2021 CDS 151
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Resumo: O Brasil é o décimo sexto produtor mundial de grão subiu 14% em valor e 19% em volume no período, e o
trigo, com importações muito superiores às exportações, saldo do comércio nordestino de farinha foi superavitário
tanto para o trigo em grão como para a farinha de trigo. em US$ 7,44 milhões e 16,3 mil toneladas.
A produção brasileira é de 6,2 milhões de toneladas, re-
Palavras-chave: mercado; preços; pandemia; trigo; farinha.
presentando 54% do consumo nacional. A região Sul é a
maior produtora (89% do total nacional), tendo o Paraná
e o Rio Grande do Sul como líderes (86% do total). A pan-
1 MERCADO GLOBAL
demia não afetou a produção brasileira, mas o aumento O trigo é o segundo cereal mais cultivado no mundo de-
do consumo, devido ao isolamento social e a necessidade pois do milho. Em 2019, segundo dados da FAO (FAOSTAT,
de se fazer as refeições em casa, restringiu a oferta e le- 2020), foram produzidas cerca de 1,15 bilhão de toneladas
vou a alta nos preços do grão de março a julho, embora de milho e 766 milhões de toneladas de trigo, com valor
com a farinha o período de alta tenha durado até maio. de mercado da ordem de US$ 114 milhões. A previsão da
A expectativa é de manutenção do consumo para 2021, produção mundial, para a safra atual (2020/2021), é de
embora ainda haja um cenário de incerteza em relação à 773,6 milhões de toneladas, segundo o Departamento de
pandemia e suas consequências, como novas elevações Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2020), aumento
no câmbio. O comércio exterior do País foi deficitário, em de 1,2% em relação à safra 2019/2020 (764,5 milhões),
vista a baixa produção nacional, no período de janeiro a sendo os maiores produtores: China (136 milhões), União
novembro de 2020, em relação a 2019: déficits de US$ Europeia (135,8 milhões, somando seus 28 países), Índia
1,21 bilhão e 5,57 milhões de toneladas, para o trigo em (107,6 milhões), Rússia (84 milhões), Estados Unidos (46,7
grão, e de US$ 64 milhões e 206,8 mil toneladas, para a milhões) e Canadá (35 milhões). O Brasil é o 16º produtor
farinha de trigo. No Nordeste, a importação do trigo em mundial (ANEXO A).
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Destaques:
Até a safra passada, era o segundo maior produtor, maior mercado consumidor e terceiro maior importador mundial de
China trigo. A previsão é que se torne o maior produtor na atual safra, tendo também aumentado as importações ao longo de
2020. Detém mais da metade dos estoques globais, o que representa mais de um ano de consumo de trigo.
Tem a segunda maior produção e consumo mundiais, além de ser o quarto exportador, utilizando trigo também na fabrica-
União Europeia ção de ração. Até a safra 2019/20, era o maior produtor mundial de trigo, com previsão de ser superado pela China nesta
temporada.
Terceiro maior produtor e consumidor mundial de trigo, cuja produção vem se elevando nos últimos quatro anos, para
Índia
atender ao consumo interno, e deve subir mais 3,8% em 2020/21.
Nos últimos anos tem sido o maior exportador mundial de trigo, devendo manter a liderança em 2020/21, aumentando
Rússia
também a produção, a quarta maior, em 14%, para 84 mil toneladas.
É o segundo maior exportador mundial e um importante fornecedor, junto com o Canadá, para Brasil e China. A demanda
Estados Unidos
asiática deve fazer os estoques norte-americanos caírem em 4 milhões de toneladas neste ano.
Fonte: Adaptado pelos autores de Grain: World Markets and Trade (USDA, 2020a,b).
