Polimiosite e Dermatomiosite
Polimiosite e Dermatomiosite
Polimiosite e Dermatomiosite
Dermatomiosite (DM), Polimiosite (PM) e Miosite por Corpúsculos de Inclusão (MCI) Miopatias
inflamatórias idiopáticas;
Característica Desenvolvimento inexplicado de um processo inflamatório não supurativo na
musculatura esquelética;
Manifestação clínica Fraqueza muscular;
Baixa incidência na população geral (1:100.000);
DM e PM Predominância em mulheres (2:1);
Distribuição bimodal primeiro pico entre 7-15 anos (Principalmente DM) e o segundo pico entre
30-50 anos;
MCI Mais frequente em homens acima dos 50 anos.
Curiosidades
DM, diferente da PM, apresenta manifestações cutâneas características Heliótropo, Pápulas de
Gottron Mais associada a malignidades;
Patogenia DM deposição de imunocomplexos em vaso na intima do musculo, microangiopatia
e isquemia muscular;
Patogenia PM Destruição da célula muscular esquelética por lesão direta pela ação de
linfócitos TCD8+ autorreativos;
MCI inicio do quadro pode ser marcado por acometimento assimétrico da musculatura distal
destaque para envolvimento do quadríceps (história de heliotropo e quedas precoces por
instabilidade do joelho) e dos flexores dos dedos das mãos (Muscuos do antebraço) Pode haver
fraqueza da musculatura facial , também assimétrica.
Manifestações clínicas
a) Musculares
Fraqueza muscular sinais mais observados nas fases iniciais geralmente se desenvolver
progressivamente durante semanas a meses antes do paciente procurar o médico;
Raras situações início agudo e acompanhado de rabdomiólise e mioglobinúria;
Distribuição da fraqueza simétrica e proximal, acomete músculos da cintura escapular e
pélvica Progride musculatura proximal dos membros;
Importante comprometimento dos flexores do pescoço se observa quando pede ao paciente em
posição supina que flexione o pescoço e encoste o queixo na região anterior);
Musculatura ocular extrínseca Poupada mesmo em casos mais avançados fala contra o
diagnóstico de miopatia inflamatória;
Músculos faciais raramente são acometidos mas pode ocorrer na MCI;
Queixas da fraqueza muscular proximal dificuldade em pentear cabelos, apanhar objetos em
posição alta, subir degraus de escada e levantar-se a partir de uma posição sentada;
A dificuldade em elevar os braços acima do nível dos ombros é notada durante o exame clínico;
Musculatura esquelética da parede posterior da faringe e do terço proximal do esôfago
Comprometida com frequência Disfagia classificada como transferência dificuldade em
deglutir com sincronismo o alimento;
Engasgos frequentes e em casos avançados aspiração broncopulmonar;
Envolvimento dos músculos da laringe Disfonia;
25 a 50% dos casos de forma leve Hipersensibilidade muscular e mialgias;
Casos avançados consumo muscular associado à atrofia e contraturas;
Exame neurológico sensibilidade normal, e preservação dos reflexos tendíneos.
b) Dermatológicas
Na PM Manifestações cutâneas não estão presentes;
DM ocorrem de forma típica acompanhadas ou precedendo as manifestações musculares
achados sendo patognomônicos da doença:
1. Pápulas de Gottron formações escamosas, elevadas, de coloração violeta, simetricamente
distribuídas, observadas sobre os nós dos dedos Lesões similares também podem ser
encontradas nos cotovelos, joelhos e maléolos.
5. Erupções eritematosas em fase (rash malar) envolve a região nasolabial, o queixo e a ponte
nasal, pescoço, tórax ou superfície extensora das extremidades podem ser notadas Muitas
vezes assume a forma de um “V” principalmente em região anterior do tórax Quando
acometem a região posterior dos ombros e tórax proporcionam o sinal do xale (ou manto)
10% dos casos de DM estas manifestações associam-se a um autoanticorpo conhecido
anti-Mi-2.
