Pedagogias Brasileiras em Educação Musical
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Heitor Villa-Lobos
Antônio de Sá Pereira
Liddy Chiaffarelli Mignone
Gazzi Galvão de Sá
Hans-Ioachim Koellreutter
Esther Scliar
Iosé Eduardo Gramani
Lucas Ciavatta
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Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-443-0230-9
15-05585 CDD-371.9
1* edição, 2016.
Foi feito o depósito legal.
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Ideias, 185
7.1 “O entrelaçar significa”, 185
Vida e obra, 187
7.2 “Além de Olinda ainda se encontra quem renda tece
uma formação não convencional, 187
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Fiquei muito emocionada com o convite das educa- Teresa e Beatriz por realizarem este livro, convidando
doras Teresa Mateiro e Beatriz Ilari para escrever o estudiosos da área a escreverem sobre as pedagogias
prefácio do livro Pedagogias brasileiras em educação brasileiras em educação musical e as influências dos
musical. Não sendo mestra nem doutora na área de pioneiros que criaram metodologias e propostas para
educação musical, imaginei qual seria a razão do a formação dos educadores musicais no país.
convite. Talvez eu tenha sido chamada por ser uma Gostaria de frisar que este prefácio ê, acima de
educadora musical que não escolheu a escrita como tudo, uma conversa - como se estivesse contando
forma de expressão, mas que esteve sempre ansiosa histórias, fatos e comentários da vivência que o
no fazer, no realizar, no criar e no improvisar em tempo de minha existência permite passar para os
vários caminhos em que a música pudesse permitir educadores. Ao ler Pedagogias brasileiras em educação
alguma colaboração para a sociedade e a educação. musical, tão rico e necessário para a compreensão
Apesar de não ter o hábito de escrever, sempre incen- do processo histórico de formação dos educadores
tivei meus alunos a fazê-lo. Parabéns ãs educadoras musicais brasileiros, ousei propor um diálogo ou um
tes, sonoridades diversas e muitas discussões, des- tante lembrar que, nessa época, o conhecimento se
pertar diferentes pensamentos nos músicos e sonhar dava por meio da leitura e da escuta.
com um ensino de música de qualidade. Os debates Na década de 1930, havia no país o anseio por
eram um hábito da epoca, dinâmica que provocava o uma educação pública de excelência. Anísio Teixeira,
pensamento dialético, fez surgir então uma proposta grande pedagogo preocupado com a população mais
mais interdisciplinar de educação musical. pobre, criou as escolas-parque, que funcionavam em
Em 1937, com 5 anos de idade, iniciei as aulas do horário integral - na parte da manhã, eram ofere-
curso de Iniciação Musical com Antônio de Sá Pereira cidas as disciplinas normais da educação básica e,
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à tarde, as atividades artísticas. Infelizmente, a partir
1 Us outros quatro fundadores foram Roberta Gonçalves, professora de piano e
Teoria Musical; Rossini de Freitas, pianista e professor de piano; Antonieta de Souza, do final da década de 1960, essas instituições foram
cantora e professora de Canto; e o musicoiogo Aires de Andrade. fechadas. Com a ditadura que teve início em 1964,
Í' Mas voltemos à década de 1930: foi nessa época que, É bom frisar que o pesquisador e educador Gabriel
em certa ocasião, quando estudava no Instituto de Ferraz cita: “Villa-Lobos não desejava formar crian-
Educação, ensaiei para uma apresentação do grupo ças que se tornassem músicos, mas que soubessem
Batel no campo do Vasco da Gama. Lembro que nos apreciar e reconhecer a importância da música [...] e
Imalos achava linda a figura do maestro Villa-Lobos, respeitar a profissão do músico”. Essa frase deveria
com seus longos cabelos esvoaçantes... Nessa mesma alertar nossas secretarias e o Ministério de Educação
Ilicada, o maestro propôs a educação musical com (MEC) sobre a importância da música na vida do ser
of base no canto orfeõnico, sendo apoiado pelo compo- humano, pois essa postura do referido maestro já
sitor maestro Lorenzo Fernández quando da funda- revelava a consciência da importância do ensino da
ção do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico música para as escolas públicas. Todos deveriam ter
(CNCO). Meu tio trabalhou ali até morrer, em 1948, a possibilidade de usufruir das mais variadas mani-
estando na ocasião na direção da instituição subs- festações musicais produzidas na trajetória cultural
tituindo o maestro Villa-Lobos, que se encontrava de nosso país. Parabéns, Gabriel Ferraz, pelo exce-
enfermo nos Estados Unidos. Convém ressaltar que a lente capítulo e intensa pesquisa sobre Villa-Lobos.
presença de compositores e professores como Vieira Nas décadas de 1930, 1940 e 1950, foram marcantes
Brandão e Esther Scliar e de outros educadores da os trabalhos do já citado Villa-Lobos, bem como os
época na instituição demonstra a preocupação com de Sá Pereira e Liddy Mignone. Estes dois últimos
a boa formação de professores. realizaram cursos de formação de educadores musi-
Sobre os aspectos da personalidade de Villa-Lobos cais, escolhendo caminhos diversos. Na diferença de
e da genialidade do grande criador e compositor, ideais para a educação da criança, Liddy Mignone,
talvez um dos maiores do século XX, são muito socialista, opositora da ditadura de Vargas, acredi-
significativas as considerações apresentadas por tava que as experiências e as atividades da criança
Gabriel Ferraz, autor do primeiro capítulo desta deveriam ser ampliadas com trabalhos focados nas
obra, sobre o grande músico ligado à ditadura de brincadeiras de roda, nos movimentos, nas danças,
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Teresa Mateiro - Beatriz llari (Org.)
países mais musicais do mundo, tendo cada região e seguem a carreira de musicistas. A aplicação do
uma fonte inesgotável de sonoridades musicais, com método Gazzi de Sá por parte de Theresia, no Rio
várias pedagogias musicais tão significativas reali- de janeiro e na Paraíba, sua terra natal, mereceria
zadas nos conservatórios, faculdades e escolas de estudo e pesquisa. A pedagogia do citado mestre é
música. Graças a esses lutadores em prol da música, o bem divulgada no Centro Educacional de Niterói,
Governo Federal pôde criar as universidades federais por parte do professor Luiz Carlos Pessanha, que
de Música. É difícil pensar que o Estado brasileiro também leciona no CBM. Além disso, Ermano Sá
levou 60 anos para dar prosseguimento à proposta vem formando há anos inúmeros corais no Centro
de Villa-Lobos de 1932. Educacional de Niterói e apresentando programas
Ainda nas décadas de 1950 e 1960, influenciado por em várias salas de concerto.
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Villa-Lobos, o método do compositor e educador Gazzi A convivencia com as diferenças e o fator que pro
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Galvão de Sá, cujo trabalho e trajetória são analisados picia a riqueza de propostas pedagógicas brasileiras
no quarto capítulo desta obra por Maria Cecília de na educação musical. O excelente texto com o qual
Araujo Rodrigues Torres, foi de grande importância Teca Alencar de Brito nos brinda no quinto capítulo
na Paraíba e no Rio de janeiro em virtude do movi- desta obra propõe uma reflexão sobre um compositor
mento coral e da qualidade dos alunos participantes da vanguarda no Brasil desde 1939: Hans-joachim
do Coro da Escola Centro Educacional de Niterói. No Koellreutter, que iniciou, no mesmo ano, no CBM,
trabalho de Gazzi de Sá, destaca-se a presença de o curso de Composição sobre o Dodecafonismo de
Theresia de Oliveira, excepcional educadora musical, Schoenberg. Estudaram no seu curso os então futuros
que também tinha especial cuidado com a estética famosos compositores: Edino Krieger, Guerra-Peixe,
musical; era divulgadora do método do compositor, Claudio Santoro e a educadora Marina Lorenzo
com quem estudou. Concursada pelo Estado, minis- Fernández, entre outros. No mesmo ano, Koellreutter
trou aulas na Escola de Música Villa-Lobos e no CBM, criou, com os compositores citados, o famoso grupo
utilizando o método, as obras e os arranjos para corais Música Viva. Em 1941, em virtude de uma desavença
do educador paraibano. Foi criadora do grupo vocal com Lorenzo Fernández, o educador se afastou do
Tandaradei com os músicos Adriana Rodrigues Didier, CBM, porém voltou algumas vezes para realizar
Mario Orlando, Fernando Moura, Mario Victor, Sula pequenos cursos e palestras - época em que convivi
Kossatz, todos seus alunos, que viajaram pela Suíça, com o compositor.
França, Alemanha e Ucrânia, cantando as obras A proposta de Koellreutter não abrange um
de Gazzi de Sá e músicas ucranianas. Esses cinco método propriamente dito, mas propõe reflexões
alunos de Theresia estão trabalhando na educação para o mundo brasileiro-latino-americano, cujas
com a cultura brasileira. Nota-se que sua formaçao ciados pela pedagogia de Paulo Freire, utilizando
musical teve um seguimento diferenciado. É muito metáforas, tanto nas falas como nas sonoridades
ilgnificativa, na realidade brasileira, a construção e o musicais. Hoje, sinto e percebo a acomodação para
preparo não formal, através da procura por mestres a repetição de modelos.
o da descoberta de caminhos possíveis para uma boa A partir da Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 19715, tor-
~ rmação musical. Em nosso país, repleto de cidades nou-se obrigatória a disciplina de Educação Artística
fum conservatórios ou escolas de música, Gramani no ensino de 1° e 2° graus (hoje denominados, res-
uscavaeducadores que tivessem maior saber e pectivamente, ensino fundamental e ensino médio).
pudessem abrir caminhos para outros contatos. Ã época, surgiu um movimento para que a música
Essa procura levou o mestre paulista a Amalinha fosse inserida na educação. A Secretaria de Educação
(Maria Amália Martins), excelente educadora musi- do Rio de janeiro, nesse período, já tinha em sua
cal mineira, que, por sua vez, o levou a Koellreutter, rede os professores de Música. Nos anos seguintes,
que fez a ligação da contemporaneidade e da criação. os concursos já propunham a separação das áreas
Hoje, Gramani é um exemplo para os educandos que das artes: Música, Artes Cênicas e Artes Visuais.
já possuem, na sua grande maioria, um computador à época, o Estado do Rio de janeiro realizava os con-
__.. A ue não o utilizam como um 8 rande P otencializa- cursos P ara ma8 istério da educa Ç ão básica ainda em
de pesquisas. Lastimo pela sua vida tão breve, a Educação Artística. Somente a partir de 2012, quando
despeito de sua extensa produção de livros, artigos, o Currículo Mínimo para as áreas de Artes (Música,
I propostas que levaram seus alunos a conhecer e Artes Cênicas [Teatro e Dança] e Artes Visuais) foi
tocar obras de Stravinsky. proposto, foram abertos concursos para as diferen-
Nos anos de 1970, 1980 e 1990, conviveram a dita- tes áreas. Adriana Rodrigues e eu participamos das
dura e vários trabalhos de educação musical esqueci-
-dos, as vivências musicais em oficinas, a criação do ---- - ~ -ff"*- - - -z f ¬
5 BRASIL. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Diário Oficlal da União, Brasília, Poder
'roflrso de Licenciatura em Educação Artística e, logo Executivo, 12 ago. 1971. Disponível em: <http://www.pIanaltagov.brr'cc¡viI_03r'Ieis!
Im seguida, dos cursos de mestrado na área musical |só9z.mm>. Acesso zmzz4fzv.zo1s.
convidou professoras com curso técnico em Música, planejamentos que nos alimentem musicalmente
com especialização em Iniciação Musical, para faze- com propostas necessárias aos futuros pedagogos
rem parte de sua equipe. Assim puderam receber brasileiros da educação musical.
o registro do MEC como professoras de Música no Gostaria de prestar a minha homenagem a todos
Estado do Rio de janeiro. os pedagogos brasileiros de educação musical espa
Essa iniciativa favoreceu a continuação da música lhados em quase todos os estados do Brasil que aju-
em algumas escolas públicas municipais e estaduais. daram a mantê-la viva. Obrigada, Teresa Mateiro e
Reginaldo de Carvalho, residente em Teresina, foi um Beatriz Ilari, pela oportunidade deste meu desabafo
dos pioneiros da produção de obras de música eletroa- neste prefácio. Vocês acenderam uma chama que
cústica em peças de teatro e em suas aulas. Também estava um tanto apagada em mim.
gostaria de lembrar do educador Roberto Gnattali,
J
1 MATEIHO, T.; ILAHI, B. [0rg.}. Pedagogias em educação musical. Curitiba: lnterãaberes, 2012.
2 Projeto do Grupo de Pesquisa Educação Musical e Formação Docente. Consulte o Diretório dos Grupos de Pesquisa
no Brasil- Plataforma Lattes/CNPq, no seguinte link: <httpu'/lattes.cnpq.br¡web¡dgp:›.
24
Teresa Mateiro Beatriz llari (Org l
porém em continuo desenvolvimento. Apesar de cada capítulo ressal-
tar um recorte específico da história da música e da educação musical
no Brasil, pode-se verificar uma tendência mundial- a da ampliação
da definição de educação musical. Historicamente falando, essa área do
saber esteve predominantemente ligada à música dita “erudita” e aos
seus princípios e ideias, sobretudo em relação ao ensino da notação
musical (ou do sistema de escrita musical com notas e pausas) e de seus
aspectos performáticos, como a técnica instrumental e a execução musi-
cal. Os capítulos aqui contidos mostram como as preocupações com a
música popular, o folclore e a diversidade cultural, a música de vanguarda,
entre outros elementos, também estiveram presentes no trabalho dos
educadores privilegiados nesta obra. Outra tendência mundial atual é
a expansão da educação musical para além do ambiente escolar e do
conservatório, com a música comunitária em projetos sociais diversos
e a inclusão de novas mídias e tecnologias no ensino de música. Esses
temas são demasiado abrangentes e foram propositalmente deixados
de lado, possivelmente para serem contemplados em trabalhos futuros.
É com imensa alegria que compartilhamos as ideias de Heitor
Villa-Lobos, Antônio de Sá Pereira, Liddy Chiaffarelli Mignone, Gazzi
de Sá, Hans-joachim Koellreutter, Esther Scliar, josé Eduardo Gramani
e Lucas Ciavatta. É nosso desejo que colegas, educadores musicais, des-
cubram as ideias deixadas por esses grandes mestres e as divulguem
e ampliem.
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Gabri-'el Ferraz é doutor em Musicologia pela Universidade da Flórida, onde lecionou como instrutor assistente
durante os cinco anos de seu doutorado e como professor adjunto por um ano após sua graduação. É mestre em
Performance Pianíst-ica pela Universidade de Miami (Ohio) e em Musicologia pela Universidade de São Paulo (USP)
Foi o vencedor do concurso internacional de masicologia/etnomusicologia Otto Mayer-Serra em 2011, tendo seu
artigo publicado no Latin American Music Review em 2013. Apresentou-se no prestigioso Encontro Nacional da
Sociedade Americana de Musicologia em 2011 e no Encontro Regional do Sudeste promovido por essa mesma ins-
fituiçâão em 2008. Apresentou-se ainda em conferências na Italia, no Brasil, na França e em Portugal.
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1.1 O canto orfeônico de Villa-Lobos: Em 1932, o governo criou no Rio de Janeiro a
educação musical e ideologia política Secretaria de Educação Musical e Artística (Semalz)
e convidou Villa-Lobos para ser o diretor da institui-
Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é reconhecido por ção. Nesse mesmo ano, o maestro iniciou a imple-
músicos e pesquisadores brasileiros e estrangeiros mentação de sua orientação nacionalista na peda-
como o maior compositor brasileiro que já existiu. gogia do canto orfeônico. O compositor não visava
Importantes pesquisas já foram realizadas sobre à formação de músicos, mas de indivíduos que sou-
diversos aspectos de sua produção musical, bem como bessem apreciar música e que tivessem no âmago de
de sua vida pessoal. Existe, entretanto, um aspecto suas identidades o sentido de cooperação coletiva,
do legado do compositor que, apesar de crucial para patriotismo, civismo e disciplina. Além disso, o maes-
o amplo entendimento de sua personalidade e da tro tinha como objetivo socializar as crianças e “ele-
importância do seu trabalho, tanto para a música var” seu nível intelectual e cultural (de 0 compositor nao vrsava
quanto para a própria formação de uma identidade acordo com discussões da época, na à formação de músicos,
brasileira, ainda carece de uma análise mais deta- qual a chamada alta cultura, ou a cul- mas de indivíduos que
lhada: seu programa de educação musical, conhecido tura cultivada pela elite, era vista como soubessem apreciar
como canto orfeônico. cultura elevada). Como parte dessa música e que tivessem
O canto orfeônico existe no Brasil desde 1912 e foi “missão”,Vi1la-Lobos buscava, por meio no âmago de suas
l implementado principalmente em escolas do Estado das letras e dos elementos musicais identidades o sentido
de São Paulo pelo compositor e educador Ioão Gomes das canções escolares, conscientizar a de cooperação coletiva,
Iúnior (c. a. 1871-1963). Em 18 de abril de 1931, por meio mocidade sobre aspectos essenciais da patriotismo, civismo e
do Decreto n. 19.8901, o então presidente Getúlio formação cultural do pais, como a disciplina.
Vargas tornou o canto orfeônico obrigatório nas esco- importância das heranças culturais
las primárias, secundárias e de formação profissional europeia, africana e ameríndia.
no Rio de Ianeiro, que era, à época, Capital Federal.
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1 BRASIL. Decreto n. 19.890, de 18 de abril de 1931. Coleção das Leis do Brasil, Rio
:dh de-Janeiro, GB, Poder Executivo, 31 dez. 1931. Disponível em: <http://www.pIanaIto. 2 A Clave de Sol se refere a termos e expressões cujos sign ificados você pode encontrar
gov.br/cciviI_03/decreto/1930-1949/D19890.htm>. Acesso em: 25 fev. 2015. na seção “Glossário de termos”, ao final desta obra.
Ç _ _ v ñ ' _ Q
O governo de Vargas tinha forte orientação
3 Para mais informações, veja: SEVERIANO, J. Getúlio Vargas o a música popular.
nacionalista e buscava o fortalecimento (ou mesmo Rio de Janeiro: FGV, 1983.
30 Gabriel Ferraz
feônico naturalmente prepararia a criança para a vida social no
*Brasil planejada pelo político gaúcho. O presidente então abraçou o
programa educacional de Villa-Lobos e deu suporte para que o com-
positor o implementasse no Rio de janeiro.
4 A Clave de Fã se refere a grandes personalidades cujas pequenas biografias podem Elementarv Education. In:A'v'ELAR, I.: DUN, C. (Eri). Brazilian Popuiarllllusic and
ser encontradas na seção “Glossário biográfico", ao final deste livro Citizenshlp. Durha m: Duke Universitv Press, 2011. p. 45-63.
32 Gabriel Ferraz
Gomes júnior já havia introduzido o manossolfa no
Brasil, com algumas adaptações, por volta de 1912. A citada
técnica, que era utilizada para ensinar crianças a cantar,
sem que para isso elas precisassem saber regras musicais
(nem mesmo ler notas), é um bom exemplo do “método
intuitivo”: apenas depois que soubessem cantar as melo-
dias, aprendidas primeiramente pela prática, as crianças
eram introduzidas ã leitura musical.
34 Gabriel Ferraz
IIÍ
*I sinfônico “Prélude à l'après-midi d'un Fauna”, do do Brasil também foram importantes na formaçao
francês Claude Debussy, obras de diversos com- de sua linguagem. Entre esses elementos, destaca-se
positores russos, como partes da ópera “Príncipe a utilização de melodias originais, como “Nozani-ná
Igor”, de Alexander Borodin, a suíte sinfônica Orekuá”, recolhida por Roquette-Pinto na tribo dos
"Scheherazade”, de Nikolay Rimsky-Korsakov, e o parecis, em Mato Grosso, e utilizada por Villa-Lobos
poema sinfônico “Tamar”, de Milv Balakirev. Ainda nos “Choros n. 3” e “Choros n. 7”.
