Ekeys, 00350
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Abstract: This paper systematizes the preliminary results of a research about the Foundations of the
Brazilian Social Work in the contemporaneity, now in progress. This work is linked to the Institutional
Program for Scientific Initiation Scholarships - PIBIC/UEPB/CNPq, quota 2017-2018, aiming mainly to
analyse, in the scientific productions in the area, the most significant trends about the Foundations of
the profession in the contemporaneity. It is a bibliographical and documentary research, having as
empirical material papers presented at the XV National Meeting of Researchers in Social Work, 2016.
It is based on critical social theory and it is particularly relevant since its results already show a scarce
production on the theme.
Keywords: Social Work. Foundations. Scientific Production.
1. INTRODUÇÃO
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Para Netto (2001), o termo “questão social” historicamente foi adotado pela burguesia subsumindo o caráter
político da luta dos trabalhadores por melhores condições de vida e de trabalho à fluidez de algo de natureza
“social”, o que justifica o uso das aspas. A partir da segunda metade do século XIX, a expressão “questão social”
deixou de ser usada indistintamente por críticos sociais de diferenciados lugares do espectro ídeo-político,
deslizando paulatinamente, mas nitidamente, para o vocabulário próprio do pensamento conservador. Ou seja,
passou a ser empregada a partir da separação entre o econômico e o social, dissociando as questões
econômicas das “questões sociais”.
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O GETRAPS é constituído de docentes e alunos de graduação e pós-graduação que desenvolvem pesquisas
de iniciação científica e de mestrado, cujas temáticas estão voltadas para a relação capital x trabalho e para os
fundamentos do Serviço Social, consolidando uma linha de pesquisa que integra o Projeto Pedagógico do Curso
de graduação em Serviço Social da UEPB e contribui para o fortalecimento da Pós- graduação em Serviço Social
desta universidade.
7 Para Netto (1996b), o Serviço Social tradicional é a prática do/as assistentes sociais empirista, reiterativa,
paliativa e burocratizada, fundamentada por uma ética liberal-burguesa, cuja doutrina consiste na correção de
resultados psicossociais considerados indesejáveis, com uma concepção de natureza idealista ou mecanicista
do movimento da realidade social, sendo pressuposta a ordenação capitalista da vida como um dado factual
eliminável.
somente foi expressa a partir dos anos 1980, com a instauração da terceira vertente, ou
seja, a intenção de ruptura.
No que se refere à Modernização Conservadora, esta se constitui na tentativa de
buscar cientificidade para a profissão, bem como a modernização com enfoque no caráter
técnico-operativo, sem romper, contudo, com as bases positivistas, numa clara adesão a
uma nova roupagem conservadora.
Já a Reatualização do conservadorismo, nas palavras de Netto (1996b), com o
propósito de negar o positivismo, sem a pretensão de superá-lo, quando a distensão militar
causava indignação pela ausência de liberdade civil e política, o Serviço Social brasileiro
buscou, de um lado, abrir mão do acervo positivista e, de outro, descreditar do referencial
dialético-crítico, de aparato marxista, fundamentando-se na fenomenologia, de maneira
vulgarizada, o que acabou impossibilitando uma análise rigorosa e crítica da realidade e,
consequentemente, de intervenções profissionais que pudessem ser parametradas e
avaliadas por critérios teóricos e sociais objetivos. Dessa forma, a intervenção profissional
não ultrapassava o campo da ajuda psicossocial para o desvelamento do sentido à pessoa,
ficando apenas no diálogo, isolando assim o usuário do movimento do real em sua
totalidade.
Com relação à tendência de intenção de ruptura, é necessário destacar que foi a
interlocução entre o Serviço Social e a teoria social de Marx, a qual se vincula a uma
vertente revolucionária, cancelando qualquer lastro conservador que vai se configurar
justificada, por um lado, pelo contexto histórico da época e, de outro, pelas próprias
características desta matriz teórica, especialmente apta para subsidiar correntes
sócioprofissionais de sentido crítico (NETTO, 1989).
