Patologização e Medicalização Tdah
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net/publication/288182003
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All content following this page was uploaded by Dionéia Motta Monte-Serrat or Monte Serrat on 26 December 2015.
Abstract: The aim of this paper is to pinpoint some aspects on discursive theory related
to school failure of children diagnosed with Attention Deficit Hyperactivity Disorder
which make use of Ritalin. We analyze the concepts of pathologizing and childish
medicalization in order to evaluate the medical discourse that offers the corresponding
"solution" on ADHD.
Keywords: Medical discourse. School failure. Pathologizing. ADHD
Introdução
Qualquer pessoa que tenha certo contato com o universo escolar, ou mesmo com
pais de filhos em idade escolar, pôde observar nos últimos anos o nascimento e a
instauração de uma “certeza” sobre o aumento da frequência de casos de crianças
1
Jornalista pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP. Graduanda em
Letras pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas/SP, Brasil. Email:
[email protected]
2
Professora Colaboradora IEL-UNICAMP; Doutora em Psicologia (FFCLRP-USP); Professora
Assistente B1 (Universidade de Ribeirão Preto). Doutorado Sanduíche Sorbonne Nouvelle, Paris 3, 2010;
Estágio EHESS, Paris, 2012. CAPES, FAPESP, CNPq. Email: [email protected]
diagnosticadas com algum tipo de transtorno que dificulta o aprendizado. O discurso
médico tornou “nítida” a causa dessa dificuldade no aprendizado, entre elas, a mais
comum é o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, ou simplesmente
TDAH. De repente, aspectos normais da vida humana - como distração, dificuldade em
organizar tarefas, falar bastante -, foram deslocados para a singularidade de um “aluno
doente”. Uma simples busca pelo termo TDAH na internet dá a dimensão de quanto o
assunto está na ordem do dia, provocando a mobilização de pais, profissionais da saúde
e educadores, que pretendem alertar sobre o “problema” e indicar “tratamento”.
Entretanto, uma perspectiva crítica do discurso que gira em torno do assunto permite
observar as controvérsias que envolvem o diagnóstico do TDAH e, também, os
prejuízos que esse “tratamento” pode trazer para uma criança.
Nosso objetivo é analisar, segundo a teoria do Discurso (FOUCAULT,
[1963]1977), os sentidos que circulam, no contexto sócio-histórico, a respeito das
crescentes dificuldades enfrentadas pela escola com a consequente ampliação do
diagnóstico de TDAH e o aumento da patologização e medicalização infantil,
observando, especificamente, o incremento do consumo da Ritalina, nome comercial do
metilfenidato. Quanto à noção de patologização, nos baseamos no trabalho de Antonio
(2011), filiado à perspectiva da Neurolinguística Discursiva; e, quanto ao conceito de
medicalização, no estudo de Gaudenzi e Ortega (2011), em como se apropriaram da
interpretação de Foucault a respeito do assunto.
3
http://www.abdatdah.org/br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah.html acesso em 16/06/2015
razões já apontadas, o medicamentoso. Dessa forma, remediando a sua
inquietação, mais uma vez camuflando todas as outras questões
envolvidas. (SILVA et al. 2012, p. 49)
Uma das consequências dessa forma genérica com que os sintomas são descritos
é a apropriação do discurso médico pela instituição escolar. Estão disponíveis na
internet os mais diversos tipos de materiais, como cartilhas4 e testes, voltados para
educadores com o intuito de “treinar” os professores a identificar o TDAH. Um
exemplo é a cartilha TDAH: uma conversa com educadores5, que tem como objetivo
principal “fornecer informações importantes sobre TDAH que possam auxiliar o
professor e demais profissionais envolvidos na arte de educar para que consigam
identificar os sintomas e as características do TDAH”. Esse material explica como o
diagnóstico deve ser feito, reiterando que ele é exclusivamente clínico, e que deve ser
realizado a partir de entrevistas com a criança, com os pais e do levantamento de
informações sobre a vida escolar da criança.
Sendo assim, o diagnóstico do transtorno de ser feito com base nas descrições
dos manuais de classificação como o DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística da
Associação Psiquiátrica Americana) e o CID-10 (Classificação Estatística Internacional
de Doenças da Organização Mundial da Saúde). Deve obedecer a uma série de critérios
de ocorrência e frequência.
Entre os alertas sobre a necessidade de atenção na identificação dos sintomas, a
cartilha apresenta, de um modo bastante simplista, quadros que exemplificam a
ocorrência desses sintomas em sala de aula, o que pode levar, facilmente, a equívocos.
4
http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/cartilhas-sobre-tdah.html acesso em 17/06/2015
5
http://www.tdah.org.br/images/stories/site/pdf/tdah_uma_conversa_com_educadores.pdf acesso em
17/06/2015
Para ilustrar essa situação, reproduzimos abaixo recortes desses quadros:
Figura 01: Recorte da Tabela 1 da Cartilha TDAH: uma conversa com educadores.
Figura 02: Recorte da Tabela 1 da Cartilha TDAH: uma conversa com educadores.
Optamos neste estudo pela utilização das informações fornecidas pelo Boletim
de Farmacoepidemiologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
segundo o qual o TDAH afeta de 8 a 12% das crianças do mundo. No Brasil, de acordo
com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), esse número varia de 5 a
8%.
O citado Boletim fez um levantamento, em 2013, a partir dos registros do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), e apontou para
um aumento de 75% no consumo do metilfenidato por crianças de 6 a 16 anos, entre os
anos de 2009 e 2011. Esse resultado reflete uma ampliação do diagnóstico de TDAH e o
avanço do tratamento medicamentoso para o transtorno.
A Ritalina, nome comercial do metilfenidato, é o principal medicamento
utilizado no tratamento do TDAH.
Sendo um estimulante da família das anfetaminas (como a cocaína), se
consumida em certa dosagem, defende-se que auxiliaria no
desempenho de tarefas escolares e acadêmicas, pois aumenta a
atividade das funções executivas, aumentando a concentração além de
atuar como atenuador da fadiga.(ITABORAHY, 2009, apud SILVA et
al. 2012, p. 46)
6 Mattos, P. et al. Adaptação Transcultural para o Português da Escala Adult Self-ReportScale (ASRS-18,
versão1.1) para avaliação de sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH) em
adultos. Revista Brasileira de Psiquiatria (in press).
Figura 04: Recorte do questionário ASRS-18 desenvolvido por pesquisadores em
colaboração com a Organização Mundial de Saúde.
Referências Bibliográficas