'- de acordo com Peppercorn (1989), tanto o poema
lsinfônico de Debussy quanto as obras russas dei- Sempre buscando a síntese musical, Villa-Lobos
xaram uma poderosa impressão em Villa-Lobos, não utilizou as melodias como elemento agregado
que absorveu muitos dos elementos estilísticos das obras, mas como elemento gerador de toda a
dessas composições e os incorporou à sua lingua- estética das composições. No “Choros n. 3”, por
gem musical. exemplo, a melodia ameríndia é parte intrínseca
da estrutura das diversas seções da obra. Nessa
Além da música europeia, foram também essen- composição, para coro masculino e instrumentos
ciais na formação musical de Villa-Lobos os elemen- de sopro, Villa-Lobos claramente emula a exe-
tos musicais da cultura popular brasileira, particular- cução musical de uma tribo indígena, mas lhe
mente o choroi, gênero popular urbano em voga nos confere uma estética cosmopolita, tornando o
círculos boêmios daquela época. O contato do compo- elemento musical local acessível aos círculos musi-
sitor com o citado gênero veio principalmente após cais urbanos.
o falecimento de seu pai. Contra o gosto de sua mãe, Além dos aspectos composicionais menciona-
Villa-Lobos passou a frequentar as chamadas rodas de dos anteriormente, o folclore também fez parte
choro, nas quais conheceu os maiores “chorões” de sua dos elementos identificados como nacionais que
época, como Sátiro Bilhar” e Anacleto de Medeiros”. Villa-Lobos amalgamou em sua linguagem musical.
Diversos elementos do citado gênero musical, como Na série de 16 Cirandas para piano solo, por exemplo,
síncopas, improvisação e texturas musicais que emu- o compositor “ambientou” canções folclóricas em
lam um grupo de choro estão presentes em várias harmonias sofisticadas, que podem transmitir, em
obras do compositor, especialmente na famosa série um primeiro momento, uma sensação simultânea
dos 14 Choros, composta na década de 1920. de familiaridade, vinda da melodia, e de estranha-
Apesar de não serem parte central dos elementos mento, vinda da harmonia.
musicais encontrados na gênese composicional de
Villa-Lobos, os elementos musicais dos ameríndios
_ -_ -_ ?
l
Crédito: Museu Villa-Lobos
O mesmo acontece em muitas outras obras, como ganha um colorido novo e inesperado, apesar de a
nas peças da suíte “A prole do bebê vol. 1”, também peça estar na tonalidade de Dó Maior. Essa obra é
para piano. No famoso “Polichinello”, por exemplo, um bom exemplo de como o elemento nacional se
cujo tema é a melodia folclórica “O Cravo brigou funde com técnicas cosmopolitas, pois Villa-Lobos
com a Rosa”, Villa-Lobos utilizou uma técnica muito trabalhou com aquilo que se chama coleções de sons,
interessante, na qual contrapõe as teclas brancas técnica composicional utilizada por muitos composi-
e pretas do piano, gerando uma sonoridade disso- tores da vanguarda europeia daquela época. No caso
nante. Entretanto, como as teclas brancas e pretas dessa peça, as coleções de sons são a escala diatõnica
são alternadas (ou seja, não são tocadas simulta- de Dó Maior e a escala pentatõnica formada pelas
neamente), a dissonância é suavizada e gera uma teclas pretas do piano.
“atmosfera” musical na qual a melodia folclórica
36 G abriel Ferraz
Idade adulta, contexto cultural Iuntamente com os artistas e intelectuais do
lmcio da pro)eçao internacional modernismo (e de tempos anteriores), Villa-Lobos
percebeu que existia uma necessidade de “acordar”
2 Villa Lobos, nacionalismo a nação para sua herança cultural, especialmente
modernismo no que diz respeito à burguesia, cujas práticas cul-
turais e sociais ainda tinham uma forte ligação com
modo geral, Villa Lobos elaborou uma linguagem a cultura europeia e com 0 modo de vida do Velho
hibrlda , que refletna a própria natur Continente. Naquela época, os burgueses descenden-
sta do povo brasileiro, cujas heranças cultu tes de europeus ainda acreditavam ser superiores
contravam nos P ovos euro P eus, africanos e aos negros, ameríndios e mestiços, cujas raças e
D do Brasil Villa Lobos utilizou temas folclo etnias eram consideradas inerentemente inferio-
ierindios, ritmos caracteristicos de praticas res. Consequentemente, a parcela mais abastada da
afro brasileiras e instrumentos “típicos sociedade brasileira também considerava inferior
(como o ganza, 0 reco reco e o pandeiro na qualquer prática social e cultural que tivesse traços
as Brasileiras n 2 ), e os amalgamou com das heranças culturais de negros e ameríndios e
›s que absorveu da musica de vanguarda que buscava distinguir-se culturalmente de tais grupos
a Europa, caracterizada por dissonancias e sociais, cultivando a arte europeia e atribuindo-lhe
is abruptas de acentuaçao ritmica maior valor artístico.
Jroduçao musical, bem como o repertorio Se, por um lado, as elites burguesas rejeitavam
-Lobos selecionou para a educaçao musical, tudo que tivesse características culturais “brasileiras”,
tavam muito bem a busca por uma “brasi a parcela menos favorecida da população (formada
1ue fazia parte das discussoes nos circulos especialmente por negros e mulatos), por outro lado,
5 e intelectuais de sua e oca O modernismo sequer tinha ferramentas intelectuais para refletir
3, por exemplo, que se estendeu do principio sobre seu próprio lugar na sociedade ou a respeito da
a de 1920 ate meados da decada de 1940 foi importância de sua herança cultural para a busca de
mento nacionalista das artes no qual artis- “brasilidade”, em virtude de sua precária (ou mesmo
I
lectuais como Mário de Andrade, Oswald inexistente) formação educacional. Obviamente, essa
de, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, entre carência era um problema para o programa modernista
uscaram expressar o “espírito do povo bra- e paraVilla-Lobos - em razão da educação deficiente das
m suas obras massas, estas não conseguiam compreender o valor da
arte nacionalista. Devido a essa formação rudimentar,
cais de negros e ameríndios brasileiros, não 8 De acordo com Manuel Negwer, também contribuiram financeiramente para a
primeira viagem de Villa-Lobos o Deputado Arthur Lemos, 0 critico Rodrigues
agradava. Barbosa, os compositores Francisco Braga e Henrique Oswald, o poeta Ronald de
Villa-Lobos foi a Paris com 0 patrocínio do indus- Carvalho, e alguns mecenas das artes, como Antonio Prado, Olívia Guedes Penteado
e Laurinda Santos Lobo. "-.ler NEGWER, M. Villa-Lobos: o florescimento da música
trial Arnaldo Guinle, que, aconselhado pelo grande brasileira. Tradução de Stefano Paschoal. São Paulo: M. Fontes, 2009. p. 144.
38
Gabriel Ferraz
a Editora Max Eschig, que publicou diversas a realidade musical europeia e a brasileira. Manuel
luas obras. Negwer (2009) reconta, por exemplo, a anedota de
quando Villa-Lobos encontrou jean Cocteu* em Paris
-aceitação de Villa-Lobos em Paris foi grande, e improvisou ao piano para o intelectual francês -
is o público e a crítica parisienses viam em o poeta reprovou a execução do músico, condenan-
-a música uma representação dos trópicos e do-a, segundo Negwer, como “uma infusão estilística
interpretavam sob a perspectiva do exotismo, à moda de Debussy e Ravel” (Negwer, 2009, p. 146).
'ibuindo interesse a obras artísticas de países Como afirma o autor,
as culturas eram desconhecidas dos europeus.
Villa-Lobos vinha de um milieu musical fixado do
fato, entre 1923 e 1929, Villa-Lobos compôs
forma dogmática da “ópera lírico” italiana, em que
iis de 100 obras novas, profusão criativa que
Ravel, Debussg e Wagner eram considerados repre-
idencia o estabelecimento de uma linguagem
sentantes da nova música que constituía um enclave
isical na qual o elemento “brasileiro” se faz
marcadamente europeu, muito afastado no centro de
iis presente. A série dos Choros, por exemplo,
um âmbito exótico. O âmbito de Cocteau, ao contrário,
composta entre esses anos, com excessão do
encontrava-se pura e simplesmente na metrópole cultu-
ioros n. 1”, composto em 1920. De qualquer
ral europeia, onde as tendências e os parâmetros para
una, seria injusto dizer que o artista exagerou
os artes eram ditados [...]. Na Paris ii que Villa-Lobos
s elementos identificados como brasileiros
havia chegado, Ravel e Debussy eram considerados,
ra ganhar reconhecimento e fama em Paris
contudo, clássicos.
«mo afirmam alguns autores). Averdade é que
imbiente francês possibilitou que ele experi- De fato, Debussy e Ravel ainda eram considerados,
mtasse mais em sua música, sem as amarras no Brasil, expoentes daquilo que era mais moderno em
:abelecidas pelo conservadorismo da crítica e música erudita, ao passo que em Paris eles já perten-
la ignorância do público no Brasil. ciam ao passado musical. Essa anedota mostra como
o ambiente musical do Brasil ainda estava preso a uma
Diversos outros fatos importantes permearam tradição que já havia sido ultrapassada na Europa.
da de Villa-Lobos em Paris e estão fartamente Em 1930, Villa-Lobos voltou ao Brasil para reger
umentados nas biografias do compositor. Para uma série de concertos e, após sua estada em Paris,
so estudo, é importante frisar que foi nessas a triste realidade da arte em geral em seu pais, da
iporadas no exterior que Villa-Lobos cons- música artística em especial, passaram a incomo-
itizou-se definitivamente da diferença entre dá-lo ainda mais. Sua música, na qual as articulações
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9 Apesar de haver iniciativas para promover a música de concerto, São Paulo “sofria”
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do que Mario de Andrade chamou de "pianolatria", ou seja, a idolatria pela música
para piano. Esse fator também revela o ambiente provinciano da prática da música §Y`-- as.
de concerto em São Paulo, que, naquela epoca,já era uma das cidades mais impor- Crédito: Foto coletada nos arquivos do Museu Villa-Lobos (número de
tantes do pais. arquivo 19??-16-05?)
40
Gabriel Ferraz
Certamente, além de grande parte do público não ter compreen-
o as obras apresentadas nos concertos”, a decepção de Villas-Lobos
eu-se também ao fato de que, apesar de o compositor ter alcançado
nsiderável sucesso em Paris, o povo brasileiro ainda não com-
* “idia sua música, e a série de concertos que ele regeu não foi bem
.ida. O regente sabia que, naquelas condições, não conseguiria
como músico no Brasil.
:pois da Revolução de Outubro de 1930 (golpe pelo qual Vargas
lu ao poder), que tinha uma proposta nacionalista de renovar o
é fortalecer os laços de união entre os brasileiros, criando maior
dade nacional, Villa-Lobos percebeu que aquele era um momento
régico também para a renovação nas artes. Como afirmou em
rica nacionalista no governo Getúlio Vargas, em tom heroico e cla-
nte demagógico,
ieio deƒé naforça poderosa da música, sent-i que com o advento desse
asil Novo era chegado o momento de realizar uma alta e nobre missão
iioadora dentro da minha Patria I J Era preciso por toda a minha
.orgia a serviço da Patria c da coletividade, utilizando a musica como
n meio deformação e de renovação moral, cívica e artística de um povo.
'illa-Lobos, 1942, p. 18)
im parte dos concertos obras que o público brasileiro certamente identificou como de vanguarda, como
ema sinfônico "Amazonas", de Villa-Lobos, “Pacific 231", de Arthur Honegger (que fez parte do Gru po dos
, "Saudades do Brasil”, de Darius Milhaud (que também fez parte do Grupo dos Seis), "Curuça: choro para
.estra n. 5", de Mozart Camargo Guarnieri, e um programa inteiro com composições de Florent Schmitt,
:ompositor pouco lembrado na atualidade, mas que foi muito influente naquele tempo. Para mais infor-
ões sobre os concertos, veja: AN DRADE, M. de. Música doce música. São Paulo: Livraria Martins Editora.
. p. 145-164.
país. Um bom exemplo do desgosto de 11 Vargas tornou-se presidente por meio de um golpe de estado em 1930 e governou
uma carreira digna em
Villa-Lobos com o meio musical brasi- até 1945. Esse periodo é chamado “Primeiro Governo”. Em 1951, foi eleito presidente
seu país. _ democraticamente e governou até 1954, quando cometeu suicidio. Esse periodo é
leiro fica evidente em uma carta que conhecido como seu "Segunclo Governo".
42
Gabriel Forros
diminuiu sua produção musical consideravelmente 1.2.3 Últimos anos
e escreveu fervorosamente sobre educaçao musi-
cal, dando um tom quase político aos seus textos. 1945 a 1957: a carreira internacional
Curiosamente, de 1945 até o fim de sua vida, o maestro
pouco falou sobre esse tema, que havia sido parte cen- No período em que desenvolveu suas atividades
tral de suas atividades como músico durante quase educacionais, Villa-Lobos também promoveu sua
15 anos. Isso nos leva a concluir que, apesar de ter tido carreira como regente e compositor. Em razão dos
uma genuína preocupação com a educação musical contatos profissionais que fez enquanto ocupava a
e artística do povo, Villa-Lobos foi oportunista e ela- importante posição de educador musical no Governo
borou um discurso que agradou Vargas, ganhando, Vargas, sua agenda internacional na regência intensi-
dessa forma, a simpatia e o apoio do então presidente. ficou-se consideravelmente após seu afastamento do
Após 1945, o maestro focou-se em promover sua car- Estado. Naquela época, Villa-Lobos, que já dispunha
reira como regente e compositor por meio da forte de grande abertura em Paris, onde o público o conhe-
influência que passou a ter como educador musical. cia, explorou novos horizontes, como Grã-Bretanha,
Israel e Estados Unidos, país onde sua carreira como
De qualquer forma, a demagogia (parcial) do maes- regente floresceu como em nenhum outro.
tro durante o período que trabalhou como educa- Como regente, Villa-Lobos incluía sua própria
dor não diminui a importância de seu trabalho música nos programas e, como compositor, recebeu
no campo da educação musical no Brasil naquele encomendas de várias orquestras e instrumentis-
momento, mas nos dá uma dimensao mais humana tas. Segundo Simon Wright (1992), entre algumas
e, portanto, mais precisa, e menos heroica, de quem das maiores encomendas dessa época constam:
1
foi Villa-Lobos. Naquele momento, ele foi um com- o Concerto para Piano n. 1 , para Ellen Ballon;
G6 30
* ii
positor que lutou para sobreviver em seu proprio O Concerto para Violão”, para Andrés Segovia;
país e que se utilizou de suas habilidades para a “Sinfonia n. 11”, para a Orquestra Sinfônica de
criar oportunidades que lhe permitissem traba- Boston; o balé “Ruda”, para o La Scala de Milão; e a
lhar naquilo em que acreditava. trilha do filme Green Mansions, para o estúdio nor-
te-americano MGM (Wright, 1992).
Nos seus últimos anos, portanto, Villa-Lobos
enfim alcançou a plena consagração internacio-
nal que tanto merecia, e seu cargo de educador
musical certamente abriu caminhos para que essa
44
Gabriel Ferraz
acreditava residirem na “essência” cultural do povo compositores nacionalistas que vieram antes dele,
brasileiro, conferindo, dessa forma, uma aura ine- como Alexandre Levy e Alberto Nepomuceno, cujas
rentemente nacional ã sua música. composições não apresentam o mesmo poder de
É verdade que Villa-Lobos tinha como objetivo síntese na linguagem musical. Em muitas das com-
elaborar uma linguagem musical que refletisse a posições dos artistas citados (como nas de outros
natureza de seu povo, mas é necessário atentarmos compositores da mesma época), o elemento brasileiro
à maneira como isso ocorreu. Não há dúvidas de que torna-se um agregado da estrutura musical europeia
os elementos musicais identificados como “autênti- e não se amálgama na gênese composicional.
cos” da música brasileira foram essenciais para essa A linguagem musical “híbrida” que Villa-Lobos
elaboração, mas não podemos pensar ingenuamente desenvolveu foi uma característica comum a com-
que o maestro utilizou dissonâncias em sua música positores nacionalistas europeus da segunda metade
simplesmente porque fez “reflexões cósmicas” sobre do século XIX e da primeira metade do século XX,
a natureza do Brasil, especialmente por sabermos como o húngaro Béla Bartók (1881-1945), e tornou-se
que o compositor viveu em um período histórico no uma tendência também nas Américas, tendo como
qual compositores de diversas partes da Europa e das seus grandes expoentes o próprio Villa-Lobos, o nor-
Américas exploravam novas sonoridades. te-americano Aaron Copland (1900-1990), o argentino
A dissonância tornou-se um elemento comum Alberto Ginastera (1916-1983) e o mexicano Carlos
nas obras de vanguarda de meados do século XX, ou, Chávez (1899-1978), entre outros.
como se diz comumente, a dissonância foi “emanci-
pada”, passou a ser um elemento estrutural na elabo- Essa linguagem musical tinha uma dupla impor-
ração harmônica de uma obra musical. Além disso, tãncia: em razão da simultaneidade dos elementos
Villa-Lobos era um admirador confesso de Stravinsky, europeus - considerados cosmopolitas - e locais,
em cujas composições do chamado período russo a música nacionalista representava musicalmente
(1908 a 1919), como os balés “Petrouchka” e a “Sagração os países tanto em contextos internacionais quanto
da Primavera”, a dissonância é elemento intrínseco dentro da própria nação. Os elementos europeus
da linguagem harmônica. criavam semelhança icônica com a música pro-
Como sugerimos aqui, o que Villa-Lobos realmente duzida no Velho Continente, tornando a música
foi elaborar uma linguagem musical na qual sin- nacionalista das Américas acessível no exterior e
elementos musicais locais com elementos introduzindo, ao mesmo tempo, aspectos da música
cosmopolitas da vanguarda europeia. Essa local americana na vida cultural europeia.
uma das maiores diferenças entre o músico e
Como a gente não tem grandeza social nenhuma que nos imponha ao Velho
Mundo, nemfilosofia que nem a Ásia, nem economia que nem a América do
Norte, o que a Europa tira da gente são elementos de exposição universal:
exotismo divertido. Na música, mesmo os europeus que visitam a gente
perseveram nessa procura do exquisito apimentado. (Andrade, 1972, p. 15)
46 Gabriel Ferraz
ameríndios à burguesia e às classes conservado- a já mencionada série dos 14 Choros (dos quais os
s, que, por sua vez, rejeitavam tais manifestações. dois últimos estão perdidos) e a série das 9 Bachianas
__e . _. . . . brasileiras, composta durante a década de 1930 e
" * tanto, isso nao foi suficiente para atrair parcelas
.ltas da sociedade para a sala de concerto nem primeira metadade da década de 1940. Os Choros,
1 fazer com que as elites dessem o devido valor para diversas formações instrumentais, voz e ins-
Iisica de concerto brasileira, que perdia larga- trumentos solistas são considerados as obras mais
.te em popularidade para a europeia (de resto vanguardistas do compositor, apresentando um
.situação não muito diferente da atual). nacionalismo musical considerado “agressivo” por
J . . _ alguns autores, pela constante dissonância, pelos
essa realidade, Villa Lobos percebeu na educa-
iiusical um meio eficiente para lutar contra essa fortes acentos rítmicos e pelas mudanças nas fór-
:gia intelectual. O maestro entendeu que deveria mulas de compasso. já nas Bachianas brasileiras,
alhar na formação do gosto musical das crianças, Villa-Lobos expressou sua admiração por Bach,
ie mudar o gosto do público adulto era um pro- criando uma linguagem musical menos dissonante
o muito complicado. Portanto, como já dissemos e com ritmos mais estáveis. Segundo o próprio
zriormente, o programa de educação musical do maestro, essas obras são resultado da síntese de ele-
.positor foi construído em cima de uma orienta- mentos da música de Bach e da música brasileira.”
n . . Dentro desse enorme catálogo, ainda vale ressal-
acionalista.
tarmos as seguintes obras: os 17 quartetos de corda,
ras mais importantes as 12 sinfonias, uma vasta obra para piano, que
inclui 5 concertos e diversas suítes, entre as quais
tética de síntese de Villa-Lobos se faz presente a Suíteƒloral, o Ciclo brasileiro, e os dois cadernos da
grande maioria das obras do compositor, que Prole do bebê. Villa-Lobos também escreveu óperas,
ra com um catálogo de mais de mil composições como Izaht e Magdalena, e música para cinema,
praticamente todos os gêneros musicais e para como as quatro suítes orquestrais Descobrimento do
_ , . . Brasil, para o filme homônimo de Humberto Mauro,
.rsas formaçoes cameristicas e instrumentos
atas.” As obras mais célebres de Villa-Lobos são e a já citada trilha para o filme Green Mansions.
mí* ' " ^ f í I Q Devemos ainda frisar a importância das obras
1 estudo mais aprofundado das obras de Villa-Lobos foge ao escopo do presente que Villa-Lobos compôs para violão, como os
M _ . . . . _
ulo Existe um numero vasto de materiais que dlscorrem sobre o repertório
' . . . _ : I
s processos composicionais do maestro, entre as quais destacamos BÉHAGUE .§ I_ í_ 7 ñ fm ml*
H oltor Villa-Lobos: the Search for Brazil's Musical Soul. Austin: University of 13 Um estudo detalhado de como (e se realmente) Villa-Lobos fez uso do elemento
ia s, 1994; e SALLES, P. de T. Villa-Lobos: processos composicionais. Campinas: bachiano nessas obras e de como ocorre a fusão com elementos musicais brasi-
.da Unicamp, 2009. leiros ainda precisa ser realizado.
