Figuras de Linguagem - Med

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Figuras de

linguagem
Prof. Dr. Alan Brasileiro
Steve Cuts,
Ilustração,
disponível em:
https://www.steve
cutts.com/illustrat
ion.html
“ Figura de linguagem é uma forma de expressão que
consiste no emprego de palavras em sentido
figurado, isto é, em um sentido diferente daquele em
que convencionalmente são empregadas.”

Cereja, Cochar
Conheço vocês pelo cheiro
Ricardo Aleixo

Conheço vocês Por seu amor


pelo cheiro, ao dinheiro
Metáfora pelas roupas, que algum
pelos carros, ancestral remoto
Transporte ou pelos anéis e, lhes deixou
transferência da é claro,
significação
como herança.
por seu amor
denotativa, comum ao dinheiro. Conheço vocês
para a figurativa pelo cheiro.
Conheço vocês Por seu amor Conheço vocês Por seu amor
pelo cheiro ao dinheiro pelo cheiro ao dinheiro,
e pelos cifrões e a tudo que de peste e horror deus é um
que adornam nega a vida: que espalham pai tão sacana
esses olhos que o hospício, a por onde andam que cobra por
mal piscam cela, a fronteira. – conheço-os seus milagres.
por seu amor Conheço vocês por seu amor Conheço vocês
ao dinheiro. pelo cheiro. ao dinheiro. pelo cheiro.

.
Conheço vocês Por seu amor Conheço vocês Por seu amor Conheço vocês
pelo cheiro ao dinheiro, pelo cheiro. ao dinheiro, pelo cheiro
mal disfarçado é com ódio Cheiro um e fazem até das de cadáver
de enxofre que replicam cheirei todos próprias filhas putrefato que,
que gruda em ao riso, ao gozo, vocês que só moeda forte, no entanto,
tudo que tocam à poesia. sobrevivem ouro puro. ainda caminha
por seu amor Conheço vocês por seu amor Conheço vocês por seu amor
ao dinheiro. pelo cheiro. ao dinheiro.. pelo cheiro. ao dinheiro.
.
ENEM (2013)

Capítulo LIV – A pêndula

Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o
mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o
sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e
seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava
então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, e a contá-
las assim:
— Outra de menos…
— Outra de menos…
— Outra de menos…
— Outra de menos…
O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não
deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos.
Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o
relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e
gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As
fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de
devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os
instantes perdidos, mas os minutos ganhados.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento).
O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo
trocado com Virgília, casada com Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do
relógio desconstrói certos paradigmas românticos, porque

a) o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros


adúlteros.
b) como “defunto autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar
acompanhar o fluxo do tempo.
c) na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e
acumular riquezas.
d) o relógio representa a materialização do tempo e redireciona o
comportamento idealista de Brás Cubas.
e) o narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio.
O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo
trocado com Virgília, casada com Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do
relógio desconstrói certos paradigmas românticos, porque

a) o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros


adúlteros.
b) como “defunto autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar
acompanhar o fluxo do tempo.
c) na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e
acumular riquezas.
d) o relógio representa a materialização do tempo e redireciona o
comportamento idealista de Brás Cubas.
e) o narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio.
Texto I
Texto II

Para que as memórias e tradições permaneçam vivas, o Museu da Pessoa, a


Rádio Yandê e Ailton Krenak vão realizar uma formação virtual em memória e
mídias para que jovens das comunidades originárias registrem as histórias de
vida de seus anciãos e anciãs.
O ditado “Cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima” é válido
para os povos indígenas, portanto nosso lema é “Cada ancião que se preserva
é uma biblioteca que se salva”. Na tradição dos povos indígenas, todo
conhecimento de plantas, de cura, de mitos e narrativas é produzido de
maneira oral. “A gente não sabe até quando que vão ter esse conhecimento
completo. A gente vai morrendo e vai se apagando tudo. A gente não é igual
vocês, que fica tudo guardado em algum lugar (...)”
(Awapataku Waura, ancião e pajé do povo Waura).

