Hannah Arendt e o Totalitarismo

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HANNAH ARENDT E O TOTALITARISMO:

O CONCEITO E OS MORTOS

Ricardo Luiz de Souza*

RESUMO
O objetivo deste artigo é estudar o conceito de totalitarismo elaborado por Arendt, definindo
a especificidade tanto política quanto histórica do conceito na perspectiva da autora. Trata-se,
na obra de Arendt, de um conceito construído a partir de uma ideologia conservadora adotada
pela autora, que vê, nas massas, um agente político disperso e nocivo. A análise arendtiana
transforma a figura de Eichmann em símbolo do totalitarismo e do mal: um mal terrível
por suas consequências e terrível pela banalidade com que é exercido.

PALAVRAS-CHAVE: Modernidade. Poder. Política.

I
Tomarei como ponto de partida uma questão de fundamental importância:
o que, na perspectiva arendtiana, torna específico o totalitarismo? Basicamente,
sua idéia de domínio, definido pela autora como “a dominação permanente de
todos os indivíduos em toda e qualquer esfera da vida” (Arendt, 1989, p. 375).
Com isto, “a diferença fundamental entre as ditaduras modernas e as tiranias do
passado está no uso do terror não como meio de extermínio e amedrontamento
dos oponentes, mas como instrumento corriqueiro para governar as massas

* Professor do Centro Universitário de Sete Lagoas (Unifemm). Doutor em História pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: [email protected].
Politeia: Hist. e Soc. Vitória da Conquista v. 7 n. 1 p. 243-260 2007

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perfeitamente obedientes” (Arendt, 1989, p. 26). E uma outra diferença essencial


deve ser mencionada: enquanto os antigos regimes autoritários contentavam-se
em exibir seu poder e em controlar a vida exterior dos governados, a burocracia
totalitária estende sua interferência à vida interior dos mesmos.

Como resultado dessa radical eficiência, extinguiu-se a espontaneidade


dos povos sob o domínio totalitário juntamente com as atividades sociais
e políticas, de sorte que a simples esterilidade política, que existia nas
burocracias mais antigas, foi seguida de esterilidade total sob o regime
totalitário (Arendt, 1989, p. 277).

Arendt distingue, assim, o regime totalitário da ditadura e da tirania:

A distinção decisiva entre o domínio totalitário, baseado no terror,


e as tiranias e ditaduras, impostas pela violência, é que o primeiro
volta-se não apenas contra os seus inimigos mas também contra os
amigos e correligionários, pois teme todo o poder, até mesmo o poder
dos amigos. O clímax do terror é alcançado quando o Estado policial
começa a devorar os seus próprios filhos, quando o carrasco de ontem
torna-se a vítima de hoje. É este o momento quando o poder desaparece
inteiramente (Arendt, 1985, p. 30).

E Canovan (1994, p. 88) busca precisar melhor como tais diferenças


estruturam-se no pensamento da autora. A essência da tirania é a ausência de
lei e o poder arbitrário. Já no totalitarismo, o exercício do poder não é arbitrário
e não pode ser pensado em termos de ausência de leis, nem em termos de
interesses pessoais do tirano. Nele, o terror é a essência do sistema, e não um Politeia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v. 7, n. 1, p. 243-260, 2007.

princípio ancilar da ação.


O conceito de totalitarismo proposto por Arendt não visa reduzir o
incomum à esfera da normalidade, mas, pelo contrário, compreendê-lo como
fenômeno absolutamente sem precedentes (Brudny-de Launay, 1998, p.
44). E o que significa, para a autora, compreendê-lo? Segundo Reis (2003, p.
217), “compreender o totalitarismo não seria perdoá-lo, mas nos reconciliar
com um mundo em que tal evento ou processo de eventos foi possível.
Compreendê-lo seria julgá-lo nos termos cristãos e dos direitos humanos da
própria Europa”.
O poder totalitário caracteriza-se, segundo Arendt, pelo segredo e pela
invisibilidade: “a única regra segura num Estado totalitário é que, quanto mais
visível é uma agência governamental, menos poder detém; e quanto menos se

