2021 CDS 151

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Ano 5 | Nº 151 | Janeiro | 2021

TRIGO: PRODUÇÃO E MERCADOS

JACKSON DANTAS COÊLHO


Economista. Mestre em Economia Rural
[email protected]

Resumo: O Brasil é o décimo sexto produtor mundial de grão subiu 14% em valor e 19% em volume no período, e o
trigo, com importações muito superiores às exportações, saldo do comércio nordestino de farinha foi superavitário
tanto para o trigo em grão como para a farinha de trigo. em US$ 7,44 milhões e 16,3 mil toneladas.
A produção brasileira é de 6,2 milhões de toneladas, re-
Palavras-chave: mercado; preços; pandemia; trigo; farinha.
presentando 54% do consumo nacional. A região Sul é a
maior produtora (89% do total nacional), tendo o Paraná
e o Rio Grande do Sul como líderes (86% do total). A pan-
1 MERCADO GLOBAL
demia não afetou a produção brasileira, mas o aumento O trigo é o segundo cereal mais cultivado no mundo de-
do consumo, devido ao isolamento social e a necessidade pois do milho. Em 2019, segundo dados da FAO (FAOSTAT,
de se fazer as refeições em casa, restringiu a oferta e le- 2020), foram produzidas cerca de 1,15 bilhão de toneladas
vou a alta nos preços do grão de março a julho, embora de milho e 766 milhões de toneladas de trigo, com valor
com a farinha o período de alta tenha durado até maio. de mercado da ordem de US$ 114 milhões. A previsão da
A expectativa é de manutenção do consumo para 2021, produção mundial, para a safra atual (2020/2021), é de
embora ainda haja um cenário de incerteza em relação à 773,6 milhões de toneladas, segundo o Departamento de
pandemia e suas consequências, como novas elevações Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2020), aumento
no câmbio. O comércio exterior do País foi deficitário, em de 1,2% em relação à safra 2019/2020 (764,5 milhões),
vista a baixa produção nacional, no período de janeiro a sendo os maiores produtores: China (136 milhões), União
novembro de 2020, em relação a 2019: déficits de US$ Europeia (135,8 milhões, somando seus 28 países), Índia
1,21 bilhão e 5,57 milhões de toneladas, para o trigo em (107,6 milhões), Rússia (84 milhões), Estados Unidos (46,7
grão, e de US$ 64 milhões e 206,8 mil toneladas, para a milhões) e Canadá (35 milhões). O Brasil é o 16º produtor
farinha de trigo. No Nordeste, a importação do trigo em mundial (ANEXO A).

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE - ETENE


Expediente: Banco do Nordeste: Romildo Carneiro Rolim (Presidente). Luiz Alberto Esteves (Economista-Chefe). Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste -
ETENE: Tibério R. R. Bernardo (Gerente de Ambiente). Célula de Estudos e Pesquisas Setoriais: Luciano F. Ximenes (Gerente Executivo), Maria Simone de Castro Pereira
Brainer, Maria de Fátima Vidal, Jackson Dantas Coêlho, Fernando L. E. Viana, Francisco Diniz Bezerra, Luciana Mota Tomé, Biágio de Oliveira Mendes Júnior. Célula de Gestão
de Informações Econômicas: Bruno Gabai (Gerente Executivo), José Wandemberg Rodrigues Almeida, Gustavo Bezerra Carvalho (Projeto Gráfico), Hermano José Pinho
(Revisão Vernacular), Francisco Kaique Feitosa Araujo e Marcus Vinicius Adriano Araujo (Bolsistas de Nível Superior).
O Caderno Setorial ETENE é uma publicação mensal que reúne análises de setores que perfazem a economia nordestina. O Caderno ainda traz temas transversais na sessão
“Economia Regional”. Sob uma redação eclética, esta publicação se adequa à rede bancária, pesquisadores de áreas afins, estudantes, e demais segmentos do setor produtivo.
Contato: Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE. Av. Dr. Silas Munguba 5.700, Bl A2 Térreo, Passaré, 60.743-902, Fortaleza-CE. http://www.bnb.
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Destaques:
Até a safra passada, era o segundo maior produtor, maior mercado consumidor e terceiro maior importador mundial de
China trigo. A previsão é que se torne o maior produtor na atual safra, tendo também aumentado as importações ao longo de
2020. Detém mais da metade dos estoques globais, o que representa mais de um ano de consumo de trigo.

