Arquitetura e Sociedade
Arquitetura e Sociedade
Arquitetura e Sociedade
e Sociedade
PROFESSORA
Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Coordenador de Conteúdo Flávio Augusto Carraro Designer Educacional Jociane Karise Benedett Revisão Textual
Nagela Neves da Costa; Carla C. Farinha; Cindy M. Okamoto Luca Editoração Arthur Cantareli Silva; Lucas Pinna Silveira
Lima Ilustração Bruno Cesar Pardinho Fotos Shutterstock.
FICHA CATALOGRÁFICA
Arquitetura e Sociedade.
Gabrielle Prado Jorge Yamazaki.
Maringá - PR.: Unicesumar, 2021.
232 p.
“Graduação - EaD”.
Impresso por:
CDD - 22 ed. 720
CIP - NBR 12899 - AACR/2
ISBN 978-65-5615-484-8
Reitor
Wilson de Matos Silva
Gabrielle Prado Jorge Yamazaki
Oi, meu nome é Gabrielle, mas todos me chamam de Gabi,
isso porque grande parte das pessoas me confundem com
Gabriela, mas meu nome tem dois “L” e “E”, então, prefiro
que seja Gabi! Sou arquiteta e urbanista, apaixonada pela
minha profissão e, quando criança, falava para os meus pais
que eu teria uma profissão que me proporcionasse melho-
rar a qualidade das cidades, pois era inconformada em ver
o “descaso” com elas. Então, foi aí que tudo começou! Eu me
formei em Arquitetura e Urbanismo, mas, ainda, que atuasse
na área (com escritório de arquitetura e interiores), parecia
que faltava algo. Em toda minha vida, tive a referência da
minha avó paterna, que era professora; por isso, busquei
conhecer essa profissão, e me apaixonei. Hoje, sou docente,
empresária, esposa e mãe de um menino lindo, que me ensina
diariamente o quão importante é pensar nas pessoas e nos
espaços que elas vivenciam, em busca de promover bem-es-
tar e qualidade de vida a elas. Ah! Sem deixar de pensar no
meio ambiente e na natureza, os quais nos fazem vivenciar
Aqui você pode momentos importantes em nossa vida!
conhecer um
pouco mais sobre
mim, além das
informações do
meu currículo.
REALIDADE AUMENTADA
Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo
Unicesumar Experience. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os
recursos em Realidade Aumentada. Explore as ferramentas do App para saber das
possibilidades de interação de cada objeto.
RODA DE CONVERSA
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode
sobre o código, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido
PENSANDO JUNTOS
EXPLORANDO IDEIAS
EU INDICO
Enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliaram a discussão sobre
os assuntos de maneira interativa usando a tecnologia a seu favor.
Suponhamos que você, enquanto arquiteto(a) e urbanista, foi convidado(a) para pa-
lestrar em um congresso importante na área; o tema é Arquitetura e Urbanismo e sua
importância para a sociedade. Durante a preparação do seu roteiro, você reflete sobre
correlações da disciplina ao ambiente construído e o quanto a sociedade tem de res-
ponsabilidade sobre o espaço físico, além de compreender os elementos que interferem
na qualidade de vida da sociedade, diariamente. Como você poderia explicar a nossa
responsabilidade, enquanto catalisadores e formadores do espaço?
Sabemos que o arquiteto e urbanista tem como responsabilidade a formação dos
espaços construídos; por isso, é importante que as edificações dos espaços urbanos
sejam pensadas, uma vez que temos a responsabilidade de formatar as paisagens que
compõem as cidades e, consequentemente, a responsabilidade sobre a qualidade de
vida da sociedade. Isso porque o ambiente vivenciado propõe condições efetivas sobre
o bem-estar e conforto dos usuários.
Deste modo, convido você a olhar para a sua cidade, em espacial, o seu bairro; de-
pois, analisar a qualidade das construções, as soluções arquitetônicas das edificações
e, também, verificar os elementos urbanos, como os passeios públicos, ciclovias, sanea-
mento, áreas de lazer. Não deixe de observar as edificações, as soluções adotadas para
os ambientes construídos etc. Estes elementos atendem às demandas da sociedade?
É perceptível a intervenção dos profissionais arquitetos e urbanistas nestes espaços?
Neste panorama, qual deve ser a nossa conduta, enquanto profissionais formado-
res de espaço? Existem orientações e técnicas que devem ser cumpridas a fim de criar
estes espaços com qualidade? Quais são os requisitos da sociedade, de modo geral,
que devemos atender?
Para isso, é importante que reconheçamos alguns parâmetros essenciais que possi-
bilitam o estudo da Arquitetura e Sociedade. Na Unidade 1, faremos uma breve intro-
dução à disciplina de Arquitetura e Urbanismo, buscando compreender os conceitos
iniciais que nos respaldam, durante todo o nosso estudo. Desse modo, pensamos em:
o que é Arquitetura e Urbanismo? O que é Projeto? Quais são os elementos essenciais
para a nossa produção profissional?
Na Unidade 2, estudaremos o Ambiente Construído. Nas primeiras discussões, con-
ceituaremos o termo; compreenderemos as escalas de atuação e, depois, destacaremos
a importância da associação entre a Arquitetura e a Psicologia, trazendo a Psicologia
Ambiental e seus parâmetros como elemento de reflexão espacial.
Na Unidade 3, daremos sequência à discussão do Ambiente Construído, mas, agora,
sob a ótica do usuário, pensando na relação estabelecida entre pessoa e ambiente, o
quanto os ambientes são reflexos desta interação dinâmica e como ele interfere no
comportamento do usuário.
Nas Unidades 4 e 5, discutiremos o Espaço Urbano e as Edificações sob o olhar da
qualidade, buscando compreender o que é a “qualidade” e formas de reconhecê-la den-
tro dos ambientes construídos, em suas diferentes escalas. Buscamos, assim, observar
a promoção de espaços que garantam as qualidades estética e técnica.
Ao chegar na Unidade 6, compreenderemos o conceito e a abordagem da Sociedade.
Até o momento, a nossa conversa direcionou-se à Arquitetura e suas particularidades,
ainda que sempre relacionada ao usuário e à sociedade, mas é preciso que tenhamos
a ciência do que é este conceito e como formata-se esse fenômeno. Para tanto, nos
dedicaremos ao estudo conceitual da sociedade.
Nas Unidades 7 e 8, estudaremos as questões sociais e ambientais no Brasil e re-
fletiremos sobre o panorama brasileiro. Desse modo, discutiremos a relação do am-
biente sob estas duas abordagens, sociais e ambientais, compreendendo as maiores
problematizações que encontramos e as políticas sociais que atuam nestas questões.
E, por fim, na nossa última unidade, falaremos sobre a formação e a profissão do
arquiteto e urbanista, buscando apresentar as particularidades da nossa profissão e
detalhes práticos que possam auxiliar o reconhecimento da nossa responsabilidade
diante da sociedade.
Em suma, a intenção é que conheçamos o ambiente construído e o espaço urbano,
além de compreender o contexto social e ambiental do Brasil, buscando a correlação
da sociedade e do ambiente construído bem como a importância da arquitetura e do
urbanismo no atendimento da qualidade. Dessa forma, você terá um panorama prático
profissional e poderá utilizá-lo, durante a sua carreira.
Convido, então, você, enquanto arquiteto e urbanista, para esta tarefa de palestrar
a respeito da nossa responsabilidade profissional; refletir sobre as questões discutidas
e, por fim, trazer para nossa realidade as condições, buscando sempre cumprir o papel
de profissional responsável pela formação de ambientes construídos com qualidade,
fortalecendo a relação com os usuários, ou seja, a sociedade. Vamos nessa!
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM
1
11 2
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ARQUITETURA E AMBIENTE
URBANISMO: UMA CONSTRUÍDO:
BREVE INTRODUÇÃO DISCUSSÕES
INICIAIS
3
53 4
71
O AMBIENTE A QUALIDADE DO
CONSTRUÍDO SOB A ESPAÇO URBANO
ÓTICA DO USUÁRIO
5 95 6
113
A QUALIDADE SOCIEDADE:
DAS EDIFICAÇÕES DISCUSSÕES
IMPORTANTES
7
135
8
165
AS POLÍTICAS
AS QUESTÕES AMBIENTAIS NO
SOCIAIS NO BRASIL BRASIL
9
183
A FORMAÇÃO E
A PROFISSÃO DO
ARQUITETO E
URBANISTA
1
Arquitetura e
Urbanismo: Uma
Breve Introdução
Vamos lá! Para que possamos compreender o contexto em que estamos inserindo a nossa discussão,
é preciso destacar dois pontos principais: o primeiro é que a arquitetura reflete valores e expressa gos-
tos e aspirações da sociedade como um todo, e o segundo é que o urbanismo vê e se ocupa em como
organizar e planejar o espaço urbano de modo racional e humano. Ainda que estas ciências atuem
com duas dimensões principais: a sociedade, o lugar e o tempo, há divergências entre os estudiosos
quanto ao surgimento destas disciplinas; desta forma, você arriscaria dizer qual é o marco de início
da arquitetura e do urbanismo como disciplinas essenciais à sociedade?
Arquitetura é habitualmente considerada como um ofício, arte ou técnica de organizar os espaços e
criar ambientes em busca de hospedar as diferentes atividades, necessidades e expectativas dos usuários,
objetivando a qualidade estética destes espaços. De tal modo, é perceptível que esta disciplina atua e
acompanha o desenvolvimento da sociedade seja por meio dos espaços internos ou pelo espaço urbano.
A arquitetura, que, por vezes, está associada à pintura, à escultura, à música e à literatura, sempre esteve,
em sua essência, na organização dos espaços, levando em consideração a relação com o homem e suas
atividades, além de ser definida pelo ambiente socionatural em que acontece.
Para a sociedade contemporânea, a principal tarefa dos profissionais arquitetos e urbanistas é o
ordenamento espacial, se, lá no início das discussões sobre a arquitetura, falava-se sobre a preocupação
com as construção dos espaços, apenas, para suprir a necessidade da habitação e da sobrevivência,
atualmente, conseguimos perceber que envolve critérios e preocupações ainda maiores, ou seja, falamos
de uma arquitetura acessível que traduz a preocupação com o espaço urbano e que envolve condições
mais amplas e abrangentes devido à preocupação com a qualidade do que produzimos e o reflexo que
resultará no espaço urbano.
Falar do início da arquitetura e do urbanismo é, essencialmente, tratar das variáveis essenciais: o
espaço e o tempo, que são base de partida da história. Desta forma, compreende-se que a arquitetura
tem sido discutida há muito tempo e se trata de um agente de desenvolvimento e transformações do
espaço; é uma disciplina que decorre de muitos “saberes” relacionados à teoria e à prática da arquitetura
é uma das ciências mais antigas dentro da sociedade.
Quer saber como é simples reconhecer a arquitetura no nosso dia a dia? Neste momento, você está
realizando a leitura do material didático da nossa disciplina em um ambiente, independentemente
de qual seja ele, olhe a sua volta, observe os elementos que o compõe, liste-os mentalmente, avalie as
suas particularidades, a sua forma, as suas cores e as texturas bem como atente-se às questões técnicas
as quais inseriram estes elementos neste ambiente. Agora, feche os olhos, perceba e sinta este espaço,
permita-se experimentá-lo... agora, pense: quais sentimentos surtiram em você neste espaço?
Podemos listar inúmeras decisões inerentes à produção do espaço, e, além do reconhecimento des-
tes elementos, é essencial que você faça uma breve reflexão acerca do quanto este ambiente impacta a
vida das pessoas que o utilizam. Este ambiente atende às necessidades dos usuários? Possui soluções
adequadas e integradas? Há modos de promover melhorias para este ambiente? Faça as suas anotações
no #Diário de Bordo#.
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UNIDADE 1
Descrição da Imagem: a Figura 1 apresenta um ambiente corporativo com estilo industrial, aparentemente, desti-
nado às atividades de escritórios. O espaço é composto por materiais de acabamentos, como tijolos aparentes nas
paredes ao fundo, forro com pequenos arcos revestidos em madeira clara e piso vinílico em tons escuros. Quanto
aos mobiliários, utilizou-se estações móveis de trabalho com bases metálicas e tampos em madeira, cadeiras mó-
veis e mobiliário de apoio ao fundo na cor preta para armazenagem de materiais; por fim, observa-se a presença
da vegetação natural no ambiente. Destaca-se, ainda, grandes janelas promovendo iluminação natural em todo
o ambiente, além de pendentes estrategicamente posicionados demarcando as áreas de trabalho. Observa-se a
dominância das cores preta, laranja e branca.
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UNICESUMAR
Ou seja, sob a ótica profissional, é preciso que tenhamos um olhar pautado nas soluções técnicas e
estéticas, as quais buscam pelo entendimento do comportamento e dos anseios dos usuários, objeti-
vando a criação de espaços funcionais e estéticamente agradáveis.
É possível reconhecer que a Figura 1 se trata de um ambiente corporativo e que, possivelmente,
atende às demandas de um escritório de arquitetura, e isto pode ser assegurado, devido à identidade
estabelecida no lugar. Além disso, é possível definir o espaço como criativo e inovador, consideran-
do, inicialmente, a definição do leiaute, a sua organização centralizada na integração das estações de
trabalho e a ausência de separação e/ou segmentação das áreas de trabalho por meio de divisórias.
Ainda em relação à Figura 1, destacam-se os materiais especificados, que valorizam o sensorial,
por meio das texturas, como os tijolos aparentes, a paginação do piso vinílico e o uso dos metais nos
mobiliários, isto é, as características primordiais do estilo industrial, que são reforçadas pela definição
de iluminação natural e o design de mobiliários adequados. Direcionando a discussão aos critérios que
envolvem a relação do espaço e do homem, é perceptível que o ambiente considerou o dimensionamento
adequado das áreas de trabalho, de modo a orientar as circulações e priorizar a funcionalidade do espaço.
A experiência que realizamos teve como objetivo apresentar a você um conceito recentemente
discutido, no entanto essencial à arquitetura e ao urbanismo, que se refere às experiências dos usuários
nos espaços, que possuem compreensões diferentes em relação ao ambiente construído. Para isso, é
importante que conheçamos a respeito da experiência do usuário, em inglês, user experience (UX), que
concentra a sua discussão na relação no comportamento do usuário em relação ao ambiente construído.
Os estudiosos defendem a vertente de que o comportamento humano, em relação ao ambiente,
depende de valores subjetivos, como as experiências já vividas e os valores culturais aos quais estão
inseridos, e, com isso, o atribui significados particulares, buscando a interpretação da realidade. Sendo
assim, pode-se afirmar que a realidade de cada um é única (BESTETTI, 2004).
Bestetti (2004) coloca que é comumente adotado pelos estudiosos que o comportamento humano
frente ao ambiente físico, depende de valores subjetivos como por exemplo, as experiências vividas,
14
UNIDADE 1
os valores culturais, entre outros, e com isso, cada usuário atribui significados particulares ao espaço,
buscando a sua interpretação particular da realidade.
Para a arquitetura, discute-se a respeito da experiência do usuário a experiência do usuário é dis-
cutida a partir da percepção, ação, motivação e cognição associada ao lugar, ao tempo, às pessoas e
aos objetos (HASSENZAHL; TRACTINSKY, 2006). Assim, compreende-se que a experiência surge
da influência mútua de diferentes sistemas, tratando-se, portanto, de um fenômeno pessoal e indivi-
dual de percepções e respostas que emergem quando se interage com um produto (OLSSON, 2013).
Okamoto (2002), em concordância, defende que esta subjetividade é inerente aos sentidos internos, às
motivações pessoais e à interpretação de fatos que dão origem às ações externas; e, por saber que cada
ação é precedida de um pensamento consciente ou inconsciente, o desafio do profissional arquiteto é
compreender a origem dessas atitudes, a qual modela o comportamento dos usuários.
Neste trajeto, atuar no design centrado no ser humano, como o campo de user experience (UX), é
trazer o usuário para dentro do processo, isto é, inserir, justamente as pessoas dentro disso, é justamente
inserir as pessoas que fazem uso de um produto ou serviço. Um profissional que prioriza UX será, assim,
precisamente, aquele que irá alinhar, refinar e reconciliar objetivos de negócios de acordo com o que o
usuário precisa. Após esta reflexão, é possível compreender que a arquitetura é uma disciplina complexa
e multifacetada, que exige conhecimentos técnicos e estéticos a serem aplicados em suas produções,
além de considerar as questões subjetivas que envolvem os espaços e quem se relaciona com eles.
A arquitetura é uma ciência baseada no conhecimento e ela está relacionada à construção física e
ao emprego dos conhecimentos sobre o comportamento, a percepção e a cultura para criar espaços
que dêem suporte aos usuários e, desta forma, ela se associa às ciências sociais. Assim, a arquitetura é
a mais conservadora das artes humanas, e as suas mudanças têm sido motivadas pelos usuários.
De acordo com Colin (2002), a palavra arquitetura tem origem grega, em que tecton significa
construtor ou carpinteiro e arkhi tem seu significado associado à superioridade. O autor destaca ainda
que Vitrúvio, nomeado o primeiro arquiteto, define arquitetura como “significado e significante”, em
que o significado é o tema (do que se fala), trata-se da forma, e o significante é uma demonstração
desenvolvida com argumentos científicos, trata-se do conceito, ou seja, é a interação entre a forma e o
conteúdo, considerando o lado experimental versus o lado conceitual.
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UNICESUMAR
Vitrúvio, ainda, deixou seu legado: apresentou um modo de compreender a arquitetura a partir
de três princípios básicos: as firmitas, referente à solidez, a utilitas, referente à funcionalidade, e as
venustas, referente à beleza.
Descrição da Imagem: a Figura 2 mostra um triângulo equilátero representando o Triângulo de Vitrúvio. Nas três
vértices desse triângulo, há círculos que representam os três pontos que compõem a arquitetura, ou seja, cada uma
dessas vértices aponta os três princípios básicos, que, quando integrados, produzem uma arquitetura eficiente. O
primeiro princípio (vértice superior) é definido pelas utilitas, que se refere ao componente funcional (uso); o segundo
(vértice inferior à esquerda) é definido pelas firmitas, que se refere ao componente técnico (matéria); e, por fim, o
terceiro princípio (vértice inferior à direita) é definido pelas venustas, que se refere ao componente estético (beleza).
Neste contexto, Marques (2012, p. 5-6) aponta as principais características apresentadas pelo arquiteto:
• Utilitas: a palavra função deriva do latim functio/functionis. Todo o espaço arquitetônico destina-se a determinado
fim, sem o qual não tem necessidade de existir.
• Firmitas: a sua origem encontra-se no termo grego teknné, que significa “arte ou maneira de agir”. A técnica defi-
ne-se como o conjunto de regras ou procedimentos para se fazer algo com determinada finalidade.
• Venustas: a estética provém da palavra grega aisthesis, que significa percepção sensorial, mas cuja definição pode
ser ampliada como a da ciência das aparências perceptíveis, da sua percepção pelos homens e da sua importância
para estes como parte do sistema sociocultural.
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UNIDADE 1
Além disso, também, fala-se sobre a experiência de vida adquirida na própria natureza: o bom co-
nhecimento da natureza é a base do conhecimento e da orientação para a elaboração de espaços mais
saudáveis e, para isso, é necessário compreender os comportamentos dos animais e dos vegetais locais.
E, por fim, é importante reconhecer que a medida de todas as coisas estará associada ao corpo humano
— quando falamos, então, da escala e do número da harmonia (KONG, 2009).
Descrição da Imagem:a Figura 3 apresenta um círculo com um quadrado e a figuração de um homem com os braços
e pernas abertas, representando o Homem Vitruviano, definido por Leonardo da Vinci, que ao relacionar o corpo
humano à proporcionalidade e ao nível de perfeição das formas, apontou as proporções ideais, segundo o modelo
clássico. Na imagem, há a sobreposição de imagens de um homem nu, em quatro posições diferentes, em que se
observa os braços em duas posições: na primeira, eles estão dispostos em ângulos de 90 graus e, na segunda, estão
mais deslocados mais acima da cabeça. Quanto às pernas, observa-se que elas estão abertas e fechadas, com um pé
apresentado frontalmente e outro lateralizado.
A arquitetura, ainda que permeie por caminhos artísticos, é uma ciência que engloba con-
dições técnicas. Neste panorama, é importante que saibamos reconhecer o processo que é
estabelecido nesta disciplina, ou seja, é importante que reconheçamos o que é o projeto, a
sua metodologia e as demais particularidades inerentes a nossa produção.
17
UNICESUMAR
“
[...] propôs-se o conceito de projeto como uma atividade ou serviço
integrante do processo de construção, responsável pelo desenvolvi-
mento, organização, registro e transmissão das características físicas
e tecnológicas especificadas para uma obra, a serem consideradas na
fase de execução. Dentro da mesma orientação, definiu-se projeto
para produção: conjunto de elementos de projeto elaborados de
forma simultânea ao detalhamento do projeto executivo, para uti-
lização no âmbito das atividades de produção em obra, contendo as
definições de: disposição e sequência das atividades de obra e frentes
de serviço; uso de equipamentos; arranjo e evolução do canteiro;
dentre outros itens vinculados às características e recursos próprios
da empresa construtora (MELHADO, 1994, p. 8).
Falar sobre o projeto e seu processo, Kowaltowski et al. (2006) destacam que os mé-
todos de projetos arquitetônicos possuem grande complexidade por se tratarem de
uma área intermediária entre a ciência e a arte, além de abrangerem um panorama
técnico de sistema de avaliação de desempenho das edificações e dos indicadores de
qualidade de projetos, entre outros. Portanto, ressalta-se a inexistência de métodos
rígidos e universais entre os profissionais, mesmo que existam procedimentos que
são, comumente, adotados por eles.
As relevâncias das discussões das metodologias de concepção de projetos de
arquitetura, na indústria da construção civil, são derivadas de parte substantiva dos
problemas de edificações, devido a falhas na etapa de elaboração de projeto. Desta
forma, é possível compreender que os projetos têm papel fundamental no atendimento
dos requisitos de qualidade dos produtos construídos e na edificação dos sistemas
de produção (FABRÍCIO, 2002).
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UNIDADE 1
Ainda que se fale da arquitetura como uma ciência antiga, que podemos datá-la
como tão antiga quanto a humanidade, desde que o homem se preocupava em “ha-
bitar”, muitas das discussões referem-se ao “ato de projetar”, ou seja, reflete-se sobre
o processo de projeto. A arquitetura é, amplamente, discutida entre os pesquisadores
e, ainda que seja baseada em um raciocínio de investigação, especulação e interpre-
tação, que, de modo bastante assertivo, é defendida por Silva (2011) como a arte de
responder a algum problema, ela não possui um único caminho correto, ou uma
única teoria sobre como projetar.
Para Lawson (2004), uma comparação bastante simples refere-se ao ato de
projetar e ao jogo de xadrez, o qual não possui divisões em casas, ou seja, existem
as peças que podem ser inventadas e movimentadas conforme o jogo avança, e
as regras podem ser alteradas à medida que os movimentos são realizados, as-
sim, a atuação e o objetivo do jogo não estão definidos no início e podem sofrer
alterações enquanto o jogo acontece.
O desafio profissional dos arquitetos é tornar a arquitetura centralizada no
atendimento às expectativas dos usuários, desde os aspectos básicos de habitabi-
lidade até as condições estéticas, associando, em seus projetos, os valores estéti-
cos/formais e o desempenho do ambiente construído, sem deixar, de lado, a sua
qualidade funcional (VOORDT; WEGEN, 2013). Neste quesito, considera-se os
seguintes critérios de desempenho: funcionalidade, conforto ambiental, acessi-
bilidade, segurança pública, privacidade, flexibilidade, entre outros, em busca de
medir a satisfação dos usuários.
Ao falarmos de projeto, precisamos entender que uma das suas maiores dificul-
dades se refere à má elaboração do programa de necessidades, estruturado por meio
do briefing, em que falta planejamento e entendimento das premissas e expectativas
do cliente por parte do arquiteto (KOSKELA, 2000). Para isso, é importante que com-
preendamos o que é o programa de necessidades e/ou programa arquitetônico.
Peña e Parshall (2001) definem a programação (do inglês, programming) como
um processo que conduz ao encontro do problema arquitetônico e às exigências a
serem cumpridas, em busca de oferecer as soluções adequadas ao problema. Este
instrumento tem natureza reflexiva, informativa, crítica, orçamentária e contratual
e é dividido em três seções: a primeira refere-se às condições limitantes, as quais
envolvem os pré-requisitos, como as leis, as normas e as questões financeiras; a se-
gunda, às características do grupo-alvo, as quais descrevem as metas da organização
dos usuários e suas atividades; e, por fim, a terceira define as necessidades relativas
ao objeto, à configuração espacial e aos componentes da edificação (Figura 4).
19
UNICESUMAR
Descrição da Imagem:a Figura 4 mostra o ciclo do processo de projeto e execução a partir da representação de três
círculos maiores que contemplam os agentes: projetistas, construtora e usuário/cliente. Mais ao centro, há mais três
círculos que representam a construção, o projeto e o programa de necessidades, todos eles conectados por meio de
setas. Esta figura dá destaque ao programa de necessidades, que está representado pelo círculo em vermelho, e a sua
importância neste processo, tratando-se do instrumento inserido nas etapas de projeto, programação e execução.
A estruturação das informações do projeto que um programa de necessidades deve abranger e serve como
checklist para a atividade de programação; dessa forma, compreendemos que a programação arquitetônica
é uma fase relacionada à definição do projeto, ou seja, ao momento em que se descobre a natureza do
problema projetual, na qual os valores do cliente, do usuário e do arquiteto são identificados, os objetivos,
articulados e o processo de gerenciamento das necessidades é iniciado (HERSHBERGER, 1999).
O programa de necessidades é um registro das premissas, dos desejos e das condições limitan-
tes como parte do processo de construção, que é elaborado a partir de uma análise meticulosa da
organização das atividades a serem abrigadas nas edificações e das condições especiais necessárias e
desejadas para o projeto (VOORDT; WEGEN, 2013). Desta forma, o programa arquitetônico é um
procedimento de análise, e seu objetivo é listar as condições do contexto em que um edifício operará
em termos de requisitos funcionais.
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UNIDADE 1
21
UNICESUMAR
Mahfuz (2013) coloca, como criativo, o arquiteto que traz respostas ao lugar,
soluções para as necessidades humanas. Atualmente, são inúmeras as necessidades
humanas, que vão desde as necessidades básicas de alimentação até o uso sus-
tentável dos recursos naturais. Desse modo, Colin (2002) relata que a arquitetura
exprime um produto cultural de uma sociedade, isto significa que, sob a visão
antropológica, a arquitetura apresenta um produto da cultura quanto à forma
que nos organizamos em sociedade.
Vale ressaltar que, ainda que a palavra sociedade possa ter diversos significados,
neste contexto, ela se trata do agrupamento humano que vive sob regras e costumes
em comum, o qual requer trocas cognitivas e morais no intercâmbio com os iguais.
Desta forma, estas relações sociais eminentes à sociedade produzem e organizam
o espaço e o tempo; assim, a arquitetura e o urbanismo promovem a construção
de novos significados para a cidade, que traz a representação e a comunicação de
ideias referentes ao espaço construído, baseado na história e na teoria da arquite-
tura e do urbanismo. Ou seja, estamos, a todo momento, construindo a sociedade
e seus significados e, consequentemente, o ambiente construído.
Faremos uma pausa em nossa leitura para
conversarmos um pouquinho mais sobre o
conceito de sociedade, tanto para a Sociologia
quanto para a Arquitetura. Ainda que seja uma
discussão complexa, é essencial que saibamos
trazer o conceito à frente do debate da arquite-
tura e do urbanismo! Tenha a sua dose extra de
conhecimento assistindo ao vídeo!
Ao falar do elemento base do Urbanismo, a
cidade, Farrelly (2014) define que ela abriga as
construções, e a arquitetura é o reflexo de cul-
tura e sociedade, abrigando pessoas e modos de vidas diferentes. Entende-se que a
cidade é o cenário de trabalho do profissional arquiteto, que indiferente da escala
de produção, insere-se no contexto urbano.
Ching e Eckler (2014) afirmam que a cidade é composta de um conjunto de es-
truturas diferentes, como os bairros, o sistema viário e as edificações, e ele atende às
necessidades específicas daquele usuário, naquele lugar, ou seja, a cidade passa a ser
a composição de diversidades e, inevitavelmente, resulta em diversidade de soluções
de projeto. Definir o termo cidade é complexo, conforme defende Rolnik (1988),
pois exige certo grau de abstração; ela é entendida como esfera política e descrever
o processo de morar em cidade implica viver em uma dimensão pública de forma
coletiva. Assim, ser habitante de cidade significa participar, de alguma forma, da vida
pública, ainda que, apenas, pela submissão a regras e regulamentos.
22
UNIDADE 1
Agora sim é possível entendermos algumas questões que viemos discutindo nesta unidade e, em busca
de compreendermos, principalmente, a importância da arquitetura frente à sociedade, avaliamos
algumas questões. Imagine que você, arquiteto(a) e urbanista, depara-se com a seguinte paisagem:
Figura 5 - Ocupação habitacional
23
UNICESUMAR
Qual é a sensação que esta imagem causa a você? Qual é a sua percepção sobre habitar este espaço?
Qual é o seu entendimento sobre habitabilidade? Antes de iniciarmos a nossa reflexão acerca da Figura
5, é importante ressaltarmos a conceituação de habitabilidade. A NBR 15.575, que trata da Norma de
Desempenho das Edificações Habitacionais, define habitabilidade por “manter a satisfação do usuário
durante a utilização do imóvel” (ABNT, 2013, p. 8.) e, nesse âmbito, há exigências a serem cumpridas,
como: estanqueidade da água, desempenho térmico, desempenho acústico, desempenho lumínico,
saúde, higiene e qualidade do ar, funcionalidade e acessibilidade, conforto tátil e antropodinâmico.
Outra vertente que revela condições de habitabilidade é defendida por Oliveira (2013) como a relação
e adequação do homem ao seu entorno, que estão associadas às questões de conforto ambiental, es-
pacial e psicossocial. Ainda, destaca-se as questões construtivas, como a segurança e a manutenção da
moradia. Esta é uma concepção ampla do termo habitabilidade, talvez, a mais apropriada para alcançar
níveis desejáveis para uma habitação adequada.
Sabemos que as áreas ocupadas sem organização e/ou as favelas são o conjunto de habitações que,
de modo desorganizado e bastante denso, ocupa determinada área, seja ela pública ou privada e, na
maioria das vezes, sem infraestrutura básica, em que os usuários se organizam de acordo com as suas
possibilidades. Estas são respostas ao processo de urbanização indissociável do período da industria-
lização, nas décadas de 50 a 70, anterior ao fenômeno da concentração urbana no Brasil (CAMPOS,
1999). Falaremos destas questões durante a nossa disciplina, o importante, neste momento, é que
saibamos que a ausência do planejamento urbano, frente ao processo de organização da cidade e das
habitações, coloca a qualidade de vida dos cidadãos em jogo.
Agora, observe a figura a seguir:
24
UNIDADE 1
25
UNICESUMAR
Muitos autores dizem que a arquitetura nasce junto à sociedade, mesmo que ela não seja nomeada
como tal e que a sua história venha acompanhando o desenvolvimento da sociedade em diferentes
formas de aparições. Entende-se que a arquitetura, efetivamente, nasceu a partir do momento que
houve a preocupação com a relação do homem e o espaço, mesmo que seu objetivo maior era/é tornar
belos e funcionais os espaços
Nós, profissionais da arquitetura e urbanismo, somos atuantes na disciplina que objetiva produzir
e organizar os ambientes construídos e trazê-los à utilização do ser humano, ou seja, produzir e orga-
nizar espaços para os usuários e suas funções, em busca de atender às diversas demandas de ordem
funcional, técnica e estética.
Descrição da Imagem: o mapa mental representa, de modo sucinto, os temas abordados nesta unidade, sendo eles:
Arquitetura e Urbanismo: uma breve introdução, os conceitos de arquitetura e urbanismo, sociedade e projeto e,
para cada um deles, há um desdobramento dos itens que envolvem a nossa percepção espacial e sua relação com o
usuário. Em relação à arquitetura, os termos “cidade” e “lugar” foram abordados, que, em consonância com o grupo
“sociedade”, trouxemos o critério das relações sociais e, em conjunto com a arquitetura e o urbanismo, a relação
entre o homem e o espaço, ou seja, os aspectos que envolvem a “experiência do usuário”. Por fim, no que tange ao
projeto, buscou-se objetivar o ato de “planejar”, além de referenciar dois pontos cruciais nesse aspecto, o programa
de necessidades e a Tríade Vitruviana.
26
Agora é com você! Desenvolva um mapa mental que organize os conteúdos estudados, seguindo
o exemplo da Figura 7. É importante que este mapa traga à tona os elementos-chave, para que
você compreenda os itens que debatemos e para que, deste modo, possamos firmar o conteúdo
e darmos sequência a nossa conversa! Bom trabalho!
MAPA MENTAL
27
1. Leia o texto a seguir:
d) Vitrúvio foi o único arquiteto a discutir sobre as questões da escala e sua relação com
o homem, que, mais tarde, definiu o Homem Modulor, desenhado para atender às
demandas sem desperdiçar o espaço.
e) Vitrúvio dedicou-se a definir dimensionamentos adequados às atividades e concluiu
que não há qualquer relação entre o dimensionamento espacial e a sua funcionalidade.
2. Em relação ao projeto de arquitetura, Leupen (2004, p. 14) diz que ele “não é um pro-
cesso linear, em que uma tarefa específica conduz a uma única solução. É um processo
em que todos os aspectos relevantes são submetidos a um rigoroso juízo crítico”
28
III) Pode-se definir projeto pela determinação e representação prévia do objeto, mediante
a organização dos princípios e das técnicas próprias da arquitetura e da engenharia.
3. Lynch (1960) defende que o modo de alcançar a qualidade na cidade é dado por meio
do acúmulo dos elementos que constituem a paisagem, e estes elementos são agru-
pados em cinco grandes tipos: vias, limites, bairros, cruzamentos e pontos marcantes.
LYNCH, K. The image of the city. Cambridge: The MIT Press, 1960.
29
É correto o que se afirma em:
a) Apenas, I.
b) Apenas, II.
c) Apenas, III.
d) Apenas, I e II.
e) Apenas, I e III.
