Teorico

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 22

Trabalho de Conclusão

de Curso II
Material Teórico
Pesquisa Científica

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. André Valva

Revisão Textual:
Prof. Me. Natalia Conti
Pesquisa Científica

• Metodologia;
• Modalidade de Pesquisa.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Apresentar as principais modalidades de pesquisa científica; apresentar as princi-
pais metodologias de pesquisa científica no ensino superior em todos os seus níveis.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Pesquisa Científica

Metodologia
“No entanto, não basta seguir um método e aplicar técnicas para se com-
pletar o entendimento do procedimento geral da ciência. Esse procedi-
mento precisa ainda referir-se a um fundamento epistemológico que sus-
tenta e justifica a própria metodologia praticada. É que a ciência é sempre
o enlace de uma malha teórica com dados empíricos, é sempre uma arti-
culação do lógico com o real, do teórico com o empírico, do ideal com o
real.” SERVERINO, P 100.

A ciência, de que tanto tratamos nes-


tas unidades e na disciplina, é determinada
por um conjunto de técnicas e métodos que
viabilizam o desenvolvimento das pesquisas
diferenciando-as das demais áreas do conhe-
cimento. O importante para a ciência é mos-
trar que seus conhecimentos e suas desco-
bertas são válidas e passíveis de falseamento.
“trata-se de um conjunto de procedimentos
lógicos e de técnicas operacionais que permi-
tem o acesso às relações causais constantes
entre os fenômenos.” SEVERINO, P. 102.

Lakatos e Marconi dizem que quanto mais Figura 1 – Karl Popper, responsável pelo desen-
falseável for um problema de pesquisa mais volvimento do conceito de falseamento científico
Fonte: Wikimedia Commons
científico será o trabalho e consequentemen-
te o tema. As autoras dizem que a função do cientista depois de terminado a in-
vestigação é tentar tornar sua própria hipótese inválida. Este processo trará peso
ao trabalho, pois – se a pesquisa foi corretamente feita – o falseamento não será
possível, ou outro resultado não será possível, mostrando assim que as afirmações
constantes na sua produção científica são verdadeiras. (2010. p. 80)

O primeiro passo de qualquer método cientifico é a observação da realidade que


se quer investigar. As circunstancias da realidade pode variar, mas se for a mesma
realidade, ela é passível de observação científica.

Esta observação pura já indica uma problematização, pois só estamos observan-


do esta determinada realidade com o intuito de entender algo que está implícito
nela! Assim, o problema da pesquisa está implícito na realidade observada, na ten-
tativa de entender as causas daquele fenômeno observado.

De forma espontânea, com a descoberta do problema a cerca de uma determi-


nada realidade, ao usarmos a logica durante o processo de observação do fenô-
meno, formulamos uma hipótese de o porquê daquele fenômeno ocorrer de uma
maneira específica.

8
Neste ponto, voltamos ao início deste processo, voltamos à observação. Agora,
com um olhar mais treinado e sabendo o que queremos observar, a realidade pode
ser mensurada e analisada.

Assim, se a hipótese se confirmar no processo de observação temos, confor-


me a metodologia científica afirma, de uma lei. “trata-se de um princípio geral
que unifica uma série ilimitada de fatos: vários fatos particulares se explicam
mediante um único princípio que dá conta assim de uma multiplicidade de fatos.”
SEVERINO, P. 103.

Figura 2
“hipótese: proposição explicativa provisória de relações entre fenômenos,
a ser comprovada ou infirmada pela experimentação. E se confirmada,
transforma-se na lei.” SEVERINO, P. 103.

Contudo, as observações podem ser explicadas por outras leis semelhantes.


O agrupamento de leis semelhantes para explicar uma determinada realidade ob-
servada, chama-se teoria.
“lei científica: enunciado de uma relação causal constante entre fenô-
menos ou elementos de um fenômeno. Relações necessárias, naturais
e invariáveis. Fórmula geral que sintetiza um conjunto de fatos naturais,
expressando uma relação funcional constante entre variáveis. Variável: é
todo fato ou fenômeno que se encontra numa relação com outros fatos,
enquanto submetido a um processo de variação, qualquer que seja o tipo
de variação com relação a alguma propriedade ou grau, a variação de
um fato se correlacionando com a variação do outro. Exemplo: o calor
dilatando o metal.” SEVERINO, P. 103.