Observações
Específicos da dermatomiosite heliótropo, o edema palpebral e as pápulas de Gottron;
“Mão do mecânico" não é exclusiva da DM pode aparecer na polimiosite, em particular nos
portadores da "síndrome antissintetase" presença de autoanticorpos antissintetase no sangue,
como o anti-Jo-1;
Alguns indivíduos desenvolvem alterações capilares das pregas ungueais especialmente
aqueles que têm fenômeno de Raynaud como alças capilares dilatadas ou distorcidas, alternadas
com áreas avasculares.
c) Constitucionais
Fadiga e mal-estar;
Pacientes jovens e crianças Febre é encontrada Perda ponderal significativa é incomum.
d) Articulares
Artralgias e, com menor frequência, artrite acompanhada de rigidez matinal;
O comprometimento articular segue um padrão semelhante ao da artrite reumatoide acometendo
principalmente as mãos;
Alguns pacientes apresentar subluxações e deformidades importantes entretanto erosão
óssea não costuma ser encontrada.
e) Pulmonares
Um fator que confere grande morbidade Comprometimento respiratório;
Broncoaspiração ocorre e pode ser fatal;
A miosite do diafragma e da musculatura intercostal prejudica uma incursão respiratória
adequada favorece um acúmulo de secreções e hipoventilação alveolar;
A atelectasia e infecções respiratórias de repetição resultam desse processo;
Outra forma doença pulmonar intersticial (DPI) ocorre em 10% dos casos e pode preceder a
miopatia;
DPI severa lesão alveolar difusa;
DPI Clínica fulminante e muito parecido com a síndrome da angústia respiratória aguda A
doença arrastada, com lenta evolução para fibrose, representa o padrão mais característico queixas
como dispneia aos esforços e tosse são frequentes A ausculta respiratória pode revelar estertores
bibasais (em "velcro");
O comprometimento pulmonar intersticial relacionado a um autoanticorpo contra uma sintetase
(enzima citoplasmática envolvida na tradução do RNA em proteína) anti-Jo-1.
f) Cardíacas
O envolvimento cardíaco é comum raramente é sintomático;
Mais evidentes distúrbios do ritmo e condução cardíacos palpitações e arritmias sintomáticas;
Os distúrbios de condução intraventriculares visto em 30% dos pacientes Hemibloqueio
Anterior Esquerdo (HBAE) e o Bloqueio de Ramo Direito (BRD) os mais comuns;
A insuficiência cardíaca congestiva decorrente de miocardite é incomum.
Miosite por corpúsculo de inclusão
Difere da DM e PM faixa etária mais alta e prevalência por sexo masculino e características do
quadro clínico;
Pacientes acima de 50 anos a MIC mais comum das miopatias inflamatórias;
O aparecimento de fraqueza muscular distal e assimétrica pode ocorrer em fases iniciais;
Com comprometimento seletivo do quadríceps elevada frequência de quedas por instabilidade
do joelho na posição ortostática e dos flexores profundos dos dedos das mãos (musculatura do
antebraço);
O comprometimento muscular distal tem como queixas dificuldade em abotoar camisas,
alterações na escrita, dificuldade em desatar nós, incapacidade de virar uma chave na fechadura;
1\3 dos casos Fraqueza facial leve não sendo encontrada na DM e PM;
Em 20% dos casos existe associação com outras doenças autoimunes ou do tecido conjuntivo;
Os níveis de CK são normais ou moderadamente aumentados (até dez vezes o valor da normalidade);
Diagnóstico Biópsia muscular;
O curso da doença é lento, mas contínuo, com progressão durante anos;
Costuma ser refratária à corticoterapia.
