Marxismo Na America Latina Lowy

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. Jorge del Prado, Revo/LI('l7ono Peru: (1971),439 Pmtido Comunista Mexicaml, Pe!

o pluralismo socialista (1977),444 Carlos Nelson Coutinho, A democracia como valor universal (1980),447 VI. 0
MAOfsMO

Introdus;ao
( 1968),455

Pattido Comunista do Brasil, A revolu(o'[ionacional-dernocratica

Pattido COl11unistado Brasil, A guerra popular (1969),458 PattidoComunista (ML) da Colombia, A guerra do povo (1965),461

Pontos de referencia para uma hist6ria do marxismo na America Latina

VII. 0

TROTSKISMO

Hugo Blanco, Milicia ou guerrilha:

(1965),465

Luis Vitale, America Latina:feudal ou capitalista: (1966),469 .0 POR holiviano e a guerrillw de Che (1967),477 Adolfo Gilly, Mexico, a revolu('[io interrompida (1971),483 Teses do PRTsohre a Revolu(:clO M exicana ( I976),490 XI Congresso da IV Internacional, Reso!ll('[io sohre a America Latina ( 1979), 496

E evidente

que a hist6ria de quase um seculo de teoria e pnitica do mm'xis-

mo em to do um continente nao pode ser resumida em algumas dezenas de paginas; as seguintcs observac,;5es tentam apenas propor alguns pontos de referencia para 0 estudo da evoluc,;ao do pensamento marxista na America Latina, com enfase na quesUio da natureza Um dos principais confront'll' foi precisamente da revOlU(.'clO
I

5, NOVAS

TENDENCIAS

problemas

que 0 marxismo

latino-americano

teve de

Elisabeth Souza-Lobo, A c!asse operaria tem dois sexos (1982),509 Frei Betto, Cristianismo e marxismo (1986),515 Enrique Dussel, Teologia da liherta('[io e marxismo (1990),520 Pattido dos Trabalhadores, 0 socialismo petista (1990),526 Foro de Sao Paulo, 0 rnanijestode Self)Paulo da esquerdellatino-arnericana .JoaoPedroSteclileeFrei Sergio,A lutapelaterr~ no Brasil (1993),538 (1994),544 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Capitalismo campo (1995),547 SubcomandanteMarcos Contra 0 Neoliheralismo e classes sociais no Intercontinental (1990),534

a definic,;ao do carater da revoluc,;ao no continente-

definic,;ao que era ao meSI110 tempo resultado de certa analise das formac,;5es sociais latino-americanas e 0 ponto de partida para a formulac,;ao de estrategias e taticas polfticas, Em outras palavras, e um dos momentos-chave da reflexao cientffica e uma mediac,;ao decisiva entre a teoria e a pratica, Toda uma serie de questoes polfticas fundamentais -- as alianc,;as de classe, os metodos de luta, as etapas da revo1uc,;ao - estcl intimamente natureza da revoluc,;ao. ligada a essa problemiitica central: a

Exercito Zapatista de Libelta<;;aoNaciona1, Primeira dec!arw;;[io delSelva Lacandona

Muito esquematieamente, podemos distinguir tres perfodos na hist6ria do marxismo latino-americano: I) um perfodo revolucionario, dos anos 20 ate meados dos cmos 30, cuja expressao te6rica mais profunda e a obm de Mariategui e cuja manifestac,;ao pratiea mais importante foi a insurreic,;ao sa1vadorenha de 1932. Nesse periodo, os marxistas americana 2)
0

(EZLN), Convoca('[io cia Con{erencia e pela J-Iumanidade (1996),553

Femando Martinez Heredia, Contra a cultura da resigna(.'clo ( 1997), 556 Emir Sader, 0poder; cade 0 poder: (1997),562 Leandro Konder, E'ticaMarxista (2(XJO), 67 5 Economistas de Esquerda (EDI) da Argentina, Propostas do ED] (2002), 573 Rede Brasil de Ecossocialistas (2003),580 Chiudio Katz, Centro-esquerda, Sobre
0 orgcUlizador,587

tendiam a earacterizar socialista, democratica

a revoluc,;ao latinoe antiimperialista;


0

como, simultaneamente,

perfodo stalinista, de meados da decadel de 1930 ate 1959, durante

qual a

interpretac,;ao sovietica de marxismo foi hegemonica, e por conseguinte a teoria de revoluc,;ao pOI'etapas, de Stalin, definindo a etapa presente na America Latina como nacional-dcll1ocratica; 3)
0

nacionalismo e socialismo (2005), 582

novo perfodo rcvolucionario,

ap6s a Rcvolu-

1. Para uma historiarelativamente bem documentadado comunismolatino-americanover a obra de BorisGoldemberg,Kommunismus in Lateinamerika (Stuttgart, erlagKohlhammer, V '1971), que, apesar de seus defeitos e de uma tendencia para 0 anticomunismo,8, certamente, superiora obras similarespublicadasnos Estados Unidos,todas profundamente marcadas pela Guerra Fria.

<,;aoCuoana, que ve a ascensao

(ou consolida<,;ao) de correntes

radicais, Clljos

boriosamcntc

cquivalente latino-amcricano,
0

transformando

assim

marxismo "rccorta-

pontos de referencia comuns san a natureza socialista da revolu<,;ao e a Iegitimidade, em certas situa<,;5es, da luta armada, e cuja inspira<,;ao e simbolo, em grau elevado, foi Ernesto Che Guevara. o problema da natureza da revolu<,;ao esta, ern ultima analise, relacionado com certas quest5es teoricas e metodologicas fundamentais que giram ern torno da questao de como aplicar 0 marxismo a realidade latino-americana. o marxismo na America Latina foi amea<,;ado pOI'duas tenta<,;5es opostas: o exeepcionalismo indo-americano e 0 eurocentrismo. o excepcionalismo indo-americano tende a absoilltizar a especificidade Ctltimas conseqliencias, esse particularismo americano da

em um leito dc Procusto, sobre a estrutura agraria do continente

qual a rcalidadc era impicdosamente foi classificada

da" ou "esticada" conforme as necessidades

do momento. Usando esse metodo, como feudal, a burgucsia local

considerada como progrcssista, ou mcsmo revolucionaria, 0 campesinato dcfinido como hostil ao socialismo coletivista etc. Nessa problcmatica, tocla a especificidade da America Latina foi implfcita ou explicitamente negad<l, e
0

continente concebido como uma especic de Europa tropical, com seu desenvolvimento retardado de um seculo, e sob 0 dominio do imperio nortc-americano. Essas duas tcnta<,;5es sao estritall1cnte antagonicas e contraditorias mas, paradoxalmente, levam a uma conclusao comum: a de que 0 socialismo nao esta na ordem do dia na Amcrica Latina. De acordo com Haya de la Torre,
Anles da revoluyao socialisla, que levara previas social a classe lrabalhaclora ao poder, economica emancipa-Io indo-amerie

America Latina e de sua cultura, historia ou estrutura social. Levado as suas acaba por co local' em questao 0 proprio marxismo como teoria cxclusivall1ente europeia. 0 exemplo mais significativo dessa abordagem foi a APRA (Alian<,;a Popular Revolucionaria Americana)2, que, sob a lideran<,;a de Haya de la Torre, tentou primeiramente "adaptar"
0

nosso povo polflica elo jugo

devc passar pOI' etapas pOI' uma revoluyao e Icvat' prolelaria

de lransformayao que conseguira e polflica

ll1arxisll1o a realidade continental,

para posteriormente

"supera-Io"

e, lalvez, imperialisla

a servi<,;o de um populisll1o sui generis e eclctico. Para Haya de la Torre, 0 "espa<,;o-tempo indo-americano" e governado pelas suas proprias leis, e profundamente diferente do "espa<,;o-tempo" europeu analisado pOI' Marx e, por isso, exige uma nova teoria que negue e transcenda 0 marxismoJ Foi 0 eurocentrismo, mais do que qualquer outra tendencia, que devastou 0 marxismo latino-americano. Com esse termo queremos nos referir a uma teoria que se limita a transplantar de desenvolvimento ll1ecanieamente para a America Latina os model os socioeconomico que expli'cam a evolu<,;ao historica da Eu-

a unificayao
vira

econ6mica

cana. A rcvoluyao

elepois4

Partindo da especifidade da America Latina, os apristas (Carlos Manuel Cox, pOI' exemplo) criticam MariCttegui por nao tel' compreendido a diferen<,;a entre as sociedades sencialmente europeias industriais e as sociedades
0

latino-americanas

es-

agrarias e, com isso, ter inventado

mito de uma classe trabalha-

ropa ao longo do seculo xtX. Para cada aspecto da realidade europeia estudado pOl' Marx e Engels - a contradi<,;ao entre for<,;asproduti vas capitalistas e rela<;:5es feudais de produ<,;ao, 0 papel historicamente <;:aodemocratico-burguesa contra
0

dora latino-americana com voca<;:aorevolucionaria5, POI' outro Jado, a corrente eurocentrica (que encontrou inspira<;:aeJnos escritos de Stalin) chega a uma conclusao precisamente analoga: as condi<;:5es economicas e sociais na America Latina nao estao amadurecidas para uma revolu<,;aosociaJista; no momento, 0 objetivo e concretizar uma etapa historica democratica e antifeudal (como na Europa dos secuJos XVlIl e XIXi). Por exemplo, Alejandro Martinez Cambero, um teorico do Partico Comunista Mexicano, escreveu em 1945:
As condiyoes objclivas c subjetivas em que nos cnconlramos no Mexico. nao permiprodutias rela-

progressista da burguesia, a revolula-

Estado feudal absolutista - procurou-se

2. A APRA foi fundada pelo peruano Victor Raul Haya de la Torre quando estava exilado no Mexico. Ideologicamente ecl<tica, foi inspirada principalmenle pela Revolu9ao Mexicana, elaborando uma doutrina "indo-americanista" unica. Durante a decada de 1920, a APRA foi um movimento de carater continental, com se90es em varios paises latino-americanos, mas, pouco a pouco, restringiu-se ao Peru, onde persiste como partido de massa. Originalmente, a APRA declarou-se antiimperialista, mas esse seu carater diluiu-se progressivamente e acabou por desaparecer. 3. De acordo com Haya de la Torre, "0 aprismo formula uma nova interpreta930 do marxismo para a America Latina, transferindo 0 conceito einsteiniano de espa90-tempo para 0 dominio sociohisl6rico com vistas a dar conta desse aglomerado complexo de regioes e ra9as, de form as de produ9ao e de cultura. 0 aprismo nega e transcende 0 marxismo" (em Victor Alba, Politics and the Labor Movement in Latin America [Stanford, Stanford University Press, 1968], p. 169). Mas a teoria aprista situa-se essencialmente fora dos limites do marxismo e 0 seu exotismo indoamericano nunca foi uma corrente importante no pensamento marxista latino-americano, mesmo que tenha tido influencia sobre certos autores ou grupos politicos (por exemplo, a "esquerda nacional" na Argentina).

tem a inslaurayao vas do paIs esliio

imediala

do socialismo a ponto

As foryas com

dcsenvolvidas

de que uma ruptura

4. Ibid., p. 147. 5. Cf. Carlos M. Cox, "Reflexiones sobre Jose Carlos Mariategui", em EI marxismo latinoamericano de Mariategui (Buenos Aires, Ed. Crisis, 1973), p. 185-86: "Mariategui afirmou que 0 proletariado, incipiente no Peru, assim como em toda a America Latina, realizara as tarefas que devem ser realizadas historicamente pela burguesia. [... J Mariategui, assim, fez do proletariado um mito".
11

<;oes capilalistas cessaria como

de prodw;ao possivel'!

que existell1 que naol

presentelllente Objetivamente,

seja

lanlo

ne-

Por oulro lado, essa problematica esta relaeionada com a quest:lo indfgena, na medida em que implica descobrir a parlicularidade amerieano em re!a<;flO modelo europeu. Daf ao
0

Pensamos de produ<;ao

as condi<;iies e nao ca-

do campesinalo

lalino-

economicas apenas

e 0 modo

(nas suas bases fundamentais, ainda nao sao essencialmente

inleresse de um Marialegui ou

em centros

industriais

isolados)

pitalistas".

de um Diego Rivera pelo estudo dos modos pre-eolombianos de produ\;ao, tentando reeneonlrar cerlas tradi<;:oescoletivislas que poderiam levar 0 campesinato indo-amcricano a eomportar-se de maneira diferenle dos camponeses pequedeseritos por Marx n' () J 8 Brumcirio de LUlS Bonaparte. Daf
UI1l

A aplica<;:ao criativa do marxismo a realiclade lalino-americana significa juslamente a supera<;:ao- no senliclo da Aufhebung hegeliana - clessas duas lenclencias e do dilema enlre um parlicularismo hipostasiaclo e um dogmatismo universalisla - gra<;:as~lunidacle dialetico-concreta enlre 0 especffico e 0 uni versal. Na nossa opiniao, nao e acidental que a maioria dos pensadores que compartilham essa posi\;ao ll1etodol6gica, dc Mariategui a Che Guevara, para citar dois exemplos bem conhecidos, chegajustall1cnle ~lconclusao oposla: a revolu<;:ao America Lalina sen't socialisla ou nao ser{t. na Um clos problemas que serviu como ponto cle parlicla para 0 questionamento clo 1l10cleloeurocentrico foi a qucstao clas etapas hist6ricas clo clesenvol vimento economieo na America Latina. Ao analisar a cstrulura clas rela<;:oesprodutivas, varios invesligaclores marxislas das decaclas de 1940 e 1950, como Caio Prado Jr., Sergio Bagu ou Marcelo Segall, negaram que as forma<;:ocs sociais latinoamericanas tivessem sido original mente versoes locais do feudalismo europeu. Pm'tindo dessas investiga\;oes, Andre Guncler Frank, Luis Vitale e oulros desenvolveram uma analise da dimensao especificamente capitalista ciaestrutura produtiva latino-americana e cia sua combiml\;a(? com formas pre-capitalistas, enfatizando que a evolu<;:aodas suas ctapas socioeconomicas nao [oi iclentica aquela vivida pela Europa desde a Idade Media ate a era do capitalismo industrial. Ao demonstrar que a causa do subclesenvolvimento, ciadesigualdade regional e da profunda miseria do campesinato nao e 0 feudalismo, mas 0 carater particular que 0 capilalismo assumiu na America Latina (formas coloniais e, depois, semicoloniais ou dependentes), esses autores criticam a tese eurocentrica sobre a dimensao antifeuclal do desenvolvimcnto do capitalismo na America Latina. Dessa compreens;lo marxista das parlicularidades da America Latina pode-se concluir logicamente, na opiniao desles autores, que apenas mediclas anlicapitalistas no contexto de um processo socialista revolucionario podem solucionar 0 problema agrario do continente e abrir caminho para um desenvolvimento social e economico harmonioso. Nolc-se como tal intcrprela\;aO artiClIla certos conceitos marxislas "c1assicos", ao mesmo lcmpo que, por outro lado, reconhece plenamente americanas.
6. A. M. Cambero,
12 0

nos proprietarios

lambem a preocupa<;:ao de um Hugo Blanco ou de

Ricardo Ramfrez em

analisar a natureza dual da opressao que sofre 0 campesinalo indfgena e 0 carater simultaneamenlc socioeconomico e etnocultural (ou nacional) da sua rebeliao. Enquanto a corrente "dogmatica" apenas reeonheee a lula camponesa como uma luta burguesa e democratica7, similar

a do campesinato

na Revolu<;:ao Francesa,

o ponto de vista dialetico-concrelo captura a especificidade do campesinato latinoamericano que resulta de suas tradi<;:oesculturais e do carater capital isla de sua explora<;:ao,e revcla plos). Outro debate significalivo nesse contexlo e 0 que se da em torno da questao da dependencia. Pode a America Latina Iibertar-se da domina<;:ao imperialista e conhecer um desenvolvimento capitalista autonomo, independente, como as na<;:oeseuropeias (Italia, Alemanha) domina<;:aoestrangeira no seculo
XIX?
0

potencial socialista, explosivo, revolucionario dos trabalha-

dores mrais (EI Salvador em 1932, Cubaem 1957-61, para citar apenas dois exem-

que se unificaram e se emanciparam

da

A tendencia representada por Mariategui

- que tem seu prolongamento na ciencia social marxista dos anos 60 e 70 rejeita 0 modelo europeu tambem nesse caso. A burguesia latino-americana chegou muito tarde na cena historica. No contexto do modo de produ<;:aocapitalista, os pafses do continente estao inevitavelmente condenados a dependencia e a submissao ao poder economico e polftico-militar do imperialismo. 0 (inico caminho para superar a domina<;:ao da metr6po]e norte-americana e a hegemonia dos monopolios multinacionais, a unica maneira de eseapar ao subdesenvolvimento, e romper com 0 proprio sistema eapitalista - tomar 0 caminho socialista. Obviamente, 0 desenvolvimento p610s do marxismo latino-americano, e a hegemonia de um ou OLltro desses dois 0 eurocentrieo ou 0 concreto-dialeticoque tende a ultrapas-

deixando de lado 0 ecletieo e ex6tico indo-americanismo,

sar as fronteiras do marxismo - depende nflO apenas do talenio individual de cada pensador mas tambem, e acima de tudo, da situa<;ao hist6rica do movimen-

caratcr cspecffico das ecollomias e sociedades

latino-

"Perspectivas

del socialismo

en Mexico", La Voz de MeXico, 25 novo 1945, p. 7.

7. Ver, por exemplo, um texto maoista brasileiro que declara em termos categoricos: "Afirmar que a socialismo e a tarefa da presente etapa da revolu"ao [...] e negar a papel do campesinato. Nas presentes circunstancias da America Latina, a movimento campones, a principal base da revolu"ao, e essencialmente democratico" (A Iinha revo/ucionaria do Partido Comunista do Brasil, Rio de Janeiro, Ed. Caramuru, 1971, p. 282).

lo dos trabalhadorcs empobrecimento

no rl1undo

l'

na America Lalina. Nesse sentido, a decada de e do foi particularmente

1920, a era do "comunismo ocasionados

original", anles da dogmatizw;:ao burocritica pelo triunfo do slalinismo,

das duas Americas", e a proclama<,;ao de 1923, "Aos operarios e camponeses da America do SuI'''). Claramente, esses textos atribuem simullaneamente tarefas agr,lrias, anliimperialistas e anticapitalistas illuta revolueionaria na America. A uniclade entre 0 proletariado e 0 campesinato e concebida no contexto de uma estrategia de revolu<,;ao "ininterrupta", capaz de eonduzir a America Latina diretamente de um capitalismo subclesenvolvido e c1ependente ("atrasado e semicolonial" na tenninologia da II! Internacional) para 0 poder do proletariado. Eles negam explicitamente a ideia de uma etapa hist6rica de capitalisl110 "nacional e del11ocnitico" independente e enfatizarn a cumplicidade das burguesias locais com
0

favoravcl a um marxismo "aberto", assim como - ate certo ponlo e de maneira mais contradit6ria - a nova era que se abriu com a Revolu<,;ao Cubana. 0 perfodo mais diffcil e mais negativo foi
0

da hegemonia stalinista - dos anos 30 ate

1960 -mas mesmo durante essa epoca exisliram investigadores marxistas criati vos, tanlo denlro como fora das filciras do movimenlo comunista oficial. foi inicialmente introcluziclo e disseminaclo na America Latina por imigrantes alemaes, italianos e espanh6is por volta clo final clo seculo XIX. Surgiram os primeiros particlos operarios, os primeiros pensadores valeram-se das ideias marxistas e surgiu uma corrente, inspirada pela tI Internacional; sua ala moclerada era representada pOI' Juan B. Justo (J 865-1928) e 0 seu Partido Socialista Argentino (fundaclo em 1895), e a ala revolucionaria Recabarren (1876-1924) e (fundadoem 1912).
0

o marxismo

im-

perialisl11o. De passagem, notemos que esses docurnentos nunca se rcferem ao "feudalismo" no campo e descrevem a luta camponesa como dirigicla contra 0 capitalismo agrario. Naturalmente, a Revolu<,;ao Russa exerceu uma profunda influencia sobre o movimento dos trabalhadores e entre a intelligentsia cia America Latina'o. Luis Emilio Recabarren foi talvez 0 exemplo mais tfpico cle !fcler trabalhista hist6rico que se voltou para 0 bolchevismo pm influeneia cia Revolu<,;ao de Outubro. Tip6grafo e fumlador cloPartido Operario Soeialista do Chile, Recabarren liderou a sua transforma<,;ao em Partido Comunista, a se<,;aochilena cia III Internacional, em 1922. Os escritos e discursos cle Recabarren, um verdadeiro !fder de massas e tribuno popular, centram-se na irreconciliavel luta de classes entre capitalistas e trabalhadores nas minas e fabricas, uma luta cujo resultado hist6rico s6 pocle ser a revolu<,;ao socialista eo poder revolucionario. Entretanto, seu pensamento retem certa colora<,;ao "obreirista", subestimando as questoes nadonal e agniria. Sua adesao profunda e sincera il RevolU<;:aoRussa nao significa uma real apropria<,;ao da problematica leninista. Julio Antonio Mella (1903-29) foi 0 primeiro e mais brilhante exemplo de uma figura freqiientemente encontrada na hist6ria social cia America Latina: 0 estuclante ou jovem intelectual revolucionario, 0 espirito anticapitalista romantico, que encontra no marxismo uma resposta para a paixao pelajusti<,;a social". Um dos fundadores cia Liga Anticlerical de Cuba (1922), cia Feclera<,;aoclos Estuclantes Uni versitarios (1923) e cia se<,;aocubana da Liga Antiimperialista

pOI'Luis Emi Iio

seu Partido dos Trabalhadores

Socialistas do Chile

Juan B. Justo foi 0 primeiro tradutor de 0 Capital para 0 espanhol, mas e cliffcil considera-Io 0 primeiro marxista latino-americano pOI'causa de suas ideias ecleticas e semiliberais. Seu partido estava ligado illlinternacional, Ave-Lallemant (1835-1910), mas German na um imigrante marxista alemao, correspondente

Argentina do Neue Zeit, considerava os circulos principais do Partido Socialista Argentino "ide61ogos burgueses" ou, na melhor das hip6teses, "seguiclores de Turati"x. As primeiras tentativas significativas cle analisar a realidade latino-americana em termos marxistas e de estabelecer as bases para uma orienta<,;ao polftica revoluciomlria vieram com 0 surgimento da corrente comllnista. Os partidos comunistas apareceram na decada de 1920 a partir de duas fontes distintas: os partidos socialistas que cerraram fileiras em torno da Revolu<,;ao de Outubro, em sua corrente majoritaria (U rugllai, 1920, e Chile, 1922) ou em sua ala esquerda (Argentina, 1918); e a evolu<,;ao rumo ao bolchevismo de certos grupos anarqllistas on anarco-sindicalistas (Mexico, 1919, e Brasil, 1922). A for<,;adesses particlos permanecell bastante limitada por algum tempo: 0 PC chileno, desde 0 come<,;o0 mais forte, nao tinha mais de 5.000 membros em 1929. Durante os anos iniciais, a sua orientayao foi inspirada em grande parte pcbs primeiras resolu<,;6es da IIllnternacional, particularmente 0 documento de janeiro de 1921, "Sobre a Revolu<,;ao na America: um chamaclo il classe openiria
8. Cf. German Ave-Lallemant, "Kapitalismus und Sozialismus in Argentinien", Die Neue Zeit, Ano 23, v. 2, Stuttgart, 1905, p. 454. Sobre a recep<;ao do marxismo no Brasil, de fins do seculo XIX ate 1930, deve-se consultar a obra pioneira de Lenadro Konder, A derrota da diatetica: a receprao das ideias de Marx no Brasil, ate 0 comero dos anos 30, Rio de Janeiro, Campus, 1988. 14

