A Igreja - Cap 1 - Rev. Erasmo e Werner
A Igreja - Cap 1 - Rev. Erasmo e Werner
A Igreja - Cap 1 - Rev. Erasmo e Werner
A glória da Igreja
Visão Panorâmica
Nossa investigação nos levará a louvar a Deus pela beleza e pela glória da sua Igreja, conforme
vamos verdadeiramente entendê-la. Exploraremos como a natureza da Igreja se relaciona ao
nosso Deus triuno e descobriremos o significado dela no seu plano redentor.
Estudo de Casos
1. Um dos líderes de sua igreja compartilha o seguinte ponto vista em uma reunião aberta:
Use a tabela abaixo para registrar suas próprias observações sobre o relacionamento da Igreja
com cada membro da Trindade.
Trocamos coisas importantes por outras sem valor nenhum. Perto do fim da vida,
muitos idosos se arrependem das escolhas que fizeram no passado: o que parecia valioso no
momento, da perspectiva de muitos anos atrás, praticamente não tinha valor nenhum. Queremos
uma vida significativa, mas perdemos as oportunidades alterando as etiquetas dos preços em
nossas vidas. Você está gastando seu tempo precioso, energia ou dinheiro em itens baratos?
Vamos olhar para o que realmente importa nesta vida.
Várias tendências nos levaram a desvalorizar a Igreja de Cristo. O foco do Modernismo
sobre o individualismo solapou o valor das comunidades, inclusive a comunidade eclesiástica.
Nessa confusão de ideias, as pessoas em grande parte perderam de vista o significado e
a glória da Igreja. Casualmente e, talvez sem perceber, elas começaram a pensar nas igrejas
locais como apenas mais uma entidade sem fins lucrativos. A Igreja é um organismo divino,
instituído pelo próprio Deus. A igreja local está na lista bem seleta de instituições ordenadas por
Deus: casamento, família e Igreja. Não devemos ousar perder isso de vista!
A gloriosa Igreja de Jesus Cristo é muito mais do que simplesmente um local agradável
para irmos aos domingos. A Igreja é a família de Deus, o Corpo de Jesus Cristo, o templo do
Espírito Santo. Se você deseja ter uma vida significativa, envolva-se com o que Deus está
fazendo. Atualmente Deus está em operação nas igrejas locais!
A Igreja de Jesus Cristo mostra ao mundo o amor de Deus, quando funciona como uma
comunidade redentora investida do poder do Espírito Santo. Nós temos de ser o evangelho.
Quando damos exemplo de amor, unidade e pureza, o mundo vê que Deus é real e que Jesus é o
Salvador. As igrejas locais são emissárias do governo de Jesus na Terra, manifestando a paz e a
justiça que serão plenamente desenvolvidas no futuro reinado mundial de Jesus.
Em sua oração mais longa, registrada no final de sua vida, Jesus orou por nós, para que,
como Igreja, nós demonstrássemos a unidade, a glória e o amor de Deus, a fim de que o mundo
o conhecesse. (Jo 17.20-23). Quando a sua igreja local demonstra unidade, glória e amor, você
mostra ao mundo a verdade do evangelho e honra a Deus.
Nós devemos ser uma prévia do Reino vindouro. Antes da estreia de um filme, o produtor
libera uma prévia (trailer), para instigar a curiosidade das pessoas e levá-las aos cinemas. O
trailer mostra algumas das partes mais interessantes do filme, mas rapidamente. A Igreja deve
ser um trailer da próxima atração de Deus. Devemos mostrar ao mundo amostras da glória.
Convidamos pessoas para virem e verem a verdade e a beleza do evangelho de Deus praticado
em uma comunidade real.
É claro que, às vezes, estragamos tudo. Nem sempre fazemos tudo direito, mas mesmo
em nossas tentativas defeituosas de demonstrar amor e justiça, mostramos às pessoas um pouco
de como será o Reino de Jesus.