PORQUE
30
2
Ambiente Construído:
Discussões Iniciais
Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki
Para discutirmos sobre o ambiente construído, seja na escala das edificações e/ou das
cidades, devemos nos questionar a respeito da importância dele na vida do usuário,
ou seja, falar sobre o “espaço de vida”, o qual é capaz de ser ocupado, vivenciado e
modificado pela sociedade que o ocupa. Deste modo, podemos compreender, ini-
cialmente, que a nossa responsabilidade profissional vai além de “construir” espaços,
é preciso olhar para o comportamento humano, refletir acerca de sua interação com
o ambiente construído e buscar promover ambientes que atendam às necessidades
e aos anseios destes usuários com qualidade. Pensando que o ambiente construído é
resultado do modo como o usuário se comporta nele: você, enquanto arquiteto(a) e
urbanista, saberia descrever o modo como os usuários podem perceber e vivenciar
os espaços? Você conseguiria evidenciar quais são os aspectos objetivos e subjetivos
que interferem na percepção de um espaço?
Pensando na composição do ambiente construído, sabemos que ele vai além dos
elementos físicos e, por isso, é preciso que seja mais “humanizado”. A humanização
diz respeito ao ato de tornar humano e sociável, isto é, promover espaços que possam
ser vivenciados e que proporcionem percepções qualitativas aos usuários, sejam elas
individuais ou coletivas.
O ambiente físico evoca o reconhecimento das especificidades morfológicas,
configuracionais e subjetivas que o organizam e o formam, e isto reflete, diretamente,
em como estes espaços são percebidos, a partir das sensações e emoções (positivas
ou negativas) atribuídas a eles, as quais modificam o significado das experiências da
sociedade como um todo. Nesse sentido, os elementos estruturadores das edifica-
ções e da cidade desempenham papel essencial no modo como o espaço é utilizado
e, consequentemente, no comportamento de seus usuários. Portanto, estudar estes
elementos define o ambiente construído, sob a ótica de quem utiliza os espaços, e
isto é essencial para que você, estudante, enquanto futuro(a) profissional, influencie,
de modo positivo, a sociedade em que vivemos.
Talvez, poucas vezes, tenhamos nos questionado a respeito do modo como utiliza-
mos o ambiente físico, não nos damos conta de sua complexidade, e, ainda, o quanto
ele é adaptável à realidade vivenciada pela sociedade que o ocupa. Mas é chegada a
hora de estudarmos estas questões!
Como exemplo, temos a pandemia da Covid-19, que teve início no ano de 2020 e
trouxe consequências no âmbito social, principalmente, no que tange à relação com o
meio urbano: não se pode realizar aglomerações em um mesmo espaço, o que reflete
no “distanciamento social”; aprofundou-se a importância das casas e a sua sanita-
riedade; surgiu (para muitas empresas) um novo modo de trabalhar, o home office;
32
UNIDADE 2
limitou-se o uso dos transportes públicos e trocou-se, quando possível, o modal (ônibus
para bicicletas, por exemplo); etc. Desta forma, inevitavelmente, será preciso pensar no
ambiente físico “pós-pandemia” e, também, nas políticas públicas e ambientais, em busca
de nova ordem urbana. Faça esta análise, pare, por alguns instantes, e olhe para a sua casa
e para a sua cidade: estes espaços sofreram alterações durante o período da pandemia?
Se sim, quais foram elas? Utilizando o seu #Diário de Bordo#, faça as suas anotações!
33
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a Figura 1 apresenta o hall de entrada contemporâneo, ou seja, o acesso de um imóvel, que
possui uma porta em vidro e alumínio preto, à direita. À esquerda, há um espelho redondo fixado numa parede branca
e, abaixo dele, um aparador para jardim metálico preto. Ao fundo, é perceptível o layout de uma sala, conectada a
este hall por uma circulação marcada pelo piso polido.
Trazendo à realidade deste período de pandemia, que exigiu maior cuidado com os espaços internos,
pode-se dizer que não se perdeu a essência projetual do ambiente, isto é, manteve-se (e fomentou-se)
a ideia de promover a ruptura da área externa para a interna, garantindo a desconexão total com o
que está sendo vivido lá fora. Desta forma, o ambiente ganhou maiores cuidados, que não se resumem,
apenas, às sensações que serão promovidas, mas também às condições sanitárias (higiene).
Ações, como deixar os sapatos antes de acessar os imóveis, higienizar as mãos e criar um local para
colocação das máscaras sujas, têm sido, cada vez mais, evidenciadas. Com isso, móveis, no hall de entra-
da, por exemplo, como aparadores, que, antes, eram inseridos para que pudessem ser “porta” elementos
de decoração, têm dado espaço a sapateiras e organizadores, nos quais os sapatos que vieram da rua
são levados à lavanderia e higienizados antes de serem armazenados. Além disso, bancos de apoios,
também, foram inseridos para que os usuários tenham conforto para retirar os sapatos; objetos para
pendurar roupas e bolsas, entre outros elementos.
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UNIDADE 2
35
UNICESUMAR
que envolvem os conhecimentos técnicos dos profissionais arquitetos e urbanistas bem como seus
desdobramentos subjetivos, que esbarram nas relações dos usuários com o espaço físico e social. Nesta
unidade, então, falaremos a respeito destes conceitos e seus enquadramentos nas diferentes escalas de
produção do ambiente construído.
O ambiente construído é o espaço arquitetônico vivenciado, a partir do sentir, do pensar e do
movimentar. Ou seja, refere-se a qualquer espaço físico no qual haja a interação do homem e do
ambiente e que podemos considerar a imposição de um sujeito no meio social e ambiental. Para
Fischer (1994, p. 16):
“
O ambiente construído é espaço de vida, sujeito à ocupação, leitura, reinterpretação
e/ou modificação pelos usuários que interagem com o ambiente social, cultural e
psicológico. Fruto do comportamento humano é resultado de uma série de padrões e
normas sociais que influenciarão as atividades ali realizadas. Esta relação específica dos
indivíduos com outrem num meio determinado faz de todo o lugar organizado aquilo
a que se chama de um espaço ‘habitado’ [ou ambiente construído, para esta pesquisa].
Podemos compreender o ambiente construído como um modelo social de organização das ativida-
des humanas que tem a sua estabilidade apoiada na sociedade, em relação ao modo como o espaço
é moldado pelo ser humano, ou seja, só existe ambiente construído, se ele for ocupado. Cabe a nossa
discussão o reconhecimento das condicionantes que “formam” o ambiente construído, e essas definições
nos ajudam a ter maior clareza sobre a aplicação do conceito.
O termo “ambiente construído” se refere tanto a edificações como a espaços urbanos, ou seja,
atende às diferentes escalas de produção. Segundo Okamoto (2002, p.149-150), “A criação do
espaço arquitetônico [ambiente construído] é a criação do espaço vivencial, tanto para o indiví-
duo quanto para o meio social, onde está em permanente deslocamento de uma atividade para
outra. […] É sentir o espaço, é pensar o espaço, é mover-se no espaço e vivenciar o espaço”.
Fonte: adaptado de Okamoto (2002).
As realidades empíricas dos ambientes físicos e as práticas, a partir do desenho desses ambientes,
trazem-nos alguns pontos importantes para discutirmos enquanto futuros(as) arquitetos(as) e ur-
banistas: o primeiro refere-se à compreensão do “lugar” a partir da percepção humana e individual;
o segundo remete-se à possibilidade de os espaços serem eventos temporais, e não, apenas, limites
físicos; e, por fim, o terceiro diz respeito às pessoas, as quais são os agentes que tornam o ambiente
funcional e o contextualizam (PINK, 2012).
36
UNIDADE 2
Para entendermos, de forma mais clara, as escalas dos ambientes físicos, delimitaremos as classifi-
cações delas; sendo assim, falaremos sobre as edificações e a cidade. Para Blakstad, Hansen e Knudsen
(2008), a edificação se refere ao espaço onde usuários executam determinadas atividades, como as
de trabalho, lazer e descanso, e estabelecem diferentes relações sociais. Já para Colin (2000, p. 52), a
edificação, enquanto objeto arquitetônico, pode ser definida da seguinte maneira:
“
O objeto arquitetônico, edifício, pode ser visto de diferentes ângulos, inclusive de fora,
observando sempre as relações estabelecidas com o meio ambiente, considera-se a sua
composição, na sua forma volumétrica, e em seguida, estando em seu interior, desapa-
recem as relações exteriores e considera-se apenas o edifício e seus elementos entre si,
e relacionados com a própria pessoa, voltando a forma espacial.
As edificações referem-se, de modo geral, às “construções” individuais, sejam elas residenciais, cor-
porativas, comerciais, industriais, entre outras. Nesse momento, enquanto arquitetos(as), vemos além
do raciocínio construtivo, começamos a falar sobre a organização estética, funcional, social e cultural.
As edificações passam a ser vistas como sistema orgânico, responsáveis pela articulação do tecido da
paisagem urbana e do espaço urbano.
Agora, trazendo a uma escala urbana, o território da cidade, em sua parte física, é associado aos ele-
mentos naturais e antrópicos, os quais sustentam a morfologia urbana, que nada mais é que a forma da
cidade. Ao ocuparmo-nos da forma, falamos, concretamente, de experiências (ROSSI, 2001).
37
UNICESUMAR
Em outros termos, podemos unificar toda a discussão acerca do espaço urbano e/ou da cidade no
atendimento às demandas de todos os habitantes e, com isso, ao controle das diversas atividades e
transformações que nela ocorrem, respeitando os limites do meio natural. Neste sentido, podemos
destacar o conceito de urbanidade, que é associado à transformação do espaço urbano a partir da
relação da verticalização, da densidade e da percepção, ou seja, o espaço da cidade é entendido como
uma arquitetura visível e um meio de construção no tempo que remetem à condição da coletividade,
portanto, o espaço é associado à utilização.
Segundo Netto (2013), a definição de urbanidade é associada à condição de experienciar o meio
urbano, em condições diferentes de outros arranjos espaciais da vida coletiva, ou seja, atreladas à
estrutura da cidade. A experiência da urbanidade é, sobretudo, uma experiência do mundo social:
representa nossa imersão em suas condições de continuidade e integração e seu oposto (como no
exemplo do distanciamento social).
Faremos uma pausa em nossa leitura para conversarmos um
pouquinho mais sobre o espaço. Para isso, no nosso estudo, adota-
remos duas abordagens diferentes, a da geografia e a da arquitetura.
Tenha a sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo!
É importante trazermos à discussão aspectos referentes à com-
posição física do ambiente construído. Aqui, referimo-nos à
forma, ou seja, à volumetria do espaço, que é definida por linhas,
comprimentos, larguras, alturas, profundidades, entre outros, isto é,
por limites arquitetônicos (SANTOS, 2006). A forma é a condição
essencial para a composição do ambiente construído, seja ela regular,
irregular, geométrica, orgânica, entre outras, em relação à volumetria da arquitetura, que depende dos
limites compositivos do espaço em diferentes escalas, dos materiais que estão sendo utilizados e suas
características, da composição de cheios e vazios, do espaço livre não habitado e da massa construída
(TEDESCHI, 1976).
A forma tem papel essencial na organização do espaço e na determinação de sua função, uma vez
que ela pode criar conexões visuais, barreiras físicas e elementos que conformam os espaços.
“
A forma arquitetônica é um ponto de contato entre a massa e o espaço [...] formas ar-
quitetônicas, texturas, materiais, modulação de luz e sombra, cor, tudo se combina para
injetar uma qualidade ou espírito que articula o espaço. A qualidade da arquitetura será
determinada pela habilidade do arquiteto e urbanista em utilizar e relacionar os ele-
mentos, tanto nos espaços internos, quanto nos espaços da cidade (BACON, 1974, p. 3).
Não dá para falar do espaço arquitetônico, sem prever, necessariamente, o que o limita, e nesta ação
de limitar é que se constitui o espaço da arquitetura. Desse modo, a partir das formas, são criados os
espaços, que só têm significado se usufruídos pelos usuários. Outro ponto essencial é a função do es-
paço. Para Leitão e Lacerda (2016), a atividade a ser desempenhada pelo objeto está diretamente ligada
38
UNIDADE 2
à forma, ou seja, “a função sugere uma tarefa ou atividade esperada de uma forma, pessoa, instituição
ou coisa” (SANTOS, 2006, p. 69).
A estrutura, para Trindade Junior (1998), é a relação entre as partes da totalidade da edificação ou
do espaço urbano para que a função possa ser proposta, no que tange às relações estabelecidas entre os
aspectos revelados pela forma. Portanto, a estrutura é a ação contínua que traz o dinamismo à forma,
à função e à estrutura do espaço geográfico.
Trazendo um exemplo simples e histórico à nossa discussão, falaremos sobre a produção arquite-
tônica humana do Período Neolítico, que materializa as condições objetivas e subjetivas do espaço.
Observe a figura a seguir:
Descrição da Imagem: a Figura 4 apresenta uma habitação da Era Neolítica composta por pedras. De modo figurativo,
mostra o layout do ambiente com as divisões das atividades estabelecidas por meio dos “mobiliários” em pedras.
Sabe-se que este período, durante a Pré-História, registrou momentos de grande transformação no
modo de viver do homem, que passou a ser sedentário, criou edificações, organizou-se em aldeias, entre
outros. A Figura 4 traz o exemplo da aldeia de Skara Brae, na Escócia, e, ainda que alguns estudiosos
não a coloquem em um nível de produção arquitetônica, estas construções, marcadas pela organização
do espaço, pelo desenvolvimento do mobiliário de pedra e pela apropriação de cores e texturas (aces-
síveis ao momento), carregam, em seu conceito, a apropriação do elemento objetivo, quanto à forma.
39
UNICESUMAR
Além disso, as referidas construções reforçam que esta produção é reflexo da necessidade da socieda-
de local, que deixou de ser nômade e formatou espaços para atender a seus anseios e necessidades. Estes
espaços, ainda, tiveram reflexos significativos no comportamento da sociedade, ou seja, observa-se a
edificação como resposta às necessidades daquele momento, ou seja, de acordo com o comportamento
humano Esta ideia do ambiente construído é, diretamente, associada à ação de arquitetar, que, para
Leitão e Lacerda (2016), estabelece a relação com a ação humana, a qual é a criadora do espaço, ainda
que a arquitetura não se limite ao espaço, ou seja, a interpretação espacial do edifício não é suficiente
para definir uma opinião crítica ou um julgamento sobre uma obra arquitetônica. Cada edifício e
cada espaço urbano são caracterizados por inúmeros valores econômicos, sociais, técnicos, funcionais,
artísticos e decorativos que conformam uma história. Mas é importante que tenhamos claro que a
concepção do espaço, ou seja, o modo como ele se conforma, refere-se à produção da arquitetura, da
qual se fala desde o processo inicial de concepção (ZEVI, 1996).
Agora que compreendemos a forma — que se refere à configuração dada à matéria com a fina-
lidade de obter um objeto individualizado, ou seja, o modo como se apresenta aos nossos sentidos
antes de qualquer reflexão que possamos ter sobre um objeto (COLIN, 2000) — e a função — que,
para a arquitetura e o urbanismo, refere-se ao atendimento a um conjunto de necessidades explícitas
e demais elementos responsáveis pelos estímulos conscientes e inconscientes na relação do usuário a
nível psíquico-espacial —, entenderemos um pouco sobre os aspectos subjetivos do espaço sensorial,
que são responsáveis pela formação do contexto ambiente-indivíduo.
Os elementos subjetivos definem o modo como o usuário se comporta no ambiente, ou seja, são os
parâmetros subjetivos avaliados por um usuário quando no ambiente construído. Para compreendê-los,
conheceremos a Psicologia Ambiental (PA), que trata do tema. Para Teles (2017), a psicologia trata
da investigação sobre o interior do homem e como esse se relaciona consigo próprio e com o ambiente
no qual está presente. Ela busca compreender o comportamento dele, não só como reação à realidade
externa, mas como atividade consciente e observável, para facilitar a convivência do homem consigo
próprio e com o outro e dar subsídios para que ele lide com as experiências da vida.
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UNIDADE 2
Para tornar o entendimento mais claro, sugiro que você faça a leitura
do artigo: “Psicologia e Arquitetura: em busca do locus interdiscipli-
nar”, acessando o Qr-Code. Vale a pena dedicar-se à leitura deste
artigo, pois, nele, discute-se a Psicologia Ambiental na interseção
entre Psicologia e Arquitetura, com ênfase para a inter-relação do
ambiente construído e do comportamento humano.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
41
UNICESUMAR
homem. Define-se como comportamento a relação de qualquer conduta do indivíduo perante o meio
em que está inserido, considerando a resposta a um estímulo específico (BOCK et al., 2002).
Instaura-se, então, o conceito de Comportamento Socioespacial Humano (CSEH), que, para
Pinheiro e Elali (2011), diz respeito ao modo como as pessoas se apropriam do espaço e o utilizam
como elemento ativo na comunicação não verbal, estabelecendo distâncias entre si, as quais apresen-
tam possibilidades menores ou maiores de aproximações, como toque, tom de voz, conteúdo verbal,
consciência de sensações, entre outros. Para Dolle (1993), observar comportamentos isolados não
permite o entendimento do real, já que os comportamentos respondem à necessidade do momento,
socialmente, regulado, portanto, o comportamento individual reproduz um comportamento social.
Em complemento a esta ideia, Gifford (1987) destaca que os indivíduos modificam o ambiente
que estão inseridos, e seu comportamento e suas experiências são, também, modificados por ele. Para
tanto, consideram-se três elementos básicos: o comportamento humano, o espaço físico e a ligação
entre ambos. Verdugo (2005) defende que a maior referência da PA é a influência mútua, que significa
que, a todo momento, o ambiente afeta o modo como percebemos, agimos e sentimos, por meio de
fatores contextuais físicos e/ou normativos, os quais afetam os componentes sócio físicos do ambiente.
Cada ambiente oferece a seus usuários variáveis que influenciam o comportamento humano e
a percepção dos usuários, desde condicionantes objetivas (como iluminação, temperatura, ruídos e
arborização) até aspectos subjetivos (como a sensação de aglomeração e acolhimento, as condições
de apropriação e o clima social). Estas variáveis podem variar conforme as características de quem
percebe o espaço, como gênero, idade, condições físicas, entre outros, que experienciam e interpretam
o ambiente continuamente (ELALI, 2009).
42
UNIDADE 2
Já o conceito de sensação refere-se àqueles contentos da consciência, os quais são “produzidos imedia-
tamente na alma por excitações exteriores, sem intermediários específicos, em especial sem experiên-
cias; puramente à mercê da estrutura inata dos órgãos materiais de uma parte e, por outra, a maneira
original da alma reagir frente os impactos nervosos” (ORTEGA; GASSET, 2011, p. 2017).
A percepção está associada à informação que será captada do ambiente e à forma como serão entendi-
das as informações, ou seja, se ela está conexa à consciência e ao modo como os estímulos dos ambientes
se apresentam e como cada usuário os compreende. Enquanto a sensação está associada à experiência
propriamente dita, ou seja, aos meios internos e externos que proporcionam diferentes sensações que
são promovidas pelos sentidos, isto é, a partir do tato, do olfato, da visão, do paladar e da audição.
Ainda, podemos considerar, então, as sensações do ambiente, que são definidas pelos estímulos do
meio, sem se ter consciência disso. Resumindo: são selecionados os estímulos e as sensações por meio dos
interesses e, a partir daí, formata-se a percepção, por meio de imagem, e a consciência, pelo pensamento
e sentimento, resultando em uma resposta que conduz a um comportamento (OKAMOTO, 2002).
A Teoria da Gestalt se baseia na ideia da compreensão da totalidade, para que haja percep-
ção das partes, a partir da observação do comportamento no processo de percepção. Estes
fenômenos da percepção ocorrem a partir dos estímulos, ou seja, da causa e do efeito entre
o incentivo e a resposta, os quais garantem o entendimento de comportamento.
Historicamente, as discussões sobre a importância do meio físico e o relacionamento com o usuário são
decorrentes da Revolução Industrial, época na qual houve muitas mudanças nas relações de trabalho
e em diversos setores. A cidade precisou se adequar frente às necessidades industriais, resultando em
diferentes modelos de organização territorial e urbana, além disso, trouxe discussões quanto às con-
dições de higiene e infraestrutura sanitária, visando padrões de saúde e qualidade ambiental.
43
UNICESUMAR
Para Souza (2015), a ciência do ambiente construído, inicialmente, apoiou-se nas áreas industriais
e, com isso, incorporou e delimitou a questão da saúde dos usuários. Posteriormente, novas adaptações
foram buscadas visando ao melhor desempenho humano (ergonomia) e lucros na produtividade. Esse
histórico nos faz perceber que, desde o nascimento dessas discussões, há a centralidade no usuário
e em seu comportamento, seja dentro ou fora da edificação. Com a preocupação com os espaços de
trabalho, os critérios foram sendo incorporados nas residências também, adequando as necessidades
dos moradores, e, com isso, os planejamentos das construções começaram a ficar mais elaborados,
ainda que não se falasse sobre os critérios de qualidade espacial (GANN; WHYTE, 2003).
No Período Pós-Moderno, novas discussões foram inseridas na concepção do espaço e, com isso,
a inserção efetiva do corpo e do usuário na arquitetura. Propôs-se, então, a inclusão dos sentidos,
sentimentos e movimentos na percepção, recepção e experiência do espaço arquitetônico desde a
sua concepção. Com isso, passou-se a pensar na experiência corporal e na interação, que ativariam os
sentidos (as sensações) e, até mesmo, os princípios cenestésicos, que, segundo Okamoto (2002), tra-
tam-se da sensibilidade dos movimentos dos membros dos seres humanos no espaço, a qual se refere
à percepção e à manutenção do equilíbrio do corpo como um todo e auxilia na compreensão prática
do ambiente construído e suas variantes, como a cor, a luz, a textura, entre outras.
Falamos, até agora, sobre a percepção, as sensações e o comportamento humano em relação ao am-
biente; agora, precisamos pensar em como podemos organizar estas questões. De acordo com Bestetti
(2014), ao se tratar do espaço arquitetônico, a interligação do programa de um edifício, por exemplo,
define o sentido cinestésico, por este estar associado ao movimento, no sentido que a arquitetura não
pode ser experiência se o homem não a percorrer, compreendendo, então, que a percepção cenesté-
sica só é configurada se o indivíduo percorrer o espaço. Este movimento contribui, também, para a
percepção da escala de um ambiente, sua altura e amplitude, o que provoca reações diversas entre o
indivíduo e o espaço arquitetônico em que está inserido.
A cinestesia é, portanto, um meio de organizar elementos de estímulo relativos à organização dos
fluxos e da permanência nos ambientes, visto que é a sensação que o indivíduo experimenta, conscien-
temente (BESTETTI, 2014). Em conjunto, os elementos subjetivos, como sentido perceptivo (os cinco
sentidos); espacial (movimento cinestésico-vestibular, correspondendo ao equilíbrio e à gravidade);
proxêmico (pessoal, territorial, privado); sentido pensamento (mito, metáfora, arte, estética, religião);
sentido da linguagem (não verbal ou corporal); e sentido do prazer, permitem-nos tomar consciência
(a qual é construída e atinge a memória) das posições e dos movimentos do corpo (OKAMOTO, 2002).
44
UNIDADE 2
O uso de instrumentos, como a maquete, permite potencializar o uso das habilidades sensoriais.
Para ilustrarmos os critérios que envolvem o entendimento de um ambiente construído, por meio da
percepção e das sensações, é importante que listemos as condições voluntárias e involuntárias que nos
permitem reconhecer o espaço. Veja a Figura 6:
Figura 5 - Diagrama do campo dos sentidos / Fonte: adaptada de Malnar e Vodvarka (2004).
Descrição da Imagem: a Figura 5 mostra um diagrama do campo dos sentidos, isto é, um círculo com cinco partes,
numeradas de um a cinco, contendo os elementos que compõem a orientação básica para a compreensão do espaço,
sendo eles: visão, audição, tato, paladar/olfato e cinestesia
O uso dos sentidos e, consequentemente, a percepção resultante deles devem ser integrados, e não
desassociados, pois o corpo humano vivencia a experiência sensorial de forma simultânea e total, e,
assim, a arquitetura consegue ser vivida na sua essência, de forma multissensorial (PALLASMA, 2011).
É interessante ressaltar o quão complementar são os elementos que nos propõem o entendimento
sobre o ambiente construído, pois muitos deles passam despercebidos por nós no nosso dia a dia e
formatam a forma como enxergamos o mundo, a forma como utilizamos o espaço e, acima de tudo, o
modo como nos posicionamos na sociedade.
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UNICESUMAR
A B
Descrição da Imagem: a Figura 6 (a) apresenta um recorte da cidade, na orla, com um trecho de uma ciclovia, com
dois usuários: um homem de bicicleta e uma criança de skate, e a Figura 7 (b) apresenta um recorte da cidade com
um trecho de uma pista de caminhada com dois usuários caminhando e, ao redor, áreas arborizadas.
Vimos, nesta unidade, que há a necessidade de revisar as definições adotadas no planejamento urba-
no, em busca de otimização da mobilização urbana, do trabalho e do lazer, e, com isso, proporcionar
melhores condições às habitações, aos modelos de utilização dos modais ativos e sustentáveis e à es-
truturação de uma infraestrutura urbana sanitária. Isso faz com que as discussões acerca das cidades
sustentáveis sejam, cada vez mais, evidenciadas, de forma a buscar a redução dos trajetos, a reorgani-
zação dos zoneamentos (de modo com que se crie pequenos centros autoportantes em uma mesma
cidade), o aumento dos cuidados com o meio ambiente, entre outros.
Estamos chegando ao final da nossa unidade e faz-se importante relembrarmos os pontos-chave
discutidos, para que possamos incorporá-los à nossa discussão e à abordagem da nossa disciplina. As
nossas conversas giraram em torno das premissas que envolvem os conceitos de ambiente construído
e espaço urbano e, nesse caminho, deparamo-nos com uma disciplina essencial quando falamos da
Arquitetura e da Sociedade, que é a Psicologia Ambiental, ciência que nos orienta sobre as condições
do perceber e do sentir o espaço, incluindo a relação cenestésica com esse.
46
UNIDADE 2
Nesse contexto, o que não podemos deixar de lado é a nossa discussão centrada no usuário, e, por
isso, ela permeará toda a nossa disciplina, pois sua composição densa considera numerosos elementos
que são interligados e precisam funcionar em conjunto. Entender o usuário é uma tarefa complexa e
bastante subjetiva, e cabe a nós, profissionais da arquitetura e do urbanismo, percorrermos os melho-
res caminhos para garantir a qualidade e a satisfação dos ambientes construídos e do espaço urbano.
Descrição da Imagem: A Figura 7 representa o resumo dos termos referentes ao ambiente construído, ao espaço
urbano e à Psicologia Ambiental. Quanto ao ambiente construído, os termos considerados são: espaço de vivência
e ambiente social. No que diz respeito ao ambiente urbano, os termos evidenciados são: real e imaginário. Por fim,
em relação à Psicologia Ambiental, os termos destacados são: sensação, percepção e cinestesia. Todos esses termos
resultam na compreensão da cidade. Na figura, é possível perceber a interação das três vertentes discutidas com o
usuário e a presença dele na composição das questões discutidas.
47
Agora é com você! Desenvolva um mapa mental que organize os pontos-chave da nossa disciplina
sobre o seu processo reflexivo e destaque o que foi relevante para a sua compreensão, para que
possamos, desta forma, firmar o conteúdo e darmos sequência a nossa conversa. Mãos na massa!
MAPA MENTAL
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1. Leia o trecho a seguir:
“Atuar como um ímã significa o poder de convidar, reunir e agrupar pessoas, e com
isso, busca elucidar como o ajuntamento urbano é também uma forma de escrita,
capaz de contar a história de seu povo por meio de sua própria arquitetura e espaço”
(ROLNIK, 1988, p. 3).
ROLNIK, R. O que é a cidade. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Coleção Primeiros Passos).
Com base neste contexto, assinale a alternativa que contempla o termo a que se refere
a citação anterior.
a) Esfera política.
b) Cidade.
c) Urbanidade.
d) História.
e) Espaciais.
2. É tarefa dos profissionais arquitetos e urbanistas buscar projetar espaços que qualificam
os espaços já existentes, pois, no panorama dos espaços urbanos, a sua materialização
reflete a sociedade, que é estabelecida a partir dos valores sociais, culturais, econô-
micos, políticos e ideológicos e, por se tratar de organismos vivos, está em constante
modificação. Neste panorama, descrevemos os parâmetros que envolvem a morfologia
urbana; então, assinale a alternativa que define este conceito.
49
3. A Psicologia Ambiental (PA) é definida como o estudo da transação entre os indivíduos
e o cenário físico, considerando as relações entre a pessoa e o ambiente físico e social
(MOSER, 2011). Considerando esse contexto, avalie as seguintes asserções e a relação
proposta entre elas:
I) O surgimento do campo da Psicologia Ambiental (PA) se deu com o processo de
reconstrução das cidades, após a Segunda Guerra Mundial.
PORQUE
II) Com a implementação de programas habitacionais, os arquitetos e planejadores
urbanos, junto aos cientistas do comportamento, conscientizaram-se de que o am-
biente construído deveria refletir fatores, como as necessidades psicológicas e com-
portamentais dos futuros ocupantes, e não, apenas, condições técnicas e estéticas.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.
50
5. Leia o trecho, a seguir, sobre os elementos objetivos na composição do ambiente
construído:
“A _______________________ é um ponto de contato entre a massa e o espaço [...] formas
arquitetônicas, texturas, materiais, modulação de luz e sombra, cor, tudo se combina
para injetar uma qualidade ou espírito que articula o espaço. A qualidade da arquitetura
será determinada pela habilidade do arquiteto e urbanista em utilizar e relacionar os ele-
mentos, tanto nos espaços internos, quanto nos espaços da cidade” (BACON, 1974, p. 3).
51
MEU ESPAÇO
52
3
O Ambiente
Construído Sob a
Ótica do Usuário
Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki
Você já parou para pensar que passamos a maior parte do nosso tempo em ambientes construídos e,
com isso, as características do ambiente físico impactam, significativamente, no nosso comportamento
psíquico? Você acredita que as características destes espaços são capazes de induzir sensações, fazer
com que as pessoas se sintam bem e, até mesmo, aumentar sua concentração e produtividade? Você
saberia elencar os pontos principais a serem analisados em um ambiente, para que esse atenda aos
requisitos de qualidade do ambiente construído e possa promover melhoria de vida a seus usuários?
O ambiente construído é definido por ser um espaço intrinsecamente social, ou seja, um espaço
no qual a vida acontece, destinado à ocupação, à leitura e à interação social, cultural e psicológica dos
usuários. Sabemos que o ambiente molda as ações dos seres humanos, e a arquitetura se propõe a
incentivar bons relacionamentos, melhorar a vida das pessoas e explorar seu potencial transformador.
É importante destacar que os seres humanos percebem, reagem e respondem, de formas diferentes,
a um mesmo ambiente, e estas manifestações podem ser conscientes ou inconscientes. Vale lembrar,
ainda, que a maneira como vemos as coisas é afetada pelo que sabemos e acreditamos, por isso, or-
ganizamos e atribuímos significados às informações que são vivenciadas. Nesse sentido, a percepção
ambiental é a forma como os usuários “percebem” e “sentem” os espaços físicos, trata-se do modo como
o usuário toma consciência do ambiente.
Sabendo disso, é essencial que você, enquanto profissional arquiteto(a) e urbanista, tenha o conhe-
cimento relacional entre a percepção e o ambiente, para que possa promover ambientes centralizados
no usuário e experiências agradáveis a eles, além de reconhecer a nossa responsabilidade enquanto
formadores de espaços qualitativos.
Experimente! Pare por alguns instantes e observe a Figura 1, a seguir:
Descrição da Imagem: a Figura 1 apresenta a Casa de Vidro, em Connecticut. Esta casa possui uma estrutura metálica
que dá suporte às paredes de vidro e expõe os mobiliários internos e a paisagem circundante.
54
UNIDADE 3
Imagine que você está diante desta construção. Qual é a sensação que ela causa? Como você percebe este
espaço? Você se sente convidado(a) a entrar? Utilizando o seu #Diário de Bordo#, faça as suas anotações!
Reflita sobre a Casa de Vidro, ou Glass House. Ao observar a imagem apresentada, é possível compreender
que o edifício e os materiais utilizados para a sua construção podem atrair um observador e o estimular
a entrar na edificação, além de promover a “curiosidade”. Será que estes elementos foram pensados pelos
profissionais que idealizaram o projeto com este objetivo? E para os moradores, usuários do dia a dia,
qual será a sensação de habitar essa casa? Ela gera sensação de conforto? Você moraria nesta casa?
Estabelecer estratégias projetuais e definir elementos arquitetônicos auxilia na promoção de sensa-
ções nos diferentes usuários, porém o que não se pode é generalizar o modo como cada um percebe o
espaço. Ou seja, ainda que os profissionais de projeto o idealizassem com intenções a serem atendidas,
os “leitores dos espaços” podem compreendê-lo de diferentes formas. No caso da Casa de Vidro, o
arquiteto Philip Johnson, responsável pelo projeto, definiu a edificação como um pavilhão, a partir do
qual se pudesse visualizar a paisagem circundante, por isso, a casa possui uma porta de vidro, locada
no centro da edificação, “abrindo-se” para a paisagem, além de toda a vedação em vidro.
Pensando que a edificação foi construída em 1949, trata-se de uma obra arquitetônica icônica,
devido ao uso de materiais inovadores, ao método construtivo não tradicional e à integração com o
meio externo. O uso de um plano vertical único define a estrutura do edifício e promove a ligação com
o espaço público. A organização do espaço interno é semelhante a um “loft”, ou seja, não há paredes, e a
definição dos ambientes ficou por conta do layout e dos mobiliários desenhados por Mies Van Der Rohe.
É inevitável pensar que, se estivéssemos à frente desta edificação, teríamos curiosidade de aden-
trar o edifício para conhecer o espaço e verificar a sua funcionalidade, visto que, a princípio, não há
55
UNICESUMAR
privacidade e, mesmo assim, foi idealizado como uma residência. A sua formação “fora dos padrões
convencionais” faz com que as pessoas sejam estimuladas a reconhecer o espaço e apropriar-se dele.
O ato de “ver” é associado aos princípios da percepção, nos quais o nosso cérebro usa as próprias
memórias e reconhece os estímulos do ambiente, e isto é possível pelos atributos do objeto. A mente
organiza o modo como percebemos os elementos e, entre os atributos, pode-se destacar: a forma, a cor, a
textura, o odor, o som, o contexto, entre outros. É inegável a influência do ambiente físico para o usuário!
É importante retomarmos o conceito de ambiente construído, que falamos na unidade anterior,
mas, agora, sob uma “nova” ótica. O ambiente arquitetônico, de modo simples, é o espaço real viven-
ciado, é o resultado da materialização do espaço, que possibilita o reconhecimento e a apropriação do
mesmo, transformando-o em “lugar”.
