III - Teorico Morfologia
III - Teorico Morfologia
III - Teorico Morfologia
Morfologia
Verbos: Estrutura e Funcionamento na Língua
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Silvia Augusta de Barros Albert
Verbos: Estrutura e
Funcionamento na Língua
• Introdução;
• Categorias Verbais: Número, Pessoa, Modo, Tempo, Voz e Aspecto;
• Tempo;
• Voz;
• A Estrutura Morfológica do Verbo;
• Usos Verbais no Português Brasileiro;
• Teoria das Valências: Outra Perspectiva de Estudo dos Verbos.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender a estrutura morfológica do verbo na Língua Portuguesa;
• Rever o estudo do verbo da perspectiva da gramática tradicional, de maneira crítica e reflexiva;
• Apreender novas perspectivas de estudo do verbo para produção de conhecimento;
• Considerar a teoria das valências como outra perspectiva de estudo dos verbos.
UNIDADE Verbos: Estrutura e Funcionamento na Língua
Introdução
Para iniciarmos o estudo dos verbos, mais uma vez, reforçamos que descrever uma
língua implica distinção entre forma, significado e função. Tendo em vista que forma e
significado são indissociáveis e que a função é determinante para a atuação linguística,
percorreremos nessa unidade a forma, por meio do estudo da estrutura morfológica do
verbo na Língua Portuguesa e avançaremos em nossas reflexões, abordando a função
dos verbos na estrutura da língua e na produção de sentidos na leitura e na escrita. Dessa
forma, nesta unidade, mais uma vez, propõe-se um estudo morfossintático do verbo.
Tradicionalmente, diz-se que verbo é a palavra que indica estado, ação ou fenômeno
da natureza, mas será que essa definição é suficiente? Vamos observar algumas defini-
ções dadas por gramáticos e linguistas, para ampliar nossa reflexão e, assim, responder-
mos a essa pergunta. Para os gramáticos Celso Cunha e Lindley Cintra (2008, p. 393)
“verbo é uma palavra de forma variável que exprime o que se passa, isto é, um aconteci-
mento representado no tempo”; já o Prof. Evanildo Bechara (2009, p. 209), importante
gramático da atualidade, define verbo como “unidade de significado categorial que se
caracteriza por ser um molde pelo qual organiza o falar seu significado lexical”. Essa de-
finição do Prof. Evanildo Bechara aponta para o caráter funcional da língua, levando em
conta os atos de fala relacionados com as funções verbais, tendo em vista: o ato de fala,
o conteúdo desse ato, o acontecimento comunicado e os participantes envolvidos nesse
evento de fala. A nosso ver, ao definir o verbo como “molde”, o autor revela o caráter
nuclear do verbo na oração, o que poderá ser comprovado no decorrer desta unida,
inclusive, com a definição descritivista do verbo, tema do próximo parágrafo.
A conceituação defendida pelo linguista e gramático descritivista, Mário Perini (2016,
p. 179), coloca o verbo como elemento chave para a compreensão das construções ora-
cionais no Português Brasileiro. Outra conceituação bastante interessante é dada pelo
linguista Marcos Bagno (2012, p. 509), em sua Gramática Pedagógica do Português
Brasileiro. Segundo esse estudioso, “mais adequado é definir o verbo com base em suas
características sintáticas, semânticas e pragmáticas”, apresentando o seguinte quadro:
Veja só! Já apresentamos quatro definições e ainda temos mais uma! Vamos a ela:
para o linguista Rodolfo Ilari (2014, p. 65):
A história do estudo do verbo é, em grande parte, uma resposta ao pro-
blema de explicar essas flexões. Nas gramáticas tradicionais, essa resposta
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fala em ‘tempos’, ‘modos’, ‘vozes’, e ‘pessoas’ – uma resposta que dá conta
à sua maneira, da riqueza do paradigma da conjugação verbal em muitas
línguas indo-europeias.
