Direito Internacional Público I (Resumos)
Direito Internacional Público I (Resumos)
Direito Internacional Público I (Resumos)
Assim, fica em falta qualquer poder constitucional paralelo ao que vigora nos Estados.
De facto, este problema não vem a ser uma dificuldade inultrapassável e a doutrina que vai
estudando esta questão, tem usado como recurso o Art.38º do Estatuto do Tribunal
Internacional do Direito (ETIJ).
Desta forma, dada a importância deste artigo, vale a pena referir as fontes que devem inspirar
este alto tribunal nas respetivas decisões:
Tratados Internacionais: Tratados internacionais são acordos S
formais celebrados entre países ou organizações internacionais.
- Tratados Internacionais Eles são regidos pelo direito internacional e podem abranger I
uma variedade de questões, desde direitos humanos até
- Costumes Internacionais comércio internacional. Os tratados são vinculativos para as G
partes signatárias e criam obrigações legais.
- Princípios Gerais do Direito N
Costumes Internacionais: Costumes internacionais são práticas
- Jurisprudência e comportamentos aceitos pela comunidade internacional como I
regras jurídicas. Eles podem surgir a partir de uma prática geral
- Doutrina e consistente dos estados ao longo do tempo e são considerados F
fontes importantes do direito internacional.
- Equidade I
Princípios Gerais do Direito: Princípios gerais do direito são
princípios jurídicos fundamentais que são reconhecidos em C
muitos sistemas jurídicos ao redor do mundo. Eles servem como
orientação na interpretação e aplicação do direito internacional A
e incluem princípios como a equidade, a justiça e a boa-fé.
D
O Problema é que este art.38 está longe de ser Jurisprudência: A jurisprudência refere-se às decisões de
uma solução perfeita para a determinação tribunais internacionais, como a Corte Internacional de Justiça, O
das fontes do Direito Internacional, uma vez que interpretam e aplicam o direito internacional. Essas decisões
podem estabelecer precedentes importantes para casos futuros S
que comporta imensas deficiências:
e contribuir para o desenvolvimento do direito internacional.
• Umas fruto das idiossincrasias Doutrina: A doutrina consiste nas opiniões e interpretações
(diferente do comportamento típico/ acadêmicas e jurídicas de especialistas no campo do direito
habitual) e outras originadas pela internacional. Isso inclui artigos, livros e análises que ajudam a
pressão de nele vislumbrar (antecipar esclarecer e aprofundar o entendimento das regras e princípios
do direito internacional.
sucesso) aquilo que não pode
oferecer. Equidade: A equidade é um princípio que visa garantir que as
decisões legais sejam justas e equitativas, mesmo quando as
regras estritas do direito não oferecem uma solução adequada
para um caso específico. A equidade é frequentemente invocada
em situações onde a estrita aplicação da lei pode resultar em
injustiça.
Assim, foram encontradas 5 dificuldades, na função que o art.38º do Estatuto do Tribunal
Internacional de Direito (ETIJ), exerce no que diz respeito à problemática da determinação de
fontes de Direito Internacional.
Nomeadamente:
“- nem todas as fontes apresentadas o são proprio sensu, podendo algumas ser mais outra
coisa, mas não a fonte de direito;”
• Identificação das Fontes: Algumas das fontes apresentadas não são claramente
identificadas como fontes de direito, o que pode levar a confusão ou interpretações
equivocadas sobre o que constitui uma fonte normativa.
• Definição Incorreta das Fontes: A definição das fontes normativas é formulada com
erros técnicos, o que significa que a descrição das fontes pode não ser precisa ou
completa, o que pode afetar a compreensão do sistema jurídico.
• Hierarquização das Fontes: A alusão às fontes não é usada para estabelecer uma
hierarquia entre elas. Isso pode ser um problema, já que em muitos sistemas
jurídicos, a hierarquia das fontes é fundamental para determinar qual prevalece em
caso de conflito.
“- a enumeração das fontes, no conjunto das que foram consideradas, levanta o problema
do seu caráter exaustivo, perguntando-se acerca da relevância de outras não contempladas;”
Tendo isto em conta, estas são as 5 dificuldades que contribuíram para a desvalorização do art.38º.
No entanto, não atropelam na totalidade a sua utilidade, uma vez que há ausência de qualquer outra
indicação melhor.
Assim, é importante entender e interpretar o artigo 38º do ETIJ da maneira correta, sem atribuir
a ele um papel que não lhe cabe. Ou seja, não se deve esperar que ele desempenhe uma função
que não está dentro de sua natureza.