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sabe da existência de uma organização, mais poderosa ela é” (Arendt, 1989,


p.453). Mas o totalitarismo não pode ser pensado unicamente em termos de
violência e terror: “Governo algum, exclusivamente baseado nos instrumentos
da violência, existiu jamais. Mesmo o governante totalitário, cujo principal
instrumento de dominação é a tortura, precisa de uma base de poder – a
polícia secreta e a sua rede de informações” (Arendt, 1985, p. 27). Segundo
Arendt, ainda, “a pluralidade humana, condição básica da ação e do discurso,
tem o duplo aspecto de igualdade e diferença” (Arendt, 1981, p. 188). Tendo
como base, portanto, a diversidade, a ação e o discurso são incompatíveis com
a homogeneidade imperante no totalitarismo.
Por negar qualquer idéia de estabilidade, o totalitarismo destrói
um dos pilares da civilização, tal como definido pela autora: “nenhuma
civilização – o artefato humano para abrigar gerações sucessivas – teria sido
jamais possível sem uma estrutura de estabilidade que proporcionasse o
cenário para o fluxo de mudanças” (Arendt, 1999b, p. 72). E o totalitarismo
nega a liberdade. O que seria apenas uma obviedade é desenvolvido por
Arendt (1999a, p. 51):

O verdadeiro novo e assustador desse empreendimento não é a negação


da liberdade ou a afirmação que a liberdade não é boa nem necessária
para o homem, e sim a concepção segundo a qual a liberdade dos
homens precisa ser sacrificada para o desenvolvimento histórico, cujo
processo só pode ser impedido pelo homem quando este age e se move
em liberdade.
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Esta novidade radical e assustadora – a novidade do totalitarismo – gerou


problemas teóricos fundamentais:

Não havia tradição filosófica dentro da qual esse mal absoluto pudesse ser
compreendido. Só com uma análise dos “elementos” que se cristalizavam
no totalitarismo – superpopulação, expansão e superfluidade econômica, e
desenraizamento social e deterioração da vida política – esse mal absoluto
podia ser iluminado (Young-Bruhel, 1997, p. 197).

O conhecimento histórico é, pois, insuficiente para a compreensão do


totalitarismo como fenômeno central da política contemporânea. Isto porque
“tudo o que sabemos sobre o totalitarismo indica uma terrível originalidade,
que nenhum paralelo histórico é capaz de atenuar” (Arendt, 1993:41).

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Mas a questão é ainda mais ampla, já que o totalitarismo é, ao mesmo


tempo, causa e consequência da inadequação entre a tradição intelectual do
Ocidente e a novidade que ele representa; da ruptura entre conhecimento e
realidade. Arendt (1993, p. 45) conclui, portanto: “os fenômenos totalitários que
não podem mais ser entendidos em termos de senso comum e que desafiam todas
as regras do juízo ‘normal’, isto é, basicamente utilitário, são somente as instâncias
mais espetaculares do colapso da sabedoria comum que nos foi legada”.
O totalitarismo é um regime que só ganha viabilidade se implantado
em grande escala, inclusive em termos populacionais, uma vez que “somente
onde há grandes massas supérfluas que podem ser sacrificadas sem resultados
desastrosos de despovoamento é que se torna viável o governo totalitário,
diferente do movimento totalitário” (Arendt, 1989, p. 361). E tal movimento
tem, como motor, uma utopia. De fato, o totalitarismo, acentua Arendt,
é utópico, e possui como utopia nada menos que a criação de uma nova
humanidade: “Espera que a lei da Natureza ou a lei da História, devidamente
executada, engendre a humanidade como produto final; essa esperança – que
está por trás da pretensão de governo global – é acalentada por todos os
governos totalitários” (Arendt, 1989, p. 514).
Mesmo quando plenamente instalado, o totalitarismo permanece atrelado
à idéia de movimento, de expansão; a estabilidade seria seu fim; interromper
o processo de dominação de novos povos, novas terras, seria sua ruína. Eis a
essência do totalitarismo, o que leva Arendt (1989, p. 442) a concluir: “a luta

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pelo domínio total de toda a população da terra, a eliminação de toda realidade
rival não-totalitária, eis a tônica dos regimes totalitários; se não lutarem pelo
domínio global como objetivo último, correm o sério risco de perder todo o
poder que porventura tenham adquirido”. Daí, ainda, o caráter transnacional do
totalitarismo: “e a pura verdade é que o movimento totalitário toma o poder no
mesmo sentido em que um conquistador estrangeiro ocupa um país que passa
a governar em benefício de terceiros” (Arendt, 1989, p. 466). Não por acaso,
comunismo e anti-semitismo foram, segundo Arendt, os únicos movimentos
proclamadamente internacionais do século XX (Arendt, 1989, p. 61).
Segundo Francisco (1996, p. 171), Arendt pensa o totalitarismo em
termos de emergência política: “Para ela, esses regimes tem o sentido de
situações de emergência política por modificarem à deformação a esfera dos
assuntos humanos, introduzindo nela idéias e práticas sem precedentes em

