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jan.-abr. 2016;9(1):55-61
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faenfi/about/
http://dx.doi.org/10.15448/1983-652X.2016.1.21840
A rtigo de R evisão
Simone de Paulaa
a
Fisioterapeuta. Doutora em Saúde da Criança pela PUCRS. Especialista em Fisioterapia Dermatofuncional (COFFITO).
Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Feevale.
RESUMO Objetivo: O objetivo desta revisão foi apresentar e comparar as evidências científicas atuais sobre os efeitos
terapêuticos do LASER e do LED de baixa potência no processo de cicatrização cutânea através da análise de estudos
experimentais em roedores.
Materiais e Métodos: Revisão bibliográfica, realizada por meio de pesquisa nas bases de dados Medline/PubMed
e SciELO. Foram selecionados artigos originais e experimentais disponíveis na íntegra que objetivaram comparar os
efeitos terapêuticos do LASER e do LED no processo de cicatrização cutânea. As palavras-chaves e os operadores
boleanos utilizados para a busca nas bases de dados foram: wound healing OR healing AND laser AND led. Foram
incluídos artigos publicados nos idiomas inglês e português.
Resultados: De um total de 232 artigos encontrados, cinco estudos foram selecionados para a presente revisão de
literatura. Os anos de publicação variaram de 2007 a 2015. Três estudos utilizaram LASERs e LEDs com comprimentos
de onda vermelhos (λ<700 nm) e dois estudos aplicaram ambos os espectros vermelhos e infra-vermelhos nos grupos
analisados. A maioria dos estudos realizou um protocolo com, pelo menos, duas aplicações do LASER ou LED através
da técnica de contato. A densidade de energia variou de 2,5 J/cm2 a 40 J/cm2.
Conclusão: Apesar da variabilidade metodológica apresentada nas investigações, os resultados destes estudos
mostraram desfechos histológicos e imunohistoquímicos satisfatórios, sugerindo que estas terapias possam favorecer
significativamente o processo de reparo tecidual. No entanto, estudos adicionais necessitam ser realizados a fim de
definir estratégias clínicas seguras e efetivas para o uso da fototerapia na cicatrização de feridas.
Palavras-chave: cicatrização; fototerapia; LASER.
ABSTRACT Objective: The objective of this review was to present and compare the current scientific evidence on the therapeutic effects of low
level LASER and LED in the cutaneous healing process through the analysis of experimental studies in rodents.
Materials and Methods: Literature review, carried out through a search in the Medline/PubMed and SciELO databases. Original and
experimental articles available in full that aimed to compare the therapeutic LASER and LED effects on the skin healing process were
selected. The keywords and boolean operators used to search the databases were: wound healing OR healing AND laser AND led.
Articles published in English and Portuguese were included.
Results: From a total of 232 articles found, five studies were selected for this literature review. Year of publication ranged from 2007
to 2015. Three studies used LASERs and LEDs with red wavelengths (λ<700 nm) and two studies used both red and infrared spectra
in the analyzed groups. Most of the studies conducted a protocol with at least two applications of LASER or LED through the contact
technique. The energy density ranged from 2.5 J/cm2 to 40 J/cm2.
Conclusion: Despite the methodological variability in the researchers found, the results of these studies showed satisfactory
histological and immunohistochemical outcomes, suggesting that these therapies can significantly facilitate the tissue repair process.
However, further studies should be performed in order to establish safe and effective clinical strategies for the use of phototherapy
in wound healing.
Keywords: wound healing; phototherapy; LASER.
Correspondência:
Simone de Paula
Curso de Fisioterapia
ERS-239, 2755
93525-075 Novo Hamburgo, RS, Brasil
Exceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico
E-mail: [email protected] é licenciada sob forma de uma licença Creative Commons BY-NC 4.0 Internacional.
Recebido em 12/09/2015, aceito em 05/02/2016 http://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/
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A busca na base de dados Medline/PubMed, Lilacs e SciELO cutânea (diabetes e deficiência de ferro, respectivamente).
resultou num total de 232 citações. Destas 232 citações Dois estudos realizaram a pesquisa em animais saudáveis18,20
somente cinco estudos experimentais (n=5) em ratos Wistar e uma pesquisa avaliou os efeitos da fototerapia em um
preencheram adequadamente aos critérios de inclusão desta modelo animal de queimadura21.
