2013 PaolaMatosHora
2013 PaolaMatosHora
2013 PaolaMatosHora
FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE
BRASÍLIA/DF
MARÇO DE 2013
i
BRASÍLIA/DF
MARÇO DE 2013
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de
Brasília. Acervo 1006793.
Ho r a , Pao l a Ma t os da .
H811s Sen t i dos e s i gn i f i cados do Í nd i ce Ge r a l de Cu r sos
na r egu l ação da qua l i dade da educação supe r i o r / Pao l a
Ma t os da Ho r a . - - 2013 .
x i , 240 f . : i l . ; 30 cm.
COMISSÃO EXAMINADORA
_________________________________________________________________________
Professora Dra. Kátia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da Silva
Examinadora – Universidade de Brasília (UnB)
_________________________________________________________________________
Professora Dra. Maria Abádia da Silva
Suplente – Universidade de Brasília (UnB)
iii
AGRADECIMENTOS
Ao meu irmão Marcus Vinícius pelo companheirismo, paciência e presteza. Não há dúvidas
de que a minha vida é muito mais alegre com a sua presença.
Aos professores Dra. Marília Fonseca e Dr. Joaquim José Soares Neto pela colaboração
durante o exame de qualificação. As ponderações contribuíram para que eu pudesse aprimorar
o meu trabalho. Ao professor Neto, gostaria ainda de agradecer o fato de possibilitar a minha
primeira experiência profissional na área de avaliação.
Às minhas amigas pedagogas Elianice, Elisangela, Luana, Maria Eunice e Pollyanna pelos
momentos de descontração e por compreenderem as minhas inúmeras ausências durante esses
dois anos.
Aos estudantes de mestrado Marcos Felipe e de doutorado Maria Marta e Val que ingressaram
junto comigo no Programa Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de
Brasília, que com o passar dos semestres tornaram-se grandes amigos, com os quais pude
partilhar as angústias e conquistas dessa caminhada.
Aos entrevistados que se disponibilizaram a ceder algumas horas de trabalho e contribuir com
a minha pesquisa.
v
RESUMO
ABSTRACT
The dissertation deals with a subject which is permeated with contradictions: the regulation of
Brazilian higher education held by rates. The contradictions arise owing to the incorporation
of the rates to the current evaluation policy through decrees. Among the rates which make up
the Sinaes (National System of College Assessment), there is the General Index of Courses
(IGC), object of this study, that aims to measure the quality of higher education institutions
and is also a mechanism of regulation held by the State. IGC is a weighted average concept
for undergraduate and graduation stricto sensu courses. Given this context, the research aimed
to investigate how the General Index of Courses induced a quality degree in an undergraduate
Language and Literature course of four higher education institution in Federal District, for the
evaluative cycles of 2008 and 2011. An exploratory quali-quantitative approach of was used
for the study, with the use of semi-structured interviews and documentary analysis for data
collection. Regarding the institutions, they were chosen considering academic organization,
administrative category and geographic location criteria. Of each institution the manager, the
chairman of Committee for Assessment (CPA) and the coordinator of the undergraduate
course were chosen as research subjects. For data analysis were used content categories –
evaluation as public policy, quality in higher education and regulation – and methodological
ones – mediation and contradiction – which assisted in the impression of a dialectical
approach to the study, in order to reach specific objectives: to analyze the concept Enade as
one of the instruments of rates obtained by higher education institutions chosen for the study;
to investigate from institutional policies the quality conception which guides the academic
management of the surveyed establishments; to examine the strategies adopted by the chosen
institutions regarding the use of the results of their IGC as an investment in quality, taking up
as reference the surveyed courses; and to examine the relationship between the IGC and the
regulation held in undergraduate Language and Literature course of the investigated
institutions. The survey results showed the IGC is not necessarily linked to the induction of
quality in higher education institutions, but it is used as a way to control and adjust the
evaluation policy of these establishments. Micro regulation occurs differently in each one,
showing their concern in attending the demands of policy evaluation. However reorientation
of conduct is not always associated with investments in quality. Regarding the policy
evaluation, the institutions recognize the importance of the IGC, but the rate still has many
failures and cannot analyze their complexity and heterogeneity, indicating little qualitative
information which scarcely subsidies possible local interventions.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Matrículas nas IES do DF, por categoria administrativa (1995-2001) .................. 83
DF Distrito Federal
GT Grupo de Trabalho
RA Região Administrativa
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 12
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................205
APÊNDICES ..........................................................................................................................226
ANEXOS................................................................................................................................233
12
INTRODUÇÃO
outro lado, partem de uma avaliação capaz de fazer um mapeamento da realidade dos
estabelecimentos educacionais e que com isso, oferece subsídios para que as instituições
invistam na qualidade de ensino.
Assim, a utilização dos resultados das avaliações pode tender a caminhos que
privilegiem os rankings ou que visem ao levantamento dos pontos positivos e negativos de
determinada realidade. Refletir sobre essa dicotomia, em relação ao uso dos dados obtidos nas
avaliações, é abrir uma discussão acerca da intencionalidade com que os resultados da
avaliação vêm sendo utilizados.
Os rankings refletem uma visão quantitativa que, muitas vezes, é condenada pelo fato
de trazer apenas um caráter de classificação, fazendo com que a avaliação assuma uma
perspectiva meritocrática. A polêmica acerca dos rankings é crescente e traz consigo outro
ponto: os índices, que vêm sendo debatidos cada vez mais nos sistemas de avaliação da
educação básica e superior brasileira.
A presença dos índices em sistemas de avaliação traz questões que merecem reflexões
e debates, uma vez que falar deles não é algo simples, pois conferem maior complexidade ao
processo de avaliação. Assim, um dos pressupostos da pesquisa é de que o índice investigado,
como qualquer outro índice, não capta a realidade, mas tem como objetivo sintetizar os
fenômenos, sem assim traduzir a complexidade dos mesmos. Grande parte das discussões é
desfavorável à utilização dos índices, visto que estes acabam sendo relacionados apenas a
uma avaliação quantitativa, cujo intuito é a classificação. Todavia, é importante pensar sobre
os motivos que levam os índices a serem incorporados em uma avaliação, bem como sua
intencionalidade no contexto da política educacional na qual se inserem.
No cenário de problematização dos índices na educação superior, a justificativa da
presente dissertação apresenta-se em três dimensões que acabam se inter-relacionando e se
complementando em virtude da complexidade do tema. A primeira delas é de natureza
profissional, pois apesar de atualmente trabalhar com a educação básica e pública do Distrito
Federal, a vontade de abordar o tema da avaliação surgiu quando, ainda na graduação, tive a
oportunidade de trabalhar na área de avaliação educacional do Centro de Promoção e Seleção
de Eventos (Cespe) da Universidade de Brasília (UnB). Essa experiência me proporcionou um
imenso aprendizado em uma área que até então era apenas conhecida na teoria. Ainda no
Cespe, pude trabalhar com diversas avaliações, embora tenha tido um envolvimento maior
com a avaliação do Sinaes. Esse envolvimento proporcionou o surgimento de alguns
questionamentos, sobretudo em relação ao uso dos índices no referido sistema. A questão
14
necessita ser investigada, uma vez que os índices na avaliação da educação superior trazem
impactos diversos, não só para a instituição mas também em relação à concepção de avaliação
como política pública.
Quanto à segunda dimensão – acadêmica, – é importante analisar junto às instituições
de educação superior selecionadas para o estudo1 as repercussões das avaliações externas e de
que forma elas se apropriam dos resultados obtidos. Há um discurso na academia que
apresenta diversas contradições do Sinaes, que vão desde a sua elaboração até a
implementação em governos diferentes (BARREYRO e ROTHEN, 2006). Logo, faz-se
necessário avaliar as percepções daqueles que estão diretamente ligados a essa política,
notadamente no que se refere à sua execução. Com efeito, avaliar não é algo fácil, mas
necessário; porém, essa necessidade diverge quanto às finalidades que a avaliação assume não
só na educação superior como um todo, mas também nas instituições que possuem cada qual
uma identidade própria, seja para fins didáticos, seja para fins de acreditação2, de prestação de
contas, entre tantos outros. Assim, é importante a reflexão acerca de como a avaliação é
utilizada para a elevação da qualidade educacional. Diante do exposto, a realização do
presente trabalho justifica-se, academicamente, pelo fato de analisar como a avaliação é
utilizada, tendo em vista a melhoria da qualidade nas instituições de educação superior. A
compreensão acerca da utilização dos índices também deve ser considerada quando se fala em
qualidade educacional. Essa compreensão se faz cada vez mais necessária em virtude do
espaço que os índices vêm assumindo na avaliação da educação superior. Desta forma, é
preciso investigar de que maneira as avaliações, sobretudo seus índices, são usadas nas IES
visando à qualidade.
No que se refere à dimensão pessoal, a avaliação é um tema que considero desafiador
em virtude das funções que ela desempenha, pois dependendo da maneira como é formulada e
dos objetivos que pretende atingir, acaba por assumir papéis diferentes e até mesmo
contraditórios. Acreditamos que as contradições que surgem são importantes para que se
possa pensar e repensar a função da avaliação na educação. Desta forma, no âmbito
educacional, observamos que, com o passar dos anos, a avaliação vem ganhando um espaço
1
Os critérios para a definição das instituições de educação superior selecionadas para o estudo são discutidos no
capítulo 3 da dissertação, ao tratarmos da metodologia.
2
De acordo com Almeida Júnior e Catani (2009), a palavra acreditação não existe em português. Recentemente,
ela vem sendo utilizada no Brasil correspondendo a um termo aproximado à palavra certificação. Em inglês
(accreditation) ou espanhol (acreditación) equivale a um processo baseado em padrões e critérios objetivos
para assegurar, vale dizer, garantir e reconhecer, a qualidade de uma instituição, curso ou programa de um
dado sistema educativo.
15
cada vez maior, logo, julgamos imprescindível compreender quais as funções que a avaliação
assume, principalmente quando a consideramos como uma das formas de atestar qualidade às
instituições de ensino.
Considerando o exposto, as dimensões que justificaram a escolha do tema desta
dissertação mostram-se relacionadas, principalmente, à complexidade da avaliação da
educação superior brasileira e aos discursos inseridos nessa problemática, sobretudo as
questões dos índices e da qualidade. Falar desses dois temas é trazer à tona conceitos que
podem variar de acordo com o ambiente educacional no qual estão inseridos, bem como com
o juízo de valor atribuído a esses dois aspectos pelos sujeitos que trabalham diretamente com
a avaliação. Assim, para subsidiar a investigação da avaliação no contexto do Sinaes, a
pergunta que norteou a pesquisa foi: como o Índice Geral de Cursos afere a qualidade das IES
públicas e privadas do DF, tendo como recorte do estudo o curso de licenciatura em Letras?
O curso de licenciatura em Letras foi foco da pesquisa por pertencer à área de
educação, sobretudo no que concerne à formação de professores. Outro fator preponderante
para a escolha do curso foi o fato de os seus estudantes terem sido avaliados pelo Enade nos
ciclos de 2008 e 2011. Estes dois critérios de seleção permitiram a delimitação da pesquisa e
possibilitaram a investigação de como o IGC pode induzir a qualidade nas instituições e de
que forma essa qualidade reverbera no referido curso.
Tendo em vista o tema da pesquisa, a dissertação tem o intuito de empregar uma visão
da perspectiva dialética3, uma vez que é necessário levar em conta o contexto histórico do
Brasil e do Distrito Federal no que se refere à discussão da avaliação da educação superior.
Para que os fatores que implicam na qualidade, evidenciados pelo IGC, sejam desmistificados
é preciso abstraí-los, fazendo um recorte desse índice sem, no entanto, nos desfazermos da
totalidade do qual ele faz parte. No caso, não se pode desvencilhar o índice do seu contexto
macro, que é a política de avaliação da educação superior.
O exercício de abstrair elementos para uma melhor compreensão do objeto e retomá-
los posteriormente na realidade em que se inserem é essencial à perspectiva dialética. Pois é
desta forma que se pode entender melhor os fenômenos e a relação que estes estabelecem com
o contexto. Ao retornar com os dados dessa abstração para o concreto – considerando os
fatores históricos e os envolvidos diretamente no processo de avaliação – é que se pode
3
Para Konder (1998), a dialética na Grécia antiga era entendida como a arte do dialógo. No entanto, com o
passar dos anos é compreendida por meio da formulação de uma tese pela argumentação, na qual há a distinção
dos conceitos usados no diálogo. Ainda para o autor, a dialética assume outro significado na acepção moderna
do termo, tendo como base as contradições existentes na realidade; pode-se afirmar que é o modo de
compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação.
16
analisar de que forma o IGC estabelece uma relação com a qualidade de ensino das IES, uma
vez que é impossível falar deste índice isoladamente, sem tratar os demais fatores que
auxiliam em sua composição. Muitas vezes, o índice acaba se sobressaindo em todo o
processo de avaliação, sendo visto como uma das partes mais importantes, pois ganha
notoriedade perante a sociedade civil que frequentemente desconhece o percurso histórico e
político que direta ou indiretamente deu origem àquele número que representa a IES.
Ainda no esforço de imprimir ao trabalho uma abordagem dialética, ressalta-se que as
categorias metodológicas dão um suporte às analises sob esse escopo, permitindo assim uma
maior compreensão do movimento que perpassa a política de avaliação vigente. Para tanto
foram elencadas as categorias da contradição e mediação, pois estas, além de se adequarem
melhor à proposta metodológica delineada para esta dissertação, possibilitam o entendimento
de forma contextualizada dos fenômenos investigados.
Para discutir o IGC na regulação da qualidade do curso de licenciatura em Letras nas
IES do DF, a dissertação toma três categorias de análise: avaliação como política pública,
regulação e qualidade na educação superior, buscando compreendê-las no processo de
historicidade que permeia a elaboração das políticas de avaliação no Brasil. As três categorias
citadas estão inter-relacionadas e, por meio delas é possível ter uma melhor compreensão, de
forma global, sobre a discussão do IGC, desenvolvida ao longo do trabalho.
Para a análise do IGC foram selecionadas quatro instituições de educação superior
atendendo aos critérios de organização acadêmica, categoria administrativa e localização
geográfica. Desse ponto de vista, foram elencados para o estudo estabelecimentos que
possuem organização acadêmica diferenciada – universidade, centro universitário e faculdade,
dentre as quais estão IES públicas e privadas. No que se refere à localização as instituições
estão distribuídas nas Regiões Administrativas4 de Brasília e Taguatinga. Nestas IES os
sujeitos eleitos para a pesquisa, pelo fato de possuírem maior propriedade para dialogarem
sobre o assunto, foram os gestores, o presidente da Comissão Própria de Avaliação (CPA) e o
coordenador do curso de Letras. Tendo em vista a complexidade das informações obtidas,
bem como da temática abordada nesta dissertação, optou-se pela pesquisa de abordagem
quali-quantitativa, do tipo exploratória.
4
De acordo com a lei nº 4.545 de 10 de dezembro de 1964, o Distrito Federal seria dividido em 08 (oito)
Regiões Administrativas: Taguatinga, Planaltina, Sobradinho, Brazlândia, Gama, Jardim, Paranoá e Brasília. A
divisão tinha como objetivo a descentralização e a coordenação dos serviços de natureza local. A Região
Administrativa compreenderia áreas urbanas, áreas de expansão urbana e áreas rurais a serem fixadas por
decreto do Prefeito do Distrito Federal. O número de Regiões foi ampliado e em 2013, o DF contava com 31
Regiões Administrativas. O termo foi usado ao longo do trabalho para designar as cidades que constituem o DF.
17
Em relação à regulação, Barroso (2005) afirma que há uma gama de significados que
fazem referência ao termo. Porém, o autor ressalta que há a predominância de dois conceitos,
um no qual o Estado é responsável por intervir na condução das políticas e outro que procura
quebrar a hegemonia deste, abrindo espaço para que outros atores participem do processo.
Esse último conceito de regulação foi selecionado para a discussão proposta nesta dissertação,
pois se adequa melhor aos objetivos do trabalho. Ainda no que se refere à regulação, Oliveira
(2012) conclui que esta tem por objetivo detectar e corrigir fatores que causam desequilíbrio a
um sistema, mas nem sempre atingirá um padrão de homogeneidade, quando aplicada a um
meio social.
A regulação não é sinônimo de avaliação, pois de acordo com Freitas (2011) esta
última precede a anterior que, por sua vez, é necessária porque possibilita o controle por meio
do poder público. No Sinaes a regulação é realizada por intermédio dos índices, criados com o
intuito de “dar visibilidade à avaliação e suporte para a regulação” (WEBER, 2010, p. 1.263).
Assim, os índices auxiliariam no processo de regulação, quantificando a qualidade das
instituições. Todavia, o que se observa é que os índices não se destinam somente a medir a
qualidade: eles fazem com que as instituições se adequem à política nacional, o que não
necessariamente pode refletir a qualidade do processo educativo, outro ponto de contradição.
A adequação à política nacional de avaliação é contraditória, uma vez que as instituições
tendem a atender às demandas impostas pelo sistema para não sofrerem as penalidades
oriundas da regulação. Nesse contexto, não se pode afirmar que a qualidade educacional é
também uma das preocupações das IES.
Ainda no que se refere à regulação, com a inserção do IGC no Sinaes, houve um
direcionamento das atenções para os resultados obtidos pelos estudantes no Enade. O exame
assumiu grandes proporções, pois impacta diretamente no cálculo de dois índices: Conceito
Preliminar de Curso (CPC) e Índice Geral de Cursos (IGC) – sendo o último responsável por
garantir o funcionamento da IES, pois age como mecanismo da regulação. Desta maneira,
algumas instituições, por já terem tido experiências negativas com o conceito Enade, revelam
uma preocupação ainda maior em relação ao desempenho dos estudantes no exame, fato
evidenciado na fala do Coordenador de Curso 1
20
[...] a gente tem que acompanhar o que “cai” no Enade para trabalhar isso em
sala de aula e preparando o aluno, porque o Enade é um dos pontos
importantes para justamente compor o IGC (CC15, informação verbal).6
Na verdade, o Enade influencia diretamente o cálculo do CPC e este índice, por sua
vez, incide no cálculo do IGC. Apesar do pequeno equívoco na fala do entrevistado, observa-
se que o Enade destaca-se dos demais componentes do Sinaes pelo fato de influenciar
diretamente e indiretamente no cômputo dos índices. Isto faz com que as adequações à
política de avaliação transformem-se em forma de controle do desempenho dos sujeitos
envolvidos no processo. As ações em torno do exame destacam-se a ponto de transformarem
toda a rotina da instituição, visando aos resultados positivos e à fuga das penalidades, frutos
da regulação.
A mudança que ocorre em relação à utilização dos índices é resultado do movimento
que os atores dão à política pública. Em um primeiro momento, o intuito era de que os índices
evidenciassem a qualidade das instituições e dos cursos, mas o que se observa é que a
apropriação destes acaba por modificar seu objetivo inicial. Assim, pode-se inferir que as
instituições usam os índices como um parâmetro quantitativo que formalmente mede a
qualidade, mas as condutas que elas desenvolvem não necessariamente podem estabelecer
uma relação com a busca da qualidade educacional. Esta ação cria uma dicotomia entre o que
foi formulado como política de avaliação pelo Estado e o que é executado nas instituições.
O movimento na análise da política, sobretudo dos índices, é imprescindível, pois as
transformações na sociedade, como afirma Dias Sobrinho (2000), sempre ocorreram, uma vez
que esta esteve e continua em constante transformação desde os seus primórdios. Assim,
houve um esforço de permear as reflexões e análises feitas nesta dissertação com o olhar
dialético, tendo em vista ser impossível negar as mudanças ocorridas na história da avaliação
da educação superior, bem como as contradições nela presentes. Neste trabalho tem-se a
clareza de que o olhar dialético auxilia na elucidação e compreensão dos fenômenos,
considerando-se a dinamicidade da história e a atuação dos sujeitos na elaboração da política
de avaliação, na qual a regulação tem se mostrado cada vez mais evidente.
5
Para esta pesquisa foram selecionados os seguintes sujeitos: gestores, presidentes e membro da Comissão
Própria Avaliação (CPA) e coordenadores do curso de licenciatura em Letras. No capítulo 3 estão descritos os
motivos que levaram à sua escolha, bem como a especificação das siglas que os representam no trabalho.
6
A inserção das falas dos sujeitos ao longo da dissertação tem o objetivo de preservar a coerência metodológica.
Logo, as informações não devem ficar restritas apenas ao capítulo 4, mas perpassar toda a discussão.
21
Isso porque o IGC não surge somente como um índice destinado a resolver
os problemas operacionais de avaliar os 22.000 cursos de graduação do país;
se assim fosse, não teria tido a ampla repercussão na mídia que teve. Ele
veio também, ou principalmente, para possibilitar rankings de Instituições de
Educação Superior (IES), apesar de baseado em alguns dados de alguns
cursos avaliados de algumas IES (p. 863, grifos da autora).
que integra as avaliações de instituições, de cursos e estudantes, visto que, como argumenta a
autora, os índices acabam por supervalorizar o Enade. Dessa forma, o mencionado exame se
sobressai na composição dos índices, pois tem um peso significativo no cálculo do CPC. Ao
se veicular notícias acerca do Sinaes para a sociedade, passa-se a impressão de que o sistema
se resume ao Enade e que não há mais nenhum instrumento que avalie as IES. Tal fato
diminui a capacidade de compreensão da sociedade civil sobre a importância de um sistema
de avaliação, pois esta o vê como apenas uma prova, que avalia somente os alunos, sendo essa
prova, na compreensão de um número significativo de pessoas, o que delimita a qualidade da
instituição.
Essa nova característica que o Enade assume, em função dos índices, faz com que ele
mantenha, diante da sociedade, certo nível de similaridade com o Exame Nacional de Cursos
(ENC), instituído pelo governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) em seus dois mandatos
(1995 – 1998) e (1999 – 2002), que ficou conhecido como “Provão”, e que é discutido no
capítulo 1. A proximidade é tamanha que Leite (2008) chama o Enade de “Enadão”, fazendo
alusão ao ENC, que tomava os estudantes como foco central do processo de avaliação, e se
desdobrava na elaboração de rankings, baseados em uma escala de avaliação dos cursos, que
variava de A a E, sendo A a nota mais alta e E a mais baixa.
Apesar de haver uma discussão que se mostra desfavorável aos índices, é necessário
contextualizá-los frente ao Sinaes, principalmente o IGC – que se propõe a medir a qualidade
das instituições de educação superior. Tem-se a clareza de que discutir a qualidade das IES,
no caso do DF, é algo que se faz necessário nesta dissertação. Esta Unidade Federativa foi
escolhida como campo da pesquisa pelo fato de, na segunda metade da década de 1990, ter
tido um crescimento vertiginoso do número de IES privadas e de matrículas, seguindo
fenômeno que ocorreu em todo o Brasil. Como esse crescimento se deu de forma rápida, é
importante investigar como as políticas de avaliação da educação superior o acompanharam,
principalmente no que diz respeito à garantia da qualidade de ensino ofertado nessas
instituições.
No contexto de crescimento significativo do número de IES privadas no DF nas duas
últimas décadas, faz-se necessária a reflexão sobre a situação da até então única instituição de
educação superior pública, em relação ao recebimento de recursos financeiros. Esse é um
cenário que apresenta contradições, pois, segundo Sousa (2003), enquanto existia uma
significativa expansão do número de IES privadas – no ano de 2001 havia 65 IES no DF, das
quais 63 eram privadas – a IES pública continuava estagnada, em virtude da escassez de
23
8
Embora tenhamos o termo classificar em português, tem-se utilizado o neologismo ranquear (aportuguesado)
por analogia à palavra rankings.
24
Esta parte inicial tem como objetivo analisar o conceito de política pública, elencando
as suas principais características. Essa discussão se faz necessária para que, posteriormente,
seja possível aprofundar um dos temas abordados nesta dissertação que é a avaliação como
política pública. Compreender o movimento das políticas públicas é ponto primordial para
que se possa entender a configuração do Sinaes.
Rua (1998) afirma que as sociedades modernas têm como uma de suas principais
características a diferenciação social. Assim, os sujeitos possuem ideias, valores e
desempenham papéis diferentes ao longo da vida. Esses fatores fazem com que a vida em
sociedade torne-se complexa, gerando conflitos em virtude de opiniões e interesses
divergentes. Todavia, segundo a autora, os conflitos podem ser administrados de duas
maneiras: uma é a coerção pura e simples e a outra a política. Ao optar pela coerção, o seu uso
excessivo torna o impacto desta medida reduzido, bem como eleva o seu custo.
A autora afirma que a política também envolve coerção, mas não se restringe a ela,
sendo um conceito mais complexo. Na tentativa de encontrar uma definição que se adeque ao
27
termo, chega-se ao consenso de que política envolve procedimentos que exprimem relações
de poder, tendo em vista a resolução de conflitos relacionados aos bens públicos. Assim, as
políticas públicas, de acordo com Rua (1998) são resultantes da atividade política. Uma de
suas características é de que envolvem mais de uma decisão e, dessa forma requerem várias
ações, criteriosamente selecionadas, para que então as escolhas sejam implementadas.
Pode-se dizer que as políticas públicas envolvem atividade política. Há uma
complexidade em seu conceito, expressa pelo fato de estas abrangerem mais de uma decisão
na solução de um determinado conflito. Assim, as decisões necessitam de várias ações
estrategicamente escolhidas para que, posteriormente, sejam colocadas em prática.
Como as políticas públicas têm o intuito de resolução dos conflitos, é preciso conhecer
quem são os envolvidos. Para Rua (1998), os participantes dos conflitos são denominados de
atores políticos, sujeitos diversos e com características diferenciadas. A primeira distinção é
feita em relação a atores públicos e privados. Os atores públicos são os que exercem função
pública e movimentam recursos ligados a essa função. Dentre estes atores estão os políticos e
os burocratas. A diferença entre ambos é que a posição dos primeiros resulta de mandato
eletivo; já os outros ocupam posições que requerem conhecimento especializado, situando-se
na carreira pública, sem, no entanto, possuírem mandato. No que diz respeito aos atores
privados estão os empresários que apresentam grande capacidade de influenciar as políticas
públicas.
A autora ainda elenca como atores importantes: (i) os trabalhadores, cujo poder resulta
da ação organizada, atuando por meio de sindicatos, ONG (Organização não governamental)
e igrejas; (ii) os agentes internacionais, que influenciam nas questões econômicas, pois
mantêm relações de troca importantes; e (iii) a mídia, que age como formadora de opinião,
podendo mobilizar a ação de outros atores.
É possível perceber que há o envolvimento de vários atores na política pública, todavia
cada um tem um papel específico. Assim, a ação desses atores não ocorre de forma isolada,
pois estão em jogo os interesses de vários sujeitos no que se refere à política em questão.
Desta maneira, os anseios de todos os envolvidos não serão contemplados simultaneamente,
uma vez que estes podem até mesmo ser contraditórios. Logo, perante uma política pública,
dependendo das ações e decisões que são tomadas, apenas uma parte dos atores mencionados
é atendida.
No que se refere ao processo de formulação de uma política pública, Kingdon (2006a)
afirma que este compreende algumas etapas, como: o estabelecimento da agenda; a
28
mercado. A partir da avaliação, a elite pode analisar de forma mais racional onde o dinheiro
deve ser aplicado, com o objetivo de beneficiá-la.
De acordo com Belloni e Belloni (2003), apesar do interesse da elite na avaliação da
educação, há de se considerar também que a maioria da população sabe que tem o direito de
conhecer sobre a aplicação dos recursos na educação, bem como o resultado que a destinação
destes impacta na vida da sociedade ao longo dos anos. Dessa forma, os autores explicitam
que a avaliação da educação superior não interessa apenas ao “Estado avaliador”, mas importa
muito mais à população, desconsiderando a elite, pois a partir dos resultados da avaliação é
possível traçar novos rumos para uma educação de qualidade. A avaliação é vista como
instrumento para que a sociedade possa analisar se os investimentos em educação estão
atingindo os objetivos a que se propõem.
Ainda segundo os mesmos autores, as tentativas mais significativas de se implantar a
avaliação de modo sistemático, no Brasil, nas instituições de educação superior tiveram início
na década de 1980. Essas tentativas são caracterizadas por eles em duas grandes tendências:
uma que é voltada para o controle e a hierarquização das instituições, e outra que tem por
finalidade a melhoria e a transformação do funcionamento das instituições a partir da análise
de suas potencialidades e fragilidades.
A primeira tendência é marcada por uma avaliação meritocrática, que é orientada por
uma lógica de regulação e de controle, baseando-se no cumprimento de regras, tendo em vista
elegerem as melhores instituições. Nessa lógica é possível observar políticas de incentivo e
financiamentos, bem como a criação de rankings. Já a segunda tendência tem por objetivo
estabelecer uma lógica de transformação da instituição, visando assim à construção da
qualidade pautada na análise dos erros e acertos. O processo de avaliação está embasado “em
critérios que devem combinar mérito e qualidade da atividade pedagógica com relevância e
efetividade social” (BELLONI; BELLONI, 2003, p. 14). Essas características da avaliação
permitem que todos os sujeitos envolvidos no processo estejam conscientes dos papéis que
desenvolvem. Além do mais, os recursos tecnológicos e científicos podem ser melhor
aproveitados para que se possa avançar no sentido de proporcionar qualidade às instituições
de educação superior.
Como abordado pelos autores citados, as experiências mais significativas com a
avaliação da educação superior começam a surgir na década de 1980, porém os programas
implantados até os primeiros três anos da década de 1990 não detinham o caráter de política
31
pública. Foi a partir do ano de 1996 que a avaliação da educação superior brasileira assumiu a
forma de uma política pública.
Retomando o conceito de política pública, Höfling (2001) afirma que este se remete a
quando o Estado implanta um projeto de governo por meio de programas que são destinados a
setores da sociedade. As políticas públicas são de responsabilidade do Estado, porém devem
contar com a participação de agentes públicos e da sociedade no processo de tomada de
decisão.
No que diz respeito à educação, a autora a percebe como uma política pública social,
pois visa garantir o bem-estar da população e não deve ser apenas pensada pelo Estado.
Quando não há a participação de outros atores, a política perde o seu sentido, pois é elaborada
de forma unilateral e não atenderá aos interesses dos que dela necessitam em sua totalidade.
De acordo com Arretche (1995) a dinâmica de desenvolvimento das políticas sociais
refere-se a um processo interno do Estado, compatibilizando exigências contraditórias. Estas
estão relacionadas às exigências da classe trabalhadora e às necessidades de acumulação do
capital. Desta maneira, a autora analisa que as políticas sociais vêm ganhando espaço nas
agendas governamentais pelo fato de o Estado reagir aos seus próprios problemas internos,
exercitando um processo de mediação entre as necessidades e as exigências do seu interior.
Assim, além das pressões exercidas pela sociedade, as políticas sociais se configuram por
estratégias estatais. Infere-se que a política de avaliação não derivou apenas de uma pressão
de determinados grupos, mas do próprio Estado que necessitava de um mecanismo que
avaliasse a qualidade da educação superior.
As continuidades e rupturas do processo de formulação de uma política de avaliação
da educação superior fazem parte de um cenário que se delineia de acordo com o momento
histórico e político no qual é gestada. Dessa forma, os objetivos da política nem sempre são
unânimes, pois podem se contrapor em virtude dos atores que dela se beneficiam.
Uma das polêmicas existentes na avaliação é que se por um lado esta pode ser
utilizada como um instrumento capaz de propiciar mudanças em uma realidade. De outro, é
vista como um mecanismo que permite o julgamento e possíveis punições em decorrências
dos resultados. A fala do membro da Comissão Própria de Avaliação retrata esta contradição:
Isso acaba por refletir o caráter contraditório da política, pois dependendo do uso que
se faz da avaliação, os fins podem ser diversos. Todavia só se pode avaliar as contradições
vinculadas à avaliação a partir do momento em que se consideram os fatos históricos e o
contexto no qual a política foi criada e implementada para que, assim, conclusões isoladas não
sejam tidas como verdades absolutas em torno das políticas de avaliação.
Para Belloni e Belloni (2003), a avaliação da educação superior brasileira, de
responsabilidade do governo e das instituições, tem a finalidade de cumprir objetivos que não se
restringem ao cumprimento de requisitos legais. A partir dos resultados fornecidos pela avaliação,
é possível exigir que tanto instituições quanto o próprio sistema de avaliação se reavaliem no
que diz respeito ao seu funcionamento, cumprimento de normas e objetivos, bem como à sua
missão institucional, e, assim, busquem uma redefinição dos caminhos a serem trilhados.
Assim, conhecer a avaliação como política pública é ponto importante para que se
tenha clareza das transformações ocorridas na avaliação da educação superior ao longo das
décadas. Além da compreensão da avaliação como política pública é necessário entender
como a estrutura e a organização da educação superior no Brasil foram configuradas,
fenômenos que podem ser explicados pela Reforma Universitária de 1968.
1.2 Reforma Universitária de 1968 como marco das políticas de educação superior no Brasil
A Reforma Universitária de 1968 foi elencada como marco para a análise das políticas
de avaliação da educação superior, por representar transformações importantes na organização
e funcionamento da educação superior. Segundo Fávero (2006) para conhecer a realidade da
universidade, sua criação e desenvolvimento é preciso ter como pontos de partida a análise de
uma realidade concreta, parte de uma totalidade, e uma problematização mais ampla.
Assim, pode-se afirmar que para a compreensão da atual organização da educação
superior no Brasil, bem como de possíveis mudanças, é necessário ter como parâmetro de
análise a Reforma Universitária de 1968. A historicidade que envolve a formulação desta
política não pode ser desconsiderada, pois permite a ampla discussão acerca da organização e
do funcionamento da educação superior nos dias atuais. Logo, a abstração desta política,
denominada como marco de análise deste capítulo, é fator preponderante para que se possa
dar prosseguimento às discussões que englobam a configuração da educação superior.
33
instituição pudesse representar riscos à hegemonia deste. Por outro lado, o processo de
modernização era algo necessário, uma vez que o país se inseria em uma corrida
mercadológica, de competição, e o setor que propiciaria essas transformações era justamente
o da educação, especialmente o terreno da educação superior. Logo, as políticas eram
aplicadas com dois objetivos: primeiro, para trazer inovações à área da educação, visando a
uma relação mais estreita com o mercado, e segundo, como forma de controle social das
instituições.
