Monografia Mayara de Sousa Alano
Monografia Mayara de Sousa Alano
Monografia Mayara de Sousa Alano
Tubarão
2019
MAYARA DE SOUSA ALANO
Tubarão
2019
Dedico esta monografia aos meus pais, os quais são sinônimos de luta, determinação e
coragem.
AGRADECIMENTOS
Árduo é o caminho da graduação, mas seria ainda mais difícil se não pudesse
compartilhá-lo com as pessoas que prestam apoio e estão prontas para ouvir as tristezas e
alegrias desta longa trajetória.
Primeiramente, agradeço a Deus, por me sustentar nos momentos de fraqueza e
angústia, bem como por seu o meu principal cuidador;
Agradeço aos meus pais, Marilucia Silva de Sousa Alano e Josué Alano por serem
meus alicerces e maiores exemplos de coragem e humildade;
Ao meu irmão, Vinicius de Sousa Alano por compreender minha ausência em
razão dos momentos de estudo;
Aos meus tios, Luiz Silvano da Silva e Elizete Silvério Alano por sempre
prestarem todo apoio e assistência necessários;
Aos meus familiares mais presentes: minha avó Gesélia Silvério Alano, meu tio
Joel Alano e minha prima Josiane Alano da Silva, os quais sempre se mostraram preocupados
e prestativos;
Ao meu professor orientador Lauro José Ballock, por confiar em minha pessoa
para a realização da presente pesquisa, pelas horas destinadas ao esclarecimento de dúvidas e
por toda atenção despendida ao longo desta jornada;
À Universidade do Sul de Santa Catarina, por me proporcionar excelente
qualidade de ensino e incentivar na busca diária pelo conhecimento;
Aos meus colegas de trabalho da Delegacia de Proteção a Criança, Adolescente,
Mulher e Idoso de Tubarão, que me proporcionaram conhecimento e experiências, ensinando-
me também o verdadeiro significado da palavra humanidade;
Às colegas que a Universidade me presenteou, Amanda Moraes, Isabela Rosa,
Laríssa Wolff, Laura Filippi e Sara Fernandes. Obrigada por tornarem os meus dias difíceis
em fardos suaves.
―O que segue a justiça e a bondade achará a vida, a justiça e a honra.‖
(Provérbios 21:21).
RESUMO
OBJECTIVE: The objective of the present monographic work is to analyze the possibility of
the inclusion of the applicant in the tables of the Brazilian Bar Association for moral
misconduct due to violence against women. Brazil (CFOAB). METHOD: The nature of the
research was exploratory and qualitative in its approach. The procedure used for data
collection was documentary and bibliographic. RESULT: It was possible to find a divergence
in the doctrine about the final judgment in the criminal sphere so that there may be the
impediment of the inscription in the tables of the OAB, as well as the absence of a definition
regarding moral misconduct and the infamous crime. The procedures to be adopted are often
confused when the applicant is unsuitable for registration and when the lawyer is unsuitable,
as well as the procedure when the offending crime is committed by the applicant and when
the offense is committed by the applicant. lawyer. CONCLUSION: It is concluded that
Precedent No. 09, issued to provide greater stability to the legal system and assist in the
interpretation of similar cases, leaves great gaps with certain terms used in its wording, more
precisely as regards the concepts of moral misconduct and crime. notorious, as well as its
procedures, as both the Statute of the Law, and the Federal Council of the Brazilian Bar
Association (CFOAB) do not define such concepts, and may generate a misleading or abusive
application for one of the parties.
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 11
1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO DO PROBLEMA ......................................................... 11
1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................................ 13
1.3 HIPÓTESE ....................................................................................................................... 13
1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ..................................................... 14
1.5 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 15
1.6 OBJETIVOS .................................................................................................................... 16
1.6.1 Geral ............................................................................................................................. 16
1.6.2 Específicos .................................................................................................................... 16
1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA ............................................................................... 16
1.8 ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS.......................................................................... 18
2 ADVOCACIA ................................................................................................................... 19
2.1 CONCEITO E ORIGEM ................................................................................................. 19
2.2 ATIVIDADES PRIVATIVAS......................................................................................... 20
2.3 DIREITOS DO ADVOGADO E DA ADVOGADA ...................................................... 23
2.4 DEVERES DO ADVOGADO ......................................................................................... 27
2.5 REQUISITOS PARA INSCRIÇÃO DO ADVOGADO ................................................. 28
3 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER (LEI N.º 11.340/2006) ...................................... 31
3.1 LEI MARIA DA PENHA ................................................................................................ 31
3.2 DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS MULHERES ........... 32
3.2.1 Princípio da dignidade da pessoa humana................................................................ 34
3.2.2 Princípio da igualdade ................................................................................................ 34
3.3 MECANISMOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
DAS MULHERES.................................................................................................................... 36
3.3.1 Convenção interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a
mulher ...................................................................................................................................... 37
3.4 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER............................................................................. 39
3.4.1 Sujeito ativo ................................................................................................................. 41
3.4.2 Sujeito passivo ............................................................................................................. 44
3.5 FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ..................................................... 45
3.5.1 Violência física ............................................................................................................. 46
3.5.2 Violência psicológica ................................................................................................... 46
3.5.3 Violência sexual ........................................................................................................... 47
3.5.4 Violência patrimonial .................................................................................................. 48
3.5.5 Violência moral ............................................................................................................ 48
4 POSSIBILIDADE DE INSCRIÇÃO NOS QUADROS DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL (OAB) E INIDONEIDADE MORAL EM RAZÃO DE
VIOLÊNCIA CONTRA MULHER ...................................................................................... 50
4.1 CONCEITO DE IDONEIDADE MORAL E INIDONEIDADE MORAL ..................... 50
4.1.1 Diferenças entre a idoneidade moral exigida para a inscrição e a inidoneidade
moral mencionada como infração disciplinar e superveniente à inscrição ....................... 53
4.2 CONCEITO DE CRIME INFAMANTE ......................................................................... 56
4.2.1 Diferenças entre o crime infamante como requisito para inscrição e o crime
infamante mencionado como infração disciplinar e superveniente à inscrição ................ 58
4.3 COMPETÊNCIA PARA ANALISAR A INIDONEIDADE MORAL E O CRIME
INFAMANTE E O PROCESSO DISCIPLINAR NA OAB .................................................... 61
4.3.1 Independência entre as instâncias criminal e administrativa nas condutas ou
crimes praticados no contexto doméstico e familiar contra a mulher ............................... 64
4.3.2 Princípio da independência das instâncias ............................................................... 66
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 70
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 72
11
1 INTRODUÇÃO
a mulher constitui um delito, podendo tão somente constituir uma conduta que demonstra a
falta de idoneidade moral para o exercício da advocacia.