Tem a segunda maior produção e consumo mundiais, além de ser o quarto exportador, utilizando trigo também na fabrica-
União Europeia ção de ração. Até a safra 2019/20, era o maior produtor mundial de trigo, com previsão de ser superado pela China nesta
temporada.

Terceiro maior produtor e consumidor mundial de trigo, cuja produção vem se elevando nos últimos quatro anos, para
Índia
atender ao consumo interno, e deve subir mais 3,8% em 2020/21.

Nos últimos anos tem sido o maior exportador mundial de trigo, devendo manter a liderança em 2020/21, aumentando
Rússia
também a produção, a quarta maior, em 14%, para 84 mil toneladas.

É o segundo maior exportador mundial e um importante fornecedor, junto com o Canadá, para Brasil e China. A demanda
Estados Unidos
asiática deve fazer os estoques norte-americanos caírem em 4 milhões de toneladas neste ano.
Fonte: Adaptado pelos autores de Grain: World Markets and Trade (USDA, 2020a,b).

2 BRASIL O maior produtor é o Paraná, com previsão de 3,05 mi-


lhões de toneladas, seguido do Rio Grande do Sul, com
A produção brasileira de trigo para a atual safra (2020), 2,3 milhões de toneladas, representando, juntos, 86% da
é de 6,2 milhões de toneladas, cerca de 54% do consumo produção nacional (CONAB, 2020a).
nacional, cuja média gira em torno de 11,4 milhões/ano.

Tabela 1 – Área, produtividade e produção total de trigo, por regiões


Área (mil ha) Produtividade (kg/ha) Produção (mil t)
Unidade geográfica
2018 2019 2020 (1) 2018 2019 2020 (1) 2018 2019 2020 (1)
Centro-Oeste 43,3 62,0 57,7 3.261 3.365 3.224 141,2 208,6 186,0
Norte - - - - - - - - -
Sul 1.837,8 1.810,1 2.106,5 2.641 2.480 2.601 4.854,5 4.489,3 5.479,3
Sudeste 156,3 165,4 171,6 2.571 2.675 2.917 401,9 442,4 500,6
Nordeste 5,0 3,0 3,0 6.000 4.800 5.700 30,0 14,4 17,1
Brasil 2.042,4 2.040,5 2.338,8 2.657 2.526 2.644 5.427,6 5.154,7 6.183,0
Fonte: CONAB (2020a).
Nota: (1) Previsão, em dezembro/2020.

O Brasil não é grande produtor de trigo em razão de toneladas )1, dentre outros; c) os fatores relacionados a
acordos firmados com Argentina e EUA, para trocar o ce- essa produção, como condições climáticas e políticas de
real por outros produtos, como eletrodomésticos de linha comércio exterior e d) nível de abastecimento dos moi-
branca e carne, respectivamente. Algumas fontes afirmam nhos brasileiros.
que mesmo que a produção interna fosse suficiente, a im-
O dólar esteve numa trajetória quase constante de alta
portação seria necessária, pelo baixo teor de glúten do
desde 2019, que se acentuou ainda mais pela incerteza
trigo brasileiro, pois apenas 30% serve para a panificação
econômica gerada após o início da pandemia, em feverei-
(CANAL RURAL, 2015), enquanto outras dizem que o trigo
ro de 2020. Tanto que os preços do trigo subiram antes
produzido no Brasil é comparável ao canadense, com alto
da ocorrência do vírus, em outubro de 2019, terem um
teor de proteína (high protein), considerado o melhor do
breve período de baixa entre junho e setembro de 2020
mundo (SNA, 2017). As importações de trigo e de farinha
e voltarem a se elevar, em razão da entressafra. Além
da Argentina, de fato, sofreram redução após a eleição do
disso, houve políticas protecionistas por parte de alguns
peronista Alberto Fernandez, efeito da taxação imposta
países produtores, no sentido de restringir suas exporta-
(as retenciones), pois caíram 87% e 29%, respectivamente,
ções, a fim de garantir a própria segurança alimentar, algo
em valor, de janeiro a novembro de 2020 (MAPA, 2020).
que não ocorreu no Brasil. O dólar alto encareceu o trigo
Os fatores que normalmente afetam o preço do trigo importado. Além da pandemia, a Argentina também se
no Brasil são: a) o dólar, já que se trata de um produto com recuperava da grave estiagem ocorrida em 2018, ocasião
maior importação que produção; b) a produção de outros que obrigou o Brasil a procurar outros fornecedores, como
países tradicionalmente vendedores de trigo para o Brasil, EUA e Canadá. Muitos demandantes de trigo esperam a
como Argentina 86% (US$ 71 milhões; 216,3 mil tonela- finalização da colheita no Sul, pelas novas desvalorizações
das) seguida pelo Uruguai 5% (US$ 4,12 milhões; 12,3 mil