Grupo específico de doença
Alguns subgrupos especiais em que essas doenças podem se manifestar com certas peculiaridades.
a) Dermatomiosite e Polimiosite associada à malignidade
A frequência de câncer em pacientes com miosite varia de 15 a 25%;
A incidência de neoplasia em indivíduos com DM é 2-3 vezes maior do que na população geral
essa relação mais discreta nos pacientes com PM e MCI;
A neoplasia maligna pode ser identificada antes, no momento do diagnóstico ou após a confirmação
de um quadro de DM ou PM geralmente até um ano após o desenvolvimento de miosite;
Pacientes com maiores riscos de apresentar a associação miosite-câncer os pacientes com idade
avançada, dano capilar na biópsia muscular, lesões necróticas em tronco e presença de vasculite
leucocitoclástica;
Espectro de malignidades associadas distribuição semelhante à da população em geral com
exceção para o câncer ovariano em mulheres, que possui uma frequência aumentada;
Tumores mais comumente encontrados tumores de pulmão, mama, ovário, cólon e reto,
estômago, pâncreas, melanoma e o linfoma não Hodgkin;
A presença de um tumor maligno parece não afetar as manifestações de miosite nem influenciar na
resposta à terapia a erradicação do tumor parece não afetar a evolução da doença muscular; alguns
pacientes respondem favoravelmente enquanto outros não;
No momento do diagnóstico da miopatia inflamatória, seja ela DM ou PM um exame cuidadoso
deve ser realizado, inclusive com toque retal e avaliação ginecológica (com coleta de exame
preventivo para câncer de colo de útero);
Caso nenhum indício de câncer seja encontrado (anemia, massa palpável abdominal, lesões em
mama, massas pélvicas, etc.), a maioria dos autores recomenda apenas a solicitação de um RX de
tórax, hemograma bioquímica, provas de função hepática, PSA e EAS;
Mulheres em idade apropriada o screening mamográfico, torna-se óbvio que ele deva ser
efetuado;
O screening colonoscópico de neoplasia de cólon deve também ter sua indicação habitual mantida;
O limiar para a solicitação de um exame de imagem abdominal deve ser menor que o habitual,
devido à maior incidência de neoplasia de ovário, podendo ser pedido associado à dosagem de
CA-125;
Alguns autores recomendam realização de TC de tórax, abdome e pelve nos subgrupos de maior
risco, como por exemplo, no paciente idoso.
b) Dermatomiosite e polimiosite na infância
A dermatomiosite juvenil (DMJ) e a polimiosite juvenil (PMJ) doenças raras;
DMJ 20x maior que PMJ Predomínio em meninas (2:1 a 5:1);
Ambas as doenças acometem pacientes com menos de 16 anos um pico de incidência girando em
torno de cinco a dez anos de idade;
As manifestações clínicas da DMJ diferem das encontradas no adulto, principalmente pela
exuberância de sintomas e sinais sistêmicos, como febre e perda ponderal;
Presença de vasculite de tubo digestivo;
A oclusão vascular consequente ao processo inflamatório determina o surgimento de dor e
distensão abdominal, muitas vezes acompanhado de sangramento e perfuração;
Calcinose raramente encontrada em adultos com DM 40% presente nos casos de DMJ
relacionada à gravidade da lesão cutânea, à presença de vasculopatia e ao atraso no reconhecimento e
início da terapia para as manifestações cutâneas e musculares;
Calcinose é uma afecção do tecido conjuntivo classificada em quatro tipos: metastática,
idiopática, iatrogênica e distrófica. A primeira refere-se à deposição de sais de cálcio em tecidos
normais, com aumento sérico de cálcio e/ou fosfato, sendo o valor do produto destes elementos > 70.
c) Síndromes de superposição
A síndrome de superposição descreve classicamente a associação de miopatia inflamatória com
doenças do tecido conjuntivo;
A presença de Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), esclerose sistêmica e polimiosite define a
doença mista do tecido conjuntivo;
Doença mista do tecido conjuntivo é caracterizada por altos títulos de um anticorpo dirigido a um
antígeno nuclear (anti-U1-RNP), além de manifestações clínicas próprias;
A superposição de DM com esclerodermia apresenta altos títulos de um anticorpo contra um
antígeno nucleolar chamado de PM/Scl;
Além das colagenoses, as miopatias inflamatórias podem associar-se a um grande número de
desordens autoimunes, como a cirrose biliar primária, a arterite temporal, a poliarterite nodosa, a
tireoidite de Hashimoto e as doenças intestinais inflamatórias.
