Bertucci, Conroy Revisado

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Revista InterteXto / ISSN: 1981-0601

v. 8, n. 1 (2015)

GABRIEL CONROY E O ÚLTIMO MOCINHO DO MUNDO OCIDENTAL

GABRIEL CONROY AND THE PLAYBOY OF THE WESTERN WORLD

Mariana Luísa Figueiredo1

Resumo: Yeats, Lady Gregory e Synge escrevem sobre o passado mitológico da Irlanda
e enaltecem a vida rústica enquanto James Joyce (1882-1941) disseca o cotidiano das
pessoas que vivem na tumultuada Dublin da virada do século. Os camponeses são o
tema de The Playboy of the Western World (1907) por Synge, mas é um engano pensar
que a peça do dramaturgo nacionalista e o episódio de sua estreia no Abbey Theater
estejam completamente distanciados do retrato da burguesia irlandesa e do altivo e
cosmopolita no Gabriel Conroy de “The Dead”, o último e mais extenso conto da
coletânea de histórias sobre os dublinenses, Dubliners (1904), incluído por Joyce na
publicação quatro anos depois. O objetivo deste artigo é aproximar o conto “The Dead” e
seu protagonista Gabriel Conroy da peça The Playboy of the Western World, e sua
polêmica estreia, demonstrando como a peça reverbera de diferentes formas na escrita
do conto de Joyce.
Palavras-chave: Synge, Joyce, nacionalismo, hibridismo.

Abstract: Yeats, Lady Gregory e Synge wrote about the mythological past of Ireland and
eulogize the peasantry while Joyce dissected the daily life of people who lived in the
chaotic turn-of-the-century Dublin. The peasants are the theme of The Playboy of The
Western World (1907) by Synge, but it is not right to think that the play and the episode
concerning its début in the Abbey Theatre are completely apart from the portrayal of Irish
middle-class and the arrogant, cosmopolitan Gabriel Conroy from “The Dead”, the last and
longest text of the collection of short stories about people from Dublin, Dubliners (1904),
which was added by Joyce to the book four years later. This article aims to connect “The
Dead” and its main character Gabriel Conroy to the play The Playboy of The Western

1
Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Ouro Preto. Contato: [email protected]
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v. 8, n. 1 (2015)

World and its polemical début demonstrating how the play reverberates in different forms
in the writing of Joyce’s short story.
Key words: Synge, Joyce, nationalism, hybridism.

James Joyce (1882-1941) é conhecido como um dos mais inovadores escritores do


século XX. Autor de importantes obras como The Portrait of The Artist As a Young Man
(1916), Ulysses (1922) e Finnegans Wake (1939), Joyce atinge o ápice do seu
rompimento com várias tradições estéticas da escrita com seu último romance, que
apesar de ser considerado demasiadamente complexo por alguns críticos, torna-se um
grande marco para a literatura ocidental.
O uso intenso de fluxo de consciência juntamente com a mistura de regionalismos
da sua própria experiência com os substratos psicológicos da experiência humana em
geral e o seu crescente interesse pela força criativa da linguagem, fazem com que este
autor consiga consolidar o seu nome em meio a outros escritores irlandeses de grande
talento como Bernard Shaw, Synge e Yeats.
Em “The Dead”, o último e mais extenso conto da coletânea de histórias sobre os
dublinenses, incluído no livro Dubliners (1904), quatro anos depois, em 1908,
acompanhamos o personagem Gabriel Conroy, que vai a uma festa na casa das tias
solteironas, duas velhas professoras de música que têm nele o sobrinho preferido. Gabriel
tenta inutilmente se demonstrar como bem-sucedido e se manter altivo ao longo da festa,
mas se vê capturado em uma série de frustrações que corroem o seu ego, advindas de
dolorosas interações com mulheres.
A primeira delas acontece logo em sua chegada. Ao ser recebido pela criada, Lily.
Gabriel tenta ser cordial iniciando uma conversa, e ao insinuar que ela se casaria em
breve, é surpreendido com uma “má-resposta” da criada que diz que “os homens de hoje
em dia só querem saber de palavrório e de se aproveitar das meninas” (JOYCE, 2012, p.
171).
Em seguida, antes do jantar oferecido pelas tias, no qual ele fará um discurso,
dança com Molly Ivors, uma senhorita nacionalista que o golpeia com sucedidas
perguntas provocativas sobre seu “posicionamento político”.
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A última das interações falhas se dá com sua esposa, Gretta, que, tanto na
carruagem que os levaria para o hotel quanto no momento em que já estão a sós no
quarto, responde com frieza e rejeição às suas investidas sexuais.
No quarto de hotel, Gabriel tem uma revelação sobre o passado da esposa e a
maneira como ele reage é um dos pontos chaves da história. Ao saber que ela estivera
pensando em um amor do passado, o falecido Michael Furey, Gabriel passa de uma
reflexão sobre o seu relacionamento com Gretta para uma autoanálise que alcança um
panorama bem mais amplo, o de sua própria existência. O conto permite que
acompanhemos todo o processo de desconstrução da identidade de Gabriel Conroy.
Joyce captura com perícia as variações de humor e as diferentes atmosferas de
uma longa festa de feriado. As provações que o autor prepara para os seus personagens
são tão devastadora que esta anual dance se tornaria excepcional. Gabriel entra em uma
cena complexa: tipos diferentes de pessoas, oriundas de diferentes classes; estranhos,
conhecidos, amigos e familiares, e a cada momento é exigido de Gabriel comportamentos
distintos, no entanto, o Senhor Conroy não é exatamente do tipo de homem que se
adapta ou adequa com facilidade.
O jantar oferecido pelas Irmãs Morkan, precede a festa da epifania, na qual se
celebra a revelação da natureza divina de Jesus Cristo. Em termos cristãos, a palavra
epifania significa a manifestação da presença de Deus na terra.
Friedrich (1965) chama a atenção para o significado dos feriados, ele afirma que
“há necessidade de uma Páscoa no Natal coberto de neve de Joyce, um feriado
implicando no outro. Enquanto o espírito de Michael Furey levanta da sepultura para
caminhar a subjugar os sobreviventes, os mortos-vivos aguardam a ressurreição”. 2
Os mortos-vivos em questão são os habitantes de Dublin que, ao contrário de
Gabriel Conroy, que em determinado momento percebe a influência das forças opressivas
da cidade, permanecem capturados em suas autoconsciências paralíticas. A epifania
seria o instrumento capaz de “ressuscitá-los”.

