21840-Texto Do Artigo-97440-3-10-20160518

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ISSN: 1983-652X

jan.-abr. 2016;9(1):55-61
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faenfi/about/
http://dx.doi.org/10.15448/1983-652X.2016.1.21840

A rtigo de R evisão

Comparação do laser e do led no processo de cicatrização


em feridas cutâneas: uma revisão
Comparison of laser and led in the process of healing cutaneous wounds: a review

Simone de Paulaa
a
Fisioterapeuta. Doutora em Saúde da Criança pela PUCRS. Especialista em Fisioterapia Dermatofuncional (COFFITO).
Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Feevale.

RESUMO Objetivo: O objetivo desta revisão foi apresentar e comparar as evidências científicas atuais sobre os efeitos
terapêuticos do LASER e do LED de baixa potência no processo de cicatrização cutânea através da análise de estudos
experimentais em roedores.
Materiais e Métodos: Revisão bibliográfica, realizada por meio de pesquisa nas bases de dados Medline/PubMed
e SciELO. Foram selecionados artigos originais e experimentais disponíveis na íntegra que objetivaram comparar os
efeitos terapêuticos do LASER e do LED no processo de cicatrização cutânea. As palavras-chaves e os operadores
boleanos utilizados para a busca nas bases de dados foram: wound healing OR healing AND laser AND led. Foram
incluídos artigos publicados nos idiomas inglês e português.
Resultados: De um total de 232 artigos encontrados, cinco estudos foram selecionados para a presente revisão de
literatura. Os anos de publicação variaram de 2007 a 2015. Três estudos utilizaram LASERs e LEDs com comprimentos
de onda vermelhos (λ<700  nm) e dois estudos aplicaram ambos os espectros vermelhos e infra-vermelhos nos grupos
analisados. A maioria dos estudos realizou um protocolo com, pelo menos, duas aplicações do LASER ou LED através
da técnica de contato. A densidade de energia variou de 2,5 J/cm2 a 40 J/cm2.
Conclusão: Apesar da variabilidade metodológica apresentada nas investigações, os resultados destes estudos
mostraram desfechos histológicos e imunohistoquímicos satisfatórios, sugerindo que estas terapias possam favorecer
significativamente o processo de reparo tecidual. No entanto, estudos adicionais necessitam ser realizados a fim de
definir estratégias clínicas seguras e efetivas para o uso da fototerapia na cicatrização de feridas.
Palavras-chave: cicatrização; fototerapia; LASER.

ABSTRACT Objective: The objective of this review was to present and compare the current scientific evidence on the therapeutic effects of low
level LASER and LED in the cutaneous healing process through the analysis of experimental studies in rodents.
Materials and Methods: Literature review, carried out through a search in the Medline/PubMed and SciELO databases. Original and
experimental articles available in full that aimed to compare the therapeutic LASER and LED effects on the skin healing process were
selected. The keywords and boolean operators used to search the databases were: wound healing OR healing AND laser AND led.
Articles published in English and Portuguese were included.
Results: From a total of 232 articles found, five studies were selected for this literature review. Year of publication ranged from 2007
to 2015. Three studies used LASERs and LEDs with red wavelengths (λ<700 nm) and two studies used both red and infrared spectra
in the analyzed groups. Most of the studies conducted a protocol with at least two applications of LASER or LED through the contact
technique. The energy density ranged from 2.5 J/cm2 to 40 J/cm2.
Conclusion: Despite the methodological variability in the researchers found, the results of these studies showed satisfactory
histological and immunohistochemical outcomes, suggesting that these therapies can significantly facilitate the tissue repair process.
However, further studies should be performed in order to establish safe and effective clinical strategies for the use of phototherapy
in wound healing.
Keywords: wound healing; phototherapy; LASER.