Em sua igreja local, você tem a tremenda oportunidade de ajudar as pessoas a ouvirem a
música do céu. Não há outra forma desses sons serem ouvidos na Terra, exceto por meio da
Igreja de Cristo. Nós somos vitrines do Reino de Cristo na Terra. Somos a luz do mundo
apontando Jesus Cristo para as pessoas. A Igreja mostra às pessoas o amor e a verdade de Deus.
Como embaixadora do Rei, a Igreja também proclama as Boas-Novas maravilhosas.
A “Comunidade Pioneira”
Capítulo 9 de Created for Community (Criados para a comunidade) - Stanley J. Grenz
“Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para
anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9)
O Pastor Will B. Dunn, personagem principal da charge “Kudzu”, estava lendo a Bíblia
no púlpito durante um culto de domingo. “Agora, meus irmãos e minhas irmãs, de acordo com
as Escrituras”, ele começou a falar, “vocês são a luz do mundo”. Então, em um rompante de
honestidade descontrolada, ele acrescenta à queima-roupa: “Mas no caso dessa congregação,
definitivamente estamos falando sobre lamparinas”.
Infelizmente a afirmação aparentemente engraçada do pastor muitas vezes é totalmente
verdadeira. Mas por quê? Por que as igrejas parecem compostas de nada mais do que simples
“lamparinas”? Por que não somos luzes radiantes que brilham no mundo escuro? E o mais
importante, o que podemos fazer para reformar a Igreja de modo que nos tornemos uma
comunidade vibrante de crentes, segundo o propósito do Senhor?
Se desejarmos nos tornar a comunidade que nosso Senhor deseja que sejamos, temos de
adquirir uma compreensão clara do que é Igreja. Somente quando nos lembrarmos do que
podemos ser na graça de Deus, começaremos a absorver o grande Poder dentro de nossas
comunidades – o Espírito Santo, que Cristo concedeu ao seu povo.
Com este objetivo em vista, agora nós olharemos para a visão bíblica da Igreja.
Especificamente, exploraremos o que Deus planeja para nós dentro do programa divino. Com
este propósito, levantamos duas questões cruciais:
• O que é a Igreja?
• Qual é a missão da Igreja?
A IDENTIDADE DA IGREJA
É isso que é Igreja? Igreja é uma grande estrutura de tijolos, madeira e cimento? “Igreja”
é um edifício no qual os cultos de adoração são realizados aos domingos? Ou Igreja é o próprio
culto? “Igreja” é um evento do qual participamos? Novamente, a Igreja é uma organização
gigantesca? É uma sociedade ou um clube no qual cada pessoa pode escolher ser membro,
quando se adapta?
Não! Nenhum desses usos populares do termo expressa o que a Igreja é na verdade. Para
entender a Igreja, temos de fazer a pergunta: “O que é Igreja?”, do ponto de vista bíblico.
Resumindo, a Igreja é a “comunidade pioneira”. É aquele povo que está se esforçando para
apontar o futuro que Deus tem reservado para a Criação. Sob a direção do Espírito, este povo
deseja viver no presente a gloriosa comunidade para a qual Deus nos criou.
Dizer que a Igreja é a comunidade pioneira sucintamente significa que ela é:
• Um povo relacional
• Um povo com visão do futuro
• Um povo em comunhão.
A Igreja não é um fim em si mesma. Deus não nos separa do mundo para nos tornarmos um
grupinho confortável ou uma “panelinha santa”. Pelo contrário, a Igreja existe para servir a uma
intenção maior. O Espírito nos transforma em um povo por meio do qual ele pode completar a
obra de Deus no mundo. Isso sugere que devemos ser um povo com visão do futuro. Nossa
tarefa é nos encaminhar para o grande alvo que só chegará à sua plenitude no final dos tempos.
O drama bíblico, porém, não termina no passado. Sua onda enorme se move para o
futuro. No advento de Jesus, o que é prerrogativa divina por direito (de jure), se tornará também
universalmente verdadeiro de fato (de facto). Nesse grande dia todas as pessoas reconhecerão o
senhorio de Jesus. (Fp 2.10-11). Os princípios do Reino de Deus se espalharão por toda a nova
sociedade humana. E Deus governará todo o universo.
