MONITORIAS
MONITORIAS
MONITORIAS
→ A posse seria formada pela detenção somada ao animus domini, intenção essa que deve ser
qualificada pelo fato de se exercer a posse com ânimo próprio e não alheio. Segundo explica
Pontes de Miranda, apenas é posse aquela nomeada ad interdicta
*Por essa teoria, não haveria proteção possessória do locatário ou locador, pois aquele não teria
animus, e este não teria o corpus (locador)
- O CC parece ter adotado essa teoria, ao menos em parte, em matéria de usucapião, pois exige
uma posse qualificada (posse pro suo) para sua verificação
- Para Savigny, a posse é simultaneamente um fato e um direito: por ela mesma, é um fato; pelas
suas consequências, se parece com um direito. É assim que a aquisição ou a perda da posse pode
resultar da violência, ainda que esta não seja um ato jurídico. É assim que a nulidade de um ato,
por exemplo, de uma doação a que falte insinuação, não pode impedir a aquisição da posse.
Também não há transmissão propriamente dita (de um possuidor anterior a outro), pois o novo
adquire, por ele mesmo, uma posse nova, independente daquela de seu antecessor
*corpus é a relação de fato entre a pessoa e a coisa de acordo com a sua destinação
econômica, é o procedimento do possuidor, com referência à coisa possuída, igual ao que teria
normalmente o titular do domínio
- Para ele, corpus e animus são inseparáveis: desde o momento em que se dá o ato de
apreensão, a proximidade transforma-se em relação possessória: nascem corpus e animus
*O locatário, por exemplo, é um possuidor do bem, pois exterioriza o poder de uso do bem. O
locador, por sua vez, também é possuidor, pois exerce os poderes de fruir ao receber alugueres
em razão da cessão onerosa da coisa, pode dispor gratuita ou onerosamente do bem, além de
reaver do próprio locatário por alguma causa jurídica que extinga a locação ou de eventual
terceiro que eventualmente apreenda o bem ilicitamente
- Segundo a maioria dos autores, essa teoria embasou o CC. Segundo tal teoria, o possuidor é
titular do direito à posse (jus possessionis) até o possível momento em que houver o embate
entre o possuidor e o proprietário que concentra em suas mãos o direito de ter posse (jus
possidendi).
• 167. Conceito
1
Monitoria: por meio de uma chave, por exemplo
→ É o poder de fato que compreende o exercício de poderes inerentes ao domínio (usar,
fruir, dispor e reivindicar). Quem exerce tais poderes faticamente, ou seja, independente de
uma titulação jurídica formal, exerce posse2.
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade.
- A posse é, portanto, suporte fático de normas jurídicas, notadamente das ações possessórias
e da usucapião.
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio,
de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
- A posse não necessita ser adquirida pela própria pessoa que o pretende ou por seu representante.
Dada a realidade de um poder fático, pode ser adquirida por terceiro sem mandato, desde que,
posteriormente, haja a ratificação
- Há aquisição originária e derivada (quando tem suporte em uma relação jurídica precedente) 4
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi
adquirida.
- Obs.: mas é possível a modificação do título da posse por força de acordo de vontades (caso em
que o locatário acaba por comprar o imóvel a ele locado)
- O artigo ainda retrata uma questão assaz polêmica acerca da possibilidade ou não de
mudança do caráter da posse de modo unilateral, isto é, sem relação jurídica que sirva de
suporte fático, o que se denomina interversão do título da posse. Há corrente dizendo que é
2
*posse de bem incorpóreo/direito
3
Direito de posse: consequência de estar alguém na situação possessória. Assim, o direito do possuidor
ter a situação possessória respeitada por todos, inclusive pelo proprietário, é direito de posse. Direito à
posse é prerrogativa dos titulares de situações jurídicas de direitos reais que compreendam função de
gozo. É o direito de ter consigo a posse que integra o domínio
4
Ex. de aquisição derivada inter vivos: constituto possessório
possível (alguém que inicie a sua posse em decorrência de um comodato ou de uma locação,
por exemplo, e passe a possuir por ato próprio em razão da inércia do possuidor indireto. Em
uma hipotética situação na qual o locador morre e o locatário fica mais de vinte anos sem
pagar aluguel e sem que os herdeiros daquele tenham tomado quaisquer medidas de oposição
a essa posse, é possível a interversão da posse com o reconhecimento da usucapião) e
corrente dizendo que não é possível
- A posse transmite-se por herança, do mesmo modo como estava no patrimônio do de cujos (art.
1.206)
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é
facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.
- Os atos de mera permissão ou tolerância não induzem posse, assim como os atos violentos ou
clandestinos, senão depois de cessar a violência ou clandestinidade. *dúvida
- Salvo prova em sentido contrário, a posse de bem imóvel faz presumir a das coisas móveis que nele
estiverem
→ Perda da posse:
Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o
bem, ao qual se refere o art. 1.196.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia
dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.
• Posse de direitos
- Não há posse de direitos pessoais, apenas de bens que sigam o direito das coisas.
- Assim, por exemplo, não cabe interdito proibitório para a proteção do direito autoral
Ex.: empregado que utiliza materiais do patrão; bibliotecário que administra a biblioteca;
mandatário que cuida de objeto do mandante;
5
Enunciado n. 493 da V Jornada de Direito Civil do CJF: “O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no
interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder”.
*É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação; Ex.: patrão
do caseiro falece e seus eventuais herdeiros não exercem nenhuma oposição ou poder de fato
sobre o imóvel, e não pagam o salário. Disso decorre que este passa a tratar do bem como se
lhe pertencesse.
