Técnica de Negociação e Mediação
Técnica de Negociação e Mediação
Técnica de Negociação e Mediação
Negociação e
Mediação
Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof. Roberto Ferreira de Macedo
222p.
ISBN 978-65-5466-193-5
ISBN Digital 978-65-5466-194-2
“Graduação - EaD”.
1. Técnica 2. Negociação 3. Mediação
CDD 658.31
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
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LEMBRETE
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REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 68
UNIDADE 2 — TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO.........................................................................73
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................145
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................221
UNIDADE 1 -
O CONFLITO: ABORDAGEM,
AUTOCOMPOSIÇÃO E RESOLUÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
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1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
CONFLITO: RELEVÂNCIA JURÍDICA E SOCIAL
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos pontos que se relacionam à construção de
conhecimentos específicos e gerais sobre a temática proposta, de forma que você tenha
as ferramentas adequadas para iniciar seus estudos sobre as técnicas de negociação
e mediação e demais áreas do conhecimento que guardam relevante associação.
Tratar desse tema é tarefa que necessita de toda uma base conceitual sobre
noções fundamentais do conflito, pois não podemos estudar o que é negociação
e mediação e nem suas relações com outros campos do conhecimento sem antes
compreendermos o que é o conflito e quais são suas fontes.
2 HETEROCOMPOSIÇÃO
A Ciência Jurídica e Social (estudo do Direito), enquanto reflexo da sociedade,
fundamenta a sua existência a partir das formas com que administra o conflito, tendo
em vista que a presença desse é uma constante nas relações humanas. Ou seja, o
Direito existe para que possamos não apenas viver em sociedade, mas, especialmente,
conviver de forma harmônica.
3
A partir de uma visão mais conservadora, o conflito pode ser compreendido como
algo negativo, traumático, devastador, ameaçador e que pode levar a uma escalada de
violência desmedida e incontrolável.
Os conflitos a serem abordados no nosso estudo são os que ocorrem entre seres
humanos, pessoas. Vários autores fazem essa diferenciação em relação às intempéries
cotidianas.
4
excepcionais, o ordenamento jurídico brasileiro autoriza a autotutela. São exemplos:
legítima defesa (artigo 25, do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal); apreensão do bem com penhor legal (artigo 1.467, I, da Lei nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 - Código Civil); desforço imediato no esbulho (artigo 1.210, § 1º, do
Código Civil).
De forma diversa, a moderna teoria dos conflitos aponta que esses podem
ter um caráter educativo, construtivo, na medida em que revelam a necessidade de
mudanças, de novas oportunidades, que levam às reflexões e reconstruções, evitando,
dessa forma, acomodação e conformismo. Entende-se que os conflitos podem ser
vistos sob uma ótica positiva, exatamente por estimular transformações.
Dentro desse contexto, o foco do nosso estudo é o tema dos conflitos nascidos
nas diversas relações sociais (relações humanas) e que podem ser submetidos não
só à apreciação do Estado-Juiz (situações juridicamente tuteladas), como também
aqueles que podem ser solucionados por meio de técnicas de negociação e mediação
extrajudicial.
É importante ter em mente que relações jurídicas tuteladas são aquelas relações
da vida social, disciplinadas pelo Direito, traduzidas na máxima de que “a cada Direito
corresponde uma obrigação” e vice-versa. Justifica-se, ainda a relevância do estudo
dos conflitos na medida em que percebemos que a própria ideia de Estado e de contrato
social foi gestada a partir da concepção e manejo das relações conflitivas.
Nesse contexto, não haveria espaço para a sociedade civil. Hobbes percebe
como estado de guerra aquele em que a competição travada pelo ganho fazia da
única preocupação a própria sobrevivência, assim como a desconfiança que conduz a
permanente luta por segurança e o desejo idealizado de uma boa reputação levariam
os homens ao conflito constante. Significa dizer que no estado de natureza os homens
fazem a sua própria justiça, enquanto no Estado institucionalizado o administrador é um
terceiro, alheio aos interesses dos envolvidos. Quanto à forma de vida, Hobbes enfatiza
que no estado de natureza haveria permanente caos, desorganização e a prevalência
da vontade do mais forte, como resultados inequívocos da administração dos conflitos
pelos indivíduos.
5
o Estado como um “Deus mortal” a quem os indivíduos devem a paz e a defesa de suas
vidas, utilizando-se da figura mitológica do Leviatã. Por isso, para Hobbes, o Estado
contratualista prepondera centralizado e autoritário e seu modelo determina uma
obrigação política vertical entre cidadão e Estado. Os resultados da administração do
conflito seriam a segurança e a paz social, ou seja, não existe aqui a ideia de direitos,
pois esses somente surgirão a partir do Estado soberano e absoluto, em troca dessa
suposta segurança e pacificação social.
6
[...] somente assim, quando a voz do dever substitui o impulso físico,
e o direito substitui o apetite, o homem, que até então se havia
limitado a contemplar-se a si mesmo, se vê obrigado a atuar segundo
outros princípios, consultando com sua razão antes de escutar as
suas inclinações (STRECK; MORAIS, 2000, p. 42).
ATENÇÃO
A que ideias o termo “conflito” nos remete? Qual seu significado? Qual a última
vez em que você enfrentou um conflito? No dia de hoje, você teve algum?
No seu lar, local de trabalho, no trânsito? De que forma você reage diante de
uma situação de conflito? Em diversas situações, quando estamos em conflito,
percebemos alterações físicas, transpirações, raiva, muda-se o modo de agir e
de pensar, ou seja, a divergência provoca transformações internas em cada
um de nós, no nosso cotidiano. O conflito está presente em todas as relações.
Como nós o vemos?
7
2.1 A CULTURA LITIGANTE DE TRATAMENTO DOS CONFLITOS:
A HETEROCOMPOSIÇÃO
Tanto para Hobbes quanto para Locke e Rousseau, conforme destaca Spengler
(2010, p. 279), “o contrato social que fez nascer a República e com ela a democracia
determinou o surgimento de regras de racionalização das disputas, objetivando cessar
a violência e o caos”. Dentro desse contexto, e considerando que conflito é inevitável,
pois inerente à vida em sociedade, concluímos que o Estado assume a responsabilidade
ou o poder/dever de “resolver” os conflitos.
8
Todas as reformas sofridas pelo Código de Processo Civil de 1973, inclusive
as relativas à antecipação de tutela, que visam otimizar o processo ao conceder o
direito pleiteado antes mesmo do fim da demanda, reforçam a ideia de que o mesmo
se consolidou enquanto instrumento que permite ao sujeito alcançar o bem da vida
almejado.
ATENÇÃO
Aqui se faz necessário chamar a atenção para uma questão de nomenclatura:
muitos doutrinadores ainda se referem ao Código de Processo Civil de 2015
como "Novo CPC". Isso já não é mais aceitável e serve apenas como forma de
comparação com o antigo CPC, de 1973, ou com outras Leis surgidas na mesma
época. O correto é nos referirmos como Código de Processo Civil de 2015.
9
INTERESSANTE
Quanto maior a imposição e coercitividade de uma decisão, maior a sensação
de injustiça. A lógica heterocompositiva (vigente no Código de Processo Civil
de 1973) trazia a ideia de que, presente um conflito e ajuizada uma demanda,
ao final do processo restaria um vencedor x um perdedor, sendo impossível a
coexistência de dois ou mais ganhadores.
10
Um negociador ou mediador capacitado tecnicamente e com a sensibilidade
apurada para impor uma iniciativa autocompositiva, auxiliando as partes a identificarem,
em meio a esta sequência de reações, os motivos originários do conflito, demonstrando
as sérias consequências que uma simples questão poderia trazer a ambos, certamente
teria sucesso na interrupção da escalada de reações negativas (suspendendo a espiral
do conflito). A correta utilização das técnicas de negociação e mediação não só evita a
escalada da espiral do conflito, como também transforma o processo de resolução dele
em algo construtivo, educativo, fortalecendo a relação pessoal preexistente.
DICA
A Câmara Mediadores do Sul estrutura-se a partir de um grupo de mediadores
judiciais e extrajudiciais, certificados pelo Tribunal de Justiça/RS (TJRS) e pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com habilidades, atitudes e ferramentas
essenciais, que visam mediar processos entre indivíduos, grupos e equipes
por meio da facilitação da comunicação e do entendimento. Disponível em:
https://www.mediadoresdosul.com.br/. Acesso em: 20 set. 2022.
11
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
12
AUTOATIVIDADE
1 No formato tradicional de prestação jurisdicional, as partes aguardam do Estado-
juiz uma solução imposta, pronta, previsível e fundada na lei. De outra banda, na
conciliação, mediação e negociação busca-se reconquistar a habilidade pessoal
de diálogo entre os envolvidos no conflito, fazendo com que abandonem a postura
submissa e passem a agir como atores principais no enfrentamento de suas
divergências. Essa mudança de conduta implica maior comprometimento com a
solução encontrada e fomenta uma alteração comportamental social. Sobre os
métodos alternativos de solução de conflitos, assinale a alternativa CORRETA:
13
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) V – F – V.
d) ( ) F – V – F.
4 Nas sociedades primitivas, a forma encontrada para resolução dos conflitos era a
autotutela, em que ocorria o sacrifício total do interesse de uma das partes pelo uso
da força da outra parte, ou seja, a própria parte (individualmente) procurava assegurar
o seu interesse impondo (coercitivamente) a solução do conflito sobre o oponente. A
partir da ideia de conflito é que se formou a própria concepção de Estado (contrato
social). Disserte sobre a relevância do conflito sob a ótica de Thomas Hobbes.
14
a efetiva solução da lide, conferindo primazia às decisões de mérito, tendo como
pano de fundo balizador a conciliação e a mediação. Dessa forma, a legislação civil
brasileira passou a prever a hipótese de autocomposição, ao permitir, por exemplo,
que o possuidor esbulhado obtenha de volta a posse de seu bem, por sua própria
força (reintegração de posse), contanto que o faça logo. Nesse contexto, disserte
sobre a autocomposição a partir do exemplo proposto.
15
16
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
AUTOCOMPOSIÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL E NA LEI DA MEDIAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, estudamos o que é o conflito e procuramos analisar o seu
significado e a sua relevância jurídica e social, especialmente em razão da noção de
Estado e contrato social. Buscamos compreender como os conflitos são tratados sob a
ótica de uma cultura litigante e heterocompositiva e quais as consequências da espiral
do conflito quando não tratada adequadamente.
17
Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e
dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para
que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
O ser humano desfruta de uma tendência, que lhe é intrínseca, qual seja, a
de conviver em comunidade, associado a outros indivíduos, tendo Aristóteles (2006,
p. 20) apontado que “o homem é um animal político, que nasce com a tendência de
viver em sociedade”. Cada indivíduo necessita dos demais para sua própria existência,
conservação e aperfeiçoamento, pelo que a sociedade não é uma composição volátil,
mas uma necessidade natural do homem. Quem contempla um agrupamento social
percebe que ele reflete, aos olhos do observador, os seres humanos com as suas
necessidades, os seus interesses, as suas pretensões e os seus conflitos.
18
que representam um conflito de interesses, divergências essas que se revelam inevitáveis
nas relações sociais. Sucede um conflito entre dois ou mais interesses, quando a posição
ou situação favorável à satisfação de uma necessidade exclui ou limita a posição ou
situação favorável à satisfação de outra necessidade. As carências dos indivíduos
crescem com maior velocidade do que a expansão de bens, e, consequentemente, a
limitação dos bens crescem com maior velocidade do que os próprios interesses dos
homens. Nesse sentido, os indivíduos se deparam, frequentemente, com o impasse
entre duas necessidades e sobre qual deve suprir e qual deve descartar.
A lide deve ser resolvida para que não seja comprometida a paz social e a
própria estrutura do Estado, pois o conflito de interesses é o germe de desagregação da
sociedade (ALVIM, 2016, p. 20–25).
19
sua quantidade e qualidade – não justificavam uma disputa em que se poderia perder
tudo, a razão e o bom senso prevaleceram sobre o uso da força bruta, ocorrendo uma
evolução para forma de resolução dos conflitos denominada “autocomposição”.
20
da disputa judicial, tendo atribuição de aplicar o direito objetivo ao caso concreto,
assegurando a cada um o que é seu. No processo, a lide é resolvida a partir dos critérios
estabelecidos pela legislação, mediante aplicação teórica e, supostamente, com justiça.
X ---------------------------- Y X—----------------------- Y
NEGOCIAÇÃO / NEGOCIAÇÃO M
MEDIAÇÃO / FACILITAÇÃO
C
X—----------------------- Y X—----------------------- Y
CONCILIAÇÃO / SUGESTÃO JUSTIÇA RESTAURATIVA = COLABORAÇÃO
21
representa nenhuma das partes em conflito. A jurisdição e a arbitragem representam os
principais procedimentos heterocompositivos, sendo que o terceiro neutro e imparcial
comprometido pode ser indicado (arbitragem) pelas partes ou imposto (jurisdição) pelo
Estado. Esse terceiro possui a prerrogativa (poder/dever) de resolver o conflito (decidir/
julgar) e sua decisão vincula ambas as partes. Os métodos heterocompositivos são
também identificados como adversariais, isto é, as partes opostas podem sair vitoriosas
ou derrotadas (ganhador x perdedor). Esse é um dos aspectos (talvez o principal) que
difere a heterocomposição da autocomposição.
22
importantes inovações no sistema de Justiça brasileiro, especialmente na aplicação
de instrumentos que têm por objetivo dar transparência e eficiência às suas decisões.
Dentre elas, destacam-se a criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a
adoção do instituto da repercussão geral dos recursos extraordinários.
23
pandemia do Coronavírus e outros fatores, a crise do Poder Judiciário ficou explícita.
Novos contextos trouxeram novas situações e novos conflitos, causando uma verdadeira
“explosão” de demandas, sobrecarregando um Judiciário lento e ainda arraigado às
suas velhas estruturas.
24
Retomando o que vimos até o momento, podemos compreender que o
modelo heterocompositivo adotado pelo Código de Processo Civil de 1973, embora se
dirigisse à pacificação social, enfrentava o conflito como um fenômeno meramente
jurídico, assim dizendo, desumanizava-o, diluindo as emoções das partes conflitantes.
Tratava unicamente dos interesses juridicamente tutelados. Excluía todos os aspectos
relevantes do conflito que não tinham importância jurídica. De acordo com Deutsch:
Aqui devemos nos atentar para algo relevante: é sempre necessário aplicar
uma interpretação conjunta do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), da Lei
de Mediação (Lei nº 13.140/15) e da Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça.
A Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça, que está em vigor desde 29 de
novembro de 2010, dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado
dos Conflitos de Interesses no âmbito do Poder Judiciário. É importante considerar,
aqui, que até a data de hoje já existem duas Emendas (nº 01/2013 e nº 02/2016), além
de outras Resoluções (nº 290/2019; nº 326/2020 e nº 390/2021) que consolidam o texto
da Resolução nº 125/2010, tornando-o compatível com o sistema legal vigente no que
diz respeito ao emprego das formas autocompositivas de metabolização de conflitos.
25
prévia solução de conflitos e interesses, seja oportunizando a diminuição de recursos,
cujo elevado número deve-se, em tese, à insatisfação das partes com as decisões
judiciais.
Fonte: a autora
26
Os Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais têm autonomia para dispor sobre
a composição e organização dos Cejuscs, desde que observem o que é ditado pelo
Conselho Nacional de Justiça (é o que dispõe o artigo 165, § 1º, da Lei nº 13.105/2015).
IMPORTANTE
Uma questão terminológica a ser observada é que sempre que se falar em
Conciliação, utiliza-se o termo “Audiência” e quando se tratar de Mediação
recorre-se, preferencialmente, ao termo “Sessão”.
Conciliação = Audiência
Mediação = Sessão
27
Quadro 1 – Princípios
28
Ou, como explica Spengler (2014, p. 88):
29
O princípio do empoderamento está ligado à ideia de que, além de mobilizar
seus próprios recursos, os mediadores e conciliadores são ensinados a empregar as
potencialidades do processo de mediação e conciliação para ajudar os conflitantes a
desenvolver suas próprias capacidades para atuar nas mais diversas circunstâncias,
não apenas no caso imediato, mas também nas situações futuras. Os conflitantes
ganham com isso um grande senso de autorrespeito e autoconfiança, o que representa
o empoderamento do processo de mediação e conciliação.
Nesta mesma linha, Spengler (2014, p. 91) aponta que o empoderamento está
ligado ao caráter pedagógico da mediação, no sentido de que desperta a capacidade
individual dos mediandos de enfrentarem seus próprios conflitos, “a partir da experiência
vivida do âmbito da mediação”.
30
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
31
AUTOATIVIDADE
1 O CNJ é o órgão responsável pela formulação da Política Judiciária em caráter geral
e nacional, possuindo as atribuições que estão previstas no artigo 6º da Resolução
CNJ n. 125/2010. Estabelece diretrizes para implantação e fiscalização da Política
Pública em todos os Estados. Entre elas, incluem-se o estabelecimento de conteúdo
programático mínimo para a capacitação de magistrados, servidores, mediadores,
conciliadores e demais facilitadores em métodos consensuais de solução de
conflitos e a edição do código de ética desses profissionais. Cabe ao CNJ também a
interlocução política com entidades públicas e privadas, como forma de incentivo ao
uso dos métodos consensuais de solução de conflitos.
