Memórias de Velhos
Memórias de Velhos
Memórias de Velhos
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Memórias
de
Velhos
Sobre Terras e Gentes
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© LIMA, R. B. 2008.
Impressão: GRAF-SET
INTRODUÇÃO......................................................................................7
CAPÍTULO I:
TRAÇOS DA MEMÓRIA
E SUBSTRATOS DE IDENTIDADES ..............................................19
1.1 Técnicas de registros de relatos orais ..................................... 19
1.2 Contextualizando o Terceiro Eixo Ocupacional
de Rio Branco ............................................................................25
1.3 Do planejamento à transcrição, textualização
e transcriação ............................................................................35
1.4 As vozes da memória .................................................................44
CAPÍTULO II:
LEMBRANÇAS DE VELHOS ...........................................................53
2.1 Reflexões sobre a velhice ...............................................................53
2.1.1 A velhice e o corpo .......................................................................53
2.1.2 A velhice e o direito de sonhar .................................................... 57
2.1.3 Velhos em perfil ...........................................................................63
2.2 A constituição social da memória .................................................72
2.2.1 A memória, a identidade e o tempo ..............................................72
2.2.2 Memória autobiográfica e trajetórias de vida ...............................83
2.2.3 Demências e apatia influenciando
a memória e o esquecimento .................................................................89
2.3 O Velho, a Vida e o Mundo ...........................................................99
2.3.1 Ficção e deslocamento .................................................................99
2.3.2 Saudades, sonhos e solidão .................................................. 108
2.3.3 De donas de casa a chefes de família .................................. 119
2.3.4 Terras e Gentes: revisitando o passado ................................ 137
8
INTRODUÇÃO
10
cultural nas conjunturas resultantes do processo de transformação
ocorrido no local durante o período de formação (1971 – 1982).
A partir dos expostos, objetivamos proceder um estudo
acerca do discurso dos moradores mais antigos do local, investigando
como a presentificação do passado influiu na construção de suas
identidades e memória cultural, partindo da interação com suas
lembranças e de que forma as modificações antrópicas efetuadas
influenciaram suas vivências na periferia estendida.
Especificamente, intentamos compreender como as
migrações e as vivências dos habitantes se configuram em suas
memórias, considerando suas origens e outros aspectos que levaram
o local a ter um perfil tão peculiar; discutir, por meio dos relatos, a
luta pela sobrevivência das populações migrantes expropriadas da
periferia de Rio Branco e sua conseqüente construção identitária com/
no local; e, analisar a flutuação de conjunturas resultantes do processo
de transformação ocorrido na localidade durante o período de
formação (1971 – 1982).
O trabalho de campo foi realizado após o devido registro
no Comitê de Ética em Pesquisa. Fizemos entrevistas com homens e
mulheres que moram no que a Prefeitura de Rio Branco nomeou, no
ano de 2006, como sendo a Regional VI, estabelecida no novo Plano
Diretor da cidade. Os entrevistados relataram fatos que lhes vinham
à mente através de lembranças e memórias construídas pelos
fragmentos de vivências e constituições a partir delas.
Em tempo oportuno, no texto, serão explicitadas algumas
formulações mais detalhadas sobre o assunto. No momento, vale
ressaltar a metodologia com estudos a partir de autores como Paul
Thompson, Ecléa Bosi e Stuart Hall. Para trabalhar essas histórias
de vida que pouco ou quase nada têm de escrito, resolvemos escolher
a história oral porque acreditamos que ela está mais próxima do que
intentamos por sua possibilidade de “compor e interpretar” as histórias
de vida dessas pessoas em seu cotidiano. A História Oral discute a
documentação viva, ainda não aprisionada pela linguagem escrita e
11
incorpora visões subjetivas, sentimentos e observações dos
indivíduos. Alguém pode se perguntar sobre quais são os indivíduos
e que de sentimentos se fala. Afirmamos que, sendo vários os
discursos que participam, integram e recontam a realidade, a
reconstrução dos fatos e a colagem das informações podem ter
diversas formas.
Segundo Paul Thompson, as pessoas comuns procuram
compreender as revoluções e mudanças por que passam em suas
próprias vidas por meio da História. A finalidade social da História
requer uma compreensão do passado que, direta ou indiretamente, se
relaciona com o presente. A história oral é construída em torno das
pessoas. Ela traz a história para dentro da comunidade e extrai a
mesma de dentro da comunidade.
Ao estudar as vivências dos sujeitos sociais, podemos
tomar por empréstimo a topificação concisa elaborada por Garcia
(2004), onde ela elenca o papel do pesquisador, o método, a atuação
dos autores, a narrativa, e o enfoque pelo qual pode perpassar a
pesquisa, dentro de uma análise dos estudos culturais, atentando para
o fato de essa ser possível apenas quando os entrevistados são vistos
enquanto sujeitos da pesquisa, e não objetos. Em sua exposição, a
autora afirma que:
13
posiciona as variadas visões ocorridas no confronto das entoações
das lembranças e suas correlações com as relações sociais vivenciadas.
A base teórica de nossa investigação se apóia no
pensamento identitário de Ecléa Bosi e na perspectiva historiográfica
da discussão social como elemento fundante para a construção de
um modo de vida comunitário, embasada no pensamento estrutural
de Paul Thompson.
Continuando, em uma visão transdisciplinar da produção
cultural e das ciências humanas, tendo como pressuposto diferentes
discursos existentes, em relações sociais diferenciadas e uma cultura
fundamentalmente não-unitária, foram analisadas as vozes que estão
impregnadas no discurso, ou seja, a interação entre os discursos como
constituição e manifestação da inventividade dos sujeitos.