A pesquisa é separada por dois momentos diacrônicos bem distintos. O primei-


ro é o momento experimental e o segundo é o matemático. No primeiro momento

9
9
UNIDADE Pesquisa Científica

experimental é uma característica indutiva; no segundo momento matemático po-


demos notar uma característica dedutiva da investigação científica.

Estas características mostram como podemos justificar uma hipótese de explica-


ção de uma determinada realidade.

Assim, a indução é a generalização das ideias, ou das explicações da observa-


ção da realidade investigada. Vamos de um caso particular para os demais casos
semelhantes ou iguais a este. A dedução é o oposto: e a individualização das
ideias, ou das explicações da observação da realidade investigada. Partimos de
diversos casos iguais ou semelhantes para um caso em particular para explicar a
realidade investigada.
“Teoria: conjunto de concepções, sistematicamente organizadas; síntese
geral que se propõe a explicar um conjunto de fatos cujos subconjuntos
foram explicados pelas leis. Sistema: conjunto organizado cujas partes
são interdependentes, obedecendo a um único princípio, entendido este
como uma lei absolutamente geral, uma proposição fundamental.” SE-
VERINO, P. 104.

Severino ainda alerta que a “ciência trabalha, pois, com raciocínios indutivos e
com raciocínios dedutivos. Quando se passa dos fatos às leis, mediante hipóteses,
está trabalhando com a indução; quando passa das leis às teorias ou destas aos
fatos, está trabalhando com a dedução”. SEVERINO, p. 105.
“Indução: procedimento lógico pelo qual se passa de alguns fatos parti-
cularmente a um princípio geral. Trata-se de um processo de generaliza-
ção, fundado no pressuposto filosófico do determinismo universal. Pela
indução, estabelece-se uma lei geral a partir da repetição constatada de
regularidades em vários casos particulares; da observação de reiteradas
incidências de uma determinada regularidade, conclui-se pela sua ocor-
rência em todos os casos possíveis.” SEVERINO, P. 104.

A ciência se baseou na matemática para pensar e analisar o mundo, mesmo


nas áreas das ciências humanas e sociais. Foi um mecanismo útil para organizar as
informações do mundo, da realidade e processá-las na investigação.
“Dedução: procedimento lógico, raciocínio pelo qual se pode tirar de uma
ou de várias proposições (premissas) uma conclusão que delas decorre
por força puramente lógica. A conclusão segue-se necessariamente das
premissas.” SEVERINO, P. 105.

Lakatos e Marconi, mencionam:


Método e métodos situam-se em níveis claramente distintos no que se re-
fere à sua inspiração filosófica, ao seu grau de abstração, à sua finalidade
mais ou menos explicativa, á sua ação nas etapas mais ou menos concre-
tas da investigação e ao momento que se situam. (2010. p. 88)

10
As autoras citam que, além da indução e da dedução, temos outros métodos
decorrentes destas análises:
• Método indutivo – uma investigação que parte do geral para o particular.
• Método dedutivo – uma investigação que parte do particular para o geral
• Método hipotético-dedutivo – a investigação se inicia por uma hipótese, ou hi-
póteses e por uso do método dedutivo, se chega à(s) resposta(s) da(s) hipótese(s)
• Método dialético – uma investigação que leva em consideração a “ação recí-
proca, da contradição inerente ao fenômeno”. (2010, p. 88).

Eva Lakatos e Marina Marconi, falam que estas quatro formas, comumente, são
utilizadas como métodos basilares de qualquer trabalho de pesquisa científica; sen-
do incorporados novas abordagens, novas técnicas e utilizando-se, também, outros
métodos de pesquisa em momentos distintos da própria investigação.

As técnicas de pesquisa, oriundas deste uso matemático das informações e dados


da realidade observada é que proporcionou à ciência uma investigação eficiente e
reproduzível. Severino diz que “a ciência se legitimou assim por essa sua eficácia
operatória, com a qual forneceu aos homens recursos reais elaborados para a sus-
tentação de sua existência material.” SEVERINO, p. 105.

