O Positivismo
O Positivismo
O Positivismo
Comte
Características Gerais do Positivismo
A Humanidade
Características Gerais do
Positivismo
Ao idealismo da primeira metade do século XIX se segue o positivismo, que
ocupa, mais ou menos, a segunda metade do mesmo século, espalhado em todo
o mundo civilizado. O positivismo representa uma reação contra o apriorismo, o
formalismo, o idealismo, exigindo maior respeito para a experiência e os dados
positivos. Entretanto, o positivismo fica no mesmo âmbito imanentista do idealismo
e do pensamento moderno em geral, defendendo, mais ou menos, o absoluto do
fenômeno. "O fato é divino", dizia Ardigò. A diferença fundamental entre idealismo
e positivismo é a seguinte: o primeiro procura uma interpretação, uma unificação
da experiência mediante a razão; o segundo, ao contrário, quer limitar-se à
experiência imediata, pura, sensível, como já fizera o empirismo. Daí a sua
pobreza filosófica, mas também o seu maior valor como descrição e análise
objetiva da experiência - através da história e da ciência - com respeito ao
idealismo, que alterava a experiência, a ciência e a história. Dada essa
objetividade da ciência e da história do pensamento positivista, compreende-se
porque elas são fecundas no campo prático, técnico, aplicado.
É em outubro de 1844 que se situa o segundo encontro capital que vai marcar
uma reviravolta na filosofia de Augusto Comte. Trata-se da irmã de um de seus
alunos, Clotilde de Vaux, esposa abandonada de um cobrador de impostos (que
fugira para a Bélgica após algumas irregularidades financeiras). Na primavera de
1845, nosso filósofo de 47 anos declara a esta mulher de 30 seu amor fervoroso.
"Eu a considero como minha única e verdadeira esposa não apenas futura, mas
atual e eterna". Clotilde oferece-lhe sua amizade. É o "ano sem par" que termina
com a morte de Clotilde a 6 de abril de 1846. Comte sente então sua razão vacilar,
mas entrega-se corajosamente ao trabalho. Entre 1851 e 1854 aparecem os
enormes volumes do Sistema de política positiva ou Tratado de sociologia que
intitui a religião da humanidade. O último volume sobre o Futuro humano prevê
uma reformulação total da obra sob o título de Síntese Subjetiva. Desde 1847
Comte proclamou-se grande sacerdote da Religião da Humanidade. Institui o
"Calendário positivista" (cujos santos são os grandes pensadores da história), forja
divisas "Ordem e Progresso", "Viver para o próximo"; "O amor por princípio, a
ordem por base, o progresso por fim", funda numerosas igrejas positivistas (ainda
existem algumas como exemplo no Brasil). Ele morre em 1857 após ter anunciado
que "antes do ano de 1860" pregaria "o positivismo em Notre-Dame como a única
religião real e completas".
Comte partiu de uma crítica científica da teologia para terminar como profeta.
Compreende-se que alguns tenham contestado a unidade de sua doutrina,
notadamente seu discípulo Littré, que em 1851 abandona a sociedade positivista.
Littré - autor do célebre Dicionário, divulgador do positivismo nos artigos do
Nacional - aceita o que ele chama a primeira filosofia de Augusto Comte e vê na
segunda uma espécie de delírio político-religioso, inspirado pelo amor platônico do
filósofo por Clotilde.
(¹) Comte, afirmando vigorosamente a unidade de seu sistema, reconhece que houve duas
carreiras em sua vida. Na primeira, diz ele sem falsa modéstia, ele foi Aristóteles e na segunda será
São Paulo.
Acrescentemos que para Augusto Comte a lei dos três estados não é somente
verdadeira para a história da nossa espécie, ela o é também para o
desenvolvimento de cada indivíduo. A criança dá explicações teológicas, o
adolescente é metafísico, ao passo que o adulto chega a uma concepção
"positivista" das coisas.
(²) São igualmente metafísicas as tentativas de explicação dos fatos biológicos que partem do
"princípio vital", assim como as explicações das condutas humanas que partem da noção de "alma".
Nota-se, enfim, que a psicologia não figura nesta classificação. Para Comte o
objeto da psicologia pode ser repartido sem prejuízo entre a biologia e a
sociologia.
A Humanidade
A última das ciências que Comte chamara primeiramente física social, e para
a qual depois inventou o nome de sociologia reveste-se de importância capital. Um
dos melhores comentadores de Comte, Levy-Bruhl, tem razão de sublinhar: "A
criação da ciência social é o momento decisivo na filosofia de Comte. Dela
tudo parte, a ela tudo se reduz". Nela irão se reunir o positivismo religioso, a
história do conhecimento e a política positiva. É refletindo sobre a sociologia
positiva que compreenderemos que as duas doutrinas de Comte são apenas uma.
Enfim, e sobretudo, é a criação da sociologia que, permitindo aquilo que Kant
denominava uma "totalização da experiência", nos faz compreender o que é, para
Comte, fundamentalmente, a própria filosofia.
(³) Comte rejeita como metafísica a doutrina dos direitos do homem e da liberdade. Assim
como "não há liberdade de consciência em astronomia", assim uma política verdadeiramente
científica pode impor suas conclusões. Aqueles que não compreenderem terão que se submeter
cegamente (esta submissão será o equivalente da fé na religião positivista).