O lugar é um conceito fundamental. Para Santos (2005), um(uns) lugar(ares) é a base da vida
em comum, ou seja, constitui a dimensão da existência, que se manifesta por meio de um cotidiano
compartilhado entre as diversas pessoas, instituições e conflitos, o que remete o usuário à reflexão da
relação do usuário com o mundo. Trata-se do espaço que promove a identificação com algo e que faz
com que os usuários possam vivenciar uma história. Para a arquitetura, é o espaço em que os usuários
se sentem confortáveis ou que proporcionam vivências (BERGAMIM, 2013).
O lugar, também, pode ser entendido como representação espacial, que possui identidade, ou seja,
características intrínsecas e exclusivas. Estas lhe proporcionam a aproximação e a identificação de um
conjunto de elementos (território, paisagens, edificações, lembranças, emoções, cenas urbanas etc.)
com a população que o vivencia ou o vivenciou (SANTOS, 2005). Na arquitetura e no urbanismo,
ainda, compreende-se que o espaço é estabelecido a partir do conjunto de componentes físico-quí-
micos de ecossistemas naturais e de pormenores sociais em que se insere o ser humano, de modo
individual e/ou coletivo, e, por meio da ocupação do espaço, são promovidos o desenvolvimento
de atividades e a preservação de recursos.
Fortalecendo essa definição, Okamoto (2002, p. 149-150) diz que “A criação do lugar construído é a
criação do espaço vivencial, tanto para o indivíduo quanto para o meio social, onde está em permanente
deslocamento de uma atividade para outra. […] É sentir o espaço, é pensar o espaço, é mover-se no espaço
e vivenciar o espaço”. Ou seja, o ambiente construído manifesta-se como modelo social de organização
da atividade humana e, ao mesmo tempo, como instrumento funcional e cultural (FISCHER, 1994).
Neste sentido, a interação entre o homem e o ambiente existe, e esta abordagem define o homem
como sujeito fisiológico, afetivo, cognitivo e social. O afetivo aborda os sentimentos e as emoções com
pessoas e locais de permanência; o cognitivo atua no conhecimento, na linguagem e na razão; e o
social, nos valores da convivência em sociedade (DOLLE, 1993).
Como sabemos, as cidades e os edifícios têm diversas implicações na qualidade de vida e de trabalho
dos usuários, porém a questão maior é que as pessoas se “sentem” saudáveis mediante o atendimento
de aspectos das necessidades físicas e psicológicas do corpo, espírito e mente (GUZOWSKI, 1999).
56
UNIDADE 3
Amérigo (1995, p. 55) coloca que “[...] um resultado afetivo, uma resposta emocional ou uma con-
sequência de caráter positivo que provém da comparação entre o ambiente e a situação do usuário, e
tudo é estabelecido dentro de um processo cíclico e dinâmico, em que a pessoa se adapta a cada situa-
ção”. Trazendo à prática arquitetônica o ambiente construído, destacamos prioritariamente a função
de uma edificação e/ou de um espaço, que é definida pelo “tipo especial de atividade” ou “modo de
ação” deste (VOORDT; WEGEN, 2013). Sob uma análise funcional, Zeeman (1980 apud VOORDT;
WEGEN, 2013) apresenta as quatro funções essenciais do espaço construído:
• Função protetora: proteção dos usuários e das propriedades contra perigos e influências
ambientais.
• Função territorial ou de domínio: os ambientes físicos tornam possíveis de trabalhar em
lugar próprio, garantindo a privacidade e a segurança pessoal e patrimonial.
• Função social: as edificações criam espaços e lugares que os usuários podem cumprir as suas
atividades.
• Função cultural: os ambientes físicos devem atender às exigências ligadas à forma e ao caráter
do ambiente espacial, considerando fatores estéticos, arquitetônicos, ambientais, e de planeja-
mento bem como desenho urbano.
57
UNICESUMAR
Com isso, vale destacar que o ambiente que utilizamos abrange valores objetivos, como forma, função,
cor, textura, aeração, temperatura, iluminação, sonoridade, significante e simbologia, que resultam
no espaço arquitetônico sensível; e é por meio deles que o ambiente é sentido e os fatos e os eventos,
selecionados por interesse. Além disso, os referidos valores definem a percepção da realidade de
forma consciente, os demais estímulos são levados ao inconsciente e formatam o contexto ambiental
(OKAMOTO, 2002).
Falando sobre o comportamento humano, podemos encarar a arquitetura como modo de otimizar
o espaço para determinadas funções e atividades, em que os elementos dos espaços são percebidos e
utilizados pelos usuários, e estes reagem por meio dos estímulos sensoriais que estimulam o cérebro,
de modo a atendar aos objetivos. Neste contexto, destaca-se a teoria do Environmental Role, que
descreve os padrões de interação desenvolvidos pelos indivíduos em determinado ambiente, a partir
das diferentes vivências culturais, aspectos demográficos, entre outros.
A teoria do Environmental Role é definida pelos pesquisadores como a incidência de um indivíduo
em determinado ambiente e o desenvolvimento padrão de interatividade, que varia de acordo com
seu papel social no contexto, o que leva a uma percepção avaliativa, que, para Canter (1972), limita
a interação do homem com o seu ambiente, ou seja, ele construirá conceituações diferentes em um
determinado ambiente. Nesta conjuntura, a relação pessoa/ambiente define que:
“
O homem e suas extensões constituem um sistema inter-relacionado. É um erro agir
como se os homens fossem uma coisa e sua casa, suas cidades, sua tecnologia, ou sua
língua, fossem algo diferente. Devido à inter-relação entre o homem e suas extensões é
58
UNIDADE 3
conveniente prestarmos uma atenção bem maior ao tipo de extensões que criamos [...].
Como as extensões são inanimadas, é preciso alimentá-las com feedback (pesquisa), para
sabermos o que está acontecendo, em particular no caso das extensões modeladoras
ou substitutivas do meio ambiente natural (HALL, 1977, p.166-167).
Estudos sugerem que os conteúdos das paisagens têm efeitos positivos no âmbito da saúde mental e
física dos usuários, por exemplo, as paisagens naturais são capazes de reduzir o estresse, e esta ideia
fortalece a discussão de que a produção dos ambientes deve centralizar-se na concepção de espaços
que tenham conexão direta com os as necessidades e expectativas essenciais ao usuário (nas suas par-
ticularidades), em busca de reduzir os efeitos psicológicos e físicos adversos pela ausência de produção
de espaços adequados (JOYE, 2007; PINKER, 2010).
O comportamento humano pode ser influenciado por meio do arranjo do espaço físico, podendo
alterar o humor ou percepção dos indivíduos e, consequentemente, o comportamento do usuário.
Levando em conta estes aspectos, de forma interdisciplinar, a ambiência poderá colaborar para que o
projeto do ambiente proporcione bem-estar aos seus futuros ocupantes.
59
UNICESUMAR
60
UNIDADE 3
por fim, 7) ativação do usuário, em que há a otimização do uso do espaço, garantindo a vitalidade da
edificação e do espaço urbano, que torna, assim, o “espaço da vida”.
Um destaque importante a ser feito nesta reflexão é estabelecer que o termo ambiente construído,
também, é usual para o âmbito da cidade, a qual precisa lidar com diferentes relacionamentos e aproxi-
mações, ou seja, a configuração do território urbano é dada pelas relações sociais e definida pelo conjunto
indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ação (SANTOS, 2005). Desta forma, é essencial termos
um olhar crítico e reflexivo sobre o ambiente construído, em suas diversas manifestações e escalas.
A forma como o ambiente construído influencia o comportamento das pessoas permite considerar
o estudo da percepção e do comportamento ambiental como fundamental, possibilitando a análise do
comportamento com ênfase na experiência humana, que destaca a influência das dimensões espon-
tâneas e reflexivas desta experiência no ambiente natural construído (RHEINGANTZ et al, 2009).
Como vimos até agora, falar do ambiente construído é trazer as questões que envolvem a qualidade
do espaço. Neste panorama, é importante pensar sobre como promover “qualidade” ao ambiente
construído, visto a necessidade de atender (e agradar) aos diferentes usuários. E como avaliar a qua-
lidade dos espaços? Quais são os métodos que possibilitam a avaliação da qualidade dos ambientes?
Entraremos, agora, em uma discussão bastante complexa, em que qualificar o ambiente construído
é uma atividade que demanda abordagens perceptivas e cognitivas, ressaltando as condições que de-
finem o ambiente/comportamento e buscando respostas a partir das relações entre as características
físico-espaciais e do comportamento dos usuários. Tais relacionamentos são definidos a partir das
experiências espaciais.
Reis e Lay (1995) colocam que a qualidade do ambiente construído está, entre outras condicionantes,
associada ao desempenho deste espaço físico, considerando os aspectos de estética, uso e estrutura-
ção, além da sua inserção e relacionamento com a paisagem urbana. Tais autores definem três pontos
principais a serem elencados na análise da qualidade do ambiente construído:
• Estética: neste item, caracterizam-se os elementos que estimulam os sentidos e as sensações,
ou seja, aqueles associados à experiência estética sensorial visual, à estética formal e ao processo
de percepção (simbolismo).
• Uso: nesta categoria, caracterizam-se os elementos que afetam o uso das edificações e dos
espaços urbanos, ou seja, é necessário considerar a satisfação do espaço de acordo com as suas
funções pré-estabelecidas.
• Estrutura: determinada pela permeabilidade ou acessibilidade funcional, que é dependente da
legibilidade física, dos padrões de atividades e da imaginabilidade (capacidade de uma imagem
promover a percepção da memória do observador).
O modo de executar o projeto é afetado por diversas questões levantadas pela necessidade de garantir
funcionalidade à edificação, entre elas, a adequação dos espaços ao uso e às atividades realizadas (CAR-
VALHO; SPOSTO, 2012). A qualidade da produção de projetos refere-se à participação efetiva dos
futuros usuários nas definições das características das edificações e, com isso, ao desenvolvimento de
projetos participativos, em maior ou menor escala, envolvendo os moradores nas tomadas de decisões.
61
UNICESUMAR
Falar sobre o processo participativo, tanto no âmbito do espaço arquitetônico (edificações) quanto
no espaço urbano, é essencial, e estas discussões permeiam desde as décadas de 60 e 70 e sugerem três
parâmetros, de acordo com Braga (2016):
• O usuário possui, pelo menos, parte do controle decisório e é livre para contribuir no projeto,
na construção ou no gerenciamento, e o processo e o ambiente são resultantes dos estímulos
do bem-estar individual e coletivo.
• A satisfação dos usuários não possui correlação direta com a imposição de padronagens da
arquitetura.
• As deficiências e as imperfeições nas edificações, decorrentes do processo, são mais “toleráveis”
se forem de responsabilidade do usuário.
Desta forma, podemos ressaltar que a participação do usuário, no contexto da produção de sua habitação
ou cidade, não é, apenas, para alcançar o produto edificado, mas para estimular o comprometimento,
a compreensão, a aplicação e o uso correto dos sistemas que envolvem as edificações, tornando, assim,
o processo produtivo, no entanto complexo.
Segundo Matos (2010), no processo tradicional de projeto e, posteriormente, na aprovação das
propostas apresentadas pelo profissional, o usuário final participa fornecendo informações; enquan-
to, no processo participativo, as decisões são tomadas, ao longo do processo de desenvolvimento de
projeto, conforme as demandas, e o usuário tem papel ativo na elaboração do projeto, isto é, ele
não é visto, apenas, como fornecedor de informações, mas também como percursor, para a conquista
de uma arquitetura mais comprometida com as demandas (reais) humanas, já que a realização de
projetos centrados nos usuários garantem maior vínculo de usabilidade e manutentabilidade por
parte dos usuários.
Tratando-se do conceito de participação do usuário no projeto arquitetônico, percebe-se a
contribuição e a preocupação social na tentativa de satisfazer os usuários, e não, apenas, preocupar-se
com o produto final. Dentre as vantagens deste processo, destaca-se o ganho de qualidade no espaço,
pois ele cria laços afetivos derivados de uma sensação de apropriação decorrente da participação na
definição de seus espaços (IMAI, 2010).
Embora, em algumas situações, a participação dos clientes no processo não seja pelos próprios
usuários finais da edificação, é fundamental essa interação para o esclarecimento de como os pro-
blemas de projeto devem ser abordados por parte dos projetistas (LAWSON, 2011). Desta maneira, é
relevante considerar que o espaço arquitetônico, como vimos, é constituído e organizado a partir da
integração das pessoas, da relação dessas com o espaço e das possíveis regras vigentes, entendendo a
função do usuário no espaço.
Observe as imagens:
62
UNIDADE 3
63
UNICESUMAR
quem utilizará este espaço e quais são as suas necessidades e particularidades, pensando nas questões que
evidenciam melhores condições espaciais e vitalidade nas edificações e nos espaços urbanos.
Trazendo a escala do edifício, observe as Figura 4 e 5:
64
UNIDADE 3
Já, na Figura 5, podemos ver o mesmo estabelecimento comercial, no entanto, agora, com a inserção
de usuários utilizando o espaço (duas senhoras sentadas à mesa). Ainda que simplificado, é perceptivo
o modo como há a apropriação do espaço, atendendo às necessidades dos usuários, que são específicas
para estas funções. Sob essa ótica, obtém-se uma arquitetura preocupada com o seu usuário, buscando
a adequação do ambiente à função que desempenha, considerando quem utilizará o espaço como
elemento fundamental e primordial do processo de projeção.
É hora de recapitularmos, de modo bastante intuitivo, o que tratamos até agora, para o(a) auxiliar nos
seus estudos! O nosso eixo de discussão foi o conceito de ambiente construído e, com isso, o modo como
ele se estabelece bem como a sua abordagem e particularidades. Ainda que seja um termo muito comum
na arquitetura e no urbanismo, as discussões são distantes à produção do espaço propriamente dita,
ou seja, trazendo toda a relação
para a prática projetual; desta
forma, na maioria das vezes, fa-
lamos sobre a importância do
ambiente construído, mas pou-
co se traz sobre a sua influência
no comportamento humano nas
diferentes escalas de produção
da arquitetura e do urbanismo.
Esta discussão tem sido, cada
vez mais, presente e significativa
na Era Contemporânea, visto que
a centralização da produção dos
profissionais catalisadores do es-
paço se apoia na experiência que
o usuário conquista ao utilizar Figura 6 - Mapa Mental / Fonte: a autora.
um determinado espaço. Tenha
sempre em mente estas condições: Descrição da Imagem:a Figura 6 representa o resumo dos termos abor-
dados na unidade, sendo eles: Cognição Ambiental, Environmental Role,
quando produzimos e elaboramos pessoa/ambiente e processo participativo. A Cognição Ambiental está ba-
um ambiente construído, deve- seada na teoria do Environmental Role, que se associa ao comportamento
dos usuários, considerando os parâmetros da ambiência e centralizando
mos olhar para o comportamento a produção do espaço na relação pessoa/ambiente. Na figura, é possível
visualizar que a relação do usuário depende da interação dos quatro re-
humano e estabelecer condições feridos eixos centrais.
de qualidade espacial.
65
Agora é com você! Desenvolva um mapa mental que organize os pontos-chave da nossa disciplina
sobre o seu processo reflexivo e destaque o que foi relevante para a sua compreensão, para que
possamos, desta forma, firmar o conteúdo e darmos sequência a nossa conversa. Mãos na massa!
MAPA MENTAL
66
1. Leia o trecho a seguir:
“A criação do lugar construído é a criação do espaço vivencial, tanto para o indivíduo quanto
para o meio social, onde está em permanente deslocamento de uma atividade para ou-
tra. […] É sentir o espaço, é pensar o espaço, é mover-se no espaço e vivenciar o espaço”
(OKAMOTO, 2002, p. 149-150). Com base neste contexto, analise as asserções a seguir:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas
67
3. De acordo com Gifford (2002), a relação pessoa/ambiente parte do pressuposto de que,
ao alterar o ambiente, o ser humano tem seu comportamento e experiência modificados
pelo ambiente, com isso, a recursividade e o comportamento humano são responsáveis
por grande parte dos problemas ambientais. Neste contexto, falamos do conceito de
“ambiência”. Sendo assim, a respeito deste tema, assinale a alternativa correta:
a) A ambiência é um processo de postura, valores, objetivos e identidade dos locais,
considerando as cores, as formas e a iluminação.
b) A ambiência refere-se ao espaço desorganizado e animado que constitui um meio
subjetivo e, ao mesmo tempo, estético ou psicológico, especialmente, preparado para
o exercício de atividades humanas.
c) Em relação à ambiência como condições e/ou parâmetros associados às condições
formais, estéticos e normativos, percebemos a interação do usuário com os espa-
ços projetados, por meio dos sentidos e influenciada pelos aspectos subjetivos e
suas sensações, ou seja, tratar da ambiência é responsabilizá-la para que as pessoas
compreendam o espaço por meio de suas próprias experiências e das relações que
estabelecem com os lugares.
d) O desenvolvimento da sociedade não se apoia no comportamento e nas preferências,
dentro e fora da edificação, e, no Período Moderno, as questões sobre corpo e lugar
sempre foram consideradas devido ao foco no coletivo, e não no individual.
e) O processo de produção do ambiente construído é contrário ao modo de apreciar as
necessidades e as percepções dos usuários.
AGORA É COM VOCÊ
a) Ambiência.
b) Pessoa-ambiente.
c) Espaço urbano.
d) Lugar.
e) Percepção.
68
5. Leia o trecho a seguir: Para Gifford (2002), atua nas formas pelas quais são adquiridas,
armazenadas, organizadas e relembradas as informações sobre localização, distâncias
e disposições de espaços físicos pelos usuários. Associa-se aos estímulos do espaço
e/ou do entorno, às lembranças que possuímos e elaboramos e, em alguns casos, às
referências e às similaridades com os espaços. É a forma pela qual o ser humano ad-
quire, armazena, organiza e acessa as informações sobre os espaços, que, associados
à cognição espacial, auxiliam na mensuração de distâncias, no estabelecimento de
caminhos alternativos, na leitura de mapas, entre outros. A descrição refere-se a que
conceito? Assinale a alternativa correta.
a) User experience.
b) Pessoa/ambiente.
c) Cognição ambiental.
d) Ambiência.
e) Percepção ambiental.
69
MEU ESPAÇO
70
4
A Qualidade do
Espaço Urbano
Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki
É evidente que o mundo tem ficado, cada vez mais, urbanizado; segundo a Divisão de População da
ONU, em 2020, a população urbana chegou a 4,4 bilhões de pessoas, 56,2% da população total, e a
previsão é de 6,7 bilhões, 68,4% do total populacional, no ano de 2050 (VOLLSET et al., 2020). Com
este crescimento, há impactos significativos na morfologia dos espaços urbanos e, consequentemente,
nas relações econômicas e sociais das cidades. E agora? Pensando na estrutura física das cidades e nas
consequências que a urbanização pode causar, qual é a melhor maneira de dar suporte ao crescimento
e à ocupação do espaço urbano? Como garantir a qualidade das cidades?
Falar sobre o espaço urbano, intuitivamente, é tratar das relações que se estabelecem na cidade.
Compreendemos que as cidades são como organismos vivos em constante modificação, e isto se dá
pelo modo como a sociedade se relaciona com este espaço. E mais, é preciso considerar que, ainda que,
implicitamente, os espaços públicos tenham como objetivo promover conexões entre a comunidade,
nós, enquanto profissionais arquitetos e urbanistas, podemos gerar estratégias que convidem as pessoas
a utilizarem e se apropriarem destes espaços, conseguindo, deste modo, definir a identidade particular
de cada uma das cidades.
Em um primeiro momento, parece-nos um contexto bastante complexo, mas buscaremos simpli-
ficá-lo para que consigamos identificar as relações intra-urbanas nas diferentes paisagens, sem deixar
de lado os critérios que verificam a qualidade destas. Aqui, chegamos a um ponto essencial da nossa
conversa, falar da qualidade de vida da sociedade, que, de maneira genérica, está, diretamente, asso-
ciada às condições básicas do ser e ao desenvolvimento do bem-estar físico e psicológico bem como
dos relacionamentos sociais. Falaremos, também, dos indicadores que afetam a vida humana, como
saúde, educação, segurança, entre outros, e, com isso, da nossa responsabilidade em formatar os espaços
urbanos, em busca de promover qualidade de vida aos usuários.
Você já parou para se perguntar o que torna uma cidade um bom lugar para se viver? Imagine que
você tenha que escolher uma nova cidade para morar, como você tomaria esta decisão? Que critérios
você avaliaria? Faça as suas anotações em seu #Diário de Bordo#.
DIÁRIO DE BORDO
72
UNIDADE 4
Certamente, o primeiro passo seria realizar uma pesquisa completa sobre o lugar, isto é, buscar por
informações que apresentassem: população, infraestrutura, prestação de serviço e comércio, seguran-
ça, custo de vida, clima, entre outros, em busca de se familiarizar com a cidade e realizar uma escolha
responsável. Pois bem, nesta nossa breve conversa, você listou, ainda que indiretamente, critérios,
diretamente, alinhados com as premissas da qualidade de vida, que envolvem o nível de condições
básicas e suplementares do ser humano bem como o bem-estar físico e psicológico.
Pensarmos nas questões que envolvem a qualidade do espaço urbano, faz-nos refletir nas diferentes
cidades que conhecemos e, mais ainda, mentalmente, listar todas as potencialidades e as fragilidades
desse espaço. É inevitável que, ao avaliar a paisagem urbana, façamos a seguinte reflexão: o que essa
cidade tem a oferecer? Ela oferece qualidade de vida?
Como falamos inicialmente, esta nossa reflexão é direcionada ao espaço urbano e/ou à cidade, em
busca de nos aprofundarmos em conceitos essenciais à compreensão da cidade e ao entendimento de
estratégias que possam auxiliar-nos a produzir espaços com melhor qualidade e condições de vida. Para
isso, trataremos das especificidades do espaço urbano e, por vezes, adotaremos o termo de cidade para a
sua referência. Então, vamos lá! Se a ideia é falar do espaço urbano e/ou cidade, o que é a cidade? Como
ponto de partida, adotamos a definição de que a cidade é um organismo vivo, que organiza territórios,
associando elementos naturais e artificiais que sustentarão a morfologia urbana, ou seja, a sua forma.
Ao descrevermos a cidade, falamos sobre o seu estabelecimento físico e descrevemos a sua expe-
riência em diferentes contextos, colocando a cidade voltada para o atendimento das demandas dos
habitantes e controles das atividades e transformações que ocorrem para a população e por ela (ROSSI,
2001). Falamos, ainda, sobre o conceito de “lugar”, que atua como elemento organizador no contexto
urbano, realizando a distinção das atividades, das aptidões e das tendências de ocupação espacial, sem
deixar de lado o direcionamento vocacional dos espaços.
Rolnik (1988) diz que a cidade é uma esfera política e descreve o processo de morar associado ao
ato vivenciar uma dimensão pública de forma coletiva, ou seja, o autor fala sobre o “ser habitante” de
uma cidade, que significa participar, de alguma forma, da vida pública, mesmo que, em muitos casos,
esta participação seja, apenas, à submissão a regras e aos regulamentos. A cidade atua como elemento
magnético, que denota o poder de atrair, reunir e concentrar pessoas, em busca de contar uma história
da sua civilização por meio de uma arquitetura particular e da composição do seu espaço.
É importante evidenciar, também, a delimitação do espaço público urbano e, com isso, estabelecer o
relacionamento da sociedade com a sua vivência espacial no cotidiano das cidades, em que “no território
urbano, o corpo dos sujeitos e o corpo da cidade formam um, estando o corpo do sujeito atado ao corpo
da cidade, de tal modo que o destino de um não se separa do destino do outro” (ORLANDI, 2004, p.
11). Assim, podemos compreender que o espaço não é desassociado dos usuários que os preenchem
como um espaço real, em que são afetados pelo simbólico e pela historicidade local.
“
O espaço significa, tem materialidade e não é indiferente em seus distintos modos de
significar, de enquadrar o acontecimento. É pela aproximação do espaço com as con-
dições de produção, que podemos ter uma noção de espaço não mais só tecnológica
73
UNICESUMAR
(cf. os cálculos dos urbanistas), mas significativa. Deixa de ser uma noção de espaço
instrumental e idealista, sai-se do domínio dos projetos enquanto abstrações, e do
construído, para a noção de processo de produção de um espaço em que entram as
práticas públicas enquanto afetadas pelo simbólico, pela historicidade. Afetadas pelo
real e pelo imaginário (ORLANDI, 2010, p. 6).
É importante, também, retomarmos a definição de lugar, que, para Tuan (1983), é relacionado à
existência do usuário, em muitas escalas e modos de ser diferentes, ou seja, indica duas caracterís-
ticas válidas: o valor atribuído e o tempo, que é responsável pelas experiências vividas, ou seja, o
lugar refere-se ao espaço ocupado, habitado. Desta forma, elencaremos três pontos essenciais que,
quando inter-relacionados, resultam na estruturação do lugar: os atributos espaciais, os atributos
bioclimáticos e os atributos humanos.
Os atributos espaciais referem-se ao espaço tridimensional, ou seja, à forma, às áreas e aos planos que
constituem a morfologia do espaço. Já os atributos bioclimáticos referem-se às características climáticas
do espaço e suas variações conforme localização e região. E, por fim, os atributos humanos, que garan-
tem a interação do homem no espaço, modificando e caracterizando o espaço (REIS-ALVES, 2007).
Figura 1 - Esquema gráfico resumido para o conceito de lugar / Fonte: adaptada de Reis-Alves (2007)
Descrição da Imagem: a Figura 1 apresenta três hexágonos que se inter-relacionam; o primeiro, à direita, na cor
vermelha, refere-se aos atributos humanos (em maior proporção), o segundo hexágono superior, na cor verde, aos
atributos espaciais e, por fim, o terceiro, na cor laranja, refere-se aos atributos bioclimáticos.
74
UNIDADE 4
a abriga bem como às formas de sua organização e intervenção. Calabi (2012) coloca o Urbanismo
como regulamento das esferas públicas e privadas, em busca de promover o caráter dos instrumentos
de projeto e organização do espaço físico urbano, o que se traduz em uma ciência política, apoiando-se
na materialização, organização e manutenção das cidades bem como operando e conduzindo a ideia
de integração entre as formas urbanas e as formas arquitetônicas.
No final do século XIX, as definições de arquitetura assumiram um novo olhar, e o espaço surgiu como
protagonista e, com isso, as primeiras manifestações de profissionais de diferentes atuações, preocupados
com o rumo das cidades. Falava-se sobre as condições precárias de vida nas cidades e via-se, em um
primeiro momento, que as intervenções aconteciam isoladamente para dar solução, principalmente, aos
problemas dos fluxos migratórios e aglomerações nos grandes centros (MARQUES; CATRINCK, 2015).
Esses profissionais foram chamados pré-urbanistas, que se dividem em duas correntes distintas:
progressistas e culturalistas. Os progressistas, inspirados no racionalismo, numa concepção abstrata do
homem, defendiam que a ciência deveria definir um modelo urbano perfeito, e os culturalistas diziam que a
cidade era reflexo da cultura e que ela, junto aos habitantes, constitui uma unidade orgânica (CHOAY, 1992).
Destarte, estas questões não envolvem uma ciência exata, e, sim, ciências sociais aplicadas, pois com-
preendo que os problemas urbanos e sociais não conseguem ser “facilmente” resolvidos, é importante
conhecê-los, diagnosticá-los e executar ações de prevenção, manutenção e correção espacial.
Uma cidade é feita pela somatória dos espaços privados (edificações) e dos espaços públicos (ruas,
praças e parques). O que costumamos entender como cidades são, na verdade, seus espaços públicos
de uso comum do povo. São nesses espaços onde acontecem os encontros, onde se é possível observar
o panorama geral da situação social dos habitantes e transeuntes (DEL RIO, 1999).
A cidade, portanto, é um objeto urbano, ou seja, é um fenômeno que se situa no âmbito da reflexão
sobre o espaço e a sociedade, pois é o produto desta relação, mais precisamente, das relações sociais
determinadas historicamente (LENCIONI, 2008). E não importa a sua dimensão ou característica, é
um produto social estabelecido entre a “relação do homem e o meio que está inserido”, não importando
as variações (espaciais ou temporais) entre as cidades.
75
UNICESUMAR
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UNIDADE 4
então, a população deverá regredir lentamente (RATTNER, 2009). Reconhecendo os parâmetros que
estabelecem o conceito de “cidade” e compreendendo o panorama da urbanização, é chegada a hora
de conversarmos a respeito do conceito de qualidade de vida urbana.
Para iniciar o nosso estudo sobre qualidade, é importante que saibamos reconhecer o que é este
conceito, ainda que subjetivo e associado à percepção dos usuários. Entre algumas definições, pode-se,
de modo simplificado, adotar a qualidade como um grau de utilidade e viabilidade, de modo que atenda
às exigências fundamentais. Como ponto inicial da discussão da qualidade para o espaço urbano, de-
paramo-nos, de modo simbólico e mensurável, com a apresentação de alguns indicadores de avaliação.
Por exemplo, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), definido pelo Ipea e
pela Fundação João Pinheiro, apresenta parâmetros de avaliação que formam o índice IDHM (Índice
de Desenvolvimento Humano Municipal).
“
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é uma medida composta
de indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação
e renda. O índice varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento
humano. O IDHM brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH Global - lon-
gevidade, educação e renda, mas vai além: adequa a metodologia global ao contexto
brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais. Embora meçam os mesmos
fenômenos, os indicadores levados em conta no IDHM são mais adequados para ava-
liar o desenvolvimento dos municípios brasileiros. Assim, o IDHM - incluindo seus
três componentes, IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM Renda - conta um
pouco da história dos municípios em três importantes dimensões do desenvolvimento
humano durante duas décadas da história brasileira (PNUD BRASIL, [2021], on-line).
Ou seja, neste contexto, os dois parâmetros mais importantes para a avaliação dos municípios
tratam-se da oportunidade de viver uma vida longa e saudável e ter acesso ao conhecimento e
ao padrão de vida que garantam as necessidades básicas quanto à saúde, à educação e à renda.
É importante direcionar os parâmetros da qualidade urbana e
reconhecer os critérios e os modos de avaliar a qualidade no espaço
urbano, vale a pena conversarmos sobre isso. Dê o play no nosso
podcast, e vamos estudar a respeito da qualidade urbana!
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UNICESUMAR
É importante ressaltar que não há uma cidade “modelo” que seja a melhor em todas as áreas
que compõem os diferentes indicadores, no entanto há cidades que se destacam pelo aten-
dimento a parâmetros que evidenciam as suas qualidades.
A cidade de Maringá, no estado do Paraná, por exemplo, tem sido um município muito bem visto,
devido ao seu crescimento econômico, com investimentos nas condições básicas da sociedade e, ainda,
na preservação ambiental. O desenho da cidade imprimiu soluções, com grande sensibilidade, aos
princípios formais e promoveu condições para a sociabilização e um lugar para a natureza.
Ainda que Maringá seja um exemplo de cidade planejada, definida pelo desenho urbano da ideia de
uma cidade-jardim, o qual está, diretamente, associado a grandes empreendimentos agrícolas e imobiliá-
rios que avançaram em direção
ao norte do Paraná e à região
noroeste de São Paulo, tendo,
como eixo, as linhas ferroviárias,
é importante que reconheçamos
as fragilidades do seu espaço ur-
bano (REGO, 2001). Para Santos
et al (2017), o grande desafio do
município tem sido fazer com
que o planejamento acompanhe
seu crescimento populacional, e,
desta forma, é perceptível a pre-
sença da hierarquia na ocupação
do espaço urbano, sendo adotada
uma configuração centro-perife-
ria, que evidencia as ocupações
desiguais e, consequentemente,
as desigualdades sociais.
Figura 2 - Maringá-PR
Descrição da Imagem: a Figura 2 apresenta um recorte da cidade de Maringá, no estado do Paraná, dando ênfase
ao marco urbano do município, a Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, que aparece no
canto direito, e o seu entorno imediato.
78
UNIDADE 4
Outro bom exemplo é a cidade de Jundiaí, no estado de São Paulo, que é um município consolidado
por meio da conurbação com cidades vizinhas, sendo um município serrano com área de Mata Atlân-
tica nativa. É conhecida como cidade saudável por ter uma das melhores qualidades de vida do estado
de São Paulo e um importante polo industrial com enfoque na área de tecnologia. É uma cidade que
oferece tanto tranquilidade como praticidade, quanto aos critérios de mobilidade urbana (você pode
morar em Jundiaí e trabalhar em Campinas), e é comum a presença de áreas abertas e espaços verdes
ao ar livre, o que convida os cidadãos a usarem os equipamentos urbanos.
Figura 3 - Jundiaí-SP
Descrição da Imagem: a Figura 3 apresenta um parque ao ar livre na cidade de Jundiaí, no estado de São Paulo.
Nele, há pista de caminhada e paisagismo, a qual visa demonstrar a característica marcante do município, que é se
preocupar com áreas que promovam a interação dos cidadãos com a cidade.
Trazendo para uma ótica mais conceitual, Mendonça (2006) aponta três pontos que caracterizam
a qualidade da cidade:
• Dimensionamento da equidade na distribuição espacial e no acesso social a serviços e recursos
urbanos, ou seja, promover justiça quanto à oferta e acesso aos recursos urbanos e à medição
do efetivo acesso à população às dimensões de cidadania.
• Considerar a questão regional na avaliação da qualidade de vida urbana, no que diz respeito ao
acesso espacial e a recursos e serviços urbanos.
• Centralidade na habitação que promova acessibilidade e que signifique moradia servida de
saneamento básico, equipamentos urbanos e controle ambiental.
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UNICESUMAR
Figura 4 - Diagrama referente aos núcleos compactos / Fonte: adaptada de Rogers e Gumuchdjian (2001).
Descrição da Imagem: a Figura 4 mostra três círculos que representam os três eixos principais
de uma cidade compacta. O primeiro, em vermelho, refere-se ao eixo “moradia”, o segundo,
em amarelo, ao eixo “trabalho” e o terceiro círculo, em verde, refere-se ao eixo “lazer”. A inter-
seção dos três círculos nos mostra a efetividade deste modelo, que é a promoção de menores
distâncias ao cumprimento das atividades básicas da sociedade.
A moradia, o trabalho e o lazer tratam-se das principais funções sociais dos cida-
dãos e são proporcionados pelo centro, o qual traz de volta a vivência perdida após a
implementação do uso de carros. A composição das atividades sobrepostas permite
maior convivência e reduz as necessidades de deslocamentos por meio automóveis,
reduzindo o congestionamento e melhorando a qualidade do ar, já que o cidadão é
estimulado a andar de bicicleta ao invés de carro, e promove políticas que incentivam
a caminhabilidade (MESTRINER, 2008).