Mas a variedade de formas que compõem o paradigma de conjugação de
um verbo não defectivo é apenas uma das ‘riquezas’ do verbo; o papel
que o verbo desempenha na oração, no discurso e na comunicação é
bem mais complexo do que sugerem aquelas explicações tradicionais.
Depois de tantas definições e citações de linguistas e gramáticos, você deve ter percebido
a importância de compreender o verbo não só em seus aspectos formais, mas também em
relação ao significado e função. Pois bem, começaremos por tratar das categorias verbais,
de maneira similar ao que encontramos na gramática tradicional, acrescida da categoria
“aspecto”, nem sempre abordada nas aulas de língua portuguesa, na escolarização básica.
Número
Trata-se de uma categoria quantificadora, que apresenta o número de participan-
tes no acontecimento comunicado (BECHARA, 2009). Tradicionalmente, por número
compreende-se o singular e plural.
• estudo (singular) – estudamos (plural);
• estudas (singular – estudais (plural);
• estuda (singular) – estudam (plural).
Pessoa
Esta categoria refere-se aos participantes do ato de fala, relacionados aos participan-
tes do acontecimento comunicado (BECHARA, 2009). São três pessoas, relacionadas
com a pessoa gramatical que serve de sujeito do verbo:
• Primeira: aquela que fala – eu estudo (singular) e nós estudamos (plural);
• Segunda: aquela a quem se fala – tu estudas (singular) e vós estudais (plural)1;
• Terceira: aquele(a) (ou aquilo) de quem (ou de que) se fala (o assunto, a pessoa, o
objeto, o fato etc.) – ele, ela estuda (singular) e eles, elas estudam (plural).
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Na língua em uso, na modalidade do Português Brasileiro (PB) o tu corresponde a você e o vós a vocês; no português
de Portugal o tu e o vós mantêm-se em uso coloquial. Um bom exemplo, no PB desse uso é o famoso jingle da Caixa
Econômica Federal, se nunca o escutou, procure-o na Internet e escute. A letra diz assim: “Vem pra Caixa você também,
vem”, o que contraria a norma, uma vez que seria: Vem tu, venha você. Perceba, no entanto, que o efeito melódico não
seria o mesmo se fosse “venha para a Caixa você também, venha” ou, então, “vem pra Caixa tu também, vem”, não é?
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UNIDADE Verbos: Estrutura e Funcionamento na Língua
Modo
Os modos verbais são responsáveis por determinar a posição e/ou intencionalidade
do falante em relação à ação verbal. Dessa forma, a ação pode ser considerada pelo
falante como (i.) algo já realizado, algo verossímil; (ii.) algo incerto, algo condicionado ou
desejado; ou ainda, (iii.) a expressão de uma ordem, desejo ou súplica. Os modos verbais
são, respectivamente: Indicativo(i.), Subjuntivo (ii.) e Imperativo(iii.).
Tempo
Diz respeito ao tempo do acontecimento em relação ao momento da fala. Assim, o
enunciado é o momento zero, e o acontecimento pode ser anterior, posterior ou con-
comitante a esse momento zero. Aqui é preciso fazer uma distinção, pois a categoria
verbal de tempo é uma construção linguística do tempo, enquanto o tempo cronológico
é o tempo físico e corresponde a uma dimensão da realidade, que pode ser medido em
horas, dias e semanas.
Tabela 1 – Tempo
Modo subjuntivo Modo Indicativo
Pretérito
Futuro Presente Futuro Pretérito Presente
Imperfeito
• do presente; • perfeito;
• do pretérito. • imperfeito;
• Mais-que-
-perfeito.
Voz
Diz respeito aos papéis sintáticos e semânticos dos elementos da sentença em relação
ao verbo. Sintaticamente, temos sujeito e objeto e semanticamente, agente e paciente.
No exemplo a seguir, elucidamos melhor essa categoria:
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Observe que em a o papel sintátido de sujeito é representado pelo arranjo “a meni-
na”. Semanticamente, porém, ela exerce a ação de comprar, assumindo, então, o papel
de agente. Dizemos que a oração expressa na letra a está na voz ativa.
