23 Albert Einsten
23 Albert Einsten
23 Albert Einsten
INTRODUÇÃO
Uma dos ícones mais reconhecidos em todo o mundo é, sem dúvida, o físico
teuto-estadunidense Albert Einstein (1879-1955). Alçado à personalidade do século pela
revista Times em 1999, antes mesmo de sua morte Einstein já acumulava em torno de si
uma série de mitos e façanhas que o apresentavam ao grande público como um ser
humano inigualável. Nos meios de comunicação e massa e na fala de leigos, o
substantivo “gênio” é o termo mais utilizado para defini-lo.
Com o objetivo de desconstruir essa imagem equivocada, esta pesquisa buscou
fazer um levantamento, seleção e análise da produção bibliográfica que colocou aspectos
da vida de Albert Einstein no centro da obra. Analisou-se como os autores especializados
em filosofia da ciência ou em história da física oferecem olhar desmistificador tanto a
respeito dos pormenores da vida privada, como dos acontecimentos que envolvem as mais
conhecidas teorias do cientista alemão.
Procurou-se, através da abordagem problematizadora e contextualizada da
biografia pessoal e acadêmica de Einstein, apresentar ao bolsista os procedimentos e
métodos científicos que sustentam a pesquisa histórica entre seus profissionais. Entre
julho de 2016 e junho de 2017, foram realizadas atividades de seleção bibliográfica
especializada, leitura e fichamento, identificação e referenciamento de fontes primárias,
problematização de documentos, além de outros métodos historiográficos essenciais para
a formação da consciência histórica no ambiente escolar.
1
Estudante do Instituto Federal Catarinense, campus Videira, do CEPTNMI em Agropecuária (turma 2015).
E-mail: [email protected]
2
Professor orientador do Instituto Federal Catarinense, campus Videira. E-mail: adriano.lima@ifc-
videira.edu.br
3
Professora co-orientadora do Instituto Federal Catarinense, campus Videira. E-mail: cristiane.grumm@ifc-
videira.edu.br
Com base nessas premissas, buscou-se desenvolver recurso didático pautado
na interdisciplinaridade, relacionando história da ciência, teorias da divulgação científica
(MASSARANI, 2002; VOGT, 2008), além das discussões teóricas sobre ensino de história
(RÜSEN, 2011). Trazer uma reflexão sobre o processo pelo qual passa a construção da
Ciência na educação básica, é instrumentalizar os estudantes para discutirem e
perceberem que o conhecimento científico não é fruto de indivíduos inspirados, que ele se
constrói a partir de polêmicas, discussões, avanços e retrocessos. Portanto, tem uma
historicidade que precisa ser resgatada. Ainda, relacionado a esses aspectos cabe
lembrar a importância de discutir na escola de educação básica questões relacionadas ao
desenvolvimento da consciência histórica e da aprendizagem histórica instrumentalizando
o estudante a experiência, a competência e a orientação para a vida prática e a ação
consciente que consiga desconstruir os discursos veiculados pelas diferentes mídias.
Imagem 1: Capa da edição especial da Imagem 2: Foto que imortalizou Albert Einstein, tirada
revista Time (31/dez/1999) em que Einstein quando estava prestes a sair para a entrega do Prêmio
é eleito a “personalidade do século”. Einstein para Feitos nas Ciências Naturais (Einstein
Awards for Achievements in Natural Sciences), no
Extraído de: ROBINSON, 2005, p. 234. Princeton Club, em 14 de março de 1951, data em que
completaria 72 anos de idade.
Extraído de: ROBINSON, 2005, p. 239.
Logo após receber o Prêmio Nobel de Física em 1921, Einstein começa a atrair
a atenção de um público mais amplo e heterogêneo. Talvez por este motivo, pessoas
próximas a ele iniciaram o que podemos chamar atualmente de literatura einsteiniana, ou
seja, a produção acadêmica ou meramente comercial que apresenta aspectos da vida
pública, pessoal ou intelectual que o tornariam o maior ícone da Ciência do século XX.
A primeira geração de biógrafos de Albert Einstein inicia-se com o livro do
escritor e editor Alexander Moszkowski, publicado em Berlim em 1921 e traduzido para o
inglês com o título sugestivo de “Conversations with Einstein”. Vizinho e amigo íntimo de
Einstein, Moszkowski narra as discussões teóricas, as brincadeiras e as conversas
cotidianas que mantinham, além de oferecer informações interessantes sobre a
personalidade, o senso de humor, as rotinas e o amor pelo violino preservado pelo criador
da teoria da relatividade. Uma das maiores contribuições de Moszkowski, no entanto,
reside em suas descrições a respeito das dificuldades que Einstein encontrou ao tentar
formular o que agora chamamos de teoria geral da relatividade (RON, 2005, s/p [1];
ISAACSON, 2007, p. 282-283).
- Jürgen Renn e Robert Schulmann, “Albert Einstein and Mileva Maric: the love
letters” (1992);
- Roger Highfield e Paul Carter, “The private lives of Albert Einstein” (1993);
- Michael Paterniti, “Driving Mr. Albert: a trip across America with Einstein's
brain” (2000);
- Fred Jerome, “The Einstein File: J. Edgar Hoover’s secret war against the
world’s most famous scientist” (2002);
Imagem 3: Einstein andando de bicicleta na casa de amigos em Santa Bárbara, na Califórnia (1933).
Como pode-se perceber através dos títulos elencados, a vida de Einstein foi
esgaravatada a ponto de termos a impressão de não haver mais o que investigar sobre o
físico alemão. Das cartas de amor que escrevia a sua namorada – e depois de casado, à
amante – às investigações promovidas pelo FBI, dos artigos do “ano miraculoso” às
anotações reunidas por seus assistentes e secretárias, das opiniões sobre a guerra,
religião ou o sionismo à saga em torno do roubo de seu cérebro pelo médico legista que
fez sua autópsia, tudo e mais um pouco pode ser conhecido sobre Albert Einstein.
Sem tomar esses cuidados, o pesquisador pode incorrer no erro que Cibelle
Celestino Silva e Roberto de Andrade Martins, como base no conceito de P.J. Rogers, da
The Queen's University of Belfast, classificou como “crença científica” em oposição ao
conhecimento científico propriamente dito:
Há uma importante distinção entre conhecimento científico e crença científica. Dizemos que
alguém tem conhecimento científico sobre algum assunto se ele ou ela sabe os resultados
científicos, aceita esses resultados e tem o direito de aceitá-los, pois sabe como este
conhecimento é justificado e sobre o que está baseado. Crença científica, por outro lado,
corresponde ao conhecimento dos resultados científicos, junto com sua aceitação como
verdade, quando essa aceitação é baseada no respeito à autoridade do professor ou dos
cientistas. Além do mais, é muito mais fácil adquirir crença científica do que conhecimento
científico (SILVA; MARTINS, 2003, p. 55; grifos meus).
CONSIDERAÇÕES FINAIS