Correspondência:
Simone de Paula
Curso de Fisioterapia
ERS-239, 2755
93525-075 Novo Hamburgo, RS, Brasil
Exceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico
E-mail: [email protected] é licenciada sob forma de uma licença Creative Commons BY-NC 4.0 Internacional.
Recebido em 12/09/2015, aceito em 05/02/2016 http://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/
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INTRODUÇÃO prêmio Nobel de Medicina de 1903 por seus estudos sobre


a fototerapia ultravioleta no lúpus vulgar9-11.
A cicatrização cutânea é um processo fisiológico Já em meados da década de 60, as primeiras aplicações
dinâmico e complexo, caracterizado por uma grande clínicas da fototerapia com LASER de baixa potência foram
variedade de eventos celulares, moleculares e bioquímicos relatadas através dos estudos de Mester, um médico húngaro
que interagem para que ocorra a reconstituição tecidual. que descobriu, por acaso, o potencial fotobiológico do
Logo após o surgimento de uma lesão, há uma complexa LASER de rubi12. Desde então, a laserterapia tem sido um dos
liberação de mediadores que dão início ao processo de recursos fototerapêuticos mais utilizados na prática clínica
reparo, o qual se inicia pela inflamação, fase da migração para reduzir a inflamação e aumentar o reparo de diferentes
de leucócitos e plaquetas; seguido pela fase proliferativa tecidos. Além disso, por ser considerada uma terapia não
ou granulação, com destaque para a angiogênese e para o invasiva, indolor e não térmica, a luz monocromática e
aumento no número de fibroblastos; e finalmente, conclui- coerente emitida pelo LASER vem despertando crescente
se com a remodelação. Esta última fase dura meses e tem interesse dos pesquisadores quanto ao seu mecanismo
como meta a melhoria nos componentes das fibras colágenas de ação e a seus efeitos terapêuticos. Resultados positivos
e a reabsorção de água para aumentar a força da cicatriz e sobre o uso do LASER na faixa espectral do vermelho ao
diminuir sua espessura1,2. Em virtude da complexidade do infravermelho (600-1200nm) têm sido demonstrados
processo de reparo tecidual, inúmeros fatores exógenos e através de estudos experimentais e clínicos, indicando
endógenos podem alterar os mecanismos de cicatrização da que esta modalidade terapêutica pode ter eficiente ação
pele resultando em disfunções na integridade cutânea, tais antiinflamatória e analgésica, além de aumentar a produção
como a fibrose excessiva ou a persistência de feridas1,3. de adenosina trifosfato (ATP), facilitando a proliferação
As feridas cutâneas constituem um problema de saúde celular e a neoformação vascular e, consequentemente,
pública no Brasil e no mundo. Estima-se que as dificuldades promovendo qualidade e rapidez no processo cicatricial de
de cicatrização atinjam 1-2% da população em geral feridas cutâneas13,14.
destinando, assim, 2% do orçamento em saúde para o Mais recentemente o diodo emissor de luz conhecido
tratamento de feridas4. Apenas nos Estados Unidos, as como LED tem sido apresentado como uma abordagem
feridas crônicas afetam 6,5 milhões de pessoas resultando alternativa ao alto custo da laserterapia. Diferentemente do
em quadros de dores crônicas, alterações emocionais, LASER, a terapia com LEDs possui restrita base literária e
infecciosas, metabólicas e estéticas, além de limitações distingue-se por emitir luzes policromáticas e não coeren-
funcionais importantes, tais como alterações de marcha e tes. No entanto, nos últimos anos a National Aeronautics
dificuldades de deambulação5. Em virtude da significância and Space Administration (NASA) tem colaborado com
clínica e sócio-econômica das feridas cutâneas, soluções diversas pesquisas sobre o uso do LED na reparação de
inovadoras para melhorar a qualidade de vida dos ferimentos, demonstrando resultados seguros e promissores
pacientes acometidos por deficiências no processo de para o tratamento de diversas alterações dermatofun-
reparação tecidual têm sido investigadas, incluindo o uso cionais15,16.
de células-tronco, fatores de crescimento, medicamentos, Apesar dos avanços científicos sobre o uso da luz no
oxigenação hiperbárica e a utilização de recursos da reparo cutâneo, aspectos como fluência, comprimento
Fisioterapia, tais como o ultrassom e, mais recentemente, a de onda, modo de aplicação e as diferenças relacionadas
fototerapia6-9. à coerência e à colimação da luz ainda necessitam ser
A fototerapia, em seu amplo sentido, significa o uso esclarecidos para a otimização desta abordagem terapêutica
terapêutico de qualquer tipo de luz. Atualmente, o conceito no tratamento fisioterapêutico de feridas. Neste contexto, o
moderno de fototerapia se define como o uso de níveis objetivo desta revisão foi apresentar e comparar as evidências
baixos de energia da luz para promover efeitos atérmicos e científicas atuais sobre os efeitos terapêuticos do LASER e do
não traumáticos nos tecidos. A primeira fonte de luz usada LED de baixa potência no processo de cicatrização cutânea
na Medicina foi a luz natural do sol, abordagem utilizada através da análise de estudos comparativos e experimentais
por mais de 1000 anos por povos na Índia, China, Grégia em roedores.
e Egito para tratar doenças de pele, entre as quais o vitiligo
e a psoríase. Mais tarde, entre os séculos XVIII e XIX, os MATERIAIS E MÉTODOS
mecanismos de ação da radiação ultravioleta sobre os seres
humanos passaram a ser esclarecidos, especialmente através O estudo consiste em uma revisão bibliográfica, realizada
de estudos do médico e cientista Niels Finsen, ganhador do por meio de pesquisa nas bases de dados Medline/PubMed e

