Anotações de Aula - Direito Civil IV MAarcado Marcado
Anotações de Aula - Direito Civil IV MAarcado Marcado
Anotações de Aula - Direito Civil IV MAarcado Marcado
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas Duas expressões importantes para a lida
possuírem coisa indivisa, poderá cada uma com o Direito Civil no contexto da
exercer sobre ela atos possessórios, contanto Advocacia:
que não excluam os dos outros - Ius possidendi: remete a “direito de
compossuidores. possuir”. Trata-se da
possibilidade/faculdade que uma pessoa
tem de exercer a posse sobre uma
Duas expressões importantes:
determinada coisa em razão de já ser titular
- Composse pro diviso: mais separado. de uma outra situação jurídica. Ou seja, há
Significa dizer que existe uma comunhão de um direito anterior.
posse (composse) de direito, mas, não existe
Ex.: Cristiano é proprietário de uma
mais uma composse de fato.
determinada área. Ele comprou referida
- Composse pro indiviso: tudo junto. área, registrou (proprietário), mas, ainda
Significa dizer que existe uma comunhão de não começou a exercer a posse. Contudo,
posse (composse) tanto de direito como de pela razão de já ser proprietário, tem o
fato. direito de ser possuidor.
Ex.: Quando Mateus assina um contrato de
Ex.: Cristiano comprou uma fazenda junto locação, ele passa a ser locatário da coisa e
com Emanuelly e com Alice. Mas, essa tem o direito de ser possuidor do bem sobre
fazenda não tinha registro, razão pela qual o qual o contrato de locação incide. Isso se
compraram apenas a posse da fazenda. dá em razão do ius possidendi, isto é, o
Como a fazenda era muito grande, dividiram direito de possuir em razão de uma relação
a área da fazenda e cada um passou a passar jurídica anterior
fisicamente um pedaço dessa fazenda.
Trata-se de uma situação de composse,
- Ius possessionis: direito de ser possuidor
porque os três exercem a posse sobre uma
sem vincular essa posse a nenhuma relação
mesma fazenda. E, mais especificamente,
jurídica anterior. O ius possessionis não é
trata-se de uma composse pro diviso,
“mais fraco” do que o ius possidendi. O ius
porque só há uma composse de direito. Em
possidendi apenas confere uma segurança
termos fáticos não há, porque cada um está
maior, porque há um documento que
ocupando um pedaço. Seria composse pro
autoriza a pessoa a ficar ali.
indiviso, se os três ocupassem a mesma área,
ocupassem a sede, etc.
momento em que o possuidor
precário se recusa a devolver a coisa.
CLASSIFICAÇÃO DE POSSE
(MUITO IMPORTANTE) Ex.: Cristiano dá, legitimamente, a
posse de um bem à Alice. Depois
disso, Cristiano viaja. Quando
1ª classificação: tem a ver com vício:
Cristiano volta, Alice não devolve o
violência, precariedade e clandestinidade
bem.
• posse justa
Ex.: Cristiano deixa o caseiro morar
• posse injusta
na casa da fazenda e quando o
Art. 1.200. É justa a posse que não for demite, o caseiro se recusa a sair da
violenta, clandestina ou precária. casa. Ele não tinha posse, mas, sim,
- Violenta: quando a posse começa a detenção.
ser exercida. Quando o sujeito
adentra. Posse violenta tem ligação
A posse que tem qualquer desses vícios não
com roubo da posse (alguns
é capaz de ser usucapida (não é ad
doutrinadores fazem essa ligação -
usucapionem).
NÃO É POSSE OBTIDA MEDIANTE
ROUBO. Apenas lembrar da
diferença entre roubo e furto). A Art. 1.203. Salvo prova em contrário,
posse violenta é obtida por meio de entende-se manter a posse o mesmo caráter
força física ou violência moral. com que foi adquirida.