1 Fonte: segundo dados acumulados de janeiro a novembro de 2020 do AgroStat


(MAPA, 2021).

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do cereal que devem se seguir, embora as cotações ainda Gráfico 2 – Preços da farinha de trigo no Brasil, em praças
se encontrem elevadas (CEPEA, 2020). selecionadas, 2019-2020
Gráfico 1 – Preços do trigo ao produtor no Brasil, em pra-
ças selecionadas, 2019-20202

Fonte: Conab (2020b).

Em relação ao comércio exterior, comparando-se os


períodos de janeiro a novembro de 2019 e de 2020, houve
redução nas exportações brasileiras do trigo em grão (em
Fonte: Conab (2020b).
torno de 40%), tanto em valor quanto em volume (Tabe-
A alta dos preços do grão refletiu-se no processamento, la 2), acompanhada de queda também nas importações
durante o período inicial da pandemia no Brasil, de março (36%, em valor). Essas variações deveram-se ao fato de
a junho, encarecendo os preços da farinha, embora numa que os países fornecedores do Brasil se preocuparam, no
magnitude menor (Gráfico 2), bem como a desvalorização primeiro momento da pandemia, em preservar seus esto-
do real na aquisição de farinha e outros insumos importados. ques por questões de segurança alimentar, bem como à
A expectativa é de manutenção do consumo para 2021, em- desvalorização do Real frente ao Dólar, o que elevou os
bora ainda haja um cenário de incerteza em relação à pande- preços internos, fazendo com que o Governo interviesse,
mia e suas consequências, como novas elevações no câmbio. retirando tarifa de importações, para tentar reduzi-los.

Tabela 2 – Comércio exterior de trigo em grão, janeiro a novembro de 2019 e de 2020


2019 2020
Região/UF
US$ KG US$ KG
Exportação
Sul 107.629.805,0 517.546.069 61.100.103,0 305.543.314
Sudeste 573,0 111 246,0 149
Brasil 107.630.378,0 517.546.180 61.100.349,0 305.543.463
Importação
Centro-Oeste 15.477.575,0 4.103.440 5.210.887,0 25.991.010
Sul 247.666.155,0 1.088.104.781 140.325.928,0 659.334.202
Sudeste 406.163.235,0 1.675.508.314 353.202.657,0 1.584.297.134
Norte 76.206.971,0 333.579.956 73.328.047,0 340.416.367
Nordeste 618.885.528,0 2.751.594.531 703.757.900,0 3.265.641.591
Alagoas 17.304.757,0 74.966.539 - -
Bahia 140.968.912,0 629.677.110 175.266.163,0 811.111.008
Ceará 195.415.484,0 876.080.521 239.815.798,0 1.123.724.687
Maranhão 15.678.346,0 67.503.440 15.118.755,0 68.317.750
Paraíba 49.426.659,0 224.862.540 49.822.641,0 235.639.759
Pernambuco 118.093.366,0 512.864.046 130.698.837,0 603.003.652
Piauí 9.568.440,0 37.448.785 11.050.426,0 45.713.260
R. G. do Norte 51.592.732,0 239.496.675 56.365.049,0 267.680.845
Sergipe 20.836.832,0 88.694.875 25.620.231,0 110.450.630
Brasil 1.983.284.992,0 8.676.174.344 1.275.825.419,0 5.875.680.304
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Agrostat (MAPA, 2020).