Figura 3

Modalidade de Pesquisa
Como pudemos conversar anteriormente, a ciência se estabelece conforme va-
mos promovendo padrões, utilizando técnicas, instrumentos e métodos científicos
para registrar nossos avanços, retrocessos e conquistas.

Óbvio que diferentes ciências fazem e produzem conhecimento de formas dife-


rentes. Isso não quer dizer que estas ciências devam ficar reclusas em suas próprias
áreas; elas podem, e devem em minha opinião, se utilizar de técnicas, instrumentos
e métodos de outras áreas da ciência.

11
11
UNIDADE Pesquisa Científica

Pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa


Esta abordagem faz referencia às duas etapas da pesquisa mencionadas acima.
Na fase experimental, utilizamos muito a pesquisa qualitativa, cuja principal finali-
dade é investigar características de qualidade da observação, dos agentes da pesqui-
sa, dos envolvidos na realidade investigada ou da própria realidade.

A segunda etapa faz referencia à matemática, ou abordagem quantitativa. A


contagem de elementos, ou repetições, levantamento estatísticos, ou padrões,
identificação de características, por exemplo.

Uma abordagem está ligada à outra. Por exemplo: quando realizamos o levanta-
mento de um padrão comportamental, é quantitativo; pois pesquisaremos quantas
vezes ele aparece, em qual circunstancia, por quanto tempo dura e assim por dian-
te. Contudo, a abordagem qualitativa vai analisar quem o pratica, porque o pratica,
porque daquela forma e não de outra, as implicações deste comportamento. Uns
objetos de análise vão requerer mais uma abordagem do que outra, assim como o
método de análise.

As duas abordagens recebem grande contribuição de alguns recursos científicos


que garantem credibilidade e validade das informações disponibilizadas na investi-
gação. Podemos citar alguns dos principais recursos utilizados: análise de discurso,
análise de conteúdo e análise de narrativa.

Antonio Chizzotti trabalha estes três recursos explicando as principais diferenças


entre eles no seu livro Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais (referên-
cia disponível na bibliografia do conteúdo).

Chizzotti menciona que existem diversas formas de interpretar significados ex-


pressos aparentes no texto ou no documento; assim como diversas formas de se
analisar estes mesmo textos e documentos; estas três opções são, na visão de Chi-
zzotti, as mais utilizadas. (2014. p. 113)
Análise de conteúdo visa decompor as unidades léxicas ou temáticas de
um texto, codificadas sobre algumas categorias, compostas por indica-
dores que permitam uma enumeração das unidades e, a partir disso, es-
tabelecer inferências generalizadoras. A análise do discurso constitui-se
como um tipo de análise que ultrapassa os aspectos meramente formais
da linguística, para privilegiar a função e o processo da língua no contexto
interativo e social em que é prolatada, considerando a linguagem, em
última análise como uma prática social. As práticas de pesquisa, derivadas
dessas análises, visam decifrar comunicações transcritas em documentos.
(...) A análise de conteúdo, de narrativas ou do discurso tratam, de modo
especial, os documentos transformados em “textos” para serem lidos e
interpretados. (CHIZZOTTI, 2014, p. 113 – 114)

Em relação à análise de conteúdo, Chizzotti afirma que ela pretende garantir


a credibilidade e dar segurança aos dados coletados do texto, tendo em vista a

12
quantificação das unidades do texto muito bem preestabelecidas pelo investiga-
dor. Esta definição e suas quantificações contribuem para a imparcialidade obje-
tiva da análise.

Assim, este método faz com que seja possível alcançarmos os sentidos implíci-
tos ou explícitos do texto por meio da quantificação de informações, podendo ser
interpretados num segundo momento.