9. Ver as sele<;6es desses documentos nesta antologia. De modo significativo, esses documentos cairam na obscuridade depois da decada de 1930 e foram ignorados ate por observadores beminformados, como Regis Debray, 0 qual escreveu que 0 primeiro documento oficial da Internacional Comunista sobre a America Latina foi urn protesto contra a invasao arnericana da Nicaragua na epoca de Sandi no. Cf. Debray, La critique des armes. Paris, Seuil, 1975, v. 1, p. 42. 10. A respeito da influencia de 1917 sobre os intelectuais, ver a sele<;ao de Anibal Ponce, 0 soci610go rnarxista argentino. 11.0 arquetipo aqui e 0 personagem lendario "0 estudante" em 0 recurso do metoda, Sao Paulo, Marco Zero, 1985, do grande escritor cubano Alejo Carpentier.

das Americas (1925), Julio Antonio Mella participou da crial;ao do Partido Comunista Cubano (1925) e foi eleito membro do seu Comite Central. Em virtude de suas atividades contra
0

lnternacionalista

convicto e militante, Mella era,

'10

mesmo tempo, profunde Cuba. Como os

damente integrado na cultura e nas tradi<;oes revolucionarias castristas, mais tarde, considerava-se

ditador Machado ("0 asno com garras", na famosa

um discfpulo de Jose Marti e herdeiro da e


0

expressflO do poeta comunista Ruben Martinez Villena), foi preso e obrigado a exilar-se no Mexico. Juntou-se ao PC mexicano, mas, em 1928, desenvolveu divergencias com a sua lideranl;a, que 0 acusou de tendencias "trotskistas"12. Mella organizou emigrados cubanos no Mexico e preparou urn desembarque arm ado na ilha, mas foi assassinado pOI' agentes de Machado em lOde janeiro de 1929, com 26 anosl'. Como Mella via a luta revolucionaria em Cuba? Com 0 grito de guelTa de "Wall Street deve ser destrufda", ele propunha a forma\;ao de uma fJ-ente unica antiimperialista, ses, estudantes composta de "trabalhadores e intelectuais independentes", de todas as tendencias, camponemas recusava-se "os exploradores, a incluir a burExortava a burguesia nati-

sua mensagem democrMica, revolucionaria e antiimperialistal7 Essa sfntese dialetica entre 0 universal e 0 particular, 0 internacional latino-americano, indubitavelmente
0

inspira tambem a obra de Jose Carlos Mariategui (1894-1930), pensador marxista mais vigoroso e original que a America

Latinaja conheceu. Escritor e jornalista, Mariritegui tornou-se socialista em 1919 e descobriu 0 marxismo e 0 comunismo durante uma longa estada na Europa (1920-23), particularmente mento dos trabalhadores tos de trabalhadores na lullia. Ao retornar
'10

Peru, integrou-se

'10

movi-

e participou ativamente do estabelecimento

de sindica-

industriais e agricolas. Em 1926, fundou a revista Amauta,

guesia nacional, que considerava cumplice da domina<;ao imperialistal4. os soldados cubanos a nao mais defenderem

que reuniu em torno de si a vanguarda cultural e politica do Peru e da America Latina; tambem publicou numerosos textos literarios e polfticos europeus (Breton, Gorki, Lenin, Marx, Rosa Luxemburg, Romain Rolland, Ernst Toller, Leon Trotski). Em 1927, Mariategui participou do congresso da Federa<;ao dos TrabaIhadores de Lima, cujos delegados foram todos presos pelo governo e acusados de montar uma "conspira<;ao comunista". Doente e incapacitado, Mariategui foi internado em um hospital sob vigilancia policial. Depois de tel' participado pOl'algum tempo das atividades da APRA(1927), Mariategui rompeu com Haya de la Torre e fundou, em 1928,0 Partido Socialista, que se reclamava da llllnternacional. respondeu secamente: A vanguarda do proletariado e os trabalhadores com consciencia de classe, fieis Ao rejeitar propostas de fusao da APRA,

va e a estrangeira" e ajuntarem-se aos seus irmaos de classe, os trabalhadores e camponeses. Mella definia 0 combate contra a ditadura de Machado - que exercia uma repressao "brutal, violenta e sangrenta" contra os trabalhadores uma guerra de morte entre 0 proletariado e as classes dominantesl5 - como

A questao do nacionalismo e da liberta<;ao nacional ocupou um lugar central na obra de MeJIa. Apoiou entusiasticamente 0 movimento de Sandino, que estava lutando contra a invasao norte-americana exercito de guerrilheiros camponeses. da Nicaragua

a frente

de seu
0

POI'outrolado,

criticou duramente

na-

cionalismo "populista" da APRAde Haya de la T()rre, que se apresentava como 0 "Kuomitang daAmerica Latina". Em um panfleto anti-APRA publicado em 1928, Mella rejeita "uma frente Lmica a favor da burguesia, a traidora classica de todos os movimentos nacionais verdadeiramente emancipat6rios" e enfatiza que "a luta definitiva peia destrui<;ao do imperialismo [... J nao e apenas uma luta nacional pequeno-burguesa, mas uma luta internacional, ja que e apenas pela aboli<;aoda causa do imperialismo, livres podem existir" 1(,. que e
0

a a\;ao no terreno da luta de classes, repudiam qualquer tendencia

que possa significar uma fusao com as for\;as ou corpos politicos de outras classes. Condenamos como oportunista toda poIftica que proponha que 0 proletariado renuncie, mesmo que momentaneamente, a sua independencia de program a e de a\;ao, que deve ser mantida plenamente, em qualquer tempo. IS
17. Mella, "Glosas al pensamiento de Jose Marti", ibid., p. 41-47. Jose Marti, poeta e revolucionario, foi 0 principallider da luta de liberta9ao de Cuba contra a metr6pole espanhola - e a interven9ao norte-american a - no seculo XIX. Sua ideologia "jacobina" se acercava do socialismo. 18. Jose Carlos Mariategui, "Sobre un t6pico superado", Amauta, n. 28, janeiro de 1930, em Ideologia y politica. Lima, Ed. Amauta, 1971, p. 211. Pouco depois desse rom pimento com Haya, Mariategui escreveu a Eudocio Ravines: "Seja qual for 0 curso da politica nacional e, particularmente, dos elementos com os quais colaboramos e, aparentemente, nos identificamos (descobrimos agora que isso foi s6 na aparencia), aqueles de n6s que se dedicaram ao socialismo tem a obriga9ao de exigir 0 direito da c1asse trabalhadora de organizar-se em um partido independente". Ver essa carta em R. Martinez de la Torre, Apuntes para una interpretacion marxista de la histaria social de Peru. Lima, Ed. Peruana, 1948, p. 335. Agradecemos ao historiador peruano Hecto Milia por chamar a nossa aten<;ao para esse documento.

capitalismo, que na<;oes verdadeiramente

12. Cf. Claridad, boletim da oposi9ao de esquerda. Cidade do Mexico, n. 5, marco de 1931. 13. A tese de Julian Gorkfn, Victor Alba e outros de que Mella foi executado poor ordem de um agente da GPU (Vittorio Vidali) me parece um mito anticomunista. Nesta epoca, os servi<;os sovieticos ainda nao tinham introduzido a pratica de eliminar fisicamente os comunistas dissidentes em escala internacional. 14. Cf. J. A. Mella, "Los estudiantes y la lucha social", em Hombres de la revolucion: Julio Antonio Mella. Havana, Imp. Universitaria, 1971, p. 37, e Mella, "Cuba, un pueblo que hamas ha sido libre", em J. A. Mella, documentos y articulos. Havana, Ciencias Sociales, Inst. Cubano del Libro, 1975. 15. Mella, "EI grito de los martires", 1926, Hombres, p. 17 e 19. Esse artigo refere-se ao assassinato de trabalhadores pelo ditador Machado; ver uma sele9ao maior nesta antologia. 16. Mella, "Que es el APRA?", ibid., p. 77 e 97. 16

Mariategui foi tambem

fundador do jornal operario Labor, cm 1928, e da

economicista apresenta

dc marxisll1o. Nesse sentido, notaveis com


0

pensamento marxista de MariMegui clo jovem Lukacs e


0

CGTP (Confedera"ao Geral dos Trabalhadores Peruanos), em 1929. Enquanto desenvolvia intensa atividade polftica, Mariategui eontinuou sua obra teorica.

similariclades

"Cichteanismo"

Em 1928, publicou seu livro mais importante,

Sete ensaios de interpreta\'(lo da

"bergsonianismo" do jovern Gramsci, que tambem san formas antipositivista (contra 0 marxismo "ortodoxo" da Illnternacional)2l. tiva de renova"ao revolucionaria do marxismo, apesar

de revolta Essa tenta-

realidade perL/ana, a primeira ten .ativa cle analise marxista cle uma forma"ao social latino-american a concreta. lncapacitado pel a doen"a de participar cia primeira Confereneia Comunista Latino-Americana (Buenos Aires, 1929), Mariategui enviou duas teses, sobre a questao indigena e sobre a luta antiimperialista, com a delega"ao peruana; elas provocaram debate e polemica intensos. Finalmente, em 1928-29, escreveu Defesa do l1'/arxisJno, clesenvolvendo seus proprios conceitos filos6ficos e eticosociais em contraposi"ao aos de Henri de Man e Max Eastman. Mariategui procurou nao tomar partido no conflito entre Stalin e a Oposi"ao de Esquerda, mas seus artigos sobre a questao, embora pare"am aceitar a vitoria de Stalin como inevitavel, mal escondem seu pesar peb derrota de Trotski: Blc tcm um scnso intcrnacionalista, ccumcnico cia rcvo!U<;aosocialista. Scus notavcis cscritos a respcito ciaestabilizayao transitoria clo capital ismo (Where is England CoingO estao entre as critic as mais bem-informaclase aguclas ciacpoca. Mas justamente esse scnso internacionalista, que Ihc ciatanto prestfgio na cena munclial, esta, no momento, roubanclo-Ihe 0 pocler na pnltica cia polftica russa.I'J MariCltegui foi acusado de eurocentrismo por outro lado, de "populismo pOI' seus adversarios apristas e, Na rea-

dos seus excess os

voluntaristas, permite a Mariategui libertar-se do evolucionismo stalinista, com a sua versao rigida e cleterminista da sueessao das etapas historicas, que 0 Comintern rica Latina. do rim dos anos 20 estava come"ando a clisseminar pOl' toda a Ameem que Stalin e - estavam deao stalinismo

interessante

observar que no proprio momento menchevique convertido

Martinov ~ ex-dirigente

senvolvendo 0 conceito de revolu"ao democratico-burguesa como etapa autOnoma na China, Mariategui insistia explicitamente na fusao hist6rica entre as tarefas socialistas e democraticas no Peru22. A hip6tese sociopolitiea decisiva cle Mariategui e a de que "no Peru, nao

existe, e nunca existiu, uma burguesia progressista com uma sensibilidade nacional que se declare liberal e democratica e que baseie a sua polftica nos postulados da sua teoria"2J. Naturalmente,
0

principal eomunista peruano nao poderia ignorar a

contradi"ao entre essa afirmac,;ao e a orienta"ao patrocinada pelo Cornintern na China durante esse periodo. Ele tentou escapar clessa situaS;i"loclificil invocando ideias hipoteticas sobre a "civilizac,;ao nacional" para explicar por que a burguesia chinesa, ao eontnirio da peruana, estava participando da luta antiimperialista"4. Foi a partir da sua analise cia incapaeidade hist6rica da burguesia nacional no preque MariCltegui desenvolveu sua concep"ao da estrategia revolucionaria flmbulo ao programa do Partido Socialista (1928):

nacional" por certos auto res sovieticos20

lidade, seu pensamento caracteriza-se justamente por uma fusao entre os aspectos mais avan"ados da cultura europeia e as tradi,,6es milenares cia comunidade indfgena, e por uma tentativa de assimilar a experiencia social das massas campones as numa reflexao te6rica marxista. Mariategui foi muitas vezes qualificado de heterodoxo, idealista ou romantico. E verdade que seus trabalhos, especial mente Dej'esa do l1'/arxisl1'/o,revelam uma profunda inJ1uencia do idealismo italiano (Croce, Gentile), cleBergson e, acima de todos, cle Sorel. Contudo, esse voluntarismo etico-social cleve ser compreendido como uma reac,;ao contra uma versao materialista vulgar e

A cmancipayao ciaeconomia clo pais so c possiveJ pOI'meio cia ayilo clas massas proletarias em solidarieclade com a luta antiimperialista em toclo 0 mundo. Apenas a ayao revolucionaria pocle promover e, posteriormentc, concretizar as tarcfas cia revo!uyao clemocr{ttico-burguesa, que 0 regime burgues c incompetente para clesenvolver e realizar25

19. Mariategui, "Trotsky y la oposicion comunista", fevereiro de 1928, em Obra po/ftiea. Cidade do Mexico, Ed. Era, 1979, p. 218-19. De acordo com Pierre Naville (em uma conversa comigo em 1971), hove correspondencia entre Mariategui e a Oposi93o Comunista de Esquerda europeia. 20. Ver, por exemplo, V. M. Mirosllevski. "EI 'populismo' en el Peru", em Jose Arico, org., Mariategui y /as or/genes del marxismo latinoamerieano. Cidade do Mexico, Ed. Pasado y Presente, 1978, p. 55-70.

21. Sobre a afinidade entre Mariategui e Gramsci ou Lukacs, ver 0 excelente artigo de Robert Paris, "EI marxismo de Mariategui", ibid., p. 119-44. R. Paris, par exemplo, compara a formula "tanto pior para a realidade", que Mariategui atribui a Lenin, com a observa930 de Fichte, "tanto pior para os fatos", que Lukacs, em 1919, definiu como a essencia da politica revolucionaria dos bolcheviques. 22. Mariategui, prefacio a L. E. Valcarcel, Tempestad en los Andes, 1927. Lima, Ed. Universo, 1975. 23. Mariategui, Siete ensayos de interpretacion de la rea/idad peruana (1928), Santiago de Chile, Editorial Universitaria, 1955, p. 29. 24. "Carta colectiva del grupo de Lima", em EI ,oro/etariado y Sll organizacion. Cidade do Mexico, Ed. Grijalbo, 1970, p. 11 25. Mariategui, "Principios programaticos del Partido Socialista", em Obra politica, p. 270.

Para al6m das frontciras do Peru, Mariategui na sua analise. A revolu<,;ao latino-americana

inclui toda a America Latina Em um eontinente elomia burguesia

que logo se transformou no Partido Corllunista Argentino, se<,;ao Illlnternacioda nal. Em fins de 1924, Codovilla partieipou de uma reuniao do Comite Executivo Ampliado da Internacional Comunista como representante do
PC

so pode ser uma revolu<,;ao socia-

Iista que inclua objetivos agrarios e antiimperialistas.

argentino. Foi

naelo por imp6rios nao ha lugar para um eapitaJismo independente; local ehegou tarde demais a eena historica2". ,

rapidamente integrado ao aparelho do Comintern e, em 1926, partieipou na ado<,;ao de uma resolll(,;ao do Comite Central do PC argentino que condenava 0 trotskismo e solidarizava-se com a lieleran<,;a Partido Comunista ela Uniao Sovietica. do Em 1929, Codovilla participou da primeira Confercncia no-Americana do Comintern COl1lunista Latiem Buenos Aires. Isso foi no infcio do chamado Tcrceiro Perlodo (1929), caracterizado por Ul1laestrategia polftica "ofensiva" e a (batizada "soeial-fascis-

Em certos escritos sobre 0 Peru, Mariategui parece sugerir que a via socialista e facilitada, particularmente no campo, gra<,;asa sobrevivcncia de vestfgios de um "comunismo inca". Essa id6ia e um dos eixos de sua comunica<,;ao sobrc a questao indfgena enviada a I Confercncia Comunista Latino-Americana. Podemos aqui tra<,;aranalogi as, nao com ideias populistas, mas com os escritos de Marx e Engels sobre
0

rejei<,;aode quaisquer acordos com a social-demoeracia

mir russo e

seu pape! na transi<,;ao da Rltssia czarista para

socialismo. Sem dltviela podemos falar tambem de um romantismo anticapitalista em Mariategui, ele uma crftica da civiliza<,;ao burguesa inspirada pela nostalgia das comunidades pre-capitalistas do passado, como em Sorel- e tambem em
0

rno" por Stalin). Codovilla apresentou urn relatorio, "A situa<,;uointernacional, a America Latina e 0 risco de guerra", em nome do Seeretariado Sul-Americano da Internacional Comunista. Esse relatorio foi significati yo. Eeoanc!o fielmente, CodovilJa elabora
0

por um lado, a doutrina stalinista do "soeial-fascismo",

Lukacs e Gramsci no momcnto de sua adesao ao marxismo. Mas sua visao idflica do passado e limitaela peb sua problematica materialista historiea, como elemonstra a seguinte passagem do program a elo Partido Socialista:

conceito de "naeional-faseismo", que apliea a v{trios governos latino-americanos, inclusive 0 do Mexico (0 PC mexieano adotou esse termo no infcio ela decada de 1930 para critical' Lazaro Cardenas). mmo Por outro lado, em meio de uma virada
"0 carater

a ofensiva
0

revolucionaria,

enfatiza que

da revolu<,;aona America Em outras palavras,

o socialismo encontra os elementos de uma solu\jao soeialista para a questao agraria tanto na existencia contfnua de comunidades rurais como nos grandes empreendimentos agrfcolas. I...] Mas isso 1 ... 1 nao significa, absolutamente, uma tendencia romiintica e a-hist6riea para a reconstru\jao ou ressurrei\jao do socialismo inca, que cor~espondia a eondi\joes bist6ricas que foram completamente superadas e cuja unica heran\ja sao os habitm; de coopenl\jao e de socialismo entre os camponeses indfgenas, que podem ser uteis no contexto de uma tecnica produtiva claramente cientffica.27 Juntamente com quaelros e pensadores que eram autenticamente revolucionarios e internacionalistas mas tambem, como Mella e Mariategui, capazes de pensamento inelependente, 0 comunismo latino-americano come<,;ou a vel' 0 elesenvolvimento de outro tipo de !feler no fim da elecada de 1920. Esses dirigentes estavam ligados muito mais diretamente a um ponto de vista polftico e intelectual do aparelho do Com intern de Stalin, eujas varia<,;6es seguiram com uma fidelidade exemplar. 0 primeiro e um dos mais talentosos desse grupo foi Vittorio Codovilla (1894-1970), seeretario-geral do PC argentino. Nascido na Italia, Codovilla chegou

Latina e

de uma revolu<,;ao dernocratico-burguesa".

Codovilla compreende perfeitamente fundamento inabaJavel da estrategia independentemente

que a revolu<,;ao par etapas deve ser 0 do Comintern para a America Latina,

das varia<,;6es taticas para a direita ou para a esquerda2X

Enquanto certos partidos, como 0 PC argentino, seguiam a orienta<,;ao do Tereeiro Perfodo do COl1lintem em toda a sua rfgida e esteril ortoeloxia (a luta contra
0

"nacional-fascismo"

etc.), outros receberam esse rumo esquerdista como autonomas. Esse

um estfmulo para as suas pr6prias inclina<,;6es revolucionarias

foi 0 easo do Partido Comunista de EI Salvador - fundado em 1930 par quadros sindiealistas e um ex-estudante, Agustin Farabundo MartI (1893-1932) - que, em 1932, organizou a primeira - e (mica - insurrei<,;ao de massa na historia da America Latina a ser liderada por um partido eomunista. A situa<,;ao social em EI Salvador, entao sob a ditadura militar do general Martfnez, e resull1ida perfeitamente nestas senten<,;as de um relat6rio do major americano A. R. Harris, adido militar para a America Latina, durante uma viagem a EI Sal vador: Trinta ou 40 famflias possuem quase tudo no pais. Vivem num esplcndor quase nSgio,com muitos criados.
1 ... 1

a Argentina

em 1912 e, pouco depois, filiou-se ao Pm1ido

Soeialista. Em 1918, foi um dos fundadores do Partido Socialista Internaeional,

0 resto da popula<;aonao tem prati-

26. Ver a sele<;:ao nesta antologia. 27. Mariategui, Obra polftica, p. 270. 20

28. Cl. Ef movimento


nista Latinoamericana,

revolucionario fatinoamericano, versiones de fa Primera Conferencia Comujunho de 1929. Buenos Aires, Correspondencia Sudamericana, p. 19-27. 21

camente nada. 1.1 Imagino que a situa~ao de EI Salvador hoje e bem pareeida com a da Fran~a antes da sua revolu~ao, da Russia antes da sua revolu~ao e do Mexico antes da sua revolu~ao. A situa~ao esta madura para 0 comunismo e os comunistas parccem terdeseoberto isso2". Ao enfrentar a repressao governamental contra a propaganda do partido e a

executados.

