TCC Irisdora Corrigido
TCC Irisdora Corrigido
TCC Irisdora Corrigido
CAMPO MAIOR-PI
2018
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CAMPO MAIOR- PI
2018
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AGRADECIMENTOS
“Luz que me ilumina o caminho. E que me ajuda a seguir. Sol que brilha à
noite, a qualquer hora, me fazendo sorrir. Claridade, fonte de amor que me acalma e
seduz” meu agradecimento especial a Deus, resumido no trecho da música Luz
Divina de Roberto Carlos e ao Espírito Santo que através dos seus Dons me inspira
e me fortalece nos momentos em que mais preciso.
Agradeço a mim mesma, pela pessoa que me tornei, pelos meus esforços, e
por acreditar que apesar das dificuldades, chegarei onde me for mais cômodo.
À minha querida mamãe, ser de luz, singela, paciente, guerreira, minha
fortaleza e meu refúgio, enfim, exemplo de mulher, por seus ensinamentos e
conselhos, por me fazer forte e acreditar que a vitória irá chegar. Ao meu irmão que
me incentiva dia após dia, e sempre acredita no meu potencial, ao meu pai (in
memória) que sempre acreditou na minha formação.
Ao meu Orientador Prof. Dr. Antônio José Castelo Branco Ribeiro por ter
contribuído nas orientações do meu trabalho, e nos grandes ensinamentos durante
as disciplinas, admiro sua inteligência.
Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), por
proporcionar o vínculo e tamanha experiência com a sala de aula, me fazendo
perceber que o ato de ensinar é ao mesmo tempo o de aprender, onde podemos
superar as dificuldades educacionais.
Agradeço também aos meus colegas de turma, que mesmo diante da
diferença de cada um, contribuíram para minha aprendizagem através da nossa
convivência, mas em especial aos amigos do “fundão”: Wesllanya, uma amiga/irmã,
que o destino tratou de nos apresentar novamente no curso, pelo companheirismo
na vida acadêmica e pessoal; à Natália, pelos momentos descontraídos, pelas
estórias engraçadas, pela companhia durante o PIBID; Ao Anderson, com seu
jeitinho meio tímido e responsável, pelos momentos de companheirismo na sala de
aula, nos trabalhos, e no PIBID; Ao Francinaldo, sempre na dele, amigo/irmão muito
além da UESPI; ao Lucas, que apesar de teimoso, carrega uma simplicidade, que
cativa à todos; ao Marcelo, pelas ajudas, pelas digitações, pelo companheirismo,
pelos momentos que me enchia a paciência, enfim, pelos momentos descontraídos,
e ao Gilson, o que dizer dessa pessoa, um guerreiro, batalhador, que também
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RESUMO
ABSTRACT
The present work aims to analyze the relationship of certain social actors with their
workplace, based on their perceptions and experiences, as well as to verify how the
permanence time contributes to their identification with this space and how these
aspects influence the sense of belonging or in the meaning of it as "lived space".
The research was based on the studies of theorists who approach the subject as
Carlos (2007), Holzer (1997), Santos (2006), Tuan (1983), etc. Having as study area
the Municipal Public Market Jaime da Paz, in Campo Maior - PI, as a space not only
for trade, but also a democratic place, social coexistence, resistance, where through
symbolic-cultural relations contributed to the understanding of the subjective relations
of man, who through his experiences make him a place. From the point of view of the
problem approach the research is of the qualitative type. For the survey and data
collection, a field survey was carried out, through the application of an interview script
with the subjects of the survey, the Permissionaries. It was possible to verify that the
permission holders present and attribute a sense of belonging and identity to the
market, through perceptions, experiences, appropriations, meanings and values,
which means lived space, space of the daily life, thus collaborating for the
constitution of the place.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
APÊNDICE ................................................................................................................ 56
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INTRODUÇÃO
sobre aquilo que se mostra, seja sobre a coisa física ou abstrata. A compreensão do
fenômeno e o seu sentido, se dá através da filosofia que busca o sentido das coisas.
Argumenta Suertegaray (2005, pág. 29) que “a fenomenologia privilegia o
sujeito do conhecimento, na medida em que nega a consciência como ato
observável, ou como alma, e a considera o ato de construir essências ou
significações” e a conceitua.
(2006), Husserl argumenta que para se chegar ao sentido das coisas seria
necessário percorrer um caminho através do método, que se daria por dois
caminhos: a redução eidética e a redução transcendental.
