Direito Homoafetivo
Direito Homoafetivo
Direito Homoafetivo
CAMPINA GRANDE – PB
2011
JONAS JEFFERSON DE SOUZA LEITE
CAMPINA GRANDE – PB
2011
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB
Digitado.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Direito) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de
Ciências Jurídicas, 2011.
“Orientação: Profa. Me. Maria do Socorro Bezerra
Agra, Departamento de Direito Privado”.
The present work focuses on family formations mentioned in Article 226 of the
Constitution, specifically with regard to marriage and stable, contextualizing
themwithin the Family Law constitutionalized as well as the mobilization of
homosexuallaw. It has been aimed at understanding, according to the Principles
of Human Dignity, Equality and Liberty, the formation of family units among
homosexual partnersand consider whether such arrangements are compatible
with Brazilian legal system.The historical and social implications, albeit the lack
of regulation of mattersaddressed, are also discussed in order to realize the
consequences of failure and thelegal impediment is homo for the constitution of
family and therefore unable to grantFamily Law , regarding the interplay of
personal and material. Finally, it outlined an overview of countries that have
regulated the issue of homo family and what were the legal strategies adopted
for the normalization of the matter.
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11
4.1.1 Requisitos................................................................................................ 29
“Era apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de outro
corpo, o dele, que por acaso era de homem também”. Com naturalidade, Caio
Fernando Abreu (1996, p. 69) define, no conto Terça-feira Gorda, as relações
afetivas homossexuais, a despeito de nossa cultura ainda considerar a
homossexualidade antinatural, errada e pecaminosa.
Para além da literatura, que imita a vida e vice-versa, tratar as relações
homoafetivas com naturalidade, tanto do ponto de vista social quanto jurídico, é
a utopia perseguida pelos que militam na causa gay.
A partir dessa constatação, surge a intenção de, na esfera do direito,
que também é um lugar de modificação social e espelho de seu povo, analisar
o fenômeno da homoafetividade à luz da Constituição de 1988.
Paradoxalmente, a Carta da República assegura um tratamento sem
nenhuma distinção entre as pessoas, nem possibilidade de chancela ao
preconceito, mas a legislação infraconstitucional não se mostra atenta a esses
parâmetros e, de forma lacunosa, tem deixado essas pessoas, quando
necessitam da jurisdição, à margem de entendimentos e de precedentes, que
nem sempre, asseguram os direitos pleiteados.
Para esse debate é necessário considerar, ainda, as transformações
ocorridas no Direito de Família no que tange a sua proteção constitucional ao
afeto e as entidades familiares, pois, só com esses conceitos é possível uma
análise coerente com as garantias que um Estado Democrático de Direito
assegura a todos os cidadãos.
Ademais, a argumentação desta obra é conduzida pela defesa ao
Princípio da Igualdade, em que pese a mesma medida dada aos casais
heterossexuais, quando das formações de famílias, seja de igual modo
aplicada aos arranjos familiares compostos por pessoas do mesmo sexo.
Desta forma, temos como objetivo principal, compreender os
relacionamentos homoafetivos, sob o prisma do direito (constitucional de
família), quando constituem núcleos familiares, e defender a aplicação de
prerrogativas e responsabilidades familiares de forma equânime, sem distinção
da sexualidade, tratados com naturalidade.
Para tanto, o primeiro capítulo faz uma leitura histórica e conceitual
acerca da homossexualidade e apresenta as mudanças mais significativas no
Direito de Família até a sua constitucionalização, com o intuito de lastrear as
discussões nos capítulos seguintes.
Já no segundo capítulo, são discutidas questões pertinentes à união
estável homoafetiva, ancorada em considerações sobre a união estável
tradicional, já resignificadas pelo entendimento hermenêutico do STF,
apresentado, por fim, um rol de conquistas em decorrência da
constitucionalidade da estabilidade nos relacionamentos afetivos entre gays.
Por fim, o terceiro momento, são discutidas questões atinentes à
possibilidade jurídica do casamento homoafetivo, bem como a falta de
regulamentação da matéria e os desdobramentos de tal omissão e
apresentado um sucinto panorama sobre os países que já regulamentaram a
questão da homoafetividade, e quais as estratégias legais adotadas.
2 NOTAS INICIAIS
1
Conforme o Dicionário Enciclopédico Larousse, o verbete gay tem a seguinte definição: diz de
ou pessoa homossexual.
2
O Decreto nº 6.583 de 29 de setembro de 2008, promulgou o acordo ortográfico da língua
portuguesa assinado em Lisboa em 1990, tendo como signatários os países lusófonos,
objetivando uniformizar o uso do idioma. Até 31 de dezembro de 2012, coexistirão a norma
ortográfica atualmente em vigor e a nova norma estabelecida, conforme inteligência do
parágrafo único do 2º artigo do Diploma Legal aludido.