32
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – V – V.
33
trouxeram novas situações e novos conflitos, causando uma verdadeira ‘explosão’
de demandas, sobrecarregando um Judiciário lento e ainda arraigado às suas velhas
estruturas”. Nesse cenário, disserte sobre as justificativas principais que fundamentam a
utilização dos métodos autocompositivos.
34
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
NEGOCIAÇÃO, MEDIAÇÃO
E CONCILIAÇÃO JUDICIAL
1 INTRODUÇÃO
Depois de estudarmos a relevância jurídica e social do conflito e a grande
importância da autocomposição, chegou o momento de introduzirmos os principais
aspectos da conciliação, da mediação, da negociação e da justiça restaurativa.
É importante destacar que tudo aquilo que for aplicável às técnicas de conciliação
e mediação também é válido para as técnicas de negociação e justiça restaurativa.
Portanto, quando nos referirmos à conciliação e mediação, automaticamente, estamos
também falando de negociação e justiça restaurativa.
A mediação, por seu turno, está prevista no artigo 165, § 3º, da Lei 13.105/2015
(Código de Processo Civil). O Manual de Mediação Judicial, disponibilizado pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), trata o conceito de mediação como:
35
habilitando-as a melhor compreender suas posições e a encontrar
soluções que se compatibilizam aos seus interesses e necessidades
(YARN, 1999, p. 33)
O artigo 165, § 3º, do Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), regula
a atuação do mediador, conferindo a ele as demandas específicas em que as partes já
possuem relação prévia. É objetivo do mediador trabalhar para a restauração do diálogo,
de forma que as partes consigam, por si próprias, soluções consensuais que tragam
benefícios mútuos. A relevância da mediação está em colocar as partes como atores
principais da demanda, que devem assumir o gerenciamento do seu próprio conflito
ativamente, aprimorando as técnicas aplicadas nas relações não contraditórias. O
Manual de Mediação Judicial do CNJ (2016, p. 148), trata das etapas da mediação, da
seguinte maneira:
NOTA
Apresentação à resolução adequada dos conflitos, que inclui uma série de
métodos capazes de solucionar conflitos, destacando-se a arbitragem, a
conciliação, a mediação e a negociação. Todas as informações referentes
a cursos, capacitação, aplicação das técnicas de negociação e mediação
estão no Manual de Mediação Judicial do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Disponível em: https://bit.ly/3STUcqv. Acesso em: 20 set. 2022.
36
2.1 SETORES DOS CENTROS JUDICIÁRIOS DE SOLUÇÃO DE
CONFLITOS E CIDADANIA (CEJUSC)
Conforme o artigo 10 da Resolução nº 125 do CNJ, cada unidade dos Centros de
Solução de Conflitos e Cidadania deverá contar com três setores:
37
autocompositivos se restringirá aos aspectos que admitem transação. Por exemplo:
numa situação em que se discutem alimentos a uma criança, nenhum dos pais
pode abdicar do direito que o filho tem com relação à verba alimentar. Porém, podem
transacionar a respeito dos valores, vencimento, formas de pagamento, periodicidade,
dentre outros.
ATENÇÃO
Sempre que houver acordo envolvendo direitos indisponíveis, porém
transigíveis, deverá ser oportunizada a intervenção do Ministério Público,
antes da homologação do acordo pelo magistrado, conforme disposto no §
2º do artigo 3º da Lei 13.140/2015. A Resolução nº 118/2014, do Conselho
Nacional do Ministério Público, regulamenta a Política Nacional de Incentivo
à Autocomposição no âmbito do Ministério Público e dá outras providências.
De acordo com o que foi estudado até aqui, podemos afirmar que atuam nos
Cejuscs os seguintes profissionais:
38
Juiz(a)* coordenador(a) e, se necessário, um juiz adjunto – artigo 9º da Resolução
nº 125 CNJ;
• Servidor(es)*;
• Conciliadores*;
• Mediadores*;
• Advogados**;
• Defensores Públicos**;
• Membros do Ministério Público;
• Membros da Advocacia Pública.
DICA
O Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Servidores do Poder
Judiciário (Ceajud), integrante da estrutura organizacional do Conselho
Nacional de Justiça, tem a missão de coordenar e promover, com os
tribunais, a educação corporativa e o desenvolvimento das competências
necessárias ao aperfeiçoamento de servidores para o alcance dos objetivos
estratégicos do Poder Judiciário. O Ceajud é o responsável pelo portal EAD
do CNJ e oferece cursos e treinamentos a servidores do poder judiciário
e à população de uma forma geral, em seus ciclos de cursos abertos.
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/eadcnj/. Acesso em: 27 ago. 2022.
39
No mesmo sentido, o Pleno do Superior Tribunal de Justiça (STJ) definiu que o
novo Código de Processo Civil (CPC) deveria entrar em vigor no dia 18 de março de 2016.
A questão foi levada à apreciação do colegiado pelo ministro Raul Araújo, presidente
da Segunda Seção do tribunal. O Pleno, de forma unânime, interpretou o artigo 1.045
do CPC para definir a questão. O artigo dispõe que “este código entra em vigor após
decorrido um ano da data de sua publicação oficial”. O novo CPC foi publicado no dia 17
de março de 2015 (STJ, 2016).
Fonte: a autora
41
único do artigo 2º, os deveres do advogado. Dentre eles está o estímulo à conciliação e à
mediação como meio preventivo ao litígio (inciso VI). Ainda com relação aos honorários
advocatícios, prevê o artigo 48 ser vedado, em qualquer hipótese, a diminuição
de honorários contratados em razão de a solução do litígio ter-se dado através dos
mecanismos adequados de solução de conflitos. No mesmo sentido dispõe o parágrafo
único, do artigo 4º, do Anexo III da Resolução nº 125, nestes termos:
IMPORTANTE
Podemos afirmar que a utilização dos métodos autocompositivos encontra
três justificativas principais, quais sejam:
1. Pacificação objetiva – no método heterocompositivo (processo
judicial), a decisão é imposta e o resultado é apenas a “pacificação
social” (pois, em face da sociedade, o conflito foi solucionado).
Entretanto, nem sempre existe a pacificação entre as partes
envolvidas (atores principais do conflito), dado que uma das partes não
ficará satisfeita (perdedor x ganhador). Ainda é possível que ambas as partes
restem insatisfeitas, como ocorre nos casos de sucumbência recíproca.
2. Política – a denominada “justiça participativa” é aquela que autoriza a
participação das próprias partes envolvidas no conflito (atores principais)
em conjunto dos conciliadores e mediadores. Quando a sociedade é
convocada a participar e a atuar, verificamos os atributos característicos da
denominada “democracia participativa”.
3. Funcional – a utilização das ferramentas autocompositivas tem potencial
para aliviar o acúmulo de trabalho dos Tribunais Judiciais. Na medida em
que, para cada tipo de conflito existe um meio adequado de solução, fica
autorizada a utilização da Justiça Estatal ou de outros métodos (alternativos)
pelas partes, o que ocorre, via de regra, por intermédio de um especialista
no tema do conflito ou matéria controvertida, o qual facilitará o processo de
mediação e conciliação e a busca pela solução pacífica.
42
2.2 NEGOCIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO:
APROFUNDANDO CONHECIMENTOS
Na etapa anterior, refletimos sobre o conflito, sua relevância jurídica e social.
Compreendemos também em que aspectos o modelo heterocompositivo se diferencia
do autocompositivo.
Ou seja, vamos refletir sobre o juízo competente para a realização das sessões
de mediação e audiências de conciliação e quais os objetivos do mediador e conciliador.
Entenderemos a forma pela qual o processo conciliatório mediativo se desenvolve e o
que está reservado aos juízes, promotores, advogados, partes e terceiros interessados
dentro da órbita da autocomposição.
43
Na sequência, estudaremos o momento processual reservado à mediação e
conciliação, por meio de um organograma que permite visualizar e fixar as regras trazidas
pelo Novo Código de Processo Civil sobre a matéria. Também faremos uma análise das
questões relativas à mediação familiar.
O mediador, por sua vez, atuará preferencialmente nas situações que existam
relações continuadas entre os litigantes. Por exemplo: nos casos de divórcio, alimentos,
nas relações de vizinhança, nas dissoluções de micro e pequenas empresas em que
os sócios são familiares ou não, dentre outros. É atribuição do mediador apoiar as
partes no entendimento dos problemas e preferências que estão postos no conflito
com o propósito de retomar o diálogo, de forma que os interessados, espontaneamente,
indiquem as respostas amigáveis que reproduzam proveitos mútuos. Nesse sentido,
recomenda-se a leitura do artigo 165, § 3º, da Lei nº 13.105/2015, nestes termos:
44
também no artigo 7º da Lei nº 13.105/2015 (Código de Processo Civil). Em razão dessas
disposições, o legislador expressamente reconhece estar assegurada a imparcialidade
nas hipóteses de impedimento e suspeição, previstas no artigo 144 e seguintes da Lei
nº 13.105/2015.
IMPORTANTE
Agora vamos pensar em um exemplo prático: digamos que você é mediador
judicial. Nessa condição, é designado para atender um determinado
processo, encaminhado para o Cejusc. O feito diz respeito a um conflito
entre vizinhos. Na sessão de mediação, você constata que nenhuma
daquelas pessoas fazem parte do seu círculo de amigos e/ou parentes.
Ocorre que, à medida que eles vão relatando os fatos, você descobre que um
dos mediandos havia previamente procurado o escritório de advocacia onde
você exerce suas atividades profissionais e a situação havia sido discutida
entre você e seus colegas de trabalho. Você havia, inclusive, redigido uma
minuta, com orientações jurídicas, endereçadas ao mediando que procurou
o escritório. Ou seja, inequivocamente, você já tinha tomado conhecimento
da situação, mesmo sem ter tido contato direto com os mediandos. Ainda
que o mediando não tenha contratado o escritório de advocacia, sua isenção
está comprometida e, por isso, deve se declarar suspeito para atuar no feito,
conforme disposto no artigo 145, inciso II, do CPC.
45
Com relação à capacitação dos mediadores e conciliadores, prevista no artigo 167,
§ 1º, da Lei nº 13.105/2015, cumpre esclarecer que ambos deverão realizar cursos teórico-
práticos, ministrados pelos instrutores dos Tribunais e/ou de entidades credenciadas
aos respectivos Nupemecs (Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução
de Conflitos) certificados pelo Conselho Nacional de Justiça. As diretrizes curriculares
dos cursos encontram-se no Anexo I, da Resolução nº 125 do Conselho Nacional de
Justiça.
IMPORTANTE
A capacitação busca suprir demanda por conciliadores na Justiça Federal. O
objetivo do curso Formação de Conciliadores (parte teórica) é capacitar pessoas
para atuarem como conciliadores na Justiça Federal e no desenvolvimento
da Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado de Conflitos. A ideia
surgiu por conta da carência de conciliadores para atuarem na Justiça Federal.
O curso foi promovido pelo do Conselho da Justiça Federal (CJF), seguindo as
diretrizes da Resolução CNJ n. 125/2021, e ganhou o Prêmio Conciliar é Legal
de 2022 na categoria Instrutores de Mediadores e Conciliadores.
Fonte: MARTINS, T. Curso de capacitação busca suprir demanda por
conciliadores na justiça federal. Agência CNJ de Notícias. Brasília, 12 ago.
2022. Disponível em: https://bit.ly/3UXauki. Acesso em: 20 set. 2022.
46
Conforme decisão do Conselho Nacional de Justiça – SEI nº 0007324-
12.2016.2.00.0000:
47
O Código de Ética dos conciliadores e mediadores, bem como a normatização
quanto a responsabilidades e sanções que podem ser impostas aos mencionados
profissionais, encontram-se no Anexo III da Resolução nº 125 do CNJ.
A avaliação contínua feita pelos usuários dos serviços prestados pelo Poder
Judiciário, prevista no § 2º, do artigo 12, da Resolução nº 125, se dá mediante o
preenchimento de ficha de avaliação, disponibilizada aos jurisdicionados no término das
sessões de mediação ou das audiências de conciliação.
ATENÇÃO
Na mediação e na conciliação judicial, há menos liberdade de escolha do
mediador/conciliador por parte dos litigantes, embora ambos estejam
sujeitos à prévia aceitação das partes. O consenso quanto ao mediador e/ou
conciliador não significa poder de escolha.
48
3 REMUNERAÇÃO DOS CONCILIADORES E MEDIADORES
A regra geral é de que tanto a mediação quanto a conciliação não acarretem
ônus processuais para as partes quando elas forem beneficiárias da assistência judiciária
gratuita, conforme disposto no § 2º do artigo 4º da Lei 13.140/2015. O artigo 169 da Lei
nº 13.105/2015 dispõe sobre a possibilidade de os conciliadores e mediadores serem
remunerados a partir de uma tabela, a ser fixada pelo respectivo tribunal, seguindo
parâmetros ditados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O artigo 169, § 1º, da Lei nº
13.105/2015 não exclui a possibilidade da mediação e conciliação por meio de trabalho
voluntário, observada a regra trazida pela Resolução nº 125 do Conselho Nacional de
Justiça.
49
INTERESSANTE
A tecnologia adotada pela empresa Mediato Consultoria, que é uma
Câmara Privada de Mediação e Conciliação, entidade apta a utilizar
métodos consensuais de solução de conflito, foi a mais efetiva nas soluções
extrajudiciais em reclamações formalizadas perante o Procon. De acordo com
os números apresentados pela Mediato, menos de 1% das demandas não
conseguiu solução e foi direcionada à Justiça.
Fonte: BANDEIRA, R. Empresa de mediação soluciona mais de 16 mil conflitos
durante a pandemia. Agência CNJ de Notícias. Brasília, 2022 Disponível em
https://www.cnj.jus.br/empresa-de-mediacao-soluciona-mais-de-16-mil-
conflitos-durante-a-pandemia/. Acesso em 12 ago. 2022.
50
da Lei nº 13.105/2015” e/ou “pacto de exclusão contratual da audiência de conciliação ou
sessão de mediação prevista no artigo 334, da Lei nº 13.105/2015” – conforme redação
do Enunciado 19 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC).
Destaca-se também que os prazos determinados pelo artigo 334 do Novo CPC
não se aplicam aos processos de competência dos Juizados Especiais, sem prejuízo da
adoção de técnicas de mediação e conciliação, consoante previsão do Enunciado 509
do FPPC.
51
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
52
AUTOATIVIDADE
1 A conciliação e a mediação, bem como a negociação, são procedimentos que se
estabelecem na pacificação e no consenso entre as partes envolvidas em dado
conflito. Buscam, primeiro, neutralizar o ânimo de litígio, para depois proporcionar
que as partes manifestem a intenção de deliberar, pacificamente, sobre a divergência
posta, acompanhadas de um terceiro neutro e imparcial, que terá a missão de obter
uma solução. Sobre as disposições trazidas pelo Novo Código de Processo Civil (Lei
nº 13.105/2015), assinale a alternativa CORRETA:
53
Assinale a alternativa CORRETA:
3 Chama atenção o destaque dado pelo Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015)
aos métodos alternativos de resolução de conflitos, como a arbitragem, a conciliação,
a mediação e a negociação. São formas de evitar/resolver a lide, promovendo a
solução amigável do conflito de interesses e o desafogo do Judiciário. As chamadas
formas alternativas de resolução de conflitos e a promoção e utilização dos métodos
alternativos de resolução de conflitos são aspectos marcantes do Código de Processo
Civil. Dessa forma, ficou estabelecido que é permitida a arbitragem, na forma da lei e
que o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos e
que a conciliação, a mediação e outros métodos deverão ser estimulados por juízes,
advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso
do processo judicial. De acordo com as disposições trazidas pelo Código de Processo
Civil sobre a audiência de conciliação e sessão de mediação, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) Qualquer pessoa pode atuar como mediador extrajudicial, desde que seja capaz,
goze da confiança das partes e seja tecnicamente capacitada para fazer a mediação.
( ) O termo de entendimento referendado por mediador ou conciliador extrajudicial,
credenciado pelo Tribunal, constitui título executivo judicial.
( ) A mediação extrajudicial pode acontecer por convenção ou iniciativa das partes ou
por previsão contratual.
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.
54
vezes; a referência à mediação, 39 vezes; a lembrança à arbitragem ocorre em 12
oportunidades. A mediação está prevista no artigo 165, § 3º, da Lei 13.105/2015 (Código
de Processo Civil). O Manual de Mediação Judicial, disponibilizado pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), também trata do tema de forma mais aprofundada. Nesse
contexto, disserte brevemente sobre o conceito de mediação.
55
56
UNIDADE 1 TÓPICO 4 -
SITUAÇÕES ESPECIAIS
1 INTRODUÇÃO
Chegamos ao último tópico da disciplina de Técnicas de Negociação e Mediação.
Faremos uma análise das questões relativas à mediação familiar.
