SILVANA ANDRADE DOS SANTOS PRi4XQV
SILVANA ANDRADE DOS SANTOS PRi4XQV
SILVANA ANDRADE DOS SANTOS PRi4XQV
INSTITUTO DE HISTÓRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
NITERÓI
2020
SILVANA ANDRADE DOS SANTOS
Orientador:
Prof. Dr. Luiz Fernando Saraiva
Niterói
2020
SILVANA ANDRADE DOS SANTOS
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Fernando Saraiva - UFF
Orientador
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Hebe Maria da Costa Mattos Gomes de Castro - UFF
Arguidora
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Keila Grinberg – Unirio
Arguidora
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Rafael de Bivar Marquese - USP
Arguidor
______________________________________________________________________
Prof. Dr. Walter Luiz Carneiro de Mattos Pereira
Niterói, RJ
2020
Para painho e mainha.
AGRADECIMENTOS
This thesis deals with the relationship between the emergence and functioning of
manufacturing industries in Brazil in the 19th century, the transatlantic slave trade and
the slavery, based on the case of the textile factory Todos os Santos. This factory, built
in Bahia in the mid-1840s, had been the largest establishment of its nature in the Empire
during the entire period in which it was active. We began the work addressing the
trajectory of the partners of the firm Lacerda e Cia, founded in 1844, and owner of the
factory during the first phase of its existence (1844-1860): the portuguese, naturalized
brazilian, Antonio Francisco de Lacerda, the american John Smith Gillmer and Antonio
Pedrozo de Albuquerque from Rio Grande do Sul (who, in addition, would become the
individual owner of the factory in its second phase, after the dissolution of the firm,
from 1860 to 1878). We seek to analyze the formation, consolidation and diversification
of the fortunes of these subjects, seeking to highlight the role that their participation in
the legal and illegal transatlantic slave trade to Brazil in the 19th century had in their
businesses. Thus, we aim to demonstrate that the capital that gave rise to the Todos os
Santos factory was accumulated in the illegal slave trade. In the second part of the work,
we analyzed the process of establishing the factory in Valença (Bahia), as well as its
operation. In this way, we approach the role of the american engineer John Monteiro
Carson in the business, the choice of the location for the factory installation and the
search for subsidies for the establishment. Finally, we deal with its infrastructure, labor,
raw material and destination of the goods, seeking to draw attention to the fact that
Todos Santos also employed slave labor, in addition to having its production geared to
the demands of brazilian slave society.
INTRODUÇÃO.................................................................................................... 15
PARTE I – A SOCIEDADE LACERDA E CIA............................................... 40
1. ANTONIO PEDROZO DE ALBUQUERQUE: “PRIMEIRO
CAPITALISTA DO NORTE DO IMPÉRIO”.................................................. 41
1. 1. Formação e consolidação da fortuna.......................................................... 41
1. 1. 1. Do Rio Pardo à Bahia............................................................................... 41
1. 1. 2. “O criminoso comércio da moeda de cobre e o bárbaro tráfico de
africanos”.............................................................................................................. 56
1. 2. Diversificação de investimentos.................................................................. 69
1. 3. Considerações parciais................................................................................ 80
2. O NEGOCIANTE ANTONIO FRANCISCO DE LACERDA: “CUJA
RIQUEZA É TÃO POSSANTE QUANDO SE PODE CALCULAR”........... 82
2. 1. Formação e consolidação da fortuna.......................................................... 82
2. 2. Diversificação de investimentos.................................................................. 93
2. 3. Considerações parciais................................................................................ 114
3. JOHN SMITH GILLMER: “UM HOMEM QUE, BEM QUE
AMERICANO, TEM MOSTRADO O MAIOR ZELO PELA
PROSPERIDADE DA BAHIA”......................................................................... 116
3. 1. Formação e consolidação da fortuna.......................................................... 116
3.1.1. Inserção na economia brasileira................................................................. 116
3. 1. 2. Um cidadão estadunidense no contrabando negreiro para o Brasil......... 128
3. 2. Diversificação de investimentos.................................................................. 137
3. 3. Considerações parciais................................................................................ 145
PARTE II – A FÁBRICA TODOS OS SANTOS............................................. 147
4. “A FÁBRICA DE TECIDOS DE ALGODÃO QUE VAI SE
ESTABELECER NO DISTRITO DA VILA DE VALENÇA”....................... 148
4. 1. “Um famoso engenheiro americano”: o senhor John Monteiro Carson 148
4. 2. “O estabelecimento desta grande fábrica”................................................ 156
4. 3. Considerações parciais................................................................................ 173
5. TODOS OS SANTOS: “A MAIS BELA FÁBRICA DO BRASIL - E
TALVEZ DA AMÉRICA DO SUL”.................................................................. 175
5. 1. Primeira fase: Companhia Lacerda e Cia (1844-1860)............................ 175
5. 2. Segunda fase: A era Pedrozo (1860-1878).................................................. 202
5. 3. Considerações parciais................................................................................ 222
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 224
FONTES................................................................................................................ 229
REFERÊNCIAS................................................................................................... 243
APÊNDICES......................................................................................................... 259
GLOSSÁRIO........................................................................................................ 269
15
INTRODUÇÃO
1
―Valença desde 1844‖. Cf.: Companhia Valença Industrial. Disponível em: http://valenca.com.br/.
Acesso em: 14 de outubro de 2019.
2
O território do Baixo Sul é composto por 14 municípios: Cairu, Camamu, Ibirapitanga, Igrapiúna,
Ituberá, Maraú, Nilo Peçanha, Piraí do Norte, Presidente Tancredo Neves, Taperoá, Teolândia e Valença.
Estes municípios tiveram como origem comum as vilas de Camamu, Cairu e Boipeba, ―vilas de baixo‖,
outrora integrantes da capitania de Ilhéus. Cf.: FISCHER, Fernando (Org.). Baixo Sul da Bahia: uma
proposta de desenvolvimento territorial. Salvador: CIAGS/UFBA, 2007. DIAS, Marcelo Henrique.
Economia, sociedade e paisagens da capitania e comarca de Ilhéus no período colonial. Tese (Doutorado
em História). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2007.
3
Como mencionado, a fábrica Todos os Santos foi fundada em 1844 e a Nossa Senhora do Amparo em
1860. Em 1883, a Todos os Santos foi comprada por Moreira, Oliveira e Companhia (firma pertencente a
José Pinto da Silva Moreira e Domingos Gonçalves Oliveira). Quatro anos depois da aquisição, em 1887,
Moreira, Oliveira e Companhia fundariam a Empresa Valença Industrial, que englobava ambas as
fábricas, assim como toda infraestrutura a elas pertencente. Em 1899, a Empresa Valença Industrial foi
transformada em sociedade anônima, sob a denominação de Companhia Valença Industrial. Desde 1997 a
Companhia é dirigida pelo Grupo Mario Araripe. Cf.: PAIXÃO, Neli Ramos. Ao soar do apito da
fábrica: idas e vindas de operárias(os) têxteis em Valença-Bahia (1950-1980). Dissertação. Salvador:
Universidade Federal da Bahia, 2006. p. 39. FELÍCIO, Nilceanne Nogueira Lima. As fábricas têxteis do
rio Una: história sobre trabalho e indústria em Valença-Bahia (1844-1887). Dissertação (Mestrado em
História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2018. p. 40. VALENÇA através dos tempos. In:
Companhia Valença Industrial. Disponível em: http://valenca.com.br/nossa-historia/. Acesso em: 12 de
fevereiro de 2020.
4
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Valença. Disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/valenca/historico. Acesso em: 10 de dezembro de 2019.
16
Nota-se, assim, que, para Edgar Oliveira, o fato de a Todos os Santos ser a maior fábrica
têxtil do Brasil estava associado ao emprego de mão de obra assalariada e às políticas de
amparo social por ela fornecida aos seus trabalhadores.
Quatro anos antes, em publicação comemorativa dos 161 anos da CVI, o mesmo
autor havia ressaltado a prática ―corporativista e humanitária‖ que a Companhia teria
assumido desde o 1844, em virtude de fornecer aos operários moradia, formação
educacional e lazer, entre outros. Na obra, Edgar Oliveira também deu ênfase para o que
considerou ser uma postura ―eqüitativa em relação ao gênero‖, dado ao emprego pelo
estabelecimento de trabalhadoras do sexo feminino ―numa sociedade que discrimina a
mulher‖7 apresentando, assim, uma interpretação distorcida das experiências das
mulheres operárias, como se o emprego de mão de obra feminina representasse por si só
um avanço social para o gênero, e não mais uma forma de dominação deste.
5
PAIXÃO, Neli Ramos. Ao soar do apito da fábrica... op. cit. p. 41.
6
OLIVEIRA, Edgar Otacílio da Silva. Valença: Dos primórdios a contemporaneidade. 2. ed. Valença/
Ba: FACE, 2009. p. 78.
7
Idem. Companhia Valença Industrial: 161 anos de uma profunda relação social com a cidade de
Valença. Valença/ Ba: [Impresso] Faculdade de Ciências Educacionais, 2005. p. 6.
17
8
VALENÇA através dos tempos. In: Companhia Valença Industrial. Disponível em:
http://valenca.com.br/nossa-historia/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.
9
Ao longo deste trabalho, optamos por empregar as expressões ―tráfico‖ e ―comércio negreiro‖ para
designar o comércio transatlântico de escravos de forma genérica ou em referência ao comércio
transatlântico de escravos durante o período em que a atividade era permitida. Em referência ao comércio
transatlântico ilegal de escravos, notadamente após a proibição deste, em 7 de novembro de 1831, e às
práticas ilegais durante a era da legalidade, empregamos os termos ―contrabando‖, ―tráfico ilegal‖ ou
―tráfico ilícito‖. Como a historiografia tem demonstrado, até a década de 1840 a palavra tráfico, assim
como tráfego ou trato, era utilizada predominantemente para designar atividades comerciais lícitas e
legítimas. Apenas a partir da década de 1870 a palavra passaria a ser utilizada amplamente como
sinônimo de negócio fraudulento. Cf.: BEZERRA NETO, José Maia. Uma história do tráfico em
verbetes: etimologia e história conceitual do tráfico a partir dos dicionários. In: Revista Estudos
Amazônicos. v. 4, n. 1, 2009, p. 99-115. Disponível em:
http://www.ufpa.br/pphist/estudosamazonicos/arquivos/artigos/4%20-%20IV%20-%201%20-
%202009%20-%20JM%20Bezerra%20Neto.pdf. Acesso em: 28 de abril de 2018.
18
Um dos maiores registros existentes até então sobre a participação dos sócios da
firma Lacerda e Cia no tráfico, feito em cinco parágrafos, está contido na obra A
industrial cidade de Valença: um surto de industrialização na Bahia do século XIX de
Waldir Freitas Oliveira (publicada em 1985 e ainda hoje uma das principais referências
existentes sobre as fábricas têxteis de Valença). Apesar de mencionar a atuação de
Antonio Francisco de Lacerda e Antonio Pedrozo de Albuquerque no tráfico, o autor
não estabelece qualquer relação entre este e a fábrica (ele aparece como apenas mais
uma, entre tantas outras atividades nas quais os empresários estiveram envolvidos)10.
Além disso, nenhuma menção é feita na obra sobre a existência de escravos na Todos os
Santos.
Enquanto isso, Neli Paixão, na dissertação anteriormente mencionada, intitulada
Ao soar do apito da fábrica: idas e vindas de operárias (os) têxteis em Valença-Bahia
(1950-1980) e defendida em 2006, cita apenas uma vez a atuação de Antonio Francisco
de Lacerda e Antonio Pedrozo de Albuquerque no tráfico. A autora também aponta para
o emprego dos tecidos da fábrica na confecção de sacaria para produtos de exportação e
roupas para escravos, mas não faz qualquer referência à existência de escravos no
estabelecimento11.
Da mesma forma, Daniel Rebouças, em seu livro Indústrias na Bahia: um olhar
sobre história, publicado em 2016, cita apenas uma vez a atuação de Antonio Pedrozo
de Albuquerque e Antonio Francisco de Lacerda no comércio negreiro e também não
menciona o emprego de escravos na Todos os Santos. Assim como na obra de Waldir
Oliveira, nenhuma relação direta é estabelecida nos trabalhos de Neli Paixão e Daniel
Rebouças entre o tráfico e a fábrica.
Contudo, a dissertação de mestrado As fábricas têxteis do rio Una: história
sobre trabalho e indústria em Valença-Bahia (1844-1887), defendida por Nilceanne
Nogueira Lima Felício em 2018, avançou significativamente na discussão sobre a mão
de obra empregada na fábrica Todos os Santos, tanto apontando para a existência de
escravos no estabelecimento quanto problematizando os limites da liberdade dos
operários juridicamente livres. Ademais, Nilceanne Felício abordou o emprego da
produção da fábrica Todos os Santos na confecção de sacos para embalagem de gêneros
de exportação e de roupa de escravos, dedicando uma parte considerável do trabalho
10
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença: Um surto de industrialização na Bahia no
Século XIX. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1985. p. 58; 61.
11
PAIXÃO, Neli Ramos. Ao soar do apito da fábrica... op. cit. p. 28, 30 e 31.
19
12
FELÍCIO, Nilceanne Nogueira Lima. As fábricas têxteis do Rio Una... op. cit.
13
Cf.: SANTOS, Silvana Andrade dos. Nos terrenos arenosos e no infame comércio: os desdobramentos
do fim do tráfico transatlântico em Valença (Bahia, 1831-1866). Dissertação (Mestrado em História).
Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2016.
14
DIAS, Marcelo Henrique. Economia, sociedade... op. cit.
15
OLIVEIRA, Nora de Cassia Gomes de. Conselho Geral da Província: Espaço de experiência política
na Bahia 1828-1834. Tese (Doutorado em História). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017.
20
Optando, portanto, por sinalizar os elementos que tornavam a capital baiana mais
atrativa para este tipo de investimento do que por pensar sobre os fatores que fizeram a
Todos os Santos ser instalada em Valença.
Ao identificar a ocorrência de desembarques do contrabando negreiro na
comarca de Valença, constatamos que um elemento central para entender o surto
industrial e desenvolvimento econômico que teve início na localidade em meados do
16
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit.
17
OLIVEIRA, Nora de Cassia Gomes de. Conselho Geral da Província... op. cit. p. 52.
18
Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital Brasileira (doravante BN. HDB). MAPPA da população e dos
fogos da comarca de Valença. In: Falla que recitou o presidente da Provincia da Bahia, o
dezembargador conselheiro Francisco Gonçalves Martins, n'abertura da Assembléa Legislativa da
mesma Provincia em 4 de julho de 1849. Bahia, Typ. de Salvador Moitinho, 1849. Mapa SN.
19
PAIXÃO, Neli Ramos. Ao soar do apito da fábrica... op. cit. p. 32.
21
século XIX, o tráfico ilegal, estava totalmente ausente das análises até então existentes
sobre o tema. Neste sentido, demos início a uma problematização, na contramão dos
estudos existentes até então sobre a Todos os Santos, a respeito da dissociação desta o
sistema escravista (pelo fato dela empregar apenas mão de obra livre e assalariada,
afirmação que é completamente infundada), buscando evidenciar os vínculos existentes
entre eles, notadamente a partir do contrabando negreiro.
A associação entre o contrabando negreiro e o desenvolvimento de atividades
nos setores secundário e terciário da economia brasileira no século XIX é recorrente,
tanto na história quanto na historiografia. Contudo, em ambos os casos, a ênfase recai
sobre o encerramento definitivo do tráfico ilegal, ocorrido após a promulgação e efetivo
cumprimento da Lei 581, de 4 de setembro de 1850, conhecida como Lei Eusébio de
Queirós que, segundo estas, liberou grandes volumes de capitais os quais puderam ser
aplicados em outros setores da economia do país. Deste modo, nestas interpretações, os
impactos decorrentes da primeira lei nacional que proibia o comércio negreiro para o
Brasil (a lei de 7 de novembro de 1831, ou ―Lei Feijó‖), assim como do contrabando
existente de 1831 até meados da década de 1850, sobre a indústria do Império
receberam pouca ou nenhuma atenção.
Já em 1860, Sebastião Ferreira Soares registrou que parte dos capitais liberados
com o fim do contrabando negreiro para o Brasil havia sido empregada na fundação de
empresas20. Mas, em termos de registros históricos, exemplo clássico a respeito dos
efeitos decorrentes da Lei Eusébio de Queirós sobre a economia do Império é a
declaração feita pelo Visconde de Mauá em sua Exposição aos Credores de Mauá & C.
e ao público, no ano de 1878, na qual ele explicitou uma tomada de posição diante da
conjuntura de fim definitivo do contrabando negreiro, de reinvestimento de capitais
antes ligados ao tráfico em outras atividades:
[...] compreendi que o contrabando não podia reerguer-se, desde que a
vontade nacional estava ao lado do ministério que decretava a
supressão do tráfego.
Reunir os capitais, que se viam repentinamente deslocados do ilícito
comércio, e fazê-los convergir a um centro donde pudessem ir
alimentar as forças produtivas do país, foi o pensamento que me
surgiu na mente ao ter a certeza de que aquele fato era irrevogável21.
20
FERREIRA, Sebastião Soares. Notas estatísticas sobre a produção agricola e a carestia de generos
alimentícios no Imperio do Brazil. Rio de Janeiro: Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e Comp., 1960. p.
284; 307.
21
MAUÁ, Irineu Evangelista de Sousa (Visconde de). Exposição do visconde de Mauá aos Credores de
Mauá & C. e ao público. In: SILVA, Elisiane da. NEVES, Gervásio Rodrigues. MARTINS, Liana Bach
(Org.). Mauá: O desafio inovador numa sociedade arcaica. Brasília: Fundação Ulysses Guimarães, 2001.
22
22
STEIN, Stanley. Origens e Evolução da Indústria Têxtil no Brasil – 1850/9150. Rio de Janeiro: Editora
Campus LTDA, 1979. p. 23. A primeira edição do livro foi publicada pela Harvard Press University em
1957.
23
EL-KAREH, Almir Chaiban. Filha branca de mãe preta: A Companhia da Estrada de Ferro D. Pedro II
(1855-1865). Petrópolis: Vozes, 1982. p. 19-20.
23
28
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. p. 131.
29
Ibidem. p. 132.
30
SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira: Origens e desenvolvimento. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.
129. O nome aparece redigido, inicialmente, no texto de forma equivocada, como Antônio Rodrigo de
Albuquerque.
31
MATTOSO, Kátia. Bahia, século XIX: Uma Província no Império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1992. p. 470.
32
Ibidem.
25
33
BAIARDI, Almícar. SARAIVA, Luiz Fernando. ALMICO, Rita. Gênese e transformação das empresas
regionais: o Recôncavo Baiano. In: Revista do Centro de Artes, Humanidades e Letras. Cachoeira/ Ba:
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. v.1, n.1, 2007. p. 88. Disponível em:
https://www3.ufrb.edu.br/seer/index.php/reconcavos/article/download/1050/639/. Acesso em: 12 de
fevereiro de 2020.
26
década de 1850. Para Vitorino, ―[...] se parte do capital negreiro foi convertido para a
produção manufatureira, ele só o foi indiretamente e em pequenas somas [...]‖34.
Nota-se, que, embora a liberação e reinversão de capitais com o fim do tráfico
ilegal seja um consenso entre estes autores, e também haja um aparente consenso sobre
a aplicação destes capitais no setor bancário (talvez porque Mauá o tenha feito e dito),
alguns elementos relativos ao destino destes capitais permanecem divergentes. Por
exemplo, em um breve balanço, para Luiz Carlos Soares e Artur Vitorino esses
investimentos não se refletiram diretamente nas atividades manufatureiras. Enquanto
isso, Peter Eisenberg, Eulália Lôbo, Wilson Suzigan, Kátia Mattoso e, mais
recentemente, Almícar Baiardi, Luiz Fernando Saraiva e Rita Almico apontaram para
esta possibilidade. Almir Chaiban El-Kareh aponta para o reinvestimento de capitais
liberados pelo tráfico no transporte ferroviário, contudo, para Kátia Mattoso, essa
realidade não se aplica ao caso baiano. Na nossa leitura, as possiblidades apresentadas
por estes autores, em linhas gerais, não são necessariamente autoexcludentes e podem
ter variado de acordo com os casos e com os diferentes contextos regionais.
É necessário refletir que a premissa de que capitais provenientes do
encerramento do contrabando negreiro foram empregados em outros investimentos
implica na ocorrência de três elementos interdependentes: primeiro, a existência de
agentes anteriormente ligados à atividade, cujos capitais ficaram ociosos a partir do
encerramento desta (ou de sua participação nesta); segundo, a aplicação destes capitais
ociosos em outros setores da economia brasileira; e, terceiro, o consequente
desenvolvimento ou incremento de determinadas atividades econômicas no país.
Usualmente, na historiografia que aborda esta questão apenas o terceiro aspecto é
aprofundado, com o primeiro e o segundo elementos aparecendo como um plano de
fundo, um fenômeno dado, mas abstrato.
Efetivamente, pouco se discutiu de forma direta sobre quem foram os agentes
envolvidos no tráfico transatlântico que redirecionaram seus capitais para os setores de
transporte, bancário e de indústrias fabris, entre outros, que emergiram no Brasil em
meados do século XIX e como ocorreu este processo. Em virtude do pouco
aprofundamento sobre a questão, a tese de reinvestimento de capitais do comércio
negreiro após o encerramento deste em outros ramos de atividades no Império do Brasil
34
VITORINO, Artur. Política, agricultura e a reconversão do capital do tráfico transatlântico de escravos
para as finanças brasileiras na década de 1850. In: Economia e Sociedade. v. 17, n. 3 (34), dez. 2008. p.
468. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ecos/v17n3/05.pdf. Acesso em: 11 de fevereiro de 2020.
27
35
TAVARES, Luís Henrique Dias. O capitalismo no comércio proibido de escravos. In: Revista do
Instituto de Estudos Brasileiros. n. 28, 1988.
36
Cf.: BECKERT, Sven. ROCKMAN, Seth. Slavery’s Capitalism: A New History of American
Economic Development. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2017. BAPTIST, Edward. A
metade que nunca foi contada: Escravidão e a construção do capitalismo norte-americano. Rio de Janeiro;
São Paulo: Paz & Terra, 2019.
28
37
OLIVEIRA, Geraldo Beauclair Mendes de. Raízes da indústria no Brasil: a pré-indústria fluminense,
1808-1860. Rio de Janeiro: Studio F & S, 1992.
38
Idem. A Construção Inacabada: a economia brasileira, 1822-1860. Rio de Janeiro: Vício de Leitura,
2001.
39
DANIELI NETO, Mario. Escravidão e Indústria: Um estudo sobre a fábrica de ferro São João de
Ipanema – Sorocaba (SP) – 1765-1895. Tese (Doutorado em Economia). Campinas, SP: Universidade
Estadual de Campinas, 2006.
40
MOMESSO, Beatriz Piva. Indústria e trabalho no século XIX: O Estabelecimento de Fundição de
Máquinas de Ponta d‘Areia. Dissertação. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2007.
41
OLIVEIRA, Geraldo Beauclair Mendes de. Raízes da indústria... op. cit. Idem. A Construção
Inacabada... op. cit. DANIELI NETO, Mario. Escravidão e Indústria... op. cit.
29
42
OLIVEIRA, Geraldo de Beauclair Mendes de. A Construção Inacabada... op. cit.
43
MOMESSO, Beatriz Piva. Indústria e trabalho... op. cit.
44
A discussão sobre proto e pré-indústria e sua aplicação à realidade brasileira é extensa e complexa. Um
importante balanço sobre o debate pode ser encontrando no segundo capítulo da tese de Mario Danieli
Neto. Cf.: Idem. A Construção Inacabada... op. cit.
30
45
STEIN, Stanley. Origens e Evolução... op. cit. p. 35. SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira... op. cit.
p. 127; 385. SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. p. 262.
46
Cf.: LIBBY, Douglas Cole. Notas sobre a produção têxtil brasileira no final do século XVIII: novas
evidências de Minas Gerais. In: Estudos Históricos. v. 27, n. 1, 1997. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/ee/article/view/116884/114419. Acesso em: 17 de outubro de 2019. LIBBY,
Douglas Cole. Protoindustrialização em uma sociedade escravista: o caso de Minas Gerais. In:
SZMRECSÁNYI, Tamás. LAPA, José Roberto do Amaral. História econômica da Independência e do
Império. São Paulo: HUCITEC, 1996.
47
SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira... op. cit. p. 127. SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na
formação... op. cit. p. 176.
48
DANIELI NETO, Mario. Escravidão e Indústria... op. cit. p. 74
49
STEIN, Stanley. Origens e Evolução... op. cit.
50
CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. 5. ed. Campinas, SP: Unicamp, IE,
2007. p. 102.
31
51
BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico de escravos no Brasil: a Grã-Bretanha, o Brasil e a questão do
tráfico de escravos, 1807-1869. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura; São Paulo: Ed. Da Universidade de
São Paulo, 1976.
52
CONRAD, Robert. Tumbeiros: O tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985.
53
VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo de Benim e a Bahia de Todos os
Santos: dos séculos XVII a XIX. São Paulo: Corrupio, 1987.
54
TAVARES, Luís Henrique Dias. O capitalismo no comércio... op. cit.
55
Cf.: TOMICH, Dale. Pelo Prisma da Escravidão: Trabalho, Capital e Economia Mundial. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2011. MARQUESE, Rafael. SALLES, Ricardo (org.). Escravidão
e capitalismo histórico no século XIX: Cuba, Brasil e Estados Unidos. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2016.
32
56
MARQUESE, Rafael. SALLES, Ricardo. A escravidão no Brasil oitocentista: história e historiografia.
In: MARQUESE, Rafael. SALLES, Ricardo (org.). Escravidão e capitalismo... op. cit.
57
Cf.: GRINBERG, Keila. MAMIGONIAN, Beatriz (org). Dossiê – ―Para inglês ver?‖: Revisitando a Lei
de 1831. In: Estudos Afro-Asiáticos. Ano 29, nos 1/2/3. Jan-Dez. 2007. Disponível em:
https://bgmamigo.paginas.ufsc.br/2011/05/25/dossie-para-ingles-ver-revisitando-a-lei-de-1831/. Acesso
em 11 de fevereiro de 2020.
58
PARRON, Tâmis Peixoto. A política da escravidão no Império do Brasil, 1826-1865. Dissertação
(Mestrado em História). Universidade de São Paulo: São Paulo, 2009. p. 11.
59
RODRIGUES, Jaime. O infame comércio: propostas e experiências no final do tráfico de africanos para
o Brasil (1800-1850). Campinas, SP: Editora da UNICAMP, CECULT, 2000. PARRON, Tâmis Peixoto.
A política da escravidão... op. cit. YOUSSEF, Alain El. Imprensa e escravidão: Política e tráfico
negreiro no Império do Brasil (1822-1850). São Paulo: Intermeio; FAPESP, 2016.
33
60
Em trabalho anterior, de caráter propositivo, procuramos apontar possíveis efeitos da continuidade do
tráfico transatlântico para o Brasil na modalidade de negócio ilegal, demonstrando que houve uma íntima
relação entre o recrudescimento deste e processos de dinamização econômica regionais. Cf.: SANTOS,
Silvana Andrade dos. Nestas costas tão largas: o tráfico transatlântico de escravizados e a dinamização de
economias regionais no Brasil (c.1831-c.1850). In: Revista de História. São Paulo, n. 77, 2018.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/140743/149302. Acesso em 21 de
janeiro de 2019. Outra iniciativa de problematização dos horizontes de análise da Segunda Escravidão
pode ser verificada em BARROSO, Daniel. LAURINDO JUNIOR, Luiz Carlos. À margem da segunda
escravidão? A dinâmica da escravidão no vale amazônico nos quadros da economia-mundo capitalista.
In: Revista Tempo. Niterói. v. 23, nº 3, set-dez 2017.
61
Cf.: RODRIGUES, Jaime. O infame comércio... op. cit. GRINBERG, Keila. MAMIGONIAN, Beatriz
(org). Dossiê... op. cit. CARVALHO, Marcus Joaquim Maciel de. O desembarque nas praias: O
funcionamento do tráfico de escravos depois de 1831. In: Revista de História. São Paulo. nº 167, jul-dez
2012. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/49091/53166. Acesso em: 11 de
fevereiro de 2020. MAMIGONIAN, Beatriz. VIDAL, Joseane Zimmermann. (Org.). História Diversa:
africanos e afrodescendentes na ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Editora da UFSC, 2013. PESSOA,
Thiago Campos. A indiscrição como ofício: o complexo cafeeiro revisitado (Rio de Janeiro, c. 1830 – c.
1888). Tese. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2015. MAMIGONIAN, Beatriz G. Africanos
livres: A abolição do tráfico de escravos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. XIMENES,
Cristiana. Joaquim Pereira Marinho: perfil de um contrabandista de escravos na Bahia, 1828-1887.
Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1999. PEREIRA, Walter.
34
José Gonçalves da Silva: traficante e tráfico de escravos no litoral norte da Província do Rio de Janeiro,
depois da lei de 1850. In: Revista Tempo. v. 16, n. 31, 2011. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/tem/v17n31/12.pdf. Acesso em: 11 de fevereiro de 2020. DOURADO, Bruna
Iglezias Motta. Comércio de grosso trato e interesses mercantis no Recife, Pernambuco (c.1837-c.1871):
A Trajetória do negociante João Pinto de Lemos. Dissertação (Mestrado em História). Niterói:
Universidade Federal Fluminense, 2015. ALBUQUERQUE, Aline Emanuelle de Biase. De “Angelo dos
retalhos” a Visconde de Loures: a trajetória de um traficante de escravos (1818-1858). Dissertação
(Mestrado em História). Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2016. GOMES, Amanda
Barlavento. A trajetória de vida do Barão de Beberibe: Um traficante de escravos no Império do Brasil
(1820 – 1855). Dissertação (Mestrado em História). Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2016.
SANTOS, Silvana Andrade dos. Nos terrenos... op. cit. SANTOS, Silvana Andrade dos. Nestas costas...
op. cit. MESQUITA, João Marcos. O comércio ilegal de escravos no atlântico: a trajetória de Manoel
Pinto da Fonseca, c.1831 – c.1850. Dissertação (Mestrado em História). Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2019. MARRETO, Rodrigo Marins. O opulento capitalista: café e
escravidão na formação do patrimônio familiar do Barão de Nova Friburgo. (c.1829-c.1873). Tese
(Doutorado em História). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2019.
62
XIMENES, Cristiana. Joaquim Pereira Marinho... op. cit.
63
DOURADO, Bruna Iglezias Motta. Comércio de grosso... op. cit.
64
ALBUQUERQUE, Aline Emanuelle de Biase. De “Angelo dos retalhos”... op. cit.
65
GOMES, Amanda Barlavento. A trajetória de vida... op. cit.
66
MESQUITA, João Marcos. O comércio ilegal... op. cit.
67
MARRETO, Rodrigo Marins. O opulento capitalista... op. cit.
35
68
RODRIGO Y ALHARRILLA, Martín. CHAVIANO PÉREZ, Lizbeth. (Org.). Negreros y esclavos:
Barcelona y la esclavitud atlântica (siglos XVI-XIX). Barcelona: Icaria Editorial, 2017.
69
CARVALHO, Marcus Joaquim Maciel de. O desembarque... op. cit.
36
70
PESSOA, Thiago Campos. A indiscrição... op. cit.
71
SANTOS, Silvana Andrade dos. Nestas costas... op. cit.
72
Idem. Nos terrenos...
73
Ibidem.
37
PARTE I
A SOCIEDADE LACERDA E CIA
41
74
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 43, n. 315, 13 de novembro de 1865. p. 1.
75
Encontramos tanto na bibliografia quanto nas fontes a redação do sobrenome Pedrozo grafado com as
letras ―z‖ e ―s‖. Neste trabalho, adotamos a grafia com a letra ―z‖, por ser a forma como o nome está
redigido no registro de batismo de Antonio e como este assinava seu nome. Seguindo o mesmo critério,
também adotamos a grafia do nome ―Antonio‖ sem o acento circunflexo.
76
Arquivo da Santa Casa de Misericórdia da Bahia (doravante ASCMBA). Livro 7º de Termos de Irmãos,
nº 07 (1834 - 1863). fl. 14.
77
BN. HDB. Publicador Maranhense (Maranhão). Ano 27, n. 188, 18 de agosto de 1878. p. 2. Jornal do
Recife (Pernambuco). Ano 21, n. 182, 10 de agosto de 1878, e n. 184, 13 de agosto de 1878. p. 1. Diario
de Pernambuco (Pernambuco). Ano 54, n. 182, 10 de agosto de 1878. p. 2. O Monitor (Bahia). Ano 3, n.
56, 9 de agosto de 1878. p. 2. O Cruzeiro (Rio de Janeiro). Ano 1, n. 227, 16 de agosto de 1878. p. 2. O
Município (Rio de Janeiro). Ano 4, n. 190, 17 de outubro de 1878. p. 1. Diario de São Paulo (São Paulo).
Ano 14, n. 3.784, 8 de agosto de 1878. p. 2.
78
BN. HDB. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 54, n. 64, 18 de março de 1878. p. 2. Arquivo
Público do Estado da Bahia (doravante APEB). Seção Judiciária. Série Inventários. Testamento Antonio
Pedroso de Albuquerque. Classificação: 01/03/125/02.
79
BN. HDB. Jornal do Recife (Pernambuco). Ano 21, n. 182, 10 de agosto de 1878. p. 1.
80
É ampla a discussão na historiografia sobre a nomenclatura que dever ser atribuída a estes agentes
econômicos, como Pedrozo, do século XIX. Neste trabalho, optamos por manter o termo empregado em
referência a Antonio Pedrozo de Albuquerque nas fontes por nós utilizadas: capitalista. Como
demonstrado por Guimarães, no século XIX a palavra capitalista era empregada para designar pessoas
que possuíam grandes cabedais, dinheiro para suas negociações e meneio. No tocante à Bahia, segundo
Mattoso, o termo era empregado para designar ―[...] ex-comerciantes que permaneciam ligados aos
negócios, fosse pela participação em outras sociedades comerciais, fosse investindo seu dinheiro em
empreendimentos bancários ou industriais [...]‖. Cf. GUIMARÃES, Carlos Gabriel. A presença inglesa
42
nas finanças e no comércio no Brasil Imperial: Os casos da Sociedade Bancária Mauá, Macgregor & Co.
(1854-1866) e da firma inglesa Samuel Phillips & Co. (1808-1840). Rio de Janeiro: Alameda, 2012. p.
23. MATTOSO, Kátia. Bahia, século XIX... op. cit. p. 643.
81
BN. HDB. Publicador Maranhense (Maranhão). Ano 27, n. 188, 18 de agosto de 1878. p. 2. Jornal do
Recife (Pernambuco). Ano 21, n. 184, 13 de agosto de 1878. p. 1.
82
GENI. Registro de Batismo de Antonio Pedrozo de Albuquerque. Disponível em:
https://www.geni.com/documents/view/birth_event-
6000000044245953828?doc_id=6000000044374159010&event_id=6000000044245953828. Acesso em
19 de abril de 2018. APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Testamento Antonio Pedroso de
Albuquerque. Classificação: 01/03/125/02.