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nossa história e fazendo cair por terra os mais sólidos e fundamentais valores
políticos e éticos”. O totalitarismo, então, é pensado em termos de um sistema
político cuja originalidade requer explicações igualmente originais. Ele rompeu
a continuidade do tempo histórico, e o conceito de totalitarismo como ruptura
é expressamente afirmado por Arendt (1972, p. 54):

A dominação totalitária como um fato estabelecido que, em seu ineditismo,


não pode ser compreendido mediante as categorias usuais do pensamento
político, e cujos “crimes” não podem ser julgados por padrões morais
tradicionais ou punidos dentro do quadro de referência legal de nossa
civilização, quebrou a continuidade da História Ocidental. A ruptura em
nossa tradição é agora um fato deliberado. Não é o resultado da escolha
deliberada de ninguém, nem sujeita a decisão ulterior.

O próprio fato de ser um fenômeno político sem precedentes, imprevisto


e incompreensível segundo os parâmetros da teoria política tradicional, fez
Arendt concluir que “o fio da tradição do pensamento político ocidental
fora definitivamente rompido e que a compreensão dos eventos políticos do
presente teria de prescindir das categorias teóricas do passado” (Duarte, 2001,
p. 64 ). E, mais que uma novidade, o totalitarismo é visto por Arendt, como
acentua Souki (2001, p. 129), como uma inversão: “o totalitarismo é, portanto,
o mundo invertido, no sentido em que proclama a destruição de toda ação –
na significação que Arendt lhe dá de inauguração – e a inversão completa de
valores básicos que fundamentam a civilização ocidental”.
Politeia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v. 7, n. 1, p. 243-260, 2007.

Na perspectiva de Arendt, a ruptura efetuada pelo totalitarismo se dará,


segundo Rodrigo (1992, p. 92), em termos absolutos:

A quebra com a tradição não poderia ser colocada em termos mais


amplos: ela se processa ao nível das esferas social, política, legal,
lógica, moral. Ou seja, o que era impensável, inconcebível, ilegítimo,
imprevisível, impossível do ponto de vista da tradição ocidental
apresenta-se agora como realidade.

O totalitarismo gera, portanto, uma realidade inteiramente nova, e as


origens do pesadelo precisam ser compreendidas. Estudá-las é o objetivo ao
qual ela se dedica em seu livro fundamental sobre o tema; estudá-lo, ressaltar
e compreender sua especificidade.
Arendt, assim, estuda as origens do totalitarismo e afirma sua
originalidade. Ele nasce da degradação do Estado-nação, do imperialismo,

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do antisemitismo, e é uma novidade em relação aos fatores históricos que


o originaram, deles se diferenciando, como, aliás, de todos os fenômenos
históricos que o antecederam. No caso do imperialismo britânico, por exemplo,
tais elementos já estavam reunidos:

Sob o nariz de todos estavam muitos dos elementos que, reunidos,


podiam criar um governo totalitário à base do racismo. Burocratas
indianos propunham “massacres administrativos”, enquanto
funcionários africanos declaravam que “nenhuma consideração ética, tal
como os Direitos do Homem, poderá se opor” ao domínio do homem
branco (Arendt, 1989, p. 252).

Transformando a violência em objetivo consciente do corpo político


e em alvo final de qualquer ação política definida, a política imperialista
transformou-se em um dos pilares do totalitarismo. E porque? “Porque a força
sem coibição só pode gerar mais força, e a violência administrativa em benefício
da força – e não em benefício da lei – torna-se um princípio destrutivo que só
é detido quando nada mais resta a violar” (Arendt, 1989, p. 167).
Mas as causas do totalitarismo foram diversas; na análise de Arendt,
como aponta Lefort, um dos fatores que permitiram o surgimento do
totalitarismo foi a secularização, uma vez que a afirmação das leis absolutas
defendidas por nazistas e comunistas teve como base “a erosão que havia
sofrido anteriormente a fé numa verdade acima dos homens, a fé numa lei
transcendente, quer fosse definida como direito natural ou emanasse dos
mandamentos de Deus” (Lefort, 1999, p. 29). Politeia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v. 7, n. 1, p. 243-260, 2007.