Conforme disposto no art. 8º, VI, do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogados do Brasil (EAOAB), para a inscrição como advogado(a), exigem-se alguns
requisitos, dentre eles, a idoneidade moral. (BRASIL, 1994).
Contudo, há poucos estudos que exploram acerca da idoneidade moral e do crime
infamante. No que tange à idoneidade moral, trata-se de um requisito subjetivo para inscrição
como advogado(a). De acordo com Arbex e Zakka (2012, p. 30), ―O cumprimento do
requisito subjetivo da idoneidade moral impõe ao candidato a exercer a advocacia uma vida
pregressa ilibada‖.
O conselho competente pode declarar ausente o requisito da idoneidade moral,
observando o processo disciplinar, conforme dispõem os §§ 3º e 4º do art. 8º do EAOAB.
Art. 8º [...]
§ 3º A inidoneidade moral, suscitada por qualquer pessoa, deve ser declarada
mediante decisão que obtenha no mínimo dois terços dos votos de todos os membros
do conselho competente, em procedimento que observe os termos do processo
disciplinar.
§ 4º Não atende ao requisito de idoneidade moral aquele que tiver sido condenado
por crime infamante, salvo reabilitação judicial. (BRASIL, 1994).
Já em relação ao crime infamante, nas palavras de Lôbo (2017, p. 95), se
compreende como aquele
[...] que provoca o forte repúdio ético da comunidade geral e profissional,
acarretando desonra para seu autor, e que pode gerar desprestígio para a advocacia
se for admitido seu autor a exercê-la. Infamante é conceito indeterminado, de
delimitação difícil, devendo ser concretizado caso a caso pelo Conselho Seccional.
Ao analisar o § 4º do art. 8º do EAOAB, num primeiro momento, ao se referir ao
crime infamante, este coloca em dúvida se está conceituando a idoneidade moral ou definindo
que a prática de crime infamante é uma das causas de inidoneidade moral.
É necessário analisar cada caso concreto. Segundo entendimento de Arbex e
Zakka (2012, p. 30), os quais afirmam que
O outro requisito que também impossibilitaria a inscrição, contido no § 4º do mesmo
art. 8º, a condenação por crime infamante, não atinge ou interfere no requisito da
idoneidade, porquanto independentes e de naturezas diversas para sua constatação.
Enquanto a inidoneidade comporta julgamento subjetivo, pontual dos Conselhos da
OAB na jurisdição disciplinar corporativa, o crime infamante depende de seu
trânsito em julgado na jurisdição do Poder Judiciário. (Grifo nosso).
Sendo assim, caberá analisar as formas de violência contra a mulher, tipificadas
ou não no Código Penal, sendo típica a existência de crime infamante e/ou da inidoneidade
moral, julgados pelo Poder Judiciário e/ou em processo ético-disciplinar, com observância ao
13
1.3 HIPÓTESE
Segundo Pasold (1999, p. 41), ―[...] quando nós estabelecemos ou propomos uma
definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os
efeitos das ideias que expomos, estamos fixando um conceito operacional‖.
Violência contra a mulher: está prevista no art. 5º da Lei n.º 11.340/2006
(LMP), o qual preceitua:
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra
a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou
por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de
orientação sexual. (BRASIL, 2006, grifo nosso).
Ademais, o art. 7º da LMP estabelece quais são as formas de violência doméstica
e familiar contra a mulher, quais sejam: violência física, violência psicológica, violência
sexual, violência patrimonial e a violência moral. Tais formas de violência foram tratadas com
maior ênfase no capítulo 3 do presente trabalho monográfico.
A impossibilidade de inscrição nos quadros da OAB por inidoneidade moral:
alguns requisitos são exigidos para a inscrição do candidato(a), os quais estão previstos no art.
8º do EAOAB, são eles: a capacidade civil; diploma ou certidão de graduação em direito,
obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada; título de eleitor e
quitação do serviço militar, se brasileiro; aprovação em Exame de Ordem; não exercer
atividade incompatível com a advocacia; idoneidade moral; prestar compromisso perante o
conselho. (BRASIL, 1994).
Um dos requisitos necessários para a inscrição nos quadros da OAB, que foi
abordado na presente pesquisa, é a idoneidade moral, a qual está prevista no inciso VI do art.
8º do EAOAB.