Laboratório
Os anticorpos antinucleares (FAN) detectados por métodos de imunofluorescência
Encontrados em 70% dos pacientes com DM e PM não são específicos para essas doenças e
apresentam-se em baixos títulos;
Uma titulação elevada do FAN é observada nas síndromes de superposição;
A presença de altos títulos de anticorpos contra o U1-RNP associada com a superposição de
miosite com esclerose sistêmica e lúpus eritematoso sistêmico (doença mista do tecido conjuntivo);
Presenças de anti-Ro, anti-La e anti-Sm sugere síndrome de superposição;
Autoanticorpos específicos para miosite direcionados contra sintetases do RNA encontram-se
presentes em cerca de 20 a 30% com DM e PM seu significado patogênico permaneça incerto,
eles podem ser considerados marcadores específicos de algumas apresentações clínicas.
a) Enzimas musculares
As principais enzimas que devem ser solicitadas na avaliação de pacientes com miopatia
creatina quinase (CK), a lactato desidrogenase (LDH), a aldolase, a aspartato aminotransferase
(AST) e a alanina aminotransferase (ALT);
Importantes sejam realizadas antes da eletromiografia uma vez que o trauma provocado pela
inserção da agulha para realização do exame eleva os níveis enzimáticos;
Os níveis de CK são os mais sensíveis para a presença de miosite;
A intensidade da fraqueza muscular correlaciona-se com o grau de elevação enzimática;
CK-MB predominantemente no músculo estriado cardíaco comumente é utilizada para o
diagnóstico de miocardite e infarto agudo do miocárdio não é um marcador 100% específico de
dano ao coração expressa em grande quantidade pelas fibras musculares esqueléticas em
regeneração fibras em regeneração são comumente encontradas nos músculos acometidos por
miosite inflamatória, a CK-MB em geral está aumentada nesses pacientes, sem que isso signifique,
necessariamente, que existe lesão muscular cardíaca;
Como detectar o acometimento miocárdico nesses pacientes Uma enzima mais específica de
lesão miocárdica, que não se altera em consequência ao dano muscular exclusivamente esquelético
isoforma I da troponina (TnI);
Em um pequeno número de casos a CK pode encontrar-se dentro da normalidade apesar de DM
em atividade, especialmente quando associado a uma outra doença do tecido conjuntivo Menor
frequência da PM;
Outras causas de CK com valor normal incluem malignidade, alguns casos de DM na infância e
doença de longa duração com atrofia muscular acentuada.
b) Eletromiografia (EMG)
Registra a atividade elétrica muscular em repouso e durante esforço;
Uma agulha-eletrodo é inserida no músculo para a realização do exame;
Objetivos diferenciação entre desordens neurogênicas e miopáticas método de grande
importância para compor o diagnóstico das miopatias;
O músculo em repouso é eletricamente silencioso, com exceção da região da placa motora;
Em indivíduos com miopatia, potenciais de fibrilação e ondas positivas de ponta (irritação da célula
muscular) são observados;
Os potenciais trifásicos normalmente registrados durante a contração voluntária dão lugar a
potenciais polifásicos (mais de quatro fases), de baixa amplitude (normal de 200 μV até 2 mV) e
curta duração chamado "padrão miopático";
Nas doenças musculares - padrão excessivo de recrutamento de unidades motoras para a
realização de uma contração voluntária.
