João Ferreira - 60734 - Tese de Mestrado - Final

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Universidade de Aveiro Departamento de Química

2015

João Manuel Silva Exploração de subprodutos de maçã como matérias-


Loureiro Alves Ferreira primas alternativas em formulações para Columba livia
Universidade de Aveiro Departamento de Química
2015

João Manuel Silva Exploração de subprodutos de maçã como matérias-


Loureiro Alves Ferreira primas alternativas em formulações para Columba livia

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para


cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do
grau de Mestre em Bioquímica Ramo Alimentar,
realizada sob a orientação científica da Doutora Elisabete
Coelho, Bolseira de Pós-doutoramento do Departamento
de Química da Universidade de Aveiro e da Mestre
Susana Cláudia Santos, Diretora do Departamento de
Investigação e Desenvolvimento da empresa Ovargado
S.A.
Dedico este documento, carinhosamente redigido, às 8
personalidades que diariamente me aturam

“If a man does not know to which port he is sailing, no wind is favorable”

Seneca
O júri

Presidente Professor Doutor Francisco Manuel Lemos Amado


Professor associado do departamento de Química da Universidade de Aveiro

Orientador Doutora Elisabete Verde Martins Coelho


Bolseira de pós- doutoramento do departamento de Química da Universidade de Aveiro

Co-orientador Mestre Susana Cláudia Santos


Diretora do departamento de investigação e desenvolvimento da empresa Ovargado
S.A.

Arguente Professora Doutora Dulcineia Maria Sousa Ferreira Wessel


Professora adjunta do departamento de indústrias alimentares da Escola Superior
Agrária de Viseu
Agradecimentos Agradeço às minhas orientadoras Doutora Elisabete Coelho e Mestre
Susana Santos pela disponibilidade, paciência e conhecimento
transmitido ao longo deste ano.

Agradeço Ao Professor Doutor Manuel António Coimbra pelos seus


conselhos e por disponibilizar o seu laboratório.

Agradeço à empresa Ovargado SA, em particular, ao Sr. Filipe Pode e à


Doutora Lígia Pode, pela oportunidade de estágio e cooperação ao
longo de todo o ano.

À empresa Indumape SA, em particular, ao Engenheiro Oswaldo


Trabulo pelo fornecimento das amostras de retentato e bagaço de maçã.

Ao Sr. Marinheiro, Sr. Artur, Sr. João Branco, Mister Eng. André e
“menina” Carla, pela boa disposição e ajuda constantes.

Ao Filipe e à Sandra, por todas as vezes que me deram aquela boleia


espectacular e me abrigaram da chuva, sempre com boa disposição.

À Rita e ao Marco…porque qualquer que fosse a dúvida ou


problema…(meu ou deles!)…estavam sempre dispostos a ajudar. E sem
cobrar um tostão! Pelo menos o Marco….

Ao pessoal do laboratório! Ao Calvão, ao Salvador, à Élia, à


Susana…bem…a todos. Porque qualquer comediante precisa de uma
plateia, e vocês nunca falhavam aos meus espectáculos.

Agradeço aos meus amigos, em particular, ao Sr. Treinador, Mister,


Bioquímico, Bombeiro e Mestre-de-obras José Miguel Azevedo e ao
Anastácio, por serem os meus sidekicks ao longo destes anos (e eu
deles!).

Agradeço aos meus pais, ao Aduido, ao Kaka, à Virgulina, ao Rei David


e à Jackie por me obrigarem a ter confiança e “endireitarem” o rumo.
Agradeço à restante família pelo apoio constante.

Agradeço à Catarina Armanda Martins Silva de Duas Igrejas. Obrigado


por seres a minha parceira e por me obrigares a olhar para a frente.

Obrigado a todos que direta e indiretamente me acompanharam neste


longo percurso (até à CP por me deixar levar a bicicleta no comboio!)
Palavras-chave Alimentação animal, Columba livia, Extrusão, Subprodutos de
maçã, Competição columbófila.

Resumo O crescimento da população humana deverá continuar até 2050.


Por este motivo, a competição por matérias-primas entre a nossa
alimentação e a alimentação animal será inevitável, tornando
importante o recurso a matérias-primas alternativas, provenientes
dos excedentes da indústria alimentar, como o bagaço de maçã e o
resíduo da filtração do sumo concentrado denominado por
retentato de maçã.
Dentro das gamas de produtos fabricados pela indústria da
alimentação animal, temos as rações para pombo-correio. Estas
rações estão adaptadas à prática do desporto columbófilo,
separando os seus produtos de acordo com os diferentes períodos
do ano: (i) concursos; (ii) criação; (iii) muda; (iv) defeso.
A alimentação do pombo-correio baseia-se em misturas simples
de sementes. Contudo, existem subprodutos da indústria alimentar
que são utilizados na indústria das rações como os bagaços de
oleaginosas, de frutos, e as sêmeas de cereais, com teores de
proteína, fibra e matéria gorda adequados à dieta do pombo-
correio. Contudo, a inclusão direta destes subprodutos não é
aceite por parte dos criadores e dos pombos. Por este motivo, foi
necessário adotar metodologias alternativas à inclusão direta,
como a extrusão. Este método de processamento permite criar um
alimento nutricionalmente uniforme, formulado a partir de
diversas matérias-primas, tanto as convencionais como as
provenientes de subprodutos.
Com base nestes conhecimentos foram desenvolvidas
formulações para alimentos extrusados, com incorporação de
retentato de maçã, direcionados para os diferentes períodos do
ano competitivo do pombo-correio. As percentagens de
incorporação do subproduto foram de 5% para a ração depurativa,
10% para a ração da muda de pena e 15% para as rações de
concursos e criação. A formulação para concursos apresentou
55% de hidratos de carbono, 20% de proteína e 10% de matéria
gorda. A formulação de criação possui 58% de hidratos de
carbono, 18% de proteína e 10% de matéria gorda. A formulação
para a muda apresentou 58% de hidratos de carbono, 20% de
proteína e 6 % de matéria gorda. Por último, a formulação para o
defeso apresentou 71% de hidratos de carbono, 12% de proteína e
5% de matéria gorda. Todas as formulações continham 6-7% de
fibra e 3-6% de cinzas. As rações produzidas mantiveram o
equilíbrio nutricional comparativamente às misturas de sementes,
habitualmente comercializadas.
Keywords Animal feed; Columba livia; Extrusion cooking; Apple by-
products; Pigeon racing.

Abstract The growth of the human population is expected to continue until


2050. For this reason, competition for raw materials between food
and feed is expected, therefore is important the use of alternative
raw materials from the by-products of food industry, such as
apple pomace and the residue of concentrate apple juice filtration
called apple retentate.
The racing pigeon feed is one of the many products made by the
animal feed industry. These feeds are adapted to the practice of
pigeon racing, separating their products according to the different
periods of the pigeon racing: (i) competitions; (ii) breeding; (iii)
moulting; (iv) resting.
The usual feed for pigeon is composed solely by seeds, however,
some food industry by-products, such as soybean meal, canola
meal, apple pomace and cereal brans, have a protein, fat and fiber
content adequate to the pigeon diet. However, direct inclusion of
such by-products cannot be done directly, because it wouldn’t be
accepted by both breeders and animals. For this reason, it is
necessary to adopt alternative methods to direct inclusion, such as
extrusion. This method allows the creation of a nutritionally
uniform feed, made from several raw materials, both conventional
for this type of feed and by-products.
Based on this knowledge, formulations for extruded feeds,
targeting all the different periods of the pigeon racing year and
including apple retentate were developed. The percentages of
incorporation of the by-product were 5% for the resting feed, 10%
for the moulting feed and 15% for the competitions and breeding
feed.
The formulation for contests had 55% carbohydrates, 20% protein
and 10% fat. The breeding formulation had 58 % carbohydrates,
18% protein and 10% fat. The formulation for moulting had 58%
carbohydrates, 20% protein and 6% fat. Finally, the formulation
for the resting period had 71% carbohydrates, 12% protein and
5% fat. All the feeds had between 6-7% of fiber and 3-6% of
ashes.
The produced feeds maintained the nutritional balance in
comparison with the usually marketed mixtures of seeds.
Índice Geral

Índice Geral .................................................................................................................... i


Índice de Figuras .......................................................................................................... iii
Índice de Tabelas ......................................................................................................... iv
Lista de Abreviaturas ................................................................................................... vi
1 – Considerações Teóricas .............................................................................................. 1
1.1 - Alimentação Animal ............................................................................................. 3
1.1.1 - A Indústria e Seus Produtos ........................................................................... 3
1.1.2 - Matérias-primas ............................................................................................. 5
1.2 – Adaptação Nutricional das Rações à Prática Columbófila .................................. 6
1.2.1 - O Pombo-correio (Columba livia domestica) ................................................ 6
1.2.2 - Nutrição do Pombo-correio............................................................................ 7
1.2.3 - Alimentação do Borracho .............................................................................. 8
1.2.4 - Alimentação do Pombo Adulto.................................................................... 10
1.3 - Desporto Columbófilo ........................................................................................ 11
1.3.1 – Principais Sementes na Alimentação do Pombo Adaptado à Prática
Columbófila............................................................................................................. 12
1.3.2 – Fatores anti-nutricionais nas sementes utilizadas em columbofilia ............ 16
1.3.3 – Alimentação na Época de Concursos .......................................................... 23
1.3.4 – Alimentação do Período da Muda de Pena ................................................. 25
1.3.5 – Alimentação no Período de Criação ............................................................ 27
1.3.6 – Alimentação no Período de Defeso ............................................................. 30
1.4 – Subprodutos na Indústria das Rações ................................................................ 32
1.4.1 – Subprodutos Fibrosos na Indústria das Rações ........................................... 34
1.4.2 – Subprodutos da Indústria do Processamento da Maçã ................................ 36
1.4.3 – Composição e Propriedades dos Subprodutos de Maçã .............................. 37
1.4.4 – Vantagens e Desvantagens dos Subprodutos de Maçã................................ 40
1.5 – Processo de Extrusão na Alimentação Animal .................................................. 41
1.5.1 – Alterações químicas no processo de extrusão ............................................. 42
1.5.2 – Efeito da Extrusão nas Proteínas ................................................................. 42
1.5.3 – Efeito na Extrusão dos Açúcares, Oligossacarídeos e Amido .................... 43
1.5.4 – Reações de Maillard Durante o Processo de Extrusão ................................ 44
1.5.5 – Efeito da Extrusão na Fibra dietética .......................................................... 44
i
1.5.6 – Efeito da Extrusão nos Lípidos ................................................................... 45
1.6 Objetivos ............................................................................................................... 46
2 - Material e Métodos.................................................................................................... 47
2.1 - Origem dos materiais .......................................................................................... 49
2.2 – Tratamento do retentato da maçã para aplicação nas rações ............................. 49
2.3 - Desenvolvimento de alimentos extrusados para pombo-correio ........................ 49
2.4 - Análise de açúcares ............................................................................................ 50
2.5 - Determinação da humidade ................................................................................ 51
2.6 - Determinação do teor de cinzas .......................................................................... 51
2.7 - Análise de aminoácidos ...................................................................................... 52
2.8 - Determinação do teor de matéria gorda .............................................................. 53
2.9 – Determinação do teor proteico ........................................................................... 53
2.10 - Análise estatística ............................................................................................. 53
3. Resultados e Discussão............................................................................................... 55
3.1 – Formulações de Extrusados para Columbofilia ................................................. 57
3.1.1 – Extrusado para período de concursos .......................................................... 57
3.1.2 – Extrusado para a fase da muda .................................................................... 62
3.1.3 – Extrusado para o período de criação ........................................................... 64
3.1.4 – Extrusado para a época de defeso ............................................................... 66
3.2 – Análise nutricional: Comparação entre formulações para concursos com e sem
retentato de maçã ........................................................................................................ 68
Conclusões ...................................................................................................................... 75
Trabalho Futuro .............................................................................................................. 79
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 83

ii
Índice de Figuras

Figura 1 - Estrutura da Produção de Alimentos Compostos para Animais em Portugal por Setor,
no ano de 2013. ............................................................................................................................. 3

Figura 2 - Divisão do ano desportivo do pombo-correio ........................................................... 11

Figura 3 - A - Estrutura de um tanino hidrolisável (β-penta-O-galloyl-D-glucose); B - Estrutura


de um tanino condensado (procianidina do tipo B)..................................................................... 17

Figura 4 - Estrutura química dos principais glucósidos com propriedades anti-nutricionais,


presentes nas plantas.. ................................................................................................................. 18

Figura 5 - Proporção das diferentes classes de sementes nas misturas para concursos das marcas
Ovargado (OVG), Versele Laga (VL) e Vanrobaeys (VB)......................................................... 25

Figura 6 - Proporção das diferentes classes de sementes nas misturas para muda das marcas
Ovargado (OVG), Versele Laga (VL) e Vanrobaeys (VB)......................................................... 27

Figura 7 - Proporção das diferentes classes de sementes nas misturas para criação das marcas
Ovargado (OVG), Versele Laga (VL) e Vanrobaeys (VB)......................................................... 30

Figura 8 - Proporção das diferentes classes de sementes nas misturas depurativas das marcas
Ovargado (OVG), Versele Laga (VL) e Vanrobaeys (VB)......................................................... 31

Figura 9 - Perfil nutricional em termos de fibra, proteína bruta e proteína digerível em 7


alimentos fibrosos usados no fabrico de alimentos compostos para animais. ............................. 36

Figura 10 - Esquema simplificado de um equipamento de extrusão adptado à alimentação


animal. ......................................................................................................................................... 42

Figura 11 - Aspeto visual das formulações para concursos de controlo (A1) e com adição de
retentato de maçã (B1). Em baixo, encontram-se duas das principais matérias-primas utilizadas,
o bagaço de soja (A2) e o retentato de maçã (B2)....................................................................... 73

iii
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Comparação entre os processos de fabrico utilizados na indústria dos alimentos
compostos para animais. ............................................................................................................... 4

Tabela 2 -- Composição média do LP nos principais nutrientes .................................................. 8

Tabela 3 - Aspetos nutricionais dos principais cereais que integram a composição das misturas
em columbófilia. ......................................................................................................................... 12

Tabela 4 - Aspetos nutricionais das principais sementes oleaginosas que integram a composição
das misturas em columbófilia. ..................................................................................................... 14

Tabela 5 - Aspetos nutricionais das principais leguminosas que integram a composição das
misturas em columbófilia. ........................................................................................................... 15

Tabela 6 - Principais fatores anti-nutricionais nas sementes utilizadas em columbófilia e a sua


distribuição entre as principais classes. ....................................................................................... 16

Tabela 7 - Composição nutricional de diferentes rações comerciais e de formulações sugeridas


na literatura, para pombos-correios, desenvolvidas para a época de concursos. ......................... 24

Tabela 8 - Composição nutricional de diferentes rações comerciais para pombos-correios e de


formulações sugeridas na literatura, desenvolvidas especificamente para a época da muda. ..... 26

Tabela 9 - Parâmetros bioquímicos do plasma de Columba livia durante as diferentes etapas do


período de criação, assim como da época pré-criação ................................................................ 28

Tabela 10 - Composição nutricional de diferentes rações comerciais para pombos-correios,


desenvolvidas especificamente para a época de criação. ............................................................ 29

Tabela 11 - Composição nutricional de diferentes rações comerciais para pombos-correios,


desenvolvidas especificamente para o período de defeso. .......................................................... 31

Tabela 12 - Aspetos nutricionais das principais matérias-primas que integram a composição dos
extrusados.................................................................................................................................... 33

Tabela 13 - Composição aproximada do bagaço de maçã ......................................................... 38

Tabela 14 - Propriedades de hidratação e capacidade de adsorção de lípidos da fibra de


diferentes concentrados de fibra derivados de frutos. ................................................................. 39

Tabela 15 - Composição da fração sólida do retentato total e após a centrifugação, com


remoção do sobrenadante ............................................................................................................ 40

Tabela 16 - Composição nutricional do alimento extrusado para pombo-correio, dedicado à


época de concursos - Sem adição de subprodutos de maçã......................................................... 59

iv
Tabela 17 - Composição nutricional do alimento extrusado para pombo-correio, dedicado à
época de concursos - Com adição de retentato de maçã. ............................................................ 60

Tabela 18 - Constituintes que compõem o extrusado para a época de concursos sem adição de
retentato (cont.) e com adição de retentato (Ret.).. ..................................................................... 61

Tabela 19 – Constituintes que compõem o extrusado desenvolvido para a época da muda com
adição de retentato de maçã.. ...................................................................................................... 63

Tabela 20 - Composição nutricional do alimento extrusado para pombo-correio, dedicado à


época da muda - Com adição de retentato de maçã. ................................................................... 64

Tabela 21 - Constituintes que compõem o extrusado desenvolvido para a época da criação com
adição de retentato de maçã. ....................................................................................................... 65

Tabela 22 - Composição nutricional do alimento extrusado para pombo-correio, dedicado à


época da criação - Com adição de retentato de maçã. ................................................................. 66

Tabela 23 - Constituintes que compõem o extrusado desenvolvido para a época do defeso com
adição de retentato de maçã.. ...................................................................................................... 67

Tabela 24 - Composição nutricional do alimento extrusado para pombo-correio, dedicado à


época de defeso - Com adição de retentato de maçã. .................................................................. 68

Tabela 25 - Comparação dos parâmetros nutricionais entre extrusados para época de concursos
com e sem a adição de retentato de maçã.................................................................................... 69

Tabela 26 - Percentagem molar dos resíduos de açúcar que constituem a totalidade dos hidratos
de carbono, polissacarídeos e açúcares livres, presentes nas rações para concursos. ................. 70

Tabela 27 - Composição de aminoácidos e teor de proteína nas formulações para concursos de


controlo e com adição de retentato. ............................................................................................. 71

v
Lista de Abreviaturas

AT - Açúcares Totais; VLCP - Ração Versele Laga: Competição-


BHT – Hidroxitolueno butilado; Champion Plus I.C.+;
C20:1 n-9 - Ácido Eicosenóico; VLCS - Ração Versele Laga: Cria Start Plus
C20:5 n-3 - Ácido Eicosapentanóico; I.C.+;
C22:6 n-3 - Ácido Docosahexanóico; VLDD - Ração Versele Laga: Dieta- Depure
C22:1ω9 – Ácido erúcico; Plus I.C.+;
CAL - Capacidade de Adsorção de Lípidos; VLWP -Ração Versele Laga: Inverno- Winter
CI - Capacidade de Aumentar o Volume; Plus I.C.+;
CRA - Capacidade de Retenção de Água; VLEP - Ração Versele Laga: Competição-
EM - Energia Metabolizável; Energy Plus I.C.+;
FA - Fibra Alimentar; VLGP - Ração Versele Laga: Competição-
FAO - Food and Agriculture Organization of Gerry Plus I.C.+;
the United Nations; VLMP - Ração Versele Laga: Mutine Plus
F - Fibra; I.C.+;
FCC – Formulação para Concursos de VLSP - Ração Versele Laga: Competição-
Controlo; Superstar Plus I.C.+;
FCR – Formulação para Concursos com VBRE – Ração Vanrobaeys: Racing Exclusive;
Retentato; VBEM – Ração Vanrobaeys: Moulting
FDA - Fibra Insolúvel em Detergente Ácido; Exclusive;
FDN - Fibra Insolúvel em Detergente Neutro; VBBE – Ração Vanrobaeys: Breeding
FPC - Federação Portuguesa de Columbofilia; Exclusive;
GC-FID – Cromatografia em fase gasosa com VBCD – Ração Vanrobaeys: Casaert
detetor de ionização de chama Depurative;
GC-qMS - Cromatografia em fase gasosa % mol – Percentagem Molar;
acoplada a espetrometria de massa com 16:1 – Ácido palmitóleico;
analisador quadrupólo 18:1 – Ácido oleico;
HCN – Cianeto de Hidrogénio; 18:2 – Ácido linóleico;
IACA - Associação Portuguesa dos Industriais;
IFIF - International Feed Industry Federation;
JFMC - Formulação Jacques Freydiger para
Concursos;
JFMD - Formulação Jacques Freydiger para
Defeso;
JFMM - Formulação Jacques Freydiger para
Muda;
LAD - Lenhina Insolúvel em Detergente Ácido;
LP - "Leite" de Pomba;
MS - Matéria Seca;
N- - Terminal Amina;
PB - Proteína Bruta;
PNA - Polissacarídeos não Amiláceos;
OP – Oxidase dos polifenóis;
OSF - Oligossacarídeos de Frutose;
OSM – Oligossacarídeos de Manose;
OVGD - Ração Ovargado: Pombos Depurativa;
OVGDM - Ração Ovargado: Pombos
Depurativa sem Milho;
OVGB - Ração Ovargado: Pombos Criação;
OVGBM - Ração Ovargado: Pombos Criação
sem Milho;
OVGC - Ração Ovargado: Pombos Concursos;
OVGM - Ração Ovargado: Pombos Muda;
OVGS - Ração Ovargado: Pombos Super
Concursos;
RPM – Rotações por minuto;

vi
1 – Considerações Teóricas

1
2
1.1 - Alimentação Animal
As previsões atuais indicam que o crescimento da população humana continuará até
2050, situando-se perto dos 9 mil milhões de indivíduos, o que implica um aumento
global das necessidades nutricionais e da disponibilidade de alimentos. O ramo
pecuário, responsável por um terço do consumo de proteína mundial, ocupa atualmente
cerca de 30% da área terrestre não coberta por gelo e é um dos setores que mais tem
crescido nos países em desenvolvimento, suscitando preocupações ambientais e sociais.
A competição entre a alimentação humana e a alimentação animal pelo consumo de
água potável e matérias-primas é um panorama inevitável, tornando-se fundamental
procurar soluções e políticas sustentáveis. O aproveitamento de muitas matérias-primas
secundárias provenientes da indústria alimentar, atualmente descartadas ou
subaproveitadas, será uma estratégia cada vez mais importante (Thornton, 2010).