De acordo com Lôbo (2016, p. 93), a idoneidade moral é
[...] um conceito indeterminado (porém determinável), cujo conteúdo depende da
mediação concretizadora do Conselho competente, em cada caso. Os parâmetros não
15
1.5 JUSTIFICATIVA
sem o julgamento na instância criminal, o que, num primeiro momento, denota inobediência
ao princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CRFB/1988.
1.6 OBJETIVOS
1.6.1 Geral
1.6.2 Específicos
Deste modo, foi analisado o conteúdo constante das doutrinas, artigos científicos,
legislações, bem como dos julgados, compreendendo os pontos divergentes e harmônicos, já
que se trata de uma pesquisa qualitativa.
2 ADVOCACIA
Este capítulo tem como objetivo abordar a respeito da advocacia no que tange a
seu conceito e origem, bem como as atividades privativas, os direitos e deveres dos
advogados(as) e os requisitos para sua inscrição.
Cabe destacar, de acordo com a Lei Complementar n.º 123, que há exceção para
indispensabilidade do advogado, entendendo-se que as micro e pequenas empresas podem ser
constituídas sem a presença daquele.
No § 3º do art. 1º do EAOAB observa-se uma vedação, a divulgação da advocacia
em conjunto com outra atividade.
É notório que essa vedação é determinada, pois muitos utilizariam a profissão
como meio, apenas, de ganho material, esquecendo-se da função social prevista no art. 2º do
EAOAB.
Segundo Vieira e Cernov (2016, p. 21),
A vedação à divulgação da advocacia em conjunto com outra atividade visa evitar a
publicidade imoderada, a oferta dos serviços advocatícios, a mercantilização e a
captação de clientela. Assim, mostra-se evidente que a advocacia não pode, por
exemplo, ser divulgada em conjunto com a atividade de contabilidade, perícias
técnicas, corretagem imobiliária, etc. [sic].
Por fim, destaca-se que as disposições deste artigo não são taxativas, podendo
haver outras disposições que determinem a obrigatoriedade da presença de advogado para
realização dos atos.
compatível com a dignidade da advocacia, bem como condições adequadas para o seu
desempenho. (BRASIL, 1994).
Respeito mútuo e equidade é o que trata basicamente o parágrafo citado acima, os
quais devem ser dispensados também pelos advogados em relação às autoridades, aos
servidores, aos serventuários da Justiça, às partes da demanda, aos estagiários, etc.
Assim também pensam Arbex e Zakka (2012, p. 10) que ―Cada qual em sua
função a serviço de uma prestação jurisdicional eficiente, somente concretizada se estes
operadores do direito respeitarem e virem-se independentes e insubordinados uns aos outros‖.
O art. 7º do EAOAB apresenta em seus respectivos incisos os direitos básicos dos
advogados, cada qual com sua relevância. Segundo Ramos (2017, p. 112), ―[...] a melhor
maneira de se verificar a natureza dos direitos outorgados pelo Estatuto ao advogado é
exatamente examinar as condições em que os mesmos podem ser exercidos pelo profissional‖.
A liberdade para o exercício da profissão de advogado está prevista logo no inciso
I do EAOAB, indo ao encontro da própria CRFB/1988 que estabelece, em seu art. 5º, inciso
XIII, a liberdade para o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão (BRASIL, 1988).
Este direito é certificado para os inscritos nos quadros da OAB.
A inviolabilidade (inciso II do art. 7º do EAOAB) do escritório ou local de
trabalho, instrumentos de trabalho, correspondência (escrita, eletrônica e telemática) do
advogado, relativas ao exercício da advocacia, são asseguradas pelo EAOAB. Apenas em
caso de ordem judicial de busca e apreensão é autorizada a quebra da inviolabilidade, desde
que acompanhado por representante da OAB (RAMOS, 2017, p. 114).
Nesse sentido, os § § 6 º e 7º do art. 7º do EAOAB determinam o seguinte:
[...]
§ 6º Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de
advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da
inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada,
expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser
cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese,
vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a clientes
do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que
contenham informações sobre clientes.
§ 7º A ressalva constante do § 6º deste artigo não se estende a clientes do advogado
averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partícipes ou co-
autores [sic] pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra da inviolabilidade.
[...] (BRASIL, 1994).
Ainda sobre a inviolabilidade, Arbex e Zakka (2012, p. 15) argumentam que
Bastava que um advogado patrocinasse a causa de quem fosse suspeito de um crime,
e o causídico corria riscos de seu escritório ser violado a pretexto do combate à
impunidade. A legislação veio para pôr cobro em uma situação totalmente absurda
que violava o inviolável, o escritório do advogado, já há muito consagrado em nosso
Estatuto, mas desrespeitado por algumas autoridades.
25
O RGEAOAB no capítulo II, seção I estabelece a defesa judicial dos direitos e das
prerrogativas previstas no art. 7º do EAOAB.
A Lei n.º 13.363/2016 acrescentou ao EAOAB o art. 7º-A, o qual dispõe sobre os
direitos das advogadas gestantes, adotantes e lactantes.
Em relação à advogada gestante, terá o direito de não ser submetida a detectores
de metais e aparelhos de raios X, bem como reserva de vagas em garagens em que funcionem
os fóruns ou tribunais.
No que diz respeito à advogada lactante, terá o direito de preferência nas
sustentações orais nas sessões dos tribunais e na realização de audiências que figurem na
pauta, bem como livre acesso à creche ou local de atendimento das necessidades do bebê. Por
fim, a advogada adotante ou que der à luz, terá os mesmos direitos das gestantes e lactantes,
com exceções a vagas de garagens e aparelhos detectores de metais e raios X, pelo prazo de
120 dias. (GONZAGA; NEVES; BEIJATO JUNIOR, 2019, p. 53-54).
