E07 Caminho
E07 Caminho
E07 Caminho
O Caminho
da Dama
1
DAS
BY E D ITO R A WIS H
Tradução:
Karine Ribeiro
Preparação:
João Rodrigues
Revisão:
João Rodrigues
Capa e projeto gráfico:
Marina Avila
Ilustração de capa:
Dabus
2
89
UMA RELÍQUIA DE
4
Sinopse
Uma morte sempre está
para acontecer quando
ela vai embora.
5
em meio a uma pacífica
convivência, aqueles sons
misteriosos haviam parado e não
podiam mais ser ouvidos.
6
Em 2023, o
ano é delas!
100% das autoras da
Sociedade das Relíquias
Literárias serão mulheres!
Conheça talentos
esquecidos pelo tempo
e revisite as escritoras
clássicas neste ano!
7
1882 M A R GA R E T O L I PH A N T
O Caminho
da Dama
E-book do
SEMESTRE
Obrigada pelo seu apoio!
8
Sumário
Capítulo I 10
Capítulo II 55
Capítulo IV 162
Capítulo V 204
Capítulo IV 238
1882 M A R GA RE T O LIPH A N T
O Caminho
da Dama
Capítulo I
E
u estava visitando algumas
pessoas na Escócia quando os
eventos que vou relatar acon-
teceram. Elas não eram amigas no
sentido das relações longas ou habi-
tuais; para resumir, eu as havia co-
nhecido na Suíça, no ano anterior;
10
mas nos vimos muito enquanto es-
távamos juntos, e tivemos aquela
intimidade fácil que a viagem traz
com mais prontidão do que qualquer
outra coisa. Havíamos nos visto em
um grande deshabillé tanto da mente
quanto das vestes nas manhãs frias
depois de uma noite de viagem, que
talvez seja o teste mais severo que
pode ser aplicado às aparências, e
entre toda a irritação das jornadas
curtas e longas, com os episódios
costumeiros de bagagens extravia-
das, hotéis indiferentes, confusões
de toda natureza, os quais são um
teste igualmente severo para os
11
nervos; e nossa amizade e afinidade
(tomo a liberdade de supor que era
mútua, ou elas jamais teriam me
convidado para Ellermore) perma-
neceram intactas. Sempre achei, e
ainda acho, que Charlotte Campbell
era uma das jovens mais charmosas
que já conheci; e os irmãos dela, caso
não tão inteiramente encantadores,
eram rapazes agradáveis, bons com-
panheiros de viagem, cheios de bons
humores e diversão. Por meio das
conversas deles, entendi de imediato
de que se tratava de uma grande fa-
mília. As alusões deles a Tom, Jack
e ao pequeno Harry, e a Mab e Mary,
12
talvez pudessem ser tediosas a um
crítico mais severo; mas gosto de sa-
ber das relações de outras pessoas,
pois eu mesmo tenho poucas. Fiquei
sabendo que a srta. Campbell fora
levada ao exterior pelos irmãos para
se recuperar de uma longa e difícil
tarefa de ser cuidadora, que havia
exaurido suas forças. Os pequeninos
haviam adoecido de escarlatina, e ela
permanecera com eles noite e dia.
― Ela deixou de dar atenção ao
resto de nós e costumava se trancar
lá ― contou Charley, que era o mais
novo dos dois. ― Ela só saía para uma
13
caminhada quando não estávamos.
Isso foi o pior ― acrescentou o jovem,
com grande simplicidade.