Em sequência a essas mudanças que visavam à modernização das universidades, foi
gestada durante o governo militar a Lei Universitária nº 5.540, de 1968, oriunda de um
anteprojeto de lei que tratava da organização e do funcionamento da educação superior. O
grupo de trabalho (GT) responsável pelo anteprojeto, segundo Trindade (2004), visava
atribuir à universidade brasileira eficiência, modernização, flexibilidade administrativa e
capacitação de recursos humanos, o que contribuiria de forma significativa para o
desenvolvimento do país.
Ainda segundo o autor, entre o anteprojeto e a elaboração da lei houve alguns vetos
que modificaram as suas estruturas iniciais. Um dos exemplos dessas mudanças é a própria
definição de ensino superior, que foi parcialmente vetada, pois o anteprojeto garantia que o
ensino superior9, indissociável da pesquisa, seria ministrado em universidades e
excepcionalmente em estabelecimentos isolados. Todavia, a redação da Lei nº 5.540/1968
determinou que os objetivos desse nível de ensino eram a pesquisa, o desenvolvimento das
áreas de conhecimento (Ciências, Letras e Artes) e a formação de profissionais, de maneira a
se criar um elo entre a comunidade acadêmica e a sociedade para difusão do conhecimento, o
que seria concretizado por meio da extensão universitária.
No contexto da Reforma Universitária, Dias Sobrinho (2003) afirma que o regime
militar submetia a educação superior brasileira à produção, com viés de uma empresa privada.
Havia o investimento em tecnologia, ciência e na mão de obra qualificada dos profissionais,
9
É importante frisar que, de acordo com Weber (2012), na formulação do Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (Sinaes), em 2003, a expressão ensino superior foi substituída por educação superior com a
finalidade de destacar a dimensão formativa e educativa inerente à formação nesse nível, bem como ressaltar o
compromisso com o uso social do conhecimento, na perspectiva de aprofundamento da construção da
cidadania e da democracia. Tal mudança apresenta a educação como direito e como bem público, e a educação
superior como tendo a missão de “formar cidadãos, profissional e cientificamente competentes e ao mesmo
tempo, comprometidos com o projeto social do país” (INEP, 2005, p. 10). A redenominação não foi apenas da
nomenclatura, mas diz respeito ao reconhecimento do papel da educação superior como espaço para formação
e crítica. Desta maneira a expressão ensino superior será utilizada antes do sancionamento da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 de 20 de dezembro de 1996. Já o termo educação superior será
utilizado nas ocorrências pós LDB.
35
pontos importantes para o desenvolvimento econômico do Brasil, mas o país ainda continuava
preso economicamente aos grandes centros do capitalismo.
De acordo com Dias Sobrinho (2003), para dar sequência aos objetivos de
desenvolvimento, foram implementados o regime de dedicação integral à docência e à
pesquisa, bem como a criação de um sistema de pós-graduação que se destaca em toda a
América Latina. Nesse contexto privatista, um fator que contribuiu para que a privatização da
educação superior ganhasse espaço na década de 1960 foi o aumento da demanda por acesso
ao ensino superior. Advinda de pressões sociais, essa demanda fez com que o governo
adotasse um modelo que proporcionaria a expansão de vagas, mas com o mínimo de recursos.
Para o autor, a adoção de um modelo eficientista, que abre as portas para a privatização,
justifica, não só no Brasil como também em países vizinhos, a necessidade de se adotar
sistemas de avaliação para garantir o controle, sobretudo, da divisão dos recursos públicos.
Desta maneira, a avaliação controlava os recursos financeiros destinados à educação superior,
tendo em vista a sua expansão pelo setor privado.
O ensino superior privado que surgiu após a Reforma de 1968 tende a ser
qualitativamente distinto, em termos de natureza e objetivos, do que existia
no período precedente. Trata-se de outro sistema, estruturado nos moldes de
38
Percebe-se que a Capes estabelece a padrões para que a avaliação ocorresse de forma
sistematizada e atingisse os objetivos fins, que envolviam o aprimoramento e o investimento
na qualidade dos programas. Nota-se que a questão da eficiência dos programas também era
um dos pontos a serem avaliados, pois tinha-se em vista a formação de profissionais. Outro
ponto que chama a atenção é a preocupação de se manter um banco de dados para que as
informações acerca do programa fossem preservadas e servissem de referência para as
intervenções necessárias.
Essa intervenção externa, por meio das avaliações, é uma das interferências que o
Estado exerce sobre a educação superior como forma de controle, que não necessariamente
está atrelada à garantia de uma educação de qualidade, mas, sobretudo, está relacionada à
distribuição de recursos públicos nas instituições, o que dá início à constituição de um
“Estado avaliador”. O conceito de “Estado avaliador” surgiu, no final dos anos 1980, em
virtude da mudança de papel que o Estado assumiu. A mudança de postura foi fruto de fatores
externos que não aparecem de forma isolada, resultam do sistema capitalista, principalmente
de transformações na economia.
educação superior. Com o seu término, ficou uma lacuna, pois os resultados obtidos com os
trabalhos desenvolvidos pelo grupo gestor não foram divulgados. Dessa forma, chegava ao
fim um trabalho que articulava avaliação interna e externa com vistas a dar subsídios para a
reflexão das práticas desenvolvidas nas instituições. A avaliação tornou-se um instrumento
significativo para as instituições, principalmente no que se referia à sua utilização, pois não
era mero instrumento de controle, com apenas uma visão externa das instituições.
Observa-se que no Paru não havia índices para mensurar aspectos relacionados ao
ensino superior, porém nele eram propostos indicadores que permitissem avaliar a prática
pedagógica na instituição. Dessa forma, os indicadores permitiam que a prática pedagógica
fosse repensada com o intuito de elaborar ações que visassem intervir na realidade local. Ao
trazer o IGC, objeto deste estudo, para esse contexto, é possível pensá-lo como um índice que
tem por finalidade oferecer subsídios para que a comunidade acadêmica possa interferir na
sua realidade e, consequentemente, repensar as suas ações, sobretudo no que se refere à
qualidade do ensino.
Com o fim do Paru, foi instituída, por meio do Decreto nº 91.177/85, a Comissão
Nacional para Reformulação do Ensino Superior (CNRES), que tinha como objetivo a
reformulação do ensino superior, sendo sua composição mais ampla se comparada à do Paru.
A Comissão era composta por 24 membros, oriundos de distintas áreas de formação e
atuação. O seu trabalho resultou em um relatório que, para Barreyro e Rothen (2008), não se
propunha à formulação de uma lei da educação superior, mas sim à formulação de uma
política. Ainda segundo os autores, a política a ser implementada teria como eixo central o
processo de avaliação externo, com fins meritocráticos, e a autonomia universitária estaria
atrelada a esse desempenho.
O relatório elaborado pela CNRES foi o ponto de partida para que o Grupo Executivo
para a Reformulação do Ensino Superior (Geres) começasse a elaborar uma proposta de
Reforma Universitária. O grupo foi intitulado por Dias Sobrinho (2003) “Comissão dos
10
Notáveis”, pois era uma comissão constituída por cinco pessoas que estavam ligadas ao
Ministério da Educação (MEC). Para Barreyro e Rothen (2008), o Geres restringia a reforma
da educação superior às instituições federais, no que tange à reformulação da legislação. Um
dos argumentos para que tal medida fosse adotada é que a Reforma Universitária de 1968
10
Eram eles, Antônio Octávio Cintra e Getúlio Carvalho, secretários-gerais adjuntos do Ministério da Educação;
Sérgio Costa Ribeiro, ex-coordenador técnico do Programa de Avaliação da Reforma Universitária (Paru);
Edson Machado de Souza, diretor da Capes e ex-coordenador do Paru; e Paulo Elpídio Menezes Neto,
secretário de educação superior (SCHWARTZMAN, 1986).
44
Outro fator que chama atenção na proposta do Geres é que o documento dissociava
ensino e pesquisa; assim, as instituições de ensino optariam por uma das duas áreas, não
sendo necessário vinculá-las, o que eliminaria a ideia de que as universidades necessitariam
abranger todos os campos do saber. A partir dessas considerações feitas no documento, observa-
se que a identidade da universidade não estaria baseada na pesquisa, nem na pluralidade de
campos do saber, mas se restringiria à autonomia didática, administrativa e financeira.
No que se refere à avaliação e ao financiamento da educação superior no período de
vigência do Geres, Barreyro e Rothen (2008) afirmam que a regulação seria feita por sujeitos
distintos. No caso das instituições privadas, o responsável por fazer sua regulação seria o
mercado; já no caso das instituições públicas, o Estado a realizaria por meio de uma avaliação
de desempenho. A avaliação, de cunho meritocrático, seria o instrumento responsável por
definir o financiamento das instituições públicas.
Durante a vigência do Paru e do Geres, não se fazia menção à criação e/ou mesmo à
utilização de índices como instrumento de avaliação da educação superior. A criação de
índices que visassem verificar a qualidade das instituições, como é o caso do IGC, objeto
desta pesquisa, não é mencionada em nenhum desses programas. Infere-se que se houvesse
uma abertura para a criação de índices com o intuito de aferir a qualidade das IES, o Paru, por
suas ideias de mesclar avaliações interna e externa, estaria melhor preparado para utilizá-los
de forma a auxiliar as instituições. Todavia, é possível que essa consciência no trabalho com
os índices, tendo em vista intervir na realidade local com o objetivo de melhorar a qualidade
de ensino, não ocorresse na proposta do Geres. Isto se justifica pelo fato de que os índices
poderiam acirrar ainda mais a avaliação meritocrática, sem, contudo, interferir de forma
positiva na realidade das IES.
Observa-se uma transição entre as duas propostas paradoxais de avaliação da educação
superior. A primeira, o Paru, objetivava uma concepção de avaliação formativa, tendo como
45
de valor mais elevado e E o mais baixo. O “Provão” era uma avaliação obrigatória e a sua
realização garantia aos estudantes o recebimento do diploma.
Após críticas pela realização de uma avaliação baseada em apenas um instrumento, o
Decreto n° 2.026/96 criou outros dispositivos complementares, como a análise das condições
de oferta de cada curso (depois chamada de condições de oferta de ensino), tida como um dos
mais importantes, era “feita por especialistas nomeados pelo próprio Ministério mediante
visitas in loco e análise, sobretudo, do projeto pedagógico, da infra-estrutura e do corpo docente”
(DIAS SOBRINHO, 2003, p. 78). Apesar de incluir mais um instrumento avaliativo, o “Provão”
continuou sendo o principal foco da avaliação da educação superior no Brasil.
O “Provão” buscava fazer uma análise da educação superior, porém limitava-se ao
ranking de cursos de acordo com o desempenho dos estudantes. Essa avaliação destacou-se
nessa ótica, porém não se preocupou em realizar uma avaliação institucional que, de fato,
diagnosticasse pontos negativos, falhas, como também pontos positivos das IES. A
autoavaliação, instrumento de grande importância para que a IES possa se conhecer, não foi
levada em consideração.
O poder de elaborar a avaliação ficou restrito ao Ministério da Educação. Não se
compartilhava com as IES a possibilidade de uma política pública voltada para os seus
anseios e que contribuísse também para que se tivesse uma educação de qualidade. Dias
Sobrinho (2003) ilustra bem esse ponto, ao relatar que o Ministério era o grande e único
protagonista dessa avaliação – “Provão”. Assim, não havia dúvida de que a avaliação da
educação superior era eficientíssima para os propósitos governamentais e fornecia um
mapeamento para o mercado.
Além da esfera de poder ter ficado restrita a um só protagonista, os interesses de
mercado foram privilegiados e a qualidade da educação se restringiu às demandas de
mercado, pois as IES se orientavam para ele. Apesar das controvérsias que o exame gerou, é
importante enfatizar que a partir de sua implantação houve a consolidação de uma política
pública de avaliação da educação superior.
Mais uma vez, é possível perceber o movimento de ideias na elaboração de propostas
de avaliação da educação superior na década de 1990. Por um lado, o Paiub propunha uma
avaliação formativa, como forma de prestação de contas à sociedade, mesclando avaliações
internas e externas, além de basear-se em princípios que tornaram a avaliação “endógena e
voluntária” (BARREYRO; ROTHEN, 2008, p. 148). O “Provão”, por sua vez, tinha uma
avaliação baseada no desempenho dos estudantes. Esse era o único subsídio que revelava a
50
qualidade dos cursos e das IES, baseando-se em uma escala que, posteriormente, levava à
construção de rankings e disputas.
Em princípio, pode-se afirmar que houve um retrocesso durante a implantação das
políticas de avaliação da educação superior, pois é possível perceber que houve construção e
desconstrução de vários elementos, ao longo dos anos, fruto de embates econômicos e
políticos. Todavia, há de se considerar que nesse movimento das políticas, que geram
transformações, existe o desenvolvimento.
elaboração da proposta, mas foram sendo incorporados ao sistema, por meio de portarias. Um
deles, o IGC, objeto deste estudo, criado em 2008, tem o intuito de mensurar a qualidade da
educação das instituições e, ao mesmo tempo, compará-las. Todavia essa mensuração e
comparabilidade foram voltadas para a mera construção de rankings, pois de fato não
avaliavam aquilo a que se propunham. O índice também acabou atraindo todas as atenções da
sociedade civil. A preocupação não era com a avaliação como política pública, mas com a
publicização do índice, que tinha apenas um viés mercadológico.
Devido à importância do atual sistema de avaliação da educação superior, este será
aprofundado mais adiante, trazendo à tona a discussão dos índices que o integram, sobretudo
o IGC, objeto de estudo desta dissertação.
alterasse os princípios da avaliação, dando origem, no ano de 2004, à lei que regulamenta o
Sinaes.
Como dito anteriormente, o documento formulado pela CEA continha contribuições
tanto de membros das IES quanto da sociedade civil. Após debates envolvendo diversos
segmentos, a CEA deu origem à lei que regulamenta o Sinaes. Desta maneira, percebe-se que
tem maior legitimidade o processo que procura incorporar os posicionamentos daqueles que
também serão afetados diretamente por determinadas decisões. Na elaboração de alguns projetos
de avaliação da educação superior, como no caso do Geres, a comunidade acadêmica e a
sociedade civil não foram consultadas – o projeto foi feito por uma comissão do MEC. Esse
procedimento unilateral causa estranheza quando a política é regulamentada e implementada,
pois não corresponde às demandas daquela realidade.
Neste caso, a análise da gestão e o controle social democrático se fazem necessários
para que se tenha conhecimento da participação da sociedade civil na política. Segundo
Boschetti (2009), a Constituição Federal de 1988 garante, além da descentralização que dá
autonomia às esferas federais, a participação da sociedade civil no processo de implementação
da política. Logo, para que se possa compreender qual a participação da sociedade civil no
Sinaes, é relevante que se explicite a sua estrutura.
O Sinaes traz três componentes de avaliação: avaliação institucional, que compreende
a avaliação externa e a autoavaliação, avaliação dos cursos e a avaliação dos estudantes, feita
por meio do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). O Sinaes é um sistema
de avaliação que visa fazer uma análise global da realidade da educação superior brasileira,
tendo em vista a melhoria da qualidade. Sua estrutura administrativa envolve a Comissão
Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes), que é responsável pela coordenação e
supervisão do sistema, sendo sua operacionalização feita pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em conjunto com a Secretaria de Educação
Superior (SESu).
Como o referido sistema se estrutura em três componentes de avaliação, é importante
discutir cada um deles para que se possa ter conhecimento dos objetivos que são estabelecidos
para eles. Além da compreensão dos objetivos, é necessário que se dê ênfase à análise da
forma pela qual os componentes se integram, dando origem a uma política de avaliação que
preza pelo princípio da globalidade.
O primeiro componente é a avaliação institucional, constituída por uma avaliação
interna, denominada autoavaliação, e por uma avaliação externa. A autoavaliação tem o
53
intuito de fazer com que as pessoas que compõem a comunidade acadêmica participem, de
forma efetiva, do processo de avaliação de uma determinada instituição. Essa avaliação
propicia aos membros explicitarem suas concepções acerca do contexto no qual se encontram
inseridos.
A autoavaliação é realizada pela Comissão Própria de Avaliação (CPA), que tem como
função coordenar os processos internos de avaliação da IES. A CPA é de caráter obrigatório na
instituição e deve contar com a participação de todos os segmentos da comunidade acadêmica
(docente, discente e técnico-administrativo) e de representantes da sociedade civil organizada,
não sendo permitida a maioria absoluta por parte de qualquer um dos segmentos representados.
Dessa forma, a diversidade de membros que constitui a CPA possibilita agregar pontos
de vista diferentes de uma instituição e, assim, dar à avaliação um caráter plural que
acrescenta de forma significativa ao desenvolvimento da instituição.
O trabalho da CPA é desenvolvido com base em um documento da Conaes, oriundo da
Lei nº 10.861/2004 que regulamenta o Sinaes e que traz dez itens a serem avaliados. São eles:
(i) missão e Plano de Desenvolvimento Institucional; (ii) perspectiva pedagógica e formadora
de políticas, normas e estímulos para o ensino, a pesquisa, a pós-graduação e a extensão; (iii)
responsabilidade social das IES; (iv) comunicação com a sociedade; v) políticas de pessoal,
carreira, aperfeiçoamento e condições de trabalho; (vi) organização e gestão da universidade;
(vii) infraestrutura física; (viii) planejamento e avaliação; (ix) políticas de atendimento a
estudantes e egressos; e (x) sustentabilidade financeira. Essas dimensões direcionam o
trabalho da Comissão e possibilitam a reflexão acerca de determinados pontos, tornando a
avaliação, assim, mais objetiva.
Na avaliação institucional externa deve haver uma interação entre a Conaes, o Inep e
as CPA, para que, dessa forma, ocorram as visitas in loco. As comissões encarregadas de
54
realizar a avaliação externa avaliam as instituições em uma escala que varia de 1 a 5, tendo
essa avaliação numérica como objetivo o recredenciamento de instituições.
Um ponto importante a ser analisado no que se refere à avaliação institucional externa,
é que ela deve possuir uma relação com os pressupostos da autoavaliação para que, assim,
estabeleça-se uma coerência entre aquilo que é avaliado de forma interna e externa à
instituição.
11
De acordo com a Portaria Normativa nº 6, de 14 de março de 2012 considera-se que são estudantes: i)
ingressantes aqueles que tenham o respectivo curso com matrícula no ano de 2012; ii) concluintes aqueles
que tenham expectativa de conclusão do curso em 2013, assim como aqueles que tiverem concluído mais de
80% (oitenta por cento) da carga horária mínima do currículo do curso das IES até o término do período de
inscrições.
56
(2)
Fonte: INEP (2012c)
12
A Comissão Técnica de Acompanhamento da Avaliação foi instituída pelo MEC com a finalidade de
acompanhar os processos de avaliação institucional externa e dos cursos de graduação do Sinaes.
13
O Banco de Avaliadores (BASis) do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) foi
regulamentado pela Portaria nº 1.027, de 15 de maio de 2006.
61
Para que a qualidade possa ser analisada, é necessário fazer o trabalho de abstração,
observar o conceito que cada instituição traz sobre a qualidade difundida nos ambientes
acadêmicos. Depois de captar as várias definições, é importante trazê-las para o concreto e, a
partir daí, dentro das peculiaridades que circundam a realidade de cada IES, analisar de forma
detalhada as similaridades e diferenças existentes nos conceitos coletados, tendo em vista o
movimento dos indivíduos na IES na transformação desse conceito. É importante também
averiguar as contradições presentes na construção do conceito de qualidade, “pois para o
homem a sua qualidade principal é a consciência, a capacidade de transformar dum modo
racional a realidade” (KRAPÍVINE, 1986, p. 167).
Ao falar de qualidade, a polêmica dos índices vem à tona. Deste modo, estabelecer
uma relação entre a finalidade do IGC e a compreensão que a sociedade civil tem dele é fator
importante para analisar de que forma esta faz o controle dessa política e, principalmente da
qualidade das IES. Tratar deste assunto é destacar o papel que a sociedade civil precisa
desempenhar frente à política. O esclarecimento acerca desse índice permite que a sociedade
entenda qual o seu real significado e de que forma ele causa impactos na sua formação
62
Há dois níveis nos quais o hibridismo se manifesta, de acordo com Barroso (2004): o
primeiro está na relação entre países, na qual os países periféricos executam, de forma
passiva, os modelos de regulação exportados por países denominados como centros. A outra
forma caracteriza-se pela utilização, no mesmo país, de modelos de regulação distintos – ora a
regulação é feita pelo Estado, ora pelo mercado. Essa manifestação do hibridismo em dois
65
ou não de atores que estão inseridos nas IES, como gestores, coordenadores de cursos, além
de outros, provocam transformações que impactam na avaliação e, consequentemente, nos
resultados do IGC, bem como no uso que se faz dele. Assim, depreende-se que é importante
analisar como ocorre a microrregulação nas IES em relação ao índice da política de avaliação
do Sinaes, que tem por objetivo averiguar a qualidade das instituições, o IGC.
Dessa forma, fica evidente que, para que haja a regulação, independentemente do nível
em que ocorra, faz-se necessária a presença da avaliação. Para Barreyro e Rothen (2011b), a
avaliação da educação superior brasileira na capacidade de política pública acaba de
completar 18 anos, pois, após a implantação do Paiub, a avaliação da educação superior
começou a fazer parte da agenda política dos governos.
Considerando o histórico da avaliação da educação superior, que remonta à concepção
do Paru até os dias de hoje, verificam-se sempre dois pressupostos no que se refere à
avaliação, sendo um deles referente à função desta e o segundo dizendo respeito a quem deve
realizá-la.
No que se refere à função, observa-se que ao longo dos anos, desde o surgimento dos
processos de avaliação da educação superior, independentemente da sua veiculação à política
pública, essa atribuição vem se transformando: ora a avaliação visa ao controle, ora tende a
melhorar a educação, e quando o assunto em voga são as melhorias, a primeira palavra que
aparece é a qualidade. Todavia, vale ressaltar que não há uma separação rígida de uma
avaliação emancipatória e de uma regulatória, as duas podem estar inter-relacionadas, a
depender do caráter de intencionalidade que a avaliação assume.
Ao fazer uma análise dos programas de avaliação da educação superior, nota-se que o
Paru assumiu uma postura emancipatória, pois trabalhava com a ideia de a avaliação ser algo
legitimado pela comunidade acadêmica e, a partir das avaliações por ela realizadas, medidas
eram traçadas tendo em vista a melhoria do ensino. Na transição para o “Provão”, houve uma
mudança na concepção – a avaliação tinha um caráter regulatório, que perdurou toda a gestão
de FHC. Nesse contexto, a intenção da avaliação é controlar os serviços prestados pelas IES
67
por meio dos resultados obtidos pelos estudantes. Naquela época, a qualidade estava
associada à posição que a IES ocupava no ranking, algo totalmente voltado para o mercado.
Na implantação do Sinaes houve um embate quanto a sua característica, uma vez que a
ideia que o Sinaes trazia na sua elaboração era conivente com a emancipação, porém durante
a sua implantação e vigência, pode-se concluir que essa é uma avaliação que visa à regulação
e ao monitoramento. É importante ressaltar que a regulação não é algo negativo e contrário à
emancipação; o que se deve analisar é que tipo de regulação é feita nas IES.
Para Barreyro e Rothen (2011b), a criação de índices no Sinaes tem relação com uma
lógica economicista e gerencial. O que poderia elucidar a criação do CPC e do IGC seria a
busca por mecanismos que simplificassem a regulação, mas isso apenas explica e não justifica
a existência dos índices.
necessário compreender de que forma essa política pública é realizada pelo Estado, pela IES e
até mesmo pelo mercado. Entende-se por avaliação institucional
registrou o valor de R$ 15.800.817,00 no mesmo ano, pois esta última ainda não se constitui
em um sistema, como ocorre com a educação superior.
O crescente investimento financeiro na política de avaliação da educação superior
evidencia que o Estado percebe a avaliação como um instrumento de grande importância para
apontar o sucesso e as fragilidades das instituições, e por meio do qual é possível traçar metas
para que os problemas sejam sanados.
No que se refere à relação entre Estado e sociedade civil, na esfera da avaliação
institucional existe a CPA que, como dito anteriormente, deve contar em sua composição com
membros externos a IES. Essa é uma forma de inserir a sociedade civil no contexto das IES
para que ela também participe de forma efetiva dos processos avaliativos que ocorrem nas
instituições.
Muitas vezes, as IES ficam localizadas próximas a residências, escolas, hospitais,
entre outros estabelecimentos, mas essa comunidade que a circunda não tem conhecimento
dos trabalhos desenvolvidos pelas instituições. Quando há, de fato, a participação da
sociedade civil a comunicação torna-se mais fácil. As trocas entre essas duas esferas, que
estão próximas fisicamente, mas distantes no que se refere à relação que estabelecem, tornam-
se mais significativas, e as IES podem também trabalhar com as demandas daquela
comunidade, havendo, assim, uma parceria entre as esferas.
A lei do Sinaes garante que haja um membro da sociedade civil na CPA, porém é
importante refletir de que forma essa participação ocorre, pois ela só é exigida, como um dos
pontos da regulação, quando uma das comissões de avaliação do MEC visita a instituição. Do
contrário, essa participação pode ficar apenas no papel. Em consulta às pautas de reuniões e
aos atos normativos, não há relatos da intervenção do Conselho Nacional de Educação (CNE),
no caso da Câmara de Educação Superior, visando garantir a participação de membro da
sociedade civil.
Na implementação da política do Sinaes, não há a participação de organizações não
governamentais (ONG), pois o processo de avaliação das IES é de responsabilidade do
Estado. Em relação a quem compete a responsabilidade de supervisão da educação superior, o
Projeto de Lei nº 4.372/201214, que está em tramitação, visa à criação do Instituto Nacional de
Supervisão e Avaliação da Educação Superior – Insaes.
De acordo com o Projeto de Lei, o Insaes será uma autarquia federal com autonomia
financeira e administrativa, vinculada ao MEC. O Instituto terá por finalidade supervisionar e
14
No que se refere à tramitação do Projeto de Lei nº 4.372/2012, em março de 2013 o mesmo aguardava Parecer
na Comissão de Educação.
71
15
Para Barreyro e Rothen (2009) dois anos após a sanção da lei que estabeleceu o Sinaes, o Ministério da
Educação (MEC) colocou em consulta pública um decreto que revogava algumas normas anteriores,
sintetizando e definindo os eixos da regulação do sistema. Na promulgação, o Decreto nº. 5.773/2006 foi
chamado pelo MEC de “Ponte”, pois ele articularia a avaliação com a regulação. Esse decreto explicita
procedimentos que atenderiam às funções de regulação, supervisão e avaliação das instituições e cursos.
73
das IES do DF é o IGC, índice que levanta inúmeros questionamentos na avaliação das
instituições.
Nessa perspectiva, ganha destaque a discussão acerca do crescimento e diversificação
da educação superior local, sobretudo no que diz respeito às IES vinculadas ao setor privado,
como reflexo do que tem ocorrido em âmbito nacional. Observa-se que o mesmo processo de
expansão que ocorreu no Brasil, em relação ao número de IES privadas e ao número de
matrículas, também se repetiu no DF, seguindo a lógica de uma tendência quantitativa que
percebe a educação como mercadoria. Essa tendência nacional corrobora o histórico de
criação de algumas instituições locais, que tendem a privilegiar a lógica de mercado em
detrimento da democratização do acesso à educação superior, bem como de uma formação
centrada quase exclusivamente na atividade de ensino.
Segundo Martins (1997), a formação da rede constituída pelas instituições de educação
superior no Distrito Federal teve início com a criação e funcionamento da Universidade de
Brasília (UnB), em 1962, cujo objetivo era tornar-se um centro de produção de novos
conhecimentos, bem como consolidar-se como uma instituição de ensino. Tais objetivos
foram instituídos sob a perspectiva de um projeto de modernização acadêmica. Para o autor,
essa proposta inicial apresentou continuidade, gerando resultados positivos, uma vez que a
UnB, em 1993, oferecia 54 cursos de graduação e 50 cursos de pós-graduação, sendo 37 de
mestrado e 13 de doutorado. Dados como esses e outros permitem afirmar que essa
universidade vem se consolidando como centro de ensino e extensão, assim como desenvolve
atividades de pesquisa por intermédio dos cursos de pós-graduação, em um cenário que faz
com que ela tenha um lugar de prestígio e domínio no âmbito local das instituições de
educação superior.
De acordo com Sousa (2003), particularmente a instalação e a consolidação da rede
privada superior local ocorreram entre os anos de 1968 e 1993, com acentuada expansão entre
1995 e 2001. Em relação ao primeiro período, segundo o autor, três são os motivos que
explicam a instalação das IES privadas locais: (i) crescimento populacional, que aumentou de
maneira significativa entre os anos de 1970 e 1992; (ii) grande parte da população estava
relacionada ao setor terciário, em 1989; e (iii) crescimento lento da única universidade
pública, não atendendo de forma adequada às demandas da população. De fato o crescimento
populacional do DF no referido período fez com que as demandas sociais pressionassem pelo
acesso à educação superior, porém a única universidade pública existente à época não foi
capaz de absorver e comportar de forma satisfatória a crescente demanda da nova capital
76
federal. Essa situação criou espaço para a abertura de IES privadas, objetivando, assim,
assumir a lacuna deixada pelo referido estabelecimento público.
Quando se fala na abertura de novas IES, que visa atender à população no que se
refere ao acesso à educação superior, não se pode pensar apenas no aspecto quantitativo dessa
demanda. É legítimo que a sociedade lute pela democratização desse acesso, porém é preciso
questionar de que forma o ingresso será viabilizado. Assim, apenas aumentar o número de
instituições só resolve uma parte do problema, que é garantir o acesso. É preciso averiguar
como a qualidade pode ser assegurada nessas instituições.
Ao se fazer um levantamento do histórico de criação de IES em Brasília, pode-se
constatar que tanto a primeira IES pública – Universidade de Brasília – quanto as de natureza
privada foram criadas na mesma década da inauguração da capital, a fim de atender aos
primeiros habitantes, oriundos de outros locais do Brasil. No que diz respeito à cronologia da
criação das IES no DF, a UnB foi a pioneira, criada em 1962, e as duas primeiras instituições
vinculadas ao setor privado – Centro de Ensino Unificado de Brasília16 e o Instituto de
Ciências Sociais17 – foram instaladas seis anos mais tarde, em 1968. Segundo Sousa (2003),
até 1993, no DF, havia quatorze IES. Destas, apenas uma era pública, enquanto as outras
treze, vinculadas ao setor privado, dividiam-se entre duas faculdades integradas e onze
estabelecimentos isolados.
Em relação à criação de IES privadas entre 1968 e 1993, a localização de sua grande
maioria limitou-se ao perímetro de Brasília, de forma que apenas uma delas estava situada na
Região Administrativa (RA) de Taguatinga – Faculdades Integradas da Católica de Brasília –
que, inaugurada em 1985, transformou-se em universidade no ano de 1994. Essa concentração
geográfica das IES fez com que estudantes tivessem que se deslocar para outras cidades, a fim
de frequentarem as aulas. Na prática, a expansão das IES privadas locais teve um crescimento
lento no período, se comparado ao crescimento no Brasil.
De acordo com Sousa (2003), o processo de expansão de IES privadas no DF, no
período entre 1968 e 1993, deu-se em virtude de diversos motivos. Dentre estes, destacam-se
desde o atendimento à lógica empresarial até a preocupação com o projeto pedagógico da IES,
com vistas a atender às demandas da população no que se refere ao acesso a uma escolaridade
de nível superior. Nesse sentido, o autor enumera outras motivações para esse crescimento:
16
Tornou-se o primeiro centro universitário da região Centro-Oeste, por meio do Parecer CNE/CES 102/1999
(BRASIL, 1999).
17
Transformado em centro universitário por meio da Portaria nº 4.324/2004 (BRASIL, 2004).
77
Infere-se que a educação superior foi responsável por atender à demanda em busca de
diplomas, uma vez que a clientela das IES buscava a inserção no mercado de trabalho por
meio da obtenção destes. Outro fator que chama atenção é o fato de que as instituições
estiveram relacionadas à lógica empresarial, o que, em tese, remete a uma formação limitada,
com o objetivo de atender à demanda de mercado, eximindo-se, em parte, da responsabilidade
social.
Com base no exposto sobre o processo de expansão das IES no DF, observa-se que o
crescimento do setor se deu pela demanda da população que almejava o acesso à educação
superior, porém a lógica empresarial contribuiu de forma significativa para que o crescimento
de IES privadas ocorresse de forma vertiginosa. Diante desse aspecto, é importante refletir
qual o espaço que a qualidade de ensino ocupou nesse processo de expansão. Feito isso, esse
raciocínio nos leva a investigar de que forma essa qualidade pode ser atestada e mensurada.
Discutir qualidade é levantar uma gama de conceitos relacionados a esse elemento. O
processo de expansão das IES faz-se necessário, porém deve-se atentar para o fato de que a
lógica de mercado, que permeia esse processo, pode não levar em consideração a qualidade
do ensino ou até mesmo assumir um discurso de qualidade que na verdade só tem como
finalidade atender às demandas do mercado.
A fala do Gestor 1 denuncia que a qualidade não tem acompanhado a proliferação de
instituições de educação superior. A partir do relato infere-se que a lógica de mercado
prevalece sobre o investimento em qualidade, tendo como parâmetro para afirmação a
formação ofertada ao aluno.
18
O fundador da primeira, Eurico Rezende, na época, era senador da República pelo estado do Espírito Santo, e
percebeu uma demanda de trabalhadores que não tinham a oportunidade de adentrar no ensino superior pelo
fato de não existirem cursos noturnos na UnB, como já mencionado. O então senador levou essa demanda ao
presidente Costa e Silva, que sugeriu ações para a criação dos referidos cursos, proposta que não obteve
sucesso. Dessa forma, o senador, por iniciativa própria, resolveu criar uma IES privada que atendesse à
demanda de ensino superior noturno (MARTINS, 1997).
79
Federal (UDF), e Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB)19 – foram constituídas por
atores que mantinham representação perante o cenário político.
No período de 1968 a 1993, observa-se longa inexistência de políticas de educação
superior, visto terem surgido apenas na década de 1980, como o Paru e o Geres, e já na
década de 1990 o Paiub. Todavia não há registros de como as políticas do Paru e do Geres
exerceram influência nas IES do DF, no que se refere à regulação das políticas e à qualidade
de ensino ofertado nestas. Em relação ao Paiub, a universidade pública do DF aderiu ao
programa, permitindo momentos de sensibilização para que a comunidade acadêmica
compreendesse o objetivo da avaliação institucional. O que há em comum entre as políticas
mencionadas é que todas eram isentas de índices que visassem aferir a qualidade de cursos e
instituições.
de 8.878. Dois anos depois, em 2001, a quantidade de IES chegava a 1.391 e de cursos
presenciais de graduação a 12.155 (INEP, 2002). Dados como esses mostram que houve um
crescimento tanto do número de IES quanto de cursos de graduação.