Em relação às duas primeiras dificuldades (identificação das fontes e definição incorreta das
fontes), é sugerido que um estudo detalhado e individualizado de cada fonte de direito
internacional seja realizado. Esse estudo pode ajudar a identificar as deficiências e propor
interpretações alternativas quando necessário.
Portanto, o papel do artigo 38º do ETIJ, na classificação das fontes do Direito Internacional será
discutido numa proposta, considerando tanto o seu valor como, um preceito normativo geral
quanto às suas escolhas específicas em relação às fontes. Por outras palavras, o artigo será
considerado na proposta de tipologia das fontes do Direito Internacional devido ao seu possível
impacto nesse contexto.
O artigo 21º do Estatuto do Tribunal Penal Internacional (ERTPI) e destaca como essa solução é
mais adequada do que o artigo 38º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (ETIJ).
Assim passamos à análise detalhada de cada parte do artigo 21º do (Estatuto do Tribunal Penal
Internacional) ERTPI:
Artigo 21º
• Esta é a fonte primária de direito para o Tribunal. O próprio Estatuto do Tribunal Penal
Internacional, juntamente com os elementos que definem os crimes sob a sua jurisdição
e as regras processuais, são a base para a tomada de decisões.
• Se o Estatuto e suas disposições não forem suficientes para resolver um caso, o Tribunal
pode recorrer a tratados internacionais relevantes e aos princípios e normas gerais do
Direito Internacional, especialmente aqueles relacionados ao Direito Internacional dos
Conflitos Armados (ou Direito Internacional Humanitário).
sua jurisdição relativamente ao crime, sempre que esses princípios não sejam
• Isto significa que o Tribunal Penal Internacional pode considerar as suas próprias
interpretações anteriores dos princípios e normas do Direito, como uma fonte relevante
para suas decisões futuras, contribuindo para a consistência na sua jurisprudência.
• Este ponto enfatiza que todas as decisões e interpretações do Tribunal devem ser
consistentes com os direitos humanos internacionalmente reconhecidos e não podem
discriminar com base em características como gênero, idade, raça, religião, opinião
política, etc.
Assim, foram tiradas 3 conclusões a partir da leitura do artigo 21º do Estatuto do Tribunal Penal
Internacional (ERTPI) e, estão a comparar este artigo com o artigo 38º do Estatuto do Tribunal
Internacional de Justiça (ETIJ).
Primeira Conclusão (Primo): O texto afirma que a primeira conclusão é que o objetivo do artigo
21º do ERTPI é identificar as verdadeiras fontes do Direito Internacional Penal que são
aplicáveis pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Isso significa que o artigo 21º procura
determinar quais são as fontes legítimas e relevantes para o Direito Internacional Penal e,
portanto, muitas outras fontes que podem ser consideradas "pretensas" fontes jurídico-
internacionais são dispensadas. O texto destaca que não há menção à jurisprudência e à
doutrina internacionais neste contexto.
Segunda Conclusão (Secundo): A segunda conclusão indica que os princípios jurídicos,
independentemente de como são formulados no artigo 21º, não são tratados como algo
externo ao Direito Internacional Penal. Eles são considerados uma parte integrante desse
sistema jurídico especial. Embora em certo ponto do artigo 21º sejam feitas comparações entre
"tratados" e "princípios", isso não implica que os princípios sejam menos importantes ou
relevantes. Em vez disso, ambos são reconhecidos como componentes do ordenamento jurídico.
Terceira Conclusão (Tertio): A terceira conclusão enfatiza que o elenco das fontes mencionadas
no artigo 21º do ERTPI é explicitamente organizado com base em uma ideia de hierarquia na
sua aplicação. Isso significa que o artigo fornece uma ordem de prioridade para as fontes, com
o Estatuto, os elementos constitutivos do crime e o Regulamento Processual ocupando o
primeiro lugar. Em seguida, tratados, princípios e normas de Direito Internacional são
considerados, e, finalmente, os princípios gerais do Direito retirados do Direito Interno são
usados em caso de falta das fontes anteriores. Essa organização hierárquica esclarece ao
intérprete-aplicador a importância relativa das fontes e reflete uma lógica subsidiária, adequada
para um ramo especializado do Direito Internacional, como o Direito Internacional Penal.
I.
De facto, o artigo 38º do ETIJ tem limitações significativas quando se trata de determinar as
fontes do Direito Internacional. Este não possui a capacidade de estabelecer uma definição
centralizada das fontes com caráter obrigatório geral.