2. Tença: mera situação material de apreensão física do bem, sem qualquer consequência
jurídica protetiva; ex.: “segura aqui para mim enquanto vou no banheiro”
1. Posse justa: não violenta, não clandestina e não precária (art. 1.200)
a) Violenta: que se obtém ou se mantém com o uso de força (contra a pessoa do possuidor ou
sua família, ou ainda a partir do bem)
- Não retira de modo absoluto o direito de posse, apenas possibilita a defesa do proprietário
ou possuidor legítimo com maior presteza. *acho que tem a ver com ter direito de posse – por
haver a situação fática, posso sim entrar com interdito etc.
(Interessante notar que o esbulhador pode exercer defesa possessória contra terceiros que
pratiquem ou tentem praticar atos de violência ou clandestinidade. Não se trata de legitimar o
ato ilícito, mas sim de evitar a justiça privada que pode fazer valer a lei do mais forte, levando a
comportamentos violentos c a insegurança, mas acaba fazendo coro a máxima popular a dizer
que “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”)
6
- Quanto ao alcance da expressão “justo título”, duas são as concepções que poderíamos
visualizar na expressão. I) Uma que seria um título com aptidão genérica para transferir a
propriedade, mas que não o realizou por um defeito intrínseco – quem alienou não era dono –
ou extrínseco – o adquirente, em se tratando de aquisição derivada de um imóvel, não cuidou
de realizar o registro junto ao cartório imobiliário; II) o justo título a que se refere a lei poderia
ser entendido como justa causa - Enunciado 303 da IV Jornada de Direito Civil
→ Posse ad usucapionem: a posse para fins de usucapião é aquela que reúne os requisitos
necessários para a aquisição da propriedade de acordo com o referido modo de aquisição. É o
elemento do suporte fático da usucapião. Possui cinco aspectos:
i) Contínua
ii) Inconteste
iii) Mansa
iv) Pacífica
v) Animus domini
*pro suo
- Possui a proteção dos interditos e ações possessórias, como a ação de proibição, manutenção
e reintegração
(Quem adentra na posse com obrigação de restituir não possui com intenção, juridicamente
falando, de ser o dono da coisa. Goza, portanto, dos interditos possessórios, mas não tem
aptidão para usucapir)
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de
direito pessoal, ou real (usufruto, penhor, alienação fiduciária...), não anula a indireta, de quem aquela
foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
- Importa que seja compreendido que o possuidor indireto, ainda que não tenha a coisa sob a
sua dominação fática e direta, tem em seu favor o poder jurídico sobre a coisa, exteriorizando
poderes inerentes à propriedade ao proporcionar o exercício em favor de outra pessoa da
posse direta, reservando consigo o poder de recuperar o bem.
- Assim é que se um locador resolver retirar, por exemplo, violentamente, o locatário por ele
não ter pago o aluguel vencido, este último está autorizado a se servir de meios pessoais ou
judiciais de defesa.
171.6. Composse
*Pela lei, cada compossuidor é visto perante a coletividade como se fora o possuidor da
integralidade da coisa, sendo o percentual do quinhão importante apenas para fins de análise
dos direitos e obrigações do compossuidor perante os demais compossuidores.
- Desforço imediato
- Ações possessórias
- Direito de retenção
Alegam que, mesmo que restassem presentes as condições do exercício da legítima defesa, o
apelado não observou os limites impostos pelo parágrafo único do artigo 502, pois ao em vez de
promover a defesa de seus direitos, agiu com a intenção de prejudicar os apelantes, sendo que
sua atitude constituiu abuso de direito, o que impõe a sua responsabilização pelos danos
causados.
VOTO:
CASO 1 – ENUNCIADO:
a) Caio é possuidor do imóvel rural em questão? Se sim, classifique tal posse. Em que medida a
sua condição de proprietário influencia as respostas anteriores? Classifique, quanto ao poder
fático sobre o imóvel, a posição de Mévio (caseiro).
Sim (Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não,
de algum dos poderes inerentes à propriedade). Sua posse se classifica como posse justa, de
boa-fé7 e ad interdicta (acho), *não dá pra falar em posse indireta
Mesmo com o esbulho, Caio ainda se configura como possuidor, uma vez que se aplica o art.
1.224 do CC: *MONITORIA: ELE PERDEU O DIREITO DE POSSE, MAS TEM O DIREITO À POSSE
(POR SER PROPRIETÁRIO)
7
Parágrafo único do art. 1.201. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo
prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
“Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando,
tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente
repelido”. *só perde o direito de posse se n tenta; ou se tenta e não consegue, pelo que
entendi
Quanto à Mévio, este se trata de detentor, uma vez que exerce poder de domínio em nome
alheio e há dependência em relação ao possuidor efetivo. Nesse sentido:
“Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro,
conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas”.
b) Identifique a natureza jurídica, à luz do Direito Civil, da invasão promovida. Quais medidas
judiciais poderiam ser tomadas para (i) prevenir ou (ii) retomar o imóvel?