Repare que na voz passiva, a estrutura sintática de uso verbal fica assim: Verbo auxi-
liar ser + verbo principal no particípio passado: foram comprados.
Tradicionalmente, temos três vozes verbais: a) Voz ativa; b) Voz passiva; c) Voz reflexiva.
Acima você já viu o funcionamento da voz ativa e da voz passiva, vamos ver agora
um exemplo, a voz reflexiva. Enquento na voz ativa o sujeito pratica a ação e na passiva
recebe a ação, na voz reflexiva o sujeito pratica e recebe ao mesmo tempo a ação verbal,
tendo o sujeito os papeis temáticos de agente e paciente ao mesmo tempo:
• João feriu-se com a faca.
A voz passiva divide-se em duas formas: Voz passiva analítica e voz passiva sintética, ou
voz pronominal.
Aspecto
Trata-se de uma categoria semântica do verbo, que diz respeito ao ponto de vista
sobre o estado das coisas, descrito pelo verbo. Em outras palavras, o aspecto verbal
é a expressão do estado de coisas, representado pelo verbo na perspectiva do falante.
Essa categoria é muito pouco explorada didaticamente, em outras palavras, a tradição
escolar não se ocupa de ensinar aos alunos sobre o aspecto verbal. A categoria de as-
pecto, como dito anteriormente, está ligada à categoria verbal de tempo. Dessa forma, o
aspecto verbal diz respeito ao ponto de vista que o falante tem sobre o processo verbal.
Você entenderá melhor essa relação complexa com exemplos práticos, então vamos lá,
observe os pares de frases.
1. A. Amanda é confusa.
1. B. Amanda está confusa.
2. A. A professora chegou.
3. B. A professora acabou de chegar.
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um fato concluído e encerrado: A professora chegou. Sabemos que ela chegou, mas sem
precisar quanto isso ocorreu, ou melhor, em que momento do passodo o fato ocorreu.
Já em 2. B a ação expressa pela perífrase ou locução verbal “acabou de chegar”, situa
temporalmente a ação em um momento anterior muito próximo ao momento temporal
zero, ou seja, o tempo do acontecimento é próximo ao momento zero, que que o enun-
ciado é proferido.
Ainda a respeito do aspecto verbal, vejamos o que diz o linguista e gramático Ataliba
de Castilho (2019, p. 418):
O aspecto pode ser perfectivo, imperfectivo ou iterativo, sendo que os dois primeiros
dizem respeito à face qualitativa do aspecto (CASTILHO, 2019, p. 419), ou dizendo em
outras palavras, dizem respeito a um jogo de oposição de sentidos: fato concluído/fato
não concluído, fato durativo/fato pontual. Já o aspecto iterativo diz respeito à face quan-
titativa da ação verbal, isso quer dizer que diz respeito à ação fracionada no tempo. Você
entenderá melhor esses efeitos de sentido proporcionados por esse jogo de oposição e
também esse caráter fracionado da ação verbal com os exemplos dados a seguir.
• Aspecto perfectivo: Ocorre quando o verbo expressa uma ação pontual, cujo
começo e desfecho coincidem, ou seja, um fato concluído. Ocorrem nesse tipo de
construção os tempos pretérito perfeito e mais-que-perfeito, do modo indicativo.
Exemplo: Ela gastou o salário;
Ela o amara desde o primeiro instante.
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• Aspecto imperfectivo: Ocorre quando o verbo expressa uma ação não acabada
no tempo, em predicações dinâmicas, em que prevalecem, geralmente, o pretérito
imperfeito e perífrases, ou seja, locuções verbais.
Exemplo: Ela ensinava naquela escola;
A professora começou a ensinar predicação verbal;
A aluna vai continuar lendo o material teórico até o dia da prova.
• Aspecto iterativo: Não se trata de um subtipo novo, é, na verdade, uma quantificação
do imperfectivo e do perfectivo, isto é, uma repetição de uma ação no tempo, ou uma
ação fracionada, que acontece constantemente ou se repetiu em intervalos temporais.