2
FRIEDRICH 1965. p. 425. There is need for Easter in Joyce’s snowbound Christmas, the one implying the other. While
the spirit of Michael Furey has risen from the grave to walk overpowering the survivors, the living dead remain to be
resurrected. Todas as citações, exceto as com indicação bibliográfica, foram traduzidas por mim do
inglês para o português.
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No entanto, ao falar de epifania, não mais estamos falando de uma manifestação


divina literal, como o significado de origem eclesiástica do termo. Joyce se apropria da
palavras epifania para designar um estado mental secular no qual há uma súbita
manifestação espiritual ou um momento de iluminação que leva a uma revelação quando
se observa alguma banalidade.
Em “Stephen Hero”, rascunho de A Portrait of The Artist as a Young Man, publicado
postumamente em 1944, Joyce redesenha a definição do termo ao escrever que as
epifanias correspondem a uma manifestação súbita, quer na vulgaridade do discurso ou
do gesto, ou em uma fase memorável da própria mente. “Sua alma, seu quê próprio salta
para nós das vestes de sua aparência. A alma do objeto mais comum, cuja estrutura está
tão ajustada, parece-nos radiosa. O objeto realiza sua epifania”. (JOYCE, 1963, p.218). 3
Essa noção de epifania, adaptada por Joyce, se torna o termo chave na Literatura
Ocidental para a descrição desse momento de iluminação súbita advindo da observação
de um objeto ou cena comum. Ela é central na escrita joyciana e abarca todas as suas
obras. Em Dubliners, os personagens experienciam grandes ou pequenas revelações em
suas vidas cotidianas. Estas revelações permitem que eles entendam melhor suas
existências, impregnadas de melancolia e rotinas fastidiosas, para as quais eles
resignadamente retornam, alimentando ainda mais as suas frustrações.
As provações que o autor prepara para os seus personagens são tão devastadora
que esta anual dance se tornaria excepcional. Gabriel entra em uma cena complexa: tipos
diferentes de pessoas, oriundas de diferentes classes; estranhos, conhecidos, amigos e
familiares, cada momento exigindo de Gabriel comportamentos distintos, mas ele não é
exatamente aquele que se adapta com facilidade.
O senso de educação superior de Gabriel juntamente com sua debilitada
percepção de si aponta, segundo Schwarz (1994), não somente a semelhança de Gabriel
com o próprio autor, mas também uma deficiente autoconsciência típica do modernismo,
a anestesia dos sentimentos promovida pelo estudo. Para Schwarz, a figura patética que
Gabriel é representaria para Joyce uma versão do que ele temia se transformar caso