80
UNIDADE 4
“
[...] os seres humanos estão no centro do desenvolvimento sustentável;
as responsabilidades comuns, porém diferenciadas, dos Estados; a
manutenção de padrões sustentáveis de produção e consumo visando
proteger o meio ambiente com o princípio da precaução; o incentivo
para que as autoridades nacionais promovam a internalização dos
custos ambientais no processo de formação dos preços dos produtos
e o uso dos instrumentos econômicos de política ambiental, por meio
da implementação do princípio do poluidor/pagador; e previsão do
uso da avaliação do impacto ambiental (MOTTA et al., 2009, p. 8).
81
UNICESUMAR
Desta forma, o conceito de cidade sustentável faz parte do conceito da sustentabilidade. Retomando
a discussão do urbanismo, a sustentabilidade urbana se reduz a um artifício discursivo — para dar às
cidades um atributo a mais, ecologicamente correto, e à atração de investimento, por meio da dinâmica
predatória da competição interurbana — definido por cinco pontos principais:
1. A cidade é vista como um elo entre a economia local e os fluxos globais, em que as condições
são menos coordenadas pelo Estado central e os poderes locais assumem o papel.
2. Estabelece-se uma competição interna pela oferta de produtos e serviços, estimulando o consumo
de lugares, ou seja, dando ênfase à atração de turistas bem como aos projetos e aos eventos culturais.
3. Relação interurbana no controle das funções de comando financeiro e comunitário.
4. Estimula-se o empreendedorismo urbano, cujo sucesso depende de emprego e renda, em que
a marginalização social fica a cargo das próprias organizações da sociedade.
5. As condições de governo incluem os atores não governamentais, privados e semipúblicos.
Trazendo o estudo da percepção do espaço urbano, as imagens da cidade são ambientais e resultam
de um processo bilateral entre o observador e seu ambiente. Assim, de acordo com as especificidades
entre ambos e com as informações perceptivas filtradas, essas imagens podem variar, significantemente,
entre distintos observadores. A imagem ambiental pode ser composta por três componentes: identi-
dade (diferenças, personalidade e individualidade), estrutura (todas as imagens compostas devem ter
relações internas definidas, para a coerência do todo) e significado (o observador deve ser capaz de
captar o significado tanto prático quanto emocional) (LYNCH, 2011).
Falar sobre sustentabilidade urbana é apoiar-se em duas esferas, a primeira refere-se ao social,
considerando que os problemas urbanos se iniciam nas relações humanas, e a segunda, à expansão
urbana, que aborda os limites naturais (associado ao conflito econômico); desta forma, conseguimos
compreender que o urbanismo “sem cuidados” gera problemas ambientais.
Falar sobre qualidade sustentável é definir novas estratégias de produção das cidades, que propõem
o atendimento aos parâmetros de compacidade, a partir das necessidades atuais da sociedade. Neste
cenário, outro autor que defende os indicadores para projetos de cidades sustentáveis é Ribeiro (2007),
que estabelece quatro elementos principais em relação a esses indicadores, sendo eles:
• Enlace: refere-se às integrações das esferas econômicas, sociais e culturais, que viabilizam a
habitação, a segurança, a preservação do meio ambiente e a mobilidade, de modo integrado.
• Inclusão: considera-se a variedade de requisitos e o modo de identificar e alcançar valores.
• Previsão: otimização dos investimentos a longo prazo.
• Qualidade: associada à diversidade urbana, em que se busca não, apenas, a quantidade dos
espaços, mas também parâmetros que possam proporcionar a qualidade global da vida urbana.
Maricato (2011) defende que cidades sustentáveis são centralizadas na administração por meio de três
pilares: responsabilidade ambiental, economia sustentável e vitalidade cultural. Ainda, sobre cidades sus-
tentáveis, há autores que as defendem como sinônimo de cidades compactas, isto é, a partir da intensidade
da experiência urbana, que favorece a diversidade cultural, a criação de redes de sociabilidade nos bairros,
82
UNIDADE 4
as atitudes de defesa do meio ambiente e a procura de materiais e formas construtivas. Ou seja, a cidade
compacta contém, em si, um conjunto integrado de preocupações ecológicas, econômicas, sociais e culturais.
Sobre o âmbito espacial, entre os autores que apresentam a preocupação com a equidade territorial, encon-
tra-se Silva (2008), que identifica as dimensões de intervenção nesta tipologia de cidade, em que se observa:
• Critérios de contenção: em que se limita a área de expansão.
• Critérios de renovação/revitalização: em que se busca preencher os espaços vazios, com
maior atratividade das zonas construídas, da valorização e da dinamização do patrimônio.
• Critérios de transformação e mobilidade: em que se mantêm os modelos de mobilidade
alternativos ao automóvel particular, o controle de velocidade, o volume de tráfego e o esta-
cionamento bem como a congruência entre estrutura urbana e rede de transportes públicos.
Neste panorama, é importante contextualizar o início dessas discussões e falar sobre a qualidade do
espaço urbano, que é resultado da discussão do Urbanismo Modernista, o qual surgiu com o intuito
de organizar as cidades, solucionando parte do caos em que se estabelecia, pois um dos principais
preceitos defendidos pelos modernistas era a separação das funções da cidade em zonas, de acordo
com as atividades de morar, trabalhar, cultivar e circular. Neste contexto, cada função ocuparia o seu
local determinado, e a circulação ocorreria por meio dos modais motorizados, que seriam capazes de
unir uma as outras. Senra (2011) contextualiza a discussão referenciando os pontos essenciais para a
caracterização da cidade moderna:
• Descongestionamento do centro das cidades, de modo a esvaziá-lo ao findar do expediente de
trabalho e retirar as moradias.
• Aumento da densidade, por meio da elevação da altura das edificações, abrigando um maior
número de pessoas e serviços.
• Aumento dos meios de circulação, como os trens e os automóveis.
• Aumento das superfícies verdes, deslocando as edificações do solo com o auxílio dos pilotis.
83
UNICESUMAR
Segundo Del Rio (1999), o Urbanismo Modernista tratava as funções da cidade de forma simplista, des-
considerando a complexidade da vida urbana, do patrimônio histórico, da integração e da inter-relação das
funções e das atividades humanas, a importância da formação de redes sociais e os valores afetivos que tanto
interferem na vida dos citadinos. Para Jacobs (2011), os espaços cotidianos defendem o contato social coti-
diano gerado entre as lojas, as habitações, os bares e os restaurantes dessas ruas, pois eles produzem grandes
efeitos na noção de segurança e bem-estar dos habitantes, formando um organismo social e econômico.
Lynch (2011), por fim, traz diversas análises dos espaços, mesclando a Psicologia e a Antropologia
para entender a forma como as pessoas se comportam nos espaços e, assim, quais elementos se fazem
necessários aos espaços públicos, para que estes possam ser lidos, com símbolos facilmente identifi-
cáveis, como os marcos visuais (edificações altas, montanhas, monumentos, entre outros) e os pontos
nodais (pontos de encontro naturais).
Pensando na evolução do Urbanismo, seguimos a nossa discussão falando sobre o Urbanismo
Contemporâneo, que, de modo sucinto, Debrassi (2006) o organiza em quatro vertentes essenciais:
• Planejamento, morfologia e modelagem urbana.
• Cidade e contemporaneidade, a partir de questões empíricas e ações projetuais para uma estética
urbana atualizada.
• Projeto, produção e apropriação do espaço urbano ocupado/habitado.
• Investigações em clima urbano, em relação aos microclimas e a suas implicações nos ambientes
construídos.
Descrição da Imagem: a Figura 5 apresenta um retângulo, ao centro, preto, no qual está escrito, em branco, “Urbanismo
Contemporâneo”. Ao lado direito deste retângulo, sai uma linha pontilhada que resulta em um outro retângulo preto, no
qual está escrito, em branco, “paisagem urbana”. Ao lado esquerdo, sai outra linha pontilhada que resulta em um outro
retângulo semelhante ao do lado direito, no qual está escrito, em branco também, “forma urbana”. Abaixo de “Urbanismo
Contemporâneo”, isto é, entre os dois outros retângulos, está escrito “processos e métodos + materialização”. Portanto, a
Figura tenta ilustrar que o Urbanismo Contemporâneo, associado aos processos e aos métodos que visam a materializa-
ção do espaço, resultam em dois produtos: a forma urbana e a paisagem urbana, que estão no mesmo nível hierárquico.
84
UNIDADE 4
Com esta discussão, a “nova” forma de entender o Urbanismo, você saberia dizer a que cidade se refere
a Figura 6, a seguir?
Descrição da Imagem: a Figura 6 apresenta a vista aérea de um recorte da cidade de São Paulo, no estado de São Pau-
lo, que mostra uma fotografia noturna com as vias iluminadas, o Terminal Rodoviário de Bandeira e o Shopping Light.
A imagem apresenta um recorte da cidade de São Paulo, no estado de São Paulo, uma vista aérea que
mostra o Terminal Rodoviário de Bandeira e o Shopping Light. A intenção em trazer esta fotografia
é apresentar a você uma das cidades em que foi aplicado o modelo de cidade compacta, assim como
Boston, nos Estados Unidos, Melbourne, na Austrália, Londres, no Reino Unido, entre outras, mas
traremos à discussão um exemplo nacional neste momento.
Falar sobre São Paulo é reconhecer algumas particularidades impressas em seu espaço. Para Grostein
(2001), a metrópole consolidou-se, historicamente, sob uma ótica difusa e ilimitada de expansão urbana,
apoiada no espraiamento das periferias da cidade, por isso, há presença de loteamentos clandestinos,
assentamentos informais, entre outros, que caracterizam a cidade.
Neste contexto ainda, destaca-se a crise ecológica, que Silva (2011) avaliou as perdas das áreas
vegetadas, observou uma queda bruta da vegetação e evidenciou a expansão urbana difusa como
responsável por pouco mais de 80% desta realidade. Outro fator importante é sobre a mobilidade
urbana, que, devido à concentração de empregos que ocorre nos distritos centrais em detrimento ao
adensamento das periferias, há um grande apoio na utilização dos diferentes modais motorizados, o
que majora a emissão de poluentes na atmosfera, aumentando o fenômeno do efeito estufa.
85
UNICESUMAR
No caso de São Paulo, não se fala em mudanças extremas; é necessário buscar o equilíbrio entre as
novas soluções e a realidade local. Desta forma, a estratégia foi empoderar as subprefeituras que estabele-
ciam a necessidade de descentralizar o emprego e a educação, com a disponibilidade de creches, escolas e
universidades locais; além disso, as propostas iam na direção das intervenções da gestão do solo urbano,
com políticas habitacionais inclusivas que possibilitam as pessoas a morarem mais perto do seu trabalho.
Os instrumentos utilizados para tais adequações referem-se ao Plano de Mobilidade Urbana
(PMU), o qual é um instrumento de planejamento de ações de curto, médio e longo prazos, que visa
orientar ações e investimentos na qualificação da mobilidade urbana, e ao Plano Diretor (PD), que é
um instrumento que visa orientar a organização e a ocupação do solo urbano, tomando, como base,
os interesses da sociedade que tange aos aspectos físico-territoriais
Para Henrick de Sá (2016), possíveis soluções, ainda, estão voltadas à definição e à melhoria da malha
de ciclovias e da política de calçadas, além da cobrança progressiva do IPTU, que incentiva a ocupação
dos imóveis desocupados. Em São Paulo, o modelo levou a uma redução de 7,5% da carga de doenças
cardiovasculares e de 5% da carga de diabetes tipo 2 (COELHO FILHO; SACCARO JÚNIOR, 2017). Após
esse case, evidencia-se, ainda mais, o quanto os profissionais arquitetos e urbanistas são agentes ativos na
produção do espaço urbano e, desta forma, podem orientar e potencializar a organização e a qualidade
destes espaços, centralizando-as nas demandas de ordem funcional, técnica, estética, e, também, subjetiva.
Falar sobre a qualidade do espaço urbano é compreender as discussões mais novas a respeito do
Urbanismo; assim, neste contexto, retrataremos o “Novo Urbanismo”, sua conceituação e sua aborda-
gem, em busca de relacionar os princípios de planejamento para as
cidades, centralizados no usuário e na qualidade espacial. Tenha a
sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo!
O conceito de paisagem urbana é amplamente discutido por
urbanistas. Argan (2005) entende a paisagem como o espaço visual,
a evolução da variedade de formas no horizonte, além do espaço
em primeiro plano. Peixoto (1996) defende que a paisagem urbana
é a representação do relacionamento entre o homem e a natureza,
que pode ser vista como tentativa de organizar o entorno com base
em uma paisagem natural. Além disso, o modo como essa paisagem
urbana é projetada e construída reflete uma cultura que é o resultado da observação que se tem do
ambiente e, também, da experiência individual ou coletiva com relação a ele. Solá-Morales (2003), por
sua vez, entende a paisagem urbana como o conjunto de lugares em que se vive, existe e sucede a vida
urbana, que é baseada nas experiências urbanas diretas.
Já o conceito de morfologia urbana refere-se a tratar a forma como a cidade é entendida, ou seja,
em sua acepção formal, que, para Barbosa (2013), dá-se por meio do estudo sistematizado das formas
urbanas, visto que a materialização das cidades se dá por meio da estrutura fundiária, do parcelamento
86
UNIDADE 4
do solo, do loteamento, da criação de infraestrutura, da ocupação das edificações, entre outros, ou seja,
por meio do desenho urbano.
Retornamos, então, a nossa questão principal, como garantir qualidade às cidades? A questão é
que a qualidade da cidade está, diretamente, ligada à qualidade de vida da sua sociedade e, para isso,
depende das condições de existência e do acesso a bens e serviço, sejam eles econômicos e sociais,
como emprego, renda, educação, alimentação, saneamento básico, habitação, mobilidade urbana, entre
outros. E, com isso, o conceito de bem-estar e qualidade de vida varia de sociedade para sociedade, por
isso, as cidades são tão particulares, sendo resposta dos cidadãos que nela habitam.
As condições que revelam parâmetros para uma cidade saudável, no entanto, são definidas pela
OMS (1995, p.12):
“
Um ambiente físico limpo e seguro;
Um ecossistema estável e sustentável;
Alto suporte social, sem exploração;
Alto grau de participação sócia;
Necessidades básicas satisfeitas;
Acesso a experiências, recursos, contatos, interações e comunicações;
Economia local diversificada e inovativa;
Orgulho e respeito pela herança biológica e cultural;
Serviços de saúde acessíveis a todos e
Alto nível de saúde.
Sabendo os pontos essenciais que visam uma cidade saudável, é importante a tomada de consciência
que eles são um compromisso das autoridades locais com a qualidade de vida, pensando na integra-
ção e na comunicação entre os setores que envolvem esta qualificação. Mas falar sobre a construção
de uma cidade qualitativa é colocar a corresponsabilidade da sociedade em questão, pois é preciso
que tenhamos uma postura ativa de envolvimento e reconhecimento dos saberes e setores técnicos,
para construir, desta forma, um projeto mais amplo e real para a cidade e promover a legitimidade da
política social deste processo.
Esta participação auxilia a consciência das pessoas, como um todo, acerca dos problemas reais
das cidades, e reconhece o que pode ser feito para promover melhorias, em um exercício contínuo de
cidadania, para que, desta forma, todos os setores e segmentos sociais assumam um compromisso em
torno de problemas e soluções, estabelecendo-se um acordo em prol da melhoria da qualidade da vida.
É momento de discutirmos um estudo de caso! Conheceremos um exemplo clássico de uma cidade
que foi idealizada e planejada no Brasil, em busca de garantir um crescimento, de forma ordenada,
associado à sociedade que se idealizava a ocupar aquele espaço. Falaremos, então, de Brasília-DF, Brasil.
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Descrição da Imagem: a Figura 7 apresenta um recorte da cidade de Brasília-DF, em que é possível identificar a Catedral
de Brasília e as tomadas de decisões na elaboração do desenho urbano, como, por exemplo, as superquadras.
A cidade de Brasília nasceu da necessidade de criação de uma capital federal, que pudesse ser conside-
rada um símbolo emblemático de uma cidade planejada. Inúmeras foram as discussões políticas para o
cumprimento dos objetivos, mas centralizava-se a sua execução em três pontos principais: construir uma
cidade afastada do litoral brasileiro, buscando ser menos vulnerável a invasões; objetivava-se a execução
de estradas que permitissem ligações rápidas, em busca de aceleração do desenvolvimento e da promo-
ção da interiorização; e o fomento à industrialização, promovida pelo crescimento do mercado interno.
No planejamento desta cidade, em que o projeto de construção foi de responsabilidade dos arquitetos
Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, foram construídas superquadras que buscavam promover um espaço de
convívio social e de lazer, como parques e áreas verdes, e, desta forma, foram implementados edifícios
suspensos, construídos sobre pilares, para que os cidadãos pudessem circular nas áreas de forma livre.
De modo bastante simplificado, essa breve análise vem para nos amparar que, ao planejar uma cidade,
há fundamentos que se visam ser cumpridos, como, por exemplo: estabelecer planos de crescimento a
longo prazo; formatar a cidade de maneira que seja melhor preparada e sucedida, devido à elaboração de
projetos prioritários, com identificação mais clara de recursos disponíveis; atuar com políticas adequadas
de densidade; e usar o solo, o espaço público e a infraestrutura, de forma a garantir melhor qualidade
de vida aos cidadãos e trazer questões na economia urbana, em que se busca por investimentos com
objetivo de gerar atividades econômicas. Além disso, a partir dos planos de continuidade, estabelecer
uma relação de credibilidade para a política e a economia, devido ao comprometimento social, e uma
forma urbana que apresente condições de acessibilidade e segurança. Todos esses critérios são essen-
ciais à população, para buscar o progresso urbano, que é baseado na visão coletiva e no plano de ação.
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UNIDADE 4
Para finalizar o nosso debate, trazer Brasília como exemplo de planejamento é estabelecer parâmetros
e compreender que, para todo o planejamento, é essencial analisar a estrutura do lugar, do espaço e
do caráter, em que os elementos poderiam definir o espaço. Para Rossi (2001), o caráter é a atmosfera
do lugar, um fenômeno totalmente qualitativo que não pode ser reduzido à soma de seus elementos
constitutivos, sendo determinado por fatores, como proporções, materiais, cores e estratégias de com-
posição, e pela forma como os edifícios se encontram com o céu, a terra e outros edifícios. Outro case
muito relevante, agora, em uma abordagem internacional, é Zurique, na Suíça, veja a imagem a seguir:
Descrição da Imagem: a Figura 8 apresenta a vista aérea de Zurique, na Suíça, em que é possível visualizar a organização
da cidade em torno do rio que atravessa a cidade, o modo que foi promovido tais ligações entre os diferentes bairros e
a presença da vegetação pela área. a Figura 8 apresenta a vista aérea de Zurique, na Suíça, em que é possível visualizar
a organização da cidade em torno do Rio que atravessa a cidade e o modo que foi promovido tais ligações entre os
diferentes bairros, além da presença da vegetação pela área.
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outros elementos. Ou seja, os estudos de caso apresentam que um bom relacionamento com o lugar é
uma questão de sobrevivência, e, por isso, os espaços urbanos devem ser tratados como uma unidade,
composta por diferentes elementos ambientais, climáticos, históricos, culturais e tecnológicos, capazes
de conjugar as dimensões de harmonia, beleza e funcionalidade.
Para finalizar, convido você a pesquisar a respeito das cidades planejadas em busca de aperfeiçoar
o seu repertório projetual e urbano e buscar pelos paradigmas que relacionam o impacto do meio
construído e o comportamento dos cidadãos que lá habitam.
Descrição da Imagem: a Figura 9 representa, de modo sucinto, os temas abordados nesta unidade. Ao centro, vemos
os termos: qualidade do espaço urbano, sustentabilidade, cidade compacta e os três eixos que servem de parâmetro
para organizar o espaço, que são: moradia, trabalho e lazer. À direita, vemos os cinco elementos estruturadores da ci-
dade, segundo Lynch (2011), sendo eles: vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos, e os quatro elementos principais
estabelecidos por Romero (2007), em relação aos indicadores para projetos de cidades sustentáveis, sendo eles: enlace,
inclusão, previsão e qualidade. No canto superior esquerdo, vemos: crescimento da população urbana e, no canto inferior
esquerdo, Urbanismo Moderno e Contemporâneo.
90
Agora é com você! Desenvolva um mapa mental que organize os conteúdos estudados, seguindo
o exemplo da Figura 8. É importante que este mapa traga à tona os elementos-chave, para o seu
entendimento dos itens que debatemos e para que, deste modo, possamos firmar o conteúdo e
darmos sequência a nossa conversa! Bom trabalho!
MAPA MENTAL
91
1. Para o urbanismo, a sustentabilidade urbana se reduz a um artifício discursivo para
dar às cidades um atributo a mais, ecologicamente correto, por meio da dinâmica
predatória da competição interurbana (ACSELRAD, 2009). Com base neste contexto,
avalie as asserções a seguir:
I) A cidade é vista como um desencontro entre a economia local e os fluxos globais,
em que as condições são menos coordenadas pelo Estado central e os poderes
locais assumem o papel.
II) Estabelece-se uma competição externa pela oferta de produtos e serviços, estimu-
lando o consumo de lugares, ou seja, dando ênfase à atração de turistas bem como
aos projetos e aos eventos culturais.
III) Estimula-se o empreendedorismo urbano, cujo sucesso depende de emprego e
renda, em que a marginalização social fica a cargo das próprias organizações da
sociedade.
IV) As condições de governo ignoram os atores não governamentais, privados e semi-
públicos.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) IV, apenas.
AGORA É COM VOCÊ
e) II e III, apenas.
POIS
II) Cidades compactas trazem de volta a vivência perdida após a implementação do uso
de carros, e a composição das atividades sobrepostas permite maior convivência e
reduz as necessidades de deslocamentos por meio de automóveis, reduzindo o con-
gestionamento e melhorando a qualidade do ar, já que o cidadão é estimulado a andar
de bicicleta ao invés de carro, e promove políticas que incentivam a caminhabilidade.
92
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
Com base neste contexto, assinale a alternativa correta que contempla o conceito a que
se refere:
a) Cidade compacta.
b) Cidade urbanizada.
c) Cidade nova.
93
MEU ESPAÇO
94
5
A Qualidade
das Edificações
Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki
96
UNIDADE 5
Descrição da Imagem: a
Figura 1 (a) apresenta um
banheiro com uma ba-
nheira, um vaso sanitário
e um lavatório. Há revesti-
mento verde quadriculado
na parede e revestimento
B
marrom no piso, que, tam-
bém, é quadriculado, e o
forro apresenta manchas
de bolor. A Figura 1 (b)
apresenta um banheiro
com uma banheira, um
vaso sanitário e um la-
vatório. Há revestimento
branco nas paredes e re-
vestimento amadeirado
no piso, e o forro apresen-
ta cor branca.
DIÁRIO DE BORDO
97
UNICESUMAR
Agora é o momento de refletirmos em conjunto! A sua percepção foi semelhante nos dois ambientes?
Acredito que não! Ainda que cada um de nós tenha uma percepção a respeito destes espaços e sensações
diferentes ao observar estas imagens, é possível definir que os ambientes são diferentes em termos de
qualidade; por isso, cabe a esta discussão pensar sobre alguns pontos-chave, vamos lá:
• Os ambientes possuem a mesma função? Eles cumprem a funcionalidade a qual foi idealizada?
• A escolha e a especificação dos materiais qualificam ou desqualificam os ambientes?
• O estado de conservação e o cuidado com o ambiente podem promover sensações diferentes
aos seus usuários?
• A qualidade estética dos ambientes é semelhante?
Com olhar de arquiteto e urbanista, é importante que saibamos reconhecer o que “qualifica ou des-
qualifica” as edificações. É possível identificar que, com ênfase na qualidade funcional, ou, seja, na
usabilidade do espaço, ambos atendem às demandas propostas, já que o banheiro, por convenção,
trata-se de um ambiente em que se encontram instalados banheiras, chuveiros, vasos sanitários, pias
e/ou lavatórios e, às vezes, bidês, em busca de atender às atividades de cuidados de higiene pessoal e
lembrar sempre do cuidado com as questões de higienização.
Quanto à questão da forma, em que se enfatiza a questão de qualidade estética e/ou beleza, é preciso
tenhamos uma postura “imparcial”, visto que gosto é particular, e isso fomenta, ainda, a questão de que o
que é belo para um usuário pode não ser para outro, por se tratar de um conceito abstrato. Cabe, então,
neste momento, observar as questões perceptivas, culturais e simbólicas, como critério de avaliação
da qualidade estética. Contextualizando esta discussão, de modo simples, é importante conhecermos
os parâmetros que qualificam o espaço, e serão estas as questões que trataremos na nossa unidade!
A nossa reflexão reforça (ainda mais) a complexidade da produção dos ambientes construídos, neste
caso, as edificações. É preciso, então, pensarmos na sua completude (aspectos objetivos e subjetivos)
para responder à questão: a edificação atende aos critérios da qualidade?
A nossa intenção, nesta unidade, é debater as especificidades relacionadas à qualidade das edifica-
ções e as metodologias possíveis que possam nos auxiliar a compreender estas questões. Além disso,
retomaremos os conceitos e as orientações das unidades anteriores, que, de certa forma, esbarram na
compreensão desta nossa discussão, como o ambiente construído, a importância do usuário, o com-
portamento humano no espaço, a percepção, entre outros.
Para dar início a nossa conversa, retomaremos a definição de ambiente construído. As discussões
mais contemporâneas dizem que o ambiente construído é a resposta do espaço arquitetônico que é
vivenciado, organizado e vivenciado, a partir do ato de sentir e pensar e do momento atual. Em com-
plemento, Fischer (1994) define que o espaço só é construído, se é ocupado, reinterpretado, modificado
e interage com o ambiente social, cultural e psicológico, a partir do comportamento humano.
Sabendo disso, é importante que pensemos nas formas de percorrer e atuar sobre o espaço físico,
regulando e aperfeiçoando-o, para que ele seja vivenciado na quantidade e na qualidade idealizada e,
em relação a isso, é necessário abordarmos o conceito de satisfação.
98
UNIDADE 5
Satisfação, para Amérigo (1995, p. 55), é “um resultado afetivo, uma resposta emocional ou uma
consequência de caráter positivo que provém da comparação entre o ambiente e a própria situação
do jeito. Todo ele é considerado um processo cíclico e dinâmico, em que a pessoa se adapta a cada
situação”. Ou seja, a satisfação final dos clientes se dá pela confirmação ou desconfirmação de suas
expectativas durante as diferentes etapas do projeto e da execução, e ela é avaliada pelas dimensões
da confiabilidade, da responsividade, da segurança, da empatia, da estética do projeto, da qualidade
técnica e da fidelidade às premissas de projeto (PARASURAMAN; ZEITHAML; BERRY, 1988).
Sob a ótica da qualidade, faz necessário, também, falar sobre o comportamento socioespacial hu-
mano, que, para Pinheiro e Elali (2011), diz respeito ao modo que as pessoas se apropriam do espaço e
o utilizam como elemento ativo na comunicação não verbal, estabelecendo distâncias entre si, as quais
apresentam possibilidades menores ou maiores de aproximações, toque, tom de voz, conteúdo verbal,
consciência de sensações, entre outros. Além disso, o referido comportamento remete-se, também, à
forma que os indivíduos modificam o ambiente devido a ao comportamento e às experiências deles.
A percepção ambiental pode
ser entendida como tomada de
ciência do espaço pelo ser huma-
no, assim, o indivíduo percebe o
ambiente no qual está inserido
e aprende a explorar e interagir
com o mesmo. Com isso, o estudo
desta disciplina é de fundamental
importância para que possamos
compreender melhor as relações
pessoa/ambiente, num contexto
mais amplo, compreendendo suas
expectativas, anseios, satisfações e
insatisfações, julgamentos e con-
dutas (FERNANDES et al., 2005).
O que podemos ver com esta
breve contextualização é que os
ambientes têm as suas funções pré-
-estabelecidas e convencionadas,
mas a complexidade da produção
do ambiente construído é entender
que as pessoas pensam, apropriam-
-se e se relacionam do seu modo
(particular e individual), sendo
resultado de suas vontades e cons-
trução histórica, cultural e social.
99
UNICESUMAR
Como, então, “mensura-se” a qualidade na arquitetura? O caminho é pensar, inicialmente, sob uma
vertente da qualidade funcional. Compreende-se que a edificação funcional é aquela que se adequa
às atividades para as quais foi idealizada, em que o usuário é capaz de agir, com eficiência, conforto,
salubridade e segurança, no espaço. Além disso, esta edificação mantém harmonia com a percepção
humana, para esta seja vista, ouvida, cheirada e sentida (VOORDT; WEGEN, 2013).
Voordt e Wegen (2013) dizem que a qualidade funcional se apropria de nove aspectos essenciais
à referida mensuração, sendo eles: 1) facilidade de acesso viário e estacionamento; 2) acessibilidade;
3) eficiência; 4) flexibilidade; 5) segurança; 6) orientação espacial; 7) privacidade, territorialidade e
contato social; 8) saúde e bem-estar físico; e 9) sustentabilidade.
100
UNIDADE 5
• Facilidade de acesso viário e estacionamento: a facilidade de acesso viário diz respeito a como
chegar na edificação, ou seja, a facilidade dos acessos internos e externos; e o estacionamento
refere-se à facilidade de estacionar.
• Acessibilidade: refere-se ao(s) momento(s) em que os usuários regulares ou esporádicos não
têm dificuldade para chegar a seu destino e conseguem executar as atividades. A acessibili-
dade pode ser dividida em física, a qual se relaciona, essencialmente, à usabilidade, quanto
a deslocar-se pela edificação, e em psicológica, que se refere à capacidade de “convidar” o
usuário ao uso da edificação.
• Eficiência: refere-se à eficiência da edificação, quanto ao seu propósito previsto.
• Flexibilidade: diz respeito ao dinamismo da sociedade e às possíveis e constantes mudanças
causadas por expansões, contrações ou mudanças de uso, por exemplo.
• Segurança: remete-se à segurança ergonômica, à sensação de segurança e à segurança funcional
(construtiva, tráfego, química, entre outros).
• Orientação espacial: aborda a disposição da edificação compreensível e a condição de legi-
bilidade dos espaços.
• Privacidade, territorialidade e contato social: assumem o papel de manter ou evitar o contato
social. A privacidade atua como forma de controle pessoal e gerenciamento seletivo de acesso
ao grupo próprio, podendo ser visual, auditiva, social ou territorial.
• Saúde e bem-estar físico: diz respeito à ausência de doença e enfermidade e ao bem-estar
psicológico, que está associado ao conforto lumínico e acústico, à qualidade do ar, às cores e
aos materiais, por exemplo.
• Sustentabilidade: diz respeito ao valor futuro, ou à usabilidade para futuras gerações, pensando
no meio ambiente.
É preciso, no entanto, olharmos para a qualidade arquitetônica, então, Voordt e Wegen (2013) falam
sobre as características visuais e de composição em relação ao significado simbólico ou cultural. Eles
consideram que os fatores funcionais, ambientais e sociais devem proporcionar elevado nível de qua-
lidade (arquitetônica) aos ambientes do habitat humano, sejam estes internos ou externos.
Reis (2002) coloca que o próprio conceito de composição arquitetônica estabelece a ideia de equi-
líbrio, de organização e de ordem, independentemente do estímulo visual; desta forma, a composição
é percebida pelo nível de contraste entre os elementos arquitetônicos e a complexidade do projeto. É
importante, ainda, destacar as condições de legibilidade e as avaliações estéticas.
Reis, Biavatti e Pereira (2011) destacam a importância da qualidade estética ou da composição
arquitetônica em uma edificação e verificam a possibilidade de garantir a avaliação estética, de forma
positiva ou negativa, a partir das características das composições. Os autores, portanto, explanam que é
necessário estabelecer a percepção e a cognição por meio dos usuários, isto é, a forma como o usuário
percebe e pressupõe a “beleza”.
101
UNICESUMAR
[Falar sobre beleza na arquitetura é reconhecer que] “belo é aquilo que agrada de maneira
desinteressada, sem ser originado por ou remissível a um conceito: o gosto é, por isso, a
faculdade de julgar desinteressadamente um objeto (ou uma representação) mediante um
prazer ou um desprazer; o objeto deste prazer é aquilo que definimos como belo”.
(Umberto Eco)
Falar sobre qualidade na edificação, segundo Vrielink (1991), é estabelecer quatro eixos de discussão:
qualidade funcional, qualidade estética, qualidade técnica e qualidade econômica.
• Qualidade funcional: pode ser nomeada como valor de utilidade, ou seja, associa-se à usabi-
lidade da edificação e a sua adequação.
• Qualidade estética: pode ser nomeada pela beleza e o modo como é vivenciada, lembrando
que esta questão é vista de diferentes formas, pelas diferentes sociedades.
• Qualidade técnica: pode ser nomeada pelo sistema construtivo e técnicas relativas à estabili-
dade e à sustentabilidade, por exemplo.
• Qualidade econômica: pode ser nomeada pelo investimento financeiro e associar-se ao custo
versus benefício, se o investimento tiver um retorno efetivo.
Figura 2 - A qualidade arquitetônica como integração de questões funcionais, formais, técnicas e econômicas
Fonte: adaptada de Voordt e Wegen (2013).
Descrição da Imagem: a Figura 2 apresenta quatro círculos que representam os quatro elementos compositivos da qua-
lidade arquitetônica (forma, construção, custo e função). O primeiro, na parte superior, refere-se à forma; o segundo, à
direita, refere-se à construção; o terceiro, na parte inferior, refere-se ao custo; e o quarto, à esquerda, refere-se à função.
A intersecção dos quatro círculos mostra a qualidade arquitetônica em seu sentido mais amplo, por meio da integração.
102
UNIDADE 5
Na figura em questão, podemos verificar que a qualidade arquitetônica, utilizada como sinônimo para
a qualidade da edificação, é estabelecida por meio da intersecção dos quatro elementos essenciais à
composição e à execução de projetos, sendo eles: forma, construção, custo e função.
Observa-se que a forma absorve os parâmetros de beleza, características perceptivas, valores culturais
e significados simbólicos, podendo, então, relacionar-se aos parâmetros subjetivos da produção. Em
relação à função, também chamada funcionalidade e usabilidade, fala-se sobre o valor do planejamento
do espaço físico e a subdivisão do espaço, além das relações espaciais.
O custo, refere-se ao investimento e às despesas correntes do processo como um todo, e, por fim, a
construção remete-se à técnica adotada, vinculando-a às questões de serviços e construções, para que,
desta forma, seja formatado o que a edificação pode oferecer aos seus usuários.
Outra condição essencial à nossa discussão é pensar no processo de projeto. Este é um conjunto de
ações e atividades relacionadas e dependentes que são executadas para alcançar um produto, resultado
ou serviço pré-definido, e é caracterizado por suas entradas, ferramentas e técnicas que devem ser
aplicadas (PMI, 2017). Voordt e Wegen (2013) definem cinco fases essenciais a este processo:
• Fase exploratória: como o próprio nome orienta, refere-se à fase de levantamento de informa-
ções, ou seja, as informações são exploradas e organizadas, trazendo as principais necessidades e
viabilidade de projeto. Ousa-se dizer que é a etapa principal do processo de projeto e construção,
pois o reconhecimento das premissas e expectativas remete-se, diretamente, à funcionalidade
e à qualidade do projeto.