Esbulho
*Assim, as ações põssessõrias cõmpõrtam taõ sõmente uma causa de pedir, qual seja, a posse,
independentemente estar õu naõ amparada em um direitõ real õu um direitõ pessõal, tendõ
cõmõ pedidõ principal õ da defesa da põsse. As ações põssessõrias em sentidõ estritõ
cõrrespõndem as õfensas referidas nõ art. 1.210, dõ Cõdigõ Civil, õ qual cõnfere aõ põssuidõr
õ direito de pleitear a tutela à posse, em face de tres diferentes graus de õfensa a
põsse: esbulho, turbação e justo receio de moléstia. Respectivamente, essas agressões
cõmpõrtam, a açaõ de reintegração de posse, a de manutenção de posse e õ interdito
proibitório, cujõ prõcedimentõ especial esta previstõ nõs artigõs 554 e seguintes dõ Cõdigõ de
Prõcessõ Civil.
- A ação de reintegração de posse supõe ter havidõ esbulho, nõ qual ha a perda da põsse, em
virtude de atõs praticadõs pelõ õfensõr. Na ação de manutenção de posse (pedido de que sejam
cessados os atos de turbação – art. 1.210) tem-se a turbação, agressaõ em que naõ õcõrre a
perda da põsse, mas resulta em pratica de atõs hõstis, viõlentõs, cõntra a põsse. Põr fim,
õ interdito proibitório (visa a que seja assegurada a põsse de iminente turbaçaõ õu esbulhõ, põr
meiõ de õrdem judicial de naõ fazer, cujõ descumprimentõ resulta em impõsiçaõ de pena
pecuniaria) exige haver uma ameaça, na qual se pressupõe õcõrrer õ justo receio de viõlencia
aõ exercíciõ de fatõ exercidõ pelõ põssuidõr sõbre a cõisa. Nesta ultima, a viõlencia e mais sutil
dõ que nas demais, e cõrrespõnde a simples atõs de incõmõdõ a põsse, mas que deve ser
fundada em atitudes cõncretas.
O ordenamento autoriza que se utilize da legítima defesa para reagir imediatamente contra a
turbação ou esbulho sofridos. Trata-se de situação jurídica disciplinada pela legislação e, de
conseguinte, depende da observância de alguns requisitos, a saber: que o defensor seja
possuidor a qualquer título, a ocorrência de turbação injusta, efetiva e atual e que haja
proporcionalidade na reação apresentada. Dessa forma, observados os requisitos legais, o
possuidor turbado não sofrerá nenhuma sanção por ter se valido deste meio de defesa.
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de
esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1 o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força,
contanto que o faça logo (imediatidade/disforço imediato); os atos de defesa, ou de desforço, não
podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
d) O MST tem tutela jurídica contra o grupo de invasores dissidentes? Explique o porquê. A
mesma resposta serve para o MST se defender da retomada de Caio? Justifique.
A posse do MST se caracteriza como posse injusta violenta. Essa posse não retira de modo
absoluto o direito de posse, apenas possibilita a defesa do proprietário ou possuidor legítimo
com maior presteza. *tem direito às ações e interditos EM RELAÇÃO AOS DISSIDENTES, pois
tem direito de posse (assim como direito de defender usando a força, de maneira imediata)
- Monitoria: n pode entrar com ação de manutenção de posse contra Caio
*E SE CAIO CHEGAR LÁ NA FORÇA, O MST PODE REAGIR? PODE, MAS O CAIO CONTINUA COM DIREITO
À POSSE (MST N ESÁ TUTELADO PELO DIREITO)
*concomitantemente, então, o MST e Caio têm posse? O MST por conta do poder fático; e o
Caio por conta de ser proprietário e, nos termos do art. 1.224, não ter perdido a posse (pelo
que entendi da monitoria, ele real perdeu quando tentou e não conseguiu. Mas não perdeu o
direito à posse)
E não, a mesma resposta não serve para defender o MST da retomada, uma vez que a
retomada se constitui como legítima defesa de Caio (art. 1.210, parágrafo único: O possuidor
turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça
logo)
e) O MST possui tutela jurídica para combater o fechamento dos caminhos e o uso dos fogos de
artifício (turbação)? Disserte, classificando juridicamente ambas as situações fáticas
MOMENTO EM QUE PERDE A POSSE: QND N TENTO; OU QUANDO TENTO RECUPERAR, MAS
NÃO CONSIGO
1. Ocupação
- Coisa sem dono: res nullius (exs.: animais bravios entregues a sua natural liberdade; pedras, conchas,
minerais; *ou seja, que nunca foram objeto de assenhoramento) e res derelicta (animais domesticados
que não retornam, salvo se o dono estiver ainda a sua procura; coisa abandonada intencionalmente 8)
- Caio Mário considera ilícita cláusula adjecta a empresas como de lavanderia, transportadora, sapataria
consignando que se consideram abandonados os objetos não procurados em determinado prazo – seria
forçar no proprietário uma intenção de abandonar.
• Caça
→ Pode ser exercida nas terras públicas, bem como nas particulares, com licença do proprietário, em
relação a quaisquer animais encontrados em estado de natureza
→ Se o caçador for no encalço (vestígio, pista) de um animal e o ferir, tem direito a ele, ainda que outra
pessoa o apreenda, e pode compelir também o dono do terreno aonde o animal foi a entregar-lhe, se
não permitir a entrada. Se caçar em terreno alheio, sem licença, perde para este a caça + perdas e danos
• Pesca
- Pode ser exercida nas terras públicas, bem como nas particulares, com licença do proprietário,
operando a aquisição do peixe que pescar, como do que o pescador perseguir arpoado ou farpado.