Biopsia muscular
Padrão-ouro diagnóstico de DM e PM, afastando com total segurança outras causas de miopatia;
O fragmento deve ser proveniente de um músculo afetado, geralmente o deltoide ou quadríceps;
Se o exame clínico falhar em definir com exatidão qual grupamento muscular a ser biopsiado
pode-se optar por biopsiar o músculo contralateral no qual tenha sido demonstrada lesão pela EMG
ou fazer a escolha pelo acometimento visto pela RM;
Grupamentos musculares atróficos e locais submetidos à EMG não devem ser biopsiados;
O procedimento é geralmente aberto, o que permite a obtenção de material adequado, além de
preservar a orientação das fibras musculares;
Achados histológicos comuns à DM e PM incluem necrose da fibra muscular, degeneração e
regeneração e infiltrado de células inflamatórias mononucleares;
A DM é considerada uma desordem mediada pela imunidade humoral, em que a lesão primária
localiza-se nos vasos sanguíneos;
Os componentes terminais do complemento – o complexo de ataque à membrana (C5b-9) – são
detectados na parede vascular antes do aparecimento de um infiltrado inflamatório rico em linfócitos
B e linfócitos T CD4+, presente na região perivascular ou nos septos interfasciculares;
Microscópio atrofia perifascicular, decorrente da isquemia proporcionada pela obstrução dos
capilares é diagnóstico de DM mesmo na ausência de inflamação;
Na PM, o infiltrado celular localiza-se no interior do fascículo, com as células inflamatórias
invadindo as fibras musculares saudáveis individuais não existem sinais de comprometimento
vascular nem deposição de imunocomplexos, ou seja, a inflamação é dita "primária";
A lesão da PM é mediada pela imunidade celular, com os linfócitos T CD8+ reconhecendo e
destruindo determinados antígenos localizados na superfície do sarcolema;
Observa-se, por meio da imunofluorescência uma grande expressão do MHC classe I na
superfície dos miócitos, o que não acontece nas células de pacientes sem miopatia inflamatória;
A biópsia de pele pode ajudar no diagnóstico de dermatomiosite, mostrando uma atrofia leve da
epiderme, com alterações vacuolares na camada de queratinócitos e presença de infiltrado linfoide
perivascular;
A análise pela imunofluorescência revela dermatite de interface, indistinguível da encontrada no
LES, e complexos de ataque na junção epiderme/ derme e nas paredes dos vasos da derme.
Ressonância magnética (RM) e ressonância magnética com espectroscopia (RME)
São métodos recentes e promissores empregados para a análise de doenças musculares;
A RM pode demonstrar áreas de inflamação muscular, edema com miosite em atividade, fibrose e
calcificação;
A RM pode ser repetida em intervalos predeterminados para avaliar o curso da doença e resposta à
terapia;
Esse exame detecta com segurança grandes áreas de comprometimento muscular, o que facilita
muito a realização de biópsias de regiões acometidas;
A RME avalia metabolismo muscular. Em casos de miosite, a geração de compostos de alta energia
no músculo, como a fosfocreatina, encontra-se reduzida, sendo essa alteração detectada pelo exame.
Diagnóstico
A existência da doença é provável quando encontramos todos os achados característicos de uma
miopatia inflamatória mas a biópsia muscular não é confirmatória exemplo três dentre quatro
critérios (biópsia negativa) em indivíduos com suspeita de PM;
O diagnóstico de PM é definitivo se o paciente apresentar um quadro clínico característico
(preenchendo os critérios de exclusão para outras doenças), níveis de CK elevados e a biópsia
muscular positiva;
O diagnóstico de DM é definitivo nas mesmas condições citadas acima. Entretanto a presença do
rash cutâneo típico indica a existência da doença mesmo em casos de biópsia muscular não
evidenciando inflamação, uma situação incomum;
Apesar de não fazer parte dos critérios tradicionais, o encontro dos autoanticorpos miosite-
específicos ajuda a fortalecer o diagnóstico de miosite inflamatória idiopática.