Uma das razões para essa limitação é que o artigo 38º está situado no contexto do ETIJ, que se
refere ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ). O TIJ é um órgão judicial, mas não possui
jurisdição obrigatória a nível internacional. Os Estados não são automaticamente partes do TIJ,
e é necessário manifestar uma vontade expressa para que o tribunal tenha jurisdição sobre um
caso. Isso significa que as decisões do TIJ não são automaticamente vinculativas para todos os
Estados.
Apesar das limitações, o artigo 38º do ETIJ ainda pode ter um papel útil na construção da
tipologia das fontes do Direito Internacional. Em vez de ser visto como uma fonte vinculativa e
centralizadora, o artigo pode ser considerado como uma contribuição, entre muitas outras, para
resolver o problema da determinação das fontes do Direito Internacional. Ele pode fornecer
algumas orientações ou pistas para a construção dessa tipologia.
II.
Fontes do Direito Internacional no Artigo 38º do ETIJ: O artigo 38º do ETIJ lista as seguintes
fontes do Direito Internacional:
o Tratados internacionais
o Costumes internacionais
A base para a tomada de
o Princípios gerais de Direito
decisões no âmbito do Direito
o Jurisprudência Internacional.
o Doutrina
o Equidade
Limitações da Tipologia das Fonte: Críticas à tipologia das fontes apresentada pelo artigo 38º
do ETIJ:
“A mais” “A menos”
• Inclusão de Realidades que não • Omissão de Fontes Normativas
são Verdadeiras Fontes: Efetivas:
➢ Uma crítica é que o artigo 38º ➢ Por outro lado, o artigo
considera como fontes 38º também é criticado
normativas do Direito por não incluir como
Internacional algumas fontes normativas
realidades que não são algumas realidades que
verdadeiras fontes legais. Isto efetivamente o são, mas
significa que inclui elementos que não são mencionadas
que não deveriam ser na enumeração
considerados como fontes apresentada. Ou seja,
legítimas de Direito deixa de reconhecer
Internacional. como fontes legais certos
elementos que deveriam
ser considerados como
III. tal.
Assim, discutem-se as críticas à inclusão de certas fontes no Direito Internacional, de acordo com
o artigo 38º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça:
Princípios Gerais de Direito: Os princípios gerais de Direito não devem ser considerados fontes
normativas do Direito Internacional. Isso ocorre porque esses princípios são parte integrante
do próprio ordenamento normativo, ou seja, eles fazem parte das leis e normas existentes.
Portanto, não faz sentido considerá-los como fontes independentes, uma vez que são ao
mesmo tempo o resultado da aplicação das fontes e parte do sistema normativo em si.
Doutrina: Também se critica a doutrina como fonte normativa. A doutrina refere-se à literatura
jurídica, escrita por estudiosos e acadêmicos do Direito. A crítica argumenta que a doutrina
não tem validade como fonte normativa no Direito Internacional ou no Direito em geral. A
doutrina é vista como uma atividade científica e intelectual, que não cria ou revela normas
jurídicas internacionais. Em vez disso, ela interpreta e analisa o Direito existente.
Equidade: A equidade, mencionada como decisão "ex aequo et bono," é descartada como fonte
de Direito. A equidade é considerada um esquema alternativo de decisão de casos, mas não é
considerada uma fonte normativa, pois não produz normas jurídicas. Ela é usada para resolver
casos com base no senso comum e na justiça, mas não cria novas normas legais.
Assim, algumas das fontes listadas no artigo 38º do ETIJ, como: princípios gerais de Direito, doutrina,
jurisprudência e equidade… não devem ser consideradas como fontes normativas legítimas no Direito
Internacional. Essas fontes são vistas como desempenhando papéis diferentes, como interpretação, análise
ou resolução de casos, mas não como fontes autônomas de normas legais internacionais.
IV. O artigo 38º não consta todas as fontes que existem de Direito Internacional.
~
• Carácter não exaustivo: o artigo 38º do~ETIJ não é exaustivo na apresentação das fontes
do Direito Internacional. Isso significa que o artigo não lista todas as fontes que são
legítimas e relevantes no contexto do Direito Internacional.
• Justificação para a Falta de Exaustividade: A justificação para essa falta de exaustividade
está relacionada ao fato de que existem outras fontes além das mencionadas no artigo
38º que são igualmente importantes e não devem ser esquecidas. Duas dessas fontes
mencionadas são:
• Atos unilaterais dos Estados: Os atos unilaterais realizados pelos Estados são vistos
como fontes normativas no Direito Internacional. Isso significa que as ações
tomadas por um Estado de forma independente podem criar obrigações e normas
no âmbito do Direito Internacional.