• Programa de necessidades: refere-se à organização sistematizada das informações levantadas
na fase exploratória, que estabelece, com maior detalhamento, as exigências de desempenho do
local, dos componentes da edificação, das instalações, entre outros. Este documento precisa de
uma análise organizada das atividades a serem abrigadas e das condições desejáveis.
• Projeto: esta etapa aborda a análise funcional a ser realizada, os estudos de referência e a ma-
terialização, por meio das peças gráficas, que buscam cumprir os critérios estabelecidos no
programa de necessidades.
• Especificação e escolha dos fornecedores: com o detalhamento, é chegada a hora de definir
os materiais e os acabamentos bem como os critérios que serão atendidos (após a definição do
projeto), em relação aos materiais de modo geral, principalmente os de acabamento, e escolher
os fornecedores que atuarão na obra.
• Uso e gerenciamento: esta é uma etapa essencial à análise da qualidade, pois, depois de realizado
o projeto, verifica-se se a edificação atende às expectativas (funcionalidade) e enquadra-se aos
critérios de APO (Avaliação Pós-Ocupação), em busca de informações que validem a usabili-
dade e a estética do projeto.
103
UNICESUMAR
Descrição da Imagem:a Figura 3 apresenta o ciclo do processo de construção, com a indicação de quatro setas
sequenciais, em que a primeira apresenta o Início do Processo de Construção (IPO) e a segunda, o Programa de
Necessidades, que se refere ao ato de programar, e, nesta etapa, estabelece-se o resumo informativo como docu-
mento/registro. A terceira seta, por sua vez, apresenta o Projeto, que se refere ao ato de projetar, o qual especifica
e define a empreiteira, para iniciar a construção; e a quarta e última seta apresenta a Construção, que transita entre
especificação, escolha de empreiteira e construção bem como uso e gerenciamento, os quais estão associados à
Avaliação Pós-Ocupação (APO).
Para Melhado (1994), a qualidade do projeto é vista nas fases de maturação dele, quanto aos levanta-
mentos de informações, como o briefing e o escopo, o programa de necessidades, a qualidade técnica, a
qualidade de apresentação, a gestão do processo e o produto propriamente dito. Em suma, a qualidade
do projeto é determinada pela clareza e qualidade de informações do início do processo, ou seja, pelo
programa de necessidade e pelos levantamentos técnicos.
É preciso reconhecer que o projeto é um processo interativo e coletivo que exige uma coordena-
ção das atividades, compreendendo momentos de análise crítica e de validação das soluções, sem
inviabilizar, com isso, o trabalho dos especialistas envolvidos. Salienta-se, ainda, que a excelência
do projeto de um empreendimento passa pela excelência do processo de cooperação entre seus
agentes, que, na qualidade de parceiros, submetem seus interesses individuais a uma confrontação
organizada (MELHADO, 1994). Portanto, o projeto deve assumir a responsabilidade de agregar efi-
ciência e qualidade ao produto e ao processo de execução, para obter o sucesso do empreendimento
(MELHADO; BARROS; SOUZA, 1998).
104
UNIDADE 5
105
UNICESUMAR
Quanto à relevância da aplicação das APOs, estas estão associadas a objetivos que viabilizam três
pontos essenciais:
• Avaliar as edificações quanto aos problemas e às soluções adotados relativos à normatização e
à melhoria do desempenho.
• Sistematizar as informações apontando direcionamentos futuros (aos próximos projetos).
• Relacionar a APO com o mercado imobiliário a partir da montagem de banco de dados para
retroalimentação de projetos que ampliam, significativamente, a eficiência (aprender com os
erros e acertos cometidos).
É visível que as APOs possibilitam a realização do levantamento de dados inerentes à ocupação das
edificações bem como o diagnóstico e as proposições descendentes de conhecimentos interdisciplinares,
incluindo, por exemplo, a Psicologia Ambiental (como já vimos anteriormente), ou seja, formatando
um estudo completo, ainda que complexo.
Ornstein (2004) apresenta uma relação dos principais métodos e técnicas utilizadas na Arquitetura e
no Urbanismo:
• Vistorias técnicas e o ato de caminhar no ambiente com listagem de checklist construtivos e
funcionais.
• Medições das condições de conforto ambiental, funcional e ergonométrico.
• Fotografias e registros visuais.
• Observações de atividades e comportamentos dos usuários.
• Entrevistas semiestruturadas com pessoas-chave sobre o processo.
• Entrevistas estruturadas com usuários-chave.
• Questionários com aferição de satisfação dos usuários.
• Discussão com grupos focais.
• Desenhos representativos da percepção ambiental.
106
UNIDADE 5
Estas atividades são desenvolvidas por profissionais (especialistas), ou seja, as avaliações de desempe-
nho, algumas vezes chamadas de avaliações técnicas, ocorrem em função das necessidades detectadas
na fase exploratória da pesquisa. De acordo com as condições encontradas nessa fase exploratória,
para a medição das condições de habitabilidade, segurança e sustentabilidade do ambiente construído.
Faremos uma pausa em nossa leitura para conversar um pou-
quinho mais sobre a Avaliação Pós Ocupação (APO). E para isso,
no nosso estudo pensaremos como desenvolver projetos melhores
avaliando as edificações existentes.Tenha a sua dose extra de co-
nhecimento assistindo ao vídeo!
Pensando em modos de resguardar a qualidade nas edificações,
um caminho importante é estabelecer processos que viabilizem a
gestão da qualidade, que, para Oliveira (2004), é associada ao con-
junto de elementos que operam sobre processamentos que visam
sempre ao objetivo de assegurar que os produtos e os processos
satisfaçam as necessidades dos usuários e as expectativas dos clientes.
Segundo Tzortzopoulos (1999), projeto é um conjunto de ações gerenciais de características comuns
que definem uma mesma estrutura para gerir o processo de projeto na empresa, a qual é necessária
e suficiente a seu adequado desenvolvimento. O projeto é uma alternativa concreta para atender à
demanda, devido à concorrência do mercado por eficiência, e satisfazer as necessidades de projetos
mais alinhados às necessidades dos clientes, com custo e prazos menores (AMORIM, 1993).
Portanto, para que os projetos sejam formalizados, foram criadas normas internacionais de qualida-
de, por meio das quais as empresas conseguem padronizar os produtos e os serviços, como, por exemplo,
a ISO 9001, que, de acordo com Fraga (2011), é constituída por três normas destinadas ao Gerencia-
mento da Qualidade e à Qualidade Assegurada. O objetivo das normas, em geral, é complementar os
requisitos de produtos e serviços prestados por uma organização que pretende implementar os seus
padrões de qualidade e tornar-se mais competitiva nos mercados interno e externo.
Outra condição avaliativa refere-se ao O PBQP-H, que trata do Programa Brasileiro de Qualida-
de e Produtividade no Habitat, um programa nacional reconhecido em todo território brasileiro e
aplicável somente às empresas do ramo de construção civil, que, de acordo com Brasil (2021, on-line), é
uma ferramenta que busca garantir dois pontos fundamentais quando se fala de habitação de interesse
social: a qualidade, com obras marcadas pela segurança e durabilidade, e a produtividade do setor da
construção, a partir da sua modernização.
Já, a Norma de Desempenho — NBR 15.575 — (ABNT, 2013), amplamente discutida no meio da
arquitetura e do urbanismo, além dos demais agentes da indústria da construção civil, aborda os requi-
sitos de qualidade, durabilidade, segurança e desempenho para as construções habitacionais brasileiras.
A normatização desses padrões é de extrema importância, pois viabiliza a qualidade nas construções
e traz segurança aos usuários. Vale ressaltar que a abrangência desta norma é substancial, visto que
aborda desde os fornecedores de materiais até o incorporador, passando pelos projetistas, consultores
e construtoras, ou seja, todos os agentes que têm responsabilidade no processo de projeto e construção.
107
UNICESUMAR
Para este processo de avaliação da qualidade, é preciso estabelecer metodologias que auxiliem na verifi-
cação, no diagnóstico e, consequentemente, nas tomadas de decisões, pensando que o ambiente construído
deve ser, continuamente, visto sob a ótica dos elementos integrantes do espaço, e mais, é preciso considerar
todas as etapas de seu ciclo de vida, a saber: planejamento, projeto, produção, uso e desconstrução.
Em nossa unidade, reconhecemos as discussões mais recentes sobre a qualidade nas edificações e, assim
como vimos na experimentação, falar sobre a qualidade nas edificações é trazer, essencialmente, a análise
dos requisitos e do desempenho efetivo do ambiente, além da verificação ao atendimento das expectativas
e das necessidades de quem utiliza o espaço. Pensando nisso, neste momento da nossa conversa, falaremos
a respeito de um objeto de ampla discussão na arquitetura e no urbanismo, que é um bom exemplo para
tratarmos dos critérios de qualidade nas edificações, que se refere à Habitação de Interesse Social (HIS).
Falamos das HIS, com o objetivo de viabilizar à população de baixa renda o acesso à moradia adequada
e regular, buscando reduzir a desigualdade social e promover a ocupação urbana planejada (CAIXA...,
[2021]). Desta forma, entendemos que a Habitação de Interesse Social visa a atender a habitação acessível
e adequada à qualidade e à localização, de forma a garantir um dos direitos humanos básicos. Mas, na
prática, não é isso que acontece na grande maioria das produções, isto é, por entrar em jogo diferentes
agentes e interesses, temos nos deparado com problemas reais em relação à HIS. Por exemplo, esse tipo
de empreendimento, ainda, é visto como otimização de áreas, com o objetivo de construir maior número
de unidades, economizando materiais, sem a preocupação com a qualidade de vida de seus usuários.
Há muitos estudos relacionados à qualidade das HIS e, no Brasil, podemos enumerar diversas cons-
truções que foram idealizadas e executadas sob estas condições, com produtos que não têm cumprido
os requisitos mínimos de qualidade, o que tem gerado problemas significativos para a usabilidade do
espaço e, também, para as condições de manutenção dele, assegurando a insatisfação dos usuários e o
não atendimento aos requisitos mínimos de desempenho.
Em relação a estes aspectos, é preciso que pensemos na nossa responsabilidade, enquanto pro-
fissionais formadores de espaço, e na nossa contribuição profissional na produção dos edifícios e
da paisagem urbana. O que po-
demos fazer, então, enquanto
projetistas, para promover es-
paços que garantam os requi-
sitos de qualidade, sem deixar
de lado o atendimento às de-
mandas dos contratantes? Pen-
sando nisso, abordaremos um
exemplo efetivo que ilustrará
o quanto a produção dos ar-
quitetos influencia nesta pro-
dução e tem total associação à
qualidade da edificação, mes-
mo quando falamos de HIS.
108
UNIDADE 5
Um bom exemplo é a intervenção realizada em Heliópolis, em São Paulo, a qual faz parte de um
Programa de Reurbanização de Favelas, por meio da Secretaria de Habitação. O Conjunto Habitacional
Heliópolis refere-se à edificação que contém 420 unidades de 50 m². O escritório responsável pelo
projeto, Biselli e Katchborian Arquitetos, conceitualizou o projeto estabelecendo uma relação espaço/
cidade baseada na implantação de quadras sem recuos e com pátios internos, trazendo a referência das
quadras europeias e privilegiando, assim, os espaços públicos de interesse do morador, que é protegido,
portanto, da rua, e a dotação de programa comercial e de serviços no nível térreo.
Na planta do projeto, é possível verificar o cuidado com os layouts dos ambientes, garantindo a fle-
xibilidade de organização e a disposição de espaços para pequenos trabalhos, além de propor espaços
para pequenos trabalhos, ou seja, pensando nas possíveis atividades que serão desenvolvidas neste
espaço. As unidades possuem dois dormitórios, espaço integrado de cozinha, sala de estar e sacada.
Com a demanda de uma construção econômica, a proposta foi adotar a solução construtiva em blocos
de concreto e, em alguns pontos, como os pórticos, o uso de estrutura mista, em concreto armado. O des-
taque da volumetria é dado pelas passarelas-pontes que conectam os blocos e permitem o aproveitamento
máximo dos coeficientes de construção e, também, pelo emprego de cores nas fachadas e em sua paginação.
Será que, realmente, não é possível pensar na qualidade das edificações e dos usuários que ocuparão
o espaço? Pesquise a
respeito desse case,
pois vale a pena apro-
fundar-se e ver a im-
portância dos(as) ar-
quitetos(as) e de suas
soluções, frente a pro-
dução deste empreen-
dimento! Pense nisso!
Descrição da Imagem: a Figura 4 representa, de modo sucinto, os temas abordados nesta unidade. Ao centro, vemos
o termo: qualidade das edificações, que se segmenta em dois pontos essenciais: 1) funcional, que está relacionado
à beleza; e 2) estática, que está relacionado à usabilidade. À direita, vemos os termos: espaço físico, usuário e per-
cepção; à esquerda, vemos o termo APO (Avaliação Pós-Ocupação) bem como o ato de avaliar e o valor atribuído às
edificações; e na parte inferior, vemos o termo arquitetura.
109
Agora é com você! Desenvolva um mapa mental que organize os conteúdos estudados, seguindo
o exemplo da Figura 4. É importante que este mapa traga à tona os elementos-chave, para o seu
entendimento dos itens que debatemos e para que, deste modo, possamos firmar o conteúdo e
darmos sequência a nossa conversa! Bom trabalho!
MAPA MENTAL
110
1. Para Voordt e Wegen (2013), o processo de projeto é organizado em cinco fases essen-
ciais, entre elas: fase exploratória; programa de necessidades; projeto, especificação
e escolha dos fornecedores; uso e gerenciamento. Com base neste contexto, analise
as asserções a seguir:
I) Fase exploratória, como o próprio nome orienta, refere-se à fase de levantamento
de informações, ou seja, as informações são exploradas e organizadas, trazendo as
principais necessidades e viabilidade de projeto. Ousa-se dizer que é a etapa prin-
cipal do processo de projeto e construção, pois o reconhecimento das premissas e
expectativas remetem-se, diretamente, à funcionalidade e à qualidade do projeto.
II) O programa de necessidades é uma etapa essencial à análise da qualidade, pois,
depois de realizado o projeto, verifica-se se a edificação atende às expectativas
(funcionalidade) e enquadra-se aos critérios de APO (Avaliação Pós Ocupação), em
busca de informações que validem a usabilidade e a estética do projeto.
III) Esta etapa aborda a análise funcional a ser realizada, os estudos de referência e a
materialização, por meio das peças gráficas, que buscam cumprir os critérios esta-
belecidos no programa de necessidades.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
2. A qualidade do projeto é vista nas fases de maturação dele, quanto aos levantamentos
de informações, como o briefing e o escopo, o programa de necessidades, a qualidade
técnica, a qualidade de apresentação, a gestão do processo e o produto propriamente
dito. Considerando esse contexto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta
entre elas:
I) É preciso reconhecer que o projeto é um processo interativo e coletivo que exige
uma coordenação das atividades, compreendendo momentos de análise crítica e
de validação das soluções, sem inviabilizar, com isso, o trabalho dos especialistas
envolvidos.
PORQUE
111
A respeito destas asserções, assinale a opção correta:
a) Avaliação Pré-Projeto.
b) Avaliação Durante-Projeto.
c) Avaliação Pós-Ocupação.
d) Metodologia de Projeto.
e) Avaliação funcional.
AGORA É COM VOCÊ
a) Avaliação Pré-Projeto.
b) Avaliação Durante-Projeto.
c) Avaliação Pós-Ocupação.
d) Metodologia de Projeto.
e) Avaliação Funcional.
112
6
Sociedade: Discussões
Importantes
Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki
Para discutirmos a importância da sociedade, é preciso que tenhamos a ciência de que essa estrutura
é de grande importância para a formação dos indivíduos, já que todo homem tem a necessidade de se
estabelecer em grupos. Por isso, a carência de participar de uma sociedade, responsável por impor os
direitos e deveres, e explanar sobre o espaço que habita. Podemos, desse modo, falar que a sociedade
molda o indivíduo, e, por ele, é, também, moldada. Para trazer essa discussão alinhada à Arquitetura
e ao Urbanismo, cabe, antes, ressaltar que os espaços urbanos têm passado, nas últimas décadas, por
alterações demográficas, como os riscos climáticos, o desmatamento, o aumento da população urbana,
a poluição, entre outros. E você saberia dizer qual é a responsabilidade da sociedade neste cenário?
Você saberia definir o que é a sociedade e quais parâmetros a constitui?
Sabemos que as atividades humanas desempenhadas no espaço têm total relação com a formatação
do espaço físico; e as constantes intervenções dos usuários causam modificações espaciais e, conse-
quentemente, diferentes fenômenos no espaço, por exemplo, a degradação ambiental. Isso merece a
conscientização da sociedade!
Assim, falar sobre a sociedade versus o espaço, é considerar as particularidades das relações so-
cioespaciais, econômicas e culturais, bem como compreender que as ações humanas, em suas práticas
essenciais, tornam as “sociedades” diferentes e, consequentemente, formam espaços urbanos diversifi-
cados. Ou seja, para compreender o ambiente construído, objeto de estudo da nossa profissão, é essen-
cialmente necessário (re)conhecer o grupo que se apropria daquele determinado espaço, possibilitando
uma análise e compreensão da produção das cidades e das edificações. Cria-se, assim, o espaço, que,
por si só, é intrinsecamente social!
114
UNIDADE 6
Pense nas cidades brasileiras, nas diferentes regiões do país! Sabemos que cada uma das regiões
agrupa diferentes cidades, estas são organizadas de acordo com as demandas de orientação e aplica-
ção das políticas públicas. Mas, além disto, podemos claramente discutir a respeito, por exemplo, das
diferentes culturas impressas em cada uma das regiões. Nós brasileiros, somos uma síntese de dife-
rentes etnias e imprimimos, no espaço, nossa herança cultural. Enquanto, no Nordeste, há impressões
bastante africanizadas, com caráter português e indígena; a região Sul se apoia na história e na cultura
dos imigrantes italianos e alemães, por exemplo. Realize uma oficina, selecione uma cidade, diferente
da que você mora, e realize um tour virtual, busque reconhecer pelo menos três características
que diferenciam estas cidades. Olhe para a morfologia urbana, para a forma como os cidadãos se
apropriam do espaço, para o desenho das edificações, para os eventos culturais, entre outros. Faça
as suas anotações em seu Diário de Bordo.
DIÁRIO DE BORDO
115
UNICESUMAR
Vamos tentar juntos? A cidade escolhida é Salvador, na Bahia, na região nordeste brasileira. Observe
as imagens:
Descrição da Imagem: nas imagens, podemos observar a cidade de Salvador, na Bahia. À esquerda, temos a visão de
uma via, ainda, de paralelepípedos, com fachadas com valor histórico, restauradas e coloridas. À direita, apresenta-se
uma aproximação destas fachadas, e a via, decorada com elementos característicos da cultura local, fortalece esta
identidade aos usuários que caminham pelas ruas.
116
UNIDADE 6
• Os seres humanos são agentes sociais, constituídos na relação com o espaço social.
• A sociedade é parte integrante e essencial da formatação do espaço físico.
• O espaço físico é resultado das necessidades da sociedade e da sua realidade
cultural, econômica e social. Pense nisso!
117
UNICESUMAR
Ciências Sociais é uma área de estudo que busca entender o desenvolvimento, o funcionamento
e a organização das sociedades, considerando aspectos relacionados às suas origens, história,
conflitos, características culturais e hábitos sociais.
Fonte: adaptado de Triviños (1987).
Podemos compreender que a conceituação de sociedade é bastante complexa, ainda que se trate de um
conjunto de indivíduos que vivem juntos, em um determinado período e espaço, atuantes em normas
comuns, estabelecendo um corpo social. Para este estudo, adotaremos a definição de que a sociedade
se trata da ideia do coletivo de cidadãos, organizados socialmente, sujeitos a um mesmo regimento,
normas e condutas, em busca de qualidade de vida e bem-estar.
Sabe-se que essa organização se estabeleceu há muito tempo, e que os indivíduos, nela, organizam-se
em busca de uma vida em comum. Nesse sentido, frequentemente, os autores compreendem que a
sociedade nasceu com o surgimento das cidades. Jesus e Denaldi (2018), de modo breve, estabelecem
que, historicamente, as cidades surgiram a partir do processo de urbanização, pois, até então, o homem
era nômade. Assim, a relação é estabelecida, claramente, após a sua permanência em um determinado
espaço. Adota-se, então, os primeiros registros a partir do período paleolítico:
“
[...] a relação do homem paleolítico com a caverna, embora não se construísse uma
moradia fixa para ele, era um abrigo e tinha um significado muito grande. Era o lugar
de segurança, para onde ia quando estava com fome, para o acasalamento, ou para a
guarda de seus instrumentos. Mais do que isso, a caverna foi o primeiro lugar onde
praticavam seus rituais e suas artes, impulsos estes que depois também foram motivos
de fixação nas cidades (SPOSITO, 2001, p. 12).
Ainda que não haja datas que definem o surgimento das cidades, Carlos (2007) defende que o fator
estruturante da cidade (e da sociedade) é o estabelecimento comercial, sendo determinante para
a produção e organização do espaço. Sobre as cidades e a sociedade, Lefebvre (2002) aponta que o
surgimento e o desenvolvimento da sociedade urbana se associam à globalização e à industrialização.
Estes fenômenos promoveram a transformação do espaço geográfico, considerando, ainda, o processo
de urbanização, em paralelo.
Não se tem, ainda, uma definição única e universal do termo “globalização”, mas, para nosso
estudo, adotaremos a definição de Held e Mcgrew (2001), que se refere a uma rápida expansão da in-
terdependência política e econômica, sendo um acontecimento histórico significativo. Nesse sentido,
118
UNIDADE 6
denota-se mais do que a ampliação das relações e atividades sociais, atravessando fronteiras; em outras
palavras, representa uma mudança significativa de ação e de organização social.
De modo bastante simplificado, a industrialização refere-se ao processo de crescimento da atividade
industrial na sociedade, a partir de políticas favoráveis à instalação de indústrias, com o fornecimento
de incentivos fiscais (SUZIGAN, 2000). Vale ressaltar, ainda, que neste processo se estabelece, claramen-
te, três eixos essenciais: o uso da máquina, modelo de trabalho assalariado, a força de trabalho como
moeda de troca. Isso fortaleceu o processo de industrialização, que, por sua vez, fomentou o processo
de urbanização, ou seja, formatou o espaço urbano e/ou cidade.
Para a urbanização, adotaremos a condição de transformação de um ambiente predominantemente
rural em urbano, propondo novas formas de apropriação de consumo do espaço e mercantilização
das cidades, da cultura e das paisagens (ROLIM, 2006).
119
UNICESUMAR
Pela abordagem da Sociologia, o que caracteriza uma sociedade é a comunhão de interesses entre
os membros que a compõem, direcionadas a um objetivo em comum. Define-se Sociologia como
o estudo da relação entre os indivíduos e a sociedade, Simmel (2006) a coloca como “a ciência da
sociedade”, que somente acontece por meio das relações dos indivíduos. Vê-se que a Sociologia cons-
titui um projeto intelectual complexo, sendo o resultado de uma tentativa de compreender situações
sociais radicalmente novas, na trajetória da ciência como tentativa de dialogar com a civilização em
suas diferentes fases (MARTINS, 2006).
As reflexões sobre a sociedade colocam em processo de constituição, reprodução e transformação,
nos estudos que envolvem os indivíduos, e ressaltam que os membros da sociedade podem ser de di-
ferentes grupos étnicos, pertencer a diferentes classes e níveis sociais, ainda que tenham em comum a
comunhão de interesses entre os membros e o direcionamento em um objetivo comumente definidos.
A sociedade configura e explica o indivíduo, associando-se ao seu comportamento individual, e re-
sulta em uma expressão cultural, ou seja, uma estrutura social, em que os indivíduos agem, incorporam e
reproduzem percepções, valores e esquemas provenientes de uma realidade maior. É preciso pensar nos
indivíduos e suas individualidades para compreender a característica de uma determinada sociedade.
A vida em sociedade é uma das tarefas mais importantes, referimo-nos às características intrínsecas
de vida social, pois configura um modelo de sociabilidade, estabelecendo características do homem
como ser social e as formas de poder que se colocam na cidade (ROBLE, 2008). Deste modo, é impor-
tante compreender a interligação entre os indivíduos, pois eles dependem uns dos outros na execução
de suas funções. Vale, nesta discussão, ainda, ressaltar as relações estabelecidas entre eles, como a
convivência e a maneira que demonstram suas ideias, necessidades, sentimentos, sonhos e interesses.
Com isso, compreende-se que é um conceito em constante alteração. A noção de sociedade é
construída historicamente, tornando-se uma realidade vivenciada, estabelecendo seus contornos
territoriais, seus campos sociológicos e operam em fronteiras territoriais demarcadas. Em uma visão
contemporânea, diante do contexto da globalização, estabelece-se as relações sociais e não se confor-
mam quanto aos “limites” da sociedade.
A sociedade é uma parte da totalidade da vida social do ser humano, na qual fatores de heredi-
tariedade influem tanto quanto os elementos culturais (conhecimentos, técnicas científicas, crenças,
sistemas éticos e metafísicos) e as formas de expressão estética, proporcionados pelo meio em que está
inserido. É, assim, que se participa da sociedade, permitindo a inter-relação entre as partes (funções)
para constituir e manter o funcionamento (transformação) do todo (sistema).
Trazendo a realidade da Arquitetura e do Urbanismo, a sociedade pode ser vista como estrutura
complexa e dinâmica, da qual somos parte integrante, inclui-se o olhar para as relações estabelecidas
no espaço. De certo modo, implica em considerar o pensamento urbano e arquitetônico, na espera de
que haja uma consciência coletiva (e individual), considerando a diversidade da sociedade.
Para Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, a sociedade é uma necessidade humana, posto
que o indivíduo não vive sozinho, e na vida coletiva haverá a necessidade de se ter leis, contratos sociais
e normalização dos costumes. O conhecimento da sociedade, da cultura e da psicologia consiste, ao
mesmo tempo, em conhecimento de si mesmo, o que é, evidentemente, impossível de se empreender
120
UNIDADE 6
com a lógica do método científico natural. Outra consideração essencial é dita por Durkheim, sociólogo
francês, o indivíduo está subordinado a uma série de regras e costumes sociais que são preestabeleci-
dos e exigem que seja seguido, desde o seu nascimento, e, com isso, há a prevalência da sociedade e da
coletividade sobre o indivíduo (LUCKMANN; BERGER, 2006)
Ainda que importante tratar o homem pela sua individualidade, compreende-se que ele vive em
sociedade. Enquanto a individualidade é definida como o conjunto de características que distin-
gue as pessoas, falando sobre suas particularidades e originalidades; o processo de socialização
é um fato social e assegura um conjunto homogêneo, atuando em uma comunidade integrada.
Fonte: adaptado de Tomazi (2010).
121
UNICESUMAR
122
UNIDADE 6
Jacobi (1999) pontua que o quadro socioambiental, que caracteriza a sociedade contemporânea,
destaca os impactos desta sociedade ao meio ambiente, tornando-se cada vez mais complexo. Desse
modo, a importância de se trazer à discussão a sociedade e a sustentabilidade, que surge como um
caminho para o enfrentamento da crise ecológica. É preciso, portanto, que tenhamos ciência de que
o desenvolvimento sustentável não se refere apenas às condições ecológicas de um processo social,
mas fala sobre uma estratégia múltipla para a sociedade, que deve levar em conta tanto a viabilidade
econômica como a ecológica.
Em uma condição global, a noção de desenvolvimento sustentável considera a importância da
redefinição das relações da sociedade com a natureza, e a proposta é estabelecer uma mudança signi-
ficativa no processo civilizatório (SACHS, 2002).
123
UNICESUMAR
Este cenário nos coloca um desafio: romper com um modelo estabelecido de sociedade e buscar novos
paradigmas, criando correntes de conscientização sociais, em que a Agenda 21 apresenta princípios
associados à valorização da dignidade humana, justiça social e equilíbrio ecológico.
A Agenda 21 é um plano de atuação, em que seu principal objetivo é criar soluções para os
problemas socioambientais mundiais, ou seja, refere-se a um documento assinado por 179
países, resultado da “Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento”
– Rio 92, podendo ser definida como um instrumento de planejamento participativo, visando
ao desenvolvimento sustentável. Fonte: adaptado de Jacobi, Günther e Giatti (2012).
• Atuação local pelo bem geral: pensa nas ações em diferentes escalas, do pontual ao global, bem
como na relação com o meio ambiente (estabelecendo atividades pessoais, próximas e locais).
• Processo contínuo e permanente: pensar que o processo educativo deve estar contigo em todas
as fases de formação (educação).
• Processo coletivo e participativo: estabelecer que a comunidade precisa ser envolvida como
agente ativo, oportunizando as decisões e avaliações das consequências.
• Integração: otimizando a visão integrada de todos os aspectos naturais e sociais nas dimensões
política, econômica e cultural.
124
UNIDADE 6
125
UNICESUMAR
Este cenário é decorrente da diversidade das produções sociais do espaço, à medida que a sociedade
demanda “novas” configurações, compreende-se que esta é consumidora deste espaço, e consequen-
temente agente de construção do mesmo, e por isso a importância desta nossa discussão.
Descrição da Imagem: na imagem, é possível observar uma vista aérea (foto tirada de um avião) da cidade de Maringá,
no estado do Paraná. A foto nos permite ver as divisões dos bairros e a organização/definição da morfologia urbana.
126
UNIDADE 6
Descrição da Imagem: na imagem, observamos uma via na cidade de Maringá, PR, com a presença de arborização
urbana, garantindo a qualidade da paisagem, e reiterando a identidade local.
Isso nos dá amparo para defender que o espaço físico (ainda que planejado inicialmente) é modifi-
cado pelo ser humano, considerando não só o “abrigo” para as atividades da sociedade, mas também
as condições naturais, ou seja, o meio ambiente inserido. Pensamos, então, no conjunto de atividades
desempenhadas pelas (diferentes) sociedades. Elas promovem a modificação do espaço geográfico,
resultante das constantes intervenções humanas, que causam, entre outros fenômenos, a degradação
ambiental, como vimos, que além de causar impactos significativos na qualidade de vida dos cidadãos,
altera a morfologia urbana.
Tornar esta discussão mais próxima é possibilitar a abordagem do espaço geográfico como elemento
definidor da sociedade (e vice-versa). Essa discussão nos mostra que a formatação do espaço físico é
resultado das ações estabelecidas pelos seres humanos que ocupam aquele espaço, e que este é “abrigo”
para as diferentes atividades dos usuários. Além disso, é de extrema relevância que se considere as
condições naturais que compõem o espaço geográfico, ou seja, o meio ambiente que o ocupa.
127
UNICESUMAR
Figura 4 - Sociedade
Descrição da Imagem: a figura apresenta vários desenhos que representam os usuários em suas particularidades de
estatura, de peso, de idade, entre outros.
128
UNIDADE 6
Nessa reflexão, é perceptivo que a sociedade permeia a diversidade, e que é composta por pessoas de
diferentes histórias, crenças, orientações sexuais, gêneros, faixa etária, estatura, peso, mobilidade, entre
outros. É, justamente, esta convivência na diversidade que se estabelece a construção social.
Pautada nessa discussão, visto que a diversidade humana é muito extensa, a arquitetura para a so-
ciedade precisa promover as melhores condições para este público tão heterogêneo. Compreende-se,
portanto, a importância de trazer o reconhecimento das particularidades dos usuários, além de ser
nossa a responsabilidade de pensar em quem usará o nosso espaço, e buscar por projetos arquitetônicos
e urbanísticos que atendam as demandas do Desenho Universal e da Acessibilidade.
Aqui, está a primeira questão, para quem produzimos arquitetura? A resposta é: para cada usuário
em suas particularidades, independentemente de quais sejam. Os projetos são (e devem ser) desenvol-
vidos para que todos possam usar, sem que haja a necessidade de adaptação às diferentes necessidades.
Uma questão essencial à produção da arquitetura versus o usuário é estabelecer os princípios básicos
do desenho universal, em nossas produções:
• Igualitário: os objetos e espaços devem ser utilizados por qualquer pessoa, independentemente
de suas capacidades.
• Adaptável: os espaços e objetos precisam ser adaptáveis a diferentes usos e atender a diferentes
preferências.
• Óbvio: os usuários devem olhar e facilmente entender o que uma indicação quer dizer.
• Conhecido: permite que o receptor consiga receber a mensagem.
• Seguro: deve prevenir que acidentes aconteçam.
• Sem esforço: ser utilizado sem causar fadiga e de forma confortável.
• Abrangente: proporciona espaços e dimensões adequadas para que haja uso do objeto, inde-
pendentemente da mobilidade, postura ou tamanho do corpo.
É preciso conhecer as diferentes necessidades e pensar nos usuários para a aplicação do desenho uni-
versal e, desta forma, tornar possível o uso dos espaços. Neste contexto, fortalece-se a ideia de que nós,
profissionais arquitetos e urbanistas, temos a responsabilidade social de planejar e criar os ambientes;
contribuir para o desenvolvimento social e econômico bem como dinamizar as transformações e
expectativas de uma sociedade. Nós, profissionais da arquitetura e urbanismo, somos responsáveis
pela produção e organização dos ambientes construídos e trazê-lo à utilização do ser humano, ou
seja, produzir e organizar espaços para os usuários e suas funções, em busca de atender às diversas
demandas de ordem funcional, técnico e estético. Pense nisso!
129
É importante relembrar os conceitos e parâmetros estudados em nossa unidade para que, des-
sa forma, possamos entender a importância deles frente às nossas discussões acerca do tema
Arquitetura e a Sociedade.
Descrição da Imagem: esta imagem representa, de modo sucinto, os temas abordados nesta unidade, destaca-se
os dois elementos centralizadores. À esquerda (superior), elencam-se as políticas ambientais e breve conceituação
de sua abordagem. À direita (inferior), elencam-se as políticas sociais e, também, breve conceituação e sua abor-
dagem. Destaca-se, ainda, o termo “qualidade de vida”, visto que ambas as políticas se centralizam na melhoria
da qualidade de vida para a população.
Mãos na massa! Elabore o seu mapa mental, buscando organizar os conceitos e estudos realizados
nesta unidade, a intenção é que você destaque os aspectos principais que nos auxiliam a realizar
a amarração entre os pontos-chave da nossa disciplina, servindo também para que possamos
dar sequência a nossa conversa, em nossa próxima unidade. Agora é com você!