3
JOYCE, 1963, p. 218. This is the moment which I call epiphany. First we recognise that the object is one integral thing,
then we recognise that it is an organised composite structure, a thing in fact: finally, when the relation of the parts is
exquisite, when the parts are adjusted to the special point, we recognise that it is that thing which it is. Its soul, its
whatness, leaps to us from the vestment of its appearance. The soul of the commonest object, the structure of which is
so adjusted, seems to us radiant. The object achieves its epiphany.
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continuasse influenciado pelas forças abortivas da Irlanda, um burguês que vive em


cliché, exclamando “Cá estou, infalível como o correio!” 4, usando galochas porque todos
as usam no continente, escrevendo para um jornal conservador e de menor importância e
conseguindo seu sustento lecionando. A ambivalente relação Irlanda/Europa é percebida
nesse aspecto do personagem que falha tanto em se provar irlandês quanto em se
afirmar como europeu.
A problematização da nacionalidade híbrida Europa/Irlanda através do personagem
Gabriel Conroy possivelmente se dá em decorrência da identidade nacional híbrida e
conflituosa do próprio Joyce, que conseguia tampouco aceitar sua nacionalidade quanto
bani-la.
Joyce escolhe caracterizar a Irlanda de uma forma muito distinta da que faziam
Yeats e Synge. Enquanto os nacionalistas retomavam os mitos de um passado glorioso,
“The Dead” entranhava-se na vida de um burguês da classe média irlandesa. Essa
escolha é apontada por Eagleton (2005) como um desafio lançado por Joyce à Irlanda
mitológica de seus colegas5 . No entanto, há leituras que nos permitem observar que o
escritor estava mais próximo da vertente nacionalista do que se imaginava, a começar
pelo estudo do personagem Gabriel Conroy e engana-se quem pensa que a história de
Dubliners passaria ilesa à política nacionalista que permeava Joyce nos anos de escrita
da coletânea de contos.
Em Janeiro de 1907, Synge escreve no prefácio de The Playboy of the Western
World que:

Na Irlanda, por alguns anos mais, temos um imaginário popular que é ardente e
magnificente, e terno; por isso aqueles de nós que desejam escrever começam com
uma chance que não é dada a escritores em locais onde a primavera da vida local

4
JOYCE, 1994, p.120. Here I am as right as the mail.
5
EAGLETON, 2005, p.284 By depicting lower-middle-class life in Dublin, he was among other things challenging the
mythological Ireland of Yeats and his colleagues, who wrote of ancient warriors and mystic twilights rather than middle-
aged cuckolds squatting glumly on the lavatory. Joyce priest-ridden colonial capital, and doing so placed it permanently
on the global map.
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foi esquecida, e a colheita é apenas uma memória, e a palha foi transformada em


tijolos. (SYNGE, 1993, p.6). 6

Enquanto John Millington Synge (1871-1909) mergulha no cotidiano popular das


Ilhas Aran, James Joyce segue o caminho oposto, deixando a Irlanda para um longo
autoexílio em outros países da Europa. No entanto, ainda que o escritor esteja
“desafiando a Irlanda mitológica de Yeats e seus colegas ao escolher retratar a burguesia
Irlandesa”7 a Irlanda e o autor se apresentam indivisíveis na experiência de ler um dos
seus livros de uma forma um pouco mais plena. As alusões de Joyce trazem o peso de
eras passadas e contextos históricos para o íntimo de nossa leitura. Na coletânea de
contos Dubliners (1904), a cidade de Dublin é o símbolo máximo das forças opressivas,
cúmplices e catalisadoras da paralisia dos personagens que tentam se libertar material,
artística ou espiritualmente deste ambiente.
Se no prefácio para sua peça, Synge se referia à temática campestre (peasantry)
em detrimento de histórias sobre a cidade, então, certamente Joyce transformou “a palha
em tijolos” uma vez que suas histórias falam de pessoas profundamente influenciadas por
suas rotinas urbanas.
No entanto, isto não fez com que a “primavera da vida local” fosse esquecida, na
verdade, na escrita joyciana, ela se transmuta um fantasma insuperável. A história de
“The Dead” é aparentemente distante da contada por Synge em The Playboy of the
Western World (1907) que narra os feitos de Christy Manhon: o protagonista Christy
Mahon chega à taverna do Flaherty e diz que matou seu pai e é um fugitivo. Flaherty
elogia Christy por seu ímpeto e o convida para trabalhar para ele, estimulado por sua filha
e garçonete da taverna, Pegeen. Ela apaixona-se por Christy, mesmo sendo noiva de um
rapaz chamado Shawn.
Logo, a notícia das façanhas de Christy, cada vez mais conduzido por seus
ouvintes a contá-las com eloquência, se espalha por toda a cidade que o vê como uma
espécie de herói. Várias mulheres tentam seduzi-lo, dentre elas a viúva Quin, a mando de
Shawn.