Notificação
Estados Renúncia
Promessa
de intensões futuras;
• Incompletude da Apresentação: A apresentação das fontes feita pelo artigo 38º do ETIJ
é incompleta. Esta falta de exaustividade é vista como uma limitação do artigo, que não
reflete completamente a diversidade e a complexidade das fontes do Direito
Internacional. A crítica sugere que esta incompletude não contribui para a qualidade
científica pretendida pelo ETIJ, especialmente considerando que a Carta das Nações
Unidas (CNU) foi um dos primeiros textos a reconhecer a existência de atos
unilaterais como fontes relevantes no Direito Internacional.
"Pretensas" Fontes Normativas: O autor também menciona outras fontes que são
consideradas "pretensas" fontes normativas, ou seja, fontes que têm algum valor, mas
não são tão centrais quanto as "verdadeiras" fontes. Essas fontes incluem:
Equidade: Uma abordagem baseada na justiça e no senso comum que pode ser
usada para resolver casos em situações específicas.
Contudo, o autor menciona a opinião de Jorge Miranda, que propõe apenas quatro fontes
normativas: o costume, o tratado, a decisão internacional e a jurisprudência. No entanto, o
texto argumenta que a jurisprudência, por si só, nunca é uma fonte normativa, mesmo no caso
do "costume jurisprudencial," onde a jurisprudência é considerada como parte do costume,
não como uma fonte separada.
• Relações entre Fontes e Normas Internacionais: Este tópico abordará como as fontes
do Direito Internacional se relacionam com as normas internacionais. Isto envolverá
uma análise de como as fontes são usadas para criar e interpretar normas
internacionais.
VII. Outra particularidade que o Direito Internacional tem suscitado em matéria de fontes do
Direito é a assim designada "soft law", expressão inglesa que tem feito muito sucesso e
que retrata bem a idiossincracia própria deste setor jurídico.
Não se comprometendo com um tipo específico de fonte, "soft law," que é uma expressão
em inglês usada para descrever um conjunto de documentos no âmbito do Direito
Internacional que não possuem a mesma força vinculativa que os tratados e convenções
internacionais. Em vez disso, esses documentos têm uma natureza mais flexível e não
obrigatória.
Embora esses documentos não sejam vinculativos por si só, eles adquirem uma
"juridicidade implícita" ao longo do tempo. Isto significa que, apesar de não serem
legalmente obrigatórios, eles são respeitados e seguidos pelos sujeitos internacionais.
Esta aceitação e conformidade com esses documentos cria uma forma de normatividade
internacional.
✓ Amplitude das Regras: As regras dos tratados não estão limitadas apenas às
partes em litígio, mas podem ter alcances mais amplos e se aplicar a questões
subjetivas e objetivas que não estão estritamente relacionadas às partes
envolvidas em uma disputa. Isso pode indicar que os tratados têm um impacto
mais abrangente do que apenas resolver disputas específicas entre Estados e
podem influenciar outras áreas do Direito Internacional.
ii. Uma vez que os tratados são tão importantes para o direito internacional é
necessário compreender como essa importância evoluiu ao longo do tempo.
Destacam-se alguns fatores como:
iii. Para melhor compreender a natureza dos tratados internacionais como fontes do
Direito Internacional, através de uma tabela aborda-se a sua importância contínua,
apesar das complexidades na categorização desses tratados.
Elementos em
análise Análise
iv. De facto, discutem-se várias figuras afins aos tratados internacionais e as suas
respetivas colocações no quadro do Direito Internacional. Posto isto, vamos analisar:
De forma sucinta, exploram-se diferentes figuras afins aos tratados internacionais e situa-as no
contexto das fontes do Direito Internacional. Destaca-se a natureza principalmente política e não
jurídica de acordos políticos e declarações ou atas finais, enquanto os atos unilaterais não
autônomos dependem de tratados para sua validade. Os contratos internacionais, embora se
assemelhem aos tratados, geralmente carecem do elemento público presente nos tratados
internacionais, mas essa distinção está a tornar-se menos clara em alguns casos, especialmente
quando envolvem Estados ou organizações internacionais e empresas multinacionais.
v.
Terminologia em Portugal
Definição no ETIJ: O autor cita uma passagem do ETIJ que define o costume internacional
como "prova de uma prática geral aceite como Direito". No entanto, ele expressa
desacordo com essa definição por várias razões:
Natureza do Costume: Ele argumenta que o costume não é simplesmente uma "prova"
de uma prática, mas a própria prática que se eleva a uma norma jurídico-internacional.