revisão. Os anos de publicação variaram de 2007 a 2015. Em relação aos parâmetros fototerapêuticos escolhidos,
Dos cinco estudos analisados, quatro foram publicados no três estudos17,19,20 utilizaram LASERs e LEDs com compri-
periódico Lasers in Medical Science, com fator de impacto de mentos de onda vermelhos (λ < 700 nm). De Souza et al.18
2.402, e um foi publicado no periódico Photomedicine and e Catão et al.21 aplicaram ambos os espectros vermelhos e
Laser Surgery, com fator de impacto de 1.634. Os 4 estudos infra-vermelhos nos grupos analisados. A maioria dos estudos
avaliados nesta revisão são resumidos na Tabela 1. realizou um protocolo com, pelo menos, duas aplicações do
Para a indução do modelo de ferida cutânea três estudos LASER ou LED, exceto o trabalho de Dall Agnol et al.17 que
realizaram um corte no dorso do animal com uma área de utilizou uma dose única logo após o procedimento cirúrgico.
0,5-1 cm2,17-19 e um realizou um corte de 15 mm de diâmetro A densidade de energia variou de 2,5 J/cm2 a 40 J/cm2 e a
na coxa do animal20. Dois estudos17,19 compararam a eficácia técnica de aplicação foi o método de contato com auxílio
do LASER e do LED em modelos animais de doenças de papel filme, exceto no estudo de Dall Agnol et al.17 que
consideradas de risco para dificuldades de cicatrização aplicou o LASER ou LED a uma distância de 1 cm da ferida17.
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Tabela 1. Estudos experimentais sobre os efeitos do LASER e do LED no processo de cicatrização cutânea analisados nesta revisão.
NA = não avaliado.
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O primeiro estudo a comparar os efeitos biomodula- celulares15,16,25. No estudo de Dall Agnol et al.17, os autores
tórios do LASER e do LED em feridas cutâneas foi desen- hipotetizam que a eficácia aumentada no LED pode estar
volvido pelo grupo de pesquisa da USP (Universidade de relacionada com o amplo espectro da fonte de luz não
São Paulo)20. Nesta investigação os autores compararam coerente, sugerindo que múltiplos comprimentos de onda
os efeitos fotoindutores do LASER (λ 660 nm) e do LED podem estimular diferentes cromóforos e, assim, produzir
(λ 635 nm) na formação vascular e no fechamento de feridas diversas reações bioquímicas ao mesmo tempo. É importante
cutâneas. Os resultados mostraram que, independente da ressaltar que a utilização de uma dose fototerapêutica única
fluência utilizada (5 ou 20 J/cm2), a terapia com LASER e aplicada à distância de 1 cm do local da ferida limitam a
LED estimulou significativamente a angiogênese no local da análise dos resultados encontrados uma vez que há perda
lesão. O aumento do leito vascular no local da ferida restaura significativa de energia por reflexão.
as demandas nutricionais e de oxigênio para o tecido em Mais recentemente três artigos foram publicados sobre a
formação, favorecendo a proliferação e a migração celular, temática desta revisão. Oliveira Sampaio et al.19 realizaram
assim como, a síntese de proteínas21,22. um estudo sobre os efeitos da fototerapia em ratos com
Corazza et al.20 também observaram que o estímulo da deficiência de ferro. Os resultados desta investigação
angiogênese foi menos intenso nos grupos tratados com mostraram que o uso do LASER (λ 660 nm) ou do LED
a fluência do LASER mais alta (20 J/cm2). Em fototerapia (λ 700 nm) estimulou a proliferação fibroblástica em ratos
a adequada determinação da densidade de energia é anêmicos e saudáveis. No entanto, animais anêmicos tratados
essencial para obtenção do efeito terapêutico. Estudos com o LED vermelho obtiveram um resultado mais evidente
indicam que a bioestimulação do tecido cutâneo ocorra em do que o grupo tratado com LASER. Os autores sugerem
densidades de energia entre 0,5 e 4 J/cm2, contrariando a que a deficiência de hemoglobina nos roedores anêmicos
metodologia empregada nesta pesquisa23,24. Adicionalmente, e o amplo espectro da luz do LED, constituíram fatores que
os mesmos autores observaram que os resultados positivos facilitaram a absorção desta modalidade fototerapêutica.
da angiogênese foram similares nos grupos LASER e LED, Barolet10 (2008) e Schubert26 (2006) acrescentam ainda que,
sugerindo que a ação angiogênica da fototerapia esteve após a fotobioestimulação com uso do LED em fluências
mais relacionada com o comprimento de onda e fluência de adequadas, ocorre uma rápida produção de ATP, estimulando
energia do que com a coerência da luz15,16,25. Apesar do bom a proliferação fibroblástica e a deposição de colágeno.