O fato de a irmã dele se dedicar
aos cuidados dos enfermos não era
impressionante; mas que ela se ne-
gasse à preciosa companhia deles era
de um heroísmo que tocou o coração
de seu irmão. Assim, aprendi muito
sobre a família. Chatty, como eles
a chamam, era a irmã-mãe, princi-
palmente dos pequeninos, que ha-
via sido deixada para cuidar deles
quase inteiramente sozinha desde
que a mãe deles falecera, muitos
14
anos antes. Ela não era uma garota,
literalmente. Estava na perfeição de
sua feminilidade e juventude ― mais
ou menos vinte e oito anos, a idade
em que algo da compostura da ma-
turidade ilumina a doçura dos anos
anteriores, e a idade suficiente para
acentuar todo o charme de ser tão
jovem. É principalmente entre jovens
mulheres casadas que vemos esse
tipo bonito e gracioso, encantadora
em todo e qualquer requerimento da
mente; mas quando se encontra em
uma mulher solteira é ainda mais ce-
lestial. Posso apenas pensar que essa
delicada maternidade e mocidade
15
― a dádiva perfeita de uma, a graça
impassível da outra ― tem sido a base
daquela devoção adoradora que nos
velhos tempos levou tantos santos ao
santuário da Virgem Maria. Mas, por
que me estendo tanto sobre Charlotte
Campbell no começo desta história,
não sei dizer, pois ela não é a figura
mais importante desta narrativa, e
sem querer estou enganando o leitor.
Eles me convidaram para ir vê-los
em Ellermore quando nos separamos
e, como não tenho nada contra uma
casa mais quente e mais amável do
que as câmaras no Temple, aceitei,
16
como pode-se imaginar, com entu-
siasmo. Nos separamos na primeira
semana de junho, e fui convidado no
fim de agosto. Eles tinham “muitos
tetrazes”, dissera Charley, com uma
liberdade de expressão agradável de
ouvir.
Charlotte adicionou:
― Mas você deve estar preparado
para uma vida caseira, sr. Temple, e
uma muito calma.
Eu respondi, claro, que se tivesse
escolhido o que mais gostava neste
mundo teria sido essa combinação, e
então ela sorriu e balançou a cabeça
17
um pouco, divertida. Ela não pareceu
se dar conta de que sua afirmação
fora essencial para a minha decisão.
Eles todos insistiam que havia “mui-
tos tetrazes”, e não posso dizer que
fui indiferente a isso.
Colin, o filho mais velho, era com
quem eu tinha menos familiaridade.
Ele era o que as pessoas chamam de
reservado. Não falava com a mesma
frequência que os demais. Apenas
mais tarde eu soube que ele ficava
constantemente em Londres, indo
e vindo, de forma que ele e eu pode-
ríamos ter visto um ao outro várias
18
vezes. Mesmo assim, ele gostava de
mim o suficiente. E foi enfático diante
do convite do irmão. Quando Charley
disse que havia muitos tetrazes, ele
adicionou, com a maior cordialidade:
“e você pode atirar em um veado”.
Havia um gosto do Norte no discurso
de todos; não demonstrado por me-
ras palavras, mas por uma ocasional
diversidade de idioma e mudança de
pronúncia. Eles sabiam e tinham bas-
tante orgulho disso. Eles não diziam
Escócia, mas Escós; e o sotaque deles
não poderia ser representado por ne-
nhuma das caricaturas do teatro, ou
o que convencionalmente aceitamos
19
como a pronúncia nacional. Quando
eu tentava pronunciar como eles,
meus próprios ouvidos me informa-
vam da caricatura que era.
Eu estava indo para a família re-
presentada por esses jovens quando
comecei a jornada no dia 20 de agosto,
um dia quente de verão, com poeira
e calor suficientes para merecer o
nome da estação. Quando cheguei ao
fim da minha jornada, no entanto,
havia apenas o suficiente para mar-
car a linha entre verão e outono:
uma nevoazinha dourada no ar, um
roxo de flores urze nas colinas, um
20
toque aqui e ali em um galho solto,
poucos, mas suficientes para contar.