Ademais, nas ações sobre Direito de Família, consoante disposição do artigo 695
do novo CPC (Lei nº 13.105/2015), houve a determinação para que o mandado de citação
contenha somente os dados para audiência de conciliação ou mediação, devendo estar
desacompanhado da petição inicial, objetivando, dessa forma, dar relevo e prioridade
aos acordos e ao exercício de defesa.
57
Os Métodos Adequados de Solução de Conflitos oferecem algumas vantagens
quando comparados com o processo judicial comum, já que ampliam a possibilidade de
acesso e promoção de justiça aos cidadãos (observando o princípio constitucional do
acesso à justiça, previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988).
IMPORTANTE
A Lei nº 13.105/2015 (Código de Processo Civil) faz referência expressa
à Negociação, a partir do que dispõe o artigo 166, § 3º, nestes termos:
“Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar
ambiente favorável à autocomposição”. Significa dizer que, em se tratando de
direitos disponíveis (aqueles que possuem natureza econômica e que podem
ser transacionados) podem as partes (desde que plenamente capazes)
estabelecer as regras procedimentais que irão regular o litígio, até mesmo
naquilo que diz respeito à utilização dos métodos consensuais.
58
Duas observações procedem em relação a esse dispositivo: se a petição for
considerada inepta, será concedida a possibilidade de emenda, ou o pedido será julgado
liminarmente improcedente – nesse caso, não haverá a designação da audiência de
conciliação ou da sessão de mediação. Por outro lado, estando a petição inicial plena, o
juiz da causa determinará a citação do réu.
A Lei nº 13.140/2015 (Lei de Mediação), no seu artigo 2º, § 2º, determina que
ninguém fica obrigado a permanecer no procedimento de mediação. Dessa forma, a
realização da audiência poderá ser obrigatória, contudo, a qualquer uma das partes é
facultado retirar-se do procedimento a qualquer instante.
Artigo 334, § 5º, da Lei nº 13.105/2015: “O autor deverá indicar, na petição inicial,
seu desinteresse na autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada
com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência”.
59
Litisconsórcio passivo ou ativo: havendo desinteresse de um dos
litisconsortes, não resta obstaculizada a realização da conciliação ou da mediação,
conforme disposição do artigo 334, § 6º, do CPC/2015, ou seja, havendo litisconsórcio, o
desinteresse na realização da audiência deve ser manifestado por todos os litisconsortes.
60
Programas de autocomposição (mutirões): podem ser instituídos pelo
Poder Judiciário e implicam suspensão de prazos durante a execução do programa.
Importante: os Tribunais devem fixar data de início do programa e data da finalização
com antecedência. É o que estabelece o parágrafo único, do artigo 221, combinado com
artigo 313, inciso VIII, ambos do CPC/2015.
• divórcio;
• separação;
• reconhecimento e extinção de união estável;
• guarda;
• visitas;
• filiação.
61
Mediação Extrajudicial: está regulada pela Lei nº 13.140/2015, especialmente
nos artigos 21 e seguintes e pela Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça,
artigos 12-C e seguintes, introduzidos pela Emenda nº 2 de 08/03/2015.
Depois de tudo o que vimos até aqui, podemos perceber que as propostas do
Novo Código de Processo Civil são arrojadas, pois alteram não apenas o rito processual,
mas também a forma como percebemos o conflito.
Há necessidade de irmos além e, por isso, convido você a fazer com afinco as
autoavaliações, a buscar as leituras recomendadas, bem como dedicar total atenção às
questões propostas.
ATENÇÃO
A cláusula de eleição de foro através da Arbitragem (Tribunal Arbitral) é
uma novidade importante trazida pelo Novo Código de Processo Civil (Lei nº
13.105/2015) que está sendo muito utilizada nos pactos contratuais atuais.
Nesse sentido, observa-se a redação do artigo 3º, parágrafo 1º, que trata
expressamente do tema, nestas palavras: “É permitida a arbitragem, na forma
da lei.”
62
LEITURA
COMPLEMENTAR
AFINAL, A MEDIAÇÃO DEU CERTO NO BRASIL?
Mírian Queiroz
63
Para consolidar a mediação no Brasil é necessário realizar uma força-tarefa entre
empresas privadas, advogados e sociedade. As instituições privadas podem utilizar a
mediação de maneira preventiva, evitando o surgimento de novos processos judiciais,
ou para finalizar ações que estão em tramitação, reduzindo o número de causas que
estão na fila aguardando uma decisão. Como consequência, as empresas terão redução
de custos (já que as lides possuem dispêndios), celeridade (o acordo extrajudicial pode
ser realizado em até uma semana), confidencialidade (o procedimento é totalmente
sigiloso), imagem positiva no mercado (já que oferecerá aos clientes solução rápida e
que realmente atenda a necessidade do consumidor) e redução do desgaste emocional.
64
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:
65
AUTOATIVIDADE
1 Analise a seguinte situação hipotética: Janete, 33 anos, trabalhava como garçonete
na Casa Noturna “No Stress”, sendo dispensada sem motivo justificado pelo
proprietário Rui. Muito contrariada com a situação, Janete propôs uma ação em face
de Rui, deixando de declarar na petição inicial se pretendia ou não que fosse realizada
audiência de conciliação ou sessão de mediação. Recebendo a inicial, o juiz da causa
determinou a referida audiência conciliatória, dando ciência às partes. Rui respondeu
ao juízo manifestando interesse na audiência, enquanto Janete, mesmo devidamente
notificada, nada respondeu. Na data aprazada para a audiência de conciliação,
somente Rui, o réu, marcou presença. Considerando a situação hipotética descrita,
assinale a alternativa CORRETA:
66
3 Considerando o que prescreve o ordenamento jurídico brasileiro, a mediação pode
ser empregada nas controvérsias e conflitos que versem sobre direitos disponíveis
e/ou sobre aqueles direitos indisponíveis passíveis de transação. De acordo com as
disposições gerais da mediação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:
( ) Na mediação judicial, toda pessoa capaz, que tenha confiança de ambas as partes e
que seja graduada em Direito há pelo menos dois anos, poder atuar como mediador.
( ) Na mediação extrajudicial, o início do procedimento pode se dar a partir de um
convite da parte interessada à outra parte, que deverá ser respondido no prazo de
30 dias.
( ) Em existindo a celebração de acordo entre as partes, decorrente de procedimento
de mediação, será elaborado um título executivo extrajudicial.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) F – F – V.
67
REFERÊNCIAS
10 TENDÊNCIAS do Direito das Famílias e Sucessões para 2022. Instituto Brasileiro
de Direito de Família. Belo Horizonte, 12 jan. 2022. Disponível em: https://ibdfam.org.
br/noticias/9252 Acesso em: 31 ago. 2022.
ALVIM, J. E. C. Teoria geral do processo. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
BRASIL. Código de Processo Civil Anotado – OAB-PR, 2019. Disponível em: https://
www.oabpr.org.br/esa-disponibiliza-nova-atualizacao-do-cpc-anotado/. Acesso em:
11 ago. 2022.
68
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília:
Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 1º jan. 2017.
69
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Ato atentatório
à dignidade da justiça. 03.09.2021. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/consultas/
jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/novo-codigo-de-processo-civil/ato-
atentatorio-a-dignidade-da-justica Acesso em: 31 ago. 2022.
DUARTE, Z. A difícil conciliação entre o Novo CPC e a Lei de Mediação. GEN Jurídico.
JusBrasil. 2017. Disponível em: https://genjuridico.jusbrasil.com.br/artigos/454191053/
a-dificil-conciliacao-entre-o-novo-cpc-e-a-lei-de-mediacao Acesso em: 9 ago. 2022.
LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Ensaio sobre a origem, os limites
e os fins verdadeiros do governo civil. Petrópolis: Vozes, 1994.
70
PLENO do STJ define que o novo CPC entra em vigor no dia 18 de março.
Portal do Superior Tribunal de Justiça. Brasília, 2 mar. 2016. Disponível
em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-
antigas/2016/2016-03-02_20-07_Pleno-do-STJ-define-que-o-novo-CPC-entra-
em-vigor-no-dia-18-de-marco.aspx Acesso em: 9 ago. 2022.
QUEIROZ, M. Afinal, a mediação deu certo no Brasil? Revista Consultor Jurídico, São
Paulo, 29 de março de 2022. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2022-mar-29/
mirian-queiroz-mediacao-deu-certo-brasil Acesso em: 31 ago. 2022.
SALES, L. M. de, M. Mediare: um guia prático para mediadores. 3. ed. Rio De Janeiro:
GZ, 2010.
SANTOS, B. de. S.; MENEZES, M. P. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.
SANTOS, B. de. S. Para uma revolução democrática da justiça. 3. ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
SPENGLER, F. M. Retalhos de mediação. 1. ed. Santa Cruz do Sul: Essere nel mondo,
2014.
STRECK, L. L.; MORAIS, J. L. B. de. Ciência política e teoria geral do estado. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2000.
TARTUCE, F. Mediação nos conflitos civis. 2. ed. atual. e amp. São Paulo: Gen,
Método, 2015.
YARN, D. E. Dictionary of Conflict Resolution. São Francisco: Ed. Jossey Bass Inc,
1999.
71
72
UNIDADE 2 —
TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
73
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
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74
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
NEGOCIAÇÃO COMO PROCESSO
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história, vemos que a questão do conflito foi assumindo
novas formas. Remontando a nossos ancestrais nômades, temos que os conflitos
eram mediados por lideranças comunitárias e, em geral, vigorava a ideia do que
fosse melhor para a coletividade, em detrimento do interesse particular.
O conflito, entretanto, não deve ser visto como algo negativo, uma vez
que é próprio do ser humano e nos faz observar um objeto sob diferentes facetas.
Assim, ao contrário do que se supunha em momentos pretéritos, a paz não está
alicerçada na inexistência de conflitos, mas na forma de lidar adequadamente
com essa condição existente. A falta de conflitos, essa sim, pode ser considerada
socialmente preocupante.
75
2 MÉTODO DE NEGOCIAÇÃO DE HARVARD
Viver em sociedade é diariamente ser confrontado com situações de
conflitos intrapessoais (nos quais o indivíduo vivencia uma oposição interna
entre agir de uma ou de outra forma) e interpessoais (quando a controvérsia
ocorre entre duas ou mais pessoas).
INTERESSANTE
Qual a diferença entre conflito e confronto?
O historiador e filósofo Leandro Karnal reflete sobre os dois conceitos,
demonstrando que o conflito é algo esperado e até mesmo desejado, uma
vez que, ao contrário do confronto, permite a troca de ideias e mesmo, em
maior escala, a manutenção da democracia.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HbQ23ZeH8Fo. Acesso
em: 27 set. 2022.
76
Em face dessas situações de conflito, todos os dias e em diferentes contextos
somos impelidos a fazer negociações que abrangem desde anseios aparentemente
simples, vinculados aos contextos familiares e de amizade, até âmbitos mais complexos
e de maior repercussão, como as negociações governamentais internacionais. Daí a
importância de se desenvolver o autodesenvolvimento em negociação. É nessa linha
que Dias, Duzert e Loés (2021, p. 48807) afirmam que “a negociação é um processo
de interação social dinâmico e muito importante para a evolução do ser humano, pois
implica em solução de controvérsias por meios pacíficos e de não-agressão”.
77
Sobre o Método de Harvard, Silva (2022, p. 145) define que a negociação
“consiste em decidir questões a partir de seus méritos, procurando benefícios mútuos,
baseado em padrões objetivos, concebida para chegar a um acordo quando se têm
alguns interesses em comum e outros opostos”.
O segundo princípio define que é necessário foco nos interesses das partes e
não em seus posicionamentos. Isso significa que se deve ter em mente o que realmente
importa, o que efetivamente é relevante na mesa de negociações, sem que os
envolvidos se percam defendendo posições pessoais ou sentimentos de vitória. Assim,
por exemplo, no caso de um negócio empresarial de grande relevo, o mais importante é
manter a continuidade do empreendimento, ainda que com menos lucro.
78
O terceiro princípio destaca a relevância de refletir sobre possibilidades de
ganhos mútuos. Dini e Venturin (2021, p. 5) assinalam que “o pensamento comum de que
na negociação alguém sempre sairá perdendo e alguém ganhando, não é considerado
válido nesse modelo”. Ou seja, durante o processo de negociação será preciso buscar
soluções que conciliem os interesses inicialmente contrapostos de modo que todos
“saiam ganhando”. Assim, ainda no contexto empresarial, por vezes é possível pensar
em uma forma de exploração empresarial que favoreça ambas as organizações, como a
definição de saídas recíprocas em localidades diferentes, por exemplo.
3 ELEMENTOS DA NEGOCIAÇÃO
Diversos autores indicam sete elementos que, bem compreendidos e colocados
em prática, resultarão em um processo de negociação eficiente. São eles: comunicação;
relacionamento; interesses; criatividade; possibilidades; persuasão e compromisso. A
seguir trataremos individualmente de cada um deles
3.1 COMUNICAÇÃO
A comunicação, em suas mais diferentes formas, é elemento essencial à
negociação, uma vez ser por meio dela que os envolvidos trocarão ideias, expressarão
seus interesses e buscarão uma solução apta a satisfazer seus anseios.
79
Todavia, apesar da aparente simplicidade, a comunicação precisa ser efetiva, de
modo que todos os envolvidos ouçam e sejam ouvidos. Assim, por exemplo, é comum
que, durante uma mesa de negociação, várias pessoas falem ao mesmo tempo, no
intuito de fazer-se ouvir e acreditando alcançar o objetivo. Entretanto, em verdade, o
que está ocorrendo é apenas perda de tempo e de energia.
(...) pode ser verbal ou não verbal, e sua manifestação pode ocorrer
inclusive na forma escrita, não havendo necessidade de ‘olho no
olho1. Contudo, é necessário que todas as partes expressem, de
um modo ou de outro (e preferencialmente de maneira clara), seus
interesses e objetivos sob pena de, não o fazendo, macular todo o
processo e afetar negativamente os resultados.
3.2 RELACIONAMENTO
O relacionamento, em conjunto com a comunicação, compõe o que se
convencionou chamar “portas de entrada da negociação” (MOURÃO et al, 2014).
80
É crucial que as pessoas aprendam a lidar com as diferenças que
existem entre ambas, para que, finalmente, sejam capazes de tomar
decisões que somarão de forma positiva na busca por soluções que
assistirá a ambos os envolvidos no conflito. Afinal, ninguém é obrigado
a concordar com a opinião alheia, todavia, tem o dever moral e ético
de respeitá-la. Ademais, para que as pessoas saibam lidar com os
conflitos, primeiramente, tem que aprender a lidar com as diferenças.
3.3 INTERESSES
Durante a negociação, é imprescindível que os envolvidos foquem nos interesses
postos à mesa. Essa medida fará com que evitem resistências pouco produtivas,
animosidades e caprichos das mais diversas ordens que possam inviabilizar o acordo,
como assinala Britto (2011, p. 24):
81
Pelo segundo princípio, é preciso focar no que se quer de fato, e não nos
posicionamentos inicialmente externados. Maraschin (2017, p. 15) traz à baila um
exemplo que bem elucida essa questão:
3.4 CRIATIVIDADE
Em consonância com o princípio que aponta a necessidade de “gerar
possibilidades de ganhos mútuos”, o elemento da criatividade funciona para que sejam
buscadas novas possibilidades de solução que atendam a ambas as partes.
82
3.5 POSSIBILIDADES
Com o uso da criatividade na busca por soluções, são trazidas diferentes
possibilidades para a mesa de negociação. Isto é, não apenas um caminho a ser
descortinado, mas outros que possam ser trilhados na busca pelo acordo, conforme
destaca Batista (2020, p.63):
3.6 PERSUASÃO
Por meio da persuasão, uma parte muda de posicionamento por realmente
acreditar que essa nova perspectiva é mais adequada. Sobre o elemento da persuasão,
Batista (2020, p. 63) explicita:
3.7 COMPROMISSO
É importante lembrar que a negociação não é um fim em si mesmo, mas, em
verdade, um meio para se alcançar determinado objetivo.
83
Em sendo assim, o processo apenas termina quando as partes cumprirem o
acordado. E, para tanto, é necessário que firmem um contrato e/ou termo de acordo
no qual estabeleçam o que ficou ajustado, bem como possíveis prazos, como assinala
Batista (2020, p.63):
• preparação;
• criação;
• negociação;
• fechamento;
• reconstrução das relações.
84
4.1 PREPARAÇÃO
A Preparação é a etapa na qual os interessados, ainda individualmente, elaboram
e refletem sobre seus interesses. Brito (2011, p. 22) pondera que:
A etapa de preparação, por sua vez, passa por diferentes facetas, sobre as quais
nos debruçaremos a seguir.
Daí ser fundamental que, durante a fase da preparação, cada parte reflita sobre
o que está em questão e o que efetivamente almeja, bem como sobre os objetivos da
parte contraposta. A partir dessa primeira análise, poderá visualizar quais interesses
são negociáveis e quais não está disposta a abrir mão. Mourão et al (2014, p. 108) assim
destacam a questão dos interesses dentro da negociação:
85
Filardi e Murad (2015, p. 82) explicam sobre a importância de definir previamente
uma hierarquia entre os interesses em disputa:
86
e acolhedor é o diálogo entre as partes envolvidas, mais visível fica
a zona possível, o que aumentará a possibilidade de êxito (WEYNE,
2019, p. 112).