O conjunto dos mandamentos éticos da profissão diz respeito não só à relação entre
o advogado e a parte que representa, mas se estende às relações com as outras partes,
com os colegas de profissão e com os demais sujeitos políticos e autoridades.
Tratam-se, todavia, de mandamentos mínimos, isto é, de parâmetros basilares a
serem incorporados por aqueles que exercem a advocacia.
A respeito de cada um dos deveres do advogado, todos eles de grande importância
para a profissão da advocacia, todavia cabe destacar aqueles que têm maior relevância para a
presente pesquisa.
Gonzaga, Neves e Beijato Junior (2019, p. 253-268)1 discorrem que é necessário
que o advogado preserve a honra, a nobreza e a dignidade (inciso I); atue de acordo com os
ditames da boa-fé e vele pela sua reputação pessoal e profissional (incisos II e III); preze pela
sua boa formação e busque aprimorar as instituições, o Direito e as leis, já que presta serviço
público e exerce função social (incisos IV e V); não colabore com aqueles que violam os
preceitos da boa-fé (alínea c do inciso VIII); busque a efetivação dos direitos individuais,
coletivos e difusos dos cidadãos (inciso IX); cumpra com as incumbências e encargos junto à
OAB (inciso XI) e zele pelos valores da advocacia (inciso XII).
1
Sugere-se também a leitura de: TRIGUEIROS, Arthur. Código de Ética e Disciplina da OAB e Estatuto da
Advocacia: anotados e comparados. 5. ed. Indaiatuba: Foco, 2019.
29
Este capítulo tem como intento analisar os principais aspectos da Lei n.º
11.340/2006, por isso, a fim de compreender a Súmula discutida na presente pesquisa, faz-se
necessária a compreensão dos direitos humanos e direitos fundamentais, bem como os
princípios e mecanismos internacionais atinentes à proteção dos direitos humanos das
mulheres. Ainda, destaca-se a importância de compreender o sujeito ativo e passivo da
violência e as formas de violência contra a mulher.
Expõem Piovesan e Pimentel (2006, p. 30 apud DIAS, 2019, p. 52) que a LMP
constitui uma conquista histórica na afirmação dos direitos humanos das mulheres, uma vez
que repudia à tolerância estatal e o tratamento discriminatório às mulheres, e ―Sua
implementação surge como imperativo de justiça e respeito aos direitos das vítimas desta
grave violação que ameaça o destino e rouba a vida de tantas mulheres brasileiras‖.
princípio da igualdade, o qual está disposto no caput do art. 5º da CRFB/1988, afirmando que
―Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]‖. (BRASIL, 1988).
O inciso I do art. 5º da CRFB/1988 estabelece que ―homens e mulheres são iguais
em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição‖. Alguns alegam que a própria LMP
seria inconstitucional, tendo em vista que oferece proteção diferenciada à mulher, todavia, na
Ação Declaratória de Constitucionalidade 19 (BRASIL, 2012), o STF declarou constitucional
a proteção penal diferenciada à mulher, alegando não ferir o princípio da igualdade elencado
na Carta Magna.
Ainda, sobre o mesmo assunto, Alferes, Gimenes e Assunção (2016, p. 17-18)
ressaltam que a LMP
[...] trata de ação afirmativa, buscando igualdade substantiva, decorrente do histórico
desnível sócio-cultural [sic] que tanto gera distinção entre iguais (homens e
mulheres) que se têm mostrado desiguais. Busca-se uma igualdade concreta, uma
igualdade efetiva entre homens e mulheres, estas enquanto vítimas da violência de
gênero.
Notadamente, para que a igualdade prevista no inciso I do art. 5º da CRFB/1988
seja alcançada, é necessário ―[...] fazer com que a parte abstrata de seu conteúdo formal atinja
a materialidade esperada por parte dos agentes de direito garantindo a igualdade daqueles sem
que suas liberdades individuais sejam afetadas [...]‖. (FERRACINI NETO, 2018, p. 175).
A CRFB/1988 ampliou de forma significativa os direitos e garantias fundamentais
dos cidadãos, criando normas que conferem um tratamento especial às mulheres.
Argumentam Cunha e Pinto (2019, p. 41) que,
Embora os principais documentos internacionais de direitos humanos e praticamente
todas as Constituições e era moderna proclamem a igualdade de todos, essa
igualdade, infelizmente, continua sendo compreendida em seu aspecto formal e
estamos ainda longe de alcançar a igualdade real, substancial entre homens e
mulheres.
Frisa-se a importância de adoção, pelos Estados, das chamadas ações afirmativas,
que nada mais são do que medidas que visam acelerar o processo para a obtenção de
igualdade entre as mulheres e os homens.
Segundo Athabahian (2004, p. 381 apud CUNHA; PINTO; 2019, p. 43),
[...] as ações afirmativas são medidas privadas ou políticas públicas objetivando
beneficiar determinados segmentos da sociedade, sob o fundamento de lhes
falecerem as mesmas condições de competição em virtude de terem sofrido
discriminações ou injustiças históricas.
As ações afirmativas representam o respeito ao princípio da igualdade, tendo em
vista que as medidas adotadas a fim de acelerar o processo de igualização de status entre
36
dia novas situações que irão determinar a identificação dos atores da violência. (DIAS, 2019,
p. 67).