Diagnóstico diferencial
Fraqueza muscular proximal e lesões dermatológicas características de DM não existe
praticamente nenhuma outra doença a ser considerada no diagnóstico diferencial;
Por outro lado, em pacientes com suspeita clínica de PM, algumas patologias necessitam ser
afastadas para que o diagnóstico se faça de uma maneira correta;
a) Miastenia Gravis (MG)
Desordem autoimune adquirida desencadeada pela produção de anticorpos contra receptores de
acetilcolina na placa motora;
As manifestações clínicas incluem fraqueza muscular proximal e, ao contrário das miopatias, a
musculatura facial e ocular extrínseca encontram-se envolvidas na maioria dos casos;
A fraqueza caracteristicamente piora ao longo do dia com a utilização repetida da musculatura;
Os achados nos exames complementares incluem níveis de enzimas musculares normais (a fibra
muscular está íntegra);
O achado típico à EMG de resposta decremental dos potenciais de ação muscular e presença de
anticorpos contra receptores da acetilcolina (presentes em 80% dos casos), que podem ser titulados
no plasma;
O teste do edrofônio, com a administração do inibidor da acetilcolinesterase, também pode ser
realizado, sendo positivo quando há melhora sintomatológica.
b) Síndrome miastênica de Eaton-Lambert
Desordem paraneoplásica (oat cell – pulmão), ocorre em homens acima dos 40 anos e tem em sua
patogênese a produção de autoanticorpos;
Essas imunoglobulinas são responsáveis pela redução de canais de cálcio (sensível à voltagem) na
porção terminal do neurônio motor;
Normalmente, quando esses canais são ativados, o cálcio penetra no citoplasma da célula neuronal e
tem função importante na extrusão de vesículas ricas em acetilcolina;
Os músculos proximais são comprometidos, com os membros inferiores afetados em maior
intensidade, apresentando a típica melhora da força muscular com o uso repetitivo;
Manifestações autonômicas ocorrem com frequência (sudorese excessiva, hipotensão, impotência,
alteração de reflexos pupilares, etc.);
Os achados oculares (especialmente a ptose) são menos intensos e frequentes do que na MG;
A EMG revela um potencial de amplitude muito baixa que, após estímulos repetitivos (10 Hz),
alcança níveis dentro da normalidade (resposta incremental).
c) Doença do neurônio motor (esclerose lateral amiotrófica)
Patologia neurológica;
Apresentação única o comprometimento concomitante do 1º e 2º neurônios motores;
Fraqueza muscular proximal e disfagia podem estar presentes, entretanto a fraqueza muscular distal é
mais comum do que a proximal, e existem sinais associados compatíveis com doença do neurônio
motor superior (espasticidade, hiper-reflexia e sinal de Babinski);
A EMG não demonstra um padrão miopático e as enzimas musculares são geralmente normais,
embora eventualmente possam ser encontrados valores bastante elevados.
d) Hipotireoidismo
Um comprometimento muscular afetando grupamentos proximais pode ser encontrado em algumas
doenças endócrinas, com destaque para o hipotireoidismo;
Em alguns casos, uma fraqueza muscular simétrica e proximal com elevação da CK desenvolve-se;
Nessa situação, a coexistência de um quadro clínico de hipotireoidismo, incluindo uma lentificação
na fase de relaxamento de reflexos tendinosos profundos, pele fria e seca, bradicardia, entre outros;
Uma EMG normal e uma ausência de inflamação na biópsia do músculo nos auxiliam na
diferenciação com a PM;
Outras endocrinopatias que estão associadas com miopatia incluem: hipercortisolismo,
hiper/hipoparatireoidismo e hipertireoidismo.