A redução eidética, corresponde ao fato do ser humano ser passível de
compreensão do sentido das coisas, ou seja, somos capazes de deduzir, a essência
das coisas. O sujeito percebe o fenômeno e busca um sentido para o mesmo,
procurando entendê-lo. Já na redução transcendental, Husserl toma o sujeito como
objeto de sua investigação. Diz ele que o sujeito tem consciência das coisas, quando
da nossa percepção, da consciência, da reflexão, sentidas através das sensações,
não só identificadas pelos cinco sentidos, mas que transcendem o mundo físico, que
nos atinge e ao mesmo tempo ocorre essa relação entre nós e o mundo físico
(BELLO, 2006).
De acordo com Melo (2009) a fenomenologia se baseia em princípios e
origens do significado e experiência, que não podem ser percebidos exclusivamente
pela observação e medição, mas sim das nossas vivências de mundo,
contemplando as bases formais do que denominamos geografia. Dentro desta
ciência, a fenomenologia direciona aos geógrafos a serem empáticos, excluindo
suas crenças, ou seja, que se coloque no lugar do sujeito que vivencia o fenômeno.
Segundo Nascimento e Costa (2016) a fenomenologia como método de
abordagem utiliza o sujeito para determinarem o objeto, pois são responsáveis por
constituírem o objeto, a partir do momento que o percebem no seu próprio entorno,
aflorando aí sua subjetividade.
Além disso, a fenomenologia conta com a intencionalidade e a
intersubjetividade fenomenológicas, que não ver os sujeitos de forma isolada, mas
em inter-relação com os demais, além das suas experiências que transcendem o
mundo físico, conforme Melo:
Para este autor, o corpo tem grande relevância na nossa relação com o
espaço, e isso se dá a partir das nossas sensações pelos órgãos do sentido em que
através deles podemos conhecer a nossa realidade. Tuan (1980) expõe no livro
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Mesmo quando há negação dos lugares, este não pode ser desconsiderado,
pois mesmo os indivíduos esboçando tais reações, o mesmo continua oferecendo
uma relação entre o sujeito e o seu espaço.
Os debates em torno do não lugar ainda são escassos, no que diz respeito ao
desafio conceitual e metodológico para as ciências sociais, principalmente para a
geografia. Em 1976, Edward Relph, foi o único autor que promoveu uma reflexão
mais atenta sobre o não lugar, só em 1996 é que o antropólogo Marc Augé
apresentou um trabalho específico para este tema (BARTOLY, 2007).
Para Tuan (1983), o “não lugar” pode ser caracterizado como um novo espaço
baseado na não-identidade e no não-reconhecimento deste espaço. Este autor
argumenta também que o não-lugar não pode se definir nem como identitário, nem
como relacional, nem como histórico. Já para Bartoly, “o fenômeno do não lugar é a
erradicação casual de lugares significativos e a produção estandardizada de
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geográficas de 04º 49’ 40” de latitude sul e 42º 10’ 07” de longitude oeste de
Greenwich.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
p) “desagrada é assim, a falta de higiene no banheiro, que não tem muito, às vezes
a gente não aguenta aqui, de tanto mau cheiro, e a limpeza é péssima, muitas
coisas é ruim aqui dentro, quer dizer não é os funcionários né”.
Segundo Bartoly (2007), a relação com determinado lugar envolve a
morfologia da paisagem, com o ambiente, pois este não é apenas um cenário, mas
um protagonista da experiência, da identidade e construção do lugar, ou seja, os
aspectos visuais são fundamentais na definição da identidade do lugar.
Todos esses fatores influenciam na identidade do indivíduo com o lugar, na
medida em que os órgãos do sentido contribuem para que o homem sinta um
determinado ambiente através da experiência (TUAN, 1983).
O último bloco de perguntas possui questionamentos simples que
complementam as perguntas anteriores, uma delas procura saber se além do
permissionário entrevistado existe outros membros da família no mesmo ambiente.
Através das entrevistas, foi possível deduzir que a maioria dos permissionários
possui alguém da família trabalhando no mercado (mãe, pai, filhos, primos,
cunhados) geralmente no mesmo bloco, estreitando laços familiares num mesmo
ambiente.
q) tem meu esposo e meu filho, na venda dos peixes, e minha filha que me ajuda
aqui, a mais velha, ai depois que eu adoeci, tive problema, pra ficar trabalhando
muito só, eu peguei muita anestesia, quando eu luto muito, eu incho minhas junta,
ela vem me ajudar, só não vem final de semana.