Exemplo: Vestia-se com roupas elegantes, mesmo comprando-nas em brechós;
Naquela época, tomávamos o metrô quase sempre lotado;
Tenho lido o livro sagrado;
Bebericava a tônica, para se distrair e esperar.
Para saber mais sobre as facetas da categoria aspecto verbal e sua relação com a categoria
tempo, proceda a leitura do seguinte artigo.
Disponível em: https://bit.ly/397ATVC
Você já deve ter percebido que em relação à estrutura, a classe verbal é a que apre-
senta maior diversidade de formas. Se tomarmos, por exemplo, o modo indicativo,
veremos que são mais de trinta formações diversas. Para conferir essa informação,
propomos a você um desafio: Consulte uma gramática ou no link indicado abaixo e
conte na conjugação de um verbo regular, no modo indicativo, quantas formas do mes-
mo verbo você vai encontrar.
A estrutura do verbo apresenta, pois, o radical, elemento que traz a sua significação,
acrescida da vogal temática, que indica a que conjugação pertence o verbo, mais soma
de formas mínimas, denominadas desinências, que indicam as flexões do verbo e sina-
lizam na forma verbal as categorias já apresentadas: pessoa, número, tempo e modo.
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UNIDADE Verbos: Estrutura e Funcionamento na Língua
Tabela 2
A
V = T (Rd + VT) + F (DMT + DNP)
Verbo = Tema (Radical + vogal temática) +
Flexão (Desinência modo-temporal + desinência número-pessoa)
B
estud a va s
Rd VT DMT DNP
TEMA FLEXÃO
C
estud a va Ø
Rd VT DMT DNP
TEMA FLEXÃO
D
estud á sse mos
Rd VT DMT DNP
TEMA FLEXÃO
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Quanto à flexão, o verbo pode ser regular, irregular, defectivo e abundante. Os verbos
regulares são aqueles que obedecem a um paradigma de conjugação, não sofrendo altera-
ções no radical e desinências (chamadas também de “terminações”). Os verbos irregula-
res são aqueles que sofrem alterações no radical ou nas terminações ao serem conjugados.
Já os verbos defectivos são aqueles que não podem ser conjugados em todos os tem-
pos e modos, ou seja, possuem conjugação incompleta. Quer um exemplo? Então, tente
conjugar os verbos abolir e banir na primeira pessoa do singular do modo indicativo.
Logo você perceberá que essas formas verbais não existem na língua: eu bano, eu abolo.
No entanto, temos as duas formas na primeira pessoa do plural: abolimos e banimos.
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UNIDADE Verbos: Estrutura e Funcionamento na Língua
A seguir, alguns exemplos de conjugações de verbos irregulares, para que você per-
ceba as mudanças no radical tanto entre as pessoas de um mesmo tempo quanto entre
os diferentes tempos do modo indicativo:
É importante saber que a tradição escolar sempre dispensou bastante tempo com o
ensino das flexões verbais, porém, atualmente, para um estudo completo dos verbos é
preciso pensar não só nas formas, mas também nos usos verbais que fazemos dessas
formas e o quais significados esses usos imprimem aos enunciados. Pensando nisso,
abordamos nas próximas seções questões referentes ao uso das formas verbais no Por-
tuguês Brasileiro (PB). Além disso, apresentamos estudos do verbo, que vêm sendo de-
senvolvidos principalmente por linguistas que trabalham de uma perspectiva descritiva,
visando a construir uma gramática descritiva do Português Brasileiro, como é o caso
dos autores e estudiosos Mário Perini, Rodolfo Ilari, Ataliba de Castilho, entre outros.
Dessa perspectiva, estudaremos a teoria das valências aplicada ao estudo dos verbos,
sobretudo em Perini (2016).