(Adaptado de “Projeto Vidas Indígenas”, vídeo institucional do Museu da Pessoa, sobre registro de narrativas orais
indígenas. Disponível em: https://benfeitoria.com/vidasindigenas. Acessado em 04/04/2021.)
UNICAMP (2022) No texto II (Projeto Vidas Indígenas), é utilizada uma
metáfora que relaciona “ancião” e “biblioteca”. As citações a seguir tratam da
importância de anciãos e anciãs indígenas para a transmissão do
conhecimento. Assinale aquela que também faz uso de uma metáfora.

a) “Perder um ancião é o mesmo que fechar um livro. Ou mesmo queimar um


livro” (Comissão Pró-Índio, Twitter, via @g1).
b) “Morte de anciãos indígenas na pandemia pode fazer línguas inteiras
desaparecerem” (manchete da BBC Brasil News).
c) “A morte de uma anciã ou um ancião é tratada como se uma biblioteca fosse
perdida” (site “Racismo Ambiental”).
d) “Nikaiti Mekranotire é mais uma vítima do covid-19. Perdemos uma
enciclopédia” (Mayalú Txucarramãe, Twitter).
UNICAMP (2022) No texto II (Projeto Vidas Indígenas), é utilizada uma metáfora
que relaciona “ancião” e “biblioteca”. As citações a seguir tratam da importância
de anciãos e anciãs indígenas para a transmissão do conhecimento. Assinale
aquela que também faz uso de uma metáfora.

a) “Perder um ancião é o mesmo que fechar um livro. Ou mesmo queimar um


livro” (Comissão Pró-Índio, Twitter, via @g1).
b) “Morte de anciãos indígenas na pandemia pode fazer línguas inteiras
desaparecerem” (manchete da BBC Brasil News).
c) “A morte de uma anciã ou um ancião é tratada como se uma biblioteca fosse
perdida” (site “Racismo Ambiental”).
d) “Nikaiti Mekranotire é mais uma vítima do covid-19. Perdemos uma
enciclopédia” (Mayalú Txucarramãe, Twitter).
UNICAMP (2017) Em depoimento, Paulo Freire fala da necessidade de uma tarefa
educativa: “trabalhar no sentido de ajudar os homens e as mulheres brasileiras a
exercer o direito de poder estar de pé no chão, cavando o chão, fazendo com que o
chão produza melhor é um direito e um dever nosso. A educação é uma das chaves
para abrir essas portas. Eu nunca me esqueço de uma frase linda que eu ouvi de um
educador, camponês de um grupo de Sem Terra: pela força do nosso trabalho, pela
nossa luta, cortamos o arame farpado do latifúndio e entramos nele, mas quando nele
chegamos, vimos que havia outros arames farpados, como o arame da nossa
ignorância. Então eu percebi que quanto mais inocentes, tanto melhor somos para os
donos do mundo [...] Eu acho que essa é uma tarefa que não é só política, mas
também pedagógica. Não há Reforma Agrária sem isso.”
GALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola é mais que escola. São Paulo:
Expressão Popular, 2008, p. 172 (Adaptação)
No excerto adaptado que você leu, há menção a outros arames farpados, como “o
arame da nossa ignorância”. Trata-se de uma figura de linguagem para:

a) a conquista do direito às terras e à educação que são negadas a todos os


trabalhadores.
b) a obtenção da chave que abra as portas da educação a todos os brasileiros que
não têm terras.
c) a promoção de uma conquista da educação que tenha como base a propriedade
fundiária.
d) a descoberta de que a luta pela posse da terra pressupõe também a conquista
da educação.
No excerto adaptado que você leu, há menção a outros arames farpados, como “o
arame da nossa ignorância”. Trata-se de uma figura de linguagem para:

a) a conquista do direito às terras e à educação que são negadas a todos os


trabalhadores.
b) a obtenção da chave que abra as portas da educação a todos os brasileiro que
não têm terras.
c) a promoção de uma conquista da educação que tenha como base a propriedade
fundiária.
d) a descoberta de que a luta pela posse da terra pressupõe também a conquista
da educação.
Comparação
Sendo uma “metáfora mais nítida”, a relação de similaridade entre os
termos aparece construída por alguns elementos conectivos, tais como:
igual a, tal qual, da mesma forma que, semelhante a, parecido com,
que nem, como, também.