No entanto, o que se pretendia ser uma renovação do Serviço Social, acabou sendo
uma aproximação inicialmente enviesada à tradição Marxista (NETTO, 1996b); mediação
essa que se deu por fontes secundárias, pouco qualificadas e num registro de forte
ecletismo8. Para Iamamoto (1998, p. 211- 212) uma:
8 Conforme Tonet (1995, p. 35), o ecletismo se constitui na liberdade de tomar ideias de vários autores e articula-
las segundo a conveniência do pensador, sem, contudo, verificar com rigor a compatibilidade de ideias e
paradigmas diferentes, resultando numa verdadeira “colcha de retalhos”. Portanto, não possibilitando a
apreensão do real na sua totalidade.
Como podemos observar o discurso que se pretendia marxista passou a conviver com
uma bagagem teórica eclética, incapaz de efetivar as intenções declaradas, corroborando
na não concretização integral da ruptura anunciada (IAMAMOTO, 1998).
Apesar disso, devemos ressaltar que o pioneiro estudo que marcou a incorporação da
obra marxiana no Serviço Social brasileiro data dos anos 1980, mais precisamente em 1982,
com a obra Relações Sociais e Serviço Social no Brasil - esboço de uma interpretação
histórico-metodológica, de autoria de Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho, que apreende o
Serviço Social como uma profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho,
localizada no processo de produção e reprodução das relações sociais (NETTO, 1996b).
Superados os problemas iniciais com a tradição marxista, o Serviço Social passou a
se debruçar sobre os desafios que a história do país tem descortinado à profissão,
dialogando e se apropriando do debate intelectual contemporâneo no campo das Ciências
Sociais do país e do exterior. Desenvolveu-se na pesquisa sobre a natureza de sua
intervenção, de seus procedimentos, de sua história e, principalmente, acerca da realidade
social, política, econômica e cultural onde se insere. Logo, adquiriu o respeito de seus iguais
no âmbito interdisciplinar e conseguiu visibilidade na interlocução com as Ciências Sociais
(YAZBEK, 2000).
Closs (2015) destaca que um marco significativo da problematização dos
Fundamentos do Serviço Social tem como contextualização histórica e teórica o debate
travado em torno da revisão das diretrizes curriculares para a formação em Serviço Social,
desde o currículo de 1982 ao atual projeto de formação profissional de 1996. Portanto, o
processo coletivo de debate e de definição dos eixos centrais, que fundamentam a formação
profissional e explicita as principais tendências do debate teórico-metodológico sobre a
profissão na contemporaneidade.
O recurso à busca dos fundamentos das coisas, da realidade, e mesmo da profissão,
“só tem sentido, em primeiro lugar, quando se opera com uma razão racionalista, historicista
e dialética” (GUERRA, 2004, p.14), recurso este imprescindível para apreensão da
dimensão ontológica do real.
Nesse sentido, de acordo com Ortiz (2010), nos anos 1990 o Serviço Social pode
aprimorar a tendência de ruptura com o denominado Serviço Social “tradicional”,
configurando-a em um projeto profissional com clara direção social e política, expressando
não apenas o amadurecimento interno da profissão, mas sua posição política em face ao
contexto de crise do capital.
No entanto, nesta década, bem como no limiar do século XXI, o quadro
econômico, político, cultural e social do país apresenta repercussões significativas para os
Fundamentos teórico-metodológicos do Serviço Social. Segundo Yazbek (2009), apesar da
vitalidade do marxismo como perspectiva de análise, os desdobramentos das polêmicas em
9Segundo Sousa (2005), a pós-modernidade se restringe ao que é efêmero, descontínuo, fragmentado. Ao negar
a totalidade, a razão dialética e as metanarrativas privilegiam a dimensão fenomênica da realidade, não
apreendendo a essência do real.
Com base nas investigações empreendidas nos artigos selecionados, foi possível
percebermos a prevalência de estudos a respeito do trabalho como fonte de toda riqueza
social, como categoria fundante do mundo dos homens (MARX, 1978), sobre o trabalho
do/da assistente social, sobre a relação existente entre o Serviço Social e o método crítico
dialético, sobre a produção do conhecimento acerca dos fundamentos do Serviço Social,
bem como, um significativo enfoque conferido ao tema do projeto ético-político profissional,
em particular acerca das possibilidades de seu fortalecimento.