0 (inico sobrevivente

da lideran.;:a do partido foi Miguel Marmol, com esse epis6dio sem precedentes (e De nao

um !fder operario dado como morto pOl' um pelotao de fuzilamento. Qual foi a rela\;ao do Comintern sem repeti.;:oes!) na hist6ria dos partidos comunistas latino-americanos? acordo com M<lrmol (em suas mem6rias de 1970), a Internacional desempenhou nenhum papel; a lideran.;:a do PC salvadorenho completa'i. A rea.;:ao de representantes com independencia

tomou a sua decisao oficiais do movimento

imprensa comunista, Farabundo Marti (que lutara em 1929 com os guerrilheiros de Sandi no) declarou: "Quando nao se po de escrever com a pena, e preciso escrever com a espada". 0 Partido Comunista, que liderou os primeiros sindicatos de operarios e camponeses, decidiu preparar uma insurrei.;:ao, baseando-sc primeiramente no trabalho revolucionario nas fileiras do Exercito, no qual se agw;ara 0 conflito entre soldados filhos da oligarquia. camponeses (indfgenas) e oficiais (brancos),

comunista ap6s os eventos tendem saudava "a luta her6ica dos operarios Partido Comunista e esquerdistas" do PC salvadorenh0
32 ,

a confirmar isso. Ao mesmo tempo que e camponeses de EI Salvador", 0 6rgao do sectarias golpistas lider do partido e David Alfaro Siqueiros,

dos Estados Unidos criticou "as tendencias

mexicano, assinalou que a revolta fora um erro, ja que, sob quaisquer circunstancias, os imperialistas norte-americanos teriam intervindo diretamente para impedir uma vit6ria vermelha33. se em uma problematica A autocritica de Marmol, 40 anos depois, situainteiramente diferente:

o governo,

porem, informado

dos preparativos

comunistas,

desencadeou

uma onda de repressao preventiva, prendendo os principais lideres do PC salvadorenho - Farabundo Marti, Alfonso Luna, Mario Zapata e Miguel Marmol - e fuzilando soldados insurrei.;:ao camponesa suspeitos inspirada de simpatias c conduzida comunistas. Em res posta, uma pelos comunistas irrompeu em

Nosso erms forarn direitistas, nno esquerdistas. Inclufram, pOl' urn lado, vacila~no na aplicac;ao de uma linha fundarnentalmente con'eta, 0 que nos irnpediu de tirar van tag ern de uma oportunidade adequada, da surpresa, da manuten<,;iloda iniciativa etc. Alern disso, nosso erms inclufram uma grande desconsiderac;ilo pelos meios materiais da insurrei<,;ilo: armas, transporte, medidas econ6micas, comunica~6es etc]4 Portanto, podemos concluir que a rebeliao de 1932 constituiu um even to inteiramente singular na hist6ria do comunismo latino-americano, pOl' seu carateI' de levante armado de massas, seu programa abertamente socialista e sua autonomia face ao Comintern. 0 fato de esse epis6dio tel' siclo mais ou menos "esqueciclo" ou desconsiclerado pelo movimento comunista oficial e, evidentemente, a conseqtiencia dessas peculiaridades, a nova orienta.;;ao clos partidos comunistas. pelo guevarismo que progressivamente S6 foi reclescoberto contradiziam e reabilitado oficial para

janeiro de 1932, especialmente nas regioes das grandes planta.;:oes de cafe. Destacamentos vermelhos de camponeses indigenas, armados em sua maioria com machetes e alguns rifles, ocuparam varios povoados durante alguns dias e estabeleceram efemeros "sovietes locais". Aparentemente, participaram do lcvante mais de 40 mil combatentes1{l. Qual era 0 programa polftico do movime~to? Uma serie de documentos e convoca\;oes a a.;;ao do Partido Comunista de El Salvador demonstra claramente que
0

objetivo era nada mais que uma revolu.;;ao socialista -

poder para conse-

Ihos de operarios, soldados e camponeses imperialista e a burguesia local.

contra a ditadura militar, a domina.;:ao

Na verdade, a insurrei.;:ao nao tinha nenhuma coordena.;;ao polftico-militar centralizada. Como as redes vermelhas dentro do Exercito ja haviam sido destmidas, as insurrei.;:oes locais puderam ser sufocadas uma a uma (com a ajuda da "guarda salvadorenha civica" da oligarquia). 0 que enta~ ocorreu passou para a hist6ria semanas,
0

na decacla de 197035. Esta postura do comunismo

como La Matanza. Durante

Exercito fuzilou,

assassi-

nou e abriu caminho a fogo por povoados camponeses, executando cerca de 20 mil homens, mulheres e crian.;;as nas regioes vermelhas. Ap6s urn arremedo dc julgamento, os clirigentes comunistas Farabundo Marti, Luna e Zapata foram

31. Roque Dalton,"MiguelMarmol:EISalvador 1930-32", Pensamiento Critieo, La Habana, n. 48, janeiro de 1971, p. 70. Deacordo com um historiadoruniversitarioda rebeliao de 1932, Farabundo Martitinha tendencias trotskistas e suas rela<,;6es com Moscou nao eram boas. Ct. Anderson, Matanza, p. 68. 32. Citado pOI' nderson, ibid., p. 83. A 33. Roque Dalton, op. eit., p. 72. 34. tbid., p. 69.

29. Citado em Thomas P. Anderson, Matanza: EI Salvador's Communist Universityof Nebraska Press, 1971, p. 83. 30. Vel'os documentos da insurrei<,;ao e 1932 nesta ant610gia. d
22

Revolt of 1932.

Lincoln,

35. Roque Daltonera um brilhante escritor e poeta comunista salvadorenho exilado em Cuba, e a sua entrevista com Marmolfoi publicada na revista cubana Pensamiento Cdtieo, em 1971. Algunsanos mais tarde, de voltaa EISalvador, Daltonfoiassassinado, pOI' ivergencias politicas, d pelos dirigentes de um grupo guerrilheirocom 0 qual colaborava - 0 Exercito Revolucionariodo Povo (ERP), fundado par Joaquim Vilalobos (hoje convertido a social-democracia).

com a revolu<.;ao de 1932 pode ser ilustrada pelo livro cle GracieL' A. Garcia (do
PC

um convite do Comintem para ir a Secretariado Latino-Americano

URSS,

onde se tomou comunista e integrou

guatemalteco).

Embora declicacla as "Iutas revolucionarias

na America Cen-

tral", essa obra hist6rica publicada em 1971 menciona 0 levante salvadorenho apenas de passagem - em uma senten<.;a-, como "os tragicos eventos de 1932, planejados pelo ditador Martinez para destruir vez por todas".1(,.
0

do Comintem. Em 1935, retofllou ao Brasil, assu-

movimento sindica1ista de uma

miu a lideranca do Pruiido Comunista e comec;ou a organizar 0 levante armado. Antes cia volta de Prestes, os comunistas e a esquerda tenentista haviam criado a
ANL

(Alian<.;aNacional Libertadora)

e clegeram

"Cavaleiro da Espe-

A OLltra(e t:iltima) tentativa de insurrei<.;ao com lideran<.;a comunista na America Latina foi a rebeliao vermelha de 1935 no Brasil. Nao obstante, 0 levante foi radicalmente diverso do de EI Salvador, tanto em estilo como em substancia. Em primeiro lugar, nao foi real mente uma insurrei<.;ao popular com base de massas, mas, essencialmente, uma rebeiiao militar fracassada. Em segundo lugar, 0 programa do movimento nao cra socialista, mas unicamcnte nacionaldemocratico. Em tcrceiro lugar, essa a<.;aode 1935, ao contrario cia de EI Salvador, foi discutida, decidida e, em parte, planejada pelo Comintem. Parece que em dezembro de 1934, em um encontro de partidos comunistas latino-americanos em Moscou, foi tomacla a decisao de lan<.;arno Brasil um movimento insurrecional liderado por uma frente antiimperialista popular. Celio nLl0

ran<.;a"como presidentc honorario. A ANL desenvolvcu-se rapidamente e obteve consideravel succsso. Os !fderes oficiais cram tenentistas de esquerda (antigos membros da Coluna Prestes), mas os verdadeiros organizadores foram quadros comunistas. Em maio de 1935, havia 1.600 se<.;oesda ANL. Seu oponente direto era 0 Partido 1ntcgralista, variante brasileira do fascismo, com 0 qual se entfentou em combates de rua, especialmente em Sao Paulo. 0 program a da ANL era relativamente moderado: reformas nacionais e democraticas compatlveis com a estrategia de uma frente popular. Foi 0 metodo de luta escolhido, a insurrei<.;ao armada, que distinguiu a ANL de uma fi-ente popular. Em 5 de julho de 1935, Prestes, tendo retomado ao Brasil, fez um discurso memoravel, no gual acusou Vargas e 0 governo de trair os ideais do movimento tenentista e os compromissos da Revolu<.;ao de 1930, lan<.;ando 0 lema "Todo 0 poder para a
ANL".

mero de representantes do Comintem foi enviado ao Brasil para aconsclhar

Pruii-

do Comunista, entre eles "Harry Berger" (0 pseud6nimo do !fder eomunista alemao e antigo deputado Artur Ewert) e Rodolto Ghioldi do PC argentino 17. No VII Congresso do Comintern Uulho de 1935), varios dos oradores tocaram na questao brasileira. 0 pr6prio Dimitrov falou abertamente da luta pe10 poder e 0 delegado brasileiro dcixou entendido que a insurrei<.;aoestava sendo preparada.1~.

Vargas, imediatamente,

colocou na ilegalidade

a Alian<.;a

Nacional Libertadora, e os preparativos para 0 levante intensificaram-se. Em novembro de 1935, finalmente eclodiu uma rebeliao militar no Nordeste; varios batalhoes, conduzidos por oficiais sem patente, revoltaram-se nas cidades de Natal e de Recife. Conseguiram tomar 0 poder em Natal e instalar urn Governo Popular Revolucionario no estado. Alguns dias depois, refor<.;os governamentais do suI sufocaram a rebeliao. lsso ocorreu algumas seman as antes que outras tropas do Terceiro Regimento de 1nfantaria (sob 0 comando do capitao Agildo Barata) e a Escola de Avia<.;aoMilitar se revoltassem no Rio. Outros regimentos que deviam rebelar-se nao
0

o homem selecionado para liderar 0 movimento foi LUIsCarlos Prestes (18981990), 0 1endario chefe da coluna de soldados e oficiais que percorreu, durante tres anos (1925-27) 0 Brasil de norte a sui, de leste a oeste, conseguindo eseapar a
todas as tentativas das tropas govemamentais de cerca-Ios. Exilado na Bo!fvia a partir de 1927, e depois na Argentina, Prestes descobriu 0 marxismo e, ap6s um breve interiLldio pr6-trotskista, se aproximou do PC brasileiro"J. Em I93 I, aceitou
36. Graciela A. Garcia, Paginas Ed. Linterna, 1971, p. 101. de lucha revalucianaria em Centroamerica. Cidade do Mexico,

fizeram, e

movimento

foi esmagado no ber<.;o,

depois de horas de feroz combate. Aparentemente, os !fderes do PC brasileiro contavam com 0 apoio da "burguesia progressista" (em particular, do govemador do Rio de Janeiro). Na verdade, como Abguar Bastos, historiador simpatizante dos comunistas, reconheceu: "A burguesia progressista - industrial, comercial e inte1ectual - que se comprometera com 0 movimento nao deu um tinico passo parajuntm--se a revolu<.;ao.[...] Ap6s os levantes [...J toda a burguesia uniu-se a Vargas para acabarcom 0 'comunismo"'40. Na verdade,
0

37. Heinz Neurnann, outro lider do Partido Cornunista Alernao exilado ern Moscou, que estava rnais ou menos "em desgraya" ern 1935, tarnbern foi sondado para essa perigosa rnissao por causa de sua experiencia como organizador na insurreiyao de Cantao ern 1927. Por lim, nao foi enviado ao Brasil, e desapareceu pouco depois na Uniao Sovietica, vitima dos Processos de Moscou. Cf. Margarete Buber-Neumann, La Revolution mondiale. Paris, Casterrnan, 1971, cap. 20. 38. Ver Helio Silva, 1935, a reva/ta vermelha. Rio de Janeiro, Civ. Brasileira, 1970, p. 117, 286-7. 39. Em urn artigo autobiogratico de 1973, Prestes reconheceu a influencia que os trotskistas haviam tido na sua evoluyao e assinalou que 0 seu manifesto de julho de 1930 continha opinioes "tipicarnente trotskistas". Cf. Prestes, "Cornment je suis venu au parti", Nouvelle Revue Internationale, n. 174, 2/1973, p. 223. Sobre 0 trotskismo no Brasil nesta epoca, ver 0 excelente Iivro de Jose Castilho Marques Neto, Solidao revolucionaria: Mario Pedrosa e as origens do trotskismo no Brasil, Sao Paulo, Paz e Terra, 1993.

levante fora concebido como um movimento inteiramente

militar. Nao houve verdadeira mobilizayao e entrega de armas a setores operarios e camponeses (exceto por alguns lugares no Nordeste). 0 fracas so foi seguido pOI'uma enorme onda de repressao, com execuyoes, tortura em massa e 0

encmceramento de dezenas de milhares de prisioneiros politicos. 0 proprio Prestes foi detido e aprisionado por dez anos. Sua esposa, a comuni.,ta alema Olga Benario, foi entregue a Gestapo. Artur Ewert enlouqueceu sob a tortura da policia brasileira. A a<;:aode 1935 foi 0 produto de um perfodo de transiyao. Seu programa era de frente popular, mas seu metodo de insurreiyao correspondia mais as tendencias do Terceiro Periodo. 0 can'iter quase que totalmente militar (e nao popular) da rebeJiao resultava de dois fatores: a origem tenentista de Prestes e dos Ifderes da ANL, acostumados a conspirayoes e levantes miJitares, e, especialmente, a natureza do proprio program a da ANL, que nao implicava form as de armamento popular: como a revoluyao era definida como nacional-democratica, supunha-se que teria a simpatia da ala nacionalista do Exercito. Nesse sentido, a rebeliao brasileira de 1935 foi, simultaneamente, 0 ultimo levante militar inspirado por um partido comunista latino-americano e 0 primeiro passo rumo a polftica de alianya de classe que orientaria 0 movimento comunista durante a maior parte da sua historia da decada de 1930 em diante. Ap6s as mortes de Mella e Mariategui, iniciou-se um processo de degradayao do pensamento marxista na America Latina que duraria varias decadas. Uma das exceyoes, durante os anos 30, foi 0 soci6Iogo argentino Anfbal Ponce (18891938). Discfpulo e colaborador do celebre pensador positivista Jose Ingenieros, Ponce so se tornou marxista apos 1928, quando declaroll, em uma conferencia memoravel, que os ideais da Revolu<;;ao Russa eram os ideais da Revolu<;;ao de Maio - a revoIuyao "jacobina" de maio de 18 io, que proclamou a independencia argentina ante 0 poder colonial espanhol- "na sua plena significa<;;ao". Simpatizante do Partido Comunista, presidiu a Conferencia Latino-Americana Contra a Guerra ImperiaJista em Montevideu, em 1933, mas nao desempenhou nenhum papel significativo no movimento dos tmbalhadores argentinos. Anibal Ponce foi 0 autor de varias obras de historia e sociologia, das quais as mais conhecidas SaGEduca's'(/o e luta de classes (1937) e Humanismo burgues e humanismo proletario (1935). Esses escritos, particularmente 0 segundo, revelam nao apenas um conhecimento da cultura universal, mas tambem um dominio real do materiaJismo hist6rico. Por outra lado, as poucas obms de Ponce sobre a America Latina parecem distantes de qualquer problematica Sua biogmfia de Sarmiento,
XIX, e bastante apologetica

que suas obras a rcspeito da America Latina sao muito menos intercssantcs quc as do autor dos Sete ensaios de interpretw,'(/o da realidade penwna um caratcr esscncialmcnte pre-marxista. e possuem
0

Essa diferenya, assim como

papel

politico marginal de Ponce, deve-se unicamente a causas psicol6gicas e individuais? Parece-me que se poderia buscar uma explicayao tambem nas diferenyas entre esses dois periodos do movimento openirio latino-americano, 1930 sendo bem menos favodveI teoria e da pratica. Em 1936, 0 processo de stalinizayao dos partidos comunistas, senvolvera de maneira desigual e contraditoria desde
0

a decada de

a unidade do universal e do particular ou da que se de-

final da decada de 1920,

estava cristalizado e completo. Com staJinismo queremos designar a cria<;;ao, em cada partido, de um aparelho dirigente - hierarquico, burocratico e autoritario - intimamente ligado, do ponto de vista organico, politico e ideol6gico, a lideran<;;asovietica e que seguia fielmente todas as mudanyas de sua orienta<;;ao internacional. 0 resultado desse processo foi a adoyao da doutrina da revoluyao por etapas e do bloco de quatro classes
(0

proIetariado,

campesinato, a peque(ou antiimpe-

na burguesia e a burguesia nacional) como fundamento da sua pratica politica, cujo objetivo era a concretizayao da etapa nacional-democratica riaIista ou anti feudal). Essa foi uma doutrina elaborada por Stalin e aplicada na China, e, mais tarde, generalizada para todos os chamados pafses coIoniais ou semicoloniais (inclusive, e claro, a America Latina). Seu ponto de partida metodologico e uma interpreta<;;ao economicista do marxismo, ja encontrada em Plekhanov e nos mencheviques: em um pais semifeudal e economicamente atrasado, as condiyoes nao estao "amadurecidas" para uma revolu<;;aosocialista"2. Para evitar qualquer incompreensao, ressaltemos que, de um ponto de vista subjetivo, para a maioria de militantes e lideres comunistas, esses dois fenomenos sao acompanhados por uma sincera convic<;;ao de que, primeiro, a URSS era a patria do socialismo, cuja defesa era um imperativo primordial, e, segundo, que a revolu<;;aonacionaI-democratica abriria
0 caminho

para

objetilatino-

vo final do movimento dos trabalhadores - 0 socialismo. Regis Debray escreveu, a respeito da rela<;;aoentre americano e 0 Comintern:

comunismo

mmxista,

0 grande escritor e dirigente argentino do seculo e nuo analisa essa figura e 0 seu papel politico em

term os de classe'" . Se comparamos Ponce com Mmiategui, temos de reconhecer

41. Domingo Faustino Sarmiento, autor do lamesa romance Facundo, loi presidente da RepUblica argentina no perrodo de 1868-74. Conlorme Anfbal Ponce, "raramente um homem de Estado co26

nheceu melhor as necessidades do seu povo", Ver Sarmiento, constructor de ta Nueva Argentina. Madri, Ed. Espasa-Calpe, 1932, p. 199. Mais lundamentada me parece a opiniao do escritor cubano Roberto Fernandez Retamar, para quem Sarmiento loi "0 ide610go implacavel da burguesia argentina que estava tentando transportar os esquemas das burguesias metropolitanas, concretamente, da burguesia norte-americana, para 0 seu pais. [.,.] Foi talvez 0 mais importante e mais ativo dos ide610gos burgueses no nosso continente durante 0 seculo XIX". Ver Roberto Fernandez Retamar, Catibcin, apuentes sabre ta cultura de nuestra America. Buenos Aires, Ed. La Pleyade, 1973. p. 98. 42. 0 termo "amadurecido" e expressao tfpica de uma concep<;:ao "naturalista" e antidialetica do desenvolvirnento econ6mico e social. Discuto esse tema em meu Iivro Metoda dialetico e teoria polffica, Sao Paulo, Paz e Terra, 1978 (tradu<;:ao de Reginaldo di Piero).

A America Latina sCl1lprcscguiu l1luitoccdo ou l1luito tarde. Cada nllldan\;a na silua\;iio mundi'll esta defasada com mudan\;as na situa\;iio continental ou regional. Os partidos comunistas, seguindo as dirctrizcs do
COlllintern,

democratas,

liberais ou democratas,

finalrnente apoiou Fulgencio

Batista em

janeiro de 1939, pela simples razao de que tinha uma linha de "colaborayao eficaz entre Cuba e os Estados Unidos contra a ameaya fascista"47. o unico pais em que foi possivel constltlllr uma Irente popuiar com cenas similaridades to presidente com
0

encontranl-SC na contracorrcntc

dus eventos rcgionais, enfrcn-

tando as suas larcfas especfficas a contrapelo:'J A meu ver, essa problematica nao se situa apenas no ambito latino-ameri~ano. A orienta<;;ao do Comintern stalinizado tambem ia "contra a corrente" na Asia e na Europa (Alemanha, 1929-33). Contudo, enquanto na Asia (China, Vietna), alguns partidos comunistas seguiam na prMica uma orientayao autOnoma, sem romper com 0 Comintern, na America Latina (como na maioria dos paises curopeus), elcs seguiam incondicionalmentc a "Iinha geral" tal como definida pela lideran<;;a sovietica, limitando-se a adapta-Ia, muitas vczes de mancira pobre, as concli<;;6csespecfficas dos seus paises (aclaplayocs que lhes permitem ceria libcrclade de manobra e explicam as diferenyas, por vczes importantes, nas taticas dos partidos). A primeira manifesta<;;ao dcsse novo perfodo, caracterizado pela hegemonia do "fenomeno Stalin" no marxismo latino-americano, e a frcntc popular. A mudanya de ambito mundial rumo alian<;;aantifascista de partidos comunistas, ses, foi sancionada oficialmente pelo
VII

modelo europeu foi


0 PC

Chile. Ali, 0
0

PC

0 PS

uniram-se sob

a hegemonia do Partido Radical, representado em 19384'. Para chilcno,

por Aguirre Acerda, que foi e1eiobjetivo da Frente Popular foi a

concretizayao da etapa nacional-democnitica por meio de um desenvolvimento progressivo do capitalismo chilcn04". A posiyao do Partido Socialista era mais complcxa. Fundado em 1933 por uma fusao dc varios partidos e grupos social istas pequenos, e fortalecido em 1937 com a adesao da Esquerda Comunista (a facyao trotskista expulsa do PC), 0 PS chileno nao cra um partido social-democrata, mas uma formayao politica singular, que declarava adcsao ao marxismo em seu programa e reivindicava uma "ditadura do proletariado" c uma "Repllblica Socialista da America Latina". Nao obstante, scu principallidcr na decada de 1930, 0 comodoro Marmaduque Grove, um dos lideres de uma Repllblica Socialista efemera, de 12 dias, estabelecida politicamente por um levantc militar em 1932, era socialista do que do marpor uma frente popuecletico, mais proximo do nacionalismo

a frente

popular, isto e, rumo a uma socialistas e democnitico-burguedo Comintern ern 1935.

xismo. 0 PS resistiu durante algum tempo a conclamayao

Congresso

lar, observando que ela transformaria os partidos dos trabalhadores em instrumentos do radicalismo democnitico burgucs, ja que nao podiam adotar um programa socialista que amedrontassc seus aliados capitalistas. Ainda assim, no seu IV Congresso, em 1937,0 PS decidiu unir-se a Frente Popular, que ja estava sendo criada pelo PC e pelo Partido Radical. Ao tornar-se rapidamente correntes, um partido de massa,
0 PS foi e continuaria

Depois disso, cada partido comunista latino-americano tentou aplicar a nova orienta<;;ao,buscando ctliados para uma l1-entepopular local. Na maioria dos paises do continente, na ausencia de paltidos social-democratas, as alian<;;asforam feitas d.iretamente corn for<;;as burguesas consideradas liberais ou nacionalistas, ou, sllnplesmente, nao-fascistas. No Peru, 0 PC, rejeitado pcla APRA, uniu-se a Frente DemocrMica, que apoiava a candidatura de Manuel Prado, um representante da oligarquia liberal tradicional44. Na Colombia, 0 PC apoiou 0 Partido Liberalurn apoio que assumiria urn eaniter progressivamente incondicional (conforme a hist6ria ofieial do partido publicada ern 1960). Em 1938, 0 PC colombiano chegou mesmo a romper com a esquerda do Partido Liberal para apoiar Eduardo Santos, 0 chefe da direita liberal". De maneira similar, 0 PC mexicano rompeu corn
0

a ser extremamente em uma federayuo

heterogeneo,

tanto polftica como ideologicamente, do trotskismo a social-democracia

e a unir as mais diversas

classica,

flexfvel e pouco integrada5<l. A Frente Popular ChilenaperduroLl, quando foi substituida

em uma variedade de formas, ate 1947,

por uma alian<;;aentre os radicais e LIma ala do ps, que

durou ate 1952. Durante esses 14 cmos, 0 Partido Radical aliou-se por vezes aos cOl11unistas contra os socialistas e por vezes com os socialistas (ou urna de suas

general MUjica, Iider da esquerda do Partido da Revolu<;;ao Mexicana

(0 47. Bias Roca, La unidad veneera el raseismo, Havana, Ed. Sociales, 1939, p. 12. 48. Na convenyao da Frente Popular em 1938, a Partido Comunista desempenhou um papel decisivo na seleyao de Aguirre Cerda, a Ifder da ala direita do Partido Radical, em detrimento do socialista Marmaduque Grove como candidato iJ. presidencia. 49. Cf. "A Program of Action for the Victory of the Chilean People's Front", The Communist, v. 20,

~ar~ido governante), em 1939, para apoiar a ala moderada, representada por AvIla Camacho4". Em Cuba, 0 pc, nao conseguindo eneontrar aliados social43. Regis Debray, La critique des armes. Paris, Seuil, 1974, v. 1, p. 42-3. 44. Ct. Goldenberg, Kommunismus in Lateinamerika, p. 94. 45. Ct. Treinta anos de lueha del Parlido 1973, p. 40, 47-48. Comunista de Colombia 1960. Medellin ',. Ed La PUlga , inlerrumpida '

46. Ver carta aberta de MUjica em 14 de julho de 1939, em Adolfo Gilly, La Revoluei6n Cldade do MeXICO, Ed. EJ Caballito, 1972, p. 389.

n. 5, maio de 1941. 50. 0 Partido Soeialista chiieno foi muito influenciado pelo titoismo ap6s 1948 e, ate certo ponto, pelo castrismo ap6s 1960. Sabre a decada de 1930, ver Julio Cesar Jobet, EI Partido Socialista de Chile, 3 ed., Santiago, Prensa Latino-Americana, 1971, v.i.