2 Não há referência a preços de trigo (grão) no Nordeste, cuja produção se restringe


à Bahia.

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Em relação à farinha o movimento é oposto, com au- rados no moderno parque de processamento existente,
mento significativo das exportações tanto para o Brasil bem como no aquecimento da demanda externa e na va-
como para o Nordeste, e queda nas importações, ampa- lorização do Dólar (Tabela 3).

Tabela 3 – Comércio exterior de farinha de trigo, janeiro a novembro de 2019 e de 2020


2019 2020
Região/UF
US$ KG US$ KG
Exportação
Centro-Oeste 3.135,0 1.868 4.323,0 3.600
Sul 165.227,0 140.753 1.304.547,0 2.994.198
Sudeste 390.073,0 435.626 839.028,0 1.478.399
Norte 8.159.532,0 12.371.580 7.641.827,0 13.574.329
Nordeste 109.626,0 185.661 7.803.400,0 16.980.330
Alagoas 6.110,0 5.335 6.440,0 6.181
Bahia 8.772,0 9.028 13.147,0 12.102
Ceará 64.071,0 144.854 7.752.812,0 16.931.249
Maranhão 25.104,0 19.121 24.097,0 22.183
Pernambuco 5.569,0 7.323 6.904,0 8.615
Brasil 8.937.219,0 13.321.149 25.396.525,0 52.011.186
Importação
Centro-Oeste 8.663.031,0 25.999.725 3.823.267,0 11.551.475
Sul 57.029.956,0 170.965.206 45.422.915,0 141.167.681
Sudeste 40.351.245,0 110.094.867 27.286.338,0 72.479.837
Norte 11.531.012,0 34.762.385 5.021.320,0 15.995.700
Nordeste 762.440,0 1.846.175 360.062,0 645.820
Alagoas 2.747,0 3.240 8.191,0 24.540
Bahia 52.261,0 121.100 142.105,0 277.680
Ceará 27.303,0 48.965 68.360,0 121.065
Pernambuco 120.602,0 236.925 102.326,0 165.035
Piauí 502.895,0 1.342.000 - -
R.G. do Norte 56.632,0 93.945 39.080,0 57.500
Brasil 119.100.124,0 345.514.533 82.273.964,0 242.486.333
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Agrostat (MAPA, 2020).

Esse cenário gerou, no mesmo período de 2020, os dé- US$ KG


ficits de US$ 1,21 bilhão e 5,57 milhões de toneladas, para País de origem Importação
o trigo em grão, tendo como principais destinos das expor-
Argentina 938.415.483 4.331.505.944
tações países da Ásia e Oriente Médio, e como principais
origens das importações, países da América (Tabela 4). No Estados Unidos 163.040.988 733.842.479
Nordeste, a importação do trigo em grão subiu 14% em va- Uruguai 51.981.129 235.074.839
lor e 19% em volume no período, para US$ 703,7 milhões e Rússia 49.071.220 237.590.371
3,26 milhões de toneladas, respectivamente, vindas da Ar- Paraguai 46.398.453 218.542.140
gentina, Estados Unidos, Uruguai, Rússia, Canadá e França. Canadá 26.061.509 115.062.968
Tabela 4 – Países de destino e de origem do comércio de França 848.873 4.053.460
trigo em grão, Brasil, janeiro a novembro de 2020 Líbano 7.764 8.103
US$ KG Total 1.275.825.419 5.875.680.304
País de destino Exportação Saldo/Déficit -1.214.725.070 -5.570.136.841
Vietnã 43.021.264 211.250.145 Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Agrostat (MAPA, 2020).
Arábia Saudita 12.179.075 62.460.000 O Dólar valorizado também encareceu as importações
Filipinas 5.878.444 31.801.069 brasileiras de farinha de trigo, que superaram as exporta-
Paraguai 21.220 32.000 ções em US$ 64,3 milhões e 206,8 mil toneladas (Tabela
Selecionados 61.100.003 305.543.214 5). O saldo do comércio nordestino de farinha, ao contrá-
Outros 346 249
rio do nacional, foi superavitário em 2020, em US$ 7,44
milhões, ou 16,3 mil toneladas.
Total 61.100.349 305.543.463

