e/ou geográfica em
As ações de apoio à gestão, estruturação e comum); ser limítrofes e/ou distribuídos de
promoção do turismo nas regiões e municípios forma contígua. A oferta turística é considera-
consideram os seguintes eixos de atuação: ges- da com base na existência de atrativos turísti-
tão descentralizada; planejamento e posiciona- cos, serviços, equipamentos turísticos e acesso
mento de mercado; qualificação profissional, (MTUR, 2013).
dos serviços e da produção associada; empre- Os municípios da RBCV são bastante
endedorismo, captação e promoção de investi- expressivos no Mapa do Turismo Brasileiro:
mentos; infraestrutura turística; informação das 51 RT, estes municípios da RBCV integram
ao turista; promoção e apoio à comercialização; 15 regiões (Tabela 8) e somente 11 municípios
monitoramento (BRASIL, 2008; MTUR, 2019c). não estão inseridos como RT (Alumínio; Cam-
Na atualização do Mapa do Turismo Bra- po Limpo Paulista; Diadema; Ferraz de Vascon-
sileiro 2017-2019, ficou evidenciada a for- celos; Franco da Rocha; Igaratá; Mauá; Nazaré
ça do turismo paulista – são 432 destinos Paulista; Tuiuti; Vargem; Várzea Paulista).

Região Turística (RT) Municípios


Atrativos
| Inserção da RBCV | e categoria nas RT

ABCTUR Ribeirão Pires (C) O circuito é referência no turismo industrial e turismo
| Integral | Rio Grande da Serra (D) de negócios.
Santo André (B)
São Bernardo do Campo (B)
São Caetano do Sul (C)

Altos de Paranapiacaba Piedade (C) A RT tem como atrativos montanhas, lagos, cachoei-
| Parcial | ras, trilhas na Serra de Paranapiacaba, em tupi-gua-
rani “montanha que detém o mar”.

Caminhos da Mata Itariri (D) O roteiro inclui percursos em trechos de floresta nati-
Tabela 8 I Atlântica va, em atividades que envolvem esporte, lazer e inte-
Regiões Turísticas | Parcial | gração com a natureza.
do Mapa do Turismo
Brasileiro 2017-2019 Capital São Paulo (A) Abrange atrativos naturais significativos, em espe-
no território da | Integral | cial no extremo norte e sul da cidade, bem como atra-
RBCV e municípios tivos culturais, religiosos, manifestações culturais,
abrangidos. eventos tradicionais, equipamentos de lazer.
Fonte: Elaboração
própria. Com base Circuito das Frutas Atibaia (B) | Jarinu (C) Estes municípios têm a fruticultura como atividade
em MTUR (2017b; | Parcial | Jundiaí (B) principal. O visitante também encontra as tradições
2019c). culinárias.
(continua...)
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 477

Região Turística (RT) Municípios


| Inserção da RBCV | e categoria nas RT Atrativos

Costa da Mata Atlântica Bertioga (B) | Cubatão (C) Abrange Região Metropolitana da Baixada Santista,
| Integral | Guarujá (A) | Itanhaém (B) sendo composto por três roteiros temáticos, para o
Mongaguá (B) | Peruíbe (B) visitante conhecer a diversidade e as riquezas dos
Praia Grande (A) | Santos (A) atrativos da região: o histórico cultural; o ecológico e
São Vicente (B) rural e o científico ambiental.

Entre Serras e Águas Bom Jesus dos Perdões (D) Região da Serra da Mantiqueira, onde se localizam
| Parcial | Bragança Paulista (C) represas do Complexo Cantareira.
Joanópolis (C) | Mairiporã
(C) | Piracaia (D)

Histórias & Aventuras Mairinque (D) A RT tem o objetivo de promover o turismo rural, a
| Parcial | Votorantim (D) partir de suas dimensões históricas, culturais e
naturais.

Lagamar Pedro de Toledo (D) A região do Lagamar, no Vale do Ribeira de Iguape,


| Parcial | constitui o maior trecho contínuo de Mata Atlântica do
país, abrigando diversas unidades de conservação.

Mananciais, Cotia (C) | Embu das Artes Um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica e
Aventura e Arte (C) | Embu-Guaçu (D) uma das principais regiões produtoras de água do
| Integral | Ibiúna (C) | Itapecerica da estado.
Serra (C) | Juquitiba (D)
São Lourenço da Serra (D)
Taboão da Serra (D)
Vargem Grande Paulista (D)

Mantiqueira Paulista São José dos Campos (B) O circuito apresenta um dos mais deslumbrantes
| Parcial | cenários do Brasil. O distrito de São Francisco Xavier,
em São José dos Campos, está localizado entre as
montanhas da Serra da Mantiqueira. A cidade pre-
serva a cultura local, influenciada pela história dos
bandeirantes e dos tropeiros.

Nascentes do Tietê Arujá (C) | Biritiba Mirim Também conhecido como Circuito do Alto Tietê.
| Integral | (D) | Guararema (C) Engloba áreas de proteção ambiental e mananciais
Guarulhos (B) na região do Alto Tietê.
Itaquaquecetuba (C) | Mogi
das Cruzes (B) | Poá (D)
Salesópolis (D) | Santa
Isabel (D) | Suzano (C)

Negócios e Cultura Barueri (C) | Caieiras (D) Destaca atrativos turísticos locais, sobretudo vincu-
| Integral | Cajamar (D) | Carapicuíba lados ao turismo de negócios, gastronomia, cultura
(D) | Francisco Morato (D) local, histórico e religioso.
Itapevi (C) | Jandira (D)
Osasco (B)

Rios do Vale Jacareí (C) | Jambeiro (E) Composta por municípios do Vale do Paraíba e da
| Parcial | Natividade da Serra (D) Serra do Mar. A região se destaca por atrativos histó-
Paraibuna | (D) | Redenção ricos, de aventura, ecoturismo, gastronomia, pesca,
da Serra (D) | Santa eventos. Tabela 8 I
Branca (D) Regiões Turísticas
do Mapa do Turismo
Roteiro dos Araçariguama (D) Região percorrida por bandeirantes, abrangendo Brasileiro 2017-2019
Bandeirantes Cabreúva (D) aspectos históricos, ambientais e gastronômicos. no território da RBCV e
| Parcial | Pirapora do Bom Jesus (E) municípios abrangidos.
Santana de Parnaíba (D) | Fonte: Elaboração
São Roque (C) própria. Com base em
MTUR (2017b; 2019c).
478 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Na Figura 14 é apresentada a distribui- municípios da RBCV inseridos nas categorias D


ção dos municípios da RBCV que integram as e E, reúnem características de apoio às cidades
RT do Mapa do Turismo Brasileiro 2017-2019, geradoras de fluxo turístico.
em suas respectivas categorias. Dos 78 muni- No estado de São Paulo, os roteiros, circui-
cípios do Cinturão Verde, 67 estão presentes tos turísticos temáticos e RT com características
no Mapa, em cinco categorias. As cidades con- naturais, culturais e históricas, ou seja, circuitos
templadas nas categorias A, B e C contam com dependentes de serviços ecossistêmicos cultu-
95% dos empregos formais em meios de hospe- rais de lazer e turismo, foram estruturados de
dagem, 87% dos estabelecimentos formais de modo a privilegiar o desenvolvimento regional
meio de hospedagem, 93% do fluxo doméstico e (Figura 15).
têm fluxo internacional; na RBCV, a maioria das Assim, mesmo aqueles municípios da
cidades, em um total de 37 municípios, estão RBCV que não apresentaram atendimento à
nessas categorias, incluindo Guarujá, Praia normativa para estabelecimento de RT, podem
Grande, Santos e São Paulo na categoria “A”. Os 30 se configurar como destinos turísticos, em

Figura 14 I
Categorização dos
municípios da RBCV
inseridos no Mapa
do Turismo Brasileiro
2017-2019.
Fonte: Elaboração
própria. Com base
em MTUR (2017b;
2019c).

Figura 15 I
Represa de
Redenção da Serra
- Circuito Cultura
Caipira e Rota da
Liberdade.
Foto: Juliana Branco.
Fonte: FC&CP-SP
(2019).
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 479

especial relacionados ao turismo rural e de Entre outros requisitos, para classificação


natureza. A Tabela 9 exemplifica algumas ini- de município como estância turística, é indis-
ciativas que, mesmo não atendendo a norma- pensável ser destino turístico consolidado; e
tiva legal de configuração de RT para o perío- possuir expressivos atrativos de uso público de
do 2017-2019, expressam circuitos e roteiros caráter permanente, naturais, culturais ou arti-
inseridos no Cinturão Verde para a promoção ficiais, que identifiquem a sua vocação, voltada
do turismo (MTUR, 2013; CIDADES PAULIS- para os segmentos: turismo social, cultural, reli-
TAS…, 2019). gioso, de estudos e de intercâmbio, de esporte,
Tão relevante quanto a participação dos de pesca, náutico, de aventura, de sol e praia,
municípios da RBCV no Mapa do Turismo Bra- de negócios e eventos e turismo de saúde. Já
sileiro 2017-2019 e em outras iniciativas de cir- os municípios de interesse turístico devem ter
cuitos e roteiros turísticos, é a classificação de potencial turístico e expressivos atrativos (SÃO
33 municípios em estâncias turísticas e municí- PAULO, 2015). A Figura 16 apresenta regiões
pios de interesse turístico (MIT) (ALESP, 2019; turísticas e classificação em estância turística e
SÃO PAULO, 2015; 2018b) (Tabela 10). município de interesse turístico.

Iniciativa
Municípios da RBCV Descrição
| Inserção na RBCV |

Caminho do Sol Cabreúva; Santana O caminho oferece aos amantes de caminhadas


| Parcial | de Parnaíba um ambiente agradável, passando por áreas rurais.

Circuito Taypa de Pilão Barueri; Carapicuíba; Representa o período de ocupação colonizadora na


| Integral | Cotia; Embu das Artes; região do entorno oeste da metrópole paulista.
Santana de Parnaíba; Exemplos de uso da técnica tradicional de construção
São Roque conhecida como taipa de pilão (parede de barro socado).

Circuito Turístico Alumínio; Cotia; Ibiúna; Área de influência da APA Itupararanga, e oferece
Itupararanga Mairinque; Piedade; diversas opções de lazer e esportes junto à natureza,
| Integral | São Roque; Votorantim além de ecoturismo, turismo rural e de aventura.

Rota e Festivais do Bertioga; Mogi das A Rota do Cambuci promove diversidade de cachaças,
Cambuci Cruzes; Paraibuna; geléias, salgados, sorvetes, cervejas entre outras
| Parcial | Piedade; Ribeirão criações naturais que têm como base este fruto nativo
Pires; Rio Grande da Mata Atlântica.
da Serra; Salesópolis; Tabela 9 I
Santo André- Iniciativas estaduais
Paranapiacaba; de promoção do
São Lourenço da Serra; turismo no território
São Paulo da RBCV e municípios
abrangidos.
Rota da Liberdade Redenção da Serra O circuito mapeia os passos dos negros africanos. Fonte: Elaboração
| Parcial | Através do roteiro, são encontradas manifestações própria. Com base
de cultura negra na gastronomia, religiosidade, em Cidades Paulistas
música, dança folguedos, festas e brincadeiras. (2019); Instituto Auá
(2019).

Classificações turísticas Municípios da RBCV

Estância Turística Atibaia | Bertioga | Embu das Artes | Guarujá | Ibiúna | Itanhaém | Tabela 10 I
Joanópolis | Mongaguá | Peruíbe | Praia Grande | Ribeirão Pires | Municípios
Salesópolis | Santos | São Roque | designados como
Estância Turística e
Município de Cabreúva | Cubatão | Guararema | Igaratá | Itariri | Jacareí | como Município de
Interesse Turístico Jarinu | Jundiaí | Juquitiba | Mairiporã | Mogi das Cruzes | Interesse Turístico.
Nazaré Paulista | Paraibuna | Piedade | Piracaia | Pirapora do Bom Fonte: ALESP (2019);
Jesus | Santa Isabel | São Bernardo do Campo | Votorantim | São Paulo (2015;
2018b).
480 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 16 I
Regiões turísticas
dos municípios no
Mapa Brasileiro de
Turismo
2017-2019,
Municípios de
Interesse Turístico e
Estâncias Turísticas
no território da RBCV.
Fonte: Elaboração
própria Os dados e informações apresentados de preservação permanente; reservas legais;
apontam tanto a riqueza de serviços ecossistê- fragmentos de vegetação natural; UC federais,
micos culturais de turismo e lazer do território, estaduais e municipais) e, por outro, figuram
como demonstram o que se discutiu ao longo das os vetores diretos e indiretos de alteração,
seções anteriores: a RBCV possui inúmeras áre- como por exemplo, as ocupações desordena-
as protegidas e espaços naturais que marcam o das decorrentes, em grande parte, da irrespon-
encontro conflituoso de duas realidades decor- sabilidade e/ou omissão do Estado na gestão
rentes do mesmo modo de produção e mode- ambiental pública, nas três esferas de gover-
lo de desenvolvimento. Por um lado, existe a no; e na inexperiência democrática de nossa
necessidade de proteção de ecossistemas (áreas sociedade.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 481

Figura 17 |
Trilha
Monumentos
Históricos Caminho
do Mar
(Bely C. C.
Pires, 2006).

Figura 18 |
Paredão de Lorena
(Bely C. C. Pires, 2006).

A trilha Monumentos Históricos Caminhos Inacessível ao público por muito tempo, a


do Mar, localizada no PE Serra do Mar, teve seu estrada foi recuperada após algumas obras e
início em 17 de abril de 2004, quando o então reaberta à visitação mediante parceria entre
governador do Estado, Geraldo Alckmin, inau- várias Secretarias e instituições estaduais
gurou o Pólo Ecoturístico Caminhos do Mar. de São Paulo Secretaria de Infraestrutura e
Esta importante área compreende um patrimô- Meio Ambiente (EMAE - Empresa Metropo-
nio ambiental e histórico distribuídos em 5 mil litana de Água e Energia; Instituto Florestal;
ha, testemunhas de passagens importantes RBCV; Coordenadoria de Recursos Hídricos);
dos últimos 500 anos da história brasileira. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico;
trilha que ligava Santos aos Campos de Pirati- Secretaria de Turismo; Secretaria de Cultura
ninga era conhecida como Caminho do Mar e foi e Economia Criativa e Instituto Auá de Empre-
usada por tupiniquins, jesuítas, bandeirantes e endedorismo Socioambiental. O número de
para o escoamento da produção paulista para visitantes é controlado, compatível com a
a metrópole portuguesa. Localizada nos muni- capacidade de carga local (200 pessoas em
cípios de São Bernardo do Campo e Cubatão, dias de semana e 400 em finais de semana).
a trilha tem como referências a Estrada Velha No início das atividades do Polo, as visitas
de Santos, (primeira rodovia de acesso do pla- eram agendadas e monitoradas por jovens de
nalto à Baixada Santista, inaugurada em 1842 comunidades de entorno do Parque Estadual,
com o nome de Estrada da Maioridade); a Cal- com formação específica. Esse aspecto, ali-
çada do Lorena (1792); monumentos históricos ás, marca o compromisso do empreendimento
como o Pouso de Paranapiacaba, o Rancho da com a inclusão e o desenvolvimento social na
Maioridade e o Paredão do Lorena (foto acima) região. Após 2 meses de curso de Monitores
e o Parque Estadual da Serra do Mar, maior UC Ambientais, coordenados pela RBCV e pelo
de Mata atlântica do país. Além da exuberância Instituto, 19 jovens do Programa de Jovens –
Quadro 2 |
da floresta que envolve os 9 km de trilha e os Meio Ambiente e Integração Social (PJ-MAIS) Serviços culturais de
referenciais históricos nela cravados, é possível da RBCV foram contratados e trabalharam na lazer e turismo na trilha
observar também a Baixada Santista. monitoria (SÃO PAULO, 2008; RBCV, 2008). Monumentos Históricos
Caminhos do Mar.
482 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 19 |
Trilha em campo de
altitude no Núcleo
Curucutu do PESM.
Fonte: Herivelton
Pereira Soares
(2020).

O Núcleo Curucutu do PE Serra do Mar trilha do Telégrafo, que corta a Serra do Mar,
situa-se entre São Paulo e Itanhaém e possui permitindo percorrer setores da Mata Atlânti-
37.518 hectares. Seus ambientes naturais lhe ca, como a mata de neblina e os raros campos
conferem papel fundamental na prestação de de altitude onde habita a coruja Murucututu
serviços ecossistêmicos, como os de regulação (Pulsatrix perspicillata), símbolo desta área pro-
(manutenção do clima, contenção de encos- tegida. Fornos de produção de carvão datados
tas); os de suporte (ciclagem de nutrientes, da primeira metade do século XX completam a
formação do solo); os de provisão (manutenção visitação para os cerca de 1.600 visitantes anu-
de mananciais que alimentam a represa Gua- ais que acessam o Núcleo. O Núcleo Curucutu
rapiranga, por exemplo). Os serviços culturais do PE Serra do Mar teve seu Plano de Manejo
proporcionados pela área estão voltados às aprovado em 2006. Portanto, uma nova etapa
atividades educacionais, científicas, ao eco- de organização do Uso Público foi estabelecida,
turismo e ao lazer, sendo este uma das princi- definindo o "Circuito dos Campos Nebulares"
pais atividades do Núcleo, contemplando, em como uma das áreas prioritárias de manejo. A
todas as suas funções: descanso, divertimento visitação pública vem ocorrendo com suporte
(recreação e entretenimento) e desenvolvimen- de um centro de visitantes, recepção adequa-
to (pessoal e social), permitindo a satisfação de da por parte da instituição e oferta de serviços
interesses artísticos, intelectuais, esportivos, de monitoria. Assim, este Núcleo exemplifica a
Quadro 3 | de práticas manuais e turísticos dos visitan- importância de áreas especialmente protegidas
Serviços culturais no
Núcleo Curucutu do
tes. Está equipado com um centro de visitantes no território da RBCV, como locais singulares na
Parque Estadual da e várias trilhas, dentre elas, a trilha do Miran- oferta de serviços ecossistêmicos voltados ao
Serra do Mar: te, onde se avista Itanhaém e Mongaguá e a ecoturismo e ao lazer.
o Lazer e o Turismo.

Sobre a problemática destes vetores de em São Paulo o denominado padrão horizon-


alteração, Silva e Galvão (2011), discutem tal e periférico de expansão urbana, acomo-
a expansão urbana (Figura 20), a perda de dando contingentes populacionais cada vez
vegetação na RMSP e o papel das UC. Segun- mais expressivos. Indicadores deste padrão e
do as autoras, a partir de 1950 se consolidou seus efeitos nocivos ao meio ambiente
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 483

manifestam-se com a proliferação de habita- e o assoreamento de recursos hídricos, a ocor-


ções precárias e ilegais em áreas nas quais há rência de processos erosivos, o deslizamentos de
sérias restrições a quaisquer tipos de habita- encostas, a diminuição de áreas de infiltração de
ção e atividade humana. chuva, o aumento do escoamento superficial de
água e, em última instância, o agravamento do
Este processo redunda na ocupação de áreas problema de enchentes (SILVA; GALVÃO, 2011:
frágeis do ponto de vista ambiental, com sérias p. 893).
consequências para a qualidade de vida e para
o equilíbrio ambiental urbano. Dentre os pro- Como resposta a esse quadro socioambien-
blemas ambientais decorrentes desta forma de tal degradante, que avança sobre o Cinturão Verde,
ocupação destacam-se a supressão da cobertura o Estado tem lançado mão, entre outras estraté-
vegetal, a redução da biodiversidade, a poluição gias, da criação de UC como o PE Águas da Billings

Figura 20 I
Áreas de expansão
da mancha urbana
nas periferias da
RMSP.
Fonte: Silva; Galvão
(2011).
484 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

(Figura 21), criado em São Bernardo do Campo, Embora a criação de UC seja uma das
pelo Decreto 63.324/2018, com 187 hectares. principais formas de proteção dos ecossiste-
Observa-se, em princípio, que se trata de mas da RBCV, sem a qual o cenário de dete-
resposta à dimensão ecológica da problemática rioração ambiental seria certamente mais
socioambiental. Tal postura não enfrenta dire- alarmante, o estudo citado também evidencia
tamente seus aspectos sociais e principalmente a dificuldade deste modelo de proteção no
econômicos e políticos, uma vez que pode-se que se refere à contenção do vetor de altera-
atribuir parcela significativa de tais ocupações ção representado pelo uso e ocupação inade-
nas “bordas” das cidades às dinâmicas socioes- quados do solo. Entre outras consequências,
paciais pautadas pela apropriação privada de mudanças no padrão de ocupação do espaço
espaços urbanos sob a lógica do capital. geram desmatamento da RMSP, que está inte-
Como essas dinâmicas não são enfrentadas gralmente inserida na área da RBCV. Se por
exclusivamente com a criação de UC, um efeito um lado de fato houve um progresso na cria-
decorrente da implantação de UC em áreas nas ção de UC no período de 1986 a 2008, pas-
quais proliferam habitações precárias e irre- sando de 16,60% para 25,20% do território
gulares é uma gama considerável de conflitos da RMSP, houve também um crescimento con-
socioambientais. Além disso, ainda que estas siderável da mancha urbana para o mesmo
unidades tenham um papel importante na con- período, passando de 18,30% em 1986 para
servação de recursos naturais, por outro lado 21,90% em 2008 (SILVA; GALVÃO, 2011).
essas áreas enfrentam uma série de problemas A pior parte desta informação é que o
relacionados à sua implantação e gestão que aumento da mancha urbana se deu também den-
podem, inclusive, fragilizar a sua eficácia. tro das UC, em um incremento de 119,60%. A
Os principais problemas relativos às UC perda de vegetação com a expansão urbana cor-
se referem à deficiência de recursos humanos e responde a 113,10 km2, para o período de 1986
materiais, à dificuldade de fiscalização, à ausên- a 2008, o que significa perda de ecossistemas e
cia ou obsolescência dos planos de manejo des- seus serviços, inclusive nas UC de proteção inte-
sas unidades e a problemas fundiários. Observa- gral que, todavia, apesar de comportarem algum
-se que sete das doze categorias de UC existentes grau de expansão urbana em seu interior apre-
no SNUC (BRASIL, 2000) pressupõem a posse e sentaram, segundo o estudo, maior efetividade
o domínio público de suas terras, o que implica na conservação dos recursos naturais.
na desapropriação de áreas particulares inseri- Se por um lado esses dados relativos à
das em seus limites, conforme determina a lei expansão da mancha urbana são preocupantes,
(SILVA; GALVÃO, 2011). por outro ângulo, as áreas protegidas e o cenário

Figura 21 I
Parque Estadual
Águas da Billings,
São Bernardo do
Campo.
Fonte: Elaine
Aparecida Rodrigues.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 485

conflituoso constituem o principal recurso que o turismo sustentável pode configurar-se, tam-
serve de base para a proposta educativa, com bém, como fator de desenvolvimento local, pro-
perspectiva crítica, à qual o turismo enquanto movendo elementos de bem-estar humano.
fenômeno social deve contribuir. Na Figura 22 Outros vetores de alteração que podem
é ilustrada a perda de vegetação em áreas peri- impactar seriamente a oferta de serviços ecos-
féricas da RMSP. sistêmicos culturais de lazer e turismo na RBCV
Ao passo que se torna um recurso peda- são apresentados na Figura 24, que traz uma
gógico, integrando serviços ecossistêmicos cul- reflexão sobre o próprio turismo como vetor de
turais da RBCV à educação, ao lazer e à cultura, alteração.

Figura 22 I
Áreas com perda de
vegetação na RMSP.
Fonte: Silva; Galvão
(2011).
486 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 23 |
Bairro Cabuçu,
Guarulhos.
Fonte: Rodrigo
Machado (2007).

No município de Guarulhos há um bairro que especulação imobiliária reais ou potenciais


dá nome ao Núcleo Cabuçu do PE Cantareira naquele momento, como compra e reivindica-
(PEC). Entre os anos de 2002 e 2007 foi desenvol- ção de lotes, aumento do custo de vida, etc.
vida experiência de promoção do turismo de base A estratégia para se trabalhar ambos os desa-
local como complementação de renda e, princi- fios, encontrou no turismo um instrumento tanto
palmente, como criador de situações educadoras de desenvolvimento de base local (includente e
em perspectiva crítica; a iniciativa foi conduzida valorizador dos moradores), como também de
de forma coletiva e horizontal, com a participa- situações educadoras. Assim, ao longo dos anos
ção equitativa entre os envolvidos. Estes eram desenvolveram-se duas iniciativas substancial-
moradores, estudantes, referências religiosas e mente alinhadas: o Projeto Cabuçu de Desenvol-
comunitárias, universitários, educadores, pesso- vimento Local e o Núcleo de Educação Ecopro-
as com formação em turismo e servidores públi- fissional (NEE) do Programa de Jovens – Meio
cos (estaduais e municipais), além de colabora- Ambiente e Integração Social (PJ-MAIS) da RBCV,
dores eventuais das mais diversas origens. sendo importante observar que essas duas fren-
O contexto no qual se desenvolveu a inicia- tes de atuação se retroalimentavam.
tiva foi marcado pela iminência da inauguração Por meio da auto-organização dos envolvi-
do Núcleo de Visitação do PEC naquela porção dos, a partir das ações do Projeto Cabuçu, inú-
do Parque. Já havia sinais de que o movimen- meras situações cotidianas foram integradas à
to de periferização característico da RMSP, do oficina de Turismo Sustentável do PJ-MAIS. O
qual decorria a ocupação de cerca de 60.000 protagonismo local, sobretudo de jovens do PJ-
pessoas residentes no bairro Cabuçu, avan- -MAIS, que se posicionavam como organizado-
çaria e daria lugar a outra dinâmica, também res dos roteiros de visita e monitores ambien-
marcante na RMSP: a especulação imobiliária tais, possibilitou que mães assumissem a
e, em consequência, a indução de boa parte tarefa de alimentar com refeições, pães, doces,
dos vetores de alteração ambiental na RBCV. sucos e outras receitas próprias os visitantes
Partiu-se do pressuposto de que era preciso (adolescentes, estudantes de ensino superior,
Quadro 4 | criar um ambiente educador, com viés de cons- professores e outros segmentos), enquanto
Ecossistemas,
cientização sobre a importância do entorno outros moradores, principalmente as mulheres,
vetores de alteração
e impactos como do PEC e do papel da atuação política para a preparavam lembrancinhas ou souvenirs para
recursos melhoria da qualidade ambiental, de vida e presentear aqueles que, atraídos pela biodiver-
pedagógicos do de convivência do bairro com a UC. Por outro sidade protegida pelo PEC, conheciam o bairro
turismo base local: lado, este ambiente educador necessitava vizinho, as pessoas e suas histórias. Todos os
a experiência com
dialogar com a dimensão econômica de gerar produtos e serviços eram devidamente remu-
serviços
ecossistêmicos de renda complementar, com vistas a contribuir a nerados com os valores pagos pelos visitantes,
turismo no Cabuçu, uma espécie de “resistência” às investidas da segundo a experimentação prática tanto da
Guarulhos.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 487

valoração e remuneração do trabalho envolvido, realidade do lugar; 3) aprender a valorar todo o


como da importância do diálogo e negociação trabalho envolvido de maneira a estabelecer
entre iguais, exercendo sua liberdade de esco- preços de pacotes constituídos por algo próximo
lha e de ação. a um arranjo produtivo de base local (um grupo
Em sintonia com as discussões desenvolvi- plantava hortaliças e as fornecia para as mulhe-
das a partir do marco conceitual e teórico dos res que produziam o almoço; outro grupo desen-
serviços proporcionados pelos ecossistemas, as volvia técnicas e produtos artesanais, enquanto
ações desenvolvidas no PEC, inserido na RBCV, os jovens elaboravam os roteiros e articulavam
protegiam os serviços ecossistêmicos de lazer os demais grupos).
e de turismo pelo contato com a biodiversidade Foram inúmeras experiências entre visitan-
conservada e pela beleza cênica de suas paisa- tes e visitados, formando e educando centenas
gens. Com a UC exercendo esse poder de atra- de pessoas e, notadamente, os moradores. A
ção e com a importância do cenário já descrito partir de um viés social e político, de todo este
sobre a periferização e especulação imobiliária, processo originaram-se referências locais na
o entorno do Parque assumia, no roteiro turísti- luta pela melhoria da qualidade ambiental da
co, valor igual ao da UC: se na parte da manhã região e da qualidade de vida dos moradores do
eram desenvolvidas atividades de visitação no bairro. Haja vista iniciativas posteriores como a
Núcleo Cabuçu, o almoço e as atividades da organização não-governamental Projeto Cabu-
tarde ocorriam no bairro, em contato com seus çu de Desenvolvimento Local, o Ponto de Cul-
moradores. Criavam-se assim situações edu- tura Chico Mendes (ASSOCIAÇÃO…, 2019), o
cadoras pautadas pelo diálogo e pelo acesso a Movimento Cabuçu (MOVIMENTO…, 2019a;
outras paisagens, essas como recursos peda- 2019b), e a agência Cabuçu Turismo (AGÊN-
gógicos para uma educação em perspectiva CIA…, 2019a; 2019b). Do ponto de vista econô-
crítica e de orientação socioambiental. Um dos mico, há uma leitura positiva e outra negativa. A
momentos mais importantes do percurso ocorria positiva é que as experiências se sustentaram
no chamado Pico Pelado, do qual se avistava, em economicamente, de forma que todos os envol-
360º, uma paisagem muito rica em informações vidos efetivamente contaram com excedentes
visuais e em possibilidades de interpretação como complementação de renda. A negativa é
para a compreensão de fenômenos e dinâmi- que o turismo como atividade organizada, fre-
cas socioespaciais caracterizados como vetores quente e geradora de renda não ocorre mais da
de alteração ambiental, como a periferização, a mesma forma desde meados de 2009, sobretu-
especulação imobiliária e a gentrificação, fenô- do pela carência de evolução para um status de
menos estes que a política de criação de áreas política pública com o devido incentivo e supor-
protegidas não é capaz de enfrentar sozinha, te, entre outros fatores; ainda são realizadas
podendo até reforçá-los. Do alto do Pico Pelado, atividades esporádicas, mantidas por referên-
de uma vista se observava a gigantesca mancha cias locais no campo do turismo, com foco na
urbana da cidade de São Paulo conurbada com visita à UC. Já do ponto de vista ecossistêmico,
a de Guarulhos, ambas visivelmente crescen- na opção feita para orientar conceitual e teo-
do em direção à Serra da Cantareira, protegida ricamente o turismo, eram marcantes tanto a
pelo PEC. Entre a Serra e a mancha urbana, o valorização dos serviços ecossistêmicos como
Pico Pelado e, abaixo dele, o pequeno vale do também a tensão existente entre o modelo de
córrego Cabuçu, denominado “zona de defesa” desenvolvimento hegemônico e a necessidade
por pesquisadores da Universidade Guarulhos. de conservação da RBCV.
Ocorria ali uma das mais relevantes situações De qualquer maneira, caso houvesse fôlego
de ensino - aprendizagem entre visitantes e visi- para se manter as visitas e todos os benefícios
tados sobre a problemática socioambiental que sociais, ecossistêmicos e econômicos, a neces-
envolvia os moradores, o bairro, as cidades e os sidade do modelo de desenvolvimento hege-
ecossistemas. Outra importante situação eram mônico por (rodo) vias de escoamento e fluidez
os encontros de moradores auto-organizados no transporte de pessoas e cargas (represen-
realizados para: 1) apropriar-se da problemática tadas pelo Rodoanel em seu trecho norte), se
(levantamentos e pesquisas eram feitos com vis- encarregaria de impactar boa parte do bairro
tas a compreender o próprio local de moradia); e, principalmente, o acesso àqueles pontos que
2) construir os roteiros de forma que se promo- serviam de espaços de ensino-aprendizagem,
vesse o contato com os ecossistemas e com a tais como o mencionado Pico Pelado.
488 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Intensidade do
Vetor de alteração do serviço Categoria Descrição dos impactos ambientais vetor e
ecossistêmico do vetor tendência futura

Econômico
Fomento à industrialização,
à infraestrutura portuária, à Perda de atrativos naturais importantes
mineração e à produção Indireto para o ecoturismo, o turismo de aventura e
agrícola e pecuária de larga descaracterização do turismo rural
escala como estratégia de
desenvolvimento econômico

Implantação de projetos de infraestrutura e


Econômico incentivo na comunidade local para o
Incentivo à atividade Indireto ecoturismo, em UC ou em áreas com
econômica turística ecossistemas bem conservados, podendo
levar à alguma descaracterização do atrativo

Implantação de infraestrutura e
Econômico equipamentos turísticos destinados a grande
Incentivo ao turismo de massa Indireto número de turistas, levando à deterioração/
descaracterização de atrativos naturais

Sociopolítico Impacto misto, pois ao mesmo tempo em que


Criação de UC de proteção viabiliza a manutenção dos atrativos para o
Indireto
integral em áreas bem ecoturismo e turismo de aventura, pode
conservadas inviabilizar o turismo rural

Desvalorização do modo de vida nas áreas


Cultural naturais, sedução do modo de vida urbano
Crença na hegemonia Indireto que valoriza a ostentação de objetos
da cultura urbana símbolos de status, indiferente aos
eventuais impactos ambientais que esse
estilo de vida possa causar

A necessidade de consumo de bens


Cultural turísticos pode colocar em risco o patrimônio
Indireto natural, de onde são extraídos recursos
Hábitos consumistas
naturais para a confecção de souveniers

A alteração dos hábitos alimentares da


Cultural sociedade contemporânea motiva restrições
Hábitos alimentares Indireto
a produtos provenientes da agricultura e
pecuária tradicionais

Turista/excursionista não habituado com o


cuidado do espaço público, gerando
Cultural descarte irresponsável de lixo, depredação
Indireto
Falta de cidadania de patrimônio natural e cultural e de
equipamentos de infraestrutura essenciais
ao turismo

Mudança no uso da terra Demanda por áreas para instalação de


Liberdade de escolha e ação

Direto
Instalação de equipamentos turísticos de diversos portes,
Havendo desterrioralização de comunidades rur
Oportunidades para poder que habitam o território da RBCV (migração, êx

empreendimentos turísticos levando à subtração de ecossistemas


conquistar o que um de identidade), reduzem-se as oportunidades pa
indivíduo valora fazer e ser entre autoconhecimento e autoafirmação e sub

Mudança no uso da terraLiberdade de escolha e ação


lógicas de apropriação do espaço e do território
por interesses mercantis.

Expansão das cidades, do Perda dedeatrativos para o ecoturismo,


agronegócio, de infraestrutura turismo
Direto dequeidentidade), de aventura e descaracterização
Havendo desterrioralização comunidades rurais e outras Embora as áreas destinadas à prática de tu
Autonomia: possibilidade

indivíduo portuária
valora fazer e sere suas respectivas do turismo rural
Oportunidades para poder habitam o território da RBCV (migração, êxodo, perda sustentável possibilitem fortemente que as com
conquistar o que um de autogestão
reduzem-se individual e para
as oportunidades escolher locais definam o modo de uso, há uma tendênc

estruturas urbanas
coletiva, livre
entre autoconhecimento de qualquer
e autoafirmação e submissão às desta autonomia num cenário de perda de terr
tipo de
lógicas de apropriação dodependência ou
espaço e do território pautadas outros tipos de uso e ocupação decorrentes do a
subordinação
por interessesentre pessoas

O estabelecimento
as áreas destinadas à práticade chácaras de recreio,
mercantis. mancha urbana.
ou diferentes grupos

Mudança no uso da terra empossibilitem


áreas de remanescentes
que as comunidades florestais e de
Embora de turismo

Quadro 5 I Turismo de segunda residência Direto locais definam


empreendimentos de uso, há uma imobiliários
tendência de queda (loteamentos,
Autonomia: possibilidade sustentável fortemente

casas e apartamentos), especialmente


nodaúltimo séculono
de autogestão individual e o modoLegenda:

tipo dee suas respectivas estruturas


Síntese dos
coletiva, livre de qualquer desta autonomia num cenário de perda de território para

litoral e em áreas
urbana.anteriormente rurais, leva à
Impacto dos vetores
principais vetores de urbanas
dependência ou outros tipos de uso e ocupação decorrentes do aumento

diminuição de atrativos naturais


subordinação entre pessoas mancha

alteração ambiental
ou diferentes grupos

na RBCV, que
impactam o turismo
Legenda: Tendência atual dos impactos

sustentável. ?
Impacto dos vetores no último século

Fonte: Elaboração
própria. Baixo Moderado Alto Muito alto

Tendência atual dos impactos


LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 489

3 | CONTRIBUIÇÕES DO
SERVIÇO ECOSSISTÊMICO
Assim serão focados estes dois conjuntos

CULTURAL DE LAZER E
de funções, finalidades e significados: lazer
e turismo como espaço/tempo de descanso e

TURISMO PARA O BEM-ESTAR


restabelecimento de energias; e como espa-

HUMANO
ço/tempo de educação em perspectiva crítica.
Ambas se identificam com atributos da ideia de
bem-estar humano estabelecida pela Avaliação
Conforme indicado no início deste capí- Ecossistêmica do Milênio (MILLENNIUM...,
tulo, esta seção visa estabelecer algumas rela- 2003) - saúde individual, boas relações sociais
ções entre os serviços culturais abordados e e liberdade de escolha e ação.
o bem-estar humano. Uma das relações mais O bem-estar humano é composto por
fortes é o lazer e o turismo como promotores determinados atributos, tais como necessida-
de encontros de pessoas de grandes centros des materiais básicas: alimento e abrigo, saúde
urbanos, caóticos e mal cuidados do ponto de individual, segurança, boas relações sociais e
vista socioambiental, com áreas protegidas e liberdade de escolha e ação (MILLENNIUM...,
suas localidades, incluindo seus habitantes. 2003; MILLENNIUM... 2005). Diante de com-
Tais encontros assumem diferentes funções ponentes apontados da forma sugerida, faz-se
e significados, desde válvula de escape de um necessária a ressalva que o significado ou mes-
cotidiano estressante nos finais de semana, mo os sentidos de cada atributo assumem dife-
até a possibilidade de deslocamentos de com- renças de acordo com cada comunidade, grupo
preensão sobre as relações entre sociedade e social, etc. Como decorrência desta ressalva,
natureza, como mostra a Figura 24, que retra- cabe observar que o direito de se viver bem
ta a nascente do Tietê, em Salesópolis, princi- não deve ter uma natureza dada, mas sim cria-
pal atração turística da cidade, destacando a da, construída, conquistada, de modo que todo
importância da preservação da natureza e dos indivíduo e consequentemente toda comunida-
recursos hídricos e premência pela reflexão de tem potencial para desenvolver seus ideais
crítica sobre o modelo de desenvolvimento de bem-estar humano, assim como produzir os
atualmente hegemônico. meios para alcançá-lo.

Figura 24 I
Nascente do Tietê,
Salesópolis.
Foto: Sergio Luiz Jorge.
Fonte: Expressão Studio
TUR.SP ( 2019).
490 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Cumpre observar a possibilidade de esta- e cardíacas. Outra conclusão de seu trabalho


belecimento de uma correlação dos serviços destaca a relação entre os ecossistemas conser-
ecossistêmicos com elementos de base mate- vados da RBCV e a saúde humana, ao afirmar
rial para uma vida digna, à medida em que se que a concentração de poluentes diminui con-
estrutura uma troca comercial no processo de forme se amplia a distância da fonte poluidora.
visitação aos atrativos naturais. Disto decor- Pode-se inferir, portanto, que o território
rem atividades econômicas (serviços de apoio da RBCV, ao integrar ecossistemas naturais
como alimentação, hospedagem, transporte e conservados, protegidos e muitas vezes dis-
monitoria ambiental), que geram renda para tantes de grandes fontes poluidoras, oferece a
as pessoas envolvidas com o aspecto econômi- residentes e visitantes, pela via do turismo sus-
co do fenômeno social do turismo (monitoria tentável, qualidade ambiental superior àquela
ambiental principalmente), permitindo o aces- encontrada em grandes centros urbanos. Outra
so a bens e serviços essenciais à vida. perspectiva a ser devidamente considerada, é
Inicia-se pela relação entre os serviços a possibilidade educadora de reflexões sobre a
ecossistêmicos culturais de lazer e turismo e o relação conflituosa entre o modelo hegemônico
bem-estar humano a partir do atributo saúde de desenvolvimento urbano e a necessidade de
individual. O motivo desta primeira abordagem manter e melhorar a qualidade ambiental por
são as inúmeras evidências a respeito dos im- meio da conservação das fontes de serviços
pactos negativos da ausência ou mesmo carência ecossistêmicos (Figura 25).
de contato com a natureza e os benefícios gerados Em estudo a respeito dos efeitos posi-
por essa relação. Assim, a importância da biodi- tivos gerados por parques urbanos, Bovo e
versidade para o bem-estar e para a saúde das Amorim (2009), destacam as funções ecológi-
pessoas somente ganhou maior destaque quan- ca, estética e social. A função ecológica é exer-
do o processo de perda da diversidade biológica cida através da fixação das poeiras e materiais
alertou para a necessidade tanto da conservação residuais existentes no ar, da filtragem da
como do uso racional dos recursos naturais, com radiação solar e diminuição das temperaturas
proteção ao fluxo de serviços proporcionados externas, da redução da velocidade do vento,
pelos ecossistemas naturais (ALHO, 2012). da influência no balanço hídrico e da ameni-
Para Campello (2008), a ausência de vege- zação de ruídos existentes no espaço urbano.
tação causa elevação da temperatura local A função estética se dá pela quebra da mono-
o que implica em aumento da mortalidade e tonia da paisagem urbana causada pelos gran-
das doenças infecciosas. Outra consequência des complexos de edificações; enquanto a fun-
da falta de vegetação é o aumento da poluição ção social ocorre pela oferta de espaços para
atmosférica, que provoca doenças cardiorres- o lazer e para a prática de atividades físicas.
piratórias. Ianni (2005, p.78) é incisiva ao afir- Em pesquisa semelhante Ferreira (2005) des-
mar que a “degradação ambiental e agravos à taca que as áreas verdes urbanas, além dos
saúde expressam, portanto, uma crise ecológica efeitos ambientais positivos, proporcionam
stricto sensu”. Nessa mesma linha, Campello benefícios gerados para o bem-estar público,
(2008) faz uma ressalva importante do ponto atuando significativamente na saúde física e
de vista econômico, ao valorar o custo da má mental, influindo positivamente na melhoria
qualidade do ar em pelo menos US$ 1 bilhão da qualidade de vida.
aos cofres públicos brasileiros a cada ano, prin- Os capítulos sobre Serviços Ecossistê-
cipalmente devido a mortes ou tratamentos de micos de Regulação de sequestro de carbono
doenças direta ou indiretamente associadas à e redução de gases efeito estufa; Regulação do
poluição. clima e Regulação da qualidade do ar e contro-
Moreira (2010), em estudo sobre a interação le de doenças apresentam informações e refle-
da vegetação arbórea e a poluição atmosférica xões aprofundadas sobre a importância dos
na cidade de São Paulo, apresenta uma conclusão ecossistemas para o bem-estar humano, prin-
alinhada com as informações anteriores, ressal- cipalmente para a saúde física, além de tratar a
tando que os efeitos mais frequentes e comuns temática especificamente para a área abrangi-
estão relacionados a doenças pulmonares da pelo Cinturão Verde.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 491

Figura 25 I
Canoagem ecológica,
São Vicente.
Foto: Elias Gomes.
Fonte: Expressão
Studio TUR.SP (2019).

No que se refere à importância do serviço do ser humano para uma atração pelas formas
ecossistêmico tratado neste capítulo para a saú- de vida na natureza (KELLERT; WILSON, 1993
de mental, um exemplo interessante é apontado apud ALHO, 2012). A biofilia é definida como a
em estudo que analisou os padrões cerebrais conexão que o ser humano, inconscientemente,
(frustração, atenção dirigida, excitação e calma procura manter com a natureza íntegra, com as
mental ou estado meditativo) de 12 jovens estu- plantas e os animais. A biofilia implica, portan-
dantes saudáveis em diferentes locais (bairros to, na afiliação natural de pessoas pelas coisas
históricos, bairros comerciais e bairros com vivas da natureza, ao contrário da fobia, que
características de parques). O resultado mos- se refere a aversão sentida diante da poluição,
trou que em áreas predominantemente verdes do amontoado de lixo, do mau cheiro no ar, da
os padrões cerebrais apresentavam estados mortandade de peixes por contaminação de
meditativos, ao contrário das áreas comerciais rios, dos desmatamentos criminosos, dos aglo-
onde os padrões cerebrais correspondiam a merados humanos marginalizados, mal nutri-
estados de excitação (REYNOLDS, 2013). dos e doentes (ALHO, 2012).
Destas conclusões pode-se inferir que Nesse contexto, o turismo sustentável, ao
as áreas verdes, inclusive aquelas integradas promover a conservação dos ecossistemas e
às grandes cidades, beneficiam – individual respectivos territórios geográficos, históricos
e coletivamente – a saúde da população que e culturais, proporciona o contato direto com
tem acesso aos parques e outros espaços o meio natural conservado no interior das
similares. Tais benefícios tendem a ser maio- UC e no entorno delas, ou seja, proporciona o
res à medida em que se afasta de grandes acesso aos serviços ecossistêmicos tratados
áreas urbanizadas e carentes de vegetação e neste capítulo.
se aproxima de áreas com abundância de ele- Ao incentivar a visitação pública aos
mentos naturais. ecossistemas protegidos como UC, valorizan-
A defesa da biodiversidade apresenta-se do modelos alternativos de desenvolvimento
como uma característica intrínseca às pessoas, local, auto-organizado e solidário, o turismo
pela aplicação do princípio da biofilia, que pos- sustentável pode sensibilizar visitantes e, ain-
tula a existência de uma orientação psicológica da, convidá-los à reflexão, mobilizando-os para
492 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

mudanças de compreensão e de postura sobre a outros cidadãos, em princípio alheios àquele


a tensa relação entre sociedade e natureza, movimento comunitário.
urbano e rural, centro e periferia. Tal perspectiva demanda, além de respeito
O serviço ecossistêmico cultural de lazer mútuo, o reconhecimento de conflitos internos
e turismo contribui, ainda, com os atributos do às comunidades foco da ação e reconhecimen-
bem-estar humano inerentes à boas relações to daqueles conflitos provenientes do encontro
sociais e liberdade de escolha e ação. Destaca- com valores, visões de mundo e expectativas
-se o potencial educador contido nas visitas, distintas entre a comunidade local e os visitan-
excursões e demais experiências proporciona- tes. Para atender à ideia de turismo sustentável
das pelo ecoturismo, turismo rural e turismo se faz necessário repensar as relações sociais de
de aventura. Diante de ressalvas apontadas ao produção, com a devida busca por alternativas
longo deste capítulo, notadamente em relação à mais horizontalizadas, justas e solidárias.
necessidade de que as práticas do ecoturismo Já no que tange à liberdade de escolha e de
possam contribuir para possibilitar consciên- ação, o componente chave para sua compreen-
cias críticas (HINTZE, 2009), deve-se lançar são é a oportunidade para alcançar aquilo que
mão de práticas educativas, a partir das mani- o indivíduo preza ter e ser. Para tanto, as con-
festações de turismo sustentável (Figura 26). cepções de turismo sustentável, ecoturismo,
Os componentes apontados pela Avalia- turismo rural e turismo de aventura tratadas
ção Ecossistêmica do Milênio para o atributo neste capítulo procuram caminhar na direção
boas relações sociais são: coesão social, res- de propor o debate e toda movimentação social
peito mútuo e condições de ajudar o próximo necessária ao desenvolvimento da atividade
(MILLENNIUM..., 2003). Nesse ínterim, a abor- turística, com vistas não exclusivamente a pro-
dagem da discussão desenvolvida no presente mover o turismo como fim em si.
capítulo, aponta para a promoção do encontro e Trata-se de compreender o turismo como
do diálogo entre as pessoas de uma comunida- meio: como recurso que potencializa tanto uma
de para se organizarem e planejarem seu pró- atividade geradora de renda complementar
prio desenvolvimento, com base num processo como também atividade criadora de situações
de autoconhecimento e auto-organização. Dire- oportunas que estimulam as comunidades a
ciona ainda para expor e estender tal processo olharem para seu território a partir de seus

Figura 26 I
Trilha do Bugio,
Centro de Aventura
Rio Abaixo, Juquitiba.
Foto: Sergio
Luiz Jorge.
Fonte: Expressão
Studio TUR.SP (2019).
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 493

vários sentidos: culturais, históricos, ecológi- a atividade turística serve ao local, enquanto
cos, educadores, afetivos, etc., sendo esta sua território e como comunidade?
principal finalidade. Ao se afastar destas características,
Para se construir territórios sustentáveis o turismo tende a assumir sua força de
que promovam o bem-estar humano de suas reproduzir um modelo de desenvolvimen-
comunidades, é necessário atenção para que to predatório. Diante de tais considerações,
suas dinâmicas sociais, políticas e de infra- pode-se supor que, para haver proposição
estruturas não estejam somente vinculadas à de desenvolver o turismo sustentável em
venda de serviços e produtos relacionados ao determinada localidade, é necessário que tal
turismo. É preciso que os territórios expres- processo seja tomado pela preocupação de
sem a vida das comunidades em suas relações, promover a autoafirmação das identidades
culturas, histórias, modos de habitar, religio- locais a partir do já mencionado processo de
sidades, formas de organização política que, auto-organização.
por vezes, têm nos ecossistemas a base de suas Estas discussões são ilustradas pela Figu-
características peculiares, como detalhada- ra 27, que mostra uma peculiaridade da tradi-
mente analisado no capítulo Serviços culturais cional cozinha caiçara a base de frutos do mar,
folclorísticos: a dimensão do folclore caipira. na praia de Itaguare, em Bertioga.
Se determinada comunidade irá optar Os impactos e tendências nas relações entre
pelo turismo sustentável como oportunidade os serviços culturais de lazer e turismo e o bem-
ou fator de desenvolvimento local, cabe à pró- -estar humano, considerando os vetores de alte-
pria comunidade decidir. Para tanto, importa ração ambiental (Quadro 5) são sintetizados na
observar algumas características que devem Quadro 6. Ainda que o turismo sustentável e
assumir as propostas que visam fomentar a suas manifestações potencializem impactos posi-
atividade turística em territórios como o da tivos no bem-estar humano, (conforme intensi-
RBCV: o turismo organizado com as comunida- dade das cores), os vetores de alteração ambien-
des; a natureza de complementação de renda; tal (representados pelas setas) podem diminuir a
a compreensão de ser uma atividade que pro- tendência da continuidade desses impactos posi-
porciona situações de natureza educadora; a tivos, em função da fragilização dos ecossistemas
busca recorrente ao questionamento: em que e perda de territórios de comunidades rurais.

