O Contrato Racial - Charles W. Mills
O Contrato Racial - Charles W. Mills
O Contrato Racial - Charles W. Mills
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Sumário
Capa
Folha de rosto
Sumário
Introdução
1. Visão geral
2. Detalhes
3. Méritos “naturalizados”
Agradecimentos
Agradecimentos da edição comemorativa de 25 anos
Notas
Sobre o autor
Créditos
Este livro é dedicado às pessoas negras, vermelhas, marrons e
amarelas que resistiram ao contrato racial, e aos brancos
renegados e traidores da raça que o recusaram.
Prólogo
Tommie Shelby
“Professor Mills, estou escrevendo apenas para dizer que O contrato racial
mudou minha vida.”
A minha também.
Recebi muitas dessas cartas ao longo dos anos, vindas de estudantes de
pele escura que me enviaram e-mails do nada para me informar a respeito
do impacto que meu livro teve sobre eles. O contrato racial fez vibrar uma
corda que ainda ressoa décadas depois. De fato, considerando que estou
escrevendo isto na esteira das massivas manifestações globais contra o
racismo provocadas pela morte de George Floyd pelas mãos da polícia de
Minneapolis, sua maior influência pode estar ainda mais adiante. Um livro
que começa com a declaração um dia tão provocativa, Supremacia branca é
o sistema político não nomeado que fez do mundo moderno o que ele é hoje, não
parece mais tão ultrajante. Nem protestos internacionais contra o legado
do colonialismo europeu, o imperialismo, a escravização racial e os
estados colonizadores brancos excludentes; tampouco as demandas para
reformar os currículos ocidentais e os sistemas educacionais que
fomentam uma perigosa “ignorância branca” sobre o passado e o presente;
e os chamados pelo fim da dominação branca estrutural e da injustiça
racial — de repente, tornou-se muito mais difícil negar a precisão da
imagem pintada por este pequeno livro há 25 anos.
Estou seguindo uma longa linhagem de intelectuais negros, trabalhando
em várias disciplinas, que esperavam que seus escritos ajudassem a criar
uma sociedade melhor. Na filosofia, há muitas concepções de filósofos e
tarefas filosóficas, do humilde suboperário (Locke) ao ambicioso
construtor de sistemas (Friedrich Hegel), de uma disciplina que deixa tudo
como está (Ludwig Wittgenstein) a outra que visa mudar o mundo (Marx).
Mas a tradição radical negra internacional sempre esteve inabalavelmente
comprometida com esta última.1 Muito antes do nascimento de Karl
Marx, a diáspora forçada da escravidão africana deu origem a uma
comunidade de pessoas racialmente oprimidas que procurava analisar de
forma crítica sua opressão, compreendê-la e, finalmente, acabar com ela.
Na formulação de Leonard Harris, a filosofia afro-americana (e, em
grande medida, a filosofia africana e afro-diaspórica moderna) é uma
“filosofia nascida da luta”.2 A sala de aula e o painel de conferência são
cenários locacionais relativamente recentes desse discurso revolucionário;
o ambiente original era o das senzalas. Nas suas melhores versões, a
tradição radical negra não tem sido estreitamente nacionalista, mas
declarou sua solidariedade aos subordinados em toda parte.
Assim, ao contrário dos principais filósofos brancos, particularmente na
tradição analítica, que se apresentam como pensadores desinteressados
abordando questões atemporais sem qualquer necessidade de atenção às
circunstâncias contingentes, eu vejo a disciplina como corporificada e
socialmente inserida. O contrato racial é moldado tanto pela experiência
negra quanto pela minha identidade específica como jamaicano, depois
como jamaicano-americano, porque eu migrei para os Estados Unidos, a
fim de me tornar parte do pequeno mas resoluto grupo de filósofos negros
(ainda apenas 1% da profissão).
A perspectiva internacional manifestada no livro desde pronto me veio à
mente. Se você é de uma pequena nação do Sul Global com menos de 3
milhões de pessoas, é mais difícil acreditar que você está no centro do
mundo (embora alguns jamaicanos tenham tentado ao máximo) e ignorar
as forças internacionais que determinaram os contornos daquele mundo.
De fato, a própria formação da Jamaica no período moderno é resultado
do imperialismo europeu. Xaymaca (o nome ameríndio taíno original) foi
invadida e conquistada por Cristóvão Colombo em 1494. A população
indígena foi dizimada, e uma economia escrava se estabeleceu através da
importação de povos africanos capturados. Os espanhóis foram
posteriormente expulsos pelos britânicos, na década de 1650, e a
escravização em larga escala foi instituída, tornando o país uma das
possessões escravas mais lucrativas da Grã-Bretanha (uma “colônia de
exploração” na qual os brancos eram basicamente supervisores externos,
ao contrário das colônias de assentamento branco europeu, como os
Estados Unidos, marcadas pela imigração europeia massiva). A escravidão
foi finalmente abolida ao longo de quatro anos, começando em 1834, mas
a Jamaica permaneceria uma colônia britânica até 1962. E as ideologias
racistas da superioridade europeia justificaram esses sistemas de
dominação ao longo de centenas de anos.
De modo nada surpreendente, então, a recém-independente Jamaica em
que fui criado envolveu-se em intensos debates políticos sobre a questão
do colonialismo e seu legado para a Jamaica pós-colonial (ou aquilo foi, na
verdade, neocolonial?). Além disso, sob o governo social-democrata dos
anos 1970, de Michael Manley, a Jamaica não apenas tentava reformar sua
estrutura socioeconômica piramidal branca/parda/preta herdada, mas
também desempenhava um papel fundamental no cenário mundial; junto
com outras nações do Sul Global, tentou criar uma Nova Ordem
Econômica Internacional. Deixando a atmosfera política de estufa,
mergulhada nos debates radicais anglo-caribenhos da época, fiquei,
portanto, completamente surpreso ao ser apresentado à filosofia política
dominante no trabalho de John Rawls quando comecei meu doutorado na
Universidade de Toronto. Sua prescrição em Uma teoria da justiça, de que
deveríamos pensar a sociedade como, de fato — não apenas idealmente —,
“um empreendimento cooperativo para vantagem mútua”, cujas regras
são “projetadas para promover o bem daqueles que dele participam”, me
fez perceber que essas pessoas estavam trabalhando segundo um manual
muito diferente!3
Embora escrito muitos anos depois, O contrato racial deve ser visto como
minha recusa enfática dessa conceitualização. Com efeito, escrevi o livro
que eu mesmo gostaria de ler ao tentar lidar pela primeira vez com a
brancura ofuscante da disciplina. (Os muitos alunos que me enviam e-
mails ainda enfrentam o mesmo problema.) Essa brancura deve ser
entendida não apenas em termos de números e demografia profissional,
não apenas como manifesta em comentários racistas sobre pessoas de pele
escura no trabalho de figuras canônicas e na exclusão de pessoas de pele
escura desse mesmo cânone, mas — em seu nível mais profundo e
desafiador — no enquadramento conceitual e teórico de questões-chave.
E, a fim de alcançar um público de massa para minha própria tentativa de
reformulação, O contrato racial é meu caso de sucesso, tendo vendido várias
vezes mais que meus outros cinco livros juntos, e constituindo quase
metade do total de minhas citações no Google Acadêmico. Sua aceitação
tem sido internacional e interdisciplinar. Ele foi aplicado, me disseram, às
hierarquias comparativas de cor na Jamaica e em Barbados, à política na
Índia pós-colonial, à dinâmica racial nacional e internacional de
Israel/Palestina, ao racismo no Serviço Público Australiano e à “ignorância
branca” no sistema educacional da Nova Zelândia (Aotearoa). Tem sido
amplamente adotado nas salas de aula de disciplinas outras que não a
filosofia: ciência política, sociologia, educação, relações internacionais,
estudos afro-americanos, antropologia, história e direito.