Além disso, o mercado é uma porta de entrada para aqueles familiares que
estão desempregados e acabam achando oportunidade de ajudar, substituir ou
mesmo iniciar a atividade dentro deste ambiente.
Quanto ao quesito segurança, liberdade e tranquilidade neste ambiente,
muitos reclamaram da segurança, que consequentemente, recai na tranquilidade,
conforme uma das entrevistas, mas citada por muitos, sendo a liberdade pouco
citada.
r) nenhum pouco, porque roubam as coisas, eles colocam vigia é um dia e outro
não, é como se você deixasse realmente liberado, entendeu.
A principal reclamação é a falta de segurança, apesar de haver pessoas em
dias alternados fazendo a ronda no ambiente interno e externo do mercado,
segundo eles, essa ausência favorece pequenos furtos dentro do mercado,
principalmente no turno da noite no bloco da praça de alimentação, além de
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marginais que vez ou outra perambulam por dentro do mercado durante o dia, e
costumam abordar os clientes.
s) “muitas vezes que a gente tá com bastante cliente, sentado, ai vem um desses
pessoal que não tem o que fazer, esses bêbados, essas pessoas pedindo,
drogados, vezes se chega perto do cliente. A gente tem que as vezes ser mais
grosseira, porque eles pode sair, pro cliente ficar mais à vontade, tudo isso
desagrada a gente né, desagrada o cliente também, se ele chegar num ambiente
desse, se ele não for bem tratado, acompanhado pela gente, ele não volta mais”.
Entretanto, compreendem que tais ocorrências se dão por ser o mercado um
local público, tais acontecimentos acabam desagradando os permissionários.
A penúltima questão buscou saber como os permissionários relacionam-se
entre si, conforme as entrevistas, a relação entre eles é boa.
t) “É muito bom, graças a Deus! Eu acho muito bom! todos são amigos né? amizade,
um ajuda um ao outro, quando um não tem uma mercadoria a gente vai pegar do
outro, não tem esse negócio de dizer: não vou pegar coisa do outro fulano por eu
não gosto, é bom um local que a gente trabalha, que todo mundo é amigo né”.
u) “uns é bom, outros não, é como vizim ruim aqui, é pra ser uma família, mas não
parece”.
É possível deduzir que a maior parte dos permissionários, possuem boas
relações de afetividade e amizade entre si, principalmente no bloco de cereais e de
frutas. Porém, através das falas compreende-se que existem pequenos atritos entre
algumas pessoas, que foram mais evidentes no bloco da praça de alimentação.
E por fim, o último questionamento da entrevista, o que o mercado representa
para os permissionários? Para todos os entrevistados sem exceção, o mercado
representa local que os permissionários prestam seu serviço, além disso, local por
meio do qual tiram seu sustento para sobrevivência e de onde adquiriram seus bens.
v) “é quase tudo, porque eu trabalho aqui dentro, e retiro o pão de cada dia, daqui,
do meu local de trabalho”.
w) o mercado representa tudo que eu tenho hoje, porque tudo que eu tenho, é
graças ao meu trabalho aqui, tirado das feiras, dos clientes, se não fosse os clientes
eu não tinha nada.
Mas, além disso, o mercado para muitos permissionários representa a
extensão das suas casas, pois passam a maior parte do seu dia naquele ambiente.
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x) “o mercado hoje é tudo, passo meu dia quase todo aqui, a minha casa é
basicamente aqui, basicamente é tudo”.
y) É bom porque a gente trabalha, tem um dinheirinho da gente, a gente vende fiado,
vende a dinheiro, todo dia tem o dinheirinho pra gente comprar a comida, a água, eu
almoço bem aqui no mercado, eu só tem de fazer minha jantinha em casa.
O mercado representa ainda, local de terapia, por proporcionar momentos
descontraídos nas relações permissionários-clientes; permissionário-transeuntes;
permissionário-permissionário; conforme argumentado:
z) “Ele representa paz, tranquilidade, às vezes eu esqueço meus problemas de
casa. Aqui eu me distraio, a gente ri sem querer, a gente vê as pessoas, as vezes, a
gente ver as pessoas que a gente gosta, ai elas sentam aqui, conversam com a
gente, se distrai, esquecendo realmente dos problemas que importa, a gente acaba
esquecendo as coisas. Acho muito bom, acho muito tranquilo, tirando essas partes
negativa, que eu lhe contei há pouco tempo, eu acho muito agradável o mercado. Eu
acho que se melhorasse algumas coisas aqui, o mercado se tornaria mais agradável
ainda, entendeu, eu tenho um prazer de trabalhar aqui, porque toda vez que eu
venho aqui eu sei, que se eu tiver algum problema, quando eu chegar aqui, eu vou
esquecer o problema, meus clientes acaba me distraindo, as pessoas passando
toda hora, a gente conversa com um com outro e acaba esquecendo realmente os
problemas e vai acalmando, é muito bom, eu acho bom, muito bom”.