Bem, para refletir sobre os verbos na língua em uso, vamos começar pensando nas
formas verbais do futuro do presente, do Modo Indicativo. Para isso, procure pensar nos
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usos que você faz da língua, pensando em contextos informais de comunicação: você
costuma usar formas como “irei ao shopping hoje, depois do trabalho” ou “vou ao sho-
pping hoje, depois do trabalho”?; você usa “nós viajaremos nas próximas férias” ou “nós
vamos viajar nas próximas férias”?; ou ainda, “passarei no mercado hoje e comprarei as
frutas que estão faltando” ou “vou passar no mercado hoje e comprar as frutas que estão
faltando”? E aí? Você deve ter percebido que, comumente, em contextos informais de
comunicação, fazemos mais uso de perífrases, ou locuções verbais, do que das formas
do futuro de presente. Pois é, há estudos que comprovam que o futuro perifrástico, ou
seja o uso de locuções verbais para construir o futuro, é muito mais comum no uso do
Português Brasileiro atual. Para saber mais sobre isso, indicamos duas leituras:
Perífrase: é um recurso que consiste na troca de uma expressão mais curta por outra mais
longa. Assim, uma conjugação perifrástica é aquela que utiliza mais de um verbo para ex-
pressar a ideia, ou seja, é o mesmo que uma locução verbal.
O artigo, cujo link você encontra a seguir, apresenta, além de discussões teóricas, uma análi-
se do futuro do presente em textos de alunos do Ensino Médio: https://bit.ly/3nrYoxM
Tabela 5
A B C D
eu FALO eu FALO eu FALO eu FALO
VARIEDADES URBANAS OU RURAIS
DE MENOR PRESTÍGIO SOCIAL
tu Tu/você tu FALAS
VARIEDADES URBANAS DE
MAIOR PRESTÍGIO SOCIAL
você ele/ela
ele/ela FALA a gente FALA tu/você você
nós nós ele/ela FALA ele/ela FALA
a gente a gente a gente
eles/elas nós nós FALAMOS
vocês FALA [M] vocês FALAMO[S]
eles/elas eles/ elas FALA [M] vocês
eles/elas FALAM
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UNIDADE Verbos: Estrutura e Funcionamento na Língua
continuum de usos, ou seja os usos diversos podem ser realizados por um mesmo fa-
lante, dependendo da situação comunicativa e do registro de língua que escolhe realizar
ao vivenciá-la. Na coluna A temos a forma verbal fala que pode ser usada na posição de
todas as pessoas verbais; em B, temos a possibilidade de assumir a forma plural falam
ou não para as pessoas verbais vocês, eles e elas, para todas as outras pessoas perme-
nece o uso de fala. Em C, note que temos a possiblidade do uso da forma falamo ou
falamos para a pessoa verbal nós. Somente a coluna D se mostra de acordo com aquilo
que é prescrito pela norma linguística.
“Vós sois o sal da terra [...] Vós sois a luz do mundo [...]”, trecho do Evangelho de
Mateus. O uso do vós também pode aparecer em textos jurídicos ou em documentos
oficiais, mas é preciso ressaltar que há um movimento de simplificação desses textos,
tornando-os mais facilmente compreensíveis pelos cidadãos comuns, e esse movimento,
como é previsível, afasta os usos pronominais que não atendem ao Português Brasileiro.
Como você deve ter observado, nesta seção, o modelo clássico de conjugação verbal,
apresentado pela Gramática Tradicional, já não é suficiente para descrever os usos ver-
bais na Língua Portuguesa. Sendo assim, é preciso adotar uma postura investigativa e
reflexiva diante da língua a fim de questionar a forma, função e significado dessa classe
gramatical aberta: os verbos.
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Na próxima seção, veremos outra perspectiva de estudo do verbo: a Teoria das
valências. Você verá como estudar os verbos é primordial tanto para a compreensão
da estrutura morfossintática da língua quanto para subsidiar a produção de sentidos na
leitura e na escrita.
