1299-Texto Do Artigo-4074-1-10-20200602
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Resumo: A gestão dos RSU tem relação direta com o aquecimento global, pois possibilita a redução das
emissões de gases de efeito estufa (GEE) pela decomposição dos resíduos e o reaproveitamento dos
materiais evitando partes significativas dos processos de produção, os quais emitem direta ou indiretamente
gases que contribuem para o aumento do efeito estufa. O estudo pretende propor alternativas tecnológicas
para a gestão dos RSU do município de Florianópolis-SC, utilizando a Análise de Ciclo de Vida (ACV) para
quantificar as emissões atuais de gases de efeito estufa (GEE), bem como de cenários propostos, visando a
valorização dos resíduos por meio de compostagem, biodigestores anaeróbios, reciclagem e geração de
energia. Serão estabelecidos 5 cenários com percentuais de reciclagem, compostagem, digestão
anaeróbica, geração de energia e destinação em aterro sanitário. Posteriormente, serão analisadas as
emissões de GEE de cada cenário por meio do software Waste Reduction Model (WARM). Os resíduos
serão categorizados em 54 categorias diferentes e realizada a modelagem no software, obtendo-se o
cenário base que será utilizado para comparação com os cenários propostos, nos quais serão incluídas
alternativas tecnológicas de valorização de RSU, quantificando assim a redução de GEE.
INTRODUÇÃO
O aquecimento global e a consequente redução de emissão de GEE são importantes preocupações
relacionadas ao clima e ao meio ambiente. A falta de investimentos aliado à falta informações e de projetos
práticos por parte do poder público justifica o lento avanço nas conquistas ambientais nesta área.
Para minorar os impactos negativos referente à emissão de GEE, políticas públicas e programas
governamentais devem ser compatibilizados com os princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos da
Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), instituída pela Lei n° 12.187/2009.
O aumento da temperatura global é potencializado pelas ações antrópicas que interferem no efeito
estufa natural do planeta, devido ao aumento de emissões de GEE oriundos da queima de combustíveis
fósseis pela exploração de recursos naturais em busca de matérias primas para fabricação de novos
produtos e pela decomposição de resíduos em aterros sanitários e outras formas de disposição
inadequadas. Os principais gases gerados pela decomposição dos RSU são o monóxido de carbono (CO),
dióxido de carbono (CO2), dióxido de enxofre (SO2) e gás metano (CH4).
A gestão dos resíduos sólidos tem relação direta com o aquecimento global, seja minimizando as
emissões de carbono pela decomposição dos resíduos, seja com o reaproveitamento dos materiais evitando
partes significativas dos processos de produção, os quais emitem direta ou indiretamente partículas que
contribuem para o aumento do efeito estufa.
Dentre os objetivos e metas da PNMC está a redução de emissão de GEE relacionados com a
decomposição de resíduos sólidos, prevendo a criação de “medidas que estimulem o desenvolvimento de
processos e tecnologias, que contribuam para a redução de emissões e remoções de gases de efeito
estufa” (Art. 6º, XII).
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) - Lei n° 12.305/2010, coerentemente com a PNMC
definiu entre os seus objetivos a adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas, como
forma de minimizar impactos ambientais (Art. 7º, IV), e o incentivo ao desenvolvimento de sistemas de
gestão ambiental e empresarial voltados à melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos
resíduos sólidos, inclusive a recuperação e o aproveitamento energético (Art. 7º, XIV). O principal
instrumento da PNRS, os Planos de Gestão de Resíduos Sólidos deverão incorporar a atenção a estas
questões para minimizar os impactos ambientais do transporte de resíduos em geral (neste aspecto,
reduzindo a emissão de CO2) e da destinação dos resíduos orgânicos, como restos de alimentos, podas e
rejeitos de indústrias alimentícias e agropastoris.
Portanto, essas políticas, através de suas diretrizes, objetivos e instrumentos se alinham e se unem
em busca de um objetivo comum. Entretanto, apesar de marcos regulatórios serem instituídos, o índice de
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Metodologias e Aprendizado Volume 2, 2019
METODOLOGIA
O desenvolvimento do projeto se dividirá em 3 etapas: Estabelecimento dos cenários; Análise da
emissão de GEE de cada cenário e Implementação de tecnologias alternativas.
O estabelecimento dos cenários será realizado com a combinação de diferentes tratamentos:
reciclagem, compostagem, digestão anaeróbica, aterro sanitário e incineração com geração de energia.
Esta combinação permitirá, por meio de modelagem utilizando a ACV dos resíduos, quantificar em termos
de emissão de CO2 equivalente qual o melhor cenário do ponto de vista ambiental.
O cenário base foi construído com os valores que atualmente o município apresenta em sua gestão,
sendo 94% encaminhados ao Aterro sanitário e 6% à reciclagem, e servirá como base para comparação
dos benefícios ambientais progressivos adotados pelo uso das tecnologias propostas.