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Tabela 5 – Países de destino e de origem do comércio de US$ KG


farinha de trigo, Brasil, janeiro a novembro de 2020 País de origem Importação
US$ KG Argentina 70.424.733 214.669.350
País de destino Exportação Uruguai 4.119.665 12.273.650
Venezuela 16.485.925 33.328.810 Itália 2.912.564 4.311.809
Chile 454.053 959.132 Paraguai 2.717.653 8.216.785
Estados Unidos 171.212 180.834 França 1.057.425 1.327.695
Argentina 82.780 113.485 Selecionados 81.232.040 240.799.289
Japão 50.379 35.389 Outros 681.862 1.041.224
Portugal 47.900 39.698 Total 81.913.902 241.840.513
Ilhas Marshall 47.458 59.643 Saldo/Déficit -64.320.777 -206.809.657
Liberia 31.902 40.317 Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Agrostat (MAPA, 2020).
Panamá 28.519 36.718
Hong Kong 25.987 29.769 3 NORDESTE
Selecionados 17.426.115 34.823.795 Nesta década, a triticultura vem avançando no cerra-
Outros 167.010 207.061 do brasileiro, e como a região do Matopiba tem três esta-
Total 17.593.125 35.030.856 dos nordestinos incluídos nesse bioma (Maranhão, Piauí e
Bahia), a produção de trigo naturalmente vem migrando
para o Nordeste, alcançando bons resultados, ainda que em
escala modesta, experimental, se comparada aos grandes
produtores brasileiros, o que se comprova nos números da
tabela a seguir, onde só há estatísticas para a Bahia.

Tabela 6 – Área, produção e produtividade, estados do Nordeste


Área (mil ha) Produtividade (kg/ha) Produção (t)
UF / Região
2018 2019 2020(1) 2018 2019 2020(1) 2018 2019 2020(1)
Bahia 5,0 3,0 3,0 6.000 4.800 5.700 30,0 14,4 17,1
Nordeste 5,0 3,0 3,0 6.000 4.800 5.700 30,0 14,4 17,1
Fonte: CONAB (2020a).
Nota: (1) Previsão, em dezembro/2020.

Dados da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), do IBGE, com produção superior a 10 toneladas, provavelmente
indicam essas experiências de produção de trigo, nos pela falta de tradição com a cultura, em comparação com
municípios da área de atuação do BNB (Bahia e norte de outras mais lucrativas e consolidadas. Os números são
Minas Gerais), em períodos intercalados: primeiramente, próximos dos da CONAB principalmente para 2019, apesar
de 1986 a 1990, com produção muito variável; de 2003 a das metodologias diferentes.
2005, em torno de 1.400 quilos, e de 2016 ao presente,

Tabela 7 – Produção de trigo em municípios do Nordeste e Norte de Minas, em toneladas, em anos selecionados
Município / Ano 1986 1987 1988 2003 2004 2005 2015 2016 2017 2018 2019
Barra da Estiva (BA) 4.800 60 - - - - - - - - -
Ibicoara (BA) 720 540 - 1.500 715 715 - - - - -
Mucugê (BA) - - - 1.400 3.000 1.200 - - - - -
Riachão das Neves (BA) - - - - - - 3.000 4.200 8.820 12.600 9.400
São Desidério (BA) - - - - - - - 600 2.344 - -
Luís Eduardo Magalhães (BA) - - - - - - - 15.000 1.812 14.250 5.200
Jequitaí (MG) - - 234 - - - - - - - -
Fonte: PAM (IBGE, 2020).