83
Sobre a importância de Rio Pardo na sociedade rio-grandense na primeira metade do século XIX ver:
BERUTE, Gabriel Santos. Atividades mercantis do Rio Grande de São Pedro: negócios, mercadorias e
agentes mercantis (1808-1850). Tese (Doutorado em História). Porto Alegre: Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, 2011.
43
84
SCHMACHTENBERG, Ricardo. “A arte de governar”: Redes de poder e relações familiares entre os
juízes almotacés na Câmara Municipal de Rio Pardo/RS, 1811-c.1830. Tese (Doutorado em História). São
Leopoldo: Universidade Federal do Vale dos Sinos, 2012.
85
Ibidem.
86
Encontra-se também a redação Acciaiuoli, Acciavoli e Accioli, e Cf.: APEB. Seção Judiciária. Série
Inventários. Inventário Maria Acciaivoli de Albuquerque. Classificação: 03/917/1386/11; e Testamento
Antonio Pedroso de Albuquerque. Classificação: 01/03/125/02.
87
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Testamento Antonio Pedroso de Albuquerque.
Classificação: 01/03/125/02. É recorrente na historiografia uma confusão entre as trajetórias dos Antonio
Pedrozo de Albuquerque pai e filho, dado ao fato de eles serem homônimos. Assim, na análise das fontes
e da bibliografia, buscamos cuidadosamente distinguir a trajetória de ambos. Da mesma forma, visando
evitar ambiguidades de interpretação por parte do leitor, optamos por uma solução técnica simples:
adicionar o termo Filho quando nos referirmos a Antonio Pedrozo de Albuquerque, o filho, e manter a
redação Antonio Pedrozo de Albuquerque quando nos referirmos ao pai.
88
Informações contidas no site Geni indicam que Auta Pedrozo também seria filha Maria Acciaivoli de
Albuquerque, no entanto, em seu Testamento, Antonio Pedrozo de Albuquerque Filho escreveu ―Deixo a
menina Auta Pedroso, minha irmã natural, e cuja casei com Cypriano D‘Almeida Couto, a quantia de
dois contos de reis‖. De acordo com o site, Antonio Pedrozo de Albuquerque e Maria Acciaivoli de
Albuquerque tiveram ainda um terceiro filho: Francisco Pedrozo de Albuquerque. As fontes por nós
consultadas até então indicam que Antonio Pedrozo de Albuquerque teve apenas um filho com Maria
Acciaivoli de Albuquerque: Antonio Pedrozo de Albuquerque Filho. No documento de reforma dos autos
de inventário de Maria Acciaivoli de Albuquerque, aberto em 1868, Antonio Pedrozo de Albuquerque
[Filho], naquela altura, menor, aparece como único herdeiro. Do mesmo modo, em seu testamento,
lavrado em 1878, Antonio Pedrozo de Albuquerque declarou ―Fui casado com a Senhora Dona Maria
Accioli de Albuquerque, de quem sou viúvo e com quem tenho um único filho, o Doutor Antonio
Pedrozo de Albuquerque, meu legítimo e universal herdeiro‖. No documento, Antonio Pedrozo de
Albuquerque também declarou ser genitor de Maria e Lydia, como se lê: ―Deixo à minha cria Maria que
também fica liberta, a quantia de dois contos de réis (2:000$000rs)‖ e ―Deixo à minha cria Lydia
igualmente liberta, a quantia de dois contos de réis (2:000$000rs)‖. Por fim, no inventário de Antonio
Pedrozo de Albuquerque, aberto em 1878, Antonio Pedrozo de Albuquerque Filho (o Doutor Antonio
Pedrozo de Albuquerque), também aparece como único herdeiro. Segundo Michael Pedroso de
Albuquerque, descendente de Antonio Pedrozo de Albuquerque, Francisco Pedrozo de Albuquerque
também fora filho deste, tendo sido supostamente deserdado pelo pai. Uma questão a ser aprofundada
posteriormente. Até o momento da redação desta tese, identificamos nas fontes a existência de apenas um
Francisco Pedrozo de Albuquerque, filho de Antonio Pedrozo de Albuquerque Filho, como aparece no
inventário deste ―Declaro que fui casado e que estou presentemente desquitado, e separado de corpo e
bens, da que foi minha mulher, Viscondessa de Pedroso D‘Albuquerque, e [...] deste consórcio tive um
filho de nome Francisco Pedroso de Albuquerque [...]‖. [grifos meus]. Cf.: GENI. Antonio Pedroso de
44
A respeito das testemunhas, vale ressaltar que, em 1824, Antonio Joaquim Maia
comerciava escravos, entre outros gêneros, em escritório montado ao número 84 da Rua
de São Pedro92, mesmo logradouro onde na década de 1860 funcionaria um depósito de
produtos da fábrica Todos os Santos93. João Alvares da Silva Porto, por sua vez, estava
profundamente envolvido com o comércio negreiro, sendo um dos maiores traficantes
transatlânticos de escravos para o Rio de Janeiro entre 1810 e 183094. Além disso, ele
foi moedeiro da Casa da Moeda na década de 1820 95. Como aprofundaremos
posteriormente, Antonio Pedrozo de Albuquerque começaria a atuar no tráfico
transatlântico muito provavelmente ainda durante sua estadia no Rio de Janeiro. Além
disso, durante o chamado derrame de moedas de cobre na Bahia, na primeira metade do
século XIX, especularia levando moedas de bom ágio da Corte para a província96. Logo,
empregadores ou não de Pedrozo, os laços mercantis existentes entre eles devem ter
sido de grande valia ao longo de sua trajetória econômica, especialmente no início.
A conjuntura vivida na Corte possibilitava a Antonio Pedrozo de Albuquerque o
envolvimento em uma série de atividades, a depender das redes mercantis nas quais
estava inserido ou fosse capaz de se inserir. Já vimos que ele possuía contato com
comerciantes de escravos e com um moedeiro. Ademais, sabemos que sua família era
proprietária de estâncias na região do Rio Pardo, situação da qual deve ter tirado
proveito. O Rio de Janeiro era uma das principais regiões importadoras do charque rio-
grandense, cidade em expansão e com crescente demanda por gêneros de subsistência
no período em que ele havia se mudado97. É possível também aventar, embora a
resposta para esta questão ainda esteja aberta, em que medida a sua ida para o Rio de
Janeiro tinha relação com os interesses dos negócios de seus familiares.
92
BN. HDB. Almanach do Rio de Janeiro para o anno de 1824. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1824. p. 287. Diario do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 1, n. 168, 17 de junho de 1821. p. 3.
93
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro
para o anno de 1862. Ano 19, série 2, n. 14. Rio de janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1862. p. 530.
94
FLORENTINO, Manolo. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio
de Janeiro: séculos XVIII e XIX. São Paulo: EDUNESP, 2014. p. 157.
95
BN. HDB. Almanach do Rio de Janeiro para o anno de 1816. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1816. p. 219. Almanach do Rio de Janeiro para o anno de 1825. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1825. p. 122. Almanach do Rio de Janeiro para o anno de 1826. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1826. p. 86.
96
MATTOSO, Kátia. Bahia, século XIX... op. cit. Sobre o derrame de moedas de cobre na Bahia ver
TRENTIN, Alexander. O derrame de moedas falsas de cobre na Bahia (1823-1829). Dissertação
(Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2010.
97
Cf.: LENHARO, Alcir. As tropas da moderação. 2. ed. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de
Cultura, Turismo e Esportes; Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural; Divisão de
Editoração, 1993.
46
98
BN. HDB. Jornal do Recife (Pernambuco). Ano 21, n. 184, 13 de agosto de 1878. p. 1.
99
BN. HDB. Diario do Governo (Rio de Janeiro). n. 17, v. 2, 19 de julho de 1823. p. 4.
100
TAVARES, Luís Henrique. Dias. Independência do Brasil na Bahia. Salvador: EDUFBA, 2005.
47
101
Cf.: GRAHAM, Richard. ―Ao mesmo tempo sitiantes e sitiados‖. A luta pela subsistência em Salvador
(1822-1823) In: JANCSÓ, Istvan (org). Independência: história e historiografia. São Paulo: Hucitec/
Fapesp, 2005.
102
SPIX Johann Baptiste von. MARTIUS, Carl Friedrich Philipp von. Viagem pelo Brasil, 1817-1820. 3.
ed. São Paulo: Melhoramentos, 1976. v. 2. p. 157. VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no século XVIII.
Salvador: Itapuã, 1969. v. 2. p. 496.
103
DIAS, Marcelo Henrique. Economia, sociedade... op. cit.
104
SANTOS, Silvana Andrade dos. Nos terrenos... op. cit.
105
Sobre o emprego do charque no comércio negreiro ver: VARGAS, Jonas Moreira. Pelas margens do
atlântico: Um estudo sobre elites locais e regionais no Brasil a partir das famílias proprietárias de
charqueadas em Pelotas, Rio Grande do Sul (século XIX). Tese (Doutorado em História). Rio de Janeiro:
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013.
48
não representam um caso isolado. De acordo como Jonas Vargas, um grande número de
rio-grandenses migrou para o Rio de Janeiro e para o Nordeste no período106. Neste
sentido, é bastante provável que ele tivesse contato com outros rio-grandenses, primeiro
no Rio de Janeiro e depois na Bahia, ou ainda que mantivesse negócios nesta província
antes mesmo de sua transferência definitiva. Desde 1808, o Rio Grande do Sul
representava um importante parceiro comercial da Bahia, ocupando o quarto lugar em
sua balança comercial, entre todas as regiões com as quais esta mantinha relações
comerciais. O Rio Grande do Sul foi responsável, no período compreendido entre 1808
e 1816, por 14,8% das exportações e 11,6% das importações baianas, importações estas
lideradas por gêneros de abastecimentos, dentre os quais se destacava o charque107.
Como destacou Vargas, a migração de rio-grandenses para outras regiões não
resultava em uma ruptura total com sua província natal. Estes homens mantinham-se
ligados aos seus locais de origem tanto por meio de vínculos de parentesco quanto de
redes comerciais. Segundo o autor, no caso específico das charqueadas, esses vínculos
comerciais contribuíam para o fortalecimento das elites locais e, certamente, geravam
benefícios para aqueles que haviam se mudado108, como deve ter ocorrido com Antonio
Pedrozo de Albuquerque.
Ainda conforme Vargas, assim como outros membros de sua família, Pedrozo
fazia parte de uma rede mercantil existente entre Pelotas e outros portos situados no
Império do Brasil, ligada, entre outras mercadorias, por meio da fabricação e da
comercialização de charque. Ele era parceiro comercial de Antônio de Soares Paiva,
negociante no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, que atuava tanto no comércio de
grosso trato, no Rio de Janeiro, quanto no tráfico interno de escravos para o Rio Grande
do Sul, e também mantinha negócios no nordeste, por meio do comércio de charque e
couros. Seu irmão, Manoel Pedrozo de Albuquerque, por outro lado, era procurador do
charqueador Domingos de Castro Antiqueira no Rio Pardo, cujo um dos filhos era
casado com uma filha de Antônio de Soares Paiva109.
Se, de um lado, como afirmamos anteriormente, há indícios de que Pedrozo
tenha iniciado sua atuação no tráfico transatlântico ainda durante sua estadia no Rio de
106
VARGAS, Jonas Moreira. Pelas margens... op. cit. p. 132.
107
MATTOSO, Kátia. Bahia, século XIX... op. cit. p. 244.
108
VARGAS, Jonas Moreira. Pelas margens... op. cit. p. 132.
109
Ibidem. p. 131. Idem. ―Capitães, comendadores, negociantes‖: A primeira geração de charqueadores
de Pelotas e a sua elite (1790-1835). In: Revista Latino-Americana de História. v. 3, n. 11, set-2014. p.
54. Disponível em: http://projeto.unisinos.br/rla/index.php/rla/article/view/438/409. Acesso em: 11 de
fevereiro de 2020.
49
110
Para mais informações sobre as redes mercantis envolvendo os tráficos transatlântico e interprovincial
de escravos o comércio de charque, ver: Idem. Pelas margens...
111
ELTIS, David. (Org.) The Transatlantic Slave Trade Database: voyages (doravante TSTD). Viagem
1028. Disponível em: http://www.slavevoyages.org. Acesso em: 31 de janeiro de 2019.
112
BN. HDB. Diario do Governo (Rio de Janeiro). n. 46, v. 2, 25 de agosto de 1823. p. 4.
50
113
KRAAY, Hendrik. Em outra coisa não falavam os pardos, cabras e crioulos: o "recrutamento" de
escravos a guerra da Independência na Bahia. In: Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 22, n.4,
2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbh/v22n43/10913.pdf. Acesso em: 03 de dezembro de
2018. REIS, Arthur Ferreira. Os corcundas e os periquitos: a visão áulica sobre a Revolta os Periquitos na
Bahia. In: Anais do VI Congresso Internacional UFES/Paris-Est. Vitória: Universidade Federal do
Espírito Santo, 2017. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/UFESUPEM/article/view/18040/12210.
Acesso em: 03 de dezembro de 2018. REIS, João José. A elite baiana face os movimentos sociais: Bahia
(1824-1840). In: Revista de História. São Paulo, v. 54, n.108, 1976. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/105679. Acesso em: 03 de dezembro de 2018.
TAVARES, Luís Henrique Dias. Da sedição de 1798 à revolta de 1824 na Bahia. Salvador: EDUFBA;
Campinas: Editora da UNESP, 2003.
114
Sobre a participação de escravos, libertos e das classes mais baixas da sociedade na independência da
Bahia, assim como a atuação da elite baiana nos movimentos sociais da primeira metade no século ver:
Cf.: GUERRA FILHO, Sério Armando Diniz. O povo e a guerra: Participação das camadas populares
nas lutas pela independência do Brasil na Bahia. Dissertação (Mestrado em História). Salvador:
Universidade Federal da Bahia, 2004. KRAAY, Hendrik. Em outra coisa... op. cit. REIS, João José. A
elite baiana face os movimentos sociais: Bahia (1824-1840). In: Revista de História. São Paulo, v. 54,
n.108, 1976. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/105679. Acesso em: 03
de dezembro de 2018. REIS, João José. O jogo duro do Dois de Julho: O ―Partido Negro‖ na
Independência da Bahia. In: REIS, João José. SILVA, Eduardo. Negociação e conflito. A resistência
negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
51
presidente da província, Francisco Vicente Viana (futuro Barão do Rio das Contas),
fornecendo, nas palavras deste, ―munições de boca e de guerra‖ e mediando a
comunicação com a Corte durante a repressão da revolta e, posteriormente, com
Pernambuco (local para onde parte do batalhão havia sido destacado, para lutar durante
a Confederação do Equador)115. Logo, a colaboração de Pedrozo à repressão da Revolta
dos Periquitos ratifica seu afinamento político com o governo pedrino e com o projeto
de centralização política que começava a se delinear no Brasil neste período.
Por sua atuação política, econômica e social neste e em outros eventos, tanto na
esfera provincial quanto na esfera imperial, Antonio Pedrozo de Albuquerque seria
agraciado com uma série de títulos honoríficos ao longo de sua vida: Cavaleiro da
Ordem de Cristo (1825); Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro (1826); Oficial da
Corte e Casa Imperial (1841); Moço da Imperial Câmara, (1843); Dignatário da Ordem
da Rosa (1850); Comendador da Ordem de Cristo (1850); e Fidalgo Cavaleiro da Casa
Imperial (1854)116.
Ainda em 1824, Pedrozo era proprietário de um escritório montado na Rua da
Fonte dos Padres, em frente ao Trapiche Julião, e operava com transporte de cargas e
passageiros entre a Bahia e o Rio de Janeiro117. A informação atesta que, apesar de ter
possivelmente descolado o eixo de seus negócios para a Bahia, ele continuava atuando
no Rio de Janeiro, pelo menos, por meio da navegação de cabotagem, atividade que,
como veremos, ocupou importante lugar entre seus negócios. Além disso, é possível
crer que o negociante comparecia ao Rio de Janeiro com certa frequência. Em uma
viagem realizada no ano de 1830, por exemplo, comprou de Jozé Buschenthal 100
apólices de Fundo Públicos118.
Foi também no ano de 1824 que encontramos o primeiro registro de embarcação
empregada no comércio negreiro de propriedade de Antonio Pedrozo de
Albuquerque119. Vale ressaltar que isso não quer dizer, necessariamente, que ele não
tenha realizado outras viagens antes, por conta própria ou em parceria, das quais não
115
AN. Fundo Graças Honoríficas. Albuquerque, Antonio Pedroso D/” e outros.
116
BN. HDB. Diario Fluminense (Rio de Janeiro). n. 87, v. 6, 13 de outubro de 1825. p. 2; e n. 77, v. 7, 7
de abril de 1826. p. 1 Chronica Maranhense (Maranhão). n. 284, v. 3, 5 de janeiro de 1841. p. 9. Diario
de Pernambuco (Pernambuco). Ano 17, n. 2, 4 de janeiro de 1841. p. 1. Pequeno Almanak do Rio de
Janeiro para 1843. Ano 3. Rio de Janeiro: Typ. Dos Editores Viuva Ogier e Filho, 1843. p. 74. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno de 1850. Ano
7, série 2, n. 2. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1850. p. 47. O Cearense (Ceará). Ano 9,
n. 792, 29 de janeiro de 1854. p. 2.
117
BN. HDB. Grito da Razão (Bahia). n. 20, 20 de abril de 1824. p. 4.
118
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). n. 201, v. 5, 22 de abril de 1831. p. 5.
119
VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo... op. cit. p. 478.
52
tomamos conhecimento. Por outro lado, identificar uma viagem transatlântica em navio
de propriedade de Pedrozo implica pensar que, em meados da década de 1820, suas
áreas de atuação se expandiram para além dos limites do recém-independente Império
do Brasil.
O último registro de embarcação a ele pertencente empregada no tráfico
transatlântico é do barco Picão, viagem iniciada na Bahia em 1841 e finalizada em
1842120. Entre 1824 e 1842, Pedrozo organizou pelos menos 33 expedições negreiras
destinadas ao Rio de Janeiro e, principalmente, à Bahia, sobre as quais trataremos no
item seguinte deste capítulo121. É provável que esse número seja bem maior, visto que
os dados disponíveis atualmente para o tráfico transatlântico, especialmente para o
período do contrabando realizado a partir de 1831, representam apenas uma parcela do
total das viagens realizadas: como uma atividade criminosa desde então, era essencial
para o sucesso de uma expedição negreira que ela não deixasse vestígios.
Um indício de que Antonio Pedrozo de Albuquerque deve ter continuado
atuando no contrabando negreiro após 1842 está na sua própria escravaria. Quando seu
inventário foi aberto, em 1878, fora avaliada uma escravizada africana de nome
Constança, com idade estimada em 29 anos122. Estando com 29 anos em 1878, ela deve
ter nascido no ano de 1849, apenas um ano antes da assinatura da Lei Eusébio de
Queirós e 18 anos após a assinatura da Lei Feijó. Ainda que não seja possível confirmar
se Constança chegou ao Brasil em uma viagem organizada por Pedrozo, a presença de
uma africana tão jovem em sua escravaria indica que o negociante teve acesso ao
mercado transatlântico ilegal de escravos para o Brasil até o limite de seu
funcionamento.
Após se instalar na Bahia, mesmo que tenha diversificado cada vez mais seus
negócios, como veremos adiante, Pedrozo continuaria atuando diretamente na economia
de abastecimento. Conforme Jonas Vargas, ele concentrava o comércio de charque na
província com Antônio Ferreira Pontes e o também contrabandista negreiro Joaquim
120
TSTD. Voyages. Viagem 2247. Disponível em: http://www.slavevoyages.org. Acesso em: 01 de
fevereiro de 2019.
121
Em sua pesquisa, Pierre Verger localizou 31 saídas de embarcações negreiras de propriedade de
Antonio Pedrozo de Albuquerque. Enquanto isso, constam na base de dados do tráfico transatlântico 15
viagens negreiras cujo proprietário da embarcação era Pedrozo. Destas, não estão contidas na lista de
Verger apenas a embarcação Pedroso (1829) e a viagem negreira realizada pela embarcação Veloz, em
1836. Cf.: VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo... op. cit. p. 478. TSTD. Viagens 1028, 1158, 1161, 2048,
2154, 2172, 2201, 2247, 2960, 2965, 2968, 2974, 2980, 2996 e 3068. Disponível em:
http://www.slavevoyages.org. Acesso em: 7 de janeiro de 2020.
122
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário Antonio Pedroso de Albuquerque. Classificação
– 07/3191A/06.
53
123
GRAHAM, Richard. Alimentar a cidade: Das vendedoras de ruas à reforma liberal (Salvador, 1780-
1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 198-202.
124
Ibidem. Sobre o abastecimento da cidade de Salvador no século XIX ver também: MORENO, José
Ricardo. Açambarcadores e Famélicos: Fome, carestia e conflitos em Salvador (1858 a 1878). Tese
(Doutorado em História). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2015.
125
ASCMBA. Livro 7º de Termos de Irmãos, n. 07 (1834 - 1863). fl. 14.
126
ASCMBA. Livro 1º das Actas da Mesa. 1790-1860.
54
Foi ainda durante o período em que ocupou o cargo de provedor de Santa Casa
de Misericórdia, no período das chamadas revoltas regenciais, que Pedrozo deu mais
demonstrações de seu posicionamento político, afinado com as tendências
centralizadoras. O primeiro deles trata-se, na verdade, de um não posicionamento, e se
refere à prisão e fuga dos líderes da Revolução Farroupilha, Bento Gonçalves da Silva,
na Bahia, em 1837. Bento Gonçalves havia sido preso em 1836, pouco tempo depois da
proclamação da República de Piratini. Encarcerado na Fortaleza da Laje, no Rio de
Janeiro, fora transferido para o Forte do Mar, na Bahia, após uma tentativa infrutífera de
fuga. Contudo, a fortificação baiana não seria páreo para Gonçalves, que, contando com
apoio de maçons e conterrâneos, conseguiu fugir a nado do Forte do Mar127.
Além de todo esse desfecho novelesco ocorrido na Bahia, um dos irmãos de
Pedrozo, José Pedrozo de Albuquerque, como mencionado anteriormente, teve
importante participação na Revolução Farroupilha, tendo sido Ministro dos Negócios da
Justiça e Interior da República de Piratini. A despeito disso, e do prestígio que o rio-
grandense Pedrozo desfrutava na província do Norte, não encontramos qualquer menção
do seu envolvimento, direto ou indireto, nestes acontecimentos, indício de que ele não
era simpatizante destas iniciativas separatistas.
A outra demonstração de seu posicionamento político, desta vez em uma
participação ativa, ocorreu durante os acontecimentos da revolta iniciada na Bahia em
1837 e conhecida posteriormente como Sabinada. Mais uma vez, Salvador foi palco de
uma das muitas insurreições que ocorreram no Brasil na primeira metade do século
XIX. A queda do Regente Diogo Feijó, em setembro de 1837, havia trazido
instabilidade e insatisfações relativas aos rumos da política imperial por parte dos
grupos políticos mais liberais, fazendo-se refletir ao longo das províncias do Império.
Como demonstração desta insatisfação, no início de novembro daquele ano ocorreu uma
revolta na Bahia, liderada por Francisco Sabino. A Câmara Municipal de Salvador foi
tomada, e no sétimo dia daquele mês foi instaurado o governo rebelde-separatista,
dando início ao que consideravam ser a segunda independência da Bahia128.
127
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma certa Revolução Farroupilha. In: GRINBERG, Keila. SALLES,
Ricardo. (org.). O Brasil Imperial: volume II, 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p.
247.
128
Duas interpretações sobre a Sabinada podem ser encontradas em Leite e Souza. Cf.: LEITE, Douglas
Guimarães. Sabinos e diversos: emergências políticas e projetos de poder na revolta baiana de 1837.
Salvador: EGBA, Fundação Pedro Calmon, 2007. SOUZA, Paulo César. A Sabinada: a revolta separatista
da Bahia (1837). São Paulo: Brasiliense, 1987.
55
129
BN. HDB. O Sete d’Abril (Rio de Janeiro). n. 521, 31 de janeiro de 1838. p. 1.
130
BN. HDB. O Sete d’Abril (Rio de Janeiro). n. 552, 30 de abril de 1838. p. 3.
131
BN. HDB. A Phenix (São Paulo). n. 46, 7 de julho de 1838. p. 1.
132
BN. HDB. Correio Official (Rio de Janeiro). n. 38, v. 2, 16 de agosto de 1838. p. 2.
133
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 6, n. 22, 26 de janeiro de 1839. p. 1.; n. 141, 6 de julho de
1839. p. 4; n. 267, 13 de dezembro de 1839. p. 3.
134
BN. HDB. Almanach para o anno de 1845. Bahia: Typ de M. A da S. Serva, 1845. p. 256.
56
Como vimos no item anterior deste capítulo, poucos anos após se instalar no Rio
de Janeiro, Antonio Pedrozo de Albuquerque já dispunha de contatos com pelo menos
dois negociantes envolvidos no comércio de escravos, Antonio Joaquim Maia e Antonio
da Silva Porto, este também atuante no tráfico transatlântico. Além disso, sabemos que
ele fora parceiro comercial do negociante Antônio Soares de Paiva, que atuava no
tráfico interno do Rio de Janeiro para o Rio Grande Sul. A partir dos vínculos com esta
comunidade de traficantes137, Pedrozo deve ter tido os primeiros contatos com o tráfico
transatlântico, passando a atuar na atividade provavelmente em 1824, quando o negócio
ainda era parcialmente legal.
Naquele período, efervesciam as discussões em torno da (des)continuidade do
comércio negreiro no recém proclamado independente Império do Brasil, visto que a
independência colocava em questão os acordos firmados entre Portugal (do qual o
Brasil fora até então integrante) e Grã-Bretanha, relativos à proibição de se adquirir
escravos em áreas que não integrassem os territórios portugueses (1810) e ao norte da
linha do Equador (1815). A independência, em tese, eximia o Brasil de continuar
cumprindo os acordos firmados entre os países europeus, porém o compromisso com o
fim do comércio transatlântico negreiro foi colocado com uma das questões centrais
135
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário Antonio Pedroso de Albuquerque. Classificação
– 07/3191A/06.
136
AN. Fundo Graças Honoríficas. Albuquerque, Antonio Pedroso D/” e outros.
137
Comunidade de traficantes é o termo utilizado por Manolo Florentino para designar as redes
econômicas, pessoais e afetivas formadas em torno do comércio negreiro. De acordo com o autor, em
alguns casos, a inserção nestas redes facilitava o acesso ao mercado negreiro. Cf.: FLORENTINO,
Manolo. Em costas negras... op. cit. p. 215.
57
138
BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico... op. cit.
139
Estima-se que em 1822 foram 57.145 escravos africanos desembarcados, enquanto em 1823, foram
38.343, uma queda de 33%. Em 1824, o número de desembarcados foi de 40.635. Cf.: TSTD. Disponível
em: <http//www.slavevoyages.org/>. Acesso em: 2 de abril de 2018.
140
O número de escravos africanos desembarcados no Brasil entre 1825 e 1830 foi: em 1825, 45.916; em
1826, 61.817; em 1827, 63.101; em 1828, 62.744; em 1829, 77.381; em 1830, 54.142; e em 1831, 5.371.
Cf.: TSTD. Disponível em: <http//www.slavevoyages.org/>. Acesso em: 2 de abril de 2018.
141
BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico... op. cit. VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo... op. cit.
142
FLORENTINO, Manolo. Em costas negras... op. cit. p. 43.
58
Local de
Ano Local de
Nome da Início da Aquisição Escravos Escravos
de Bandeira Desembarque Resultado
Embarcação Construção viagem de Embarcados desembarcados
saída de Escravos
Escravos
Aliança das
1824 - - - - - - - Completa
Nações
Visconde de
1824 São - - - - - - - Completa
Lourenço
1825 Aliança - - - - - - - Completa
1825 Imperatriz Filadélfia - - - - - - Completa
Novo
1825 - Portugal Bahia Badagry 273 Bahia 250 Completa
Brilhante
Príncipe de
1826 Filadélfia Brasil Bahia Ajudá 608 Freetown 579 Apreendido
Guiné
Novo
1826 - - - - - - - Completa
Brilhante
1826 Vênus - Brasil Bahia Ajudá 191 Freetown 188 Apreendido
1826 Imperatriz - - - - - - - Completa
1827 Despique - - - - - - - Completa
Terceira
1827 - - - - - - - Completa
Rosália
1827 Gaivota - - - - - - - Completa
1827 Carolina - - - - - - - Completa
1827 Venturoso - Portugal Bahia - - - - Apreendido
1827 Crioula - Brasil Bahia Calabar 308 Freetown 289 Apreendido
1827 Flor da - - - - - - - Completa
59
Etiópia
Terceira
1828 - Portugal Bahia - - - - Apreendido
Rosália
1829 Campeadora - Brasil Bahia Rio Congo 267 Bahia 240 Completa
1829 Poderoso - - - - - - - Completa
Rio de
1829 Pedroso - - Rio Congo 528 Rio de Janeiro 500 Completa
Janeiro
Flor de
1829 - - Bahia Rio Congo 143 Bahia 129 Completa
Etiópia
1829 Carolina - - - - - - - Completa
Elaboração própria.
Fontes: VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo... op. cit. p. 478. TSTD. Viagens 1028, 2960, 2965, 2968, 2974, 2980, 2996 e 3068. Disponível em:
http://www.slavevoyages.org. Acesso em: 7 de janeiro de 2020.
60
143
TSTD. Viagem 1028. Disponível em: http://www.slavevoyages.org. Acesso em: 7 de janeiro de 2020.
144
TSTD. Viagem 886. Disponível em: http://www.slavevoyages.org. Acesso em: 7 de janeiro de 2020.
145
FLORENTINO, Manolo. Em costas negras... p. 176-177.
61
146
O brigue Venturoso e a escuna Terceira Rosália, por sua vez, sequer chegaram a ser carregados,
ambos foram interceptados pela marinha britânica antes de embarcar a carga humana. TSTD. Viagens
2965, 2968, 2980, 2974 e 2996. Disponível em: http://www.slavevoyages.org. Acesso em: 04 de fevereiro
de 2019.
147
BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico... op. cit. p. 24.
148
VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo... op. cit.
149
A historiografia tende a distinguir os negociantes que atuaram no tráfico negreiro entre traficantes
habituais, aqueles que tinham participação constante na atividade, e traficantes eventuais ou
especuladores, os quais ingressavam no negócio em momentos pontuais, em conjunturas de alta de preço
e de demanda. Cf.: FLORENTINO, Manolo. Em costas negras... op. cit. ALBUQUERQUE, Débora de
Souza Leão; VERSIANI, Flávio Rabelo; VERGOLINO, José Raimundo Oliveira Financiamento e
organização do tráfico de escravos para Pernambuco no século XIX. In: Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada: Texto para discussão. Brasília: IPEA, 2012.
62
150
Cf.: GRINBERG, Keila. MAMIGONIAN, Beatriz (org). Dossiê... op. cit.
151
PARRON, Tâmis. Política do tráfico negreiro: o Parlamento imperial e a reabertura do comércio de
escravos na década de 1830. In: Estudos Afro-Asiáticos. Ano 29, nos 1/2/3. jan-dez. 2007, p. 110.
Disponível em: https://bgmamigo.paginas.ufsc.br/2011/05/25/dossie-para-ingles-ver-revisitando-a-lei-de-
1831/. Acesso em 11: de fevereiro de 2020.
152
BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico... op. cit.
153
CARVALHO, Marcus Joaquim Maciel de. O desembarque... op. cit.
154
PARRON, Tâmis. Política do tráfico... op. cit. RODRIGUES, Jaime. O infame comércio... op. cit.
YOUSSEF, Alain El. Imprensa e escravidão... op. cit.
63
adquirir escravos naquela região. Mas nem tudo saiu como previsto e uma insurreição
escrava levou à captura da embarcação e sua condenação pela comissão mista de Serra
Leoa155. A despeito da apreensão do Veloz, é possível estimar que as atividades
criminosas de Antonio Pedrozo de Albuquerque no contrabando negreiro tiveram um
índice bastante elevado, mais de 90% de sucesso.
Outro aspecto a ser destacado no que diz respeito às viagens de Antonio Pedrozo
de Albuquerque, também exemplificado pelo caso do brigue Veloz, é o emprego de
embarcações construídas nos Estados Unidos da América. Sabe-se que durante o
período do tráfico ilegal o emprego de embarcações estadunidenses no comércio
negreiro foi significativo156. Das viagens organizadas por Antonio Pedrozo de
Albuquerque, cujo local de construção das embarcações foi possível identificar, todas
foram construídas nos Estados Unidos, sendo duas destas na Filadélfia. A proveniência
das embarcações da Filadélfia chama atenção pelo fato de ser uma região onde, como
veremos, John Smith Gillmer atuava.
As expedições de contrabando iniciadas por Pedrozo entre 1833 e 1841 tiveram
como local de partida e destino, majoritariamente, a Bahia. A historiografia sobre o
tráfico já demonstrou que, em virtude principalmente da fiscalização britânica, para que
o comércio negreiro continuasse sendo realizado após 1831, inúmeras estratégias foram
empregadas pelos traficantes. Algumas delas incluíram a utilização de documentos,
bandeiras e passaportes falsos; o emprego de embarcações de menor porte; a equipagem
de navios com tripulantes de nacionalidade estrangeira; e o estabelecimento de novas
rotas e locais de desembarque157. Sobre este último aspecto, demonstramos em trabalhos
anteriores que a região do atual território de identidade de Baixo Sul da Bahia passou a
ser um dos locais de desembarque do contrabando negreiro na província neste
contexto158. Além disso, sabemos por seu registro de viagem para o Morro de São
Paulo, que Antonio Pedrozo de Albuquerque atuava naquela região. Sendo assim, é
possível que parte escravos trazidos para a Bahia em viagens negreiras por ele
organizadas tenham sido ali desembarcados.
155
TSTD. Viagem 3068. Disponível em: http://www.slavevoyages.org. Acesso em 12 de janeiro de 2020.
156
MARQUES, Leonardo. The United States and the Transatlantic Slave Trade to the Americas, 1776-
1867. New Haven: Yale University Prees, 2016.
157
Cf.: CONRAD, Robert. Tumbeiros... op. cit. VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo... op. cit.
RODRIGUES, Jaime. O infame comércio... op. cit. CARVALHO, Marcus Joaquim Maciel de. O
desembarque... op. cit.
158
Cf.: SANTOS, Silvana Andrade dos. Nestas costas... op. cit. SANTOS, Silvana Andrade dos. Nos
terrenos... op. cit.
64
Local de
Ano Local de
Nome da Início da Aquisição Escravos Escravos
de Bandeira Desembarque Resultado
Embarcação Construção viagem de Embarcados desembarcados
saída de Escravos
Escravos
Novo
1833 - - - - - - - Completa
Destino
Flor da
1833 - - - - - - - Completa
Etiópia
1834 Veloz - - - - - - - Completa
1836 Veloz EUA Portugal Bahia Onim 526 Freetown 469 Apreendido
1840 Picão - - - - - - - Completa
1840 Coquete - Brasil Bahia África 307 Bahia 277 Completa
1840 Picão - Brasil Bahia África 611 Bahia 550 Completa
Pedro
1840 - Portugal Bahia África 307 Bahia 277 Completa
Segundo
1841 Picão - Brasil Bahia África 538 Bahia 480 Completa
1841 Picão - Brasil Bahia África 336 Bahia 300 Completa
1841 Picão - Brasil Bahia África 498 Bahia 450 Completa
Elaboração própria
Fontes: VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo... op. cit. p. 478. TSTD. Viagens 2048, 2154, 2172, 2201, 2247 e 3068. Disponível em:
http://www.slavevoyages.org. Acesso em: 8 de janeiro de 2019.