Seqüencialmente, foram aplicados questionários,
procurando levantar informações sobre o espaço de moradia dos
habitantes e suas relações de convivência, nas palavras de Paul
Thompson:
28
os 08 bairros formados a partir da expansão da cidade ocorrida na
década de 1970 e início de 1980. Quanto à temporalidade, é certo
que não se pode definir uma data-marco de formação específica,
também não tem uma data final de andanças populacionais. O que
percebemos é que a área que compreende o Terceiro Eixo teve o
início de sua formação “urbana” aproximadamente em 1971, e o
desenvolvimento espacial com uma definição básica próxima ao que
é atualmente, por volta de 1982. Também observamos, nesse mesmo
território, uma pluralidade de identidades coletivas, envolvendo
diversidades em relação às origens, aspectos culturais, trajetórias de
vida, que aproximam e distinguem grupos de indivíduos entre si. Em
1982, em sua obra “O Sertanejo, o Brabo e o Posseiro”, Oliveira
citou o Terceiro Eixo, afirmando:
29
Cidade de Rio Branco com Terceiro Eixo em destaque
50
Essas identidades e memórias fronteiriças são
heterogêneas e “totalidades contraditórias” (REBORATTI, 2001) em
si, de si, por si, exatamente por sua mestiçagem, suas pluralidades e
turbidez. Podemos dizer como Marli Fantini (2004) que são
identidades quebradas porque há os rompimentos, os
desenraizamentos e as descontinuidades presentes na vida, e que tanto
aparecem na fala eivada de interdiscursos. Por isso, é tão complexo
trabalhar com memórias e identidades.
Segundo Paul Thompson, as pessoas comuns procuram
compreender as revoluções e mudanças por que passam em suas
próprias vidas. A finalidade social da História requer uma
compreensão do passado que direta ou indiretamente se relaciona
com o presente.
Para trabalhar essas trajetórias de vida e histórias temáticas
que, pouco ou quase nada têm de escrito, resolvemos escolher a
pesquisa com relatos orais como base para registrar os discursos
proferidos através da rememoração presentificada das lembranças,
por sua possibilidade de “compor e interpretar” as histórias de vida
dessas pessoas em seu cotidiano. O estudo dos relatos orais discute a
documentação viva, ainda não aprisionada pela linguagem escrita e
incorpora visões subjetivas, sentimentos e observações dos indivíduos
(THOMPSON, 1992). Sendo vários os discursos que participam,
integram e recontam a realidade, a reconstrução dos fatos e a colagem
das informações podem ter diversas formas.
A atualização das vozes do passado no presente
presenteiam o futuro com a memória. O ato de lembrar está inserido
nas múltiplas possibilidades de registro do passado, a partir do qual
as identidades são construídas e representadas de forma dinâmica,
relacionando-se a inserção social e histórica de cada depoente nos
processos culturais, comportamentais e hábitos coletivos.
A questão das identidades adquirirem uma dimensão
especial quando se trata da produção de documentos orais, porque
51
pelo afloramento das lembranças representativas do passado há a
tradução das similitudes e das diferenças. O reconhecimento dado
está presente nas dimensões dos tempos vivos9.
Tantas vezes ao estudar as identidades não nos damos
conta de que elas só existem porque são partes dos homens e mulheres,
construtores da dinâmica processual e temporal que constitui a
tessitura histórica. A história da humanidade tem muitos sujeitos
construtores de povos, atitudes, idéias, credos pensamentos e origens
diferentes. São heterogêneos em suas interações e plurais em suas
relações. As multiplicidades que lhes são inerentes traduzem seus
pensamentos e ações, aumentando o que os seres humanos têm de
mais rico: a alteridade.
Em variadas posições, colocações sociais e/ou profissões,
por seu ímpeto criativo representam as realidades e os sentimentos
na várias composições de sua prática cotidianas. Anônimos ou
públicos, são seres que deixaram suas marcas no tempo, em algum
lugar específico e/ou nas várias atuações plurais. Seus atos e
pensamentos visíveis ou não nos dias atuais, denotam o ato de ser,
não apenas pelas modificações antrópicas no ambiente, mas também,
pelas mudanças ocasionadas dentro do próprio ser sujeito da memória
presentificada.
Os depoimentos recolhidos das fontes orais através do
procedimento de entrevistas, narrativas e relatos visam à contra-
generalização relativizante dos pressupostos e conceitos que a
universalizar os processos coletivos. Através de visões particulares,
percebemos a profunda ligação das histórias de vida, suas trajetórias
e vínculos. Há um número expressivo de potencialidades
metodológicas e cognitivas no estudo dos relatos orais.
Os tipos de entrevistas mais utilizados no trabalho com
relatos orais são: o depoimento de história de vida, entrevistas
temáticas e entrevista de trajetória de vida (DELGADO, 2006). Neles,
percebemos que os elementos centrais para a reconstrução de atos,
fatos, acontecimentos em diversas épocas e lugares estão
52
principalmente na narrativa representada a partir da memória, em
uma construção e reconstrução de versões, representações e
interpretações da/na experiência histórica dos sujeitos envolvidos.
As histórias de vida são depoimentos aprofundados e
prolongados, normalmente orientados por roteiros abertos,
estruturados ou semi-estruturados na interação entrevistador/
entrevistado objetivando reconstruir a trajetória de vida de
determinado sujeito desde sua infância mais tenra até os dias
presentes.
Normalmente, os depoimentos se compõem de uma série
de entrevistas com periodicidade pré-determinada, ou, em um segundo
caso, se intensifica o número de entrevistas, utilizando-se de um
adensamento de tempo e concentração de número de encontros para
entrevistas no período de algumas semanas.
A escolha do primeiro ou segundo caso normalmente está
ligada às características de prolixidade do narrador, suas condições
de saúde, condições emocionais, idade, situação institucional.
A vinculação dos depoimentos pode se dar pelo ato de
recolher biografias ou relatos de caráter geral, vinculados a um projeto
de pesquisa ou não, sendo identificadas as histórias de vida, de acordo
com a biografia especializada, em três tipos diferentes: depoimento
biográfico único, pesquisa biográfica múltipla, e pesquisa biográfica
complementar. Essas histórias de vida atuam como “substrato de um
tempo” na reconstrução de ambientes, mentalidades de época, modos
de vida e costumes diferentes.
As entrevistas temáticas referem-se a processos
específicos ou a experiências testemunhados pelos indivíduos
entrevistados que fornecem elementos ou informações sobre temas
específicos, ou ainda podem servir como ilustração ou
desdobramentos dos depoimentos das histórias de vida.
Quanto à trajetória de vida, é feita através de depoimentos
mais sucintos e pontuais, sem muitos detalhamentos. Costuma ocorrer
quando o pesquisador considera importante recolher depoimentos
53
sobre a trajetória de vida dos entrevistados que não têm muito tempo
para dar entrevistas; embora também possa ocorrer o inverso, quando
o pesquisador, pela distância do pesquisado ou indisponibilidade de
tempo para recolher depoimento dos entrevistados, necessita ser breve
em sua atuação.