Obras edaucacionais
'_ _ _ , ii; ~¡
14 Para a lista completa das obras de Villa-Lobos, ver Villa-Lobos: sua obra, o catálogo de obras do compositor
editado pelo MinC, lbram e Museu Villa-Lobos em 2009.
48
Gabriel Ferraz
1.3 OS €I1SaÍOS dÍdálIÍCO-BXPIÍCMIÍVOS importância para a elevação do nível cultural do povo
E EIS fl1I1ÇÕES dO CHIIÍO 0I'f€ÕI1ÍC02 (Villa-Lobos,1937b, VIII). Dentre os aspectos discipli-
IÍÍSCÍPIÍHEI, CÍVÍSII10, IIEICÍOIIEIIÍSIIIO B nares, vale a pena destacarmos a “exortação”, que,
EIÍIICHÇHO J' ElI'Í1StlCa
“ ° segun d o o musico,
' era a par t e “ mai sim
' p ortante da
pedagogia orfeônica” e que tinha por finalidade “inci-
Os principais objetivos da educação musical proposta tar o aluno pelo amor à Pátria, à Mocidade Estudiosa,
porVilla-Lobos podem ser observados em três ensaios enfim, ã nossa Gente. Explicar que o canto orfeô-
com fins didático-explicativos: Programa do ensino de nico é a educação do canto, cívica moral e artística”
música, O ensino popular da música no Brasil, ambos de (Villa-Lobos, 1937b, p. 14).
1937, e A música nacionalista no governo Getúlio Vargas,
de 1942, nos quais Villa-Lobos apresentou, de maneira Nessa mesma passagem, Villa-Lobos ainda afirmou
sistemática, os diversos aspectos do canto orfeônico que a “exortação” deveria instruir os alunos a can-
relacionados aos benefícios culturais, musicais e tarem os hinos patrióticos com respeito e convícçao,
sociais promovidos por meio da educação musical.” pois representavam uma “prece ao Brasil”. Nesse
No Programa do ensino da música, Villa-Lobos texto, o músico funde um dos atos mais simbóli-
definiu a disciplina, o civismo e a educação artística cos de devoção e fé (a prece) com a prática musical
como finaliclades da educação musical e afirmou dos escolares, transmitindo a ideia de que, como
que o ensino de música nas escolas era de extrema membros de uma doutrina religiosa, as crianças
Í ___ ñ í 1 _ Í deveriam mostrar sua devoção ao Brasil por meio
Para conhecer os pormenores do programa de educação musical de Villa-Lobos, do canto.”
consulte os seguintes ensaios: VILLA-LOBOS, H. 0 ensino popular da música no
¡ í _ f fl“"-_'¶- - ___ 7- 1
Brasil. Rio de Janeiro: Secretaria Geral da Educação e Cultura, 1937; VILLA-LOBOS, H.
Programa do ensino de música. Rio de Janeiro: Secretaria Geral da Educação e A ideia do que uma parcela dos intelectuais brasileiros entendia como elevação
Cultura, 1937;eVILLA-LOBOS, H. Amúsica nacionalista no governo Getúlio Vargas. do gosto cultural fazia parte das discussões da época, como vimos anteriormente.
Rio delaneiro: DIP (Departamento de Imprensae Propaganda), 1942. Os três ensaios No campo musical, essa questãojá havia sido abordada, por exemplo, por Alexandre
foram publicados oficialmente pelo governo de Vargas. O último foi publicado pela Levy. Sob o pseudônimo Figarote, o compositor paulista escreveu vários artigos que
DIP, órgão mais importante de controle de imprensa e manifestações culturais da tratam da elevação do gosto por meio da música para ojornal Correio Paulistano.
ditadura do político gaúcho. Como a grande maioria dos volumes publicados pela Para mais informações sobre o nacionalismo musical de Levy e as ideias que o
Instituição, A música nacionalista no governo Vargas também exaltava a gestão compositor propagava, veja TUMA, S. O nacional e o popular na música de
do politico gaúcho e o nacionalismo no Brasil. Em diversos momentos do ensaio, Alexandre Levy: um projeto de modernidade. 202f. Dissertação (Mestrado em
Villa-Lobos parece emulara retórica queo próprio Vargas utilizava em seus discursos. Musicologia) - São Paulo, Universidade de São Paulo, 2008.
50 Gabriel Ferraz
um aparato técnico-musical não estava em suas de sincretismo (nesse contexto, refere-se à fusão da
loridades. Como parte fundamental dessa forma- música de diversas culturas) musical que geraram
› músico primou por socializar as crianças na a música folclórica brasileira, e um quadro sinótico,
a, enfatizando a importância da coletividade no qual o autor ilustrou, por meio de um mapa, as
o canto em grupo e imbuindo nas crianças valo- partes do mundo de onde vieram os elementos musi-
1 . . . cais encontrados no Brasil.
e as preparassem para a vida social no Bras1l
, um pa1s almejado tanto por ele, que buscava Os dois volumes do Canto orfeônico contêm prin-
r enovação no gosto artístico brasileiro, quanto cipalmente marchas, hinos patrióticos e canções
'argas, que visava criar um sentido de coletivi- cívicas e escolares. Em menor escala, também se
na qual o ideal nacionalista uniria as pessoas encontram nesses volumes cançoes que evocam
Jrno de um bem comum, e, mais importante diversos outros elementos que foram imbuídos nas
I-5
iça, pois como as melodias faziam parte do dia leiras, como no canto patriótico “Tiradentes” (v. 1) e
dos pequenos, elas seriam mais facilmente assi- “Santos Dumont” (v. 2); canções que evocam militares
das. Além disso, o compositor acreditava que a brasileiros, como a canção militar “Deodoro”, em
.ca folclórica conscientizaria os jovens sobre as homenagem ao Marechal Deodoro da Fonseca (v. 1);
nças culturais do Brasil. Para introduzir a música Vargas e seu regime, como na “Saudação a Getúlio
da infantil, Villa-Lobos organizou o Guia prático, Vargas” e na “Marcha para o Oeste”, que faz referên-
subtítulo é estudo ƒolclórico musical”. Essa cole- cia às iniciativas do então presidente para incentivar
além das canções folclóricas, inclui explicações a ocupação e progresso do Centro-Oeste brasileiro
e o folclore brasileiro, que versam sobre os tipos (v. 1); e trabalhos laborais que eram importantes para
I' lí U
a polltica trabalhista de Vargas, como As costureiras
(v. 2) e “Canto do operário” (v.1).
I-Lobos planejou uma série de seis guias práticos para o uso no canto orfeônico,
l apenas o primeiro volume foi publicado. Existem, entretanto, onze volumes
Sula prático para piano solo.
Nessas canÇ ões, os elementos musicais muitas “brasileiros” e colocassem a na Ç ão como rioridade
vezes emulavam as ideias contidas nos textos. Nas em suas vidas, mesmo que para isso fosse necessário
canções que evocam tradições afro-brasileiras, por sacrificar vontades individuais em prol do grupo.
exemplo, Villa-Lobos fez uso de síncopas, entendi-
das como uma característica marcante da música 1.3.2 Concentrações orfeõnicas: cantando
africana. Nas canções que evocam os ameríndios em prol da naçao e do reglme
1 .
52
Gabriel Ferraz
iquecer a atmosfera nacionalista patriotica e uma declaração de Teixeira, anos mais tarde, “De tudo
bratoria desses eventos que estávamos tentando, no antigo Distrito Federal,
Em virtude do forte apelo emocional, as concen nada me parecia mais importante do que essa inte-
çoes orfeonicas cristalizaram o mesmo ideario gração da arte na educação popular” (Teixeira, citado
in ta -largamente disseminado na escola e por Menegale, 1969, p. 124).
a sociedade - na mente dos articipantes A Sema tinha diversas funções, entre as quais
ava sempre presente nas concentraçoes organizar e supervisionar o programa de educação
Setembro e fazia discursos nos uais musical nas escolas, para garantir que elas tivessem
sua imagem a imagem da propria pátria, número suficiente de professores de canto orfeônico
do uma ersona politica cuja aura estava e que a disciplina fosse ministrada corretamente,
imente ligada a nação, projetando-se, dessa e verificar os efeitos práticos do canto orfeônico na
rno um simbolo nacional Portanto, as con formação musical, moral e cívica da criança. Por
s foram antes de qualquer coisa, uma arena meio de seus supervisores, que faziam dezenas de
anda politica para o governo visitas às escolas durante o ano letivo, a Sema con-
seguiu mapear a situação do canto orfeônico no Rio
rutura institucional do canto de janeiro, verificando a quantidade e qualidade
o a Superintendencia de dos professores, avaliando o progresso musical e
io Musical e Artistica disciplinar dos alunos e atuando onde se percebia
ser necessário, para tornar o ensino da música na
~ tornar o canto orfeonico obrigatorio no Capital Federal mais eficiente. Além disso, a institui-
leiro, era preciso criar uma estrutura ins ção também organizou diversos cursos de formação
l que desse suporte a implementação da de professores para suprir a demanda das escolas no
iplina Dessa forma, em 1932 o governo então Distrito Federal e promoveu concertos para a
uperintendencia de Educaçao Musical e sociedade do Rio de janeiro como um todo.
(Sema ), um ramo do Departamento de
I e nomeou Villa Lobos seu diretor (como 1.3.4 O Conservatório Nacional de Canto
I nado) A Sema foi criada sob os auspicios Orfeõnico e o fim das atividades
Teixeira, entao secretario de Educaçao da pedagógicas de Villa-Lobos
I
deral, ue realizava uma grande reforma
1 al na uela cidade A educaçao musical nas Com o crescimento das atividades da Sema e a expan-
1 tao imP ortante P araVar8 as Clue, se 8 undo são do canto orfeônico para outras regiões do país, o
Gabriel Ferraz
1.4 Adaptando a Melodia das a) Antes de iniciar a atividade, você deve saber
montanhas qual melodia será utilizada. Recomendamos
melodias simples nas tonalidades de Dó
Uma das atividades pedagógicas que Villa-Lobos Maior, Sol Maior e Fá Maior, e que não
desenvolveu para incitar o espírito criativo nas crian- ultrapassem o intervalo de uma oitava.
ças foi a Melodia das montanhas. Em resumo, a ati- Conforme os alunos progredirem, utilize
vidade consistia em traçar em uma folha de papel melodias em tonalidades com mais suste-
quadriculado o contorno de uma montanha ou de nidos e bemóis e que ultrapassem a oitava.
outras formações geográficas e, por meio de um pro- Primeiramente, escreva de baixo para cima,
cesso preestabelecido, que definia valores rítmicos à margem esquerda da folha branca, todas
para os quadrículos no sentido horizontal e de altura as notas de uma oitava da escala da melodia
para quadrículos no sentido vertical, transformar escolhida (ex: se a melodia está em Dó Maior,
esse contorno em uma melodia. Ao professor caberia escreva as notas da escala de Dó Maior).
harmonizar a melodia de seus alunos. O tamanho dos quadrículos depende do
Propornos aqui uma adaptação da atividade, que tamanho da folha de papel a ser utilizada
visa tanto despertar o espírito criativo nos escola- (para alunos mais novos, recomendamos
res quanto ajudá-los a traduzir seus pensamentos folhas de papel maiores) e da extensão da
musicais em música grafada. A seguir são descritos melodia a ser executada (extensões maio-
08 passos necessários: res requerem quadrículos menores, para
poderem ser acomodadas na folha de papel).
Material: folhas de papel em branco, lápis e O número de quadrículos na posição hori-
_i'\:
borracha. zontal depende da duração da melodia. Para
Preparação do papel quadriculado: oriente os melodias mais longas, a folha deve ter mais
alunos, que devem preparar o papel individual- quadrículos horizontais.
mente. Se for muito difícil coordenar todas d) No caso de melodias que ultrapassem o
as crianças para prepararem o papel, faça-o intervalo de uma oitava, o aluno deve colo-
sozinho: car, à esquerda de cada nota, a numeração da
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56
Gabriel Ferraz
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1.
seus gráficos. Para auxiliar os alunos, estabeleça previamente
o número mínimo e máximo de quadrículos horizontais que
as notas ocuparão. Por exemplo: a nota mais curta deve ocupar
um quadrículo, a nota intermediária, dois quadrículos, e a nota
mais longa, quatro quadrículos.
passos da atividade). ANDRADE, M. de. Obanquete. 2. ed. São Paulo: Duas Cidades,
Toque a melodia original algumas vezes 1989.
para que as crianças se lembrem dela. Em _ Ensaio sobre a música brasileira. Vila Rica; Brasília:
seguida, reproduza as melodias dos alunos INL, 1972. Disponível em: <http://wwwzufrgs.br/cdromr'
mandrade/mandrade.pdf›. Acesso em: 2 set. 2014.
(sem mencionar nomes), para que perce-
bam as semelhanças e diferenças entre as . Música doce música. São Paulo: Martins Editora, 1963.
suas versões e a versão original. Se não BEARD, D.; GLOAG, K. Nlusicologyz the Key Concepts. London:
for possível reproduzir todos os exemplos, Routledge, 2005. Disponível em: chttp://wwwzacademia.
edu/4362932/Beard_D_Gloag_K._Musicologv_-_The___Key_
selecione o número que for possível acomo- Concepts›. Acesso em: 3 set. 2014.
dar. Considerando-se que haverá diferenças
BÉHAGUE, G. Heitorllilla-Lobos: Search for Brazil 's Musical Soul. I
I
entre as melodias dos alunos e a melodia ori- Austin: University of Texas, 1994. Diponível em: chttp:// 1
1
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60 Gabriel Ferraz
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José Nunes Fernandes é doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Ianeiro (UFRJ), mestre em Música e
especialista em Educação Musical, ambos pelo Conservatório Brasileiro de Música, Centro Universitário (CBM-CEU)
I'
licenciado em Música pela Universidade Federal do Piaui (UFPI) e graduado em Psicologia pela Universidade Estácio
de Sd. É professor associado IVda Unirio, no Instituto Villa-Lobos, e no Programa de Pós-Graduação em Música da
instituição. E professor da disciplina Psicologia da Música no curso de especialização em Musicoterapia do CBM/
RI e professor do curso de licenciatura em Pedagogia Lipead/Cederj/Unirio,
í
2.1 Antônio de Sá Pereira: princípios Na primeira metade do século XX, o modernismo
da nova pedagogia da música no transformou os grandes centros urbanos em palco
Brasil na primeira metade do de acirradas discussões ideológicas, educacionais e
século XX estético-pedagógicas, acompanhadas das transfor-
mações políticas, econômicas e sociais trazidas pela
Antônio Leal de Sá Pereira, conhecido como Sá crescente urbanização e seu consequente processo
Pereira, foi pioneiro no Brasil na área do ensino da de industrialização. A essa nova realidade, os moder-
música e no contato com as ideias da chamada educa- nistas responderam com um exemplar engajamento
ção renovada, ou seja, dos princípios da Escola Nova e na luta pela escola pública ampla e irrestrita, de forte
das bases psicológicas do ensino da música, e em sua base popular e com compromisso com essa moder-
respectiva divulgação. Foi um professor preocupado nização e o capitalismo vigente.
prioritariamente com os problemas da aprendizagem
da música apresentados pelas crianças e especial- O pensamento de Sá Pereira, nesse contexto,
mente conhecido pela sua valiosa contribuição para se identificou profundamente com os chamados
o desenvolvimento da educação musical brasileira. profissionais da educação, preocupando-se com
Pedagogo nato, mostrou-se veementemente contra a melhoria da qualidade do ensino, sua psicolo-
o amadorismo e o despreparo dos profissionais do gização, sua adequada administração e o apri-
ensino de música no Brasil (Sá Pereira, 1934a, 1937). moramento da formação docente. O aspecto da
Apontava soluções, em vez de simplesmente criticar psicologia associada ao ensino da música era,
os processos de ensino praticados na época (décadas naquela época e ainda hoje, para muitos autores,
de 1930 e 1940), sempre abordando as ideias atuais um aspecto benéfico à pedagogia musical, uma vez
sobre o assunto, escrevendo de maneira simples, que torna o professor conhecedor do desenvolvi-
objetiva e didática. mento cognitivo dos alunos. O educador soteropo-
É importante relacionarmos aqui seu trabalho, litano esteve inserido num otimismo pedagógico,
sua ação pedagógica e sua obra escrita com o contexto reflexo dos movimento dos “pioneiros na edu-
sociocultural e os fatores histórico-sociais, musicais cação”, entre eles Anísio Teixeiray, pessoa-chave
e educacionais do periodo histórico em que atuou. para os acontecimentos escolanovistas no Brasil.