- O pescador, pessoa jurídica ou natural, e a embarcação de pesca devem ser previamente inscritos no
Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP, bem como no cadastro técnico federal (CTF)
- Se pescar em águas particulares sem a licença do dono, perde para este o que apanha + perdas e danos
8
Não é o caso de quem joga carga da aeronave para aliviar o peso em momento de perigo; mas basta
que o propósito se infira inequívoco de seu comportamento em relação a coisa, como as que são
deixadas em locais públicos, e mesmo em lugares policiados ou fechados
• Tesouro
→ i) Depósito de coisas móveis preciosas ou moedas, promovido por mão humana ii) enterrado ou
escondido e iii) antigo (tão antigo que se haja perdido a memória de quem seja o proprietário)
- Esclarecimento: em relação do proprietário do prédio onde é achado, não se fala em ocupação. Melhor
falar em acessão. Ele adquire a propriedade por acessão, e não em decorrência do ato de apreensão. Em
relação ao inventor/achador, não se dá propriamente ocupação, que pressupõe assenhoreamento de
coisa sem dono ou derelicta, porém visível. O CC de 2002 separou a ocupação do achado do
tesouro/descoberta
2. Descoberta
→ Diferenças em relação à ocupação:
- O achado se dá em relação a coisa móvel perdida pelo dono. Perdida, mas não abandonada. Ou seja,
tem um dono, mas desconhecido.
→ O código civil atribui deveres ao achador ou inventor que, por ato espontâneo, recolhe a coisa
encontrada
- Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo
possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar,
entregará a coisa achada à autoridade competente.
Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a
uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver
feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.
Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço
desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria
este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos.
Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo,
quando tiver procedido com dolo.
Art. 1.236. A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da imprensa e outros
meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar.
Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se
apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e,
deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao
Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido.
Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem
a achou.
3. Especificação
Art. 1.269. Aquele que, trabalhando em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será
proprietário, se não se puder restituir à forma anterior.
- Não constitui especificação a transformação meramente acidental ou que respeite a forma antiga.
Exige um ato real do homem, não um ato jurídico ou declaração de vontade.
- Espécie nova: sentido econômico – a nova espécie há de resultar de alteração dotada de importância
Ex.: a pintura em relação à tela; escultura em relação à pedra, madeira ou metal; trabalho gráfico em
relação ao papel; bordado, ao tecido ou linha; manipulação industrial em relação a toda espécie de
matéria-prima
Art. 1.270. Se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à forma precedente, será do
especificador de boa-fé a espécie nova.
Art. 1.271. Aos prejudicados, nas hipóteses dos arts. 1.269 e 1.270, se ressarcirá o dano que
sofrerem, menos ao especificador de má-fé, no caso do § 1 o do artigo antecedente, quando irredutível a
especificação.
Art. 1.272. As coisas pertencentes a diversos donos, confundidas, misturadas ou adjuntadas sem o
consentimento deles, continuam a pertencer-lhes, sendo possível separá-las sem deterioração.
§ 1 o Não sendo possível a separação das coisas, ou exigindo dispêndio excessivo, subsiste indiviso o
todo, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou para a mistura
ou agregado.
§ 2 o Se uma das coisas puder considerar-se principal, o dono sê-lo-á do todo, indenizando os outros.
Art. 1.273. Se a confusão (líquido), comissão (coisas secas) ou adjunção (justaposição) se operou de má-
fé, à outra parte caberá escolher entre adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu, abatida a
indenização que lhe for devida, ou renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado.
Art. 1.274. Se da união de matérias de natureza diversa se formar espécie nova, à confusão, comissão ou
adjunção aplicam-se as normas dos arts. 1.272 e 1.273.
5. Usucapião
Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante
três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade.
Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião,
independentemente de título ou boa-fé.
Art. 1.262. Aplica-se à usucapião das coisas móveis o disposto nos arts. 1.243 e 1.244*
*(Sendo assim, permite-se, para fins de contagem do prazo prescricional, a soma da posse atual com a do
seu antecessor na forma da lei (acessio possessionis)).
6. Tradição
→ No direito brasileiro, a convenção não é suficiente à aquisição da propriedade, mas tão somente
habilita ou intitula o interessado.
→ Para os imóveis, exige-se o registro (senão, a tradição não produz seus efeitos); para os móveis, a
tradição
→ O alienante pode realizar a traditio por intermédio de representante (mas se este não estiver munido de
poder, será a traditio inoperante); o mesmo em relação ao adquirente
1. Registro/transcrição do título
→ Pelo nosso direito, o contrato não opera a transferência do domínio. Gera tão somente um direito
de crédito, impropriamente denominado direito pessoal. Somente o registro cria o direito real. É o
registro do instrumento no cartório da sede do imóvel que opera a aquisição da propriedade (Código Civil,
art. 1.245). Mas, dentro de nossa sistemática, o registro como modo de aquisição não tem a natureza de
negócio jurídico abstrato, como no germânico. É, então, um ato jurídico causal, porque está sempre
vinculado ao título translatício originário, e somente opera a transferência da propriedade dentro das
forças, e sob condição da validade formal e material do título. Seu pressuposto fático será, portanto, um
título hábil a operar a transferência, cabendo ao Oficial do Registro a função de proceder a um exame
sumário, a levantar perante o juiz as dúvidas que tiver, seja quanto à capacidade das partes ou a qualquer
requisito formal, seja quanto ao direito do transmitente ou outro elemento que lhe pareça faltar para que
esse direito se repute escorreito.
→ Uma vez efetuada a matrícula, ou a inscrição de título constitutivo de algum outro direito diverso da
propriedade, presume-se pertencer o direito real à pessoa em cujo nome se registrou ou inscreveu
(Código Civil, art. 1.245, § 2o). E a propriedade considera-se adquirida na data da apresentação do
título a registro (art. 1.246), ainda que entre a prenotação no protocolo e o registro haja decorrido algum
tempo.