1.1.1 - A Indústria e Seus Produtos


A indústria dos alimentos compostos para animais produz perto de 1000 milhões de
toneladas de alimento anualmente, correspondendo a um volume de negócios na ordem
dos 300 milhares de milhões de euros (FAO & IFIF). Em Portugal a produção de
alimentos compostos tem acompanhado o clima de recessão económica e apresenta
diminuições pelo sexto ano consecutivo. Segundo a associação portuguesa dos
industriais de alimentos compostos para animais (IACA), a produção das mais de 50
empresas a si associadas situou-se nos 2901 milhares de toneladas de alimento em 2013,
um valor 4,5% menor que em 2012. A estrutura de produção, apresentada na fígura 1,
demonstra que no ano de 2013, em Portugal, as rações para aves, suínos e bovinos
corresponderam a 91% da quantidade total de alimento produzido, deixando uma
pequena cota de mercado para as restantes espécies.

Figura 1 - Estrutura da Produção de Alimentos Compostos para Animais em Portugal por Setor,
no ano de 2013 (adaptado de IACA – relatório anual de produção).

3
Estas percentagens mantiveram-se muito semelhantes face a 2012. Destaca-se apenas o
reforço da liderança por parte das aves, que sofreram uma diminuição de apenas 1,9%,
contrastando com as restantes espécies onde a diminuição média foi 6,5% (IACA).
Os principais produtos fabricados por esta indústria estão repartidos por três classes, as
farinhas, os peletizados e os extrusados. A principal vantagem destes processos está na
uniformização do alimento, impossibilitando seletividade por parte do animal e
prevenindo potenciais carências nutricionais. Na tabela 1 estão apresentadas algumas
das principais características destes processos (Thomas et al., 1997).
As farinhas são obtidas através da moagem e aumentam a digestibilidade dos alimentos
sem elevar muito os custos de produção. Contudo, a particulação dos alimentos aumenta
a sua perecibilidade, devido à maior suscetibilidade para sofrer degradação microbiana.
Por outro lado, em aves, a ingestão de alimentos muito particulados pode desencadear
problemas gástricos devido à retenção de alimento farinado na moela, que começa a
fermentar, assim como à falta de estimulação deste órgão. A peletização é outro
processo comum nas rações e consiste na compressão de uma mistura de matérias-
primas, previamente moídas, contra uma matriz, que define o tamanho e a forma dos
pellets. Este processo partilha as vantagens dos farinados, reduz o risco de detioração
microbiana e permite controlar o tamanho do produto. Por último temos a extrusão,
onde se recorre a elevadas temperaturas e pressões, num ambiente húmido. Este
processo foi desenvolvido para combater a perecibilidade dos alimentos em climas
muito quentes e húmidos, sendo utilizado tanto em misturas como em matérias-primas.
Do ponto de vista nutricional, a extrusão provoca uma expansão das partículas que
promove a gelatinização do amido e aumenta a disponibilidade dos nutrientes presentes
no interior das células vegetais. O maior entrave está no aumento dos custos de
produção associados ao equipamento e ao consumo energético (Peisker, 2006).

Tabela 1 - Comparação entre os processos de fabrico utilizados na indústria dos alimentos


compostos para animais. Legenda: (–) ausente/negativo; (+) elevado; (adaptado de Peisker et al.,
2006).

Processo Digestibilidade Consumo energético Efeito Nutricional Efeito higiénico


Moagem + + + -
Peletização ++ ++ + +
Extrusão +++ +++ +++ +++

4
1.1.2 - Matérias-primas
O ramo dos alimentos compostos para animais serve-se de uma vasta gama de
diferentes matérias-primas, com o objetivo de responder às necessidades nutricionais de
todas as espécies, tanto animais de criação como de companhia. Este grupo envolve
raízes, tubérculos, cereais, concentrados de proteína vegetal, concentrados de proteína
animal e múltiplos aditivos (McDonald, 2010).
As raízes englobam vegetais como o nabo e a beterraba e caracterizam-se por terem a
sacarose como principal açúcar de reserva. Os teores de proteína e fibra são bastante
variáveis consoante as espécies. Alguns subprodutos de raízes, como o melaço e o
bagaço de beterraba, são amplamente utilizados na alimentação animal. Os tubérculos
possuem amido e frutanas como açúcares de reserva, são pobres em fibra e estão
vulgarmente associados a fatores anti-nutricionais como os glicosídeos cianogénicos. A
cassava, a batata e a batata-doce são os alimentos deste grupo mais comuns em rações
(McDonald, 2010; Milner, 2011). O conceito de cereal engloba todas as espécies de
gramíneas, cultivadas pelas suas sementes, como o milho, o trigo, a cevada e a aveia. Os
grãos dos cereais possuem uma quantidade de proteína baixa que varia entre os 80-120
g/kg de MS, uma fração lipídica que ronda os 100-170 g/kg de MS e uma quantidade
elevada de hidratos de carbono, principalmente amido. A nível dos micronutrientes, os
cereais são ricos em carotenos, vitamina D e fósforo, este último geralmente na forma
de fitatos, que são anti-nutrientes inibidores da absorção de outros minerais. Alguns
subprodutos de cereais como o farelo de trigo, o farelo de milho, as “dreches” da
cevada, os grãos de cevada destilados ou o “glúten” de milho, também são
frequentemente utilizados nas rações (Sniffen, 1992).
As fontes de proteína vegetal usadas na alimentação animal são principalmente os
bagaços de oleaginosas, como a soja, o girassol e a colza, e as leguminosas, como a
ervilha e o feijão. Estas, apesar da riqueza em proteína, têm falta de aminoácidos
essenciais como a metionina e a lisina. A proteína animal utilizada vem, por norma, sob
a forma de subprodutos da indústria do processamento de carnes, nomeadamente, as
farinhas de carne, peixe, frango, ossos ou sangue. A proteína destes produtos é
altamente digerível, rica em aminoácidos essenciais e em fósforo (Li et al., 2011).
Por último, temos a ampla gama de aditivos alimentares, onde se incluem
medicamentos como coccidiostáticos para aves e coelhos, prebióticos como
oligossacarídeos de frutose (OSF) e oligossacarídeos de manose (OSM), probióticos
como Lactobacillus e Bifidobacterium, enzimas como as fitases, as celulases e as

5
glucanases. Outros produtos englobam ácidos orgânicos para controlo do pH,
imunoglobulinas para promoção da saúde intestinal, ou aminoácidos essenciais para
compensar deficiências das matérias-primas (Borràs, 2011; Ai, 2011).

1.2 – Adaptação Nutricional das Rações à Prática Columbófila


O desenvolvimento das tecnologias de comunicação tornou obsoleto o uso do pombo-
correio como meio de comunicação restringindo a sua criação para fins recreativos,
onde se destaca o desporto columbófilo. Nesta atividade, o elevado controlo do ser
humano nos cruzamentos dos seus pombos tem-se revelado um forte mecanismo de
seleção artificial, promovendo a proliferação das linhagens de indivíduos com sentidos
de orientação mais apurados e melhor eficiência metabólica. Além da componente
genética, também a alimentação do pombo-correio é criteriosamente selecionada e
acompanhada pelo seu criador, de modo a obter as melhores performances desportivas
dos seus atletas.

1.2.1 - O Pombo-correio (Columba livia domestica)


A família Columbidae compreende um conjunto de espécies morfologicamente muito
uniformes, cuja principal distinção para as outras aves está na capacidade de sucção ou
de bombear água através de movimentos peristálticos do esófago, ao contrário das
restantes, que ingerem água colocando-a no bico e inclinando a cabeça para trás. Outras
caraterísticas físicas comuns são a cabeça de pequenas dimensões, as pernas curtas e o
bico pequeno e delgado. A nível comportamental observa-se a construção de ninhos
pouco elaborados, a colocação de dois ovos por parte da fêmea em cada época de
criação e a produção de uma secreção no papo, por ambos os progenitores, para
alimentação dos borrachos (Gibbs, 2001).
O pombo-correio (Columba livia domestica) é uma subespécie que descende do pombo
das rochas (Columba livia) e acredita-se que a sua associação com os humanos anteceda
largamente os primeiros registos históricos, que datam do início da civilização egípcia.
O pombo das rochas possui um temperamento dócil e está presente em todos os
continentes com a exceção da Antártida, tornando assim propício o seu relacionamento
com a espécie humana. As principais particularidades deste columbiforme são: (i) ossos
ocos, que funcionam como reservatórios de oxigénio; (ii) músculos peitorais altamente
desenvolvidos, que compreendem um terço da massa corporal; (iii) capacidade de
permanecer sem repousar por períodos de tempo muito extensos.

6
A subespécie, pombo-correio, por sua vez, foi o resultado de múltiplos cruzamentos
selecionados entre as várias subespécies de pombos das rochas, que visaram promover o
seu sentido de orientação, a sua inteligência, a sua capacidade atlética e a sua resistência
a doenças. Deste modo, conseguiram-se desenvolver linhagens atualmente capazes de
percorrer mais de 1000 km, ao contrário dos 100/200 km registados por pombos-das-
rochas na antiguidade. As fugas de animais domesticados, que se foram disseminando
nas populações naturais ao longo dos séculos, torna difícil encontrar indivíduos
selvagens cujo património genético tenha permanecido inalterado e seja completamente
fiel às espécies de pombos-das-rochas originais (Blenchman, 2006; Parsons, 2007).
A orientação do pombo-correio é um tema amplamente estudado, embora pouco
consensual. Hipóteses iniciais apontavam o sol como elemento principal na orientação
do pombo-correio, contudo, a navegação em dias nublados ou durante a noite (em
pássaros devidamente treinados) excluí o sol como elemento fundamental à navegação.
(Walcott, 1996). Nos voos de curta distância consideram-se a visão e o olfato apurado
como os sentidos mais importantes. No entanto, a indução de anosmia (para remoção de
olfato) e a utilização de lentes de contacto baças, não impediram o animal de chegar ao
seu destino, sugerindo alguma capacidade de triangulação e memória. Nos voos a
longas distâncias a sua orientação supõe-se derivar de dois mecanismos: (i) a
capacidade de se orientar segundo o campo geomagnético, devido à presença de
magnetite no bico próxima dos terminais nervosos que conduzem a informação para o
cérebro; (ii) a capacidade de formarem um mapa com base em infrassons, conseguidos
através de uma audição extremamente sensível a baixas frequências (revisto em
Hagstrum, 2000 e Mora, 2004).

1.2.2 - Nutrição do Pombo-correio


Os pombos-correios, como todos os membros da família Columbidae, alimentam-se
essencialmente de grãos e sementes. A sua rápida adaptação ao meio citadino, onde a
alimentação envolve também produtos de padaria, pequenos invertebrados ou restos no
lixo, indica que estes animais conseguem metabolizar alimentos com teores de proteína
mais elevados. Num estudo onde se comparou a produção de enzimas digestivas em
animais alimentados à base de hidratos de carbono e em animais alimentados
principalmente com proteína, demonstrou-se uma modulação do sistema digestivo, que
para responder aos elevados teores de proteína na dieta, produziu mais proteases
pancreáticas e N-aminopeptidases em detrimento de amilases (Climari, 2005).

7
O trato gastro intestinal do pombo-correio está dividido em bico, cavidade bucal,
faringe, esófago, papo, proventrículo, moela, duodeno, íleo, ceco rudimentar, reto e
cloaca. Em relação ao tamanho corporal, o trato gastro intestinal está numa relação de
7:1, sendo mais reduzido do que noutras espécies de aves, como a codorniz (8:1),
possivelmente pela necessidade de esta ave ser o mais leve possível, permitindo uma
maior eficiência no voo (revisto em Sales, 2003).

1.2.3 - Alimentação do Borracho


A cria do pombo, denominada por borracho, quando nasce tem os olhos fechados e é
incapaz de digerir alimento comum aos pombos adultos, contrastando com a maioria
das outras espécies de aves. Assim, a sua alimentação depende de uma secreção
produzida no papo de ambos os progenitores, chamada leite de pomba (LP). Esta
secreção altamente nutritiva tem natureza holócrina e é composta maioritariamente por
células epiteliais do papo. A composição média do LP está apresentada na Tabela 6,
onde se pode constatar uma grande variabilidade entre os valores encontrados na
literatura.

Tabela 2 -- Composição média do LP nos principais nutrientes (adaptado de Sales et al,, 2003;
Shetty et al,, 1992 e Vandeputte-Poma, 1968)

Constituinte (%)
Matéria Seca 26-30
Proteína Bruta 9-18,8
Matéria Gorda 4,5-12,7
Hidratos de Carbono 0,9-1,5
Cinzas 0,8-1,4
Energia (kcal/g) 5,6-6,8

As principais justificações para estes intervalos prendem-se com o dia após nascimento
dos borrachos em que a secreção foi recolhida, com o método de colheita da secreção ou
com a alimentação dos progenitores. A alimentação com LP pode variar entre 10 e 27
dias, sendo que a composição vai alterando, podendo atingir no primeiro dia 47% de
proteína bruta e 27% de matéria gorda, contra apenas 17% e 3%, respetivamente, no
vigésimo sétimo dia. Esta diluição dos nutrientes do LP também se deve à integração
gradual, desde o sexto dia, de grãos semi-digeridos na dieta do borracho. Os hidratos de
carbono existem em quantidades residuais e estão na forma de glicoproteínas e

8
glicolípidos. A matéria gorda é composta principalmente por ácido oleico (18:1) que
constitui a principal fonte de energia do borracho. O teor energético do LP oscila entre
os 5,6-6,8 kcal/g, superando largamente os teores energéticos nos mamíferos, onde o
leite possui entre 0,67-0,77 kcal/g. A fração mineral, representada no teor de cinzas, é
composta principalmente por Fe, Zn, Mn e Cu, e excede largamente os teores
encontrados no leite dos mamíferos. Em termos de proteína, cerca de 17% do valor total
está na forma de aminoácidos livres, podendo atingir os 27%. Ainda na fração proteica,
destaca-se a presença do fator de crescimento do LP, um polipéptido de 6000 kDa
diretamente responsável pelas elevadas taxas de crescimento dos borrachos, que em
apenas 6 dias conseguem aumentar 8 vezes o seu peso inicial. Enquanto aves como o
frango ou a avestruz as taxas de crescimento são, respetivamente, de 0,0450 e 0,0091
g/dia, no pombo verificam-se valores até aos 0,1945 g/dia. Apesar do elevado valor
nutricional do LP, também é importante considerar que os borrachos podem ingerir uma
quantidade diária de alimento superior ao seu próprio peso. (revisto em Sales et al.,
2003; Vandeputte-Poma et al., 1980; Shetty et al., 1992).
A dieta dos progenitores, no entanto, influencia a composição do LP, tendo sido
comprovado que dietas reforçadas com óleo de soja resultam num melhor crescimento
do borracho. Esta melhoria está associada ao desenvolvimento do trato gastrointestinal,
particularmente, no número e tamanho das vilosidades intestinais. Por outro lado, a
adição do óleo de soja na dieta do progenitor provocou alterações benéficas na
microflora do borracho, pois promoveu a proliferação de bifidobacterias.. Por outro
lado, a alimentação com óleo de peixe, com cerca de 30% de ácidos gordos poli-
insaturados (C20:1 n-9, C20:5 n-3, C22:6 n-3), provocou alterações adversas na mucosa
intestinal, mais precisamente na morfologia das vilosidades intestinais, que levou a um
menor ganho de massa corporal pelas crias. Estes efeitos no trato gastro intestinal foram
relacionados com a ocorrência de fenómenos apoptóticos promovidos pela ação dos
ácidos gordos poli-insaturados (Xie et al., 2013). Noutro exemplo, a incorporação de L-
carnitina na água fornecida aos progenitores, resultou em benefícios para os borrachos,
nomeadamente, redução da fadiga, melhor eficiência energética no voo e melhor
capacidade de resposta imunitária (revisto em Sales et al., 2003). Outra abordagem para
promover a saúde e apetência dos borrachos, passa pela injeção de maltose e de
sacarose no ovo. Esta técnica permite compensar a limitação nutricional das aves
durante o estádio embrionário, onde dependem exclusivamente dos nutrientes
disponíveis no ovo. Deste modo, foi possível melhorar a eclodibilidade, o peso corporal

9
e o estado das reservas energéticas do borracho, faltando comprovar de que modo estes
benefícios se estendem para a vida adulta (Dong et al., 2013).

1.2.4 - Alimentação do Pombo Adulto


A maioria dos estudos que se debruçam sobre a alimentação do pombo-correio
demonstram um padrão irregular, muito dependente das preferências individuais dos
animais. Dentro da dieta do pombo, os alimentos mais comuns são o milho, o trigo, a
cevada, o painço branco e vermelho, o sorgo, as sementes de alpiste, a ervilha, as
lentilhas, as sementes de girassol e o cânhamo, sendo que destes, os favoritos para os
machos e fêmeas são, respetivamente, o milho e as ervilhas (revisto em Sales et al.,
2003). Num estudo, provou-se ainda que na presença de alimentos desconhecidos para o
animal, este opta por aqueles mais energéticos e com maior teor lipídico. O tamanho
também influência a escolha, havendo uma grande preferência por alimentos mais
grosseiros em detrimento dos mais particulados. O uso de alimentos comerciais
peletizados é ainda muito reduzido, apesar dos efeitos positivos já observados
(Bierdmam et al., 2012).
A elevada taxa metabólica do pombo, aliada ao seu temperamento, leva a que este
animal ingira uma quantidade de alimento por peso corporal muito superior a outras
aves, como os frangos. A alimentação do pombo-correio requer uma forte componente
lipídica, como as oleaginosas, pois é a partir destes compostos que obtêm mais de 50%
da energia necessária ao funcionamento muscular. O fato de conseguir metabolizar mais
eficientemente lípidos do que hidratos reforça a importância destes na dieta. As
necessidades de proteína de um pombo-correio adulto deverão oscilar entre os 12-18%,
consoante o grau de atividade. No entanto, na época de criação estes valores deverão ser
mais elevados, sendo aconselhado um mínimo de 16% para manter a produção anual de
ovos, o peso e eclodibilidade dos ovos e a taxa de mortalidade dos borrachos. Valores
de proteína mais elevados resultam num aumento do peso das crias ao desmame e num
aumento da taxa anual de ovos por casal. As necessidades energéticas médias deverão
rondar as 2900 kcal/kg de matéria seca ingerida (revisto em Sales et al., 2003).
Estratégias de suplementação com amilases, celulases e outras carbohidrolases já foram
sugeridas, tendo aumentado a digestibilidade da matéria orgânica ingerida e da fibra,
permitindo um maior rendimento energético. Também foi abordado o uso de lactose e
de OSF, no sentido de atenuar ou prevenir os sintomas de salmonelose. Um estudo
sobre a doença em galinhas, comprovou que a adição de lactose melhorou a condição de

10
saúde dos animais, devido à promoção de lactobacillus, aumentando a competição pela
colonização da mucosa e produzindo ácidos gordos de cadeia curta tóxicos para a
salmonela. Por outro lado, os OSF não tiveram um efeito positivo, pois aumentaram a
ingestão de água e reduziram a consistência das fezes, sem qualquer redução na
população de salmonela (Jansens et al., 2004; revisto em Sales et al., 2003).

1.3 - Desporto Columbófilo


O desporto columbófilo alia a capacidade atlética do pombo com o seu sentido de
orientação e consiste na realização de provas onde milhares de pombos, largados no
mesmo local, competem para chegar ao seu pombal no menor tempo possível. Estas
provas estão divididas em três classes: (i) a velocidade, quando a distância percorrida
está entre os 150-300 km; (ii) o meio-fundo, para percursos entre os 300-500 km; (iii) o
fundo, para distâncias superiores a 500 km, havendo registo de provas que atingiram até
1800 km. A columbofilia é praticada em todo o mundo, sendo particularmente famosa
em países europeus como a Bélgica, a Holanda, a Alemanha e o Reino Unido. Em
Portugal, segundo dados da Federação Portuguesa de Columbofilia (FPC), existem
cerca de 18.000 associados praticantes desta atividade, distribuídos por 763 clubes e 14
associações distritais/regionais, responsáveis por cerca de 4.500.000 pombos. O
tratamento destes animais é dispendioso, recorrendo-se frequentemente ao uso de
antibióticos, suplementos minerais e suplementos vitamínicos, como forma de prevenir
infeções ou ornitoses que comprometam a sua performance desportiva. Também na
alimentação se verificam cuidados acrescidos, adaptando-se a ração às exigências
sazonais do animal. (FPC, 2014; Freydiger, 1984; Parsons, 2007).
A época desportiva do pombo-correio, representada na fígura 2, encontra-se dividida
entre as atividades energetica e fisiologicamente mais exigentes, como os concursos, a
muda de pena e a época de criação.