63
Antônio de Sã Pereira: o ensino racionalizado da música
Essa nova vertente pedagógico-educacional tinha de um esforço cientificamente apoiado de acesso aos
como princípio a crença inabalável' nos benefícios mecanismos de facilitação da aprendizagem, mas
dos novos modelos educacionais e no pensamento com pleno conhecimento psicológico e biológico da
educativo baseado na ciência, sobretudo na psico- criança. Essa preocupação levou o estudioso a lançar
logia. Portanto, não podemos entender as ideias mão do termo psicotécnico em vez de metodologia: o
de Sá Pereira fora do movimento de renovação primeiro expressa de maneira completa a aplica-
pedagógica que foi a Escola Nova, tampouco fora ção de princípios psicológicos ao ensino da música,
do movimento de renovação estética que foi o respeitando as possibilidades da realidade psíquica
modernismo. infantil no processo de ensino e tendo como objetivo
o interesse da criança e um maior aproveitamento de
A Escola Nova tinha como uma de suas bases o suas capacidades intelectuais. O professor dizia que
pensamento de William Iamesõi e Iohn Devteyfl” e, a metodologia organizada de maneira lógica e não
portanto, a preocupação com a qualidade do ensino, psicológica estava ligada ao aprendizado do adulto,
o caráter objetivo, o controle didático, o uso de conhe- e não da criança (Sá Pereira, 1937).
cimentos novos e a fundamentação biológica e psi- A fundamentação de Sá Pereira para a psico-
cológica do ensino (Lourenço Filho, 1972). Todos esses técnica residia nas teorias dos pensadores atuais
fatores contribuíram para que Sá Pereira pensasse da época, ou seja, o que havia de novo nos estudos
sua prática em termos de ensino ativo, fundamentado da educação e da pedagogia musical. Assim, o edu-
i em jogos e em práticas corporais que cador buscou a legitimação de suas ideias no pen-
6 ensino músieahfaícin-
E o e tinham como objetivo colocar a criança samento dos principais representantes da Escola
nairzado venta senemç
E e 9 como centro do processo de ensino e Nova e no pensamento pedagógico-musical de Émile
Sá Pereirairo-idas-d.nbra~ ;
r E e v dinamizara relação professor-aluno. jaques-Dalcroze.
ente nzetodolíâgçitadieii
. r r Sá Pereira tinha como alicerce de
"Ivfififiitsfi E seu trabalho o ensino musical racio- Com essa fundamentação(escola ativa e Dalcroze),
mmsHnflihderãeeacécsšàeso nal1zado, . . .
que cons1st1a em uma for-
aos mecanismies'de faoci- i __ Sá Pereira formulou suas ideias da psicotécnica,
; mulaçao didática fundamentada em afirmando que o objetivo consiste em colocar a
lftaçao da apren:jg;agepn,ç,.
outras áreas do conhecimento humano, criança em condições favoráveis de aprendizagem,
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especialmente na psicologia. O ensino ou seja, observá-la atentamente a fim de desco-
z E musical racionalizado vem a ser, em Sá brir as tendências e inclinações que- possam ser
z Pereira,odesdobramento metodológico aproveitadas no estudo. Sá Pereiradesenvolve
64
Iosé Nunes Fernandes
tos É-ssaafirmação quando explica que: (1) convém De acordo com Sá Pereira, o professorltem-de. colo-
Las -observar que-“não há criança preguiçoso e avessa car o alunoiem situação ativa, para que ele descubra
da E 'ao=-estudo;
= _ (2) qualquer criança é ativa e curiosa; por si. sóa solução de um problema. O professor
;ar ='(3)“essas qualidades são inatas. ,deveiser um es-timulador para que o estudante
.: o pense por conta própria, não um apresentador de
ca- Na crítica feita pelo autor ã chamada pedagogia soluções eo respostas prontas. Assim, Sá Pereira
ca, antiga, uma série de erros são apontados, relaciona- propõe acabar com o que chamava de empirismo,
.ca dos à educação geral e também ã própria técnica da ou seja, o ensino pelo palpite, o experimentar sem
vo aprendizagem (Sá Pereira, 1937): (1) desconhecimento controle nem plano de racionalidade concebido
de da criança; (2) isolamento diante da vida; (3) falta de (Sá Pereira, 1937). O autor chama atenção para o
ue motivação intrínseca e (4) desconhecimento das rea- desperdício do ensino inicial de música nas mãos
ão ções emocionais que acompanham a aprendizagem. de amadores e não especialistas que fazem um
120, Com isso, o autor afirma que, aos poucos, as novas trabalho não racionalizado.
ideias vão sendo conhecidas pelos professores, refe-
:o- rindo-se ao ensino intuitivo.
.is Fundamentando-se no pensamento escolanovista,
Porrqúeitprender-
os Sá Pereira era contra o ensino expositivo e Iivresco e
lu- afirmava que se devia copiar a natureza, ou seja, dar
hfltõeêêtsfiarisflfifilëiãz
ou i
rn- à criança um ensino de acordo com suas tendências e
la capacidades. “A intuição é pois o conhecimento ime-
le diato das coisas e dos fenômenos que nos é fornecido
pelas sensações (...) até chegar à elaboração do con-
ceito, da ideia abstrata” (Sá Pereira, 1937, p. 33). Essa
L afirmação do educador é um princípio fundamental
-1 da Escola Nova, trazido também no pensamento
L de Dalcroze, que afirmava que, no aprendizado da
-1 língua, deveríamos, antes de aprender a gramática,
aprender a falar. Por extensão, por que aprender
i
noções teóricas e leis da harmonia antes de aprender
a tocar e cantar?
António Leal de Sá Pereira nasceu em Salvador, (Sá Pereira, 1933, p. 15). Estudou também piano, “com o
Bahia, em 16 de agosto de 1888. Descendente de por- melhor professor da cidade”, fazia parte do coro gina-
tugueses, de família abastada, Sá Pereira era filho sial e participou da orquestra de alunos (Sá Pereira,
do comerciante Lino de Sá Pereira. Em 1900, com 1933, p. 16). Também foi aluno na Escola Politécnica
apenas 12 anos, foi estudar na Europa (Alemanha, (Munique), em 1917, e, em 1918, na Escola Politécnica
França e Suíça), onde permaneceu até 1917. Foi uma de Berlim-Charlottenburg. Mesmo tendo estudado
figura marcante na história de muitos músicos e usinagem e química, a música acabou permanecendo
educadores musicais brasileiros. No Brasil, morou e como seu objetivo.
atuou em Pelotas, São Paulo e no Rio de janeiro, onde
foi professor catedrático no Instituto Nacional de Em 1910, mudou-se para Paris, onde matricu-
Música (hoje Escola de Música da UFRI), entre 1932 e lou-se na Schola Cantorum, na classe do pianista
1955. O Governo Vargas, na década de 1930, solicitou Ferdinand Motte-Lacroix. A Schola Cantorum
que o estudioso viajasse mais uma vez para a Europa tinha uma filosofia pedagógica diferente da do
para conhecer abordagens metodológicas de ensino Conservatório de Paris, pois buscava formar o
da música utilizadas no Velho Mundo. Ao voltar músico completo, com sólida formação histórica,
para o Brasil, fundou (1937) o primeiro curso brasi- analítica e harmônica e não somente o instrumen-
leiro a utilizar o método Dalcroze no Conservatório tista, escolha que influenciou o pensamento peda-
Brasileiro de Música (CBM) (Sá Pereira, N. I. A. de, gógico de Sá Pereira. Assim, as ideias do “músico
1949). O educador não só atuou como professor, mas completo” da Schola Cantorum nortearam seus
também como importante disserninador de ideias princípios pedagógicos, pois, já no Brasil, anos
depois, quando participou da reforma do ensino
66
josé Nunes Fernandes
iiisica no Instituto Nacional de Musica do Rio 9 98%: ao t aiara arao
need má
2 Avelino Romero Pereira (1995) diz que o fato de Guanabarino ter sido recusado como professor de piano do Instituto
Nacional de Música foi um dos motivos de suas constantes críticas a tudo e todos que se vinculavam à instituição.
Em resposta, Sá Pereira publicou um artigo intitulado Úperiil de um critico (1933), no qual respondeu a todas as
criticas feitas por Gua nabarino. Caso queira aprofundar-se no asssunto, veja: CORUISIER, F. G. lvl. A recepção ao ensino
moderno de piano (1993) de António de Sá Pereira frente a visão conservadora e polêmica de Oscar Guanabarino
Música em Contexto, Brasíiia, n. 1, p. 193-233, 2014. Disponível em: <http:iz'perIodlcos.unb.br.finde›i.phpiI*v1usicai'
articleivievvi12üü8.ipdf_188>.
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3 Sifi PEREIRA, A. Ensino moderno de piano: para uso de alunos adiantados ejovens professores. São Paulo:
Ricordi, 1933.
70
Iose Nunes Fernandes
Em 1935, Sá Pereira foi convidado por Gustavo por Oscar Lorenzo Fernández, o curso de Iniciação
i-iapanema, então ministro da Educação e Saúde Musical, primeiro do gênero no Brasil, que contava
iüblica, para integrar a comissão que elaboraria com a colaboração de Liddy Mignone (Mignone, 1961).
.s novos planos da Universidade do Brasili. Essa Em outubro do mesmo ano, quando assumiu o cargo
iciativa se deu pelos méritos do musicista, já reco- de professor da Escola Nacional de Música5, Sá Pereira
`-hecidos por seu trabalho no Instituto Nacional de fundou um curso idêntico, que se manteve como
C fisica. A pedido de Capanema, o professor viajou extensão até ser incorporado definitivamente ao cur-
r _
'a vários paises da Europa para conhecer o traba- rículo da instituição em 1946 sob a direção de Nayde
de alguns profissionais da educação - o educa- de Sá Pereira (Sá Pereira, N. I. A. de, 1949; Pereira, 1981).
' foi a Paris, Hamburgo, Munique e Berlim, como As classes de iniciação musical foram laboratório
iresentante do Instituto Nacional de Música no para os alunos do curso de Pedagogia Musical da
igresso Internacional de Educação Musical reali- Escola Nacional de Música e, a partir de 1938, passa-
lo em Praga, atual capital da República Tcheca, em ram a ser coordenadas por Nayde de Sá Pereira, uma
fil de 1936 (Corvisier, 2009). Foi nesse evento que vez que António Sá Pereira se dedicava à cátedra de
Pereira encontrou-se pessoalmente com Dalcroze, Pedagogia Musical, ao ensino do piano e, principal-
3 que o incentivou a realizar uma visita a Genebra mente, às funções administrativas do estabeleci-
.tes de retornar ao Brasil), na qual revelou inte- mento. Depois disso, os cursos de iniciação musical do
se em implantar no Brasil um curso de ensino CBM e da Escola Nacional se tornaram independentes.
cial de música nos moldes da ginástica rítmica
icebida pelo pedagogo suíço (Sá Pereira, N. I. A. de, ~ Para Pereira (1981), o método Sá Pereira tem
z9; Pereira, 1981). A expressão iniciação musical foi caracteristicas novas para a época de sua criação:
ada por Sá Pereira para substituir ginástica rít- If aulas ativas, atividades variadas, sempre-
a - empregada por Iaques-Dalcroze, que detinha levando em conta as caracteristicas psicológi-
a , . . . , . cas da criança, sem a utilização de definições
tente do metodo (Academia Brasileira de Musica,
15, Sa Pereira, N. I. A. de, 1949). teóricas nem regras a decorar;
De volta ao Brasil, Sá Pereira criou e implemen- Il uso em abundância de exercícios corporais e do
1 , em março de 1937, no Conservatório Brasileiro processo de leitura síncrético-analítico-sintético;
Música do Rio de Ianeiro (CBM), dirigido a época J* utilização do piano como instrumento didático;
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m,_ -ñ- _ f^' _
Em 193?',a Universidade do Rio delaneiro teve seu nome mudado para Universidade 5 Em 1513?, o Instituto Nacional de Música passou a se chamar Escola Nacional de
lo Brasil. Música.
T1
ñnio de Sá Pereira: o ensino racionalizado da música
J) estímulo à atividade criadora da criança por Música, fundada em 1967 no Rio de janeiro (Academia
meio de jogos rítmicos e melódicos; Brasileira de Música, 2015).
J) educação do gosto estético da criança, incenti- Por motivos de saúde, em 1955, Sá Pereira afas-
vando-a a ouvir e cantar músicas do repertório tou-se da cadeira de Pedagogia Musical, reduzindo
erudito, folclórico e popular; suas atividades pedagógicas. Em 21 de fevereiro de
J* uso de atividadesde conjunto (coro, dança, con- 1966, faleceu no Rio de janeiro, tendo seu trabalho
junto de percussão, dramatização), tendo como continuado por sua esposa, Nayde jaguaríbe de
objetivo o estímulo ao senso de cooperação, Alencar Sá Pereirafi.
responsabilidade e atenção da criança;
J) ensino de grafia realizado somente após a prá- 2.2.1 Produção musical e pedagógica
tica intuitiva da música.
A produção intelectual de Sá Pereira foi publicada
Sá Pereira foi diretor da Escola Nacional de em livros, artigos em revistas e jornais, críticas, bole-
Música de junho de 1938 até janeiro de 1946. Sua tins, resenhas, discursos, comunicações de pesquisa,
atividade profissional era intensa, pois acumulava entre outros. Os textos do educador mais represen-
os cargos de diretor da instituição e catedrático da tativos e divulgados na área da pedagogia da música
cadeira de Pedagogia Musical, mas sempre em con- são: Um teste de apreciação musical (Rio de janeiro:
tato com tudo que havia de novo na área da música Universidade do Brasil, 1937), Ensino moderno de piano
e seu ensino. Em 1942, Sá Pereira foi convidado pela (São Paulo: Ricordi, 1933), Psicotécnica do ensino ele-
Music Educators National Conference (Menc) e pela mentar da música (Rio de janeiro: josé Olympio, 1937)
Divisão de Música da Universidade Pan-Americana e O pedal na técnica do piano (Rio de janeiro: Carlos
para viajar para os Estados Unidos e ali permane- Wehrs e Cia Ltda., 1954).?
cer durante três meses. Conheceu a organização A produção musical de Sá Pereira consta de peças
e a programação do ensino de música nas escolas, para piano (“Berceuse”, “Tango brasileiro”, “Oferenda
visitou escolas infantis e universidades e fez um mística” e “A chuva plangé”), para coro (“As quatro
levantamento detalhado do ensino da música no país. estações”, “Louvado seja o Sol” e “La paix”, de Reynaldo
Nessa ocasião, tornou-se membro da International Hahn) e para canto (“Ave Marias” e “Casinha nas
Society for Music Education. Foi membro fundador da nuvens” - canção infantil, letra do compositor).
Academia Brasileira de Música, sendo atual patrono ,f 2-- A ---'-'¬-fz» f _.
da cadeira número 13 da Academia Nacional de 6 SA PEREIRA, N. J. de A. Bandinha rítmica: organização e prática. Rio de Janeiro,
Eulenstein Música, 1963.
? A lista de publicações de Sá Pereira encontra-se no final deste capítulo.
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josé Nunes Fernandes
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Figaro 2 2 - Capa e contracapa aatografada do iivro
de
O enslno raclonallzado da Inuslca Psicoiécnica do ensino elementar da música (1937). Úiira
ho deposita-da na Biblioteca da Unirio
de metodologia de Sá Pereira - a iniciação musical, _ _
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111911119 Ídei-11” (Sá PETÊÍT3, 1937. P- 154)-
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fe- A recomendação pratica e feita por meio das nor
Credito: Reprodução
7) tnas de um ensino racionalizado da música:
is ,(1 1° - exercicios de audição;
Â? 2° - exercícios de localização; e
S J) 3” - exercícios de leitura.
B. Sá Pereira é categórico: “Não ensinar símbolos
D Í es de conhecidas e experimentados as realida ' _ _z-¡¡z-
_ _ímtos_isäli1iÇa°%-idemanta-._-
I] des Cl ue os símbolos representaml” (Sá Pereira, 19371 ;â
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S 138). O autor detalha esse argumento ao afirmar
antes de ensinar as notas e os valores, antes de
em intervalos e em compassos, deverá o mestre
IL
o aluno ouvir e sentir a música, experimentar o
no musical” (Sá Pereira, 1937, p. 139, grifo do
_ _ 73
i de Sa Pereira: o ensino racionalizado da musica
original). O primeiro passo é auxiliar a criança no Outro ponto que devemos comentar é a adjetiiração
aprendizado intuitivo das notas, dos intervalos, do dos intervalos como forma de auxiliar para o seu
ritmo, do compasso, sentindo-os e vivendo-os intensa- reconhecimento e fixação. Por exemplo: é possível
mente. Os exercícios devem ser feitos na faixa etária afirmar que a 6* é um intervalo “doce, lãnguído-
dos 5 aos 8 anos, período em que a “impressionalidade e repousante”_ Meyer (1956) afirma em seu estudo
e a plasticidade do sistema nervoso” são extremas. que na música existem significados incorporados,
Segundo Sá Pereira (1937, p. 140), “Afirma Dalcroze que como no caso em que uma professora diz ao aluno _
depois desta idade já não é possível corrigir o ouvido que “todo tom menor é triste” -~ muitas vezes, os
do aluno (...) vamos, pois, orientar o nosso ensino no professores impõem significados ã música incor-
sentido de bem cedo se tentar desenvolver a criança”. retamente. Hoje, a educação musical já conta com
O método apresenta muitos exercícios para a sala pesquisas que discutem esse aspecto e muitos estu-
de aula com crianças (alguns podem ser usados com diosos desenvolveram trabalhos sobre aspectos
adultos) que devem ser consultados, desdobrados, emocionais da música. O por
modificados, associados a outros e colocados em exemplo, é um dos mais conhecidos modelos de
prática em sala de aula. adjetivação de trechos, intervalos, músicas, sequên-
cias etc. Muitos outros autores desenvolveram
2.3.1 Normas para o ensino inicial pesquisas com esse tema, entre eles Sloboda (1985),
que trata das lembranças musicais, ligadas aos
ãiâercšcies de adição: a escassas sentimentos. Isso nos leva a concluir que as ideias
da šnteeeaša de Sá Pereira avançavam no tempo. São ideias que
vieram a interessar os pesquisadores somente
Os exercícios de audição, com ênfase no aprendizado muitos anos depois.
dos intervalos, bem como outros aspectos das normas
para o ensino, se justificam pelo fato de Sá Pereira
vislumbrar um estudo sistemático da música por áãater as è flãtliâfiii- mi-_ É sãtê _ _,_ ,_,§ na daspoe
mi_,
parte aluno, que deveria continuar seus estudos na ás arena
escola de música em níveis técnicos e superiores. Essa
postura difere da proposta de iniciação musical de Sá Pereira criou uma série de materiais didáticos
Liddy Mignone, pois Sá Pereira desejava musicalízar para a psícotécnica (iniciação musical), entre eles
em direção a uma formação de músico. escadas (de notas/intervalos) de chão e de mesa, blo-
cos proporcionais com figuras, sinaleíros, toalhas
L
Figura 2.5 - Treino de Zeitura rápida: ficha de registro do
tempo de reação do aluno no treino de leitora rápida com a
utilização de cartões-relâmpago
6 3 5 5 4 6
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' 5 3 4 4 3 5
4 2 ! 4 3 2 5
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3 1 3 I 3 1 4
3 1 2 2 1 3
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devem se posicionar nos degraus da escada de Pereira afirma que é importante que o professor
chão (tridimensional ou linear - desenhada no questiono sempre o que as notas “estão dizendo”.
chão), e você deve sempre questionar: Quantos A Figura 2.8 mostra o caráter interrogativo da
degraus o aluno andou no final? Onde andou e 5“ e o afirmativo da 4“.
onde saltou? Aos poucos, a palavra terça deve
ser introduzida. Sá Pereira enfatiza que nada šigura 2.8 - .associação veraai com os intervaios
1 seposicione nele e entoe a nota respectiva (se .li .logo dos barquinhos: faça oito barquinhos de
a nota não for conjunta, elas não precisam papel, um para cada nota. Os barquinhos devem
saltar; elas podem caminhar- subir ou descer ser distribuídos de acordo com o número de alu-
até o degrau respectivo). Depois de as crianças nos. Toque uma melodia simples dentro de uma
F
entoarem a nota, toque para que elas saibam oitava - cada criança deve reconhecer a nota
de seu respectivo barquinho e avançar. Ganha
nt
e toque lentamente a cançao inteira para que por ter avançado quando não devia, ou por
as crianças se posicionem nos degraus de cada ter ficado parada quando devia avançar” (Sá
nota da melodia. Não é necessária a exatidão Pereira, 1937, p. 146).
I
saber dizer o que e uma semibreve (Sa Pereira, 1937, p. 148). Assim, o edu
cador sugere que seja utilizada inicialmente a semínima como unidade
inicial, que corresponde no método Dalcroze ao “passo de marcha”, e, com
base nela, que sejam estabelecidos os valores de duração maior e menor.
a 1 ai té.1 il 1 tt 1
Fonte: Sá Pereira, 1931 p.149.
annuplnlwnuwmlpl
Fonte: Sá Pereira, 1951?, p.15D.