O fator predominante nas mudanças da memória
demonstram, nesse trabalho, a ênfase dada às trajetórias de vida e às
entrevistas temáticas, na certeza de que a memória não é um
mecanismo de gravação, mas de seleção, que constantemente sofre
alterações.
A abordagem dessas histórias foi resgatada, tendo como
contraponto a forma como os sujeitos lembrantes as rememoram.
Pelos relatos gravados, buscamos reconstruir as identidades que esses
homens e mulheres têm, em uma relação direta de suas memórias
com as alterações face às novas vivências. Após a transcrição/
transcriação das lembranças coletadas, temos o estabelecimento de
campos narrativos que possibilitam estudar de forma mais detalhada
as diferenças presentes no mundo da memória e suas identidades
construídasa através destes.
54
CAPÍTULO II
LEMBRANÇAS DE VELHOS
64
A sociedade narcisista contemporânea não reconhece nada
que não é espelho das fases da vida humana, assim como a infância,
a juventude, a vitalidade. A diferença entre as demais fases da vida e
a velhice é que esta se encontra fisicamente desgastada, embora com
o espírito vívido e dinâmico.
As práticas das lembranças dos velhos têm importância
não somente na construção da cultura da sociedade e do vínculo
passado-presente-futuro. O ato de lembrar é um exercício de auto-
conhecimento e, de acordo com Souza (1999, p. 19 e 21), pode ser
utilizado com fins terapêuticos para “resolver dilemas dolorosos da
vida dos idosos”, uma vez que “para as pessoas idosas, a prática de
lembrar pode contribuir para fortalecer ou restituir o senso de
identidade e auto-estima”. Esse é um dos mecanismos que as pessoas
idosas utilizam para manter sua integridade psicológica. A atitude
agradável de relembrar para um ouvinte solidário faz com que esses
sujeitos narradores sintam prazer no rememorar e tenham um aumento
na auto-estima por saber que existe alguém disposto não apenas a
ouvir, mas a ouvir se importando com o que está sendo dito.
69
Eu não me aborreço com nada, vou em frente...
Graça a Deus, sou uma pessoa crente no Senhor Jesus...
Estou com uns trinta anos, mais ou menos, que pedi
arrependimento e sou feliz no senhor Jesus... Eu falo do
santo evangelho pra toda criatura e me sinto tão feliz...
Não sou muito sadia... Também, depois da minha idade...
Tenho problema de coluna e problema de coração, mas,
graças a Deus, isso aí não me faz ficar com medo... Medo
de morrer, de adoecer... É, assim são as coisas (Aldira).
71
Assim como Adolfo, Ester, filha de dona Nenê, também
atuou nas CEB’s. Sua mãe conta como foi a experiência da filha em
fins da década de 1970 e início da década de 1980:
80
Dialogando com Stuart Hall, sentimos a necessidade de
formular posicionamentos sobre a cultura popular uma vez que em
nosso trabalho temos utilizado a relação da memória a partir dos
relatos de homens e mulheres do povo, ou seja, ele está embasado na
memória construída em meio à cultura popular. Por esse diálogo,
nos vêm duas questões: O que seria essa cultura popular? Como ela
se apresenta nas relações sociais vivenciadas?
O termo “cultura popular” é utilizado desde o século XVI,
pós Reforma Protestante, passou por diversas implicações e
reformulações nos séculos seguintes, em especial no XVIII, quando
revirou a “sociedade refinada” com seus estudos das tradições
populares dos trabalhadores pobres. No século XIX, com a “distinção
cultural”, moral e econômica, providenciada pelas reformas
legislativas e regulamentares, a cultura popular foi apropriada pelas
lideranças político-institucionais que estabeleciam “a lei e a ordem”,
distinguindo o popular do refinado. O século XX também teve o seu
momento ideologizador, a partir do “imperialismo popular”, com a
reorganização geral da base de capital e da indústria cultural, fazem
arremedos de representações populares na tríade. Ver os movimento
populares, aprimorar-se deles e ressignificá-los, para então, levar
novamente ao povo essa “cultura popular” que as classes mais
abastadas consideram concebíveis ao modo de vida da população.
Muitas são as teorias de cultura popular e não é nosso
foco trazê-las todas à tona, tampouco asseverar cronologias ou
veracidade a qualquer delas. Contudo, há a necessidade de expor o
que é popular em nossa concepção. Então, iremos contrapor duas
terminologias mais utilizadas na atualidade para podermos explicitar
a compreensão de popular aplicada neste trabalho.
Há uma variedade de significado do termo popular. Diz-
se que algo é popular porque grande número de pessoas o compram,
lêem, escutam e apreciam muito. Isto é uma definição mercadológica
de popular que está diretamente associada a manipulação do povo e
de sua cultura. Uma cultura comercialmente fornecida que levam a
81
um estado de “falsa consciência”. Por isso, alguns poderiam pensar
que esses são uns “tolos culturais” por se deixarem envolver, sem
terem adquirido a consciência de que estão sendo alimentados com o
“ópio do povo”. E nos satisfaz o fato de podermos denunciar as
indústrias culturais capitalistas como agentes de manipulação e
decepção dos que por elas são influenciados.
Por outro lado, a tentativa de contrapor a essa cultura uma
cultura “alternativa”, que seja íntegra e expresse a autêntica “cultura
popular” das classes trabalhadoras não é melhor que a primeira.
Porque esta não considera as relações de dominação e subordinação
do poder cultural. Não apenas pelo fato de as relações de autonomia,
coações, rupturas e resistências serem no tempo e no espaço, dentro
do social ou no entorno deste pelas periferias das situações
congêneres. Em segundo plano, o poder da inserção social está
intimamente ligado às materializações de atos e pensamentos atuantes
nas formulações interativas desses sujeitos. O produzir da dimensão
de autonomia é aplicável e sustentável no mundo das idéias, sendo
sua aplicação na concretude real uma projeção turva e obscura do
conceito inicial.
Essas pessoas não são “tolas culturais”, elas são capazes
de reconhecer como as realidades de suas classes são reorganizadas,
vêem a forma como são constantemente remodeladas, reconstruídas
e reorganizadas. É certo que as classes que concentram o poder
cultural acabam por dominar ou ter a preferência. As formas impostas
influenciam diretamente o agir, porque nenhum grupo social é isolado
em si, por si e para si. As relações de poder cultural, ainda que
irregulares e desiguais, demonstram que a cultura dominante tenta
constantemente desorganizar e reorganizar a cultura popular, mas
também pontos de resistências e momentos de suspensão.
