George
George
George
Biografia
Maria Judite de Carvalho nasceu a 18 de setembro de 1921 em Lisboa. Desde os 3
meses de idade viveu com as suas tias que foram rígidas na sua educação tendo ficado
órfã de mãe aos 8 anos de idade. Aos 15 anos de idade ficou também sem pai devido ao
seu desaparecimento, tendo por isso tido uma infância difícil.
Entre 1949 e 1998 Maria viveu em França e na Bélgica. Maria Judite foi uma das vozes
mais importantes do séc XX.
Em 1985 publicou pela primeira vez o conto « George».
Morreu a 18 de janeiro de 1998.
Questionário:
1. Que frase do segundo parágrafo permite concluir que o conto se trata de uma só
pessoa?
Logo nas primeiras linhas, pode-se observar um elemento que causa estranheza: a
descrição dos vestidos daquelas que, a princípio, seriam duas personagens: “Trazem
ambas vestidos claros, amplos, e a aragem empurra-os de leve, um deles para o lado
direito de quem vai, o outro para o lado direito de quem vem, ambos na mesma direção,
naturalmente.”
O excerto transcrito remete à imagem do espelho, já que os dois sujeitos que caminham
têm seus vestidos empurrados em sentido contrário, mas “ambos na mesma direção,
naturalmente”, como uma imagem refletida em espelho. Assim, sugere-se a possibilidade
de se tratar de uma só pessoa e não duas como se havia imaginado antes.
A dupla comparação («Andam lentamente, mais do que se pode, como quem luta sem
forças contra o vento, ou como quem caminha, também é possível, na pesada e espessa e
dura água do mar.») traduz a lentidão da aproximação das duas personagens e, mais ainda,
a dificuldade, o esforço para prosseguir o caminho. Por outro lado, sugere o quão difícil é
caminhar contra elementos adversos e prepara a atmosfera pesada da vivência para a qual
se encaminha a personagem.
George terá regressado a essa época da sua vida devido ao impacto que essas ações
tiveram na sua história.
No diálogo de Gi com George, esta confessa-lhe a sua vontade de vender a casa e
Gi demostra um desejo semelhante de partir e deixar Carlos (o seu namorado) devido às
suas diferentes visões da vida. Estas ações viriam a ter um grande impacto na sua vida e a
marcar um momento de viragem. (Clímax?)
Com essas decisões, Gi põe de lado todas as ambições que os seus pais tinham para si,
nomeadamente, casar e ter filhos, e decide viver uma vida desapegada de bens materiais e
relações interpessoais. Ao partir era como se Gi rejeitasse aquilo que lhe era esperado e
deixa para trás um pouco da sua pessoa, marcando um grande passo para a construção da
“nova” Gi que viria a tornar-se na George.
Todos os nomes próprios trazem consigo associados um pouco do que somos enquanto
pessoas e o nome George reflete também o que esta é na sua fase adulta da vida.
George representa um nome pouco comum em Portugal e predominantemente masculino
assim, tal como a personagem, o nome sugere uma renúncia ao que é comum e
predominantemente considerado “correto” pela sociedade, servindo para marcar uma
posição num meio em que para a época era essencialmente masculino.
Assim, este conto traz consigo associado um pouco do que foi a emancipação da mulher
na época e ajuda a marcar a forte personalidade de George.
Nota: Os diferentes nomes que esta adota ao longo da vida: Gi, George e Georgina vão
ficando mais compridos à medida que esta envelhece, acompanhando o seu crescimento.
Resumo / Conclusão
Cronologia
Metamorfose
Neste conto podemos acompanhar as mudanças que a personagem principal sofre ao longo
da sua vida.
Fisicamente, para além do envelhecimento evidente, temos a informação de que ela muda
muitas vezes a cor do cabelo (l.34, 35 e 36) e vamos sempre tendo descrições físicas das
“pessoas” com quem se encontra (l.21 e 22). Assim, acompanhamos um pouco da evolução
da personagem desde a juventude até à velhice.
Psicologicamente assistimos ao amadurecimento da personagem, que passa de frágil e
indecisa, a experiente e consciente da finitude da vida, da importância das relações e das
memórias.
No último espectro ela passa das dificuldades à riqueza, tanto a nível financeiro como
cultural. (como se vê nas l.40 a 43 pela melhoria das casas em que viveu).
Frases como: “gente de trabalho”, “tempos difíceis” e “condenados pelas instâncias
supremas à quase ignorância” retratam bem a sua condição menos confortável enquanto
vivia na casa dos pais. Estes demonstravam ter um pensamento retrógrado e desdém de
quem possuía algum conhecimento o que não satisfazia Gi.