➔ O que se deve inferir é que, se se considera dono quem figura no registro como titular do direito,
assim deve ser tratado enquanto se não cancelar ou anular, uma vez que o registro é ato causal, e
exprime sua força na dependência do negócio jurídico subjacente.
- A fim de garantir que o registro espelhe a realidade da descrição do objeto da propriedade, a Lei de
Registros Públicos prevê procedimento próprio, chamado de dúvida, quando, havendo exigência a ser
satisfeita indicada pelo oficial, o apresentante com ela não concordar ou não puder satisfazê-la, sendo,
então, remetida ao juízo competente para dirimi-la (arts. 198 e seguintes da Lei no 6.015/1973).
→ Caráter publicitário do registro: ali devem ser anotadas todas as alterações e vicissitudes por que venha
o imóvel a passar, e bem assim que o oficial deve franquear o contexto do registro a qualquer interessado
e dar certidão a quem a pedir.
• Efeitos do registro:
a) Publicidade, no sentido de que ali devem ser anotadas todas as alterações e vicissitudes por que
venha o imóvel a passar, e bem assim que o oficial deve franquear o contexto do registro a
qualquer interessado e dar certidão a quem a pedir.
b) Legalidade do direito do proprietário, atendendo a que se o oficial efetuou a transcrição ou
inscrição, foi porque nenhuma irregularidade extrínseca ou intrínseca lhe ocorreu do exame do
título.
c) Força probante: no sentido de que o registro indica o titular do direito real, e institui a
presunção iuris tantum *fé-pública do cartorário
d) Matrícula. Completando a sistemática, a Lei no 6.015/73 instituiu a matrícula, que perpetua
toda a vida jurídica do imóvel.
e) Continuidade histórica da propriedade, razão pela qual sempre se mencionará o número da
matrícula ou registro anterior.
Obs.: Os atos sujeitos a registro não operam a transferência da propriedade imobiliária, senão a partir da
data em que se registrarem.
- A lei 13.097/2015: Segundo seu art. 54, os negócios jurídicos que tenham por fim constituir, transferir
ou modificar direitos reais sobre imóveis serão eficazes em relação a atos jurídicos precedentes, nas
hipóteses em que não tenham sido registrados ou assentados na matrícula do imóvel o a) registro de
citações de ações reais ou pessoais reipersecutórias; b) averbação de constrição; c) averbação de restrição
administrativa; d) averbação de outro tipo de ação cujos resultados ou responsabilidade patrimonial
possam reduzir seu proprietário à insolvência,
§ 1º Não poderão ser opostas situações jurídicas não constantes da matrícula no registro de imóveis,
inclusive para fins de evicção, ao terceiro de boa-fé que adquirir ou receber em garantia direitos reais
sobre o imóvel, ressalvados o disposto nos arts. 129 e 130 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, e
9
Trata-se de sentença sempre declaratória, que não atribui nem constitui direito, e
obviamente não é por ela que o condômino assume a titularidade de seu quinhão
na coisa comum. A utilidade do registro, no caso, reside no seu efeito
publicitário, e se realiza com a finalidade de oferecer segurança ao próprio sujeito
ou a terceiro que tenha interesse na coisa. Desde que ponha termo ao estado de
indivisão, a sentença deve ser inscrita, qualquer que seja a sua procedência: a)
proferida no processo de inventário (familiae erciscundae), pela qual se partilhem
os bens ou se divida a herança; b) pronunciada na ação de divisão, com o objetivo
de obter o fracionamento geodésico (communi dividundo) conferindo-se a cada
antigo comunheiro uma parte certa e com as suas características individuais; c)
produzida na ação demarcatória (finium regundorum), através de que os
proprietários de imóveis confrontantes estabeleçam a linha lindeira, ou aviventem
rumos que o tempo apagou ou tornou incertos.
as hipóteses de aquisição e extinção da propriedade que independam de registro de título de
imóvel. (Renumerado do parágrafo único com redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022)
1. Acessão
II - por aluvião;
→ Em alguns casos é possível identificar a procedência (avulsão). Em outros nem isso se dá (aluvião),
afora aqueles em que a separação não pode materialmente fazer-se (formação de ilhas).
→ Destaca-se, no primeiro plano, a formação de ilha no leito dos rios não navegáveis – insula in
flumine nata – seja pelo depósito paulatino de matérias trazidas pela corrente, seja pelo rebaixamento das
águas. O que informa a aquisição da propriedade sobre elas é fundamentalmente a sua situação,
relativamente às propriedades marginais e ao talweg do rio (Código Civil, art. 1.249).
Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos
proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes:
II - as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos
terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;
III - as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos
proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.
- Sem embargo de o Código Civil de 2002, em seu art. 1.249, apresentar dicção idêntica, é preciso
reconhecer que, se o rio for público, a ilha formada constituirá domínio público.
→ Em segundo plano, a aluvião, que são acréscimos paulatinos e quase imperceptíveis (incrementum
latens), formados por depósitos e aterros naturais
Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes,
dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem.
- Aluvião imprópria: as partes descobertas pela retração (aluvião imprópria) das águas dormentes como
lagos e tanques. A matéria foi alterada pelo Código de Águas, que passou a admitir como modo aquisitivo
a aluvião imprópria, orientação que se mantém diante do Código de 2002.