Representa ainda uma extensão da família, na medida em que proporciona
novas relações, mantém as velhas, permitindo estreitá-las afetivamente entre as
pessoas que lá trabalham e frequentam.
a.a) “uma família, pra mim aqui é uma família, tanto o povo, como meus freguês que
vem, ave maria, é uma família. Eu acabo assim, criando um laço, que tem freguês
aqui, que meu Deus, eu considero parente, com todo mundo”.
Segundo Bartoly (2007, pág. 103), “através da experiência no espaço, do
reconhecimento de referenciais de localização, e da própria vivência com outras
pessoas, constrói-se um espaço familiar”.
b.b) “é como se fosse uma casa pra mim, porque eu vivo mais aqui do quê em casa,
eu acho bom aqui, a gente conversa né, conhece pessoas, amizade”.
c.c) “Ah minha fia, quando eu num venho, eu fico doente em casa, (risos), pra mim o
dia não passa nunca. Aqui a gente brinca, a gente conversa, se diverte, chega aqui
uma pessoa conversa com a gente, passa o dia que a gente nem vê”.
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d.d) “olha é o seguinte: é um ponto turístico, porque mercado público da cidade, ele
além de ser um ponto bom, porque ele agora ele tá bem arrumado, ele representa,
uma cultura de saída, porque aqui tem legumes né, então, isso é importação, que
expande, que vai pra fora. Tem pessoas de São Paulo que passa aqui, de Brasília,
de todo lugar, então eu acho que representa uma coisa muito importante, por isso
que eu te falo, se fosse mais organizado, teria mais venda, se fosse questão de
limpeza, de segurança, de alguma ventilação”.
São várias as representações do mercado, de acordo com os argumentos dos
permissionários, desde local para sobrevivência, a local propício para ponto turístico.
Ou seja, de acordo com Bartoly (2007, pág. 123) “cada indivíduo possui suas
impressões, históricas e experiências concernentes a um lugar”.
No Mercado Público Jaime da Paz no que diz respeito aos atributos físicos e
objetos, citando Ribeiro (2015, pág. 126-127), “é possível presenciar os pares
dialéticos: o novo e o velho, o tradicional e o moderno, o exógeno e endógeno, as
mudanças e as permanências”. É dotado de características que lhe permitem
contracenar com o moderno, entretanto, mantém sua forma de comércio que ainda
resiste no tempo.
O mercado para os permissionários pode ser também caracterizado de
acordo com o argumento de Carlos (2007), parafraseando-a: é o lugar que o
permissionário habita dentro da cidade, está ligado ao seu cotidiano e ao seu modo
de vida, pois dentro do mercado ele se locomove, trabalha, anda, é uma extensão de
sua casa, é um circuito de compras, dos passeios, ou seja, ele se apropriou daquela
forma, e a partir das suas vivências vai ganhando significado através do uso e das
suas possibilidades.
O sentimento topofílico pelo mercado não foi identificado no último
questionamento, mas sim, em algumas expressões dos permissionários ao longo das
entrevistas, quando expressavam seus sentimentos pelo ambiente e nas conversas
informais, sobre como eles se sentiam quando não comparecia aquele ambiente,
como se pode perceber nos seguintes relatos: “mais eu gosto do meu lugar” “eu amo
aqui” “sinto falta do movimento” “Ôooo, mermazinha a gente se lembra, mas antes
tivesse lá no meu lugarzinho, né, falta demais”, “É, sinto, eu sinto falta, porque eu
digo: Meu Deus hoje eu não vou trabalhar”, “é como se fosse uma casa pra mim”,
“aqui é a casa da gente”, “meu local de trabalho é muito bom”, “Ah minha fia, eu fico
doente em casa”.
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“Topofilia” descreve uma sensação que pode não ser a mais forte
das emoções humanas, de fato, muitas pessoas se sentem
totalmente indiferente em relação aos ambientes que moldam suas
vidas, mas quando ativado ele tem poder de elevar um lugar para
tornar-se o portador de eventos emocionalmente carregados ou para
ser percebido como símbolo (CISOTTO, 2012, pág. 95).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APÊNDICE
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