130
131
MEU ESPAÇO
1. Leia o trecho a seguir:
132
3. A Agenda 21, conforme Jacobi; Günther; Giatti, (2012), trata-se de um plano de atua-
ção, em que seu principal objetivo é criar soluções para os problemas socioambientais
mundiais, ou seja, refere-se a um documento assinado por 179 países, resultado da
“Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento” – Rio 92,
podendo ser definida como um instrumento de planejamento participativo, visando
ao desenvolvimento sustentável. Neste contexto, sabendo que a Agenda 21 apresenta
princípios associados à valorização da dignidade humana, justiça social e equilíbrio
ecológico, analise as asserções a seguir:
I) É princípio de atuação local pelo bem geral: pensar que o processo educativo deve
estar consigo em todas as fases de formação (educação).
II) É princípio de atuação local pelo bem geral: pensa-se nas ações em diferentes escalas,
do pontual ao global, e na relação com o meio ambiente (estabelecendo atividades
pessoais, próximas e locais).
III) É princípio de integração: otimiza a visão integrada de todos os aspectos naturais e
sociais nas dimensões política, econômica e cultural.
133
5. Segundo Martins (2006), a Sociologia constitui um projeto intelectual complexo, sendo
o resultado de uma tentativa de compreensão de situações sociais radicalmente novas,
na trajetória da ciência como tentativa de dialogar com a civilização em suas diferentes
fases. Analise as asserções a seguir:
I) Os membros da sociedade podem ser de diferentes grupos étnicos, pertencer a
diferentes classes e níveis sociais, ainda que tenham em comum a comunhão de in-
teresses entre os membros e o direcionamento em um objetivo comumente definido.
II) A vida em sociedade é uma das tarefas mais importantes, referimo-nos às caracte-
rísticas intrínsecas de vida social, pois configura um modelo de sociabilidade, esta-
belecendo características do homem como ser social e as formas de poder que se
colocam na cidade.
III) A sociedade refere-se à totalidade da vida social do ser humano, na qual fatores
de hereditariedade influem tanto quanto os elementos culturais (conhecimentos,
técnicas científicas, crenças, sistemas éticos e metafísicos) e as formas de expressão
estética, que não são proporcionadas pelo meio em que está inserido.
e) As asserções II e III.
134
7
As Questões Sociais no
Brasil
Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki
Antes de ser um espaço físico, o urbano é um espaço social, no qual vive uma sociedade, que tem necessi-
dades e anseios. Desse modo, este mesmo ambiente natural é modificado, alterado e construído, de acordo
com quem o vivencia, isso fortalece a ideia de que o homem se transformou à medida que “edificou” o seu
ambiente. Este homem é agente atuante neste processo, mas também possui direitos sobre esse espaço
social. Você saberia dizer quais são esses direitos e deveres sociais? E no Brasil? Qual é essa realidade?
Para que se possa discutir a formatação do espaço físico e, consequentemente, da sociedade, é im-
portante tratar das condicionantes sociais e ambientais. Quando falamos das problematizações sociais,
centramo-nos nas condições, nas características de formação social bem como na sua historicidade,
que direta (ou indiretamente) traduz a uma avaliação moral e ideológica, apresentando o que não
funciona dentro dos parâmetros mínimos de direito dos cidadãos. Para falar sobre “problemas” sociais,
é necessário verificar se esses causaram alguma transformação no espaço; é preciso que sejam “vistos”
e “percebidos” como problemas e, por fim, que tenham interpretações oficiais sobre cada questão, a
exemplo, podemos trazer os problemas associados ao déficit habitacional.
Falar destas questões é, essencialmente, refletir — enquanto cidadãos integrantes de uma socieda-
de, e, acima de tudo, enquanto profissionais, agentes atuantes em possibilidades de transformações e
melhorias do espaço físico —, a partir dos “saberesAo caminhar pelas cidades brasileiras, certamente,
você já se deparou com diferentes cenários que apresentam a precariedade das condições sociais e am-
bientais do país. Por vezes, não compreendemos a complexidade destas situações e, talvez, você tenha
se questionado a respeito disso e das possíveis soluções a serem adotadas. Qual a forma de incorporar
ações, como objeto de políticas públicas que visem às intervenções pontuais na sociedade? Como
podemos compreender as políticas sociais na busca pelo desenvolvimento dos direitos civis, políticos
e sociais e, consequentemente, a cidadania? Pensando nisso, liste algumas das políticas sociais da sua
cidade, você conhece alguma estratégia? Faça as suas anotações em seu Diário de Bordo!
DIÁRIO DE BORDO
136
UNIDADE 7
Podemos listar inúmeras características que evidenciam a “degradação”, seja ela social, seja ambiental.
Falar sobre degradação social é se referir a uma barreira estabelecida ao cumprimento das condições de
higiene, educação, saúde, trabalho, entre outros, ou seja, o não atendimento aos direitos do indivíduo.
Isso pode ocasionar a fome, o aumento da criminalidade, da marginalidade e da violência na sociedade,
além de grandes epidemias. Sobre a degradação ambiental, é necessário estabelecer o reconhecimento
da deterioração do meio ambiente, por meio do esgotamento dos recursos e destruição do ecossistema,
cabendo a alteração e perturbação do ambiente físico. Vamos tentar? Observe a imagem seguinte!
Descrição da Imagem: na imagem, observa-se, em um primeiro plano, a ocupação por meio de unidades habitacionais
que caracterizam uma favela e, ao fundo, em um segundo plano, a presença de edifícios verticais, que evidenciam a
desigualdade e a disparidade habitacional.
• Sobre a degradação ambiental, podemos destacar a ocupação das favelas, visto que uma par-
cela significativa dos assentamentos se localizam em áreas ambientalmente protegidas e/ou de
alta complexidade de implantação. Dessa forma, essas habitações são inseridas em áreas sem
infraestruturas e equipamentos urbanos, ou áreas de riscos, como as encostas, ou, até mesmo,
áreas que não possam ser dotadas de condições mínimas de urbanização, entre outros.
137
UNICESUMAR
• Sobre a degradação social, podemos destacar que as favelas resultam das desigualdades sociais,
em que os cidadãos, que não têm acesso a habitações, estabelecem residência nas áreas inapro-
priadas e sem condições básicas. Na imagem anterior, ainda, apresenta-se a diferenciação das
qualidades de edificações, favelas e habitações multifamiliares (ao fundo), representadas pelas
torres de edifícios residenciais, representando o acesso ou a falta dele ao direito estabelecido na
Constituição Brasileira quanto ao direito à moradia.
Esta prática de reflexão reitera a importância do profissional acerca das paisagens inseridas na nossa
realidade cotidiana, que, por muitas vezes, passam despercebidas aos nossos olhares. É nossa responsa-
bilidade refinar o nosso olhar e fomentar as nossas discussões projetuais. A responsabilidade social do
profissional arquiteto e urbanista é levar em consideração, em seu processo de criação, o planejamento
e a reorganização dos espaços físicos e sociais. Dessa maneira, apresentamos um papel fundamental
na concretização de ideias, valores sociais, equidades e qualidade de vida. Pense nisso!
Sob uma visão global da dinâmica urbana e seus efeitos, define-se as cidades como organismos
mutantes que se modificam pelas ações das atividades diárias dos indivíduos, que se apropriam do
espaço e interagem com ele. Assim, começam a surgir os problemas no espaço. Como vimos ante-
riormente, estas questões são decorrentes de um processo complexo nomeado de urbanização, que
podemos definir como a transformação e disseminação populacional na área urbana, falando sobre o
crescimento da população das cidades e extensão territorial das mesmas, que associa este fenômeno,
primordialmente, à industrialização e ao capitalismo.
138
UNIDADE 7
da atividade extrativista madeireira da espécie pau-brasil, no litoral nordestino. Com isso, deu-se a
fixação nos territórios litorâneos, formando, assim, os primeiros centros urbanos e a sua ocupação em
direção ao interior do sertão nordestino, devido às atividades pecuárias. Isso promoveu o povoamento
destas regiões bem como os núcleos urbanos.
No século XVII, período denominado “Ciclo do Ouro”, ocorriam as expedições em busca de ouro e
pedras preciosas, no interior do território norte e nordeste. Desta forma, os núcleos urbanos começa-
ram a se direcionar ao longo dos rios com as atividades extrativistas, ainda, sem interferência no meio
natural. Nesse sentido, tratou-se de um momento importante para a ocupação do território mineiro.
Neste momento, com a descoberta de diamantes em Minas Gerais e intensificação da ocupação do
território e atividades de exportação, São Paulo torna-se o “centro de exportação” e, assim, inicia-se a
implementação de políticas migratórias, que promoveram a ocupação do território sul por imigrantes,
fomentando a formação de pequenos núcleos urbanos.
No século XIX, nomeado de “Ciclo do Café”, com o enfraquecimento da mineração, ocupação do Rio
de Janeiro e São Paulo bem como o grande fluxo de movimentos migratórios, auxiliados pelo incentivo
à mobilidade urbana, por meio de construções de estradas de ferro, iniciou-se o processo de urbanização
na região sudeste, a urbanização efetiva dos grandes centros, associados ao progresso e à modernização
destas áreas. Neste momento, São Paulo foi nomeado como centro articulador técnico, financeiro e mer-
cantil do café, e iniciou-se o processo de melhorias urbanas, por meio de aberturas e pavimentação de
vias, demolição de prédios coloniais e cortiços e marcou o início das obras de saneamento.
Chegamos ao século XX, e a migração campo-cidade, ainda, é contínua. Com isso, o agravamento
dos “problemas urbanos”, visto que os centros urbanos entram em colapso sanitário, no entanto, mais
tarde, têm-se melhorias promovidas por meio de construções de cemitérios, obras de esgoto e drenagem
urbana. Neste momento, fala-se sobre as cidades industriais. Ou seja, no Brasil, Faria (2018) coloca que
o processo de urbanização, no território brasileiro, iniciou-se, de maneira mais concreta, a partir do final
do século XIX, com o início gradativo da industrialização no país. Foi, porém, após os anos de 1930,
que a presença das indústrias se tornou mais significativa, e a urbanização começou a intensificar-se.
A segunda metade do século XX serviu de incremento, graças ao intenso êxodo rural, ocasionado pela
mecanização das atividades produtivas no meio rural, o que gerou um maior desemprego no campo
e a grande leva de migrantes em direção às principais cidades do Brasil.
Ao chegar no século XXI, deparamo-nos com desafios dos ambientes modificados decorrentes da
urbanização. Isso gerou a necessidade de promover melhorias nestes espaços, visto que as questões
ambientais e sociais têm sido cada vez mais discutidas, em busca de soluções que visem a qualidade dos
espaços. Neste panorama, evidencia-se que a formação e o desenvolvimento das cidades configuram-se
como desafios, à medida que a malha urbana cresce, a demanda por infraestrutura aumenta e, com
isso, alguns problemas são comuns a todo o tipo de sociedade. A exemplo, Cassilha e Cassilha (2009)
coloca que a ausência de planejamento e organização nas cidades resultam em, por exemplo, violência
no trânsito, pobreza, contraste social, segregação, degradação ambiental, enchentes, desmoronamento
de terras, poluição das águas, entre outros.
139
UNICESUMAR
De modo geral, a população tem grande responsabilidade por estas questões. A mais carente possui
uma parcela maior de responsabilidade pela degradação do meio ambiente e, também, a que mais sofre
diretamente com os efeitos negativos dessa degradação. Outra questão relaciona-se à disposição final
do lixo, que despejado em local indevido, pode contaminar o solo, causar problemas nas nascentes
dos rios, possibilitando enchentes e desmoronamentos. O aumento da poluição atmosférica, por sua
vez, reduz a vida útil das pavimentações.
Assim dizendo, uma cidade, independentemente de sua dimensão e localização geográfica, precisa
considerar as questões que envolvem as necessidades básicas da população, tais como: coleta de lixo,
abastecimento de água, promoção de espaços de lazer, entre outros, ou seja, a cidade precisa ser viven-
ciada por sua sociedade de modo organizado.
“
A casa, a rua, a cidade, são pontos de aplicação do trabalho humano; devem estar em
ordem, senão se opõem aos princípios fundamentais que temos como eixo; e, desordem,
nos fazem frente, nos tratavam, como nos trava a natureza, ambiente que combatemos
todos os dias (CORBUSIER, 2004, p. 19).
Desta forma, as questões ambientais e sociais estão diretamente associadas à gestão da cidade, para que
busque o controle das diversas atividades e transformações que ocorrem no espaço urbano, respei-
tando os limites do meio de sustentação natural, ou seja, a ideia é que a gestão urbana estabeleça um
conjunto de instrumentos, principalmente, quanto à legislação urbanística básica de uso e ocupação
do solo, atividades, tarefas, entre outros. Essa gestão deve estar baseada nos princípios de eficiência,
eficácia, economicidade e equidade, procurando assegurar que com o crescimento populacional seja
acompanhado por acesso à infraestrutura, habitação e emprego (CASSILHA; CASSILHA, 2009).
De acordo com Pires (1988), a gestão da cidade e/ou gestão urbana é um processo de concep-
ção, decisão, intervenção, mediação que se desenvolve no espaço em função do conflito entre
os diferentes atores sociais. A gestão urbana configura ou condensa, material e historicamente,
as relações de forças dos grupos sociais representados politicamente no Estado e estabelecidos
economicamente no espaço.
Outro ponto essencial desta discussão referencia-se às funções sociais da cidade, de acordo com a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, artigo 182, do Capítulo II – Da Política Urbana:
140
UNIDADE 7
“
Art. 182. A política de desenvolvimento urba-
no, executada pelo poder público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem
por objetivo ordenar o pleno desenvolvimen-
to das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes.
141
UNICESUMAR
binômio indivíduo-sociedade, isto é, o estudo das relações que os indivíduos mantêm entre si e com
a sua sociedade ou cultura, sempre, esteve no centro das preocupações dos psicólogos sociais, com o
pendente oscilando ora para um lado, ora para o outro (YAMAMOTO; OLIVEIRA, 2010).
Por consequência, podemos dizer que a Psicologia Social estuda os indivíduos, seus comporta-
mentos nos diferentes contextos em que estão inseridos e nas diferentes fases de sua vida. A partir do
momento que o sujeito se insere em um local, que contempla uma sociedade, esta disciplina, portanto,
estabelecerá as relações e conexões entre sociedade e sujeito, atuando nestas influências e no modo de
construir essa sociedade, a partir do indivíduo e suas relações.
Nesta conjuntura, o processo de adquirir conhecimentos associa-se, segundo Carlston (2010), à
cognição social, que, dentro da Psicologia Social, é vista atualmente como um campo da Psicologia. Ela
é responsável por integrar uma série de pequenas teorias, estas, ao longo do tempo, desenvolveram-
-se no contexto da Psicologia Social para apresentar as condutas das pessoas; a forma como pensam
sobre si mesmas e sobre as coisas; as impressões acerca das outras pessoas ou grupos sociais e, ainda,
evidenciar comportamentos.
Há, também, a discussão acerca da neurociência social, que surge pelo interesse de investigar relações
entre a cognição social e as funções do cérebro, buscando compreender o desempenho das estruturas
neurais no processamento das informações sociais (ADOLPHS; DAMÁSIO, 2001). Deste modo, a
neurociência social pode ser vista como um campo de investigação na área da Psicologia Social, que
pode contribuir para a compreensão do comportamento social, atuando como uma perspectiva com-
plementar a outras investigações da conduta social.
É hora de falar sobre a importância de prever e organizar as condições de saneamento básico,
pavimentação, energia elétrica. O conceito de planejamento urbano é bastante abstrato, mas a sua
abrangência associa-se ao ato de planejar, organizar as tarefas e ações da sociedade, utilizando os mé-
todos práticos que visam a meios e aspectos reais, em busca do desenvolvimento de uma sociedade
sustentável e qualitativa.
142
UNIDADE 7
Hall (1998) reitera a necessidade de planejar uma área e encoraja-nos a organizar os sítios e recur-
sos para que possam ser desenvolvidos corretamente, e a população, por sua vez, seja organizada e
distribuída de modo que utilize os espaços e recursos de forma consciente e não destrua as vantagens
naturais do lugar. Assim, o planejamento incorpora a população, a natureza e a sociedade como uma
única unidade. Kerbauy (2002) complementa esta ideia e coloca que o planejamento urbano é o pro-
cesso de pensamento, de método de trabalho e meio para propiciar o melhor uso da inteligência e das
capacidades do ser humano para benefício próprio e social.
As decisões de planejamento são tomadas a todo o tempo, e, ainda que seja um processo não físico,
trata-se dos problemas da cidade, de modo global, levando em conta o uso e a ocupação do solo urba-
no, em relação à qualidade de vida dos cidadãos. O poder público, neste contexto, busca disciplinar e
acompanhar o processo, considerando os insumos físicos, recursos e infraestrutura.
O planejamento urbano determina o ritmo e a dinâmica do funcionamento da cidade, visto que as
percepções e muitas das decisões que tomamos, no dia a dia, são afeiçoadas por ferramentas e normas
registradas em documentos. Estes documentos são estruturados de modo participativo e inclusivo, consi-
derando os utensílios que associam o transporte coletivo, distribuição de serviços, diferentes centralidades
e densidade populacional. Então, teremos uma cidade direcionada ao desenvolvimento sustentável.
Saímos, agora, das condições que envolvem o planejamento urbano e direcionamos a nossa conversa
às questões sociais. É importante, portanto, que contextualizemos o surgimento dessas questões. Para
conceitualizar políticas sociais, Senne (2017) coloca que o capitalismo é o marco desta discussão, uma
vez que as políticas sociais se iniciaram a partir das mobilizações da classe operária, advinda da Revo-
lução Industrial no século XIX. Desse modo, elas são compreendidas como estratégias de influência
do governo nas relações sociais bem como estratégia entre instâncias conflitivas. E com o processo de
globalização, têm-se diferentes seções da sociedade, movimentando-se para reorganização e reorde-
nação social, cultural e institucional, subordinadas, em linhas gerais, à economia.
Em outras palavras, a política social possui formações econômico-sociais de ação e controle sobre
as necessidades sociais básicas da sociedade, buscando a mediação entre as necessidades de valori-
zação e acumulação do capital e as necessidades de manutenção da força de trabalho disponível para
o mesmo. As questões sociais, porém, não estão associadas, exclusivamente, à distribuição de renda,
mas estão ligadas, também, à distribuição dos meios de produção, em busca de reconhecer os direitos,
respondendo às demandas da classe trabalhadora com a implantação das políticas sociais.
Visando a compreender o contexto em que o Brasil se encontra, quanto às suas questões sociais,
podemos estabelecer uma relação prática de que a política social brasileira tem caráter fragmentário,
setorial e emergencial, buscando atender às reivindicações, algumas vezes, da sociedade. Para Faleiros
(2000), as questões sociais estarão sempre associadas aos níveis da economia e política do país, atuando
como instrumento de garantia dos direitos do cidadão.
143
UNICESUMAR
A fome no Brasil chegou a 10,3 milhões de pessoas. Destas, 7,7 milhões são moradoras da área urba-
na, e 2,6 milhões da área rural, dados estes atualizados em setembro de 2020 pelo POF (Pesquisa de
Orçamentos Familiares) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O contexto do país
se agravou devido à insegurança alimentar, isto é, quando há preocupações com acesso a alimentos,
apresentando queda na qualidade da alimentação, ou quantidade restrita de alimentos, ou, ainda, pela
privação severa no acesso aos alimentos.
O direito à alimentação adequada é incluído na Constituição do Brasil, que consiste no acesso físico
e econômico de todas as pessoas aos alimentos e aos recursos, como emprego ou terra, para garantir
esse acesso de modo contínuo. Esse direito inclui a água e as suas diversas formas de acesso, na sua
compreensão e realização. Ao afirmar que a alimentação deve ser adequada, entende-se que ela seja
adequada ao contexto e às condições culturais, sociais, econômicas, climáticas e ecológicas de cada
pessoa, etnia, cultura ou grupo social (LEÃO; RECINE, 2011).
Para chegar até aqui, há uma sucessão de causas que podem culminar na ausência de condições
econômicas, como: ausência da família, desemprego, empobrecimento da população, sociedade pre-
coce, falta de moradia, falta de saúde e saneamento básico, falta de oportunidades e educação, entre
outros. Melhor dizendo, é correto afirmar que, em cenários de crise econômica e política, há problemas
estruturais que podem colocar em risco a vida dos cidadãos, ou seja, falar sobre as questões sociais é
trazer à tona discussões que envolvem a política, no entanto não nos aprofundaremos nestas questões.
O importante, aqui, é ter a ciência do alcance das demandas sociais e compreender que, no Brasil,
há um déficit substancial de atendimento ao direito dos cidadãos, ainda que seja associado às necessi-
dades básicas dos indivíduos. Claro, esses problemas têm origem na nossa história, em outros termos,
144
UNIDADE 7
os impasses que enfrentamos se originam na ação humana, o que nos conforta é que essa mesma ação
é capaz de reverter, ainda que não imediatamente, este cenário e, assim, nasce as políticas sociais.
Sob um olhar complexo, Yazbek (2000) coloca que as questões sociais são definidas e redefinidas,
mas permanecem na mesma dimensão estrutural, ao lado de uma manutenção da política econômica,
de acordo com a orientação dos organismos financeiros e o aprofundamento das condições de trabalho
e vida da maioria da população, buscando estabelecer estratégias para garantir o atendimento às lutas
e reivindicações das diferentes classes sociais, em uma tentativa de institucionalizar o conflito social.
E, por fim, não menos importante, é essencial que consigamos distinguir que as questões sociais não
são exclusivamente definidas pela distribuição de renda, mas sim pelo complexo cenário que envolve
as produções e as relações entre as classes sociais.
Nesse sentido, a política social tem como objetivo o bem-estar dos habitantes da cidade, buscando
desempenhar o estilo das classes sociais, ou seja, uma política que responde às instâncias políticas e
econômicas, que possui os próprios desenvolvimentos econômico-sociais capitalistas contemporâneos.
Entre os grandes problemas sociais brasileiros, destacam-se a violência e a criminalidade. Elas
se tornaram uma “questão pública” e, nesta sociedade, estão relacionadas às frequentes imagens e
representações nas mídias, como se houvesse uma espécie de aderência natural a estas questões. Em
concordância, Chesnais (1999) já evidenciava que, no Brasil, a violência, sobretudo urbana, é ameaça-
dora, recorrente e geradora de um profundo sentimento de insegurança. Essa evolução é sintoma de
uma desintegração social, de um mal-estar coletivo e de um desregramento das instituições públicas.
145
UNICESUMAR
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UNIDADE 7
Descrição da Imagem: a imagem refere-se a um recorte da Favela da Rocinha, a sobreposição das casas e a ausência
da morfologia urbana.
A Figura 2 relata um recorte da Favela da Rocinha no Rio de Janeiro, localizada na zona sul do municí-
pio; é uma das maiores favelas do Brasil pela sua densidade populacional. É alvo de grandes discussões
e estudos, por se tratar de uma comunidade em estado de vulnerabilidade, e a ausência das ações do
poder público, que impactam não só na infraestrutura básica, associada à água, energia elétrica, esgoto
e habitações, mas também nas questões relacionadas à degradação das áreas verdes e, principalmente,
nas questões epidemiológicas.
147
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a imagem refere-se a um recorte da Favela de Bahia, quanto à ocupação da encosta e as
sobreposições de casas irregulares próximo ao mar.
A Figura 3 refere-se à Favela Bahia, em Salvador, que segundo dados do IBGE em 2019, quatro em cada
dez residências no município estão localizadas em favelas ou em aglomerados subnormais, o que representa
cerca de 40% da população sem acesso às condições qualitativas de moradias, falando das questões que
envolvem a inadequação de abastecimento de água, fornecimento de energia, coleta de lixo, destinação
de esgoto, restrição de ocupação do solo, existência de padrão irregular de ocupação urbana.
Nesses exemplos, apresentam-se o panorama em que o Brasil se instala. Em grande parte das cidades,
é visível a presença de moradias precárias, ainda, que, por vezes, haja a atuação das ações do governo
em promover (ou buscar promover) melhorias e acesso a estas populações, mas ainda estamos longe
de cumprir a nossa responsabilidade e, assim, sair deste panorama excludente, que marginaliza um
grupo social desfavorecido. Não falamos, apenas, da ausência de infraestrutura básica, mas também
da falta de suporte dos equipamentos urbanos, como escolas, postos de saúde, segurança, além de falar
das oportunidades de emprego.
É válido destacar, em paralelo a esta discussão das políticas habitacionais, que os problemas
sociais, originados pela desigualdade social, e que impedem o desenvolvimento da sociedade são:
o desemprego (associado à incapacidade de absorver a mão de obra, além da falta de investimentos
148
UNIDADE 7
públicos que capacitem a população trabalhadora para empregá-la), a fome, a educação básica (re-
lacionada à falta de investimento do Estado, não permitindo à população acesso aos seus direitos
educacionais), entre outros parâmetros.
Retomando a questão das políticas habitacionais, destacam-se as ações atuantes diante das favelas.
Entre alguns exemplos de atuação, organizam-se as atividades em propostas, visando à melhora da qua-
lidade de vida desta população. A primeira proposta traz a ideia da remoção da favela e da realocação
destes usuários, no entanto estes núcleos eram direcionados às áreas periféricas e distantes da cidade,
isso dificultou a mobilidade urbana desta população, onerou seus custos e inviabilizou esta ação, a qual
promove o incentivo para que os usuários tomem posse novamente das favelas, ou seja, verificou-se
que esta seria uma tomada de decisão exclusiva para situações emergenciais ou para áreas de risco.
A segunda proposta olha para esta área da favela e ambiciona a urbanização dela, ou seja, que, em um
primeiro momento, realiza-se o diagnóstico do espaço e, posteriormente, atue-se com a regularização
fundiária, inserindo esta população em um contexto de cidade, transformando-as em bairros com as
infraestruturas básicas, como: rede de água e esgoto, drenagem de águas pluviais, execução de obras
para eliminação das áreas de risco, iluminação pública, áreas de lazer e paisagismo e, por fim, ações de
educação ambiental e acompanhamento social junto à população, entre outros.
Nesse contexto, assume-se a importância de refletir acerca dos aspectos que compõem o espaço ur-
bano, as inter-relações com os indicadores sociais e ambientais e, desta forma, falar sobre os fatores que
incidem na qualidade destes espaços. Tais definições exigem o estabelecimento de tomadas de decisões
políticas e programáticas dos governos, buscando estabelecer melhores condições de vida à sociedade.
Neste panorama em que inserimos as realidades políticas e ambientais, é essencial que possamos parar
e refletir acerca de um estudo de caso real, que envolve estas duas condicionantes. Nosso estudo de hoje é
a Favela da Bacia de Guarapiranga, que constitui um dos principais mananciais da região metropolitana
de São Paulo, além de falarmos sobre uma área de proteção ambiental, devido à presença de mananciais.
A represa de Guarapiranga é responsável pelo abastecimento de água de um percentual elevado
da população da região metropolitana de São Paulo, além de falar sobre as suas características de área
de proteção vegetal e animal, que é agente atenuador das temperaturas e da qualidade do ar na região.
No entanto a sua bacia sofreu por um processo de invasão habitacional e deu-se a formação de fave-
las. Desta forma, a qualidade da água é comprometida pelo lançamento de esgoto nos corpos d’água;
além de destacar que a área ocupada por barracos e construções ilegais reduziu, significativamente, a
permeabilidade do solo. Não se permite, por isso, que as chuvas façam o seu trajeto natural (penetração
no solo e escoamento até as represas), ocasionando, assim, enchentes na região.
Podemos elencar outros problemas recorrentes a esta ocupação irregular, como a questão dos lixos,
que são depositados a céu aberto e, desta forma, contaminam o solo, chegando até os lençóis freáticos,
bem como o desmatamento das áreas verdes, que ocasionam incêndios e deslizamentos de terra, entre
outros. E desta forma, compreende-se que a falta de infraestrutura básica adequada e o adensamento
da população, em áreas de risco, vêm transformando a paisagem do local.
149
UNICESUMAR
150
UNIDADE 7
Para Baltrusis e Ancona (2006), as atividades realizadas para a urbanização da área são:
• Melhoria da iluminação pública: esta infraestrutura não existia nas áreas da favela e, se existia,
era precária, não atendendo a demanda da população.
• Melhoria no serviço de abastecimento de água: ainda que haja um reajuste de valores das con-
tas de água, relata-se o término do rodízio para utilização da água e o acesso e a melhoria da
qualidade da água.
• Captação de esgoto: com a provisão da canalização do esgoto, isolou-se o esgoto a céu aberto
em direção ao córrego, e uma das melhorias refere-se à redução de ratos.
• Coleta de lixo: realização da coleta de lixo três vezes durante a semana, reduziu o número de
moradores que jogam lixo nas ruas e nos córregos, provocando alagamentos em alguns pontos.
• Asfaltamento: melhorou a qualidade das vias de acesso e a circulação no bairro.
• Construção de vielas, escadas, calçadas, canalização dos córregos.
Falar das ações que têm como objeto de estudo a sociedade e o comportamento dos que a compõem,
a partir do estudo das manifestações sociais, ainda que simbolicamente, é tratar da disciplina de
Ciências Sociais. As ciências sociais são uma ampla área de estudos centralizada no entendimento do
funcionamento, desenvolvimento e organização das sociedades, que trabalham com a investigação e
a pesquisa dos diferentes critérios relacionados ao comportamento humano, considerando-os, ainda,
como influenciadores da estrutura de uma sociedade e da história do lugar.
Além disso, as Ciências Sociais se dedicam a estudar as origens históricas e as memórias da sociedade,
em processos centralizados no comportamento humano e que influenciam e particularizam cada uma
das sociedades, devido aos seus acontecimentos sociais, identidade e hábitos culturais e econômicos,
entre outros. E, por essa razão, sabe-se que é necessário abordar três pilares essenciais, os quais buscam
compreender os diferentes aspectos sociais dentro de um determinado contexto social: antropologia,
sociologia e ciências políticas.
Assim, observa-se a importância desta compreensão associada à orientação e melhor funcionamento
de uma determinada sociedade, interpretando as realidades sociais que existem e buscando definir os
valores sociais e morais que compõem um determinado contexto social. Inserido neste contexto, para nos
aprofundarmos em nosso estudo, é essencial que compreendamos a conceituação do termo política social.
Ao buscarmos a essência dessas questões, conceituaremos o termo política, que também deve ser
trazido, em busca do nosso reconhecimento. Desta forma, defende-se que a política é utilizada por
diferentes áreas que buscam a compreensão das suas perspectivas de atuação, por vezes, autores trarão o
termo associado a “governamentalidade” que se desenvolvem com o objetivo de conhecer e estabelecer
condições para a vida da população, ou seja, traz a discussão às diferentes práticas, que possibilitam
melhor qualidade de vida para a sociedade.
151
UNICESUMAR
152
UNIDADE 7
Falar sobre as políticas sociais é compreender que se trata de um termo vago, que não tem significa-
do único, pois, em princípio, todos os tipos de políticas públicas podem ser considerados, direta ou
indiretamente, como políticas sociais (CARVALHO, 2007). Ou seja, trata-se das ações que organizam
as decisões táticas que objetivam o princípio de justiça consistente e coerente. Sendo assim, a política
social é, em realidade, uma ordem superior, metapolítica que justifica o ordenamento de quaisquer
outras políticas. No entanto esta atividade refere-se a um conceito transversal, que tem como objetivo
tratar as atividades do governo em uma ação setorial e conjuntural, ou seja, centralizado na melhoria
de condições de vida da população.
Para Alves (2018), as políticas sociais são associadas aos esforços para modificar o direito estabele-
cido em direitos sociais reconhecidos, efetivados e protegidos por meio da criação de uma engenharia
institucional, capaz de financiar e desenvolver diferentes ações sociais, por meio das políticas públicas
sociais, a partir de políticas setoriais. E, neste contexto, destacam-se no período algumas políticas
transversais ou integradas, como as ações afirmativas voltadas para a igualdade racial e de gênero, e
políticas voltadas para segmentos específicos, entre outros.
Para Zambello (2016), analisar políticas sociais é associar o lugar que elas ocupam enquanto po-
tencial de resultados, ou seja, políticas de proteção social e políticas orientadas à promoção social. Em
consonância com esta discussão, Oliveira (2016) apresenta uma discussão do ponto de vista teórico
do papel das instituições, no desenvolvimento econômico, a partir do potencial de atuação nos com-
portamentos sociais que estimulariam o crescimento econômico e a modernização da sociedade, ou
seja, propõe a importância de atuação em conjunto dos diversos campos que constituem as ciências
sociais para uma melhor compreensão do fenômeno social, dentro de um determinado espaço.
A política social é uma política, própria das formações econômico-sociais capitalistas contempo-
râneas, de ação e controle sobre as necessidades sociais básicas das pessoas não satisfeitas pelo modo
153
UNICESUMAR
A trajetória destas ações é complexa, pois falamos de conjunto de políticas públicas de proteção so-
cial, como vimos, com a função de melhorar a condição de vida e social das pessoas. Historicamente,
falar de políticas sociais é estabelecê-la a partir da era do capitalismo em que os operários realizavam
mobilizações e buscavam, desta forma, a intervenção do governo, de modo a responsabilizá-los, nos
conflitos, visando à promoção de mudanças na sociedade e reorganização social, cultural e institucional.
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UNIDADE 7
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Descrição da Imagem: vista aérea do canteiro de obras das casas padronizadas do Programa Minha Casa Minha Vida
do Estado de São Paulo, Brasil. Na imagem, apresenta-se a repetição de padrões residenciais nos lotes e nas diferentes
ruas do empreendimento.
Quando falamos das diferentes ações políticas no Brasil, deparamo-nos com diferentes atividades que têm
impacto direto na qualidade do espaço urbano e do ambiente construído. Um bom exemplo é falar dos
programas sociais, relacionados à construção dos empreendimentos de Habitações de Interesse Social (HIS).
As HIS voltam-se para à população de baixa renda, que não possui moradia formal e não tem
condições de buscar esta opção. Desta forma, é, a partir das ações que se constroem habitações
acessíveis adequadas à localização e à qualidade, que se possibilita aos moradores arcarem com os
custos de vida e garante os direitos humanos básicos. No Brasil, tem-se, ainda, o Sistema Nacional
de Habitação Interesse Social – SNHIS, com o objetivo de popularizar o acesso à terra urbanizada,
habitação digna e sustentável, por meio de políticas e programas de investimentos e subsídios; além
de articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das instituições e órgãos que desempe-
nham funções no setor da habitação.