Figura 27 I
Rota das Ostras,
Bertioga.
Foto: Elias Gomes.
Fonte: Expressão
Studio TUR.SP (2019).
494 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Impactos do turismo Serviços ecossistêmicos culturais de lazer e turismo


sustentável sobre os
Turismo de Turismo Descrição dos impactos em decorrência dos
componentes do Ecoturismo aventura rural vetores de alteração ambiental
bem-estar humano

Base material para uma vida digna
Geração de renda
para o receptivo Possibilita renda e/ou complementação de
possibilita acesso a renda à população residente beneficiária de
alimentos, remédios e atividades turísticas. A tendência permanece
outros bens neces- por algum tempo mesmo considerando os
sários como: vestuário, vetores de alteração; o impacto é alto, porém
utensílios e moradia, concentrado em empreendedores que se
assim como acesso a adaptam a alterações de perfis de visitantes
serviços essenciais, em função da dinâmica de massificação e
como saúde, mercantilização crescente do turismo, em
educação, cultura, contraposição à perda de atrativos naturais
lazer e espaços rurais.

Saúde

Para visitantes o contato com os ecossistemas


Prevenção a doenças promove bem-estar físico e emocional.
(bem-estar físico e As pressões a que estão submetidos os
emocional) ecossistemas e comunidades rurais gera a
tendência de queda gradual de oportunidades
de contato promovido pelo turismo sustentável.

O turismo sustentável requer a manutenção


Acesso a água da qualidade ambiental proporcionadas por
e ar limpos ecossistemas protegidos e conservados para
viabilizar-se como acesso a bens ambientais.

Boas relações sociais


Especialmente no turismo rural, devido à
Oportunidade de tendência de perda de território de
expressão cultural e comunidades rurais, há a retração de tais
espiritual associados oportunidades. Seu impacto é mais forte nesta
aos ecossistemas manifestação de turismo sustentável (turismo
rural) devido à relação entre as manifestações
culturais e a própria noção de turismo rural.

O impacto do turismo sustentável é alto na


medida em que demanda relações interpessoais
consolidadas, visando a formação de grupos
Organização social em cooperação e organizados para compor um
igualitária e de arranjo produtivo local. No entanto, a tendência
auxílio mútuo é de queda em função de vetores de alteração
que desestabilizam as relações sociais locais
(como observado nos vetores de alteração no
uso e cobertura do solo).

O ecoturismo e o turismo de aventura


possibilitam a afirmação de tais valores pelo
contato de visitantes com os ecossistemas –
Oportunidade de contudo, a tendência mantém-se aos visitantes,
Quadro 6 I
expressão valores porém é fragilizada em relação às
Avaliação do comunidades que podem beneficiar-se do
impacto positivo estéticos, recreativos
e artísticos ecoturismo e turismo de aventura.
dos serviços Já no turismo rural, isso depende
culturais de lazer fundamentalmente da existência de
e turismo sobre comunidades rurais para se ter o devido contato.
o bem-estar do
turista/visitante e Oportunidade de No caso do turismo rural, a tendência de queda
tendências quanto observar, estudar e justifica-se por conta das pressões a que estão
à disponibilidade aprender a partir dos expostas as comunidades rurais e, com elas,
ecossistemas suas leituras, compreensões e relações com os
desses serviços.
ecossistemas de que dependem.
(continua)
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 495

Segurança

Há tendência de aumento de tensão e de


Possibilidade de conflitos entre a manutenção dos ecossistemas
viver em um e substituição gradativa de comunidades rurais
ambiente seguro por usos e ocupações urbanos e mais densos,
e livre de conflitos reforçando a insegurança socioambiental
(de pessoas, comunidades e ecossistemas).

Enquanto áreas disponíveis para o turismo


sustentável contribuem significativamente com
a menor vulnerabilidade a calamidades, por con-
Redução da
ta da existência de ecossistemas bem
vulnerabilidade aos
conservados, a ocorrência de vetores de altera-
choques e
ção e mudanças que se observam no território
estresses ecológicos
da RBCV leva à uma tendência de queda desta
e calamidades
segurança, uma vez que há aumento de
exposição (a comunidades e visitantes) a
problemas advindos de estresses ecológicos.

Liberdade de escolha e ação

Havendo desterritorialização de comunidades


rurais e outras que habitam o território da RBCV
Liberdade de escolha e ação

Oportunidades para
Havendo desterrioralização de comunidades rurais e outras

poder conquistar (migração, êxodo, perda de identidade),


Oportunidades para poder que habitam o território da RBCV (migração, êxodo, perda

o que um indivíduo reduzem-se as oportunidades paralógicas escolher


conquistar o que um de identidade), reduzem-se as oportunidades para escolher

entre autoconhecimento e autoafirmação e por interesses mercantis.


indivíduo valora fazer e ser entre autoconhecimento e autoafirmação e submissão às

valora fazer e ser


de apropriação do espaço e do território pautadas

submissão às lógicas de apropriação do espaço


e do território pautadas por interessessustentável
mercantis.
Quadroque6asIcomunidades
Embora as áreas destinadas à prática de turismo

Avaliação
de perda dedo impacto
Autonomia: possibilidade

Autonomia:
possibilitem fortemente
de autogestão individual e locais definam o modo de uso, há uma tendência de queda

possibilidade de positivo dos do serviços


subordinação entre pessoasEmbora as áreas destinadas à prática de
coletiva, livre de qualquer desta autonomia num cenário território para

autogestão individual culturais de lazer


tipo de dependência ou

ou diferentes grupos turismo sustentável possibilitem fortemente


outros tipos de uso e ocupação decorrentes aumento da
mancha urbana.

e coletiva, livre de que as comunidades locais definam o modo de e turismo sobre o


qualquer tipo de uso, há uma tendência de queda desta bem-estar do turista/
dependência ou Legenda:
autonomia num cenário de perda de território visitante e tendências
subordinação entre paranooutros
Impacto dos vetores últimotipos
séculode uso e ocupação
futuras quanto à
pessoas ou diferentes decorrentes do aumento da mancha urbana. disponibilidade
grupos
desses serviços.
Legenda: Tendênciaatual
Tendência atualdos
dosimpactos
impactos
Impacto positivo dos serviços culturais de lazer e turismo sobre
o bem-estar humano ?
Diminui Continua Aumenta Aumento rápido Desconhecido
Baixo Moderado Alto Muito alto

Embora os impactos positivos do turis- da RBCV para o lazer e o turismo, na forma de


Embora os impactos positivos do turismo sustentável – para
mo sustentável – para visitantes e residentes – inúmeras possibilidades de acesso e contato
visitantes e residentes – guardem potencial de se manter ou se acentuar, as
guardem potencial de se manter ou se acentu- com paisagens, monumentos naturais, ecossis-
tendências de que tais impactos positivos se confirmem são contínuas (por
ar, as tendências de que tais impactos positivos temas conservados, manifestações culturais,
determinado período) ou em declínio, devido aos vetores que vêm alterando
se confirmem são contínuas (por determinado folclorísticas e toda uma gama de bens ambien-
negativamente os ecossistemas. As condições marcadas por alterações
período) ou em declínio, devido aos vetores que tais, elementos naturais e situações que possi-
negativas significativas nos ecossistemas reduzem, portanto, o potencial de
vêm alterando negativamente os ecossistemas. bilitam reflexões com perspectiva crítica edu-
impactos positivos do turismo sustentável, já que, para se viabilizar,
As condições marcadas por alterações negati- cadora, atreladas a momentos de lazer.
vas significativas nos ecossistemas reduzem, necessita dos
Porecossistemas
outro lado,protegidos.
tais possibilidades encon-
portanto, o potencial de impactos positivos do tram-se ameaçadas por vetores de alteração
turismo sustentável, já que, para se viabilizar, 4 | de ordem econômica, social, histórica, política
CONCLUSÕES
necessita dos ecossistemas protegidos. e cultural manifestados em dinâmicas que, ao

CONCLUSÕES
longoOs de décadas,
dados, vêm reflexões
indicadores, consumindo e degra-
e discussões desenvolvidos
dando territórios
demonstram inteiros.
que, por um lado, são evidentes os serviços ecossistêmicos da
RBCV para Tais movimentos
o lazer e o turismo, evoluem
na forma deeinúmeras
ganham for-
possibilidades de
Os dados, indicadores, reflexões e discus- acesso
ça na esteira de posturas sociais e políticas que
e contato com paisagens, monumentos naturais, ecossistemas
sões desenvolvidos demonstram que, por um conservados,
comprometem a qualidade
manifestações culturais,ambiental
folclorísticaseea toda
qualida-
uma gama de
lado, são evidentes os serviços ecossistêmicos bens deambientais,
de vida, aelementos
reduçãonaturais
de desigualdades, a inclusãoreflexões
e situações que possibilitam
com perspectiva crítica educadora, atreladas a momentos de lazer.
496 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

social, política e econômica, indo de encontro aos ao desenvolvimento local/territorial, ao ecotu-


componentes do bem-estar humano. rismo, ao turismo rural, turismo de aventura e
Ao observar o lazer e o turismo em pers- roteiros e circuitos associados a essas manifes-
pectivas distintas, complementares e, por ve- tações do turismo sustentável.
zes contraditórias ou conflitantes, dependendo À guisa de conclusão, como esforço para se
das opções estabelecidas (social, econômica ou construir políticas locais visando melhor apro-
ecossistêmica), o capítulo aponta para a neces- veitamento do potencial de serviços ecossistêmi-
sidade de se refletir, debater e, por fim, escolher cos culturais de lazer e turismo e as decorrentes
conscientemente sobre qual concepção de lazer e atividades econômicas no território da RBCV,
de turismo se pretende desenvolver ou fomentar. podem ser estruturadas as seguintes ações:
A depender dessa escolha está a relação n identificar territórios com ecossiste-
entre os serviços ecossistêmicos de lazer e mas bem conservados e convertê-los
turismo e a manutenção de suas condições no em UC compatíveis com o propósito de
espaço e no tempo. visitação pública;
Quando a análise ultrapassa a dimensão n intensificar o apoio à gestão de UC exis-
econômica, lazer e turismo são compreendidos, tentes, proporcionando mais recursos
como serviços ecossistêmicos que possibilitam humanos e equipamentos, como veícu-
reconciliação entre as pessoas e a natureza, los para fiscalização, equipamentos de
criando situações educadoras tanto para quem informática, entre outros;
recebe o turista como para quem visita o lugar. n criar programas de apoio à conserva-
Sem pretender encerrar o debate, acres- ção de áreas particulares com ecos-
centa-se que, em se tratando de serviços ecos- sistemas bem conservados como, por
sistêmicos culturais, o lazer, o turismo susten- exemplo, mecanismos de pagamento
tável e especialmente o ecoturismo possuem por serviço ambiental (PSA);
condições suficientes para expressar suas n identificar iniciativas empreendedoras
contribuições ao bem-estar humano nos ter- existentes em escala local e regional;
ritórios da RBCV, sobretudo no que se refere n diagnosticar as políticas públicas fede-
às dimensões saúde individual, boas relações rais, estaduais e municipais de fomento
sociais e liberdade de escolha e ação. ao desenvolvimento local, geração de
O espaço territorial abrangido pela RBCV, trabalho e renda e atividade turística
que abarca total ou parcialmente, 78 muni- sustentável;
cípios com distintas estruturas de paisagem, n identificar programas de apoio ao
características ecossistêmicas e histórico de desenvolvimento local/territorial, no
desenvolvimento, detém atributos a serem âmbito, por exemplo, de instituições
explorados com vistas à promoção de ativida- como órgãos governamentais de apoio
des turísticas para o desenvolvimento local e fomento à economia solidária; Serviço
sustentável, a partir da interação com as áreas Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
naturais, especialmente aquelas detentoras de e Micro Empresas (SEBRAE); Secreta-
algum status de proteção ambiental. ria do Emprego e Relações do Trabalho;
A própria implementação da RBCV e dos Banco do Povo Paulista, Subsecretaria
seus planos de ação possibilita o desenvolvi- do Trabalho Artesanal nas Comunida-
mento do turismo. Neste contexto, destaca- des (SUTACO); agências de desenvolvi-
-se o Programa de Jovens – Meio Ambiente e mento – estadual e municipais. Essas
Integração Social (PJ-MAIS) como estratégia entidades têm o potencial de apoiar em
de protagonismo juvenil e de desenvolvimen- termos de capacitação e subsidiar com
to local. Considera o turismo sustentável como aporte de recursos (linhas de crédito/
um de seus focos de formação e de fomento do microcrédito) voltados a atividades
chamado ecomercado de trabalho, e busca ali- turísticas sustentáveis;
nhamento de políticas públicas preexistentes n levantar com maior nível de detalha-
em diversas esferas governamentais. Cita-se mento o potencial turístico de cada
como exemplo o fomento à economia solidária, localidade, identificando as fragilidades
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 497

a serem superadas, a partir de instru- sustentáveis variados, relacionados


mentos como inventários turísticos e aos diferentes núcleos produtivos
análises diagnósticas; que integram o denominado produto
n fomentar programas de ensino superior turístico (recepção, monitoramento e
compatíveis com o campo do turismo, guiamento; produção, beneficiamento
de maneira a construir relações com e alimentação; produção artística e
essas instituições educacionais. Essa entretenimento, etc.).
ação é útil tanto para a construção de
conhecimentos para desenvolver a ati- Essas ações aqui elencadas partem de
vidade turística, como para a formação uma postura investigativa, articuladora e pró-
e instrumentalização de agentes locais; -ativa sobre as possibilidades de desenvolvi-
n diagnosticar o comportamento especí- mento integrado do turismo, ao passo que se
fico da demanda, incluindo os turistas dirigem a uma práxis marcada pelo reconheci-
e visitantes, com vistas ao estabeleci- mento do próprio território e intervenções no
mento do perfil do turismo sustentável mesmo com vistas a torná-lo sustentável.
existente e que deve ser promovido na Se os serviços ecossistêmicos podem ser
RBCV. É preciso produzir informações compreendidos como as contribuições dos
primárias sobre turistas e visitantes ecossistemas ao bem-estar humano, sendo o
que já frequentam espaços do Cinturão lazer um dos benefícios, o turismo sustentá-
Verde, assim como aqueles que podem vel configura-se como canal apropriado e con-
reunir condições e motivos para tal; temporâneo, para a atual e as futuras gerações
n investir na formação de recursos acessá-los pelo contato direto com a sociobio-
humanos locais, sendo o PJ-MAIS con- diversidade. Contudo, se tal raciocínio parece
siderado como principal ação nessa simples à primeira vista, a complexidade reside
linha. O PJ-MAIS possui tanto meto- no conjunto de reflexões críticas necessárias e
dologicamente, também conceitual e tomadas de decisões conscientes sobre como o
teoricamente, condições de promover lazer, o turismo sustentável e suas manifesta-
uma formação propícia à construção ções mais próximas devem ser viabilizados, de
de arranjos produtivos vinculados ao forma a se buscar coerência com a premência
turismo sustentável; arranjos compos- de se manter e ampliar as condições que garan-
tos por empreendimentos solidários tem a existência dos serviços ecossistêmicos.
498 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técni- BRASIL (1967). Lei Nº 5.197, de 03 de janeiro de
cas (2007). NBR 15500. Turismo de Aventura – 1967. Dispõe sobre a proteção à fauna e dá outras
Terminologia. Rio de Janeiro. providências.
AGÊNCIA Cabuçu Turismo. (2019a). Disponível BRASIL (1981). Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de
em: <http://cabucuturismo.blogspot.com/>. Aces- 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
so jul. 2019. Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação
e aplicação, e dá outras providências.
AGÊNCIA Cabuçu Turismo. (2019b). Disponível
em: <http://cabucuturismo.blogspot.com/>. Aces- BRASIL (1988). Constituição da República
so jul. 2019. Federativa do Brasil de 1988.
ALESP – Assembléia Legislativa do Estado de São BRASIL (1990). Decreto nº 99.274, de 6 de junho
Paulo (2019). Coletâneas Temáticas de Normas. de 1990. Regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de
Criação de Estâncias. Relação de Estâncias abril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de
Turísticas do Estado de São Paulo. Disponível 1981, que dispõem, respectivamente sobre a cria-
em: <https://www.al.sp.gov.br/alesp/coletanea/?i ção de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção
dColetanea=1&idSecao=10>. Acesso jul. 2019. Ambiental e sobre a Política Nacional do Meio
ALHO, C. J. R. (2012). Importância da biodi- Ambiente, e dá outras providências.
versidade para a saúde humana: uma pers- BRASIL (1990). Decreto nº 99.556, de 1º de
pectiva ecológica. Estudos Avançados. outubro de 1990. Dispõe sobre a proteção das
[online]. 2012, vol.26, n.74, pp. 151-166. cavidades naturais subterrâneas existentes no
ALMEIDA, M. A. B.; GUTIERREZ, G. L (2004). Sub- território nacional, e dá outras providências.
sídios teóricos do conceito cultura para entender BRASIL (1996). Decreto nº 1.922, de 5 de junho
o lazer e suas políticas públicas. Conexões: Revis- de 1996. Dispõe sobre o reconhecimento das
ta da Faculdade de Educação Física da UNICAMP. Reservas Particulares do Patrimônio Natural, e dá
v.2, n.1. 2004, pp. 48-63. outras providências.
ABETA – Associação Brasileira de Empresas de BRASIL (1998). Lei nº 9.605, de 12 de feverei-
Ecoturismo e Turismo de Aventura; MTUR – Minis- ro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais
tério do Turismo. Relatório de Impactos do Pro- e administrativas derivadas de condutas e ati-
grama Aventura Segura. Belo Horizonte: Ed. vidades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
Dos Autores, 2011. providências.
ASSOCIAÇÃO Cultural e Ambiental Chico Mendes BRASIL (1999). Lei nº 9.795, de 27 de abril de
Cabuçu - Grs. Disponível em <https://www.face- 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui
book.com/chicomendes.cabucu>. Acesso jul. 2019. a Política Nacional de Educação Ambiental e dá
BARRETTO, M. (1995). Manual de Iniciação ao outras providências.
Estudo do Turismo, Campinas, SP: Papirus. BRASIL (2000). Lei Nº 9.985, de 18 de julho de
BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II,
(org.). (2009). Turismo de selva e turismo de III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema
base local comunitária: diversidade de olhares Nacional de Unidades de Conservação da Nature-
e experiências brasileiras. Letra e Imagem. za e dá outras providências.

BENI, M. C. (2001). Análise Estrutural do Turis- BRASIL (2002). Decreto nº 4.339, de 22 de


mo. São Paulo: Editora SENAC. agosto de 2002. Institui princípios e diretrizes
para a implementação da Política Nacional da
BOVO, M. C.; AMORIM, M. C. C. T. (2009). Efeitos Biodiversidade.
Positivos Gerados pelos Parques Urbanos: um
estudo de caso entre o Parque do Ingá e o Parque BRASIL (2002). Decreto nº 4.281, de 25 de junho
Florestal das Palmeiras no Município de Maringá/ de 2002. Regulamenta a Lei nº 9.795, de 27 de
PR. Trabalhos completos (eixo 8). XIII Simposio abril de 1999 que institui a Política Nacional de
de Geografia Física Aplicada. Universidade Educação Ambiental e dá outras providências
Federal de Viçosa, 2009.
BRASIL (2002). Decreto Nº 4.340, de 22 de
BRAMANTE, A. C. (2012). Lazer e sustentabilida- agosto de 2002. Regulamenta artigos da Lei nº
de: reinventando o ENAREL. Conferência de aber- 9.985, de 18 de julho de 2000, que dispõe sobre
tura. In: ENCONTRO Nacional de recreação e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
lazer, 23. Várzea Paulista, SP: Fontoura. da Natureza - SNUC, e dá outras providências.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 499

BRASIL (2006). Decreto nº 5.746, de 5 de abril ENCICLOPEDIA DE ANTROPOLOGIA (2019). Dis-


de 2006. Regulamenta o art. 21 da Lei nº 9.985, ponível em: <http://ea.fflch.usp.br/>. Acesso em
de 18 de julho de 2000, que dispõe sobre o Sis- jul. 2019 .
tema Nacional de Unidades de Conservação da
FERREIRA, A. D. (2005). Efeitos positivos gera-
Natureza.
dos pelos parques urbanos: o caso do passeio
BRASIL (2006). Decreto nº 5.758, de 13 de abril público da cidade do Rio de Janeiro. Dissertação
de 2006. Institui o Plano Estratégico Nacional de mestrado (Pós-graduação em Ciência Ambien-
de Áreas Protegidas - PNAP, seus princípios, tal) Universidade Federal Fluminense, Rio de
diretrizes, objetivos e estratégias, e dá outras Janeiro, 2005.
providências.
FC&CP – SP – Federação de Convention & Visitors
BRASIL (2008). Lei nº 11.771, de 17 de setem- Bureaux do Estado de São Paulo (2019). Banco de
bro de 2008. Dispõe sobre a Política Nacional de imagens do Estado de São Paulo. Disponível em:
Turismo, define as atribuições do Governo Fede- <http://www.fcvb-sp.org.br/bancodeimagens/>.
ral no planejamento, desenvolvimento e estímulo Acesso jul. 2019.
ao setor turístico; revoga a Lei nº 6.505, de 13 de GOUVEIA, L.A. et al. (2014). Fatores que influen-
dezembro de 1977, o Decreto-Lei nº 2.294, de 21 de ciam a intenção de compra de viagens de ecotu-
novembro de 1986, e dispositivos da Lei nº 8.181, rismo e turismo de aventura. Revista Brasileira
de 28 de março de 1991; e dá outras providências. de Ecoturismo, São Paulo, v.7, n.3, ago/out 2014,
BRASIL (2010). Decreto nº 7.381, de 02 de pp.551-575.
dezembro de 2010. Regulamenta a Lei nº 11.771, HINTZE, H.C. (2009). Ecoturismo na cultura de
de 17 de setembro de 2008, que dispõe sobre consumo: possibilidade de Educação Ambiental
a Política Nacional de Turismo, define as atri- ou espetáculo? Revista Brasileira de Ecoturis-
buições do Governo Federal no planejamento, mo, São Paulo, v.2, n.1, pp.57-100.
desenvolvimento e estímulo ao setor turístico, e
dá outras providências. IANNI, A. M. Z. (2005). Biodiversidade e saúde
pública: questões para uma nova abordagem.
BRASIL (2012). Lei nº 12.651, de 25 de maio de Revista Saúde e Sociedade. v.14, n.2, p.77-88,
2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nati- maio-ago 2005. Disponível em: <http://www.scie-
va; altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de lo.br/pdf/sausoc/v14n2/09.pdf>. Acesso jul. 2019.
1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428,
de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nºs IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de ESTATÍSTICA (2019). Cidades e estados. (Banco
abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de de Dados. Todos os Municípios – SP). Disponível
24 de agosto de 2001; e dá outras providências. em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/
sp.html>. Acesso: 25 nov. 2019.
BRICALLI, L. C. (2005). Construcción de tipologias
para el turismo em áreas rurales. Estúdios y Pers- IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
pectivas em Turismo. V. 14. pp. 263-77. tica (2017). Sistema de Contas Nacionais Brasil
2015. Contas Nacionais número 56. Rio de Janei-
CAMARGO, L. O. L. (2012). Lazer e sustentabilida- ro: IBGE.
de. Conferência de encerramento. In: ENCONTRO
Nacional de recreação e lazer, 23. Várzea Paulis- IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-
ta, SP: Fontoura, 2012. ca (2012). Economia do Turismo: uma perspec-
tiva macroeconômica 2003 – 2009. Ministério
CAMPELLO. C. C. (2008). Áreas Verdes - Índices do Planejamento, Orçamento e Gestão. Série Estu-
que Sustentam a Vida. Material de apoio. Ministé- dos e Pesquisas. Informação Econômica, nº 18. Rio
rio Público do Estado de São Paulo. de Janeiro: IBGE.
CI - Conservation International Brasil. Obser- INSTITUTO AUÁ. Rota do Cambuci (2019). Dispo-
vação de aves na costa do descobrimen- nível em: <http://institutoaua.org.br/empreendi-
to. Disponível em: <https://web.conserva- mentos/rota-do-cambuci/>. Acesso em jul. 2019.
tion.org/global/brasil/Pages/Observacao-de-
Aves.aspx>. Acesso jul. 2019. JAFAR, J. (1994). La cientifización del turismo.
Estudios y Perspectivas em Turismo. Buenos
CIDADES PAULISTAS (2019). Roteiros Turís- Aires, v.3, n.1, p7-33.
ticos. Disponível em: <http://www.cidades
KOGA, E. S.; OLIVEIRA, A.C.; OLIVEIRA, C.S.
paulistas.com.br/prt/tur-roteiros.htm>. Acesso
(2011). Perfil dos visitantes nos Parques Esta-
jul. 2019.
duais de São Paulo: estudo do Programa Trilhas de
DIAS, R. (2011). A biodiversidade como atrativo São Paulo. Anais do VIII Congresso Nacional de
turístico: o caso do turismo de observação de aves Ecoturismo e do IV Encontro Interdisciplinar de Eco-
no município de Ubatuba (SP). Revista Brasileira turismo em Unidades de Conservação. Revista Bra-
de Ecoturismo. São Paulo, v.4, n.1, pp.111-122. sileira de Ecoturismo, São Paulo, v.4, n.4, p. 554.
500 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

MDA – MINISTÉRIO do Desenvolvimento Agrá- Departamento de Estruturação, Articulação e


rio. Plano Nacional de Promoção das Ca- Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de
deias de Produtos da Sociobiodiversi- Segmentação - Brasília: MTUR, 2. ed.
dade. Brasília: MDA, 2009. Disponível em:
MTUR – Ministério do Turismo (2010b). Turismo
<http://bibliotecadigital.planejamento.gov.br/
Rural: orientações básicas. 2. ed. Brasília, MTur.
xmlui/handle/123456789/1024>Acesso jul. 2019.
MTUR – Ministério do Turismo (2013). Anuário
MEIRA, F. B.; MEIRA, M. B.V. (2007). Consi-
Estatístico de Turismo – 2012. Vol. 39. Brasília,
derações sobre um campo científico em for-
MTur.
mação: Bourdieu e a "nova ciência" do turis-
mo. Cad. EBAPE.BR [online]. 2007, vol.5, MTUR – Ministério do Turismo (2013). Portaria nº
n.4, pp. 01-18. Disponível em: <http://www. 105, 16 de maio de 2013. Institui o Programa de
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= Regionalização do Turismo.
S1679 -39512007000400006&lng=en&nrm=
iso>. Acesso jul. 2019. MTUR – Ministério do Turismo (2013). Portaria
nº 313, de 3 de dezembro de 2013. Portaria que
MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT define o Mapa do Turismo Brasileiro e dá outras
(2003). Ecosystems and humen well-being: providências.
a framework for assessment. Washington: Island
Press. MTUR – Ministério do Turismo (2015a). Portaria
205, de 9 de dezembro de 2015. Revoga os arts.
MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT (2005). 2º, 3º e 4º, bem como a Portaria nº 116, de 9 de
Current State and Trends Assessment. julho de 2015.
Island Press, Washington D.C.
MTUR – Ministério do Turismo (2015b). Porta-
MMA – Ministério do Meio Ambiente (2019). ria nº 144, de 27 de agosto de 2015. Estabelece
CNUC – Cadastro Nacional de Unidades a categorização dos municípios pertencentes às
de Conservação. Disponível em: <http:// regiões turísticas do Mapa do Turismo Brasileiro,
www.mma.gov.br/areas-protegidas/cadastro- definido por meio da Portaria MTur nº 313, de 3 de
nacional-de-ucs>. Acesso jul. 2019. dezembro de 2013, e dá outras providências.
MOREIRA, T. C. L. (2010). Interação da vegeta- MTUR – Ministério do Turismo (2016a). Portaria nº
ção arbórea e poluição atmosférica na cidade 119, de 8 de abril de 2016. Dá nova redação aos
de São Paulo. 81 fl. Dissertação. Mestrado em art. 1º, 3º, parágrafo 2º, 4º, inciso III; e 5º, incisos
Ciências. Escola Superior de Agricultura “Luiz de II e III.
Queiroz” Universidade de São Paulo. Piracicaba.
Disponível em: http://cmq.esalq.usp.br/wiki/lib/ MTUR – Ministério do Turismo (2016b). Portaria nº
exe/fetch.php?media=publico:disserteses:tiana_ 161, de 24 de junho de 2016. Portaria que institui
moreira.pdf>. Acesso jul. 2019. Comitê Executivo.

MOVIMENTO Cabuçu (2019a). Espaço do Movi- MTUR – Ministério do Turismo (2016c). Portaria nº
mento. Disponível em <http://movimento cabucu. 171, de 11 de julho de 2016. Revoga o anexo da Por-
blogspot.com/>. Acesso jul. 2019. taria nº 313, de 3 de dezembro de 2013.

MOVIMENTO Cabuçu Cantareira (2019b). Movi- MTUR – Ministério do Turismo (2016d). Portaria nº
mento Cabuçu Cantareira. Disponível em 221, de 4 de outubro de 2016. Dá nova redação ao
<https://www.facebook.com/Cabucucantareira>. parágrafo 2º do art. 3º.
Acesso jul. 2019. MTUR – Ministério do Turismo (2016e). Portaria nº
MTUR – Ministério do Turismo (2006). Marcos 268, de 28 de dezembro de 2016. Dá nova redação
Conceituais. Série cadernos e Manuais de Seg- ao Artigo 3º da Portaria nº 205, de 9 de dezembro
mentação. Brasília, MTur. de 2015.
MTUR – Ministério do Turismo (2016f). Portaria nº
MTUR – Ministério do Turismo (2008). Turismo de
424, de 30 de dezembro de 2016. Estabelece nor-
Aventura: orientações básicas. Brasília, MTur.
mas para execução do estabelecido no Decreto
MTUR – Ministério do Turismo (2009). Hábitos de nº 6.170, de 25 de julho 2007, que dispõe sobre as
consumo do turismo brasileiro. Publicações normas relativas às transferências de recursos da
MTur. Brasília, MTur. Disponível em: <http://www. União mediante convênios e contratos de repas-
turismo.gov.br/sites/default/turismo/noticias/ se, revoga a Portaria Interministerial nº 507/MP/
todas_noticias/Noticias_download/13.11.09_Pes- MF/CGU, de 24 de novembro de 2011 e dá outras
quisa_Hxbitos_2009.pdf>. Acesso em jul. 2019. providências.
MTUR – Ministério do Turismo (2010a). Ecotu- MTUR – Ministério do Turismo (2017a). Portaria nº
rismo: orientações básicas. Ministério do Turis- 39, de 10 de março de 2017. Estabelece regras e
mo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, critérios para a formalização de instrumentos de
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 501

transferência voluntária de recursos, para exe- internacional no Brasil - 2012-2016 - Relatório


cução de projetos e atividades integrantes do Descritivo.
Programa Turismo e respectivas Ações Orçamen-
MTUR – Ministério do Turismo; VOX POPU-
tárias, e dá outras providências.
LI (2009). Pesquisa Hábitos de Consumo do
MTUR – Ministério do Turismo (2017b). Portaria nº Turismo Brasileiro. Brasília, MTur, 2009. Disponí-
197, de 14 de setembro de 2017. Define o Mapa do vel em: <http://www.turismo.gov.br/sites/default/
Turismo Brasileiro 2017 e dá outras providências. turismo/noticias/todas_noticias/Noticias_down-
load/13.11.09_ Pesquisa _ Hxbitos_ 2009.pdf>.
MTUR – Ministério do Turismo (2018a). Portaria
Acesso jul. 2019.
nº 192, de 27 de dezembro de 2018. Estabelece
novos critérios para a atualização do Mapa do NECHAR, M. C. (2011). Epistemología critica del
Turismo Brasileiro. turismo ¿qué es eso? Turismo em Análise. Vol.
2, n. 3, p. 516-538.
MTUR – Ministério do Turismo (2018b). Portaria nº
30, de 7 de fevereiro de 2018. Altera os arts. 1º, 2º NETTO, A. P. (2005). Filosofia do Turismo: teoria e
e 7º da Portaria MTur nº 144, de 27 de agosto de epistemologia. Série Turismo. 2º ed.São Paulo:
2015. Aleph.
MTUR – Ministério do Turismo (20019a). NETTO, A. P.; NECHAR, M. C. (2014). Epistemolo-
Dados e fatos: estatísticas e indicado- gia do turismo: escolas teóricas e proposta crítica.
res. Disponível em: <http://www.dadosefatos. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo. São
turismo.gov.br/>. Acesso jul. 2019. Paulo, 8(1), pp.120-144, jan./mar.
MTUR – Ministério do Turismo (2019b). Pesqui- OMS – ORGANIZACIÓN Mundial de La Salud
sa de sondagem empresarial: Empresários do (2005). Guías de calidad del aire de la OMS:
setor de Agências e Organização de Viagens no relativas al material particulado, el ozono, el dióxi-
Brasil. 1º semestre/2019. do de nitrógeno y el dióxido de azufre: Actualizaci-
MTUR – Ministério do Turismo (2019c). Programa ón Mundial. Disponível em: <http://whqlibdoc.who.
de Regionalização do Turismo. Secretaria Nacio- int/hq/2006/WHO_SDE_PHE_OEH_06.02_spa.
nal de Estruturação do Turismo. Disponível em: pdf>. Acesso jul. 2019.
<http://www.regionalizacao.turismo.gov.br/>. OMT – ORGANIZAÇÃO Mundial do Turismo (1999).
Acesso jul. 2019. Código Mundial de Ética do Turismo. Santiago
do Chile: OMT.
MTUR – Ministério do Turismo; ABETA – Asso-
ciação Brasileira das Empresas de Ecoturismo OMT – ORGANIZAÇÃO Mundial do Turismo (2001).
e Turismo de Aventura (2009). Perfil do Turista Cuenta Satelite de Turismo: recomendaciones
de Aventura e do Ecoturista no Brasil. Brasília, sobre el marco conceptual. Eurostat, Luxembur-
Ministério do Turismo. go; OCDE, Madrid; OMT, Nueva York; Naciones
Unidas, París.
MTUR – Ministério do Turismo; EMBRATUR –
Instituto Brasileiro de Turismo; FIPE – Funda- PEDREIRA, B.C.C.G.; SANTOS, R.F.; POCIDONIO,
ção Instituto de Pesquisas Econômicas (2002). E.A.L. (2013) Indicadores para selecionar áreas
Estudo sobre o Turismo praticado em agroturísticas: o desempenho dos atributos agro-
Ambientes Naturais Conservados. São Paulo. pecuários, turísticos e de conservação ambiental.
Disponível em <http://www.terrabrasilis.org.br/ Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo,
ecotecadigital/images/abook/pdf/Set.14.66.pdf>. v.6, n.2, mai/jul-2013, pp.400-413.
Acesso jul. 2019.
PEDREIRA, B. C. C. G.; SANTOS, R. dos; ROCHA,
MTUR – Ministério do Turismo; FGV – Fundação J. V. da. (2009). Planejamento agroturístico de
Getúlio Vargas (2014). Boletim de Desempenho propriedade rural sob a perspectiva da conserva-
Econômico do Turismo. Abril 2014. Ano XI, nº 42 ção ambiental. R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental,
v.13, n.6, p.741–749.
MTUR – Ministério do Turismo; FGV – Fundação
Getúlio Vargas (2017). Boletim de Desempenho PORTO, J. R. S.; SOUSA, N. A. (2011). Pluria-
Econômico do Turismo. Outubro 2017. Ano XIV, tividade e Turismo Rural: do experimenta-
nº 56. lismo difuso ao refinamento de um concei-
to. Poder e Desenvolvimento Local: grupo
MTUR – Ministério do Turismo; FIPE - Fundação
de Estudos. Biblioteca e Produção, EACH/
Instituto de Pesquisas Econômicas (2011). Estudo
USP, CEPPS, CPDA/UFRRJ, GEP-EAESP/
da Demanda do Turismo Internacional no Bra-
FGV, Senac, UFSCar. Disponível em: <https://
sil. Press Kit. Brasília, MTur, 2011.
poderedesenvolvimentolocal.files.wordpress.
MTUR – Ministério do Turismo; FIPE - Fundação com/2011/02/pluriatividade-e-turismorural-
Instituto de Pesquisas Econômicas (2017). Carac- do-experimentalismo-difuso-ao-refinamento-
terização e dimensionamento do turismo -de-um-conceito.pdf>. Acesso jul. 2019.
502 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

RBCV – Reserva da Biosfera do Cinturão Verde SÃO PAULO (Estado) (2013). Projeto de desen-
da Cidade de São Paulo. (2008). Formação volvimento do ecoturismo na região da Mata
Ecoprofissional e Ecomercado de Trabalho – Vivên- Atlântica no estado de São Paulo 2006-2013.
cia do Programa de Jovens, Publicação Interna. Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São
Paulo; Coordenação geral AGUIAR, L. S. J.; KILL-
RBCV – Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da
MER, A. B.; Coordenação KOGA, E. S.; Org. KOGA,
Cidade de São Paulo (2009). Revisão e atualiza-
E.S. et al. – São Paulo, SMA.
ção dos limites e zoneamento da Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica em base cartográ- SÃO PAULO (Estado) (2015). Lei Complementar
fica digitalizada: fase VI. Organização: Clayton nº 1.261, de 29 de abril de 2015. Estabelece con-
Ferreira Lino, Heloísa Dias e João Lucílio R. Albu- dições e requisitos para a classificação de Estân-
querque. São Paulo: Conselho Nacional da Reser- cias e de Municípios de Interesse Turístico e dá
va da Biosfera da mata Atlântica, 2009. providências correlatas.
RBCV – Reserva da Biosfera do Cinturão Verde SÃO PAULO (Estado) (2018a). Passaporte para as
da Cidade de São Paulo (2001). Turismo Sus- Trilhas de São Paulo. 2ª Edição. Governo do Esta-
tentável em Áreas Urbanas – O Caso da Reser- do de São Paulo. Secretaria do Meio Ambiente.
va da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de SÃO PAULO (Estado) (2018b). Secretaria de
São Paulo, Publicação Interna, São Paulo: RBCV Turismo, ADETUR – Departamento de Apoio
dezembro/2001 ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos.
REYNOLDS, G. (2013). Entorno verde ameniza Município de Interesse Turístico. Disponível
fadiga cerebral: Lugares como parques estimu- em: <https://www.turismo.sp.gov.br/publico/
lam a contemplação. Folha de São Paulo, Suple- noticia_tour.php?cod_menu=54>. Acesso jul.
mento The New York Times, 15 abr. 2013. 2019.

RODRIGUES, E. A. (2019). As florestas paulistas SÃO PAULO (Município) (2006). Índices Sociais.
esquecidas: uma contribuição para o manejo e ges- Série Temática Município em Mapas. São Pau-
tão sustentável de florestas públicas. Relatório de lo, PMSP. Disponível em: <http://smul.prefeitura.
qualificação de doutorado. Instituto de Pesquisas sp.gov.br/indices_sociais/>. Acesso jul. 2019.
Energéticas e Nucleares. SÃO PAULO (Município) (2014). Balanço do Turis-
SAMPAIO, C. A. C. (2007). Turismo como fenôme- mo em São Paulo: Copa do Mundo. São Paulo,
no humano: princípios para pensar a ecossocioe- SPTuris, 2014. Disponível em: http://www.obser-
conomia do turismo e sua prática sob a denomi- vatoriodoturismo.com.br/?p=2138. Acesso jul.
nação turismo comunitário. Revista Turismo em 2019.
Análise. v. 18, n. 2, p. 148-165, novembro 2007. SILVA, L.S.; GALVÂO, R.F.P. (2011). A expansão
urbana e a perda de vegetação na Região Metro-
SÃO PAULO (Estado) (2006) Guia do Turismo Rural
politana de São Paulo (RMSP) e o papel das Uni-
no Estado de São Paulo. São Paulo, Secretaria de
dades de Conservação (UCs). Anais XV Sim-
Turismo.
pósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto
SÃO PAULO (Estado). (2007). Lei nº 12.780, de 30 - SBSR, Curitiba, INPE.
de novembro de 2007. Institui a Política Estadual
TUR.SP – Companhia Paulista de Eventos e Turis-
de Educação Ambiental.
mo S/A. (2019). Banco de Imagens do Estado de
SÃO PAULO (Estado) (2008). Programa Trilhas São Paulo. Disponível em: <http://bancodeima-
de São Paulo. Secretaria do Meio Ambiente; Fun- gens.expressaostudio.com.br/bncTur/>. Acesso
dação Florestal. jul. 2019.
SÃO PAULO (Estado) (2009). Unidades de con- UN-HABITAT. UNITED NATIONS HUMAN SETTLE-
servação da natureza. organizador Luiz Roberto MENTS PROGRAMME. (2016). Urbanization and
Numa de Oliveira; textos Adriana Neves da Silva development emerging futures. World cities
[et al.]. São Paulo: SMA, 2009. report.
LAZER E TURISMO: UMA REFLEXÃO SOBRE O ECOTURISMO, TURISMO RURAL E TURISMO DE AVENTURA 503

GLOSSÁRIO
A N
Área de Proteção Ambiental | Categoria de UC Núcleo emissor | O mesmo que emissor ou
de uso sustentável estabelecida pelo SNUC, defi- emissivo.
nida como área em geral extensa, com certo grau
Núcleo receptor | O mesmo que receptor ou
de ocupação humana, dotada de características
receptivo.
físicas e de seres vivos, além de atributos estéti-

P
cos ou culturais, especialmente importantes para
a qualidade de vida e o bem-estar das populações
humanas. Tem como objetivo proteger a diversida- Patrimônio cultural | Segundo a UNESCO é
de biológica, disciplinar o processo de ocupação e composto por monumentos, grupos de edifícios
assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais. ou sítios que tenham um excepcional e universal
valor histórico, estético, arqueológico, científico,
Atividade antrópica | Ação do ser humano etnológico ou antropológico.
sobre o meio.
Atrativo turístico | Todo lugar, objeto ou acon- R
tecimento de interesse turístico que motiva o des- Receptor, receptivo | Região de destino de visi-
locamento de grupos humanos para conhecê-los. tantes e turistas.

B S
Biofilia | A biofilia é definida como a conexão que Sociobiodiversidade | Conceito que expressa
o ser humano, inconscientemente, procura man- a inter-relação entre a diversidade biológica e a
ter com a natureza íntegra, com as plantas e os diversidade de sistemas socioculturais.
animais.
T
Bivaque | Acampamento provisório, rudimentar, Turista | Segundo a OMT, é toda pessoa sem dis-
para passar a noite na natureza, sobre uma tenda tinção de raça, sexo, língua e religião que ingres-
de campismo ou ao ar livre num saco de dormir. se no território de uma localidade diversa daquela

D
em que tem residência habitual e nele permaneça
pelo prazo mínimo de 24 horas e máximo de seis
meses, no transcorrer de um período de 12 meses,
Deslocamento doméstico | Viagens e excur-
com finalidade de turismo, recreio, esporte, saúde,
sões internas às fronteiras de um país. motivos familiares, estudos, peregrinações religio-
sas ou negócios, mas sem proposta de imigração.
E
U
Emissor, emissivo | Região de origem dos visi-
tantes e turistas. Unidade de conservação | Segundo o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), é
G um espaço territorial e seus recursos ambientais,
incluindo as águas jurisdicionais, com característi-
Gentrificação | O conceito refere-se a processos cas naturais relevantes, legalmente instituído pelo
de mudanças das paisagens urbanas, aos usos Poder Público, com objetivos de conservação e
e significados de zonas antigas /ou populares da limites definidos, sob regime especial de adminis-
cidade que apresentam sinais de degradação físi- tração, ao qual se aplicam garantias adequadas
ca, passando a atrair moradores de rendas mais de proteção.
elevadas. Devido a aspectos como arquitetura das
Unidade de produção familiar | Onde há pre-
construções, diversidade dos modos de vida, infra-
dominância de mão de obra familiar como estra-
estrutura, equipamentos culturais e históricos,
tégia, mesmo quando há trabalho contratado.
localização, baixo custo em relação a outros bair-

V
ros, os “gentrificadores” (gentrifiers) se mudam
gradualmente para tais locais, passando a deman-
dar e consumir outros tipos de estabelecimentos Visitante | São as pessoas que se deslocam
e serviços inéditos (ENCICLOPÉDIA DE ANTROPO- para um lugar diferente de onde moram. O tempo
LOGIA, 2019). de permanência deve ser inferior a 12 meses.
504 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO
PARTE 4
DIAGNÓSTICO DOS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS DE SUPORTE

4.1 A BIODIVERSIDADE COMO


SERVIÇO ECOSSISTÊMICO
DE SUPORTE

Coordenadora
Natália Macedo Ivanauskas | IF/SIMA

Autores
Natália Macedo Ivanauskas | IF/SIMA
Alexsander Zamorano Antunes | IF/SIMA
Sonia Aragaki | IBt/SIMA
Kátia Mazzei | IBt/SIMA
Fausto Pires de Campos | IF/SIMA
Vinícius Leonardo Biffi |EBSA
506 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto de abertura do capítulo:


Floresta Ombrófila Densa
Montana no Parque Estadual
Itaberaba, uma das áreas
protegidas que integram a
Reserva da Biosfera do
Cinturão Verde do
Estado de São Paulo.
Fonte: Francisco de Assis
Honda (2009).
SUMÁRIO

............................................................................................................... 509
Resumo ....