2.2 Direções metodológicas
3
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela resolução 217 A
(III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Foi aprovada no
Brasil pelo Decreto Legislativo nº 2, de 11 de abril de 1951, e promulgada pelo Decreto nº
30.822, de 6 de maio de 1952.
Consoante aos métodos utilizados, o qualitativo e o interpretativo,
delimita-se como espaço de pesquisa a possibilidade jurídica de casais
homossexuais formarem unidades familiares e quais os desdobramentos no
campo do direito.
3 HOMOSSEXUALIDADE E FAMÍLIA: BREVES CONSIDERAÇÕES
3.1 Conceito
4
Nasceu em 1824, na Áustria e morreu em 1882. Como parte da sua classificação sexual,
criou a palavra homossexual em substituição ao designativo pejorativo de pederasta. Foi um
grande ativista dos Direitos Humanos, principalmente da causa homossexual.
5
Em 1991, a Anistia Internacional passou a considerar uma violação dos Direitos Humanos a
discriminação a homossexuais.
6
Segundo o Novo Dicionário Aurélio, 5ª ed., o verbete significa: qualidade ou caráter
homoafetivo; relação afetiva e sexual entre pessoas do mesmo sexo. Homoafetivo: que diz
Segundo a referida autora “o afeto existente na maior parte das uniões
homossexuais é idêntico ao elemento psíquico e volitivo das uniões conjugais e
companheris”.
Conceitualmente, são múltiplas as definições dadas para caracterizar o
indivíduo homossexual; alguns, ancorados em conceitos retrógados, ainda
acreditam que é uma perversão ou desvio sexual. Para Taísa Ribeiro
Fernandes (Cf.: 2004, p.22), homossexual é aquele que, de forma distinta da
maioria, sente atração por pessoa de sexo semelhante. Já Para Débora
Vanessa Brandão (2002, p.17),
Pode-se afirmar que homossexual é a pessoa que se relaciona, quer
de fato, quer de forma fantasiosa, imaginária, com parceiros
pertencentes ao mesmo sexo que o seu, mantendo-se, todavia,
satisfeita com seu sexo biológico.
respeito à afetividade e sexualidade entre pessoas do mesmo sexo; realizado entre pessoas do
mesmo sexo: casamento homoafetivo; relativo ou pertencente a, ou próprio de duas pessoas
que mantém relação conjugal, ou que pretende fazê-lo: direito homoafetivo.
7
O termo foi criado por Michael Warner, em 1991 e tem sido utilizado nas discussões sobre
gênero, identidade, sexualidade e papel social do gênero. Conceitualmente, revela as
expectativas, demandas e restrições produzidas pela heterossexualidade, enquanto modelo
dominante de sexualidade, dentro de uma sociedade.
O que é importante, na égide de um Estado Democrático de Direito, é
que as pessoas, mesmo destoando de um padrão cultural de vivência, não
sejam preteridas em direitos básicos apenas com a justificativa vã de não
pertencimento a um modus vivendi da maioria. Nesse contexto, Luiz Mott
(2003, p. 10), comenta:
Mesmo deixando a homossexualidade de ser crime, malgrado ser
reconhecida por todas as ciências como conduta tão normal e
saudável quanto a heterossexualidade, a despeito de vigorar hoje em
dia – inclusive no Brasil – leis que condenam o preconceito e
discriminação contra gays e lésbicas, lastimavelmente, como
mentalidades não mudam por decreto, persiste ainda no início do
terceiro milênio o mesmo complô do silêncio contra este amor-
maldito: do qual se fala mal e é amaldiçoado.
8
Poetisa grega. Nasceu entre 630 e 632 a. C. na ilha de Lesbos. Considerada por Platão de A
Décima Musa. Foi líder e mestre de um círculos de mulheres. Sua poesia de cunho erótico
sofreu censura na Idade Média pelos monges copistas, restando de sua obra fragmentos
esparsos.
9
Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832), escritor e pensador alemão. Foi um dos líderes do
movimento literário Romântico em seu país.
homens eram igualados a escravos. Nesse sentido, comenta Taísa Ribeiro
Fernandes (2004, p. 38):
A homossexualidade se revelava por meio de lendas, mitos, deuses,
reis e heróis. Estava ligada à intelectualidade, à estética corporal e à
ética comportamental, não existindo discriminação das relações
mantidas entre pessoas do mesmo sexo, sendo, inclusive, por muitos
considerada mais nobre que o relacionamento heterossexual. Tanto a
homossexualidade como a bissexualidade eram consideradas
comuns, e a heterossexualidade era tida como diferente, uma
preferência interior, pois era reservada exclusivamente à procriação.
10
Dramaturgo, poeta e escritor irlandês. Nasceu em Dublin, em 1854 e morreu em Paris em
1900, debilitado e pobre, após dois anos quebrando pedras no Presídio de Readind, Berkshire,
Inglaterra.
livro V, dedicado exclusivamente ao direito penal, estabelecia no Título XIII que
“Toda a pessoa, de qualquer qualidade que seja, que pecado de sodomia por
qualquer maneira cometer, seja queimado, e feito por fogo em pó, para que
nunca de seu corpo e sepultura possa haver memória” (p. 91). Depois da
publicação do Código Criminal do Império, a prática deixa de ser criminosa,
mas o preconceito arraigado de cunho religioso e jurídico se estenderia por
séculos em nossa história.