Jan Feb Mar Apr May Jun Jul Aug Sep Oct Nov Dec
Período - Criação Período - Criação Tardia
Provas Pombos Experientes
Provas Pombos Jóvens
Muda de Pena
Defeso
Acasalamentos
Figura 2 - Divisão do ano desportivo do pombo-correio (adaptado de Parsons & Cousquer, 2007)

11
Está também previsto um período de defeso para que o animal possa recuperar, em
parte, a sua forma física, permitindo-lhe responder aos desafios e exigências da época
de acasalamentos e de criação (Parsons, 2007). Na parte seguinte do trabalho tentar-se-á
associar dados da literatura com as particularidades das rações para o pombo-correio,
desenvolvidas especificamente para os diferentes períodos do ano, produzidas pela
Versele-Laga (Bélgica), Vanrobaeys (Bélgica) e Ovargado (Portugal.

1.3.1 – Principais Sementes na Alimentação do Pombo Adaptado à Prática


Columbófila
As sementes utilizadas em columbofilia dividem-se, quase exclusivamente, em três
classes, sendo a principal os cereais, seguido das leguminosas e das sementes
oleaginosas.
Na tabela 3 está apresentado um resumo das principais características nutricionais dos
grãos de cereais mais utilizados nas misturas para pombos-correio.

Tabela 3 - Aspetos nutricionais dos principais cereais que integram a composição das misturas em
columbófilia (Adaptado de Adeola, 2006; Blas et al., 2010; Lund et al., 2008; Mehri et al., 2010).

Proteína % da Proteína Matéria


Fibra Amido
Ingrediente Bruta Gorda Micronutrientes
Lisina Met+Cis (%) (%)
(%) (%)
Fonte de Vit. B1
Milho 7,9 2,9 4,3 2,3 73,4 3,5
e B6 e Mg

Rico em Vit. B3
Trigo
13,2 5,1 3,0 10,0 60,2 3,4 ; Fonte de Mg, P,
Sarraceno
Cu e Mn
Rico em vit. B1 ;
Cevada 11,8 3,7 3,9 5,2 59,7 2,0 Boa fonte de Mg,
Mn e Se
Cereal pobre
Sorgo / (alguma
8,9 2,3 3,6 2,1 74,5 2,7
Dari quantidade de
B1, B3, Fe e P)
Painço / Fonte de Vit. B1,
12,5 2,8 3,6 2,8 64,2 4,9
Milho-Alvo Cu e Mn

Os grãos de cereais são, de forma geral, pobres em lisina, ricos em amido facilmente
digerível e têm elevado valor energético. A exceção desta lista é o trigo sarraceno, um

12
pseudo-cereal, pois possuí mais proteína, mais lisina e é rico em flavonóides,
nomeadamente a rutina e a isovitexina. Estes compostos apresentam atividade anti-
oxidante, anti-inflamatória e são capazes de fortalecer as paredes dos capilares
sanguíneos dos animais. Em contrapartida, tem maior quantidade de fibra, teores
inferiores de aminoácidos sulfurados, particularmente importantes no desenvolvimento
das penas, e são uma fonte moderada de taninos condensados, cuja presença no lúmen
intestinal reduz a digestibilidade da proteína. (Sun, 2005, Koyama, 2013). O milho é o
cereal mais comum nas misturas e dos mais apreciados pelos pombos-correios. Os
teores vitamínicos no milho variam, sendo o milho laranja e o milho vermelho mais
ricos em vitamina D do que o típico milho amarelo. A cevada é um cereal mais rico em
proteína do que o milho, contudo, é descartada da maioria das misturas devido ao seu
teor de fibra. Pelo mesmo motivo, é o cereal mais utilizado em misturas para a época de
defeso (de Blás, 2010). O sorgo e as suas variantes, como o dari, são frequentemente
utilizados mas em pequenas quantidades, devido aos teores de compostos anti-
nutricionais, como os taninos condensados (Barros, 2012). O painço e os seus derivados
destacam-se pela maior riqueza em proteína e matéria gorda do que o milho, mas
mantendo um valor energético próximo. Por outro lado, a sua fração lipídica é altamente
insaturada. Em columbofilia é comum usar este cereal como complemento à dieta ou
como substituto do milho em misturas de gama elevada (Gomes, 2008).
As oleaginosas mais utilizadas no ramo da columbofilia estão apresentadas na tabela 4.
Estas sementes destacam-se pela riqueza em lípidos, principalmente na forma de
triacilgliceróis ricos em ácidos gordos poli-insaturados, pelo elevado teor de proteína e
também de fibra.
A adição de semente de cânhamo é comum em todas as etapas do ano, exceto no defeso.
Esta semente, em quantidades moderadas, deixa os pombos menos ansiosos devido à
presença de tetra-hidrocarabinol, um composto isoprenóide aromático com propriedades
calmantes e anti-oxidantes. Contudo, a adição de cânhamo em excesso pode conduzir a
danos irreversíveis no sistema nervoso do animal, devido à sua atividade psicotrópica.
Estas propriedades são aproveitadas durante a muda de pena, a criação e no transporte
do pombo-correio até aos locais das provas (Mechoulam, 2013). O cártamo, por sua
vez, é constituído por triacilglicerideos ricos em ácidos gordos poli-insaturados e em
proteína, contudo, a sua casca, não ingerida pelo pombo-correio, corresponde a cerca de
45% do peso total da semente. A semente de girassol é a mais rica em matéria gorda,
em vitaminas lipossolúveis, principalmente em vitamina E, e não possuí fatores anti-

13
nutricionais associados. Por estes motivos é muito comum em alimentos para pombo
(Malakian, 2010). A colza possui mais proteína do que as sementes anteriores, maior
quantidade de aminoácidos essenciais, é muito rica em lípidos e tem os teores mais
elevados de vitaminas D e K. Em contrapartida, a presença de elevadas quantidade de
ácido erúcico e glucosinolatos, ambos factores anti-nutricionais, limita a quantidade que
se pode utilizar (Mulrooney, 2009). A perilha é uma semente particularmente rica em
fibra e a sua fração lipídica contém muitos ácidos gordos ω-3. Esta última característica
é partilhada pela linhaça, que também é rica em proteína e possuí menos fibra, contudo,
também apresenta glicosídeos cianogénicos e fatores anti-piridoxina (Longvah, 2000).

Tabela 4 - Aspetos nutricionais das principais sementes oleaginosas que integram a composição das
misturas em columbófilia (Adaptado de Chapoutot et al., 2015; Blas et al., 2010; Longvah et al.,
2000; Malakian, 2010; Tran, 2015). (*dados apenas para a metionina)

Proteína % da Proteína Matéria


Fibra Amido
Ingrediente Bruta Gorda Micronutrientes
(%) Lisina Met+Cis (%) (%)
(%)

Rico em Mg, Fe e
Cânhamo 23,9 2,7 2,2* 16,5 - 35,7
Zn

Rico em Vit. B1 e
Cártamo 15,6 3,2 3,2 31,1 - 32,2 B6; Fonte de Mg,
P, Cu e Mn;
Rico em
Vitaminas E, B1,
Girassol 16,6 3,9 4,0 17,2 1,3 47,9 B6, B9; Rico em
Mg, P, Cu, Mn e
Se;
Fonte de Vit. E e
Colza 20,9 6,5 4,5 10,1 3,7 46,0 K ; Fonte razoável
de Ca, P e K
Rica em Vit. B1,
B3, B6, B12 e H;
Perilha 17,7 - - 20,8 - 43,4 Boa Fonte de Ca,
Mg, P, Fe, Zn, Cu,
Mn

Presença de Vit.
Linhaça 23,7 4,1 3,9 10,4 5,2 37,2 B1 ; Fonte de Mg,
P, Cu e Mn

14
As leguminosas compõem o último grupo de sementes da dieta do pombo-correio. É
possivel encontrar na tabela 5 as características nutricionais mais relevantes das
leguminosas mais comuns em columbófilia.
Todas estas sementes são muito semelhantes, possuindo elevada quantidade de proteína,
baixo teor lipídico e grandes reservas de amido. A proteína das leguminosas combina
bem com a dos cereais, devido à grande percentagem de lisina. Estas sementes são ainda
muito ricas em minerais e em vitaminas B1, fundamental no metabolismo dos hidratos
de carbono, B6, cofator nas reações de transaminação e B9, fundamental para a
eritropoiese. A grande limitação no uso de leguminosas prende-se com a abundância de
fatores anti-nutricionais, onde se destacam os inibidores da tripsina, as leptinas e os
taninos.

Tabela 5 - Aspetos nutricionais das principais leguminosas que integram a composição das misturas
em columbófilia (Adaptado de Blas et al., 2010; Heuzé et al., 2015).

Proteína % da Proteína Matéria


Fibra Amido
Ingrediente Bruta Gorda Micronutrientes
Lisina Met+Cis (%) (%)
(%) (%)

Ricas em Vit. B1
Ervilha 23,9 7,2 2,4 6,0 42,5 1,2 e B9 ; Fontes de
P, Cu e Mn

Fonte de P e K e
Ervilhaca 28,4 5,8 1,8 4,7 37,4 1,5
Fe

Ricas em Vit. B1
e B9 ; Fontes de
Fava 29,0 6,2 2,0 9,1 44,7 1,4
Fe, Mg, P, K, Cu
e Mn

Ricas em Vit. B1
Feijão e B9 ; Fontes de
25,8 6,9 2,1 6,3 40,5 1,9
Mungo Fe, Mg, P, K, Cu
e Mn

Ricas em Vit. B1
e B9 ; Fontes de
Feijão 24,8 6,5 2,2 5,2 42,7 1,7
Fe, Mg, P, K, Cu
e Mn

15
1.3.2 – Fatores anti-nutricionais nas sementes utilizadas em columbofilia
A presença de fatores anti-nutricionais é comum nas sementes e conduz à redução do
valor nutricional destes alimentos. Na tabela 6 estão discriminados os fatores anti-
nutricionais mais comuns aos cereais, às sementes oleaginosas e às leguminosas.

Tabela 6 - Principais fatores anti-nutricionais nas sementes utilizadas em columbófilia e a sua


distribuição entre as principais classes (Adeola et al, 2006; Gilani et al, 2012; Gomes et al, 2008;
Longvah et al, 2000; Malakian et al, 2010; Marcondes et al, 2009).

Compostos Cereais Oleaginosas Leguminosas


Taninos   
Glucosinolatos -  -
Glicósidos cianogénicos -  
Glicósidos fenólicos -  -
Fitatos   
Fatores anti-piridoxina -  -
Inibidores de tripsina   
Saponinas - - 
Ácido erúcico -  -
Lectinas - - 
β-Cianoalanina - - 

A neutralização destes fatores anti-nutricionais e o desenvolvimento de plantas


geneticamente modificadas, pobres nestes metabolitos secundários, são estratégias cada
vez mais importantes para evitar a perda do valor nutricional destas matérias-primas. Já
foi, entretanto, comprovado que o processamento térmico de diferentes vegetais, com
recurso a pressão e humidade elevada, foi capaz de reduzir em mais de 75% os teores de
taninos e ácido fítico e eliminar perto de 100% das saponinas e lectinas das amostras
(Shimelis, 2007).

1.3.2.1 - Taninos hidrolisáveis e taninos condensados


Os taninos são polifenóis que se destacam pela capacidade de interagir com
macromoléculas, nomeadamente proteínas e amido, resultando na redução da
digestibilidade e disponibilidade destes nutrientes. Estes compostos encontram-se em
inúmeras espécies vegetais e apresentam uma elevada diversidade estrutural, dividindo-
se em dois grupos, os taninos hidrolisáveis e os taninos condensados, representados na

16
figura 1. Os taninos hidrolisáveis consistem em ácidos fenólicos simples como o ácido
gálico, esterificados com polióis, geralmente a glucose. Os taninos condensados,
também designados por pró-antocianidinas, são polímeros e oligómeros de flavan-3-óis,
podendo variar entre as 2-100 unidades monoméricas (Bourvellec, 2012).

Figura 3 - A - Estrutura de um tanino hidrolisável (β-penta-O-galloyl-D-glucose); B - Estrutura de


um tanino condensado (procianidina do tipo B) (adaptado de Bourvellec et al, 2012).

Os mecanismos de interação dos taninos variam consoante as macromoléculas e o peso


molecular dos próprios polifenóis. Em relação ao amido, identificam-se três
mecanismos: (i) os taninos competem com o amido pelas moléculas de água,
dificultando, o processo de gelificação e reduzindo a sua digestibilidade; (ii) Pro-
antocianidinas de baixo peso molecular interagem com as cadeias de amilose,
resultando na formação de complexos insolúveis e retardando o processo de
retrogradação do amido (processo de estabilização do amido após a gelatinização); (iii)
Taninos de maior peso molecular interagem diretamente com os poros dos grânulos de
amido e formam complexos de inclusão. A formação destes complexos depende da
organização helicoidal da amilose presente à superfície dos poros, pois esta facilita a
formação de interações hidrofóbicas com os taninos, que em conjunto com pontes de
hidrogénio, estabilizam a estrutura e aumentam a resistência do amido à ação
enzimática (Barros, 2012).

17
A perda de digestibilidade da proteína por ação dos taninos é particularmente
importante em alimentação animal, pois as fontes proteína são mais caras do que as de
amido. As moléculas de taninos interagem com as proteínas através da formação de
pontes de hidrogénio. Quando o mesmo tanino se liga a diferentes proteínas, forma um
agregado estável, que tende a aumentar de tamanho pela ligação de mais taninos e,
consequentemente, mais proteínas. Estes aglomerados vão bloquear eficazmente a
interação entre os centros ativos das enzimas e os seus substratos, reduzindo a
digestibilidade das frações proteicas (Bourvellec, 2012). A formação destes complexos
verificou-se mais provável na presença de proteínas ricas em prolina/hidroxiprolina,
com caracter hidrofóbico e com elevado peso molecular (Siebert, 1996).

1.3.2.2 – Glucosinolatos, glucósidos cianogénicos, glucósidos fenólicos e saponinas


Para se defenderem dos seus predadores, as plantas possuem uma ampla variedade de
metabolitos secundários que apresentam efeitos tóxicos nos animais. Dentro destes
metabolitos, encontram-se várias classes de glucósidos, compostos formados através da
associação de um açúcar, normalmente um monossacarídeo, a uma molécula de outra
natureza, a aglícona. Através da associação dos monossacarídeos, as plantas armazenam
substâncias tóxicas, como o cianeto de hidrogénio (HCN), em formas inertes, que são
libertadas após a lise celular, por ação de glucosidases citoplasmáticas (Mithofer, 2012).
Na figura 2, estão representadas as classes de glucósidos mais comuns: os
glucosinolatos, os glucósidos cianogénicos, os glucósidos fenólicos e as saponinas.

Figura 4 - Estrutura química dos principais glucósidos com propriedades anti-nutricionais,


presentes nas plantas. A – glucosinolatos; B – glucósido cianogénico (durrina); C – glucósido
fenólico (salicilina); D – Saponina (α-solanina). (Adaptado de Mithofer et al., 2012; Lindroth et al.,
1988 e Friedman, 2006)

18
Os glucosinolatos são tio-glucósidos encontrados em plantas da família das
brassicáceas, como a colza. Estes compostos são ativados pela atividade da mirosinase,
presente no citoplasma, que conduz à libertação de isotiocianatos e de nitrilos. Os
isotiocianatos são compostos amargos que reduzem a apetência das rações para frangos
e impedem a absorção de iodo pela tiróide, conduzindo a uma atividade anormalmente
elevada deste órgão, refletida na presença de hiperplasia e hipertrofia folicular. Os
nitrilos, por outro lado, são compostos tóxicos com efeito nefastos para o sistema
nervoso, fígado, rins e trato gastrointestinal. A toxicidade dos nitrilos provém da
libertação de cianeto durante o seu processo de degradação (Halkier, 2006; Francis,
2001). Os efeitos dos glucosinolatos na alimentação aviária já foram estudados, tendo-
se concluído que a sua presença conduz a perdas de peso e ao aumento de mortalidade
em frangos, enquanto em galinhas poedeiras também reduz o número e o peso dos ovos
(Tripathi, 2007).
Os glucósidos cianogénicos estão presentes em mais de 2500 plantas, nomeadamente na
linhaça e em grande parte das sementes de leguminosas. Estes glucósidos tornam-se
tóxicos quando, após a lise celular, contactam com glicosidases citoplasmáticas
libertadoras de HCN. O HCN é um composto tóxico que afeta a respiração normal, por
ligação ao ferro presente no centro ativo da hemoglobina e impedindo a ligação do
oxigénio, provocando morte por paragem cardio-respiratória. Por outro lado, o cianeto
afeta a respiração celular na mitocôndria, pois liga-se ao complexo IV, a oxidase do
citocromo-C, inibindo a ligação de oxigénio e bloqueando o fluxo de eletrões (Mithofer,
2012). Estudos demonstraram que doses não letais de glucósidos cianogénicos nas
rações retardam o crescimento em frangos e galinhas poedeiras (Arshami, 2010).
Os glucósidos fenólicos são, como o nome indica, glucósidos em que a aglícona é um
composto fenólico. Estes metabolitos constituem uma forma de armazenar compostos
fenólicos e evitar que sofram oxidação enzimática. Por outro lado, compostos fenólicos
tóxicos absorvidos pela planta são neutralizados pela ligação a um açúcar e
armazenados, podendo mais tarde funcionar como uma defesa contra animais ou insetos
herbívoros. Esta defesa consiste na perda de palatabilidade das plantas, repelindo vários
herbívoros. Nos insetos já se comprovou que elevadas concentrações destes metabolitos
conduzem a atrasos no desenvolvimento e perda de viabilidade (Boeckler, 2011).
As saponinas são metabolitos secundários da família dos glicósidos esteróides e estão
presentes em vegetais como a batata, o tomate e o feijão, onde desempenham funções
protetoras contra todo o tipo de seres vivos, desde bactérias a animais. São, portanto,

19
metabolitos tóxicos, capazes de desencadear sérios problemas gástricos e neurológicos,
consoante as concentrações ingeridas. A sua toxicidade é justificada por três
propriedades: (i) a sua ação tensioativa; (ii) a capacidade de ligar a macromoléculas;
(iii) a capacidade de inibir enzimas por ligação ao centro ativo (Itkin, 2013). A ação
tensioativa das saponinas ocorre devido à sua capacidade de impedir o transporte de
cálcio e sódio através das membranas plasmáticas. Esta ação impede a realização de
transporte ativo de outras moléculas e culmina com a rotura das membranas. A
capacidade de ligar a macromoléculas é preocupante no caso das proteínas, pois forma
complexos pouco digeríveis e reduz o valor nutricional dos alimentos. Por outro lado, as
saponinas formam complexos fortes com o colesterol e posteriormente, conduzem à
rotura das células de armazenamento destes esteróis, com efeitos negativos para os
organismos. Certas saponinas conseguem também inibir a esterase da acetilcolina e a
esterase da butirilcolina, duas enzimas que catalisam a hidrólise do neurotransmissor
acetilcolina durante as sinapses, no sistema nervoso central. Outra enzima inibida por
glucósidos esteróides é a descarboxilase da ornitina, uma enzima que promove a
formação de putrescina. Este intermediário pode, posteriormente, formar poliaminas
capazes de interagir com o ADN e afetar a divisão celular, particularmente a nível
hepático (Friedman, 2006).

1.3.2.3 – Fitatos
Os fitatos, ou hexafosfatos de mio-inositol, são compostos comuns nas sementes das
plantas, onde funcionam como reservas de fósforo. A utilização destas reservas implica
a presença de uma enzima, a fitase, que hidrolisa ligações fosfo-monoester libertando
ortofosfatos inorgânicos. Contudo, os animais monogástricos não possuem esta enzima
e são incapazes de obter iões fosfato a partir deste substrato (Mullaney et al, 2003).
Na ausência da fitase, os fitatos funcionam como agentes quelantes de iões di- e
trivalentes, nomeadamente, Mg2+, Ca2+, Zn2+, Cu3+ e Fe3+, impedindo que sejam
absorvidos pelo organismo. Os fitatos, quando associados a Mg2+, Ca2+, podem ainda
associar-se a lípidos e a resíduos básicos de péptidos (lisina, histidina e arginina),
formando complexos. Nos complexos com péptidos, a fração proteica tende a organizar-
se em torno das cargas negativas do ião fitato, formando um agregado macromolecular
mais difícil de digerir, enquanto com os lípidos ocorre a formação de tensioativos
metálicos que também influenciam negativamente a digestão. A presença de fitatos na
alimentação de frangos demonstrou uma diminuição na assimilação de aminoácidos e

20
minerais. Noutros animais, a presença dos fitatos resultou em carências nutricionais,
que por sua vez, levam a perdas de peso e a problemas na tiróide, rins e trato
gastrointestinal dos animais (Selle et al., 2007; Selle et al., 2012).