65
159
Em 23 de outubro de 1860, o Correio da Tarde, periódico do Rio de Janeiro, reproduziu uma notícia
publicada pelo Jornal da Tarde, periódico da Bahia, na qual constava que em 27 de setembro ―[...] chegou
a Valença, a bordo do vapor Pedro II, o Sr. coronel Pedroso, na companhia de seus amigos os Srs.
Conselheiros Martins, Antonio Pereira Franco [...]‖. [Grifos meus]. Além disso, ambos atuaram na
segunda Companhia Baiana de Navegação a Vapor. Cf.: BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro).
Ano 6, n. 240, 23 de outubro de 1860. p. 2. BRASIL. Senado Federal. Decreto Nº 2.258 – de 25 de
setembro de 1858. Disponível em http://legis.senado.gov.br/
legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=64239&norma=80144. Acesso em: 02 de março de 2017.
160
CARVALHO, Marcus Joaquim Maciel de. O desembarque... op. cit.
66
161
Sobre o tráfico transatlântico de crianças escravizadas para o Brasil ver GUTIÉRREZ, Horácio. O
tráfico de crianças escravas para o Brasil durante o século XVIII. In: Revista História, n. 120, p. 59-72,
jan-jul 1989. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/18592. Acesso em: 27 de
abril de 2018. VALENCIA VILLA, Carlos. FLORENTINO, Manolo. Abolicionismo inglês e tráfico de
crianças escravizadas para o Brasil, 1810-1850. In: História (São Paulo). v. 35, e. 78, 2016. p. 1-20.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/his/v35/1980-4369-his-35-e78.pdf. Acesso em: 26/03/2018.
CARVALHO, Marcus Joaquim Maciel de. O desembarque do menino conguês Camilo em Pernambuco,
ou, o comércio transatlântico de crianças escravizadas depois de 1831. In: Anais do 8º Encontro
Escravidão e Liberdade. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em:
http://www.escravidaoeliberdade.com.br/site/images/8encontro/Textos8/marcusjoaquimmacieldecarvalho
.pdf. Acesso em: 26 de março de 2018.
67
Itaparica. Estando com 29 anos em 1878, a africana deve ter nascido no ano de 1849,
apenas um ano antes da assinatura da Lei Eusébio de Queiróz e 18 anos após a
assinatura da Lei Feijó. Possivelmente, Constança estava entre as últimas levas de
africanos ilegalmente escravizados trazidos para a Bahia.
O exemplo de Antonio Pedrozo de Albuquerque não é um caso isolado. A
historiografia sobre o contrabando negreiro tem demonstrado que os traficantes não só
traziam os escravos que iriam compor as escravarias de propriedades rurais, como,
muitas vezes, eram também proprietários. Um caso emblemático neste sentido é o caso
dos Irmãos Breves, no Rio de Janeiro, estudado por Thiago Campos Pessoa. Além de
organizar viagens negreiras durante a primeira metade do século XIX, mantinham
fazendas destinadas à recepção dos cativos recém-chegados, comercializavam parte
destes entre os cafeicultores do sul fluminense e do Vale do Paraíba, assim como
empregavam escravos provenientes do tráfico ilegal em suas propriedades. Produtores
de mais de 1,5% do café exportado pelo Brasil na década de 1860, os irmãos Breves
detinham escravarias com altas taxas de africanidade. Conforme Pessoa, dos
escravizados adultos que faleceram nas fazendas de Joaquim de Souza Breves entre
1865 e 1875, por exemplo, 70 % eram africanos; destes, pelo menos 15% haviam
desembarcado no Brasil durante a ilegalidade do tráfico162.
Outra atividade ilícita na qual Pedrozo esteve envolvido a qual pudemos mapear
foi o contrabando de moedas ocorrido na Bahia na primeira metade do século XIX,
momento em que a falsificação de moedas feitas com este metal havia se alastrado na
província. A cunhagem de moedas de cobre na Bahia ocorreu pela primeira vez em
1823 na cidade de Cachoeira. As moedas haviam sido produzidas com a autorização do
governo interino da província, instalado na cidade, em virtude da demanda de meio
circulante provocada pela guerra de independência. Medida inicialmente temporária,
por uma série de fatores, como a diminuição da oferta de créditos mercantis,
ocasionadas em razão da saída de muitos negociantes portugueses da província, e a
carência de meio circulante, mesmo após o fim da guerra as moedas de cobre
permaneceram em circulação. Se, de um lado, interesses econômicos levaram a
continuidade da circulação da moeda cunhada pelo governo interino, de outro, a baixa
qualidade destas, a disponibilidade de matéria-prima para a fabricação, bem como a
162
Cf.: PESSOA, Thiago Campos. O comércio negreiro na clandestinidade: As fazendas de recepção de
africanos da família Souza Breves e seus cativos. In: Afro-Ásia. n. 47, 2013. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/afro/n47/a02n47.pdf. Acesso em: 11 de fevereiro de 2020. p. 43. PESSOA,
Thiago Campos. A indiscrição… op. cit.
68
163
TRENTIN, Alexander. O derrame... op. cit.
164
MATTOSO, Kátia. Bahia, século XIX... op. cit. p. 512.
165
AN. Fundo Graças Honoríficas. Albuquerque, Antonio Pedroso D/” e outros.
166
Ibidem.
69
envolvimento com o ―bárbaro tráfico de Africanos‖. Para ele, atuando no trato ―[...]
nunca violou as leis do Império, nunca quis, violando-as, arriscar o que havia
licitamente ganho [...]‖167. Com suas palavras, Pedrozo demonstrava um nítido
reconhecimento da distinção entre o tráfico legal e o contrabando transatlântico, bem
como da necessidade de negar sua participação no último. A negativa à atuação em
apenas um destes períodos, o tráfico ilegal, indica também que ele tinha ciência de que
não seria possível desvincular totalmente sua imagem do tráfico negreiro, iniciativa,
ainda assim, infrutífera.
1. 2. Diversificação de investimentos
167
Ibidem.
70
168
BN. HDB. Annaes do Parlamento Brazileiro. Camara dos Srs. Deputados, Primeiro Anno da Nona
Legislatura, Sessão de 1853. Tomo Primeiro. Rio de Janeiro: Typographia Paralmentar, 1876. p. 189.
169
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 10, n. 209, 27 de julho de 1853. p. 1.
71
170
SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição à história dos transportes no Brasil: a Companhia
Bahiana de Navegação a Vapor (1839-1894). Tese (Doutorado em História). São Paulo: Universidade de
São Paulo, 2006. p. 101.
171
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro). Ano 6, n. 240, 23 de outubro de 1860. p. 2. OLIVEIRA,
Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 61. GRAHAM, Richard. Alimentar a cidade...
op. cit. p. 383.
172
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 10, n. 209, 27 de julho de 1853. p. 1.
173
BN. HDB. Annaes do Parlamento Brazileiro. Camara dos Srs. Deputados, Primeiro Anno da Nona
Legislatura, Sessão de 1853. Tomo Primeiro. Rio de Janeiro: Typographia Paralmentar, 1876. p. 281.
174
BN. HDB. O Correio Sergipense (Sergipe). Ano 16, n. 63, 17 de setembro de 1853. p. 1.
175
BN. HDB. O Correio Sergipense. (Sergipe). Ano 17, n. 82, 4 de novembro de 1854. p. 2.
176
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 28, n. 225, 14 de agosto 1853. p. 1.
72
embarcações no primeiro prazo (fins de 1853), contudo, fez com que a Companhia
iniciasse suas atividades apenas em janeiro de 1854177.
A primeira linha a entrar em operação fora a norte178. É possível crer que ela
fosse mais movimentada e/ou alvo de maior interesse por parte da Companhia. Apesar
de realizar inicialmente uma viagem por mês em cada linha (para o sul no dia 5 de cada
mês e para o norte no dia 1), ela logo passou a realizar duas viagens por mês na linha
norte (nos dias 1 e 15 de cada mês)179. Aparentemente, a linha sul era bem menos
movimentada, visto que em 1857 a companhia recebeu autorização para realizar apenas
uma viagem mensal nesta rota180.
Como demonstrado por Marcos Sampaio, isso pode ter se dado em virtude do
privilégio de navegação a vapor concedido a José Rodrigues Ferreira, em 3 de
novembro daquele ano, entre os portos do Rio de Janeiro e Caravelas. Diante disso, é
provável que os produtores locais da região de Caravelas tenham dado preferência a
realizar o escoamento de suas mercadorias para a Corte, em detrimento dos mercados
dos portos de atuação da Companhia Santa Cruz181. Por outro lado, é possível que as
províncias de Sergipe e Alagoas tenham encarado como vantajoso o estabelecimento da
linha de navegação a vapor para a Bahia, visto que poderiam tanto estreitar os laços
comerciais com esta, como exportar sua produção a partir do porto de Salvador182.
Além disso, é preciso levar em conta os próprios interesses de Antonio Pedrozo
de Albuquerque. Como aprofundaremos posteriormente, a Todos os Santos teve, ao
longo de toda sua existência, problemas relativos ao fornecimento de matéria-prima.
Desde 1849, dois anos após o estabelecimento entrar em operação, a sociedade Lacerda
e Cia passaria a comprar algodão das províncias de Alagoas, e mais tarde, também da
província de Sergipe (áreas cobertas pela atuação da Companhia Santa Cruz de
Navegação a Vapor) como forma de suprir a demanda por algodão da fábrica. Sendo
assim, os vapores que operavam na linha norte devem ter sido responsáveis pelo
177
BN. HDB. O Correio Sergipense (Sergipe). Ano 16, n. 58, 27 de agosto de 1853. p. 3.
178
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 12, n. 137, 19 de maio de 1855. p. 1.
179
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Bahia, para o anno de 1855. Ano 1.
Bahia: Typ. de Camillo de Lellis Masson & C., 1854. p. 227.
180
BN. HDB. BRASIL. Ministério do Império. Relatório da Repartição dos Negócios do Império. Anexo
P. Decreto nº 1.928, de 25 de abril de 1857, alterando as condições annexas ao Decreto nº 1.038, de 30 de
agosto de 1852, relativas á Companhia Santa Cruz, de navegação a vapor.
181
SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição à história dos transportes no Brasil: a Companhia
Bahiana de Navegação a Vapor (1839-1894). Tese (Doutorado em História). São Paulo: Universidade de
São Paulo, 2006. p. 97.
182
SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição... op. cit. p. 101.
73
183
BN. HDB. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 32, n. 291, 11 de dezembro de 1856. p. 2.
184
BN. HDB. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 31, 224, 28 de setembro de 1855. p. 1; e n. 236,
12 de outubro de 1855. p. 2.
185
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 12, n. 137, 19 de maio de 1855. p. 1.
185
BN. HDB. BRASIL. Ministério do Império. Relatório da Repartição dos Negócios do Império. Anexo
P. Decreto nº 1.928, de 25 de abril de 1857, alterando as condições annexas ao Decreto nº 1.038, de 30 de
agosto de 1852, relativas á Companhia Santa Cruz, de navegação a vapor.
186
SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição... op. cit. p. 127.
187
Ibidem. p. 128.
188
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Bahia, para o anno de 1856. Ano 2.
Bahia: Typ. de Camillo de Lellis Masson & C., 1855. p. 323.
189
BN. HDB. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 28, n. 252, 8 de novembro de 1852. p. 2.
74
190
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 12, n. 182, 3 de julho de 1855. p. 1.
191
BN. HDB. Annaes do Parlamento Brazileiro. Camara dos Srs. Deputados, Primeiro Anno da
Undecima Legislatura, Sessão de 1861. Tomo 4. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional
de J. Villeneuve & C., 1861. p. 218.
192
Um importante panorama mais recente sobre as dificuldades de integração da Bahia no século XIX
pode ser encontrado em OLIVEIRA, Nora de Cássia Gomes. O Conselho Geral de Província... op. cit.
193
MATTOSO, Kátia. Bahia, século XIX... op. cit. p. 469.
194
BN. HDB. Annaes do Parlamento Brazileiro. Camara dos Srs. Deputados, Quarto Anno da Decima
Legislatura, Sessão de 1860. Tomo 3. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional de J.
Villeneuve & C., 1860. p. 200.
75
estrada, bem como isenção de direitos de importação para a aquisição de máquinas para
a exploração destes produtos195.
Pouco sabemos a respeito de quem eram os parceiros de Pedrozo nesta
empreitada. Por outro lado, detemos a informação de que, em 1865, o governo imperial
autorizou a construção da ferrovia. Para isto, fora formada uma companhia em Londres
e o contrato foi assinado no ano seguinte pelo inglês Charles Morgan. Os trabalhos de
construção da estrada de ferro foram iniciados em 1867, porém os negócios não
frutificaram. Dois anos depois, em 1869, com capital de 89.906 libras e apenas 25
quilômetros de estradas construídas, a empresa entrou em liquidação. Em 1879, a massa
falida foi comprada pelo engenheiro inglês Hugh Wilson, que deu início a
reorganização da Companhia196.
Entre as concessões feitas pela Câmara ao primeiro projeto de construção da
estrada de ferro, liderado por Pedrozo, não deixa de chamar atenção a doação de uma
área para cultivo de algodão, matéria-prima empregada na Todos os Santos. Sendo
assim, a concessão da área de cultivo de algodão vinha ao encontro da demanda de
matéria-prima gerada pela fábrica. Os registros apontam, portanto, para o fato de que,
embora realizadas em áreas diferentes, os interesses e investimentos de Pedrozo na
fábrica têxtil, na navegação a vapor e na estrada de ferro estavam integrados entre si.
Mais do que isso, é possível crer que, em alguma medida, a fábrica, primeiro e mais
duradouro investimento, tenha condicionado algumas de suas decisões empresariais.
Tal qual outros envolvidos com o tráfico transatlântico, na década de 1860
Pedrozo também participou de iniciativas diretamente ligadas aos projetos de
desenvolvimento agrícola e de substituição da mão de obra escrava197. Ele foi ainda
195
BN. HDB. Annaes do Parlamento Brazileiro. Camara dos Srs. Deputados, Primeiro Anno da
Undecima Legislatura, Sessão de 1861. Tomo 4. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional
de J. Villeneuve & C., 1861. p. 218.
196
Cf. MATTOSO, Kátia. Bahia, século XIX... op. cit. p. 471. ZORZO, Francisco Antonio. O movimento
de tráfego a empresa da Estrada de Ferro Central da Bahia e seu impacto comercial: das iniciativas
privadas inaugurais à encampação estatal (1865-1902). In: Sitientibus, Feira de Santana, n. 26, 2002.
Disponível em:
http://www2.uefs.br/sitientibus/pdf/26/o_movimento_de_trafego_da_empresa_da_estrada_de_ferro.pdf.
Acesso em: 06 de dezembro de 2018.
197
Em trabalhos anteriores, discutimos sobre os projetos do Imperial Instituto Bahiano de Agricultura de
substituição de mão de obra escrava e da formação de uma força de trabalho qualificada para que fossem
empregadas em diversos ramos de atividades econômicas na Bahia. Sobre isso ver: SANTOS, Silvana
Andrade dos. ―Qualquer remédio é de urgência‖: O fim do tráfico de escravos e a agricultura da Bahia no
século XIX. In: Anais do 7º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Curitiba:
Universidade Federal do Paraná, 2015a. Disponível em:
http://www.escravidaoeliberdade.com.br/congresso/index.php/E-/7/paper/viewFile/73/32. Acesso em: 17
de dezembro de 2018. SANTOS, Silvana Andrade dos. ―Knowledge is power‖: A criação da Escola
Agrícola da Bahia e o projeto de substituição da mão de obra escrava (1831-1877). In: Anais e eletrônicos
76
207
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro). Ano 5, n. 232, 11 de outubro de 1859. p. 2
208
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 22, n. 105, 17 de abril de 1865. p. 2; n. 246, 8 e 9
de setembro de 1865. p. 1; e n. 267, 30 setembro de 1865. p. 1. Publicador Maranhense (Maranhão).
Ano, 24, n. 215, 23 de setembro de 1865, p. 2.
209
BN. HDB. Almanak Administrativo, Commercial e Industrial da Província da Bahia para o anno de
1873. Ano 1. Bahia: Typographia de Oliveira Mendes & C., 1872. p. 36;47.
210
BN. HDB. Relatorio com que Exm. Snr. Conselheiro Antonio Coelho de Sá e Albuquerque, presidente
da Provincia, passou interinamente a administração da mesma ao Exm. Senhor o Conselheiro Manuel
Maria do Amaral, vice-presidente, em 15 de dezembro de 1863. Bahia: Typ. Poggetti, 1864. p. 18.
211
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura.Correspondência recebida do
conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Mappa administrativo
dos operários da fábrica Sete de Setembro, em Itapagipe, do Comendador Antonio Pedrozo de
Albuquerque.
212
CALMON, Francisco Marques de Góes. Vida Econômico-Financeira da Bahia: elementos para a
história de 1808 a 1899. Salvador: Fundação de Pesquisas CPE, 1979. p. 41.
213
Ibidem. p. 47.
78
214
BN. HDB. Diario de São Paulo. (São Paulo). Ano 14, n. 3.784, 8 de agosto de 1878. p. 2.
215
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário Antonio Pedroso de Albuquerque. Classificação
– 07/3191A/06.
216
MATTOSO, Kátia. Bahia, século XIX... op. cit. p. 606-615.
217
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário Antonio Pedroso de Albuquerque. Classificação
– 07/3191A/06.
79
em uma propriedade situada no Norte do país. Como demonstrado por Ricardo Salles,
mesmo para as principais regiões cafeeiras no auge da produtividade, não era comum
encontrar proprietários com mais de 100 cativos. Em suas pesquisas sobre Vassouras,
na província no Rio de Janeiro, o autor observou que no período compreendido entre
1866 e 1880 (portanto, recorte onde se insere o falecimento e a abertura do inventário de
Antonio Pedrozo de Albuquerque), apenas 9,13% dos proprietários (os chamados
megaproprietários) possuíam 100 ou mais escravos218. Logo, é possível afirmar que
Pedrozo era não apenas um dos maiores (senão o maior) proprietário de escravos da
Bahia em fins da década de 1870, como um dos maiores escravistas de todo o Império.
Salles também observou que, em Vassouras, desde 1821 até 1880, houve um
aumento gradativo na concentração da propriedade escrava, proporcional à expansão da
lavoura cafeeira, ou seja, havia um pequeno número de proprietários centralizando a
propriedade de um grande número de cativos219. Mesmo que Pedrozo estivesse inserido
em outro contexto econômico regional, ao refletirmos sobre o aumento da concentração
da propriedade escrava de forma mais ampliada, podemos afirmar que, assim como
outros proprietários, a existência de uma escravaria superior a 550 cativos estava
relacionada com a capacidade de manter o tamanho de suas escravarias ou mesmo
expandi-las em um contexto de diminuição da oferta de cativos, tanto adquirindo
escravos de proprietários menores e menos economicamente estáveis, quanto acessando
diretamente o mercado atlântico negreiro até o limite da ilegalidade, como mencionado
anteriormente.
O terceiro aspecto a ser observado é o tamanho do rebanho pertencente à
Pedrozo. Parte deste poderia ser empregado em suas propriedades, fosse para
alimentação ou para o trabalho. Todavia, dado ao histórico de sua atuação no comércio
de charque quanto de carne verde, é possível crer que ele continuasse atuando em
negócios de abastecimento alimentar.
O quarto elemento diz respeito ao diminuto número de embarcações que
aparecem no inventário e, da mesma forma, o tipo das embarcações. Este dado chama
atenção na medida em que recordamos a importância que a navegação, de curta e longa
distância, teve nos negócios de Pedrozo ao longo de sua vida. Durante a primeira
metade do século XIX, por exemplo, Pedrozo foi proprietário de inúmeras embarcações,
218
SALLES, Ricardo. E o Vale era Escravo: Vassouras, Século XIX, Senhores e Escravos no Coração
do Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 157.
219
Ibidem.
80
1. 3. Considerações parciais
220
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário Antonio Pedroso de Albuquerque. Classificação
– 07/3191A/06.
81
221
BN. HDB. Correio Official (Rio de Janeiro). Tomo III, n. 64. 16 de setembro de 1834. p. 3.
222
Estudos de trajetória de homens nascidos em Portugal que foram bem-sucedidos nos negócios no
Brasil no século XIX demonstram que a busca por oportunidades e enriquecimento era um fator comum
entre eles. Cf.: DOURADO, Bruna Iglezias Motta. Comércio de grosso... op. cit. MESQUITA, João
Marcos. O comércio ilegal... op. cit.
223
Cf.: RIBEIRO, Gladys Sabina. A Liberdade em Construção: identidade nacional e conflitos
antilusitanos no Primeiro Reinado. Rio de Janeiro: Relume Dumará-FAPERJ, 2002.
224
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 62-63.
225
Ibidem. p. 36; 63.
226
RIBEIRO, Gladys Sabina. A Liberdade em Construção... op. cit.
227
Como o filho e o pai eram homônimos, doravante adotaremos Antonio de Lacerda quando em menção
ao filho, visto que era uma das formas pelas quais era conhecido, mantendo a redação Antonio Francisco
de Lacerda ou Lacerda apenas em referência ao pai.
83
Joaquim de Lacerda (Salvador, 1847 - Rio de Janeiro, 1910) e Ana Rosa de Lacerda
(Salvador, 1850-?)228.
Com exceção de Luiz, o mais velho, que faleceu tragicamente na travessia de
Valença para Salvador, vitimado por um raio229, seus demais filhos tiveram importante
inserção na sociedade e na economia baiana. Antonio de Lacerda foi o idealizador e
construtor do Elevador Hidráulico da Conceição que ligava a Cidade Baixa à Cidade
Alta em Salvador, conhecido hoje como Elevador Lacerda, um importante ponto
turístico situado no Centro da capital baiana. Ele foi casado em primeiras núpcias com
Adèle Montobio, de nacionalidade belga, filha do engenheiro Camille Montobio e, em
segundas, com Maria Joaquina da Cunha Menezes, filha de Manuel Inácio da Cunha e
Menezes (Visconde do Rio Vermelho)230.
Augusto Frederico de Lacerda, por sua vez, foi o primeiro engenheiro baiano,
diplomado pela Escola Superior de Engenharia do Rensselaer Polytechnic Institute, nos
Estados Unidos. Como aprofundaremos posteriormente, ele atuaria como diretor da
fábrica Todos os Santos após a morte de John Monteiro Carson. Augusto se casaria três
vezes, com a estadunidense Helen Agnes Kendrick, com Ubaldina Pedrozo do Amaral
(sobrinha de Antonio Pedrozo de Albuquerque) e com Eufrozina Maria do Desterro,
natural de Valença, com as quais teria ao todo 21 filhos231. Não há consenso nas fontes
e na bibliografia a respeito da ordem em que os matrimônios ocorreram.
Por fim, Joaquim de Lacerda, sobre quem detemos parcas informações, foi
comendador, casou-se com Virgínia Devoto e faleceu no Rio de Janeiro232. Antonio de
Lacerda, Augusto Frederico de Lacerda e Joaquim de Lacerda seriam proprietários da
fábrica têxtil Nossa Senhora do Amparo, em Valença, na década de 1860. Além disso,
228
GENI. Antonio Francisco de Lacerda. Disponível em: https://www.geni.com/people/Ant%C3%B4nio-
Francisco-de-Lacerda/6000000009967511470. Acesso em: 1 de agosto de 2019.
229
BARRETO, Filinto Elysio do R. O Comendador Antônio Francisco de Lacerda e a evolução dos
transportes urbanos na Cidade de Salvador. Salvador: Centro de Estudos Baianos, 1969. p. 5. GENI.
Luiz de Lacerda. Disponível em:
https://www.geni.com/profile/6000000072452271950/events/6000000072504783676. Acesso em: 31 de
julho de 2019.
230
Cf.: BARRETO, Filinto Elysio do R. O Comendador... op. cit. OLIVEIRA, Waldir Freitas. Antonio de
Lacerda (1834-1885): Registros e documentos sobre sua vida e obra. Salvador: Fundação Gregório de
Mattos, 2002.
231
OLIVEIRA, Edgar Otacílio da Silva. Valença... op. cit. p. 79-80. OLIVEIRA, Waldir Freitas. A
Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 40-45. GENI. Augusto Frederico de Lacerda. Disponível em:
https://www.geni.com/people/Augusto-Lacerda/6000000009958485710. Acesso em: 31 de julho de 2019.
232
BARRETO, Filinto Elysio do R. O Comendador... op. cit. p. 5.
84
Antonio e Joaquim atuariam em sociedade com o pai, entre outros agentes, na firma
―Antonio de Lacerda e Cia‖ que fora responsável construção do Elevador Lacerda233.
A respeito das filhas do negociante, Ana Rosa de Lacerda casou com Francisco
Moniz Barreto de Aragão (Visconde de Paraguassú) e seria mãe do médico e intelectual
baiano Egas Moniz Barreto de Aragão234. Enquanto isso, Maria José de Lacerda casaria
com o francês Edouard Callebaut, envolvido no comércio de diamantes na Chapada
Diamantina235. Quanto à Augusta de Lacerda, os relatos sobre sua vida são raros, o que
pode indicar um falecimento precoce.
No mesmo ano do casamento com Angélica Sampaio Viana, Lacerda parece ter
lhe prestado uma inusitada homenagem, batizando uma embarcação com o nome de sua
esposa. Esta seria uma linda prova de amor, não fosse o provável emprego do navio no
contrabando negreiro. Em maio de 1830, quando já havia entrado em vigor o Tratado de
Aliança e Amizade entre Brasil e Grã-Bretanha, o Consulado Britânico na Bahia
comunicou ao governo inglês sobre a suspeita de participação da embarcação Angélica
no tráfico ilegal. A embarcação estava sob o comando de Joaquim Ignácio do
Livramento e registrada como propriedade de João Baptista Oreille. Apesar do registro
de propriedade em nome de Oreille, o Consulado afirmou que Angélica aparentemente
pertencia ao comerciante Antonio Francisco de Lacerda236.
Ao contrário de Antonio Pedrozo de Albuquerque e John Smith Gillmer,
registros sobre a atuação de Antonio Francisco de Lacerda no tráfico transatlântico são
escassos. Por um lado, isso pode ser um indício de que o negociante, embora tenha
buscado ingressar na atividade, não obteve tanto sucesso quanto seus futuros sócios na
sociedade Lacerda e Cia, ou ainda, que obteve mais sucesso no acobertamento dos
vestígios de sua atuação no crime. Por outro, há ainda a hipótese de que ele não tenha
tido participação tão regular quanto seus sócios no negócio, o que não diminui a
importância que a atuação neste teve na sua trajetória.
Como demonstrado por Manolo Florentino, alguns negociantes, os chamados
traficantes eventuais, agiam no tráfico negreiro de forma especulativa, adentrando no
negócio no período de maior demanda e alta de preço dos escravos no mercado
233
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 63.
234
BARRETO, Filinto Elysio do R. O Comendador... op. cit. p. 5. GENI. Ana Rosa de Lacerda.
Disponível em: https://www.geni.com/people/Ana-Rosa-de-Lacerda/6000000072505404400. Acesso em:
31 de julho de 2019.
235
BARRETO, Filinto Elysio do R. O Comendador... op. cit. p. 5. OLIVEIRA, Waldir Freitas. A
Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 64.
236
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 61.
85
237
FLORENTINO, Manolo. Em costas negras... op. cit.
238
BN. HDB. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 36, n. 75, 30 de março de 1860. p. 1.
239
BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico... op. cit. p. 197.
240
BN. HDB. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 36, n. 75, 30 de março de 1860. p. 1.
241
TSTD. Viagem: 2982. Disponível em: https://www.slavevoyages.org. Acesso em: 6 de agosto de
2019.
86
242
Cf.: FALHEIROS, Elaine Santos. Luís e Antônio Xavier de Jesus: Mobilidade social de africanos na
Bahia oitocentista. Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2013.
JESUS, Paulo César Oliveira de. Bella Miquelina: tráfico de africanos, tensões, medos e lutas por
liberdade na Baía de Todos-os-Santos em 1848. In: CASTILLO, Lisa Earl. ALBUQUERQUE, Wlamyra.
SAMPAIO, Gabriela dos Reis. (Org.). Barganhas e querelas da escravidão: tráfico, alforria e liberdade
nos séculos XVIII e XIX. Salvador: EDUFBA, 2014. p. 65. CRUZ, Ronaldo Lima. Tráfico clandestino de
escravos: A atuação do Juiz de Direito de Ilhéus na apreensão dos africanos desembarcados na praia de
Mamoam. In: Documentação e Memória. Recife, TJPE. r.2, n.3, p.119-134. jan/dez 2010. Disponível em:
http://www.tjpe.jus.br/judiciario/didoc/memorial/revista/revista032010/7_Ronaldo_Lima_da_Cruz_Trafic
o_clandestino_de%20escravos.pdf. Acesso em 6 de agosto de 2019.
243
SANTOS, Silvana Andrade dos. Nestas costas... op. cit.
244
CARVALHO, Marcus Joaquim Maciel de. O desembarque... op. cit. PEREIRA, Walter Luiz Carneiro
de Mattos. PESSOA, Thiago Campos. Silêncios atlânticos: sujeitos e lugares praieiros no tráfico ilegal de
africanos para o sudeste brasileiro (c.1830-c.1850). In: Estudos Históricos (Rio de Janeiro). v. 32, n. 66,
jan-abr, 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
21862019000100079. Acesso em 6 de agosto de 2019. Ibidem. Fazendeiros-negreiros: personagens e
lugares do tráfico ilegal de africanos no litoral do sudeste brasileiro (c.1831-1856). In: Anais do 9º
Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Florianópolis: Universidade Federal de Santa
Catarina, 2019. Disponível em:
http://www.escravidaoeliberdade.com.br/site/images/9encontro/textos/thiago_pessoa_walter_pereira.pdf.
Acesso em 21 de fevereiro de 2020.
245
BN. HDB. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 36, n. 75, 30 de março de 1860. p. 1.
246
BN. HDB. Gazeta da Bahia (Bahia). n. 10. 2 de dezembro de 1831. p. 6.
87
1833 ele foi, com John Smith Gillmer entre outros, diretor interino de um banco emissor
particular projetado pela Associação Comercial da Bahia (ACB)247. Este dado revela
que, mais de uma década antes da fundação da Sociedade Lacerda e Cia, Gillmer e
Lacerda já tinham algum envolvimento e experiência conjunta. Vale ressaltar ainda que
o Banco tinha como um dos principais acionistas o sogro de Lacerda, Luiz Antonio
Viana248.
Naquele mesmo ano, os diretores interinos do Banco buscaram a aprovação do
então Ministro da Fazenda, Cândido José de Araújo Viana, futuro Marquês de Sapucaí,
para a fundação da instituição. Vale ressaltar que a autorização do Ministro da Fazenda
para a fundação de estabelecimentos bancários não era uma exigência. Logo, os
diretores do Banco devem tê-lo feito com a intenção se aproximar do Ministro,
seguramente visando benefícios futuros. Na correspondência enviada a Araújo Viana,
manifestaram que a proposta de fundação do estabelecimento havia surgido antes que
fossem publicitados os planos do governo em realizar a reforma no sistema monetário
do Império, na qual a unidade de emissões monopolizadas primeiro pelo Banco do
Brasil e, posteriormente, pelo Tesouro, seria substituída pelo sistema de pluralidade de
emissões249. Por fim, procuraram destacar a importância que a emissão de notas
particulares conversíveis em prata pelo Banco teria para a economia da Bahia,
especialmente nas regiões mais interioranas, onde a circulação de papel moeda era
escassa e as moedas de cobre abundavam250.
Em resposta à comunicação, o Ministro manifestou-se favorável à fundação do
Banco. Não deixou de mencionar, contudo, que existia uma lei autorizando a criação de
um Banco na capital do Império (que viria a ser o segundo Banco do Brasil) com caixas
filiais nas províncias. Sugeria, desta forma, que os diretores se mobilizassem para que o
Banco projetado pela Associação Comercial fosse convertido em caixa filial do Banco
247
Os demais diretores interinos do Banco foram André Comber, Carlos Werchener e Fred Luiz
Schirmed. Cf. BN. HDB. Correio Official (Rio de Janeiro). Tomo I, n. 90, 14 de Outubro de 1833. p. 2. A
respeito de André Comber, embora na documentação o nome do negociante apareça redigido desta forma,
é provável que se tratasse de um aportuguesamento do nome do negociante inglês Andrew Comber. Cf.:
Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 35. GUENTHER, Louise. The British
community of 19th century Bahia: public and private lives. Disponível em:
https://www.lac.ox.ac.uk/sites/default/files/lac/documents/media/guenther32.pdf. Acesso em: 13 de
agosto de 2019. p. 11.
248
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 63.
249
Cf.: GAMBI, Thiago Fontelas Rosado. O debate político e o pensamento econômico no Império
brasileiro: centralização de poder e monopólio de emissão no segundo Banco do Brasil (1852-1853). In:
Almanack. Guarulhos. n. 9, abril de 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/alm/n9/2236-4633-
alm-9-00176.pdf. Acesso em: 13 de janeiro de 2020.
250
BN. HDB. Correio Official (Rio de Janeiro). Tomo I, n. 90, 14 de Outubro de 1833. p. 2.
88
nacional, assim que este fosse fundado251. Ocorre que o banco nacional proposto por
Araújo Viana não prosperou252. Dada a ausência de referências sobre a existência de um
Banco como o projetado pela Associação Comercial da Bahia na década de 1830, é
possível que ele tenha sido estabelecido somente uma década mais tarde, em 1845, na
forma do Banco Comercial da Bahia, do qual John Smith Gillmer viria a ser um dos
diretores253.
A inserção de Lacerda na ACB, importante órgão de proteção e articulação da
classe comercial254, e sua atuação como diretor interino do banco projetado pela
instituição demonstram que, na década de 1830, sua atuação como negociante na Bahia
já estava bastante consolidada. Isso fica evidente também pelo movimento comercial
que ele realizava na Alfândega da província, assim como pelas inúmeras vezes em que
foi apresentado como fiador na instituição. Em 1834, apresentado como possível fiador
do inspetor interino da Tesouraria da Bahia, Joaquim Ignácio da Silva Pereira, aparece
com uma dívida de 47:432$423rs junto à Alfândega, um montante bastante
expressivo255. Para que se tenha uma estimativa do que o valor representava, o preço
médio de um escravo na freguesia açucareira de Santiago do Iguape, em Cachoeira, no
Recôncavo baiano, nessa época, era de 290$000rs256. Isto é, o débito de Antonio
Francisco de Lacerda era equivalente ao valor aproximado de 163 escravos.
A existência do débito não abalava a credibilidade do negociante, pelo contrário,
ratificava seu prestígio na sociedade mercantil baiana. O Tesoureiro da Fazenda da
Bahia, Joaquim Bento Pires de Figueiredo, avaliava que Lacerda era idôneo e ―[...] que,
apesar de tal débito, continua[va] a despachar em grosso nas Alfândegas de importação
e exportação [...]‖. Além disso, supunha que sua fortuna era incomensurável, ―[...] pelos
centos de contos de réis, que sucessivamente contribui[a] pelas duas Alfandegas [...]‖
Por fim, atribuía a responsabilidade pela existência do débito à própria Tesouraria, por
251
BN. HDB. Correio Official (Rio de Janeiro). Tomo I, n. 90, 14 de Outubro de 1833. p. 2.