Definida a Masa, passa a ser possível traçar a Zopa, a qual traz em si o “valor de
reserva”, isto é, “o limite de valor aceitável para fechar o acordo” (BATISTA, 2020, p. 66).
4.1.3 Informação
É nessa fase que se busca conhecer a outra parte negocial, usando, para tanto,
desde análises documentais a pesquisas de campo, de forma a buscar o máximo de
informações sobre necessidades, desejos e potencial de negociação. Isso porque,
conhecendo a outra parte negocial, será possível estabelecer parâmetros de metas e
possíveis pontos de equilíbrio. Lembremos sempre que improviso e negociação não
combinam!
Apesar de ser própria da etapa de preparação, essa faceta deve ser mantida
durante todo o processo, inclusive quando na mesa de negociações e após firmado
o acordo. Isso porque permitirá, por meio da escuta ativa e da observação constante,
não apenas reconhecer o oponente negocial, mas demonstrar empatia e respeito aos
envolvidos.
87
Também é importante estar preparado para a forma de comunicação de suas
ideias e intenções, trazendo fundamentos claros e objetivos, mas não deixando que a
negociação se encaminhe para um campo de batalhas.
4.2 CRIAÇÃO
Nessa fase, os envolvidos manifestam seus interesses, bem como escutam
as demandas da outra parte. Para tanto, é necessário que fiquem claras as próprias
motivações – a razão pela qual tem interesse no bem envolvido –, assim como o
processo de escuta ativa, no qual deve-se estar aberto para ouvir e buscar compreender
os interesses e as motivações do outro.
Além disso, é nessa etapa que existe a chamada criação de valor, por meio
do qual busca-se ampliar as vantagens do que está em jogo para só após ocorrer a
distribuição. Nesse sentido, Maraschin (2017, p.14) explica:
88
Isso porque “na medida em que as partes estejam envolvidas não só no conflito,
mas também na sua solução, há maior probabilidade de que o compromisso de ambos
os lados em relação ao quanto acordado acomode melhor os anseios dos interessados”
(MOURÃO et al, 2014, p. 51). Com essa linha de raciocínio, a solução do problema passa
a ser prioridade de todos os envolvidos.
Vejamos que ao focar nos interesses, existe uma maior margem de negociação
entre as partes e, por consequência, maior probabilidade de chegar a um termo
satisfatório a todos. Daí dizer-se que com essa abordagem existe a priorização dos
interesses envolvidos e não das posições dos negociadores. Vejamos um exemplo: Caio
quer ser sócio da empresa Alfa (foco no interesse). Caio quer ter 50% da empresa Alfa
(foco na posição).
Guilherme (2022, p. 99) aponta que “é muito comum que as partes envolvidas em
uma negociação acreditem que haja uma única alternativa para a resolução do entrave
e trafegam somente nessa direção ou, no mínimo, com isso como pano de fundo”, e
que tal posicionamento decorre de fatores como acomodação, falta de criatividade para
buscar outras opções e inexistência do hábito de procurar soluções distintas.
Por outro lado, quanto mais as partes se abrem para novos caminhos e
enxergam as demandas dos demais envolvidos como pontos que também merecem
ser satisfeitos, mais rápido e efetivo será o futuro acordo. Nessa perspectiva mais uma
vez nos defrontamos com os elementos criatividade e possibilidades, os quais são
fundamentais para possibilitar que todos “saiam ganhando”.
4.3 NEGOCIAÇÃO
Nessa fase, começa o ocorrer o que se chama de “Distribuição de valor”, ou seja,
são escolhidos os caminhos que levarão à construção da solução do litígio, “é hora de
partilhar o que foi construído e satisfazer de forma efetiva os interesses de cada um dos
envolvidos na negociação” (BATISTA, 2020, p. 69).
89
comum benéfico a ambas, no qual cada uma ceda um pouco em favor da outra (trade-
of). Terão em mente que o bom acordo é aquele em que cada um perde um pouco e
todos ganham.
90
Por fim, a quinta finalidade da negociação é satisfazer aos interesses
comuns entre duas ou mais partes que queiram ou precisem interagir para alcançar
objetivos comuns. Nesse caso, diferentemente dos anteriores, não existe um conflito,
mas uma convergência de interesses. "A negociação, portanto, é um instrumento de que
se utilizam as partes para chegarem a um caminho consensual, ao alcance de objetivos
não conflitantes, haja vista interesses partilhados. Muitas vezes, é preciso negociar para
permitir ou alcançar um bem maior" (LESSA, MANZUR e OLIVEIRA, 2014, p.69).
4.4 FECHAMENTO
É nessa etapa que o acordo é realmente realizado e o compromisso consolidado.
Portanto, é aqui que é concretizado o acordo propriamente dito. Batista (2020) pondera
que não existe um momento exato para o fechamento, sendo necessária a utilização de
cautelar para que uma possível ansiedade não ponha tudo a perder.
91
De outra face, o processo de negociação emerge nesse contexto em uma busca
por alinhamento e redução de danos. Assim, importante reconhecer a relevância de
não apenas solucionar a controvérsia, mas também reconstruir relações e o próprio
indivíduo, como ressalta Batista (2020, p.70):
92
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Conflito e confronto não se confundem. Ao passo que o primeiro pode ser entendido
como oposição de ideias, de opiniões ou de interesses, sem a perspectiva de certo
ou errado, no segundo, a outra parte passa a ser vista como inimiga ou adversária a
ser combatido, emergindo violência e animosidade.
93
AUTOATIVIDADE
1 “Estratégias de negociação são técnicas que facilitam o acordo entre as partes.
Uma das estratégias de negociação mais famosas é o método feito pelo Harvard
Negotiation Project, que sugere procurar por ganhos mútuos sempre que possível,
sendo duro nos méritos da negociação, mas suave com pessoas”.
a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) F–V–F–F
d) ( ) F–F–V–F
94
d) ( ) A negociação finda quando o acordo é firmado, não cabendo novas intervenções
após a assinatura do documento.
a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) F–V–F–F
d) ( ) F–F–V–F
4 O processo de negociação possui uma sequência de etapas, cada uma delas com
uma finalidade específica. Nesse contexto, antes de chegar à mesa de negociação,
as partes devem cumprir a fase de preparação, a qual, como o próprio nome indica,
prepara os negociadores. Considerando isso, disserte sobre a etapa de preparação da
negociação.
95
96
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
NEGOCIAÇÃO COMO PROCESSO DA MEDIAÇÃO
DE CONFLITOS
1 INTRODUÇÃO
Em que pese a mediação não possuir uma ritualística rigorosa – o que leva a
ser caracterizada como um processo informal – é necessário que o mediador utilize
uma ordem lógica e propícia à finalidade do processo. Nessa linha, antes e durante a
intervenção do mediador, é natural e oportuno o fomento à negociação entre as partes.
É necessário sempre ter em mente que a solução proposta pelas próprias partes
tende a ser a melhor, já que, ninguém mais que os próprios envolvidos sabem o que
realmente os interessa e como melhor podem adequar suas vontades. E, conforme já
visto, a negociação é o meio pelo qual as próprias partes chegam a esse acordo.
2 ESCOLAS DE MEDIAÇÃO
Mediação é um dos métodos de solução extrajudicial de conflitos que, assim
como a conciliação e a arbitragem, conta com a participação de um terceiro imparcial.
Barbosa (2015, p. 41 apud WEYNE, 2019, p. 107) leciona sobre o método da mediação:
97
Sobre as escolas de mediação, Sousa (2021, p. 49) expõe:
98
3 TEORIA DA ANÁLISE TRANSACIONAL
Essa teoria parte da ideia de que todos possuímos em nossa essência uma
limitação para compreender a possibilidade de harmonia entre os homens, uma vez
que, ainda crianças, fomos contaminados pela incapacidade de viver sem o auxílio
autoritário dos adultos. Todavia, ainda nesse cenário, aprendizado e vida em sociedade
fazem o contraponto que nos permite um relacionamento potencialmente harmônico
antes da instalação dos conflitos (SOUSA, 2019).
INTERESSANTE
O que é Análise Transacional?
Por meio de uma curta animação, são explicados os conceitos básicos dessa
teoria, o que pode servir consideravelmente para compreender as partes
em um processo de negociação. Acompanhe, acessando o link a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=CwocxtK08qw. Acesso em: 28 set. 2022.
• As pessoas, por natureza, têm potencial de estar bem, integrado com suas
potencialidades e dificuldades).
• Durante a vida, especialmente na infância, talhamos nosso comportamento (estados
do ego), os quais se alternam no correr da vida, inclusive em curtos momentos.
• Na mesa de negociações, diante da situação de conflito, esse estado do ego é
especialmente relevante.
99
Ao tratar da negociação dentro do processo de mediação, Sousa (2019, p. 1)
aborda que, com base na Análise Transacional, durante o processo de negociação é
necessário reconhecer “qual o estado de ego que está operando no início da transação,
e qual estado de ego o interlocutor responde, de tal modo que se consegue intervir
interrompendo uma conversa desgastante, e desenvolvendo a qualidade e eficácia da
comunicação”.
Por fim, pode assumir o perfil “adulto”, no qual demonstra equilíbrio e maturidade,
além do espírito cooperativo necessário a uma bem-sucedida negociação. Um traço
característico presente nesse estado de ego é a reciprocidade, isto é, as partes são
vistas e consideradas em igualdade, pressuposto que não é observado nos estados de
ego anteriores.
100
Souza (2019, p. 2) exemplifica alguns casos de discursos ásperos que dificultam
o processo e, portanto, precisam ser evitados:
Esse tipo de comunicação deve ser evitado, visto que pode dificultar o processo
de administração do conflito. Ao mediador, portanto, cabe buscar a reformulação do
cenário impositivo para um contexto de moldura positiva.
Essa transformação pode vir por meio de posturas simples, como a inclusão
das chamadas perguntas abertas, as quais oportunizam respostas mais detalhadas e
reflexivas dos envolvidos. Vejamos alguns exemplos:
Além disso, o mediador deve atentar que o perfil para lidar com conflitos de
uma pessoa influencia diretamente o resultado de uma negociação. Desse modo,
deve observar o perfil de cada um de forma a vencer os entraves de uma negociação
difícil. Sobre o tema, é apontada a existência de quatro estilos, quais sejam: catalizador,
controlador, apoiador e analítico, cada um com suas próprias características positivas e
negativas, conforme podemos ver no Quadro 2:
101
Quadro 2 – Estilos de negociador
102
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• O perfil “criança” terá como objetivo principal saciar sua demanda independentemente
dos anseios alheiros, o perfil “pai” reclamará um respeito e uma consideração
diferenciados e possivelmente maiores que o direcionado aos demais envolvidos
no processo, e o perfil “adulto” terá uma posição mais harmônica com os princípios
da negociação.
• Identificar qual estado do ego está operando em cada envolvido é relevante, pois
clarificará as posturas de cada um no curso do processo, bem como permitirá uma
intervenção efetiva por parte do mediador.
• São indicados quatro tipos de negociador, cada um com pontos positivos e negativos
externados durante um processo de negociação. São eles: catalizador, controlador,
apoiador e analítico.
103
• O estilo analítico é preciso e organizado. De outra parte, tende à teimosia e
comportamento evasivo. Além disso, pode esconder informações relevantes em
busca de um acordo que entenda perfeito.
104
AUTOATIVIDADE
1 Os meios extrajudiciais de solução de disputas são uma forma eficaz, voluntária e
menos dispendiosa de resolver um conflito. Assim, ao invés de submeter-se a um
processo judicial longo e dispendioso, as partes em conflitos podem recorrer a
métodos como a mediação. Assim, acerca das escolas de mediação, classifique V
para as alternativas verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) F–V–F–F
d) ( ) F–F–V–F
105
c) ( ) Possui como objetivos tornar mais acessíveis os conceitos da Psicologia e
facilitar as soluções de conflitos de relacionamento com as pessoas.
d) ( ) Ao assumir o papel “pai”, a parte demonstra equilíbrio e maturidade, além de
espírito cooperativo, sendo esse o perfil ideal em um contexto negocial.
a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – F.
4 A Teoria da Análise Transacional foi criada pelo psiquiatra Eric Berne, no final da década
de 1950 e parte da ideia de que o ser humano nasce apto para a vida social, mas que
assume um comportamento disfuncional a partir de vivências e reforços positivos
e negativos recebidos ainda na infância. Acerca da Teoria da Análise Transacional,
indique os três estados do ego por ela defendidos e como cada um deles pode
emergir durante um processo de negociação.
106
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
NEGOCIAÇÃO, MEDIAÇÃO,
CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM
1 INTRODUÇÃO
O conflito possui meios judiciais e extrajudiciais para sua solução. Os primeiros,
como a nomenclatura já sinaliza, impõem que a demanda seja levada ao crivo do Poder
Judiciário quando, um juiz, após a oitiva das partes, de testemunhas e a coleta de
provas, decide a quem cabe razão, ou, em outras palavras, o “vencedor” da controvérsia.
O que se observa é que ainda hoje prepondera em nossa cultura a ideia de que
os conflitos, em regra, merecem ser submetidos ao crivo do Poder Judiciário. Ocorre que
o aparelho estatal não está conseguindo atender as demandas de forma a responder
esse anseio social, o que acaba frustrando as expectativas dos cidadãos. Passam a ser
comuns, portanto, reclamações sobre a morosidade do Judiciário.
107
Nessa ordem de ideias, constata-se a desproporção entre a oferta de serviços
e a quantidade de conflitos a resolver, gerando uma crise.
2.1 NEGOCIAÇÃO
“A negociação, entre todos os sistemas alternativos, é o único instituto que não
contém em sua essencialidade o uso de um terceiro, distante das partes litigantes como
ente corroborador com a justiça e com a finalização da lide” (GUILHERME, 2022, p.52).
108
Conforme visto, na negociação as próprias partes envolvidas expõem
suas demandas, debatem possibilidades e chegam a um ponto que seja benéfico a
ambas. Assim, não reclama a participação de terceiros alheios à demanda, cabendo
unicamente às partes envolvidas ajustar seus interesses e definir os termos de solução
da controvérsia. Esse, aliás, é o ponto capital que a distingue das demais formas de
solução extrajudicial de conflitos que veremos a seguir.
INTERESSANTE
A negociação é o único dos meios extrajudiciais de solução de conflitos que
não conta com a participação de um terceiro estranho à controvérsia.
109
A negociação pode, ainda, ser classificada quanto ao número de objetos
almejados pelas partes. Nesse caso, será considerada unifocal quando existir apenas
um objeto em questão, bifocal quando existirem dois objetos e plurifocal quando
relacionar-se a três ou mais objetos.
110
essência da negociação que o acordo seja benéfico a todos e solucione a controvérsia.
Ocorre que, durante o processo de negociação, os próprios envolvidos podem acordar
sobre a maior legitimidade do interesse de um deles e, nesse caso, inobstante uma
parte saia sem o objeto em disputa, terá assentido com essa situação. Esse modelo é o
mais problemático, pois um dos negociadores sai com a sensação de perda, de fracasso
e isso poderá ensejar que descumpra o acordo.
2.2 MEDIAÇÃO
Dentre as formas extrajudiciais de solução de conflitos, a mediação é certamente
a mais utilizada. Isso porque, a depender do momento em que esteja o conflito, as partes
resistem a propor uma negociação (vendo isso até mesmo como um sinal de fraqueza),
ou, quanto à arbitragem, preferem não arcar com o ônus financeiro pertinente.
111
A mediação é um meio extrajudicial de solução de conflitos no qual um terceiro
imparcial e tecnicamente treinado provoca o diálogo entre as partes conflituosas na
busca por um acordo benéfico para todos os envolvidos. Gunther, Machado e Medrado
(2019, p.4) esclarecem:
112
subjetivos, recomenda-se a mediação, porém, se o litígio for pontual
e esporádico, sem incluir questões pessoais, entende-se que a
conciliação seria a melhor técnica.
Pode ser natural, portanto, que haja uma confusão entre o cabimento da mediação
ou da conciliação. Mas essa desordem será resolvida com a análise da controvérsia.
Dessa maneira, é possível concluir que no caso da existência de relacionamento prévio
e posterior, bem como de subjetivismos sobre a demanda, o meio adequado será a
mediação. Lembrando que por esse modelo, o terceiro apenas facilita o diálogo entre as
partes, fomentando para que encontrarem a solução mais adequada.
De outra face, caso o conflito seja sobre algo específico, pontual, e não se
vislumbrem subjetividades que o circundem, a conciliação deverá ser utilizada.
Ressaltando que, no caso da conciliação, o terceiro atuará de forma mais efetiva, não
apenas fomentando os debates, mas dele participando e inclusive podendo propor
caminhos e soluções.
Assim, pode-se dizer que a mediação parte de uma visão aristotélica de justiça,
conforme bem pontuado por Lopes (2016, p. 97):
113
Diferentemente da negociação, na mediação as partes não encontram sozinhas
a solução da avença, mas sim com a participação de um terceiro não interessado que as
ajuda durante o processo. Assim, de pronto é preciso destacar que o mediador necessita
estar apto a fomentar o diálogo e a troca de ideias, intermediando e sequenciando as
narrativas e escutas das partes.