28

correntes) contra os comunistas. Por exemplo, em 1946, 0 presidente radical, Duhalde, atacou 0 PC com 0 apoio da ala direita socialista. Em 1947, 0 novo presidente radical, Gonzalez Videla, atacou 0 PS com 0 apoio do PC (quc estava participando do govcrno), ma~, COlli 0 illfcio da Guerra Fna em 1945, in verteu alian<;:as e colocou na ilegalidade
0

rialista quanto Hoover"


URSS

(In!()rmociones,

outubro de 1(33). Em 193iS, quando a Gonzalez


0

aliou-se as poteneias

oeidentais,

Alberdi escreveu anlllmpenallsrno

que

as lenlativas flalo-nazistas de promover

conlra os

PC (com

apoio da direita socialista).

Em

ianques fraeassaram. As nac;oes do eontinenle compreenderam que a colaborac;ao eSlreita com Roosevelt, que nao pode ser considerado urn representanle das fon,:as imperialistas do norte, nao diminui a autonomia de cada pais nem afeta a sua dignidade individual zembro de 1938). Finalmente, cia luta contra
0

1952, quando 0 PC C uma ala do PS finalmente se uniram para criar uma l'renle unida,o movimento dos trabalhadores estava tao clesmoralizado que 0 seu candiclato comum, Salvador Allende, obleve apenas 6% dos vOlos. Poclemos resumir 0 papel historico cia Frenle Popular comparando as seguinles analises. De acordo corn um historiador academico norte-americano, "A viloria da Frente Popular impediu uma revolu<;:ao e ensinou as massas a usar o voto em vez cia espada"51. Um comunisla chileno al'irmou: "0 triunfo da Frente Popular em 1938 e da AJian<;:a Democratica em 1946 demonstrou que a c1asse lrabalhadora e 0 povo ehileno pocliam conquistar
0

(Orientaci<5n,

15 de de-

em 1940, depois clo pacto Molotov-Ribbentrop: nazismo,


0

"Em nome

imperialismo

ianque conspira

contra as liberdades

precisamenle governo de

publicas clas nalioes americanas" (La Hora, 14 de julho cle 1(40)54. . .. Enquanlo 0 pacto germano-sovietico esteve em vigor, Ernesto GlLlcltCl, um !ider do PC argentino, publicou um livro interessante contra 0 imperialismo que inclufa, par um laclo, anglo-americano e a sua surpreendente um ataque radical (e justificaclo) clominaliao cia Argentina, clo fenomeno fascista:

Olltra maneint que nao pela insurreiliao"'2. Por rim, Oscar Waiss, um socialista cle esquerda chile no (com um historico trotskisla) al'irmou: A Frente Popular foi um erro politico giganlesco que reabililou um Partido Radical em decomposic;ao e rDubou a iniciativa revoluciomiria as massas. A Frente Popular foi urn ato de mistifica<,:ao social [... J que nunca lentou modificar a estrutura de propriedade de terras ou recuperar a posse de nossa riqueza fundamental.51 Se a frenle popular na America Latina teve no infcio um programa antiimperialista (1935-36), esse aspeclo tendeu a desaparecer a medida que se esba<;:ava um acorclo entre os EUA e a URSS contra a Alemanha nazista. Em geral, a polftica clos particlos comunistas para com os Estados Uniclos clurante as decadas cle 1930 e 1940 seguiu bcm de perlo mudanyas da polflica eXlerior sovietica.

e, por outro laclo, uma analise baslanle

Devemos compreender que as aspirac;oes das massas muitas vezes encontram-se por tras dessa ideologia fascista. E, como elas vem do povo, pouco importa se a sua forma ideologica e fascista ou nao. A retificac;ao politiea necessaria pode oconer no proprio movimento de massa - que se desenvolveu com pOllca considera<;ao pela ideologia reacionaria que alguns Ihe atribuem55 Ap6s junho cle 1941 (e a invasao cia
URSS

par Hitler),

clesenvolveu-se No contexto

a da

o exemplo mais nota vel eo PC argentino, que sempre fora 0 mais fiel a URSS. Algumas declaralioes cle P. Gonzalez Albercli, um conheciclo lfder cia PC argentino, a respeito dos Estaclos Unidos cle Franklin Delano Roosevelt ilustram essas
muclanlias cle posilioes ern fun~:ao clo alinhamenlo com as visoes sovieticas. Em 1933, clurante 0 Terceiro Perfodo, ele escreveu: "Em Cuba, 0 formiclavel movimento revolucionario clas massas antilhanas mostrou que Roosevelt e tao impe-

analise oposta na Argentina

e em outras partes clo continente.

alianlia antifascista entre os Estados Uniclos e a URSS, qualquer propaganda contra 0 imperialismo norte-americano era cluramente criticacla e estigmatizada pe10s particlos comunistas como uma manobra a servilio do fascismo5!'. Durante 1944 e 1945, desenvolveu-se na America (cle norte a sui) um fenomeno conheciclo como browclerismo. Na euforia ocasionacla pelos acorclos cle 54. Paulino Gonzalez Alberdifoi um dos principais lideres do PC argentino a partir da decada de 1920. As cita<;oesforam tiradas de J. Abelardo Ramos, Histaria del stalinisma en la Argentma. Buenos Aires, Ed. Del Mar Dulce, 1969, p. 176. ., . 55. Ernesto Giudici, Imperialisma y Iiberacion nacianal, 1940. Buenos Aires, Ed. Crol1lca,1974, p. 3-4. Ver as sele<;oes mais extensas nesta a~t?logia . .. .. ." 56. Por exempio, ver a critica do PC rnexlcano a demagogla antllmpenalista dos trotsklstas em Bias Manrique, "EI aplastamiento de los reptiles trotskistas: esa debe ser una tarea de los antifascistas", La Vaz de Mexico, 13 de maio de 1945.

51.

p. 136.

John Reese Stevenson,

The Chilean

Papular

Front.

Nova York,Greenwood Press,

1942,

52. Galo Gonzalez, "X Congres du P.C. cammunistes dans Ie marche au sacialisme. 53. Oscar Waiss, Nacianalisma 1961, p. 139.

y socialismo

du Chili, avril 1956", em Luis Corvalfll1, Chili, les Paris, Ed. Sociales, 1972, p. 36. em America Latina, 1954. Buenos Aires, Ed. Iguazu,

Teera, Earl Browder, rou


0

lider do Partido Comunista

dos Estados intima entre

Unidos, declasocial is-

(0 novo nome do PC cubano)

publicou um panfleto em 1945 intitulado

"Colabo-

infcio de uma era de amizade e colaborac;ao

0 campo

ta e os Estados Unidos, que estava destinada a continual' mesmo depois da guerra. Rro\vder extraiu conc!usocs '''CXCtsstva:j'' uessa perspectIva hist6rica e converteu 0 Partido Comunista dos EllA em uma vaga "associac;ao polftica". Essa pratica foi condenada como liquidacionista pelo movimento comunista internacional em um discurso de Jacques Duclos (lider do PC franccs) em abril de 1945. Os partidos comunistas latino-americanos, porem, tambem haviam sido varridos pel0 browderismo. Por exemplo, no livro Marchando para um mundo melhor, pubJicado em 1944, Vittorio Codovilla escrevera 0 seguinte: A coopera.;ao internacional entre os paises capitalistas mais importantes e entre esses paises e a URSS,com
0

ra<;ao entre patr6es e trabalhadores", para comemorar um importante encontro em Havana entre a associac;ao dos empregadores industriais e os lideres (comunistas) da Confederac;ao confedera<;ao sindical (a dos Trabalhadores
CTN)

Cubanos50.

No Mexico,

a principal um

e a principal

associa<;ao patronal

assinaram

acordo de unidade nacional em 1945, e A voz do Mexico, 0 6rgao do PC mexicano, celebrou 0 evento corn uma manchete garrafal: "Pacto hist6rico trabalhadores-patr6es: Base s6lida para 0 desenvolvimento e 0 progresso do pais".

E inte"rejei-

ressante observar que um dos pontos desse aeordo declarava

solenemente

tar a teoria da auto-suficicncia economica e atuar sobre a base da teoria da interdependencia economica e da coopera<;ao financeira e teenica com outros paises do continente pru-a 0 nos so beneffcio cornum, como parte de um program a indos outros povos do mundo". Conforme impecavelmente formulado" e "patriuma ternacional que considere as necessidades A voz do Mexico, 0 <\Cordo era "adequado",

prop6sito de erial' um mundo melhor,

mostra que os Estados Unidos e a Inglaterra concordaram quanto a uma polftica economica a ser seguida na America Latina que tem como objetivo contribuir para 0 desenvolvimento econ6mico, polftico e social de uma maneira progressiva. 1.. 1 Esse acordo devia basear-se na cooperayao dessas duas grandes potencias com os governos democrMicos e progressistas da America Latina, para lev'll' a cabo um programa comul1l que, ao mesmo tempo que cria um mercado para 0 scu capital que e dez ou 20 vezes maior do que no presente, contribuira para 0 desenvolvimcnto independente desses paises e Ihes permitira, em alguns anos, eliminar que estiveram mergulhados por muitas decadas57
0

6tico" e retletia as novas condic;6es no Mexico e no mundo, que "exigem alian<;a dos trabalhadores e dos capitalistas"('o.

o artigo

Duclos de 1945 e a remoc;ao de Earl Browder urn periodo de autocritica de convergcncia "harmoniosa"

cia lideran<;a do PC Unidos e

dos EllA inauguraram dona da perspectiva

e retificac;ao, que levou ao abancom os Estados

das medidas organizacionais que eram consideradas liquidacionistas. Contudo, esse novo periodo, que poderia ser chamado p6s-browderismo, foi caracterizado peJa continua<;ao de uma orientac;ao de "unidade exemplo, ern novembro nacional". No Mexico, pOl' 0 jornal do PC de 1945 (bem depois da carta de Duclos),

atraso em

o browderismo tambem teve conseqiicncias para os pmtidos comunistas no ambito politico nacional. Em Cuba, por exemplo, depois de ter participado
do governo do general Batista de J 943 a 1944'",0 Partido Socialista Popular

mexicano desenvo1veu 0 seguinte argumento: "0 objetivo do desenvolvimento do capitalismo no Mexico e um objetivo revolucionario, ja que significa 0 desenvo1vimento de uma economia nacional, a remoc;ao das garras da aguia que mantcm 0 pais como uma semicol6nia, a elimina<;ao de vestfgios semicoloniais, a concretizac;ao da reform a agraria e 0 desenvol vimento democratico e gera1 do pais, gra<;as a uma revo1uc;ao agraria antiimperialista". De aeordo com esse artigo, as medidas propostas pelo PC mexicano "sao, como a reforma agraria, medidas burguesas que permitirao 0 desenvolvimento do capita1ismo no Mexico, a industrializa<;ao do pais e a sua Jiberac;ao da intervenc;ao imperiaJista"61. 0 historiador sovietico Anatol ShuJgovsky, autor de uma obra sobre a hist6ria do Mexico moder!1o, escreveu sobre esse perfodo que a

Inest/mavel ara 0 povoJatino:americano. [...] Ate agora, sustentamos que e apenas pOI'meio da naclonallzagao de todo Invest/mentoe propnedade estrangeiros, em violenta oposigao aos interesses I~gleses e norte-amencanos, que poderfamos atingir 0 nivel mais alto de desenvolvimento econo_mlco. ...] A colaboragao que os Estados Unidos, a Inglaterra e a URSS estabeleceram [ em Teera abnu outra perspe~tiva. Ela nos abriu a perspectiva de obter esses resultados progresslstas POI' e/o da colaboragao em urn programa comum que voce nos sugere [...] a colaboragao m com a Inglaterra e os Estados Unidos e urn plano total para resolver harmoniosamente os nossos problemas econ6micos mais agudos e urgentes" (Bias Roca, Estados Unidos, Teheran y la America Latma, una carta a Earl Browder. Havana, Ed. Sociales, 1945). 58. Quando Batista renunclou em 1944, 0 PC cubano enviou-Ihe uma carta declarando: "Desde 1940, nosso partido fOI0 defensor mais leal e coerente das suas medidas governamentais e 0 promotor mals energlco da sua plataforma, inspirada pela democracia, justiga social e defesa da prospendade naclonal". Bias Rocas, Los socialistas y la realidad popular. Havana Ed Del PSP, 1944. ' .

57. Citado pOl'Ramos, Historia, p. 190-91. Na mesma veia, vel' uma carta de Bias Roca a Earl BrOWder, publlcada pelo PC cubano em 1945: "Caro amigo, seu Iivroe urn documento de valor

r:

59. Bias Rocas e Lazaro Pena. La colaboraci6n entre obreros y patrones. Havana, Ed. Sociales, 1945. Verp. 21, onde Bias Rocas explica que "estamos no processo de proclamar uma forma de colaboragao de classes". 60. La Voz de Mexico, 12 de abril de 1945, p. 1 e 7. 61. Carlos Sanchez Cardenas, "Larevolucionmexicana y el desarrollo capitalista de Mexico",La Voz de Mexico, 20 de novembro de 1945, p. 1.

ideologia "marxista" do movimento dos trabalhadores mexicanos podcria ser comparada ao "marxismo legal" da Russia czarisla (P. Struve e outros), cujo tema central era que a classe trabalhadora devia apoiar
0

derava pro-fascista.

A exceyao mais nol<ivcl foi

Brasil, onde

PC apoiou Geda Segunda


0

tulio Vargas ern 1945 - entre outras razoes porque elc participara Guerra Mundial ao lado dos aliados, ao contrario dente boliviano apoiado pelo MNR(>4. Embora a corrente stalinista fosse nitidamente

desenvolvimento

in-

de Peron e VillaroeL hegemonica

presi-

dustrial como uma precondiyao para a futura luta sociaL Nao obstante, Shulgovsky apenas refere-se explicitamente a orientayao dos "marxistas" em torno da lideranya da CTM (Lombardo tinha uma proposta Toledano) similar"2. e nao menciona que
0

no seio da es-

partido comunista

bastante

querda marxista, durante estc perfodo nao deixaram de existir tendencias crfticas, se reclamando de lUll outro tipo de comunismo. Eo caso, em particular, da corrente inspirada pelas ideias de Leon Trotski. de esquerda comunista e
0

Um dos epis6dios mais famosos do pos-browderismo foi a postura em relayao ao peronismo adotada pclo PC argentino. Profundamente conveneidos de que Per6n e seus adeptos cram fascistas, da formayao da Uniao Democratica, os comunistas argentinos participaram cujas fordo PC Naeional uma ampla coalizao anti-Peron,

A oposiyao

trotskismo

surgiram

na America

yas, segundo Vittorio Codovilla (em seu relatorio em dezembro de 1(45), inclufam: I. Todos os partidos tradicionais.

a Confercncia

Latina no infcio da decada de 1930. No Brasil, um brilhante grupo de intelcctuais - Mario Pedrosa, Livio Xavier, Rodolpho Coutinho - funda a primeira organizayao transformaria trotskista na America Latina,
0

Grupo Comunista

Lenine, que se com a parti-

pouco depois (1931) em Liga Comunista

(Oposiyao),

cipa.;;ao do poeta surrealista frances Benjamin Peret, que se encontrava nessa epoca no Brasil (e, mais tarde, da escritora Rachel de Queiroz). Em outubro de 1934 se constitui, pOl' iniciativa dos trotskistas (Fulvio Abramo, Mario Pedrosa, alguns anos Livio Xavier) uma coalizao antihlscista em Sao Paulo, na qual participam os comunistas do PCB - sob a direyao de Hermfnio Sachetta, que terminaria, depois, pOl' aderir

2. A parte mais consciente e combati va do movimento operario e campones. 3. A maioria da juventude

operaria e camponesa e a imensa maioria da

juventude universitaria, professores, profissionais e as classes medias.


4. A maioria dos industriais, comcrciantes, fazendeiros, criadores de gado

a IV Internacional-,

socialistas e sindicalistas,

e que vai dispersal',

e financistas. 5. A maioria do exercito e da marinha e uma seyao da polfcia unifonnizada. Apesar disso, a Uniao Democratica ainda possui um carateI' excessivanao

pela forya, uma grande manifestayao integralista liderada pOl' Pllnio Salgado. Em 1933, a Oposiyao de Esquerda Chilena, afiliada a Oposiyao de Esquerda Internacional (dirigida pOl' Trotski), foi fundada pOl' uma frayao importante do PC chileno, dirigida pOl' Manuel Hidalgo, Humberto Mendoza e Oscar Waiss, que abandonara
0

mente limitaelo, ja que alguns setores progressistas participam"3. Sua participayao

elo Partido Conservaelor

partido

em 1931. Contudo,

a maioria

dos membros

desse

nessa alianya, que tambem foi apoiada pOl' Spwille Braden,

grupo uniu-se ao Partido Socialista em 1937, e 0 trotskismo tornou-se, entao, uma das difusas tenelcncias ideologicas do socialismo chileno. Foi, sobretuelo, na Bolivia que a oposiyao trotskista real mente conseguiu implantar-se na classe operaria. Fundado pOl' J. Aguirre Gainsborg e Tristan Marof, 0 Partido Operario Revolucion{lrio (POR), seyao boliviana ela IV Internacional, exerceu uma inl1ucncia significativa no movimento operario elepois ela Segunela Guerra MundiaL Em 1946, um congresso da Federayao Sindical dos Trabalhaelores Mineiros da Bolivia (FSTMB), que se reuniu na cielade de Pulacayo, aprovou um conjunto ele teses de inspirayao nitidamente trotskista - redigidas pOl' Guillermo Lora, urn dos

embaixaelor dos Estados Unielos na Argentina - que nao confiava no nacionalismo demag6gico ele Peron -, teve conseqUcncias de Longo prazo para 0 PC. Ocol'reu lima nftida divisao entre a maioria da classe trabalhaelora argentina, que apoiava 0 peronismo, e os comunistas, que foram aCllsaelos pOl' Peron de colaborar com os militares e com a poryao mais conservaelora dos proprietarios de terra ("a oligarquia"). Desenvolveu-se uma situayao similar ern outros pafses do continente, especialmente na Bolfvia, onele () Partido ela Esquerela Revolucion{u-ia (PtR, pr6sovietico) uniu-se aos partielos tradicionais Nacional ela oligarquia em 1946 para delTubar que consio governo do Movimento Revoluciom'irio (MNR, populista),

AnatolShulgovsky, Mexico en fa encrucijada Cultura Popular, 1969, p. 494. 63. Citado pelo jornal do PC mexicano, La Voz
62. 34

de sua historia. de Mexico, 13

Cidade do Mexico,Ed. Fondo de de janeiro de


1946.

64. Nao obstante, 0 PCB Iambem teve uma arientaqao de "unidade nacional" p6s-browderista. Por exemplo, em urn Iivropublicado em 1945, Luis Carlos Prestes escreveu: "Par intermediode suas organizayoes sindicais a classe operaria pode ajudar 0 governo e os patroes a encontrar soluyoes praticas, rapidas e eficazes para os graves problemas econ6micos de hoje" (Prestes, Unifio Nacionaf para a Democracia e 0 Progresso, Rio de Janeiro, Ed. Horizonte, 1945, p. 25). Sobre esse tema ver 0 notavel ensaio de F. Weflort,"Origens do sindicato populista no Brasil", Estudos CEBRAP, n. 4, abril-junhode 1973.

clirigentes do POR -, cujo eixo central era a estrategia de transfonmu,;ao cia revolu<,;ao clernocnitico-burguesa em uma revolu<,;ao socialista num processo ininterrupto, sob licleran<,;a proletaria. que
COI11-

1945-46, tais como os de Grau San Martin em Cuba, Gonzalez Viclela no Chile e Miguel Aleman no Mexico, inspiraram-sc na cena polftica amcricana c cleram
URSS -,