Para Sousa (2011) as ações do Estado destinadas à educação superior no período de
1995 a 1998 contribuíram para que houvesse, no segmento privado, a consolidação de um
grupo complexo de estabelecimentos que se distinguem em função de seus objetivos e
valores. Pode-se afirmar que há um grupo bastante diversificado de instituições no setor
privado. Essa heterogeneidade exige que a avaliação da educação superior consiga abranger
as IES, de modo a analisar as especificidades nela contidas. Isso faz com que o processo de
avaliação da educação superior assuma grandes proporções, tendo em vista não apenas o
quantitativo de IES, mas também sua diversidade.
Verifica-se que a expansão da educação superior ocorreu de forma mais significativa
na segunda metade da década de 1990, época da implentação do ENC. Essa política teve
como função avaliar o desempenho dos alunos e, assim, analisar a qualidade dos cursos.
Apesar das várias críticas, a proposta de se ter uma avaliação que visasse examinar a
qualidade dos cursos em meio a um processo vertiginoso de expansão da educação superior
era algo muito importante para que o Estado pudesse regular a qualidade das IES. Todavia os
índices que poderiam auxiliar nessa avaliação evidenciaram apenas um papel de
“ranqueamento” de IES. Apesar da divulgação dos resultados não satisfatórios de algumas
instituições, o Estado não exerceu a regulação, o que denota que a avaliação não serviu de
instrumento de intervenção na realidade das IES.
Em relação ao DF, no mesmo período, especificamente o setor privado cresceu de
maneira considerável, instalando IES em várias Regiões Administrativas do DF, desfazendo,
assim, a concentração geográfica que se deu até o ano de 1993 em Brasília. É fato que o DF
acompanhou a expansão que ocorreu nacionalmente, entretanto os índices locais foram
maiores do que os produzidos em nível nacional. “No âmbito da esfera privada, as 51 novas
IES representaram um aumento da ordem de 292,0% em relação ao número de escolas dessa
natureza instaladas entre 1968-1993” (SOUSA, 2003, p. 39). Ao comparar o crescimento de
IES privadas no DF e no Brasil entre os anos de 2000 e 2001, verificam-se os seguintes
dados: em 2000, o número de IES brasileiras era de 1.180, sendo 1.004 de natureza privada,
das quais 40 se encontravam no DF. No ano de 2001, como já mencionado, havia 1.391 IES,
sendo 1.208 de natureza privada, e destas 47 eram locais (INEP, 2002).
81
De acordo com Sousa (2003), foram cinco as causas de expansão da educação superior
privada no DF entre 1995 e 2001:
i) demanda existente e que não vinha sendo atendida pela única instituição
pública e os estabelecimentos privados no período entre 68 e 93;
ii) o estímulo apresentado pela política educacional definida, na década [de
1990] para esse nível de ensino;
iii) a rentabilidade atribuída ao segmento privado da educação superior;
iv) o interesse de alguns proprietários de escolas de educação básica em
aproveitar a estrutura que seus estabelecimentos já possuíam;
v) o nível de renda da população local, considerando elevado em relação ao
de outras unidades federativas (p. 38).
Tudo indica que, dessas justificativas, a mais forte foi a que se referia à grande
demanda com vistas ao acesso à educação superior local, contribuindo para o expressivo
crescimento do segmento privado. Diante de um cenário em expansão e da competitividade
que essas IES estabeleceram entre si, é razoável supor que elas reconheceram a necessidade de
investir em um perfil diferenciado para assim atraírem e manterem determinada clientela. E
no que se refere à política educacional, Sousa (2013) afirma que o estímulo ofertado pelo
governo FHC, na segunda metade da década de 1990, contribuiu para a expansão do
segmento privado no DF, tendo em vista a lógica orientadora do crescimento do setor, bem
como a diversificação do sistema para democratizar o acesso.
A expansão da educação superior local, no período enfatizado, pode ser vista como
fonte geradora de lucros, o que acabou por atrair a atenção de empresários oriundos de outros
ramos, bem como a de proprietários de escolas de educação básica. Estes últimos observavam
cair o número de matrículas em seus estabelecimentos, fenômeno que também acompanhou
uma tendência nacional, no referido período.
O período de 1995 a 2001 compreendeu a vigência de duas políticas de avaliação: o
Paiub, desativado em 1996, e o ENC. A única instituição que participou do Paiub, no DF, foi
a Universidade de Brasília; já o ENC, como política pública de caráter obrigatório, teve maior
abrangência em relação à avaliação dos cursos. Ao analisar as estratégias de avaliação de
ambos os Programas em relação aos índices, percebe-se que o trabalho do Paiub consistia em
uma avaliação pautada em princípios norteadores, não sendo adepto dos índices. No que se
refere ao ENC, este fez um uso inadequado dos índices, pois estes não possibilitavam refletir
sobre o resultado da avaliação, que era apenas meritocrática.
82
afirma o autor, a esfera privada só pode ser considerada como bloco quando contrastada com
a esfera pública.
Com o crescimento das IES privadas houve, consequentemente, um aumento das
matrículas entre 1995-2001, como pode ser constatado na tabela 1.
Ao fazer uma análise do período que compreende os anos de 1995 a 2001, no que se
refere à expansão da educação superior, é possível perceber que o crescimento do número de
IES e de matrículas mostra-se bastante acentuado, evoluindo a cada ano. Para Sousa (2013)
no DF, em função desse processo de expansão da educação superior, a partir da segunda
metade da década de 1990, esta modalidade de ensino evidenciou-se bastante heterogênea e
com um número considerável de instituições. Neste contexto de expansão da educação
superior é que o ENC é implementado, desta forma faz-se necessário analisar como a política
de avaliação da educação superior em vigência, no caso o ENC, interferiu nesse processo de
ampliação da rede.
A avaliação dos cursos realizada pelo ENC ficou restrita à elaboração de rankings a
partir dos índices que denotavam o desempenho das IES. Pode-se inferir que o ENC não
contribuiu para que se pudesse analisar e interferir na qualidade das IES durante o período em
que houve maior crescimento do número de instituições. Dessa forma, a política de avaliação
esteve presente como instrumento que acirrava as disputas entre as instituições, não
oferecendo subsídios para uma ação concreta no que diz respeito à regulação da qualidade.
o quesito da obrigatoriedade, fator este que não colaborou para uma efetiva intervenção na
realidade das IES, principalmente no que se refere à qualidade.
Quando se discute o ENC, não se pode negar que este teve um papel importante para a
consolidação de uma política pública de avaliação da educação superior brasileira, “pois teve
o mérito de colocar a avaliação na agenda da educação superior e da própria sociedade
brasileira” (DIAS SOBRINHO, 2010b, p. 12). Todavia alguns equívocos, principalmente no
que se refere à preocupação com a qualidade das IES, tornaram essa avaliação incoerente com
a complexidade que o tema exige.
No que se refere à regulação do sistema, o ENC não permitiu que esta fosse
concretizada, tendo em vista a garantia da qualidade nas IES privadas. A fragilidade do
exame, mediante o avanço da quantidade de IES privadas, não possibilitou a elaboração de
ações efetivas que pudessem colaborar com a qualidade do ensino. Quando se fala em
qualidade, a visão que o ENC apresenta sobre o tema é bastante reduzida, uma vez que a
relaciona, única e exclusivamente, ao desempenho dos estudantes.
No DF, após o ano de 2001, é possível perceber que o processo de expansão do setor
privado continua, segundo o Censo da Educação Superior de 2010 (INEP, 2011a). No entanto
começa a haver uma pequena queda neste setor. Em 2011, o DF possuía 59 IES, sendo três
públicas e cinquenta e seis de natureza privada. Esse número total de IES diminuiu, se
comparado a 2010, quando se contabilizavam 64 IES, das quais três eram públicas e sessenta
e uma privadas (cinquenta e cinco particulares e seis comunitárias/confessionais/filantrópicas).
Tabela 2 – Número de IES do DF, por organização acadêmica e categoria administrativa (2011)
Instituições
Número de Instituições de Educação Superior, por Organização Acadêmica e Localização (Capital e Interior),
segundo a Unidade da Federação e a Categoria Administrativa das IES – 2011
Unidade da Instituições
Federação/
Categoria Total Geral Universidades Centros Universitários Faculdades IF e CEFET
Administrativa Total Capital Interior Total Capital Interior Total Capital Interior Total Capital Interior Total Capital Interior
Distrito Federal 59 59 . 2 2 . 5 5 . 51 51 . 1 1 .
86
Pública 3 3 . 1 1 . . . . 1 1 . 1 1 .
Federal 2 2 . 1 1 . . . . . . . 1 1 .
Estadual 1 1 . . . . . . . 1 1 . . . .
Municipal . . . . . . . . . . . . . . .
Privada 56 56 . 1 1 . 5 5 . 50 50 . . . .
continuarão a serem vistos como forma de propaganda para as IES, não proporcionando uma
mudança de postura destas em relação ao conceito de qualidade.
Os índices presentes no Sinaes influenciam a regulação dos cursos das IES, uma vez
que se estas não atendem às recomendações necessárias à melhoria de qualidade na
instituição, são feitas restrições em relação ao recredenciamento, à abertura de novos cursos,
bem como à matrícula de novos alunos. As restrições permanecem até que os problemas
apontados sejam sanados. Discutir sobre o número de matrículas das IES é observar o
processo de expansão das esferas pública e privada. Assim, pode-se compreender, de forma
longitudinal e contextualizada, se houve interferência das políticas de avaliação, no caso o
Sinaes, no progresso do número de matrículas.
Quando se fala da expansão do número de matrículas e do número de IES no Brasil e
no DF, que acompanhou a tendência nacional, não é possível pensá-la de maneira isolada. A
evolução da educação superior brasileira deve ser analisada tendo em vista os condicionantes
sociais, históricos e econômicos que acompanham o fenômeno. Esse esforço de compreender
determinados fatos, tendo em vista a totalidade é necessário e não pode ser ignorado. Neste
contexto de análise da totalidade, Marx (1974) afirma que, na economia, para se chegar à
constituição do valor não é plausível a dispensa da divisão do trabalho, da concorrência,
dentre outros. Assim, o exercício de abstração possibilita uma investigação dos aspectos
quantitativos que apontam para a expansão da educação superior, mas é imprescindível que a
análise não seja finalizada nesta etapa. É preciso que os dados sejam contextualizados para
que desta maneira haja um entendimento mais apurado e fidedigno da situação da educação
superior.
Logo, quanto à evolução das matrículas nas IES públicas e privadas do DF, no período
entre 1995 e 2010, observa-se que esse número cresceu a cada ano. Entretanto, quando se
analisam esses dados entre as esferas públicas e privadas, é possível perceber realidades
diferentes. Nesse sentido, na esfera pública, considerando um período menor (1995-2002),
segundo dados do Inep (2002), verifica-se que, apesar de o número de matrículas ter
aumentado, quando comparado às IES privadas, o percentual geral apresenta queda. Isso
ocorre pelo fato de o crescimento do número de matrículas das IES privadas ter sido maior do
que o das IES públicas. Em 2003 o número de matrículas diminuiu, quando comparado a
2002. De 2004 a 2007, observa-se um crescimento pouco significativo no número de
matrículas nas IES públicas. Já em 2007, é possível constatar nova queda no número de
matrículas. De acordo com dados de 2009 do Inep, há um aumento do número de matrículas
88
nas IES públicas a partir daquele ano; quando se compara o percentual geral de matrículas
percebe-se que a esfera pública detém 14,9 % das matrículas e a esfera privada 85,1%,
apresentando, assim, um crescimento significativo se comparado aos anos anteriores.
A análise do número de matrículas da esfera privada demonstra que, em um período
mais longo (de 1995 a 2008), tanto o número de matrículas quanto o percentual da esfera
privada vêm aumentando, se comparado à esfera pública, corroborando uma tendência nacional.
Todavia, em 2010 é possível perceber um aumento do número de matrículas, embora seja
perceptível uma pequena queda no percentual do setor privado no período, o que se explica
pelo fato de o número de matrículas ter aumentado no âmbito das IES públicas. Infere-se que
esse aumento de matrículas no setor público deve-se, sobretudo, à expansão da UnB, que além
de ter ampliado as matrículas em seus cursos, criou novos campi nas RA de Planaltina, Gama
e Ceilândia.
Tabela 3 – Matrículas em cursos presenciais de graduação nas IES do DF, por natureza administrativa
(1995-2010)
Como se observa, a partir dos dados da tabela 3, apesar de o setor privado deter grande
parte das matrículas de educação superior no DF, nota-se um aumento significativo, no ano de
2010, das matrículas nas IES públicas, sobretudo se comparado ao crescimento de anos
89
anteriores. É a primeira vez que o percentual correspondente ao setor privado apresenta queda
de quase um ponto percentual em relação ao ano de 2009.
No ano de 2011, os dados estatísticos (INEP, 2012d) passam a apresentar as
matrículas presenciais e à distância nos cursos de graduação de maneira conjunta. O que
representa um total de 187.442 de matrículas no DF, sendo 28.591 na esfera pública,
equivalente a 15,2%, e 158.851 na privada, correspondendo a 84,8%. Observa-se que ao
juntar matrículas de cursos presenciais e à distância há um aumento tanto na esfera pública,
como na privada. Mas ao compararmos os percentuais dos anos de 2010 e 2011, pode-se
perceber uma pequena queda na esfera pública e um aumento discreto no setor privado.
Frente a essa expansão da educação superior privada no DF, Sousa (2003) já
ressaltava a importância de refletir sobre como as IES locais haviam se ajustado à política do
Ministério da Educação, às demandas sociais e à concorrência entre as IES. Dentre as
estratégias adotadas por um conjunto dessas instituições, o autor chamou a atenção para o
nível da pós-graduação. Para tanto, lembrou que cursos de pós-graduação lato sensu vinham
sendo ofertados por estabelecimentos cuja sede localizava-se em outros estados. Essa relação
era firmada mediante parcerias entre as instituições privadas locais. 20 Fica claro que eram
usadas estratégias diferenciadas na educação superior privada do DF com o intuito de disputar
a clientela que estava circundada, cada vez mais, por um conjunto heterogêneo de instituições.
Segundo Sousa (2006), fundadores e/ou gestores de algumas IES do DF consideram
positiva a expansão da educação superior do DF que ocorreu entre os anos de 1996 e 2006,
pois esta ampliou a questão da concorrência e promoveu uma abertura do setor para outras
IES, uma vez que este era restrito a um pequeno número de IES privadas. Todavia, alguns
desses sujeitos acreditam que a expansão do setor influenciou a qualidade do ensino. A
influência se deu pelo fato de atrair pessoas de outros ramos profissionais que viam a
educação superior como forma de arrecadar dinheiro; e também porque as instituições, em
virtude do crescimento acelerado, não puderam atender de imediato às exigências propostas
pelo MEC.
Ainda conforme o autor, de acordo com pesquisa realizada em 2006, grande parte
dos entrevistados – fundadores e/ou gestores de IES do DF – entendia que a política
educacional apresentava parâmetros avaliativos para a expansão do setor, o que possibilitava a
melhoria do desempenho das IES, sobretudo das particulares. Isso reflete o pensamento de
20
Dentre as instituições, podem ser citadas as universidades Cândido Mendes (Rio de Janeiro), Mackenzie (São
Paulo) e o Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa, sediado em Goiânia-GO. (SOUSA, 2003).
90
que aquelas IES que não atenderem aos mecanismos de avaliação do Sinaes correm o risco de
não permanecerem na rede de educação superior do DF. Nesse discurso, fica evidente que a
política de avaliação, na visão dos entrevistados, reflete apenas a adequação das IES aos
mecanismos avaliativos, e não uma forma de proporcionar melhorias, sobretudo no que diz
respeito à qualidade de ensino.
Mediante a expansão da educação superior no DF, há um consenso entre os
entrevistados de que é necessário investir na qualidade, porém este investimento se faz
importante como forma de promover um diferencial entre as IES. Dessa forma, cada
instituição apresenta um conceito acerca do que é qualidade. Para Sousa (2006), os conceitos
de qualidade trazidos pelos entrevistados revelam uma preocupação com as instalações
físicas, pouco esclarecimento sobre a importância da parte acadêmica no processo de
construção da qualidade e atendimento diferenciado para os alunos.
Observa-se claramente a preocupação dos entrevistados com a qualidade no processo
de expansão da educação superior no DF. Todavia, o período em análise – 1996 a 2006 –
ainda não contava com a presença de índices, como o IGC, direcionados a aferir a qualidade
das instituições. Neste caso, o índice poderia ter auxiliado em uma compreensão mais apurada
acerca de como as instituições se desenvolveram, em termos de qualidade, frente ao processo
de expansão. Porém, há de se considerar que, mediante os conceitos de qualidade trazidos
pelos entrevistados, o IGC poderia gerar frustrações já que não leva em consideração, para o
seu cálculo, aspectos como instalações físicas.
No DF, a expansão das IES privadas traz uma gama de instituições heterogêneas,
com históricos diversos em relação à sua consolidação e à maneira como se expandiram,
sobretudo entre os anos de 1995-2001. As distinções entre as IES também se estendem em
relação às demandas, interesses e organização interna. Em outro momento, pode-se ver que
essa expansão se consolida entre os anos de 2002 e 2009. Em 2010, tem-se outro cenário – o
número de IES privadas cai pela primeira vez e há um crescimento do número de matrículas
na IES públicas, o que faz com que o percentual do número de matrículas nas IES privadas
caia.
Esse aumento do número de matrículas na esfera pública é um dado significativo, e
infere-se que esse crescimento ocorra pelo fato de haver um projeto de expansão da
universidade pública que conta com recursos federais, não só no que diz respeito ao aumento
do número de vagas, mas também da expansão de campi para outras regiões do DF. Essas
regiões apresentavam um aumento do crescimento populacional e pouco desenvolvimento do
91
setor econômico ou necessitavam de incentivos para que seu tímido setor pudesse se
desenvolver (FUB, 2007), além, é claro, da demanda social, por meio da qual a população
reivindicava educação pública e de qualidade. No que se refere à população total do DF por
Região Administrativa, dados da Codeplan (2012) evidenciam que no período entre os anos 2000
e 2010 as regiões que receberam campi da Universidade de Brasília apresentaram uma pequena
queda no percentual populacional. No ano de 2000 Ceilândia apresentou um percentual de
16,77%, já o Gama registrou 6,37% e Planaltina 7,17%. Em 2010 Ceilândia registrou 15,67%,
Gama 5,28% e Planaltina 6,67% da população total. Assim, observa-se que houve um declínio do
número de habitantes dessas regiões, todavia esse fator não compromete a instalação dos campi,
pois estes atendem a estudantes provenientes de localidades adjacentes às RA mencionadas.
É importante refletir como essa expansão vem, de fato, proporcionando a
democratização do acesso à educação superior. O que se nota é que esses são dois princípios
necessários a este nível de educação, mas não só no DF e sim no cenário brasileiro, porém os
aspectos mencionados nem sempre caminham juntos.
Ademais, Sousa (2010) traz à tona uma discussão que deve ser levada em conta quando
se fala dessa expansão da educação superior: o aumento do número de vagas ociosas, na esfera
privada, que surge como consequência do crescimento desordenado do setor, principalmente na
segunda metade da década de 1990. Esta expansão não visava atender às demandas sociais, mas
era encarada como fonte de lucros para os grandes empresários, educação como mercadoria. Já no
setor público, essas vagas ociosas, que requerem dinheiro público, são oriundas do fato de os
alunos mudarem de cursos e até mesmo por não se interessarem por vagas oferecidas por
determinado curso, como ocorreu no campus de Planaltina.
A expansão do setor público e do setor privado requer cuidados, pois a realidade não
será alterada se a palavra expansão não estiver ligada tanto à democratização do acesso quanto à
oferta de uma educação de qualidade. Ao longo das décadas, no DF, observou-se o crescimento
vertiginoso do setor privado, com a permissão do Estado. O que é colocado em evidência nesse
setor é justamente a existência de vagas ociosas. E o mesmo já acontece na esfera pública, que
cresce de maneira mais tímida, se comparada à esfera privada, mas que também já dá sinais de
que apresenta vagas ociosas. A existência dessas vagas é um ponto contraditório, uma vez que, de
acordo com dados do Inep, o Brasil apresenta uma das menores taxas de inserção de indivíduos na
educação superior.
Ainda no que se refere à existência de vagas ociosas na educação superior brasileira,
Sousa (2010) pondera que houve um aumento do número destas vagas no primeiro mandato e na
92
primeira metade do segundo mandato do governo Lula, sobretudo no setor privado. O autor
aponta que algumas políticas, como o Programa Universidade para Todos (Prouni)21,
demonstraram que o Estado oferecia fomentos para o crescimento do setor privado, favorecendo
uma expansão do número de matrículas nas IES privadas. Em contrapartida, esse crescimento da
quantidade de matrículas fez que com houvesse também um aumento do número de vagas
ociosas. Esses dados demonstram que há uma exaustão do setor privado no que se refere à
ampliação de suas matrículas. Pode-se afirmar que essa é uma evidência de que o setor aponta
sinais de esgotamento, já que não consegue preencher as vagas que oferta em seus processos
seletivos. Esta tendência se repete também no DF e pode ser comprovada mediante a queda no
percentual do número de matrículas nas IES privadas.
Para Sousa (2013) observou-se que no DF, ao longo de cinco décadas, um crescimento
acentuado do setor privado com a anuência do Estado. A esfera pública também evidenciou uma
expansão, mas tímida quando comparada àquela que se deu na esfera privada. Todavia, de acordo
com o autor o crescimento do número de vagas na educação superior é um ponto contraditório,
porque o Brasil ainda apresenta uma das menores taxas de inserção de indivíduos na educação
superior, quando comparado aos países da América Latina.
Assim, é importante que não se pense apenas na expansão do setor no DF, seja da esfera
pública ou privada. A questão maior é encontrar meios de democratizar o acesso, meios estes que
não estejam apenas ligados ao número de vagas nas instituições. Mas que analisem, de forma
global, a complexidade desse processo, que não é simples, levando em conta aspectos sociais e
econômicos e, principalmente, os sujeitos que demandam e que estabelecem uma relação direta
com essa expansão. É preciso salientar que o quantitativo de vagas abertas a cada ano não resolve
o problema – é preciso investir na democratização do acesso, na ocupação das vagas ociosas e na
qualidade do ensino. Uma expansão que não leva em conta esses critérios não cumpre a função de
inserir, de forma digna, mais indivíduos na educação superior do DF e, consequentemente, do
Brasil.
A expansão da educação superior pública e o processo de democratização do acesso não
dependem apenas do fator quantitativo, como o aumento do número de vagas. Eles estão atrelados
à participação de diversos sujeitos que devem estar imersos nesse processo, assim como a
questões pedagógicas, financeiras e políticas.
21
Instituído pela Lei 11.096, de 13 de janeiro de 2005, o Prouni, segundo artigo primeiro da referida lei é
destinado à concessão de bolsas de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de 50% (cinquenta por cento)
ou de 25% (vinte e cinco por cento) para estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação
específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos (BRASIL, 2005).
93
3.1 Método
Para Gamboa (2008), o método traz diferentes concepções de realidade, e para fazer
análises de pesquisas em educação é importante que se utilize alguma das abordagens
apontadas pela literatura, porém este não pode ser usado de forma indiscriminada, como
consequência de um modismo. De acordo com o autor, para abordar a historicidade dos
fenômenos, pode-se considerar as três grandes epistemologias modernas: a empírico-analítica,
a fenomenológica e a dialética. Ainda que a dialética não rompa com a fenomenologia, mas
possa, inclusive, manifestar-se também nesta última, dependendo de referencial teórico ao
qual o pesquisador busque filiação, para fins didáticos, na discussão aqui proposta adota-se a
organização epistemológica defendida por Gamboa (2008).
95
Esta pesquisa traz aspectos que se identificam mais com a abordagem dialética, em
virtude dos fatores e do envolvimento do objeto de pesquisa; “a dialética entendida como o
método que nos permite conhecer a realidade concreta no seu dinamismo e nas inter-relações”
(GAMBOA, 2008, p. 34). Dessa forma, a dialética é um processo de construção do concreto,
do pensamento, tendo como base para essa construção o concreto real. Quando se fala de
concreto, a ideia que se sustenta é a de que este é o resultado de uma junção de elementos
abstratos.
Dessa forma, pode-se analisar que a investigação de um problema não pode ter fim na
utilização da lógica formal, pois há uma limitação da pesquisa. É importante que se mescle
tanto a lógica formal quanto a lógica dialética. Nessa junção há a possibilidade de se ampliar
os conhecimentos em relação ao objeto estudado, analisando-o na perspectiva da totalidade.
Essa união das lógicas remete ao relato de Kopnin (1978) de que a ciência necessita de
regras rigorosas de dedução, mas que também possibilita a abrangência do objeto em vários
96
aspectos, dando margem a traçar novos caminhos para que o objeto possa ser analisado de
forma global.
abstraídos. Para que a abstração seja feita de forma correta, o primeiro passo é delimitar o
problema a ser investigado.
Observa-se que a abstração é algo essencial para a investigação em uma pesquisa, pois
a partir dela é possível ir do abstrato ao concreto e fazer o resgate apenas daquilo que se
considera essencial. Ao fazer o processo de abstração, não se desconsidera aspectos da
historicidade e nem da totalidade; o intuito é observar as particularidades e, posteriormente,
relacioná-las ao todo da pesquisa.
Marx (1977) discute o método empregado na economia política e exemplifica que a
análise começaria pela população, todavia tal fato incorre em erro, pois a população só é fruto
da abstração se desprezados fatores importantes que a compõem como, por exemplo, as
classes. Estas, por sua vez, são vazias de sentido se ignorados elementos como o trabalho e o
capital. Diante do exposto, o autor afirma que começar a análise tendo como ponto de partida
a população é ter uma visão caótica do todo e pondera que é necessário que se faça o caminho
inverso, pois neste percurso a população seria “uma rica totalidade de determinações e de
relações numerosas” (p. 218).
O autor afirma que os economistas do século XVII começavam suas análises sempre
por uma totalidade viva, como Nação, Estado, mas sempre acabavam por fazer relações
abstratas mais determinantes, isolando assim fatores importantes e depois retornando à
totalidade da qual partiram como ponto de análise. Marx (1977), avalia que este é o método
correto a ser empregado, uma vez que
A abstração que caracteriza a realidade por ela mesma, induz ao erro de observá-la
como verdade absoluta, uma vez que, nesse caso, o prisma de análise passa a ser unilateral, o
que nega as outras dimensões do homem, bem como a intencionalidade e a intensidade das
suas ações. Ainda de acordo com Kuenzer, a definição do método e a sua utilização de acordo
com as categorias metodológicas e as de conteúdo, anteriormente discutidas, possibilitam a
compreensão do objeto a partir da totalidade na qual ele se encontra.
Dessa forma, a análise a partir da dialética é ponto fundamental para que se possa
investigar, de forma adequada, o objeto da pesquisa, pois esta permite uma visão mais
completa do todo. Porém o que possibilitará a interlocução do todo com suas partes, levando
em consideração a historicidade, as contradições e a mediação, é justamente a articulação das
categorias de conteúdo com as metodológicas.
A dialética, na Idade Média, sofreu novas repressões, pois a sociedade feudal não
permitia aos indivíduos a mobilidade social. Logo, a ideia de movimento era uma afronta aos
princípios estabelecidos àquele sistema, e a dialética foi perdendo espaço na Filosofia.
Somente com o advento do Renascimento a dialética ganhou destaque, conseguindo manter-
se em épocas seguintes, porém ainda havia controvérsias em relação à dinâmica da sociedade.
Em se tratando da dialética, percebe-se que mesmo tendo conquistado novamente seu
espaço, a concepção que se fazia do movimento ainda era algo limitado, uma vez que este não
compreendia a transformação como algo inerente à condição humana. A partir do século
XVIII, com a Revolução Francesa, houve uma maior compreensão, por parte dos filósofos
iluministas, sobre as transformações vivenciadas pela sociedade, apesar de ainda ser um
entendimento simplificado e ainda superficial. Konder (1998) afirma que ainda não havia a
preocupação de se pensar de forma aprofundada acerca das contradições internas existentes na
sociedade.
É importante ressaltar que a compreensão do termo contradição é essencial para o
entendimento da dialética, uma vez que o desenvolvimento tem origem na contradição dos
fenômenos e nos processos que estão em constante interação. Assim, a contradição é a base
para que se compreenda o movimento que há na sociedade.
intervenções que o sujeito faz na sociedade. Dessa forma, ele avaliava que o trabalho exerce
grande influência no cotidiano do sujeito.
A intenção de imprimir um olhar dialético à presente dissertação, tendo como base os
pressupostos estabelecidos pelo método, surgiu em virtude da complexidade que o tema da
avaliação da educação superior apresenta, principalmente em relação aos índices. Dessa forma,
para que se possa compreender o IGC como índice que evidencia o desempenho das IES, é
necessário que se faça uma investigação levando-se em conta as categorias metodológicas do
materialismo histórico-dialético.
As categorias contradição e mediação são importantes para a análise do IGC, pois
consideram pontos que perpassam a historicidade e o contexto em que esse índice foi criado. Uma
análise desse índice que não considere as categorias mencionadas incorre em uma interpretação
inadequada, o que pode culminar em uma deturpação quanto à utilização do IGC, colocando à
prova a sua eficiência no sistema de avaliação da educação superior.
Para Cury (1987), as categorias são conceitos básicos que têm por objetivo refletir os
aspectos gerais e essenciais do real, as conexões e possíveis relações. As categorias são fruto
da análise de vários fenômenos e pretendem conferir um alto grau de generalidade. É
importante ressaltar que as categorias não são estanques, elas dependem de um contexto
histórico para terem sentido e podem sofrer alterações de acordo com a realidade investigada,
pois o princípio do movimento se faz presente.
22
Kosik (1976) considera que o significado da totalidade está relacionado a um todo que é estruturado, e os
fatos que a compõem podem ser racionalmente compreendidos. O autor critica que o simples acúmulo de
fatos não significa a compreensão da realidade e, por consequência, não pode ser caracterizado como uma
totalidade. Os fatos são conhecimento da realidade a partir do momento em que são vistos como fatos de um
todo dialético, logo não podem ser divididos e isolados do todo – são partes fundantes da estrutura de um
todo.
103
perpassou grande parte das reflexões que surgiram durante a elaboração do trabalho. As
categorias mediação e contradição foram enunciadas e discutidas ao longo da pesquisa,
fornecendo subsídios que fomentaram a relação pesquisador e objeto. Há de se fazer uma
breve discussão para que se possa pontuar o conceito de cada uma das categorias que foram
abordadas na dissertação.
Cury (1987) denomina a categoria contradição como a base metodológica da dialética,
uma vez que a racionalidade do mundo real encontra-se na totalidade, pois os fenômenos não
são estanques, eles têm uma característica de serem superáveis. Kuenzer (2011) acrescenta
que a pesquisa deve captar o movimento existente na relação entre os contrários. Dessa forma,
é imprescindível que o pensamento se mova, pois assim é capaz de avaliar como pontos que
se opõem dialeticamente constroem ou desconstroem a realidade. A contradição visa avaliar
não como os pontos em análise se excluem, mas sim de que forma se complementam, tendo
em vista o movimento e as manifestações envolvidas na apropriação daquela realidade.
Pode-se perceber que a contradição exige uma relação entre seus objetos, e essa
relação de conflito é o que proporciona dinâmica e movimento a essa categoria. Observa-se
que todos os fenômenos estão interligados e se complementam em virtude de uma conexão
das suas propriedades internas. Assim, a realidade é composta dessas relações antagônicas, o
que permite a existência mútua de elementos prévios, como também a possibilidade de que
novos sejam agregados.
No que se refere à contradição, é possível perceber que não há uma rivalidade entre
aqueles elementos que são contrários. O que ocorre é que deve haver uma maturidade para
compreender que estes fazem parte do real. Observa-se que há uma oposição, mas é
justamente ela quem dá suporte à existência dos contrários, e durante o movimento, que é
104
também auxilia na compreensão da complexidade dos fenômenos, fator este que permeia a
discussão dos índices.
Com base no exposto, o objeto de estudo desta dissertação tem maior aproximação
com a abordagem quali-quantitativa, uma vez que é feita uma análise comparativa do índice,
de acordo com a natureza acadêmica das IES, com o objetivo de analisar o IGC como indutor
de qualidade dessas instituições. Para o cálculo do IGC são levados em consideração aspectos
da graduação – como a média ponderada do CPC dos cursos avaliados – e da pós-graduação –
que se baseia na média ponderada das notas dos programas de pós-graduação, avaliados pela
Capes. Para este estudo, foram evidenciados apenas os aspectos que dizem respeito à
graduação. Vale ressaltar que apenas as universidades e os centros universitários têm pós-
graduação stricto sensu, porém, como o IGC é uma média ponderada, mesmo aquelas IES que
não possuem esse programa na pós-graduação também têm seu IGC calculado.
Considerando o exposto e visando propiciar coerência com o estudo, o tipo de
pesquisa realizado foi exploratória. Segundo Gil (2008) pesquisas do tipo exploratória são
desenvolvidas com o objetivo de propiciar uma visão geral acerca de determinado fato. Este
tipo de pesquisa é utilizado quando o tema escolhido foi pouco explorado. Desta maneira,
pode-se afirmar que o mencionado tipo de pesquisa foi selecionado tendo em vista a
investigação de questões que envolvem o IGC. Como o índice foi implementando em 2008 na
política do Sinaes, ainda existem poucas discussões acerca dos reflexos que este tem
provocado na avaliação das IES.
Objetivo geral
Investigar como o Índice Geral de Cursos (IGC) tem induzido a qualidade no curso de
licenciatura em Letras de quatro instituições de educação superior do Distrito Federal, nos
ciclos avaliativos de 2008 e 2011.
110
Objetivos específicos
Analisar o conceito Enade como um dos instrumentos de composição dos índices obtidos
pelas instituições de educação superior selecionadas para o estudo.
Investigar a concepção de qualidade orientadora da gestão acadêmica dos
estabelecimentos pesquisados a partir de suas políticas institucionais.
