Resenha APolticaDosAntigos POLITICA1
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POLÍTICA I
RESENHA
REFERÊNCIAS:
PLATÃO. A República.
ARISTÓTELES. Política.
Assim como vários dos conceitos dentro da ciência política, o conceito de democracia
é diacrônico, ou seja, mesmo essa forma de governo, vigente em vários países e possuindo as
mesmas bases, utilizando essa mesma denominação, encontra singularidades quando de um
contexto a outro. Em vista disso, como poderia então a democracia ser a mesma em meio as
extensas conjunturas históricas ao longo dos séculos? A versão primária da democracia, como
forma de governo, surgiu a muito e em um formato que muito se difere da democracia que se
conhece atualmente. Ela passou por diversos Estados, lugares, tempos, pensadores, defensores
e críticos até chegar na forma atual, tanto em formato, quanto em como é vista e entendida. A
democracia é então fruto de experiências históricas, formada por “retalhos”, pois não segue um
desenvolvimento linear, já que não caminha para um fim.
Essa democracia por muitas vezes romantizada atualmente, mas que na verdade era
exclusiva, adquiriu um teor negativo nos séculos posteriores ao seu declínio. Ela, além de
envolver contradições como a de cidadania e escravização, foi se degenerando enquanto o
individualismo foi prevalecendo, a isegoria não se fazia tão plena já que bons oradores, com
dons de persuasão, tinham mais voz ou quando nobres dominavam mais, por exemplo. O
estopim para decadência da democracia Ateniense veio com sua derrota na Guerra do
Peloponeso e o sistema democrático entrou em profunda depreciação. Entre os maiores críticos
da democracia nesse período, teremos antidemocratas como Platão e críticos moderados como
Aristóteles.
Platão usa a Alegoria da Caverna como metáfora para a defesa do seu governo ideal.
Em suma, uma caverna com uma única entrada de luz, homens acorrentados desde a infância
sem possibilidade de vê-la diretamente, enxergando a realidade apenas distorcida pelas sombras
de uma fogueira. Se alguém se libertasse e visse a luz, poderia desprezar quem ficou nas
sombras e quem ficou nas sombras, poderia ridicularizar quem falasse sobre a luz. A luz seria
o conhecimento e as sombras a ignorância. Então a metáfora é sobre o papel da educação e sua
ligação ao fazer política. O governo dos filósofos teria esse papel de trazer a luz para quem está
nas sombras, trazer o conhecimento aos ignorantes, estes, que são inaptos a governar. Mas o
entrave é que “[...] os que têm de governar são os menos empenhados em ter o comando[...]”
(PLATÃO, 2001, p.324).
A democracia em Platão é então vista como uma das formas degeneradas, que pode
levar à tirania (a pior forma, baseada na violência), pela passagem geracional e/ou pela
corrupção, que se dá pelo excesso do princípio que inspira os governos (como ocorre na
passagem de uma constituição para outra em todos os casos). Nesse caso em específico, o
excesso de liberdade (que não suportaria leis e regras), a corrupção pela destituição da unidade
e implantação da discórdia (que pode ser dentro da classe dirigida ou entre a classe dirigente e
a classe dirigida), que demandaria por tirania e levaria a anarquia. Entretanto, elucida que a
democracia é a pior das formas boas, e, no entanto, a melhor das más. Todavia, o governo dos
filósofos nunca chegou a existir.
Aristóteles por sua vez, era discípulo de Platão e ele expõe suas noções relacionadas ao
assunto aqui referido através de sua obra “A Política”. É importante frisar que esse livro é na
verdade um conjunto de fragmentos de escrita do mesmo, com a intenção de definir uma
organização coerente, mas que por isso pode ser complexo e até contraditório. Aristóteles utiliza
da teoria das seis formas de governo, em que para cada forma boa, governada por determinado
número de pessoas, terá uma forma má correspondente, ligada a forma que se é governada.
Seriam nessa relação: reino-tirania (um), aristocracia-oligarquia (poucos: melhores ou ricos) e
politia/democracia boa-democracia má (muitos/todos). Para ele, as constituições (governo,
poder soberano da cidade), podem ser constituições retas, as que exercem o poder buscando o
interesse comum ou desvios, que exercem no seu interesse privado. Ou seja, seus critérios de
distinção de uma forma boa ou má se dão por interesse comum ou interesse pessoal.
É possível perceber até aqui como a democracia nasceu e como entrou em declínio, o
que levou a um longo tempo de críticas, como sendo uma forma de governo turbulenta,
demagoga, de violência popular e instabilidade, através inclusive da crítica de filósofos
clássicos referenciais. Após esse longo período, a democracia teve seu "renascimento” na
modernidade, influenciado pela revolução francesa e os ideais iluministas de liberdade, que
elevaram a democracia ao centro do discurso político novamente, como uma palavra de luta e
teor mais positivo.