- Considera acréscimos públicos dominicais os que se derem nas águas públicas ou dominicais, se não
estiverem destinados ao uso comum.
→ Em terceiro plano, tem-se a avulsão: incremento por deslocamento brusco de uma porção de terra por
força natural violenta, desprendendo-se de um prédio para se juntar a outro
- Em princípio, o proprietário de cujo imóvel se desgarra, não perde a parte deslocada, que lhe é lícito
reclamar em espécie; mas o do terreno que a recebe tem opção entre aquiescer a que se remova, ou
indenizar ao reclamante o seu valor. Perime o direito de reclamação em um ano, findo o qual o adquirente
pode opor-se a que se remova sem a obrigação de indenizar.
→ Aquisição decorrente do abandono do álveo - por um rio que seca ou que se desvia, seja em
consequência de fenômeno natural, seja em razão de obra humana.
- Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens,
sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se
que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.
Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário
e à sua custa, até que se prove o contrário.
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou
materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de
responder por perdas e danos, se agiu de má-fé
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do
proprietário, as sementes, plantas e construções; se pro3cedeu de boa-fé, terá direito a indenização.
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Não se consideram terrenos de aluvião os aterros artificiais, ou as terras
decorrentes de trabalhos individuais do proprietário ribeirinho, pois que lhes falta
a circunstância do incremento paulatino e natural.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno,
aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da
indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.
Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e
construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes,
plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio. (materiais e terreno alheio)
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do
solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor.
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção
não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo
invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente,
também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé
adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da
construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave
prejuízo para a construção.
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte
deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o
valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área
remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos
apurados, que serão devidos em dobro.
• USUCAPIÃO
Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam,
suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.
- Vejamos o seguinte exemplo: uma pessoa de cinco anos de idade herdou um imóvel por ocasião do
falecimento de seu pai e dois anos depois, sobre esse bem, determinada pessoa começou a exercer posse ad
usucapionem. Teremos uma causa impeditiva do início do prazo prescricional até o infante completar 16
anos, pois não corre prescrição contra absolutamente incapazes
→ Especificamente no que tange ao direito de propriedade, objeto último deste trabalho, esta deixa
definitivamente de ser aquele direito absoluto e passa a contar com um novo requisito no plano da
validade: o desempenho de uma função social. O fundamento desta humanização parece estar presente no
próprio fundamento da República brasileira, que consagra a dignidade da pessoa humana como o grande
vetor do sistema jurídico, seu fundamento de existência e de legitimidade.
→ A propriedade
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
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Nessa linha de raciocínio, usucapião é modo originário de aquisição de direito real. Tal situação,
longe de ser questão meramente acadêmica, produz importantes efeitos no campo prático, como se vê
nas situações abaixo assinaladas que partem da premissa de que a usucapião é modo de aquisição
originária de direitos reais: 1. podem ser usucapidos os bens gravados com a cláusula de
inalienabilidade, tendo em vista que o usucapiente não possui relação jurídica com o proprietário
anterior e, de tal sorte, não constituirá óbice a referida cláusula para a configuração da usucapião; 2. os
bens gravados com fideicomisso (art. 1.951 do CC) podem ser usucapidos, merecendo destacar que, a
princípio, apenas o direito do fiduciário submete-se à prescrição aquisitiva, pois, sendo o direito do
fideicomissário sujeito a condição ou termo suspensivo, em face dele não corre a prescrição, ex vi do
disposto no art. 199, I e II, do Código Civil. Para que o fideicomissário assista à perda de seu direito,
deverá ficar inerte por um novo período apto a gerar uma nova usucapião; 3. não incidência do Imposto
de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), pois os seus fatos geradores previstos no art. 135 do Código
Tributário Nacional envolvem a transmissão de direitos sobre imóveis, o que não existe na usucapião; 4.
possibilidade de usucapir imóvel que jamais foi registrado ou a porção menor de uma área maior
registrada. Essas possibilidades devem-se ao fato de a aquisição ser originária e a sentença prolatada
em favor do usucapiente será o instrumento hábil para abrir a matrícula junto ao cartório imobiliário
competente; 5. na aquisição da propriedade por usucapião não se discute acerca de eventuais vícios ou
defeitos que macularam a aquisição e/ou transmissões do imóvel objeto da usucapião; 6. possibilidade
de usucapião de imóvel hipotecado produzindo como efeito a extinção do gravame real.
§ 1 o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei
especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico,
bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2 o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam
animados pela intenção de prejudicar outrem.
§ 3 o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou
utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.
§ 4 o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa
área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e
estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo
juiz de interesse social e econômico relevante.
§ 5 o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago
o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
- Finalidade econômica: entendemos, numa primeira aproximação, que a expressão legal está a referir-se
à destinação da propriedade à produção de frutos, civis ou jurídicos, ou a seu uso, ainda que não remunerado
(Assim, à guisa de exemplo, parece-nos que uma propriedade que venha sendo usada para moradia, ainda
que gratuita, desempenha tão bem uma função econômica quanto uma propicie a seu titular rendimentos de
alugueres. E ainda, um imóvel rural arrendado ou objeto de parceria igualmente cumpre função econômica
tanto quanto um outro que seja usado para plantio pelo próprio titular da propriedade).
- E no caso em que a propriedade não esteja a desempenhar função econômica em virtude de o proprietário
não ter condições de implementar-lhe benfeitorias necessárias à viabilização de seu uso?