Examinar as estratégias adotadas pelas instituições selecionadas quanto ao uso dos
resultados do seu IGC como forma de investimento na qualidade, tomando como
referência os cursos pesquisados.
Examinar a relação entre o IGC e a regulação realizada no curso de licenciatura em Letras
das IES investigadas.
As IES pesquisadas foram selecionadas tendo em vista sua natureza institucional, que
traz consigo a categoria administrativa, a organização acadêmica e a localização geográfica no
DF. Dessa forma, foram analisados duas universidades, um centro universitário e uma
faculdade, sendo que uma instituição é pública e três são privadas. A caracterização das
instituições será feita mais adiante, todavia para que se possa preservar sua identidade, bem
como a dos entrevistados, as IES não serão identificadas.
No que se refere à caracterização, esta contará com a historicidade do fenômeno que
permeia a construção e a consolidação de cada uma das IES. Esse processo também é imbuído
de intencionalidades políticas, econômicas e sociais. Os aspectos mencionados não podem ser
descartados, uma vez que revelam muito sobre as instituições pesquisadas.
Além da historicidade, os pré-requisitos para a seleção das instituições merecem uma
breve discussão, pois permitem o entendimento sobre a forma como o IGC reflete em cada
uma. Assim, a escolha das IES por sua natureza administrativa traz à tona uma dualidade
existente entre o público e o privado no que diz respeito à avaliação. Como já mencionado,
nesta dissertação, apenas uma das instituições é pública, enquanto as outras três são privadas.
Dessa forma, é relevante discutir se existem diferenças ou semelhanças em relação ao uso que
111
se faz das avaliações feitas nas esferas pública e privada, principalmente no que se refere à
socialização e utilização dos índices.
Em relação ao fato de selecionar IES pertencentes a organizações acadêmicas
distintas, o intuito foi de analisar se o uso das avaliações nas IES era diferente pelo fato delas
não se enquadrarem na mesma organização. Vale ressaltar que o cálculo do IGC é feito de
maneira distinta naquelas instituições em que não há cursos de pós-graduação stricto sensu, e
esse é um dos pontos que mereceram reflexão durante a análise dos dados, para que se
pudesse constatar se essa distinção trazia alguma consequência na avaliação das IES. Quando
se menciona a investigação de diferenças existentes no processo avaliativo, tal fato se refere
não só à utilização dos índices existentes no Sinaes, mas também à análise de como se dá a
regulação nessas instituições.
No que diz respeito à localização das IES, duas concentram-se na Região
Administrativa (RA) de Brasília e duas na de Taguatinga. Na RA de Brasília a seleção das
IES obedeceu aos critérios de organização acadêmica e categoria administrativa. Já na RA de
Taguatinga foram obedecidos os mesmos critérios, todavia um outro elemento também
motivou a escolha de uma das IES localizadas nesta região. Este é explicado pelo fato da IES
ter apresentado duas notas dois na avaliação do Enade do curso de licenciatura em Letras, nos
anos de 2005 e 2008, e pesou de maneira significativa para que a instituição fosse escolhida
em meio às outras que também oferecem o mesmo curso nesta região. Assim, o intuito era de
também analisar se os resultados dos IGC dessas instituições mostravam-se distintos ou
semelhantes em relação à localização das IES. A partir dos dados coletados, foi possível
realizar inferências sobre o motivo das semelhanças e diferenças do IGC, tendo como pano de
fundo a localização geográfica.
Diante dos aspectos discutidos, pode-se afirmar que o cenário atual da educação
superior no DF demonstra que a sua expansão pelo setor privado ainda está em curso, porém o
que se observa é que a esfera pública vem ganhando espaço no que se refere a esse
crescimento. Diante desse cenário é preciso ressaltar de que forma as políticas de avaliação, e
principalmente o Sinaes, acompanharam a questão do investimento na qualidade de ensino
nesses novos estabelecimentos que foram surgindo ao longo dos anos.
Dessa forma, a pesquisa se propôs a fazer uma análise comparativa do IGC de quatro
instituições do DF, levando em consideração a forma como as IES se apropriaram do índice,
tendo em vista a maneira como ele representa a qualidade das instituições selecionadas.
112
Instituição A
Segundo Martins (1997), essa instituição foi criada com o intuito de trazer um
projeto de modernização acadêmica ao País, tornando-a um centro de produção de novos
conhecimentos. Durante a década de 1990, ela apresentou um crescimento significativo, porém
também uma escassez de recursos. Em 1997, aumentou o número de cursos, bem como de
investimentos na questão do acesso, por meio de mudanças nos cursos e da gestão acadêmica.
É possível compreender que nesse histórico, não só o número de cursos de
graduação e de pós-graduação aumentou, mas também o trabalho voltado para pesquisa e
iniciação científica apresentou crescimento significativo. Com efeito, esse fato contribuiu não
só para o desenvolvimento da comunidade acadêmica, mas também para disseminar o
conhecimento perante a sociedade, o que pode ser corroborado pelo aumento do número de
atividades de extensão, que visam auxiliar as demandas da comunidade do DF.
A parte mais recente de sua expansão se deve ao Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI), que foi de 2002 a 2006. No que se refere à expansão da instituição além da
descentralização da oferta da educação superior é importante ressaltar a questão da
democratização do acesso. De acordo com Melo e Sousa (2009), o acesso à educação superior
brasileira esteve restrito à elite, mas em 1990 deu-se um novo rumo à expansão do setor, porém na
esfera privada, ocasionando uma disputa maior pela educação superior pública.
Segundo dados do seu Anuário Estatístico (2011), a instituição possui 103 cursos de
graduação, 31 cursos noturnos e 151 habilitações. Já os números na pós-graduação são
evidenciados por meio da existência de 73 cursos de mestrado, 56 de doutorado e 23 de
especialização. Em relação ao quantitativo de alunos regulares registrados em 2010, no primeiro
semestre foram contabilizados 28.172 estudantes na graduação, já no segundo semestre havia
29.775. Isso representa um aumento do número de alunos regulares, quando comparados o
primeiro e segundo semestres. No que se refere à pós-graduação stricto sensu, o mestrado
contava com 3.596 alunos no primeiro semestre e 3.309 no segundo. Já o doutorado registrou
2.225 e 2.174 alunos, respectivamente.
113
Instituição B
De acordo com o PDI da instituição (2008) a história desta está ligada à construção de
Brasília, pelo fato de a inauguração da nova capital federal ter possibilitado nas décadas de
1960 e 1970 uma expansão econômica, fazendo com que todo o País tivesse uma ligação
direta com as regiões que compõem o DF.
Após a fundação da mantenedora, a primeira unidade da instituição foi denominada de
Faculdade de Ciências Humanas, dando início às suas atividades em 1974, com os cursos de
Economia, de Administração e de Pedagogia.
Ainda de acordo com o PDI (2008), os três cursos pioneiros da faculdade atendiam às
perspectivas da população do DF, que buscava ensino de qualidade no período noturno. Um
fato curioso é que os cursos destinados à formação de professores eram algo crescente, porque
as escolas haviam se expandido para atenderem à demanda da população que chegava ao DF.
Em 1980, foi realizada uma alteração nos Estatutos e Regimentos mantenedora e da
IES, o que permitiu que esta se encaixasse em uma nova organização acadêmica.
Em 1985 foi inaugurado o primeiro campus da IES. Nesta mesma época, de acordo
com dados do PDI da instituição a cidade que alocava a instituição também cresceu e tornou-
se polo econômico com população estimada em mais de 300.000 habitantes. Desta forma a
inauguração deste campus trouxe uma valorização daquela área e possibilidade de acesso a
novos estudantes.
Em relação ao processo de expansão da instituição, a direção da IES acelerou as
condições para o reconhecimento de uma outra organização acadêmica, junto ao CFE.
Segundo o PDI (2008), os projetos pedagógicos de todos os cursos da IES,
distribuídos nas áreas de ciências humanas, sociais, tecnológicas e ciências da saúde,
totalizaram mais de 40 cursos até o final da década de 1990, espalhados na graduação, na pós-
graduação, e em projetos e programas de extensão.
A educação a distância foi outra área que ganhou espaço nesta instituição e
proporcionou o desenvolvimento de tecnologia na educação, além de espaços internacionais
com cursos de graduação e pós-graduação lato sensu.
114
Instituição C
Segundo Péres (1998), a instituição teve a sua aula inaugural ministrada no Congresso
Nacional e transmitida pelo programa de rádio Voz do Brasil. Inicialmente, a intenção era a
de se fundar um colégio, porém, como o mercado já estava saturado, optou-se pela instituição
de educação superior. A oferta de cursos destinava-se ao turno noturno. Já no primeiro
vestibular, todas as vagas foram preenchidas, o que refletia a demanda da sociedade por
acesso à educação superior.
Segundo Péres (1998) os membros da instituição esperavam uma tramitação tranquila
dos processos, todavia foram surpreendidos por opiniões contrárias à criação dos cursos que a
instituição propusera. Em meio aos discursos contrários à autorização dos cursos, o reitor de
uma universidade, um dos conselheiros, mostrou-se favorável à causa da instituição. Após a
votação do conselho a instituição saiu vitoriosa.
O autor destaca que em 1968, a IES teve o início dos seus trabalhos com os cursos de
Direito, Filosofia (Pedagogia, Geografia, História e Letras), Ciências Econômicas, Contábeis
e de Administração. O autor destaca que o prestígio da instituição estava presente nos anseios
das repartições públicas e da classe média em retomar ou iniciar os estudos de nível superior.
Em 1971 foi inaugurado o campus da instituição, após três anos funcionando em
escolas alugadas, os alunos começaram a migrar para as novas instalações. Em 1978, ao
celebrar os seus dez anos, a instituição apresentava 18 cursos em funcionamento e 9.500
alunos. Neste mesmo ano foi consolidado o projeto do novo Centro Educacional, organizado
pela instituição, que se destinava ao ensino de 2º grau.
Na década de 1990, o MEC conferiu à instituição uma nova organização acadêmica.
Em 2012, a IES contava com 22 cursos de graduação, quatro cursos tecnológicos, a pós-
graduação oferecendo mestrado e doutorado em Direito e mestrado em Psicologia e cursos
lato sensu nas áreas de Saúde, Direito, Meio Ambiente, Gestão e Tecnologia.
115
Instituição D
De acordo com dados do PDI (2011), em 1998 a instituição foi criada. O curso
pioneiro da graduação desta IES foi o de Letras, com dupla habilitação, em Língua
Portuguesa e Língua Inglesa e respectivas Literaturas, que teve o seu funcionamento
autorizado em 1999, e foi reconhecido em 2004.
No ano 2000 a IES teve mais dois cursos autorizados: o de Pedagogia, seguido pelo
curso de licenciatura em Matemática. No ano seguinte o curso autorizado foi o de
Bacharelado em Secretariado Executivo Bilíngue.
Já os cursos ligados à área da tecnologia tiveram autorização concedida no ano de
2004, para o Curso Superior de Tecnologia em Sistemas de Informação e o Curso Superior de
Tecnologia em Redes de Computadores. Por fim, mas ainda no mesmo ano, foi autorizado o
funcionamento do curso de Bacharelado em Administração. A instituição também oferece
cursos de pós-graduação lato sensu.
Em agosto de 2002, a IES inaugurou a primeira parte das suas instalações físicas,
tendo em vista melhorar a qualidade da educação ofertada, pois suas aulas eram ministradas
em uma escola pertencente aos mesmos dirigentes e mantenedores da IES. Ainda segundo o
PDI da instituição (2011), esta tem como propósito assumir a sua responsabilidade social e
atender à demanda de comunidades menos favorecidas através de projetos e da filantropia.
Por fim, diante da diversidade apresentada, fica explícito que investigar as instituições,
tendo em vista a análise do IGC como indutor de qualidade, é algo que viabiliza verificar o
processo de avaliação destas. A avaliação é um instrumento que possibilita que as instituições
tenham um olhar crítico acerca da sua dinâmica, do seu modo de trabalho, assim como
possibilita que novas metas sejam traçadas em busca de uma transformação que contribua de
forma significativa com a formação da comunidade acadêmica. Todavia, os elementos
avaliação e qualidade assumem conceitos diferentes em virtude do contexto no qual se
encontram. Essa polissemia é positiva, pois mostra a contradição existente no processo, bem
como contribui para que novos olhares sejam lançados acerca do objeto de estudo desta
dissertação.
116
Após a seleção das IES, foi escolhido um curso. Pensou-se inicialmente no curso de
Pedagogia,23 depois se optou por uma licenciatura, no caso, o curso de licenciatura em Letras,
pois este mantém uma proximidade com a área de educação e foi avaliado pelo Enade nos
ciclos de 2008-2011. O conceito Enade do curso de Letras de 2008 ajudou a compor o
Conceito Preliminar de Curso (CPC) e, consequentemente, o IGC de 2008 a 2010. Já para o
cálculo do IGC de 2011 foram considerados os CPC dos cursos avaliados no triênio 2009-2011.
Desta maneira, o curso de Letras avaliado pelo Enade 2011 auxiliou na composição do IGC neste
mesmo ano. Assim, pode-se dizer que a avaliação do curso de Letras influenciou no cômputo do
IGC nos anos de 2008 a 2011.
A partir da investigação do histórico das IES do DF selecionadas para a pesquisa, foi
constatado que o curso de Letras foi o pioneiro em algumas destas instituições. Infere-se que
o fator que talvez tenha possibilitado o pioneirismo do curso foi o baixo custo para
administrá-lo, se comparado a cursos que necessitam de mais recursos físicos, como os das
áreas de Saúde e Engenharia.
De acordo com relatório síntese do curso de Letras (INEP, 2008), o Enade de Letras
contou com a participação de estudantes – ingressantes e concluintes – de 740 cursos. Dentre
estes, no que se refere à categoria administrativa, 70 concentravam-se nas instituições
federais, 134 em estaduais, 30 em municipais e 506 em IES privadas. A distribuição dos
cursos de Letras no Brasil, segundo a organização acadêmica, corresponde a 358 em
universidades, 82 em centros universitários, 56 em faculdades integradas e 243 em
faculdades, escolas e institutos superiores e 01 em centro de educação tecnológica. Observa-
se que as IES privadas ainda possuíam grande parte dos cursos de Letras, todavia ao analisar a
distribuição dos cursos por organização acadêmica, verifica-se que a maioria estava em
universidades, representando 48,4%.
Já em relação ao número de estudantes inscritos e presentes no exame houve um total
de 40.638 estudantes, dentre os quais 17.888 são ingressantes e 22.752 concluintes. Ao
separar o total de estudantes por categoria administrativa tem-se 6.784 em IES federais, 7.822
em estaduais, 1.427 em municipais e 24.605 em IES privadas (INEP, 2008). É possível
23
O curso de Pedagogia tem relação direta com a formação inicial da pesquisadora, porém a hipótese foi
descartada, uma vez que uma das IES selecionadas deixou de ofertá-lo nos últimos anos.
117
perceber que grande parte dos estudantes do curso de Letras estava em instituições privadas,
tanto ingressantes (59,7%) como concluintes (61,2%). Segundo dados da tabela 4, havia um
maior número de concluintes em todas as categorias administrativas.
Tabela 4: Número de estudantes inscritos e presentes no Enade de 2008, por categoria administrativa
Grupo Categoria Administrativa
Total Federal Estadual Municipal Privada
Brasil 40.638 6.784 7.822 1.427 24.605
Ingressantes 17.886 3.196 3.434 577 10.679
Concluintes 22.752 3.588 4.388 850 13.926
Fonte: INEP (2008)
A divisão dos estudantes avaliados, por organização acadêmica, evidencia que do total
de 40.638, 23.539 concentravam-se em universidades, 4.308 em centros universitários, 2.774
em faculdades integradas, 9.997 em faculdades, escolas e institutos superiores e 20 em um
centro de educação tecnológica. De acordo com os dados, é possível inferir que grande parte
dos estudantes de Letras encontra-se em universidades (INEP, 2008).
No que se refere à relação entre o curso e o IGC da IES, a tabela 5 ilustra a proposta
do estudo, que tem por objetivo averiguar se o índice faz a regulação da qualidade das IES,
que tipo de regulação se apresenta e de que forma ela é vista por estas. Essa análise
estabeleceu uma comparação entre as IES selecionadas face ao IGC.
IES Enade 2008 IGC 2008 IGC 2009 IGC 2010 Enade 2011 IGC 2011
Instituição A 4 4 4 4 1 4
Instituição B 3 3 3 3 3 3
Instituição C 3 3 3 3 3 3
Instituição D 2 3 3 3 3 3
Fonte: INEP (2012e)
A tabela 5 evidencia que houve uma queda no conceito Enade no curso de Letras da
instituição A, entre os ciclos avaliativos de 2008 e 2011. Nas instituições B e C as notas do
exame não sofreram alterações. Já na instituição D observa-se um aumento da nota, que foi de
2 para 3. Em relação ao IGC das instituições, este não sofreu alterações entre os anos de 2008
a 2011. Diante dos resultados, pode-se afirmar que tanto a queda quanto o aumento das notas
do Enade não trouxeram alterações para o IGC das IES. Todavia, é importante que as IES
118
24
Devido à heterogeneidade das IES selecionadas no que se refere à organização acadêmica, para esta pesquisa
são gestores: assessoria de pró-reitores, coordenadores e diretores acadêmicos.
25
O Presidente da CPA da instituição C também ocupa o cargo de coordenador do curso de Letras na mesma IES.
121
O tópico guia é, contudo, como sugere o título um guia, e não nos devemos
tornar escravos dele, como se o sucesso da pesquisa dependesse só disso. O
entrevistador deve usar sua imaginação social científica para perceber
quando temas considerados importantes e que não poderiam estar presentes
em um planejamento ou expectativa anterior, aparecerem na discussão. Isto
deve levar à modificação do guia para subsequentes entrevistas (p. 67).
Assim, o tópico guia deve ser preparado no início da pesquisa, mas deve ser um
instrumento flexível, pois possibilitará agregar elementos que serão importantes na coleta de
dados.
Além das entrevistas foi feita a análise documental. Segundo Ludke e André (1986),
a análise documental é uma técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos e pode ser
utilizada para complementar informações obtidas por outras técnicas. As autoras ainda
afirmam que os documentos são fontes das quais inúmeras evidências podem ser retiradas.
Como base no exposto, os documentos podem fornecer informações importantes
acerca do objeto pesquisado. Tendo em vista, a preocupação desta pesquisa com o contexto
histórico, a análise documental contribui para que os dados coletados possam ser
contextualizados e assim seja possível atribuir significância a um determinado fato.
Para Gil (2008) são considerados documentos quaisquer objetos que contribuam para a
investigação de um fenômeno. As fontes de documentação utilizadas envolvem: (i) registros
estatísticos, os quais são coletados e armazenados para servir aos interesses de organizações;
(ii) registros institucionais escritos, que são fornecidos por instituições governamentais e não
governamentais, como projetos de lei, relatórios etc.; (iii) documentos pessoais, que
possibilitam obter informações relevantes sobre experiências profissionais; e iv) veículos de
massa, os quais fornecem os mais variados aspectos em relação à sociedade, permitindo uma
análise temporal dos fenômenos.
A análise documental realizada nesta dissertação teve como fontes de documentação
os registros estatísticos e os registros institucionais, no caso os PDI. Os instrumentos de
pesquisa descritos neste item tiveram por objetivo uma coleta de dados mais ampla, que
atendesse às necessidades de investigação referentes ao objeto de estudo.
Apresentados os procedimentos metodológicos da pesquisa, no próximo capítulo os
dados coletados serão analisados e interpretados, com o intuito de atingir os objetivos
delineados para esta dissertação, conjugando suas dimensões teóricas e metodológicas.
123
O presente capítulo tem por objetivo analisar e interpretar os dados coletados por meio
das entrevistas com os sujeitos selecionados para a pesquisa, contrapondo-os à literatura e à
análise documental. A análise dos dados possui como referência as categorias de conteúdo,
elencadas para o estudo: (i) avaliação como política pública; (ii) qualidade na educação
superior; e (iii) regulação. Ao discutir cada categoria, tendo em vista os dados coletados, tem-
se a intenção de abordar as categorias metodológicas – contradição e mediação –, pois estas
dão suporte e permitem a compreensão do movimento existente nas políticas educacionais
voltadas para a avaliação da educação superior.
A análise dos dados, de acordo com Creswell (2007), deve envolver um processo de
reflexão, de condução de diferentes análises, aprofundando cada vez mais a compreensão das
informações obtidas. Essa não deve estar separada da coleta, pois enquanto o pesquisador
coleta determinados dados, pode compará-los com outros que já foram investigados
anteriormente – é um processo que ocorre concomitantemente. A análise mais profunda ajuda
na elaboração do relatório contendo os dados da pesquisa.
Nesta perspectiva, os dados coletados foram gravados, categorizados e interpretados,
tendo em vista a perspectiva de análise de conteúdo. Para Pereira (1998), a análise de
conteúdo subsidia a construção do objeto de pesquisa, porque fornece a possibilidade de aliar
teoria, que engloba hipóteses, variáveis e interpretações, a técnicas de pesquisa. Ainda segundo
a autora, há a possibilidade de construção provisória de hipóteses, de definição de conceitos e até
mesmo do objeto de pesquisa, pois
Assim, as mensagens precisam ser analisadas de acordo com o contexto do qual fazem
parte, pois trazem reflexões acerca de um meio social. A compreensão dessas mensagens de
maneira isolada, sem levar em consideração a totalidade que compõem, é vazia de sentido.
Dessa forma, é indispensável ter olhares diferenciados, respeitando aspectos da historicidade,
para a análise e interpretação de cada mensagem.
Para Bauer (2008), a análise de conteúdo permite construir indicadores, valores,
opiniões, entre outros, e compará-los. Isso é possível, à medida que a mensagem permite que
se trabalhe com os dados obtidos, e estes, por sua vez, estão repletos de informações que
remetem a valores dos sujeitos pesquisados. Partindo das mensagens reveladas por esses
sujeitos, é possível elencar os indicadores e, a partir destes, estabelecer inferências,
questionamentos sobre o tema pesquisado. A comparação de informações constantes nos
indicadores é algo de grande valia para a pesquisa, uma vez que permite analisar de forma
mais fidedigna, sem desconsiderar a totalidade, as experiências relatadas nas mensagens
desses sujeitos. A comparação não pode ser feita de maneira indiscriminada, há a
compreensão de que devem ser estabelecidos critérios para a sua realização, os quais podem
estar contidos nos indicadores construídos.
125
As mensagens trazidas pelos sujeitos permitem fazer diversas análises, porém o que precisa
ser levado em conta é o tratamento que se faz desse conteúdo para que não haja deturpação
dos dados da pesquisa. Franco (2008) afirma que há o conteúdo manifesto e o latente e que ambos
devem ser contextualizados, uma vez que aquele que está escrito ou falado, enfim, o conteúdo
explícito, é o ponto de partida para o conteúdo manifesto que pode estar tanto explícito quanto
latente.
Franco (2008) refere-se ao apoio a indícios manifestos, o que não significa que não se
deva levar em conta o conteúdo que não está explícito. É importante ter um olhar que vá além
daquilo que pode ser facilmente verificado, uma vez que é mais fácil medi-lo, categorizá-lo e
classificá-lo. Todavia, para que esse conteúdo latente seja identificado, é necessário abstrair
aquele que não se faz explícito, considerando a historicidade e o contexto que o envolve.
Além de trabalhar com as informações que não estão explícitas no texto, outra finalidade
da análise de conteúdo é fazer inferências: “a inferência é o processo intermediário que vai
permitir a passagem, explícita e controlada, da descrição à interpretação” (FRANCO, 2008, p.
29). A inferência permite analisar o que está além do conteúdo manifesto nas mensagens. O
conhecimento envolvido nas comunicações acaba por estabelecer uma relação com outros
diferentes elementos, tais como o emissor, o ambiente em que é produzida, entre outros. Esses
elementos também devem ser analisados, levando-se em conta o contexto no qual a
mensagem é produzida, pois, assim, pode-se retirar mais informações acerca da realidade
analisada.
claro, deixar de levar em consideração novas categorias que poderiam surgir com o decorrer
do trabalho.
Como já discutido no capítulo 3, a pesquisa se baseou nas categorias criadas a priori.
Entre elas estão: a avaliação como política pública, a qualidade e a regulação. É importante
ressaltar que esta dissertação tem por objetivo articular as categorias metodológicas de
contradição e mediação com as categorias de conteúdo. Essa relação de categorias permitiu
uma análise mais aprofundada e menos fragmentada do objeto de pesquisa.
Apesar de ter como um dos focos a utilização do IGC, a metodologia desta pesquisa
buscou compreender a importância do processo na obtenção dos resultados. Nessa lógica, as
perguntas feitas aos sujeitos tinham como um de seus princípios atender aos objetivos
específicos, estabelecidos no capítulo 3 desta dissertação. Tais objetivos tratavam das
categorias de conteúdo, buscando assim respostas e reflexões em diferentes perspectivas sobre
o IGC. Após a coleta dos dados, o conteúdo das entrevistas foi transcrito e analisado.
A análise dos dados levou em consideração as categorias de conteúdo listadas a priori,
mas o que se pode observar é que a seleção dessas categorias, como um dos instrumentos
norteadores para a realização da entrevista, conduziu à reflexão de outros pontos que estavam
de certa forma envolvidos na temática, mas não explícitos – como o controle que o IGC
exerce na política de avaliação.
Outro ponto que envolveu as análises foi a presença das categorias metodológicas. Ao
longo das descrições, a contradição e a mediação – oriundas do materialismo histórico
dialético – foram importantes para a compreensão dos fatores que envolvem a polêmica dos
índices no Sinaes. Seria impossível detalhar os aspectos sem mencionar essas duas categorias.
A intenção de ter trabalhado com elas foi reflexo da historicidade que permeia a construção
das políticas de avaliação da educação superior. Assim, a compreensão das transformações
que ocorreram no Sinaes ao longo dos anos, frutos do movimento e de sua própria dinâmica,
confere a esta dissertação a tentativa de imprimir um olhar dialético ao fenômeno investigado.
com um caráter mais amplo e abrangente e que possa aferir o que vem acontecendo nas
inúmeras instituições espalhadas por todo Brasil.
Como já discutido no capítulo 1, em 1995 teve início o ENC, instrumento de avaliação
que consistia com o objetivo de analisar o desempenho dos estudantes da graduação. Ao
substituir o ENC, o Sinaes tem um caráter mais abrangente, pois se trata de um sistema que
possibilita a avaliação institucional, de cursos de estudantes, por meio do Enade, como
explicitado anteriormente.
Ao analisar a transição de uma política que contava com um único instrumento de
avaliação para uma outra que possibilita analisar a educação em um perspectiva mais ampla,
observa-se um salto não apenas quantitativo, em virtude dos instrumentos. Essa mudança é
algo que contribui significativamente com a qualidade do processo, pois é possível abstrair as
dimensões avaliadas – cursos, instituições e estudantes – e, a partir dessa reflexão, ter uma
visão do todo. O aspecto qualitativo também se faz presente no momento em que se tem um
processo de avaliação que permite dar respostas às várias dimensões que compõem a
instituição.
Dessa forma, ter uma política pública que possa analisar as condições das IES
distribuídas em todo o território nacional é um aspecto positivo, pois assim é possível
averiguar como se desenvolve a educação superior. Nesta perspectiva, não é um instrumento
de controle, mas algo que permite, através de avaliações internas e externas, observar como se
ocorrem o crescimento e a consolidação da educação superior no País.
Diante desta afirmação e dos relatos coletados é possível perceber a importância do
Sinaes, como política pública, para as IES. O sistema possibilita uma gama de perspectivas
que, juntas, fornecem a imagem do estabelecimento, tendo como parâmetro avaliações
distintas realizadas em dimensões diferentes que se complementam e compõem a instituição.
inferir que, pelo fato de o “Provão” e o Enade serem avaliações aplicadas aos estudantes de
graduação, são estabelecidas analogias entre ambos. Acredita-se que um veio em substituição
ao outro, quando na verdade houve a criação de um sistema de avaliação em que uma das
dimensões avaliadas é feita por meio do Enade.
Segundo Brito (2008) o Sinaes, de modo mais geral, e o Enade, em particular,
deveriam implicar uma mudança na maneira de se compreender a avaliação e,
consequentemente, uma atitude diferenciada em relação ao ato de avaliar. Diante do exposto a
autora analisa que o exame deveria fugir de uma avaliação estática – em que o resultado é
quase sempre a soma da pontuação de itens, sem que haja um feedback para o aluno – para
uma avaliação dinâmica – em que o conhecimento deve ser um instrumento útil para o
aprendizado do estudante.
Todavia, o que se pode observar é que há, em geral, uma atenção quase exclusiva ao
Enade, pelo fato deste contribuir de forma significativa com o cálculo de índices que foram
incorporados ao Sinaes por meio de portarias. O Enade é um dos insumos de percentual
significativo no cálculo do CPC e este, por sua vez, auxilia na elaboração de outro índice, o
IGC. Dependendo da forma como estes índices são utilizados se prestam à formação de
rankings. Percebe-se que frente aos índices o Enade assume um papel de destaque, pois
exerce grande influência no que se refere ao aspecto quantitativo.
Assim, pode-se afirmar que quando o Sinaes é visto em sua totalidade, o Enade é um
instrumento de grande importância para a política pública de avaliação da educação superior.
Mas quando se tem a oportunidade de abstrair e refletir acerca dos fatores que circundam essa
avaliação, evidenciando principalmente o papel que o exame vem assumindo ao longo dos
anos, é possível compreender o porquê de esta avaliação ganhar destaque na política de
avaliação em detrimento dos outros componentes avaliativos do sistema.
Diante do que foi discutido é preciso entender qual a compreensão que os sujeitos
avaliados têm do Enade e de que forma este tem contribuído com o investimento na qualidade
da formação dos estudantes. Estes fatores problematizam o uso que se faz dos resultados do
Enade, tendo em vista um cenário permeado de contradições. As contradições se concretizam
131
ao evidenciarem que as notas podem revelar a realidade na qual a instituição se encontra, mas
ao mesmo tempo podem servir também como mero instrumento de uma regulação vertical,
sem que muita importância seja dada ao processo.
realidade de cada instituição. Assim, Brito (2008) analisa que o Enade é um exame em larga
escala e que não avalia a ênfase do curso, mas sim os itens que compõem as diretrizes
curriculares nacionais, comuns a todos os cursos de graduação e a partir das quais os projetos
pedagógicos são construídos. Mas o que se observa é que com a criação do CPC, o conceito
Enade assume grandes proporções, pois é um dos insumos considerados na elaboração deste
índice. Logo, apesar da consciência de que o conceito Enade não pode ser visto de forma
descontextualizada, este ainda pesa de maneira significativa na composição dos índices – CPC
e IGC. Esta situação acaba gerando uma preocupação com a nota em termos de
microrregulação, que também é vista como indicador de desempenho e que não fica restrita
aos alunos, mas é generalizada ao curso.
Apesar desta contradição em relação ao resultado do Enade, há de se enfatizar que
este, quando usado de forma isolada não diz muito sobre a instituição, uma vez que é
impossível compreender determinada nota sem levar em conta os demais condicionantes
presentes na IES. Um resultado que não leva à reflexão é vazio de sentido e mero
classificador de desempenho.
Não há uma preocupação com a nota isolada, embora a gente saiba que isso
vai pesar no conjunto. Então quando eu falei que a gente fica olhando onde é
que nós estamos diante de todo o grupo, o grupo daqueles cursos inteiros do
Brasil, significa que: esse resultado está aquém daquilo que a gente tinha
como expectativa ou [ênfase]: nós estamos em uma posição confortável,
precisamos manter isso [pausa] e buscar. Mas isso não é a nota, no sentido
restrito. Nós [pausa] temos a obrigação de tirar [falando do conceito Enade]
aquilo dali? Não! Não tem isso (PCPA3, informação verbal).
Como mencionado, o conceito Enade isolado dos demais aspectos que envolvem a
avaliação não é significativo. Segundo o Presidente de CPA 3, o exame faz parte de um
conjunto. Os resultados do Enade, de acordo com este coordenador, são usados pontualmente
apenas para comparar os desempenhos da instituição com o de outras, ideia corroborada pelo
Coordenador de Curso 4. Essa comparação faz com que as instituições analisem em que
situação se encontram e a partir dessa efetuam uma análise acerca do que precisa ser
melhorado.
133
Desta forma não se pode negar que ao receberem os resultados, as instituições tendem
a compará-los. Mas sugere-se que as ações não terminem nesse ponto e nem estabeleçam
rankings. É preciso que a instituição observe internamente o seu resultado, pois ele reflete a
realidade que foi evidenciada pelo exame. Assim, não é interessante que determinada
instituição queira aumentar a nota, porque uma outra IES apresentou desempenho maior. As
melhorias não devem enfocar a nota do exame, elas devem estar relacionadas às possíveis
intervenções em situações que não são satisfatórias. A progressão do conceito Enade é apenas
consequência de um conjunto de procedimentos bem estruturados.
Embora tenha a sua importância reconhecida, o Enade também é alvo de inúmeras
críticas. Ao longo dos anos, a avaliação veio assumindo um caráter de competitividade, além
de servir como instrumento de regulação dos cursos. Desta forma, o exame ganha grande
importância não só em relação a se repensar as posturas pedagógicas adotadas nas IES, mas
torna-se um instrumento de formação de rankings a partir do momento em que subsidia
também o cálculo de índices.
Na verdade nós achamos que ele [o Enade] não seja um instrumento muito
justo. Não sei explicar exatamente a forma como ele avalia, mas se ele
pudesse considerar peculiaridades da nossa [instituição D]: Que tipo de
público nós temos? O contexto? Seria mais justo na hora de dizer: “vocês
estão conseguindo melhorar esse aluno” (CC1, informação verbal).
Com base nos relatos, o Gestor 1 observa que o Enade é um instrumento de grande
importância, mas mostra-se contrário à ideia de criação dos índices, pois estes propiciam a
criação de rankings. Segundo o entrevistado, a função da avaliação é identificar os problemas
e propiciar soluções para os mesmos. Mas as instituições não podem caminhar sozinhas, o
MEC necessita acompanhar o processo de avaliação e fornecer os subsídios necessários para
que as mudanças sejam promovidas.