Essa é uma interpretação diferente da definição do ETIJ.
Vinculação pelo Costume: Ele enfatiza que o costume não vincula os Estados porque é
"aceito", mas sim porque emerge espontaneamente da convivência internacional e,
como resultado, possui uma natureza jurídica.
Refutação de Críticas: O autor menciona que António Cabral de Moncada refuta a crítica à
definição do ETIJ, argumentando que a definição pode ser entendida como esclarecedora
de que nem todos os costumes são utilizáveis pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ). O
TIJ só pode aplicar costumes quando a análise do uso social que eles incorporam e dos
sentidos e noções que os acompanham faz prova de uma prática geral e aceita como
direito.
Assim, concluímos que os costumes internacionais são baseados na combinação destes dois
elementos: a prática reiterada (corpus) e a convicção de que essa prática é uma obrigação legal
(animus). Sem ambos os elementos, um costume internacional não é considerado válido ou
eficaz como fonte de Direito Internacional. Esta análise enfatiza a importância da consistência
na prática e na crença de que essa prática é uma obrigação legal para a formação de costumes
internacionais.
III. O autor Jorge Bacelar discute a evolução dos critérios para caracterizar o elemento material
do costume internacional, destacando as mudanças nas exigências ao longo do tempo. Ele
aborda a flexibilização das condições para a formação de costumes internacionais e como isso
afeta a maneira como o Direito Internacional é aplicado. Vamos analisar mais detalhadamente:
Mudança nas Exigências do Elemento Material: O autor observa que ao longo do tempo, houve
uma mudança significativa nas exigências para a formação de costumes internacionais, tornando
o Direito Internacional menos exigente nesse aspeto.
Antigas Exigências: No passado, era comum exigir que um costume internacional fosse formado
por uma prática generalizada e imemorial. Isso significava que a prática deveria ser realizada por
uma quantidade significativa de sujeitos internacionais e ter uma longa história. Essas condições
eram consideradas necessárias para a validação de um costume.
Número de Sujeitos Envolvidos: Ele sugere que um costume internacional pode ser
reconhecido mesmo que a prática seja executada por um número restrito de sujeitos.
Isso indica que normas costumeiras podem ser regionais ou locais e ainda serem válidas
no Direito Internacional, desde que haja uma consistência na prática e nenhuma
contradição.
Natureza do Elemento Material: O autor enfatiza que o elemento material do costume deve ser
baseado numa prática constante e uniforme, evitando oscilações de comportamento.
Flexibilidade Sociológica: Este reconhece que o costume internacional é mais efetivo do ponto
de vista sociológico, mas não é infalível. Situações de desvio pontual podem ocorrer, mas isso
não enfraquece necessariamente a uniformidade da prática.
IV.
• O autor observa que a prática do TIJ não tem sido uniforme em relação à teoria
voluntarista.
Análise: Sem sombra de dúvidas, este destaca a complexidade da fundamentação dos costumes
internacionais e a mudança de perspetiva em relação às teorias voluntaristas. Jorge Bacelar
argumenta que a base desses costumes deve ser mais profunda do que o mero consentimento
dos Estados, defendendo que ela deve estar ligada a valores fundamentais do Direito Natural.
Além disso, ele destaca a variação nas decisões do TIJ em relação a essa questão, mostrando que
não há um consenso absoluto sobre o fundamento dos costumes internacionais.
VI. Jorge Bacelar aborda a questão da prova dos costumes internacionais, destacando os meios
e métodos utilizados no Direito Internacional para estabelecer a existência desses costumes. Ele
também menciona o papel crucial dos atos jurídicos internacionais, decisões judiciais e opiniões
de jurisconsultos na identificação de indícios da existência de costumes internacionais.
• Decisões judiciais.
• No entanto, ele ressalta que esses meios de prova são considerados secundários
em comparação com os atos jurídicos internacionais.
• No caso do direito de asilo entre Colômbia e Peru, o TIJ reconheceu que a parte
demandante não conseguiu provar a existência de um costume específico
relativo à qualificação unilateral dos pressupostos do asilo, embora tenha
aceitado a existência de um costume geral sobre o direito costumeiro de asilo
na América Latina.
Análise: Por meio desta explicação, destaca-se a importância dos meios de prova, especialmente
os atos jurídicos internacionais, na determinação da existência de costumes internacionais. Ele
também destaca a responsabilidade da parte demandante em provar a existência desses
costumes em litígios internacionais, conforme decidido pelo TIJ em casos específicos. A
discussão sobre ônus da prova é relevante no contexto do Direito Internacional, onde a
existência de costumes pode desempenhar um papel crucial em disputas entre Estados.