Figura 2.12 -›- Séries da semininzias com palmas e passas- diferenciados, compasso binário
84
ƒosé Nunes Fernandes
Exercício de realização rápida: nesse exercício, a indicaçãi) vocal “vá" indica
a mudança de mão, ou seja, ao ouvirem o 'f'v:ç§i", as? crianças que iniciaram
batendo a mão direita na esquerda passam a bater, a esquerda na direita.
Sá Pereira diz qt1e.Dalcroze usa “hop”"para tal exercicio. P P
41 lr J ,tp J 11 1 r J J 11 J 1 ll
' vá vá vá
Fonte: Sá Pereira, 1931 p.151.
1» Jr 1 lg 1 rf 3 11, M1 1 i
vá dir.
Fonte: Sá Pereira, 193?, p. 151.
'. q. es .
H 1 ali HM H J
antonio de Sa Pereira: o ensino racionalizado da música
8. Exercício de ruptura de aotomati-smo: em marcha, as crianças devem dar
dois passos para frente e dois paraatrás ao ouvirem o comandofvá”, vol~
tando logo em seguida a andar para frente, sempre batendo o compasso
CÚIII ES' IIIEROS.
(J J (J JJ J J JJ J [J J
vá para trás para a
J frente
Fonte: Sá Pereira, 1931 13.151. '
,J J J ,J J J ,J J J ,J J J
Fonte: Sá Pereira, i93?, p. 152.
Ê /Í'
Fonte: Sá Pereira, 1931 p. 152. -
86
lose Nunes Fernandes
Oriente, as cria-nças annarcarem o compasso ternãrio cornrosspésa e as
mãos. ao escutaram o trecho ternário, elas devem andar e bater palmas,
com revezamento de mãos epé inicial (veja a Figura 2.19). .r P
10., Exercício de rápida reação motriz: ao escutarem o comando “vá” (2° tempo
P de um compasso), as crianças devem mudar a mão que bate no 1° tempo
do compasso seguinte. Esse revezamento deve ser feito tambem entre os
i pés esquerdo e direito do 1° tempo do compasso seguinte do “vá”.
JJ JJ [J ,J J[J J J [J JJ ]J J J [
vá ' vá -
[JJ J [J JJ [J JJ [J J J[J J J [J J J
vá u ' vá
[JJ J [J J J [J J J [J JJ z[ JJ J[J J J [J JJ }
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šoo a asašsos
88
Iosë Nunes Fernandes
superfície (acreditamos que a opção de uma folha destacável É uma ideia
muito nova para a época). Na página frontal, tem-se uma gravura que
descreve como ficará o jogo quando for completado (veja a Figura 2.22)
e, no verso, uma tabela (formando quadras) com as respostas (veia a
Figura 2.23).
Figura 2.22 - logo de Mosaicos ‹- frente: figura que ilustra o jogo quando concluído
fossa:
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Fonte: Sá Pereira, 193?, s.p.
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Figura 2.2ñ ~‹› flartela com exemplos de trechos musicais (Loto Musical)
2 4 3 Outras atividades
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9-4L
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inês de Almeida Rocha é professora de Educação Musical do Colégio Pedro II, docente permanente do Programa
de Pós-Graduação em Musica da Universidade Federal do Estado do Rio de Ianeiro (PPGM). É pos-doutora pela
Universidad Valladolid (Espanha), doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Ianeiro (Uerj), com
período sanduiche na Universidad de Alcalá de Henares (Espanha), e mestre em Musica pelo Conservatório Brasileiro
de Música - Centro Universitário (CBM~CEU). É lider do Grupo de Pesquisa Praticas de Ensino e Aprendizagem em
Musica (Gepeamus) Caliope. Vem desenvolvendo pesquisas nas áreas de artes e educação, com ênfase em música,
educação musical, musicologia, história da educação musical e história da educação. Conta com textos publicados
no Brasil, em Portugal e na Espanha. O livro Canções de amigo: redes de sociabilidade na correspondência
de Liddy Chiaffarelli Mignone para Mário de Andrade, publicado em 2012, éƒruto de sua tese de doutorado.
Atualmente integra o naipe de sopranos do Coro de Câmera da Pro-Arte (BR).
3.1 Educação musical como As propostas de musicalização. e de formação de
experiencia estética professores desenvolvidas por Liddy Mignone per-
manecem atuais e relevantes em muitos pontos,
Liddy Chiaffarelli Mignone desenvolveu relevantes como em sua concepção pedagogica musical, na
trabalhos no ensino de música para crianças, adoles- qual o ponto central consiste em desenvolver o
centes e adultos, criando diversos cursos e promo- potencial musical de cada individuo e proporcio-
vendo ações significativas para a educação musical nar condições para que as pessoas se relacionem
no Brasil. Em sua trajetória, a educadora revelou melhor com a música - ouvindo, tocando, com-
ser uma mulher sensível, com atuações múltiplas e pondo, sentindo a música pelo corpo, pelo movi-
grande capacidade de inovação. mento -, enfim, que todos possam ter acesso a
Seus projetos demonstram o envolvimento em um uma vivência estética musical de diversas formas.
constante processo de renovação. Destacam-se como Como você verá no decorrer do texto, aprender
suas principais contribuições a produtiva atuação música, para essa educadora, não se reduz a saber
no âmbito do ensino de música e piano para crian- ler alguns símbolos musicais ou executar peças em
ças, a publicação de livros e a formação de profes- um instrumento musical. É muito mais que isso.
sores especializados na metodologia de Iniciação
Musical e no ensino de canto e piano. A educadora Para que você tenha uma dimensão do que os
tornou-se mais conhecida, entretanto, pelo trabalho trabalhos de Liddy Mignone representaram para a
frente ao curso de Iniciação Musical ministrado no educação musical no país, devemos, contudo, con-
Conservatório Brasileiro de Música* (CBM). textualizar as ideías da musicista de acordo com as
propostas pedagogicas vigentes durante o período
no qual atuou.
100
Inês de Almeida Rocha
crescimento fisico, os níveis de maturidade, o pro- O curso de Iniciação Musical não é e nunca deve ser
pzr
cesso de adaptaçao do organismo ao meio, o contin- um curso de teoria musical, mesmo quando aliviado
gente hereditário e o condicionamento endócrino. por processos modernizantes, mas sim uma atividade
Esses conhecimentos embasaram pesquisas expe- musical baseada no interesse e nas necessidades da
rimentais na área da psicologia e foram incorpora- crianca, desenvolvendo a par da sua musicalidade a
dos ãs novas pedagogias que surgiram na virada do sua atenção, a disciplina espontânea, servindo como
século XIX para o século XX. meio de afirmação de sua personalidade.
Lourenço Filho, Anísio Teixeira e muitos peda- Muito embora Mignone também destacasse o
gogos brasileiros contemporâneos da época tiveram valor da música para o desenvolvimento de aspectos
como grandes referências os autores john Dewey e extramusicais, a musicalidade era privilegiada. Para
Êdouard Claparede. A apropriação dessas ideias pode tal, não bastava que a criança fosse exposta a qual-
ser identificadaem diversos textos e ações pedagógi- quer tipo de atividade musical, mas sim que as ati-
cas da época. Retornamos, uma vez mais, aos escritos vidades estivessem adequadas a cada fase de desen-
de Lourenço Filho (1963, p. 53) como exemplo: o autor volvimento infantil e que atendessem ãs suas
afirma que o desenvolvimento humano processa-se necessidades naturais da vida. De acordo com
com base em um modelo evolutivo, cujas etapas são Claparède (1940), o interesse da criança deve estar
caracterizadas por diversas transformações. Outro fundamentado em uma necessidade, pois é isso que
aspecto importante é o da continuidade do processo, impulsiona o indivíduo a agir. Daí a importância do
pois as etapas se interligam e se sucedem umas às movimento, do lúdico, do jogo, pois são essenciais
outras. O corpo participa na totalidade de suas capa- na vida, principalmente durante a infância.
cidades, sejam elas orgânicas ou psíquicas. justifica-se,assim,opapelqueoritmo B B
Nesse sentido, também identificamos na metodo- adquiriu na metodologia de Iniciaça,. O s e C À 1
. na
-Çhasgtavaíqite ajcrlança
logia de Iniciação Musical a valorização de conheci- Musical. O brinquedo e o lúdico são 1
gfesseiexliflstaa qual
mentos sobre psicologia infantil para o aprendizado essenciais â educação da criança e ã ea e . e se
,
musical, entre eles os relacionados à motivação, aten- sua v1da.A , , ,, _ ç uerifife-.de atividade
musica, vida coordenada ,gp fí,_
. iir|tu$1r:,a.l,anas-sun que a
ção, memorização, inteligéncia, percepção, emo- pelo ritmo, podia ser considerada de I ~ -
aos-íariiridadíeis estivessem
ção, sensação e adequação das atividades às fases de suma importância no ambiente educa- 9
*iádeqvadašcada fase
desenvolvimento de cada indivíduo. Nas palavras de tivo dacriança” (Mignone, 1961,p. 7). Em
iiesenveivíhiento
Mignone (s. d. (b), p. 1): síntese, Mignone afirma que o processo
21- iiâfantz¡i é-que-ateu
de ensino e aprendizagem da música 1 í-
is .ds«ssetrii-iäšslias necessl
da vida
101
Liddv Chiaffarelli Mignone: sensíbl lldada E renovação no estudo de música
deveria estar focado na percepção sensorial, com e Maurice Martenoti, por exemplo. Cabe aqui res-
À P' *If I
enfase em audiçao, e na açao da criança, expressa pelo saltarmos esse aspecto como mais uma contribui-
movimento relacionado à música e pela performance - ção renovadora da prática educativa de Mignone no
cantando e tocando instrumentos de percussao. Para 1-ur
Temos que viver; então vivamosƒazendo alguma coisa de bom: ensinar a amar
a música para termos ou melhor, para que estas crianças [tenham] também
um dia um refúgio de doçura na vida! E juro que não estoufingindo isto, estou
-í' ,Í - _ í ___
-I
Carta escrita por Liddv Chiaffarelli no Rio de Janeiro, em 29 dejulho de 15142 - Instituto
de Estudos Brasileiros iIEB) da Universidade de São Paulo (USP), Fundo Pessoal
Mário de Andrade (FPMAL catalogação: MA-C-CPL, n. 2044. O grifo é da propria
autora da carta manuscrita. Como critérios de transcrição do manuscrito, utilizei
um tipo cle transcrição denominada transcrição atualizado (Sierra Bias, 2009), na
qual o objetivo principal é facilitaro acesso do leitor ao conteúdo do texto escrito
e permitir a análise do pesquisador. Nesse sentido, informo que realizei atualiza-
ção gramatical e ortogrãfica, mantive marcas de escrita como sublinhados e uso
de aspas e acrescentei termos entre colchetes, pois julguei necessário para que o
leitor pudesse compreender o trecho citado na impossibilidade de ter acesso ao
manuscrito original na Íntegra.
.- -f1'f_'-'Hr 7 _ 1
r 1 z f .f"""'*¬.- z z f›- A 10 Sobre os músicos-pedagogos Edgar Willems e Carl Orff, veja: MATElHD, T.; ILARI, B.
8 O Instituto Nacional de Música foi criado em 1840 com a denominação de (Org.). Pedagogias em educação musical. Curitiba: lnterãaberes, 2012. (Série
Conservatório de Música. Em 189111, passou a ser chamado de Instituto Nacional de Educação Musicaii.
Música; em 1931 de Escola Nacional de Música, e, em 1956, recebeu a atual deno- 11 Faço aqui a opção pela terminologia pessoas com deñciëncia, embasada na
minação de Escola de Música da Universidade Federal do Fiio de Janeiro. Resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiéncia iConade)
9 Veja a análise sobre a iniciação Musical criada por António Leal de Sã Pereira na n.1, de15 de outubro de 2ú1ü. Disponivel em: chttpziivvww.pessoacomdeficiencia.
Escola Nacional de Música no Capitulo 2 deste mesmo livro. gov.brrappfconadeƒsobre-o-conadeƒregimento-interno:.=›. Acesso em: 1° abr. 2015.
12 Ci primeiro curso de Musicoterapia do Brasil foi criado no CBM por Cecilia Conde,
em 19?2.
Nepomuceno, Francisco Braga, Henrique Osvvald, Em 1951, Mignone compôs uma suíte, também para
nas línguas francesa, italiana e alemã. piano, constituída por quatro peças (I - Pierrozinho
Mignone publicou dois livros destinados a profes- triste, II- As costureirinhas, III - Acalanto do indio-
sores de música. Em 1947, pela Edições Tupy, escre- zínho e IV - Dia de férias). Além dessas composições,
veu Iniciação Musical: treinos de ouvido, ritmo e leitura, realizou revisões em partituras para piano, também
em coautoria com Marina Lorenzo Fernández, filha destinadas ao ensino inicial de piano.
do compositor Lorenzo Fernández e aluna de piano
e assistente da educadora paulista nas turmas de Outras produções importantes foram os programas
Iniciação Musical. O segundo livro, Guia para profes- de rádio e televisão apresentados por Mignone. Na
sores de recreação musical, foi publicado pela Editora década de 1950, à convite de Guilherme Figueiredo,
Ricordi Brasileira, em 1961, com a colaboração de diretor da TV Tupi, a educadora apresentou um
Anamaria Pinto Fonseca, Cecília Conde, Elizah Penna programa para crianças que era levado ao ar pela
Augusto da Silva, Marina Neves Espanha, suas alu- manhã, com duração de meia hora. O programa,
nas e participantes do Centro de Estudos. Ambos as denominado Escolinha Dó - Ré - Mi, exibia ativida-
obras foram estruturadas em torno da descrição das des do curso de Iniciação Musical realizadas com
atividades realizadas com as crianças, de prescrições crianças e apresentações musicais de grupos esco-
para uma boa atuação dos professores, de pressupos- lares. Durante a década de1960, a Iniciação Musical
tos teóricos que embasam a metodologia e reflexões ainda participava da programação com suas alu-
sobre diversos temas relacionados ao ensino de música nas Cecília Conde e Elizah Penna na TV Tupi, e,
para crianças. Além desses materiais mais divulga- na TV Globo, com Cecília Conde e Leatrice Paiva.
das, Mignone também escreveu em periódicos como Cecilia Conde também foi parceira de Mignone
a Revista do CBM e o Boletim da Associação Brasileira em programas de rádio que tinham um cunho
de Recreação. mais pedagógico eeram dirigidos a educadores e
A educadora compôs músicas dedicadas às a pessoas que trabalhassem com crianças.
crianças e iniciantes no aprendizado do piano
com temática infantil. As primeiras são datadas
de 1942, com os titulos “Chiquínho, o implicante”,
tal afirmação em mente, Mignone estava convencida acompanhador, em geral o piano, e na orientaçao
de que o professor necessitava de uma boa formação dos alunos na aula. O professor conduzia as ativida-
profissional para desempenhar suas funções. des tocando músicas e fazendo inter- ç 1 ..
ferências com melodias, improvisações P Nfirfiuiíiidfiilfllfilašzãfl
3.3.1 O curso de Iniciação Musical musicais, músicas com variações de s M"5¡f¡l¿”° P1'°fE$5°fe
andamento, dinâmica, estimulando o s Éfifififi-ifl-*PPS E 'Í' afim"
A Iniciação Musical era um curso destinado a crian- aluno a participar da aula de forma ÍÍÍP-FÉ-flêfl fii3¡5f lÍ°1'll.¡1&
ças entre 5 e 6 anos, que começavam seus estudos espontânea. Assim, a criança poderia í afã”-H-ÚGSSP-°li° Wfiffifsei
musicais. Surgiu como alternativa para atender a expressar sua musicalidade e adquirir dêiflfiffêidfirfflufi-íÍfêI
novos conhecimentos. tr consigo-.ašubservação, s
,_ z- z fr-"_”-¬.-m _ Q
13 Man uscrito, sem tituloe não datado, arquivado no Acervo Liddy Chiaffarelli Mignone
zrdsfifliflimfirêhsfsfzfls
{C|3|i,1-[EU]_ _ _ag_i
_zz
112
Inês de Almeida Rocha
Na visão adotadap-or Mignone, o' brinquedo é do jogo. Para essa fase, não se f_a-zuso de folhas para
uma atividade lúdica e oz movimento é base' para escrita e leitura, -cadernos--ou métodos. Utiliza-se
uma experiência da qual osalunos participam de o que Mignone denominava de “caixinha”1i, ou
forma espontânea e livre". Assim, o conhecimento seja, uma -caixa de qualquer tipo (papelão-, plás-
é apreendido pela percepção das sensações provo- tico, metal) que possibilite armazenar o material
cadas por ações. As atividades têm como objetivo aser manipulado pelas crianças com registro das
estimular a fantasia e a expressão por meio dos figuras de ritmo. Nela ficam guardados diversos
recursos de que cada um dispõe naturalmente, ou cartões de papelão”, cada um com desenhos das
seja, os alunos devem brincar com a música. figuras de ritmo ou de notas musicais.
Nessa fase inicial, denominada recreação,
as crianças devem participar de cirandas, danças, Os cartões que contêm as figuras de ritmo têm a
marchas, dramatizações e atividades com brin- função de estimular a criança a relacio-
quedos cantados. O brinquedo pode ser planejado nar o tamanho e a forma geométrica do
íibjetivli fdašl,¿e -eçcoriišiiiit
para intercalar uma atividade que exija mais aten- cartão, bem como o registro da figura
.. PiG<Íäfiüi|ãfi.0 Pfófñfiiãsíeëfi
ção e esforço, de modo que os alunos experimentam de ritmo/silêncio e a duraçao propor-
iseíuztempo.os:fundiif.,
um momento de recreação e, assim, fiquem mais cional de tempo do som/silêncio repre- se se se _ Í _
Íirieittosda-iflmuaçeo _
relaxados e facilmente motivados para retomar sentado por cada símbolo. Os cartões
uma atividade de maior complexidade. com o desenho das figuras de ritmo de
O jogo é uma atividade que envolve certo som (semibreve, mínima, semínima
grau de elaboração e representação mental dos etc., no anverso do cartão) e de silêncio
elementos trabalhados no brinquedo. As regras (respectivas pausas no verso do cartão)
a serem seguidas têm uma complexidade maior devem ser confeccionados com tama-
que a verificada no brinquedo. Mignone propõe nhos proporcionais. Por exemplo: se os
*íizípiorpairäíàrcorrdussãío”
alguns jogos de ritmo e som com movimentos do cartões com o desenho da semibreve
i!iii9..n°1ie::F§fi1Iflã1ids=;
corpo, uso de instrumentos de percussão e outros e sua pausa forem confeccionados em
u H _ . " Z'
materiais, como uma bola que é passada de criança forma de um quadrado com 20 cm
'r z -\
para criança em determinado tempo e ritmo ou *ff _ » -I"""_¶- f
como sentem a música. Ao professor, cabe observar e 15 Mignone criou também um curso de especialização para professores de piano com
caracteristicas muito parecidas, no que concerne à duração do curso, as aulas teóri-
motivar variadas escolhas de instrumentos musicais cas sobre psicoioqia do aprendizado, psicologia da criança, técnicas e métodos de
para cada aluno. Mignone recomendava que o pro- ensino do piano, estágio supervisionado, redação e defesa de tese. Na Biblioteca
do Centro Cultural Amália Conde, no CBM-CEU, é possivel ter acesso aos trabalhos
fessor deveria estar atento para poder estimular a defendidos pelos alunos desse curso.
1? Na época, esse trabalho acadêmico era denominado tese, mas, apesar da defesa
para uma banca de cinco professores, nos moldes dos trabalhos cientificas atuais,
hoje seria denominado trabalho monogrdfico, principalmente pela sua extensão
e menor grau de aprofundamento, o que, em minha opinião, não minimiza a qua-
lidade e importãncia desse tipo de trabalho na formação do professor da época.