156
UNIDADE 7
Ainda que já tenhamos conversado sobre estas questões, nas unidades anteriores, neste momento
nos cabe a seguinte reflexão: nós, enquanto profissionais arquitetos e urbanistas, responsáveis pela
elaboração dos projetos e orientação técnica, podemos estabelecer estratégias que qualifiquem estes
imóveis? Essa reflexão nos coloca em um cenário delicado, fala-se sobre as ações que possibilitam o
acesso a moradia à população de baixa renda, no entanto a sua estruturação segue alguns critérios,
dos quais elencamos:
• Baixo custo: para que as edificações tenham poder de competitividade, é essencial que sejam
construções que tenham baixos custos na construção e, com isso, a adoção de métodos estru-
turais mais baratos, materiais com melhores custos, entre outros. No entanto, em um primeiro
momento, não se fala sobre redução de qualidade, ainda que tenhamos a Norma de Desempenho
(NBR 15575) que dê as diretrizes básicas de Habitabilidade, mas, na prática, a grande maioria
dos empreendimentos possuem problemas quanto à qualidade das edificações e, consequen-
temente, a exigência de manutenção constante.
• Unidades habitacionais compactas: para que as edificações se adequem aos menores custos,
um dos pontos principais é projetar as residências com metragem menores do que as conven-
cionais. Os ambientes, no entanto, precisam funcionar e atender aos requisitos de modular, ser
flexível e inteligente. Observa-se, ainda, uma repetição das unidades habitacionais, desde a sua
composição inicial, sem levar em conta a sua funcionalidade e considerar os critérios de ava-
liação pós-ocupação (APO), que possibilitam o entendimento da vivência do usuário naquele
espaço, ou seja, define-se por uma planta baixa padronizada, sem estabelecer melhorias nestas
edificações, de modo a atendendo aos critérios de usabilidade.
• Localização mais afastada dos centros: parte dos projetos de habitação social se encontra em
bairros mais afastados. Ainda que dentro do perímetro urbano, uma das premissas é estarem
implantados em bairros em crescimento. Apenas, exige-se que haja uma infraestrutura básica
para atendimento do empreendimento.
Desta forma, o meu convite é para que você, enquanto profissional, compreenda a responsabilidade da
arquitetura e do urbanismo nos problemas reais do espaço e dos cidadãos, revendo o papel, enquanto
agente político, à medida em que cresce a responsabilidade e a transformação do espaço físico e social.
Desta forma, é significativo que busquemos por aprimorar as possíveis arquiteturas que surgem em
meio a convencional; romper com a lógica projetiva; resolver os desafios apresentados e, ainda, discutir
métodos, instrumentos e linguagens que possibilitam um maior interesse da população pela atuação
do profissional, ampliando a interação do morador com o processo de projeto.
157
UNICESUMAR
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UNIDADE 7
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É significativo, neste momento, relembrar os conceitos e parâmetros estudados em nossa unidade,
de forma a recordemos a importância deles em nossas discussões, as quais envolvem Arquitetura
e a Sociedade.
Descrição da Imagem: esta imagem representa, de modo sucinto, os temas abordados nesta unidade; destaca
os pontos principais quanto às questões que envolvem a relação “Social” no Brasil, como a Urbanização, o Plane-
jamento Urbano, as condições da Gestão associada à qualidade de vida, embasadas nas funções sociais (habitar,
trabalho, circulação, recreação) associadas à Psicologia Social.
Mãos na massa! Elabore o seu mapa mental, buscando organizar os conceitos e estudos realizados
nesta unidade. A intenção é que você destaque os pontos principais que nos auxiliam a realizar a
amarração entre os pontos-chave da nossa disciplina, servindo também para que possamos dar
sequência a nossa conversa na próxima unidade. Agora, é com você!
160
161
MEU ESPAÇO
1. Leia o trecho a seguir:
162
3. Leia o trecho a seguir:
Agora, assinale a alternativa correta que contempla o termo sobre o qual se descreveu:
a) Questões ambientais.
b) Questões físicas.
c) Questões econômicas.
d) Questões sociais.
e) Questões culturais.
163
5. Sobre políticas sociais, é compreensível que se trata de um termo vago e não tem
significado único, pois, em princípio, todos os tipos de políticas públicas podem ser
considerados, direta ou indiretamente, como políticas sociais. Considerando esse
contexto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.
I) Trata-se das ações que organizam as decisões táticas que objetivam o princípio de
justiça consistente e coerente.
PORQUE
II) A atividade refere-se a um conceito transversal, que tem como objetivo tratar as
atividades do governo em uma ação setorial e conjuntural, ou seja, centralizado na
melhoria de condições de vida da população.
164
8
As Políticas
Ambientais no Brasil
Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki
Antes de ser um espaço físico, o urbano é um espaço social, onde vive a sociedade, esta tem necessi-
dades e anseios, como acentuado anteriormente. Este mesmo ambiente físico tem a sua abordagem
natural, é modificado, alterado, construído de acordo com quem o vivencia. Isso fortalece a ideia de
que o homem se transforma, à medida em que edifica o seu ambiente. Agora, com o olhar voltado às
condições ambientais, este homem é agente atuante neste processo. Você saberia, desse modo, dizer
quais os direitos e deveres ambientais da sociedade? E, no Brasil, como é esta realidade?
Quando falamos das problematizações ambientais, focamos nas condições e nas características que
envolvem o meio ambiente bem como a utilização e a conscientização (ou a falta dela), quanto ao uso
dos recursos naturais. Para falar sobre “problemas” ambientais, é preciso compreendê-los. Esclarecemos,
então, que eles são os efeitos nocivos da atividade do homem no ambiente biofísico. É necessário, ainda,
que pensemos em uma abordagem em nível individual, organizacional ou governamental, refletindo sobre
a qualidade do meio ambiente (e, consequentemente, no ambiente físico) e, também, nos seres humanos.
Ao discutir questões ambientais, portanto, é válido que não seja exclusiva ao Brasil. Sendo assim,
falaremos das “ameaças” ao meio ambiente, que prejudicam não apenas o espaço físico, mas o bioma
natural e a saúde da sociedade.
Os ambientes construídos estão em constantes movimentações e, neste contexto, não se discute a
ação humana como uma das principais responsáveis por esse processo, seja positivamente, seja ne-
gativamente. Falar da sociedade e do ambiente é conformar o espaço geográfico, assentindo sobre a
paisagem, de modo geral. Falar sobre a paisagem é, ainda, referenciar registros dos diferentes aspectos
que compõem uma sociedade. Estes envolvem a história, a cultura, a economia, entre outros aspectos.
166
UNIDADE 8
Para isso, meu convite é que você observe “uma paisagem urbana” próxima ao local que você está.
Sinta este espaço, perceba-o. Registre as imagens, ainda que mentalmente, dos cenários que você encon-
trou pelo seu caminho. Responda às perguntas: você consegue identificar quais são as condicionantes
ambientais neste trajeto? Há algum registro de degradação ambiental? Sob a ótica ambiental, o meio
ambiente é respeitado neste trajeto? Faça suas anotações em seu Diário de Bordo.
DIÁRIO DE BORDO
Diariamente, deparamo-nos com a degradação ambiental, e falar sobre degradação ambiental é pen-
sar na deterioração do meio ambiente, por meio do esgotamento de recursos, como ar, água e solo,
a destruição de ecossistemas, destruição de habitat, a extinção da vida selvagem e poluição, ou seja,
compreender que qualquer alteração ou modificação do ambiente natural pode atrapalhar ou ser in-
desejável. Sobre a degradação ambiental, é necessário estabelecer o reconhecimento da deterioração
do meio ambiente. Vamos tentar? Observe estas imagens:
167
UNICESUMAR
Figura 1 -
Vista aérea da Amazônia, Brasil
168
UNIDADE 8
Ao observar a Figura 1, temos a visão do que se refere à Amazônia, floresta tropical que
cobre parte da América do Sul, e tem como responsabilidade, em nível mundial, um bem
natural inestimável. Isto se refere ao desenvolvimento sustentável, à complexidade dos
ecossistemas presente no espaço e à acumulação de riquezas naturais, além de despertar
estabilidades mecânicas, termodinâmicas e químicas dos processos atmosféricos em
escala global (RIBEIRO, 2014).
Na segunda imagem, podemos ver uma área de desmatamento ilegal de vegetação
nativa da floresta amazônica brasileira, relacionada ao enfrentamento do crime e da
corrupção, ambos enraizados nas práticas ilícitas de ocupação territorial e conversão de
vegetação que se espalham pelo país (ASSUNÇÃO; GANDOUR, 2019).
O que podemos falar é: a Amazônia brasileira tem responsabilidade sobre o mundo,
no entanto se registra a maior responsabilidade à humanidade sobre esse bem natural
inestimável. Sabemos que a degradação florestal é resultado da ação do homem na
floresta, e este desmatamento decorre da substituição por áreas de pasto ou agricultura,
ou simplesmente pela exploração das espécies. Trata-se de um fenômeno recorrente e,
portanto, precisa ser revisto.
Para Zelarayán et al. (2015), a degradação ambiental é a deterioração do meio ambiente,
por meio do esgotamento de recursos, como ar, água e solo; a destruição de ecossistemas;
destruição de habitat; a extinção da vida selvagem e poluição. É definido como qualquer
alteração ou perturbação do ambiente considerada prejudicial ou indesejável.
Um exemplo prático que temos, no Brasil, é o aumento dos índices de desmatamento
na Amazônia, nos últimos dois anos, a análise das duas últimas décadas aponta uma
tendência de queda. No entanto dados de satélite mostram que a degradação só fez au-
mentar neste período, e, em 2014, superou o desmatamento. A degradação florestal está
ligada a surtos de doenças infecciosas, como resultado do maior contato entre humanos
e a vida selvagem desabrigada.
Sabe-se que o papel da floresta amazônica é, diretamente, associado à manutenção
dos estoques e do fluxo global de carbono (MALHI et al., 2009); atualmente, o desma-
tamento dessa região é a principal fonte das emissões brasileiras de dióxido de carbono
para a atmosfera (MCT 2013).
A degradação florestal — além de ser responsável pelas emissões de carbono e, conse-
quentemente, pela poluição ambiental, doenças respiratórias, entre outras — está associada
às alterações nos ciclos da água e dos nutrientes. Isso, segundo especialistas, poderia resultar
na virada ecológica que transformaria a Amazônia em uma área totalmente degradada.
A degradação das florestas da Amazônia é, historicamente, negligenciada por políti-
cos, ativistas e, até mesmo, cientistas, em parte, porque é bem mais difícil detectá-la em
comparação ao desmatamento. Neste contexto, precisamos pensar: qual a relação da
Arquitetura e do Urbanismo com as questões ambientais, sejam elas problemas, sejam
políticas ambientais? Pense nisso!
169
UNICESUMAR
A nossa reflexão, neste momento, reforça a ideia e a compreensão de que a arquitetura responsável
deve estar ligada às questões ambientais das cidades; pensar nas atuações pontuais que vivenciamos
diariamente nas nossas atividades profissionais, ou seja, trazer as condições de sustentabilidade aos
projetos, considerando a nossa responsabilidade de contribuir para um meio ambiente mais saudável.
Também, compreender que os problemas ambientais têm impacto direto nas condições de vida da
sociedade. Vamos, então, iniciar o nosso estudo, buscando compreender o que são as questões am-
bientais e a sua abordagem.
As questões ambientais alcançaram o contexto de um problema global e, com isso, tem-se visto que
a sociedade, de um modo geral, mobilizou-se, visando à proteção do meio ambiente. Muitos autores
diferem nos modos de se apropriar do tema, mas comumente defendem que os problemas ambien-
tais devem ser tratados como danos causados ao meio ambiente e que muitos deles são provocados
pela própria ação do homem, por exemplo, a poluição do ar por gases poluentes, a poluição dos rios
por despejo de esgotos e lixos, vazamento de petróleo, poluição do solo por agrotóxicos, fertilizantes,
descarte incorreto do lixo, queima das matas e florestas, desmatamento, esgotamento do solo, extinção
de espécie de animais, falta de água para consumo, aquecimento global, entre outros.
Trazendo a nossa realidade, evidencia-se que, no Brasil, o quadro de crise ambiental é, diretamente,
relacionado à ausência de uma política de planejamento da utilização dos recursos naturais; por isso,
gerou-se uma utilização irracional com perdas que, possivelmente, não serão reversíveis, e, consequen-
temente, há implicações econômicas e sociais significativas na sociedade.
170
UNIDADE 8
Descrição da Imagem:
na foto, é possível ver
uma cena de poluição,
tanto pelas indústrias
quanto os lixos jogados
no chão, que afetam a
qualidade das cidades
e, consequentemente,
a saúde dos cidadãos,
além da depreciação e
esgotamento do meio
ambiente.
171
UNICESUMAR
A figura nos apresenta, com bastante similaridade, o que encontramos no Brasil, em que as atividades
humanas, estimuladas pelo modo que produzimos e consumimos, deixam de lado a preocupação com
o meio ambiente. Para Meneguzzo e Chaicouski (2010), o termo degradação ambiental, sinônimo de
degradação da qualidade ambiental, intitula com um caráter de adversidade, ou seja, negatividade,
qualquer produção negativa, que diz respeito ao meio ambiente. Para impacto ambiental, consta na
Resolução Conama nº 001 de 1986, como:
“
[...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas no meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que
possam afetar, a saúde, a segurança, as atividades econômicas e sociais, a qualidade dos recursos
ambientais, entre outros (BRASIL, 1986, p. 2548).
Assim, o que fica explícito, neste conceito, é que a degradação ambiental se caracteriza como um im-
pacto ambiental negativo, “ainda que não seja evidenciado que o causador da degradação seja o ser
humano, ou uma consequência de suas atividades” (SÁNCHEZ, 2008, p. 27).
Diante deste cenário, há diferentes estudos que apresentam as diversas circunstâncias que culmina-
ram na degradação socioambiental, viu-se a necessidade de movimentos ecológicos e sociais com novos
sistemas de valores sustentados no equilíbrio ecológico, na justiça social e na não agressão à evolução
das gerações futuras, seja espacial, seja social. Ou seja, olhar para as condições sociais e ambientais
bem como associar essas duas questões trazem qualidade ao planejamento urbano, de tal modo que
podemos destacar que o desenvolvimento da nova arquitetura e urbanismo se deu, paralelamente, ao
da tecnologia moderna, defendendo-se a padronização industrial e a produção em série, por meio de
posturas que acabaram por afetar radicalmente o meio ambiente, tanto natural como o social. Desta
forma, percebemos a primeira relação estabelecida entre as condicionantes socioambientais e a orga-
nização urbana. Vamos adiante!
No cenário brasileiro, ainda que haja investimentos nas questões ambientais, o país está longe de
resolver seus problemas neste ramo; por isso, há pouca consolidação de ações ambientais no Brasil.
Em síntese, é necessário reconhecer as questões ambientais (e sociais); estabelecer, em seu conjunto, o
quanto as relações entre a cidade, os usuários e o ambiente físico são essenciais para a vida da sociedade
e implantar políticas públicas que atendam às exigências (e aos direitos) dos cidadãos. Sob a abordagem
da arquitetura e do urbanismo, é, ainda, significativo estabelecer as relações urbano-sociais-ambientais,
a partir da produção do espaço urbano, visando a atender a essas demandas — ainda que complexas,
elas são essenciais.
Trazendo a discussão das políticas ambientais, Siqueira (2002) apresenta como necessidade res-
guardar o meio ambiente das agressões promovidas pela satisfação do ser humano em detrimento do
direito da sociedade a bens coletivos, como o ar e a água. Este conceito é cada vez mais associado ao
crescimento da deterioração ambiental e o esgotamento dos recursos ambientais.
Desta forma, podemos compreender que o conceito se refere às intenções e compromissos em
relação às ações governamentais que se centralizam no propósito de preservação do meio ambiente,
172
UNIDADE 8
em busca de desenvolvimentos sustentáveis. Nesta conjuntura, podemos entender que tais políticas
buscam atenuar os impactos ambientais gerados pelo crescimento urbano, sendo assim instrumentos
essenciais à preservação ambiental, com o objetivo de cuidar da qualidade de vida das pessoas.
A percepção dos problemas ambientais e as suas consequências são, ainda, mais discutidas, diante
do ideário de se estabelecer uma sociedade sustentável. Swedlow (2002) debate a respeito da análise da
cultura associada aos problemas ambientais e, neste sentido, defende o comportamento integrado aos
diferentes campos da ciência como ferramentas de atuação, que, além de trazer os processos mentais
da sociedade, busca compreender os valores, crenças, relações de poder e confiança e analisá-los para
melhor cuidado com o meio ambiente.
Observamos que o conceito de política ambiental, quanto à organização de normas e leis, visa à
preservação do meio ambiente em um determinado espaço. No Brasil, podemos definir que esta prá-
tica é relativamente recente; ela começou a ser implementada a partir da década de 30. A preservação
ambiental, no país, orientou-se a partir da criação de áreas de preservação, onde ocorriam sérias ações
de desmatamento, por exemplo, a criação da Serra dos Órgãos, no estado do Rio de Janeiro.
Descrição da Imagem: a imagem refere-se a um recorte da Serra dos Órgãos no Rio de Janeiro, uma vista panorâmica
que mostra a paisagem natural.
173
UNICESUMAR
Outra política de excelência estabelecida nos primeiros anos de atuação foi a elaboração do Código
Florestal Brasileiro, instituído pelo Decreto nº 23.793, de 23 de janeiro de 1934, revogado posterior-
mente pela Lei 4.771/65, que estabeleceu o Código Florestal vigente até a publicação da Lei Federal
nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Esta estabelece normas para proteção da vegetação nativa em áreas
de preservação permanente, reserva legal, uso restrito, exploração florestal e assuntos relacionados.
Historicamente, houveram alguns anos de estagnação destas discussões, em que as políticas e as
ações governamentais estavam direcionadas a outros ramos, como a indústria. Somente na década de
60 foram retomados e estabelecidos novos parâmetros essenciais para a produção do espaço (até os
dias de hoje), como a criação das Áreas de Proteção Permanente (APPs), e a exigência da criação de
reservas florestais nas áreas rurais.
De acordo com a Lei nº 12.651/2012, Área de Preservação Permanente é uma área protegida,
coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos,
a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora,
proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.
Na década de 70, o país reassumiu as ações direcionadas a ampliar a política ambiental no país e, no
ano de 1973, houve a criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) cuja orientação asso-
cia-se à preservação do meio ambiente e da manutenção dos recursos naturais no país, que mais tarde,
com a fusão de outros órgãos criados no decorrer da história, estabeleceu-se o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Este permitiu o cuidado com o meio
ambiente de um modo mais integrado.
Na atualidade, fala-se sobre as políticas ambientais e seus avanços, trazendo às discussões os deveres
dos cidadãos e das empresas aos cuidados com o meio ambiente, e a responsabilidade social com a
natureza; desta forma, incluindo todos os cidadãos nesta atuação.
Ao falar sobre as leis ambientais, destacamos, inicialmente, a Constituição Brasileira de 1988 que de-
fine a importância do cuidado e do mantimento do ecossistema, estabilizado por meio da preservação
e recuperação ambiental, tendo como principal objetivo a qualidade de vida que todo indivíduo deve
possuir, de acordo com o Artigo 225. Agora, trataremos de algumas destas leis que ilustram estas políticas:
• Política Nacional do Meio Ambiente: tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação
da qualidade ambiental propícia à vida, visando a assegurar, no país, condições ao desenvolvi-
mento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida
humana (Lei nº 6938, 1981).
174
UNIDADE 8
• Política Nacional de Recursos Hídricos: refere-se à política que define a água como recurso na-
tural limitado, provido de valor econômico, que pode ter diversos usos, como o consumo humano,
produção de energia, transporte, lançamento de esgotos e outros. Desta forma, prevê a criação do
Sistema Nacional para a coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre
recursos hídricos e fatores que interferem em seu funcionamento (Lei nº 9.433, 1997).
• Lei de Crimes Ambientais: define as questões penais e administrativas no que diz respeito às
ações prejudiciais ao meio ambiente, concedendo aos órgãos ambientais mecanismos para punição
de infratores, como em caso de crimes ambientais praticados por organizações (Lei nº 9.605,1998).
Com estes exemplos, pode-se concluir que estas legislações representam a importância de trazer a questão
ambiental à tona e, ainda, propor a conscientização aos cidadãos. Para Ferreira (1998, p. 107), “a impor-
tância discursiva da questão ambiental traduziu-se numa legislação comparativamente avançada, porém
os comportamentos individuais estão muito aquém da consciência ambiental presente no discurso”.
Vale ressaltar que estas orientações legais são essenciais ao cuidado do meio ambiente, pois têm influên-
cia no restabelecimento dos eventos ambientais, além de buscar promover o resguardo do ambiente físico,
além de falar sobre diretrizes para a ocupação do espaço e cuidados com o meio ambiente, que, em menor
escala, esbarra nas atividades da arquitetura e do urbanismo. É importante que tenhamos a ciência de que
pequenas ações diárias possibilitam um maior resguardo do meio ambiente e da qualidade de vida da
sociedade; por isso, a importância desta discussão. Compreende-se, ainda, que estas políticas são tratadas
pelas intervenções do governo (Estado), mas inclui a sociedade, que se estabelece por meio das comuni-
dades e das ONGs. Por falar nas ONGs, conheceremos, a seguir, algumas práticas ambientais brasileiras.
• Greenpeace Brasil: trata-se de uma organização mundial ativista, empenhada apenas com a
sociedade civil, usa confrontos pacíficos e criativos para expor problemas ambientais e desen-
volver soluções para um futuro verde e pacífico.
• Projeto Saúde & Alegria: é uma organização da sociedade que atua na Amazônia brasileira;
promove e apoia processos participativos de desenvolvimento integrado e sustentável, a partir da
mobilização das comunidades, em busca de implementar e encontrar benefícios locais, quanto
às questões de sustentabilidade.
175
UNICESUMAR
Sirvinskas (2008) coloca que as políticas ambientais buscam a harmonização e a interação do meio
ambiente associado ao desenvolvimento socioeconômico. Compreendem, ainda, o que se nomeia
como desenvolvimento sustentável, em busca de assegurar as condições de segurança e proteção à
vida e à qualidade humana.
Para Salheb et al. (2009), as políticas públicas ambientais priorizam o crescimento econômico
associado à qualidade de vida de seus usuários. No entanto visam à materialização das ações públicas,
ou associadas, e, desse modo, à promoção de uma política que pode auxiliar a economia bem como
gerar benefícios, além de conduzir a segmentos de mercado, especialmente, rentáveis.
Direcionando o nosso estudo à Arquitetura e ao Urbanismo, podemos pensar que, diariamente, vi-
venciamos nas cidades problemas graves ambientais. Estes interferem diretamente na qualidade de
vida dos cidadãos; por isso, estas questões dependem das práticas públicas e do planejamento urbano
(nossa responsabilidade junto à administração pública); também, cabe a conscientização e colabo-
ração da sociedade. Desta forma, o nosso papel, enquanto profissionais, é conscientizar os usuários
e desenvolver projetos que sejam sustentáveis, adaptados ao ambiente urbano e às condições locais.
Não temos dúvidas de que a arquitetura responsável deve estar sintonizada às questões urbanas, de
forma efetiva para a melhoria da qualidade de vida na cidade e a solução dos problemas ambientais,
com ações simples — como garantir a vegetação urbana; promover as áreas de permeabilidade do solo;
minimizar o consumo energético com sistemas e tecnologias adequadas; minimizar os desconfortos
de soluções arquitetônicas adequadas às condições climáticas, redução de desperdícios e lançamentos
de entulhos dos canteiros de obras em locais inadequados, entre outros.
Neste contexto, assumimos a responsabilidade que planejar e projetar edifícios e espaços urbanos,
é a nossa tarefa. Devemos, então, organizar informações do terreno, do ambiente natural, das legisla-
ções, entre outros. Desse modo, é essencial que seja realizado uma reflexão aprofundada dos edifícios
no meio ambiente, pensando, em um primeiro momento, sobre as consequências da inadequação da
edificação ao meio ambiente, em relação ao seu entorno imediato e, por fim, no impacto produzido
pela aglomeração das edificações no contexto da cidade e as repercussões no clima urbano e regional.
176
UNIDADE 8
Neste momento, faremos uma breve pausa na nossa leitura para co-
nhecermos a respeito da “Arquitetura Inteligente”. É essencial que sai-
bamos a definição deste conceito e a sua relação com as questões am-
bientais. Tenha a sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo!
Uma condição bastante específica refere-se ao modelo urbanístico brasileiro, que segundo alguns
autores, divide-se em dois grupos. O primeiro trata da cidade legal (registrada pelos órgãos munici-
pais), e o segundo é nomeado como “cidade invisível”, devido à ocupação ilegal do solo. Este, ainda,
sem investimentos, conhecimentos técnico e financiamento público, é onde nos deparamos com a
problematização da ausência de preservação do meio ambiente e a urbanização sem controle.
Vale ressaltar que toda a legislação que busca ordenar o solo é somente aplicada à cidade que é
registrada! Meirelles (2000) apresenta os dados de que foram construídos, no Brasil, 4,4 milhões de
moradias, entre 1995 e 1999, sendo apenas 700 mil dentro do mercado formal. Ou seja, mais de 3
milhões de moradias foram construídas em terras invadidas ou em áreas inadequadas. Isso fortalece
a nossa discussão, isto é, a área que mais cresce é associada às “cidades invisíveis”.
Portanto, podemos destacar que há uma relação direta entre as moradias de baixo poder socioeco-
nômico e as áreas ambientalmente frágeis (beira de córregos, rios e reservatórios, encostas íngremes,
mangues, várzeas e áreas de proteção ambiental, APA).
177
UNICESUMAR
178
UNIDADE 8
179
Agora, é com você! Desenvolva um mapa mental que organize os conteúdos estudados da forma
que você preferir. É importante que você elabore o seu mapa mental, apresentando os elementos-
-chave para o seu entendimento dos itens debatidos e, desta forma, possamos firmar o conteúdo
para darmos sequência a nossa conversa! Bom trabalho!
Descrição da Imagem: a imagem representa, de modo sucinto, os temas abordados nesta unidade; destaca os
pontos principais quanto à postura dos profissionais arquitetos e urbanistas, pensando na formação acadêmica e
na legislação que rege a profissão, o traçado do perfil profissional e as atribuições criativas e técnicas
180
1. É necessário reconhecer as questões ambientais (e sociais); estabelecer, em seu conjun-
to, o quanto as relações entre a cidade, os usuários e o ambiente físico são essenciais
para a vida da sociedade e implantar políticas públicas que atendam às exigências (e
aos direitos) dos cidadãos. Considerando este contexto, avalie as asserções e a relação
proposta entre elas:
I) A arquitetura e o urbanismo buscam estabelecer as relações urbano-sociais-ambien-
tais, a partir da produção do espaço urbano.
PORQUE
II) Na perspectiva das ciências sociais, não é possível apartar a sociedade e o seu meio
ambiente, em busca de refletir sobre um mundo material composto por diferentes
significados e elementos.
Tratam-se dos danos causados ao meio ambiente, e muitos deles são provocados pela
própria ação do homem, por exemplo, a poluição do ar por gases poluentes, a polui-
ção dos rios por despejo de esgotos e lixos, vazamento de petróleo, poluição do solo
por agrotóxicos, fertilizantes, descarte incorreto do lixo, queima das matas e florestas,
desmatamento, esgotamento do solo, extinção de espécie de animais, falta de água
para consumo, aquecimento global, entre outros.
181
3. A percepção dos problemas ambientais e as suas consequências são, ainda, mais
discutidas, diante do ideário de se estabelecer uma sociedade sustentável. Com base
neste contexto, analise as asserções a seguir:
I) O conceito de política ambiental, quanto à organização de normas e leis, visa à
preservação do meio ambiente em um determinado espaço, e, no Brasil, podemos
definir que esta prática é relativamente recente; ela começou a ser implementada
a partir da década de 30.
II) De acordo com a Lei n° 12.651/2012, Área de Preservação Permanente é uma área
protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preser-
var os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade,
facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas.
III) As políticas ambientais buscam a segmentação do meio ambiente e do desenvol-
vimento socioeconômico. Compreendem, ainda, o que se nomeia como desenvol-
vimento sustentável, e buscam assegurar as condições de segurança e proteção à
vida e à qualidade humana.
d) As asserções I e II.
e) As asserções I e III.
182
9
A Formação e a
Profissão do Arquiteto
e Urbanista
Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki
Certamente, falar sobre os profissionais arquitetos e urbanistas é essencial. Além disso, reconhecer a
nossa história e a nossa função é muito importante. Contudo, cabe-nos uma reflexão muito importante:
qual é a real importância do(a) arquiteto(a) para a sociedade?
Considerando o arquiteto e urbanista em conjunto com a sua função e a sua história, precisamos
pensar na atuação desses profissionais enquanto agentes de transformação do espaço que utilizamos
diariamente, pois eles são os responsáveis pela formação de edificações e de cidades. Em outras palavras,
esse profissional é um dos grandes responsáveis pelo ordenamento espacial, incluindo as habilidades
de planejar e de desenvolver espaços que sejam adequados aos usuários e às várias atividades que
realizam ao longo de suas vidas.
Portanto, estudar o arquiteto e urbanista em paralelo a sua formação e atuação é necessário para que
você, estudante, enquanto futuro(a) profissional, tenha ciência dos seus deveres e direitos. Não só, mas
para que conheça os parâmetros essenciais que podem auxiliar no desenvolvimento de suas atividades!
Quer saber como é simples reconhecer a importância do arquiteto e do urbanista no nosso dia
a dia? Experimente passear pela sua cidade. Observe as fachadas dos imóveis, o traçado das vias e a
produção paisagística. O reconhecimento dessa arquitetura é trazer a cultura que é expressa por essa
sociedade específica. Observe as técnicas de elaboração dos projetos pensando no processo como um
todo, anterior à execução das edificações, à criação, aos desenhos técnicos e às decisões projetuais, por
exemplo. Com base na sua realidade local, a arquitetura tem atuado visivelmente nas adequações da
sociedade atual?
Considerando o papel do arquiteto frente à sociedade, uma vez que realiza o desenho das edifi-
cações e das cidades, e a responsabilidade da sociedade na formação espacial, vamos nos apropriar
da cidade de Joinville, localizada na região Norte do estado de Santa Catarina. Observe as imagens a
seguir e reflita sobre as tipologias das construções e a identidade local. Depois, faça as suas anotações
no diário de bordo.
184
UNIDADE 9
DIÁRIO DE BORDO
Descrição da Imagem:
a figura apresenta a
construção da Estação
de Trem de Joinville.
Trata-se de uma edifi-
cação característica da
arquitetura germânica,
com desenhos simples,
telhados inclinados e
cores vibrantes.
185
UNICESUMAR
Descrição da Imagem:
a figura apresenta a a
figura apresenta um re-
corte da cidade de Join-
ville. É fotografada uma
esquina em que está
localizado o Tannenhof
Hotel e a rua gastronô-
mica da cidade. À direi-
ta, é possível ver o ho-
tel, que se trata de um
edifício vertical o qual se
destaca entre o entorno
urbano. Ao lado, há edi-
ficações menores e uma
via com a presença de
veículos, representando
as características urba-
nas da cidade.
Assim como pode ser visto nas figuras 1 e 2, as construções evidenciam que se trata de um municí-
pio que busca a preservação de sua história, ainda que insira elementos da contemporaneidade. Sua
história é marcada pela imigração germânica e, por isso, ela é evidenciada na construção na cidade a
partir de um padrão de construções caracterizado pelo cuidado com o planejamento, a funcionalidade
e o acolhimento. Há traços marcantes, principalmente em relação aos telhados, às cores vibrantes e às
formas simples. Outro aspecto essencial são os costumes: por ser uma das colônias mais festivas do
mundo, esse fato reflete nos costumes e nos eventos regionais.
Nesse sentido, a produção dos arquitetos e urbanistas nas edificações e nas cidades insere uma
memória coletiva e individual que é alimentada e estimulada por meio da arquitetura e do urbanismo.
Isso proporciona vínculos nas edificações e nos espaços de convivência e de sociabilidade, os quais são
produzidos pela cultura de um grupo social, o que permite o estímulo das sensações de pertencimento
e de responsabilidade nas relações que constituem esses espaços.
Essa simples reflexão objetiva explorar o produto profissional dos arquitetos e urbanistas, ao ex-
por, de modo sucinto, o simbolismo associado à arquitetura. Essa é uma dialética importante entre
a sociedade que compõe o espaço e o espaço físico propriamente dito. Além disso, nessa discussão, é
importante pensarmos em alguns aspectos centrais. Vamos lá:
186
UNIDADE 9
187
UNICESUMAR
“
Art. 3o Os campos da atuação profissional para o exercício da arquitetura e urbanismo
são definidos a partir das diretrizes curriculares nacionais que dispõem sobre a for-
mação do profissional arquiteto e urbanista nas quais os núcleos de conhecimentos de
fundamentação e de conhecimentos profissionais caracterizam a unidade de atuação
profissional (BRASIL, 2010, on-line).
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são normas obrigatórias para a educação básica que
orientam o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino. Elas são discutidas, concebi-
das e fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), que determina a formação educacional do
188
UNIDADE 9
O arquiteto e urbanista tem como principal objetivo planejar, projetar e desenhar espaços, sejam edi-
ficações, sejam espaços urbanos. A sua centralidade está associada à busca pela qualidade de vida de
seus usuários e, por isso, é necessário considerar os aspectos técnicos, históricos, culturais e estéticos.
Além disso, é cada vez mais evidente a importância das considerações relacionadas ao meio ambiente.
Neste momento, discutiremos as atribuições profissionais dos arquitetos e urbanistas. Falar de atri-
buições é estabelecer uma relação com o ofício, o trabalho, o encargo e a função. Não só, mas também
abrange o estabelecimento da obrigação e dos encargos dessa profissão. Essa orientação é definida pela
Lei Federal nº 12.378/2010, que define:
189
UNICESUMAR
“
Art. 2o As atividades e atribuições do arquiteto e urbanista consistem em:
I - supervisão, coordenação, gestão e orientação técnica;
II - coleta de dados, estudo, planejamento, projeto e especificação;
III - estudo de viabilidade técnica e ambiental;
IV - assistência técnica, assessoria e consultoria;
V - direção de obras e de serviço técnico;
VI - vistoria, perícia, avaliação, monitoramento, laudo, parecer técnico, auditoria e
arbitragem;
VII - desempenho de cargo e função técnica;
VIII - treinamento, ensino, pesquisa e extensão universitária;
IX - desenvolvimento, análise, experimentação, ensaio, padronização, mensuração e
controle de qualidade;
X - elaboração de orçamento;
XI - produção e divulgação técnica especializada; e
XII - execução, fiscalização e condução de obra, instalação e serviço técnico.