Bastante utilizada por meios de comunicação de massa, este recurso preten-


de analisar, além das informações quantificáveis pré-estabelecidas, cinco questões
principais: quem fala? Para dizer o quê? Por quais meios? A quem? Com quais
efeitos? (2014. p. 115)

Associando este método à abordagem quantitativa e qualitativa, Chizzotti expõe:


Nessas análises qualitativas, o pesquisador procura penetrar nas ideias,
mentalidade, valores e intenções do produtor da comunicação para com-
preender sua mensagem. São analisadas as palavras, as frases e temas
que dão significado ao conjunto, para relacioná-las com os dados pessoais
do autor, com a forma literária do texto, com o contexto socio-cultural
do produtor da mensagem: as intenções, as pressões, a conjuntura, a
ideologia que condicionaram a produção da mensagem em um esforço
para articular o rigor objetivo, quantitativo, com a riqueza compreensiva,
qualitativa. (CHIZZOTTI, 2014, p. 116 – 117)

Vale ressaltar que Chizzotti também explica o que é o léxico (objeto de estudos
da análise de conteúdo): Constitui uma síntese condensada da realidade e a frequ-
ência de seu uso pode revelar a concepção de seu emissor, os seus valores, opções,
preferencias (2014, p 117).
O critério fundamental da análise de conteúdo é o fragmento singular
do texto: a palavra, termo ou lexema, considerando-os como a menor
unidade textual e, como tal, passível de se analisar a frequência com que
aparecem no texto, a fim de se estabelecer correlações significativas en-
tre as unidades e extrair conteúdo relevante da mensagem. (CHIZZOTTI,
2014, p. 117)

Um recurso utilizado pela análise de conteúdo é a classificação das palavras por


categorias. Assim a definição das categorias é estabelecida pelo investigador, com
uma relação direta com aquilo que se está investigando e das informações que são
necessárias para a construção do objeto de pesquisa.

A análise de narrativa possui duas orientações fundamentais:


Há duas orientações fundamentais: uma derivada do formalismo estrutu-
ralista, pressupõe que a coerência do texto pode ser encontrada nos códi-
gos, sintaxe e formas. O exemplo mais conhecido pode ser apreciado na
morfologia dos contos do folclorista russo, Vladmir Propp, pioneiro nesse

13
13
UNIDADE Pesquisa Científica

domínio. Outra orientação analisa a narrativa das experiencias vividas,


produzidas nas interações sociais, especialmente nas entrevistas clínicas,
como a etnometodologia desenvolveu ou analise da enunciação, D’Unrug
(1974). (CHIZZOTTI, 2014. P. 118)

Um elemento importante na analise de narrativa é a estrutura das narrativas ou


dos elementos que constroem a morfologia das narrativas. Além de Propp, Chi-
zzotti apresenta Lévi Strauss, importante antropólogo estruturalista.

Mas antes, vale a pena identificarmos o que é este estruturalismo.

Chizzotti diz que é uma sequência constante de funções imutáveis (...) que se mo-
vem a partir de pares (luta/vitória, perseguição/resgate) e pela ação do herói e do
mau, delimitado pela função luta/vitória, tarefa difícil/superação. (2014. p. 119)

Lévi-Strauss propõe analisar os mitos com base em quatro principios que estru-
turam a narrativa:
a) Oposições binárias;
b) Um sistema fechado de relações;
c) Um modelo sincrônico;
d) Unidades estandardizadas.

A analise estrutural também procura extrair informações dos textos, e neste


caso das narrativas, por meio de regras pré-estabelecidas. Estes pesquisadores, em
geral, procuram extrair destas analises dados ou informações contextualizadas na
narrativa, mas também em sua construção, para poderemos chegar à uma compre-
ensão que expliquem o significado da própria narrativa.
As análises da conversação são eminentemente descritivas da fala dos
participantes, pressupondo que os proseadores constroem uma realidade
social nas intercomunicações interpessoais. A partir de um texto transcri-
to, procura-se extrair as regras e os principios que mantem o funciona-
mento das diferentes trocas verbais. (CHIZZOTTI, 2014. p. 120)

Analise do discurso, podemos começar dizendo que não existe um significado


único. Em pesquisa, é analise de um conjunto de ideias, um modo de pensar ou um
corpo de conhecimentos expressos em uma comunicação textual ou verbal, que o
pesquisador pode identificar quando analisa um texto ou uma fala. (CHIZZOTTI,
20104, p. 120)

Chizzotti menciona que o discurso é “a expressão de um sujeito no mundo” onde


“explicita sua identidade”, esta expressão e esta identidade são fundamentais para a
construção de sua realidade social, pessoal e na construção de suas ideias e cultura.