Ex.: se Cristiano vai na casa da Se a pessoa adquiriu a posse sendo justa,
Camila, coloca um revólver na cabeça presume-se que continuará sendo justa.
dela e manda ela sair, toma-se a Trata-se de presunção relativa, porque a
posse de forma violenta (violência doutrina entende que, a depender do caso
moral). Se fala para Daniel: Daniel, ou concreto, a posse violenta ou clandestina
você me passa o seu cavalo ou eu te pode se converter em posse justa em razão
reprovo na disciplina Direito Civil IV, de algum fato posterior. De outro lado, a
também toma-se a posse de forma posse precária não pode ser convertida em
violenta (chantagem/violência posse justa, porque precariedade é abuso de
moral). confiança e o art. 1.208 não é explícito
quanto à precariedade. Portanto, parcela
majoritária da doutrina entende que, se
- Clandestina: associa-se ao “furto”
uma posse nasce precária, ela morrerá
de posse, porque é obtida “por
precária.
debaixo dos panos”, às escondidas,
sem que o legítimo possuidor tome Art. 1.208. Não induzem posse os atos de
ciência de que outro sujeito está mera permissão ou tolerância assim como
adentrando a sua posse. Se dá “de não autorizam a sua aquisição os atos
uma hora para outra”. violentos, ou clandestinos [não há menção à
precariedade], senão depois de cessar a
violência ou a clandestinidade.
- Precária: associa-se ao estelionato
(estelionato significa “obtenção de
vantagem ilícita”). Se dá por abuso de 2ª classificação:
confiança. Se inicia a partir do
• posse direta (posse imediata): se 4ª classificação:
configura pelo poder imediato/físico
• posse de boa-fé
sobre a coisa.
• posse de má-fé
• posse indireta: exercida por outra
pessoa. Não há um exercício de fato Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor
da posse, mas, um mero exercício de ignora o vício, ou o obstáculo que impede a
direito de posse. aquisição da coisa.
Essa divisão só faz sentido em razão de Ex.: Cristiano entrou na casa que era de sua
alguma relação jurídica anterior que dividiu irmã uma vez que esta viajou e o deixou
a posse. tomando conta e ele não devolveu a casa,
apesar de a irmã ter requerido a devolução.
Ex.: contrato de locação – o locador exerce a 20 anos depois, Cristiano vendeu a casa
posse indireta e o locatário exerce a posse para David. A posse de David é de boa-fé ou
direta. O possuidor indireto pode exercer o de má-fé? De boa fé. A posse de má-fé é a de
seu direito de posse contra terceiros. Cristiano, porque ele sabe do vício, mas,
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem David não. A posse de má-fé depende do
a coisa em seu poder, temporariamente, em CONHECIMENTO do vício e não da
virtude de direito pessoal, ou real, não anula EXISTÊNCIA do vício.
a indireta, de quem aquela foi havida, CUIDADO! No exemplo em tela, se a
podendo o possuidor direto defender a sua
irmã volta e exige a casa de David, a posse
posse contra o indireto. Significa que uma passa a se injusta.
posse não anula a outra:
Justo título: Quando o possuidor tem em
Se o sujeito tem, ao mesmo tempo, posse mãos o justo título, presume-se (presunção
direta e indireta, é POSSUIDOR PLENO (não relativa) que é um possuidor de boa-fé.
há que se falar em possuidor direto e Justo título corresponde a qualquer
indireto). documento que teoricamente seria capaz de
transmitir a propriedade, mas, não
transmitiu (ex.: escritura; inventário não
3ª classificação:
registrado).
• posse originária: quando assumo a
Em resumo, a posse que é de boa-fé pode se
posse sem ninguém me transferir.
transformar em uma posse de má-fé a partir
Não há transferência anterior de
do momento em que o sujeito toma
posse (sem relação jurídica anterior
consciência do vício.
— não origina de nada).
Ex.: Camila invadiu um lote, Obs.: Não é qualquer posse que pode gerar
construiu a casa e está lá. usucapião, mesmo que a pessoa esteja lá há
• posse derivada: quando assumo muitos anos.
posse com alguém me transferindo. Ex.: quando há apenas uma autorização de
Há transferência anterior de posse uso (detenção) e o sujeito não devolve a
(deriva de uma relação jurídica posse ao legítimo possuidor, há uma posse
anterior). precária.
Ex.: vendo o meu carro para Mateus.
Houve transferência de posse. Obs.: A posse injusta não gera direito a
indenização por benfeitorias.
As duas podem gerar usucapião.