Essa concep<,;ao, a perspectiva de uma revolu<,;ao "permanente" bina tarefas democratieas, agrarias, nacionais e anticapitalistas, uma alian<,;aestrategica com a burguesia local, considerada

infcio a "ca<,;aas bruxas" e a repressao anticomunista. Em resposta - e seguindo a nova orienta<,;iioda a luta de classe contra as burguesias. Durante
0

os pes latino-amc-

e a rejei<,;ao de

ricanos renovaram suas credenciais antiimperalistas e, ate certo ponto, reiniciaram perfodo da Guerra Fria tcm lugar uma nova virada "esqucrclista" do comunismo pro-sovictico na America Latina. Ao contrririo cle 1929-35, pOl"em, ncnhuma a<,;aorcvolucionaria dc massa foi liclerada pelos particlos comunistas e, mais importantc, essa nova muclan<,;anao amea<,;ouem nada 0 fundamento essencial de sua estrategia para 0 continente: a interpreta<,;ao stalinista do marxismo, a teoria cia revolu<,;aopor etapas e clo bloco clas quatro classes para a realiza<,;ao da revolu<,;iionacional-dcmocratica. Os eventos mais caracterfsticos desse perfodo ocorreram, sem duvida, na Guatemala, de 1951 a 1954, quando 0 Partido Guatemalteco clo Trabalho (POT, comunista) tornou-se uma das principais fon,;as polfticas do pafs clurante a presiclencia de Jacobo Arbenz. Hegemonico nos sinclicatos de operarios e camponeses, 0 POT defendia uma estrategia de revolu<,;ao nacional-clemocratica, em alian<,;a com os setores da burguesia e das For<,;asArmadas. Os estatutos do partido, aprovaclos no seu II Congresso, formulavam claramente: "0 POT nao prop6e lutar imediatamente pelo estabelecimento clo socialismo na Guatemala. Ele orienta a sua luta imecliata contra 0 atraso feudal e a opressiio imperialista que atingem 0 nos so pafs""" Os eventos que se seguiram sao bem conhecidos. Arbenz desapropriou certo numero de propriedades Depois que
0

incapaz de desem-

penhar um papel revolucionario significativo, cliferenciavam radicalmente 0 trotskismo do comunismo pro-sovietico, alem, e claro, da sua independencia em rela<,;iioa URSS e sua crftica ao autoritaristo burocnitico. Por causa cia sua visiio cle estrat6gia revolucionaria, a corrente latino-americana inspirada pelas icleias de Trotski se considerava continuadora das ideias clo comunismo latino-americano cia decada cle 1920, especialmente das ideias de Mariategui, a cuja herctn<,;a poHtica os trotskistas recorriam freqlientementd,5. e "agentes do fascismo" pelos partiDenunciaclos como "provoeadores"

dos comunistas, empurrados por e!es para as margens do movimento openirio, e internamente clivididos por lutas fratricidas, os trotskistas de muitos pafses ficaram reduziclos a seitas compostas essencialmente de intelectuais. Antes cia Revolu<,;iioCubana,
0

trotskismo conseguiu

implantar-se

na classe operaria e nos e no Chile,

sinclicatos, sobretuclo na Bolfvia e, em men or grau, na Argentina

onde clesempenharam pape! pol ftieo real. Foi esse 0 caso, em particular, para os militantes clo POR, que tiveram uma participa<,;iio decisiva na cria<,;iio cia Confeclera<,;uo Open'iria Boli viana (COB) durante a revolu<,;uoboli viana cle 195253. 0 primeiro programa cia COB, publieaclo no final de 1952 e cle inspira<,;ao nitidamente trotskista - provavelmente
paR -,

governo

esc'rito por Hugo Gonzalez Moscoso,

da United Fruit Company,

um Hder clo historicamente

assinala: "0 proletariado realizara as tarefas que suo cia burguesia"66. 0 paR tambem inspirou ocupa<,;6es de terras pOl'
MNR

um exercito de mercenarios treinado pelos Estados Unidos invadiu a Guatemala em junho de 1954. As For<,;asArmadas do go verno defenderam-se com pouca convic<,;ao e 0 estado-maior finalmente abandonou Jacobo Arbenz e bandeou-se para 0 coronel Castillo Armas, Hder das for<,;asinvasoras, gra<,;asa media<,;ao de John Peurifoy, embaixador americano na Guatemala. A nao ser por algumas a<,;6eslocalizadas excepcionais, 0 movimento operario e camp ones - assim como o POT -, clesarmado, foi incapaz de resistir"'J. A vit6ria de Castillo Armas abriu 0
68. Em Jaime Diaz Rizzoto, La Revolution aLl Guatemala, 1944-54. Paris, Ed. Sociales, 1971, p. 261. 0 relat6rio do secretario-geral Jose Manuel Fortuny ao II Congresso e ainda mais explicito: "N6s, comunistas, reconhecemos que, por causa destas condigoes especiais, 0 desenvolvimento da Guatemala deve seguir 0 camlnho capilalista por algum tempo" (J. M. Fortuny, Relatorio sabre fa actividad del Comite Central al Segundo Congreso del Partido, Cidade da Guatemala, 11 de dezembro de 1952). 69. Sabe-se que Che Guevara estava na Guatemala nesse momenta e que tentou, em vao, lutar contra a invasao pr6-americana. Conforme sua primeira mulher, Hilda Gadea: "Ernesto contoume que propos insistentemente a Alianga da Juventude [Comunista] ir para 0 front e lutar, e que muitos jovens, inspirados por ele, estavam prontos para partir. Uma ou duas vezes, ele apresentou a mesma proposta ao PGT, mas seus pedidos nao foram levados em conta, com a res posta de que 0 Exercito tinha tomado as medidas necessarias e 0 povo nao devia se preocupar'" (Hilda 37

camponeses em 1952-53, que for<,;aram0 go verno do agniria67.

a clecretar uma reforma

Entre 1948 e 1954, a chamada Guerra Fria irrompeu em escala internacional, tendo infcio com uma ofensiva imperialista generalizacla contra a URSS, seguicla pOI'urn enclurecimento clesta e clo movimento comunista internacional. Ap6s 1948, muitos partidos comunistas foram colocaclos na ilegaliclade (pOI' exemplo, no Brasil e no Chile) e a polfeia reprimiu brutalmente sindiealistas comunistas - e
0

caso clo assassinato de JesLls Menendez, eleitos com votos comunistas,

Hcler dos canavieiros pOI' eles, em

cubanos. Governos

ou apoiados

65. Ver, por exemplo, E. Espinoza, "Aniversario de la muerte de Mariategui", Clave tribuna marxista. Cidade do Mexico, n. 8-9, abril-maio de 1940. 66. Liborio Justo, Bolivia, la revolucion derrotada. Bolivia, Ed. Cochabamba, 1967, p. 156. 67. Sobre 0 papel do POR no campo, cf. R. W. Patch, "Bolivia", em Social Change in Latin America Today. Nova York, Council on Foreign Relations, 1960, p. 121. 36

caminho para uma repressao sangrcnta e em larga escala, verdadciro terror branco, enquanto aU nited Fruit Company retomava as terras desapropriadas. Como foi possiveltal derrota? Em 1055,0 PGT publicou um balanyo autocrilico que reconhecia que 0 partido "nao seguiu uma linha suficientemente independente em rela<;ao

a lideran<;a de Fidel Castro):

"E

importanle reafirmar [... 1que hoje, assirn como a rejeitar e a condenar, meto-

ontem, rejeitamos e condenamos, e continuaremos

dos terroristas e golpistas como ineficazes, prejudiciais e contrarios aos interesses do pOVO"74. orientayao proposta pelo partido nessa ocasiao foi "a de uma A mudan<;a" pelo caminho pacifico, "sem violencia nem sofrimento", em fUOl,;ao da qual 0 PSP estava "pronto, hoje, como ontem, e sempre, a fazer qualquer sacrificio e qualquer concessao honrosa, baseado, e claro, nos interesses supremos da classe trabalhadora, do povo e da p,ltria"75 0 objetivo des sa mudanya <;aonacional, por meio de uma alianya entre era a deposi<;ao de Batista e a realiza<;ao da revolu<;ao democr<ilica e de liberta0 PSP e a burguesia progressista7('. Durante 0 ana de 1058,0 PSI' final mente integrou-se a luta do Movimento 26 de Julho contra a ditadura. Varios militantes e alguns Ifderes do partido ~ especialmente Carlos Rafael Rodriguez ~ foram para as montanhas participar da luta armada, contribui ndo honrosamente de 1959. 0
PSP,

burguesia nacional democratica".

Em particular,

"0

PGT contribuiu

para semear ilusoes no Excrcito e nao desmascarou as verdadeiras posi<;oes e a atividade contra-revolucionaria do alto comando do Excrcito"70
0

Entretanto, essa autocritica nao questiona <;aodo


PGT

fundamento estrategico da orientahistorico, mas ape-

e sua concep<;ao das etapas do desenvolvimento

nas os erros tMicos cometidos na aplicayao concreta dessa estrategia. Assim, 0 PGT, em 1055, reafirma a necessidade de formar um bloco com a burguesia nacional para uma revolu<;ao democr<ilica e patriotica71. Na maioria dos paises do continente, os anos 1048-53 viram os comunistas enfrentando a repressao assassina da policia e dos militares e reagindo com coragem e tenacidade. Tambcm c inegavel que ocorreu uma radicaliza<;ao real em certos paises durante a Guerra Fria: por exemplo, os comunistas viram-se a frente de grandes movimentos grevistas (BGisil, 1053-54) ou particip,mlm de a<;oes guerrilheiras de camponeses (Colombia, 1040-55). Mas, para muitos partidos comunistas do continente, 0 "endurecimento" politico nao significou necessariamente qualquer atividade revolucionaria concreta. 0 exemplo cubano c bastante significativo nesse aspecto. Depois do golpe militar de Batista (1052),0 PSP denunciouenergicamente o carater rcacionario e pro-americano do golpe, mas 0 partido manteve seu estatuto legal e 0 seu diario, Hoy, continuou a sair, fato que possivelmente influenciou a sua politican 0 PSP nao conduziu a<;oes violentas contra 0 regime de Batista e denunciou
0

para

tri unro da guerri lha em janeiro no movi-

porcm, continuou a ser uma influencia moderadora

mento revolucionario geral do


PSI',

cubano, defendendo a tese de que este deveria permaneAssim, Bias Roca, secretario-

cer nos limites da etapa nacional-democnitica. em seu relat6rio

a VlIl

Assembleia Nacional do partido em agosto

de 1960, enfatizou: A revolw;;aocubana [...J

is uma revoluc;aoque, peJas larefas historicas que

enfrenta e reaJiza, pode ser corretamente qualificada como uma revoluc;ao agrfuia, uma revoluc;aode libertac;aonacional, uma revoluc;aopatriotica e democratica. [...J A burguesia nacional, que se beneficia da revoluc;aoe que recentemente obteve grandes beneffcios por causa do crescente poder de compra do povo e do maior numero de consumidores, apoia a revoJuc;ao,mas assusta-se freqiientemente com suas medidas radicais e com as ameac;as, a intimidac;ao e os ataques do imperialismo norte-americano. [...] Dentro de limites a serem estabelecidos, is necessario garantir os lucros da empresa privada, 0 seu funcionamento e desenvolvimento normais. E necess{rrioestimular 0 zeJo e aumentar a produtividade entre os trabalhadores dessas empresas.77 Podemos, portanto, conduir que 0 PSP esteve praticamente ausente tanto na prepara<;ao e na deflagra<;ao da luta armada contra Batista (J 953-57) como
74. Fundamentos, 75. Ibid., p. 8. 76. Ibid., p. 3-6. n. 149, dezembro de 1956-junho de 1957, p. 9.

ataque contra Moncada, de 26 de julho de 1953, como

"uma tentativa golpista, uma forma desesperada de aventureirismo, tipico dos circulos pequenos burgueses, sem principios e envolvidos em gangsterismo"7J. Isso nao impedi u que Batista, a partir desse acontecimento, desencadeasse onda brutal de repressao anticomunista e colocasse na ilegalidade 0 PSP. uma

A preocupa<,;ao do pSP, de nao ser tomado pOI'"aventureiro", se manifesta novamente na revista do partido, Fundwnentos, de junho de 1957 (seis meses ap6s
0

desembarque

em Cuba dos combatentes do Movimento 26 de Julho, sob

Gadea, Che Guevara, afios decisivos. Cidade do Mexico, Ed. Aguilar, 1972, p. 65). Sabre a polemica entre Che e Fortuny, ambos exiladas no Mexico em 1955, ver p. 117 da mesma livro. 70. La intervencion norteamericana en Guatemala y el derrocamienlo del regimen democratico. Ed. Camision Politica del PGT, 1955, p. 31-32. 71. Ibid., p. 42. 72. Cf. J. Arnault, 73. "Carta alas Karol, Guerrillas 38 Cuba et Ie marxisme. Paris, Ed. Sociales, 1963, p. 48. de 1953. Citado par K. S. militantes", Comite Executivo do PSP, 30 de agosto in Power. Nova York, Hill and Wang, 1970, p. 139.

77. Bias Raca, Balance de la labor del partido desde la ultima asamblea de la revolucion. Havana, 1960, p. 42, 80, 87.

nacional y el desarrollo

na transiyao da Revoluyao Isso nao foi resultado

Cllbana para

socialisll10 (agosto-outubro

de 1(60). cia

proveito do comercio europeu. numa organizayao


co!6nia brnsileinl?)

1 ... 1

Com tais elementos,

articulados a

cias Iimitayoes

especificas

do PSI', mas conseqliencia

puramente produtora,

mcrcantil, constituir-se-a

orientayao polftica fundamental do movimento comunista "oficial" do continente. Nesse sentlc!o, a polftica do pSP de 1953 a 1960 iJustra a dificuldade, para os partidos cOll1unistas, de desempenhar um papel revo1ucionario real, a despeito da abnegayao dos seus membros. A morte de Stalin (1953) e 0 xx Congresso do PCUS (1956) inallgurou uma nova epoca do comunismo latino-americano "pr6-sovietico". A dissoluyao do Cominform (I (56) nao significou comunistas a aboliyao dos vfneulos polfticos e a lideranya sovi6tiea. e sua virada rumo e ideol6gida URSS eos entre os partidos A orientayao

Pouco depois, Sergio Bagll, em A eCO/lOmiLlda sociedade cado em 1949, sugere uma hip6tese ceito de capitalismo colonial: anaIoga, utilizando

colonial,

publi0

explicitamcnte

con-

A cstrutura econ6mica que nasce na America do periodo que estudamos foi mais de um tipo capitalista colonial que feudal. 11 metr6pole cria A a America Iberica para integra-Ia ao cicio do capitalismo nascente, nao para prolongar De maneira partidarios
0

favoravel ~lcoexistencia

pacifica institucionalizada

a moderano qual

yao apos 0 fim da Guerra Fria foram traduzidas pclos partidos comunistas latino-americanos como uma Iinha polftica de apoio a governos capitalistas cons iderados progressistas Brasil, e resumida
0

cicIo feudal agonizanteBO no Chile,


0

e/ou democr:'iticos, na Argentina. proletariado

como

de ./uscelino

Kubitschek, segundo
0

similar,

historiador

Marcelo

Segall criticava

os

de Frondizi, entre
0

0 fundamento

teorico para essa linha foi

do feudalismo

latino-americano

e insistia na importfmcia

cia minera-

em uma declarayao

de maio de 1958 do PC brasileiro, e a burguesia

a contradiyao

<;;ao,uma industria tipicamente capitalista, no sistema colonialHI Podemos tambem mencionar a importante obra de certos auto res trotskistas argentinos durante esse perfodo, especial mente Nahuel Moreno e Milciades Pena (embora 0 trabalho de Pena fosse publicado apenas posteriormente) sobre 0 aspecto capitalista da coloniza<;;ao espanhola sociais pre-capitalistaS"2. estruturas produtivas: cram capie portuguesa Moreno e a sua combina<;;ao com rela<;;6es insiste na articula"ao de diferentes Nahuel

nao cxigc uma solu<;ao radieal na presente etapa. Nas presentes condi<;5es do pais, 0 desenvolvimento capitalista corresponde aos interesses do proJetariado e de todo 0 povo. I J 0 proletariado e a burguesia se aIiam em ... torno do objetivo comum de Iutar por um desenvolvimento independcnte e progressista contra A hegemonia da decada
0

imperialismo norte-amelleano.78 Se e verdadc que os prop6sitos da co]oniza<;ao capitalista no pensamento Cubana, de esquerda nao significa latino-americano, que nao existiram talistas e nao feudais, os colonizadores nao estabeleceram um sistema capitalista de produ<;ao porque nao havia ncnhum exercito de m[lo-deobra livre no mercado da America. Assim, os colonizadores, para explorar a Ameriea de uma maneira capitalista, foram obrigados a recorrer a reIw;:5es produtivas nao-capitalistas: a eseravidao da popula<;ao indigena.
79. Caio Prado Jr., Histaria economica do Brasil. Sao Paulo, Ed. Brasiliense, 1957, p. 22-23. 80. Sergio Bagu, Economia de la sociedad colonial: ensayo de la historia comparada de America Li3.tina. Buenos Aires, Ed. EIAteneo, 1949, p. 39, 68. Devemos tambem menclonar os pnmelros trabalhos de SilvioZavala, La encomienda indigena. Madrid, 1935, e Jose Miranda, La funci6n economica de la encomienda en las origenes del regimen colonial. Cidade do Mexico, 1947, sobre 0 regime espanhol de encomienda, mas eles permaneceram a meio caminho.entre a

do stalinismo

cle 1930 ate a RevolLlyao

contribui<;;6es cientfficas importantes ao pensamento marxista nesse perfodo. Em varios pafses, dentro e fora dos partidos comunistas, pesquisadores comunistas questionaram as interpreta<;;oes esquematicas prevalentes sobre a natureza cias forma"oes socioeconomicas do continente, particularmente a tendencia a impor o modelo feuclal europeu na analise das estruturas agrarias da America Latina.

ou semi-escravidao

o trabalho

pioneiro

de Caio Pardo Jr., Histr5ria economica e prop6e a seguinte amllise:

do Brasil (1945)

rejeita este tipo de enfoque

No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, <;ao dos tropicos toma
0

a co]oniza-

aspecto de lima vasta empresa comcrcial I. J


1111l

destinada a explorar os rccursos natllrais de

tcrrit6rio virgem em

78. Declara980 sobre a polftica do Partido Central do PCB, mar<;;o 1958, p. 15, 18. de 40

Comunista

do Brasil.

Rio de Janeiro, Ed. Comite

concep<;;ao tradicionalde feudalismoe a nova tese introduzidapor Calo Prado Jr. e SergIo Bagu. 81. Marcelo Segall, Desarrollo del capitalismo en Chile. Santiago, 1953. . 82. Cf. Nahuel Moreno, "Cuatro tesis sobre la colonizaci6n espanola y portuguesa", Estrategla, Buenos Aires, n. 1, setembro de 1957, e Milciades Pena, "Claves para entender la colonizaci6n espanola en la Argentina", Fichas, n. 10, 1966. Ver tambem George Novack, Understanding History. Nova York,Pathfinder Press, 1980, cap. 6, "HybridFormations".

Enquanto isso, os historiac!ores nuaram a defender a teoria tradicional Ramirez Necochea, historiador mia colonial chilena

"oficiais" do movimento comunista conticontra ventos e mares. Por exemplo, Hernan insistiu na tese de que a econo-

cos marxistas,

assim como Ullla comprecnsao

concreta da real idade latino-ame-

do PC chileno,

ricana. 0 car{lter mais diretamente engajado e politico de sellS escritos sobre a America Latina distingue a Slla obra da dos historiadores econ6micos. Em A realidade argentina: urn ensaio de il1terpreta~lio socioldgica, Silvio Frondizi, auxiliado pOI' uma equipe de jovens colaboradores que incluia Milciades Pena,

possuia principalmcnte elementos divcrsos de lllll tipo estritamcnte feudal. 1... 1 Tinha caraeteristicas adquiridas pe/ofeudalismo europeu no/im da Idade J\!/edia. 11A prodll<;ao e mesmo a minera.;ao nao cram atividades independentes, e as relayoes feudais de produc;ao tamh6m predominaram liiX'. Para os historiadores trotskistas, esse debate estava diretamente ligado a sua critica da doutrina da etapa "antifeudal" da revolu<,;ao latino-americana. Para outros autores, militantes ou simpatizantes dos partidos comunistas, 0 problema foi que suas descobertas hist6ricas nao foram levadas em eonsidera<,;ao pelas lideran({as dos seus partidos, na medida em que pun ham em questao, de forma implicita ou explfcita, sua estrategia polftica. Em uma obra publicada em 1966, dentro de Caio Prado 11'.reclamava da impossibilidade de serem reconhecidos sell partido os resultados de sua pesquisa "herctica":

Marcos

Kaplan,

Ricardo

Napuri e Marcelo

Torrens,

desenvolveu

uma analise

econ6mica,

social e polftica da forma<,;ao social argentina,

tal como existiu apos

1943; seu eixo central e uma tentativa de compreender 0 fen6meno peronista. Ao criticar a identifica<,;ao do partido comunista entre peronismo e nazismo (em 1945), Frondizi analisa a natureza bonapartista do regime de Peron, seu papel de neutralizar Tambem assinala que a 0 resultado da incapacidaem como pseudo-arbitro acima das classes sociais e a sua capacidade

o movimento operario pOI' meio do "controle estatal". derrota da experiencia peronista nao foi acidental, mas de orgiinica da burguesia argentina geral) de realizar uma revolu<,;ao democratica

(como ados outms paises "semicoloniais"

real. Esta tarefa historica so pode ser

realizada sob a lideran<,;ado proletariado, mas, nesse caso, "nao sc trata de concretizar a revolw;;ao democratico-burguesa como uma etapa contida em si, mas de concrctizar as tarehls democratico-burguesas na marcha da revolw;;ao socialista"". A audacia dessas idCias teoricas e polfticas manteve Sil vio Frondizi relati vamente isolado durante a decada de 1950, com pouca influencia sobre
0

Nao foi possivel assim sobrepor a convicc;oes tao profundamente imp lantadas 0 testemunho de bIOS, por mais convicentes que I()ssem I...j pois os proprios tatos precisariam ser considerados unicamente at raves das lentes deformadoras daqllelas I~llsas concepc;6es. [....1Continuou-se e 'linda se continua a ralar, respeitando 0 velho esquema original tra<,;adona base da experiencia europeia, e sem maior indagac;ao erigido em lei geral 1... 1 de todas e C]uaisquer socieclades humanas, continuOll-se a falar no Brasil daquela revoluc;ao democnitico-bllrgllesa destinada a eliminar os "restos feudais" supostamente prcsentes em nosso pais. X4 Incidentalmente, esse testemunho mostra que nao era a ignorancia ca que estava na origem dos erros politicos, mas 0 inverso. cientffi-

movimento

operario organizado. Seu papel tomou-se mais importante nas decadas de 1960 e 1970, quando estabeleceu rela({oes com as organiza({oes revolucionarias armadas. Foi assassinado pela Alian({a Anticomunista Argentina em 1974. uma mudan<,;a capital na hisLatina"'.

A Revolu<,;ao Cubana obviamente t6ria do marxismo latino-americano

constituiu

e na hist6ria da pr6pria America

Apos a destrui({ao do Estado ditatorial de Batista e de sell aparelho repressor pelos guerrilheiros, conduzidos pelo jovem advogado Fidel Castro (nascido em 1927), a reVOlll({aO democratica cubana experimentou um processo de "transi({ao" rumo ao socialismo, das democrtiticas rompendo com
0

capitalismo

em 1960-61. As mediagraria radical, desapro-

nacionalistas

de 1959-60 - reforma

Ao contnirio dos desenvo!vi11l1entos na hist6ria eeonomica, houve poueos trabalhos de sociologia marxista nesse periodo, isto e, que fossem voltados para questoes do presente. Uma das raras exce<,;oes foi a obra de Silvio Frondizi (1907-74), um militante revolucionario e professor de sociologia, hist6ria e direito na Universidade de La Plata, eujos escritos filos6ficos, socioeconomieos e politicos revelam urn profundo conhecimento da eultura europeia e dos classi83. Herman Ramirez Necochea, Antecedentes economicos de la independencia de Chile. Santiago, Ed. Unlversltana, 1967, p. 50. (0 grifoe do editor da obra orginal- N.O.) 84. Calo Prado Jr., A revolur;8o brasileira (1966). Sao PaUlo,Ed. Brasiliense, 4' ed., 1972, p. 28.
42

priagao das refinarias de petr61eo imperialistas etc. -logo encontraram a oposi<,;aoe a crescente hostilidade nao apenas do capital estrangeiro e da oligarquia financeira, mas da totalidade das classes dominantes os principais da ilha. Em agosto de 1960, o regi me de Castro desapropriou setores do capi talnorte-americav. 2,

85. SilvioFrondizi,La real/dad argentina, ensayo de interpretacion socialista, Buenos Aires, Ed. Praxis, 1956, p. 234.

sociologica,

La revolucion

86. Como a Revolu9ao Cubana e os eventos na America Latina apos 1959 sao mUltomals conhecidos do que os peridos anterieres, limitamo-nosaqui a situar esse perfodo no contexto historico da evolu<,;ao marxismo no continente. do

no em Cuba (lelcfonia, eletricidadc, a sabolagem economica

usinas de a<;t:icar).Em scguida, enfrcnlando da produ<;ao pela burguesia cubana, os

acaso que a primeira revolw.;ao socialista da America foi feita sob a lideran<.;acle revolucionarios alheios ao molde ideol6gico do comunismo stalinista, com a sua conccp<,;ao evolucionista do proccsso hist6rico e a sua interpreta<,;ao economicista do marxismo'J". A posterior aproxima<.;ao da dire<,;aocubana com 0 "socialismo real" de tipo sovietico - sobretudo a pm'tir cia invasao da Tchecoslovaquia - nao invalida esse fato hist6rico fundamental. A Revolu<,;ao Cubana subverteu claramente a problelmitica tradicional da corrente marxista ate enta~ hegemonica na America Latina. POI' Lml lado, demonstrou que a luta armada podia ser uma maneira eficaz de destruir um poder ditatorial e pr6-imperialista e abrir caminho para 0 socialismo. Por outro (ado, demonstrou a possibilidacle objetiva cle uma revolugao combinando tarefas democrMicas e sociaJistas em um processo revolucionario ininterrupto. Essas lig6es, em nftida contradi<,;ao com a orientagao clos partidos comunistas, obviamente exemplo lucionario, estimularam
0

e a suspensao

revolucion<irios do Movimento 26 de Julho nacionalizaram f<ibricas abandonadas. Finalmente, seguiram-se a desapropl'iac;ao de loda a grande burguesia e a aboli<;ao de!i.lC!o do capitalismo em Cuba em outubro de 1960, assim como a cria<,;aode milfeias de openirios e camponeses, e a funda<,;ao de um novo Estado. A proelama<;ao da natureza socialista da revolu<,;ao pOl' Fidel em maio de 1961 (ap6s a derrota da invasao contra-revolucionaria na Playa Gir6n) foi apenas a san<,;aoexplfcita e oficial de uma realidade existente. A conclusao a qual os lfderes e militantes esquerdistas da Movimento de J ulho chegaram e resumida por Fidel em dezembro de 1961: Tivemos de fazer uma revo]uiiao antiimperialista e socialista. Mas estas
duas sao
1I111<1

em 1968

26

s6 e a

ITICSnla,

porquc existc apcnas


0

luna

rcyoluc;ao. Essa

surgimento

de correntes marxistas da experiencia

inspiradas

pelo

a grande verdade dialetica da humanidade: de si 0 socialislllo"7

imperialislllO so tem diante

cubano. A principallimita<,;ao a ausencia de pluralismo

cubana, que se tornou de expressao e de

evidente a partir do final dos anos 60, foi a estrutura autoritaria do poder revopolftico, de liberdade formas de controle democratico (salvo em nfvel local). da popula<,;ao sobre as instancias polfticas

Alguns dos rcvolucion<irios cubanos tinham essa perspectiva desde 0 infcio de 1959, especialmcnte Guevara, que, desde abril de 1959, proclamara-se partidario do "desenvolvimento ininterrupto da revolugao" ate a destruigao do sistema social existente e dos seus fundamentos economicosHH Para a maioria dos outros, a pratica prececleu a teoria, e a sua descoberta do caminho marxista e socialista ocorreu no decorrer do pr6prio processo revolucionario: revolugao que conscguiremos um grande ('undo de experiencia. est<inos revolucionando interiormcnte"X".

