RECURSO INOMINADO - ASTURIAS X PORTO FREIRE Revisado

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 6ª UNIDADE DO

JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE FORTALEZA/CE

Processo nº 3001296-74.2018.8.06.0020

RECURSO INOMINADO

CONDOMINIO ASTURIAS RESIDENCE, já qualificado nos autos do processo


em epígrafe, vem perante Vossa Excelência, por intermédio de sua
procuradora que a esta subscreve, inconformada com a sentença proferida,
interpor RECURSO INOMINADO, com fundamento no permissivo constante
do artigo 41 e seguintes da Lei 9.099/95. Destarte, REQUER o recebimento do
recurso, sendo remetidos os autos, com as razões recursais anexas, à Egrégia
Turma Recursal, para que, ao final, seja dado provimento ao presente recurso.
Outrossim, requer-se o recebimento do presente recurso nos efeitos devolutivo
e suspensivo. Deixa de juntar preparo por requerer os benefícios da gratuidade
judiciária.

Termos em que,

Pede deferimento.

Fortaleza, 31 de Maio de 2021.

Lucélia Duarte Portela

OAB/CE 20.243
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Fortaleza/CE
EGRÉGIA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DO
ESTADO DO CEARÁ

PROCESSO Nº: 3001296-74.2018.8.06.0020

ORIGEM: 6ª UNIDADE DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DA COMARCA


DE FORTALEZA/CE

RECORRENTE: CONDOMÍNIO ASTÚRIAS RESIDENCE

RECORRIDO: PORTO FREIRE ENGENHARIA E INCORPORACAO


LTDA

Colenda Turma,

Eméritos Julgadores

1 – DO PEDIDO DE GRATUIDADE JUDICIÁRIA

A jurisprudência e doutrina pátrias são pacíficas no que concerne à


possibilidade de deferimento da gratuidade judiciária às pessoas jurídicas,
desde que estas comprovem sua situação de hipossuficiência. O condomínio
consiste em uma comunhão de direitos e interesses e, embora não possua
personalidade jurídica, possui personalidade judiciária, sendo igualmente capaz
de contrair obrigações e possuir direitos, fazendo jus, portanto, a concessão
dos benefícios da gratuidade judiciária, com fulcro no Art. 5º, LXXIV da
Constituição Federal,e pelo artigo 98 e seguintes do Código de Processo Civil,

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Deve-se observar ainda, Excelências, que os condomínios não possuem intuito
de lucro, pois todo o valor recolhido a título de taxas condominiais é revertido
em favor da própria manutenção do espaço físico e para o pagamento dos
funcionários. Colacionamos as seguintes jurisprudências reforçando os
argumentos aqui expostos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - CONCESSÃO DE


JUSTIÇA GRATUITA PARA CONDOMÍNIO -
POSSIBILIDADE DESDE QUE COMPROVADA A
NECESSIDADE - RECURSO IMPROVIDO.

(TJ-MS - AGV: 5042 MS 2002.005042-3, Relator:


Des. Hamilton Carli, Data de Julgamento:
31/03/2003, 3ª Turma Cível, Data de Publicação:
09/04/2003)

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE EXTINÇÃO DE


CONDOMÍNIO - JUSTIÇA GRATUITA -
COMPROVAÇÃO DA NECESSIDADE -
INTELIGÊNCIA DO ART. 5º, LXXIV DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - RECURSO
PROVIDO. A parte que pretende a concessão da
justiça gratuita deve comprovar a sua condição de
miserabilidade para receber o benefício.
Comprovada a alegada hipossuficiência, a
concessão do benefício é medida que se impõe. (TJ-
MG - AC: 10024130213291001 MG , Relator:
Rogério Medeiros, Data de Julgamento: 24/07/2014,
Câmaras Cíveis / 14ª CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 14/08/2014)
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Ademais, saliente-se que o Condomínio Recorrente enfrenta problemas
financeiros em decorrência da inadimplência da parte ora Recorrida, fato que
compromete seu orçamento anual de despesas, sendo a presente ação uma
das medidas necessárias à solução do déficit financeiro atual.

2 – DA SENTENÇA GUERREADA

O objetivo do presente Recurso Inominado é a reforma da R. sentença de ID nº


23040216 proferido pelo douto juízo da 6ª Unidade do Juizado Especial Cível
da Comarca de Fortaleza-Ce, que extinguiu a presente execução por entender
que:

“Conforme manifestação da parte promovida, verifica-se


que esta encontra-se em recuperação judicial, nos termos
da decisão proferida pela 2ª Vara de Recuperação de
Empresas e Falência desta Comarca em sede do
processo de nº 0200248-05.2021.8.06.0001.