6
SYNGE, 1993, p.6. In Ireland, for a few years more, we have a popular imagination that is fiery and magnificent, and
tender; so those of us who wish to write start with a chance that is not given to writers in places where the springtime of
local life has been forgotten, and the harvest is a memory only, and the straw has been turned into bricks.
7
EAGLETON(2005) p. 284. By depicting lower-middle-class life in Dublin, he [Joyce] was among other things
challenging the mytological Ireland of Yeats and his collegues.
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Porém, Christy havia somente ferido seu pai, Mahon, e eventualmente ele o segue
até a taberna. Quando os habitantes da cidade percebem que o pai de Christy está vivo,
todos, inclusive Pegeen, o insultam por ser um mentiroso e um covarde.
Para que recupere o amor de Pegeen e o prestígio da cidade, Christy ataca seu pai
novamente. Desta vez, o velho Mahon aparenta estar realmente morto, mas ao invés de
elogiar Christy, os habitantes da cidade, liderados pela garçonete da taberna, decidem
enforcá-lo para evitar serem punidos como cúmplices do patricídio.
A vida de Christy é salva quando seu pai, espancado e ensanguentado, rasteja de
volta para a cena, depois de ter sobrevivido, contra todas as expectativas, ao segundo
ataque do filho. Os dois deixam a cidade para vagar pelo mundo, e Shawn sugere que
ele e Pegeen se casem em breve, mas ela se recusa. A garçonete afirma ter se
arrependido por ter traído e abandonado Christy, segundo ela, o último mocinho do
mundo ocidental.
Dois contrastes entre Christy e os camponeses são apontados por Diehl (2001). O
autor destaca que o caráter dubio de Christy contrastado com a honestidade simples dos
camponeses e a artificialidade do protagonista posta em cheque pela autenticidade dos
moradores do vilarejo. Segundo Diehl, ainda que os personagens não sejam os mais
virtuosos, eles não são deliberadamente falsos.
Em sua estreia no Abbey Theatre, a peça The Playboy of The Western World foi
recebida com ódio e fúria pelos nacionalistas irlandeses por, segundo eles, “denegrir um
passado glorioso da Irlanda”. Ela incitou inúmeros conflitos em parte pela obra não
romantizar e ser satírica no tratamento do Irish peasantry – considerado sacrossanto por
muitos nacionalistas– a “reconstrução do dialeto camponês” feita por Synge provocou
inúmeras controvérsias que continuaram ainda após a morte prematura do autor.
É importante destacar a importância do lugar onde a peça de Synge foi recebida de
maneira hostil. Nos seus primeiros anos, o Abbey Theatre, ou National Theatre of Ireland,
esteve estritamente relacionado ao Movimento Dramático Irlandês. Através de um teatro
nacional, eram apresentadas produções escritas em inglês e irlandês, escritas por
dramaturgos da Irlanda ou inspiradas em motivos irlandenses.
Synge, apontado pelo artigo de Hirsch (1991), junto de nomes como o de Yeats,
Lady Gregory, como um dos principais responsáveis por tornar a figura do camponês um
símbolo central para a construção de um discurso cultural irlandês durante a Renascença
Céltica, escreve um texto inundado de dialetismos do irlandês, para Diehl uma evidência
do senso de Irishness dos camponeses:

Através dos camponeses, Synge representa mimeticamente um senso


estável, coerente de identidade irlandesa, evidenciado mais claramente no
uso feito pelo dramaturgo do folclore popular e do dialeto camponês (...) o
perene desejo que Synge possuía de restaurar e preservar os textos
folclórico-culturais do gaélico-irlandês dos camponeses necessariamente
8
insere seu trabalho dentro de um esforço nacionalista.

A forma com Christy é conduzido em sua oratória, tal como referências ao episódio
acerca da estreia de The Playboy of the Western World reverberam na história escrita por
Joyce no conto “The Dead” e na construção do personagem Gabriel Conroy. Ao passo
que Synge abraçava a Irlanda como inspiração, Joyce sofria a tensão do hibridismo
Irlanda/Europa no cerne da construção de sua própria identidade, tanto em sua vida
pessoal quanto em sua carreira como escritor. Nesse processo vivido por Joyce, o
episódio que envolve Synge e os nacionalistas funciona como uma espécie marco sobre a
dificuldade do escritor em ignorar o nacionalismo irlandês em prol de uma literatura
politicamente neutra.
Gabriel em “The Dead” tenta incansavelmente se provar bem sucedido e é, com a
mesma intensidade, frustrado em suas investidas. Apesar da sua epifania final, a
solução dos conflitos travados por ele não se desliga do tema da paralisia. Gabriel é
completamente surpreendido pelas situações humilhantes que passa e se demonstra, no
entanto, incapaz de “corrigi-las” satisfatoriamente.
Os trocados que ele oferece a Lily após o diálogo desagradável não suavizam a
situação vivida com a criada, a Senhorita Ivors deixa a festa sem que ele responda aos
insultos que lhes são feitos e Gretta adormece aos prantos, sozinha, na cama do hotel.
Backus (2001) lembra que o fracasso de Gabriel em dar dinheiro a Lily funciona
como uma antecipação de seu fracasso em se esquivar dos questionamentos da
Senhorita Ivors; além disso, reflete e critica a fraqueza de uma estratégia política baseada
na evasão e nos rodeios.