Observações
É importante termos em mente que uma elevação dos níveis de CK (no entanto, não maior que dez
vezes o valor normal) pode preceder em alguns anos as manifestações clínicas do hipotireoidismo
(inclusive os sintomas musculares);
Dessa forma, essa condição deve ser pesquisada, através de exames laboratoriais, em todo indivíduo
com aumentos isolados e inexplicáveis da enzima;
As distrofias musculares também devem ser incluídas no diagnóstico diferencial das miopatias inf
lamatórias, embora esses distúrbios surjam lentamente ao longo de anos em vez de semanas a meses
e raramente se manifestam após 30 anos de idade;
Contudo, existem algumas distrofias de evolução rápida, como a distrofia muscular
facioescapuloumeral, miopatia por disferlina e nas distrofinopatias, que podem até apresentar
infiltrados inflamatórios precocemente;
Nos casos duvidosos pode-se fazer uma prova terapêutica com glicocorticoides.
e) Distrofia muscular de Duchenne
Desordem autossômica recessiva ligada ao cromossoma X, que ocorre por mutações em um gene
responsável por codificar a molécula de distrofina;
É de fundamental importância para conferir estabilidade ao sarcolema (membrana da célula muscular
esquelética);
Enfraquecimento do sarcolema e lesões em sua estrutura, condições que propiciam uma série de
eventos intracelulares que acabam levando à necrose da fibra muscular;
A doença afeta meninos e o início dos sintomas gira em torno dos três a cinco anos, apesar de uma
CK elevada (20 a 100 vezes o valor de referência) ser encontrada ao nascimento;
A criança sofre quedas frequentes quando brinca com seus colegas e, por volta dos cinco anos, uma
fraqueza muscular é observada ao exame clínico;
Ao levantar-se do chão a criança usa suas mãos para ajudá-la a erguer-se manobra de Gower;
Uma postura lordótica e o caminhar nas pontas dos dedos se devem a contraturas do tornozelo e
iliotibiais;
O comprometimento muscular inicialmente é proximal, com predileção pelos membros inferiores,
afetando também a musculatura flexora do pescoço;
Em torno dos oito anos os pacientes utilizam "andadores" e aos 12 anos encontram-se restritos à
cadeira de roda;
A morte, por complicações respiratórias, ocorre ao fim da segunda década (18 anos). Os níveis de
CK encontram-se elevados desde o nascimento, com diminuição progressiva com o agravamento da
atrofia muscular;
O Quociente de Inteligência (QI) é diminuído em cerca de um desvio padrão da média; a presença de
miocardiopatia é quase universal, porém raramente sintomático;
A distrofia de Duchenne pode ser confundida em suas fases iniciais com os raríssimos casos de PM
da infância, uma vez que a DM apresenta lesões cutâneas características;
Entretanto uma história familiar compatível, a ausência de manifestações sistêmicas e o
comprometimento progressivo são elementos mais característicos da distrofia;
O diagnóstico é realizado através da biópsia muscular que evidencia a deficiência de distrofina ou
através da análise genética de leucócitos periféricos, que identifica a mutação do gene;
f) Miopatia ocasionada por determinadas drogas
Como a penicilamina e a colchicina, pode mimetizar uma apresentação típica de PM, com fraqueza
muscular de início subagudo somada à elevação de enzimas musculares;
Um início agudo e fulminante de miosite, com presença de rabdomiólise e mioglobinúria, pode
seguir-se ao uso de cocaína, heroína e combinações de drogas (fibratos e inibidores da HMG-CoA
redutase). Entretanto essa apresentação da doença é muito rara em pacientes com PM.
g) HIV
Em pacientes infectados com o vírus HIV, manifestações de fraqueza muscular podem ser de difícil
interpretação;
Uma miopatia inflamatória idêntica à PM pode ocorrer. Nessa situação, o tratamento envolve a
administração de esteroides em doses imunossupressoras, um risco para esses pacientes.
h) Miofasciíte macrofágica
É uma doença que recentemente foi descrita na Europa. Os pacientes apresentam-se com mialgias
difusas, fadiga e fraqueza muscular branda e a CK encontra-se elevada em metade dos casos;
A cintigrafia com gálio revela captação no músculo, fáscia e áreas periarticulares, sobretudo nos
membros inferiores;
A biópsia revela macrófagos PAS positivos infiltrando o tecido conjuntivo em torno do músculo
(epimísio, perimísio e endomísio). O envolvimento histológico é focal e em áreas de vacinação
prévia, podendo esta ter ocorrido meses ou anos antes;
Essa desordem tem sido correlacionada a um substrato contendo alumínio usado na preparação das
vacinas.