11
A frase original é “O amor que não ousa dizer o nome”, de Alfred Douglas, mais conhecido
como Bosie (1870-1945), foi um poeta e tradutor inglês, famoso por ter se envolvido com Oscar
Wilde e ter protagonizado o maior escândalo homossexual do século XIX.
12
De acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2010, a cada 36 horas, um homossexual
foi morto no Brasil em decorrência de homofobia. Nos últimos cinco anos houve um aumento
de 113% no número de assassinatos de homossexuais. Só nos três primeiros meses de 2011,
foram 65 mortes.
grupo, direitos fundamentais que historicamente lhes foram renegados, não
obstante a Carta Magna de 1988 ter estabelecido para todos direitos de ordem
fundamental e adotado o respeito à diferença como pilastra de sustentação.
Contudo, é crescente no Brasil o número de casais que declararam ser
homossexuais13, o que demonstra, apesar do preconceito, que a
conscientização e a luta por igualdade têm, mesmo de forma pálida, surtido
efeitos.
Com isso, a luta pela cidadania homossexual engloba, além de políticas
de inclusão e fortalecimento da chamada consciência gay, o reconhecimento
de uma realidade, estatisticamente comprovada, que alguns não querem
lembrar, mas que o Legislador Ordinário não pode fechar os olhos.
13
Segundo dados do IBGE, em 2007, nos municípios com menos de 170 mil habitantes, 9.586
homens e 7.974 mulheres viviam em domicílios com cônjuges do mesmo sexo. Já em 2010,
dos dados preliminares apresentados em abril de 2011, o Brasil tem, pelo menos, 60.002 pares
do mesmo sexo vivendo maritalmente.
Por muito tempo, o Direito Positivo só reconhecia como legítima a
formação da unidade familiar através do matrimônio. Entidades familiares que
não tinham o casamento como elemento fundante estavam à margem da
proteção jurisdicional do Estado. Na prática, as mulheres eram as que mais
sofriam com tal situação: com a morte ou o abandono do concubino14, elas não
poderiam postular o direito aos bens ou à pensão do companheiro, sendo
relegadas ao abandono e muitas vezes sem a menor condição de
sobrevivência.
O modelo familiar passou por diversas alterações, ao sabor das
mudanças e anseios sociais. Em síntese, a família em Roma era fundada sob o
patriarcalismo; na Idade Média, comunitária e, atualmente, é basicamente, sem
exclusão de outras formações, como a defendida nesse trabalho, formada pelo
modelo nuclear de pai, mãe e a sua prole, denominado de pequena família por
Gonçalves (2008, p. 2), tratando-se de:
Instituição jurídica e social, resultante de casamento ou união estável,
formada por duas pessoas de sexos diferentes com a intenção de
estabelecerem uma comunhão de vida e, via de regra, de terem filhos
a quem possam transmitir o seu nome e o seu patrimônio. (grifo
nosso).
14
O Código Civil de 1916 possuía diversos termos discriminatórios para as relações não
advindas do matrimônio: os filhos da constância do casamento eram classificados como
naturais, os que eram advindos de relações em que os pais eram impedidos de se casar em
decorrência de parentesco, afinidade ou casamento anterior eram classificados como espúrios
e se dividiam em adulterinos e incestuosos. O diploma de 1916 proibia o reconhecimento de
filhos espúrios. No entanto, a Constituição de 1988 vedou, no art. 227, § 6º qualquer
designação discriminatória em relação à filiação. O termo concubinato para designar as
relações não matrimoniais traz em seu âmago uma forte carga de preconceito,e não se
coadunando com a nova Ordem Constitucional brasileira. Com o advento da União Estável o
termo utilizado para denominar os integrantes da relação de convivência passou a se chamar
de Companheiro. O termo concubinato ainda é utilizado para designar as relações em que a
pessoa mantém ao mesmo tempo relação marital e relação extraconjugal (art. 1.727, CC).
são baseadas no casamento, nem na estabilidade, como, por exemplo, e as
famílias monoparentais15, inclusive, em grande número no Brasil16.
Outro aspecto que merece destaque é que o autor mencionado destaca
a diferença de sexos como requisito para que seja possível a instituição da
família e, posteriormente, a comunhão de vida, o que não se assemelha a
feição atual do Direito de Família que considera as formações familiares plurais
e não baseadas, necessariamente, na procriação, nem na diversidade de
sexos, vide, por exemplo, as famílias anaparentais17.
Pois bem. O Direito de Família, dinâmico por excelência, desde o Código
Civil de 1916 mudou consideravelmente, em virtude, obviamente, das
mudanças dos paradigmas sociais.