Um novo perfodo revolucionario para 0 marxismo latino-americano, portanto, teve infcio ap6s 1960 - um periodo que recuperou algumas das ideias vigorosas do "comunismo continuidade original" da decada de 1920. Nao houve nenhuma poHtica e ideol6gica direta entre os dois perfodos, mas os castristas

"E gragas a
A revolugiio

redimiram Mariategui e resgataram Mella e a revolugao de 1932 em EI Salvador do esquecimento hist6rico'JI.

o fato excepcional da Revolu<,;ao Cubana e que toda Lima equipe polftica de origem pequeno-burguesa, inspirada pOI'uma ideologiajacobina e pelas id6ias de Jose M.arti, passou para 0 campo do proletariado e tornou-se marxista em
uma "metamorfose ideol6gica" coletiva vcrdadeiramente sem precedentes. Foi a determinagao de realizm plena e incondicionalmente as transformag6es democraticas radicais que lcvaram Fidel e a esquerda do Movimento 26 de Julho a descobrir na revolugao socialista fas hist6ricas.
0

o Hder

e pensador

revolucion,irio

que melhor simboliza

e encarna esse

novo perfodo para 0 marxismo na America Latina 6 Ernesto "Che" Guevara (1928-67), nao apenas pOI'causa do seu papel hist6rico na Revolu<,;ao Cubana, mas especial mente pela profunda intluencia de seus escritos e de sua atividade pnitica nas novas correntes revolucionarias do continente. Essa infJuencia e exercida pOI' meio de uma scrie de temas intimamente interJigados que constitui importancia medidas economicas
0

(mico caminho capaz de realizar essas tareetapistas paralisantes do PSP, a lideran<.;a Portanto, nao foi pOl'

eixo central do marxismo de Che"2. 0 primeiro e a no processo revolucionario e a rejei<,;aode

Livre dos esquemas

de uma etica comunista

castrista nao teve medo de tomar medidas anticapitalistas.

de construgao socialista que se baseiem "nas armas podres

87. Ver a sele<;:ao nesta antologia. 88. Ernesto Guevara, "A New Old Che Guevara Interview", 1959, em R. Bonachea e N. Valdes, orgs., Che: Selected Works of Ernesto Guevara. Cambridge, MIT Press, 1969, p. 372. de la seance inaugurale du 9' cycle de l'Universite populaire", 2 de dezembro de 1961, em Trois discours sur la formation du Parti uni de la revolution socialiste cubaine. Paris, Ernbaixada de Cuba na Fran<;:a, 1962, p. 55.

89. Fidel Castro, "Discours

90. Isso nao quer dizer que os dirigentes cubanos lorrnulassem uma critica radical ao marxismo de tipo sovietico ou propusessem urna ruptura com a heran<;:a stalinista. 91. Os escritos de Mella, fundador do PC cubano, foram publicados em Cuba apenas depois da revolu<;:ao castrista. 0 PSP nao publicava esses artigos desde a decada de 1930. 92. Cf. meu Iivro 0 pensamento de Che Guevara, Lisboa, Livraria Editora Bertrand, 1973 (ediyao original em frances, Paris, Maspero, 1970).

que nos deixou 0 capitalismo (a mercadoria como unidade, a rentabilidadc, 0 interesse economico individual como l11otiva<,:aoetc.)"'''- A partir de 1963, Guevara come<,:ou a desenvolver uma atitude cada vez mais critica ao modelo economico, social e politico do "sociaiismo real", buscando um caminho soci aIista alternativo, mais democrMico, mais igualiUirio e mais solidario.

concreto da propria Revolu<,:ao Cubana, uma nova corrente revolucionaria nasceu na America Latina: 0 castrismo (ou guevarismo). Uma das caracterfsticas mais fundamentais da interpretayao do marxismo dessa corrente e certo "voluntarismo revolucionario", polftico e etico, em oposic;ao a todo determinismo passivo e fatalista:

o segundo

carateI' socialista da revolu<,:ao na America Latina, que deve

derrotar "ao mesmo tempo os imperialistas c os exploradores locais"'J4. Em sua Mensagem (/ Tricontinental- que serviu como bandeira ideologica e programatica para toda a esquerda revolucionaria naeionais perderam do continente - Che insistia: "As burguesias de resistir ao imperialismo - se total mente a capacidade

o de vel' de

todo revoluciomirio

e fazer a revoluyao. Sabemos que a revo-

luyao seni vitoriosa na America e no mundo, mas e indigno dc um revolucionario sentar-se na porta da sua casa e esperar que passe ilnpcrialisll1o.9X
0

cadaver do

algum dia a tiveram - e agora formam a sua retaguarda. Nao ha nenhuma alternativa: revolu<,:ao socialista ou caricatura de revolu<,:ao""'. No que diz respeito a Cuba, Guevara examina as premissas metodologicas para uma analise marxista da transforma<,:ao da revolu<,:ao democrMica em socialista num importante ensaio de J964. Ele ressalta a seguinte questao: como e possivel a transic;ao para
0

As primeiras organiza<,:oes castristas surgiram no inicio da decada de 1960, seguindo divisoes no movimento jovem de certos partidos populistas (APRA no Peru, A<;:aoDemocratica n<lVenezuela) ou dos partidos comunistas tradicionais. Durante um periodo inicial (1960-68), a maioria desses movimentos tomou
0

socialismo em um pais semicoloniaJ, subindustria-

lizado? Nao sem ironia, rejeita a posi<,:aoetapista que responde, "como os teoricos da II Internacional", que "Cuba rompeu todas as leis da dialetica, do materialismo historico, do marxismo". Partindo de uma compreensao completamente diferente do marxismo e da dialetica entre sujeito e objeto - ou entre economia e polftica - ele enfatiza que, em Cuba, as for<,:asrevolucionarias "estao pulando etapas" para "for<,:ara marcha dos eventos, mas no contexto do que e objetivamente possivel""".

caminho da guerrilha rural, tentando recriar 0 sucesso do Movimento 26 de Julho cubano. Foram os guerrilheiros da FALN (For<;as Armadas de Liberta<;ao Nacional, dirigidas pOl'Douglas Bravo) e do
MIR

(Movimento da Esquerda ReFAR

volucionaria, dirigido pOI'Americo Martin) na Venezuela, as

(For<;as Anna-

das Revolucion{lrias, lideradas por Turcios Lima) e 0 MR-13 (Movimento RevoJucionario 13 de Novembro, liderado por Yon Sosa) na Guatemala, 0 MIR (liderado pOI' Luis de la Puente Uceda) eo
ELN

(Exercito

de Liberta<;ao Nacio0

nal, dirigiclo pOl' Hector Bejar) no Peru, a FSLN (Frente Sanclinista cle Libertagao Nacional, clirigida pOI' Carlos Fonseca) na Nicaragua, 14 cle Junho na Republica Dominicana e, finalmente, 0 Guevara, na Bolivia. Em 1967,0 congresso da Organiza<;ao Latino-Americana
(OLAS) reuniu-se
ELN

o terceiro tema de Guevara e a luta armada como principal forma de combate aos regimes ditatoriais predominantes na America Latina. Para ele, a guerrilha rural, vista como uma continua<,:ao pOl'outros meios da luta polftica revolueionaria, e a forma mais segura e realista de luta armada. Mas insiste: "Tentar deflagrar esse tipo de guerra sem 0 apoio da popula<,:ao e 0 preJLldio de desastre inevitave]". A luta so tem significado se os guerrilheiros "sao apoiados pebs massas camponesas e operarias da regiao e de todo
0

Movimento clo proprio

cle Soliclarieclacle

em Havana, constituindo a expressao polftica mais eJevacla desse primeiro perfoclo clocastrismo no continente. A significa<;ao historica clesse congresso encontra-se, em primeiro lugar, na sua tentativa de coorclenag:lo continental, pela primeira vez desde Bolivar, do processo revolucionario latinoamericano, e, em segunclo lugar, na inequlvoca e franca proclama<;ao cla uniclacle do conteuclo clemocratico e socialista cia revolu<;ao latino-americana: "A natureza da revolu<;ao e a luta pela independencia nacionaJ, a emancipa<;iio diante clas oligarquias e
0

territorio em que atuam"07.

Sob a influencia da obra e do exemplo de Che, os discursos e escritos de Fidel Castro, os documentos programaticos da lideran<;a cubana - a Primeira e a Segunda Declara<;6es de Havana (1960 e 1(62) - e, acima de tudo, 0 exemplo

caminho socialista para

clesenvolvimento

economico e social

93. Ernesto Guevara, "EI socialisrno Arnerieas, 1970, p. 372.

y el hombre

en CUba", Obras, v. II, La Habana,

Cas a de las

pleno""". A OLAS tambem tomou posi<;ao a favor da guerrilha como () metodo de Iuta mais eficaz na maioria dos paises clo continente.

94. Ernesto Guevara, "Guerra de guerrillas, 95. Vel' a seley8.o nesta antologia. 96. Ernesto Guevara, "La planilieacion 97. Ver a seley8.o nesta antologia. 46

un rnetodo",

op. cit., v. I, p. 177.


op. cil., v. II. p.322. 98. Segunda Oeclarar;:ao de Havana, 1962. Ver a seley8.o neste livra.

soeialista,

su significado",

99. Ver a seley8.o nesta antologia.

Por volta dessa epoca, surgiu 0 trabalho do jovem filosofo Frances Regis Debray, que radicalizava algumas das ideias implfcitas na corrente castrista da epoca. Seu livro Rev()lu~-{i()na Rev()lu~'(7o~ (1966) teve um grande impacto e suas proposic;()es pnnclpals, a prioridade do militar ante 0 polftico e 0 foco gucrrilheiro como substituto do partido polftico, foram adotadas por um numero importante de organizac;5es castristas. Por causa da oricntac;ao "militarista" e voluntarista, a maior partc desscs movimcntos gucrrilheiros foi dcrrotada, tanto militar como politicamcnte. Ap6s alguns succssos conjunturais, os combatentcs e scus Ifdcres foram dizimados c os centros gucrrilheiros desapareceram - como na Bolfvia, no Peru e na Venezuela - ou foram isolados c marginalizados. Em gcral, os gucrrilhciros conseguil'am cstabelccer vfnculos locais com setores do campesinato pobre, mas a ausencia dc um movimcnto dc massa c de organizac;ao polftica cm escala nacional limitou a extcnsao da luta armada. Uma nova ctapa no descnvolvimcnto do guevarismo - utilizamos csse tcrmo para dcfinir a nova forma da corrcnte gucrrilhcira dcpois da mortc de Che Gucvara -, caracterizada particularmcntc guerrilhciros urbanos com considenivel Estes inclufam
0

americanas

e enriqucceu

estudo da sociologia,

da cconomia

politica, da c os
CEPAL

hist6ria e da ciencia polftica. As ideias da ciencia social norte-americana seus imitadores problcmatica na America Latina, as tcorias dcscnvolvimentistas modcrna contra sociedade da

(Comissao Economica para a America Latina, das Nac;6cs Unidas), com a sua dualista - sociedade arcaica -, e as teorias congeladas da esquerda tradicional, geralmentc de origcm stalinista, foram questionadas e criticadas em uma serie de obras de pesquisa te6rica e cmpfrica. Uma crftica de alguns dos temas dominantes comuns dcssas teorias foi formulada de mancira concisa e polemica em um celebre ensaio do soci610go mexicano Rodolfo Stavenhagen, Sete teses erroneas sohre a America Latina (1965), em um artigo de Luis Vitale, America Latina: feudal ()U capitalista? (1966), nllmcro c, de maneira de pesquisas mais desenvolvida, marxistas importantes pOI' Andre Gunder e inovadoras Frank em Um grande sobre temas Capitalismo e suhdesenvolvimento na America Latina (1967).

fundamentais da realidade latino-americana surgiu desde 0 inicio da decada de 1960: dependencia e subdesenvolvimento, populismo, sindicatos e a sua ligac;ao com
0

pclo desenvolvimcnto

dc movimcntos

Estado, os movimentos

operarios e camponeses,

a questao agraria, a teses contradit6rias,

impacto politico, teve inicio ap6s 1968. Tupamaros (lidcrado por

marginalidade

e outros. Embora por vezes defendendo

Movimento dc Libertac;ao Nacional-

Raul Scndic) no Uruguai, 0 PRT-ERP(Partido Revolucionario dos Trabalhadores-Exercito Rcvoluciomirio do Povo, liderado por Robcrto Santucho) naArgcntina, a ALN (Ac;ao Libertadora Nacional, liderada pOl'Carlos MarighelJa) e 0 MR-8 (Movimcnto Revoluciomirio 8 dc Outubro, liderado pclo capitao Carlos Lamarca) no Brasil, e 0 MIR (lidel'ado por MigucI Enrfquez) no Chilc. Embora tivcssem bases no campo, esses movimentos cram fundamcntalmente U1-banos. Encontraram apoio significativo em mcios estudantis c intelectuais e, em menor grau, nas favelas centre certos setorcs radicalizados da classe opel'aria. A maioria foi destrufda ou extremamente cnfraquccida pela brutal rcpressao dcflagrada pclos rcgimes militarcs durantc a decada dc 1970. Alguns fizcram um balanc;o autocrftico do scu "militarismo" e da sua incapacidade de enraizar-sc organicamente nas massas opcrarias reorientar a sua pratica polftica. c camponcsas e tcntaram

nuo ha dllvida de que essas obras - por exemplo, as de Manuel Aguilar, Arturo Anguiano, Octavio Rodriguez Araujo, Jose Aric6, Mario Arrubla, Roger Bartra, Fernando Hcnrique Cardoso, Carlos Blanco, Pablo Gonzales Casanova, Osvaldo Fernandez Diaz, Bolivar Echeverria, Roberto Fernandez Retamar, Florestan Fernandes, Marta Harnecker, Octavio lanni, Marcos Kaplan, Ernesto Laclau, Rigoberto Lanz, Victor Leonardi, Hector Malave Mata, Hector Silva Michelena, Jose Alvaro Moises, Gilberto Mathias, Fernando Novais, Jose Nun, Francisco de Oliveira, Juan Carlos Portantiero, Anibal Quijano, Daniel Aarao Reis Filho, Eder Sader, German Sanchez, Enrique Semo, Roberto Schwarz, Edelberto Torres Rivas, Tomas Vasconi, Francisco Wcffort (alem dos auto res que aparecem nesta antologia) - ofereceram uma contribuic;ao rica e estimulante para a interpretac;ao marxista da America Latina. 0 fato de alguns deles tcrem se afastado de seu passado marxista e aderido a ideologia neoliberaJ dominante nao diminui 0 merito de seus escritos anteriores ...

Apos 1974, a corrcnte guevarista organizou-sc em uma Junta dc Coordcnac;ao Rcvolucionaria, cujos mcmbros eram 0 PRT-ERP, 0 MIR chilcno, os Tupamaros e
0 ELN

E importante enfatizar que esta nova ciencia social marxista nao se limita ao meio academico e desempenhou freqLientemente urn papel nos debates ideologicos e no seio da esquerda lati no-americana. Por exemplo, para os autores cia corrente mais radical cia teoria cia dependencia, tais como Gunder Frank, Rui Mauro Marini, Anfbal Quijano e Luis Vitale, a pesquisa economica e social era explicitamente ligada a uma estrategia polftica. Sua problemMica comum situava-sc nos seguintes eixos:

boliviano.

A junta entrou cm crise profunda intcrnas c do enfraquecimento

ap6s 1977dos gruposaRe-

78 por causa de divergencias membros. Paralelamente


<lO

crescimento

dc novas correntcs revolucionarias,

voluc;ao Cubana estimulou 0 desenvolvimcnto da ciencia social marxista. Pela primeira vez, 0 marxismo penctrou em larga escala nas uni versidades latino48

I. A rejeic;:ao da teoria do fcudalismo latino-amcricano c a caracterizac;:ao da estrutura colonial historica e da estrutura agl";:iriapresentc como esscncialmente capitalistas. 2. A critica do conceito de uma "burgucsia nacional progressista" e da perspectiva de urn possfvcl descnvolvimento capitalista independente nos pafses latinoamericanos. 3. Uma analise da dcrrota e!as expericncias populistas como resultado da propria natureza das formac;:oes sociais latino-americanas, sua dependcncia cstrutural e a natureza polftica e social das burguesias locais. 4. A descoberta da origem do atraso economico nao no feudalismo nem em obst:iculos pre-capitalistas ao desenvolvimento economico, mas no carater do proprio desenvolvimento capitalista dependente. 5. Finalmente, a impossibilidade de um caminho "nacional-democr:itico" para
0

para defender

movimento contra os proprietarios de terras e a polfcia, mas a

repressao das Forc;:asArmadas destruiu os sindicatos camponeses e os seus lfderes foram presos J(J{l. A simpatia trotskista pela Revoluc;:ao Cubana e a auscncia de preconceitos antitrotskistas entre os guevaristas permitiu 0 estabelecimento de relac;:oes de colaborac;:ao entre as duas correntes em uma serie de pafses, que, durante aIgum tempo, chegaram a certa simbiose polftica e/ou organizacional. Assim, no Chile, os trotskistas (Luis Vitale e seus amigos) participaram da fundac;:ao do
MIR

em 1965. A organizac;:ao foi inrluenciada


0 MlR 0

pebs suas ideias

mesmo depois de sua safda, alguns anos depois, e os trotskistas consideraram durante um perfodo guevaristas. Na Bolfvia, ram intimamente suas alas militares. Por rim, em 1965, na Argentina, a fusao entre um grupo castrista e uma organizac;:ao trotskista deu a luz 0 res), que foi a seyao argentina da
PRT IV

mais proximo das suas ideias dentre todos os grupos


0 ELN

0 POR

de Gonzalez Moscoso e

de Inti Peredo colabora-

desenvolvimento social na America Latina e a necessidade de uma revoluyao socialista como unica resposta realista e coerente ao subdesenvolvimento e a dependencia. Durante a decada de 1960, Cuba tambcm conheceu um florescimento da pesquisa sociol6gica, hist6rica e filosofica, testemunho da existcncia de um marxismo criativo e aberto, euja mais notavel expressao foi a revista Pensamiento Crftico, publicada sob a direyaode Fernando Martinez Heredia. Por pressao sovietica, esta revista, que publicava textos de Rosa Luxemburgo, Herbert Marcuse ou Ernest Mandel, alem de trabalhos de marxistas cubanos que rejeitavam a linha dos manuais da URSS -' Aurelio Alonso, German Sanchez, Jesus Diaz - foi fechada em 1971. nao foi a unica corrente revolucion:iria que se desenvolveu na America Latina a partir de 1960. Em grau menor, 0 trotskismo e 0 maofsmo tambem conheceram um crescimento significativo. A consolidac;:ao do trotskismo durante esse perfodo ocorreu, entre outras razoes, porque a Revoluc;:ao Cubana foi vista pOl' muitos setores da juventude radicalizada como uma confirmac;:ao de certas teses defendidas pelos partidarios da
IV

de 196<}a I<}71, chegando mesmo a fundir parcial mente as

(Partido Revoluciomirio dos TrabalhadoInternacional de I<}69 a 1973101

Essa alianc;:atrotskista-guevarista eristalizou-se no IX Congresso da IV Internacional (1969), que proclamou uma orientac;:ao em favor da Iuta armada e da integrac;:ao das organizac;:oes trotskistas na corrente OLAS. Durante a decada de 1970, porem, divergcncias estrategicas e taticas levaram a urn afastamento das duas tendcncias, que, apesar disso, mantiveram relac;:oes fraternais na maioria dos pafses. 0 trotskismo desenvolveu-se nos anos 70, especialmente no Mexico, onde
0 PRT

(a sec;:aomexicana da

IV

Internacional)

cresceu rapidamente independentes);

(com

o guevarismo

importante

influcncia em sindicatos camponeses

tambem na

Colombia, no Brasil e no Peru, onde a FOCEP (Frente dos Openirios, Camponeses e Estudantes do Peru), uma coalizao predominantemente trotskista, recebeu 12% dos votos nas eleic;:oes de junho de 1978 para a Assembleia Constituinte. A relac;:ao entre 0 maofsmo e 0 guevarismo, ao contr:irio, foi, na maioria das vezes, de conflito. 0 maofsmo surgiu no continente como uma conseqiicncia da polcmica sino-sovietica e como resultado de divisoes nos partidos comunistas tradicionais. 0 primeiro grupo maofsta latino-americano foi
0

Internacional, especial mente a teoria da revoluc;:aopermanente como proces-

so que conduz ao "tmnscrescimento" da revoluc;:aodemocratica em uma revoIuc;:ao sociaJista. 0 trotskismo tambcm conseguiu crescer como resultado da crise do movimento comunista tradicional apos a Revoluc;:aoCubana e pOl'causa da polemica castrista contra a poIftica moderada dos partidos comunistas Iatino-americanos. De 1961 a 1963, no Peru, ummilitante trotskista, Hugo Blanco, liderou um dos maiores movimentos camponeses de massa na historia reeente do continente -uma serie de ocupayoes de terms pOl' sindicatos camponeses no Vale da Convenci6n.
50

Partido

Hugo Blanco tambcm tentou organizar uma milfcia camponesa

100. Militantes da FIR (Frente de Esquerda Revolucionaria), organiza<;ao trotskista peruana da qual Hugo Blanco foi membra, iniciaram as primeiras "desaprapria<;6es de bancos" na America Latina, sob a lideran<;:a de Daniel Pereyra em 1961-62. 101. Em 1968, um grupo trotskista liderado por Nahuel Moreno deixou 0 PRT, opondo-se perspectiva de engajamento na luta armada contra 0 regime militar argentino, e, posteriormente, formou 0 PST (Partido Socialista dos Trabalhadores). Quanto ao PRT, separau-se da IV Internacional Trotskista ern 1973, assumindo uma orienta<;:ao politica e ideol6gica pr6xima Iinha politica do Partido Comunista Vietnamita.