1 | Introdução...................................................................................................... 510

2 | Distribuição da diversidade biológica na RBCV............................................. 510

2.1 | Formações vegetais presentes na RBCV............................................... 511

2.2 | Inventários florísticos............................................................................ 513

2.3 | Inventários de fauna.............................................................................. 515

2.4 | Áreas de conservação........................................................................... 518

2.5 | Contribuição da biodiversidade para os demais serviços


ecossistêmicos de suporte.................................................................... 520

2.6 | Vetores de alteração do serviço de suporte – biodiversidade............... 524

3 | Biodiversidade e sua contribuição com outros serviços ecossistêmicos


e bem-estar humano...................................................................................... 527

3.1 | Conservação do ar, da água e do solo.................................................. 528

3.2 | Biodiversidade e tecnologia.................................................................. 529

3.3 | Diversidade biológica e serviços culturais............................................. 529

Conclusões........................................................................................................... 530

Referências........................................................................................................... 531

Glossário.............................................................................................................. 538
508 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS

Figura 1 Vegetação natural presente na RBCV.


Figura 2 Localização de levantamentos florísticos realizados na RBCV.
Figura 3 Nível de conhecimento da fauna na RBCV.
Figura 4 Distribuição das espécies continentais ameaçadas de extinção registradas na RBCV em
relação às principais fontes de impacto.
Figura 5 Jardim Botânico (A) e Parque Zoológico (B) de São Paulo.
Figura 6 Exemplos de exsicatas depositadas no Herbário Dom Bento Pickel.
Figura 7 Pavó Pyroderus scutatus consumindo fruto de juçara Euterpe edulis.
Figura 8 Jacuguaçu Penelope obscura consumindo fruto de palmeira-leque Livistona chinensis,
espécie exótica-invasora.

QUADRO
Quadro 1 Frugívoros generalistas dispersam sementes de plantas exóticas invasoras

TABELAS

Tabela 1 Área de cobertura natural presente na RBCV.


Tabela 2 Nível de conhecimento da fauna na RBCV.
Tabela 3 Valores de riqueza, total de espécies endêmicas, ameaçadas de extinção e exóticas
estabelecidas, registradas até o momento para a área continental da RBCV.

SIGLAS
CBD Convention on Biological Divertity
CDB Convenção sobre Diversidade Biológica
CH4 Metano
CO2 Dióxido de Carbono
e.g. exemplo geral
ha hectare
IUCN International Union for Conservation of Nature
MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
N2O Óxido nitroso
PEFI Parque Estadual das Fontes do Ipiranga
RBCV Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo
spp Várias espécies de determinado gênero, referente à classificação internacional de espécies
UC Unidades de Conservação
UN United Nations – Organização das Nações Unidas
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 509

RESUMO

C onsiderou-se como diversidade biológica a variabilidade de organismos vivos


em ecossistemas terrestres e aquáticos em três níveis: a diversidade genética,
a taxonômica e a de ecossistemas. Parte desta biodiversidade foi analisada no âmbito da
RBCV, com destaque para as formações vegetais presentes e para a flora e fauna associada.
Com relação aos serviços ecossistêmicos de suporte prestados pela biodiversidade, foi
dada ênfase às interações flora-fauna-ambiente, como a polinização de flores e dispersão
de propágulos, as contribuições para a conservação do solo e da água e a ciclagem de
nutrientes. No entanto, as alterações de habitat, superexploração, a contaminação por
espécies exóticas invasoras, a poluição e as mudanças climáticas de origem antrópica
são vetores diretos de alterações nos ecossistemas que, quando degradados, resultam
em perdas de diversidade biológica e incremento de espécies ameaçadas de extinção. Se
planos de ação não forem concretizados, o risco de extinção pode aumentar em função
do sinergismo dessas pressões adversas. Estratégias de conservação da biodiversidade e
dos seus recursos genéticos associados incluem ações complementares de conservação
in situ, que mantém as espécies no ambiente natural, e ex situ, na qual as espécies são
amplamente manejadas fora do seu habitat. Por fim, é apresentada a contribuição
da biodiversidade para os demais serviços ecossistêmicos e o bem-estar humano.
510 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO 2 | DISTRIBUIÇÃO DA
DIVERSIDADE BIOLÓGICA
NA RBCV
O termo “diversidade biológica” pode ser consi-
derado como a variabilidade de organismos
vivos de todas as origens, compreendendo, den-
A distribuição da diversidade biológica
presente na RBCV pode ser inferida por meio da
tre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos descrição das principais formações vegetais pre-
e outros ecossistemas aquáticos e os complexos sentes em sua área de domínio e na composição
ecológicos de que fazem parte; compreendendo de sua flora e fauna.
ainda a diversidade dentro de espécies (diversida- Denomina-se “flora” as espécies que com-
de genética), entre espécies (diversidade taxonô- põem uma determinada vegetação, assim como
mica ou de espécies) e de ecossistemas (diversida- “fauna” é o termo utilizado para as espécies ani-
de de ecossistemas) (UN-CBD, 1992: Art. 2). mais que habitam determinado local, lista esta
De acordo com Primack e Rodrigues obtida com maior dificuldade em função da
(2001), os três níveis de diversidade biológica mobilidade dos animais e de sua maior indepen-
são necessários para a sobrevivência contínua dência em relação ao meio onde vivem ou por
das espécies e das comunidades naturais e todos onde transitam, ocasional ou periodicamente
são importantes para a espécie humana. Assim, (RIZZINI, 1997).
a diversidade de espécies representa o alcance A palavra “biota” expressa a integração das
das adaptações evolucionárias e ecológicas das comunidades vegetais e animais, portanto os
espécies em determinado ambiente e fornece organismos vivos (bióticos) e inter-relacionados
recursos às pessoas, como aqueles usados na uns com os outros. Esta biota, quando presen-
alimentação, abrigo e medicamento. Já a diver- te em uma área determinada e interagindo com
sidade genética de plantas e animais é a base de o meio físico (abiótico), de modo que um fluxo
programas de melhoramento para a agropecu- de energia conduza a uma estrutura trófica e à
ária. Por fim, a resposta de populações e comu- ciclagem de materiais entre componentes vivos
nidades às condições ambientais, contribuindo e não vivos, define um “ecossistema” (ODUM;
para o funcionamento adequado de ecossiste- BARRET, 2007).
mas, resulta em benefícios tais como o controle Para se conhecer uma vegetação não basta
de enchentes, proteção do solo contra a erosão e conhecer a flora local, mas também é necessário
filtragem do ar e da água. compreender as relações destas espécies de plan-
A diversidade biológica ocupa posição de tas quando agrupadas em comunidades (FELFILI;
destaque entre os serviços de suporte, definidos REZENDE, 2003). Assim, uma “formação vegetal”
como aqueles necessários para a produção dos pode ser definida como uma comunidade de plan-
outros serviços ecossistêmicos. Os serviços de tas presentes num determinado local que, apesar
suporte se diferenciam das demais categorias na de organizadas numa estrutura complexa, apre-
medida em que seus impactos sobre o homem sentam fisionomia homogênea (VELOSO, 1991).
são indiretos e/ou ocorrem no longo prazo Raramente uma região possui um único tipo de
(ANDRADE; ROMEIRO, 2009). vegetação, quase sempre existe interpenetração
Este Capítulo contém informações sobre de vários tipos numa distribuição em mosaico, em
a diversidade biológica presente na RBCV, com função de variações climáticas ou edáficas.
ênfase nas formações vegetais presentes, na flo- A alta diversidade biológica presente na
ra e na fauna. Também são comentados alguns RBCV e, portanto, sua contribuição para os demais
vetores de alteração do serviço de suporte e serviços ecossistêmicos, está relacionada à manu-
apresentados exemplos relacionados à contri- tenção de seus habitats, à eficiência nas interações
buição da biodiversidade para os demais servi- entre a fauna e a flora local e ao controle dos veto-
ços ecossistêmicos e o bem-estar humano. Lon- res de pressão que ameaçam esses ecossistemas.
ge de exaurir o assunto, espera-se promover e Também é necessário um programa eficiente de
ampliar o conhecimento sobre a importância da pesquisas de longo prazo, que permitam o moni-
conservação dos habitats naturais para a popu- toramento da biodiversidade e a adoção de estra-
lação metropolitana. tégias de conservação in situ e ex situ.
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 511

2.1 | Formações vegetais presentes


na RBCV
florística inclui espécies peculiares, mas não
faltam elementos em comum com a Flores-
ta Ombrófila, tanto no nível específico quanto
Reunindo dados de geomorfologia, clima,
genérico, e mesmo pares de espécies vicariantes
hidrologia, solos e vegetação, áreas semelhantes
(RIZZINI, 1997).
do território brasileiro foram agrupadas num
Embora ainda não mapeada, a Floresta
mesmo espaço, sendo então denominadas de
Estacional Perenifólia situa-se na área de tran-
“domínios morfoclimáticos” e recebendo o nome
sição entre a Floresta Estacional Semidecidual
da formação vegetal predominante (AB' SÁBER,
típica do interior e a Floresta Ombrófila Densa
2003). Assim, os domínios morfoclimáticos
que recobre as serras litorâneas paulistas (IVA-
apresentam áreas homogêneas centrais (áreas
NAUSKAS; ASSIS, 2009). Essa floresta foi descri-
core) com extensas faixas de transição entre si,
ta no estado de São Paulo por Eiten (1970), que
nas quais se distribuem formações vegetais mis-
denominou de Floresta Sempre-verde do Pla-
tas, em gradientes ou não.
nalto a floresta perenifólia que se inicia no clima
As florestas presentes na RBCV pertencem ombrófilo da crista da Serra do Mar e estende-se
ao domínio da Floresta Atlântica, embora encra- para o interior do Planalto Atlântico, em direção
ves de Cerrado1 também podem ser encontra- ao clima estacional.
dos em pequenos trechos (Figura 1). Entre as A Floresta Ombrófila Densa litorânea reco-
diferentes formações florestais que compõem bre o maciço da Serra do Mar e Serra de Para-
este domínio, estão presentes na RBCV a Flores- napiacaba, subdividida em cinco formações:
ta Ombrófila Densa e a Floresta Estacional Semi- alto-montana, montana, submontana, terras
decidual, além das formações pioneiras com baixas e aluvial. A separação das classes obede-
influência marinha (restingas) ou fluviomarinha ce a critérios altitudinais e latitudinais, a fim de
(manguezais). estabelecer correspondência direta entre dimi-
As florestas ombrófilas são caracterizadas nuição da temperatura e elevação da altitude ou
por serem perenifólias e ocorrerem em clima de aumento da latitude. A exceção são as formações
elevadas temperaturas e alta precipitação bem aluviais, que podem ou não variar topografica-
distribuída durante o ano (VELOSO, 1992). Já as mente, mas se apresentam sempre margeando
florestas estacionais são semidecíduas ou com- os cursos d’água.
pletamente decíduas, sendo a queda foliar oca- Dentre estas, possui fisionomia característi-
sionada por longo período de estiagem ou pelo ca a floresta alto-montana presente no topo dos
frio intenso (seca fisiológica). morros, também denominada de mata de neblina
A Floresta Estacional Semidecidual res- ou nebular, devido à presença de nevoeiro muitas
ponde ao clima com um ritmo sazonal: no perío- horas por dia (GARCIA; PIRANI, 2005). Associa-
do desfavorável do ano, parte das árvores do dos à neblina, outros fatores condicionantes são
dossel perdem folhas, o que resulta em maior os solos rasos (neossolos litólicos), usualmente
variação e disponibilidade de luz para as espé- com afloramentos rochosos, e o clima frio.
cies de subosque e, portanto, afetando a dinâ- As florestas sobre restingas correspondem
mica florestal (GANDOLFI, 2003). Os padrões à Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas no
fenológicos de floração e queda de folhas são sistema de Veloso (1992). São florestas altas que
marcadamente sazonais, porém a frutificação ocupam as planícies litorâneas, constituídas por
é pouco sazonal, mesmo considerando a ocor- deposição de rastejos e escoamento superficial
rência de maior número de espécies com frutos das serras costeiras (origem continental) e tre-
maduros na estação seca ou na transição da seca chos de deposição marinha (origem oceânica),
para úmida (MORELLATO, 2003). A composição sempre associada a fatores limitantes, como
alta salinidade, oligotrofia, instabilidade de solo
e forte influência hídrica. Assim, quando mais
No Brasil, a denominação “Cerrado” é um sinônimo
1

regionalista para a Savana presente em território bra- próxima da encosta, encontra-se uma floresta
sileiro e equivalente à existente na África e Ásia. O ter- alta, com árvores de 10-15m, instaladas sobre
mo “Savana” é aplicado globalmente a uma vegetação na
qual as árvores estão distantes entre si e com a presença os aluviões provenientes das serras ou em ter-
de um estrato herbáceo bastante desenvolvido. raços fluviais, reconhecidos pelo relevo plano e
512 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 1 |
Vegetação natural
presente na RBCV.
Fonte: Elaboração
própria.
Com base em
São Paulo (2005).

ligeiramente mais elevado do que os arredores, O solo é constituído por silte e argila fina, rica em
também conhecida como Floresta Alta de Res- matéria orgânica, fortemente influenciado pelas
tinga (EITEN, 1970). Os aluviões provenientes marés. As condições altamente seletivas dos
das serras gradualmente se juntam aos cordões manguezais resultaram no estabelecimento, em
arenosos depositados pelo mar, causando alte- toda a costa brasileira, de comunidades forma-
rações no porte da vegetação. A floresta passa das em grande parte por apenas três espécies de
então a ter porte cada vez mais baixo, denomi- árvores: o mangue-vermelho (Rhizophora man-
nada de Floresta Baixa de Restinga, até atingir a gle L.), o mangue-branco (Laguncularia racemosa
vegetação sobre dunas. C.F.Gaertn.) e o mangue-siriúba (Avicennia shaue-
Os manguezais estão presentes nos estu- riana Stapf & Leechm. ex Moldenke).
ários, que são corpos d’água costeiros que se Com relação a outros tipos vegetacionais,
encontram, permanente ou periodicamente, dado o grau de perturbação das florestas da
abertos ao mar e no qual existe variação da sali- região metropolitana, é difícil determinar preci-
nidade devido à mistura de água salgada com a samente qual a cobertura vegetal original à épo-
água doce proveniente dos rios do continente. ca do descobrimento, até onde se estenderiam
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 513

os campos e se diferenciariam as florestas. Para Tipo florestal Área (hectare)


Floresta Ombrófila Densa 593.748,67
o Planalto Paulistano e Bacia de São Paulo, as

Contato Savana/
questões fitogeográficas referem-se em geral
Floresta Ombrófila Densa 9.727,55 Tabela 1 |
à presença ou não de campos naturais, assim
Área de cobertura
Mangue 8.996,61
como o relato histórico de populações naturais
de araucária, informados com maior detalhe em natural presente na
Floresta Estacional Semidecidual 1.690,89 RBCV.
Fonte: Elaboração
Catharino e Aragaki (2008).
Savana 124,32
própria. Com base
A Tabela 1 sintetiza a área dos tipos flores-
tais de ocorrência na RBCV. em São Paulo (2010).

2.2 | Inventários florísticos


Foram catalogadas 129 famílias, 543 gêne-
ros e 1.159 espécies. As famílias mais ricas em
Existem 40.989 espécies catalogadas de espécies arbóreas foram Myrtaceae (47 espé-
plantas e fungos no Brasil, das quais 46,2% são cies), Fabaceae (26) e Lauraceae (25); para as
endêmicas do país (FORZZA; LEITMAN, 2010). espécies herbáceas destacaram-se Asteraceae,
Esse número de espécies conhecidas atinge Poaceae e Fabaceae. Entre as epífitas, as famí-
64% a 73% do total estimado, o qual varia entre lias mais ricas foram Orchidaceae (99 espécies),
56.110 e 64.030 plantas e fungos brasileiros Bromeliaceae (26), e entre as trepadeiras desta-
(LEWINSON; PRADO, 2005). caram-se Bignoniaceae (21 espécies), Passiflora-
Na flora brasileira catalogada constam ceae (12), Asteraceae e Convolvulaceae, com 11
3.068 fungos, 3.469 algas, 1.521 briófitas, 1.176 espécies cada. Considerando-se o número total
samambaias e licófitas, 26 gimnospermas e de espécies, Orchidaceae foi a família mais rica,
31.162 angiospermas (FORZZA, 2010). O domí- contribuindo com 125 espécies, seguida por
nio da Floresta Atlântica é o de maior riqueza, Asteraceae (123) e Fabaceae (73). Os gêneros
com 19.355 espécies. com maior número de espécies foram Solanum
Com relação à flora da RBCV, ainda não há (23 espécies), Pleurothalis (22) e Miconia (18).
uma estimativa do total de espécies registradas, Considerando-se a listagem de espécies
pois as listagens são pontuais e com maior enfo- ameaçadas de extinção de 1998, 36 espécies
que no componente arbóreo da vegetação. ocorrem no PEFI, como por exemplo a campa-
Embora não contemple toda a área da nulácea Lobelia nummularioides Cham., a prote-
RBCV, uma excelente síntese do conhecimento ácea Roupala sculpta Sleumer e a orquídea Saun-
da flora do município de São Paulo foi publicada dersia mirabilis Rchb. f.
por Catharino e Aragaki (2008). Considerando- No estudo florístico realizado na Reserva
-se os números expressos nos trabalhos dispo- Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba, que
níveis e citados, os autores estimam que o muni- possui 336 ha e situa-se no município de Santo
cípio teria certamente mais de 2.000 espécies André, foram coletadas 1.006 espécies distribuí-
de plantas fanerogâmicas, boa parte destas com das em 434 gêneros e 118 famílias (KIRIZAWA et
sérios riscos de extinção local. al., 2009). Trata-se de trecho de Floresta Ombró-
Os estudos florísticos incluindo todas as fila Densa, onde as famílias mais representati-
formas biológicas são raros no estado de São vas foram Orchidaceae (155), Myrtaceae (68),
Paulo e conseqüentemente na área da RBCV. Asteraceae (64) e Melastomataceae (63). Nesta
A seguir, ilustraremos com quatro exemplos Reserva foram registradas 44 espécies ameaça-
de levantamentos florísticos, a alta riqueza de das de extinção, com base na listagem organi-
espécies vegetais presente em diferentes forma- zada por Mamede et al., (2007), mencionado-se
ções da RBCV (Figura 2). como exemplo a árvore Ocotea basicordatifolia
Uma exaustiva coleta de materiais botâni- Vattimo-Gil, a Pilea rhizoloba Miq, uma herbá-
cos (fanerógamas) foi realizada no Parque Esta- cea, e a bromélia Vriesea hoehneana L.B. Smith.
dual das Fontes do Ipiranga (PEFI), situado no Foram catalogadas 237 espécies de briófitas
município de São Paulo, em área de transição e oito variedades, que pertencem a 116 gêne-
(Floresta Estacional Perenifólia) (BARROS et al., ros e 46 famílias (YANO; VISNARDI; PERALTA,
2002). Trata-se de um fragmento florestal com 2009). Até o presente, na Reserva ocorrem 214
526,38 ha, inserido numa matriz urbana. espécies de pteridófitas, três subespécies, oito
514 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 2 |
Localização de
levantamentos
florísticos
realizados na RBCV.
Fonte: Elaboração
própria

variedades, que pertencem a 69 gêneros e 24 pequenas áreas que não chegam ser representa-
famílias (PRADO; LABIAK, 2009). dos nos mapeamentos das formações vegetais,
Esses dois estudos em florestas evidenciam devido às escalas adotadas. No Núcleo Curucutu
a alta riqueza de espécies na RBCV, pois em cada do Parque Estadual da Serra do Mar (GARCIA;
um deles foi amostrado mais de 1.000 espécies. PIRARNI, 2005), foram registradas 222 espé-
Se considerarmos o tamanho dessas unidades cies de campo e 373 de matas de altitude. Desta-
de conservação (500 e 300 ha), essa informação caram-se Poaceae com 56 espécies, Orchidaceae
torna-se mais relevante ainda. com 45, Asteraceae com 43 e Myrtaceae com 32
Como exemplos em outras formações, pode- espécies. Neste ambiente peculiar (umidade relati-
mos citar o trabalho realizado por Garcia e Pira- va alta, temperatura baixa e solos rasos ou pou-
ni (2005) nos campos naturais. Estes ocupam co profundos), na somatória temos 595 espécies.
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 515

Em outro ambiente restritivo (solo mais listas vermelhas, embora os planos de mane-
arenoso e influência da salinidade do mar), Mar- jo realizados em unidades de conservação de
tins et al., (2008) realizaram um levantamento proteção integral na região tenham contribu-
florístico em comunidades vegetais de Restinga ído muito para o avanço desse conhecimento.
em Bertioga (Itaguaré, São Lourenço e Guara- Os trabalhos de Barros et al., (2002), Catharino
tuba). Foram registradas 33 espécies de Praia e (2006), Franco et al., (2007) e Catharino e Ara-
Duna, 101 para Escrube, 301 para Floresta Alta gaki (2008) também fazem menção direta a
de Restinga, 434 para Floresta Alta de Restinga espécies ameaçadas, demonstrando que há um
Úmida e 45 espécies para Vegetação entre Cor- grande número de espécies na região metropoli-
dões. Os autores utilizaram as fitofisionomias tana com algum risco de extinção.
citadas na Resolução CONAMA 7/96 (CONAMA, Nos estudos florísticos que incluem ervas,
1996) para a definição dos vários ambientes lianas e epífitas, sempre há menção de espécies
encontrados na restinga. No total foram regis- ameaçadas de extinção (vide BARROS et al.,
tradas 611 espécies, representando 351 gêneros 2002; KIRIZAWA et al., 2009). Até mesmo em
e distribuídos em 106 famílias. Orchidaceae com fragmentos pequenos, como o Parque Santo Dias
47 espécies foi a família mais rica, seguida de (situado no município de São Paulo e com cerca
Myrtaceae com 39, Bromeliaceae com 36, Rubia- de 10ha), é possível encontrar espécie endêmica
ceae com 34 e Fabaceae com 32 espécies. Entre como a palmeirinha-prateada Lytocaryum hoeh-
as espécies ameaçadas de extinção (MAMEDE et nei (Burret) Toledo e considerada “quase amea-
al., 2007), têm-se Croton sphaerogynus, Billber- çada” (GARCIA; PIRANI, 2001).

2.3 | Inventários de fauna


gia pyramidalis, Eugenia copacabanensis, Euge-
nia disperma, Eugenia velutiflora, Euterpe edulis,
Ladenbergia hexandra, Plantago catharinea e
Portulaca striata. Mais de 90% das espécies de animais
Esses quatro trabalhos ilustram a alta conhecidas são invertebrados e nas florestas tro-
diversidade de espécies presentes nas diferen- picais já pesquisadas eles respondem pela maior
tes formações da vegetação da RBCV; por outro parte da biomassa animal (WILSON, 1992). Ape-
lado, reforçam a necessidade de estudos mais sar de sua extrema diversidade e importância
abrangentes, incluindo as demais formas bioló- ecológica, o conhecimento sobre os invertebra-
gicas (ervas, lianas, epífitas). dos permanece incipiente quando comparado
Com relação à flora ameaçada2 de extinção ao acumulado para os vertebrados.
na RBCV, não há ainda uma síntese de informa- Em relação à fauna de vertebrados brasi-
ções disponíveis sobre as espécies presentes em leiros, foram catalogadas até o momento 4.351
espécies de peixes ósseos, 1.024 de anfíbios, 721
de mamíferos, 763 de répteis, 1.924 de aves, 181
Considera-se espécie ameaçada aquela cujas popula-
2
de tubarões, raias e quimeras, e cinco espécies
ções estão decrescendo a ponto de colocá-la em risco de
extinção. Para avaliar qual a probabilidade de extinção de “feiticeiras” da classe Myxini (CATÁLOGO
de uma espécie são propostas categorias de ameaças, TAXÔNOMICO DA FAUNA DO BRASIL, 2019). A
sendo as mais difundidas atualmente aquelas baseadas
em critérios adotados pela União Mundial para a Natu- fauna paulista desses grupos representa apro-
reza (IUCN, 2007). Os critérios IUCN buscam evidências ximadamente 30% da fauna brasileira, com 393
relacionadas ao tamanho, isolamento ou declínio popu-
lacional das espécies e extensão de suas áreas de distri-
espécies de peixes continentais, 594 de peixes
buição. A partir desses dados, as espécies são agrupadas marinhos, 250 de anfíbios, 231 de mamíferos,
conforme as categorias Extinta, Extinta na natureza, 226 de répteis e 830 de aves (DE VIVO et al.,
Criticamente em perigo, Em perigo, Vulnerável, Quase
Ameaçadas e Deficientes em Dados. Vários são os crité- 2011; MENEZES, 2011; OYAKAWA; MENEZES,
rios utilizados para a inclusão de uma espécie na lista 2011; ROSSA-FERES et al., 2011; COSTA; BÉR-
da flora paulista ameaçada de extinção. Dentre estes,
destacam-se: a) espécies sem registros de coleta no esta- NILS, 2018; FIGUEIREDO, 2019).
do nos últimos 50 anos; b) com distribuição geográfica A fauna de vertebrados continentais da
restrita; c) com ocorrência desconhecida ou exclusiva
em unidades de conservação; d) cuja coleta predatória RBCV pode ser considerada bem conhecida
pode causar ou está causando o declínio das populações (Figura 3), pois foram publicados inventários
naturais; e) cuja polinização ou dispersão depende de
espécies da fauna ameaçadas de extinção; h) exclusivas
para várias localidades, dispersos em dezenas
de uma formação vegetal (MAMEDE et al., 2007). de artigos científicos e em capítulos de livros
516 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 3 |
Nível de
conhecimento da
fauna na RBCV.
Fonte: Elaboração
própria

que contemplam determinados setores da RBCV UMETSU, 2006; RIBEIRO et al., 2006; MAGA-
(ex. CARVALHO, 1979-1980; HEYER et al., 1990; LHÃES; VASCONCELLOS, 2007; MENEZES et
MORELLATO, 1992; BERTOLUCI; HEYER, 1995; al., 2007; PAPAVERO; TEIXEIRA, 2007; PIMEN-
OLMOS; SILVA E SILVA, 2003; 2007; WILLIS; TA et al., 2007; SERRA; CARVALHO; LANGEA-
ONIKI, 2003; RIBEIRO; EGITO; HADDAD, NI, 2007; MALAGOLI; BAJESTEIRO; WHATELY,
2005; AURICHIO; AURICHIO, 2006; DEVELEY; 2008; ARAÚJO et al., 2009; MARQUES et al.,
MARTENSEN, 2006; DIXO; VERDADE, 2006; 2009; LOPES; KIRIZAWA; MELO, 2009; CAVAR-
NEGRÃO; VALLADARES-PÁDUA, 2006; PARDINI; ZERE; MORAES; SILVEIRA, 2010; LIMA, 2010;
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 517

DONATELLI; FERREIRA; COSTA, 2011; MARCE- aos grupos continentais. A localidade melhor
NIUK; HILSDORF; LANGEANI, 2011; MORINI; conhecida é o Parque Estadual Marinho da Laje
MIRANDA, 2012; VASCONCELLOS-NETO; POLLI; de Santos, principalmente com relação aos pei-
PENTEADO-DIAS, 2012; ABREU-SANTOS et al., xes e aves marinhas (CAMPOS; CAMPOS; FARIA,
2014; CAVARZERE et al., 2014; TREVINE et al., 2007; LUIZ Jr et al., 2008).
2014; GARBINO, 2016; YOSHIDA et al., 2016; DA As espécies de vertebrados continentais
SILVA et al., 2017; TONETTI et al., 2017). ameaçados encontrados na área da RBCV repre-
Além disso, começaram a ser disponibili- sentam 43% do total de espécies de vertebrados
zadas as informações obtidas com a realização ameaçados no estado de São Paulo. A situação
dos Planos de Manejo das Unidades de Conser- mais preocupante é a das espécies endêmicas à
vação de Proteção Integral da RBCV. Os Par- RBCV, pois 32% delas são consideradas ameaça-
ques Estaduais da Serra do Mar e da Cantareira das. Embora as medidas de conservação devam
foram os primeiros a terem seus planos conclu- priorizar essas espécies, infelizmente para pelo
ídos e aprovados no CONSEMA, respectivamen- menos duas delas parece ser tarde demais, pois
te em 2006 e 2009. A metodologia adotada nes- já são consideradas extintas: a perereca-gladia-
ses planos foi a Avaliação Ecológica Rápida, um dora-de-sino Boana cymbalum, da localidade de
levantamento expedito em que os pesquisado- Campo Grande da Serra - Santo André; e a perere-
res participantes da avaliação da biodiversida- ca-verde-de-riacho-de-Paranapiacaba Phrynome-
de definem os sítios amostrais para a coleta de dusa fimbriata, conhecida somente por um único
dados, priorizando as áreas sem conhecimento exemplar coletado no Alto da Serra de Paranapia-
ou com pouco conhecimento. Nessa avaliação caba em 1898.
da biodiversidade é efetuado o cruzamento Várias das espécies ameaçadas não endê-
das informações obtidas nesses levantamentos micas também não têm sido encontradas recen-
com os dados constantes na literatura espe- temente na RBCV e possivelmente estão extin-
cializada. Como resultado, tem se ampliado o tas na região. Por exemplo, o mico-leão-preto
conhecimento sobre a fauna dessas unidades e Leontopithecus chrysopygus.
até mesmo encontrado espécies não assinala- Seria importante a confecção de uma lista
das anteriormente na área da RBCV. regional, já que espécies que não integram a lista
A fauna vertebrada local é rica (Tabela 3), estadual, por contarem com populações estáveis
correspondendo a 60% da fauna continental em outras regiões, podem estar ameaçadas no
do estado de São Paulo, apresentando espécies território da RBCV.
endêmicas e várias consideradas ameaçadas Cabe ressaltar que várias extinções locais
de extinção (MACHADO; DRUMMOND; PAGLIA, já ocorreram na área, envolvendo tanto espécies
2008; BRESSAN; KIERULFF; SUGIEDA, 2009; listadas como ameaçadas quanto espécies de
SÃO PAULO, 2018). menor preocupação conservacionista no estado.
Apesar da fauna marinha do sudeste do Por exemplo, animais de grande porte como o
Brasil ser a melhor conhecida do país e de áreas muriqui Brachyteles arachnoides, a onça-pintada
do litoral norte do estado de São Paulo apre- Panthera onca e a jacutinga Aburria jacutinga,
sentarem longa tradição de inventário biológico atualmente são encontrados apenas em trechos
(AMARAL et al., 2010), o conhecimento sobre a da Serra do Mar. Mesmo em seus redutos, essas
fauna marinha na área de abrangência da RBCV espécies podem estar extintas ecologicamente,
pode ser considerado fragmentário em relação ou seja, suas populações foram tão reduzidas
Tabela 3 |
Valores de riqueza,
total de espécies
Grupo Riqueza Endêmicas Ameaçadas Exóticas endêmicas,
Peixes 122 8 14 15 ameaçadas de
extinção e exóticas
Anfíbios 130 20 6 2 estabelecidas,
registrados até o
Répteis 125 0 2 3
momento para a área
Mamíferos 149 0 20 8 continental da RBCV.
Fonte: Elaboração
Aves 625 0 79 9
própria
518 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

que o papel desempenhado pelos indivíduos Se planos de ação não forem concretizados,
remanescentes se torna irrelevante para o populações de espécies ameaçadas terão um ris-
ecossistema. co ainda maior de extinção em função do sinergis-
No ambiente marinho da RBCV, 19 espécies mo de pressões adversas, incluindo mudanças de
de invertebrados, cinco espécies de tartarugas, uso da terra, fragmentação de habitats e o cenário
quatro de aves e três de cetáceos são considera- de mudanças climáticas. Sem adaptação, algumas
das ameaçadas de extinção, enquanto 116 espé- das espécies definidas como “criticamente amea-
cies de peixes foram classificadas como sobrex- çadas” serão extintas nas próximas décadas e as
plotadas ou ameaçadas de sobrexplotação. espécies classificadas como “ameaçadas ou vul-
As principais ameaças à conservação da neráveis” se tornarão muito mais raras ao longo
fauna continental da RBCV estão sintetizadas na deste século (CANHOS et al., 2008).
Figura 4. No contexto da RBCV, já há informação
As listas de espécies ameaçadas certamen- suficiente sobre a presença de espécies ameaça-
te são ferramentas muito úteis para a valoração das da flora e da fauna nos diferentes ecossis-
de áreas naturais. No entanto, o incremento de temas que compõem esta área protegida. Resta
espécies a cada revisão dessas listas pode ser agora partir para a tomada de decisões na busca
atribuído não só ao grau de ameaça que paira da conservação da biota ali existente.
sobre essas populações, mas também ao avanço

2.4 | Áreas de conservação


na geração e acesso de dados científicos sobre
a flora e a fauna nas últimas décadas (MARTI-
NELLI; MARTINS, 2010).
Outro receio é de que as listas de espécies Uma área ameaçada pode ser definida
ameaçadas se tornem o fim do processo, ao invés como o trecho de terras contendo vegetação
de um meio para buscar a efetiva conservação de nativa ou antrópica que sofre o risco iminente
suas populações. Diversos estudos de cientistas de perdas ou erosão de seus recursos genéticos
brasileiros em conservação, ecologia e genética, (WALTER; CAVALCANTI; BIENCHETTI, 2005).
por exemplo, deveriam embasar planos de ação A vegetação em áreas ameaçadas tem sido afe-
para espécies ameaçadas de todos os táxons, tada por ações humanas como a construção de
no intuito de controlar as ameaças incidentes e hidrelétricas, abertura de estradas, projetos de
aumentar as chances de sobrevivência das espé- mineração, abertura de áreas para a agricultura
cies ao longo do tempo (MORAES, 2010). e ampliação de zonas urbanas.

Figura 4 |
Distribuição
das espécies
continentais
ameaçadas
de extinção
registradas na
RBCV em relação
às principais
fontes de impacto.
Fonte: Elaboração
própria
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 519

Frente à acelerada degradação dos ecos- nas áreas vegetal, animal e de microorganismo,
sistemas naturais, incluindo áreas modificadas de preferência no país de origem desses recursos
por atividades agropecuárias, evidencia-se que genéticos (PEIXOTO et al., 2006).
o estabelecimento de processos para conservar a O resgate e a conservação de germoplasma
biodiversidade e os seus recursos genéticos asso- é um componente essencial, embora não seja a
ciados é um problema urgente e tem sido abor- única estratégia para a conservação ex situ. Ger-
dado mundialmente de duas maneiras comple- moplasma pode ser definido como a soma total do
mentares: pela conservação in situ, que mantém material genético de um organismo, ou amostra de
as espécies no ambiente natural, e pela conser- população de determinada espécie, com a habili-
vação ex situ, na qual as espécies são amplamen- dade de se reproduzir (WALTER; CAVALCANTI;
te manejadas fora do seu ambiente natural BIANCHETTI, 2005). No caso de germoplasma
(WALTER; CAVALCANTI; BIANCHETTI, 2005). vegetal, pode ser coletado, trabalhado e conserva-
No cenário da conservação in situ, as prin- do na forma de sementes, mudas, estacas, grãos de
cipais estratégias para a preservação da biodi- pólen ou, ainda, por meio da cultura de tecidos.
versidade são a criação, implantação e manuten- Assim, coleta-se germoplasma com o obje-
ção de Unidades de Conservação (TERBORGH; tivo de conservar e ampliar a base genética que
van SCHAIK, 2002). pode ser utilizada em programas de melhora-
Em relação ao ambiente marinho, a manu- mento vegetal para espécies tradicionalmente
tenção de trechos preservados, onde as espécies cultivadas, ou como alternativa, por meio da
possam crescer e reproduzir-se com sucesso, pesquisa e conservação para espécies de uso
permite um constante repovoamento de áreas potencial (WALTER et al., 2005).
exploradas. A degradação da região costeira fez O Jardim Botânico e o Parque Zoológico de
das ilhas de mar aberto, como o Parque Estadu- São Paulo são exemplos de centros de conser-
al Marinho da Laje de Santos, um refúgio para vação ex situ de animais e plantas presentes na
organismos recifais. RBCV (Figura 5).
Além das unidades já estabelecidas na No caso da flora, o jardim botânico possui
RBCV, outras áreas reconhecidas como impor- papel importante no trânsito e ampliação de
tantes para a preservação da fauna regional são: germoplasma, principalmente por estar associa-
os manguezais de Cubatão e Santos; as matas de do a um herbário.
baixada e restingas entre Itanhaém e Mongaguá; Um herbário pode ser entendido como
os brejos na área de ocorrência do bicudinho- uma coleção de espécimes vegetais prensados
-do-brejo-paulista Formicivora paludicola (única e desidratados (Figura 6), usualmente acondi-
ave endêmica ao estado de São Paulo) nos muni- cionados em armários de aço e organizados de
cípios de Arujá, Biritiba-Mirim, Mogi-das-Cruzes acordo com um sistema de classificação (WAL-
e Salesópolis; e a Serra do Japi nos municípios de TER; CAVALCANTI, 2005).
Cabreúva e Jundiaí (BENCKE et al., 2006; METZ- Estas coleções botânicas são imprescin-
GER; RODRIGUES, 2008; SILVEIRA et al., 2009). díveis para o estudo da diversidade vegetal,
A maioria das UC já está, ou tende a ficar, pois documentam a existência de espécies em
isolada uma das outras, o que terá impacto sobre um determinado tempo e espaço; documen-
as populações de espécies que necessitam de tam elementos da flora de áreas preservadas
áreas de vida amplas e sobre o fluxo gênico de e de áreas hoje perturbadas ou empobreci-
uma maneira geral. Corredores ecológicos inter- das; são indispensáveis em pesquisas taxo-
ligando as UC devem ser planejados e implanta- nômicas e filogenéticas e essenciais na iden-
dos o quanto antes, através da conservação e da tificação precisa das espécies (PEIXOTO et al.,
restauração de áreas de vegetação nativa. 2006). Somente no município de São Paulo
No âmbito das estratégias de conservação existem três herbários oficiais: a Coleção de
ex situ, as coleções biológicas também passaram Fanerógamas e Algas do Herbário do Estado
a adquirir importância crescente, uma vez que a "Maria Eneyda P. Kaufmann Fidalgo" (SP), do
Convenção sobre Diversidade Biológica determi- Departamento de Botânica da Universidade
na que os países estabeleçam e mantenham insta- de São Paulo (SPF) e o Herbário Dom Bento
lações para a conservação ex situ e para pesquisas Pickel do Instituto Florestal (SPSF).
520 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 5 |
Jardim Botânico
(A) e Parque
Zoológico(B) de
São Paulo.
Fonte: Expressão
Studio (TUR.SP,
2019); Rubens Chiri
(FC&CP-SP, 2019).

Figura 6 |
Exemplos de
exsicatas
depositadas
no Herbário Dom
Bento Pickel.
Foto: João Batista
Baitello.

Para a fauna, de maneira similar, são de a ausência de animais pode ocasionar sérias
grande importância as coleções zoológicas, implicações para a continuidade dos proces-
representadas na RBCV por uma das instituições sos ecológicos e o funcionamento adequado de
mais importantes da América Latina no tema, o ecossistemas.
Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. As plantas dependem dos animais para

2.5 | Contribuição da biodiversidade


a manutenção de processos como polinização,

para os demais serviços


dispersão de propágulos, herbivoria e predação

ecossistêmicos de suporte
(KAGEYAMA; GANDARA, 2004). Já os animais
dependem das plantas como local de abrigo e
fonte de alimento (GALETTI; PIZO; MORELLA-
Em ambientes tropicais a interação entre TO, 2003; REIS; ZAMBORIN; NAKAZONO, 1999).
plantas e animais é muito intensa, tanto que A interação é, portanto, bidirecional, pois em
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 521

ecossistemas onde há número insuficiente de espécies freqüentemente são dióicas e entre as


plantas fornecedoras de recursos para um gru- hermafroditas é comum ocorrer auto-esterilida-
po específico de polinizadores ou dispersores, de. Adicione-se a isso o fato de que muitas espé-
o sucesso reprodutivo de todos os organismos cies apresentam baixa densidade populacional,
envolvidos fica comprometido (CAVALHEIRO; com os indivíduos localizados distantes entre si,.
TOREZAN; FADELLI, 2002). Em função dessa Os vegetais recompensam os animais poli-
dependência, a extinção de espécies da fauna nizadores com néctar, parte do pólen, óleos e resi-
e/ou flora pode levar ao que tem sido chamado de nas. Os insetos são os principais polinizadores,
“efeito dominó”, ocasionando a extinção em cadeia principalmente as abelhas (FEINSINGER, 1983).
de outras espécies que formam as teias alimenta- Beija-flores polinizam entre 10 e 15% das espé-
res nas comunidades (GALETTI et al., 2003). cies nos ecossistemas neotropicais (FEINSINGER,
Assim, qualquer dano na rede de inte- 1983), na Mata Atlântica, eles são os principais
rações entre a fauna e a flora pode afetar, por polinizadores de Bromeliaceae, Ericaceae, Gesne-
vezes de modo irreversível, os outros serviços riaceae, Heliconiaceae, Lobeliaceae e Rubiaceae
de suporte oferecidos pelos ecossistemas. Entre (BUZATO; SAZIMA; SAZIMA, 2000).
estes, destacamos as interações flora-fauna Outros vertebrados também atuam como
relacionadas à polinização de flores e à disper- polinizadores, principalmente de espécies arbó-
são de frutos e sementes. Nas interações com reas. Entre os mamíferos, podem ser citados
o meio físico, destacamos o papel da biota na cuícas, primatas e morcegos Phyllostomidae,
ciclagem de nutrientes e na estrutura e conser- sendo os Glossophaginae especializados para a
vação do solo. nectarivoria; e entre as aves, psitacídeos, pica-
Os demais serviços prestados pela fauna -paus e vários grupos de passeriformes (ROCCA;
se relacionam diretamente com a teia alimen- SAZIMA, 2010; RATTO et al., 2018).
tar dos ecossistemas, como no controle das A ação de espécies polinizadoras nati-
populações das espécies vegetais por predado- vas é importante para a produção de frutos de
res de sementes e herbívoros (DIRZO; MIRANDA, algumas espécies cultivadas. Uma relação bem
1990; WILSON, 1992); de insetos tanto em áreas conhecida é a que ocorre entre as mamangavas-
de vegetação natural quanto em cultivos adjacen- -carpinteiras Xylocopa spp. e os maracujás Passi-
tes (KALKA; SMITH; KALKO, 2008; WILLIAMS- flora spp. (SAZIMA; SAZIMA, 1989).

2.5.2 | Dispersão de frutos e sem entes


-GUILLLEN; PERFECTO; VANDERMEER, 2008;
MOONEY et al., 2010) e das populações de verte-
brados de médio e grande porte pelos predado-
res de topo de cadeia (TERBORGH, 1988). A dispersão de frutos e sementes longe
Também é importante salientar que a alte- da planta mãe pode aumentar a chance de ger-
ração dos ecossistemas pode aumentar o risco minação e recrutamento, pois as condições na
de exposição a doenças infecciosas e que acima área de origem podem ser desfavoráveis, como
de 60% dos patógenos de humanos são trans- o forte sombreamento, e o ataque de patógenos
mitidos naturalmente por animais (TAYLOR; e predadores mais intenso (TERBORGH; VAN
LATHAM; WOOLHOUSE, 2001). Na RBCV a SCHAIK, 2002). Além disso, a dispersão pode
febre-maculosa é um bom exemplo de zoonose contribuir com o aumento da variabilidade
emergente associada a modificações ambientais. genética dentro das populações ao aumentar a

2.5.1 | Polinização de flores


distância entre indivíduos aparentados.
Embora na chuva de sementes seja comum
a presença de espécies anemocóricas, grande
O transporte do pólen por animais é uma parte das espécies arbóreas da Floresta Ombró-
estratégia que permite o aumento da variabilida- fila Densa apresentam maior proporção de espé-
de genética nas populações de vegetais, garantin- cies zoocóricas. Os vertebrados são os principais
do assim o estabelecimento de populações viá- dispersores de sementes (Figura 7). Porém, as
veis. É estimado que em torno de 90% das plantas formigas são agentes importantes para várias
da região são polinizadas por animais (BAWA et espécies (VAN DER PILJ, 1982; PIZO; OLIVEI-
al., 1985; BAWA, 1990). Na região neotropical as RA, 2000). Na área da RBCV, acima de 70% das
522 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Figura 7 |
Pavó Pyroderus
scutatus
consumindo fruto
de juçara
Euterpe edulis.
Foto: Fausto Pires
de Campos.

espécies vegetais são dispersas por aves e germinando e, em áreas onde os dispersores
mamíferos (ALMEIDA-NETO et al., 2008). primários estão ausentes, tornam-se importan-
Entre as espécies vegetais que os autores con- tes para a manutenção de espécies vegetais do
seguiram definir o tipo de dispersor primário, estádio avançado (GALETTI et al., 2010).