Adoto o posicionamento de que o crédito do exequente


deve ser habilitado no quadro geral de credores da
recuperação judicial da executada, uma vez que este
Juízo resta impossibilitado de realizar qualquer ato
constritivo, bem como a suspensão do feito implica em
violação dos princípios regentes do procedimento dos
Juizados Especiais. Ademais, tendo a novação o efeito de
substituição da obrigação novada por uma nova, com a
extinção da primeira, conforme disposto no art. 360, I do
Código Civil, de rigor, entendo cabível a extinção do
presente cumprimento de sentença.

Ante o exposto, JULGO EXTINTA a presente execução,


com fundamento no art. 924, III do CPC. Não há
condenação em custas e honorários, em razão do
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deferimento da recuperação judicial. Com o trânsito em
julgado, dê-se baixa e arquivem-se os autos.

Expeça-se a competente certidão de crédito, com a


finalidade de que a parte autora proceda sua habilitação
no juízo da recuperação judicial. Publique-se. Registre-se.
Intime-se.”

Assim, não resta alternativa ao Condomínio Recorrente, senão a interposição


do presente recurso, visando a reforma da sentença de primeiro grau e o
deferimento do pedido inaugural.

3–DO OBJETIVO DO PRESENTE RECURSO

A sentença guerreada aduz que:

“Adoto o posicionamento de que o crédito do exequente


deve ser habilitado no quadro geral de credores da
recuperação judicial da executada, uma vez que este
Juízo resta impossibilitado de realizar qualquer ato
constritivo, bem como a suspensão do feito implica em
violação dos princípios regentes do procedimento dos
Juizados Especiais. Ademais, tendo a novação o efeito de
substituição da obrigação novada por uma nova, com a
extinção da primeira, conforme disposto no art. 360, I do
Código Civil, de rigor, entendo cabível a extinção do
presente cumprimento de sentença.”

De primeiro plano, importante se faz atentar para a questão suscitada acerca


dos créditos que são submetidos ao regramento contido na Lei 11.101/05,
especialmente o que preceitua o artigo 6º, que em suma, prevê a

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suspensão do curso da prescrição e de todas as ações e execuções em
face do devedor.

Entretanto, o crédito ora discutido na presente ação não se submete aos


ditames da referida lei.

Ocorre, em verdade, que o crédito do condomínio é oriundo de cotas


condominiais da unidade 2002 D, de propriedade da Recorrida, e que
estão em atraso desde Dezembro de 2016 e tais cotas não se submetem
ao concurso regrado pela Recuperação Judicial.

Isso ocorre em razão da natureza do crédito do condomínio, posto que, além


de possuir natureza proper rem, também é necessária para a administração e
conservação da coisa, nos termos do artigo 84 da Lei nº 11.101/05, desta
forma é tido como crédito EXTRACONCURSAL.

Nas palavras do Ilustre Desembargador LUIS FERNANDO NISHI:

“Induvidosa a circunstância de que as despesas


condominiais têm natureza 'propter rem', cuja função
é assegurar a conservação e adequada fruição das
unidades e das áreas comuns da edificação, em
proveito, não só dos condôminos, mas, também,
daqueles que têm interesse na conservação da coisa.
Em se tratando de imóvel de propriedade da
recuperanda, cabe salientar que não satisfeitas as
cotas de sua responsabilidade, os demais
condôminos acabam custeando tais despesas, em
prol da sua conservação e em benefício geral. Lícito e
razoável, portanto, considerar que o débito referente
a tais despesas seja satisfeito com prioridade sobre
qualquer outro crédito, vez que exigir-se a habilitação

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do crédito na recuperação judicial não teria outro
efeito senão o de sacrificar ainda mais a coletividade
condominial”.