Condições climáticas favoráveis, boas práticas e cultiva- nacional é de 2,8 t/ha (SNA, 2017). Além disso, o trigo no
res direcionados para o cerrado explicam o bom resultado cerrado tem qualidade superior ao do Sul, com as varieda-
do trigo na região Nordeste, que de 2015 a 2017 teve recor- des desenvolvidas pela Embrapa, comprovando seu papel
des de produtividade, em torno de 6 t/ha., quando a média fundamental na pesquisa de melhoramento e adaptação.

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Ceará e Alagoas, estados nordestinos fora do cerra- A Região ter presença em peso de grandes moinhos,
do, destacam-se pela capacidade instalada de moagem produtores de farinha de trigo e outros derivados. Assim,
de trigo, sendo praças com indústrias beneficiadoras de a tendência é semelhante aos preços de farinha do Brasil,
destaque, como M. Dias Branco, J. Macêdo e Moinho atualmente de alta em alguns estados (Gráfico 3).
Motrisa. Alagoas não tem produção do cereal e o Ceará
Gráfico 3 – Preços da farinha de trigo no Nordeste, em
contou com um cultivo experimental desenvolvido com
praças selecionadas, 2019-2020
assessoria da Embrapa Trigo e da Embrapa Fruticultura
Tropical, em 2019, que produziu 5,4 toneladas em apenas
dois hectares, em Tianguá, em regime irrigado, utilizan-
do pouquíssima água (apenas 355 mililitros por hectare).
A qualidade do trigo obtido, em 70 dias (metade do ciclo
normal) e os bons resultados animaram o empresário res-
ponsável a pensar numa expansão para 100 hectares em
Tianguá e mais 50 na região do Apodi em 2020 (DIÁRIO DO
NORDESTE, 2019).
Nesta região, em Limoeiro do Norte, não houve plan-
tio dessa magnitude, mas de cinco hectares, por parte de
duas empresas alimentícias, em parceria com Embrapa e
Biotrigo Genética, que rendeu excelentes resultados: ciclo
de apenas 75 dias, quando o normal é entre 140 e 180 dias
e rendimento de 5.300 kg/ha, quando a média do Sul e a Fonte: Conab (2020b).
brasileira fica em 2.600 kg/ha. O empresário responsável
deseja aumentar a produção para mil hectares, com base 4 OVERVIEW
no que viu de plantio de trigo em altas temperaturas na
• Produto tradicional e muito apreciado em
China e na Bahia (FOCUS, 2020). todo o País. Embora ainda sem tradição de
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen- cultivo no Nordeste, a Região tem áreas po-
tenciais para o plantio, com cultivares adapta-
to (MAPA, 2019) conta com zoneamento agrícola de risco dos, nas quais algumas experiências já revela-
climático (ZARC) para a cultura do trigo, na Bahia, onde ram produtividades comparáveis à da região
260 municípios possuem potencial produtivo. No entanto, Pontos fortes Sul, produzindo trigo de alta qualidade.
produção de fato só há em três municípios: Riachão das • Com o aumento na produção nacional, o País
Neves, Luís Eduardo Magalhães e São Desidério3, situados dependeria menos da importação, que se
no cerrado, na divisa com Tocantins (Figura 1). Barreiras, torna mais cara com o Real desvalorizado;
importante produtor de grãos, está entre os dois primei- • Moderno parque de processamento instalado
ros, embora não tenha produção de trigo: na Região;

Figura 1 – Principais produtores de trigo na Bahia • Produção nacional ainda pequena, se compa-
rada a dos grandes produtores mundiais;
Pontos fracos • A dependência da importação traz aumento
de preço nos produtos básicos quando o Real
está desvalorizado.

Fonte: PAM (IBGE, 2020).

3 Por algum motivo desconhecido, a PAM não mostra produção de trigo, em 2018,
neste importante produtor de grãos do cerrado baiano.