O Brasil não é grande produtor de trigo em razão de toneladas )1, dentre outros; c) os fatores relacionados a
acordos firmados com Argentina e EUA, para trocar o ce- essa produção, como condições climáticas e políticas de
real por outros produtos, como eletrodomésticos de linha comércio exterior e d) nível de abastecimento dos moi-
branca e carne, respectivamente. Algumas fontes afirmam nhos brasileiros.
que mesmo que a produção interna fosse suficiente, a im-
O dólar esteve numa trajetória quase constante de alta
portação seria necessária, pelo baixo teor de glúten do
desde 2019, que se acentuou ainda mais pela incerteza
trigo brasileiro, pois apenas 30% serve para a panificação
econômica gerada após o início da pandemia, em feverei-
(CANAL RURAL, 2015), enquanto outras dizem que o trigo
ro de 2020. Tanto que os preços do trigo subiram antes
produzido no Brasil é comparável ao canadense, com alto
da ocorrência do vírus, em outubro de 2019, terem um
teor de proteína (high protein), considerado o melhor do
breve período de baixa entre junho e setembro de 2020
mundo (SNA, 2017). As importações de trigo e de farinha
e voltarem a se elevar, em razão da entressafra. Além
da Argentina, de fato, sofreram redução após a eleição do
disso, houve políticas protecionistas por parte de alguns
peronista Alberto Fernandez, efeito da taxação imposta
países produtores, no sentido de restringir suas exporta-
(as retenciones), pois caíram 87% e 29%, respectivamente,
ções, a fim de garantir a própria segurança alimentar, algo
em valor, de janeiro a novembro de 2020 (MAPA, 2020).
que não ocorreu no Brasil. O dólar alto encareceu o trigo
Os fatores que normalmente afetam o preço do trigo importado. Além da pandemia, a Argentina também se
no Brasil são: a) o dólar, já que se trata de um produto com recuperava da grave estiagem ocorrida em 2018, ocasião
maior importação que produção; b) a produção de outros que obrigou o Brasil a procurar outros fornecedores, como
países tradicionalmente vendedores de trigo para o Brasil, EUA e Canadá. Muitos demandantes de trigo esperam a
como Argentina 86% (US$ 71 milhões; 216,3 mil tonela- finalização da colheita no Sul, pelas novas desvalorizações
das) seguida pelo Uruguai 5% (US$ 4,12 milhões; 12,3 mil
do cereal que devem se seguir, embora as cotações ainda Gráfico 2 – Preços da farinha de trigo no Brasil, em praças
se encontrem elevadas (CEPEA, 2020). selecionadas, 2019-2020
Gráfico 1 – Preços do trigo ao produtor no Brasil, em pra-
ças selecionadas, 2019-20202
Em relação à farinha o movimento é oposto, com au- rados no moderno parque de processamento existente,
mento significativo das exportações tanto para o Brasil bem como no aquecimento da demanda externa e na va-
como para o Nordeste, e queda nas importações, ampa- lorização do Dólar (Tabela 3).
Dados da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), do IBGE, com produção superior a 10 toneladas, provavelmente
indicam essas experiências de produção de trigo, nos pela falta de tradição com a cultura, em comparação com
municípios da área de atuação do BNB (Bahia e norte de outras mais lucrativas e consolidadas. Os números são
Minas Gerais), em períodos intercalados: primeiramente, próximos dos da CONAB principalmente para 2019, apesar
de 1986 a 1990, com produção muito variável; de 2003 a das metodologias diferentes.
2005, em torno de 1.400 quilos, e de 2016 ao presente,
Tabela 7 – Produção de trigo em municípios do Nordeste e Norte de Minas, em toneladas, em anos selecionados
Município / Ano 1986 1987 1988 2003 2004 2005 2015 2016 2017 2018 2019
Barra da Estiva (BA) 4.800 60 - - - - - - - - -
Ibicoara (BA) 720 540 - 1.500 715 715 - - - - -
Mucugê (BA) - - - 1.400 3.000 1.200 - - - - -
Riachão das Neves (BA) - - - - - - 3.000 4.200 8.820 12.600 9.400
São Desidério (BA) - - - - - - - 600 2.344 - -
Luís Eduardo Magalhães (BA) - - - - - - - 15.000 1.812 14.250 5.200
Jequitaí (MG) - - 234 - - - - - - - -
Fonte: PAM (IBGE, 2020).