Ellermore ficava no coração de um
lindo distrito cheio de montanhas
e lagos dentro da linha das Terras
Altas, e bem à margem de um dos
cenários de montanha mais selva-
gens na Escócia. Era situado entre
um anfiteatro de colinas, nenhuma
delas muito alta, mas da forma mais
pitoresca, com picos e cores como
a cordilheira alpina em miniatura,
tudo brilhando com o calor roxo da
urze, com um reluzir que parecia
neve, mas na verdade eram as que-
das-d’água brancas das torrentes da
21
montanha. Diante da casa havia um
pequeno lago rodeado pelas colinas,
da extremidade do qual corria um
riachozinho alegre, cheio de pedras, e
ainda mais brilhante por suas inter-
seções, que serpenteavam pelo vale e
desaguavam em outro lago de maior
grandeza e pretensões. Ellermore em
si era uma casa relativamente nova,
construída sobre um declive fino de
grama sobre o lago e protegida por
belas árvores ― grandes faias que
não deviam nada para Berkshire,
embora não fosse o que esperávamos
ver na Escócia, além dos freixos e pi-
nheiros que logo reconhecemos como
22
algo que cresce no norte. Eu não es-
tava preparado para a exuberância
das Terras Altas do Oeste ― o manto
verde das samambaias e das ervas
por toda parte, para não falar da ri-
queza das flores, que formavam um
centro de cores e cultivos ainda mais
brilhantes em meio a todo o púrpura
das colinas. Tudo era suave e rico e
quente ao redor da mansão. Eu tinha
esperado um cenário sério e uma
atmosfera cinzenta. Encontrei uma
exuberância de vegetação e cor por
toda a parte que era quase excessiva.
O pai dos meus amigos me recebeu
na porta que ficava sempre aberta, e
23
pela qual, me pareceu depois de um
tempo, todos podiam passar. Ele era
um velho alto, distinto mas acolhe-
dor, com cabelos e bigode grisalhos e
a cor fresca de um patriarca rural; o
que, no entanto, ele não era, e sim um
homem de negócios enérgico, como
descobri mais tarde. Os Campbells de
Ellermore não eram grandes chefes
naquele clã bastante extenso, embora
fossem pessoas bem conhecidas e
mantinham sua pequena proprie-
dade desde a antiguidade remota.
Mas eles não mantiveram sua genti-
leza nem se recusaram a aproveitar
as oportunidades que surgiram. Eu
24
havia observado, na grandiosa e rica
região da qual Glasgow é a capital,
que poucos se opõem contra o comér-
cio. A alta burguesia tem visto todas
as vantagens de combinar comércio
com tradição. Se não fosse por isso, é
provável que Ellermore tivesse sido
um local bem diferente. Agora, es-
tava cheia de todos aqueles sinais de
cuidado e simples luxo que tornam a
vida tão tranquila. Não tinha muita
exibição, mas havia uma profusão de
conforto. Tudo estava sobre veludo.
Provavelmente era mais como a casa
de um mercador rico do que como a de
uma família de longa descendência.
25
Nada poderia ser mais perfeito como
um lugar de prazer do que essa pe-
quena propriedade nas Terras Altas.
Eles tinham “muitos tetrazes” e tam-
bém muitas trutas em uma sucessão
de pequenos lagos e regatos da mon-
tanha. Tinham veados nas colinas.
Tinham a própria carne de carneiro, e
todo vegetal necessário para a grande
e agitada casa, de batatas e repolhos
a uvas e pêssegos. Mas, com toda essa
fortuna primitiva, pouco dinheiro
saía de Ellermore. Os “negócios” em
Glasgow cuidavam disso. Nunca
descobri quais eram exatamente os
negócios, mas proviam ocupação
26
para toda a família; e via-se que os
resultados eram dos mais agradáveis
no que se referia ao banqueiro do sr.
Campbell.
Estavam todos em casa, com ex-
ceção de Colin, o filho mais velho. A
ausência dele gerou muitas desculpas
a mim, algumas das quais pareciam
muito mais elaboradas do que o ne-
cessário. Fui indiferente à ausência
de Colin. Não era ele quem mais me
interessava; e embora Charley fosse
consideravelmente mais jovem do
que eu, gostei mais dele desde o início.
Tom e Jack eram ainda mais jovens.
27
Estavam bem ocupados com “os ne-
gócios” e voltavam para casa apenas
de sábado a segunda-feira. O pequeno
trio do berçário eram crianças encan-
tadoras. Vê-las reunidas em torno de
Charlotte era o suficiente para derre-
ter qualquer coração. Chatty, como
a chamavam, o que não é um nome
muito digno, mas cheguei a consi-
derá-lo o mais lindo do mundo, pois
soava por toda aquela casa alegre e
cheia. “Cadê a Chatty?” era a primeira
pergunta que todos faziam ao chegar.