2.5.3 | Estrutura física do solo


65% eram dispersas por aves, 25% por mamí-

e ciclagem de nutrientes
feros e 10% por ambos. Outros vertebrados
com potencial de dispersores de sementes na
região são peixes Characiformes e o lagarto teiú
Salvator merianae (CASTRO; GALETTI, 2004; As copas das árvores e a serapilheira
CORREA et al., 2007). depositada e acumulada sobre o solo funcio-
Enquanto morcegos e passeriformes são de nam como uma camada isolante entre este
grande importância para a dispersão de semen- e a atmosfera, reduzindo as perdas de água
tes de espécies dos estádios iniciais de sucessão por evaporação. A serapilheira também evi-
secundária, e consequentemente para o proces- ta ou amortece o impacto direto das gotas de
so de restauração, muitas espécies vegetais dos chuva. Desta forma, os agregados do solo não
estádios avançados produzem frutos ou semen- são desintegrados em suas partículas básicas
tes grandes que podem ser consumidos ou dis- (areia, silte e argila), evitando assim o desen-
persos por um número restrito de espécies. Na cadeamento do processo erosivo (GONÇALVES;
RBCV, se incluem nesse grupo seleto: a jacutinga NOGUEIRA; DUCATTI, 2003).
Aburria jacutinga, os jacus Penelope spp., tuca- A abundância e a distribuição das raízes
nos Ramphastos spp., a araponga Procnias nudi- nas camadas de solo também contribuem para
collis, o pavó Pyroderus scutatus, o muriqui Bra- a sua estruturação. Além disso, os troncos e os
chyteles arachnoides, a anta Tapirus terrestris e resíduos vegetais funcionam como obstáculos ao
as cutias Dasyprocta spp. Estas últimas, apesar caminhamento dos excedentes hídricos, redu-
de predadoras de sementes são capazes de esto- zindo a velocidade da enxurrada, aumentando
car sementes grandes, das quais várias acabam as taxas de infiltração e, consequentemente, a
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 523

Pesquisa sobre a frugivoria por aves no frutos maduros em períodos de escassez de


Parque Estadual Alberto Löfgren (PEAL) cons- frutos das espécies nativas e também, menor
tatou que 59% das espécies vegetais con- variação na produção de frutos de um ano
sumidas são exóticas ao local (FONSECA; para outro, com isso atraem grande núme-
ANTUNES, 2007) (Figura 8). Os sabiás Turdus ro de aves com potencial de dispersar suas
spp. foram os principais consumidores desses sementes (OMOTE; ANTUNES; MATSUKUMA,
frutos, sendo as únicas espécies observadas 2014).
ingerindo os diásporos do pau-incenso Pit- A elevada densidade de juvenis de pal-
tosporum undulatum, contribuindo para a dis- meiras exóticas no sub-bosque de certos
persão e manutenção dessa espécie na área trechos do PEAL reduz a diversidade de aves
e no contíguo Parque Estadual da Cantareira nessas áreas, apoiando a necessidade do
(CAMPAGNOLI et al., 2016). manejo dessas plantas para se manter a
Algumas dessas espécies vegetais exóti- biodiversidade nativa (CAMPAGNOLI; ANTU-
cas podem apresentar maior quantidade de NES, 2017).

Quadro 1 |
Frugívoros gene-
ralistas dispersam
sementes de plantas
exóticas invasoras

Figura 8 |
Jacuguaçu Penelope
obscura consumindo
fruto de palmeira-
-leque
Livistona chinensis,
espécie exótica
invasora.
Foto: Alexsander
Zamorano Antunes.

captação de água pelo solo e o reabastecimen- estabilização dos agregados e agem diretamente
to do lençol freático (GONÇALVES; NOGUEIRA; pelo entrelaçamento de hifas e micélios de fun-
DUCATTI, 2003). gos nas partículas de solo e microagregados,
O aumento dos teores de matéria orgânica formando macroagregados e, portanto, melho-
no solo também resulta na maior capacidade de rando suas propriedades físicas como a aeração
retenção hídrica, garantindo melhor suprimento (GONÇALVES; NOGUEIRA; DUCATTI, 2003).
às plantas e acentuando todos os processos rela- Além de melhorar as propriedades físicas
cionados à fertilidade e à atividade biológica do do solo, o aumento da atividade biológica tam-
solo. O aporte de matéria orgânica fornece subs- bém contribui para a sua fertilidade, por meio
trato aos microrganismos que, por sua vez, pro- da adição de matéria orgânica, da ciclagem de
duzem substâncias diretamente envolvidas na nutrientes e da fixação biológica de nitrogênio.
524 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Minhocas, cupins e formigas, ao cons- impactos intensos e freqüentes como o fogo


truírem galerias e ninhos, promovem o revol- e o pastoreio podem levar a fisionomias mais
vimento e a aeração do solo e interferem na abertas. Protegida contra o fogo e o pastoreio,
sua drenagem, capacidade de retenção de água essa vegetação savânica volta a se adensar, em
e disponibilidade de minerais (RIGHI, 1999; um processo dinâmico. Já em florestas, além
MOUTINHO; NEPSTAD; DAVIDSON, 2003; do fogo, a extração de madeira e os efeitos de
TONHASCA Jr., 2005). Minhocas podem auxi- borda decorrentes da fragmentação modificam
liar na dispersão de bactérias Rhizobium, fixa- a fisionomia da vegetação, levando à desconti-
doras de nitrogênio, e de fungos micorrízicos nuidade do dossel, à maior biomassa de trepa-
(BROWN, 1995 apud RIGHI, 1999). deiras e outras evidências de perturbação que
Invertebrados decompositores e vertebra- caracterizam diferentes estádios sucessionais,
dos necrófagos, como os urubus Cathartidae, desde capoeiras até florestas conservadas
atuam acelerando o processo de reciclagem ao (DURIGAN, 2003).
fragmentarem a matéria orgânica (ex. serapilhei- As projeções apresentadas no relatório-
ra e cadáveres), ampliando a exposição das par- -síntese de biodiversidade da Avaliação Ecossis-
tículas aos microrganismos que liberam nutrien- têmica do Milênio (MILLENNIUM ECOSYSTEM
tes nos ecossistemas (TONHASCA Jr., 2005). ASSESSMENT, 2005) indicam que as pressões
Nas ilhas costeiras com colônias repro- sobre os ecossistemas devem aumentar progres-
dutivas de aves marinhas, o guano acumulado sivamente e que os principais vetores diretos de
escorre para o oceano com as chuvas, carrean- alterações nos ecossistemas são as alterações de
do nutrientes fosfatados e nitrogenados que habitat, superexploração, a contaminação bioló-
favorecem o desenvolvimento da vida marinha. gica por espécies exóticas invasoras, poluição e
mudanças climáticas. Esses vetores diretos são

2.6 | Vetores de alteração do serviço


geralmente sinérgicos.

de suporte – biodiversidade 2.6.1 | Fragmentação e redução de habitat

Qualquer perda de diversidade biológi- Fragmentação é basicamente um pro-


ca, seja no nível de ecossistemas, espécies ou cesso de ruptura na continuidade espacial de
populações, representa perda de qualidade habitats e que, muitas vezes, ocasiona também
ambiental, pois os componentes da biodiver- ruptura dos fluxos gênicos entre populações
sidade são elementos-chave do funcionamento presentes nesses habitats (METZGER, 2003a).
dos ecossistemas e mantenedores dos proces- Assim, o processo de fragmentação acaba por
sos ecológicos básicos responsáveis pelo equi- reduzir e isolar áreas propícias à sobrevivência
líbrio ecológico (ROCHA et al., 2006). das populações, causando extinções locais.
Um ecossistema degradado pode ser defi- Para diferentes grupos taxonômicos (e.g.
nido como aquele que sofreu perturbações plantas, aves e pequenos mamíferos) quanto
antrópicas, levando-o a diminuição de sua maior a área do fragmento maior a riqueza de
resiliência (rapidez com que as variáveis de um espécies e o tamanho das populações que este
sistema retornam ao equilíbrio após um dis- fragmento pode suportar (METZGER, 2003b).
túrbio) e com perdas de espécies e interações Já a fragmentação pode romper o fluxo gênico
importantes, mas mantendo meios de intera- de uma população e, muitas vezes, levar à sub-
ção biótica (ENGEL; PARROTA, 2003). divisão desta em subpopulações muito peque-
A ação humana sobre as áreas naturais nas e, portanto, incapazes de se sustentar ao
levou a um aumento crescente no total de áreas longo do tempo (METZGER, 2003a).
degradadas e resultou em paisagens fragmen- Os impactos da redução em área e da frag-
tadas com baixa conectividade entre rema- mentação podem ser amenizados numa paisa-
nescentes, biodiversidade reduzida e risco de gem de alta conectividade, tornando possível
extinção local de espécies (KAGEYAMA; GAN- a recolonização após extinção local e a manu-
DARA; OLIVEIRA, 2003). tenção de uma metapopulação. A conectivida-
A pressão antrópica também altera a com- de pode ser definida como a capacidade de uma
posição e estrutura da vegetação. No cerrado, paisagem de facilitar os fluxos de organismos,
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 525

sementes e grãos de pólen (URBAN; SCHU- seu desenvolvimento são limitadas em exten-
GART Jr., 1986). Por outro lado, o isolamento são. Este é o caso, por exemplo, das florestas
age negativamente na riqueza de espécies, ao estacionais deciduais presentes sobre áreas de
diminuir a taxa (ou o potencial) de imigração solos rasos, das florestas de brejo localizadas
(ou de recolonização). sobre solos hidromórficos em áreas de várzea
Muitas vezes, a distância entre fragmentos ou nascentes ou mesmo da vegetação sobre
é maior do que um animal é capaz de atraves- dunas e manguezais (IVANAUSKAS; ASSIS,
sar fora do seu habitat. Dispersores de plan- 2009).

2.6.2 | Poluição
tas importantes como aves e morcegos evitam
áreas abertas por estarem mais expostos à ação
de predadores, pela ausência de poleiros para
pouso ou mesmo pela falta de atrativos como Há evidências de que espécies respon-
frutos e sementes (HOWE; SMALLWOOD, 1982). dem diferentemente às mudanças ambientais
A presença na paisagem de fragmentos e, portanto, são adaptadas à diferentes habi-
fonte de propágulos é um dos principais fato- tats (CONDIT et al., 1996). No entanto, como a
res responsáveis pela colonização e enrique- capacidade de adaptação de muitas espécies é
cimento de áreas degradadas (IVANAUSKAS; limitada, a poluição da água, do solo ou do ar
RODRIGUES; SOUZA, 2006). Assim, é preci- podem ter efeitos nocivos sobre a biodiversida-
so reestabelecer processos de dispersão de de residente ou migratória, com danos signifi-
sementes dos fragmentos para as novas áreas, cativos e irreversíveis aos ecossistemas.
principalmente via dispersão zoocórica. Numa A contaminação dos corpos d'água por
matriz permeável à fauna, e que contenha frag- esgotos domésticos sem tratamento e resíduos
mentos fontes de propágulos, comunidades industriais são fatores determinantes para a
florestais podem se estabelecer sem qualquer contínua redução da fauna aquática paulista. Já
tipo de intervenção humana, o que demonstra a a degradação de manguezais pode levar a uma
importância do processo de regeneração natu- redução dos estoques pesqueiros. Outra fonte
ral para a Floresta Atlântica. de poluição do solo e da água provém do uso
Muitas espécies da fauna também utili- inadequado de insumos agrícolas e do descarte
zam ampla variedade de habitats em diferentes incorreto de lixo.
períodos ou estágios de sua história de vida, As macrófitas aquáticas também aumen-
como as áreas críticas para a reprodução, áreas tam proporcionalmente com a poluição gera-
migratórias, rotas ou corredores migratórios da pelo despejo de esgotos nas represas que
(tanto latitudinal como altitudinal) ou áreas abastecem a cidade de São Paulo, levando ao
naturais que contenham concentrações sazo- desequilíbrio desses sistemas aquáticos e com
nais de espécies importantes globalmente (JEN- riscos à saúde pública, pois alteram a qua-
NINGS et al., 2003). Estes habitats podem ser lidade da água destinada ao abastecimento
geograficamente distintos ou podem ser dife- público.
rentes ecossistemas ou habitats dentro de uma A poluição do ar na área metropolitana
mesma região. De qualquer modo, a redução ou tem sua origem na emissão de gases de veícu-
fragmentação desses habitats pode afetar sensi- los com combustíveis fósseis (carros, ônibus e
velmente a fauna local ou migratória. caminhões) e emitidos também por atividades
Redução de habitat, fragmentação e isola- industriais. Por exemplo, a Reserva Biológi-
mento na paisagem devido a atividades huma- ca do Alto da Serra de Paranapiacaba foi alta-
nas, como a conversão de ecossistemas natu- mente degradada a partir da década de 1950,
rais em áreas urbanas ou agrícolas, podem com a contínua ação dos poluentes emitidos
diminuir a extensão de certos ecossistemas, na atmosfera pelo pólo industrial de Cubatão
a ponto de torná-los raros na paisagem e com (KIRIZAWA et al., 2009) e o Parque Estadual
maior risco de degradação no futuro. No entan- das Fontes do Ipiranga (PEFI) também teve sua
to, o problema se agrava para os ecossistemas vegetação degradada pelo funcionamento de
que são naturalmente raros, pois as condições uma indústria siderúrgica no entorno na déca-
microclimáticas ou edáficas necessárias para o da de 1980 (BARROS et al., 2002).
526 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

A poluição do ar nas áreas rurais provém orquídeas e bromélias, de xaxim e principal-


das queimadas intencionais em áreas agrícolas mente de palmito da palmeira-juçara (Euterpe
e daquelas consideradas “acidentais” em áreas edulis), são frequentes mesmo no interior de
naturais. O aumento da concentração dos gases unidades de conservação de proteção integral.
de efeito estufa na atmosfera tem sido respon- Os frutos da juçara são importantes para
sável por mudanças climáticas em escala glo- várias espécies de aves e mamíferos, espe-
bal (SANTOS, 2003). Esforços vêm sendo reali- cialmente em regiões montanhosas quando
zados a fim de reduzir a emissão desses gases e no inverno, período em que esses frutos estão
aumentar o sequestro de carbono. maduros, há uma diminuição na disponibilida-

2.6.3 | Superexploração
de de recursos alimentares (GALETTI; ALEI-
XO, 1998). De acordo com Chediack e Baqueiro
(2005), o corte das palmeiras adultas afeta a
Os sistemas naturais paulistas vêm sendo dinâmica da população, pois são estas que pro-
manejados, desde antes da colonização do Brasil, duzem as sementes necessárias para a contí-
por diferentes tribos indígenas (DEAN, 1995). No nua reposição de indivíduos e, com a sua morte,
entanto, desmatamentos mais extensos só vie- o banco de sementes é afetado.
ram a ocorrer a partir de 1920 (VICTOR, 1975). A caça, a captura de animais silvestres
Áreas de Floresta Atlântica e Cerrado foram para servirem como animais de estimação
desmatadas para lenha e carvão, para dar lugar e o extrativismo vegetal devem ser coibidos
às atividades agropecuárias e à expansão urba- ostensivamente no interior de UC de prote-
na. Os remanescentes foram degradados pela ção integral. Uma questão bastante polêmica
remoção de espécimes valiosos para a comer- relacionada a esses impactos é a presença de
cialização madeireira. No entanto, mesmo com populações indígenas e tradicionais no interior
a sensível redução da cobertura natural paulis- ou no entorno das UC. A combinação de cres-
ta, desmatamentos e práticas exploratórias não cimento demográfico dessas populações, com
sustentáveis ainda são comuns, revelados pelos uma maior integração ao “mundo exterior” e
processos relacionados à crimes, mitigação ou com o atual nível de fragmentação e degrada-
compensação por danos ambientais que ainda ção dos remanescentes de vegetação nativa, faz
são registrados pela Secretaria de Infraestrutu- com que as atividades de subsistência pratica-
ra e Meio Ambiente. das tenham um impacto elevado sobre a fauna
Em relação à manutenção dos processos (OLMOS et al., 2001). É preciso buscar o diálo-
ecossistêmicos, a composição de espécies pare- go entre biólogos da conservação e lideranças
ce ser mais relevante do que o número de espé- desses grupos para se encontrar alternativas
cies (riqueza). Os ecólogos reconhecem que há que possibilitem a manutenção de populações
espécies que desempenham papéis mais rele- viáveis de vertebrados de grande porte em
vantes do que outras dentro dos ecossistemas, amostras pouco alteradas dos ecossistemas
as chamadas espécies-chave e engenheiras. originais.
Por outro lado, principalmente em áreas com Também vale a pena lembrar que a caça
grande riqueza biológica, muitas espécies ocu- diminui a disponibilidade de presas para os
pam nichos com características semelhantes, a carnívoros podendo ocasionar o ataque aos
chamada redundância funcional. A diversidade rebanhos em áreas de agropecuária próximas
é um fator de estabilidade e a redundância é a remanescentes de vegetação nativa (VERDA-
um dos fatores de resistência e resiliência dos DE; CAMPOS, 2004; PALMEIRA et al., 2008).
ecossistemas. No ambiente marinho, a exploração des-
A caça, além de afetar as populações das controlada de várias espécies ocorre através da
espécies alvo, interfere na dinâmica dos ecossis- sobrepesca, do uso de apetrechos de pesca de
temas, pois estas espécies são geralmente herbí- baixa seletividade, da pesca ilegal com explo-
voros e frugívoros de grande porte e predadores sivos ou aparelhos de ar comprimido, do cor-
de topo de cadeia (GALETTI et al., 2009). te de nadadeiras de cações e tubarões, da caça
A exploração da fauna e o extrativismo submarina, da captura irregular para aqua-
vegetal de espécies ornamentais, como riofilia e da captura acidental de tartarugas,
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 527

aves e golfinhos. As colônias reprodutivas de menos controladas. As ações para atingir tais
aves marinhas estabelecidas nas ilhas costei- objetivos devem ser originadas de pesqui-
ras sofrem ainda hoje com a coleta de ovos. sas científicas e as UC de proteção integral

2.6.4 | Invasão biológica


devem ser priorizadas. Além dessas espé-
cies, ocorrem também espécies nativas que
se adaptam a ambientes criados pelo homem,
São consideradas espécies exóticas aque- livres de competidores e predadores natu-
las de ocorrência fora dos limites geográficos rais, onde podem gerar conflitos devido aos
historicamente reconhecidos (ZILLER, 2001). danos causados aos cultivos, edificações, etc,
Nem toda espécie exótica é prejudicial: ela só ou ao risco de transmissão de zoonoses. Essas
se torna uma “espécie-problema” quando for- também devem ser alvo de controle. Um bom
ma populações fora de sua característica típica exemplo na RBCV é a capivara Hydrochoerus
ou fora de seu tamanho desejável (MOREIRA; hydrochaeris em áreas urbanas e rurais
PIOVEZAN, 2005). Portanto, dentre as exóti- (FERRAZ; VERDADE, 2006).
cas, somente aquelas consideradas invasoras é Por fim, outra estratégia a ser considera-
que exigem manejo contínuo quando invadem da é a translocação de animais, que contempla
áreas naturais. Essas espécies invasoras, por reintroduções e revigoramentos populacionais
suas vantagens competitivas e favorecidas pela (MAGNUSSON, 2006; MARINI; MARINHO-
ausência de predadores e pela degradação dos -FILHO, 2006). Devido aos potenciais riscos
ambientes naturais, ameaçam a permanência para a fauna nativa e aos altos custos finan-
das espécies nativas, notadamente em ambien- ceiros envolvidos, as translocações devem
tes frágeis e degradados. ser entendidas como uma última opção e ser
Um dos principais fatores que podem embasadas por projetos de pesquisa que sigam
impedir o processo de sucessão da Floresta protocolos como os popostos pela IUCN (1998,
Atlântica e do Cerrado refere-se à ocupação da 2000). Devem ser priorizadas espécies que
área por plantas exóticas invasoras (ex. gra- desempenham funções de destaque para a
míneas africanas), as quais devem ser alvo de manutenção dos ecossistemas (GALETTI et al.,
manejo contínuo até a sua erradicação. 2017). Solturas sem planejamento e acompa-
Espécies exóticas invasoras competem, nhamento de animais apreendidos não podem
predam ou transmitem patógenos às espécies continuar ocorrendo.
nativas, podendo causar declínios populacio-

3 | BIODIVERSIDADE E SUA
nais e extinções, e alterar a dinâmica dos ecos-

CONTRIBUIÇÃO COM OUTROS


sistemas (MAGNUSSON, 2006). Além disso,

SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
causam prejuízos econômicos e podem repre-
sentar riscos à saúde humana.

E BEM-ESTAR HUMANO
Cães e gatos domésticos também podem
ter alto impacto sobre a fauna nativa, princi-
palmente em fragmentos florestais e em rema-
nescentes próximos a áreas urbanas (GALET- Todo habitat natural possui algum valor
TI; SAZIMA, 2006; CAMPOS et al., 2007). Sua ambiental e social. Quando estes valores forem
presença em unidades de conservação de considerados de caráter excepcional ou de
proteção integral não deve ser tolerada. Cam- importância crítica, o local pode ser considera-
panhas dirigidas aos moradores do entorno do como de alto valor para a conservação. Essa
das UC, que abordem a guarda responsável de área então deve ser manejada de maneira apro-
animais domésticos, podem apresentar bons priada, para que os valores identificados sejam
resultados, e os gestores devem envidar esfor- mantidos ou aumentados.
ços para que os animais sem responsáveis No caso da RBCV, suas áreas naturais
sejam adotados e retirados das unidades de podem ser consideradas de alto valor para
proteção integral. a conservação por se enquadrarem entre os
As populações de espécies exóticas vários atributos que caracterizam os seis tipos
invasoras devem ser erradicadas ou ao básicos sintetizados por Jennings et al. (2003):
528 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1. Áreas contendo concentração signi- capítulo Controle de Processos Geohidrológi-


ficativa de valores relativos à biodi- cos de Erosão, Escorregamento, Assoreamento
versidade no nível global, regional e Inundações.
ou nacional (ex. áreas protegidas, A manutenção de áreas com cobertura
áreas de uso temporal crítico para natural pode ser fundamental para a conser-
a manutenção de populações, espé- vação da água em bacias hidrográficas, por-
cies ameaçadas de extinção, espécies tanto com alto valor de conservação. Jennins
endêmicas); et al., (2005) relatam quatro situações em que
2. Áreas extensas no nível de paisagem, a vegetação é mais valorizada: a) quando pro-
de significância global, regional ou tege contra inundações ou secas potencial-
nacional, onde as populações viáveis mente catastróficas, b) evita grandes perdas
de todas ou da maioria das espécies de água para consumo humano, agricultura,
naturais ocorram em padrões natu- hidrelétricas e outros usos que não podem ser
rais de distribuição e abundância; substituídos; c) evita a destruição de estoques
pesqueiros em que os sítios de reprodução são
3. Áreas que contenham ecossistemas
protegidos por mangues ou florestas ribeiri-
raros, ameaçados ou em perigo de
nhas; d) quando a mudança na hidrologia de
extinção;
um curso d´água possa degradadar de forma
4. Áreas que forneçam serviços ecossis- irreversível uma área protegida (ver capítulo
têmicos básicos em situações críticas Serviços de Provisão e de Regulação da Água e
(ex. de importância crítica para a cap- Bem-Estar Humano).
tação de água ou controle de erosão); Com relação à poluição do ar, o uso intenso
5. Áreas fundamentais para suprir as de combustíveis fósseis e seus efeitos nocivos
necessidades básicas de comunidades são um dos principais problemas da sociedade
locais (ex. subsistência, saúde) contemporânea. Além das emissões decorren-
6. Áreas críticas para a identidade cul- tes da poluição industrial e urbana, os desma-
tural tradicional de comunidades tamentos associados às queimadas provocam
locais (áreas de importância cultural, o aumento da concentração de gases poluentes
ecológica, econômica ou religiosa, e resultam em menor assimilação do carbo-
identificadas em conjunto com essas no pela redução da massa fotossinteticamen-
comunidades). te viva (SANQUETTA et al., 2002). Este tema é
desenvolvido no capítulo Serviço de Controle da

3.1 | Conservação do ar,


Qualidade do Ar.

da água e do solo
A redução das emissões de CO2, CH4 e o
N2O para a atmosfera é uma das principais
estratégias para a redução do chamado "efeito
Um serviço ecossistêmico de suporte estufa"; outra estratégia é diminuir a concen-
oferecido pela vegetação é a estabilização tração desses gases e incorporá-los na biomas-
mecânica do solo, incluindo o controle da sa vegetal da biosfera, processo denominado
erosão, deslizamento de terras, avalanches e de "sequestro de carbono" (PAULA; CAVALLET,
sedimentação a jusante. A presença de vege- 2008) (ver capítulo Serviço Ecossistêmico de
ração natural é mais valorizada em áreas Fixação de Carbono em Superfície e Redução de
onde as consequências em termos de perda Gases de Efeito Estufa na Atmosfera).
da terra produtiva, danos aos ecossistemas, Uma das formas recomendadas para
à propriedade ou perda de vidas humanas contribuir na redução das mudanças climá-
são potencialmente catastróficas. Por ocu- ticas é viabilizar a conservação de florestas e
par áreas especialmente frágeis do ponto de incentivar reflorestamentos para sequestro de
vista ambiental, como as encostas, margens carbono, promovendo assim o incremento da
de rios e várzeas, a população de baixa ren- biomassa florestal por meio do Mecanismo de
da tem sido a maior vítima dessas catástro- Desenvolvimento Limpo (MDL). Projetos assim,
fes (SANTOS, 2003). Este tema é detalhado no além de reduzir CO2 da atmosfera, contribuem
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 529

consideravelmente para a conservação da bio- et al., 2005). Outros aspectos sobre o tema são
diversidade e para o desenvolvimento sustentá- apresentados no capítulo O Produtor e o Serviço
vel, provendo diversos bens e serviços úteis ao Ecossistêmico de Provisão de Alimento.
homem (COTTA; TONELLO, 2006) (ver capítulo A crescente demanda por produtos natu-
Serviço Ecossistêmico de Regulação Climática). rais de origem mineral, animal ou vegetal,

3.2 | Biodiversidade e tecnologia


resultou em alterações nos habitats e impactos
sobre os recursos naturais. No entanto, as pes-
soas que vivem na área da RBCV e as atividades
A biodiversidade pode ser considerada econômicas desenvolvidas no local dependem
a maior riqueza dos ecossistemas tropicais diretamente dos produtos de ecossistemas
(KAGEYAMA; GANDARA; OLIVEIRA, 2003). As sadios (GALINDO-LEAL; CÂMARA, 2005).
espécies de plantas, animais e microrganismos Assim, o grande paradigma atual é a con-
fornecem-nos material básico para alimenta- ciliação do atendimento às necessidades huma-
ção, vestuário e materiais de construção, além nas associada ao uso sustentável dos recursos
de matérias-primas para a indústria e para a naturais, sob o risco do seu desaparecimen-
medicina (PITÉ; AVELAR, 1996). to, antes mesmo que possam ser investigados
A ação humana também contribui para (SKORUPA; VIEIRA, 2005).
moldar a diversidade biológica, selecionando A fim de promover o uso racional dos
características em plantas e animais e produ- recursos foi instituída a Política Nacional de
zindo variedades domésticas (FRAGANO; CLAY, Biodiversidade (Decreto 4339, de 22 de agosto
2005). Assim, também a agrobiodiversidade é de 2002), a qual tem por objetivo geral a pro-
tratada como um patrimônio biológico e cultu- moção, de forma integrada, da conservação
ral. As informações sobre plantas contidas nas da biodiversidade e da utilização sustentável
culturas populares e indígenas são o resultado de seus componentes, com a repartição justa e
de um processo de experimentação natural e equitativa dos benefícios derivados da utiliza-
sitemática ao longo dos anos, vindos dos seus ção dos recursos genéticos, de componentes do
antepassados, trazendo, portanto, informa- patrimônio genético e dos conhecimentos tra-
ções milenares sobre o emprego dessas plantas dicionais associados a esses recursos (BRASIL,
como alimento, medicamento, artesanato ou 2002). Já o seu valor de uso é determinado pelos
cultos religiosos. Alguns exemplos podem ser valores culturais e inclui valor de uso direto e
observados no capítulo Serviços Culturais Fol- indireto, de opção de uso futuro e, ainda valor
clorísticos, onde é abordada a cultura caipira e intrínseco, incluindo os valores ecológico, gené-
sua interface com os ecossistemas. O emprego tico, social, econômico, científico, educacional,
das plantas como medicamento pode ser apro- cultural, recreativo e estético. O capítulo Valo-
fundado no capítulo Serviços de Provisão de ração Econômica de Ecossistemas e seus Serviços
Produtos Bioquímicos, Medicamentos Naturais apresenta mais informações sobre a temática.

3.3 | Diversidade biológica e serviços


e Produtos Farmacêuticos.

culturais
A perda da diversidade agrícola, nos mais
diferentes níveis, está associada a mudanças
sociais, econômicas e culturais ocorridas na
agricultura, especialmente a partir da revolu- As sociedades humanas desenvolveram
ção verde (SANTILLI, 2010). Plantios comer- profundo conhecimento de como usar e mane-
ciais de variedades com estreita base genéti- jar os ambientes em que vivem, permitindo a
ca podem ser desastrosos, pois os cultivares coexistência de homens, plantas e animais
modernos são mais vulneráveis a epidemias (JACOBSEN, 2005).
causadas por patógenos e pragas. Nesse con- Sistemas naturais são essenciais para o
texto, conservar e utilizar as variedades sil- bem-estar humano, principalmente quando
vestres de uma determinada cultura para fins tem o seu valor associado à proteção de fontes
de melhoramento genético aumenta as chan- básicas de subsistência e à segurança de comu-
ces de manter a competitividade da produção nidades locais que dependem destes ecossiste-
desta cultura ao longo do tempo (RANGEL mas. O valor da área também é elevado quando
530 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

se considera não somente as comunidades que normativos e de gestão. Para Fernandes-Pinto


ali residem, mas também para qualquer comu- (2010), as relações entre populações tradicio-
nidade que obtém quantidades substanciais e nais e UC permanecem permeadas de conflitos,
insubstituíveis de renda, alimento ou outro sendo necessário o acúmulo de experiência e
benefício (JENNINGS et al., 2003). Com o pas- a geração de referenciais. Assim, as diferentes
sar do tempo, o valor da área pode aumentar ou categorias de unidades de conservação in situ,
diminuir, de acordo com as necessidades das com seus diversos objetivos de gestão, são tam-
comunidades e do uso da terra. bém espaços privilegiados para se investigar
A diversidade biocultural também tem aspectos da relação entre natureza e socieda-
sido devastada pelas alterações descontrola- de. Entretanto, apesar das muitas interfaces
das no domínio da Floresta Atlântica. Um vasto possíveis, ainda são poucos os estudos de cará-
acervo de conhecimento tradicional sobre os ter etnocientífico nestas unidades, bem como a
ecossistemas ecológicos, o uso dos recursos e incorporação do conhecimento tradicional aos
sobre história natural está desaparecendo com instrumentos de gestão destas categorias.

CONCLUSÕES
o declínio das populações e das práticas das
comunidades tradicionais da região (GALIN-
DO-LEAL; CÂMARA, 2005).
De acordo com Jennings et al., (2003), A RBCV abriga diferentes formações vege-
emprego, renda e produtos são valores que tais com alta diversidade biológica, no entanto
devem ser conservados, se possível, sem pre- muitas espécies da flora e da fauna estão amea-
judicar outros valores e benefícios. Entretan- çadas de extinção em função da perda e degra-
to, para os mesmos autores o manejo de áreas dação de seus habitats, seguida da sobrexplora-
de alto valor para a conservação também não ção e da introdução intencional ou acidental de
implica na extração excessiva e insustentável espécies exóticas invasoras.
de recursos, mesmo quando as comunidades A perda irreversível de espécies pode
atuais dependem economicamente da floresta. levar a impactos adversos em atividades
O emprego excessivo de práticas tradicionais socioeconômicas, em função da alteração de
também pode degradar as áreas naturais ou serviços ecossistêmicos prestados pela bio-
outros valores ali presentes. diversidade. A fim de contornar esta situação,
Nesse contexto, é importante ressaltar é necessário ampliar e integrar as áreas de
a presença de grupos de populações tradicio- conservação in situ e ex situ e promover o uso
nais em UC, tanto de uso sustentável como de racional dos sistemas naturais essenciais para
proteção integral, trazendo grandes desafios o bem-estar humano.
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 531

REFERÊNCIAS

ABREU-SANTOS, B. et al. (2014). Fishes from the BERTOLUCI, J.; HEYER, W. R. (1995). Boracéia
middle Cubatão River drainage São Paulo State, Update. Froglog 14: 2-3.
Brazil. Check List 10(5): 1031-1035.
CONAMA – CONSELHO NACIONAL DE MEIO
AB'SABER, A.N. (2003). Os domínios de nature- AMBIENTE. (1996) Resolução 7, de 23 de julho de
za no Brasil: potencialidades paisagísticas. São 1996. Aprova parâmetro básico para análise dos
Paulo, Ateliê Editorial. 160p. estágios de sucessão de vegetação de restinga
para o Estado de São Paulo.
ADIS, J. (1988). On the abundance and density
of terrestrial arthropods in Central Amazonian BRASIL (2002). Decreto nº 4.339, de 22 de
dryland forests. Journal of Tropical Ecology agosto de 2002. Institui princípios e diretrizes
4:19-24. para a implementação da Política Nacional de
Biodiversidade.
ALMEIDA-NETO, M. et al. (2008). Vertebrate dis-
persal syndromes along the Atlantic Forest: BRESSAN, P. M.; KIERULFF, M. C. M.; SUGIEDA,
broad-scale patterns and macroecological cor- A. M. (Orgs). (2009). Fauna ameaçada de extin-
relates. Global Ecology and Biogeography 17: ção no estado de São Paulo: vertebrados. São
503-513. Paulo, Fundação Parque Zoológico de São Paulo;
Secretaria Estadual do Meio Ambiente. 645 p.
AMARAL, A. C. Z. et al. (2010). Araçá: biodiversi-
ty, impacts and threats. Biota Neotropica v.10. BUZATO, S., SAZIMA, M., SAZIMA, I. (2000). Hum-
Disponível em <http://www.biotaneotropica.org. mingbird-pollinated floras at three Atlantic forest
br/v10n1/en/abstract?inventory+bn01210012010>. sites. Biotropica 32: 824-841.
Acesso em 15 ago. 2019.
CAMPAGNOLI, M. L.; ANTUNES A. Z. (2017). Den-
ANDRADE, D.C.; ROMEIRO, A. R. Serviços ecos- sidade de palmeiras exóticas invasoras influen-
sistêmicos e sua importância para o sistema ciando a avifauna de sub-bosque na Mata Atlân-
econômico e o bem-estar humano. Texto para tica do Sudeste do Brasil. Neotropical Biology
Discussão. IE/UNICAMP n. 155, fev. 2009. ISSN and Conservation 12 (1):37-47.
0103-9466. Disponível em: <http://www.eco.uni-
camp.br/docprod/downarq.php?id=1785&tp=a>. CAMPAGNOLI, M. L. et al. (2016). O papel das aves
Acesso em 15 ago. 2019. na dispersão e germinação de sementes do pau-
-incenso (Pittosporum undulatum Vent.) em um
ARAUJO, O.G.S. et al. (2009). The amphibians of remanescente de Mata Atlântica. Rev. Inst. Flor.
São Paulo State. Biota Neotropica, v. 9. Disponí- 28 (1): 59-67.
vel em: <http://www.biotaneotropica.org.br/v9n4/
en/abstract?inventory+bn03109042009>. Acesso CAMPOS, C. B. et al. (2007). Diet of free-ranging
em 15 ago. 2019. cats and dogs in a suburban and rural environ-
ment, south-eastern Brazil. Journal of Zoology
AURICCHIO, A. L. R. ; AURICCHIO, P. (2006). Guia 273: 14-20.
para mamíferos da Grande São Paulo. Arujá,
Terra Brasilis & Instituto Pau Brasil. 163p. CAMPOS, F. R.; CAMPOS, F. P.; FARIA, P. J. (2007).
Trinta-réis (Sternidae) do Parque Estadual Mari-
BARROS, F. de, et al. (2002). A flora fanerogâmica nho da Laje de Santos, São Paulo, e notas sobre
do PEFI: composição, afinidades e conservação. suas aves. Revista Brasileira de Ornitologia
In Parque Estadual das Fontes do Ipiranga: 15:386-394.
unidade de conservação que resiste à urba-
nização de São Paulo (D.C. Bicudo; M.C. Forti; CANHOS, V.P. et al. (2008). Análise da vulnera-
M.C., C.E.M. Bicudo, orgs.). p. 93-110. bilidade da biodiversidade brasileira frente às
mudanças climáticas globais. Parcerias estraté-
BAWA, K. S. (1990). Plant pollination interactions gicas 27:13-147.
in tropical rain forests. Annual Review of Ecolo-
gy and Systematics 21: 399-422. CARVALHO, C. T. (1979/1980). Mamíferos dos par-
ques e reservas de São Paulo. Silvicultura em
BAWA, K. S. et al. (1985). Reproductive biology São Paulo 13/14: 49-72.
of tropical lowland rain forest trees. II. Pollina-
tion systems. American Journal of Botany 72: CASTRO, E. R.; GALETTI, M. (2004). Frugivoria
346-356. e dispersão de sementes pelo teiú Tupinambis
merianae (Reptilia, Teiidae). Papéis Avulsos Zoo-
BENCKE, G. A. et al. (Orgs). (2006). Áreas impor- logia 44:91-97.
tantes para a conservação das aves no Brasil.
Parte I – Estados do domínio da Mata Atlântica. CATÁLOGO TAXONÔMICO DA FAUNA DO BRA-
São Paulo, SAVE Brasil. 494 p. SIL. (2019). Disponível em: <http://fauna.jbrj.gov.
532 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

br/fauna/listaBrasil/PrincipalUC/PrincipalUC. Atlantic Forest: Parque Estadual da Serra


do?lingua=pt.>. Acesso em 04 Abr. 2019. do Mar, São Paulo, Brazil. Biota Neotropica.
17(2): e20160282. <http://dx.doi.org/10.1590/
CATHARINO, E. L. M.; ARAGAKI, S. (2008). A vege-
1676-0611-BN-2016-0282>.
tação do município de São Paulo: de Piratininga
à metrópole paulistana. p. 54-89. In Além do DEAN, W. (1995). A ferro e fogo: a história e a
Concreto: contribuições para a proteção da devastação da Mata Atlântica brasileira. Com-
biodiversidade paulistana. (L.R. Malagoli; F. B. panhia das Letras, São Paulo.
Bajesteiro; M. Whately, orgs.). São Paulo, Instituto
DEVELEY, P. F.; MARTENSEN, A. C. (2006). As aves
Socioambiental.
da Reserva Florestal do Morro Grande (Cotia,
CATHARINO, E.L.M. (2006). As florestas mon- SP). Biota Neotropica 6. Disponível em: <http://
tanas da Reserva Florestal do Morro Grande, www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi
Cotia (São Paulo, Brasil). Tese de doutorado, d=S1676-06032006000200008>. Acesso em 15
Universidade Estadual de Campinas, Campinas. ago. 2019.
CAVALHEIRO, A.L.; TOREZAN, J.M.D.; FADELLI, L. DE VIVO, M. et al. (2011). Checklist dos mamíferos
(2002). Recuperação de áreas degradadas: pro- do Estado de São Paulo, Brasil. Biota Neotropica
curando por diversidade e funcionamento dos 11(1a). Disponível em:<http://www.biotaneotropi-
ecossistemas. In A bacia do rio Tibagi. (M.E. ca.org.br/v11n1a/pt/abstract?inventory+bn007110
Medri; E. Bianchini; O.A. Shibatta; J.A. Pimenta, 1a2011>. Acesso em 21 ago. 2019.
Eds.). Londrina.
DIRZO, R.; MIRANDA, A. (1990). Contempora-
CAVARZERE, V.; MORAES, G. P.; SILVEIRA, ry neotropical defaunation and forest structure,
L. F. (2010). Boracéia Biological Station: an function, and diversity – a sequel to John
ornithological review. Papéis Avulsos de Zoolo- Terborgh. Conservation Biology 4: 444-447.
gia 50: 189-201.
DIXO, M.; VERDADE, V. K. (2006). Leaf litter herpe-
CAVARZERE, V. et al. (2014). Continued bird tofauna of the Reserva Florestal de Morro Grande,
surveys in southeastern coastal Brazilian Cotia (SP). Biota Neotropica 6. Disponível em:
Atlantic forests and the importance of conserving <http://www.biotaneotropica.org.br/v6n2/pt/abs
elevational gradients. Revista Brasileira de tract?article+bn00806022006>. Acesso 15 ago.
Ornitologia 22(4): 381-407. 2019.
CHEDIACK, S. E.; BAQUEIRO, M. F. (2005). Extin- DONATELLI, R. J.; FERREIRA; C. D.; COSTA,
ção e conservação do palmito. p. 406-412. In T. V. V. (2011) Avian communities in woodlots
Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e in Parque das Neblinas, Bertioga, São Paulo,
perspectivas. (Galindo-Leal, C., Câmara, I. G.) Brazil. Revista Brasileira de Biociências 9(2):
São Paulo, Fundação SOS Mata Atlântica. Belo 87-199.
Horizonte, Conservação Internacional. 472p.
DURIGAN, G. (2003). Métodos para análise de
CONDIT, R. et al. (1996). Species-area and vegetação arbórea. p. 455-479. In Métodos de
species-individual relationships for tropical estudos em biologia da conservação e mane-
trees: a comparison of three 50-ha plots. jo da vida silvestre. (Cullen Jr.,L.; Rudran, R. ;
Journal of Ecology 84: 549-562. Valladares-Pádua, C., orgs.). Curitiba, UFPR &
Fundação Boticário de Proteção à Natureza. 665p.
CORREA, S. B. et al. (2007). Evolutionary
perspectives on seed consumption and EITEN, G. (1970). A vegetação do estado de São
dispersal by fishes. BioScience 57: 748-756. Paulo. Boletim do Instituto de Botânica 7: 1-77.
COSTA, H. C.; BÉRNILS, R. S. (2018). Répteis do ENGEL, V.L.; PARROTA, J.A. (2003). Definindo a
Brasil e suas Unidades Federativas: Lista de espé- restauração ecológica: tendências e perspectivas
cies. Herpetologia Brasileira 8(10): 11-57. mundiais. p.01-26. In Restauração ecológica de
ecossistemas naturais (Kageyama, P.Y.; Olivei-
COTTA, M.K.; TONELLO, K.C. (2006). Os proje-
ra, R.E.; Moraes, L.F.D.; Engel, V.L.; Gandara; F.B.).
tos florestais no contexto das mudanças climáti-
Botucatu, FEPAF. 340p.
cas. In Encontro de energia no meio rural, 6.,
2006, Campinas. Anais eletrônicos... Disponível FEINSINGER, P. (1983). Coevolution and
em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo. pollination. p. 282-310. In Coevolution (D. Futuy-
php?script=sci_arttext&pid=MSC000000002200 ma, M. Slatkin, eds). Sunderland, Sinauer Asso-
6000200020&lng=pt&nrm=abn>. Acesso 16 ago. ciates Inc Publishers.
2019.
FELFILI, J.M.; REZENDE, R.P. (2003). Conceitos e
DA SILVA, F. R. et al. (2017). Expanding the métodos em fitossociologia. Brasília: Universidade
knowledge about the occurrence of anurans de Brasília, Departamento de Engenharia Florestal
in the highest amphibian diversity area of (Comunicações Técnicas Florestais, v.5, n.1.).
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 533

FERNANDES-PINTO, E. (2010). Unidades de con- da conservação e manejo da vida silvestre.


servação e populações tradicionais: possibilida- (Cullen Jr., L.; Rudran, R.; Valladares-Pádua, C.,
des de contribuição da etnobotânica. p.166-171. In orgs.). Curitiba, UFPR & Fundação Boticário de
Diversidade vegetal brasileira: conhecimen- Proteção à Natureza. 665p.
to, conservação e uso (Absy, M.L.; Matos, F.D.;
GALETTI, M.; SAZIMA, I. (2006). Impacto de cães
Amaral, I.L., orgs.) Manaus, Sociedade Botânica
ferais em um fragmento urbano de floresta Atlân-
do Brasil. 600p.
tica no sudeste do Brasil. Natureza & Conserva-
FERRAZ, K. M. P. M. B.; VERDADE, L. M. (2006). ção 4: 58-63.
Capybaras in an anthropogenic habitat in
GALETTI, M. et al. (2017). Reversing defaunation
southeastern Brazil. Brazilian Journal of
by trophic rewilding in empty forests.
Biology 66: 371-378.
Biotropica 49(1); 5-8.
FIGUEIREDO, L.F.A. (Org.) (2019) Lista de aves
GALINDO-LEAL, C.; CÂMARA, I.G. (2005). Status
do estado de São Paulo. Versão: 18/05/2019.
do hotspot Mata Atlântica: uma síntese. p.3-30.
Disponível em: <www.ceo.org.br>. Acesso em 21
In Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e
ago. 2019 .
perspectivas. (Galindo-Leal, C., Câmara, I. G.)
FONSECA, F. Y., ANTUNES, A. Z. (2007). Frugivo- São Paulo, Fundação SOS Mata Atlântica. Belo
ria e predação de sementes por aves no Parque Horizonte, Conservação Internacional. 472p.
Estadual Alberto Löfgren, São Paulo, SP. Revista
GANDOLFI, S. (2003). Regimes de luz em flores-
do Instituto Florestal 19: 81-91.
tas estacionais e suas possíveis consequências.
FORZZA, R.C.; LEITMAN, P.M. (2010). Diversidade In Claudino-Sales, V. (Org.). Ecossistemas bra-
brasileira: quanto e onde? p.343-346. In Diversi- sileiros: manejo e conservação. (pp.305-311).
dade vegetal brasileira: conhecimento, conser- Fortaleza: Expressão Gráfica.
vação e uso (Absy, M.L.; Matos, F.D.; Amaral, I.L.,
GARBINO, G. S. T. (2016). Research on bats (Chi-
orgs.) Manaus, Sociedade Botânica do Brasil. 600p.
roptera) from the state of São Paulo, south-
FORZZA, R.C. (Org.). (2010). Catálogo de plan- eastern Brazil: annotated species list and bibliogra-
tas e fungos do Brasil. Rio de Janeiro: Andrea phic review. Arquivos de Zoologia 47(3): 43‑128.
Jakobsson Estúdio, Instituto de Pesquisas & Jar- GARCIA R.J.F.; PIRANI J.R. (2001). Estudo floristi-
dim Botânico do Rio de Janeiro, 2v. co dos componentes arboreo e arbustivo da mata
FRAGANO, F.; CLAY, R. (2005). Status da bio- do Parque Santo Dias, Sao Paulo, SP, Brasil. (Flo-
diversidade da mata atlântica de interior do ristic study of the trees and shrubs of the forest of
Paraguai. p. 288-307. In Mata Atlântica: biodi- the Parque Santo Dias, Sao Paulo, SP, Brazil.) Bol.
versidade, ameaças e perspectivas. (Galindo- Bot. Univ. Sao Paulo 19. 15-42.
-Leal, C.; Câmara, I. G.) São Paulo, Fundação GARCIA, R. J. F., PIRANI, J. R. (2005). Análise
SOS Mata Atlântica. Belo Horizonte, Conservação florística, ecológica e fitogeográfica do Núcleo
Internacional. 472p. Curucutu, Parque Estadual da Serra do Mar (São
FRANCO, G.A.D.C. et al. (2007). Importância dos Paulo, SP), com ênfase nos campos junto à crista
remanescentes florestais de Embu - SP para da Serra do Mar. Hoehnea 32 (1): 1-48.
a conservação da flora regional. Biota Neo- GONÇALVES, J.L.M.; NOGUEIRA JR.; L.R.,
tropica 7 (3). Disponível em: <http://www.bio- DUCATTI, F. (2003). Recuperação de solos degra-
taneotropica.org.br/v7n3/pt/abstract?article+ dados. p.111-163. In Restauração ecológica de
bn0250703200>7. ISSN 1676-0603. Acesso em 15 ecossistemas naturais (Kageyama, P.Y.; Olivei-
ago. 2019. ra, R.E.; Moraes, L.F.D.; Engel, V.L.; Gandara, F.B.).
GALETTI, M. et al. (2009). Priority areas for con- Botucatu, FEPAF. 340p.
servation of Atlantic forest large mammals. Bio- HEYER, W. R. et al. (1990). Frogs of Boracéia.
logical Conservation 142:1229-1241. Arquivos de Zoologia (São Paulo) 31: 231-410.
GALETTI, M. et al. (2010). The role of seed mass on HOWE, H.F.; SMALLWOOD, J. (1982). Ecology of
the caching decision by agoutis, Dasyprocta lepo- seed dispersal. Annual Review of Ecology and
rina (Rodentia: Agoutidae). Zoologia 27: 472-476. Systematics 13: 201-228.
GALETTI, M.; ALEIXO, A. (1998). Effects of palm IUCN – INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVA-
heart harvesting on avian frugivores in the Atlan- TION OF NATURE. (1998). IUCN guidelines for
tic rain forest of Brazil. Journal of Applied Eco- re-introductions. Gland, IUCN. 10p.
logy, 35: 286-293.
IUCN – INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVA-
GALETTI, M.; PIZO, M.A.; MORELLATO, P. TION OF NATURE. (2000). IUCN guidelines for
(2003). Fenologia, frugivoria e dispersão de the placement of confiscated animals. Gland,
sementes. In Métodos de estudos em biologia IUCN. 23p.
534 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