A família brasileira, antes da Promulgação da Constituição de 1988, era,
por lei, patriarcal, patrimonialista, matrimonial e excludente. Não era permitida a
institucionalização da família se não fossem observados tais requisitos. Insta
ressaltar que os arranjos familiares, diferentes do tradicional patriarcado, não
são produtos da contemporaneidade; existiam mas, como o Estado não
reconhecia esses grupos, permaneceram por anos quase que esquecidos pela
guarida do Direito.
Com o advento da Lei Maior, em 1988 e, posteriormente, como o
Código Civil de 2002, uma mensurada renovação se instalou no Direito de
Família: a concepção familiar foi ampliada sendo plural a sua formação; o
casamento deixou de ser o elemento fundante e as relações deixaram de ser
hierarquizadas e patriarcalistas. O vínculo afetivo deixou de ser coadjuvante e
é o Princípio Condutor do Direito de Família pós-1988. Outras mudanças são
significativas, o reconhecimento da União Estável, a isonomia filial, a instituição
do bem de família e a igualdade entre cônjuges. Tudo isso ressalta a função
social da família no direito pátrio. Sobre essas alterações, Paulo Luiz Netto
Lôbo (apud MEDEIROS, 2008, p. 39) constata:
15
Conforme o artigo 226, § 4º, da Constituição Federal de 1988, a família monoparental é a
“comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.
16
Em 2009, segundo dados do IBGE, 19,51% das famílias brasileiras eram monoparentais,
dentre as quais, 17,34% eram do tipo mãe com seu(s) filho(s) e somente 2,17%, formada pelo
pai e seu(s) filho(s).
17
Segundo Maria Berenice Dias (2007, p.46) “A convivência entre parentes ou entre pessoas,
ainda que não parentes, dentro de uma estruturação com identidade de propósito, impõe o
reconhecimento da existência de entidade familiar batizada com o nome de família
anaparental”.
Relativizou-se sua função procriacional. Desapareceram suas
funções políticas, econômicas, religiosas, para as quais era
necessária a origem biológica. Hoje, a família recuperou a função
que, por certo, esteve nas suas origens mais remotas: a de grupo
unido por desejos e laços afetivos, em comunhão de vida. Sendo
assim, é exigente de tutela jurídica mínima, que respeite a liberdade
de constituição, convivência e dissolução; a auto-responsabilidade; a
igualdade irrestrita de direitos, embora com reconhecimento das
diferenças naturais e culturais entre os gêneros; a igualdade entre
irmãos biológicos e adotivos e o respeito a seus direitos
fundamentais, como pessoas em formação; o forte sentimento de
solidariedade recíproca, que não pode ser perturbada pelo
prevalecimento de interesses patrimoniais.
18
De acordo com o Dicionário Aurélio, a palavra tem a seguinte definição: viver em mancebia,
amasiar-se, amigar-se. Até hoje, mesmo com o reconhecido valor constitucional da união
estável como entidade familiar, muitas pessoas utilizam esse termo como forma de diminuir ou
rechaçar aqueles que vivem sob a estabilidade familiar. É mais um resquício de uma época em
que o Direito Positivo se mostrava mais discriminatório do que protecionista.
superando-se a fase em que se afirmava que o concubinato era mera
perversão social, uma situação imoral e agressiva da família, epítetos
que, hoje, muitos destinam às parcerias homossexuais.
19
“Em caso de acidente de trabalho ou de transporte, a concubina tem direito de ser
indenizada pela morte do amásio, se entre eles não havia impedimento para o matrimônio”.
Estabelecia que a caracterização da união estável quando o casal vivesse junto
por mais de cinco anos e, para a implementação dos direitos elencados nesse
texto legal, era necessário que o estado civil dos companheiros fosse solteiro,
viúvo, separado judicialmente20 ou divorciado.
Em 1996, foi editada a Lei 9.278, trazendo avanços em relação à
primeira codificação pertinente à temática: estabeleceu que o regime de bens é
o da comunhão parcial (artigo 5º), institui os direitos e deveres dos
companheiros (artigo 2º), revogou, tacitamente, o dispositivo que caracterizava
a união estável após cinco anos de convivência, prevendo, no artigo 1º “É
reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e
contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com o objetivo de
constituição de família”. Nessa perspectiva, salienta Gonçalves (2008, p.
545/546):
Não é, pois, o tempo com determinação de número de anos que
deverá caracterizar uma relação como a união estável, mas outros
elementos expressamente mencionados: “convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição
de família”. (grifo do autor).
20
A Emenda Constitucional de nº 66 deu nova redação ao §6º do art. 226 da CF/88, retirando a
figura da separação jurídica do ordenamento, assim como eliminou qualquer apuração sobre
culpa pela falência do casamento e prazos para o divórcio. Agora, somente o divórcio, além da
morte, é claro, dissolve a sociedade conjugal e o vínculo do casamento, podendo ser obtido a
qualquer momento após a celebração do matrimônio, bastando um ou ambos os cônjuges
exercerem seu direito potestativo a respeito. Muito bem-vinda a chamada Emenda do Amor,
que pôs fim à separação judicial e à separação extrajudicial, isto é, à separação jurídica, o que
significa dizer: acabou com “o abominável sistema dual”, vigente desde 1977 com o advento da
Lei nº 6.515, conhecida como Lei do Divórcio.