Se ela não fosse encontrada imedia-
tamente, eles corriam pela casa, su-
biam as escadas e atravessavam os
28
corredores ― “Chatty! Cadê você?”
―, e ela sempre respondia de algum
lugar ou outro com uma voz plena
e suave, que era audível por toda a
parte, embora nunca fosse alta. “Aqui
estou, meninos”, dizia ela, com uma
bela inversão que me agradava. Na
verdade, tudo me agradava em Chatty
— demais, mais que a razão. Imaginei
o que seria de todos eles se, por exem-
plo, ela se casasse, e certa vez entrei
em uma discussão acalorada comigo
mesmo para provar que seria a coisa
mais egoísta do mundo a família im-
pedi-la de se casar, como muito pro-
vavelmente, eu não poderia deixar de
29
sentir, eles fariam. Ao mesmo tempo,
percebi, com um pequeno tremor,
como a coisa toda desmoronaria se,
por acaso, Chatty fosse levada em-
bora.
Gostei da minha estada bem mais
do que posso descrever. De manhã,
saíamos para as colinas ou pelo in-
terior. À noite, costumava acontecer
de sairmos depois do jantar, e eu era
deixado ao lado de Chatty, “os meni-
nos” tendo mil objetos de interesse,
enquanto o sr. Campbell se sentava
em sua biblioteca e lia os jornais,
que chegavam naquela época quer
30
por cavalo de Oban quer por barco.
Dessa forma, eu passava por toda a
“querência”, como o espaço ao redor
da casa é chamado na Escócia, com
Chatty, que estava disponível nesse
horário, exceto se o pai ou as crian-
ças precisassem dela. Ela dizia para
que eu fosse ficar com os rapazes,
quando sem dúvidas seria mais di-
vertido para mim assim; e, quando
garanti a ela que meu prazer era
ainda maior com ela, Chatty me deu
um sorriso franco e gracioso, balan-
çando a cabeça um pouco. Ela sorriu
suavemente, pedindo a mim que não
fosse tão educado ou pensasse que
31
ela se importaria caso eu a deixasse;
mas acho, no geral, que ela gostava
da minha presença na caminhada
noturna.
― Ah ― disse Charlotte ―, dá
u ma… sensação desag radável.
38
Esqueci que você não está acostu-
mado, diferente de mim.
― Sou toleravelmente bem-acos-
tumado, pois ouvi falar disso com
frequência ― respondi. Ir para o ou-
tro lado era covarde, mas temi ter
feito isso com um movimento in-
voluntário. Então ri, o que pareceu
totalmente inapropriado e fictício, e
falei: ― Sem dúvida existe uma ex-
plicação bem fácil… alguma vibração
ou eco. A ciência da acústica resolve
muitos mistérios.
― Não há explicação ― disse
Charlotte, quase com raiva. ― Ela
39
caminha por aqui desde que nos en-
tendemos por gente. É um mal si-
nal para nós, Campbells, quando ela
parte. Ela era a filha mais velha, como
eu; e acho que é nosso anjo da guarda.
Nenhum mal acontece, desde que ela
esteja aqui. Ouça-a! ― gritou ela, fi-
cando parada e com a mão erguida.
O sol baixo brilhou sobre ela, re-
fletindo um pouco da cor do verão
em seus cabelos castanhos, na niti-
dez lúcida de seus olhos castanhos,
nas bochechas tão claras e macias.
Fiquei ali ouvindo com uma agitação
que não podia controlar. Se eu tivesse
40
seguido meu impulso inicial, não
tenho certeza se não teria disparado
pelos arbustos; mas, claro, não segui.
E o som dessa terceira pessoa, cujos
passos eram inconfundíveis apesar
de ela ser invisível, fez meu coração
disparar. Decerto era a maior insen-
satez; pois devia haver uma explica-
ção para isso na natureza: disso eu
não tive dúvidas por um momento.
― Você está assustado ― disse
Chatty, com um sorriso.
― Bem, eu não estaria cumprindo
minha parte como devo, estaria, se
não sentisse a emoção necessária.