Tendo concluído meu trabalho de doutorado no Canadá, acabei
conseguindo um emprego nos Estados Unidos, juntando-me a um grupo
comprometido de filósofos negros, em grande parte afro-americanos, que
havia muito tempo estava engajado no mesmo projeto.
É difícil transmitir aos leitores mais jovens de hoje o quão diferente era
a cena filosófica em meados da década de 1990. Publicavam-se livros sobre
raça e filosofia afro-americana — tratando de justiça social, da tradição
religiosa profética, do problema da “subclasse”, de filosofia e escravidão e
das tradições filosóficas afro-americanas —, mas ainda eram relativamente
raros. Nem uma única editora tinha uma série sobre filosofia e raça ou
filosofia afro-americana; hoje, pelo menos cinco delas têm. Nem havia
compêndios ou guias para nenhum desses campos; agora existem pelo
menos três.
Mas Na casa de meu pai, de Kwame Anthony Appiah, publicado em 1992,
representou uma espécie de ponto de virada, embora não fosse
necessariamente reconhecido como tal na época.4 Na visão do colega
filósofo negro Paul C. Taylor, o livro de Appiah foi o texto crucial para
legitimar o estudo da raça e da filosofia africana e afro-diaspórica na
filosofia dominante. Appiah não só tinha credenciais impecáveis de
Oxbridge, mas também possuía uma formação técnica em filosofia
analítica da linguagem. Como, para o bem ou para o mal, a filosofia
analítica é a abordagem hegemônica na profissão, isso significava que raça
e temas africanos e afro-diaspóricos se tornaram respeitáveis de uma
forma que os tratamentos continentais não teriam sido capazes de fazer.
Mas, embora o trabalho de Appiah tenha alcançado um público muito
maior, suas conclusões não foram bem-vindas para a maioria dos filósofos
negros. Sua posição sobre raça era evidentemente eliminativista — “A
verdade é que não há raças” —, e ele era hostil à tradição política pan-
africanista baseada na raça, por exemplo, nos escritos de William E. B. Du
Bois, vendo-a como moralmente duvidosa e possivelmente até racista.5
Em contraste, Lucius Outlaw, vindo da tradição da teoria crítica
continental (embora criticando-a por negligenciar a raça) e há muito
envolvido na luta de libertação dos negros americanos, insistiu na
realidade e no significado sociopolítico da raça, articulados em seu livro On
Philosophy and Race [Acerca de filosofia e raça].6 Nos pequenos círculos
filosóficos de pessoas interessadas em raça, a contenda Appiah-Outlaw
seria reconhecida como o debate-chave do período, desenrolando-se em
seminários e artigos de periódicos, para não mencionar uma explosão
drástica na conferência sobre filosofia e raça em Rutgers, em 1994 (embora
a paz e a civilidade tenham sido restauradas mais tarde — pergunte aos
mais velhos os detalhes).
Claro que eu queria participar dessa conversa, mas como, exatamente?
Minha simpatia estava definitivamente com Outlaw, se não com sua
linguagem. Fui treinado como filósofo analítico e continuo a me
considerar como tal, embora minha abertura para os insights da história,
da sociologia, da ciência política — e aquela fatia da filosofia continental
que consigo entender — tenha feito de mim um suspeito, ou talvez
simplesmente um renegado, perante muitos olhos analíticos. O desafio,
como eu o via, era tornar a filosofia política analítica mais sócio-
historicamente responsável: como isso poderia ser alcançado? O contrato
racial pode ser pensado como uma intervenção filosófica negra que toma o
eminentemente respeitável aparato político da teoria do contrato social e
tenta adaptá-lo de forma radical a fim de trazer a raça para a discussão. Em
vez do discurso branco segregado da filosofia política analítica dominante
da época, eu defendia um novo enquadramento que reconhecesse as
realidades políticas que marcam a experiência das pessoas de pele escura
na modernidade. Sim, raça realmente existe, se não biologicamente, pelo
menos como uma construção social com uma realidade social; e sim, raça
em geral e dominação branca em particular têm sido fundamentais para
construir o mundo moderno; então, sim, nós podemos — e devemos —
desenvolver uma filosofia política informada por essas realidades, e, é
claro, que evite o racismo.
Minhas raízes jamaicanas e minhas simpatias internacionais afro-
caribenhas encontraram uma maneira de se expressar, em solidariedade e
diálogo com a tradição radical negra americana, em um livro sintetizador
(e nos trabalhos posteriores). Nele, eu reivindico uma posição que comecei
recentemente a chamar de liberalismo radical negro, que pretende
integrar um repensar antirracista amplamente revisionista do liberalismo
para os progressistas.7 E, de fato, Tommie Shelby, autor do prólogo desta
edição, sugere em seu Dark Ghettos: Injustice, Dissent, and Reform [Guetos
sombrios: injustiça, dissidência e mudança], que, embora receba nomes
diferentes, essa é uma posição, ou um conjunto de posições,
historicamente adotada por muitos pensadores políticos negros.8 Embora
Shelby e eu possamos discordar sobre os detalhes, particularmente em
nossas leituras de Rawls, concordamos no quadro geral. (Para um paralelo
com o mundo dos estudos de gênero, pense nas muitas variedades
diferentes do liberalismo feminista.)9 A ideia é recuperar o liberalismo de
uma forma sensível à raça, levando em conta as críticas feministas negras.
O trabalho de Shatema Threadcraft, por exemplo, enfatiza a necessidade
de desenvolver os conceitos de opressão racial e da correspondente justiça
racial corretiva que reconheçam a natureza interseccional de ambos, como
a violação histórica dos direitos reprodutivos das mulheres negras.10
Aqui está minha própria versão desse projeto. O liberalismo radical
negro é necessária, íntima e criticamente engajado nas tradições políticas
europeias e euro-americanas “brancas”. De fato, falar delas como tradições
completamente separadas se arrisca a reificá-las como entidades
claramente distintas, mapeando territórios diferentes, quando, claro, todo
o objetivo da tradição negra/africana e afro-diaspórica é oferecer uma
cartografia revisionista do mesmo território. Não é uma questão de
mundos políticos diferentes, mas de perspectivas hegemônicas e
subalternas sobre o “mesmo” mundo político — embora experimentado e
visto de forma muito diferente das posições de privilégio social e
subordinação social.
Estão aí envolvidos, assim, tanto um aspecto descritivo quanto um
normativo: o redesenhar de fronteiras-padrão e de diferenciações internas
do espaço político; e o levantamento de questões normativas tipicamente
ignoradas ou, de modo mais forte, prontamente rejeitadas pela ordem
hegemônica. As nações liberais do Ocidente e aqueles países sobre os quais
impuseram seu liberalismo, que Rawls nos exorta a pensar como
empreendimentos cooperativos para vantagem mútua, eram estados
supremacistas brancos. O racismo não era uma anomalia, mas estava
constitutivamente incorporado em suas “estruturas básicas” (para citar
Rawls) como potências coloniais e imperiais, colônias de exploração,
sociedades de escravidão racial e estados colonizadores brancos. Mas,
como a supremacia branca não é reconhecida (uma evasão
descritiva/conceitual), a justiça racial é tematicamente marginalizada
(uma evasão normativa/prescritiva). O resultado? A teoria da justiça social
liberal do Ocidente branco do último meio século.