Um aspecto importante acrescentado pelo Código Civil é o dever de
lealdade entre os companheiros (art. 1.724, CC). Tal disposição não havia sido
incluída na Lei 9.278/96, o que revela uma flagrante omissão em se tratando de
relacionamentos de cunho afetivo e sexual, no que pese a vontade de
comunhão de vida a dois.
Ademais, “as relações não eventuais entre homem e mulher, impedidos
de casar, constituem concubinato” (art. 1.727, CC). O que revela que a união
estável só poderá ser configurada quando não houver empecilho ao
casamento. No entanto, em homenagem à afetividade e à livre constituição de
vida, segundo inteligência do § 1º do artigo 1.723, CC, nem todas as pessoas
impedidas de casar são concubinos: as relações públicas e duradouras entre
pessoas separadas de fato, mas não de direito, são consideradas como uniões
estáveis.
4.1.1 Requisitos
21
Apesar de grande parte da doutrina considerar a diversidade de sexos como requisito de
ordem objetiva para implementação da união estável, de acordo com uma interpretação
taxativa do § 3º do art. 226 da CF/88, entendemos de forma oposta, baseados na nova ordem
constitucional brasileira, não há como proibir formações estável apenas com o argumento de
que a androgenia é condição sine qua non para sua aceitação no plano jurídico, quando todos
os outros requisitos (objetivos e subjetivos) estão perfeitamente cumpridos. Dessa forma, não
incluiremos a diversidade de sexos no rol de pressupostos. Em tópico específico, detalharemos
de melhor forma o assunto.
Notoriedade: as uniões que se pretendem estáveis não podem ser
sigilosas devem, os companheiros, apresentar-se à sociedade como um
casal e sua convivência ser de conhecimento das pessoas com as quais
convivem. Não podendo ser os arranjos sigilosos ou clandestinos;
Durabilidade: mesmo a Lei não determinando tempo específico para a
caracterização da união estável22, é necessário que a união tenha um
tempo mínimo suficiente para evidenciar o intuito de comunhão de vida e
desejo de formação familiar. Sendo um fato jurídico e não um ato
jurídico como o casamento, a união estável se constrói dia após dia. Nos
dizeres de Zeno Veloso (apud Gonçalves, 2008, p. 555):
O que não se marcou foi um prazo mínimo, um lapso de tempo rígido,
a partir do qual se configuraria a união estável, no geral dos casos.
Mas há um prazo implícito, sem dúvida, a ser verificado diante de
cada situação concreta. Como poderá um relacionamento afetivo ser
público, contínuo e duradouro se não for prolongado, se não tiver
algum tempo, o tempo que seja razoável para indicar que está
constituída uma entidade familiar?
22
Inicialmente, o de relacionamento para a confirmação da união estável era de cinco anos,
conforme a Lei 8.971/94, contudo, com a publicação da Lei 9.278/96 e posterior manutenção
pelo Novo Código Civil, o prazo de cinco anos restou revogado.
23
Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco
natural ou civil;II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o
adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais
colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas
casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de
homicídio contra o seu consorte.
Monogamia: o vínculo entre os companheiros deve ser único. Pessoas
casadas, salvo as separadas de fato, ou que já vivam sob uma união
estável, não podem constituir outro arranjo familiar que goze de proteção
estatal. Desse requisito decorre o dever de fidelidade e lealdade entre os
companheiros;
Como a união estável é um fato jurídico, na maioria das vezes, sem
prova documental que demonstre sua configuração, os requisitos acima
elencados servem como elementos probantes do arranjo. Diferentemente do
casamento, comprovado per si, a união estável é comprovada, vistos os
requisitos, com os fatos pretéritos.
24
Por ser um dado extremamente expressivo e, a título de reforço, reitere-se a nota de número
12.
maiores do que os heterossexuais. A começar pela sociedade,
que não reconhece a possibilidade de dois homens se amarem.
(grifo nosso).
25
Os objetivos da República Federativa do Brasil funcionam como um norte a ser perseguido,
devendo a Nação se esmerar para alcançá-los. “Constituem objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil: (...) IV- Promover o bem de todos, sem preconceito de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. (art. 3º, IV, CF/88).
Entendemos que a diversidade de sexos como requisito objetivo para a
concepção da união estável é discriminatória, pois fere a essência de um
Estado Democrático de Direito que tem como fundamento a Dignidade da
Pessoa Humana e como norte a Igualdade. Estabelecer distinções baseadas
em critério inatos, como as características individuais, resulta em uma flagrante
inconstitucionalidade para as pessoas que, baseadas nesse critério, têm os
seus direitos preteridos.