- Se aperfeiçoa mediante posse mansa e pacífica, durante o tempo estabelecido pela lei, sobre objeto hábil.
- Sua estreita ligação com o instituto da posse reclama uma correta compreensão desta para seu perfeito
entendimento. O novo Código Civil (LGL\2002\400) acatou a tradição de nossa cultura civil brasileira de
considerar, no art. 1.196, a posse como a exteriorização da propriedade pelo uso normal da coisa.
- Para homenagear o eterno mestre Rubens Limongi França, adotamos, aqui, sua definição de posse: "É o
conjunto de atos, não defesos em lei (posse justa), exercidos sobre a coisa pelo sujeito, ou por terceiros
em seu nome (fâmulos da posse), tal como se dela fosse o proprietário, ou titular de algum direito real
(quase-posse)".
→ A usucapião
- Forma originária de aquisição de propriedade que se opera mediante o exercício da posse mansa
e pacífica sobre determinado bem, por prazo definido na lei.
*A sentença e o registro da mesma junto ao cartório do registro de imóveis conferirá o
importante atributo da publicidade com a imanente eficácia erga omnes e segurança
jurídica, mas não é requisito. Importa ainda que se refira à legitimação para usucapir. Em
tese, todas as pessoas, naturais ou jurídicas, podem exercer posse e, por conseguinte,
podem adquirir direitos reais por usucapião. Contudo, existem situações que provocam
acirrados debates, como a situação do condômino, do compossuidor e do incapaz.
No primeiro enfrentamento há entendimento no sentido de que o condômino e o
compossuidor não podem usucapir em detrimento de outro condômino ou compossuidor,
pois cada comunheiro presumese mandatário do outro, fato que afastaria o requisito
subjetivo de exercer a posse como se fosse sua. O fundamento legal dessa orientação é o
art. 1.324 do Código Civil quando prevê que “o condômino que administrar sem oposição
dos outros presume-se representante comum”. Assim, faltaria ao condômino em
relação aos seus consortes o animus domini, requisito subjetivo da usucapião.
Todavia, a melhor posição é a que possibilita a utilização da interversão do caráter da
posse referida na análise do art. 1.203 deste Código, na qual configurará ônus do
usucapiente provar que exerce posse ad usucapionem sobre a integralidade do bem. O
mesmo raciocínio deve servir para resolver a questão relativa ao compossuidor. Com
relação à possibilidade de usucapião pelo incapaz temos que, como a aquisição originária
da posse por apreensão tem a natureza jurídica de ato jurídico em sentido estrito
simplesmente material, não haverá necessidade de capacidade do agente
• Cinco espécies:
Art. 1.238. Aquele que, por 15 (quinze) anos, sem interrupção, nem oposição, possuir
como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé;
podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o
registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. Será de 5 (cinco) anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver
sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório,
cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua
moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico".
- Justo título, explica-nos o Prof. José Carlos de Moraes Salles, é o hábil para transferir
a propriedade, como, por exemplo, uma escritura de compra e venda. Se ocorrer de lhe
faltar algum requisito essencial à transferência, permanece a posse, outrossim, com a
feição de posse com justo título.
*posse precária não gera usucapião: ex.: locatário que deixa de pagar aluguel
"Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como
sua, por 5 (cinco) anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não
superior a 50 (cinqüenta) hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua
família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade". *dúvida
"Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até 250 m 2(duzentos e
cinqüenta metros quadrados), por 5 (cinco) anos ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que
não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural".
§ 4.º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir
em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de 5 (cinco) anos, de
considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico
relevante.
- Assemelha-se mais a uma desapropriação, uma vez que o juiz deverá fixar o valor da
justa indenização ao proprietário e, uma vez pago este valor, valerá a sentença como título
para registro do imóvel. Faltou à lei especificar se a indenização deverá ser paga pelos
possuidores, proporcionalmente à sua fração ideal do terreno ou outro critério fixado pelo
juiz ou pelo Estado.
*Surgiram duas correntes para explicar o instituto, a primeira entendendo que se trata de
uma nova espécie de desapropriação, e outra, como sendo uma espécie de usucapião
coletivo.
Filiam-se à primeira corrente, ou seja, que entendem como forma desapropriação judicial
através da posse-trabalho, Marco Aurélio S. Viana2 e Nelson Nery Júnior e Rosa Maria
de Andrade Nery3.
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Não se confunde esta modalidade de usucapião com o chamado usucapião coletivo urbano do
Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), que confere propriedade em condomínio especial indivisível - co-
propriedade a seus titulares, não passível de extinção senão por deliberação de 2/3 (dois terços) dos
condôminos. *dúvida
v) Usucapião de bens móveis
“Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente,
durante 3 (três) anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade".
"Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por 5. (cinco) anos, produzirá
usucapião, independentemente de título ou boa-fé
→ Direito intertemporal
- Assim, ao entrar em vigor alterando o prazo da aquisição por usucapião em benefício dos
possuidores, aqueles que estiverem na posse usucapienda são imediatamente beneficiados,
exceto se já houver processo pendente, hipótese em que continuará a reger a espécie a lei
antiga. Esta exceção se justifica na medida em que a pendência de processo faz supor o
preenchimento de todos os requisitos da ação na data de sua propositura.