Minha alegação, então, é que, conforme empregada de maneira-padrão,
a metáfora do contrato social da teoria política ocidental revivida por
Rawls da década de 1970 em diante não é nem remotamente um aparato
neutro para representar essas realidades, mas é um aparato tendencioso e,
de modo profundo, teoricamente enviesado. Em vez disso, precisamos
trabalhar com a metáfora concorrente e mais útil de um “contrato de
dominação”, seja para raça, como no contrato racial, ou em outros
contextos.11 Assim, seremos capazes de nos envolver com as linhagens
mais influentes do discurso liberal e, ao mesmo tempo, dar voz às pessoas
de pele escura vitimadas pela dominação racial do Ocidente e pela
consequente injustiça racial. A questão da justiça social, então, se torna
principalmente uma questão de justiça corretiva: como desmantelamos a
estrutura básica racializada criada pelo contrato racial?12 Em vez de
estarem isolados em um mundo conceitual separado, os textos políticos de
pessoas de pele escura enraizados em sua longa história de lutas anti-
imperialistas, anticoloniais, abolicionistas, antiapartheid e antirracistas
estão integrados em um espaço discursivo que aborda todos os mesmos
problemas da teoria dominante, mas através de linhas de investigação
racialmente informadas, e não racialmente evasivas.
Uma nova edição deste livro é ocasião para olhar para a frente, mas
também para trás. Enquanto escrevo este prefácio, uma nova geração de
filósofos e teóricos políticos está examinando os problemas da injustiça
racial estrutural em escala global. Um mundo pós-Floyd não pode —
espera-se — voltar ao esquecimento político do passado sobre a raça.
Espero também que O contrato racial continue a servir como texto valioso
para o avanço desse projeto. Embora haja motivos para otimismo, tem
surgido uma reação contra a teoria racial crítica e a filosofia crítica da raça.
Forças políticas poderosas em várias nações ocidentais — Estados Unidos,
Grã-Bretanha e França, entre outros — veem esse trabalho como
subversivo, ameaçando a ordem vigente.13 E, de certa forma, claro, elas
estão completamente corretas, considerando o estabelecimento dessa
ordem sobre a dominação racial branca. A oposição a elas confirma a
validade do diagnóstico de O contrato racial — de que o liberalismo foi e é
racializado, baseado na exclusão, e de que haverá resistência à inclusão
substantiva das pessoas de pele escura. Somente admitindo e
confrontando essa realidade o contrato racial pode ser desfeito. A luta pela
justiça racial continua, mas a luta contra ela também.
O contrato racial
When white people say “Justice”, they mean “Just us”.
[Quando as pessoas brancas dizem “justiça”, querem dizer
“apenas nós”.]
Aforismo popular negro americano
Introdução
por mais de um século, foram considerados seres de uma ordem inferior, e completamente
inaptos para se associar com a raça branca, seja em relações sociais ou políticas; e tão inferiores
que eles não tinham direitos que o homem branco fosse obrigado a respeitar; e que o negro
poderia justa e legalmente ser reduzido à escravidão para seu benefício […]. Essa opinião,
naquela época, era fixa e universal entre a porção civilizada da raça branca. Era considerada um
axioma tanto na moral quanto na política, que ninguém pensava em contestar nem supunha
estar aberto a contestação.27
A expansão por conquista, embora necessária, parece especialmente injusta e perturbadora para
a consciência das democracias. […] Mas transpor instituições democráticas em tal cenário é
contrassenso aberrante. As pessoas sujeitadas não são e não podem se tornar cidadãs no sentido
democrático do termo. […] É necessário, então, aceitar como princípio e ponto de partida o fato
de que existe uma hierarquia de raças e civilizações, e que pertencemos a raça e civilização
superiores. […] A legitimação básica da conquista sobre os povos nativos é a convicção de nossa
superioridade, não apenas nossa superioridade mecânica, econômica e militar, mas nossa
superioridade moral. Nossa dignidade repousa sobre essa qualidade e é subjacente ao nosso
direito de dirigir o resto da humanidade.
Sem cair nos devaneios rousseaunianos, vale a pena notar que a associação implica um contrato,
e essa ideia, embora nada mais do que uma ilustração, é aplicada de forma mais apropriada à
coexistência de duas sociedades profundamente diferentes, postas brusca e artificialmente em
contato, do que à única sociedade formada por processos naturais que Rousseau imaginou. É
assim que os termos desse acordo implícito podem ser concebidos. O conquistador europeu traz
ordem, previsibilidade e segurança a uma sociedade humana que, embora aspire ardentemente a
esses valores fundamentais sem os quais nenhuma comunidade pode progredir, ainda carece da
aptidão para alcançá-los a partir de si mesma. […] Com esses instrumentos mentais e materiais,
que lhes faltava e agora recebe, essa sociedade passa a ter a noção e a ambição de uma existência
melhor e os meios para alcançá-la. Nós lhe obedeceremos, dizem os sujeitados, se você começar
se comprovando digno. Nós lhe obedeceremos se você conseguir convencer-nos da superioridade
da civilização da qual tanto fala.28
como resultado, [eles são] incapazes de fazer a conexão entre a crueldade prolongada e sórdida
de práticas como escravidão, opressão colonialista e racial e sujeição imperial, por um lado, e a
poesia, a ficção, a filosofia da sociedade que se envolve nessas práticas, por outro.29
a suposição de que a Europa funciona de forma autônoma de outras partes do mundo; de que a
Europa é sua própria origem, destino final e agente; e de que a Europa e os povos de ascendência
europeia nas Américas e em outros lugares não devem nada ao resto do mundo.47
Todos os países dentro da órbita europeia se beneficiaram, no entanto, como Adam Smith
apontou, das contribuições coloniais para um estoque comum de riqueza, ainda que discutissem
amargamente sobre a propriedade de um território ou outro. […] Havia um sentido em que
todos os europeus compartilhavam um senso elevado de poder gerado pelos sucessos de
qualquer um deles, bem como no conjunto de riquezas materiais […] que as colônias
produziam.51
[1] O termo utilizado no original, sojourner colonies, remete à classificação introduzida por A.
Grenfell Price em 1963 no livro The Western Invasions of the Pacific and Its Discontents. Na obra, citada
por Mills na nota 35 deste capítulo, Price critica a classificação das colônias em colônias de
povoamento ou de exploração. Em substituição, sugere critérios demográficos, de acordo com os
quais os colonizadores seriam classificados como “ocupantes migrantes” (migrant settlers) e
“peregrinos migrantes” (migrant sojourners). Os últimos estabeleceriam as colônias de peregrinos
(sojourner colonies), caracterizadas por grande população nativa subjugada — mas não eliminada — e
explorada pelos colonizadores. (N. T.)
[2] Personhood denota o caráter de ser uma pessoa. Mais adiante, o autor introduzirá a noção de
subpessoalidade, derivada da noção de pessoalidade. (N. T.)
[3] Na língua inglesa, esses termos são formas derrogatórias para se referir a diferentes grupos não
brancos. Dada a especificidade contextual de cada termo e, em muitos casos, a ausência de um
correlato em português, optamos por manter os termos originais. Nigger e injun, em particular, são
palavras repetidamente usadas no texto. A primeira, que se refere a pessoas negras, em alguns
trabalhos é traduzida como “neguinho” ou “crioulo”. Aqui, manteremos o original por entender
que as traduções não captam a ofensividade do termo nigger. Já a palavra injun é um termo antigo e
derrogatório usado para se referir às populações nativas dos Estados Unidos. No caso de brown,
preferimos “marrom” porque, a exemplo de “vermelho” e “amarelo”, encerra numa cor a
diversidade de grupos humanos racializados. Uma tradução alternativa seria “pardo”, designação
também cromática, mas que, no contexto brasileiro, é vinculada à ideia de mestiçagem, e não é
usada para se referir a grupos como os vietnamitas, indianos ou árabes. (N. T.)