IUCN – INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVA- da Serra de Paranapiacaba: a antiga Estação


TION OF NATURE. (2019). IUCN red list of threate- Biológica do Alto da Serra. São Paulo, Instituto
ned species. Cambridge, IUCN Species Survival de Botânica. 720p.
Commission. Disponível em: <http://www.redlist.
LUIZ JR., O. J. et al. (2008). The reef fish assem-
org>. Acesso em 15 ago. 2019.
blage of the Laje de Santos Marine State Park,
IVANAUSKAS, N. M.; ASSIS, M.C. (2009). Forma- Southwestern Atlantic: annotated checklist with
ções florestais brasileiras. p. 74-108. In Ecologia comments on abundance, distribution, trophic
de Florestas Tropicais do Brasil (Martins, S.V., structure, symbiotic associations, and conserva-
org.). 1 ed. Viçosa, UFV. tion. Zootaxa 1807: 1–25.
IVANAUSKAS, N. M.; RODRIGUES, R.R.; SOU- MACHADO, A. B. M.; DRUMMOND, G. M.; PAGLIA,
ZA, V.C. (2006). Restoration Methodology: the A. P. (Eds). 2008. Livro vermelho da fauna bra-
importance of the regional floristic diversi- sileira ameaçada de extinção. 1.ed. Brasília,
ty for the forest restoration successfulness. p. MMA & Fundação Biodiversitas. 2 v. 1420 p.
63-76. In High diversity forest restoration in MAGALHÃES, A. F. A.; VASCONCELLOS, M. K.
degraded areas (Rodrigues, R.R.; Martins, S.V.; (2007). Fauna Silvestre: quem são e onde
Gandolfi, S., orgs.). 1 ed. New York, Nova Science vivem os animais na metrópole paulistana.
Publishers Inc. 286p. São Paulo, Prefeitura do Município de São Paulo/
JACOBSEN, T.R. (2005). Florestas em perigo, Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambien-
povos em desaparecimento: diversidade biocul- te. 350p.
tural e sabedoria indígena. p.379-389. In Mata MAGNUSSON, W. E. (2006). Homogeneização
Atlântica: biodiversidade, ameaças e pers- biótica. p. 211-230. In Biologia da Conservação:
pectivas. (Galindo-Leal, C., Câmara, I. G.) São essências. (C.F.D. Rocha et al., orgs). São Carlos,
Paulo, Fundação SOS Mata Atlântica. Belo Hori- Rima. 582p.
zonte, Conservação Internacional. 472p.
MALAGOLI, L. R.; BAJESTEIRO, F. B.; WHATELY,
JENNINGS, S. et al. (2003). Guia para florestas M. (Orgs). (2008). Além do concreto: contribui-
de alto valor de conservação. Oxford, ProForest ções para a proteção da biodiversidade pau-
South Suite. 75p. listana. São Paulo, Instituto Socioambiental. 361
KAGEYAMA, P., GANDARA, F. (2004). Recupe- p.
ração de áreas ciliares. In Matas ciliares: con- MAMEDE, M.C.H. et al. (Orgs.). (2007). Livro Ver-
servação e recuperação (Rodrigues, R.R.; melho das Espécies Vegetais Ameaçadas do
Leitão-Filho, H.F., eds.). São Paulo, Editora da Estado de São Paulo. São Paulo, Instituto de
Universidade de São Paulo & FAPESP. Botânica & Imprensa Oficial. 165 p.
KAGEYAMA, P.Y.; GANDARA, F.B.; OLIVEIRA, R.E. MARCENIUK, A. P.; HILSDORF, A. W. S.; LAN-
(2003). Biodiversidade e restauração florestal. GEANI, F. (2011). The ichthyofauna from the hea-
p.27-48. In Restauração ecológica de ecossis- dwaters of the rio Tietê, São Paulo, Brazil. Biota
temas naturais (Kageyama, P.Y.; Oliveira, R.E.; Neotropica 11(3). Disponível em: <http://www.
Moraes, L.F.D.; Engel, V.L.; Gandara, F.B.). Botu- biotaneotropica.org.br/v11n3/en/abstract?inve
catu, FEPAF. 340p. ntory+bn00311032011.> Acesso em 22 de ago. de
KALKA, M. B.; SMITH, A. R.; KALKO, E. K. V. (2008). 2019.
Bats limit arthropods and herbivory in a tropical MARINI, M. A.; MARINHO FILHO, J. S. (2006).
forest. Science 320: 71. Translocação de aves e mamíferos: teoria e práti-
ca no Brasil. p. 505-536. In Biologia da Conser-
KIRIZAWA, M. et al. (2009). Fanerógamas: plantas
vação: essências. (C.F.D. Rocha et al., orgs). São
com flores. p. 291-350. In: Patrimônio da Reser-
Carlos, Rima. 582p.
va Biológica do Alto da Serra de Paranapiaca-
ba: a antiga Estação Biológica do Alto da Ser- MARQUES, O. A. V. et al. (2009). Reptiles in São
ra (Lopes, M.I.M.S.; Kirizawa, M.; Melo, M.M.R.F. Paulo municipality: diversity and ecology of the
de, org.). São Paulo, Instituto de Botânica, 720p. past and present fauna. Biota Neotropica 9.
Disponível em: <http://www.biotaneotropica.org.
LEWINSOHN, T. L.; PRADO, P.I. (2005). Quantas
br/v9n2/en/abstract?article+bn02309022009>.
espécies há no Brasil? Megadiversidade 1:36-42.
Acesso em 15 ago. 2019.
LIMA, B. (2010). A avifauna das florestas de restin-
MARTINELLI, G.; MARTINS, E. (2010). Panorama
ga de Itanhaém/ Mongaguá, Estado de São Paulo,
nacional sobre espécies ameaçadas de extinção da
Brasil. Atualidades Ornitológicas On line 153:
flora brasileira. p. 592-595. In Diversidade vegetal
50-54.
brasileira: conhecimento, conservação e uso
LOPES, M. I. M. S.; KIRIZAWA, M.; MELO, M. M. (Absy, M.L.; Matos, F.D.; Amaral, I.L., orgs.) Manaus,
R. F. (Orgs). (2009). Reserva Biológica do Alto Sociedade Botânica do Brasil. 600p.
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 535

MARTINS, S.E.; ROSSI, L.; SAMPAIO, P.S.P.; MORELLATO, L.P.C. (Ed.). (1992). História natu-
MAGENTA, M.A.G. (2008). Caracterização florís- ral da Serra do Japi: ecologia e preservação
tica de comunidades vegetais de restinga em Ber- de uma área florestal no sudeste do Brasil.
tioga, SP, Brasil. Acta bot. bras. 22(1): 249-274. Campinas, Editora da UNICAMP & FAPESP.
MENEZES, N. A. et al. (2007). Peixes de água MORELLATO, L.P.C. (2003). Características dos
doce da Mata Atlântica. São Paulo, Museu de padrões fenológicos em florestas estacionais
Zoologia & Universidade de São Paulo. 408p. neotropicais. pp. 299-304. In Ecossistemas
brasileiros: manejo e conservação (Claudino-
MENEZES, N.A. (2011). Checklist dos peixes mari-
-Sales, V. org.). Fortaleza, Expressão Gráfica.
nhos do Estado de São Paulo, Brasil. Biota Neo-
tropica 11(1a). Disponível em:<http://www.biota- MORINI, M. S. C.; MIRANDA, V. F. O. (Orgs). (2012).
neotropica.org.br/v11n1a/pt/abstract?inventory+b Serra do Itapeti: aspectos históricos, sociais
n0031101a2011.> . Acesso em 21 de ago. 2019 e naturalísticos. Bauru, Editora Canal 6. 400p.
METZGER, J. P.; RODRIGUES, R. R. (2008). MOUTINHO, P.; NEPSTAD, D.; DAVIDSON, E. A.
Mapas-Síntese. p. 133-139. In Diretrizes para a (2003). Influence of leaf-cutting ant nests on
conservação e restauração da biodiversidade secondary forest growth and soil properties in
no estado de São Paulo (R.R. Rodrigues, V.L.R. Amazonia. Ecology 84:1265-1276.
Bononi, orgs). São Paulo, Instituto de Botânica.
248 p. NEGRÃO, M. F. F.; VALLADARES-PÁDUA, C.
(2006). Records of mammals of larger size in the
METZGER, J.P. (2003a). Como restaurar a conec- Morro Grande Forest Reserve, São Paulo. Biota
tividade de paisagens fragmentadas? p.49-76. Neotropica. Disponível em: <http://www.scielo.
In Restauração ecológica de ecossistemas br/pdf/bn/v6n2/v6n2a05.pdf>. Acesso em 15 ago.
naturais (Kageyama, P.Y.; Oliveira, R.E.; Moraes, 2019.
L.F.D.; Engel, V.L.; Gandara, F.B.). Botucatu,
FEPAF. 340p. ODUM, E.P.; BARRET, G.W. (2007). Fundamentos
de Ecologia. São Paulo: Thomson Learning.
METZGER, J.P. (2003b). Estrutura da paisagem: o
uso adequado de métricas. p.423-453. In Méto- OLMOS, F. et al. (2001). Correção política e biodi-
dos de estudos em biologia da conservação e versidade: a crescente ameaça das “populações
manejo da vida silvestre. (Cullen Jr., L.; Rudran, tradicionais” à Mata Atlântica. p.279-312. In Orni-
R.; Valladares-Pádua, C., orgs.). Curitiba, UFPR tologia e conservação: da ciência às estraté-
& Fundação Boticário de Proteção à Natureza. gias (Albuquerque, J.L.B. et al.) Tubarão, Editora
665p. Unisul. 344p.
MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT (2005). OLMOS, F.; SILVA e SILVA, R. (2003). Guará:
Ecosystems and Human Well-being: Biodiver- ambiente, flora e fauna dos manguezais de
sity Synthesis. Washington, World Resources Santos-Cubatão. São Paulo, Empresa das Artes.
Institute. Disponível em: <https://www.millenniu- 218 p.
massessment.org/documents/document.354.
aspx.pdf>. Acesso 16 ago. 2019. OLMOS, F.; SILVA E SILVA, R. (2007). Adendas e
registros significativos para a avifauna dos man-
MOONEY, K. A. et al. (2010). Interactions among guezais de Santos e Cubatão, SP. Revista Brasilei-
predators and the cascading effects of verte- ra de Ornitologia 15:551-560.
brate insectivores on arthropod communities
and plants. PNAS Early Edition. Disponível OMOTE; T.; ANTUNES A. Z.; MATSUKUMA, C. K.
em: <http://www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas. (2014). Comparação de aspectos fenológicos e
1001934107>. Acesso em 16 de agosto de 2019. de frugivoria entre a palmeira nativa Euterpe edu-
lis Mart. e a palmeira exótica Phoenix roebelenii
MORAES, M. (2010). Proposta de um modelo de O’Brien (Arecaceae) no sudeste do Brasil. Rev.
gestão e conservação voltado para espécies Inst. Flor. 26 (2):169-181.
ameaçadas de extinção da flora brasileira. p.596-
600. In Diversidade vegetal brasileira: conhe- OYAKAWA, O. T.; MENEZES, N. A. (2011). Checklist
cimento, conservação e uso (Absy, M.L.; Matos, dos peixes de água doce do Estado de São Pau-
F.D.; Amaral, I.L., orgs.) Manaus, Sociedade Botâ- lo, Brasil. Biota Neotropica 11(1a). Disponível
nica do Brasil. 600p. em: <http://www.biotaneotropica.org.br/v11n1a/
pt/abstract?inventory+bn0021101a2011.>. Acesso
MOREIRA, J.R.; PIOVEZAN, U. (2005). Concei-
em 21 de ago. 2019.
tos de manejo de fauna, manejo de população
problema e o exemplo da capivara. In: NEGRÃO, PALMEIRA, F. B. L. et al. (2008). Cattle depredation
M.G.S.P. (Ed.). Documentos.. Embrapa Recur- by puma (Puma concolor) and jaguar (Panthera
sos Genéticos e Biotecnologia, Brasília, v.155, onca) in central-western Brazil. Biological
p.1-23. Conservation 141: 118-125.
536 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

PARDINI, R.; UMETSU, F. (2006). Non-volant RANGEL, P.H.N. et al. (2005). Coleta, caracteri-
small mammals from the Morro Grande Forest zação e udo de germoplasma silvestre de arroz
Reserve – distribution of species an diversity diplóide e tetraplóide (Oryza spp.) nativo do Brasil
in an Atlantic Forest area. Biota Neotropica no melhoramento genético. p.585-631. In Funda-
6. Disponível em: <http://www.biotaneo- mentos para a Coleta de Germoplasma Vege-
t r o p i c a .o r g . b r/ v 6 n 2/p t /a b s t r a c t ?a r t i c l e + tal (Walter, B.M.T.; Cavalcanti, T.B., orgs.). Brasília,
bn00606022006>. Acesso em 15 ago. 2019. EMBRAPA - Recursos Genéticos e Biotecnologia.
PAULA, E.V. ; CAVALLET, L.E. (2008). Estimativa RATTO, F. et al. (2018). Global importance of
de remoção de carbono da biomassa aérea em vertebrate pollinators for plant reproductive suc-
decorrência da adequação das áreas de pre- cess: a meta-analysis. Front. Ecol. Environ.
servação permanente na bacia do Rio Pequeno 16(2): 82–90.
(Antonina/PR). p. 262-274. In Dragagens portuá-
REIS, A.; ZAMBORIN, R.M.; NAKAZONO, E.M.
rias no Brasil: engenharia, tecnologia e meio
(1999). Recuperação de áreas florestais degra-
ambiente. (Boldrini, E.B.; Soares, C.R.; Paula, E.V.
dadas utilizando a sucessão e as interações
de, Orgs.). Antonina, ADEMADAN.
planta-animal. Cadernos da Reserva da Bios-
PAPAVERO, N.; TEIXEIRA, D. M. 2007. A fauna de fera da Mata Atlântica 14. 42p. MAB. UNESCO.
São Paulo nos séculos XVI a XVIII, nos textos RIBEIRO, A. C. et al. (2006). Fishes of the
de viajantes, cronistas, missionários e relatos Atlantic Rainforest of Boracéia: testimonies of
monçoeiros. São Paulo, Editora da Universidade the Quaternary fault reactivation within a
de São Paulo. 296p. Neoproterozoic tectonic province in
PEIXOTO, A.L. et al. (2006) Parte 2 - Diretrizes e Southeastern Brazil. Ichthyological Exploration
estratégias para a modernização de coleções of Freshwaters 17: 157-164.
botânicas brasileiras com base na formação de RIBEIRO, R. S.; EGITO, G. T. B. T.; HADDAD,
taxonomistas e na consolidação de sistemas C. F. B. (2005). Chave de identificação: anfí-
integrados de informação sobre biodiversida- bios anuros da vertente de Jundiaí da Serra
de. p.145-182. In Kury, A.B. et al. Diretrizes e do Japi, Estado de São Paulo. Biota Neotro-
estratégias para a modernização de cole- pica 5. Disponível em: <http://www.scielo.
ções biológicas brasileiras e a consolida- br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-
ção de sistemas integrados de informação 06032005000300017>. Acesso em 15 ago. 2019.
sobre biodiversidade. Brasília, Ministério da
Ciência e Tecnologia, Centro de Gestão e Estudos RIGHI, G. (1999). Oligochaeta. p. 13-21. In Biodi-
Estratégicos. Disponível em <https://www. versidade do Estado de São Paulo, Brasil: sín-
c g e e .o r g . b r/d o c u m e n t s/10 19 5/ 73 4 0 6 3/ tese do conhecimento ao final do século XX:
Livro+Biocomplexidade_4399.pdf/6ad794fb- 5. Invertebrados terrestres (Brandão, C.R.; Can-
f37e-4b16-985f-d79e986e89c2?version=1.2>. cello, E.M., eds.). São Paulo, FAPESP.
Acesso em 16 set. 2019. RIZZINI, C. T. (1997). Tratado de Fitogeografia
do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos
PIMENTA, B. V. S. et al. (2007). Amphibia, Anura,
e florísticos. Rio de Janeiro, Âmbito Cultural Edi-
Brachycephalidae, Brachycephalus hermogenesi:
ções Ltda.
filling gap and geographic distribution map. Che-
ck List 3: 277-279. ROCCA, M. A.; SAZIMA, M. (2010). Beyond hum-
mingbird-flowers: the other side of ornithophily in
PITÉ, M. T. ; AVELAR, T. (1996). Ecologia das the Neotropics. Oecologia Australis 14: 67-99.
Populações e das Comunidades: uma abor-
dagem evolutiva do estudo da biodiversidade. ROCHA, C. F. D. et al. (orgs) (2006). Biologia da
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. Conservação: essências. São Carlos, Rima.
582p.
PIZO, M. A. F.; OLIVEIRA, P. S. (2000). The use of
fruits and seeds by ants in the Atlantic forest of RODRIGUES, R. R.; MARTINS, S. V.; BARROS,
southeast Brazil. Biotropica 32: 851-861. L. C. (2004). Tropical Rain Forest regeneration
in an area degraded by mining in Mato Grosso
PRADO, J.; LABIAK, P.H. (2009). Pteridófitas. p. State, Brazil. Forest Ecology and Management
269-290. In: Patrimônio da Reserva Biológica 190: 323–333.
do Alto da Serra de Paranapiacaba: a antiga
Estação Biológica do Alto da Serra (Lopes, ROSSA-FERES, D. C. et al. (2011). Anfíbios do
M.I.M.S.; Kirizawa, M.; Melo, M.M.R.F. de, org.). Estado de São Paulo, Brasil: conhecimento atual e
São Paulo, Instituto de Botânica, 720p. perspectivas. Biota Neotropica 11(1a). Disponível
em: <http://www.biotaneotropica.org.br/v11n1a/
PRIMACK, R.B.; RODRIGUES, E. (2001). Biologia pt/abstract?inventory+bn0041101a2011>. Acesso
da Conservação. Londrina. 328 p. em 21 de ago. 2019.
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 537

SANQUETTA, et al. (2002). As florestas e o car- TERBORGH, J. et al. 2002. Maintenance of


bono. Curitiba, FUPEF/ Imprensa da UFPR, 2002. tree diversity in tropical forests. p.1-17. In Seed
264p. dispersal and frugivory: ecology, evolution
and conservation (Levey, D.J.; Silva, W.R.; Galet-
SANTILLI, J. (2010). Agrobiodiversidade e direitos
ti, M., eds). New York, CAB International.
dos agricultores. p.172-175. In Diversidade vege-
tal brasileira: conhecimento, conservação e TERBORGH, J.; VAN SCHAIK, C. V. (2002). Por
uso (Absy, M. L.; Matos, F. D.; Amaral, I. L., orgs.) que o mundo necessita de parques. p. 25-36. In
Manaus, Sociedade Botânica do Brasil. 600p. Tornando os parques eficientes – estratégias
para a conservação da natureza nos trópicos
SANTOS, C. J. F. (2003). Restauração ecológica
(Terborgh, J.; van Schaik, C. V.; Davenport, L.;
associada ao social no contexto urbano: o proje-
Rao, M., orgs) Curitiba, Editora da UFPR & Funda-
to mutirão reflorestamento. p. 239-263. In Res-
ção O Boticário. 518 p.
tauração ecológica de ecossistemas naturais
(Kageyama; P.Y.; Oliveira; R.E.; Moraes; L. F. D.; TONETTI, V. R. et al. 2017. Historical knowledge,
Engel; V. L.; Gandara, F. B.). Botucatu, FEPAF. richness and relative representativeness of the
340p. avifauna of the largest native urban rainforest in
SÃO PAULO (Estado). (2005). Secretaria do Meio the world. Zoologia 34: e13728.
Ambiente. Inventário Florestal da Vegetação TONHASCA Jr., A. (2005). Ecologia e História
Natural do Estado de São Paulo, São Paulo: Natural da Mata Atlântica. Rio de Janeiro, Inter-
SMA/Instituto Florestal. ciência.197 p.
SÃO PAULO (Estado). (2018). Decreto Estadual TREVINE, V. et al. (2014). Herpetofauna of Para-
nº 63.853, de 27 de novembro de 2018. Declara napiacaba: expanding our knowledge on a
as espécies da fauna silvestre no Estado de São historical region in the Atlantic forest of
Paulo regionalmente extintas, as ameaçadas de southeastern Brazil. Zoologia 31 (2): 126-146.
extinção, as quase ameaçadas e as com dados
insuficientes para avaliação, e dá providências UN-CBD. UNITED NATIONS-CONVENTION ON
correlatas. Diário Oficial do Estado de São Paulo, BIOLOGICAL DIVERSITY. 1992. Disponível em:
Poder Executivo – Seção I, v. 128, n. 221, p. 1-11. <https://w w w.cbd.int/doc/legal/cbd-en.pdf>.
Acesso em: 15 ago. 2019.
SAZIMA, I.; SAZIMA, M. (1989). Mamangavas e ira-
puás (Hymenoptera, Apoidea): visitas, interações URBAN, D. L.; SHUGART Jr., H. H. (1986). Avian
e conseqüências para polinização do maracujá demography in mosaic landscapes: mode-
(Passifloraceae). Revista Brasileira de Entomo- ling paradigm and preliminary. p.273-279. In
logia 33: 109-118. Wildlife 2000: modeling habitat relationships
of terrestrial vertebrates (Verner, M.L.; Mor-
SERRA, J. P.; CARVALHO, F. R.; LANGEANI, F. rison, M. L.; Ralph, C. J., eds). The University of
(2007). Ichthyofauna of the rio Itatinga in the Wisconsin Press, Wisconsin.
Parque das Neblinas, Bertioga, São Paulo state:
composition and biogeography. Biota Neotropi- VAN DER PILJ, L. (1982). Principles of dispersal
ca. 7(1): 81-86. in higher plants. Berlim, Springer-Verlag. 214 p.

SILVEIRA, L. F. et al. (2009). Aves. p. 88-282. In VASCONCELLOS-NETO, J.; POLLI, P. R.; PEN-
Fauna ameaçada de extinção no estado de TEADO-DIAS, A. M. (ORG.). (2012). Novos olha-
São Paulo: vertebrados (Bressan, P.M.; Kierulff, res, novos saberes sobre a Serra do Japi:
M.C.M.; Sugieda, A. M., orgs). São Paulo, Funda- Ecos de sua biodiversidade. Curitiba, Editora
ção Parque Zoológico de São Paulo & Secretaria CRV. 628p.
Estadual do Meio Ambiente. 645 p. VELOSO, H. P. (1992). Sistema fitogeográfico. In
SKORUPA, L. A.; VIEIRA, R.F. (2005). Coleta de Manual técnico da vegetação brasileira. IBGE.
germoplasma de plantas medicinais. p.435-468. Série Manuais Técnicos em Geociências 1: 8-38.
In Fundamentos para a Coleta de Germoplas-
VERDADE, L. M.; CAMPOS, C. C. (2004). How
ma Vegetal (B.M.T. Walter & T.B. Cavalcanti,
much is a puma worth? Economic compensation
orgs.). Brasília, EMBRAPA - Recursos Genéticos e
as an alternative for the conflict between wildlife
Biotecnologia.
conservation and livestock production in Brazil.
TAYLOR, L. H.; LATHAM, S. M.; WOOLHOUSE, Biota Neotropica 4. Disponível em: <http://www.
M. E. J. (2001). Risk factors for human disease biotaneotropica.org.br/v4n2/pt/abstract?short-
emergence. Philosophical Transactions of the -communication+BN02204022004>. Acesso 16
Royal Society of London B 356: 983-989. ago. 2019.
TERBORGH, J. (1988). The big things that run the VICTOR, M. A. M. (1975). A devastação Florestal.
world: a sequel to E. O. Wilson. Conservation São Paulo, Sociedade Brasileira de Silvicultura.
Biology 27: 402-403. 48 p.
538 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

WALTER, B. M. T.; CAVALCANTI, T. B., (2005). Herbá- WILLIS, E. O.; ONIKI, Y. (2003). Aves do estado
rios e coleta de germoplasma. p.217-240. In Funda- de São Paulo. Rio Claro, Divisa. 398 p.
mentos para a Coleta de Germoplasma Vegetal
WILSON, E. O. (1992). Diversidade da vida. São
(Walter, B. M. T.; Cavalcanti, T. B., orgs.). Brasília,
Paulo, Companhia das Letras. 447 p.
EMBRAPA - Recursos Genéticos e Biotecnologia.
WALTER, B. M. T.; CAVALCANTI, T. B.; BIANCHETTI, YANO, O.; VISNARDI; PERALTA, D. F. (2009).
L. B. (2005). Princípios da coleta de germoplas- Briófitas. p. 255-268. In: Patrimônio da Reser-
ma. p.139-177. In Fundamentos para a Coleta de va Biológica do Alto da Serra de Paranapia-
Germoplasma Vegetal (Walter, B. M. T.; Caval- caba: a antiga Estação Biológica do Alto
canti, T. B. orgs.). Brasília, EMBRAPA - Recursos da Serra (Lopes, M.I.M.S.; Kirizawa, M.; Melo,
Genéticos e Biotecnologia. M.M.R.F. de, org.). São Paulo, Instituto de Botâ-
nica, 720p.
WALTER, B. M. T., CAVALCANTI, T. B., BIANCHET-
TI, L. B., VALLS, J. F. M. (2005). Origens da agricul- YOSHIDA, C. E.; ROLLA, A. P. P. R.; UIEDA, V. S.;
tura, centros de origem e diversificação das plan- ESTEVES, K. E. (2016). Chave de identificação
tas cultivadas. p.57-88. In Fundamentos para dos peixes de riachos da SERRA DO JAPI (APAS
a Coleta de Germoplasma Vegetal (Walter, B. Jundiaí-Cabreúva/SP). Bol. Inst. Pesca 42(4):
M. T.; Cavalcanti, T. B. orgs.). Brasília, EMBRAPA - 801-818.
Recursos Genéticos e Biotecnologia.
WILLIAMS-GUILLEN, K.; PERFECTO, I.; VANDER- ZILLER, S.R. (2001). Plantas exóticas invasoras:
MEER, J. (2008). Bats limit insects in a Neotropical a ameaça da contaminação biológica. Ciência
agroforestry system. Science 320: 70. Hoje, v. 178, p. 7779.

GLOSSÁRIO

A
Anemocórica | Espécie vegetal cujos propágu- por uma barreira geográfica efetiva, gerando sub-
los são dispersos pelo vento. populações isoladas que, com o passar do tem-
po, passaram a se comportar como de espécies
D distintas.
Decidual | Que permanece sem folhas por um cer- Estacional | Florestas estacionais estão sujeitas
to tempo, periodicamente. Quando as árvores do a um período desfavorável, que pode ser o longo
dossel perdem folhas periodicamente, a floresta é período de estiagem do clima tropical (médias de
chamada de decídua ou caducifólia, quando isso 22ºC, 4 a 6 meses secos) ou o frio intenso na fai-
não ocorre, é denominada de perenifólia. xa subtropical (seca fisiológica, com médias de
18ºC, mas com pelo menos 3 meses de tempera-
Dióica | Àquela em que os sexos se encontram turas inferiores a 15ºC).
separados em indivíduos diferentes.
F
E
Fanerógamas | Nome dado às plantas que pro-
Edáfico | Relativo ou pertencente ao solo. duzem flores, em oposição às criptógamas.
Escrube | Fisionomia vegetal composta de Febre Maculosa | Doença causada pela bacté-
arbustos e arvoretas (árvores com menos de 3m ria Rickettsia rickettsii, transmitida ao homem e
de altura). animais, por diferentes espécies de carrapatos.
Espécie endêmica | Espécie restrita à uma úni- Fenologia || Estudo das relações dos proces-
ca área geográfica ou a um único ecossistema, sos biológicos periódicos com o clima. Exemplo
por exemplo, espécies endêmicas do estado de de fenofases em plantas: brotação, floração,
São Paulo, da bacia do rio Ribeira de Iguape ou frutificação.
do manguezal.
Filogenética | Refere-se às relações evolutivas
Espécies vicariantes | Espécies muito seme- (de parentesco) entre os organismos.
lhantes que apresentam um ancestral comum
relativamente recente, cuja área de distribuição Fluxo gênico | Transferência de genes de uma
original foi fragmentada em duas ou mais áreas, população para outra.
A BIODIVERSIDADE COMO SERVIÇO ECOSSISTÊMICO DE SUPORTE 539

M Perenifólia | Que mantém as folhas, com folhas


persistentes. Quando as árvores do dossel per-
Macrófitas aquáticas | Vegetais que ocorrem dem folhas periodicamente, a floresta é chamada
desde brejos até ambientes verdadeiramente de decídua ou caducifólia, quando isso não ocor-
aquáticos, incluindo desta forma, vegetais desde re, é denominada de perenifólia.
macroalgas até plantas vasculares.
N
Propágulo | Qualquer parte de uma planta que
dá origem a um novo indivíduo, como esporos,
Necrófago | Que consome animal que já está sementes, frutos, gemas, rizomas ou estolões.
morto, até mesmo em decomposição.
Nectarivoria | Consumo do néctar das flores. R
Neotropical | Região biogeográfica que com- Rastejo | Escorregamento lento e contínuo.
preedida entre o sul do México e o sul da América
do Sul, incluindo as ilhas do Caribe. S
O
Sucessão secundária | Define-se como
sucessão ecológica o acréscimo ou substitui-
Oligotrófico | Pobre em nutrientes e portanto ção seqüencial de espécies, com alterações na
com baixa produtividade orgânica. abundância daquelas presentes anteriormente.
Denomina-se sucessão secundária a sucessão
Ombrófilo | Florestas ombrófilas são descritas ecológica que ocorre em áreas onde a comunida-
como presentes em clima de altas temperaturas de anterior foi eliminada (exemplo: áreas que ori-
e precipitação elevada e bem distribuída durante ginalmente eram vegetadas, foram desmatadas e
o ano. então recolonizadas).

P Z
Patógeno | Agente biológico (bactéria, fungo, Zoocórica | Espécie vegetal cujos propágulos
etc) capaz de causar doenças. são dispersos por animais.
540 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO
PARTE 5
FERRAMENTAS DE APOIO
À TOMADA DE DECISÃO

5.1 VALORAÇÃO
ECONÔMICO-ECOLÓGICA
DE ECOSSISTEMAS
E SEUS SERVIÇOS

Coordenador
Ademar Ribeiro Romeiro | UNICAMP

Autores
Ademar Ribeiro Romeiro | UNICAMP
Alexandre Gori Maia | UNICAMP
Bruno Puga | UNICAMP
Daniel Caixeta Andrade | UFU
Oscar Sarcinelli | UNICAMP
Sérgio Gomes Tôsto | EMBRAPA TERRITORIAL/UNICAMP
542 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto de abertura do capítulo:


Bacia Hidrográfica do
Sistema Produtor
de Água Cantareira.
Fonte: Oscar Sarcinelli (2012).
SUMÁRIO

Resumo ................................................................................................................. 545

1 | Introdução........................................................................................................ 546

2 | Avaliação ambiental e avaliação econômico-ecológica: pressupostos


teóricos e procedimentos metodológicos...................................................... 546

3 | Avaliação crítica dos métodos correntes....................................................... 550

3.1 | Métodos indiretos.................................................................................. 551

3.2 | Métodos diretos..................................................................................... 553

4 | Valoração econômico-ecológica.................................................................... 557

5 | Marco regulatório sobre pagamento por serviços ambientais no Brasil e em


São Paulo....................................................................................................... 560

5.1 | Regime federal legal de PSA.................................................................. 561

5.2 | TEEB – A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade –


situação atual e perspectivas................................................................ 561

5.3 | PSA no Sistema Ambiental Paulista - a regulamentação estabelecida


pela PEMC............................................................................................. 562

6 | Valoração de serviços ecossistêmicos e pagamento por serviços ambientais:


da teoria à práxis........................................................................................... 562

6.1 | Serviços ecossistêmicos........................................................................ 563

6.2 | O ICMS-Ecológico.................................................................................. 563

6.3 | O projeto Mina d’Água........................................................................... 564

6.4 | O caso de Extrema-MG: possibilidades e desafios............................... 564

7 | Perspectivas de valoração de serviços ecossistêmicos na RBCV.................. 565

Referências........................................................................................................... 567

Glossário.............................................................................................................. 569
544 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ILUSTRAÇÕES
FIGURAS

Figura 1 Decomposição do valor econômico de um recurso ambiental.


Figura 2 Principais métodos de valoração ambiental.

QUADROS
Quadro 1 Principais fontes de vieses do MAC.
Quadro 2 Principais diferenças teóricas e metodológicas de abordagens de valoração de serviços
ecossistêmicos.

TABELA
Tabela 1 Valor dos serviços ecossistêmicos e técnicas de valoração mais utilizadas.

SIGLAS
AC Avaliação contingente
AJ Análise conjunta
DAP Disposição a pagar
EUA Estados Unidos da América
FECOP Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição
FNMC Fundo Nacional sobre Mudança do Clima
GEE Gases de Efeito Estufa
GUMBO Glogal Unified Metalmodel of the Biosphere
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IPE Instituto de Pesquisas Ecológicas
MAC Método de avaliação contingente
MEA Millennium Ecosystem Assesment
MIMES Multiscal Integrated Models of Ecosytem Services
ONG Organização não governamental
PCJ Refere-se ao comitê das bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiai
PEMC Política Estadual de Mudanças Climáticas
PNUMA Programa das Nações Unidades para o Meio Ambiente. O mesmo que UNEP
PSA Pagamento por Serviços Ambientais
REDD Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação
SIMA Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente
TEEB The Economics of Ecossistems and Biodiversity
UC Unidade de conservação
UFEX Unidades Fiscais de Extrema
UFU Universidade Federal de Uberlância
UNICAMP Universidade de Campinas
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 545

RESUMO

F oi definido por objetivo discutir uma abordagem de valoração de serviços


ecossistêmicos compatível com os princípios da chamada Economia Ecológica.
De maneira resumida, a valoração econômico-ecológica é uma metodologia distinta da
prática de valoração correntemente praticada, na medida em que procura levar em conta
a natureza complexa dos ecossistemas e os distintos valores que lhes são associados,
bem como os riscos de perdas irreversíveis, potencialmente catastróficas, de estruturas
e funções ecossistêmicas. Em outras palavras, diferentemente da valoração unicamente
monetária da economia ambiental, a valoração econômico-ecológica busca levar em conta
também as dimensões ecológica e social. Foram confrontados os pressupostos teóricos e os
procedimentos metodológicos da valoração ambiental e da valoração econômico-ecológica.
No caso da metodologia clássica de valoração, os seus pressupostos teóricos são simples e
reducionistas: os agentes econômicos são capazes de avaliar individualmente o valor do meio
ambiente, do mesmo modo como fazem com as demais mercadorias. Por sua vez, a valoração
econômico-ecológica considera pressupostos mais realistas sobre o comportamento e
a capacidade humana na avaliação de recursos naturais, o que conduz a proposições
metodológicas de valoração bem mais complexas. Na sequência, o capítulo apresenta uma
discussão conectando a prática da valoração aos esquemas de Pagamento por Serviços
Ambientais (PSA). Isso porque se considera que a valoração econômico-ecológica pode ser útil
no processo de elaboração e implementação de mecanismos de PSA. Por último, a utilização
da valoração é exemplificada no exame dos estudos de caso apresentados ao longo do livro.
546 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

1 | INTRODUÇÃO da caixa preta da fabricação de bens e de servi-


ços ecossistêmicos pela abordagem econômico-
-ecológica conduz a proposições metodológicas

A valoração econômico-ecológica é uma


metodologia de valoração de recursos
naturais que vem sendo desenvolvida no âmbi-
de valoração bem mais complexas.
Na Seção 3, a avaliação crítica dos méto-
dos de valoração correntemente utilizados tem
to da corrente teórica em economia do meio
a intenção de mostrar os limites específicos
ambiente, chamada economia ecológica. Trata-
de cada tipo de método e, desse modo, indicar
-se de uma metodologia de valoração distinta
os cuidados que se deve ter ao utilizá-los. A
da valoração da economia ambiental1 cor-
Seção 4 apresenta uma primeira aproximação
rentemente praticada na medida em que pro-
de como deveria ser a valoração econômico-
cura levar em conta a natureza complexa dos
-ecológica. Trata-se de um esforço de integrar
ecossistemas e os distintos valores que lhes
dinamicamente as contribuições das ciências
são associados, bem como os riscos de perdas
sociais (economia, principalmente) e das ciên-
irreversíveis potencialmente catastróficas de
cias naturais (ecologia e biologia, principal-
estruturas e funções ecossistêmicas. Em outras
mente), de modo a se ter clareza sobre a rele-
palavras, diferentemente da valoração da eco-
vância ecológica do que está sendo valorado
nomia ambiental, a valoração econômico-eco-
economicamente, levando-se na devida conta
lógica busca levar em conta a sustentabilidade
os vários efeitos de feedback existentes entre
ecológica, a econômica e o aspecto social da
ecossistemas e sistemas socioeconômicos. A
manutenção e/ou do uso dos recursos naturais.
consideração de um grande número de variá-
O presente trabalho visa apresentar seus
veis e de parâmetros de sustentabilidade que
pressupostos teóricos, conceitos e definições,
este tipo de abordagem exige torna neces-
e quais as soluções que têm sido propostas
sário o uso de ferramentas de modelagem
para superar o que se considera como limita-
econômico-ecológica.
ções importantes dos processos de valoração
Na Seção 5, é apresentado o marco regu-
ambiental correntemente em uso. Ele se divide
latório de experiências pioneiras para o paga-
em mais sete seções, além desta introdução. Na
mento de serviços ambientais no Brasil e em
Seção 2, os pressupostos teóricos e os procedi-
São Paulo; enquanto, na seção 6, discute-se o
mentos metodológicos da valoração ambiental e
papel da valoração econômico-ecológica no
da valoração econômico-ecológica são confron-
processo de tomada de decisão sobre a preser-
tados. Os pressupostos teóricos da economia
vação e/ou recuperação de ecossistemas, tendo
ambiental são simples e reducionistas: os agen-
em conta em especial o instrumento econômi-
tes econômicos são capazes de avaliar individu-
co de pagamento por serviços ambientais.
almente o valor do meio ambiente, do mesmo
Finalmente, na Seção 7, são apresenta-
modo como fazem com as demais mercadorias.
das as perspectivas de valoração com base
O meio ambiente é visto como um provedor de
nas informações disponíveis nos capítulos que
bens e serviços cujo processo de fabricação
compõem este livro.

2| AVALIAÇÃO AMBIENTAL
pode ser tratado como uma caixa preta que não
é necessário abrir no processo de valoração.

E AVALIAÇÃO
Perdas irreversíveis não são relevantes, uma

ECONÔMICOECOLÓGICA:
vez que os recursos naturais são substituíveis

PRESSUPOSTOS
por capital. Esses pressupostos tornam o pro-
cesso de valoração ambiental bastante simples.

TEÓRICOS E PROCEDIMENTOS
A consideração de pressupostos mais realistas

METODOLÓGICOS
sobre o comportamento e a capacidade humana
na avaliação de recursos naturais e a abertura