1.3.2.4 – Lectinas
As lectinas vegetais são proteínas que pertencem à família das fitohemoglutininas e
podem encontrar-se na maioria das sementes de leguminosas. Estas proteínas têm a
capacidade de reconhecer e de se ligar a estruturas repetitivas de monossacarídeos, com
resíduos terminais de manose, N-acetil-glucosamina e D-galactose. Desta forma, podem
interagir com glicoproteínas e glicopéptidos, presentes nas membranas de fungos,
bactérias e das paredes intestinais, desencadeando fenómenos apoptóticos. Apesar das
lectinas serem proteínas, a sua estrutura confere-lhes alguma resistência à ação
proteolítica das enzimas intestinais (Douglas et al. 1999, Francis et al., 2001, Rudd et
al., 2001). A atividade das lectinas no intestino delgado afeta múltiplos processos
metabólicos do intestino e causa danos morfológicos nas vilosidades. No caso das
lectinas da soja, ocorre uma ligação extensiva à superfície estriada do intestino delgado,
causando danos graves na mucosa e nas microvilosidades. Devido às lesões no epitélio
intestinal, verifica-se uma grande diminuição na quantidade de vacúolos absortivos,
uma diminuição do tamanho das microvilosidades dos enterócitos e um aumento da
densidade de células caliciformes. Estas últimas são responsáveis pela produção de
mucina, que quando produzida em excesso surge como marcador de danos
morfológicos. A atividade das lectinas também afeta outras partes do organismo,
nomeadamente, provocam a depleção dos lípidos armazenados no tecido adiposo,
promovem o aumento do volume do fígado e levam à perda de tecido muscular. Os
efeitos das lectinas nos animais passam pela redução do apetite devido às lesões nos
enterócitos intestinais, que por sua vez causa uma redução das taxas de crescimento e de
aproveitamento da ração (Douglas et al., 1999).

1.3.2.5 – Outros fatores anti-nutricionais variados


Os fatores anti-piridoxina (vitamina B6) são, geralmente, compostos com grupos amina
livres, com estruturas análogas à hidrazina, como a mimosina e a linatina, presentes nas
leguminosas e na linhaça, repetivamente. Estes compostos são capazes de reagir com a
piridoxina, formando hidrazonas. Estas vão impedir a formação de piridoxal fostafato,
uma co-enzima fundamental para diversas reações do metabolismo de aminoácidos,
nomeadamente, transaminações, descarboxilações e desaminações. Para além do papel

21
na formação do piridoxal-fosfato, outras funções da piridoxina são afetadas,
nomeadamente, a sua atividade antioxidante, anti-inflamatória e ainda o seu papel no
metabolismo do colesterol. As principais desordens metabólicas associadas à inibição
da piridoxina são a necrose e esteatose hepática e problemas no metabolismo dos
aminoácidos, principalmente da metionina (Mayengbam et al., 2014; Mayengbam et al.,
2015).
Distribuídos entre as espécies vegetais encontram-se vários inibidores de enzimas
digestivas como a tripsina, a quimotripsina, as carbopeptidases, a elastina ou a α-
amilase. Estes inibidores enzimáticos permitem, simultaneamente, reduzir a
digestibilidade da fração proteica dos alimentos e impedir que fatores anti-nutricionais
como as lectinas sejam degradados. Atualmente, a soja é a principal fonte de proteína
em alimentação animal, contudo, também é a maior fonte de inibidores de tripsina.
Estes são péptidos que se distribuem em duas categorias: os inibidores Kunitz e os
inibidores Bowman-Birk. Os primeiros têm uma massa molecular de 21,5 kDa,
possuem duas pontes dissulfeto e atuam especificamente sobre a tripsina, enquanto os
inibidores Bowman-Birk, com apenas 8 kDa e uma elevada proporção de pontes
dissulfeto, conseguem inibir tanto a tripsina como a quimotripsina. Os efeitos negativos
destes inibidores passam pelo aumento da libertação de proteases pancreáticas,
acompanhado por hipertrofia e hiperplasia do pâncreas. Devido à riqueza destas
proteases em aminoácidos sulfurados, a sua sobre-expressão implica a mobilização de
metionina e cisteína a partir do resto do organismo, podendo desencadear novos
desequilíbrios (Gilani et al., 2012).
O ácido erúcico é um ácido gordo ómega-9 monoinsaturado (22:1ω9) que constitui
cerca de 50% do teor total de ácidos gordos nos cultivares mais antigos de colza. Este
ácido gordo não é completamente metabolizado pelo músculo cardíaco e, por esse
motivo, dietas ricas em ácido erúcico são responsáveis por: lesões a nível do miocárdio;
acumulação anormal de gordura nos tecidos animais; diminuição no ganho de peso do
animal. Atualmente, a maior parte das cultivares de colza apresentam teores de ácido
erúcico inferiores a 2% (Nesi et al., 2008).
A ervilhaca é uma leguminosa nutricionalmente interessante, contudo, possui duas
toxinas particularmente letais para o setor aviário, a β-cianoalanina e a γ-glutamil-β-
cianoalanina. Estas toxinas inibem a via da trans-sulfuração e impedem a interconversão
entre cisteína, homocisteína e metionina. Deste modo, afetam a disponibilidade de
aminoácidos sulfurados obtidos através da dieta, já limitantes nas leguminosas. A

22
adição de ervilhaca sem qualquer tratamento provocou um aumento na mortalidade de
frangos, uma diminuição de 33% na taxa de crescimento de pintos e reduziu a postura
de ovos em galinhas poedeiras (Darre et al., 1998).

1.3.3 – Alimentação na Época de Concursos


A época de concursos é, a nível fisiológico, a que exige mais do pombo-correio. Nos
esforços mais curtos e intensos, a energia provém principalmente das reservas de
glicogénio hepático e muscular, o que é comprovado pelos picos de glucose verificados
no plasma de indivíduos logo após conclusão destas provas. Após 1-2 horas de voo, a
obtenção de energia passa a depender essencialmente da mobilização de lípidos de
reserva, através da oxidação de glicerol e de ácidos gordos, principalmente 16:1, 18:1 e
18:2. Com o aumento da duração dos voos (4-5 horas), há um pico intenso na produção
de corpos cetónicos, principalmente de β-hidroxibutirato, que vai promover a poupança
da glucose ainda presente no organismo, assim como evita a mobilização de alanina e a
catálise proteica. Ao evitar a degradação proteica, o organismo não compromete o
transporte plasmático de lípidos, assegurado por lipoproteínas, permitindo uma
mobilização contínua e eficiente. Por outro lado, o transporte de ácidos gordos para a
mitocôndria depende da presença de L-carnitina, cujo precursor é a lisina. Contudo, a
partir das 5-6 horas de voo as reservas de lípidos esgotam-se, e os aminoácidos surgem
como o principal motor energético, a partir de vias glicogénicas, o que resulta no
aumento da produção de ácido úrico (Schwilch, 1996; Hullár, 2008).
O caráter insaturado dos ácidos gordos, presentes nos lípidos de reserva, tornam-os mais
suscetíveis a fenómenos de oxidação lipídica. Através da análise do plasma de pombos
sujeitos a longos percursos, foi comprovado um aumento da quantidade de metabolitos
reativos de oxigénio, principalmente hidroperóxidos, não acompanhado pelo aumento
da capacidade antioxidante do plasma, gerando-se um ambiente de elevado stresse
oxidativo. Nestas condições justifica-se o recurso ao catabolismo dos aminoácidos, uma
vez que o ácido úrico resultante possui propriedades antioxidantes, podendo
proporcionar uma defesa extra nos voos longos. A idade dos pombos também influencia
a capacidade de resposta aos fenómenos oxidativos, com os pombos mais velhos a
esgotarem mais rapidamente as suas reservas de compostos antioxidantes. (Constantini,
2008a; Constantini, 2008b).
Na tabela 7 estão apresentadas diferentes rações produzidas especificamente para a
época de concursos, podendo-se constatar alguma variabilidade na composição

23
nutricional, consoante as marcas.

Tabela 7 - Composição nutricional de diferentes rações comerciais e de formulações sugeridas na


literatura, para pombos-correios, desenvolvidas especificamente para a época de concursos.

%
Marca e Designação do Produto Proteína Matéria Cinza
Fibra
bruta Gorda bruta
Gerry Plus I.C.+ VLGP 10,5 9,0 7,5 2,5
Superstar Plus I.C.+ VLSP 14,0 8,0 6,0 3,0
Versele-laga (Bélgica)
Champion Plus I.C.+ VLCP 14,5 9,0 7,0 2,5
Energy Plus I.C.+ VLEP 21,5 24,5 12,0 4,0
Vanrobaeys (Bélgica) Exclusive Racing VBRE 15,0 8,7 6,0 -
Jacques Freydiger - Mistura Para Concursos JFMC 16,7 6,8 6,0 2,8
Pombos Concursos OVGC 12,0 4,9 4,1 2,2
Ovargado (Portugal)
Pombos Super Concurso OVGS 13,0 8,7 5,8 2,6

A Versele-Laga, uma empresa de topo, apresenta um produto rico em hidratos de


carbono, em prol da proteína (VLGP), apropriado para provas de velocidade, assim
como produtos de composição intermédia, (VLSP e VLCP), com um equilíbrio de
proteína e lípidos, mais apropriados para provas de meio-fundo (Superstar Plus &
Champion Plus). Além destas opções, disponibilizam ainda uma ração muito reforçada
em proteína e lípidos, apropriada para as provas de resistência (VLEP). Esta é
acompanhada por uma maior quantidade de compostos minerais, visível nos teores de
cinza bruta, e de fibra. Este balanço entre fibra e minerais será fundamental para
garantir um bom funcionamento do trato gastro intestinal do animal, enquanto o elevado
teor de proteína ajuda a manter a massa muscular e a mobilizar/armazenar os ácidos
gordos. A Vanrobaeys apresenta a mistura VBRE que, tal como as rações VLCP e
VLSP, possuí teores de proteína e de matéria gorda elevados, quando comparados à
dieta normal (descrita em Sales et al., 2003). Estes teores são adequados para provas de
distâncias intermédias e longas. A formulação JFMC, sugerida na literatura, indica um
rácio proteína/matéria gorda mais elevado que as rações Versele-Laga, mas mantendo
um teor de lípidos ainda considerável, podendo ser particularmente benéfica na
preparação para provas de meio-fundo. A Ovargado apresenta duas variedades distintas,
uma mais rica em lípidos e proteína (OVGS), e outra com teores mais reduzidos destes
nutrientes, compensando no aumento de hidratos de carbono (OVGC). Ambas as rações

24
têm uma menor quantidade de proteína, podendo comprometer o desempenho do animal
nas provas de fundo e meio-fundo. Por outro lado, têm maior quantidade de cereais e
portanto, de hidratos de carbono, tornando-as mais apropriadas para provas de
velocidade.
Na figura 5 é feita uma comparação das rações com base nas sementes, granulados ou
extrusados que as compõem.

80

70

60
OVG Concurso
50 VL Concursos
40 VB Concursos
%

30

20

10

0
Leguminosas (%) Cereais (%) Oleoginosas (%) Granulado / Extrusado
(%)

Figura 5 - Proporção das diferentes classes de sementes nas misturas para concursos das marcas
Ovargado (OVG), Versele Laga (VL) e Vanrobaeys (VB).

Através da análise da figura entende-se que a discrepância nos teores de proteína e


matéria gorda entre a mistura OVGC e as misturas VBER e VLCP, deve-se
principalmente, à falta de sementes oleaginosas e ao excesso de cereais. Esta diferença
leva a que a mistura OVGC tenha menor valor energético e um possível défice de
vitaminas lipossolúveis. Em relação às misturas VBER e VLCP, verificou-se que a
VLCP tem menor quantidade de leguminosas e de oleaginosas, contudo, possuí
granulados e extrusados de composição desconhecida que compensam esse défice.

1.3.4 – Alimentação do Período da Muda de Pena


A muda de pena consiste no processo em que o pombo-correio, à semelhança das
restantes aves, procede à troca progressiva das suas penas corporais. Em columbofilia
este fenómeno assume particular importância, uma vez que uma muda inadequada
conduz a penas de pior qualidade, comprometendo seriamente a próxima jornada

25
desportiva. A muda é muito exigente do ponto de vista fisiológico e só se inicia quando
o animal se encontra em bom estado de saúde e com reservas energéticas adequadas.
Animais debilitados tardam a iniciar o processo e dispõem de menos tempo para o
executar, resultando em penas primárias de pior qualidade, apresentando maior rigidez,
menor peso, menor comprimento e ráquis mais estreitas (Dawson, 2000; Freydiger,
1984).
As penas são estruturas compostas por cerca de 95% de proteína, principalmente
queratina com uma estrutura bastante homogénea, baixo peso molecular (10.400 kDa) e
rica em serina (15,1%), glicina (13,9% e cisteína (8,2%). Em certas espécies de aves, as
penas podem representar até cerca de 30% do peso corporal, o que torna a mobilização
de proteína associada à muda, num processo muito exigente (Gregg, 1986; Saino,
2013). A extensa vascularização das penas também é um fator relevante, pois implica
que durante este processo o animal aumente a atividade hematopoiética. Contudo, a
análise dos parâmetros bioquímicos do plasma revelou baixos níveis de eritrócitos, que
por sua vez, são deficientes em hemoglobina, o que suporta a conclusão de que a
produção das penas consome a maior parte da proteína ingerida, comprometendo outros
processos. Por outro lado, a queda das penas deixa o animal desprotegido e conduz a
maiores gastos energéticos com regulação térmica (Kasprzak, 2006). As diferentes
rações para a muda de pena estão apresentadas na tabela 8.

Tabela 8 - Composição nutricional de diferentes rações comerciais para pombos-correios e de


formulações sugeridas na literatura, desenvolvidas especificamente para a época da muda.

%
Marca e Designação do Produto Proteína Matéria Cinza
Fibra
bruta Gorda bruta
Versele-laga Mutine Plus I.C.+ VLMP 16,5 6,5 5,0 3,0
Vanrobaeys Exclusive Moulting VBEM 15,8 9,1 6,5 -
Jacques Freydiger, 1984 - Mistura Para Muda JFMM 16,6 8,5 6,3 8,5
Ovargado Pombos Muda OVGM 13,0 5,5 4,2 2,3

Tal como nas rações dirigidas à época de concursos, a Versele Laga (VLMP), a
Vanrobaeys (VBEM) e a literatura (JFMM) fornecem as rações/formulações que melhor
se adequam às exigências deste período, enquanto a OVGM será a menos apropriada.
Atendendo às necessidades de proteína durante a muda e ao fato desta fase condicionar
a síntese proteica em todo o organismo, dietas mais pobres em proteína serão menos

26
eficientes. Por outro lado, fornecer maior quantidade de lípidos pode promover a
acumulação de tecido adiposo e funcionar como mecanismo de insolação, diminuindo
os gastos energéticos na termorregulação, e promovendo a performance dos animais.
A figura 6 permite fazer a comparação das misturas para a época da muda, das
diferentes marcas, com base nas sementes, granulados ou extrusados que as compõem.

80

70

60
OVG Muda
50
VL Muda
40
%

VB Muda

30

20

10

0
Leguminosas (%) Cereais (%) Oleoginosas (%) Granulado /
Extrusado (%)

Figura 6 - Proporção das diferentes classes de sementes nas misturas para muda das marcas
Ovargado (OVG), Versele Laga (VL) e Vanrobaeys (VB).

Aqui verifica-se que a grande discrepância no teor de lípidos entre as misturas OVGM e
VBMP e a VBEM se deve exclusivamente ao conteúdo em sementes oleaginosas.
Contudo, a mistura VBMP compensa o menor teor de oleaginosas com os extrusados e
granulados e, portanto, consegue manter os valores de proteína elevados, ao contrário
das misturas OVGM.

1.3.5 – Alimentação no Período de Criação


O período de criação engloba diferentes etapas, na sua maioria partilhadas por ambos os
progenitores, como o acasalamento, a construção do ninho, a incubação e a
alimentação/criação da ninhada. Por outro lado, a ovulação e a postura dos ovos só
dependem das fêmeas. Em columbofilia, muitos criadores evitam que os seus pombos
(aptos para competição) procriem, pois esta atividade implica um elevado investimento

27
energético. Deste modo, o animal não produz reservas de glicogénio nem desenvolve
tecido adiposo, comprometendo o desempenho desportivo, por outro lado, encurta o
período disponível para treinos de preparação para concursos. (Landercy, 1967).
Diferenças verificadas durante as fases do período de criação, relativamente à massa
corporal e a parâmetros bioquímicos do plasma estão apresentados na tabela 9.

Tabela 9 - Parâmetros bioquímicos do plasma de Columba livia durante as diferentes etapas do


período de criação, assim como da época pré-criação (adaptado de Gayathri et al., 2004)

Sem Construção Incubação Incubação Criação da


Parâmetro Acasalamento
Criar do Ninho - Início - Final Ninhada
Massa Corporal (g) 287,0 270,0 301,0 294,0 290,0 264,0
Proteína (g/L) 33,0 34,7 37,7 32,3 22,8 32,0
Colesterol (mM) 6,0 4,6 5,6 4,6 5,6 5,9
Glucose (mM) 15,5 18,1 15,2 16,9 15,2 22,1
Potássio (mM) 4,1 2,4 3,1 3,7 3,9 3,7
Cálcio (mM) 2,2 0,9 1,9 2,6 2,3 1,8

Em relação ao período de acasalamento, verifica-se uma perda de peso que é justificada


com as mudanças comportamentais durante o cortejamento e com a recrudescência dos
órgãos genitais, que implicam um aumento das taxas metabólicas e, consequentemente,
do consumo de energia. Durante a construção dos ninhos, não ocorrem grandes
alterações, sendo que o aumento de peso e de proteína poderão ser uma forma de ganhar
reservas para as próximas etapas. Entre o início e o fim da incubação verifica-se uma
grande diminuição nos teores de proteína que coincidem com o início da produção do
LP. Na etapa final observam-se as maiores variações, indicando que a criação da
ninhada é altamente exigente, muito por causa da produção contínua de LP, e conduz à
perda de massa corporal. Os teores plasmáticos de cálcio diminuem significativamente
enquanto os de glucose aumentam, refletindo a atividade da prolactina, que por sua vez
está associada à produção do LP. No caso das fêmeas da espécie, é também necessário
considerar os períodos antes e após a postura dos ovos. Pouco antes da postura dos ovos
as principais alterações verificadas foram o aumento dos teores de hemoglobina,
coincidentes com o aumento de proteína total, e o aumento dos níveis de sódio. Após a
postura verificam-se quebras elevadas na proteína, triglicerídeos, cálcio, fósforo e
colesterol plasmáticos, pois começam a ser mobilizados para a produção do novo ovo
(Gayathri, 2004; Gayathri, 2006; Dong, 2013). Noutro estudo foi verificado que a

28
variação entre uma dieta normal e uma dieta nutricionalmente pobre, pouco afetou a
produção média de ovos, assim como também não reduziu os teores de antioxidantes
hidro e lipossolúveis. Houve, contudo, efeitos no animal, que quando submetido a uma
alimentado mais pobre, perdeu consideravelmente mais peso (Constantini, 2010).
A tabela 10 apresenta as rações encontradas no mercado e dirigidas a esta fase do ano.
Para estas misturas, todas as marcas reconhecem a necessidade de teores elevados de
proteína, usada tanto para a produção de LP como para a produção do ovo. Também
seria expectável que os teores de matéria-gorda fossem altos, pois a produção da gema
do ovo pelas fêmeas e a produção do LP implicam uma elevada quantidade de lípidos,
contudo, as rações analisadas possuem valores surpreendentemente baixos. Os teores de
cinza, onde estão refletidos os teores de cálcio e outros minerais, são semelhantes entre
os diferentes produtos.

Tabela 10 - Composição nutricional de diferentes rações comerciais para pombos-correios,


desenvolvidas especificamente para a época de criação.

%
Marca e Designação do Produto Proteína Matéria Cinza
Fibra
bruta Gorda bruta
Versele-laga Cria Start Plus I.C.+ VLCS 16,5 5,5 5,5 2,5
Vanrobaeys Breeding Exclusive VBBE 14,4 6,4 6,3 -
Ovargado Pombos Criação OVGB 15,0 4,2 4,5 2,4

Atendendo que o pombo-correio selvagem deve ingerir entre 16-18% de proteína


durante o período de criação, seriam de esperar alimentos comerciais mais nutritivos e
ricos em proteína. Esta opinião deve-se ao fato dos pombos-correios para competição
necessitarem, simultaneamente, de alimentar bem as suas crias e de manter a sua forma
física, evitando que as prestações desportivas da época seguinte sejam comprometidas.
Tal poderá não ser possível com os teores nutricionais disponibilizados (Sales et al.,
2003).
As diferenças nas matérias-primas utilizadas pelas marcas nas diferentes misturas
dedicadas ao período de criação estão evidenciadas na figura 7.
Este período apresentou variações mais reduzidas, entre as três marcas, do que os
períodos já analisados, ainda assim, verificou-se que a ração VBBE, mas rica em
lípidos, possuí teores mais elevados de oleaginosas, enquanto as rações OVGB e VLCS,
mas ricas em proteína, têm teores de leguminosas mais elevados. A ração VLCS é ainda

29
valorizada pela presença de granulados e extrusados, que correspondem a 6% do
produto.