No permanente campo de batalha da dialética cultural,
não se obtêm vitórias definitivas, o que se têm são posições
estratégicas a serem conquistadas ou perdidas (HALL, 2003).
Stuart Hall (2003, p. 243) afirma que “A cultura popular
é um dos locais onde a luta a favor ou contra a luta dos poderosos é
82
engajada; é também o prêmio a ser conquistado ou perdido nessa
luta. É a alma do consentimento e da resistência”.
Ainda tendo por vista o enfoque da cultura popular no
viés das identidades, como práticas de resistências, Sayonara Amaral,
a tradutora de Stuart Hall para o Brasil, afirma que a cultura popular
para Hall:
83
rádio, televisão, jornais, revistas ou instituições como o
Estado, a igreja, os sindicatos – caracterizam-se como
produtores de todo um conjunto de explicações/
representações acerca da realidade (2003, p. 20).
84
2.2.2 Memória autobiográfica e trajetórias de vida
85
indiozinho bem novinho... Aí, ele teve pena de matar,
pegou e levou pra criar. Aí criou ele. Aí, depois que ele
ficou grande... Aí, diz que quando ele cresceu, o tino dele
era na mata... Só que, quando deu fé, ele chegou com o
outro caboco... O velho falava as línguas dos cabocos, aí
conversou tudinho... Aí o velho vai, e pega a cachaça, dá
pro outro caboco. O caboco levou pra maloca. Aí, quando
deu fé, os cabocos chegavam tudo com aqueles caldo pra
trocar por bebida. Aí foi quando o velho domou eles. E
eles, trabalhando com o velho, de graça (Francisco).
89
Essas e outras memórias de velhos parecem ser mediadas,
em grande medida, pelas emoções e pelos processos hormonais e
neurais, numa consolidação das memórias duradouras que para eles
fazem parte de processos significativos.
Gaver e Gomes (2007), citando Conway (1996), afirmam
que há três níveis hierárquicos de memórias autobiográficas: os
eventos específicos, as memórias gerais e os períodos de vida.
Clarificando os contextos dos eventos do nível mais baixo (eventos
específicos) até o mais alto (período de vida).
A memória autobiográfica é um processo de interação
entre a memória episódica (eventos pessoais) e a memória semântica
(significado pessoal dado aos eventos), entre cognição e emoção.
A memória, assim como qualquer outra parte do corpo,
necessita de exercícios e ambientes que favoreçam conforto e
situações nas quais se possa exercer atividades que levem ao
processamento das informações. Por isso, é necessário manter-se
mentalmente ativo, reservando um período de tempo contínuo para
aprender, bem como, boas condições de trabalho em ambiente que
favoreça visão, audição, locomoção e outros detalhes práticos, ao
lidar com a memória. É preciso evitar tensões e manter o contato
social. O ato de fazer novos amigos e comentar as vivências traz à
tona as lembranças há muito guardadas na memória, além de
possibilitar nossas perspectivas ao fluir da memória na aplicabilidade
prática do cotidiano.
94
(...) Quando minha irmã morreu eu tinha quatro
anos e ela [irmã] tinha três, mas ainda hoje eu me lembro
da minha irmã como se fosse hoje (...)
(...) Meu padrasto não me dava uma caixa de
fósforo, um palito... Aí ela [mãe] foi comprar, um metro
e não sei quanto de uma fazenda. Eu ainda me lembro o
nome dessa fazenda... fazenda ainda vermelha, com umas
pintinha branca... (...)
(...) [Durante o inverno] A gente andava pelo meio
do campo pra não ficar atolado. Quando eu cheguei aqui,
em 70 ... em 71... alagou, que a água veio até aí a escola.
Eu me lembro que meu menino que tava ontem aqui,
ele tinha uma canoa.
98
no Pronto Socorro ele morreu. Um policial bateu nele. E
esse policial... com o meu menino... já são nove mortes
que ele faz de menores. Esse policial dirigia uma casa de
polícia, né? Mas, lá só tinha pessoas drogadas, eu acho.
Tinha um fulano de tal, chamado Zé, que já morreu, não
foi ninguém que matou, não, ele morreu mesmo de morte
natural; e o Pequeno, que eu não sei o nome dele, parecia
que ele saiu de dentro do carro e só tinha esses dois
mesmo.
No fundo, eu não vivo feliz... Agora ele lá deve
viver em paz, tá vivo ganhando dinheiro, alegre, sorrindo.
Deve viver em paz... Agora, eu também não quero que
ninguém toque nele, porque o desejo do meu marido é...
que Deus o tenha no céu, na presença de Deus, com suas
mãos limpas, e graças a Deus. Deus foi indo, tirou dos
pensamentos dele... O meu menino, às vezes, eu penso...
ele, com uma paciência, beijando a mão de Deus, que
Deus é o juiz. Eu não tenho notícia desse moço nem nada,
que Deus faça sua justiça (Laura, entrevista em fins de
2006).
105
Relatos como o de Ivete não são raros. Raros, porém, são
os momentos que tiramos para ouvi-los, sonhar junto, imaginar o
que está sendo verbalizado. Desta feita, há uma pergunta que está
presente quase sempre nos questionamentos sobre as relações
propostas na memória com o cotidiano: por que não se contam mais
histórias? Talvez não sejam as histórias que estejam em declínio,
mas a troca de experiências.
As vivências e convivências da atualidade estão cada vez
mais reguladas pelo tempo cronológico que atropela a tudo e a todos.
Nesse mundo, onde somos bombardeados por diversas informações,
e maior ainda o número de coisas a fazer, em períodos de tempo cada
vez mais restritos, acabamos por deixar de lado a troca de
experiências. E por não rememorarmos várias situações, essas ficam
“cristalizadas” e “adormecidas” na memória.
As histórias são contadas em menor quantidade que em
tempos passados ou, pelo menos, em menor riqueza de detalhes e
reconstruções a partir da lembrança, porque é cada vez menor o
número dos que se interessam por elas.