[4] A solução de 60% se refere a um acordo estabelecido em 1787 segundo o qual, para fins de
contagem populacional, apenas 60% da população escravizada seria considerada. Posteriormente,
isso seria interpretado como se as pessoas escravizadas fossem apenas 60% humanas. (N. T.)
[5] Referência às Leis Jim Crow, um conjunto de leis estaduais e locais que impunham a segregação
racial em escolas, transporte público, instalações sanitárias etc. no Sul dos eua, aplicadas entre 1877
e 1964. O nome das leis veio da música “Jump Jim Crow”, cantada pelo ator Thomas Rice, que se
pintava de preto. Criou-se assim a expressão jim crow para se referir pejorativamente às pessoas
negras. (N. E.)
2. Detalhes
Isso nos dá uma visão geral. Vamos agora passar para um exame mais
minucioso dos detalhes e do funcionamento do contrato racial: sua
normatização do espaço e das (sub)pessoas, sua relação com o contrato
social “oficial” e os termos de sua execução.
O contrato racial normatiza (e racializa) o espaço, demarcando
espaços civis e selvagens
Uma vez que os africanos não podiam produzir nada de valor, a técnica da estatuária iorubá deve
ter vindo dos egípcios; a arte do Benin deve ser uma criação portuguesa; os feitos arquitetônicos
do Zimbábue foram obra de técnicos árabes; e o estadismo hauçá e buganda foram invenções de
invasores brancos.7
O mundo colonial é um mundo cindido em dois. […] A cidade dos colonizadores é uma cidade
de pessoas brancas, de estrangeiros […] [A cidade dos nativos] é uma cidade de niggers e árabes
sujos. […] Esse mundo dividido em compartimentos, esse mundo cindido em dois é habitado por
duas espécies diferentes.17
um pouco de Humanidade, além de sua forma, ignorante da Civilidade, das artes, da religião;
mais brutais que as bestas que eles caçam, mais selvagens e menos masculinos [do que] aquele
país selvagem não habitado, que eles ocupam em vez de habitar; cativados também pela tirania
de Satanás.42
uma das melhores razões pelas quais a Europa, se não a primeira a ser civilizada, tenha sido pelo
menos mais continuamente e mais bem civilizada que outras partes do mundo talvez seja o fato
de que ela é, ao mesmo tempo, a parte mais rica em ferro e a mais fértil para o trigo.
“Talento” é aquilo que, por “natureza”, garante para o “branco”, na ordem racial, racional e
moral de Kant, a posição mais elevada acima de todas as criaturas, seguido pelo “amarelo”, o
“preto” e depois o “vermelho”. A cor da pele, para Kant, é evidência de “talento” superior,
inferior ou de nenhum “dom”, ou a capacidade de desenvolver a razão e a perfectibilidade
racional-moral por meio da educação […]. Não se pode, portanto, argumentar que a cor da pele,
para Kant, era apenas uma característica física. É, antes, evidência de uma qualidade moral que
não muda nem pode ser mudada.
Após a vitória, houve represálias selvagens. Pela primeira vez em tal escala, mas não a última, o
Ocidente estava tentando sufocar o Oriente com medo. […] Alguns dos fatos que chegaram até
nós quase nos fazem descrer, mesmo depois dos horrores da própria história europeia do século
xx.92
O efeito de uma bomba cultural é aniquilar a crença de um povo em seus nomes, em suas
línguas, em seu ambiente, em sua herança de luta, em sua unidade, em suas capacidades e,
finalmente, em si mesmos. Isso faz com que eles vejam seu passado como um deserto de não
realização e os faz querer se distanciar desse deserto.104
Cabe entender o racismo como ideologia como algo que mira tanto a
mente dos não brancos quanto a dos brancos, inculcando a subjugação. Se
o contrato social exige que todos os cidadãos e pessoas aprendam a
respeitar a si mesmos e uns aos outros, o contrato racial prescreve
autoaversão e deferência racial não brancas aos cidadãos brancos. O
triunfo final dessa educação é que eventualmente se torna possível
caracterizar o contrato racial como “consensual” e “voluntarista”, mesmo
para os não brancos.
[1] Termos utilizados para designar, em cidades segregadas, as regiões habitadas por brancos e as
habitadas por não brancos. (N. T.)
[2] wasp é um acrônimo para White Anglo-Saxon Protestant, ou seja, Branco Anglo-Saxão Protestante.
(N. T.)
3. Méritos “naturalizados”
Pois se [um escritor da época] tivesse, de maneira consistente, considerado os índios como
pessoas com uma psicologia própria, isso teria derrubado seu mundo. Teria significado
reconhecer que “o estado de natureza” realmente abrigava pessoas de pleno direito e que tanto
ele quanto a querida “sociedade civil” haviam começado como invenções letais da imaginação
europeia.13
O debate sem dúvida continuará por muitas décadas. Mas, em uma nota
final, não parece inapropriado obter a opinião daquele conhecido teórico
moral e político Adolf Hitler (certamente um homem com algo de valor a
dizer sobre o assunto), que, olhando para o futuro em um discurso de
1932, “explicitamente localizou seu projeto Lebensraum na longa trajetória
de conquista racial europeia”.37 Como ele explicou ao seu público
presumivelmente atento, você não pode entender “a supremacia
economicamente privilegiada da raça branca sobre o resto do mundo”,
exceto relacionando-a a “um conceito político de supremacia que tem sido
peculiar à raça branca como um fenômeno natural de muitos séculos e
que ela tem defendido como tal para o mundo exterior”:
Veja, por exemplo, a Índia: a Inglaterra adquiriu a Índia não de maneira lícita e legítima, mas sem
levar em conta os desejos, pontos de vista ou declarações de direitos dos nativos […]. Assim
como Cortés ou Pizarro reivindicaram para si a América Central e os estados do norte da
América do Sul não com base em qualquer reivindicação legal, mas no sentimento absoluto e
inato de superioridade da raça branca. A ocupação do continente norte-americano foi, de modo
similar, consequência não de uma reivindicação superior em um sentido democrático ou
internacional, mas sim de uma consciência do que é certo, que tinha suas únicas raízes na
convicção da superioridade e, portanto, do direito da raça branca.
[1] Segundo Gates Jr. (ver nota 83 deste capítulo), Signifyi(g) é um modo de expressar, relacionar e
entender ideias que é parte fundamental da tradição literária negra norte-americana. Para ele:
“Signifyin(g) é um tropo no qual estão reunidos muitos outros tropos retóricos, incluindo metáfora,
metonímia, sinédoque e ironia (o tropo mestre), e também hipérbole, litotes e metalepse […]. A
essa lista poderíamos facilmente adicionar aporia, quiasmo e catacrese, sendo todas elas usadas no
ritual do Signifyin(g)” (The Signifying Monkey, p. 52).
Agradecimentos
C. W. M.
1997
Agradecimentos da edição comemorativa de 25 anos
[1] No original, color-blindness: termo em inglês para daltonismo, condição médica caracterizada
pela dificuldade de diferenciar certas cores. Apesar do uso corrente de color-blindness para se referir a
uma suposta postura de não discriminação racial, o termo é frequentemente criticado por conta da
patologização implicada em seu uso. (N. T.)
[2] No original, Africana philosophy: o termo, em geral, se refere tanto à filosofia africana quanto à
filosofia afro-diaspórica. (N. T.)
Notas
Prólogo
1. Esses primeiros ensaios podem ser encontrados em: Charles W. Mills, Blackness Visible. Ithaca:
Cornell University Press, 2015; e From Class to Race: Essays in White Marxism and Black Radicalism.