I. Jorge Bacelar aborda a questão dos atos unilaterais internacionais, destacando a sua relevância
no contexto do Direito Internacional, mesmo que não sejam explicitamente mencionados no
artigo 38º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (ETIJ). Ele argumenta que a omissão
no ETIJ não impede sua consideração como fonte normativa do Direito Internacional, pois sua
validade é inerente e independente de outros preceitos.
• O autor argumenta que a validade dos atos unilaterais no plano das fontes
normativas do Direito Internacional é intrínseca, ou seja, esses atos têm valor
por si mesmos, não necessitando de respaldo de outros preceitos legais ou
tratados.
Análise: Jorge Bacelar destaca a importância dos atos unilaterais internacionais como fonte do
Direito Internacional, mesmo que não sejam expressamente mencionados em certos
documentos legais, como o ETIJ. Ele utiliza exemplos de decisões jurisprudenciais para ilustrar
como esses atos foram reconhecidos como relevantes no contexto das relações internacionais e
como sua validade é intrínseca. Isso ressalta a flexibilidade e a adaptabilidade do Direito
Internacional para lidar com uma ampla gama de situações e práticas diplomáticas.
II. Jorge Bacelar discute a natureza dos atos jurídico-internacionais unilaterais e destaca a
importância de distinguir entre aqueles que são verdadeiramente fontes do Direito Internacional
e os que não o são. Aqui estão os principais pontos abordados:
- Bacelar introduz a ideia de "atos unilaterais não autônomos", que são atos que não possuem
força jurídico-internacional por si mesmos, mas dependem de outras fontes normativas para sua
validade e eficácia.
- Ele menciona exemplos desses atos, como notificações, reservas ou denúncias, que estão
diretamente relacionados a tratados internacionais.
- O autor destaca que nem todos os atos unilaterais devem ser considerados como verdadeiras
fontes do Direito Internacional, não apenas por sua dependência de outras fontes normativas,
mas também porque seus efeitos podem não alcançar a categoria de efeitos normativos.
- Bacelar reconhece que os atos unilaterais podem variar em termos de conteúdo e natureza.
- Ele observa que muitos atos unilaterais têm aspetos em comum com atos unilaterais
normativos, que podem criar direitos e deveres e produzir efeitos jurídicos no contexto das
relações internacionais.
- O autor cita Albino de Azevedo Soares para enfatizar que a produção de efeitos jurídicos em
atos unilaterais está relacionada à atribuição de direitos, deveres ou ônus, sendo legitimada por
princípios que os antecedem.
Análise: Jorge Bacelar explora a complexidade dos atos unilaterais internacionais, destacando
que nem todos podem ser considerados fontes do Direito Internacional, especialmente quando
dependem de outras fontes normativas para sua validade. Ele reconhece a diversidade de
conteúdo desses atos e a necessidade de considerar sua natureza e efeitos específicos ao avaliar
seu papel no Direito Internacional. A citação de Albino de Azevedo Soares enfatiza a importância
de princípios subjacentes na produção de efeitos jurídicos em atos unilaterais.
III. O autor Jorge Bacelar descreve cinco categorias de atos unilaterais dos Estados no contexto
do Direito Internacional:
1. Notificação:
2. Reconhecimento:
3. Promessa:
4. Renúncia:
5. Protesto:
Estas categorias representam diferentes tipos de atos unilaterais que os Estados podem realizar
no âmbito do Direito Internacional. Cada uma delas tem implicações jurídicas específicas e pode
afetar as relações entre Estados e o sistema jurídico internacional como um todo.
IV. O autor Jorge Bacelar explora a ideia de atos unilaterais no contexto de organizações
internacionais e como esses atos podem ser uma fonte de Direito Internacional. Ele menciona
que os atos unilaterais das organizações internacionais têm ganhado importância recentemente.
O autor descreve algumas classificações possíveis para esses atos unilaterais das organizações
internacionais:
Atos vínculativos e atos consultivos: Alguns atos produzem efeitos obrigatórios,
enquanto outros contêm apenas recomendações ou pareceres.
Atos normativos e atos não normativos: Alguns atos incorporam normas jurídicas,
enquanto outros têm apenas efeitos individuais e concretos.
1. Atos legislativos: Atos que têm natureza legislativa, ou seja, que envolvem a criação de
normas ou regulamentos.