60

50

40

OVG Criação
30
%

VL Criação
VB Criação
20

10

0
Leguminosas (%) Cereais (%) Oleoginosas (%) Granulado /
Extrusado (%)

Figura 7 - Proporção das diferentes classes de sementes nas misturas para criação das marcas
Ovargado (OVG), Versele Laga (VL) e Vanrobaeys (VB).

1.3.6 – Alimentação no Período de Defeso


O período de repouso ocorre durante o inverno e permite ao pombo-correio recuperar a
sua forma física, repor níveis de oligoelementos, e atenuar efeitos do stresse oxidativo
acumulado durante os concursos e a muda. Nesta época pode permitir-se ao pombo
adquirir algumas reservas de gordura que o ajudam a suportar o rigor do Inverno.
Na tabela 11 estão apresentadas as composições nutricionais de diferentes formulações
desenvolvidas para o período de defeso. Todas as rações consideradas partilham baixos
teores de proteína e gordura, contudo, os valores encontram-se dentro dos teores
mínimos descritos na revisão de Sales et al., 2001. Por outro lado, a informação
recolhida nos rótulos dos produtos não discrimina os teores de micronutrientes, que ao
contrário da proteína e da matéria gorda, não devem sofrer diminuições.
Neste grupo, vemos que as rações OVGDM e OVGD são nutricionalmente muito
próximas. A Versele Laga por sua vez, dispõem de duas variedades para a época do
defeso, a VLWP, direcionada para o inverno e muito semelhante as rações já referidas,
exceto nos teores de fibra, que são duas vezes superiores. A ração VLDD assemelha-se

30
a formulação JFMC, com os teores de proteína mais elevados de todas as misturas
analisadas, mantendo teores também razoáveis de matéria gorda. Por último, temos a
mistura VBCD, esta apresenta valores de proteína comparáveis às opções da Ovargado
e teores de lípidos semelhantes à misturas da Versele Laga e da bibliografia (Landercy,
1967, Freydiger, 1984).

Tabela 11 - Composição nutricional de diferentes rações comerciais para pombos-correios,


desenvolvidas especificamente para o período de defeso.

%
Marca e Designação do Produto Proteína Matéria Cinza
Fibra
bruta Gorda bruta
Dieta- Depure Plus I.C.+ VLDD 12,5 6,5 6,0 3,0
Versele-Laga
Inverno- Winter Plus I.C.+ VLWP 11,0 6,5 8,0 3,0

Vanrobaeys Casaert Depurative VBCD 11,0 6,3 6,0 -

Pombos Depurativa s/milho OVGDM 11,0 4,2 4,2 4,1


Ovargado
Pombos Depurativa OVGD 11,0 4,0 4,1 2,1
Jacques Freydiger - Mistura Para Defeso JFMD 12,2 5,8 4,2 2,1

Apesar da pequena variabilidade entre a composição nutricional das diferentes misturas


para o período de defeso, na figura 8 encontram-se algumas diferenças que corroboram
a composição nutricional apresentada anteriormente.

100
90
80
70 OVG Depurativa
60 VL Depurativa
50 VB Depurativa
%

40
30
20
10
0
Leguminosas (%) Cereais (%) Oleoginosas (%)Granulado / Extrusado (%)

Figura 8 - Proporção das diferentes classes de sementes nas misturas depurativas das marcas
Ovargado (OVG), Versele Laga (VL) e Vanrobaeys (VB).

31
As rações VLDD e VBCD apresentam os valores mais elevados de lípidos, uma vez
que também possuem uma maior quantidade de oleaginosas do que a mistura OVGD.
Em relação à proteína também constata-se que a mistura VLDD possuí valores mais
elevados. Como a única diferença está nos granulados e extrusados, é possivel reforçar a
ideia já defendida nas misturas anteriores e reafirmar que estes componentes são
responsáveis pelo aumento dos teores de proteína. Entre a mistura OVGD e VBCD, os
teores de proteína são semelhantes pois a proteína que a VBCD retira das sementes
oleaginosas é compensado na mistura OVGD, através dos cereais e da ligeira
quantidade de leguminosas.

1.4 – Subprodutos na Indústria das Rações


A indústria das rações serve-se de vários subprodutos da indústria alimentar humana,
como as sêmeas de cereais, a farinha de bolacha e os bagaços de oleaginosas. Estes
subprodutos não são fornecidos diretamente aos animais, sendo a sua incorporação feita
através de alimentos farinados, granulados ou extrusados.
Na tabela 12 estão representados os subprodutos, assim como algumas matérias-primas,
comuns na indústria da alimentação animal mas que não são encontradas nas misturas
para pombo-correio.
Do leque apresentado, o maior destaque vai para a soja integral, pois possuí uma
elevada quantidade de proteína, que por sua vez é rica em lisina, permitindo compensar
as carências deste aminoácido nos cereais. O seu uso em columbofilia é quase nulo pois
esta oleaginosa possui fatores anti-nutricionais, como as lectinas e os inibidores de
tripsina, que dificultam a digestão e assimilação da proteína. Contudo, através do
processo de extrusão é possível desnaturar estas proteínas e péptidos que constituem os
fatores anti-nutricionais e tornar viável a incorporação da soja nas rações. A sua
incorporação, no entanto, tem de ser reduzida, pois a sua fração lipídica é muito elevada
e, através da redução das forças de atrito dentro do equipamento, dificulta o processo de
extrusão (Moscicki, 2009). Para contornar este problema pode-se optar por utilizar o
bagaço de soja na extrusão e adicionar à posteriori óleo de soja. A adição destes
subprodutos em etapas diferentes permite desnaturar os fatores anti-nutricionais da soja
e, em simultâneo, evitar que a sua fração lipídica, constituída por triacilgliceróis muito
ricos em ácidos gordos omega-3, sofra desterificação com as temperaturas e pressões do
32
processo, promovendo oxidação dos ácidos gordos livres e conduzindo à formação de
complexos com proteínas e polissacarídeos (McDonald et al., 2010, Singh et al., 2007).
Os bagaços de colza e girassol são outros exemplos de subprodutos usados na
alimentação animal que podem ser aplicados em columbofilia. A colza é uma boa fonte
de proteína para o período da muda devido à riqueza em aminoácidos sulfurados. A
proteína presente tem boa digestibilidade, oscilando entre 70-80%, e após a extrusão,
devido à inativação de fatores anti-nutricionais, torna-se ainda melhor. Em relação ao
bagaço de girassol é possivel constatar que também é rico em proteína e nos
aminoácidos metionina e cisteína. Este subproduto, no entanto, tem um teor de fibra
muito elevado, condicionando a sua utilização na alimentação aviária. Mesmo com a
degradação de alguns polissacarídeos durante a extrusão e com o aumento da porção de
fibra solúvel, o uso de bagaço de girassol deve ser moderado (Guy et al., 2001).

Tabela 12 - Aspetos nutricionais das principais matérias-primas que integram a composição dos
extrusados (Adaptado de Mulrooney et al., 2009; Blas et al., 2010; Marcondes et al. 2009).
(*produto obtido após extração do óleo)

Matéria- Proteína % da Proteína Matéria Amido +


Fibra (%)
prima Bruta (%) Lisina Met+Cis Gorda (%) Açúcares (%)
Soja
37 6,2 2,6 9,3 18 6,0
Integral

Colza 34 4,5 3,9 29 4,0 8,0


(bagaço*)

Girassol 32 3,5 4,0 42 2,2 5,9


(bagaço*)

Soja 44 6,2 2,6 13 1,9 7,5


(Bagaço*)

Aveia
14 4,2 4,7 6,9 3,4 53
S/casca
Sêmea de
14 4,0 3,6 9,0 3,6 23
Trigo

Sêmea de
14 4,7 3,4 7,7 14 32
Arroz

Trinca de
7,5 3,8 4,7 1,0 1,2 73
Arroz

Farinha de
Dependem do tipo de bolacha; Proteína ronda os 10% 50-60
Bolacha

33
Os subprodutos de cereais como a sêmea de trigo e a sêmea de arroz são boas fontes de
minerais e fibra. Estes subprodutos são também mais ricos em proteína mas a remoção
de amido torna-os menos energéticos. Analisando individualmente, é possivel constatar
que a sêmea de trigo compensa a falta de energia com um elevado teor em minerais e
vitaminas do complexo B, excepto B9 e B12. Por outro lado, a sêmea de arroz tem maior
quantidade de lípidos e menos fibra, o que a torna num alimento mais adequado do que
a sêmea de trigo para columbofilia (Mello et al., 2009).
A aveia é um dos cereais mais ricos em proteína e em lisina, contudo, o seu uso em
columbofilia é reduzido. O seu valor energético é superior ao do milho devido à maior
riqueza em lípidos e, portanto, tem interesse em misturas para a época de concursos. Na
extrusão, tanto a aveia como a trinca de arroz fornecem amido, este é necessário para
que ocorra gelatinização e expansão. A principal desvantagem do uso de aveia é o
elevado teor de fibra, para um cereal. Esta fibra é particularmente rica em β-glucanas e
pode provocar um aumento da viscosidade no trato gastro intestinal das aves. Deste
efeito pode resultar uma diminuição da ingestão de alimento e da absorção de outros
nutrientes, afetando, principalmente, o crescimento de aves jovens (Blas et al., 2010).

1.4.1 – Subprodutos Fibrosos na Indústria das Rações


Os alimentos compostos dirigidos ao setor aviário são caracterizados por teores de fibra
reduzidos. Ainda assim, é fundamental garantir teores adequados deste nutriente nos
alimentos.
A fibra dietética (FD) consiste numa mistura complexa de polissacarídeos não
amiláceos (PNA), tipicamente encontrados na parede celular das plantas e capazes de se
associarem a uma variedade de outros compostos, nomeadamente, proteínas, lenhinas,
ácidos gordos ou ceras. Os efeitos fisiológicos da FD estão implicitamente ligados à sua
estrutura e às interações químicas que estabelece, sendo a propriedade com maior
relevância, a solubilidade. É a partir desta que se faz a principal divisão na FD,
distinguindo-se entre PNA solúveis e PNA insolúveis. Os primeiros envolvem PNA de
baixo peso molecular, alguns associados a grupos carboxilo, amina ou sulfato, como as
pectinas, o alginato, as β-glucanas, a inulina e algumas hemiceluloses semi-solúveis,
que apresentam um papel ativo na regulação do processo digestivo e na absorção de
nutrientes solúveis. A fração insolúvel envolve a lenhina e PNA como a celulose, as
xilanas, as arabinoxilanas, as mananas e as xiloglucanas. Estas contribuem para o
aumento do volume fecal, o aumento do trânsito intestinal e também diluem os

34
conteúdos do cólon (Knudsen, 2001; Elleuch et al., 2011). Para a alimentação animal, é
mais comum fazer a distinção entre fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em
detergente ácido (FDA). A FDN compreende a fração dos hidratos de carbono
insolúveis que constituem a matriz celular vegetal, incluindo principalmente a celulose,
hemiceluloses como as xilanas, arabinoxilanas, mananas, galactomanas e lenhina, e
constituí a melhor forma de estimar a ingestão de fibra e os seus efeitos no trato
gastrointestinal. A FDA corresponde à fração da FDN que não é solúvel num detergente
ácido e envolve celulose, lenhina, nitrogénio insolúvel em detergente ácido e cinza
insolúvel. Contudo, este parâmetro não constitui uma medição válida para previsões
nutricionais e de digestibilidade (Van Soest, 1991).
As aves de modo geral são incapazes de metabolizar PNA e possuem uma microflora
pouco desenvolvida, devido ao curto trato gastro intestinal, limitando a quantidade de
energia obtida via fermentação microbiana. Por este motivo, a inclusão de fibra nos
alimentos avícolas não promove diretamente o aumento de peso e é geralmente
interpretada como uma diluição de outros nutrientes. Existem, contudo, estudos
defendem a importância da inclusão moderada de FA no alimento avícola devido ao
efeito estimulante na moela, em particular pela fibra mais insolúvel, e ao efeito benéfico
sobre a microflora, dificultando a propagação de espécies patogénicas (Amerah, 2009).
No entanto, em columbofilia, o objetivo não passa pelo aumento de peso do animal, mas
sim, pela melhor prestação desportiva.
De modo a fornecer teores equilibrados de fibra é comum recorrer a matérias-primas
como as palhas, as cascas de vegetais ou certos bagaços de espécies vegetais. Estas
matérias-primas são adicionadas em baixas quantidades e a sua qualidade depende
muito dos teores nos restantes nutrientes, principalmente em proteína (Jorgensen, 1996).
A figura 9 descreve os teores de fibra, proteína bruta e proteína digerível, das principais
fontes de fibra utilizadas a nível ibérico, na alimentação animal.
A palha de cereais e o bagaço de uva são alimentos ricos em fibra pouco digerível e
pobres noutros hidratos de carbono. A proteína destes alimentos está maioritariamente
associada à parede celular, justificando a baixa digestibilidade. No caso do bagaço de
uva, apesar do teor de proteína bruta ser mais elevado, verifica-se a presença de taninos
condensados que reduzem a digestibilidade da proteína. A casca de soja é um alimento
muito rico em fibra pouco lenhificada e pobre noutros hidratos de carbono. O seu teor
de proteína é razoável, embora uma parte esteja associada à parede celular, justificando
a digestibilidade moderada. A fibra presente na luzerna possui um bom equilíbrio entre

35
as frações solúveis, insolúveis e lenhificadas. A riqueza em fibras solúveis, facilmente
fermentáveis pela microflora de todas as espécies, tem efeitos benéficos a nível
intestinal. A digestibilidade da proteína ronda os 60%, devido à presença de taninos
condensados. A alfarroba, por sua vez, é um alimento com um conteúdo de fibra baixo,
mas o teor de lenhina é muito elevado, superior a 20%. Possuí ainda uma quantidade de
açúcares livres muito elevada, com cerca de 35%. Tal como na luzerna, a presença de
taninos condensados reduz a digestibilidade da sua proteína. Os bagaços de citrinos e de
beterraba possuem uma quantidade elevada de açúcares solúveis e um teor moderado de
fibras. Estas encontram-se pouco lenhificadas e contêm muitos PNA solúveis. A
proteína está presente em baixas quantidades e mais de metade está associada à parede
celular ou a lenhina diminuindo a sua digestibilidade (Blas & Wiseman, 2010).

40

35
Fibra
30
Proteína Bruta
25 Proteína digerível
g/kg de MS

20

15

10

0
Palha de Casca de Bagaço de Luzerna Alfarroba Bagaço de Bagaço de
cereais soja uva citrinos beterraba

Figura 9 - Perfil nutricional em termos de fibra, proteína bruta e proteína digerível em 7 alimentos
fibrosos usados no fabrico de alimentos compostos para animais (adaptado de Blas, 2010).

1.4.2 – Subprodutos da Indústria do Processamento da Maçã


Em 2012, os 24 maiores produtores mundiais de maçã comercializaram cerca de
67.052.741 toneladas de fruto (FAO). Apesar de uma porção considerável estar
destinada ao consumo direto, a maioria é processada para a obtenção de sumos,
concentrados, cidras e geleias. Destas indústrias resultam como subprodutos o bagaço
de maçã, que corresponde a 20-30% do peso total de fruta processada, e o retentato de
maçã, obtido durante processos de ultrafiltração dos sumos e concentrados (Dhillon,

36
2013; Yazdanshenas et al., 2005). O retentato está pouco estudado e pela falta de
bibliografia, supõem-se que seja maioritariamente descartado. O bagaço, por outro lado,
pode ser utilizado como fertilizante ou alimento animal, embora na maior parte dos
casos, é descartado para aterros ou para compostagem. Tal comportamento apresenta
riscos ecológicos associados à degradação e ao crescimento microbiano, como por
exemplo, a produção de gases com efeitos de estufa, a libertação de odores
desagradáveis, a contaminação de cursos de água ou o desenvolvimento de agentes
patogénicos. Outro aspeto negativo para as empresas, são os custos do transporte,
despejo e tratamento dos resíduos em aterro (Dhillon, 2013).
O baixo teor do bagaço em proteína e vitaminas tem limitado o seu uso na alimentação
animal, contudo, a riqueza em substância pécticas e polifenóis sugere que pode ser
utilizado para obtenção de produtos de valor acrescentado (Lu, 1999). Diferentes
estratégias para aproveitamento do bagaço de maçã incluem: (i) produção de enzimas;
(ii) produção de ácidos orgânicos; (iii) produção de cogumelos comestíveis; (iv)
produção de etanol; (v) produção de compostos de aroma; (vi) extração de antioxidantes
naturais; (vii) extração de fibras dietéticas (Vendruscolo, 2008).

1.4.3 – Composição e Propriedades dos Subprodutos de Maçã


O perfil nutricional do bagaço de maçã está representado na tabela 13 e revela um
alimento muito rico em hidratos de carbono, principalmente na forma de açúcares
solúveis e fibra, mas pobre em minerais, matéria gorda e proteína. Esta última, além de
estar presente em baixas quantidades, é pouco digerível, devido à associação de
polissacarídeos da parede celular, e apresenta baixos teores de aminoácidos essenciais.
A quantidade de vitaminas, apesar de não estar discriminada, também é reportada como
baixa. Por outro lado, o valor energético do bagaço de maçã é considerável e deve-se
essencialmente ao elevado teor em açúcares e fibras solúveis. Este valor, contudo,
decresce nos sistemas biológicos, particularmente nas aves, devido à dificuldade em
fermentar a fibra (Bhushan et al., 2008; Blas & Wiseman., 2010b).
A fibra presente no bagaço de maçã é caracterizada pela riqueza em polissacarídeos
pécticos e pela elevada quantidade de polissacarídeos lenhinocelulósicos. Os
polissacarídeos pécticos da maçã possuem uma maior proporção de cadeias laterais,
compostas por arabinanas e galactanas, associadas à cadeia principal, composta por
ácido glucurónico. Esta característica distingue o bagaço de maçã do bagaço de citrinos,

37
as duas principais fontes de polissacarídeos pécticos, a nível comercial (Voragen et al.,
2009; Wang et al., 2014). A fibra do bagaço de maçã é também rica em carotenos e
polifenóis, dos quais se destacam a epicatequina, as procianidinas, os glicosídeos
flavonoides e os ácidos cianogénicos, pela sua capacidade antioxidante e valor
comercial (Lu et al., 1999, Vendruscolo et al., 2008, Figuerola et al., 2004).

Tabela 13 - Composição aproximada do bagaço de maçã (Adaptado de: Blas et al., 2010; Joshi et
al., 1996; Nawirska, 2005; Bhushan et al., 2008; Sato et al., 2010.)
F - Fibra; PB - Proteína bruta; FND - Fibra insolúvel em detergente neutro; FAD - Fibra insolúvel
em detergente ácido; LAD - Lenhina insolúvel em detergente ácido; CZ - Cinza

Constituinte %
EM (kcal/kg) 2950
Açucares totais 39,35 - 48
Glucose (AT) 9,36 - 12,57
Frutose (AT) 17,9 - 29,9
Sacarose (AT) 3,6 - 7,04
Cinzas 2,0
Cálcio (CZ) 9,0
Fósforo (CZ) 11,5
Sódio (CZ) 2,0
Magnésio (CZ) 3,0
Cobre (CZ) 0,0055 - 0,05
Ferro (CZ) 0,83 - 1,15
Manganês (CZ) 0,045 - 0,075
Zinco (CZ) 0,065 - 0,075
Fibra 14,7 - 43,63
Pectina (F) 11,7
Celulose (F) 43,6
Hemicelulosa (F) 24,4
Lenhina (F) 20,4
FND 46,8
FAD 33
LAD 11,5
Matéria Gorda 1,53 - 4,00
Proteína Bruta 2,74 - 5,80
Lisina (PB) 3,93
Metionina (PB) 1,38
Treonina (PB 3,04
Triptofano (PB) 0,88

38
Na tabela 14 estão representadas algumas das propriedades funcionais da fibra de
bagaço de maçã em comparação com fibra proveniente do bagaço de citrinos (limão e
laranja) e do bagaço de toranja.
As propriedades de hidratação das fibras são analisadas através da capacidade de
retenção de água (CRA) e da capacidade de inchar (CI), e são semelhantes entre o
bagaço de maçã e os concentrados fibrosos considerados. A CRA e a CI dependem: da
afinidade da fibra para a água; da quantidade de fibra insolúvel; da capacidade da fibra
para formar estruturas capilares; da sua propensão para formar pontes de hidrogénio ou
ligações dipolares com a água. A capacidade de adsorção de lípidos (CAL), é menor no
bagaço de maçã em relação às outras fontes consideradas. Estes dados revelam que os
constituintes das fibras apresentam variações na disposição de cargas, na espessura, nas
propriedades da superfície e uma menor quantidade de elementos hidrofóbicos
(Figuerola et al., 2004).

Tabela 14 - Propriedades de hidratação e capacidade de adsorção de lípidos da fibra de diferentes


concentrados de fibra derivados de frutos (adaptado de Figuerola et al., 2004).

