Jovens Na EJA e Indisciplina
Jovens Na EJA e Indisciplina
Jovens Na EJA e Indisciplina
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Graduada em Ciências Biológicas, docente da EJA desde 2009 e, estudante do curso de Pós-Graduação
Especialização em Docência da EJA na Educação Básica: juventudes presentes na EJA, na UFMG- FaE/MG.
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ABSTRACT
The presence of young people and teenagers in Youth and Adult Education (“EJA”)
is a fact in Timóteo city. We see that a responsibility transfer is happening in a way from
youth education to Youth and Adult Education, often as a way to resolve questions that the
regular school does not fix. Based on the laws governing education in Brazil, Federal
Constitution – “CF” (1988), the Law of Directives and Bases of National
Education (“LDB nº 9394/96”) and the National Curriculum Guidelines for the Youth and
Adult Education (Opinion “CNE /CEB nº 11/2000”), enrollment in Youth and
Adult Education teaching mode is historically a right claimed by so many Brazilians. We
can see that the reality experienced in Youth and Adult Education has been changed
with the migration of teenagers who somehow escaped the regular school and then go to
school for youth and adults. This has generated a much debated issue by teachers and
other education professionals – indiscipline. So this study aims to investigate the
"indiscipline" of young and teen students in Youth and Adult Education, identifying
possible causes, which often go beyond the school environment. In other words, is the
school indiscipline factor a result of the presence of teenagers and young
people entering the educational processes of Youth and Adult Education? Are we teachers
prepared to deal with youth? What is our understanding about indiscipline? Is there any
relationship between indiscipline and racial-ethnic issues? These are some questions that
through this article we aim to reflect, i.e., issues that influence school life that is
presented so distressing for teachers working in school.
Keywords: Youth and Adult Education, indiscipline, Youth and Racial-ethnic Issues.
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INTRODUÇÃO
A presença de jovens alunos na EJA deveria ser expressão de que a escola é parte
efetiva de seus projetos de vida. E de que eles estão exercendo seus direitos à educação
básica e não apenas participando de um fluxo escolar ofertado em instituições de espaços e
tempos deteriorados.
Diante disso, Miguel Arroyo enfatiza ainda que
que “a maioria dos alunos jovens que chegaram para a EJA, que comportam de forma
indisciplinada já estudou no ensino regular diurno (1º ao 5º ano) nesta mesma escola e
não obtiveram muito sucesso, devido à defasagem de aprendizagem acumulada em sua
trajetória escolar que foi marcada por diversas dificuldades, como: desistências,
exclusões, falta de limite e acompanhamento da família.”
Constata-se, então, que a escola no Brasil de certa forma tem sido conivente com
determinadas formas de exclusões sociais e educacionais. Historicamente a exclusão
realizada por meio da instituição escolar se dá através de mecanismos que corrobora com a
baixa qualidade do ensino ofertada a população pobre, bem como a sua não oferta a
atender às reais demandas dessa população. Assim, baseada na lógica da exclusão, a escola
tem expulsado muitos daqueles que conseguem nela ingressar, ainda muito cedo, durante o
processo de alfabetização. Outros são expulsos na adolescência em fase de profundas
mudanças biológicas, psicológicas e afetivo-sociais que demandam maior acolhimento e
competências técnica e humana diferenciadas daquelas necessárias para o trato com
crianças.
O autor Carrano enfatiza que
Além das dificuldades de acesso e permanência na escola, os jovens enfrentam a
realidade de instituições públicas que se orientam predominantemente para a
oferta de conteúdos curriculares formais e considerados pouco interessantes
pelos jovens. Isso implica em dizer que as escolas têm se apresentado como
instituições pouco abertas para a criação de espaços e situações que favoreçam
experiências de sociabilidade, solidariedade, debates públicos e atividades
culturais e formativas de natureza curricular ou extra-escolar (CARRANO,
2009, p. 6).
Todavia, quando o jovem rompe com esse processo gera o que definimos de
indisciplina e rebeldia, e a partir desse cenário, há um consenso e a denúncia realizada
pelos professores da EJA que a indisciplina nesta modalidade de ensino está atribuída ao
rejuvenescimento.