Além da crítica em relação à criação dos índices, há aquela feita para o Enade. Na
perspectiva do Coordenador de Curso 1, o exame não é um instrumento justo, pois não leva
em consideração as especificidades de cada IES. Logo, o exame não consegue acompanhar o
134
desenvolvimento do público que a IES atende, pois os indicadores do Sinaes não atentam para
o contexto social e econômico no qual a instituição está inserida.
Desta maneira, pode-se afirmar que o Enade, de fato não capta as particularidades
apontadas pelo Coordenador de Curso 1. Talvez se o exame fosse capaz de apontar as
especificidades desta IES, principalmente em relação ao público avaliado, os sujeitos da
instituição pudessem legitimar a avaliação, considerando o Enade como um instrumento
fidedigno da realidade.
Brito (2008) afirma que infelizmente os rankings dominam o gosto popular e o das
propagandas. Há uma ilusão de que com a divulgação do “ranqueamento” na mídia haverá
mudanças nas IES. A autora analisa que no Enade de 2007 houve uma reelaboração daquilo
que era esperado para a formação geral dos estudantes. Esta mudança permitiu que as IES
observassem de maneira mais concreta aquilo que o aluno deveria obter em termos de
conhecimento para a sua formação, pois era a única parte comparável para todos os estudantes
do Brasil. Ela finaliza enfatizando que apesar da impossibilidade de comparação, há uma
tendência dos formuladores das políticas públicas em estabelecerem indicadores e rankings.
Ainda de acordo com Brito (2008), na implantação do Enade em 2004, surgiu com ele
o conceito Enade, o primeiro indicador de desempenho do Sinaes. Em 2005 foi mantido o
conceito Enade. No ano de 2006 foi implantado o IDD e em 2008 o CPC e IGC foram criados
por meio de portarias. Todos estes índices presentes após a implantação do Sinaes serviram
como base para a criação de rankings. Observa-se que o “ranqueamento” sempre esteve junto
à publicização dos resultados, o que evidencia a incapacidade da mídia em tratar a informação
sem atrelá-la a uma classificação. A classificação, por sua vez, não é sinônimo de
investimento em melhorias e não contribui para que a situação seja alterada.
O movimento que ocorre na política do Sinaes origina transformações que nem sempre
agradam a todos os atores envolvidos na avaliação, como é o caso dos índices. É inevitável
que mudanças ocorram na política de avaliação, porém Belloni, Magalhães e Sousa (2000)
consideram que “avaliar significa compreender as atividades, fatos ou coisas avaliadas com
vistas a estimular seu aperfeiçoamento” (p. 27). Com base no exposto, a avaliação deve servir
135
não só para melhorar o conhecimento sobre ações desenvolvidas, mas para subsidiar a tomada
de decisão, oferecendo elementos para o aperfeiçoamento da política. Desta maneira, a
mediação entre a política do Sinaes e os índices é necessária, para que assim os resultados
possam ser utilizados de forma adequada nas instituições avaliadas. Todavia, a mediação não
é um processo simples, pois os índices são vistos de maneira distinta pelos sujeitos envolvidos
na avaliação.
Diante deste fato, infere-se que a incorporação dos índices, quando analisada pelo
ponto de vista dos formuladores da política pública de avaliação é um ponto positivo, pois
possibilita a regulação do sistema por meio desses indicadores. Já os sujeitos avaliados
consideram que os índices propiciam a disputa e pouco contribuem com o desenvolvimento
de ações positivas. Logo, observa-se que o aperfeiçoamento da política é subsidiado por
pontos de vista contraditórios, influenciados por fatores políticos, econômicos e sociais. Desta
maneira, falar de melhorias em uma política de avaliação é trazer à tona um discurso
permeado por ideias de progresso e retrocesso, ideias estas que coexistem.
Dentre as várias críticas que o Enade recebe, como as apontadas por Barreyro (2008),
é evidente o fato de ele não ser considerado uma avaliação justa, por não considerar as
peculiaridades de cada instituição, principalmente quando se refere às características dos
estudantes que vão realizar o exame. E uma avaliação que não leva em conta as características
de determinado meio contribui para o a formação de rankings. Mas há uma opinião
contraditória em meio aos entrevistados em relação a essa avaliação macro, que é evidenciada
pela fala do Coordenador de Curso 3
Diante do exposto, acredita-se que nos moldes em que o Enade se configura o Estado
tem por finalidade traçar um perfil das IES. É importante refletir que é uma avaliação externa
realizada em larga escala e que visa, de modo geral, aplicar a todos um mesmo exame, com o
136
[...] eu tenho pipoqueiro, costureira, não é aluno que saiu de ensino médio, e
o pai e a mãe estão incentivando que leiam mais. Não é esse o público! Às
vezes são pessoas que passaram quatorze anos fora da escola e chegam aqui
para se alfabetizarem, [...] e vêm fazer o curso de Letras. O Enade coloca
tudo nivelado: escola particular, escola de periferia, cada uma tem a sua
variedade. Acho que se não consegue considerar algumas peculiaridades e
desvantagens que umas têm em relação às outras, também não vai medir
certo. É lamentável (CC1, informação verbal).
O problema é que esses alunos futuramente se tornarão docentes desse componente curricular.
Logo, a IES tem que ministrar os seus conteúdos e ainda promover a aprendizagem de pré-
requisitos que não foram aprendidos na educação básica.
De acordo com Vitória (2011), essa realidade se faz presente em outras IES. Há
testemunhos de que a escrita na educação superior assume desafios que ainda não foram
superados. Os acadêmicos atestam que os alunos têm muito a dizer, mas não conseguem se
expressar. A autora revela que mesmo em se tratando da educação superior, etapa na qual se
espera uma escrita mais qualificada, o que se percebe é que há um distanciamento entre o
aluno e a linguagem escrita. Mas, para que se possa amenizar os problemas da escrita, é
necessário que se tenha acesso à leitura. Ainda de acordo com a autora, qualquer
planejamento da educação superior deve levar em consideração a qualificação da escrita.
Todavia, o que se observa é que na instituição D o êxito desse processo é um tanto
complexo, em virtude do quantitativo de alunos que apresentam defasagens significativas.
Além do mais, uma outra queixa é de que os alunos, além de apresentarem os problemas
relatados, ficaram fora da escola por muitos anos o que, na opinião dos entrevistados, agrava
ainda mais a situação.
Dias Sobrinho (2000) relata que nessa realidade, em que as diferenças foram
escamoteadas e as ideias divergentes silenciadas, não há possibilidades de se levar em
consideração as especificidades regionais, culturais e as desigualdades sociais, dentre outros
aspectos. Diante do exposto, pode-se afirmar que há um menosprezo pelos fenômenos que
não podem ser mensurados.
O autor analisa que esta é uma perspectiva positivista e tecnicista, pois a realidade é
classificada como unidimensional, fazendo com que os fatos tenham vida própria e possam
ser subtraídos de seus contextos históricos. Essa negação da historicidade permite um
ajustamento a esquemas mentais e instrumentos técnicos que medem os fenômenos.
Esta é uma questão delicada que não envolve apenas aspectos relacionados à estrutura
da educação superior. Como evidenciado, algumas instituições têm recebido da educação
138
Frente ao problema, a instituição traça alternativas para que estas defasagens sejam
sanadas ao longo do curso, mas que nem sempre funcionam, uma vez que o aluno com
dificuldades e que estuda à noite não tem tempo disponível para se dedicar aos estudos da
maneira como deveria. Assim, o Enade passa a ser uma avaliação externa que detecta que os
alunos ainda não chegaram ao nível esperado de formação acadêmica. O exame, como já
discutido anteriormente, avalia a todos os indivíduos de uma mesma forma, o que deixaria em
desvantagens instituições que apresentam problemas com o nível de cognição com que os
alunos ingressam nos cursos.
O meu público que vai para o Enade: senhoras que são diaristas, pipoqueiro,
pedreiro. Essas senhoras, que criaram os filhos, agora ela ou o marido,
tinham que escolher qual deles poderia realizar o sonho do ensino [da
educação] superior. São pais de família, uns ou outros já estão em vias de se
aposentar. É para melhorar a aposentadoria ou é realmente para uma
realização [...] não vão ser professores. Tem muitos que dizem claramente:
“não vou ser professor”. É o diploma mesmo, é o sonho [...] (CC1,
informação verbal).
Assim públicos distintos, com trajetórias e histórias diferentes são avaliados da mesma
maneira pelo Enade, que não retrata as dificuldades que a instituição enfrenta em virtude da
formação com a qual os alunos nela ingressam. Dias Sobrinho (2000) questiona se o modelo
adequado para avaliar competências individuais ou desempenhos institucionais é aquele em
que se utiliza um instrumento técnico preso aos fatos e realidades exteriores. Desta maneira,
uma avaliação em que não há a possibilidade de contaminação pela subjetividade e isenta de
juízos de valor que permitam comparações objetivas. Esse modelo possibilita que indivíduos
e instituições sejam “ranqueados” de acordo com o melhor ajuste ao mercado ou ao modelo
social. O autor chama a atenção para que a avaliação não reduza o processo educativo a uma
concepção unívoca e simplificadora.
Outro ponto que pode evidenciar um baixo desempenho dos alunos é o fato de eles
não escolherem o curso de licenciatura em Letras com o intuito de tornarem-se professores,
visto que muitos desejam apenas o diploma. Essa postura não faz com que o aluno sinta-se
responsável pelo seu bom desempenho, o que consequentemente gera impacto na forma como
a instituição é avaliada.
Em virtude desta falta de comprometimento dos alunos com o Enade, por verem o
exame como algo pertencente à instituição, há um questionamento acerca do porquê de uma
porcentagem considerável ser atribuída a esta avaliação no que se refere ao cálculo do CPC. A
141
indagação retrata um sentimento de injustiça, visto que muitas vezes a instituição faz um
trabalho sério, mas acaba sendo mal avaliada em virtude do desempenho dos estudantes que
não observam tanta relevância no exame.
O aluno, nessa hora, pensa que embora ele possa gostar muito da instituição fica
com raiva e diz: “é a nota da instituição, não é a minha!” Ele acha que não vai
atingi-lo e se exclui do todo. Não pensa que quando estiver concorrendo a uma
vaga com outro [aluno] de outra instituição, daqui a pouco, a empresa vai
perguntar: “qual foi o resultado do Enade da sua instituição?” Pode nem perguntar
para ele, vai no sistema e olha. Não pergunta a nota individual, mas tem a nota
institucional e isso pode ser um definidor. Então, é claro que tem a ver com o
aluno sim, mas ele não consegue entender isso (CC1, informação verbal).
Como os estudantes também são avaliados de acordo com o seu desempenho, aquele
discurso em que atribui unicamente a responsabilização da instituição e dos professores, pelos
méritos não obtidos, é desconstruído. O aluno, como sujeito pertencente à realidade
acadêmica, também é agente do seu desenvolvimento. É claro que não se podem excluir os
demais fatores que influenciam o resultado de uma avaliação. A intenção é que o aluno passe
a se sentir protagonista dos processos de avaliação, tendo consciência de que o seu
desempenho também é parte constituinte de um todo. Esta discussão terá continuidade no
próximo item deste capítulo, tendo em vista a relação entre a qualidade e o comprometimento
do aluno.
O questionamento se estende quanto à utilização dos resultados do Enade
posteriormente, sobretudo no que se refere ao uso que o mercado faria na hora de selecionar
sua mão de obra. Existe uma forte argumentação em relação à utilização do Enade, fora da
instituição, como uma das formas de o mercado mapear aqueles que estariam aptos a ingressar
em determinada vaga. Acredita-se que desta forma os estudantes que fazem o Enade ao terem
a sua nota individual divulgada no diploma, revelariam um maior comprometimento com o
exame.
Outra coisa que eu também acho terrível: por que não lança a nota que o
aluno tira no diploma? Por que se é um componente curricular obrigatório e
ele não forma se não fizer o Enade? Nada mais justo do que colocar a nota
que ele conseguiu na prova lá no histórico escolar (G1, informação verbal).
Todavia é preciso pensar que caso o Enade assuma essa função de “ranquear” os
alunos de acordo com as notas que estes obtêm no exame, esta avaliação se prestará ao
atendimento da mão de obra que o mercado requer. A adoção de tal conduta não seria
interessante, pois desta forma as IES prestariam um serviço direto ao mercado, por meio de
uma seleção quantitativa, baseada no índice isolado. Diante desta questão, Schwartzman
(2011) aponta para a possibilidade de possíveis empregadores – daqueles que se formaram em
diferentes instituições – terem interesse em analisar a qualidade dos formandos. O Enade
possibilita uma informação geral, mas seria interessante conhecer quais competências
específicas são desenvolvidas nos diversos cursos. O autor afirma que, como o Enade não está
estruturado por competências, as informações são apresentadas apenas de maneira geral. A
proposta apontada pelo referido autor é interessante, pois disponibilizaria informações sobre
os aspectos qualitativos da formação dos estudantes, não se pautando apenas em uma nota.
143
Entretanto, para a concretização deste feedback aos empregadores, o sistema precisa ser
aprimorado.
O Enade é um exame que deve avaliar o desempenho e posteriormente favorecer que,
por meio de seus resultados, as IES tenham condições de intervirem na realidade, sanando os
problemas detectados. Para que haja um maior comprometimento do aluno em relação à
realização do exame, há de se optar pelo caminho da sensibilização e da conscientização
acerca da importância da avaliação. A estratégia de uma possível punição, com notas
destacadas em um diploma, fere o sentido de avaliar os estudantes. É preciso que se constitua
uma cultura de avaliação, para que esta comece a ser legitimada e compreendida como um
importante instrumento de diagnóstico da situação dos estudantes da educação superior
brasileira.
Ainda em relação à utilização dos resultados, é de grande relevância pensar a forma
como as notas obtidas no Enade serão usadas em prol da qualidade dos serviços prestados.
Compreende-se que a avaliação deve ter um sentido para a instituição e que não esteja
pautado apenas na questão da obrigatoriedade. Torna-se tarefa indispensável observar de
forma crítica a maneira como os resultados podem ser aproveitados pelas IES.
Como estímulo ao aluno que possa ser o próximo a integrar o grupo que vai
fazer a prova. O que nós podemos fazer além do que já fizemos? A gente já
está com as provas do Enade sendo utilizadas, está propondo cursinho
preparatório para o aluno. Nós estamos agora com o EDA [Exame de
Desempenho Acadêmico] institucionalizado, que é novo. Ele provoca o quê?
Que a gente converse com o aluno, o conscientize para além dos conteúdos
vistos na sala. A importância disso futuramente, a gente não sabe. A nota
individual [pode] sair no histórico dele. O Enade já redundou na criação do
EDA e em uma CPA mais forte (CC1, informação verbal).
De uma reflexão interna nos cursos. Algumas questões a pró-reitoria faz uma
orientação geral que segue para todos os cursos. Mas os resultados
específicos de cada curso vão dentro daquele esquema de colegiado e NDE
[núcleo docente estruturante]. Para a instituição, acho que é ela pensando do
145
Para dois entrevistados, a utilização dos resultados tem um caráter mais amplo, que é o
de envolver outros segmentos das IES que precisam ter conhecimento acerca do que acontece
em determinada avaliação, do desempenho dos estudantes que é influenciado por uma gama
de fatores. É interessante apreciar os discursos do Gestor 3 e Coordenador de Curso 4, pois
ambos reconhecem que apesar de ser uma avaliação de estudantes de um determinado curso,
não pode haver uma restrição a essa etapa. A ampliação do debate para toda a IES demonstra
seu comprometimento em integrar vários atores, por meio da articulação através dos
decanatos bem como do Núcleo Docente Estruturante (NDE). Apesar da obrigatoriedade de
constituição do NDE nas IES, este núcleo demonstra-se mais atuante na instituição B.
Observa-se que esta foi a única IES que mencionou o papel do NDE e a relação que ele
estabelece com a avaliação. Isto demonstra que para a avaliação ser efetiva é importante a
presença de instâncias que possibilitem o apoio, bem como uma integração do todo, uma vez
que o Enade ressalta o resultado do trabalho de toda a instituição, em termos qualitativos.
Além de tentar envolver o máximo de atores possíveis na divulgação e uso dos
resultados, a instituição B percebe a necessidade de fazer um acompanhamento longitudinal
dos desempenhos obtidos no Enade. Desta forma, a fala do Coordenador de Curso 3 evidencia
que deve haver uma preocupação com o exame não apenas no ano em que ele ocorre, mas
uma análise do seu histórico, objetivando o investimento em ações positivas.
Por sua vez, na instituição A o relato é de que a CPA não consegue se aprofundar nos
resultados do Enade. O fato ocorre porque a instituição tem muitas demandas que devem ser
cumpridas dentro do prazo. Assim, não é possível fazer uma análise mais minuciosa, e
diríamos qualitativa, acerca do desempenho obtido pelos estudantes no exame. As inferências
que a CPA realiza estão atreladas a dados quantitativos, que permitem conhecer o que
aconteceu ao longo dos anos, mas de uma maneira superficial.
146
Eu não diria que ela [a CPA] se debruça sobre o Enade, porque a gente tem
um programa muito grande de assuntos da instituição. O Enade, infelizmente
não pode ser abordado com mais profundidade do que simplesmente um
relato do que piorou, melhorou, quantos cursos melhoraram e quantos cursos
pioraram. O que a gente sabe informalmente é que os cursos olham,
verificam os resultados, o Decanato de Graduação tenta absorvê-los e apoiar
os cursos, principalmente aqueles que têm conceitos baixos no Enade.
(MCPA4).
Diante do relato, pode-se dizer que na CPA da instituição A o resultado do Enade não
é investigado em sua totalidade. O desempenho do exame fica a cargo dos cursos que, por sua
vez, se articulam ao decanato de graduação, buscando alternativas que propiciem melhorias
no curso. Uma das alternativas para o problema apontado seria a CPA buscar interação com o
Decanato de Graduação, já que este responde por ações diretas nos cursos. Desta maneira, a
referida comissão poderia conhecer o que tem sido feito em relação ao desempenho obtido no
Enade. Talvez essa dificuldade que a CPA da instituição A apresenta em se aprofundar nos
resultados das avaliações externas, se dê não só pela demanda de trabalho que apresenta, mas
também pela sua configuração.
a CPA desta instituição tem o desafio não só de tentar articular-se com a sua realidade, mas de
mobilizar a comunidade acadêmica para que esta possa ser parte integrante dela.
No que se refere à compreensão que se tem do IDD, índice que compara o
desempenho de alunos ingressantes e concluintes, ao averiguar o índice em sua totalidade,
este se traduz em um grande avanço, pois através de uma avaliação é possível comparar a
formação dos alunos. Todavia, o que acontece é que a política de avaliação do Sinaes vem
sofrendo ajustes ao longo dos anos, o que gera incertezas em relação ao cálculo desse índice
por parte das IES.
A gente não tem quais são os indicadores, porque ingressante não fez parte.
Se o ingressante fazia parte da composição do CPC, 30 % que é o IDD, e
agora? Que não tem! O que vai ser do IDD? Como vai ser calculado esse
CPC? Ninguém sabe! Para mim é uma caixa preta (PCPA2, informação
verbal).
Eu não entendi até hoje, desde 2004, quando [se] implantou o sistema do
Sinaes, esse IDD. Realmente eu não consegui entender, porque eu vou
comparar coisas totalmente diferentes (G1, informação verbal).
transformações pelas quais os dados passam, até chegar ao resultado final. O autor ainda
pondera que o CPC e o IGC são índices obscuros e de difícil compreensão, pois combinam
uma série de insumos.
Brito (2008) destaca que as mudanças na educação não são imediatas e que as atitudes
levam tempo para serem mudadas. Assim, as IES precisam ter clareza do que ocorrerá a
médio e longo prazo, mas a autora admite que a troca constante dos altos escalões
administrativos é também acompanhada de mudanças que comprometem a evolução e
consolidação de um sistema. Isso não significa que as mudanças não possam ocorrer, pois um
dos princípios da dialética que explica as transformações é o movimento. Este deve e sempre
irá existir, o que ocorre é que as mudanças devem ser planejadas, com o intuito de dar
continuidade de forma coerente ao sistema, às propostas traçadas.
Ao discutir as transformações que ocorreram no Sinaes, desde a sua implantação, é
importante sinalizar que alguns aspectos se sobressaíram em relação aos demais componentes
da política sendo um deles o Enade. O exame ganha destaque, pois é associado a um
mecanismo de avaliação que veio substituir o “Provão”, como analisa Leite (2008). Logo, os
olhares da sociedade civil e da mídia saem do sistema e recaem sobre o Enade, gerando uma
expectativa quantitativa acerca do desempenho dos estudantes dos cursos de graduação, o que
propiciou a criação de rankings. Com o passar dos anos, além de avaliar estudantes, o Enade
passou a auxiliar na composição de um índice que denota a qualidade dos cursos, o CPC. Este
índice, por sua vez, ajuda no cálculo do IGC. Diante disso, o exame assume um duplo papel, o
de avaliar os estudantes e de compor índices que definem quantitativamente a qualidade do
curso e das IES.
Em relação ao fato, um dos objetivos específicos do presente estudo foi analisar o
conceito Enade como um dos instrumentos de composição dos índices das IES. De acordo
com os dados coletados, o que se pode afirmar é que o conceito Enade é um indicador
importante para instituição, pelo fato de ser uma avaliação externa. O conceito permite que a
instituição perceba como está o desempenho dos estudantes. Logo, é uma avaliação
legitimada pelas IES pesquisadas. Todavia, as instituições ainda necessitam de um feedback
149
qualitativo destes resultados, por parte do MEC para que assim possam traçar estratégias
concretas, tendo em vista a resolução das fragilidades detectadas.
Mas, quando o assunto é referente à utilização do Enade na composição dos índices
das IES, há outro discurso. Os sujeitos da pesquisa analisam que primeiramente há uma
dificuldade de compreender como o índice é calculado, em virtude das constantes mudanças
que ocorrem no sistema de avaliação. Outro ponto contestado é o peso significativo do Enade
para o cômputo dos índices, CPC e IGC. Essa preocupação estabelece uma relação direta com
o desempenho dos estudantes, que reflete quantitativamente a formação acadêmica recebida
na IES. Como mecanismo de diagnóstico da realidade, este é um ponto positivo. O problema
é que o desempenho destes estudantes, caso seja negativo, refletirá na avaliação do curso, que
poderá sofrer com as sanções oriundas da regulação. Infere-se que há uma preocupação menor
em relação ao impacto do Enade no IGC, pois de acordo com os resultados de 2012, as notas
obtidas no exame pelo curso de licenciatura em Letras não afetaram o índice. Logo, por não
considerar em sua avaliação aspectos que demonstram a heterogeneidade dos participantes e
de suas instituições, o exame, como medida para o cálculo de índices, é severamente
questionado.
Assim, é preciso mediar as mudanças que ocorrem na política de avaliação da
educação superior com as informações a serem fornecidas às IES, pois o que se percebe é que
estas demonstram-se bastante inseguras e desinformadas em relação a assuntos que lhes
dizem respeito. As mudanças no Sinaes são importantes na medida em que contribuem com a
melhoria da política, trazendo subsídios que fomentem uma avaliação que consiga evidenciar
as reais condições da educação superior no Brasil. Porém, essas mudanças não podem ser
feitas através de ações unilaterais, por parte do Estado. As alterações devem ser debatidas
englobando principalmente aqueles sujeitos que serão avaliados.
Os sujeitos devem compreender o processo em sua totalidade, para que assim possam
legitimá-lo como algo importante em sua realidade, entendendo o que será feito
posteriormente com cada avaliação. E as instituições que são avaliadas possam dar
significado, por meio de ações, aos dados obtidos, o que torna o processo dinâmico e
representativo. Todavia, é importante ressaltar que o sentido que se atribui aos dados só é
significativo a partir do momento em que se faz a mediação entre a política de avaliação e a
realidade da instituição avaliada.
De acordo com Marx (1978), até as categorias mais abstratas, apesar da validade para
todas as épocas, são produtos de condições históricas e não possuem plena validez senão para
estas condições, respeitando-se os seus limites. Dessa maneira, os índices não podem ser
150
utilizados de forma isolada, pois cada resultado tem um significado para as IES, tendo em
vista o contexto histórico de que fazem parte. Este fenômeno pode ser corroborado pela fala
do Gestor 2.
função pública. Ainda segundo o autor, a comunidade passou a exercer pressões sobre as
instituições, no caso as universidades, para que estas prestassem contas da qualidade de seus
serviços. Havia uma ideia de que a avaliação era algo necessário, todavia não se tinha clareza
sobre critérios de avaliação e os objetivos desta. O que ficava explícito é que a avaliação da
qualidade estava vinculada à questão da punição, fazendo com que os sujeitos envolvidos se
esquivassem desse processo.
Logo, é preciso ampliar a visão da avaliação como um dos mecanismos para aferir a
qualidade dos serviços oferecidos pelas IES, uma vez que avaliar não se limita a apenas este
objetivo. Encarar a avaliação da educação superior como um instrumento que visa prestar
contas da qualidade das instituições é reduzir o potencial de uma política pública como forma
de intervir na realidade de determinado estabelecimento. É claro que, quando se fala em
avaliação, não se pode negar um processo de investigação acerca da qualidade, todavia é
importante refletir sobre este conceito e de que forma ele influencia o cotidiano das IES.
A próxima seção deste capítulo tem por objetivo promover uma discussão acerca da
qualidade vinculada às IES, bem como analisar de que forma as instituições traçam medidas
para investir neste conceito.
O conceito de qualidade não é algo tão fácil de ser delimitado, uma vez que, como cita
Dias Sobrinho (1995), a qualidade quando relacionada à educação difere conforme o tempo e
o espaço. Diante de tal afirmação, pode-se inferir que há uma polissemia de conceitos que
perpassam a questão da qualidade, pois mesmo na educação, ao se debater tal tema pode
haver inúmeros discursos que variam de acordo com a posição ocupada na instituição por
determinado sujeito, o público que a instituição atende, os objetivos que esta almeja, sua
natureza institucional e organização acadêmica, dentre outros.
O que se pode observar, de acordo com o autor, é que a qualidade não é um conceito
estático. Ele é passível de mudanças e sofre ajustes em função do que os sujeitos envolvidos
no processo almejam e elegem como qualidade. Isto envolve todo o seu conjunto
institucional, bem como atender às demandas macro, como aquelas oriundas da política da
avaliação da educação superior.
Para Morosini e Stadtlober (2011), o recente crescimento das IES no Brasil, com uma
expansão significativa da esfera privada, abre o debate para a questão da qualidade do ensino
na graduação e o papel do Estado como regulador. Segundo as autoras, esses são processos
novos e, por isso, ainda não existem muitas informações e instrumentos que possam medir e
avaliar a qualidade do ensino ofertado nas instituições.
Analisa-se que há um grande desafio diante do processo de expansão da educação
superior no Brasil. A complexidade é atribuída à necessidade de avaliar se a evolução deste
nível educacional tem incluído investimentos em qualidade, questão discutida no capítulo 2
dessa dissertação. Neste cenário ainda é preciso que se amplie a discussão sobre o papel do
Estado como regulador de políticas que possibilitem o acompanhamento deste processo.
Nas primeiras décadas do século XXI, de acordo com Morosini e Stadtlober (2011), a
qualidade é a busca de grande parte das IES. Portanto, as autoras apontam que a avaliação da
qualidade é feita nos serviços privados e públicos e tem a intenção de estabelecer padrões e
investir em melhorias. Essa realidade não é distinta daquela pertencente às IES de modo geral,
pois estas também almejam conhecer a satisfação de seus clientes em relação aos seus
serviços. Ao terem esta ciência, podem usar as informações coletadas para desenvolverem
uma graduação qualificada e que atenda às demandas do público.
um todo. Nesse contexto, a busca pela qualidade não é apenas uma exigência, mas uma
necessidade.
Com a implantação dos índices o Estado criou um mecanismo para então regular a
qualidade das instituições. O indicador que permite esta ação é o IGC. Mas, a avaliação da
qualidade não é uma tarefa simples, pois envolve a determinação de parâmetros que sejam
capazes de medir realmente os aspectos que a evidenciam. Assim, o índice, nesse contexto de
avaliação e regulação da qualidade, está envolto em inúmeras polêmicas. Estas advêm do fato
de os sujeitos avaliados questionarem justamente os parâmetros do índice, apenas
quantitativos, para aferir a qualidade. Logo, o processo de avaliação da qualidade está envolto
em constantes debates que tendem a apontar as falhas do IGC, questionando inclusive a sua
fidedignidade e validade.
Além dessas polêmicas que marcam o processo de avaliação da qualidade, Morosini e
Stadtlober (2011) afirmam que este também é caracterizado por tensões e complexidade. As
tensões se materializam a partir do momento em que se tem o Estado e a comunidade que
cobram qualidade em níveis distintos. Já a complexidade se dá pelo fato de a avaliação incluir
“atores diferentes e diferentes papéis” (p. 161).
Discutir a avaliação da qualidade é promover uma análise mais aprofundada não só do
processo, mas dos atores que o constituem. A avaliação e a promoção do debate da qualidade
na educação superior necessitam de embasamentos teóricos que deem subsídios para a
compreensão e o aprimoramento das práticas envolvidas. Diante do exposto, faz-se necessária
a investigação do que se considera qualidade nas instituições e como os sujeitos a promovem.
Felicetti (2011) destaca que na Constituição Federal de 1988, na LDB de 1996 e no
Plano Nacional de Educação 2001-2010 (PNE) existem preocupações voltadas para a
qualidade da educação superior. De acordo com a autora, a qualidade está dividida em três
dimensões: (i) processo: relacionado aos insumos que possibilitam a manutenção e o
desenvolvimento de um ensino de qualidade; (ii) entrada: diz respeito aos aspectos
relacionados ao acesso do estudante à educação superior; e (iii) resultados: referente à
permanência do aluno na instituição e a sua formação para o mercado.
Com base no exposto, é possível observar que a qualidade na educação superior
envolve uma gama de aspectos que devem ser abstraídos, para uma compreensão
pormenorizada. Feitas as análises referentes a cada dimensão é imprescindível contextualizá-
las com a realidade das instituições de educação superior. Esse exercício permite entender
que, apesar de se tratar de um mesmo conceito, as ações devem ser pensadas levando em
consideração o cotidiano das IES.
154
De acordo com Dias Sobrinho (2010a), a qualidade na educação superior não pode ser
pensada fora das ações e dos compromissos que cada instituição assume, em âmbito interno,
com a sociedade, com os contextos internacionais que englobam o conhecimento e com o
Estado. Ainda segundo o autor, por serem formados por seres humanos, o Estado e as
instituições trazem as contradições sociais, além dos projetos coletivos.
Além de não ser um conceito imutável, quando se fala da qualidade vinculada às
instituições de educação superior, esta não é simplesmente um bloco, mas é constituída por
vários fatores que, juntos, constituem o conceito de qualidade de uma instituição. Não é
possível afirmar que os aspectos que compõem a qualidade são idênticos, pois “não é que a
produção, a distribuição, o intercâmbio, o consumo, são idênticos, mas que todos eles são
elementos de uma totalidade, diferenças dentro de uma unidade” (MARX, 1978, p. 115).
Desta maneira, há de se considerar que todos os elementos que constituem a qualidade
apresentam suas peculiaridades, tendo em vista a realidade das IES, pelo fato de que estão
inseridas em contextos sociais, culturais e econômicos distintos.
Corte (2011) afirma que não existe somente uma concepção e abordagem na
pedagogia universitária, pois dependendo do momento e da situação a instituição opta por
determinada sistemática, ou pode até mesclar as facetas que abordam a qualidade. Desta
forma, é possível analisar que o conceito de qualidade pode variar de acordo com o contexto
em que a instituição se encontra. Além disso, a instituição não adota um único conceito de
qualidade, mas combina outros aspectos, tendo em vista atender a demandas políticas e
institucionais.
Ao discutir a qualidade, vários assuntos são abordados, dentre os quais há uma
relevância maior para determinados sujeitos, em virtude da posição que ocupa nas IES. No
campo da pesquisa ora relatada, alguns temas vinculados à qualidade foram mais elucidados
por coordenadores de curso, outros por presidentes da CPA e/ou por gestores, porém o que de
fato fica explícito é que a abstração desses vários fatores, em decorrência das demandas
geradas pela instituição, é necessária para que a qualidade seja caracterizada.
Acredito que você tem algumas vertentes que, em conjunto, fazem a questão
da qualidade. Se a gente pensar do ponto de vista do corpo docente, você
pode pensar em titulação, em satisfação dos professores estarem trabalhando
na instituição, em respaldo, em reconhecimento. Do ponto de vista do aluno,
você pode pensar se esse aluno está bem acolhido, o que está aprendendo,
progredindo; se, de fato, ele está criando uma formação que vai tornar um
profissional diferenciado no mercado. Junto a isso você pode pensar em
qualidade de ensino, em qualidade de aprendizagem, na qualidade da
educação como um todo. São vários lados que formam conjuntos.
155
Diante dos relatos, é possível verificar que o conceito de qualidade pertence a uma
totalidade, composta por diversos fenômenos que não se excluem, mas complementam. Ao
analisar esses fenômenos é preciso abstraí-los, sem deixar de considerar a totalidade da qual
fazem parte. Assim, o Coordenador de Curso 3 fez uma discussão na tentativa de definir
qualidade, partindo do ponto de vista dos docentes e dos alunos. Em ambos os pontos de vista
é possível perceber aspectos relacionados à qualidade, que abrangem os anseios desses dois
sujeitos. Finalizadas estas análises, pode-se perceber que as definições são mescladas e chega-
se à conclusão de que a qualidade está atrelada à formação. Há um esforço do Coordenador de
Curso 3 em sair destas abstrações e voltar ao concreto, à realidade da instituição. Logo,
define-se que, naquele contexto, a qualidade não se resume à formação. A formação é a
síntese de um conceito complexo.
Já para o Membro de CPA 4 a qualidade está na tentativa de elaborar indicadores que
possibilitem o acompanhamento do desempenho da universidade ao longo dos anos. Esta não
é uma tarefa fácil, não apenas por conta da criação dos indicadores, mas pela complexidade
que a instituição A apresenta. Essa é expressada pelo quantitativo de sujeitos pertencentes à
instituição, desdobrando-se em serviços prestados, cursos ofertados, dentre outros aspectos.
Logo, o desafio se faz porque ao se falar de qualidade não é possível restringir-se a apenas a
indicadores quantitativos; eles precisam estar atrelados a uma análise qualitativa dos
fenômenos. Essa ideia foi corroborada pelo entrevistado quando em sua fala revelou que “o
indicador vai vir carregado de uma percepção qualitativa também, de análise, de discussão.