O cenário 1 representa a pior opção do ponto de vista de emissão de GEE, com o encaminhamento
de todos os RSU diretamente ao Aterro Sanitário.
O cenário 2 está próximo à gestão atualmente aplicada em Florianópolis, servindo como uma visão
de curto prazo. Já o cenário 3 representa o alcance às metas de desvio do aterro sanitário a longo prazo,
mantendo as alternativas de reciclagem e compostagem e incluindo a digestão anaeróbia para tratamento
dos resíduos orgânicos.
No cenário 4 entra a alternativa de reaproveitamento energético através de incineração com
geração de energia.
O cenário 5 representa a aplicação total das tecnologias propostas, excluindo o encaminhamento de
resíduos para aterro sanitário.
Portanto, os cenários propostos terão a seguinte composição:
Cenário 1 – 0% para reciclagem, 0% para compostagem, 0% para digestão anaeróbica, 0%
incineração com geração de energia e 100% para Aterro Sanitário;
Cenário 2 – 10% para reciclagem, 10% para compostagem, 5% para digestão anaeróbica, 0%
incineração com geração de energia e 75% para Aterro Sanitário;
Cenário 3 – 20% para reciclagem, 15% para compostagem, 15% para digestão anaeróbica, 10%
incineração com geração de energia e 40% para Aterro Sanitário;
Cenário 4 – 25% para reciclagem, 20% para compostagem, 20% para digestão anaeróbica, 15%
incineração com geração de energia e 20% para Aterro Sanitário;
Cenário 5 – 30% para reciclagem, 25% para compostagem, 25% para digestão anaeróbica, 20%
incineração com geração de energia e 0% para Aterro Sanitário.
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Metodologias e Aprendizado Volume 2, 2019
O cálculo da emissão de GEE será realizado utilizando o software WARM, desenvolvido pela
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), o qual possui base de dados contendo a ACV
dos diversos resíduos que compõe os RSU e considera o balanço de massa de gases de efeito estufa em
termos de emissão de dióxido de carbono equivalente expresso em toneladas, para cada cenário proposto.
A entrada de valores no software consiste no lançamento da quantidade de resíduos coletados por
tipo de material, separados em 54 categorias diferentes. O quantitativo de RSU será o total coletado no
município de Florianópolis, com dados fornecidos pela COMCAP, o qual possui dados históricos das coletas
convencional, seletiva, de resíduos orgânicos, de rejeitos, etc. Também será possível a segregação dos
valores em termos das diferentes categorias de materiais para entrada no software, já que o município
realizou em 2017 a caracterização dos resíduos produzidos em Florianópolis, sendo possível informar a
porcentagem de cada categoria de resíduo.
Uma vez lançados os cenários no software, será possível a comparação entre as emissões de GEE
produzidas em cada um dos cenários, o que indicará qual opção é a mais adequada.
Os ganhos potenciais relacionados à redução de emissão de GEE com a aplicação de cada
tecnologia, em resumo, consiste em:
Reciclagem: a redução de exploração de matéria prima para gerar novos produtos, além de
preservar os recursos naturais, acarreta na redução de energia gasta para produzir novos produtos. O
caminho alternativo ao aterramento de parte dos RSU – destinar novamente à indústria como matéria prima,
demanda menor gasto com a exploração dos recursos naturais, transporte e beneficiamento, ocasionando
redução significativa de emissão de GEE.
Compostagem: o tratamento dos resíduos orgânicos através da compostagem resulta em eficiência
energética não apenas na produção de gases durante o processo de decomposição. Isso porque, a
aplicação do composto orgânico resultante aumenta a qualidade do solo, resultando em menor quantidade
necessária de fertilizantes sintéticos, e, também, diminui a erosão do solo e reduz o uso de herbicidas.
Outros benefícios são: a eficiência energética obtida pela diminuição de consumo de água; o aumento da
capacidade produtiva do solo; e, o aumento da atividade microbiana, que resulta em um solo de maior
qualidade. Portanto, espera-se significativa redução de emissão de GEE no processo global, demonstrando
menor emissão nas demais etapas de utilização do composto em solo para agricultura e na redução do uso
de fertilizantes e agrotóxicos.
Digestão anaeróbica: com benefícios similares à opção de compostagem, a digestão de RSU
orgânicos sob temperatura e umidade controladas em reatores anaeróbicos devidamente dimensionados,
permite o reaproveitamento energético através da captação e transformação em energia elétrica e/ou
térmica com o beneficiamento o gás metano gerado no processo.