Metonímia

Consiste na utilização de um termo por outro, tendo como sustentação um


raciocínio de prolongamento de sentido. Por exemplo: “O bonde passa cheio de
pernas” (Carlos Drummond de Andrade)
Pablo Picasso, Les
Demoiselles d’Avignon (As
Senhoritas de Avignon), óleo
sobre tela, 243,9 x 233,7 cm,
1907. Conservada no MoMA,
Nova Iorque, EUA.
ENEM PPL (2017) Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

PESSOA, F. Mensagens. São Paulo: Difel, 1986.


Nos versos 1 e 2, a hipérbole e a metonímia foram utilizadas para subverter a
realidade. Qual o objetivo dessa subversão para a constituição temática do poema?

a) Potencializar a importância dos feitos lusitanos durante as grandes navegações.


b) Criar um fato ficcional ao comparar o choro das mães ao choro da natureza.
c) Reconhecer as dificuldades técnicas vividas pelos navegadores portugueses.
d) Atribuir as derrotas portuguesas nas batalhas às fortes correntes marítimas.
e) Relacionar os sons do mar ao lamento dos derrotados nas batalhas do Atlântico.
Nos versos 1 e 2, a hipérbole e a metonímia foram utilizadas para subverter a
realidade. Qual o objetivo dessa subversão para a constituição temática do poema?

a) Potencializar a importância dos feitos lusitanos durante as grandes navegações.


b) Criar um fato ficcional ao comparar o choro das mães ao choro da natureza.
c) Reconhecer as dificuldades técnicas vividas pelos navegadores portugueses.
d) Atribuir as derrotas portuguesas nas batalhas às fortes correntes marítimas.
e) Relacionar os sons do mar ao lamento dos derrotados nas batalhas do Atlântico.
Alegoria

É uma imagem que já está consagrada pela cultura ou então uma


representação metafórica que se repete ao longo de um texto. Por
exemplo, a alegoria da morte é “desenhada” no imaginário ocidental como
uma figura macabra segurando a foice, ou então pela imagem da caveira,
ou ainda por animais que indicam agouro, como a coruja, o corvo, o urubu
etc.

Catacrese

É o emprego de metáfora já enraizada na língua para denominar algo que


não tem nome específico, algo concreto. Por exemplo: pé de mesa, asa da
xícara, braço do rio, batata da perna, etc.
História
Ana Martins Marques

Tenho 39 anos.
Meus dentes têm cerca de 7 anos a menos.
Meus seios têm cerca de 12 anos a menos.
Bem mais recentes são meus cabelos
e minhas unhas.
Pela manhã como um pão.
Ele tem uma história de 2 dias.
Ao sair do meu apartamento,
que tem cerca de 40 anos,
vestindo uma calça jeans de 4 anos
e uma camiseta de não mais que 3,
troco com meu vizinho palavras de cerca de 800
anos
e piso sem querer numa poça com 2 horas de
história
desfazendo uma imagem
que viveu
alguns segundos.
Unesp (2019) Examine
a pintura do artista
holandês Pieter Claesz
(1597-1661) e a
tradução da expressão
latina Memento mori
(lembra-te que
morrerás).
a) Além da caveira, que outro elemento retratado na pintura de Pieter Claesz
alude à expressão Memento mori? Justifique sua resposta.

b) Tendo em vista o contexto de sua produção, a temática explorada pela


pintura remete mais diretamente à qual escola literária? Justifique sua resposta.
a) Além da caveira, que outro elemento retratado na pintura de Pieter Claesz alue à
expressão Memento mori? Justifique sua resposta.