O ano de 1917 é, para Arendt, o ponto de partida dos movimentos


totalitários: “O terror, como instrumento institucional, utilizado para acelerar
o momentum da revolução, era desconhecido antes da Revolução Russa”.
Mesmo a comparação com a Revolução Francesa carece de sentido: “O terror
da virtude de Robespierre foi, com efeito, bastante terrível, mas permaneceu
dirigido contra um inimigo e um vício ocultos. Não foi conduzido contra o
povo que, mesmo do ponto de vista do dirigente revolucionário, era inocente”
(Arendt, 1988, p. 79).
Caracteriza o totalitarismo, portanto, a busca incansável por inimigos a
serem destruídos, minorias a serem liquidadas pelo simples fato de existirem.
Funcionou como ponto de partida de tal processo o fato de as minorias
européias terem sido definidas como comunidades religiosas e culturais, não

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como nacionalidades. Segundo Heuer (2005, p. 47), esta foi, para Arendt, a
fatalidade política européia. E a análise arendtiana tem início, como acentuam
Heller e Fehér (1998, p. 133), com uma espécie de inversão: “a história do
totalitarismo começa com a história do pária, e portanto com a exceção, com
o politicamente anômalo, que é então usado para explicar o resto da sociedade,
em vez de ao contrário”.
O processo de atomização social que marcou o século XX é visto por
Arendt como o fator básico para o surgimento e consolidação do totalitarismo,
ao gerar as multidões desorientadas e compostas por indivíduos isolados e
desmoralizados que seriam a base do sistema, fornecendo seus adeptos, seus
soldados e seus carrascos. Os movimentos totalitários caracterizam-se assim,
segundo Arendt (1989, p. 373), pela atomização e isolamento social de seus
membros e pela exigência de lealdade absoluta deles requerida: “essa exigência
é feita pelos líderes dos movimentos totalitários mesmo antes de tomarem o
poder e decorre da alegação, já contida em sua ideologia, de que a organização
abrangerá, no devido tempo, toda a raça humana”. Na perspectiva arendtiana,
por fim, o totalitarismo busca, como ressalta Melo (2003, p. 13), reverter as
consequências da própria modernidade que o gerou: “a destruição da esfera
pública força o homem solitário de massa a ir em busca de um universo
de garantias, de certezas; onde a existência de um sistema consistente e
absolutamente coerente não permita a presença do acaso”.
De onde deriva tal isolamento? Segundo Wagner (2002, p. 152), tal
Politeia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v. 7, n. 1, p. 243-260, 2007.

isolamento é visto por Arendt como “o resultado da ocupação do espaço


público pela atividade do labor, atividade que, anteriormente, havia se
localizado sempre na esfera privada”. Young-Bruhel (1997, p. 210) descreve o
processo de desagregação social estudado pela autora: “primeiro os indivíduos
ficavam isolados em suas classes e então, à medida que as próprias classes se
deterioravam a partir de dentro, tornavam-se atomizadas e desumanizadas”.
Este é, porém, um dos pontos da análise arendtiana mais criticados e mais
questionáveis, por fundamentar-se em teorias sociais de cunho conservador,
já amplamente desacreditadas, e que descrevem as multidões, nas sociedades
contemporâneas, como massas de agregados, em oposição às sociedades
aristocráticas e hierárquicas que são, assim, idealizadas como uma espécie de
bom velho tempo. Canovan (1978, p. 9) menciona a grande influência exercida
sobre a autora por teorias sobre a sociedade de massas de caráter nitidamente

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conservador e, ainda, um certo desdém pelo homem do povo presente em


seu pensamento. Aschheim (1997, p. 124) ressalta, igualmente, tal linha de
continuidade, ao lembrar ser o conceito de totalitarismo em Arendt baseado
em uma idéia de atomização social derivada de um modelo de sociedade de
massas quase universalmente rejeitado e inspirado em uma conservadora teoria
social européia.

II
O totalitarismo opõe-se à política. Na análise que Lefort faz do
pensamento arendtiano, a conclusão, aparentemente, é outra. Para ele, “o
totalitarismo é, ao que parece, um regime no qual tudo se apresenta como
político: o jurídico, o econômico, o científico, o pedagógico”. Mas ele próprio
destaca: “se não existe fronteira entre a política e a não-política, a própria
política desaparece, pois a política sempre implicou uma relação definida entre
os homens, relação esta regida pela exigência de responder a questões que põem
em jogo a sorte comum” (Lefort, 1991, p. 67).
Para melhor compreendermos o totalitarismo na perspectiva de Arendt,
podemos contrastá-lo com o que seria politicamente o seu oposto, ou seja, o
governo constitucional tal como por ela definido: “o que hoje entendemos por
governo constitucional, não importa se de natureza monárquica ou republicana,
é, em essência, um governo controlado pelos governados, restringido em suas
competências de poder e em sua aplicação de força” (Arendt, 1999b, p. 75).
Temos, assim, uma definição na qual a autora expressa seu ideal político, que não
Politeia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v. 7, n. 1, p. 243-260, 2007.
deve, porém, ser pensado em termos de governo do povo, o que fica claro quando
tomamos a dicotomia por ela estabelecida: “se a tirania pode ser definida como
a tentativa sempre frustrada de substituir o poder pela violência, a oclocracia (o
governo da multidão), seu exato posto, pode ser definida como a tentativa, muito
mais promissora, de substituir o poder pela força” (Arendt, 1981, p. 215).
E como seria um mundo totalitário, ou seja, um mundo no qual as
relações de poder se limitariam à dualidade entre dominantes e dominados?