252
GAMBI, Thiago Fontelas Rosado. O banco da Ordem: política e finanças no império brasileiro (1853-
66). Tese (Doutorado em História). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010. p. 16.
253
Cf.: MATTOS, Waldemar. Panorama econômico da Bahia, 1808-1960. Salvador: Tipografia Manu,
1961. p. 71. GAMBI, Thiago Fontelas Rosado. O banco da Ordem... op. cit. p. 100. AGUIAR, Pinto de.
História do Banco da Bahia. In: Revista de História. v. 41, n. 83, 1970. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/129083/125718. Acesso em: 1 de agosto de 2019. p.
102.
254
NEVES, Edson Alvisi. Magistrados e Negociantes na Corte do Império do Brasil: O Tribunal do
Comércio. Rio de Janeiro: Jurídica do Rio de Janeiro/FAPERJ, 2008. p. 283.
255
BN. HDB. Correio Official (Rio de Janeiro). Tomo III, n. 64, 16 de setembro de 1834. p. 3 e 4.
256
ROCHA, Uelton Freitas. “Recôncavas” fortunas: a dinâmica da riqueza no Recôncavo da Bahia
(Cachoeira, 1834-1889). Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia,
2015. p. 110.
89
negligência ―[...] em arrecadar os Direitos Nacionais, pelo fato de sobrestar numa dívida
tão considerável sem procurar arrecadá-la‖257.
Nos anos seguintes, Antonio Francisco de Lacerda continuaria sendo
apresentado como fiador por outros negociantes e firmas na Alfândega da Bahia. Em
agosto de 1842, por exemplo, foi indicado como fiador da firma G. A. Bieber & Cia
(Guilherme Augusto Bieber & Cia)258. Vale ressaltar que, neste mesmo período, o grupo
G. A. Bieber & Cia passaria a agenciar a primeira Companhia Baiana de Navegação a
vapor259, devendo existir alguma relação entre ambos os eventos. O próprio John Smith
Gillmer, quando já se encontrava na condição de sócio de Antonio Francisco de Lacerda
na sociedade Lacerda e Cia, em 1845, o apresentou como seu possível fiador na
Alfândega da Bahia260.
É válido mencionar também que, nos dois primeiros casos, nomes de parceiros
de Lacerda no patacho Sociedade Feliz foram indicados com possíveis fiadores, o que
aponta para a existência de uma ampla rede entre estes negociantes. No primeiro caso,
João da Costa Junior foi apresentado como possível fiador de Joaquim Ignácio da Silva
Pereira. No segundo, Francisco Pinto Lima foi apresentado como possível fiador da
firma Guilherme Augusto Bieber & Cia.
No final da década de 1830, em estabelecimento situado em frente ao Trapiche
Gaspar, Lacerda comercializava gêneros importados, como farinha de trigo, azeite doce
e de peixe e sabão em caixas vindos dos Estados Unidos, vinhos do Porto e da Espanha,
anis da Espanha, sebo de Trieste e manteiga, passas e taboas de pinho de Buenos
Aires.261 Os locais de origem dos produtos por ele comercializados, América do Norte,
Rio da Prata e Europa nos fornecem a dimensão do alcance de seus negócios já neste
período. É provável, inclusive, que tenha sido por meio do comércio de grosso que
Antonio Francisco de Lacerda se aproximou de John Smith Gillmer, visto que este
autou na primeira metade do século XIX importando dos Estados Unidos para a Bahia e
para o Rio de Janeiro, entre outros gêneros, farinha de trigo, item comercializado no
armazém de Lacerda.
Outro negociante estrangeiro com o qual Antonio Francisco de Lacerda parece
ter se envolvido foi o inglês Edward Johnston. Em 1837, o Ministério da Fazenda
257
BN. HDB. Correio Official (Rio de Janeiro). Tomo III, n. 64, 16 de setembro de 1834. p. 3 e 4.
258
BN. HDB. O Diario Novo (Pernambuco). n. 6, 6 de agosto de 1842. p. 2.
259
SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição... op. cit. p. 78.
260
BN. HDB. O Mercantil (Bahia). Ano 2, n. 29. Bahia: Typ. De M. L. Velloso e Comp.ª, 1845. p. 1.
261
BN. HDB Correio Mercantil (Bahia). v. 3, n. 540, 25 de Agosto de 1838. p. 4.
90
262
BN. HDB. Correio Official (Rio de Janeiro). n. 133, v. 1, 21 de junho de 1837. p. 1.
263
BN. HDB. O Commercio (Bahia). n. 176, 14 de agosto de 1843. p. 1.
264
BN. HDB. O Mercantil (Bahia). Ano 1, n. 45, 23 de dezembro de 1844. p. 2.
265
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). v. 3, n. 526, 6 de agosto de 1838. p. 4; ano 6, n. 83, 17 de abril
de 1839. p. 4; ano 6, n. 271, 18 de dezembro de 1839. p. 3; e ano 7, n. 68, 24 de março de 1840. p. 4.
266
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). v. 3, n. 526, 6 de Agosto de 1838. p. 4.
267
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). v. 3, n. 533, 16 de Agosto de 1838. p. 4.
91
de janeiro de 1845, remeteu para o Rio de Janeiro a escrava Benvida, Calabar 268. Em 11
de fevereiro de 1847, anunciava também no Correio Mercantil a venda ―com condições
favoráveis‖ de uma propriedade, inclusive os escravos nela existentes, no alto da Fonte
Nova269. Por fim, no dia 23 daquele mesmo mês e ano, aparecia um anúncio de
desaparecimento do escravo Damião, uçá, padeiro, com idade estimada em 25 anos270.
Lacerda seguiu em alguma medida um caminho similar ao de Antonio Pedrozo
de Albuquerque, procurando o enriquecimento e o lucro nas alternativas disponíveis no
período, independente de serem legais ou ilegais. Em 31 de maio 1837, o negociante
aparece como arrematante de lotes de moedas cisalhas de cobre recolhidas que foram à
hasta pública na Bahia271, em um episódio que revela a realização de práticas
especulativas respaldadas pelo governo da província, que ganhou várias páginas no
periódico de inspiração liberal, O Censor272. De acordo com o jornal, após o leilão já ter
sido realizado, o Ministro da Fazenda, Manuel Alves Branco, ordenou que a
arrematação fosse suspensa e que a cisalha fosse remetida para a casa de Samuel
Phylips, de Londres, provavelmente em virtude do baixo preço a que foi vendida273.
Ao receber a portaria, o inspetor interino da casa da Fazenda da Bahia, Joaquim
Bento Pires de Figueiredo Camargo, teria buscado em outras autoridades e funcionários
da província aval para manter a arrematação de Lacerda. Vale recordar que este fora o
mesmo Joaquim que, na condição de Tesoureiro da Fazenda da Bahia, em 1834, havia
classificado Lacerda como negociante idôneo, a despeito do exorbitante débito que este
apresentava na Alfândega da província. Sendo assim, é possível crer que estes detinham
alguma aproximação e provavelmente atuavam em conluio, com o burocrata estando a
serviço dos interesses do negociante.
No procurador fiscal da província Figueiredo Camargo não encontrou apoio para
manter a arrematação com Lacerda, visto que, entre outros fatores, de acordo com o
procurador, a cisalha ainda não havia sido entregue, nem o pagamento feito pelo
arrematante. Insatisfeito com a falta de apoio, o inspetor partiu então para o presidente
da província, Francisco de Sousa Paraíso, no qual, segundo o periódico, encontrou uma
268
BN. HDB. O Mercantil (Bahia). Ano 2, n. 24, 30 de janeiro de 1845. p. 3.
269
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 14, n. 33, 11 de fevereiro de 1847. p. 4.
270
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 14, n. 46, 26 de fevereiro de 1847. p. 4.
271
BN. HDB. O Censor (Bahia). Typ. Da Aurora de Serva e Comp., 1837. p. 65.
272
LOPES, Juliana Serzedello Crespim. Identidades Políticas e Raciais na Sabinada (Bahia, 1837-1838).
Dissertação (Mestrado em História). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008. p. 49.
273
De acordo com o periódico, a libra da cisalha foi arrematada por Lacerda por 201rs, enquanto era
possível estimar o preço da venda em, pelo menos, 320rs a libra. BN. HDB. O Censor (Bahia). Typ. Da
Aurora de Serva e Comp., 1837. p. 69.
92
274
BN. HDB. Correio Official (Rio de Janeiro). n. 4, v.1, 5 de janeiro de 1838. p. 1.
275
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 61.
276
Os demais membros que assumiram a direção da Associação Comercial foram: José Agostinho de
Sales, Francisco Leciague, José Alves da Crus, Luiz Antonio Vianna e Antonio José da Costa, além de
Antonio Plácido da Rocha, como presidente; José Affonso Caravlho, como secretario; Manoel Belens de
Lima, como tesoureiro. Cf.: BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 7, n. 234, 5 de novembro de
1840. p. 3.
93
seus pares. Nos anos seguintes, ele permaneceria atuando na Associação, foi secretário
interino desta em 1843 e novamente membro da junta diretora, em 1863277.
Para além da sua atuação como negociante na Bahia, Lacerda teve significativa
atuação político-social, quase sempre a partir de iniciativas da classe comercial, sendo
membro de uma série de comissões atuantes nestas duas esferas em Salvador, o que
denota que, assim como no caso Antonio Pedrozo de Albuquerque, o envolvimento do
negociante com atividades ilegais e práticas especulativas não afetou sua imagem
perante a alta sociedade baiana. Em 1839, ele foi membro, por exemplo, de uma
comissão composta pelo corpo do comércio da Bahia responsável pela ―riquíssima
iluminação‖ dos festejos em comemoração ao 14º aniversário de D. Pedro II, que
ocorreram entre os dias 2 e 4 de dezembro na província278. Em 1843, lá estavam
novamente Lacerda e Gillmer atuando desta vez em uma comissão para remoção de lixo
e entulho, ―da montanha sobranceira a alfandega, para acautelar o desabamento de
prédios arruinados‖279.
Com sólida atuação no comércio de grosso trato e na Associação Comercial da
Bahia, tendo até mesmo participando da precoce iniciativa de fundação de um banco
pela instituição na década de 1830, a partir de meados da década de 1840, Antonio
Francisco de Lacerda passaria a ampliar ainda mais suas atividades, como
demonstraremos a seguir.
2. 2. Diversificação de investimentos
inicial investido na sociedade. Isso demonstra que ele era o principal interessado na
criação desta e na fundação da fábrica, visto que, pelo menos um de seus sócios,
Antonio Pedrozo de Albuquerque, era tão ou mais afortunado que o negociante.
A presença de Gillmer e Lacerda na Associação Comercial deve ter contribuído
em grande medida para a formação e a consolidação do projeto. Um parecer emitido por
ambos em nome da instituição a pedido do governo da província, em 1845, embora não
explicite uma relação direta entre o surgimento da fábrica e a ACB, apresenta
importantes informações a respeito do conhecimento que Gillmer e Lacerda tinham do
mercado no qual iriam se inserir.
Em 31 de dezembro de 1845, o presidente da província da Bahia, Francisco José
de Sousa Soares de Andréa (futuro Barão de Caçapava), requereu da diretoria da ACB a
elaboração de um relatório com esclarecimentos a respeito das culturas do algodão, do
fumo, do cacau e do café. Sobre o algodão, o interesse da presidência da província era
saber quais as espécies existentes dentro e fora da Bahia, qual espécie mais utilizada na
Europa (e qual a mais apropriada para o cultivo no Brasil), quais suas características,
assim como os meios mais seguros para se obter sementes280.
A mesa diretora formou, então, uma comissão composta por três negociantes que
pudessem auxiliá-la ―com suas luzes‖ na preparação da resposta a ser dada à presidência
da província. Como mencionado, dois dos negociantes que compuseram a comissão
foram Antonio Francisco de Lacerda e John Smith Gillmer, o terceiro negociante a
compor a comissão fora André Comber. O parecer foi finalizado e enviado pela
comissão à mesa diretora da Associação Comercial em 4 de março de 1846 e remetido
para a presidência da província no dia 26. Das 40 páginas e meia do documento que se
ocupam da abordagem das culturas propriamente ditas, aproximadamente metade delas
(vinte páginas e meia) foi dedicada à cultura do algodão. As demais páginas foram
dividas entre a cultura do café (quatro páginas), do fumo (cinco páginas e meia), do
cacau (duas páginas) e da cana (sete páginas e meia)281.
No caso do parecer, quantidade também foi sinônimo de qualidade. O texto
sobre o cultivo do algodão foi o mais detalhado e demonstrou que Lacerda, Gillmer e
Comber detinham vasto conhecimento a respeito do cultivo e do beneficiamento da
matéria-prima que seria utilizada a partir do ano seguinte na fábrica Todos os Santos.
280
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Administração. Correspondência
recebida da Casa do Comércio, Praça do Comércio e Associação Comercial (1819-1858). Maço 1580. 26
de março de 1846.
281
Ibidem.
95
282
Ibidem.
283
Ibidem.
284
Ibidem.
96
285
BAPTIST, Edward. A metade que nunca... op. cit. p. 123; 164.
286
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Administração. Correspondência
recebida da Casa do Comércio, Praça do Comércio e Associação Comercial (1819-1858). Maço 1580. 26
de março de 1846.
97
287
APEB. Seção Provincial. Série Governo da Província. Correspondência recebida da Associação
Comercial (1840-1872). Maço 1580-1. 18 de junho de 1846.
288
Ibidem.
289
Ibidem.
98
290
Ibidem.
291
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 62.
292
Além destes, faziam parte da sociedade o Barão de Fiais (Luís Paulo de Araújo Bastos), Camillo
Antonio da Silva, José Affonso do Carvalho, Wencesláo Miguel d‘Almeida, João Alves Pitombo, Justino
José Fernandes, Guilherme Geach, José dos Santos Corroia e Francisco Pinto Lima, o mesmo Pinto Lima
com quem havia estado em parceria no caso do patacho Sociedade Feliz. Cf.: BN. HDB. Correio
Mercantil (Bahia). Ano 14, n. 25, 02 de fevereiro de 1847. p. 3.
293
SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição... op. cit. p. 87-92
294
Ibidem. p. 92-95.
99
295
Ibidem. p. 99.
296
Ibidem. p. 99.
297
Ibidem. p. 10.
100
298
Ibidem. p. 128.
299
Ibidem. p. 128.
300
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Bahia, para o anno de 1863. Ano 9.
Bahia: Typ. de Camillo de Lellis Masson & C., 1863. SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma
contribuição... op. cit. p. 264.
301
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 64.
302
BN. HDB. Publicador Maranhense (Maranhão). Ano 17, n. 286, 20 de dezembro de 1858. p. 1.
101
pela seca na província da Bahia303. Já na década de 1860, ele, assim como Pedrozo,
seria agraciado com inúmeros títulos honoríficos, concedidos em reconhecimento aos
serviços prestado à província da Bahia e ao Império do Brasil: Oficial (1859),
Comendador (1860) e Dignitário da Ordem da Rosa (1866) e Comendador da Ordem de
Cristo (1860)304.
No final da década de 1840, além da fábrica Todos os Santos, Antonio Francisco
de Lacerda empreendeu mais um investimento na região de Valença, financiando a
construção de um farol no Morro de São Paulo305, localidade, que, como vimos, fora
desde o período colonial um importante ponto de referência à navegação costeira da
província da Bahia. A construção do farol, realizada sobre a direção do engenheiro John
Monteiro Carson, que teve papel fundamental na fábrica Todos os Santos, aponta para
uma provável intensificação da navegação na região.
Embora seja inegável a importância que a construção do farol teria para a
navegação marítima e fluvial da província da Bahia, não podemos deixar de refletir
sobre os possíveis interesses de Antonio Francisco de Lacerda com o financiamento
deste empreendimento. Em alguma medida, é possível que esse investimento viesse
atender às demandas geradas pela fábrica de fornecimento de matéria-prima e do
comércio de mercadorias que dependiam da navegação. Além disso, havia o próprio
investimento realizado pelo negociante na Companhia Bonfim e, mais tarde, na segunda
Companhia Baiana de Navegação, cujos interesses estavam diretamente ligados a uma
boa sinalização costeira do litoral da Bahia.
Contudo, a construção do farol do Morro de São Paulo também devia atender a
interesses relacionados ao desenvolvimento de negócios ilícitos, como o próprio
contrabando negreiro que se dissipava ao longo do litoral sul da província (onde, como
303
BN. HDB. Correio da Victoria (Espírito Santo). Ano 21, n. 101, 25 de dezembro de 1860. p. 3. Falla
recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia pelo Presidente da Provincia o Conselheiro e
Senador do Imperio Herculano Ferreira Penna em 10 de Abril de 1860. Bahia: Typographia de Antonio
Olavo da França Guerra, 1860. p. 181. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 48, n. 339, 7 de
dezembro de 1868. p. 2. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 45, n 273, 29 de Novembro de 1869.
p. 2. Relatorio apresentado a Assembléa Legislativa Provincial da Bahia pelo excellentissimo senhor
Barão de S. Lourenço, Presidente da Mesma Provincia, Em 6 de Março de 1870. Bahia: Typographia do
Jornal da Bahia, 1870.
304
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Bahia, para o anno de 1860. Ano 6.
Bahia: Typ. de Camillo de Lellis Masson & C., 1860. p. 351. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 17,
n. 74, 14 de março de 1860. p. 1. Ano 23, n. 263, 23 de setembro de 1866. p. 2. Almanak Administrativo,
Mercantil e Industrial
305
JESUS, Thayse Freitas Xavier de. Determinantes da competitividade e estratégias empresarias: uma
análise da evolução da indústria têxtil no Brasil a partir do caso da Companhia Valença Industrial.
Monografia (Bacharelado em Ciências Econômicas). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2011. p.
38.
102
306
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 64;73.
307
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro). n. 272, 11 de dezembro de 1848. p. 1
308
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 64. PINHEIRO, Eloísa Pétti.
Europa, França e Bahia: difusão e adaptação de modelos urbanos (Paris, Rio e Salvador). 2. ed.
Salvador: EDUFBA, 2011. p. 197. NUNES NETO, Francisco Antonio. Entre fontes, chafarizes e o dique:
a introdução do sistema de abastecimento de água em Salvador. In: Revista FSA. Teresina, v. 11, n. 4,
out/dez. 2014. p. 142.
309
BN. HDB. Falla que recitou na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia, o Vice-Presidente da
Provincia Dr. José Augusto Chaves, no dia 1º de Setembro de 1861. Bahia: Typographia de Antonio
Olavo da França Guerra, 1861. p. 17.
310
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 40, n. 301, 7 de outubro de 1865. p. 1.
103
exemplo, apenas em 1853, quando já contava com 56 anos, ele viria a se tornar irmão da
Santa Casa de Misericórdia de Salvador. A título de comparação, vale recordar que
Pedrozo, um ano mais jovem do que Lacerda, havia sido provedor da Santa Casa
dezesseis anos antes, em 1837. Apesar disto, uma vez membro da irmandade, o
negociante parece não ter recebido tratamento distinto por parte de seus membros, pelo
contrário, deve ter sido muito bem aceito entre eles, visto que chegou a ocupar o cargo
de tesoureiro da Santa Casa311.
Nos anos de 1866 e 1868, Antonio Francisco de Lacerda foi membro de duas
comissões com importante viés político. Em 1866, foi membro de uma comissão
encarregada pela presidência da província da Bahia de reunir e administrar
equipamentos, como fardamento, armas e utensílios de enfermaria destinados à Guerra
do Paraguai312. Vale recordar que Pedrozo fez uma doação de 20:000$000rs e de tecidos
da fábrica Todos os Santos para a confecção de fardamentos de soldados, para a Guerra.
Dois anos mais tarde, em 1868, o negociante integrou uma comissão encarregada pela
recepção do Duque de Saxe, Dom Luis Augusto de Saxe Coburgo e Gotha, marido da
princesa Leopoldina e genro de D. Pedro II, e seu irmão D. Luis Philippe, em
Salvador313.
Durante o período em que realizou os investimentos na fábrica, nas companhias
de navegação e no farol do Morro de São Paulo, Lacerda continuou atuando em
instituições da classe comercial na Bahia. A partir de meados da década de 1850, além
de sua participação na Associação Comercial, o negociante alcançaria o ápice da sua
atuação burocrática no ramo do comércio da província, com sua eleição para
composição do Tribunal do Comércio da Bahia. Nos anos de 1854, 1855 e 1860 ele foi
deputado suplente e de 1863 a 1867 e, novamente, em 1870, deputado da instituição314.
311
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 64.
312
BN. HDB. Relatorio apresentado á Assembléa Legislativa Provincial da Bahia pelo excellentissimo
Presidente da Provincia o Comendador Manuel Pinto de Souza Dantas no dia 1º de março de 1886.
Bahia: Typographia de Tourinho & C, 1866. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 44, n. 76, 18 de
março de 1866. p. 6.
313
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro). Ano 25, n. 26, 16 de agosto de 1868. p. 3.
314
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Bahia, para o anno de 1855. Ano 1.
Bahia: Typ. de Camillo de Lellis Masson & C., 1854. p. 151. Almanak Administrativo, Mercantil e
Industrial da Bahia, para o anno de 1856. Ano 2. Bahia: Typ. de Camillo de Lellis Masson & C., 1855.
p. 186. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Bahia, para o anno de 1860. Ano 6. Bahia:
Typ. de Camillo de Lellis Masson & C., 1860. p. 206. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da
Bahia, para o anno de 1863. Ano 3, depois do bissexto. Bahia: Typ. de Camillo de Lellis Masson & C.,
1863. p. 207. Almanak da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno bissexto de 1864. Vigesimo-
primeiro ano, segunda série XIV. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1864. p. 118. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno de 1865. Ano
22, série 2, n. 17. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1865. p. 115. Almanak Administrativo,
104
Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno de 1866. Ano 23, série 2, n.
18. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1866. p. 114. Almanak Administrativo, Mercantil e
Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno de 1867. Ano 24, série 2, n. 19. Rio de
Janeiro: E. & H. Laemmert, 1867. p. 113. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e
Provincia do Rio de Janeiro para o anno de 1870. Ano 27, série 2, n. 22. Rio de Janeiro: E. & H.
Laemmert, 1870. p. 117.
315
LOPES, José Reinaldo de Lima. A formação do direito comercial brasileiro: A criação dos tribunais de
comércio do Império. In: Cadernos Direito GV. São Paulo: Ed. Fundação Getulio Vargas. v. 4, n. 6,
novembro de 2007. Disponível em:
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/2827/caderno%20direito%2020.pdf.
Acesso em: 14 de agosto de 2019.
316
NEVES, Edson Alvisi. Magistrados e Negociantes... op. cit. p. 283.
317
BN. HDB. A Constituição (Ceará). Ano 8, n. 53, 11 de março de 1870. p. 1.
318
Cf.: SANTOS, Silvana Andrade dos. ―Knowledge is power‖... op. cit. SANTOS, Silvana Andrade dos.
―Qualquer remédio é de urgência‖... op. cit.
105
319
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 11, n. 239, 15 de agosto de 1854. p. 1.
320
A introdução de colonos chineses foi um tema controverso na Bahia e no Brasil durante o século XIX.
Embora se constatassem vantagens na introdução desta mão de obra , verificada a partir dos exemplos
bem-sucedidos realizados por outros países, como o Peru e Cuba, alguns aspectos, especialmente
relacionadas às questões raciais, levavam a existência de uma oposição à introdução de colonos chineses.
Cf: ARAÚJO, Nilton de Almeida. Agriculturas, ciências e raças: as teses da Escola Agrícola da Bahia e a
construção do Estado brasileiro. In: Anais do 16º Seminário Nacional de História da Ciência e da
Tecnologia. Campina Grande: Universidade Federal de Campina Grande; Universidade Federal da
Paraíba, 2018. Disponível em:
https://www.16snhct.sbhc.org.br/resources/anais/8/1535763406_ARQUIVO_SBHCfinalizandocorpo.pdf.
Acesso em: 14 de agosto de 2018. PERES, Victor Hugo Luna. Os “Chins” nas Sociedades Tropicais de
Plantação: Estudo das propostas de importação de trabalhadores chineses sob contrato e suas
experiências de trabalho e vida no Brasil (1814 -1878). Dissertação (Mestrado em História). Recife:
Universidade Federal de Pernambuco, 2013.
321
BN. HDB. Falla recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia, pelo presidente da
província o Dr. João Mauricio Wanderley: 1 de março de 1854. Bahia: Typographia de Antonio Olavo da
França Guerra e Comp., 1854.
322
BN. HDB. O Constitucional (Bahia). Ano 5, n. 45, 14 de junho de 1855. p. 2.
323
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Bahia, para o anno de 1858. Ano 4.
Bahia: Typ. de Camillo de Lellis Masson & C., 1858.
106
328
Sobre a trajetória de Joaquim Pereira Marinho ver: XIMENES, Cristiana. Joaquim Pereira Marinho...
op. cit.
329
MATTOS, Waldemar. Panorama econômico... op. cit. AGUIAR, Pinto de. História do Banco... op
cit.
330
AGUIAR, Pinto de. História do Banco... op. cit. Idem. História de um banco. Salvador: Centro de
Estudos Bahianos, 1970.
331
AGUIAR, Pinto de. História do Banco... op. cit. Idem. AGUIAR, Pinto de. História de um banco... op.
cit.
332
MATTOS, Waldemar. Panorama econômico... op. cit. p. 74.
333
BN. HDB Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 14, n. 277. 10 de outubro de 1857, p. 1. De acordo
com Mattos, o banco contava com um capital de 8 mil contos de réis, representado por 40 mil ações de
200 réis. Já segundo Aguiar, o banco contava com 700 acionistas e com um capital ouro de 4 mil contos.
Cf.: MATTOS, Waldemar. Panorama econômico... op. cit. p. 74. AGUIAR, Pinto de. História do
Banco... op. cit. p. 102. AGUIAR, Pinto de. História de um banco... op. cit. p. 7.
334
BN. HDB Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 15, n. 291. 16 de outubro de 1858. p. 2. Diario do
Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 40, n. 49, 13 de maio de 1860. p. 2.
108
concorreu as eleições para diretoria da instituição, não logrando êxito (obteve 165 votos,
sendo o terceiro menos votado)335. Já no ano de 1867, voltou a fazer parte do conselho
fiscal do estabelecimento, permanecendo nesta função até o ano de 1870, pouco antes
de seu falecimento336. Mas o investimento de Lacerda não se restringiu ao banco
provincial, na década de 1860, ele era o 14º maior acionista do Banco do Brasil, com
734 ações337.
Vale ressaltar que o Banco da Bahia, que contava com a participação de nomes
que atuariam a partir do ano de 1858 na segunda Companhia Baiana de Navegação,
como Francisco Gonçalves Martins, Joaquim Pereira Marinho e o próprio Antonio
Francisco de Lacerda, seria um dos principais fornecedores de empréstimos para a
Companhia338, apontando mais uma vez para os vínculos existentes entre os
empreendimentos realizados por estes negociantes.
Os anos de 1857 e 1858 representaram, portanto, um importante marco na
trajetória econômica de Antonio Francisco de Lacerda. Como acima mencionado, houve
sua inserção no setor bancário e a formação da segunda Companhia Baiana de
Navegação, negócios no quais ele exerceu importante papel, figurando não só como
acionista, mas ocupando cargos de direção. Se, de um lado, o negociante dava início a
novos projetos, de outro, buscava encerrar a sua participação na fábrica Todos os
Santos. Embora, como aprofundaremos no capítulo 5, a dissolução da sociedade
Lacerda e Cia só viesse ocorrer dois anos mais tarde, em 1860, a fábrica Todos os
Santos esteve à venda desde 1858. O distrato da firma deixa explícito que a razão do
encerramento desta fora o interesse de Antonio Francisco de Lacerda em deixar a
sociedade.
Os motivos apresentados pelo negociante para a saída da sociedade Lacerda e
Cia convergiam com as razões pelas quais o Banco da Bahia fora fundado e a segunda
Companhia Baiana de Navegação surgiu: a conjuntura adversa pela qual a economia da
Bahia passava, tanto pelos efeitos da crise econômica mundial e pelas medidas
econômicas adotadas pelo governo brasileiro, quanto pela epidemia de cólera e pela
seca que assolavam a província no período. Vale recordar que a segunda Companhia
Baiana de Navegação havia sido resultado da fundição das companhias Santa Cruz e
335
BN. HDB Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 18, n. 78, 20 de março de 1861. p. 2.
336
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 24, n. 79, 20 de março de 1867. p. 2. A
Constituição (Ceará). Ano 8, n. 98, 12 de maio 1870. p. 1.
337
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 23, n. 331, 4 de dezembro de 1866. p. 3.
338
SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição... op. cit. p. 184.
109
Bonfim, em virtude dos problemas que estas empresas enfrentavam no período. Além
disso, a própria criação do Banco da Bahia procurava em alguma medida responder às
demandas dos negociantes baianos por créditos e capitais.
Lacerda despediu-se da sociedade em carta aberta destinada aos operários da
fábrica, publicitada no Jornal da Bahia e reproduzida no Rio de Janeiro pelo Correio
Mercantil, a pedido. O empresário atribuiu sua saída da sociedade a uma série de
aspectos econômicos, como a crise financeira pela qual a província da Bahia passava e
as políticas econômicas adotadas pelo Ministro da Fazenda, Ângelo Moniz da Silva
Ferraz (que, diga-se de passagem, era natural de Valença), a quem acusou de
inexperiente, como as novas políticas de crédito e a nova lei bancária339, certamente se
referindo à lei nº 1.083, de 22 de agosto de 1860, conhecida como Lei dos Entraves que,
entre outras coisas, restringia a emissão dos bancos e afetava diretamente a oferta de
créditos340. Ele considerava que a restrição de créditos ameaçava desde as grandes e
estáveis fortunas até as indústrias nascentes que necessitavam de auxílio governamental
(dentre as quais incluía a Todos os Santos).
As declarações dadas no encerramento da sociedade Lacerda e Cia e a acusação
feita ao Ministro da Fazenda repercutiram negativamente em alguns segmentos da
sociedade brasileira do período e ganharam maiores proporções341. A carta de despedida
do empresário foi alvo de críticas do Jornal do Commercio, no Rio de Janeiro, em uma
sátira chamada Os de lá, e os de cá, que saía em explícita defesa de Silva Ferraz. A
publicação refutava o argumento de Lacerda, que havia atribuído a crise econômica da
Bahia à atuação do Ministro da Fazenda, afirmando que a crise era produto de fatores
internos, a exemplo das secas que assolaram a província e provocaram encadeamentos
negativos, resultando na retração do crédito. Questionava também a sua experiência
quando, segundo eles, a nova lei bancária (considerada vexatória por Lacerda) havia
sido discutida e aprovada por pessoas competentes na matéria, enquanto os negócios do
empresário haviam lhe causado dívidas. Por fim, acusavam Lacerda de ter se
posicionado daquela forma na correspondência por ignorância ou oposição política à
atuação do Ministro (vale recordar que Silva Ferraz era natural de Valença) e atribuíam
a necessidade de venda de sua parte na fábrica às práticas especulativas que havia feito
339
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 17, n. 277, 6 de outubro de 1860. p. 2.
340
Cf.: GUIMARÃES, Carlos Gabriel. A presença inglesa... op. cit. SOARES, Luiz Carlos. A manufatura
na formação... op. cit.
341
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro) Ano 6, n. 240, 23 de outubro de 1860. p. 2.
110
342
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 35, n. 278, 7 de outubro de 1860. p. 1.
343
Cf.: GUIMARÃES, Carlos Gabriel. A presença inglesa... op. cit. SOARES, Luiz Carlos. A manufatura
na formação... op. cit. VITORINO, Artur. Política, agricultura... op. cit.
344
BRASIL. Relatorio da 2ª Exposição Nacional de 1866. 2ª parte. Rio de Janeiro: Typographia Nacional,
1869. Disponível em: https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=coo.31924019972011;view=1up;seq=9.
Acesso em 14 de janeiro de 2019.
345
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 63.
346
OLIVEIRA, Edgar Otacílio da Silva. Valença... op. cit. p. 79-80.
347
Segundo Waldir Freitas de Oliveira, a sociedade teria sido iniciada no ano de 1862 com o propósito de
fundação da fábrica. Já, segundo Pedro de Almeida Vasconcelos, a fábrica terias sido inaugurada em
1860. Cf.: OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 64. VASCONCELOS,
111
Pedro de Almeida. Salvador: Transformações e permanências. 2 ed. rev. e ampl. Salvador: EDUFBA,
2016. p. 258.
348
VASCONCELOS, Pedro de Almeida. Salvador... op. cit. p. 258.
349
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 25, n. 154, 4 de junho de 1868. p. 3. Correio
Paulistano (São Paulo). Ano 15, n. 3.604, 10 de junho de 1868. p. 2
350
Os demais sócios da empresa foram Manoel Teixeira de Carvalho, Manoel Gonsalves da Costa,
Bartholomeo Costa & Companhia, Paulo Pereira Monteiro Junior, Antonio Luiz Vieira Lima, José Luiz
Vieira Lima, Francisco Nicolau Gavazza, Joaquim Matheus dos Santos & Companhia, Manoel Joaquim
Alves, Udo Schuleussner, Wilson Hett & Companhia, S. F. Griffin, J. G. Illins, Joaquim José de Souza
Guimarães, Mathias Gonsalves Carteado, Sebastião Lopes da Costa, Luiz Hoffman, Caetano Lourenço
Seixas, Lourenço Devoto e José Vicente Tourinho. Cf.: OLIVEIRA, Waldir Freitas. Antonio de
Lacerda... op. cit. p. 7; 23.
351
Ibidem. p. 8.
112
352
BN. HDB. Diario de São Paulo (São Paulo). Ano 8, n. 2.044, 9 de agosto de 1872. p. 2. OLIVEIRA,
Waldir Freitas. Antonio de Lacerda... op. cit. BARRETO, Filinto Elysio do R. O Comendador... op. cit.
TRINCHÃO, Gláucia Maria Costa. O Parafuso: de meio de transporte a cartão-postal. Salvador:
EDUFBA, 2010.
353
BARRETO, Filinto Elysio do R. O Comendador... op. cit. p. 6.
354
SAES, Alexandre Macchione. Modernização e concentração do transporte urbano em Salvador
(1849-1930). In: Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 27, n. 54, 2007. Disponível em:
http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/24684/1/S0102-01882007000200012.pdf. Acesso em 3:
de setembro de 2019. p. 224. BARRETO, Filinto Elysio do R. O Comendador... op. cit.
355
Embora tenhamos tentado localizar o inventário de Antonio Francisco de Lacerda na documentação
custodiada pelo Arquivo Público do Estado da Bahia por reiteradas vezes, mesmo antes do início do
doutorado, não conseguimos encontrá-lo. Apenas no início de 2019, tomamos conhecimento de que o
inventário se encontra no Arquivo, contudo, isso ocorreu pouco antes do fechamento temporário do
Arquivo para a realização de uma reforma, o que levou a suspensão das consultas pelos pesquisadores ao
113
seu acervo. Até o momento de entrega desta tese, o Arquivo não havia sido reaberto, o que impossibilitou
a consulta ao referido documento.