Comunista do Brasil (PCdOB),produto de uma correntc dissidcnte que dcixou

Esses partidos reagiram de varias manciras ~lS organizayl)cs castristas. Alguns (Argentina, Brasil, Colombia, Chilc), desde perar com as novas correntes, classificado-as
0

Partido Comunista Brasileiro (PCB) cm 1962.0 Partido Comunista do Brasil foi fundado pOl' uma partc da antiga lidcranya do partido - Diogcncs Arruda, Joao Amazonas, Pedro Pomar -, que, contll1uando a sc reclamar dc Stalin e dcscontcntc com 0 xx Congrcsso c a dcscstalinizayao, cncontrou cco para suas prcocupayocs na crftica ehinesa a Kruchev. A oricntayao do PCdOBcombinava um retorno a politica de ofcnsiva do pcrfodo da Guerra Fria (1949-53) c uma tentativa de aplicar a cstrategia revolucionaria do PCchines. 0 partido maofsta brasilciro, scguindo 0 exemplo chines, propunha um "bloco dc quatro classes" e 0 estabelecimento de um governo revolucionario pela gucrra popular (conccbida como 0 "ccrco das cidades pelo campo"), cuja tarefa seria realizar uma rcvoluyao antiimpcrialista e antilatifundista. Os maofstas convcrgiam com os pro-sovietieos ao ncgar insistencia necessidade
0

infcio, reeusaram-sc

a coo-

como aventureiras

pcqueno-bur-

gucsas. Outros tentaram pcriodicamcnte colaborar corn grupos guerrilheiros (Bolivia, Vcnezuela, Guatemala); ern alguns casos, divergencias profundas quanto ao papcl da propria luta armada (como estrategia ou tatica) provocaram uma divisao ern que mcmbros dajuvcntudc comunista (Inti Peredo, na Bolivia) juntaram-se as fileiras dos guerrilheiros notavelmcnte
0

guevaristas.

Finalrnente, alguns partidos,

uruguaio (sob a lideranya de Rodney Arismendi), participaram

da OLASe conscguiram cstabelccer um rnodus vivendi c chegaram atc mesmo a colaborar corn a corrente gucvarista (os Tupamaros).

carateI' socialista da revoluyao na sua prcsente ctapa e na dc uma alianya com a burgucsia
0

o partido

que experimentou

a crise mais profunda dcpois da Revoluyao

sobrc a nccessidade

nacional;

Cubana foi provavclmente 0 PC brasileiroJ02. Integrado ao regime populista do prcsidentc Joao Goulart c eonfiante no setor "nacional-democratico" das Forc;as Armadas brasileiras, quc estabelcccu
0

propunham, entretanto, a hegemonia do proletariado nessa alianya de classes e a da luta armada. Durante a decada de 1960, PCdOB reeusou-sc a tom'll' parte em ayoes armadas e criticou severamente as atividades dos guerriIheiros castristas (ALN, MR-8 etc.) como contraditorias a uma verdadcira gucrra popular. Nao obstante, em 1971-73,0 partido organizou uma ayao gucrrilheira camponesa na Amazonia que foi dizimada pelo Exercito brasileiro. Nessa epoca,o PCdOB foi rcfon;:ado pela adcsao de uma grandeparteda Ayao Popular, uma organizac;ao com origem na esquerda crista e que foi hegemonica mento estudantil brasileiro na decada de 1960. no movi-

PCBfoi surprccndido

pelo golpe militar dc abril dc 1964, no poder atc 1985. Contudo, ao face a burguesia,
0

a ditadura que permancceria

contrario do POT guatemalteco,

que emitiu ap6s a queda de Arbenz em 1954 PCB,

uma autocrftica acerca da sua insuficiente autonomia

em uma resoluyao do Comite Central, em maio de 1965, criticou a tendencia "sectaria e esquerdista" do partido durante 1962-64, uma tendencia que teria "afastado da frente unica importantes setores da burguesia nacional""". A derrota de 1964 e essa linha autocrftica - considerada clireitista pela oposic;ao provocou uma crise interna no partido que se aguc;ou com 0 impacto da conferencia cia OLAS.Apos 1967, muitos militantes e alguns dos principais Ifderes do PCB - incluindo Carlos Marighella, Joaquim Camara Fcrreira, Mario Alves, deixaram
0

Organizac;oes similares ao PCdOBsurgi'ram em outros pafses: 0 PCML(Partido Comunista Marxista-Leninista) do Peru, 0 PCML da Bolivia, 0 PCML da Colombia etc. Estes ultimos distinguiram-se dos outros grupos pOl' criar uma importante organizayao de guerrilha rural, 0 EPL(Exercito Popular de Liberayao), em 1967. POI' outro lado, a recusa do PCML da Bolivia (liderado pOI' Oscar Zamora) em apoiar os guerrilheiros de Che em 1967 foi um dos temas do confronto politico entre Estados Unidos,
0

Apolonio de Carvalho e Jacob Gorender-

partido para fundal' orga-

nizac;6es de esquerda c engajar-se na luta armada. Alguns partidos, como 0 PC chileno, pOl' outro (ado, nao tiveram divisoes importantes (exceto pOl'alguns setores })Vens que se juntaram ao MIR)e permaneeeram impermeaveis a intluencia da Revoluc;ao Cubana. Grayas a sua forya organ izacional e coerencia ideologica, 0 PCchileno tornou-se a fOl'c;a hegemonica no que pode ser considerado a mais importante tentativa de buscar um caminho pacifico para 0 socialismo na Amercia Latina, 0 governo da Unidade Popular no Chile.
102. 0 PC venezuelana passou par uma seria crise em 1969-70, que levau saida de grande parte da sua Iideranga e de importantes setores da base, que lormaram MA_S(Movimento Ruma ao Socialismo), liderada por Teadoro Petkoff. A principal causa da divisao nao 101 a luta armad_a, mas a questao das relag6es do partido com a URSS, que lora posta em questao com .a rnvasao da Tchecaslovaquia em 1968. No curso das anas 90, a MAS tarnau uma anentagaa saclaldemocrata e Petkoff passou a participar de governos neoliberais. . . . 103. Citado em Carlos Rossi, "Le PC bresilien", Revolution permanente en Amenque LatfrJe. Paris, Maspero, 1972, p. 15.

maofsmo e

guevarismo

no continente.

Durante com os uma

a decada de 1970, a nova polftica exterior chinesa - reaproximayao uma postura ambfgua diante de Pinochet

- provocou

profunda crise na corrente maofsta, c muitas das organizac;oes, a comeyar pelo Partido Comunista do Brasil, se aproximaram da Albania. Hoje, 0 maofsmo nao existe como corrente na America Latina, salvo, talvcz, a guerrilha do Sendero Luminoso no Peru, quc parcce, entretanto, mais inspirada pOI'Pol Pot do que pOI'Mao Tse-Tung.

o dcsenvolvimento do castrismo/guevarismo, do trotskismo e do mao!smo na America Latina ap6s 1960 representou um desario para a hegcmonia dos partidos comunistas tradicionais sobrc 0 movimcnto operario.
52

Devemos enfatizar que, diante das hesita<;oes do Partido Socialista, era profundamente influenciado, nas bases, pOl'tendcncias guevaristas

que

similar _ mas em menor grau - ocorreu no Uruguai, onde as ses;oes mais combativas do Partido Socialista criaram 0 movimento Tupamaro. o Partido Socialista Chileno, ao contrario dos partidos da Argentina e do Uruguai, nunca tinha se afiliado a Internacional Socialista. Na verdade, esse partido nao era urn partido social-democrata tfpico, mesmo que inclufsse correntes soeial-democratas. Sua simpatia pela revolu<;ao iugoslava e, posteriormente, pela Revolw;ao Cubana, e a sua alian<;a polftica com os comunistas colocaram-no em contradis;ao com a doutrina social-democrata tradicional. Isso tambem se aplicava ao caso do Partido Socialista Revolucionario No curso dos anos 80 e 90, a social-democracia bastante espetacular na America Latina. 0 dire<;:ao,em partido social-democrata,
PS

e trots-

kistas, 0 Partido Comunista foi a tendcneia operaria mais moderada do governo Allende. Convencido ja ha muitos an os de que 0 Chile nao poderia tornar-se socialista sem passar pOI' uma etapa "antioligarquica e antiimperialista"t()4, 0 Partido Comunista tentou pOI'todos os meios assegurar urn modus vivendi entre o governo da Unidacle Popular e as fon;as burguesas consideradas progressistas pela limitas;ao das nacionaliza<;5est<J5,pelo diaIogo com a Democraeia Crista e, especial mente, pela colaboras;ao com as Fors;as Armadas, nas quais, de acordo com os Iideres comunistas, "reina LImaconsciencia profissional e respeito pelo governo constitucionalmente estabelecido" 10". Em outras palavras: os tragicos eventos de setembro de 1973 nao foram previstos pelo PC chileno e teria sido diffcil para ele preve-Ios, considerando a concep.,;aoque
0

do Equador.

conheceu urn desenvolvimento chileno se transformou, sob nova

aliaclo da Democracia Crista no governo

partido tinha do aparelho estatal e da sua relas;ao corn as classes sociais. nao havia se impJantado papel

cle transi<;:ao no Chile. Com exces;ao do caso chileno, a maioria dos partidos e movimentos que se denominam social-democratas e aderiram a lnternacional Socialista no ultimo perfodo sao particlos de estilo populista, que tem pouco a ver com
0

Finalmente, algumas observa<;5es sobre as correntes socialistas na America Latina. Ate ha poucos anos, a social-democracia com efic:icia no continente. As principais exces;5es ate a decada de 1970 foram os partidos socialistas da Argentina e do Uruguai, que desempenharam significativo no movimento dos trabalhadores no come<;o do secuIo, sob a lide-

marxismo ou

movimento operario socialista:

0 APRA

do Peru,

0 PDT

brasileiro de Leonel Brizola, a A<;:aoDemocratica (AD) na Venezuela, 0 PLN da Costa Rica, 0 PNP jamaicano, 0 PRO cia Republica Dominicana, entre outros. Apesar da derrota da maioria dos movimentos guerrilheiros das decadas de 1960 e 1970, 0 novo periodo revolucionario do marxismo latino-americano, iniciado pela Revolu.,;ao Cubana, nao tinha se esgotado. A vitoria da Revolus;ao Nicaragliense e 0 desenvolvimento cle frentes revolucionarias na America Central representou nos anos 800 prosseguimento clessa dinamica, que tambem se manifestou sob novas form as em todo 0 continente. A Frente Sandinista cle Liberta<;:ao NacionaI foi fundacla em 1961, sob a inflllcncia de Cuba e do guevarismo. Contudo, 0 sandinismo nao era uma simples copia ou imita<;ao do moclelo cubano. Carlos Fonseca e seus amigos formularam sua propria teoria e orienta.,;ao, corresponclenclo as tradi<;:6esrevolucionarias da Nicaragua. A Ienda de Sanclino - sualuta epica contra os u.s. Marines,
0

ran<;a de E. Frugoni no Uruguai e de JuanB. Justo, Alfredo Palacios, Americo Ghioldi, Alicia Moreau de Justo e outros na Argentina. Mas a Revolu.,;ao Cuba- . na tambem teve impacto nesses partidos, provocando a radicaIiza.,;ao de certos setores socialistas. Na decada de 1960, varias divis6es ocon-eram no tanto para a direita (0 Partido Socialista 'Democr:itico
PS

argentino, de David

de Ghioldi e Nicolas

Repetto) como para a esquerda (0 Partido da Vanguarda Socialista

Tieffenberg e outros); uma das tendcncias socialistas, Iiderada por Juan Coral, uniu-se em 1972 com 0 grupo La Verdad, de Nahuel Moreno, para formal' 0 Partido dos Trabalhadores Socialistas, de orienta.,;ao trotskista. Conseglientemente, a corrente social-demoeratiea argentina foi enfraqueeida e marginalizada, quase desapareeendo como for<;apol ftiea ou sindical importante. Um proeesso

seu covarde assassinato pelos homens cle Somoza em 1934 - foi uma herans;a transmitida de geras;ao para gera.,;ao. Representava uma oculta, reprimida, subterrfinea, mas incrivelmente tenaz tradiS;ao dos oprimidos, que inclufa as ideias cle Sandino, 0 General clos Homens Livres: uma mistura explosiva de antiimperialismo intransigente e rebeliao social. Colocada fora cia lei pelo Estado, essa cultura revolllcionaria popular fundiu-se com 0 marxismo para transformar-se no sanclinismo. Ao interpretar Sandino em urn contexto marxista e traduzir 0 marxismo para a linguagem da cultura sandinista, Carlos Fonseca e seus companheiros fo,:jaram a ideologia revoluciontiria da FSLN. Nao foi por acaso que 0 antigo partido comunista da Nicanigua Partido Socialista Nicaragiiense) pennaneceu
(0 PSN-

104. Ver, par exemplo, a relatorio do secretario-geral ao XIV Congresso do Partido, em novembro de 1969. Luis CONalan, Camino de victoria. Santiago, setembro de 1971, p. 323. 105.0 famoso "Plano Millas", proposto pelo ministro das Finanyas, comunista, ate mesmo previa a devoluyao aos donas de certas propriedades desapropriadas durante a "greve dos patr5es" de outubro de 1972. 106. Cf. CONalan, Camino de victoria, p. 425-6. Em uma entrevista ao L'Humanite (0 jornal do PC frances), CONalan, secretario-geral do PC chileno, enfatizou: "Em circulos ultra-revolucionarios afirma-se que um confronto com a Exercito e inevitavel e irrevogavel. [ ... J Em ultima analise' considerar inevitavel um confronto armada implica, e alguns estao sugerindo isso, a formaya~ imediata de milicias operarias. Na presente situayao, isso seria um sinal de falta de confianya no Exercito. Mas a Exercito nao e impermeavel aos novas ventos que estao soprando e penetrando em tad as as cantos da America Latina" (L'Humanite, 7 de janeiro de 1971).

a margem

do processo revolucio55

54

mirio, como em Cuba, criticando a Frente Sandinisla como "ultra-esqucrdisla", "avenlureira" e "influenciada pelo maoismo e pelo lrotskismo". lcmbra a cubana: a derrota Em cerlos aspeclos, a RevollH,;ao Sandinisla

desenvolvimento

cle organiza<.;oes populares e frentes guerrilheiras.

Vindas de

diversas origens ~ guevaristas,

maoistas, cristas de esquerda, comunistas elissi-

armada de uma diladura impopular, a criayao de Lltllpoder revolucionario baseado no armamento do povo, na rcforma agniria, no confronlo corn 0 imperialismo. Contudo, cerlas caracteristicas originais foram especificas da Nicaragua: urn papel mui lo mais importanle desempenhado pela populayao pobre e jovem das cidades, a imporlftncia menor da guerrilha rural ante as insurreiyoes urban as e a parlicipa<.;ao em massa de crislaos. Ao contrario de Cuba, porem, onde a "lransi<.;ao" de revoluyao democratica para revolu<.;ao social isla ocorreu bem rapidamente (em cerca de dois anos), na Nicaragua, dez anos apos a vitoria da insurrei<.;ao em julho cle 1979, aincla existia uma economia mista e muitos capitalislas ainda conservavam as SLlas propriedades. A viola<.;aocia orelem burguesa foi, a princfpio, fJof[tica: a clestruiyao elo aparelho estatal das classes dominantes e do revoluciomirio
0

dentes -, essas frentes transcendem 0 foquismo e a atividaele puramente mililar gra<.;asa esforyos inlensos de organiza<,;ao popular (enlre operarios, camponeses, estudanles e popula<.;ao pobre urbana e rural). 0 movimento popular provocou a derrubaela cia ditadura militar elo general Romero em 1979, e as organiza<.;oes populares formam a Coordenadora <,;oesguerrilheiras nao conseguiram Revolucion<iria de Massas, mas as organizaenfrenlar a repressao militar que extermi-

nou praticamente todos os dirigenles da CRM. A unidade foi estahelecida pouco depois, com a fundayao da Frenle Farabunelo Marlf de Liberla<,;ao Nacional
(FMLN)

cm 1980, que adolou a heran<,;ado comunisll1o salvadorenho


FMLN

inicial e da

insurrei<.;ao de 1932. A conseguiu econ6mica

chegou a controlar um leryo do lerrit6rio do pais e


0

amplo apoio popular nas cidades e no campo. Sem <~judamilitar e maci<.;ados Estados Unidos, poder do Exercito salvadorenho e da

estabelecimento

de urn Esta-

baseado no Exercito Sanclinista, nas rnilicias populares, sindiAs muclan<.;asecon6a desapropriw,;ao das

oligarquiaja teria sido vencido. Como na Nicaragua, muitos ll1ililantes revolucionarios em El Salvador sao cristaos; durante muito tempo, a principal base dos guerriJheiros rurais foi a FECCAS, a Federa<,;ao Crista dos Call1poneses Salvadorenhos, criada pOI'jesuitas progressistas. A vitoria sandinista tambem encorajou os revolucionarios da Gualemala, se bem que 0 movimento nao fosse tao grande como 0 de EI Salvador. As diversas frentes guerrilheiras gualemaltecas, unidas des de 1985 na URNG (Uniao Revolucionaria Nacional Guatemalteca), conseguiram implantar-se nas comunidades camponesas maias, ao contrario de seus predecessores na decacla cle 1960. Cristaos radicais e suas comunidades de base lambem clesempenharam papel essencial nesse caso. Contuclo, massacres sistematicos do Exercito e a organizayao militar foryada da populayao rural conseguiram yoes revolucionarias guatemaltecas. enfraquecer as organiza-

catos, Comites de Defesa Sandinista e outros organismos. micas ocorreram de maneira mais vagarosa e incomplela: propriedades

cle Somoza e de seus seguidores e, mais tarcle, uma reform a agraria

bastante radical. Mas a maior parte da propriedade econ6mica permanecia em maos privadas 107. Qutra caracterfstica particular cia Revolu<.;ao Nicaragliense foi oestabelecimento pelo governosandinista de urn regime politico baseado em direitos democraticos, pluralismo politic<;Je sindical, liberdade de imprensa e direito de associa<,;ao. Eleiyoes reconhecidas por observadores internacionais como livres e democraticas (as primeiras na historia da Nicaragua!) foram realizadas em J984 e resultaram em uma maioria de 67% para a FSLN na Assembleia Constituinte. Erros autoritarios (especial mente no que diz embora respeito aos fndios miskito) foram progressivamente corrigidos, continuasse a predominar um estilo vertical de lideranya politica.

Nessas tres na<;;oescentro-americanas, a vanguarda revolucionaria foi criacia por meio da fusao do marxismo com tradi<,;oespopulares cle luta social e antiimperialismo que permaneceram na memoria coletiva clos oprimiclos: a luta de Sanclino contra a inlerven<,;ao americana na Nicar{lgua (1927 -34), a insurrei<,;ao de 1932 em EJ Salvaclor e a luta centenaria dos indfgenas contra a colonizayao na Guatemala. Correntes de varias origcns se reuniram nas lres frentes cle liberla<,;ao- ate mesmo os partidos comunistas "hist6ricos" participaram em EI Salvador e Guatemala-, mas as novas for<,;asmarxistas, em parle inspiradas pelo guevarismo, sao as hegem6nicas. A atrayao das icleias socialistas e marxislas para uma parle significaliva das "massas cristas" e para os sctores mais radicalizados do clero e um dos aspectos caracterfsticos ha precedentes das insurrei<.;oes ccntro-americanas, do CjualHao hisloricos em tal escala.