1. Toque músicas do repertório do cancioneiro 1. .logo com os Pezinhos: peça para que os alunos
infantil variando em andamento, intensidade, formem uma roda, sentados ou em pé, com as
altura, dinâmica e agógica. Os alunos devem mãos na cintura ou apoiadas no chão. Toque
movimentar-se livremente, expressando o uma sequência rítmica ou uma música ao
que ouvem com o corpo. A música pode ser piano; as crianças devem ouvir e identificar
tocada com variações apenas de um elemento os compassos, fazendo movimentos com os
ou andamento, ou pela combinação de vários pés. Por exemplo: em uma música de compasso
elementos, intensidade e região aguda ou grave, binário, a criança deve bater com a ponta do pé
por exemplo. no chão junto com o tempo 1 e voltar tocando
2. Outra atividade pode ser realizada em grupos. o calcanhar no chão no tempo 2. Para músicas
Peça para que a turma se divida em um ou em compasso ternário, deve bater a ponta do pé
mais grupos, cada um identificado com uma à frente no tempo 1, ao lado no tempo 2 e voltar
música ou sequência rítmica tocada em um para a mesma posição tocando o calcanhar
instrumento de percussão. Instrua cada grupo no chão no tempo 3. Para musicas em com
f ir
nn.
116
Inês de Almeida Rocha
frente no tempo 1, um pouco ao lado no tempo 2, 'Ein uma segundaetapa, a atividade deve
mais ao lado no tempo 3 e voltar ã posição iní- ser realizada, preferencialmente, em grupos
ci-al tocando os calcanhar no chão no tempo 4. de quatro alunos. Batapall-nas ou toque notas
Os alunos podem alternar um compasso com o em.instrumento melódico que prolongue o som
:pé esquerdo e outro compasso com o pé direito (piano ou flauta), alternando a representação
ou criar um movimento que expresse o peso do das diferentes figuras de ritmo trabalhadas
tempo 1. e as diferenças em relação aos demais (semínima, mínima e semibreve). Os alunos, ao
tempos dos compassos. ouvirem quatro palmas seguidas na duração
Jogo das Quatro Meninas(os): instrua os alunos da pulsação, devem se posicionar lado a lado
a darem quatros passos curtos quando você (representação da semínima). Ao ouvirem pal-
tocar quatro notas ao piano com duração da mas no primeiro e terceiro tempo (representa-
pulsação (representando a duração de quatro ção da mínima), devem se posicionar em grupos
seminimas). Quando soarem duas notas, cada de dois, um na frente do outro. Ao ouvirem
uma com duração de duas pulsações (represen- palmas no primeiro tempo, os quatro alunos
tando a duração de duas mínimas), as crianças devem se posicionar em uma fila, um atrás do
devem dar dois passos mais longos com a dura- OlllII'O.
ção adequada. Quando as crianças ouvirem 3. “Escada do Pintor": jogo que utiliza uma escada
uma nota com duração de quatro pulsações colocada no chão, de forma plana, para que a
(representando a duração de uma semibreve), criança possa caminhar colocando o pé em
elas devem dar um passo bem longo com dura- cada um dos degraus, que podem ser de-madeira
ção adequada ã nota tocada. Podem ser feitas ou papel-cartão. Cada degrau representa um
diversas combinações com variadas durações grau da escala. O espaçamento entre cada um
de som e silêncio. As pausas podem ser repre- deles equivale às distâncias de tom e semitom
sentadas corporalmente com o dobrar de um da escala (o espaço entre os degraus que corres-
joelho para cada intervalo. A atividade pode ser ponde ao Mi-Pá e ao Si-Dó devem ser proporcio-
feita simultaneamente junto com o piano - as nalmente menores). Toque cada nota da escala
crianças-podem reagir às variações que você de Dó Maior- os alunos devem caminhar pela
reproduzir, ou de forma que os alunos ouçam escala andando no degrau correspondente a
primeiro toda a sequência e se Inovimentem cada grau. Inicialmente, combine fragmentos
em seguida. em graus conjuntos e depois utilize melodias
comçgraus dijuntos.
118 "
Ines de Almeida Rocha
Para A Referências
L". iÊi'is'aiuâ_. sobre. a importância da mãsica nazvida. LOURENÇO FILHO, M. B. Introdução ao estudo da Escola Nova
_- _ _ _ ÇlE:`tÊ1â5.§.lÉ.§I.'i&_11ça. 'lfif C=Úi5ͧÊfRE5S_O 8. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1963.
***Íi;,,.195.8,, Porto AIeg_re,_Ana.¡s..., Porto Alegre, 1958;; i i _ , É_
MATEIRO, T.; ILARI, B. (Org.). Pedagogias em educação musical.
1 f
É Í.MúsicaeeducaçãeaBol_etimda'Associação Bras'ii§eiira1-de Curitiba: InterSaberes, 2012. (Série Educação Musical).
f Riocreaçãoiiiõ:õíe Iane.iro,”ianti II, 7, jan./fevjmar., 19f63f.
MIGNONE, L. C. Curso de formação de professores de Iniciação
E. Perlagogia,_lsr_asiIeira3no- século metodologias) Musical: Aula II. Acervo Liddy Mignone, CBM, Rio de
etendencias 2 ed rev eaum Brasilia Musimed 2913 Ianeiro, 1957a. (Copia datilografada).
_RQC_HA, :I-.- de A... Licljdy Chiaffarelli. Mignonerr reconstruindo . Curso de formação de professores de Iniciação Musical:
sua traietõria. 213 f. Disse=rtação(Mestrado em Música) Aula V. Acervo Liddv Mignone, CBM, Rio de Ianeiro, 1957b
. Coriservatúrio Brasileiro de Música, Rio de Ianeiro, 1997.. [Cópia datilografadal.
120
Inês de Almeida Rocha
Capítulo 4
Gazzi Galvão
de Sá: educador
musical e
inovador do
(movimento de
musicalização
na Paraíba
Maria Cecilia de Araujo Rodrigues Torres é doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e mestre em Educação pela Ponrijicia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Trabalhou
durante 12 anos com o método Gazzi de Sa em aulas de musica, primeiro como aluna da escola basica do professor
Ermano Soares de Sa' e, em seguida, como professora de musica de turmas dos anos iniciais no Centro Educacional
de Niteroi. Desde 2008, .é professora do curso de Licenciatura em Musica do Centro Universitario Metodista-IPA
(Porto Alegre).
Figura 4 1 - Uilla Lobos e Arminda sentados a mesa Da direita
4.1 _Fra_, g,mentos_ do contexto para a esquerda, Iberê Gomes Grosso, Ruth Vaiiadares,
h1StÚI'ICÚ"SÚC1al Arnaldo Estreia, Gazzi de Sa, lose Vieira Brandao e Oscar
Bor etit
124
Maria Cecília de Araujo Rodrigues Torres
musicais para a sala de aula. Gazzi de Sã afirma que 4.1.2 Desenvolvimento do método
ii A
o sentimento despertado pela vivencia do escolar
com a música o conduz por etapas à consciência dos Quanto ao desenvolvimento do método de Gazzi de
elementos nela contidos” (Sá, 1990, p. 18). Sá e do canto orfeônico na Paraiba, as pesquisas de
Cabe ressaltarmos a importância desse método Silva (2006, 2007) desvelam que esse movimento foi
para o ensino do canto orfeônico em colégios e gru- idealizado em 1932, “ficando sob a responsabilidade
pos corais. Iosé Vieira Brandão, pianista, compositor do professor Gazzi de Sã elaborar a programação das
e professor catedrático do Conservatório Brasileiro atividades e encaminha-las ao setor competente para
de Música (CBM), afirmou que: “De fato, sua técnica as providências necessarias” (Silva, 2007, p. 43). Coube,
de ensino surpreende pela lógica com que explica os portanto, também ao professor Gazzi de Sá “a criação
fenômenos da formação da consciência de som, ritmo, da SEA, concretizada pela Lei n° 16, de 13 de dezembro
harmonia, fraseologia etc.” (Brandão, citado por Sá, de 1935, E mais tarde reorganizada pelo Decreto-Lei
1990, p. 10). Nesse ponto de nossas considerações, é n” 961, de 11 de fevereiro de 1938” (Silva, 2007, p. 43).
importante enfatizar que Gazzi de Sá comenta que
não tem a pretensão de dar receitas de como lecionar,
mas sim de trazer a experiência e, com isso, possibi-
litar outras formas de “iniciação à leitura e escrita
musical” (Sá, 1990, p. 11).
Gazzi Galvão de Sã: educador musical e inovador do movimento de musicalização na Paraíba 125
4.2 História de vida musical piano, sem a aprovação da família. Após Gazzi de
.gš re
Sá ter iniciado sua carreira nas aulas de piano, o
ist* rsQi anita
5 ini-
-Ei .`“'
ensino desse instrumento assumiu um caráter de
Êflšëääwv
Ea-‹s~‹,~.,.r 'as
-;_f_
-..5¡~¡“i¡Êf:-
fig
.ëi míi
escrever arranjos sobre motivos nordestinos que
tinham uma função didática como repertório coral.
Gazzi de Sá retornou ã Paraíba a chamado de seu
r ~ z ¬""_'¬u- z E _ ¬
pai para trabalhar na companhia telefónica da qual
3 Transcrevo nota explicativa do livro Musicolizoção... [1990, p. 9): "Adhemar Alves
era dono e presidente. Meses depois, demitiu-se do da Nóbrega, admirador e ez-aluno de Gazzi de Sá, antes de seu falecimento em
ii 5! 1929 elaborou um prefácio para as übras Completas de Gazzi de Sá, estrutu ra ndo-as
ingrato labor e assumiu o cargo de professor de
em seis volumes com a colaboração do amigo Gerardo Parente".
126
Maria Cecilia de Araujo Rodrigues Torres
isa-193: ara
teorafria para o Rio de
iaaešro e o vieste
coral com Villa-~Loloos
128
Maria Cecilia de Araujo Rodrigues Torres
Figura 4.3 -« Gazzi de Sã com alunos do
4.3 Ideias inovadoras e o movimento de canto Seminario Arquidiocesano na Paraíba
orfeõnico (Edu)
'
frente e verso, numa mescla de exercicios rítmicos com as sílabas
“tá”, para unidades e para a primeira parte dos múltiplos, como os I
da
quartos de tempo das unidades, e “ti”, usadas para representar as
metades das unidades, por exemplo.
A proposta de usar números para indicar os graus da escala é um IIIIGÉ il 'IIIII ll II.
5!
j cf zrrzzrztoe _
Para Peçanha (2012): 1
I
peca” ser a
___ _.1;§____:f. ICE.-!'¿"'.2"z' .¿7.¢' Efif
do “som”, aliada a uma grafia musical simplificada,ƒaz com que -depen- Fonte: Partitura impressa da música “Ó Mana
dendo da habilidade e competência do professor; obviamente - o estudo se deix'eu Í", do Folclore do Nordeste, com
harmonização de Gazzi de Sã, João Pessoa (1941),
torne cada vez mais prazeroso, lúdico e, ao mesmo tempo, absolutamente do Acervo pessoal da Prof? lusamara Souza.
consistente, detalhado e profundo.
Gazzi Galvão de Sá: educador musical e inovador do movimento de musicalização na Paraíba 133
Peçanha (2012) explica que conheceu o material quando entrou
“para o Coral do Centro Educacional de Niterói (CEN)”, complemen-
tando que “o prof. Ermano, meu grande e querido mestre, sempre o
utilizava, não só nas aulas de Educação Musical [...], como também
nos ensaios do Coral”. Essa afirmação reforça a questão do método
para o trabalho com o Hino Nacional Brasileiro, por exemplo, que
era solfejado nas aulas com os graus da escala, cantado com a letra
e com os nomes das notas, em um exercício musical de precisão
rítmica e melódica.
Em outra reflexão, Peçanha (2012), a respeito do método de Gazzi
de Sá, traz um comentário da educadora musical paraibana Theresia
de Oliveira (1924-2004), ex-aluna do professor, que enfatiza que, “sem
alterar nada do rico conteúdo musical (...), lo método de Gazzi de Sá
oferecia] ao aluno conhecimento amplo dos mais diversos aspectos da
música: ritmo, melodia e harmonia, sem precisar de compasso, clave
e armadura” (Peçanha, 2012). Peçanha também ressalta o comentário
de Theresia de Oliveira ao pontuar que o repertório utilizado pelo
educador paraibano engloba “solfejos de canções folclóricas, cânones
e hinos, passando gradativamente às músicas corais de diferentes
épocas e estilos” (Peçanha, 2012).
Ainda em relação ao trabalho de Gazzi de Sá, Silva (2007), em artigo
sobre o método Gazzi de Sá, ressalta que, “indiscutivelmente, Gazzi
de Sá foi um grande educador musical. Infelizmente, a Paraíba não
soube compreender a grandiosidade do seu trabalho, deixando que
fosse embora um filho da terra que tanto lutou em favor da música
no Estado” (Silva, 2007, p. 52).
cria-são rausisai
Troféu de glória O sibilar dos ventos
.Ii Contextualizaçãoz trabalhe com uma turma a) Após essa etapa de associação de palavras e
2 escolar do ensino fundamental que já tenha ritmos, realize uma conversa rítmica, um
aulas de música, na faixa etária entre 7 e 11 anos. diálogo com ritmos que explorem diferentes
,D Metodologia e atividade: organize uma sequên- sons como os de canetas, palmas abertas,
cia de diversas palavras com duas, três e qua- palmas fechadas em concha e palmas com
tro sílabas. Reúna as palavras formando frases a ponta dos dedos.
e associe a figuras rítmicas que representem b) Crie um trecho rítmico para trabalhar com
unidades e dobros. A seguir, apresentaremos os alunos a criação de 8 compassos com
alguns exemplos retirados e adaptados do livro 4 tempos cada um (quaternário), explorando
Musicalízação: método Gazzi de Sd (Sá, 1990, p. 38- as figuras rítmicas de unidades, metades e
39) para trabalhar com a unidade (I) e dobro (L). dobros. Ao terminaram, os alunos podem
Exercicios de adaptação de palavras e de expres- criar uma letra para esse trecho e dar um
sões aos ritmos contendo dobros.: titulo a essa criação, apresentando-a em
seguida para os demais colegas da sala.
Gazzi Galvão de Sá: educador musical e inovador do movimento de musicalização na Paraiba 135
Enumere os compassos e, após repeti-los movimentos e associando as sílabas junta-
várias vezes na sequência, explore a forma mente com a realizaçao dos gestos.
canónica com dois grupos de alunos, que Quando fizer o gesto pendular, pronuncie
devem executá-la, cada equipe começando as sílabas “tá” (dentro) “ti” (fora) algumas
em momentos diferentes. Enumere as entra- vezes para os alunos. r
das dos grupos e, aproveitando o ensejo, Faça o mesmo para o movimento circular,
explique o que é um cãnone e pergunte se desenhando um círculo no ar e repetindo as
algum aluno lembra de algum exemplo para sílabas “tá-tê-tê”, várias vezes. Conte quan-
cantar.. tas sílabas os alunos falaram atê completa-
Explore um exercício com solfejo musical. rem um círculo completo e explique que a
Nesse caso, você deve se perguntar: Qual sílaba “tá” deve ser dita sempre que a mão
será o repertório a ser utilizado? Que música estiver na parte baixa do circulo er que o
e estilos escolher? Uma sugestão: opte por “tê” e o outro “tê” devem ser ditos durante
uma melodia conhecida dos alunos e traba- o restante do círculo. Os gestos pendular
lhe com a canção, com os graus e o solfejo. e circular têm a função de fazer com que
Ao final dessa aula, destaque quais princí- o aluno, desde o início e de forma lúdica,
pios pedagógico musicais do método Gazzi tenha consciência das divisóes binária e
de Sá foram trabalhados nessas atividades ternária, que serão posteriormente cha-
musicais. Analise o tipo de avaliação de madas de compassos simples e compostos,
aprendizado mais adequado para sua turma, respectivamente. -
ressaltando aspectos como a leitura musi- Em uma etapa seguinte, peça para que as
cal e os exercícios que envolveram ritmo, crianças se locomovam pela sala enquanto
divisão de tempo e harmonia. fazem o gesto circular ou pendular e acompa-
nham diferentes melodias. Você pode usar
irsissšisar os na É
ä
es- ce-'*s iii* um repertório variado de músicas folcló-
e aârtnš itii ricas ou populares, assim como trabalhar
com as sugestões de um repertório trazido
,D Turma: 1° ou 2° ano do ensino fundamental. pelos alunos para essa atividade, viabili-
Ji Metodologia e atividade: trabalhar com os zando o trabalho com as divisóes binárias
gestos pend-ular e circuiar, executando os e ternárias. s ç t
Gazzi Galvão de Sá: educador musical e inovador do movimento de musical`iaaç,ão na Í*'aÍi*a.i.b.a . _ 5' 1'_3‹.'_,`¢'_
Referências
SILVA, L. C. da. Entrevista concedida por e-mail a Maria Cecília Araujo Rodrigues
Torres. Porto Alegre, 8 jan. 2013a.
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Teca Alencar de Brito é doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade de São Paulo
(PUC-SP), bacharel em Piano e licenciada em Educação Artística, com habilitação em Música, ambos pela Faculdade
Paulista de Musica. Estudou e conviveu com Hans-Ioacbim Koellreutter ao longo de mais de 20 anos. Professora e
pesquisadora no Departamento de Música da Universidade de São Paulo (USP),fundou, hd 31 anos, a Teca Oficina
de Música, nucleo de educação musical, em São Paulo, voltado aƒormação de crianças, adolescentes, adultos e
educadores. Autora de livros e artigos na area, produziu sete CDs apresentando a produção musical de crianças
e adolescentes da Teca Oficina de Musica. É vice-presidente do Fórum Latino-americano de Educação Musical
(Fladem - 20152017).
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142
Teca alencar de Brito
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Teca Alencar de Brito
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pontos do país. Dirigiu o Instituto Cultural Brasil-Alemanha, no z =z=;:_z-_‹.5=é=z.z
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Rio de janeiro (1975 a 1980), o Conservatório Dramático e Musical de fz-l"'
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Tatuí, em Tatuí, São Paulo (1983 e 1984), e fundou, em 1985, o Centro t¿..
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A composição Wu Li, composta entre os anos de .
1988 e1990, teve como inspiraçoes as rendas cearen-
ses e o futebol. Como numa renda, na qual o dose- I
nho formado por sua trama contrasta com os espa-
UT = unidade de tempo a critério do intérprete
ços vazios, a obra, grafada em diagramas, permite
(representados nesta figura pelos números]
diversas realizações que ora podem ter como foco a
O: som ou pausa de duração de 1-2 unidades de tempo
trama, ora o espaço: as figuras podem representar os A = som, pausa ou silêncio de 4-8 unidades de tempo
sons, enquanto os espaços significam os silêncios, e l:l= som ou silêncio de 10-20 unidades de tempo
Fonte: Adaptado de Koellreutter, 199011
146
Teca Alencar de Brito
tiara. artigos rorarnasde rádio
como a estetica musical sob o ponto de vista dos distintos estilos musi -1
Como já apontamos anteriormente, Koellreutter Como parte de sua proposta, Koellreutter sugere o
conferiu especial importância à educação, atuando ensino pré-figurativo das artes, definindo-o como
como professor de música e animador cultural desde “parte de um sistema de educação que incita o homem
sua chegada ao país. Deu aulas de composição, regên- a se comportar perante o mundo, não como diante de
cia, harmonia, contraponto, estética, análise, história um objeto, mas como o artista diante de uma obra a
da música e atualização pedagógica, atuando tam- criar” (Koellreutter, 1997b, p. 55). Tal proposta tinha
bém de modo incansável como conferencista como objetivo conscientizar e orientar os alunos por
e palestrante. meio do diálogo e do debate, valendo-se do espírito
Educar, para Koellreutter, era parte complemen- criativo como mola propulsora de tais processos.
tar - e fundamental- de um todo, implicando, acima O educador radicado no Brasil, por sua vez, clas-
de tudo, conscientizar. “O professor não ensina nada; sificava as abordagens tradicionalistas de ensino
ele sempre conscientiza”, ele repetia muitas vezes como pós-figurativas, conforme a citação a seguir:
em seus cursos. O processo de conscientização, em
sua abordagem, se realiza pela integração entre fazer Ensinar o que o aluno pode ler em livros ou enciclope-
e pensar, entre a vivência e o processo intelectual. dias e pós-figurativo. Levantarsempre novos problemas
Questões musicais e humanas deveriam ser tra- e levaro aluno ã controvérsia e ao questionamento de
balhadas dessa maneira, em ambientes marcados tudo o que se ensina é pré-figurativo.
pela pesquisa, pela experiência, pela reflexão e pela Ensinar a história da musica como consequência de
criatividade. fatos notãveis e obras-primas do passado e pós-figu-
rat-ivo. Ensinã-la interpretando e relacionando as
“U professornãoeasinal
obras-primas do passado com o presente e com o desen-
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volvimento da sociedade e pré-figurat-ivo. (Koellreutter,
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1997c, P- 42)
Í48
Teca Alencar de Brito
5.3.2 A questao do metodo
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5.3.3 Curriculo e conteudos: ensinar aquilo
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156
Teca Alencar de Brito
Cidadãos (cada um realizando um ritmo z Ídiflcultaria az compreensão do todo da
improvisação; t . L
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orientado"pelo metro).