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Ano 5 | Nº 151 | Janeiro | 2021

• As restrições de comércio exterior, em razão


CONAB - COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO.
da pandemia, podem estimular a produção Séries históricas. Disponível em: https://www.conab.gov.
interna, fazendo com que o Brasil dependa br/info-agro/safras/serie-historica-das-safras?start=30.
menos das importações de grão e de farinha; Acesso em: 10 dez. 2020a.
• A queda na importação para o Brasil, por
parte de tradicionais fornecedores, como a ______. Preços agropecuários. Disponível em: https://
Argentina, deveria servir de estímulo ao au- www.conab.gov.br/info-agro/precos?view=default. Aces-
mento da produção nacional de trigo; so em: 10 dez. 2020b.
• O risco de desabastecimento global de ali-
mentos devido às restrições sociais e econô- DIÁRIO DO NORDESTE. Ceará colhe 1ª. safra de trigo.
micas da pandemia não se confirmaram, e Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.
consumo mundial de trigo deve crescer 11,5 com.br/editorias/opiniao/egidio-serpa-1.209/ceara-co-
milhões de toneladas (1,56%), com destaque
para a China com alta de 6,3% (8 milhões de lhe-1-safra-de-trigo-1.2162716. Acesso em: 17 out. 2019.
toneladas), representando crescimento na
demanda por importação da ordem de 58,1% FOCUS. Empresa quer aumentar de cinco para mil hecta-
Oportunidades (Tabelas 9 e 11); res área de produção de trigo no Ceará. Disponível em:
• Tendência de alta do consumo mundial de https://www.focus.jor.br/empresa-quer-aumentar-de-
grãos, especialmente de milho e de trigo, cinco-para-1-000-hectares-area-de-producao-de-trigo-
além das carnes, motivada pela necessidade no-ceara/. Acesso em: 17 set. 2020.
da população de manter o organismo saudá-
vel, além do fato da alta taxa de crescimento IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍS-
da população urbana. Segundo estimativas da
Organização das Nações Unidas (ONU, 2020), TICA. Pesquisa Agrícola Municipal (PAM). Disponível em:
a população mundial chegará a 9,7 bilhões de https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1612. Acesso em: 21 dez.
pessoas em 2050, 2 bilhões ou 25% a mais 2020.
que 2020. Alimentar esta população é um de-
safio importante, até porque a proporção de MAPA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E
pessoas na zona urbana tem crescido conside-
ABASTECIMENTO. Zoneamento agrícola e de risco cli-
ravelmente. Dados do Banco Mundial (2020)
indicam que no início da série, 1960, a popu- mático para a cultura do trigo na Bahia. Disponível em:
lação urbana representava 33,61% do total, já http://www.agricultura.gov.br/noticias/zoneamento-agri-
em 2019, são 55,71%. cola-agora-contempla-algodao-em-roraima-e-trigo-irriga-
• As mudanças climáticas tendem a tornar mais do-na-bahia. Acesso em: 27 ago. 2019.
severos os eventos extremos, como estiagens,
geadas ou enchentes, mais intensos e entre ______. AGROSTAT. Estatísticas agropecuárias de comér-
ciclos mais curtos de ocorrência. Sul, Sudes- cio exterior do Brasil. Disponível em: http://indicadores.
Ameaças te e Centro-Oeste podem vir a ter quebras na agricultura.gov.br/agrostat/index.htm. Acesso em: 13
safra atual pela ocorrência do La Niña mais
intenso até abril de 2021;
nov. 2020.
• Surgimento de novas pragas e doenças resis- SNA - SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA. Brasil já
tentes aos defensivos agrícolas. produz o melhor trigo do mundo, mas precisa ampliar
sua produção. Disponível em: https://www.sna.agr.br/
REFERÊNCIAS brasil-ja-produz-o-melhor-trigo-do-mundo-mas-precisa
-ampliar-sua-producao/. Acesso em: 20 ago. 2019.
ABITRIGO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DO
USDA - UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE.
TRIGO. Disponível em: http://www.abitrigo.com.br/co-
Production, Supply and Distribution (PSD) on line. Dis-
nhecimento-farinha-trigo.php. Acesso em: 18 dez. 2020.
ponível em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/
CANAL RURAL. Por que o Brasil importa tanto trigo? O index.html#/app/downloads. Acesso em: 07 dez. 2020a.
Canal Rural responde. Disponível em: https://canalrural.
______. Grain: World Markets and Trade, december,
uol.com.br/noticias/por-que-brasil-importa-tanto-tri-
2020. Disponível em: https://apps.fas.usda.gov/psdonli-
go-59141/. Acesso em: 26 set. 2019.
ne/app/index.html#/app/downloads. Acesso em: 28 dez.
CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONO- 2020b.
MIA APLICADA. Agromensal Trigo, novembro de 2020.
Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/upload/
revista/pdf/0716914001607085014.pdf. Acesso em: 24
dez. 2020.