Do ponto de vista da economia ambiental,


Por economia ambiental se entende, em geral, a corrente
1
a degradação do meio ambiente pelas atividades
dominante em teoria econômica (economia neoclássica)
aplicada à problemática ambiental, cuja metodologia de econômicas deve ser vista como uma externa-
valoração ambiental é correntemente a mais utilizada. lidade negativa, isto é, uma situação em que a
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 547

ação de um agente econômico interfere nega- existência). Nesse caso, somente é possível ava-
tivamente no bem-estar de outro sem que este liar diretamente a disposição a pagar dos agen-
último tenha o direito de ser compensado por tes econômicos.
isso. Por exemplo, o uso por um agente econô- Desse modo, de acordo com a economia
mico da água de um rio para o despejo de resí- ambiental, a precificação dos bens e os serviços
duos industriais pode afetar outros agentes que ecossistêmicos permitiriam que os agentes eco-
fazem uso desse recurso para outras finalidades, nômicos fizessem um cálculo de custo-benefício
como pesca ou abastecimento humano. Essa ao utilizar um dado recurso natural. Por exem-
situação decorre do fato de que a água do rio é plo, procurando minimizar o custo total de uti-
recurso natural público, cujo serviço de disper- lização do recurso hídrico composto pelo valor
são de resíduos pode ser apropriado livremente. dos gastos com a instalação e a manutenção de
Teoricamente, se esse recurso fosse pri- sistemas de tratamento de resíduos (custo de
vatizado, desapareceria o problema, que seria controle), somado ao valor do gasto com o paga-
internalizado na medida em que proprietários e mento por usar o serviço de dispersão de resí-
usuários do recurso negociariam entre si o preço duos do rio (custo da poluição). Como o custo
a ser pago por sua utilização. Entretanto, dada a dos sistemas de tratamento tende a se elevar
impossibilidade política e operacional de confe- fortemente na medida em que se passa de siste-
rir direitos de propriedade a recursos naturais mas primários para secundários,2 e assim suces-
deste tipo, resta como alternativa a sua valo- sivamente, o cenário mais provável é aquele da
ração (precificação) e a cobrança pelo Estado. busca de minimização do custo total através de
Desse modo, os agentes econômicos passariam uma combinação ótima entre investimento em
a pagar pelo uso desse recurso, eliminando-se a sistemas de tratamento com investimento em
externalidade e ao mesmo tempo estimulando pagamento por poluir. Nesse ponto de equilí-
seu uso mais racional. brio, denominado de poluição ótima, em que
Um conjunto de métodos de valoração foi custos marginais de controle e de poluição são
desenvolvido pela economia ambiental com essa iguais, o custo total é minimizado. Diante do
finalidade, os quais podem ser classificados em exposto, parece claro, portanto, que a quantida-
duas categorias principais: (1) métodos que ava- de de recurso natural a ser utilizada é definida
liam diretamente a disposição a pagar dos indiví- por um processo de avaliação custo-benefício da
duos por este ou aquele recurso natural (no caso alocação dos gastos entre investimento em siste-
do exemplo apresentado, avaliam a demanda mas de controle da poluição e investimento em
pelo rio limpo); (2) métodos que avaliam indi- pagamento por poluir.
retamente a disposição a pagar dos indivíduos Do ponto de vista ecológico, que tipo de
por um dado recurso natural através do valor problema pode resultar desse processo de deci-
de mercado dos bens ou dos serviços ecossistê- são sobre o uso de recursos ambientais? O pro-
micos por este produzidos; considerando nova- blema é aquele do risco de perda irreversível de
mente o exemplo acima, o valor do rio seria esti- bens e serviços ecossistêmicos, uma vez que o
mado somando-se o valor da produção de peixes ponto de equilíbrio assim definido – poluição
com o valor comercial sacrificado pela poluição ótima – pode não ser um ponto de equilíbrio
(método de produção sacrificada) com aque- ecológico, isto é, sustentável no longo prazo. Mas
le do tratamento da água para torná-la potável este não é um problema do ponto de vista da
novamente (método do custo de reposição). Se economia ambiental, dado que esta supõe que
o rio fosse utilizado para o lazer aquático, tam- os recursos naturais são substituíveis por capi-
bém seria necessário somar o valor das perdas tal. Nessa ótica, o risco de perdas irreversíveis,
desse tipo de serviço. É preciso considerar, ain-
da, que, além da motivação utilitária para pagar
pelo valor de uso presente ou futuro dos bens e 2
O sistema de tratamento de resíduos é caracterizado por
serviços ecossistêmicos oferecidos por determi- vários processos de tratamento. Por exemplo, os siste-
mas primários separam a matéria poluente da água em
nado recurso natural, admite-se que possa haver
um processo físico de sedimentação. Os sistemas secun-
motivações não utilitárias a pagar pela simples dários, por sua vez, usualmente utilizam processos bio-
existência de um dado recurso natural (valor de lógicos para reduzir a carga poluente.
548 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

potencialmente catastróficas, de recursos natu- métrica é a sustentabilidade no longuíssimo pra-


rais, não é relevante e pode ser desconsiderado. zo.4 A escala de uso de um bem ambiental deve
Para a economia ecológica,3 ao contrário, os ter essa condicionante. No entanto, sua deter-
riscos de perdas irreversíveis devem ser conside- minação poderá ser mais ou menos controver-
rados como relevantes. Assim, neste exemplo, o tida, dependendo do grau de incerteza científica
ponto de equilíbrio – poluição ótima – somente envolvido. Quanto mais complexo o ecossistema
seria sustentável do ponto de vista ecológico caso em jogo, mais incerta a determinação da esca-
fosse possível expressar em unidades monetá- la de uso sustentável. Altos níveis de incerteza
rias, para cada nível de poluição (na margem), científica, por seu turno, trazem a necessidade
tudo o que está em jogo em termos de perdas de se pensar em procedimentos de tomada de
ambientais. O obstáculo fundamental a isso, que decisão que incluam outros atores além de espe-
por si só inviabiliza todo esse processo de ajuste, cialistas. Esses procedimentos têm sido objeto
decorre das limitações do conhecimento huma- de debates cuja avaliação não faz parte dos obje-
no sobre como as funções ecossistêmicas, que se tivos deste trabalho.5 O que importa registrar
traduzem em serviços ecossistêmicos, emergem aqui é apenas a necessidade de determinação
do funcionamento e da interação dos elementos prévia de escalas sustentáveis de uso de recur-
estruturais de um dado recurso natural (ecossis- sos naturais pela sociedade. O Código Florestal
tema). O que se sabe é que a reação dos ecossis- brasileiro, definido pela Lei nº 12.651, de 25 de
temas aos impactos sofridos não é linear em fun- maio de 2012 (BRASIL, 2012), é um exemplo
ção de uma propriedade de sistemas complexos nesse sentido. Embora o legislador não tenha
chamada de resiliência, isto é, a capacidade do tido, muito provavelmente, uma ideia clara do
sistema de resistir aos impactos e se reequilibrar. que representava do ponto de vista estritamente
A resiliência ecossistêmica implica a existência ecológico a escala proposta do uso das florestas,
de limiares (tresholds) de ruptura que a ciência essa lei claramente representa a definição social
não tem como determinar com certeza nos casos de uma escala de uso para os recursos florestais
mais complexos. Portanto, a não linearidade das que se supõe seja sustentável.
reações ecossistêmicas associada ao desconheci- Após ser definida a escala sustentável eco-
mento do ponto de ruptura torna uma ficção esta logicamente e a distribuição justa socialmente do
ideia de um vetor de preços refletindo variações acesso aos recursos naturais disponíveis, a aloca-
marginais na degradação ambiental. ção dos investimentos entre usos alternativos des-
No entanto, a economia ecológica conside- ses recursos poderá ser eficientemente orientada
ra fundamental valorar monetariamente (preci- pelo sistema de preços. No caso do citado exemplo
ficar) a dimensão econômica do meio ambiente da água do rio, o quanto do recurso será utilizado
– bens e serviços ecossistêmicos; mas considera pelo industrial para a dispersão de resíduos será
também que a decisão de uso de um dado recur- definido e irá evoluir em função dos preços rela-
so natural não pode prescindir da avaliação de tivos dos sistemas de tratamento e/ou da deman-
suas dimensões social e ecológica, cujas métricas da por estes serviços de dispersão, por um lado;
não são monetárias. A dimensão social e/ou cul- e os preços dos produtos do rio (peixes), mais os
tural resulta de considerações ético-normativas.
Ecossistemas e seus serviços são importantes
4
Por longuíssimo prazo, numa escala humana, devem-se con-
para a identidade cultural e moral de muitas
siderar no mínimo 10 mil anos, tempo transcorrido desde a
sociedades, estando em íntima sintonia com invenção da agricultura no neolítico; como média, deveria
seus valores éticos, espirituais, históricos e ser considerado o tempo transcorrido desde o controle do
artísticos. No caso da dimensão ecológica, sua fogo pela espécie humana, há cerca de 300 mil anos.
5
Tais procedimentos e estratégias podem ser compreen-
didos no contexto de um movimento maior chamado de
ciência pós-normal, cuja principal característica é a busca
3
Economia ecológica designa uma corrente dissidente, por novos processos de resolução de problemas complexos
que surgiu a partir das críticas aos pressupostos implí- (ambientais, inclusive) a partir da interação entre conhe-
citos e explícitos da economia ambiental sobre a impor- cimento científico (epistemologia) e formação de valores
tância das perdas irreversíveis potencialmente catas- (axiologia). Atributos como incerteza, conhecimentos
tróficas de bens e serviços ecossistêmicos, bem como tradicionais e visão dos agentes envolvidos são centrais
sobre os limites termodinâmicos do aumento da produ- nos processos de negociação para a busca de soluções de
ção material/energética. determinados problemas (PORTO, 1997).
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 549

custos das soluções alternativas para disponibili- de resiliência para a produção desses serviços, o
zar a água para consumo humano, por outro. Ou que conduz à necessidade de determinação de
seja, no esquema analítico da economia ecológica, níveis de tolerância à erosão (escala).
o sistema de preços não define a escala de uso do Nesse contexto, os economistas ecológicos
recurso como no esquema anterior, mas, ao con- aceitam a ideia defendida pelos ecólogos (ter-
trário, ele é influenciado por esta. O avanço dos mo aqui utilizado no sentido amplo que inclui
conhecimentos técnico-científicos influencia os especialistas em ciências naturais), de que a
preços dos recursos naturais na medida em que decisão de uso ou não de um determinado bem
pode modificar a magnitude da escala até então ou serviço ecossistêmico deve ser condiciona-
considerada sustentável, bem como revelar a exis- da à avaliação sobre sua importância ecológica
tência de novos bens ou serviços ecossistêmicos para a sustentabilidade no longuíssimo prazo.
produzidos pelo recurso que está sendo valorado. Alguns analistas consideram que seria possível
Em relação a este último aspecto, o melhor estabelecer uma métrica não monetária, capaz
conhecimento da estrutura e das funções ecos- de integrar numa medida comum de valor os
sistêmicas mostra que um dado serviço ecossis- valores ecológicos dos ecossistemas determina-
têmico frequentemente resulta de mais de uma dos pela integridade de suas funções, bem como
função ecossistêmica, as quais se inter-relacio- por parâmetros ecossistêmicos de complexida-
nam e podem ser responsáveis por outros ser- de, diversidade e raridade.
viços. Desse modo, considerar isoladamente A teoria do valor energético é um dos prin-
um dado serviço ecossistêmico representa uma cipais resultados do esforço para resolver o pro-
abordagem reducionista que subestima o valor blema da incomensurabilidade das diferentes
do ecossistema que o produz. Um exemplo clás- unidades biofísicas em que as variáveis ecoló-
sico desse reducionismo é a frequente aborda- gicas se expressam. Trata-se de uma teoria do
gem da economia ambiental frente à valoração valor baseada em princípios termodinâmicos,
dos solos agrícolas degradados pela erosão. na qual a energia solar é considerada a unidade
Considerando o solo como um simples depósito de conta. Presentemente, o sistema predomi-
de nutrientes minerais, um esquema convencio- nante de determinação dos valores ecológicos
nal de valoração calcularia o valor do solo pelo com base em análises energéticas é conhecido
custo de reposição dos nutrientes perdidos com como análise emérgetica.
a erosão.6 No entanto, o solo forma um ecos- Esse método procura recuperar toda a
sistema complexo, cujos elementos estruturais memória energética de um dado ecossistema
interagem produzindo um conjunto de funções convertendo, através de fatores de transformi-
ecossistêmicas que, por sua vez, dão origem a dade previamente calculados, todas as formas
outros serviços ecossistêmicos, além do estoque de energia utilizadas no seu processo de forma-
de nutrientes que contém. ção/produção em equivalentes de energia solar
São pelo menos mais quatro serviços ecos- (emergy = embodied energy). Para muitos críti-
sistêmicos produzidos por um solo bem prote- cos, entretanto, essa redução de relações com-
gido contra a erosão e manejado de modo eco- plexas a uma única unidade, mesmo que física,
logicamente adequado: produção de nutrientes implica perda de informações relevantes, tais
minerais, capacidade de armazenamento de como o valor de diferentes serviços ecossistêmi-
água, condições ideais de enraizamento e aera- cos, de acordo com sua habilidade de sustentar
ção para as plantas; e produção de antibióti- e manter o sistema como um todo.
cos vegetais. Portanto, o método de valoração Finalmente, em relação à dimensão socio-
pelo custo de reposição subestima fortemente cultural do valor dos ecossistemas, novos méto-
o valor dos serviços ecossistêmicos ameaçados dos vêm sendo desenvolvidos com a finalida-
pela erosão. O melhor entendimento do ecossis- de de captá-la, como a avaliação participatória
tema solo mostra também que existem limiares (participatory assessment) ou a valoração grupal
(group valuation). Esses métodos buscam cap-
tar as visões que diferentes grupos de indivídu-
6
É verdade que esta visão reducionista dos economistas
ambientais foi historicamente respaldada por agrônomos os têm sobre as diversas categorias de serviços
entusiasmados com a química agrícola. ecossistêmicos e suas dimensões culturais e
550 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

éticas, reconhecendo que os seres humanos pos- de uma alteração ambiental na produção de
suem uma racionalidade limitada e que é neces- bens e serviços comercializáveis. Seria o caso,
sário ponderar quesitos de ordem social. por exemplo, da produção de peixes sacrificada
Outro método é aquele conhecido como pela poluição do rio. Por definição, no entanto,
discourse-based valuation, o qual parte do prin- seu uso é limitado à avaliação de valores de uso,
cípio de que a valoração não deveria se basear na deixando de fora os valores ecológicos e sociais.
medição de preferências individuais, mas de um Mesmo em relação aos valores de uso, sua
processo de debate livre, aberto e democrático. aplicação corrente sem um melhor conhecimen-
A ideia básica é que pequenos grupos de agentes to sobre o funcionamento dos ecossistemas que
envolvidos no processo (stakeholders) podem, produzem os bens e os serviços que se preten-
conjuntamente, deliberar sobre a importância de valorar têm resultado em subestimações dos
relativa dos serviços ecossistêmicos, tendo em valores dos bens e serviços dos ecossistemas
conta considerações sobre a equidade entre avaliados. Como já mencionado, esse melhor
diferentes grupos sociais. conhecimento poderia revelar a existência de

3| AVALIAÇÃO CRÍTICA DOS


outros serviços ecossistêmicos cuja contribui-

MÉTODOS CORRENTES
ção é real e deveria ser valorada. Apesar dessas
limitações, os valores obtidos com a aplicação
desses métodos podem ser suficientes para
Diversos métodos podem ser utilizados no estimular diretamente os agentes econômicos
processo de valoração. Cada um apresenta uma a usar os ecossistemas e seus serviços de modo
limitação específica, que depende, sobretudo, do ecologicamente mais racional ou justificar a
tipo de valor econômico que o mesmo é capaz de implementação de políticas ambientais que pro-
estimar (Figura 1). duzam o mesmo resultado.
Os métodos que avaliam indiretamente Uma representação esquemática dos prin-
um recurso natural pelo valor de mercado dos cipais métodos de valoração é apresentada na
bens ou dos serviços ecossistêmicos por este Figura 2. Uma breve descrição das técnicas é
produzidos (métodos indiretos) são mais sim- apresentada na sequência, começando pelos
ples e menos onerosos, estimando o impacto métodos indiretos.

Valor Econômico

Valor de Uso Direto


Apropriação direta de serviços
ecossistêmicos, via extração, visitação ou outra
atividade de produção ou consumo direto.

Valor de Uso Indireto


Valor de Uso
Benefícios indiretos gerados pelas funções
ecossistêmicas.

Valor de Opção
Intenção de consumo direto ou indireto do
bem ambiental no futuro.

Figura 1 | Valor de Existência


Decomposição do
Valores não associados ao consumo e que
valor econômico Valor de Não Uso
se referem a questões morais, culturais,
de um recurso
éticas ou altruísticas em relação
ambiental.
à existência dos bens.
Fonte: Elaboração
própria
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 551

Métodos de Valoração Ambiental

Métodos Diretos de Valoração Métodos Indiretos de Valoração


Obtêm as preferências dos consumidores Recuperam o valor dos bens e dos serviços
através da disposição a pagar (DAP) do ecossistêmico através das alterações nos
indivíduo para bens e serviços ambientais. preços de produtos do mercado resultantes
das mudanças.

DAP Direta Produtividade Marginal


• Avaliação Contingente; • Produtividade Marginal.
• Análise Conjunta.

DAP Indireta Mercado de Bens Substitutos


Figura 2 |
• Preços Hedônicos; • Custos evitados;
Principais métodos
• Custo de viagem. • Custos de controle;
de valoração
• Custos de reposição;
ambiental.
• Custos de oportunidade.
Fonte: Elaboração
própria

3.1 | Métodos Indiretos tecnológicas sejam demasiadamente complexas,

3.1.1 | Produtividade marginal


como em geral é o caso. É muito difícil precisar
as relações causais ambientais, pois diversos
benefícios tendem a ser afetados pela queda
O método de produtividade marginal da qualidade ambiental, não somente aqueles
atribui um valor ao uso de um recurso natural do processo produtivo. Para conhecimento dos
relacionando a quantidade ou qualidade desse benefícios ou dos danos gerados, é necessário
recurso diretamente à produção de outro pro- profundo conhecimento dos processos biológi-
duto com preço definido no mercado. O papel do cos, das capacidades técnicas e suas interações
recurso ambiental no processo produtivo será com as decisões dos produtores, e do efeito da
representado por uma função dose-resposta, produção no bem-estar da população. Assim, o
que relaciona o nível de provisão do recurso método de produtividade marginal acaba esti-
ambiental ao nível de produção respectivo do mando apenas uma parcela dos serviços ecossis-
produto no mercado. Essa função irá mensurar o têmicos e os valores tendem a ser subestimados.
impacto no sistema produtivo da variação mar-
ginal na provisão do bem ou do serviço ecossis- 3.1.2 | Mercado de bens substitutos
têmico e, a partir dessa variação, estimar o valor
econômico de uso do recurso ambiental. Como Quando não é possível obter diretamen-
exemplo de função dose-resposta, pode ser cita- te o preço de um produto afetado por uma
do o caso mencionado da queda na produção alteração ambiental, pode ser possível estimá-
pesqueira em resposta à dose de contamina- -lo por algum substituto existente no merca-
ção da água. Dose também pode ser a redução do. A metodologia de mercado de bens subs-
do número de predadores naturais das pragas titutos parte do princípio de que a perda de
agrícolas, tendo como resposta a diminuição da qualidade ou escassez do bem ou do serviço
produtividade agrícola. ecossistêmico aumentará a procura por subs-
Entretanto, a função de produção pode não titutos a tentativa de manter o mesmo nível
ser tão trivial caso as relações biológicas e as de bem-estar da população. As estimativas
552 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

também são, em geral, subdimensionadas, série de fatores, como a existência de um com-


pois tendem a considerar apenas os valores de portamento altruísta do indivíduo ao estimar o
uso direto e indireto dos recursos ambientais, valor dado à vida ou à saúde alheia, além da falta
deixando de fora os valores de opção. Além dis- de informação sobre os reais benefícios do bem
so, há o fato de que, para boa parte dos serviços ou do serviço ecossistêmico.
ecossistêmicos, não há substitutos adequados.
A eficácia das estimativas dependerá, Custos de controle
sobretudo, do objetivo da pesquisa, sendo mui- Custos de controle representam os gastos
tas vezes suficientes para garantir, por exem- necessários para evitar a variação do bem ou
plo, o uso sustentável de um recurso natural ou do serviço ecossistêmico, e garantir a qualidade
para evitar políticas de impactos ambientais. dos benefícios gerados à população. É o caso do
Existem várias técnicas derivadas do mercado tratamento de esgoto para evitar a poluição dos
de bens substitutos, bastante conhecidas e de rios e de um sistema de controle de emissão de
fácil aplicação. São elas: custos evitados, cus- poluentes de uma indústria para evitar a conta-
tos de controle, custos de reposição e custos de minação da atmosfera. Por limitar o consumo
oportunidade. presente do capital natural, o controle da degra-
dação contribui para manter um nível sustentá-
Custos evitados vel de exploração, permitindo o aproveitamento
Os custos evitados, ou gastos defensivos, dos recursos naturais pelas gerações futuras.
são muito utilizados em estudos de mortalidade As maiores dificuldades desse método estão
e morbidade humana. O método estima o valor relacionadas à estimação dos custos marginais
de um recurso ambiental através dos gastos de controle ambiental e dos benefícios gerados
com atividades defensivas substitutas ou com- pela preservação.
plementares, que podem ser consideradas uma Os investimentos de controle ambien-
aproximação monetária sobre as mudanças des- tal tendem a gerar benefícios diversos, sen-
ses atributos ambientais. Por exemplo, quando do necessário um estudo muito rigoroso para
uma pessoa paga para ter acesso à água encana- determinação de todos esses. Como não há tam-
da, ou compra água mineral em supermercados, bém um consenso quanto ao nível adequado de
supõe-se que esteja avaliando todos os possíveis sustentabilidade, as pessoas encontram sérias
males da água poluída, e indiretamente valoran- dificuldades para ajustar os custos aos bene-
do sua disposição a pagar pela água desconta- fícios marginais e determinar o nível ótimo de
minada. Os investimentos feitos pela indústria provisão do recurso natural.
automobilística em acessórios para aumentar
a segurança dos automóveis, como a utilização Custos de reposição
de airbags, também refletem a preocupação dos Com o método de custo de reposição, a esti-
compradores com a diminuição do risco de mor- mativa dos benefícios gerados por um recurso
te em acidentes de trânsito, e podem gerar uma ambiental será dada pelos gastos necessários
estimativa do valor dado à vida humana. para reposição ou reparação após o mesmo ser
Em muitos estudos de custos evitados danificado. É o caso do reflorestamento em áre-
associados à mortalidade, o valor humano é as desmatadas e da fertilização para manuten-
estimado a partir dos ganhos previstos ao longo ção da produtividade agrícola em áreas onde o
da vida do indivíduo, observando sua produtivi- solo foi degradado. O método é frequentemente
dade presente e sua expectativa de vida. Mesmo utilizado como medida do dano causado, sendo
desconsiderando a falta de ética na valoração comum a estimativa do custo de restauração do
da vida humana, essas estimativas apresentam ambiente danificado após ocorrência do prejuízo.
algumas expressivas falhas latentes: valores eco- As estimativas baseiam-se em preços de mercado
nômicos menores para os mais velhos e os mais para repor ou reparar o bem ou o serviço danifi-
pobres; valores nulos para os desocupados e ina- cado, partindo também do pressuposto de que o
tivos; ignorar as preferências dos consumidores. recurso ambiental possa ser devidamente subs-
As estimativas dos custos evitados tendem tituído. Uma das desvantagens do método é que,
a ser subestimadas, pois desconsideram uma por maiores que sejam os gastos envolvidos na
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 553

reposição, nem todas as complexas propriedades e seu preço de mercado. Pode ser aplicado a
de um atributo ambiental serão repostas pela sim- qualquer tipo de mercadoria, embora seu uso
ples substituição do recurso. Em geral, o método seja mais frequente em preços de proprieda-
tem sido aplicado com base em concepções extre- des. Por exemplo, para se avaliar o valor de um
mamente reducionistas dos ecossistemas, como atributo ambiental associado à localização de
no caso do solo erodido citado no tópico anterior, um imóvel. Estatisticamente, o método utiliza
produzindo valores fortemente subestimados. uma regressão múltipla para ajustar o preço da
residência às diversas características que pos-
Custos de oportunidade sam inferir no seu valor. Farão parte do modelo
Embora desejável do ponto de vista econométrico as características estruturais da
ambiental, a preservação gera um custo social residência (área construída, cômodos, etc.), as
e econômico que deve ser compartido entre os características ambientais (índices de poluição,
diversos agentes que usufruem dos benefícios parques, etc.), assim como índices socioeconô-
da conservação. Toda conservação traz consigo micos da região (etnia, nível econômico, índices
um custo de oportunidade das atividades econô- de criminalidade, etc.).
micas que poderiam estar sendo desenvolvidas Uma das principais limitações desse méto-
na área de proteção, representando, portanto, do está no fato de que, embora seja necessário, é
as perdas econômicas da população em virtude muito difícil determinar todas ascaracterísticas
das restrições de uso dos recursos ambientais. que possam influenciar o preço da propriedade.
No caso de um parque ou reserva florestal com Mesmo identificadas, algumas características
exploração restringida, o custo de oportunida- ambientais podem não ser quantificadas, como
de de sua preservação seria dado pelos benefí- exige o modelo econométrico. A análise estatís-
cios de uma possível atividade de exploração de tica selecionará apenas as características signi-
madeira. Por outro lado, os benefícios ecológi- ficantes, ou seja, aquelas que apresentarem alta
cos da preservação poderiam ser expressos pela correlação com o preço da propriedade. Assim,
renda gerada em atividades sustentáveis, como variáveis ambientais importantes poderão ser
o ecoturismo e a exploração de ervas medici- excluídas do modelo caso passem despercebidas
nais. Alguns cuidados especiais devem ser toma- pelos proprietários ao expressarem o valor para
dos na estimativa. Atividades insustentáveis suas residências. Há que se considerar também
irão gerar danos irreversíveis e reduzir a oferta o pressuposto implícito de uma igualdade de
do bem ou do serviço ecossistêmico ao longo do informações entre os indivíduos e a liberdade de
tempo, e esse fato não pode ser desconsiderado escolha das residências em todo o mercado. Isso
na estimativa do valor presente dos custos de não acontece na realidade, em que há assimetria
oportunidade dessas explorações. de informações e restrição de compras de resi-

3.2 | Métodos diretos


dências numa dada região.
Apesar dessas limitações, nos casos em
que a característica a ser avaliada seja quantifi-
Quanto aos métodos diretos de valoração, cável e facilmente detectada pelos proprietários,
cabe separá-los em dois tipos básicos: o tipo o método proporciona uma boa estimativa da
(1), que avalia a disposição a pagar (DAP) atra- disposição a pagar por um atributo ambiental
vés de mercados reais; e o tipo (2), que avalia a associado a um determinado bem.
DAP diretamente junto aos agentes econômicos
Custo de Viagem
através de um mercado hipotético. Existem dois
Esse método é um dos mais antigos, ten-
métodos do primeiro tipo: (a) método de preços
do sido desenvolvido nos EUA para a valoração
hedônicos; e (b) método de custo de viagem.
de patrimônios naturais de visitação pública. O
3.2.1 | Avaliação da DAP através de valor do serviço ecossistêmico é determinado a
mercados reais partir da observação dos gastos dos visitantes
para se deslocar ao patrimônio, incluindo trans-
Preços hedônicos porte, tempo de viagem, taxa de entrada e outros
O método de preços hedônicos estabelece gastos complementares. O método estabelece
uma relação entre os atributos de um produto uma função relacionando a taxa de visitação
554 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

às variáveis de custo de viagem, tempo, taxa entre tempo e custo de viagem, já que essas vari-
de entrada, características socioeconômicas do áveis tendem a ser altamente correlacionadas.
visitante e outras variáveis que possam expli- Enquanto alguns visitantes optam livremente
car a visita ao patrimônio natural. Os dados são entre hora de trabalho ou lazer, pois possuem
obtidos através de questionários aplicados a uma jornada flexível de trabalho, uma grande
uma amostra da população no local de visitação. maioria restringe suas atividades de lazer às
As entrevistas devem respeitar os distin- horas vagas ou às férias anuais, pois possuem
tos períodos do ano (verão e inverno, diurno e uma jornada fixa de trabalho. Se a pessoa está
noturno), evitando um possível viés sazonal na abrindo mão de uma hora de trabalho para visi-
amostra. A taxa de visitação pode ser expressa tar o patrimônio natural, a taxa salarial seria
em número de visitas pela população (por exem- uma boa estimativa do custo de oportunidade.
plo, visitas para cada mil habitantes), ou visitas O tempo de viagem seria então uma ponderação
por indivíduo num determinado horizonte de do valor da hora de trabalho da pessoa. Entre-
tempo (visitas para cada indivíduo durante um tanto, caso a visita esteja sendo feita durante as
ano, por exemplo). Como a distância de uma horas disponíveis de lazer, o valor do tempo de
região ao patrimônio natural é um fator prepon- viagem deve considerar apenas o custo de opor-
derante para determinação da taxa de visitação tunidade de outras atividades recreacionais dis-
dos moradores, é possível então melhorar a poníveis para a pessoa.
precisão das estimativas classificando os indiví- Outro cuidado a ser tomado é em relação ao
duos segundo sua área de origem (bairro, cida- tempo de permanência e aos múltiplos destinos
de, país). Desse modo, é possível haver um maior da viagem. Se o turista permanecerá mais de um
controle sobre a representavidade da amostra dia na região, seus gastos não estarão apenas rela-
ao mesmo tempo em que se facilita a obtenção cionados ao custo de transporte, mas, principal-
de variáveis comuns a cada região. mente, à hospedagem e à alimentação durante os
A função de custo de viagem apenas cap- dias de passeio. Quando o turista apresenta múl-
ta valores de uso direto e indireto dos recursos tiplos destinos em uma mesma viagem, é muito
ambientais, pois somente aqueles que visitam difícil determinar quanto da estadia e seus gastos
o patrimônio natural fazem parte do universo referem-se a um local em particular. O método
amostral. A função assume complementaridade não pode assumir independência entre as diver-
fraca entre a visita ao patrimônio e a disposição sas atividades recreacionais de uma região.
a pagar pelo serviço ecossistêmico, ou seja, a dis- O estudo da utilidade gerada pela visitação
posição a pagar do indivíduo será nula caso ele de um parque público deve considerar a existên-
não visite o local ou, ainda, a utilidade marginal cia de outros patrimônios substitutos nas proxi-
do recurso ambiental será nula caso o número midades. Todos substitutos visitados deverão ser
esperado de visitas seja também nulo. considerados no modelo estatístico, e isso requer
A estimativa do custo de viagem não pode a construção de um modelo múltiplo de estima-
desconsiderar o tipo de transporte utilizado ção, em que a utilidade de cada recurso possa ser
pelo visitante. Avião, ônibus ou automóvel, expressa por uma variável que represente seu
como exemplos, apresentam diferenças signifi- peso em relação às demais. A experiência tem
cativas no custo de viagem que irão influenciar revelado que, desde que se observam os proce-
a estimativa dos benefícios totais do patrimônio dimentos mencionados, o método proporciona
natural. Outro detalhe importante é a definição uma boa medida da disposição a pagar dos agen-
dos custos a serem contabilizados: gastos dire- tes econômicos para usufruir dos benefícios per-
tos com combustível e pedágio, e indiretos como cebidos de um dado patrimônio natural.
alimentação, desgaste e depreciação do veículo. Tanto o método de preços hedônicos quan-
A diferença no valor total tende a ser significa- to o de custo de viagem sofrem da limitação ine-
tiva dependendo do tipo de gasto considerado. vitável da percepção individual dos benefícios
O tempo de viagem deve representar o de um dado serviço ecossistêmico em toda a sua
custo de oportunidade do lazer da pessoa, uma complexidade. Mas, em relação aos atributos
estimativa do valor de cada hora de viagem do ambientais percebidos pelos gentes, a disposi-
indivíduo, evitando uma possível colinearidade ção a pagar revelada não apresenta vieses.
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 555

3.2.2 | Avaliação da DAP através


de mercados hipotéticos
procedimentos, cabe ressaltar aqui a especifica-
ção dos cenários, isto é, as informações sobre os
atributos do bem ou do serviço ecossistêmico
Método de Avaliação Contingente (MAC) que se quer avaliar, os que serão apresentados
O método de avaliação contingente aos agentes econômicos que, individualmente,
(MAC) compõe o principal tipo entre os méto- responderão às perguntas.
dos diretos de valoração da DAP. O MAC faz O cenário deve, por um lado, conter uma
uso de consultas estatísticas à população para detalhada descrição do bem ou do serviço a ser
captar diretamente os valores individuais de avaliado. Por outro lado, cenários muito comple-
uso e também os de não uso atribuídos a um xos costumam ser demasiadamente longos e de
recurso natural. Diferentemente dos ante- difícil compreensão, e devem ser evitados, o que
riores, simula um mercado hipotético, infor- limita a avaliação de tudo o que realmente possa
mando devidamente o entrevistado sobre os estar envolvido. Essa é uma limitação do método
atributos do recurso a ser avaliado e interro- comum aos dois anteriores, ou seja, em todos os
gando o mesmo sobre sua DAP para prevenir três, a compreensão individual do que está em
uma alteração em sua provisão. A estimativa jogo pode ser limitada.
dos benefícios totais gerados pelo recurso Além dessa limitação comum, o MAC sofre
ambiental será dada pela agregação das prefe- ainda uma limitação específica decorrente da
rências individuais da população. dificuldade de captar as reais preferências dos
Considerando que se trata da simulação de indivíduos em mercados hipotéticos. Várias são
um mercado hipotético para um dado bem ou as fontes identificadas de vieses nas respos-
serviço ecossistêmico, a literatura sobre o méto- tas dos respondentes que podem interferir no
do apresenta uma série de recomendações para processo de valoração do MAC, sendo as mais
dar maior credibilidade à pesquisa. Entre esses importantes apresentadas no Quadro 1.

Fontes de vieses Descrição

Comportamento O indivíduo não revela sua verdadeira DAP, subestimando o recurso com medo de que venha a
estratégico ser realmente cobrado, ou superestimando o bem, ao captar o espírito hipotético da pesquisa e
tentando elevar a média dos pagamentos para viabilizar o projeto.

Aceitabilidade A pessoa aceita uma DAP ofertada, embora não esteja realmente disposta a pagar o valor suge-
rido. Não se trata de uma atitude estratégica, e a pessoa apenas não se interessa em responder
seriamente, muitas vezes ciente de que se trata de uma situação hipotética, ou queira apenas
justificar um comportamento politicamente correto.

Rejeição São oferecidas respostas negativas quando, na verdade, as pessoas estariam dispostas a cola-
borar com o projeto. Ocorre muitas vezes devido ao desinteresse, à irritação ou à ansiedade, para
que a entrevista logo se encerre.

Informação A qualidade das informações passadas ao entrevistado pode distorcer a DAP. Contribuem para
este viés não só a qualidade dos cenários como também o efeito do entrevistador.

Warm-glow Os valores altos e baixos correspondem mais para uma aprovação ou para uma rejeição do proje-
to da DAP pelo serviço ecossistêmico.
Parte-todo A soma das contribuições parciais acaba excedendo o todo. O entrevistado valoriza um maior
ou menor atributo que aquele que o pesquisador está avaliando. Deriva principalmente da difi-
culdade de se identificar separadamente os complexos atributos ambientais e suas relações no
ecossistema.

Efeito ponto O valor inicial de uma DAP no formato referendo ou jogo de leilão pode influenciar a valorização fi
de partida nal, causando superestimação caso seja apresentado um valor muito alto, ou subestimação caso
o valor apresentado seja muito baixo.
“Encrustamento” Contribuições maiores deveriam ser esperadas para programas mais amplos de preservação,
embora pesquisas constatem que a DAP não costuma ser sensível à escala utilizada. Possíveis
explicações: i) as pessoas avaliam o serviço ecossistêmico sem considerar adequadamente des-
crição de suas características; ii) desinteresse ou falhas na especifi cação do cenário; iii) as res-
postas correspondem a uma satisfação moral pelo bem e não como um valor em si.
Quadro 1 |
Localização A distância do serviço ecossistêmico tende a afetar a DAP da pessoa e, consequentemente, a limi- Principais fontes
tação da população contribuinte interferirá no resulta fi nal da valoração. Embora sejam espera- de vieses do MAC.
das disposições a pagar maiores nas proximidades do recurso avaliado, em alguns casos a maior
Fonte: Elaboração
parte dos benefícios pode corresponder a valores de uso ou existência fora da região de estudo.
própria.
556 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Os defensores do MAC argumentam que é resultado depende do número de opções apre-


possível evitar esses vieses através do planeja- sentadas aos entrevistados (LOUVIERE et al.,
mento e da execução cuidadosos da pesquisa e, 2000). A dificuldade de interpretação tende a
desse modo, obter aproximações confiáveis da crescer com o número de opções, sendo, assim,
disposição a pagar da população pela conserva- aconselhável um número restrito de alternativas
ção de um dado recurso natural. Nesse sentido, para a avaliação do entrevistado.
pode ser um instrumento valioso para a defini- A classificação contingente permite que o
ção de políticas ambientais, independentemen- entrevistado expresse seu grau de preferência
te de o valor apurado ser mais ou menos próxi- para cada alternativa através de uma escala de
mo do que realmente está em jogo em relação avaliação. Em outras palavras, múltiplos cená-
a um dado ecossistema. É útil porque, para o rios, com diferentes atributos ambientais e valo-
tomador de decisão, é sempre importante res econômicos, são apresentados aos entre-
saber o montante de dinheiro que poderá con- vistados, que expressam sua avaliação em uma
tar como colaboração por parte da população, escala pré-determinada para cada alternativa.
contingente à compreensão de cada indivíduo Dessa forma, o método pressupõe que o indiví-
sobre o que está em jogo. duo seja devidamente capaz de avaliar suas pre-
ferências para cada alternativa.
Análise Conjunta (CJ) Por sua vez, na escolha contingente, o
A Análise Conjunta é outro método que entrevistado é apresentado a duas ou mais
pode ser utilizado para captar as preferências opções para que escolha apenas uma dessas.
declaradas das pessoas sobre bens e servi- Esse procedimento pode ser repetido sucessi-
ços ecossistêmicos. Consiste basicamente em vamente com a apresentação de novas compa-
apresentar múltiplas alternativas ao entre- rações. Embora esse método também permita
vistado, com diferentes atributos ambientais estabelecer uma hierarquia entre as alternati-
e valores econômicos associados a cada uma, vas, oferece menos informação sobre as prefe-
para que este possa estabelecer uma avaliação rências declaradas pelos entrevistados.
comparativa. Assim como o MAC, a CJ permi- Mesmo não havendo resultados conclusi-
te estimar a DAP das pessoas para um bem ou vos, estudos indicam que as estimativas de DAP
um recurso ambiental como um todo, a partir da CJ tendem a ser substancialmente superio-
das preferências declaradas para cada atribu- res às do MAC (STEVENS et al., 2000). Entre
to ambiental. as justificativas, estaria o fato de o MAC criar
Há diferentes formatos possíveis para incentivos à subestimação das declarações de
a CJ, incluindo a hierarquização contingente DAP dos entrevistados, o que não ocorreria
(ranking contingent), a classificação contingente com a CJ.
(contingent rating) e a escolha contingente Em resumo, esse conjunto de métodos
(contingent choice). Essas técnicas diferem tanto diretos de captação da DAP pode ser utilizado
na complexidade analítica quanto na qualidade dentro da perspectiva da economia ecológica
de informações que oferecem. sob a condição que se tenha em mente as res-
Na hierarquização contingente, os entre- pectivas limitações de cada um deles que com-
vistados são questionados a classificar sequen- põem esse conjunto. O melhor conhecimen-
cialmente uma série de alternativas, basean- to dos ecossistemas e de suas propriedades
do-se em suas preferências para os atributos permite, em primeiro lugar, usar melhor esse
e nos valores econômicos associados a cada conjunto de métodos na valoração de servi-
alternativa. Uma vez estabelecidada a hierar- ços ecossistêmicos, identificando aqueles que
quia um ajuste econométrico permite estimar a de outro modo passariam despercebidos; em
DAP para cada atributo ambiental ou para com- segundo lugar, deixa claro quais são os valores
binações destes. ecológicos e sociais que não têm como serem
Além de apresentar os mesmos problemas valorados com esses métodos por não repre-
do MAC em relação à complexidade dos cenários sentarem valores de uso, nem tampouco repre-
e à subjetividade das preferências declaradas, sentarem valores de não uso passíveis de ava-
estudos sugerem que a confiabilidade do liação individual.
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 557

4 | VALORAÇÃO
ECONÔMICO-ECOLÓGICA7
sensibilidade, persistência e confiabilidade. Den-
tre elas, as propriedades de variabilidade e resi-
liência apresentam importância crucial para uma
análise integrada das interconexões entre ecossis-
Como foi mencionado, para a abordagem
temas, sistema econômico e bem--estar humano.
econômico-ecológica o conhecimento apro-
A variabilidade dos ecossistemas consis-
fundado da dinâmica ecológica decorrente da
te nas mudanças dos estoques e fluxos ao lon-
complexidade dos ecossistemas é uma condição
go do tempo devido, principalmente, a fatores
necessária para que a valoração econômica dos
estocásticos, intrínsecos e extrínsecos, enquan-
serviços ecossistêmicos possa efetivamente sub-
to que a resiliência pode ser considerada como
sidiar a adoção de políticas de gestão sustentá-
a habilidade de os ecossistemas retornarem ao
vel dos recursos naturais.
seu estado natural após um evento de perturba-
Os ecossistemas resultam das complexas,
ção natural, sendo que, quanto menor o período
dinâmicas e contínuas interações entre seres
de recuperação, maior é a resiliência de deter-
vivos e não vivos, em seus ambientes físicos e
minado ecossistema. Pode também ser definida
biológicos. Trata-se de sistemas adaptativos
como a medida da magnitude dos distúrbios que
complexos, nos quais propriedades sistêmicas
podem ser absorvidos por um ecossistema sem
macroscópicas como estrutura, relação pro-
que o mesmo mude seu patamar de equilíbrio
dutividade-diversidade e padrões de fluxos de
estável. As atividades econômicas apenas são
nutrientes emergem de interações entre os com-
sustentáveis quando os ecossistemas que as ali-
ponentes, sendo comum a existência de efeitos
cerçam são resilientes (ARROW et al., 1995).
de retroalimentação (feeedback) positivos e
O ponto de mudança de patamar (ou de
negativos (LEVIN, 1998), responsáveis por um
ruptura) é definido como o limiar de resiliência
equilíbrio dinâmico evolutivo. Eles incluem não
do ecossistema. Os limiares, ou pontos de ruptu-
apenas as interações entre os organismos, mas
ra (breakpoints), são aqueles pontos-limite além
entre a totalidade complexa dos fatores físicos
dos quais há um dramático e repentino desvio
que formam o que é conhecido como ambiente
em relação ao comportamento médio dos ecos-
(TANSLEY, 1935).
sistemas (MEA, 2003). O grande problema está
O conjunto de indivíduos e comunidades
em que esses limiares não são conhecidos na
de plantas e animais (recursos bióticos), sua
maioria dos casos, em especial quando se tra-
idade e sua distribuição espacial, juntamente
ta de macro-ecossistemas regulatórios como
com os recursos minerais, terra e energia solar
aquele responsável pela estabilidade climática.
(recursos abióticos), compõem a estrutura ecos-
Nos casos em que o risco de perdas irreversíveis
sistêmica, a qual fornece as fundações sobre as
decorrentes de sua ruptura é muito elevado, a
quais os processos ecológicos ocorrem (TUR-
única solução é a adoção de políticas baseada no
NER; DAILY, 2008; DALY; FARLEY, 2004). A maio-
Princípio da Precaução.
ria dos ecossistemas apresenta milhares de ele-
O entendimento da dinâmica dos ecossiste-
mentos estruturais, cada um exibindo variados
mas requer um esforço de mapeamento das cha-
graus de complexidade. Esses elementos, por
madas funções ecossistêmicas, as quais podem
sua vez, exibem comportamentos evolucioná-
ser definidas como as constantes interações
rios e não mecanicistas (COSTANZA et al., 1993).
existentes entre os elementos estruturais de um
Devido a isso, os ecossistemas são caracteriza-
ecossistema, incluindo transferência de energia,
dos por comportamentos não lineares, o que
ciclagem de nutrientes, regulação de gás, regula-
faz com que não seja possível fazer previsões de
ção climática e do ciclo da água. Essas funções se
intervenções baseadas apenas em conhecimen-
traduzem em serviços ecossistêmicos, na medida
tos sobre cada componente individualmente.
em que beneficiam as sociedades humanas. Den-
Como sistemas complexos, os ecossis-
tre eles, pode-se citar a provisão de alimentos,
temas apresentam várias características (ou
a regulação climática, a formação do solo, etc.
propriedades), como variabilidade, resiliência,
(DAILY, 1997; COSTANZA et al., 1997; DE GROOT
et al., 2002). São, em última instância, fluxos de
7
Baseado em Andrade; Romeiro (2009a e 2009b). materiais, energia e informações derivados dos
558 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

ecossistemas naturais e cultivados que, combi- econômico-ecológica é um de seus elementos


nados com os demais tipos de capital (humano, diferenciadores centrais em relação à aborda-
manufaturado e social) produzem o bem-estar gem convencional (neoclássica).
humano. O valor de um dado estoque de capital é esti-
Os processos (funções) e serviços ecossis- mado calculando-se o valor presente dos fluxos
têmicos nem sempre apresentam uma relação de renda futura por ele gerados. Considerando
biunívoca, sendo que um único serviço ecos- que os ecossistemas são estoques de capital natu-
sistêmico pode ser o produto de duas ou mais ral, contabilmente seu valor também poderia ser
funções, ou uma única função pode gerar mais definido pelo valor presente dos fluxos de renda
que um serviço ecossistêmico. A natureza inter- (natural) futura que pode proporcionar (serviços
dependente das funções ecossistêmicas faz com ecossistêmicos). No entanto, como foi visto, eco-
que a análise de seus serviços requeira a com- logicamente nem todas as funções ecossistêmicas
preensão das interconexões existentes entre os se expressam claramente em serviços ecossistê-
seus componentes. Além disso, o fato de as fun- micos. Além disso, devido ao conhecimento cien-
ções e os serviços ecossistêmicos ocorrerem em tífico insuficiente, pode não ser possível saber as
várias escalas espaciais e temporais torna suas consequências no tempo da degradação de uma
análises uma tarefa ainda mais complexa. dada função ecossistêmica. Para uma visão estri-
Os serviços ecossistêmicos podem ser clas- tamente ecológica, esse fato tornaria inviável a
sificados de maneira semelhante às funções ecos- valoração econômica dos ecossistemas.
sistêmicas das quais resultam. Por exemplo, os Na visão econômico-ecológica, essa não
serviços de provisão incluem os produtos obtidos seria, entretanto, uma posição realista na medi-
dos ecossistemas, tais como alimentos e fibras, da em que tornaria inviável, na prática, a gestão
madeira para combustível, recursos genéticos, da natureza em benefício da humanidade. É pre-
produtos farmacêuticos, etc. Sua sustentabilidade ciso adotar uma abordagem dinâmico-integrada
não deve ser medida apenas em termos de fluxos, das contribuições das ciências sociais (economia,
isto é, quantidade de produtos obtidos em deter- principalmente) e das ciências naturais (eco-
minado período. Deve-se proceder a uma análise logia e biologia, principalmente), de modo a se
que considere a qualidade e o estado do estoque ter clareza sobre a relevância ecológica do que
do capital natural que serve como base para sua está sendo valorado economicamente, levando-
geração, atentando para restrições quanto à sus- -se na devida conta os vários efeitos de feedback
tentabilidade ecológica. Outro exemplo são os existentes entre ecossistemas e sistemas eco-
serviços de regulação, como manutenção da qua- nômicos (HARRIS, 2002; ROBISON, 1991). Para
lidade do ar, regulação climática, controle de ero- tanto, a modelagem econômico-ecológica se faz
são, dispersão e assimilação de poluentes, repro- necessária.
dução vegetal (polinização), etc. Diferentemente De acordo com Wätzold et al. (2006), um
dos serviços de provisão, sua avaliação não se dá modelo pode ser descrito como uma representa-
pelo seu nível de produção, mas sim pela análise ção proposital de um sistema, o qual consiste em
da capacidade dos ecossistemas regularem deter- elementos estruturais e suas relações internas,
minados serviços. além de inter-relações destes com os ambientes
Tendo em vista a importância dos fluxos subjacentes. As especificações dos elementos
de serviços gerados pelos ecossistemas para estruturais e dos relacionamentos internos e
o bem-estar humano e para o suporte da vida externos determinam em que medida um modelo
no planeta, é inegável a necessidade de valorá- pode ser considerado integrado e interdisciplinar.
-los economicamente de modo a fornecer sub- No caso da modelagem econômico-ecológica, três
sídios para políticas ambientais.8 No entanto, é requisitos são necessários: i) profundo conheci-
preciso ter clareza de que esses valores somen- mento das disciplinas envolvidas (no caso, eco-
te podem refletir parte do que está em jogo. nomia e ecologia); ii) identificação e estruturação
Esse reconhecimento por parte da abordagem adequadas do problema a ser investigado; e, iii)
entendimento mútuo entre os pesquisadores
8
Ver Romeiro (2004) para uma avaliação crítica da impor- (economistas e ecólogos) sobre as escalas e os
tância da valoração econômica de impactos ambientais. propósitos da ferramenta de modelagem.
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 559

O conhecimento limitado de disciplinas ecossistêmicas contribuem para o bem-estar


individuais em abordagens integradas tem levado humano. As diferenças mais pronunciadas entre
a simplificações, reducionismos e dificuldades economistas e ecólogos podem ser reconciliadas
em lidar com a complexidade dos sistemas ecoló- a partir do momento em que se tenha uma com-
gicos e econômicos. As diferentes disciplinas pos- preensão mais ampla dessas relações mútuas e
suem distintas idiossincrasias e o desafio está na dos desdobramentos espaciais e temporais da
construção de uma linguagem comum, capaz de ação humana sobre os ecossistemas.
abarcar as visões isoladas envolvidas. No caso da Ainda de acordo com Bockstael et al.
valoração dos serviços ecossistêmicos, o conhe- (1995), as disciplinas de economia e ecolo-
cimento dos processos ecológicos torna-se uma gia possuem algumas características comuns,
condição essencial para o entendimento da dinâ- o que teoricamente poderia contribuir para a
mica desencadeada por intervenções antrópicas integração de suas contribuições para o trata-
nos ecossistemas. A partir dessas mudanças, é mento da questão dos ecossistemas e de seus
possível utilizar esquemas valorativos que supe- serviços. Ambas buscam analisar e predizer
rem as limitações impostas pelas abordagens atributos e trajetórias de sistemas complexos,
estritamente econômicas ou ecológicas. cujas dinâmicas são governadas pela alocação
Além de considerar a dinâmica ecológica, de recursos escassos e onde o comportamen-
uma verdadeira valoração dinâmico-integrada to de agentes individuais e fluxos de energia e
deve incluir também as visões que diferentes matéria são essenciais.
grupos de indivíduos têm sobre as diversas cate- Apesar das similaridades, existem signifi-
gorias de serviços ecossistêmicos e suas dimen- cativas diferenças entre as duas disciplinas, mor-
sões culturais e éticas. Não basta apenas ampliar mente ligadas a diferenças no uso de unidades
o cenário de valoração, incorporando aspectos de medida, no foco em diferentes populações de
de dimensões ecológicas e biofísicas. É preciso interesse, no tratamento de riscos e incertezas, e
reconhecer que os seres humanos possuem uma em paradigmas de análises. Ecólogos usualmen-
racionalidade limitada e que é necessário pon- te criticam os economistas pela sua excessiva
derar quesitos de ordem social. concentração na dimensão antropocêntrica dos
Segundo Costanza; Ruth (1998), a mode- valores ecossistêmicos e a consequente descon-
lagem econômico-ecológica pode variar entre sideração de importantes processos ecológicos,
simples modelos conceituais, que fornecem um ao mesmo tempo em que economistas criticam
entendimento geral do comportamento de um ecólogos e demais cientistas naturais pela sua
dado sistema, a aplicações realistas, cujo obje- resistência em calcular as contribuições relati-
tivo é avaliar diferentes propostas de políticas. vas de várias características dos ecossistemas
Os três atributos de um modelo que permitem para o bem-estar humano e a não consideração
avaliar a eficiência da ferramenta da modelagem de qualquer tipo de preferência humana no pro-
econômico-ecológica são o realismo (simulação cesso de valoração. Nesse sentido, a modelagem
de um sistema de uma maneira qualitativamen- econômico-ecológica oferece os meios para a
te realística), a precisão (simulação de um siste- integração das perspectivas econômica e ecoló-
ma de uma maneira quantitativamente precisa) gica. O notável desenvolvimento de ferramentas
e a generalidade (representação de um amplo computacionais que são capazes de simular as
intervalo de comportamentos sistêmicos com o interações entre vários sistemas vem contri-
mesmo modelo). Nenhum modelo poderá maxi- buindo de forma decisiva para tornar viável ope-
mizar simultaneamente esses três atributos; e a racionalmente essa ferramenta analítica.9
escolha de qual deles é mais importante depen-
derá dos propósitos fundamentais para qual o
modelo está sendo construído. 9
Um exemplo de aplicação de modelos econômico-ecológi-
cos para a valoração de serviços ecossistêmicos pode ser
Para Bockstael et al. (1995), o objetivo
extraído de Boumans et al. (2002). Os autores utilizaram
imediato da modelagem econômico-ecológica é o Global Unified Metalmodel of the Biosphere (GUMBO)
a representação das interações entre os ecossis- para estimar o valor global dos serviços ecossistêmicos,
temas e a atividade humana, ilustrando de que cujo total mostrou ser 4,5 vezes maior que o Produto Bru-
to Global para o ano de 2000. O GUMBO deu origem ao
maneira as intervenções antrópicas modificam MIMES (Multiscale Integrated Models of Ecosystem Servi-
os ecossistemas e como diferentes configurações ces) (BOUMANS; COSTANZA, 2007).
560 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

5 | MARCO REGULATÓRIO
SOBRE PAGAMENTO POR
garantir seu fornecimento (condicionalidade).
Outros autores, como Vatn (2010), enxergam tal

SERVIÇOS AMBIENTAIS NO
conceituação apenas como uma definição sob

BRASIL E EM SÃO PAULO


determinada ótica teórica, visto que a maioria
dos esquemas não se encaixa completamente em
tal definição. Cita, por exemplo, o fato de não ser
Nos últimos anos, novas políticas ambien- observada em grande parte dos casos a exigência
tais utilizando instrumentos econômicos foram de ser voluntário, pelo menos do ponto de vista
sendo elaboradas, principalmente nos países em do comprador, como os PSA em bacias hidro-
desenvolvimento. Diferentemente da abordagem gráficas. Além disso, como visto anteriormente,
usual, que utilizava exclusivamente instrumen- os serviços ambientais usualmente não são bem
tos de comando e controle, tais políticas focam definidos e muito menos estáticos e lineares, não
na transferência monetária entre os agentes, sendo fácil mensurar as relações entre as práticas
como forma de compensação e alinhamento de de uso do solo e a melhora esperada na provisão
incentivos para determinados objetivos definidos de serviços ecossistêmicos. Ou seja, a eficiência
pela sociedade ou pelos formuladores de políti- do PSA é difícil de ser mensurada sob a ótica dos
cas. Nesse espectro, os Pagamentos por Serviços serviços ecossistêmicos.
Ambientais (PSA) surgem como uma nova abor- Muradian et al. (2010) argumentam em dire-
dagem para garantir a provisão de serviços ecos- ção a uma nova conceituação do PSA. O principal
sistêmicos e compensar financeiramente aqueles objetivo de uma política de PSA deve ser a criação
que garantem a oferta dos mesmos. de incentivos para a provisão desses serviços, os
Wunder (2005) define PSA como uma tran- quais são bens públicos. As transferências sociais,
sação voluntária, na qual um serviço ecossistê- sejam elas monetárias ou não, estão dentro de
mico bem definido é comprado por pelo menos uma relação social e podem ser transmitidas
um agente se, e somente se, o provedor conseguir através de um mercado (ou algo parecido), bem

Prática usual - economia Abordagem alternativa -


ambiental neoclássica economia ecológica

Teoria microeconômica como substrato teórico Economia ecológica como fonte de inspiração teórica
Exclusivamente antropocêntrica e utilitarista Consideração do direito de existência das espécies e
de valores deontológicos
Uso exclusivo de técnicas de valoração Avaliação ecossistêmica e uso de ferramentas de
suporte (modelagem e técnicas de valoração)
Ênfase exclusiva na dimensão econômica de valores Consideração das dimensões ecológica e sociocultu-
ral, além da dimensão econômica
Pressuposto de agentes racionais e com informação Reconhecimento das limitações cognitivas dos agen-
perfeita tes econômicos

Visão mecânica do funcionamento dos ecossistemas Visão entrópica (termodinâmica) do funcionamento


dos ecossistemas

Pressuposto de irreversibilidade Existência de irreversibilidades, complexidades e possi-


(inspiração mecanicista) bilidades de consequências catastróficas

Serviços ecossistêmicos em geral não são essenciais Caráter essencial de grande parte dos serviços ecosis-
Quadro 2 | e podem ser substituídos têmicos e impossibilidade de substituição dos mesmos
Principais
diferenças teóricas Escala de uso dos serviços não é importante Centralidade do conceito de escala
e metodológicas
de abordagens Objetivo de correção de falhas de mercado Prioridade é a definição de uma escala de uso susten-
de valoração (externalidades) para viabilizar a alocação tável
de serviços
ecossistêmicos. Ponto ótimo é dado em função das preferências A obtenção de pontos ótimos é irrelevante. O respeito à
Fonte: Elaboração dos agentes econômicos resiliência é central
própria.
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 561

como via mecanismos de incentivos públicos ou O objetivo é instituir a Política Nacional de Paga-
subsídios. Portanto, os incentivos econômicos mento por Serviços Ambientais e as atividades
são apenas um dos diversos fatores que podem governamentais relacionadas aos serviços ecos-
influenciar padrões na relação entre uso da terra sistêmicos, criando também um Fundo Federal e
e provisão dos serviços ecossistêmicos. um Cadastro Nacional de PSA. O PL define quais
As possibilidades para implementar políti- serviços (de provisão, de suporte, de regulação e
cas de PSA no Brasil por parte dos entes públicos culturais) farão jus à remuneração, podendo ser
são distintas, variando de acordo com a esfera pagos pela manutenção, restauração e melhora
administrativa, podendo ser municipal, estadual na provisão dos mesmos, divididos em três pro-
e federal. A falta de um marco regulatório expõe gramas – floresta, água e Reserva Particular do
as iniciativas já estabelecidas em uma situação Patrimônio Natural (RPPN).