Existem dois tipos de narradores: os que vêm de fora e
narram suas viagens e os que ficaram e conhecem seus conterrâneos,
suas terras, e as relações pretéritas que se estabeleceram durante as
vivências (Bosi, 1994, p. 84). Em ambos os casos, é necessário vencer
as distâncias. As aventuras vividas podem estar envoltas no
distanciamento espacial ou no distanciamento temporal. De ambas
se tira significação das relações sócio-culturais produzidas. Porque
“o narrador tira o que narra da própria experiência e a transforma em
experiência dos que o escutam” (Bosi, 1994, p. 85). A fala do seu
Martins está eivada dessas experiências:
110
Eu não tenho mais sonho, eu penso, mas eu sei
que melhor pra mim é não existir mais... Se eu fosse boa
ainda, eu estaria na minha casa, cuidando da minha casa,
do meu quintal, cuidando das minhas plantas e hoje nada
eu faço, os filhos é que agora é quem cuidam de mim.
Eu não sei se eu sou mais feliz não. Porque eu
vivo todo tempo dependendo das pessoas, de tudo... aí
pronto... Se não dependesse mais dos outros eu era muito
feliz, olha... Eu era feliz antes de ter essa doença. Eu tenho
tanta saudade que eu trabalhava tanto e hoje vivo parada.
Às vezes, pra me levantar daqui, é preciso o pessoal me
segurar, me levantar (Nena).
112
Eu realizei muitos sonhos, mas o mais importante
sonho que eu tinha, ser funcionário [público] (Zacarias).
116
A única coisa de bom que ele me deixou foram
meus três filhos... eu sinto orgulho de meus filhos...
orgulho de mais uma etapa na vida vencida, acabou minha
responsabilidade na vida com eles, já estão todos
encaminhados na vida e o que não quiser fazer nada, aquilo
que Deus determinou que colocou na minha mão, aquela
responsabilidade, aquele compromisso, eu lutei muito...
Lutar é caminhar na vida... eu fiz meu papel... agora cabe
a eles escolher seguir o bem ou o mal... Agora qualquer
um escolhe o que quiser porque eu não posso mais
determinar se vai pra lá ou vai pra li, ou vai pra direita ou
vai pra esquerda, vai pro lado ruim se quiser... Porque eu
orientei bem, criei, fiz tudo pra eles estudarem, terem um
bom emprego, terem uma profissão... meu filho mais velho
é policial militar, é casado pela terceira vez, mas agora
casou no papel... minha filha tem dois filhos, mas ainda
não casou... meu filho mais novo casou outro dia, ele
engravidou uma menina, aí o pai dela chamou ele lá pra
conversar, quando ele voltou já tava de aliança no dedo e
data do casamento marcada... (Raimunda)
121
Gouveia e Camurça (2000) explicitam as relações de
gênero como componentes da constituição das identidades, afirmando
ser na subjetividade de cada ser humano que se constroem as
similaridades e diferenças. Em uma interação dos homens e mulheres
com a sociedade é que se constroem, mentem ou modificam as
relações de gênero, os símbolos, a maneira de falar e a subjetividade
de cada um. Para Gouveia e Camurça:
126
Ser mulher e chefe de família implica reaprender a viver.
A vida já não é como elas cresceram ouvindo que seria: o marido, a
esposa, os filhos. Às vezes, ser mulher era aprender a negociar de
igual pra igual, aprender novos valores e comportamentos, sentir e
agir como mantenedora, provedora e cuidadora do lar.
132
Os relacionamentos fluíam com essas mulheres como
fluem com quaisquer outras. Elas também desejavam e eram
desejadas. Produziam-se todas para ir às festas e tocar nos rapazes
que por alguns instantes as tocariam, colocariam as mãos em suas
cinturas e dançariam com elas “uma parte”. Os sonhos juvenis se
encontram presentes nos namoros escondidos, nos encontros atrás
das árvores sem que os pais soubessem, no galanteio com outros
homens – inclusive casados – e na tentativa de fuga para uma nova
vida, ao lado de sua paixão:
134
noite, eu não dei mais boa noite, não. Acabou casamento.
Pronto. Não fiquei mais com amizade com ele e nem nada,
acabou... Aí me casei com o irmão da minha amiga
(Antônia).
142
Em princípio, podemos afirmar que o lugar é
territorializante quando deixa de ser espaço ermo ou fronteiriço para
ser território local, onde se estabelecem as fronteiras analógicas e
dialógicas – no sentido baktiniano – do convívio social. Desenraizante
quando faz com aquilo que a pessoa sabe e tem conhecimento pareça
banal, não utilizável na forma intelectual, moral ou valorativo do
migrante “em trânsito”, que necessita, em grande medida, se separar
das coisas com as quais ele convive e conhece, para se deparar com
a nova realidade, em um constante embate entre o tempo da ação e o
tempo da memória (BOSI, 1987).
A maioria das gentes que teve suas terras expropriadas
precisou aprender a viver em terrenos com pouco mais de duzentos
metros quadrados, trabalhar para adquirir dinheiro e comprar comida,
uma vez que já não se podia plantar e colher produtos para a
subsistência nessa pequena área.
Assim como o homem modifica o ambiente, este também
o modifica na interação mútua. Porque o homem precisa de um lugar
para se relacionar com o ambiente e com seu próximo, sendo que
ambos se modificam nessa interação, e o lugar se modifica a partir
da influência mútua do homem com o outro homem e com o ambiente
em que vive. Por isso, nessa mudança de ambiente do que antes era
“rural” com porções de terras outrora medidas em alqueires e hectares,
agora percebemos que são medidos em pouco mais de duzentos
metros quadrados os lotes onde ficam os “pequenos quintais”. Assim,
não são vistas grandes plantações nos lotes do Terceiro Eixo, mas
são comuns plantas, flores, árvores frutíferas e canteiros de hortaliças
e leguminosas. Ao passo em que o “ambiente rural” é “urbanizado”
pelos reassentados, o mesmo ambiente agora “urbano” – se é que
podemos chamar assim – é “ruralizado” pelas práticas, inserções e
modificações tipicamente dos ambientes rurais de onde os migrantes
são provenientes.