5ª classificação:
• Ad Interdicta: não é uma posse que A relevância é que se a posse é nova, o
necessariamente preenche os ofendido pode requerer liminar nas ações
requisitos da usucapião, mas, é uma possessórias. Quando a posse é velha, não é
posse que pode ser protegida pelas possível pedir liminar, é necessário esperar
ações possessórias. o curso da ação para manter-se ou não da
• Ad Usucapionem: posse que posse.
possibilita a usucapião. Mas, é
necessário comprovar/apresentar
os requisitos para se requerer a É importante tomar providências para
usucapião. Se cumpriu todos os requerer a manutenção ou a reintegração
requisitos para ocupar a área, de posse antes de um ano e um dia, porque
ninguém tira a usucapião. depois não tem possibilidade de requerer a
liminar.
6ª classificação:
Indicação de leitura: textos que
• Posse nova: posse de até um ano. discutem a aplicação da função social
• Posse velha: posse de um ano e um da propriedade ao instituto da posse.
dia.
Essa classificação é muito importante para
saber se vai ter direito a uma liminar em
uma ação possessória (art. 558, CPC). Obs.: É possível utilizar a sua posse, junto
com a posse da pessoa que transmitiu, para
Art. 558. Regem o procedimento de
fins de usucapião.
manutenção e de reintegração de posse as
normas da Seção II deste Capítulo quando a Ex.: Hendel tinha 3 anos de posse sobre o
ação for proposta dentro de ano e dia da bem. Já podia usucapir? Não. Mas, Hendel
turbação ou do esbulho afirmado na petição vendeu o bem para Cristiano. Cristiano ficou
inicial. no bem por 7 anos. Já pode usucapir? Pela
Parágrafo único. Passado o prazo referido modalidade que pretende, não, porque
no caput, será comum o procedimento, não exige dez anos. Mas, Cristiano pode juntar o
perdendo, contudo, o caráter possessório. tempo de sua posse com o tempo da posse
de Hendel (mediante comprovação), para
O art. 565 do CPC fala de ações possessórias propor a ação de usucapião. Isso se dá em
razão da acessão (juntada de posse)
coletivas, quando uma área é ocupada por
um número considerável de pessoas e Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de
propõe-se uma ação contra esse coletivo. contar o tempo exigido pelos artigos
antecedentes, acrescentar à sua posse a dos
Art. 565. No litígio coletivo pela posse de
seus antecessores (art. 1.207), contanto que
imóvel, quando o esbulho ou a turbação
todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos
afirmado na petição inicial houver ocorrido
do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.
há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar
o pedido de concessão da medida liminar,
deverá designar audiência de mediação, a
realizar-se em até 30 (trinta) dias, que
observará o disposto nos §§ 2º e 4º.
Possibilidades de juntar posse: transferir a posse da coisa. Efetivamente, o
bem a ser transferido não foi entregue em
➢ Sucessio possessiones: se dá pelo art.
1.206 – quando a posse se dá em mãos, mas foram praticadas ações que
demonstram a intenção de transmitir.
razão do falecimento de alguém.
➢ Accessio possessiones: acessão de Ex.: entrega da chave do carro, autorizando
posses que se dá inter vivos, porque a ter a posse do carro.
alguém transmitiu a posse a outrem.
Ex.: entrega da chave de um apartamento
Assim, ao propor uma ação de usucapião, é para venda ou aluguel.
necessário atentar para a possibilidade de Na tradição simbólica se dá o que
juntar a posse com o do possuidor chamamos de traditio longa manu: a coisa é
antecessor. Mas, a posse do antecessor colocada à disposição do sujeito para que
precisa ser ad usucapionem. dela ele tome posse.
Os demais frutos são praticamente Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito,
corolários desses 3 primeiros. enquanto ela [posse] durar, aos frutos
percebidos.
4) Frutos pendentes: ainda ligados ao Parágrafo único. Os frutos pendentes ao
bem principal, porque não foram tempo em que cessar a boa-fé devem ser
colhidos. restituídos, depois de deduzidas as despesas
Ex.: um fruto natural pode ser um da produção e custeio; devem ser também
fruto pendente, como é o caso de restituídos os frutos colhidos com
uma manga ainda não colhida. antecipação. [mas, o sujeito de boa-fé tem
direito de ser indenizado por aquilo que
5) Frutos percebidos: já colhidos do gastou/investiu para a produção do fruto]
principal.
Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais
6) Frutos estantes: já colhidos e reputam-se colhidos e percebidos, logo que
armazenados. são separados; [aqueles já desligados da
coisa principal] os civis reputam-se
percebidos dia por dia. [rendimento é diário,
7) Frutos percipiendos: deveriam ser então, fruto civil considera-se percebido a
colhidos, mas não foram. Aqueles cada dia]
que, pela época, deu-se a
necessidade de colheita, mas, por
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde Ex.: construir, sem que seja
por todos os frutos colhidos e percebidos, bem absolutamente necessário, uma
como pelos que, por culpa sua, deixou de cozinha na parte externa da casa
perceber, desde o momento em que se
constituiu de má-fé; tem direito às despesas ➢ Voluptuárias: dispensáveis. De mero
luxo ou deleite.
da produção e custeio. O investimento que
Ex.: instalação de ar-condicionado
foi colocado pelo outro para a produção não
pode ser recebido pelo legítimo possuidor,
sob pena de enriquecimento sem causa.
Essa classificação DEPENDE DA ANÁLISE
No tocante aos produtos, a análise do CASUÍSTICA, sendo que as voluptuárias
ressarcimento é casuística. podem variar muito a depender da situação
concreta.
Ex.: fiz uma benfeitoria voluptuária Súmula 335 do STJ: Nos contratos de
(coloquei uma banheira de locação, é válida a cláusula de renúncia à
hidromassagem), sou um possuidor de boa- indenização das benfeitorias e ao direito de
fé, mas, vou ter que sair do bem. Não posso retenção.
exigir que o sujeito me pague pela
benfeitoria voluptuária, mas, posso levá-la
comigo, desde que não prejudique a coisa e
a deixe pior do que estava antes (neste Código de Defesa do Consumidor, art.
exemplo, desde que não deixe o banheiro 51, XVI:
todo quebrado).
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre
A retenção das benfeitorias para o outras, as cláusulas contratuais relativas ao
possuidor de boa-fé, portanto, vai se dar fornecimento de produtos e serviços que:
apenas no tocante às benfeitorias XVI - possibilitem a renúncia do direito de
necessárias e úteis, de modo que ele tem o indenização por benfeitorias necessárias.
direito de permanecer com o bem até que
lhe dê o ressarcimento dessas benfeitorias.
Enunciado 433 do CJF: A cláusula de
renúncia antecipada ao direito de
indenização e retenção por benfeitorias
ESSAS REGRAS NÃO SE APLICAM PARA A necessárias é nula em contrato de locação de
LOCAÇÃO!!! OS CONTRATOS DE LOCAÇÃO imóvel urbano feito nos moldes do contrato
POSSUEM REGRAS ESPECÍFICAS. de adesão.
VIDE LEI DE LOCAÇÃO (Lei nº 8.245/1981) Ex.: contrato padronizado feito por
– ARTS. 35 E 36 imobiliária, no qual a outra parte não pode
mexer em nenhuma cláusula.
Art. 35. Salvo expressa disposição contratual
em contrário, as benfeitorias necessárias
introduzidas pelo locatário, ainda que não
autorizadas pelo locador, bem como as úteis, Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão
desde que autorizadas, serão indenizáveis e ressarcidas somente as benfeitorias
permitem o exercício do direito de retenção. necessárias; não lhe assiste o direito de
retenção pela importância destas, nem o de
levantar as voluptuárias. NÃO PODE RETER Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde
A COISA (PERMANECER COM ELA) ATÉ SER pela perda, ou deterioração da coisa, ainda
INDENIZADO! Precisa deixar/devolver o que acidentais, salvo se provar que de igual
bem para depois requerer a indenização. modo se teriam dado, estando ela na posse do
reivindicante.
Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se
com os danos, e só obrigam ao ressarcimento Responsabilidade objetiva, independe da
se ao tempo da evicção [perda parcial ou culpa. Se aplica mesmo em caso fortuito
total de um bem por decisão judicial ou ato (imprevisível) ou força maior (previsível e
administrativo por causa preexistente] inevitável). O possuidor de má-fé só vai
ainda existirem. responder se no caso concreto, comprovar
que aquele evento danoso aconteceria
Ex.: existia um processo de penhora contra mesmo de o possuidor legítimo estivesse na
Tião e Tião vende o carro para Cristiano. posse.