Assim, como Clifford Geertz menciona em seu livro A Interpretação das Cultu-
ras, esta compreensão do discurso do indivíduo ou de uma sociedade só pode ser
compreendido dentro de seu contexto histórico-social e se partilhado da cultura;

14
sem esta análise densa da cultura ou do entendimento de quem é o outro, não po-
demos alcançar a plenitude do discurso.
O discurso está conexo com as relações sociais, é revelador da posição
dos interlocutores no contexto e só pode ser compreendido quando se
tem presente as relações de força contidas no discurso. (CHIZZOTTI,
2014, p. 122)

Dentro a análise do discurso podemos nos utilizar de outras técnicas para alcan-
çar esta compreensão cultural que permeia a análise acima referida: o estruturalis-
mo, o Foucault e a semiótica.

A respeito do estruturalismo:

O estruturalismo entende a língua como um sistema cultural de relações opostas


e equivalentes que, assim como outros elementos da realidade individual e social,
compõe o significado de um determinado signo. O sentido cultural atribuído a um
determinado signo não pode estar desconectado da realidade individual e coletiva
que os contruíram.
O estudo objetivo deve-se restringir às descobertas e às provas das estru-
turas, normas e regras que governam os fenômenos antropológicos, filo-
sóficos e psíquicos que dao significado à vida social. Cabe ao pesquisador
identificar, arranjar e organizar as diferentes unidades em uma estrutura
de “superfície” para chegar à estrutura “profunda” subjacente a qualquer
texto ou evento. (CHIZZOTTI, 2014, p. 123)

Não esquecendo que da teoria desenvolvida por Lévi-Strauss, o que interessa à


análise do discurso – segundo Antonio Chizzotti – são as oposições binárias, pois
estas podem decodificar o significado do texto.

Sobre as ideias de Foucault;

Foucault desenvolveu um conceito de que as condições históricas que cons-


truíram o discurso do conhecimento são influenciadas pelos interesses ocultos –
principalmente a questão do poder – nos discursos, e em outros, que definiram o
conhecimento objetivo. Ou seja, a epistemologia de uma determinada realidade
ou área do conhecimento tem um discurso que, muitas vezes, é influenciado por
interesses ocultos para manipulação do conhecimento que se quer construir por
meio deste discurso.
A gênese, as mudanças e ressignificações das definições revelam a he-
gemonia ou dominação de um discurso, o poder de um discurso sobre
os outros. (...) Sendo assim, todo discurso, suas definições, conceitos e
transformações semânticas revelam a tensão entre indivíduos, o contexto
histórico e social, o poder e a resistência nas interrelações humanas, a
repressão e o controle dos corpos, a medicalização e clinicalização do
controle social e o papel dos agentes sociais. (CHIZZOTTI, 2014, p. 124)

15
15
UNIDADE Pesquisa Científica

Para Foucault, o discurso é um meio de produzir e de organizar o significado no


contexto social. A linguagem é uma forma significativa de organizar as experien-
cias humanas, na realidade social e individual, com o intuito de construir formas de
conhecimento coletivo e individual.

Na semiótica:

É uma ciência que estuda os sistemas simbólicos de forma sistemática. Também


vai estudar como estes sistemas de signos são produzidos, como eles funcionam e
como são percebidos e recebidos pelos indivíduos e por grupos, com o objetivo de
se comunicarem entre si.
O signo é algo que “está para alguém no lugar de outra coisa sob algum
aspecto”. Não é possível pensar sem os signos, mas um signo é essencial-
mente incompleto porque requer um interpretante ou contexto. Aquilo
que liga a expressão significante ao contexto é considerado um evento sig-
nificante. A conexão entre significante e significado é arbitrária e social,
permitindo haver muitos tipos de conexões, dependentes da perspectiva
dos leitores. (CHIZZOTTI, 2014, p. 125)

Por mais que não possa parecer, um determinado signo não é explicito, ou me-
lhor auto evidente. Diferentes pessoas podem ter interpretações diferentes para o
mesmo símbolo em diferentes contextos socio-históricos.