Sob tal ponto de vista, conseguiríamos, em lugar da abolição da política,


uma forma de dominação despótica ampliada ao extremo, no qual
o abismo entre dominadores e dominados assumiria dimensões tão
gigantescas que não seria mais possível nenhuma rebelião, muito menos
alguma forma de controle dos dominadores (Arendt, 1999a, p. 26).

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O totalitarismo torna co-responsáveis todos os que participem da


cena política. Segundo Arendt (2004, p. 96), “apenas aqueles que se retiraram
completamente da vida pública, que recusaram a responsabilidade política
de qualquer tipo, puderam evitar tornar-se implicados em crimes, isto é,
puderam evitar a responsabilidade legal e moral”. Mas é característica, afinal,
da atividade política, tornar responsável a todos os que, de uma forma ou
de outra, dela participam:

Só podemos escapar dessa responsabilidade política e estritamente


coletiva abandonando a comunidade, e como nenhum homem pode
viver sem pertencer a alguma comunidade , isso significaria simplesmente
trocar uma comunidade por outra, e assim um tipo de responsabilidade
por outro (Arendt, 2004, p. 217).

Eis o monstro. Seu encontro com ele, seu encontro com o nazismo,
transformou Arendt, como salienta Canovan (1994, p. 163), em uma republicana
radical; alguém que via nas instituições republicanas e no espírito de cidadania
as mais fortes defesas possíveis contra o totalitarismo. E Young-Bruhel (1997,
p. 235) acentua: “as ideologias totalitárias devoravam tanto o passado como
o futuro, transformavam o passado em mitos da natureza ou da história e
apagavam a imprevisibilidade do futuro com imagens milenares relativas a
esses mitos”. Por isso, a incerteza quanto ao futuro é, para Arendt, a melhor
arma contra o totalitarismo; contra o planejamento que visa sufocar qualquer
Politeia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v. 7, n. 1, p. 243-260, 2007.

iniciativa, qualquer ação que busque iniciar um novo tempo, qualquer ação livre.
Na incerteza do futuro reside, ao mesmo tempo, a promessa e a ameaça.
A figura do líder está no centro do regime totalitário: “o caráter
totalitário do princípio de liderança advém unicamente da posição em que o
movimento totalitário, graças à sua peculiar organização, coloca o líder, ou seja,
da importância fundamental do líder para o movimento” (Arendt, 1989, p.
414). Por outro lado, a descrição arendtiana da figura do líder totalitário o exclui,
por exemplo, da galeria dos líderes carismáticos weberianos: “deve a liderança
mais à sua extrema capacidade de manobrar as lutas intestinas do partido
pelo poder do que a qualidades demagógicas ou burocrático-organizacionais”
(Arendt, 1989, p. 423). Mas cabe ao líder a tarefa de suprema importância de
definir quem é o inimigo a ser liquidado. Assim, na síntese que Duarte faz da
análise arendtiana do totalitarismo, cabe a ele decidir quem deve ser incluído

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na categoria do inimigo objetivo ou do socialmente indesejável, “tipologias que


designam aqueles cuja mera existência implica discordância para com a ideologia
totalitária, merecendo ser sistematicamente exterminados, independentemente
do que pensem, falem ou façam” (Duarte, 2000a, p. 251).
O totalitarismo desenvolveu-se a partir de uma exclusão progressiva.
Quem não poderia mais viver entre nós e deveria, portanto, ser confinado, no
final, simplesmente não poderia mais viver. Tal exclusão seguiu, primordialmente,
critérios de origem racista, o que faz Arendt questionar: como surgiu, afinal, o
racismo? Ela própria responde:

A raça foi uma tentativa de explicar a existência de seres humanos


que ficavam à margem da compreensão dos europeus, e cujas formas
e feições de tal forma assustavam e humilhavam os homens brancos,
imigrantes ou conquistadores, que eles não desejavam mais pertencer
à mesma espécie humana (Arendt, 1989, p. 215).