Além da caveira iluminada por um feixe de luz, outros objetos aludem à


fugacidade da vida humana, como a vela se extinguindo lentamente, o relógio
marcando o avanço do tempo, a flor simbolizando a efemeridade da beleza e o fruto
seco aludindo ao envelhecimento de todo o ser vivo.

b) Tendo em vista o contexto de sua produção, a temática explorada pela pintura


remete mais diretamente à qual escola literária? Justifique sua resposta.

A data que assinala a produção da obra remete à estética barroca, movimento


artístico que reflete os conflitos dualistas entre a espiritualidade e teocentrismo da
Idade Média e o racionalismo e antropocentrismo do Renascimento, reveladores da
consciência integral da fugacidade da vida humana sujeita aos efeitos da passagem do
tempo.
Evidências
Chitãozinho e Xororó
(José Augusto, Paulo Sérgio Valle)

Antítese Quando eu digo que deixei de te amar


É porque eu te amo
Emprego de termos Quando eu digo que não quero mais você
antagônicos para É porque eu te quero
reforçar a ideia de Eu tenho medo de te dar meu coração
oposição e de E confessar que eu estou em tuas mãos
distanciamento dos Mas não posso imaginar
significados. O que vai ser de mim
Se eu te perder um dia
Eu me afasto e me defendo de você
Mas depois me entrego
E nessa loucura de dizer que não te quero
Faço tipo, falo coisas que eu não sou
Vou negando as aparências
Mas depois eu nego
Disfarçando as evidências
Mas a verdade
Mas pra que viver fingindo
É que eu sou louco por você
Se eu não posso enganar meu coração?
E tenho medo de pensar em te perder
Eu sei que te amo!
Eu preciso aceitar que não dá mais
Pra separar as nossas vidas
Chega de mentiras
De negar o meu desejo
Diz que é verdade, que tem saudade
Eu te quero mais que tudo
Que ainda você pensa muito em mim
Eu preciso do seu beijo
Diz que é verdade, que tem saudade
Eu entrego a minha vida
Que ainda você quer viver pra mim
Pra você fazer o que quiser de mim
Só quero ouvir você dizer que sim!
Paradoxo / Oxímoro

Expressão absurda que pode ser gerada por imagens que desafiam
a lógica. O paradoxo consiste na possibilidade da realização
simultânea dos opostos:

“Talvez eu seja um sádico um anjo um mágico


juiz ou réu um bandido do céu
malandro ou otário padre sanguinário
franco atirador se for necessário
revolucionário insano ou marginal
antigo e moderno imortal
(“Capítulo 4, versículo 3”, Racionais MC’S)
Mário de Andrade desce aos infernos
Carlos Drummond de Andrade

II

No chão me deito: à maneira dos desesperados.

Estou escuro, estou rigorosamente noturno,


estou vazio,
esqueço que sou um poeta, que não estou
sozinho,
preciso aceitar e compor, minhas medidas
partiram-se,
mas preciso, preciso, preciso.

Rastejando, entre cacos, me aproximo.


Não quero, mas preciso tocar pele de homem,
avaliar o frio, ver a cor, ver o silêncio,
conhecer um novo amigo e nele me derramar.
Porque é outro amigo. A explosiva descoberta
ainda me atordoa. Estou cego e vejo. Arranco os
olhos e vejo.
Furo as paredes e vejo. Através do mar
sanguíneo vejo.
Minucioso, implacável, sereno, pulverizado,
é outro amigo. São outros dentes. Outro sorriso.
Outra palavra, que goteja.
Personificação (Prosopopeia, Antropomorfização)

Atribuição de capacidades dos seres animados a seres inanimados

Hipérbole

Ocorre quando se emprega uma expressão exagerada


para traduzir uma ideia.
ENEM PPL (2016) O adolescente

A vida é tão bela que chega a dar medo.

Não o medo que paralisa e gela,


estátua súbita,
mas

esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz


o jovem felino seguir para frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.
Medo que ofusca: luz!

Cumplicentemente,
as folhas contam-te um segredo
velho como o mundo:

Adolescente, olha! A vida é nova...


A vida é nova e anda nua
– vestida apenas com o teu desejo!