Ele tem que permitir acompanhar uma situação” (MCPA4, informação verbal). Diante desta
afirmação, compreende-se que o trabalho da CPA da instituição A não é apenas a medida dos
fenômenos, mas também a sua compreensão tendo em vista a realidade.
Pode-se inferir que de acordo com o relato do Membro de CPA 4, os trabalhos buscam
inspiração também na proposta do Sinaes, no que tange à utilização dos índices. Mas a
intenção da CPA desta instituição é que os indicadores possam estar aliados a aspectos
qualitativos. Esse foi um dos pontos questionados por alguns sujeitos entrevistados no que se
156
refere ao IGC, pois este se propõe a medir a qualidade da IES, porém se baseia apenas em
componentes quantitativos.
Ainda no que tange ao conceito de qualidade, observa-se que os entrevistados
trouxeram discursos muito próximos, os quais culminam sempre na questão pedagógica. Para
os sujeitos da pesquisa, a qualidade é indissociável da preocupação com a parte pedagógica
das IES, que envolve principalmente o investimento na formação dos professores, bem como
a elaboração dos projetos pedagógicos de cada instituição.
O projeto pedagógico dos cursos e a qualidade então passam por aí, porque
qualidade de ensino é a forma como você possibilita ao aluno, ao professor,
a todos os envolvidos no processo da instituição, perceberem que são
agentes transformadores da sociedade (PCPA2, informação verbal).
concepção de qualidade mais ampla deve se fazer presente neste, pois elucida o que se espera
de um determinado curso de graduação, em termos qualitativos.
Apesar da grande preocupação evidenciada com o projeto pedagógico como um dos
aspectos que caracteriza a qualidade da instituição, este não é considerado no cálculo do IGC.
Nesta questão verifica-se que a preocupação com o projeto pedagógico não é orientada
diretamente por este índice. Porém não se pode afirmar que a estruturação do projeto não
sofra, também, influências que não estejam apenas circunscritas à realidade da IES. Sendo
assim, o cuidado que se apresenta em relação ao projeto pedagógico corresponde às
exigências da rotina institucional, mas pode também ser influenciado por outras demandas
externas à instituição.
Sousa, Queiroz e Menezes (2012) afirmam que além de o projeto político pedagógico
evidenciar a preocupação com a qualidade, este documento acaba sendo alvo de alterações
devido aos resultados do Enade. Pode-se inferir que a qualidade dos projetos pedagógicos
estabeleça uma relação com o desempenho no exame. Então, falar de qualidade é abordar os
resultados obtidos nas avaliações externas e fazê-los pertencer à dinâmica da instituição via
projeto pedagógico.
No que se refere à participação da comunidade acadêmica na elaboração do projeto
pedagógico, esta é de grande importância, pois retrata a realidade local, sobretudo em relação
à formação deste público. Portanto, o projeto deve ser coerente com os anseios dos membros
da instituição, tendo em vista um trabalho mais integrado e um retrato fidedigno do contexto
em que se insere.
A formação dos sujeitos é um ponto relevante que não pode ser suprimido do projeto
pedagógico. Para que se possa falar de formação de qualidade é preciso que todos os
envolvidos nesse processo tenham consciência de como atingi-la. Não basta apenas delinear
as perspectivas de uma boa formação, mas é necessário que se busquem condições de efetivá-
158
las. Logo, a qualidade de curso, bem como a dos profissionais oriundos deste, deve estar bem
estruturada em pilares que garantam a sua plena efetivação.
Além da preocupação com o aspecto pedagógico, refletido no projeto da instituição,
outro ponto que chama a atenção é que nas instituições A, B e C a qualidade está atrelada ao
tripé ensino, pesquisa e extensão. O que faz com que a qualidade assuma uma maior
complexidade, em virtude das atividades que engloba.
Diante do exposto é possível verificar que a qualidade não é um conceito isolado, pois
se relaciona com os outros aspectos presentes na realidade das instituições. Analisa-se que um
destes aspectos é o elo que a qualidade estabelece com o tripé ensino, pesquisa e extensão.
Nas instituições A e B a pesquisa é uma das preocupações, como forma de evidenciar a
qualidade das IES não a restringindo ao ambiente de sala de aula. Foi ressaltado que na
instituição A os alunos são constantemente requisitados a participarem de pesquisas. Desta
forma, esse é um aspecto que não só elucida a qualidade desta IES, mas contribui com a
formação dos discentes, sendo um indicador de qualidade ligado ao crescimento intelectual
dos sujeitos.
No que tange à instituição C esta difere da organização acadêmica das instituições A e
B. Todavia, as três IES apresentam discursos semelhantes em relação ao trabalho com a
pesquisa. Sguissardi (2006) ressalta que as reformas implementadas na educação superior por
meio da LDB e de decretos ocasionaram a minoração da diferenciação institucional. Neste
caso, cada IES deveria atender aos requisitos mínimos de sua organização acadêmica. Mas o
159
que se pode perceber é que as exigências para centros universitários e faculdades eram
menores se comparadas as das universidades, sobretudo em relação à pesquisa. Assim, o autor
conclui que no Brasil há um sistema universitário neoprofissional, pois em mais de 90% dos
casos, as instituições se identificam como IES apenas de ensino. Logo, nas IES em que a
pesquisa não necessariamente está atrelada ao ensino, é necessário promover a reflexão sobre
qual a finalidade a que a pesquisa se propõe, principalmente no que diz respeito à sua relação
com o mercado.
Longhi (2011) afirma que na socialização da pesquisa e na sua articulação com a
extensão e o ensino existem muitas preocupações. De acordo, com a autora, grande parte das
instituições não possui pesquisas que se destinam à ampla realidade nacional e internacional,
e que tragam, enfim, contribuições para o avanço da ciência e da tecnologia de ponta. Porém,
a diversidade que descreve as IES brasileiras possibilita que as instituições, tendo em vista a
sua realidade, realizem pesquisas que contribuam para o desenvolvimento das suas regiões.
Portanto, as ações que englobam ensino, pesquisa e extensão contribuem para a
consolidação da qualidade nas instituições, norteando os seus projetos e podendo até mesmo
interferir de forma positiva no contexto em que se inserem. Uma vez que a pesquisa – e seus
desdobramentos – evidencia a qualidade da instituição, logo, a pesquisa poderia ser melhor
aproveitada pelos indicadores do Sinaes, sobretudo pelo IGC. Há de se considerar que o
trabalho com pesquisas contribui não só para a produção do conhecimento, mas oportuniza o
engajamento dos estudantes. Assim, a participação nas pesquisas consolida a formação do
aluno.
Ainda no que se refere à qualidade, Sguissardi (2009) afirma que a qualidade no
ensino, na pesquisa, no fazer universitário, não é algo recente e nem distante da vida
universitária, sendo sempre alvo de cuidados, principalmente de boas universidades. Contudo,
o autor chama a atenção para a frequência com que o termo qualidade vem sendo empregado
nas últimas décadas. A qualidade, em uma acepção mais estreita, foi transferida para o mundo
acadêmico oriunda da organização empresarial.
27
Segundo Silva (2011), Taylor teve uma vida profissional diretamente ligada à indústria. Sua atividade
profissional visou a responder às necessidades dos dirigentes norte-americanos em relação ao aumento da
produtividade.
28
Para Fernandes e Neto (1996), os ensinamentos difundidos por Deming no Japão, na década de 1950,
alteraram radicalmente as bases da competição global.
160
Com base no exposto é possível afirmar que a qualidade deve perpassar o tripé ensino,
pesquisa e extensão, constituindo uma das preocupações das instituições. Todavia, deve-se
atentar para que a preocupação com a qualidade tenha relação, de fato, com o ambiente
educacional e corresponda aos anseios deste e dos sujeitos envolvidos. Como já elucidado por
Sguissardi (2006), a obrigatoriedade de trabalho com a pesquisa diferencia-se de acordo com
a organização acadêmica. Assim, a pesquisa realizada por algumas IES não obrigatoriamente
pode estabelecer relação com a qualidade, mas sim com algum interesse de mercado. Logo,
uma vez que a educação importa de outras áreas o que se preconiza como qualidade, há o
risco de haver uma deturpação do trabalho realizado nas IES. O perigo é que a qualidade nas
instituições se enquadre em uma perspectiva empresarial, tornando a educação um produto.
Nesta perspectiva de qualidade empresarial os índices assumem uma posição delicada. O
IGC, por exemplo, se tornaria não apenas mecanismo de regulação, mas alvo de especulação
por parte de organismos interessados em mão de obra qualificada.
As avaliações internas, bem como os indicadores oriundos de avaliações externas
contribuem para que a qualidade seja discutida na instituição. Pautados nos resultados, os
sujeitos conceituam a qualidade e de que forma esta pode ser aprimorada, tendo em vista o
reconhecimento da avaliação como um instrumento importante e que contribui de maneira
significativa para possíveis intervenções.
Esse processo de qualidade a gente pode dizer [que] funciona quase como
uma commodity29. A partir dos indicadores do Sinaes é possível identificar e
falar: “o que eu preciso fazer”? Tem uma série de formações que você
precisa fazer, sobretudo no aspecto técnico, seja em cada um dos cursos,
29
De acordo com Bendrath (2008) a mercantilização ou a educação como commodity veio reforçar a nova
tendência de objetivos econômicos e nesse sentido é compreendida apenas como um fator de fortalecimento
das ações de tais organismos na influência da aplicação de suas medidas em países em desenvolvimento.
161
[seja] nas instituições. Essa discussão é premente que fala: “isso é uma
condição mínima para a gente atuar como uma instituição”. Além disso, o
que mais a gente pode apresentar vai estar associado com o conceito de
excelência (PCPA3, informação verbal).
Hoje em dia, não tem mais o aluno ideal. Nós temos um aluno que vem com
muitas deficiências. Então nós entendemos que está muito difícil guindarmos
esse aluno para uma superqualidade, para [um conceito] de um Enade, por
exemplo, de um “provão”, para conseguir uma média cinco. [...] Nós temos
um aluno de repente “J” que se a gente conseguisse transformar em um
aluno “D”, ia ser fabuloso (CC1, informação verbal).
O nosso tipo de aluno prejudica a qualidade que nós queremos. Não vou
botar a culpa no meu time de professores. Tem o lado do aluno que peca
mesmo, não tem a responsabilidade que a gente esperaria, até porque vai ser
professor. Isso aí prejudica a qualidade também (CC1, informação verbal).
avaliação e seus indicadores apresentam um aspecto contraditório, uma vez que pela
complexidade do processo não conseguem avaliar todos os elementos do sistema. Assim,
alguns fatores evidenciam-se mais que outros. O ponto negativo é que determinadas questões
ficam obscuras e não têm a atenção merecida, como no caso da avaliação da qualidade que
não consegue abarcar todas as dimensões deste conceito. Entretanto, por outro lado, os
elementos que se destacam ganham uma atenção maior no processo de avaliação. Mas é
importante salientar que alguns componentes da avaliação ganham tanto destaque que o seu
fim acaba sendo distinto da cultura de avaliação. Um exemplo são os índices que se tornaram
não apenas indicadores da realidade, mas viraram uma espécie de fetiche para a composição
de rankings sobre a qualidade das IES.
O problema apontado tem maiores proporções, pois uma das queixas do Coordenador
de Curso 1 é que os alunos vêm com grandes defasagens em relação à sua formação escolar,
ponto debatido na seção 4.2 deste capítulo. Logo, a instituição, mesmo providenciando formas
de intervir no problema, não consegue sanar as dificuldades que os alunos apresentam. Isto
gera um grande impacto nos resultados das avaliações que são realizadas pelos discentes desta
IES, afetando a qualidade. Soa como um fator de contradição considerar que o aluno
prejudica a qualidade da instituição.
Observa-se que a qualidade em todas as IES investigadas é entendida como a
abstração de fatores que a constituem. Esses fatores têm pesos diferentes nas instituições
pesquisadas, o que acarreta maiores preocupações em certas áreas. Isto não significa o
esquecimento de outras, pois quando se fala de qualidade nas IES é uma ação inevitável fazer
a mediação dos fatores que a compõem com a totalidade. Não é possível trabalhar a qualidade
de forma isolada, uma vez que esta exerce influência em várias atividades desenvolvidas pelas
instituições. Assim, o que fica explícito à luz dos dados coletados, é que as ações são
pontuais, mas têm como objetivo maior a preocupação com a totalidade, sendo a mediação
dos vários conceitos de qualidade, fator essencial para o êxito do processo.
Com base nos indicadores, nós traçamos metas que têm por base a parte
pedagógica. Quer dizer: “o que nós podemos fazer para alcançar o ensino de
mais qualidade”? É a medida. Na verdade a gente toma por base os
indicadores, mas trabalha pedagogicamente o que foi indicado (PCPA1,
informação verbal).
Com base na fala dos sujeitos é possível perceber que as avaliações dão a direção no
que se refere ao investimento de qualidade nas instituições; isto é feito por meio do
mapeamento da realidade e das ações que são traçadas. O direcionamento está pautado na
167
melhoria dos aspectos pedagógicos, pois, de acordo com os sujeitos entrevistados, estes
aspectos alavancam a qualidade do ensino.
É possível verificar que as avaliações, principalmente as internas, são indicadores do
que deve ser implementado na instituição em termos de subsídios pedagógicos. Esta tarefa
não cabe somente ao gestor da instituição, mas envolve toda a comunidade acadêmica, que
participa do que é incluído nas propostas pedagógicas. Essas ações contribuem para que as
propostas sejam atualizadas e permanentemente revistas. Todavia, o indicador do sistema de
avaliação, o IGC, ainda não é capaz de medir os subsídios pedagógicos das instituições. O
IGC aponta a qualidade das IES, mas ainda precisa ser adequado de modo que possibilite
captar aspectos qualitativos.
A preocupação com os aspectos pedagógicos vai desde análises mais pontuais, como a
revisão dos projetos dos cursos, até ações mais globais, como a preocupação com a esfera
institucional. Infere-se que não basta mobilizar a comunidade acadêmica para a
implementação de aspectos que visam à melhoria dos cursos. É preciso ir além e garantir
atitudes que possibilitem uma mobilização institucional. Como elucidado pelo Coordenador
de Curso 3, a intenção não é abolir o que as instituições possuem, mas agregar novas
perspectivas que auxiliem no desenvolvimento das IES.
Além do cuidado com a parte pedagógica, quando o assunto é o investimento em
qualidade, fica explícito que apesar da preocupação com a comunidade acadêmica são
necessários empreendimentos pontuais para cada um dos segmentos, como alunos,
professores, técnicos. Desta forma, para se atingir a instituição como um todo é preciso
debruçar-se em trabalhos mais específicos visando à melhoria de seu conjunto.
Nós precisamos ter uma formação específica dos nossos colaboradores, seja
ele técnico administrativo ou docente. O docente tem um contato mais direto
com o estudante. O técnico administrativo tem aquele contato em algumas
ações (PCPA3, informação verbal).
A gente investe em todos esses tripés, com professores que estão envolvidos
em projetos; alunos, com cursos de capacitação [...] momentos de
sensibilização. Vários eventos são realizados para que essas pessoas se
sensibilizem para poderem participar (PCPA2, informação verbal).
168
Acho que sempre dá para melhorar sim. A gente sempre pode avançar. Por
exemplo, essa revisão de projeto pedagógico que a gente fez foi algo que nos
permitiu refletir sobre a organização do nosso curso. No caso da instituição,
a gente tem um programa de reconstrução de práticas docentes, que é um
programa que a instituição oferece e isso permite ao professor repensar esse
fazer pedagógico dele na sala de aula (CC3, informação verbal).
A gente tem feito tanta coisa. [...] reorganizou a matriz [...] o nosso maior
esforço tem sido sensibilizar os alunos para participarem dos projetos
institucionais, porque eles são fortalecedores do projeto pedagógico e os
alunos não têm muita consciência. [...] constantemente em reunião com os
professores e capacitação (CC2, informação verbal).
Atualmente, eu diria que a questão do espaço físico tem um peso muito forte
nas condições de desenvolvimento das atividades do dia a dia do curso. Nós
somos mais de cem professores. A gente não tem espaço para receber um
aluno, por exemplo. Agora, nós estamos aqui conversando em uma sala que
tem poucos metros quadrados, não tem uma abertura, a iluminação é
precária, e é a sala da coordenação do curso de Letras que engloba sete
habilitações (CC4, informação verbal).
com o discurso governamental se revela no fato de que, na prática, houve uma diminuição dos
recursos públicos para a educação. Os sucessivos cortes no orçamento atingiram o sistema
universitário federal, impedindo a expansão e provocando o sucateamento das universidades
existentes.
Ao discutir, por exemplo, o investimento na qualidade, a instituição A tem que se
preocupar primeiramente com questões básicas que deveriam ser garantidas pelo Estado,
através dos recursos oriundos do Reuni30 (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais). Segundo os referidos autores, o Reuni ficou limitado à
previsão orçamentária não propiciando a garantia da efetividade, da continuidade e do
cumprimento dos acordos iniciais. Mas é possível observar que as mazelas continuam, visto
que a educação pública sofre com falta de espaço físico, de professores, de material, e todos
esses aspectos influenciam de forma direta na qualidade do curso e do ensino ofertado.
30
De acordo com o Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, fica instituído o Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - Reuni, com o objetivo de criar condições para a
ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento
da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais (BRASIL, 2007).
173
A gente faz todo o possível, mas tem um momento que foge à nossa
capacidade de tentar resolver esses problemas. Mas a gente está sempre
tentando, as reformas de todas as licenciaturas e de bacharelado estão em
andamento, está em uma fase muito boa, adiantado. Tudo que a gente pode
fazer em relação à melhora da qualidade do curso, o corpo docente, discente
faz e os funcionários também (CC4, informação verbal).
É evidente que há uma preocupação não só com a qualidade que o curso possui, mas
com a forma como as avaliações externas, no caso o Enade, irão detectar as falhas
encontradas e que fogem à capacidade do curso de licenciatura em Letras de poder saná-las. A
avaliação neste caso, é um termômetro que poderá indicar até que ponto o sucateamento da
infraestrutura da instituição interfere nos resultados. Caso isso seja evidenciado, os cursos em
174
31
Segundo dados do Inep (2012e) em 2008, na divulgação dos resultados do Enade do curso de Letras desta
instituição não houve diferenciação entre os graus de bacharelado e licenciatura. Já em 2011 os conceitos
foram separados, sendo que o grau de bacharelado obteve conceito Enade 3 e o de licenciatura atingiu o
conceito 1.
175
Desta forma é possível afirmar que não há um bloco que sintetize o conceito de
qualidade. Para compreendê-la é necessário sair do concreto para o abstrato, uma vez que há
inúmeros fenômenos que estabelecem relação com esse conceito. As noções de qualidade
perpassam, sobretudo, a historicidade do sujeito, suas concepções de mundo, os objetivos
coletivos e individuais. É impossível falar de qualidade sem levar em conta o contexto em que
o indivíduo está inserido.
Na educação superior todos esses fatores são levados em consideração na elaboração
do conceito de qualidade. Além dos anseios dos indivíduos que fazem parte da instituição, as
características institucionais, como o seu projeto pedagógico, a sua localização geográfica, o
público a que atende, sua organização acadêmica e institucional contribuem para denotar a
qualidade das IES.
Além da diversidade a ser considerada na formulação do conceito de qualidade, não se
pode negar que o movimento, explicado pela dialética, exerce influência sobre este. Os
conceitos de qualidade na educação superior mudaram e continuam em transformação, pois
sofrem influência de questões sociais, econômicas e políticas.
Já que não há um único conceito para a qualidade na educação superior, o que se
constata é que há aproximações de fenômenos que denotam a qualidade. Em algumas IES
determinados aspectos se sobressaem e ganham maior destaque, enquanto em outras já não há
a mesma repercussão. Dentre os fenômenos elencados como conceito de qualidade estão a
preocupação com a proposta pedagógica, a aprendizagem e o envolvimento dos estudantes, a
prestação de serviços, as avaliações internas e externas e os indicadores. Todavia, o que se
pode observar é que a qualidade referenciada ao aluno se sobressai, enquanto a infraestrutura,
por exemplo, não é mencionada com a mesma veemência, quando comparada à formação do
aluno, ao seu perfil e interesse acadêmico.
Como anteriormente ressaltado, em todas as IES pesquisadas há uma preocupação
com a questão pedagógica, principalmente com a construção de um projeto pedagógico que
esteja atualizado e dê conta das demandas da instituição, sobretudo em relação à formação dos
docentes e discentes.
A formação dos discentes é outro ponto que merece reflexão. Todas as instituições
afirmaram o compromisso com a formação de qualidade dos seus alunos, para que estes além
176
de terem um bom desempenho nas avaliações externas, também alcancem sucesso na vida
profissional. Todavia, para que se possa investir em qualidade na formação, a instituição
necessita que o aluno se envolva nos trabalhos, demonstre interesse, pois estas são evidências
de uma colaboração entre alunos e instituição, além de uma boa prestação de serviços.
Contudo, os alunos apresentam perfis diferentes em virtude das suas vivências. Assim,
as instituições têm um público bastante heterogêneo, segundo os relatos dos entrevistados. A
diferenciação se dá pelo local de moradia, condições financeiras e principalmente pelos
aspectos cognitivos. Naquelas IES em que há um processo seletivo mais flexível observa-se
um maior número de queixas em relação à formação com que os alunos ingressam nestas
instituições. Assim, o tempo em que o aluno permanece na instituição não é suficiente para
sanar as mazelas detectadas, fato que pode impactar na qualidade das IES, quando avaliadas
por exames externos. Há uma polêmica em torno deste assunto, uma vez que o próprio aluno
afeta a qualidade da instituição de forma negativa. O receio por parte das instituições é pelo
fato de que esse aluno será avaliado por exames externos e seu desempenho será generalizado
para a IES. Ao discutir a forma como o aluno ingressa e como ele sai da instituição, em
termos de formação acadêmica, a inserção do IDD na política de avaliação se propôs a
analisar o desempenho de ingressantes e concluintes. Todavia, esse índice foi contestado pelo
Gestor 1, pois segundo esse sujeito o IDD avalia públicos distintos e por isso não permite
analisar fidedignamente a formação dos estudantes na instituição.
Desta maneira, pode-se observar que a qualidade possui uma relação estreita com a
avaliação. De acordo com Lunardi (2011), a implementação de mecanismos avaliativos que
dão prioridade à qualidade na educação superior está relacionada a mudanças no processo de
ensino e aprendizagem. Essas alterações ocorrem pois sinalizam critérios e indicadores que
evidenciam a atual situação e o que precisa ser modificado para alcançar os objetivos da IES,
do curso, dentre outros.
Assim, ao avaliar um sistema é possível aferir as reais condições em que este se
encontra. De posse desses resultados há a possibilidade do Estado fazer a regulação, com o
objetivo de intervir na realidade, mantendo um equilíbrio que tenha como um dos
instrumentos de harmonia a qualidade. Na política do Sinaes a avaliação tem sido feita através
de índices, como o IGC. A presença dos índices, como mecanismos de regulação, traz
inúmeros questionamentos, sobretudo no que se refere à legitimidade e à compreensão do
processo. Logo, a regulação é um fator que merece atenção e será discutido na próxima seção.
177
Essa ideologia que pregava a lógica de mercado fez com que o Estado assumisse um
novo papel, que privilegiava o foco nos resultados. Diante desta nova postura do Estado foi
necessária a criação de mecanismos que possibilitassem formas de controle e de
responsabilização. Para o autor, a avaliação surge como um pré-requisito para a
implementação dos mecanismos citados.
Ainda em relação à regulação, Barroso (2005) ressalta que esta tem por objetivo a
utilização de mecanismos que visam manter o equilíbrio de determinado sistema. O autor
defende a existência de três tipos de regulação: (i) transnacional; (ii) nacional; e (iii)
microrregulação local, discutidas no capítulo 1. Neste trabalho será abordada a última
modalidade de regulação citada, uma vez que é importante analisar de que forma as
instituições se adequam localmente às exigências de uma política nacional de avaliação da
educação superior. E diante desta adequação, faz-se necessário analisar as contradições
existentes, uma vez que estas podem ter em vista a melhoria da qualidade da instituição ou
apenas atender às demandas legais da política, sem ter como preocupação maior o
investimento nos serviços ofertados pelas instituições.
Com efeito, o IGC é um índice utilizado como um dos mecanismos de regulação da
qualidade da educação ofertada pelas IES. A regulação ocorre por meio do resultado obtido
pelas instituições sendo que quando estas obtêm notas iguais ou superiores a 3, em uma escala
que vai de 1 a 5, não recebem comissões de avaliação. Contudo, quando a nota do IGC é igual
a 1 ou 2, as instituições sofrem uma série de interferências, sendo obrigadas a sanarem os
problemas detectados.
178
Acho que é importante. Ela [a regulação] deve existir. Não é nem só por que
a lei determina, mas é uma coisa que tem que acontecer. Muitos se
organizaram em razão da avaliação. Se não tivesse a avaliação, algumas
coisas que a gente ouve de instituições que não são muito sérias [...] de
instituição que aluga computador só para a avaliação, aluga livro e esses
absurdos. A gente vê que é muito positiva [a regulação]. Só que ela tem que
existir com transparência. A gente tem que conhecer o que está sendo feito,
os indicadores. Para ela balizar alguma coisa, para ser esse norteador, a gente
tem que ter clareza. Como qualquer avaliação, se os critérios não são claros,
não se compreende (PCPA2, informação verbal).
decorrentes do uso dos resultados, pois estes serviram para a construção de rankings, como
também os novos objetivos tornaram o sistema de avaliação mais subjetivo. Essa
subjetividade dificultou os processos de avaliação, principalmente no que se refere ao
estabelecimento de padrões e critérios para a realização da regulação.
Deste modo, apesar da importância da regulação há dúvidas em relação ao mecanismo
adotado por intermédio da implantação dos índices no Sinaes. Como dito anteriormente, o
IGC faz a regulação das IES, todavia os parâmetros usados para o cálculo desse índice geram
dúvidas em relação à sua eficácia. Porém é importante pensar que os índices não podem se
restringir apenas ao processo de regulação do sistema, visto que esta é apenas uma das suas
atribuições.
De acordo com Azevedo e Cunha (2011), os indicadores servem para explicitar o
sentido da qualidade e esta, por sua vez, depende da explicitação do projeto que orienta a sua
definição. Ainda segundo as autoras os indicadores servem como referentes de programas de
a qualidade. Além disso, eles são legitimados e podem guiar o caminho da transformação.
Apesar de o conceito de indicadores estar atrelado à qualidade, a questão da regulação
também se torna latente. Todavia, coloca-se em xeque se de fato o Estado regula por meio do
índice a qualidade das instituições de educação superior, pois este está majoritariamente
pautado em fatores quantitativos.
Faz tudo isso [avaliações] e a gente vê, olhando do lado, que existem
instituições que estão de pé e que eu não sei como que estão. Isso eu queria
saber. O MEC não conhece todas as instituições ou “vira as costas” e finge
que não conhece. Essa é a verdade, finge que não conhece. Não tenho dúvida
em dizer isso. Acho que é como os políticos: agem conforme a conveniência
(G1, informação verbal).
Se o CPC é positivo essa avaliação não vem. [...] foi um escape do MEC,
com tantos cursos para avaliar. Eu ainda acho que ela [regulação] é meio
“capenga”, porque, na verdade, ele não conhece todos. Desse universo todo
do Brasil, o MEC não conhece todas as instituições e possivelmente aquelas
que manipulam, como a gente viu e que foi noticiado. Ele não conhece essas
instituições. Então quem são essas instituições? Que qualidade é essa, então,
que eles preceituam? (CC2, informação verbal)
Tem algumas coisas que nós achamos injustas, por exemplo, aqui é uma
instituição pequena. Nós não temos pós-graduação, só em nível de
especialização. Na verdade são avaliados pontos em que as [instituições]
menores ficam prejudicadas (PCPA1, informação verbal).
Outra questão que eu acho importante nisso, que você está dizendo, é a
clareza social da distinção que você tem que ter entre avaliação de uma
181
Nós temos que compor uma série de cursos, um corpo docente muito grande,
uma diversidade de alunos enorme, mas todos nós estamos passando pelo
mesmo sistema. Então, não há diferença para as diferenças (G2, informação
verbal).
Como já mencionado, houve uma mudança no cálculo do CPC, mas esta não ocorreu
com a participação da comunidade acadêmica, tão pouco com vistas a atender a
heterogeneidade de instituições que compõem o sistema. A alteração no cálculo de um dos
índices do Sinaes deu-se pelo fato da consolidação e aumento da adesão de estudantes ao
Enem. Portanto, pode-se afirmar que as mudanças na política de avaliação continuam
ocorrendo, mas nem sempre atendem aos anseios das IES.
184
No que tange à legitimação, Schwartzman (2011) analisa que não se pode esperar que
o público não especializado compreenda a complexidade dos cálculos dos índices. No
entanto, o entendimento daquilo que está sendo avaliado é fundamental para análises
posteriores. Assim, o autor recomenda que é importante “tornar os critérios claros e
transparentes, em linguagem acessível, e não ocultos em fórmulas matemáticas só inteligíveis
pelos especialistas” (p. 4). Tal ação evidencia um passo importante para a garantia da
legitimidade e a aceitação dos dados produzidos.
Quanto à divulgação do IGC e das médias alcançadas no Enade pela mídia, tem-se
outras questões como: o que a sociedade civil faz com esses resultados e de que maneira o
índice influencia na imagem da instituição? É fato que quando estes números se tornam
públicos há um enorme alvoroço na mídia, sobretudo pela formação dos rankings. Isso cria
uma espécie de propaganda para a instituição que pode ser tanto positiva quanto negativa.
Os resultados obtidos podem levar a sociedade civil a construir uma imagem positiva
ou negativa de determinada IES, mas de acordo com a fala de um dos entrevistados essa
construção também está atrelada à forma como a instituição é avaliada, para que ao fim tenha-
se o cômputo do IGC. Uma instituição por ser pequena, de acordo com o Gestor 2, pode ser
melhor avaliada do que outra, todavia há o risco de que essa avaliação não corresponda de
fato, à imagem da instituição, em termos de qualidade. Este retrato seria a criação de uma
imagem negativa, desvinculada do contexto real.
Já, por outro lado, a imagem da instituição pode não ser prejudicada, apesar de notas
baixas, por conta da credibilidade que esta repassa aos seus alunos. Os alunos são
responsáveis por fazerem uma espécie de propaganda positiva para a instituição. Portanto,
independentemente do resultado do IGC, a instituição não tem a sua imagem deturpada, uma
vez que os ex-alunos são responsáveis por perpetuarem a qualidade dos serviços prestados
pela instituição.
Até certo tempo não influenciou. Os índices não influenciaram por conta da
fidelidade, do conhecimento que os nossos alunos tinham da gente. Mas por
outro lado à medida que a coisa vai passando e o vulto que a mídia vai
185
fazendo esse “ranqueamento”, eu não teria mais certeza para dizer que se
isso voltar a ocorrer e a gente não sofra. Então eu vou falar do passado. Do
passado nós temos que responder o seguinte: não sofremos interferência.
(G1, informação verbal)
O Gestor 1 tem segurança para dizer que os índices obtidos pela IES,
independentemente do seu valor, não influenciaram a imagem da instituição. Tal fato é
decorrente da credibilidade que os alunos depositam na instituição. Assim, a confiança que o
público possui nos serviços prestados pela IES não está associada ao resultado dos índices.
Todavia, o Gestor 1 não sabe dizer se essa mesma imagem positiva que a instituição construiu
ao longo dos anos será mantida. A incerteza é resultado da proporção que os índices vêm
assumindo, principalmente pela forma que a mídia os utiliza.
A opinião do Gestor 3 não é diferente, pois segundo este, na instituição B a divulgação
vem dos próprios alunos. Logo, pode-se afirmar que a imagem positiva da instituição é
decorrente da propaganda que os alunos fazem em relação aos serviços prestados. Esse
processo de construção da imagem, segundo o entrevistado, é oriundo do investimento em
qualidade que a universidade vem realizando. Desta maneira, os alunos percebem que a
qualidade é um dos pontos positivos. Consequentemente, estes se sentem contemplados com
os serviços e os divulgam.
Os alunos são responsáveis por propagarem a imagem da instituição
independentemente do IGC, pois são sujeitos que vivenciam e usufruem cotidianamente dos
serviços prestados por ela. Assim, podem visualizar de maneira direta o que, de fato, a
instituição tem a oferecer e se há qualidade no trabalho desenvolvido. Além disso, há outro
fator atrelado à regulação: o esclarecimento que as pessoas foram adquirindo ao longo dos
anos em relação à busca de serviços de qualidade.
Hoje, eles aprendem a buscar se os cursos são reconhecidos, válidos etc. Mas
somente o conceito não, porque você vai encontrar instituições muito
diferentes, com um conceito muito próximo, com a percepção da sociedade
muito diferente (G2, informação verbal).
conceito acerca destas. Porém ao analisar o resultado do IGC tem-se uma contradição, pois
instituições com organização acadêmica distintas podem possuir conceitos iguais, mas a
sociedade civil constrói conceitos de qualidade distintos para cada uma delas. Desta forma,
não se pode afirmar que o IGC por si só traduz a qualidade da instituição, há outros fatores
relacionados a ele, que denotam uma imagem positiva ou negativa desta.
Ao analisar estes dados, na tentativa de abstrair os vários fenômenos inerentes à
regulação, existe um aspecto que se sobressai, no caso a microrregulação local. Esta propicia
uma espécie de mediação entre a política nacional do Sinaes e o que efetivamente as
instituições executam para se ajustarem a essa política. Compreender de que maneira as IES
se adequam e atendem às exigências da política do Sinaes é fator preponderante para avaliar
como a regulação, tema de várias polêmicas, é vivenciada nas instituições.
No Sinaes o Enade ganha destaque, pois é um dos componentes de peso significativo
para o cálculo do CPC, que por sua vez influencia no cômputo do IGC da instituição. Logo,
observa-se que além de se adequar a aspectos quantitativos, como número de docentes e
infraestrutura, a preocupação das instituições se estende à qualidade de ensino ofertada pelos
cursos. Nesta dissertação as atenções da microrregulação se voltam para o curso de
licenciatura em Letras e a relação que este estabelece com o Enade.
As IES investigadas analisam que o Enade é um instrumento de grande importância,
como dito anteriormente, pois através dele as instituições podem observar de maneira crítica o
seu desempenho e, consequentemente, a qualidade do ensino que é ofertada aos alunos.