A LMP não estabelece que, para sua aplicação, o sujeito passivo seja do sexo
feminino, na verdade, a lei estabelece que o ―ser mulher‖ definirá o sujeito passivo com base
em dados culturais que vão além da existência da cromatina sexual (cromossomos XX).
Assim, a violência não é praticada em direção ao sexo feminino biológico, mas sim ao papel
social desenvolvido por mulheres. (MELLO; PAIVA, 2019, p. 71).
Nesse mesmo sentido, expõe Dias (2019, p. 71) que ―A referência legal ao sexo da
vítima não se limita ao conceito biológico a pessoa com genitália feminina. Diz também com
quem tem identidade de gênero feminino [...]‖.
É pertinente fazer a diferenciação entre identidade de gênero e orientação sexual,
para que se compreendam os demais elementos a serem abordados ao longo deste capítulo.
Nas palavras de Bianchini, Bazzo e Chakain (2019, p. 58),
Entende-se por identidade de gênero a condição de homem ou de mulher, de
pertencimento ao gênero masculino ou feminino, enquanto que a orientação sexual
leva em consideração a orientação da efetividade e da sexualidade do individuo,
voltada para as pessoas pertencentes ao mesmo gênero que o seu (homossexuais e
lésbicas), ao gênero oposto (heterossexuais) ou a ambos (bissexuais).
Em razão da LMP não distinguir a orientação sexual ou a identidade de gênero, é
possível concluir que a proteção é assegurada a lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros
de identidade feminina, constituindo violência nos moldes da LMP a agressão aos que se
identificam como do gênero feminino, desde que num dos contextos de violência. (DIAS,
2019, p. 71).
O STF, conforme julgamento da ADI n.º 4.275, no dia 1º de março de 2018,
reconheceu o direito dos transgêneros à substituição de prenome e sexo no registro civil,
independentemente de cirurgia de transgenitalização. Ressalta-se, que para buscar a proteção
ofertada pela LMP, não é necessária à substituição do nome, tampouco a realização de
cirurgia de redesignação sexual, conforme também dispõe o Enunciado 462 do Fórum
Nacional de Juízas e Juízes de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher (FONAVID)
2
ENUNCIADO 46: A lei Maria da Penha se aplica às mulheres trans, independentemente de alteração registral
do nome e de cirurgia de redesignação sexual, sempre que configuradas as hipóteses do artigo 5º, da Lei
11.340/2006.
45
3
Enunciado nº 30 (001/2016): A Lei Maria da Penha pode ser aplicada a mulheres transexuais e/ou travestis,
independentemente de cirurgia de transgenitalização, alteração do nome ou sexo no documento civil. (Aprovado
na I Reunião Ordinária do GNDH em 05/05/2016 e pelo Colegiado do CNPG em 15/06/2016).
46
Destaca Dias (2019, p. 87) que a LMP oferece maior proteção, haja vista que as
―[...] hipóteses previstas na Lei Maria da Penha como configuradoras de violência sexual têm
um espectro bem maior. Porém, na reforma do Código Penal, não houve o cuidado de ampliar
as hipóteses em que os crimes sexuais configuram violência doméstica‖.
De modo contrário, Dias (2019, p. 89) entende que as imunidades não se aplicam,
tendo em vista que, quando a vítima é mulher com quem o sujeito ativo mantém relação de
ordem afetiva, e quando configurada as hipóteses prevista no inciso IV, não se pode mais
admitir a escusa absolutória.
Feix ([2004?], p. 210 apud DIAS, 2019, p. 91) afirma que a violência moral é uma
afronta à autoestima e ao reconhecimento social, tendo em vista que o sujeito ativo busca
desqualificar, inferiorizar e ridicularizar a vítima, principalmente, nos dias atuais,
contribuindo a internet e as redes sociais para esse fim, alcançando a violência moral novas
dimensões.
50
Lôbo (2017, p. 2017) não destoa deste significado, afirmando que ―não são
compatíveis com a idoneidade moral atitudes e comportamentos, que contaminarão
necessariamente sua atividade profissional, em desprestígio da advocacia‖.
Importante frisar que a declaração de idoneidade é tão grave que só poderá ser
proferida por um quórum qualificado de 2/3 do conselho competente, ou seja, o conselho
estabelecerá se aquele caso em concreto impedirá o candidato para a realização da inscrição,
tendo em vista a presença da inidoneidade, conforme estabelece o § 3º do art. 8º do EAOAB.
Nesse sentido o CFOAB entende que:
RECURSO 2009.08.08704-05/SCA-STU. Rcte.: M.S.C.B. (Advs.: Cláudio Juarez
Villanova Camboim OAB/RS 35153 e Outros). Rcdo.: Conselho Seccional da
OAB/Rio Grande do Sul. Rel.: Conselheiro Federal Francisco de Assis Guimarães
Almeida (RR). Rel. para o acórdão: Conselheiro Federal Durval Julio Ramos Neto
(BA). EMENTA 281/2010/SCA - STU. A idoneidade moral, mais do que uma
condição de ingresso no quadro da ordem, é uma permanente exigência na vida
do advogado, mas para excluir o advogado do exercício da advocacia é necessário o
quorum qualificado de dois terço exigido pelo art. 38, Parágrafo único, do EAOAB,
e art. 108 do Regulamento Geral. Recurso Conhecido e dado provimento para
decretar anulação do julgamento proferido pelo Conselho Seccional com a
realização de novo julgamento, obsevando o quorum legal. ACÓRDÃO: vistos,
relatados e discutidos estes autos acordam os integrantes da 2ª Turma da Segunda
Câmara do CFOAB, por maioria de votos, em conhecer e dar provimento ao recurso,
nos termos do voto do Relator para o Acórdão. Brasília, 16 de novembro de 2010.