QUINTANA, M. Nariz de vidro. São Paulo: Moderna, 1998.


Ao abordar uma etapa do desenvolvimento humano, o poema mobiliza diferentes
estratégias de composição. O principal recurso expressivo empregado para a
construção de uma imagem da adolescência é a

a) hipérbole do medo.
b) metáfora da estátua.
c) personificação da vida.
d) antítese entre juventude e velhice.
e) comparação entre desejo e nudez.
Ao abordar uma etapa do desenvolvimento humano, o poema mobiliza diferentes
estratégias de composição. O principal recurso expressivo empregado para a
construção de uma imagem da adolescência é a

a) hipérbole do medo.
b) metáfora da estátua.
c) personificação da vida.
d) antítese entre juventude e velhice.
e) comparação entre desejo e nudez.
FUVEST (2019) Leia os textos.

– Eu acho que nós, bois, – Dançador diz, com baba – assim como os cachorros, as
pedras, as árvores, somos pessoas soltas, com beiradas, começo e fim. O homem, não: o
homem pode se ajuntar com as coisas, se encostar nelas, crescer, mudar de forma e de
jeito… O homem tem partes mágicas… São as mãos… Eu sei…

João Guimarães Rosa, “Conversa de bois”. Sagarana.


Um boi vê os homens

Tão delicados (mais que um arbusto) e correm


e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
(...)

Carlos Drummond de Andrade, “Um boi vê os homens”. Claro enigma.


a) Em ambos os textos, o assombro de quem vê decorre das avaliações
contrastantes sobre quem é visto. Justifique essa afirmação com base em
cada um dos textos.

b) O conto de Rosa e o poema de Drummond valem-se de uma mesma figura


de linguagem. Explicite essa figura e justifique sua resposta.
Ironia
É a afirmação de algo diferente do que se deseja comunicar, feita de modo
debochado, paródico e satírico para ridicularizar ou insultar. Por exemplo:

Avise o IML, chegou o grande dia.


Depende do sim ou não de um só homem.
Que prefere ser neutro pelo telefone.
Ratatatá, caviar e champanhe.
Fleury foi almoçar, que se foda a minha mãe!
Cachorros assassinos, gás lacrimogêneo... Sinestesia
Quem mata mais ladrão ganha medalha de prêmio!
O ser humano é descartável no Brasil.
Como modess usado ou bombril.
Cadeia? Claro que o sistema não quis.
(“Diário de um Detento”, Racionais MC’s)
A vida invisível de Eurídice Gusmão
Marta Batalha

1. (trecho)

Quando Eurídice Gusmão se casou com Antenor Campelo as saudades que


sentia da irmã já tinham se dissipado. Ela já era capaz de manter o sorriso
quando ouvia algo engraçado, e podia ler duas páginas de um livro sem
levantar a cabeça para pensar onde Guida estaria naquele momento. É verdade
que continuava a busca, conferindo nas ruas os rostos femininos, e uma vez teve
a certeza de ter visto Guida num bonde rumo a Vila Isabel. Depois essa certeza
passou, como todas as outras que teve até então.
Por que Eurídice e Antenor se casaram ninguém sabe ao certo. Alguns
acreditam que as bodas se consumaram porque José Salviano e Manuel da
Costa já estavam comprometidos. Outros apontam a doença da tia de Antenor
como responsável pela união, já que agora ela não podia mais lavar as roupas
do sobrinho com o sabão especial de lavanda, ou preparar a canja de galinha
com pedaços transparentes de cebola, porque se Nonô apreciava o gosto de
cebola detestava a sua textura, sendo um único pedaço camuflado no feijão
capaz de lhe deixar com engulhos e arrotos por uma longa tarde regada a Alka-
Seltzer. Há ainda aqueles que acreditam que Eurídice e Antenor de fato se
apaixonaram, e que essa paixão durou os três minutos de uma dança a dois num
baile de máscaras do Clube Naval.
Cristais
Cruz e Sousa