A colonização africana foi, para Arendt, um laboratório para os nazistas:


“viram ali como era possível transformar povos em raças e como, pelo simples
fato de tomarem a iniciativa desse processo, podiam elevar o seu próprio povo
à posição de raça dominante” (Arendt, 1989, p. 237).
O dilema da república na perspectiva arendtiana é, acentua Smith (1985,
p. 254), como conciliar autoridade e igualdade. Já o totalitarismo cria, para
Arendt, uma igualdade que recusa a diferença, e o que ela tem em mente é,
precisamente, uma igualdade que reconheça sua alteridade. Por isso, seu desejo
de sempre apresentar-se como judia, por isso suas críticas ao igualitarismo Politeia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v. 7, n. 1, p. 243-260, 2007.
jurídico da Declaração dos Direitos do Homem (Courtine-Denamy, 2004, p.
59), no que ela segue, aliás, uma tradição conservadora, com Villey ressaltando,
com acuidade, como Burke defendeu os direitos de diversas classes e povos
(Villey, 1976, p. 132).
Apresentar-se como judia significa pertencer a uma nacionalidade,
reivindicá-la. É esta uma defesa da qual indivíduo algum pode abrir mão.
Arendt segue, aqui, como lembra Aguiar (1999, p. 98), o ensinamento materno:
“seguia, nesses termos, a lição de casa ministrada por sua mãe. Se a atacavam
como judia, era como judia que devia defender-se, não como cidadã universal,
portadora de direitos”.
O eixo da análise arendtiana, porém, é o anti-semitismo, e a questão que
ela busca responder é como este adquiriu, por fim, a dimensão política que

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culminou com o genocídio. Segundo Arendt, o apoliticismo judaico permitiu


a aliança entre o judeu e o Estado, fomentando tal dimensão a partir de um
processo assim descrito pela autora: “cada classe social que entrava em conflito
com o Estado virava anti-semita, porque o único grupo que parecia representar
o Estado, identificando-se com ele servilmente, eram os judeus” (Arendt, 1989,
p. 45). A partir de tal dinâmica, o judeu rico alemão tornou-se, ele próprio,
excludente em relação a seus irmãos menos afortunados:

A partir da degradação desses, a partir da grande diferença que o separava


deles, extraía sua consciência de ser uma exceção, seu orgulho por
ter chegado tão gloriosamente longe e sua resistência aos incessantes
insultos, humilhações e reveses que, afinal, atingiam a todos (Arendt,
1994, p. 179).

E tal processo seguiu, ainda, o que Arendt chama de regra básica, qual
seja, “o sentimento antijudaico adquire relevância política somente quando pode
ser combinado com uma questão política importante, ou quando os interesses
grupais dos judeus entram em conflito aberto com os de uma classe dirigente
ou aspirante ao poder” (Arendt, 1989, p. 49).
O anti-semitismo representa para Arendt, segundo Lafer (1979, p.
49), uma ruptura histórica derivada do papel desempenhado pelos judeus no
processo europeu de modernização. E, por fim, ao refletir sobre sua própria
análise do antisemitismo, Arendt (1987, p. 25) faz questão de esclarecer:
Politeia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v. 7, n. 1, p. 243-260, 2007.

“quando emprego a palavra judeu, não pretendo sugerir nenhum tipo especial
de ser humano, como se o destino judaico fosse representativo ou exemplar
para o destino da humanidade”.

III
A mentira é, para Arendt, pedra fundamental do totalitarismo, não
importando seu caráter absurdo. Pelo contrário, como a autora acentua: “o que
distingue os líderes e ditadores totalitários é a obstinada e simplória determinação
com que, entre as ideologias existentes, escolhem os elementos que mais se
prestam como fundamentos para a criação de um mundo inteiramente fictício”
(Arendt, 1989, p. 411). Os líderes totalitários mentem como quaisquer outros
líderes políticos, mas as mentiras por eles proferidas possuem outra dimensão
e geram outras consequências. Segundo Arendt (1972, p. 312), “a diferença