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SciELO. Foram selecionados artigos originais e experimentais


disponíveis na íntegra contendo análises comparativas sobre
os efeitos terapêuticos do LASER e do LED no processo de
cicatrização cutânea. As palavras-chaves e os operadores
boleanos utilizados para a busca nas bases de dados foram:
wound healing OR healing AND laser AND led. Foram
incluídos artigos publicados nos idiomas inglês e português.
Não foram utilizados filtros em relação ao ano de publicação
dos estudos.
Os critérios de inclusão para a seleção dos ensaios
experimentais desta revisão foram: 1) o uso de LASER e LED
nos grupos experimentais; 2) a análise estatística comparativa
entre o LASER e o LED nos grupos experimentais; 3) a
presença desfechos histológicos, funcionais e/ou imuno-
histoquímicos relacionados à cicatrização de feridas cutâneas;
4) o comprimento de onda, a fluência e o modo de aplicação
claramente definidos na metodologia; e 5) uso in vivo de
camundongos ou ratos nos grupos experimentais. Foram
excluídos os estudos in vitro ou com metodologia clínica,
as revisões e metaanálises e os artigos envolvendo tecidos
não cutâneos. A Figura 1 resume a estratégia de seleção dos
artigos para esta revisão.
Após a análise dos títulos e resumos (abstracts) dos
artigos selecionados através da pesquisa boleada, realizou-
se uma triagem dos artigos disponíveis na íntegra e que
contemplavam os critérios de inclusão e exclusão. Os 5
(cinco) artigos selecionados foram dispostos em uma tabela
para facilitar a visualização dos resultados. As principais
variáveis analisadas entre os estudos foram: fluência,
frequência e modo de aplicação, desfechos histológicos e
imunohistoquímicos.

Figura 1. Fluxograma com a estratégia de seleção para a inclusão dos artigos.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

A busca na base de dados Medline/PubMed, Lilacs e SciELO cutânea (diabetes e deficiência de ferro, respectivamente).
resultou num total de 232 citações. Destas 232 citações Dois estudos realizaram a pesquisa em animais saudáveis18,20
somente cinco estudos experimentais (n=5) em ratos Wistar e uma pesquisa avaliou os efeitos da fototerapia em um
preencheram adequadamente aos critérios de inclusão desta modelo animal de queimadura21.
revisão. Os anos de publicação variaram de 2007 a 2015. Em relação aos parâmetros fototerapêuticos escolhidos,
Dos cinco estudos analisados, quatro foram publicados no três estudos17,19,20 utilizaram LASERs e LEDs com compri-
periódico Lasers in Medical Science, com fator de impacto de mentos de onda vermelhos (λ < 700 nm). De Souza et al.18
2.402, e um foi publicado no periódico Photomedicine and e Catão et al.21 aplicaram ambos os espectros vermelhos e
Laser Surgery, com fator de impacto de 1.634. Os 4 estudos infra-vermelhos nos grupos analisados. A maioria dos estudos
avaliados nesta revisão são resumidos na Tabela 1. realizou um protocolo com, pelo menos, duas aplicações do
Para a indução do modelo de ferida cutânea três estudos LASER ou LED, exceto o trabalho de Dall Agnol et al.17 que
realizaram um corte no dorso do animal com uma área de utilizou uma dose única logo após o procedimento cirúrgico.
0,5-1 cm2,17-19 e um realizou um corte de 15 mm de diâmetro A densidade de energia variou de 2,5 J/cm2 a 40 J/cm2 e a
na coxa do animal20. Dois estudos17,19 compararam a eficácia técnica de aplicação foi o método de contato com auxílio
do LASER e do LED em modelos animais de doenças de papel filme, exceto no estudo de Dall Agnol et al.17 que
consideradas de risco para dificuldades de cicatrização aplicou o LASER ou LED a uma distância de 1 cm da ferida17.