Concentrado
CRA (g água/g MS) CI (mL-1 água/g MS) CAL (g óleo/g MS)
fibroso
Bagaço de maçã 1,62-1,87 6,59-8,27 0,60-1,45
Bagaço de citrinos 1,65-1,85 6,11-9,19 1,30-1,81
Bagaço de toranja 2,09-2,26 6,69-8,02 1,20-1,52

A composição do retentato inclui todos os componentes do sumo de maçã que possam


ficar retidos nas membranas de ultrafiltração, nomeadamente, fragmentos não
hidrolisados de polissacarídeos pécticos e amilopectina, taninos, proteínas, celulose,
hemicelulose e açúcares. Na tabela 15 está apresentada a composição da fracção sólida
do retentato. Este subproduto destaca-se por apenas possuir um elevado teor de
humidade. Contudo, a matéria seca, que corresponde apenas a 8% da massa de
subproduto, é nutricionalmente muito rica. O teor de proteína é elevado e rico em
aminoácidos essenciais. No entanto, tal como os cereais, é pobre em lisina. A sua
fracção lipídica é também elevada, contudo, cerca de 67% está na forma de ácidos
gordos livres e apenas 4% está na forma de triacilglicerideos. Esta percentagem de
ácidos gordos livres aumenta a susceptibilidade do retentato a estímulos oxidativos e
também resulta na formação de complexos com as proteínas e fragmentos de
amilopectina presentes durante o processamento térmico deste subproduto. Os esteróis
39
correspondem a 25% dos lípidos do retentato e são constituídos por cerca de 80% de β-
sitoesterol. Este composto é benéfico para os organismos pois possui propriedades anti-
oxidantes, sendo particularmente eficiente na prevenção de fenómenos de peroxidação
lipídica. A fração sólida do retentato tem ainda 5,2% de açúcares livres que ficam
retidos na malha de proteínas, lípidos e polissacarídeos junto às membranas de
ultrafiltração. Esta quantidade de açúcares é reduzida com o aumento da eficiência da
centrifugação usada para separar a fase sólida. (Baskar et al., 2012; Cruz et al., 2014;
Singh et al.,2007).

Tabela 15 - Composição da fração sólida do retentato total e após a centrifugação, com remoção do
sobrenadante (adaptado de Cruz et al., 2014).
(matéria seca- MS; matéria gorda - MG; proteína bruta - PB)

Constituinte (%)
Matéria seca 8,0
Açúcares livres (MS) 5,2
Fibra (MS) 13,3
Matéria Gorda (MS) 11,4
Ácidos Gordos Livres (MG) 67,0
Esteróis (MG) 25,0
Triacilglicerídeos (MG) 4,0
Proteína Bruta (MS) 29,4
Aminoácidos Essenciais (PB) 44
Lisina (PB) 1,0
Valina (PB) 18,0
Leucina (PB) 14,0

1.4.4 – Vantagens e Desvantagens dos Subprodutos de Maçã


O uso de bagaço de maçã na alimentação animal tem sido associado a alguns efeitos
benéficos, especialmente em animais monogástricos. Em frangos, a substituição direta
de milho por bagaço de maçã, até 10%, não produziu efeitos negativos observáveis,
tendo até contribuído para uma maior ingestão de alimento. Incorporações superiores de
bagaço de maçã devem ser acompanhadas por um reforço de enzimas digestivas (Zafar
et al. 2005). Por outro lado, estudos envolvendo o bagaço de maçã já demonstram que o
seu uso na alimentação animal implica uma suplementação com fontes de proteína de
qualidade (Fontenot et al., 1997). Atualmente, a reduzida utilização do bagaço de maçã
na alimentação animal prende-se a três fatores principais: (i) baixa digestibilidade da

40
fibra, devido ao elevado rácio lenhina/celulose; (ii) teores de proteínas, vitaminas e
minerais desajustados; (iii) baixa digestibilidade da proteína presente (Dhillon et al.,
2013).
O retentato carece de estudos sobre os efeitos da sua incorporação na alimentação
animal, embora o seu perfil nutricional permita tirar algumas conclusões. Por um lado,
os açúcares livres presentes podem ser rapidamente absorvidos e fornecer quantidades
elevadas de energia num reduzido intervalo de tempo. Por outro lado, a proteína é rica
em aminoácidos essenciais, particularmente valina e leucina (Cruz et al., 2014;
Yazdanshenas et al., 2005). O principal problema do retentato reside na sua
perecibilidade, devido ao elevado teor de água e de açúcares livres. Outro problema
reside na sua matriz espessa, composta por material muito particulado. Estas
características dificultam a sedimentação da fase sólida para posterior separação e a
remoção do excesso de água. Devido a estas características, a separação e
aproveitamento da fração sólida implicaria uma centrifugação seguida da secagem do
material precipitado (Cruz et al., 2014; Yazdanshenas et al., 2005).

1.5 – Processo de Extrusão na Alimentação Animal


A tecnologia de extrusão tornou-se, durante as últimas décadas, num processo comum
no ramo alimentar. Na figura 10 está representado um equipamento de extrusão
adaptado à indústria alimentar.
As extrusoras são equipamentos que submetem alimentos a elevadas temperaturas
(superiores a 100ºC) num curto espaço de tempo. O processo inicia-se com a seleção,
pesagem e mistura das matérias-primas adequadas. De seguida, no condicionador, é
adicionada água para garantir um teor de humidade mínimo de 10% na mistura. Este
passo permite a hidratação e solvatação do amido e das proteínas, permitindo que estes
polímeros se movam e deslizem entre si, alterando as propriedades físicas do material
extrusado. Assim, a mistura passa de um estado vítreo para um fluido elástico e viscoso
(Stojceska, 2009). O passo principal ocorre no barril de extrusão onde a ação de um
parafuso rotativo, aliada a temperaturas elevadas, promove a deslocação e compressão
da mistura contra a matriz de corte. Este mecanismo gera de uma tensão de
cisalhamento sobre a mistura e promove o rompimento das estruturas celulares,
permitindo que o excesso de água entre para os grânulos de amido, inchando-os. A
entrada da água contribui para a perda da estrutura cristalina do amido facilitando a sua

41
dispersão pela mistura. Este processo culmina na expansão dos extrusados após a
passagem pelo barril de extrusão (Moscicki et al., 2009).

Figura 10 - Esquema simplificado de um equipamento de extrusão adptado à alimentação animal.


1- Armazenamento de matérias-primas; 2 – Misturador; 3 – Balança; 4 – Condicionador; 5 – Barril
de extrusão; 6 – Matriz de corte; 7 – Secador; 8 – Silo de produto acabado. (Adaptado de Moscicki
et al., 2009)

1.5.1 – Alterações químicas no processo de extrusão


As condições mecânicas e térmicas aplicadas aos alimentos durante o processo de
extrusão não se limitam a promover a gelificação da mistura e a gelatinização do amido.
Os restantes macro e micronutrientes também sofrem alterações que afetam o valor
nutricional do alimento extrusado.

1.5.2 – Efeito da Extrusão nas Proteínas


Durante o processo de extrusão os diferentes grupos de proteínas formam fases distintas
distribuídas pela mistura. As proteínas solúveis em água, como as albuminas, são
desnaturadas pelo calor e coagulam numa massa maleável, facilmente macerada pela
ação mecânica do parafuso rotativo. Por outro lado, as proteínas globulares são
inicialmente hidratadas e formam pequenos aglomerados viscoelásticos. Estes são
submetidos a tensões de corte que os transformam em partículas inferiores a 20 nm. As

42
glutelinas e prolaminas formam massas de caracter viscoelástico que também são
maceradas. Já as proteínas musculares da carne formam partículas muito mais
resistentes, capazes de suportar a tensão cisalhante gerada no parafuso rotativo e não
serem maceradas. Estes processos aumentam a exposição das proteínas face à ação de
proteases, aumentando a digestibilidade (Guy R.., 2001).
Outro aspeto importante, relativo à digestibilidade da proteína, reside na inativação de
fatores anti-nutricionais através da ação do calor, nomeadamente, inibidores da tripsina
e hemaglutininas, como as lectinas. A temperatura e a pressão também promovem
alterações estrurais em taninos alterando a sua solubilidade e reactividade. Os fitatos,
por outro lado, sofrem hidrólise e passam de hexafosfatos de inositol para penta e
tetrafosfatos (Alonso et al., 2000a; Marzo et al., 2002).

1.5.3 – Efeito na Extrusão dos Açúcares, Oligossacarídeos e Amido


Os açúcares como a frutose e a sacarose são facilmente assimiláveis e metabolizáveis e
consequentemente, boas fontes de energia rapidamente disponível. Estes podem derivar
diretamente das matérias-primas ou serem formados a partir da degradação do amido.
Contudo, durante o processo de extrusão, a sua presença desencadeia múltiplas reações
químicas, onde se destacam as reacções de Maillard, que alteram o valor nutricional e as
propriedades organoléticas dos alimentos (Singh et al., 2007).
A classe dos oligossacarídeos envolve compostos como a rafinose, a estaquiose, a
melbiose ou o galactinol. Estes apresentam efeitos fisiológicos semelhantes ao da fibra
dietética, controlando o trânsito intestinal e funcionando como pré-bioticos. Contudo,
durante o processo de extrusão, uma parte destes compostos é decomposta nas suas
unidades monoméricas, aumentando o teor de açúcares livres. Estes são capazes de
reagir entre si e com os aminoácidos, via reacções de Maillard, afetando negativamente
o processo de extrusão. Por outro lado, a degradação dos oligossacarídeos também
implica a perda dos efeitos benéficos para o organismo (Berrios et al., 2010).
O amido é um polissacarídeo de glucose composto por cadeias de amilose e
amilopectina em proporções variáveis, consoante o tipo de planta. Estas diferentes
proporções determinam o comportamento dos amidos durante a extrusão, pois a
presença de amilose promove a gelatinização, enquanto a amilopectina torna a mistura
mais viscosa. Deste modo, é possível controlar certas alterações reológicas durante o
processo de extrusão, selecionando as diferentes fontes de amido na mistura. Durante a
extrusão ocorrem ainda a formação de complexos entre amilose e lípidos,

43
particularmente se a mistura for rica em monoglicerídeos ou ácidos gordos livres. Este
fenómeno aumenta a resistência do amido à hidrólise enzimática, reduzindo a sua
digestibilidade (Singh et al., 2010).

1.5.4 – Reações de Maillard Durante o Processo de Extrusão


As reações de Maillard ocorrem entre grupos amina livres dos aminoácidos e grupos
carbonilo de açúcares redutores. Estas reações promovem a formação de metabolitos de
cor castanha e com aromas característicos, influenciando tanto o aspeto visual como o
sabor dos alimentos extrusados. O tipo de açúcar redutor apresenta uma grande
influência no desenvolvimento das reações de Maillard, sendo as pentoses mais reativas
que as hexoses e estas, por sua vez, são mais reativas que os dissacarídeos. Dentro dos
aminoácidos, o principal dador de grupos amina livres é a lisina. Outros fatores que
favorecem as reações de Maillard são as elevadas temperaturas no barril de extrusão e
os baixos teores de água na mistura (Villamiel, 2006a).
As perdas de lisina durante o processo de extrusão são particularmente preocupantes,
pois os cereais, principais constituintes dos alimentos extrusados, são pobres neste
aminoácido. Adicionalmente, a perda de outros aminoácidos e a formação de
intermediários das reações de Maillard, conduzem a uma redução do valor nutricional
da proteína e à perda de digestibilidade do alimento. Estes fatores são particularmente
indesejáveis em alimentos para crias, pois estas possuem sistemas digestivos menos
eficientes e incapazes de degradar estes compostos (Iwe et al., 2001). Também
associado às reações de Maillard está também a formação de agentes carcinogénicos
como a acrilamida. Este composto é formado a altas temperaturas a partir da asparagina
na presença de açúcares redutores (Masatcioglu et al., 2014).

1.5.5 – Efeito da Extrusão na Fibra dietética


Durante o processo de extrusão, a combinação de temperatura com as forças de
cisalhamento, geradas pelo parafuso rotativo, permitem quebrar cadeias compridas de
PNAs. Deste modo é possível aumentar o teor de fibra solúvel nos alimentos. A lenhina,
por outro lado, também sofre alguma degradação durante a extrusão. Este fenómeno é
comprovado pelo aparecimento de ácidos fenólicos, como o ácido ferúlico, na fração
solúvel (Guy et al., 2001).
As propriedades reológicas do alimento extrusado também variam consoante os teores
de fibra dietética. Através do aumento do teor de fibra reduz-se a capacidade das
misturas reterem água durante a extrusão, afetando a sua consistência. Contudo a adição

44
de fibras solúveis, como a inulina, aumentam a expansão do produto extrusado e melhoram
a textura do produto final, em relação às fibras insolúveis. Estes efeitos da fibra solúvel
podem ser atribuídos à capacidade de retenção de água e às variações nas propriedades
viscoelásticas da massa extrusada (Peressini et al., 2015).

1.5.6 – Efeito da Extrusão nos Lípidos


A classificação de lípidos engloba um conjunto de compostos apolares que integra,
entre outros, os fosfolípidos, as ceras, os triglicerídeos e os esteróis. Durante a extrusão,
as elevadas temperaturas levam a uma redução de 40% no conteúdo de lípidos
extratáveis. Este fenómeno está relacionado com a libertação de ácidos gordos livres e
fosfolípidos na matriz do alimento, por ação das altas temperaturas, facilitando a
formação de complexos com a amilose e certas proteínas. Fenómenos de rancidez
também são comuns em alimentos extrusados. Este problema está associado à expansão
dos alimentos após a saída do barril de extrusão, deixando os lípidos mais suscetíveis a
estímulos oxidantes. Ainda durante o processo de extrusão, a presença de lípidos
provoca uma diminuição das forças de atrito dentro do barril de extrusão e reduz a
eficiência da tensão mecânica gerada pelo parafuso rotativo. Quando este teor é superior
a 6%, a ação lubrificante dos lípidos impede que se atinjam as pressões desejadas no
barril de extrusão, impossibilitando a expansão dos alimentos. Por outro lado, teores
lípicos entre 3-5% promovem um equilíbrio entre forças de atrito e fluidez das matérias-
primas, melhorando a textura do alimento e tornando-o mais uniforme (Singh et al.,
2007).

45
1.6 Objetivos
Este trabalho tem como principal objetivo o desenvolvimento de formulações de
alimentos extrusados para pombo-correio, direccionadas para os diferentes períodos da
época desportiva em columbófilia: os concursos; a muda de pena; a criação; o defeso.
Estas formulações têm em conta as alterações metabólicas e comportamentais que
ocorrem durante estes períodos e procuram colmatar as necessidades nutricionais do
animal.
O segundo objetivo deste trabalho passa pela integração de subprodutos derivados da
indústria alimentar nas formulações destes alimentos extrusados. Dentro destes
subprodutos temos dois grupos distintos: (i) matérias-primas comuns na indústria das
rações, como os bagaços de oleaginosas e as sêmeas de cereais (ii) subprodutos de maçã
pouco ou nada utilizados na indústria das rações.
Por último, serão comparados alimentos extrusados, desenvolvidos a partir das
formulações anteriormente concebidas, na presença e na ausência dos subprodutos de
maçã.

46
2 - Material e Métodos

47
48
2.1 - Origem dos materiais

Matérias-primas e aditivos necessários para a produção dos alimentos extrusados para


pombo-correio, foram fornecidos pela empresa Ovargado SA e Indumape SA (retentato
de maçã).

2.2 – Tratamento do retentato da maçã para aplicação nas rações

A aplicação do retentato de maçã na indústria da alimentação animal está condicionada


pelo seu elevado teor de água (cerca de 92%).
Partiu-se de um volume inicial de retentato de cerca de 15 L. Devido ao carácter pastoso
e particulado deste subproduto a sua secagem direta foi descartada. Assim, foi
necessário proceder inicialmente a uma centrifugação a 5000 rpm, por um período de 15
min à temperatura de 4º C, usando recipientes de aproximadamente 200 mL. Após a
centrifugação foi descartado o sobrenadante e recolhido o precipitado. Este último ainda
tinha um teor de água superior a 80%. A remoção deste excesso de água foi realizado
numa estufa a 70º C, durante cerca de 16 horas. Para aumentar a eficiência do processo
separou-se o precipitado em pequenas porções, de modo a evitar que o interior da massa
de subproduto sofresse cozedura.
Após a obtenção de um produto seco (< 10% de humidade) procedeu-se à sua moagem,
embalou-se e protegeu-se da luz e do ar.

2.3 - Desenvolvimento de alimentos extrusados para pombo-correio

Para cada tipo de ração (concursos, concursos SF) foram produzidos 1,5 kg de amostra
para posteriormente extrusar. As diferentes matérias-primas foram pesadas numa
balança digital (±0,05 g de sensibilidade) e moídas e misturadas num moinho de
cozinha. Os aditivos foram pesados numa balança digital com sensibilidade ± 0,0005 g.
As amostras moídas foram depois extrudidas numa co-extrusora mono-fuso da marca
periplast, modelo Ø25 x 25D. Após a extrusão foram colocadas em estufa a 60ºC,
durante 30 minutos para garantir um teor de humidade inferior a 10%, permitindo a sua
conservação.

49
2.4 - Análise de açúcares

A análise de açúcares neutros das amostras foi realizada com hidrólise ácida dos
polissacarídeos em condições que proporcionam a despolimerização como mínimo de
destruição dos resíduos, segundo o método de Selvendran et al.. Posteriormente, os
resíduos são convertidos em acetatos de alditol, derivados voláteis e termoestáveis que
possibilitam a análise quantitativa e qualitativa dos resíduos de açúcar por GC-FID
segundo Coimbra et al..
Pesou-se 1-2 mg de amostra e adicionou-se 200 µl de ácido sulfúrico a 72% com
incubação à temperatura ambiente durante 3 horas. De seguida procedeu-se à sua
hidrólise adicionando 2,2 ml de água destilada (para uma concentração final de ácido
sulfúrico de 1 molar) e deixou-se reagir durante 2,5 horas num bloco de aquecimento a
100ºC. Após este tempo arrefeceu-se os tubos num banho de gelo. De seguida
adicionou-se 200 µl de padrão interno (2 - desoxiglucose a 1 mg/ml). Após a adição do
padrão interno transferiu-se 1 ml da solução hidrolisada para novos tubos e usando 200
µl de NH3 (25 %) foi neutralizada a porção de ácido que não reagiu. Com 100 µl NaBH4
(15 % (m/v) em NH3 3M) fez-se a redução do padrão e amostra hidrolisada deixando
reagir a 30ºC durante 1 hora. De seguida foram adicionadas porções de 50 µl de ácido
acético glacial até se ter eliminado o excesso de BH4-, transferindo-se 300 µl para tubos
SOVIREL. Colocaram-se os tubos num banho de gelo e adicionaram-se 450 µl de 1 –
metilimidazol e 3 ml de anidrido acético. Agitou-se bem e colocou-se a 30ºC durante 30
min. Ainda no banho de gelo foram adicionados 3 ml de água destilada e 2,5 ml de
diclorometano, seguido de agitação muito forte sem recorrer ao vortex. Centrifugou-se
cerca de 30 s a 3000 rpm e aspirou-se a fase aquosa por sucção. Repetiu-se o processo
desde a adição de água destilada. Para a lavagem da fase orgânica usou-se 3 ml de água
destilada, agitou-se bem, centrifugou-se e removeu-se por sucção a fase aquosa na
totalidade. O passo de lavagem foi repetido pelo menos uma vez. A fase orgânica foi
transferida para tubos apropriados para a concentração num evaporador centrífugo
(speedvac) onde foi evaporado o diclorometano. Adicionou-se então 1 ml de acetona
anidra que também foi evaporado na speedvac, repetindo o passo com mais uma adição
de acetona. Os tubos fechados foram guardados num exsicador.
Dissolveram-se os acetatos de alditol em 20 µl de acetona anidra e foi feita a análise por
GC-FID usando uma coluna capilar DB-225 (30 m de comprimento, 0,25 mm de

50
diâmetro, 0,15 de espessura) num cromatógrafo Perkin Elmer – Clarus 400, usando
hidrogénio como gás de arraste. As condições usadas foram, temperatura do injetor de
220 ºC, temperatura do detetor de 230 ºC, com um programa de temperaturas:
 Ttotal = 9 min
 Tinicial = 200 ºC
 Rampa 1 = 40 ºC/min até 220 ºC
 T = 220 ºC durante 7 min
 Rampa 2 = 20 ºC/min até 230 ºC
 T = 230 ºC durante 1 min

2.5 - Determinação da humidade

Colocam-se cadinhos de cerâmica na estufa a 105ºC durante 5 horas. Deixaram-se


arrefecer num exsicador à temperatura ambiente. Pesaram-se os cadinhos secos,
colocou-se 1 g de amostra e pesou-se novamente. Os cadinhos secos com a amostra
foram colocados na estufa a 105ºC durante 16 horas. Decorridas as 16 horas, voltou-se a
recorrer a um exsicador para o arrefecimento, pesando-se o cadinho mais a amostra de
ração após secagem. A humidade é determinada por:

% Humidade = (Mi-Mf)/(Mi-Mc) x 100

Onde Mi é a massa do cadinho mais a amostra antes da secagem, Mf é a massa do


cadinho mais a amostra após secagem e Mc é a massa do cadinho seco. Os ensaios
foram feitos em triplicado para cada ração.