Todavia, além desta avaliação externa propiciar à IES uma outra visão acerca do seu
desempenho, o Enade é um instrumento que faz com que as instituições adaptem suas
condutas em relação à realização do exame. A avaliação realizada pelos estudantes assume
um duplo papel, pois focaliza o desempenho dos estudantes, e ao mesmo tempo, faz com que
a IES se preocupe com os resultados. A preocupação não se restringe apenas à qualidade, mas
em atingir resultados satisfatórios para que as instituições continuem a ofertar seus cursos.
Neste contexto, ao avaliar o Enade dentro da totalidade da política de avaliação da
educação superior, é possível afirmar que este instrumento faz parte de um processo de
microrregulação. De acordo com os resultados, as instituições tendem a reorganizar as suas
práticas com a intenção de manter não só a qualidade, mas também o pleno funcionamento
dos cursos, sem ter que sofrer com os termos de saneamento vinculados ao processo de
regulação.
187
[...] a gente estudaria outra coisa, mas o Enade coloca [...] essa obra, então tu
é obrigado a te desdobrar para tentar atender o Enade também. Nós achamos
que isso nos impede de fazer as coisas como realmente nós gostaríamos de
fazer (CC1, informação verbal).
A gente acredita que o Enade vai nos dar respostas, elementos para poder
repensar a nossa estrutura, a prática, exatamente se você não maquia esse
processo. A gente não faz, como curso de Letras e como instituição,
preparatórios para o Enade (CC3, informação verbal).
Acho importante [o Enade]. Tanto é que nós também temos o exame que
implantamos semestre passado. É um exame institucional de desempenho
acadêmico. Por que isso? Para que a gente procure acompanhar esse
desempenho acadêmico dos nossos alunos (G1, informação verbal).
A importância mesmo é interna, para ver em que a gente está falhando, o que
tem que corrigir e o que tem que buscar. A preocupação em buscar o
problema é tão grande que a gente abstrai essa questão isolada. A gente tem
que buscar ver junto com a reitoria, com [...] vários departamentos
representativos dentro da [instituição A], para ver o que a gente tem que
fazer. (CC4, informação verbal).
Existe a preocupação quanto à regulação. Não posso dizer que não existe.
Para a administração superior isso é uma nota e tem que obter êxito. A
minha preocupação foi em sensibilizar os alunos, no ano passado, com muito
esforço (CC2, informação verbal).
Está de acordo com esta ideia o Coordenador de Curso 4, que pondera o uso do exame
com fins internos, tendo em vista a detecção de problemas relacionados ao curso de
licenciatura em Letras. Para ele, de acordo com os resultados obtidos, a coordenação busca
traçar ações que visem sanar as falhas. Todavia, os procedimentos que têm o objetivo de
corrigir os erros encontrados não são exclusivos ao curso. A coordenação deste procura
articular as atividades com a reitoria e com os departamentos. Portanto, não há a intenção de
que as mudanças sejam feitas de forma isolada, descontextualizada da instituição. O intuito é
que a [instituição A], como um todo, conheça a realidade do curso e ajude na elaboração de
ações interventivas, tendo em vista a melhoria da qualidade.
Outras instituições se apropriam de maneira diferente dos resultados do Enade. Uma
delas se adequa de tal forma ao exame que ajusta as demandas desse àquilo que é ministrado
em sala de aula. Essa ação gera um incômodo no Coordenador de Curso 1, pois, segundo ele,
cerceia a liberdade do docente de ministrar outros conteúdos. Porém, o que se percebe é que
essa prática foi institucionalizada naquela IES onde ele atua, devido ao mau desempenho dos
estudantes do curso de licenciatura em Letras no Enade de 2008, quando este obteve nota 2.
Desta maneira, pode-se inferir que a atitude de controlar o que cai no exame com o que é
desenvolvido em sala de aula é uma intervenção mais imediata, a qual tem o objetivo de
proporcionar o aumento do desempenho dos estudantes no exame. Além desta adequação, o
mesmo coordenador afirmou que foi implantado na instituição uma avaliação similar ao
Enade com o objetivo de acompanhar o desempenho acadêmico dos alunos. Conclui-se que
com esta avaliação o intuito da IES também seja o de preparar os alunos para a realização do
Enade, objetivando o aumento do seu desempenho.
Ao comparar as falas do Coordenador de Curso 3 e dos sujeitos da instituição 1
verifica-se uma contradição. Esta pode ser constatada quando o sujeito da instituição 3
pondera que os resultados do Enade são significativos quando retratam a realidade da IES,
logo esta instituição não realiza preparatórios para a realização do exame. Já na IES 1 os
sujeitos afirmam a presença de uma avaliação similar ao Enade, bem como a adequação dos
conteúdos do curso ao que é exigido no exame. Diante desta realidade seria possível afirmar
que o resultado da IES 1 não elucida o cotidiano da instituição? Essa é uma questão delicada
que não envolve apenas os resultados do Enade e o uso que se faz de seus resultados. A
problemática maior envolve a regulação. Os sujeitos da instituição B não relataram a obtenção
de resultados insatisfatórios no exame, mas os da instituição D já haviam recebido duas notas
2. Chega-se à conclusão de que a microrregulação que cada IES realiza vai de acordo com os
objetivos que elas almejam, em níveis distintos. No caso da instituição D, essa tem a
189
necessidade de se adequar aos padrões de qualidade que a política do Sinaes estipula, dos
quais um é a obtenção de nota igual ou superior a 3, tanto no CPC como no IGC. Assim, o
objetivo de atender às normas da regulação exerce uma maior influência na instituição 1 do
que nas demais, que não possuem instrumentos que influenciem diretamente no resultado do
Enade.
A regulação é algo que exerce influência de maneiras distintas nas IES, tendo em vista
o histórico dos desempenhos que a instituição apresenta. O Coordenador de Curso 2 analisa
que umas das preocupações em relação ao Enade é justamente com a regulação. Observa-se
que a gestão da IES se preocupa com as notas obtidas, sobretudo quando estas estabelecem
relação com a regulação. Já o trabalho da coordenação de curso desta IES foi de sensibilizar
os alunos a participarem do exame, sem que fossem feitas avaliações preparatórias para tal.
Ao analisar a dinâmica das instituições frente ao IGC, objeto deste trabalho, percebe-
se que a microrregulação ocorre em todas, porém em níveis diferente, como mencionado
anteriormente. Os sujeitos da instituição D mostram-se bastante preocupados com os
resultados obtidos no Enade pelos estudantes do curso de licenciatura em Letras. A apreensão
ocorre pelo fato de a instituição já ter obtido nota 2 em duas avaliações consecutivas, o que
culminou em uma visita in loco, para que uma comissão pudesse avaliar as condições do
curso.
Nós tivemos um caso: a primeira turma que participou do Enade, era a turma
mais difícil que nós tínhamos aqui. Foi um caos, inclusive foi nota 2. Só que
comparando o que nós recebemos, houve aprendizagem sim. Não houve
naquilo que era esperado, mas pelo produto que nós recebemos,
conseguimos avançar a duras penas. Só que o ingressante que foi comparado
a esse concluinte foi um grupo muito bom, excelente. As características
totalmente diferenciadas daquele grupo que estava saindo [...] então foi
realmente um fracasso. É como se o aluno estivesse desaprendendo, o que
não é real. Não tem como eu comparar pessoas com um perfil totalmente
diferenciado (G1, informação verbal).
Assim, segundo o gestor ao comparar os desempenhos tem-se a impressão de que o aluno não
obteve um bom nível de aprendizagem ao longo dos anos que passou na IES. Portanto, os
índices são injustos, pois não permitiram avaliar que apesar do desempenho não satisfatório
dos concluintes estes se desenvolveram positivamente na IES. Apenas não alcançaram o que
era almejado em termos de regulação.
Ainda no que tange à regulação, após a visita in loco de uma comissão do MEC a
instituição foi avaliada novamente e, de acordo com os sujeitos entrevistados, foi autorizado o
prosseguimento das atividades do curso de licenciatura em Letras. Tal avaliação causou uma
dúbia interpretação por parte dos membros dessa IES, no que se refere à avaliação. A primeira
percepção ressalta que o trabalho da instituição foi reconhecido pela seriedade com que vem
sendo desempenhado. A segunda é a de frustração em relação aos critérios empregados no
Sinaes, pois os sujeitos da instituição se questionam sobre qual o parâmetro usado para se ter
duas avaliações diferentes.
Schwartzman (2011) observa que as avaliações devem permitir a elaboração de
instrumentos que verifiquem a qualidade dos cursos no setor privado. Para ele essa função
tem sido cumprida de forma tímida, uma vez que
Observa-se que a regulação tem sido realizada naqueles cursos que ficam com um
conceito abaixo do esperado, sofrendo intervenções que vão desde os termos de saneamento 32
32
Todas as medidas adotadas no processo de supervisão têm como finalidade garantir que as instituições de
ensino ofereçam um ensino superior de qualidade. A supervisão pode determinar medidas de enfoque
corretivo e preventivo dos problemas, com a determinação de medidas de saneamento e de medidas
cautelares de defesa do interesse dos alunos, e até penalidades, se a instituição sob supervisão deixar de
adotar as ações de saneamento de deficiências apontadas pelo MEC. Essas penalidades vão desde a
suspensão temporária de prerrogativas de autonomia, no caso de universidades e centros universitários, até o
encerramento de cursos ou descredenciamento da instituição pelo MEC. Quando um processo de supervisão
é aberto, a lei determina que o MEC conceda prazo para as instituições recorrerem. Nos casos mais graves,
no entanto, o ministério tem determinado medidas cautelares administrativas (regulamentadas pelo Decreto
nº 5.773/2006) para proteger os interesses de estudantes e da sociedade (BRASIL, 2010).
191
média mais elevada entre os ingressantes foi encontrada nas universidades (40,8) e Centro
Federal de Educação Tecnológica (CEFET) e Faculdade de Tecnologia (40,3). Para os
concluintes, as universidades (46,9) e centro universitário (46,5) conseguiram as médias mais
elevadas. A média mais baixa está nas faculdades integradas (38,5), para os ingressantes, e
faculdades, escolas e institutos superiores (39,5), para os concluintes. Diante dos dados, é
possível inferir que o maior desempenho no Enade, dentre os ingressantes, encontra-se nas
universidades e no CEFET. Em relação ao desempenho dos concluintes, as universidades
permanecem com bom desempenho, juntamente com os centros universitários (INEP, 2008).
Já em relação à nota dos cursos de Letras em 2011 (INEP, 2012e), até a conclusão
desta dissertação, ainda não havia um relatório específico do curso, apenas a divulgação das
notas. No recorte desta pesquisa pode-se verificar que as instituições investigadas obtiveram
os seguintes conceitos no exame: (i) instituição A, conceito 1; (ii) instituição B, conceito 3;
(iii) instituição C, conceito 3; e (iv) instituição D, conceito 3. Ao comparar estas notas com o
exame de 2008, pode-se observar que houve uma queda no conceito da instituição A, que
naquele ano obteve 4, e um aumento no conceito da instituição D, que havia alcançado 2. As
instituições B e C mantiveram o conceito 3, o mesmo obtido no exame de 2008.
Já o IGC das instituições pesquisadas não sofreu nenhum tipo de alteração entre os
anos de 2008 e 2011 – a instituição A manteve a nota 4 e as instituições B, C e D continuaram
com a nota 3. Assim, apesar das mudanças no cálculo do CPC, o IGC não apresentou
nenhuma alteração.
No que diz respeito à microrregulação, ao discutir a preparação dos alunos do curso de
Letras para a realização do Enade, tem-se um ponto polêmico. As instituições se preocupam
em sensibilizar os estudantes, informando-os sobre a importância da avaliação para a IES e
para o próprio estudante. Esta atitude tem por objetivo atrair todos os alunos e conscientizá-
los para que, dessa forma, a instituição seja amplamente representada no exame.
Há um grande receio notadamente, por parte dos sujeitos das instituições privadas, de
um boicote à prova, uma vez que tal ato pode contribuir para a queda da nota da instituição
em determinado curso. Todavia, o processo de avaliação do Sinaes apresenta uma contradição
em relação ao cálculo do índice. O que se observa é que apesar de uma nota baixa no Enade,
como a exemplo da instituição D, o IGC dela permanece igual ao de outras instituições que
obtiveram um conceito superior no Enade no curso de licenciatura em Letras. Esta análise do
IGC reflete uma espécie de totalidade vazia, uma vez que se os componentes usados para
calcular o CPC, em especial o Enade, não forem vistos de maneira crítica, o IGC acaba por
favorecer uma instituição em que determinados cursos não foram bem avaliados pelo Estado.
193
Nós não fazemos nada de diferente do que os outros fazem. E tem [instituição]
que tem um investimento maior que o nosso. Nós fazemos o lanche, a
camisetinha. A gente conversa com eles várias vezes e realmente eu consegui [...]
quase 100% dos nossos alunos. Um outro problema do Enade: tinha um concurso
no dia da prova. (CC1, informação verbal).
Explicar para eles como seria a prova, conversar sobre o edital, como eles
deveriam proceder, a importância de chegar na hora de fazer a prova. Essa
preparação para que eles pudessem ir tranquilos e fazerem uma boa prova. Mas
não houve nenhuma preparação no sentido de: “vamos treinar questões”? É óbvio
que no ano que existe Enade, ele vira um tema de conversa na [instituição B],
então é natural que se fale da prova (CC3, informação verbal).
A gente tem consciência de que tem um projeto, óbvio que nem todas as perguntas
do Enade vão contemplar o nosso projeto, porque cada instituição tem o seu. Isso
a gente tem consciência, então a preparação feita foi ao longo do curso (CC2,
informação verbal).
Vai depender do que você chama de interferir na qualidade. Não sou a favor
de um Estado muito intervencionista no sentido do Estado que quer ditar a
regra específica, de como deve se tal “coisinha” lá do curso (CC3,
informação verbal).
Acho que é papel do governo também mexer com essas instituições que se
mostrem ineficazes, que pontuam, por exemplo, nota 1. Acho que essas
instituições precisam ser analisadas, a situação delas precisa ser analisada.
De repente pode ser um retrato de outras coisas que merecem ser revistas,
como: “qual é o critério para você credenciar uma nova instituição”? “Para
credenciar novos cursos”? De repente estamos adotando critérios que estão
se provando ineficientes no futuro (CC3, informação verbal).
Mais uma vez, há a constatação de que o Estado deve se fazer presente na regulação
dos cursos. Porém a regulação não pode ter um fim em si mesma. Ela deve propiciar às
instituições, principalmente aquelas que obtiveram um desempenho abaixo do esperado, ações
que impulsionem o seu desenvolvimento. Além disso, o referido coordenador levanta a
hipótese de que a regulação pode ser aprimorada com o passar dos anos, principalmente no
que tange aos critérios de credenciamento de cursos e instituições. Como pode ser analisado
ao longo do trabalho, a política de avaliação vigente está em constante transformação. Esse
197
movimento, tendo em vista fatores internos e externos ao processo, pode também culminar no
ajuste dos marcos regulatórios.
Ainda em relação à regulação feita pelo Estado, visando ao acompanhamento da
qualidade das IES, o IGC é um dos instrumentos que permite aferir o desempenho das
instituições. Como já discutido no capítulo 1, o IGC é uma média ponderada dos conceitos de
graduação e pós-graduação stricto sensu das IES. Para a ponderação dos conceitos utiliza-se a
distribuição dos estudantes nos diferentes níveis de ensino.
Acho [o IGC] muito vago. Ele [o Estado] acha que pode e faz [ a regulação].
Não do curso de Letras em específico, não através do IGC. Ele faz através
do CPC. Do IGC ele vai ter a avaliação institucional. Então se o IGC for
baixo, o que vem é avaliação da renovação do credenciamento. Não é o
curso de Letras. Ele está envolvido, mas ele [o IGC] não vem para isso. Ele
[o Estado] acha que é um elemento, que ele pode controlar. [...] É muito
pouco isso o que ele [o Estado] faz. Não leva em consideração outros
elementos. Por que não pegar, por exemplo, os resultados da avaliação in
loco? Por que ele não compõem esse IGC e o próprio CPC com elementos
da avaliação in loco?(CC2, informação verbal)
O Estado? Nós somos particular [silêncio]. Quisera eu crer que sim [em
fazer intervenções no curso de Letras]. Mas o que o Estado vai fazer para
mais do que lançar novos documentos investigativos e que vão nos apertar e
espremer. O que o Estado vai fazer além disso? Eu gostaria que pudesse
fazer mais. Mas o quê? Por que o tipo de alunos que nós temos continua o
mesmo (CC1, informação verbal).
Com base nos depoimentos do Coordenador do Curso 2, o IGC não permite que o
Estado conheça a qualidade dos cursos avaliados. O cálculo do IGC, que leva em conta a
média dos cursos avaliados pelo Enade, torna-se algo muito superficial, sendo impossível
fazer uma intervenção mais específica. Neste caso, o referido índice é um mero indicador
quantitativo que não leva em consideração as particularidades de uma instituição, fazendo
apenas um balanço de conceitos obtidos.
Há uma dúvida em relação a qual tipo de intervenção o Estado realizaria nas
instituições privadas. Um dos coordenadores analisa que uma possível interferência estatal
estaria pautada na regulamentação de mais documentos que pouco auxiliariam as IES.
Observa-se que há um receio de que as implementações venham em forma de cobranças que
cerceiam cada vez mais a liberdade das IES. Um dos anseios do Coordenador de Curso 1 é
que o auxílio do Estado atendesse às defasagens que os alunos apresentam ao longo do curso.
Ao fazer uma abstração dos fatores que compõem o índice pode-se ter uma
compreensão mais precisa deste. Todavia, seu cálculo é vazio de sentido, pois não possibilita
198
Por que os projetos que compõem, que fortalecem o curso não fazem parte
[do IGC]? Eles não são levados em consideração, não é insumo de nada. Se
tem extensão e iniciação científica, por que isso não entra como insumo? Se
isso faz parte da qualidade, por que eles não entram nesse insumo? (CC2,
informação verbal)
contempladas em sua totalidade com os resultados. Estes são apenas indicadores que se
demonstram ainda bastante limitados para aferirem as IES em suas realidades e contextos
históricos diversificados.
Outro ponto polêmico é a possibilidade de as IES manipularem alguns dados que
podem influenciar o cálculo dos índices, como a contratação de docentes por determinado
período de tempo.
Hoje a avaliação tem muito a ver com a regulação: 3 pode, 2 não pode, 1 é
isso. Mas o sistema de avaliação deveria ter um viés de promoção de
qualidade. A regulação, o acompanhamento dessas melhorias, de acordo
com o que está previsto, nos instrumentos, assim como nas diretrizes
curriculares (G2, informação verbal).
Como dito anteriormente, a regulação não pode ter um fim em si mesma. Para os
sujeitos avaliados, a regulação não pode se limitar a aplicar sanções às IES que não atingem
os resultados esperados. A regulação precisa ir além de um mero instrumento de controle do
Estado. De acordo com o Gestor 2 o sistema de avaliação deveria investir também na
promoção da qualidade. Essa ação poderia ser feita em conjunto com a regulação, a partir do
200
momento em que o Estado concretizasse ações tendo em vista a melhoria das IES com
resultados insatisfatórios e a manutenção da qualidade daquelas que têm atingido bons
resultados, como já elucidado por um dos coordenadores de curso. Todavia, este é um
processo que precisa ser bem estruturado para que beneficie as IES e não somente propicie
punições.
Ao analisar os discursos dos sujeitos pertencentes às instituições pesquisadas é
possível avaliar que estes percebem a regulação como algo positivo e necessário, pois é
preciso um olhar externo acerca dos serviços ofertados pelas instituições de educação
superior. Contudo, a forma como a regulação é feita, tendo como base o IGC, é questionada
pelo fato deste não aferir de maneira a considerar as diferenças existentes na organização
acadêmica das IES. O discurso das IES perpassa a questão da forma pela qual o IGC, como
instrumento de regulação, pode de fato aferir a qualidade de cada umas das instituições
avaliadas. Há dúvidas e contradições existentes neste processo, uma vez que a credibilidade
em relação à fidedignidade do índice é baixa. Desta forma, há questionamentos se de fato o
indicador representa a qualidade das instituições.
A gente tem buscado melhorar. [...] não está satisfeito. 3 não é satisfatório,
ele é médio. O 4 já é melhor. Os cursos têm obtido 4, mas a gente busca
sempre melhorar. A gente se preocupa, ele [o IGC] é um índice, mas diz
pouco, porque para dizer muito tem que ter relatórios mais complexos. O
relatório da Capes, ela própria dá. O processo de avaliação da Capes é muito
mais complexo. O IGC é organizado somente em dados quantitativos. O
qualitativo mesmo do IGC é muito pouco. Se é que tem (PCPA2, informação
verbal).
Foi analisado pelo Presidente de CPA 1 que como o índice é uma mescla de
indicadores, ele acaba por não considerar o contexto das IES. Na visão dele, isso pode
prejudicar a qualidade, por não levar em consideração determinados aspectos que têm
contribuído para o desenvolvimento da instituição. Logo, há a afirmação de que todos os
201
esforços são feitos para cumprir as recomendações do MEC, mas nem sempre a execução das
normas garante a obtenção de uma nota máxima.
Quando há a discussão acerca da composição do IGC, um outro índice ganha
destaque: o CPC, que é usado para o cálculo do conceito de graduação. Assim, quando se fala
de IGC, que evidencia a qualidade da IES, também se toma por referência a avaliação dos
cursos de graduação. De acordo com o Presidente de CPA 3, os dados orientam uma análise
mais apurada dos cursos, o que permite fazer um balanço da situação de cada um, em termos
de qualidade. Esse sujeito esclarece que o resultado do IGC da instituição não é satisfatório,
pois a intenção é de que a nota aumente. No entanto, apesar de a IES não esboçar um pleno
contentamento com a nota, esta é representativa da realidade ali encontrada. Portanto, pode-se
inferir que a obtenção de uma nota maior é uma das metas da instituição. Esta não
desconsidera ou deprecia o seu desempenho atual, pois tem consciência de que é um indicador
representativo da atual situação.
O mesmo discurso de não satisfação com a atual nota e o anseio de obter um melhor
desempenho é compartilhado pelo Presidente de CPA 2. Esse sujeito assegura que o IGC
revela pouco sobre a realidade da instituição. Para que o índice pudesse evidenciar aspectos
mais específicos da realidade, deveria fornecer à IES relatórios mais detalhados. Ele toma
como referência os relatórios elaborados pela Capes, que em sua opinião são dotados de maior
complexidade. A crítica ao IGC se dá pelo fato deste contar apenas com elementos
quantitativos em sua composição. Assim, há a afirmação de que os aspectos qualitativos do
índice são insuficientes ou até mesmo inexistentes.
A discussão conduzida pelos três presidentes de CPA é bastante relevante. Um dos
pontos que chamam a atenção é a comparação do atual sistema com a avaliação que é feita
pela Capes, na pós-graduação. A avaliação da Capes, na visão de um dos sujeitos, é
representativa da realidade avaliada. Os relatórios comportam a complexidade do processo de
avaliação. Todavia, há de se considerar que a Capes é pioneira na avaliação da educação
superior, tendo iniciado os trabalhos em 1976. Portanto, são vários anos na tentativa de
aprimorar os elementos da avaliação que levaram à construção e desconstrução de
procedimentos. A política de avaliação do Sinaes é recente, se comparada àquela que é feita
pela Capes. Ainda há muito a ser aprimorado, principalmente no que se refere aos índices da
política, que ainda causam muita polêmica.
Pode-se perceber que o IGC estabelece uma relação com a política pública de
avaliação, como também com a qualidade. Todavia, é impossível fazer uma análise sem levar
em consideração os demais aspectos que já foram discutidos neste capítulo. Assim, para que
202
Mesmo que o Enade não existisse e que o MEC não viesse, tem uma coisa
[...]. Já trabalhei em outras instituições em que, por exemplo, o discurso é o
da qualidade, mas a preocupação é a do dinheiro. Se não tivesse Enade,
prova de OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], misericórdia! Elas [as
instituições] sem alguém avaliando, poderiam fazer o que bem entendessem.
Com Enade ou sem nós estaríamos perseguindo a qualidade. (CC1,
informação verbal)
O Coordenador de Curso 1 analisa que na instituição D a busca por qualidade não está
relacionada apenas aos mecanismos de regulação, mas atrelada à imagem que a instituição
construiu. Ainda de acordo com ele, independentemente da existência do Enade e da
supervisão do MEC, o compromisso com o investimento em qualidade prevaleceria. Em
contrapartida, afirma que existem instituições em que, embora o discurso que predomina é o
da qualidade, a maior preocupação está aliada ao recebimento dos recursos financeiros.
Nessas instituições é necessário que haja a supervisão por parte do Estado, pois somente
através desta conduta é que se pode garantir o investimento em qualidade nas IES.
Em concordância com a ideia está o Gestor 1, que esclarece que o Enade não pode ser
o único instrumento que possibilite o planejamento das ações. Segundo ele é obrigação da
instituição como um todo, sem que se necessite de uma influência direta da regulação, o
repensar pedagógico. O investimento em qualidade não pode surgir apenas como demanda de
resultados obtidos nos exames, mas como uma conduta permanente da IES.
Um dos objetivos específicos deste estudo é examinar a relação existente entre o IGC
e a regulação existente no curso de licenciatura em Letras, deste modo, pode-se afirmar que
203
atualmente a regulação nos moldes em que vem sendo feita, por meio do IGC, não elucida
uma satisfação por parte daqueles que são avaliados. O índice é apenas um fator quantitativo e
não tem levado em conta as diferenças existentes nas instituições, principalmente em relação
à organização acadêmica. Diante disto emerge a necessidade de se considerar o princípio da
equidade na composição do índice para que se tenha uma avaliação mais justa e mais próxima
da realidade.
Apesar de levar em consideração o CPC dos cursos em seu cálculo, o IGC não
interfere de forma direta nestes, pois além de ser um índice que afere a qualidade das IES, está
relacionado ao credenciamento e recredenciamento destas. Assim, o IGC é apenas uma forma
de controle, pois é um somatório de insumos de cursos avaliados em um determinado ano.
Este caráter somativo propicia o ato de camuflar os resultados de determinado curso da
instituição que não tenha tido um CPC maior que 2. Assim, a propaganda positiva da IES será
baseada no IGC e não no CPC.
Em termos de regulação, a microrregulação realizada pelos sujeitos das IES é mais
evidente. Este tipo de regulação ocorre pois as instituições tendem a se adequar, de maneiras
diferentes, às exigências da política de avaliação. Desta forma, a microrregulação é mais
significativa para a IES e para os cursos, visto que apesar de ser uma espécie de ajustamento
de condutas, oportuniza a reestruturação de suas ações. Todavia, essa reorganização não
necessariamente estabelece relação com a qualidade de ensino, ela podendo ser uma mera
adequação ao controle que é feito pela política, por intermédio dos índices.
O IGC é apenas um indicador considerado pelas IES em suas avaliações pois serve de
parâmetro de reflexão do que pode ser feito para promover melhorias nas instituições, e
também como forma das IES se compararem com as demais. Essa afirmativa responde a um
dos objetivos específicos do estudo ora relatado, que visa examinar as estratégias adotadas
pelas instituições selecionadas quanto ao uso dos resultados do seu IGC como forma de
investimento na qualidade, tomando como referência o curso pesquisado. O índice não é
melhor aproveitado em função da dificuldade de compreensão que há em seu cálculo. Somado
a esta dificuldade de compreensão está o critério homogêneo de avaliação do IGC, aspecto
que compromete a legitimação do índice pelos entrevistados. Este é calculado sem levar em
consideração a diversidade que há nas IES, sobretudo no que tange à organização acadêmica
das IES.
Outro fator preocupante é o grau de confiabilidade, como já comentado, que o IGC
possui frente aos sujeitos avaliados. A desconfiança em relação à composição do índice, ao
fato de possíveis manipulações, retrata uma situação em que aqueles que são avaliados
204
tendem a questionar o desempenho das outras instituições. Isto ocorre pois o índice engloba
fatores quantitativos e logo a formação de rankings acaba ocorrendo, o que acirra um clima de
disputas e de questionamentos. Desta forma, o IGC precisa ser aprimorado no que tange aos
insumos que o compõem, uma vez que os sujeitos demonstram não terem compreensão sobre
a forma como o índice é calculado. Esse é um ponto negativo, porque a partir do momento
que a instituição que está sendo avaliada não compreende a forma como a avaliação é
elaborada e constituída, não legitima o instrumento. Não há uma evolução do processo no que
se refere à apropriação dos resultados, mas uma espécie de estagnação, visto que os
questionamentos estão sempre pautados em aspectos antigos e que se repetem a cada ciclo de
avaliação.
205
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve como objetivo geral investigar como o Índice Geral de
Cursos (IGC) induziu a qualidade no curso de licenciatura em Letras de quatro instituições de
educação superior do Distrito Federal, nos ciclos avaliativos de 2008 e 2011. Para que se
pudesse atender ao objetivo proposto foram selecionadas instituições de educação superior
com base nos critérios de categoria administrativa, organização acadêmica e localização
geográfica. A partir dos relatos dos gestores, presidentes e/ou membro da CPA e coordenador
do curso de licenciatura em Letras foram feitas análises tendo em vista elucidar como o IGC
produziu interferências na qualidade das instituições.
Dada a relevância do contexto histórico para a compreensão do IGC e dos aspectos a
ele relacionados, os capítulos desta dissertação foram estruturados de modo a propiciar uma
mediação entre a política nacional e o cenário em que se desenvolveu a pesquisa. No primeiro
capítulo foi discutida a política de avaliação da educação superior, abordando a gênese e a
evolução até a implementação da política vigente – Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior. No segundo capítulo destacou-se a constituição, expansão e consolidação
da educação superior no DF, locus em que se desenvolveu a pesquisa. O terceiro capítulo
visou à problematização do método, com o objetivo de imprimir ao trabalho um olhar
dialético. O último capítulo tratou da análise e interpretação dos dados, com base em três
categorias de conteúdo: (i) avaliação como política pública; (ii) qualidade na educação
superior; e (iii) regulação.
A atual política de avaliação da educação superior brasileira – Sinaes, ainda não
completou uma década, mas desde a sua implantação é alvo de constantes debates. As
discussões que o envolvem tratam principalmente das mudanças que ocorreram e ainda
ocorrem na política. Apesar de a política ser recente, Barreyro e Rothen (2011a) contabilizam
que o Sinaes já passou por três fases. A primeira foi a da elaboração da política, com base nos
princípios da CEA; a segunda foi caracterizada pela presença da regulação; e a terceira, fase
atual, é demarcada pelas constantes mudanças nas três dimensões, mas principalmente pela
incorporação de índices ao sistema. Estes índices destinam-se a quantificar a diferença entre o
desempenho de ingressantes e concluintes (IDD), o conceito dos cursos de graduação (CPC) e
a qualidade das instituições de educação superior (IGC).
Tratar dos índices na avaliação da educação brasileira é um desafio, uma vez que eles
despertam inúmeras polêmicas. Estas estão pautadas na forma como os índices são gerados,
206
foi contestado inúmeras vezes durante as entrevistas. “Nós sabemos que o IGC é uma
composição de indicadores e aí, na verdade, a gente sabe que ele dá sinais de qualidade”
(PCPA1, informação verbal).
A fala deste sujeito evidencia que o IGC é a composição de indicadores que origina
um cômputo final, variando em uma escala que vai de 1 a 5 e quantificando, assim, a
qualidade da instituição. O cálculo do índice é questionado por três aspectos: (i) por não
respeitar a organização acadêmica; (ii) por considerar medidas que nem sempre são
qualitativas; e (iii) pela dificuldade em compreendê-lo.
No que se refere à organização acadêmica no cálculo do índice, as instituições B, C e
D, sentiram-se prejudicadas com o IGC que lhes é atribuído. A premissa era de que apenas as
faculdades pudessem se sentir incomodadas com o cálculo do índice, por não possuírem
programas de pós-graduação stricto sensu. Todavia, analisados os dados, é possível afirmar
que centros universitários e universidades também não se sentem satisfeitos com o índice.
A instituição D justificou que, por ser pequena e funcionar apenas no período noturno,
não tem a possibilidade de atender de forma positiva a todos os requisitos que são avaliados.
Em contrapartida, a instituição C julga injusto ter que ser avaliado da mesma forma que uma
faculdade que possui poucos cursos, alunos e professores, cuja dimensão da avaliação é
menor se comparada à do centro universitário e à universidade que possuem uma demanda
maior. Já a instituição B também não concorda em ser avaliada com os mesmos critérios dos
centros universitários e faculdades. A discordância em relação ao IGC atribuído às IES deve-
se à complexidade envolvida nos processos de avaliação, pois algumas instituições são
obrigadas a trabalhar com ensino, pesquisa e extensão, como é o caso das universidades.
Assim a instituição B ponderou que as IES podem possuir o mesmo IGC, mas estes não são
equivalentes, por se tratarem de instituições que diferem na sua organização acadêmica. Na
instituição A não foi possível aprofundar o debate sobre o índice, pois o gestor da instituição
não foi entrevistado em virtude da sua indisponibilidade de agenda. Logo não se pode
verificar qual o posicionamento da IES em relação ao IGC.
Diante deste problema, o IGC acaba perdendo a sua credibilidade, porque coloca em
um mesmo contexto instituições que são distintas em sua organização acadêmica. Dias
Sobrinho (2000) analisa que, neste caso, há uma preocupação apenas com o produto e não
com o processo.
Além de não avaliar as IES segundo suas especificidades, o IGC e os demais índices
geram dúvidas em relação aos parâmetros que utilizam para seu cálculo. Há o questionamento
de que, embora sejam indicadores que se propõem a aferir a qualidade, se prendem apenas a
208
fatores quantitativos. “Então, se tem extensão, se tem iniciação científica [...]. Por que isso
não entra como insumo? Se isso faz parte da qualidade” (CC2, informação verbal).
As medidas estatísticas são questionadas por serem o único instrumento que gera o
índice. Já que o indicador trata de dados qualitativos, os sujeitos questionam o porquê de
insumos qualitativos não serem considerados neste cálculo. No que se refere ao cálculo, paira
uma incompreensão acerca do índice, em virtude das mudanças constantes realizadas na
política. Umas das incertezas era em relação ao cálculo do CPC dos cursos avaliados em
2011. Alguns sujeitos demonstraram-se preocupados porque não sabiam afirmar como o
cômputo do índice seria gerado e nem como o Enade seria considerado neste cálculo.