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Tabela 1. Estudos experimentais sobre os efeitos do LASER e do LED no processo de cicatrização cutânea analisados nesta revisão.

Fototerapia (fluência, Desfechos


Estudo Objetivo Desfechos histológicos Conclusão
freqüência e modo) imunohistoquímicos
Corazza et al.20 Comparar os efeitos LASER de diodo com A densidade de NA A formação de
fotoindutores das l 660 nm e LED de vasos sanguíneos foi novos vasos foi
luzes coerentes e l 635 nm. significativamente significativamente maior
não coerentes na O tratamento foi diário, maior em todos os nos grupos tratados
formação vascular e iniciado 6 h após o animais tratados quando com LASER e LED,
no fechamento de procedimento cirúrgico comparados aos com exceção do LASER
feridas cutâneas. e aplicado em 6 pontos controles nos dias 3 e 7 20 J/cm2.
ao redor da ferida. pós-cirurgia. A fluência de 5 J/cm2
A aplicação foi pontual O grupo LASER 5 J/ estimulou a angiogênese
em contato com a pele cm2 mostrou mais alta de forma mais intensa
(a ferida foi forrada taxa de formação de do que os grupos com
com papel filme). novos vasos quando fluência de 20 J/cm2.
comparados aos O estudo não mostrou
controles no dia 21. diferença entre os
O grupo LASER grupos de tratamento,
20 J/cm2 foi similar ao concluindo que,
grupo controle. provavelmente a
coerência não é fator
relevante para o efeito
angiogênico.
Dall Agnol et. al.17 Comparar os efeitos Grupos tratados com Redução significativa A redução de células LED e LASER
biomodulatórios da LED GaAlAs (l 640nm; do diâmetro da ferida inflamatórias e o promoveram similar
luz coerente e não 30 mW), 1 dose logo nos ratos diabéticos 72 h aumento no número aceleração do processo
coerente no processo após procedimento após a lesão no grupo de vasos sanguíneos e de cicatrização cutânea
de reparo tecidual em cirúrgico. tratado com LED vs. fibroblastos foi similar quando comparados aos
ratos diabéticos. Grupos com LASER controle. nos grupos tratados grupos controle.
InGaAlP (l 660nm; Redução significativa do com LASER e LED
6 J/cm2), 1 dose, logo diâmetro da ferida nos quando comparados
após procedimento ratos não diabéticos e aos grupos não
cirúrgico. diabéticos 7 dias após tratados.
A aplicação foi pontual a lesão nos grupos
à distância de 1 cm. tratados com LED e
LASER vs. controle.
Oliveira Sampaio Avaliar os efeitos LASER de diodo NA Animais saudáveis O estudo mostrou efeitos
et al.19 do LASER e do LED (l660nm, 4x2.5J/cm2) irradiados com LASER biomodulatórios positivos
na proliferação de ou LED (l 700nm) e LED tiveram uma do LASER e LED em
fibroblastos em aplicados no dia elevada contagem de ratos anêmicos.
feridas cutâneas em do procedimento fibroblastos. A irradiação do LED
ratos anêmicos com cirúrgico, 48h, 7, 14 Animais anêmicos mostrou melhores
deficiência de ferro. e 21 dias. irradiados com resultados em animais
A aplicação foi pontual LED tiveram uma anêmicos quando
em contato com a pele elevada contagem de comparados ao grupo
(a ferida foi forrada fibroblastos. de LASER.
com papel filme).
De Souza et al.18 Comparar os efeitos A fototerapia começou NA A angiogênese foi LASER e LED são
do LASER e do LED na imediatamente após significativamente capazes de estimular a
angiogênese de feridas a cirurgia e se repetiu aumentada nos grupos angiogênese em feridas
cutâneas em roedores. todos os dias, durante de LED verde, LED cutâneas.
7 dias. vermelho, LASER A coerência não
A aplicação foi pontual infravermelho e LASER foi decisiva para os
em contato com a pele vermelho. desfechos encontrados.
(a ferida foi forrada Houve um significativo
com papel filme). aumento da
angiogênese no grupo
LED verde e vermelho
em relação ao grupo
LASER vermelho.
Catão et al.21 Avaliar os efeitos do 5 grupos: controle, Até o 14º dia, os A produção e a LASER e LED podem
LASER, do LED e da LASER λ660 (10 J/cm2), animais dos grupos de maturação de favorecer o processo
terapia fotodinâmica LASER λ 780 nm tratamento apresentaram fibroblastos foi cicatricial após
no processo de (60 J/cm2), terapia um índice de retração significativamente queimaduras.
cicatrização de fotodinâmica e da ferida maior que o aumentada em todos No entanto, os grupos
queimaduras. LED verde. grupo controle. os grupos tratados, de LASER vermelho e
A irradiação foi Aos 21 dias pós- especialmente infravermelho mostraram
aplicada logo após queimadura, nos grupos de uma redução mais
a queimadura, esta diferença foi LASER vermelho e significativa do tamanho
diariamente. significativa nos grupos infravermelho. da ferida.
LASER vermelho e
infravermelho vs demais
grupos.