Ao viver nessas localidades e tentar fazê-las o mais
semelhante possível com seu lar anterior, percebemos que esses
143
migrantes reassentados têm em sua memória o desejo de retornar ao
local de onde vieram. Mas isso não é viável, ao menos não como eles
gostariam. Porque a falta de possibilidade de retorno não se dá apenas
pelo viés sócio-econômico. Se assim o fosse, bastaria economizar
parte de seus proventos, administrar gastos e embarcar de volta à
terra de onde vieram. Não é possível retornar, porque o tempo passou,
a vida passou, o espaço mudou, eles mudaram. Gostariam de voltar
ao que era antes, às casinhas do passado, às festas, amigos, paqueras
e passeios, mas já não há possibilidade porque a volatilidade do tempo
não se dá enquanto matéria corpórea de interposição espacial.
Ao retornar ao local de origem, o local não seria o mesmo,
os amigos, a relações, os sonhos, eles próprios não seriam os mesmos.
O passado – que muitas vezes está associado, em parte, a dificulda-
des, limitações, escassez e estagnação, considerando o quadro cris-
talizado em seus locais de origem – também representa aspectos po-
sitivos, envolvendo laços familiares, hábitos e práticas do cotidiano,
tradições e manifestações populares, a vida comunitária, o lazer e a
diversão, a riqueza da cultura local.
Como podemos perceber, à luz da experiência dos
entrevistados, as questões relacionadas à sensação de pertencimento
desses narradores, já que suas identidades culturais têm em si traços
de unidade essencial, indivisibilidade, unicidade primordial e
mesmice? Devemos abandonar a idéia de perceber a sensação de
pertencimento inscrita nas relações de poder e estudar as identidades
isoladas – se é que se consegue tal proeza? Ou ainda perceber as
disjunturas e as diferenças impressas nas identidades culturais dos
migrantes que embora “obrigados” a tal, têm em si a promessa do
retorno redentor?
Alguns desses homens e mulheres amam o local em que
vivem, contudo, a maioria se acostumou com o local. Estão lá com
suas redes de sociabilizações, entretanto, têm em suas falas traços de
agonia, nostalgia e até letargia diante da possibilidade imaginária de
não voltar ao seu local de permanência anterior. Isso se torna claro
ao aferir na circunstância de vida atual um saudosismo bondoso da
144
“qualidade de vida” anteriormente vivenciada. No sentido contrário,
nessa estrada de mão dupla que é a memória, gostariam de voltar ao
local de vivência anterior, com os amigos de antes, as relações de
antes, o amadurecimento das sensibilidades de hoje e a estabilidade
econômica atual. No entanto, isso apenas é possível nas construções
cognitivas e nos sonhos varonis.
A codificação dos significados pelos sujeitos lembrantes
não é livre em si, mas ancora a decodificação ao conveniente, e o
próprio pesquisador envolvido na turbidez do que está posto, por
mais que se esforce, em sua imperfeição, apenas sintetiza o que já
está colocado, analisando, conceituando, definindo, explicando,
explicitando, enfim, sem querer, congelando. A necessidade de em
muitos dos casos deixar que o sujeito lembrante fale por si mesmo,
vem porque mesmo uma fala retirada do seu habitat, quando
contextualizada, expressa, ainda que parcialmente, o seu intento.
Como pudemos constatar na pesquisa predecessora desta, esses
entrevistados têm muitas coisas em comum, dentre elas podemos
destacar que:
146
CONSIDERAÇÕES FINAIS
148
Esses homens e mulheres que não aceitam o conceito que
se tenta aplicar a cada um deles como “terceira idade” ou “melhor
idade”, por dezenas de vezes se auto intitularam como velhos, ora
negativa, ora positivamente. Eles se vêem e se percebem como velhos,
por isso reiteradas vezes utilizamos essas duas expressões. Eles
comparam “terceira idade” com “arroz de terceira”, algo não tão bom.
Para os sujeitos lembrantes entrevistados a “melhor idade” foi sua
infância, por isso não aceitam a aplicação desse termo em seu atual
estágio de vida. Vêem o termo “idoso” como representando algo ou
alguém que já foi e não é mais porque é “ido”, “idoso”. Quanto a
velho, ficou a expressão de “velho” é algo ou alguém que chegou
antes, que está há muito tempo e ainda permanece; mesmo com o
desgaste do tempo “o velho permanece”, ainda tem o seu lugar e o
seu espaço de atuação no tempo e na comunidade. O idoso veio e se
foi, passou o seu tempo. O velho veio e permanece até os dias que se
fizerem atuais ou até sua morte.
Pelo trabalho com a oralidade percebemos a valorização
do observador, quando, ao descrever a história de vida, pondera sobre
as causas e os efeitos do momento em que a história foi contada. É o
diálogo entre o observador e o sujeito efetivada na entrevista (“entre-
vistas” ou “olho no olho”) de modo a ampliar o discurso em vários
significados. Assim, a autoria das histórias é fruto da integração entre
o discurso, os fatos e a capacidade interpretativa do pesquisador em
recontar a história, desvendadas segundo suas entrelinhas.
Compreendemos que a memória não é algo do passado.
Ela é o passado representado no tempo contínuo da lembrança; e só
é possível se lembrar no presente. Portanto, a memória e a lembrança
presente da representação do que se supõe, ou pressupõe passado,
mas que na verdade não findou porque é atualizado. E é exatamente
na atualização dos relatos que trabalha o pesquisador. Nesse local, é
que reside o labirinto das possibilidades: algumas dando em
“clareiras”, outras em cerceamentos e poucas em “saídas”, que em
grande medida são momentâneas e só são saídas dependendo de quem
olha ou de onde se olha. Porque lembrar é viver e vivemos
149
cotidianamente, só que de formas diferentes. Vive-se um dia anterior
de multiformas, por multivontades, a partir de multidirecionamentos,
e por múltiplos impulsos dentro de fissuras de tempo que são
dinâmicas e representativas.
Na relação inter-pessoal, bem como, nas interações de
indivíduos entre si, percebemos a consciência como uma construção
social, em um viés de dupla troca, na qual a vida determina a
consciência e a consciência determina a vida.
Cavalcanti (2001), afirma que “somos personagens de um
drama coletivo, onde o papel de cada autor/ator determina e
condiciona o papel do outro”. Assim sendo, o desenvolver das
identidades humanas se dá pela mediação de indivíduos uns com os
outros e pela construção das funções psicológicas humanas.