356
BN. HDB. Diario do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 50, n. 229, 20 de agosto de 1870. p. 2.
357
ROSADO, Rita de Cássia Santana de Carvalho. O porto de Salvador: Modernização em Projeto:
1854-1891. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1983.
p. 76.
358
Cf.: Ibidem p. 44. MATTOSO, Kátia. Bahia, século XIX... op. cit. p. 483.
114
2. 3. Considerações parciais
359
BN. HDB. Relatorio apresentado ao Illustrissimo e Excellentissimo Senhor Dezembargador João José
D’Almeida Couto 1º Vice-Presidente da Provincia pelo 4º Vice-Presidente Dr Francisco José da Rocha
ao passar-lhe a administração da Provincia Em 17 de Outubro de 1871. Bahia: Typographia do ―Correio
da Bahia‖, 1870. p. 38.
360
BN. HDB. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 47, n. 132, 12 de junho de 1871. p. 2.
361
BN. HDB. Diario de São Paulo (São Paulo). Ano 8, n. 2.044, 9 de agosto de 1872. p. 2.
362
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 69.
115
Albuquerque, uma grande ampliação dos seus investimentos: nas fábricas Todos os
Santos, nossa Senhora do Amparo e na fábrica de feltros, nas Companhias Bonfim e
Baiana de Navegação a Vapor, no Banco da Bahia e no Banco do Brasil, na estrada de
ferro Tram Road Paraguassú, nas companhias de colonização chinesa e polonesa, na
empresa Transportes Urbanos e no abastecimento de água em Salvador, entre outros.
Como é possível observar, Antonio Francisco de Lacerda e Antonio Pedrozo de
Albuquerque diversificaram seus investimentos em ramos semelhantes. Contudo, até a
constituição da firma Lacerda e Cia não encontramos qualquer vestígio de ligação entre
ambos. Como, então, teria surgido a sociedade? A resposta parece estar na trajetória de
John Smith Gillmer, que passaremos a abordar no próximo capítulo.
116
John Smith Gillmer era natural da Filadélfia, nos Estados Unidos da América364
e estava estabelecido na Bahia desde, pelo menos, 1829, quando aparece registrado
como negociante estrangeiro na província365. Não foi possível verificar o momento
exato em que ele ali se fixou, porém, notícias de sua atuação em Salvador remontam ao
ano de 1826. A história de Gillmer antes desta data permanece uma incógnita para nós:
nada sabemos da sua vida pregressa nos Estados Unidos, seus vínculos familiares,
sociais, políticos ou econômicos.
Ao supormos que Gillmer viveu na Filadélfia antes da sua vinda para o Brasil,
seu lugar de origem pode fornecer algumas referências sobre o que deve ter sido a
primeira fase de sua vida, enquanto habitante no país norte-americano. No período
(primeiro quarto do século XIX), a Filadélfia experimentaria um grande
desenvolvimento industrial e crescimento econômico, estimulados pela modernização
nos transportes, com a construção de ferrovias, a abertura de canais e a construção
naval. O impacto desta modernização não ficaria restrito, contudo, à cidade e ao seu
entorno. Após 1810, por exemplo, alguns grupos passaram a realizar grandes
investimentos na navegação transatlântica, e, em 1821, foram lançados os primeiros
pacotes de linhas de transporte transatlântico por negociantes da cidade interessados
pelo comércio com o sul do continente366. É possível conjecturar que Gillmer estava
integrado a este grupo, estivesse ele agindo por interesses próprios ou como agente
comercial.
As primeiras informações sobre a presença de Gillmer na Bahia já fornecem
indícios de como seria sua estadia na província: envolvida principalmente com
363
BN. HDB. Revista Americana (Bahia). Tomo I. Parte Terceira. Fevereiro de 1848. Bahia: Typographia
de Epifanio Pedroza, 1848. p. 1.
364
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 69.
365
BN. HDB. Almanak Imperial do Commercio e das Corporações Civis e Militares do Imperio do
Brasil. Ano 2. Rio de Janeiro: Pedro Plancher Seignot, 1829. p. 198.
366
LAURIE, Bruce. Working people of Philadelphia, 1800-1850. Philadelphia: Temple University Press,
1980. p. 8.
117
367
APEB. Seção Provincial. Série Governo da Província. Documentos avulsos. Correspondência recebida
do Consulado dos Estados Unidos (1811-1875). Maço 1177. 24 de julho de 1826. BRASIL. Ministério
das Relações Exteriores. História do Consulado-Geral do Brasil em Nova York. Disponível em:
http://novayork.itamaraty.gov.br/pt-br/historia.xml. Acesso em: 6 de fevereiro de 2020.
368
Cf.: BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. História do Consulado-Geral do Brasil em Nova
York. Disponível em: http://novayork.itamaraty.gov.br/pt-br/historia.xml. Acesso em: 6 de fevereiro de
2020.
369
APEB. Seção Provincial. Série Governo da Província. Documentos avulsos. Correspondência recebida
do Consulado dos Estados Unidos (1811-1875). Maço 1177. 24 de julho de 1826.
118
370
APEB. Seção Provincial. Série Governo da Província. Documentos avulsos. Correspondência recebida
do Consulado dos Estados Unidos (1811-1875). Maço 1177. 3 de março de 1828.
371
HORNE, Gerald. O sul mais distante: Brasil, os Estados Unidos e o tráfico de escravos africanos. São
Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 18. ROOD, Daniel. Bogs of Death: Slavery, the Brazilian Flour
Trade, and the Mystery of the Vanishing Millpond in Antebellum Virginia. In: The Journal of American
History.. v. 101, jun-2014 Disponível em: https://academic.oup.com/jah/article-
abstract/101/1/19/749115?redirectedFrom=PDF. Acesso em 2: de abril de 2019. p. 32.
119
372
BN. HDB. Diario da Bahia (Bahia). n. 311, 28 de junho 1833. p. 4. Diario da Bahia (Bahia). n. 39, 18
de fevereiro de 1835. p. 4. Sobre o comércio dos Estados Unidos com Buenos Aires ver: HORNE,
Gerald. O sul mais distante... op. cit. p. 18. PRADO, Fabrício. Conexões Atlânticas: redes comerciais
entre o Rio da Prata e os Estados Unidos (1790-1822). In: Anos 90. Porto Alegre, n. 45, v. 24, jul. 2017.
Disponível em: https://seer.ufrgs.br/anos90/article/view/70596/44010. Acesso em: 30 de abril de 2019.
373
BN. HDB. Diario da Bahia (Bahia). n. 311, 28 de junho 1833. p. 4.
374
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia), v. 3, n. 456, 4 de maio de 1838. p. 4.
375
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia), v. 3, n. 527, 7 de agosto de 1838. p. 3. Não localizamos
documentos que explicitassem quem era o sócio ou os sócios de Gillmer na firma. A análise das fontes
leva a crer que se tratava do também estadunidense Henry Phelps, sobre quem não conseguimos encontrar
maiores informações. Cf.: O Sete d’Abril (Rio de Janeiro). v. 1, n. 658, 7 de janeiro de 1839. p. 4. O
Commercio (Bahia). n. 57, 13 de março de 1843. p. 4.
120
376
Este fora o caso, por exemplo, das firmas Maxwell, Wright & Co., Philipps Brothers & Co., e Roston
Dutton & Co. que no ano de 1858 foram responsáveis pelo fornecimento de 60% de farinha de trigo para
o Rio de Janeiro. Além de atuarem nestas duas esferas, estas firmas atuavam em uma terceira área de
suma importância para a economia brasileira no período, o tráfico transatlântico. As firmas atuavam na
construção de embarcações especialmente projetadas para serem empregadas no contrabando negreiro.
Cf.: ROOD, Daniel. Bogs of Death.. op. cit.
377
TAUNAY, Affonso de. História do café no Brasil: no Brasil Imperial, 1822-1872. Rio de Janeiro:
Departamento Nacional do Café, 1839. v. 2. p. 122.
378
MARQUESE, Rafael de Bivar. Estados Unidos, Segunda Escravidão e a Economia Cafeeira do
Império do Brasil. In: Almanack. Guarulhos, n.5, jan-jun de 2013. p. 54.
379
ROOD, Daniel. Bogs of Death... op. cit.
121
380
VALENCIA VILLA, Carlos Eduardo. Fluxos de mercadorias entre o Rio de Janeiro e a Virgínia em
meados do século XIX. In: História Econômica & História de Empresas. V. 17, n. 2, 2014.
381
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 14, n. 85, 16 de abril de 1839. p. 4.
382
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 14, n. 93, 25 de abril de 1839. p. 4.
383
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 14, n. 162, 22 de julho 1839. p. 4.
384
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 14, n. 254, 24 de outubro de 1839. p. 3.
122
Rua do Rosário, n. 36, a firma de John Smith Gillmer passaria a atuar no Rio de Janeiro,
principalmente, com transporte de cargas e passageiros para a Bahia385.
Cerca de um ano depois, após tentativa infrutífera de fixar-se na Corte, Gillmer
retornou a Bahia, voltando a gerir seus negócios a partir da província. Em um domingo,
em janeiro de 1841, partiu do Rio rumo ano Norte, no vapor Maranhense, com sua
mulher, um filho e três escravos386. Agora, com escritório montado por cima do
Trapiche Grande, em Salvador, ele continuaria atuando no transporte de cargas e de
passageiros. Em 14 de maio de 1841, por exemplo, o Correio Mercantil da Bahia
anunciava o carregamento de passageiros do patacho americano Nahmakania, que
partiria para o Rio de Janeiro no dia seguinte387. Vinte dias antes, em 24 de abril, o
mesmo periódico havia anunciado o carregamento do brigue Nova Sociedade, que
partiria até o dia 5 de maio para as Ilhas dos Açores 388, indício de que os negócios de
Gillmer começavam a se expandir para além do continente americano.
A partir de 1843, Gillmer voltou a realizar importações, em um intenso
movimento comercial que envolvia o Brasil, o Rio da Prata, os Estados Unidos, a
Europa e a África. Naquele ano, ele recebeu cargas de sal, vinda de Cabo Verde, e de
azeite de peixe, vindo do Rio de Janeiro e de embarcações pesqueiras 389. Foi também
consignatário de uma carga de carvão de pedra, que ia de Boston com destino a
Montevidéu390; de carregamentos de gêneros diversos, não especificados, de Boston,
Cadiz e da Costa da África, para a Bahia, e de Buenos Aires para Nova York391. Em 14
de junho, cinco dias após receber a carga de sal de Cabo Verde no patacho colombiano
Cazador, anunciava a venda do patacho venezuelano El Cazador, possivelmente a
mesma embarcação392. Não sem razão, após um ano de intensas movimentações
comerciais, em outubro de 1843, foi eleito para compor a junta diretora da Associação
Comercial da Bahia393, instituição na qual, como vimos, ele teve uma importante
atuação em parceria com seu futuro sócio, Antonio Francisco de Lacerda.
385
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 15, n. 43, 17 de fevereiro de 1840. p. 3.
386
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 16, n. 16, 18 de janeiro de 1841. p. 4.
387
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 8, n. 101, 14 de maio de 1841, p. 4.
388
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 8, n. 86, 24 de abril de 1841. p. 4.
389
BN. HDB. O Commercio (Bahia). n. 9, 12 de janeiro de 1843. p. 4; n. 31, 8 de fevereiro de 1843. p. 4.
n. 57, 13 de março de 1843. p. 4.
390
BN. HDB. O Commercio (Bahia). n. 191, 2 de setembro de 1843. p. 4.
391
BN. HDB. O Commercio (Bahia). n. 14, 18 de janeiro de 1843. p. 4; n. 53, 8 de março de 1843. p. 4; n.
80, 10 de abril de 1843. p. 4; n. 193, 5 de setembro de 1843. p. 4.
392
BN. HDB. O Commercio (Bahia). n. 9, 12 de janeiro de 1843. p.4; n. 11, 14 de janeiro de 1843. p. 4.
393
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 10, n. 202, 18 de setembro 1843. p. 3.
123
Quadro 3 – Embarcações saídas de portos brasileiros consignadas a John Smith Gillmer (e firmas).
Quadro 4 – Embarcações ingressantes em portos brasileiros consignadas a John Smith Gillmer (e firmas).
Deu entrada
1843 Gillmer Hiate Estados Unidos Ellison Boston Montevidéu Carvão de pedra no porto do
Bahia
Deu entrada
1843 John Smith Gillmer Galera Estados Unidos Ohio Buenos Aires Nova York Gêneros diversos no porto do
Bahia
1844 Gillmer Galera Estados Unidos Beatheus (Pesca) Bahia Azeite de peixe -
1844 Gillmer Barca Estados Unidos Osceala Filadélfia Bahia Farinha de trigo -
1844 Gillmer e Cia Barca Estados Unidos Cornelia Richmond Bahia Farinha de trigo 2.737 barricas
1844 Gillmer Barca Estados Unidos Pelot Boston Bahia Gêneros diversos -
1845 John Smith Gillmer Hiate Estados Unidos Almira Filadélfia Bahia Farinha de trigo -
William
1845 John Smith Gillmer Galera Estados Unidos (Pesca) Bahia Azeite -
Hamilton
Brigue
1845 Gillmer e Cia Estados Unidos Alberto Onim Bahia Em lastro -
escuna
1845 John Smith Gillmer Hiate Estados Unidos Paleska Philadelphia Bahia Farinha trigo e mais gêneros -
1847 J. S. Gillmer Galera Estados Unidos Lucy Ann (Pesca) Bahia Azeite -
1847 J. S. Gillmer Barca Estados Unidos Genne (Pesca) Bahia Azeite de peixe e barbatanas -
1847 J. S. Gillmer Brigue Estados Unidos George Cádiz Bahia Ouro e sal -
1847 J. S. Gillmer Patacho Estados Unidos Bathurat Baltimore Bahia Farinha de trigo -
1847 J. S. Gillmer Barca Estados Unidos Thereza Pernambuco Bahia Farinha de trigo -
1848 J. S. Gillmer Brigue Suécia Swea Philadelphia Bahia Gêneros diversos -
1848 J. S. Gillmer Brigue Estados Unidos Cadet Boston Bahia Madeiras de peixes -
1848 J. S. Gillmer Patacho Estados Unidos Bridgton Não definido Bahia Em lastro -
1848 J. S. Gillmer Escuna Estados Unidos Relampago Baltimore Bahia Farinha de trigo -
127
Izaac Por
1849 J. S. Gillmer Escuna Estados Unidos Richmond Bahia Farinha de trigo
Franklin Pernambuco
1849 J. S. Gillmer Barca Estados Unidos Kingston Baltimore Bahia Farinha de trigo -
Elaboração própria.
Fontes: APEB. Seção Provincial. Série Governo da Província. Documentos avulsos. Correspondência recebida do Consulado dos Estados Unidos (1811-1875). Maço 1177.
24 de julho de 1826 e 3 de março de 1828. BN. HDB. Diário da Bahia (Bahia). n. 111, 28 de junho 1833. p. 4; e n. 39, 18 de fevereiro de 1835. p. 4. O Despertador (Rio de
Janeiro). n. 257, 9 de fevereiro de 1839. p. 4; n. 262, 15 de fevereiro de 1839. p. 4. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 14, n. 7, 9 de janeiro de 1839, p. 3; n. 8, 10 de
janeiro de 1839, p. 3; e n. 85, 16 de abril 1839. p. 4. O Commercio (Bahia), n. 9, 12 de janeiro de 1843. p. 4; n. 14, 18 de janeiro de 1843. p. 4; n. 31, 8 de fevereiro de 1843. p.
4; n. 53, 8 de março de 1843. p. 4; n. 57, 13 de março de 1843. p. 4; n. 80, 10 de abril de 1843. p. 4; n. 143, 4 de julho de 1843. p. 4; n. 191, 2 de setembro de 1843. p. 4; n.
193, 5 de setembro de 1843. p. 4. Correio Mercantil (Bahia). Ano 11, n. 2, 3 de janeiro de 1844, p. 4. O Mercantil (Bahia). Ano 1, n. 35, 11 de dezembro de 1844. p. 4; Ano
1, n. 48, 28 de dezembro de 1844. p. 4; Ano 2, n. 15, 20 de janeiro de 1845. p. 4; Ano 2, n. 10, 18 de fevereiro de 1845. p. 4; Ano 2, n. 93, 25 de abril de 1845. p. 4; Ano 2, n.
187, 26 de agosto de 1845, p. 4. Correio Mercantil (Bahia). Ano 8, n. 138, 6 de julho de 1841, p. 4; Ano 10, n. 8, 11 de janeiro de 1843. p. 4; Ano 11, n. 5, 8 de janeiro de
1844, p. 4; Ano 14, n. 45, 25 de fevereiro 1847. p. 4; Ano 14, n. 120, 22 de maio 1847. p. 4; Ano 12, n. 150, 30 de junho de 1847. p. 3; Ano 14, n. 180, 5 de agosto de 1847. p.
4; Ano 14, n. 272, 23 de novembro de 1847. p. 4; Ano 15, n. 272, 3 de janeiro de 1848. p. 4; Ano 15, n. 32, 4 de fevereiro de 1848. p. 4; Ano 15, n. 255, 13 de novembro de
1848. p. 4; Ano 15, n. 261, 20 de novembro de 1848. p. 4; Ano 16, n. 10, 13 de janeiro de 1849. p. 4; e Ano 16, n. 239, 17 de outubro de 1849. p. 4.
128
394
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 10, n. 202, 18 de setembro 1843. p. 3. O Commercio
(Bahia). n. 9, 12 de janeiro de 1843. p. 4.
395
MARQUES, Leonardo. The United States... op. cit. p. 160.
396
CONRAD, Robert. Tumbeiros... op. cit. VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo... op. cit. HORNE, Gerald.
O sul mais distante... op. cit. p. 18. MARQUES, Leonardo. The United States... op. cit.
397
MARQUES, Leonardo. A participação norte-americana no tráfico transatlântico de escravos para os
Estados Unidos, Cuba e Brasil. In: História: Questões & Debates. Curitiba, Editora UFPR. nº 52, jan-jun.
2010. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/24111/16137. Acesso em: 30 de maio
de 2019. p. 105.
398
MARQUES, Leonardo. The United States... op. cit.p. 143.
399
HORNE, Gerald. O sul mais distante... op. cit. p. 87.
129
a indústria naval dos Estados Unidos, notadamente de regiões como Baltimore, que,
como vimos, era uma das áreas de atuação de John Smith Gillmer, passaram a se
destacar na construção de embarcações velozes, capazes de superar em manobras os
perseguidores britânicos, para serem empregadas no tráfico ilegal400.
Embora Leonardo Marques afirme que o uso da bandeira dos Estados Unidos no
contrabando para a Bahia na década de 1840 tenha sido diminuto (o autor localizou
apenas duas viagens para o período), há indícios de que isso não era válido para as
embarcações. Robert Conrad indica que, anos antes, em 1826, o cônsul dos Estados
Unidos na Bahia, Woodbridge Odin, afirmara que a maioria das embarcações
empregadas no tráfico transatlântico na província era de fabricação estadunidense401. As
declarações de Woodbrige Odin, fornecidas em 1826, e levantadas posteriormente pelo
historiador Robert Conrad, não deixam de nos fazer rememorar dos incidentes de 1826 e
1828 ocorridos com as embarcações Corporal Trim e, principalmente, Rasselas,
consignadas a John Smith Gillmer e Cia no porto de Salvador. Seria o Rasselas um
navio negreiro? Se em 1826, quando o tráfico transatlântico para o Brasil ainda era
parcialmente lícito, havia um grande emprego destas embarcações no negócio, é
possível crer que na era do contrabando, dada as vantagens apresentadas pelos navios de
fabricação estadunidense e da própria bandeira do país, este emprego tenha sido ainda
mais difundido.
Apesar de, naquela altura, Odin atestar o emprego de embarcações
estadunidenses no tráfico, ele negava a participação de seus conterrâneos na atividade.
Segundo o Cônsul, as tripulações das embarcações faziam a entrega dos navios no
Brasil e retornavam para os Estados Unidos, não havendo evidências de sua
participação no contrabando negreiro402. Ainda que isso tenha sido aplicado para
meados da década de 1820, certamente não poderia ser dito a partir da década seguinte,
pelo menos não no caso de John Smith Gillmer.
Querelas entre Gillmer e autoridades dos Estados Unidos a respeito de seu
envolvimento com o tráfico ilegal foram recorrentes em meados da década de 1840. No
final de 1844, um marinheiro estadunidense prestou depoimento no consulado do país
no Rio de Janeiro, no qual afirmava que John Smith Gillmer havia vendido o brigue
estadunidense Glória em Salvador, mesmo sabendo que seria empregado no
400
Ibidem. p. 87. CONRAD, Robert. Tumbeiros... op. cit. p. 149.
401
CONRAD, Robert. Tumbeiros... op. cit. p. 149.
402
Ibidem. p. 149.
130
contrabando negreiro. O relato seria reportado pelo ministro dos Estados Unidos no
Brasil, Henry Wise, ao Secretário de Estado do País, James Buchanan, e as acusações
seriam veiculadas em um artigo publicado no Boston Daily Atlas em 20 de abril de
1845. Gillmer responderia a acusação criticando as autoridades estadunidenses e
negando sua ligação com o crime403.
Outro exemplo da atuação de Gillmer no fornecimento de embarcações a serem
utilizadas no tráfico ilegal aparece no mesmo período. Em 19 de janeiro de 1845, o
patacho Esperança, da praça da Bahia e de propriedade de Antonio Gomes dos Santos e
Cia, foi preso pela corveta H. M. S. Larne por suspeita de envolvimento no contrabando
negreiro. A embarcação havia deixado Salvador há exatamente um mês, em 19 de
dezembro do ano anterior, carregada de aguardente, tabaco e fazendas, com autorização
para se dirigir ao arquipélago de São Thomé e Príncipe e fazer escala pelos portos do
continente africano404.
A carta de ordens elaborada pelos proprietários da embarcação dava instruções
para que o capitão se dirigisse a Onim para entregar parte da carga e tentar vender
(―trocar por dinheiro‖) a outra parte. Não conseguindo realizar a segunda parte da
transação em Onim, o capitão deveria seguir dali para outros portos até São Thomé e
trocar o restante da carga por outras mercadorias, preferencialmente por ouro ou prata.
O local de destino das embarcações, uma das principais regiões de abastecimento do
tráfico de escravos para a Bahia, assim como sua carga, foram algumas das razões pelas
quais, não sem objeções, o patacho fosse condenado pela comissão-mista anglo-
brasileira de Serra Leoa405.
Ocorre que o patacho Esperança não fora a primeira opção de embarcação de
Antonio Gomes dos Santos e Cia para a realização de sua expedição ao continente
africano. Consta que os sócios haviam tentado fretar com John Smith Gillmer um dos
navios dos Estados Unidos que lhe estavam consignados, buscando assim recorrer ao
uso de ―algum navio de mais insuspeita bandeira‖ para utilizarem na empreitada. Visto
que não obtiveram êxito ao tentar fretar uma embarcação estadunidense com Gillmer, a
casa A. G. Santos e Cia não teve outra saída ―senão arriscar a bandeira brasileira‖406.
403
GRADEN, Dale T. O envolvimento dos Estados Unidos no comércio transatlântico de escravos para o
Brasil, 1840-1858. In: Afro-Ásia. n. 35, 2007. Disponível em:
https://portalseer.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/21125/13713. Acesso em: 11 de fevereiro de
2020. p. 29.
404
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 35, n. 74, 15 de março de 1860. p. 1.
405
Ibidem.
406
Ibidem.
131
De acordo com Antonia Wright, a John Smith Gillmer e Cia era a principal
consignatária de navios negreiros na Bahia na década de 1840407. A empresa contava
com uma rede de sócios e funcionários que incluía autoridades estadunidenses no
Brasil, a exemplo do Cônsul dos Estados Unidos na Bahia, Alexander Tyler, do cônsul
dos Estados Unidos em Pernambuco, Joseph Ray, e G.R. Forster, que havia sido cônsul
dos Estados Unidos tanto em Pernambuco quanto na Bahia408.
Entretanto, nem só em participação indireta atuava John Smith Gillmer no
contrabando negreiro, como é possível concluir a partir da análise do seu movimento de
navegação, apresentado nos Quadros 3 e 4. Das 36 entradas de embarcações em portos
brasileiros que mapeamos para o período de 1826 a 1849 consignadas a John Smith
Gillmer, individualmente ou em sociedade (Quadro 4), cinco (14,9% aproximadamente)
deram entrada ―em lastro‖, isto é, sem mercadorias ou passageiros a bordo (todas no
porto de Salvador): a barca Mauly, vinda de Buenos Aires (1835); a galera James
Perkins, vinda do Rio de Janeiro, (1841); a escuna Platarch, vinda de Pernambuco (em
1843); o brigue escuna Alberto, vindo de Onim (1845); e o patacho Bridgton, vindo de
local não declarado (1848).
Analisadas isoladamente, a mera entrada destas embarcações em lastro no porto
de Salvador não fornece grandes evidências da participação do negociante no
contrabando negreiro. Entretanto, quando pensadas dentro do contexto de reorganização
da atividade na ilicitude elas adquirem outro sentido. Como apontado por Pierre Verger,
a declaração de entrada de embarcações em lastro era uma prática recorrente entre os
contrabandistas na era da ilegalidade do tráfico transatlântico. Segundo o autor, o
esquema identificado por autoridades inglesas, por exemplo, funcionava da seguinte
forma: ao deixarem os portos, as embarcações declaravam com local de destino áreas
que não fossem regiões de aquisição de cativos, como a Ilha de Cabo Verde, ou mesmo
portos ao longo do litoral do brasileiro. Mas os percursos por elas realizados eram
completamente diferentes409.
As embarcações se dirigiam à costa do continente africano e se abasteciam de
indivíduos escravizados. No retorno ao Brasil, desembarcavam as cargas humanas em
algum dos portos utilizados pelo contrabando negreiro após 1831, dando, por fim,
407
Os indícios levam a crer que se tratavam de uma empresa diferente da John Smith Gillmer e Cia
existente na década até meados da década de 1830.
408
WRIGHT, Antônia Fernanda Pacca de Almeida. Desafio americano à preponderância britânica no
Brasil: 1808-1850. São Paulo: Ed. Nacional; (Brasília): INL, 1978. p. 245. MARQUES, Leonardo. The
United States... op. cit. p. 160.
409
VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo... op. cit. p. 428.
132
entrada nos portos oficiais das províncias, declarando estarem ―em lastro‖. Como
justificativa para a não apresentação de vistos oficiais relativos à viagem, os
comandantes destas alegavam, por exemplo, que o trajeto não havia sido completado em
virtude imprevistos no percurso410.
Reforçam o dado de que as embarcações, especialmente da década de 1840,
deveriam estar empregadas no contrabando negreiro, o local declarado de origem
destas. A galera James Perkins e a escuna Platarch declararam terem saído
respectivamente dos portos do Rio de Janeiro e de Pernambuco que, com a Bahia,
representavam as três principais regiões de desembarque do tráfico transatlântico para o
Brasil. Enquanto isso, o brigue escuna Alberto teve como origem o porto de Onim, no
Golfo de Benim, como anteriormente mencionado, umas principais regiões de
fornecimento de africanos escravizados do tráfico transatlântico para a Bahia, na qual,
vale recordar, Antonio Pedrozo de Albuquerque também atuava. O patacho Bridgton,
por sua vez, sequer teve a origem declarada. Estes casos demonstram que, além de fretar
e vender embarcações para os contrabandistas, o próprio Gillmer também era um deles.
Nota-se ainda que, excetuando-se os casos das embarcações Corporal Trim
(1826) e Rasselas (1828), o ano de entrada no porto da Bahia das cinco embarcações
que declararam estar ―em lastro‖ (iniciadas com a barca Mauly em 1835 e encerradas
com o ingresso do patacho Bridgton em 1848) corresponde a um período muito próximo
ao de maior regularidade das atividades de navegação de John Smith Gillmer, que vai
de 1833 a 1849. Associado a isso, caso seja levado em consideração que as entradas
―em lastro‖ representam apenas um pequeno vestígio da atuação de Gillmer na
criminalidade, constatamos que o negociante, e posteriormente cônsul dos Estados
Unidos no Brasil, teve uma participação ativa no contrabando negreiro para o Império
durante quase todo o período em que ele esteve em vigência.
O caso do brigue escuna Alberto, por exemplo, não só evidencia a participação
direta de John Smith Gillmer no contrabando negreiro, como aponta os problemas
provenientes desta atuação que ele enfrentaria. Ao observamos o Quadro 3, verificamos
que em 1844 ele enviou dois carregamentos para a Costa da África, os brigues escunas
estadunidenses Washington’s Barge e Albert[o], tendo aquele saído do porto da Bahia
no dia 4 de dezembro e este no dia 11411. Ambas as embarcações estavam carregadas
410
Ibidem. p. 428.
411
BN. HDB. O Mercantil (Bahia). Ano 1, n. 29, 4 de dezembro de 1844. p. 4; n. 35, 11 de dezembro de
1844. p. 4.
133
412
GRADEN, Dale T. O envolvimento... op cit. p. 28.
413
BN. HDB. O Mercantil (Bahia). Ano 2, n. 93, 25 de abril de 1845. p. 4.
414
GRADEN, Dale T. O envolvimento... op. cit. p. 28.
415
Ibidem. p. 28.
134
investidas realizadas por Gillmer em relação à sua atuação tiveram grande peso no
acontecimento. Corrobora para isso a nomeação do negociante para o cargo, em
1850420. Ambos os eventos também atestam a influência que John Smith Gillmer tinha
na sociedade baiana e entre seus conterrâneos.
Não sabemos se quando John Smith Gillmer assumiu o posto de cônsul na Bahia
continuou fornecendo embarcações para o tráfico transatlântico, já que, se de um lado
havia um histórico de participação dos cônsules estadunidenses no crime, de outro, a
pressão dos ministros do país sobre o encerramento da participação destes no crime
vinha se acirrando, como vimos no caso de Alexander Tyler. Entretanto, é certo que
ocupando o cargo de cônsul nos Estados Unidos no Brasil em um período em que o
combate ao tráfico ilegal e, especialmente, ao uso de embarcações e da bandeira
estadunidense se acirrava, Gillmer sofreria as pressões relativas ao posto. Em 1850, ele
queixava-se dos protestos e oposição que sofria ao negar a concessão de cartas
marítimas para embarcações estadunidenses cujo emprego, publicamente sabido, era o
contrabando negreiro421. Provavelmente, a oposição que dizia sofrer era comportamento
muito próximo do que tivera na época em que Alexander Tyler fora cônsul na Bahia.
Caso curioso que explicita o lugar contraditório ocupado por Gillmer naquela
altura foi o da embarcação Bridgeton. Em carta enviada ao então Secretário de Estado
dos Estados Unidos, John M. Clayton, em 1850, ele buscava saber quais os meios
existentes para obrigar a embarcação, sabidamente empregada no contrabando negreiro,
a ir aos Estados Unidos para ser registrada, ou ser impedida de navegar da África para a
Bahia. Ocorre que, como afirma na correspondência, Gillmer teria sido o vendedor
original da embarcação. Segundo ele, em 9 de novembro de 1849 havia vendido em
Salvador a embarcação Bridgeton para o capitão Philip R. Stanhope, de Nova York.
Ainda de acordo com ele, a embarcação recebeu do cônsul que lhe antecedeu a
permissão para viajar para a África, o que lhe impossibilitava de embargá-la422.
Vale lembrar, ao retornarmos às embarcações ingressantes em portos brasileiros
consignadas a Gillmer (Quadro 4), do caso do quase homônimo patacho Bridgton, que
havia ingressado no porto da Bahia em lastro, um ano antes, em 1848, sem origem
declarada, o qual possivelmente estava atuando no contrabando negreiro. É muito
420
GRADEN, Dale T. O envolvimento... op. cit. p. 29.
421
CABAT, Geoffrey Alan. O comércio de escravos no Brasil visto por funcionários diplomáticos
americanos (1845-1857). In: Revista de História. v. 36, n. 74, 1968. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/127378/124560. Acesso em: 3 de abril de 2019.
422
CABAT, Geoffrey Alan. O comércio de escravos... op. cit.
136
423
CHAMBERS, Stephen. ―No country but their counting- houses‖: The U.S.-Cuba-Baltic Circuit, 1809–
1812. In: BECKERT, Sven. ROCKMAN, Seth. Slavery’s Capitalism... op. cit.
424
Sobre a atuação da empresa Maxwell Wright e Companhia ver: RIBEIRO, Alan dos Santos. “The
leading comission-house of Rio de Janeiro”: A firma Maxwell, Wright & C.o. no comércio do Império
do Brasil (c.1827-c.1850). Dissertação (Mestrado em História). Niterói: Universidade Federal
Fluminense, 2014.
425
GRADEN, Dale T. O envolvimento... op. cit. p. 29.
426
CABAT, Geoffrey Alan. O comércio de escravos... op. cit.
137
3. 2. Diversificação de investimentos
427
REGO, André de Almeida. Trajetórias de vidas rotas: terra, trabalho e identidade indígena na
província da Bahia (1822-1862). Tese (Doutorado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia,
2014. 258.
428
Cf.: FREITAS, Antônio Fernando Guerreiro. PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Caminhos ao
Encontro do Mundo: A Capitania, os Frutos de Ouro e a Princesa do Sul, Ilhéus: 1534-1940. Ilhéus:
Editus, 2001.
138
429
REGO, André de Almeida. Trajetórias de vidas rotas... op. cit. 258.
430
Cf.: Idem. Cabilda de facinorosos moradores: (Uma reflexão sobre a revolta dos índios da Pedra
Branca de 1834). Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2009.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. MOREIRA, Vânia Maria Losada. Índios, Moradores e Câmaras
Municipais: etnicidade e conflitos agrários no Rio de Janerio e no Espírito Santo (séculos XVIII e XIX).
In: Mundo Agrário. v. 13, n. 25, segundo semestre de 2012. Disponível em:
http://sedici.unlp.edu.ar/bitstream/handle/10915/26265/Documento_completo.pdf?sequence=1&isAllowe
d=y. Acesso em: 7 de fevereiro de 2020. SILVA, Edson Hely. O lugar do índio: Conflitos, esbulhos de
terras e resistência indígena no século XIX: o caso de Escada-PE (1860-1880). Dissertação (Mestrado em
História). Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1995.
431
REGO, André de Almeida. Trajetórias de vidas rotas... op. cit. p. 258. Idem. Nas fronteiras da
sociedade envolvente: políticas indigenistas na província da Bahia nos anos de 1820 e 1860 – comarcas
do sul e extremo oeste. In: Clio: Revista de Pesquisa Histórica. n. 30, v.2. jul-dez de 2012. Disponível
em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaclio/article/viewFile/24395/19749. Acesso em 30 de abril de
2019.
432
Idem. Trajetórias de vidas rotas... op. cit. p. 258.
139
433
BRASIL. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. Tomo V. Rio de Janeiro: Imprensa Americana de I. P. da Costa, 1843. p. 110. Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/0B_G9pg7CxKSsTi1xM3dEZHRldlE/view. Acesso em 24 de fevereiro de
2020.
434
BN. HDB. O Auxiliador da Indústria Nacional. Tomo 10. Rio de Janeiro: Typograhia de J. E. S.
