Os Grandes Projetos E A Economia Regional: 1. Introdução
Os Grandes Projetos E A Economia Regional: 1. Introdução
Os Grandes Projetos E A Economia Regional: 1. Introdução
1. INTRODUÇÃO
Os grandes projetos são empreendimentos econômicos voltados para a exploração dos
recursos naturais da Amazônia e se caracterizam pela grandiosidade das construções, pela
quantidade de mão-de-obra neles empregada e pelo volume de capital investido. Além disso, são
projetos que utilizam tecnologia avançada e exigem uma infraestrutura constituída de portos,
ferrovias, energia elétrica, aeroportos, núcleos urbanos e etc.., para dar apoio ao desenvolvimento
dos mesmos.
Esses projetos são considerados verdadeiros “enclaves” na região, pois estão dissociados do
contexto local, são planejados fora da sua área de atuação e muito distante dos interesses e
necessidades da população local.
Que motivos levaram a região amazônica a despertar interesse do Governo e de grandes
empresas para ser o local de instalação dos Grandes Projetos?
O primeiro deles foi o de poder dispor de imensas áreas de terras, o que significa a
possibilidade de utilização do espaço para a instalação desses projetos e da infraestrutura moderna
que eles exigem para o seu funcionamento. Outro motivo foi o de poder contar com as riquezas
naturais existentes em abundância na Amazônia, bem como o apoio do Governo Federal para
implantação desses empreendimentos.
Com essas facilidades, os Grandes Projetos começaram a ser implantados na Amazônia, a
partir da década de 50.
2. PRIMEIROS PROJETOS:
a. O Projeto Manganês (Serra do Navio – Amapá)
A exploração do manganês da Serra do
Navio começou na década de 50, controlada pela
Indústria e Comércio de Mineração S.A. (ICOMI), um
consórcio entre a americana Bethlehem Steel e a
nacional Caemi (empresa do Grupo Azevedo
Antunes). Para viabilizar a exportação do minério a
Icomi construiu a E. F. Amapá e o porto de Santana.
No início da década de 70, os altos preços do minério
no mercado internacional e o esgotamento das
reservas de alto teor metálico levaram a Icomi a
construir também uma usina de pelotização (usina de
separação e agregação de minérios incrustados nas
rochas) de manganês na região.
Em quatro décadas de atividade, a Icomi
extraiu e exportou a totalidade do minério de alto teor metálico que aflorava na superfície e mais da
metade do total da reserva. Os altos custos de exploração do minério restante e a queda recente dos
preços no mercado internacional fizeram com que a Bethlehem Steel abandonasse o consórcio.
Atualmente, a Icomi direciona seus investimentos para a extração, beneficiamento e
( C Prep MAUSS – continuação sobre os Grandes Projetos e a Economia Regional..........................Fl 2 de 7 )
desenvolvido em 1966 pela Codim, uma subsidiária da transnacional Union Carbide. A descoberta de
importantes jazidas de manganês motivou uma outra transnacional do setor, a United States Steel –
através de uma subsidiária, a Companhia Meridional de Mineração –, a iniciar um amplo trabalho de
pesquisa na região. O resultado foi a descoberta de um imenso potencial mineral que inclui a maior
concentração de minério de ferro de alto teor do mundo, além de importantes reservas de alumínio,
cobre, níquel e estanho.
Em 1970 foi criada a Amazônia Mineração S.A. (Amza), fruto de uma aliança entre
capitais estatais e transnacionais com vista à exploração e exportação de ferro de Carajás. A ex-
estatal Companhia Vale do Rio Doce controlava 50,9% das ações da empresa; a Companhia
Meridional de Mineração detinha os 49,1% restante. O negocio foi desfeito sete anos depois: os
baixos preços no mercado internacional desestimularam a United States Steel a participar do
programa de investimentos necessário a exportação de ferro. Mediante a uma indenização de 50
milhões de dólares, a CVRD tornou-se a única empresa participante do Projeto Ferro Carajás.
No final da década de 70 a CVRD divulgou o documento Amazônia Oriental — Um
projeto nacional de exportação, cujo conteúdo era uma proposta de exploração global dos recursos
da região. O documento delimitou a área de atuação do Projeto Grande Carajás.