Mas, o processo no qual Tião era réu gerou Ex.: estou na posse de má-fé de um cavalo e
uma ordem de prisão. Cristiano passou em o meu sítio e o sítio do reivindicante são
uma blitz e o carro foi preso, perdendo, próximos da mina de Brumadinho. A
portanto, o bem, em razão de uma decisão barragem de Brumadinho rompeu. Vou ter
judicial. que pagar pelo cavalo? Não. Porque o
evento danoso aconteceria de qualquer
Art. 1.222. O reivindicante [quem está maneira. Diferente seria, por exemplo, se o
entrando no bem de volta], obrigado a cavalo tivesse sido picado por uma cobra.
indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-
fé, tem o direito de optar entre o seu valor
atual [o valor que o bem adquiriu, que
atualmente o bem vale] e o seu custo [quanto Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se
foi gasto]; ao possuidor de boa-fé indenizará com os danos, e só obrigam ao ressarcimento
pelo valor atual. se ao tempo da evicção ainda existirem.
São ações possessórias diretas realizadas Se o sujeito foi esbulhado da posse, a ação a
com o objetivo de manter-se na posse ou ser proposta é a de reintegração de posse,
que esta lhe seja restituída. para que a posse lhe seja devolvida.
Mas, se sofre apenas ameaça, deverá propor Obs.: apesar de não caber liminar nas ações
interdito proibitório, para que o sujeito que de força velha, nada impede o pedido de
tutela antecipada, conforme Enunciado 238
do CJF/STJ.
U - jus utendi
A função social só é cumprida se atende a 5
D - jus abutendi requisitos (dimensões) – “função social
pentadimensional”. Os requisitos são
Alguns autores acrescentam a esse conceito
cumulativos.
a necessidade de o titular do direito de
propriedade fazer cumprir a função social 1) Social: dar uma destinação ao bem
desse bem. mais adequada e com respeito
àquela sociedade. Utilizar-se do bem
Isso porque, a propriedade aparece na CF
sem violar direito alheio.
em vários dispositivos (art. 5º, XXII e XXIII),
no Capítulo da Ordem Econômica e
2) Econômica: utilizar-se do bem na
Financeira, no dispositivo que versa sobre a
melhor proporção que aquele bem
propriedade urbana (art. 182) e no
possa oferecer (nem a mais e nem a
dispositivo que versa sobre a propriedade
menos; nem aquém e nem além).
rural (art. 186).
Alguns doutrinadores entendem que a CF é 3) Ambiental: vem a partir do respeito
liberal e que a função social é limitadora do ao meio ambiente e da necessidade
direito de propriedade, de modo que toda de se garantir recursos para as
interferência para fazer cumprir função gerações futuras e para as atuais.
social ensejaria indenização. Mas, há quem Pacto intergeracional.
afirme que a CF elege a propriedade privada
e protege a propriedade SE o seu titular 4) Cultural: utilizar-se do bem com
cumpre a função social. respeito à realidade cultural na qual
Função social da propriedade é um quinto o bem está inserido.
elemento do direito de propriedade. Com Ex.: se eu adquiro um lote em Milho
isso, é possível ajustar a propriedade Verde, não posso construir um
privada a uma outra interpretação, no prédio de 3 andares de vidro, todo
sentido de que a propriedade privada deve espelhado, em que pese não haja
ser um instrumento de garantia de direito previsão legal em contrário, uma vez
fundamental e não como a garantia em si que não há plano diretor. Isso
mesma. Se não for assim, a Constituição porque, um prédio de vidro todo
acaba por privilegiar e legitimar o acúmulo espelhado, afetaria a cultura daquele
de capital (instrumento de apoderamento lugar.
material).
5) Territorial: utilizar-se deste bem
sabendo que ele deve estar
Indicação de leitura: adequado às regras de uso e
“Constitucionalização simbólica” - ocupação do solo.