Cabral, 1842. p. 415.
435
De acordo com Waldemar de Mattos o órgão foi criado em 2 de junho, já segundo Ubaldo Marques
Porto Filho a data de criação seria 2 de julho. Apesar disso, ambos convergem ao afirmar que a
Associação foi instalada em 13 de Novembro de 1840 e no dia 23 do mesmo mês e ano, através de
reunião convocada pelo ex-administradores da Praça do Comércio, foi eleita e empossada a primeira
diretoria. Cf.: MATTOS, Waldemar. Panorama econômico... op. cit. p. 70-71. PORTO FILHO, Ubaldo
Marques. 200 Anos da Associação Comercial da Bahia. Salvador: Casa de Cultura Carolina Taboada,
2011. p. 13.
436
PORTO FILHO, Ubaldo Marques. 200 Anos... op. cit. p. 13.
140
437
MATTOS, Waldemar. Panorama econômico... op. cit. p. 32;71.
438
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 11, n. 200, 19 de setembro de 1844. p. 4. O Mercantil
(Bahia). Ano 2, n. 207, 20 de setembro de 1845. p. 2.
439
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil, e Industrial da Bahia, para o anno de 1855. Ano 1.
Bahia: Typ. De Camillo de Lellis Masson & C., 1854. p. 219. Almanak Administrativo, Mercantil, e
Industrial da Bahia, para o anno de 1856. Ano 2. Bahia: Typ. De Camillo de Lellis Masson & C., 1855.
p. 254. Almanak Administrativo, Mercantil, e Industrial da Bahia, para o anno de 1857. Ano 3. Bahia:
Typ. De Camillo de Lellis Masson & C., 1857. p. 272. Almanak Administrativo, Mercantil, e Industrial
da Bahia, para o anno de 1858. Ano 4. Bahia: Typ. De Camillo de Lellis Masson & C., 1858. p. 267.
440
Há apenas uma escritura em nome de John Smith Gillmer, referente ao ano 1829. APEB. Seção
Judiciária. Série Escrituras. Escritura de compra e venda. Interessado: José Joaquim da Costa. Parte: John
S. Gillmer. Salvador, ano 1829, livro 236. p. 34.
441
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 69.
141
442
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Administração. Correspondência
recebida da Casa do Comércio, Praça do Comércio e Associação Comercial (1819-1858). Maço 1580. 26
de março de 1846. Para uma análise mais detalhada dos pareceres, ver capítulo 2.
443
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 14, n. 24, 1 de fevereiro 1847. p. 4.
444
Para uma análise mais detalhada sobre a participação dos sócios da firma Lacerda e Cia na Companhia
Bonfim e na segunda Companhia Baiana de Navegação, ver capítulo 2. Para um panorama da navegação
a vapor na Bahia do século XIX, ver SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição... op. cit.
445
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 14, n. 178, 3 de agosto de 1847. p. 3.
446
MATTOS, Waldemar. Panorama econômico... op. cit. p. 71.
447
Ibidem. p. 71.
143
448
GAMBI, Thiago Fontelas Rosado. O banco da Ordem... op. cit. p. 206. MÜLLER, Elisa. Moedas e
bancos no Rio de Janeiro no século XIX. Disponível em:
http://www.ie.ufrj.br/oldroot/datacenterie/pdfs/seminarios/pesquisa/moedas_e_bancos_no_rio_de_janeiro
_no_seculo_xix.pdf. Acesso em 14: de junho de 2019. p. 16.
449
GAMBI, Thiago Fontelas Rosado. O banco da Ordem... op. cit. p. 206; 214.
450
Ibidem. p. 214.
451
Ibidem. p. 212-213.
452
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil, e Industrial da Bahia, para o anno de 1857. Ano 3.
Bahia: Typ. De Camillo de Lellis Masson & C., 1857. p. 273. Almanak Administrativo, Mercantil, e
Industrial da Bahia, para o anno de 1860. Ano 6. Bahia: Typ. De Camillo de Lellis Masson & C., 1860.
p. 310. Almanak Administrativo, Mercantil, e Industrial da Bahia, para o anno de 1862. Ano 8. Bahia:
Typ. De Camillo de Lellis Masson & C., 1862. p. 280.
453
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 20, n. 243, 4 de setembro de 1863. p. 2.
454
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro
para o anno bissexto de 1852. Ano 9, série 2, n. 4. Rio de janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1852.
p. 145. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o
anno de 1862. Ano 19, série 2, n. 14. Rio de janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1862. p. 167. Diario
de Pernambuco (Pernambuco). Ano 39, n. 287, 15 de dezembro de 1863. p. 3.
144
455
KIDDER, D. P.. FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros: Esboço histórico e descritivo. 7. ed. São
Paulo; Rio de Janeiro; Recife; Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1941. v. 2. p. 208.
456
Ibidem. p. 209.
457
Ibidem. p. 209.
458
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 11, n. 144, 26 de maio de 1854. p. 1.
145
cólera, saiu com outros negociantes da província, dentre os quais Antonio Francisco de
Lacerda, em socorro da população e do governo da província459. Além disso, conforme
Fletcher, Gillmer foi o principal responsável pela cessão de uma área no cemitério dos
ingleses para o enterro de cidadãos estadunidenses460.
Gillmer faleceu em 1863. Naquela ocasião, Antonio Francisco de Lacerda seria
encarregado pela família da realização do inventário e da administração provisória dos
bens por eles deixados461, o que ratifica a relação de proximidade existente entre ambos.
3. 3. Considerações parciais
459
BN. HDB. Falla recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia pelo presidente da
provincia o Doutor Alvaro Tibeiro de Moncorvo e Lima em 14 de maio de 1856. Bahia. Typographia de
Antonio Olavo da França Guerra e Comp., 1856. p. 11.
460
KIDDER, D. P.. FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros... op. cit. p. 210.
461
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença:.. op. cit. p. 69. Não conseguimos
localizar o inventário de John Smith Gillmer.
146
estadunidense que seriam empregadas no tráfico ilegal, quando elas se tornaram alvo de
interesse dos contrabandistas brasileiros. Ao longo da década de 1840, ao mesmo tempo
em que davam entrada na província da Bahia embarcações carregadas de farinha de
trigo, entre outras mercadorias, davam entrada também embarcações que seriam
vendidas e fretadas para criminosos atuantes no tráfico ilegal, ambas consignadas a John
Smith Gillmer, algumas das quais devem ter sido empregadas por Antonio Pedrozo de
Albuquerque.
No auge da sua atuação no contrabando negreiro, John Smith Gillmer expandiu
suas áreas de atuação, buscando lucro e legitimidade: investiu em uma companhia de
colonização em parceria com John Monteiro Carson; nas Companhias Bonfim e Baiana
de Navegação, com Antonio Francisco de Lacerda; no Banco Comercial da Bahia; e na
Caixa Filial do Banco do Brasil na província. Ademais, sua escancarada participação no
contrabando não impediu que alçasse importantes cargos de direção na Associação
Comercial da Bahia, nos bancos em que investiu, muito menos de assumir o posto de
cônsul dos Estados Unidos na província.
Singrando mares pelas vias da legalidade e ilegalidade, os interesses de John
Smith Gillmer cruzaram com os de Antonio Francisco de Lacerda, John Monteiro
Carson e Antonio Pedrozo de Albuquerque. Inicialmente, com os dois primeiros, de
forma visível, na Associação Comercial da Bahia e na companhia de colonização
americana. Com o último, de forma oculta, no contrabando negreiro. No ano de 1844,
Gillmer seria elo entre Lacerda, Pedrozo e Carson, na formação da firma Lacerda e Cia
e no estabelecimento da fábrica Todos os Santos.
147
PARTE II
A FÁBRICA TODOS OS SANTOS
148
462
BN. HDB. Diario do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 24, n. 6.844, 17 de fevereiro de 1845. p. 1.
463
BN. HDB. O Americano (Rio de Janeiro). v. 3, n. 43, 5 de fevereiro de 1848. p. 4.
464
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20 de novembro de 1861. p. 1.
465
Nas fontes e bibliografia consultadas o nome do engenheiro aparece tanto redigido como John
Monteiro Carson quanto como em sua versão aportuguesada João Monteiro Carson. Aqui optamos por
manter a versão original inglesa de seu nome, John.
466
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura. Fábricas (1829-1886). Maço
4602. Fábrica Todos os Santos, 1883. Caderno 53. D. PEDRO II. Viagem à Costa Leste – 4ª parte (de
Aracaju ao Espírito Santo) 11/01 a 28/01/1860. In: BEDIAGA, Begonha. Diário de D. Pedro II. CD-
ROM. Petrópolis: Museu Imperial, 1999. Paginação irregular.
467
Cf.: BAPTIST, Edward. A metade... op. cit.
149
dos Estados Unidos na firma, com quem Carson já mantinha certa aproximação. Além
disso, havia a questão de escassez destes profissionais no mercado brasileiro, visto que,
embora a engenharia tivesse sido desenvolvida no Brasil desde o período colonial, até
meados do século XIX havia uma predominância da engenharia militar, contando com
engenheiros e os chamados mestres de risco (artífices legalmente licenciados sem
formação regular), no começo, majoritariamente portugueses, e mais tarde, também
brasileiros468. A Bahia, por exemplo, teria seu primeiro engenheiro formado, Augusto
Frederico de Lacerda, filho de Antonio Francisco de Lacerda, apenas na década de
1850.
Logo, embora alguns empresários adquirissem livros de mecânica buscando
obter conhecimento para realizar seus investimentos, de modo geral, os proprietários de
fábricas têxteis no Brasil no período dependiam de técnicos especializados da Europa
(especialmente da Grã-Bretanha e da França) e/ou dos Estados Unidos para projetarem
seus estabelecimentos, bem como para supervisionar a instalação e a manutenção dos
equipamentos importados que fossem nele empregados. Estes engenheiros estrangeiros
vinham para o Brasil prestar serviço para alguma fábrica e acabavam, muitas vezes,
prestando seus serviços para mais de uma delas469.
De maneira convergente com estes casos, Carson não atuou apenas na fábrica
Todos os Santos, mas também em outros empreendimentos, especialmente obras de
interesse público, para os quais os seus serviços foram requisitados. Dado aos projetos
por ele chefiados, alguns dos quais abordaremos brevemente neste item, é possível crer
que ele tenha desempenhando um importante papel na construção do campo da
engenharia na Bahia no século XIX, uma questão ainda por ser aprofundada. Como
observado por Vinícius Silva, membros da rede em que Carson estava inserido, como
Francisco Gonçalves Martins e João Maurício Wanderley, por exemplo, estiveram
envolvidos na implantação do Imperial Instituto Bahiano de Agricultura470, em cuja
escola agrícola existia cursos de formação de engenheiro agrônomo e veterinário471.
468
TELLES, Pedro C. da Silva. Evolução Geral da Engenharia no Brasil. In: Revista Militar de Ciência e
Tecnologia. v. 14, out-dez de 1997. Disponível em:
http://rmct.ime.eb.br/arquivos/RMCT_4_tri_1997/evol_geral_eng_Brasil.pdf. Acesso em: 27 de setembro
de 2019. p. 83.
469
STEIN, Stanley. Origens e Evolução... op. cit. p. 50.
470
SILVA, Vinícius Santos da. A Moléstia da Cana de Açúcar no Recôncavo Baiano: Política, Saberes,
Práticas e Polêmicas Científicas (1865-1904). Tese (Doutorado em História). Rio de Janeiro:
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2019. p. 2. Sobre a escola agrícola da Bahia ver:
471
Cf.: TOURINHO, Maria Antonieta de Campos. O Imperial Instituto... op. cit. ARAÚJO, Nilton de
Almeida. Pioneirismo e hegemonia... op. cit.
150
Apesar de ser presumível o fato de que John Monteiro Carson tenha vindo para o
Brasil por intermédio de John Smith Gillmer especialmente para trabalhar na Todos os
Santos, como ocorria com outros engenheiros trazidos para o país para prestar serviços a
estes estabelecimentos, as fontes apontam para um caminho diferente. Em sua visita à
fábrica em meados da década de 1850, o missionário estadunidense James Cooley
Fletcher pode desfrutar em algumas oportunidades da companhia do engenheiro, a quem
considerou ―um homem interessantíssimo, por sua inteligência e bom senso‖. Segundo
Fletcher, Carson ―[...] Veio para morrer no Brasil [...]‖472.
A afirmação do missionário abre a possibilidade para algumas conjecturas sobre
a trajetória do John Monteiro Carson, como o fato de ele ter imigrado com certa idade,
não desfrutando de saúde plena, em busca de sossego, encontrar a morte nos ares
tropicais do Brasil. Ainda assim, essa versão idílica fornece poucas informações acerca
dos primeiros anos de sua estadia na Bahia. Contudo, sabemos que ele era proprietário
da Fazenda Candengo473, situada na vila de Valença, na mesma área em que a fábrica
Todos os Santos seria edificada. A presença de Carson na região deve ter contribuído
para que o local fosse escolhido para a edificação da fábrica, ou talvez o local no qual
havia grande potencial para geração de energia hidráulica tenha atraído o engenheiro.
Uma possibilidade não exclui a outra, nem uma terceira.
Carson estava estabelecido na província da Bahia desde, pelo menos, o início da
década de 1840 e devia manter relação de proximidade com seu conterrâneo John Smith
Gillmer. Em 1842 e 1843, poucos anos antes da formação da firma Lacerda e Cia,
ambos estiveram à frente da iniciativa de criação de uma colônia estadunidense na
comarca de Caravelas na província. Uma vida um tanto quanto agitada para quem veio
para morrer. Outro sócio de quem Carson deveria ser próximo era Antonio Pedrozo de
Albuquerque, afinal, ele foi seu representante na sociedade.
Nesse João que amava Antonio, todos entraram na história. Antonio Francisco
de Lacerda atuou com John Smith Gillmer desde 1833 por intermédio da Associação
Comercial da Bahia. Este, por sua vez, trabalhou em parceria com John Monteiro
Carson na iniciativa de formação de uma colônia dos Estados Unidos no sul da Bahia no
início da década de 1840. Enquanto isso, Carson seria representante de Antonio Pedrozo
de Albuquerque na firma Lacerda e Cia, o que aponta para a existência de uma ligação
prévia entre eles. Ademais, Pedrozo, Lacerda e Gillmer estiveram envolvidos em
472
KIDDER, D. P.. FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros... op. cit. p. 231.
473
OLIVEIRA, Edgar Otacílio da Silva. Companhia Valença Industrial... op. cit. p. 11.
151
diferentes escala e esferas com o contrabando negreiro para a Bahia, antes, e mesmo
após, no caso de Gillmer, constituírem a sociedade. Carson também?
Em toda documentação e bibliografia consultada não encontramos nenhuma
indicação de que John Monteiro Carson tenha atuado no contrabando negreiro.
Contudo, em virtude da rede na qual ele estava inserido, esta possibilidade não pode ser
completamente descartada. Não podemos esquecer que o engenheiro era proprietário de
terras situadas às margens de um rio navegável, com acesso ao litoral, em uma região
onde vinham ocorrendo desembarques do tráfico ilegal escravos. Do mesmo modo,
havia a questão da sua nacionalidade e do emprego de embarcações e da bandeira dos
Estados Unidos, assim como mencionamos para o caso de Gillmer, no crime. Por fim,
seu interesse em formar uma colônia na província aponta para o fato de que ele estava
interessado na questão da mão de obra. Aqui residem algumas questões: Suas
propriedades na vila de Valença foram pontos negreiros? Seus conhecimentos foram
empregados, em alguma medida, no contrabando para o Brasil? Por ora, estas questões
permanecem em aberto.
De todo modo, o engenheiro era, no mínimo, um defensor da continuidade do
tráfico transatlântico. Em seu Primeiro relatório apresentado a presidência da Bahia
sobre os melhoramentos da cultura da canna, e do fabrico do assucar474, publicado em
1854, o engenheiro criticava ―a repentina, senão prematura repressão do trafico‖ que,
474
Este relatório foi produto de um estudo prático encomendado pelos presidentes da província da Bahia
Francisco Gonçalves Martins e João Maurício Wanderley, e realizado por uma comissão chefiada por
John Monteiro Carson, em 1852, sobre as condições da cultura da cana e da produção açucareira na Bahia
e os melhoramentos realizados em ambas as atividades na Europa, nos Estados Unidos e em Cuba. O
estudo e o documento dele decorrente tiveram grande repercussão, tanto positiva, com cópias sendo
enviadas para outras províncias e/ou reproduzidas em periódicos, quanto negativa, com críticas à forma
como todo o arranjo para a realização do estudo e importação de tecnologia estrangeira fora feito,
especialmenta porque o maquinário adquirido por Carson no exterior seria instalado em um engenho
pertencente e Francisco Gonçalves Martins. BN. HDB. Annaes do Parlamento Brazileiro. Camara dos
Srs. Deputados, Quarto Anno da Oitava Legislatura, Sessão de 1852. Tomo segundo. Rio de Janeiro.
Typographia de H. J. Pinto: 1877. p. 27; 30; 718. Diario do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 32, n.
216, 8 de agosto de 1854. p. 1; e Ano 33, n. 216, 8 de agosto de 1854. p. 1. O Paiz (Bahia). Série 1, n. 22,
14 de junho de 1854. p. 1. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 27, n. 257, 27 de agosto de 1852.
p. 1. Correio da Victoria (Espírito Santo). Ano 6, n. 45, 7 de junho de 1854. p. 2. Diario de Pernambuco
(Pernambuco). Ano 30, n. 76, 3 de abril de 1854. p. 2; Ano 30, n. 131, 8 de junho de 1854. p. 3; Ano 31,
n. 64, 19 de março de 1855. p. 1. Publicador Maranhense (Maranhão). Ano 13, n. 1.551, 9 de julho de
1854. p. 2. Correio Sergipense (Sergipe). Ano 17, n. 41, 7 de junho de 1854. p. 3. Treze de Maio (Pará).
n. 340, 6 de junho de 1854. p. 3. O Conservador (Santa Catarina). Ano 4, n. 350, 21 de agosto de 1855. p.
3. A Imprensa (Maranhão). Ano 1, n. 57, 16 de dezembro de 1857. p. 3. O Bom Senso (Minas Gerais).
Ano 4, n. 333, 13 de agosto de 1855. p. 1. O Grito Nacional (Rio de Janeiro). n. 693, 22 de julho de 1854.
p. 4. Uma cópia do relatório na íntegra pode ser encontrada em: OLIVEIRA, Waldir Freitas. A crise da
economia açucareira do Recôncavo na segunda metade do século XIX. Salvador: Centro de Estudos
Baianos, 1999. Para maiores aprofundamentos sobre a comissão e seu impacto ver: ALVES, Vinicius
Bonifacio Santos. Os Engenhos Centrais no Recôncavo Baiano: 1874 – 1890. Dissertação (Mestrado em
História). Cachoeira: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, 2019. SILVA, Vinícius Santos da. A
Moléstia da Cana... op. cit.
152
475
CARSON, João Monteiro. Primeiro relatório apresentado a presidência da Bahia sobre os
melhoramentos da cultura da canna, e do fabrico do assucar. In: Correio da Victoria (Espírito Santo).
Ano 6, n. 45, 7 de junho de 1854. p. 3.
476
BN. HDB. O Americano (Rio de Janeiro). v. 3, n. 43, 5 de fevereiro de 1848. p. 4.
477
KIDDER, D. P.. FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros... op. cit. p. 231.
478
BN. HDB. Diario do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 28, n. 8.051, 26 de março de 1849. p. 1
479
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro). n. 1.022, 21 de julho de 1851. p. 3. A despeito de
inúmeras tentativas, não foi possível localizar o processo de naturalização de John Monteiro Carson no
Arquivo Nacional.
480
BN. HDB. Diario do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 30, n. 8.816, 13 de outubro de 1851. p. 1.
153
481
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 26, n. 1.851, 20 de julho de 1851. p. 2.
482
BN. HDB. O Correio da Tarde (Rio de Janeiro). n. 1.022, 21 de julho de 1851. p. 3.
483
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro). n. 412, 6 de junho de 1849. p. 1.
484
BN. HDB. Falla que recitou o presidente da provincia da Bahia, o conselheiro Antonio Ignacio
d'Azevedo, n'abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 2 de fevereiro de 1847. Bahia:
Typ. Do Guayucurú de D. Guedes Cabral, 1847. p. 18.
485
BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro
Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de
1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849. p. 26.
154
operação apenas um ano mais tarde, em 3 de maio de 1855. Ainda assim, em 1856 o
empreendimento permanecia em obras487.
Em passagem por aquela faixa do litoral da Bahia, em 1859, apenas quatro anos
após o farol ter entrado em operação, o Imperador D. Pedro II fez um desenho do Morro
de São Paulo (Imagem 1). Na imagem, observa-se a Fortaleza de Tapirandú, construída
no século XVII, à beira-mar; a lateral da Igreja Nossa Senhora da Luz, padroeira da
localidade (construída em três etapas, cujas obras foram iniciadas no século XVII e
finalizas no século XIX) à direita; e, no alto, em destaque, o farol.
Fonte: D. PEDRO II. Viagem à Costa Leste – 4ª parte (de Aracaju ao Espírito Santo) 11/01 a 28/01/1860.
In: BEDIAGA, Begonha. Diário de D. Pedro II. CD-ROM. Petrópolis: Museu Imperial, 1999. Paginação
irregular.
486
BN. HDB. Falla recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia pelo Presidente da
Provincia o Doutor João Mauricio Wanderley no 1º de março de 1854. Bahia Typographia de Antonio
Olavo da França Guerra e Comp., 1854. p. 23.
487
BN. HDB. Falla recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia pelo Presidente da
Provincia o Doutor Alvaro Tiberio de Moncorvo e Lima em 14 de maior de 1856. Bahia: Typographia de
A. Olavo da França Guerra e Comp., 1856. p. 87.
488
No inventário, há duas referências diferentes ao local onde o engenheiro faleceu, Liverpool e Londres.
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário João Monteiro Carson. Classificação
05/2153/3622/11.
155
489
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 15, n. 253, 18 de setembro de 1858. p. 2.
490
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário João Monteiro Carson. Classificação
05/2153/3622/11.
491
Ibidem.
492
Ibidem.
493
Ibidem.
156
das pessoas que faleceram em Valença entre 1831 e 1866 tiveram livros avaliados em
seus inventários494.
Além daquilo que deveria ser seu material de trabalho, Carson era dono de dois
sítios de terra com localização privilegiada na cidade de Valença, um com 31 palmos,
situada à rua direita do Cais, e outro com 105, às margens do Rio Una, avaliados
respectivamente 217$000rs e 210$000rs. Completavam os bens de raiz do engenheiro a
já mencionada fazenda Candengo que, com suas 340 braças (748 metros) de terra e
avaliada em 4:000$000rs, respondia pela maior porcentagem destes (70,3%). Fazendo
divisa pelo sul com o Rio Una, pelo leste com o Rio Gereba, pelo oeste com o Rio
Jaguaripe e ―terras de índios‖ da Aldeia de São Fidélis, e pelo norte com a fábrica
Todos os Santos, a fazenda seria arrematada em hasta pública por ninguém menos que
Antonio Pedrozo de Albuquerque por 4:001$000rs, em 23 de outubro de 1860495, um
mês depois dele ter tomado posse como proprietário individual Todos os Santos, após a
dissolução da firma Lacerda e Cia496. Ao lado daquela fazenda, em 1845, teve início o
processo de instalação da fábrica.
494
SANTOS, Silvana Andrade dos. Nos terrenos... op. cit. p. 119. Cf.: APEB. Seção Judiciária. Série:
Inventários. Valença: 1831-1866.
495
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário João Monteiro Carson. Classificação
05/2153/3622/11. Presentemente a fazenda Candengo faz parte de uma área de proteção ambiental (APA
Candengo), propriedade da Companhia Valença Industrial. Cf.: BRASIL. Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade. Reservas Particulares Do Patrimônio Natural (RRPN): RRPN Candengo.
Disponível em: http://sistemas.icmbio.gov.br/simrppn/publico/consulta_publica/1051/. Acesso em: 7 de
fevereiro de 2020.
496
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro). Ano 6, n. 240, 23 de outubro de 1860. p. 2.
497
BN. HDB. O Crepusculo (Bahia). n. 4, v. 1, 20 de setembro de 1845. p. 59.
498
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... p. 155.
157
499
BARICKMAN, Bert J. Um Contraponto Baiano: Fumo, mandioca e escravidão no recôncavo, 1780-
1860. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 231.
500
ROCHA, Uelton Freitas. “Recôncavas” fortunas... op. cit. p. 110.
501
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. p. 123-124.
502
LUZ, Nícia Vilela. A Luta pela Industrialização do Brasil. São Paulo: Alfa Omega, 1978. OLIVEIRA,
Geraldo de Beauclair Mendes de. A construção inacabada... op. cit. SAMPAIO, José Luís Pamponet. A
evolução de uma empresa no contexto da industrialização brasileira: A companhia Empório Industrial
do Norte, 1891-1973. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas). Salvador: Universidade Federal da
Bahia, 1975. SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. VILELA, André. Política
tarifária no II Reinado: evolução e impactos, 1850-1889. In: Nova Economia. Belo Horizonte, n. 5, v.1,
jan-abr de 2005. Disponível em:
https://revistas.face.ufmg.br/index.php/novaeconomia/article/view/444/441. Acesso em: 12 de fevereiro
de 2020.
158
Ademais, ainda que as fontes apontem para o fato de que a sociedade tenha sido
formada antes da aprovação da tarifa Alves Branco, a sua constituição no mesmo ano de
aprovação da reforma tarifária (que vinha sendo discutida desde o ano anterior)505
demonstra que os sócios estavam atentos aos debates e às políticas econômicas do
governo imperial, bem como à conjuntura favorável à realização de investimentos desta
natureza.
Por fim, deveria haver as motivações provenientes de estímulos externos, em
virtude do grande desenvolvimento que a produção algodoeira e indústria têxtil
alcançavam no cenário mundial, desenvolvimento cujas condições Antonio Francisco de
Lacerda e John Smith Gillmer também estavam a par, como abordado no capítulo dois.
De acordo com Eric Hobsbawm
[...] Uma vez iniciada a industrialização na Grã-Bretanha, outros
países podiam começar a gozar dos benefícios da rápida expansão
econômica que a revolução industrial pioneira estimulava. Além do
mais, o sucesso britânico provou o que se podia conseguir com ela, a
técnica britânica podia ser imitada, o capital e a habilidade britânica
podiam ser importados [...]506.
503
HOBSBAWM, Eric. J. A era das revoluções: 1789-1848. 34. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014. p.
65.
504
Tradução livre. No original: ―[...] As more people bought cheap cottons, entrepreneurs in more
countries became convinced that they could produce the same goods [...]‖. Beckert considera, no entanto,
que esta premissa não se aplica ao caso brasileiro. Segundo Beckert, o Brasil falhou em desenvolver uma
indústria algodoeira mecanizada, em virtude dos conflitos de interesses entre este ramo industrial e o setor
agroexportador escravocrata. Para exemplificar esta questão, o autor toma justamente o caso da Bahia.
Para ele, embora a Bahia dispusesse de condições favoráveis para a industrialização, como capitais e
matéria-prima, os interesses agrícolas, articulados, por exemplo, em torno da Associação Comercial,
buscaram minar o apoio do governo ao desenvolvimento industrial. Cf.: BECKERT, Sven. Empire of
cotton: A global history. Ebook. New York: Alfred A. Knopf, 2014. Paginação irregular. Embora o autor
não esteja completamente equivocado no que se refere ao processo de industrialização, ele não pode ser
dito com relação à indústria. O principal problema de sua interpretação com relação ao Brasil reside na
crença de uma separação entre agricultura e indústria fabril. Como procuramos demonstrar a partir dos
casos da sociedade Lacerda & Cia e da fábrica têxtil Todos os Santos, havia interesses convergentes entre
a indústria e a agroexportação e alguns agentes, como Antonio Pedrozo de Albuquerque, investiam em
ambos os setores. Além disso, como vimos para o caso de Antonio Francisco de Lacerda e John Smith
Gillmer, negociantes com importante atuação na Associação Comercial da Bahia também investiam em
indústrias.
505
LUZ, Nícia Vilela. A Luta... op. cit. p. 25
506
HOBSBAWM, Eric. J. A era das revoluções... op. cit. p. 66.
159
507
Há indícios de que outros norte-americanos participaram dos trabalhos de edificação da fábrica. Em
deu diário, D. Pedro II registra que uma das rodas hidráulicas do estabelecimento foi construída sob a
direção de um americano chamado Randbow. É possível que este seja o mesmo A. R. Randall, norte-
americano, ―construtor de moinhos‖, mencionado por Fletcher. Cf.: D. PEDRO II. Viagem à Costa... op.
cit. Paginação irregular. KIDDER, D. P.. FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros... op. cit. p. 229.
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 40.
508
BN. HDB. O Crepusculo (Bahia). n. 4, v. 1, 20 de setembro de 1845. p. 59. Falla que recitou o
Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro Francisco Gonçalves Martins,
n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de 1849. Bahia: Typographia de
Salvador Moitinho, 1849. p. 37.
509
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 26, n. 198, 20 de julho de 1851. p. 2.
510
BN. HDB. O Crepusculo (Bahia). n. 4, v. 1, 20 de setembro de 1845. p. 59.
160
na mesma localidade, entre outros estabelecimentos, fundições de metais 511 e mais uma
fábrica de tecidos, a Nossa Senhora do Amparo512, todas movidas a energia hidráulica.
A questão da disponibilidade de fontes de energia fora um elemento crucial no
processo de estabelecimento de fábricas no Brasil e no mundo. No caso da Bahia,
existiam problemas quanto à aquisição de combustíveis a serem utilizados pelas fábricas
no Recôncavo, haja vista que, desde o período colonial, ocorreu um processo de
desflorestamento na região, causado pelo corte de madeiras para abastecer os engenhos
e usinas. Embora houvesse, por exemplo, experiências de uso do bagaço da cana como
fonte de energia para os engenhos, as alternativas existentes para suprir as demandas
geradas por fábricas eram a importação de carvão mineral ou a compra de madeira das
regiões circunvizinhas. Valença se sobressaía em relação ao Recôncavo, por outro lado,
em virtude de dispor de energia hidráulica acessível513.
Em estudo sobre a indústria têxtil fluminense, Luiz Carlos Soares demonstrou
que a existência de quedas d‘água naturais ou artificiais foi um elemento de extrema
relevância para a instalação das fábricas de tecidos em determinadas localidades
daquela região. Para o autor, a necessidade de aproveitamento do potencial hidráulico
foi um dos fatores que levaram estes estabelecimentos a serem edificados fora das áreas
urbanas na província fluminense514. Logo, não restam dúvidas de que a disponibilidade
de uma fonte apropriada de energia hidráulica foi um elemento crucial para o
estabelecimento da fábrica em Valença.
Entretanto, outros fatores precisam ser levados em consideração neste processo.
Como mencionado na introdução deste trabalho, o investimento realizado em Valença
por negociantes vinculados a Salvador e ao Recôncavo foi já foi motivo de
questionamento pela historiografia515. Na nossa interpretação, além do potencial
hidráulico, outro elemento determinante para a instalação da fábrica Todos os Santos
em Valença fora a participação dos proprietários do estabelecimento no contrabando
511
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 1 de março de 1848.
512
A fábrica Nossa Senhora do Amparo viria a ser uma das três maiores fábricas têxteis do Brasil na
década de 1860, revezando com a Santo Aleixo (no Rio de Janeiro) entre o segundo e o terceiro lugar a
depender dos critérios escolhidos de definição. Cf.: OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de
Valença... op. cit. SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. p. 176.
513
BARICKMAN, B. J. Um Contraponto... op. cit. p. 288. AZEVEDO. Thales de. LINS, Edilberto
Quintela Vieira. História do Banco da Bahia, 1858-1958. Rio de Janeiro: Livraria José Olympia Editora,
1969. p. 192. BAIARDI, Almícar. SARAIVA, Luiz Fernando. ALMICO, Rita. Gênese e transformação...
op. cit. p. 87.
514
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. p. 179.
515
Cf.: PAIXÃO, Neli Ramos. Ao soar do apito da fábrica... op. cit. p. 32.
161
516
CARVALHO, Marcus Joaquim Maciel de. O desembarque... op. cit.
517
FLORENTINO, Manolo. Em costas negras... op. cit. p. 182.
162
abastecimento da vila. Em uma litografia de Valença produzida por Bento José Rufino
Capinam, em meados da década de 1840, é possível ver a representação do intenso
trânsito de embarcações no Rio Una. Nela, também pode-se identificar ao longe a Ilha
de Tinharé, na qual está situada o Morro de São Paulo, onde uma década depois
Antonio Francisco de Lacerda e John Monteiro Carson edificariam seu farol (Imagem
2).
Fonte: BN. CAPINAM, Bento José Rufino. Villa de Valença. Bahia: [s.n.], 184?. 1 grav.: litograv, p&b,
19,5 x 27 cm. Disponível em:
<http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon1450870/icon1450870.jpg>.
Acesso em: 11 nov. 2018.
518
Embora não haja especificação do ano em que o desenho foi confeccionado na cópia encontrada na
Biblioteca Nacional, encontramos uma menção à obra em uma matéria de periódico do ano de 1845, o
indica que a obra teria sido feita naquela oportunidade ou em data próxima. Cf.: BN. HDB. O Crepusculo
(Bahia). n. 3, v. 1, 2 de setembro de 1845. p. 44.
519
APEB. Seção de arquivos coloniais e provinciais: Série Documentos Avulsos. Correspondência
recebida da câmara de Valença, 1839-1868. Maço 1454. Câmara de Valença, 24 de junho de 1845.
163
520
APEB. Seção de arquivos coloniais e provinciais: Série Documentos Avulsos. Correspondência
recebida da câmara de Valença, 1839-1868. Maço 1454. Câmara de Valença, 15 de abril de 1844.
521
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 28 de fevereiro de 1844.
522
Os registros sobre a importância da atividade madeireira na região de Valença são muitos, indo desde
viajantes e cronistas, até estudos recentes sobre a economia da região. Cf.: DIAS, Gentil Martins. Depois
do latifúndio: continuidade e mudança na sociedade rural nordestina. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro;
Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1978. DIAS, Marcelo Henrique. Economia, sociedade... op. cit.
SANTOS, Silvana Andrade dos. Nos terrenos... op. cit. SPIX Johann Baptiste von. MARTIUS, Carl
Friedrich Philipp von. Viagem pelo Brasil... op. cit.
164
523
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 28 de fevereiro de 1844.
524
Ibidem.
525
APEB. Seção de arquivos coloniais e provinciais: Série Documentos Avulsos. Correspondência
recebida da câmara de Valença, 1839-1868. Maço 1454. Câmara de Valença, 15 de abril de 1844.
165
526
APEB. Seção de arquivos coloniais e provinciais: Série Documentos Avulsos. Correspondência
recebida da câmara de Valença, 1839-1868. Maço 1454. Câmara de Valença, 24 de junho de 1845; e
Câmara de Valença, 8 de agosto de 1845.
527
D. PEDRO II. Viagem à Costa... op. cit. Paginação irregular.
528
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 1 de março de 1848.
529
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 9 de agosto de 1845.
530
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1849-1858. Maço 2630. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 25 de outubro de 1849.