Washington D. C.: Rowman & Littlefield, 2003.
2. Alguns escritos importantes do movimento podem ser encontrados em: Kimble Crenshaw et al.
(Orgs.). Critical Race Theory: The Key Writings that Formed the Movement. Nova York: The New
Press, 1995.
3. Ver Tommie Shelby, “Racial Realities and Corrective Justice: A Reply to Charles Mills”. Critical
Philosophy of Race, v. 1, n. 2, pp. 145-62, 2013.
Prefácio
1. O livro Black Marxism: The Making of the Black Radical Tradition, de Cedric J. Robinson (Chapel
Hill: University of North Carolina Press, 2000), originalmente cunhou a frase, embora seu
conteúdo permaneça contestado.
2. Leonard Harris, Philosophy Born of Struggle: Anthology of Afro-American Philosophy from 1917.
Dubuque, Iowa: Kendall; Hunt, 1983.
3. John Rawls, A Theory of Justice: Revised Edition. Cambridge: Harvard University Press, 1999. [Ed.
bras.: Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2000.]
4. Kwame Anthony Appiah, In my Father’s House: Africa in the Philosophy of Culture. Oxford: Oxford
University Press, 1993. [Ed. bras.: Na casa de meu pai: A África na filosofia da cultura. Trad. de Vera
Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.]
5. Appiah, In my Father’s House, p. 40. Em trabalhos subsequentes, ele modificaria um pouco sua
posição original.
6. Lucius T. Outlaw, On Philosophy and Race. Londres: Routledge, 1996.
7. Charles W. Mills, Black Rights/White Wrongs: The Critique of Racial Liberalism. Oxford: Oxford
University Press, 2017.
8. Tommie Shelby, Dark Ghettos: Injustice, Dissent, and Reform. Cambridge: Harvard University Press,
2016.
9. Ver, por exemplo, Amy Baehr (Org.), Varieties of Feminist Liberalism (Washington D. C.: Rowman
& Littlefield Publishers, 2004); e Ruth Abbey, The Return of Feminist Liberalism (Londres:
Routledge, 2011).
10. Para uma discussão crítica sobre mim e Shelby, ver Shatema Threadcraft, Intimate Justice: The
Black Female Body and the Body Politic. Oxford: Oxford University Press, 2016.
11. Carole Pateman, The Sexual Contract. Palo Alto, Calif.: Stanford University Press, 1988. [Ed.
bras.: O contrato sexual. Trad. de Marta Avancini. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.]; Stacy
Clifford Simplican, The Capacity Contract: Intellectual Disability and the Question of Citizenship.
Minneapolis: University of Minnesota Press, 2015.
12. Para minhas próprias sugestões, ver minha Tanner Lecture de 2020, “Theorizing Racial Justice”,
a ser publicada em The Tanner Lectures on Human Values.
13. Michelle Goldberg, “The Campaign to Cancel Wokeness”. New York Times, 28 fev. 2021, SR, 3.
Introdução
1. Um relatório de 1994 sobre a filosofia americana, “Status and Future of the Profession”, revelou
que “apenas um departamento em vinte (28 dos 456 departamentos relatados) tem pelo menos
um afro-americano [com estabilidade] no corpo docente, com um pouco menos tendo
professores [com estabilidade] hispano-americanos ou asiático-americanos (dezessete
departamentos, em ambos os casos). Apenas sete departamentos têm algum docente [com
estabilidade] nativo americano” (Proceedings and Addresses of The American Philosophical Association,
v. 70, n. 2, p. 137, 1996).
2. Para uma visão geral, ver, por exemplo, Ernest Barker, Social Contract, Essays by Locke, Hume and
Rousseau (Oxford: Oxford University Press, 1960 [1947]); Michael H. Lessnoff, Social Contract,
Atlantic Highlands, N.J.: Humanities Press, 1986; Will Kymlicka, “The Social Contract
Tradition”. In: P. Singer (Org.). A Companion to Ethics, v. 186. Oxford: Blackwell Reference, 1991,
pp. 186-96; Jean Hampton, “Contract and Consent”. In: R. Goodin; P. Pettit (Orgs.). A Companion
to Contemporary Political Philosophy. Oxford: Blackwell Reference, 1993, pp. 379-93.
3. Os povos indígenas como um grupo global às vezes são chamados de “Quarto Mundo”. Ver
Roger Moody (Org.), The Indigenous Voice: Visions and Realities. 2. ed. Utrecht: International
Books, 1993 [1988].
4. Para uma exceção louvável, ver Iris Marion Young, Justice and the Politics of Difference (Princeton:
Princeton University Press, 1990). Young se concentra explicitamente nas implicações da
subordinação de grupo para as concepções-padrão de justiça, incluindo grupos raciais.
5. O crédito por reviver a teoria do contrato social e, de fato, da filosofia política pós-guerra em
geral é geralmente atribuído a John Rawls, A Theory of Justice: Revised Edition. Cambridge:
Harvard University Press, 1999.
6. Thomas Hobbes, Leviathan. In: Richard Tuck (Org.). Cambridge: Cambridge University Press,
1991 [Ed. bras.: Leviatã: Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. [S.l.]: LeBooks, 2019];
John Locke, Two Treatises of Government. In: Peter Laslett (Org.). Cambridge: Cambridge
University Press, 1988 [1960] [Ed. bras.: Dois tratados do governo civil. São Paulo: Leya, 2019]; Jean-
Jacques Rousseau, Discourse on the Origins and Foundations of Inequality Among Men. Nova York:
Penguin Putnam Books, 1984 [Ed. bras.: Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens. São Paulo: Leya, 2020]; Rousseau, The Social Contract. Londres: Penguin, 1968
[Ed. bras.: Do contrato social ou princípios do direito político. São Paulo: Companhia das Letras,
2011]; Immanuel Kant, The Metaphysics of Morals. Cambridge: Cambridge University Press, 1991
[Ed. bras.: Metafísica dos costumes: Contendo a doutrina do direito e a doutrina da virtude. Bauru:
Edipro, 2020].
7. Em “Contract and Consent”, p. 382, Jean Hampton nos lembra que, para os teóricos clássicos, o
contrato se destina “simultaneamente a descrever a natureza das sociedades políticas e a
prescrever uma forma nova e mais defensável para tais sociedades”. Nesse ensaio, e também em
“The Contractarian Explanation of the State” (in: Peter French, Theodore E. Uehling Jr. e
Howard K. Wettstein, The Philosophy of the Human Sciences, Midwest Studies in Philosophy. Notre
Dame, Ind.: University of Notre Dame Press, 1990, pp. 344-71), ela argumenta explicitamente por
um renascimento da antiga e aparentemente desacreditada “explicação contratualista do Estado”.
Hampton ressalta que as imagens do “contrato” captam o ponto essencial de que “sociedades
políticas autênticas são criações humanas” (não ordenadas divinamente ou determinadas
naturalmente) e “convencionalmente geradas”.
8. Rousseau, Discourse on Inequality, parte 2.
9. Carole Pateman, The Sexual Contract. Palo Alto, Cal.: Stanford University Press, 1988. Uma
diferença entre nossas abordagens é que Pateman pensa que o contratualismo é necessariamente
opressivo — “O contrato sempre gera direito político na forma de relações de dominação e
subordinação” (p. 8) —, enquanto eu vejo a dominação, na teoria dos contratos, como mais
contingente. Para mim, em outras palavras, um contrato racial não teve que sustentar o contrato
social. Pelo contrário, esse contrato é o resultado da conjunção particular de circunstâncias na
história global que levou ao imperialismo europeu. E, como corolário, acredito que a teoria do
contrato pode ser usada de modo positivo, uma vez que essa história oculta seja reconhecida,
embora eu não desenvolva aqui esse programa. Para um exemplo de contratualismo feminista
que contrasta com a avaliação negativa de Pateman, ver Susan Moller Okin, Justice, Gender, and
the Family. Nova York: Basic Books, 1989.