O autor observa que a consideração dos atos unilaterais das organizações internacionais como
fonte do Direito Internacional depende principalmente da sua capacidade de produzir normas
jurídicas. Alguns desses atos podem ter autonomia em relação aos tratados constitucionais que
estabelecem as organizações internacionais, pois podem ser impostos mesmo contra os Estados
que não concordaram com sua produção ou que não estão representados no órgão que emitiu
a decisão. Isto destaca a complexidade das fontes do Direito Internacional e como os atos
unilaterais podem desempenhar um papel significativo nesse contexto.
É de relevância ressaltar, a importância dos princípios gerais de Direito Internacional como uma
fonte significativa desse campo do direito. No entanto, o autor também destaca críticas à
formulação específica do artigo 38º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça,
argumentando que essa formulação pode ser problemática devido a possíveis conotações
discriminatórias e à exclusão de outros sujeitos internacionais na contribuição para esses
princípios.
II. O autor vem a discutir a natureza e o papel dos princípios gerais de Direito no contexto do
Direito Internacional.
Em suma, questiona-se se os princípios gerais de Direito devem ser tratados como uma fonte
principal do Direito Internacional ou se são mais apropriados como orientações gerais que
auxiliam na aplicação das normas internacionais. A resposta a essa pergunta não é fornecida
explicitamente (no texto do manual), deixando espaço para discussão e debate.
III. Esta formulação presente no Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (ETIJ) em relação
à identificação dos princípios gerais de Direito Internacional e levanta questões sobre a limitação
da sua aceitabilidade.
Problemas com a Formulação: O autor argumenta que a formulação do ETIJ não é abrangente
o suficiente e pode parecer destinada a excluir a aceitação generalizada de qualquer princípio
geral de Direito. A crítica principal é que a referência a "nações civilizadas" não é precisa, e o
conceito de ser "civilizado" não é necessariamente cultural ou tecnológico.
Utilidade da Expressão "Reconhecidos pelas Nações Civilizadas: Sugere que a utilidade dessa
expressão é limitada e se resume a não aceitar princípios gerais de Direito que venham de
sistemas jurídicos que desrespeitem o Direito Internacional. No entanto, o autor coloca em
dúvida a eficácia dessa restrição, argumentando que é improvável que sistemas jurídicos não
respeitem o Direito Internacional a ponto de derivar princípios gerais que não mereçam
reconhecimento.
24. A Jurisprudência
- O texto argumenta que a formulação do preceito não foi adequada na localização conceitual e
funcional da jurisprudência como fonte do Direito Internacional.
- O autor questiona a expressão "meio auxiliar para a determinação das regras de Direito",
afirmando que ela não se ajusta à ideia de considerar a jurisprudência como uma fonte de
Direito, pois uma fonte é uma fonte direta e não um meio auxiliar.
- O autor questiona a ressalva feita em relação ao caso julgado, considerando-a limitada demais
e destacando que as decisões jurisprudenciais são restritas por esses limites.
- Por fim, o texto sugere que a referência à determinação das regras de Direito pode não ser a
tarefa mais importante atribuída à jurisprudência, enfatizando que sua principal contribuição
está na descoberta de princípios gerais de Direito.
II.
Neste trecho, o texto explora o papel da jurisprudência no Direito Internacional e destaca que
seu valor geral é limitado, principalmente porque não vigora a regra do precedente, como
acontece em sistemas jurídicos internos baseados na common law. Algumas observações
importantes são feitas:
- No Direito Internacional, a regra do precedente, que exige que as decisões futuras sigam uma
primeira decisão sobre uma questão jurídica semelhante, não é aplicada.
- Essa regra é comum em sistemas jurídicos internos da família do Direito anglo-saxónico, como
a common law, mas não se aplica ao Direito Internacional.
- As opiniões expressas pelos juízes, seja concordando com a decisão maioritária, mas seguindo
outra fundamentação, ou discordando da decisão, não transformam a jurisprudência em fonte
direta do Direito Internacional.
- Mesmo nessas situações, a jurisprudência não age como uma fonte direta, sendo que, no
primeiro caso, a fonte predominante é o costume, e no segundo caso, o órgão judicial adquire
uma faculdade normativa adicional, além de sua função judicial.
25. A Doutrina
I.
- A palavra "doutrina" pode ter dois sentidos distintos no contexto do Direito Internacional.
- No primeiro sentido, refere-se à orientação de política externa adotada pelos Estados, muitas
vezes associada aos líderes políticos, como a "doutrina Monroe" ou a "doutrina Brejnev".
- A referência à doutrina pode ser válida tanto a nível individual quanto a nível coletivo, para se
referir às sociedades científicas internacionais.