531
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 9 de agosto de 1845.
166
535
BRASIL. Collecção das Leis do Império do Brasil. Tomo IX, Parte I. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1847. p. 4.
536
Ibidem.
537
Ibidem.
538
Ibidem.
168
539
Ibidem.
540
Ibidem.
541
Ibidem.
542
A concessão do título Fábrica Nacional para que as fábricas pudessem usufruir destes privilégios era
uma das exigências do artigo segundo do decreto 494 de 13 de janeiro de 1847, que regulamentava a Lei
169
de 1846, mencionados no capítulo anterior, e perpetuava uma antiga prática vigente no Brasil desde o
período joanino, de concessão de isenções às fábricas desta categoria. Cf.: BRASIL. Collecção das Leis
do Império do Brasil. Tomo IX, Parte I. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1847. p. 4. SOARES,
Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. p. 147.
543
AN. 7x Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. Caixa 423, v 3. Fábrica de fiação e
tecidos. Comarca de Valença, Bahia. Proprietário Lacerda e Cia. 1848-1849. BRASIL. Collecção das
Leis do Império do Brasil. Tomo IX, Parte I. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1847. p. 4.
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit.
544
AN. 7x Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. Caixa 423, v 3. Fábrica de fiação e
tecidos. Comarca de Valença, Bahia. Proprietário Lacerda e Cia. 1848-1849.
545
BN. HDB. Falla que recitou o presidente da provincia da Bahia, o dezembargador João José de
Moura Magalhães, n'abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 25 de março de 1848.
Bahia: Typographia de João Alves Portella, 1848. p. 50. BACELAR, Jonildo. Parque e Fonte do
Queimado: In: Guia Geográfico. Cidade do Salvador. Disponível em: http://www.cidade-
salvador.com/patrimonios/queimado.htm. Acesso em 31 de janeiro de 2020.
546
BAIARDI, Almícar. SARAIVA, Luiz Fernando. ALMICO, Rita. Gênese e transformação... op. cit. p.
83.
547
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 29 de setembro de 1845.
170
548
DIAS, Marcelo Henrique. Economia, sociedade... op. cit.
549
A região onde Valença estava inserida era fortemente marcada pela presença indígena, havendo
inclusive, durante o período colonial, aldeamentos na localidade. De acordo com Dias, a pacificação dos
aimorés na primeira metade do século XVII um fator de suma importância para o avanço da ocupação e
do estabelecimento das primeiras vilas do norte da Capitania. Cf.: OLIVEIRA, Edgar Otacílio da Silva.
Valença... op. cit. DIAS, Marcelo Henrique. Economia, sociedade... op. cit.
550
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 24 de outubro 1846.
551
BN. HDB. O Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 4, n. 160, 9 de junho de 1847. p. 2. D. PEDRO II.
Viagem à Costa... op. cit. Paginação irregular.
552
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura.Correspondência recebida do
conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1861, caderno 19. BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o
desembargador conselheiro Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da
mesma provincia em 4 de julho de 1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849. p. 37.
171
ao seu leito ou que dele necessitavam. Em meados de 1849, quando a fábrica já havia
entrado em operação, os lavradores da região do Gereba solicitaram à Câmara
Municipal providências acerca da ponte do rio Gereba, um dos principais rios da vila,
afluente do Una.
O aumento do nível da água do rio Una, ocasionado pela construção da represa
da fábrica, havia submergido a ponte, tornando-a intransitável553. Algumas semanas
após a realização da petição, um escravo, de nome não identificado, pertencente a João
Albino, um dos lavradores requerentes da petição acima mencionada, havia se afogado
após desequilibrar-se e cair da ponte submersa554. Consta que era o único escravo de
João Albino, o que deve ter lhe causado grandes inconvenientes, assim como ainda mais
insatisfação e receio por parte dos lavradores e moradores que necessitavam da ponte
para travessia.
Além da represa e do edifício da fábrica, estava em andamento sob a direção de
Carson em 1847 a construção de uma fundição de ferro555. A fundição deve ter sido
construída, inicialmente, para a fabricação de pequenas peças e como uma oficina de
reparos para as máquinas empregadas na Todos os Santos, visando diminuir a
dependência do estabelecimento da importação de itens destes gêneros, processo que
costumava gerar transtornos para os proprietários das fábricas brasileiras556.
Posteriormente, esta fundição seria expandida e aperfeiçoada tecnologicamente,
passando a produzir máquinas e peças para engenhos e embarcações a vapor557. Deveria
também fazer parte da estrutura inicial da fábrica as casas onde foram instalados os
trabalhadores que seriam ali empregados, visto que desde o início da sua operação eles
passaram a viver no estabelecimento558 e, mais tarde, um laboratório químico onde
Carson trabalhava, tanto a serviço da fábrica quanto para outros interesses, como
durante a sua atuação na comissão para melhoramento de açúcar559.
553
APEB. Seção de arquivos coloniais e provinciais: Série Documentos Avulsos. Correspondência
recebida da câmara de Valença, 1839-1868. Maço 1454. Câmara de Valença, 4 de junho de 1849.
554
APEB. Seção de arquivos coloniais e provinciais: Série Documentos Avulsos. Correspondência
recebida da câmara de Valença, 1839-1868. Maço 1454. Câmara de Valença, 11 de julho de 1849.
555
BN. HDB. Falla que recitou o presidente da provincia da Bahia, o conselheiro Antonio Ignacio
d'Azevedo, n'abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 2 de fevereiro de 1847. Bahia:
Typ. Do Guayucurú de D. Guedes Cabral, 1847. p. 20.
556
STEIN, Stanley. Origens e Evolução... op. cit. p. 52.
557
BN. HDB. Falla recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia pelo presidente da
provincia, o dezembargador João Lins Vieira Cansansão de Sinimbú, no 1º de setembro de 1857. Bahia:
Typ. de Antonio Olavo da França Guerra, 1857. p. 103.
558
Ibidem.
559
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura. Fábricas (1829-1886). Maço
4602. Fábrica Todos os Santos, 1883. Caderno 53. Fabrica Todos os Santos, 1853, caderno 11.
172
560
BN. HDB. Annaes do Parlamento Brazileiro. Camara dos Srs. Deputados, Primeiro Anno da Sexta
Legislatura, Primeira Sessão de 1845. Tomo segundo. 3. ed. Rio de Janeiro. Typographia de Hippolyto J.
Pinto, 1881. p. 157. APEB. Seção de arquivos coloniais e provinciais: Série Documentos Avulsos.
Correspondência recebida da câmara de Valença, 1839-1868. Maço 1454. Câmara de Valença, 24 de
junho de 1845.
561
STEIN, Stanley. Origens e Evolução... op. cit. p. 50. SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na
formação... op. cit. p. 179.
562
STEIN, Stanley. Origens e Evolução... op. cit. p. 50.
563
MCCONAGHY, Mary. The Whitaker Mill, 1813–1843: A case study of workers, technology and
community in early industrial Philadelphia. In: Pennsylvania History: A Journal of Mid-Atlantic Studies
v. 51, n. 1, janeiro de 1984. p. 1. Disponível em:
https://journals.psu.edu/phj/article/viewFile/24429/24198. Acesso em: 9 de janeiro de 2019.
564
STEIN, Stanley. Origens e Evolução... op. cit. p. 52. SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na
formação... op. cit. p. 179.
565
AN. 7x Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. Caixa 423, v 3. Fábrica de fiação e
tecidos. Comarca de Valença, Bahia. Proprietário Lacerda e Cia. 1848-1849.
566
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 1 de março de 1848.
173
4. 3. Considerações parciais
567
BEAUD, Micheal. História do capitalismo: de 1500 a nossos dias. São Paulo: Brasiliense, 1987. p.
146.
174
metros) de largura, feita na primeira cachoeira do rio Una para permitir a passagem de
pequenas barcas que navegavam dali para a fábrica574.
Muito provavelmente em virtude da sua grande dimensão, desde o início do seu
funcionamento a Todos os Santos encontrou problemas para operar com capacidade
máxima. Em visita ao estabelecimento em fevereiro de 1848, representantes do Correio
Mercantil da Bahia registraram que apenas 600 fusos e 15 teares, pouco mais de um
quarto do maquinário, estavam em operação575. Assim, tendo capacidade de produção
estimada em duas mil varas (2.200 metros) de tecidos por dia (além de fios), ela
fabricava apenas seiscentas (660 metros). Os proprietários da fábrica atribuíram esta
baixa capacidade de produção a falta de prática dos operários com o trabalho 576. Ao
longo dos anos, por diversos fatores, a fábrica permaneceria encontrando entraves para
operar na sua capacidade máxima.
Gradativamente, a Todos os Santos aumentou a produção. Na segunda metade
de 1848, ela fabricava mais que o dobro da quantidade de tecidos confeccionados no
início daquele ano, produzindo diariamente 1.400 varas (1.540 metros) destes e 100
metros de fios de algodão577. Em meados de 1849, o estabelecimento produzia duas mil
varas (2.200 metros) de tecido por dia (cada vara pesando em média 10 onças, cerca de
283 gramas), possuindo estrutura para aumentar sua produção a uma quantidade
estimada em 2.400 varas (2.640 metros), o que demonstra que ela ainda não operava
com sua capacidade máxima578. Este aumento da produtividade pode ser atribuído tanto
ao ganho de prática que os operários devem ter adquirido com o passar dos meses de
trabalho, quanto pelo simples aumento no contingente de trabalhadores ali empregados
ao longo do ano.
574
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 1 de março de 1848.
575
Em relatório apresentado à presidência da província, o juiz de direito da comarca de Valença afirmou
que, em março de 1848, apenas 16 teares estavam em operação. Cf.: APEB. Seção de Arquivos coloniais
e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência recebida de Valença - 1844-1848. Maço
2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença ao Presidente da Província. Valença, 1
de março de 1848. BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 5, n. 52, 2 de fevereiro de 1848. p. 2.
576
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura.Correspondência recebida do
conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1848, caderno 3.
577
AN. 7x Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. Caixa 423, v 3. Fábrica de fiação e
tecidos. Comarca de Valença, Bahia. Proprietário Lacerda e Cia. 1848-1849.
578
BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro
Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de
1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849. p. 37.
177
585
ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra: segundo observações do autor e
fontes autênticas. São Paulo: Boitempo, 2010. p. 179. BECKERT, Sven. Empire of cotton... op. cit..
COPELAND, Melvin Thomas. The cotton manufacturing... op. cit. BEAUD, Micheal. História do
capitalismo... op. cit. p. 108. HOBSBAWM, Eric J. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 6.
ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013. p. 49.
586
COPELAND, Melvin Thomas. The cotton manufacturing... op. cit. p. 11.
587
BEAUD, Micheal. História do capitalismo... op. cit. p. 149.
588
ENGELS, Friedrich. A situação da classe... op. cit. p. 181.
589
COPELAND, Melvin Thomas. The cotton manufacturing... op. cit. p. 12.
590
BEAUD, Micheal. História do capitalismo... op. cit. p. 108. ENGELS, Friedrich. A situação da
classe... op. cit. p. 187.
591
BECKERT, Sven. Empire of cotton... op. cit. Paginação irregular.
592
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 5, n. 52, 2 de fevereiro de 1848, p. 2. Diario do Rio de
Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 37, n. 229, 23 de agosto de 1857. p. 1.
593
BN. HDB. Diario do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 37, n. 229, 23 de agosto de 1857. p. 1. D.
PEDRO II. Viagem à Costa... op. cit. Paginação irregular.
179
594
MATTA, Alfredo Eurico Matta. Casa Pia Colégio de Órfãos de São Joaquim: de recolhido a
assalariado. Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1996. p. 187.
595
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 1 de março de 1848.
596
BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro
Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de
1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849. p. 12.
597
BN. HDB. Falla que recitou o exm.o presidente da provincia da Bahia, Dr. João Mauricio
Wanderley, n'abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia no 1º de março de 1853. Salvador:
Typ. Const. de Vicente Ribeiro Moreira, 1853. p. 23.
598
MATTA, Alfredo Eurico Matta. Casa Pia... op. cit. p. 179.
180
599
Ibidem. p. 188.
600
BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro
Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de
1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849.
181
construção da fábrica de fiar e tecer algodão, a Todos os Santos; sendo que não se
poderia computar os habitantes da comarca em menos de 30.000601.
A jornada de trabalho dos operários ia do nascer do sol até as sete e meia da
noite, o que durante o verão significava mais de 14 horas diárias. Ao longo deste
período, eles tinham vinte minutos para almoço, meia hora para o jantar e meia hora
para a ceia. Em 1849, a produção diária por operário variava entre 50 e 80 varas (55 e
88 metros) de tecidos. Além da produção têxtil, os trabalhadores eram submetidos a
uma rígida rotina de atividades extras, o que tornava sua jornada diária ainda mais
extensa. Nos dias de trabalho, após as 22h, eles recebiam aulas de leitura, escrita,
música e dança. Nos domingos e dias santos, não havia trabalho e é possível crer que os
operários pudessem ter algum descanso602. Assim, a fábrica contava com um sacerdote e
um mestre de música, para celebrar missas e ministrar as atividades603.
Além de trabalharem na fábrica, os operários também moravam em alojamentos.
Há indícios de que, inicialmente, não havia separação por sexo nestes, mas apenas por
estado civil. Homens e mulheres solteiras (ou melhor, meninos e meninas) habitavam o
mesmo espaço, passando a viver separadamente quando se casavam. A respeito disso,
eram promovidos casamentos entre operários nos festejos anuais de aniversário da
Todos os Santos604.
Como demonstrado por Friedrich Engels, especialmente no caso de fábricas
instaladas em áreas rurais, como era a Todos os Santos, onde havia pouca ou nenhuma
disponibilidade de moradia para os operários, a construção de habitações por parte dos
empresários no entorno das fábricas era mais uma forma de obtenção tanto de lucro (por
meio da cobrança de aluguéis) quanto de controle sobre a mão de obra, contribuindo,
nas palavras do autor, com a escravidão do operário605.
601
Mesmo os elaboradores do mapa demográfico de 1849 tinham conhecimento das dificuldades para a
realização de uma contagem populacional, no período. Constam nas observações existentes no Mappa da
população e dos fogos da comarca de Valença que os dados eram imperfeitos pela negligência dos
encarregados na elaboração do censo e pela recusa ou omissão da população em prestar informações.
602
BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro
Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de
1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849. p. 37.
603
APEB. Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência
recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença
ao Presidente da Província. Valença, 1 de março de 1848.
604
BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro
Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de
1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849. p. 37.
605
ENGELS, Friedrich. A situação da classe... op. cit. p. 218.
182
606
BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro
Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de
1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849. p. 37.
607
LIMA, Henrique Espada. Sob o domínio da precariedade: escravidão e os significados da liberdade de
trabalho no século XIX. In: Topoi. v. 6, n. 11, jul.-dez. 2005. Disponível em:
183
612
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura.Correspondência recebida do
conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1861, caderno 19.
613
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 5, n. 52, 2 de fevereiro de 1848. p. 2.
614
A frequência com que o algodão chegava não foi registrada pelo juiz. Cf.: APEB. Seção de Arquivos
coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes. Correspondência recebida de Valença - 1844-1848.
Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da comarca de Valença ao Presidente da Província.
Valença, 1 de março de 1848.
615
Cf.: SANTOS, Silvana Andrade dos. Rumo ao sul: Considerações sobre os locais de desembarques do
tráfico transatlântico de escravizados na Bahia após 1831. In: Anais do 8º Encontro Escravidão E
Liberdade No Brasil Meridional. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017.
Disponível em http://www.escravidaoeliberdade.com.br/site/images/8encontro/Textos8/silvana
andradedossantos.pdf. Acesso em: 18 de abril de 2017.
616
BN. HDB. O Crepusculo (Bahia). n. 4, v. 1, 20 de setembro de 1845. p. 58.
185
pensamos no projeto, criado poucos anos depois, de construção da estrada de ferro Tram
Road Paraguassu que ligaria a cidade de Cachoeira ao interior da província, na qual
entre os investidores constava Antonio Pedrozo de Albuquerque. Os investimentos de
Pedrozo na fábrica e na estrada de ferro poderiam ser vistos como mera coincidência,
não fosse, como mencionamos anteriormente, a concessão de trechos ao longo da
estrada de ferro para o cultivo do algodão, matéria-prima da fábrica Todos os Santos.
Portanto, a construção da estrada de ferro ia ao encontro dos interesses da fábrica tanto
de aquisição de matéria-prima quanto de exportação da sua produção. Vale dizer que já
em 1846 o periódico O Crepúsculo havia mencionado um projeto de construção de
estrada de ferro que deveria começar em um dos portos intermediário a vila de Valença
e a Cidade de Cachoeira e, passando pelas vilas de Rio de Contas e de Caetité, chegar as
margens do Rio São Francisco617. Este bem poderia ser o projeto que viria a se
concretizar mais tarde com a Tram Road Paraguassú.
Em 1849, a fábrica Todos os Santos consumia diariamente 45 arrobas (675
quilogramas) de algodão. Os problemas relativos à qualidade do beneficiamento do
algodão produzido na Bahia levaram-na, contudo, a passar a adquiri-lo principalmente
da província da Alagoas. Segundo John Monteiro Carson, embora o produto oriundo de
ambas as províncias tivesse qualidades naturais semelhantes, o algodão vindo de
Alagoas era melhor colhido e preparado, o que proporcionava um aumento de 5 a 7%
na produção, além de resultar num tecido de melhor aparência618.
Novamente aqui é necessário recordar dos demais investimentos realizados pelos
proprietários da fábrica Todos os Santos. Como vimos na primeira parte deste trabalho,
a Companhia Santa Cruz de Navegação a Vapor, de Antonio Pedrozo de Albuquerque,
em sua linha norte, alcançava a província de Alagoas. Já a Companhia Bonfim, de
Antonio Francisco de Lacerda e John Smith Gillmer, possuía uma e, posteriormente,
duas linhas regulares para Valença. Fundidas em 1858 na segunda Companhia Baiana
de Navegação, elas cobriam um amplo trajeto que englobava as áreas de produção de
matéria-prima, a cidade onde a Todos os Santos estava instalada e regiões onde as
mercadorias produzidas pela fábrica eram consumidas.
A aquisição de algodão da província de Alagoas parece não ter resolvido em
definitivo a questão do fornecimento de matéria-prima para a Todos os Santos. De
617
BN. HDB. O Crepusculo (Bahia). n. 11, v. 1, 10 de janeiro 10 de 1846. p. 170.
618
BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro
Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de
1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849. p. 37.
186
acordo com Francisco Gonçalves Martins, havia um projeto sendo criado por John
Monteiro Carson para enviar aos fazendeiros cultivadores de algodão da Imperial Vila
de Vitória (atualmente Vitória da Conquista), que produziam um algodão considerado
de melhor qualidade que o de Alagoas, máquinas apropriadas para melhor
beneficiamento deste, eliminando-se assim o problema da qualidade do beneficiamento
da matéria-prima recebida pela fábrica619.
A produção da fábrica foi comercializada, inicialmente, nos escritórios dos
próprios proprietários do estabelecimento, em virtude de que o produto ainda era
desconhecido no mercado e teve dificuldade de ser vendido620. Em fevereiro de 1848,
por exemplo, estavam disponíveis para venda no escritório de Antonio Francisco de
Lacerda, no Trapiche Grande, 8.000 varas (8.800 metros) de tecidos621 (Imagem 3). Os
anúncios dos produtos da fábrica feitos nos jornais locais, como o Correio Mercantil,
procuravam tanto destacar a qualidade destes quanto propagar a mensagem que
permeia há quase dois séculos a memória coletiva da população local: o emprego de
mão de obra livre na Todos os Santos622.
Fonte: BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 5, n. 17, 22 de janeiro 1848. p. 4.
619
Ibidem. p. 37.
620
Ibidem.
621
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 5, n. 52, 2 de fevereiro de 1848. p. 2.
622
BN. HDB. Correio Mercantil (Bahia). Ano 5, n. 17, 22 de janeiro 1848. p. 4.
187
623
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 5, n. 262, 24 de setembro de 1848. p. 2.
624
Em seu relatório de 1845 Soares de Andréa registrou que seria estabelecida na província uma fábrica
de tecidos grossos, provavelmente em referência a Todos os Santos. Cf.: BN. HDB. Falla dirigida a
Assembleia Legislativa Provincial da Bahia, na abertura da sessão ordinaria do anno de 1845, pelo
presidente da provincia Francisco José de Sousa Soares D’Andrea. Bahia: Typographia de Galdino
Bizerra e Companhia, 1845. p. 80.
625
BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro
Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de
1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849. p. 37.
188
escritório de Lacerda, na maior parte dos anúncios feitos em jornais de outras províncias
constava que os produtos eram fabricados por mão de obra livre626.
Em meados da década de 1850, a Todos os Santos recebeu a visita de James
Cooley Fletcher. O missionário estadunidense não poupou elogios para o que avaliou
ser ―A mais bela fábrica do Brasil — e talvez da América do Sul‖, naquela que
considerou uma das mais agradáveis excursões que realizou durante sua estadia na
Bahia627. Fletcher viajou de Salvador para Valença acompanhado de John Smith
Gillmer (que então ocupava o posto de cônsul dos Estados Unidos na província) e sua
esposa, que, como vimos no capítulo três, o hospedaram. Chegando a Valença, a
pequena comitiva se encontrou com John Monteiro Carson e, reembarcando em canoas,
subiu o rio até a fábrica.
A descrição feita por Fletcher da chegada ao local onde a fábrica estava
estabelecida nos fornece algumas informações do complexo ali existente em meados da
década de 1850. Segundo ele, havia a grande fábrica, de paredes brancas, destacando-se
do fundo da vegetação, além de outras menores, onde estavam instaladas entre outras
coisas, as oficinas mecânicas e fundições (Imagem 4). Impressionado, mas não
surpreendido, Fletcher afirmou que os ruídos emitidos pelo funcionamento da fábrica
fizeram com que tivesse a impressão de que estava em Lowell (cidade fabril e um dos
principais centros têxteis dos Estados Unidos) e comparou a disciplina e a moral
imposta aos trabalhadores da Todos os Santos ―com a das mais bem dirigidas fábricas
norte-americanas‖. A respeito dos artigos produzidos pela Todos os Santos, observou
que eram de qualidade superior aos da Santo Aleixo, no Rio de Janeiro.
626
BN. HDB. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 24, n.os 276, 278, 279, 281, 285, 286, 288,
dezembro de 1848. p. 3; Ano 26, n.os 109, 110, 112, 155, 157 e 173, maio-julho de 1850; Ano 27, n. 230 e
239, outubro de 1851. O Rio-Grandense (Rio Grande do Sul). Ano 5, n.os 537, 542, 544 e 584,
setembro/outubro de 1849 p. 4. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 6, n. 253, 16 de setembro de
1849, p. 4; n. 518, 21 de novembro de 1849; Ano 7, n.os 73, 74, 77, 167 e 169, março/julho de 1850. p.
3; Ano 8, n. 154 e 161, julho de 1851; Ano 9, n. 115, 122, 129, abril-maio de 1852. Jornal do Commercio
(Rio de Janeiro). Ano 24, n.os 114 e 281; abril/outubro de 1849; Ano 25, n. 75, 175, 230 e 316, março-
novembro de 1850; Ano 26, n.os 309 e 316, novembro de 1851; Ano 27, n.os, 17, 114 e 123, janeiro/maio
de 1852; Ano 33, n.os 54, 55, 56, 64, 66, 109, 113, 114, 115, 116, fevereiro-abril de 1858. O comercial
(Pernambuco). Ano 1, n. 95, 4 de maio de 1850. p. 4.
627
KIDDER, D. P.. FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros... op. cit. p. 227.
189
Fonte: KIDDER, D. P.. FLETCHER, J. C. Brazil and the brazilians: portrayed in historical and
descriptive sketches. 9. ed. Boston: Little, Brown, and Company, 1879. p. 499.
628
Ibidem. p. 229.
190
n.os 73, 74, 77, 167 e 169, março/julho de 1850. p. 3; Ano 8, n. 154 e 161, julho de 1851; Ano 9, n. 115, 122, 129, abril-maio de 1852. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro).
Ano 24, n.os 114 e 281; abril/outubro de 1849; Ano 25, n. 75, 175, 230 e 316, março-novembro de 1850; Ano 26, n.os 309 e 316, novembro de 1851; Ano 27, n.os, 17, 114 e
123, janeiro/maio de 1852; Ano 33, n.os 54, 55, 56, 64, 66, 109, 113, 114, 115, 116, fevereiro-abril de 1858. O Comercial (Pernambuco). Ano 1, n. 95, 4 de maio de 1850. p.
4. APEB. Seção: Provincial. Fundo: Governo da Província. Série: Agricultura. Fábricas (1829-1886). Maço 4602. Fabrica Todos os Santos, 1883. Caderno 53. Seção
Provincial. Fundo: Governo da Província. Série: Agricultura.. Correspondência recebida do conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603.
Fábrica de tecidos Todos os Santos (1848, caderno 3; 1851, caderno 6; e 1861, caderno 19). D. PEDRO II. Viagem à Costa... op. cit.
192
629
Ibidem. p. 228-229.
630
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura.Correspondência recebida do
conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1851, caderno 6.
631
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. p. 130-133. GUIMARÃES, Carlos
Gabriel. A presença inglesa... op. cit. p. 169.
632
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura.Correspondência recebida do
conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1861, caderno 19.
193
Una, a primeira represa (feita de madeira) foi destruída. Visto que todo o maquinário da
fábrica de tecidos, assim como da fundição, era movido a energia hidráulica, o
desabamento causou grandes empecilhos ao estabelecimento. A construção da nova
represa, desta fez de alvenaria, levou nove meses, período no qual as atividades do
complexo ficaram interrompidas. A nova represa tinha 227 pés (aproximadamente 75
metros) de comprimento, 16 pés (5,28 metros) de largura da base, 8 pés (2,64 metros)
de largura superior, e 18 pés (cerca de 6 metros) de altura. Ela continha 24 portões, que
regulavam os níveis da água do rio, e um canal, abastecido por seis portões de
preenchimento e 2 de esvaziamento. O canal, medindo 500 pés (165 metros) de
comprimento, 27 pés (aproximadamente 9 metros) de largura e 8 pés (2,64 metros) de
profundidade, distribuía a água para as rodas d‘água ali existentes633.
Em 1857, as obras de expansão da fábrica e da fundição foram concluídas e a
nova represa fora finalizada. Não localizamos registros sobre as novas dimensões da
fábrica no período imediatamente posterior a reforma. Por outro lado, a fundição,
dispunha em 1857 de três fábricas: a primeira destinada à fabricação de peças
empregadas em embarcações a vapor de navegação costeira; a segunda destinada à
produção de peças de máquinas de engenho a vapor, a exemplo de caldeiras, destinadas
principalmente do Recôncavo da província; e a terceira destinada quase exclusivamente
à produção de peças empregadas na fábrica de tecidos634. Nota-se dessa forma que a
produção da fundição convergia não só com os interesses da Todos os Santos como
também dos demais investimentos da sociedade Lacerda e Cia, a exemplo das
companhias de navegação a vapor, Santa Cruz e Bonfim (posteriormente, segunda
Companhia Baiana e Navegação) e com a produção açucareira, na qual ao menos
Antonio Pedrozo de Albuquerque estava inserido. No início da década de 1860, a
fundição existente na Todos os Santos era considerada uma das melhores da província,
somente comparada a pertencente ao Arsenal da Marinha635 e, em 1883, fora tida como
uma das três principais do país636.
633
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20 de novembro de 1861. p. 1.
634
BN. HDB. Falla recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Bahia pelo presidente da
provincia, o dezembargador João Lins Vieira Cansansão de Sinimbú, no 1º de setembro de 1857. Bahia:
Typ. de Antonio Olavo da França Guerra, 1857. p. 103.
635
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura.Correspondência recebida do
conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1861, caderno 19. BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20
de novembro de 1861. p. 1.
636
BN. HDB. O Auxiliador da Indústria Nacional. v. 51. Rio de Janeiro: Typographia Universal de H.
Laemmert & C., 1883 p. 205.
194
637
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura.Correspondência recebida do
conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1861, caderno 19.
638
Cf.: DAVID, Onildo Reis. O inimigo invisível: a epidemia do cólera na Bahia em 1855-1856.
Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1993. SAMPAIO, Marcos
Guedes Vaz. Uma análise regional das crises de 1857 e 1860: os efeitos na província da Bahia. In:
Revista de Desenvolvimento Econômico. Ano XVIII, v. 3, n. 35. Salvador, dezembro de 2016. Disponível
em: https://revistas.unifacs.br/index.php/rde/article/view/4561/3080. Acesso em: 28 de janeiro de 2020. p.
904.
639
Sobre os efeitos da seca na província da Bahia ver: GONÇALVES, Graciela Rodrigues. As secas na
Bahia dos século XIX: Sociedade e Política. Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade
Federal da Bahia, 2000. SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma análise regional das crises de 1857 e
1860: os efeitos na província da Bahia. In: Revista de Desenvolvimento Econômico. Ano XVIII, v. 3, n.
35. Salvador, dezembro de 2016. Disponível em:
https://revistas.unifacs.br/index.php/rde/article/view/4561/3080. Acesso em: 28 de janeiro de 2020.
640
Ver capítulos 2 e 3.
641
SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. A crise internacional de 1857 e os efeitos sobre a Província da
Bahia. In: Crítica Histórica. Ano VIII, n. 16. Dezembro de 2017. Disponível em:
http://www.seer.ufal.br/index.php/criticahistorica/article/download/4160/pdf. Acesso em: 9 de maio de
2019.
195
642
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. p. 127-128.
643
GUIMARÃES, Carlos Gabriel. A presença inglesa... op. cit. p. 187-189.
644
BN. HDB. Annaes do Parlamento Brazileiro. Camara dos Srs. Deputados, Primeiro Anno da Sexta
Legislatura, Primeira Sessão de 1845. Tomo segundo. 3. ed. Rio de Janeiro. Typographia de Hipollyto J.
Pinto, 1881. p. 261.
645
Ibidem. p. 9.
196
646
BN. HDB. Diario do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 37, n. 229, 23 de agosto de 1857. p. 1.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 22, n. 233, 24 de agosto de 1857. p. 1.
647
BN. HDB. Diario do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Ano 37, n. 229, 23 de agosto de 1857. p. 1.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 22, n. 233, 24 de agosto de 1857. p. 1.
648
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário João Monteiro Carson. Classificação –
05/2153/2622/11.
649
OLIVEIRA, Edgar Otacílio da Silva. Valença... op. cit. p. 79-80.
650
BRASIL. Relatorio da 2ª Exposição Nacional de 1866. 2ª parte. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1869. Disponível em:
https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=coo.31924019972011;view=1up;seq=9. Acesso em: 14 de janeiro de
2019. p. 37.
197
651
Posteriormente, Augusto Frederico de Lacerda seria responsável pela construção do Elevador
Hidráulico da Conceição em Salvador, mais tarde conhecido como Elevador Lacerda. Além disso, se
casaria em segundas núpcias em Ubaldina Pedrozo de Albuquerque, sobrinha de Antonio Pedrozo de
Albuquerque. Cf.: OLIVEIRA, Edgar Otacílio da Silva. Valença... op. cit. p. 79-80. OLIVEIRA, Waldir
Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 40-43.
652
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura. Correspondência recebida
do conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1861, caderno 19.
653
D. PEDRO II. Viagem à Costa... op. cit. Paginação irregular.
654
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 15, n.os 154, 156 e 158, junho de 1858.
198
Fonte: BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 15, número 154, 8 de junho de 1858, p. 3.
655
D. PEDRO II. Viagem à Costa... op. cit. Paginação irregular.
656
Ibidem.
199
minuto. Sendo o total da produção diária da fábrica de 4 mil varas (4.400 metros) de
tecido657.
Enquanto isso, sobre a estrutura do complexo, ele registrou a existência de um
oratório, com a presença de um capelão; de uma botica, contendo um médico (o Dr.
Brito) e medicamentos básicos para demandas urgentes; e de um refeitório, onde eram
ofertadas as refeições para os trabalhadores. O Imperador relatou ainda a existência de
plantações de alguns gêneros no complexo (embora não tenha especificado quais), a
fabricação de carvão para uso doméstico, o aproveitamento da água para o torrador de
café (indício de que este era um dos gêneros ali produzidos), e a existência de boas
madeiras nos terrenos pertencentes à fábrica.
O monarca estimou que trabalhavam no estabelecimento naquela altura entre
200 e 300 operários, a maioria do sexo feminino. De acordo com ele, os operários eram
então separados pelo sexo e por aqueles que detinham filhos. Ademais, assinalou que as
mães tinham trabalho suspenso na fábrica. Registrou também aspectos da vida e do
cotidiano dos trabalhadores, indicando que a rotina a eles imposta (como a ocorrência
das aulas) não havia passado por modificações ao longo dos anos658.
A fundição também foi alvo de observação do Imperador. Agora ampliada, esta
última dispunha, entre outros equipamentos, de duas forjas de ferro e dois tornos,
capazes de abrir parafusos e fazer dentes em rodas, e de fundir peças de 1.200 libras
(cerca de 550 quilogramas). As informações apresentadas no Diário de D. Pedro II
ratificam o uso da mão de obra escrava na fundição, pois de acordo com ele tanto os
moldadores quanto os trabalhadores da fundição eram escravos que haviam aprendido o
ofício com estadunidenses659.
O emprego de mão de obra escrava na metalurgia era comum em alguns
estabelecimentos do Brasil no período, como verificado por Mario Danieli Neto e
Beatriz Piva Momesso para os casos, respectivamente, da fábrica de ferro São João de
Ipanema, em Sorocaba, na província da São Paulo, e na fundição da Ponta da Areia, em
Niterói, na província do Rio de Janeiro660. No caso da Todos os Santos, embora D.
Pedro II tenha afirmado que os escravos haviam aprendido as técnicas de fundição com
estadunidenses, estudando a Fábrica de Ferro São João de Ipanema, Danieli Neto
657
Ibidem.
658
Ibidem.
659
Ibidem.
660
Cf.: DANIELI NETO, Mario. Escravidão e indústria... op. cit. MOMESSO, Beatriz Piva. Indústria e
trabalho... op. cit.
200
661
DANIELI NETO, Mario. Escravidão e indústria... op. cit. p. 44.
662
PEDRO II. Viagem à Costa... op. cit. Paginação irregular.
663
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura. Fábricas (1829-1886). Maço
4602. Fábrica Todos os Santos, 1883. Caderno 53.
664
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20 de novembro de 1861. p. 1.
201
primeira opção de negócio dos membros da firma Lacerda e Cia. Vale recordar que
anúncios de venda da Todos os Santos foram publicados em periódicos do Rio de
Janeiro e da Bahia desde 1858, o que indica que os empresários devem ter encontrado
dificuldades para dela se desfazerem. Desta forma, é provável que diante da
impossibilidade de venda para outros agentes, a fábrica foi comprada pelo próprio
Pedrozo, conforme Antonio Francisco de Lacerda, único capaz de adquiri-la665.
Com a dissolução da firma, coube a Antonio Francisco de Lacerda o
recebimento dos ativos e o pagamento dos passivos da fábrica e um valor de
280:000$000rs. A Pedrozo, por sua vez, restou a estrutura da fábrica, incluindo prédios,
máquinas, embarcações e os 54 escravos ali existentes. Nada há de explícito no distrato
da firma sobre a parte competida à Gillmer com sua dissolução, mas há indícios de que
ele ainda fazia parte da sociedade naquela altura666.