A derrota dos sandinistas nas eleiyoes de 1990 foi, acima de tudo, 0 resultado das terrfveis conseqliencias do bloqueio econ6mico norte-americano e da guerra contra-revolucionaria nicaragliense. organizada pelos Estados Unidos contra
0

povo

Mas erros sandinistas tambem contribuiram

para esse retrocesso:

democracia interIm insuficiente no partido sandinista, servi<.;omilitar cornpuls6rio, concessoes excessivas ao selor privado etc. A Revolu<.;ao Nicaragliense tcve um profunclo impaclo em todo 0 continente, mas especialmenlc na America Central. Em EI Salvador, ajudou a inspirar 0

107. Para urn estudo detalhado dessas questoes, ver 0 excelente estudo de Paul Le Blanc Permanent Revolution in Nicaragua. Nova 'York, Fourth Internationalist Tendency, 1984. ' 56

Com a derrota eleitoral clo sandinismo e a muclan~a da conjuntura polftica internacional (fim da Guerra Fria, clesapari~ao da URSS), os movimentos guerriJheiros salvadorenhos e guatemaltecos decicliram aceitar acorclos de paz, que, em troca do desarmamento clos grupos insurgentes, ofereceram certas garantias democratic as para uma ativiclacle pltblica e legal das for~as de esquercla. Enquanto se clava esse processo de luta na America Central, surgiram, a partir de 1980, novos movimentos polfticos e sociais no Cone SuI cla America Latina, especialmente a forma~ao clo Partido clos l'rabaJhadores (fYf) e cla Central Onica dos Trabalhadores
(CUT) no Brasil. 0 processo de industriaJiza~ao,
0

principal mente: te610gos,jesuftas, especialistas lcigos, estuelantes - foram atrafdos pOl' analises e propostas marxistas - como ocorreu corn grande parte dos intclectuais do continente durante a deeada de 1960. A teologia da Iiberta<;:aonao criml essa mudan<;:a;e um produto dela. Mais precisamente, e a expressao particular de um movimento social criado pelo envolvimento de cristiios em associa<;:6es de bairro, sindicatos, movimentos estudantis, ligas camponesas, centros de eduea<;:aopopular, partidos polfticos de esquerela e organiza~6es revolucionarias. Esse movimento, que poderfamos chamaI' cristianismo Camilo Torres!), ao movimento de liberta<;:ao, surgiu na decada de 1960 (lembrem-se e uma doutrina, contribuiu de muito antes da teologia da liberta<;:ao. Esta, POl'em, ao dar para a sua difusao e

dirigido pelo regime militar em associa~ao com

capital multinacional,

levou

ao surgimento de uma nova c!asse trabalhadora, que se mobilizou em grandes greves em 1978-79, especialmente na regiao do ABC. Diante da repressao do Estado, sindicalistas militantes, como Lula (0 Ifder do sinclicato dos metalltrgi0

legitimidade

cos de Sao Bernardo do Campo), se politizaram e tomaram a decisao de criar Partido dos Trabalhadores, independente das for~as oposicionistas liberais do Pmtido do Movimento Democratico

desenvolvimento. o tema da liberta<;:aocome~ara a preocupar os te61ogos mais avan<;:ados, insatisfeitos com a dominante "teologia do desenvolvimento", no fim da decada de 1960. Mas foi em 1971, com um livro de Gustavo Gutierrez, padre peruano e ex-estudante das uni versidades cat61icas de Louvain e Lyon, que a teologia da Nessa obra, Teologia da libertaly'clo -Persliberta<;:aonasceu verdadeiramente.

burguesas e

Brasileiro (PMDB). 0 novo Par-

tido dos Trabalhadores logo conseguiu 0 apoio e a adesao de muitos sindicalistas e organizadores das comunidades eclesiais de base, assim como de intelectuais de esquerda, antigos militantes das frentes guerriJheiras da decada de J960 e grupos marxistas (sobretudo trotskistas). A CUT foi criada em J983 sob 0 fmpeto dos sindicalistas do fYf, unindo as correntes de lutas de classe do movimento operario, e e hoje, com sindiealismo
J()

pectivas, Gutierrez propos certo nLLmerode id6ias controvertidas que estavam destinadas a tel' eco consideravel. InrIuenciado peIo marxismo - ele se refere especialmente aos escritos de Mariategui, de Ernst Bloch e dos te6ricos da dependencia -, Gutierrez nao ve os pobres como objeto de pena ou caridade, mas como os .\~!ieitos da sua pr6pria libertaly'clo. Rejeitando
0

milh6es de membros, a fon;;a begemonica

do

"desenvolvimentismo

brasileiro. Com centenas de milhares de aderentes e dezenas de

I ]que ...

se tornou meramente sinonimo de reformismo e moderniza<;:ao", isto e,

milh6es de votos, 0 fYf se tornou a prineipa( oposi<;:aooperaria e popular a "Nova Repltblica", surgida do consenso entre os miJitares e a burguesia liberal. 0 Partido dos Trabalhadores democratico como tal nao se reclama
Q

de medidas limitadas, tfmidas e ineficazes que apenas agravam a dependencia, 0 te61ogo peruano proclama sem hesita<;:ao:
Apenas uma destruiyao radical do presente estado de coisas, uma transformayao profunda das relayoes de propriedade. a tomada do poder pela

marxista,

mas seu program a

e soeialista - aprovado no 7 Encontro, em J 990 - e, sem dtivida,

de inspira<;:aomarxista. Sem faJar das tendencias internas marxistas, que exercem inOuencia significativa no partido. Nem 0 SUltOrevoJucionario na America Central nem a fonna<;:aodos novos movimentos operarios e populares no Brasil podem ser compreendidos sem a considenH;;ao de um fenomeno novo e inesperado - a radicaliza<;:ao de amplos setores cristaos e a sua atra<;:aopelo marxismo. Vaticano II sem dltvic!a contribuiu para essa evolu<;:ao,embora nao de maneira direta, ja que as suas resolu<;:6esnao transcenderam os limites de uma moc!emiza<;:ao,um aggiomamento, uma abertura liberal. Mas essa abertura, ao perturbar as antigas certezas dogmaticas, tornou a cultura cat6lica permeavel a novas ideias e influcncias "exteriores". Abrindo-se para 0 mundo moderno, a 19reja nao po de evitar os cont1itos sociais que sacodem este mundo, especial mente na America Latina.
58

classe explorada. uma revoluyao social acabarao com essa dcpendencia, Apenas clas permitirao sociedade socialista.IOH a transiyao para uma sociedade diferente, uma

Observe-se

que essa posi<;:ao6 muito mais radical que as propostas dos

o Concflio

partidos comunistas latino-americanos nesse perfodo. Pouco depois, em abril de 1972,0 primeiro encontro continental do movimento "Cristiios pelo socialislllo" ocorrell em Santiago, organizado pOl' dois jesuftas chilenos. 0 te61ogo Pablo Richards e 0 economista Gonzalo Arroyo, com
0

apoio do bispo mexicano Sergio Mcndez Arceo, Esse lllovimcnto eClIme-

E nesse

contexto que muitos cristaos - no infcio, intelectuais,

nico, que uniu cat61icos e protestantes, levou a 16gica da teologia da liberta<;:aoIt sua conclusao - isto e, uma lentativa de sfntese entre marxismo e cristianismoque logo provocou a sua interdi<;:ao pela hierarquia da Igreja chilena. A resoluyaO final do encontro de 1972 proclamou a sua adesao, como cristaos, it luta pelo socialismo na America Latina: () vcrdadeiro eonlexto para uma fe viva hoje e a hisl6ria da oprcssao c da IUlade liberl~)(,;aO diantc da opressao. Para nos siluannos ncssc conlcxlo, porcrn, dcvcmos parlicipar vcrdadciramentc do proccsso de liberlac,;ao, unindo partidos c organizac,;oes que scjal11 instrul11enlos autenlicos da IUla ciac1asse lrabalhadora. Grayas ao trabalho de Gutierrez, de Hugo Assmann ~ outro pioneiro da teologia da liberta<;:ao ~, dos irmaos Leonardo e Clodovis BolT, de Frei Betto (preso pOI'varios ,U10S pela ditadura militar, atualmente principal animador das comunidades de base do Brasil e conselheiro do Partido dos Trabalhadores), de Ignacio Ellacuria (assassinado pelos militares em EI Salvador), de Jon Sobrino e Pablo Richards na America Central, a teologia da libertayao se tornou uma corrente influente nas comunidades de base e em setores significativos da 19reja. Isto provocou uma reayao do Vaticano: a famosa "lnstru<;:ao quanto a eertos aspectos da Teologia da Libertayao", da Congrega<;:ao para a Doutrina da Fe, dirigida pelo cardeal Ratzinger, que 5-ienuncia a teologia da liberta<;:aocomo uma nova heresia baseada no uso "indiscriminado" de coneeitos marxistas. Qualquer que seja 0 resultado da ofensiva do Vaticano - e nao podemos excluir que conseguirii alguns sucessos -, a posi<;:aodos cristaos no campo da luta de classes nunca sera 0 que era antes do surgimento e do desenvolvimento do cristianismo de liberta<;:ao. Durante muitos cmos, a questao de uma alianya com setores ditos "cristaos de esquerda" foi uma preocupa<;:ao tMica do movimento dos trabalhadores e de marxistas na Amcrica Latina. Durante sua viagem ao Chile, em 1971, Fidel Castro falou da possibilidade de cristaos e marxistas passarem de uma a\ian<;:a tMica para uma alian<;:aestratcgica. Mas depois da experiencia centro-american"a,assim como da brasi]eira, a questao das alianyas aparece como superada: os crista.os se tornaram um componente dos movimentos populares socialistas, Iibertadores ou revolucionarios. Eles trouxeram uma sensibilidade moral, uma experiencia do trabalho popular "na base" e uma urgencia utopica que contribufram para enriquecer 0 movimento. 0 que atrai certos cristaos radicais para 0 marxismo nao e apenas () seu valor cientffico como analise da sociedade; c tambem, ou especial mente, a sua oposi<;:ao ctica It injustiya capitalista, identificayao com a causa dos oprimidos e a sua proposta socialista.
60

Os acontccimcntos

dos anos 1989-91 nao dcixaram de tel' um impaclo so-

brc a csqucrda marxista latino-americana. Mais do que a queda do Muro dc Beriim c 0 fim pouco glorioso da URSS - duramente scntidos sobretudo peb corrente comunista identificada com 0 modelo sovi6tico ~ foi a derrota sandttllsta que teve maiores conseqi.iencias para 0 conjunto das for<;:asde esquerda, na Amcrica Central e em todo 0 continente, contribuindo - como vimos acimapara 0 desarme e\as guerrillhas na Amcrica Central, no quadro de acordos de paz acompanhados de garantias democratic as. A isto se deve acrescentar as c1ificulc1aclesde Cuba: sc existc enorme simpatia pelo combate c1eCuba em defesa das conquistas da revolu<;:aoe contra 0 bloqueio norte-americano, a falta de democratizw;:ao do regime e certas praticas autorit{trias - como, pOI'exemplo, 0 processo e execu<;:ao c10general Ochoa e seus amigos - rem suscitado muitas c1ClVic1ase crfticas na esquerda latino-americana. Estes e outros acontecimentos, num contexto neoliberal triunfante, de ofensiva capitalista

levaram varios intelectuais ou c1irigentes de esquerda

"realistas" a proclamarem 0 "fim do perfodo aberto pela Revolu<;:ao Cubana de 1959, e 0 infcio de uma cpoca de "consenso democratico", no qual as reformas necessarias se dariam no quadro da economia (capitalista) de merde rcforem cado. A revolu<;:ao seria um capftulo encerraclo na historia da Amcrica Latina, e em seu Iugar s6 poderia tel' conseqi.iencia mas, implementada pOl' exemplo,
0

uma polftica moderada

pOI'governos

de centro-esquerda.

a tese que defende, impacto em todo


0

talentoso escritor e jornalista

mexicano Jorge Castaneda,

seu livro A utopia desarmada (1993), que teve considenivel

o continente. Ora, poucos meses depois de publicado esse \ivro, em seu proprio pafs, Mcxieo, teve lugar
0

espetacular levante dos fndios de Chiapas, sob a dire<;:aode

uma organiza<;:ao de utopistas armados, 0 Excrcito Zapatista de Liberta<;:ao Nacional. E verdade que os zapatistas, contrariamente aos grupos de guerrilha tradicionais, nao tem pOI'objetivo tomar
0

poder, mas sim suscitar a auto-organiza-

<;:ao sociedade civil mexicana, com vistas a uma profunda transformw;:ao do da sistema social e politico do pafs. Entretanto, sem 0 levante de janeiro de 1994,0 EZLN - que permaneee de arm as na mao cinco anos depois - nao se teria transformado numa refereneia para as vftimas do neoliberalismo, nao so no Mexico, mas na Amcrica Latina e no mundo inteiro. o novo zapatismo mexicano e um movimento portador de magia, de mitos, de utopias, de poesia, de romantismo, de entusiasmo, de "mfstica"; mas ao mesmo tempo ele tambem c pleno de insolencia, de humor, de ironia e de autoironia. Nele se combinam varias tradi<;:oes subversivas, que comp6em uma efervescente e imprevisfvel cuJtura revolucionaria, que cncontra sua expressao literaria nos artigos do subcomandante Marcos.

a sua

POl' um lado, 0 EZLN e herdeiro do marxismo gucvarista, que inspirou 0 nCicleo original do movimento. E claro quc a cvolLH,;ao zapatismo 0 conduziu do

comunitaria do passado, pre-capitalista, pre-moderna, pre-colomhianacomo Mariatcgui, que falava, nao sem exagero, de "comunismo

LIl11 pouco

inca".

para muito longe desta origem, mas a insurreiyao de janeiro de 1994, bem C0ll10 o proprio espirilo do ExercilO Zapatista de Liberta<.;ao NacionaJ, guarda algo dessa heranya: a importancia das armas, a liga<';<lo rganica entre os combatentcs o eo campesinato, 0 fuziJ como cxprcssao material da dcsconfianya dos explorados pemnte seus oprcssores, a disposi<.;ao a arriscar a vida pela emancipac;ao dos pobres. Estamos longe da aventura boliviana de 1967, mas perto da etica revolucionaria tal como Chc a encarnava. A heranya mais clireta e, sem dCivicla,a do proprio Emiliano Zapata, cujo famoso Exercito do Sui representa ao mesmo tempo a insurreic;ao dos camponcses e indios, a luta intransigente contra os poderosos sem pretender tomar 0 poder, o program a agrario de rcdistribuic;ao das ten'as e a organiza<.;ao comunit{u'ia cia vida carnponesa - 0 que Adolfo Gilly chamou "a corn una de Morelos". Mas e tambem Zapata 0 internaeionalista que saudou, numa celebre carta de fevereiro de 19 J8, a Revoluyao Russa, insistindo sobre "a visivel analogia, 0 paralelismo evidente, a absoluta paridade" entre esta e a revoluyao agraria no Mexico: Uma e Olltraestftodirigidas contra 0 quc Tolstoi chamava
'0

o EZLN

e herdeiro de cinco seculos de resistencia indigena a Conquista, a Nao e por acaso que a insurreic;ao zapatista

"CJvilizac;~ro" e ~r"Modernidade".

havia sido originalmente planejada para 1992, a data do Quinto Centen<lrio da Conquista, e que, naquele ano, uma multidao de indigenas tenha ocupado San Cristobal de las Casas, a capital de Chiapas, derruhando a estatua do conquistador Diego de Maz<u'iegos, simbolo odiado da cspolia<.;aodos indios e de sua sujeiyao, Mas
0 EZLN

nao e a Cinicamanifestayao de permanencia


0

da utopia revolu-

cionaria de inspira<.;ao marxista na America Latina, que torna pelo men os prematuras as tentativas de declarar como terminado grande capitulo historico aberto com a Revoluyao Cubana. Outras lutas - sobretudo com base social no campo - exprimem, no curso dos anos 90, uma contestayao radical da ordem social, seja, cxcepcionalrnente, onde as
FARe

sob forma de guerrilha - como na CoJOmbia, da Colombia) e


0 ELN

(Fon,;as Armadas Revolucionarias

(Exercito

de Libertac;ao Nacional) ampliaram sua influencia social -, seja, 0 que e mais freqilente, sob forma de movimentos sociais de um tipo novo. Destes, 0 mais importante e bem-organizado - mas nao 0 Lmico, posto que movimentos Guatemala similares existem tambem no Paraguai, Equador, Peru, Mexico, etc. - e sem cluvida 0 MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais

grande crime',

contra a infame usurpa<;aoda terra, que, sendo propriedade de todos, como o fogo e 0 aI', foi monopolizada pOl'alguns poderosos, sustentados pela for<;ados ex6rcitos e pcla iniqiiidade das leis. "Terra e liberdacle" continua sendo a'Pa1avra de ordern central clos novos zapatistas, que sao os continuadores de uma revoJuc;ao interrompicla _ para retomar 0 titulo clo belo livro de Gilly - em 1919, com 0 assassinato cle Zapata. A teologia cia libertac;ao e OLltrafonte de inspirac;ao do zapatismo - embora seus clirigentes nao sc refiram muito a cia. Na verdade, sem 0 trabalho cleconscientizayao das comunidades incligenas e a auto-organizac;ao para Jutar por seus direitos, promoviclos pOI' Monsenhor Ruiz e seus catequistas clesde os anos 70, e dificil imaginal' que 0 movimento zapatista teria tido um tal impacto em Chiapas. CJaro, este trabalho nao tinha vocayao revo]ucionaria e recusava toda ac;ao violenta. Mas isso nao impede que, na base, nas comunidades indigenas, muitos zapatistas _ inclusive entre os dirigentes - tenham siclo fonnados peia teoJogia cia libertac;ao, pOI'uma f6 rcligiosa que escolheu pobres.
0

Sem Terra do Brasi1. Tambem ele, como tantos outros movimentos radicais na America Latina, tem sua origem no cristianismo cia Iibertayao, mais precisamente nas comunidades de base e na PastoraJ ciaTerra. Mas a partir clos anos 80, o MST se autonomizou em reJac;ao a Igreja e incorporou elementos importantes do marxismo em sua analise cia estrutura rural brasileira e em seu program a agrario de inspirac;ao socialista. Pela sua combatividade, sua "mistica", seus metoclos cle luta pouco convencionais e sua oposiC;ao intransigente as pollticas neoliberais dos sucessivos governos brasileiros, 0 MST conquistou a simpatia nao s6 de uma parte significativa dos camponeses sem terra, mas tambem da populac;ao pobre urbana e cia opindo pLrblica em geral, e aparece cada vez mais como a ponta avanc;ada cia luta pela transformac;ao social no Brasil. POI'outro lado, 0 significati vo voto popular daclo aos partidos cle esquerda latino-americanos, representaclos no Foro cle Sao Paulo, e tambem, em maior ou menor grau con forme os paises, a expressao de um descontentamento com o neoJiberalismo, com a clominac;ao imperialista, com a clesordem estabelecida, e a busca de uma alternativa raclical as estruturas sociais existentes - independentemente polltica")9. dos limites program<iticos de tal ou qual organizac;ao ou frente

cOlllpromisso com a auto-emancipac;ao dos mas

Estas tres heran;,;as sao importantes,

provavel que a tradiyao que

mais tenha contado para 0 EZLN seja a cultura maia dos incligenas de Chiapas, com sua relayao Illagica com a natureza, sua solidariedade comunitaria, sua resistencia a modernizac;ao ncoliberal. 0 zapatislllo faz refcrencia a esta tracli;,;ao
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109. Outro sinal de revitalizag30

do marxismo

nos anos 90

e a multiplicag30

de revistas marxistas 63

!\ pattirde 200 I ap,u'ece 0 Forum Social Mundial (FSM), que relll1e em potto Alegre

os principais movimentos sociais em lutacontra aglobalizayao capitalista neoliberal, e no qual se debate, de forma democnitica e pluralista, as propostas alternativas deste ample
;'''nlo'v'irncnto des rnovinlcntos". Os lnarxistas c socialistas latino-cunericanos de varias

correntes sao uma das componentes

importantes do movimento ahermundialista

e tem

levado pat'a 0 FSM suas analises e proposiyoes, buscando ao mesmo tempo aprender com a experiencia dos movimentos ecologicos, feministas, camponeses ou indigenas. A experiencia do
FSM-

assim como a do Foro de Sao Paulo- tem ajudado

esquerda latino-americana

a superar as exclusoes sectarias e as intoleriincias que tanto

o objetivo

desta antologia e suprir uma deticiencia e proporcionar urn instrumento

prejudicaram 0 movimento no curso de sua hist6ria. Em todo 0 continente, e em cada pais, cresce 0 nllmero de militantes que considera que, mais alem dos debates politicos necess{lrios e das inevit{lYeis confrontayoes ideologicas, a unidade de ayao de todas as com a causa dos explocorrentes, marxistas ounao, que se consideram comprometidas

de lTabalho (ltil a pesquisadores e militantes. Com efeito, nao existe nenhum compendia de textos politicos importantes do marxismo latino-americano no seculo xx. Uma das raras obras deste tipo, 0 pequeno livro de Luis Aguilar (Marxism in Latin America, Borzoi Books, A Knopl; Nova York, 1968), urn cub,mo emigrado para os Estados Unidos ap6s a revo] Ll(;;ao, padece das limitas;oes drasticas do pocket-book de "kremlinologia" norte-atnericana.

rados e oprimidos, ou com a luta pelo socialismo, e, mais do que nunca, um imperativo urgente neste comeyo do seculo XXI. Como escrevia Mari{ltegui no lOde maio de 1924: I:ormar uma Ii'cntc unida e exccutar
LUll

E evidente

que qualquer seleyao de textos tem certo grau de arbitrat'iedade, e esta

ato dc solidaricdadc no que diz rcspcito

antologia nao foge a regra. Todavia, nos so prop6sito foi compilar documentos de diferentes correntes do marxismo latino-americano, inclusive das correntes minoril:<irias, esquecidas pela hist6ria oficiaJ dos universit{lfios (e pela dos partidos comunistas). 0 eixo central da maioria dos documentos e a luta politica, mas eles incluem, tambem, desenvolvimentos te6ricos, sociol6gicos, economicos e hist6ricos. o metodo desta antologia e decidamente historicista: t.rata-se de considerar a evoluyao do pensamento m'lfx.ista no quadro das lutas politicas em cada perfodo hist6rico da America Latina. Por Olltro lado, se basehl na suposis;ao de que a hist6ria do marxismo na America Latina nao pode ser considerada como um uni verso a parte, separado do contexto internacional; por isso, ressaltamos em cada etapa sua ligw;;ao com as transformas;oes do movimento operario mundiaL Escolhemos unicamente textos referentes

a um problcma concrcto c uma nccessidadc urgcntc. Isso nao significa renunciar ,IS teorias que cada parlido sustcnta nem a posic,;aoque cada um ocupa na vanguarda. Uma variedade de tendencias e dcgnlros bem-ddinidos e distint()snao.e llm mal; e, ao contr:'1rio, m sinal de llm periodo avanc,;adono processo rcvoillciou nltrio. 0 quc imporla e que csscs grup()s~ cssas tCI~dcnciassaibam como agir conccrladamente ao conIi'ontar a rcalidade concretado dia. [...J Que nao cmpreguem suas armas [...J para ferir um ao Olltro,mas para combater a ordcm social, as suas inslituic,;ocs,as suas injustic,;asc os seus crimcs.11a Michael Lowy Paris, abril de2005 PS: Esta ediyao brasileira e uma nova versao, revista e atualizada, desta antologia, publicadaanteriormente na Franya, no Mexico e nos Estados Unidos. A introduyao roi publicada como Iivro autonomo na Alemanha e na Turquia. (Traduzido do Ingles por Luis Carlos Borges.)
no continente America Libre, Cuademos del Sur, Herramienta, Rodaballo (Argentina), Vientos del Sur, Dialectica, Histaria y Sociedad (Mexico), Margenes-Sur (Peru), Critica Marxista, Margem Esquerda, Praga, Outubro, Lutas Sociais (Brasil) etc. - e 0 aparecimento de uma nova gera<;:ao de pesquisadores marxistas, historiadores, soci61ogos ou economistas, entre os quais Nestor Kohan, Horacio Tarcus, Claudio Katz, Claudia Korol (Argentina), Paulina Fernandez, Francisco Gomezjara, Antonio Garcia de Leon, Fernando Matamoros (Mexico), Ricardo Antunes, Paulo Arantes, Ina Camargo, Isabel Loureiro, Jose Castilho Marques, Marcelo Ridenti (Brasil), Renan Vega (Colombia), Alfonso Ibanez, Alberto Rocha (Peru), Orlando Nunez (Nicaragua). 110.Mariategui, "EI prirnero de mayo y el frente unico", em Obra politica, p. 253-54.

a America

Latina; assim, nos vimos

obrigados a sacrificar uma sene de escritos muito interessantes sobre 0 metodo e a lilosotia m,lfxistas, a teoria socialista ou 0 leninismo, que constituem, algumas vezes, reais contribuis;oes latino-americana" ao pensamento marxista universal. Estes trabalhos formarao, talvez, outro livro. POI' outro bdo, tivemos de descartar (salvo algumas exces;oes) trabalhos estritamente economicos ou sociol6gicos, que tiveram, principalmentc ap6s 1960, um verdadciro 'luge na America Latina, com marxista, de grande riqueza e qualidade.
0

surgimento

dc uma nova ciencia social

Por faha de cspas;o, nao foi possive! incluir textos de certas corrcntes importantcs do marxismo latino-atnericano: porexemplo, os Cristaos pdo Socialismo, cujas tcses socioeconomicas c polfticas tem como fundmncnto 0 marxismo; a "csquerda nacional", corrente que sublinhou a dimensao nacional da luta revolucionaria no continente (Jorge Abelardo Ramos na Argentina, Carlos Malpiea e a revistaMarka no Pcru etc.); ou a
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