Condições climáticas favoráveis, boas práticas e cultiva- nacional é de 2,8 t/ha (SNA, 2017). Além disso, o trigo no
res direcionados para o cerrado explicam o bom resultado cerrado tem qualidade superior ao do Sul, com as varieda-
do trigo na região Nordeste, que de 2015 a 2017 teve recor- des desenvolvidas pela Embrapa, comprovando seu papel
des de produtividade, em torno de 6 t/ha., quando a média fundamental na pesquisa de melhoramento e adaptação.
Ceará e Alagoas, estados nordestinos fora do cerra- A Região ter presença em peso de grandes moinhos,
do, destacam-se pela capacidade instalada de moagem produtores de farinha de trigo e outros derivados. Assim,
de trigo, sendo praças com indústrias beneficiadoras de a tendência é semelhante aos preços de farinha do Brasil,
destaque, como M. Dias Branco, J. Macêdo e Moinho atualmente de alta em alguns estados (Gráfico 3).
Motrisa. Alagoas não tem produção do cereal e o Ceará
Gráfico 3 – Preços da farinha de trigo no Nordeste, em
contou com um cultivo experimental desenvolvido com
praças selecionadas, 2019-2020
assessoria da Embrapa Trigo e da Embrapa Fruticultura
Tropical, em 2019, que produziu 5,4 toneladas em apenas
dois hectares, em Tianguá, em regime irrigado, utilizan-
do pouquíssima água (apenas 355 mililitros por hectare).
A qualidade do trigo obtido, em 70 dias (metade do ciclo
normal) e os bons resultados animaram o empresário res-
ponsável a pensar numa expansão para 100 hectares em
Tianguá e mais 50 na região do Apodi em 2020 (DIÁRIO DO
NORDESTE, 2019).
Nesta região, em Limoeiro do Norte, não houve plan-
tio dessa magnitude, mas de cinco hectares, por parte de
duas empresas alimentícias, em parceria com Embrapa e
Biotrigo Genética, que rendeu excelentes resultados: ciclo
de apenas 75 dias, quando o normal é entre 140 e 180 dias
e rendimento de 5.300 kg/ha, quando a média do Sul e a Fonte: Conab (2020b).
brasileira fica em 2.600 kg/ha. O empresário responsável
deseja aumentar a produção para mil hectares, com base 4 OVERVIEW
no que viu de plantio de trigo em altas temperaturas na
• Produto tradicional e muito apreciado em
China e na Bahia (FOCUS, 2020). todo o País. Embora ainda sem tradição de
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen- cultivo no Nordeste, a Região tem áreas po-
tenciais para o plantio, com cultivares adapta-
to (MAPA, 2019) conta com zoneamento agrícola de risco dos, nas quais algumas experiências já revela-
climático (ZARC) para a cultura do trigo, na Bahia, onde ram produtividades comparáveis à da região
260 municípios possuem potencial produtivo. No entanto, Pontos fortes Sul, produzindo trigo de alta qualidade.
produção de fato só há em três municípios: Riachão das • Com o aumento na produção nacional, o País
Neves, Luís Eduardo Magalhães e São Desidério3, situados dependeria menos da importação, que se
no cerrado, na divisa com Tocantins (Figura 1). Barreiras, torna mais cara com o Real desvalorizado;
importante produtor de grãos, está entre os dois primei- • Moderno parque de processamento instalado
ros, embora não tenha produção de trigo: na Região;
Figura 1 – Principais produtores de trigo na Bahia • Produção nacional ainda pequena, se compa-
rada a dos grandes produtores mundiais;
Pontos fracos • A dependência da importação traz aumento
de preço nos produtos básicos quando o Real
está desvalorizado.
3 Por algum motivo desconhecido, a PAM não mostra produção de trigo, em 2018,
neste importante produtor de grãos do cerrado baiano.
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