Diante disso, afora a diferenciação de sexos, as uniões homoafetivas em
nada diferem das uniões heterossexuais, pois, em se tratando de seres
humanos, sujeitos de desejos e vontades, a forma de amar, de sentir afeto e
querer dividir com outrem sonhos, angústias, conquistas e necessidades, para,
nos dizeres de Caio Fernando Abreu, saciar a eterna busca pelo “amor: a
ancestral sede antropológica”, é a mesma, guardada apenas as suas
manifestações.
Com efeito, o disciplinamento estabelecido às uniões estáveis
heterossexuais são, analogicamente, aplicados às homossexuais, quando
presentes os requisitos de vida em comum, para ambas, salientamos, sob pena
de afronta ao Princípio da Igualdade, como bem enuncia Dias (2006, p. 97):
A Constituição outorgou especial proteção à família,
independentemente da celebração do casamento, bem como às
famílias monoparentais. Mas a família não se define exclusivamente
em razão do vínculo entre um homem e uma mulher ou da
convivência dos ascendentes com seus descendentes. Também o
convívio das pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes; ligadas
por laços afetivos, sem conotação sexual, cabe ser reconhecido como
entidade familiar. A prole ou a capacidade procriativa não são
essenciais para que a convivência de duas pessoas mereça a
proteção legal, descabendo deixar de fora do conceito de famílias as
relações homoafetivas. Presentes os requisitos de vida em comum,
coabitação, mútua assistência, é de se concederem os mesmos
direitos e de imporem iguais obrigações a todos os vínculos de afeto
que tenham idênticas características (...). Assim impositivo
reconhecer a existência de um gênero de união estável que comporta
mais de uma espécie: união estável heteroafetiva e união estável
homoafetiva.
26
Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir,
com bens ou serviços, para o exercício de atividades econômicas e a partilha, entre si, dos
resultados.
Segundo, se as considerações acima são aplicáveis aos
relacionamentos heterossexuais, qual o impedimento de serem aplicadas aos
casos homoafetivos? Por que negar aos homossexuais que se pretendem unir
pelo afeto o direito de formação de família, com suas responsabilidades? A
resposta parece, mas não é simples: o preconceito arraigado não deixa que os
detentores do poder legiferante regulamente a questão, além disso, os
exegetas da Lei, passíveis de preconceitos, muitas vezes só reconhecem os
efeitos societários, justificando que falta requisito de ordem objetiva para o
reconhecimento da união estável.
Dito isso, passamos a analisar se à luz do Texto Maior a tão mencionada
diversidade de sexos é requisito fundamental para a formação de entidade
familiar e, via de conseqüência, óbice às uniões estáveis homoafetivas.
Preleciona o caput do art. 226 da CF/88: “A família, base da sociedade,
tem especial proteção do Estado” e nos §§ 1º, 3º e 4º sintetiza as formações
familiares através do casamento, da união estável e da monoparentalidade,
respectivamente. Seguindo na discussão, o ponto central do debate é o § 3º
que textualmente diz que a união estável é formada por homem e mulher e não
faz menção a uniões de pessoas do mesmo sexo.
Os que defendem a impossibilidade de configuração de união estável
entre parceiros gays se apegam à literalidade do mencionado dispositivo e
eleva a diversidade de sexos como o grande requisito de formação, e, por
extensão, a maior barreira para os homossexuais, naturalmente iguais em
sexualidade. Dessa forma, a Constituição é interpretada de forma taxativa,
encerrada apenas em sua textualidade.
Não obstante, não podemos interpretar a Constituição da forma que
melhor apraz aos nossos anseios. Existem princípios27 que regulam o
entendimento acerca das normas constitucionais para afastar ao máximo as
antinomias que por ventura possam surgir da interpretação do Texto Magno.
27
De acordo com Lenza (2010, p. 135), os princípios que regulam a técnica de interpretação
constitucional são: Princípio da Unidade da Constituição, Princípio do Efeito Integrador,
Princípio da máxima efetividade, Princípio da Justeza, Princípio da Harmonização, Princípio da
Força Normativa, e, por fim, Princípio da Proporcionalidade. Para o nosso trabalho, como fator
de argumentação, só utilizaremos apenas os dois primeiros princípios, pois são os que se
adéquam ao nosso tema, mas, de antemão, salientamos que a aplicação de um não impede a
aplicação de outro.
Com efeito, segundo a técnica de interpretação, a Constituição é um
todo organizado e sistêmico, devendo, em homenagem ao Princípio da
Unidade, ser compreendida em sua totalidade de regras e princípios. Nos
dizeres do mestre português J.J. Canotilho (apud Lenza, 2010, p. 135) “o
princípio da unidade obriga o intérprete a considerar a constituição na sua
globalidade e procurar harmonizar os espaços vazios existentes entre as
normas constitucionais a concretizar”.