De acordo com BERTON
(...) aceitar a indisciplina ou a disciplina como naturais ou intrínsecas ao
processo educativo não traz contribuições para o trabalho do professor na sala
de aula. A indisciplina não é fenômeno natural, não está escrita nos genes, não
está determinada. A indisciplina e a disciplina são produtos de culturas,
políticas, sociedades, histórias e relações específicas, cabendo a reflexão e a
busca de soluções pela interlocução com seus agentes. Não existem receitas,
nem caminhos pré-determinados. Para ela, a indisciplina, entendida como uma
manifestação de mal-estar, não aparece somente no contexto escolar (BERTON,
2005, p.184).
Entende-se por “juventude” como uma diversidade que se concretiza com base nas
condições sociais (classes sociais), culturais (etnias, identidades religiosas, valores) e de
gênero, e também das regiões geográficas, dentre outros aspectos (DAYRELL, 2005, p.
42).
A fim de compreender a posição do alunado diante as questões relacionadas à
escola, foi realizada a leitura dos questionários, e produzidos gráficos, que nos possibilita
perceber as mudanças no perfil dos alunos da EJA de Timóteo.
O resultado apresentado refere-se aos 89 alunos do 2º segmento, e demonstra que
na escola em estudo há mais alunos na faixa etária de 15 a 29 anos que de 30 anos acima
(gráfico 1), o que confirma o rejuvenescimento da EJA.
Gráfico 1
17%
83%
Gráfico 2
43%
57%
3%
7% 30%
60%
Esses dados me ajudam a pensar ainda que a juventude presente na EJA na escola
trata-se em sua maioria negros. Nesse sentido, refletir sobre a juventude na EJA é levar em
consideração o seu pertencimento étnico-racial. E mais, nos leva a ponderar sobre a
seguinte questão: será que a identidade dos sujeitos jovens negros e brancos apresenta-se
como elemento de análise da prática docente? Existe alguma relação entre a indisciplina e
as questões raciais? Afinal, existe diferença entre ser jovem negro ou branco na sociedade
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brasileira? Não é a minha pretensão encontrar respostas para questões tão complexas neste
artigo, porém os dados coletados contribuíram para ampliar o meu olhar em direção a
juventude presente na escola que atuo.
No que se refere à indisciplina sob a ótica dos próprios sujeitos jovens a avaliação
da indisciplina na sala de aula se dá através de três níveis: baixo, médio e alto. A maioria
deles(as) consideram que a indisciplina varia entre média a alta, não havendo grandes
discrepâncias entre os valores.
Gráfico 4
17%
40%
43%
17%
7% 46%
10%
20%
11
Gráfico 6
13%
27%
27%
13%
20%
professores deveriam mudar a sua prática ou até mesmo sair da escola. Diante disso,
percebe-se que os alunos remetem a maior parte da responsabilidade da indisciplina a eles
próprios, sendo que, para eles o aluno que não se adapta às normas da escola ou do (a)
professor (a) deve ser expulso. Isso evidencia mais uma vez que a escola ainda exibe uma
tendência excludente.
A análise das conversas informais que tive com os (as) professores (as), da escola
em estudo, mostrou que eles tendem a considerar que a indisciplina refere-se unicamente
aos comportamentos dos alunos. Há também professores (as) que citam inúmeros
problemas do cotidiano que eles acreditam estar relacionados à indisciplina por parte dos
alunos, tais como falta de material didático específico para EJA, precariedade das
condições de trabalho e falta de recursos didáticos para aulas “diversificadas”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SILVA, Natalino Neves da. Juventude, EJA e Relações Raciais: um estudo sobre os
significados e sentidos atribuídos pelos jovens negros aos processos de escolarização
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VIANNA, C.; VALENTIM, C.; LOBATO, F.; SILVA, G.; SOUZA, G; SALES, S. O
fazer pedagógico no centro do processo de formação continuada de professoras:
autonomia e mancipação. In: OLIVEIRA, I.;PAIVA, J. Educação de jovens e adultos.
RJ: DP&A, 2004, p.120.