Guilherme (2022) aponta que mesmo antes do início do processo deve ser
feita uma “pré-mediação”, com a análise do cabimento da mediação, e na qual "ficam
determinadas as regras, as quantias, os valores, bem como o número de sessões e o
tempo de duração de cada uma delas." (GUILHERME, 2022, p. 127).
Assim, é imperioso estimular que as partes falem sobre o litígio, de forma que
fiquem claros os desejos, preocupações e compreensões de cada uma. Escutar de
forma ativa, portanto, significa acolher outra pessoa, com seus anseios e demandas,
ouvindo-a não apenas com a audição, mas com todos os sentidos.
114
Desse modo, o que se observa é a formação de um ciclo virtuoso, composto
pela expressão de sentimentos e aspirações de ambas as partes, a escuta ativa e o
feedback, que acabam por ensejar a autocomposição do conflito, transformando a
cultura da discórdia em cultura de paz.
Além disso, o princípio da preservação dos laços entre as partes lembra que a
mediação tem como uma das finalidades a diminuição do desgaste entre os interessados
e a continuidade ou reconstrução de uma relação amigável entre eles. Vejamos que,
para além do acordo propriamente dito, a mediação atenta para questões subjetivas de
convívio e fim de inimizades.
O princípio da celeridade, por sua vez, preconiza que a demanda seja resolvida
com a maior rapidez possível. Essa característica decorre da maior informalidade
envolvida nesse tipo de processo, especialmente quando comparado ao processo
judicial. Aliás, a informalidade emerge nesse contexto como mais um princípio da
mediação.
115
Nesse ponto, é importante registrar que o princípio da informalidade não
significa a inexistência de regras. Relembramos, inclusive, que ainda na fase de pré-
mediação são definidas expressamente as regras que serão aplicadas no correr do
processo. A informalidade está muito mais ligada à não obrigatoriedade do seguimento
de regras e padrões rígidos que regem o processo judicial, como formas de comunicação,
formas de apresentação de provas, prazos etc.
Tem ainda o princípio da boa-fé, o qual funciona como base de todo processo.
Haja vista a voluntariedade da mediação e os demais princípios a ela aplicáveis, é
possível pressupor que as partes agem de boa-fé durante esse processo, e isso, diga-
se, contribui para o futuro acordo.
2.3 CONCILIAÇÃO
Conciliação consiste no “processo pelo qual o conciliado tenta fazer com
que as partes evitem ou desistam da jurisdição, encontrando denominador comum”
(FIUZA, 1995, p. 56). Vê-se, portanto, que a conciliação foca, precipuamente, no alcance
de um acordo que possa pôr termo a um processo já existente ou de início iminente
(BARCELLAR; BIANCHINI; GOMES, 2016).
116
Ainda que a conciliação tenha em comum com a mediação a participação de um
terceiro imparcial intermediando o conflito e a busca por soluções, em ambos os casos
“esse terceiro não tem a missão de decidir (nem a ele foi dada autorização para tanto).
Ele apenas auxilia as partes na obtenção da solução consensual” (PINHO; MAZZOLA,
2022, p. 85).
117
Weyne (2019, p. 107) relaciona a postura do mediador com a própria natureza
dos conflitos submetidos à mediação e à conciliação:
IMPORTANTE
Apesar de mediação e conciliação contarem com a participação de um
terceiro, os institutos não se confundem. Enquanto na mediação, o terceiro
apenas facilita a comunicação entre as partes, na conciliação, ele participa
ativamente nas discussões.
Para tanto, é interessante que logo na abertura dos trabalhos explique a dinâmica
da sessão de forma clara e objetiva, demonstre conhecimento sobre a controvérsia e
esclareça eventuais dúvidas.
118
No decorrer da sessão, é importante que o conciliador esteja atento à aplicação
das técnicas devidas, as quais passam pela (a) identificação do problema, quando
deve estar claro o cerne da questão; (b) reformulação, quando é possível mudar o
significado que os envolvidos projetam sobre a situação; (c) conotação positiva do
conflito, momento no qual busca-se transformar fatos acusatórios em temas positivos,
ressaltando os traços positivos dos litigantes; (d) foco nos conflitos e não nas pessoas;
(e) concentração no interesse; (f) encontro de critérios objetivos; e (g) busca por opções
de ganhos mútuos (GUILHERME, 2022).
2.4 ARBITRAGEM
Por sua vez, a arbitragem tem similitude com os meios de solução judicial,
haja vista que a decisão caberá a um terceiro imparcial alheio ao conflito. Todavia, ao
passo que, na primeira (solução judicial), a deliberação caberá a um integrante do Poder
Judiciário (o juiz), na segunda (arbitragem), as partes, por contrato, optam por se vincular
à decisão de um terceiro não integrante do Poder Judiciário (o árbitro), o qual deverá
decidir conforme a legislação (inclusive a especificamente direcionada à arbitragem),
configurando uma espécie de jurisdição privada.
119
arbitral não tenha valor de sentença judicial, haja vista prescindir de um decreto de
executoriedade, tem semelhança com aquela na medida em que também decide a
controvérsia.
Além disso, pode-se dizer que a arbitragem possui pelo menos dois requisitos
básicos, quais sejam: capacidade e disponibilidade do direito.
120
2.4.1 Princípios da arbitragem
Tendo em mente a resolutividade da arbitragem, seus princípios norteadores
assumem maior relevo. Daí por que, em certos momentos, muito se assemelham com
alguns princípios próprios de um processo judicial, embora em outros deixem clara a
diferenciação dos institutos.
ATENÇÃO
A arbitragem não se confunde com o processo judicial, pois o terceiro que
decidirá a demanda não integra o Poder Judiciário. Ainda assim, deverá
observar princípios inerentes ao processo judicial.
121
Na mesma linha da igualdade de tratamento e em consonância ao procedimento
judicial está o princípio da imparcialidade do árbitro. Assegura que o árbitro (tal qual
o juiz durante um processo judicial) deve se manter equidistante das pretensões de
ambas as partes, possuindo uma postura igualitária frente a todos os envolvidos. Desse
modo, não pode o árbitro, por exemplo, conceder prazos distintos ou beneficiar algum
dos interessados.
Ainda nos cumprimentos iniciais, atitudes físicas e contato visual são bem-
vindos, especialmente por fomentarem proximidade e confiança, elementos essenciais
para uma negociação próspera. Assim, aperto de mão e olhar atencioso são boas
122
atitudes. Essa comunicação visual deve ser mantida durante toda a mesa de negociação,
de forma que fique clara a percepção da fala do outro (escuta ativa). Acerca da escuta
no processo de negociação, segue o que assinala Maraschin (2017, p. 16):
Além disso, outros meios de comunicação não verbal, como assentimentos com
a cabeça, breves sorrisos e expressões faciais servem para demonstrar atenção quanto
ao que está sendo exposto. Nesse ponto, vale lembrar que etiqueta está intimamente
relacionada a respeito e empatia.
Vejamos que algumas expressões físicas são suficientes para enviar uma
mensagem positiva ou negativa ao interlocutor. Lembremos que a comunicação é
um elemento essencial no processo de negociação. Assim, ao demonstrar interesse e
aceitação com posturas como a inclinação do corpo ou o posicionamento das mãos, o
123
negociador constrói uma ponte com aquele que fala. Igualmente a demonstração de
impaciência e a falta de atenção decorrente de um batimento de dedos na mesa ou o
olhar distante, dificulta a efetivação do acordo.
Todavia, é relevante que se destaque que a cultura de paz não significa a ausência
de conflitos. Tampouco deve ser compreendida como uma postura de passividade e
resignação frente a problemas de maior ou menor complexidade. Ao contrário. A cultura
de paz está na percepção do problema e na busca de sua solução pacífica.
124
Dentre os diferentes contextos que demandam o desenvolvimento da cultura
de paz, está o de convívio entre as pessoas e a necessidade de solucionar os conflitos
inerentes a essa sociabilidade. Assim, entende-se que os meios de solução de conflitos,
em suas mais diversas formas, especialmente extrajudiciais, possuem um papel salutar
no fomento à pacificação das relações humanas.
125
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A cultura de paz possui, dentro outras bases, a ideia de solução pacífica de conflitos,
significando que não está ligada à ausência de controvérsias, mas à busca de uma
forma de alinhamento sem violência.
126
AUTOATIVIDADE
1 “É visível que a cultura do litígio permanece bem arraigada em nossa sociedade, e
que ainda reside a busca pelo Judiciário, por meio de um terceiro togado, para a
análise do litígio, possibilitando uma decisão a ser cumprida pelas partes conflitantes
[...]. Todavia, esse modo de resolução nem sempre é o mais adequado ao caso, e daí
surge a necessidade de outras formas de enfrentamento dos conflitos para melhor se
adequar ao caso concreto, como também para fins de desburocratização e promover
maior celeridade às relações desconstruídas que tenham necessidade de reparo”.
a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) F – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – V.
( ) Pelo princípio da autonomia das partes, essas últimas não podem ser compelidas a
aderir à arbitragem.
127
( ) Segundo o princípio do livre convencimento, o árbitro pode decidir livremente,
independente do que fora evidenciado no correr do processo arbitral e sem a
necessidade de motivação.
( ) O processo arbitral, tal qual o processo judicial, deve ser inteiramente público e
preferencialmente disponível na internet.
( ) O árbitro deve ser imparcial e tratar as partes de forma igualitária.
a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) F – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – F.
128
UNIDADE 2 TÓPICO 4 -
ÉTICA E ETIQUETA NA NEGOCIAÇÃO
1 INTRODUÇÂO
Para além de aspectos objetivos sobre a definição do objeto, dos interesses e
margens de aceitação, a negociação também leva em conta critérios subjetivos capazes
de influenciar profundamente sua efetivação. Nesse sentido emerge a aplicação dos
conceitos de ética e etiqueta na negociação.
A ética, conforme será visto, está relacionada à forma mais profunda de agir
durante o processo, atuando com lealdade, boa-fé e respeito mútuo em busca do
objetivo comum. A etiqueta, de outra parte, tem vínculo com aspectos principalmente
comportamentais e que repercutem o respeito e a empatia entre os envolvidos.
2 ÉTICA
A ética está relacionada ao exercício social de reciprocidade, respeito e
responsabilidade entre os seres humanos. Nesse contexto, é possível considerar a
ética como um produto da vida social, criada de forma inconsciente, que visa promover
valores de uma determinada sociedade. "Na realidade, a ética refere-se às regras e aos
princípios que definem condutas certas e erradas, aplicáveis às ações humanas, que
fazem dela atitudes compatíveis com a concepção geral do bem e da moral" (MACHADO
NETO et. al., 2010, p.71).
Por sua vez, sobre a relação da ética e da moral, Silva (2017, p. 43), afirma:
129
por todos. No percurso da ética, os valores são o ponto de partida:
é um valor que se consubstancia em uma norma para instaurar um
fato, para criar um hábito.
Como exemplo, pode ser citada a definição de negociação trazida por Lax e
Sebenius (1986, p. II apud SOBRAL, 2009, p. 7), segundo a qual trata-se de “um processo
interativo, potencialmente oportunista, pelo qual duas ou mais partes, com algum
conflito aparente, procuram um melhor resultado por meio de uma ação conjunta do
que se a tomassem isoladamente”.
130
Sobre o tema, segue a reflexão de Maraschin (2017, p. 13):
Essa lógica considera que negociar significa defender seus próprios interesses
em um contexto de resistência apresentada por outrem e, portanto, posturas
eticamente condenáveis são justificáveis e esperadas de ambas as partes. Essa visão
parte da premissa que a negociação é apenas um meio para alcançar determinado
objetivo, independente dos anseios dos demais envolvidos. Aliás, por vezes, aos outros
interessados é dirigido um olhar e uma titulação de inimigo e obstáculo a ser vencido.
131
assim como possíveis outras negociações. Vejamos, por exemplo, organizações
reconhecidamente envolvidas em grandes escândalos de corrupção que lutam para
difundir um marketing positivo e propagar mudanças diretivas.
Ocorre que a ética não é um valor objetivo, tampouco tem uma métrica unânime.
O que determinada pessoa pode considerar dentro de seu conceito, pode ser avaliado
como antiético para outrem. Isso depende muito dos valores das pessoas envolvidas na
negociação e do ambiente no qual elas estão inseridas.
132
A etiqueta trata de regras que regem o comportamento do ser social.
É a maneira de se conduzir de acordo com normas predeterminadas
em uma sociedade visando ser agradável aos outros. Tais regras
são transmitidas por meio de gestos, modos de falar, atitudes,
apresentação, visual adequado e seu significado mais profundo
demonstrado pelo grau de cortesia e humanidade.
Figueredo (2007, p. 11) registra que “todos os tipos de grupos sociais possuem
uma etiqueta, e cabe a cada integrante respeitar determinadas regras, para desta forma
ser aceito e fazer parte deles”, todavia, apenas as regras da elite foram descritas e
publicadas desde seu princípio.
133
No ambiente negocial não é diferente. Ao contrário. Nesse contexto, a etiqueta
assume ainda mais relevância, uma vez que o objetivo da negociação é a resolução de
uma demanda por meio de um acordo com ganhos mútuos. Assim, alguns pontos que,
em princípio, podem parecer básicos e norteados pelo simples bom senso e educação,
devem necessariamente ser observados durante o processo. Vejamos alguns deles.
134
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:
• Embora práticas antiéticas possam gerar ganhos a curto prazo, não se sustentam
ao longo do tempo, uma vez que tendem a dificultar futuros acordos e negociações
por parte das pessoas que sejam reconhecidas pela falta de ética.
• Agir com ética é pautar sua conduta na aplicação dos conceitos de lealdade,
honestidade, transparência, compaixão e justiça, cabendo às partes negociais
refletir se suas práticas passam pelo filtro de tais conceitos.
135
AUTOATIVIDADE
1 “O conceito de ética surgiu na Grécia Antiga durante o século V a.C., em um contexto
de intensa reflexão a respeito das regras de convívio social. Os pensadores e filósofos
gregos buscavam entender o funcionamento do regime de comportamento humano
e foram criando "regras" que deveriam ser seguidas para uma vida em sociedade”.
( ) A ética está relacionada aos bons modos, como, por exemplo, vestir-se
adequadamente durante a sessão de negociação.
( ) A ética é um valor objetivo, compreendido igualmente por todas as pessoas.
( ) Ética está intimamente ligada a respeito mútuo.
( ) A doutrina é unânime no sentido de defender que todos os negociadores devem
agir de forma ética.
a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) F – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – F.
a) ( ) V – F – V – V.
b) ( ) V – F – V – V.
136
c) ( ) F – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – F.
5 Selecione e disserte sobre três regras de etiqueta que, se bem utilizadas na mesa de
negociação, podem favorecer a concretização do acordo.
137
LEITURA
COMPLEMENTAR
A EFETIVAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL DO ACESSO À JUSTIÇA POR
MEIO DA MEDIAÇÃO VIRTUAL DE CONFLITOS
Resumo
Introdução
138
faz-se necessário o repensar e fortalecer os denominados Métodos Consensuais de
Resolução de Conflitos, como a conciliação e a mediação, dando ênfase à solução dos
litígios por meio da cultura do diálogo.
Para fins de enfretamento dos objetivos específicos, este artigo está estruturado
em três partes: primeiramente, fez-se uma abordagem sobre as modificações dos
direitos fundamentais em suas conviventes dimensões e à conquista do acesso à
justiça. Posteriormente, apresentam-se ponderações acerca dos meios consensuais de
solução de conflitos, notadamente a mediação e suas escolas. Por fim, após algumas
exposições acerca de questões sobre as resoluções consensuais de conflitos, sustenta-
se a viabilidade da utilização dos métodos de solução de conflitos em rede e a realização
da mediação realizada de forma virtual.
Por fim, o presente ensaio é relevante porque trata de um problema atual a ser
enfrentado pelo Poder Judiciário, qual seja, o acentuado crescimento de demandas
judiciais inversamente proporcionais às soluções definitivas proferidas pelos tribunais.
Devido à crise enfrentada pelo Poder Judiciário, foi necessário buscar meios
mais eficazes e menos morosos de solução de conflitos, com o intuito de diminuir o
distanciamento do diálogo existente entre os tribunais e a sociedade.
O meio mais utilizado pelos cidadãos que enfrentam fatos conflituosos, seja
com outro cidadão, ou com pessoas jurídicas, de direito público ou privado, é o caminho
tradicional de busca do Poder Judiciário com o fim de solucionar o referido impasse, por
meio do ajuizamento de ações judiciais. Porém, nessa procura, enfrentam-se inúmeros
problemas, dentre eles, a dificuldade da pessoa carente de ter a sua causa patrocinada
gratuitamente, assim como a morosidade no trâmite processual.