5.2 | TEEB – A Economia dos


de incerteza. Alguns estados e municípios toma-

Ecossistemas e da Biodiversidade –
ram a dianteira e criaram legislações específicas

situação atual e perspectivas


para o PSA, dando o suporte necessário para
suas políticas. Na sequência, descreveremos o
atual regime federal que sustenta algumas polí-
Lançado em 2007, "The Economics of
ticas de PSA, bem como a proposta de lei que
Ecosystems and Biodiversity" (TEEB) é uma ini-
intenta regulamentá-la, além da ilustração do
ciativa internacional, lançada pela União Euro-
arcabouço legal criado pelo Estado de São Paulo.

5.1 | Regime Federal Legal de PSA10


peia e agora organizada pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),
que busca colocar na agenda política principal
a importância e os benefícios econômicos da
Apesar de o país possuir uma diversidade
biodiversidade. Grande parte do esforço está
de leis estaduais, no âmbito federal as iniciati-
em estabelecer bases metodológicas para a
vas de PSA não contam ainda com uma regu-
contabilização do capital natural e para o reco-
lamentação específica, apoiando-se em outras
nhecimento do manejo sustentável dos recursos
políticas e possibilidades como instrumentos
naturais como base primordial para a sustenta-
indiretos. Em 2009, foi lançada a Política Nacio-
ção da economia. A iniciativa é principalmente
nal de Mudança do Clima (PNMC), através da
direcionada aos tomadores de decisão públicos
Lei Federal 12.187/2009, citando o PSA como
e privados, tendo diferentes publicações para
possibilidade de uso como instrumento de com-
diferentes públicos nos níveis nacionais, regio-
bate e mitigação da mudança do clima (BRASIL,
2009a). Com a regulamentação do Fundo Nacio- nais, empresariais e para cidadãos.
A primeira fase do estudo, concluída em
nal sobre Mudança do Clima (FNMC), através da
2008, alertou para três pontos cruciais: os
Lei Federal 12.114/2009, elencam-se as ativida-
impactos das perdas de serviços ecossistêmicos
des passíveis de serem financiadas pelos recur-
e a biodiversidade para o bem-estar humano; as
sos constituintes, como a recuperação de áreas
fortes ligações entre medidas conservacionistas
degradadas e a restauração de reserva legal,
podendo utilizar o PSA (BRASIL, 2009b). Além e a diminuição da pobreza; e o caráter ético ao
disso, possibilita o financiamento de projetos fixar uma baixa taxa de desconto para os benefí-
de REDD11, em áreas prioritárias e estratégicas cios dos ecossistemas e biodiversidade. Devido à
nossa inação perante as perdas ecossistêmicas,
para a conservação florestal e da biodiversidade.
recomenda-se que a utilização da contabilidade
Em 2007, foi proposto o Projeto de Lei (PL)
do capital natural e a sua inclusão nas esferas
792/2007, como tentativa de regulamentar a
microeconômicas para reduzir o custo de ações
atuação do PSA como instrumento de política no
futuras. A segunda fase, em andamento, objeti-
âmbito federal (CONGRESSO NACIONAL, 2019).
va estreitar as ligações entre economia e ecolo-
gia para estruturar uma avaliação dos serviços
10
Baseado primordialmente em SANTOS, P.; BRITO, B.; MAS- ecossistêmicos em distintos cenários. Como
CHIETTO, F.; OSÓRIO, G.; MONZONI, M. 2012, “Marco Regu-
resultados de políticas, espera-se aumentar o
latório sobre Pagamento por Serviços Ambientais no Bra-
sil”. Imazon, FGC.CVces. interesse público pelo tema e criar ferramentas
11
Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação. para os policymakers em distintos níveis de ação.
562 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

5.3 | PSA no Sistema Ambiental 6 | VALORAÇÃO DE


Paulista - a regulamentação SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
estabelecida pela PEMC E PAGAMENTO POR
SERVIÇOS AMBIENTAIS:
Em 2009, foi promulgada a Política Estadu-

DA TEORIA À PRÁXIS
al de Mudanças Climáticas (PEMC), através da Lei
13.789, tendo como objetivo o estabelecimento
de compromissos estaduais frente ao desafio das
mudanças climáticas, bem como contribuir para Os serviços ecossistêmicos devem ser
a redução ou para a estabilização dos Gases de incluídos no processo de tomada de decisão,
Efeito Estufa (GES) (SÃO PAULO, 2009). A partir através da valoração econômico-ecológica.
desta, foi instituído o Programa de Remanescen- Essa abordagem é amplamente discutida pela
tes Florestais, sob a coordenação da Secretaria de chamada Avaliação Ecossistêmica do Milênio
Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA). A regula- (Millenniium Ecosystem Assessment - MEA), pro-
mentação da PEMC define: i) serviço ecossistêmi- cesso de avaliação científica sobre os serviços
co como aqueles benefícios que as pessoas obtém dos ecossistemas e sua relação com o bem-estar
dos ecossistemas; ii) serviços ambientais: como humano, desenvolvido de 2001 a 2005.
serviços ecossistêmicos que têm impactos posi- O MEA contou com a participação de mais
tivos além da área geradora; iii) Pagamento por de 1.300 especialistas de todas as disciplinas e
Serviço Ambiental: transação voluntária de paga- áreas, procedentes de mais de 100 países. Sua
mento ao provedor que conserve ou recupere um principal conclusão é que a sociedade humana
serviço ecossistêmico, mediante a comprovação pode diminuir as pressões que exerce sobre os
da execução das ações contratadas. serviços naturais do planeta. Todavia, a sua uti-
Tal arcabouço permite certa flexibilidade lização predatória contribui para alterar a fun-
na proposição de políticas envolvendo o PSA. cionalidade dos ecossistemas, resultando em
Os projetos de PSA são definidos através de perdas crescentes, sinérgicas e acumulativas.
norma própria (Resoluções da SIMA) e devem Também foi estabelecido um processo de con-
observar as diretrizes e critérios definidos na tinuidade, por meio da promoção de avaliações
Lei 13.798/2009 (SÃO PAULO, 2009), bem como em múltiplas escalas dos serviços ecossistêmi-
definir as áreas prioritárias estabelecidas para cos em âmbito regional, nacional ou subnacio-
a execução (como conectividade entre remanes- nal, as chamadas avaliações subglobais. O livro
centes, mananciais de abastecimento público, Serviços Ecossistêmicos e Bem-Estar Humano
entre outros). Além disso, cada projeto deve- na RBCV é decorrente da participação da RBCV
rá possuir seus critérios de elegibilidade, de nesse processo, como Avaliação Subglobal apro-
monitoramento, de valores a serem pagos e de vada pelo MEA.
prazos. Atualmente, dois programas de PSA são O MEA elenca algumas características dese-
executados a partir dessa estrutura, um voltado jáveis destes processos: uso da melhor informa-
para nascentes de mananciais de abastecimen- ção disponível, transparência e participação,
to público (Mina d´Água,) e outro para Reservas equidade e vulnerabilidade, forças e fraquezas
Particulares do Patrimônio Natural (RPPN). organizacionais e cognitivas, incorporar lições
Um dos mecanismos financeiros utilizados de decisões passadas, contabilidade (accounta-
para a execução dos projetos, criado em 2002, bility), eficiência e efeitos multiescalares (MEA,
o Fundo Estadual de Prevenção e Controle da 2005). Como visto anteriormente, a Economia
Poluição (FECOP), é vinculado à Secretaria de Ecológica busca influenciar as políticas com
Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA) e tem base em três pilares fundamentais (escala sus-
como objetivo apoiar e incentivar a execução de tentável, distribuição justa e eficiência econômi-
projetos relacionados à preservação e à melho- ca), sendo importante a consideração de vários
ria das condições do meio ambiente do estado. critérios na definição de políticas. Ferramentas
Tal fundo é constituído de recursos advindos importantes, como análise multicritério e valo-
de multas ambientais, bem como de doações e ração não monetária, devem servir de inputs
a possibilidade de recebimento de remuneração para políticas da mesma forma que as análises
por créditos de carbono. econômicas.
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 563

As iniciativas recentes de valoração e con- distintos. Os valores dos primeiros são dados
tabilidade do capital natural (seja com o MEA e fundamentalmente pelo custo de oportunida-
mais recentemente com o TEEB) são provas de de, isto é, pelo custo incorrido por um agente
como a economia ecológica tem se feito presen- econômico na recuperação e/ou preservação
te e influenciado o debate outrora dominado por de um dado ecossistema (por exemplo, o valor
análises meramente custo-benefício. da produção agropecuária na área ocupada ou

6.1 | Desafios na estruturação


a ser ocupada por um ecossistema florestal). Os
valores dos segundos são dados pelos ganhos
de mercados por serviços monetários que propiciam; no caso de uma

ecossistêmicos
floresta, teriam que ser somados os valores de
serviços com a provisão de água, polinização,
A criação do mercado de serviços ecossis- produtos florestais, fixação de carbono, cujo
têmicos depende primeiramente da clara defi- total certamente seria distinto daquele do cus-
nição dos direitos de propriedade, etapa comu- to de oportunidade agropecuário do espaço em
mente problemática, principalmente nos países questão.
em desenvolvimento devido à falta de docu- O valor monetário dos serviços ecossistê-
mentos comprobatórios de posse e arranjos micos representa uma justificativa importante,
comunais de propriedade da terra. A definição mas conjunta à dimensão propriamente ecoló-
do serviço a ser transacionado (commodity) e gica (de sustentabilidade), para a preservação
dos meios de monitoramento e verificação nem e/ou recuperação de determinado ecossistema.
sempre são feitos. Adicionalmente no sentido de que a decisão de
Tais dificuldades na estruturação desses preservação e/ou a recuperação de um deter-
mercados explicam em grande parte o papel minado ecossistema não pode ser tomada ape-
preponderante dos intermediários. Instituições nas com base numa análise custo-benefício, que
públicas, organizações não governamentais compara os custos dessa recuperação e/ou pre-
(ONG), comitês de bacia e até empresas privadas servação (serviços ambientais) com os benefí-
atuam como intermediários. Usualmente são eles cios monetários (serviços ecossistêmicos).

6.2 | O ICMS-Ecológico
que definem o preço, as regras do jogo e escolhem
os provedores do serviço através da seleção de
determinados critérios, o que pode gerar preocu-
pações quanto à equidade. Esquemas de desenho Enquanto que o PSA pode ser entendido
de mercados voltados aos recursos hídricos são como a transferência monetária do custo de
a maioria, visto que são facilitados pela estrutura oportunidade para atores privados, o ICMS-
dos intermediários (comitês ou empresas) e pela -Ecológico possui a mesma lógica, mas para
facilidade em ligar os provedores (geralmente os o setor público. O conceito é de compensar
proprietários rurais à montante) aos recebedores os municípios pelos custos de oportunidade
(a população à jusante). A maior dificuldade na referentes às restrições de uso da terra com o
criação de políticas de PSA é justamente a ques- estabelecimento e a manutenção de áreas de
tão do financiamento. Quando não se logra esta- conservação dentro de seus territórios. O Bra-
belecer o vínculo provedor-recebedor, depende- sil foi o país pioneiro a utilizar tal mecanismo,
-se em grande parte de fundos públicos ou de em 1991 no estado do Paraná, conhecido tam-
doações internacionais, o que pode minar os bém por Ecological Fiscal Transfer. Atualmente,
potenciais resultados. 13 estados possuem legislação própria regula-
Como demonstrado anteriormente, a mentando tal mecanismo. Além do Brasil, tam-
valoração econômico-ecológico é um excelente bém países como Portugal e Alemanha têm uti-
instrumento para subsidiar a adoção de políti- lizado dessa redistribuição fiscal como política
cas conservacionistas e tem papel fundamental ambiental.
nas políticas de PSA. No entanto, é preciso ter O Imposto sobre Circulação de Mercado-
cuidado e não confundir os conceitos de servi- rias e Serviços (ICMS) é um imposto interesta-
ços ambientais com aquele de serviços ecossis- dual e intermunicipal, o qual é passível de ter
têmicos, pois os valores respectivos são muito sua distribuição alterada por critérios estaduais.
564 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

O ICMS-Ecológico destina 0,5% de sua alíquota Diferentemente de alguns projetos de PSA


aos municípios com Unidades de Conservação que utilizam uma tarifa única básica (flat rate),
(UC) estaduais. Por ser um instrumento com- no caso do Mina d’Água os serviços ambientais
pensatório, não há a necessidade dos municípios são valorados de forma diferenciada em um
destinarem tais recursos para fins ambientais, cálculo que envolve: i) um valor de referência,
não sendo assim um instrumento de incentivo baseado no custo de oportunidade; ii) um fator
a criação ou melhoria das UC. Apesar de alguns de proteção da nascente: variando de 1 a 4; iii)
autores, como Young (2005), afirmarem que foi um fator de importância da nascente: conside-
um importante mecanismo de estímulo a criação rando o tipo de uso da nascente, bem como sua
de novas áreas protegidas, a falta de estudos de vazão e localização. Tal valoração diferencia-
impacto não permite avaliar quantitativamente da requer um monitoramento mais constante,
seu impacto em São Paulo. Além disso, em São mas premia as ações adicionais dos produtores
Paulo não há um alinhamento das categorias das rurais.
áreas protegidas estaduais com aquelas definidas Apesar de não contar ainda com um méto-
pelo Sistema Nacional de Unidades de Conserva- do de avaliação do impacto do programa, em
ção (SNUC) (Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, linhas gerais pode-se traçar algumas lições. A
regulamentada pelo Decreto nº 4.340, de 22 de estrutura institucional desenhada para o pro-
agosto de 2002) de modo que o ICMS-Ecológico grama possibilita a descentralização da gestão
em São Paulo considera somente as UC de prote- do mesmo e o compartilhamento das respon-
ção integral enquadradas nas categorias do SNUC sabilidades com as prefeituras. Se por um lado
(BRASIL, 2000; 2002). Outro problema reside isso é positivo do ponto de vista do nível de
no fato de que o incentivo reconhece somen- penetração e participação no ambiente local,
te as UC estaduais, não contabilizando as áreas por outro lado, ao não reservar recursos para
municipais sob restrição de uso as UC federais ou os custos de transação das prefeituras, eviden-
municipais presentes no território do município. cia a falta de estrutura de gestão ambiental e
Tendo em vista essas, entre outras limitações, e até mesmo de recursos básicos de algumas pre-
considerando que desde 1993 o Estado não pro- feituras paulistas.

6.4 | O Caso de Extrema-MG:


move mudanças na Lei, existem iniciativas popu-
lares recentes para revisão da mesma.
possibilidades e desafios12
6.3 | O Projeto Mina d’Água
Extrema é um pequeno município minei-
O projeto Mina d’Água foi idealizado pela ro de 28 mil habitantes, na divisa com o estado
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do de São Paulo, que tem se destacado pelo seu
estado de São Paulo como forma de estimular a bem sucedido programa de PSA, denominado
proteção das nascentes de mananciais de abas- Conservador das Águas, iniciado em 2005 e que
tecimento público, sendo o primeiro projeto de conta atualmente com cerca de 100 beneficiá-
PSA elaborado sob a PEMC. O governo do estado rios em uma área de 2.850 hectares. O progra-
reservou R$ 3,15 milhões para a fase piloto do ma é um dos instrumentos da política ambien-
Projeto, em 2010. A previsão inicial era de que tal do município e é resultado de um processo
150 nascentes fossem protegidas em 21 muni- que se iniciou no fim da década de 1990, com
cípios. O Projeto foi instituído através da PEMC uma tentativa de adequação ambiental das pro-
e por meio do decreto 55.947/2010 (SÃO PAU- priedades rurais.
LO, 2010). Nesse projeto, os financiamentos não O município foi o primeiro a criar uma
reembolsáveis são destinados a pessoas físicas lei regulamentando o PSA e um fundo especí-
de direito público. Os recursos advêm do FECOP, fico para o programa. O arranjo do programa
e são repassados mediante convênios com as inclui desde a Agência Nacional de Águas (em
prefeituras. A primeira etapa do projeto focava o parceria com o programa Produtor de Água),
desenvolvimento e a avaliação de metodologias
e arranjos institucionais em parceria com 21
municípios. 12
Baseado em Chiodi et al (2013).
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 565

7 | PERSPECTIVAS DE
VALORAÇÃO DE SERVIÇOS
comitê das bacias hidrográficas dos Rios Piraci-
caba, Capivari e Jundiaí (PCJ), empresas locais

ECOSSISTÊMICOS NA RBCV
e ONGs. A centralidade das decisões é feita
primordialmente pela Secretaria Municipal do
Meio Ambiente de Extrema, a qual conta com
um considerável corpo técnico e material, além A despeito das ressalvas no uso das téc-
de viveiro de mudas. A métrica de pagamento nicas de valoração convencionais (seção 3), o
em Extrema leva em conta o custo de oportu- fato é que seu uso tem sido largamente gene-
nidade da principal atividade agropecuária da ralizado. Em uma tentativa de reunir os resul-
região (gado), traduzido em forma de Unidades tados encontrados por uma grande quantidade
Fiscais de Extrema (UFEX). No entanto, não dispersa de estudos de valoração dos serviços
remunera apenas pela área imobilizada para ecossistêmicos nos diversos biomas do plane-
reflorestamento ou conservação, mas sim pela ta, Costanza et al. (1997)13 estimaram o valor
área total da propriedade. O entendimento da anual dos fluxos globais de 17 serviços em 16
administração do Programa é de que deve se tipos de ecossistemas. Na primeira avaliação
entender a propriedade inteira como geradora (1997), os resultados mostram que o capital
de serviços ambientais, por isso a necessidade natural da Terra rende, anualmente, um fluxo
de ações de saneamento ambiental e a difusão médio estimado de US$ 33 trilhões (preços de
de melhores práticas agrícolas. A presença das 1994) por ano,14 cerca de 1,3 vez superior ao
autoridades ambientais locais e a relação com produto bruto mundial (US$ 25 trilhões). Em
os proprietários rurais podem ser creditadas uma estimativa para o ano de 2011, os serviços
como alguns dos fatores de sucesso do progra- globais dos ecossistemas totalizam U$ 125 tri-
ma, visto que a presença nas propriedades é lhões/ano (assumindo a atualização dos valores
diária e a comunicação constante. e alterações nas áreas dos biomas) (COSTANZA
O Programa tem sido bem sucedido et al, 2014).
nas suas metas de conservação e adequação A Tabela 1, a seguir, retirada de De Groot
ambiental, mas em tese paga pelas externalida- et al. (2002) e baseada nas informações suple-
des positivas de outras cidades. Cabe lembrar mentares do estudo de Costanza, apresenta os
que as bacias hidrográficas de Extrema são par- intervalos de valores encontrados para cada
te das áreas de contribuição da bacia dos rios serviço ecossistêmico, bem como as técnicas
Piracicaba-Capivari-Jundiaí e, especialmente, de valoração mais utilizadas e sobre as quais se
do Sistema Cantareira, responsável pelo abas- basearam as estimativas.
tecimento de cerca de metade da população da Pelas informações ali contidas, é possível
cidade de São Paulo. Do ponto de vista de liga- traçar um perfil sobre quais técnicas usual-
ção entre provedor-recebedor, o maior bene- mente são mais utilizadas para captar o valor
ficiário (a população das cidades à jusante) de um serviço ecossistêmico, embora esse pos-
não contribui diretamente com a manutenção sa ser calculado a partir de vários métodos.
e a provisão de água de qualidade para seus Para a categoria de provisão, por exemplo, os
habitantes. valores dos serviços são geralmente calculados
Apesar do sucesso do programa, podemos através de observação direta de preços de mer-
questionar a possibilidade de ampliação dos cado, uma vez que esses serviços são transacio-
moldes deste para cidades da região. O municí- náveis nos mercados convencionais.
pio já vem de uma agenda ambiental rígida ao Para os serviços de regulação, técni-
longo dos anos e passou por uma transformação cas indiretas (mercados substitutos e/ou
das atividades econômicas tradicionais. Extre-
13
Segundo o Institute of Scientific Information (Web of
ma se transformou nos últimos anos em um polo Science), Costanza et al. (1997) é um dos trabalhos mais
industrial, principalmente devido aos incentivos citados na área ecológica/ambiental.
fiscais e à proximidade com a metrópole de São 14
Valor referente à média dos fluxos. O intervalo encontrado
pelos autores é de US$ 16 a US$ 54 trilhões por ano (pre-
Paulo, o que deu condições financeiras para o
ços de 1994). O valor médio dos fluxos globais de serviços
orçamento municipal, fonte principal do “Con- ecossistêmicos é considerado uma estimativa conservado-
servador de Águas”. ra pelos autores, dada a natureza das incertezas envolvidas.
566 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Intervalo
Servicos Ecossistêmicos 1 Técnica mais utilizada 3
de valores 2

Serviços de Provisão
Alimentos 6-2.761 preços de mercado
Materiais 6-1.014 preços de mercado
Recursos genéticos 6-112 preços de mercado
Recursos ornamentais 3-145 preços de mercado
Oferta de água 3-7.600 preços de mercado
Serviços de Regulação
Regulação de gás 7-265 custo evitado
Regulação climática 88-223 custo evitado
Regulação de distúrbios 2-7.240 custo evitado
Regulação de água 2-5.445 prod. marginal (fator-renda)
Retenção de solo 29-245 custo evitado
Tratamento de resíduos 58-6.696 custo de reposição
Controle biológico 2-78 custo de reposição
Polinização 14-25 custo de reposição
Serviços Culturais
Tabela 1 |
Recreação e (eco)turismo 2-6.000 preços de mercado e aval. contingente
Valor dos serviços
ecossistêmicos Informação estética 7-1.760 preços hedônicos
e técnicas de
valoração mais Informação histórica e espiritual 1-25 avaliação contingente
utilizadas. Serviços de Suporte
Fonte: Adaptado
de De Groot et al. Formação do solo 1-10 custo evitado
(2002: p. 405-406). Ciclagem de nutrientes 87-21.100 custo de reposição
Com base nos
resultados de Refúgio 3-1.523 preços de mercado
Costanza et al.
Berçário 142-195 preços de mercado
(1997).
1
Os serviços ecossistêmicos foram agrupados segundo a classificação em categorias funcionais (provisão, regulação, culturais e de suporte). Os serviços
listados são aqueles cujos valores foram calculados por Costanza et al. (1997).
2
Os valores são de 1994 e se aplicam a diferentes tipos de ecossistemas.
3
Refere-se à técnica mais utilizada e sobre a qual se baseou o cálculo dos valores apresentados. Preço de mercado refere-se aos preços diretamente observá-
veis no mercado. Este último refere-se apenas a valores adicionados (preço de mercado menos custos de capital e trabalho).

complementares) são preferidas, dado que demais tipos de serviços podem trazer embuti-
tais serviços não são precificados pelos mer- do o valor dos serviços de suporte. Para evitar
cados. Os serviços culturais foram principal- esse viés e tornar os estudos de valoração mais
mente valorados através das técnicas diretas comparáveis, De Groot et al. (2002) sugerem
(DAP direta e indireta), enquanto que os ser- que seja feito um ranking dos métodos de valo-
viços de suporte não apresentam um padrão ração preferíveis para cada classe de serviço
identificável, utilizando ora preços de merca- ecossistêmico. A Tabela 1 pode ser uma pri-
do, ora técnicas indiretas de valoração (custos meira tentativa nessa direção.
evitados e custos de reposição). Várias foram as limitações do estudo de
Quanto aos serviços de suporte, é preci- Costanza et al. (1997: p. 258), o que pode ter sig-
so lembrar que sua valoração pode, em muitos nificado sérios vieses nas estimativas feitas. A
casos, configurar em dupla-contagem, já que, seguir, resumem-se as principais, como expli-
como o próprio nome indica, esses serviços citamente reconhecidas no estudo: i) inexis-
fornecem suporte aos demais. Logo, o valor dos tência de estudos de valoração para algumas
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 567

categorias de serviços e para alguns ecos- que estimativas pontuais presentes na lite-
sistemas (deserto, tundra, etc.); ii) em mui- ratura são transportadas para estimativas
tos casos, os valores são baseados na atual globais; v) para evitar dupla contagem, não é
disponibilidade a pagar dos agentes pelos apropriada a utilização de uma estrutura de
serviços ecossistêmicos, muito embora tais equilíbrio parcial. Seria necessário o uso de
agentes possivelmente são mal informados uma estrutura de equilíbrio geral, na qual fos-
e suas preferências podem não incorporar sem reconhecidas as interdependências entre
adequadamente justiça social, sustentabilida- funções e serviços ecossistêmicos.
de ecológica e outros objetivos importantes Apesar das suas limitações, o estudo de
para a qualidade de vida; iii) a abordagem de Costanza et al. (1997) mostra que a prática
valoração utilizada assume que não existem usual da valoração de ecossistemas e seus servi-
limiares, descontinuidades ou irreversibilida- ços é bastante disseminada, além de importante
des nos ecossistemas e seus processos; iv) há para a constituição de parâmetros mínimos para
explícita desconsideração da heterogeneidade a elaboração e a implementação de políticas que
espacial dos serviços ecossistêmicos, uma vez impactam os ecossistemas e seus serviços.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, D. C.; ROMEIRO, A. R. (2009a). Ser- BRASIL (2009a). Lei nº 12.187, de 29 de dezembro
viços Ecossistêmicos e sua importânica para o de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudan-
sistema econômico e o bem-estar humano. Texto ças do Clima - PNMC e dá outras providências.
para Discussão 155, Instituto de Economia da
_______. (2009b). Lei nº 12.114, de 9 de dezembro
UNICAMP.
de 2009. Cria o Fundo Nacional sobre Mudança
_______. (2009b). Capital Natural, serviços ecos- do Clima, altera os arts. 6º e 50 da Lei nº 9.478,
sistêmicos e sistema econômico: rumo a uma de 6 de agosto de 1997, e dá outras providências.
"Economia dos Ecossistemas". Texto para Dis-
CHIODI, R. E.; PUGA, B. P.; SARCINELLI, O. (2013).
cussão 159, Instituto de Economia da UNICAMP.
Análise Institucional do Mecanismo de Pagamen-
ARROW, K. et al. (1995). Economic growth, to por Serviços Ambientais: o Projeto Conserva-
carrying capacity, and the environment. Science dor das Águas. Revista de Políticas Públicas
268, 520–521. (UFMA).
BOCKSTAEL, N. et al. (1995). Ecological Eco- COSTANZA, R.; RUTH, M. (1998). Using Dynamic
nomic Modeling and Valuation of Ecosystems. Modeling to Scope Environmental Problems and
Ecological Economics, 143-159. Build Consensus. Environmental Management
22 (2), 183-195.
BOUMANS, R.; COSTANZA, R. (2007). The
multiscale integrated Earth Systems model COSTANZA et al., (1998b) (página 29). The value
(MIMES): the dynamics, modeling and valuation of the world’s ecosystem services and natural
of ecosystem services. In: Van Bers, C.; Petry, capital. Nature 387, 253-260.
D.; Pahl-Wostl, C. (editores), Global Assessments:
_______. et al. (1993. Modeling complex eco-
Bridging Scales and Linking to Policy. GWSP
logical economic systems: toward an evolu-
Issues in Global Water System Research, n. 2.
tionary dynamic understanding of people and
GWSP IPO, Bonn. 2:102-106.
nature. BioScience 43, 545-555.
BOUMANS, R. et al. (2002). Modeling the
DAILY, G. (1997). Nature’s services: societal
dynamics of the integrated earth system and the
dependence on natural ecosystem. Island
value of global ecosystem services using the GUM-
Press, Washington, DC.
BO model. Ecological Economics 41, 529-560.
DALY, H. E.; FARLEY, J. (2004). Ecological Eco-
BRASIL (2002). Lei nº 12.651, de 25 de maio de
nomics: principles and applications. Island
2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nati-
Press, Washington, DC.
va; altera as leis nºs 6.938, de 31 de agosto de
1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, DE GROOT, R. S.; WILSON, M. A; BOUMANS,
de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nºs R. M. J. (2002). A typology for the classifica-
4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de tion, description, and valuation of ecosystem
abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de functions, goods and services. Ecological
24 de agosto de 2001, e dá outras providências. Economics 41, 393-408.
568 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

HARRIS, G. (2002). Integrated assessment and SÃO PAULO (Estado) (2010). Decreto 55.947, de
modeling: an essential way of doing science. 24 de junho de 2010. Regulamenta a Lei nº 13.798,
Environmental and Modelling & Software 17, de 9 de novembro de 2009, que dispõe sobre a
201-207. Política Estadual de Mudanças Climáticas.
LEVIN, S. A. (1998). Ecosystems and the STEVENS, T. H. et al. (2000). Comparison of
biosphere as complex adaptive systems. contingent valuation and conjoint analy-
Ecosystems 1, 431-436. sis in ecosystem management. Ecological
Economics, v. 32, n. 1.
LOUVIERE, J. L.; HENSHER, D. A.; SWAIT, J. D.
(2000). Stated Choice Methods: Analysis and TANSLEY, A. G. (1935). The use and abuse of
Application. Cambridge: Cambridge University vegetational concepts and terms. Ecology 3,
Press. 284-307.
MEA - Millennium Ecosystem Assessment. TEEB - The Economics of Ecosystems &
(2005). Ecosystems and Human Well-Being: Biodiversity (2010). Mainstreaming the
Policy Responses Findings of the Respon- Economics of Nature: A Synthesis of the
ses Working Group. Millennium Ecosystem approach, conclusions and Recommenda-
Assessment Vol.3, Island Press. tions of TEEB. Disponível em: <teebweb.org/
________. (2003). Ecosystem and Human Well- publication/mainstreaming-the-economics-of-
-Being: a framework for assessment. Island nature-a-synthesis-of-the-approach-conclu-
Press, Washington, DC. sions-and-recommendations-of-teeb/>. Acesso
21 set. 2019.
MURADIAN, R. et al. (2010). Reconciling theory
and practice : An alternative conceptual TURNER, R.K.; DAILY, G.C. (2008). The
framework for understanding payments for Ecosystem Services Framework and Natu-
environmental services. Ecological Economics, ral Capital Conservation. Environmental and
v. 69, n. 6, p. 1202-1208. Resources Economics 39, 25-35.

PORTO, M.F. de S. (1997). Interdisciplinarie- VATN, A. (2010). An institutional analysis of


dade e ciência pós-normal frente à questão payments for environmental services. Ecologi-
ambiental. In: II Encontro Nacional de Economia cal Economics, v. 69, n. 6, p. 1245-1252.
Ecológica. Anais... São Paulo. VATN, B. A. et al. (2011). Can Markets Protect
ROBINSON, J. B. (1991). Modeling the interactions Biodiversity? An evaluation of different
between human and natural systems. Internatio- financial mechanisms. Noragric Report.
nal Social Science Journal 130, 629-647.
WÄTZOLD, F. (2006). Ecological-economic
ROMEIRO, A. R. (2004). Avaliação e Contabiliza- modeling for biodiversity management:
ção de Impactos Ambientais. Org. Editora da UNI- Potential, pitfalls, and prospects. Conserva-
CAMP e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. tion Biology 20 (4), 1034-1041.
SÃO PAULO (Estado) (2009). Lei nº 13.798, de 9 de YOUNG, C. E. F. (2005). Financial Mechanisms
novembro de 2009. Institui a Política Estadual de for Conservation in Brazil. Conservation Biolo-
Mudanças Climáticas - PEMC. gy, v. 19, n. 3, p. 756-761, jun.
VALORAÇÃO ECONÔMICO-ECOLÓGICA DE ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 569

GLOSSÁRIO

A
Análise conjunta | Método que identifica as pre- Função de produção | Função que relaciona a
ferências declaradas de entrevistados através da quantidade de diversos insumos necessários à
comparação de cenários. produção de um bem ou serviço.
Avaliação contingente | Método que, por meio
de entrevistas à população, estima a disposição
desta a pagar por um bem ou serviço ecossis-
G
têmico. Gastos defensivos | Método que estima gastos
necessários com atividades substitutas ou com-
Análise de custo-benefício | Método de análise
plementares, para suprir mudanças nos bens ou
que compara custos e benefícios econômicos de
nos serviços ecossistêmicos.
uma intervenção.

C I
Internalização | Fazer com que o agente que
Custos evitados | Método que estima custos
promove uma ação seja responsável pelos impac-
com atividades substitutas ou complementares,
tos a outros agentes.
que seriam realizadas caso ocorressem mudan-
ças nos bens ou no serviço ecossistêmico.
Custos de controle | Método que estima gastos M
com atividades de controle necessárias para evi-
tar a variação do bem ou do serviço ecossistêmico. Mercado de bens substitutos | Métodos que
estimam o valor econômico de um bem ou de um
Custos de reposição | Método que estima gas- serviço ecossistêmico a partir do preço de merca-
tos necessários para reposição ou reparação de do de algum substituto.
um bem ou serviço ecossistêmico após qualquer
um destes ser modificado. Métodos diretos | Métodos baseados na DAP
declarada pelos agentes econômicos.
Custo de oportunidade | Custo de atividades
econômicas que poderiam estar sendo desenvol- Mercado hipotético | Simulação de um merca-
vidas em uma área de preservação. do para um bem ou um serviço.
Custo de viagem | Custos associados aos gas-
Método de valoração | Métodos que atribuem
tos praticados pelos visitantes para se desloca-
valores econômicos aos bens ou aos serviços
rem a um local de visitação.
ecossistêmicos.

D P
DAP | Disposição a pagar por algum bem ou ser-
Poluição ótima | Nível de poluição em que os
viço, declarada por um agente econômico.
custos marginais de controle igualam-se aos
benefícios marginais de controle.
E Precificação | Atribuir preço a um bem ou a um
Erosão | Processo pelo qual o solo é removido da serviço ecossistêmico.
superfície.
Preços hedônicos | Valores econômicos atri-
Externalidade | Efeito da ação de um agente buídos por meio de relações entre a provisão de
sobre o bem-estar de outro agente. bens e serviços ecossistêmicos com o preço de
um produto no mercado.

F
Função dose-resposta | Função que relaciona o
S
nível de provisão do recurso ambiental ao respec- Stakeholder | Agentes que promovem determi-
tivo nível de produção de produtos no mercado. nada ação ou são afetados por ela.
570 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO
MÃOS UNIDAS PARA OS
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
E PARA A BIODIVERSIDADE
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Foto de abertura do
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE
capítulo:
Atividade de
reflorestamento no
NEE Parelheiros
(PJ Mais).
Fonte: Elaine
Aparecida
Rodrigues (2015).

A comunidade científica internacional é clara e veemente ao afirmar que, se


não tomarmos medidas concretas e urgentes para o combate às mudanças
climáticas e à redução da perda da biodiversidade e da fragmentação dos
ecossistemas, o ser humano enfrentará as maiores crises ambientais de sua
história, com profundos reflexos no bem-estar e nas condições de sobrevi-
vência da população humana e das outras formas de vida no planeta. Por
outro lado, a humanidade tem produzido o conhecimento que pode guiá-la a
rumos distintos daqueles desenhados nos cenários mais sombrios de nosso
futuro comum. A utilização do conhecimento científico ou tradicional para a
mobilização das pessoas, especialmente tomadores de decisão, deve se dar
na escala planetária, dos programas, tratados e convenções internacionais,
mas também nas escalas mais locais, onde o fazer cotidiano das pessoas,
aquele que determina seu porvir, pode se realizar em bases mais amigáveis
em relação ao meio que as sustentam. Impregnada por esse espírito, esta
obra tem a intenção de contribuir para a sustentabilidade de uma das maio-
res aglomerações humanas do planeta.
Este livro é uma iniciativa da RBCV. A amplitude dos estudos e sua
área de cobertura (Região Metropolitana de São Paulo, da Baixada Santis-
ta e municípios envoltórios) conformam uma publicação referencial para o
planejamento e o desenho de políticas públicas para a região. O caráter mul-
tidisciplinar e colaborativo deste trabalho é sua marca e sua pedra funda-
mental - um time de 100 profissionais e 46 instituições uniram suas mãos
para pensar e escrever sobre a relação entre os serviços ecossistêmicos e
o bem-estar de mais de 12% da população brasileira, que reside, trabalha,
gera riqueza, altera e conserva os ecossistemas necessários à sustentação
da metrópole. Que este trabalho possa inspirar ações integradas, integrado-
ras e com visão ecossistêmica, tão necessárias para o enfrentamento dos
desafios inerentes às grandes cidades, à crescente urbanização, à perda dos
serviços ecossistêmicos e comprometimento da biodiversidade. Que muitas
outras mãos possam se juntar às nossas para escrever um outro futuro para
nosso Planeta e para nossas sociedades.

Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor


Elaine Aparecida Rodrigues
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 573

Marcos Penido
Apresentação
Secretário Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente de São
Paulo (SIMA). Graduação em Engenharia Civil, funcionário de carreira
da CDHU. Ocupou cargos de responsabilidade no
Estado e na Prefeitura de São Paulo, à frente de desafios
de programas de infraestrutura urbana.

Luis Alberto Bucci


Apresentação | Produtos florestais
Pesquisador científico e diretor geral do Instituto Florestal
(IF/SIMA). Graduação em Engenharia Florestal (UFPR).
Tem experiência na área de recursos florestais e
engenharia florestal, com ênfase em silvicultura.
Ocupou cargos no IF, sendo coordenador da RBCV (2009 a 2012).

Rodrigo Levikovicz
Apresentação
Diretor executivo da Fundação Florestal (FF/SIMA).
Graduação em Direito (PUC). Especialização em Direito Ambiental
e Direito Público (ESPGESP). Mestre em Direitos Difusos e Coletivos
(PUC-SP). Procurador do Estado de São Paulo.

Walt Reid
Prefácio
Diretor do Programa de Conservação e Ciência da David and
Lucile Packard Foundation. Graduação em Zoologia
(Universidade da Califórnia). Pós-Doutor em Zoologia
(Universidade de Washington). Foi professor na Universidade
de Stanford, criador e diretor da Avaliação Ecossistêmica
do Milênio, vice-presidente do World Resources Institute.