NA = não avaliado.

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O primeiro estudo a comparar os efeitos biomodula- celulares15,16,25. No estudo de Dall Agnol et al.17, os autores
tórios do LASER e do LED em feridas cutâneas foi desen- hipotetizam que a eficácia aumentada no LED pode estar
volvido pelo grupo de pesquisa da USP (Universidade de relacionada com o amplo espectro da fonte de luz não
São Paulo)20. Nesta investigação os autores compararam coerente, sugerindo que múltiplos comprimentos de onda
os efeitos fotoindutores do LASER (λ 660 nm) e do LED podem estimular diferentes cromóforos e, assim, produzir
(λ 635 nm) na formação vascular e no fechamento de feridas diversas reações bioquímicas ao mesmo tempo. É importante
cutâneas. Os resultados mostraram que, independente da ressaltar que a utilização de uma dose fototerapêutica única
fluência utilizada (5 ou 20 J/cm2), a terapia com LASER e aplicada à distância de 1 cm do local da ferida limitam a
LED estimulou significativamente a angiogênese no local da análise dos resultados encontrados uma vez que há perda
lesão. O aumento do leito vascular no local da ferida restaura significativa de energia por reflexão.
as demandas nutricionais e de oxigênio para o tecido em Mais recentemente três artigos foram publicados sobre a
formação, favorecendo a proliferação e a migração celular, temática desta revisão. Oliveira Sampaio et al.19 realizaram
assim como, a síntese de proteínas21,22. um estudo sobre os efeitos da fototerapia em ratos com
Corazza et al.20 também observaram que o estímulo da deficiência de ferro. Os resultados desta investigação
angiogênese foi menos intenso nos grupos tratados com mostraram que o uso do LASER (λ 660 nm) ou do LED
a fluência do LASER mais alta (20 J/cm2). Em fototerapia (λ 700 nm) estimulou a proliferação fibroblástica em ratos
a adequada determinação da densidade de energia é anêmicos e saudáveis. No entanto, animais anêmicos tratados
essencial para obtenção do efeito terapêutico. Estudos com o LED vermelho obtiveram um resultado mais evidente
indicam que a bioestimulação do tecido cutâneo ocorra em do que o grupo tratado com LASER. Os autores sugerem
densidades de energia entre 0,5 e 4 J/cm2, contrariando a que a deficiência de hemoglobina nos roedores anêmicos
metodologia empregada nesta pesquisa23,24. Adicionalmente, e o amplo espectro da luz do LED, constituíram fatores que
os mesmos autores observaram que os resultados positivos facilitaram a absorção desta modalidade fototerapêutica.
da angiogênese foram similares nos grupos LASER e LED, Barolet10 (2008) e Schubert26 (2006) acrescentam ainda que,
sugerindo que a ação angiogênica da fototerapia esteve após a fotobioestimulação com uso do LED em fluências
mais relacionada com o comprimento de onda e fluência de adequadas, ocorre uma rápida produção de ATP, estimulando
energia do que com a coerência da luz15,16,25. Apesar do bom a proliferação fibroblástica e a deposição de colágeno.
número amostral utilizado neste estudo (n=24 por grupo), a Similarmente, mas com animais sadios, De Souza et al.18
ausência de uma avaliação imuno-histoquímica específica, o investigaram os efeitos do LASER e do LED na angiogênese
grande desvio padrão das variáveis encontradas e a utilização após a indução de ferida cutânea. Utilizando diferentes
de protocolos com densidade de energia (20 J/cm2) pouco comprimentos de onda, os autores mostraram que a
caracterizada na literatura limitam a análise dos desfechos. fototerapia estimulou intensa angiogênese no local da ferida,
No ano de 2009 o grupo da UNIVAP (Universidade do corroborando estudos prévios que indicam que o LASER27-29
Vale do Paraíba) liderado por Dall Agnol et al.17 realizou e o LED15,16,25 nas faixas espectrais vermelha e infra-vermelha
um estudo similar, porém em ratos diabéticos. Na diabetes podem aumentar a vasodilatação e a microcirculação local,
melittus os principais fatores que contribuem para a resultando no aumento do aporte de oxigênio e nutrientes
deficiência cicatricial são a diminuição da produção de fatores na lesão cutânea. Além disso, também se observou que o
de crescimento e da angiogênese. Neste estudo os resultados LED no comprimento de onda verde foi capaz de estimular
mostraram que o diâmetro da ferida foi significativamente a angiogênese significativamente. Baseando-se em estudos
menor nos grupos tratados com LASER (λ 660 nm) e LED prévios30, os autores sugerem que, apesar dos relatos sobre
(λ 640 nm), principalmente nos animais diabéticos. Os a especificidade de absorção luminosa pelas biomoléculas
autores concluíram que o LASER e o LED produziram efeitos presentes nos tecidos, verifica-se uma ampla janela biológica,
similares de proliferação celular, sugerindo que a coerência permitindo a ação fotobiomoduladora em várias faixas do
da luz não é o principal requisito para estimular eventos espectro com magnitudes diferentes.
bioquímicos. Além disso, também observou-se que, em Em 2015, Catão et al.21 realizaram um estudo comparativo
apenas 72h pós-lesão, os animais diabéticos tratados com sobre o LASER, o LED e a terapia fotodinâmica (TFD) no
LED apresentaram uma significativa redução no tamanho da processo de cicatrização de queimaduras. Os autores
ferida. Apesar das escassas evidências científicas, atualmente verificaram que até o 14º dia de aplicação da fototerapia,
alguns autores tem postulado que a coerência da luz é todos os grupos (LASER, LED e TFD) apresentaram um
perdida nas primeiras camadas da pele e que, portanto, esta maior índice de retração da ferida quando comparados
característica não seria fundamental para produzir alterações ao grupo controle. Aos 21 dias pós-queimadura, essa