Parágrafo único. As atividades de que trata este artigo aplicam-se aos seguintes campos
de atuação no setor:
I - da Arquitetura e Urbanismo, concepção e execução de projetos;
II - da Arquitetura de Interiores, concepção e execução de projetos de ambientes;
III - da Arquitetura Paisagística, concepção e execução de projetos para espaços externos,
livres e abertos, privados ou públicos, como parques e praças, considerados isoladamente
ou em sistemas, dentro de várias escalas, inclusive a territorial;
IV - do Patrimônio Histórico Cultural e Artístico, arquitetônico, urbanístico, paisagístico,
monumentos, restauro, práticas de projeto e soluções tecnológicas para reutilização,
reabilitação, reconstrução, preservação, conservação, restauro e valorização de edifi-
cações, conjuntos e cidades;
V - do Planejamento Urbano e Regional, planejamento físico-territorial, planos de
intervenção no espaço urbano, metropolitano e regional fundamentados nos sistemas
de infraestrutura, saneamento básico e ambiental, sistema viário, sinalização, tráfego e
trânsito urbano e rural, acessibilidade, gestão territorial e ambiental, parcelamento do
solo, loteamento, desmembramento, remembramento, arruamento, planejamento urba-
no, plano diretor, traçado de cidades, desenho urbano, sistema viário, tráfego e trânsito
urbano e rural, inventário urbano e regional, assentamentos humanos e requalificação
em áreas urbanas e rurais;
VI - da Topografia, elaboração e interpretação de levantamentos topográficos cadas-
trais para a realização de projetos de arquitetura, de urbanismo e de paisagismo, foto
190
UNIDADE 9
Com base nessas atribuições, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo elaborou um Código de Ética e
Disciplina que define os parâmetros que devem orientar a conduta dos profissionais registrados. Dentre
outras regras, é exigido que o arquiteto e urbanista seja o responsável pelas suas tarefas e trabalhos,
assegurando a sua atuação em conformidade com os melhores métodos e técnicas. Além disso, há a
recomendação de que o profissional deve aprimorar os seus conhecimentos nas áreas relevantes para
a prática profissional a partir de uma capacitação continuada, em busca da excelência de sua profissão.
191
UNICESUMAR
Outra importante questão se refere ao mercado de arquitetura e urbanismo, que está crescendo cada
vez mais, ainda que seja um crescimento consciente e diante de um panorama como o do ano de 2020,
que sofreu os impactos da pandemia ocasionada pela Covid-19. Isso significa que, culturalmente, os
brasileiros têm se preocupado e reconhecido a importância da atividade voltada à arquitetura. Em
2020, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) divulgou dados relevantes ao mercado, assim
como mostra a Figura 3.
Descrição da Imagem: a figura mostra um mapa do Brasil com as cores em verde degradê, as quais vão do mais es-
curo ao mais claro, a fim de indicar, em ordem decrescente, o número de profissionais formados em cada estado da
federação. Acima do mapa, lê-se “Arquitetos e Urbanistas ativos no Brasil”. À esquerda, em dois quadrados, estão as
seguintes inscrições: “202.588 arquitetos e urbanistas” e “13.687 novos profissionais”. À direita do mapa, há um gráfico
de pizza que indica, em verde claro, que 64% dos profissionais são mulheres e, em verde escuro, que 36% são homens.
Ao lado da imagem, lê-se: “2020 Arquitetos e urbanistas por gênero e faixa etária”. Abaixo da inscrição, é expresso que
31% dos profissionais têm até 30 anos e apenas 10% têm mais de 61 anos.
A Figura 3 apresenta um gráfico que demonstra que o ano de 2020 fechou com 202.588 profissionais
ativos no CAU. Não só, mas que o perfil dos profissionais ainda é, em grande parte, composto por
mulheres, com cerca de 64%. O maior índice de atuação é vinculado aos profissionais liberais ou au-
tônomos, com cerca de 55%. Dentre as atividades de maior destaque, temos o projeto arquitetônico, a
arquitetura de interiores e a execução de obras. Também podemos destacar outras três áreas que vêm
adquirindo grande relevância: engenharia de segurança do trabalho, acessibilidade e meio ambiente.
192
UNIDADE 9
193
UNICESUMAR
194
UNIDADE 9
• Criativo, que é capaz de atender às dimensões artística e atemporal que respondam às neces-
sidades da sociedade.
Paiva e Oliveira (2018) sustentam que o arquiteto e urbanista precisa considerar novas ideias e opor-
tunidades. Para tanto, é necessário que ele inove, caso queira ter êxito financeiro com a profissão
e ser valorizado enquanto um profissional competente. Além disso, os arquitetos e urbanistas são
fundamentais para amenizar grandes problemas urbanos, como a falta de integração entre as cidades,
a mobilidade urbana e o déficit habitacional. Desse modo, é evidente que se trata de uma profissão
que têm, no conjunto de suas preocupações, todos os espaços que são habitados pelo ser humano,
abrangendo a arquitetura do edifício e a arquitetura da cidade. Não só, mas devem ser considerados o
desenho urbano e a arquitetura da paisagem.
Se, por um lado, o arquiteto é um profissional que vive de seu trabalho em uma sociedade de mer-
cado, visto que precisa de demanda pelos seus serviços, por outro, revela-se um artista que pretende
fazer do resultado desse trabalho uma representação de seu tempo. São muitos os processos pelos
quais passa a concepção de um projeto e, ainda que a sua origem não seja clara, a arquitetura pretende
se materializar de diferentes formas para alcançar o seu objetivo. Ser profissional significa, além da
concretização do ato criativo, atender a um conjunto de exigências técnicas, como o cumprimento de
prazos e orçamentos, a realização de soluções técnicas rápidas, a racionalização do trabalho, a coor-
denação de agentes/profissionais ativos no processo, dentre outros.
Ainda que a arquitetura não esteja inserida no processo criativo que acolhe a subjetividade, assim
como acontece nas artes plásticas, por exemplo, a etapa de concepção do projeto se relaciona com a
idealização presente na arquitetura. Em outras palavras, é estabelecido, no processo criativo, a confi-
guração prévia de uma ideia ou um ponto de partida do processo de projeto. Para Brandão (2002), é
considerado criativo aquele projetista que descobre novas possibilidades expressivas dentro de uma
determinada concepção ou o que mais se aproxima da essência dessa concepção, concretizando-a e a
elucidando. Não só, mas ele também precisa descobrir novas possibilidades expressivas ao se tornar
atento às concepções que não são de sua época e às mudanças de concepções que podem estar em curso.
Fala-se, portanto, que a criatividade é um estado da arte e um processo que resulta em um pro-
duto novo aceito como útil e/ou satisfatório por um número significativo de pessoas em um tempo
determinado. A arte, associada à criatividade, é o processo de se tornar sensível aos problemas, às de-
ficiências, às lacunas presentes no conhecimento e à desarmonia. Diante disso, é necessário identificar
a dificuldade, buscar soluções, formular hipóteses a respeito das deficiências, testar essas hipóteses e,
finalmente, comunicar os resultados.
A criatividade, enquanto a tradução dos talentos humanos para uma realidade exterior inserida
nos contextos individual, social e cultural, refere-se à habilidade de recombinar objetos existentes de
maneiras distintas para novos propósitos. Em ambos os casos, considera-se a criatividade como a ha-
bilidade de gerar novidades, incluindo ideias e soluções úteis para resolver os problemas e os desafios
do dia a dia (SOUZA, 2001).
195
UNICESUMAR
Sobre as exigências técnicas, uma das considerações essenciais é o conhecimento das legislações
que fundamentam as produções dos profissionais arquitetos e urbanistas. Dentre elas, estão:
• Código Florestal ou Lei nº 12.651/2012: estabelece normas gerais sobre: a proteção da vegetação,
as áreas de preservação permanente, as áreas de reserva legal, a exploração florestal, o supri-
mento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e a
prevenção dos incêndios florestais. Além do mais, prevê instrumentos econômicos e financeiros
para o alcance de seus objetivos.
• Lei do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social ou Lei nº 11.124/2005: dispõe sobre o
Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), cria o Fundo Nacional de Habitação
de Interesse Social (FNHIS) e institui o Conselho Gestor do FNHIS. Obriga os municípios a
realizarem os seus Planos Locais de Habitação de Interesse Social (PLHIS).
• Política Nacional de Saneamento Básico ou Lei nº 11.445/2007: estabelece os princípios, a titu-
laridade, a prestação, o planejamento, a regulação e os aspectos sociais, econômicos e técnicos
que integram a Política Nacional de Saneamento Básico. Obriga os municípios a realizarem os
seus planos de saneamento.
• Lei de Assistência Técnica ou Lei nº 11.888/2008: assegura às famílias de baixa renda a assistência
técnica pública e gratuita ao projeto e à construção das habitações de interesse social.
• Legislação pertinente aos patrimônios histórico, artístico e cultural: lei do Instituto do Patri-
mônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que é o órgão federal que determina as normas
sobre tombamento e preservação do patrimônio histórico e cultural. Além do IPHAN, há outros
órgãos e conselhos estaduais, distritais e municipais que regulam a legislação pertinente aos
patrimônios histórico, artístico e cultural.
• Código de Obras e Edificações do Município: disciplina as regras gerais que orientam o projeto,
o licenciamento, a execução, a manutenção e a utilização de obras, edificações e equipamentos
dentro dos limites do imóvel. Não só, mas abrange todos os procedimentos administrativos de
execução e de fiscalização, sempre respeitando as legislações estadual e federal.
• Plano Diretor: refere-se ao instrumento básico da política de desenvolvimento do município.
Nele, são traçados os caminhos para o desenvolvimento local economicamente viável, social-
mente justo e ecologicamente equilibrado. Também são abordados o planejamento em habitação,
o saneamento básico, o transporte, a saúde, a educação, a cultura, o esporte, o lazer e a proteção
ao meio ambiente.
• Estatuto da Cidade: instrumento importante para as pessoas, porque, dentre outros assuntos,
trata das necessidades da população. É regulamentado por meio da Lei nº 10.257/01 e define o
cumprimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. Além do mais, define a
participação da comunidade, a gestão democrática, o Plano Diretor e a sustentabilidade.
196
UNIDADE 9
• Zoneamento: define o tipo da edificação a ser construída nas diversas áreas de um município
com base na função (zonas residenciais, comerciais, industriais ou mistas), na taxa de ocupação,
no coeficiente de aproveitamento, no gabarito de altura e no número de ocupantes daquela área.
Também podemos elencar diversas contribuições dos profissionais arquitetos e urbanistas em relação
à produção de espaços com qualidade. Esse reconhecimento é ainda mais evidenciado quando o es-
paço é utilizado por um usuário. Nesse contexto, a fruição das experiências dos projetos depende de
um requisito essencial: o envolvimento dos participantes, elemento indispensável para que o projeto
aconteça, pois, sem a adesão deles, não seria possível que o projeto se concretizasse.
Quando há o envolvimento dos participantes durante a execução do projeto arquitetônico, é evidente
a preocupação social, que está relacionada à satisfação dos usuários, e não apenas a preocupação com
o produto final. Dentre as vantagens desse processo, destaca-se o ganho de qualidade no espaço, pois
são criados laços afetivos derivados da sensação de apropriação decorrente da definição do seu próprio
espaço (IMAI, 2010). Embora, em algumas situações, a participação dos clientes no processo não seja
feita pelos próprios usuários finais, é fundamental que essa interação aconteça, para que seja esclarecido
o modo como os problemas de projeto devem ser abordados por parte dos projetistas (LAWSON, 2011).
197
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Assim, o modo como o processo do projeto é conduzido pode gerar situações nas quais os usuários
se sentirão envolvidos com a oportunidade de participar do processo, uma vez que facilita a proposta
de reformulação e até mesmo a definição dos ambientes. Portanto, segundo Imai e Azuma (2009), a
responsabilidade pelo desenvolvimento de processos avaliativos que transformam a experiência, o
conhecimento e os valores dos usuários em ambientes com maior qualidade recai sobre os projetistas.
Houaiss (2009) define comunicação enquanto a ideia de tornar comum, de partilhar. Diehl (2018)
sustenta que, para o design, a comunicação é um processo de formação estratégica cuja necessidade
é considerar o caráter interdisciplinar, a fim de que haja a compreensão dos atos comunicacionais,
tornando-se, assim, uma prática capaz de gerir o fluxo de informações e proporcionar resultados
positivos a uma organização.
São muitos os processos que o profissional arquiteto e urbanista está inserido. Trata-se de um profis-
sional complexo, pois vai além da concretização do ato criativo (ao apresentar a arte), ao seguir um
conjunto de exigências técnicas, como o cumprimento de prazos, a realização de soluções técnicas,
a avaliação de custos, o cálculo da rentabilidade e a racionalização do trabalho. Se, por um lado, o
arquiteto é um profissional que vive do seu trabalho em uma sociedade de mercado, visto que precisa
de demanda pelos seus serviços, por outro, revela-se um artista que pretende fazer do resultado desse
trabalho uma representação de seu tempo e da sua cultura.
Temos nos deparado com inúmeras adequações no âmbito mundial e uma delas se refere à preocu-
pação com o meio ambiente, incluindo a degradação causada pelo homem. Todavia, de que maneira
a arquitetura pode auxiliar nessa atividade?
Precisamos ter a consciência de que só atingiremos (com qualidade) os parâmetros ecológicos, eco-
nômicos, sociais, quando houver engajamento e preocupação por parte da sociedade contemporânea.
Isso proporcionará uma conscientização acerca dos principais problemas do meio ambiente e exigirá
um pensamento voltado às estratégias de preservação e de correção (quando possível) da natureza.
198
UNIDADE 9
Em relação à nossa realidade profissional, muito se fala sobre arquitetura sustentável, que objetiva
propor soluções que atendam e respeitem as necessidades e os orçamentos dos clientes. Não só, mas
deve considerar os anseios dos usuários, as condições do local e as tecnologias, sem excluir a legislação
vigente, a fim de que seja empregada uma arquitetura com menos impacto ambiental. Isso otimiza a
qualidade do espaço (pensando nas gerações futuras) e promove aos usuários formas mais confortá-
veis e saudáveis de usufruir os espaços. Também é defendido o uso responsável dos recursos, o menor
consumo de energia e água, o reconhecimento da importância do meio ambiente, dentre outros.
Vale ressaltar que, à medida que a sociedade se eximiu da responsabilidade de cuidar do meio am-
biente, as problematizações se tornaram ainda evidentes. Devido à essa demanda, a arquitetura e os
profissionais arquitetos e urbanistas precisaram “responder” a essa necessidade, ao fortalecerem a ideia
de que a sua atividade profissional é complexa, visto que é necessário se adaptar às realidades da socie-
dade a todo momento. Para a arquitetura, há ações que podem auxiliar nesse processo. Nesse sentido,
elencamos algumas diretrizes projetuais que são comumente aceitas no meio profissional. São elas:
199
UNICESUMAR
Dessa forma, é importante trabalhar em favor da realidade local e da força da natureza, ao potencializar
as boas características do ambiente e ao elaborar melhores condições de vida. Em outras palavras, nós,
arquitetos(as), temos o papel de proporcionar o bem-estar, a saúde e o conforto. Para tanto, precisamos
compreender as necessidades dos clientes e educá-los quanto aos cuidados e à preservação ambiental.
200
Agora é com você! Desenvolva um mapa mental que organize os conteúdos estudados da forma
que você preferir. É importante que você elabore um mapa mental que exponha os elementos-
-chave para o seu entendimento. Assim, poderemos assimilar os conteúdos trabalhados e dar
sequência a nossa conversa! Bom trabalho!
MAPA MENTAL
Descrição da Imagem: a imagem representa, de modo sucinto, os temas abordados nesta unidade. Assim, são
destacados alguns aspectos principais em relação à postura dos profissionais arquitetos e urbanistas, incluindo
a formação acadêmica, a legislação que rege a profissão, o perfil profissional e as atribuições criativas e técnicas.
201
MEU ESPAÇO
202
1. Leia o trecho a seguir:
203
3. Leia o conteúdo exposto a seguir:
A ______________, enquanto a tradução dos talentos humanos para uma realidade exterior
inserida nos contextos individual, social e cultural, refere-se à habilidade de recombinar
objetos existentes de maneiras distintas para novos propósitos.
4. Se, por um lado, o arquiteto é um profissional que vive do seu trabalho em uma socieda-
de de mercado, visto que precisa de demanda pelos seus serviços, por outro, revela-se
um artista que pretende fazer do resultado desse trabalho uma representação de seu
tempo. São muitos os processos pelos quais a concepção de um projeto passa e, ainda
que a sua origem não seja clara, a arquitetura pretende se materializar de diferentes
formas para alcançar o seu objetivo.
entre elas:
I) O arquiteto e urbanista precisa considerar novas ideias e oportunidades. Para isso, é
necessário que inove, caso queira ter êxito financeiro com a profissão e ser valorizado
como profissional competente.
PORQUE
204
5. Leia o conteúdo a seguir:
a) Estatuto da Cidade.
b) Lei de Zoneamento.
c) Código de Obras e Edificações do Município.
d) Plano Diretor.
e) Código Florestal.
205
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Unidade 8
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221
Unidade 1
1. C. Ao se discutir as questões que envolvem a produção arquitetônica, uma das mais importantes
considerações realizadas foram feitas pelo arquiteto Vitrúvio, que se dedicou a compreender
que os critérios que envolvem a formatação do espaço garantem a interação entre a forma e o
conteúdo previsto, sob os critérios da solidez (firmitas), utilidade (utilitas) e beleza (venustas). Para
as firmitas, compreende-se que a sua origem se encontra no termo grego teknné, que significa
“arte ou maneira de agir”. A técnica define-se como o conjunto de regras ou procedimentos
para se fazer algo com determinada finalidade; e, para as utilitas, a palavra função deriva do
latim functio/functionis. Todo o espaço arquitetônico destina-se a determinado fim, sem o qual,
não há necessidade de existir. Para as venustas, a estética provém da palavra grega aisthesis,
que significa “percepção sensorial”, cuja definição pode ser ampliada como a da ciência das
aparências perceptíveis, em relação à sua percepção pelos homens e à sua importância para
estes como parte do sistema sociocultural.
Outra questão importante refere-se ao Homem Vitruviano, em que a medida de todas as coisas
estará associada ao corpo humano, à escala e ao número da harmonia. Esta obra foi, inicialmente,
estudada por Vitrúvio, mas quem se aprofundou e fez sua primeira representação foi Leonardo
da Vinci, que, ao relacionar o corpo humano à proporcionalidade e ao nível de perfeição das
CONFIRA SUAS RESPOSTAS
Posteriormente, muito se discutiu, e se discute até os dias de hoje, a respeito desta propor-
cionalidade. No século XX, Le Corbusier, arquiteto, urbanista, escultor, pintor e estudioso dos
princípios modernistas da funcionalidade, criou o homem Modulor, ou seja, o homem que
exerce várias funções em um determinado espaço deve ser desenhado adequadamente para
atender a todas as demandas sem desperdiçar espaço, promovendo o adequado desempenho
das atividades exercidas.
2. E. Ao falar sobre o projeto e a sua metodologia, entende-se que a palavra projeto pode ser
enquadrada como a concepção e o desenvolvimento do produto, trazendo, entre outros requi-
sitos, as especificidades do que se está produzindo. Em concordância, define-se projeto pela
determinação e representação prévia do objeto, mediante a organização dos princípios e das
técnicas próprias da arquitetura e da engenharia. Atualmente, as maiores discussões acerca
deste tema defendem que uma das etapas necessárias do projeto se refere à identificação das
necessidades dos clientes, que, além de considerar a qualidade da solução adotada no projeto,
gera a qualidade do produto.
3. D. Quando trazemos a discussão do autor Kevin Lynch, coloca-se que as informações que os
usuários se apropriam para estruturar sua imagem da cidade podem ser agrupadas em cinco
grandes tipos: caminhos, limites, bairros, pontos nodais e marcos. Assim, é importante que
saibamos distingui-los: os caminhos destinam-se ao deslocamento pelo espaço, podendo ser as
ruas, as calçadas, as linhas de trânsito, os canais, as estradas de ferro, entre outros; os limites
referem-se ao que nomeamos barreiras, sendo responsáveis pela segregação da cidade, como
os rios, as estradas, os viadutos, entre outros. Já os bairros não se tratam de limites administra-
tivos para o autor, mas referem-se a uma área homogênea em relação ao resto da cidade; os
pontos nodais referem-se aos pontos estratégicos da cidade, tratando-se de focos; e, por fim,
os marcos se referem aos elementos pontuais nos quais o usuário não acessa, como as torres,
os domos, os edifícios e as esculturas. Outra questão importante que Kevin Lynch coloca é que
a percepção é diferente entre os usuários e ela é alterada com o passar do tempo. Esta é uma
222
questão bastante importante para nós, profissionais de arquitetura e urbanismo, pois, desta
forma, entenderemos a importância das edificações e das paisagens, como estruturadores (as)
da história.
Unidade 2
1. B. Uma das definições mais complexas e orientativas para a cidade é dada por Rolnik (1988),
o qual diz que ela é como um ímã que denota o poder de atrair, reunir e concentrar pessoas e
que busca exemplificar as condições da aglomeração urbana. Além disso, a cidade, também,
é uma forma de escrita, capaz de contar a história de seu povo por meio de sua própria arqui-
3. A. Adota-se a Psicologia Ambiental (PA) como um ramo distinto da psicologia, visto que sua
multidisciplinaridade e seu surgimento foram associados ao nome “Psicologia da Arquitetura”.
O surgimento do campo da Psicologia Ambiental se deu, após a Segunda Guerra Mundial, com
o processo de reconstrução das cidades. Com a implementação de programas habitacionais de
larga escala no quadro da política de reconstrução do pós-guerra, os arquitetos e os planeja-
dores urbanos, junto aos cientistas do comportamento, conscientizaram-se de que o ambiente
construído deveria refletir não, somente, princípios de construção e estética, mas também
outros fatores, como as necessidades psicológicas e comportamentais dos futuros ocupantes.
5. A. A forma arquitetônica é um ponto de contato entre a massa e o espaço [...] formas arquite-
tônicas, texturas, materiais, modulação de luz e sombra, cor, tudo se combina para injetar uma
qualidade ou espírito que articula o espaço. A qualidade da arquitetura será determinada pela
habilidade do arquiteto e urbanista em utilizar e relacionar os elementos, tanto nos espaços
internos, quanto nos espaços da cidade” (BACON, 1974, p. 3).
223
Unidade 3
1. C. A asserção I está incorreta, pois o ambiente construído não é, exclusivamente, urbano, ma-
nifesta-se como modelo social de organização da atividade humana, cumprindo-se, ao mesmo
tempo, como instrumento funcional e cultura. A asserção II está incorreta, pois a interação
entre o homem e o ambiente é de extrema importância, e esta abordagem define o homem
como sujeito fisiológico, afetivo, cognitivo e social. A asserção III está correta, pois o ambiente
construído refere-se ao conjunto de componentes físico-químicos de ecossistemas naturais e
de pormenores sociais em que se insere o ser humano, de modo individual e/ou coletivo, e, por
meio da ocupação do espaço, são promovidos o desenvolvimento de atividades e a preservação
de recursos.
2. A. A alternativa A está correta, pois a percepção ambiental é a forma como os usuários “per-
cebem” e “sentem” os espaços físicos aos quais estão vivenciando, ou seja, trata-se do modo
como o usuário, por meio da sua cognição, tem consciência do ambiente construído. A alter-
nativa B está incorreta, pois define-se que os humanos percebem, reagem e respondem, de
diferentes modos, em um mesmo ambiente, e estas manifestações podem ser conscientes
ou inconscientes. A alternativa C está incorreta, pois o estudo da percepção é um dos mais
antigos temas de especulação, mas a percepção não é direcionada, apenas, à Psicologia, como
CONFIRA SUAS RESPOSTAS
modo de explicar o que sentimos e o que percebemos, mas também à Psicologia Ambiental,
que está relacionada à Arquitetura. A alternativa D está incorreta, pois a percepção ambiental
está associada à forma como serão entendidas as informações e está conexa à consciência, ou
seja, ao modo que os estímulos dos ambientes se apresentam e à forma que cada usuário os
compreende. A alternativa E está incorreta, pois é a percepção que está associada aos meios
internos e externos e proporciona diferentes sensações que são promovidas pelos sentidos e,
a partir de respostas voluntárias e involuntárias, sentimos o espaço a partir do tato, do olfato,
da visão, do paladar e da audição.
224
5. C. Para Gifford (2002), atua nas formas pelas quais são adquiridas, armazenadas, organizadas e
relembradas as informações sobre localização, distâncias e disposições de espaços físicos pelos
usuários. Esta cognição, portanto, associa-se aos estímulos do espaço e/ou do entorno, às lem-
branças que possuímos e elaboramos e, em alguns casos, às referências e às similaridades com
os espaços. Para Cunha (2010) a cognição ambiental é a forma pela qual o ser humano adquire,
armazena, organiza e acessa as informações sobre os espaços, que, associados a cognição
espacial, auxiliam na mensuração de distâncias, no estabelecimento de caminhos alternativos,
na leitura de mapas, entre outros.
Unidade 4
1. C. Ao falar do urbanismo sustentável, apoia-se em cinco pontos principais, sendo eles: 1. A ci-
dade é vista como um elo entre a economia local e os fluxos globais, em que as condições são
menos coordenadas pelo Estado central e os poderes locais assumem o papel. 2. Estabelece-se
uma competição interna pela oferta de produtos e serviços, estimulando o consumo de lugares,
ou seja, dando ênfase à atração de turistas bem como aos projetos e aos eventos culturais. 3.
Relação interurbana no controle das funções de comando financeiro e comunitário. 4. Esti-
mula-se o empreendedorismo urbano, cujo sucesso depende de emprego e renda, em que a
marginalização social fica a cargo das próprias organizações da sociedade. 5. As condições de
governo incluem os atores não governamentais, privados e semipúblicos.
3. D. As cidades sustentáveis colocam que “os seres humanos estão no centro do desenvolvimento
sustentável; as responsabilidades comuns, porém diferenciadas, dos Estados; a manutenção de
padrões sustentáveis de produção e consumo visando proteger o meio ambiente com o princípio
da precaução; o incentivo para que as autoridades nacionais promovam a internalização dos
custos ambientais no processo de formação dos preços dos produtos e o uso dos instrumentos
econômicos de política ambiental, por meio da implementação do princípio do poluidor/pagador;
e previsão do uso da avaliação do impacto ambiental” (MOTTA et al., 2008, p. 8).
Unidade 5
1. E. A asserção I está correta, pois a fase exploratória, como o próprio nome orienta, refere-se à
fase de levantamento de informações, ou seja, as informações são exploradas e organizadas,
trazendo as principais necessidades e viabilidade de projeto. Ousa-se dizer que é a etapa principal
do processo de projeto e construção, pois o reconhecimento das premissas e expectativas reme-
te-se, diretamente, à funcionalidade e à qualidade do projeto. A asserção II está incorreta, pois
o programa de necessidades refere-se à organização sistematizada das informações levantadas
na fase exploratória, que estabelece, com maior detalhamento, as exigências de desempenho
do local, dos componentes da edificação, das instalações, entre outros. Este documento precisa
de uma análise organizada das atividades a serem abrigadas e das condições desejáveis. Então,
a etapa essencial à análise da qualidade é a do uso e gerenciamento, pois, depois de realizado
o projeto, verifica-se se a edificação atende às expectativas (funcionalidade) e enquadra-se aos
critérios de APO (Avaliação Pós-Ocupação), em busca de informações que validem a usabilidade
e a estética do projeto. A asserção III está correta, pois é na etapa do projeto que se abordam
225
a análise funcional a ser realizada, os estudos de referência e a materialização, por meio das
peças gráficas, que buscam cumprir os critérios estabelecidos no programa de necessidades.
2. A. É preciso reconhecer que o projeto é um processo interativo e coletivo que exige uma coorde-
nação das atividades, compreendendo momentos de análise crítica e de validação das soluções,
sem inviabilizar, com isso, o trabalho dos especialistas envolvidos, pois a excelência do projeto de
um empreendimento passa pela excelência do processo de cooperação entre seus agentes, que,
na qualidade de parceiros, submetem seus interesses individuais a uma confrontação organizada.
Unidade 6
CONFIRA SUAS RESPOSTAS
2. E.
• O indivíduo é um ser subordinado a uma série de regras e costumes sociais que são preesta-
belecidos e exigem que seja seguido desde o seu nascimento, e, com isso, há a prevalência da
sociedade e da coletividade sobre o indivíduo.
• Define-se a sociedade como estrutura complexa e dinâmica, a qual somos parte integrante,
inclui-se o olhar para as relações estabelecidas no espaço.
3. E.
• A asserção I está incorreta: é princípio de atuação local pelo bem geral: pensar que o processo
educativo deve estar consigo em todas as fases de formação (educação). O princípio da atuação
local pelo bem geral: pensar nas ações em diferentes escalas, do pontual ao global, e na relação
com o meio ambiente (estabelecendo atividades pessoais, próximas e locais).
• A asserção II está correta: é princípio de atuação local pelo bem geral: pensa-se nas ações em
diferentes escalas, do pontual ao global, e na relação com o meio ambiente (estabelecendo
atividades pessoais, próximas e locais).
226
• A asserção III está correta, é princípio de integração: otimiza a visão integrada de todos os as-
pectos naturais e sociais nas dimensões política, econômica e cultural.
5. D.
• A asserção I está correta: Os membros da sociedade podem ser de diferentes grupos étnicos,
pertencer a diferentes classes e níveis sociais, ainda que tenham em comum a comunhão de
interesses entre os membros e o direcionamento em um objetivo comumente definido.
• A asserção II está correta: A vida em sociedade é uma das tarefas mais importantes, referimo-nos
às características intrínsecas de vida social, pois configura um modelo de sociabilidade, estabele-
cendo características do homem como ser social e as formas de poder que se colocam na cidade.
• A asserção III está incorreta: A sociedade é uma parte da totalidade da vida social do ser humano,
na qual fatores de hereditariedade influem tanto quanto os elementos culturais (conhecimentos,
técnicas científicas, crenças, sistemas éticos e metafísicos) bem como as formas de expressão
estética, proporcionados pelo meio em que está inserido.
2. E.
• A asserção I está incorreta. A Geografia é a ciência que objetiva o estudo da superfície terrestre
e a distribuição espacial de fenômenos significativos na paisagem e na sociedade. A Psicologia
é a ciência que estuda o comportamento, ou seja, trata qualquer ação que envolve os comporta-
mentos conscientes, as experiências, conhecimentos, pensamentos inconscientes, entre outros.
• A asserção II está correta. A Psicologia Social estuda as relações essenciais entre os indivíduos
e a sociedade, desde a organização em busca da sobrevivência, os costumes, valores, a fim de
garantir a efetivação da sociedade.
• A asserção III está correta. A Psicologia Social está no limite entre a Psicologia e a Sociologia.
Isso porque ela busca estudar o comportamento humano no contexto social em que as pessoas
estão inseridas.
3. D. Para Yazbek (2000), as questões sociais são definidas e redefinidas, mas permanecem na
mesma dimensão estrutural, ao lado de uma manutenção da política econômica, de acordo
com a orientação dos organismos financeiros e o aprofundamento das condições de trabalho
e vida da maioria da população, buscando estabelecer estratégias para garantir o atendimento
às lutas e reivindicações das diferentes classes sociais, em uma tentativa de institucionalizar o
conflito social. E, por fim, não menos importante, é essencial que consigamos distinguir que as
227
questões sociais não sejam, exclusivamente, definidas pela distribuição de renda, mas, sim, pelo
complexo cenário que envolve as produções e as relações entre as classes sociais.
5. B. Trata-se das ações que organizam as decisões táticas e objetivam o princípio de justiça consis-
tente e coerente. Sendo assim, a política social é, na realidade, uma ordem superior, metapolítica
que justifica o ordenamento de quaisquer outras políticas. No entanto esta atividade refere-se
a um conceito transversal, que tem como objetivo tratar as atividades do governo em uma ação
setorial e conjuntural, ou seja, centralizado na melhoria de condições de vida da população.
Unidade 8
CONFIRA SUAS RESPOSTAS
2. A. Os problemas ambientais tratam-se dos danos causados ao meio ambiente muitos deles
são provocados pela ação do ser humano, por exemplo, a poluição do ar por gases poluentes,
a poluição dos rios por despejo de esgotos e lixos, vazamento de petróleo, poluição do solo
por agrotóxicos, fertilizantes, descarte incorreto do lixo, queima das matas e florestas, desma-
tamento, esgotamento do solo, extinção de espécie de animais, falta de água para consumo,
aquecimento global, entre outros.
3. D.
• A asserção I está correta, pois o conceito de política ambiental, quanto à organização de normas
e leis, visa à preservação do meio ambiente em um determinado espaço, e, no Brasil, podemos
definir que esta prática é relativamente recente, ela começou a ser implementada a partir da
década de 30.
• A asserção II está correta, pois de acordo com a Lei n. 12.651/2012, Área de Preservação Perma-
nente é uma área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.
• A asserção III está incorreta, pois as políticas ambientais buscam a harmonização e a interação
do meio ambiente associado ao desenvolvimento socioeconômico, compreendendo o que se
nomeia como desenvolvimento sustentável, em busca de assegurar as condições de segurança
e proteção à vida e à qualidade humana.
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Unidade 9
1. B.
• A NBR 9050/2020 é uma norma voltada à acessibilidade de edificações e aos mobiliários, aos
espaços e aos equipamentos urbanos. Estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem obser-
vados em relação ao projeto, à construção, à instalação e à adaptação ao meio urbano e rural.
Não só, mas preconiza sobre as edificações no que diz respeito às condições de acessibilidade.
• A Lei nº 13.467/2017 se refere à consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Foi aprovada pelo
Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e pelas leis n º 6.019, de 3 de janeiro de 1974, nº
8.036, de 11 de maio de 1990, e nº 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação
às novas relações de trabalho.
2. D.
• A asserção II é correta, visto que o arquiteto deve ser um profissional com capacidade de ex-
pressão analítica e sintética, a fim de manejar a lógica, o raciocínio e a argumentação, para que
esteja apto a comunicar as suas ideias.
• A asserção III é incorreta, uma vez que o arquiteto não deve ser um profissional estritamente
técnico, o que exclui a necessidade de atender às dimensões artística e atemporal que respon-
dem às necessidades da sociedade. O arquiteto deve ser um profissional criativo e capaz de
atender às dimensões apresentadas.
3. C. A criatividade, enquanto a tradução dos talentos humanos para uma realidade exterior in-
serida nos contextos individual, social e cultural, refere-se à habilidade de recombinar objetos
existentes de maneiras distintas para novos propósitos.
4. A. O arquiteto e urbanista precisa considerar novas ideias e oportunidades. Para tanto, é neces-
sário que ele inove, caso queira ter êxito financeiro com a profissão e ser valorizado enquanto
um profissional competente. Além disso, os arquitetos e urbanistas são fundamentais para
amenizar grandes problemas urbanos, como a falta de integração entre as cidades, a mobilidade
urbana e o déficit habitacional.
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