2.6 - Determinação do teor de cinzas

O teor de cinzas (fração inorgânica) foi determinado pela incineração da parte orgânica,
em que cerca de 1g de amostra de cada ração foi calcinada numa mufla a 700ºC, durante
5 horas:
% Cinzas = mcinzas/mamostra seca x 100

51
2.7 - Análise de aminoácidos

O conteúdo em aminoácidos totais das diferentes rações para a alimentação do pombo-


correio foi determinado por adaptação dos métodos de Zumwalt et al. para a hidrólise
ácida do conteúdo proteico e Mackenzie et al. para derivatização dos aminoácidos para
análise por GC-FID.
Pesou-se 5 mg de amostra em tubos apropriados para a concentração em speedvac e de
seguida foi adicionado 1 mL de HCl 6 M. Os tubos foram sujeitos a atmosfera de azoto,
fechados e a reação de hidrólise ácida decorreu por 24 h a 110 ºC num bloco de
aquecimento. Arrefecidos os tubos, foram adicionados 500 μL de solução de norleucina
5,0 mM em HCl 0,1 M como padrão interno. O conteúdo dos tubos foi concentrado até
à secura no evaporador centrífugo e dissolvido de seguida em 1 mL de HCl 0,1 M. A
solução foi filtrada com filtros de 45 μm e novamente concentrada até à secura no
evaporador centrífugo. Os aminoácidos libertados pela hidrólise foram dissolvidos em
200 μL de isobutanol em 3 M HCl deixando reagir durante 10 min a 120 ºC. Após
agitação no vórtex a reação prosseguiu por mais 30 min a 120 ºC no bloco de
aquecimento. Arrefecidos os tubos num banho de gelo, o excesso de reagente foi
evaporado no evaporador centrífugo. De seguida foi adicionado 200 μL de
hidroxitolueno butilado (BHT) preparado em acetato de etilo, e o solvente foi
novamente evaporado por completo. Por fim foram adicionados 100 μL de anidrido
heptafluorobutírico e deixou-se reagir durante 10 min a 150 ºC. Terminada a reação, e
arrefecidos os tubos, o excesso de reagente foi evaporado no evaporador centrífugo.
O material resultante foi dissolvido em 60 μL de acetato de etilo anidro e analisados por
GC-qMS. Foi utilizado um cromatógrafo de fase gasosa acoplado a espectrometria de
massa do tipo quadrupolo, Shimadzu – GCMS-QP2010 com uma coluna capilar DB-1
MS (30 m comprimento, 0,25 mm de diâmetro, e 0,10 μm espessura) e uma fase
estacionária composta por dimetilpolisiloxano.
O volume de injeção foi de 2 μL, a temperatura do injetor de 250 ºC e do detetor a
260ºC. Utilizou-se hidrogénio como gás de arraste e utilizou-se o programa de
temperaturas com as seguintes condições:
 Ttotal = 61 min
 Tinicial = 70 °C durante 1 min
 Rampa 1 = 2 °C/min até 170 °C

52
 Rampa 2 = 16 °C/min até 250 °C
 T = 250 °C durante 5 min
Para o qMS a temperatura da fonte foi a 250ºC e o espectrómetro de massa trabalhou
em modo de impacto eletrónico com energia de 70eV. A análise do varrimento foi feita
em modo SCAN no intervalo de 50-700 m/z a 10 ciclos/s.

2.8 - Determinação do teor de matéria gorda

As extrações em Soxhlet foram realizadas com 150 mL de n-hexano num extrator com
50 mL de capacidade e cartucho dimensões 10x4 mm, durante 7 horas. A massa de óleo
foi determinada gravimetricamente após remoção do solvente. Para garantir que o óleo
final não transportava resíduos de amostra, os extratos do Soxhlet foram primeiramente
filtrados sob vácuo num filtro poroso de vidro (tamanho G1). Seguidamente, o n-hexano
do filtrado foi removido num evaporador rotativo a 40 ºC e o óleo resultante transferido
para tubos de speedvac. O rendimento da extração (%) η foi calculado como a massa de
óleo extraído de 100 g de amostra de ração.

2.9 – Determinação do teor proteico

Para a determinação do teor de proteína total na amostra, procedeu-se a quantificação do


azoto total, através de análise elementar. Para o efeito usou-se um equipamento Truspec
630-200-200. A temperatura da fornalha de combustão foi de 1075º C e a temperatura
pós-combustão foi de 850º C. A deteção do nitrogénio foi realizada por condutividade
térmica.
Após a determinação do teor de nitrogénio, multiplicou-se pelo fator de conversão de
nitrogénio. Este fator foi de 6,25 para a mistura de concursos com retentato e de 5,64
para a mistura de controlo para o período de concursos. Esta diferença deveu-se ao facto
da proteína desta segunda mistura derivar quase exclusivamente da soja e, segundo
Sriperm et al., 2010 a proteína da soja tem um fator de conversão de 5,64.

2.10 - Análise estatística

Os resultados obtidos para a humidade, teor de cinzas, açúcares livres e açúcares torais,
foram avaliados estatisticamente por recurso aos testes F e t-student com um nível de

53
significância de 95% (através do Microsoft Excel 2010). As diferenças consideraram-se
significativas quando p ≤ 0,05.

54
3. Resultados e Discussão

55
56
3.1 – Formulações de Extrusados para Columbofilia

A alimentação do pombo-correio é feita essencialmente por cereais, sementes


oleaginosas e leguminosas. No entanto, nos últimos anos tem-se verificado uma
tendência crescente para incorporar alimentos extrusados e granulados na dieta destes
animais.
O recurso a alimentos extrusados traz vantagens para a indústria, pois permite integrar
matérias-primas diferentes e economicamente vantajosas, nos produtos direcionados à
columbofilia. Para o pombo, o uso dos extrusados permite uniformizar o valor
nutricional do alimento e evitar a seleção de sementes preferidas, promovendo uma
dieta mais equilibrada e uniforme (Peisker, 2006).

3.1.1 – Extrusado para período de concursos


Os concursos são o período de principal desgaste do pombo-correio. Por este motivo, as
rações têm que fornecer um conjunto de nutrientes que permita ao pombo-correio
desenvolver: (i) uma estrutura muscular robusta; (ii) um conjunto de reservas
energéticas adequadas (iii) um metabolismo capaz de mobilizar reservas e combater o
stresse oxidativo causado pelos longos tempos de voo (Constantini et al., 2008b).
O retentato de maçã é um subproduto rico em proteína e, portanto, capaz de promover o
desenvolvimento muscular. Por outro lado, a sua fração lipídica é muito rica em ácido
oleico e linóleico, que são dos principais ácidos gordos mobilizados pelo organismo do
pombo durante voos prolongados (Constantini et al., 2008b; Cruz et al., 2014). Já o β-
sitosterol, presente no retentato, pode funcionar como um anti-oxidante e evitar que
ocorram fenómenos de oxidação lipídica durante os voos, devido ao aumento de
espécies reativas de oxigénio (Baskar et al., 2012).

3.1.1.1 – Controlo sem adição de subprodutos de maçã


Esta formulação recorreu a matérias-primas e subprodutos comuns na indústria da
alimentação animal, cujos teores nutricionais e valor de mercado estão bem definidos. A
tabela 16 descreve o perfil nutricional do extrusado de controlo, mencionando também
os aditivos que integram a mistura.
Esta fórmula teve um teor de proteína de 22%, superando os valores máximos, de 18%,
sugeridos por Sales & Jensens, 2003, para o pombo adulto. Este teor justifica-se pelas
necessidades nutricionais acrescidas de um pombo-correio para competição, em
comparação com o pombo-correio adulto “normal”.
57
O teor de matéria gorda do extrusado foi de 9%, um valor bastante superior à
recomendação de 3-5% de lípidos. No entanto, apesar da formulação ter 9% de lípidos,
cerca de metade é adicionado à posteriori, na forma de óleo de soja, evitando a
degradação dos ácidos gordos insaturados e a perda de forças de atrito dentro do barril
de extrusão (Singh et al., 2007; Mosciki, 2009).
O amido e os açúcares livres, em conjunto com os lípidos, são fundamentais para
garantir que o pombo-correio, durante todo o período de treinos e provas, consiga
manter reservas energéticas adequadas. Além disso, o amido também é fundamental
para a textura do extrusado, devido aos processos de expansão e de gelatinização.
Contudo, durante o processo de extrusão ocorrem fenómenos de despolimerização, com
libertação de açúcares livres e pequenos polissacarídeos, tornando complicado prever
que quantidade deste polissacarídeo passa para a fração dos açúcares livres (Singh et al.
2010). Os teores de amido seleccionados para esta formulação situaram-se entre a
quantidade média nas leguminosas, 42%, e a quantidade média nos cereais, 66% (Blas
et al, 2010). Este valor intermédio deverá permitir uma extrusão adequada sem que o
teor de açúcares libertado seja muito elevado.
A fibra é outro parâmetro importante na dieta e tem de ser controlado para evitar
problemas na absorção dos nutrientes, no equilíbrio da microflora e na consistência das
fezes do animal (Jorgensen et al., 1996). Para definir os teores de fibra nos extrusados,
partiu-se do princípio de que o pombo-correio necessita de uma quantidade de fibra
próxima da dos cereais. Considerando ainda que durante o processo de extrusão ocorre
alguma despolimerização da fibra insolúvel, resultando na formação de fragmentos mais
pequenos e solúveis, foi necessário aumentar os teores de fibra no extrusado (Guy et al.,
2001).
Na tabela 16 também estão presentes os aditivos e as repetivas taxas de incorporação.
Através do corretor vitamínico e mineral, garantiu-se ao consumidor que o extrusado
tem as quantidades de vitaminas necessárias ao bom funcionamento do organismo. Este
corretor é comum a todas as formulações e é rico em vitaminas lipossolúveis, contendo
ainda minerais e vitaminas do complexo B. A necessidade de suplementar com
vitaminas lipossolúveis deveu-se ao baixo teor de matérias-primas oleaginosas, ricas em
vitaminas A, E e K. Por outro lado, os cereais e as sêmeas de cereais, presentes nos
extrusados, são fontes bastante completas de vitaminas do complexo B e de minerais
(Blas et al., 2010).
A adição de substâncias adsorventes de toxinas e antifúngicas é fundamental para

58
reduzir os riscos de intoxicações, causadas por fungos e micotóxinas presentes nas
matérias-primas. No caso dos pombos-correio para competição, as doenças causadas por
fungos resultam em problemas respiratórios, regurgitação e perda de peso (Rupiper,
1998), com efeitos drásticos na performance desportiva.
Os concentrados proteicos e os aditivos contendo aminoácidos específicos, constituem
uma estratégia importante para aumentar o valor nutricional da proteína, pois a proteína
vegetal não possui teores de aminoácidos essenciais ajustados às necessidades dos
animais.
Estas propriedades dos aditivos estendem-se a todas as fases do desporto columbófilo.

Tabela 16 - Composição nutricional do alimento extrusado para pombo-correio, dedicado à época


de concursos - Sem adição de subprodutos de maçã.

Macronutrientes

Proteína Matéria Amido + Fibra Valor


Cinzas
Bruta Gorda Açúcares Livres Dietética Energético

22% 9% 56% 6% 4% 3400 kcal/kg

Aditivos

Concentrado de proteína Vitaminas e Adsorvente de


Antifúngico
animal + aminoácidos Minerais micotoxinas

3% 0,5% 1% 1%

3.1.1.2 – Alimento extrusado para a época de concursos com incorporação de


retentato de maçã
Esta formulação procurou reduzir a dependência de bagaço de soja como fonte de
proteína, através da inclusão de um subproduto da indústria alimentar atualmente
descartado, o retentato de maçã. Deste modo, procedeu-se à incorporação de 15% de
retentato de maçã com uma redução próxima dos 20% de bagaço de soja. Devido às
diferenças na composição destes subprodutos foi necessário fazer ajustes nas restantes
matérias-primas adicionadas.
Na tabela 17 está descrita a composição nutricional do alimento extrusado para
concursos com retentato de maçã, prevista através dos valores tabelados para as
matérias-primas. Por comparação com os valores nutricionais do extrusado de controlo,
concluímos que esta formulação é mais pobre em proteína, mas mais rica em lípidos e
59
em fibra. Verifica-se também que os teores conjuntos de amido e açúcares livres são
semelhantes entre as fórmulas. É também esperado que o valor energético desta
formulação supere o controlo, pois possuí um teor mais elevado de lípidos, cuja
oxidação, em comparação com as proteínas, fornece mais do dobro das calorias por
unidade de massa (Cox & Nelson, 2008).
A presença de açúcares livres, facilmente assimiláveis, podem ser benéficas para os
pombos, especialmente em alturas de treino, pois permitem restabelecer rapidamente os
níveis hepáticos e musculares de glucose e glicogénio. Estas propriedades dos açúcares
são exploradas pelas empresas associadas à columbofilia, através da comercialização de
suplementos contendo mais de 90% de açúcares livres e algumas vitaminas (Levin,
1994). Por outro lado, a presença de açúcares durante a extrusão pode promover a
ocorrência de reações de Maillard, diminuindo a disponibilidade dos açúcares e de
aminoácidos essenciais, principalmente de lisina (Iwe et al., 2001). O aumento no teor
de fibra deveu-se aos ajustes na formulação associados à adição do retentato. No
entanto, a fibra proveniente do retentato, ao contrário da soja, é muito rica em
substâncias pécticas e noutros polissacarídeos de baixo peso molécular, que podem ser
utilizados pela microflora do pombo-correio, promovendo, por exemplo, a formação de
ácidos gordos de cadeia curta. Estes, além de funcionarem como fontes de energia para
as células epiteliais do intestino, também apresentam toxicidade contra bactérias
patogénicas (Knudsen, 2001).

Tabela 17 - Composição nutricional do alimento extrusado para pombo-correio, dedicado à época


de concursos - Com adição de retentato de maçã.

Macronutrientes

Proteína Matéria Amido + Fibra


Cinzas Valor Energético
Bruta Gorda Açúcares Livres Dietética

20% 10% 56% 7% 5% 3600 kcal/kg

Aditivos
Concentrado de proteína Vitaminas e Adsorvente de
Antifúngico
animal Minerais micotoxinas

2% 0,5% 1% 1%

60
3.1.1.3 Comparação entre formulação de controlo e formulação com retentato
Na tabela 18 estão representadas as matérias-primas presentes nas formulações para
concursos e a contribuição de cada matéria-prima para o valor nutricional do produto
final.

Tabela 18 - Constituintes que compõem o extrusado para a época de concursos sem adição de
retentato (cont.) e com adição de retentato (Ret.). No lado direito temos a contribuição de cada
matéria-prima para o valor nutricional do produto final.

Matérias-primas Energia Lípidos Proteína Fibra


Cont. Ret. Cont. Ret. Cont. Ret. Cont. Ret.
Milho
Retentato de Maçã
Bagaço de Soja
Ervilha
Aveia descascada
Sêmea de arroz
Soja integral
Bagaço de Colza
Bagaço de Girassol
Óleo de soja
Trinca de arroz
Proteína animal purificada
Lisina
Metionina
Corretor vitamínico e mineral
Antifúngico
Adsorvente de micotoxinas

Legenda do esquema de cores da tabela. Os valores são relativos à quantidade total do respetivo
nutriente, no alimento extrusado.
0% 0 - 5% 5 - 10 % 10 - 15 % 15 - 25 % > 25 %

Através da tabela é possível ter uma noção entre a taxa de incorporação das matérias-
primas e a sua contribuição para o teor de cada macronutriente do produto. Deste modo,

61
é possivel afirmar que o milho introduzido, em ambos os extrusados, contribuiu com
mais de 25% da energia metabolizável da fórmula e cerca de 10-15 % dos lípidos e da
proteína do extrusado. Quadrados a branco indicam ausência da matéria-prima ou uma
contribuição nula para o parâmetro em questão.
Na formulação de controlo (Cont.), a fonte de proteína é a soja, tal permite compensar o
défice de lisina associado ao milho e aos restantes cereais. O uso do bagaço de soja em
prol do retentato e de bagaço de girassol/colza permite também obter um extrusado com
teores de fibra mais reduzido (Blas et al., 2010).
Na formulação com retentato (Ret.) é possivel verificar que o retentato contribuí com
mais de 10% da fibra desta fórmula e 15 a 25 % da proteína, dos lípidos e da energia
metabolizável. Através deste subproduto conseguimos simultaneamente reduzir a
dependência de soja como fonte de proteína, lípidos e fibra, em fórmulas para o período
de concursos. A incorporação de retentato, no entanto, implicou a utilização de outras
fontes de proteína como os bagaços de colza e de girassol. Com as diferentes
contribuições, é possivel obter uma proteína mais variada, mas, ainda assim, com menos
lisina. Por este motivo, o produto final pode ter uma quantidade de proteína
ligeiramente mais reduzida, sem que tal tenha um efeito negativo nos animais. No
entanto, de modo a prevenir carências de lisina, foi adicionada uma pequena quantidade
de um aditivo contendo este aminoácido.
Uma vez que as fontes de proteína são das matérias-primas mais dispendiosas,
conseguir substituí-las pelo retentato de maçã poderá apresentar uma vantagem
económica para a indústria das rações.

3.1.2 – Extrusado para a fase da muda


A muda da pena é o período do ano em que o pombo-correio procede à troca
progressiva das suas penas corporais. Estas estruturas correspondem a 20-30% do peso
total do animal, são altamente vascularizadas e contém cerca de 95% de proteína. A
proteína é composta por cadeias de queratina de baixo peso molécular e rica em
aminoácidos sulfurados, glicina e valina. (Kasprzak, 2006; Saino et al., 2013).
Na tabela 19 estão representadas as matérias-primas que constituem o alimento
extrusado para a fase da muda da pena. Neste alimento, a incorporação de retentato de
maçã foi apenas 10%, pois os seus teores em aminoácidos sulfurados (apesar de
superiores aos de lisina) são baixos em comparação com as necessidades do animal.
Assim, em vez de adicionar mais retentato, devem-se aumentar os teores dos bagaços de

62
colza e girassol, pois são as matérias-primas disponíveis com maiores teores de
metionina e cisteína. Em contrapartida, também se deve adicionar soja, em prol de mais
retentato, de modo a garantir quantidades adequadas de lisina na dieta do pombo.
Como o retentato tem muito mais matéria gorda do que as restantes fontes de proteína, a
sua adição também tem de ser controlada, caso contrário, podem-se exceder as
necessidades energéticas do pombo-correio e contribuir para um excesso de peso
indesejado.

Tabela 19 – Constituintes que compõem o extrusado desenvolvido para a época da muda com
adição de retentato de maçã. Esta tabela está ordenada da matéria-prima em maior quantidade
para a matéria-prima em menor quantidade na mistura. No lado direito temos a representação da
contribuição de cada matéria-prima para o valor nutricional do produto final.

Matérias-primas Energia Lípidos Proteína Fibra


Milho
Retentato de maçã
Aveia descascada
Bagaço de soja
Bagaço de colza
Soja integral
Sêmea de arroz
Sêmea de trigo
Trigo
Farinha de bolacha
Bagaço de girassol
Proteína animal purificada
Corretor vitamínico e mineral
Antifúngico
Adsorvente de micotoxinas

Legenda do esquema de cores da tabela. Os valores são relativos à quantidade total do respetivo
nutriente, no alimento extrusado.
0% 0 - 5% 5 - 10 % 10 - 15 % 15 - 25 % > 25 %

63
Na tabela 20 está apresentada a composição nutricional do alimento extrusado para a
época da muda.
Nesta fase, também se justificam teores de proteína superiores aos reportados por Sales
& Jensens, 2003, para o pombo adulto, pois o animal precisa de proteína para a
estrutura e vascularização das novas penas. Por outro lado, não se pretendem valores
energéticos muito elevados, pois o animal nesta fase está bastante letárgico e tem
propensão para ficar com excesso de peso. Neste caso, conseguiu-se contrabalançar o
valor energético do retentato com a adição de sêmea de trigo e sêmea de arroz. Os
aditivos servem um propósito semelhante ao descrito para a época de concursos.

Tabela 20 - Composição nutricional do alimento extrusado para pombo-correio, dedicado à época


da muda - Com adição de retentato de maçã.
(*incluído no teor de proteína bruta.)