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diferença foi observada apenas nos grupos de LASERs aplicabilidade clínica em processos cicatriciais cutâneos,
vermelho e infravermelho. Os pesquisadores sugerem que, sugerindo que este recurso possa se constituir em uma
nestes comprimentos de onda, a penetração do LASER seja ferramenta fisioterapêutica valiosa, reduzindo complicações
maior, influenciando na maturação de fibroblastos para funcionais e estéticas. Certamente, o sucesso em roedores
miofibroblastos já nas fases iniciais de cicatrização. pode ser considerado o primeiro passo no desenvolvimento
Cabe ressaltar que estudos como os de Corazza et al.20, de uma abordagem terapêutica para um futuro uso clínico.
De Souza et al.18 e Catão et al.21, que utilizaram a irradiação No entanto, é evidente a necessidade de estudos adicionais
do LASER e do LED em animais sem condições de risco para em seres humanos a fim de definir estratégias seguras
déficits de cicatrização são questionados na literatura. Smith31 e efetivas para o uso da fototerapia em pacientes com
(2005), pesquisador na área de fototerapia, sugere que em dificuldades de cicatrização.
lesões agudas nos indivíduos sem condições patológicas
associadas, os mecanismos fisiológicos trabalham de forma REFERÊNCIAS
adequada e suficiente para reparar o tecido lesionado.
Barolet10 (2008) ainda acrescenta que células em homeostasia 1. Kede MPV. Dermatologia estética. São Paulo: Atheneu; 2009.
podem reagir pouco ou não reagir à fototerapia e, por isso, 2. Flanagen M. Wound healing and skin integrity: principles and
o seu efeito nem sempre é detectável. Já células em certas practice. Hoboken: Wiley-Blackwell; 2013.
condições patológicas, tornam-se mais sensíveis à irradiação. 3. Campos ACL, Borges-Branco A, Groth AK. Wound healing. Arq
Além disso, enfatiza-se que todos os estudos analisados nesta Bras Cir Dig. 2007;20(1):51-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
revisão apresentaram modelos animais de lesões cutâneas 67202007000100010