41
Deve ser desrespeitoso para um fan-
tasma não ser temido.
― Não diga fantasma ― disse
Chatty. ― Acho que isso é desrespeitoso.
É a Dama de Ellermore; todos a co-
nhecem. E você sabia que, quando
minha mãe morreu… a maior dor
que já senti… os passos cessaram?
Ah, é verdade! Você não precisa me
olhar como se fosse algo engraçado.
Faz dez anos agora, e eu era apenas
uma menina boba, não muito boa
para ninguém. Me mandaram para
tomar ar do lado de fora quando ela
estava tirando uma soneca, e vim
42
até aqui. Eu estava chorando, como
pode imaginar, e no início não prestei
atenção. Então me dei conta de ime-
diato… a Dama não estava. Depois,
me contaram que esse era o pior dos
sinais. Uma morte sempre está para
acontecer quando ela vai embora.
54
Capítulo II
121
Capítulo III
161
Capítulo IV
203
Capítulo V
237
Capítulo IV
TH E E N D
339
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340
E X TR A: BIOGR AFIA
Margaret Oliphant
A obra de Margaret Oliphant é uma
leitura indispensável para qualquer
pessoa interessada nas mulheres do
341
século XIX, chegando a ser compa-
rada a Jane Austen e George Eliot.
Apesar de ter sido uma autora po-
pular em vida, sua obra pratica-
mente caiu na obscuridade após sua
morte, em 1897. Alvo de muitas crí-
ticas quando viva, seu trabalho vem
sendo redescoberto por leitores e es-
tudiosos dos escritores vitorianos.
Margaret Oliphant nasceu e viveu
até os dez anos de idade na Escócia
e, apesar de ter passado o restante
de sua vida em Liverpool, nunca
abandonou suas raízes escocesas, o
que se refletiu em diversas de suas
342
obras. Segundo sua biografia na BBC,
embora ela tenha vivido apenas por
curtos períodos na Escócia, grande
parte de sua escrita se passa no país
ou mostra uma preocupação com
temas escoceses, além de trazer, em
sua escrita, fortes conexões com a
tradição oral escocesa. Acredita-se
que Katie Stewart, o romance histó-
rico jacobino, seja baseado na histó-
ria familiar da própria autora.
Margaret Oliphant casou-se com
seu primo Frank Wilson Oliphant, e
acredita-se que tenha sido um casa-
mento feliz até conflitos familiares
343
abalarem o lar, com o envolvimento
de out ros membros da fa m í l ia
Wilson. Entretanto, em 1859, poucos
anos depois, ela o perderia para a tu-
berculose. Sem seu marido, Oliphant
se tornou a única provedora da famí-
lia, com filhos pequenos e uma pilha
de dívidas. Além do próprio núcleo
familiar, ela ainda seria responsável
por sustentar seu irmão Willie, al-
coólatra, e os três filhos de seu outro
irmão, Frank.
No século XIX as mulheres ainda
estavam começando a consquistar
espaços e existiam poucas opções
344
para que elas pudessem construir
uma carreira. Como outras autoras
da época, Margaret Oliphant vivia
de sua escrita. Isso significava que
ela precisava produzir e publicar em
grandes quantidades para conseguir
sustentar sua família. Entretanto,
por mais que ela tenha se tornado
uma das mais prolíficas autoras da
era vitoriana, sua produtividade a
colocou como alvo de críticas ferre-
nhas à qualidade de seu trabalho.
Essas críticas, infelizmente, eram
comuns a outras autoras também.
L.M. Montgomery, autora de Anne
345
de Green Gables e de O Lado Mais
Sombrio, publicado pela Wish, por
exemplo, também conseguiu fazer
da escrita uma carreira, mas preci-
sou produzir muito e foi criticada.
Sobre isso, segundo a introdu-
ção sobre Margaret Oliphant no
Victorian Fiction Research Guides, "ela
nunca baixou seriamente os seus
padrões, raramente se rendeu a es-
crever de acordo com uma fórmula e
estava sempre pronta para cumprir
uma encomenda e produzir um ro-
mance conforme exigido pelos seus
editores, sempre - ou quase sempre
346
- certificando-se de satisfazer a sua
própria consciência artística".