8
DIEHL 2001, p. 105. Through the villagers, Synge mimetically represents a stable, coherent sense of Irish identity,
evidenced most clearly in the playwright’s use of folk history and peasant dialect (…) Synge’s assiduous desire “to
restore and preserve the folk-cultural texts of the Gaelic-Irish peasanty necessarily locates his work within a nationalist
endeavor.
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Durante a dança que precede o jantar na festa das senhoras Morkan, a Senhorita
Ivors interroga Gabriel incessante e agressivamente. Os dedos quentes dela que agarram
a mão dele para a dança são uma boa metáfora física para o vigor energético da
conversa. A nacionalista o ofende por ele se recusar a ir para as Ilhas Aran, e o acusa de
“partidário dos britânicos” (West Briton) por não ser “nacionalista” em sua escrita no jornal,
ao passo que Gabriel tenta inutilmente defender sua postura neutra em relação ao
nacionalismo Irlandês, dizendo que não vê nada de político em sua coluna literária e que
viajava para outros lugares senão a Irlanda para aprender línguas e mudar de ares.
Porém, a tentativa de neutralidade política buscada por Gabriel ao se justificar por
não escrever sobre política em sua coluna e por gostar de viajar para outros países, não é
suficientemente acatada pela Senhorita Ivors, que, após dizer que é a Irlanda a única
nação que ele deveria visitar e o irlandês a única língua que ele deveria aprender, acaba
por repetir o insulto “partidário dos britânicos”, dessa vez exclamado como ofensa direta e
não como a pergunta acusatória e insinuante do início da conversa.
O embate entre a Senhorita Ivors e Gabriel sobre o destino de viagem é, para
Ellmann (1958), um eco do episódio da briga em Dublin sobre The Playboy of Western
World de Synge. Segundo Ellmann, o dramaturgo haveria aceitado a sugestão de Yeats,
que Joyce havia rejeitado, de achar a sua inspiração no folclore Irlandês, e teria ido
justamente para as Ilhas Aran. Contudo, o “elogio” feito por Synge através da temática
peasant resgatada em sua peça, teve uma repercussão inesperada e o episódio se tornou
para Joyce um marco de como a arte encontra dificuldades em se manter politicamente
neutra – em especial ao tratar temáticas nacionalistas. Neste contexto, a dificuldade de
se esquivar das acusações de Molly se equipara aos ataques hostis vividos pelo
dramaturgo Synge por sua comédia.
Em seu artigo, Kiberd relembra que St. John Ervine chama Synge de “um
falsificador da fala do camponês”.9 Esta notória acusação foi respondida por outro
importante escritor irlandês, Yeats, com os dizeres “talvez nenhum camponês irlandês
tenha tido aquele exato ritmo em sua voz, mas certamente se o Sr. Synge tivesse nascido
um homem do campo, ele teria falado assim." 10