Marcelo Neves. Determinadas leis Obs.: O capitalismo consiste na apropriação
nascem com alguns objetivos dos meios de determinadas pessoas que
específicos, dentre eles, o objetivo de exploram a mão de obra alheia para
não funcionar, mas, simplesmente, acumulação de capital. O socialismo, por sua
vez, consiste em socializar os meios de Reivindicação é a possibilidade de
produção para equanimizar a produção. Ou requerer/reivindicar/tomar para si o bem
seja, tira os meios de produção de um de volta. A reivindicação no direito de
particular e os coloca nas mãos do Estado. propriedade não se dá por uma ação
Contudo, os trabalhadores continuam possessória. Assim como a alegação de
desmascarados. Há apenas uma mudança propriedade não é fundamento para a ação
de perspectiva da titularidade. possessória. A ação em que se discute a
reivindicação da propriedade é qualquer
ação que se encaixe no gênero de ações
Problema Central da Função Social petitórias (aquelas fundadas no direito de
Falta de concretização pelo seu propriedade). Ao contrário das ações
descumprimento. possessórias, nas ações petitórias a
comprovação é feita em cima do direito de
Art. 182. CF. A política de desenvolvimento
propriedade do bem. Das ações petitórias, a
urbano, executada pelo Poder Público
mais comum é a ação reivindicatória.
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas
em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da ❖ Ação reivindicatória: utilizada pelo
cidade e garantir o bem-estar de seus proprietário para reivindicar a coisa.
habitantes. O fundamento da ação
O sujeito que não cumpre função social no reivindicatória é o direito de sequela.
imóvel urbano é notificado pelo município É necessário comprovar a
(para que faça o parcelamento do lote ou, já titularidade sobre o bem; indicar o
tendo sido feito, para construir). Se não bem sobre o qual exerce a
tomar as providências, vai aumentando o propriedade (individualização da
IPTU para fins extrafiscais. A própria lei fala coisa) – se for um bem imóvel, a
que isso só pode ser aplicado nas cidades descrição será por
que têm obrigatoriedade de plano diretor. georreferenciamento; e é necessário
demonstrar que uma outra pessoa
está injustamente com esse bem.
Art. 186. A função social é cumprida quando
a propriedade rural atende,
A PROPOSITURA DA AÇÃO
simultaneamente, segundo critérios e graus
REIVINDICATÓRIA É IMPRESCRITÍVEL.
de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado; Usucapião é causa de perda da propriedade,
II - utilização adequada dos recursos isto é, causa de aquisição da propriedade
naturais disponíveis e preservação do meio por parte de quem vai usucapir e perda da
ambiente; propriedade por parte do réu. Quem pode
III - observância das disposições que regulam propor ação reivindicatória é o
as relações de trabalho; proprietário. Se o objeto for um bem imóvel,
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos é necessário outorga uxória.
proprietários e dos trabalhadores.
O polo passivo da ação reivindicatória é
aquele que injustamente possui ou detém o
bem (não tem uma justificativa jurídica para
Reivindicação estar com o bem). Assim, se eu propuser
uma ação reivindicatória contra o detentor, pendência, e o proprietário,
o detentor deve indicar o real possuidor. em cujo favor se opera a
resolução, pode reivindicar a
coisa do poder de quem a
Características do direito de possua ou detenha.
propriedade
Obs.: módulo rural é a fração Art. 1.240. Aquele que possuir, como
mínima de parcelamento em sua, área urbana de até duzentos e
determinada região. cinqüenta metros quadrados, por
cinco anos ininterruptamente e sem
2) Eu ocupo 55 ha de terra oposição, utilizando-a para sua
há 6 anos. Posso usucapir moradia ou de sua família, adquirir-
pela usucapião especial lhe-á o domínio, desde que não seja
rural? Não. proprietário de outro imóvel urbano
ou rural.
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de outro imóvel urbano
proprietário de imóvel rural ou ou rural.
urbano, possua como sua, por cinco
anos ininterruptos, sem oposição, Ex.: eu comprei um imóvel já casado
área de terra em zona rural não sob o regime parcial de bens e moro
superior a cinqüenta hectares, lá. Meu marido vai embora, não dá
tornando-a produtiva por seu notícias e nem contribui com as
trabalho ou de sua família, tendo nela despesas da casa.
sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade. - Tempo: 2 anos
Art. 183. CF. Aquele que possuir como - Comprovação de que abandonou o
sua área urbana de até duzentos e lar e deixou todo o ônus de
cinqüenta metros quadrados, por manutenção do lar comigo
cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua - Sou cônjuge e, por isso, posso
moradia ou de sua família, adquirir- requerer usucapião da metade do
lhe-á o domínio, desde que não seja imóvel (a metade que era do meu
proprietário de outro imóvel urbano marido, porque, obviamente, a outra
ou rural. metade já era minha). O fundamento
é onerosidade excessiva que ele me
Art. 9º - Estatuto da cidade Aquele submeteu por ter abandonado o lar.
que possuir como sua área ou
edificação urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por • Usucapião coletiva: Art. 10 da Lei
cinco anos, ininterruptamente e sem 10.257/2001
oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir- O referido dispositivo foi alterado
lhe-á o domínio, desde que não seja pela Lei 13.465/2017. Esta é uma lei
proprietário de outro imóvel urbano muito importante para quem se
ou rural. interessa por regularização
fundiária.
• Usucapião ordinária:
Não vamos estudar em sede de aula, em
razão da pouca aplicação prática.
- justo título
- boa-fé Estudar pela doutrina!!!
- tempo de posse: 3 anos
Passagem forçada e passagem de cabos Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver
e tubulações acesso a via pública, nascente ou porto, pode,
mediante pagamento de indenização cabal,
❖ Imóvel encravado: imóvel/lote que constranger o vizinho a lhe dar passagem,
está isolado/todo cercado. Ou seja, cujo rumo será judicialmente fixado, se
não tem saída para uma via pública, necessário.
ou para uma nascente ou para um
porto. Para sair para a rua, por § 1 o Sofrerá o constrangimento o vizinho
exemplo, precisa passar dentro de cujo imóvel mais natural e facilmente se
prestar à passagem.
outro lote.
§ 2 o Se ocorrer alienação parcial do prédio,
Se o meu imóvel é encravado, isto é, de modo que uma das partes perca o acesso a
“sem saída” eu tenho o direito de via pública, nascente ou porto, o proprietário
exigir do meu vizinho que me ceda da outra deve tolerar a passagem.
passagem para acessar a via pública,
mediante indenização. § 3 o Aplica-se o disposto no parágrafo
Tecnicamente, hoje não é possível antecedente ainda quando, antes da
ter imóvel encravado, porque o alienação, existia passagem através de
imóvel vizinho, não estando o proprietário
loteamento precisa ser aprovado
deste constrangido, depois, a dar uma outra.
pela Prefeitura e não aprova-se
imóveis que não tenham acesso para
via pública.
Ações:
❖ Imóvel serviente: que serve - Ação de passagem forçada
- Ação de servidão: servidão confessória
Como eu escolho qual será o imóvel
serviente na hipótese de mais de um
A passagem de cabos e tubulações tem uma
ter saída para a rua? O imóvel sustentação de utilidade pública. Cabe
serviente é aquele que terá a indenização ao proprietário do imóvel
passagem mais fácil. Não é aquela serviente, porque perdeu o livre uso em
que melhor atende ao encravado. É parte desse imóvel. Isso, pois, o local onde
aquele que enseja menos danos. passa cabos e tubulações de forma
subterrânea tem algumas limitações:
Obs.: se eu faço uma subdivisão do meu lote, plantações de culturas permanentes,
deixo o da frente pra mim e o de trás eu construções, etc.
Obs.: No caso de condutor de alta tensão, deste reclamar que se desviem, ou se lhe
normalmente as concessionárias fazem indenize o prejuízo que sofrer.
servidão administrativa, que é a servidão Parágrafo único. Da indenização será
para prestação de serviço público. deduzido o valor do benefício obtido.
Art. 1.289. Quando as águas, artificialmente Art. 1.298. Sendo confusos, os limites, em
levadas ao prédio superior, ou aí colhidas, falta de outro meio, se determinarão de
correrem dele para o inferior, poderá o dono conformidade com a posse justa; e, não se
achando ela provada, o terreno contestado se
dividirá por partes iguais entre os prédios, construídas a mais de dois metros de altura
ou, não sendo possível a divisão cômoda, se de cada piso
adjudicará a um deles, mediante indenização
ao outro. Art. 1.303. Na zona rural, não será permitido
levantar edificações a menos de três metros
Se por algum motivo não for possível fazer do terreno vizinho.
medição dos lotes, os limites são
determinados a partir da posse justa. Se não Isso porque, imóveis rurais pressupõe
for o caso de posse justa, pega-se a área glebas maiores, de modo que a intimidade
total, procede-se à sua divisão e cada um fica deve ser mais observada.
com uma parte. Se não for possível dividir
por dois (se resultar menos da metragem Súmula 120. STF. Parede de tijolos de vidro
exigida pelo município, por exemplo, um translúcido pode ser levantada a menos de
deverá comprar a parte do outro: metro e meio do prédio vizinho, não
adjudicação). importando servidão sobre ele.