Também existe debate a res-
peito de seu posicionamento a res-
peito da luta pelos direitos das
mulheres e ao movimento feminista.
Ainda segundo a introdução sobre
Margaret Oliphant no Victorian
Fiction Research Guides, em seus
primeiros anos como autora ela não
demonstrava simpatia pelo sufrágio
feminino, entretanto, com o tempo,
ela foi mudando de opinião. Com o
passar dos anos sua mudança de po-
sicionamento foi se tornando visível
347
também em suas obras. Segundo sua
biografia na BBC, "grande parte de
seu trabalho posterior trata da injus-
tiça enfrentada pelas mulheres e é
uma crítica significativa aos valores
sociais do século XIX". Kirsteen, obra
publicada em 1890, se enquadraria
nesta categoria.
Seg u ndo Joh n Stoc k C la rke
em Margaret Oliphant Secondary
Bibliography, "a carreira de Oliphant
pode ser divida em quatro fases,
marcadamente diferentes na natu-
reza do trabalho que ela estava reali-
zando, na resposta dos críticos a esse
348
trabalho e no contexto cultural que
fornece o quadro para uma avalia-
ção desse trabalho e a resposta a ele".
De acordo com o autor, essas
quatro fases seriam: de 1849 a 1862,
período de primeiros romances que,
apesar da evidência do talento da au-
tora, Oliphant ainda estaria em um
processo de autodescoberta como ro-
mancista; de 1862 a 1876, período de
The Chronicles of Carlingford e seus
sucessores imediatos, em que sua
identidade como romancista estava
mais madura e ela foi sendo mais
reconhecida pelos críticos; de 1876 a
349
1890, quando os talentos de Oliphant
se aprofundaram e adquiriram uma
riqueza e complexidade que poucos
críticos conseguiram apreciar com
sucesso consistente, embora fizes-
sem cada vez mais referência à sua
criatividade inesgotável; e de 1890
a 1899, a década em que Oliphant se
viu cada vez mais fora de simpatia
pelo clima cultural, embora não na
opinião dos críticos e obituaristas.
Em 50 anos de carreira Margaret
Oliphant escreveu mais de 100 obras
de ficção, diversos contos, biogra-
fias e artigos, se tornando uma das
350
mais notáveis e distintas vozes do
romance do século XIX.
Publicado em 1897, O Caminho da
Dama é uma história eletrizante so-
bre uma companhia fantasmagórica
e, agora, chega para os assinantes da
Sociedade das Relíquias Literárias.
351
Profissionais
que trabalharam
neste conto
Karine Ribeiro
TR A DUÇÃO
352
João
Rodrigues
PRE PA R AÇÃO E
RE V ISÃO
Bacharel em Tradução
e especialista em
Produção e Revisão
Textual.
@jojsrodrigues
353
Dabus
ILUSTR AÇÃO
Dabus é ilustradora,
tatuadora e quadrinista.
Seu estilo combina o fofo
com o sombrio. @dabus.Ink
Marina Avila
PROJE TO G R Á FICO
Produtora editorial e
fundadora da Wish. Mãe
de gatos e de livros.
@marinalivros
Valquíria Vlad
COMUNICAÇÃO E
COMUNIDA DE
Escritora, pesquisadora
e publicitária formada
pela Universidade
Federal do Ceará (UFC).
@valquiriavlad
Laura Brand
ME DIAÇÃO E
PA R ATE X TOS
Editora, coordenadora
editorial, jornalista e
criadora de conteúdo.
Formada pela PUC-MG
e Columbia Journalism
School. @nostalgiacinza
355
Muito obrigada
por apoiar este
financiamento
coletivo!
Neste mês foi possível viabilizar a cura-
doria, tradução, revisão e ilustração do
conto The Lady's Walk! A cada mês de as-
sinatura, a Wish continuará resgatando
os tesouros do passado em novas edições
para os caçadores das Relíquias Literárias.
356
N O P R ÓX I M O M Ê S
Uma história sensível sobre
ciúmes, inveja e morte
Da mesma autora de
Mulherzinhas, Louisa May Alcott
357