Em última análise, portanto, o Reino de Deus é um dom gracioso que Deus nos concederá
em um glorioso dia futuro. Mesmo assim, o poder do Reino já está em operação em nosso
mundo, pois irrompe do presente para o futuro. Como resultado, podemos experimentar o Reino
divino em um sentido parcial embora real, antes do grande “dia do Senhor”.
Qual é o elo entre o Reino e a Igreja?
A Bíblia indica claramente que o Reino de Deus é “maior” do que a Igreja. “Reino”
refere-se ao domínio de Deus em todos os seus aspectos. Quando encarado de uma perspectiva
futura, o domínio divino inclui não somente a Igreja de Jesus Cristo, mas todo o universo
criado, bem como as hostes celestiais.
A Igreja, em contraste, surge a partir da ação salvadora de Deus na História. Ela foi
inaugurada por Cristo, a quem o Pai enviou à Terra para realizar sua vontade (seus alvos e
propósitos). Desde o Pentecostes, o Espírito Santo leva as pessoas a responderem à proclamação
do evangelho. Quando respondemos com arrependimento e fé, ele nos leva a participar da
Igreja, que é a comunidade daqueles que reconhecem o senhorio de Cristo.
A Igreja, portanto, é o resultado do Reino. Ela existe a partir da resposta obediente ao
anúncio do Reino divino, a Igreja é uma “assembleia escatológica”, um povo do futuro. Somos
o grupo daqueles que dão testemunho por palavras e obras do Reino divino, que um dia chegará
à sua plenitude.
A Igreja e o futuro.
Esta conexão entre a Igreja e o Reino tem amplas implicações para o nosso
entendimento eclesiástico. Significa que temos de ser um povo com visão do futuro.
Repetidamente já notamos que o alvo da obra de Deus na História continua no futuro.
Deus está estabelecendo uma comunidade eterna. Isso tem grandes implicações para nós.
Significa que esta realidade futura, e não o passado, nem mesmo o presente, define quem
somos.
Da mesma forma, nossa identidade corporativa reside no futuro. O que a Igreja é, é
determinado por aquilo que ela está destinada a se tornar. E a Igreja está destinada a ser nada
menos do que uma nova humanidade, a gloriosa assembleia do povo redimido de Deus, que
habita na criação renovada e goza da presença do Deus Triuno.
Nesse meio tempo, o Espírito nos chama e separa do mundo a fim de que possamos ser
um “povo escatológico”, uma assembleia “pioneira” no presente e de como seremos no futuro.
Nossa tarefa é viver de acordo com os princípios que caracterizam o futuro objetivo de Deus
para a Criação.
A Igreja é um povo em comunhão
A Igreja é um povo-em-relacionamento e o sinal do Reino de Deus. De fato, é como um
povo em relacionamento que nos tornamos um sinal do futuro. Isso nos leva a uma terceira
perspectiva, a qual está implicitamente presente nas outras duas: a Igreja é um povo em
comunhão, uma comunidade.
Como um povo-em-relacionamento, somos um povo em comunhão. Notamos que os
primeiros crentes viam a si próprios como um povo especial, um grupo unido porque tinham
sido separados do mundo pelo evangelho para pertencerem a Deus. Os escritores do Novo
Testamento referiam-se à Igreja como uma nação, um corpo e um templo. E embora este povo
transcenda as barreiras espaciais e temporais, ele se manifesta principalmente em uma
congregação visível de crentes que se unem para serem a expressão local da Igreja. Significa
que a Igreja é uma “comunidade de comunhão”.
A Igreja é mais do que um grupo de pessoas precariamente unidas. Nós compartilhamos
um comprometimento vertical fundamental – a lealdade a Cristo – que modela nossa vida. No
entanto, nossa lealdade comum a Jesus, por sua vez, forma um elo entre nós que é maior do que
todos os outros vínculos humanos. O próprio Jesus falou disso em seu chamado radical para o
discipulado (Mt 10.37).