10. Ver, por exemplo, Paul Thagard, Conceptual Revolutions. Princeton: Princeton University Press,
1992, p. 22.
11. Ver Hampton, “Contract and Consent” e “Contractarian Explanation”. O foco de Hampton é o
estado liberal-democrático; mas obviamente sua estratégia de empregar o “contrato” para
conceituar normas e práticas convencionalmente geradas está aberta para ser adaptada à
compreensão do estado racial não liberal-democrático; a diferença é que “o povo” agora se torna
a população branca.
1. Visão geral
1. Susan Moller Okin, Women in Western Political Thought. Princeton: Princeton University Press,
1992 [1979].
2. Para Hume, ver a edição de 1753-54 de seu ensaio “Of National Characters”, apud, por exemplo,
Jordan, White over Black, p. 253; para Georg Wilhelm Friedrich Hegel, ver a introdução a
Philosophy of History. Nova York: Dover, 1956, pp. 91-9 [Ed. bras.: Filosofia da história. Editora da
UnB, 1999]. Para uma crítica detalhada de Locke e Mill em particular e seu “liberalismo
colonial”, ver Bhikhu Parekh, “Decolonizing Liberalism”. In: Alexander Shtromas (Org.). The End
of “Isms”?: Reflections on the Fate of Ideological Politics after Communism’s Collapse. Cambridge, Mass.:
Blackwell, 1994, pp. 85-103; e Bhikhu Parekh, “Liberalism and Colonialism: A Critique of Locke
and Mill”. In: Jan Neverdeen Pieterse e Bhikhu Parekh (Orgs.). The Decolonization of Imagination:
Culture, Knowledge and Power. Londres: Zed Books, 1995, pp. 81-98.
3. Para ser justo com Mill, ele tem uma famosa correspondência com Thomas Carlyle sobre o
tratamento dos negros nas Índias Ocidentais Britânicas na qual sai em defesa de políticas sociais
“progressistas” (relativamente, claro). Ver Thomas Carlyle: The Nigger Question; John Stuart Mill:
The Negro Question. In: Eugene R. August (Org.). Nova York: Appleton-Century-Crofts, Crofts
Classics, 1971. Mas a diferença é basicamente entre políticas coloniais menos e mais humanas; o
próprio colonialismo como um sistema político-econômico de exploração não está sendo
desafiado.
4. Alvin I. Goldman, “Ethics and Cognitive Science”. Ethics, n. 103, pp. 337-60, 1993. Para ler mais
sobre o diálogo entre os dois, ver Larry May, Marilyn Friedman e Andy Clark (Orgs.), Minds and
Morals: Essays on Ethics and Cognitive Science. Cambridge: mit Press, 1996.
5. Cf. Frankenberg, White Women, que distingue entre o antigo discurso do racismo essencialista,
“com sua ênfase na diferença de raça entendida em termos hierárquicos de desigualdade
biológica essencial”, e o discurso atual de “mesmice” essencial, “daltonismo”, uma linguagem
“evasiva de cor e poder” que afirma que “somos todos iguais sob a pele”, que, ao ignorar as
“dimensões estruturais e institucionais do racismo”, implica que “materialmente, temos as
mesmas chances na sociedade dos Estados Unidos”, de modo que “qualquer falha em alcançar
realizações é, portanto, culpa das próprias pessoas de cor” (pp. 14, 139).
6. Por exemplo, Donald Kinder e Lynn Sanders concluem em sua análise das atitudes americanas
em relação à raça que, em muitas questões de políticas públicas, “o interesse próprio [individual]
acaba sendo bem desimportante”. O que importa são os interesses do grupo, “interesses que são
coletivos, e não pessoais”, envolvendo percepções de privação como relativas, “baseadas menos
em condições objetivas e mais em comparação social”, ou seja, a noção de “desvantagem relativa
do grupo”. E as raças, por fim, são o grupo social mais importante, já que a raça “cria divisões
mais notáveis do que qualquer outra na vida americana”: “Na medida em que os interesses
aparecem proeminentemente na opinião branca sobre raça, é através das ameaças que os negros
parecem representar para o bem-estar coletivo dos brancos, e não para seu bem-estar pessoal”
(Divided by Color, pp. 262-4, 252, 85).
7. Susan V. Opotow (Org.), “Moral Exclusion and Injustice”. Journal of Social Issues, v. 1, n. 46, 1990,
número especial, apud Wilmer, Indigenous Voice.
8. Ver, para uma discussão, Cheryl I. Harris, “Whiteness as Property”. Harvard Law Review, n. 106,
pp. 1709-91, 1993; e Welchman, “Locke on Slavery”.
9. Considere a “etiqueta racial” do Velho Sul, conforme documentado no livro de John Dollard
(Caste and Class in a Southern Town. 3. ed. Nova York: Doubleday Anchor, 1957 [1937]) e
explorado, digamos, nos romances de William Faulkner; Richard Wright, “The Ethics of Living
Jim Crow”, 1937. In: Henry Louis Gates Jr. (Org.). Bearing Witness: Selections from African-American
Autobiography in the Twentieth Century. Nova York: Pantheon Books, 1991, pp. 39-51.
10. Kiernan cita a opinião de muitos brancos sobre a escravidão, de que “os negros têm nervos
muito mais adormecidos e são menos suscetíveis à dor do que os europeus” (Lords, p. 199).
11. Ralph Ellison, Invisible Man. Nova York: Vintage Books, 1972 [1952], pp. 3, 14. [Ed. bras.: Homem
invisível. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.]
12. Baldwin, Nobody Knows, p. 172; The Fire Next Time. Nova York: Vintage International, 1993
[1963], pp. 53-4. [Ed. bras.: Da próxima vez o fogo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.]
13. Drinnon, Facing West, pp. 138-9.
14. W. E. H. Stanner, After the Dreaming. Sydney: Boyer Lectures, 1968, p. 25, apud Hartwig,
“Aborigines and Racism”. In: Stevens, Racism 2, v. 10.
15. Gordon, Bad Faith, pp. 8, 75, 87.
16. David Stannard, American Holocaust. A resposta-padrão a essa acusação é afirmar que a grande
maioria dos nativos americanos foi realmente morta por doenças, e não por guerra ou maus-
tratos gerais. Stannard responde que: nenhuma evidência factual foi apresentada para apoiar essa
alegação-padrão, e, mesmo que fosse verdade, a culpabilidade ainda permaneceria, na mesma
linha que consideramos os nazistas moralmente responsáveis pelas mortes de judeus por
doenças, desnutrição e excesso de trabalho nos guetos e nos campos. Alguns estudiosos estimam
que mais de 2 milhões de judeus realmente morreram por essas causas, em vez de por gás ou
tiro. Ver, por exemplo, Raul Hilberg, The Destruction of the European Jews (3 v. Ed. rev. e definitiva.
Nova York: Holmes and Meier, 1985); e Arno J. Mayer, Why did the Heavens not Darken? The “Final
Solution” in History, com novo prólogo (Nova York: Pantheon, 1990 [1988]). No entanto, é claro
que — como deveríamos — atribuímos a culpa por essas mortes à política nazista, como, em
última análise, causalmente responsável. Para posições opostas nesse debate muitas vezes
raivoso, ver David E. Stannard (“Uniqueness as Denial: The Politics of Genocide Scholarship”),
em que esses pontos são apresentados e essas fontes, citadas, e Steven T. Katz (“The Uniqueness
of the Holocaust: The Historical Dimension”), ambos em: Alan S. Rosenbaum (Org.). Is the
Holocaust Unique? Perspectives on Comparative Genocide. Boulder, Colo.: Westview Press, 1996, pp.