139
Diante dessa conjuntura que assola o Poder Judiciário, é preciso tratar a solução
de conflitos sob um novo enfoque, que não escape aos ditames da cultura do litígio e que,
por vias contrárias, fortaleça o diálogo entre as partes envolvidas no conflito pautado
diante de uma “nova cultura cidadã”. É premente a mudança do paradigma privilegiado
pela sociedade atual do “ganhar-perder” para um novo paradigma de metodologia na
resolução de controvérsias no modelo “ganhar-ganhar”. Porém, para alcançar referido
objetivo, é preciso mudar a cultura jurídica tanto dos operadores do direito, quanto da
sociedade em geral. Não só isso, as faculdades de direito precisam, no mesmo sentido,
dar ênfase a implantação de disciplinas que visem à solução consensual dos conflitos,
conforme a orientação da resolução 125 do CNJ. Os juristas italianos Cappelletti e Garth
já entendiam desta forma, quando iniciaram a análise do problema do acesso à justiça
dizendo que:
140
Portanto, outra forma bastante utilizada de resolução consensual de conflitos é
a negociação, que ocorre quando os envolvidos, de forma voluntária, buscam a maneira
mais adequada de solucionar o problema, levando em consideração o que consideram mais
justo para ambas. Assim “em linhas gerais, as partes: i) escolhem o momento e o local da
negociação; ii) determinam como se dará a negociação [...]; iii) podem continuar, suspender,
abandonar ou recomeçar as negociações [...]” (CNJ – Manual de Mediação). Aplainado os
conceitos sobre os meios consensuais de solução de conflitos, passe-se ao estudo da
mediação e as suas escolas.
141
mediou 200 conflitos, vindo a adotar o instrumento como política institucional, o que foi
seguido por outros tipos de plataformas de venda online. O eBay divulgou que, até o ano
de 2010, ocorreu a solução de mais de 60 milhões de conflitos mediados pelo site. Em
meados dos anos de 2010 percebeu-se novamente o interesse para as soluções online de
conflitos, principalmente com propostas governamentais, a exemplo da União Europeia
e estados Unidos. No Brasil, foi criada a plataforma consumidor.gov.br e o Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro implantou o aplicativo de conciliação pré-processual. (LIMA;
FEITOSA, 2016). Pode-se constatar o êxito de referidos sites, na utilização de resolução
de conflitos de forma virtual. Nesse sentido, convém ao Poder Judiciário adotar medidas
para utilização de ODR na solução de conflitos. Mas é preciso refletir sobre as vantagens,
e também as desvantagens na utilização desse tipo de procedimento nas resoluções
consensuais de conflitos.
142
No que se alude às desvantagens, referem-se principalmente a ausência de
contato entre as partes e aos problemas que grande parte da população enfrenta ao
acesso à internet. Tendo em vista que a mediação, que tem como objetivo estimular o
diálogo entre as partes, esta falta de contato pode ser um obstáculo que precisará mais
estudo. Primeiramente, parece essencial que para uma mediação online tenha êxito,
é preciso utilizar métodos como a videoconferência, onde os envolvidos poderiam ter
um contato mais aproximado, e ocorrer formas não verbais de comunicação, como a
linguagem corporal, expressão facial.
Conclusão
143
Por fim, a sociedade atual está cada vez mais utilizando a comunicação virtual,
e desta forma, também pode utilizar a rede para encontrar solução aos conflitos. A
mediação virtual pode servir de modelo adequado de resolução de conflitos, pois tem
como vantagem a economia de tempo e de dinheiro, além de resolver os problemas
como a distância entre os envolvidos.
Fonte: BORGES, G. S.; ABDEL AL, M. A efetivação do direito fundamental do acesso à justiça por meio da
mediação virtual de conflitos. Nomos - Revista do Programa de Pós-Graduação em Direito da
UFC. Fortaleza, v. 39, n. 1, p. 109-123. jan./jun. 2019. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/
riufc/50989/1/2019_art_gsborges_maal.pdf. Acesso em: 12 ago. 2022.
144
REFERÊNCIAS
ACUFF, F. L. Como negociar qualquer coisa com qualquer pessoa em qualquer
lugar do mundo. 2. ed. São Paulo: Senac, 2004.
145
DIAS, M. O.; DUZERT, Y.; LOPES, R. O. A. Perspectiva epistêmica do processo de
negociação. International Journal of Development Research, v. 11, n. 7, p. 48803-
48810, 2021. Disponível em https://www.journalijdr.com/sites/default/files/issue-
pdf/22463.pdf. Acesso em: 14 ago. 2022.
146
LESSA, A. C.; MANZUR, T. M. P. G.; OLIVEIRA, H. A. de. Negociações Internacionais.
São Paulo: Saraiva, 2014.
LOPES, M. S. Mediação extrajudicial: o conflito pelo direito e pelo avesso. In: SOUZA,
C. M. G. et al. Mediação de Conflitos: a emergência de um novo paradigma. Belo
Horizonte: Fórum, 2016.
O QUE é Análise Transacional? 1 vídeo (06min41s). Publicado pelo Canal AT. 06’41”.
Disponível em (105) O que é Análise Transacional? - YouTube. Acesso em: 15 ago. 2022.
147
SILVA, R. Ética e etiqueta nas relações humanas: uma interação sociocultural e
comportamental entre os agentes da educação (escola e trabalho). 2017. Dissertação
(Mestrado em Teologia). Faculdades EST. São Leopoldo, 2017. Disponível em: http://
dspace.est.edu.br:8080/jspui/handle/BR-SlFE/792. Acesso em: 12 ago. 2022.
148
UNIDADE 3 —
TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
149
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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150
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
MANUAL DE MEDIAÇÃO JUDICIAL DO
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1, será abordado o Manual de Mediação Judicial do Conselho Nacional
de Justiça. Nesse sentido, os objetivos de aprendizagem a serem alcançados com este
estudo são:
Dessa forma, é necessário que seja realizada a leitura dos subtópicos, bem
como a resolução da autoatividade disposta ao fim do tópico. Bons estudos!
151
Ao tratarmos do Manual de Mediação Judicial, é preciso compreendê-lo
enquanto instrumento e ferramenta auxiliar dos programas autocompositivos de
resolução de conflitos. Vamos entender como se deu a iniciativa de sua elaboração e a
sua estrutura organizacional voltada para a teoria e para a prática da mediação judicial.
152
O Manual foi, basicamente, criado pelo “Grupo de Pesquisa e Trabalho em
Resolução Apropriada de Disputas (GT RAD) [...] para atender, especificamente, às
necessidades dos mediadores que atuam no âmbito do Poder Judiciário” (BRASIL, 2016,
p. 13). Dessa maneira, a intenção
NOTA
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) “é uma instituição pública que visa
a aperfeiçoar o trabalho do Judiciário brasileiro, principalmente no que diz
respeito ao controle e à transparência administrativa e processual” (CNJ, 2022
[s.p]). Para conhecer essa instituição acesse: https://www.cnj.jus.br/sobre-o-
cnj/quem-somos/ Acesso em: 5 out. 2022.
DICA
Conheça também a Conciliação e Mediação no Conselho Nacional de
Justiça acessando: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-
mediacao/. Acesso em: 5 out. de 2022.
ATENÇÃO
O Manual de Mediação Judicial do Conselho Nacional de Justiça foi elaborado
de acordo com a Lei 13.140/15 (Lei de Mediação), a Lei 13.105/15 (Novo
Código de Processo Civil) e a Emenda 2 da Resolução 125/10 (BRASIL, 2016,
p. 1).
153
2.2 A ESTRUTURA DO MANUAL DE MEDIAÇÃO JUDICIAL DO
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
O Manual de Mediação Judicial do Conselho Nacional de Justiça é definido como
um “texto de apoio a curso de técnicas e habilidades em mediação de conflitos oferecido
no âmbito de tribunais de justiça. Nesse sentido, buscou-se adotar uma abordagem
bastante pragmática do exercício da mediação” (BRASIL, 2016, p. 14). Está estruturado
em 12 módulos e cinco anexos. Os primeiros fornecem um aporte teórico acerca da
matéria, já os segundos são instrumentos auxiliares para a prática da mediação.
154
ressaltando a atuação do CNJ na implantação da Resolução 125; confrontando a
Emenda 2 à Resolução 125 e, por fim, elencando os próximos objetivos na implantação
da Resolução 125. O resultado do aprofundamento do estudo acerca da Resolução 125
enfatiza, principalmente, os objetivos principais da Resolução 125, a importância do
Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, a importância
dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania e o que há de diferente no
Acesso à Justiça estimulado na Resolução 125.
1. Compreender que o conflito é inevitável e que pode ser uma força positiva para o
crescimento.
2. Compreender algumas diferenças entre processos construtivos e destrutivos de
resolução de disputas.
3. Entender como o conflito se desenvolve em espirais e por que essa escalada de
conflito é tão importante na gestão de disputas.
4. Compreender que um conflito pode melhorar ou piorar dependendo da forma pela
qual se percebe o contexto conflituoso.
155
Já no quarto módulo, chamado de Fundamentos de negociação, temos os
seguintes objetivos pedagógicos:
156
O próximo módulo que se apresenta é o sétimo – Panorama do processo de
mediação – ,e os objetivos pedagógicos são:
Nesse ponto,
se destaca a preparação, como proceder anteriormente à chegada das
partes, o encontro com as partes, como organizar o posicionamento
e a localização das partes à mesa durante a mediação, a Sessão de
Abertura, a Reunião de Informações, a identificação de questões,
interesses e sentimentos, como estimular mudanças de percepções
e atitudes, as sessões Individuais, as conjuntas finais, a construção
do acordo, a orientação dos debates. Dessa maneira se apresenta a
preparação ambiental de uma mediação, os propósitos da declaração
de abertura, a importância de um resumo após as manifestações
das partes e a importância de se identificarem os sentimentos das
partes, a validação de sentimentos, o próprio propósito na mediação
e a mediação facilitadora e avaliadora (BRASIL, 2016, p. 197).
158
Por sua vez, a estrutura do manual ainda conta com os instrumentos da prática
da mediação. Para isso foram utilizados cinco anexos, dispostos da seguinte forma:
NOTA
Do enfoque deste Manual ante a RAD – “O campo da chamada ‘Resolução
Apropriada de Disputas’ inclui uma série de métodos de resolução de
conflitos que precisam ser compreendidos com flexibilidade e consciência
quanto as suas vantagens e limitações” (BRASIL, 2016, p. 26).
DICA
O Manual de Mediação Judicial foi elaborado por voluntários, e seu
acesso pode ser feito por meio do Conselho Nacional de Justiça, em
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/arquivo/2016/07/
f247f5ce60df2774c59d6e2dddbfec54.pdf Acesso em: 5 out. 2022.
159
2.3 A MODERNA TEORIA DO CONFLITO E A POSSIBILIDADE
DE EDUCAR A SOCIEDADE
Neste subtópico, vamos compreender a Moderna Teoria do Conflito e a
possibilidade de educar a sociedade para tornar-se mais consensual. Na modernidade,
a complexidade social exige uma quebra de paradigma acerca da teoria do conflito,
o caráter da consensualidade deve se tornar um fator de preponderância no século
XXI. Nesse contexto, surge a Moderna Teoria do Conflito, decorrente da significativa
contribuição de autores como Mary Parker Follet e Morton Deutsch, que reconfiguraram
a concepção de conflito:
É notório que a
Conforme esse modelo, “as normas processuais são instrumentos para o alcance
ou a realização dessas soluções. Dessa forma, o foco na efetiva solução de conflitos sob
o prisma do usuário constitui a espinha dorsal de todo sistema (pluri)processual – sem
isso não se mostra possível permanecer ereto” (BRASIL, 2016, p. 262).
160
Esse raciocínio reforma a ideia de que
Todavia, a
161
Assim sendo, é necessário destacar que a eficiência de programas autocompo-
sitivos encontra algumas características em comum, elencadas a seguir:
162
NOTA
É possível notar que “mesmo na iniciativa privada (i.e. mediação e arbitragem)
em função da falta de preparo técnico e desnecessária judicialização desses
processos ainda há com frequência processos destrutivos” (BRASIL, 2016,
p. 262).
163
Conteúdo do Anexo I da Resolução 125 CNJ: Histórico Legislativo e a Política Judiciária
Nacional de tratamento adequado de conflitos (Res. CNJ 125/2010) – objetivos
e estruturação; Comunicação e Conflito; Autocomposição e Heterocomposição;
Diferenças entre Conciliação e Mediação. Escolas de Mediação; Etapas e Técnicas de
Mediação e Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais. O conteúdo programático da
ementa recebe a seguinte separação didática:
164
é de 80 horas. Com base neste estudo e em outras experiências de
cursos realizados no Brasil e no Exterior, bem como nos recentes
parâmetros de capacitação fixados pelo Conselho Nacional de
Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça e que constam do
Anexo I, da Resolução CNJ n. 125/2010, propõe-se, portanto, curso
de capacitação de conciliadores e mediadores integrado de módulos
teórico e prático (BRASIL, 2020, p. 16).
DICA
O Regulamento do Sistema de Ações de Capacitação e do Banco de Dados
da Política de Tratamento Adequado de Conflitos – ConciliaJud – pode ser
acessado no portal do Conselho Nacional de Justiça, disponível em: https://
www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/11/Regulamento_capacitacao_
mediacao__proporcao_de_inst._e_excecao_a_codocencia.17.10.pdf. Acesso
em: 5 out. 2022.
Dito isso, passamos para o estudo da parte teórica do material didático do Curso
de Formação. A primeira parte da obra é assim descrita:
165
[...] a partir do contexto histórico e jurídico dos métodos consensuais
de solução de conflitos e de sua estruturação como política pública
de acesso à justiça, analisa o estudo e tratamento do conflito,
distinguindo as formas de enfrentamento, heterocomposição e
autocomposição, com conceituação dos diversos instrumentos
de que esta última se serve -conciliação, mediação e negociação.
Há delineamento das diversas etapas e técnicas necessárias à sua
utilização adequada e distinção das formas de trabalho desenvolvidas
por várias Escolas existentes no mundo, com ênfase à possibilidade
do terceiro facilitador escolher o que Ihe parece mais adequado
ao caso concreto. Realça-se, ainda, a conduta ética dos terceiros
facilitadores, com foco na confidencialidade das informações
acessadas em virtude da gestão do conflito (BRASIL, 2020, p. 10).
Dessa forma,
De igual natureza,
166
mediação; os aspectos operacionais da conciliação, da negociação e da mediação; as
Escolas de mediação e o Código de Ética: princípios, regras e sanções.
Além disso, o manual conta com uma metodologia de fixação dos conceitos
teóricos, desenvolvida por meio de simulações. Elas consistem em
167
3.3 ASPECTO PRÁTICO DO CURSO DE FORMAÇÃO DE
INSTRUTORES: NEGOCIAÇÃO, MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO –
PARTE II E ANEXOS
A parte II do Manual de Formação de Instrutores é toda voltada para a parte
prática. Ela é assim descrita:
168
Muito embora os alunos participem de estágios supervisionados, ao fim do curso
básico, “há necessidade de reciclagem e atualização permanentes dos conciliadores e
mediadores, através de seminários e cursos, e do acompanhamento de sua atuação
prática por profissionais especializados e pelos próprios juízes, no caso da conciliação e
mediação judiciais” (BRASIL, 2020, p. 18).
Com isso, se conclui que, no Brasil, a formação voltada aos meios alternativos
de solução de conflitos ainda está em um estágio considerado inicial, porém, muito
bem encaminhado para a consolidação de um método. Dessa forma “os desafios
colocados são contornados com o conhecimento, a exploração das técnicas utilizadas
e a potencialização de habilidades específicas que devem ser fomentados em instrução
técnica” (BRASIL, 2020, p. 11). Portanto, a “capacitação e o treinamento [...] mostram-
se ferramentas essenciais na formação de terceiros facilitadores, a auxiliá-los na
concretização de soluções negociadas em conflitos aparentemente insolúveis” (BRASIL,
2020, p. 11).
DICA
O Ministério da Justiça e Segurança Pública, em cumprimento à sua missão
institucional, presta mais uma contribuição ao sistema de consensual de
conflitos, ao promover a publicação da primeira edição deste livro, cuja
tiragem física será oportunamente distribuída de forma gratuita, ao mesmo
tempo em que a versão eletrônica será disponibilizada publicamente, em
formato digital, no seguinte endereço eletrônico: https://www.justica.gov.br/
seus-direitos/politicas-de-justica/enapres. Acesso em: 5 out. 2022.
169
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
170
AUTOATIVIDADE
1 A teoria e a prática da Mediação Cível carecem de uma metodologia a ser desenvolvida
em um caráter de padronização, alinhando conceitos e aplicações. Nesse sentido, o
Conselho Nacional de Justiça elaborou o Manual de Mediação Judicial em decorrência
de uma iniciativa. Quanto ao regime dessa iniciativa, assinale a alternativa CORRETA:
171
( ) A “Moderna Teoria dos Conflitos” não comporta uma postura do Poder Judiciário
que contrarie o processos moderno de resolução de disputas, quando as partes
buscam o seu auxílio para a solução de conflitos, devem receber um tratamento no
sentido do estímulo a consensualidade.
( ) A contribuição da “Moderna Teoria dos Conflitos” para os programas de
autocomposição é estabelecer a discussão na litigiosidade, pois essa é tudo que
está sendo discutido em juízo, ou seja, a relação autor-réu é que se torna litigiosa a
partir do momento de ajuizada a ação, diante de um direito que se entende próprio,
e que encontra resistência a essa pretensão.