→ Os elementos fáticos trazidos à colação e explicitados no julgado ora sub judice demonstram,
à saciedade, que houve o abandono dos lotes e que estes, na prática, pereceram. Assim, quando
do ajuizamento da ação reivindicatória, impossível reconhecer, realmente, que os lotes ainda
existiam em sua configuração original, resultado do abandono, aliás desde a criação do
loteamento. Nesse prisma, perdida a identidade do bem, o seu valor econômico, a sua confusão
com outro fracionamento imposto pela favelização, a impossibilidade de sua reinstalação como
bem jurídico no contexto atual, tem-se, indubitavelmente, que o caso é, mesmo, de perecimento
do direito de propriedade.
CASO 2 -
A DRY, empresa sediada em Porto Alegre, tem diversas fábricas no território brasileiro. Trata-se
de uma das maiores empresas do setor de tecnologia e gera cerca de trinta mil empregos
diretos e indiretos. Há vinte anos, adquiriu extensa área na cidade de São Paulo para instalar
nova unidade e, assim, facilitar a distribuição de seus produtos. O projeto, entretanto, foi
suspenso e a área ficou sem utilização, uma vez que os investimentos foram direcionados para
a implantação de outra unidade, no Rio de Janeiro.
Ao longo desse período, foram construídas diversas casas na porção direita dessa área,
dividida por um amplo rio, formando-se uma comunidade denominada “FAVELA CARIBE”, em
que, atualmente, existem cerca de 1.100 moradias e vivem aproximadamente 6.000
habitantes. Em consequência, o loteamento original teve sua configuração modificada, com a
formação de novas vias e expansão de sua área. Além disso, nela foram instalados serviços de
iluminação pública e domiciliar, de água e esgoto, de energia elétrica e de telefonia, a fim de
atender às necessidades dos moradores.
A porção esquerda do terreno começou a ser ocupada no ano de 2018 e, aos poucos, foi
sendo integrada à outra parte da extensa área, de modo que, no momento atual, tem
considerável população e infraestrutura semelhante à parte de ocupação anterior
2. Como advogados dos moradores, quais argumentos servem para obstar a pretensão
deduzida em juízo?
PESSOAL DOS 20 ANOS: Usucapião extraordinária (15 anos, mas nesse caso 10) – PESSOAL DOS
20 ANOS; usucapião especial urbano (5 anos – seria em relação a cada um, individualmente, até
pq tem o limite de 250m2)? *tamanho; coletivo (como funciona? Não é condomínio indivisível,
né?)
- Os elementos fáticos trazidos à colação e explicitados no julgado ora sub judice demonstram,
à saciedade, que houve o abandono dos lotes e que estes, na prática, pereceram. Assim, quando
do ajuizamento da ação reivindicatória, impossível reconhecer, realmente, que os lotes ainda
existiam em sua configuração original, resultado do abandono, aliás desde a criação do
loteamento. Nesse prisma, perdida a identidade do bem, o seu valor econômico, a sua
confusão com outro fracionamento imposto pela favelização, a impossibilidade de sua
reinstalação como bem jurídico no contexto atual, tem-se, indubitavelmente, que o caso é,
mesmo, de perecimento do direito de propriedade.
Anos após a resolução da questão jurídica relacionada à extensa área, o rio que cortava o terreno
sofreu desvio de curso por causas naturais, de sorte que parte considerável do antigo e amplo
leito virou terra firme (propriedade dos ribeirinhos das duas margens (de onde o leito virou terra
firme). Houve uma divisão dessa nova porção de terra entre diversos moradores. Luiz,
proprietário de um dos lotes vizinhos ao antigo leito (então ele é proprietário da terra), decidiu
vender a nova porção de terra e, para tanto, celebrou contrato de compra e venda com Cláudio
por escritura pública devidamente lavrada em Cartório de Notas.
Cláudio, então, decide iniciar a construção de uma casa. Na etapa final da construção, quando
restava apenas o acabamento interno, Cláudio recebe proposta da empresa na qual trabalha,
para exercer sua função em cidade do interior. Aceita a proposta, Cláudio interrompe as obras,
guarda as tintas de parede na casa (aqui não há intenção de abandonar) para utilização futura
e deixa alguns materiais de construção e ferramentas em local comunitário destinado ao
compartilhamento e à doação de itens (intenção de abandonar?). Passados dois meses, Luiz
falece e o seu único filho e herdeiro, que mora no exterior há anos, põe à venda os terrenos de
propriedade de seu pai. Tereza ajusta com o herdeiro de Luiz a compra e venda do terreno
situado no local do antigo leito do rio e registra o instrumento de contrato no Registro de
Imóveis. Ainda, Tereza utiliza os materiais e ferramentas que encontrou no local comunitário
para concluir o acabamento interno da casa que comprou, assim como as tintas encontradas na
residência. Nas suas férias, Cláudio retorna à antiga moradia para visitar amigos e nota que a
casa que comprara de Luiz está ocupada por Tereza. Então, envia uma notificação extrajudicial
a Tereza, por meio da qual comunica ser o proprietário da casa, exige a saída imediata e, além
disso, indenização pela utilização dos materiais, ferramentas e tintas que havia comprado.
3. A porção de terra surgida a partir do antigo leito do rio pode ser considerada como
propriedade dos moradores? Como deverá ser a feita a divisão desse terreno entre os
moradores?
- Acessão
Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem
que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que
os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.
4. Quem é o proprietário do imóvel situado no antigo leito do rio? Algo pode ser
exigido do filho de Luiz?
5. Tereza deverá indenizar Cláudio pela utilização dos materiais, ferramentas e tintas?
R: Tereza não é proprietária do imóvel/terreno, mas dos materiais, sim (pois foram
abandonados, a meu ver); a não ser das tintas
- boa-fé;