superficiais. É possível que estes resultados não possam 4. Brasil. Manual de condutas para úlceras neutróficas e traumáticas.
ser reproduzidos em lesões cutâneas profundas, uma vez Brasília: Ministério da Saúde; 2002.

que luzes coerentes e não coerentes apresentam diferentes 5. Singer AJ, Clark RA. Cutaneous wound healing. N Engl J
distribuições dentro do tecido31. Por fim, é importante Med. 1999;341(10):738-46. http://dx.doi.org/10.1056/NEJM
199909023411006
acrescentar que o processo de reparo da pele humana
apresenta mecanismos mais complexos de regeneração do 6. Whinfield AL, Aitkenhead I. The light revival: does phototherapy
promote wound healing? A review. Foot (Edinb). 2009;19(2):
que em animais de experimentação, sugerindo que estudos
117-24. http://dx.doi.org/10.1016/j.foot.2009.01.004
adicionais em seres humanos devam ser realizados para a
7. Peplow PV, Chung TY, Baxter GD. Laser photobiomodulation of
padronização do uso clínico da fototerapia.
wound healing: a review of experimental studies in mouse and rat
animal models. Photomed Laser Surg. 2010;28(3):291-325. http://
CONSIDERAÇÕES FINAIS dx.doi.org/10.1089/pho.2008.2446
8. Schreml S, Szeimies RM, Prantl L, Landthaler M, Babilas P. Wound
Os cinco artigos analisados nesta revisão mostraram healing in the 21st century. J Am Acad Dermatol. 2010;63(5):
resultados favoráveis ao uso de LASER e LED tanto em 866-81. http://dx.doi.org/10.1016/j.jaad.2009.10.048
condições normais quanto em condições de risco para 9. Nouri K. Lasers in dermatology and medicine. Miami: Springer;
atraso na cicatrização cutânea. Os autores sugerem que os 2012. http://dx.doi.org/10.1007/978-0-85729-281-0
mecanismos de ação são similares em ambas as fototerapias 10. Barolet D. Light-emitting diodes (LEDs) in dermatology. Semin
LASER e LED e relacionam-se com a estimulação de Cutan Med Surg. 2008;27(4):227-38. http://dx.doi.org/10.1016/j.
fotorreceptores na cadeia respiratória mitocondrial, sder.2008.08.003

alterações nos níveis de ATP celular, liberação de fatores de 11. Roelandts R. The history of phototherapy: something new under
crescimento e síntese de colágeno. No entanto, cabe ressaltar the sun? J Am Acad Dermatol. 2002;46(6):926-30. http://dx.doi.
org/10.1067/mjd.2002.121354
que, a carência de padronização metodológica dificulta
conclusões precisas sobre os desfechos analisados nestes 12. Mester E, Mester AF, Mester A. The biomedical effects of laser
application. Lasers Surg Med. 1985;5(1):31-9. http://dx.doi.
estudos comparativos. Além disso, é importante enfatizar que
org/10.1002/lsm.1900050105
a terapia com LASER de baixa potência tem sido investigada
13. Avci P, Gupta A, Sadasivam M, Vecchio D, Pam Z, Pam N, Hamblin
há aproximadamente 20 anos e que, portanto, em função
MR. Low-level laser (light) therapy (LLLT) in skin: stimulating,
da significativa quantidade de publicações relevantes, healing, restoring. Semin Cutan Med Surg. 2013;32(1):41-52.
ainda permanece como a abordagem fototerapêutica com
14. Woodruff LD, Bounkeo JM, Brannon WM, Dawes KS, Barham CD,
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