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ANEXO A – CENÁRIO GLOBAL Tabela 10 – Exportação mundial (milhões de toneladas)


Países 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 (1)
Tabela 8 – Produção mundial (milhões de toneladas)
Rússia 41,4 35,9 34,5 40,0
Países 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 (1)
Estados Unidos 24,7 25,5 26,3 26,8
China 134,3 131,4 133,6 136,0
Canadá 22,0 24,4 24,6 26,0
União Europeia 151,1 136,6 154,5 135,8
União Europeia 23,4 23,3 38,4 26,0
Índia 98,5 99,9 103,6 107,6
Austrália 13,8 9,0 9,1 20,0
Rússia 85,2 71,7 73,6 84,0
Ucrânia 17,8 16,0 21,0 17,5
Estados Unidos 47,4 51,3 52,6 49,7
Argentina 12,7 12,2 13,5 12,5
Canadá 30,4 32,4 32,7 35,2
Cazaquistão 9,0 8,3 7,0 6,7
Austrália 20,9 17,6 15,2 30,0
Turquia 6,4 6,4 6,1 6,7
Paquistão 26,6 25,1 24,3 25,7
China 1,0 1,0 1,0 1,0
Ucrânia 27,0 25,1 29,2 25,5
Selecionados 172,2 162,0 181,6 183,2
Turquia 21,0 19,0 17,5 18,3
Outros 10,6 11,7 9,8 10,4
Selecionados 642,4 610,0 636,7 647,7
Mundo 182,8 173,7 191,5 193,6
Outros 120,4 120,9 127,8 125,9
Fonte: USDA (2020b).
Mundo 762,8 730,9 764,5 773,7
Tabela 11 - Consumo mundial (milhões de toneladas)
Fonte: USDA (2020b).
Países 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 (1)
Tabela 9 – Importação mundial (milhões de toneladas)
China 121,0 125,0 126,0 134,0
Países 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 (1)
União Europeia 130,4 121,1 122,5 118,5
Egito 12,4 12,4 12,8 13,0
Índia 95,7 95,6 96,1 99,5
Indonésia 10,8 10,9 10,6 10,8
Rússia 43,0 40,5 40,0 41,0
China 3,9 3,1 5,4 8,5
Estados Unidos 29,2 30,0 30,6 30,7
Turquia 6,2 6,4 10,9 8,0
Paquistão 25,0 25,3 25,2 25,8
Filipinas 6,1 7,5 7,1 7,0
Egito 19,8 20,1 20,3 20,8
Argélia 8,2 7,5 7,1 6,8
Turquia 18,5 18,8 19,9 20,1
Brasil 7,0 7,0 7,2 6,7
Irã 15,9 16,1 17,2 17,7
Bangladesh 6,5 5,1 6,8 6,6
Brasil 12,0 12,1 12,1 12,2
Marrocos 3,7 3,7 4,6 6,5
Selecionados 510,5 504,6 509,9 520,3
União Europeia 5,8 5,8 4,8 6,0
Outros 229,8 227,6 231,9 233,1
Selecionados 70,6 69,5 77,3 79,9
Mundo 740,3 732,2 741,8 753,3
Outros 110,8 101,6 108,0 109,3
Fonte: USDA (2020b).
Mundo 181,3 171,1 185,3 189,2
Fonte: USDA (2020b).

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