Paulo Roberto de Gouvêa Medina, Presidente da 2ª Turma da Segunda Câmara.
Durval Julio Ramos Neto, Relator para o Acórdão. (DJ. 21/12/2010, p. 42). (RIO
GRANDE DO SUL, 2010, grifo nosso). [sic].
4
Art. 68. Salvo disposição em contrário, aplicam-se subsidiariamente ao processo disciplinar as regras da
legislação processual penal comum e, aos demais processos, as regras gerais do procedimento administrativo
comum e da legislação processual civil, nessa ordem. (BRASIL, 1994).
53
conceitos cuja valoração, pela sua própria natureza – abstrata -, varia em função das
crenças de cada um.
Hening (2017) expõe que
O direito deontológico trás [sic] de forma muito vaga os conceitos de inidoneidade
moral e crime infamante, uma vez que diante de tal omissão se abre vários
precedentes. Os crimes de idoneidade moral são correlatos com os crimes
infamantes, pois atingem o bem jurídico em abstrato, ou seja, a honra, a moral, a
índole, o que pode ocasionar a má fama de quem o pratica.
De acordo com Gonzaga, Neves e Beijato Junior (2019, p. 34), embora seja a
idoneidade um conceito particular e subjetivo,
[...] é notória a existência de um comportamento-padrão esperado do profissional,
que consiste na observância do princípio constitucional da moralidade, evidenciando
a probidade, a honestidade esperada de um advogado, mesmo na postura de vida
privada, que vai, ainda que indiretamente, refletir no âmbito público.
O advogado poderá cometer ato que não seja tipificado como crime, mas que é
contrário à moral adequada para desempenho de sua função, assim será excluído dos quadros
da OAB, nos termos do art. 38, II e parágrafo único, do EAOAB, devendo, neste caso, ser
declarada inidoneidade por dois terços dos votos dos membros do conselho competente. Do
mesmo modo, o requerente à inscrição poderá ser considerado inidôneo, conforme aduz o § 3º
do art. 8º do EAOAB.
É relevante mencionar que a inidoneidade moral que veda o pedido de inscrição
não pode ser debatida com base nos mesmos princípios do processo ético pela infração
disciplinar do art. 34 do EAOAB, inclusive no que tange ao ônus da prova e à aplicação do
princípio da presunção da inocência, pois, nos casos em que o advogado tornar-se moralmente
inidôneo, compete à OAB provar em processo disciplinar, bem como milita a favor do
advogado o princípio da presunção da inocência. (RAMOS; 2017, p. 178-179).
Lôbo (2017, p. 201) traz três situações acerca da inidoneidade moral
superveniente a inscrição.
Entendeu a Primeira Câmara do CFOAB (Repr. 009/2002/PCA) que a condenação
de advogado por júri popular, mas com recurso em trâmite, não caracterizaria, em
virtude do princípio de presunção de inocência (art. 5º, LVII, da Constituição).
Todavia, o Órgão Especial do CFOAB (Proc. 348/2001/OEP) decidiu que a pena de
exclusão pode ser aplicada quando houver fatos notórios, públicos e incontroversos,
decorrentes de condenação criminal e recolhimento ao cárcere. Em decisão unânime,
entendeu a Segunda Câmara do CFOAB que caracteriza o tipo a condenação em
ação penal por infração dos arts. 138 (crime de calúnia) e 344 (uso de violência ou
grave ameaça no curso do processo) do Código Penal (Rec. 0452/2003/SCA) e a
condenação por tráfico internacional de drogas (Proc. 2.444/2001/SCA).
56
4.2.1 Diferenças entre o crime infamante como requisito para inscrição e o crime
infamante mencionado como infração disciplinar e superveniente à inscrição
Seccional. Os dois terços mencionados no § 3º do art. 8º do EAOAB são dos votos de todos
os membros do Colegiado, ou seja, trata-se de maioria qualificada.
O processo administrativo para averiguar a inidoneidade é incidental e prejudicial
ao pedido de inscrição, suspendendo seu curso até o julgamento definitivo. Seguirá o rito do
processo disciplinar. (MACHADO et al., 2015, p. 113; VIEIRA; CERNOV, 2016, p. 70).
A declaração de inidoneidade moral é um ato vinculado, motivado, garantindo-se
ao interessando o amplo direito de defesa. Frisa-se que o processo é exclusivamente de
natureza administrativa, cujo juízo não se vincula ao processo judicial. (LÔBO, 2017, p. 94).
De acordo com a Súmula n.º 06, aprovada pelo Conselho Pleno do CFOAB, ―Nos
processos de inscrição, o Conselho competente poderá suscitar incidente de apuração de
idoneidade‖. (BRASIL, 2018).
Enfatiza-se que os órgãos competentes nas Seccionais, os quais são responsáveis
para decidir sobre as inscrições, caso verifiquem indícios de inidoneidade moral do
requerente,
[...] deverão suspender o pedido, suscitando o fato, e encaminhando-o à apreciação
do Conselho Pleno, como questão prejudicial. Após o trânsito em julgado da
decisão, que poderá chegar até o Conselho Federal em grau de Recurso, é que o
pedido de inscrição terá um pronunciamento definitivo no âmbito do órgão julgador
originário. (RAMOS, 2017, p. 178).