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entre a mentira tradicional e a moderna acarretará, na maior parte das vezes,


a diferença entre ocultar e destruir”. E ainda, a ficção assumida termina por
tornar-se a base da realidade totalitária, gerando “fatos” e slogans que não
podem ser desmentidos: “uma vez integrados numa ‘organização viva’, esses
slogans de propaganda não podem ser eliminados sem riscos, sem destruir
toda a estrutura” (Arendt, 1989, p. 412).
Arendt faz, em carta datada de 1963, uma autocrítica a respeito do papel
por ela conferido, em Eichmann em Jerusalém, à importância da ideologia
no contexto dos movimentos totalitários e sobre o próprio comportamento de
Eichmann: “Posso ter superestimado o impacto da ideologia no indivíduo. Mesmo
no livro sobre totalitarismo, no capítulo sobre ideologia e terror, menciono
a curiosa perda de conteúdo ideológico que ocorre na elite do movimento”
(Brightman, 1995, p. 154). De qualquer forma, o totalitarismo cria, segundo
Arendt, um mundo irreal, o que, constata Souki (1998, p. 67), é visto por ela
como uma vantagem: “a propaganda totalitária cria um mundo fictício capaz de
competir com o mundo real, cuja principal desvantagem é não ser lógico, coerente
e organizado”. E, de fato, a mentira tem grande chance de ser bem sucedida, uma
vez que, “na medida em que a verdade fatual se expõe à hostilidade dos defensores
de opiniões, ela é pelo menos tão vulnerável como a verdade filosófica racional”
(Arendt, 1972, p. 301). E ainda, devido a uma característica do conhecimento, em
sua relação entre verdade e mentira: “como o mentiroso é livre para moldar os
seus fatos adequando-os ao proveito e ao prazer, ou mesmo às meras expectativas

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de sua audiência, o mais provável é que ele seja mais convincente do que o que
diz a verdade” (Arendt, 1972, p. 311).
Fazendo isso, acentua ainda Souki (1998, p. 127), o totalitarismo destrói
o senso comum, visto como o sentido do real no qual habita o outro: “assim,
a dominação totalitária passa pela destruição desse sentido da realidade, dessa
faculdade que se apoia na presença do outro”. E, segundo Duarte (2000b, p.
58), tal destruição “equivale à perda da mediação entre o caráter privado das
sensações humanas e a sua confirmação intersubjetiva, perda à qual sobrevem
a redução do pensamento aos processos de dedução lógica”. O totalitarismo
cria, enfim, sua própria realidade. Nele, acentua mais uma vez Duarte (2002, p.
58), “as leis positivas deixam de ser restrições e proibições de certas condutas
particulares para tornarem-se instrumentos de transformação e criação da
realidade, de acordo com a interpretação da ideologia pelo líder totalitário”.

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E, assim como a mentira, a suspeita forma a base do totalitarismo: “nas


condições do regime totalitário, a categoria dos suspeitos compreende toda
a população; todo pensamento que se desvia da linha oficialmente prescrita
e permanentemente mutável já é suspeito, não importa o campo da atividade
humana em que ocorra” (Arendt, 1989, p. 481).
O conceito e os mortos: se o totalitarismo criou um universo fictício
para sobreviver, os mortos por ele gerados foram bem reais e contaram-se
aos milhões. Qual foi, segundo Arendt, o impacto inicial do genocídio? “Na
época o próprio horror, na sua nua monstruosidade, parecia não apenas para
mim, mas para muitos outros, transcender todas as categorias morais e explodir
todos os padrões de jurisdição; era algo que os homens não podiam punir
adequadamente nem perdoar” (Arendt, 2004, p. 85).
Compreender o genocídio tornou-se, porém, tarefa vital por mais
de um motivo. A lógica do universo concentracionário, na perspectiva de
Arendt, reflete, segundo Piret (1992, p. 49), os ideais totalitários, que são a
negação da pluralidade e da liberdade humanas; compreendê-la, portanto,
significa compreender a lógica totalitária, mas tal compreensão permite ir
ainda mais longe. Afinal, os campos de concentração são para Arendt, como
acentua Habermas (1994, p. 96), a característica mais profunda e essencial
do século XX. E a expressão “tudo é possível” adquire uma importância
fundamental na análise que Arendt faz do totalitarismo. O líder totalitário e
seus seguidores visam transformar o comportamento humano em algo similar
Politeia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v. 7, n. 1, p. 243-260, 2007.

ao comportamento de espécies animais; condicionado, previsível. Para eles, a


partir daí, tudo é possível.
O retrato feito pela autora do período no qual vigoraram os regimes
totalitários faz, segundo Gellner (1989, p. 96), os horrores ocorridos parecerem
irreais, metafísicos, reconfortantemente alheios a nós. Mas há um ser que viveu
no interior de tal regime e que surge, na descrição de Arendt, assustadoramente
real e próximo a nós, a ponto de sua figura opaca e sinistra servir como uma
espécie de catalisador do pensamento de Arendt, apesar de toda a repulsa que
ele lhe inspira. Trata-se de Eichmann.
A mediocridade, o vazio que Arendt percebeu em Eichmann fez com
que ela repensasse seus conceitos de moralidade, insuficientes para pensar a
banalidade e a tragédia corporificadas perante ela; uma maldade destituída de
pathos, incapaz de ir além da superfície dos fatos por ela provocados. Correia