número amostral utilizado neste estudo (n=24 por grupo), a Similarmente, mas com animais sadios, De Souza et al.18
ausência de uma avaliação imuno-histoquímica específica, o investigaram os efeitos do LASER e do LED na angiogênese
grande desvio padrão das variáveis encontradas e a utilização após a indução de ferida cutânea. Utilizando diferentes
de protocolos com densidade de energia (20 J/cm2) pouco comprimentos de onda, os autores mostraram que a
caracterizada na literatura limitam a análise dos desfechos. fototerapia estimulou intensa angiogênese no local da ferida,
No ano de 2009 o grupo da UNIVAP (Universidade do corroborando estudos prévios que indicam que o LASER27-29
Vale do Paraíba) liderado por Dall Agnol et al.17 realizou e o LED15,16,25 nas faixas espectrais vermelha e infra-vermelha
um estudo similar, porém em ratos diabéticos. Na diabetes podem aumentar a vasodilatação e a microcirculação local,
melittus os principais fatores que contribuem para a resultando no aumento do aporte de oxigênio e nutrientes
deficiência cicatricial são a diminuição da produção de fatores na lesão cutânea. Além disso, também se observou que o
de crescimento e da angiogênese. Neste estudo os resultados LED no comprimento de onda verde foi capaz de estimular
mostraram que o diâmetro da ferida foi significativamente a angiogênese significativamente. Baseando-se em estudos
menor nos grupos tratados com LASER (λ 660 nm) e LED prévios30, os autores sugerem que, apesar dos relatos sobre
(λ 640 nm), principalmente nos animais diabéticos. Os a especificidade de absorção luminosa pelas biomoléculas
autores concluíram que o LASER e o LED produziram efeitos presentes nos tecidos, verifica-se uma ampla janela biológica,
similares de proliferação celular, sugerindo que a coerência permitindo a ação fotobiomoduladora em várias faixas do
da luz não é o principal requisito para estimular eventos espectro com magnitudes diferentes.
bioquímicos. Além disso, também observou-se que, em Em 2015, Catão et al.21 realizaram um estudo comparativo
apenas 72h pós-lesão, os animais diabéticos tratados com sobre o LASER, o LED e a terapia fotodinâmica (TFD) no
LED apresentaram uma significativa redução no tamanho da processo de cicatrização de queimaduras. Os autores
ferida. Apesar das escassas evidências científicas, atualmente verificaram que até o 14º dia de aplicação da fototerapia,
alguns autores tem postulado que a coerência da luz é todos os grupos (LASER, LED e TFD) apresentaram um
perdida nas primeiras camadas da pele e que, portanto, esta maior índice de retração da ferida quando comparados
característica não seria fundamental para produzir alterações ao grupo controle. Aos 21 dias pós-queimadura, essa
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diferença foi observada apenas nos grupos de LASERs aplicabilidade clínica em processos cicatriciais cutâneos,
vermelho e infravermelho. Os pesquisadores sugerem que, sugerindo que este recurso possa se constituir em uma
nestes comprimentos de onda, a penetração do LASER seja ferramenta fisioterapêutica valiosa, reduzindo complicações
maior, influenciando na maturação de fibroblastos para funcionais e estéticas. Certamente, o sucesso em roedores
miofibroblastos já nas fases iniciais de cicatrização. pode ser considerado o primeiro passo no desenvolvimento
Cabe ressaltar que estudos como os de Corazza et al.20, de uma abordagem terapêutica para um futuro uso clínico.
De Souza et al.18 e Catão et al.21, que utilizaram a irradiação No entanto, é evidente a necessidade de estudos adicionais
do LASER e do LED em animais sem condições de risco para em seres humanos a fim de definir estratégias seguras
déficits de cicatrização são questionados na literatura. Smith31 e efetivas para o uso da fototerapia em pacientes com
(2005), pesquisador na área de fototerapia, sugere que em dificuldades de cicatrização.
lesões agudas nos indivíduos sem condições patológicas
associadas, os mecanismos fisiológicos trabalham de forma REFERÊNCIAS
adequada e suficiente para reparar o tecido lesionado.