Tratamento
A base terapêutica das miopatias inflamatórias idiopáticas consiste na associação de
imunossupressão farmacológica com a prática de atividades físicas supervisionadas e personalizadas;
Drogas de primeira escolha glicocorticoides, com preferência pela prednisona oral na dose de
0,75 a 1-2 mg/kg/dia, por um mínimo de 4 a 12 semanas (resposta clínica em cerca de 75% das
vezes);
Quadros que abrem fulminantes fraqueza da musculatura diafragmática e insuficiência
ventilatória devem ser tratados com pulsoterapia de metilprednisolona (1 g/dia IV por três dias);
Nos dias de hoje inicia-se junto com o glicocorticoide um outro imunossupressor de início de
ação mais lento, com o intuito de aumentar a eficácia terapêutica e garantir o futuro desmame do
corticoide;
A escolha deste segundo imunossupressor depende da presença ou não de pneumopatia intersticial
associada (ver adiante). Vale lembrar que a MCI tende a apresentar uma pior resposta à
corticoterapia em comparação com as demais miopatias inflamatórias;
Em todos os casos de tratamento prolongado com glicocorticoides deve ser instituída a
quimioprofilaxia contra a osteoporose induzida por essas drogas, prescrevendo-se cálcio 1,2 g/dia +
vitamina D 800 UI/dia + bisfosfonatos em dose profilática (ex.: alendronato 35 mg/semana);
O uso prolongado de glicocorticoides também pode agravar a fraqueza muscular (com níveis de CK
dentro da normalidade ou inalterados), condição que chamamos de miopatia induzida por esteroides;
Neste contexto, a dosagem de CK se torna muito útil para diferenciar a miopatia dos esteroides da
recidiva da doença Na presença de piora da fraqueza (após melhora inicial) com níveis
enzimáticos normais ou inalterados, uma redução empírica na dose de prednisona deve ser tentada;
Quando o paciente não apresenta sinais de pneumopatia intersticial, o segundo imunossupressor pode
ser a azatioprina (2 mg/kg/dia) ou o metotrexato (15-25 mg/semana, junto com ácido fólico para
diminuir a chance de toxicidade);
Pacientes que não respondem à azatioprina podem tentar o metotrexato e vice-versa;
Se houver pneumopatia intersticial, o tratamento deve ser iniciado com ciclofosfamida (2 mg/kg/dia)
ou ciclosporina A (3-5 mg/kg/dia) ou tacrolimus (0,075 mg/kg/ dia);
O melhor critério de resposta clínica, que permite dar início ao desmame dos imunossupressores é
a recuperação da força muscular;
Os níveis de CK e outras enzimas musculares não são tão fidedignos a ponto de orientarem o
tratamento;
acientes que não apresentam qualquer sinal de melhora após 3-6 meses de tratamento com
determinado imunossupressor devem ter aquele fármaco completamente desmamado, pois o mesmo
não será eficaz;
Quando a doença se mostra verdadeiramente refratária Nos pacientes sem pneumopatia
associada, pode-se combinar metotrexato com azatioprina O micofenolato também vem sendo
usado em tal situação. Outra opção é o emprego de imunoglobulina humana intravenosa em altas
doses;
O benefício da imunoglobulina é temporário, sendo necessária a readministração periódica deste
caríssimo hemocomponente;
A mais recente novidade no tratamento das miopatias inflamatória idiopáticas é a depleção de
linfócitos B com o uso do anticorpo monoclonal anti-CD20, o rituximabe;
O papel de agentes anti-TNF-alfa, como o infliximabe, está sendo estudado.