26. A Equidade
I. Neste trecho, o texto aborda a equidade como uma das pseudo-fontes normativas no contexto
do Direito Internacional. Aqui estão os principais pontos abordados:
- No entanto, essa menção é feita separadamente das outras fontes normativas, sugerindo uma
posição diferente para a equidade em relação a outras fontes.
- Existem dúvidas sobre se a referência às decisões "ex aequo et bono" corresponde estritamente
à equidade, embora as expressões sejam equivalentes.
Assim, destaca-se as ambiguidades em torno da equidade como uma possível fonte normativa
no Direito Internacional e como ela pode ser interpretada e aplicada em relação ao Direito
Internacional propriamente dito.
1. Definição de Equidade:
- Significa que os casos são resolvidos com base em critérios desenvolvidos pelo próprio
aplicador da lei, ajustando a decisão às características específicas de cada situação.
2. Referência no Artigo 38º do ETIJ:
3. Natureza da Equidade:
- A equidade não se enquadra como uma fonte de Direito no sentido tradicional, pois não cria
critérios materiais de decisão normativos.
- Em vez disso, a equidade é um critério que é moldado pelo julgador com base no caso
específico, refletindo seu senso subjetivo de justiça.
- Isso significa que a equidade não fornece orientações normativas gerais aplicáveis a casos
futuros.
- Embora a equidade permita uma abordagem flexível para lidar com casos individuais, não
implica arbitrariedade.
- O julgamento com base na equidade busca ajustar o critério de decisão de acordo com as
peculiaridades do caso, resultando em decisões mais refinadas.
Em resumo, a equidade é uma abordagem que procura aplicar a justiça de forma flexível e
adaptável aos casos individuais, mas não se encaixa na categoria de fonte normativa de Direito
Internacional devido à sua natureza subjetiva e à falta de orientações normativas gerais.
III. Condições necessárias para a utilização da equidade como esquema de decisão no âmbito do
Direito Internacional:
- Uma das condições fundamentais para a aplicação da equidade é o acordo das partes
envolvidas no litígio internacional.
- Esse acordo pode ser expresso ad hoc, ou seja, manifestado especificamente para o caso em
questão.
- A equidade não pode ser usada para substituir normas internacionais imperativas que são
obrigatórias e não podem ser contornadas pela vontade das partes.
Estas duas condições são cruciais para determinar se a equidade pode ser aplicada como critério
de decisão em um caso específico de Direito Internacional. Sem o acordo das partes e a
disponibilidade das normas internacionais em questão, a aplicação da equidade pode não ser
viável.
IV.
A equidade pode ser utilizada como critério de decisão no Direito Internacional não apenas com
base na vontade das partes, como previsto no Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (ETIJ),
mas também por outras fontes internacionais. Isso pode ocorrer de duas maneiras principais:
- Em algumas áreas do Direito Internacional, como o Direito do Mar, a equidade pode ser
estabelecida como um critério válido de decisão por meio de normas costumeiras.
- Isto significa que a equidade é reconhecida como uma alternativa legítima para a resolução
de questões específicas, mesmo na ausência de um acordo específico das partes. No exemplo
citado, a delimitação dos espaços marítimos pode ser feita com recurso à equidade com base
em normas costumeiras.
2. Completar o Direito Internacional (Equidade Praeter Legem): A equidade pode ser usada de
forma subsidiária para preencher lacunas ou aplicar critérios formais de decisão que não estejam
claramente definidos nas fontes normativas existentes. Isso ocorre quando as normas existentes
não abordam adequadamente uma determinada situação, e a equidade é usada para suprir essa
lacuna.
3. Substituir o Direito Internacional (Equidade Contra Legem): Esta função é a mais controversa,
pois envolve a substituição completa do Direito Internacional estrito por critérios de decisão
baseados na equidade. No entanto, essa substituição só pode ocorrer quando as partes
envolvidas em uma disputa internacional concordam expressamente com essa abordagem. A
equidade contra legem é permitida pelo Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (ETIJ)
quando as partes estão de acordo, e o Direito Internacional que está sendo afastado é de
natureza dispositiva, ou seja, não é imperativo.
A terceira função, equidade contra legem, é a mais controversa, pois implica a renúncia ao
Direito Internacional estrito em nome de uma orientação concreta e individual desejada pelas
partes envolvidas. No entanto, desde que haja acordo mútuo das partes e o Direito Internacional
afastado seja dispositivo (não imperativo), essa função é aceitável de acordo com o
entendimento apresentado.