Macronutrientes
Proteína Matéria Amido + Fibra Valor
Cinzas
Bruta Gorda Açúcares Livres Dietética Energético
20% 6% 58% 7% 6% 2800 kcal/kg

Aditivos
Concentrado de proteína Vitaminas e Adsorvente de
Antifúngico
animal* Minerais micotoxinas
2% 0,5% 1% 1%

3.1.3 – Extrusado para o período de criação


O alimento extrusado para o período de criação necessita, tal como nos concursos, de
teores elevados de proteína e matéria gorda. Isto porque no período de criação ocorre
um conjunto de alterações comportamentais associadas ao acasalamento, que conduzem
a gastos de energia. Por outro lado, após o nascimento das crias, a sua alimentação,
através do LP, exige um esforço metabólico intenso (Gayathri et al., 2004; Gayathri et
al. 2006).
Na tabela 21 estão representadas as matérias-primas que constituem o alimento
extrusado para a fase da criação.
A incorporação do retentato de maçã nesta formulação foi de 15 %. Esta matéria-prima
é rica em proteína e matéria gorda e pode facilmente substituir o bagaço de soja, colza
ou girassol. No entanto, a elevada quantidade de ácidos gordos insaturados na forma

64
livre, aumenta a susceptibilidade a fenómenos de rancidez, particularmente após a
extrusão (Cruz et al. 2014; Singh et al. 2007). Esta degradação lipídica deve ser
monitorizada e controlada pois Xie et al., 2013 comprovou que o perfil lipídico da dieta
dos progenitores tem um impacto considerável no desenvolvimento dos borrachos.

Tabela 21 - Constituintes que compõem o extrusado desenvolvido para a época da criação com
adição de retentato de maçã. Esta tabela está ordenada da matéria-prima em maior quantidade
para a matéria-prima em menor quantidade na mistura. No lado direito temos a representação da
contribuição de cada matéria-prima para o valor nutricional do produto final

Matérias-primas Energia Lípidos Proteína Fibra


Milho
Retentato de maçã
Bagaço de soja
Aveia descascada
Sêmea de arroz
Farinha de bolacha
Soja integral
Sêmea de trigo
Óleo de soja
Bagaço de colza
Proteína animal purificada
Corretor vitamínico e mineral
Antifúngico
Adsorvente de micotoxinas

Legenda do esquema de cores da tabela. Os valores são relativos à quantidade total do respetivo
nutriente, no alimento extrusado.
0% 0 - 5% 5 - 10 % 10 - 15 % 15 - 25 % > 25 %

Na tabela 22 está evidenciada a composição nutricional do extrusado desenvolvido para


a época de criação. Os teores de proteína (18%) e matéria gorda (10%) escolhidos para
esta fase estão próximos da composição média do LP ao longo das primeiras semanas

65
em que a cria é alimentada. Apesar do LP ter uma composição muito mais concentrada
nos primeiros dias, é esperado que o animal forme reservas adiposas e proteicas durante
o período de acasalamento, pois nessa altura, os teores nutricionais fornecidos estão em
excesso (Shetty et al,, 1992). Caso contrário, se a ração for pouco nutritiva, o pombo-
correio corre o risco de consumir todas as suas reservas energéticas e recorrer à catálise
proteica, tal como acontece nas provas de longa duração (Constantini et al., 2008b). A
perda de massa muscular deixa o animal muito debilitado, dificultando a recuperação da
sua forma física para o período de concursos seguinte.

Tabela 22 - Composição nutricional do alimento extrusado para pombo-correio, dedicado à época


da criação - Com adição de retentato de maçã.
(*incluído no teor de proteína bruta.)

Macronutrientes

Proteína Matéria Amido + Fibra Valor


Cinzas
Bruta Gorda Açúcares Livres Dietética Energético

18% 10% 58% 6% 6% 3000 kcal/kg

Aditivos

Concentrado de proteína Vitaminas e Adsorvente de


Antifúngico
animal* Minerais micotoxinas

2% 0,5% 1% 1%

3.1.4 – Extrusado para a época de defeso


Durante o período de concursos, os pombos-correio consomem as suas reservas
energéticas, perdem massa muscular devido à catálise das proteínas e acumulam lesões
celulares causadas por estímulos oxidativos. Desta forma, é necessário que o animal
disponha de um período que lhe permita recuperar a sua condição física, assim como as
suas reservas de micronutrientes (vitaminas, antioxidantes, minerais). Este período
denomina-se por época de defeso (Constantini et al., 2008a; Freydiger, 1984).
Na tabela 23 encontram-se representados os constituintes deste extrusado, ordenados de
acordo com a sua taxa de incorporação. Neste período, os animais têm uma actividade
muito reduzida e, portanto, tem necessidades energéticas e proteicas baixas. Por este
motivo, a incorporação de retentato de maçã foi apenas 5 %, visto que teores mais

66
elevados desta matéria-prima iriam resultar num excesso de proteína, matéria gorda e
açúcares livres. Por isso optou-se por uma fórmula muito rica em cereais, mas também
com adição de sub-produtos como a sêmea de trigo, a sêmea de arroz e a vagem de
alfarroba. Estes últimos permitem reduzir o valor energético da fórmula enquanto
contribuem com vitaminas do complexo B e minerais (Blás et al., 2010)

Tabela 23 - Constituintes que compõem o extrusado desenvolvido para a época do defeso com
adição de retentato de maçã. Esta tabela está ordenada da matéria-prima em maior quantidade
para a matéria-prima em menorr quantidade na mistura. No lado direito temos a representação da
contribuição de cada matéria-prima para o valor nutricional do produto final.

Matérias-primas Energia Lípidos Proteína Fibra


Milho
Cevada
Aveia descascada
Alfarroba
Sêmea de trigo
Sêmea de arroz
Retentato de maçã
Trigo
Bagaço de girassol
Bagaço de Soja
Óleo de soja
Corretor vitamínico e mineral
Antifúngico
Adsorvente de micotoxinas

Legenda do esquema de cores da tabela. Os valores são relativos à quantidade total do respetivo
nutriente, no alimento extrusado.
0% 0 - 5% 5 - 10 % 10 - 15 % 15 - 25 % > 25 %

67
Na tabela 24 temos a composição nutricional do alimento extrusado direcionado ao
período de defeso. A selecção destes teores nutricionais seguiu as ideias de Sales &
Janssens, 2003 e de Freydiger, 1984, onde os autores defendiam dietas muito ricas em
cereais, mas com teores de proteína de 12% e matéria gorda entre os 5-6%. Os autores
também salientaram a importância de fornecer teores de vitaminas e minerais elevados,
particularmente nas vitaminas lipossolúveis, de modo a que os pombos possam
recuperar as reservas esgotadas durante os concursos. Os teores de fibra, em particular
as fibras solúveis, para as quais o retentato tem uma contribuição importante, também
têm elevada importância, pois contibuem para o desenvolvimento da microflora e para a
produção de vitaminas por parte das bactérias (Knudsen, 2001).
Os restantes nutrientes devem manter-se relativamente baixos, de modo a evitar
problemas de obesidade nos animais.

Tabela 24 - Composição nutricional do alimento extrusado para pombo-correio, dedicado à época


de defeso - Com adição de retentato de maçã.

Macronutrientes

Proteína Matéria Amido + Fibra Valor


Cinzas
Bruta Gorda Açúcares Livres Dietética Energético

12% 5% 71% 6% 4% 2600 kcal/kg

Aditivos

Concentrado de proteína Vitaminas e Adsorvente de


Antifúngico
animal Minerais micotoxinas

0% 0,5% 1% 1%

3.2 – Análise nutricional: Comparação entre formulações para


concursos com e sem retentato de maçã

Do ponto de vista nutricional, foi possível incorporar o retentato de maçã nas diferentes
formulações sem impactos negativos na qualidade dos produtos.
Na tabela 25 estão representados os valores nutricionais das rações com e sem
incorporação de retentato, obtidos após a análise dos diferentes produtos finais.

68
Tabela 25 - Comparação dos parâmetros nutricionais entre extrusados para época de concursos
com e sem a adição de retentato de maçã (Letras diferentes representam valores significativamente
diferentes, p<0,5e n=2). (* ensaios onde não foram realizadas réplicas)

Extrusado Concursos Extrusado de Concursos


Constituinte
Controlo (%) com Retentato (%)

Proteína 19,98a ± 0,011 15,01b ± 0,006

Matéria Gorda 3,30* 4,23*

Humidade 7,67a ± 0,324 7,08a ± 0,868

Cinzas 7,18a ± 0,311 4,99b ± 0,217

Açúcares Totais 54,4a ± 6,09 57,1a ± 6,62

Açúcares Livres 5,68a * 9,37b ± 0,38

Através desta tabela é possivel concluir que a ração com adição de retentato apresentou
um valor próximo de açúcares totais, contudo, a fracção de açúcares livres é cerca de
duas vezes superiores face à formulação de controlo. Atendendo que o bagaço de soja
possui cerca de 8% açúcares (Blas et al., 2010) e o retentato possui cerca de 5,2% (Cruz
et al., 2014), esta diferença não era esperada. A justificação para este resultado pode
dever-se às adaptações feitas ao método de separação da fase sólida do retentato,
descrito por Cruz et al., 2014, onde procederam a uma centrifugação refrigerada,
durante 20 min a 15000 rpm. Nesta experiência, devido à necessidade de obter maiores
quantidades de resíduo sólido e para aproximar o processo a uma escala piloto, foram
centrifugados volumes superiores de retentato, durante 15 min a 5000 rpm e sem
refrigeração. Esta alteração tornou a centrifugação menos eficiente, deixando mais
açúcares livres retidos na matriz sólida do retentato. Para contrariar este excesso de
açúcares livres, pode-se aumentar o tempo de centrifugação ou optar por substituir as
fontes de amido e açúcares, como as leguminosas, por bagaços de oleaginosas.
O teor de matéria gorda determinado foi ligeiramente superior na formulação com
retentato, tal como era esperado no ponto 3.1.1. Este resultado é justificado pelo maior
teor de lípidos presente no retentato (11,4%) comparativamente ao bagaço de soja
(1,9%). No entanto, os valores de lípidos registados em ambas as rações foram muito
inferiores aos previstos nos pontos 3.1.1.1 e 3.1.1.2. Diminuições semelhantes foram
descritas por Singh et al., 2007, onde reportou que o processo de extrusão pode reduzir

69
o teor de lípidos extratáveis em mais de 40%, devido à libertação de ácidos gordos e
fosfolípidos, a partir de triglicerídeos e glicerofosfolípidos, ficando livres para reagir
com proteínas e polissacarídeos e impedindo a sua extração. Por outro lado, seria de
esperar que o hexano fosse capaz de extrair uma maior quantidade de lípidos, mesmo
estando complexados. Contudo, os resultados contrariaram esta espectativa,
demonstrando que as ligações entre ácidos gordos e outras macromoléculas são estáveis.
A proteína foi o parâmetro em que se encontrou uma maior diferença entre os valores
das duas rações, sendo que a formulação com incorporação de retentato teve um valor
real 5% inferior ao esperado em 3.1.1.1. O mesmo não aconteceu na ração de controlo.
Uma possível explicação para esta ocorrência prende-se com as características do
retentato de maçã usadas nesta experiência, já mencionadas anteriormente. Cruz et al.,
2014 sugeria um teor de proteína na ordem dos 30%, contudo, neste trabalho, optou-se
por uma separação da fração sólida do retentato menos eficiente, e o resíduo utilizado
tinha mais açúcares livres, diluindo as percentagens dos restantes componentes,
incluindo a proteína.
A tabela 26 mostra a caracterização dos resíduos de açúcares que compõe todos os
hidratos de carbono presentes na amostra. O principal aspeto a salientar está no teor de
glucose superior a 84 % em ambas as amostras. Este dado é facilmente justificável pela
riqueza de ambas as amostras em polissacarídeos amiláceos. Os restantes resíduos estão
presentes em quantidades muito inferiores, contudo, é possivel deduzir de que se tratam
de polissacarídeos das paredes celulares como as xilanas, as xiloglucanas, as mananas
ou as galactomananas (Vries & Visser, 2001).

Tabela 26 - Percentagem molar dos resíduos de açúcar que constituem a totalidade dos hidratos de
carbono, polissacarídeos e açúcares livres, presentes nas rações para concursos.

Hidratos de Carbono Totais (% mol) Total


Amostra HC
Ara Xyl Man Gal Glc (mg/g)

Extrusado sem
5,4 6,3 0,88 2,8 84,6 571,2
retentato (Controlo)
Extrusado com
5,2 4,6 0,94 5,0 84,2 543,8
retentato

Na tabela 27 está apresentada a composição em aminoácidos essenciais e não essenciais


identificados em ambas as rações para concursos. Numa primeira análise confirmou-se a
70
maior quantidade de proteína na ração para concursos de controlo, contudo, a ração com
retentato apresentou uma maior percentagem de aminoácidos essenciais.

Tabela 27 - Composição de aminoácidos e teor de proteína nas formulações para concursos de


controlo e com adição de retentato. (Letras diferentes representam valores significativamente
diferentes, p<0,5e n=2)

Concursos controlo Concursos retentato


Aminoácido
C (mg/g) % mol C (mg/g) % mol
Aminoácidos não essenciais: 145,4 76,3a 99,4 74,1b

Alanina 13,0 8,04 9,54 8,49

Glicina 37,4 27,4 21,5 22,7

Serina 8,58 4,47 7,90 5,91

Prolina 37,3 17,9 28,7 19,7

Ácido aspártico + Asparagina 17,1 7,12 10,1 6,11

Ácido glutâmico + Glutamina 23,7 8,88 16,3 8,86

Tirosina 8,25 2,50 5,36 2,36

Aminoácidos essenciais: 61,7 23,7a 47,1 25,9b

Valina 5,13 2,41 3,85 2,61

Treonina 8,46 3,89 5,98 3,99

Leucina 10,6 4,44 8,35 5,02

Isoleucina 2,76 1,16 1,79 1,07

Metionina 1,05 0,39 0,38 0,20

Fenilalanina 29,7 9,88 24,8 11,9

Lisina 4,08 1,53 1,96 1,06

Proteína Total 207,1 100 146,5 100

Dos 20 aminoácidos principais, não foram detetados a cisteína, a arginina, a histidina e


o triptofano, sendo estes dois últimos classificados como essenciais. A ausência destes
aminoácidos pode estar relacionada com a falta de sensibilidade do método para os
aminoácidos mencionados. Por outro lado, as suas concentrações podem ser inferiores
ao limite de deteção do equipamento.

71
Além disso, foram adicionados aditivos contendo aminoácidos a estas formulações.
A formulação de controlo foi suplementada com metionina, pois a sua principal fonte de
proteína (soja) tem carência de aminoácidos sulfurados, possuindo apenas 2,6% de
metionina e cisteína (Blás et al., 2010). Através desta adição, procurou-se garantir que a
metionina corresponderia, no mínimo, a cerca de 1% do valor total da proteína.
Contudo, a análise revelou um teor de metionina de 0,4%, sugerindo que uma grande
parte do aminoácido foi perdida durante o processo de extrusão. Estes resultados estão
de acordo com Alonso et al., 2000b e Marzo et al., 2002, que reportaram reduções de
metionina em extrusados de 34% e 20%, respectivamente.
A formulação com retentato foi suplementada com lisina, pois este subproduto de maçã,
ao contrário da soja, é pobre neste aminoácido. Assim, adicionou-se lisina de modo a
garantir 1% deste aminoácido no teor total de proteína. Contudo, comparando os dois
extrusados, verificou-se que mesmo com a adição do suplemento, o extrusado com
adição de retentato teve um teor de lisina inferior ao extrusado de controlo. Estes
resultados podem estar relacionados com a elevada riqueza em açúcares livres na
formulação com retentato, visto que estes reagem com a lisina através das reações de
Maillard. Iwe et al., 2001 reportou perdas de lisina de 15% em soja extrusada contra
60% em batata-doce extrusada, sustentando que a quantidade de açúcares nas matérias-
primas promove a perda de lisina.
Além das variações nutricionais, as formulações apresentaram diferenças no aspeto
visual que podem ter implicações comerciais. Estas diferenças estão evidenciadas na
figura 11, onde se demonstrou que a formulação com retentato (B1) apresentou uma cor
notoriamente mais escura do que a formulação de controlo (A1). Esta diferença deveu-
se às propriedades das matérias-primas utilizadas, pois a soja (A2) tem uma tonalidade
muito mais clara do que o retentato (B2). Por outro lado, a adição de retentato de maçã
aumentou o teor de açúcares livres e, consequentemente, aumentou a extensão das
reações de Maillard durante o processo de extrusão, contribuindo ainda mais para a cor
escura do alimento (Villamiel, 2006a).
Estas formulações não foram testadas junto com os criadores, contudo, a experiência
com alimentos extrusados e granulados destinados a outras espécies de aves, como os
frangos e os perus, leva a crer que a tonalidade mais escura pode tornar os criadores
pouco receptivos ao produto.
A cor castanha do retentato deveu-se principalmente aos produtos da oxidação de
procianidinas, formados pela ação da enzima oxidase dos polifenóis (OP). Contudo,

72
como as procianidinas não são um substrato desta enzima, a sua oxidação envolve
reacções acopladas com os grupos quinona de ácidos fenólicos, nomeadamente o ácido
clorogénico. Além das procianidinas, também a oxidação da floridizina e da
epicatequina, pela OP, contribuiram para a coloração dos subprodutos da maçã (Varnam
& Sutherland, 1994). A secagem em estufa do retentato, ao longo de 16 horas a uma
temperatura constante de 70ºC possibilitou a ocorrência de fenómenos de caramelização
assim como de formação de melanoidinas. Ambas as possibilidades implicam a
formação de compostos de cor que prejudicam tanto o aspeto do retentato como a sua
digestibilidade e valor nutricional (Villamiel et al., 2006b)

B1

Figura 11 - Aspeto visual das formulações para concursos de controlo (A1) e com adição de
retentato de maçã (B1). Em baixo, encontram-se duas das principais matérias-primas utilizadas, o
bagaço de soja (A2) e o retentato de maçã (B2).

O escurecimento do retentato prejudica o aspeto dos produtos em que é incorporado e


provoca a sua desvalorização. Para diminuir a atividade da OP poder-se-ia reduzir a
temperatura de armazenamento do subproduto para perto de 4ºC, reduzir o pH do
retentato para valores inferiores a 3,0 ou adicionar compostos antioxidantes,
nomeadamente, o ácido ascórbico (Varnam & Sutherland, 1994). Por outro lado,
também seria importante optimizar o processo de secagem em estufa, de modo a evitar

73
as reações de Maillard. No entanto, estes mecanismos para controlar as reações de
browning no rententato implicariam um investimento por parte das empresas. Estas
optam por descartar o retentato para tratamento em ETAR, não trazendo qualquer
benefício económico, além de poluir o meio ambiente.
Com este trabalho, através da incorporação do retentato em formulações de alimentos
extrusados para pombo-correio, revelou-se que este subproduto tem potencial na
indústria alimentar.

74
Conclusões

75
76
O desenvolvimento de novas formulações para a alimentação de pombos-correios com
incorporação de retentato de maçã. Por outro lado, também permitiu a exploração de
outros subprodutos comuns na indústria das rações, como os bagaços de oleaginosas,
mas que não são habituais nas misturas para pombo-correio. Estas formulações
permitiram valorizar um subproduto até à data desconhecido, o retentato de maçã, e
introduzir outros subprodutos, com vantagens económicas e operacionais.
As percentagens de incorporação do retentato de maçã foram de 5% para a ração
depurativa, 10% para a ração da muda de pena e 15% para as rações de concursos e
criação. O bagaço de maçã, outro subproduto de maçã avaliado, foi excluído destas
formulações devido ao seu teor de fibra muito elevado e à baixa quantidade de proteína
e lípidos. No entanto, para outro tipo de animais como ruminantes e leporídeos poderá
ser incorporado.
A formulação para concursos apresentou 20% de proteína, 10% de matéria gorda, 55%
de hidratos de carbono, 7% de fibra dietética e 5% de cinzas. A formulação de criação
possui 18% de proteína, 10% de matéria gorda, 58% de hidratos de carbono, 6% de
fibra e 6% de cinzas. A formulação para a muda apresentou 20% de proteína, 6 % de
matéria gorda, 58% de hidratos de carbono, 7% de fibra e 6% de cinzas. Por último, a
formulação para o defeso apresentou 12% de proteína, 5% de matéria gorda, 71% de
hidratos de carbono, 7% de fibra e 3% de cinzas.
Todas as rações produzidas mantiveram o equilibrio nutricional comparativamente às
misturas de sementes, habitualmente comercializadas, contudo, o aspeto visual variou
consideravelmente, podendo revelar-se um entrave durante o contacto com os criadores.

77
78
Trabalho Futuro

79
80
Perante o estudo realizado na presente dissertação, seria interessante em estudos fututos:

 Investigar metodologias para controlar a cor no resíduo sólido do retentato,


nomeadamente, a adição de substâncias antioxidantes após o processo de
ultrafiltração; o tratamento do subproduto a temperaturas inferiores a 4ºC; a
adição de soluções redutoras (p.e. solução de sulfuroso).

 Investigar se a optimização do processo de secagem em estufa permite controlar


as reações de caramelização do retentato, assim como a possível formação de
melanoidinas.

 Investigar a aceitabilidade das formulações desenvolvidas junto dos criadores e


dos pombos-correio.

 Investigar os efeitos das diferentes formulações in vivo, ao longo do ano


desportivo do pombo-correio, e averiguar se as adaptações nutricionais
resultaram; numa melhoria da performance desportiva do pombo-correio; numa
muda de pena eficiente; num período de criação equilibrado, garantindo a
condição física do progenitor e do borracho; numa época de defeso capaz de
melhorar o aspeto do pombo-correio e aumentar o seu potêncial nas etapas
seguintes.

81
82
Referências Bibliográficas

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