Não nos parece, contudo, que Lacerda tenha ficado totalmente satisfeito com a
necessidade e condições de venda da Todos os Santos. Para ele, a fábrica foi adquirida
por Antonio Pedrozo de Albuquerque por um valor abaixo do seu preço667 (o que
ratifica a tese da dificuldade na venda). Ademais, como visto no capítulo 2, o
negociante despediu-se da sociedade com uma carta aberta destinada aos operários da
fábrica e reproduzida em periódicos na Bahia e no Rio de Janeiro, na qual fazia uma
série de acusações e questionamentos sobre as novas políticas de crédito e a reforma
bancária consolidadas na gestão do Ministro Silva Ferraz, que gerou grande polêmica na
Corte.
Assim, encerrava-se a primeira fase da fábrica Todos os Santos. Ao longo dos 16
anos que se passaram desde a fundação até a dissolução da firma Lacerda e Cia, período
no qual a fábrica foi instalada e administrada pela sociedade, observamos o surgimento
de um projeto bem estruturado e grandioso, inspirado nos padrões da Inglaterra e dos
Estados Unidos. Em sua segunda fase, sobre propriedade exclusiva de Antonio Pedrozo
de Albuquerque, a fábrica estaria expandida, mas manteria uma dinâmica muito
semelhante à da primeira fase de seu funcionamento, como veremos a seguir.
665
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 17, n. 277, 6 de outubro de 1860. p. 2.
666
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura. Fábricas (1829-1886). Maço
4602. Fábrica Todos os Santos, 1883. Caderno 53.
667
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 17, n. 277, 6 de outubro de 1860. p. 2.
202
668
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro). Ano 6, n. 240, 23 de outubro de 1860. p. 2. Sobre a
provável associação de Antonio Pedrozo de Albuquerque e Antonio Pereira Franco, ver capítulo 1.
669
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro). Ano 6, n. 240, 23 de outubro de 1860. p. 2.
670
Cf.: SAMPAIO, Marcos Guedes Vaz. Uma contribuição... op. cit.
671
BN. HDB. Correio da Tarde (Rio de Janeiro). Ano 6, n. 240, 23 de outubro de 1860. p. 2.
203
Lacerda fez a leitura da carta de despedida de seu pai. Além das já referidas críticas ao
Ministério da Fazenda, em tom paternalista, a carta buscava dar garantias aos
funcionários tanto da proteção de Pedrozo quanto da continuidade do funcionamento da
Todos os Santos672.
Treze anos após sua inauguração e dezessete anos após a formação da sociedade
Lacerda e Cia, em 1861, além da dissolução da firma, a fábrica já havia passado por
algumas transformações e melhoramentos físicos. Uma gravura da fábrica no século
XIX de autoria desconhecida, provavelmente de um período posterior às reformas de
meados da década de 1850, embora não contemple todo o complexo, colabora para a
visualização da infraestrutura ali existente no período (Imagem 6).
Fonte: OLIVEIRA, Edgar Otacílio da Silva. Valença: Dos primórdios a contemporaneidade. 2. ed.
Valença/ Ba: FACE, 2009. p. 79.
672
Ibidem.
673
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20 de novembro de 1861. p. 1.
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário Antonio Pedroso de Albuquerque. Classificação –
07/3191A/06. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura. Correspondência
204
A produção era iniciada na sala dos batedores, quando o algodão passava por um
processo de limpeza para a retirada de impurezas existentes na fibra. Para a realização
deste procedimento, existiam na Todos os Santos seis máquinas, todas provenientes dos
Estados Unidos, capazes de limpar duas mil libras (pouco mais de 900 quilogramas) de
recebida do conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de
tecidos Todos os Santos, 1861, caderno 19.
674
BN. HDB. Relatorio com que o excellentissimo senhor conselheiro Joaquim Antão Fernandes Leão
passou a administração da provincia da Bahia ao excellentissimo senhor conselheiro Antonio Coelho de
Sá e Albuquerque, em 30 de setembro de 1862. Bahia: Typ. de Antonio Olavo da França Guerra, 1862. p.
69.
675
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20 de novembro de 1861. p. 1.
205
algodão por dia. Limpa, a fibra deveria ser preparada para a fiação. Era na sala de cardar
que este processo ocorria. Havia ali 60 cardas, também provenientes dos Estados
Unidos, das quais, em novembro de 1861, 40 estavam em operação. Cada uma das
máquinas tinha capacidade de produzir 40 libras (aproximadamente 18 quilogramas) de
algodão cardado por dia. As cardas escovavam a fibra do algodão, desembaraçando,
alinhando-a e removendo as impurezas que por ventura restassem. Na sala de cardar
também estavam instaladas 22 máquinas de estiragem de diferentes medidas, que
finalizam a preparação da fibra para a fiação676.
Só então o algodão era levado para a sala de fiar. Neste ambiente, havia 22
fiadeiras, 10 de fabricação inglesa e 12 de fabricação estadunidense. As fiadeiras
inglesas possuíam cada uma 200 fusos, cada fuso com capacidade de produzir 12
arrobas (ou 180 quilogramas) de fios por dia. As fiadeiras estadunidenses possuíam
cada uma 180 fusos, cada fuso com capacidade de produzir 10 arrobas (ou 150
quilogramas) de fios por dia. A Todos os Santos contava, naquela altura, com 4.160
fusos, capazes de produzir até 45.600 arrobas (ou 684 toneladas) de fios por dia. Vale
ressaltar que, de acordo com Antonio Pedrozo de Albuquerque, em 1861, mais mil
fusos recém-chegados da Europa estavam por ser instalados na fábrica, o que deveria
elevar ainda mais sua produção. Ainda na sala de fiar, parte dos fios era enrolada em
novelos. Este processo também era realizado por meio de máquinas capazes de produzir
até 500 libras (aproximadamente 226 quilogramas) de fios por dia. A outra parte era
enviada para a tecelagem677.
A produção era finalizada na sala de tecer. Nela, havia 135 teares, dos quais 65
estavam em operação em 1861. Estes produziam cerca de três mil varas (3.300 metros)
de tecido por dia. Desta forma, é possível estimar que, em sua totalidade, os teares da
Todos os Santos tinham capacidade de produzir 6.230 varas (cerca 6.800 metros) de
tecido por dia. Além dos teares empregados na confecção de tecidos, existiam na sala
de fiar máquinas de costura utilizadas na fabricação de sacaria, nas quais se produzia
250 sacos por dia678.
Ao todo, em 1861, a fábrica produzia seis diferentes mercadorias: dois tipos de
tecidos (um largo, com trama fechada, e outro estreito, com trama mais aberta), lona e
meia lona, além dos já mencionados fios em novelos e sacos. O tecido largo, indicado,
676
Ibidem.
677
Ibidem.
678
Ibidem.
206
entre outros, para confecção de roupas de escravos, lençóis e toalhas, era vendido a
$440rs a vara. O tecido estreito era indicado para a confecção de sacos, embora, em
virtude do seu preço inferior ($420rs a vara), também fosse utilizado para a confecção
de roupas. As lonas (consideradas de qualidade superior, mas pouco conhecidas no
mercado) eram vendidas a $800rs a vara e utilizadas para velas de embarcações.
Enquanto isso, as meias lonas eram comercializadas por $600rs a vara, e empregadas
tanto na fabricação de velas de embarcações quanto por lavradores para o transporte de
mercadorias679. Como é possível observar, a produção gerada pela fábrica no início da
década de 1860 havia se diversificado e o estabelecimento havia passado a produzir
tecidos de melhor qualidade, além dos iniciais panos para sacaria e roupa de escravos.
Todo o maquinário da fábrica era movido por quatro motores, duas grandes
rodas de madeira e duas turbinas de ferro. As rodas de madeira possuíam, cada uma, 22
pés (7,26 metros) de diâmetro. Sua envergadura e potência, porém, eram diferentes:
uma delas possuía 20 pés (6,60 metros) e potência de 20 cavalos e outra 16 pés (5,28
metros) de largura e potência de 15 cavalos. Já as turbinas possuíam 4 pés (1,32 metros)
de diâmetro e potência de 16 cavalos cada uma680.
Em relação à indústria têxtil do Reino Unido, o número de fusos da Todos os
Santos em 1861 estava muito abaixo da média por fábrica, que era de 10.443 na
Inglaterra e País de Gales, 11.751 na Escócia e 13.327 na Irlanda. Quanto aos teares, em
termos numéricos, a fábrica baiana se aproximava da média dos estabelecimentos
têxteis do Reino Unido, que era de 135 na Inglaterra e País de Gales, 185 na Escócia e
195 na Irlanda681.
Não deixa de chamar atenção a disparidade entre o número médio de fusos e
teares das fábricas têxteis do Reino Unido em comparação a Todos os Santos.
Tomemos, por exemplo, o caso da Inglaterra e País de Gales propriamente ditos. Como
acima mencionado, ali a média por fábrica têxtil era de 10.443 fusos e 135 teares em
1861. No mesmo ano, a Todos os Santos possuía 4.160 fusos e os mesmos 135 teares,
679
Ibidem. BRASIL. Relatorio geral da exposição nacional de 1861 e relatorios dos jurys especiaes,
colligidos e publicados por deliberação da Commissão Directora pelo secretario Antonio Luiz Fernandes
da Cunha. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1862. p. 313. Disponível em:
http://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/22502. Acesso em: 14 de janeiro de 2019.
680
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20 de novembro de 1861. p. 1.
681
Segundo Karl Marx, em 1861, havia na Inglaterra e País de Gales 2.715 fábricas, com 28.352.125
fusos e 368.125 teares a vapor; na Escócia, 163 fábricas, com 1.915.398 fusos e 30.110 teares a vapor; e,
na Irlanda, 9 fábricas, com 119.944 fusos e 1.757 teares a vapor. Cf.: MARX, Karl. O Capital: Crítica da
economia política. Livro 1: O processo de produção do capital. 2. ed. E-book. São Paulo, Boitempo:
2017. Paginação irregular.
207
ou seja, menos da metade de fusos para o mesmo número de teares. Neste caso, a
discrepância entre o número de fusos e teares aponta para uma maior eficácia dos teares
empregados na indústria britânica em comparação aos da fábrica baiana. O dado não
surpreende, visto que nem mesmo os estabelecimentos do Norte dos Estados Unidos
possuíam a mesma dimensão e eficiência da pioneira indústria têxtil britânica no
período.
É possível crer que a capacidade de tecelagem da Todos os Santos fosse
significativamente maior. Como acima mencionado, em 1861 apenas 65 dos 135 teares
estavam em operação, ou seja, 4.160 fusos produzindo para 65 e não 135 teares. Neste
cenário, pode-se estimar que o total de teares da fábrica tinha capacidade de tecer a
produção gerada por 8.640 fusos, um número bastante expressivo. Ratifica esta hipótese
o fato de que, conforme Antonio Pedrozo de Albuquerque outros mil fusos estavam por
ser instalados no estabelecimento naquele ano.
Quanto aos Estados Unidos, em termos numéricos, a Todos os Santos
encontrava-se 12,7% abaixo da média geral de fusos nos estabelecimentos têxteis ali
existentes que, na década de 1860, era de aproximadamente 4.766. Quando esta
comparação é feita em relação às diferentes áreas geográficas do país norte-americano,
nota-se que o número de fusos da Todos os Santos era bastante inferior ao número
médio existente nos estabelecimentos têxteis da Nova Inglaterra que era de 6.667. Por
outro lado, o número de fusos da fábrica baiana era significativamente maior que a
média existente nos estabelecimentos têxteis nas outras áreas dos Estados Unidos, que
era de 2.941 nos estados do meio, 1.887 nos estados do Sul e 1.818 nos estados do
Oeste682.
Em 1861, chegaram a existir 250 trabalhadores internos livres de ambos os sexos
na Todos os Santos. Já em 1866, havia 200 destes683. Esse número era, sem dúvida,
682
De acordo com Melvin Thomas Copeland, em 1860, existiam nos Estados Unidos 1.091
estabelecimentos têxteis com 5.200.000 fusos. Em termos de distribuição geográfica, havia na Nova
Inglaterra 570 estabelecimentos e 3.800.000 de fusos; nos estados do meio, 340 estabelecimentos e
1.000.000 de fusos; nos estados do sul, 159 estabelecimentos e 300.000 fusos; e, nos estados do oeste, 22
estabelecimentos e 40.000 fusos. Na soma dos fusos, por meio da distribuição geográfica obtivemos como
resultado 5.140.000 fusos. No entanto, para calcular a média geral de fusos utilizamos os dados
fornecidos pelo o autor. Cf.: COPELAND, Melvin Thomas. The cotton manufacturing... op. cit. p. 6-8.
683
O relatório da Exposição Nacional dá conta de que existiam 400 trabalhadores livres no
estabelecimento em 1861. Cf. BRASIL. Relatorio geral da exposição nacional de 1861 e relatorios dos
jurys especiaes, colligidos e publicados por deliberação da Commissão Directora pelo secretario
Antonio Luiz Fernandes da Cunha. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1862. p.
318. Disponível em: http://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/22502. Acesso em: 14 de janeiro de
2019. BRASIL. Relatorio da 2ª Exposição Nacional de 1866. 2ª parte. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1869. Disponível em:
208
muito expressivo, mas não diz muito a respeito da eficiência do trabalho na produção
realizada no estabelecimento. Para isso, procuramos realizar um cálculo do número
médio de trabalhadores ali existentes por fusos. Quanto menor a proporção de operários
por fusos, ou melhor, quanto maior o número de fusos que um operário fosse capaz de
manusear, mais aperfeiçoado e eficiente era o maquinário de uma fábrica684. Vale
ressaltar que não foi possível definir se os dados levantados acerca da quantidade de
trabalhadores existentes na Todos os Santos neste período dizem respeito ao total de
trabalhadores livres existentes no complexo ou que ali habitavam, ou se esse número faz
referência apenas ao número de operários da fábrica de tecidos. Portanto, os cálculos
por nós realizados caracterizam apenas uma estimativa.
Dividindo-se o número de fusos existentes na Todos os Santos pelo número de
trabalhadores, obtém-se como produto 16,6 trabalhadores por fusos para o ano de 1861
e 20,8 para o ano de 1866. Em comparação com a média da indústria têxtil britânica
que, em 1866, era de 74685, a quantidade de fusos por operários da fábrica Todos os
Santos era significativamente inferior. A quantidade de fusos por operários da Todos os
Santos também era inferior à média geral dos Estados Unidos na década de 1860, que
era de 42, 6686. Por outro lado, havia um país cuja média da indústria têxtil a Todos os
Santos suplantava tanto em número quanto em eficiência: a França. Em 1866, as
fábricas têxteis deste país contavam em média com 1.500 fusos e aproximadamente 107
operários, num total de 14 fusos por operário687.
Antonio Pedrozo de Albuquerque afirmou que naquela altura os trabalhadores
empregados no complexo recebiam salários que podiam chegar a até 4$000rs diários,
segundo a ocupação e habilidade de cada um deles688. É possível crer que apenas um
pequeno número destes trabalhadores, os mais especializados, recebessem este valor.
Vale recordar que, para Francisco Gonçalves Martins, o sustento de um operário da
fábrica Todos os Santos era calculado em 15$000rs mensais e alguns trabalhadores
conseguiam exceder seus ganhos, além do valor mínimo para seu sustento, em até
689
BN. HDB. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador conselheiro
Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma provincia em 4 de julho de
1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849. p. 37.
690
LOBO, Eulalia Maria Lahmeyer. Evolução dos preços e do padrão de vida no Rio de Janeiro, 1820-
1930 - resultados preliminares. In: Revista Brasileira de Economia. V. 25, n. 4. Janeiro, 1971. Disponível
em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rbe/article/view/67/6249. Acesso em: 31 de janeiro de
2020.
691
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20 de novembro de 1861. p. 1.
692
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário Antonio Pedroso de Albuquerque. Classificação
– 07/3191A/06.
693
A dissertação de Nilceanne Felício defendida em 2019 foi um dos primeiros trabalhos publicados, se
não o primeiro, a abordar a presença de escravos na fábrica Todos os Santos. Cf.: FELÍCIO, Nilceanne
Nogueira Lima. As fábricas têxteis do rio Uma... op. cit.
694
KIDDER, D. P.. FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros... op. cit. p. 229. D. PEDRO II. Viagem à
Costa... op. cit. Paginação irregular.
210
695
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 15, n.os 154, 156 e 158, junho de 1858.
696
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20 de novembro de 1861. p. 1.
697
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário Antonio Pedroso de Albuquerque. Classificação
– 07/3191A/06.
698
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura. Fábricas (1829-1886). Maço
4602. Fábrica Todos os Santos, 1883. Caderno 53
699
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. p. 309.
700
IBGE. Recenseamento do Brazil em 1872. Disponível em: <: http//biblioteca.ibge.gov.br >. Acesso
em: 21 de fevereiro de 2020.
211
701
SANTOS, Silvana Andrade dos. Nos terrenos... op. cit.
702
SCHWARTZ, Stuart B. Escravos, Roceiros e Rebeldes. Bauru, SP: EDUSC, 2001. p. 167.
703
SANTOS, Silvana Andrade dos. Nos terrenos arenosos e no infame comércio: os desdobramentos do
fim do tráfico transatlântico em Valença (Bahia, 1831-1866). Dissertação (Mestrado em História).
Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2016.
212
704
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura. Correspondência recebida
do conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1861, caderno 19. BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20
de novembro de 1861. p. 1.
214
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o ano de 1866. Ano 23, série 2, n. 18. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert,
1866. p. 508.
216
Fonte: BN. HDB. A Actualidade (Rio de Janeiro). Ano v, n. 532, 29 de setembro de 1863. p. 4.
Em 1866, a fábrica foi premiada pela segunda vez com medalha de ouro na II
Exposição Nacional do Brasil. Desta vez, dividiu o primeiro lugar com as fábricas Santo
Aleixo (inaugurada em 1849, pertencente José Antonio de Araujo Filgueiras e
localizada em Magé, no Rio de Janeiro,) e a Nossa Senhora do Amparo (inaugurada em
705
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 19, n. 73, 15 de março de 1862. p. 1; e n. 142, 24
de maio de 1862. p. 2. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de
Janeiro para o anno de 1863. Ano 20, série 2, n. 15. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert,
1863. p. 81
706
BRASIL. Relatorio geral da exposição nacional de 1861 e relatorios dos jurys especiaes, colligidos e
publicados por deliberação da Commissão Directora pelo secretario Antonio Luiz Fernandes da Cunha.
Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1862. p. 313. Disponível em:
http://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/22502. Acesso em: 14 de janeiro de 2019.
707
BN. HDB. Publicador Maranhense (Maranhão). Ano 21, n. 175, 4 de agosto de 1862. p. 2.
708
BN. HDB. A Actualidade (Rio de Janeiro). Ano 5, n. 532, 29 de setembro de 1863. p. 4. Correio
Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 18, n. 282, 16 de outubro de 1861. p. 4; Ano 20, n. 70, 12 de março de
1863. p. 4; Ano 21, n. 1, 1 de janeiro de 1864. p. 3.
217
709
BRASIL. Relatorio da 2ª Exposição Nacional de 1866. 2ª parte. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1869. Disponível em:
https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=coo.31924019972011;view=1up;seq=9. Acesso em: 31 de janeiro de
2020. p. 40.
218
710
Ibidem. p. 37.
711
Ibidem. p. 37.
712
BN. HDB. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 25, n. 202, 23 de julho de 1868. p. 3.
713
BN. HDB. Diario de Pernambuco (Pernambuco). Ano 1, n. 61, 15 de março de 1874. p. 2.
714
BN. HDB. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro
para o anno de 1862. Ano 19, série 2, n. 14. Rio de janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1862. p. 530.
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno de
1863. Ano 20, série 2, n. 15. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1863. p. 530. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno bissexto de
1864. Ano 21, série 2, n. 16. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1864. p. 546 Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno de 1865. Ano
22, série 2, n. 17. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1865. p. 528. Almanak Administrativo,
Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno de 1866. Ano 23, série 2, n.
18. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1866. p. 508.
715
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Testamento de Antonio Pedroso de Albuquerque.
Classificação: 01/03/125/02.
219
716
BN. HDB. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 38, n. 188, 9 de julho de 1863. p. 3.
717
Cf.: BN. HDB. O Cearense (Ceará). Ano 23, n.os 2.750, 2.751, 2.753, 2.757, 2.760, 2.763, novembro
de 1868. Ver também: OLIVEIRA, Raimundo Eufrásio de. Centenário da morte de John William Studart.
In: Revista do Instituto do Ceará. Ano 42, 1978. Disponível em
https://www.institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/1978/1978-
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https://www.institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/1956TE/1956TE-
BaraoStudartHistoriografiaCearense.pdf. Acesso em: 10 de fevereiro de 2020.
718
BN. HDB. Jornal do Recife (Pernambuco). Ano 10, n.os 227, 235 e 256, outubro-novembro de 1868.
719
. VILELA, André. Política tarifária... op. cit. p. 42. SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na
formação... op. cit. p. 156. SAMPAIO, José Luís Pamponet. A evolução de uma empresa... op. cit. p. 24.
STEIN, Stanley. Origens e Evolução... op. cit. p. 31
720
STEIN, Stanley. Origens e Evolução... op. cit. p. 32.
721
BN. HDB. Falla com que o excelentíssimo senhor dezembargador João Antonio de Araujo Freitas
Henriques abrio a 1.ª sessão da 19.ª Legislatura da Assembléa Provincial da Bahia em 1.º de março de
1872. Bahia: Typographia do ―Correio da Bahia‖, 1872. p. 131.
722
BN. HDB. A Constituição (Ceará). Ano 9, n. 107, 12 de julho de 1871. p. 3
220
723
VILELA, André. Política tarifária... op. cit. p. 43. SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação...
op. cit. p. 157. SAMPAIO, José Luís Pamponet. A evolução de uma empresa... op. cit. p. 25.
724
SOARES, Luiz Carlos. A manufatura na formação... op. cit. p. 182. v. 2.
725
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 47.
726
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura.Correspondência recebida do
conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1876, caderno 30.
727
Ibidem.
728
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial Cidade de Valença... op. cit. p. 44.
221
729
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura.Correspondência recebida do
conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1876, caderno 30.
730
APEB. Seção Judiciária. Série Inventários. Inventário Antonio Pedroso de Albuquerque. Classificação
– 07/3191A/06.
731
Ibidem.
222
5. 3. Considerações parciais
732
Ibidem.
733
APEB. Seção Provincial. Fundo Governo da Província. Série Agricultura. Correspondência recebida
do conselho administrativo da companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos
Todos os Santos, 1883, caderno 42.
223
CONSIDERAÇÕES FINAIS
734
KIDDER, D. P.. FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros... op. cit. p. 226.
225
mesmo tempo em que era proprietário de cinco grandes engenhos (alguns dos quais
empregavam energia a vapor) e mais de 500 escravos.
Os casos da Todos os Santos e de seus proprietários exemplificam alguns dos
inúmeros investimentos realizados por contrabandistas e escravistas no
desenvolvimento industrial Brasil, bem como explicitam como indústria e escravidão
estavam perfeitamente articuladas na sociedade brasileira oitocentista. Isso evidencia
como o enaltecimento de figuras como o Visconde de Mauá serve tão somente para
reforçar o estereótipo de uma suposta incompatibilidade entre escravidão e indústria e
para perpetuar o silenciamento do que deve ter sido o padrão da sociedade brasileira no
oitocentos: a atuação de escravistas na indústria.
De certa forma, seria alívio concluir que o discurso construído em torno da
Todos os Santos é uma exceção na sociedade brasileira e que, com a redação desta tese,
não houvesse mais nada para ser dito. Seria reconfortante pensar que sabemos quem
foram e que conhecemos a trajetória dos criminosos que roubaram milhares de homens,
mulheres e crianças do continente africano e os arrastaram para o Brasil; e olhar para
muitas instituições que existiram e ainda existem e reconhecer, não sem pesar, que suas
origens remetem ao contrabando negreiro e ao sistema escravista.
No entanto, infelizmente, o caso da Todos os Santos representa uma regra.
Mesmo que uma geração de pesquisadores venha buscando cada vez mais trazer à tona
trajetórias de contrabandistas negreiros, sua inserção e, não raras vezes, prestígio no
Império e sua herança na sociedade brasileira contemporânea, ainda há muito trabalho a
ser feito. Quantos Antonios e Joões permanecem desconhecidos, escondidos por
quantas fachadas de Todos os Santos?
229
FONTES
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1861.
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1816.
233
- Almanach do Rio de Janeiro para o anno de 1824. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1824.
- Almanach do Rio de Janeiro para o anno de 1825. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1825.
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1826.
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- Brasil Historico. 2ª série. Tomo I. Rio de Janeiro: Typographia de Pinheiro & C.,
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Editores Viuva Ogier e Filho, 1843.
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navegação a vapor.
241
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VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no século XVIII. Salvador: Itapuã, 1969. v. 2.
APÊNDICES
260
Salustiano da Silva (e outros); Josefa Vieira de Santana; Lino (africano); Luis Maria de
Oliveira Mendes; Luiz da Rocha Dias; Luiz Felipe Croces; Luiz Martiliano (pardo);
Manoel Antonio Gaspar (e mulher); Manoel Carneiro dos Santos; Manoel de Castro
Neves; Manoel de Saldanha da Gama; Manoel Domingos Santo; Manoel Francisco
Borges Leitão (e mulher); Manoel Gomes de Magalhães; Manoel José de Almeida
Couto; Manoel José do Couto (e outros); Manoel José Pereira da Cunha; Manuel de
Castro Nery; Margarida J. Gillmer; Maria Feliciana de Assis; Maria Francisca da França
Pinto; Maria Luiza Ribeiro de Oliveira; Miguel Barreiros; Oscar; Paulo Rodrigues
Guimarães; Pedro José de Souza Junior; Persiano Bocanera; Ramiro da Silva
Guimarães; Ricardo José d'Araújo (outros); Ritta Senhorinha de Souza Severo; Rufino
José dos Santos; Salvador Pires de Carvalho e Aragão [e/ou Salvador Pires de Carvalho
e Araujo]; Severino Ezequiel Meira; Solon S. G. Miner (e Cia); Tito (nagô); e
Venceslao Miguel de Almeida.
Guilherme Moford; Guisepe Correia (e outro); Ignacio Gomes Lisboa (e seu filho);
Ignácio José de Moraes Cid; Inácio Rigaud; Izabel Joaquina dos Santos; Joanna
(crioula); João Alves Portella; João Batista Zeiurs; João Berlinck Gaspar; João
Bernardino Nunes; João D. C. J. Ar e Cia (os administradores da massa falida); João
Diogo da Silva Leite; João Emigdio Rodrigues da Costa [e/ou João Emílio Rodrigues da
Costa (e sua mulher)]; João Fernandes Chaves (e outros); João José de Almeida Couto;
João Manoel de Freitas; João Odruyer (e sua mulher); João Victor Carvalho (e mulher);
Joaquim Bernardino Falcão de G. Argolo Queirós; Joaquim Caetano de Almeida Couto
(e mulher); Joaquim Caetano de Almeida Couto Junior; Joaquim do Valle Cabral;
Joaquim Elias Antonio Lopes; Joaquim Gonçalves Cancella; Joaquim Leal Ferreira (e
sua mulher); Joaquim Lopes da Silva; Joaquim Pereira Marinho; Joaquim Torquato
Carneiro de Campos; Jose Alves Pinto Leite; Jose Antonio Mirales Bitencourt; José
Eusebio Caxoeira (outros); Jose Gomes Vilarinho; José Joaquim Seabra; José Joaquim
Silverio dos Santos; José Maria Fragão de Lima (outros); Jose Narcizo de Carvalho;
José Pedro De Souza Alcamim (e sua mulher); Julius Meyer e Cia; Justino Jose
Fernandes (e irmão); Lino Dagõa (preto africano); Lúciana de Araújo Góes (outros);
Luiz (africano); Luiz Alvares Paderma Caldas; Luiz da Rocha Dias (e seu filho);
Manoel Gonçalves de Pinto; Manoel Joaquim Fernandes de Barros; Manoel Joaquim
Tabira de Lima; Manoel José Freire de Carvalho (e sua mulher); Manoel Mauricio
Rebouças (e outros); Manuel José de Almeida Couto; Maria da Conceição Pessanha
(Baronesa de São Lourenço); Maria de São José Barros; Maria José (crioula); Maria
Luisa da Rocha Pita Moniz Barreto (Primeira Viscondessa de Passé); Maria Rosa
(africana); Marinha (nagô); Martinha (crioula); Moises Serfaty; Pedro (pardo); Pedro da
Cunha Barbosa; Polidoro Henrique de Lemos; Procurador da Câmara Municipal de
Itaparica; Rafael Areane; Raimundo Betencourt Pina e Melo; Raimundo de Arribas;
Ribeiro & Andrade; Ritta (africana); Salvador Pires de Carvalho e Aragão (e mulher);
Sancho (africano); Seabra e Irmão; Simão Teles de Meneses; Thomaz (nagô); Thomaz
da Silva Paranhoz; Thure E. Sandgren; Tibúrcio José Bahia; Umbelina Candida Pereira
Geremoabo; Vicente Ignácio da Silva (e sua mulher); Vicente Ribeiro Moreira (e outro);
e Wiliam Prior.
Fonte: APEB. Seção Judiciária. Séries: Escrituras, processos cíveis e processos crimes.
264
Elaboração própria.
Fontes: BRASIL. Relatorio da 2ª Exposição Nacional de 1866. 2ª parte. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1869. Disponível em:
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n.os 154, 156 e 158, junho de 1858.
265
1848 1849 1851 1858 1859 1860 1861 1866 1875 1871 1876
Motor hidráulico (HP) 40 300 - - - 80 - 128 - 128 100
Fusos 2.000 2.084 - - - - 4.160 4.160 - 4.160 -
Cardas - 30 - - - - 60 - - 60 -
Afofador - 1 - - - - - - - - -
Batedores - 2 - - - - - - - - -
Teares 50 50 - - - - 135 136 - 136 -
Produção tecidos/dia (m) 660- 2.200 - - - 4.400 3.300 - - 3.300 -
1.540
Produção tecido/ano (m) - 660.000 641.300 883.300 792.000 - 1.000.000 1.100.000 - -
Produção fios/ano (m) - - - 52.000 58.000 70.000 - 70.000 - - -
Elaboração própria.
Fontes: BRASIL. Relatorio da 2ª Exposição Nacional de 1866. 2ª parte. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1869. Disponível em:
https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=coo.31924019972011;view=1up;seq=9. Acesso em 14 de janeiro de 2019. OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Industrial
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conselheiro Francisco Gonçalves Martins, n‘abertura da Assembléa Legislativa da mesma Provincia em 4 de julho de 1849. Bahia: Typographia de Salvador
Moitinho, 1849. ABEP. Seção: Provincial. Fundo: Governo da Província. Série: Agricultura. Fábricas (1829-1886). Maço 4602. Fabrica Todos os Santos,
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de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos Todos os Santos (1848, caderno 3; 1851, caderno 6; 1861, caderno 19; 1876, caderno 30).
266
Elaboração própria.
Fontes: ABEP. Seção Provincial. Fundo: Governo da Província. Série: Agricultura.. Correspondência recebida do conselho administrativo da companhia de fábricas úteis
(1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos Todos os Santos (1848, caderno 3; 1851, caderno 6; 1861, caderno 19; 1876, caderno 30). BN. HDB. A Constituição (Ceará).
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Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o ano de 1862. Ano 19, série 2, n. 14. Rio de janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1862. p. 530. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno de 1863. Ano 20, série 2, n. 15. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert,
1863. p. 530. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno bissexto de 1864. Ano 21, série 2, n. 16. Rio de Janeiro:
Eduardo e Henrique Laemmert, 1864. p. 546 Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno de 1865. Ano 22, série 2, n.
17. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1865. p. 528. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provincia do Rio de Janeiro para o anno de
1866. Ano 23, série 2, n. 19. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1866. p. 508. Falla que recitou o Presidente da Provincia da Bahia, o desembargador
conselheiro Francisco Gonçalves Martins, n’abertura da Assembléa Legislativa da mesma Provincia em 4 de julho de 1849. Bahia: Typographia de Salvador Moitinho, 1849.
Correio Mercantil (Bahia). Ano 5, n. 52, 2 de fevereiro de 1848. p. 2. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 15, n.os 154, 156 e 158, junho de 1858. Diário de Pernambuco
(Pernambuco). Ano 24, n.os 276, 278, 279, 281, 285, 286, 288, dezembro de 1848. p. 3. Ano 26, n. os 109, 110, 112, 155, 157 e 173, maio-agosto de 1850. Ano 27, n. 230 e
239, outubro de 1851. O Rio-Grandense (Rio Grande do Sul). Ano 5, n.os 537, 542, 544 e 584, setembro/outubro de 1849. p. 4. Correio Mercantil (Rio de Janeiro). Ano 6, n.
253, 16 de setembro de 1849, p. 4; n. 518, 21 de novembro de 1849. Ano 7, n. os 73, 74, 77, 167 e 169, março/julho de 1850. p. 3. Ano 8, n. 154 e 160, julho de 1851. Ano 9,
n. 115, 122, 129, abril-maio de 1852. Jornal do Commercio (Rio de Janeiro). Ano 24, n.os 114 e 281; abril/outubro de 1849. Ano 25, n. 75, 175, 230 e 316, março-novembro
de 1850. Ano 26, n.os 309 e 316, novembro de 1851. Ano 27, n.os, 17, 114 e 123, janeiro/maio de 1852. Ano 33, n.os 54, 55, 56, 64, 66, 109, 113, 114, 115, 116, fevereiro-
abril de 1858. O Comercial (Pernambuco). Ano 1, n. 95, 4 de maio de 1850. p. 4.
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Elaboração própria.
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Fontes: APEB. Seção: Provincial. Fundo: Governo da Província. Série: Agricultura. Fábricas (1829-
1886). Maço 4602. Fábrica de tecidos Todos os Santos, 1852. Caderno 15. Seção Provincial. Fundo:
Governo da Província. Série: Agricultura. Correspondência recebida do conselho administrativo da
companhia de fábricas úteis (1839-1889). Maço 4603. Fábrica de tecidos Todos os Santos (1861, caderno
19; 1876, caderno 30). Seção de Arquivos coloniais e provinciais. Série Administração. Juízes.
Correspondência recebida de Valença - 1844-1848. Maço 2629. Correspondência do juiz de direito da
comarca de Valença ao Presidente da Província. Valença, 1 de março de 1848. BN. HDB. Jornal do
Commercio (Rio de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20 de novembro de 1861. p. 1. Jornal do Commercio (Rio
de Janeiro). Ano 36, n. 320, 20 de novembro de 1861. p. 1. A constituição (Ceará). Ano 9, n. 107, 12 de
julho de 1871. p. 3. Jornal do Recife (Pernambuco). Ano 10, n.os 227, 235 e 256, outubro-novembro de
1868. BRASIL. Relatorio da 2ª Exposição Nacional de 1866. 2ª parte. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1869. Disponível em:
https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=coo.31924019972011;view=1up;seq=9. Acesso em 14 de janeiro de
2019. p. 37.
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