163-208 e 19-38. Ver também Tzvetan Todorov, The Conquest of America: The Question of the Other.
Nova York: Harper and Row, 1984 [1982], esp. cap. 3, “Love”, pp. 127-82.
17. Drinnon, Facing West, p. 199.
18. Ver Stannard, American Holocaust, pp. 317-8.
19. Edmund Dene Morel, The Black Man’s Burden: The White Man in Africa from the Fifteenth Century
to World War i. Nova York: Monthly Review Press, 1969 [1920]. A mesma estimativa é dada por
Jan Vansina, professor emérito de história e antropologia da University of Wisconsin.
20. Stannard, American Holocaust, p. 121. Jonathan Swift, em As Viagens de Gulliver (1726), faz seu
protagonista produzir sapatos e uma canoa com a pele dos subumanos/humanos yahoos da
parte 4 (eles mesmos baseados nos “hotentotes”, o povo khoi-khoi da África do Sul). A vela da
canoa era “igualmente composta pelas peles do mesmo animal; mas eu usei o mais novo que
consegui, sendo o mais velho muito duro e grosso” (Gulliver’s Travels. Nova York: Oxford
University Press, 1977, p. 284 [Ed. bras.: As Viagens de Gulliver. São Paulo: Principis, 2020]).
21. Clive Turnbull, “Tasmania: The Ultimate Solution”. In: Stevens, Racism, 2, pp. 228-34.
22. Dower, War without Mercy, cap. 3, “War Hates and War Crimes”, pp. 33-73.
23. C. L. R. James, The Black Jacobins: Toussaint L’Ouverture and the San Domingo Revolution, 2. ed.
Nova York: Vintage Books, 1963 [1938], pp. 12-3. [Ed. bras.: Os jacobinos negros: Toussaint
L’Ouverture e a revolução de São Domingos. Trad. de Afonso Texeira Filho. São Paulo: Boitempo,
2000.]
24. Ida B. Wells-Barnett, On Lynchings. Nova York: Arno Press, 1969; Ginzburg, 100 Years.
25. Daniel R. Headrick, The Tools of Empire: Technology and European Imperialism in the Nineteenth
Century. Nova York: Oxford University Press, 1981, pp. 102-3. A bala recebeu esse nome porque
foi elaborada em uma fábrica britânica em Dum-Dum, nos arredores de Calcutá.
26. Sven Lindqvist, Exterminate All the Brutes. Nova York: New Press, 1996 [1992], pp. 36-69 [Ed.
port.: Exterminem todos dos brutos. Lisboa: Caminho, 2022]; ver também Ellis, Machine Gun, cap. 4,
“Making the Map Red”, pp. 79-109. Lindqvist ressalta (p. 46) que mais de 16 mil sudaneses foram
feridos na “batalha”, e poucos ou nenhum deles sobreviveu, sendo sumariamente executados em
seguida.
27. Dower, War without Mercy, pp. 37-8.
28. Hilberg, Destruction of the European Jews; Ian Hancock, “Responses to the Porrajmos: The
Romani Holocaust”. In: Rosenbaum, Holocaust, pp. 39-64; Christopher Simpson, Blowback:
America’s Recruitment of Nazis and its Effects on the Cold War. Nova York: Weidenfeld & Nicolson,
1988, cap. 2, “Slaughter on the Eastern Front”, pp. 12-26.
29. Apud Michael Bilton e Kevin Sim, Four Hours in My Lai. Nova York: Penguin, 1992, p. 336. Um
popular grafite de Saigon da época era “Mate um gook [termo derrogatório para vietnamita], por
Calley”, e telegramas para a Casa Branca a seu favor eram na proporção de cem para um.
Também havia uma canção de sucesso em sua homenagem: “O hino de batalha do tenente
Calley” (Four Hours, pp. 338-40). Para a Argélia, ver Fanon, The Wretched of the Earth; e Rita
Rudges Maran, Torture During the French-Algerian War. Nova York: Praeger, 1989. A conclusão de
Maran é que o uso generalizado da tortura pelas tropas francesas (em violação à lei francesa) foi
possibilitado pela missão civilizadora, uma vez que, afinal, a civilização ocidental estava em jogo.
No Vietnã, em contraste, as tropas americanas que cometeram atrocidades simplesmente
apelaram para o princípio moral bem estabelecido da R. M. G.: a “regra do mero gook” (Ver
Drinnon, Facing West, pp. 454-9).
30. Mayer, Why Did the Heavens?, pp. 15-6. Mayer está relatando, mas sem endossar, essa visão, já que
sua própria explicação procura localizar o “Judeocídio” no contexto do anticomunismo de Hitler
e da extrema violência na Europa durante e após a Primeira Guerra. Sua explicação é puramente
internalista, saltando três séculos da Guerra dos Trinta Anos (1618-48) para o rescaldo da
Primeira Guerra, sem prestar atenção à violência racial infligida pela Europa à não Europa nesse
ínterim. Mas, em nosso próprio século, pouco antes da Primeira Guerra Mundial, havia os
exemplos do holocausto perpetrado pela Bélgica no Congo e o genocídio dos hereros pelos
próprios alemães após a revolta de 1904.
31. Simpson, Blowback, p. 5.
32. Aimé Césaire, Discourse on Colonialism. Nova York: Monthly Review Press, 1972 [1955]. [Ed.
bras.: Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta, 2020.]
33. Kiernan, Imperialism, p. 101.
34. Robert Harris, Fatherland. Nova York: Harper Paperbacks, 1993 [1992]. [Ed. bras.: Pátria amada.
Rio de Janeiro: Record, 1993.]
35. Bartolomé de Las Casas, The Devastation of the Indies: A Brief Account. Nova York: Seabury Press,
1974. [Ed. Bras.: O paraíso destruído: Brevíssima relação da destruição das Índias. Porto Alegre: l&pm,
2021.]
36. Stannard, American Holocaust; Brun Höfer, Heinz Dieterich e Klaus Meyer (Orgs.), Das
Fünf hundert-jährige Reich. Médico International, 1990; Lindqvist, “Exterminate All the Brutes”,
pp. 160, 172.
37. Norman G. Finkelstein, Image and reality of the Israel-Palestine conflict. Londres: Verso, 1995, p. 93.
38. Adolf Hitler, discurso de 1932. In: Max Domarus (Org.). Hitler: Speeches and Proclamations, 1932-
1945, v. 1: The Years 1932 to 1934. Wauconda, Ill.: Bolchazy-Carducci, 1990 [1962], p. 96. Devo essa
referência a Finkelstein, Image and Reality, pp. 93-4. Finkelstein ressalta que muitos dos biógrafos
de Hitler enfatizam a frequência com que ele invocou como um modelo louvável a ser emulado
o bem-sucedido extermínio norte-americano dos “selvagens vermelhos”.
39. Locke, Second Treatise, pp. 346-9.
40. David Hume, “Of the Original Contract”, 1748, publicado em antologias como, por exemplo,
Barker, Social Contract, pp. 147-66.
41. Agora existe uma revista americana com o título Race Traitor: A Journal of the New Abolitionism
[Traidor da Raça: Uma Revista do Novo Abolicionismo]. Para uma coleção de artigos da revista,
consulte Noel Ignatiev e John Garvey, Race Traitor. Nova York: Routledge, 1996.
42. Maran, Torture, p. 125, n. 30.
43. O slogan da Race Traitor.
44. Apud Drinnon, Facing West, p. 163, do romancista americano do século xix Robert Montgomery
Bird.