( ) A “Moderna Teoria dos Conflitos” surgiu da significativa contribuição de autores
como Mary Parker Follet e Morton Deutsch, responsáveis pela redefinição do
conflito, definindo processos construtivos de resolução de disputas, impactando
assim, a conceituação de conflito ao classificá-lo como um fator presente nas
relações entre indivíduos, além da verificação do seu aspecto positivo.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
172
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
CURSO DE MEDIAÇÃO JUDICIAL
1 INTRODUÇÃO
Neste Tópico 2, vamos aprofundar o estudo sobre o Curso de Mediação Judicial,
abordando a Mediação familiar.
Assim, é necessário que seja realizada leitura dos subtópicos, bem como a
resolução da autoatividade disposta ao fim do tópico.
173
» Teoria da Família › Reflexos da moderna teoria de conflito nesta
Teoria
» Mediabilidade
» Questões específicas de mediação de família
» Papel de advogados, peritos, guardiães ad litem
» Procedimento da mediação de família
» Conclusão (BRASIL, 2020b, p. 12).
DICA
O material didático utilizado no Curso de Mediação Familiar pode
ser acessado no seguinte endereço: BRASIL. Conselho Nacional de
Justiça. Curso de Mediação de Família. Brasília, 2020. Disponível em:
e82c5dcf9bcbefc1328225ce122dc98c.pdf (cnj.jus.br) Acesso em: 15 jul.
2022.
174
2.2 TEORIA DE FAMÍLIA
Começamos este subtópico com o conceito de família, que “pode ser definida
como um sistema formado por um grupo de pessoas ligadas por afinidade, corresidência
ou consanguinidade que integram uma estrutura de afetividade, realização e
crescimento” (BRASIL, 2020b, p. 26). Todavia, cabe enfatizar que esse conceito é
“aberto”, isto é, pode ser construído com base na evolução do pensamento social e
influenciado pela cultura em que se constrói. Assim,
O segundo fator diz respeito aos problemas emocionais que são percebidos
como existentes no grupo inteiro, com componentes individuais de cada pessoa. Ou
seja, “o simples fato de a família perceber-se como um sistema em que um determinado
aborrecimento individual é absorvido pelos demais como responsabilidade de todos
consiste em um indicador de ajuste daquele sistema familiar” (BRASIL, 2020b, p. 46).
175
O terceiro fator indica que existem relacionamentos efetivos entre todas as
gerações de todos os membros da família, então,
Conforme o quinto fator, indicador de estabilidade, cada pessoa pode ter seus
próprios problemas pessoais sem que outros tenham ou sintam-se na responsabilidade
de resgatá-los. De tal maneira,
176
O penúltimo e sétimo fator estabelece que cada membro pode afirmar que
está em uma família suficientemente boa. Tem-se explícito que a “proposta dentro de
indicadores de estabilização familiar não é que a pessoa necessariamente tenha que
afirmar que vive em uma família boa. Simplesmente a indicação de razoável já sinaliza
que existe algum ajuste familiar” (BRASIL, 2020b, p. 50).
Como último fator, o oitavo na descrição, cada membro pode usar os outros
como retroalimentação (feedback) e aprendizado, mas não como muletas emocionais.
Nesse sentido, a “proposta é que os membros da família se relacionem de uma forma a
respeitar a opinião um do outro, mas não necessariamente a ponto de abrir mão da sua
própria autodeterminação em função da opinião de um dos outros membros” (BRASIL,
2020b, p. 51).
Outro conceito que tem grande relevância na Teoria Familiar é o divórcio (do
latim divortium, derivado de divertere, "separar-se"), entendido como o:
177
Tabela 2 – Dimensões psicológicas do processo de divórcio
A Teoria da Família ainda conta com o estudo do instituto da Guarda dos Filhos
que “consiste no poder-dever que os pais ou a quem de direito têm de proteger e
amparar aquele que a lei considera necessitar tal proteção ou amparo, em razão de
condições personalíssimas” (BRASIL, 2020b, p. 62). A função desse instituto é “prover
a filhos cuidado e assistência, material e moral, no processo de formação dos filhos,
traduzindo o papel daqueles que têm como principal propósito contribuir para a
estabilidade emocional em um sistema familiar” (BRASIL, 2020b, p. 62).
178
ATENÇÃO
Segundo as técnicas de Mediação Familiar “não cabe ao mediador atribuir
classificar ou muito menos emitir juízo de valor em relação às regras, aos
modelos, às práticas familiares - excetuadas práticas que coloquem em
risco a integridade de seus integrantes” (BRASIL, 2020b, p. 44).
179
Tabela 4 – Reação ao divórcio conforme os aspectos destrutivo e construtivo
180
2.4 MEDIAÇÃO DE FAMÍLIA
Neste subtópico, vamos conhecer a estrutura e o procedimento adotado para
a realização da Mediação Familiar. Desse modo, é preponderante que o estudo se inicie
com o seu conceito. A mediação de família pode ser definida como um
Para que a mediação familiar cumpra seu objetivo é necessário que todos os
envolvidos assumam seu papel e colaborem para o resultado positivo, na mediação
poderá haver o envolvimento de vários atores, conforme evidenciado a seguir:
181
Merece destaque o papel do mediador que terá, entre as suas atribuições:
“compreender a dinâmica familiar, avaliar as questões a serem abordadas, estabelecer
plano de trabalho, endereçar questões específicas de mediação de família provocadas
por: rancor, mágoa, ódio, ciúmes e solidão” (BRASIL, 2020b, p. 150).
IMPORTANTE
De acordo com a Mediação de Família, “casos em que no passado tenha
havido violência doméstica, mas esta não persista sequer como uma
remota possibilidade podem ser mediados - todavia, a violência em si não
será mediada e sim outras questões familiares (guarda, alimentos, partilha
de bens, entre outros)” (BRASIL, 2020b, p. 100).
182
IMPORTANTE
Conceito perdão, enquanto gestão emocional, consiste em um “mecanismo
de autoempoderamento, habilidade que requer esforço, uma escolha, opção
de tornar-se uma pessoa ativa quanto à questão ou ofensor e abrir mão de
autocomiseração” (BRASIL, 2020b, p. 154).
183
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
184
AUTOATIVIDADE
1 Tomando por base a complexidade social da modernidade, especialmente
considerado a dinâmica das configurações nas relações familiares, é oportuno que
se desenvolvam meios de dirimir os conflitos neste âmbito, sobretudo, diante do
paradigma da Moderna Teoria dos Conflitos, utilizando a Mediação Familiar. Sobre a
Mediação Familiar e o âmbito de atuação do mediador de família, assinale a alternativa
que apresenta apenas áreas de atuação CORRETAS:
185
( ) As Mediações Familiares auxiliam na conformação da satisfação com procedimentos
jurídicos e seus resultados.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
186
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
CURSO DE MEDIAÇÃO PENAL, CÍRCULOS
RESTAURATIVOS E JUSTIÇA RESTAURATIVA
1 INTRODUÇÃO
Neste Tópico 3, veremos como o Curso de Mediação Judicial aborda a Mediação
Penal, Círculos Restaurativos e Justiça Restaurativa. O objetivo é perceber que a
transformação de conflitos deseja reduzir a violência e aumentar a justiça nas interações
diretas e nas estruturas sociais.
Para uma disposição didática eficiente, o Tópico foi dividido em subtópicos. Dessa
forma, além da Introdução e da Visão Geral, também será abordado o procedimento da
Mediação Vítima-Ofensor.
Então, é necessário que seja realizada leitura dos subtópicos, bem como a
resolução da autoatividade disposta ao fim do tópico.
187
› Conceito de Processo Restaurativo
› Justiça Retributiva e Justiça Restaurativa
» Procedimento da Mediação Vítima-Ofensor
» Conclusão (BRASIL, 2020c, p. 6).
Quadro 1 – Valores
188
Quadro 2 – Procedimentos
189
De acordo com os quadros comparativos, é visível a diferença que se estabelece
entre a aplicação das diferentes concepções de justiça, fundamentando, assim, a
alternativa escolhida para a mediação penal, ou seja, a justiça restaurativa. Todavia, a
mediação penal tem um campo normativo de aplicação, conforme se expõe a seguir:
190
Por outro lado, a “Sessão conjunta” obedece ao seguinte rito procedimental:
“início da mediação com declaração de abertura e resumo, reunião de informações,
identificação de questões e interesses, esclarecimentos das controvérsias e dos
interesses, resolução de questões e o registro das soluções encontradas” (BRASIL,
2020c, p. 37).
ESTUDOS FUTUROS
O estudo da Justiça Restaurativa ocorrerá também no Tópico 4 desta
Unidade.
191
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
192
AUTOATIVIDADE
1 A Mediação Penal ocorre em uma nova perspectiva de aplicação da justiça. Neste
sentido, apresenta um desenvolvimento metodológico sob os ditames da Justiça
Restaurativa. Essa prática se estabelece evidenciando algumas diferenças entre
o método tradicional, chamado retributivo, e o paradigma restaurativo. Sobre as
diferenças entre as Justiças Restaurativa e Retributiva, no tocante aos procedimentos
da Mediação Penal, assinale a alternativa CORRETA:
193
( ) A “Pré-mediação em sessão individual tem no seu rito a sequência de determinados
atos, dentre os quais se enumera: “a declaração de abertura, a reunião de
informações, a confirmação do interesse de participar, a preparação de escuta e
discursos e o resumo da expectativa quanto à sessão de mediação.
( ) Os “Círculos Restaurativos” se desenvolvem conforme a impressão que o mediador
tem da situação apresentada, pois assim permite que cada sessão aconteça de
modo espontâneo, ocasionando um maior aproveitamento do perdão entre vítima-
ofensor.
( ) A “Sessão conjunta” obedece ao seguinte rito procedimental: início da mediação
com declaração de abertura e resumo, reunião de informações, identificação
de questões e interesses, esclarecimentos das controvérsias e dos interesses,
resolução de questões e o registro das soluções encontradas.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
194
UNIDADE 3 TÓPICO 4 -
JUSTIÇA RESTAURATIVA, MEDIAÇÃO
E TRANSFORMAÇÃO DE CONFLITOS
1 INTRODUÇÃO
Neste Tópico 4, abordaremos a relação entre a Justiça Restaurativa, a Mediação
e a Transformação de Conflitos. O objetivo é rever conceitos sobre a Justiça Restaurativa
e os elementos que os permeiam.
Então, é necessário que seja realizada leitura dos subtópicos, bem como a
resolução da autoatividade disposta ao fim do tópico. Bons estudos!
2 JUSTIÇA RESTAURATIVA
A visão tradicional de solução de conflitos passa pela perspectiva de judicialização,
baseada na dicotomia autor-réu, fundamentada na premissa de que ao fim haverá um
“ganhador” e um “perdedor” da demanda. Todavia, a modernidade vem impondo uma
complexidade passível de resolução apenas com a aplicação de uma visão sistêmica.
Neste sentido, a Justiça Restaurativa vem sedimentando seus pressupostos na prática
cotidiana de resolução de conflitos. De tal forma, este subtópico busca discorrer acerca
da Justiça Restaurativa nos seus aspectos essenciais e sob o ponto de vista sistêmico
e, ainda, pretende destacar o conteúdo da Resolução CNJ Nº 225/2016, grifando as
Diretrizes do Procedimento Restaurativo e o Fluxo no Âmbito do Poder Judiciário.
195
2.1 JUSTIÇA RESTAURATIVA – ASPECTOS ESSENCIAIS E A
VISÃO SISTÊMICA
Começamos revendo os conceitos e premissas da Justiça Restaurativa, e
seus aspectos essenciais, levando em consideração a visão sistêmica, presente na
configuração dessa modalidade de Justiça. Conforme o Conselho Nacional de Justiça,
a Justiça Restaurativa pode ser entendida como um
Ainda pode ser definida como sendo "um processo em que todas as partes
ligadas de alguma forma a uma particular ofensa vêm discutir e resolver coletivamente
as consequências práticas da mesma e a suas implicações no futuro” (MARSHALL,1999).
Essas definições remetem à comparação inevitável da Justiça restaurativa em face da
retributiva.
196
[...] mais do que objetivar alternativas de solução autocompositiva,
Justiça Restaurativa tenderá à resolução do conflito ou situação-
problema subjacente numa visão sistêmica – o que significa atuar
em rede, promover transformações nos ambientes institucionais
e comunitários e, sempre que possível, objetivando evitar a
judicialização ou restituir a capacidade de solução aos próprios atores
em seus contextos de origem (RIO GRANDE DO SUL, 2014, p. 9).
197
Figura 3 - Âmbito de aplicação da Justiça Restaurativa
198
Outra ação para disseminação da Justiça Restaurativa ocorreu por intermédio
do Comitê Gestor, que “realizou em 2019 dois seminários sobre a Política Nacional de
Justiça Restaurativa, incrementando o intercâmbio de experiências e ideias entre os
Comitês Regionais de todo o Brasil e fomentando a melhoria na quantidade e qualidade
dos dados que compõem a Política Nacional” (CNJ, 2022b). No mesmo sentido,
DICA
Para conhecer o Documento-base do Programa Justiça Restaurativa
para Século XXI do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, acesse:
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do
Sul. Corregedoria Geral de Justiça (CGJ). Documento-base do Programa
Justiça Restaurativa para Século 21. 2014. Disponível em https://www.
tjrs.jus.br/static/2020/10/Programa_JR21.pdf . Acesso em: 22 jul. 2022.
199
CONSIDERANDO que o direito ao acesso à Justiça, previsto no art.
5º, XXXV, da Carta Magna, além da vertente formal perante os órgãos
judiciários, implica o acesso a soluções efetivas de conflitos por
intermédio de uma ordem jurídica justa e compreende o uso de meios
consensuais, voluntários e mais adequados a alcançar a pacificação
de disputa;
CONSIDERANDO que, diante da complexidade dos fenômenos
conflito e violência, devem ser considerados, não só os aspectos
relacionais individuais, mas também, os comunitários, institucionais
e sociais que contribuem para seu surgimento, estabelecendo-se
fluxos e procedimentos que cuidem dessas dimensões e promovam
mudanças de paradigmas, bem como, provendo-se espaços
apropriados e adequados;
CONSIDERANDO a relevância e a necessidade de buscar uniformidade,
no âmbito nacional, do conceito de Justiça Restaurativa, para evitar
disparidades de orientação e ação, assegurando uma boa execução
da política pública respectiva, e respeitando as especificidades de
cada segmento da Justiça;
CONSIDERANDO que cabe ao Poder Judiciário o permanente
aprimoramento de suas formas de resposta às demandas sociais
relacionadas às questões de conflitos e violência, sempre objetivando
a promoção da paz social;
CONSIDERANDO que os arts. 72, 77 e 89 da Lei 9.099/1995 permitem
a homologação dos acordos celebrados nos procedimentos próprios
quando regidos sob os fundamentos da Justiça Restaurativa, como
a composição civil, a transação penal ou a condição da suspensão
condicional do processo de natureza criminal que tramitam perante
os Juizados Especiais Criminais ou nos Juízos Criminais;
CONSIDERANDO que o art. 35, II e III, da Lei 12.594/2012 estabelece,
para o atendimento aos adolescentes em conflito com a lei, que os
princípios da excepcionalidade, da intervenção judicial e da imposição
de medidas, favorecendo meios de autocomposição de conflitos,
devem ser usados dando prioridade a práticas ou medidas que sejam
restaurativas e que, sempre que possível, atendam às vítimas;
CONSIDERANDO que compete ao CNJ o controle da atuação
administrativa e financeira do Poder Judiciário, bem como zelar pela
observância do art. 37 da Constituição da República;
CONSIDERANDO que compete, ainda, ao CNJ contribuir com o
desenvolvimento da Justiça Restaurativa, diretriz estratégica de
gestão da Presidência do CNJ para o biênio 2015-2016, nos termos
da Portaria 16 de fevereiro de 2015, o que gerou a Meta 8 para 2016,
em relação a todos os Tribunais;
CONSIDERANDO o Grupo de Trabalho instituído pela Portaria CNJ
74 de 12 de agosto de 2015 e o decidido pelo Plenário do CNJ nos
autos do Ato Normativo 0002377-12.2016.2.00.0000, na 232ª Sessão
Ordinária realizada em 31 de maio de 2016 (Resolução CNJ 225/2016).
200
solucionados de modo estruturado na seguinte forma:
I – é necessária a participação do ofensor, e, quando houver, da
vítima, bem como, das suas famílias e dos demais envolvidos no fato
danoso, com a presença dos representantes da comunidade direta
ou indiretamente atingida pelo fato e de um ou mais facilitadores
restaurativos;
II – as práticas restaurativas serão coordenadas por facilitadores
restaurativos capacitados em técnicas autocompositivas e
consensuais de solução de conflitos próprias da Justiça Restaurativa,
podendo ser servidor do tribunal, agente público, voluntário ou
indicado por entidades parceiras;
III – as práticas restaurativas terão como foco a satisfação das
necessidades de todos os envolvidos, a responsabilização ativa
daqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a ocorrência
do fato danoso e o empoderamento da comunidade, destacando
a necessidade da reparação do dano e da recomposição do tecido
social rompido pelo conflito e as suas implicações para o futuro
(Resolução CNJ 225/2016).