Ele acrescenta um comprometimento horizontal ao vertical. Nossa lealdade comum com
Jesus nos une. Por causa de nossa lealdade a ele, somos comprometidos uns com os outros.
Desejamos “caminhar” juntos como um grupo de discípulos, para sermos pessoas que se
relacionam umas com as outras. Nós, que chamamos Jesus de Senhor, portanto, nos tornamos
um corpo – uma assembleia de pessoas, uma comunidade.
Como isso acontece? A resposta é: por intermédio do Espírito Santo. Embora Cristo tenha
instituído a Igreja, é o Espírito quem a constitui. O Espírito Santo é quem nos transforma de um
apanhado de indivíduos em uma comunidade. Na conversão, Ele nos tira de nosso isolamento e
alienação. Ao fazer isso, nos une como um único povo. Como um povo com visão do futuro,
somos um povo em comunhão.
Para efetuar a transformação de alienação em comunidade, o Pai enviou o Filho e
derramou o Espírito Santo. Nesta nova comunidade as antigas distinções de origem étnica,
status social e sexo não têm mais significado (Gl 3.28,29). A Igreja, portanto, é muito mais do
que um apanhado de indivíduos salvos que se reúnem para realizar a tarefa de ganhar os
perdidos. Em vez disto, somos um povo em comunhão, a comunidade da salvação.
O propósito de Deus é estabelecer uma criação reconciliada na qual os humanos refletem
o próprio caráter do Criador. O que é mais fantástico, o Deus Triuno deseja que sejamos
reunidos em uma comunidade de reconciliação. Esta comunidade não somente reflete a própria
essência eterna de Deus; na verdade participa da natureza divina, que é o amor. (2Pe 1.4).
Onde isso ocorre? De acordo com o Novo Testamento, a partir do Dia de Pentecostes, o
ponto focal da sociedade reconciliada na História é a Igreja de Jesus Cristo. Como um povo
separado para o uso especial de Deus, devemos mostrar como Ele é. Devemos refletir o próprio
caráter de Deus, enquanto nos tornamos um genuíno povo em comunhão, uma comunidade que
ama.
Como isso ocorre? A pista está no papel do Espírito Santo como o Complementador do
programa do Deus Triuno. Somos um povo em comunhão, enquanto compartilhamos a
comunhão do Espírito.
Para entender isso, temos de rever o grande mover do propósito eterno de Deus em
relação à sua natureza triuna. O Pai enviou o Filho a fim de realizar o desígnio divino eterno de
levar a humanidade e a criação a participar da vida divina. Por meio da conversão o Espírito
nos transforma em filhos de Deus. No entanto, esse status filial é exatamente o relacionamento
que o Filho goza com o Pai.
Na conversão, portanto, o Espírito – que é o Espírito do relacionamento entre Pai e Filho
– nos torna irmãos e irmãs de Cristo. Daí ele nos leva a compartilhar o amor que o Filho goza
com o Pai. Por meio do Espírito, participamos no amor que emana da própria essência do Deus
Triuno.
No entanto, a participação na dinâmica do amor trinitário não é nossa meramente como
indivíduos isolados. Pelo contrário, é um privilégio que compartilhamos com todos os outros
cristãos. A atividade do Espírito dentro de nós nos torna coparticipantes do relacionamento que
há entre o Pai e o Filho. Portanto, quando compartilhamos no Espírito Santo, participamos do
relacionamento com o Deus vivo e nos tornamos a comunidade de Cristo, nosso Senhor.
Consequentemente, a comunidade de amor que a Igreja é chamada para ser, não é uma
realidade ordinária. A comunhão que compartilhamos uns com os outros não é meramente de
uma experiência comum ou narrativa, por mais importantes que sejam. Nossa comunhão é nada
menos do que nossa participação comum na comunhão divina entre o Pai e o Filho,
intermediada pelo Espírito Santo.
É isso que somos. Essa é nossa identidade: somos a comunidade pioneira de Deus, o
povo que pela habitação do Espírito participa da comunhão do Deus Triuno. Nossa identidade,
por sua vez, forma o fundamento para o nosso ministério no mundo.