Barolet10 (2008) ainda acrescenta que células em homeostasia 1. Kede MPV. Dermatologia estética. São Paulo: Atheneu; 2009.
podem reagir pouco ou não reagir à fototerapia e, por isso, 2. Flanagen M. Wound healing and skin integrity: principles and
o seu efeito nem sempre é detectável. Já células em certas practice. Hoboken: Wiley-Blackwell; 2013.
condições patológicas, tornam-se mais sensíveis à irradiação. 3. Campos ACL, Borges-Branco A, Groth AK. Wound healing. Arq
Além disso, enfatiza-se que todos os estudos analisados nesta Bras Cir Dig. 2007;20(1):51-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
revisão apresentaram modelos animais de lesões cutâneas 67202007000100010
superficiais. É possível que estes resultados não possam 4. Brasil. Manual de condutas para úlceras neutróficas e traumáticas.
ser reproduzidos em lesões cutâneas profundas, uma vez Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
que luzes coerentes e não coerentes apresentam diferentes 5. Singer AJ, Clark RA. Cutaneous wound healing. N Engl J
distribuições dentro do tecido31. Por fim, é importante Med. 1999;341(10):738-46. http://dx.doi.org/10.1056/NEJM
199909023411006
acrescentar que o processo de reparo da pele humana
apresenta mecanismos mais complexos de regeneração do 6. Whinfield AL, Aitkenhead I. The light revival: does phototherapy
promote wound healing? A review. Foot (Edinb). 2009;19(2):
que em animais de experimentação, sugerindo que estudos
117-24. http://dx.doi.org/10.1016/j.foot.2009.01.004
adicionais em seres humanos devam ser realizados para a
7. Peplow PV, Chung TY, Baxter GD. Laser photobiomodulation of
padronização do uso clínico da fototerapia.
wound healing: a review of experimental studies in mouse and rat
animal models. Photomed Laser Surg. 2010;28(3):291-325. http://
CONSIDERAÇÕES FINAIS dx.doi.org/10.1089/pho.2008.2446
8. Schreml S, Szeimies RM, Prantl L, Landthaler M, Babilas P. Wound
Os cinco artigos analisados nesta revisão mostraram healing in the 21st century. J Am Acad Dermatol. 2010;63(5):
resultados favoráveis ao uso de LASER e LED tanto em 866-81. http://dx.doi.org/10.1016/j.jaad.2009.10.048
condições normais quanto em condições de risco para 9. Nouri K. Lasers in dermatology and medicine. Miami: Springer;
atraso na cicatrização cutânea. Os autores sugerem que os 2012. http://dx.doi.org/10.1007/978-0-85729-281-0
mecanismos de ação são similares em ambas as fototerapias 10. Barolet D. Light-emitting diodes (LEDs) in dermatology. Semin
LASER e LED e relacionam-se com a estimulação de Cutan Med Surg. 2008;27(4):227-38. http://dx.doi.org/10.1016/j.
fotorreceptores na cadeia respiratória mitocondrial, sder.2008.08.003
alterações nos níveis de ATP celular, liberação de fatores de 11. Roelandts R. The history of phototherapy: something new under
crescimento e síntese de colágeno. No entanto, cabe ressaltar the sun? J Am Acad Dermatol. 2002;46(6):926-30. http://dx.doi.
org/10.1067/mjd.2002.121354
que, a carência de padronização metodológica dificulta
conclusões precisas sobre os desfechos analisados nestes 12. Mester E, Mester AF, Mester A. The biomedical effects of laser
application. Lasers Surg Med. 1985;5(1):31-9. http://dx.doi.
estudos comparativos. Além disso, é importante enfatizar que
org/10.1002/lsm.1900050105
a terapia com LASER de baixa potência tem sido investigada
13. Avci P, Gupta A, Sadasivam M, Vecchio D, Pam Z, Pam N, Hamblin
há aproximadamente 20 anos e que, portanto, em função
MR. Low-level laser (light) therapy (LLLT) in skin: stimulating,
da significativa quantidade de publicações relevantes, healing, restoring. Semin Cutan Med Surg. 2013;32(1):41-52.
ainda permanece como a abordagem fototerapêutica com
14. Woodruff LD, Bounkeo JM, Brannon WM, Dawes KS, Barham CD,
embasamento científico mais consistente. Apesar destas Waddell DL, Enwemeka CS. The efficacy of laser therapy in wound
limitações, os estudos apresentados nesta revisão mostram repair: a meta-analysis of the literature. Photomed Laser Surg.
que a fototerapia de baixa potência possui promissora 2004;22(3):241-7. http://dx.doi.org/10.1089/1549541041438623
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