201
a participação, o empoderamento, a consensualidade, a confidencialidade, a celeridade
e a urbanidade” (Resolução CNJ 225/2016). Ainda no artigo segundo, precisamente
em seus parágrafos, são colocadas as condições para a participação no procedimento
envolvendo a Justiça Restaurativa:
Fonte: a autora
202
Por conseguinte, a Resolução CNJ 225/2016 representa o marco inicial para a
adoção das práticas da Justiça Restaurativa, configurada em uma Política Nacional de
aplicação no âmbito do Poder Judiciário, refletindo como uma alternativa de resolução
de conflitos, irradiando seus ditames para vários programas autocompositivos, em
especial a medição e a transformação dos conflitos, como será tratado na continuidade.
DICA
Para saber mais sobre a atuação do Conselho Nacional de Justiça junto
à Justiça Restaurativa acesse: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/
justica-restaurativa/ Acesso em: 13 ago. 2022.
203
pelos quais o(s) terceiro(s) imparcial(is) facilita(m) a negociação entre
as pessoas em conflito, habilitando-as a melhor compreender suas
posições e a encontrar soluções que se compatibilizam aos seus
interesses e necessidades (BRASIL, 2020, p. 20).
204
Ademais, o § 8o desse mesmo artigo estabelece também que o
não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência
de conciliação deve ser considerado ato atentatório à dignidade da
justiça e deve ser sancionado com multa de até dois por cento da
vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em
favor da União ou do Estado (BRASIL, 2020, p. 29).
205
DICA
Os processos autocompositivos “compreendem tanto os processos que
se conduzem diretamente ao acordo, como é de forma preponderante a
conciliação [...], quanto às soluções facilitadas ou estimuladas por um terceiro”
(BRASIL, 2020, p. 20).
DICA
A Lei da Mediação (Lei nº 13.140/2015) e o Código de Processo Civil, estão
disponíveis, respectivamente em:
BRASIL. Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação
entre particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a
autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública; altera a
Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997, e o Decreto nº 70.235, de 6 de março
de 1972; e revoga o § 2º do art. 6º da Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13140.htm Acesso em: 15 jul. 2022;
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm Acesso em: 15 jul. 2022.
Para dar início ao estudo se enfatiza que o conflito “pode ser definido como
um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razão de metas,
interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatíveis”
(BRASIL, 2020, p. 49). Tradicionalmente as pessoas têm uma tendência em classificar o
conflito como um fator negativo. Entretanto, a transformação dos conflitos consiste na
possibilidade de enxergá-los de maneira positiva e se configura “em uma das principais
alterações da chamada moderna teoria do conflito. Isso porque a partir do momento em
que se percebe o conflito como um fenômeno natural na relação de quaisquer seres
vivos é possível se perceber o conflito de forma positiva (BRASIL, 2020, p. 51).
206
Então,
Por outro lado, “quando questionados sobre aspectos positivos do conflito [...]
ou formas positivas de se perceber o conflito – em regra, participantes de treinamentos
em técnicas e habilidades de mediação apresentam, entre outros, os seguintes pontos”
(BRASIL, 2020, p. 50):
207
Outro fator a ser considerado é a progressiva escalada, em relações conflituosas,
resultante de um círculo vicioso de ação e reação. Nesse sentido,
208
Diante disso, a contribuição de Deutsch provocou uma “recontextualização
acerca do conceito de conflito ao se registrar que este é um elemento da vida que
inevitavelmente permeia todas as relações humanas e contém potencial de contribuir
positivamente nessas relações” (BRASIL, 2020, p. 56). Assim, pode-se afirmar a
existência de uma
209
LEITURA
COMPLEMENTAR
RESOLUÇÃO Nº 125, DE 29 DE NOVEMBRO DE 2010
210
CONSIDERANDO que a organização dos serviços de conciliação, mediação e
outros métodos consensuais de solução de conflitos deve servir de princípio e base para
a criação de Juízos de resolução alternativa de conflitos, verdadeiros órgãos judiciais
especializados na matéria;
CONSIDERANDO o deliberado pelo Plenário do Conselho Nacional de Justiça
na sua 117ª Sessão Ordinária, realizada em de 23 de 2010, nos autos do procedimento do
Ato 0006059-82.2010.2.00.0000;
RESOLVE:
Capítulo I
Da Política Pública de tratamento adequado dos conflitos de interesses
Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos
de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios
adequados à sua natureza e peculiaridade.
Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe oferecer mecanismos de
soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, como a
mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão. Nas
hipóteses em que este atendimento de cidadania não for imediatamente implantado,
esses serviços devem ser gradativamente ofertados no prazo de 12 (doze) meses.
Art. 2º Na implementação da Política Judiciária Nacional, com vista à boa
qualidade dos serviços e à disseminação da cultura de pacificação social, serão
observados:
Capítulo II
211
II– desenvolver conteúdo programático mínimo e ações voltadas à capacitação
em métodos consensuais de solução de conflitos, para magistrados da Justiça Estadual
e da Justiça Federal, servidores, mediadores, conciliadores e demais facilitadores da
solução consensual de controvérsias, ressalvada a competência da Escola Nacional de
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM;
III– providenciar que as atividades relacionadas à conciliação, mediação e outros
métodos consensuais de solução de conflitos sejam consideradas nas promoções e
remoções de magistrados pelo critério do merecimento;
IV– regulamentar, em código de ética, a atuação dos conciliadores, mediadores
e demais facilitadores da solução consensual de controvérsias;
V– buscar a cooperação dos órgãos públicos competentes e das instituições
públicas e privadas da área de ensino, para a criação de disciplinas que propiciem o
surgimento da cultura da solução pacífica dos conflitos, bem como que, nas Escolas de
Magistratura, haja módulo voltado aos métodos consensuais de solução de conflitos, no
curso de iniciação funcional e no curso de aperfeiçoamento;
VI– estabelecer interlocução com a Ordem dos Advogados do Brasil, Defensorias
Públicas, Procuradorias e Ministério Público, estimulando sua participação nos Centros
Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania e valorizando a atuação na prevenção
dos litígios;
VII– realizar gestão junto às empresas, públicas e privadas, bem como
junto às agências reguladoras de serviços públicos, a fim de implementar práticas
autocompositivas e desenvolver acompanhamento estatístico, com a instituição de
banco de dados para visualização de resultados, conferindo selo de qualidade;
VIII– atuar junto aos entes públicos e grandes litigantes de modo a estimular a
autocomposição.
Capítulo III
Das Atribuições dos Tribunais
Seção I
Dos Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de
Conflitos
212
IV– instalar Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania que
concentrarão a realização das sessões de conciliação e mediação que estejam a cargo
de conciliadores e mediadores, dos órgãos por eles abrangidos;
V– incentivar ou promover capacitação, treinamento e atualização permanente
de magistrados, servidores, conciliadores e mediadores nos métodos consensuais de
solução de conflitos;
VI– propor ao Tribunal a realização de convênios e parcerias com entes públicos
e privados para atender aos fins desta Resolução.
§ 1º A criação dos Núcleos e sua composição deverão ser informadas ao
Conselho Nacional de Justiça.
§ 2º Os Núcleos poderão estimular programas de mediação comunitária, desde
que esses centros comunitários não se confundam com os Centros de conciliação e
mediação judicial, previstos no Capítulo III, Seção II.
§ 3º Nos termos do art. 73 da Lei n° 9.099/95 e dos arts. 112 e 116 da Lei n°
8.069/90, os Núcleos poderão centralizar e estimular programas de mediação penal ou
qualquer outro processo restaurativo, desde que respeitados os princípios básicos e
processos restaurativos previstos na Resolução n° 2002/12 do Conselho Econômico e
Social da Organização das Nações Unidas e a participação do titular da ação penal em
todos os atos.
§ 4º Na hipótese de conciliadores e mediadores que atuem em seus serviços,
os Tribunais deverão criar e manter cadastro, de forma a regulamentar o processo de
inscrição e de desligamento desses facilitadores.
Seção II
Dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania
Art. 8º Para atender aos Juízos, Juizados ou Varas com competência nas áreas
cível, fazendária, previdenciária, de família ou dos Juizados Especiais Cíveis, Criminais
e Fazendários, os Tribunais deverão criar os Centros Judiciários de Solução de Conflitos
e Cidadania ("Centros"), unidades do Poder Judiciário, preferencialmente, responsáveis
pela realização das sessões e audiências de conciliação e mediação que estejam a cargo
de conciliadores e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão.
§ 1º As sessões de conciliação e mediação pré-processuais deverão ser
realizadas nos Centros, podendo, excepcionalmente, serem realizadas nos próprios
Juízos, Juizados ou Varas designadas, desde que o sejam por conciliadores e mediadores
cadastrados pelo Tribunal (inciso VI do art. 7º) e supervisionados pelo Juiz Coordenador
do Centro (art. 9º).
§ 2º Os Centros poderão ser instalados nos locais onde exista mais de uma
unidade jurisdicional com pelo menos uma das competências referidas no caput e,
obrigatoriamente, serão instalados a partir de 5 (cinco) unidades jurisdicionais.
§ 3º Nas Comarcas das Capitais dos Estados e nas sedes das Seções e Regiões
Judiciárias, bem como nas Comarcas do interior, Subseções e Regiões Judiciárias de
maior movimento forense, o prazo para a instalação dos Centros será de 4 (quatro)
meses a contar do início de vigência desta Resolução.
213
§ 4º Nas demais Comarcas, Subseções e Regiões Judiciárias, o prazo para a
instalação dos Centros será de 12 (doze) meses a contar do início de vigência deste ato.
§ 5º Os Tribunais poderão, excepcionalmente, estender os serviços do Centro a
unidades ou órgãos situados em locais diversos, desde que próximos daqueles referidos
no § 2º, e instalar Centros nos chamados Foros Regionais, nos quais funcionem 2 (dois)
ou mais Juízos, Juizados ou Varas, observada a organização judiciária local.
§ 6º Os Centros poderão ser organizados por áreas temáticas, como centros
de conciliação de juizados especiais, família, precatórios e empresarial, dentre outros,
juntamente com serviços de cidadania.
§ 7º O coordenador do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania
poderá solicitar feitos de outras unidades judiciais com o intuito de organizar pautas
concentradas ou mutirões, podendo, para tanto, fixar prazo.
§ 8º Para efeito de estatística de produtividade, as sentenças homologatórias
prolatadas em razão da solicitação estabelecida no parágrafo anterior reverterão ao
juízo de origem, e as sentenças decorrentes da atuação pré-processual ao coordenador
do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania.
Art. 9º Os Centros contarão com um juiz coordenador e, se necessário, com
um adjunto, aos quais caberão a sua administração e a homologação de acordos, bem
como a supervisão do serviço de conciliadores e mediadores. Os magistrados da Justiça
Estadual e da Justiça Federal serão designados pelo Presidente de cada Tribunal dentre
aqueles que realizaram treinamento segundo o modelo estabelecido pelo CNJ, conforme
Anexo I desta Resolução.
§ 1º Caso o Centro atenda a grande número de Juízos, Juizados ou Varas,
o respectivo juiz coordenador poderá ficar designado exclusivamente para sua
administração.
§ 2º Os Tribunais deverão assegurar que nos Centros atuem servidores com
dedicação exclusiva, todos capacitados em métodos consensuais de solução de
conflitos e, pelo menos, um deles capacitado também para a triagem e encaminhamento
adequado de casos.
§ 3º O treinamento dos servidores referidos no parágrafo anterior deverá
observar as diretrizes estabelecidas pelo CNJ conforme Anexo I desta Resolução.
Art. 10. Os Centros deverão obrigatoriamente abranger setor de solução pré-
processual de conflitos, setor de solução processual de conflitos e setor de cidadania.
Art. 11. Nos Centros poderão atuar membros do Ministério Público, defensores
públicos, procuradores e/ou advogados.
Seção III
Dos Conciliadores e Mediadores
Art. 12. Nos Centros, bem como todos os demais órgãos judiciários nos quais se
realizem sessões de conciliação e mediação, somente serão admitidos mediadores e
conciliadores capacitados na forma deste ato (Anexo I), cabendo aos Tribunais, antes de
sua instalação, realizar o curso de capacitação, podendo fazê-lo por meio de parcerias.
214
§ 1º Os Tribunais que já realizaram a capacitação referida no caput poderão
dispensar os atuais mediadores e conciliadores da exigência do certificado de
conclusão do curso de capacitação, mas deverão disponibilizar cursos de treinamento e
aperfeiçoamento, na forma do Anexo I, como condição prévia de atuação nos Centros.
§ 2º Todos os conciliadores, mediadores e outros especialistas em métodos
consensuais de solução de conflitos deverão submeter-se a reciclagem permanente e
à avaliação do usuário.
§ 3º Os cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de mediadores
e conciliadores deverão observar o conteúdo programático, com número de exercícios
simulados e carga horária mínimos estabelecidos pelo CNJ (Anexo I) e deverão ser
seguidos necessariamente de estágio supervisionado.
§ 4º Os mediadores, conciliadores e demais facilitadores do entendimento entre
as partes ficarão sujeitos ao código de ética estabelecido pelo Conselho (Anexo II).
Seção IV
Dos Dados Estatísticos
Art. 13. Os Tribunais deverão criar e manter banco de dados sobre as atividades
de cada Centro, com as informações constantes do Portal da Conciliação.
Art. 14. Caberá ao CNJ compilar informações sobre os serviços públicos de
solução consensual das controvérsias existentes no país e sobre o desempenho de
cada um deles, por meio do DPJ, mantendo permanentemente atualizado o banco de
dados.
Capítulo IV
Do Portal da Conciliação
Art. 15. Fica criado o Portal da Conciliação, a ser disponibilizado no sítio do CNJ
na rede mundial de computadores, com as seguintes funcionalidades, entre outras:
– publicação das diretrizes da capacitação de conciliadores e mediadores e de
seu código de ética;
– relatório gerencial do programa, por Tribunal, detalhado por unidade judicial e
por Centro;
– compartilhamento de boas práticas, projetos, ações, artigos, pesquisas e
outros estudos;
– fórum permanente de discussão, facultada a participação da sociedade civil;
– divulgação de notícias relacionadas ao tema;
– relatórios de atividades da "Semana da Conciliação".
Parágrafo único. A implementação do Portal será gradativa, observadas as
possibilidades técnicas, sob a responsabilidade do CNJ.
215
Disposições Finais
Fonte: BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução Nº 125 de 29/11/2010. Dispõe sobre a Polí-
tica Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e
dá outras providências. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156 Acesso em: 15 jul. 2022.
216
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:
217
AUTOATIVIDADE
1 A Resolução CNJ 225/2016 elenca em seu Capítulo I artigos informativos acerca
das disposições relacionadas com a Justiça Restaurativa. Conforme o Artigo 1º,
ela constitui-se como um conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos,
técnicas e atividades próprias, que visa à conscientização sobre os fatores
relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflitos e violência, e por meio do
qual os conflitos que geram dano, concreto ou abstrato, são solucionados de modo
estruturado. Sobre as disposições da Resolução acerca da Justiça Restaurativa,
assinale a alternativa CORRETA:
218
I- Para que o conflito seja trabalhado no âmbito da Justiça Restaurativa, é necessário
que as partes reconheçam, ainda que em ambiente confidencial incomunicável
com a instrução penal, os fatos essenciais como verdadeiros, sem que isso implique
admissão de culpa em eventual retorno do conflito ao processo judicial.
II- Quanto aos participantes, não são obrigatórias as informações sobre o procedimento
e as possíveis consequências de sua participação, bem como do seu direito de
solicitar orientação jurídica em qualquer estágio do procedimento.
III- Todos os participantes deverão ser tratados de forma justa e digna, sendo
assegurado o mútuo respeito entre as partes, as quais serão auxiliadas a construir,
a partir da reflexão e da assunção de responsabilidades, uma solução cabível e
eficaz visando sempre o futuro.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
4 No processo judicial, o mediador tem papel reconhecido como auxiliar da justiça (art.
149 do NCPC) e tem atuação relevante para o desenvolvimento da cidadania, pois
não apenas facilita o entendimento entre os cidadãos na busca da melhor solução
para seus conflitos, mas também os ajuda na condução dos processos, no aspecto
técnico, obviamente mantendo a imparcialidade que lhe é própria, mas dando mais
objetividade ao processo, caso não haja acordo (BRASIL, 2020, p. 249). Disserte sobre
as atribuições do mediador judicial.
219
5 A transformação dos conflitos passa por compreender a existência de processos
destrutivos ou construtivos. Os reflexos dessas concepções guiam a forma de
interpretação dos conflitos, trazendo uma transformação paradigmática na maneira de
resolução das disputas, utilizando os meios consensuais. Nesse contexto, disserte sobre
os processos destrutivos e sobre os construtivos.
220
REFERÊNCIAS
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Comitê Gestor Nacional da Conciliação. Manual
de Mediação Judicial. Brasília, 2016. Disponível em: f247f5ce60df2774c59d6e2dddb-
fec54.pdf (cnj.jus.br) Acesso em: 15 jul. 2022.
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