Assim, em 2012, acompanhando a série de mudanças, foi divulgado pelo Inep (2012b)
que a nota dos ingressantes não seria mais um dos componentes para o cálculo do índice,
sendo substituída pelo desempenho dos estudantes que realizaram a prova do Enem. Essa
alteração fez com que todos os componentes do CPC tivessem os seus pesos modificados.
Apesar desta modificação, o IGC das IES não sofreu interferências, permanecendo o mesmo
desde o ano de 2008. Diante de tantos pontos, pode-se afirmar que o IGC não tem a sua
credibilidade tão difundida quando considerado um mecanismo para aferição da qualidade.
Embora o IGC apresente falhas que influenciam a confiança que os sujeitos avaliados
têm do índice, as IES reconhecem a importância do mesmo. Essa importância se dá pelo fato
de o IGC ser um parâmetro externo para que os sujeitos possam se autoavaliar e observar
quais as áreas que inspiram cuidados. As instituições têm revelado a preocupação em
socializar com toda a comunidade acadêmica os resultados obtidos nas avaliações externas.
Essa ação permite que todos os sujeitos não apenas tenham ciência da condição em que se
encontra a instituição, mas possibilita um maior envolvimento com a avaliação.
Neste contexto de socialização dos resultados, observa-se que a CPA desempenha um
papel muito importante na relação entre a avaliação e os sujeitos nela envolvidos. O objetivo
da comissão é fazer com que todos os sujeitos tenham conhecimento da situação da instituição
e possam auxiliar na tentativa de traçar alternativas para os problemas encontrados. Mas o que
se pode observar é que nas instituições B, C e D o trabalho da CPA encontra-se melhor
estruturado, quando se considera a articulação da comissão com as demais estruturas da IES.
Na instituição A ainda há a intenção de se implantar comitês que visem propiciar um elo da
CPA com a IES, sobretudo para a divulgação e interpretação dos resultados obtidos pela
instituição e seus índices.
Ao falar do índice é preciso levar em conta o princípio da totalidade para compreendê-
lo. O IGC é responsável por constatar a qualidade das IES e considera em seu cálculo a
209
da quantidade de IES e cursos de graduação espalhados pelo Brasil. O que ocorre com o
Sinaes atualmente é que os indicadores são uma alternativa que possibilita a regulação dos
cursos por meio dos resultados obtidos. Portanto, as IES que alcançam um resultado
classificado como satisfatório, independentemente do caminho que tenham percorrido, não
recebem sanções.
Avaliação, regulação, índices e qualidade não podem ser dissociados em uma análise
do Sinaes. Todos estes aspectos estabelecem relação entre si, uma relação conflituosa e
contraditória. Os conflitos surgem em virtude da função que a avaliação vai assumindo com o
passar dos alunos. Atualmente, pode-se dizer que a avaliação do Sinaes está pautada
principalmente na regulação, feita por meio dos índices. Porém, essa regulação não propicia a
promoção da qualidade nas instituições, pois tem servido como um recurso que garante o
controle do funcionamento das instituições por parte do Estado. Portanto, a regulação feita
pelo Estado garante o funcionamento das instituições, mas não a qualidade dos serviços
prestados por estas.
Tendo em vista as distintas realidades que foram detectadas e a apropriação que as IES
fazem do IGC como possível indutor de qualidade no curso de licenciatura em Letras, foram
delineadas algumas sugestões para as instituições. As proposições aqui tratadas têm o objetivo
de auxiliar as instituições na compreensão e utilização dos resultados e se fazem necessárias
em virtude do método de análise escolhido. Assim, a avaliação deve ser concebida como
instrumento capaz de diagnosticar o contexto e possibilitar intervenções que propiciem
benefícios para a instituição.
Foi possível perceber que todas as instituições consideram positivas as avaliações do
Sinaes, pois estas são indicadoras das condições das IES. Todavia, como já mencionado, por
conta da incorporação dos índices a avaliação estabelece uma relação muito estreita com a
regulação. As instituições também analisam que a regulação realizada pelo Estado deve existir
como maneira de controlar a qualidade de ensino ofertada. Logo, a microrregulação é algo
que se faz presente nas instituições, porque estas tentam atender de maneiras diversas ao que
o sistema de avaliação propõe.
Diante do exposto, o problema detectado foi que uma instituição, a instituição D, se
adequa de tal forma à política de avaliação, temendo as sanções oriundas da regulação, que
tem a sua autonomia cerceada. Desta forma, o curso de Letras em licenciatura da mencionada
instituição tem adaptado as suas condutas àquilo que é requerido no Enade. Talvez a
preocupação exarcebada com o exame, deva-se às duas notas insatisfatórias que a IES obteve
em 2005 e 2008. Observa-se que em 2012 o resultado do exame foi positivo, houve aumento
212
no conceito Enade, indo de 2 para 3. Mas, mesmo diante do progresso, é importante pensar
até que ponto a avaliação tem sido confundida como forma de controle. Essa análise é
necessária, pois os conceitos de indução de qualidade e de controle têm se misturado. Assim,
a instituição pensa estar adotando práticas que levem à melhoria da IES, quando na verdade
tem se submetido a um processo rigoroso de adaptações à política do Sinaes que diminuem a
autonomia de alunos, professores e coordenadores. A instituição passa a girar em torno do
Enade e outras questões que poderiam ser abordadas na dinâmica do curso acabam sendo
colocadas em planos inferiores, por conta da proporção que o exame vem assumindo em seu
interior.
Neste caso, infere-se que a avaliação deve ser uma preocupação para as instituições,
pois é um indicador que aponta as fragilidades e o que pode ser feito para saná-las, tendo em
vista a indução da qualidade. Entretanto com a instauração do IGC, um dos pontos
preocupantes é que os índices, em algumas IES, têm sido usados para o controle. Assim, o
controle se faz presente mediante a afirmação de que se está investindo em qualidade. Quando
se fala de qualidade a autonomia dos cursos, nas ações cotidianas, deve ser preservada. A
política tem o intuito de avaliar, mas não de interferir de maneira a não permitir que
determinados conteúdos sejam privilegiados em detrimento de outros. Tem-se a compreensão
de que uma melhora no desempenho no Enade é uma vitória para a instituição, não se pode
negar o mérito. Mas é relevante que a IES pense em outras práticas, com relação ao exame,
que não fiquem restritas ao controle, mas sim a uma visão mais ampla que também pode
produzir significados positivos.
Outro fator que precisa ser modificado é a relação que a CPA da instituição A tem
com o todo. Mediante os relatos foi possível constatar que ainda falta articulação dessa
comissão com as estruturas da instituição, fator de grande importância para a IES. A avaliação
só tem sentido a partir do momento em que pode ser vivenciada pelo coletivo que constitui a
totalidade. Há o entendimento de que a complexidade existente, no que tange ao número de
pessoas, faculdades e departamentos, dificulta o elo. Porém, as iniciativas precisam ser
traçadas, caso contrário a segmentação do trabalho de avaliação persistirá. Essa divisão faz
com que cada área só tenha conhecimento daquilo que lhe atinge de forma direta, como, por
exemplo, o entendimento do Enade só cabe aos cursos, o IGC só diz respeito aos gestores e a
CPA apenas a compreensão da avaliação institucional. Como já foi dito, o trabalho de
avaliação precisa ser expandido para que o máximo de pessoas da IES tenha discernimento da
avaliação como política pública.
213
As críticas em relação ao IGC são unânimes em todas as IES, que compreendem que a
iniciativa de aferir a qualidade, que o índice se propõe a fazer, é positiva, mas os parâmetros
geram controvérsias. As principais são em relação aos componentes do índice, que
consideram apenas fatores quantitativos, e pelo fato de instituições distintas serem avaliadas
da mesma forma. O IGC é um índice recente que ainda tem muitos aspectos a serem
modificados. As alterações deveriam atender também às demandas das instituições avaliadas,
pois estas são as principais interessadas em verificar os resultados gerados pelo índice.
Quando os índices forem legitimados pelas IES, talvez estas possam afirmar que os resultados
correspondem à realidade de cada uma.
Enquanto os índices não corresponderem aos reais anseios das instituições as
polêmicas que os envolvem tendem a persistir. Seria interessante que as alterações feitas na
política de avaliação dessem voz aos sujeitos avaliados, pois estes poderiam fornecer
contribuições significativas. As alterações poderiam ser implementadas dentro da
possibilidade de agregar à política as informações fornecidas pelas IES. Com a contribuição
daqueles que são avaliados pela política, o IGC se tornaria um mecanismo que pudesse ofertar
mais credibilidade ao processo de avaliação. Logo, as instituições devem manifestar suas
insatisfações para que assim haja a possibilidade de mudanças nos sistemas. Neste
posicionamento há a premissa de que a avaliação não pode ser um instrumento unilateral,
deve contar com a participação dos envolvidos, a exemplo da CEA, cuja proposta envolveu a
participação de vários segmentos da sociedade civil, discutido no capítulo 1 do trabalho.
Por fim, as análises evidenciam que o IGC é um índice que necessita de inúmeros
ajustes para que possa atender às demandas das IES, pois da maneira como está estruturado é
apenas um indicador quantitativo, permeado de contradições, dentre elas a regulação. As
mudanças devem propiciar uma mediação entre a política e as IES, fazendo com que não haja
uma distância entre a elaboração e a execução da avaliação. Com base no contexto histórico
das políticas de avaliação, infere-se que as mudanças no Sinaes continuarão a existir, em
virtude do movimento dos condicionantes políticos e sociais. Mas independentemente dos
elementos que venham a interferir na política, espera-se que as alterações caminhem na
direção de uma avaliação não pautada no controle das ações, mas que possa se embasar em
critérios que induzam à qualidade. Regulação e controle são aspectos que têm caminhado
cada vez mais juntos, fazendo aflorar um conceito de pseudo qualidade que, por sua vez, é
amparado pelo cumprimento de exigências da política. Restringe-se o conceito de qualidade
pela compreensão equivocada que se tem da regulação. Há a compreensão de que é preciso
ampliar os horizontes em relação à política para que as mudanças implementadas sejam significativas.
214
REFERÊNCIAS
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4372/2012. Brasília, 2013.
______. ______. Documenta, Brasília. nº 389, mai. 1993. Parecer 287/93. Reconhece o curso
de Letras, licenciatura plena em Português e Literatura de Língua Portuguesa, ministrado pela
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, das Faculdades Integradas da Católica de Brasília.
______. ______. Documenta, Brasília. nº 341, mai. 1989. Parecer nº429/89, aprovado em 11
de maio de 1989. Autoriza o funcionamento do curso de Letras, com habilitação em
Português e Literatura de Língua Portuguesa, a ser ministrado pelo Centro na Educação das
Faculdades Integradas da Católica de Brasília.
______. ______. Documenta, Brasília. nº 315, mar. 1987. Parecer nº 241/87, aprovado em 12
de março de 1987. Reconhece o curso de Letras, com habilitação em Tradução de Francês, de
Inglês e de Alemão, ministrado pela Universidade de Brasília.
______. ______. Documenta, Brasília. nº 391, ago. 1993. Portaria nº 1.023/93. Reconhece o
curso de Letras, licenciatura plena em Português e Literatura de Língua Portuguesa,
ministrado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, das Faculdades Integradas da
Católica de Brasília.
______. ______. Documenta, Brasília. nº 319, Jul. 1987. Portaria nº 372 de 10 de junho de
1987. Concede reconhecimento ao curso de Letras, com habilitação em Tradução de Francês,
de Inglês e Alemão ministrado pela Universidade de Brasília.
______. ______. Documenta, Brasília. nº 451, abr. 1999. Parecer nº399/99, aprovado em 07
de abril de 1999. Autoriza o funcionamento do curso de Letras, licenciatura plena, com
habilitações em Língua e Literatura Portuguesa e Língua e Literatura Inglesa, a ser ministrado
pela Faculdade Jesus Maria José.
______. ______. Documenta, Brasília. nº 450, mar. 1999. Portaria nº 371, de 05 de maio de
1999. Reconhece a Habilitação Português e Literatura em Língua Portuguesa, licenciatura de
1º grau do curso de Letras, ministrado pela Universidade Católica de Brasília.
______. ______. Documenta, Brasília. nº 500, mai. 2003. Portaria nº 1.057 de 07 de maio de
2003. Aprova a mudança de local de funcionamento da Faculdade Jesus Maria José.
219
______. ______. Documenta, Brasília. nº 498, mar. 2003. Portaria nº 433 de 20 de março de
2003. Aprova o regimento da Faculdade Jesus Maria José.
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SWEEZY, P. Teoria do desenvolvimento capitalista. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1983.
APÊNDICES
Identificação
a) Formação acadêmica
b) Natureza do trabalho desempenhado na instituição de ensino
c) Tempo de serviço na instituição de ensino
d) Tempo de serviço desempenhado no cargo
Bloco 3: Relação entre o Índice Geral de Cursos e a regulação estatal da qualidade dos cursos
Identificação
a) Formação acadêmica
b) Natureza do trabalho desempenhado na instituição de ensino
c) Tempo de serviço na instituição de ensino
d) Tempo de serviço desempenhado no cargo
Bloco 3: Relação entre o Índice Geral de Cursos e regulação estatal da qualidade dos cursos
Identificação
a) Formação acadêmica
b) Natureza do trabalho desempenhado na instituição de ensino
c) Tempo de serviço na instituição de ensino
d) Tempo de serviço desempenhado no cargo
Bloco 3: Relação entre o Índice Geral de Cursos e regulação estatal da qualidade dos cursos
3.1 O(a) senhor(a) acha que por meio dos resultados do IGC o Estado pode interferir na
qualidade do curso de licenciatura em Letras desta IES? De que forma?
3.3 O que poderia ser feito para melhorar a qualidade do curso de licenciatura em Letras nesta
IES?
229
CARTA DE APRESENTAÇÃO
Atenciosamente,
________________________________________
Professor Dr. José Vieira de Sousa
e-mail: xxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Telefone: xxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
230
ANEXOS
Anexo A – Tabela do Índice Geral de Cursos das Instituições de Educação Superior do Distrito
Federal – 2008
Nº de cursos IGC
Nº de cursos
que fizeram
UF Dependência com CPC Organização
IES Sigla Enade nos
(Sede) Administrativa nos últimos Contínuo Faixas Acadêmica
últimos três
três anos
anos
UNIVERSIDADE
UnB DF Federal 39 38 389 4 universidade
DE BRASÍLIA
UNIVERSIDADE
UNIP DF Privada 339 252 204 3 universidade
PAULISTA
UNIVERSIDADE
CATÓLICA DE UCB DF Privada 28 24 292 3 universidade
BRASÍLIA
CENTRO
centro
UNIVERSITÁRIO UniCEUB DF Privada 22 20 241 3
universitário
DE BRASÍLIA
CENTRO
UNIVERSITÁRIO centro
UDF DF Privada 6 3 227 3
DO DISTRITO universitário
FEDERAL
FACULDADE
PLANALTO DE
centro
ADMINISTRACAO - DF Privada 1 0 - -
universitário
E CIENCIAS
ECONOMICAS
CENTRO
UNIVERSITÁRIO centro
UNIEURO DF Privada 16 7 175 2
EURO- universitário
AMERICANO
FACULDADE DE
CIÊNCIAS
centro
CONTÁBEIS DO - DF Privada 1 0 - -
universitário
PLANALTO
CENTRAL
FACULDADE DE
CIENCIAS
centro
GERENCIAIS DO - DF Privada 1 0 - -
universitário
PLANALTO
CENTRAL
CENTRO
UNIVERSITÁRIO
PLANALTO DO centro
UNIPLAN DF Privada 9 3 135 2
DISTRITO universitário
FEDERAL –
UNIPLAN
FACULDADE DE
CIÊNCIAS
centro
JURÍDICAS DO - DF Privada 1 1 166 2
universitário
PLANALTO
CENTRAL
INSTITUTO
SUPERIOR DE
centro
EDUCACAO - DF Privada 1 0 - -
universitário
METROPOLITAN
O DE BR
REAL
centro
FACULDADE DE - DF Privada 1 0 - -
universitário
BRASILIA
FACULDADES
INTEGRADAS DA UPIS DF Privada 12 12 253 3 faculdade
UPIS
FACULDADE DE
ODONTOLOGIA
- DF Privada 1 1 44 1 faculdade
DO PLANALTO
CENTRAL
FACULDADE DE - DF Privada 1 1 147 2 faculdade
234
REABILITAÇÃO
DO PLANALTO
CENTRAL
FACULDADE DE
ARTES DULCINA FADM DF Privada 1 1 196 3 faculdade
DE MORAES
INSTITUTO DE
CIÊNCIAS
UNEB DF Privada 3 3 127 2 faculdade
SOCIAIS
APLICADAS
INSTITUTO DE
CIÊNCIAS UNEB DF Privada 2 2 166 2 faculdade
EXATAS
FACULDADE
ALVORADA DE
INFORMÁTICA E FAIPD DF Privada 1 1 184 2 faculdade
PROCESSAMENT
O DE DADOS
FACULDADE
ALVORADA DE
EDUCAÇÃO FAEFD DF Privada 13 1 172 2 faculdade
FÍSICA E
DESPORTO
INSTITUTO DE
EDUCAÇÃO
IESB DF Privada 13 11 197 3 faculdade
SUPERIOR DE
BRASÍLIA – IESB
FACULDADE
PLANALTO DE
FILOSOFIA, FACPLAN DF Privada 1 0 - - faculdade
CIÊNCIAS E
LETRAS
FACULDADE DE
CIÊNCIAS
AGRÁRIAS DO - DF Privada 1 1 174 2 faculdade
PLANALTO
CENTRAL
FACULDADE
Unisaber DF Privada 4 3 125 2 faculdade
AD 1
FACULDADE
JUSCELINO FJK DF Privada 7 3 175 2 faculdade
KUBITSCHEK
INSTITUTO
BRASILIENSE DE
IBTC DF Privada 1 0 - - faculdade
TECNOLOGIA E
CIENCIA
FACULDADE
JESUS MARIA FAJESU DF Privada 7 6 220 3 faculdade
JOSÉ
FACULDADE
CECAP DO LAGO CECAP DF Privada 3 3 187 2 faculdade
NORTE
INSTITUTO DE
ENSINO
IESPLAN DF Privada 3 1 179 2 faculdade
SUPERIOR
PLANALTO
FACULDADE
Michelangelo DF Privada 6 5 189 2 faculdade
MICHELANGELO
FACULDADE
CENECISTA DE FACEB DF Privada 6 3 198 3 faculdade
BRASÍLIA
FACULDADE
SANTA FAST DF Privada 4 4 194 2 faculdade
TEREZINHA
FACULDADE DE
ENFERMAGEM
- DF Privada 1 1 200 3 faculdade
DO PLANALTO
CENTRAL
FACULDADE
FAPRO DF Privada 8 5 188 2 faculdade
PROJEÇÃO
FACULDADE DE
CIÊNCIAS
SOCIAIS E FACITEC DF Privada 10 5 196 3 faculdade
TECNOLÓGICAS
FACITEC
235
FACULDADE DE
ADMINISTRACAO
ESCOLA
ESPAM DF Privada 1 1 191 2 faculdade
SUPERIOR
PROFESSOR
PAULO MARTINS
FACULDADE DE
NEGÓCIOS E
FACNET DF Privada 2 2 195 3 faculdade
TECNOLOGIAS
DA INFORMAÇÃO
INSTITUTO DE
ENSINO
IESCO DF Privada 2 2 201 3 faculdade
SUPERIOR DO
CENTRO OESTE
INSTITUTO
SUPERIOR DE
- DF Privada 4 2 191 2 faculdade
EDUCAÇÃO DE
BRASÍLIA
FACULDADE DE
ADMINISTRACAO AIEC / FAAB DF Privada 1 1 304 4 faculdade
DE BRASILIA
FACULDADE
BRASÍLIA DE
TECNOLOGIA, - DF Privada 5 2 157 2 faculdade
CIÊNCIAS E
EDUCAÇÃO
FACULDADE DE
FARMÁCIA DO
- DF Privada 1 1 137 2 faculdade
PLANALTO
CENTRAL
FACULDADE
SERRANA DE
FASEP DF Privada 3 2 187 2 faculdade
ENSINO
SUPERIOR
INSTITUTO DE
EDUCAÇÃO E
ENSINO IESA DF Privada 2 2 215 3 faculdade
SUPERIOR DE
SAMAMBAIA
FACULDADE DE
MEDICINA DO
- DF Privada 1 1 153 2 faculdade
PLANALTO
CENTRAL
FACULDADE
ALBERT FALBE DF Privada 1 0 - - faculdade
EINSTEIN
FACULDADES
EUROBRAS -
ESTUDOS EUROBRAS DF Privada 3 3 154 2 faculdade
UNIVERSITARIOS
REGIO
FACULDADE
MULTIEDUC
MULTIEDUCATIV DF Privada 2 1 174 2 faculdade
ATIVA
A
FACULDADE DE
CIÊNCIAS Faculdade JK DF Privada 1 1 230 3 faculdade
BIOLÓGICAS JK
FACULDADE DE
ADMINISTRACAO Faculdade JK DF Privada 1 1 176 2 faculdade
JK
FACULDADE DE
COMUNICACAO Faculdade JK DF Privada 2 2 118 2 faculdade
SOCIAL JK
INSTITUTO
SUPERIOR DE
ISCECAP DF Privada 2 1 208 3 faculdade
EDUCAÇÃO DO
CECAP
INSTITUTO
SUPERIOR DE
ISPAM DF Privada 4 3 211 3 faculdade
EDUCAÇÃO
PAULO MARTINS
INSTITUTO
SUPERIOR DE
FATIMA DF Privada 2 1 219 3 faculdade
EDUCAÇÃO
FRANCISCANO
236
NOSSA SENHORA
DE FÁTIMA
FACULDADE DE
CIENCIAS DE
Facibra DF Privada 2 0 - - faculdade
BRASILIA –
FACIBRA
INSTITUTO
SUPERIOR DE
EDUCACAO ISALBE DF Privada 1 1 159 2 faculdade
ALBERT
EINSTEIN
ESCOLA
SUPERIOR DE
ESCS DF Estadual 1 1 329 4 faculdade
CIÊNCIAS DA
SAÚDE
FACULDADE LS FACELS DF Privada 2 1 143 2 faculdade
FACULDADES
INTEGRADAS FACICESP DF Privada 10 3 99 2 faculdade
UNICESP
FACULDADES
INTEGRADAS DA
UNIÃO DE UniCerto DF Privada 3 2 153 2 faculdade
ENSINO
SUPERIOR CERTO
FACULDADE
FE DF Privada 4 2 205 3 faculdade
EVANGÉLICA
FACULDADE DAS
ÁGUAS
FAE DF Privada 1 0 - - faculdade
EMENDADAS –
FAE
FACULDADE
MAUÁ DE MAUADF DF Privada 1 0 - - faculdade
BRASÍLIA
ESCOLA
SUPERIOR
ESPAM DF Privada 1 0 - - faculdade
PROFESSOR
PAULO MARTINS
FACULDADE DE
TECNOLOGIA CENACAP DF Privada 1 1 230 3 faculdade
CENACAP
INSTITUTO
SUPERIOR DE
ISE-ICESP DF Privada 2 2 172 2 faculdade
EDUCAÇÃO DO
ICESP
FACULDADE DE
TECNOLOGIA FATEP-DF DF Privada 2 1 155 2 faculdade
PAULO FREIRE
FACULDADES
INTEGRADAS DA
FTB DF Privada 11 9 176 2 faculdade
TERRA DE
BRASÍLIA
FACULDADE
- DF Privada 3 2 227 3 faculdade
FORTIUM
FACULDADES
INTEGRADAS DA
UNIÃO
EDUCACIONAL FACIPLAC DF Privada 2 2 201 3 faculdade
DO PLANALTO
CENTRAL –
FACIPLAC
Fonte: INEP (2009)
237
Anexo B – Tabela do Índice Geral de Cursos das Instituições de Educação Superior do Distrito Federal – 2011
Porcentagem
Número D- de Porcentagem de
Número de de G- Concei graduandos mestrandos no
Último M-
Cursos Cursos Conceito to no total da total da Pós- IGC
ano Código UF Município Categoria Organização Conceito IGC
IES Sigla Avaliados com médio médio IES (em Graduação da contín
avaliado da IES Sede Sede Administrativa Acadêmica médio do Faixa
nos últimos CPC nos da do termos de IES (em termos uo
no Enade Mestrado
três anos últimos Graduação Douto graduando de graduando
três anos rado equivalente) - equivalente) - β
α
UNIVERSIDADE
2011 2 UNB DF Brasília Pública Universidade 49 47 3,45 4,16 2,61 0,5557 0,5734 3,88 4
DE BRASÍLIA
UNIVERSIDADE
2011 403 CATÓLICA DE UCB DF Brasília Privada Universidade 38 34 2,72 3,72 2,19 0,9218 0,7825 2,84 3
BRASÍLIA
CENTRO
Centro
2011 402 UNIVERSITÁRIO UNICEUB DF Brasília Privada 25 22 2,47 5,00 2,00 0,9777 0,9195 2,52 3
Universitário
DE BRASÍLIA
CENTRO
UNIVERSITÁRIO Centro
2011 518 UDF DF Brasília Privada 9 6 2,48 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,48 3
DO DISTRITO Universitário
FEDERAL
CENTRO
UNIVERSITÁRIO
DO INSTITUTO Centro
2011 1060 IESB DF Brasília Privada 16 14 2,45 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,45 3
DE EDUCAÇÃO Universitário
SUPERIOR DE
BRASÍLIA - IESB
CENTRO
UNIVERSITÁRIO Centro
2011 1113 UNIEURO DF Brasília Privada 22 17 1,94 3,00 0,00 0,9946 1,0000 1,95 3
EURO- Universitário
AMERICANO
CENTRO
UNIVERSITÁRIO
PLANALTO DO Centro
2011 1446 UNIPLAN DF Brasília Privada 11 6 2,26 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,26 3
DISTRITO Universitário
FEDERAL –
UNIPLAN
FACULDADES
2011 404 INTEGRADAS DA UPIS DF Brasília Privada Faculdade 12 12 2,60 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,60 3
UPIS
FACULDADE DE
2009 706 ARTES DULCINA FADM DF Brasília Privada Faculdade 1 1 1,98 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,98 3
DE MORAES
INSTITUTO DE
CIÊNCIAS
2009 708 UNEB DF Brasília Privada Faculdade 3 3 1,80 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,80 2
SOCIAIS
APLICADAS
INSTITUTO DE
2011 709 CIÊNCIAS UNEB DF Brasília Privada Faculdade 2 2 0,00 0,00 0,00 - 0,0000 - SC
EXATAS
FACULDADE
2011 775 FAEFD DF Brasília Privada Faculdade 9 5 1,51 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,51 2
ALVORADA DE
238
EDUCAÇÃO
FÍSICA E
DESPORTO
FACULDADE AD UNISABER
2010 1172 DF Brasília Privada Faculdade 2 2 1,58 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,58 2
1 /AD1
FACULDADE
2011 1173 ANHANGUERA FAB DF Brasília Privada Faculdade 12 11 2,10 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,10 3
DE BRASÍLIA
FACULDADE
2011 1309 JESUS MARIA FAJESU DF Brasília Privada Faculdade 7 7 2,62 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,62 3
JOSÉ
FACULDADE
2009 1333 CECAP DO LAGO CECAP DF Brasília Privada Faculdade 3 2 1,47 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,47 2
NORTE
INSTITUTO DE
ENSINO
2011 1428 IESPLAN DF Brasília Privada Faculdade 3 2 2,22 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,22 3
SUPERIOR
PLANALTO
FACULDADE MICHELA
2009 1477 DF Brasília Privada Faculdade 3 2 2,01 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,01 3
MICHELANGELO NGELO
FACULDADE
2011 1507 PROJEÇÃO DE FACEB DF Brasília Privada Faculdade 5 4 2,59 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,59 3
CEILÂNDIA
FACULDADE
2011 1518 SANTA FAST DF Brasília Privada Faculdade 6 4 2,63 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,63 3
TEREZINHA
FACULDADE
2011 1538 FAPRO DF Brasília Privada Faculdade 9 9 2,20 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,20 3
PROJEÇÃO
FACULDADE DE
CIÊNCIAS
2011 1660 SOCIAIS E FACITEC DF Brasília Privada Faculdade 12 9 2,41 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,41 3
TECNOLÓGICAS
FACITEC
FACULDADE
2011 1661 PROJEÇÃO DE FAPRO DF Brasília Privada Faculdade 3 2 1,95 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,95 3
SOBRADINHO
FACULDADE DE
NEGÓCIOS E
2009 1710 TECNOLOGIAS FACNET DF Brasília Privada Faculdade 1 1 1,79 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,79 2
DA
INFORMAÇÃO
IMP DE ENSINO
2009 1739 IMP DF Brasília Privada Faculdade 1 0 0,00 0,00 0,00 - 0,0000 - SC
SUPERIOR - IMP
FACULDADE AIEC /
2009 1779 DF Brasília Privada Faculdade 1 1 3,12 0,00 0,00 1,0000 0,0000 3,12 4
AIEC FAAB
FACULDADE
SERRANA DE
2009 1943 FASEP DF Brasília Privada Faculdade 4 2 1,64 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,64 2
ENSINO
SUPERIOR
INSTITUTO DE
EDUCAÇÃO E
2011 1951 ENSINO IESA DF Brasília Privada Faculdade 5 5 1,63 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,63 2
SUPERIOR DE
SAMAMBAIA
239
FACULDADE
2011 1966 ALBERT FALBE DF Brasília Privada Faculdade 2 2 1,64 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,64 2
EINSTEIN
FACULDADE JK -
2009 2021 UNIDADE II – DF Brasília Privada Faculdade 2 2 1,15 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,15 2
GAMA
FACULDADE
2009 2484 PFD DF Brasília Privada Faculdade 2 0 0,00 0,00 0,00 - 0,0000 - SC
PROCESSUS
IES com
CPC de
INSTITUTO
cursos não
SUPERIOR DE
2011 2491 ISCECAP DF Brasília Privada Faculdade 1 1 2,20 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,20 reconheci
EDUCAÇÃO DO
dos até
CECAP
30/09/
2012
INSTITUTO
SUPERIOR DE
2011 2580 ISPAM DF Brasília Privada Faculdade 3 2 2,71 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,71 3
EDUCAÇÃO
PAULO MARTINS
FACULDADE JK ESAMC
2009 2904 DF Brasília Privada Faculdade 2 2 2,54 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,54 3
– GUARÁ BRASÍLIA
INSTITUTO
SUPERIOR DE
EDUCAÇÃO
2011 2942 FRANCISCANO FATIMA DF Brasília Privada Faculdade 2 2 1,94 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,94 2
NOSSA
SENHORA DE
FÁTIMA
FACULDADE
2011 2964 PROJEÇÃO DO DF Brasília Privada Faculdade 3 3 2,31 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,31 3
GUARÁ
INSTITUTO
SUPERIOR DE
2011 3203 EDUCAÇÃO ISALBE DF Brasília Privada Faculdade 1 1 1,96 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,96 3
ALBERT
EINSTEIN
ESCOLA
SUPERIOR DE
2010 3223 ESCS DF Brasília Pública Faculdade 2 1 3,13 0,00 0,00 1,0000 0,0000 3,13 4
CIÊNCIAS DA
SAÚDE
2010 3396 FACULDADE LS FACELS DF Brasília Privada Faculdade 3 3 2,06 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,06 3
FACULDADES
INTEGRADAS
2011 3610 DF Brasília Privada Faculdade 13 9 1,81 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,81 2
PROMOVE DE
BRASILIA
FACULDADES
INTEGRADAS DA
UNIÃO DE
2011 3611 UNICERTO DF Brasília Privada Faculdade 3 2 1,86 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,86 2
ENSINO
SUPERIOR
CERTO
FACULDADE
2011 3663 FE DF Brasília Privada Faculdade 3 3 2,54 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,54 3
EVANGÉLICA
240
FACULDADE
DAS ÁGUAS
2011 3854 FAE DF Brasília Privada Faculdade 3 2 2,19 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,19 3
EMENDADAS –
FAE
FACULDADE
2011 3867 MAUÁ DE MAUADF DF Brasília Privada Faculdade 2 2 2,38 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,38 3
BRASÍLIA
FACULDADE
2009 3874 PROJEÇÃO DE FAPRO DF Brasília Privada Faculdade 1 0 0,00 0,00 0,00 - 0,0000 - SC
PLANALTINA
FACULDADE JK -
BRASÍLIA -
2010 3980 CENACAP DF Brasília Privada Faculdade 1 1 1,19 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,19 2
UNIDADE
PLANO PILOTO
FACULDADE JK -
2009 3992 - DF Brasília Privada Faculdade 1 0 0,00 0,00 0,00 - 0,0000 - SC
ASA NORTE
FACULDADE DO
MEIO AMBIENTE
2010 4042 E DE FAMATEC DF Brasília Privada Faculdade 1 1 1,54 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,54 2
TECNOLOGIA DE
NEGOCIOS
IES com
INSTITUTO CPC de
SUPERIOR DE cursos não
2011 4068 ISE-ICESP DF Brasília Privada Faculdade 2 2 2,05 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,05
EDUCAÇÃO DO reconhecidos
ICESP até
30/09/2012
FACULDADE DE
2009 4091 TECNOLOGIA AD1 DF Brasília Privada Faculdade 2 0 0,00 0,00 0,00 - 0,0000 - SC
AD1
FACULDADES
INTEGRADAS DA
2010 4254 FTB DF Brasília Privada Faculdade 4 3 1,67 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,67 2
TERRA DE
BRASÍLIA
FACULDADE JK -
2011 4416 UNIDADE I – DF Brasília Privada Faculdade 3 3 1,97 0,00 0,00 1,0000 0,0000 1,97 3
GAMA
FACULDADE DE
CIÊNCIAS E
2009 5290 FACITEB DF Brasília Privada Faculdade 1 0 0,00 0,00 0,00 - 0,0000 - SC
TECNOLOGIA DE
BRASÍLIA
FACULDADES
INTEGRADASDA
UNIÃO
2011 5439 FACIPLAC DF Brasília Privada Faculdade 11 11 2,13 0,00 0,00 1,0000 0,0000 2,13 3
EDUCACIONALDO
PLANALTOCENTRAL
–FACIPLAC
Fonte: INEP (2012e)