Prosseguindo na análise hermenêutica, o Princípio da Máxima
Efetividade deve ser entendido no sentido de dar à norma a maior efetividade
social possível, como bem assinala Canotilho (apud Lenza, 2010, p. 136):
É um princípio operativo em relação a todas e quaisquer normas
constitucionais, e embora a sua origem esteja ligada à tese da
atualidade das normas programáticas, é hoje sobretudo invocado no
âmbito dos direitos fundamentais (no caso de dúvida deve preferir-
se a interpretação que reconheça maior eficácia aos direitos
fundamentais). (grifo nosso).
28
Pseudônimo de Eric Arthur Blair (1903-1950). Nasceu na Índia e foi educado na Inglaterra.
Jornalista, crítico e romancista, serviu o exercito britânico na Birmânia e lutou como voluntário
na Guerra Civil Espanhola.
segunda classe (homossexuais, direitos familiares renegados, formação
familiar a depender do reconhecimento do Poder Judiciário, garantia de direitos
apenas na esfera obrigacional), a exegese jurídica deve atentar também para a
melhor solução encontrada a fim de garantir a maior efetivação das normas
constitucionais, no que pese a efetivação de direitos fundamentais.
Nesse diapasão, aplicando à interpretação constitucional os princípios
aludidos, em respeito à dignidade da pessoa humana, verdadeira viga mestra
de nosso Sistema Jurídico, entendemos que o artigo 226, CF/88 não é um rol
taxativo e sim exemplificativo, no qual é mencionada as entidades familiares
formadas pelo casamento, união estável (que textualmente é dita entre homem
e mulher) e pela monoparentalidade, sem, na verdade, exclusão à
possibilidade da formação de entidade familiar pela união estável homoafetiva,
em analogia às uniões heteroafetivas, como bem esclarece Maria Berenice
Dias (2006, p. 95):
Se duas pessoas têm vida em comum, cumprindo deveres de mútua
assistência, verdadeiro convívio caracterizado pelo amor e respeito, a
identidade meramente biológica de sexos do par não pode impedir
que se reconheçam direitos e se imponham obrigações recíprocas.
Assim, não é desarrazoado, firme nos princípios constitucionais da
dignidade da pessoa humana e da igualdade, por analogia e com
suporte nos princípios gerais do direito, aplicar os mesmos efeitos
patrimoniais que se deslumbra da união estável, repartindo-se o
acervo angariado por parceiros em sua vida em comum, desde que
se vislumbrem os pressupostos da notoriedade, da coabitação, da
fidelidade, de sinais explícitos de uma verdadeira comunhão de
afetos.
29
Em 05 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu, por unanimidade, a
estabilidade das uniões homoafetivas, em decisão de efeito vinculado que alcança toda a
sociedade. Em tópico específico trataremos mais detalhadamente a questão.
Desta forma, é imperioso reconhecer a possibilidade jurídica da união
estável homossexual e, via de conseqüência, compreendê-la como entidade
familiar com total proteção do Estado, em similitude com os relacionamentos
estáveis heterossexuais e as demais formações familiares previstas no
polêmico artigo 226 de nossa Excelsa Lei.
Por fim, reitere-se, sob a primazia do Princípio da Igualdade, todos os
direitos advindos da união estável tradicional, há muito já pacificado em nosso
Ordenamento, como resume Gonçalves (2008, p. 561):
A proteção jurídica à entidade familiar constituída pela união estável
entre o homem e a mulher abrange o complexo de direitos de cunho
pessoal e de natureza patrimonial, (...) além de inúmeros outros,
esparsos pela legislação ordinária. Destacam-se, no entanto, como
direitos fundamentais dos companheiros, no plano material, os
concernentes a alimentos, meação e herança.
30
Fragmento do voto do Ministro Ayres Britto, p. 10.
31
A ADI 4277 foi protocolada na Corte inicialmente como ADPF 178. A ação buscou a
declaração de reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar.
Pediu, também, que os mesmos direitos e deveres dos companheiros nas uniões
estáveis fossem estendidos aos companheiros nas uniões entre pessoas do mesmo sexo; Já
na Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, o governo do Estado
do Rio de Janeiro (RJ) alegou que o não reconhecimento da união homoafetiva contraria
preceitos fundamentais como igualdade, liberdade (da qual decorre a autonomia da vontade) e
o princípio da dignidade da pessoa humana, todos da Constituição Federal. Com esse
argumento, pediu que o STF aplicasse o regime jurídico das uniões estáveis, previsto no artigo
1.723 do Código Civil, às uniões homoafetivas de funcionários públicos do Rio de Janeiro
(<http://www.stf.jus.br/portal> acesso em 02 de jun. 2011).