Convém contar, também, com um grupo de .Hz i-scutacom o grupo a. escolha dos instru-
observadores eo-comentadores do processo; mentos. A madeira, por exemplo,. poderia
Posição: forma de círculo, com a(s) lei(s) no ficarpara a “lei*i, porque é mais precisa, com
centro. Ofs) palhaço(s) fica(m) fora. P pouca capacidade deressonância. Mas esse
Realização: aspecto, como todos os outros, deve ser ana-
Ji Comece com o metro = 60 (lei), executado lisado por todos os participantes.
por clavas. ou wood-blocks (lei). ç .li Discuta previamente o decurso da improvi-
Ji Membranofones entram. um a um(cida- sação com os alunos, que devem participar
dãos), cuidando para que escuteminão sóo ativamente de todo o processo.
precedente, mas o todo que aos poucos vai Ji É importante que o chefe da improvisação
se formando. Os osrinarí criados devem ser observe os improvisadores fazendocomen-
diferentes, podendo mudar ocasionalmente tários engraçados, inspirando e estimu-
ou depois de uma pausa. Essas mudanças lando a atuação de todos e, notadamente,
não devem ser introduzidas de uma hora do palhaço, que, sem dúvida, és a mais dificil.
para outra, mas ea partir de estímulos, com Ji O palhaço deve comentar (musicalmente)
uma finalidade. Uma mudança deintensi-- o trabalho dos cidadãos, utilizando o
dade vinda das clavas pode, por exemplo, recurso do espanto e do susto. Deve negar
sinalizar at mudança de ostinato. o metro (representado pela lei) e a repe-
O opositor (palhaço) aparece após a forma- tição, agindo e improvisando sem inter-
ção da faixa rítmica doscidadãos. Deve rupção. Tem de “caçoar” ou assustar a lei
usar toda sua fantasia, independência e ou os cidadãos. Segundo Koellreutter, essa
personalidades atuar de modo não métrico. atitude é a preparação para um fenómeno
Torna-se amétrico conforme “ataca” eo “con- estético muito importante, que é o elemento
tra-ataca” o metro, ou seja, quando se rela- surpresa.
ciona com o metro. t Ji Outro importante objetivo da realização
J) Observações: musical não métrica (própria do palhaço)
,li Trabalhe com um grupo de no máximo a' ser observado é o desenvolvimento da
16- participantes, pois um grupo maior capacidade de manifestar-se de. modo
160
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Elba Braga Ramalho é PhD em Musicologia pela Universidade de Liverpool, pós-doutora em Linguistica pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Ceara (UFC),
graduada em Educação Musical pelo Conservatório Nacional de Canto Orƒeônico (CNCO), hoje Instituto Villa-Lobos
(Unirio), e bacharel em Piano pelo Conservatório de Música Alberto Nepomuceno (CE). É professora titular aposen-
tada do curso de Musica da Universidade Estadual do Ceara (Uece). Em sua atividade profissional na Uece, orien-
tou alunos e dedicou-se ao ensino da Teoria da Música, concentrando-se nas areas de analise musical, harmonia e
contraponto. introduziu o ensino da Flauta Doce nos cursos de Musica da Uece efoi regentefundadora do Grupo
de Flautas Doce da mesma instituição durante cerca de IO anos. Atualmente, dedica-se inteiramente a atividade
de pesquisa, tendo como tema central o estudo da cultura de tradição oral.
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' ' Figura ãfil - Esther äcliar em curso internacional de
ó.1 Esther Scliar no mundo em movimento mas _TErmPG,is (1950)
1 Caso você queira ter acesso aos textos desses manifestos, acesse: chttpztƒwww. ,_ _ z _ Í -¡-"""“~z- _ _ _4
area
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Com a saúde fragilizada, Scliar volta a residir em
Porto Alegre, na companhia de sua irmã Leonor.
Nesse periodo, dedicou-se ao ensino de piano, teo-
ria e harmonia; atuou como pianista da Orquestra
Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) e de intérpretes
em tournée nessa cidade; colaborou na formação
musical de futuros bailarinos das classes da coreó-
grafa Tony Seitz Petsold; foi fundadora e primeira
ÉÚ
M:Q' emä
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entre cabeças pensantes. (Escobar, citado por Scliar, los tradicionais do ensino da música se revelou pela
1935.13. IX) ação pedagógica. É ainda de Aylton Escobar o melhor
Esther foi professora por vocação. Sua passagem suporte para esse argumento:
pelo CNCO certamente refletiu-se no direcionamento
Preocupada com a educação dos jovens musicos,
que deu à postura profissional. Sua atividade peda-
[Esther] afligia-se ao constatar deficiências lamenta-
gógica no Rio de janeiro desenvolveu-se em várias
veis em todo o sistema de ensino, ocasionando insu-
instituições de ensino musical, tais como a Escola da
portável superficialidade no conhecimento oferecido
Associação dos Servidores Públicos do Rio de janeiro
as gerações de artistas que compareciam as salas
(ensino médio, 1956-1958); os Seminários de Música
de aula dos conservatórios e escolas de música. [...]
da Pró-Arte (1962-1976); o Instituto Villa-Lobos (atual
lrritava-se e não policiava nenhuma de suas criticas
Unirio, 1967-1968); e a Escola de Música Villa-Lobos
chispantes, profunda e pessoalmente ofendida com
(1975-1977). Além disso, acolheu em sua residência
o destrato oferecido ci Musica. (Escobar, citado por
alunos das mais variadas vertentes musicais, mui-
Scliar, 1985, p. VIII)
tos deles hoje atuando como professores, intérpretes,
compositores e arranjadores.
das a
A experiência da mestra no ensino escolar expan-
diu-se, pois ela orientava e acompanhava seus Esther Scliar faleceu. Como um sopro perfumado,
jovens colegas do CNCO nos primeiros passos da a educadora deixou sua marca avivada na mente
prática didática com alunos de nivel médio. Nessa daqueles que receberam seus ensinamentos, seja
direção, preparava-os com aulas de Contraponto, como alunos, seja como amigos. Sua expressão cria-
Harmonia e Composição, induzindo-os ã prática dora, no repertório de composiçoes e arranjos, revita-
de arranjos para coral do rico repertório musical liza essa memória. O acervo de partituras analisadas,
de tradição oral. Ela própria já acumulava um repletas de observações manuscritas, e os escritos
repertório de peças didáticas, que disponibilizava em forma de apostilas guardam a presença dessa
aos mestres iniciantes. 5 guerreira que não mediu esforços em seu projeto de
humanização por meio da música.
De sua vivência e atuação num contexto histórico Ninguém melhor do que Aylton Escobar para nos
de tantas mudanças politico-culturais, como aluna mostrar o imbricamento entre criatura e criação
revelados na sua persona:
168
Elba Braga Ramalho
Esther transformou a vida no ato mobtltzante e mobili- da premissa de que música é linguagem por si, que
zador de criar música, sem jamais sujeitar-se ao alheia- não depende de “mulatas” para ser decodificada, a
mento das prerrogativasfundamentais socioculturais mestra deixou uma obra na sua maioria inédita,
que, ao contrário, a inspiravam e energizavam em abrangendo teoria da música, composições, arranjos
direção a esta atividade vital. Desde oƒolclore nacio- e análise de peças significativas.
nal, para o qual atirava sua preocupação ampliada
de não abandonar as tecnicas cultivadas de composi- No campo da teoria elementar, foram publicados
ção, no que o utilizasse e brandisse, até as mais ousa- tpostumamentet Elementos de teoria musical, em
das tendências estéticas da vanguarda musical, sem dois volumes: o teórico (1985) e o caderno de exer-
qualquer lacuna possivel ou suportável, era dominio cícios (1987): além de Solfejos progressivas (2003),
vlasto efirme de Esther, sempre reavivado no trabalho que complementa, pela prática da leitura, os con-
de compositora, de mestra incomparavelmente capaz, teúdo do ensino teórico. Quando de sua atuação no
de analista imparcial e sábia, conselheira enluarada, Instituto Villa-Lobos e na Pró-Arte, desenvolveu
amiga de inadiável lealdade, pensadora libertada de apostilas reunidas sob o título de Curso Análise da E
quaisquer preconceitos burgueses e encarceirantes, Linguagem Musical.
provocadora de arrepios e delicias intelectuais e mulher
de agridoce poesia. [...] Mas não há de morrer quem Suas atividades como regente, professora e cora-
semeou a Vida nem há de esconder-se quem inventou lista refletem-se no acervo de obras que produziu
a claridade. (Escobar, citado por Scliar, 1985, p. V, X) para as várias formações corais: infantil, adulto de
vozes iguais e mistas. Essa produção i A ¿ , ea
. ,. -Música éilin lia. em-z
se caracteriza pela enfase dada a temas e ~ l ea
6.2.1 Produção musical e pedagógica por-si, nãordepe-:ide de
folclóricos, concebidos numa lingua- ; 51 ,
.. e muletasz.. t ,
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gem contemporanea, que tem por pres- à l ea
tias araesressar-s
suposto a comunicabilidade.
No âmbito da música instrumental, seu percurso
A precariedade de bibliografia acessível no país levou
criativo concentrou-se em um número reduzido de
Scliar a acumular um rico acervo que “digeriu" e mul
Composições, algumas delas incompletas ou abando-
tiplicou, generosamente, entre seus alunos. Imbuícla -Hi
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6 "A Esther tinha um trânsito muito grande na área da música popular porque muitos artistas [...] começaram a
estudas com ela. [_ . _] Uma das coisas que eu Iem bro é de ter conversado com a Esther e descoberto nela não
um ressentimento, mas uma certa frustação por ter tido uma formação que ela teve, que não incluía a música
popular. [. . .] Ela [_ . .] queria ter uma experiência maiorjunto à música popular. [.. _] Eu gostaria de falar mais
um pouco daquela coisa da Esther ouvindo o choro, as rodas de choro. Não foi só uma vez na casa dolacó [do
Bandolim), nos fomos a outras reuniões de choro; e ela estava muito ligada naquilo. Estava assim, como se
tivesse descoberto um universo novo. [_ __] Eu tenho a impressão de que essa aproximação com o pessoal do
choro, aquela coisa da irreverência do choro, variações que o pessoal ficava fazendo sobre o tema; tudo isso
despertou na Esther alguma coisa, porque ela ficava muito entusiasmada depois de um certo tempo ouvindo
essa música" (Machado, 2002, p. 192; l9?).
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8 ScIiar,198?,p.1D-11.
J à J J. J J J J. J
Indique os contratempos ÉC); as sílricopes regulares (SR) e irre-
L gulares (SI). Leia: À E . L
.J à J J. J JJ J J J - z
5. Abaixo, com um traçovertical, assinale o início de cada pulsa-
ção. Leia:
J. J z J z J J.___.l.___,.JJ--.
6. lnventeexercícios com a mínima em duas partes, contendo con-
tratempos, síncopes regulares e irregulares. Assinale-os. Leia.
2 semitons ascendentes
2 tons ascendentes
1 semitom e um tom ascendente
1 tom e um semitom ascendente
2 semitons descendentes
2 tons descendentes
1 semitom e 1 tom descendentes
1 tom e 1 semitom descendentes
“E eu
oeast äiÉ ea n. 1°
' , - fl"¿'-lJ""'i-
c) Confira no instrumento.
11 5‹:1iar,1es?, p.1õ.
8.
8.1.
) Execute a nota Pá no instrumento.
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“LS-`C;LI;e.R, E. Análise=-ide-'zBoÍ1nsity.21.5 1do Váriso. FÍoriari1';'.ipoli1s: Athanor, 1985..
AFONSO IUNIOR. D. R. The Cappella Works for Mixed Chorus of Esther Scliar (1926-1978).
Thesis (Doctorate of Musical Arts degree in the Graduate College) - University
of Iovva, Iowa City, IA, 2003.
Homenagem a Esther Scliar. CD. Acervo Funarte/Itaú Cultural. Rio de Ianeiro, 1998.
KATER, C. Eunice Katunda, musicista brasileira. São Paulo: Fapesp/Anna Blume, 2001.
MACHADO, M. A. Esther Scliar: ecos de uma vida. Brasiliana, n. 24, p. 10-11, dez. 2006.
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182
Elba Braga Ramalho
Capítulo 7
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Daniella Gramani e Glória Pereira da Cunha
Além de Olinda ainda se encontra quem rendas tece [. . .J
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O entrelaçar significa
Daniella Gramani e mestre em musica pela Universidade Federal do Parana (UFPR), especialista em Fundamentos
da Música Popular Brasileira e graduada em Educação Artist-ica pela Faculdade de Artes do Parana (FAP). Atuou,
cantando e tocando, durante II anos no grupo Mundaréu. Atualmente é professora de Canto Popular e de Percepção
Musical da Universidade Federal da Paraiba (UFPB).
Glória Pereira da Cunha é mestre em Educaçäo pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atuou por
22 anos como percussionista na Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas e como professora de musica em
cursos e oficinas deformação continuada para professores. Trabalhou na Unicamp, atuando na Unibanda e no
Departamento de Musica, como professora de Rítmica, substituindo o Professor Iosé Eduardo Gramani.
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4 Ver Capítulo 4 da seguinte obra: MATEIHO, T.; ILARI, B. Pedagogias em educação musical. Curitiba:
InterSaberes, 2912.
5 Ver Capítulo 3 da seguinte obra: MATEIRU, T.; ILARI, B. Pedagogias em educação musical. Curitiba:
I nterSaberes, 21112.
com grande parte desses jovetlã âli-J-tizfli, o educador 6 Trecho de letra da canção "Além de Olinda”, de José Eduardo Gramani.
Asraaiaar a catnsitar
A maioria dos exercícios foi construída explorando a contraposição de Crédito: Acervo da familia
elementos rítmicos irregulares a sequências rítmicas regulares. Portanto
fica difícil medir as durações utilizando-se somente de medidas aritmé-
1-icas.É necessário lançar-se mão da sensibilidade musical para que esta,
agregada ao raciocínio aritmética possibilite a realização musical dos
“Gs exefcíciosfneäussãa” P 9
exercícios. (Gramani, 1988, p. 12)
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Os exercícios são complexos se o músico tenta realizá-los con- rãattavéísêde-csuslçmflitfl e
tando tudo; é uma tarefa quase impossível. Quando a sensibilidade fipadetsee¢les.envaIver, .
é requisitada e utilizada, o músico passa a sentir as vozes em sua 1n=.ie¢i.sa.Imefl*%s,
independência e descobre que os exercícios, mais do que complexos, aspectos.dierlistipilinafi r
sao mu1to muslcals. 0iiiteritifefieiriliiliitliatie s
Em um material de divulgação de um de seus cursos, Gramani
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esclarece que ,ÍEtigiešídeassútlatçãçetss*euc 9 sí
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RÍTMICA e RÍTMICA VIVA não são livros de leitura rítmica; RÍTMICA
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e RÍTMICA VIVA nao sao métodos e sim uma coleção de estímulos ã qual
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Procure não estudar o mesmo exercício o tempo todo. Mesmo que ainda não
se esteja se saindo bem, estude outro, volte depois para aquele ou para outro.
(Gramani, 2008, p. 106)
É bom estudar sem ler. A leitura pode dar a impressão de que o exercício é
mais difícil do que realmente é. (Gramani, 2008, p. 143)
Veja a célula ou motivo rítmico que vai ser trabalhado,feche os olhos e sinta
o balanço do contraponto rítmico. Dançar também é bom. Para assimilar
bem a ideia rítmica do ostinato. (Gramani, 2008, p. 143)
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que contenta subdivisão em três com a voz. ponha outras formas de realização, como cantar
Preste muita atenção, pois muitas vezes a subdi- uma música binária e depois uma ternária, ou
visão ternária é alterada em função da binária invertendo as mãos, ou com a pulsação-base na
e vice-versa. Alterne as vozes, subdividindo em voz e as subdivisões no pé e na palma. Em resumo,
três nas palmas e contando em dois. crie uma forma que faça com que ele não possa
10. Em seguida, tente fazer com que a pulsação-base racionalizar excessivamente e consiga sentir as
fique no pé, a subdivisão binária em uma das ideias musicais.
mãos (batendo na carteira, por exemplo), e a
ternária na outra mão. Deve haver alternân- Gramani nos avisa que “o caminho que nos tenta
cia de voz entre uma subdivisão et outra, como levar a uma realização artística frequentemente nos
forma de verificar se cada ideia musical está conduz a uma capacitação de habilidade técnica,
preservada. Lembre-se de inverter as vozes, e ficamos por aí. E não percebemos. E acreditamos
alternando as subdivisões entre as mãos. estar fazendo arte” (Gramani, 2008, p. 68). Para além
e Em nenhum momento encaixe uma voz na da mera execução de exercícios, o educador estava
outra - tente sentir o tempo todo o “dois” eo preocupado com o fazer artístico pleno, com o desen-
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“tres ; por isso, é importante não parar entre um volvimento do músico, de sua sensibilidade, de sua
passo e outro, priorizando a não interrupçao da intuição, de sua música.
É
pulsação-base.
GRAMANI, I. E.; CUNHA, G. P. da. Rítmica. São Caetano do Sul: FASCS, 1977.
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5.1 Introduçãoi
O Passo parte do andar, algo que todo ser humano, em condições nor-
mais, já chega à aula de música sabendoi. Por mais dificuldade rítmica
que uma pessoa apresente, seu andar é necessariamente regular - a
base para o aprendizado da pulsação já está lá. Por mais dificuldade
que ela apresente, seus braços invariavelmente passam ao lado do
corpo exatamente entre um passo e outro, marcando, assim, o con-
tratempo. Trazer essas habilidades para dentro do âmbito musical ê
o desafio d”O Passo.
4 Temos tido experiências muito significativas com pessoas com clificuldade ou impossibilidade de locomoção
autônoma. É fundamental ter em mente que todo mundo, sem exceção,já esteve no colo de alguem e vivenciou
a sensação de pulso que a transferência de peso de uma perna à outra proporciona.