Anita Correia de Souza Martins


Apresentação
Presidente do Conselho de Gestão da RBCV.
Diretora da Divisão de Gestão de UC da Secretaria Municipal
do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo (SVMA).
Graduação em Ciências Sociais (USP). Pós-Graduação em Gestão
Ambiental (FSP/USP) e Direito Ambiental (SENAC).
Coordenou o Plano Municipal de Mata Atlântica pela SVMA.
Contato: [email protected]

Rodrigo Rodrigues Castanho


Apresentação
Coordenador executivo da RBCV. Executivo público da SIMA /
Instituto Florestal (IF/SIMA). Graduação em Direito. Especialista em
Direito Ambiental. Principais áreas de atuação: gestão ambiental,
serviços ecossistêmicos, criação de UC e compensação ambiental.
Contato: +55 11 2232 3116; [email protected]
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Conselho Editorial e Revisão Técnica

Elaine Aparecida Rodrigues


Editora | Parecerista | Revisora | Introdução | Produtos Florestais |
Provisão e regulação da água | Fixação de carbono em superfície |
Regulação do clima | Lazer e turismo | Epílogo
Pesquisadora científica do Instituto Florestal (IF/SIMA);
Doutoranda em Tecnologia Nuclear (IPEN/USP). Graduação em
Administração, Mestre em Integração da América Latina (USP). Ocupou
cargos de direção no IF e foi coordenadora executiva da RBCV. Atua nas
áreas de popularização da ciência, planejamento territorial para a
conservação, reservas da biosfera e serviços ecossistêmicos,
com ênfase em criação de UC e elaboração de planos de manejo.
Contato: +55 11 2231 2170; [email protected]

Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor


Editor | Parecerista | Revisor | Introdução | Produtos florestais |
Regulação da qualidade do ar | Fixação de carbono em superfície |
Epílogo
Analista ambiental da Fundação Florestal (FF/SIMA). Graduação
em Engenharia Florestal (ESALQ/USP). Há 24 anos no Sistema
Ambiental Paulista, foi diretor geral do IF, diretor adjunto na FF e
coordenador executivo da RBCV. Integrou projetos internacionais
ligados a cidades sustentáveis no âmbito da SCOPE e do Programa
MAB/UNESCO. Áreas de atuação: criação de UC,
ecossistemas urbanos, avaliação ecossistêmica; planejamento
territorial para conservação e uso sustentável de ecossistemas.
Contato: +55 11 2997 5075; [email protected]

Bely Clemente Camacho Pires


Editora | Parecerista | Revisora |Produtos bioquímicos | Turismo
Diretora da Roda d’Água Gestão Socioambiental (RdA).
Bacharel e Mestre em Administração (FEA/USP). Atuou como
consultora (RBCV, IF e FF); foi professora da Faculdade Cantareira e
diretora do Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental.
É consultora ad hoc da FAPEAM e FAPEG. Áreas de atuação: formação
e assessoria em gestão socioambiental e organizacional, educação
financeira e consumo consciente.
Contato: +55 11 99292 4950; [email protected]

Edgar Fernando de Luca


Editor | Parecista | Revisor | Produtos florestais |
Fixação de carbono em superfície
Pesquisador científico do Instituto Florestal (IF/SIMA). Graduação
em Engenharia Florestal (ESALQ/USP). Doutor em Ciências
(CENA/USP). Atuou no Institut de Rechèrche pour le Development –
IRD/França e professor adjunto do Centro de Ensino Superior dos
Campos Gerais. Foi diretor geral do IF (2015-2017).
Áreas de atuação: manejo florestal, serviços ecossistêmicos,
restauração florestal e reflorestamento, ciclagem de
nutrientes, qualidade física e química dos solos.
Contato: +55 14 3732-0290; [email protected]
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 575

Antonio Manoel dos Santos Oliveira


Conselho Editorial | Parecerista | Controle de processos geohidrológicos
Pesquisador independente. Graduação em Geologia (USP).
Doutor em Geografia Física (USP). Pesquisador do IPT (1968-1996).
Professor titular da Universidade Guarulhos (1999-2015), professor de
mestrado em análise geoambiental (transformações ambientais
antrópicas e geologia de engenharia e meio ambiente). Áreas de
atuação: geologia de engenharia e geologia ambiental, pesquisa em
tecnógeno, antropoceno e processos geológicos de superfície e uso
do solo (erosão, assoreamento, movimentos de massa, hidrologia);
cartas geotécnicas e de risco.
Contato:+55 12 98710 3000; [email protected]

Denise de Campos Bicudo


Conselho Editorial | Parecerista | Provisão e regulação da água
Pesquisadora científica do Instituto de Botânica (IBt/SIMA).
Graduação em Ciências Biológicas (USP). Pós-Doutora pela
University of Alabama (EUA). Áreas de atuação: ecologia de
ecossistemas aquáticos continentais (Limnologia e Paleolimnologia)
com ênfase em eutrofização, qualidade da água, bioindicação,
reconstrução ambiental.
Contato: +55 11 5067 6153; [email protected]

Leni Meire Pereira Ribeiro Lima


Editora de Arte | Conselho Editorial | Capista | Revisora | Produtos florestais
Diretora do Serviço de Comunicações Técnico-Científicas
do Instituto Florestal (IF/SIMA). Graduação em Comunicação Social/
Publicidade e Propaganda. Especialista em Design Gráfico
(Universidade Anhembi Morumbi) e Ferramentas Multimídia para EaD
(Okinawa International Center, Japão). Mestranda em Ciências (IPEN).
Áreas de atuação: comunicação, projetos gráficos, editoração de materiais
impressos e digitais e produção de materiais didáticos voltados para EaD.
Contato: +55 11 99627 3654; [email protected]

Yara Maria Chagas de Carvalho


Conselho Editorial | Parecerista | Provisão de alimentos
Pesquisadora científica do Instituto de Economia
Agrícola (IEA/SAA). Graduação em Economia. Mestre e Doutora em.
Desenvolvimento, Pós-Doutora em Agricultura e Turismo
Sustentável. Foi presidente da Associação de Agricultura Orgânica
e do Conselho da RBCV (2013 - 2018). Foi membro da Comissão Técnica
e da Câmara Setorial de Agroecologia. Representou a
Secretaria de Agricultura e Abastecimento na Câmara de Cobrança da
Água do Estado de São Paulo. Áreas de atuação: agricultura familiar,
agroecologia, política de recursos hídricos.
Contato: [email protected]
576 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Autores e Equipe de Produção Editorial

Adalberto José Monteiro Junior


Provisão de alimentos
Pesquisador científico do Instituto de Pesca (IP/SAA).
Graduação em Ciências Biológicas. Doutor em Ecologia (USP).
Áreas de atuação: limnologia de reservatórios, rios e sistemas de
aquicultura, qualidade da água e impactos ambientais.
Contato: +55 11 3871 7578; [email protected]

Ademar Ribeiro Romeiro


Valoração econômica-ecológica
Professor titular do Instituto de Economia da Universidade de
Campinas (UNICAMP). Graduação em Economia (UNICAMP).
Doutor em Economia pela Universidade de Paris.
Área de atuação: economia ecológica.
Contato: +55 19 9810 78155; [email protected]

Adriano Ambrósio Nogueira de Sá


Revisor | Comunicação
Jornalista da Assessoria de Imprensa da Secretaria de
Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA). Graduação em Jornalismo
(Centro Universitário Teresa D’Avilla). Pós-Graduado em Marketing
(Escola Superior de Propaganda e Marketing). Áreas de atuação:
comunicação, assessoria de imprensa.
Contato: +55 11 3133 3368; [email protected]

Afonso Rodrigues de Aquino


Comunicação
Pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
(IPEN). Bacharel em Química (UFRJ). Mestre em Tecnologia
Nuclear (IPEN/USP). Doutor em Ciências Químicas (IQUSP) e
Pós-Doutor (IQUSP). Especialista em Divulgação CientÍfica (ECA/USP).
Foi coordenador de Relações Corporativas e do Núcleo de Divulgação
Científica (IPEN) e de projetos educacionais (FAAP). Autor de livros e
capítulos de livros na área ambiental e de inúmeros trabalhos
publicados na área científica e jornalística. Áreas de atuação:
divulgação científica, química do urânio, gestão ambiental, tecnologia
nuclear aplicada ao meio ambiente.
Contato: [email protected]

Aida Sanae Sato


Revisora contribuinte
Assistente técnico de pesquisa do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Graduação em Engenharia Florestal (UNESP/Botucatu). Ingressou no
Instituto Florestal em 1994, foi chefe substituta da Seção de Estação
Experimental de Bauru (2010-2012). Integra equipe do Programa de
Conservação e Melhoramento Genético do Instituto Florestal.
Desenvolve atividades na assessoria técnica da Diretorial Geral IF.
Áreas de atuação: pesquisas em conservação e melhoramento genético
de espécies florestais nativas e exóticas.
Contato: [email protected]
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 577

Alexandre Gori Maia


Valoração econômica-ecológica
Professor associado na Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Graduação em Economia. Mestre e Doutor em Economia
Aplicada. Áreas de atuação: economia do meio ambiente; pesquisa em
temas relacionados ao desenvolvimento econômico e meio ambiente,
demografia econômica, pobreza e desigualdade.
Contato: + 55 19 3521 5716; [email protected]

Alexsander Zamorano Antunes


Biodiversidade
Pesquisador científico do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Graduação em Biologia. Doutor em Zoologia. Áreas de atuação:
pesquisa em assembleias de aves nos diversos ecossistemas do
estado de São Paulo, com ênfase na análise das respostas das
espécies aos impactos das atividades humanas e às ações de
restauração ecológica. Desde 2005, tem se dedicado também
à caracterização da fauna de vertebrados para propostas de criação
de UC e para a elaboração de planos de manejo das UC existentes.
Contato:+ 55 11 2231 8555, ramal 2028; [email protected]

Amanda Rodrigues de Carvalho


Fixação de carbono em superfície | Revisora | Assistente de produção
Graduanda em Relações Internacionais pela (UnB);
bolsista PIBIC/CNPq do Instituto Florestal
(IF/SIMA). Foi bolsista do 2017 MaB Youth Forum (Itália). Atuou como
estagiária na Divisão da Mudança do Clima/Itamaraty (Brasil) e da
Universidade de Concórdia (Montreal, Canadá). Integrou a delegação do
Brasil na Conferência das Partes da Convenção do Clima – COP24, em
Katowice (2018); participou da Cúpula de Jovens do Clima, como
painelista na seção Nature-based solutions led by young people (NY, 2019).
Áreas de atuação: mudanças climáticas e regimes internacionais.
Contato: [email protected]

Ana Paula Garcia Martins


Controle da poluição do ar
Diretora e professora titular no Instituto Itapetiningano de Ensino
Superior (IIES). Graduação em Engenharia Florestal (ESALQ/USP).
Doutora em Ciências LPAE/USP. Áreas de atuação: coordenação
pedagógica, poluição atmosférica e saúde humana, com ênfase em
saúde ambiental e biomonitoramento, serviços ecossistêmicos,
sustentabilidade, florestas urbanas e educação ambiental.

Angélica Maria Fernandes Barradas


Introdução | Produção de informações geoespaciais
Técnica de recursos ambientais da Fundação Florestal (FF/SIMA).
Técnica e Desenho de Construção Civil (Liceu de Artes e Ofícios de
São Paulo). Foi técnica projetista da SUDELPA e do IF.
Áreas de atuação: geografia e cartografia, elaboração de mapas,
instrução de processos para regularização fundiária.
Contato: +55 11 2997 5046; [email protected]
578 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Augusto José Pereira Filho


Regulação climática
Professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG/USP). Pós-Doutor em Meteorologia.
Áreas de atuação: hidrometeorologia por meio de sensoriamento
remoto, modelagem numérica e sistemas de medição.
Contato: +55 11 3091 4735; [email protected]

Áurea Aparecida Kortz Vilas Bôas


Revisora
Graduação em Letras (Português – Inglês) (UNESP). Educadora;
coordenadora pedagógica. Ocupou cargos de direção no
Sistema Educacional Paulista.
Contato: [email protected]

Bárbara Junqueira
Revisora contribuinte
Diretora Geral Rumos Sustentabilidade. Graduação em Engenharia
Florestal (ESALQ/USP). Especialização em Direitos Humanos (USP),
Neurociências (PUC-RS) e Quesitos Técnicos e Legais em Meio
Ambiente (CETESB). Áreas de atuação: educação ambiental,
restauração florestal participativa, manejo florestal, florestas urbanas,
silvicultura avaliação de serviços ecossistêmicos.
Contato: +55 11 96410 8790; [email protected]

Beatriz Rodrigues de Carvalho


Assistente de produção
Graduanda em Ciências Sociais (UnB); estagiária da
Divisão de Oriente Médio I do Itamaraty.
Com cursos sobre política e negociação internacional (Future We Want/
Model United Nations, NY, 2019) e introdução às migrações internacio-
nais contemporâneas no Brasil (International Organization for Migration),
integra grupo de pesquisa interistitucional sobre refugiados climáticos.
Responsável por levantamento e revisão de notícias e
informações sobre Síria, Líbano e Turquia, e elaboração de clippings.
Áreas de atuação: migração e refúgio.
Contato: [email protected]

Bruno Peregrina Puga


Valoração econômica-ecológica
Pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Graduação em Economia. Doutor em Desenvolvimento
Econômico (UNICAMP). Pós-Doutor (UFPR).
Foi pesquisador visitante na University of Michigan.
Área de atuação: economia do meio ambiente.
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 579

Carlos Eduardo de Mattos Bicudo


Provisão e regulação da água
Pesquisador científico do Instituto de Botânica (IBt/SIMA).
Graduação em Biologia. Doutor em Ciências (USP).
Professor Honorário na Universidad Nacional de Trujillo e na
Universidad Nacional de la Amazonía Peruana. Membro honorário da
Sociedade Botânica do Brasil e da Associação Brasileira de
Limnologia e efetivo da Academia Brasileira de Ciências. Recebeu
Medalha de Honra ao Mérito “Graziela Maciel Barroso” da Sociedade
Botânica do Brasil. Áreas de atuação: taxonomia de algas de
águas continentais e ecologia de fitoplâncton.
Contato: +55 11 5067 6150; [email protected]

Carlos Henrique Maldaner


Provisão e regulação da água
Pesquisador científico em hidrogeologia no Centro de Pesquisas
de Águas Subterrâneas (CEPAS/USP). Graduação em Geologia,
Mestrado em Hidrogeologia pela (USP). Doutor em Engenharia de
Recursos Hídricos pela Universidade de Guelph (Canadá).
Áreas de atuação: caracterização de fluxo das águas subterrâneas e
transporte de contaminantes em aquíferos fraturados.

Carolina Cortasso Soares


Ilustradora
Estagiária do Instituto Florestal no Serviço de Comunicações
Técnico-Científicas (egressa). Graduação em Design Gráfico pela
Universidade São Judas Tadeu. Atualmente, é coordenadora de design
na Sisttech. Áreas de atuação: criação de layouts para diversas
finalidades (flyers, livros, revistas etc), criação de logos, ilustrações
diversas, diagramação de conteúdos e coordenação do
setor de design (designação de conteúdo, planejamento,
revisão, acompanhamento de pedido junto às gráficas).

Ciro Koiti Matsukuma


Produtos florestais
Pesquisador científico do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Graduação em Engenharia Agronômica. Mestre em Ciências
(ESALQ/USP). Áreas de atuação: mapeamento de vegetação, uso e
ocupação da terra e estudos para criação de UC.
Contato: +55 11 2231 8555 ramal 2160; [email protected]

Corina Sidagis-Galli
Provisão e regulação da água
Pesquisadora científica na Associação Instituto Internacional de
Ecologia e Gerenciamento Ambiental (IIEGA).
Graduação em Ciências Biológicas (Universidad de la República).
Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental (USP).
Áreas de atuação: limnologia (biogeoquímica de rios e reservatórios,
quantificação da emissão de gases de efeito estufa
na interface sedimento-água e água-atmosfera e diagnóstico e
monitoramento da qualidade da água de rios e reservatórios).
Contato: [email protected]
580 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Cristina de Marco Santiago


Folclore caipira
Pesquisadora científica do Instituto Florestal (IF/SIMA). Graduação
em Engenharia Florestal. Doutora em Geografia. Áreas de atuação:
planejamento e gestão territorial de áreas legalmente protegidas de
importância natural e cultural. Produção técnica e científica de caráter
transdisciplinar, atua entre as áreas de conhecimento da Geografia
Cultural e da Conservação de Áreas Silvestres.
Contato: +55 15 3271 3866; [email protected]

Daniel Caixeta Andrade


Valoração econômica-ecológica
Professor associado do Instituto de Economia e Relações
Internacionais na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Graduação em Economia (Universidade Federal de São João del Rei).
Mestre em Economia (UFU), Doutor em Desenvolvimento Econômico
(UNICAMP). Atualmente é presidente da Sociedade Brasileira de
Economia Ecológica (ECOECO).

Debora Alves Ribas


Produtos bioquímicos
Pesquisadora independente. Graduação em Gestão Ambiental (USP).
Foi estagiária do Instituto Florestal. Desenhista-projetista. Áreas de
atuação: saúde ambiental em áreas de periferia, áreas administrativa,
atendimento, marketing, arquitetura e maquetes, experiência em SIG,
CAR, paisagismo, arborização, educação ambiental.
Contato: +55 11 98533 0607; [email protected]

Denis de Melo Soares


Produtos bioquímicos
Vice-diretor da Faculdade de Farmácia e professor adjunto da
Universidade Federal da Bahia (UFB).
Graduação em Farmácia e Bioquímica (USP).
Doutor em Farmacologia (USP). Áreas de atuação: inflamação, febre,
sepse e assistência farmacêutica.
Contato: +55 71 99113 5856; [email protected]

Dirceu Caróci
Designer gráfico
Colaborador independente. Graduação em Design Gráfico.
Desenvolveu projetos para o jornal DCI - Diário Comércio Indústria &
Serviços; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Páginas & Letras
Editora e Gráfica e para o Instituto Florestal. Áreas de atuação:
pré-impressão, especialista em diagramação e editoração
Contato: +55 11 97515 3017; [email protected]
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 581

Donato Seiji Abe


Provisão e regulação da água
Pesquisador sênior da Associação Instituto Internacional de
Ecologia e Gerenciamento Ambiental (IIEGA). Graduação em
Ciências Biológicas (USP). Mestre em Oceanografia Biológica (USP),
Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental (USP). Pós-Doutor em
nitrificação, desnitrificação (UFSCAR). Áreas de atuação:
consultoria ambiental e avaliação de projetos de pesquisa; experiência
em limnologia, eutrofização, ciclos biogeoquímicos, emissão de gases
de efeito estufa e monitoramento de sistemas aquáticos continentais.
Contato: [email protected]

Elisabete Salay
Provisão de alimentos
Professora da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Doutora em desenvolvimento pela École des Hautes Études en Sciences
Sociales. Publicou 72 artigos, capítulos e livros. Orientou
15 doutorados e 10 mestrados. Coordenou diversos projetos.
Assessorou instituições relevantes. Apresentou 159 comunicações.
Foi professora da UNICAMP. Atualmente é consultora.
Áreas de atuação: política de alimentação e nutrição.
Contato: [email protected]

Elizabeth Nascimento
Provisão de alimentos
Professora e pesquisadora na Faculdade de Ciências Farmacêuticas
da Universidade de São Paulo (FCF/USP). Graduação em Farmácia e
Bioquímica, Mestre em Toxicologia, Doutora em Ciência dos Alimentos
(USP), avaliadora e inspetora do Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial e consultora do International Life
Sciences Institute. Áreas de atuação: toxicologia, com ênfase em
toxicologia de alimentos, ambiental e avaliação do risco químico.
Contato: [email protected]

Fausto Pires de Campos


Biodiversidade
Pesquisador do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Graduação em Ciências Biológicas. Coordenador da equipe
de Resolução de Conflitos de Terra-Grupo da Terra;
Coordenador do planejamento e implantação da Estação Ecológica de
Juréia Itatins; Coordenador do Projeto-ONG SDLB. Áreas de atuação:
conservação de áreas naturais e aves marinhas insulares.
Contato: +55 11 97252 5363; [email protected]

Francisco Carlos Soriano Arcova


Provisão e regulação de água
Pesquisador científico do Instituto Florestal (IF/SIMA). Graduação
em Engenharia Florestal (ESALQ/USP). Especialista em Estudos
Hidrológicos Aplicados ao Manejo de Bacias Hidrográficas (Japão).
Mestre em Ciências Florestais (ESALQ/USP). Doutor em Geografia
Física (FFLCH/USP). Área de atuação: hidrologia florestal.
Contato: +55 11 2231 8555, ramal 2030; [email protected]
582 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Francisco José do Nascimento Kronka


Produtos florestais
Pesquisador científico do Instituto Florestal (IF/SIMA). Graduação
em Engenharia Agronômica (ESALQ/USP). Especialista no Setor
Florestal (Virginia Polytechnic Institute; Japan International Cooperation
Agency - JICA). Ocupou cargos de direção no IF e no Sistema
Ambiental Paulista. Estruturou o Inventário Florestal da vegetação nativa
do estado de São Paulo, base para a PEMC, elaborou estudos e
publicações sobre reflorestamento de Pinus, Eucaliptos e Seringueira,
manejo florestal e qualidade da madeira. Área de atuação: manejo
silvicultural.
Contato: +55 11 99947 1026; [email protected]

Frederico Luiz Funari


Regulação climática
Pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG/USP). Graduado e Mestre em Geografia
(FFLCH/USP). Doutor em Geografia Física (FFLCH/USP),
Pós-Doutorando em Meteorologia (Balanço de Radiação e
Evapotranspiração em Áreas de Mata Atlântica no Brasil).
Trabalha há 45 anos na Estação Meteorológica do IAG.
Áreas de atuação: climatologia.
Contato: [email protected]

Giuliana Del Nero Velasco


Fixação de carbono em superfície
Pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Graduação em Engenharia Agronômica (USP). Mestre e
Doutora em Agronomia (USP). Pós-Doutora (FEC/UNICAMP).
Áreas de atuação: gestão da arborização urbana, paisagismo,
conforto térmico, diagnóstico e análise de risco de queda de árvores.
Contato: [email protected]

Hilton Thadeu Zarate do Couto


Fixação de carbono em superfície
Professor titular e chefe do Departamento de Ciências Florestais
(ESALQ/USP). Graduação em Engenharia Agronômica (ESALQ/USP).
Pós-Doutor em Biometria (North Carolina State University) e
Pós-Doutor em Distribuições Estatísticas (Organização do Tratado do
Atlântico Norte) e Controle de Qualidade em Indústrias Florestais (Insti-
tuto de Pesquisa Florestal e de Produtos Florestais - Tsukuba).
É membro da CTNBio e do Grupo de Trabalho em Reflorestamento da
UNFCCC. Áreas de atuação: agronomia e recursos naturais,
com ênfase em estatística aplicada e inventário florestal.
Contato: +55 19 3447 6621; [email protected]

Hortência Sousa de Oliveira


Assistente de produção
Estagiária do Instituto Florestal (IF/SIMA); Graduanda do curso
Gestão Ambiental (EACH/USP). Possui interesse em monitoramento
e mapeamento de áreas de risco na cidade de São Paulo.
Áreas de atuação: acompanhamento e diagnóstico ambiental
Contato: [email protected]
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 583

Kaio Armann Vicente da Rocha


Revisor | Assistente de produção
Estágiario do Instituto Florestal (IF/SIMA); Graduando
do curso de Gestão Ambiental (EACH/USP). Possui interesse na
pesquisa de insetos como bioindicadores da qualidade do ambiente.
Área de atuação: gestão ambiental, reservas da biosfera,
serviços ecossistêmicos e bioindicadores.
Contato: [email protected]

Karina de Melo Figueira de Sousa


Ilustradora
Estagiária do Instituto Florestal no Serviço de
Comunicações Técnico-Científicas. Graduanda em Design
pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE),
Área de atuação: diagramação de livros e revistas,
design gráfico e ilustração.
Contato: +55 11 98741 7289; [email protected]

Kátia Canil
Controle de processos geohidrológicos
Professora e vice-coordenadora do Laboratório de Gestão de
Risco (LabGris) da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Graduação em Geografia. Mestre e Doutora em Geografia Física
(FFLCH/USP). É colaboradora do Programa de Pós-Graduação em
Planejamento e Gestão Territorial (UFABC). Trabalhou como
pesquisadora no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)
do Estado de São Paulo (1990-2013). Áreas de atuação:
gestão de riscos, planejamento urbano territorial, geomorfologia.
Contato: [email protected]

Kátia Mazzei
Biodiversidade | Provisão de Alimentos | Turismo
Pesquisadora científica do Instituto de Botânica (IBt/SIMA).
Graduação em Geografia (USP). Mestre e Doutora em Geografia Física/
Biogeografia (USP). Foi pesquisadora do Instituto Florestal e
professora visitante na IES UNISA. Áreas de atuação: criação e gestão
de UC, elaboração de planos de manejo, corredores de fauna e
monitoramento ambiental, aplicação de geotecnologias em
planejamento territorial ambiental, sensoriamento remoto para
restauração ecológica e conservação de grandes carnívoros.
Contato: +55 11 5067-6188; [email protected]

Leticia Guedes
Assistente de produção
Estagiária do Instituto Florestal (IF/SIMA) (2016-2018).
Graduada em Direito (UNISAL).
Áreas de atuação: apoio na elaboração de publicações; pesquisa em
legislação ambiental e políticas públicas; sistematização de normas e
dados de processos relacionados às UC.
Contato: +55 11 97416 3905; [email protected]
584 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Lídia Sumile Maruyama


Provisão de alimentos
Pesquisadora científica do Instituto de Pesca (IP/SAA).
Graduação em Ciências Biológicas (Universidade Santa Cecília).
Mestre em Aquicultura e Pesca (Instituto de Pesca).
Áreas de atuação: recursos pesqueiros continentais, ictiologia, pesca
profissional e amadora/recreativa, socioeconomia pesqueira.
Contato: +55 11 99975 3989; [email protected]

Luciana Carvalho Bezerra de Menezes


Provisão de alimentos
Pesquisadora científica e diretora no CPRH do Instituto de Pesca
(IP/SAA). Graduação em Ciências Biológicas (IB/USP).
Doutora em Saúde Ambiental (FSP/USP). Foi Diretora da
ULRL/Instituto de Pesca. Membro da Câmara Técnica PCJ.
Coordenadora do Comitê de Qualidade Laboratorial.
Áreas de atuação: limnologia e ecologia de
ecossistemas aquáticos e bioindicadores bentônicos
de qualidade da água.
Contato: +55 11 98178 4900; [email protected]

Lúcio Fagundes
Provisão de alimentos
Pesquisador independente. Graduação em Engenharia
Agronômica. Mestre em Ciências Biológicas (Área de Zoologia).
Foi pesquisador científico no Instituto de Pesca (IP) (até 2018).
Áreas de atuação: viabilidade econômica na maricultura e
socioeconomia pesqueira.

Luisa Sadeck dos Santos


Ilustradora
Estagiária do Instituto Florestal (IF/SIMA). Graduanda em Design
(FAU/USP). Recebeu menção honrosa no concurso Nascente e
A Awards por sua colaboração no projeto GINA; teve seu projeto
exposto no Museu da Casa Brasileira. Recentemente, foi agraciada com
o convite para expor seu trabalho na Mostra de 50 Jovens Talentos na
Bienal Ibero-americana de Design em Madrid, Espanha. Áreas de
atuação: design gráfico e ilustração.
Contato: +55 11 97339 1888; [email protected]

Luiz Antonio Dias Quitério


Provisão e regulação da água
Engenheiro agrônomo do Grupo Regional de Vigilância de Santos
(CVS XXV), do Centro de Vigilância da Secretária de Estado da
Saúde (CVS/SES). Graduação em Engenharia Agronômica (UEL).
Especialista em Vigilância Sanitária e Engenharia Ambiental,
Mestre em Saúde Pública (FSP/USP). É membro do Grupo Temático
de Vigilância Sanitária da Associação Brasileira de Saúde Coletiva
(Abrasco). Áreas de atuação: saúde coletiva e vigilância sanitária
e ambiental.
Contato: [email protected]
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 585

Marcelo Ricardo de Souza


Provisão de alimentos
Pesquisador científico do Instituto de Pesca (IP/SAA). Mestre
em Pesca (Instituto de Pesca), Doutor em Zoologia (UNESP/RC).
Áreas de atuação: pesquisas em ciência pesqueira, avaliação de
estoques, dinâmica de populações e ecologia de ambientes
marinhos e estuarinos.
Contato: [email protected]

Márcia Maria do Nascimento


Provisão e regulação da água
Assessora técnica da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente
(SIMA). Graduação em Arquitetura e Urbanismo (Centro Universitário
Belas Artes). Mestre em Saúde Ambiental (FSP/(USP), Doutora em
Planejamento Urbano Regional (FAU/USP). É docente na UNIP,
na pós-graduação da Escola de Ensino Superior da CETESB,
na Escola da Cidade. Áreas de atuação: gestão de recursos hídricos
e planejamento territorial ambiental.
Contato: [email protected]

Marcio Roberto Magalhães de Andrade


Controle de processo geohidrológicos
Pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (CEMADEN). Graduação em Geologia (IG/USP).
Doutor em Geografia (FFLCH/USP). Atuou como geólogo da
Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Guarulhos e
como analista ambiental da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de
São Paulo. Foi pesquisador, professor e orientador de mestrado acadê-
mico do Curso de Mestrado em Análise Geoambiental da Universidade
Guarulhos. Áreas de atuação: previsão de deslizamentos e geodinâmica.
Contato: [email protected]

Marcio Rossi
Provisão de alimentos | Controle de processo geohidrológicos
Pesquisador científico do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Graduação em engenharia Agronômica (UNESP). Doutor em
Geografia (USP). Atuou como Pesquisador Científico do Instituto
Agronômico de Campinas (IAC). Foi diretor de pesquisa do IFl
e coordenador acadêmico do PIBIC/CNPq/IF.
Áreas de atuação: agronomia; gênese, morfologia e classificação dos
solos; pedologia; planejamento de áreas naturais;
levantamento e mapeamento do meio biofísico.
Contato: [email protected]
Marco Antonio Garcia Martins
Regulação da qualidade do ar
Pesquisador associado da Escola de Saúde Pública da Harvard -
Boston/EUA (HSPH). Graduação em Engenharia Agronômica (UNESP).
Mestre em Biologia Vegetal (UNESP). Doutor em Ciências (USP) e
Pós-Doutor em Saúde Ambiental (Harvard). Integra equipe de
pesquisadores do Departamento de Saúde Ambiental,
responsável pelo desenvolvimento de técnicas para medições de
poluentes atmosféricos e da exposição humana a eles.
É especialista em qualidade do ar (LPAE); foi pesquisador do INAIRA –
USP e consultor internacional. Áreas de atuação:
poluição atmosférica e ambiental e sua relação com a saúde.
Contato: [email protected]
586 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Maria Eduarda Serafim Rodrigues dos Santos


Assistente de produção
Estagiária do Instituto Florestal na RBCV (IF/SIMA) (2019).
Graduanda em Gestão Ambiental (EACH/USP). Foi estagiária da
Secretaria do Verde e Meio Ambiente do município de São Paulo.
Áreas de atuação: pesquisas em mitigação de mudanças climáticas.
Contato: [email protected]

Maria José Brollo


Controle de processo geohidrológicos
Pesquisadora científica do Instituto Geológico (IG/SIMA).
Graduação em Geologia. Mestre em Engenharia na área de
Geotecnia (EESC/USP). Doutora em Saúde Pública na área de Saúde
Ambiental (FSP/USP). Áreas de atuação: geologia de engenharia e
ambiental (cartografia geotécnica e geoambiental, cartografia de risco,
gestão de resíduos sólidos, planejamento territorial,
gestão ambiental e geoindicadores).
Contato: [email protected]

Marina Mitsue Kanashiro


Produtos bioquímicos | Produtos florestais | Controle de processos
geohidrológicos
Pesquisadora científica do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Graduação em Geografia (FFLCH/USP). Participou de processos
de elaboração de planos de manejo das UC paulistas e de propostas de
criação de UC. Áreas de atuação: meio ambiente e geoprocessamento,
com ênfase em vegetação natural, unidades de conservação,
geoprocessamento, mapeamentos temáticos, fotointerpretação.

Massako Nakaoka Sakita


Produtos bioquímicos
Pesquisadora científica do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Graduação em Química (Faculdade Oswaldo Cruz). Áreas de atuação:
fitoquímico de essências florestais (extração de óleos essenciais, uso
de óleos essenciais de Eucaliptos no controle de cupins subterrâneos,
atividade antimicrobiana do óleo essencial de Pimenta
Pseudocaryophyllus var pseudocaryophyllus, utilização do extrato
pirolenhoso em cultivo de mudas florestais, identificação dos
componentes do alcatrão extraídos de espécies florestais.
Contato: +55 11 97529 4934; [email protected]

Matheus Gomes de Paula


Assistente de produção
Estágiario do Instituto Florestal na RBCV. Graduando do curso de
Direito (USTJ). Realizou curso de extensão em ciências políticas
(VEDUCA), ética (SENAI) e Direito ambiental (EBRADI).
Áreas de atuação: direito e direito ambiental.
Contato: [email protected]
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 587

Maurício Lamano Ferreira


Revisor contribuinte
Pesquisador no Programa de Mestrado em Promoção da Saúde do
Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP).
Graduação em Ciências Biológicas (Mackenzie) e Geociências (IGc/
USP). Mestre em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente (IBt/SIMA),
Doutor e Pós-Doutor em Ciências pelo Centro de Energia Nuclear na
Agricultura (CENA/USP). Áreas de atuação: poluição ambiental, ciclos
biogeoquímicos, ecologia de ecossistemas e dinâmica de florestas
urbanas, serviços ecossistêmicos.
Contato: +55 11 97663 4493; [email protected]

Maurício Ranzini
Provisão e regulação da água
Pesquisador científico do Instituto Florestal (IF/SIMA). Graduação
em Engenharia Florestal. Mestre em Ciências Florestais (ESALQ/USP),
Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental pela (EESC/USP),
Pós-Doutor (NUPEGEL/USP). Áreas de atuação: recursos florestais e
engenharia florestal, com ênfase em hidrologia florestal, e
participação em planos de manejo na área de hidrologia superficial.
Contato: [email protected]

Natalia Macedo Ivanauskas


Biodiversidade
Pesquisadora científica do Instituto Florestal (IF/SIMA). Graduação
em Engenharia Agronômica. Doutora em Biologia Vegetal (UNICAMP).
Foi Professora Assistente da UNEMAT e Pesquisadora Científica na
EMBRAPA. Faz parte da Sociedade Botânica de São Paulo, da
Sociedade Botânica do Brasil e da Sociedade Latinoamericana de
Botânica. Áreas de atuação: fitogeografia e ecologia de ecossistemas.
Contato: +55 11 2231 8555; [email protected]

Newton José Rodrigues da Silva


Provisão de alimentos
Extensionista da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Susten-
tável (CDRS). Graduação em Zootecnia (UFRRJ). Doutor em Halieutique
(École Nationale Supérieure Agronomique de Rennes). Doutor em
Aquicultura (UNESP). Integrante da Câmara Temática de
Agropecuária, Pesca e Economia Solidária do Conselho de
Desenvolvimento da RMBS e do Fórum de Economia Solidária
da Baixada Santista. Áreas de atuação: sociologia e aquicultura.
Contato: [email protected]

Nilson Antonio Modesto Arraes


Provisão de alimentos
Pesquisador e professor da Faculdade de Engenharia Agrícola
da Universidade de Campinas (FEAGRI/ UNICAMP). Graduação em
Engenharia Agrícola. Mestre em Engenharia de Sistemas. Doutor em
Saneamento e Recursos Hídricos. Coordena o Núcleo Interno de
Economia e Administração Rural (NiEAR/FEAGRI), possui experiência
em ensino, pesquisa e extensão (FEAGRI/UNICAMP). Áreas de atuação:
gestão da produção agrícola, planejamento da produção hortícola.
Contato: +55 19 3521 1061; [email protected]
588 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Oscar Sarcinelli
Valoração econômica-escológica
Núcleo de Economia Agrícola e Ambiental (NEAUNICAMP).
Graduação em Administração. Mestre e Doutor
em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente
(NEA/UNICAMP). Pós-Doutor em Economia e Meio Ambiente.
Participou em projetos de conservação florestal em São Paulo,
Amazonas e Mato Grosso do Sul. Áreas de atuação: recuperação, em
larga escala da vegetação natural, conservação ambiental, agricultura
sustentável, estratégias para conservação de serviços ambientais,
valoração econômica do meio ambiente.
Contato: [email protected]

Paula Lazzarin Uggioni


Provisão de alimentos
Professora adjunta do Departamento de Nutrição e do Programa
de Pós Graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Graduação em Nutrição (UFSC). Doutora em
Alimentos e Nutrição (FEA/UNICAMP). É pesquisadora do Núcleo de
Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE) e do Grupo
Nutrição e Saúde (UFSC). Áreas de atuação: gestão de unidades
de alimentação e nutrição, com ênfase em produção de refeições,
gestão da alimentação coletiva e comercial, rotulagem de alimentos,
patrimônio gastronômico regional e segurança alimentar e nutricional.
Contato: [email protected]

Paula Maria Gênova de Castro Campanha


Provisão de alimentos
Pesquisadora científica do Instituto de Pesca (IP/SAA). Graduação
em Engenharia de Pesca (UFC). Mestre e Doutora em
Oceanografia Biológica (USP). É membro dos Comitês PIBIC/CNPq e de
Ética Animal e do GT Interinstitucional sobre Espécies Ameaçadas de
Extinção. Coordena e colabora com disciplinas de pós-graduação do
Instituto de Pesca. Áreas de atuação: recursos pesqueiros, dinâmica
de populações de peixes; socioeconomia da pesca, estatística
pesqueira e continental.
Contato: +55 11 97169 5331; [email protected]

Paulo Hilário Nascimento Saldiva


Regulação da qualidade do ar
Professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de
Medicina (FMUSP). Graduação em Medicina (USP). Áreas de atuação:
anatomia patológica, fisiopatologia pulmonar, doenças respiratórias e
saúde ambiental, ecologia aplicada, cidades e saúde humana,
humanidades e antropologia médica.
Contato: [email protected]

Pedro Paulo Carneiro


Revisor
CEO da TV Geração Digital (TVGD). Graduação em Publicidade e
Propaganda (ESPM) e Comunicação Social / Jornalismo (UERJ);
Pesquisador, diretor de tv e cinema, documentarista há mais de
25 anos. Trabalhou na Globo, Band, BBC. Diplomado Jornalista Amigo
da Criança (UNICEF/ABRINQ/ANDI). Áreas de atuação:
pesquisa das relações de interatividade e devices tecnológicos,
produção de conteúdos e documentários, comunicação, marketing e
propaganda, direção, produção e realização de eventos.
Contato: [email protected]
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 589

Priscila Weingartner
Ilustradora
Assistente de pesquisa do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Pós-graduação em Análise de Impactos Ambientais com enfoque no
Impacto da Comunicação Visual em UC. Foi diretora do Serviço de
Comunicações Técnico-Científicas do IF.
Áreas de atuação: comunicação, apoio à pesquisa de campo em
vegetação e flora, organização e realização de eventos,
educadora em curso de EaD, ilustradora.
Contato: [email protected]

Regiane Stella Guzzon


Designer gráfico
Estagiária do Instituto Florestal no Serviço de Comunicações
Técnico-Científicas (egressa). Graduação em Design
Gráfico (Belas Artes). Trabalhou em instituições da área ambiental e
voluntariado em ONGs. Seu trabalho é focado em questões ambientais
e sua inspiração é contribuir para soluções que causem impacto
positivos e busca por inovação. Áreas de atuação: branding e
editoração, projetos gráficos, ilustração e criação.

Reinaldo Herrero Ponce


Produtos florestais
Pesquisador independente. Graduação em Engenharia Florestal
(UFPR). Mestre (Virginia Polytechnic Institute & State University),
Doutor em Arquitetura e Urbanismo (USP). Foi pesquisador e chefe de
departamento florestal do IPT; membro do conselho editorial da Revista
Florestar Estatístico e do conselho fiscal do Fundo de
Desenvolvimento Florestal; ocupou cargos de direção na FF.
Foi consultor internacional para a (UNIDO/ONU). Autor referência
no setor florestal. Áreas de atuação: manejo silvicultural,
melhoramento e clonagem de árvores de eucalipto.

Renato Tagnin
Provisão e regulação da água
Pesquisador do Centro Universitário SENAC (SENAC/CAS).
Graduação em Arquitetura e Urbanismo (Faculdade Braz Cubas).
Mestre em Engenharia Civil e Urbana (USP), Doutor em
Ciências (FAU/USP). Coordenou programas de controle de
inundações, de recuperação de mananciais e o Conselho
Municipal de Meio Ambiente de São Paulo. Foi consultor do MMA.
Áreas de atuação: planejamento ambiental e gestão de água.
Contato: [email protected]

Ricardo Hirata
Provisão e regulação da água
Professor titular do Instituto de Geociências (USP) e diretor do
Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (CEPAS|USP).
Graduação em Geologia (UNESP). Mestre e Doutor (USP) e
Pós-Doutor pela Universidade de Waterloo (Canadá). Foi consultor da
UNESCO, da International Atomic Energy Agency (IAEA); e OPAS/OMS.
Possui mais de 30 anos de experiência em recursos hídricos e águas
subterrâneas, em projetos no Brasil e em mais de 26 países.
Áreas de atuação: hidrogeologia.
Contato: +55 11 99482 0864; [email protected]
590 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Rodrigo Machado
Lazer e turismo
Especialista ambiental da Secretaria de Infraestrutura e Meio
Ambiente de São Paulo (SIMA). Graduação em Turismo. Mestre
em Educação e Doutor em Ciência Ambiental (USP).
Atua na Coordenadoria de Fiscalização e Biodiversidade.
Áreas de Atuação: participação social, educação ambiental,
políticas públicas em meio ambiente.
Contato: +55 11 3133 4194; [email protected]

Sandra Costa-Böddeker
Provisão e regulação da água
Pesquisadora associada ao Institüt für Geosysteme und
Bioindikation (IGeo). Graduação em Ciências Biológicas. Doutora em
Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente (IBt). Áreas de atuação:
engenharia ambiental, climatologia e ecologia, com foco em ecologia
aquática - paleoecologia/paleolimnologia, bioindicadores,
biogeoquímica de sedimentos aquáticos, reconstrução de
paleoambientes, impactos antrópicos em ambientes estuarinos.
Contato: [email protected]

Sérgio Gomes Tôsto


Valoração econômica-ecológica
Pesquisador da Embrapa Territorial (EMBRAPA) e professor
colaborador do Instituto de Economia (UNICAMP).
Graduação em Engenharia Agronômica (UFRRJ). Mestre em
Economia Rural (UFV). Doutor em Desenvolvimento,
Espaço e Meio Ambiente (UNICAMP). Foi supervisor regional
da Emater Rondônia, chefe de P&D da Embrapa Monitoramento por
Satélite e Embrapa Territorial. Áreas de atuação: desenvolvimento,
espaço e meio ambiente, economia ambiental e ecológica.
Contato: +55 19-98108 5057; [email protected]

Sidnei Raimundo
Lazer e turismo
Professor associado da Escola de Artes, Ciências e Humanidades
da Universidade de São Paulo (EACH/USP). Graduação em
Geografia (USP). Mestre em Geografia Física (USP). Doutor em
Geografia (análise ambiental e dinâmica territorial) (UNICAMP).
Pós-Doutor em Geografia do Turismo (Universidade de Girona,
Espanha). Trabalhou com manejo de áreas protegidas no IF.
Orientador em programas de pós-graduação. Áreas de atuação:
impactos socioambientais do lazer e turismo, geografia do turismo,
ecoturismo e lazer na natureza.
Contato: +55 11 3091 8861; [email protected]

Silvia Maria Bellato Nogueira


Lazer e turismo
Pesquisadora científica do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Graduação em Geografia (USP). Desenvolve atividades de pesquisa
relacionadas à unidades de conservação e turismo. Áreas de atuação:
gestão de metrópoles e mudanças globais.
Contato: +55 11 5511 8131; [email protected]
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 591

Sonia Aragaki
Biodiversidade
Pesquisadora científica do Núcleo de Pesquisa Curadoria
do Herbário do Instituto de Botânica (IBt/SIMA).
Graduação em Ciências Biológicas. Doutora em Biologia Vegetal
e Meio Ambiente. Áreas de atuação: florística, fitossociologia,
fragmentos urbanos, com levantamento nas diferentes
formações florestais do Estado de São Paulo.
Contato: +55 11 5067 6093; [email protected]

Sueli Herculiani
Folclore caipira
Analista de recursos ambientais do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Graduação em Pedagogia. Áreas de atuação: educação ambiental,
comunidades tradicionais (população tradicional caipira) e
planejamento ambiental.

Tatiana Maria Cecy Gadda


Provisão de alimentos
Professora associada do Departamento de Construção Civil da
Univesidade Federal do Paraná (UTFPR). Graduação em Arquitetura
e Urbanismo (PUCPR). Pós-Doutora em Ciências Ambientais
Humanas e da Terra (Universidade de Chiba). Pós-Doutora em
programa urbano - Universidade das Nações Unidas (UNU IAS).
Membro científico do IBPES e da Plataforma Brasileira de Biodiversidade
e Serviços Ecossistêmicos (BPBES). Áreas de atuação:
agenda verde e serviços ecossistêmicos, urbanização, mudanças
ambientais globais, Smart Cities, ecossistemas urbanos.
Contato: [email protected]

Terezinha Joyce Fernandes Franca


Provisão de alimentos
Pesquisadora científica do Instituto de Economia Agrícola (IEA/
SAA). Graduação em Economia. Mestre em Economia Aplicada.
Áreas de atuação: política agrícola e desenvolvimento, agroecologia e
sistemas agrossilvipastoris (ILPF), desenvolvimento rural sustentável,
política agrícola, crédito rural e financiamento, garantia de renda,
agricultura familiar, água e agricultura, lazer no meio rural.
Contato: +55 11 99655 6469; [email protected]

Thais Mauad
Controle da qualidade do ar
Professora associada do Departamento de Patologia e
Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Pesquisadora do
Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE da FMUSP.
Graduação em Medicina (USP). Doutora em Patologia (USP). Foi
supervisora da Divisão de Autópsias (FMUSP); coordenou o INCT
(Análise Integrada do Risco Ambiental) e integrou o Comitê Internacional
ATS/ERS para nova definição de asma grave. É coordenadora do Grupo
de Estudos em Agricultura Urbana (IEA/USP). Áreas de atuação:
medicina, com ênfase em anatomia patológica (patologia pulmonar,
asma e outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas).
592 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

Valdir de Cicco
Provisão e regulação da água
Pesquisador científico do Instituto Florestal (IF/SIMA).
Graduação em Engenharia Florestal (UFV). Mestre e Doutor
(USP). Áreas de atuação: hidrologia florestal.
Contato: +55 11 98251 9905; [email protected]

Vanessa Cordeiro de Souza


Lazer e turismo
Pesquisadora independente. Graduação em Turismo; Graduação em
Letras (Português/ Inglês). Pós-Graduada em Ecoturismo.
Áreas de atuação: turismo sustentável, educação ambiental
para o ensino fundamental I, educação ambiental com jovens em
situação de risco social.
Contato: +55 21 97503 2121; [email protected]

Veridiana Martins
Provisão e regulação da água
Professora do Instituto de Geociências da USP (CEPAS/USP).
Graduação em Geologia. Mestre e Doutora. Membro do Centro de
Pesquisas de Águas Subterrâneas e Centro de Pesquisas em Geologia
Isotópica. Áreas de atuação: geoquímica isotópica aplicada a questões
ambientais e geologia ambiental.
Contato: [email protected]

Verônica Boarini Sampaio de Rezende


Assistente de produção | Revisora
Estagiária do Instituto Florestal (IF/SIMA) (2019). Graduada em
Engenharia Florestal (UNESP/BOTUCATU). Foi estagiária do
Viveiro de Mudas da Faculdade de Ciências Agronômicas
(FCA/UNESP), do Departamento de Bioestatística do Instituto de
Biociências (IBB/UNESP) e do Departamento de Melhoramento e
Produção Vegetal (FCA/UNESP). Áreas de atuação: serviços
ecossistêmicos, conservação de áreas protegidas, biomassa florestal,
sequestro de carbono e refugiados ambientais.
Contato: +55 14 99718 0859; [email protected]

Vinícius Leonardo Biffi


Biodiversidade
Editor da Editora do Brasil (EBSA). Graduação em Ciências
Biológicas. Mestre em Ecologia (USP), onde investigou a presença de
cachorros domésticos em áreas de mata e seu impacto sobre a fauna.
Áreas de atuação: edição de livros didáticos de ciências, ecologia
Contato: [email protected]
MÃOS UNIDAS PARA OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E PARA A BIODIVERSIDADE 593

O apoio financeiro para a fase inicial da Avaliação Ecossistêmica do Cinturão Verde


(ASG-RBCV), que possibilitou o presente produto, foi procedente de: Instituto Florestal (IF/
SIMA); Fundação Florestal (FF/SIMA); Instituto Auá; ERTECO Rubber & Plastics; Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO/PARIS).
A propositura da Avaliação Ecossistêmica do Cinturão Verde (ASG-RBCV) é uma iniciativa
da RBCV/Instituto Florestal. A elaboração desta publicação, sua estruturação e consolidação
contou com a contribuição técnica e científica das seguintes instituições: Instituto Florestal
(IF/SIMA); Fundação Florestal (FF/SIMA); Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA);
Associação Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental (IIEGA); Centro de
Pesquisas de Águas Subterrâneas – Instituto de Geociências (CEPAS-IGc/USP); Centro Nacio-
nal de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN); Centro Universitário Adven-
tista de São Paulo (UNASP); Centro Universitário SENAC (SENAC); Coordenadoria de Desen-
volvimento Rural Sustentável (CDRS); Embrapa Monitoramento por Satélite (CNPM); Escola de
Artes, Ciências e Humanidades (EACH/USP); Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
(ESALQ/USP); Faculdade de Engenharia Agrícola (FEAGRI/UNICAMP); Faculdade de Ciências
Farmacêuticas (FCF/USP); Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP);
Grupo Regional de Vigilância Sanitária de Santos (GVS XXV/SES/SP); Harvard School of Public
Health (HSPH); Institut für Geosysteme und Bioindikation – Technische Universität – Braunschweig
(IGeo); Instituto Auá; Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP);
Instituto de Botânica (IBt/SIMA); Instituto de Economia Agrícola (IEA/SAA); Instituto de Estu-
dos Avançados (IEA/USP); Instituto de Geociências (IGc/USP); Instituto de Pesca (IP/SAA);
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN); Instituto de Pesquisas Tecnológicas
(IPT); Instituto Geológico (IG/SMA); Instituto Itapetiningano de Ensino Superior (IIES); Labo-
ratório de Poluição Atmosférica Experimental – Faculdade de Medicina (LPAE – FM/USP);
Núcleo de Economia Agrícola e Ambiental (NEA/UNICAMP); Roda d'Água Gestão Socioam-
biental (RdA); TV Geração Digital (TVGD); UNESCO PARIS (UNESCO); Universidade de Brasí-
lia (UnB); Universidade de São Paulo (USP); Universidade Estadual da Bahia (UEB); TV Gera-
ção Digital (TVGD); Universidade de Guarulhos (UnG); Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP); Universidade Federal da Bahia (UFB); Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC); Universidade Federal de Uberlândia (UFU); Universidade Federal do ABC (UFABC);
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
594 SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E BEM-ESTAR HUMANO NA
RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO
49186001 capa.indd 1 15/10/2020 19:14

Você também pode gostar