Neste sentido é que caminha a jurisprudência predominante, vejamos:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO Interposição contra


decisão que rejeitou exceção de pré- executividade.
Despesas condominiais. Título executivo extrajudicial.
Prescrição, ilegitimidade ativa e ilegitimidade passiva ad
causam não caracterizadas. Não sujeição dos créditos
condominiais aos efeitos da recuperação judicial
Crédito extraconcursal natureza propter rem. Decisão
mantida. Agravo de Instrumento não provido.” (Agravo de
Instrumento nº 2107287- 90.2020; Relator (a): Mario A.
Silveira; Órgão Julgador: 33ª Câmara de Direito Privado;
Data do Julgamento: 11.06.2020)

“Agravo de Instrumento. Ação de cobrança de


despesas condominiais. Fase de cumprimento de
sentença. Devedora em recuperação judicial. Crédito
condominial, que por ser "propter rem" tem natureza
extraconcursal. Não sujeito à recuperação judicial.
Despesas que se destinam à própria conservação da
coisa. Artigo 84, III, da Lei nº 11.101/2005. Extinção da
execução rejeitada. Manutenção da decisão agravada.
Recurso não provido.” (TJSP; Agravo de Instrumento
2043406-76.2019.8.26.0000; Relator (a): Cesar Lacerda;
Órgão Julgador: 28ª Câmara de Direito Privado; Foro

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Regional II - Santo Amaro - 6ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 26/03/2019; Data de Registro: 26/03/2019)

“DESPESAS DE CONDOMÍNIO AÇÃO DE COBRANÇA


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EXECUTADA EM
RECUPERAÇÃO JUDICIAL PROSSEGUIMENTO DA
EXECUÇÃO ADOÇÃO DE MEDIDAS CONSTRITIVAS
CABIMENTO. Obrigação de natureza 'propter rem' e que
vincula a unidade condominial geradora das despesas,
independentemente do processamento da recuperação
judicial. Possibilidade de constrição, em regular
andamento à execução do crédito extraconcursal.
Decisão mantida. Recurso improvido.” (TJSP; Agravo
de Instrumento 2033877-33.2019.8.26.0000; Relator (a):
José Augusto Genofre Martins; Órgão Julgador: 31ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Santos - 8ª. Vara
Cível; Data do Julgamento: 26/03/2019; Data de Registro:
26/03/2019)

Ainda em razão de ser extraconcursal, a cobrança do crédito do


condomínio também não é submetida aos prazos de suspensão tratados
nos artigos 6º e 52 da Lei nº 11.101/05, não havendo prejuízo quanto a sua
exigibilidade em decorrência da instauração da Recuperação Judicial,
sendo este o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça – STJ,
vejamos:

“A jurisprudência desta Corte orienta-se no sentido de


que os créditos de natureza extraconcursal, como os
provenientes de despesas condominiais, não se
submetem aos efeitos da recuperação judicial, de forma
que não há falar em suspensão da sua execução para a
preservação da empresa em recuperação.” (AgInt. no
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REsp. nº 1.822.787/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, j. em 25/11/2019).

“A atual jurisprudência desta Corte Superior é no


sentido de que a taxa de condomínio se enquadra no
conceito de despesa necessária à administração do
ativo, tratando-se, portanto, de crédito
extraconcursal, não se sujeitando à habilitação de
crédito, tampouco à suspensão determinada pelo art.
99 da Lei de Falências. Precedentes.” (AgInt. no
REsp. nº 1.646.272/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. em
24/04/2018).

Dessa forma, conforme demonstrado, conclui-se que o crédito do condomínio


Recorrente decorre das despesas condominiais vinculadas à unidade
autônoma de propriedade da Recorrida, conforme matricula juntada aos autos
em id. 22150008, que se destaca dos créditos que se sujeitam à Recuperação
Judicial.

ASSIM SENDO, requer o provimento do presente RECURSO INOMINADO,


para o fim de reforma da r. decisão proferida pelo Juiz a quo, julgando
procedente o pedido do Condomínio Recorrente, dando prosseguimento ao
Cumprimento de Sentença.

4 - DO PEDIDO

Diante do exposto, requer o recebimento e processamento das presentes


razões recursais, confiante no discernimento jurídico de seus ilustres
integrantes, a fim de conhecer o apelo e dar-lhe provimento no sentido de
modificar o referido Decisum, dando provimento, para:

a) Que sejam concedidos os benefícios da gratuidade judiciária ao


Recorrente;
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b) Anular a sentença do juízo a quoe determinar o prosseguimento do
cumprimento de sentença, reconhecendo que o crédito do Condomínio
Recorrente é EXTRACONCURSAL, não se submetendo aos
regramentos da Lei 11.101/05, devendo praticar o Juízo de 1º Grau os
atos expropriatórios para satisfação do crédito do Condomínio
Recorrente e após, oficie o Juízo da 2ª Vara de Recuperação de
Empresas e Falência, nos autos do processo de nº 0200248-
05.2021.8.06.0001, comunicando a expropriação realizada.

Termos em que pede deferimento.

Fortaleza, 31 de Maio de 2021.

Lucélia Duarte Portela

OAB/CE 20.243

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