Mais claro e fino do que as finas pratas


O som da tua voz deliciava...
Na dolência velada das sonatas
Como um perfume a tudo perfumava.
Sinestesia
Era um som feito luz, eram volatas
É a experimentação Em lânguida espiral que iluminava,
de sensações de Brancas sonoridades de cascatas...
modalidades Tanta harmonia melancolizava.
distintas, confluência
dos sentidos Filtros sutis de melodias, de ondas
De cantos voluptuosos como rondas
(audição, tato, visão,
De silfos leves, sensuais, lascivos...
paladar, olfato).
Como que anseios invisíveis, mudos,
Da brancura das sedas e veludos,
Das virgindades, dos pudores vivos.
ENEM PPL (2019) O mato do Mutúm é um enorme mundo preto, que nasce dos
buracões e sobe a serra. O guará-lobo trota a vago no campo. As pessôas mais velhas
são inimigas dos meninos. Soltam e estumam cachorros, para ir matar os bichinhos
assustados – o tatú que se agarra no chão dando guinchos suplicantes, os macacos
que fazem artes, o coelho que mesmo até quando dorme todo-tempo sonha que está
sendo perseguido. O tatú levanta as mãozinhas cruzadas, ele não sabe – e os
cachorros estão rasgando o sangue dele, e ele pega a sororocar. O tamanduá.
Tamanduá passeia no cerrado, na beira do capoeirão. Ele conhece as árvores, abraça
as árvores. Nenhum nem pode rezar, triste é o gemido deles campeando socôrro.
Todo choro suplicando por socôrro é feito para Nossa Senhora, como quem diz a
salve-rainha. Tem uma Nossa Senhora velhinha. Os homens, pé-ante-pé, indo a
peitavento, cercaram o casal de tamanduás, encantoados contra o barranco, o casal
de tamanduás estavam dormindo. Os homens empurraram com a vara de ferrão, com
pancada bruta, o tamanduá que se acordava. Deu som surdo, no corpo do bicho,
quando bateram, o tamanduá caiu pra lá, como um colchão velho.

ROSA, G. Noites do sertão (Corpo de baile). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
Na obra de Guimarães Rosa, destaca-se o aspecto afetivo no contorno da paisagem
dos sertões mineiros. Nesse fragmento, o narrador empresta à cena uma
expressividade apoiada na

a) plasticidade de cores e sons dos elementos nativos.


b) dinâmica do ataque e da fuga na luta pela sobrevivência.
c) religiosidade na contemplação do sertanejo e de seus costumes.
d) correspondência entre práticas e tradições e a hostilidade do campo.
e) humanização da presa em contraste com o desdém e a ferocidade do homem.
Na obra de Guimarães Rosa, destaca-se o aspecto afetivo no contorno da paisagem
dos sertões mineiros. Nesse fragmento, o narrador empresta à cena uma
expressividade apoiada na

a) plasticidade de cores e sons dos elementos nativos.


b) dinâmica do ataque e da fuga na luta pela sobrevivência.
c) religiosidade na contemplação do sertanejo e de seus costumes.
d) correspondência entre práticas e tradições e a hostilidade do campo.
e) humanização da presa em contraste com o desdém e a ferocidade do homem.
Quando as ondas te carregaram
meus olhos, entre águas e areias,
ENEM PPL (2019) Canção
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.
No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas…
Minhas mãos pararam sobre o ar
Numa das naves que afundaram
e endureceram junto ao vento,
é que certamente tu vinhas.
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
E o sorriso que eu te levava
e morri de infinitas mortes
desprendeu-se e caiu de mim:
guardando sempre o mesmo rosto.
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.

MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra completa. Rio


de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Na composição do poema, o tom elegíaco e solene manifesta uma concepção de
lirismo fundada na

a) contradição entre a vontade da espera pelo ser amado e o desejo de fuga.


b) expressão do desencanto diante da impossibilidade da realização amorosa.
c) associação de imagens díspares indicativas de esperança no amor futuro.
d) recusa à aceitação da impermanência do sentimento pela pessoa amada.
e) consciência da inutilidade do amor em relação à inevitabilidade da morte.
Na composição do poema, o tom elegíaco e solene manifesta uma concepção de
lirismo fundada na

a) contradição entre a vontade da espera pelo ser amado e o desejo de fuga.


b) expressão do desencanto diante da impossibilidade da realização amorosa.
c) associação de imagens díspares indicativas de esperança no amor futuro.
d) recusa à aceitação da impermanência do sentimento pela pessoa amada.
e) consciência da inutilidade do amor em relação à inevitabilidade da morte.
Elipse

É a omissão de algum termo na frase, que pode ser identificado pelo


contexto

“Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados


naturais, quase divinos” (Machado de Assis)

Nossa! A poesia morrendo...


O sol tão claro lá fora.
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma – anoitecendo! (Manuel Bandeira)
René Magritte (1928), Os
amantes, óleo sobre
tela, 54 x 73, 4 cm,
Museu de Arte Moderna
(MoMA), Nova York, USA.
Stanley Kubrick (1968),
2001: uma odisseia no
espaço, fotograma.
Zeugma

É a omissão num determinado ponto do enunciado de um elemento


linguístico já expresso em outro lugar do enunciado.

“Rubião tinha nos pés um par de chinelas de damasco, bordadas


a ouro; na cabeça, um gorro com borla de seda preta. Na boca,
um riso azul claro.” (Machado de Assis)
Assíndeto
É a omissão da conjunção entre os elementos coordenados em um texto. Essa
diminuição da extensão textual serve para separar significados, criando efeitos de
sentido que o intensificam.

Polissíndeto

É o emprego de vários conectivos, que aparecem reiteradamente no texto. Por


exemplo: “Longe do estéril turbilhão da rua, / Beneditino, escreve! No
aconchego / Do claustro, na paciência e no sossego, / Trabalha, e teima, e
lima, e sofre, e sua!” (Olavo Bilac)
Hipérbato / Inversão

Consiste na alteração da ordem direta dos termos de uma oração (SVO):


Nasce o sol e não dura mais que um dia (Gregório de Matos)

Anáfora

Repetição de uma mesma palavra ou expressão. Por exemplo:


“Amor é fogo que arde sem se ver/ É ferida que dói e não se
sente;/ É um contentamento descontente; / É dor que
desatina sem doer”.
(Enem 2013) Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou
após uma série de contágios entre línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia de
gripe que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente dito, dois
vocábulos virais: o italiano influenza e o francês grippe. O primeiro era um termo
derivado do latim medieval influentia, que significava “influência dos astros sobre
os homens”. O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper, isto é,
“agarrar”. Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se
apossa do organismo infectado.

RODRIGUES, S. “Sobre palavras”. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.


Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor
reconheça a ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída
predominantemente pela retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse. O
fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:

a) “[…] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”
b) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe […]”.
c) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava
‘influência dos astros sobre os homens’.”
d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper […]”.
e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do
organismo infectado.”
Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor
reconheça a ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída
predominantemente pela retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse. O
fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:

a) “[…] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”
b) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe […]”.
c) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava
‘influência dos astros sobre os homens’.”
d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper […]”.
e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do
organismo infectado.”
Assonância

Repetição de sons vocálicos.

Aliteração

Repetição de sons consonantais.

Onomatopeias

Tentativa de reproduzir efeitos sonoros


FUVEST (2020) amora

a palavra amargo
a palavra amora
seria talvez mais doce
seria talvez menos doce
e um pouco menos acerba
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
se não trouxesse em seu corpo
(como uma sombra a espreitar)
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amar
a memória da palavra amor

Marco Catalão, Sob a face neutra.


É correto afirmar que o poema
a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos
amargo e sombrio.
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da
palavra “talvez”.
c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sentimento
amoroso.
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e
“amar”.
e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente.
É correto afirmar que o poema
a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos
amargo e sombrio.
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da
palavra “talvez”.
c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sentimento
amoroso.
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e
“amar”.
e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente.

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