Incineração: a transformação de rejeitos em energia térmica, ao contrário do que habitualmente se
imagina, ocasiona redução de gases de efeito estufa. Do ponto de vista energético, o tradicional
encaminhamento ao Aterro Sanitário desperdiça todo potencial de geração de energia dos resíduos,
deixando-os decompor ao longo do tempo, gerando emissão de GEE e outros impactos ambientais. Do
contrário, a geração de energia através desta massa, substitui outras fontes de geração energia, como
termoelétricas por exemplo.
O aterramento dos resíduos, além de gerar impactos em sua disposição, como efluentes líquidos e
gasosos, finda o ciclo dos materiais que ali se encontram, os quais poderiam se transformar em outros
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo pretende obter resultados com a criação de cenários e proposição de tecnologias de
tratamento de resíduos sólidos urbanos para estimular técnicos e gestores municipais a adotarem
alternativas ambientalmente mais adequadas do ponto de vista de emissão GEE, demonstrando os
benefícios ambientais relacionados com a mudança de gestão a ser adotada. Ou seja, pretende-se formular
uma ferramenta para comparação das diferentes possibilidades de aplicação de tecnologias para
tratamento dos resíduos em termos de valorização ambiental, demonstrando em termos de emissão de
gases de efeito estufa a configuração mais adequada a ser adotada no processo.
Serão relacionadas as tecnologias de tratamento com a quantidade que será reduzida de emissão
de GEE, permitindo os tomadores de decisão visualizarem o benefício ambiental em termos quantitativos da
aplicabilidade de cada alternativa. Espera-se mudar a concepção atual de que o aterramento de resíduos é
a solução mais adequada. O aumento do encaminhamento de recicláveis para cooperativas e associações
de catadores por exemplo, gerarão benefícios socioeconômicos, além de reduzir a exploração de recursos
naturais para fabricação de novos produtos, reduzindo o impacto ambiental de todo processo com a
recuperação energética e/ou reutilização na cadeia produtiva em substituição às matérias primas.
Já a recuperação energética por meio de biodigestor e incineração não apenas reduzirá a
quantidade encaminhada aos aterros sanitários, mas também estenderá a vida útil destes, além de gerar
energia elétrica e/ou térmica alternativa, reduzindo a geração de GEE das usinas tradicionais pela
substituição desta fonte de energia.
Além disso, pretende-se demonstrar por meio das ferramentas de ACV que o tratamento de
orgânicos pelo processo de compostagem e biodigestão, além de reduzir a emissão de GEE em
comparação ao aterro sanitário, pode reduzir o impacto causado pelo transporte, além da geração de
composto orgânico para ser aplicado em agricultura e paisagismo urbano, reduzindo o uso de fertilizantes e
herbicidas e, consequentemente o impacto gerado pelo processo de fabricação e aplicação destes. A
compostagem resultará em eficiência energética não apenas na produção de gases durante o processo de
decomposição, mas também na qualidade do solo, redução da erosão do solo e redução de consumo de
água.
A incorporação da alternativa de implantação de usina de geração de energia elétrica a partir da
incineração de RSU, permitirá a mudança de paradigma de que esta seria a mais impactante ao meio
ambiente, demonstrando que pode vir a ser uma alternativa menos impactante ao meio ambiente quando
comparada ao tradicional aterro sanitário, para que municípios possam adotar este tipo de tratamento
dentro das ações de gestão dos resíduos sólidos urbanos.
Portanto, existem diversas alternativas de tratamento e disposição final que não a tradicionalmente
adotada, havendo larga possibilidade de reduzir a emissão de GEE do processo global de gestão dos
resíduos sólidos urbanos.
CONCLUSÕES
Será verificada a hipótese de que a inserção de tecnologias alternativas às usuais no tratamento
dos RSU reduzem significativamente as emissões de GEE resultantes dos processos de decomposição dos
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resíduos, das emissões relacionadas ao transportes e das emissões referentes à exploração de matérias
primas e geração de energia que deixarão de serem emitidas através da reciclagem e recuperação
energética dos resíduos a serem valorizados.
Visto que serão utilizados dados reais da geração de RSU no município de Florianópolis-SC, será
permitida a quantificação em termos de tonelada equivalente de CO2 em que cada cenário proposto teria
potencial de gerar e, comparando-se com o cenário base, certificando a contribuição de cada cenário na
redução de geração de GEE.
O estudo permitirá a ampliação de conhecimento e futuras pesquisas baseadas na Análise de Ciclo
de vida das diferentes frações que compõe os resíduos sólidos municipais, já que a aplicação deste
conceito na quantificação de redução de GEE dos RSU é novo e pouco difundido em nível mundial,
havendo escassos estudos disponíveis nesta área.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Lei n° 12.187, de 29 de dezembro de 2009. Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC). Diário
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BRASIL. Lei n° 12.305, de 02 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Diário oficial
[da] República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 3 de agosto de 2010, Seção 1, p. 3.
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