Nos casos de inidoneidade superveniente à inscrição (art. 34, XXVII, do
EAOAB), ou seja, quando o advogado tornar-se moralmente inidôneo, o processo ético pela
infração disciplinar do art. 34 não pode ser debatido com base nos mesmos princípios que a
inidoneidade moral que veda o pedido de inscrição. Isto porque, nestes casos, o ônus de
provar a inidoneidade é da OAB, observando-se o princípio da presunção da inocência em
regular processo disciplinar, ao contrário dos casos de pedido de inscrição, em que na dúvida
preserva-se a sociedade. (RAMOS, 2017, p. 178-179).
Portanto, quando o advogado tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da
advocacia, aplicar-se-á a sanção disciplinar de exclusão, sendo necessária a manifestação
favorável de dois terços dos membros do Conselho Seccional, conforme dispõe o parágrafo
único do art. 38 do EAOAB.
Nas hipóteses de crime infamante praticado anteriormente à inscrição (§ 4º do art.
8º do EAOAB), a doutrina majoritária e o CFOAB entendem, na maioria dos casos, que não é
necessário o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, devendo ser declarado
mediante decisão que obtenha no mínimo dois terços dos votos do conselho competente, nos
termos do § 3º do art. 8º do EAOAB. Nestes casos, compete privativamente ao Conselho
63
Seccional decidir sobre os pedidos de inscrição, conforme determina o art. 58, VII, do
EAOAB. (BRASIL, 1994).
Acerca do crime infamante previsto como infração disciplinar no art. 34, XXVIII,
do EAOAB, ou seja, aqueles praticados por advogados, a doutrina majoritária e o CFOAB
entendem, na maioria dos casos, que há necessidade do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória, observando-se o disposto no parágrafo único do art. 38 do EAOAB, sendo,
posteriormente, ―[...] necessária a manifestação favorável de dois terços dos membros do
Conselho Seccional competente‖. (BRASIL, 1994).
O processo disciplinar na OAB rege-se pelas regras previstas nos arts. 68 a 75 do
EAOAB e pelas regras dos arts. 55 a 69 do CED. Dar-se-á maior evidência aos artigos
relevantes ao presente trabalho monográfico.
O art. 70 do EAOAB estabelece que ―O poder de punir disciplinarmente os
inscritos na OAB compete exclusivamente ao Conselho Seccional em cuja base territorial
tenha ocorrido a infração, salvo se a falta for cometida perante o Conselho Federal‖.
(BRASIL, 1994). Embora haja menção apenas da punição dos inscritos, as regras do processo
disciplinar se estendem aos requerentes da inscrição.
Os prazos para manifestação e interposição de recursos são de 15 (quinze) dias,
conforme prevê o art. 69 do EAOAB. (BRASIL, 1994).
No termos do art. 55 do CED e do art. 72 do EAOAB, o processo disciplinar
poderá ser instaurado de ofício ou mediante representação de pessoa interessada ou
autoridade. (BRASIL, 2015; BRASIL, 1994).
Após ser recebida a representação, o Presidente do Conselho Seccional ou da
Subseção designará o relator que instruirá o processo e oferecerá o parecer liminar a ser
submetido ao Tribunal de Ética e Disciplina (TED), nos termos do art. 73 do EAOAB e art.
58 do CED. (BRASIL, 1994; BRASIL, 2015).
Salienta-se que no § 1º do art. 73 do EAOAB está disposto que o direito de defesa
será assegurado ao representado, o qual poderá oferecer defesa prévia após ser notificado,
razões finais após a instrução e a defesa oral perante o TED. O prazo para apresentação de
defesa prévia é 15 (quinze) dias e, depois de oferecida, será proferido despacho saneador e
designada audiência para oitiva do representante, do representado e das testemunhas,
conforme estabelecem o art. 59 e § 3º do CED. (BRASIL, 1994; BRASIL, 2015).
Concluída a instrução, o relator profere parecer liminar e o submete ao TED,
dando enquadramento legal dos fatos imputados ao representado e, em seguida, abre-se o
prazo de 15 (quinze) dias para apresentação das razões finais (§ § 7º e 8º do art. 59 do CED).
64
O Presidente do TED, após o recebimento do processo, designará relator para proferir o voto
e, assim, o processo será incluído em pauta na primeira sessão de julgamento, nos termos do
art. 60 e § 2º do CED. (BRASIL, 2015).
Imperioso destacar que, conforme dispõe o art. 61 do CED, do julgamento do
processo disciplinar será lavrado acórdão.
Art. 61. Do julgamento do processo disciplinar lavrar-se-á acórdão, do qual
constarão, quando procedente a representação, o enquadramento legal da infração, a
sanção aplicada, o quórum de instalação e o de deliberação, a indicação de haver
sido esta adotada com base no voto do relator ou em voto divergente, bem como as
circunstâncias agravantes ou atenuantes 30 consideradas e as razões determinantes
de eventual conversão da censura aplicada em advertência sem registro nos
assentamentos do inscrito. (BRASIL, 2015).
Por fim, determina o art. 69 do CED, que o advogado que tenha sofrido sanção
disciplinar poderá requerer a reabilitação, do mesmo modo estabelece o art. 41 do EAOAB,
ao permitir que a reabilitação ocorra após um ano do cumprimento da sanção disciplinar.
(BRASIL, 2015; BRASIL, 1994). Esta regra também se aplica aos requerentes à inscrição,
pois o próprio § 3º do art. 8º do EAOAB preceitua que o incidente de inidoneidade observará
os termos do processo disciplinar, de tal sorte que aquele que teve o impedimento da inscrição
poderá valer-se de novo pedido, por aplicação analógica do art. 41 do EAOAB. (VIEIRA;
CERNOV, 2016, p. 70).