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(2002, p. 146) salienta, a respeito da reação da autora perante Eichmann: “a


falência dos conteúdos morais tradicionais, a persistência do caráter obediente
e a ausência de reflexão formam a combinação básica do indivíduo capaz de
levar o mal a extremos impensáveis”. E ela formula, a partir daí, uma questão
mencionada por Duarte (2000, p. 341), qual seja, “a de saber se o pensamento e
o juízo seriam capazes de contribuir para obstar a prática do mal no domínio da
política, prescindindo da mera obediência às regras de normatização da conduta
humana no mundo aceitas e reconhecidas num dado momento histórico”.
Arendt (1978, v. I, p. 6) afirma ter o julgamento de Eichmann despertado
sua atenção para questões referentes à moralidade. E temos, nas páginas finais
de Eichmann em Jerusalém, uma menção, que tornou-se célebre, à “lição
da temerosa banalidade do mal, que desafia palavra e pensamento” (Arendt,
1983, p. 262). Como defini-la, como situá-la? A banalidade do mal consiste,
enquanto mal político, em aceitar o inaceitável, transformando-o em algo
normal e legal (Brudny-de Launay, 1998, p. 125).
O caráter específico, original, do sistema político que Eichmann
representava no momento do julgamento desnorteou, segundo Arendt, seus
julgadores. Faltou à Corte que julgou Eichmann compreender o que está no
cerne do totalitarismo:

E os juízes não acreditaram nele, porque eram bons demais e, também,


cônscios demais dos verdadeiros princípios de sua profissão, para admitir
que, em média, uma pessoa “normal”, nem fraca de memória, nem
Politeia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v. 7, n. 1, p. 243-260, 2007.
doutrinada, nem cínica, poderia ser perfeitamente incapaz de discernir
o certo do errado (Arendt, 1983, p. 42).

A dificuldade vivida pelos juízes pode ser pensada, a partir da análise


que Telles (1990, p. 25) efetua do julgamento de Eichmann, como sendo um
problema de tipificação: “pois não se tratava de um delito passível de ser
qualificado por referência ao Estado, à lei ou a alguma norma consensual
estabelecida”. Faltou à Corte, enfim, compreender como o uso sistemático
da mentira – a mentira como fundamento do totalitarismo – torna possível,
segundo Arendt, a compreensão tanto do comportamento de Eichmann
durante seu julgamento, quanto da sociedade alemã durante o nazismo:

Eichmann somente precisava lembrar-se do passado, para ter a certeza


de não estar mentindo e nem se decepcionar, pois ele e o mundo no

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qual vivia, tinham estado em outros tempos, em perfeita harmonia. E
que a sociedade alemã, de oitenta milhões de pessoas, fora protegida
contra a realidade e a evidência, exatamente pelos mesmos meios e pelas
mesmas auto-enganações, mentiras e tolices que estavam arraigadas na
mente de Eichmann (Arendt, 1983, p. 67).

IV
A análise de Arendt sobre o totalitarismo é uma análise sobre algo que
não deveria, não poderia ter acontecido. É uma reflexão sobre uma catástrofe
que, uma vez ocorrida, tornou-se irremediável. Paira sobre o conceito, a sombra
e o peso de milhões de mortos que ele abarca, e o pensamento arendtiano é
marcado por tal peso. E quando Arendt assinala a especificidade do totalitarismo,
ela assinala, ao mesmo tempo, a originalidade e o vazio assustador encarnados
pela figura de Eichmann. Ele é o mal absoluto que não se reconhece como tal,
o mal que tem como objetivo apenas o extermínio de inocentes.

HANNAH ARENDT AND THE TOTALITARIANISM:


THE CONCEPT AND THE DEADS

ABSTRACT
The objective of the article is in such a way to study the concept of totalitarianism elaborated
for Arendt, defining the specificity how much historical politics of the concept from the
perspective of the author. It is still treated, in the workmanship of Arendt, of a concept
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constructed from an ideology conservative adopted for the author, whom it sees, in the masses,
an agent dispersed and harmful politician. The arendtian analysis transforms the figure of
Eichmann, in turn, in symbol of the totalitarianism and the evil in it corporificated it; badly
terrible one for its consequences and terrible for the triviality with that it is exerted.

KEY WORDS: Modernity. Politics. Power.

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