Observamos, por exemplo, o debate sobre a atualidade do referido projeto
profissional, visto que a sociabilidade burguesa, em especial o Estado, atravessam
avalanches em decorrência da racionalidade capitalista em sua fase imperialista,
impactando diretamente as profissões e, consequentemente, os projetos profissionais.
Verificamos na unanimidade dos artigos analisados a afirmação da pertinência do
método critico dialético para o Serviço Social, apreendido como sendo o mais adequado
para atender aos interesses teóricos, metodológicos, éticos e políticos da categoria
profissional.
Sobre os Fundamentos do Serviço Social, dos 08 (oito) artigos analisados 03 (três)
tratam do tema, o que nos possibilita inferir que na produção científica em apreço
permanece a tendência já identificada por estudiosos da área. Ou seja, como já observou
Closs (2015), a produção que aborda diretamente os Fundamentos da profissão é bastante
diminuta.
Portanto, no que se refere às tendências sobre os Fundamentos do Serviço Social na
produção científica em apreço, podemos destacar: a teoria social crítica, enquanto
Fundamento do Serviço Social na atualidade; o Projeto Ético-Político, enquanto direção
social da profissão; o trabalho enquanto categoria fundante do ser social e o trabalho
profissional em tempos de crise estrutural do capital.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os achados iniciais nos permitem inferir que, apesar de todos os esforços para que
os artigos analisados fossem retirados exclusivamente do eixo temático sobre os
Fundamentos do Serviço Social percebe-se que este não é o foco das discussões travadas
nessa produção. Constatamos que as tendências predominantes na produção científica
deste eixo são: a teoria social crítica, enquanto Fundamento do Serviço Social na
atualidade; o Projeto Ético-Político, enquanto direção social da profissão; o trabalho
enquanto categoria fundante do ser social e o trabalho profissional em tempos de crise
estrutural do capital.
Desse modo, reiteramos que os resultados desta pesquisa portam uma relevância
acadêmica e social, dada ao papel decisivo que assume a produção cientifica sobre os
Fundamentos da profissão na contemporaneidade e na instrumentalização do assistente
social para a construção de projetos de intervenção e para a intervenção propriamente dita.
Portanto, condição necessária para fundamentar uma intervenção profissional conectada
com os interesses dos segmentos majoritários da sociedade e, assim, fortalecer o projeto
profissional de ruptura com a herança conservadora e confessional da profissão.
Enfim, esperamos que os resultados alcançados possam oferecer subsídios capazes
de contribuir para o aprofundamento do debate sobre os Fundamentos do Serviço Social
brasileiro na contemporaneidade e instigar o interesse de pesquisadores sobre futuros
estudos sobre o tema, pois o nosso propósito não é esgotar as problematizações sobre a
temática, mas, sim, desvendar as tendências mais significativas sobre os Fundamentos da
profissão.
Acreditamos, enfim, que este tema constitui-se como um fecundo campo aberto à
investigação, na medida em que ainda há muito que se explorar sobre os Fundamentos do
Serviço Social brasileiro na contemporaneidade.
Na nossa trajetória enquanto pesquisadoras/es identificamos que as produções de
referência para o estudo dos Fundamentos do Serviço Social brasileiro na
contemporaneidade são parcas, apesar das produções sobre o Serviço Social serem
consistentes, contudo reduzidas, se comparadas às resultantes de pesquisas sobre as
políticas públicas, especialmente as políticas sociais.
REFERÊNCIAS
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
Disponível em:
<https://professores.faccat.br/moodle/pluginfile.php/13410/mod_resource/content/1/c
omo_elaborar_projeto_de_pesquisa_-_antonio_carlos_gil.pdf>. Acesso em: 13 abr.
2018, às 14:40.
______. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço social no Brasil Pós-
64. 3.ed. São Paulo: Cortez, 1996b.