Estas diferentes interpretações sobre o mesmo signo são criadas socialmente


criadas e posteriormente da mesma foram compartilhadas. Os indivíduos da mes-
ma sociedade compactuam e entendem os diversos significados atribuídos a este
símbolo. O conhecimento produzido a partir do símbolo ou de seus significados
constitui a cultura desta coletividade.
Uma análise semiótica do discurso visa decodificar o sistema de signos
que subjazem ao texto, estabelecendo as articulações homólogas, análo-
gas e simbólicas dos signos, a fim de mostrar as conexões e o sistema de
signos que dão significado à realidade. Manning & CullumSwan (1994:
469) mostram como é possível fazer uma análise refinada do cardápio
ou dos rituais de frequência ao recinto da casa de refeições rápidas da
rede McDonalds e deslindar o sistema de significados expressos nas cores,
formas, alimentos, objetos e movimentos. (CHIZZOTTI, 2014. p. 126)

Pesquisa etnográfica:
São pesquisas voltadas para o estudo de um grupo de pessoas, ou analise micro
de uma sociedade macro; uma tribo de skatetistas, ou surfistas. Não necessaria-
mente deveremos trabalhar com etnias (como o nome sugere), mas é um método
bastante utilizando pela antropologia e a sociologia para conhecer o ser humano,
dentro de uma sociedade determinada.

16
Pesquisa Participante:
Para compreender e investigar uma determinada realidade, o investigador entra
e participa da sociedade, ou do grupo de pessoas, que pretende observar. O inves-
tigador se comporta como as pessoas daquela realidade.

Pesquisa ação:
Esta modalidade é parecida com a pesquisa participante. O diferencial das duas
é que na pesquisa ação o intuito é intervir em um aspecto da realidade estudada,
seja para promover inclusão, ou transformar algo aparentemente errado.

Estudo de Caso:
Nesta modalidade o investigador se concentra em um caso especifico do pro-
blema que pretende investigar. O pesquisador vai escolher um caso que seja repre-
sentativo para entender aquela realidade específica e estuda um único caso para
alcançar o resultado.

Análise de conteúdo:
Modalidade de analisa conteúdo de discursos ou instrumentos de comunicação.
A proposta é que estes discursos ou instrumentos de comunicação.

Pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa experimental


e pesquisa de campo:
A pesquisa bibliográfica é feita por meio de livros, sejam eles fontes primárias
ou não. Também são aceitos trabalhos acadêmicos como pesquisa bibliográfica.

Pesquisa documental é realizada estritamente por meio de documentos, sejam


eles impressos – como jornal, revista e documentos oficiais – sejam fotos, objetos,
receitas, filmes e gravações.

Pesquisa experimental o objeto é visto como ele mesmo fonte de manipulação, seja
em um laboratório, ou em uma situação controlada, numa bancada ou numa prancheta.

Pesquisa de campo é a investigação da realidade escolhida no seu meio ambien-


te, em outras palavras, abordamos o objeto de pesquisa no seu próprio meio.

Pesquisa exploratório e pesquisa explicativa:


A pesquisa exploratória busca um levantamento de informações, características
de uma determinada realidade. A proposta é explorar a realidade evidenciando
suas principais características.

Pesquisa explicativa pretende explicar um determinado fenômeno produzido ou


gerado por uma determinada realidade.