Nesta seção trataremos da teoria das valências, que considera o verbo a chave para as
construções oracionais em português. Essa teoria, que implica estudar o verbo de uma
outra perspectiva, é adotada por inúmeros estudiosos, mas vamos nos basear, sobretudo,
em Mário A. Perini, autor da Gramática descritiva do português brasileiro, publicada
em 2016, pela Editora Vozes. Tal obra está disponível em nossa biblioteca digital e você
pode consultá-la, para se aprofundar nos estudos da morfologia. É importante ressaltar
que embora esta perspectiva de estudo esteja mais relacionada ao eixo sintagmático da
língua, nos interessa abordá-la nesta unidade da disciplina, ainda que brevemente, a fim
de percebermos a importância do verbo na Língua Portuguesa.
Perini (2016, p. 179) defende que o verbo é a chave para a descrição das orações em
Língua Portuguesa, porque a partir dele é possível prever as lacunas da oração. Para o
autor, descrever as orações possíveis da língua é parte fundamental para a descrição “de
grande parte da estrutura gramatical da língua”.
Se na Teoria das valências o verbo é a chave, vamos fazer um exercício para que você
depreenda a partir dos verbos elencados abaixo as possibilidades de preenchimento
das lacunas:
alguém
viajar
pedalar
Figura 1
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UNIDADE Verbos: Estrutura e Funcionamento na Língua
pessoa sorrir
Figura 2
a
algo
alguém
pessoa dar
as boas a
vindas alguém
Figura 3
No primeiro exemplo, o verbo amar nos faz prever um sujeito experienciador, que
ama algo, alguém ou ainda que ama alguma praticar alguma ação, como viajar, pedalar,
etc., duas lacunas, então. Já o segundo exemplo traz um verbo que prevê apenas uma
lacuna, a do sujeito. No exemplo 3, por sua vez, temos um verbo que prevê três lacunas:
um sujeito disposto a oferecer algo a outra pessoa.
De acordo com Penini (2016, p. 179), “cada verbo pode ocorrer em um conjunto
bem delimitado de construções, e esse conjunto de construções é o que chamamos de
valência do verbo”.
Não entraremos aqui nas subclassificações verbais feitas a partir da teoria das valên-
cias, porque não é esse o nosso intuito nesta disciplina, porém acreditamos ter alcan-
çado nosso objetivo que foi mostrar que o funcionamento do verbo na língua vai além
do que propõe os estudos da Gramática Tradicional. Desta forma, esperamos que você
tenha construído novos conhecimentos e refletido sobre outras possibilidades de estu-
do dos verbos no Português do Brasil e, consequentemente, sobre novas maneiras de
aplicá-las em sala de aula com seus futuros alunos.
Contamos com seu empenho e proatividade para aproveitar ao máximo o que essa
disciplina tem a ofercer à sua formação docente e a seu desenvolvimento como estudio-
so e pesquisador da língua. Por isso, siga direto para o material complementar e apro-
funde seus conhecimentos recém-construídos!
Até a próxima!
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Palavras de Classe Aberta
Acesse em nossa biblioteca digital a obra “Palavras de Classe Aberta”, de autoria
de Rodolfo Ilari, que compõe o Volume III, da Gramática do Português Culto falado
no Brasil, sob a coordenação do Prof. Ataliba de Castilho, e leia o capítulo “O Verbo”,
que se inicia na página 65.
A construção morfológica da palavra
Acesse em nossa biblioteca digital a obra “A construção morfológica da palavra”
e leia o capítulo de autoria do Prof. Luiz Carlos Travaglia, intitulado “Flexão verbal,
texto e discurso”.
Gramática descritiva do português brasileiro
Acesse em nossa biblioteca digital a obra “Gramática descritiva do português
brasileiro”, de Mário A. Perini, e leia o capítulo 13, intitulado “Valência”.
Vídeos
Português – Verbo – Aula 2 – Gramática de Valência
https://youtu.be/oTUuvR_MgPU
Leitura
Um Estudo funcional dos verbos em português: dinamicidade e estatividade contextuais
https://bit.ly/3oBUYKp
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Referências
BASÍLIO, M. Teoria Lexical. 8ªed. São Paulo: Ática, 2007. (Coleção princípios). (e-book)
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