Vieira e Cernov (2016, p. 211) expõem que ―Se a conduta imputada ao advogado
como causadora de inidoneidade moral constitui crime (o que ocorre na maioria das vezes),
exige-se o trânsito em julgado da sentença penal condenatória‖.
Entretanto, quando a inidoneidade não constituir crime, deverá ser aferida por um
processo disciplinar nos termos do § 3º do art. 8º do EAOAB. (RAMOS, 2017, p. 518;
ARBEX; ZAKKA, 2012, p. 116).
A terceira situação é quando o crime infamante é praticado pelo requerente à
inscrição, tornando-o moralmente inidôneo. Alguns doutrinadores interpretam o § 4º do art. 8º
do EAOB e afirmam que não é necessário o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória para fins de impedimento da inscrição do interessado.
Nas palavras de Vieira e Cernov (2016, p. 73), ―O Conselho Federal da OAB, em
diversas decisões, não tem exigido o trânsito em julgado da sentença penal condenatória como
requisito para que seja indeferida a inscrição [...]‖.
Lôbo (2017, p. 95) entende que, para o caso de indeferimento da inscrição pela
prática de crime infamante, cabe ao conselho competente analisar caso a caso.
A quarta hipótese refere-se à prática de crime infamante por advogado, o que pode
levá-lo a ser excluído dos quadros da OAB.
Arbex e Zakka (2012, p. 116), Vieira e Cernov (2016, p. 212) e Gonzaga, Neves e
Beijato Junior (2019, p. 186) defendem que para que haja a exclusão pela prática de crime
infamante, é necessário o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Assim, conclui-se que, para cada hipótese apresentada, há um procedimento a ser
observado, devendo-se analisar cada caso em concreto.
Em sua parte final, a Súmula n.º 09/2019 é bem clara ao estabelecer que o
requerente à inscrição será impedido de se inscrever nos quadros da OAB, independentemente
de julgamento na instância criminal.
O princípio da independência das instâncias decorre da separação dos poderes
expressa no art. 2º da CRFB/1988, o qual estabelece que ―São Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário‖. (BRASIL,
1988).
Em outros diplomas legais também se encontra presente o princípio da
independência das instâncias. A Lei n.º 8.112/90, que dispõe sobre o regime jurídico dos
67
servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, em seu
art. 125, determina que ―As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo
independentes entre si‖. (BRASIL, 1990).
Em regra, este princípio estabelece que a punição administrativa não depende de
processo criminal ou civil, devendo ser observado o devido processo legal e a ampla defesa.
Moresco (1998) explica que a existência do princípio da independência das
instâncias não viola o princípio do non bis in idem, ou seja, aquele que impede que a pessoa
seja punida duas vezes pelo mesmo fato ou impede que o mesmo fato seja objeto de dois
processos distintos. Expõe o mesmo autor que os ilícitos penais e administrativos têm
natureza, reflexos e substâncias diferentes. O primeiro são comandos de proteção geral da
sociedade e o último dirige-se à proteção interna da Administração, abrangendo as infrações
relacionadas ao serviço.
Há possibilidade de a Administração aplicar sanção disciplinar antes do
julgamento pelo Poder Judiciário, haja vista que possui autonomia para apreciar os fatos de
forma diferente e a decisão judicial não tem efeito vinculante. (OLIVEIRA, 2017).
Imperioso destacar que o princípio da independência das instâncias também está
disposto no art. 935 do CC, o qual preceitua que ―A responsabilidade civil é independente da
criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu
autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal‖. (BRASIL, 2002).
Nota-se que, nos arts. 65 e 66 do CPP, há uma flexibilização do princípio da
independência das instâncias.
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de
dever legal ou no exercício regular de direito.
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá
ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência
material do fato. (BRASIL, 1941).
Nos casos em que haja divergência sobre a prevalência ou não da instância penal
em relação às demais instâncias, algumas razões justificam a supremacia daquela, haja vista
que possui a presença mais criteriosa dos comandos de ordem pública, efeitos mais gravosos e
uma matéria de instrução e prova mais exigentes. (MORESCO, 1998).
Salienta-se que o ilícito administrativo pode gerar repercussão na esfera penal, ou
seja, quando constituir fato tipificado como crime, deverá ser analisado pelo Poder Judiciário,
tornando indiscutível a questão na via administrativa, todavia se a repercussão for meramente
administrativa não há razões para acionar outras instâncias. (MORESCO, 1998).
68
modo, se a punição disciplinar está fundada na prática de crime, esse não pode ser declarado
no âmbito administrativo sem o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
Portanto, nem sempre a sentença proferida na instância criminal terá efeito sobre a
instância administrativa, havendo, ainda, que se considerar a repercussão negativa sobre a
classe de advogados e a sociedade em geral. (MEDINA, 2010).
70
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
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74
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2009.08.08704-05/SCA-STU. A idoneidade moral, mais do que uma condição de ingresso no
quadro da ordem, é uma permanente exigência na vida do advogado, mas para excluir o
advogado do exercício da advocacia é necessário o quorum qualificado de dois terço exigido
pelo art. 38, Parágrafo único, do EAOAB, e art. 108 do Regulamento Geral. Recurso
Conhecido e dado provimento para decretar anulação do julgamento proferido pelo Conselho
Seccional com a realização de novo julgamento, obsevando o quorum legal. [...] Relator:
Durval Julio Ramos Neto, 16 de novembro de 2010. Disponível em:
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