Extinção
A construção feita em mais de um lote, via Art. 1.338. Resolvendo o condômino alugar
de regra, no processo de incorporação área no abrigo para veículos, preferir-se-á,
imobiliária, deve-se fazer a unificação em condições iguais, qualquer dos
(fusão) das matrículas. condôminos a estranhos, e, entre todos, os
possuidores [ou seja, aquele que já usa].
Obs.: A Lei 4591/64 também traz regras de
incorporações imobiliárias (processos Condomínio edilício tem personalidade
adotados para transformar lotes em jurídica, mas, esta é restrita aos fins
condomínios). postulatórios (autor ou réu em uma ação
judicial). VIDE art. 75, XI, CPC.
Obs.: vaga de garagem é área comum ou
propriedade distinta? É propriedade Segundo o art. 1.332, o condomínio pode ser
distinta e exclusiva. Art. 1.331, §1º. instituído de várias formas (incorporação
imobiliária, (art. 28 da Lei 4591/64, não
É diferente de vaga de estacionamento!!! com a construção das edificações); quando
Vaga de estacionamento, acabou, acabou. o sujeito que é dono de um prédio todo,
falece e deixa uma fração para cada I - a quota proporcional e o modo de
sucessor, surge o condomínio edilício). pagamento das contribuições dos
condôminos para atender às despesas
Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício ordinárias e extraordinárias do condomínio;
por ato entre vivos ou testamento, registrado
no Cartório de Registro de Imóveis, devendo II - sua forma de administração;
constar daquele ato, além do disposto em lei
especial: III - a competência das assembléias, forma de
sua convocação e quorum exigido para as
I - a discriminação e individualização das deliberações;
unidades de propriedade exclusiva,
estremadas uma das outras e das partes IV - as sanções a que estão sujeitos os
comuns; condôminos, ou possuidores;
o Serviente: aquele que serve. Aquele Obs.: A servidão ora estudada não tem nada
no qual será instituída a servidão. O a ver com a servidão administrativa.
prédio serviente terá afetado o seu
uso, gozo e disponibilidade, mas, Obs.: Servidão é diferente de serventia.
apenas de uma parte dele. O prédio Serventia é quando prédio dominante e
serviente serve uma parte para o prédio serviente são do mesmo
prédio dominante. proprietário.
Classificação das servidões Formas de extinção da servidão
-> Aparente: visível. Existe Para o usufruto existir como direito real,
concretamente e é passível de tem que estar na matrícula do imóvel.
constatação no plano concreto.
Ex.: servidão de passagem. O usufruto é personalíssimo. Quem é
usufrutuário é só o sujeito que está na
matrícula enquanto usufrutuário. Mas, este,
-> Não aparente: não é possível de ser pode ceder o exercício do usufruto para
visualizada. Não tem exteriorização. outra pessoa.
Ex.: não construir em um local que Art. 1.393. Não se pode transferir o usufruto
“tampe” a paisagem; servidão para não por alienação; mas o seu exercício pode
abrir janela. ceder-se por título gratuito ou oneroso.
IV - pela cessação do motivo de que se Art. 1.413. São aplicáveis ao uso, no que não
origina; for contrário à sua natureza, as disposições
relativas ao usufruto.
V - pela destruição da coisa, guardadas as
disposições dos arts. 1.407, 1.408, 2ª parte, e Obs.: Existe muito direito de uso em jazigos
1.409; públicos.
VI - pela consolidação;
Existe a possibilidade de um
mesmo bem ser hipotecado para
mais de uma pessoa, isto é,
hipotecas sucessivas. Neste caso,
cada hipoteca receberá um
número, pela ordem de
preferencia no registro do bem.