45. Chomsky, Year 501, p. 31.
46. Roger Moody, “Introdução” (da primeira edição). Indigenous Voice, p. xxix.
47. Bilton e Sim, Four Hours, pp. 135-41, 176-7, 204-5.
48. W. E. B. Du Bois, The Souls of Black Folk. Nova York: New American Library, 1982 [1903]. [Ed.
bras.: As almas do povo negro. São Paulo: Veneta, 2021.]
49. Touro Sentado, apud Moody, Indigenous Voice, p. 355; Churchill, Fantasies; David Walker, Appeal
to the Coloured Citizens of the World. Baltimore, Md.: Black Classic Press, 1993, pp. 33, 48; Du Bois,
Souls, pp. 122, 225; Du Bois, “The Souls of White Folk”. In: David L. Lewis. Du Bois, W. E. B.: A
Reader. Nova York: Henry Holt, 1995, p. 456; Richard Wright, “The Ethics of Living Jim Crow”;
Marcus Garvey in: Amy Jacques-Garvey (Org.). The Philosophy and Opinions of Marcus Garvey. v. 1
e 2. Nova York: Atheneum 1923-25 [1992]; Jawaharlal Nehru, The Discovery of India. Nova York:
Anchor Books, 1959 [1946], apud Chomsky, Year 501, p. 20; Martin Luther King Jr., Why We Can’t
Wait. Nova York: Mentor, 1964 [1963], p. 82; Malcolm X, discurso em 8 abr. 1964 sobre
“Revolução Negra”. In: Fred Lee Hord (Mzee Lasana Okpara) e Jonathan Scott Lee (Orgs.). I Am
Because We Are: Readings in Black Philosophy. Amherst: University of Massachusetts Press, 1995, pp.
277-8; Fanon, Wretched, pp. 40-2; Césaire, Discourse, pp. 20-1; “Statement of Protest”. In: Moody,
Indigenous Voice, p. 360.
50. “Knox foi uma figura influente no desenvolvimento da ‘ciência racial’ britânica — talvez a mais
influente em meados do século —, que Darwin cita com respeito, se não com aprovação
absoluta” (Patrick Brantlinger, “‘Dying Races’: Rationalizing Genocide in the Nineteenth
Century”. In: Pieterse e Parekh, The Decolonization of Imagination, p. 47.
51. Lindqvist, “Exterminate”, partes 2 e 4; e Brantlinger, “Dying Races”.
52. Apud Cook, Colonial Encounters, p. 1.
53. Kiernan, Imperialism, p. 146. Ver também Okihiro, cap. 5, “Perils of the Body and Mind”. In:
Margins and Mainstreams, pp. 118-47.
54. Kiernan, Lords, pp. 171, 237.
55. Madison Grant, The Passing of the Great Race, or, The Racial Basis of European History. Nova York:
Scribner’s, 1916; Lothrop Stoddard, The Rising Tide of Color Against White World Supremacy. Nova
York: Scribner, 1920. Para a discussão sobre isso, ver Thomas F. Gossett, Race: The History of an
Idea in America (Nova York: Schocken, 1965 [1963], cap. 15). Gossett ressalta que o livro de
Stoddard aparece em O grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, disfarçado como The Rise of the
Colored Empires.
56. Kiernan, Lords, p. 27.
57. Apud Dower, War without Mercy, p. 160.
58. Kiernan, Lords, pp. 319-20.
59. Ibid., p. 69.
60. Drinnon, Facing West, pp. 313-4.
61. Dower, War without Mercy, pp. 173-8.
62. Okihiro, “Perils”, pp. 133, 129.
63. W. E. B. Du Bois, “To the Nations of the World” e “The Negro Problems” (1915), ambos in
Lewis, Du Bois, pp. 639, 48.
64. Richard Wright, The Color Curtain: A Report on the Bandung Conference. Jackson: University Press
of Mississippi, 1994 [1956].
65. Ver Moody, Indigenous Voice, pp. 498-505.
66. Leon Poliakov, The Aryan Myth: A History of Racist and Nationalist Ideas in Europe. Nova York:
Basic Books, 1974 [1971], p. 5.
67. Douglass, Narrative, p. 107.
68. Baldwin, Nobody Knows, pp. 67-8.
69. Ver Eric R. Wolf, Europe and the People without History. Berkeley: University of California Press,
1982.
70. Young, White Mythologies.
71. Ver, por exemplo, A Vindication of the African Race (1857), de Edward Blyden.
72. Ver Russell et al., The Color Complex.
73. Para a longa história da evasão sistemática da raça pelos teóricos mais famosos da cultura
política americana, ver Rogers M. Smith, “Beyond Tocqueville, Myrdal, and Hartz: The Multiple
Traditions in America”. American Political Science Review, n. 87, pp. 549-66, 1993. Smith ressalta
(pp. 557-8) que “o efeito cumulativo dessas falhas persistentes em estabelecer o padrão completo
de exclusão cívica tem sido tornar muito fácil para os estudiosos concluírem que a inclusão
igualitária é a norma”, enquanto “as exceções obviamente têm grande pretensão de se
classificarem como normas rivais”.
74. Ou pelo menos minha versão preferida faz isso. Como mencionado anteriormente, versões
racistas do “contrato racial” são possíveis; essas tomariam os brancos por seres intrinsecamente
exploradores que são biologicamente motivados a estabelecer o contrato.
75. Para trabalhos representativos em teoria jurídica, a casa original do termo, ver Delgado, Critical
Race Theory; e Kimberlé Crenshaw et al. (Orgs.), Critical Race Theory: The Key Writings That
Formed the Movement. Nova York: New Press, 1995. No entanto, agora o termo está começando a
ser usado de forma mais ampla.
76. Apud Dower, War without Mercy, p. 161.
77. Artigo do Boston Globe, do historiador japonês Herbert Bix, 19 abr. 1992, apud Chomsky, Year
501, p. 239. Ver também James Yin, Shi Young e Ron Dorfman, The Rape of Nanking: An Undeniable
History in Photographs. Chicago: Innovative Publishing Group, 1996.
78. Dower, War without Mercy, cap. 10, “Global Policy with the Yamato Race as Nucleus”, pp. 262-
90.
79. Para uma crítica a partir da esquerda, veja, por exemplo, David Harvey, The Condition of
Postmodernity: An Enquiry into the Origins of Cultural Change. Oxford: Basil Blackwell, 1990. [Ed.
bras.: Condição pós-moderna: Uma pesquisa sobre a origem das mudanças culturais. São Paulo: Loyola,
1992.]
80. Jurgen Habermas, The Philosophical Discourse of Modernity: Twelve Lectures. Cambridge: mit Press,
1987. [Ed. bras.: O discurso filosófico da modernidade: Doze lições. São Paulo: Martins Fontes, 2000.]
Para críticas, ver, por exemplo, Dussel, Invention of the Americas; e Outlaw, “Life-Worlds,
Modernity, and Philosophical Praxis”.
81. O’Neill, “Justice”.
82. Richard R. Wright Jr. (não o romancista), “What Does the Negro Want in Our Democracy?”. In:
Herbert Aptheker (Org.). A Documentary History of the Negro People in the United States, v. 3: 1910-
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sam alcoff
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil
em 2009.
Título original
The Racial Contract
Capa
Alceu Chiesorin Nunes + Felipe Sabatini e Nina Farkas/ Gabinete Gráfico
Imagem de capa
Gordon Parks/ Heritage/ Easypix Brasil
Preparação
Angela Vianna
Revisão
Bonie Santos
Julian F. Guimarães
Versão digital
Rafael Alt
isbn 978-65-5979-137-8