17
17
UNIDADE Pesquisa Científica

Marina Marconi e Eva Maria Lakatos1, em seu livro, Fundamentos da Metodo-


logia Científica, traz várias outras contribuições sobre métodos e técnicas impor-
tantes para o desenvolvimento da ciência (LAKATOS & MARCONI, pg 88 – 95)

Elas citam alguns métodos:

Aqui nós vimos algumas modalidades de pesquisas entre tantas. No TCC não
é necessário escolher uma, consegue-se utilizar mais de uma técnica de pesquisa,
mais de um método de pesquisa para se compreender uma determinada realidade.
• Método histórico: quando investigamos o passado para analisar situações
contemporâneas de uma determinada realidade. A história entra como uma
ferramenta de compreensão da sociedade, ou grupo de pessoas, atual.
• Comparativo: como o próprio nome sugere, ele compara duas realidades simila-
res para saber se aspectos em comum possuem a mesma origem ou divergência.
• Monográfico: o método em questão investiga a realidade particular; como
uma profissão em específico ou um determinado papel social.
• Estatístico: neste caso, o nome também mostra bastante sobre como este
método funciona, as análises decorrentes de uma determinada realidade são
feitas com base nas análises estatísticas de um fenômeno.
• Tipológico: conceito desenvolvido por Max Webber, o tipo ideal foi uma ma-
neira de Webber trabalhar seus estudos a respeito da ética cristã protestante.
Assim, este método investiga uma determinada realidade criando tipos ideias
de cenários, agentes e personagens.
• Funcionalista: conceito desenvolvido por Malinowski, as pessoas e as coisas
possuem funções dentro da sociedade e do meio onde vivem e se encontram.
Este método visa analisar uma determinada realidade mediante a função que
ela exerce para aquele determinado meio.
• Estruturalista: desenvolvido por Lévi-Strauss, o estruturalismo analisa uma
determinada realidade pelas estruturas sociais e mentes das pessoas que com-
põe aquela realidade.

Estes são alguns dos métodos utilizados e demonstrados pelas autoras do livro.

O importante dessa lista é termos em mente que na construção de um Trabalho


de Conclusão de Curso, nós podemos nos utilizar mais de um método para atingir
nossos objetivos acadêmicos de pesquisa.

1 LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 7ª Edição. São
Paulo: Atlas, 2010.

18
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Filmes
Perdido em Marte
Lançamento: 2015; Direção: Ridley Scott
O filme mostra como um astronauta precisa articular, desenvolver e construir
conhecimento para poder sobreviver em Marte.
O nome da Rosa
Lançamento: 1986; Direção: Jean-Jacques Annaud
O filme retrata como um monge utiliza métodos de investigação para solucionar crimes
e lidar com a produção de conhecimento por parte da Igreja.
O último Samurai
Lançamento: 2004; Direção: Edward Zwick
O filme retrata como um militar americano lida como uma cultura completamente
diferente e os seus métodos para se inserir nessa nova cultura.
V de Vendeta
Lançamento: 2006; Direção: James McTeigue
O filme retrata os conflitos vividos por uma jovem a medida que investiga e descobre
como a realidade e a verdade são manipuladas por um grupo de pessoas influentes.

19
19
UNIDADE Pesquisa Científica

Referências
BARROSO, André. Jesus Histórico: Importância e limites de um método em John
Dominic Crossan. p. 57 – 68. In: CHEVITARESE, A. L; CORNELLI, G. (orgs). A
descoberta do Jesus Histórico. 1ª Edição. São Paulo: Paulinas, 2009. 167 p.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14ª Edição, 1ª Reimpressão. São Paulo:


Editora Ática, 2010.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais.


6ªEdição. 3ª Reimpressão, 2017. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2014a. 144 p.

FERREIRA, Lydia Masako (coord. e org.). Projetos, dissertações e teses: orien-


tação normativa – guia prático. São Paulo: Red Publicações, 2017. 118 p.

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. 1ª Edição (Reimpressão). Rio


de Janeiro: LTC, 2015.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metod-


ologia científica. 7º Edição. São Paulo: Atlas, 2010. 297 p.

LAKOFF, George. Metáforas da Vida Cotidiana. Campinas, São Paulo: Mercado


de Letras; São Paulo: Educ, 2002.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23ª Edição


Revisada e Atualizada. 10ª Reimpressão, 2014b. São Paulo: Cortez, 2007. 304 p.

WIEBE, Donald. Religião e Verdade: rumo a um paradigma alternativo para o


estudo da religião. São Leopoldo: Sinodal, 1998. pp 131 – 174.

20

Você também pode gostar