O ser humano não é meramente um produto do meio,
também não é um ser pensante de natureza não influenciável pelas
construções culturais a seu redor. Antes, defendemos a posição de
que, no ambiente de interação sócio-cultural, o homem constrói sua
própria história e a história da sociedade, concomitantemente ao ato
de ser construído pela sua própria história e pela história da sociedade.
As visões que aqui apresentamos são partes constituintes
das relações estabelecidas, mesmo sabendo que ocorrem imprevistos
quando se vai analisar as relações sociais, porque essas têm múltiplas
dimensões ao se mostrar relacionadas às fronteiras do lugar. O sentido
do corpo da memória que surge se constrói através da cultura,
apresenta-se de forma fragmentada nas diversas composições da idéia
que se têm do espaço, do indivíduo e da própria cultura. Cultura esta
que se estabelece em meio a pressões e coações.
Desta forma, ao apreciar a formação das identidades na
memória cultural das gentes do Terceiro Eixo, percebemos que elas
estão ligadas à questão local/espacial, sujeito/identidade, território/
fronteira. Assim, no tocante a esses pares, podemos afirmar que um
inexiste sem o outro, e sua completude apenas se dá nas diferenças e
mediações inseparáveis aos processos estabelecidos.
150
As imagens e vivências, que parecem turvas pelo tempo,
calcificadas pela lembrança, às vezes, emergem dos “entulhos” da
memória como um resgate do que eles viveram ou pensam que
viveram, ou foi vivido, mas não exatamente daquela forma que
explicitam. Embora essa forma explicitada, no momento em que é
apresentada na memória, pareça mais prazerosa do que realmente é,
e, por isso, quererem tanto ficar com ela.
Em grande medida, eles lembram da recordação
construída com um sabor adocicado, mais agradável que a vivência
que tiveram. Muitas vezes, eles têm noção do “real” e assumem,
veementemente, que a lembrança prazerosa “do mesmo fato” melhor
satisfaz os anseios. Quanto a isso, Paul Thompson (1992) escreveu:
“aquilo que as pessoas imaginam que aconteceu, e também o que
acreditam que poderia ter acontecido - sua imaginação de um passado
alternativo e, pois, de um presente alternativo, pode ser tão
fundamental quanto aquilo que de fato aconteceu”.
Esses idosos que outrora fizeram parte das populações
andantes, ao chegar à localidade, precisavam recomeçar, fazer der-
rubadas, cuidar da área, construir o “tapiri”, trabalhar para alimentar
a família dentre tantos outros afazeres. Contudo, não eram homens e
mulheres jovens, não em sua maioria. Esses sujeitos, grande parte
deles acompanhados por seus cônjuges, tinham os filhos ainda pe-
quenos, sendo que os filhos mais velhos os “ajudavam na lida”. O
“dono da casa”, muitas vezes, vivia acompanhado por seus pais ou
sogros, pela esposa, por quatro filhos em média e, às vezes, por no-
ras e netos. A maior parte dos entrevistados disse trazer consigo seus
parentes, ou eles vieram logo depois. Normalmente, ficavam saben-
do do local para morar através de um conhecido, ou em segundo
plano, de um parente e, mesmo sem saber de quem eram as terras,
iam se instalando no local. A necessidade de ter onde morar e abrigar
a família era maior que o sentimento de posse do que é alheio ou
ética de estar adentrando um lugar que não lhes pertencia.
151
A identidade desses sujeitos lembrantes que precisaram
se mudar e estão em um outro lugar que não é o seu lugar de
nascimento/crescimento é vista aqui na concepção simbólica dos
sentidos envoltos em uma materialidade concreta, mas um tanto
quanto turva de ser explicitada pelo pesquisador que não a vivenciou.
O imaginário está no plano da consciência e embasa a reprodução da
vida na perspectiva do lugar pela tríade sujeito-identidade-lugar
(NEVES, 2000). Em tudo isso, percebemos que a memória desses
sujeitos simples da “periferia” está cheia de lembranças, vários deles
venceram o desenraizamento e prosseguiram a vida.
Percebemos, também, que outros estão nos “entre-
lugares”, nas fronteiras, nas fissuras da sociedade, ora ensejando o
local de onde vieram, ora permanecendo onde estão. Esses sujeitos
constituídos de vontades, desejos e identificações por diversas vezes
enfatizam em suas identidades compósitas o “elo umbilical” que os
liga ao “local de origem”. Em seus discursos a idéia perpassante é a
de que a segunda e a terceira geração já se identificam com o local,
mas eles ainda não se identificaram, não totalmente, talvez nunca o
façam. Porque em suas múltiplas identidades demonstram a origem
específica da qual se orgulham, como se houvesse uma força
centrípeta da qualidade de ser daquele local que os faça querer estar
aqui sem desprender de lá.
É certo que alguns já cortaram esse elo e não está em
questão se isso é bom ou ruim. O propósito não é tachar, qualificando
ou desqualificando atuações rememoradas ou falta delas com o novo
lugar. Há a falta do que se foi, e muitos rememoram saudosamente o
lugar de onde vieram, gostariam de voltar, mas não é possível.
As identidades são construídas não em um ou em outro
lugar, elas perpassam pelas fronteiras, independem da oposição rígida
do “isso” ou “aquilo”, não estão fundamentadas sobre a concepção
binária de diferenças em que a fronteira de exclusão interage com
um “Outro” e reflete a construção desse “Outro”. Para Hall, essas
identidades culturais são híbridas e se diferenciam umas das outras.
O autor comenta o conceito de diferença, relacionando-a a identidades
culturais:
152
A diferença, sabemos, é essencial ao significado,
e o significado é crucial à cultura. Mas, num movimento
profundamente contra-intuitivo, a lingüística moderna
pós-saussuriana insiste que o significado não pode ser
fixado definitivamente. Sempre há o “deslize” inevitável
do significado na semiose aberta de uma cultura, enquanto
aquilo que parece fixo continua a ser dialogicamente
reapropriado. A fantasia de um significado final continua
assombrada pela “falta” ou “excesso”, mas nunca é
apreensível na plenitude de sua presença a si mesma (Hall,
2003, p. 33).
154
NOTAS FINAIS
1
LIMA, Reginâmio B. Sobre Terras e Gentes: O terceiro eixo
ocupacional de Rio Branco. João Pessoa: Idéia, 2006.
2
LIMA, Reginâmio B.; BONIFÁCIO, Maria Iracilda G. C. (orgs.).