O Projeto Ferro Carajás foi a ponta de lança desse amplo programa. A CVRD construiu
e opera a Estrada de Ferro Carajás (EFC), que liga as regiões produtora do minério a São Luís, no
Maranhão, numa distância de 890 km. À Portobrás coube a construção do Porto de Ponta da
Madeira, em São Luís, capaz de receber graneleiros de até 280 mil toneladas de porte. O projeto de
exploração de ferro, gerenciado pelo capital estatal, foi incumbido de criara um “corredor de
exportação” que atendesse também aos projetos privados interessados em se estabelecer na região.
Atualmente, Carajás produz mais de 35 milhões de toneladas por ano. Um consócio japonês liderado
pela Mitsui Steel é o principal comprador dessa produção.
O Programa Grande Carajás tem um impacto profundo na organização do espaço
regional em todo sul do Estado do Pará e o este do Maranhão. Os vultosos investimentos estatais e
privados, realizados em áreas de conflitos de terras envolvendo fazendeiros, madeireiras, posseiros e
índios, adquiriram um caráter estratégico. Ao longo da ferrovia, foram criados núcleos urbanos que
gravitam em torno das atividades de mineração, industrialização e transporte. O imenso território
englobado pelo Programa e os espaços adjacentes, polarizados por ele, foram submetidos a uma
gestão baseada em critérios logísticos. Carajás não é apenas um empreendimento econômico de
exportação, mas também uma operação geopolítica de controle e estabilização de um espaço
geográfico de conflitos.
2) Projeto Trombetas
A bauxita da Serra de Oriximiná, no
Vale do Rio Trombetas, foi descoberta em 1966, pela
Alcan, empresa canadense que está entre as seis
grandes corporações mundiais do alumínio. Nos
anos 70, o projeto de exploração do minério foi
acelerado como reação aos esforços dos países
exportadores, liderados pela Jamaica, para aumentar
os preços internacionais do produto. O Brasil que
não participava de associações dos países produtores de bauxita, tornava-se assim um elemento-
( C Prep MAUSS – continuação sobre os Grandes Projetos e a Economia Regional..........................Fl 5 de 7 )
natura, com baixa geração de empregos e, portanto, de renda. A exportação do minério in natura
serve para alimentar fábricas fora do país (Japão, EUA e Alemanha), beneficiando assim outras
economias.
Todavia, o trem de Carajás tornou-se uma ameaça para antigos posseiros e para a população
indígena do Pará e do Maranhão. Ao atrair para as áreas por ele percorridas um número ainda maior
de migrantes e empresários, a ferrovia contribuiu para intensificar a disputa pela terra, já violenta no
sudeste do Pará, Bico do Papagaio e sudoeste do Maranhão.
O Projeto Ferro Carajás da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a EFC vêm colocando em
risco as terras e a sobrevivência dos índios em sua área de influência. A demarcação de suas áreas
indígenas — principal meta do convênio assinado pela CVRD e pala fundação nacional do índio
(Funai), atendendo uma exigência do Banco Mundial — não se completaram.
Muitos foram os conflitos envolvendo comunidades indígenas. Em 27 de março de 1987, por
exemplo, um grupo de índios gavião, cujas terras tinham sido ocupadas por numerosos imigrantes,
bloqueou a Estrada de Ferro Carajás. O protesto era contra o Grupo Executivo de Terras do Araguaia-
Tocantins (Getat), que tinha assinado mais de 38 títulos para colonos em terras indígenas. O conflito
durou cerca de cinco anos.
As reservas indígenas tem sido freqüentemente invadidas. No Maranhão, onde as matas já
estão quase todas extintas, madeireiros inescrupulosos instigam posseiros a invadir terras indígenas,
para roubar madeira. As populações dessas reservas muitas das vezes enfrentam fortes surtos de
malária e hepatite, doenças trazidas pelos posseiros, madeireiros e garimpeiros. No caso do
Maranhão, a tribo mais ameaçada, entretanto, é a dos guajás, índios nômades do Maranhão que
sobrevivem da coleta, da pesca e da caça, e precisam de grandes espaços para viver.
FONTE: http://www.suframa.gov.br/