Evidente, nesses casos, que o a apreciação da Suprema Corte surge da
falta de legislação para a matéria, fato que se tornou corriqueiro nos últimos
anos, em virtude do Poder Legislativo se mostrar omisso em questões que
necessitam de urgente regulamentação. Exemplo patente é o direito de greve,
norma constitucional de eficácia limitada (art. 37, VII, CF/88) que espera há
mais de vinte anos por um regramento específico. De toda sorte, enquanto
essas demandas não são apreciadas pelos representantes do povo, o Poder
Judiciário não pode adotar a mesma postura e tem que responder, ao menos
que de forma paliativa, aos pleitos que desembocam em sua esfera. Atenta a
essas realidades, preleciona Dias (2006, p. 97):
Enquanto a lei não acompanha a evolução da sociedade, a mudança
de mentalidade, a evolução do conceito de moralidade, ninguém,
muito menos os juízes, pode fechar os olhos a essas novas
realidades. (...) Essa responsabilidade de ver o novo assumiu a
Justiça ao emprestar juridicidade às uniões extraconjugais. Deve,
agora, mostrar independência e coragem quanto às uniões de
pessoas do mesmo sexo. (...) Ao menos até que o legislador
regulamente as uniões homoafetivas – como já fez a maioria dos
países do mundo civilizado – incube ao Judiciário emprestar-lhes
visibilidade e assegurar-lhes direitos que merecem as demais as
demais relações afetivas. Essa é a missão fundamental da
jurisprudência, que necessita desempenhar seu papel de agente
transformador dos estagnados conceitos da sociedade.
32
O Parlamento de Uganda, em abril de 2011, adiou a votação do projeto de lei que determina
a pena capital para os homossexuais. “O projeto determina que pessoas consideradas
culpadas de "homossexualidade agravada" - quando elas fizerem sexo com um menor de idade
ou deficiente físico ou mental, ou quando o acusado for HIV-positivo - possam ser condenadas
à morte. O mesmo valeria para pessoas acusadas de estuprar pessoas do mesmo sexo”.
Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/bbc/2011/05/13/parlamento-de-uganda-adia-debate-
sobre-pena-de-morte-para gays.jhtm>.
Na Suécia, em 1995, quando entrou em vigor a Lei de 23/06/1994, as
relações homossexuais foram oficializadas. Para constituir parceria, pelo
menos um dos interessados tem que ser sueco e se não, que tenha instalado
domicílio no país há algum tempo. No que tange aos direitos patrimoniais e
dissolução de parceria, os procedimentos são semelhantes aos do casamento,
e toda propriedade adquirida na constância da relação, será dividida
igualmente. Em 2009, o parlamento sueco aprovou por esmagadora maioria a
possibilidade do casamento entre gays.
Na Islândia, no ano de 1996, foi promulgada uma lei que permitiu o
registro da parceria homossexual, com a possibilidade de os conviventes
partilharem a autoridade parental, ou seja, permitida a adoção de crianças.
Em 1999, mediante alteração no Código Civil, a França publicou a Lei
99-944, que dispõe sobre o Pacto Civil de Solidariedade, que autoriza pessoas
de sexo diferentes ou iguais, celebrarem um contrato para organizar sua vida
em comum.
A Holanda possui, em se tratando de formações familiares, a legislação
mais liberal, uma vez que possibilita aos homossexuais o direito de escolha: se
querem casar ou manter parceria registrada. Em 2001, entrou em vigor a lei
26.672, que alterando alguns dispositivos do Código Civil, permitiu o
casamento homossexual, podendo, inclusive, a conversão da parceria civil em
matrimônio.
Em 2002, a Bélgica promulgou uma lei prevendo os mesmos direitos dos
heterossexuais aos casais homossexuais, especialmente em relação ao
patrimônio e à herança, com exceção da adoção. Com isso, foi o segundo país
europeu, depois da Holanda, a autorizar o casamento gay.
Em 2005, a Câmara dos Comuns canadenses aprovou projeto de lei que
regulamentou o casamento entre gays, permitindo a essas pessoas o livre
acesso ao instituto.
Também em 2005 a Espanha legalizou o casamento entre pessoas do
mesmo sexo. Agora o dispositivo legal prevê, "O casamento terá os mesmos
requisitos e resultados, quando as duas pessoas que entram no contrato são
do mesmo sexo ou de sexos diferentes”.
Em novembro de 2006, a África do Sul legalizou o casamento entre
pessoas do mesmo sexo, e foi o primeiro país do continente africano a tomar
uma posição referente à temática.
Já em 2009, a Noruega estabeleceu que casais do mesmo sexo podem
legalmente casar, adotar crianças e até fazer inseminação artificial.
Em 2010. Portugal se tornou o sexto país a legalizar o casamento entre
pessoas do mesmo sexo, mas sem a possibilidade de adoção de crianças.
Por fim, também em 2010, a Argentina se tornou o primeiro país da
América Latina a instituir o casamento gay e prevê os mesmo direitos dos
casais heterossexuais, inclusive a adoção. A definição do Código Civil foi
alterada, deixando de se referir ao matrimônio entre “homem e mulher”, para
ser “contratantes”.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
_____. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 35. In: Vade mecum. São Paulo:
Saraiva, 2008. p. 1673.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. VI. 5. ed. São
Paulo: Saraiva, 2008.
LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.