No trabalho com O Passo, o corpo passa a ser visto não apenas como algo
que acompanha de longe os processos cognitivos realizados pela mente,
mas principalmente como uma unidade autônoma de construção de isiveliãtdiversidadegiSor
conhecimento. O método de Lucas Ciavatta sustenta que, sem a participa-
ção ativa e efetiva do corpo, processos, normalmente associados apenas à ífli.ns1:éin:dz sua erfisflfi
mente, tais como a leitura e a escrita, simplesmente não podem acontecer. ziàflísfâncifatêíàâatffiz
No que se refere à notação gráfica, trata-se apenas de uma das formas f2ü12i» l1¬23)¿. t ç
de exteriorizar as representações construídas pela mente. N'O Passo há
o trabalho com a notação gráfica, mas também com as notações oral e
corporal. Estas duas últimas são largamente utilizadas em espaços de
cultura popular; no entanto, a Academia tendeu a hipertrofiar o papel
da notação gráfica e menosprezar as outras formas de notação. O Passo
utiliza, de maneira equilibrada, essas três formas de expressão e, assim,
através dos diálogos que se estabelecem, torna o próprio ato de escrever
mais significativo para o aluno.
O Passo entende a música como um instrumento de socialização,
como um espaço para a troca, a negociação, como uma oportunidade de
equilibrar grupo e indivíduo fortalecendo o primeiro a partir do fortale-
cimento do segundo e vice-versa. O aluno então “obedece” as regras não
para atender uma demanda externa a ele, e sim porque percebe que sua
atitude é fundamental para que ele e seu grupo alcancem seus objetivos.
as ecadesee tão a to
Nas décadas de 1950 e 1960, o Rio de janeiro era o principal destino para
uma juventude que buscava formação acadêmica. Entretanto, além dos
estudos, esses jovens encontravam na capital carioca um novo universo
cultural e político. A mãe de Lucas Ciavatta, Maria Ciavatta, de família
de imigrantes italianos, nascida em Ribeirão Preto (SP), chegou ao Rio
de janeiro para estudar Filosofia e Letras Clássicas, enquanto seu pai
1
Antônio Carlos Pantoja Franco, de São Luís do Maranhão, veio mais cedo,
ao ingressar no internato do Colégio Pedro II. Quando o pai de Ciavatta
já cursava a Escola Nacional de Engenharia, os dois se conheceram na
IUC (juventude Universitária Católica), onde foram colegas de figuras
como Betinho e Frei Beto. Marx e a teologia da libertação, pensadores
brasileiros como Paulo Freire e Alceu de Amoroso Lima eram referên-
cias fundamentais para esses jovens.
Filho dessa geração politicamente engajada e surpreendida pelo golpe
de 1964, Lucas Ciavatta Pantoja Franco nasceu no dia 4 de agosto de 1965,
em Ribeirão Preto. Entre 1966 e 1967, antes de voltar a morar no Rio de
janeiro, a família passou alguns meses nos Estados Unidos para que o
pai de Ciavatta fizesse um curso com engenheiros de Furnas. Foi nesse
país que sua mãe começou a estudar a pedagogia de Maria Montessorii.
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5 Maria Montessori (lEi?D-1952) foi educadora, médica e feminista italiana cuja metodologia é ainda adotada por
escolas públicas e privadas em todo o mundo.
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A atividade Frase Compartilhada, cada um contribui
com uma célula ou um evento, para que, ao final, um
A ideia principal aqui é trabalhar com diversas métri-padrão rítmico qualquer seja construído. É preciso
cas, bem como íntroduzir e aprofundar a irregula- ser flexível, pois ninguém está absolutamente certo,
ridade métrica. Combinando-se compassos binários, mas não se pode perder uma referência mínima,
ternários e quaternários, obtém-se uma primeira sob o risco de comprometer a execução. Talvez esse
frase. São marcados com palmas agudas os primeiros seja o exercício que mais trabalhe a noção de tocar
tempos de todos os compassos, com exceção do início junto, pois ao escolhermos uma frase que tem cul-
do ciclo que é marcado com uma palma grave. Uma turalmente um suingue estabelecido, é preciso que
segunda frase, com a mesma quantidade de tempos todos o busquem para que quem estiver de fora possa
da frase anterior, também composta por compassos escutar o conjunto como se esse fosse tocado por
de diferentes métricas, é criada e apenas o início douma única pessoa.
ciclo das duas frases deve coincidir. Uma terceira
frase, com as mesmas caracteristicas, deve preen- revisaiate õim mut
cher todos os tempos que não foram tocados nas
outras duas frases. O resultado é uma coexistência Em uma única roda, as três vozes são distribuídas
de métricas diferentes que são expressas tanto em entre os participantes. As vozes devem ser básicas
termos de música quanto em termos de movimento. em termos harmônicos e simples em termos rítmi-
cos. A primeira dessas duas qualidades favorece a
tra a nasidéias sensação de familiaridade dos participantes com a
música cantada e cria assim um ambiente de tranqui-
Dois grupos se posicionam um de frente para o outro. lidade. A segunda fornece uma base sólida e cheia de
Um grupo será regido pela mão direita do professor e espaços para que a liberdade rítmica possa ser exer-
o outro pela mão esquerda. O professor se posiciona citada. Assim que a base harmônica estiver soando,
entre os dois grupos e indica com as mãos que graus o professor convida um dos alunos a entrar no meio
devem ser cantados por cada um dos grupos. Todos da roda e apenas ficar ali escutando. A maioria dos
fazem o passo quaternário e a cada primeiro tempo estudantes terá dificuldade de se soltar e emitir um
há uma mudança do grau cantado ou um novo ata- único som. Os alunos podem, aos poucos, e apenas se
que do mesmo grau, dependendo do que foi indicado. se sentirem seguros, experimentar cantar a mesma
Protessões alternadas
Partindo de uma frase rítmica qualquer com graves
e agudos, é possível separar o grupo em dois e propor Esse exercício nasceu do exercício Compassos
que um grupo faça a linha aguda, e o outro, a linha Alternados. O desafio é realizar uma polifonia meló-
grave. Sendo o resultado da polifonia a frase rítmica dica com métricas diversas superpostas, que pode
original, ele é um resultado conhecido; no entanto, ser bastante simplificado caso haja um trabalho
dessa forma - soando através da articulação entre anterior apenas sobre as métricas. O princípio é o
dois grupos - tem outra força. mesmo que o do exercício Compassos Alternados:
apenas no início de cada ciclo há um ataque simul-
tâneo das três vozes.
Não há como garantir que duas pessoas que tocam O exercício Tocar e Contar nasceu como um simples
juntas estejam de fato se escutando a menos que cada procedimento para a preparação do momento de
uma delas consiga tocar sua própria frase e cantar a tocar e cantar. Cada vez mais ele tem sido utilizado
frase da outra pessoa. Essa exigência, dita dessa forma, independentemente do fim para o qual foi pensado.
pode parecer um exagero, até por demandar algo de Mesmo quando não há uma melodia para cantar
extrema complexidade, inclusive para músicos pro- enquanto se toca, a habilidade de tocar e contar, por
fissionais. Contudo, o que O Passo propoe é que pelo desafiar e aumentar a compreensão, invariavelmente
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228 Lucas Ciavatta ~ Daniela Ferreira - Ioão Santos
s.-4.1 Dividindo os tempos: Trio em Encaixe Para_ .› . .
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de imbricar frases. Desde então, o educador tem grafiasz,;*bem como e-ntreçvistas concedidas pelo
trabalhado esse recurso, não necessariamente por criador do método: e i E i i
razões composicionais (como acontece na música “Lucas tfliavattaf. Bibleioteca digital. Disponivel
balinesa), mas principalmente pedagogicas. Quando E em: r <http:'/,¡s:choIar.google.com.br/s'cholar?as__q=
e Ú-.I-Passo&as__epq¿=Lucas+,Ciavatta&as_o.q=&as_eq=&as¿__
as frases estão imbricadas, encaixadas, as impreci- occtzanyffitasigsauthors=Sras___publicatior1=&as__vlo=&as__
sões são facilmente percebidas pelo grupo. Quando - - yhi=&btnG=&hl=pt-P'I'&as_sdt=ü>. Acesso e1n:24 out.
2o14.
alguém toca uma nota e, tanto imediatamente antes
quanto imediatamente depois, outro alguém está Reportagem sobre O Passo no jornal Nacional
tocando outra nota, a precisão é a única garantia de (Rede Globo de Televisão), em 3 de novembro de 2011:
poder tocar junto. ESCOLAS investem na formação de professores de música.
.turnal Nacional. Rio de janeiro: Rede Globo, 3 nov. 2011.
O exemplo a seguir apresenta uma primeira frase, Disponível em: <http:/¡g1.globo.com/jo-rnal-nacional/
muito conhecida no Brasil por ser a clave do coco; noticia/'2U11/11/escolas-investem-na-forinacaoí-de»
professoras-de-musica.html>. Acesso em: 24 out..,2,.01.éz;,
a segunda frase é exatamente igual ã primeira em
termos de duração, mas inteiramente diferente em Sites
termos de posição; e a terceira completa os espaços Os PASSO: música e educação. Disponível em: <vvww.opasso.
com.br>. Acesso em: BD out. 2014.
vagos deixados.
Trabalhe a primeira frase até que ela esteja soando OPÀSSO. Disponivel em: <http://vvvvvayoutube.com/user/
opasso›. Acesso em: 24 out. 2014.
minimamente familiar:
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Choro genero musical popular urbano que se popula- que tocava a melodia, um catiíínho, -‹
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rizou no final do seculo XIX Nasceu da hibridizaçao acordes, e um violão, que dos Cop
(amalgamaçao) de musica de salao europeia, como passar do tempo, outros instrtggntos m adicçi I
sas, com ritmos caracteristicos de danças africanas amplos e podem contar com --s
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praticadas no Brasil, como o lundu e o batuque. Essa fone, trombone, clarinete, acordeao e
hibridizaçao revela um aspecto social importante
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vel, sendo observado fortemente nas praticas cultu- E1II18.ClDI'ES E pI'0fiSS101'1EI.1S SE I`EI.11'1EII1 ]¿ë;EI1l§E
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conhecidos como choroes No inicio de sua mani aficionados do genero podem ouvir cos
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festaçao, o grupo de choro consistia em um flautista, sionais. Normalmente, o genero e estrufufiiêrn
232
Teresa Mateiro -~ Beatriz Ilari (Org.)
Geração de1870: para maiores informações sobre esse a música popular brasileira: uma visão sem preconceito,
grupo de intelectuais, consulte ALONSO, A. Crítica e a Sema orientava seu trabalho a partir de aspectos da
contestação: o movimento reformista da geração 1870. disciplina, do civismo e da educação artística, e foi
Revista Brasileira de Ciências Sociais, Rio de janeiro, dessa maneira que “a Superintendência de Educação
v. 15, n. 44, p. 35-55, out. 2000. Para um maior enten- Musical e Artística na Sema desenvolveu sua atua-
dimento das questões que envolviam a educação na ção sobre todos os setores educacionais do Distrito
Primeira República (1889-1930), consulte FREITAS, M. Federal” (Paz, 2004, p. 7). Caso queira saber mais sobre
C. de; BICCAS, M. de S. História da educação social no a Sema, sugerimos que veja o Capítulo 1 deste livro,
Brasil (1926-1996). São Paulo: Cortez, 2009. dedicado ã vida e obra de Heitor Villa-Lobos. Ainda
Ginástica rítmica, ou eurritmia: método de ensino da sobre a Sema, trazemos as considerações de Parada
música desenvolvido por jacques-Dalcroze. (2009, p. 177), que afirma que a Sema “tinha como
atribuição planejar, orientar e desenvolver o estudo
Identificador comum de brasilidade: remetiam a uma
da música nas escolas primárias, no ensino secundá-
ideia de um “passado imemorial” do Brasil, no qual
rio e nos demais departamentos da municipalidade”.
residia a propria “essência” do povo brasileiro. Uma
ln: PARADA, M. Som da nação: educação musical e
vez imbuídas dessa ideia, seria mais fácil que as
civismo no Estado Novo (1937-1945). Alceu, v. 9, n. 18,
crianças se imaginassem como parte de um grupo
p. 174-185, jan. 2009. Disponível em: <http://revista
coeso e unido por essas raízes supostamente comuns, alceu com puc_I_í0 br/medía¡A1ceu%2018 aI_tigo%2O
independentemente de suas diferenças sociais, étni- 13%20(pp174%20a%2O185) Pdb Acesso emfló jul 2015
cas e raciais.
Serialismo: técnica de estruturação musical funda-
Pulso ou pulsação: batida constante que orienta a
mentada na ordenaçao serial de um ou mais parâ-
velocidade do tempo em música. O pulso equivale
metros musicais utilizados na obra.
a um tempo.
Suingue: suingue, ou balanço (swing, em inglês) é um
SEA: Superintendência de Educação Artística.
conceito impreciso, mas cuja existência é impossível
Sema: Superintendência de Educação Musical e negar. A falta dele indica que não há vida em determi-
Artística. Idealizada por Villa-Lobos, essa institui- nada realização musical; indica que ela não é capaz
çao tinha a atribuição de introduzir o ensino da
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diversos instrumentos de sopro, dos quais seu favo- rio da Educação da Bahia e
rito era o sax-soprano. Foi também conhecido como e Cultura (Distrito Federal).
compositor e regente. Uma de suas obras mais conhe- de Brasília e foi diretor da Cšêšäiordençao de
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cidas é o chote “Iara”, que recebeu versos de Catulo da Aper eiçoamento de Superior) e
Paixão Cearense e foi editado em 1912 sob o título de do Inep (Instituto e Pesquisas
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“Rasga o coração”, composição que Villa-Lobos usou Educacionais An¿ggçÍEêi'xeira). 33,2 waã
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como tema do seu “Choros n. 10”. Para mais informa- Bruno Kiefer:
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músico-educador realizou um diagnóstico, construiu gógica, num contexto constituído por uma trama
uma fundamentação teórico-conceitual e produziu (condições políticas, econômicas, sociais), por uma
um marco operativo (um modus operandi) para o rede de pensamentos e práticas dos que lhes são
ensino de música. Uma lacuna, ou incõmodo nesse contemporâneos e lhes antecederam.
processo, ou uma possibilidade radicalmente dife- Uma pedagogia villalobiana se ergueu num
rente de compreensão do projeto pedagógico, ou de conjunto de condições dadas pelo ideal de um
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Villa-Lobos, Sá Pereira, Liddy Mignone, Gazzi de Sá, pouco tempo, o conhecimento mais aprofundado
Koellreutter, Esther Scliar, josé Gramani e Lucas sobre os educadores musicais brasileiros demandou
Ciavatta são alguns dos protagonistas da educação certo empenho de pesquisa nas bibliotecas públicas,
musical postos em evidência neste livro. Apesar das senão em acervos particulares locais, contatos de
enormes diferenças existentes entre eles, seus nomes variadas naturezas, ao lado de um esforço de reunião
nos soam igualmente familiares, habitando muitos de bibliografia geralmente esparsa. Nesse sentido,
dos discursos formais e das falas corriqueiras de ganha-se hoje aqui acesso facilitado a um painel
nossa área. de informações significativas, contendo propostas
Porém, seus pensamentos, trajetórias pessoais, educativo-musicais de relevância em nosso meio.
visões de mundo, propostas e abordagens educati- A iniciativa de reunir tal conjunto de textos é
vas, além de muito particulares, nao parecem ainda muito oportuna também em decorrência das deman-
assimilados na mesma proporção. Isso porque, até das que começam a emergir como resultado da
cciviI_03¡_ato2ü07-201 0t'2008.1'lei¡l11769.htm:›.
245
Pedagogias brasileiras em educação musical
.lusomoro Souza e doutora em Educação Musical pela Universidade de Bremen, Alemanha Atua como professora
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do curso de graduação e do Programa de Pos Graduaçao em Musica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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(UFRGS) E pesquisadora do CNPq, com experiência na area de musica, com enfase em educação musical, atuando -.-
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principalmente nos seguintes temas* aprendizagem e ensino de musica no cotidiano, sociologia da educaçao musi-
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1 É coordenadora do Grupo de Pesquisa Educação Musical e Cotidiano (CNPqi' UFRGS)
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1 Para maiores detalhes, consuite o livro original organizado por Mateiro e Ilari [2011] e a resenha feita por Macedo {2i3~12].
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248
Teresa Mateiro - Beatriz Ilari [0rg_}
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1. Como podemos construir bases teóricas mais sólidas para a formação
e atuação dos profissionais de educação musical a partir do conhe-
cimento histórico acumulado?
2. Como avançar no conhecimento da didática da música, entendida
como ramo da educação musical que se ocupa dos diferentes proces-
sos de ensino e aprendizagem de música?
A didática estuda e considera os aspectos técnicos, práticos e opera-
cionais destinados ã formação. Um estudo mais sistemático sobre cada
pedagogia pode colaborar para o entendimento de que as teorias, mesmo
quando não são explicitadas pelos autores, são subjacentes aos modelos
e atividades propostas para a prática da aula de música. Assim também
são os valores e visões de mundo que embasam qualquer proposição
didática. Dessa forma, pode ser útil o conhecimento sobre pensamen-
tos e ideias que compõem o campo teórico da educação musical: Que
teorias temos ã nossa disposição? Que relações fazemos entre o campo
da didática específica com aquele da didática geral?
A teoria do pensamento pedagógico geralmente é oferecida para os
licenciandos no formato de disciplinas avulsas oferecidas pelos cursos
de Pedagogia e institutos de educação. No entanto, nem sempre há uma
integração dessas disciplinas com as questões especificas da didática da
música, mesmo naqueles cursos que oferecem disciplinas como funda-
mentos da educação musical ou sobre os “métodos ativos”.
Nessa direção, é possível considerar que a didática geral não consegue
explicar todas as dimensões e critérios de planejamento e condução de
uma aula de música. Como lembra Kraemer (2000, p. 53),
¡ f 'v -G f _* 7 f 1
2 No original em alemão - musikpãdagogik, conceito que pode ser traduzido como "educação musical”.
enriquecimento dos planos e currículos para a aula KRAEMER, R. D. Dimensões e funções do conhecimento
pedagógico-musical. Tradução de Iusamara Souza. Em
de música. Procedimentos desse tipo podem levar, Pauta, v. 11, n. 16/1'.?, p. 49-?3, abr./nov. 2000. Disponivel
mesmo, a uma visão simplificada dos fundamentos em: <http:K/seer.ufrgs.br/'EmPauta/articleƒvievv/9378>.
Acesso em: 3 set. 2014.
teóricos da educação musical.
Quando o livro apresenta oito propostas, obvia- MACEDO, V. L. F. de M.: MATEIRO, T.; ILARI, B. (Org.).
Pedagogias em educação musical. Curitiba: Ibpex, 2011.
mente não há a intenção de fazer um balanço de toda 352 p. (Série Educação Musical). Revista da Abem, Londrina,
a produção na área. A representatividade dos mode- v. 20, n. 27, p. 163-165, jan./jun. 2012. Resenha. Disponivel
em: <http:/lwww.abemeducacaomusical.org.br/Masters/
los de certa forma sempre é arbitrária e possivel de revista27/revista27___artigo14.pdf›. Acesso em:3 set. 2014.
ser justificada, quer pela sua ressonância, quer pelo
MATEIRO, T.; ILARI, B. (Org.). Pedagogias em educação musical.
desconhecimento. A apresentação de cada vida e cada Curitiba: Ibpex, 2011. (Série Educação Musical).
obra também pode ser vista com uma construção
da realidade: Que aspectos foram escolhidos para
descrever essas realidades? O que não foi conside-
rado? O que parece apropriado para a época em que
a proposta foi pensada e o que já estaria em desuso
ou inadequado? Que questões foram lançadas e com
que teorias estão relacionadas?
Por fim, resta esperar que a obra contribua para
outras reflexões e que estas, por sua vez, desestabi-
lizem a ideia de “métodos”, tão arraigada na nossa
área. Mas isso seria um tema para tantos outros
comentários.
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Teresa Mateiro é PhD em Filosofia e Ciências da Beatriz Ilari é PhD em educação musical pela
Educação - Educação Musical pela Universidad Universidade McGill, Canadá. Entre 2003 e 2010,
del País Vasco (Espanha), e pós-doutora pela Lund atuou como professora adjunta da Universidade
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University (Suécia). É professora do Departamento de Federal do Parana (UFPR) e, em 2011, como profes -1
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