Habitantes e Habitat. 2 ed. Rio Branco: Boni, 2007.
3
LIMA, Reginâmio B.; BONIFÁCIO, Maria Iracilda G. C.;
ALMEIDA, Lelcia M. M. (orgs.). Habitantes e Habitat: a expansão
da fronteira. Rio Branco, Boni, 2007.
4
As populações tradicionais acreanas de crença católica tinham e
ainda têm o costume de fazer promessas a santos para alcançar algum
favor. E como prova de devoção escolhiam o nome do santo para
que fizesse parte da linhagem da família, não apenas dando o nome
do santo aos filhos, mas também identificando a própria crença dos
patriarcas da família em determinados ícones da fé católica, devotando
aos santos o que têm de mais precioso, seus filhos.
5
SILVA, Maria do Perpétuo Socorro. Seringueiros: memória, história
e identidade. Rio Branco: EDUFAC, 1997.
ESTEVES, Florentina. Enredos da memória. Rio Branco: Fundação
Elias Mansour, 2002.
155
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Rio de Janeiro: Papel e Virtual, 2002.
BONIFÁCIO, Maria Iracilda G. C.. Ideologia e Poder: uma análise
do discurso dos jornais “O Rio Branco” e “Varadouro” durante a
Ditadura Militar (1977 – 1981). Rio Branco: Cida, 2007.
LOPES, Margarete Edul Prado de Souza. Motivos de mulher na
Amazônia: produção de escritoras acreanas no século XX. Rio
Branco: EDUFAC, 2006.
6
É necessário que o pesquisador leve um gravador de voz de reserva
porque as entrevistas são únicas e nem sempre se pode voltar à
localidade para fazer a coleta de um novo dado. Não importa se o
equipamento é um K7, JVCD, iPod ou mp7. É preciso estar atento
ao fato de que, em se tratando de pesquisa, os imprevistos quase
sempre acontecem.
7
O local onde atualmente se configura a Baixada do Sol é formado
pelos bairros do Terceiro Eixo, a saber, Bahia, Bahia Nova, Palheiral,
Pista, Glória, Aeroporto Velho, João Eduardo I e II, além de outras
localidades adjacentes. Esse local já foi chamado pelo poder público
de Aprendizado, Terminal, Adalberto Sena, Salgado Filho e Ginásio
Coberto. As populações que moram naquela área ainda na atualidade
denominam aquela localidade como foi chamada desde a formação,
ou seja, com os nomes dos oito bairros supracitados.
8
Este subcapítulo é um resumo de idéias contidas nos livros Sobre
Terras e Gentes e Habitantes e Habitat, produzidos por este autor,
acrescido de informações pertinentes à nova pesquisa.
9
As dinâmicas das trajetórias individuais e coletivas se dão em
diferentes dimensões de tempo. O tempo não é linear, mas torna-se
volátil na lembrança, que por muitas vezes é intermitente, agindo
como preterizador do presente ou presentificador do passado
(DELGADO, 2006, p.33).
10
Roteiro semi-aberto é aquele em que se anseia respostas para
algumas temáticas pontuais sem, contudo, delimitar os assuntos em
suas especificações detalhistas.
156
11
As características semi-estruturadas se referem a tópicos que se
completam para construção do objeto, sendo que estas apontam
possibilidades de encaminhamentos para a fluidez das entrevistas e
não cerceiam seu ritmo.
12
Aquilo que dá a impressão de já ter sido visto. Sensação de já
haver estado em determinado lugar ou certa situação quando isto, na
realidade, não aconteceu (Dicionário Aurélio, 2000).
13
Educação no sentido de comportamento social e ensino das tarefas
executadas pelos homens. Também, as poucas mulheres que sabiam
ler se incumbiam de ensinar o “ABC” para os filhos.
14
Muitas mulheres faziam o próprio fogão de barro, plantavam
melancia e grãos, mandioca, criavam galináceos, costuravam as
roupas dos da família e até coletavam látex para aumentar a produção
do marido. Poucas eram as mulheres que tinham sua própria conta
no barracão. Em alguns casos de doença do marido por longo tempo,
a mulher passava anos cortando seringa, mas a conta, o saldo, as
vendas, o arrendamento continuava em nome do marido, mesmo que
ele não produzisse nenhuma cuia de látex naquele ano.
157
158
REFERÊNCIAS
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164
GLOSSÁRIO
165
Seringal: Designação das matas de seringueiras. Propriedade onde
se explora a seringueira e que se encontra mais comumente à margem
dos rios.
Seringalistas: Proprietários dos seringais que se dedicam a
exploração dos mesmos.
Seringueiros: Pessoas que extraem o látex da seringueira e com ele
fazem a borracha.
Sujeito entrevistador: Pesquisador responsável pelo trabalho de
entrevistas, textualização, transcrição, transcriação e análise.
Sujeitos lembrantes: Homens e mulheres que rememoraram suas
vivências e concederam as entrevistas que compõem o corpus deste
trabalho.
Sujeitos narradores: Homens e mulheres que tiveram seus discursos
transcriados juntamente com os discursos de suas famílias anexados
a este.
Tapiri: Residência feita de paxiúba e coberta de palhas muito comum
em meio às populações pobres que habitam os seringais amazônicos.
Terceiro Eixo: Localidade que compõe a terceira fase de expansão
da cidade de Rio Branco, atualmente chamada de Baixada do Sobral
ou Baixada do Sol.
Textualização da fala: Escrituração da fala em forma de texto,
buscando ser o mais fiel possível aos relatos colhidos.
Trajetórias: As vivências pontuais descritas pelas pessoas com fins
a demonstrar situações que consideram mais importantes serem
destacadas em suas histórias de vida.
Transcriação: Transcriação é um neologismo cunhado por Haroldo
de Campos para nomear um tipo de tradução que ultrapassa os limites
do significado e se propõe à fazer funcionar o próprio processo de
significação original numa outra língua.
166
167
Dr. Reginâmio Bonifácio de Lima - Acreano de Rio Branco, atua na
Diretoria de Ensino da PMAC, como Mentor Proerd. Desenvolve
trabalhos como professor visitante na FTBB e no Seminário Teológico
Kerigma. Coordena o Grupo de Pesquisa Sobre Terras e Gentes:
Amazônia em foco. Publicou vários livros nas áreas de história e
teologia, além de diversos artigos em períodicos e congressos.
168