9
KIBBERD. 1979, p. 59. A faker of peasant speech.
10
W. B YEATS, ‘Preface to The Well of the Saints’ , Essays and Introduction (London, 1961), p. 300) em KIBERD, 1979.
p.59. “Perhaps no Irish countryman had ever that exact rhytm in his voice, but certainly if Mr. Synge had been born a
countryman, he would have spoken like that.”
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Porém o maior incômodo causado nos nacionalistas pela estreia da peça de Synge
no Abbey Theatre foi a diminuição cômica do passado heroico Irlandês. Na peça de
Synge, há uma evidente sátira da violência como uma característica positiva, por
exemplo, quando o herói, se recusa a matar o pai ele é fortemente repreendido e
chamado de covarde.
O efeito cômico em “The Dead” no episódio do embate entre Molly e Gabriel não
está só na incapacidade de Conroy em se manter neutro em relação às políticas
nacionalistas, está também na natureza mimética do termo que a Senhorita Ivors usa
como mockery: West-Briton, nascido do discurso de um líder nacionalista, pejorativo em
relação aos irlandeses percebidos pelos demais conterrâneos como exacerbadamente
anglicanos. É pejorativo exatamente por colocar o West-Briton em um explícito não-
pertencer, a ofensa é equivalente a um “falso-irlandês” ou até mesmo “irlandês de
araque”. No termo, temos que não se é britânico, nem irlandês, nem anglófilo, mas ocupa-
se um lugar de “partidário”, isto é, adepto, favorável, e não de “membro”, componente,
parte integrante.
A situação desconfortável vivida com a Senhorita Ivors imediatamente irrompe em
um conflito de Gabriel e sua mãe sobre o seu casamento com Gretta. Ellmann (1958)
aponta que a vergonha que Gabriel sente da origem de sua esposa, evidenciado pela
resposta “a família dela é”, quando Molly o provoca perguntando se sua esposa não era
de Connacht, e por não conseguir desapegar do comentário de sua mãe sobre Gretta ser
uma “beleza campestre”, se relacionam com a dificuldade de aceitar o West e a Irlanda
nacionalista. É importante ressaltar que neste conflito com Molly, Gabriel deixa claro que
a sua língua não é o Irish, comentário que suporta a ideia de que Gabriel tenta apagar as
suas associações com o Oeste, simbolizadas também pelas Ilhas Aran e pela conexão
com o nacionalismo feito por Synge.
O momento em que Gabriel é capturado pelas lembranças de sua mãe ao
confrontar a nacionalista Senhorita Ivors é descrito por Ingersoll em Backus (2001) como
um vínculo duplo explícito. Para o autor, o fato de Gabriel não conseguir se emancipar de
sua mãe e de Gretta é uma metáfora política. Ele afirma que “nenhum homem irlandês
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tem o potencial para se tornar plenamente ‘másculo’, porque o poder está todo no Oriente
[Europa]”.11
Sobre esse mesmo episódio, Backus acrescenta à afirmação de Ingersoll a
perspectiva da relação entre gêneros. A autora afirma que se casar com Gretta sem a
benção de sua mãe é uma estratégia utilizada por Gabriel para manter uma identidade
masculina autônoma em face da crescente feminilização cultural irlandesa e legitimar a
sua associação ao East e rejeição ao West. Entretanto, paradoxalmente, essa estratégia
deixaria entrever sua contínua subordinação à sua mãe. Segundo Norris, “a voz narrativa
tem uma agenda burguesa: produzir uma imagem lisonjeira de vida da classe média
irlandesa, cujo centro de segurança e confiabilidade é Gabriel Conroy, patriarca de uma
família de mulheres”. (NORIS, 1994, p. 193)
A posição social de Gabriel é ainda colocada em contraste com os outros
personagens masculinos, retratados como bêbados e fracassados, das outras histórias de
Dubliners, os quais, segundo a autora, são o oposto do homem instruído, culto e
cosmopolita que é Gabriel em “The Dead”. O senso de educação superior de Gabriel
juntamente com sua debilitada percepção de si aponta, segundo Schwarz (1994), não
somente a semelhança de Gabriel com o próprio autor, mas também uma deficiente
autoconsciência típica do modernismo, a anestesia dos sentimentos promovida pelo
estudo.
Mas não é somente na caracterização cosmopolita de Gabriel em contraste com o
peasant de Yeats e Synge que encontramos reverberações da relação do autor com a
corrente nacionalista de seus contemporâneos. A canção For He's a Jolly Good Fellow é
praticamente tão popular quanto o Parabéns para você no Reino Unido, e, é cantada para
as senhoras Morkan em um belo coro após o pomposo discurso de jantar feito por Gabriel
e assume outro aspecto além de predizer a morte iminente das anfitriãs as quais atribuir
adjetivos como jolly gay (feliz, alegre, jovial) é sem dúvida um exagero, ou uma lie
(mentira) por parte dos convidados. A canção poderia igualmente estar falando de Christy
de forma satírica, em especial pela ênfase para a parte da canção que diz “unless he tells
a lie” (JOYCE, 1991, p.140) afinal, em The Playboy of The Western World, não era Christy

11
BACKUS, 2001, p.125. No Irishman has the potential to become fully ‘male’, because the power is all in the East
[Europe]
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um herói até que a mentira sobre matar seu pai foi descoberta? Ou poderia a canção até
mesmo estar aludindo às duras críticas recebidas por Synge por ter utilizado um dialeto
camponês não necessariamente fiel ao falado nas ilhas Aran?
No ensaio Aran: a descoberta de um dramaturgo, Lima (1997) destaca que durante
os cinco anos vividos nas Ilhas Aran, entre 1898 e 1902, Synge descobriu um tipo de
irlandês peculiar, que chama a atenção por seu empreendedorismo e sua força
trabalhadora que Synge explora na temática de suas peças. É curioso notar que após
esta canção cantada no “The Dead”, conhecemos a história do cavalo Johnny, encenada
por Gabriel para o deleite dos convidados da festa. Ele conta como o avô, homem
simples, trabalhador, colocou seus trajes de gala e saiu com seu cavalo para assistir um
desfile militar junto com a nata da sociedade irlandesa. Porém, Johnny, o cavalo do avô,
de tão acostumado ao trabalho no moinho pôs se a rodear a estátua do Rei Guilherme
durante o desfile. A história é irônica ao passo que Gabriel, ao caçoar da rusticidade do
avô e do cavalo, não percebia que ele mesmo estava enredado em um contínuo de
repetições que não se diferenciava do cavalo que girava em círculos. A intenção de
Synge em preservar o dialeto camponês em The Playboy of the Western World também o
aproxima da história do cavalo Johnny. Tal qual o avô e o cavalo que falham na investida
cosmopolita, o dialeto camponês reproduzido por Synge soa inadequado para os
nacionalistas.
O nome Gabriel Conroy é também o título de um romance de 1876 escrito por Bret
Harte. Harte é aproximado de Synge nas duras críticas sobre sua relação com o dialeto
específico que tenta representar, no caso, não o irlandês campestre das peças de Synge,
mas o inglês falado pelos mineradores, que até mesmo Twain clamou não existir senão
na cabeça do escritor12. Eagleton (2005) nos chama atenção para como um escritor como
Joyce, vivia uma consciência linguística que era diferenciada graças ao pano de fundo da
linguagem que surge no contexto colonialista:

Em uma nação onde você pode deslocar-se entre vários tipos de discurso
(irlandês, inglês, Hiberno-ingleses, escoceses do Ulster e assim por
diante), os escritores eram mais propensos a ter consciência da natureza

12
KRAUTH, Leland. Mark Twain & Company: Six Literary Relations. University of Georgia Press, 2003.
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problemática da linguagem do que aqueles que, como os ingleses, poderia


levar a sua chamada língua materna, como totalmente garantida.13

A afirmação de Eagleton parece igualmente verdadeira quando retomamos o trato


dado à linguagem por autores irlandeses nacionalistas como Synge.
Mas voltemos ao “The Dead”: Michael Furey, o amor do passado que Gretta
relembra é uma representação do West enquanto Gabriel é uma representação do East
da Irlanda, ou, em outros termos, o peasant e o cosmopolita.
O jovem morto aos dezenove anos pelo ímpeto de sua paixão por Gretta, se
contrastado com Gabriel, faz com que o rapaz assuma o papel de um herói romântico. A
investida de Michael contra a chuva, já com a saúde fragilizada, é marcada pela fatalidade
de seu ato. Michael é dotado de uma hipersensibilidade, capaz de movê-lo totalmente
pela intuição e pelo amor em detrimento da racionalidade. Michael também simboliza a
vida simples de um jovem trabalhador que passeava com Gretta em Galway, “um rapaz
no gasômetro” (JOYCE, 2012, p. 212), repetia Gabriel, para si mesmo. Gabriel, ao
contrário de Michael, era, até então, cego ao comodismo e à paralisia que o dominava,
preso a uma vida burguesa e até mesmo clownesca. Ao ver-se subitamente surpreendido
por essa autoconsciência, Gabriel reflete sobre sua condição:

Sentiu-se invadido por uma consciência vergonhosa em relação a si


próprio. Viu-se como uma figura ridícula, como o estafeta das tias, como
um sentimentalista nervoso e bem-intencionado que discursava para o
vulgo e idealizava as próprias luxúrias farsescas, como o pobre sujeito
14
patético que tinha vislumbrado no espelho.

13
EAGLETON, 2005, p. 287. In a nation where you could move between several kinds of speech (Irish, English,
Hiberno-English, Ulster Scots and so on), writers were more likely to be aware of the problematic nature of language
than those who, like the English, could take their so-called mother tongue largely for granted.
14
JOYCE, 1994, p.56 A shameful consciousness of his own person assailed him. He saw himself as a ludicrous figure,
acting as a pennyboy for his aunts, a nervous well-meaning sentimentalist, orating to vulgarians and idealizing his own
clownish lusts, the pitiable fatuous fellow he had caught a glimpse of in the mirror.
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Não coincidentemente, a luz da rua de Dublin que se projeta de um poste à janela


do quarto de hotel onde os dois se hospedam é fantasmagórica. Ela precede a aparição
de um fantasma, não literal como em A Christmas Carol de Charles Dickens, mas capaz
de fazer Gabriel refletir sobre a morte, eminente para Tia Julia, não tardia para todos, e
chegar à conclusão de que “é melhor passar com bravura ao outro mundo, em meio a
glória de uma paixão, do que esmaecer e murchar com as agruras da idade”. Mas o
fantasma de Furey também simboliza a Irlanda nacionalista de Synge.
A palavra pennyboy, sendo traduzido como “estafeta”, mensageiro postal, nos
remete a The Playboy of the Western World, já que o original se refere à penny pot-boy,
garçom em uma espelunca, e é o emprego oferecido à Christy.15
O conto não explicita qual será a atitude de Gabriel após o vislumbre de sua
condição, porém, a possibilidade de mudança é sinalizada por Joyce não só através da
conclusão de Gabriel, mas também pela simbologia dos nomes Michael, anjo da
salvação, o guerreiro que brada a lâmina e comanda o exército contra as forças de Satã;
e Gabriel, anjo da anunciação e da benevolência.
Nas palavras de Schwarz (1994), quando lemos Dubliners respondemos de várias
formas à leitura, porém, os aspectos dominantes da paralisia estão claros no final de “The
Dead”:

Para o último protagonista de uma série de histórias sobre paralisia moral


na Irlanda, a autoconsciência paralítica de Gabriel e sua incapacidade de
se conectar com Gretta lhe conferem importância como representante da
falta de vontade, desmantelamento da família, e inadequação sexual que,
juntamente com (e talvez como resultado de) o catolicismo e o
imperialismo inglês, estão paralisando Irlanda. Mas como uma figura
peculiar que percebeu suas limitações como amante e homem e sente
simpatia por sua esposa, Gabriel é interessante e significativo, porque ele
tem o potencial de crescimento e transformação.16

15
He[Gabriel] saw himself as a ludricous figure, acting as a pennyboy for his aunts(...) Joyce, 1994,p.56.
Michael (with deference). Would you think well to stop here and be potboy, mister honey, if we gave you good wages,
and didn’t destroy you with the weight of work? (Synge, 1993, p.12)
16
SCHWARZ,1994, p. 121. For as the last protagonist in a series of stories about moral paralysis in, Ireland, Gabriel's
paralytic selfconsciousness and his inability to connect with Gretta give him significance as a representative of the failure
of will, breakdown of family, and sexual inadequacy that, along with (and perhaps as a result of) Catholicism and English
imperialism, are paralyzing Ireland. But as a particularized figure who has realized his limitations as a lover and a man
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Como aponta Schwarz, Gabriel é um sujeito interessante para que a mudança


possa ser operada e a epifania seria o suficiente para impulsioná-lo a se libertar das
forças abortivas de Dublin. Na verdade, não só se libertar da cidade, mas também
reconfigurar a sua relação com a própria Irlanda.
Na passagem final do conto, Gabriel afirma que é chegado o momento de sua
jornada rumo ao Oeste. Mas o que encontramos no oeste, além da simbologia da
inevitável morte e decadência? À Oeste estão as Ilhas Aran, mencionadas por Molly Ivors.
Também está Galway, onde Gretta e Nora (esposa de Joyce) nasceram. Está o cemitério
solitário onde Michael Furey repousa. Oeste é o lugar que simbolicamente representaria
uma Irlanda mais nacionalista e rústica na mente de Joyce/Gabriel. Vários aspectos
conectam na mente de Gabriel o oeste da Irlanda com um doloroso e sombrio
“primitivismo”, um pedaço do país que ainda resiste a se voltar para o continente, como
exemplificam Ellmann (1958) e Norris (2001), acerca da relação de Gabriel e a origem de
sua esposa Gretta, mas a mudança de tom no monólogo de Gabriel, que indica também
uma mudança de compreensão da realidade, não insere o Oeste em um novo contexto?
Desta forma, é difícil desassociar a afirmação do narrador sobre Gabriel – “é
chegado o momento para que ele iniciasse sua jornada rumo ao Oeste” (JOYCE, 1994, p.
17
121) – da descoberta ou aceitação de uma “outra” Irlanda, que é inevitavelmente parte
tanto de Gabriel quanto de Joyce.
A simbologia para o oeste é ainda outra conexão de Joyce e a peça The Playboy of
the Western World. Para Levenson (1994) o episódio em que os nacionalistas atacaram
Synge é um marco de como a arte não consegue neutralidade em relação à historicidade
e a política, e, em Joyce, essa noção causaria um conflito pessoal entre uma estética
purificada e uma demanda cultural nacionalista da arte como partidária das lutas contra a
dominação imperial. Como apontado, as Ilhas Aran se conectam diretamente com Synge
e o nacionalismo e não coincidentemente a palavra pennyboy liga a figura lúbrica que
Gabriel havia sido até então à Christy de The Playboy of the Western World. Ambos
sendo conduzidos pelas cordas invisíveis de sua audiência, tentando ser um “arremedo
de herói”.

and feels generosity to his wife, Gabriel is interesting and significant because he has the potential for growth and
transformation.
17
JOYCE, 1994, p. 152. The time had come for him to set out on his journey westward.
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Conclui-se que, ainda que James Joyce estivesse distanciado de seus


contemporâneos nacionalistas na escolha temática das histórias de Dubliners, retratando
com minúcia o cotidiano burguês da classe média irlandesa, em detrimento de uma
observação do “rico imaginário popular” (SYNGE, 1993, p.6) dos camponeses irlandeses,
o conto “The Dead” não se abstém de um diálogo ainda que implícito com a produção
nacionalista, neste caso em especial, com a peça The Playboy of the Western World
escrita por seu contemporâneo Synge. Demonstramos através deste artigo, os pontos de
encontro entre as duas obras, e como o episódio vivido por Synge no importante Abbey
Theater reverbera no último dos quinze contos de Dubliners.

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Artigo recebido em 28/02/2015

Artigo aceito em 20/03/2016

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